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Adamastor Pereira Barros, Bruno Emanuel Souza Coelho, Bruno Fonsêca Feitosa, Cícero Romero Callou Bezerra,

Érik Serafim da Silva, Isaac Araújo Gomes, Marcos Barros de Medeiros, Maria Verônica Lins, Mateus Gonçalves
Silva, Natanaelma Silva Costa, Sílvio Jackson Félix Alves, Weverton Pereira de Medeiros
Organizadores

CIÊNCIAS AGRÁRIAS: INOVAÇÃO, TECNOLOGIA,


DESENVOLVIMENTO E EXTENSÃO

Editora & Eventos Científicos VOLUME


ÚNICO
ORGANIZADORES
Adamastor Pereira Barros
Bruno Emanuel Souza Coelho
Bruno Fonsêca Feitosa
Cícero Romero Callou Bezerra
Érik Serafim da Silva
Isaac Araújo Gomes
Marcos Barros de Medeiros
Maria Verônica Lins
Mateus Gonçalves Silva
Natanaelma Silva Costa
Sílvio Jackson Félix Alves
Weverton Pereira de Medeiros

CIÊNCIAS AGRÁRIAS: INOVAÇÃO, TECNOLOGIA,


DESENVOLVIMENTO E EXTENSÃO

Editora & Eventos Científicos


Gepra Editora, Consultoria & Eventos Científicos
geprapb@gmail.com / gepra.consult@gmail.com
www.issuu.com/gepraeditora

© 2021 por Adamastor Pereira Barros, Bruno Emanuel Souza Coelho, Bruno Fonsêca Feitosa, Cícero Romero Callou Bezerra,
Érik Serafim da Silva, Isaac Araújo Gomes, Marcos Barros de Medeiros, Maria Verônica Lins, Mateus Gonçalves Silva,
Natanaelma Silva Costa, Sílvio Jackson Félix Alves, Weverton Pereira de Medeiros (Org.)

© 2021 por Vários Autores

Todos os direitos reservados

Editor-chefe Conselho Editorial


Marcos Barros de Medeiros Marcos Barros de Medeiros
Adamastor Pereira Barros
Editor-chefe adjunto Isaac Araújo Gomes
Adamastor Pereira Barros Érik Serafim da Silva
Weverton Pereira de Medeiros
Diretoria executiva e diagramação Bruno Emanuel Souza Coelho
Isaac Araújo Gomes Christopher Stallone de Almeida Cruz
Elizandra Ribeiro de Lima Pereira
Capa Francisco Lucas Chaves Almeida
Érik Serafim da Silva José Eduardo Adelino Silva
Maria Verônica Lins
Design e edição gráfico Mateus Gonçalves Silva
Érik Serafim da Silva Natanaelma Silva Costa
Omar Jorge Sabbag
Rodrigo Leite Moura
Thamillys do Nascimento Silva
Weysser Felipe Cândido de Souza

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Bibliotecário responsável: Miguel Romeu Amorim Neto– CRB 7/6283

B277c

Ciências Agrárias: Inovação, Tecnologia, Desenvolvimento e Extensão /


Organizadores: Adamastor Pereira Barros... [et al]. – Guarabira: Gepra
Editora, Consultoria e Eventos Científicos, 2021.

Recurso digital: 1475 p.: il.

ISBN: 978-65-995929-0-4
Formato: E-book.

1. Agricultura. 2. Educação Ambiental. 3. Agroindústria. I. Coelho,


Bruno Emanuel Souza, org. II. Feitosa, Bruno Fonsêca, org. III. Bezerra,
Cícero Romero Callou, org. IV. Silva, Érik Serafim da, org. V. Gomes,
Isaac Araújo, org. VI. Medeiros, Marcos Barros de, org. VII. Lins, Maria
Verônica, org. VIII. Silva, Mateus Gonçalves, org. IX. Costa, Natanaelma
Silva, org. X. Alves, Silvio Jackson Félix, org. XI. Medeiros, Weverton
Pereira de, org. XII. Título

CDU 631

Índice para catálogo sistemático:


630 – Ciências Agrárias

Todo o conteúdo desta obra, ou seja, a revisão gramatical e ortográfica, o cumprimento das normas técnicas de escrita, bem
como os dados apresentados, são de inteira responsabilidade de seus autores e/ou organizadores, detentores dos direitos
autorais.

Esta obra foi publicada em agosto de 2021 pela Gepra Editora, Consultoria & Eventos Científicos.
Apresentação

A agricultura "rudimentar" vem ao longo dos tempos


se tornando mais "moderna", novas tecnologias vem
sendo implantadas com o intuito de melhorar a produção
agrícola em todo o mundo, trazendo mais qualidade e
eficiência. Estudos realizados constantemente vem
colaborando para demonstrar o potencial do agro, além
de conscientizar e auxiliar a população por meio da
educação ambiental e extensão rural. O E-book
"Ciências Agrárias: Inovação, Tecnologia,
Desenvolvimento e Extensão", traz uma abordagem
ampla, com estudos recentes que tratam de temáticas
relevantes do agro, proporcionando aos leitores um leque
de conhecimentos interdisciplinar.

Os Organizadores

“Uma boa informação plantada com palavras é


que nem uma terra bem lavrada!”
David Jatobá
Sumário
1) A CARNE OVINA E SEU POTENCIAL DE APLICAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS
CÁRNEOS...................................................................................................................... ................................09
2) A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: UM
ESTUDO NO INSTITUTO DOS CEGOS DA PARAÍBA............................................................................24
3) A INFLUÊNCIA DO BEM-ESTAR NA PRODUÇÃO E QUALIDADE DO LEITE.................................36
4) A PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA E A AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS: UMA ANÁLISE DO GUIA
ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA................................................................................45
5) ACÚMULO DE BIOMASSA EM MUDAS DE Ceiba glaziovii (Kuntze) K. Schum. SUBMETIDAS A
NÍVEIS DE SOMBREAMENTO..................................................................................................................56
6) ADUBAÇÃO NITROGENADA E INOCULAÇÃO DE SEMENTES NO FEIJOEIRO IRRIGADO.........68
7) AGREGAÇÃO DO SOLO EM TRÊS SISTEMAS DE MANEJOS NO OESTE DA BAHIA.....................81
8) AGRICULTURA 5.0: O AGRONEGÓCIO AINDA MAIS CONECTADO................................................90
9) ALIMENTO FUNCIONAL: BISCOITO COM EXTRATO DE PRÓPOLIS VERMELHA......................104
10) ALOCAÇÃO DE BIOMASSA EM Calotropis procera (Aiton) W. T. Aiton EM FUNÇÃO DE
DIFERENTES NÍVEIS DE SOMBREAMENTO.......................................................................................114
11) ALOCAÇÃO DE FITOMASSA E CRESCIMENTO DE ALFAZEMA BRAVA SOB SALINIDADE E
ÁCIDO SALICÍLICO...................................................................................................................................125
12) ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO VEGETATIVO NO CULTIVO DE PLANTULAS DE Helianthus
annuus PREVIAMENTE INOCULADAS COM (Sinorhizobium meliloti)................................................136
13) ANÁLISE DO PANORAMA ATUAL DO MERCADO DE PRODUTOS FLORESTAIS NO
BRASIL........................................................................................................................................................145
14) ANÁLISE FINANCEIRA E CONTROLE GERENCIAL DE UMA PEQUENA PROPRIEDADE RURAL
LOCALIZADA NA CHAPADA DIAMANTINA.......................................................................................156
15) ANÁLISE QUANTITATIVA DA MURCHA-DO-COQUEIRO NO MUNICÍPIO DE FREI
MARTINHO.................................................................................................................................................169
16) ANÁLISE SWOT DO COMPLEXO TURÍSTICO COMUNIDADE CHÃ DO JARDIM:
EMPREENDEDORISMO VOCACIONADO À AGROECOLOGIA.........................................................177
17) APICULTURA BRASILEIRA: ASPECTOS TÉCNICOS E PRÁTICOS NO MANEJO DE ABELHAS
AFRICANIZADAS......................................................................................................................................190
18) APLICAÇÃO DO SENSORIAMENTO REMOTO NO MONITORAMENTO DAS VAZÕES DE
CONSUMO DOS PIVÔS CENTRAIS........................................................................................................206
19) APLICAÇÃO DO TESTE DUO-TRIO EM ANÁLISE SENSORIAL DE REFRESCO SABOR
MARACUJÁ................................................................................................................................................223
20) AVALIAÇÃO SENSORIAL DO CREME DE FRUTO DE PALMA (Opuntias indica ficus) COM LICOR
DE CASSIS............................................................................................................................. ......................231
21) ASPECTOS BIOMÉTRICOS E GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE Operculina alata (Ham.) Urban
CLASSIFICADAS PELO TAMANHO.......................................................................................................239
22) ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO NO DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL NO
MUNICÍPIO DE INGÁ-PB: EXPERIÊNCIA EM ESTÁGIO REALIZADO NA EMATER – PB..........254
23) ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO INFLUENCIADOS POR SUCESSIVAS APLICAÇÕES DE
FREQUÊNCIAS E DOSES DE BIOFERTILIZANTE................................................................................264
24) AVALIAÇAO DO EFEITO DOS PLASTIFICANTES GLICEROL E TRIETIL CITRATO NA
MUDANÇA CROMATICA DE INDICADORES COLORIMETRICOS PRODUZIDOS COM EXTRATO
DE AÇAI (Euterpe oleracea Mart) EM ACETATO DE CELULOSE........................................................274
25) AVALIAÇÃO DA CONFORMIDADE DOS RÓTULOS DE QUEIJO COALHO COMERCIALIZADOS
NO MUNICÍPIO DE SOLÂNEA – PB........................................................................................................290
26) AVALIAÇÃO DA ROTULAGEM DE MORTADELAS COMERCIALIZADAS EM SANTA LUZIA-
PB................................................................................................................................. .................................299
27) AVALIAÇÃO DAS BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO EM PIZZARIA SITUADA NO MUNICÍPIO
DE POMBAL – PB............................................................................................................................. ..........310
28) AVALIAÇÃO DE ASPECTOS TÉCNICOS E ECONÔMICOS PARA IMPLANTAÇÃO DE SISTEMAS
DE IRRIGAÇÃO..........................................................................................................................................321
29) AVALIAÇÃO DE MÉTODOS DE SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA EM SEMENTES DE Pityrocarpa
moniliformis..................................................................................................................................................331
30) AVALIAÇÃO DOS HÁBITOS DE CONSUMIDORES NA MANIPULAÇÃO DOS ALIMENTOS,
DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19................................................................................................341
31) AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E ENUMERAÇÃO DE FUNGOS FILAMENTOSOS E LEVEDURAS
EM QUEIJOS MINAS FRESCAL PROVENIENTES DE FEIRA LIVRE................................................352
32) AVALIAÇÃO MICROBIOLOGICA DE QUEIJO MUÇARELA PRODUZIDO NO INTERIOR DO
CEÁRA.........................................................................................................................................................363
33) AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA DE AMOSTRAS DE LEITE PASTEURIZADO E DE DERIVADOS
LÁCTEOS COMERCIALIZADOS NO COMÉRCIO VAREJISTA DO SERTÃO
PARAIBANO...............................................................................................................................................373
34) AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA DE AMOSTRAS DE QUEIJOS E REQUEIJÃO
COMERCIALIZADOS NO COMÉRCIO VAREJISTA DO SERTÃO
PARAIBANO...............................................................................................................................................379
35) AVALIAÇÃO SENSORIAL DO CREME DE FRUTO DE PALMA (Opuntias indica ficus) COM LICOR
DE CASSIS............................................................................................................................. ......................385
36) AÇÃO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLA PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE ALEGRE-
ES............................................................................................................................. .....................................393
37) AÇÃO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE RECURSOS
HÍDRICOS EM ESCOLA PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE ALEGRE-ES................................................404
38) BACTÉRIAS ÁCIDO-LÁCTICAS POTENCIALMENTE PROBIÓTICAS DA ESPÉCIE Lactobacillus
rhamnosus: UMA BREVE REVISÃO.........................................................................................................414
39) BENEFÍCIOS E DIFICULDADES NA IMPLEMENTAÇÃO DE INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA
PECUÁRIA DE CORTE..............................................................................................................................425
40) CAPACIDADE DE SUPORTE FORRAGEIRO NO RIO TAPEROÁ.......................................................436
41) CARACTERIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES ANATÔMICAS DA MADEIRA DE Rhizophora mangle
DOS MANGUEZAIS DA ILHA DE ALGODOAL-PA E DA ILHA DE MARAJÓ-
PA............................................................................................................................. ....................................441
42) CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE BLENDS DE ACEROLA E NECTARINA......................458
43) CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE GRANOLA ENRIQUECIDA COM EXTRATO
ALCÓOLICO DE PRÓPOLIS VERDE E ADOÇADO COM MEL DE ABELHAS Apis mellifera L......470
44) CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E COLORIMÉTRICA DOS BLENDS DAS POLPAS DE
ACEROLA E TANGERINA EM PÓ OBTIDOS POR LIOFILIZAÇÃO...................................................485
45) CARACTERIZAÇÃO IN SILICO DA PROTEÍNA RELACIONADA À PATOGÊNESE 6 EM Manihot
esculenta Crantz............................................................................................................................................496
46) CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DE FRUTOS DE CAJU E MANGA....................................................508
47) CICLAGEM DE NUTRIENTES EM ECOSSISTEMAS FLORESTAIS DO BRASIL.............................519
48) COMPATIBILIDADE DE ANTAGONISTAS MICROBIANOS A PRODUTOS QUÍMICOS: UMA
REVISÃO............................................................................................................................. ........................531
49) CONDIÇÕES HIGIÊNICO-SANITÁRIAS DA FEIRA LIVRE NO MUNICÍPIO DE ALEXANDRIA, RN,
BRASIL........................................................................................................................................................546
50) CONDIÇÕES HIGIÊNICO-SANITÁRIAS DO LEITE CRU COMERCIALIZADO EM BANANEIRAS,
PARAÍBA.....................................................................................................................................................556
51) CONFORTO TÉRMICO E BEM-ESTAR DE OVINOS............................................................................567
52) CONSTELAÇÃO SISTÊMICA ORGANIZACIONAL APLICADA NA GESTÃO DE
EMPRESAS.......................................................................................... ........................................................578
53) CONTRIBUIÇÃO DO CONHECIMENTO ETNOBOTÂNICO PARA A CONSERVAÇÃO DA
BIODIVERSIDADE: ESTUDO DE CASO PARA O BIOMA CAATINGA.............................................589
54) CONTROLE ALTERNATIVO PARA PATÓGENOS VEÍCULADOS PELO SOLO..............................601
55) COOPERATIVISMO COMO INCENTIVO AO DESENVOLVIMENTO PECUÁRIO DO MUNICÍPIO
DE BOA VISTA DO TUPIM-BA................................................................................................................617
56) CRESCIMENTO VEGETATIVO DO ABACAXIZEIRO PÉROLA EM FUNÇÃO DE DOSES DE
BIOFERTILIZANTE E DE LÂMINAS DE ÁGUA....................................................................................628
57) CRIAÇÃO ARTIFICIAL DE INSETOS ENTÓFAGOS: UMA REVISÃO...............................................638
58) CURVA DE EMBEBIÇÃO PARA FEIJÃO CAUPI BRS TAPAIHUM EM DIFERENTES ESPECTROS
DE LUZ........................................................................................................................................................649
59) DESENHO EXPERIMENTAL ESTATÍSTICO APLICADO À PRODUÇÃO DA KOMBUCHA A BASE
DE UMBU (SPONDIAS TUBEROSA).........................................................................................................657
60) DESENVOLVIMENTO DE BEBIDA ALCOÓLICA À BASE DE SORO DE LEITE E GOIABA.........668
61) DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO FISICO-QUÍMICA DE BISCOITO INTEGRAL TIPO
COOKIE COM ADIÇÃO DE FARINHAS DE BANANA VERDE E COCO...........................................682
62) DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE BLENDS EM PÓ DE UVA
COM TANGERINA PELO PROCESSO DE LIOFILIAÇÃO....................................................................692
63) DIAGNÓSTICO DA GERAÇÃO DE RESÍDUOS EM UM RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO NA
CIDADE DE BANANEIRAS-PB........................................................................................... .....................702
64) ECOTOXICOLOGIA DO COBRE EM SOLOS COM CULTIVO DE VIDEIRAS..................................712
65) EFEITO LETAL DE RESÍDUOS DE INSETICIDAS SOBRE OPERÁRIAS ADULTAS DA ABELHA
Apis mellifera............................................................................................................................. ...................723
66) EFEITOS DA MUCILAGEM DE Abelmoschus esculentus (L.) Moench IN NATURA E LIOFILIZADA
SOBRE AS CARACTERÍSTICAS SENSORIAIS DE MOLHOS TIPO CAESAR....................................731
67) EFEITOS DA SOLUBILIZAÇÃO ÁCIDA E DESLIPIDIFICAÇÃO COM ETANOL NA OBTENÇÃO
DE CONCENTRADO PROTEICO DE PEITO DE FRANGO COM MIOPATIA “WHITE
STRIPING”...................................................................................................................................................742
68) EFEITOS DO ESTRESSE TÉRMICO SOBRE O COMPORTAMENTO FISIOLÓGICO DE CAPRINOS
– REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................................................. 752
69) EFEITOS ECOTOXICOLÓGICOS DE SOLOS EM PASTAGEM CULTIVADA, NATIVA E CULTURA
ANUAL NO SUL DO BRASIL...................................................................................................................762
70) ELABORAÇÃO DE FLUXOGRAMAS DOS PRODUTOS PRODUZIDOS EM INDÚSTRIA DE
LATICÍNIOS NO SERTÃO DA PARAÍBA...............................................................................................774
71) ELABORAÇÃO E ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE BISCOITO INTEGRAL TIPO COOKIE
ADICIONADOS DE FARINHAS DE BANANA VERDE E DE COCO...................................................784
72) ESTIMATIVA DA INCIDÊNCIADO BICUDO-DO-ALGODOEIRO COM ÍNDICE TÉRMICO NA
REGIÃO DO MATOPIBA, BRASIL..........................................................................................................795
73) ESTRESSE HÍDRICO NA FASE DE PRÉ-FLORAÇÃO DO FEIJOEIRO COMUM..............................810
74) ESTUDO DE CASO: EFEITO DA COBERTURA DO SOLO SOBRE A INCIDÊNCIA DE MANCHAS
FOLIARES NA CULTURA DOTRIGO......................................................................................................822
75) ESTUDO SENSORIAL E NUTRICIONAL DA MERENDA ESCOLAR OFERTADA NA REDE
PÚBLICA DE ENSINO DO MUNICÍPIO DE CAMPO GRANDE – RN..................................................832
76) ESTÁGIO DE VIVÊNCIA E PRÁTICAS AGROECOLÓGICAS NA UNIDADE DE PESQUISA DE
PRODUÇÃO ORGÂNICA – UPPO OU ‘‘FAZENDINHA ORGÂNICA” DA EMBRAPA.....................842
77) EXPERIÊNCIAS AGROECOLÓGICAS NA COMUNIDADE TOURÃO NO MUNICÍPIO DE
MONSENHOR TABOSA-CE, BRASIL.....................................................................................................850
78) FERTILIZANTE ORGANOMINERAL NO DESENVOLVIMENTO DE MUDAS DE MELÃO...........862
79) FIXAÇÃO BIOLÓGICA DO NITROGÊNIO: A FAVOR DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA FAMILIAR................................................................................................871
80) FORMULAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E INTENÇÃO DE COMPRA DE MEL DE ABELHA Apis
mellifera L., ENRIQUECIDO COM EXTRATO ALCÓOLICO DE PRÓPOLIS VERDE E ESSÊNCIA DE
BAUNILHA..................................................................................................................................................886
81) IMPACTOS AMBIENTAIS PROVENIENTES DO USO DE AGROTÓXICOS NO BRASIL: UMA
REVISÃO DE LITERATURA.....................................................................................................................903
82) IMPORTÂNCIA ALIMENTÍCIA E SOCIOECONÔMICA DO AÇAÍ: PRODUÇÃO, CONSUMO E
NUTRIÇÃO..................................................................................................................................................917
83) IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA DOS CUPINS (ISOPTERA) PARA AGRICULTORES DO
ASSENTAMENTO JUAZEIRO- ALTO SERTÃO DA PARAÍBA...........................................................930
84) INFLUÊNCIA DA SECAGEM NAS PROPRIEDADES FÍSICAS DO PHASEOLUS VULGARIS..........938
85) LEVANTAMENTOS FITOSSOCIOLÓGICOS EM ÁREAS DE CAATINGA........................................951
86) META-ANÁLISE PARA ESTIMATIVA DO GANHO DE PRODUTIVIDADE DE PALMA
IRRIGADA...................................................................................................................................................963
87) MODELAGEM EM SISTEMAS AGRÍCOLAS.........................................................................................973
88) NANOPARTÍCULAS DE SILÍCIO ATENUAM ESTRESSE HÍDRICO DURANTE A RIZOGÊNESE DE
PLÂNTULAS DE Moringa oleifera............................................................................................................989
89) O CO-CULTIVO COMO FERRAMENTA PARA POTENCIALIZAR A PRODUÇÃO IN VITRO DE
EMBRIÕES BOVINOS............................................................................................................................. ..998
90) OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE BLENDS EM PÓ DAS POLPAS DE CAJÁ COM ACEROLA
PELO PROCESSO DE LIOFILIZAÇÃO..................................................................................................1006
91) PARADIGMAS E CONCEPÇÕES AMBIENTAIS NO CONTEXTO ESCOLAR DE CRIANÇAS EM
SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL NO SCFV POMBAL-PB..........................................1016
92) PARÂMETROS QUALITATIVOS DE MUDAS DE PINHEIRA IRRIGADA COM ÁGUA SALINA E
DOSES DE NITROGÊNIO VIA FOLIAR................................................................................................1024
93) PERCEPÇÃO DE MORADORES DO BAIRRO VILA MOURA SOBRE COLETA SELETIVA.........1034
94) PERCEPÇÃO DOS PRODUTORES RURAIS QUANTO AO USO DE EPI’S NA APLICAÇÃO DE
AGROTÓXICOS............................................................................................................................. ...........1042
95) PERFIL DE MERCADO DOS POSSÍVEIS CONSUMIDORES DE PATÊ DE CODORNA.................1053
96) PERFIL E PERCEPÇÃO DO(A) PARAIBANO(A) NA RELAÇÃO DE COMPRA E CONSUMO DE
ALIMENTOS ORGÂNICOS.............................................................................................. .......................1063
97) CONDIÇÕES HIGIÊNICO-SANITÁRIAS DE QUEIJOS DE COALHO PRODUZIDOS NO SERTÃO
PARAIBANO.............................................................................................................................................1079
98) PLANEJAMENTO FORRAGEIRO EM UMA PROPRIEDADE RURAL DE BOA VENTURA DE SÃO
ROQUE - PR: UMA PESQUISA DE CAMPO.........................................................................................1089
99) PONTOS DE MATURAÇÃO INFLUENCIAM NA QUALIDADE DA FARINHA DE ACEROLA?
............................................................................................................................. .......................................1100
100) KOMBUCHA E SEUS BENEFÍCIOS À SAÚDE HUMANA: UMA REVISÃO
INTEGRATIVA........................................................................................................................................ .1108
101) POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO DOS ÁCIDOS ORGÂNICOS COMO ADJUVANTES NO
PROCESSO DE TECNOLOGIA DE BARREIRA APLICADOS A CONSERVAÇÃO PESCADO: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA.......................................................................................................................1122
102) PRODUTOS NATURAIS COMO ALTERNATIVA NO CONTROLE DE PRAGAS E
DOENÇAS.................................................................................................................................................. 1135
103) PRODUÇÃO DA VIDEIRA ISABEL EM FUNÇÃO DE DOSES DE BIOFERTILIZANTE E LÂMINAS
DE IRRIGAÇÃO........................................................................................................................................1145
104) PRODUÇÃO DE NÉCTAR E POTENCIAL PARA PRODUÇÃO DE MEL DE Acacia mangium WILLD
(LEGUMINOSAE, MIMOSOIDEAE) NO ESTADO DE RORAIMA.....................................................1155
105) PROPOSTA DE RECUPERAÇÃO DE ÁREA DEGRADADA EM UM LIXÃO DESATIVADO NO
MUNICÍPIO DE MAMANGUAPE-PB..................................................................................................... 1169
106) PRÁTICAS E GESTÃO DE USO DO SOLO NA AGRICULTURA FAMILIAR...................................1184
107) QUALIDADE DE CARNE DE BÚFALO: UMA BREVE REVISÃO.....................................................1196
108) QUALIDADE DE POLPAS MISTAS VERMELHAS E BRANCAS DURANTE O
ARMAZENAMENTO................................................................................................................................1209
109) QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA DE DOCES DE LEITE COMERCIALIZADOS NO SERTÃO
PARAIBANO............................................................................................................................................. 1220
110) QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA DE PRODUTOS LÁCTEOS COMERCIALIZADOS NO SERTÃO
PARAIBANO.............................................................................................................................................1226
111) QUALIDADE FISIOLOGICA DE SEMENTES DE FEIJÃO SUBMETIDAS A INOCULAÇÃO COM
Rizobium tropici E DOSES DE NITROGÊNIO.........................................................................................1232
112) QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE FEIJÃO-CAUPI.....................................................1244
113) QUALIDADE FISIOLÓGICA E DORMÊNCIA DE SEMENTES FLORESTAIS: UMA REVISÃO
SOBRE IMPLICAÇÕES PARA PRODUÇÃO DE MUDAS...................................................................1253
114) QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE DOCES DE LEITE ARTESANAIS COMERCIALIZADOS NO
MUNICÍPIO DE BANANEIRAS - PB......................................................................................................1267
115) QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE SUSHIS COMERCIALIZADOS EM PATOS,
PARAÍBA...................................................................................................................................................1278
116) SABERES SOBRE SOLOS E PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS DE AGRICULTORES
FAMILIARES DO CARIRI PARAIBANO...............................................................................................1289
117) SECAGEM CONVECTIVA E SUAS APLICAÇÕES NA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS..................1297
118) SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG) NO ZONEAMENTO AGRÍCOLA DO
CAFÉ..........................................................................................................................................................1308
119) SISTEMA DE INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA-FLORESTA: INTENSIFICAÇÃO DE UMA
AGRICULTURA SUSTENTÁVEL...........................................................................................................1322
120) TEOR DE PIGMENTOS DE MUDAS DE Passiflora edulis SOB CONDIÇÕES DE ESTRESSE SALINO
E MANEJO DA ADUBAÇÃO..................................................................................................................1333
121) TOLERÂNCIA AO DÉFICIT HÍDRICO DE LINHAGENS AVANÇADAS DE MAMONEIRA (Ricinus
communis L.) EM DOIS PERÍODOS DE PRECIPITAÇÃO
CONTRASTANTE.....................................................................................................................................1342
122) TÉCNICAS ALIADAS AO PROCESSAMENTO DE POLPAS DE FRUTAS.......................................1355
123) USO DE SILÍCIO NA PROMOÇÃO DE RESISTÊNCIA DO REPOLHO AO PULGÃO Brevicorine
brassicae............................................................................................................................. ........................1369
124) AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E SENSORIAL DE NÉCTAR DE ABACAXI (Ananas comosus L.)
ADOÇADO COM MEL DE ABELHA.....................................................................................................1378
125) CAULE DECOMPOSTO DE BURITI (Mauritia flexuosa L.) NO DESENVOLVIMENTO
MORFOLÓGICO DE ESTACAS DE FIGUEIRA....................................................................................1388
126) UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DE MARACUJÁ PARA ELABORAÇÃO DE DOCES: REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA...................................................................................................................................... 1399
127) ZONEAMENTO CLIMÁTICO PARA A FERRUGEM ASIÁTICA DA SOJA (Phakopsora pachyrhizi)
NO MAPITOBA E SEALBA..................................................................................................................... 1408
128) ÁCIDO SALICÍLICO PROMOVE INCREMENTOS FOTOSSINTÉTICOS EM FEIJÃO-CAUPI SOB
RESTRIÇÃO HÍDRICA.............................................................................................................................1422
129) ÍNDICES E FLUORESCÊNCIA DA CLOROFILA a EM PLANTAS DE TOMATEIRO SOB
DIFERENTES DENSIDADES POPULACIONAIS DE Meloidogyne javanica E DOSES DE ÁCIDO
SALICÍLICO..............................................................................................................................................1432
130) VIABILIDADE ECONÔMICA DA IMPLANTAÇÃO DE PRODUÇÃO DE COGUMELO SHIITAKI
(Lentinula edodes) NA REGIÃO DE MOGI DAS CRUZES USANDO RECURSOS DO
FEAP............................................................................................................................. ..............................1443
131) IMPACTO DO ANETOL NA REPRODUÇÃO: UMA REVISÃO..........................................................1455
132) REVISÃO BIBLIOMÉTRICA SOBRE A UTILIZAÇÃO DE EXTRATO DE PRÓPOLIS COMO
REVESTIMENTO E SEU EFEITO NA CONSERVAÇÃO DA MAÇA FUJI (MALUS DOMESTICA)
.................................................................................................................................................................... 1465
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 1

A CARNE OVINA E SEU POTENCIAL DE APLICAÇÃO NO


DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS CÁRNEOS

LIMA, Thamirys Lorranne Santos


Docente do Curso Técnico de Alimentos
Instituto Federal do Rio Grande do Norte
thamirys.lorranne@ifrn.edu.br

ALVES, Rerisson do Nascimento


Mestrando em Tecnologia Agroalimentar 9
Universidade Federal da Paraíba
rerisson-alves@hotmail.com

SOARES, Wisla Kívia de Araújo


Engenheira de Alimentos
Universidade Federal de Campina Grande
wisla-kivia@hotmail.com

RIBEIRO, Neila Lidiany


Pesquisadora do Instituto Nacional do Semiárido
neilalr@hotmail.com

FILHO, Edvaldo Mesquita Beltrão


Docente do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Agroalimentar
edvaldobeltraofilho@hotmail.com

RESUMO

A carne ovina é considerada exótica por suas características peculiares no que diz respeito
ao aroma, sabor e seus aspectos nutricionais, uma vez que é uma carne mais magra,
quando comparada a carne bovina, suína ou de frango. Nesta perspectiva, objetivou-se
com este estudo, realizar um levantamento bibliográfico sobre as principais informações
referentes a utilização e potencial da carne ovina no desenvolvimento de produtos
cárneos. Para tal, realizou-se uma pesquisa através dos termos “carne ovina”,
“composição”, “comercialização”, “características sensoriais” e “produtos cárneos de
carne ovina”, tanto em português como em inglês no Portal de Periódicos da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), no Google Acadêmico, no
Scientific Electronic Library Online (SciELO), e no Science Direct. As informações
coletadas revelam que a carne ovina pode ser utilizada com sucesso em produtos cárneos
bastante populares e consumidos, como é o caso das salsichas, mortadelas, patê,
hambúrguer e nuggets como uma forma de agregação de valor e diversificação na
indústria de produtos cárneos. Ademais, pode-se afirmar que a carne ovina surge como
uma perspectiva inovadora e comercialmente viável, apresentando excelente potencial
para ser utilizada como matéria-prima principal no desenvolvimento de produtos cárneos.

PALAVRAS-CHAVE: carne de ovelhas, novos produtos, ovinocultura.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

No Brasil, a região Nordeste se destaca na atividade de ovinocultura, concentrando


60,5% do rebanho nacional de ovinos, promovendo uma fonte de renda e subsistência
para pequenos produtores, além de proporcionar a expansão no número de animais
comercializados, colocando a produção de carne ovina em ascensão no país (SOUZA et
al., 2016; EMBRAPA, 2018). Entretanto, o consumo de carne ovina se mantém em média
de 0,6 kg por pessoa por ano, um consumo considerado ainda baixo quando comparados
a outros países, apesar de ser considerado um alimento nutritivo (VIANA et al., 2015;
ESTURRARI, 2017).
A carne ovina apresenta propriedades químicas como alto valor nutritivo, 10
destacando elevados percentuais de proteínas, vitaminas do complexo B, cálcio e
potássio, além de boa eficácia na digestibilidade (BRITO et al., 2016). Outro fator
importante é que a qualidade da carne ovina está diretamente associada aos parâmetros
sensoriais, tais como textura, suculência, sabor e odor, além disso é considerado um
alimento que aborda baixos níveis de gordura saturada, sendo uma vantagem benéfica
quando comparado a carne bovina, promovendo uma alternativa de alimentação saudável
e adequada para o público consumidor (LIMA et al., 2013; TEIXEIRA et al., 2019).
Com relação a comercialização da carne ovina, é realizada em cortes cárneos,
destacando-se pernil, sela, lombo, costelas, paleta, peito e pescoço, resultando a
confecção de unidades cárneas menores, favorecendo a utilização em porções menores,
além de gerar uma facilidade na aplicação destes cortes específicos no desenvolvimento
de produtos cárneos. Outro fator importante é promover no mercado a inovação com
produtos diferenciados, que podem vir a satisfazer necessidades de consumidores mais
exigentes quanto à qualidade e à forma de apresentação do produto a ser consumido
(GONZAGA et al., 2018).
A utilização da carne ovina na fabricação de produtos cárneos é uma técnica
inovadora e econômica que vem sendo aplicada como estratégia de agregar valor a esta
matéria-prima, isto por apresentar um perfil rico em ácidos graxos da familia ômega-3 e
baixo teor de lipídeos (COELHO et al., 2016). Nesse sentido, estudos recentes têm
demonstrado a viabilidade da utilização da carne ovina na fabricação de carnes
processadas. Produtos como copa, linguiça, patê, presunto e salsichas tem demonstrado
resultados satisfatórios na qualidade nutricional e sensorial, promovendo opções de
produtos no mercado que sejam aceitos sensorialmente e que não cause risco a saúde dos
consumidores (STOJKOVIĆ et al., 2015; ANDRADE et al., 2018; CRUXEN et al.,
2018; FERNANDES et al., 2018; TEIXEIRA et al., 2019).
Diante deste contexto, objetivou-se com este estudo, realizar um levantamento
bibliográfico a cerca de informações referentes a utilização e potencial da carne ovina no
desenvolvimento de produtos cárneos.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo trata-se de uma revisão de caráter exploratória e narrativa onde foi


realizada um levantamento bibliográfico a cerca da carne ovina e de suas principais
potencialidades no desenvolvimento de produtos cárneos. A pesquisa foi realizada no
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período de fevereiro de 2021 a março do mesmo ano, onde utilizou-se os buscadores de


maior facilidade de acesso em esfera nacional e internacional como o Portal de Periódicos
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), o Google
Acadêmico, o Scientific Electronic Library Online (SciELO), e a Science Direct, de
acordo com as seguintes palavras-chave em português e inglês: “carne ovina”,
“composição”, “comercialização”, “características sensoriais”, “produtos cárneos de
carne ovina”. Após a coleta de informações, este estudo de revisão foi dividido em três
principais sessões, sendo elas: “A carne ovina”, “Aspectos Sensoriais e Comercialização”
e “Produtos cárneos desenvolvidos a partir da carne ovina”, para melhor organização das
informações coletadas.
11

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A carne ovina

Países como a Ásia (44,9%) e África (28,5%) contribuem com a maior porcentagem
para população de ovinos, entretanto, a China é o principal produtor (16%), seguido pela
Austrália (6%), Índia (5%), Irã e Nigéria (4%), Sudão, Turquia e Reino Unido, cada um
com 3% do total produzido (CHIKWANHA et al., 2017).
A ovinocultura é considerada como uma importante atividade pecuária do Brasil
onde sua produção estende-se pelo território nacional, sendo considerada como uma
importante fonte de renda e subsistência aos pequenos produtores. A carne ovina é única
em sabor e palatabilidade e sua qualidade está diretamente relacionada às suas
características sensoriais, tais como textura, suculência, sabor e odor. A falta de consumo
habitual e da disponibilidade de oferta são as principais causas do baixo consumo de carne
ovina no Brasil (PAULOS et al., 2015; TEIXEIRA et al., 2019).
Entre as carnes vermelhas, a mesma merece destaque por possuir algumas
características peculiares, como seu alto valor nutritivo, alta digestibilidade, elevados
níveis de proteína, vitaminas do complexo B, ferro, cálcio e potássio, além de ser rica em
colesterol do tipo HDL (High Density Lipids), chamado popularmente de “colesterol
bom” e possuir baixos índices de gordura saturada, tornando-se assim, uma excelente
alternativa para os consumidores que procuram manter uma alimentação saudável e
equilibrada (SILVA et al.,2007; COSTA et al., 2008; LIMA et al. 2013).
O perfil da carne ovina consumida nos dias atuais difere daquela tradicionalmente
produzida há anos atrás, pois houve melhorias na qualidade da carne quando se observa
as mudanças que ocorreram associadas aos sistemas produtivos, ao melhoramento
genético, a seleção de linhagens e a diminuição da gordura das carcaças animais (Rotta
et al., 2009; CRUZ et al., 2015). Logo, a qualidade da carne pode ser avaliada por diversos
fatores físico-químicos, e parâmetros tecnológicos, como pH, cor, capacidade de retenção
de água, maciez e perdas por cocção e também por aspectos sanitários e nutricionais,
dentre outros (GUERRERO et al., 2013).
As características físico-químicas podem evidenciar carnes de ovelhas com melhor
ou pior qualidade, e os resultados podem ser utilizados para determinar o preço dos
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produtos com distintas qualidades e serem direcionados para diferentes tipos de mercado
(PINHEIRO et al., 2010).
Os consumidores de carne ovina buscam carne com características específicas, com
qualidade nutricional e que atendam aos seus anseios qualitativos e que ainda proporcione
boa saúde a quem o consome (ALBUQUERQUE et al., 2014). Porém, a carne de ovinos
mais velhos é geralmente considerada um produto de menor valor, devido ao seu sabor
mais forte e maior dureza em comparação com os de animais mais jovens. Nesta
perspectiva, os consumidores tendem a mostrar uma forte preferência pela carne de
animais jovens e, consequentemente, as carcaças de animais adultos geralmente não são
aceitáveis para consumo direto, o que dificulta sua comercialização (DUTRA et al.,
12
2012).
Existem alguns métodos padronizados para divisão da carcaça ovina em cortes
comerciais, melhores apresentados que podem facilitar a comercialização, entretanto,
estes cortes dependem dos hábitos culinários e tradicionais de cada região do país, uma
vez que o consumo da carne de ovinos depende de uma série de fatores, onde, dentre
estes, uma boa apresentação dos cortes comerciais pode, de certa forma, chamar a atenção
do consumidor para a compra e consumo da carne de ovinos na forma in natura
(OSÓRIO; OSÓRIO, 2003).

Aspectos Sensoriais e Comercialização

A qualidade sensorial da carne ovina além de ser considerada uma preocupação


para a indústria, é de extrema importância para os consumidores. Logo, os principais
atributos sensoriais analisados são a cor, suculência (capacidade de retenção de água),
textura (dureza ou maciez) e flavour, a qual são responsáveis diretamente pela aceitação
ou rejeição por parte do consumidor no momento da compra (SIRIN et al., 2017).
Neste contexto, a cor é a primeira característica observada pelo consumidor no ato
da compra, portanto, desempenha papel fundamental na aceitação geral do produto. Na
análise sensorial de carne ovina, a cor se destaca, pois é o primeiro atributo a explicar a
escolha pelos consumidores, uma vez que a cor vermelha viva está associada ao frescor
da carne, influenciando diretamente sua aquisição e sua adaptabilidade para um futuro
processamento (BELLÉS et al., 2017; ANDRADE et al., 2018).
Assim como a cor, há outras características inerentes ao alimento como a
suculência, que está associada a capacidade de retenção de água, considerado um
parâmetro que pode definir o nível de fixação de água na composição do músculo nas
cadeias de actino-miosina, traduzindo no momento da mastigação uma sensação de maior
ou menor suculência, a qual é avaliada de maneira positiva ou negativa pelos
consumidores (GONSALVES et al., 2012).
A textura é um conjunto de sensações distintas, sendo a maciez uma das
características de maior influência na aceitação e na continuidade de compra do produto
pelo consumidor, onde em certos casos, há uma relativa relação positiva entre o preço dos
cortes e a maciez. Além disso, a maciez da carne ovina é definida como a facilidade com
que a carne se deixa mastigar, sendo analisada por três sensações pelo consumidor. A
primeira, se caracteriza como a facilidade a penetração e corte, a segunda é mais
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prolongada que consiste na resistência que a carne oferece a ruptura durante o ato da
mastigação, enquanto a terceira é aquela que dar a sensação de resíduo (OSÓRIO et al.,
2009; MAGNO, 2014).
O flavour de um alimento pode ser definido como o conjunto de sensações de natureza
psicofisiológica que é resultado do contato do alimento com receptores sensoriais
localizados no nariz e estruturas táteis e receptores sensoriais localizados na boca,
influindo mutuamente com as demais características organolépticas da carne ovina,
especialmente com a suculência e a textura, determinando ao final a aceitabilidade
sensorial pelo consumidor. Neste contexto, o conhecimento dos atributos sensoriais tem
grande impacto na qualidade final do produto, além de impulsionar o índice de
13
aceitabilidade e intenção de compra da carne ovina (OSÓRIO et al., 2009; BRANCO et
al., 2015).
Com relação a comercialização da carne ovina, há muitos anos foi desorganizada,
com abate realizado de forma incorreta e abate de animais velhos, levando a
comercialização de carne com baixa qualidade, criando uma imagem desfavorável ao
produto. Atualmente, o cenário da carne ovina comercializada no mercado vem mudando,
a qual as carcaças são disponibilizadas em forma de cortes, destacando-se cortes como
pernil, sela, lombo, costelas, peito e pescoço. Os cortes que compõem a carcaça possuem
diferentes valores econômicos e sua proporção constitui um importante índice para
avaliação da qualidade comercial da carcaça, otimizando o controle da produção
(CONSTANTINO et al., 2018).
A obtenção de cortes comerciais a partir da carcaça ovina vem agregando valor aos
produtos da cadeia, procedimento este que além de possibilitar um aproveitamento mais
racional da carcaça, viabiliza a elaboração de produtos processados, ampliando as opções
para uso gastronômico desta carne, tanto para indústria alimentícia quanto para o
consumidor final. Logo, a comercialização dos cortes de carne ovina e divulgação de seu
uso constituem uma alternativa viável capaz de estabelecer e incrementar o hábito do
consumo, estimulando o crescimento de toda a cadeia (CARNEIRO et al., 2012;
EMBRAPA, 2021).

Produtos cárneos desenvolvidos a partir da carne ovina

A carne de animais mais velhos, mesmo podendo ser apresentada em cortes


comerciais atraentes, é mais apropriada para ser processada com outros ingredientes e
sais de cura com o principal objetivo de agregar valor às carnes (TEIXEIRA et al., 2017).
Assim, a industrialização funciona como uma importante estratégia para a utilização
desta, uma vez que, além de permitir a agregação de valor a carne para o abastecimento
do mercado, é um método possível para a indústria de alimentos já que esses produtos
são geralmente comercializados a preços relativamente altos (GUERRA et al., 2011;
DUTRA et al., 2012, SAÑUDO et al., 2016).
Alguns pesquisadores alegaram em suas pesquisas que a carne de ovelhas adultas
é mais adequada para ser processada por sais de cura, defumação e secagem, ou mesmo,
para a fabricação de diversos produtos após a moagem, mistura com sal, especiarias e
outros ingredientes e o invólucro (PAULOS et al., 2015).
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Nos últimos anos, diversos estudos científicos (COSTA et al., 2011; DUTRA et
al., 2013; OLIVEIRA et al., 2014; LU et al., 2014; LEITE et al., 2015; TEIXEIRA et al.,
2017; FERNANDES et al., 2018) demonstraram a viabilidade do uso da carne ovina na
fabricação de produtos cárneos. Na Tabela 1, encontram-se resumidos alguns produtos
que já foram desenvolvidos, os parâmetros pesquisados e os efeitos avaliados nestes
estudos, segundo reporta TEIXEIRA et al., (2019) com adaptações.

Tabela 1. Resumo dos principais estudos sobre a elaboração de novos produtos a partir da carne de ovinos.

Produtos Parâmetros pesquisados Efeitos avaliados Referências


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Carne de cordeiro salgada Composição centesimal Estudo descritivo Costa et al., (2011)

Patê de presunto cozido Composição centesimal, % de carne de ovelha Dutra et al., (2013)
elaborado com carne de ovino pH, aW, TBARS adulta para substituir
a carne de porco
Produto curado de carne de Composição centesimal, Diferentes espécies Oliveira et al., (2014)
ovelha: manta pH, aw, TBARS

Hambúrguer de carne de Parâmetros de cor, TBARS Espécies, Cózar e Vergara (2018)


carneiro concentrações de
extratos

Salsichas frescas de ovelha com Aa, pH, composição Espécies, níveis de Leite et al., (2015)
diferentes níveis de gordura de centesimal, ácidos graxos gordura
porco

Perna curada de ovinos pH, Aa, colesterol, ácidos Espécies, salga, Teixeira et al., (2017)
graxos amadurecimento

Salsichas de ovelha com extrato Composição centesimal, Espécie, Fernandes et al., (2018)
de Origanum vulgare perfil de textura, TBARS, concentrações de
análise sensorial extratos

Como observado na Tabela 1, o processamento de produtos cárneos a partir da


carne ovina, vem crescendo e se aperfeiçoando a medida em que contribui para agregação
de valor, oferta no mercado de produtos inovadores e diferenciados, além de melhorar as
propriedades da carne in natura e aumentar o tempo de prateleira de forma que atenda a
todos os grupos específicos (Costa et al., 2019).

Salsicha

Produtos cárneos emulsionados, como as salsichas, são muito populares em todo


o mundo, sendo consumidas por todas as classes sociais devido ao seu baixo custo de
produção, sua preparação rápida e fácil e ainda por atender as expectativas sensoriais do
público consumidor, já que o estilo de vida dos consumidores têm-se modificado bastante
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nos últimos anos, uma vez que existe uma tendência para o consumo de alimentos de fácil
preparo (HENTGES et al., 2016; SOUSA et al., 2017).
De acordo com a legislação brasileira, entende-se por salsicha, o produto cárneo
industrializado, obtido da emulsão de carne de uma ou mais espécies de animais de
açougue, adicionados de ingredientes, embutido em envoltório natural, ou artificial ou
por processo de extrusão, e submetido a um processo térmico adequado. Poderão ter
processo alternativo de tingimento, depelação, defumação e utilização de recheios e
molhos (BRASIL, 2000a).
Pesquisas foram desenvolvidas com ênfase na produção de salsichas elaboradas à
base da carne ovina e os resultados foram satisfatórios. Lima et al. (2020), desenvolveram
15
salsichas de carne ovina utilizando diferentes concentrações de óleo de linhaça como
substituto da gordura animal e constaram que as salsichas elaboradas com 40% de óleo
de linhaça apresentaram maior teor de proteínas e cinzas, além de melhor capacidade de
retenção de água e estabilidade da emulsão. Já Leite et al. (2015), desenvolveram
salsichas à base de carne ovina e caprina com diferentes níveis de gordura suína e
relataram uma boa aceitabilidade para as formulações elaboradas.
O desenvolvimento de salsichas de carne de ovelhas é uma opção viável, uma vez
que permite o valor agregado e fornece a indústria de carnes novas opções de produtos.
Fernandes et al., (2018) avaliaram a estabilidade das salsichas ovinas com a adição de
diferentes concentrações de extrato de orégano durante o armazenamento e relataram que
a maioria dos parâmetros avaliados não foram comprometidos pela adição do orégano,
permitindo assim, que antioxidantes sintéticos fossem substituídos mantendo a qualidade
nutricional e sensorial das salsichas de carne ovina. Nesta perspectiva, estes achados
surgem como opção e viabilidade para salsichas elaboradas a partir da carne de ovinos.

Mortadela

Conforme a legislação brasileira, define-se mortadela um produto cárneo


industrializado, obtido da emulsão das carnes de animais de açougue, acrescido ou não
de toucinho, adicionado de ingredientes, embutido em envoltório natural ou artificial, em
diferentes formas e submetido ao tratamento térmico adequado, podendo haver a inclusão
de ingredientes de origem vegetal, tais como condimentos (BRASIL, 2000b).
A mortadela é um embutido emulsionado cozido formulado principalmente com
carne suína, sendo considerado mais consumido pela população brasileira. Entretanto, a
carne ovina agora é considerado uma alternativa viável à carne suína na produção de
vários produtos, devido aos atributos nutricionais e sensoriais. Por exemplo, a carne de
carneiro contém níveis consideráveis de proteína e ferro, além de níveis atraentemente
baixos de lipídios, em comparação com outros tipos de carne (BURIN et al., 2015).
A elaboração de mortadela de carne ovina foi investigada em estudos anteriores,
na qual pesquisadores desenvolveram quatro formulações de mortadela utilizando carne
de carneiro suplementada com farinha de yacón, a fim de verificar o efeito desta interação
nas características físico-químicas, microbiologica e sensoriais deste produto, e
observaram que todas as formulações atenderam os percentuais mínimos estabelecidos
pela legislação brasileira, além de ser considerado um produto com intenção de compra
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favorável. Logo, o desenvolvimento de mortadela com inclusão de carne de carneiro


surge-se como uma opção mais saudável e com potencial desempenho interessante na
escala comercial (JÚNIOR et al., 2018).

Patê

O patê é definido como um produto cárneo industrializado obtido a partir de carnes


e/ou miúdos comestíveis, das diferentes espécies animais de açougue, transformados em
pasta, acrescidos de ingredientes e submetido a um processo térmico adequado, além de
ser considerado um alimento cozido com tradições gastrômicas relevantes e com
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caractéristicas sensoriais bastante apreciadas (BRASIL, 2000c).
O primeiro patê foi processado com fígado de aves, o qual era disponível em potes,
latas ou embalagens a vácuo para comercialização. Porém, a aplicação da carne de ovelha
no preparo de patês não é tão comum, entretanto, há potencial para ser considerada uma
opção viavel para agregar valor a esta matéria-primam, além do aproveitamento dos
subprodutos gerados no abate ovino. Outro fator importante é explanar as propriedades
deste produto, visando incentivar positivamente na decisão de compra pelos
consumidores (TEXEIRA et al., 2019).
Alguns estudos explanaram as propriedades benefícas de patês a base de carne
ovina, como por exemplo, Dutra et al (2013) que elaboraram patês com diferentes níveis
de carne ovina, e constataram alto valor nutricional, além de atender valores de qualidade
sensorial semelhantes aos patês tradicionais. Rodrigues et al. (2019) também
desenvolveram patês de carne ovelha com diferentes percentuais de gordura, a fim de
analisarem o efeito sob as propriedades sensoriais, e detectaram maiores valores de
intensidade para o atributo de sabor e textura. Logo, a utilização de carne de ovelha no
preparo dos patês conferiu maior valor agregado a este produto, proporcionado uma opção
de alimento com características de qualidade e aceitação sensorial.

Hambúrguer

Segundo a legislação brasileira, o hambúrguer é definido como um produto cárneo


industrializado, obtido da carne moída dos animais, adicionado ou não de tecido adiposo
e ingredientes, moldado e submetido a processo tecnológico adequado, devendo a textura,
cor, sabor e odor serem característicos (BRASIL, 2000d). O consumo de hambúrguer é
um hábito alimentar mundial em virtude das suas propriedades sensoriais, facilidade de
preparo e elevado teor de lipídios, proteínas, vitaminas e minerais em sua composição
(Oliveira et al., 2013).
O hambúrguer é um alimento popular com alta praticidade, por possui nutrientes
que alimentam e saciam a fome rapidamente, o que combina com o modo de vida
representado nos centros urbanos. Contudo, o consumo desse tipo de alimento tem sido
avaliado, principalmente, nos consumidores habituais, pois podem gerar consequência
como um elevado índice de peso, risco coronário, diabetes e câncer, afetando de forma
negativa a saúde do consumidor (RODRIGUES, 2012).
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Por conta disso, vem crescendo a preocupação com a elaboração de produtos de


preço acessível, sabor agradável, de boa qualidade e também com menor teor de gordura
na sua composição, uma vez que, os produtos cárneos convencionais possuem um alto
nível de gordura saturada. Neste contexto, o desenvolvimento de hambúrguer com carne
ovina, surge como uma alternativa de alimentação saudável por apresentar níveis baixos
de gordura saturada, além de fornecer ao consumidor produtos de paladar variados e
adequado (BORGHI et al., 2016).
Atualmente, observa-se a execução de alguns estudos na elaboração de
hambúrgueres com carne ovina. Cózar e Vergara (2018) desenvolveram formulações de
hambúrguer com carne de carneiro, utilizando cortes comerciais de baixo valor, tais como
17
peito e pescoço, com inclusão de condimentos, a qual foram submetidos ao período de 13
dias de armazenamento. Os autores obtiveram um produto cárneo estável com pouca
variação de cor, além que a inclusão de condimentos como alho e alecrim atuaram
positivamente na estabilização da oxidação lipídica durante o período de armazenamento.
Linares et al. (2020) também elaboraram hambúrgueres com carne ovina. Nesta
pesquisa formulações de hambúrgueres com carne de cordeiro condimentados com alho,
alecrim, sálvia e cravo foram preparadas, e submetidos as análises químicas e sensoriais.
Os hambúrgueres apresentaram valores mais baixos de gordura saturada e maior teor de
ácidos graxos poli-insaturados, enquanto as características sensoriais foram modificadas
promovendo um odor e sabor mais agradável, logo, os autores constataram que a adição
de condimentos pode ser uma alternativa para diversificar hambúrgueres de carne ovina.

