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O Tempo de Icabô

2010-07-01 20:49

    O Tempo de Icabô é uma série de 3 artigos que vou publicar um por semana, esta
série fala de diversos assuntos relevantes para a nossa vida espiritual, comparando a
geração de Icabô com os nossos dias, procurando fazer uma análise crítica
porém, sincera e honesta da Igreja atual, com o propósito de despertar a nossa geração!

O Tempo de Icabô

1 Samuel 4.19-22: A nora de Eli, a mulher de Finéias, estava grávida e já quase na


época de ter a criança. Quando ela soube que a arca de Deus havia sido tomada e que
o seu sogro e o seu marido tinham morrido, começou a ter as dores de parto e deu à
luz. Ela estava morrendo, mas as mulheres que a ajudavam disseram:

– Tenha coragem! Você ganhou um filho.

Ela não se interessou e não respondeu. Mas deu ao menino o nome de Icabô,
explicando: “A glória saiu de Israel. Disse isso, falando da tomada da arca de Deus e
da morte do seu sogro e do seu marido. Ela disse:

– A glória saiu de Israel, pois a arca de Deus foi tomada pelos nossos inimigos.

Icabô é nome dado ao neto do sacerdote Eli, ao filho de Finéias. Icabô significa: foi-se a
glória. Esse nome foi dado a esta criança por causa dos acontecimentos que
antecederam o seu nascimento: Israel perdeu a Arca da Aliança e o sacerdote Eli morreu
ao receber esta notícia. Foi uma das piores épocas da história de Israel.

Que triste época para se nascer! O que deveria ser um motivo de alegria e esperança,
como o nascimento de uma criança, foi um dia de dor, de sofrimento, morte e
desesperança, afinal “foi-se a glória”.

O que aconteceu à Arca da Aliança e ao sacerdote Eli foi, pois, o desfecho de uma
época de pecado e afastamento de Deus.

O tempo de Icabô foi um tempo de silêncio de Deus

1Sm 3.1: “O jovem Samuel servia ao Senhor, perante Eli. Naqueles dias, a palavra do
Senhor era mui rara; as visões não eram freqüentes”.
O Senhor não falava por não querer falar, mas por não haver quem o ouvisse. O pecado
e a falta de temor de Deus provocavam o silêncio.

Imagino como soou como música aos ouvidos do Senhor a célebre resposta de Samuel,
à noite na tenda em Siló, quando pela terceira vez o Senhor o chamou: -“fala Senhor
porque o teu servo ouve!”. Finalmente o Senhor encontrou alguém que o ouvisse.
Infelizmente as palavras do Senhor a Samuel não eram palavras doces, de esperança e
restauração, mas de juízo sobre a família sacerdotal e o povo.

1 Sm 3.2-4: Certo dia, estando deitado no lugar costumado o sacerdote Eli, cujos olhos
já começavam a escurecer-se, a ponto de não poder ver, e tendo-se deitado também
Samuel, no templo do Senhor, em que estava a arca, antes que a lâmpada de Deus se
apagasse, o Senhor chamou o menino: Samuel, Samuel! Este respondeu: Eis-me aqui!

O Senhor procura servos que o ouçam, ele encontrou Samuel que estava próximo à
Arca, enquanto Eli estava no “lugar costumado”, no lugar de sempre.

Muitos de nós nos acostumamos a muitas coisas: ao culto de domingo, ao pastor, ao


lugar na igreja, ao cargo que ocupamos, ao louvor, à oração que já decoramos e
repetimos mecanicamente, como se pelo muito falar fôssemos ouvidos. Estamos tão
acostumados com nosso protocolo, nossa liturgia que já não ouvimos mais a voz de
Deus!

Entretanto, o menino Samuel estava no templo, junto da Arca. Talvez porque não havia
um quarto para ele, afinal ele era um menino, poderia se ajeitar em qualquer cantinho -
glorioso cantinho, o mesmo onde Deus estava! Foi dormir ao lado de Deus! Saia do seu
lugar de costume (zona de conforto) busque um renovo para a sua vida. Saia por um
momento das atividades rotineiras, busque o silêncio, se retire do corre-corre, dê tempo
para ouvir Deus falar.

