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Filosofia
IMITATIO
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0 Rosto de Deus anuncia uma nova fase da Bibliote
ca René Girard. O instigante livro de Roger Scruton
inaugura a vertente “Diálogos”, composta de títulos de
autores que não são exatamente girardianos, pois têm
uma obra própria, assim como preocupações muito
bem definidas e nem sempre convergentes com as ob
sessões do pensador francês. Trata-se do caso do autor
de Coração Devotado à Morte -
O Sexo e o Sagrado em Tristão e Isolda, de Wagner.
também publicado pela É Realizações.
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IMITATIO
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Roger Scruton
Copyright ° 2012 Roger Design gráfico Proibida toda e qualquer
Scruton Alexandre Wollner reprodução desta edição
Esta tradução é publicada Alexandra Viude por qualquer meio ou
em acordo com The Janeiro/Feverciro 2011 forma, seja da eletrônica
Continuum International ou mecânica, fotocópia,
Publishing Group Preparação de texto gravação ou qualquer
Copyright da edição Solange Gonçalves outro meio de reprodução,
brasileira ° 2015 Guerra Martins sem permissão expressa
É Realizações Editora do editor.
Titulo original: Revisão
The Face ofGod Arnaldo R. Arruda
Este livro foi impresso
Editor pela Intergraf Indústria
Edson Manoel de É Realizações Editora, Gráfica, em novembro
Oliveira Rlho livraria e Distribuidora Ltda de 2015. Os tipos são da
Rua França Pinto, 498 - família Rotis Serif Std e
Produção editorial e capa 04016-002 -Sâo Paulo, SP Rotis Semi Sans Std. 0
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João Cezar de Castro www.erealizacoesxom.br
Rocha
CIP-Brasil. Catalogação-na-Publicação
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
S441r
29/10/2015 03/11/2015
o rosto de Deus
Roger Scruton
tradução Pedro Sette-Câmara
É Realizações
Editora
Esta edição teve o apoio da Fundação Imitatio.
IMITATIR
MTEGRAT1NQ THE HUMAN SCIENCES
1/ 235
iMpllulo 1 índice analítico
a vista de lugar
nenhum 238
índice onomástico
41
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a perspectiva de
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o rosto da pessoa
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Diálogos
apresentação 7
No fondo, importa, e muito, a todos que se preocupam
com o entendimento do mundo contemporâneo.
Contrastes e confrontos.
“Diálogos” - portanto.
8 o rosto de Deus
0 Rosto de Deus é um notável ensaio que coloca em cena
os traços mais salientes da obra de Roger Scruton.
apresentação 9
Scruton4 - no universo da objetificação. Aliás, objetificaçào
ecumênica: das palavras, das coisas e, sobretudo, das pessoas.
4 "É tratando um ao outro por ‘você* que nos atamos à rede de relações
10 o rosto de Deus
presumia que a filosofia, a psicologia e a
antropologia iriam confinná-la.6
apresentação 11
Rosto: palavra-ímâ deste admirável ensaio. No dicionário de
Scruton, rosto é a face que “brilha no mundo dos objetos com
uma luz que não é deste mundo: a luz da subjetividade"10*
Olhar bem nos olhos do outro exige admirar seu rosto, isto
é, reconhecer-lhe integralmente sujeito. Identificar o rosto da
pessoa pode ser uma forma de abrir-se para o rosto do mun
do. Por fim, afirma Scruton, para o crente, a possibilidade
toma-se plena por meio da contemplação do rosto de Deus."
12 o rosto de Deus
fast food, fast reading, fast everythingl -, por que não
desacelerar o ritmo frenético do dia a dia?
Convergências?
Vamos lá.
Retomemos a Shakespeare.
apresentação 13
A resposta de Brutus vale por todo um ensaio; claro que
ele não pode ver o próprio rosto:
14 o rosto de Deus
Este livro contém a versão publicada das Palestras
Giffbrd dadas na Universidade de St. Andrews durante
a primavera de 2010. A doação de lorde Gifford tinha o
objetivo de patrocinar palestras públicas nas universi
dades escocesas que fossem “promover e difundir [...] o
conhecimento de Deus”. E ele esperava que as palestras
fossem acessíveis sem a necessidade de conhecimentos
especializados. Por isso, tentei evitar os pormenores
técnicos que os filósofos acadêmicos podem julgar es
senciais para o devido desenvolvimento de minha argu
mentação e meramente mencionei debates que a mim
parecem estar à margem das preocupações de pessoas
comuns de boa formação.
prefácio 15
Ao preparar essas palestras para publicação, completei
alguns dos argumentos, mas tentei manter o estilo rela
tivamente informal em que elas foram compostas. Aqui
e ali acrescentei notas de rodapé que guiarão o leitor
interessado às discussões que considerei especializadas ou
intricadas demais para merecer lugar no texto. Versões
anteriores foram lidas por John Cottingham, Fiona Ellis,
Alicja Gçscinska e Raymond Tallis, e sou grato a todos
por seus comentários e por suas criticas.
