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Questões do trabalho:

A) Disserte, a partir dos discursos 1 e 2 de A Dióptrica, sobre:


1 – Os aspectos que permitem considerar a apresentação de Descartes como
tecnológica e se esse aspecto é contemplado na 6ª parte do Discurso do
Método.
2 – O regime geral das analogias empregadas por Descartes na exposição da
natureza da luz e da refração, comparando o modo de exposição com o que é
prescrito pelas quatro regras da 2ª parte do Discurso do Método.
B) Exponha a concepção da sensação visual que Descartes elabora nos
discursos 3 e 4 de A Dióptrica.
C) O que Descartes objetaria à investigação analógica do De Caelo de
Aristóteles (tal como exposta por Angioni, Sc. St. 8, 3, p. 319-38, 2010)?

Anotações Mariconda – 23/11

- Vou apresentar brevemente a estrutura da Dióptrica. A Dióptrica é


fundamental. A teoria da luz, a questão da refração e das lentes.

- É um tratado técnico. É o primeiro tratado tecnológico da modernidade.


Tecnologia como um termo bem específico, porque a gente tem a tendência agora de
usar tecnologia pra tudo – influência do inglês, porque no inglês não tem técnica, só tem
“tecnology.”

- Vamo lá: tecnologia. Tem tecnologia quando tem uma teoria científica que
procura dar razões vai fazer determinada coisa. Uma teoria científica da técnica.
Quando produz uma teoria científica de uma técnica, então eu tenho tecnologia. No
mais, eu tenho técnica. Sabe fazer, sabe fazer. Mas não consegue dar explicação
científica do que faz – um pedreiro sabe levantar uma coisa, mas não pede leis da física
pra ele. Ele tá fazendo técnica, tem o aprendizado técnico.

- Outra coisa é um engenheiro civil que pra tal estrutura precisa de uma viga que
suporta tanto etc, ali temos outra coisa. Aqui temos tecnologia, porque estou aplicando o
conhecimento científico para o desenvolvimento de uma técnica. Isso é importante. Por
que o que o Descartes tá fazendo aqui é aplicar, muito inciialmente, sem ter uma óptica
completa que permita explicar uma quantidade enorme de fenômenos. Ele só consegue
explicar a reflexão e a refração. Esses dois fenômenos sob considerações geométricas.
Trata-se, portanto, de óptica geométrica. Não pode ser óptica física porque ele não
conhece ainda a natureza da luz. Ele se utiliza da óptica geométrica – praticada desde
Euclides até Kepler, Galileu, etc. A óptica física é entender a natureza da luz e tem
ressonâncias até a Cosmologia – corpos escuros, corpos brilhantes etc.

- O que ele faz? Pequeno tratado em que ele explora aqueles pequenos
conhecimentos os quais ele atingiu: em particular, a descoberta da lei dos senos, a lei da
refração. Ele aplica a lei dos senos à produção de lentes. Ora, neste momento todo
mundo tem o seu telescópio particular. Todo mundo tá com lentes, lupas e tals –
descoberta das lentes e do poder de aumentar das lentes. Todo um desenvolvimento bem
rápido dos telescópios. Em 30 anos parte do telescópio óptico onde ponho direto o olho
na lente até o de refração – em que ponho o olho no espelho e que é muito melhor do
ponto de vista da aberração etc.

- Ele aplica isso à ideia de produzir lentes para a correção da visão. Um tratado
de instrumentação científica. É isso que é. Um tratado tecnológico. Acima de tudo, de
instrumentação científica. Possui embutido nele uma teoria do telescópio, uma teoria do
microscópio – do poder de aumentar de ambos. Uma análise da dificuldade técnica do
microscópio. O corpo está iluminado quando eu o observo. O microscópio, a
dificuldade é essa: eu coloco a formiguinha embaixo, como iluminar ela? Estamos no
século XVI, XVII, não tem luz elétrica. Como ilumina?

- Essa ideia de dificuldade técnica: como seria possível iluminar um pequeno


objeto para ser visto por um microscópio? Problema técnico colocado. O tratado
termina, no décimo discurso, com a exposição de uma máquina. Uma máquina para
cortar vidros e polir lentes. Tem essa dimensão da máquina, dimensão mecânica da
produção de uma máquina – para fins de instrumentação científica.

