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Alan Woods
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(
A publicação da série ³A luta de classes na República romana´ [em inglês, em breve haverá
versão em português] suscitou um grande interesse entre os leitores do site )
*!
!
. De acordo com a informação que me foi passada pelo comitê de redação, houve
um número recorde de visitas individuais nestes artigos, cerca de 2.200, que é
consideravelmente mais alta que a média de visitas por cada texto.
Este fato confirma a correção da política do site da CMI, que estabeleceu uma sólida
reputação pela qualidade de seus textos teóricos. Em um momento em que as idéias do
marxismo encontram-se sob ataque de todas as partes, nosso site na internet se destaca por
sua defesa firme e coerente da teoria marxista em toda sua múltipla riqueza. Isto demonstra
que muitas pessoas, em todo o mundo, estão interessadas na teoria e se mostram
entusiasmadas em aprofundar seus conhecimentos sobre o marxismo.
Marxist.com tem seus críticos, entretanto. Alguns de nossos críticos se queixam de que
estamos escrevendo artigos sobre a antiga Roma em meio à maior crise do capitalismo desde
a década de 1930. Para fazermos justiça a nós mesmos, devemos dizer que o Marxist.com
publicou muito sobre a crise e o continuará fazendo. Mas também temos o dever de escrever
sobre outras questões, para elevar o nível de compreensão teórica de nossos leitores, para
proporcionar uma análise marxista, não só da economia, mas também da história, da ciência,
da arte, da música e as demais esferas da atividade humana.
Como respondemos àqueles que nos exigem restringir o alcance do marxismo para que
encaixe em seu esquema mental limitado? Não temos nada a responder, porque já foram
contestados há muito tempo por Lênin, que escreveu:
+
+. Essa é uma verdade fundamental sobre a qual
todos os grandes marxistas sempre insistiram. Recordemos esse fato elementar com
exemplos significativos.
!"
O crítico russo, Annenkov, que encontrava-se em Bruxelas durante a primavera de 1846, nos
deixou um informe muito curioso de uma reunião na qual se produziu uma querela furiosa
entre Marx e Weitling, o comunista utópico alemão. Em um dado momento, Weitling, que
era um trabalhador, se queixou que os ³intelectuais´ Marx e Engels escreviam sobre temas
obscuros, que não interessavam aos trabalhadores. Acusou Marx de escrever ³análises e
doutrinas sentados em cadeiras distantes do mundo das pessoas que sofrem e padecem´.
Nesse momento, Marx, que era geralmente muito paciente, ficou indignado. Annenkov
escreveu:
³Em suas últimas palavras, Marx finalmente perdeu o controle de si mesmo e golpeou tão
forte com seu punho sobre a mesa que a lâmpada que estava acima dela caiu com estrépito. E
saltou dizendo: #
$
%
& (´ (Recuerdos de Marx y Engels, p. 272,
Ed. Inglesa. Ênfase minha, AW ± Tradução livre).
Marx compreendeu que o movimento comunista só podia avançar com uma ruptura radical
com estas noções primitivas e com uma limpeza exaustiva em suas fileiras. A ruptura com
Weitling era inevitável e chegou em maio de 1846. Depois, Weitling se instalou nos Estados
Unidos e deixou de jogar qualquer papel digno de menção. Só com a ruptura com a noção de
³trabalhador-ativista´ de Weitling foi possível estabelecer a Liga Comunista sobre uma base
sólida. Entretanto, a tendência primitiva representada por Weitling se reproduziu
constantemente no movimento, em primeiro lugar nas ideias de Bakunin, e mais adiante nas
variadas formas de ultra-esquerdismo que ainda praga o movimento marxista até os dias de
hoje.
Nas ,c de Marx e Engels encontramos uma verdadeira mina de ouro de
ideias. Aqui encontramos os escritos de Engels sobre a guerra camponesa na Alemanha,
sobre a história prematura dos alemães, eslavos e irlandeses, sua história do cristianismo
primitivo, etc. Em seu texto sobre a morte de Engels, Lênin escreveu:
Uma breve lista das obras de Engels revela imediatamente a amplitude de visão de sua
pessoa. Contamos com seu magnífico trabalho polêmico contra Dühring, que trata da
filosofia, e as ciências naturais e sociais com grande profundidade. # ! -
c
se ocupa das origens primitivas da sociedade humana. O
que tem isso tudo a ver com a classe trabalhadora e a luta de classes, perguntaram nossos
críticos ³práticos´. Só isto: que esse foi o trabalho que estabeleceu a base da teoria marxista
do Estado, que Lênin desenvolveu mais tarde em ,c
. /, o livro que
assentou as bases teóricas para a revolução bolchevique.