16 o rosto de Deus
Lorde Gifford nào era um fiel ortodoxo de religião ne
nhuma, mas alguém que mesmo assim acreditava que
nossa relação com Deus é a relação mais importante que
temos. Ele viveu entre pessoas que compartilhavam essa
crença, e ele mesmo presumia que a filosofia, a psicolo
gia e a antropologia iriam confirmá-la. Não creio que ele
tenha antevisto a cultura dominante de hoje em dia, em
que a crença em Deus é amplamente rejeitada, considera
da um sinal de imaturidade emocional e intelectual. Mas
creio que ele teria aprovado a tentativa de explorar o que
está sendo perdido quando essa crença é esquecida. E
esse será um dos meus temas nesta série de palestras. Vou
considerar algumas das consequências da cultura ateista
que cresce à nossa volta e sugerir que este não é apenas
um fenômeno intelectual, que expressa uma descrença
em Deus, mas também um fenômeno moral, que envolve
um distanciar-se de Deus.
18 o rosto de Deus
característica que conhecemos como vida, mas que pode
ser mais bem descrita como a codificação de instruções
para sua própria reprodução. Talvez um dia a ciência
possa ser capaz de responder à pergunta sobre como isso
aconteceu. Mas será a ciência, e não a religião, quem vai
dar essa resposta.
20 o rosto de Deus
acontecimentos na galáxia, acontecimentos no oceano e
acontecimentos na mente. A segunda é que tudo o que
acontece é contingente. Não existe razão para que algo
aconteça, exceto que acontece na sequência ditada pelas
leis da natureza. Não há uma explicação final de por que
o mundo existe: ele simplesmente existe.
22 o rosto de Deus
sua causa.3 Esses argumentos, porém, são vazios. Só é
possível falar de probabilidade se for possível fazer juízos
comparativos ou cálculos estatísticos. Dispondo de um e
apenas um universo, esses juízos e cálculos não podem
ser feitos; essas afirmações de probabilidade e de possibi
lidade, portanto, carecem de fundamento.
3 Ver, por exemplo, Richard Swinburne, "Argument from the Rne-Tuning of the
Universe", em John A. Leslie (ed.). Physical Cosmology and Philosophy. New
York, Macmillan, 1990, p. 160-87. Essa proposta e outras similares são critica
das por Ellioto Sober, nhe Design Argument" em W. Mann [ed.]. The Blackwell
Companion to Philosophy of Religion. Oxford, Blackwell, 2004, p. 117-47.
4 Para discussões desse principio, ver Stephen Hawking, "The Cosmologi-
cal Constant and the Weak Anthropic Principie". In: M. J. Duff e C. J. Isham
(eds.). Quantum Structure ofSpace and Time. Cambridge, Cambridge Uni-
versity Press, 1982, p. 423-37, e Uma Breve História do Tempo. Rio de Janei
ro, Rocco, 1988; e B. Carter, "Large Number Coincidences and the Anthropic
Principie in Cosmology". In: M. S. Longair (ed.), Confrontation of Cosmologi-
cal Theories with Observational Data. Dordrecht, Reidel, 1974, p. 291-98.
24 o rosto de Deus
0 espaço e o tempo eram concebidos como absolutos,
imutáveis, o pano de fundo contra o qual se desenrola
o drama do “movimento e repouso”. A teoria geral da
relatividade de Einstein trouxe o espaço e o tempo para
o primeiro plano; eles se tomaram parte da rede causai,
matrizes que mudam com as coisas que contêm. Enquan
to isso, a mecânica quântica abalava os fundamentos da
fisica, prevendo que a condição de uma partícula podería
estar conectada à de outra, mesmo que nenhuma força
passasse entre elas, resultado esse que Einstein não con
seguia aceitar e contra o qual em vão bateu sua grande
cabeça? No mundo da mecânica quântica, aquilo que
existe e aquilo que pode ser conhecido parecem fundir-
-se mutuamente, como personagens da ficção, que não
são verdadeiramente distintos de suas histórias. 0 uni
verso newtoniano, que parecia um brinquedo tão robusto
nas mãos do Criador, dissolve-se no nível superior em
flutuações do contínuo espaço-tempo, e no nível inferior
em possibilidades infundamentadas, afirmações sobre
aquilo que pode ser medido, das quais as coisas mesmas
praticamente desapareceram.
26 o rosto de Deus
foram essas outras condições. 0 gene e a “sopa primor
dial" não podem ser menos impressionantes do que seu
produto, e o fato de que sua evolução se daria nessa dire
ção, no sentido de um mundo que obteve consciência de
si mesmo, certamente foi a mais intrigante característica
daquele denso pacote de coisas que surgiu IO-43 segundos
após o Big Bang. Mas será esse espanto um vazio que
jamais poderá ser preenchido por uma explicação?