Nuggets

De acordo com o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Empanados


(BRASIL, 2001), entende-se por empanado o produto cárneo industrializado, obtido a
partir de carnes de diferentes espécies de animais de açougue, acrescido de ingredientes,
moldado ou não, e revestido de cobertura apropriada que o caracterize, podendo ou não
conter recheios em sua composição. Trata-se de um produto cru, semi-cozido, cozido,
semi-frito ou frito. Podem ser adicionados diversos ingredientes à formulação, como
proteínas de origem animal ou vegetal, aditivos intencionais, condimentos, aromas,
especiarias, féculas, farinhas e amidos, vegetais, queijos e molhos.
Atualmente, os alimentos empanados são muito popular, e seu consumo tem
aumentando nos últimos anos, isso porque o o estilo de vida da população atual é buscar
alimentos práticos e convenientes no preparo, facilitando o dia a dia dos consumidores,
gerando um dos pontos chave para o crescimento do consumo de produtos cárneos
industrializados. Assim, alternativas de desenvolvimento de nuggets de carne ovina
utilizando cortes de baixo valor, pode ajudar a otimizar o aproveitamento da carcaça e
assim, melhorar a rentabilidade do setor de produção de carne ovina. (Barbut, 2012).
Medina et al. (2014) fabricaram nuggets semi-fritos de carne de cordeiro,
utilizando cortes como a perna e flanco, afim de analisar o efeito destes cortes no
parâmetros de qualidade dos nuggets. Os autores relataram que dentre os cortes de baixo
valor comercial escolhido, a formualação de nuggets utilizando o flanco, demonstrou
teores de gordura e maiores proporções de ácido graxo poliinsaturado (PUFA), bem como
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boa aceitabilidade sensoriail. Logo, este estudo revelou a possibilidade de fabricação


nuggets de cordeiro pre-fritos que constituem uma oportunidade de agregar valor para
esta matéria-prima.
Verma et al. (2013) desenvolveram formulações de nuggets de carne ovina
incorporados como extrato de goiaba, com finalidade de verificar o efeito antioxiodante
e dietétíco do extrato na qualidade dos nuggets, assim, os pesquisadores observaram que
a incorporação do extratro enriqueceu os nuggets promovendo um elevado teor de fibras,
além de atuar na inibição da oxidação lipídica destas formulações durante o
armazenamento refrigerado. Neste contexto, a goiaba em pó pode ser usada como fonte
de fibra dietética e antioxidante em nuggets de carne de ovino sem afetar sua
18
aceitabilidade.

CONCLUSÕES

A carne ovina apresenta um excelente potencial no que diz respeito aos aspectos
nutricionais e de qualidade. Todavia, a medida em que essa carne, principalmente aquelas
obtidas de animais mais velhos são utilizadas como matéria-prima principal no
desenvolvimento de produtos cárneos, têm-se uma agregação de valor a carne, bem como
surge como uma oportunidade viável e inovadora para a indústria de carnes e
consequentemente para os consumidores preocupados com a saúde, que podem encontrar
nos produtos de carne ovina tanto qualidade como saudabilidade. Estes achados,
demonstram o potencial e a viabilidade em termos econômicos e nutricionais da utilização
da carne ovina no desenvolvimento de produtos cárneos.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 2

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A INCLUSÃO DE PESSOAS COM


DEFICIÊNCIA VISUAL: UM ESTUDO NO INSTITUTO DOS
CEGOS DA PARAÍBA

EGITO, Rômulo Henrique Teixeira do Egito


Mestrando em Gestão Ambiental
Instituto Politécnico de Coimbra – Escola Superior Agrícola
romuloegito2@hotmail.com

ALVES, Gilcean Silva 24


Doutor em Agronomia
Professor no IFPB – Campus João Pessoa
biopb@gmail.com

LEMOS, Dilena Mara


Discente de Gestão Ambiental
IFPB – Campus João Pessoa
dmlmatos@yahoo.com.br

RESUMO

A educação ambiental desenvolve nas pessoas a consciência dos problemas ambientais e


as estimulam a repensar sobre algumas atitudes. Por isso, promover a inclusão social é
uma maneira de viabilizar e permitir que a consciência ambiental seja passada adiante.
Portanto, o trabalho tem como objetivo verificar e analisar a presença de práticas voltadas
para educação ambiental no Instituto dos Cegos da Paraíba. Para o estudo foram utilizados
22 voluntários com deficiência visual, residentes em João Pessoa e cidades vizinhas. Um
questionário com 15 perguntas foi aplicado acerca das questões ambientais e de como os
deficientes visuais encaram esta temática. O resultado mostra que os voluntários que
frequentam os Instituto do Cegos possuem bons conhecimentos sobre o Meio ambiente.
Contudo, a falta de acessibilidade e inclusão social os impedem de serem mais atuantes.
Desta maneira sugerimos que as instituições, privadas e públicas devam se unir em prol
da inclusão social, para que educação ambiental seja transmitida a todos, sem segregação,
permitindo, que as pessoas sejam mais conscientes sobre a sustentabilidade e a
importância de construir um futuro melhor para as próximas gerações.

PALAVRAS-CHAVE: Deficientes visuais, Inclusão social, Consciência ambiental.

INTRODUÇÃO

A maioria dos parques ecológicos, assim como o ensino da educação ambiental,


que incluem o contato com a natureza como forma das pessoas se sentirem pertencentes
ao ambiente, não estão adaptados a receberem o público com necessidades específicas,
causando uma exclusão social.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2019), 2,2 bilhões de
pessoas vivem com deficiência visual ou falta de visão; mais de 1 bilhão de casos eram
evitáveis ou tratáveis. Em nota, o diretor geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, afirmou
2021 Gepra Editora Barros et al.

que “doenças oculares e deficiência visual são muito comuns e muitas vezes não são
tratadas.”
Um grande problema identificado é que as pessoas com determinadas
“deficiências” são estigmatizadas como “incapazes” e que frequentemente necessitam de
assistência social. Esse problema acarreta uma diminuição das oportunidades, pois não
existe uma igualdade de tratamento, seja no âmbito de trabalho, educação, transporte,
lazer e outros. Além disso, faz com que indivíduos com deficiências se isolem da
sociedade.
Com o objetivo de integrar essa parcela da população, foi criada a Lei nº 7.853 de
24 de outubro de 1989, que garante os direitos às pessoas com deficiência e traz também,
25
o entendimento do termo inclusão social. Segundo o Órgão Gestor da Política Nacional
de Educação Ambiental, inclusão social, trata-se de um processo pelo qual a sociedade se
adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais, cidadãos que dela foram excluídos,
no sentido de terem sido privados do acesso aos seus direitos fundamentais (BRASIL,
2006).
A Declaração dos Direitos Humanos de 1948 (ONU, 1994), no artigo I, diz que
“todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos(...), não devendo ocorrer
nenhuma discriminação”. Ademais, a Constituição Federal de 1988 também garante no
Artigo 5º que perante a lei todos são iguais, sem distinção de qualquer natureza e é
garantida a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade e à igualdade.
Dentre as atividades que promovem a inclusão social, temos aquelas
proporcionadas na natureza, as quais são “orientadas por um sentimento de parceria e
comunhão, bem como favorecem a aproximação e o fortalecimento das ligações sociais”
(MUNSTER, 2004).
Em se tratando dos tipos de deficiências, os limites dos deficientes visuais não
impedem que desfrutem das atividades na natureza, pois o olfato, a audição e o tato são
suficientes para que estes indivíduos apreciem o ar, a flora, as rochas, o barulho das folhas
e, sintam-se mais próximos à natureza. De acordo com Munster (2004), acredita-se que
atividades realizadas ao ar livre, com princípios pedagógicos e segurança, podem ser
usufruídas por pessoas com diferentes condições de vida, sendo necessário o apoio de
profissionais experientes e capacitados para trabalhar com tal grupo de pessoas.
É por meio dessa temática que a educação ambiental pode ser inserida como
ferramenta de conscientização das pessoas com deficiência, pois atua como uma
metodologia pedagógica que faz com que as pessoas compreendam os conceitos de
“ambiente” e também, traz a noção de pertencimento dessas pessoas (JUSTO;
HECKLER, 2019).
Sendo assim, o presente trabalho tem por objetivo identificar e analisar a presença
de práticas voltadas para educação ambiental no Instituto dos Cegos da Paraíba.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo foi desenvolvido no Instituto dos Cegos da Paraíba Adalgisa


Cunha (ICPAC) (Figura 1) no mês de agosto de 2019. O ICPAC é uma organização
2021 Gepra Editora Barros et al.

filantrópica sem fins lucrativos, com o objetivo de possibilitar a melhoria da qualidade de


vida das pessoas, ou seja, favorecer o exercício de cidadania da pessoa com deficiência
em amplos contextos: reabilitação, educação, assistência social e empregabilidade deste
segmento populacional. A faixa etária dos usuários é de zero a sem limite de idade (dados
obtidos da instituição. Atualmente a Instituição atende 558 usuários, envolvendo
reabilitação e alunos da alfabetização, Atendimento Especializado e Educação de Jovens
e Adultos.

Figura 1. Mapa da localização da área de estudo

26

Fonte: Dados da pesquisa

A presente pesquisa é de cunho quali-quantitativa e exploratória, onde utilizou-se


questionário com quinze questões, sendo elas, objetivas, algumas sendo dicotômicas, e
outras sendo de múltipla escolha, tendo o entrevistado a possibilidade de assinalar mais
de uma opção. Para esta pesquisa consideramos entrevistar 20% dos voluntários que
frequentavam corriqueiramente o local, de tal forma que 22 pessoas se voluntariaram para
pesquisa.
Todos os 22 voluntários do estudo apresentavam deficiência visual, os quais
frequentam regularmente o Instituto de Cegos da Paraíba, na cidade de João Pessoa. Além
disso, suas idades variavam entre dezoito e setenta anos, sendo nove mulheres e treze
homens. Ademais, a diretora da Instituição sempre acompanhava a pesquisa, em caso de
sanar questões entre pesquisador e voluntário.
Um fato a se ressaltar é limitação do número de voluntários já que o instituto o local
da pesquisa estava em obras para melhorias e ampliação do espaço, e, portanto, parte das
atividades oferecidas foram suspensas reduzindo o número de pessoas. Segundo
verificou-se no local que o atendimento é predominante para crianças e adolescentes e,
2021 Gepra Editora Barros et al.

portanto, não sendo incluídas na pesquisa. Outro problema encontrado foi que pessoas
que se encaixavam no perfil da pesquisa não quiseram participar. Outro fator limitante do
trabalho foi o climático, pois a época da pesquisa coincidiu com o período chuvoso, em
decorrência de fortes chuvas e alagamentos por toda a cidade, alguns voluntários não
conseguiram chegar ao local da pesquisa.
No que concerne à realização da pesquisa, antes de seu início foi entregue um
Termo de Consentimento Livre Esclarecido, explicando o seu teor aos voluntários, bem
como seus riscos e benefícios ao participar. Após a assinatura do termo, o questionário
foi aplicado.
Os questionários tiveram duração média de cerca 20 minutos em seu
27
preenchimento. As perguntas tratavam da concepção que os deficientes visuais tinham
acerca do meio ambiente. Para que os voluntários pudessem responder ao questionário,
um pesquisador que estava acompanhado de funcionário do Instituto dos cegos, lia as
perguntas ficando o funcionário responsável de assinalar a respostas dos voluntários.
O trabalho foi avaliado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Instituto
Federal da Paraíba, campus João Pessoa sob o número CAAE 14667019.1.0000.5185.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As informações levantadas inicialmente sobre o local da pesquisa, seu


funcionamento, bem como, outras informações necessárias ao estudo, foram fornecidas
pela responsável pela Vice-Presidente e Diretora de Reabilitação.
Sobre a inclusão dos deficientes em projetos ambientais e possíveis soluções ao
problema a responsável respondeu que: “Observamos que é necessária uma
implementação substancial nesta área, pela própria escassez de cuidados com a natureza”.
Uma maior conscientização dos órgãos públicos e privados no sentido da reponsabilidade
com a saúde da humanidade, o que é possibilitado com um planeta saudável. São
programas que precisam de um incentivo maior em todos os pilares da vida (educação,
saúde).
No que diz respeito ao nível de escolaridade, 2 voluntários estudaram o Ensino de
jovens e adultos – EJA; 3 voluntários com o ensino fundamental completo; 1 voluntário
com ensino médio incompleto; 8 voluntários com ensino médio completo; 6 voluntários
com ensino superior incompleto e 2 voluntários com ensino superior completo. Desta
forma, conhecer o nível de instrução das pessoas é importante para avaliar a metodologia
mais adequada em cada caso
Os participantes elencados para a pesquisa pertenciam à bairros variados, sendo 17
bairros do município de João Pessoa e outros 3 municípios vizinhos (Tibiri, Cruz do
Espirito Santo e Cabedelo). Portanto, não é possível aferir uma predominância em um
determinado bairro. Caso houvesse um predomínio de voluntários em algum bairro ou
bairros vizinhos, seria possível pensar em ações mais específicas, como maior
acessibilidade na locomoção na vizinhança, utilização melhor das praças com
identificação das plantas em Braille, alarmes sonoros onde há grande circulação de
pessoas com essa deficiência, entre outras.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Um outro ponto relevante a ser mencionado trata sobre a primeira questão contida
no questionário, que era sobre a utilização do código Braille, onde 59,1 % dos voluntários
responderam que utilizam a linguagem enquanto que e 40, 9 % que não fazem uso.
A importância em conhecer o tipo de linguagem ou código deve ser
considerado uma importante ferramenta de transmissão de informações a respeito do
assunto em suas atividades cotidianas. Ademais, é relevante reconhecer que as pessoas
com essa ou qualquer tipo de necessidade não possuem uma forma específica de
aprendizado. Desta maneira, deve-se sempre incentivá-los a buscar a melhor maneira de
ensino que se adeque a limitação de cada um.
A segunda questão utilizada no questionário tratou sobre o entendimento dos
28
voluntários acerca do tema Educação Ambiental. Dentre as múltiplas opções assinaladas,
13 dizem ser sinônimo de não jogar o lixo e não poluir a natureza (A); 6 refere-se ao
preservar a natureza (B); 9 sobre conscientização (C); 3 acerca da reciclagem (D); 1 outra
maneira (Figura 2).

Figura 2. Compreensões sobre o que é Educação Ambiental pelos voluntários da pesquisa

Fonte: Dados da pesquisa

A opção mais assinalada entre os deficientes visuais reflete uma concepção mais
tradicional, onde a natureza permanecendo intocada não desencadeia problemas
ambientais. Entretanto, sabemos que uma boa gestão ambiental deixou de ser meramente
local e passa a afetar a sobrevivência da sociedade de modo global, envolvendo diversos
aspectos como: sociais, econômicos, culturais, entre outros.
Aqueles que associaram educação ambiental com conscientização podem ter o
entendimento de que existem várias maneiras de preservar o meio ambiente. Com isso,
aprendem a examinar seu modo de vida e o impacto de suas atitudes ao seu entorno. Aos
que marcaram reciclagem como modo de contribuir na preservação da natureza, essa
atitude pode contribuir coletivamente para que mais pessoas possam viver num meio
2021 Gepra Editora Barros et al.

ambiente mais saudável, com o uso sustentável dos recursos naturais e ajudando
economicamente as pessoas a terem uma renda extra com a reciclagem.
A terceira questão abordou sobre o local onde as pessoas voluntárias aprenderam
sobre Educação Ambiental, o qual pode ter sido em um ou mais ambientes. Desta
maneira, 14 respostas tratam do aprendizado no colégio/escola (A); 9 através dos meios
de comunicação (B); 2 aprenderam com a família (C); 3 no Instituto dos Cegos da Paraíba
(D); 3 outros locais/trabalho (E) (Figura 3).

Figura 3. Local onde os voluntários aprenderam sobre Educação Ambiental.


29

Fonte: Dados da pesquisa

Nesta questão, o colégio teve forte influência na construção do conhecimento dos


participantes da pesquisa, demostrando que tais Instituições devem ser usadas como
ferramenta de inclusão social. Assim, aqueles que divulgam e permeiam o saber, os
professores, são um elo indispensável para divulgação do conhecimento cientifico atual
para as gerações futuras acerca do meio ambiente.
Além disso, com o desenvolvimento de novas tecnologias mais rápidas e eficientes,
as informações prestadas contribuem para conscientização da população sobre o meio
ambiente, bem como suas ações impactam na Terra, podendo causar escassez dos
recursos naturais mínimos para gerações futuras sobreviverem. Nesta via, tem-se como
como meios de comunicação os artigos científicos, debates sobre o tema relacionado ao
meio ambiente, filmes sobre desastres ambientais e documentários falando da influência
do Homem sobre o clima global.
De acordo com o questionário, várias estratégias foram utilizadas para o ensino da
Educação Ambiental no ambiente escolar. 11 respostas tratam da aula expositiva (A); 6
em não jogar lixo nas ruas (B); 5 em replantar (C); 2 através de outra maneira/trabalho
(D) (Figura 4).
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Figura 4. Maneira como foi trabalhada a temática na escola

30

Fonte: Dados da pesquisa

A partir do resultado acima, fica claro que a metodologia tradicional adotada pelas
escolas foi a que os voluntários obtiveram maior conhecimento sobre o tema.
Independente da estratégia utilizada, quer seja através de aulas expositivas ou confecção
de trabalhos, estes quando bem preparados incentivam questionamentos críticos o que
gera bons resultados no aprendizado. No entanto, para essa temática recomenda-se
atividades ao ar livre ou atividades que integrem a educação ambiental no cotidiano dos
estudantes, afim de resultados mais eficientes e que possam virar rotina ao longo de suas
vidas. Ademais, O ICPAC teve importante contribuição com ações educativas como
palestras, passeios e plantio de mudas nativas no próprio instituto.
A quinta questão tratou sobre quais atitudes os voluntários julgam contribuir para o
bem do meio ambiente (Figura 5). Nesta via, reflorestar para diminuir a poluição foi a
reposta mais citada (total de 10). O que vem de encontro à comum associação que se tem
do meio ambiente com florestas, porém não é apenas isso. O meio ambiente é o conjunto
de elementos físicos, químicos, biológicos e sociais que podem causar efeitos diretos ou
indiretos sobre os seres vivos e as atividades humanas. Por tais fatos, fornecer o máximo
possível de informações sobre o que se trata desta temática é favorecer a consciência
ambiental. E mais, ao explicar para os deficientes visuais de como suas atitudes diárias
podem amenizar o impacto ambiental, estes não terão problemas em fazê-las, pelo
contrário, sentirão parte do processo em preservar o meio ambiente.
Entre as demais respostas, chama-se atenção para as menos citadas, contudo de
grande relevância, o desperdiço de água (total de 6 respostas). Em virtude de sua escassez
dado alto consumo populacional, aos diversos tipos de poluição e ainda ao grande
desperdiço doméstico e industrial, este recurso encontra-se a falta em algumas regiões do
planeta.
Na outra resposta que trata em não respeitar o horário de coleta do lixo (total de
5 respostas), o mesmo também trata de uma falta de consciência ambiental. Porque
quando o resíduo é alocado de qualquer maneira, sem tratamento adequado, pode poluir
o solo e alterar suas características físico-química e biológicas, tornando-se um problema
2021 Gepra Editora Barros et al.

de ordem estética, ambiental e de ameaça à saúde pública. Consecutivamente, o lixo


poderá atrair inúmeros vetores como cachorro, gato, mosca, barata, rato, entre outros, os
quais podem transmitir diversos tipos de doenças à população humana, colocando em
risco sua saúde.

Figura 5. Atitudes que contribuem para o bem do meio ambiente

31

Fonte: Dados da pesquisa

Já a sexta pergunta do questionário avaliou se o ensino que tiveram acerca da


Educação Ambiental atenderam às suas necessidades cotidianas. Dentre as alternativas
listadas, 68,2 % dos voluntários concordaram, enquanto 31, 8 % discordaram
Ainda que grande parte da amostra esteja informada quanto ao entendimento da
temática, maior visibilidade deve ser dada à mesma, quer seja com políticas educacionais
inter- e transdisciplinares mais robustas e de acessibilidade; quer seja em ressaltar com
mais veemência e de fácil linguagem a importância das questões ambientais, levando o
conhecimento a maior camada possível dos extratos sociais.
As perguntas 7 a 12 do questionário retratam se os voluntários da pesquisam adotam
em seu cotidiano medidas preventivas no que tange ao combate contra o desperdício dos
recursos naturais. A partir das respostas dadas, a tabela 1 foi elaborada para melhor
entendimento.

Tabela 1. Sobre se os voluntários possuem saneamento básico na região em que mora e se adotam em seu
cotidiano medidas contra desperdício dos recursos naturais

PERGUNTAS RESPOSTAS
SIM NÃO
Separa lixo orgânico e recicláveis? 12 10
Entrega os recicláveis para a coleta 10 12
seletiva?
Controla o desperdício de água e luz em 21 1
casa?
2021 Gepra Editora Barros et al.

O caminhão do lixo passa em seu 22 0


domicílio?
O seu bairro possui água tratada e rede 22 0
de esgoto?
Você se preocupa com o desperdício de 19 3
água em casa?
Fonte: Dados da Pesquisa

Na população amostral cerca de metade dos indivíduos não realizam a separação


do lixo reciclável tão quanto entregá-lo à coleta seletiva. Apesar de entenderem sobre a
importância da reciclagem, contudo, o tema ainda é alvo de dúvidas. 32
Para as demais perguntas, por se tratar de questões mais vivenciadas em seu dia a
dia, as respostas foram condizentes com a perspectiva de conter o desperdício dos
recursos naturais. Portanto, popularizar temáticas ambientais se mostram como eficazes
em ações atitudinais.
Para finalizar as questões contidas no questionário, as perguntas 13 e 14 dizem
respeito sobre situações relacionadas à deficiência visual e como estas pessoas lidam com
as questões ambientais. Com isso, foi elaborada a tabela 2.

Tabela 2 – Sobre a deficiência visual e práticas ambientais.

Tabela 2. Sobre a deficiência visual e práticas ambientais

PERGUNTAS RESPOSTAS

SIM NÃO
Você sente dificuldade para colocar o 2 20
lixo nas lixeiras?

Você se preocupa com o desperdício 19 3


de água em sua casa?

Fonte: Dados da pesquisa

Adicionalmente aos dados acima, os deficientes visuais participantes relatam serem


conscientes quanto às questões ambientais, porém a falta de acessibilidade de vias e
espaços públicos os impedem de praticar ativamente. A exemplo, citam que ao percorrer
a calçada para jogar o lixo da sua moradia podem encontrar buracos, desníveis e até lixo
pelo caminho, o que dificulta a ação. Por isso, órgãos públicos e privados devem viabilizar
seus espaços de maneira a propiciar acessibilidade, ou seja, promover a inclusão social
Não existe na literatura atual um modelo ou metodologia específica para o ensino
da educação ambiental para pessoas com deficiência visual. Assim sendo, cada Instituição
ou disciplina desenvolve um modelo que melhor atende sua necessidade.
A exemplo de algumas práticas envolvendo a educação ambiental aplicados aos
deficientes, Costa da Silva e Chao (2007) realizaram um estudo de campo enfocando o
2021 Gepra Editora Barros et al.

profissional de Educação Física atuando na inclusão de portadores de deficiência visual


na questão ambiental, através de práticas corporais. Desta maneira, as atividades
desempenhadas na natureza puderam contribuir para o desenvolvimento do bem-estar
físico e mental dos indivíduos, além de contribuir na preservação da natureza, e melhoria
da qualidade de vida harmonizada pelo lazer.
O Instituto Federal de Santa Catarina em conjunto com a Associação Catarinense
para integração do Cego (ACIC) desenvolveu um projeto de exposição de mapas táteis
de sementes e trilhas ecológicas adaptadas a esse público. Os temas abordados foram
biológicos, morfológicos e geográficos (NAU et al., 2014).
De acordo com estudo realizado por Arantes (2013) em Brasília, o Centro de Ensino
33
Especial de Deficientes Visuais (CEEDV) contou com auxílio dos servidores do Museu
de Taxidermia da Fundação Jardim Zoológico de Brasília (FJZB) e utilizou a taxidermia
como recurso para o ensino de ciências e contou com a participação de estudantes
deficientes visuais, que cursavam o ensino fundamental e o médio. Os alunos
responderam ao questionário de 13 questões a respeito da taxidermia e os alunos
demonstraram interesse e reconheceram a importância para o aprendizado em tocar nas
peças.
E por fim, Patricio (2017) também realizou um estudo de campo preliminar, que
teve como objetivo geral, mostrar a perspectiva dos deficientes visuais em relação às
condições de acessibilidade na cidade de João pessoa, mais especificadamente no
Terminal de Integração e Parque Sólon de Lucena-Lagoa. Para tanto, foram realizadas
entrevistas no Instituto dos Cegos da Paraíba com o intuito de verificar os principais
problemas, barreiras e dificuldades de acessibilidade na cidade e nos transportes.
Verificou-se, no entanto, que a cidade de João Pessoa não está habilitada para receber
pessoas com deficiência visual. Além disso, foram detectados problemas como calçadas
fora de um padrão, esburacadas, carros nas calçadas, poucos locais com semáforos e falta
de aplicativo de alerta de chegada do ônibus.

CONCLUSÕES

A educação ambiental como forma de inclusão de pessoas com deficiência deve ser
abordada com mais rigor a esse grupo, pois conforme sugerido na pesquisa, a maior parte
dos voluntários não considera sua deficiência um fator limitante ou impeditivo para pôr
em prática em suas atividades cotidianas caseiras ou no aprendizado sobre o assunto.
Entretanto, quando saem de seus lugares habituais, enfrentam os obstáculos
arquitetônicos como calçadas desniveladas ou com buracos, bloqueada por carros, por
lixo ou entulho; escadas, ruas e postes mal projetos sem nenhuma sinalização que
dificultam sua locomoção pela cidade.

Como exemplos de aprendizado podemos citar atividades utilizando a máquina de


escrever em Braille; computador com software adaptado as suas necessidades e o
gravador. Também é possível transcrever materiais para o Braille, como livros e cartilhas
falando sobre o meio ambiente, palestras, audiolivros. Além disso, a confecção de figuras
em alto-relevo, com texturas diferenciadas para serem sentidas no tato, odores
2021 Gepra Editora Barros et al.

diferenciados que podem ser percebidas pelo olfato ou outra maneira que utilize os outros
sentidos podem ser utilizadas como estratégia pedagógica de ensino. Ademais, passeios
em trilhas ecológicas em parques, praias ou outros lugres com suporte adequado a
deficiência deles é indicado para promover a inclusão destes indivíduos nas questões
ambientais.

Quanto ao Instituto do Cegos da Paraíba, é importante citar que esta vem atingindo
sua função principal em acolher pessoas em suas necessidades e dar-lhes assistência
social para suprir suas necessidades básicas como alimentação, moradia e saúde.
Entretanto no tocante a educação ambiental percebemos que os entrevistados apresentam
ainda uma visão mais tradicional e simplista. Atualmente sabemos que nosso modo de 34
vida influencia no consumo exagerado dos recursos energéticos do planeta, então
devemos pensar em um consumo mais consciente de produtos que gerem menos resíduos
e poluição, que tenham um tempo de vida útil mais longo e que possam ser reutilizados
várias vezes antes de serem descartado definitivamente em local adequado.

Quando vemos mais de perto percebemos que na realidade temos três pilares para
administrar simultaneamente que são: um meio ambiente equilibrado, inclusão social e
economia sustentável. Devemos encontrar uma maneira de crescermos econômica por um
lado e preservar por outro, de maneira que afluem para um mesmo objetivo: que é a
sobrevivência da espécie humana no seu meio (não artificial) dentro de um natural, do
qual fazemos parte, mas, para isso devemos mudar nossa cultura do consumismo
desenfreado. Se não pensarmos nesse sentido estaremos destinados a morrer como
espécie, e seremos diretamente responsáveis pela destruição do nosso próprio planeta.

REFERÊNCIAS

ARANTES, L. G. Uso da taxidermia como recurso no ensino de ciências para alunos


com deficiência visual. 2013. 24 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Ciências Biológicas). Faculdade de Ciências da Educação e Saúde, Brasília, 2013.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:


Presidência da República, 1988.

BRASIL, Lei nº 7.853 de 24 de outubro de 1989, Dispõe sobre o apoio às pessoas


portadoras de deficiência.

BRASIL. Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental. Ministério do Meio


Ambiente. Ministério da Educação. Coletivo Jovens de Meio Ambiente: manual
orientador. Brasília, março de 2006.

COSTA DA SILVA, P. P.; CHAO; C. H. N. A Educação Física interagindo com a


Educação Ambiental na inclusão do deficiente visual. In: Congresso Brasileiro de
Ciências do Esporte,15, 2007: Recife. Anais do XV Congresso Brasileiro de Ciências do
2021 Gepra Editora Barros et al.

Esporte [e] II Congresso Internacional de Ciências do Esporte / Colégio Brasileiro de


Ciências do Esporte. Recife: CBCE, 2007.

JUSTO, F. S.; HECKLER, I. R. A importância da educação ambiental na inclusão de


pessoas com deficiência. Tecnologia e Ambiente, v. 25, p. 71-82, 7 out. 2019

MUNSTER, M. A V. Esportes na Natureza e Deficiente visual: Uma Abordagem


Pedagógica. 2004. 332 p. Tese (Doutorado em Educação Física) – Faculdade de
Educação Física. Universidade Estadual de Campinas. Campinas – SP, 2004.

NAU, A. S.; et al. Educação ambiental para deficientes visuais através de percepções 35
sensoriais com elementos vegetais. In: VII Congresso Brasileiro de Geógrafos, 2014,
Vitória.

ONU - ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA EDUCAÇÃO, Ciência E


CULTURA. Declaração de Salamanca sobre Princípios, Política e Prática na Área
das Necessidades Educativas Especiais. Salamanca. 10 de junho de 1994.

OMS, ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE ,2019. Em primeiro relatório global


sobre cegueira, OMS diz que mundo poderia evitar metade dos casos. Disponível em:
https://news.un.org/pt/story/2019/10/1690122. Acesso em 20 de fevereiro de 2020.

PATRICIO, J. S. Um Estudo Preliminar Sobre as Condições de Acessibilidade Social


na Perspectiva dos Deficientes Visuais no Terminal de Integração e Parque Sólon de
Lucena em João Pessoa. 2017. 41 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Tecnologia em
Gestão Pública) - Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2017.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 3

A INFLUÊNCIA DO BEM-ESTAR NA PRODUÇÃO E QUALIDADE


DO LEITE

SILVA, Larissa Feitosa


Graduando em Medicina Veterinária
Centro Universitário Doutor Leão Sampaio - UNILEÃO
lalafeitosa@hotmail.com

LIMA, Marcelo Santos de


Graduando em Medicina Veterinária 36
Universitário Doutor Leão Sampaio - UNILEÃO
ms5496318@gmail.com

QUEIROGA, Inês Maria Barbosa Nunes


Doutorado em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela Universidade Federal da Paraíba
Docente Centro Universitário Doutor Leão Sampaio - UNILEÃO
inesmaria@leaosampaio.edu.br

ANDRÉ, Weibson Paz Pinheiro


Doutorado em Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias pela Universidade Estadual do
Ceará
Docente Centro Universitário Doutor Leão Sampaio - UNILEÃO
weibsonpaz@leaosampaio.edu.br

RESUMO

A bovinocultura leiteira tem ganhado destaque no cenário mundial e a necessidade de


maior produção, produtividade e aumento na qualidade do leite, vem relacionando
estudos que possibilitem cada vez mais o incremento da produção leiteira pelas matrizes,
além da busca por melhorias na sanidade animal para diminuir aparecimento de
enfermidades e assim, aumentar a produção, diminuir os custos de produção e evitar
propagação de patógenos entre os animais e transmissão para humanos. Sendo assim, o
objetivo deste trabalho é fazer uma revisão de literatura sobre a influência do bem-estar
na produção e qualidade do leite. Foram utilizados artigos científicos atuais, dos últimos
cinco anos, pesquisados no Google Acadêmico e Portal de Periódicos Capes, utilizando
descritores como bem-estar na produção leiteira, ordenha de vacas leiteiras, qualidade do
leite e suas variantes. O contato, humano-animal influencia diretamente no resultado da
produção final, que são advindas desde o contato no nascimento de bezerras à sala de
ordenha. Acredita-se que a influência sendo positiva aumenta a quantidade e qualidade
do leite, que é esperado por produtores e consumidores. Animais em estresse térmico tem
alterações nas demandas de minerais e vitaminas e tais nutrientes são importantes na
atividade imunológica, função antioxidante, metabolismo lipídico e termorregulação. O
perfil de qualidade do leite também pode ser alterado conforme o nível de desconforto do
animal, interferindo no teor lipídico do leite. Concluímos que a manutenção do bem-estar
animal é fundamental para a sanidade animal, produção e qualidade do leite.

PALAVRAS-CHAVE: Manejo, Bovinocultura de leite, Sanidade.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

O leite é uma das commodities agropecuárias que apresenta importância a nível


mundial, e se encontra entre os cinco produtos mais comercializados no planeta. Devido
a essa relevância, bilhões de pessoas consomem leite e seus derivados. Apresenta
importância econômica como fonte de renda e sobrevivência para grande parte da
população, além de ser uma fonte vital de nutrientes (SIQUEIRA, 2019). Presente em boa
parte da vida do ser humano, o leite tornou-se um alimento com custo-benefício propício
ao consumo por toda parte da população. Por ser um alimento complexo que contém altas
concentrações de macro e micronutrientes, e por apresentar importância nutricional para
o desenvolvimento humano. O leite é fonte de proteína de alta qualidade e fornece 37
contribuição significativa de cálcio, magnésio, selênio, riboflavina, vitamina B12 e ácido
pantotênico (vitamina B5) (SIQUEIRA, 2019). A bovinocultura leiteira é uma das
principais atividades agropecuárias que fornece alimento à população, sendo um dos
principais setores de geração de renda no Brasil e arrecadação tributária (MELO et al.,
2016). Uma tendência forte e que tem beneficiado os lácteos, é a busca por alimentos
mais saudáveis e nutritivos. Consumidores preocupados com saúde e bem-estar querem
alimentos que tenham elevada densidade nutricional, bem como auxiliem em algum
processo biológico, seja prevenindo doenças, melhorando o funcionamento do organismo
ou auxiliando no restabelecimento da saúde. Em relação ao animal, a alimentação
balanceada, assim como o manejo adequado dos animais e da ordenha são fundamentais
para uma produção de qualidade, porém, patologias ligadas a bovinocultura leiteira como
afecções podais, enfermidades metabólicas, mastites e qualquer doença que possa
desencadear estresse no animal, ocasionam diminuição na produção leiteira. Outro fator
amplamente discutido no que diz respeito na qualidade e produção do leite é o bem-estar
animal (DAWKINGS, 2017).
O bem-estar animal começou a ser registrado em edições escritas a partir do ano de
1964 pela jornalista Ruth Harrison no livro intitulado “Animal Machines”, porém o
desenvolvimento de suas diretrizes e discussões foram pautadas nos anos seguintes com
conceitos e formatos de liberdade. Para Broom (1986), o conceito de bem-estar animal é
definido como “o estado do animal em relação às suas tentativas de se adaptar ao meio
em que vive”. Apesar de tantos anos como teoria, esse conceito embasa as inovações,
estudos e demais pesquisas, verificando-se nas sequências, a importância do descrito.
Assim, a produção animal enfrenta um cenário repleto de oportunidades para negócios
que visem o atendimento de mercados consumidores mais exigentes e conscientes de suas
práticas de consumo (CEBALLOS E SANT’ANNA, 2018). Segundo DAWKINS (2017),
os potenciais conflitos entre o bem-estar animal e uma produção eficiente podem ser
resolvidos, ou pelo menos minimizados, por meio dos claros benefícios financeiros que a
melhoria do bem-estar animal pode brindar a um sistema produtivo, como redução da
mortalidade e morbidade, aumento da resistência às doenças, redução do uso de
medicamentos e melhoria da qualidade dos produtos, gerando, assim, satisfação aos
trabalhadores e produtores rurais e agregando valor aos produtos. Este cenário desafiador
tem impulsionado oportunidades de melhorias nas mais diversas atividades que envolvem
animais, baseadas na aplicação de práticas e princípios advindos da ciência do bem-estar
2021 Gepra Editora Barros et al.

animal. Para garantir altos níveis de bem-estar é preciso proporcionar aos animais
ausência de experiências negativas, bem como oportunidades de vivenciar experiências
positivas (MELLOR, 2016).
Diante do exposto, objetivou-se fazer uma revisão de literatura envolvendo a
importância do bem-estar na produção e qualidade do leite, assim como cuidados e
melhorias envolvidas.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizados artigos científicos atuais, dos últimos cinco anos, das principais
bases de pesquisa científica localizadas no Google Acadêmico e Portal de Periódicos 38
Capes, utilizando descritores como bem-estar na produção leiteira, ordenha de vacas
leiteiras, qualidade do leite e suas variantes. O livro citado de Donald M. Broom apesar
do ano de publicação (1986), é a base das variantes do bem-estar animal, sem a
possibilidade de deixar de ser citado em um trabalho que envolve o bem-estar animal.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A crescente valorização do bem-estar dos animais pela sociedade produz


implicações nos mais diversos âmbitos onde estes estejam de alguma maneira envolvidos,
gerando reflexos econômicos, culturais, legais e científicos (CEBALLOS e
SANT’ANNA, 2018). Existem vários procedimentos e técnicas de manejo que podem
afetar direta ou indiretamente ciclo de vida dos bovinos leiteiros durante a fase produtiva.
Desta forma, a vida dos animais pode ser prejudicada ou cessada por estresse, distresse,
dor, sofrimento, acidentes ou doenças, em decorrências de negligência, imperícia ou
imprudência, sendo em alguns casos necessário a realização de tratamentos clínico-
cirúrgicos ou, dependo do caso, proceder descarte, eutanásia ou abate humanitário, devido
à falta de recursos técnicos ou inviabilidade financeira para determinados tratamentos
clínicos ou intervenções cirúrgicas (AMARAL et al., 2018). Mundialmente existe uma
maior exigência com o cuidado com os animais e sua produção, assim, a Organização
Mundial da Saúde Animal (OIE, 2019) recomenda em seu Código Sanitário para animais
terrestres, onze princípios para nortear ações que levam em conta os animas de produção,
são elas:
1 - A seleção genética deve sempre levar em consideração a saúde e o bem-estar
dos animais.
2 - Os animais escolhidos para introdução em novos ambientes devem ser
adequados ao clima local e capazes de se adaptar às doenças locais, parasitas e nutrição.
3 - O ambiente físico, incluindo o substrato (superfície de caminhada, superfície de
descanso, etc.), deve ser adequado às espécies, de modo a minimizar o risco de lesões e a
transmissão de doenças ou parasitas aos animais.
4 - O ambiente físico deve permitir repouso confortável, movimento seguro e
confortável, incluindo movimentos normais, mudanças posturais e a oportunidade de
realizar tipos de comportamento natural que os animais são motivados a realizar.
2021 Gepra Editora Barros et al.

5 - O agrupamento social de animais deve ser gerenciado para permitir um


comportamento social positivo e minimizar lesões, angústias e medo crônico.
6 - Para animais alojados, a qualidade do ar, a temperatura e a umidade devem
apoiar a boa saúde animal e não serem aversivas. Onde ocorrem condições extremas, os
animais não devem ser impedidos de usar seus métodos naturais de termorregulação.
7 - Os animais devem ter acesso a alimentos e água suficientes, adequados à idade
e às necessidades para manter a normalidade, saúde e produtividade e para evitar fome
prolongada, sede, desnutrição ou desidratação.
8 - Doenças e parasitas devem ser prevenidos e controlados o máximo possível por
meio de boas práticas de manejo. Os animais com sérios problemas de saúde devem ser
39
isolados e tratados prontamente ou mortos humanamente se o tratamento não for viável
ou a recuperação improvável.
9 - Onde procedimentos dolorosos não puderem ser evitados, a dor resultante deve
ser gerenciada na medida em que os métodos disponíveis permitam.
10 - O manejo deve promover uma relação positiva entre humanos e animais e não
deve causar lesões, pânico, medo duradouro ou estresse evitável.
11 - Proprietários e manejadores devem ter habilidade e conhecimento suficientes
para garantir que os animais sejam tratados de acordo com esses princípios.
Com essas necessidades, é notório a importância da interação humano-animal,
visando a garantia do bem-estar animal. De acordo com Andrioli et al. (2020) essa estreita
relação entre humanos e animais pode ser desenvolvida por meio do uso de interações
positivas envolvendo um ou vários dos cinco sentidos (tato, visão, olfato, paladar e
audição). Sendo exemplificado tipos de interações que condizem com o resultado positivo
nos animais. O importante é desenvolver uma rotina de contato positivo diário entre
humanos e animais. Outras estratégias, como a habituação à rotina da ordenha e o
treinamento das fêmeas jovens, por exemplo, também devem ser estimuladas a fim de
promover o bem-estar dos animais e das pessoas envolvidas no manejo, bem como
propiciar ganhos na produção e na qualidade do leite, facilitando ainda a detecção de
problemas de saúde. (ANDRIOLI et al., 2020).
O leite é uma combinação de inúmeros elementos sólidos diluídos em água,
constituído de lipídeos, carboidratos, proteínas, sais minerais e vitaminas (PRADO et al.,
2016). Existem vários cuidados que devem ser tomados para obtenção de leite com
quantidade ideal de nutrientes que atendam a demanda dos consumidores e indústrias. A
qualidade do leite cru pode ser influenciada por inúmeros fatores como, higiene da
ordenha e dos utensílios, manejo, alimentação, genética, obtenção, armazenamento e
transporte (LEIRA et al., 2018). Conhecer as características do leite cru refrigerado após
o recebimento pela indústria, são medidas importantes no monitoramento da qualidade
dos derivados lácteos. De forma geral, a mastite influencia tanto na produção quanto na
qualidade do leite, indicada como um dos principais pontos relacionados a perda de
animais e de leite na pecuária. As mastites continuam sendo um dos principais problemas
sanitários nos animais destinados à produção de leite. De múltipla etiologia e de
ocorrência mundial, sua prevalência está relacionada com o manejo sanitário dos animais
e da ordenha. Especificamente na mastite bovina pode-se afirmar, que se trata de um
entrave para a pecuária leiteira, repercutindo negativamente no que se refere à qualidade
2021 Gepra Editora Barros et al.

do leite, além de prejuízos econômicos e problemas de saúde pública (LANGONI et al.,


2017). Patógenos contagiosos tem a habilidade colonizar o epitélio dos tetos,
especialmente se a pele se encontra lesionada ou ressecada e conseguem elevar a
contagem de células somáticas (CCS) ocasionando, em boa parte, a mastite subclínica de
longa duração (COSTA et al., 2017). Há alguns testes para detecção da mastite bovina
como a CCS, exame físico do úbere, teste da caneca de fundo preto, califórnia mastite
teste (CMT), cultura e antibiograma (COSTA et al., 2017). O tratamento para mastite,
assim como os demais protocolos para patologias, deve ser repassados por médicos
veterinários, a fim de promover a cura dos animais, diminuir a contaminação e evitar a
resistência bacteriana devido a medicações sem testes prévios.
40
Relacionado diretamente com a produção de leite, o estresse térmico interfere na
saúde do animal e consequentemente na diminuição de sua produção. O estresse térmico
é frequentemente associado com grandes perdas econômicas na bovinocultura leiteira
(POLSKY; KEYSERLINGK, 2017). A pecuária leiteira a bastante tempo vem
trabalhando em pesquisas analisando o efeito da temperatura ambiente no sentido de
melhorar a produção. Por estarmos em um país tropical com temperaturas médias do ar
entre 20° C e 32º C em boa parte do ano, chegando a temperaturas de 35°C a 38°C,
podemos dizer que esse é um dos principais desafios para determinados sistemas da
atividade leiteira, sabendo que estas temperaturas são altas para bovinos especializados
em produção de leite (REZENDE et al., 2016). Acima de 25°C, vacas de leite sofrem de
estresse térmico e apresentam alterações na homeostase, o que interfere em alguns
parâmetros fisiológicos (KAUFMAN et al., 2018). Os principais parâmetros utilizados
para avaliação do estresse térmico são a temperatura retal, vaginal, temperatura de
superfície do úbere, frequência respiratória, temperatura ambiente e índice de temperatura
e umidade (MÁS et al., 2020). O estresse térmico pode ser amenizado pelo manejo e
adoção de práticas que favorecem a redução do mesmo, como estruturas que forneçam
sombras e fornecimento de água sem restrição e de fácil acesso (NETO e BITTAR, 2018).
Animais em estresse térmico tem alterações nas demandas de minerais e vitaminas e tais
elementos são importantes na atividade imunológica, função antioxidante, metabolismo
lipídico e na termorregulação (CONTE et al., 2018). O conforto térmico tem grande
destaque para as vacas leiteiras, uma vez que pode afetar negativamente a saúde e a função
biológica desses animais, refletindo principalmente em redução do desempenho
produtivo e reprodutivo (POLSKY; KEYSERLINGK, 2017). O perfil de qualidade do
leite é alterado conforme o nível de desconforto do animal. O perfil lipídico do leite é
alterado, sendo a redução dos níveis de lisofosfatidilcolina um importante marcador de
estresse térmico (LIU et al., 2019). A fim de amenizar o estresse térmico de vacas
leiteiras, estudos recentes avaliaram os efeitos da implementação de ventiladores,
aspersores e estratégias de sombreamento à pasto sobre o bem-estar e índices produtivos
desses animais (FABRIS et al., 2016). O uso de ventiladores e aspersores, sombreamento,
água de fácil acesso aos animais e estratégias nutricionais são medidas que podem reduzir
o estresse calórico e favorecer índices zootécnicos do rebanho leiteiro. (MÁS et al., 2020).
De forma geral, acrescido as partes de sanidade animal, higiene e ordenha tem igual
importância dentro do controle de qualidade do leite. A higiene, além de condicionar
melhoramento na produção de leite, ainda reduz a possibilidade de afecções podais, que
2021 Gepra Editora Barros et al.

tem grande influência sobre o bem-estar e produção animal, por si tratarem de animais de
grande porte, o peso agregado ao desconforto da enfermidade, causa estresse e assim
diminuição na produção. As doenças podais são patologias que prejudicam os membros
dos animais, provocando desconforto e podendo levar o animal a óbito em casos graves.
De origem multifatorial, em sua etiologia devemos estar atendo a fatores higiênicos e de
umidade e seu tratamento deve ser feito o mais rápido possível, para evitar patologias
secundarias (MOTA e MELOTTI, 2017). Dado a importância da higiene, independente
de ordenha manual ou mecânica, os cuidados devem ser tomados em ambas as condutas,
para uma prospectiva melhora na qualidade do leite. Para Leira et al. (2018), as seguintes
etapas são fundamentais para uma ordenha correta:
41
“Teste da caneca: este teste permite o diagnóstico da mastite clínica e diminui o
índice de contaminação do leite, consiste no exame dos primeiros jatos de leite, usando
uma caneca de fundo escuro ou caneca telada; limpeza dos tetos com água clorada: este
procedimento visa a lavagem somente dos tetos e não do úbere. É obrigatoriamente
necessário a utilização nas vacas com tetos visivelmente sujos (barro, fezes ou outra
substância). Nos animais com tetos limpos pode ser otimizada; Imersão dos tetos em
solução antisséptica por 30 segundos: Conhecido como pré-dipping, consiste na imersão
dos tetos para desinfetá-los, durante 20 a 30 segundos de acordo com as instruções do
fabricante; secagem dos tetos: os tetos devem ser secos com papel toalha descartável, a
fim de evitar que resíduos do desinfetante infecte o leite. Esta etapa é de extrema
importância na higienização dos tetos já que associada à lavagem pode reduzir em 50 a
85% os índices de novas infecções. Quando da utilização do pré- dipping e não da
lavagem dos tetos, os mesmos também devem ser secos com papel toalha visando à
retirada do antisséptico. Este conjunto de procedimentos, além de propiciar a higienização
dos tetos é de fundamental importância para uma ordenha mais rápida e completa.
Associado a outros estímulos eleva os níveis de ocitocina que propicie a descida mais
rápida do leite e intumescimento dos tetos, o que por sua vez permite a colocação correta
dos insufladores, diminuindo os riscos de deslizamento das mesmas. O pré-estímulo deve
durar de 40 segundos a 1 minuto. Retirada dos insufladores: para a retirada das teteiras
deve ser fechado o registro de vácuo. A sobre ordenha deve ser evitada por provocar
lesões nos tetos, que por sua vez predispõem a mastite. Quanto à retirada do leite residual,
as opiniões dos pesquisadores divergem. Uma ligeira pressão sobre o conjunto de
insufladores por alguns segundos propicia uma esgota mais completa. Imersão dos tetos
em solução antisséptica: a imersão dos tetos deve ocorrer imediatamente após a retirada
dos insufladores, que deve ser total, utilizando-se frascos de imersão, não permitindo o
retorno do produto. Este procedimento, associado ao tratamento de vacas secas, é
responsável por uma diminuição significativa nas mastites contagiosas. Desinfecção dos
insufladores: a desinfecção das teteiras entre a ordenha de uma vaca e outra deve ser
realizada pela imersão das mesmas em solução sanificante, que deve ser trocada com
frequência. As quatro teteiras não devem ser imersas ao mesmo tempo. Nos equipamentos
modernos, esta etapa de higienização é automatizada; ordem de ordenha: estabelecer uma
ordem de ordenha deixando as vacas infectadas para o final ou mesmo segregá-las”
(LEIRA et al., 2018). A sazonalidade da produção tende a diminuir e os ganhos de
qualidade são esperados, principalmente com a adoção de incentivos do tipo pagamento
2021 Gepra Editora Barros et al.

por qualidade do leite. A indústria pode receber o leite em um sistema mais organizado,
uma vez que o tempo não é mais um fator limitante na coleta de leite. O sistema de
transporte de leite a granel e todas as mudanças exigidas por ele, tem-se mostrado como
uma alternativa considerável ao processo de tecnificação e melhoria do complexo
agroindustrial leiteiro, além de apresentar-se com um grande potencial na redução dos
custos de produção (LEIRA et al., 2018). Os critérios adotados visam o bem-estar,
diminuição de casualistas ligadas às enfermidades e assim um aumento na produção com
alta qualidade do produto.

