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1. Dedução Natural

Os conceitos de tautologia, contradição funcional-veritativa e consequência


tautológica são exemplos de conceitos semânticos, na medida em que o re-
curso à noção de verdade lhes é essencial. Introduziremos, nessa seção, o
conceito meramente sintático de “derivação” e, no caso, nada além da forma
das sentenças (da sintaxe) estará envolvido na determinação do conceito.
Em todo caso, a relação sintática “α é derivável de Γ” corresponderá à
relação semântica “α é consequência tautológica de Γ” da seção anterior.

(I0 ) Introdução de premissas:


1. Γ ∪ {α} ⊢ α
é uma derivação de α a partir do conjunto Γ ∪ {α}.
Se
1. Γ1 ⊢ β1
.. ..
. .
n. Γn ⊢ βn
é uma derivação de βn a partir do conjunto Γn , então
1. Γ1 ⊢ β1
.. ..
. .
n. Γn ⊢ βn

n + 1. Γ ∪ {α} ⊢ α
é uma derivação de α a partir do conjunto Γ ∪ {α}.

(I∧ ) Introdução da conjunção:


Se
1. Γ1 ⊢ β1
.. ..
. .
i. Γi ⊢ βi
.. ..
. .
j. Γj ⊢ βj
.. ..
. .
n. Γn ⊢ βn
é uma derivação de βn a partir do conjunto Γn , então
2

1. Γ1 ⊢ β1
.. ..
. .
i. Γi ⊢ βi
.. ..
. .
j. Γj ⊢ βj
.. ..
. .
n. Γn ⊢ βn

n + 1. Γi ∪ Γj ⊢ (βi ∧ βj )
é uma derivação de (βi ∧ βj ) a partir do conjunto Γi ∪ Γj
e
1. Γ1 ⊢ β1
.. ..
. .
i. Γi ⊢ βi
.. ..
. .
j. Γj ⊢ βj
.. ..
. .
n. Γn ⊢ βn

n + 1. Γi ∪ Γj ⊢ (βj ∧ βi )
é uma derivação de (βj ∧ βi ) a partir do conjunto Γi ∪ Γj .

(E∧ ) Eliminação da conjunção:


Se
1. Γ1 ⊢ β1
.. ..
. .
j. Γj ⊢ (βi ∧ βj )
.. ..
. .
n. Γn ⊢ βn
é uma derivação de βn a partir do conjunto Γn , então
3

1. Γ1 ⊢ β1
.. ..
. .
j. Γj ⊢ (βi ∧ βj )
.. ..
. .
n. Γn ⊢ βn

n + 1. Γj ⊢ βi
é uma derivação de βi a partir do conjunto Γj
e
1. Γ1 ⊢ β1
.. ..
. .
j. Γj ⊢ (βi ∧ βj )
.. ..
. .
n. Γn ⊢ βn

n + 1. Γj ⊢ βj
é uma derivação de βj a partir do conjunto Γj .

(I∨ ) Introdução da disjunção:


Se
1. Γ1 ⊢ β1
.. ..
. .
i. Γi ⊢ βi
.. ..
. .
n. Γn ⊢ βn
é uma derivação de βn a partir do conjunto Γn , então
1. Γ1 ⊢ β1
.. ..
. .
i. Γi ⊢ βi
.. ..
. .
n. Γn ⊢ βn

n + 1. Γi ⊢ (βi ∨ βj )
é uma derivação de (βi ∨ βj ) a partir do conjunto Γi
e
4

1. Γ1 ⊢ β1
.. ..
. .
i. Γi ⊢ βi
.. ..
. .
n. Γn ⊢ βn

n + 1. Γi ⊢ (βj ∨ βi )
é uma derivação de (βj ∨ βi ) a partir do conjunto Γi .

(E∨ ) Eliminação da disjunção:


Se
1. Γ1 ⊢ β1
.. ..
. .
i. Γi ∪ {βi } ⊢ α
.. ..
. .
j. Γj ∪ {βj } ⊢ α
.. ..
. .
k. Γi ∪ Γj ⊢ (βi ∨ βj )
.. ..
. .
n. Γn ⊢ βn
é uma derivação de βn a partir do conjunto Γn , então
1. Γ1 ⊢ β1
.. ..
. .
i. Γi ∪ {βi } ⊢ α
.. ..
. .
j. Γj ∪ {βj } ⊢ α
.. ..
. .
k. Γi ∪ Γj ⊢ (βi ∨ βj )
.. ..
. .
n. Γn ⊢ βn

n + 1. Γi ∪ Γj ⊢ α
é uma derivação de α a partir do conjunto Γi ∪ Γj .