 1Sm 3:5: “Correu a Eli e disse: Eis-me aqui, pois tu me chamaste. Mas ele disse: Não
te chamei; torna a deitar-te. Ele se foi e se deitou.”

Estamos tão acostumados com tudo isso que confundimos a voz de Deus com a voz dos
homens!

Ao contrário do adágio popular a voz de Deus não é a voz do povo, a voz de Deus não é
a voz dos homens. Contudo, Deus fala através de homens. É necessário, entretanto,
discernirmos se é Deus que nos fala ou o homem. No caso de Samuel, ele foi orientado
pelo próprio sacerdote Eli. Hoje nós temos a Palavra de Deus contida na Bíblia Sagrada.
Precisamos buscar conhecimento tal da Palavra de Deus, que possamos receber aquilo
que Deus está falando através do seu servo com humildade, ou rejeitarmos aquilo que o
homem está falando por sua própria vontade como se Deus o falasse.

Ouvir não significa somente escutar a voz de Deus, mas praticar o que se escuta. Temos
à nossa disposição as palavras inspiradas dos profetas e dos apóstolos. Devemos guiar
as nossas vidas através da Palavra escrita de Deus. Os evangelhos e as epístolas têm
todas as noções que precisamos ter acerca da vontade de Deus. Talvez você não ouvirá a
voz de Deus como trombeta em seus ouvidos, mas sentirá o seu coração arder ao
meditar nas escrituras.
O Tempo de Icabô (parte 2)
2010-07-05 13:18

O tempo de Icabô foi um tempo de declínio espiritual e moral

1Sm 2.12: “Eram, porém, os filhos de Eli filhos de Belial e não se importavam com o
Senhor;”.

Nunca se viu tantas igrejas sendo fundadas, existe uma para cada tipo de pessoa. O
“evangelho” nunca foi tão difundido e está inclusive virando moda, com a adesão de
famosos. Paradoxalmente o declínio moral e espiritual é vertiginoso!

Isso porque a religiosidade não é sinônimo de espiritualidade, nem de santidade. Os


filhos de Eli eram sacerdotes, no entanto eram filhos de Belial!

Belial é sinônimo de vício, idolatria, imoralidade sexual e mentira, é o termo hebraico


para “indignidade ou iniqüidade”. É personificado como uma entidade espiritual que
alicia seguidores disfarçados de religiosos. João A. de Souza cita-o em um de seus
livros:

“Belial, com sua iniqüidade, divide a igreja, permeia a liderança, assenta-se nas
tribunas dos concílios e convenções, em reuniões de ministérios, nas pregações tidas,
muitas vezes, como as mais espirituais. Ele é adorado sempre que a iniqüidade e
perversidade ocupam espaço em nosso coração e quando nossa motivação deixa de ser
Deus, e passa a centralizar-se em projetos humanos.” [1]

     

Corrupção

1Sm 2:17: “Era, pois, mui grande o pecado destes moços perante o Senhor, porquanto
eles desprezavam a oferta do Senhor.”

Neste momento me vêm à mente as notícias de corrupção de pastores e políticos


evangélicos que por vezes estoura na mídia. Pessoas que receberam algo de Deus, como
missão honrosa e desprezaram o que Deus lhes deu, denegrindo não somente os ofícios
que exercem, mas o próprio evangelho de Cristo. É claro que não devemos acreditar em
tudo o que a mídia anuncia, mas sejamos sinceros, embora a mídia seja tendenciosa em
relação aos evangélicos, sabemos que a corrupção tanto de pastores quanto de políticos
evangélicos é uma realidade.
 

Luxúria    

1Sm 2.22: “Era, porém, Eli já muito velho e ouvia tudo quanto seus filhos faziam a
todo o Israel e de como se deitavam com as mulheres que serviam à porta da tenda da
congregação.”

A imoralidade sexual domina esta sociedade, e isto não é novidade, mas o povo de Deus
foi chamado para ser santo. Não quero, com isto, dar a entender que não somos falhos,
entretanto é nossa a responsabilidade fechar as brechas por onde Belial tem entrado na
Igreja. E, neste aspecto a única maneira para isso, é honrando o matrimônio, que é a
única forma de sexo abençoado por Deus! (Hb 13.4). Ao contrário disso, muitos de
nossos jovens estão iniciando suas vidas sexuais sem nem cogitar o casamento e, o que
é pior, muitas vezes apoiados e incentivado pelos pais.