- Já possui esse caráter que os tratados tecnológicos possuem. Aplica o resultado


científica a uma técnica, aperfeiçoa uma técnica que reverte em um novo conhecimento
científico, abrindo novos campos de investigação e problemas que envolvem novas
investigações. No caso da máquina: trepidava demais. Como fazer para eliminar a
trepidação de máquinas?

- A Dióptrica já apresenta essa ideia de que tem um programa de


desenvolvimento técnico – problemas técnicos que devem ser resolvidos. A ideia de
uma máquina de polir lentes tá lançada e vai ser incorporada depois. Ideia de produzir
uma máquina para uniformizar os trabalhos artesanais.

- Vinculação entre ciência e técnica/produção: o que se produz na sociedade


produtiva. Início do meio técnico em que nós vivemos.

- Estrutura da Dióptrica, muito rápido:

O Discurso I e II dão razão por meio de uma proporção expressa de modo


simples dos desvios que sofrem os raios de luz ao passar de um meio a outro meio.
Portanto, a questão do livro I e II é vermos, por exemplo, que há um desvio dos raios de
luz quando passa do ar pra água ou da água pro ar. Esse desvio, chamado refração, é de
saída dado, apresentado a proporção: chamada lei do senos. Publicada pela primeira vez
na Dioptrica do Descartes mesmo se ela é verdadeiramente conhecida por outros, em
particular Snell, que a tradição científica passou a chamar isso de ‘’Lei Descartes-
Snell’’ (a lei dos senos).

- Essa exposição da lei dos senos não representa apenas um importante resultado
da óptica geométrica depois dos avanços de Kepler na Dióptrica dele. A dificuldade de
Kepler, vocês sabem, ele sempre escreveu em latim luterano. (longa digressão)

- Então, há um avanço com relação a Kepler, qual é o avanço em relação a


Kepler? Kepler faz o seguinte: como ele mantém a proporção – a lei dos senos
estabelece uma proporção bem determinada. Kepler sabe que existe um desvio. Mas
como ele não tem a lei dos senos, ele transforma o desvio em um desvio empírico – para
cada mudança de meio da luz, ele faz um experimento para calcular, para medir, como
produzir tabelas de refração empiricamente. O avanço de Descartes é exatamente o que
nós poderíamos chamar de um princípio de um racionalismo técnico: é a racionalização
técnica. Isto é, eu tenho a proporção e por isso não preciso fazer os experimentos um
por um, e determino através do cálculo do desvio.

- Esse principio de um racionalismo técnico permite, em primeiro lugar,


determinar a forma dos vidros que concentram os rarios paralelos em um só ponto. Isso
vai ser feito, por exemplo, nos discursos XVII e XVIII – onde vai ser aplicada a lei dos
senos; a determinação da forma dos vidros.

- Esse racionalismo técnico também aparece na construção das lunetas (discurso


IX – como construir as lunetas e por que)
- Esse racionalismo também preside o projeto das máquinas (X).

- A Dióptirca representa a confluência entre a matemática, a física e o


maquinismo – no sentido da teoria das máquinas.

- À dimensão propriamente óptica da obra se acrescentam outras duas


dimensões. Esse núcleo, até então, é o aporte da óptica, que se encontra nos discursos I
e II (estabelecimento da lei da refração) e nos discursos XVII e XVIII (aplicação da lei
dos senos).

- Outras 2 dimensões: 1) fisiológica; 2) filosófica ou epistemológica.

Essas duas dimensões que fazem parte dessa teoria científica de uma tecnologia
– essa técnica de um uso das lentes, será para produzir microscópios, seja para
fabricação de lentes.

- Dimensão fisiológica e a filosófica: envolvem uma concepção que tá no


Discurso do Método das relações entre o corpo e o espírito: em particular, na sensação.
Distinção fundamental entre corpo e alma. Substância corpórea e substância pensante.
Distinção corpo e alma como duas substancias diferentes: a pensante e a corporal. Essa
distinção é uma fundação metafísica da ciência moderna. Ela vai justificar a intervenção
no corpo e vai, vamos dizer, explicar as relações entre a alma e o corpo – as sensações,
as emoções e assim por diante.

- Corpo e espírito, porque, vejam... é... nós teríamos funções. A fisiologia é o


que na Dióptrica? É a análise que Descartes faz da visão, do olho humano e da visão. O
funcionamento do olho. E essa alma, a qual, vamos dizer, a sensação está associada;
aquela parte da alma que é sensitiva... ela se vincula ao o que? Ela se vincula aos
movimentos dos membros; à vigília e ao sono (ou sonho); à percepção propriamente dos
sentidos também; as paixões interiores; a memória; e a imaginação.

