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ANDAR COMO JESUS ANDOU...

SERMÃO EXPOSITIVO

O Monte e o Vale
(Marcos 9:1–29)
Joe Schubert

A vida proporciona experiências que são ressurreição do túmulo. Através dos grandes acon-
como picos de montanhas e experiências que são tecimentos no Pentecostes, registrados claramente
como vales desanimadores. Marcos 9 registra a em Atos 2, o Senhor ressurreto mostraria Seu
cena de uma montanha e um vale. O Senhor é triunfo mandando o Espírito Santo para inau-
transfigurado na montanha e os discípulos ficam gurar no mundo o reino de Deus, a igreja. O
desconcertados no vale. Examinemos esses dois reino de Deus viria com poder antes que aqueles
grandes eventos. com quem Ele falava em Marcos 9:1 morressem.
No episódio da transfiguração, temos uma
O MONTE DA TRANSFIGURAÇÃO previsão comovente da glória e da vitória das
(9:1–13) quais Jesus tinha certeza. Observemos os acon-
Um dos eventos mais dramáticos nas Escritu- tecimentos conforme Marcos os descreve:
ras Sagradas, talvez abaixo somente da crucificação
e da ressurreição do nosso Senhor, é a transfigu- Seis dias depois, tomou Jesus consigo a
ração de Jesus registrada em Marcos 9. O contexto Pedro, Tiago e João e levou-os sós, à parte, a
desse acontecimento é que Jesus acabara de um alto monte. Foi transfigurado diante deles;
as suas vestes tornaram-se resplandecentes e
anunciar aos apóstolos Sua morte aproximada sobremodo brancas, como nenhum lavandeiro
em Jerusalém e a realidade da cruz. Os apóstolos na terra as poderia alvejar. Apareceu-lhes
ficaram absolutamente destruídos após ouvirem Elias com Moisés, e estavam falando com
Jesus afirmar que estava a caminho de Jerusalém Jesus. Então, Pedro, tomando a palavra, disse:
Mestre, bom é estarmos aqui e que façamos
para morrer. Isso parecia contradizer tudo o que três tendas: uma será tua, outra, para Moisés,
eles entendiam sobre o Messias e o que Ele faria e outra, para Elias. Pois não sabia o que dizer,
pelas pessoas. Estavam desnorteados, confusos, por estarem eles aterrados. A seguir, veio
não conseguiam entender. Estavam acontecendo uma nuvem que os envolveu; e dela uma voz
dizia: Este é o meu Filho amado; a ele ouvi. E,
coisas que não só confundiam suas mentes, mas de relance, olhando ao redor, a ninguém mais
também partiam seus corações. O evento da viram com eles, senão Jesus (vv. 2–8).
transfiguração, que estava para acontecer, foi
especialmente crucial para o fortalecimento da Quatro ocorrências dramáticas nesse relato
fé deles. Ele iria animá-los e ajudá-los a reconhe- chamam nossa atenção. Em primeiro lugar, há a
cer que tudo aquilo não estava concorrendo para mudança na aparência física do próprio Senhor.
um desfecho de desespero e derrota, mas sim de Marcos nos diz: “As suas vestes tornaram-se res-
vitória, triunfo e glória. plandecentes e sobremodo brancas, como nenhum
Marcos introduz esse capítulo com estas pala- lavandeiro na terra as poderia alvejar” (v. 3).
vras: “Dizia-lhes ainda: Em verdade vos afirmo Mateus acrescenta: “o seu rosto resplandecia
que, dos que aqui se encontram, alguns há que, como o sol” (Mateus 17:2). Lucas diz que as Suas
de maneira nenhuma, passarão pela morte até que vestes resplandeceram de brancura.
vejam ter chegado com poder o reino de Deus” Comentaristas liberais tentam explicar esses
(9:1). Jesus não estava Se referindo aqui à Sua acontecimentos. É interessante que um desses
vinda com poder nas nuvens de glória no fim do comentaristas sugere que, enquanto Jesus estava
mundo, como alguns tem erroneamente presumido. no topo do monte, o sol de repente irrompeu
Ele estava falando da vinda do reino de Deus ou pelas nuvens, e em meio a toda essa luz res-
da igreja no dia do seu nascimento, o dia de Pen- plandecente sobre o Seu corpo, os apóstolos
tecostes, que ocorreria cinqüenta dias após a Sua simplesmente pensaram que a Sua silhueta havia

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sido sobrenaturalmente modificada. Isso pode e pensou que construir um santuário para Moisés,
explicar a mudança na aparência física, mas não Elias e Jesus iria de alguma maneira reter,
explica os outros detalhes desse acontecimento, preservar e prolongar aquele acontecimento.