[1] SOUZA FILHO, João A. de. Formando Verdadeiros Adoradores. Belo Horizonte:
Ed.Betânia, 2003.

O Tempo de Icabô parte 3


2010-07-12 11:43

Se você ainda não leu as seções anteriores leia antes de ler esta. Clique aqui para
ler: (parte 1) (parte 2) 

O tempo de Icabô foi um tempo de derrota

1Sm 4:1-4 “Veio a palavra de Samuel a todo o Israel. Israel saiu à peleja contra os
filisteus e se acampou junto a Ebenézer; e os filisteus se acamparam junto a Afeca.
Dispuseram-se os filisteus em ordem de batalha, para sair de encontro a Israel; e,
travada a peleja, Israel foi derrotado pelos filisteus; e estes mataram, no campo aberto,
cerca de quatro mil homens. Voltando o povo ao arraial, disseram os anciãos de Israel:
Por que nos feriu o Senhor, hoje, diante dos filisteus? Tragamos de Siló a arca da
Aliança do Senhor, para que venha no meio de nós e nos livre das mãos de nossos
inimigos. Mandou, pois, o povo trazer de Siló a arca do Senhor dos Exércitos,
entronizado entre os querubins; os dois filhos de Eli, Hofni e Finéias, estavam ali com
a arca da Aliança de Deus.”

 
Deus muitas vezes permite a derrota do seu povo para mostrar que o seu compromisso é
com a santidade e não com o homem.

Nossos projetos deixam de ser projetos de Deus quando não são firmados de acordo
com a Palavra de Deus, e se não são de Deus, Deus não se compromete com eles.

Por vezes temos todos os meios e instrumentos disponíveis para vencermos, então nos
enchemos de autoconfiança e passamos a agir baseado em nossos próprios desejos,
esquecendo de confiar em Deus e submeter nossos intentos à sua vontade.

Este foi o caso da geração pós-diluviana, quando intentou construir uma torre em honra
ao homem, e deliberadamente decidiram desobedecer à ordem de Deus de se
espalharem sobre a Terra. Então Deus olhou para o homem e disse: o povo é um só, e
falam a mesma língua e tudo que intentarem fazer não lhes será impossível (cf Gn 11.1-
9). Eu chamo isso de fórmula do sucesso para um povo ou comunidade: unidade de
propósito (todos queriam construir a torre) + entendimento mútuo (falavam a mesma
língua) + consentimento divino (obediência à vontade de Deus) = vitória! Porém lhes
faltou o último e mais importante ingrediente desta fórmula: a obediência a Deus, então
o próprio Deus frustrou seus intentos.

Se quisermos ser vitoriosos como Igreja, em nossos esforços de evangelismo e expansão


do Reino de Deus, precisamos buscar o objetivo certo e o entendimento entre o povo de
Deus. Precisamos nos unir, ao menos nos pontos em que concordamos!

1 Sm 4.5-11: “Sucedeu que, vindo a arca da Aliança do Senhor ao arraial, rompeu


todo o Israel em grandes brados, e ressoou a terra. Ouvindo os filisteus a voz do júbilo,
disseram: Que voz de grande júbilo é esta no arraial dos hebreus? Então, souberam
que a arca do Senhor era vinda ao arraial. E se atemorizaram os filisteus e disseram:
Os deuses vieram ao arraial. E diziam mais: Ai de nós! Que tal jamais sucedeu antes.
Ai de nós! Quem nos livrará das mãos destes grandiosos deuses? São os deuses que
feriram aos egípcios com toda sorte de pragas no deserto. Sede fortes, ó filisteus!
Portai-vos varonilmente, para que não venhais a ser escravos dos hebreus, como eles
serviram a vós outros! Portai-vos varonilmente e pelejai! Então, pelejaram os filisteus;
Israel foi derrotado, e cada um fugiu para a sua tenda; foi grande a derrota, pois foram
mortos de Israel trinta mil homens de pé. Foi tomada a arca de Deus, e mortos os dois
filhos de Eli, Hofni e Finéias.