- Então, a separação corpo e alma faz com que nós tenhamos na alma a
concentração desses elementos propriamente associados ao que se chama depois de
psicologia.

- Claro que na Dióptrica vocês vão ter que recorrer às paixões da alma para os
outros tipos de sensibilidade. Na Dióptrica só se trata da visão.
- Os Discursos III e V da Dióptrica desenvolvem uma fisiologia inteiramente
mecaninicista, é uma explicação do funcionamento do olho totalmente mecaninicista
que apresenta uma anatomia descritiva e funcional. Isto é, descreve as partes do olho, as
várias membranas, a retina etc, a pupilila e tal, ao mesmo tempo em que dá a função
daquela parte. Para que servem as membranas, para que serve a pupila etc. É uma
anatomia descritiva e funcional do olho – e analise o modo pelo qual a imagem é
formada sob a retina. A maneira pela qual a imagem formada sob a retina transmite
movimentos ao cérebro que são as únicas informações que ele recebe do exterior – ou
seja, a ideia de Descartes é que tem a transmissão das imagens; uma ideia que o olho
lança como que uma luz que apreende a forma, e as coisas transmitem formas
apreensíveis, como que imagens apreensíveis das coisas. Aqui a ideia é: a retina recebe
a imagem e transmite impulsos nervosos a partir das terminações do nervo óptico, e
como os filamentos do nervo são excitados transmitem essa informação para o cérebro.
Primeira vez que tem esse negócio de pôr o cérebro na brincadeira. Para Descartes, é
um processo intelectivo, tem a alma aí. A informação veio codificada. Nunca transmito
a imagem, transmito uma série de impulsos a partir dos quais a imagem pode ser
reproduzida, processada etc. Aqui a ideia, nos ensaios III e V é a descrição do olho e do
funcionamento do olho.

- Também vale a pena dizer que ele não faz um tratado completo sobre o olho
humano. Ele utiliza e faz a sua descrição econômica para o fim que ele precisa: a
questão de poder depois corrigir as imagens, porque algumas pessoas veem todas as
imagens borradas, e são problemas vinculadas ao foco.

- Quando eu ponho um óculos, meu olho se adapta à superfície do óculos.


Descartes vai descrever esse movimento do olho: o olho não é estático, ele vai se
acomodando de acordo com a luz, ele se movimenta.

- No discurso IV e VI tem o estudo dos sentidos em geral e da visão em


particular. Substituindo definitivamente a antiga teoria das espécies por um processo
meramente causal sujeito à fisiologia do olho – sujeito a uma conformação mecânica do
olho. É como se o olho fosse um pequeno instrumento mecânico. Tem uma série de
mecanismos de acomodação, a pupila abre ou fecha de acordo com a comodidade – é
associado a um instrumento.

- Kepler já havia explorado isso.


- Além dos mais, nos discursos IV e VI, ao fazer depender a epistemologia dos
sentidos (como vemos, etc) a essa fisiologia, portanto um processo meramente causal,
abre caminho para a intervenção médica – para a cura. Eu agora sei como o olho
funciona e posso tirar um proveito do conhecimento do funcionamento do olho para
produzir lentes que corrijam o funcionamento da visão. Entender porque alguns tem
visão longa, porque outros tem a visão curta, e elaborar um método para corrigir isto –
lentes para esse ou aquele caso.

- Essa vinculação com a fisiologia não é meramente técnica, ela já tem uma
perspectiva na Dióptrica, como se vê na 6ª parte do Discurso do Método, de dominar a
natureza: intervir na natureza para dominar, aliviar os males humanos. Essa exposição é
para justificar que é um tratado tecnológico: mobiliza os conhecimentos científicos em
vista de desenvolvimentos de certas técnicas – técnicas de produção de lentes. Técnicas
para produção de lunetas, microscópios, etc, e até a ideia de uma máquina que seria uma
máquina de polir.

- Produzo uma teoria do instrumento (telescópio) e ao mesmo tempo tentativa de


produzir uma máquina (ferramenta) que produz outras máquinas (lentes que serão
pequenas máquinas, dispositivos mecânicos).