(I→ ) Introdução do condicional:


5

Se
1. Γ1 ⊢ β1
.. ..
. .
i. Γi ∪{α} ⊢ β
.. ..
. .
n. Γn ⊢ βn
é uma derivação de βn a partir do conjunto Γn , então
1. Γ1 ⊢ β1
.. ..
. .
i. Γi ∪{α} ⊢ β
.. ..
. .
n. Γn ⊢ βn

n + 1. Γi ⊢ (α → β)
é uma derivação de (α → β) a partir do conjunto Γi .

(E→ ) Eliminação do condicional:


Se
1. Γ1 ⊢ β1
.. ..
. .
i. Γi ⊢ β
.. ..
. .
j. Γj ⊢ (β → α)
.. ..
. .
n. Γn ⊢ βn
é uma derivação de βn a partir do conjunto Γn , então
1. Γ1 ⊢ β1
.. ..
. .
i. Γi ⊢ β
.. ..
. .
j. Γj ⊢ (β → α)
.. ..
. .
n. Γn ⊢ βn

n + 1. Γi ∪ Γj ⊢ α
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é uma derivação de α a partir do conjunto Γi ∪ Γj .

(I¬ ) Introdução da negação:


Se
1. Γ1 ⊢ β1
.. ..
. .
i. Γi ∪ {α} ⊢ ¬β
.. ..
. .
j. Γj ∪ {α} ⊢ β
.. ..
. .
n. Γn ⊢ βn
é uma derivação de βn a partir do conjunto Γn , então
1. Γ1 ⊢ β1
.. ..
. .
i. Γi ∪ {α} ⊢ ¬β
.. ..
. .
j. Γj ∪ {α} ⊢ β
.. ..
. .
n. Γn ⊢ βn

n + 1. Γi ∪ Γj ⊢ ¬α
é uma derivação de ¬α a partir do conjunto Γi ∪ Γj .

(E¬ ) Eliminação da negação:


Se
1. Γ1 ⊢ β1
.. ..
. .
i. Γi ∪ {¬α} ⊢ ¬β
.. ..
. .
j. Γj ∪ {¬α} ⊢ β
.. ..
. .
n. Γn ⊢ βn
é uma derivação de βn a partir do conjunto Γn , então
7

1. Γ1 ⊢ β1
.. ..
. .
i. Γi ∪ {¬α} ⊢ ¬β
.. ..
. .
j. Γj ∪ {¬α} ⊢ β
.. ..
. .
n. Γn ⊢ βn

n + 1. Γi ∪ Γj ⊢ α
é uma derivação de α a partir do conjunto Γi ∪ Γj .

Definição de derivável. α é derivável do conjunto Γ (em sı́mbolos, Γ ⊢ α),


se existe uma derivação de α a partir de Γ.

Definição de teorema. α é um teorema (da lógica sentencial) (em sı́mbolos,


⊢ α), se existe uma derivação de α a partir do conjunto vazio.

Como é comum em lógica, é mais fácil compreender as definições por meio


de exemplos:

(1) Exemplo. {(P ∧ Q)} ⊢ P .

1. {(P ∧ Q)} ⊢ (P ∧ Q) I0
2. {(P ∧ Q)} ⊢ P E∧ de 1

(2) Exercı́cio. A derivação abaixo estabelece que {(P ∧ Q)} ⊢ Q, quais são
as regras em questão?

1. {(P ∧ Q)} ⊢ (P ∧ Q) ?
2. {(P ∧ Q)} ⊢ Q ?

(3) Exercı́cio. Estabeleça que {(Q ∧ Q)} ⊢ Q.

(4) Exercı́cio. A derivação abaixo estabelece que {P, Q} ⊢ (P ∧ Q), quais


são as regras em questão?

1. {P, Q} ⊢ P ?
2. {P, Q} ⊢ Q ?
3. {P, Q} ⊢ (P ∧ Q) ? de 1 e 2
8

(5) Exercı́cio. Estabeleça que {P, Q, R} ⊢ (R ∧ (Q ∧ P )).

(6) Exercı́cio. Estabeleça que {R} ⊢ ((R ∧ R) ∧ R).

(7) Exemplo. {P } ⊢ (Q ∨ P ).

1. {P } ⊢ P I0
2. {P } ⊢ (Q ∨ P ) I∨ de 1

(8) Exercı́cio. A derivação abaixo estabelece que {P } ⊢ (P ∨ Q), quais são


as regras em questão?

1. {P } ⊢ P ?
2. {P } ⊢ (P ∨ Q) ?

(8) Exercı́cio. Estabeleça que {R} ⊢ (R ∨ (R ∨ R)).

(9) Exercı́cio. A derivação abaixo estabelece que {(P ∨ Q)} ⊢ (Q ∨ P ),


quais são as regras em questão?