CONCLUSÕES 42

A busca pela promoção do bem-estar na produção animal, tem tido constante


evolução nas diretrizes que beneficiam os animais e assim o seu produto ofertado.
O leite tem grande importância em termos nutricionais e comerciais, estando sua
produção sempre em ascensão por melhorias que possam aumentar sua qualidade e
aumento da produção, devendo abastecer indústrias nacionais e ainda a importação do
produto, por isso, a importância de maior atualização nos parâmetros exigidos
mundialmente.
Diante do exposto, é fundamental interação que promova o bem-estar animal,
visando o aumento da produção, equivalente a uma maior lucratividade por parte de
produtores e indústrias de laticínios. Sugerindo maiores estudos na área de bem-estar com
animais de produção, que possam ser evidenciados à sociedade para um alcance dos
consumidores.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 4

A PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA E A AQUISIÇÃO DE


ALIMENTOS: UMA ANÁLISE DO GUIA ALIMENTAR PARA A
POPULAÇÃO BRASILEIRA

TRONCO, Vitória de Andrade


Graduanda em Agroecologia
Universidade Federal de São Carlos
vitoria.tronco@gmail.com

TRONCO, Isadora de Andrade


Graduanda em Agroecologia 45
Universidade Federal de São Carlos
isadora.tronco@gmail.com

PULCHERIO FILHO, Paulo Henrique


Graduando em Agroecologia
Universidade Federal de São Carlos
paulopulcherio@gmail.com

MONTEBELLO, Adriana Estela Sanjuan


Profa. Dra. do Departamento de Tecnologia Agroindustrial e Socioeconomia Rural
Universidade Federal de São Carlos
adrianaesm@ufscar.br

SAIS, Adriana Cavalieri


Profa. Dra. do Departamento de Desenvolvimento Rural
Universidade Federal de São Carlos
adrianacs@ufscar.br

RESUMO

A Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) do Brasil é regulamentada por lei e


relaciona-se intimamente com a produção agropecuária, pois supõe acesso a alimentos de
qualidade em quantidade suficiente e de forma regular, e, também, com a agricultura
familiar, que é apresentada como meio de ampliação das condições de acesso aos
alimentos. Nesse sentido, este artigo tem como objetivo fazer um levantamento da
produção agropecuária brasileira, analisando a participação da agricultura familiar (AF),
a partir da escolha de sete alimentos, tendo como base o Guia Alimentar para a População
Brasileira: abobrinha, milho, arroz branco, feijão preto, mandioca, leite de vaca e gado
bovino; e, após relacionar os achados com a aquisição alimentar pelos domicílios a nível
de região e estado. Para isso, foi feito um estudo exploratório e quantitativo, com
levantamento bibliográfico e coleta de dados secundários usando o Censo Agropecuário
de 2006 e 2017, e a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF). Analisando-se os
resultados, chega-se à conclusão de que a produção agropecuária aumentou, destacando-
se a agricultura não familiar, enquanto a aquisição de alimentos diminui na maioria dos
casos. Desta forma, o fortalecimento da agricultura familiar por meio das políticas
públicas é essencial para o seu desenvolvimento e garantia de seu importante papel na
oferta de alimentos para a população.

PALAVRAS-CHAVE: Agricultura familiar, Censo Agropecuário 2006/2017, Pesquisa


de orçamentos familiares (POF).
2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

O segundo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS número 2) da atual


agenda de desenvolvimento das Nações Unidas visa “acabar com a fome, alcançar a
segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável”. Dentre
as metas, destaca-se a ambição de, até 2030, acabar com a fome, garantir a todos o acesso
à alimentos seguros, nutritivos e suficientes durante o ano todo e acabar com a desnutrição
(ONU, p. 20). Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO), a segurança alimentar é um conceito que envolve quatro dimensões:
disponibilidade de alimentos, acesso econômico e físico aos alimentos, utilização dos
alimentos de forma a maximizar o consumo adequado de nutrientes e estabilidade ao 46
longo do tempo (FAO et al., 2020).
A segurança alimentar e nutricional (SAN), no Brasil, é definida conforme a lei nº
11.346, de 15 de setembro de 2006, que cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar
e Nutricional (BRASIL, 2006). O artigo 3º estabelece que o acesso aos alimentos de
qualidade e em quantidade suficiente é um direito de todos. É interessante notar que há
um enfoque especial à agricultura familiar como meio de ampliação das condições de
acesso aos alimentos.
Diante disso, verifica-se a importância da agricultura para a SAN, sobretudo a
familiar, considerando que, para obter segurança alimentar, é necessário produzir
alimentos. De acordo com o Censo Agropecuário de 2017 (2019), os estabelecimentos
agropecuários ocupavam no Brasil uma área de 351.289.816 hectares (41% da área total).
Desse total, 80.891.084 são ocupados por agricultores familiares (23% da área total de
estabelecimentos agropecuários).
Na literatura, alguns trabalhos (Barbosa et al., 2018) analisam a SAN a partir do
consumo de alimentos por domicílios relacionando-se com o Guia Alimentar para a
População Brasileira (2014). Outras pesquisas analisam as características dos
estabelecimentos por produção, a partir do Censo Agropecuário (Miele et al.,2013). Outro
exemplo de estudo, é a nota técnica de Hoffmann (2015), que discute o Censo
Agropecuário do ano 2006 com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) ano 2008-
2009, relacionando a quantidade produzida com as despesas dos domicílios com
alimentação. Contudo, são escassos os estudos que fazem essa relação a partir do Guia
Alimentar (2014). Portanto, ressalta-se a importância de pesquisas neste contexto, uma
vez que colaboram para uma melhor compreensão sobre a oferta de alimentos saudáveis
e seu acesso pela população brasileira.
A SAN também é relevante quando se trata de políticas públicas. Grisa e Schneider
(2014) destacam que existiram várias políticas em favor da agricultura familiar no
decorrer dos anos no Brasil, e as dividem em três gerações. Em uma primeira, há as
políticas que tratam de construir um referencial agrícolas e agrário, por volta da segunda
metade da década de 50, e tinham como pauta o crédito rural, a garantia de preços
mínimos, o seguro agrícola, a pesquisa, assistência técnica e extensão rural, incentivos
fiscais às exportações, minidesvalorizações cambiais, subsídios à aquisição de insumos,
expansão da fronteira agrícola, e o desenvolvimento de infraestruturas. Nesse momento,
pouco foi aproveitado pela agricultura familiar, até a criação do Programa Nacional de
2021 Gepra Editora Barros et al.

Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), sendo a primeira política agrícola


direcionada aos agricultores familiares. O cenário muda mais ainda na segunda geração,
que trata de construir um referencial social e assistencial. Surgem políticas públicas com
esse viés, como o Programa Comunidade Solidária e o Programa Fome Zero, que
aproximavam a agricultura familiar de programas sociais. A terceira geração expande
ainda mais o escopo de políticas e envolve a SAN ao incluir um referencial em prol da
segurança alimentar e sustentabilidade ambiental, surgindo programas como o Programa
de Aquisição de Alimentos (PAA), Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE)
e a Política de Garantia de Preços Mínimos para os Produtos da Sociobiodiversidade
(PGPM-Bio).
47
O objetivo geral do trabalho é realizar um levantamento da produção nacional de
alimentos utilizando o Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da
Saúde, e relacionar com a aquisição de alimentos. Os alimentos escolhidos são
enquadrados na categoria de alimentos in natura ou minimamente processados. Os
objetivos específicos são: (i) Verificar a quantidade produzida desses alimentos por
regiões e estados, identificando a participação da agricultura familiar na produção, e (ii)
apresentar e analisar o consumo destes alimentos por regiões e estados brasileiros. O
trabalho, então, finaliza com as conclusões, que à luz dos resultados encontrados,
relaciona a oferta de alimentos e o consumo destes, com base no Guia Alimentar para a
População Brasileira.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo apresenta caráter exploratório e quantitativo a partir de levantamento


bibliográfico e uso de dados secundários de plataformas governamentais. Para atender ao
objetivo (i) da pesquisa, foi utilizado o Guia Alimentar para a População Brasileira do
ano de 2014, que classifica os alimentos pelo seu processamento e colabora para uma
melhor definição sobre a qualidade dos alimentos. As categorias relacionadas ao seu
processamento são: in natura ou minimamente processados; óleos, gorduras, sal e açúcar;
processados; e ultraprocessados. Para a adequação dos hábitos alimentares, o guia
aconselha a ingestão de alimentos in natura e minimamente processados, sem a adição de
derivados durante o processamento.
Nesse sentido, foram escolhidos, no presente trabalho, os seguintes alimentos,
tendo como critério a presença de representantes de variados grupos alimentares: arroz
com casca (cereais), milho em grão e feijão-preto em grão (leguminosas), mandioca
(hortaliças tuberosas), abobrinha (hortaliças frutosas), leite de vaca (laticínios) gado
bovino (proteína animal).
A partir daí, foram coletados dados de produção agropecuária por região e estados
disponibilizados na plataforma SIDRA - Sistema IBGE de Recuperação Automática com
base nos dados do Censo Agropecuário de 2006 e 2017, considerando as publicações
disponíveis. Ademais, foi utilizado o Censo Agropecuário de 2006 e 2017, pois ambos os
anos retratam dados mais recentes, com destaque para o ano de 2006, sendo o ano de
início da primeira publicação do Guia Alimentar para a População Brasileira e a primeira
2021 Gepra Editora Barros et al.

vez que foi aplicado no Censo Agropecuário a definição de agricultura familiar pela lei
nº 11.326, de 24 de julho de 2006. Os estados escolhidos foram os maiores produtores em
quantidade. Quando o estado que mais produz é diferente entre 2006 e 2017, dados de
ambos foram adicionados para fins de comparação. Para o gado bovino, foi considerado
o número de cabeças na parte de produção.
A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) dos anos 2008/09 e 2017/18 tiveram
duração de pesquisa de 12 meses, respectivamente, maio de 2008 até maio de 2009 e
junho de 2017 a julho de 2018. Nessa pesquisa considerou-se a unidade de consumo como
sendo definida: quando a fonte de alimentação ou as despesas compartilhadas na moradia
são repartidas por um conjunto de moradores ou um único morador. Ambas as pesquisas
48
apresentaram abrangência geográfica nacional e os instrumentos de coleta foram:
Questionário de características do domicílio e dos moradores; Questionário de Aquisição
Coletiva; Caderneta de Aquisição Coletiva; Questionário de Aquisição Individual;
Questionário de Trabalho e Rendimento Individual; Bloco de Consumo Alimentar
Pessoal; Questionário de Condições de Vida. Sendo esse último nomeado em 2017/18
como Avaliação das Condições de Vida.
Para o objetivo (ii), foi realizado o levantamento do consumo por domicílio dos
alimentos selecionados, considerando a quantidade, a partir dos dados coletados da
Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) dos anos 2008/09 e 2017/18, nas regiões e
estados selecionados. Para a comparação com a produção de gado bovino, foi utilizado o
consumo de carne moída, e para o arroz com casca, foi utilizado o consumo de arroz
polido. Foi calculada, também, a taxa de crescimento do consumo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em 2006, segundo a Tabela 1, a região Sul do Brasil destacou-se para produção de


feijão-preto (81,3%), arroz branco (67,9%) e milho (44,5%). A região Sudeste teve maior
produção de leite (37,70%) e de abobrinha (59,1%). Nos demais produtos, mandioca
(32,2%) e gado bovino (33,8%), as respectivas regiões que obtiveram maior produção
foram o Nordeste e o Centro-Oeste. Sobre a participação de cada região brasileira na
produção nacional, em 2017, percebe-se que a região com mais liderança na produção é
a Sul, destacando-se na produção de feijão-preto (86,2%), arroz branco (85,25%) e
mandioca (28%). A região Centro-Oeste tem a maior participação na criação de gado
bovino (35,4%) e milho (55,14%). Quanto ao leite de vaca, com 36,9% da produção, e
abobrinha, com 68,8%, a região Sudeste lidera. A produção nacional aumentou no caso
do leite, arroz e milho, e diminuiu para o feijão, mandioca, gado e abobrinha.

Tabela 1. Produção nacional, em quantidade produzida (QP), por regiões brasileiras, por tipologia de
alimento, 2006 e 2017.
Feijão-Preto Leite de vaca (m³) Arroz com casca Mandioca (mil kg)
(mil kg) (mil kg)
Regiões
2006 2017 2006 2017 2006 2017 2006 2017
QP QP QP QP QP QP QP QP
2021 Gepra Editora Barros et al.

Centro-Oeste 9.388 13.524 3.043.979 3.873.94 531.911 595.285 534.738 578.360


0
Nordeste 72.917 7.633 2.725.685 3.253.11 1.675.50 255.290 3.831.836 1.355.54
6 7 4
Norte 4.008 639 1.368.083 1.906.28 726.560 743.769 3.797.339 1.796.78
9 3
Sudeste 39.206 32.456 7.746.986 11.124.1 175.361 39.717 1.318.159 968.528
77
Sul 546.31 339.45 5.683.135 9.998.75 6.578.49 9.422.657 2.430.557 1.860.07
4 7 7 9 5 49
Brasil 671.83 393.71 20.567.86 30.156.2 9.687.83 11.056.71 11.912.62 6.559.28
3 0 8 79 8 9 9 9
Continuação Tabela 1
Gado Bovino (cabeças) Milho (mil kg) Abobrinha (mil kg)
Regiões 2006 2017 2006 2017 2006 2017
QP QP QP QP QP QP
Centro- 59.616.953 61.149.874 9.366.235 48.574.685 12.093 18.161
Oeste
Nordeste 25.833.159 21.684.276 5.485.215 5.529.457 5.200 4.931
Norte 32.564.287 34.764.279 676.105 2.020.919 2.116 2.748
Sudeste 34.554.483 31.540.382 7.482.245 9.556.899 105.761 109.101
Sul 23.578.619 23.580.353 18.417.811 22.417.662 53.660 23.577
Brasil 176.147.501 172.719.164 41.427.610 88.099.622 178.830 158.518
Fonte: Censo Agropecuário (2006 e 2017). Elaboração própria.

Por tipo de produto, a Tabela 2 apresenta a produção do maior estado produtor e da


participação da agricultura familiar (AF) e não familiar (não-AF). Nota-se que o passar
dos anos beneficiou mais a elevação da produção não-familiar, principalmente para o
gado bovino, milho e arroz, enquanto a agricultura familiar destaca-se na mandioca, em
2006, e na abobrinha, em 2017. Apenas houve aumento da produção familiar no caso do
leite, da carne, e do milho no Paraná. Além disso, a produção de milho no Paraná, em
2006, e a produção em Mato Grosso, em 2017, a quantidade quase triplicou. Essa
crescente na produção não familiar pode estar relacionada com as ações dentro da política
agrícola.

Tabela 2. Principais estados produtores e participação da AF e não-AF, por tipologia de produto, 2006 e
2017.
Ano 2006 2017
Produtos Estados QP Total QP AF QP não AF QP Total QP AF QP não AF
Feijão-
Preto (mil Paraná 332.168 250.936 81.232 217.946 93.237 124.709
kg)
2021 Gepra Editora Barros et al.

Leite de Minas
5.720.443 2.548.693 3.171.750 8.746.559 4.354.048 4.392.512
vaca (m³) Gerais
Arroz Rio
polido Grande 5.637.239 577.476 5.059.763 8.408.352 484.871 7.923.481
(mil kg) do Sul
Mandioca Pará 3.075.927 2.818.169 257.759 1.041.822 949.527 92.296
(mil kg) Paraná 1.247.059 810.863 436.196 1.315.783 554.809 760.974
Gado
Mato
Bovino 20.666.147 4.253.137 16.413.010 24.309.475 5.546.750 18.762.725
Grosso 50
(cabeças)
Paraná 9.195.417 4.025.017 5.170.400 14.110.882 3.316.113 10.794.769
Milho
Mato
(mil kg) 4.121.606 227.907 3.893.699 28.555.889 695.233 27.860.657
Grosso
Abobrinha São sem
43.558 sem dados 49.755 35.379 14.376
(mil kg) Paulo dados
Fonte: Censo Agropecuário (2006 e 2017). Elaboração própria.

Segundo Mattei (2018), nos anos de 2003 a 2015, grandes ações governamentais
foram adotadas na área da política agrária, envolvendo principalmente questões sobre a
reforma agrária e a agricultura familiar. Durante esses anos, as esferas governamentais, a
fim de fortalecer a agricultura familiar e representá-la como promotora do
desenvolvimento rural sustentável, criaram programas como o Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar, dentre outras ações de fomento à agricultura
familiar. Contudo, nos anos seguintes (2016-2017), novas mudanças promovidas pelo
governo federal aconteceram, uma delas foi a desestruturação do Programa de Aquisição
de Alimentos, criado em 2003, o qual atende a agricultura familiar. Essa ação resultou
em consequências negativas para a agricultura familiar, como a diminuição de repasses
para as modalidades do programa (MATTEI, 2018). Dessa forma, este quadro pode ter
afetado a produção da agricultura familiar.
Nota-se o aumento da produção de milho nacionalmente. Essa situação, pode ser
explicada a partir da análise de Sanches, Alves e Barros (2019). Os autores analisaram a
oferta e a demanda (interna e externa) no período de fevereiro de 2001 a janeiro de 2018.
Durante a análise, foi verificado que o aumento da produção nacional de milho está
relacionado com a aquisição de variedades de milho geneticamente modificadas e pela
adoção do plantio do milho em duas safras, com ênfase para o plantio de segunda safra.
Esse aumento de milho de segunda safra, persistente principalmente na região Centro-
Oeste, está associado com a possibilidade de uso intensivo do solo e de maquinários e o
acréscimo de plantio de soja na primeira safra (SANCHES; ALVES; BARROS, 2019).
Quanto à demanda, observaram-se que o mercado interno (consumo) de milho apresentou
um aumento de percentual, mas esse não foi relativamente grande quanto a produção
(2016-2017), logo, não sendo suficiente para a redução dos preços. A fim de manter o
equilíbrio entre os preços de mercado interno e a relação de demanda e oferta foi adotado
a exportação como medida reguladora (SANCHES; ALVES; BARROS, 2019).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Em relação à variação percentual da aquisição dos alimentos por domicílio nas


regiões brasileiras, entre os anos pesquisados (Tabela 3), identifica-se que o maior
crescimento no consumo aconteceu no Nordeste, destaque para os produtos: arroz polido
(45,10%) e abobrinha (241,38%). A maior produção de arroz branco, em 2006 e 2017,
foi no Sul, com aumento de 15,21%. Enquanto a aquisição da abobrinha na região Sudeste
(seu maior produtor) sofreu retração de 19,46%. De forma geral, observa-se diminuição
na aquisição.

Tabela 3. Variação percentual de aquisição dos alimentos per capita anual por domicílio nas regiões
brasileiras, por tipologia de produto, 2008/09 e 2017/18.
Regiões 51
Produtos Centro-
Norte Nordeste Sudeste Sul
Oeste
Feijão-Preto -65,70% 8,44% -15,76% -42,23% -24,15%
Leite de vaca pasteurizado -25,33% -10,32% -22,59% -23,01% -21,72%
Arroz polido 6,02% 45,10% 28,21% 17,73% 15,21%
Mandioca -73,02% 11,17% -5,61% -13,04% -43,03%
Carne moída -9,19% -21,86% 18,00% 0,58% -5,74%
Milho -62,35% -72,82% -84,13% -44,75% -61,41%
Abobrinha -37,11% 241,38% 30,53% -19,46% -3,60%
Fonte: IBGE-Pesquisa de Orçamentos Familiares anos 2008-2009 e 2017-2018. Elaboração própria.

A Tabela 4 foca na variação da aquisição nos estados que mais produzem. A maioria
dos estados apresentou queda na aquisição, com exceção da carne moída, que apresentou
um acréscimo de 1,98% entre o período analisado. Em relação aos produtos que
obtiveram queda no consumo por estado, pode-se citar a mandioca, no estado do Pará (-
80,83%), o qual em 2006 era o maior produtor. O mesmo ocorre no milho (grão), com
uma queda expressiva no Mato Grosso (-90,25%), maior produtor em 2017.
Em vista de compreender a origem do acréscimo do consumo da carne bovina nesse
período, o estudo de Brisola (2020) forneceu uma justificativa, a partir de uma análise do
agronegócio da carne bovina no Brasil e na Argentina, onde foi verificado a existência da
influência do Estado e de agentes dessa cadeia com outros eventos de origem pública ou
privada que possibilitasse o crescimento econômico e social desse setor. Diante disso,
segundo Brisola (2020), esse setor no Brasil, no período de 1964 a 2014, conseguiu
crescentes incentivos estatais (políticas públicas, manutenção dos preços e das barreiras
de exportação e créditos) e de eventos públicos ou não para o fomento da oferta e da
demanda. Isso colaborou para o acréscimo de 2,8% ao ano dos rebanhos bovinos (de 1964
a 2016), além disso o autor também informou que com o passar dos anos tem-se a
tendência de aumento do consumo e da exportação.
Uma queda generalizada na aquisição de alimentos pelas famílias brasileiras pode
ser explicada pelo aumento dos preços devido à inflação. Segundo o IBGE (2017-2018),
apesar da inflação de alimentos e bebidas ter caído 1,87% em 2017, para o ano de 2018 a
inflação fechou com aumento de 4,04% na mesma categoria. Diante desse cenário, Claro
e Monteiro (2010) argumentam que linhas de créditos voltadas para a produção familiar
2021 Gepra Editora Barros et al.

de alimentos podem servir como alternativa para diminuição de preços e, portanto, tornar
os alimentos mais acessíveis. Contudo, para que a estratégia tenha sucesso, as cadeias de
produção devem ser as mais curtas possíveis, para que a redução de preço consiga ser
sentida pelo consumidor final ao invés de ser absorvida através dos intermediários.

Tabela 4. Variação percentual de aquisição dos alimentos por domicílio nos estados com maior produção,
por tipologia de produto, 2008-2009 e 2017-2018.
Produtos Estados Variação (%)
Feijão-Preto Paraná -17,91%
Leite de vaca pasteurizado Minas Gerais -8,12%
Arroz polido Rio Grande do Sul -2,35% 52
Pará -80,83%
Mandioca
Paraná -26,07%
Carne moída Mato Grosso 1,98%
Paraná -42,62%
Milho
Mato Grosso -90,25%
Abobrinha São Paulo -20,77%
Fonte: IBGE-Pesquisa de Orçamentos Familiares anos 2008-2009 e 2017-2018. Elaboração própria.

CONCLUSÕES

Com os resultados obtidos, foi possível relacionar a produção nacional com a


aquisição de alimentos, conforme os produtos selecionados a partir do Guia Alimentar
para a População Brasileira. Verificou-se que a produção agrícola familiar não se
manifesta da mesma forma que a não-familiar no Brasil. A dinâmica de mercado de cada
produto e a relação de seus preços com a inflação podem ter influenciado na queda da
aquisição dos alimentos. Além disso, observou-se que os incentivos às políticas públicas,
manutenção dos preços, créditos, entre outras ações são mecanismos que podem auxiliar
a produção agropecuária.
Nesse sentido, algumas hipóteses foram levantadas. Em primeiro lugar, a aquisição
de alimentos diminuiu no geral, ao passo que a produção não-familiar aumentou, podendo
ser que essa produção esteja voltada principalmente para a exportação ou outros fins que
não o mercado interno. Em segundo lugar, a diminuição simultânea da aquisição dos
alimentos e da produção familiar pode sugerir uma correlação deste tipo de produção com
o abastecimento do mercado interno e a inflação. Em terceiro lugar, a queda na aquisição
verificada no presente estudo pode estar relacionada à preferência das famílias em
adquirir alimentos mais industrializados, ao invés de alimentos in natura e menos
processados, como os analisados no artigo.
2021 Gepra Editora Barros et al.

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55
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 5

ACÚMULO DE BIOMASSA EM MUDAS DE Ceiba glaziovii (Kuntze)


K.Schum. SUBMETIDAS A NÍVEIS DE SOMBREAMENTO
RIBEIRO, João Everthon da Silva
Docente na Universidade Estadual do Maranhão
Departamento de Tecnologia em Gestão do Agronegócio
j.everthon@hotmail.com

COÊLHO, Ester dos Santos


Mestranda em Fitotecnia
Universidade Federal Rural do Semi-Árido 56
estersantos12@hotmail.com

FIGUEIREDO, Francisco Romário Andrade


Doutorando em Fitotecnia
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
romarioagroecologia@yahoo.com.br

NÓBREGA, Jackson Silva


Doutorando em Agronomia
Universidade Federal da Paraíba
jacksonnobrega@hotmail.com

FÁTIMA, Reynaldo Teodoro de


Doutorando em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande
reynaldoteodoro@outlook.com

RESUMO

Ceiba glaziovii (Kuntze) K. Schum é uma espécie endêmica do Brasil, pertencente


à família Malvaceae, com ocorrência confirmada em fragmentos florestais do Nordeste
brasileiro. As espécies florestais são influenciadas por diferentes fatores abióticos,
principalmente pela luminosidade. Diante disso, o objetivo da pesquisa foi avaliar o
acúmulo de biomassa seca em mudas de C. glaziovii submetidas a níveis de
sombreamento. A pesquisa foi realizada em casa de vegetação localizada no Centro de
Ciências Agrárias, da Universidade Federal da Paraíba, Campus II, Areia, Paraíba, Brasil.
Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado, sendo composto por cinco níveis de
sombreamento (tratamentos): 0%, 30%, 50%, 70% e 90% de sombreamento e oito
repetições. Aos 60 dias após a emergência, as plantas foram coletadas dos vasos e as
folhas, pecíolos, caules e raízes foram separados. determinou-se a relação entre a massa
seca de raízes e parte aérea. Além disso, foram calculadas o acúmulo de biomassa nas
folhas, pecíolos, caules e raízes. Os dados foram analisados por meio da análise de
variância, e em casos de significância foi realizada uma análise de regressão polinomial.
Os níveis de sombreamento influenciaram no acúmulo de biomassa em mudas de
barriguda, exceto no acúmulo de biomassa nos caules. Os maiores níveis de
sombreamento (70% e 90%) promoveram maior acúmulo de biomassa nas raízes e na
relação entre massa seca de raiz e parte aérea, contudo, esses níveis proporcionaram
menor acúmulo de biomassa nas folhas e pecíolos. A barriguda respondeu de forma
distinta aos diferentes níveis sombreamentos, apresentando plasticidade fenotípica para a
luminosidade.

PALAVRAS-CHAVE: barriguda, irradiância, Malvaceae.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

A barriguda [Ceiba glaziovii (Kuntze) K. Schum.] é uma espécie nativa, endêmica


do Brasil, pertencente à família Malvaceae, popularmente conhecida também como
paineira (CNCFLORA, 2020). A espécie tem ocorrência confirmada no Nordeste
brasileiro em áreas de caatingas hiperxerófilas, ambientes degradados e em caatinga
arbórea (ARAÚJO et al., 2019). O crescimento é rápido, e as folhas e casca do caule são
amplamente utilizadas na medicina tradicional para o tratamento de enfermidades, como
inflamações, problemas cardíacos e hipertensão (LUCENA et al., 2018; SILVA et al.,
2019). Além disso, a espécie pode ser utilizada para fins ornamentais e em plantios mistos 57
destinados a recuperação de áreas degradadas (PEREIRA JÚNIOR et al., 2014).

Diversos fatores abióticos são responsáveis por influenciar o crescimento, fisiologia


e reprodução de espécies florestais em diferentes fases de crescimento, principalmente
em estágios inicias (SANTOS et al., 2014). Dentre esses fatores, a disponibilidade
hídrica, temperatura do ar e luminosidade (irradiância) são considerados os principais
fatores que limitam o desenvolvimento de plantas na fase juvenil (LAMBERS;
OLIVEIRA, 2019). Nesse contexto, a luminosidade é um dos fatores abióticos que mais
afeta as plantas, podendo interferir no fluxo de energia de ecossistemas, determinante
para respostas fisiológicas e morfológicas, podendo variar de acordo com a espécie
(DUTRA et al., 2012; WIT et al., 2016).

Além de estar associada ao fornecimento de energia para os processos fisiológicos,


a disponibilidade da luz promove sinais que regulam os mecanismos a partir de receptores
sensíveis as intensidades luminosas, qualidade do espectro e estado de polarização
(ALBUQUERQUE et al., 2015). Para Li et al. (2014), a luminosidade influencia na
estrutura e funcionamento do aparato fotossintético, e consequentemente no acúmulo de
biomassa e crescimento de plantas.

Diante do exposto, alguns estudos evidenciaram que níveis de sombreamento em


espécies florestais podem interferir de diferentes formas, a exemplo de Butzke et al.
(2018) em mudas de Schizolobium amazonicum Huber ex Ducke, onde o sombreamento
a 50% proporcionou maior altura de plantas e diâmetro do caule; Pagliarini et al. (2017)
afirmaram que os níveis de sombreamento de 30% e 50% proporcionaram melhores
mudas de Hymenaea courbaril var. Stilbocarpa; Gomes e Freire (2014) avaliando mudas
de Cedrela fissilis L. submetidas ao sombreamento, evidenciaram que o nível de 70%
proporcionou maiores altura de plantas e diâmetro do caule, bem como maior produção
de massa seca; e Ribeiro et al. (2020) observaram que o sombreamento acima de 70% foi
favorável para produção de mudas de Ceiba glaziovii (Kuntze) K.Schum..

Nesse sentido, estudos que busquem avaliar o crescimento de espécies florestais em


condições sombreadas são grande importância para propagação e conservação dessas
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espécies em remanescentes florestais. Assim, o objetivo da pesquisa foi avaliar o acúmulo


de biomassa seca em mudas de C. glaziovii submetidas a níveis de sombreamento.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada em casa de vegetação localizada no Departamento de


Fitotecnia e Ciências Ambientais, do Centro de Ciências Agrárias, da Universidade
Federal da Paraíba, Campus II, Areia, Paraíba, Nordeste do Brasil. Durante o período
experimental foram mensuradas as condições climáticas do ambiente, registrando 58
temperatura média de 27,9°C e 63,4% de umidade relativa do ar, sendo as medições
obtidas com o auxílio de um termo-higrômetro digital (Minipa, MT-241A).

Para a coleta de sementes de C. glaziovii, foram selecionadas 20 matrizes adultas


localizadas em remanescentes florestais do município de Campina Grande, Paraíba,
Brasil. As sementes foram imersas em água destilada durante o período de duas horas e
posteriormente semeadas em vasos plásticos de 5 dm³, com substratos composto por terra
vegetal e areia (3:1). Os atributos químicos do substrato utilizado estão dispostos na
Tabela 1.

Tabela 1. Características químicas do substrato utilizado no experimento.


P K Na H+Al Al Ca Mg SB CTC M.O.
3 3
pH in H20 mg dm cmolc dm g kg-1
6,19 118,7 217,2 0,33 2,81 0,00 4,50 1,40 6,78 9,59 31,77
SB: Some de bases; CTC: capacidade de troca de cátions; M.O.: matéria orgânica.

Na semeadura foram utilizadas duas sementes por vasos, ocorrendo o desbaste 10


dias após a emergência (DAE), selecionando as plântulas uniformes, com média de
aproximadamente 6 cm de comprimento. As plantas foram conduzidas para os níveis de
sombreamento e as avaliações foram realizadas aos 60 dias após a emergência.

Os níveis de sombreamento foram determinados com o auxílio de um luxímetro


digital (Minipa, MLM-1011), em que a luminosidade foi calculada no interior das
sombrites e realizou-se uma comparação proporcional a condição a pleno sol (sem
sombreamento) (Figueiredo et al., 2019). As sombrites foram obtidas no comércio
regional. A casa de vegetação possui localização recomendada, cobertura ideal e áreas
internas específicas para que os níveis sombreados não sejam alterados ao longo do dia.
A irrigação dos vasos ocorreu diariamente utilizando o método proposto por Casaroli e
Jong van Lier (2008), em que ocorreu a pesagem e rodízio dos vasos, mantendo a
capacidade de vaso em aproximadamente 80%.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado, sendo composto por cinco


níveis de sombreamento (tratamentos): 0%, 30%, 50%, 70% e 90% de sombreamento e
oito repetições, sendo cada parcela composta por planta, totalizando 40 indivíduos.

Aos 60 dias após a emergência, as plantas foram coletadas dos vasos e as folhas,
pecíolos, caules e raízes foram separados. Posteriormente, o material coletado foi
acondicionado em papel Kraft e levados em estufa com circulação forçada de ar a 65°C
durante 72 h, atingindo a massa seca constante. Em seguida, determinou-se a relação entre
a massa seca de raízes e parte aérea (R/PA). Além disso, foram calculados o acúmulo de
biomassa nas folhas (ABF), acúmulo de biomassa nos pecíolos (ABP), acúmulo de
59
biomassa nos caules (ABC) e acúmulo de biomassa nas raízes (ABR), sendo obtidas de
acordo com as fórmulas propostas por Benincasa (2003):

𝑀𝑆𝐹 𝑀𝑆𝑃 𝑀𝑆𝐶 𝑀𝑆𝑅


𝐴𝐵𝐹 = 𝑀𝑆𝑇 , 𝐴𝐵𝑃 = 𝑀𝑆𝑇 , 𝐴𝐵𝐶 = 𝑀𝑆𝑇 , 𝐴𝐵𝑅 = 𝑀𝑆𝑇

𝑀𝑆𝑅
𝑅/𝑃𝐴 =
𝑀𝑆𝐹 + 𝑀𝑆𝑃 + 𝑀𝑆𝐶

onde: MSF = massa seca de folhas; MSP = massa seca de pecíolos; MSC = massa seca
de caules; MSR = massa seca de raízes; e MST = massa seca total.

Os dados foram analisados por meio da análise de variância (teste F), e em casos
de significância foi realizada uma análise de regressão polinomial, com os ajustes
representativos. As análises estatísticas foram realizadas com o software SAS® (Cody,
2015).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Houve diferenças significativas entre os tratamentos para o acúmulo de biomassa


das folhas (p < 0,01, Tabela 2). As plantas conduzidas em pleno sol (0%) apresentaram
maior acúmulo de biomassa nas folhas (ABF) com 0,3186 g planta-1 (Figura 1). No
entanto, à medida que os níveis de sombreamento foram aumentando, os valores de ABF
foram reduzindo (Figura 1). Com isso, pôde-se constatar uma redução de 20,41%, com o
menor valor obtido no nível de 90% (Figura 1).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Tabela 1. Análise de variância (teste F) para o acúmulo de biomassa nas folhas, pecíolos, caules, raízes e
relação entre massa seca de raiz e parte aérea em mudas de Ceiba glaziovii submetidas a níveis de
sombreamento. ** Significativo a 1% de probabilidade pelo teste F; ns não significativo.

Acúmulo de biomassa nas folhas


Fonte de variação GL SQ QM F p
Tratamentos 4 0,1329 0,0332 10,35** < 0,0001
Resíduo 35 0,1123 0,0032
Total 39 0,2453
Média 0,2934 60
Desvio Padrão 0,0566
C.V. 9,3060
Acúmulo de biomassa nos pecíolos
Fonte de variação GL SQ QM F p
Tratamentos 4 0,0044 0,0011 6,11** 0,0008
Resíduo 35 0,0063 0,0001
Total 39 0,0107
Média 0,0569
Desvio Padrão 0,0134
C.V. 10,63
Acúmulo de biomassa nos caules
Fonte de variação GL SQ QM F p
Tratamentos 4 0,0339 0,0084 1,84ns 0,1438
Resíduo 35 0,1616 0,0046
Total 39 0,1955
Média 0,3246
Desvio Padrão 0,0679
C.V. 10,93
Acúmulo de biomassa nas raízes
Fonte de variação GL SQ QM F p
Tratamentos 4 0,0868 0,0217 5,94** 0,0009
Resíduo 35 0,1279 0,0036
Total 39 0,2147
Média 0,3248
Desvio Padrão 0,0604
C.V. 8,60
Massa seca de raiz / parte aérea
Fonte de variação GL SQ QM F p
Tratamentos 4 60,0440 15,0110 15,30** < 0,0001
Resíduo 35 34,3442 0,9812
Total 39 94,3882
Média 4,5606
Desvio Padrão 0,9905
C.V. 10,35

A disponibilidade de luz pode promover ajustes nas plantas, os quais incluem


características morfofisiológicas e padrões de acúmulo de biomassa (DOUSSEAU et al.,
2008; SOARES, 2019). Além disso, a irradiância em plantas determina o espectro
fotossinteticamente ativo, sendo as folhas os órgãos vegetais que possuem maior
capacidade de adaptação a condições ambientais, devido sua alta plasticidade (GRATANI
et al., 2006; TONINI et al., 2019). Tendo em vista esses aspectos, os resultados obtidos
2021 Gepra Editora Barros et al.

para ABF indicam que a C. glaziovii em pleno sol promove um maior acúmulo de
biomassa nas folhas, o que pode ocorrer em virtude de uma maior absorção de luz
ocasionando assim altas taxas fotossintéticas (LAMBERS et al., 2008; SILVEIRA, 2020).

Figura 1. Acúmulo de biomassa nas folhas em mudas de Ceiba glaziovii submetidas a níveis de
sombreamento.

61

Em relação ao acúmulo de biomassa nos pecíolos (ABP), observaram-se diferenças


significativas entre os tratamentos (p < 0,01. Tabela 2). Os resultados obtidos para a ABP
seguiram a mesma tendência da ABF. Os maiores valores encontrados foram constatados
nas plantas submetidas ao pleno sol (0%), estimados em 0,0823 g planta-1 (Figura 2). No
entanto, o menor valor obtido foi no nível de 70% com 0,0436 g planta-1, indicando que
níveis de sombreamento maior que 50%, reduzem a ABP em plantas de C. glaziovii
(Figura 2).

O pleno sol ocasionou o aumento da ABF e ABP, o que indica que sob essa
condição de maior disponibilidade de luz, a partição da biomassa foi para folhas e
pecíolos, e com isso pode favorecer o crescimento de parte aérea (GONÇALVES et al.,
2010; FERNANDEZ et al., 2017). O maior acúmulo de biomassa na parte aérea,
principalmente nas folhas, pode ocasionar mudanças na quantidade de luz disponível para
os cloroplastos, e com isso auxilia no mecanismo de aclimatação das plantas em
condições de pleno sol (OGUCHI et al., 2005; SILVA, 2020).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 2. Acúmulo de biomassa nos pecíolos em mudas de Ceiba glaziovii submetidas a níveis de
sombreamento.

62

Para o acúmulo de biomassa nos caules (ABC), não foram observadas diferenças
significativas entre os tratamentos (Tabela 2). Embora o presente estudo não tenha
constatado diferenças significas para a ABC, Virgens et al. (2017) em seu estudo retrata
que o caule de espécies arbóreas se constitui como a fonte mais representativa de todo
carbono da planta. Além disso, o estoque de biomassa se relaciona diretamente com os
processos de sucessão ecológica da floresta, bem como a variação sazonal (LIMA
JÚNIOR et al., 2014).

Houve diferenças significativas entre os tratamentos para o acúmulo de biomassa


em raízes (p < 0,01, Tabela 2). A ABR foi superior no nível de 70% com 0,3487 g planta-
1
, seguido pelo nível de 50% com 0,3328 g planta-1, indicando que a ABR em C. glaziovii
é favorecida por níveis intermediários de sombreamento (Figura 3). Em contrapartida,
quando submetidas ao pleno sol, houve uma redução de 16,81% na ABR (Figura 3).

A maior ABR obtida nas plantas sombreadas, pode ter sido em virtude da menor
ABF e ABP encontrados nessas condições de luminosidade (FAN et al., 2014). A maior
quantidade de fotoassimilados translocados para as raízes nas plantas sombreadas,
confere uma resistência às plantas em condições adversas, bem como reduz o risco de
cavitação no xilema (ZHANG et al., 2015; SOUZA; FREIRE, 2018).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 3. Acúmulo de biomassa nas raízes em mudas de Ceiba glaziovii submetidas a níveis de
sombreamento.

63

A relação entre a massa seca de raiz e parte aérea (R/PA) diferiu significativamente
entre os níveis de sombreamento (p < 0,01, Tabela 2). A relação R/PA apresentou um
aumento à medida que níveis mais elevados de sombreamento foram empregados, com
maiores valores no nível de 90% estimado em 5,0894 g planta-1 (Figura 5). Em pleno sol,
houve uma diminuição de 48,76% (Figura 5).

Os resultados obtidos para a relação R/PA indicam que as plantas de C. glaziovii


possuem bom desenvolvimento em condições de sombreamento, uma vez que as plantas
apresentaram uma alta razão R/PA. Pode ocorrer nessas condições, uma adaptação das
plantas a ambientes sombreados, e os resultados do presente estudo indicam que a energia
luminosa fornecida foi suficiente para promover o crescimento de C. glaziovii (GOH et
al., 2012). Portanto, o maior acúmulo de massa seca demonstra que a disponibilidade de
luz concedida no nível de 90%, atendeu ao requerimento de luz da espécie estudada
(ZYVCAK et al., 2013).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 4. Relação entre massa seca de raiz e parte aérea em mudas de Ceiba glaziovii submetidas a níveis
de sombreamento.

64

CONCLUSÕES

A barriguda apresentou plasticidade fenotípica nos diferentes níveis de


sombreamento, com o menor nível (0% - pleno sol) proporcionando maior acúmulo de
biomassa nas folhas e pecíolos, e os maiores níveis (70% e 90%) sendo responsáveis por
aumentar o acúmulo de biomassa nas raízes e a relação entre massa seca de raiz e parte
aérea.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 6

ADUBAÇÃO NITROGENADA E INOCULAÇÃO DE SEMENTES


NO FEIJOEIRO IRRIGADO

KRAESKI, Marcos Jefferson


Pós-graduando de Doutorado em Agronomia
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
marcoskraeski@gmail.com

LOPES, Adriano da Silva


Pós-Doutorado em Agronomia
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul 68
lopes@uems.br

MOTTA, Fernando Rocha


Graduado em Agronomia
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
fernandorochamota@gmail.com

MEDEIROS, Rosevaldo Domingos


Graduando em Agronomia
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
rosevaldomdrrdm@gmail.com

FANAYA JÚNIOR, Eder Duarte


Pós-Doutorado em Agronomia
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
eder.fanayajr@alumni.usp.br

RESUMO
A utilização de tecnologias vem proporcionando o cultivo de novas safras, como a de
inverno. Uma dessas tecnologias é a irrigação, que em conjunto com a adubação
nitrogenada vem trazendo elevadas produtividades e melhorias na qualidade do cultivo
desta cultura. O objetivo desse trabalho foi avaliar influência das diferentes doses de
adubação nitrogenada em cobertura, bem como a resposta do feijoeiro irrigado com e sem
inoculação de sementes. O experimento foi conduzido na Universidade Estadual de Mato
Grosso do Sul, Unidade Universitária de Aquidauana. A cultura, irrigada por pivô central,
foi implantada no inverno, cujo manejo de irrigação foi pelo método de tensiometria. O
experimento foi conduzido em blocos casualizados, com parcelas subdivididas e 4
repetições, sendo que as parcelas foram os tratamentos com e sem inoculação de sementes
com estirpe Rhizobium tropici e, nas subparcelas, às doses de nitrogênio (N) (0, 50, 100,
150 e 200 kg ha-1 de N em cobertura). Foram avaliados o número de vagens por planta,
número de grãos por vagem, massa média de 100 grãos, produtividade de grãos e a
eficiência do uso da água. Observa-se que a inoculação e as doses de N não promovem
incremento nos componentes de produtividades avaliados, com exceção da produtividade
de grãos e a eficiência no uso da água que teve seus maiores valores quando estimada as
doses de 132 e 150 kg ha-1, respectivamente. Sob condição de irrigação, o cultivo do
feijão de inverno, na região de Aquidauana, tem potencial para alcançar altas
produtividades.

PALAVRAS-CHAVE: nitrogênio, produtividade, tensiometria.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

O feijoeiro é um dos alicerces da alimentação brasileira, sendo reconhecido como


excelente fonte de proteínas e ferro (MOURA; BRITO, 2015). Seu plantio ocorre durante
todo o ano graças ao uso de irrigação, permitindo que haja plantio em lugares e em épocas
nos quais antes não era possível. A irrigação possibilita a redução dos riscos durante a
segunda época de plantio, conhecido como plantio da seca, além do mais permitiu o
surgimento de uma nova safra, o plantio na época de inverno, que é obrigatoriamente
irrigada no centro-sul brasileiro, devido à escassez de chuvas na condução da cultura nas
áreas plantadas (STONE; SILVEIRA, 2001).
69
A produção mundial por ano gira em torno de 12 milhões de toneladas, suprindo a
alimentação básica de cerca de 400 milhões de pessoas (CIAT, 2019). A América Latina
concentra o maior número de países com maior produção e consumo, destacando o Brasil
que ocupa o primeiro lugar no ranking de produção mundial (FAOSTAT, 2019) e com
produção de 122.225,2 mil toneladas na safra 19/20 (CONAB, 2020).
Algumas das dificuldades para manter a alta produtividade são a deficiência hídrica,
adubação e clima. O feijão de inverno consegue atingir maiores produtividades pois
necessita de irrigação já que é produzido em um período pouco chuvoso, sendo frio e
seco, desfavorável para a ocorrência de pragas e doenças, onde o manejo de adubação
fica a critério do produtor e de suas necessidades (BINOTTI, 2007). A baixa fertilidade
dos solos sem a devida correção aliado a falta de adubação mineral adequada vêm sendo
definido como fatores preponderantes para obtenção de baixos rendimentos da cultura
(SILVA et al., 2016).
O sistema de irrigação atualmente vem trazendo recurso necessário para as
produtividades de diversas culturas, apresentando grande importância para a agricultura,
que estão diretamente relacionados com o sistema planta, água, clima e solo; desta forma
é preciso ter o conhecimento das relações entre esses aspectos, que são importantes para
o projeto da irrigação, que tem a finalidade de conseguir maior produtividade e qualidade
do produto (BISPO et al., 2017).
O monitoramento eficiente das superfícies irrigadas, com o acompanhamento da
dinâmica dos cultivos e a avaliação, é de grande importância para a eficiência da irrigação
(RIBEIRO et al., 2017). O manejo apropriado da irrigação não pode ser considerado uma
etapa independente dentro do processo de produção agrícola, tendo, por um lado o uso
eficiente da água, promovendo a conservação do meio ambiente e por outro lado o
compromisso com a produtividade da cultura explorada (CAMARGO, 2016).
De acordo com Coelho et al. (2018), a melhoria da água para uso na agricultura é
outro assunto de relevante importância social, ambiental e econômica. A irrigação torna-
se fundamental para obtenção de máximos rendimentos em culturas de inverno no Brasil.
A cultura do feijão, assim como outras leguminosas, tem ação simbiótica com as
bactérias do gênero Rhizobium, que promove a fixação biológica do nitrogênio
atmosférico no solo, onde fica disponível para as plantas. Porém, diferente da cultura da
soja (Glycine max L.), o feijoeiro não consegue fixar nitrogênio (N) suficiente para atingir
alta produtividade apenas com a inoculação, tornando-se necessária a complementação
com a adubação de N (BRITO et al., 2011).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Segundo Barbosa Filho et al. (2017), o N é um dos principais nutrientes absorvidos


durante o ciclo do feijoeiro, se tornando indispensável para a cultura, ainda mais sob
irrigação, uma vez que esse manejo consegue disponibilizar maiores quantidades para
serem absorvidas pelas plantas e diminuir, ao mesmo tempo, as perdas no sistema solo-
planta. Dentre os macronutrientes, o N é absorvido em maiores quantidades, sendo uma
alternativa para aumentar o teor de proteína nos grãos do feijão (AMARAL et al., 2016).
De acordo com Dias et al. (2018), o feijoeiro extrai e exporta, respectivamente,
cerca de 36,5 e 32,1 kg de N por tonelada de grãos produzida e, de forma geral, 88% do
total acumulado na parte área da cultura é exportado para os grãos. De acordo com Aragão
et al.(2020), a adubação nitrogenada é um fator primordial para se alcançar altas
70
produtividades, independente da inoculação, pois o feijoeiro é dependente de altos valores
de N para expressar seu potencial.
Com isso, há a necessidade de se realizar estudos para tomada de decisões sobre as
quantidades necessárias desse nutriente para o feijoeiro, especialmente sob condição de
irrigação, uma vez que a adubação apresenta alto custo de produção.
O objetivo desse trabalho foi avaliar a influência da adubação nitrogenada e da
inoculação de sementes sobre os componentes de produtividade do feijoeiro comum,
irrigado por pivô central, em Aquidauana-MS.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido na área experimental de irrigação da Universidade


Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), na Unidade Universitária de Aquidauana-MS,
com coordenadas geográficas 20°27’11” Sul, 55°40’09” Oeste, com altitude média de
191 m. O clima da região é classificado segundo Köppen-Geiger como Aw, tropical
quente sub úmido, com verão chuvoso e inverno seco, tendo precipitação média anual1
de 1.279,2 mm. O solo local foi classificado como Argissolo Vermelho distrófico
(SCHIAVO et al., 2010).
Os dados climáticos foram obtidos da estação meteorológica localizada na UEMS,
com dados diários de temperatura mínima e máxima, obtendo-se assim o somatório dos
graus-dia acumulados (Figura 1), conforme proposto por Arnold (1959) citado por Renato
et al. (2013).

1
Pluviosidade média calculada a partir dos dados do ano de 2007 à 2018, obtida em:
http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=estacoes/estacoesautomaticas
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 1. Dados médios de temperatura máxima, média e mínima (Tmáx, Tméd, Tmín), e o somatório
dos graus-dia acumulados, referentes ao período de 23 de maio de 2019 a 15 de agosto de 2019, em
Aquidauana-MS.VG = Crescimento vegetativo; FEG = Florescimento e enchimento de grãos; M =
Maturação; DAE = Dias após a emergência.
T máx T mín T méd graus-dia
40 1400
35 D FE M
1200

graus-dia acumulados (C)


30 V G
1000
Temperatura (ºC)

25
800
20
600
15
400 71
10
5 200
0 0
1 7 13 19 25 31 37 43 49 55 61 67 73 79 85 91
DAE
Fonte: Arquivo pessoal.

O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, em parcelas


subdivididas, totalizando 10 tratamentos e 4 repetições, onde as parcelas foram com e
sem inoculação de sementes com Rhizobium tropici e, as subparcelas, as doses de
adubação nitrogenada (0, 50, 100, 150 e 200 kg ha-1 de N).
As unidades experimentais foram compostas por 4 linhas de plantas com 5 m de
comprimento, espaçadas a 0,45 m entre si. Considerou-se como área útil as duas linhas
centrais de plantas, com 4 m de comprimento, totalizando 3,6 m2 de área útil por parcela.
Os resultados foram submetidos ao teste de médias e Tukey a 5% de probabilidade e, para
os dados quantitativos, foi realizado a análises de regressão.
O sistema de irrigação empregado foi o de pivô central, que foi avaliado quanto a
sua uniformidade de aplicação de água, sendo que para a velocidade de 100% o resultado
do Coeficiente de Uniformidade de Christiansen (CUC) foi de 84,8% e do Coeficiente de
Uniformidade de Distribuição (CUD) de 75,4%. Já, para a velocidade de 10%, o resultado
do CUC foi de 86,2% e de 71,7% para CUD (Figura 2).

Figura 2. Lâmina média observada, durante o teste de uniformidade de aplicação do pivô central a10% e
100% de sua velocidade máxima.
Lâmina observada 100% Lâmina 100%
35,0
30,0
Lâmina aplicada (mm)

25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
5 11 17 23 29 35 41 47 53 59 65 71
Distância da base do pivô (m)
Fonte: Arquivo pessoal.
2021 Gepra Editora Barros et al.