- Agora, vou transitar para outra questão: a questão propriamente do método. A


questão sobre a relação entre os ensaios e o método proposto na segunda parte do
Discurso. Essa questão é a questão que levanta a questão da unidade do livro publicado.

- Pra começar, vamos lá: as quatro regras propostas na segunda parte:

1) Não receber jamais alguma coisa como verdadeira a menos que ela seja
conhecida evidentemente como tal. Ou seja, evitar cuidadosamente a precipitação e a
prevenção, e de não receber nada em meu julgamento e em meus juízos se não aquilo
que se apresenta tão claramente e tão distintamente ao meu espírito.

Quer dizer: o evidentemente aqui tá contraposto à precipitação e à prevenção.


Precipitação: rapidamente imaginar-se que se chegou à verdade. Prevenção: evitar,
prevenir-se. Dois extremos. A ideia é conhecer evidentemente.
A ideia da clareza e distinção: a evidência baseada na clareza e distinção: tudo
aquilo que posso pôr em dúvida, é porque não é claro e distinto. O que me parece
confuso, ponho em dúvida.

A primeira regra é, portanto, a dúvida em busca da evidência. Pôr em dúvida


significa também abrir para investigação – porque eu ponho em dúvida e começo, então,
começa o segundo passo. Aquilo que ponho em dúvida, passa para o segundo preceito:]

2) Dividir cada uma das dificuldades que examinarei em tantas parcelas quanto
possíveis e que serão requeridas para resolvê-las. Aquilo que pus em dúvida é porque
apresenta as dificuldades. Se apresenta dificuldades, enumeremos quais são as
dificuldades. Tendo-as, divido as dificuldades em tantas parcelas quanto possíveis.

3) Conduzir por ordem os meus pensamentos. Começando pelos objetos mais


simples e mais fáceis de conhecer para subir, ascender pouco a pouco, como que por
graus, até o conhecimento dos mais compostos. E supondo mesmo a ordem entre
aqueles que não se precedem naturalmente uns aos outros.

Bom, eu duvidei porque tinha dificuldades; enumero as dificuldades, vejo em


quantas partes as dificuldades estão constituídas. Agora, conduzo por ordem meus
pensamentos. Isso significa oque, essa ordenação? Começar pelos mais simples para os
mais complexos. Ordem no sentido da complexidade maior. Tomo as partes que são as
mais simples, resultados da regra 2), partes mais fáceis de conhecer, e a partir deste
conhecimento procuro remontar o conhecimento das demais, por ordem. Supondo
mesmo que após a divisão em partes.

Essa ordem é uma ordem produzida racionalmente – no caso de Descartes, pode


ser produzida matematicamente.

4) Fazer em tudo enumerações tão completas e revisões tão gerais que eu


estivesse certo, assegurado, de nada omitir. A ideia de enumeração fica parecendo uma
lista, mas não é propriamente uma lista que ele tá pensando. O termo melhor seria
“desmembramento”. Desmembramentos tão completos que estivesse certo de nada
omitir.

- Notem que, é... tem uma ideia de demonstração que está nas quatro regras e
que se vincula a essa ideia de ordem. É como se fosse um argumento em que não
houvesse nada omitido; todas as premissas estivessem colocadas. Vocês lembram
quando apresentei a ideia de demonstração em Aristoteles, que nos sistemas de
referências temos um iceberg argumentativo. O argumento que é apresentado tem uma
série de premissas que são tacitamente assumidas. Em Descartes, ele quer que tudo
esteja explicitado. Por isso, fazer desmembramentos completos e fazer revisões. Todas
as premissas devem estar ali: da mais simples a mais composta.

- Muito bem. O nosso problema é o seguinte: ele usa as quatro regras? Ele usou
as quatro regras na Dióptrica, nos Meteoros, Geometria e tals?

- Vamos lá, vamos fazer como a gente faria hoje em dia. O cara publica uma
obra e tem novas repercussões, resenhas etc.

Roberval: essas quatro regras podem ser consideradas uma lógica. E


particularmente, uma lógica da descoberta, e não uma lógica da exposição dos
resultados já obtidos – que seria a lógica escolástica. Roberval diz que essas quatro
regras da 2ª parte são uma lógica da descoberta dos argumentos, e não a lógica de
exposição, não o método de exposição.