28 o rosto de Deus
ou estar relacionado conosco sob qualquer aspecto? Essa
questão se toma ainda mais vivida quando nos voltamos
para os argumentos dos filósofos medievais, e particular
mente para aquele introduzido por Avicena baseado no
ser contingente.
30 o rosto de Deus
a discussão, sob outro.9 Suponhamos, diz Santo Tomás
de Aquino, que não exista ser necessário e que todos
os seres poderíam não ter existido. Como o tempo em
que ocorrem todas as contingências é infinito (já que,
segundo a hipótese, não existe um ser que possa colocar-
-Ihe limites), então pode-se dizer verdadeiramente, sobre
qualquer ser contingente, que haverá algum tempo em
que ele não existirá e, portanto, algum tempo em que
todos os seres contingentes não existirão - um tempo de
nada absoluto. Mas esse ponto nulo do universo já deve
ter existido, uma vez que o tempo passado, assim como
o tempo futuro, é infinito. E como nada pode surgir do
nada, então havería, a partir daquele momento, o nada
eterno. Mas algo há - isto é, essa coisa que está meditan
do a questão do ser. Por isso, a hipótese deve ser falsa, o
que significa que existe, afinal, o ser necessário de que
todas as outras coisas dependem. E essa coisa é - adap
tando o linguajar de Avicena - causa sui (wajib al-wujud
bi dhatihi); ela é dependente de si mesma, o sustentáculo
de tudo. E é uma coisa, uma unidade, admitindo, nas
palavras do Corão, “parceiro nenhum".
32 o rosto de Deus
ele. Dirigimo-nos a ele, assim como nos dirigimos àqueles
que amamos, não com o “por quê?” da explicação, mas
com o “por quê?” da razão e com o “por quê?" do senti
do. Queremos saber a finalidade e o sentido, e também a
causa, e treinar a disciplina da aceitação. É essa postura,
e não a crença em intervenções sobrenaturais, que infor
ma a visão de mundo religiosa - a postura de submissão,
ou de islã.
34 o rosto de Deus
Tomás o descreveu. E como podemos nos relacionar
com esse Deus: como podemos amá-lo ou saber que ele
retribui o nosso amor? Se resolvermos a tensão entre as
visões de mundo teísta e científica à maneira de Avicena,
então o risco é terminarmos com um Deus que não pode
ser conhecido nem amado, já que só aquilo que pode ser
conhecido pode ser verdadeiramente amado. E, se assim
for, como podemos obedecer aos dois grandes manda
mentos de amar a Deus completamente e nosso próximo
como a nós mesmos, os mandamentos, como disse Cristo,
que são utoda a lei e os profetas”? Esse problema ocorre
não apenas com o Deus de Avicena, mas também com
o Deus de Averróis, com o Deus de Moisés Maimônides
e até com o Deus de Aquino. Afinal, o problema surge
precisamente porque nos decidimos a provar a existência
de Deus com base em premissas puramente abstratas,
sem fazer referência ao modo como as coisas existem
no mundo empírico. 0 argumento com que esperamos
responder à ciência acaba escondendo Deus.
36 o rosto de Deus
uma filiação e, na verdade, nada além de si mesmas,
junto com o desafio de refutá-las - desafio que, segun
do a abordagem plausível de Popper, é parte essencial
de sua pretensão de ser ciência.12 De fato, quando um
sistema de crenças começa a perseguir aqueles que não
o aceitam, sabemos - ou devíamos saber - que ele não
passa de uma pseudociência. Isso com certeza fica to
talmente óbvio nos casos do freudismo e do marxismo,
duas supostas ciências que viraram o mundo de cabeça
para baixo ao reivindicar as almas de seus seguidores e
não suas opiniões refletidas.
Ver Karl Popper, The Logic ofScientific Discovery. 1934. (Edição inglesa,
Routledge, 1959.)
38 o rosto de Deus
Crenças falsas sào o resultado de “cadeias causais des-
viantes”, como no caso das alucinações, que rompem a
conexão entre representação e realidade.
14 Ver David Sloan Wilson. Darwin's Cathedral: Evolution, Religion and the
Nature ofSociety. Chicago, University of Chicago Press, 2002.
40 o rosto de Deus
consolos que ela proporciona. 0 asceta e o anacoreta, o
peregrino solitário e o contemplativo, procuram outra co
munhão - a comunhão com Deus mesmo, com o espírito
do mundo, com Brama, ou com o Amigo. Esses ramos
solitários do ímpeto religioso original têm importância
enorme em toda religião séria, por oferecer outro caminho
para ela. Eles parecem uma rejeição do mundo; no entan
to, é o mundo que cria o caminho para eles. E, por meio
da disciplina da autonegação, o santo ou o bodisatva re
faz a experiência primordial da comunidade como relação
entre si mesmo e o sentido transcendente do mundo.