E o que vamos dizer sobre 0 12 ! !!+ ? Neste
livro, Engels não só aborda as ideias ³abstratas e abstrusas´ de Hegel, senão também as
idéias obscuras de filósofos alemães menores do movimento da esquerda hegeliana.
Especialmente, na Correspondência de Marx e Engels encontra-se um tesouro oculto de
ideias de uma envergadura surpreendente. Os dois amigos trocaram opiniões sobre todo tipo
de temas, não só de economia e política, mas de filosofia, história, ciência, arte, literatura e
cultura.
Aqui temos uma resposta esmagadora a todos os críticos burgueses de Marx que apresentam
uma caricatura de marxismo como uma doutrina seca e estreita, que reduz todo o pensamento
humano à Economia e ao desenvolvimento das forças produtivas. Entretanto, ainda hoje há
pessoas que gostam de se chamar de marxistas e que defendem, não as verdadeiras ideias de
Marx e Engels em toda sua riqueza, amplitude e profundidade, mas a mesma caricatura
³economicista´ dos críticos burgueses do marxismo. Isso não é marxismo de forma alguma,
senão, para utilizar a expressão de Hegel, ³die leblosen Knochen eines Skeletts´ (
), e sobre o que Lênin comentou: ³o que se necessita não é leblose
Knochen, mas a vida vivida.´ (Lênin, 3
2!, Obras Escolhidas, vol. 38. Edição
Inglesa).
â !" !"
³A declaração de Marx: µUm passo adiante real do movimento é mais importante que uma
dúzia de programas¶. Repetir estas palavras em um período de transtorno teórico é
exatamente o mesmo que gritar ao passar de um enterro: µOxalá tenham sempre algo a
levar!¶. Além do mais, essas palavras de Marx são tiradas de sua carta sobre o
4
, na que ele condena duramente o ecletismo na formulação dos princípios, não façam
µconcessões¶ teóricas. Essa foi a idéia de Marx e, todavia, há pessoas entre nós que buscam
em seu nome menosprezar a importância da teoria!
Sem teoria revolucionária não pode haver nenhum movimento revolucionário. Nunca se
insistirá o bastante sobre essa idéia em um momento em que a pregação de moda do
oportunismo vá de mãos dadas com um capricho pelas formas mais restritas de atividade
prática. Entretanto, para os social-democratas russos a importância da teoria se vê reforçada
por outras três circunstâncias, que são muitas vezes esquecidas: primeiro, pelo fato de que
nosso partido só está no processo de formação, apenas começou a definir suas características,
e ainda está muito longe de haver ajustado as contas com as outras tendências do pensamento
revolucionário que ameaçam desviar o movimento da rota correta.´ (Que Fazer, Dogmatismo
e µLiberdade de crítica¶).
Em seu livro |
, Trotsky descreve detalhadamente a psicologia dos ³homens do comitê´,
bolcheviques que também tinham a mentalidade ³prática´. Cometeram toda uma série de
erros por sua incapacidade em compreender o movimento real dos trabalhadores em 1905-6.
A razão de seus erros (geralmente de caráter ultra-esquerdista) foi sua falta de compreensão
da dialética. Tinham uma idéia completamente abstrata e formalista da construção do
partido, que não estava relacionada com o movimento real dos trabalhadores. Por isso, em
1905, para horror de Lênin, os bolcheviques de São Petersburgo abandonaram a primeira
reunião do Soviet, porque este se negou a aceitar o programa do partido.
Alguém poderia perguntar o que estava fazendo Vladmir Ilich escrevendo livros sobre tais
assuntos. Que possível relevância podia ter o estudo dos escritos do bispo Berkeley para os
trabalhadores russos? Também se pode perguntar por que Lênin considerou necessário
romper com a maioria dos líderes bolcheviques sobre a questão da filosofia. Mas Lênin
compreendeu muito bem o nexo causal entre a recusa de Bogdanov ao materialismo dialético
e as políticas ultra-esquerdistas adotadas pela maioria.
Durante a primeira guerra mundial, Lênin regressou à filosofia, e fez um estudo profundo
sobre Hegel, que foi publicado muitos anos mais tarde sob o título de 3
!!. Uma
de suas últimas obras foi ,
!