Muito bem, mas se tomarmos essa perspectiva do Roberval, o método proposto


na 2ª parte do Discurso apresenta uma tensão com os Ensaios que o seguem. Os ensaios
são escritos para provar a excelência do método utilizado pelo autor. A obra se chama
Discurso do Método e Ensaios do Método, e eles foram propostos para mostrar a
excelência do método proposto na 2ª parte do Discurso.

Entretanto, tem uma grande diferença entre a aplicação do método e a exposição


dos resultados obtidos graças ao método. Tem diferença no método de descoberta da
demonstração e o método de exposição demonstrativo.

O próprio Descartes adverte que os Ensaios não são uma aplicação simples e
direta do método sugerido na segunda parte do Discurso.

- Descartes diz: usei outra ordem, não de descoberta, mas de apresentação, de


exposição.

- Portanto, excetuando o discurso VIII dos Meteoros, a ordem seguida pelos


Ensaios não é aquela prescrita pelo novo método. Trata-se de uma ordem de explicação
ou exposição diferente da ordem de invenção efetivamente seguida na investigação que
conduz aos resultados. Os Ensaios visam, então, provar pelos resultados a superioridade
do método seguido pelo autor.

- Deslocamento: eu vejo que o método não é dos piores, porque ele me leva a
bons resultados – mas ele não expôs como chegou aos resultados. Mostra a
superioridade do método pelos resultados. Os Ensaios visam fazer isso. Método de
exposição de resultados, não se apresenta como aqueles resultados foram alcançados.

- Distância entre método de invenção e método de exposição.

- Por exemplo: se consideramos o início da Dióptrica, discursos I e II, e


comparamos o discurso I e II (onde ele expõe a lei dos senos). Se tomamos esses
discursos e os comparamos à longa passagem da Regra 8 das regras para a direção do
espírito, que trata sobre a curva de mais rápida descida. Nesta regra, é construída a
identificação dos dados do problema; isto é, como estaria em operação a segunda regra:
como é a dificuldade, a divido em partes, naquela parte o que conhecemos ou
desconhecemos. A regra vai na direção de transformar uma dificuldade física em uma
equação – equacionar o problema.

A solução é dada no discurso I e II da dióptrica, mas é apenas apresentada, não


mostra como a partir da equação da Oitava Regra ele consegue resolver o problema; ele
já da a solução definitiva. Entretanto, e após o equacionamento da questão é que ele
descobre a lei dos senos para a refração. Assim, a exposição na Dioptrica desta lei por
meio das comparações que ele usa não pode ser considerada, senão, o resultado
confirmado por uma analogia parcial e não uma aplicação do método de dimensão. A
exposição que ele faz da lei dos senos é tão estranha que ninguém vai dizer que essa
demonstração expressa o modo de descoberta; é muito mais a maneira de expor.

- Contudo, isso não causa problema pois a exposição da lei dos senos serve
perfeitamente o proposito dele na Dioptrica. Não causa problema para o tratado, apenas
para a relação entre o método e a Dioptrica – o problema é saber o método através do
qual ele chegou na lei dos senos. O que ele deriva a partir da lei dos senos não é
comprometido.
- Em primeiro lugar, o estabelecimento de uma lei simples como a dos senos
permite reduzir as tabelas de refrações empíricas dos tratados precedentes; dificuldade
que paralisou Kepler.

- O estabelecimento de leis permite compreender o funcionamentos de aparelhos


ópticos e de propor uma solução técnica para a fabricação das lentes. A lei dos senos
destrava essas questões técnicas: a partir de agora posso explicar o funcionamento das
lentes: do microscópio, do telescópio, da lupa etc.

- Esses 2 aspectos não são afetados pelo problema do método, de modo que além
de produzir um avanço no conhecimento teórico, visto que a lei dos senos é um avanço
na teoria óptica: agora eu tenho a lei da refração. Um fenômeno óptico, a refração, agora
tem uma lei.

- Portanto, a Dióptrica cumpre uma função prática fundamental: permitindo a


aplicação da lei à medição das mudanças de refração e o corte de vidros para a
fabricação de lentes correspondentes às refrações que quero produzir. Esse é um
resultado importante do Discurso do Método.

- Esse resultado está relacionado à sexta parte: na sexta parte há essa propaganda
da nova ciência como produtora do domínio da natureza, que vai produzir, levar o
homem a ser senhor da natureza. A ideia também do desenvolvimento da medicina
como algo importante. Objetivo de viver mais e mais, se possível, pra sempre. Caráter
utilitário da ciência.