42 o rosto de Deus
Sugeri que os argumentos que podemos usar para conci
liar a crença em Deus com a visão de mundo científica,
ainda que persuasivos em si mesmos, levantam outra
questão para o crente, que é o problema da presença de
Deus no mundo. Onde podemos encontrá-lo, e como?
Eis o fantasma de uma resposta a essa pergunta: Deus é
uma pessoa, e ele se revela como as pessoas, por meio de
um diálogo que envolve os três termos essenciais “eu",
“você" e “por quê?"1 Essa resposta nos coloca diante de
outro problema levantado pela visão de mundo científica,
que é o de conciliar nossas crenças a respeito de pessoas
com a ciência do ser humano.
44 o rosto de Deus
Essa abordagem promete dissipar algo do mistério da
condição humana. Se for possível mostrar que algum
traço da nossa vida mental é uma adaptação enraizada
nas tribulações de nosso passado de caçadores-coleto-
res, então será criada uma ponte entre as peculiaridades
das pessoas civilizadas e as circunstâncias daquelas
criaturas semelhantes a gorilas das quais descendemos.
Aquilo que de outro modo parecería um abismo in
transponível na ordem natural, entre o animal instinti
vo e o ser moral plenamente dotado de cultura, começa
a adquirir antes a aparência de uma transição passo
a passo, podendo cada passo ser explicado em termos
evolucionistas.
46 o rosto de Deus
estratégia evolutivamente estável não apenas para os ge
nes humanos mas para os genes de qualquer criatura que
possa obter um benefício reprodutivo ao fazer alguma
coisa que beneficie os outros. A origem dessas explica
ções está na aplicação da teoria dos jogos à genética feita
por John Maynard Smith e à evolução social por Robert
Axelrod, ambas popularizadas por Matt Ridley em The
Origins of Virtue [As Origens da Virtude].4 Ridley sugere
que a virtude moral é uma adaptação, evidenciando que
qualquer outra forma de conduta teria colocado os genes
de um organismo numa situação de clara desvantagem
no jogo da vida. Na linguagem da teoria dos jogos, nas
circunstâncias que prevaleceram ao longo da evolução, o
altruísmo é uma estratégia dominante.
48 o rosto de Deus
mesma - sem experimentar a força das normas morais.
Podemos resistir a essa motivação, mas só em casos
patológicos ela está totalmente ausente. Segue-se que a
explicação genética não tem grande valor. Se os seres
racionais são motivados para agir desse modo, indepen
dentemente de qualquer estratégia genética, então isso
basta para explicar que eles se comportam assim.
E, considerando a óbvia utilidade social dessa moti
vação, podemos concluir, sem nenhuma referência à
biologia, que uma espécie concorrente inclinada a agir
de modo distinto a essa altura já teria morrido.
50 o rosto de Deus
visão de mundo sem nenhum benefício para seu poten
cial reprodutivo - ou com benefícios que chegam tarde
demais para exercer qualquer pressão evolutiva em favor
da pesquisa que os produz.
' Em Language and Mind. Cambridge: MIT Press. 1968, e em outras obras.
Alguns geneticistas propuseram teorias de "protolinguagens" que tentam
mostrar que podería haver progressos fragmentários no sentido da com
petência linguística, e que esses progressos seriam selecionados no nível
genético. Ver, por exemplo, John Maynard Smith e Eõrs Szathmáry, The Major
Transitions in Evolution. Oxford e New York, W. H. Freeman, 1995. p. 303-38.
Essas teorias, porém, nunca parecem superar a transição das correlações
entre palavras e coisas para a referência de palavras para coisas.
52 o rosto de Deus
não é algo instintivo. É uma resposta ponderada, às vezes
baseada em ágape ou amor ao próximo, às vezes em
complexas emoções interpessoais como orgulho e ver
gonha, que por sua vez se baseiam no reconhecimento
do outro como alguém semelhante a mim. Em todos os
casos, o altruísmo nas pessoas envolve o reconhecimento
de que aquilo que é mau para o outro é algo que eu tenho
motivação para remediar.
54 o rosto de Deus
metafísico particular do sujeito. Como sujeito autocons-
ciente, tenho um ponto de vista sobre o mundo. 0 mundo
parece de certo jeito para mim, e esse “parecer” define
minha perspectiva única. Todo ser autoconsciente tem
essa perspectiva, porque é isso que significa ser sujeito e
não um mero objeto. Todavia, quando dou uma explica
ção científica do mundo, só descrevo os objetos, a manei
ra como as coisas são e as leis causais que as explicam.
Essa descrição não é oferecida de nenhuma perspectiva
em particular. Ela não contém palavras como “aqui”,
“agora” e “eu": e ainda que ela pretenda explicar o modo
como as coisas parecem, faz isso dando uma teoria de
como elas são.
56 o rosto de Deus
Estou diretamente consciente, como diz Kant, da “uni
dade transcendental da apercepção”: o proprietário
individual unificado de todos os meus estados mentais.