O manejo de irrigação adotado foi por tensiometria, onde foram instalados os


conjuntos de tensiômetros nas profundidades de 0,15 m, 0,30 m e 0,45 m. Para referência,
tomou-se como base os tensiômetros com profundidade de 0,15 m, sendo que os demais
foram para monitorar a umidade do solo ao longo do perfil. O momento de se usar a
irrigação foi quando a média dos tensiômetros de referência acusaram valores de tensão
de água do solo superior ou igual a 40 kPa (SILVEIRA et al., 2001).
Os dados da precipitação pluviométrica foram obtidos por meio de coletas
realizadas em pluviômetro instalado na área experimental, e, para controle das lâminas
de irrigação, foram instalados 24 coletores distribuídos aleatoriamente nas parcelas, sendo
estes mensurados ao fim de cada irrigação.
72
A semeadura foi realizada em sistema convencional no dia 17 de maio de 2019,
onde se utilizou o cultivar TAA Dama, do grupo carioca, com espaçamento de 0,45 m
entre linhas e 15 sementes m-1. A emergência ocorreu em 23 de maio de 2019, 6 dias após
a semeadura.
A adubação de semeadura foi realizada a partir da análise química do solo e de
acordo com Ambrosano et al. (1997), utilizando o superfosfato simples (18% fósforo),
com 82,2 kg ha-1. Já, para a adubação nitrogenada em cobertura, foram aplicados os
diferentes tratamentos, sendo que a mesma foi realizada em estádio V4, ocorrido 28 dias
após emergência (DAE). Como fonte de N foi utilizado a ureia, onde depois de aplicado
foi realizada uma irrigação com lâmina de 10 mm para melhor incorporação no solo.
No tratamento de sementes, utilizou-se Imidacloprid a dose de 84 g e Carboxina +
Tiram com 30 + 30 g para cada 50 kg de sementes. Já nos tratamentos que utilizaram
inoculação, as sementes foram inoculadas com Rhizobium tropici – Semia 4077 (Total
Nitro®), com 300 mL do produto comercial para cada 50 kg de sementes.
Para o controle de plantas daninhas foram feitas capinas manuais e aplicações de
herbicidas: fluazifope-p-butílico e fomesafem ambos na dose de 250 g ha-1. O controle de
mosca branca foi por meio de aplicação do inseticida Tiametoxam (42,3 g ha-1) +
Lambda-Cialotrina (31,8 g ha-1). Foi realizada uma aplicação do fungicida
Trifloxistrobina (75 g ha-1) + Tebuconazol (150 g ha-1) no estádio V4 da planta.
Ao final do ciclo da cultura foram avaliados:
Número de vagens por planta (NVP): sendo coletadas dentro da área útil de cada
parcela todas as plantas, contando as vagens e separando-as em vagens produtivas e
vazias.
Número de grãos por vagem (NGV): contando a partir das vagens produtivas, o
número de grãos para obtenção do número médio de grãos por vagem.
Massa de 100 grãos (MCG): foi obtida da área útil de cada parcela cinco amostras
aleatórias de 100 grãos que foram pesadas em balança de precisão de 0,01 g e corrigido
a umidade para 13%.
Produtividade de grãos (PROD, kg ha-1): sendo estimada após a debulha das vagens,
cujos grãos foram pesados e, depois, realizada a correção da umidade para 13%, onde se
obteve a produtividade em cada parcela (3,6 m2) e posteriormente a estimativa da
produtividade em kg ha-1.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Eficiência no uso da água (EUA, kg m-3): foi calculada por meio da razão entre a
produtividade média de grãos (kg ha-1) e a evapotranspiração total da cultura (ETc, mm)
convertida em volume de água para todo o ciclo da cultura (m3 ha-1).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A variação da água disponível (AD) na maior parte do desenvolvimento da cultura


ficou acima do limite inferior da água facilmente disponível (AFD) comprovando a
eficiência do manejo de irrigação por tensiometria na cultura do feijoeiro (Figura 3).
Somente no final do ciclo que ficou abaixo do limite inferior e não foi irrigado, pois 73
já tinha atingido a maturação fisiológica das plantas, se aproximando da colheita.
A precipitação pluviométrica no decorrer do ciclo do feijoeiro foi de 46,7 mm,
provando há necessidade da irrigação, as irrigações realizadas somaram 195,7 mm,
totalizando uma lâmina de 242,4 mm, próximo ao recomendado para a cultura por
Oliveira et al. (2018), que é entre 250 e 350 mm distribuídos ao longo do ciclo.

Figura 3. Precipitação, lâminas de irrigação aplicadas e variação do armazenamento no solo por manejo
de tensiômetros.

60 60
Armazenamento de água no solo (mm)

45 45

Precipitação (mm)
Irrigação
Chuva
30 30
Limite superior da AFD
Limite inferior da AFD
Variação da AD medida

15 15

0 0
1 7 13 19 25 31 37 43 49 55 61 67 73 79 85 91
DAE
Fonte: Arquivo pessoal.

A inoculação de sementes não proporcionou diferença para NVP (Tabela 1),


obtendo um número médio de 10,4 vagens por planta, quantidade de vagens similar aos
resultados obtidos por Santis et al. (2019) para a mesma variedade. Peres (2016) também
não encontrou diferença estatística quando utilizou somente a inoculação de Rizhobium
tropici, porém quando realizou a co-inoculação com Azospirillum brasilense e no
primeiro ano do experimento, observou um pequeno ganho na NVP. Essa não diferença
2021 Gepra Editora Barros et al.

para NVP pode ser explicada por essa variável ser característica própria da genética da
cultivar utilizada (TORRES et al., 2017).

Tabela 1. Número de vagens por planta (NVP), número de grãos por vagem (NGV), número de grãos por
planta (NGP), massa de sem grão (MCG), produtividade (PROD) e eficiência no uso da água (EUA) dos
tratamentos com e sem inoculante.
Variáveis NVP NGV NGP MCG PROD EUA
Inoculante (g) (kg ha-1) (kg m-3)
Com 10,1 a 4,1 a 41,7 a 30,7 a 2021,5 b 0,83 b
Sem 10,7 a 4,4 a 47,1 a 31,4 a 2717,0 a 1,12 a
CV (%) 29 11 34 3 7 13
DMS 6,7 1 33,6 2 387 0,16
CV = Coeficiente de variação; DMS = Diferença mínima significativa; Médias seguidas de letras 74
diferentes, diferem entre si pelo teste de tukey a 5% de significância. Fonte: Arquivo pessoal.

A inoculação também não proporcionou diferença para NGV e NGP, obtendo uma
quantidade média de 4,27 grãos por vagem e 44,41 grãos por planta. O NGV foi abaixo
do que encontrado por Santis et al. (2019), que encontrou um valor médio de 4,5 para a
mesma cultivar em época iguais. Capristo et al. (2020), em seu estudo utilizando a mesma
cultivar e a mesma bactéria inoculada obteve a resposta igual a este trabalho quanto a
inoculação para a variável NGV.
O mesmo aconteceu com os tratamentos com presença e ausência de inoculação
para a MCG, que não teve diferença, obtendo média de 31,0 g entre eles. Valor esse
superior ao obtido por Barros et al. (2013), que obteve média de 21,9 g para o feijão ouro
negro na época das águas e superior também ao encontrado por Santis et al. (2019), que
obteve média de 30,8 g para a mesma cultivar na mesma época. Capristo et al. (2020)
também não obteve diferença na inoculação de feijão da mesma cultivar. Esse resultado
pode ser atribuído a competição das bactérias nativas do solo com as inoculadas perdendo
sua eficiência (CAVALCANTE et al., 2017).
A produtividade foi maior em 25% na ausência da inoculação de sementes
(Tabela 1). Resultados similares foram encontrados por Peres (2014) em que a inoculação
de Rhizobium tropici no feijão não influenciou em sua produtividade. Tal resultado pode
ser atribuído a disputa constituída pelas bactérias nativas do solo com as inoculadas ou a
falta de adaptação das bactérias inseridas por meio da inoculação prejudicando o absorção
de N pela planta (CAVALCANTE et al., 2017).
As bactérias já existentes no solo podem competir com as bactérias inoculadas
afetando sua sobrevivência. A não diferença estatística entre as variáveis analisadas dos
tratamentos com a presença e ausência de inoculação, exceto PROD e EUA, podem ser
atribuídos as estirpes nativas de bactérias fixadoras de N existentes no solo que podem
ser tão eficientes quanto a Rhizobium tropici competitivas podendo inibir ou impedir a
eficiência da bactéria inoculada (MOURA et al., 2009; BRITO et al., 2015).
Quando a cultura foi conduzida sem a presença de inoculação com Rizobium
tropici, a EUA foi maior que na presença do mesmo, comprovando os resultados obtidos
para a PROD. Provavelmente, também estejam relacionados com a presença de estirpes
nativas no solo, pois são proporcionalmente as variáveis, uma vez que utiliza a mesma
quantidade de água.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Avaliando o efeito das doses da fonte de nitrogênio não foi observada diferença
estatística entre as variáveis NVP, NGV, NGP e MCG, notando apenas diferença na
variável produtividade, a qual foi significativa para regressão quadrática que explica 95%
dos dados avaliados para PROD (Figura 4).

Figura 4. Análise de regressão para diferentes doses de nitrogênio para a variável produtividade (PROD)
em kg ha-1.

2.700
Produtividade (kg ha-1)

2.600
2.500 75
2.400
2.300
2.200
2.100 y = -0,0295x2 + 7,7658x + 2.035,0860
R² = 0,958127
2.000
0 50 100 150 200
Dose de nitrogênio (kg ha-1)
Fonte: Arquivo pessoal

Em comparação com dados da Conab para a safra 2019 a média nacional de


produtividade de feijão cores na 3º safra foi de 1.232 kg ha-1 sendo a média encontrada
no trabalho quase 100% superior, atingindo 2.369 kg ha-1.
A melhor dose de N estimada, segundo a equação encontrada na figura, ficou em
torno de 132 kg ha-1, resultando numa produtividade média de 2.546 kg ha2, havendo um
decréscimo desse valor com as doses maiores de N. Resultados próximos foram obtidos
por Tagliaferre et al. (2013) que, em avaliações em feijão caupi, obtiveram maior
produtividade com doses de 90 kg ha-1 alcançando 2.525 kg ha-1. Viana et al. (2015)
obtiveram maior produtividade de feijão carioca com doses de 98 kg ha-1 atingindo
produtividade de 1.528 kg ha-1.
O aumento das doses de nitrogênio tende a aumentar a produtividade de grãos até
determinado ponto (GERLACH et al., 2013). De modo que doses elevadas de nitrogênio
fazem com que as plantas aumentem o desenvolvimento vegetativo que intervém de
maneira negativa na produção de grãos (MARTINS et al., 2013), podendo até ser tóxico
para a cultura diminuindo o estande de plantas, assim afetando rendimento dos grãos
(VIANA et al., 2015).
O excesso de adubos salinos no solo prejudica de maneira significativa a atividade
microbiana do solo podendo matar as bactérias fixadoras de nitrogênio nele existente ou
inserida (ALBUQUERQUE et al., 2012).
O incremento das doses de N não influenciou no NVP e MCG. Resultados
semelhantes foram encontrados por Souza et al. (2017), que defendem que essas
características estão mais relacionadas com o genótipo das cultivares do que com as
condições ambientais em que a planta é submetida.
A média de NGV foi de 4,23, não havendo diferença estatística entre as doses de
N. Valores similares foram encontrados por Bernardes et al. (2016) que obtiveram de 4 a
2021 Gepra Editora Barros et al.

5 grãos por vagem e Schoninger et al. (2015), que também não obteve influência das
doses de N nessa variável, ambos justificando que tal característica está ligada a
herdabilidade genética do cultivar.
As doses de adubação de nitrogênio em cobertura fizeram a EUA variar de 0,84 a
1,06 kg m-3, sendo que a maior eficiência estimada foi na dose de 150 kg ha-1 (Figura 5),
resultando numa EUA de 1,064 kg m-3. Esses resultados podem estar relacionados a
influência direta deste nutriente no rendimento de grãos, como comprova Pacheco et al.
(2016) que obtiveram as maiores EUA nas doses de N de 100 e 150 kg ha-1 em cobertura.
Nesse sentido, a EUA é uma ferramenta importante para selecionar o manejo de
irrigação e o método de aplicação, pois segundo Queiroz et al. (2005), indica qual a
76
combinação entre esses fatores que consequentemente levam a maior produção com o
menor custo.

Figura 5. Análise de regressão para diferentes doses de N para EUA (kg m-3).
1,10
1,05
1,00
0,95
EUA (kg m-3)

0,90
0,85
0,80
0,75 y = -0,00001x2 + 0,003x + 0,839
0,70 R² = 0,958
0,65
0,60
0 50 100 150 200
Dose de N (kg ha-1)
Fonte: Arquivo pessoal.

CONCLUSÕES

A inoculação e as doses de N não promovem incremento nos componentes de


produtividades, com exceção da produtividade de grãos e a eficiência no uso da água que
teve seus maiores valores quando aplicado a dose 132 e 150 kg ha-1, respectivamente, e
na ausência de inoculação.
O cultivo do feijão de inverno irrigado por pivô central, na região de Aquidauana,
tem potencial para alcançar altas produtividades.
2021 Gepra Editora Barros et al.

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80
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 7

AGREGAÇÃO DO SOLO EM TRÊS SISTEMAS DE MANEJOS NO


OESTE DA BAHIA

OLIVEIRA, Anne Caroline dos Anjos


Graduanda em Engenharia Agronômica
Universidade do Estado da Bahia-UNEB
anneanjos99@gmail.com

SANTOS, Ayra Souza


Graduanda em Engenharia Agronômica
Universidade do Estado da Bahia-UNEB 81
ayrasouza60@gmail.com

CRUZ, Joyce das Neves


Graduanda em Engenharia Agronômica
Universidade do Estado da Bahia-UNEB
nevjoyce25@gmail.com

CALIXTO, Klever de Sousa


Graduando em Engenharia Agronômica
Universidade do Estado da Bahia-UNEB
kleversc2@gmail.com

NUNES, Heliab Bomfim


Doutor em Agronomia
Universidade do Estado da Bahia-UNEB
heliabnunes@hotmail.com

RESUMO

A agregação do solo é uma das propriedades que podem ser utilizadas para avaliar a
qualidade do solo, uma vez que o mesmo desempenha papéis importantes contribuindo
para o armazenamento de carbono orgânico e água, favorecendo a circulação de água, e
permitem diminuir a resistência à penetração do sistema radicular, favorecendo um
melhor arranjamento dos vegetais ao solo. Assim sendo, o objetivo desse trabalho foi
analisar os efeitos de três diferentes sistemas de manejo de solos sobre a propriedade de
agregação do solo relacionada à sua qualidade, indicar os riscos de degradação do
ambiente impostos pelo uso agrícola atual. As amostras de solos foram coletadas nas
profundidades 0,0-0,10, 0,10-0,20, 0,20-0,30 e 0,30-0,40 m, para as avaliações do
diâmetro médio ponderado (DMP), diâmetro médio geométrico (DMG), dos
macroagregados (MAAG), microagregados (MIAG) e da classe de agregados > 2,00 mm
(IAG). Os resultados mostraram que o sistema de olericultura apresentou uma maior
desestruturação do solo fazendo com que o mesmo tivesse menores valores de DMP,
DMG, IAG > 2 mm e maiores valores de MIAG, em relação aos outros dois modelos
avaliados, sendo justificado pelas práticas de manejos adotadas.

PALAVRAS-CHAVE: atributos físicos, qualidade do solo, Yoder.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

A agregação do solo é formada quando há a aproximação de partículas unitárias


presentes do solo e sua estabilização é realizada por agentes cimentantes, com destaque
para a atuação da matéria orgânica do solo em camadas superficiais de solos agrícolas.
Dessa forma, desempenham vários papéis importantes no solo contribuindo para o
armazenamento de carbono orgânico e água, favorecendo a circulação de água, e
permitem diminuir a resistência à penetração do sistema radicular, favorecendo um
melhor arranjamento dos vegetais ao solo (TISDALL; OAEDES, 1982).
Wohlenberg et al. (2004), afirma que o cultivo intenso de espécies como as anuais
e a prática de preparo excessivo solo têm causado erosão e degradação da estrutura do 82
mesmo. Os solos quando são fisicamente degradados podem ser recuperados com o
cultivo de espécies de diferentes sistemas aéreos e radiculares que adicionam material
orgânico de quantidade e composição variada.
Para Maffra et al. (2020) é a partir dos agregados do solo que podem ocorrer a
formação de macroagregados. Os macroagregados podem ser formados por vias distintas,
resultando na formação dos agregados fisiogênicos, biogênicos e intermediários, estes
últimos quando não há predomínio de uma via específica de formação.
O sistema de cultivo influencia diretamente a qualidade estrutural do solo; e
consequentemente afeta alguns atributos físicos do solo como: a porosidade do solo, a
infiltração de água, a aeração, o crescimento das raízes, a disponibilidade de nutrientes e
a resistência do solo aos processos erosivos. Portanto, áreas com agregados estáveis e de
maior tamanho, são solos estruturalmente superiores e com maior infiltração de água,
além de melhor aeração e são menos suscetíveis a erosão. Solos com boa agregação
também aumentam sua capacidade de recebimento de cargas sem sofrer deformações
(FAVORITO et al., 2020).
Dessa forma, a realização de estudos sobre a qualidade do solo tem sido cada vez
mais frequentes. Tornando-se evidente pelo fato de que se tem observado que há diversos
fatores que podem ocasionar a degradação do solo, bem como elevar a perda da
produtividade de uma determinada cultura, não podendo ser deixado de serem estudados,
uma vez que os cuidados com o ambiente e a busca por uma máxima produção são de
interesse de grande parte dos produtos (SILVA et al., 2020).
Assim sendo, objetivou-se analisar os efeitos de três diferentes sistemas de manejo
de solos sobre a propriedade de agregação do solo relacionada à sua qualidade e indicar
os riscos de degradação do ambiente impostos pelo uso agrícola atual.

MATERIAL E MÉTODOS

Caracterização da área, do clima e do solo

Realizou-se o estudo em uma área localizada na região Oeste da Bahia, na cidade


de Barreiras, cujas coordenadas são 12º 08’ 00” de latitude Sul e 44º 59’00” de longitude
Oeste com altitude de 452 m. As áreas estudadas se encontravam com os seguintes tipos
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de uso do solo: plantio convencional com plantio de Coriandrum sativum, conhecido


popularmente como coentro (olericultura); plantio de pinhão manso - Jatropha curcas
(floresta artificial) e um sistema de mata nativa.
Tendo como base a classificação de Koppen, o clima da região caracteriza-se
como sendo do tipo Aw, ou seja, tropical sub úmido com período chuvoso que vai de
outubro a abril e período seco que vão de maio a setembro (OMETTO, 1981).
Os solos das áreas avaliadas foram classificados como sendo um Cambissolo
Háplico (CX) (EMBRAPA, 2006).

Amostragem do solo
83

Coletou-se as amostras indeformadas nas profundidades de 0-0,10 m, 0,10-0,20


m, 0,20-0,30 m e 0,30-0,40 m e em quatro pontos por área. Posteriormente, as mesmas
foram transportadas para a avaliação física ao Laboratório de Física e Química do Solo
da Universidade do Estado da Bahia, campus IX.

Determinação da estabilidade de agregados em via úmida

Para esse procedimento adotou-se a metodologia de Salton et al. (2012) no qual


as amostras foram destorroadas cuidadosamente com as mãos, quebrando os agregados
maiores em seus pontos de fragilidade natural e posteriormente secas ao ar. Após esse
processo, as amostras foram passadas num conjunto de peneiras, os agregados retidos na
peneira de 8-10 mm foram utilizados para serem processados. Retirou-se 4 amostras de
50 g por cada profundidade, em seguida essas amostras foram colocadas na parte superior
de um jogo de peneiras de malhas iguais a: 2,00 mm; 1,00 mm; 0,50 mm; 0,25 mm e
0,106 mm . Estas foram umedecidas com um atomizador e aguardado 10 minutos.
Em seguida as amostras foram imersas no tanque do aparelho de Yoder para
oscilação vertical por 15 minutos. Os agregados retidos em cada peneira foram
transferidos para cápsulas de alumínio e levadas a estufa de circulação forçada por 24
horas a 105 °C e na sequencia foi pesada cada fração. Determinado assim através dos
cálculos, o Diâmetro Médio Ponderado (DMP) e o Diâmetro Médio Geométrico (DMG)
de cada sistema de manejo avaliado.

Diâmetro médio ponderado: calculado a partir da expressão 1 (COUTINHO et al., 2010).

DMP = Σ xiyi (1)

Onde: i = intervalo de classe: 2,0 ≥ X > 1,0 mm, de 1,0 ≥ X > 0,5 mm, de 0,5 ≥ X > 0,25
mm e de 0,25 ≥ X > 0,105 mm; xi = é o diâmetro do centro de classe (mm); yi = é a razão
entre a massa de agregados dentro da classe (xi) e amassa total de agregados.

Diâmetro médio geométrico: é determinado a partir da expressão 2 (COUTINHO et al.,


2010).

DMG = expΣwiln xi / ( Σ wi) (2)


2021 Gepra Editora Barros et al.

Onde: wi= peso dos agregados de cada centro de classe (g); ln = logaritmo natural de xi;
xi = diâmetro do centro de classe (mm).

Determinação dos macroagregados e dos microagregados

Para a determinação da porcentagem de MAAG foi realizado a soma dos


agregados que ficaram retidos nas peneiras de 2,0; 1,0; 0,50 mm, para obtenção do MIAG 84
somou-se os agregados contidos nas peneiras de 0,250 e 0,106 mm (EMBRAPA, 2017).

Análise estatística

Os dados foram submetidos ao teste F da análise de variância a 5% de


probabilidade de erro e, se significativos foi aplicado o teste de média de Scott-Knott
através do programa estatístico Assistat 7.7 pt.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As variáveis como o DMP, DMG, MAAG e MIAG são utilizadas para calcular o
índice de estabilidade dos agregados. Observando os valores de DMP e DMG nos três
sistemas de manejo avaliados (Tabela 1), nota-se que o sistema de olericultura foi o que
apresentou menores valores para esses parâmetros, em relação ao pinhão e a mata nativa.
Isso pode ser justificado porque na área houve diversos revolvimentos do solo para a
implantação do plantio de hortaliças. Dessa forma, quando se submete à mecanização
agrícola, a agregação pode ter ocorrido por ação de compressão das partículas do solo,
sem, entretanto, ocorrerem os mecanismos que contribuem para a estabilização desses
agregados do solo e, consequentemente, das unidades estruturais (SILVA;
MIELNICZUK, 1998).
No caso do sistema de mata nativa e de pinhão, observou-se que o acúmulo de
resíduos vegetais na superfície do solo com consequente aumento dos teores de matéria
orgânica do solo atua como agentes cimentantes, aumentando a agregação do solo, assim
como também salientado por Loss et al. (2014) em seu trabalho.
Para Cunha Neto et al. (2018), é importante que haja a formação de agregados
considerados estáveis, pois, os agregados com baixa estabilidade em água se desagregam
de forma rápida em função do impacto das gotas de chuva, provocando a obstrução dos
poros do solo próximos à superfície e o seu encrostamento, aumentando o escoamento
superficial. Assim sendo, pode-se afirmar que dentre os sistemas avaliados, a área de
olericultura é a mais propensa aos efeitos de escoamento superficial, o que pode ocasionar
um processo erosivo mais intenso nesse local.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Tabela 1. Diâmetro médio ponderado (DMP) e diâmetro médio geométrico (DMG) dos
solos em áreas cultivadas na região Oeste da Bahia, Barreiras, 2019/2020.
DMP
Sistemas Camadas (m)

0-0,10 0,10-0,20 0,20-0,30 0,30-0,40


PINHÃO 3,83 a 3,52 a 3,04 a 1,22 b
OLERICULTURA 2,70 b 2,95 b 1,03 b 1,82 ab
MATA NATIVA 3,69 a 4,50 a 3,94 a 3,41 a
CV (%) 14,44 24,17 17,33 18,08
85
DMG
Sistemas Camadas (m)
PINHÃO 3,03 a 3,54 a 3,11 a 0,72 b
OLERICULTURA 1,96 b 2,17 b 1,94 b 1,06 ab
MATA NATIVA 3,68 a 3,58 a 3,05 a 2,40 a
CV (%) 20,31 22,89 24,59 29,10
Fonte: CRUZ (2021).

Quanto aos valores dos macroagregados (MAAG) e dos microagregados (MIAG)


(Tabela 2), o sistema de olericultura apresentou estatisticamente menores valores de
MAAG e menores valores de MIAG ao longo do perfil do solo, o contrário foi observado
nos outros dois tipos de sistemas avaliados. A formação de macroagregados estáveis é
responsável pela estrutura do solo, entre outras propriedades emergentes (SALTON et al.,
2008).
A estabilidade dos agregados atua assim como uma força de resistência contra a
ação mecânica de degradar a estrutura, resistindo às forças atuantes da compactação do
solo (SILVA et al., 2006).
Mota et al. (2013), estudando a qualidade física de um Cambissolo sob diferentes
sistemas de manejos afirmam que ao se realizar sistemas de manejo como o preparo
convencional do solo, de maneira inadequada promovendo a pulverização desse, pode-se
ocorrer, por exemplo, uma destruição dos agregados presentes, principalmente os de
maiores tamanhos, colaborando para menor estabilidade dos mesmos.
Essa formação de agregados maiores pode estar relacionada com o menor
revolvimento ao longo do perfil dos solos no pinhão e na mata nativa, ou seja, nas
camadas superficiais principalmente nas áreas de remanescentes florestais (PEREIRA;
THOMAZ, 2014). Para Caraminan et al. (2020), a ação mecânica das raízes também
colabora para a estabilização dos microagregados e formação de agregados maiores e,
portanto, os usos e manejos do solo podem interferir diretamente no tamanho dos
agregados e sua estabilização.
O cultivo de plantas com abundante sistema radicular contribui para a formação e
estabilidade de agregados maiores que 2 mm, denominados de macroagregados. Solos que
apresentam boa agregação são mais resistentes à erosão e à compactação pelo tráfego de
2021 Gepra Editora Barros et al.

maquinário, o que justificou o fato do sistema de olericultura não ter apresentado maiores
valores de IAG (SALTON; TOMAZI, 2014).

Tabela 2. Macroagregados (MAAG) e microagregados (MIAG) dos solos em áreas cultivadas na região
Oeste da Bahia, Barreiras, 2019/2020.
MAAG
Sistemas Camadas (m)
0-0,10 0,10-0,20 0,20-0,30 0,30-0,40
PINHÃO 87,73 a 87,29 a 85,03 a 85,41 a
OLERICULTURA 66,21 b 63,25 b 78,12 b 71,54 b 86
MATA NATIVA 85,98 a 89,99 a 89,16 a 87,14 a
CV (%) 7,75 8,71 5,71 5,16
MIIAG
Sistemas Camadas (m)
PINHÃO 12,27 b 10,2 b 14,97 a 14,59 a
OLERICULTURA 25,35 a 26,74 a 21,85 b 25,45 b
MATA NATIVA 12,01 b 10,01 b 10,83 a 12,86 a
CV (%) 9,12 7,78 9,59 10,01
Fonte: CRUZ (2021).

Luciano et al. (2010), corrobora com a constatação de que a formação dos


macroagregados esteja diretamente relacionada com a ação de manejos, especialmente em
áreas de pastagens e podem não apresentar estabilidade. Segundo Soares et al. (2019),
valores elevados de DMG indicam solos com agregados estáveis, porém, pode ser
resultado de compactação, configurando agregados de baixa qualidade. Neste aspecto, é
válido ressaltar que o tamanho dos agregados é influenciado pelo uso e manejo do solo. Os
agregados de maior tamanho são formados por agentes cimentantes orgânico,
principalmente pelas frações da matéria orgânica, especialmente exsudados orgânicos e
material orgânico coloidal, podendo justificar a alta agregação deste estudo.
A existência de restos vegetais seja ele em diferentes estádios de decomposição,
houve maior estímulo à atividade biológica contribuindo desta forma para a formação de
agregados mais estáveis, mostrando assim a eficiência de áreas florestais na agregação do
solo (CARVALHO et al., 2004).

Tabela 3. Percentual de agregados maiores que dois milímetros % > 2mm (IAG > 2 mm)dos solos em
áreas cultivadas na região Oeste da Bahia, Barreiras, 2019/2020.
IAG > 2 mm
Sistemas Camadas (m)
0-0,10 0,10-0,20 0,20-0,30 0,30-0,40
PINHÃO 73,34 a 79,81 a 65,52 a 55,74 a
OLERICULTURA 58,08 b 56,21 b 44,94 b 34,52 b
2021 Gepra Editora Barros et al.

MATA NATIVA 78,19 a 89,20 a 69,00 a 52,17 a


CV (%) 19,17 17,10 10,13 10,98
Fonte: CRUZ (2021).

Em relação ao percentual de agregados maiores que dois milímetros (Tabela 3),


ratifica o que foi observado anteriormente (Tabela 1), na qual a forma de manejo no sistema
de olericultura fez-se com que houvesse menores valores de agregados nessa classe. Para
Oliveira et al. (2015), o IAG > 2 mm, é um atributo sensível, que sofre alterações quando
submetido a ações antrópicas, sendo um indicador para caracterização de ambientes e serve
como ferramenta para direcionar práticas conservacionistas. 87
Para Leite et al. (2009) e reafirmado por Calixto et al. (2020) em seus trabalhos, ao
analisar os agregados do solo observa-se que quanto mais intenso o preparo do solo,
menores serão os valores para diâmetro médio ponderado e diâmetro médio geométrico,
como também analisados (Tabela 1). Esses tipos de práticas são considerados as principais
responsáveis pela quebra dos agregados expondo o solo, e causando degradação de sua
estrutura proporcionando as maiores perdas do mesmo.

CONCLUSÃO

O sistema de olericultura com o plantio de coentro apresentou uma maior


desestruturação do solo fazendo com que os mesmos tivessem menores valores de DMP,
DMG, IAG > 2 mm e maiores valores de MIAG.

REFERÊNCIAS

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estabilidade de agregados, p. 1-388–416, 2020.

CARAMINAN, L. M.; FRUET, J. G. W.; GASPARETTO, N. V. L. Estabilidade de


Agregados de Latossolos em Floresta Estacional Semidecidual, Paraná, Sul do
Brasil. GEOGRAFIA (Londrina), v. 30, n. 1, p. 439-455, 2020.

CARVALHO, R. et al. Atributos físicos da qualidade um solo sob sistema agroflorestal.


Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 39, n. 5, p. 1153-1155, 2004.

COUTINHO, F. S. et al. Estabilidade de agregados e distribuição do carbono em


Latossolo sob sistema plantio direto em Uberaba. Minas Gerais. Comunicata
Scientiae, p. 100-105, 2010.
2021 Gepra Editora Barros et al.

CUNHA NETO, F. V. et al. Atributos químicos e físicos do solo em áreas sob diferentes
coberturas florestais e pastagem em Além Paraíba-MG. Ciência Florestal, v. 28, n. 1, p.
13-24, 2018.

EMBRAPA - CNPS. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. BRASILIA:


EMBRAPA-SPI; RIO DE JANEIRO: EMBRAPA-SOLOS, 2006. p.306.

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, 2017. Centro Nacional de


Pesquisas de Solos. Manual de métodos de análises de solos. 3.ed. revista. Rio de
Janeiro.
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FAVORITO, A. C. et al. Estabilidade de agregados em área de cultivo orgânico com


diferentes manejos e convencional. International Journal of Environmental Resilience
Research and Science, v. 2, n. 2. 2020.

LEITE, M. H. S. et al. Perdas de solo e nutrientes num Latossolo Vermelho-Amarelo


ácrico típico, com diferentes sistemas de preparo e sob chuva natural. Revista Brasileira
de Ciência do Solo, v. 33, n. 3, p. 689-699, 2009.

LOSS, A. et al. Agregação, matéria orgânica leve e carbono mineralizável em agregados


do solo. Revista de la Facultad de Agronomía, La Plata, v. 113, n. 1, p. 1-8, 2014.

LUCIANO, R.V.; BERTOL, I.; BARBOSA, F. T.; KURTZ, C.; FAYAD, J. A.


Propriedades físicas e carbono orgânico do solo sob plantio direto comparados à mata
natural, num Cambissolo Háplico. Revista de Ciências Agroveterinárias. p. 09-19.
2010.

MAFFRA, A. A. et al. Gênese e estabilidade de agregados em solos no Parque Natural


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OLIVEIRA, I. A. et al. Caracterização de solos sob diferentes usos na região sul do


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OMETTO, J.C. Classificação Climática. In: OMETTO, J.C. Bioclimatologia tropical.


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SALTON, J. C. et al. Determinação da agregação do solo-Metodologia em uso na


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População de oligoquetos (Annelida: Oligochaeta) em um latossolo vermelho
submetido a sistemas de uso do solo. Embrapa Agropecuária Oeste-Artigo em periódico
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SOARES, M. D. R. et al. Variabilidade espacial da estabilidade dos agregados e matéria


orgânica do solo em terra preta arqueológica sob pastagem. Gaia Scientia, 2019.

TISDALL, J.M.; OADES, J. Organic matter and water-stable aggregates in soils. J


Soil Sci 33: p. 141– 173, 1982.

WOHLENBERG, E. V. et al. Dinâmica da agregação de um solo franco-arenoso em cinco


sistemas de culturas em rotação e em sucessão. Revista Brasileira de Ciência do Solo,
v. 28, n. 5, p. 891-900, 2004.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 8

AGRICULTURA 5.0: O AGRONEGÓCIO AINDA MAIS


CONECTADO

ARLANCH, Adolfo Bergamo


Pós-graduando em Agronomia - Irrigação e Drenagem
UNESP - FCA
adolfoarlanch@gmail.com

COSMO, Bruno Marcos Nunes


Pós-graduando em Agronomia - Agricultura
UNESP – FCA
90
brunomcosmo@gmail.com

ZANETTI, Willian Aparecido Leoti


Pós-graduando em Agronegócio e Desenvolvimento Rural
UNESP
willian.zanetti@unesp.br

GALERIANI, Tatiani Mayara


Pós-graduando em Agronomia - Agricultura
UNESP - FCA
tatianigaleriani@gmail.com

GAVA, Glauber José de Castro


Professor Doutor e Pesquisador Científico
UNESP/ IAC
ggava@iac.sp.gov.br

RESUMO

O Brasil apresenta grande potencial em relação à disponibilidade de recursos naturais,


sendo amplamente especulado para novas áreas agricultáveis. Contudo, outro aspecto
talvez mais relevante que a ampliação de áreas, seja a evolução da que além de auxiliar
todos os processos da cadeia de produção, gera benefícios e facilidades ao agricultor.
Neste sentido, a presente pesquisa teve o objetivo de descrever o avanço da tecnologia
vinculada à agricultura desde os primórdios até os dias atuais, compreendendo uma
próxima evolução iminente. Para tal, realizou-se uma pesquisa de cunho qualitativo com
objetivo exploratório, para construção de uma revisão de literatura, fundamentada em
livros, artigos científicos e similares, publicados preferencialmente nos últimos 5 anos.
Constatou-se que a agricultura é atualmente dividida em 4 fases (1.0; 2.0; 3.0 e 4.0), cada
mudança de fase é marcada por avanços tecnológicos, sendo a primeira e mais longa a
1.0, caracterizado os primórdios com a intensiva mão-de-obra, na sequência a fase 2.0
destaca os primeiros maquinários agrícolas, na fase 3.0 iniciou-se a agricultura de
precisão juntamente com o uso do GPS e por último a agricultura 4.0, que engloba o uso
de tecnologia em cada etapa da produção de forma interligada, trazendo benefícios e
agilidade na tomada de decisão, sem desperdício de tempo e recursos, demonstrando as
vantagens do sistema interligado. Entretanto, considera-se que esta fase não seja a última,
pois o avanço tecnológico deverá resultar em uma fase ainda mais marcada pela
tecnologia, envolvendo a inteligência artificial e a robotização na agricultura,
caracterizando a agricultura 5.0.

PALAVRAS-CHAVE: Inteligência Artificial; Robôs; Tecnologia.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

O agronegócio sempre teve papel de destaque no desenvolvimento e fortalecimento


da economia brasileira. Os picos econômicos no Brasil durante os grandes ciclos como o
do café, gado, cana-de-açúcar, borracha, cacau e outros, mostram as contribuições
econômicas e sociais deste setor. O país tem sua economia baseada no agronegócio desde
a colonização e acredita-se que esta característica continuará no futuro, considerando os
vastos recursos naturais disponíveis para a exploração rural (SEHNEM; OLIVEIRA,
2017). Segundo o Portal do Agronegócio (2014), o Brasil possui 880 milhões de hectares,
dos quais 388 milhões são cultiváveis e 90 milhões ainda não foram explorados.
O agronegócio brasileiro destacou-se ainda mais nos últimos anos, sendo 91
considerado o principal responsável por manter o saldo positivo da balança comercial do
país. Entre os produtos agrícolas, destacam-se os grãos, como a soja e o milho, além de
outros produtos como o café, a cana-de-açúcar, a laranja, a produção pecuária para leite
e corte, dentre diversos outros produtos (MAPA, 2015).
Por anos o agronegócio vem ganhando força no cenário nacional, sendo um dos
poucos setores que não retrocederam perante as crises econômicas, sendo a agropecuária
em 2020 considerada por alguns especialistas como o único setor que substancialmente
cresceu no Produto Interno Bruto (PIB) em relação ao ano anterior (PORSSE et al. 2020).
Estes avanços, são reflexos do crescimento em tecnologia que o setor vem
experimentando nos últimos anos. É possível identificar uma grande melhoria nas
técnicas utilizadas pelos produtores rurais, porém as ferramentas mais avançadas são
acessíveis inicialmente apenas para os grandes produtores, contudo no auge da indústria
4.0 e da tecnologia da informação, a rapidez com que técnicas e implementos são
difundidos entre os grandes e pequenos produtores tomou proporções surpreendentes
(VIEIRA et al. 2021).
A tecnologia 4.0 permitiu a criação de um ambiente em que os elementos
necessários para a produção, estão continuamente interligados, trazendo grandes
benefícios e agilidade na tomada de decisão, reduzindo o gasto de tempo e recursos,
demonstrando as vantagens do sistema interligado para os atuais e potenciais usuários
futuros (FERNEDA, 2018).
A mais recente evolução tem a vertente voltada para a sustentabilidade e a qualidade
de vida. Para suprir a crescente demanda por alimentos será necessário passar a elevar a
busca por técnicas e tecnologias que proporcionem aumento da produtividade sem
aumentar o uso de recursos naturais. Essas necessidades e os rápidos avanços obtidos nas
últimas décadas, fizeram com que durante o estabelecimento da era 4.0, um novo patamar
de tecnologia já fosse cogitado (a era 5.0), com o papel de integralização total, formando
uma grande rede de dados, integrados com a inteligência artificial e trazendo benéficos
jamais antes vistos (PIXLEY et al., 2019, DOS SANTOS et al. 2019, VIEIRA et al. 2021).
Neste sentido, o objetivo desta pesquisa foi realizar a caracterização dos períodos
agrícolas, desde os primórdios até a denominada agricultura 5.0.
2021 Gepra Editora Barros et al.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho teve como finalidade demonstrar com detalhes o avanço da


tecnologia vinculado à agricultura desde os primórdios até os dias atuais, separando por
fases ou períodos e compreender a transição do momento atual para um novo patamar.
Para alcançar tais objetivos realizou-se uma pesquisa de cunho qualitativo com
objetivo exploratório, para construção de uma revisão de literatura, fundamentada em
livros, artigos científicos e similares, publicados preferencialmente nos últimos 5 anos.
De acordo com Fontelles et al. (2009), Silva et al. (2013) e Fernandes et al. (2018),
as pesquisas com objetivo exploratório apoiam-se na familiaridade com o problema,
aumentando o conhecimento do pesquisador sobre o mesmo, compreendendo e buscando 92
maior embasamento para a construção de hipóteses e conceitos sobre o tema.
A metodologia empregada foi a pesquisa bibliográfica, empregando informações
discutidas em estudos já publicados. Esse método de pesquisa, busca solucionar um
questionamento por meio da análise, comparação ou até mesmo discussão de trabalhos já
publicados, formando uma base de dados ampla e segura sobre o tema debatido
(PRODANOV; FREITAS, 2013; PRAÇA, 2015).
Os materiais utilizados como base para esta pesquisa foram artigos científicos,
dissertações, teses, livros e similares, publicados preferencialmente nos últimos 5 anos,
visando formar uma base de dados atualizada, considerando que o tema analisado
apresenta modificações e inovações muito rápidas. Os locais de busca destes materiais
foram constituídos por plataformas de busca de periódicos online, como, por exemplo, do
Google Acadêmico e da Scielo.
Segundo Galvão (2010), para dar agilidade ao método de busca é necessário o uso
de “palavras-chaves” que centralizam a busca de material, elevado a velocidade e
qualidade das informações coletadas, como exemplos destes descritores pode-se citar:
“agricultura 4.0”, “evolução na agricultura”, “tecnologia no meio rural” e afins. Os
materiais encontrados foram selecionados, buscando empregar apenas os trabalhos com
relevância e consistência em relação ao foco da pesquisa.

PRÓXIMO PASSO, A AGRICULTURA 5.0

Com o avanço constante e progressivo das tecnologias, os profissionais ligados às


áreas agrícolas, se veem em um impasse onde a tecnologia avança de tal maneira que o
agronegócio acaba absorvendo a mesma. Este fato resulta em uma evolução tecnológica
no campo. A consolidação de uma nova era de tecnologia agrícola, denominada
agricultura digital, está em curso, nomeada de agricultura 5.0, representada pelo intensivo
uso de ferramentas de inteligência artificial (MENDES et al., 2020).

AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

O agronegócio é um dos setores mais bem-sucedidos ao analisar o PIB brasileiro.


Em 2020, considerado um ano onde a economia global apresentou instabilidade e
imprevisibilidade, o PIB do agronegócio subiu 24,31%, de acordo com o Centro de
2021 Gepra Editora Barros et al.

Estudos Avançados em Economia Aplicada – CEPEA (2021), considerado um avanço


recorde. Segundo Sampaio (2019), o setor agrícola vem contribuindo positivamente no
PIB desde o ano 2000, principalmente em virtude dos altos preços das commodities.
O termo commodities refere-se ao produto primário ou com grau mínimo de
industrialização, também sendo considerado um produto homogêneo, ou seja, não
havendo diferenças em relação ao local de produção. Um grande exemplo para esse tipo
de mercadoria é o milho. O milho produzido no Brasil ou em qualquer outro país é
considerado o mesmo produto (havendo variações em relação a qualidade e outros
aspectos, mas não deixando de ser caracterizado como milho) (LOPES, 2020).
A cana-de-açúcar é outra cultura enquadrada no conceito de commodities, sendo de
93
grande importância socioeconômica em âmbito nacional. Ela proporciona dois produtos
de destaque: o açúcar para consumo interno e exportação e o etanol hidratado utilizado
no mercado nacional, dentre outros subprodutos menos importantes, mas de grande valia
(CARVALHO et al. 2020).
A área plantada na safra 2020/21 diminuiu em relação à safra 2019/20, porém, é
esperada uma produção maior, de acordo com a CONAB (2020). Em virtude deste
possível acréscimo na produção é plausível considerar que o avanço da tecnologia está
intimamente ligado com a melhoria e evolução da produção agrícola.

TECNOLOGIA NA AGRICULTURA

Se a palavra “tecnologia” for analisada a fundo identifica-se que a mesma vem do


grego, onde tekhne significa “técnica”, enquanto logos, também do grego, refere-se ao
“conjunto dos saberes”. Desta forma, a tecnologia é um objeto de estudo constante na
ciência e na engenharia, envolvendo várias técnicas, instrumentos e métodos que apontam
a resolução de situações problemáticas (MAIA et al. 2020). O termo “tecnologia” veio da
revolução industrial, no final do século XVIII, e desde então vem se expandido para
diversas outras áreas.
No meio rural as tecnologias são acrescentadas aos poucos, a grande mudança veio
juntamente com a revolução industrial, onde passaram a ser produzidos implementos
agrícolas, que aprimoraram as atividades no campo, por reduzirem o tempo gasto nas
atividades, além de facilitar as mesmas e elevar significativamente a produção,
possibilitando inclusive a expansão da área agrícola (SCHWAB, 2019).
Nas últimas décadas, tornou-se muito comum associar a tecnologia com a
agricultura, destacando-se, por exemplo, o uso do GPS (Sistema de Posicionamento
Global) em tratores e implementos agrícola, celulares para verificação de dados
meteorológicos em tempo real e afins (DA SILVA, 2021).

EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE TECNOLOGIA NA AGRICULTURA

Nos primórdios das civilizações a agricultura era praticamente um trabalho de


subsistência, com baixa tecnologia, caracterizada pela realização de atividades de forma
manual, havendo poucos instrumentos para facilitar a produção (NETO e PENNA, 2019).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Esse cenário perdurou-se por um longo período, até que começaram a surgir as primeiras
ferramentas manuais e em seguida o uso de animais.
Segundo Feldens (2018), neste período longo e de pequena evolução, é difícil
determinar com exatidão quando, onde e como ocorreram esses pequenos
aprimoramentos, havendo especulações sobre a Mesopotâmia, ou ainda na civilização
egípcia, e até mesmo na Babilônia. Contudo, é inegável que estas civilizações
apresentaram avanços colossais para suas eras, podendo incluir nesta lista outros povos
como os romanos, gregos e os povos das Américas.
Entretanto com a chegada das máquinas e implementos agrícolas ocorreu uma
grande expansão nas áreas cultivadas, trazendo benefícios jamais vistos até aquele
94
momento para o desenvolvimento do segmento, que com o passar do tempo obteve cada
vez maior destaque (DA SILVA e WINCK, 2019).

Fases da Agricultura

Existe a possibilidade de observar que a evolução na agricultura foi dividida em


fases como está detalhada na Figura 1, demonstrando o desenvolvimento, desde a
agricultura 1.0 até a esperada e cogitada agricultura 5.0.

Figura 1. Evolução da agricultura 1.0 para a agricultura 5.0.

Fonte: Extraído Mendes et al. (2020).


2021 Gepra Editora Barros et al.

Agricultura 1.0

O maior período da agricultura até o momento compreende a Agricultura 1.0, onde


a tecnologia mais usada eram as próprias mãos dos agricultores e está marcada por ser
eminentemente destinada à subsistência dos produtores. Nesse período, o uso da tração
animal era comum para diversas operações agrícolas. Durante muito tempo, essa foi a
tecnologia que mais causou impacto nas atividades do campo, uma vez que permitiu a
introdução de ferramentas como o arado e a carroça (DOS SANTOS et al. 2019).
Nesse período existem relatos e até provas físicas do uso da água na agricultura,
segundo Feldens (2018) em 2.300 a.c. os egípcios mantinham suas lavouras próximos ao
rio Nilo onde por canais de vazão controlada traziam a água e utilizavam-na como método 95
a irrigação artificial em suas plantações, posteriormente identificou-se outras civilizações
com técnicas ainda rudimentares com a finalidade de irrigar e produzir mais alimentos
para o povo que crescia ligeiramente, dentre essas civilizações estavam os
mesopotâmicos, gregos, romanos e povos da américa pré-colombiana (BARBOSA e
MARTINS, 2019; DA SILVA et al. 2020; JUNQUEIRA, 2019) .

Agricultura 2.0

Nesse período encontra-se uma diferença grande de tecnologia em comparação ao


anterior, com o passar dos anos a tração animal foi gradualmente sendo substituída pela
força mecânica (motor à combustão). Foram então desenvolvidas as máquinas agrícolas
que passaram a ser o símbolo da Agricultura 2.0 (SANTOS, 2019; SANTOS et al.2019).
Para a Weltzien (2016) também ocorreram outros avanços como a melhoria nos
implementos agrícolas, os pesticidas para o controle de insetos invasores, herbicidas no
controle de plantas invasoras e os fertilizantes que corrigiam o solo e disponibilizavam
maior quantidade de nutrientes para as plantas.
Se na agricultura 1.0 utilizavam-se animais para arar o solo ou transportar
alimentos, nessa nova etapa utilizaram-se as máquinas, trazendo maior agilidade, pois
cultivavam uma área maior de solo no mesmo período de tempo. Também era possível
escoar os alimentos em maior quantidade para os grandes centros urbanos (LISBINSKI
et al. 2020).
Em relação a irrigação, nessa fase ocorreu um “boom”, onde já existem sistemas de
bombeamento hidráulico e são desenvolvidos os sistemas de irrigação localizada ainda
na década de 60 em Israel com a chegada dos tubos de PVC (cloreto de poli vinil) e
polietileno de baixa densidade (GALLON, 2015).

Agricultura 3.0

O ponto principal da Agricultura 3.0 foi o desenvolvimento e a aplicação do Global


Positioning System (GPS) no meio agrícola, sendo uma tecnologia fortemente empregada
até os dias atuais segundo Oliveira et al. (2020). A criação desse sistema beneficiou muito
os agricultores, favorecendo o gerenciamento de suas áreas, permitindo detectar e
manejar variações de fertilidade dentro de uma mesma área, por exemplo. Tendo uma
2021 Gepra Editora Barros et al.

maior precisão no plantio, adubação e aplicação de defensivos agrícolas, dentre outros


benefícios.
O monitoramento e a gestão de qualidade de todos os insumos aplicados na lavoura
passaram a ser prioridade. O nome dado a essa evolução foi a famosa agricultura de
precisão, caracterizada por uma maior eficiência com menor utilização de recursos,
refletindo em vantagens, tanto aos produtores, quanto aos consumidores (DE CAMPOS
BERNARDI et al. 2017).
A partir da agricultura de precisão, aumentaram os estudos sobre a forma de
utilização de diversas técnicas na agricultura, repercutindo na forma de utilização da água,
por exemplo, aumentando a eficiência e utilização dos sistemas de irrigação localizada,
96
possibilitando sua utilização na realização de outras atividades como a aplicação de
fertilizantes junto a irrigação (fertirrigação) otimizando ainda mais o sistema (MOTA,
2020).

Agricultura 4.0

A agricultura 4.0 é considerada por muitos especialistas como a fase atual (2021)
da agricultura, apresentando como características a automação e conectividade entre as
ferramentas. As informações recolhidas, sejam dados climatológicos ou provenientes de
imagens aéreas, entre outras, alimentam uma nuvem (conceito de dados na internet) que
permite a construção de extensos bancos de dados que favorecem a tomada de decisão.
Esse sistema é conhecido como Agricultura Inteligente (SORDI e VAZ, 2021).
Um dos grandes avanços nessa área foi o aparecimento das RPAs (Aeronaves
Remotamente Pilotadas), um instrumento facilitador na supervisão remota de grandes
áreas sem a necessidade de ir ao campo. Com as RPAs são obtidas imagens de alta
qualidade e com algumas informações importantes, facilitando o reconhecimento de áreas
com problemas (NASCIMENTO, 2020). Outro meio de adquirir informações via imagens
é a utilização de satélites com sensores calibrados e com maiores bandas espectrais e de
maior alcance, porém de uma periodicidade mais restrita (BARBOSA, 2021).
Como verificado anteriormente nesta etapa encontram-se as melhores tecnologias
empregadas até o momento, tornando mais sustentável o meio rural. Retomando ao uso
da água para a irrigação, pode-se identificar o uso de informações constantes de clima,
umidade do solo, evapotranspiração das plantas entre outros, para determinar a
quantidade exata de água necessária para o desenvolvimento diário da planta, essa
conexão, porém, ainda necessita de interferências humanas (SAUSEN et al. 2021).

Agricultura 5.0

A agricultura 5.0, é considerada uma fase futura da agricultura. De acordo com


alguns especialistas, será provável que a partir do ano de 2022 esta fase passará realmente
a ser implementada, sendo caracterizada não apenas pelas tecnologias relacionadas à
automação e conectividade, mas envolvendo o conceito de autonomia (robotização e
inteligência artificial) de gestão do sistema, como o uso de piloto automático na operação
2021 Gepra Editora Barros et al.

das máquinas, contando com mais informações disponíveis e formando uma rede com
uma gama maior de dados (DOS SANTOS et al. 2019).
Com a possibilidade da inteligência artificial será possível acompanhar à distância
o que acontece no campo, pela tela do celular ou computador em tempo real. A irrigação
poderá ser comandada por essa inteligência, de forma que a interferência humana durante
o processo seja dispensável (MENDES et al., 2020).