como o aparecimento de Moisés e Elias e a voz Outros pensam que ele estava simplesmente
que vinha da nuvem. Não há dúvida nas Escri- tentando demonstrar honra e respeito àqueles
turas de que esse foi mesmo um acontecimento três grandes homens. Lucas 9:33 acrescenta o
totalmente sobrenatural, um milagre. comentário de que Pedro não sabia o que estava
Em segundo lugar, há o aparecimento de Moisés dizendo. Talvez Marcos tenha-o dito da melhor
e Elias, dois homens que desceram à terra para conver- maneira: “Pois [Pedro] não sabia o que dizer, por
sar com Jesus. Pedro, Tiago e João, os três apóstolos estarem eles aterrados” (v. 6).
que nessa ocasião acompanhavam Jesus no monte, Dizem que há dois tipos de falantes no
não tiveram de ser informados que se tratavam mundo: aqueles que têm alguma coisa a dizer e
de Moisés e Elias. Jesus não disse: “Pedro, Tiago aqueles que simplesmente têm de dizer alguma
e João, gostaria de apresentar-lhes Moisés e coisa. Pedro era alguém que simplesmente tinha
Elias”. Eles imediatamente reconheceram os dois. de dizer alguma coisa. Ele estava morrendo de
Mas por que você acha que Moisés e Elias medo. Não sabia o que estava dizendo. Apenas
estavam ali? Por que não outros profetas? Por falou algo sem pensar antes de analisar se as suas
que não Isaías ou Jeremias? Por que não Davi, o palavras tinham ou não algum sentido.
grande rei de Israel? Por que não Abraão, o pai Pedro mal havia deixado escapar essas pala-
da fé? Moisés e Elias juntos representavam as vras da boca quando foi interrompido pelo próximo
duas grandes partes do Antigo Testamento — acontecimento dramático dessa história. Em quarto
Moisés, a Lei e Elias, os Profetas. A Lei e os lugar, uma nuvem os envolveu e dela ouviu-se uma
Profetas, as duas maiores divisões do Antigo voz. Marcos diz: “A seguir, veio uma nuvem que
Testamento, haviam igualmente testemunhado os envolveu; e dela uma voz dizia: Este é o meu
que o Messias, o Filho de Deus, viria. Moisés fora Filho amado; a ele ouvi” (v. 7). Não há dúvida
o maior porta-voz da lei de toda a nação israelita. alguma de que essa voz que saiu da nuvem
Elias fora o primeiro e, em muitos aspectos, o visava servir de correção para a proposta que
maior de todos os profetas israelitas. Juntos, Pedro acabara de fazer. Deus, com efeito, estava
esses dois homens representavam tudo o que se dizendo: “Pedro, não coloque Jesus no mesmo
passara antes na Lei e nos Profetas. Eles repre- nível que Moisés e Elias. Ele é o Meu Filho. Ouça
sentavam tudo o que apontava para a vinda de o que Ele diz. Jesus é Aquele sobre quem Moisés
Jesus como o Messias. Eles representavam toda a e Elias falaram. Jesus é Aquele que cumpre a Lei
história de Israel até aquele momento. da qual Moisés fazia parte e as profecias das
Lucas nos diz qual foi o tópico da conversa quais Elias fazia parte. É a Ele que você deve
entre Moisés, Elias e Jesus. Ele diz que eles “fala- ouvir. Ele é o Meu Filho; e não eles. Ouça a Ele”.
vam da sua partida, que ele estava para cumprir Marcos termina o relado dizendo que, de
em Jerusalém” (Lucas 9:31). Não gostaríamos repente, assim como tudo surgiu, desapareceu.
que Moisés e Elias tivessem falado algo sobre o Ele registra isso com belas palavras no versículo
que acontece além túmulo, algo sobre o que 8: “E, de relance, olhando ao redor, a ninguém
realmente há após esta vida? Eles vieram, porém, mais viram com eles, senão Jesus”. Só Jesus
para conversar com Jesus sobre a Sua missão e a permaneceu ali quando a glória desse grande
Sua morte iminente em Jerusalém. milagre se foi.