Ao ser derrotado no campo de batalha o povo, ao invés de buscar o arrependimento,


pensou que se levassem a arca para a batalha venceriam seus adversários. Quando a arca
entrou no arraial houve um alvoroço, gritos de júbilo que estremeceu a terra. O júbilo
foi tão intenso que os filisteus ouviram e ficaram apavorados!

Entretanto depois que a arca foi levada para a batalha foram mortos trinta mil homens
de Israel, na batalha anterior foram quatro mil, e a arca da Aliança foi levada pelos
filisteus.
Mas porque Deus permitiu tal coisa? O que era feito do Deus de Israel que, segundo os
próprios filisteus disseram, feriu aos egípcios?

Tal como Israel, muitas igrejas fazem barulho demais, propaganda enganosa, chegam
até assustar o inimigo, dando pinta de que vão estremecer o inferno, dizem estar cheios
de fogo, de unção! Mas os resultados são decepcionantes. Isto porque queremos a glória
sem um caráter santo. Desta forma ao invés de vencermos seremos frustrados e
envergonhados. Watchman Nee expressou muito bem esse conceito em uma de suas
mensagens cujo tema é: O Testemunho de Deus em relação à igreja:

“Quando os filhos de Deus apartam-se dele, quando há um coração dividido ou em


algum lugar, um deus estranho, então Deus entrega seu povo à derrota e os inimigos
continuamente os atacam. Nessa hora eles pensam que Deus por causa de sua própria
glória deve livrá-los, mas Deus está mais interessado em vindicar a sua santidade do
que preservar a sua glória diante dos homens. Quando um servo de Deus falha
gravemente, queremos o problema encoberto e oramos neste sentido, esperando que
Deus por sua glória, livre seu servo de cair em derrota pública, ainda que haja derrota
oculta.

Mas a maneira de Deus é exatamente oposta. Ele permitirá Seu povo ser derrotado aos
olhos do mundo, para mostrar que Ele nada tem a ver com a impureza. Sua glória está
sempre associada com a santidade e Ele nunca encobrirá a impureza. Sua glória será
melhor preservada pela derrota de seu povo do que por sua vitória em uma situação de
impureza.” [1]

Icabô foi um tempo de morte

1 Sm 4:10,11,16-21: Então, pelejaram os filisteus; Israel foi derrotado, e cada um fugiu


para a sua tenda; foi grande a derrota, pois foram mortos de Israel trinta mil homens
de pé. Foi tomada a arca de Deus, e mortos os dois filhos de Eli, Hofni e Finéias.

Disse o homem a Eli: Eu sou o que saí das fileiras e delas fugi hoje mesmo. Perguntou-
lhe Eli: Que sucedeu, meu filho?Então, respondeu o que trazia as novas e disse: Israel
fugiu de diante dos filisteus, houve grande morticínio entre o povo, e também os teus
dois filhos, Hofni e Finéias, foram mortos, e a arca de Deus foi tomada. Ao fazer ele
menção da arca de Deus, caiu Eli da cadeira para trás, junto ao portão, e quebrou-se-
lhe o pescoço, e morreu, porque era já homem velho e pesado; e havia ele julgado a
Israel quarenta anos.

A nora de Eli, a mulher de Finéias, estava grávida e já quase na época de ter a


criança. Quando ela soube que a arca de Deus havia sido tomada e que o seu sogro e o
seu marido tinham morrido, começou a ter as dores de parto e deu à luz. Ela estava
morrendo, mas as mulheres que a ajudavam disseram:

– Tenha coragem! Você ganhou um filho.


Ela não se interessou e não respondeu. Mas deu ao menino o nome de Icabô,
explicando: A glória saiu de Israel. Disse isso, falando da tomada da arca de Deus e da
morte do seu sogro e do seu marido. Ela disse:

– A glória saiu de Israel, pois a arca de Deus foi tomada pelos nossos inimigos.