APLICAÇÕES DA AGRICULTURA 5.0

Ao realizar prospecções das próximas décadas, a primeira imagem que surge são 97
tecnologias futuristas, porém, quando o assunto é a agricultura, é necessário ter o pé no
chão. As tecnologias neste segmento geralmente são implementadas após um certo
período de experiência em outros setores que naturalmente apresentam resultados e
modificações mais dinâmicas.
Com a tecnologia em pleno desenvolvimento, os avanços na direção autônoma para
automóveis, com o objetivo de detectar objetos por meio de sistemas de múltiplas câmeras
e radar, pode-se dizer que reduziram o custo de desenvolvimento de maquinário agrícola
autônomo (HALACHMI, 2003; CHENG, 2016). Assim a agricultura 5.0 antevê a
utilização de sistemas mais autônomos em ambientes rurais.
Para grande parte dos agricultores de maior expressão, os equipamentos autônomos
já são considerados uma realidade, não sendo limitados apenas para grandes maquinários
agrícolas. Um grande exemplo são as maquinas de ordenha robotizadas, que atualmente
já estão sendo utilizadas (HANSEN, 2015; DEMIR, 2017; ZAMBON et al, 2017).
Em seu trabalho, Al-Razgan (2016) constatou que a grande maioria das operações
no campo podem ser automatizadas, porém existe um gargalo como a colheita de produtos
hortícolas e frutas e também de algumas áreas com declividade acentuada, que mesmo
em países de grande aquisição financeira, torna-se comum o uso de trabalho manual.
Segundo Zhang et al. (2012) existe um interesse em reprodução de robôs e tratores
de menor tamanho, apresentando um sistema integrado com a inteligência artificial,
conhecida como a autoaprendizagem, para ter um grau elevado de autonomia, podendo
citar, a aplicação de herbicidas apenas nas plantas invasoras utilizando os dados
preexistentes no sistema para fazer a leitura e a aplicação do produto.
A colaboração entre vários veículos robotizados, tanto terrestres, quanto aéreos,
como o exemplo de pequenos drones “conversando” e cooperando entre si pode ser
considerado o ápice previsto para agricultura 5.0 (ZAMBON et al., 2017)
Com o conhecimento das tecnologias mais recentes identifica-se os sensores de
força e o sistema de visão aprimorados, onde o primeiro permite que a última geração de
robôs manipule objetos frágeis ou objetos de formas variáveis, e o segundo não só têm
recursos de rastreamento de objetos em tempo real, mas já adquiriram recursos de
classificação e conceituação, de modo que são capazes de auto aprender figuras e objetos,
para distingui-los com base em detalhes, colocando-os em diferentes categorias (GREGO
et al. 2020).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Com um olhar crítico, pode-se dizer que essa nova fase chegará para superar tudo
do que se tem conhecimento até o momento, elevando a agricultura para um patamar onde
a sustentabilidade e o uso racional de materiais são o foco.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na agricultura 5.0 espera-se maior interação entre as máquinas e o meio ambiente,


garantindo alta adaptabilidade do sistema. Resultados surpreendentes poderão ser obtidos
ao combinar tecnologias mecânicas, inteligência artificial, sensibilidade e adicionando
um mínimo de habilidades de tomada de decisão, seguindo a tendência de autonomia. 98
Portanto, com todas essas informações citadas ao longo desta pesquisa, destaca-se
que, embora, a agricultura já tenha vislumbrado avanços inimagináveis em relação aos
seus primórdios, ainda é possível traçar patamares futuros de evolução quase sem
precedentes, basta que o conhecimento e a forma de o utilizar sejam empregadas
adequadamente pelo ser humano.

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Capítulo 9

ALIMENTO FUNCIONAL: BISCOITO COM EXTRATO DE


PRÓPOLIS VERMELHA

SILVA, Lívia Manuela Oliveira da


Pós-graduanda em Bioquímica e Fisiologia
Universidade Federal de Pernambuco
liviamosilva@gmail.com

NASCIMENTO, Natalia Miranda do


Pós-graduada em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Instituto Federal Fluminense 104
nataliamestrealimentos@gmail.com

CONSTANT, Patrícia Beltrão Lessa


Pós-graduada em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Instituto Federal Fluminense
pblconstant@yahoo.com.br

NASCIMENTO, Ticiano Gomes do


Pós-graduado em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos
Instituto Federal de Alagoas
ticianogn@yahoo.com.br

NASCIMENTO, Nataly Miranda do


Pós-graduada em Nutrição
Instituto Federal de Alagoas
natalymn86@gmail.com

RESUMO

Segundo a resolução RDC n° 263 de setembro de 2005 da Anvisa, os biscoitos ou


bolachas são os produtos obtidos pela mistura de farinha(s), amido(s) ou fécula(s) com
outros ingredientes, submetidos a processos de amassamento e cocção, fermentados ou
não. A adição de compostos bioativos, como a própolis vermelha, a alimentos como
biscoitos, por exemplo, tem a finalidade de enriquecer à formulação em termos
funcionais, visto que a própolis tem sido utilizada pelo homem devido às suas
propriedades funcionais e suas atividades antimicrobiana, anti-inflamatória, cicatrizante,
anestésica e antioxidante. O objetivo desse trabalho foi desenvolver formulações de
biscoito sem glúten, a base de fécula de batata doce e farinha de arroz, enriquecidos com
extrato de própolis vermelha em concentrações de 0,05%; 0,10%; 0,20% e 0,25% e uma
formulação controle para fins comparativos. Essas amostras foram submetidas às análises
de percentual de rendimento, umidade, lipídios, proteínas, cinzas, carboidratos e valor
calórico. Os parâmetros de umidade, proteínas, lipídios não apresentaram diferenças
significativas entre as formulações e controle. O resultado do percentual de rendimento
foi satisfatório, acima de 90% para todas as formulações. Através do desenvolvimento da
pesquisa conclui-se que é viável a elaboração de biscoitos sem glúten enriquecidos com
extrato de própolis vermelha; dessa forma, a pesquisa contribuiu para o desenvolvimento
de um produto alimentício potencialmente funcional, havendo a possibilidade de atender,
inclusive, ao público intolerante ao glúten.

PALAVRAS-CHAVE: Bolacha, Celíacos, Compostos antioxidantes.


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INTRODUÇÃO

O Brasil é o terceiro maior produtor de biscoitos do mundo, ficando atrás da Índia


que é o segundo e Estados Unidos que está atualmente em primeiro lugar. As indústrias
Brasileiras desse ramo além de apresentarem uma alta capacidade produtiva, possuem
uma estrutura moderna. Isso sem contar com os aspectos de inovação, marketing,
atendimento e qualidade, que colocam o grupo dos produtores locais no topo da
preferência quanto a realização de negócios (ABIMAPI, 2020).
O biscoito é um produto consumido internacionalmente por todas as classes sociais,
e de acordo com a preferência do consumidor, pois são ofertados sob diferentes formas,
tamanhos, tipos e sabores (MORAES et al., 2010). 105
Segundo Moretto e Fett (1999) os biscoitos ou bolachas são classificados de acordo
com os ingredientes que os caracterizam ou pela sua forma em que se apresentam.
Podendo ser do tipo salgado, quando contém a substância cloreto de sódio em quantidades
que acentue o sabor salgado, do tipo doce, se tiverem açúcar, recheados, quando
possuírem recheio, e revestidos se apresentarem um revestimento apropriado.
De acordo com a resolução RDC n° 263 de setembro de 2005 da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária, os biscoitos ou bolachas são os produtos obtidos pela mistura de
farinha(s), amido(s) ou fécula(s) com outros ingredientes, submetidos a processos de
amassamento e cocção, fermentados ou não (BRASIL, 2005b). Estes produtos são de
grande interesse comercial, por possuírem elevado tempo de comercialização e boa
aceitação comercial.
A fim de atender as necessidades de cada consumidor e agregar valor aos biscoitos,
nestes podem ser adicionados alimentos com diversos nutrientes, dentre eles os que
contêm elevados antioxidantes naturais (bioativos).
A própolis vermelha é um composto bioativo proveniente da ação de abelhas sobre
a Dalbergia ecastophillum da família Fabaceae (Leguminosae), da região nordeste do
Brasil, especificamente do estado de Alagoas, e apresenta maiores percentuais de fenóis
totais e o terceiro maior teor de flavonoides totais quando comparadas às demais própolis
brasileiras (ALENCAR et al., 2007; RIGHI, 2008).
A mudança no estilo de vida da população reflete bastante nos hábitos alimentares.
Atualmente os consumidores apresentam maior exigência por alimentos que possuam
qualidade nutricional, que apresentem benefícios a saúde, e dessa forma fazem surgir
novos produtos no mercado e na indústria de panificação, bem como em todo o setor
alimentício. Sendo assim, existe uma crescente preocupação com a qualidade dos
alimentos, principalmente para atender as necessidades dos consumidores, dentre eles os
celíacos (FAO, 2020).
A doença celíaca é uma enteropatia autoimune causada por uma sensibilidade
perdurável ao glúten. Nos indivíduos celíacos a ingestão do glúten, principal proteína
presente na farinha de trigo, desencadeia reações imunológicas tóxicas que resulta em
danos à superfície da mucosa do intestino delgado, desta forma, interferindo na absorção
de nutrientes. A substituição do glúten é hoje uma das questões desafiadoras para a ciência
e tecnologia de alimentos, e o desenvolvimento de alimentos alternativos com idênticas
características de qualidade dos produtos que contenham glúten é um ponto crucial. Além
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disso, o perfil nutricional dos alimentos sem glúten também pode ser um desafio, por
exemplo, devido ao seu baixo teor de fibra alimentar. Biscoitos, massas, pizzas e bolos
sem glúten, que podem ser incluídos nas dietas dos pacientes com doença celíaca, são
muitas vezes baseados em amidos puros, resultando em um paladar seco, arenoso e
qualidade alimentar pobre (HAMER, 2005).
Levando em consideração a questão da mudança no estilo de vida da população que
é atualmente muito observado nos hábitos alimentares, tornou-se viável um estudo que
favorecesse o desenvolvimento de um produto alimentício que atenda ao público celíaco
e, que em conjunto, possa trazer benefícios de um alimento funcional, além de atender o
consumidor em sua qualidade nutricional.
106

MATERIAL E MÉTODOS

Matéria-prima

Os insumos utilizados para a elaboração dos biscoitos foram: farinha de arroz;


fécula de batata; açúcar demerara; manteiga; banana prata; ovos; cacau 100%; extrato de
própolis vermelha comercial do fabricante Fernão Velho. Todos os itens foram obtidos
em uma loja de produtos naturais da cidade de Maceió, com exceção do extrato de
própolis vermelha, que foi adquirido na Cooperativa Fernão Velho em Maceió-AL, já
preparado, em forma de solução de extrato alcóolico.

Formulações dos biscoitos

Os biscoitos foram elaborados no Laboratório de Processamento de Alimentos do


Instituto Federal de Alagoas Campus Batalha.
Na Tabela 1 encontram-se as formulações elaboradas de biscoito sem glúten
controle (branco) e biscoitos com a adição de extrato de própolis vermelha (PV). As
quantidades de extrato variaram de acordo com a concentração da respectiva formulação.
Foi elaborada uma formulação controle, ou seja, sem adição de extrato de própolis
vermelha e foram preparadas formulações com concentração de 0,05%, 0,10%, 0,20% e
0,25% de extrato de própolis vermelha.
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107

Na Figura 1 é apresentado o fluxograma do processo de produção dos biscoitos:

Figura 1. Fluxograma padrão de produção dos biscoitos.

Fonte: Autores (2018).

a) Pesagem: os ingredientes foram pesados em balança analítica.


b) Mistura: os ingredientes foram homogeneizados de forma manual.
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c) Adição do extrato: o extrato de própolis vermelha foi adicionado à mistura


e homogeneizado.
d) Homogeneização: após a mistura manual da massa, a mesma foi enrolada
em plástico filme de pvc e foi armazenada sob refrigeração para descansar por 30 minutos.
e) Corte: a massa foi espalhada com um rolo de plástico em uma bancada de
aço inox, untada com farinha de arroz. Foi realizado o corte dos biscoitos com 35 mm de
diâmetro utilizando forminhas de confeitaria de polipropileno.
f) Assamento: em seguida, as amostras foram colocadas em formas de aço e
levadas ao forno pré-aquecido. Os biscoitos foram assados à uma temperatura de 180 ºC
por 15 minutos.
108
g) Armazenamento: após o assamento e resfriamento, os biscoitos foram
armazenados em recipientes com tampa, foscos de polipropileno, com capacidade de
armazenamento de até 800 gramas.

Análise do Rendimento

O cálculo para rendimento foi realizado em relação à quantidade de matéria-prima


e ingredientes usados no início do processamento dos biscoitos e a quantidade do produto
obtido após o assamento ou cocção (Equação 1).

MT X 100
%Rendimento = (1)
MI

Em que:
MI – massa inicial dos ingredientes;
MT – massa total dos biscoitos.

Metodologia para Análise de Composição Centesimal

A avaliação da composição centesimal foi realizada de acordo com os seguintes


parâmetros e metodologias: Umidade (IAL, 2008); Lipídios (IAL, 2008); Proteínas (IAL,
2008); Cinzas (IAL, 2008); Carboidratos (por diferença) e Valor Calórico (conversão dos
valores obtidos: proteínas e carboidratos multiplicados 4 Kcal/g e lipídios multiplicados
por 9 Kcal/g (BRASIL, 2005b)). Todas as análises foram realizadas em triplicata.

Análise Estatística

Para análise estatística dos dados utilizou-se o aplicativo Agroestat (Sistema para
Análises Estatísticas de Ensaios Agronômicos) versão 1.1.0.712 2014, utilizando o teste
Tukey com 0,05 de significância para comparação das médias.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Análise do Rendimento

O cálculo para rendimento foi feito em relação à quantidade em gramas do total de


ingredientes usados no início do processamento dos biscoitos e a quantidade em gramas
de produto no final, obtida após o assamento ou cocção.
Desta forma, o percentual de rendimento obtido em todas as amostras elaboradas
apresentou as médias demonstradas na Tabela 2:
109
Tabela 2. Análise do rendimento dos biscoitos
Análise do rendimento (%) Amostras dos Biscoitos
Branco EX05 EX10 EX20 EX25
Massa total da mistura antes da cocção (g) 700g 700g 700g 700g 700g

Massa total da mistura após a cocção (g) 660g 649g 650g 659g 650g

Rendimento das formulações (%) 94% 93% 93% 94% 93%

Branco: amostra de biscoito sem extrato de própolis vermelha; EX05: biscoito com 0,05% de extrato de própolis
vermelha; EX10: biscoito com 0,10% de extrato de própolis vermelha; EX20: biscoito com 0,20% de extrato de própolis
vermelha; EX25: biscoito com 0,25% de extrato de própolis vermelha. Fonte: Autores (2018).

Assim, pode-se observar que os biscoitos apresentaram um alto rendimento (>


90%).
Mauro, Silva e Freitas (2010), processaram biscoitos com farinhas de talo de couve
e farinhas de talo espinafre. Segundo os autores, o rendimento dos talos foram os
seguintes: a partir de 13 kg de couve manteiga e de espinafre obtiveram-se 27 e 44,56%
de talos dos vegetais folhosos, respectivamente. Esses talos renderam 5,4% de farinha de
talo de couve e 3,8% de farinha de talo de espinafre. O rendimento das farinhas foi
reduzido em decorrência do alto teor de umidade dos talos in natura: U = 95,08% (± 0,16)
para os talos de couve e U = 96,07% (± 0,22) para os talos de espinafre.
Queiroz et al. (2017), elaboraram os seguintes biscoitos: uma formulação padrão (FP) que
não possuía adição de farinha de coco, modificação da formulação padrão com
substituição da fécula de batata por 10% de farinha de coco (F1); modificação da
formulação padrão com acréscimo de 5% de farinha de coco (F2) e modificação da
formulação padrão com substituição do polvilho doce por 5% de farinha de coco (F3).
Após o assamento, as formulações enriquecidas com farinha de coco apresentaram
redução de peso pós-cocção entre 1,89 g e 2,42 g, não diferindo significativamente (p >
0,05) entre si, contudo diferiram da formulação Padrão (FP) que apresentou maior
redução de peso pós-cocção (3,32 g). Não foram observadas diferenças de aumento de
diâmetro pós-cocção entre os tratamentos (p > 0,05). O rendimento também foi alterado
em função das variações de farinhas (polvilho doce ou fécula de batata) e a adição de
farinha de coco. É importante destacar que os biscoitos F1 e F3 não diferiram (p > 0,05)
quanto ao rendimento, porém diferiram (p < 0,05) da FP, indicando que variações desse
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tipo de ingrediente nas formulações podem melhorar o rendimento, o que é


considerado um aspecto positivo para ser utilizado pela indústria de alimentos.
Em trabalho realizado por Santos et al. (2011), o biscoito de farinha de buriti
enriquecido com aveia obteve rendimento maior quando comparado com o biscoito de
buriti sem aveia, pois com a adição de 4% de aveia na formulação obteve-se em média
160 biscoitos enquanto na formulação de biscoito de farinha de buriti sem aveia obteve-
se apenas 100. Esse maior rendimento ocorreu devido a adição de aveia na massa dos
biscoitos.
Desta forma, podemos inferir que os altos rendimentos das amostras desenvolvidas
por outros autores foram influenciados pelas farinhas utilizadas e umidade das matérias
110
primas, o mesmo ocorreu nas formulações desta pesquisa, corroborando para que o
presente trabalho oferte uma excelente alternativa de alimento funcional e sem glúten,
com alto rendimento de suas formulações, sendo mais uma opção para o mercado, além
de ser uma nova alternativa para o público celíaco.

Determinação da Composição Centesimal (Caracterização físico-química)

Na Tabela 3 são apresentados os resultados obtidos nas análises de composição


centesimal da amostra do biscoito Padrão e biscoitos enriquecidos com 0,05% (EX05);
0,10% (EX10); 0,20% (EX20) e 0,25% (EX25) de extrato de própolis vermelha.

Tabela 3. Análise de composição centesimal

Parâmetros Amostras
Branco EX05 EX10 EX20 EX25
Umidade (%) 4,03a ± 1,21 4,17a ± 0,37 4,57a ± 0,41 3,97a ± 0,46 3,99a ± 0,48
Proteínas (%) 2,93a ± 0,25 2,96a ± 0,35 3,96a ± 0,29 3,06a ± 0,15 3,16a ± 0,13
Lipídios (%) 20,22a ± 0,71 17,23a ± 0,96 17,63a ± 0,99 16,81a ± 0,22 16,71a ± 0,23
Cinzas (%) 1,04a ± 0,03 1,25b ± 0,07 1,45b ± 0,12 1,16c ± 0.01 1,19c ± 0.02
Carboidratos (%) 71,7a ± 0,37 72,3a ± 0,58 72,6a ± 0,62 74,98b ± 0,24 75,48b ± 0,21
Valor calórico 475,26a ± 10,96 461,19b ± 11,91 461,79b ± 11,85 454,32b ± 2,54 450,32b ± 2,47
(Kcal/100g)
*Em uma mesma linha com letras em comum não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5%. Fonte:
Autores (2018)

Como pode ser observado, os biscoitos não apresentaram diferenças significativas


com relação aos parâmetros de Umidade, Proteínas, Lipídios.
Os resultados de Umidade variaram entre 3,97% a 4,57%; as Proteínas entre 2,93%
a 3,96%, e os Lipídios entre 16,71% a 20,22%.
A baixa umidade das amostras desenvolvidas neste trabalho, ou seja, uma limitada
quantidade de água livre e água ligada, é um fator importante em biscoitos, pois inibe o
crescimento bacteriano, limita a deterioração enzimática, favorecendo uma maior vida de
prateleira para o produto (ISHERA; MAHENDRAN; ROSHANA, 2021).
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No entanto, no trabalho de Machado (2017), no qual foi elaborado um bolo


enriquecido com microcápsula a base de soro de leite de própolis vermelha, o mesmo
apresentou diferença estatística nos parâmetros de umidade, lipídios, proteínas e
carboidratos.
Segundo Giovanella et al. (2013), o teor de umidade dos biscoitos sem glúten
elaborados com farinha de quinua e fécula de batata variou de 2,4 a 3,7%. O biscoito tipo
cookie elaborado com 50% de aveia e 30% de óleo de canola apresentou 6,39% de
umidade no trabalho de Peres (2010); já os biscoitos com farinha de jatobá elaborados
por Silva, Silva e Chang (1998), apresentaram teores de umidade entre 8,44 e 10,9%.
Provavelmente, essas diferenças podem ter ocorrido devido aos diferentes ingredientes
111
utilizados na elaboração dos biscoitos além do processo de fabricação, principalmente em
relação às condições de temperatura e tempo que esses biscoitos ficaram no forno. As
condições ambientais das regiões também podem ter contribuído, ou seja, os fatores
extrínsecos.
Para Cauvain e Young (2002), a capacidade de absorção de água em alimentos da
área de panificação depende de dois fatores: o conteúdo de fibras e de proteínas da massa.
No entanto, outros fatores, como absorção de umidade ambiente, teor de amido
danificado, também pode esclarecer esse aumento.
A alta umidade presente em biscoitos pode favorecer as reações enzimáticas de
deterioração, bem como a multiplicação de microrganismos deteriorantes e patogênicos.
Além disso, afeta a qualidade sensorial do produto final, tornando a textura dos biscoitos
amolecida e desagradável, visto que um biscoito crocante agrada bastante sensorialmente
os consumidores.
Os parâmetros de cinzas e carboidratos apresentaram uma pequena variação sendo
o valor de cinzas entre 1,04% a 1,45% e o resultado de carboidratos entre 71,7% a
75,48%, variação que pode ter ocorrido devido a composição química complexa da
própolis vermelha. O valor de carboidratos encontrados por Machado (2017) no bolo
enriquecido com microcápsulas de própolis vermelha foi de 57,93%.
O valor calórico apresentou uma variação dentro do intervalo de 450,32 a 475,26
Kcal/100g, entre as amostras. A quantidade de manteiga, ovos e demais ingredientes
utilizados na formulação podem ter influenciado neste resultado entre as amostras. No
trabalho de Vieira et al. (2020) no qual foi elaborado um biscoito sem glúten do tipo
cookie com 40% de farinha de baru, o valor calórico encontrado foi de 140kcal/30g de
amostra.

CONCLUSÕES

Através do desenvolvimento da pesquisa foi possível observar e concluir que é


viável a elaboração de um biscoito sem glúten enriquecido com extrato de própolis
vermelha e dessa forma contribuir com a oferta, para o mercado e para os consumidores,
de um produto que tem potencial de um alimento funcional, além de ser uma opção de
alimentos para o público celíaco ou aqueles que possuem alguma intolerância à ingestão
do glúten. Assim, é possível que esse produto seja inserido na alimentação diária,
podendo oferecer benefícios a saúde.
2021 Gepra Editora Barros et al.

REFERÊNCIAS

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Capítulo 10

ALOCAÇÃO DE BIOMASSA EM Calotropis procera (Aiton) W. T.


Aiton EM FUNÇÃO DE DIFERENTES NÍVEIS DE
SOMBREAMENTO
COÊLHO, Ester dos Santos
Mestranda em Fitotecnia
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
estersantos12@hotmail.com

RIBEIRO, João Everthon da Silva


Docente na Universidade Estadual do Maranhão 114
Departamento de Tecnologia em Gestão do Agronegócio
j.everthon@hotmail.com

NÓBREGA, Jackson Silva


Doutorando em Agronomia
Universidade Federal da Paraíba
jacksonnobrega@hotmail.com

FÁTIMA, Reynaldo Teodoro de


Doutorando em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande
reynaldoteodoro@outlook.com

FIGUEIREDO, Francisco Romário Andrade


Doutorando em Fitotecnia
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
romarioagroecologia@yahoo.com.br

RESUMO

A flor-de-seda (Calotropis procera (Aiton) W. T. Aiton) é uma espécie com importantes


propriedades medicinais e ampla adaptação em condições semiáridas. Os fatores
abióticos influenciam de forma direta no crescimento e desenvolvimento dessa espécie,
sendo a luminosidade um dos mais importantes. Tendo em vista esse aspecto, o objetivo
deste trabalho foi avaliar o a alocação de biomassa em folhas, caules, raízes, e a razão
raiz/parte aérea em mudas de flor-de-seda sob diferentes níveis de sombreamento.
Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado, com 5 tratamentos (0%, 30%, 50%,
70% e 90% de sombreamento) e 8 repetições. As avaliações foram feitas aos 60 dias após
a emergência (DAE). Os dados foram submetidos à análise de variância pelo teste F
(ANOVA). Em casos de significância, utilizou-se a análise de regressão polinomial. Os
níveis de sombreamento influenciaram na alocação de biomassa nas plantas de flor-de-
seda. O nível de sombreamento de 90% promoveu maior alocação de biomassa nas folhas
e caules, contudo, o pleno sol favoreceu a alocação de biomassa nas raízes e aumentou a
razão raiz/parte aérea. A flor-de-seda possui uma plasticidade fenotípica para os níveis de
intensidade luminosa.

PALAVRAS-CHAVE: Luminosidade, Apocynaceae, Flor-de-seda.


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INTRODUÇÃO

A Apocynaceae é uma família que abrange cerca de 5000 espécies, com


predominante distribuição em regiões pantropicais e subtropicais (COUTINHO;
LOUZADA, 2018). No Brasil, há aproximadamente 754 espécies com ampla distribuição
fitogeográfica (BFG, 2015). Dentre as espécies que compõem essa família, a flor-de-seda
[Calotropis procera (Aiton) W. T. Aiton], é comumente encontrada na região Nordeste
do Brasil, devido a sua capacidade de adaptação em condições semiáridas
(FABRICANTE et al., 2013; FIGUEIREDO et al., 2019; RIBEIRO et al., 2019).
Apesar de ser considerada como uma erva daninha, a flor-de-seda possui
importantes propriedades medicinais, com eficiência no tratamento de tumores, úlceras e 115
doenças gastrointestinais (PATTNAIK et al., 2017)
Embora as condições ambientais não sejam fatores isolados que atuam sobre o
crescimento e desenvolvimento das plantas (LENHARD et al., 2013), são de grande
importância para as espécies, podendo influenciar positivo ou negativamente. Os fatores
abióticos como temperatura, disponibilidade hídrica e luminosidade em condições
desfavoráveis podem reduzir o vigor das plantas (SANTOS et al., 2014), bem como
influenciar sua fisiologia e metabolismo (FREITAS; MITCHAM, 2012).
Dentre os fatores abióticos, a luminosidade por meio do aumento ou diminuição
dos níveis de irradiância reflete importância no desenvolvimento das espécies, uma vez
que regula a produção primária (FELSEMBURGH et al., 2016), e ocasiona alterações
morfofisiológicas (GOBBI et al., 2011), como por exemplo na anatomia foliar, estrutura
dos cloroplastos e na distribuição de fotoassimilados na planta (GONDIM et al., 2008).
A quantidade de luz interceptada pelas folhas sob condições de maior ou menor
intensidade pode promover o ajuste do seu comportamento fisiológico (DAPONT et
al.,2016), tais como a alteração na síntese dos pigmentos, os quais influenciam na
capacidade da captura de luz pelas plantas (TAIZ et al., 2017). Sendo assim, a eficiência
do crescimento e desenvolvimento das plantas pode refletir a adaptação das espécies às
condições de irradiância do ambiente (ALMEIDA et al., 2005).
Tendo em vista esses aspectos, o sombreamento artificial por meio do uso de telas
é uma técnica utilizada com o objetivo de controlar os fatores ambientais, principalmente
a intensidade luminosa e a temperatura da planta, formando assim um microclima, tendo
respostas variadas de acordo com a espécie (CARON et al., 2010; STRECK et al., 2007).
Deste modo, para que haja o desenvolvimento adequado das plantas é importante a
determinação da intensidade luminosa (EMER et al., 2017), uma vez que pode ser
considerada como uma prática que isola e quantifica o efeito da irradiância, fornecendo
condições uniformes de iluminação, em comparação às condições naturais (RÊGO;
POSSAMAI, 2006).
Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi avaliar o a alocação de biomassa
em folhas, caules, raízes, e a razão raiz/parte aérea em mudas de flor-de-seda sob
diferentes níveis de sombreamento.
2021 Gepra Editora Barros et al.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado em ambiente protegido (casa de vegetação) pertencente ao


Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais, do Centro de Ciências Agrárias
(CCA), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Campus II, Areia, Paraíba, Brasil.
Durante a condução do experimento, mensurou-se a temperatura e umidade relativa do ar
por meio de um termo-higrômetro (Minipa, modelo MT-241A), registrando 28,3°C e
54,5%, respectivamente.
As sementes de C. procera foram coletadas em matrizes adultas pertencentes ao
município de Catolé do Rocha, estado da Paraíba, Brasil. Antes da semeadura, as
sementes foram embebidas em água durante 12 horas e posteriormente foram colocadas 116
em vasos plásticos (capacidade de 5 dm³) com substrato formulado a partir de terra
vegetal e areia (3:1), cujos atributos químicos estão localizados na Tabela 1.

Tabela 1. Atributos químicos do substrato utilizado no experimento.


P K Na H+Al Al Ca Mg SB CTC M.O.
3 3
pH em H20 mg dm cmolc dm g kg-1
5,5 4,7 110,4 0,19 4,27 0,65 2,73 0,59 4,47 5,48 29,86
SB: soma de bases; CTC: capacidade de troca de cátions; M.O.: matéria orgânica.

Para a semeadura, foram utilizadas cinco sementes por vaso e o desbaste foi
realizado aos 30 dias após a emergência (DAE), selecionando os indivíduos com média
de 5 cm de altura. Posteriormente, os indivíduos foram submetidos aos níveis de
sombreamento, iniciando-se as avaliações aos 60 dias após a emergência (DAE). O local
de implantação da pesquisa, apresenta cobertura e localização específica para que não
haja alteração da luminosidade nos diferentes níveis sombreados durante o dia. Durante
a condução da pesquisa, a irrigação das planas ocorreu diariamente, mantendo-se
aproximadamente 80% da capacidade de campo, com a pesagem e rotação dos vasos.
Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado, com cinco níveis de
sombreamento (0%, 30%, 50%, 70% e 90% de sombreamento) e oito repetições, sendo
cada parcela composta por uma planta.
No final do período experimental, aos 60 dias após a emergência, as plantas foram
separadas em folhas, caules e raízes. Posteriormente, o material coletado foi separado e
acondicionado em sacos de papel e conduzidos para estufa com circulação forçada de ar
a 65°C até atingir a massa seca constante. A partir disso, foram calculadas a relação entre
a massa seca de raízes e parte aérea (R/PA), a alocação de biomassa em folhas (ABF),
alocação de biomassa em caules (ABC) e alocação de biomassa em raízes (ABR), sendo
determinadas por meio das fórmulas a seguir (BENINCASA, 2003):
, , ,

em que: MSF: massa seca de folhas; MSC: massa seca de caules; MSR: massa seca de
raízes; e MST: massa seca total.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Os dados foram submetidos à análise de variância pelo teste F (ANOVA). Em casos


de significância, utilizou-se a análise de regressão polinomial, ajustando-se as curvas
representativas. Para realização das análises estatísticas dos dados utilizou-se o programa
SAS® (CODY, 2015).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Houve diferenças significativas entre os tratamentos para alocação de biomassa nas


folhas (P < 0,05, Tabela 2). As plantas conduzidas em pleno sol (0%) apresentaram menor
alocação de biomassa nas folhas (ABF) estimado em 0, 5290 g planta-1 (Figura 1). No 117
entanto, esse valor aumentou em 34,8% à medida que maiores níveis de sombreamento
foram empregados. O maior valor encontrado para a ABF, foram nas plantas submetidas
ao sombreamento de 90% (0,8113 g planta-1) (Figura 1).

Tabela 2. Análise de variância (ANOVA) para alocação de biomassa nas folhas, caules
e raízes, e relação entre raiz e parte área de plantas de Calotropis procera submetidas
níveis de sombreamento. **significativo a 1% pelo teste F; *significativo a 5% pelo teste
F.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 1. Alocação de biomassa em folhas (ABF) de plantas de Calotropis procera


submetidas a níveis de sombreamento.

118

O aumento da biomassa nas folhas em condições de baixa luminosidade,


corresponde a uma adaptação das plantas às condições de luz, possibilitando o ajuste nos
padrões de alocação de biomassa, e consequentemente no comportamento fisiológico
(SOUZA; FREIRE, 2018; MOTA et al., 2012). Além disso, essa mudança no padrão de
alocação de biomassa nas plantas em condições de sombreamento ocasiona um maior
investimento de carbono nas folhas, tendo em vista a possibilidade de potencializar a
captura de luz, bem como priorizar o crescimento de parte aérea (LOPES et al., 2017;
GUENNI et al., 2008). Resultados semelhantes foram obtidos por Silva et al. (2018), em
seu estudo com mudas de diversas espécies florestais em diferentes condições de
sombreamento, os quais constataram que em pleno sol a ABF das plantas reduziu, e
quando condicionadas em maior índice de sombreamento pôde-se observar um aumento
na ABF dos indivíduos.

Em relação a alocação de biomassa nas raízes, observaram-se diferenças


significativas entre os tratamentos para a alocação de biomassa nas raízes (P < 0,05,
Tabela 2). A alocação de biomassa em caules (ABC) seguiu a mesma tendência, com o
maior valor obtido em plantas expostas ao sombreamento de 90% (0,3500 g planta-1)
(Figura 2). De modo que, houve um acréscimo de 57,15% em relação as plantas expostas
em pleno sol e as plantas mantidas no sombreamento de 90% (Figura 2). Os resultados
obtidos para ABC indicam que maiores níveis de sombreamento, favorecem o
crescimento em altura, uma vez que sob essas condições a planta aumenta a sua alocação
de biomassa nos caules.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 2. Alocação de biomassa em caules (ABC) de plantas de Calotropis procera


submetidas a níveis de sombreamento.

119

Dentro desse contexto, em algumas situações em que as plantas são submetidas ao


sombreamento pode ser ocasionado o estiolamento, a fim de permitir uma modificação
morfológica na planta e com isso ajudar na captação de luz (WANG et al., 2009; MAPES
et al., 2014). Gil (2019) em seu estudo com mudas de Eugenia uniflora em condições de
sombreamento, retrata que a mudança do padrão de alocação de biomassa favorece o a
alongamento do caule e que em um nível de sombreamento acima de 50% modifica o seu
desenvolvimento, crescimento e alocação de biomassa, a fim de melhorar a captação de
luz.

Houve diferenças significativas entre os tratamentos para a alocação de biomassa


em raízes (P < 0,05, Tabela 2). Para a alocação de biomassa em raizes (ABR), podem-se
observar reduções lineares à medida que se elevou o nível de sombreamento (Figura 3).
As plantas condicionadas em pleno sol, apresentaram maiores valores de ABR com
0,1746 g planta-1 (Figura 3). Com isso, foi constatado uma redução de 64,72% na ABR
de plantas submetidas ao nível de 90% de sombreamento (Figura 3). A ABR foi
favorecida pela condição do pleno sol, indicando que nessas condições há uma maior
translocação de fotoassimilados para o sistema radicular (SOUZA; FREIRE, 2018).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 3. Alocação de biomassa em raízes (ABR) de plantas de Calotropis procera


submetidas a níveis de sombreamento.

120

Os resultados obtidos para ABR, ABF e ABC evidenciam que na condição de pleno
sol, será ocasionada uma menor disponibilidade hídrica para as plantas devido a maior
perda de água por evaporação e com isso é reduzido o crescimento da parte aérea e
favorecido o crescimento de raízes (MOTA et al., 2012).
A ABR elevada é uma característica vantajosa, uma vez que confere a planta uma
maior resistência em condições adversas, bem como permite um maior crescimento das
raízes e aumenta a capacidade de exploração em camadas mais profundas solo (SOUZA;
FREIRE, 2018). Em contrapartida, a menor ABR observada nas plantas sombreadas
relaciona-se com a baixa temperatura do ambiente, uma vez que com o sombreamento
pode ser reduzido até 5ºC, diminuindo também a taxa de evaporação e permitindo que a
umidade do solo seja mantida, ocasionando assim um menor desenvolvimento das raízes
(FONSECA et al., 2002; FREITAS et al., 2017). A menor ABF e ABC constatadas em
plantas no pleno sol, pode ter influenciado diretamente na quantidade de biomassa
alocada nas raízes sob estas condições (FAN et al., 2014).
A relação entre a massa seca de raiz e parte aérea (R/PA) diferiu significativamente
entre os diferentes níveis de sombreamento (p < 0,05) (Tabela 2). Os maiores valores da
razão entre raiz e parte aérea foram constatados nas plantas a pleno sol (0,2119 g planta-
1
) (Figura 4). Com o acréscimo do nível de sombreamento, a razão R/PA foi reduzida em
68,81%, sendo o menor valor obtido no sombreamento de 90% (0,0661 g planta-1) (Figura
4). A razão R/PA pode ser um indicativo de qualidade das mudas, bem como importante
para estabelecer a resistência da planta a possíveis estresses abióticos (VALADÃO et al.,
2014).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 4. Relação entre massa seca de raízes e parte aérea (R/PA) em plantas de
Calotropis procera submetidas a níveis de sombreamento.

121

A alta razão R/PA constatada nas condições de pleno sol, indica uma eficiência de
adaptação das plantas à ambientes com maior irradiância, e que em ambientes sombreados
a flor-de-seda pode ter seu crescimento e desenvolvimento limitado (FIGUEIREDO et
al., 2019). Resultados semelhantes de relação R/PA foram obtidos por Freitas et al. (2017)
em seu estudo analisando o desenvolvimento de mudas de Jacaranda brasiliana sob
influência do sombreamento.

CONCLUSÃO

A flor-de-seda possui uma plasticidade fenotípica para os níveis de intensidade


luminosa, pois no nível de 90% foi promovida maior ABF e ABC e em pleno sol ocorreu
o aumento da ABR e da razão raiz/parte aérea.

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124
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 11

ALOCAÇÃO DE FITOMASSA E CRESCIMENTO DE ALFAZEMA


BRAVA SOB SALINIDADE E ÁCIDO SALICÍLICO

Nóbrega, Jackson Silva


Pós-graduando em Agronomia
Universidade Federal da Paraíba
jacksonnobrega@hotmail.com

Fátima, Reynaldo Teodoro de


Pós-graduando em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande 125
reynaldoteodoro@outlook.com

Coêlho, Ester dos Santos


Pós-graduanda em Fitotecnia
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
estersantos12@hotmail.com
Ribeiro, João Everthon da Silva
Doutor em Agronomia
Universidade Federal da Paraíba
j.everthon@hotmail.com
Figueiredo, Francisco Romário Andrade
Pós-graduando em Fitotecnia
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
romarioagroecologia@yahoo.com.br

RESUMO
A alfazema brava é uma espécie com potencial aromático e terapêutico. Porém, a
utilização de águas de baixa qualidade e salinas podem promover danos ao crescimento
das plantas. Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da salinidade e do ácido
salicílico na alocação de fitomassa e no crescimento de alfazema brava. O delineamento
experimental foi o de blocos casualizados, em esquema fatorial incompleto 5 x 5, com
cinco condutividades elétricas da água de irrigação (CEa = 0,5; 1,45; 5,0; 8,55 e 10,0 dS
m-1) e cinco doses de ácido salicílico (AS = 0,0; 0,29; 1,0; 1,71 e 2,0 mM), com quatro
repetições constituídas por duas plantas, geradas a partir da matriz experimental
Composto Central de Box. Aos 45 dias após o inicio da irrigação com as águas salinas
foram avaliadas a alocação de fitomassa nas raízes, caule e folhas, suculência foliar, área
foliar específica (AFE), razão de área foliar (RAF) e os índices de esclerofilia (IEF) e de
produção de fitomassa seca da parte aérea (IPFPA). O AS não atenuou o efeito da
salinidade. O estresse salino reduziu a alocação de fitomassa nos órgãos da planta de
alfazema. Porém, estimulou a suculência foliar, a AFE e RAF. A aplicação de AS
estimula o crescimento e a alocação de fitomassa de alfazema brava.

PALAVRAS-CHAVE: Mesosphaerum suaveolens (L.) Kuntze, estresse salino,


fitohôrmonio
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INTRODUÇÃO

A alfazema brava (Mesosphaerum suaveolens (L.) Kuntze) é uma espécie


pertencente à família Lameaceae difundida em diversas em regiões do Brasil,
apresentando elevado potencial aromático e terapêutico. O óleo extraído de suas folhas
apresenta grande quantidade de compostos secundários, servindo como matéria prima
para a produção de cosméticos e fármacos (ARRUDA et al., 2018).
Apesar do seu potencial de exploração, seu cultivo pode ser comprometido em
regiões como o Nordeste brasileiro, caracterizada por apresentar baixos índices
pluviométricos e elevadas temperaturas, sendo necessário o uso de águas com elevados
126
teores de sais (FIGUEIREDO et al., 2020). O estresse salino promove uma série de
alterações no metabolismo vegetal, comprometendo diversos processos bioquímicos,
fisiológicos e morfológicos (RIBEIRO et al., 2020). Dentre os principais percussores dos
efeitos negativos promovidos pela salinidade, o estresse osmótico em função da redução
da disponibilidade hídrica, a toxicidade iônica pelo acúmulo dos íons de Na+ e Cl-, o
desbalanceamento nutricional e a produção de espécies reativas de oxigênio (ROS) que
promovem o estresse oxidativo (NOBRE et al., 2014; NÓBREGA et al., 2018; WANG
et al., 2019).
Diante desse contexto é crescente a busca por técnicas que consigam diminuir os
efeitos negativos induzidos pelo estresse salino, sendo o uso de fitohôrmonios como o
ácido salicílico (AS) uma alternativa viável. O AS é um composto de natureza fenólica
que atua na regulação de diversos processos envolvidos nos mecanismos de defesa da
planta contra condições de estresse (MIURA; TADA, 2014). Seu modo de ação está
ligado a sinalização e expressão de genes capazes de regular a homeostase hormonal,
proporcionando maior resistência às condições salinas (CSISZÁR et al., 2018).
Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da salinidade e do ácido
salicílico na alocação e crescimento de alfazema brava (Mesosphaerum suaveolens (L.)
Kuntze).

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada em casa de vegetação do Centro de Ciências Agrárias,


Universidade Federal da Paraíba (CCA/UFPB), Campus II Areia, Paraíba. O
delineamento experimental foi o de blocos casualizados, em esquema fatorial incompleto
5 x 5, com cinco condutividades elétricas da água de irrigação (CEa = 0,5; 1,45; 5,0; 8,55
e 10,0 dS m-1) e cinco doses de ácido salicílico (AS = 0,0; 0,29; 1,0; 1,71 e 2,0 mM L-1),
com quatro repetições constituídas por duas plantas, geradas a partir da matriz
experimental Composto Central de Box.
As águas salinas foram preparadas adicionando cloreto de sódio (NaCl) a água do
sistema de abastecimento (CEa= 0,5 dS m-1), com os valores aferidos com condutivimetro
portátil modelo microprocessado Instrutherm® (modelo CD-860). As irrigações foram
feitas diariamente, a partir de 15º dia após a semeadura, com o volume de água aplicada
determinada por meio da lisimetria de drenagem (ALVES et al., 2017).
2021 Gepra Editora Barros et al.

As sementes submetidas a embebição com ácido salicílico diluindo-se as doses em


200 mL de água destilada por um período de 8 horas em recipientes plásticos cobertos
com papel alumínio e mantidos a temperatura e umidade relativa ambiente.
Posteriormente, as sementes foram lavadas com água destilada para retirada do excesso
do ácido.
As mudas foram produzidas a partir de sementes coletadas de plantas nativas
localizadas no assentamento Novo Horizonte, situado no município de Várzea - PB. As
plantas foram conduzidas em sacos de poliestileno com capacidade de 1,2 dm3, no qual
foram semeadas 10 sementes, realizando-se o desbaste aos 10 dias após a semeadura,
deixando apenas uma planta por recipiente.
127
O substrato utilizado na produção das mudas foi formulado a partir da mistura de
solo (Latossolo – Embrapa, 2018), + areia lavada + esterco bovino curtido na proporção
de 3:1:1 (v:v), apresentado a seguinte composição química (Tabela 1).

Tabela 1. Caracterização química do substrato utilizado no experimento.


pH P K+ Na+ H+ +Al+3 Al+3 Ca+2 Mg+2 SB CTC M.O
-- mg kg-3 -- -------------- cmolc dm-3 ---------------- g kg-1
7,8 85,5 693,6 0,23 0,0 0,0 2,9 1,59 6,5 6,5 22,2
SB= saturação por bases; CTC= capacidade de troca de cátions; M.O= matéria orgânica

As análises de crescimento foram realizadas aos 45 dias após o início da irrigação


com as águas salinas. Determinou-se a suculência foliar calculada conforme Mantovani
(1999), índice de esclerofilia (IEF) e índice produção de fitomassa seca da parte aérea
(IPFPA) seguindo as metodologias de Mantovani (1999) e Benincasa (2003), equações
1, 2 e 3 respectivamente,

(Peso fresco total – peso seco)


Suculência foliar (g de H2O/m2 ) (1)
Área foliar

(FSF)
IEF = (𝑔−1 ) (2)
(AF)
Onde, IEF= índice de esclerofilia; FSF = fitomassa seca de folha; AF = área foliar.
(FSPA)
IPFPA = (3)
(FST)
Onde, IPFPA = índice produção de fitomassa seca da parte aérea; FSPA = fitomassa seca
parte aérea; FST = fitomassa seca total.

Para a determinação da alocação de fitomassa nos órgãos da planta, foram separadas


as raízes, caule e folhas, acondicionaram em sacos de papel Kraft e colocando-as para
secar em estufa de circulação forçada de ar a 65 ºC até atingirem o peso constante, sendo
2021 Gepra Editora Barros et al.

a alocação de fitomassa nos diferentes órgãos (folhas, caule e raiz) estabelecida conforme
Benincasa (2003), equação 4;

MSórgão
Alocação de fitomassa órgão = × 100 (4)
MSTotal
Em que: MSórgão = massa seca do órgão da planta; MSTotal = massa seca total.

A área foliar especifica (AFE) e razão de área foliar (RAF) foram determinadas de
acordo com Benincasa (2003), conforme a equação 5 e 6:

AF AF 128
AFE = (5) RAF = (cm2 g−1 ) (6)
FSF FSPA

Onde, AFE = área foliar específica (cm2 g-1); AF = área foliar (cm2); FSF = fitomassa
seca da folha (g); FSPA= fitomassa seca da parte aérea (g); RAF = razão de área foliar
(cm2 g-1).

Os dados foram submetidos a análise de variância a 5% probabilidade pelo teste F


(P>0,05). Os dados com efeito significativo foram representados por meio da regressão
linear ou quadrática. Para o procedimento estatístico utilizou-se o programa R (R CORE
TEAM, 2020).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A interação entre a salinidade da água de irrigação e o ácido salicílico não


apresentou efeito significativo, ocorrendo significância para os fatores isolados. A
salinidade estimulou a alocação de fitomassa nas raízes (ALFR) e do caule (ALFC) das
plantas de alfazema, ocorrendo os maiores incrementos (21,6 e 41,6%) na CEa de 3,8 e
10 dS m-1, respectivamente (Figura 1A e 1B). A ocorrência desse efeito pode indicar que
a planta consegue tolerar elevados níveis salinos, ocorrendo de maneira distinta o
acúmulo de fitomassa nos órgãos da planta. A salinidade pode estimular o crescimento
de diferentes órgãos da planta até o limite tolerado pela planta (MUNNS; TESTER,
2008).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 1. Alocação de fitomassa da raiz - ALFR (A), do caule - ALFC (B) e das folhas -ALFF (C) de
alfazema brava (Mesosphaerum suaveolens (L.) Kuntze), submetida a salinidade da água de irrigação
25 A 50 A

20 40

ALFC (%)
ALFR (%)

15 30

y = 19,341 + 1,1762x - 0,155x2 ** y = 39,835 + 0,1765x*


10 R² = 0,71 20 R² = 0,51

5 10
129
0 0
0 1,45 2,5 5 7,5 8,55 10 0 1,45 2,5 5 7,5 8,55 10
CEa (dS m-1 ) CEa (dS m-1 )

50 C

40
ALFF (%)

30
y = 43,791 - 0,3334x**
R² = 0,52
20

10

0
0 1,45 2,5 5 7,5 8,55 10
CEa (dS m-1 )

Fonte: Dados da pesquisa (2021).

A alocação de fitomassa das folhas (ALFF) decresceu com o aumento da salinidade,


com o máximo incremento (43,8%) na menor CEa, acarretando em perdas de 7,61% ao
comparar os valores da menor e maior CEa (Figura 1C). O estresse salino promove uma
série de danos aos processos vitais da planta, resultando em redução no desenvolvimento
da parte aérea. Dentre os principais efeitos induzidos pela salinidade no desenvolvimento
da planta, estão a redução na emissão e no número de folhas, no tamanho do limbo foliar
e na área foliar, estando esses associados a mecanismos de adaptação da planta às
condições salinas (OLIVEIRA et al., 2017).

A suculência foliar foi estimulada pelo aumento da salinidade, ocorrendo o maior


incremento (2,31 gH2O m2) na CEa de 10 dS m-1 (Figura 2A). Esse efeito indica que a
espécie tende a tolerar condições salinas elevadas, conseguindo adaptar-se ao estresse
induzido. A capacidade da planta aumentar o teor de água nos tecidos sob elevada
salinidade é um indicativo que a planta conseguiu ajustar-se osmoticamente (CRUZ et
al., 2018).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 2. Suculência foliar (A), área foliar específica (B), razão de área foliar (C), índice de esclerofilia –
IEF (D) e índice produção de fitomassa seca da parte aérea – IPFPA (E) de alfazema brava
(Mesosphaerum suaveolens (L.) Kuntze), submetida a salinidade da água de irrigação.

130

Fonte: Dados da pesquisa (2021).

A área foliar especifica aumentou com o avançar da salinidade, ocorrendo os


maiores incrementos (7,32 cm2 g-1) na CEa de 8,4 dS m-1 (Figura 2B). Tal resposta é um
indicativo que as plantas de alfazema conseguiram se ajustar osmoticamente ao estresse
salino imposto. Possivelmente, a planta induziu a produção e acúmulo de compostos
2021 Gepra Editora Barros et al.

orgânicos envolvidos nos processos vitais em função do estresse salino, aumentando a


capacidade de tolerância da planta (NOBRE et al., 2014).
A razão de área foliar aumentou com incremento da salinidade, chegando aos
valores máximos (4,06) na CEa de 6,8 dS m-1, seguido de decréscimos com o aumento da
salinidade (Figura 2C). Este resultado mostra que a espécie possui elevada capacidade de
tolerância ao estresse salino, conseguindo adaptar-se a condições extremas de estresse.
Segundo Souza et al (2020), a resposta obtida está associada a capacidade da planta
induzir a maior parte dos fotoassimilados para a formação do aparelho fotossintético,
como mecanismo de defesa ao estresse salino.
Os índices de esclerofilia (IEF) e de produção de fitomassa seca da parte aérea
131
(IPFPA) foram reduzidos com o aumento da salinidade, atingindo decréscimos de 53,2 e
11,1% ao comparar os valores da maior e menor CEa (Figura 2D e 2E). O estresse salino
causa uma série de alterações nos processos vitais, comprometendo o crescimento e
desenvolvimento da planta. Os principais efeitos oriundos do excesso de sais na água de
irrigação são causados pela toxicidade dos íons Na+ e Cl-, resultando em danos oxidativos
pelo acúmulo de espécies reativas de oxigênio (ROS) que promovem distúrbios na síntese
de enzimas, proteínas e componentes celulares, comprometendo os processos vitais da
planta (FAGHIH et al., 2019).
A aplicação do ácido salicílico (AS) aumentou a alocação de fitomassa no caule
(ALFC) e nas folhas (ALFF) nas plantas de alfazema, com os máximos valores (41,9 e
47,5%) nas doses de 1,1 e 2,0 mM L-1, representando ganhos de 14 e 19%
respectivamente, ao comparar com os valores do tratamento controle (Figura 3A e 3B).
Por ser um fitohôrmonio que atua na regulação de processos fisiológicos da planta, o AS
pode ter induzido o aumento da atividade celular, proporcionando maior produção de
fitomassa parte aérea. Dentre os processos que o AS está envolvido na regulação da
divisão e expansão celular nas diferentes fases do crescimento vegetal (GHASSEMI-
GOLEZANI; FARHANGI-ABRIZ, 2018; NÓBREGA et al., 2020).

Figura 3. Alocação de fitomassa do caule -ALFC (A) e das folhas – ALFF (B), suculência foliar (C),
razão de área foliar (D), índice de esclerofilia – IEF (E) e índice produção de fitomassa seca da parte
aérea – IPFPA (F) de alfazema brava (Mesosphaerum suaveolens (L.) Kuntze), submetida a diferentes
doses de ácido salicílico.
50 A 50 B

40 40
ALFC (%)

30
ALFF (%)

30

20 y = 34,813 + 12,961x - 5,9077x2** 20 y = 38 + 4,7497x**


R² = 0,93 R² = 0,86
10 10

0 0
0 0,29 0,5 1 1,5 1,71 2 0 0,29 0,5 1 1,5 1,71 2
Ácido salicílico (mM L-1 ) Ácido salicílico (mM L-1 )
2021 Gepra Editora Barros et al.

2,5 C 5 D

Suculência foliar (gH2 O m2 ) 2 4

1,5 3

RAF
1 y = 1,5377 + 1,0962x - 0,452x2** 2 y = 3,9386 - 1,4727x + 0,6452x2**
R² = 0,92 R² = 0,55

0,5 1

0 0
0 0,29 0,5 1 1,5 1,71 2 0 0,29 0,5 1 1,5 1,71 2
132
Ácido salicílico (mM L-1 ) Ácido salicílico (mM L-1 )

0,3 E 1 F

0,25
0,8

0,2
0,6
IPFPA
IEF

0,15
0,4 y = 0,7183 + 0,0885x - 0,0217x2**
0,1 y = 0,1456 + 0,0434x** R² = 0,74
R² = 0,53
0,2
0,05

0 0
0 0,29 0,5 1 1,5 1,71 2 0 0,29 0,5 1 1,5 1,71 2
Ácido salicílico (mM L-1 ) Ácido salicílico (mM L-1 )

Fonte: Dados da pesquisa (2021).