Em terceiro lugar, a proposta de Pedro é muito Pedro, Tiago e João — os três escolhidos por
interessante nesse relato. Depois de ouvir os ho- Jesus para experimentarem esse acontecimento
mens discutirem esses estranhos acontecimentos com Ele — haviam acabado de testemunhar uma
juntos, Pedro, ao seu costumeiro jeito de ser, cena tremendamente impressionante naquele
interrompeu-os e disse a Jesus: “Mestre, bom é es- monte. Haviam ouvido a voz de Deus ecoando
tarmos aqui e que façamos três tendas: uma será dos céus em aprovação à missão e ao ministério
tua, outra, para Moisés, e outra, para Elias” (v. 5). de Jesus, Seu Filho. Haviam visto dois dos maio-
Várias conjeturas já foram feitas quanto à res líderes de Israel aparecerem e conversarem
razão de Pedro ter lançado essa sugestão. Alguns com Jesus. Haviam visto eles se retirarem e
pensam que ele estava tão entusiasmado com o desaparecerem, deixando Jesus sozinho em
que se passava que quis prolongar a experiência, solitário esplendor. Esse grande acontecimento

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estava revirando as suas mentes, mas havia uma chegar. Os rabinos tiraram deduções erradas de
surpresa. O que os perturbava era que Jesus sua interpretação dessa passagem de Malaquias
começara a conversar sobre a Sua ressurreição em particular. Eles interpretavam a profecia de
dos mortos. Os versículos 9 e 10 dizem: Malaquias como se Elias fosse pessoalmente ser
ressuscitado dos mortos, reaparecendo para
Ao descerem do monte, ordenou-lhes Je- preparar o caminho para a vinda do Messias.
sus que não divulgassem as coisas que tinham Lucas 1:17, porém, identifica claramente João
visto, até o dia em que o Filho do Homem res-
suscitasse dentre os mortos. Eles guardaram Batista como o cumprimento da profecia acerca
a recomendação, perguntando uns aos outros de Elias. Foi isto que Jesus quis dizer em Marcos,
que seria o ressuscitar dentre os mortos. quando afirmou: “Elias já veio, e fizeram com ele
tudo o que quiseram…” Mateus, em seu relato
Como fez várias vezes por todo o Evangelho dessa conversa, registra: “Então, os discípulos
de Marcos, mais uma vez Jesus impôs uma entenderam que lhes falara a respeito de João
quarentena verbal aos discípulos. Mais uma vez, Batista” (Mateus 17:13). Jesus foi mais além e
Ele os proibiu de contar o que viram aos outros. sugeriu que a morte de João Batista foi uma
Mais uma vez, indagamos: “Por quê?” Mais uma profecia do que aconteceria consigo mesmo.
