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Filosofia da

Cultura

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FILOSOFIA DA CULTURA
Filosofia da cultura

Assim como o amor, a cultura não tem o poder de constranger”,


observa corretamente o pensador cultural Rob Riemen. “Não
oferece garantias. Não obstante, a única possibilidade de
conquistar e de defender nossa dignidade de seres humanos nos
é oferecida pela cultura e pela educação livre.” Eis a razão pela
qual acredito que, em todo caso, é melhor continuar a lutar
pensando que os clássicos e a formação, que o cultivo do
supérfluo e do que não produz lucro, podem nos ajudar, de
qualquer modo, a resistir, a manter acesa a esperança, a
vislumbrar aquele raio de luz que nos permita percorrer um
caminho digno.
Nuccio Ordine, 2014

Prezad@s alun@s:
A Filosofia da cultura é uma disciplina ampla e difícil de definir. Esta
problemática deriva, principalmente, do conceito de ‘cultura’.
‘Cultura’, como observou Williams (1976: 76), é “uma das duas ou
três palavras mais complicadas da linguagem”. Evidência disso é a
enorme quantidade de definições −várias delas bastante díspares− que
existem na literatura sobre o tema. Kroeber e Kluckhohn (1952), por
exemplo, acharam 167 (!) definições diferentes do termo. Uma boa
notícia é que é possível identificar uma confluência entre uma
considerável quantidade de definições. A seguinte, de Taylor, que
destaca por sua precisão, é representativa: Cultura é “o todo complexo
que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os
costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo
homem como membro da sociedade” (1920: xiii).
−Kroeber, Alfred; Kluckhohn, Clyde, 1952, Culture: A Critical Review of Concepts and Definitions, Vintage Books,
N.Y. (Disponível on-line em https://archive.org).
−Tylor, Edward, 1920, Primitive Culture: Researches into the Development of Mythology, Philosophy, Religion, Language,
Art, and Custom, Murray, London. (Disponível on-line em https://archive.org).
−Williams, Raymond, 1976, Keywords. A Vocabulary of Culture and Society, Fontana, London.

O seguinte artigo é um texto básico −muito básico e acessível− que


pode ser lido como uma Introdução à Filosofia da cultura. (O artigo
se encontra nesta Apostila, abaixo).
−Paul Kleinman, 2013, “Filosofia da cultura” Leitura recomendada

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Filosofia da cultura
Paul Kleinman, 2013

Introdução: a transmissão da informação


Quando discutem “cultura”, os filósofos tratam da maneira pela qual
a informação é transmitida entre os humanos com métodos que não
são genéticos ou epigenéticos (isto é, fatores externos que afetam a
genética). Essa ideia inclui os sistemas simbólicos e
comportamentais que as pessoas usam para se comunicar umas
com as outras.

A ideia de cultura
O termo ‘cultura’ nem sempre teve o significado que conhecemos
hoje. Embora a palavra exista, pelo menos, desde os dias de Cícero
(106-43 a.C.), a palavra ‘cultura’ era originalmente utilizada quando
se discutia a filosofia da educação, e se referia ao processo de
aprendizado de uma pessoa. Assim, a definição de cultura que
conhecemos hoje é um conceito muito mais recente.

Filosofia da educação. A filosofia da educação é uma tentativa de


compreender quais são as ferramentas adequadas para que as
pessoas compartilhem uma parte de sua cultura com as outras.
Quando as crianças nascem, são iletradas e sem conhecimento; é
com a sociedade e com a cultura que elas aprendem a se tornar
parte dessa mesma sociedade e cultura. Assim, a educação continua
a ser um dos elementos mais importantes dos processos culturais.

Exemplos de influência cultural


A cultura possibilita que as pessoas conheçam e acreditem em
diferentes coisas e tenham percepções diferentes. Isso levanta a
questão: a cultura constrói os fatos normativos ou funciona como
uma proteção contra as normas universais? Existem muitos
exemplos de cultura com influência sobre nós.

Linguagem. A linguagem é cultural, e pode variar de cultura para


cultura. Dessa forma, seus efeitos sobre o pensamento podem ser
considerados efeitos culturais.

Percepção e pensamento. A linguagem (que é afetada pela cultura)


tem grande influência sobre nossos processos de pensamento e,
assim, também afeta nossas percepções. As culturas podem se
apoiar no individualismo (como aquelas fundadas na América do

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Norte, na Europa ocidental e nos países de língua inglesa da
Australásia) ou no coletivismo (como aquelas fundadas no Oriente
Médio, no sul e no leste da Ásia, na América do Sul e no
Mediterrâneo).
Definições filosóficas
Coletivismo: os indivíduos veem a si mesmos como parte de um coletivo, e as
motivações derivam primariamente das obrigações com a coletividade.
Individualismo: os indivíduos são motivados pelas próprias necessidades e
preferências e não veem a si mesmos como parte de uma coletividade.
Tolerância: 1. Condescendência ou indulgência para com aquilo que não se
quer ou não se pode impedir. 2. Boa disposição dos que ouvem com
paciência opiniões opostas às suas.

Emoções. As emoções não são fundamentais somente para a cultura;


são fundamentais para todos os mamíferos (os cães, por exemplo,
podem expressar alegria, tristeza e medo). As emoções, portanto, são
respostas evoluídas que ajudam os indivíduos a sobreviver e devem
integrar a natureza humana. A cultura pode influenciar como as
diferentes emoções podem ser encaradas e, por vezes, a mesma ação
pode suscitar duas emoções completamente diferentes, dependendo
da cultura. A cultura também influencia como as emoções são
expressas.

Moralidade. A moralidade é claramente modelada pela cultura e a


perspectiva moral derivada da cultura de uma pessoa pode ser
completamente diferente daquela de um indivíduo de outra cultura.
Isso leva à ideia de relativismo cultural.

Relativismo cultural
Os sistemas ético e moral são diferentes para cada cultura. De
acordo com o relativismo cultural, todos esses sistemas são
igualmente válidos e nenhum é melhor do que outro. A base do
relativismo cultural é a noção de que, na verdade, não existem
padrões para o bem e o mal. Desse modo, o julgamento de que algo é
certo ou errado tem por base as crenças de uma sociedade, pois
todas as opiniões éticas e morais são influenciadas pela perspectiva
cultural de um indivíduo.
No entanto, existe uma contradição inerente ao relativismo
cultural. Se alguém assume a ideia de que não há certo ou errado,
então, em primeiro lugar, não há como fazer julgamentos. Para lidar
com essa contradição, o relativismo cultural criou a “tolerância”. No
entanto, com a tolerância chega também a intolerância, e isso
significa que a tolerância tem de implicar também um tipo de bem
definitivo. Dessa forma, a tolerância vai contra a noção essencial do

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relativismo cultural e os limites da lógica tornam o relativismo
cultural impossível.

−Kleinman, Paul, 2013, Tudo o que você precisa saber sobre filosofia, Gente, S.P.

O que é cultura, senão a ampliação da nossa ignorância? Exemplo:


você pega, como eu peguei, O universo numa casca de noz, do gênio
Stephen Hawking (astrofísica, evolução estelar, cosmologia matemática,
buracos negros, big bangs, espaço-tempo, bota aí), e lê, com calma e
reflexão, 10 páginas por dia. Quando acaba você verifica que ampliou
em 10% o seu conhecimento sobre tudo isso. E ampliou em 90% a sua
ignorância sobre tudo isso. Isso é cultura.
Millôr Fernandes, 2007, “Algumas notas fiscais”, Veja 1999, 10, 14/03/2007, 32.

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