A suculência foliar aumentou com a aplicação do AS até a dose de 1,2 mM L-1,


apresentando os valores máximos de 2,20 gH2O m2, ganhos superiores de 25,4% em
relação a menor dose (0,0 mM L-1) (Figura 3C). Esse aumento da suculência das folhas
indica que as plantas apresentaram maior capacidade de armazenamento de água nos
tecidos é caracterizada em espécies sob condições de estresse (LIM et al., 2020). Assim,
a aplicação de AS aumenta o teor de água nos tecidos da planta, promovendo a
manutenção da turgescência celular.
A aplicação de AS aumentou os índices de esclerofilia (IEF) e de produção de
fitomassa seca da parte aérea (IPFPA), com os maiores incrementos (0,23 e 0,80) na dose
de 2,0 mM L-1, representando ganhos de 35 e 10%, respectivamente, ao comparar os
valores da maior e menor dose de AS (Figura 3D e 3E). Esses resultados são indicativos
de que o AS pode regular o ciclo celular. Por estar envolvido no metabolismo secundário,
o AS pode atuar regulando o gasto de energia nas vias de assimilação e catalizadoras,
estimulando o acúmulo dos compostos produzidos na parte aérea, favorecendo o
crescimento da planta (NAPOLEÃO et al., 2017).
2021 Gepra Editora Barros et al.

CONCLUSÕES

O estresse salino reduz a alocação de fitomassa nos órgãos da planta. No entanto,


estimula a suculência foliar, a área foliar especifica e a razão de área foliar da alfazema
brava.
A aplicação de AS não atenua o efeito da salinidade. Porém, estimula o crescimento
e a alocação de fitomassa das plantas.

133
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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 12

ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO VEGETATIVO NO


CULTIVO DE PLANTULAS DE Helianthus annuus PREVIAMENTE
INOCULADAS COM (Sinorhizobium meliloti)

RODRIGUES, Vitor da Silva


Graduando em Agronomia
Universidade Federal de Campina Grande
vitor.ufcg.123@gmail.com

COELHO, Micaela Silva


Graduanda em Agronomia 136
Universidade Federal de Campina Grande
micaela.agro@hotmail.com

BARBOSA, Jonathan Bernardo


Graduando em Agronomia
Universidade Federal de Campina Grande
jbernardobarboza@gmail.com

BRITO, Guilherme Ferreira de


Graduando em Agronomia
Universidade Federal de Campina Grande
guilherme.ferreira@estudante.ufcg.edu.br

SILVA, Rosilene Agra da


Prof.(a) D. Sc. Do CCTA
Universidade Federal de Campina Grande
rosileneagra@hotmail.com

RESUMO

O girassol sendo uma oleaginosa que vem cada dia crescendo mais o seu mercado devido
a sua utilização na produção de biodiesel e no ramo ornamental, surge a necessidade de
se aplicar tecnologias voltadas para uma produção com alto padrão, principalmente no
seu estádio inicial quando ainda são plântulas. Hoje o uso de inoculantes em diversas
culturas como soja, milho, alfafa, para elevar os níveis de qualidade de plântulas e mudas
já é uma realidade, com isso o trabalho teve como objetivo a utilização de bactérias
fixadoras de nitrogênio para o acréscimo na qualidade de plântulas de girassol. O estudo
foi desenvolvido no CCTA/UFCG, Pombal-PB, as sementes crioulas de girassol foram
previamente inoculadas com Sinorhizobium meliloti em forma de pó (inoculante
comercial), as sementes foram inoculadas no Laboratório de fitopatologia do
CCTA/UFCG. Posteriormente foram semeadas em recipientes descartáveis de 50 ml e
dispostas em bancada em ambiente protegido. As sementes foram distribuídas em dois
tratamentos T1(não inoculadas) e T2(inoculadas), cada tratamento com 20 repetições,
onde ao final do experimento foi feito a análise estatística das variáveis Altura (AL),
massa seca (MS), Massa fresca (MF), e Diâmetro (DIA). O tratamento que recebeu o
inoculante se saiu melhor, tendo valores consideráveis de aumento na Altura e Diâmetro
das Plântulas, com isso conclui-se que a adição de inoculante na produção de girassol
pode aumentar sim a qualidade das plântulas quando comparado a sementes não
inoculadas.

PALAVRAS-CHAVE: Oleaginosas, rhizobium, inoculação.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

O girassol (Helianthus annuus L.) é uma cultura de importância reconhecida e que


pode ser cultivado em diversas regiões. É uma ótima alternativa para silagem, pois se
desenvolve bem em climas temperados, subtropical e tropical e, também, possui maior
tolerância à deficiência hídrica e geadas leves, apresentando como vantagens o alto valor
energético e o teor de proteína (GONÇALVES & TOMICH, 1999; REAME, 2017).
De acordo com Gazzola et al., (2012) a alta qualidade nutricional que o girassol oferece
ele é amplamente recomendado a alimentação tendo os teores de proteína, óleo,
respectivamente de 24% e 47% além de apresentar em sua constituição as vitaminas E,
B1 e B5 e ômega 6 presente proveniente de seu óleo. 137
Segundo Souza et al., (2019) no Brasil há uma grande expansão quanto ao cultivo
de girassol, onde vem sendo explorada diversos produtos derivados do mesmo, como por
exemplo óleo comestível, biodiesel, fins ornamentais, e para como ração animal. Em
trabalhos de Ribeiro et al., (2016) o mesmo ainda completo, que o cultivo de girassol tem
grande potencial de utilização no país em projetos de inclusão social, e principalmente
como componente presente na produção de biodiesel e de grãos.
A produção mundial de girassol é de 40.339 mil toneladas, a Ucrânia é o maior
produtor com 10.000 toneladas (24,79% do total), ocupando a segunda colocação a
Rússia com 9.800 toneladas (24,29%) e a União europeia com 7.950 toneladas (19,71%
do total) na terceira posição. Até a safra 2008/2009 a Rússia era o maior produtor mundial
de girassol, a partir de 2009/10 passa a ocupar o terceiro lugar. A Ucrânia além de maior
produtor é o maior consumidor (10.365 mil t) (AGRIANUAL, 2015).
Os dados apresentados segundo a CONAB (2015) a produção de girassol no Brasil
ainda não é expressiva, representando apenas 0,52% da produção mundial, porem dentre
dessa produção, o estado que mais se destaca é o Mato Grosso produzindo 85% da
produção nacional, onde toda essa produção ocupa uma área considerável de 110,5 mil
hectares cultivada, seguida do estado de Minas Gerais que vem representando uma
produção de 11 mil hectares.
Em trabalhos de Zobiole et al., (2010) e Oliveira et al., (2017) temos que a cultura
também tem um alto potencial quando utilizado como ornamentação e na produção de
flores, além de apresentar diversas características, que do ponto de vista agronômico, são
bem interessantes e com potencialidades principalmente por apresentar ciclo de curta
duração, ampla faixa de adaptabilidade a condições edafoclimáticas, apresenta
rusticidade elevada contra ataques de pragas e resistência considerável a déficit hídrico,
os autores ainda salientam que dentre as flores tropicais, o girassol se destaca devido a
suas características morfológicas que compreendem as suas hastes altas com a presença
de belas inflorescências com uma faixa de cores variando do amarelo claro ao marrom
dependendo da variedade.
Segundo Nonato (2016) levando em consideração a produção que temos da
cultura em nosso país, é de suma importância um aumento da produtividade, ou seja,
aumentar a produção sem aumento da área cultivada, isso por meio da busca de
alternativas e tecnologias que potencializem essa produção, que apresentem bons
resultados e não elevem os gastos de produção. Juntamente com a fotossíntese, a FBN é
2021 Gepra Editora Barros et al.

um fenômeno natural que capta o nitrogênio existente no ar e o torna disponível para as


plantas como nutriente.
Para administrar com mais eficiência este processo, foram desenvolvidas
tecnologias para a seleção, a multiplicação e a veiculação das bactérias, isso gerou um
produto denominado inoculante (ANPII, 2017). Em trabalhos de Taiz e Zeiger (2017)
temos que a fixação biológica do nitrogênio (FBN) vem como uma pratica de suma
importância para se conseguir fixar nitrogênio atmosférico.
As bactérias do grupo do rizóbios possuem a capacidade de quebrar a ligação dos
átomos de nitrogênio atmosférico (N2) em amônia (NH3), que é facilmente absorvida
pela planta no qual se associam com as raízes das plantas e acarretando no
138
desenvolvimento de estruturas conhecidas como nódulos, onde em seu interior acaba
processando todo o material fotossintético ocorrendo assim uma relação simbiótica,
devido sua capacidade de interagir com a planta se beneficiando da energia dos produtos
oriundos da fotossíntese, substâncias exsudadas como carboidratos, aminoácidos e os
compostos fenólicos resultando em equilíbrio, pôr fim a planta recebe o nitrogênio fixado
pelo rizóbio na forma amoniacal (BLOOM, 2013; VILLALBA et al., 2014; VALE
JUNIOR, 2019).
De acordo com Nogueira e Hungria (2014), para que se garanta a melhor
sobrevivência dessas bactérias nas sementes, se faz necessário que os fornecedores de
inoculantes ofereçam um produto de boa qualidade e expor informações técnicas
adicionais sobre o mesmo, desta forma a partir da aplicação da metodologia correta,
maximiza-se a Fixação biológica de nitrogênio por essas bactérias. Segundo os trabalhos
de Hungria & Mendes (2015) e Nogueira (2019) as inovações tecnológicas voltadas para
o uso de FBN e boas práticas de inoculação tem alcançando bons resultados, agregando
padrões de produção sustentável para todo o mundo.
Apesar de ser grande a quantidade de azoto molecular (N2) presente na atmosfera
este não pode ser utilizado pelas plantas, em todo um número ainda não determinado de
microrganismos é capaz de o fazer. Todos os organismos que efetuam a Fixação
Biológica de Nitrogênio (FBN), chamados de organismos diazotróficos, são procariotas
e recorrem à enzima nitrogenase para realizarem o processo de fixação (FERNANDES;
RODRIGUES, 2012).
Joerin Luque (2017) afirma que entre a interação entre a bactéria e a planta existe
mecanismos que permitem a identificação e reconhecimento específicos entre os mesmos,
onde isso garante uma simbiose efetiva entre o rizóbio e a planta hospedeira. O autor
ainda complementa, durante a interação o rizobio detecta com o auxílio de proteínas
sensoras denominadas de NodD, os flavonoides que são liberados pala planta, através
detecção desencadeiam uma série de interações intracelulares, que resultam no processo
de nodulação.
Diante do exposto, o trabalho teve como objetivo buscar avaliar o desenvolvimento
vegetativo de plântulas de Girassol (Helianthus annuus) na região semiárida paraibana,
com tratamentos inoculados com bactérias fixadoras de nitrogênio (Sinorhizobium
meliloti) e não inoculados, avaliando suas variáveis morfológicas com o intuito de obter
informações especificas do potencial vegetativo envolvendo as variáveis altura, massa
seca e fresca, e diâmetro das plântulas em região semiárida.
2021 Gepra Editora Barros et al.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Centro de Ciências e Tecnologias Agroalimentar,


na Universidade Federal de Campina Grande CCTA/UFCG, Pombal-PB. O semeio foi
feito em copos de plástico de 50 ml tendo como substrato areia proveniente da fazenda
experimental da universidade, localizada no município de São Domingos. A área, para
não se ter a interferência de nenhum fator, foi previamente esterilizada em autoclave, e
logo após colocadas nos copos, onde os mesmos foram distribuídos sob bancadas em
ambiente protegido.
A unidade experimental foi montada da seguinte forma, sementes inoculadas(T2) e
139
não inoculadas (T1), onde ambas as unidades possuíam 20 repetições (Figura 1.), tendo
como princípio uma unidade teste e uma unidade positiva, e em cada uma repetição foi
semeada apenas uma semente. As sementes utilizadas foram sementes crioulas, oriundas
da própria região de Pombal.

Figura 1. Croqui de distribuição dos tratamentos dispostos em bancadas em casa de vegetação,


CCTA/UFCG, Pombal, 2019.

Fonte: Arquivo pessoal

A inoculação foi realizada no laboratório de Fitopatologia geral – CCTA/UFCG,


onde foi utilizado rizóbium da espécie Sinorhizobium meliloti em forma de pó onde foram
preparados com uma solução de 50ml de água destilada para 4 gramas de açúcar refinado,
e 1 grama do inoculante em pó para cada 3 gramas de semente. Inicialmente pesamos a
semente em balança analítica e obtemos 3,800 gramas de sementes, onde a partir desse
2021 Gepra Editora Barros et al.

peso estipulamos 1 grama do inoculante a ser usado, posteriormente diluímos o açúcar


em 50 ml de água destilada que em seguida utilizamos apenas 5ml para umedecer as
sementes com o inoculante, após esse processo distribuímos as sementes em uma bancada
contendo papel toalha e deixamos o inoculante agindo por 4 horas. Após passadas as
quatro horas, semeamos as sementes nos copos e levamos a casa de vegetação.

Figura 2. Plântula dispostas em bandejas em ambiente protegido, CCTA/UFCG, 2020.

140

Fonte: Arquivo pessoal

A irrigação foi realizada duas vezes ao dia, no início da manhã e ao fim da tarde
com 20ml de água para cada recipiente. Foi realizado a irrigação assim durante os 15
primeiros dias depois se passou a colocar 25ml.
As variáveis avaliadas foram Altura de plântulas (AL), Diâmetro de plântulas
(DIA), Massa seca (MS), Massa fresca (MF). A análise estatística foi feita com base na
diferenciação das médias, as médias foram submetidas à Análise de Variância,
comparadas pelo teste Tukey. Todas as análises foram ao nível de significância de 5%.
O software utilizado para as análises foi o R version 4.0.4 (The R Foundation for
Statistical Computing).
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Figura 3. Plântula após emergência completa em laboratório para a coleta das variáveis analisadas no
estudo, CCTA/UFCG, 2020.

141

Fonte: Arquivo pessoal

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo as variáveis avaliadas no tratamento um (T1) e no tratamento dois (T2)


foi possível constatar algumas diferenças significantes com relação as variáveis avaliadas.
Os referidos valores coletados das plântulas em laboratório para cada variável ao
longo do experimento para ambos os tratamentos foram submetidos posteriormente ao
teste de Tukey, diferenciação das médias, a um nível de significância de 5% para cada
variável, onde foi possível observar quais variáveis se distinguiam entre os tratamentos.
(Tabela 1.). Após a análise de variância para cada variável foi possível ver que apenas as
variáveis Altura (AL) e Diâmetro (DIA) foram significativas, apresentando diferença
relevante entre os tratamentos.

Tabela 1. Analise de variância para as variáveis analisada em campo, UFCG/CCTA, Pombal-PB.

Analise de variância
AL MS MF DIA
Tratamento T1 T2 T1 T2 T1 T2 T1 T2
Média 0.963 2.3825* 0.3965 0.5000 0.9285 0.9995 1.403 1.820*
Valor-p 9.88446e-06 0.690837 0.1505708 0.03786707
*Significativo a 5% (0,05). Variável altura (AL), Variável Massa Seca (MS), Variável Massa Fresca (MF),
Variável Diâmetro (DIA).
Com os valores obtidos na (Tabela 1.) quanto a significância das variáveis
analisadas em campo temos valores onde demonstram que as médias não podem ser
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consideradas homogêneas nas variáveis Altura (AL) e Diâmetro (DIA) através do valor-
p e pela diferenciação de médias quando submetidas a teste de Tukey a 5% (Tabela 2.)

Tabela 2. Teste de Tukey a 5% de significância para as variáveis AL e DIA, UFCG/CCTA, Pombal, PB.

Teste de Tukey para AL e DIA


AL DIA
Tratamento T1 T2 T1 T2
Média 0.963 2.3825* 1.403 1.820*
Grupo b a b a
CV% 34.97 27.5 142
*Significativo a 5% (0,05). Variável altura (AL), Variável Diâmetro (DIA).

Os resultados obtidos de acordo com o estudo, demonstram a eficácia na utilização


de sementes previamente inoculadas com bactérias fixadoras de nitrogênio, o que
coincidiu com os trabalhos de Gitti (2015) e Feline (2006) na qual foi demonstrado um
acréscimo considerável no desenvolvimento no crescimento de plantas, e no aumento do
sistema radicular, bem como o efeito sinérgico que desempenham desses organismos
utilizados na inoculação que superam os resultados de tratamentos não inoculados.
Em um estudo de Castro (2007) e seus colaboradores, após a inoculação das
sementes de girassol com uma linhagem da bactéria do gênero Rhizobium ouve uma maior
concentração de massa de solo nas raízes e um acréscimo no peso das raízes formadas.
Isso ocorre devido ao grande acréscimo nas características da planta por parte das
bactérias, gerando mais nódulos, o que resulta numa maior absorção de nitrogênio, logo
a quantidade de raízes e o seu peso aumentam, além de estimular ainda mais o
crescimento da planta em altura.

CONCLUSÃO

Com os dados coletados em campo conclui-se que as plântulas que receberam o


Sinorhizobium meliloti na semente obtivera um vigor maior quando comparada com os
tratamentos onde as sementes não foram inoculadas. Dentre as variáveis analisadas
apenas Altura e Diâmetro foram significativos, desta forma proporcionando as sementes
previamente inoculadas um padrão de qualidade superior quando comparadas com
sementes não inoculadas.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 13

ANÁLISE DO PANORAMA ATUAL DO MERCADO DE


PRODUTOS FLORESTAIS NO BRASIL

SOUTO, Antonia Flavia Costa


Graduanda em Agronomia
Universidade Federal do Cariri
flavia.souto@aluno.ufca.edu.br

NASCIMENTO, Eduardo Oliveira


Graduando em Agronomia
Universidade Federal do Cariri 145
oliveira.edu1995@gmail.com

PINTO, Maria Ketully Neyane Alves


Graduanda em Agronomia
Universidade Federal do Cariri
ketullyneyane@yahoo.com.br

SOBRAL, Selton David Cavalcante


Graduando em Agronomia
Universidade Federal do Cariri
sobralsdc@gmail.com

COUTINHO, Janailton
Doutorado em Educação Brasileira
Universidade Federal do Ceará
janailton.coutinho@ufca.edu.br

RESUMO
A utilização de materiais que tem em sua origem uma fonte de energia renovável e limpa
passaram a ser uma busca constante no modelo de sociedade com altos níveis de consumo.
Entender que o processo de conscientização e busca por esse material de fonte limpa e
renovável é um processo necessário, força-nos a pensar por onde começar, e como volver-
se para a discussão e de que maneira a produção energética, alimentícia e industrial
poderiam se adaptar a tal mudança. O presente trabalho busca como objetivo principal
discorrer sobre a produção florestal brasileira, sendo ela madeireira e não madeireira. O
método científico utilizado é o Hipotético-Indutivo que sugere a realização de análise de
problemática em âmbito universal, considerando que a quase ou total impossibilidade de
analisar um problema em sua totalidade. Tivemos como resultados o valor da produção
na extração vegetal por região do Brasil, os estados que mais arrecadam por região em
extração vegetal, a quantidade produzida na extração vegetal - produto alimentício, e a
relação entre quantidade e valor dos produtos extrativista. Este trabalho deixa aberto a
possibilidade de implementação de uma série de investigações voltadas para produção
florestal no mercado de trabalho brasileiro, tais como impactos socioeconômicos,
impactos ambientais oriundos das queimadas, dificuldades de manejo e de gestão e,
dentro outros.

PALAVRAS-CHAVE: extração vegetal, energia renovável, economia brasileira.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

A utilização de materiais que tem em sua origem uma fonte de energia renovável e
limpa passaram a ser uma busca constante no modelo de sociedade com altos níveis de
consumo. Muito se discute a escassez de insumos que estão inseridos no dia a dia dos
indivíduos e que desenvolvem importantes serviços como transporte, produção energética
e recursos alimentícios. Entender que o processo de conscientização e busca por esse
material de fonte limpa e renovável é um processo necessário, força-nos a pensar por onde
começar, e como volver-se para a discussão de que maneira a produção energética,
alimentícia e industrial poderiam se adaptar a tal mudança. (EMBRAPA, 2018)
Umas das alternativas para a redução de insumos não renováveis são os recursos 146
florestais, que podem ser classificados como produtos madeireiros e não-madeireiros,
sendo por sua vez produtos com grande potencial no mercado brasileiro. O Brasil por ser
detentor de grande área territorial e por possuir diversos biomas, apresenta um panorama
propício para a produção das matrizes energéticas bem como o extrativismo, que ganham
cada vez mais espaço e importância no cenário nacional e mundial. (VILELA,
CALLEGARO e FERNANDES, 2019)
Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (2020), só em 2019 as fontes de
energias renováveis foram responsáveis por contribuir com 46,1% na matriz energética
nacional o que comparado com anos anteriores, como em 2010, houve um aumento de
1,4%. A oferta de biomassa de cana de açúcar e uso de biodiesel são responsáveis por
18,0% e a lenha e o carvão vegetal responsáveis por 8,7% da produção de energia
renovável. Isso demonstra que juntos os produtos de origem florestal são responsáveis
por 26,7% de toda produção de energias renováveis.
Assim como a cadeia energética o extrativismo aparece desempenhando um papel
importante na sociedade, em especial como fonte de renda. Drummond (1996) classifica
o extrativismo como sendo, uma maneira de produzir bens na qual os recursos naturais
úteis são retirados diretamente da sua área de ocorrência natural, em contraste com a
agricultura, o pastoreio, o comércio, o artesanato, os serviços ou a indústria.
Entender a importância do extrativismo nas pequenas comunidades, bem como na
renda de pequenas famílias que dependem diretamente dos produtos florestais é essencial
para quem trabalha com o meio rural. Para Magalhães (2014), unidades familiares de
produção rural, em diversas regiões do país, praticam a extração de produtos florestais
não madeireiros como fonte de renda alternativa e de absorção de mão de obra familiar.
Tal fato acarreta diretamente na qualidade de vida das famílias e de pequenas
comunidades, criando uma rede de investimentos e melhoria na economia. De acordo
com prodanov
e Silva (2002), a extração de produtos não madeireiros é uma atividade
fundamental para os moradores da região provedora de recursos naturais, pois permite
valorizar a floresta que é preservada em pé, já que a exploração madeireira muitas vezes
contribui para a erosão genética das espécies de maior valor comercial, o que compromete
seu aproveitamento futuro.
Tanto na produção energética como na extrativista, a produção florestal desenvolve
fundamental importância. De acordo com Sousa et al. (2010) para a economia brasileira
e para a sociedade, o setor florestal contribui com parcela importante da geração de
produtos, impostos, divisas, empregos e renda.
Pensando na importância do setor florestal e o quanto este tem impacto tanto
diretamente quanto indiretamente na sociedade, o presente trabalho busca como objetivo
principal discorrer sobre a produção florestal brasileira, sendo ela madeireira e não
2021 Gepra Editora Barros et al.

madeireira, demonstrando quantidades por regiões bem como realizar comparativo entre
elas, buscando assim apresentar como se encontra o cenário do país em relação a área.
Além da presente introdução e considerações finais, este artigo encontra-se dividido
em mais duas cessões, quais sejam, materiais e métodos, onde será abordado o caminho
utilizado para elaboração do estudo e, os resultados e discussões, onde podem ser
observados os principais resultados constatados através dos dados obtidos.

MATERIAIS E MÉTODOS

Pode-se inferir que a presente pesquisa tem natureza aplicada, pois busca produção
de conhecimento científico passível de aplicação prática com a possibilidade de responder 147
problemas específicos. O método científico utilizado é o Hipotético-Indutivo que sugere
a realização de análise de problemática em âmbito universal, considerando que a quase
ou total impossibilidade de analisar um problema em sua totalidade –, para desta forma
formular soluções em níveis mais micros e particulares. Para isso formula-se hipóteses e
demonstra-se as dificuldades da problemática. Este procedimento deduz se a pesquisa
deve ser testada ou falseada. O objeto de estudo é exploratório-descritivo, visando tornar
oportuno uma maior compreensão do problema de pesquisa, explicitando ou construindo
hipóteses sobre o mesmo, além de indicar as características do objeto estudado.
(PRODANOV e FREITAS, 2013)
O Procedimento Técnico escolhido é o bibliográfico. Segundo Prodanov e Freitas
(2013), o pesquisador deve encetar um considerável levantamento de fontes teóricas,
quais sejam: teses, dissertações, monografias, livros e artigos científicos.
Quanto a abordagem, a mesma segue os padrões da pesquisa quantitativa. Nesse
caso, Gil (2008, p.17) exprime que “este método se fundamenta na aplicação da teoria
estatística da probabilidade e constitui importante auxílio para a investigação em ciências
sociais.” Ainda segundo Gil (2008, p.17) “o método estatístico passa a se caracterizar por
razoável grau de precisão, o que o torna bastante aceito por parte dos pesquisadores com
preocupações de ordem quantitativa.” Gil (2008, p. 17). Visto o exposto, pode-se indagar
que o procedimento supracitado é fundamental para reforçar a validação de conclusões.
Indica-se que a presente pesquisa se utiliza de dados secundários, advindos de
fontes provenientes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE com
variáveis que versam sobre a produção florestal2 brasileira, sendo ela madeireira e não
madeireira, demonstrando quantidades por regiões.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os gráficos a seguir apresentam dados de recurso florestais madeireiros e não


madeireiros por região brasileira.

2
Dados utilizados são referentes ao ano corrente de 2018, haja visto que a plataforma indicada ainda não
dispõe de dedados mais atualizados.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Gráfico 1.
Valor da produção na extração vegetal por região do Brasil
2500000

2000000
Valor em mil reais

1500000

1000000 148

500000

0
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-oeste
Colunas1 2241824 889339 37005 556014 724428
Fonte: Adaptado de IBGE, 2019.

O gráfico 1 mostra a produção da extração vegetal dividida por região brasileira e


o seu valor em mil reais. Fazendo uma análise do gráfico, fica visível a alta produtividade
e a grande vantagem da região norte em relação às demais regiões. Tais números podem
em partes ser justificados pela grande disponibilidade de floresta e recursos florestais
quando comparada às outras regiões. A região Norte possui a maior floresta tropical do
mundo e tem assim maior disponibilidade em frutos, madeira, óleos naturais além de
recursos naturais que já faziam parte da cultura alimentar dos povos nativos da região,
além do mais é a maior região brasileira, somando 45% do território nacional, em
contrapartida, confere a menor densidade demográfica do país, 4 hab./km² (IBGE,
2013a). Desde a chegada dos colonizadores ao Brasil, o produto mais explorado tem sido
a madeira, que é muito utilizada na construção civil e fabricação de móveis, destacando-
se ainda na produção de celulose e do carvão vegetal, que é utilizado com larga
abrangência, desde o meio doméstico, indústria, até a medicina. O ferro gusa é a matéria
prima do aço, e o da Amazônia é considerado o melhor do mundo porque usa o carvão
vegetal e não o mineral (FREITAS,2019).
Apesar da vasta utilização do carvão vegetal é preciso analisar as consequências
que sua produção provoca. Primeiramente é importante analisar o fator social, quando
pessoas adultas e até crianças trabalham nas carvoarias em condições, na maioria das
vezes, precárias de trabalho, baixíssimos salários, servidão por dívida, jornada de trabalho
exaustiva e retenção de documentos. No Brasil, o trabalho escravo contemporâneo se
relaciona com assuntos complexos como a pobreza, devastação da Amazônia e
distribuição desigual das terras. Outro fator é o ambiental, pois para o desenvolvimento
dessa atividade geralmente são áreas de mata nativa em locais comumente desmatados e
quando a fumaça da madeira queimada é liberada, vai para a atmosfera como poluente
(BEMERGUI,2011). O Brasil foi a última nação do mundo ocidental a abolir o trabalho
escravo de forma oficial (final do século XIX). No entanto, em termos práticos, esse
problema continua a existir. O trabalho análogo ao de escravo incorpora situações de
aliciamento, agressões físicas, verbais, endividamento, servidão por dívida, jornada de
trabalho excessiva, falta de salário e de alimento. O trabalho forçado é incompatível com
2021 Gepra Editora Barros et al.

a dignidade humana e se caracteriza pela falta dos direitos fundamentais do cidadão e fere
todas as leis, especialmente as trabalhistas. Este tipo de trabalho atinge todas as regiões
do país, especialmente fazendas produtoras de carvão, que abastecem tanto as indústrias
de aço e ferro gusa, mas também aflige vários setores das grandes metrópoles
(FREITAS,2019).
Em segundo lugar se destaca o Nordeste que apresenta grande produção
principalmente de ceras e extração de lenha, e o leva a ficar nessa classificação. O Sul,
bem como o Centro-Oeste tem como principal fonte de renda a extração de madeira tanto
para lenha, como para carvão vegetal. Em último lugar destaca-se a região Sudeste que
por sua vez tem como principal atividade a extração mineral, e não vegetal, onde se
sobressaem minérios de ferro, ouro, manganês e bauxita. Diante de tudo isso, encontram-
se impactos ambientais negativos que dizem respeito a poluição do ar, água, ecossistema 149
local, assoreamento dos rios, poluição dos solos, contaminação por metais pesados e
outras questões ambientais.
O segundo gráfico apresenta os estados que mais arrecadam dinheiro com a
extração vegetal por região brasileira. Assim como foi citado anteriormente e por se tratar
de extração de produtos vegetais, o estado do Pará destaca-se em relação aos demais
estados, pois ele está situado em uma região que em sua grande maioria pertence a
Floresta Amazônica. O Pará se destaca principalmente na extração de açaí (151.793
Toneladas) e de madeiras (5.359.289 Toneladas). Em segundo fica o estado do Mato
Grosso com uma produção voltada principalmente para a extração de madeira (509.831.3
Toneladas). Não tão diferente o Paraná aparece com uma produção de madeira acentuada
(113.475.8 Toneladas), porém o estado se destaca principalmente na produção de erva-
mate (314.728 Toneladas). Sua produção é equivalente a 81,8% de todo o lucro arrecado
na extração de produtos florestais do estado. Representando o Nordeste, o estado do
Maranhão é o maior em arrecadação sendo ela proveniente principalmente da exploração
de madeira (181.790.3 Toneladas) e na produção de oleaginosas como o Babaçu (45.166
Toneladas). Por último, tem-se o estado de Minas Gerais com produção madeira (349272
Toneladas) e de Pequi (18007 Toneladas) sendo este último responsável pela arrecadação
de 31,2%.

Gráfico 2.
Estados que mais arrecadam por região em extração
vegetal.
1800000
1600000
1400000
Valor por mil reais

1200000
1000000
800000
600000
400000
200000
0
Minas Mato
Pará Maranhã Paraná
Gerais Grosso
o
Valor exato 1534752 275112 34802 431408 672764
Fonte: Adaptado de IBGE, 2019.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Como foi observado, a região Norte desponta com os maiores números em


produção absoluta. Nesse sentido, SANTANA (2002) destaca que os principais
problemas nessa localidade é o fato dos produtores que se enquadram na categoria de
pequenos e microempresários preferirem comercializar seus produtos por preços
inferiores. Essa característica acaba por influenciar na queda do preço dos mesmos, de
forma esperada, essa dinâmica contribui para o devastamento e degradação dos recursos
provenientes da natureza.
Neste sentido, é possível destacar que os problemas ambientais têm íntima relação
com as práticas capitalistas disposta nos dias atuais, considerando que o desenvolvimento
ainda é entendido como uma prática econômica para acúmulo de riquezas, por isso, o
aumento populacional e o advento de novas tecnologias têm alavancado o consumo e uso
dos recursos naturais, comungando com o disposto: 150

Qualquer que seja o enfoque sobre a questão ambiental homem-meio,


esta é uma questão antes de tudo social. É, portanto, necessário que as
Ciências Humanas - principalmente a geografia – contribuam mais para a
resolução dos impactos antropogênicos sobre o meio ambiente. (PASSOS,
2010, p.424).

Gráfico 3.
Quantidade produzida na extração vegetal - produto
alimentício
400000
350000
Valor por mil reais

300000
250000
200000
150000
100000
50000
0
Castan Castan
Erva- Manga Palmit
Açaí ha-de- ha-do- Pequi Pinhão Umbu Outros
mate ba o
caju pará
Valor exato 222706 1781 32905 362545 1749 4296 27183 9342 8544 8246

Fonte: Adaptado de IBGE, 2019.

O gráfico 3 apresenta em especial a extração de produtos alimentícios, ou seja, os


produtos que tem como caraterística não ser de caráter madeireiros e serem destinados ao
consumo humano. Levando em consideração as abordagens dos gráficos anteriores, pode-
se destacar a produção de erva-mate. A região com maior produção de erva-mate fica
situada no Sul do Brasil. Por ocorrer de forma espontânea (SOUZA E LORENZI, 2008)
a sua produção representa em torno de 86,8% de toda a produção brasileira mostrando
que as técnicas de extrativismo no estado são bem consolidadas. De acordo com Balzon
et al (2004) a produção apresenta um melhor padrão tecnológico entre diferentes
segmentos que integra a cadeia produtiva da erva-mate desde a organização do marketing
até o controle de qualidade investindo junto aos produtores do setor.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Conforme apresentado no gráfico 3 a erva-mate apresenta valores superiores de


produção quando comparados aos demais produtos. Em seguida vem o açaí que tem como
principais produtores os estados da região Norte do país que produzem 92% de toda
produção brasileira. O açaí vem ganhando espaço no mercado de acordo com o aumento
da demanda do produto, tanto no mercado interno como no mercado externo. Essa
demanda se dá em virtude do caráter energético e nutritivo conferindo propriedades
funcionais aos seus consumidores devida a atividade antioxidante presente no produto
(FARIA, et al., 2012). De acordo com Nogueira (2011) a produção de açaí vem
apresentando um panorama de elevação da produção justificando esse crescimento a alta
do preço no mercado, determinado pela demanda. De acordo com Siqueira (2005) a
produção de açaí apresentou uma estabilidade de sua produção principalmente nos anos
80 e 90 indicando uma estabilidade por 28 anos. No entanto, de acordo com o IBGE a 151
produção apresentou uma variação, sendo que em 2008 a produção apresentou um
aumento devido a elevada produção no Estado do Pará (IBGE, 2008), já no ano de 2012
apresentou uma redução devido aos açaizais ocorrerem em áreas de várzeas afetando
então a produção de açaí na região Norte (CPRM,2012).
A castanha-do-pará apresenta também uma arrecadação considerável (135.813,00
de reais) perdendo apenas para o açaí e erva-mate. Segundo Homma (2002) a castanha-
do-pará apresentava-se como um dos produtos não madeireiros e de origem vegetal. Esta
cultura possui um grande potencial e avanço na sua produção, pois, após o ano de 1910
com a queda da produção da borracha afetada pela crise econômica, foi considerada um
importante produto do extrativismo. Porém como observado no gráfico 3 a castanha-do-
pará apresenta atualmente sua produção de forma significativa na região Norte do País
ficando atrás apenas da produção de Açaí que é bastante significativa também na região
Norte e da erva-mate no Sul brasileiro. Os demais produtos apresentam significância,
porém de maneira menor. Somados, os mesmos arrecadaram em 2019 o valor de
101.728,00 de reais. Tratando-se de arrecadação, em elevação está o açaí que arrecadou
588.595,00 de reais. A extração vegetal de produtos florestais não madeireiros em escala
menor quando comparados a produtos em que sua escala de produção é mais elevada,
apresenta sua importância, como por exemplo, são produzidos em plantio comercial e
contribui de maneira significativa com o extrativismo vegetal (IBGE, 2013).

Quadro 1: Relação entre quantidade e valor dos produtos extrativista.


Quantidade Valor da produção
Produtos extrativos produzida na extração na extração vegetal (Mil
vegetal Reais)
Alimentícios (toneladas) 679.298 R$ 1.219.309,00
Aromáticos, medicinais,
tóxicos e corantes 996 R$ 1.953,00
(toneladas)
Borrachas (toneladas) 843 R$ 4.118,00
Ceras (toneladas) 20.587 R$ 235.406,00
Fibras (toneladas) 9.626 R$ 15.472,00
Carvão vegetal
372.212 R$ 318.550,00
(toneladas)
Lenha (Metros cúbicos) 19.130.833 R$ 497.760,00
Madeira em tora (Metros
12.029.971 R$ 2.052.275,00
cúbicos)
Oleaginosos (toneladas) 51.670 R$ 102.144,00
2021 Gepra Editora Barros et al.

Tanantes (toneladas) 84 R$ 102,00


Toneladas: 1.135.316
Total
Metros cúbicos: 31.160.804 R$ 4.447.089,00
Fonte: Adaptado de IBGE, 2019.

O Quadro 1, traz a relação entre a produção de extrativista de todo o território


brasileiro por divisões principais, além de valores alcançados. Através deste pode-se notar
a diferença entre a produção dos produtos de origem madeireiros como o carvão vegetal,
lenha e madeira em tora em relação aos demais. A produção destes superam a de produtos
alimentícios com exceção do carvão vegetal. Tal relação pode se dar de acordo com
Homma (1993) devido ao aumento gradativo da demanda por este produto, associado ao
processo de implantação de grandes fazendas para criação bovina. Sendo a extração de 152
madeira praticada em todo o território nacional e não dependendo apenas de espsouécies
endêmicas é esperado que a produção alcance grandes proporções em todo território.
Cada região ganha destaque em suas produções de acordo com o tipo de produção
madeireira. Dito isso pode-se fazer uma comparação direta entre as regiões, onde a região
Norte produz em sua grande maioria madeira em tora, podendo esta, estar ligada
diretamente a floresta amazônica que se espalha por toda a região e dá condições e
insumos para tal produção, enquanto no Nordeste a produção de maior destaque é a de
lenha e carvão vegetal.
Segundo Gariglio et al. (2010) a lenha é uma das principais fontes energéticas e
esta por sua vez, alcança uma oferta de até 80% em alguns estados nordestinos. Ainda de
acordo com o mesmo autor, o uso de lenha e carvão no Nordeste do Brasil iniciou-se com
o processo de sua ocupação pelo homem, quando lenha e carvão vegetal eram as únicas
fontes locais de energia disponíveis, além do bagaço de cana. Isto mostra o quanto a
exploração destes insumos estão intrinsicamente ligados as origens da povoação de tal
região. As demais regiões brasileiras se destacam principalmente em relação a madeira
em tora e lenha, sendo a produção de carvão vegetal baixa. Por a exploração de madeira
ser praticada em todas as regiões, o valor da produção representa 64,50% do total de todos
os produtos extrativistas, o que demonstra que a técnica com madeira alcança altas cifras,
sendo seguida pela produções de alimentos que ocupam 27,41% do valor total.
Na contramão das grandes práticas madeireiras e alimentícias, mas que se apresenta
com grande potencial para arrecadação de renda, estão as extrações de ceras que mesmo
em quantidade pequena de 20.587 toneladas alcançam um valor de 235.406,00 de reais,
o que representa 5,30% do valor total. Esse extrativismo de ceras, ocorrem principalmente
no Nordeste devido as espécies de carnaúbas (Copernicia prunifera) que fornecem a cera
e o pó. Segundo Alves e Coelho (2006) o mercado para a cera, principal produto da
carnaubeira, é vasto e sempre teve grande importância como produto de exportação,
chegando, no passado, a caracterizar um ciclo econômico para o Nordeste.
Por fim a produção extrativista movimentou no ano de referência um valor total de
4.447.089,00 de reais o que poderia ser maior em condições que ofertassem melhores
possibilidades de desenvolvimento de trabalho com uso adequado de tecnologias que
propiciem a extração sem agressão ao meio ambiente.

CONCLUSÃO

Nesse artigo buscou-se analisar o panorama mais atual do mercado de produtos


florestais brasileiro, objetivando suscitar um diálogo entre vários pensadores
especializados a respeito da dinâmica mercadológica desse seguimento produtivo.
2021 Gepra Editora Barros et al.

A região Norte possui a maior floresta tropical do mundo e tem assim maior
disponibilidade em frutos, madeira, óleos naturais além de recursos naturais que já faziam
parte da cultura alimentar dos povos nativos da região. Além do mais é a maior região
brasileira, somando 45% do território nacional, em contrapartida, confere a menor
densidade demográfica do país, 4 hab./km² (IBGE, 2013a). Não somente isso, na análise
dos dados foi possível observar que os estados pertencentes a esta região apresentam
maiores número absolutos frente a produção florestal, tornando necessário a formulação
por parte dos agentes públicos e privados de estratégias de fomento de um mercado
florestal no Brasil.
Este trabalho deixa aberto a possibilidade de implementação de uma série de
investigações voltadas para produção florestal no mercado de trabalho brasileiro, tais
como impactos socioeconômicos, impactos ambientais oriundos das queimadas, 153
dificuldades de manejo e de gestão e, dentro outros.

REFERÊNCIAS

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2021.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 14
ANÁLISE FINANCEIRA E CONTROLE GERENCIAL DE UMA
PEQUENA PROPRIEDADE RURAL LOCALIZADA NA CHAPADA
DIAMANTINA
SANTOS, Ayra Souza
Graduanda em Engenharia Agronômica
Universidade do Estado da Bahia
ayrasouza60@gmail.com

COSTA, Silvania Gouveia Alves


MBA em Finanças e Controladoria 156
Fundação Getúlio Vargas
sgcontrata@gmail.com

COELHO, Bruno Emanuel Souza


Engenheiro Agrônomo
Mestrando em Agronomia/Produção Vegetal - Univasf
Instrutor e Tutor do SENAR - AR/BA
bruno.coelho@senarbrasil.org.br
RESUMO

O presente trabalho consiste na avaliação da atual situação financeira e gerencial de uma


pequena propriedade rural familiar localizada no município da cidade de Iraquara – BA.
O estudo tem por objetivo analisar a situação técnica e econômica da propriedade,
sugerindo por fim melhorias em áreas afins a partir de sistemas de controle de custos e
análise de resultados demonstrando como o gerenciamento e planejamento das atividades
agrícolas podem aumentar a rentabilidade. A rapadura, cachaça e o melado são produtos
fabricados dentro da propriedade, os quais possuem importância econômica particular e
provindo de uma matéria prima em comum a cana-de-açúcar (Saccharum officinarum).
No tocante a metodologia, este trabalho classifica-se como pesquisa de natureza aplicada,
devido á abordagem, quantitativa e qualitativa, e quanto aos procedimentos técnicos de
pesquisas bibliográficas, pesquisa de campo, documental e estudos de casos. Tendo como
resultado o planejamento estratégico a curto, médio e longo prazo a ser implantado
visando o aumento na lucratividade. Portanto, através de tais levantamentos foi possível
perceber que a propriedade se encontra sem gestão financeira ou planejamentos
estratégicos, e a partir disso a presente análise buscou contribuir de forma positiva com
uma nova perspectiva de administração.

PALAVRAS-CHAVE: resultado, planejamento, rentabilidade

INTRODUÇÃO

A cana-de-açúcar (Saccharum officinarum), oriunda provavelmente da Índia, e


inicialmente distribuída pelos árabes e chineses, foi transportada a recém-colónia
descoberta, o Brasil em meados do século XVI, tornando-se fortemente presente na
cultura brasileira (RODRIGUES; ROSS, 2020). Atualmente, o Brasil ocupa a posição de
maior produtor mundial de cana-de-açúcar, contribuindo positivamente no agronegócio
brasileiro (CONAB, 2018).
2021 Gepra Editora Barros et al.

A partir desta matéria prima, é possível obter inúmeros subprodutos, como: açúcar,
álcool, cachaça, rapadura, melado, entre outros, sendo o etanol, o produto que sofreu
maiores impactos negativos no cenário atual de pandemia (VIDAL; XIMENES, 2020).
A rapadura e o melado são produtos de segmento artesanal, devido baixo uso de
tecnologias na produção e por sua comercialização estar voltada a mercados locais.
Enquanto que a cachaça possui uma herança colonial, possibilitando um mercado mais
abrangente (C.I.B., 2009).
Assim, é perceptível, o quanto o mercado tem influência sobre o equilíbrio
financeiro e rentabilidade do negócio rural, as quais são as grandes preocupações dos
produtores rurais. E através disso é respaldada a importância da contabilidade e 157
administração rural, pois, as mesmas guardam informações patrimoniais, servindo aos
usuários como uma importante fonte de ordem econômica e financeira de seus
patrimônios. Atendendo assim, as necessidades dos gestores dentro das organizações,
contribuindo posteriormente em decisões mais assertivas (FOGUESATTO, 2020).
Portanto, o presente trabalho objetiva-se em analisar a situação financeira e
gerencial de uma determinada propriedade rural localizada na Chapada Diamantina.
Verificando seus custos e receitas no período de 6 meses, diagnosticando a situação
técnica e econômica atual. E por fim, sugerir melhorias para a propriedade.

MATERIAL E MÉTODOS

A propriedade analisada neste presente trabalho foi a Fazenda Carrasco, sendo os


sócios proprietários: Edilson Alves de Novaes e Raimundo José de Sá Teles. A mesma
possui uma área total de 17 hectares e está localizada no povoado de Boca da Mata,
Iraquara – BA, entre as coordenadas 12º23’24’’ latitude Sul e 41º34’58’’ longitude Oeste.
A análise de público consumidor local apresentada no presente trabalho foi
realizada juntamente com os proprietários avaliando a microrregião onde a empresa rural
comercializa seus produtos: nas feiras livres das cidades Iraquara e Seabra, de alguns de
seus municípios como: Riacho do Mel e Parnaíba, e na propriedade onde são produzidos.
Os dados levantados para criação da matriz SWOT da Fazenda Carrasco partiu de
dados adquiridos pela Cooperativa dos Produtores Associados de Cana e Seus Derivados
da Microrregião de Abaíra (COOPAMA) e questionário realizado para o mercado
consumidor da Chapada Diamantina via Google Forms, respondido por pessoas de
diferentes cidades, sendo elas: Abaíra, Seabra, Iraquara, Lençóis e Boninal.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A cana-de-açúcar é uma cultura presente no Brasil desde a época colonial, e hoje


seus subprodutos possuem destaque pelo desempenho no setor agroindustrial, mantendo
uma margem de comercialização constante nos últimos 15 anos (MIRANDA-STALDER;
BURNQUIST, 2019). Dado isso, independentemente do porte da propriedade rural, a
gestão do negócio se faz importante para análise de viabilidade econômica e busca por
2021 Gepra Editora Barros et al.

estratégias para tomadas de decisões (CORSO, 2018).


A partir do estudo de mercado é possível analisar o público alvo, conhecendo
melhor os possíveis clientes que venham a consumir determinado produto, bem como os
setores com maior concorrência.
Em relação ao público consumidor, não existe restrição de idade para o consumo
de rapadura ou melado, assim como não há uma preferência em relação ao sexo ou
escolaridade. No entanto, para o consumo da cachaça só é permitido a partir de 18 anos
de idade, e a procura maior é pelo público masculino que possui escolaridade abaixo do
ensino médio, como mostra o Quadro 1, a partir de respostas dos proprietários.
158

Quadro 1. Relação do público consumidor de rapadura, melado e cachaça.


FAIXA ETÁRIA SEXO ESCOLARIDADE
RAPADURA Indiferente Indiferente Indiferente
MELADO Indiferente Indiferente Indiferente
CACHAÇA Acima de 18 anos Masculino Não concluintes do
ensino médio
Fonte: SANTOS (2021).

Seguindo o questionário, constatou-se que público feminino tem demonstrado


uma procura maior, e que está mostrando forte consumo de rapadura, por questões
relacionadas a saúde e boas práticas de alimentação, na produção de alimentos caseiros,
como granolas e outras receitas. E o melado está se tornando uma referência além da
culinária, ou seja, na produção de calda de defensivos agrícolas na localidade, buscando-
se uma melhor fixação da solução nas plantas, sendo uma armadilha por atrair os insetos
devido ao alto teor de açúcar.
Ainda sobre o questionário realizado via Google Forms voltado para o mercado
consumidor, sobre os diferentes subprodutos da cana-de-açúcar: cachaça, rapadura,
melado e açúcar mascavo. A rapadura demonstrou-se ser o alimento mais consumido.
Sendo na maioria das vezes em pedaços do que de outras formas, e quanto ao sabor a
preferência maior é pela tradicional.
No tocante a cachaça, 81% das pessoas questionadas já havia experimentado
alguma cachaça da região, contudo, 62,5% das pessoas não costuma aprecia-la pura e
75% nunca haviam experimentado uma cachaça saborizada. Já em relação ao melado,
71,9% das pessoas o conhece e o utiliza em receitas caseiras como medicamentos,
adoçantes e para dar sabor a outros alimentos. Não obstante, com relação ao açúcar
mascavo, apenas 12,5% não a consome, as demais pessoas que a consome, o fazem por
conhecer os benefícios a saúde.
E assim, foi possível conhecer a partir do questionário realizado, um mercado
habituado ao tradicional, porém, aberto a novidades e dispostos a pagar pelo valor da
saúde, bem-estar e prazer que estão levando para casa, não somente pelo produto em si.
Contudo, não é apenas o mercado consumidor quem dita as regras do mercado, um outro
fator determinante são os concorrentes. Avaliando a relação da Fazenda Carrasco diante
2021 Gepra Editora Barros et al.

dos concorrentes e os produtos fabricados, pode-se chegar aos níveis de concorrência


como apresenta o Quadro 2 abaixo.
Quadro 2. Nível de concorrência da Fazenda Carrasco diante de outros produtores.
QUANTIDADE DE INVESTIMENTOS LUCRATIVIDADE
PRODUÇÃO
PRODUTORES DE CANA E Alta Altos Altos
CACHAÇA DA
MICROREGIÃO
PRODUTORES DE Baixa Baixos Baixos
RAPADURA, E MELADO 159
DA MICROREGIÃO
Fonte: SANTOS (2021).

Na propriedade estudada, o recorde de vendas é sempre da cachaça, a qual é


comercializada em bares da microrregião, feiras livres e também diretamente para
consumidor no local de produção. Já a rapadura possui uma saída média nas vendas, não
superando a cachaça, porém contribuindo de forma positiva nos lucros. Enquanto que o
melado tem vários fins além do consumo humano, logo, é produzido de acordo a
demanda, já que não possui grandes saídas nas vendas.
No entanto, existe um amplo mercado consumidor, possibilitando que tanto os
produtos da propriedade em questão, quanto os produtos dos demais produtores da
microrregião possuam espaço de comercialização. Sendo a concorrência entre a rapadura
e melado de leve a moderada, enquanto que a concorrência para a cachaça é de moderada
a alta. Levando o consumidor a adquirir aquele que mais agrada seu paladar.
A Cooperativa dos Produtores Associados de Cana e Seus Derivados da
Microrregião de Abaíra (COOPAMA) é referência quando o assunto é cana-de-açúcar e
seus subprodutos na Chapada Diamantina, a mesma possui um sistema operacional
eficiente, mesmo contando com participação de apenas 10% dos produtores de cana-de-
açúcar, melado, rapadura, cachaça e açúcar mascavo da microrregião de Abaíra e com
cada produtor possuindo em média apenas 0,8 hectares de terra plantada.
É notório que os produtores da microrregião de Iraquara possuem baixa
visibilidade no mercado em relação aos produtores de outras microrregiões da Chapada
Diamantina, podendo ser acarretado pela ausência de assistência técnica especializada,
controles gerenciais, planejamentos estratégicos, estudo de mercado e principalmente
legalização dos produtos, processos produtivos e comercialização por parte dos órgãos
competentes.
Enquanto que na região de Abaíra a Cooperativa dos Produtores Associados de
Cana e Seus Derivados da Microrregião de Abaíra COOPAMA conta com uma equipe
qualificada, processo produtivo igualitário para todos os produtores cooperados, planos
de negócios bem estruturados, contrato com escritório contábil, prestam assistência
técnica aos produtores, proporcionando cursos de capacitação, além de possui registros
perante órgãos fiscalizadores de produção e consumo.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Portanto, é perceptível que investimento em tais atividades de assistências e


regularização desencadeiam resultados positivos, com bons retornos financeiros e maior
reconhecimento do mercado consumidor, além de proporcionar maior segurança
alimentar.
Logo, afim de obter um planejamento estratégico mais assertivo para uma
empresa, realizar a matriz SWOT é a melhor opção, visto que a mesma analisa as forças
(Strengths) e fraquezas (Weaknesses), ou seja, as características internas do negócio, e
também as oportunidades (Opportunities) e ameaças (Threats), sendo as características
externas da organização. Desta forma, dispõe de dados para posteriores decisões
estratégicas, demonstrando o negócio diante do mercado (FERNANDES, 2012) 160

Quadro 3. Forças, fraquezas, oportunidades e ameaças da Fazenda Carrasco.