vez, a resposta é a mesma. Os apóstolos, a essa
altura, não entendiam claramente. As infor- O VALE DO CONSTRANGIMENTO
mações estavam incompletas. O entendimento (9:14–29)
deles ainda estava obscuro. Marcos diz que eles Quando Jesus e os apóstolos finalmente
não entenderam especificamente o que Jesus chegaram aos pés do monte, a cena que os
quis dizer sobre ressuscitar dos mortos. Não recepcionou foi uma miniatura do nosso próprio
conseguiam conciliar as coisas. Provavelmente, mundo. Na cena aos pés do monte, vários ele-
assim como Marta em João 11, eles relacionaram mentos emocionais estavam envolvidos. Havia
essa afirmação de Jesus com o que eles sabiam um pai perdido de angústia. Havia um rapaz
sobre a grande ressurreição que todas as pessoas afligido pelo poder do mal. Havia os apóstolos
experimentariam no final dos tempos, mencio- de Jesus que estavam tentando ajudar, sendo,
nada no Antigo Testamento. Mas eles não relacio- porém, ineficientes, incapazes de curar. E havia
naram isso especificamente com a ressurreição também os professores da Lei, os escribas judeus,
do próprio Jesus. Sem essa relação, a mensagem que estavam discutindo sobre o direito e o poder
deles seria uma confusão sem sentido e sem de curar dos apóstolos, sendo também incapazes
esperança que só iludiria as pessoas e as mandaria de fazer qualquer coisa para ajudar. Marcos
para a direção errada. Por isso, Jesus ordenou- registra essa cena nas seguintes palavras:
lhes que não dissessem nada do que viram a
Quando eles se aproximaram dos discí-
ninguém até que Ele ressuscitasse. Somente pulos, viram numerosa multidão ao redor e que
então, eles entenderiam. os escribas discutiam com eles. E logo toda a
Os apóstolos também fizeram outra pergunta multidão, ao ver Jesus, tomada de surpresa,
a Jesus sobre um assunto que os intrigava. Os correu para ele e o saudava. Então, ele inter-
pelou os escribas: Que é que discutíeis com
judeus acreditavam que antes do Messias, viria eles? E um, dentre a multidão, respondeu:
Elias como o Seu precursor. Os versículos 11 a 13 Mestre, trouxe-te o meu filho, possesso de
dizem: um espírito mudo; e este, onde quer que o
apanha, lança-o por terra, e ele espuma, rilha
E interrogaram-no, dizendo: Por que dizem os dentes e vai definhando. Roguei a teus
os escribas ser necessário que Elias venha discípulos que o expelissem, e eles não
primeiro? Então, ele lhes disse: Elias, vindo puderam. Então, Jesus lhes disse: Ó geração
primeiro, restaurará todas as coisas; como, incrédula, até quando estarei convosco? Até
pois, está escrito sobre o Filho do Homem que quando vos sofrerei? Trazei-mo (vv. 14–19).
sofrerá muito e será aviltado? Eu, porém, vos
digo que Elias já veio, e fizeram com ele tudo o Os nove apóstolos que ali ficaram estavam
que quiseram, como a seu respeito está escrito. em dificuldades. Um homem trouxera seu filho
endemoninhado com a esperança de que eles
O argumento dos rabinos judeus baseava-se poderiam curá-lo. Os escribas judeus, os profes-
nos últimos versículos do Antigo Testamento no sores da Lei, também estavam ali. Estavam
livro de Malaquias, que prediziam que Elias viria gerando um outro transtorno discutindo com
e restauraria todas as coisas antes do Messias os apóstolos sobre o direito e o poder que

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eles tinham de curar. Jesus de fato lhes dera é um caso de possessão demoníaca.
essa autoridade quando os chamou para serem No próximo versículo o registro continua:
apóstolos. Nessa ocasião, porém, eles pareciam “Perguntou Jesus ao pai do menino: Há quanto
estar amedrontados e cautelosos. O menino tempo isto lhe sucede? Desde a infância, res-
afligido foi esquecido no calor da discussão que pondeu; e muitas vezes o tem lançado no fogo e
se levantou entre eles e os professores da Lei. na água, para o matar…” (vv. 21, 22a). Não
Então, Jesus apareceu. Marcos disse que as podemos saber hoje quais poderes Satanás tem.
pessoas ficaram admiradas quando se deram O pai disse: “Ele está assim desde a infância”.
conta de que Jesus estava ali. Não devemos Pode ser que Deus tenha permitido esse tipo de
pensar, como sugerem alguns, que o povo ficou aflição pela mesma razão que permitiu o homem
admirado porque o corpo de Jesus ainda res- nascer cego em João 9. Respondendo à pergunta:
plandecia devido ao que sucedera antes, no monte “Por que esse homem está nesse estado?” Jesus
da transfiguração. Esse não era o caso porque disse: “…para que se manifestem nele as obras
não condiz com a ordem de Jesus aos três de Deus” (João 9:3). Essa resposta deve nos
apóstolos para que nada contassem a ninguém satisfazer.
sobre o que vivenciaram no monte. As pessoas se O relato prossegue em Marcos 9:22 e 23. O
admiraram com a presença de Jesus por outra pai disse a Jesus: “…mas, se tu podes alguma
razão. Achavam que Jesus ainda estava na sua coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos. Ao que
vigília solitária no alto do monte. Estavam tão lhe respondeu Jesus: Se podes! Tudo é possível
intertidas na discussão que não tinham visto ao que crê”. É como se Jesus dissesse àquele
Jesus descer. De repente, perceberam que Ele homem: “A cura do seu filho não depende de
estava ali no meio delas. Foi diante da Sua mim, mas de você”.