Esse conhecimento privilegiado dos meus estados mentais
presentes e de seu proprietário comum seria descrito por
Wittgenstein como uma característica “gramatical”: um
fato a respeito da gramática do caso de primeira pessoa.
Mas isso não é nem uma explicação, nem um ataque:
continua a ser verdade que há em cada um de nós uma
esfera de autoconhecimento que é privilegiada e que essa
esfera de autoconhecimento define o ponto de vista de
algum lugar que é meu. Sem essa esfera privilegiada, não
havería “eu”: meu mundo seria “sem mim”, e portanto
não seria nem meu nem de ninguém.
58 o rosto de Deus
A relação Eu-Você recebeu atenção considerável da
filosofia moderna, sobretudo num famoso livro de Martin
Buber, Eu e Tu (1923), e, mais recentemente, numa obra
cuidadosamente argumentada de Stephen Darwall.11
A relação Eu-Você, ao mesmo tempo que distingue as
pessoas, também as constitui. É tratando um ao outro
por “você” que nos atamos à rede de relações interpes
soais, e é em virtude de nosso lugar na rede que somos
pessoas. A pessoalidade é uma condição relacionai, e sou
uma pessoa na medida em que posso entrar em relações
pessoais com outros como eu. Isso pode ser parte da
quilo que Locke quis dizer quando descreveu o conceito
de pessoa como um conceito “forense”:'2 ele denota o
aspecto da condição humana em que assumimos respon
sabilidade por nossas ações, explicamos uns aos outros
como as coisas nos aparecem, damos razões para decisões
nossas e alheias e elogiamos ou censuramos uns aos ou
tros segundo as normas e aspirações que nos esforçamos
para compartilhar. Dai o papel do caso de segunda pessoa
como uma maneira de endereçamento e não apenas como
modo de descrever outras pessoas.
60 o rosto de Deus
Quando decido ir sóbrio para casa, eu “me resolvo”, e isso
significa ter certeza sem indício nenhum de que é isso
que farei. Nesse caso, respondo à pergunta “por quê?"
sem apresentar evidências com base em comportamentos
pregressos, mas oferecendo razões para agir. Estou assu
mindo a responsabilidade pelo meu futuro, e isso significa
colocá-lo dentro do escopo do conhecimento em primeira
pessoa, ter certeza de que será isso que farei. Se no fim
das contas eu não voltar sóbrio para casa, não terá sido
porque eu estava equivocado na afirmação anterior sobre
minha ação futura, mas porque mudei de ideia.
14 Esse paradoxo é enfatizado por Donald Davidson num artigo que gerou
extensa literatura. Ver "How Is Weakness of the Will Possible?" (1969). In:
Essoys on Actions Events. 2. ed., Oxford, Clarendon Press, 2001.
62 o rosto de Deus
nossa vida, e nossos esforços são em grande parte gastos
para evitá-los. Vivemos diante dos olhos do julgamento,
olhos que também são os nossos. Disso nasce o grande
anseio do coração humano por justiça, pela vida sem
culpa, a vida devidamente guiada. Ser bem encaminhado
pela luz que brilha além das estrelas - essa é a promessa
da salvação, segundo Al-Ghazali e os poetas sufis.
No original, from which decisions flow the full force of moral con-
demnation. 0 Dicionário Oxford nâo registra o uso do verbo to flow com
objeto. (N. T.)
64 o rosto de Deus
coisa com liberdade e autoconhecimento? Deve ser, argu
mentava Kant, um mundo de objetos duradouros, objetos
com identidade através do tempo. E eu sou um desses
objetos: a coisa que, tendo decidido isso aqui agora, fará
aquilo lá então. Um mundo de coisas duradouras é um
mundo amarrado por leis causais: isso Kant esforçou-se
para aprovar na seção imensamente difícil da Crítica da
Razão Pura intitulada “A Dedução Transcendental das
Categorias”. Sem a teia de causalidade nada “se preser
va no ser” em tempo suficiente para conhecer ou ser
conhecido. Assim, meu mundo, o mundo do ser livre, é
um mundo ordenado por leis causais. E as leis causais,
pensava Kant, são universais e necessárias. Elas referem
conexões na natureza mesma das coisas, conexões que
não podem ser suspensas nessa ou naquela ocasião, nem
só para a conveniência das pessoas.
66 o rosto de Deus
as pessoas escolhem entre alternativas, há uma irrupção
particular de atividade nos centros motores do cérebro
que levam diretamente àquela ação. Mas o sujeito mesmo
só reporta sua decisão alguns instantes depois disso,
quando a ação já está (do ponto de vista do sistema ner
voso central) “acontecendo" Alguns cientistas cognitivos
(mas não Libet) concluem que nossa impressão do livre-
-arbítrio é, portanto, uma ilusão, já que a “escolha" sem
pre vem tarde demais, depois de a ação ter sido iniciada
pelo cérebro. Alguns vão ainda mais longe e concluem
que é o cérebro e não a pessoa que faz tudo, e que falar
de pessoas e de suas ações não passa de um modo vago e
ignorante de descrever aquilo que na verdade deveria ser
descrito como um cérebro e o corpo que ele move.