Forças (Strengths) Fraquezas (Weaknesses)
- Produtos de qualidade e puros (sem aditivos); - Dependência de fornecedores de cana-de-
- Produtos artesanais; açúcar;
- Sócios/proprietários engajados em todas as etapas do - Pequeno portfólio de produtos;
processo produtivo; - Ausência de gestão financeira;
- Área para plantação consideravelmente grande; - Ausência de assistência técnica.
- Reconhecimento na região devido ao tempo de
atuação.
Oportunidades (Opportunities) Ameaças (Threats)
- Busca por alimentação saudável pela população; - Concorrer com produtos mais baratos;
- Valorização de produtos artesanais; - Concorrentes que possuem premiações;
- Turismo rural; - Produtos não regularizados;
- Exigência do mercado consumidor por produtos mais - Não possuir diferenciais.
sofisticados.
Fonte: SANTOS (2021).

Ao reconhecer as forças e fraquezas da empresa de forma clara e objetiva, é


possível realizar correções das deficiências encontradas, tornando a empresa mais
eficiente e competitiva. Assim como, para as oportunidades e ameaças existentes, os quais
têm interferências a partir de fatores externos e utilizados para basear a gestão e
planejamento. Como é possível evidenciar no quadro 3, no qual é apresentado as forças,
fraquezas, oportunidades e ameaças da propriedade Fazenda Carrasco, ou seja, seus
fatores internos e externos.
Assim, é possível reconhecer que o dinamismo na administração financeira de
qualquer empresa é fundamental. A formulação de índices financeiros possibilita o
gestor/empreendedor a enxergar a atual situação econômica e financeira da empresa, bem
como o cenário e os possíveis riscos que a mesma corre. E independentemente do
tamanho da empresa é essencial obter relatórios contábeis, havendo transparência dentro
2021 Gepra Editora Barros et al.

da organização e proporcionando segurança diante do mercado (COSTA et al., 2016).


A propriedade rural analisada neste presente trabalho possui diversas necessidades
e carências, e para minimiza-las ou quem sabe providenciar soluções concretas é
importante obter conhecimento de sua situação financeira atual. Iniciando pelo produto
mais rentável que é a cachaça. Para a mesma estimasse um custo de R$ 3.922,00 para
produzir aproximadamente 2.240 litros por mês, considerando que toda a produção do
mês seja vendida, obtém-se aproximadamente R$ 13.440,00 reais. Assim, após
pagamento dos custos resta R$9.518,00 reais.
Enquanto que na mesma perspectiva para a rapadura é perceptível valores mais
baixos, tanto para produção quanto o retorno financeiro com as vendas. Os custos para a 161
produção de aproximadamente 320 Kg de rapadura se encontram na ordem de R$
1.401,36, considerando que cada Kg de rapadura seja comercializado a R$ 7,00, o valor
bruto obtido com as vendas da mesma quantidade é estimado em R$2.240,00 reais. Logo,
estimando um retorno liquido de aproximadamente R$838,64.
O melado foi constatado como o produto de menor saída e também o de menor
valor agregado. O custo para a produção de aproximadamente 120 litros de melado é de
R$ 650,64, enquanto que com a venda saindo cada litro de melado por R$7,00, é possível
obter um valor na ordem de R$ 840,00, no qual ao liquidar os custos, estimasse um valor
positivo de R$ 189,64.
A partir da soma dos valores obtidos após quitação dos custos atrelados a cada
subproduto, e com este realizar a diferença com os custos fixos da propriedade com
manutenção preventiva dos automóveis e parcela de empréstimo bancário, é possível
chegar a um valor de lucro líquido na ordem de R$ 4.646,00 reais mensais. Considerando
que não haja oscilações na quantidade produzida, comercializada e no preço praticado no
mercado, em um ano seria possível obter um montante na ordem de R$55.752,00 liquido.
Tais dados obtidos quanto aos custos de produção e lucratividade da atividade
alinhados as questões tratadas anteriormente de mercado consumidor e matriz SWOT é
possível conhecer o perfil da empresa, bem como seus limites, para somente então estudar
quais os próximos passos a serem tomados para que a mesma prospere financeira e
economicamente.
E conforme demonstrado, a gestão financeira é de suma importância para o
crescimento saudável do negócio. Desta forma, através dessa pesquisa disponibilizamos
aos gestores da fazenda algumas ferramentas de controle operacional de gestão, pois
segundo CAMPOS; GAUDIO (2014), a utilização de tais ferramentas gerenciais
possibilita ao empresário conhecer seu negócio e seu cliente, garantindo a continuidade
do negócio devido a facilidade de adaptação ás mudanças constantes e posteriormente
formalizando sua empresa. Pode-se apresentar algumas ferramentas de controle conforme
as figuras 1 e 2 apresentadas abaixo:
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 1. Ferramenta de Fluxo de Caixa.

162

Fonte: SANTOS (2021).

Figura 2. Controle de Vendas.

Fonte: SANTOS (2021).

Entretanto, partindo da premissa de que cada empresa possui particularidades


intrínsecas a área de atuação, identifica-se então a necessidade de realizar um
planejamento estratégico aliado à sua realidade, e só assim será possível estar apto para
um mercado cada vez mais competitivo e instável (ANDION; FAVA, 2002). Devido a
isso, em todo planejamento, deve-se ter em mente que independentemente da estratégia
para a situação atual ou alguma posterior, a mesma possui uma validade muito pequena
(CHIAVENATO, 2004).
Em relação aos dados obtidos até o presente momento, é possível estabelecer um
planejamento a curto, médio e longo prazo, estando de acordo as necessidades e situação
econômica da propriedade. Delimitando como período de curto prazo entre 1 a 12 meses,
médio prazo entre 1 e 3 anos, e longo prazo entre 3 a 6 anos.
A curto prazo, devido a atual situação financeira da propriedade não é plausível
estratégias que demandem de grandes aportes financeiros. E partindo desta perspectiva,
percebe-se a relevância de buscar métodos para atrair novos clientes e posteriormente
elevar a rentabilidade do negócio. Um exemplo simples e prático é o desenvolvimento de
2021 Gepra Editora Barros et al.

uma página numa dada rede social, como o Instagram, apresentando o sistema produtivo
da cana-de-açúcar, o dia-a-dia na propriedade e no sistema de fabricação dos subprodutos,
gerando maior confiança em quem adquirir o produto. Além de obter uma logomarca
própria, como é demonstrado na figura 3 abaixo.
Figura 3. Logotipo da Fazenda Carrasco.

163

Fonte: SANTOS (2021).

Uma outra forma de destaque é a variação de incrementos e sabores, considerando


a rapadura, pode ser incrementado a mesma o amendoim, a castanha de caju e castanha
do Pará, os quais agradariam ao paladar do consumidor, além de possuírem baixo custo.
Considerando o custo de 1 Kg de rapadura tradicional na Fazenda Carrasco que é de R$
4,38 reais, com o incremento de qualquer um destes, o custo aumentaria para
aproximadamente R$ 4,88 reais.
Assim como a rapadura, é possível buscar variações de sabores para a cachaça,
desenvolvendo um portfólio mais amplo para a propriedade. Considerando que para a
produção de 1 litro de cachaça artesanal tradicional o custo é de R$1,75 reais na Fazenda
Carrasco, na intenção de incrementar um novo sabor, a depender da fruta ou raiz este
custo será aumentado em aproximadamente R$ 0,25 centavos.
Partindo das premissas apresentadas anteriormente como medidas a curto prazo,
e ao obter êxito nas mesmas, é importante dar um passo mais adiante em novos
investimentos, visto que a empresa já se encontra mais conhecida no mercado e agora
possua um leque maior de produtos. Esta nova etapa, faz parte do planejamento a médio
prazo.
Com um pensamento alternativo, a reutilização do bagaço da cana-de-açúcar para
ensilagem pode gerar lucros com o processo produtivo da cachaça, rapadura e melado.
Ao ensilar o bagaço da cana triturado é possível manter propriedades químicas e físicas
da mesma, que pode ser vendida na época da seca como um bom alimento energético para
o gado tanto leiteiro e de corte.
Segundo pesquisas realizadas com produtores criadores de gado da região da
Chapada Diamantina, os mesmos estariam dispostos a pagar entre R$100,00 a R$150,00
reais por tonelada de ensilado de bagaço de cana-de-açúcar, o que é viável visto que este
seria descartado a céu aberto, pois sua queima não é permitida devido a fatores
ambientais. Os custos envolvidos nesta situação estaria apenas envolvendo os valores dos
sacos para ensacar e armazenar, sendo aproximadamente R$ 1,30 reais por saco utilizado
e o investimento em um maquinário para realizar a trituração do bagaço.
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Além disso, atuando diante da grande fraqueza do negócio que é a dependência


de outros produtores de cana-de-açúcar para poder fabricar a cachaça, o melado e a
rapadura. Os custos associados a esta necessidade competem a maior parte do custo de
produção. A atual área plantada é de 1,45 hectares, sendo dividida em quatro áreas
distintas, sendo a área 1 plantio em cova, área 2 plantio em linha, área 3 plantio em linha,
porém uma cultura diferente, e área 4 que não ainda não é possível mensurar de forma
exata visto que ainda está no início do desenvolvimento.
A densidade populacional foi calculada a partir dos dados obtidos em campo, no
qual foi realizado três repetições em cada área, considerando um espaço amostral de 9 m2
e contabilizada a quantidade de colmos presente dentro do espaço amostral. Logo, 164
desconsiderando a área 4 que não foi contabilizada, a densidade populacional de cana-de-
açúcar é de aproximadamente 30.521 colmos para 0,97 hectares.
Considerando os dados acima e troca de conhecimento com os produtores, com
esta quantidade de cana seria possível produzir aproximadamente 4.500 litros de cachaça,
ou seja, comparando a quantidade atual de produção, esta quantia seria utilizada em
aproximadamente 2 meses. E, portanto, seria necessários aproximadamente 5,82 hectares
plantados para produzir em torno de 27.000 litros de cachaça por ano. Isso sem considerar
a quantidade necessária para a produção de rapadura e melado.
Contudo, a propriedade conta com extensos 17 hectares de terra, no qual é possível
além de possuir áreas obrigatórias para: Área de Preservação Permanente (APP), Reserva
Legal (RL) e área de produção, resta ainda boa parte disponível para plantação. Uma outra
facilidade da propriedade para aumentar sua área plantada é devido seu sistema de
irrigação, o qual possui uma vasão de 5.000 litros de água por hora. No entanto, seria
necessário um aporte financeiro médio para compra de mangueiras, encanação, bicos de
controle d’água, registros, trator para arar a terra e mão de obra para o plantio e instalação
do sistema de irrigação.
E somente a partir da segurança de possuir próprio sistema produtivo que se torna
viável partir para o planejamento a longo prazo que consiste no investimento na
infraestrutura do local de produção, reformando o alambique, a cozinha de preparo da
rapadura e melado, o galpão, bem como a construção de área para recepção de visitantes,
escritório, deposito e áreas de produção como mostram as plantas baixas e layonts, nas
figuras 4, 5 e 6 abaixo.
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Figura 4. Projeto arquitetônico armazém, recepção e depósito.

165

Fonte: SANTOS (2021).

Figura 5. Layont alambique.

Fonte: SANTOS (2021).


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Figura 6. Projeto arquitetônico produção de melado e rapadura – engenho de cana.

166

Fonte: SANTOS (2021).

Para a construção em questão será necessário um investimento de


aproximadamente R$ 16.750,61 em materiais de construção, segundo levantamento na
região. Cada área descrita na planta necessitará de utensílios, considerando por exemplo
o escritório, o mesmo deverá conter: com mesa, notebook, impressora, cadeiras, entre
outros utensílios necessários, e neste caso, considerando valores atuais de mercado o
aporte financeiro será de aproximados R$ 5.000,00 para aquisição destes. Contudo, para
o depósito seria necessária apenas prateleiras para estoque, a qual segundo o mercado
encontra-se entre R$ 2.000,00 a R$ 3.000,00 sob medida.
Considerando as áreas de produção, como o engenho de açúcar para a fabricação
de melado e rapadura considera-se um valor estimado de R$ 4.800,00 para aquisição de
tachos de cobre, gamelas, bancadas e moldes. Já para a área de produção de cachaça,
como os alambiques encontram-se em bons estados de conservação e sua durabilidade a
depender dos cuidados são de até 10 anos, seria necessário de acordo ao layont adquirir
apenas as dornas de fermentação de aço inox e bancada, e para isso, o valor de
investimento seria de aproximadamente R$ 8.300,00 reais.
Associada a reforma do alambique será necessária a construção de um sistema de
tratamento do vinhoto – resíduo final da garapa de cana após fervura para produção da
cachaça –, buscando aliar a sustentabilidade e proteção ambiental ao sistema produtivo.
O vinhoto possui alta toxicidade ao solo e as águas, e o tratamento adequados do mesmo
ainda se encontra em estudo, com poucas literaturas que detenham de metodologias
práticas e acessíveis aos pequenos produtores. Uma das formas mais acessíveis seria a
reutilização deste utilizando o método da decantação.
O vinhoto possui características de 93% de fase aquosa e 7% de sólidos em
suspensão, o mesmo é rico em matéria orgânica, possui baixo pH, elevada corrosividade
e altos índices de demanda bioquímica de oxigênio (DBO), o que dificulta sua
decomposição. Além disso, o vinhoto possui alto teor de potássio (K) e nitrogênio total
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(N), e menores concentrações de cálcio (Ca), magnésio (Mg), fósforo (P) e enxofre (S)
(SEIXAS; GIMENES; FERNANDES-MACHADO, 2016).
Desta forma, o processo mais simples para tratamento e reutilização do vinhoto é
a realização do transporte do alambique para um reservatório de polietileno, deixando-o
decantar, resfriar e ocorrer os processos de decomposição da matéria orgânica, obtendo
um fertilizante. Assim, após este processo, a mesma tubulação responsável pela irrigação
estará conectada a um destes reservatório realizando a distribuição do mesmo,
economizando na aquisição de insumos químicos.
Logo, somente após a reforma da infraestrutura e estar de acordo as normas de
segurança ambiental é possível solicitar reconhecimento nos órgãos competentes para 167
obter licenciamento e certificação de segurança alimentar, podendo abranger ainda mais
a área de comercialização para supermercados, quitandas, empórios, entre outras
empresas, agregando maior valor aos produtos.
Além deste, é possível incrementar mais um subproduto no portfólio da empresa,
o açúcar mascavo, visto que a produção de cana-de-açúcar agora se encontra suficiente
para a demanda dos demais produtos e o ambiente propicio, além de possuir legalização.
Segundo pesquisas o valor de custo de produção de 1 Kg de açúcar mascavo encontra-se
em torno de R$ 7,58 reais e o valor de venda está entre R$ 9,00 e R$ 11,00 o pacote de
500g. Ou seja, devido ao alto custo de produção em relação aos outros subprodutos, além
da preparação técnica necessária para a produção do mesmo, faz com que seja viável sua
produção após estabilização da propriedade.
Portanto, considerando a situação financeira atual do negócio, caso os
proprietários se comprometam a colocar em prática os planejamentos propostos a curto,
médio e longo prazo, a propriedade poderá obter um aumento de 30% a 40% na
rentabilidade.

CONCLUSÕES

Após todas as pesquisas e levantamentos realizados, constata-se que mesmo o


porte da propriedade sendo pequeno é possível obter boa rentabilidade, e ter clareza
quanto aos pontos de fraqueza, força, oportunidade e ameaças, para que seja possível
propor posterior planejamentos estratégicos de acordo a realidade financeira, econômica,
social e técnica da mesma, tomando como exemplo empresas do ramo que obtiveram
sucesso.
Pode-se concluir então, que a Fazenda Carrasco se encontrava sem qualquer forma
de registro das receitas e despesas da propriedade, bem como, sem qualquer orientação
técnica para a produção, comercialização e marketing dos produtos. No entanto, apresenta
forte presença no mercado da microrregião da cidade de Iraquara com seus produtos
artesanais, além de contribuir fortemente com o turismo rural por estar localizada na
Chapada Diamantina, e com as alternativas sugeridas, espera-se que obtenha aumento no
lucro da empresa.
2021 Gepra Editora Barros et al.

REFERÊNCIAS

ANDION, M. C.; FAVA, R. Planejamento estratégico. Coleção gestão empresarial, v.


2, n. 3, p. 27-38, 2002.
C.I.B. Guia da cana-de-açúcar, C. I. B. avanço científico beneficia o país. Conselho
de Informações sobre Biotecnologia. 20p. 2009.
CAMPOS, B. R.; GÁUDIO, A. E. G. M. A utilização de ferramentas de controle gerencial
em micro e pequenas empresas da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Revista da
Micro e Pequena Empresa, v. 8, n. 3, p. 66, 2014. 168
CHIAVENATO, I. Planejamento estratégico. 12 ed. Rio de Janeiro: Elsevier Brasil,
2004. 402p.
CONAB, CNDA. Acompanhamento da safra brasileira Cana-de-açúcar. V. 4 -
SAFRA 2017/18 N.4. 2018.
CORSO, C. A.; RUPPENTHAL, I. L.; KALKMANN, M. L. Análise econômica em uma
pequena propriedade rural para tomada de decisão. Brazilian Journal of Development,
v. 4, n. 3, p. 801-813, 2018.
COSTA, R. A. T. et al. Estudo da situação financeira de uma microempresa de Cerro
Largo/RS. Revista de Empreendedorismo e Gestão de Micro e Pequenas Empresas,
v. 1, n. 01, p. 100-114, 2016.

FERNANDES, D. R. Uma visão sobre a análise da Matriz SWOT como ferramenta para
elaboração da estratégia. Revista de Ciências Jurídicas e Empresariais, v. 13, n. 2,
2012.
FOGUESATTO, A. L. B. Análise econômica e financeira da produção de grãos em
uma propriedade rural. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências
Contábeis) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Ijuí,
2020.
MIRANDA-STALDER, S. HG.; BURNQUIST, H. L. A importância dos subprodutos da
cana-de-açúcar no desempenho do setor agroindustrial. Revista de Economia e
Sociologia Rural, v. 34, n. 3, p. 103-119, 2019.
RODRIGUES, G. S. S. C.; ROSS, J. L. S. A trajetória da cana-de-açúcar no Brasil:
perspectivas geográfica, histórica e ambiental. 1ed. Uberlândia: EDUFU, 2020. 273p.
SEIXAS, F. L.; GIMENES, M. L.; FERNANDES-MACHADO, N. RC. Tratamento da
vinhaça por adsorção em carvão de bagaço de cana-de-açúcar. Química Nova, v. 39, n.
2, p. 172-179, 2016.
VIDAL, M. F.; XIMENES, L. F. Cana-de-açúcar. Caderno Setorial Etene: Banco do
Nordeste, 2020.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 15

ANÁLISE QUANTITATIVA DA MURCHA-DO-COQUEIRO NO


MUNICÍPIO DE FREI MARTINHO

MEDEIROS, Maria Carmenleide


Graduada em Agroecologia
IFPB – Campus Picuí
mileidemedeiros21@gmail.com

MARTINS, Fernanda Borges


Mestranda em Agronomia
Universidade Federal da Paraíba – Campus II 169
nandaborgges16@gmail.com

RESUMO

Destacando-se nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil, o cultivo do coqueiro é


considerada uma das poucas opções agrícolas que apresentam renda assegurada e vocação
para a conservação ambiental. O coqueiro, enfrenta diversos problemas fitossanitários
que limitam a sua exploração, dentre eles a murcha-de-fitomonas, causada pelo
protozoário Phytomonas sp., é uma das doenças mais importantes. Devido à escassez de
conhecimento sobre essa doença na microrregião do Seridó Oriental Paraibano, a
pesquisa objetivou relatar a ocorrência dessa enfermidade em coqueiros do município de
Frei Martinho, PB. O trabalho foi conduzido entre maio e agosto de 2014, com coqueiros
da variedade gigante, em dois plantios, sendo um tecnificado e outro não tecnificado, nas
comunidades rurais Figueira e Várzea Verde. Durante visitas prévias para inspeção e
diagnose fitossanitária em coqueiros nas comunidades constatou-se folhas velhas
amareladas e escurecidas, começando pela extremidade, progredindo no sentido da base.
Em seguida, ocorre o murchamento e quebra da raque, junto ao estipe ou na sua parte
mediana. Para o estudo da porcentagem da incidência da doença nos pomares, foram
avaliados 100 coqueiros em cada comunidade, criando assim, graus de incidência da
doença. Confirmou-se, por meio de diagnose visual, corte longitudinal do caule e relatos
literários, que o agente etiológico da murcha-do-coqueiro é o Phytomonas sp. e não o
nematoide Bursaphelenchus cocophilus, causador do anel-vermelho. A comunidade
Figueira, apresenta maiores números de plantas com sintomas avançados e plantas
mortas, já a comunidade Várzea verde, apresentou os maiores números de plantas sadias
e plantas com sintomas iniciais.

PALAVRAS-CHAVE: Cocos nucifera, murcha-de-fitomonas, Phytomonas sp.

INTRODUÇÃO

O coqueiro (Cocos nucifera L) é uma das frutíferas mais encontradas e difundidas


naturalmente no globo terrestre, ocorrendo em praticamente todos os continentes. Em
virtude dessa dispersão e adaptabilidade, seu cultivo e sua utilização se dão de forma
expressiva em todo o mundo, com os mais variados produtos, tanto de forma in natura
quanto processada e industrializada (EMBRAPA, 2018).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Em 1990, o cultivo de coqueiro se restringia às regiões Norte e Nordeste. Porem


segundo a (FAO, 2014º) o Brasil passou a cultivar cerca de 280 mil hectares com
coqueiro, distribuídos, praticamente, em quase todo o território nacional com produção
próxima dos dois bilhões de frutos. De acordo com dados do IBGE a produção de coco
vem exercendo com grande importância na vida e na economia das populações,
principalmente nos Estados da Bahia, Ceará, Pará, Sergipe, Espírito Santo, Pernambuco,
Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. (CAMPOS & NEGÓCIOS, 2021)
Em 2012, a produção do coqueiro no Estado da Paraíba foi de 57.456 mil frutos
de uma área colhida de, 9.817 hectares, com produtividade média de 5.853 frutos/hectare.
No mesmo ano, no município de Frei Martinho, PB, a produção do coqueiro foi da ordem
170
de 35.000 mil frutos, de uma área colhida de 10 hectares, tendo produtividade média de
3.500 frutos/hectare (IBGE, 2012).
Como toda cultura agrícola, o coqueiro, enfrenta diversos problemas
fitossanitários que limitam a sua exploração, causando prejuízos que vão desde a
germinação até a colheita. Os sinais deixados pelas espécies-praga nos diversos órgãos
da planta são bem característicos. O monitoramento é um instrumento eficaz utilizado no
MIP para registrar a ocorrência de pragas e determinar o nível de dano que causam à
planta e à plantação. Tem como objetivos principais: (1) prevenir que o nível da infestação
supere o nível de controle pré-estabelecido e (2) auxiliar na tomada de decisão da medida
de controle a ser adotada (Ferreira 2008). A adoção dessa simples prática permite detectar
e identificar as pragas e doenças tão logo apareçam na área, avaliar o grau de infestação,
infecção e determinar a importância econômica dos danos causados às plantas ou à
plantação (apud. SILVA, 2018, p.19).
Dentre as dificuldades fitossanitárias enfrentadas por esta cultura, a murcha-
docoqueiro ou murcha-de-fitomonas, cujo agente etiológico é o protozoário Phytomonas
sp., é uma das doenças mais importantes (MARIANO, 1997).
Devido à escassez de conhecimento sobre a murcha-de-fitomonas na microrregião
do Seridó Oriental Paraibano, esse trabalho teve como objetivo relatar a ocorrência dessa
doença em coqueiros cultivados em duas propriedades, localizadas no município de Frei
Martinho, PB, diagnosticando as plantas acometidas pela doença.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi conduzido entre maio e agosto de 2014, com coqueiros da variedade
gigante e Anão, em dois plantios, sendo um tecnificado e outro não tecnificado, nas
comunidades rurais Figueira e Várzea Verde, respectivamente, localizadas no município
de Frei Martinho, Estado da Paraíba.
O município de Frei Martinho está situado na mesorregião da Borborema e
microrregião do Seridó Oriental Paraibano, com coordenadas geográficas 6º24’15” de
latitude Sul e 36º26’55” de longitude Oeste, a 363 m de altitude (Cidade-Brasil, 2021) e
possui um clima caracterizado segundo Köppen (Brasil, 1972) como tropical chuvoso,
com verão seco As’.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Durante visitas prévias para inspeção e diagnose fitossanitária em coqueiros nas


comunidades rurais Figueira e Várzea Verde, constataram-se folhas velhas amareladas e
escurecidas, começando pela extremidade, progredindo no sentido da base. Em seguida,
seguida constatou-se o murchamento e quebra da raque, junto ao estipe ou na sua parte
mediana.
Mediante os sintomas apresentados pelas plantas, procedeu-se um corte horizontal
no caule de duas plantas, sendo uma planta viva e outra já morta, para confirmação da
murcha nos coqueiros.
Para o estudo da porcentagem da incidência da doença nos pomares de coqueiro,
foram avaliados 100 coqueiros em cada comunidade, criando assim, graus de incidência
171
da doença. Criaram-se diferentes graus de incidência para avaliação da doença em campo,
quais sejam: plantas sadias, plantas com sintomas iniciais, plantas com sintomas
avançados e plantas mortas (Figura 1).

Figura 1 – Graus de incidência da doença nas comunidades Figueira e Várzea Verde. A- Plantas sadias;
B- Plantas com sintomas iniciais; C- Plantas com sintomas avançados; D- Plantas mortas.

Fonte: Autoria Própria

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com registros fitossanitários, este é o primeiro relato da murcha-de-


fitomonas em coqueiros na região do Seridó Oriental Paraibano.
Confirmou-se, por meio de diagnose visual, corte do caule e relatos literários, que
o agente etiológico da murcha-do-coqueiro é o protozoário Phytomonas, e não o
nematóide Bursaphelenchus cocophilus causador do anel-vermelho (Figura 2). Segundo
2021 Gepra Editora Barros et al.

Warwick (2005), o anel-vermelho apresenta internamento uma faixa avermelhada


evidente.

Figura 2 – Corte transversal no caule de coqueiro da comunidade Várzea Verde município de Frei
Martinho, PB.

172

Fonte: Autoria própria

No Planalto de Vitória da Conquista, Estado da Bahia, foi observado pela primeira


vez em 2 de 14 plantas de palmeira-imperial, Roystonea oleraceae, a ocorrência da
murcha-de-fitomonas causada por Phytomonas staheli. Para diagnose da doença foi feita
amostra de raiz, em estágio final de infecção, submetidas à alta pressão para extração da
seiva (SANTOS et al., 2006). Ainda segundo esses autores, foi a primeira vez que se
utilizou desse método para diagnose da doença em fase terminal.
A primeira análise foi realizada em maio de 2014 no sítio Várzea Verde
pertencente ao Sr.Geraldo Gomes da Silva, produtor de coco desde 1950. Nessa
propriedade observou-se que 42% das plantas analisadas, estavam com sintomas iniciais,
seguido de plantas com sintomas avançados (24%) e plantas mortas com 20%. Nesta
comunidade apenas 14% das plantas apresentaram-se sadias (tabela 1).

Tabela 1 – Graus de incidência da doença na comunidade Várzea Verde, município de Frei Martinho,
PB.

Comunidade Várzea Verde


Índice da doença (%)

Graus de incidência da doença


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Dos graus de incidência da murcha dos coqueiros observados na comunidade


Figueira, plantas com sintomas avançados se sobrepuseram ao demais, com 57%. Apenas
6% das plantas avaliadas não apresentaram os sintomas da doença (tabela 2).

Tabela 2 – Graus de incidência da doença na comunidade Figueira, município de Frei Martinho, PB.

Comunidade Figueira

173
Índicie da doença (%)

Graus de incidência da doença

Comparando os graus de incidência da murcha entre as comunidades estudadas,


observou que a comunidade Figueira, apresenta maiores números de plantas com
sintomas avançados e plantas mortas, já a comunidade Várzea verde, apresentou os
maiores números nas plantas com sadias e plantas com sintomas iniciais (tabela 3).

Tabela 3 – Comparativo de graus de incidência da doença nas comunidades Figueira e Várzea Verde,
município de Frei Martinho, PB.

Várzea Verde
Figueira
Índice da doença (%)

Acredita-se que o maior número de plantas com sintomas avançados e plantas


mortas na comunidade Figueira, deve-se ao fato de que nesta comunidade o plantio é
Graus de incidência da doença
tecnificado e o espaçamento é adensado, facilitando a dispersão do inseto-vetor, diferente
2021 Gepra Editora Barros et al.

da comunidade Várzea Verde onde os coqueiros estão plantados aleatoriamente e


distantes um do outro (Figura 3). Segundo Araújo; Pereira; Gasparotto (2003), plantios
adensados favorecem a disseminação da doença via raízes.

Figura 3 – Plantio tecnificado (A) na comunidade Figueira e plantio não tecnificado (B) na comunidade
Várzea Verde, município de Frei Martinho, PB.

174

Fonte: Autoria Própria

Como medidas alternativas de controle, baseadas em Araújo; Pereira; Gasparotto


(2003) e Mariano (1997) recomendam-se ações preventivas, consistindo em realizar
inspeções periódicas no plantio, destruindo plantas com sintomas iniciais da doença,
mantendo plantas no limpo, livres de ervas espontâneas. Eliminar folhas secas pendentes
que tocam o solo e distribuí-las ao longo da linha, distante um metro das plantas. Essas
medidas diminuem o abrigo para o inseto-vetor. Ainda como medidas preventivas, evitar
plantios adensados e realizar adubações adequadas. As ferramentas utilizadas para os
tratos culturais devem ser desinfestadas em solução de água e hipoclorito de sódio na
proporção 1:3.

CONCLUSÕES

Através das entrevistas realizadas com os proprietários das áreas estudadas,


observou-se que os agricultores não sabiam da provável existência da murcha-do-
coqueiro em seus cultivos, pois eles pensavam que a perda da produtividade em seus
cultivos, fossem causados pela estiagem que vinham ocorrendo nos últimos anos.
O maior número de plantas mortas ou com sintomas avançados foi encontrado na
comunidade Figueira, em plantio tecnificado. Porém os coqueiros não tecnificados da
comunidade rural Várzea Verde apresentaram-se menos susceptíveis ao ataque do
patógeno causador da murcha-do-coqueiro.
Medidas preventivas e de bases agroecológicas devem ser implementadas pelos
produtores de coqueiro das comunidades estudadas para minimizar o avanço da doença.
2021 Gepra Editora Barros et al.

REFERÊNCIAS

FERREIR, J.M.S.; WARWIC, D.R.N.; SIQUEIRA, L.A. A cultura do coqueiro no Brasil.


3.ed. Brasília: EMBRAPA, 2018.

MARTINS, C.R.; JÚNIOR, L.A.J. Produção e Comercialização de Coco no Brasil Frente


ao Comercio Internacional: 2014. 1.ed. Aracaju: Embrapa Tabuleiro Costeiros, 2014.
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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 16

ANÁLISE SWOT DO COMPLEXO TURÍSTICO COMUNIDADE


CHÃ DO JARDIM: EMPREENDEDORISMO VOCACIONADO À
AGROECOLOGIA
NASCIMENTO, Rejane Ribeiro do
Graduada em Agroecologia
Universidade Estadual da Paraíba, CCAA
rejaneribeiro.n@gmail.com

QUEIROZ, Messias Firmino de


Orientador da pesquisa 177
Doutor em Engenharia Agrícola e Especialista em Agribusiness
Professor Associado A da Universidade Estadual da Paraíba, CCAA/DAA
mefiqueiroz@gmail.com

SANTOS, Shirleyde Alves dos


Mestre em Saúde Pública
Professora Mestre D da Universidade Estadual da Paraíba, CCAA/DAA
shirleyde.santos@gmail.com

NÁPOLES, Fábio Agra de Medeiros


Doutor em Engenharia Agrícola e Especialista em Gestão Pública
Professor Doutor D da Universidade Estadual da Paraíba, CCAA/DAA
fagramedeiros@gmail.com

LEITE, Saulo Ferreira


Mestre em Recursos Naturais
Universidade Federal de Campina Grande
saulo_fleite@yahoo.com.br

RESUMO

Um dos desafios da Agroecologia é desenvolver os negócios dos agricultores, de modo


que eles consigam ampliar alguma atividade econômica e assim melhorarem sua
qualidade de vida. Para que haja desenvolvimento em qualquer negócio são necessários
planejamentos regulares, diagnósticos, identificação de possíveis problemas que se não
resolvidos, podem abrir espaço para que se instale uma ameaça e comprometa o
desempenho e crescimento da empresa. A presente pesquisa objetivou analisar de forma
estratégica os principais empreendimentos do Complexo Turístico Comunidade Chã do
Jardim a partir da opinião dos consumidores e dos associados da ADESCO, através da
aplicação da ferramenta administrativa Análise SWOT na identificação das ameaças e
oportunidades (fatores externos) e das fortalezas e fraquezas (fatores internos). Dessa
forma, na primeira etapa da pesquisa foram aplicados com os consumidores 150
questionários e na segunda etapa foram entrevistados 24 sócios da ADESCO. A partir das
respostas dos questionários, foram realizadas análises através da aplicação Análise
SWOT. A Comunidade Chã do Jardim apresenta grande potencial para tornar-se um
Complexo de empreendimentos com ênfase agroecológica. A ADESCO e os
empreendimentos da Comunidade Chã do Jardim são valorizados por seus consumidores
e por seus sócios, sendo motivo de orgulho para todos. Os sócios da ADESCO
apresentaram elevado potencial no que se refere à gestão dos negócios. A ADESCO e
seus sócios apresentam perfil organizacional criativo e inovador no requisito
“empreendimentos no meio rural”, gerando negócios, opções de lazer e entretenimento
2021 Gepra Editora Barros et al.

para os visitantes, emprego e renda para famílias locais tanto de forma direta como
indireta.

PALAVRAS-CHAVE: diagnóstico, desenvolvimento sustentável, associação.

INTRODUÇÃO

A agroecologia está em crescente expansão. A equação é a seguinte: Quanto maior


o crescimento populacional, maior a necessidade de que haja desenvolvimento rural.
178
Assim sendo, é possível obter qualidade de vida, alimentos saudáveis, desenvolvimento
social, econômico, dentre outros processos. Desse modo, a agroecologia leva em
consideração não apenas o modelo de produção e tecnologia agrícola sustentável, mas
também, engloba uma multidisciplinaridade que proporciona maior entendimento sobre
o seu significado. (SAGAROSO et al., 2018).
Desde então, as empresas têm se preocupado em inserir a sustentabilidade nas mais
diversas formas de atuação, o que tem feito com que elas alcancem o lugar de
incentivadoras do desenvolvimento sustentável e ainda consigam destaque em meio às
demais que não tem o olhar direcionado a inovar na resolução de problemas do público
consumidor, a partir da criação de produtos fundamentados nas dimensões do
desenvolvimento sustentável (ORSIOLLI; NOBRE, 2016).
Nos dias atuais é perceptível a expansão e o surgimento de empreendimentos
sustentáveis. A Comunidade Chã do Jardim, localizada na cidade de Areia-PB é
atualmente considerada uma referência nacional em turismo rural, associativismo e é um
exemplo de empreendedorismo sustentável vocacionado à agroecologia e também se
destaca na geração de emprego e renda para moradores locais.
Em 2006 surgiu a ADESCO - Associação para o Desenvolvimento Sustentável da
Comunidade Chã do Jardim. Formada a partir de um grupo de jovens que existia na
comunidade, a ADESCO foi fundada para promover o desenvolvimento sustentável da
comunidade. Atualmente, a associação desenvolve diversas atividades empreendedoras a
exemplo do Restaurante Rural “Vó Maria” e da Bodega “Vó Maria”.
Como toda e qualquer atividade empreendedora necessita de constante avaliação e
acompanhamento, uma alternativa de fazer análises dos negócios, bem como do perfil
empreendedor é através de ferramentas administrativas que visem identificar nas cadeias
produtivas: as ameaças, as oportunidades e os pontos fortes e fracos que estão em torno
dos negócios.
A análise SWOT é uma ferramenta capaz de identificar com precisão e clareza os
pontos apresentados no diagnóstico. Sendo eles: oportunidades, ameaças, pontos fortes e
fracos de um empreendimento (OLIVEIRA et al., 2017). Desta forma, a análise SWOT
se destaca como eficiente no diagnóstico, pois, sua estrutura demonstra com facilidade os
pontos destacados na análise, viabilizando assim a tomada de decisão (OLIVEIRA,
2019).
A presente pesquisa objetivou analisar de forma estratégica os principais
empreendimentos do Complexo Turístico Comunidade Chã do Jardim a partir da opinião
2021 Gepra Editora Barros et al.

dos consumidores e dos associados da ADESCO, através da aplicação da ferramenta


administrativa Análise SWOT na identificação das ameaças e oportunidades (fatores
externos) e das fortalezas e fraquezas (fatores internos).

MATERIAL E MÉTODOS

Esta pesquisa foi realizada junto aos sócios da ADESCO (Associação para o
desenvolvimento sustentável da Chã de Jardim) durante o mês de novembro de 2019.
Com sede na Comunidade Chã de Jardim, no município de Areia-PB, a ADESCO conta
179
atualmente com 28 associados que de forma direta ou indireta possuem vínculo com os
empreendimentos existentes na comunidade. Como público-alvo deste estudo, além dos
sócios da ADESCO a pesquisa também foi direcionada aos consumidores de quatro
empreendimentos da comunidade Chã de Jardim. Sendo eles: Bodega Vó Maria,
Restaurante Rural Vó Maria, Polpa de Fruta Doce Jardim e Trilha no Parque Estadual
Mata do Pau-ferro. Em cada empreendimento foram aplicados 30 questionários.
De um total de 28 sócios da ADESCO, foram entrevistados 24 sócios, quatro não
foram entrevistados por motivos de desencontros, e 150 consumidores, sendo: 30
consumidores responderam o questionário relacionado aos empreendimentos abrangendo
o perfil dos negócios da comunidade de um modo geral e outros 120 consumidores
responderam questionários específicos para avaliação dos quatro negócios. No total,
foram aplicados 174 questionários relacionados aos quatro empreendimentos, incluindo
os sócios da ADESCO.
Este trabalho contribui de forma sistemática na gestão dos empreendimentos, dos
negócios e perfil dos sócios da ADESCO, através da aplicação da ferramenta
administrativa Análise SWOT (Figura 1) identificando ameaças e oportunidades (fatores
externos) e das fortalezas e fraquezas (fatores internos). Na análise SWOT, as fortalezas
e fraquezas dependem unicamente do associado da ADESCO e de sua cadeia produtiva.
Se tratando das oportunidades e ameaças, dependem de fatores externos, como, por
exemplo, rodovia esburacada, ausência de políticas públicas, entre outros.
A coleta de dados para as análises do perfil e dos negócios dos empreendedores
rurais participantes da ADESCO foi realizada através de dois questionários
semiestruturados. Em um deles, foi levantado dados acerca da opinião dos consumidores.
Em outro, foi coletada dados da opinião dos sócios da ADESCO. Ambos com perguntas
baseadas na metodologia SWOT que aborda os pontos fortes e fracos, ameaças e
oportunidades acerca dos negócios existentes na comunidade (Figura 1).
As entrevistas semiestruturadas valorizaram o pensamento sistêmico, buscando
compreender a realidade local voltada ao empreendedorismo.
Para cada informação descrita pelos entrevistados foram propostas ações com o
propósito de solucionar os pontos fracos e as ameaças, potencializar os pontos fortes e
tomar consciência das oportunidades identificadas através da Análise SWOT, a fim de
favorecer os negócios e o perfil dos sócios empreendedores da ADESCO.
As entrevistas com os consumidores, aconteceram nos próprios empreendimentos,
enquanto os clientes frequentavam a Comunidade Chã do Jardim. Com relação aos dados
2021 Gepra Editora Barros et al.

coletados junto aos sócios da ADESCO, alguns foram colhidos após a reunião mensal e
outros, em suas casas.

Figura 1. Esquema da ANÁLISE SWOT.

180

Fonte: Oliveira (2019).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

ANÁLISE SWOT: OPINIÃO DOS CONSUMIDORES DA ADESCO

Quando analisada a opinião de 30 consumidores que avaliaram alguns aspectos do


serviço/produto do Restaurante Rural Vó Maria, como: a qualidade e sabor da comida, e
quando comparados com os níveis de satisfação: muito satisfeito; satisfeito; insatisfeito;
muito insatisfeito; não sabe/não se aplica, observa-se na Figura 2 que 63,3% ficaram
muito satisfeitos e 36,7% se mostraram satisfeitos. Quando avaliado o atendimento
oferecido no Restaurante, os consumidores se mostraram 70,0% muito satisfeitos e 30,0%
satisfeitos. Sobre a decoração e aparência do ambiente 76,7% ficaram muito satisfeitos,
enquanto 23,3% ficaram satisfeitos. Já com relação ao estacionamento 23,3% se
mostraram muito satisfeitos, 63,3% satisfeitos e 13,3% se posicionaram como
insatisfeitos (Figura 2).
É possível perceber com relação à qualidade e sabor da comida do Restaurante que
o nível de satisfação se manteve entre muito satisfeito e satisfeito, o que se mostrou ser
um fator positivo para o empreendimento em questão. No entanto, é preciso ter
consciência sobre a qualidade dos demais serviços. Tendo em vista que, segundo Santos
(2016) para o cliente um serviço de qualidade é aquele onde tudo esteja funcionando bem.
Caso contrário, faltará algo que posteriormente poderá influenciar na hora de uma
indicação sobre o empreendimento.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Com relação ao atendimento praticado pelo estabelecimento, o nível de satisfação


também se manteve entre muito satisfeito e satisfeito. Este resultado mostra o
compromisso e a conformidade que há por parte da empresa com o serviço prestado, o
que resulta no crescente desenvolvimento do empreendimento, no constante progresso do
serviço, influenciando de maneira positiva para que o nível de satisfação dos clientes com
relação ao atendimento, só tenha a crescer. (SANTOS, 2016).
Sobre a decoração e aparência do lugar, o nível de muito satisfeito foi o mais
elevado entre os demais aspectos avaliados no Restaurante. O nível de satisfeito vem
depois e se mantém como os dois únicos níveis avaliados. Portanto, não houve nível de
insatisfação relacionado a este aspecto. Logo, fica evidente e se mostra positivo a inteira
181
satisfação dos clientes acerca dessa variável. Santos (2016) diz que “a aparência e
decoração regional são vistas como diferencial e é considerado um ponto favorável para
o empreendimento, tornando-o propício a fotos.”
Relacionado ao estacionamento foi possível observar o nível de muito satisfeito
com 23,3%, depois o nível de satisfeito com 63,3%, o que se mostra favorável ao
empreendimento. Por último, o nível de insatisfação que se apresenta com o percentual
de 13,4% dos consumidores. Desse modo, o resultado propõe uma atenção a esse aspecto.
Já que, segundo a fala dos clientes, é possível ver com clareza que a insatisfação com o
estacionamento se refere a falta de cobertura com incidência de sol e de chuva no local,
gerando desconforto nos consumidores, ao saírem de seus carros e se descolarem até o
restaurante. Entre outros aspectos relatados (Figura 2).

Figura 2. Nível de satisfação sobre a qualidade e sabor da comida; atendimento; decoração e aparência e
estacionamento do Restaurante Rural Vó Maria.

Restaurante Muito
satisfeito
100
PORCETAGEM (%)

76,7 Satisfeito
80 70
63,3 63,3
60
Insatisfeito
36,7
40 30
23,3 23,3
20 13,4 Muito
Insatisfeito
0
Qualidade e Atendimento Decoração e Estacionamento Não
sabor da comida aparência sabe/Não se
aplica

Fonte: Dados da pesquisa, 2019.

Sobre a Bodega Vó Maria, seus produtos e serviços, a opinião dos clientes mostrou
que 66,7% ficaram muitos satisfeitos e 33,3% ficaram satisfeitos com relação à qualidade
e sabor dos produtos comestíveis vendidos no empreendimento. Quando se tratou da
qualidade do souvenir, mostraram-se 53,3% muito satisfeitos e 46,7% satisfeitos.
Tratando-se da forma de pagamento 16,7% ficaram muito satisfeitos, 53,3% ficaram
satisfeitos e 33,3% se mostraram insatisfeitos. O motivo da insatisfação se deu pela não
aceitação de cartão de crédito ou débito como forma de pagamento. (Figura 3).
2021 Gepra Editora Barros et al.

É possível verificar na Figura 3 que os consumidores se mostram com nível de


satisfação positivo no que diz respeito à qualidade e sabor dos produtos comestíveis,
qualidade dos souvenires obtendo o maior percentual em satisfação nesses dois itens. No
que se refere à forma de pagamento, eles se mostraram com nível de satisfação reduzido
e apresentaram um nível de insatisfação elevado quando comparado aos demais aspectos.
Assim sendo, os consumidores relataram alguns motivos justificando a insatisfação,
como: “Eu acho que deveriam aceitar cartão, somos pegos de surpresa e como estamos
distantes da cidade, não temos como sacar dinheiro”. Em outra entrevista alguém
relatou: “Deveria aceitar pelo menos cartão de débito”. Diante do momento atual em
que se vive, percebe-se que as pessoas estão cada vez mais adeptas à tecnologia. O que é
182
possível observar através desse comentário: “Hoje em dia não tem como não oferecer
este serviço”.
Uma das maiores preocupações dos empreendimentos é a qualidade do serviço ou
produto oferecido que parte desde o fornecedor de insumos até o consumidor final. Dessa
forma, a qualidade contribui para o aumento da satisfação, e confiança dos clientes,
promove a redução de custos e proporciona aumento na produtividade. A qualidade deve
ultrapassar o limite do produto e contemplar desde os fornecedores até o cliente final.
Assim percorrendo toda a cadeia produtiva. Mais que uma necessidade básica para a
sobrevivência, a qualidade é para a gestão uma base das ações estratégicas que perpassam
toda a organização, culminando com a percepção dos clientes acerca do serviço recebido.
(FRANÇA FILGUEIRAS; DAMORIM, 2019).

Figura 3. Nível de satisfação sobre a qualidade e sabor dos produtos comestíveis; qualidade dos
souvenirs; forma de pagamento e preços praticados na Bodega Vó Maria.

Bodega Vó Maria
80
70 66,7
PORCETAGEM (%)

60
60 53,3 53,3
50 46,7
36,7 Muito satisfeito
40 33,3 30
30 Satisfeito
20 16,7 Insatisfeito
10 3,33 Muito Insatisfeito
0
Não sabe/Não se aplica
Qualidade e Qualidade Forma de Preços
sabor dos dos pagamento praticados
produtos Souvenirs
comestíveis

Fonte: Dados da pesquisa, 2019.

Quando medido o nível de satisfação dos consumidores para mais um produto


comercializado pela ADESCO, as polpas de fruta, 83,3% ficaram muito satisfeitos e
16,7% ficaram satisfeitos com relação à qualidade e sabor das polpas. O que evidencia
um ponto positivo ao empreendimento. Com relação ao atendimento durante a
2021 Gepra Editora Barros et al.

comercialização, o percentual encontrado foi de 86,7% para muito satisfeito e 13,3% para
satisfeito. Mostrando porcentagem superior quando comparado aos demais aspectos
avaliados. Sobre a forma de pagamento, 63,3% ficaram muito satisfeitos, 33,3% se
mostraram satisfeitos e 3,3% alegaram insatisfação. Segundo os entrevistados, o motivo
se deu também pela não aceitação de cartão de crédito ou débito como forma de
pagamento. Relacionado aos preços praticados 46,7% ficaram muito satisfeitos e 53,3%
se mostram satisfeitos.
Fazendo uma leitura desses percentuais, é evidente a aceitação dos consumidores.
Logo, o percentual para muito satisfeitos foi altíssimo e o percentual de satisfeitos
complementou o restante que faltava para fechar em 100% na aceitação da polpa com
183
relação à qualidade e sabor das polpas. De acordo com Augusto (2016), quando o bom
gosto e aceitação da polpa de fruta são colocados como fator prioritário dentro da
produção, ele tende a conquistar uma aceitabilidade no mercado, passando a ser um
instrumento de valor para a empresa, assim conquistará a preferência do consumidor e ele
passará a sempre buscar por produtos de qualidades. Essa constatação corrobora com os
resultados de satisfação dos consumidores do presente trabalho.
Sobre a qualidade e percurso da Trilha na Mata do Pau-ferro, a opinião dos clientes
mostrou que 73,3% ficaram muitos satisfeitos e 26,7% ficaram satisfeitos. Com relação
as explicações dos Guias passadas na Trilha, 76,7% ficaram muito satisfeitos e 23,3%
satisfeitos. No que se refere à sinalização da Trilha, 66,7% ficaram muito satisfeitos,
16,7% ficaram satisfeitos, 10% se mostraram insatisfeitos e 6,6% muito insatisfeitos. Os
consumidores mostraram insatisfação em relação à sinalização pelo seguinte motivo:
Segundo relatos, “Sem sinalização durante o percurso, alguém pode se perder e não
saber voltar”. Destacando que as pessoas são alertadas a fazerem trilhas apenas
acompanhadas pelo Guia. Outro entrevistado diz: “Falta ter mais acessibilidade e
sinalização.”; “Sinto falta de informações sobre as árvores da mata, na Sede da
ADESCO.” E mais uma vez se repete o motivo da insatisfação “Senti falta de placas de
orientação”. Com relação à limpeza na trilha 73,3% mostram-se muito satisfeitos, 16,7%
ficaram satisfeitos, 10% se mostraram insatisfeitos. As pessoas responderam que se
sentiram insatisfeitas ao perceberem que a Mata (Parque Estadual Mata do Pau-ferro)
necessita de mais cuidado e atenção. “Falta estruturar mais o Parque, sinalizar e
limpar”. Em outra resposta destacam: “Necessita olhar mais para limpeza da mata”.
O lixo que é descartado de forma inadequada advém de uma má gestão do Parque
nas residências circunvizinhas a mata. Cada vez que alguém assume a responsabilidade
sobre o lixo que produz e sobre a gestão dos resíduos sólidos, evita que esse resíduo seja
descartado de qualquer modo, e em qualquer lugar (CARDOSO; CARDOSO, 2016).
A sinalização da trilha apresentou um nível considerável de insatisfação. Diante do
exposto, percebe-se a importância e necessidade de investir em uma sinalização
adequada. Logo, é possível sinalizar percursos de trilhas sem ter que necessariamente
dispor de amplo recurso financeiro. (MENEZES, 2015).
De acordo com o nivelamento que contempla as informações sobre a Análise
SWOT, abaixo estão às informações provenientes da análise do ambiente interno, com as
forças e fraquezas e do ambiente externo com as oportunidades e ameaças dos
2021 Gepra Editora Barros et al.

empreendimentos da comunidade Chã do Jardim, Areia/PB baseadas na opinião dos


Consumidores (Quadro 1).