repentina e inesperada chegada que todos fica- Essa é uma verdade universal. Aproximar-se
ram admirados e surpresos. de algo com um espírito de falta de esperança é
Os nove apóstolos ficaram mais do que inútil. Mas aproximar-se de algo com um espírito
surpresos, mais do que admirados, quando de fé torna possível a realização do desejo.
descobriram que Jesus estava ali — ficaram Alguém disse que um estadista só precisa de
envergonhados. Haviam tentado, sem êxito, uma coisa: acima de tudo, um senso do possível.
curar o filho enfermo do homem. A discussão A atitude do pai desse menino é das mais
com os professores da Lei aumentou a frustração esplendorosas. Originalmente, o pai viera em
deles. busca do Cristo propriamente dito. Ele queria
Jesus olhou ao redor para a multidão e para que Jesus curasse seu filho. Mas, como Jesus
tudo o que estava acontecendo e gritou: “Ó gera- estava no alto do monte com Pedro, Tiago e João,
ção incrédula, até quando estarei convosco? Até ele teve de falar com os nove apóstolos que
quando vos sofrerei? Trazei-mo” (v. 19). A exas- restaram. A experiência com esses nove apóstolos
peração e frustração de Jesus eram compreensí- foi muito desanimadora. A fé que ele tinha, por
veis. Todo o povo de Israel estava no processo de causa do fracasso dos apóstolos em curar seu
rejeitar o Senhor. Os professores da Lei, os escri- filho, estava totalmente abalada. Tanto era assim
bas, estavam se opondo ao Seu ministério e à Sua que, quando ele foi falar com Jesus, tudo o que
obra com todos os artifícios concebíveis. Agora, pôde dizer foi: “Se tu podes… ajuda-nos”. Mas,
a oposição deles estava aparentemente começando assim que esse pai ficou face a face com o Senhor,
a exercer influência sobre os próprios apóstolos. a sua fé reacendeu. Quando Jesus disse: “Se
No versículo 20, Marcos diz: “E trouxeram-lho; podes! Tudo é possível ao que crê”, o pai
quando ele viu a Jesus, o espírito imediatamente exclamou: “Eu creio! Ajuda-me na minha falta
o agitou com violência, e, caindo ele por terra, de fé!” (v. 24). Sendo sincero diante de sua
revolvia-se espumando”. Não era um simples fraqueza o homem disse: “Sim, Senhor. Eu
caso de epilepsia. Os sintomas registrados são os realmente creio, mas sinto incredulidade no
sintomas clássicos da doença de epilepsia, mas meu coração, e não sei como lidar com isso”. Esse
Marcos deixa muito claro que o problema do é o tipo de fé pequena como uma semente de
menino era possessão demoníaca. A Bíblia registra mostarda, mas ela possui em si a origem da vida.
casos de epilepsia; e também registra casos de Jesus disse que esse tipo de fé, apesar de pequena,
possessão demoníaca. Ela sempre distingue uma uma vez que contenha o princípio da vida,
coisa da outra. Evidentemente, o problema aqui crescerá. Ela crescerá até se tornar forte o bastante

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para mover uma montanha. Confiança, prontidão que Deus lhes daria a vitória. Anteriormente, os
e desejo que se desenvolvam a partir dessa apóstolos sempre tinham obtido sucesso nesses
confiança, é tudo o que Jesus exige. No instante casos, e sem dúvida estavam começando a crer
em que o homem disse essas palavras, o Senhor que poderiam realizar essas obras poderosas com
falou e o filho dele foi curado. Os versículos 25 a o próprio poder dele, sem continuar mantendo
27 dizem: intacto o contato com Deus e o Seu poder. Jesus
estava, com efeito, dizendo: “Apóstolos, vocês
Vendo Jesus que a multidão concorria, re-
preendeu o espírito imundo, dizendo-lhe: não estão vivendo perto de Deus o bastante. A
Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: Sai sua vida de oração está fraca. É por isso que o
deste jovem e nunca mais tornes a ele. E ele, poder foi ineficaz para resolver este caso em
clamando e agitando-o muito, saiu, deixando- particular”. Eles haviam recebido poder, tudo
o como se estivesse morto, a ponto de muitos
dizerem: Morreu. Mas Jesus, tomando-o pela bem, mas precisavam ter uma vida de oração
mão, o ergueu, e ele se levantou. para manter e preservar esse poder.