- Outro aspecto importante do método de Descartes: as analogias. Tem longas


discussões sobre as analogias, porque a escolástica e Aristoteles usavam muito de
analogias. Pensamento por analogia.

- A ligação do método de exposição empregado nos Ensaios – uso de analogias,


de comparações.

- Um intérprete chamado De Busum diz que os dois primeiros discursos da


Dióptrica (onde tá a lei dos senos) permitem mostrar o poder explicativo da
modernização ligada a uma estrita associação da imaginação entendida como a
capacidade de figurar exatamente um fenômeno com a matematização compreendida
como mecanização. Matematização sempre ligada à mecanização do mundo – é via
mecanização que se produz matematização. Modernização ligado à tentativa de
mecanizar (matematizar) o mundo.

- Os contemporâneos de Descartes criticaram o uso das analogias, vendo nisso o


uso de um procedimento tradicional amplamente utilizado pela Escola (aristotélicos e
tomistas). Descartes, na sua resposta, define o que poderíamos caracterizar como o
regime geral das comparações – ou das analogias – em Descartes. Regime geral de
comparações no sentido de que existem algumas restrições; elas tem que satisfazer
algumas condições.

- Vejam: não faço como eles fazem, procuram explicar coisas espirituais com
coisas corporais. Ou uma qualidade de uma espécie por uma qualidade de outra
espécie. As minhas comparações são sempre para permitir a visualização daquilo que é
difícil de ser visualizado.

- Tudo o que nós precisaríamos fazer, do ponto de vista do método, seria


encontrar as boas comparações. O método de descoberta estaria ligada a encontrar as
boas analogias – aquelas que se restringem a tamanho-tamanho, figura-figura,
movimento-movimento. Tamanho grande, tamanho pequeno.

- A Dióptrica e os Meteoros parecem desenvolver uma física matemática


fundada por modelos mecânicos. Essas comparações sempre produzem um mecanismo.
As explicações aristotélicas eram baseadas nas formas e nas qualidades.

- A aplicação do método no caso da Dióptrica permite a passagem de uma


ciência retórica ou verbal a uma ciência física da natureza. Notem também essa coisa do
tamanho, figura e movimento. Essa é uma distinção básica da filosofia moderna entre
qualidades primárias e qualidades secundárias. As qualidades primárias são das próprias
coisas e independem do sujeito (movimento, tamanho, figura). As qualidades
secundárias são aquelas que dependem do sujeito (cor). A cor é o clássico caso de
qualidade secundária -as coisas não tem cores próprias. É a nossa percepção que
interpreta os movimentos refletidos pelas diversas coisas como colorido.

Anotações da aula do dia 01/12

- 59:13: começa a falar do texto do Lucas Angioni.


Ele vai apresentar aqui umas tabelas que produzem uma analogia. Ele tá
preocupado com a analogia que existe entre o domínio dos corpos celestes e o domínio
dos seres vivos. Ele desenvolve esta analogia.

A discussão do Lucas é extremamente interessante porque fixa as comparações e


as várias analogias utilizadas por Aristóteles. A leitura do artigo vai ser fundamental pra
poder responder uma das questões que vou formular.

- Trabalho: dissertação de duas partes.

- Comentar: por que para a vergonha das nossas ciências foi um prático que
descobriu o telescópio?

- Sobre o regime geral das analogias: como ele expõe nos dois primeiros
discursos a questão da natureza da luz e da refração, e tá de acordo com as regras do
método da segunda parte?

- B) simplesmente expor o que Descartes defende sobre a sensação visual. O


discurso III fala da sensação visual e o IV da sensação em geral.

- C) sobre o que Descartes objetaria em relação às analogias realizadas por


Aristoteles no De Caelo (tal como exposto por Angione). Tem a ver com o regime geral
das analogias em Descartes – e no que elas diferem das do Aristoteles.

O básico das analogias é sempre perceber que a analogia é uma comparação –


ela supõe uma comparação. Tem alguns tipos específicos de analogias: uma é a
metáfora. A metáfora é uma analogia baseada em um tipo de comparação.

Tem uma analogia positiva e uma analogia negativa. Isto é, existem partes que
são semelhantes. A negativa tá no terreno da dessemelhança. Se forem iguais em tudo,
se não tiver negativo e positivo, eu não tenho analogia, eu tenho um símile.

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