, em que uma vez mais
sublinhava a necessidade de estudar Hegel:
Trotsky, como Lênin, dedicou toda a sua vida a uma defesa intransigente da teoria marxista.
Em um excelente texto sobre Engels, sublinha a atitude escrupulosa deste em relação à
teoria:
³Ao mesmo tempo, a magnitude intelectual do mestre a seu pupilo era verdadeiramente
inesgotável. Eu costumava ler os textos mais importantes do prolífico Kautsky em sua forma
de manuscrito, e cada uma de suas cartas de crítica contêm sugestões preciosas, o fruto de
uma reflexão séria, às vezes, de investigação. A obra bem conhecida de Kautsky,
#
. /2
, que foi traduzida para quase todos os
idiomas da humanidade civilizada, também parece que passou através do laboratório
intelectual de Engels. Sua longa carta sobre as agrupações sociais na época da grande
revolução do século XVIII ± assim como sobre a aplicação do método materialista dos
acontecimentos históricos ± é um dos documentos mais impressionantes da mente humana.
Por sua grande concisão, cada uma de suas fórmulas pressupõe um acúmulo demasiado
grande de conhecimentos para que possa entrar na circulação da leitura geral; mas esse
documento, apesar de ter permanecido por um longo tempo oculto, permanecerá para sempre
não só como uma fonte de instrução teórica, mas também como um pedaço de gozo estético
para toda pessoa que tenha refletido seriamente sobre a dinâmica das relações de classe em
uma época revolucionária, bem como sobre os problemas gerais envolvidos na interpretação
materialista dos acontecimentos históricos.´ (Trotsky, Cartas de Engels a Kautsky, 1935).
Em todas as obras de Trotsky vemos uma amplitude de visão e um amplo interesse, não só
sobre história, mas também na arte e literatura e a cultura em geral. Antes da primeira guerra
mundial, escreveu textos sobre arte e sobre escritores como Tolstoi e Gogol. Depois da
Revolução de Outubro, escreveu extensamente sobre arte e literatura. Seu livro 0
. / é produto desse período.
Em 1923 escreveu: ³A literatura, cujos métodos e processos têm suas raízes no passado mais
longínquo e representa a experiência acumulada de artesanato verbal, expressa os
pensamentos, sentimentos, estados de ânimo, pontos de vista e as esperanças de cada nova
época e de sua nova classe.´ (Trotsky, 0-5!
). No centro do tormentoso período da revolução e contra-revolução na década de
1930, encontrou tempo para escrever sobre literatura e arte. Em 1934, pouco depois da
catástrofe alemã, escreveu um comentário sobre a novela de Ignazio Silone, 2
. Em
1938, escreveu o
!
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.
+)
, junto com o escritor
surrealista André Breton.
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Todos esses êxitos foram o resultado de anos de trabalho paciente. Em última instância,
foram o resultado das ideias, os métodos e as perspectivas corretas elaboradas por Ted Grant,
esse grande pensador marxista. Ted sobressaía cabeça e ombros por cima de qualquer de seus
contemporâneos. Estava bem fundamentado na teoria marxista e conhecia as obras de Marx,
Engels, Lênin e Trotsky como a palma de sua mão.
Como pode se explicar isso? Os trabalhadores e jovens avançados têm sede pelas ideias e a
teoria. Querem compreender o que está sucedendo na sociedade. Não se sentem atraídos
pelas tendências que simplesmente lhes dizem o que já sabem: que o capitalismo está em
crise, que há desemprego, que vivem em péssimas habitações, que ganham salários baixos, e
assim sucessivamente. As pessoas sérias querem saber por que as coisas são como são, o que
sucedeu na Rússia, o que é o marxismo e outras questões de caráter teórico. Por isso, a teoria
não é uma opção extra, como imaginavam os ³práticos´, senão uma ferramenta essencial da
luta revolucionária.
É uma calúnia contra o proletariado dizer que os trabalhadores não estão interessados nos
grandes assuntos da cultura, da história, da filosofia, etc. Na minha experiência de muitos
anos, eu encontrei que, entre os trabalhadores há um interesse muito mais autêntico pelas
ideias que em muitas pessoas procedentes das chamadas classes médias cultas. Recordo que
há muito tempo, quando estava dando conferências a trabalhadores no sul de Gales, de onde
sou originário, que uma vez encontrei um trabalhador metalúrgico que havia aprendido por si
só o português para ler as obras de um poeta brasileiro do qual eu nunca havia ouvido falar
antes.