Aqui está uma grande lição para nós, não é?
Depois que Jesus curou o menino, e Ele e os E uma grande lição para a igreja. Trabalhamos
apóstolos estavam a salvo fora dos alcance dos com tanto afinco para conseguir tudo o que está
ouvidos críticos dos professores da Lei, eles ao alcance das nossas capacidades humanas. Não
fizeram a pergunta que estavam ávidos por fazer, precisamos do poder de Deus para muito do que
uma vez que a impotência deles fora exposta de fazemos porque nunca nos propomos a fazer algo
maneira tão desconcertante. Nos versículos 28 e que requer o poder de Deus. Nós nos satisfazemos
29 lemos: “Quando entrou em casa, os seus em estabelecer alvos que acreditamos que podemos
discípulos lhe perguntaram em particular: Por alcançar com as nossas próprias forças e poder.
que não pudemos nós expulsá-lo? Respondeu- Uma das maiores necessidades da igreja atualmente
lhes: Esta casta não pode sair senão por meio de é orar: “Senhor, nós cremos, mas perdoa a nossa
oração”. incredulidade”. Talvez, de fato, um dos maiores
Estou convencido de que com essa resposta presentes que o nosso Senhor pode dar a esta
Jesus não se referia a um momento de oração. Ele congregação seja puxar o tapete da segurança
não estava dizendo aos apóstolos que eles não que está bem embaixo de nós. O amor de Deus só
conseguiram expulsar o demônio do menino pode ser expresso na sua totalidade quando Ele
afligido porque não tinham parado para orar por permite que entremos em apuros, numa situação
um tempo suficiente, antes de tentarem realizar em que só Ele pode nos ajudar. Daí então, somos
o milagre. O registro não indica que Jesus tivesse forçados a nos virar para Ele porque não há
orado antes de expulsar miraculosamente o de- nenhum outro lugar para onde nos virarmos.
mônio. Nem tampouco creio que Jesus estivesse Aquilo que se aplica à igreja aplica-se também
dizendo com essa resposta: “Existe uma oração às nossas vidas individualmente. Quando você e
em especial que vocês devem fazer antes de eu chegarmos ao fim de nossas reservas humanas,
expulsarem um demônio, e porque vocês não quando os fatores a nossa volta estiverem além
oraram, foram ineficientes”. Ele estava falando da nossa habilidade de controlar e influenciar,
de uma vida inteira de oração. Estava na verdade daí então entenderemos, talvez pela primeira
dizendo: “Esse tipo de espírito maligno, esse vez em nossas vidas, quanto necessitamos de
caso difícil, não pode ser resolvido sem um Deus e quanto necessitamos do Seu poder e da
coração cujo frescor, cuja vida e cujo contato com Sua ajuda em nossas vidas.
Deus não estejam sendo preservados através de
uma vida de constante oração”. Esse era exata- CONCLUSÃO
mente o segredo do poder de Jesus. Ele sempre O monte da transfiguração nos ensina a
estava em contato com o Pai. Ele sempre andava respeito da divindade e da singularidade de
confiante em Deus. O fracasso dos apóstolos Jesus; o vale do fracasso nos impressiona com a
nesse incidente foi deixarem totalmente de orar necessidade do poder de Deus em nossas vidas.
ou abrirem uma grave lacuna na vida de oração. O monte nos faz lembrar a capacidade de Jesus
É evidente que eles esperavam plenamente ter de nos ajudar; o vale acentua a necessidade
êxito na expulsão desse demônio, de modo que o humana de ajuda.
problema não foi falta de fé no êxito que teriam. Jesus é o Filho unigênito de Deus. Só ele pode
Tudo indica que o problema dos apóstolos foi satisfazer as necessidades da sua vida. Ouça,
racionalizar que teriam sucesso sem confiar em obedeça e imite a Jesus. 

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