1. {P } ⊢ P ?
2. {P } ⊢ (Q ∨ P ) ?
3. {Q} ⊢ Q ?
4. {Q} ⊢ (Q ∨ P ) ?
5. {(P ∨ Q)} ⊢ (P ∨ Q) ?
6. {(P ∨ Q)} ⊢ (Q ∨ P ) ? de 2, 4 e 5

(10) Exercı́cio. Estabeleça que {(R ∨ R)} ⊢ R.

(11) Exemplo. ⊢ (P → P ).

1. {P } ⊢ P I0
2. /
O ⊢ (P → P ) I→ de 1

(12) Exercı́cio. A derivação abaixo estabelece que ⊢ (P → (Q → P )),


quais são as regras em questão?

1. {P, Q} ⊢ P ?
2. {P } ⊢ (Q → P ) ?
3. O/ ⊢ (P → (Q → P )) ?
9

(13) Exercı́cio. Estabeleça que ⊢ ((P ∧ Q) → Q) (veja “2” acima).

(14) Exercı́cio. Estabeleça que ⊢ (R → (R ∧ R)) (veja “6” acima).

(15) Exercı́cio. A derivação abaixo estabelece que ⊢ ((P ∧ Q) → (Q ∧ P )),


quais são as regras em questão?

1. {(P ∧ Q)} ⊢ (P ∧ Q) ?
2. {(P ∧ Q)} ⊢ Q ? de 1
3. {(P ∧ Q)} ⊢ P ? de 2
4. {(P ∧ Q)} ⊢ (Q ∧ P ) ? de 2e3
5. /
O ⊢ ((P ∧ Q) → (Q ∧ P )) ? de 4

(16) Exercı́cio. Estabeleça que ⊢ ((P ∨ Q) → (Q ∨ P )) (veja “9” acima).

(17) Exercı́cio. Estabeleça que ⊢ ((R ∨ R) → R).

(18) Exercı́cio. A derivação abaixo estabelece que ⊢ ((P → (Q → R)) →


((P ∧ Q) → R)), quais são as regras em questão?

1. {(P → (Q → R))} ⊢ (P → (Q → R)) ?


2. {(P ∧ Q)} ⊢ (P ∧ Q) ?
3. {(P ∧ Q)} ⊢ P ?
4. {(P ∧ Q)} ⊢ Q ?
5. {(P ∧ Q), (P → (Q → R))} ⊢ (Q → R) ?
6. {(P ∧ Q), (P → (Q → R))} ⊢ R ?
7. {(P → (Q → R))} ⊢ ((P ∧ Q) → R) ?
8. /
O ⊢ ((P → (Q → R)) → ((P ∧ Q) → ?
R))

(19) Exemplo. {(¬P → Q)} ⊢ (¬Q → P ).

1. {(¬P → Q)} ⊢ (¬P → Q) I0


2. {¬P } ⊢ ¬P I0
3. {¬P, (¬P → Q)} ⊢ Q E→ de 1 e 2
4. {¬P, ¬Q} ⊢ ¬Q I0
5. {¬Q, (¬P → Q)} ⊢ P E¬ de 3 e 4
6. {(¬P → Q)} ⊢ (¬Q → P ) I→ de 5

(20) Exercı́cio. A derivação abaixo estabelece que ⊢ ((P → ¬Q) → (Q →


¬P )), quais são as regras em questão?
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1. {(P → ¬Q)} ⊢ (P → ¬Q) ?


2. {P } ⊢ P ?
3. {P, (P → ¬Q)} ⊢ ¬Q ?
4. {P, Q} ⊢ Q ?
5. {Q, (P → ¬Q)} ⊢ ¬P ?
6. {(P → ¬Q)} ⊢ (Q → ¬P ) ?
7. /
O ⊢ ((P → ¬Q) → (Q → ¬P )) ?

(21) Exercı́cio. A derivação abaixo estabelece que ⊢ (¬¬P → P ), quais


são as regras em questão?

1. {¬¬P, ¬P } ⊢ ¬¬P ?
2. {¬¬P, ¬P } ⊢ ¬P ?
3. {¬¬P } ⊢ P ?
4. /
O ⊢ (¬¬P → P ) ?

(22) Exercı́cio. A derivação abaixo estabelece que ⊢ (P → ¬¬P ), quais


são as regras em questão?

1. {P, ¬P } ⊢ P ?
2. {P, ¬P } ⊢ ¬P ?
3. {P } ⊢ ¬¬P ?
4. O/ ⊢ (P → ¬¬P ) ?

De fato, apesar da denominação “dedução natural”, a aplicação do sistema


apresentado demanda certa familiaridade e muita concentração. Em todo
caso, o que é filosoficamente relevente é que o sistema acima espelha, per-
spicuamente e em termos meramente sintáticos, a noção semântica de “con-
sequência tautológica” (assim, talvez a lógica nem precise muito do mundo
para ser “lógica”, o que, na verdade, é um preconceito filosófico de longa
data).

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