" Esse pressuposto é um exemplo daquilo que Max Bennett e Peter Hacker
condenaram, classificando de "falácia mereológica", isto é, a falácia que há
em explicar a propriedade de um todo atribuindo a mesma propriedade a
uma de suas partes. Ver The Philosophical Foundations of Neuroscience.
Oxford, Blackwell, 2002, Parte I. cap. III. Bennet e Hacker têm suas razões
para rejeitar a interpretação comum dos experimentos de Libet: ver ibidem,
p. 228-31.
68 o rosto de Deus
aqueles que procuram a liberdade nos efeitos quânticos,
acreditando que um ato livre é aquele que nasce nos
quarks e léptons do cérebro, no nível subatômico, onde
nada é rigidamente determinado. Mas argumentar dessa
maneira é interpretar a liberdade dos sujeitos como uma
espécie de indeterminação dos objetos, como um rom
pimento na cadeia de causalidade, por assim dizer, onde
a vontade pode interferir. Entretanto, a liberdade não é
um tipo de causalidade, e menos ainda uma interrupção
da ordem causai. A liberdade emerge da teia de relações
interpessoais e nasce como corolário de “eu”, “você” e
“por quê?" Ela não é uma falha entre os objetos, mas
uma revelação do sujeito.
'• Dai Patrícia Churchland. In: Neurophilosophy, op. cit., mas não Daniel C.
Dcnnett em Frcedom Evolves. New York, Viking Press, 2003.
70 o rosto de Deus
Deve-se tirar um corolário interessante da posição cética.
Você pode dizer que os experimentos de Libet tentam
descobrir o lugar do sujeito no mundo dos objetos. Eles
estão procurando o ponto de interseção da autocons-
ciência livre com o mundo em que ela age. E eles não
acham esse ponto. Tudo que eles acham é uma sucessão
de acontecimentos na corrente dos objetos, nenhuma
das quais pode ser identificada com uma escolha livre
autoconsciente. Há aqui um paralelo com a questão que
levantei no primeiro capítulo: a questão da presença de
Deus no mundo. Se você olhar o mundo com os olhos
da ciência, é impossível encontrar o lugar, o momento
ou a sequência particular de acontecimentos que podem
ser interpretados como mostras da presença divina. Deus
desaparece do mundo assim que nos dirigimos a ele com
o “por quê?" da explicação, assim como a pessoa humana
desaparece do mundo quando procuramos a explicação
neurológica de seus atos. Assim, talvez Deus seja uma
pessoa como nós, cujas identidade e vontade estão atadas
à sua natureza de sujeito. Talvez só o encontremos no
mundo em que estamos se pararmos de invocá-lo com o
“por quê?" da causa e nos dirigir a ele com o "por quê?"
da razão. E o "por quê?" da razão precisa ser dirigido
do eu para você. 0 Deus dos filósofos desapareceu atrás
do mundo, porque era descrito na terceira pessoa e não
tratado pela segunda.
72 o rosto de Deus
a neurociência compra suas explicações pagando com os
fatos. Realmente, não estamos de modo algum lidando
com uma nova ciência do ser humano, mas com uma
torrente de neurononsense.
74 o rosto de Deus
sua experiência seja real e metafisicamente possível,
que ele habite um mundo de outras pessoas, que podem
identificá-lo por seu corpo e dialogar com ele. E seu
corpo naquele espaço conterá um cérebro - o cérebro
que é verdadeiramente seu, que pertence à pessoa que ele
identifica quando diz, falando em primeira pessoa, “estou
aqui”. 0 cérebro que o cientista estimula nào tem cone
xão, nem sequer uma conexão causai, com o cérebro da
pessoa que ele supostamente controla, já que não existe
contínuo espaço-tempo que contenha ambos.
76 o rosto de Deus
À primeira vista, o Deus cujos atos sào contados na Torá
não se parece muito com o Deus dos filósofos. Contudo,
à sua maneira, ele é abscôndito e, apesar de seu interesse
intenso e abrangente nas questões do mundo, age a certa
distância de seus devotos. Em Êxodo, 33,20, Deus diz a
Moisés: “Não poderás ver a minha face, porque o homem
não pode ver-me e continuar vivendo”. Moisés, porém,
tem permissão para ver o Senhor de costas, quando pas
sa. As imagens no livro do Êxodo são estranhas e pertur
badoras: Deus é usado como representante de tudo aquilo
que não compreendemos e não conseguimos controlar,
em todas as áreas da vida em que podemos, sem saber,
dar um passo em falso e perder tudo. Ele não está em
lugar nenhum e está em todo lugar, espreitando-nos e
também fugindo assim que é notado.1
' Ver, quanto a isso, a instigante desconstrução feita por Jack Miles, Deus:
Uma Biografia. São Pãulo, Companhia das Letras, 1997.