O morticínio para Israel nos dias de Icabô foi sem precedentes: 4 mil mortos numa
primeira batalha contra os filisteus, posteriormente com a insistência de Israel no erro
foram trinta mil homens Entretanto a morte no campo de batalha foi, tão somente a
materialização da pior de todas as mortes, a morte espiritual! O povo estava separado do
seu Deus, a glória foi roubada, neste cenário, a morte física foi apenas um desfecho do
declínio espiritual do povo até a definitiva separação do seu Deus. E, como num golpe
de misericórdia morre o sacerdote Eli como confirmação definitiva da morte espiritual
de Israel, não havia mais a glória de Deus, morreu aquele que era o itermediário entre
Deus e o povo!

A época em que eu nasci, ao contrário de Icabô, foi uma época de avivamento, em que o
evangelho crescia, almas eram salvas às centenas. Lembro-me de batismos onde
centenas de pessoas desciam as águas - e não era batismo coletivo como algumas
denominações fazem hoje, isto é, várias igrejas batizando juntas, mas de uma igreja
local. Ouvi meu pai contando a respeito da igreja de São Borja, na época em que eu
nasci, em 1980, e de como era necessário requisitar auxílio da polícia para interditar a
rua da igreja, pois a multidão era maior fora do que dentro do templo. Lembro-me do
avivamento da década de 90, do movimento da nova unção, e do movimento gospel que
modernizou a música evangélica. De lá pra cá deixamos de ser 5% da população
brasileira para alcançarmos os atuais 30%.

Contudo, oro para que o que a geração do meu pai conquistou com oração e sacrifício, e
que nos foi legado, não seja perdido e transformado em histórias que contaremos para
nossos filhos e netos sem, no entanto, serem experimentadas por eles. Que nossos dias
sejam dias em que a glória do Senhor resplandeça e que a próxima geração não seja uma
“geração de Icabô”.

Nossa oração deve ser de arrependimento e quebrantamento como a de Davi:

Ó Deus, cria em mim um coração puro

e dá-me uma vontade nova e firme!

Não me expulses da tua presença,

nem tires de mim

o teu santo Espírito.

Dá-me novamente a alegria


da tua salvação

e conserva em mim o desejo

de ser obediente.

Então ensinarei aos desobedientes

as tuas leis,

e eles voltarão a ti. (Salmos 51.10-13).

[1] NEE, Watchmam. Doze Cestos Cheios. Ed. Árvore da Vida. 2ª ed. São Paulo,
novembro/91.

Belial está solto!


"Não tenhas, pois, a tua serva por filha de Belial..." (1 Sm 1.16)

"Eram, porém, os filhos de Eli filhos de Belial e não se importavam com o


Senhor" (1 Sm 2.12).

"Porém os filhos de Belial serão todos lançados fora.." (2 Sm 23.6).

Belial não é um demônio comum: ele é um dos príncipes das trevas, e chega a
ser confundido com o próprio Satanás. Alguns comentaristas falam de Belial
como sendo apenas uma expressão hebraica usada a respeito daqueles que
incitam à idolatria ou à insurreição; referindo-se a pessoas sexualmente imorais
ou mentirosas, é o que diz a nota de rodapé da Bíblia de Genebra. É também o
termo hebraico para "indignidade ou iniquidade", diz Russel Champlin.

Mas quem é esse Belial que anda fazendo estragos na igreja do Senhor Jesus?
Que espírito é esse que ocupa os púlpitos, que mente, persegue, adultera, que
faz o mal em nome de Deus, e que não é notado nem exaltado como os demais
príncipes de Satanás?

Creio que João Milton, o cego, autor de O Paraíso Perdido (célebre cristão e
autor, contemporâneo de Shakespeare, e que escreveu o que é considerado um
dos cinco poemas épicos do mundo), teve muita percepção espiritual quando
descreveu a forma de atuação desse príncipe satânico. Milton abre a cena épica
com Satanás recobrando-se da queda que o Messias lhe impôs no profundo
abismo. O primeiro a despertar no abismo ao lado de Satanás foi Belzebu,
seguido por Moloque, Camos, Baalim, Astarote, Tamuz, Dagom, Rimom, Osíris,
Isis, Hórus, o derradeiro deles, Belial. Todos se colocam à disposição de seu
líder e com ele traçam planos de continuar a luta contra o Altíssimo. Falando
sobre Belial, diz Milton:

Espírito nenhum mais torpe que ele


Dos altos Céus caiu no fundo do Orco,
Nem mais grosseiro para amar o vício
Só por ser vício. Em honra desse monstro
Não se erguem templos, nem altares fumam;
Porém, com refinada hipocrisia,
É quem templos e altares mais freqüenta
Chegando a ser ateus os sacerdotes
Bem como de Eli sucedeu os filhos
Que de Deus os alcáceres encheram
De atroz fereza, de brutal lascívia!
Reina ele pelas cortes, nos palácios

E nas cidades onde os vícios moram,


Onde a devassidão, a infâmia, o ultraje,
Sobem por cima das mais altas torres.
Ali, assim que tolda a noite nas ruas,
Os filhos de Belial nela divagam...