Tenho visto muitos casos de supostos marxistas educados que pensam que é inteligente
imitar a linguagem e os hábitos do lúmpem-proletariado, imaginando que isto lhes dará mais
credibilidade como ³verdadeiros trabalhadores´. Na realidade, os trabalhadores não utilizam
normalmente esse tipo de linguagem em suas casas ou em seu círculo mais próximo. Imitar a
conduta dos extratos mais baixos e degradados dos trabalhadores e da juventude não é digno
de um marxista e muito menos de alguém que aspira ser um dirigente. Em um texto
maravilhoso, #
, Trotsky descreveu essa linguagem como a
marca de uma mentalidade de escravos, que os revolucionários não devem imitar, mas
deveriam se esforçar para eliminar.
Neste texto, escrito em 1923, Trotsky elogia os trabalhadores da fábrica de calçados 0
'
que aprovaram uma resolução na qual se abstinham de empregar uma
linguagem blasfema (más palavras) e impunham multas por empregar uma linguagem
grosseira. O dirigente da Revolução de Outubro não considerou isto como um detalhe
insignificante, mas como uma manifestação muito importante do esforço da classe
trabalhadora em se liberar da mentalidade escrava e aspirar a um nível superior de cultura.
³A linguagem blasfema e as más palavras são um legado da escravidão, da humilhação e do
desprezo pela dignidade humana: da própria e dos demais´. Isso foi o que escreveu o
dirigente da Revolução de Outubro.
Trotsky sublinhou a importância da luta por uma linguagem culta: ³A luta pela educação e a
cultura proporcionará aos elementos avançados da classe trabalhadora todos os recursos do
idioma russo em sua riqueza extrema, sutileza e refinamento´.
E explica que a revolução é ³em primeiro lugar um despertar da personalidade humana nas
massas, que se supõe que não possuem personalidade´. É, ³antes e sobretudo, o despertar da
humanidade, sua marcha ascendente, e se caracteriza por um respeito crescente à dignidade
pessoal de cada indivíduo e por um interesses cada vez maior pelos débeis´. (ibid.)
A transformação Socialista significa não só a conquista do poder: que é só o primeiro passo.
A verdadeira revolução ± o salto da humanidade desde o reino da necessidade ao reino da
liberdade ± ainda tem que ser levada a cabo. Engels destacou que, em qualquer sociedade
onde a arte, a ciência e o Governo são o monopólio de uma minoria, essa minoria utilizará e
abusará de sua posição para manter a sociedade em condições de servidão.
Fazer concessões ao baixo nível de consciência das camadas mais atrasadas e menos
instruídas da classe trabalhadora, não ajuda a elevar sua consciência ao nível das tarefas que
coloca a história. Pelo contrário, ajuda a reduzi-la, e isso sempre terá conseqüências
retrógradas e reacionárias. Podemos resumir a discussão da seguinte maneira: é progressivo e
revolucionário o que serve para elevar o nível de consciência do proletariado. É reacionário
tudo o que tende a reduzi-lo.
Os marxistas devem estar na primeira linha de batalha da classe trabalhadora que está
lutando para transformar a sociedade. Nosso dever é educar e formar os quadros da futura
revolução socialista. Para poder realizar essa tarefa, devemos defender o que é positivo,
progressivo e revolucionário, e recusar decisivamente tudo o que é atrasado, ignorante e
primitivo. Temos nosso objetivo fixado em um horizonte muito nobre. Devemos elevar a
visão da classe trabalhadora, começando com os elementos mais avançados, para o horizonte
do que falava Trotsky em 0
. /.
³É difícil predizer o grau de domínio sobre si mesmo que alcançará o homem do futuro ou as
alturas às quais elevará sua técnica. A edificação social e a auto-educação psico-física serão
dois aspectos do mesmo processo. Todas as artes: a literatura, o teatro, a pintura, a música e a
arquitetura prestarão a esse processo uma forma bela. Mais corretamente, o processo da
edificação da cultura e a auto-educação do homem comunista desenvolverá até o ponto mais
elevado todos os elementos vitais da arte contemporânea. O homem será incomparavelmente
mais forte, mais prudente e inteligente, e mais refinado. Seu corpo se fará mais harmônico,
seus movimentos mais rítmicos e sua voz mais musical; as formas de seu modo de ser
adquirirão uma representatividade dinâmica. O fim médio do intelecto humano ascenderá à
altura de um Aristóteles, de um Goethe ou de um Marx. E por cima deste topo se elevarão
outros novos´.