78 o rosto de Deus
capazes de mudar o fluxo dos acontecimentos e ao mes
mo tempo de assumir a responsabilidade por fazer isso.
Neste capitulo, quero dizer algo sobre o que está envolvi
do nessa dimensão de Deus. Em particular, quero levantar
a seguinte questão: o que sou e onde estou no mundo dos
objetos? Essa questão, afirmo, é uma preliminar neces
sária à questão da presença de Deus: a questão do que é
Deus, de onde está Deus. A questão da presença de Deus
costuma parecer insolúvel. Devidamente compreendida,
porém, ela é semelhante à questão da minha presença e
da sua. E devemos tentar responder às duas juntas.
80 o rosto de Deus
ideia a sério, afirmando que existe pelo menos uma causa
sui e no máximo uma. Por isso, tudo que existe é um
modo da substância única, e não há distinção entre Deus
e o mundo. Acho difícil acreditar que a doutrina islâmica
do tawHid consiga evitar ir na mesma direção. Se vamos
nessa direção, porém, a presença de Deus se toma uma
presença ubíqua, em que estamos todos absorvidos, e ne
nhum de nós tem com Deus a relação que Moisés julgava
ter: eu para você e você para mim.
3 Ver, por exemplo, G. E. M. Anscombe, "The First Person". In: Collected Ra-
pers, vol. 2. Oxford, Blackwell, 1981. As peculiaridades do caso de primeira
pessoa não podem ser explicadas dizendo que "eu" não tem referência, mas
especificando como a palavra "eu" se refere. Ver Christopher Peacocke, "The
First Person as a Case Study", cap. III, Truly Understood. Oxford, Oxford Uni
versity Press, 2008.
84 o rosto de Deus
encontrar nada. A liberdade, a ação e a responsabilida
de são propriedades da pessoa, e só quando vemos Deus
como pessoa compreendemos que essa é a verdade dele.
Ele está presente em nosso mundo no mesmo sentido
cm que nós estamos: como sujeito. E quando atribuímos
um acontecimento à sua vontade, estamos dizendo que
esse acontecimento tem uma razão e que essa razão é a
resposta de Deus ao “por quê?" perguntado por nós. Não
estamos dizendo que se trata de uma intervenção miracu
losa e podemos aceitar o ceticismo de Deus a respeito dos
milagres ao mesmo tempo que reconhecemos a presença
de Deus como agente no espaço e no tempo.
86 o rosto de Deus
ou deveriamos fazer, uma distinção metafísica entre os
atos humanos e as atividades animais. É verdade que
os animais têm crenças e desejos como nós e que suas
carências, necessidades e sentimentos causam seu com
portamento. Mas eles não se revelam em seu compor
tamento, assim como nós não nos revelamos no nosso.
Eles não “intervém” no mundo como nós, não cuidam do
futuro nem assumem a responsabilidade por ele. A pes
soa é revelada como indivíduo em suas ações, e, segundo
a literatura, por essa razão existe em todas as linguagens
naturais a expressão de “fator causa) agente”.4 Referimos
ações como acontecimentos, mas identificamos suas
causas não como acontecimentos, e sim como agentes.
Não foi o movimento do braço de John que derrubou
Maria, foi John que a empurrou. Ele é a causa de todas
as coisas que emanam imediatamente da sua vontade.
88 o rosto de Deus
Ele inclui vê-los como pessoas que se identificam na
primeira pessoa, e que dividem o mundo em “eu" e “não
eu”, eu e outro, mim e você. Conceber os animais dessa
maneira é supor que eles, como nós, possuem o “ponto de
vista do sujeito”, que eles, como nós, dirigem-se ao mun
do dos objetos proveniente de um lugar em sua margem.
E isso é presumir algo para o qual não temos fundamen
tos, nem poderiamos ter.6
90 o rosto de Deus
Jardim do Éden. É, repetindo as palavras de Schope-
nhauer, das Schuld des Daseins - a culpa da própria exis
tência, da existência como alguém.
92 o rosto de Deus
pessoas que existem e agem nesse mundo, o único
mundo que temos. Como isso é possível?
94 o rosto de Deus
puramente físicos. Qualquer um desses objetos compõe-se
de áreas e de linhas de pintura dispostas numa superfície
que podemos considerar, para os fins deste raciocínio,
bidimensionais. Quando olhamos a superfície da pintura,
vemos essas áreas e linhas de pintura, e também a super
fície que as contém. Mas isso nào é tudo. Também vemos,
por exemplo, um rosto que nos vê com olhos sorridentes.