Penso que Milton definiu com propriedade a atividade desse iníquo e perverso
príncipe do mal. Foi ele que inspirou os filhos de Eli a fazerem do tabernáculo do
Senhor um antro de orgia, perversão e maldade, resguardados sob o manto da
religião. Operando nos bastidores da religião e da fé, Belial consegue vituperar o
bom nome de Deus nos dias de hoje. Em alguns lugares ele ocupa solenemente
púlpitos de igrejas e campanários de catedrais inspirando com sua presença
atividades que se mostram cheias de piedade, mas que são danosas e
prejudiciais à igreja. Belial está conseguindo com a igreja o que Moloque não
pôde e não pode. Afinal, Moloque teve que mudar de tática para voltar a
sacrificar crianças, destruir casamentos e aniquilar a família e, nesse sentido,
Belial serve-lhe de grande ajuda. Aquele que agia pelas ruas de Sodoma e fincou
residência na pequena Gibeá onde uma mulher foi violentada e morta pelos
homens da cidade, age sem ser notado entre o rebanho de Deus.

Quando Milton diz que ele ama o vício só por amar, vêem-me à mente os jovens
que abandonando a fé, seqüestraram a filha de um empresário, roubaram-lhe,
fizeram-lhe refém alguns dias depois, e a imprensa com certo orgulho permitia-se
divulgar que os jovens eram membros de certa denominação evangélica. Belial
sabe como conquistar discípulos e menosprezar a Fé! Silenciosamente age nos
antros com vícios; nas portas das escolas conquista adeptos para o mal, e age
tranqüilo na catequese ideológica de alguns governos.

Belial está por trás de romances, histórias, filmes, documentários, inspirando


seus autores a escreverem os mais lindos contos, as estórias mais apreciadas e
freqüenta com certa pompa o mundo das letras, do teatro, da música, falando de
amor, paz, ao mesmo tempo que opera com malícia, indignidade e desprezo.

Historicamente não se sabe de nenhum templo construído a Belial como se


construiu para todos os demais, mas, no dizer de Milton, ele habita os templos.
Perverso como é, consegue avocar para si mesmo as orações feitas aos demais
príncipes; sabe que pode encontrar nos adoradores a honra que lhe é devida,
pois toda oração, adoração e sacrifícios cujo fim é a pessoa, a sustentação do
ego, o orgulho, a defesa própria, o bem-estar pessoal, são incenso que lhe
sobem as narinas e que sustenta sua iniquidade. A oração do fariseu em Lucas
18 sobe-lhe às narinas como agradável cheiro. A do publicano não lhe serve,
pois ela não está perfumada pelo espírito de Belial.

Na igreja percebe-se sua presença vil acobertado sob o manto do amor e do


cuidado ao próximo. Belial com sua iniquidade divide a igreja, permeia a
liderança, assenta-se nas tribunas dos concílios e convenções, em reuniões de
ministérios, nas pregações tidas como as mais espirituais. Belial é adorado
sempre que a iniquidade e a perversidade ocupam espaço em nossos corações
e sempre que nossas motivações deixam de ser Deus, e são centralizadas em
projetos humanos. Até mesmo em ritos e leis como o faziam os filhos de Eli.
Tudo o que faziam era num ambiente sagrado. A pompa da religiosidade dos
filhos de Eli era como sacrifício agradável a Belial, a ponto de Ana ser confundida
com um de seus filhos, como se estivesse bêbada, fora de si e, no entanto,
estava cheia da presença de Deus!

Belial é um mistério que precisa ser melhor desvendado!

João A. de Souza Filho - Pastor e escritor

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