Num sentido, o rosto é uma propriedade da tela, para
além das manchas de tinta; afinal, pode-se observar as
manchas e não enxergar o rosto, e vice-versa. E o rosto
está realmente ali: quem não o percebe não está enxer
gando corretamente. Por outro lado, há a compreensão de
que o rosto não é uma propriedade adicional da tela, para
além das linhas e das manchas. No mesmo momento em
que as linhas e as manchas aparecem, surge também o
rosto. Nada mais precisa ser acrescentado a fim de gerar
o rosto; se nada mais precisa ser acrescentado, o rosto
certamente não é mais nada. Além disso, todo processo
que produza de modo exato essas manchas de tinta, dis
postas precisamente dessa maneira, produzirá exatamente
esse rosto - ainda que o artista não esteja consciente do
rosto. (Imagine como você projetaria uma máquina de
produzir Mona Lisas.)
96 o rosto de Deus
uma enorme variedade de objetos: telas, folhas de papel,
monitores de computador, hologramas, etc. 0 gênero
funcional agrupa coisas que pertencem a muitos gêne
ros naturais diferentes.
98 o rosto de Deus
Dilthey a Paul Ricoeur, nem sempre escreveram com
clareza a respeito dos sentidos que eles alegam ser tâo
importantes para nós.12
" The Phenomenology of Rerception (1945). Trad. Colin Smith. London, Rout-
ledge e Kegan Paul, 1962. Ver também o excelente ensaio sobre nossa postura
ereta em Erwin Straus, Phenomenological Psychology. New York, Basic Books,
1966, e aquele de Raymond Tallis sobre a mão: The Hand: A Philosophical
Enquiry into Human Being. Edinburg, Edinburgh University Press, 2003.
” Leon Kass, The Hungry Soul: Eating and the Perfecting of Our Nature. New
York, Simon and Schuster, 1994. Raymond Tallis, Hunger. London, Acumen, 2008.
" Tradução de Augusto de Campos para "0 Êxtase" ("The Ecstasy"). (N. T.)
12 Para uma discussão pertinente, ver Helmuth Plessner, Laughing and Crying:
A Study ofthe timits ofHuman Behavior. Trad. James Spencer Churchill e
Marjorie Greene. Evanston, Northwestern University Press, 1970, e F. H. Buck-
ley, The Morality ofLaughter. Ann Arbor, University of Michigan Press, 2003.
Num livro outrora lido por muita gente, Eros and Agape
[Eros e Ágape], o teólogo protestante sueco Anders Nygren
fez uma distinção radical entre o amor erótico, que é moti
vado por seu objeto, e o amor cristão recomendado por São
Paulo no capítulo 13 da Primeira Epístola aos Coríntios, que
é motivado por Deus. 0 grego distingue os dois como eros
e ágape, e nós como amor romântico e amor ao próximo.
E uma grande mudança aconteceu no mundo, segundo
Nygren, quando ágape tomou o lugar de eros como matéria-
-prima do amor de Deus. Em Platão, eros surge de maneira
divinal, isto é, como força externa e invasiva que avassala a
psique. Mas ele ascende como um fogo e leva o sujeito para
'll Os Quatro Amores. Trad. Paulo Salles. London, Harvest Books, 1960.
21 Anônimo (Anne Desclos), Histoire d'0. Paris. Pauvert, 1954. [Há uma tra
dução publicada pela Ediouro em 2005, atualmente fora de catálogo. (N. T.)]
2 Simon Schama. Landscape and Memory. New York, Alfred Knopf, 1995.
4 Sir John Soane's Museum Archives 1/164/6. Foi. [1]. Devo essa referência a
David Watkin.
4 Defendi isso em The Classical Vernacular. Manchester. Carcanet Press. 1992.
8 Terra, não é isto que queres: invisivelmente subir em nós? Não é seu sonho
um dia tornar-se invisível? Terra! Invisível! 0 quê, senão a transformação,
ê a tua demanda insistente! Terra, querida, irei! Oh, creia-me, não é preciso
mais das tuas primaveras para conquistar-me. Uma, só uma, já é muito para
o meu sangue.
” Veja James Howard Kunstler, The Geography ofNowhere: The Rise and
Decline of America^ Man-Made Landscape. New York, Free Press, 1993, e
acompanhe a coluna "Eyesore of the Month" no website de Kunstler.
” Rara uma discussão mais ampla desse tema, ver Roger Scruton. Beauty:
A VeryShort Introduction. Oxford. Oxford University Press, 2009.
14 Ver Friederich von Schiller, Letters upon the Aesthetic Education of Man.
Trad. E. Wilkinson e L A. Willoughby. Oxford, Clarendon Press, 1967.
Figura 20. Edifício Cooper Union, de Morphosis. Praça Cooper, Nova York.
2 Arnold Van Gennep, Les Rites de Possage. Paris, Émile Nourry, 1909.
4 Das Heilige, 1917, traduzido como The Idea ofthe Holy. Oxford, Oxford
University Press, 1923.
Exemplo 1
Exemplo 2
4*sr
•J
Exemplo 3