Quadro 1. Análise dos pontos fortes, fracos, ameaças e oportunidades (SWOT) dos empreendimentos
rurais da Comunidade Chã do Jardim, baseada na opinião dos consumidores. Novembro de 2019.
PONTOS FORTES OPORTUNIDADES
Alto nível de satisfação na qualidade do produto e Criar mais produtos e serviços para oferecer aos
serviço do Restaurante; consumidores;
Alto percentual para o atendimento no Restaurante; Melhorar o serviço de estacionamento com coberta ou
Alto nível de satisfação na Decoração e aparência do sombra;
Restaurante; Aumentar a produção local; 184
Os alimentos oferecidos vêm da produção local; Disponibilizar novas formas de pagamento para a polpa
Alto nível de satisfação quanto à qualidade e sabor das de fruta;
polpas; Criar mais atrativos na comunidade;
Elevado percentual de Satisfação para o atendimento na Criar estratégias de marketing planejadas;
Polpa de Fruta; Atrair novos consumidores;
Baixo nível de insatisfação para a forma de pagamento Lançamento de subprodutos;
da polpa de fruta; Divulgar mais as práticas de sustentabilidade existentes;
Elevado nível de satisfação para preços praticados; Inserir mais pratos da culinária regional. Exemplo:
Elevado nível de satisfação quanto à qualidade e sabor Pirão de carne, feijoada, baião de dois, ovo cozido etc.
dos produtos comestíveis vendidos na Bodega Vó Aumentar a área de descanso com rendário.
Maria;
Alto percentual de satisfação para qualidade do
souvenir;
Turismo;
História do lugar;
Beleza Cênica;
Jovens agricultores vinculados a associação;
Divulgação “boca a boca”.
Jovens empreendendo e Mix de empreendimentos;
PONTOS FRACOS AMEAÇAS
Forma de pagamento da polpa de fruta apenas em Ausência de órgão responsável pelo Parque Estadual
espécie; Mata do Pau-Ferro;
Estacionamento sem sombra e ou cobertura; Falta de segurança e fiscalização na mata;
Elevado nível de insatisfação para a forma de Desmatamento na Mata;
pagamento da Bodega; Descarte de lixo na mata por parte de pessoas de fora e
Pouca sinalização na trilha; próximas;
Lixo na mata/Trilha; Construções no entorno dos nossos empreendimentos;
Pouca divulgação; Surgimento de outras empresas vindas de fora;
Conexão Wi-Fi;
Publicidade.

Fonte: Própria do autor (2019).


2021 Gepra Editora Barros et al.

No Quadro 2 estão expostas as recomendações que surgiram com base na aplicação


da Análise de SWOT. O objetivo das recomendações é eliminar ou minimizar os pontos
fracos e ameaças, e potencializar os pontos fortes e aproveitar as oportunidades que foram
constatadas por meio da análise. Tendo em vista que as atividades desenvolvidas pelos
sócios da ADESCO são de extrema importância para o desenvolvimento sustentável da
comunidade Chã do Jardim, se faz necessário elaborar ações que possam ser
desenvolvidas a curto e longo prazo a fim de fortalecer os empreendimentos locais.

Quadro 2. Recomendações a curto e a longo prazo a serem implantadas nos empreendimentos rurais da
Comunidade Chã do Jardim, baseada na opinião dos consumidores. Novembro de 2019.
CURTO PRAZO LONGO PRAZO 185
Promover estratégias a fim de fortalecer a divulgação; Investir em tecnologias sustentáveis para os
Investir em sinalização, materiais informativos, empreendimentos;
capacitações, como curso de primeiros socorros para Criar subprodutos da polpa de fruta;
trilha; Inventar novos atrativos/empreendimentos;
Investir em fardamento padronizado, com Realizar plantio de mudas de árvores que resultem em
identificação para os guias.; sombra no estacionamento e pensar em uma alternativa
Investir em sistema de pagamento com cartão para o período chuvoso;
crédito/débito para Bodega Vó Maria, Polpa de fruta e Diversificação dos sabores de polpa de fruta;
Trilha na mata, e o serviço de Crédito para o Expandir a venda para supermercados e outros pontos
Restaurante; de venda nas cidades;
Buscar capacitações sobre atendimento, a fim de
mantê-lo com alto nível de satisfação e torná-lo cada
vez melhor;
Investir no marketing coletivo das empresas.
Fonte: Própria do autor (2019).

ANÁLISE SWOT: OPINIÃO DOS SÓCIOS DA ADESCO

Os dados coletados e disponibilizados em forma de recomendações proporcionam


aos sócios uma análise sobre o que precisam melhorar, para obter o bom funcionamento
dos negócios.
Os dados procedentes da entrevista semiestruturada com os sócios da ADESCO,
foram coletados na comunidade. 24 associados (as) foram entrevistados.
A associação é composta por 13 mulheres e 11 homens. Com relação ao grau de
escolaridade, 33,3% apresentam Ensino médio completo, 16,7% apresentam ensino
médio incompleto, 20,3% apresentaram o ensino superior incompleto, 12,5% concluíram
o ensino superior, 12,5% possuem pós-graduação completa, 4,17% possuem pós-
graduação incompleta. Desta forma, percebe-se que os jovens agricultores da ADESCO,
possuem elevado percentual quanto ao grau de escolaridade com ensino médio completo.
Depois, 20,3% estão fazendo curso superior e 12,5% possuem pós-graduação completa.
Esses números mostram que existe uma preocupação por parte dos jovens, em buscar
conhecimento e desenvolvimento pessoal por meio da educação. Além disso, por via da
educação colaborarão com o desenvolvimento local.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Atualmente, percebe-se que a quantidade de empreendedores com baixos níveis de


escolaridade têm sido reduzida diante do crescente número de empreendedores com alto
nível de escolaridade. No entanto, a maior quantidade de empreendedores estabelecidos
possui o ensino fundamental incompleto. Isso se dá pelo fato de que os empreendedores
com baixo nível escolar possuem poucas chances de entrar no mercado de trabalho e
então, começam a empreender pela necessidade. (CARDOSO; CARDOSO, 2016).
Sobre a faixa etária dos sócios, os resultados mostraram que 4,2% têm de 18 a 20
anos; 33,3% de 21 a 30 anos e 62,5% possuem de 31 a 40 anos. Logo, percebe-se que há
um grande potencial humano e com grandes perspectivas empreendedoras com 100% dos
sócios até 40 anos e todos aptos ao trabalho e aos estudos. A permanência de alguns sócios
186
que entraram na associação com aproximadamente 25 anos de idade e que hoje
representam essa faixa etária de 31 a 40 anos, demonstra a persistência e disciplina que
existem no grupo, elementos fundamentais para o sucesso de qualquer atividade
empreendedora.
No entanto, a idade dos sócios representa também a permanência no meio rural em
virtude das oportunidades encontradas no local que residem. Já que, se tratando da
realidade do campo, a maioria dos jovens deixa o lugar de origem e vai a busca de
oportunidades nos grandes centros vislumbrando conquistar uma boa renda financeira,
assim, provocando o êxodo rural. (OLIVEIRA et al., 2021).
Quando perguntado aos sócios sobre já terem participado de alguma capacitação,
58,3% responderam que já participaram. Alguns cursos relatados por eles foram: Boas
práticas na fabricação de alimentos, negócio certo rural, qualidade no atendimento,
empreendedorismo, entre outros. O fato de a maioria ter tido algum tipo de capacitação
torna-se um ponto forte, já que conhecimento é uma das bases fundamentais para quem
busca empreender. Segundo Cardozo (2019), quem começa a empreender sem a
qualificação necessária, corre o risco de enfrentar sérios problemas. Portanto, percebe-se
nesta área que a capacitação se torna um fator necessário para a permanência dos negócios
no atual modelo competitivo de mercado.
Sobre conhecer a agroecologia e se há relação com os empreendimentos, 100% dos
sócios relataram conhecer ou já ter ouvido falar no termo. Logo, segundo Sagaroso et al.,
(2018) a agroecologia vem sendo disseminada em todo o Brasil por meio de ações de
movimentos sociais existentes no meio rural que usam seus ensinamentos
interdisciplinares para abordar assuntos que na maioria das vezes são esquecidos pela
agricultura convencional, como os problemas socioculturais existentes no meio rural.
Os sócios relataram perceber que existe relação entre os empreendimentos e
agroecologia. Percebem a relação através dos resíduos da polpa que são destinados à
produção de adubo através da compostagem; por meio da valorização da agricultura
familiar, através das compras de produtos orgânicos: hortifrutigranjeiros da agricultura
familiar à produção do cardápio servido no restaurante Vó Maria; Usando o mínimo de
descartáveis no restaurante; irrigando o Jardim com parte da água oriunda das lavagens
de frutas que são destinadas ao beneficiamento da polpa, entre outras práticas
relacionadas com a agroecologia.
Segundo a opinião dos sócios, 50,0% avalia a divulgação dos empreendimentos
como excelente. 45,8% avaliam como ótima e 4,17% avaliam como ruim. Logo, percebe-
2021 Gepra Editora Barros et al.

se a necessidade de melhorias e investimentos na divulgação. Estratégias para melhorar


a divulgação dos empreendimentos são de extrema importância para o crescimento das
empresas. Logo, segundo Sousa et al., (2019), a empresa que não faz uso das ferramentas
de marketing digital e divulgação, corre o risco de perder consumidores de seus produtos,
ou mesmo, de não adquirirem novos clientes.
A seguir, estão as informações provenientes da análise do ambiente interno, com os
pontos fortes e fracos e do ambiente externo com as oportunidades e ameaças dos
empreendimentos da comunidade Chã do Jardim, Areia/PB baseadas na opinião dos
Sócios. (Quadro 3).
187
Quadro 3. Análise dos pontos fortes, fracos, ameaças e oportunidades (SWOT) dos empreendimentos
rurais da Comunidade Chã do Jardim, baseada na opinião dos sócios da ADESCO. Novembro de 2019.
PONTOS FORTES OPORTUNIDADES
Juventude engajada em organização (Associação); Surgimento de empreendimentos nos terrenos dos
Elevado grau de ensino superior completo; sócios;
Comunidade viva. gera renda, trabalho e lazer para todos Fortalecimento da identidade de nossos produtos;
que residem; Criação de novos empreendimentos com o mesmo
Inexistência de analfabetos; conceito atual;
Pessoas que estão envolvidas no trabalho são capacitadas; Aquisição de transporte criativo para visitação nos
Estabelece parcerias; atrativos/empreendimentos;
Oferece um bom atendimento; Criação de empreendimento de lazer. Área com banho,
Decoração, localização, simplicidade, história do lugar; tirolesa e espaço recreativo em meio à natureza;
Captação de água, separação do lixo com destino a Criação de parque de diversões,
reciclagem; Criação do picolé Doce Jardim
Tratamento de resíduos orgânicos oriundos da Polpa de Criação de viveiro;
Fruta e produção de adubo através da compostagem; Venda de leite de Vaca;
Empreendimentos que beneficiam de forma direta e Criação de atrativos com brincadeiras do passado como
indireta, pessoas da comunidade; caça à botija, trilhas pelas capelinhas antigas da
Fabricação de produtos livres de aditivos químicos, comunidade. Fazendo um resgate histórico do lugar;
conservantes, corantes etc. Exemplo: A Polpa de Fruta;
Busca de melhorias pensando no coletivo;
Preocupação com o meio ambiente;
Exerce a Sustentabilidade
Preservação ambiental, desenvolvimento social e geração
de renda;
Mais da metade do que comercializamos vem da
comunidade;
Comunidade acolhedora;
Existência de uma boa liderança;
Aproveitamos as oportunidades que surgem;
Produzir produtos naturais e de qualidade;
Organização, fortalecimento da agricultura familiar,
Profissionalismo;
Venda de produtos regionais;
Oportunidades de trabalho para pessoas do local;
2021 Gepra Editora Barros et al.

PONTOS FRACOS AMEAÇAS


Divulgação; Surgimento de outras empresas vindas de fora;
Pouca posse de terra entre os sócios da ADESCO para Um considerável número de pessoas não sabe passar
criar mais empreendimentos; informações, sobre outros empreendimentos;
Pouco interesse dos sócios para empreender; Pessoas da cidade que não indicam os
Nem todos acreditam no potencial da comunidade para o empreendimentos da chã de Jardim;
empreendedorismo; Ciúme de empresários de outros locais;
Falta de interesse por parte de alguns sócios; (Competidores).
Alguns funcionários não sabem falar sobre o Pessoas externas falando mal do nosso trabalho em
conceito/missão do empreendimento em que trabalha, bem comunidade;
como, sobre outros existentes na comunidade; Lixo trazido de fora e descartado em nossa 188
Redução de capacitações anuais; comunidade;
Poucas pessoas qualificadas enquanto comunidade; Acessos que deixam a desejar, estradas mal sinalizadas;
Poucas parcerias com empresários locais; Ausência de políticas públicas e apoio por parte do
Pouca divulgação por parte dos sócios da ADESCO; estado;
Surgimento de novos negócios antes da cidade;
Burocratização para participar de projetos que
beneficiam as pessoas da zona rural;
Degradação Ambiental;
Implantação de empreendimentos de grande impacto
ambiental na comunidade;
Fonte: Própria do autor (2019).

CONCLUSÕES

A Comunidade Chã do Jardim apresenta grande potencial para tornar-se um


Complexo de empreendimentos com ênfase agroecológica. A ADESCO e os
empreendimentos da Comunidade Chã do Jardim são valorizados por seus consumidores
e por seus sócios, sendo motivo de orgulho para todos. Os sócios da ADESCO
apresentaram elevado potencial no que se refere à gestão dos negócios. A ADESCO e
seus sócios apresentam perfil organizacional criativo e inovador no requisito
“empreendimentos no meio rural”, gerando negócios, opções de lazer e entretenimento
para os visitantes, emprego e renda para famílias locais tanto de forma direta como
indireta.

REFERÊNCIAS

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ótica dos consumidores de Cajazeiras, Patos e Sousa na Paraíba. 2016. 54 p.
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128-145, 2019.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 17

APICULTURA BRASILEIRA: ASPECTOS TÉCNICOS E


PRÁTICOS NO MANEJO DE ABELHAS AFRICANIZADAS

SILVA, Mateus Gonçalves


Mestrando em Sistemas Agroindustriais
Universidade Federal de Campina Grande-UFCG
matheus.goncalves2102@gmail.com

GOMES, Isaac Araújo


Mestrando em Química 190
Universidade Federal do Espírito Santo
isaac.gomes@edu.ufes.br

MEDEIROS, Aline Carla de


Doutora em Engenharia de Processos
Universidade Federal de Campina Grande
alinecarla.edu@gmail.com

SILVA, Rosilene Agra da


Profa. Doutora em Zootecnia
Departamento de Pós-Graduação em Sistemas Agroindustriais
Universidade Federal de Campina Grande-UFCG
rosileneagra@hotmail.com

MARACAJÁ, Patrício Borges


Prof. Doutor em Entomologia
Departamento de Pós-Graduação em Sistemas Agroindustriais
Universidade Federal de Campina Grande-UFCG
patricio@ufcg.edu.br

RESUMO

O artigo em tela tem como escopo realizar uma revisão bibliográfica, referente a cadeia
produtiva apícola brasileira, descrevendo o contexto histórico e biológico das abelhas
introduzidas no Brasil, as técnicas de manejo e os produtos gerados. Na década de 1950,
pesquisadores brasileiros cogitaram a possibilidade de que as abelhas tropicais se
adaptassem melhor ao clima quente de sua região e isso resultasse em uma maior
produção apícola. Convencidos de que assim poderia ser, decidiram empreender um
projeto de melhoramento genético de abelhas europeias no Brasil, por meio da
hibridização destas com espécies africanas para melhorar ambas as variedades e que se
expressassem em favor da apicultura nacional. A apicultura é a ciência e a arte de criação
de abelhas do gênero Apis para produção de produtos obtidos em colmeias, como mel,
cera, veneno de abelha, pólen, própolis e geleia real. Nas últimas décadas, através do
aumento da produção com a hibridização, há o desenvolvimento de inúmeras pesquisas
científicas aplicadas à apicultura que garantam melhorias de manejo e produção por meio
das técnicas desenvolvidas. As diversas atividades produtivas envolvidas na apicultura
são muito influenciadas pela população de abelhas adultas presente em cada colônia.
Portanto, os apicultores devem conhecer as necessidades nutricionais e de sanidade das
colmeias, incluindo também conhecer a idade das rainhas, avaliar periodicamente o
desempenho de suas colônias, podendo intervir no processo de substituição natural das
2021 Gepra Editora Barros et al.

rainhas quando necessário. A cadeia apícola brasileira apresenta-se em processo de


desenvolvimento e inovação, dispondo de muito potencial ainda inexplorado.

PALAVRAS-CHAVE: Produção apícola; Abelhas africanizadas; Hibridização.

INTRODUÇÃO

A apicultura se caracteriza como atividade da criação de abelhas do gênero Apis


mellifera para produção de mel e outros produtos, é vista como produção agropecuária
191
totalmente alicerçada no tripé da sustentabilidade, pois se configura como atividade rural
praticada em sua maioria por agricultores familiares que obtêm renda através da venda
dos produtos oriundos da produção apícola, além disso, as abelhas fornecem serviços
ambientais de polinização a flora nativa e cultivada (SILVA et al., 2019).
Em contexto mundial, o Brasil ocupa lugar de destaque no que concerne a produção
de mel, e este fator é decorrente do processo de diversificação gênica entre subespécies
europeias e africanas de abelhas do gênero Apis que foram introduzidas no Brasil a partir
de 1956, até que resultou no surgimento da espécie de abelha africanizada, responsável
pelo desenvolvimento da apicultura brasileira, pois dispõe de características como alta
produção de mel, tolerância a pragas e doenças, alta capacidade de enxamear e adaptar-
se as condições climáticas adversas (RAMOS E CARVALHO, 2007; ABELHA, 2020).
Contudo, a apicultura brasileira alcançou grandes passos nos últimos anos, e devido
a isso tem-se a federação, um dos principais produtores de mel do mundo, ocupando
patamares de produção que chegam desde 20 mil a 49 mil toneladas, produção semelhante
à de países como Alemanha, Canadá, Espanha e Uruguai (FAO, 2019). A região Nordeste
do Brasil é considerada o grande realce da produção, visto que a mesma dispõe de
características particulares que reflete diretamente na qualidade do mel comercializado,
chegando a ter altos índices de competitividade no mercado mundial. Conforme Vidal
(2019) esta atribuição ao mel se concretiza devido à baixa contaminação por resíduos de
agrotóxicos ou antibióticos, uma vez que a vegetação nativa da localidade é a principal
fonte de recursos florais (néctar e pólen).
No entanto, mesmo dispondo de um amplo aspecto ambiental favorável à cadeia
agroindustrial da apicultura, para obtenção de mel, cera, própolis, pólen, geleia real,
apitoxina e serviços de polinização, ainda existe grande déficit de exploração do potencial
apícola no Brasil, necessitando do estudo e desenvolvimento de técnicas de manejo que
possibilitem maximizar a produção e incrementar o agronegócio apícola. Para tanto, é
necessário que o apicultor possua conhecimentos sobre biologia das abelhas, técnicas de
manejo e colheita do mel, pragas e doenças dos enxames, importância econômica,
mercado e comercialização (PEREIRA et al., 2003; COSTA e OLIVEIRA, 2005).
Mediante o supracitado, o artigo em tela propõe dissertar por meio de uma revisão
de literatura, aspectos importantes da cadeia agroindustrial de produção apícola brasileira,
afim de sistematizar e disseminar o conhecimento acerca dessa atividade agropecuária de
tamanha relevância para os agricultores e para o agronegócio brasileiro.
2021 Gepra Editora Barros et al.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa caracterizou-se como do tipo bibliográfica, empregando-se o método


exploratório documental, através do levantamento de artigos científicos em base de
periódicos acadêmicos, como: Google acadêmico, SciELO, Periódicos Capes e também
em livros, monografias, dissertações e teses com atualizações acerca do tema. As palavras
chave utilizadas nas buscas foram: Abelhas africanizadas, apicultura brasileira, produção
apícola e Apis mellifera. Os artigos selecionados foram datados a partir de 2003. A revisão
bibliográfica trata-se de um estudo aprofundado sobre determinado assunto (ANDRADE,
2009), possibilitando o desenvolvimento do mesmo numa perspectiva atualizada.
192

MARCO TEÓRICO

Origem e aspectos biológicos das abelhas africanizadas

A abelha melífera africana, Apis mellifera scutellata Lepeletier, é uma subespécie


(ou raça) da abelha melífera ocidental, Apis mellifera Linnaeus, que ocorre naturalmente
na África subsaariana, mas que foi introduzida nas Américas. Mais de 10 subespécies de
abelhas ocidentais existem na África e todas são justificadamente chamadas de abelhas
“africanas”. No entanto, o termo “abelha melífera africana (africanizada)” refere-se
exclusivamente a Apis mellifera scutellata na área introduzida pela abelha (CALDERÓN
et al., 2010).
As subespécies de abelhas melíferas ocidentais são nativas da Europa e da África,
mas se espalharam amplamente fora de sua área de distribuição nativa devido à sua
importância econômica como polinizadores e produtores de mel. Inicialmente, apenas as
subespécies europeias de abelhas (doravante chamadas de abelhas europeias) foram
introduzidas nas Américas, onde foram consideradas produtivas na América do Norte
temperada, mas menos na América Central e do Sul, onde os climas tropicais/subtropicais
dominam. Em resposta ao fraco desempenho das abelhas europeias no Brasil, Warwick
Kerr, um cientista brasileiro, viajou para o sul da África para selecionar subespécies de
abelhas africanas quanto à produtividade e viabilidade (SCOTT SCHNEIDER,
DEGRANDI-HOFFMAN e SMITH, 2004).
O Dr. Kerr esperava que, por meio de experimentação e criação seletiva, a abelha
africana pudesse ser administrada e disponibilizada para uso pelos apicultores brasileiros.
Como tal, ele iniciou esforços para criar gentileza na raça africana, ampliando seus muitos
traços positivos. O esforço de criação não foi concluído porque as abelhas africanas
enxamearam acidentalmente, encerrando sua quarentena inicial. Em seguida, as abelhas
começaram a se espalhar pelo Brasil e por outras partes da América do Sul (CALDERÓN
et al., 2010).
Todas as subespécies de Apis mellifera podem cruzar ou hibridizar.
Consequentemente, a hibridização de abelhas africanas com abelhas europeias tornou-se
frequente à medida que as abelhas africanas se mudaram para áreas anteriormente
ocupadas por abelhas europeias. Foi esta hibridação com as abelhas europeias que lhes
valeu o nome de abelhas “africanizadas”. Tradicionalmente, “africana” e “africanizada”
2021 Gepra Editora Barros et al.

têm sido usadas alternadamente, embora a primeira realmente se refira à raça pura e o
último à híbrida (FERREIRA et al., 2012).
As abelhas africanizadas presentes no Brasil apresentam aspectos biológicos
variados, com isso, dispõem de alto grau de defesa, defendem prontamente seus ninhos,
e um ataque geralmente significa que a vítima está muito perto da colônia. Podem atacar
o mesmo intruso com centenas de abelhas. Além disso, essas abelhas geralmente
defendem um raio maior ao redor de seus ninhos e requerem níveis mais baixos de
estímulos para iniciar um ataque. Por causa dessas características, as abelhas
africanizadas são capazes de matar grandes mamíferos, incluindo o homem. O número de
ferroadas recebidas tem grande influência, quando elevado, pode causar a morte humana
193
em poucas horas. Se a vítima for alérgica ao veneno das abelhas (apitoxina), uma única
ferroado pode causar a morte (FERREIRA et al., 2012). O alto grau de defensividade
acarreta a adoção de manejos mais cuidadosos e bem elaborados.
A biologia do acasalamento e o tempo de desenvolvimento desempenham um papel
importante no sucesso das colônias de abelhas africanas. Na maior parte, o acasalamento
e a biologia do desenvolvimento são semelhantes para as abelhas africanas e europeias,
mas as principais diferenças conferem benefícios adaptativos às primeiras. Rainhas
virgens de todas as abelhas melíferas ocidentais emergem de células de cera em forma de
casca de amendoim. Após um curto período de maturação, uma rainha virgem deixará a
colônia para acasalar com zangões. Todo o acasalamento ocorre no ar, com os drones
mais rápidos sendo os pretendentes de maior sucesso. As rainhas se acasalam várias vezes
ao longo de sete a 10 dias e, durante esse tempo, se acasalam com uma média de 10 a 20
zangões. As abelhas rainhas armazenam sêmen em um órgão denominado espermateca.
As colônias africanas produzem mais drones por colônia, então as populações de drones
em uma área tendem a favorecer as abelhas africanas. Como tal, as rainhas europeias
virgens têm maior probabilidade de acasalar com drones africanos do que com os
europeus. Além disso, o tempo de voo e as distâncias de voo de acasalamento da colônia
tendem a resultar em rainhas europeias encontrando drones africanos com mais
frequência do que drones europeus, preparando assim o terreno para a hibridização
(SCOTT SCHNEIDER, DEGRANDI-HOFFMAN e SMITH, 2004).
Todas as abelhas melíferas sofrem metamorfose completa, mas o tempo desde o
ovo até a idade adulta varia de acordo com a subespécie. A abelha rainha recém-acasalada
oviposita em células de cera construídas por abelhas operárias. Ovos fertilizados resultam
em descendentes femininos, tanto operárias quanto rainhas. Se alimentada com uma dieta
rica em geleia real, a larva feminina se desenvolverá em rainha, com a recíproca
verdadeira para o desenvolvimento das operárias. Os zangões resultam de óvulos não
fertilizados e, consequentemente, herdam apenas material genético de sua mãe (eles não
têm pai) (CHAHBAR et al., 2013).
O tempo de desenvolvimento varia de acordo com o membro da casta e favorece
as abelhas africanas porque elas geralmente se desenvolvem mais rápido do que as
europeias. Quando as colônias de abelhas decidem fazer uma nova rainha, as larvas
fêmeas recém-emergidas são alimentadas com geleia real constantemente. Como a prole
africanizada, incluindo rainhas, se desenvolve mais rápido do que a prole europeia, uma
rainha com genótipo africano tem maior probabilidade de surgir mais cedo do que uma
2021 Gepra Editora Barros et al.

rainha com genótipo europeu. A primeira rainha a surgir mata suas irmãs rainhas que
ainda não emergiram de suas células. A virgem africanizada passa a acasalar em uma área
com densidades maiores de zangões africanos. Com o tempo, isso resulta na colônia se
tornando mais africana, com o comportamento europeu sendo substituído quase
completamente. Este processo é ainda mais exacerbado devido ao domínio de muitos
traços genéticos africanos sobre os europeus (CHAHBAR et al., 2013).
A formação de uma abelha adulta ocorre como em outros insetos holometabólicos,
por meio de um processo de desenvolvimento e transformação que começa com a postura
de um ovo pela rainha e termina com a emergência de um adulto a partir de uma célula
do favo de mel. As abelhas operárias de raças europeias levam, em média, 21 dias para
194
se desenvolver e emergir a partir do momento em que a rainha põe um ovo, enquanto as
operárias africanizadas surgem 18,5 dias após a postura do ovo. Uma consequência dessas
diferenças no tempo de desenvolvimento é que as colônias de abelhas africanizadas
produzem operárias em um ritmo mais rápido do que as colônias de abelhas europeias.
No caso de rainhas e zangões não existem diferenças significativas em termos de tempo
de desenvolvimento entre estes dois tipos de abelhas (SCOTT SCHNEIDER,
DEGRANDI-HOFFMAN e SMITH, 2004).
Quanto aos aspectos biológicos de morfometria, as abelhas africanizadas são
aproximadamente 10% menores (comprimento de 12,7 mm de operárias africanizadas
versus 13,9 mm europeias) e 33% menos pesadas do que as abelhas europeias (62 mg de
operárias africanizadas versus 93 mg de europeias); portanto, eles constroem favos de
mel com células menores. As dimensões das células de um favo de mel europeu variam
de 5,2 a 5,5 mm de diâmetro, enquanto as dos favos de mel africanizados medem entre
4,6 e 5,0 mm. As populações de colônias de abelhas africanizadas crescem mais rápido
do que as europeias. Isso se deve, entre outros fatores, ao fato de as rainhas serem
excepcionalmente prolíficas, podendo botar cerca de 3.000 ovos por dia, enquanto as
rainhas europeias raramente ultrapassam 2.000. Os favos de uma colônia de abelhas
africanizadas em desenvolvimento são quase inteiramente observados, mesmo nos cantos
superiores, o que é extremamente raro de observar nos favos de mel europeus, pois estas
abelhas geralmente preenchem esses espaços com mel (CALDERÓN et al., 2010). Em
pesquisa realizada em ambiente de Caatinga na Paraíba, estado do nordeste brasileiro,
autores encontram valores comuns aos descritos sobre a morfometria de abelhas
africanizadas, correspondendo a média de 12,11 mm para comprimento do inseto e um
valor discrepante de 91,8 mg para peso do inseto, o que possivelmente demonstra traços
de hibridização (SILVA et al., 2020).
O enxameamento é a forma natural de reprodução das abelhas para formar duas ou
mais colônias, cada uma com sua respectiva rainha. As abelhas africanizadas são
significativamente mais enxameadas do que as europeias; uma única colônia de abelhas
africanizadas pode produzir mais de oito enxames em um único ano, enquanto uma
colônia de abelhas europeias raramente produz mais de um. Esses enxames, por sua vez,
também podem se multiplicar e colonizar novas áreas. Em estudo, descobriu-se que de
uma colônia de abelhas africanizadas, até 16 delas poderiam ser formadas em um ano
(FERREIRA et al., 2012).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Algumas das razões pelas quais as colônias de abelhas africanizadas enxameiam


com mais frequência é que elas constroem ninhos menores e o néctar e pólen que coletam
são recursos que elas alocam, em maior extensão, para a produção de mais abelhas. As
altas taxas reprodutivas e de enxameação das abelhas africanizadas são uma pré-
adaptação ideal que tem favorecido o sucesso de sua colonização nas regiões tropicais do
continente americano, incluindo o Brasil (CALDERÓN et al., 2010).
A partir do conhecimento das características comportamentais e morfobiológicas
das abelhas africanizadas, tem-se aporte para projeção da criação e manejo eficiente,
formando apiários devidamente implantados em boas condições e configuração de
manejos da forma correta para alcançar o aumento da produção e sucesso no sistema
195
agropecuário apícola.

Implantação de apiário, manejo e equipamento apícola

Para contribuir com o melhor desenvolvimento do processo produtivo, é necessário


ter conhecimentos técnicos, boas instalações, equipamentos e ferramentas, materiais
apícolas suficientes e em perfeitas condições, e estar empenhado na gestão do apiário
através de uma revisão periódica. Com base no exposto, são apresentadas algumas
recomendações de manejo no processo produtivo, que buscam complementar a sequência
de suas etapas, sendo que a instalação de um apiário depende em grande parte da área
disponível para esse fim. Cada apiário difere dos demais principalmente pelas condições
topográficas em que se encontra e pela cobertura vegetal associada (GRAHAM et al.,
2011).
É aconselhável que os apiários sejam vedados para evitar a passagem de animais
que podem ocasionar acidentes ou danos. Da mesma forma, eles podem se proteger contra
pessoas sem escrúpulos que roubam plantações de mel, pólen, etc., ou que deterioram
colmeias. A cerca deve ser acompanhada de barreira natural ou artificial (plantas, fibra,
plástico, lona, etc.) para proteger as abelhas da força do vento e forçá-las a elevar a linha
de fuga, reduzindo assim a defensiva. Barreiras naturais ou cercas vivas devem ser
plantadas ao redor do apiário, usando a flora das abelhas como fonte de alimento
(ROSENKRANZ, AUMEIER e ZIEGELMANN, 2010).
Recomenda-se que o apiário seja instalado em local de fácil acesso de veículos,
para as operações de carregamento de produtos e descarga de materiais; geralmente essa
medida é aplicada para casos de produção em grandes volumes, dependendo das
condições topográficas. Quando houver apenas uma entrada, é aconselhável adaptar uma
saída oposta ou próxima como rota de fuga em caso de emergência. Também é necessário
marcar o apiário para evitar que as pessoas corram o risco de serem picadas por abelhas,
seja por trabalhar nas proximidades do apiário, seja por se locomover. Recomenda-se que
o apiário não fique totalmente coberto por árvores de sombra, pois impede a penetração
da luz e do calor do sol, podendo também aumentar os níveis de umidade entre as
colmeias. É necessário localizar os mananciais próximos ao apiário, mas não dentro dele,
isso pode levar a inundações e perdas econômicas ou de instalações no inverno
(ZACEPINS et al., 2016).
2021 Gepra Editora Barros et al.

As áreas para instalação de apiários devem ter boas condições ambientais, evitando
assim o risco de contaminação por efluentes de águas residuais ou lixo, perturbação por
ruído ou alteração da qualidade do ar, entre outros. Os apiários devem ter espaço interior
suficiente para a instalação das colmeias de acordo com a distribuição preparada e por
sua vez, o espaço para o manejo e mobilidade dos apicultores, bem como os materiais e
produtos (ZABASTA et al., 2019). O apiário deve dispor de sinalização de advertência,
visando precaver pessoas sem o conhecimento da existência de prática apícola nos
determinados locais. Em estudo realizado no município de Aparecida, Sertão Paraibano,
foi constatado inúmeros riscos no ambiente de trabalho apícola realizado pelos
apicultores das localidades, e os mais constantes foram falta de sinalização apícola e
196
instalações em solos deficientes ao acesso (SILVA et al., 2017).
Vale ressaltar que os apicultores que manejam as abelhas africanizadas usam
equipamentos de proteção adequados. Um apicultor típico trabalhando em uma colônia
africanizada usaria um traje completo de abelha, botas, luvas e um véu de abelha. Os véus
de abelha (capacete de proteção) são usados por quase todos os apicultores em todo o
mundo. Tradicionalmente, a malha de véu que protege o rosto é colorida de preto para
evitar o brilho do sol. As abelhas africanas (e a maioria das abelhas melíferas) atacam as
cores escuras, de modo que os véus negros geralmente ficam cobertos por abelhas.
Consequentemente, os apicultores podem usar véus brancos para manter as abelhas longe.
Os apicultores que administram colônias africanas costumam prender suas roupas de
abelha nas botas e luvas para limitar a possibilidade de acesso das abelhas (CHAHBAR
et al., 2013).
As abelhas africanizadas podem ser geridas de forma eficiente e segura, utilizando-
se também, além dos equipamentos de proteção, as ferramentas de manejo apícola
necessários. Conforme Costa e Oliveira (2005), dentre estas ferramentas, pode-se citar:
fumigador (aplicação de fumaça), formão (abrir partes móveis da colmeia) e vassourinha
(retirar as abelhas dos favos), são os aparatos mais úteis e utilizados pelos apicultores no
Brasil.
No que diz respeito às colmeias, os apicultores do Brasil utilizam uma série de
práticas de manejo. Primeiro, mantêm-se as colônias de abelhas únicas em talhões de
colmeias individuais, em vez de usar um talhão de colmeia para várias colônias. Isso
limita a atividade de manejo a uma colônia por vez, em vez de agravar outras colônias
enquanto trabalhava em apenas uma (SCOTT SCHNEIDER, DEGRANDI-HOFFMAN
e SMITH, 2004). O modelo de caixa apícola mais utilizados no âmbito da apicultura
nacional é a colmeia Langstroth, adaptada com tampa, ninho e melgueira (COSTA e
OLIVEIRA, 2005).
No momento de revisão ou colheita, os apicultores usam grandes quantidades de
fumaça quando trabalham nas colônias de abelhas africanizadas. Acredita-se que a
fumaça mascare o feromônio de alarme das abelhas, diminuindo assim a resposta
defensiva da colônia. A maioria dos apicultores da América do Sul e da América Central
concorda que grandes quantidades de fumaça devem ser usadas ao trabalhar as colônias
de abelhas africanas ou hibridizadas (africanizadas). É importante fumaçar as colônias
bem antes de qualquer trabalho ser feito, pois uma vez que as abelhas de uma colônia
estão agitadas, a fumaça pode não conseguir acalmá-las (FERREIRA et al., 2012).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Adentrando no que diz respeito ao manejo apícola nos apiários, este deve ser
realizado frequentemente e incluem basicamente revisões e alimentação. A revisão consta
da observação das condições das colmeias quanto a sanidade, a necessidade de
intervenções, o fornecimento de alimentação artificial proteica/enérgica, ou a
disponibilização de água. Conforme Costa e Oliveira (2005), os principais manejos
realizados nas colmeias resumem-se a troca de rainhas, controle antienxameatório,
preparo de colmeias, colocação de melgueiras, divisão de famílias, troca de cera
alveolada, redução de alvado e fornecimento de alimentação.
Os motivos pelos quais as colmeias são alimentadas são: preservar a população das
colmeias evitando a morte pelo homem, bem como estimular o aumento da posição da
197
rainha e consequentemente da população de abelhas. A alimentação, como método de
apoio e estimulação, deve ser estável em quantidades adequadas e com qualidade, sem
oscilações e descidas que causem estresse na colmeia; porque quando ocorrem
irregularidades no abastecimento alimentar o resultado é negativo, de forma que o
investimento feito em alimentação, transporte, mão de obra e tempo não alcança os
resultados esperados. Os comedouros devem ser individuais, existem vários tipos de
comedouros e podem ser internos ou externos. Alguns mais frequentes são bandejas
simples ou com consumo controlado: caixas, sacos de náilon, potes plásticos etc.
Frequentemente é fornecido como alimentação energética, garapa de açúcar, mistura de
água e açúcar. Esse tipo de alimentação é aplicado no final da última castração de uma
colheita, quando as abelhas estarão sujeitas aos efeitos de um período de fome, ou no
momento de escassez de alimento (ZACEPINS et al., 2016).
O fornecimento da alimentação estimulante deve sempre ser realizada quando há
necessidade, e pode ser aplicada a partir de seis semanas antes do início da floração da
colheita e também entre colheitas separadas, por um período inferior a 6 semanas. O
estímulo à alimentação permite aumentar a postura da rainha, levando-a a níveis
semelhantes aos alcançados nas condições de floração. Quando a colmeia é deficiente em
pólen, a postura da rainha é inibida, os filhotes param de se alimentar e a colmeia
enfraquece, por isso é necessário fornecer uma mistura de produtos proteicos, entre os
quais se encontram a farinha de soja, o leite em pó desnatado, a clara de ovo em pó e entre
outros que respondem a diferentes fórmulas, produtos muito caros e geralmente muito
pouco aceito pelas abelhas. Para melhorar a aceitação, cerca de 1% de pólen pode ser
adicionado a qualquer receita (ZABASTA et al., 2019).
Em estudos desenvolvidos, observou-se que a associação de essências alimentícias
na alimentação energética promove o aumento do fluxo e atratividade das abelhas.
Almeida Neto et al. (2015) observaram que no decorrer do trabalho o fluxo das abelhas
foi aumentando gradativamente em todas as essências testadas, sendo que essência que
mais atraiu as abelhas foi a amarula e essência da baunilha. Em outro estudo, sobre
alimentação proteica, Turcatto (2011) observa que dietas proteicas a base de albumina,
extrato de soja, levedo de cerveja, leite de soja e farelo de arroz promovem bom
desempenho nutricional em relação ao nível de proteína na hemolinfa de abelhas
africanizadas, fornecendo subsídios para um tratamento de baixo custo.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Principais pragas e doenças das abelhas

As abelhas melíferas são suscetíveis a doenças causadas por parasitas, fungos,


bactérias e vírus. As colônias podem ser afetadas por vários inimigos, predadores e fatores
ambientais adversos (incluindo ação humana). Traças da cera, ácaros, formigas, cupins e
protozoários causam danos diretamente nas abelhas e nos produtos (PEREIRA et al.,
2003).
A ocorrência de doenças pode acometer diretamente a colmeia e sua produtividade,
causando danos as abelhas em variadas fases do seu desenvolvimento biológico ou para
os produtos apícolas. Das principais doenças tem-se as que afetam diretamente as crias,
198
como por exemplo: a Cria Pútrida Européia, Cria Pútrida Americana, Cria Ensacada e a
cria Cria Giz, causadas por bactérias, fungos e vírus, diminuem drasticamente a população
de indivíduos e produção. Para evitar ou controlar as infestações o apicultor deve
examinar cuidadosamente tanto as crias abertas como as operculadas, verificando a cor,
a forma e a posição das crias estão normais. A aparência dos opérculos também é
importante, pois opérculos furados e/ou afundados podem indicar ocorrência de doenças
(PEREIRA et al., 2003).
Algumas principais doenças e parasitas que acometem abelhas adultas no Brasil
são: ácaros, lagartas da traça e nosemose. Dentre os ácaros pode-se citar, ácaros do gênero
Varroa spp. Que infesta abelhas adultas e crias consumindo sua hemolinfa e corpos
gordurosos, este, está a princípio distribuído em todo o mundo e tem importante
repercussão econômica internacional em termos de perdas de colônias e da produção de
mel de A. mellifera, uma vez que este agente transmite diversos vírus (DOLEZAL e
TOTH, 2018). As colônias de abelhas também podem ser afetadas pela traça da cera
(Galleria mellonella L.) que pode causar perdas significativas, afetando indiretamente a
sobrevivência das abelhas através da destruição de seus pentes de cera, formação de
galerias e o consumo de alimentos armazenados (KWADHA et al., 2017). A nosemose é
uma doença causada por protozoário e também está muito difundida pelo Brasil, é uma
patologia que provoca a morte de abelhas adultas, operárias, rainhas e zangões. A doenças
causa tremores e rompimento do intestino da abelha doente (COSTA e OLIVEIRA,
2005).
Um primeiro aspecto a se levar em consideração sobre os patógenos é que
provavelmente eles estão sempre presentes nas colônias de forma latente ou não evidente.
Além disso, vários deles podem estar presentes simultaneamente e se examinarmos as
abelhas não apresentariam nenhum tipo de sintoma, ou seja, a presença de vírus ou outros
patógenos em uma colônia não está necessariamente associada a uma doença. É
geralmente aceito que a presença ou ausência de sintomas nas abelhas depende: (1) da
dotação genética, (2) da via de entrada e (3) ou do ambiente (ERLER e MORITZ, 2016).
Outro aspecto importante a destacar é a carência de tratamentos eficazes sem causar
resistências destes patógenos. Porém é relevante a associação da capacidade do sistema
imunológico das abelhas africanizadas que as protege e defende, à tratamentos naturais
no controle destes agentes prejudiciais. Estudos demonstram a eficácia de elementos
naturais a base de metabólicos de plantas no controle de ácaros (AYAN, TUTUN e
2021 Gepra Editora Barros et al.

ALDEMIR, 2019; TUTUN, KOÇ e KART, 2018; VIEIRA-COSTA, ANDRADE e


NASCIMENTO, 2012; e lagartas da cera (TELLES et al., 2020).
Ademais, uma dispersão de patologias pode ocorre em três níveis diferentes. Dentro
da colmeia: devido à densidade dos animais ou à ação de outro organismo como o Varroa
destructor. No apiário: através da deriva dos insetos, da transferência das abelhas entre
colmeias e da pilhagem. E entre apiários: através de práticas transumantes e transferência
de material contaminado (ARONSTEIN e MURRAY, 2010).
É importante frisar a indispensabilidade de manter a sanidade das colmeias em
estado de condição adequada, pois o comprometimento da saúde das abelhas, acometidas
por estes fatores acabam causando consequências ao aspecto produtivo da colmeia e a
199
qualidade dos produtos apícolas.

Produtos apícolas

As abelhas forrageadoras extraem o néctar das flores, voltam para suas colmeias e
começam a transferir o conteúdo de suas mandíbulas melíferas para outras abelhas da
colmeia. Dentro da colmeia, as abelhas recebem o néctar e o carregam para as células
localizadas acima das células de cria, após isso, regurgitam em células vazias e começam
a transformá-lo em mel. Com altas temperaturas e menos umidade o processo leva alguns
dias ou talvez uma semana para o processo de amadurecimento do mel. Quando o mel
está maduro, o alvéolo é selado com cera nova. Quando há uma moldura com ¾ de mel
maduro (células cobertas com cera) ou melgueiras com ¾ de quadros cheios e células
cobertas, isso significa que está pronto para a colheita (mas apenas se o apicultor estiver
pronto para processar mel). Na colheita é realizado o levante das armações com mel
maduro, e afastamento das abelhas com uma escova apícola para afastá-las das armações.
Alguns apicultores preferem usar ar ou produtos químicos (benzaldeído), mas fumaça e
escova é mais comum e mais barato (ERLER e MORITZ, 2016).
As melgueiras contendo os quadros de mel são levados posteriormente a um local
adequado e limpo para se extrair o mel. Todo o processamento do mel é realizado em um
prédio dedicado a isso, chamado de casa do mel, onde são realizadas todas as operações.
Desoperculação: usa-se uma faca ou garfo desoperculador para remover a camada
de cera nas células de mel maduras. Extração: é utilizada uma máquina especial, o extrator
de metal ou plástico basicamente uma centrífuga para extrair o mel de ambos os lados das
esquadrias destampadas. Alguns extratores fazem a extração de ambos os lados ao mesmo
tempo (chamados radiais) e outros mais baratos extraem um lado de cada vez e a pessoa
precisa mudar a orientação da moldura de um lado para o outro (ARONSTEIN e
MURRAY, 2010). Filtração e decantação: existem várias opções incluindo sistemas
automáticos. Principalmente em áreas quentes, o mel deve ser separado de suas impurezas
(pedaços de cera deixados no processo de destampagem) em 1 a 2 dias para ter um mel
líquido por mais tempo você tem diferentes opções de filtração a maioria dos apicultores
prefira a separação natural em tangues ou baldes de plástico (COSTA e OLIVEIRA,
2005).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura1. Etapas do processamento do mel

Fonte: Adaptado de Corta e Oliveira (2005)

Para obter geleia real, é necessário estimular a colmeia a produzir rainhas como
órfãs. Células reais também são produzidas em enxameação e substituição, mas não
200
garantem quantidades suficientes. Para recuperar a geleia real retira-se as larvas e
procedemos à colheita deste líquido com a ajuda de um bolbo para sugar o líquido e
depois filtrar (DOLEZAL e TOTH, 2018).
As operárias da colmeia produzem a cera e a sua utilização é a chave da sua vida
social. A cera é produzida pelas abelhas, em lâminas de cor branca, com oito glândulas
que ficam na parte inferior do abdômen. Com essas pequenas folhas eles formam os
pentes de cera usando suas mandíbulas e misturando-os com outros materiais produzidos
pelas glândulas em suas cabeças. As abelhas usam os favos para armazenar mel e pólen
e para colocar os filhotes. Eles também precisam de cera para cobrir as células cheias de
mel maduro e para proteger a pupa dentro de suas células, para isso usam uma mistura de
cera reciclada e cera nova, de forma que seja possível distinguir entre células de cria e
células de mel (ERLER e MORITZ, 2016).
O pólen também é um produto apícola e tem sido consumido ocasionalmente pelo
homem, como suplemento alimentar, em cápsulas industrializadas, quer adicionadas ao
mel quer puras e desidratadas. Embora a produção de mel seja significativa, há um
interesse crescente no pólen de abelha principalmente devido ao estímulo ao consumo de
produtos naturais para uma alimentação saudável ou efeitos terapêuticos. Devido à sua
origem floral, o pólen de abelha pode ter uma composição variável dependendo da região
ou estação do ano. Sua composição inclui proteínas, lipídios, fibras, minerais, vitaminas
C e E e β-caroteno, aminoácidos livres, açúcares, ácidos graxos insaturados e compostos
fenólicos (HAGLER et al., 2011).
Outro produto proveniente das abelhas africanas é a própolis que geralmente
conhecida como “cola de abelha”, nome genérico que se refere à substância resinosa
acumulada pelas abelhas em diferentes tipos de plantas. A palavra “própolis” é derivada
do grego para significar defesa para “pro” e cidade ou comunidade para “polis”, ou a
colmeia, em outras palavras. A própolis funciona na vedação de buracos e fissuras e na
reconstrução da colmeia. Também é usado para alisar a superfície interna da colmeia,
retendo a temperatura interna da colmeia (35 ° C), evitando intemperismo e invasão de
predadores. Além disso, a própolis endurece a parede celular e contribui para um
ambiente interno asséptico. A própolis geralmente fica macia e pegajosa com o
aquecimento. Também possui um cheiro agradável. A própolis e seus extratos têm
inúmeras aplicações no tratamento de diversas doenças devido às suas propriedades
antissépticas, anti-inflamatórias, antioxidantes, antibacterianas, antimicóticas,
2021 Gepra Editora Barros et al.

antifúngicas, antiúlcera, anticâncer e imunomoduladoras (ARONSTEIN e MURRAY,


2010).
Já o veneno de abelha ou apitoxina é secretado pelas glândulas de veneno e é
reconhecido como uma substância tóxica para o homem desde os tempos pré-históricos,
porém, pelo conhecimento de sua composição e mecanismo de ação. Entre os compostos
identificados no veneno da apitoxinas de abelhas são componentes biologicamente ativos,
como peptídeos simples como apamina, polipeptídeos de melitina e enzimas como
fosfolipase A2 e hialuronidase, histamina e dopamina, das quais fosfolipase A2, melitina
e apamina são os compostos causadores de acidentes fatais em humanos e mamíferos,
bem como substâncias não alergênicas, tais como: toxinas, aminas vasoativas,
201
acetilcolina e quininas (ARONSTEIN e MURRAY, 2010).
Com relação aos canais de comercialização para os produtos apícolas, o Brasil
chegou a ocupar o 11º lugar no ranking dos maiores produtores de mel do mundo e o
nono no ranking dos maiores exportadores, com uma produção de 41 660 toneladas de
mel em 2011 que apresentou um aumento de aproximadamente 15% na produção em
relação a 2006. Os maiores exportadores de mel em 2011 foram Argentina, China,
Alemanha, México, Nova Zelândia, Espanha, Índia, Vietnã e Brasil, segundo dados
publicados pelo SEBRAE (2012), os cinco maiores produtores de mel foram a China
(21% da produção mundial), seguida pela Turquia (6%), Argentina (5,7%), Estados
Unidos (5,5%) e Ucrânia (5%). A cadeia produtiva do mel, segundo Silva (2005),
apresenta um nível pouco desenvolvido em comparação com outros produtos agrícolas.
Muitas vezes os produtores de mel, chamados apicultores, realizam essa atividade em sua
propriedade como uma atividade secundária de geração de renda, destinando poucos
recursos à produção e utilizando baixos níveis de tecnologia, eles têm uma produção
apenas para consumo familiar ou venda em comércio local (ERLER e MORITZ, 2016).
Os produtos das abelhas africanizadas produzidos no Brasil são certificados pelo
do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e precisam dispor de
Selos de Inspeção Federal, Estadual ou Municipal, (S.I.F.; S.I.E.; S.I.M.,
respectivamente) (COSTA e OLIVEIRA, 2005).

No Brasil, a legislação tem onze anos (Instrução Normativa nº 11, de 20 de


outubro de 2000), e dez para os outros produtos apícolas, tais como geleia real,
pólen apícola, própolis, apitoxina e cera de abelhas, que estão inseridos na
legislação de 2001 (Instrução Normativa nº 3, de 19 de janeiro de 2001). Para
harmonização da legislação do mel entre os países do Cone Sul (Brasil,
Argentina, Paraguai e Uruguai), existe o Regulamento Técnico Mercosul
"Identidade e Qualidade do Mel" (MERCOSUL/GMC/RES. Nº 89/99). A
legislação adotada pela União Europeia para o este produto é a Directiva
2001/110/CE (BRASIL, 2000). A normalização representa uma ferramenta
extremamente eficaz para assegurar a qualidade de produtos e processos, na
comprovação da organização do setor, na proteção de seus produtos frente a
eventuais restrições técnicas e no atendimento das exigências de mercado. As
normas são estabelecidas por consenso e são voluntárias em sua aplicação pelo
mercado, diferindo dos regulamentos, que são compulsórios (KLOSOWSKI,
KUASOSKI e BONETTI, 2020).

No que concerne ao mercado e influência no preço, o mercado interno tem


influência direta sobre este ponto, por exemplo, quando há uma maior demanda pelo
2021 Gepra Editora Barros et al.

produto, principalmente em momentos de baixa produtividade, o preço sobe. O mel é um


produto sazonal e em algumas regiões do país pode haver uma mudança em todo o cenário
de comercialização do produto. A principal baixa temporada de produção é no inverno e
é mais rigorosa no Sul, região onde estão os maiores produtores de mel, Rio Grande do
Sul e Paraná. O mercado de mel no Brasil está em constante crescimento, embora o
consumo continue a aparecer em níveis baixos em comparação com outros países. Este é
produzido principalmente pela situação financeira da maioria da população, já que os
produtos apícolas, em geral, são produtos de alto valor, assim como pelas questões
culturais de consumo já que o mel não é visto como uma comida, mas como medicamento.
O país está bem posicionado entre os maiores produtores, mas tem boas condições de
202
expansão da produção (KLOSOWSKI, KUASOSKI e BONETTI, 2020).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O resultado positivo na produção apícola depende de diversos fatores, como a


disposição de pasto apícola de qualidade e em quantidades suficientes, recursos hídricos
disponíveis e o manejo adequado pelo apicultor, o que inclui conhecer as necessidades
operacionais, nutricionais e de sanidade das colmeias, incluindo também conhecer a idade
das rainhas e avaliar periodicamente o desempenho de suas colônias.
O cenário da cadeia produtiva apícola brasileira mostra-se bastante promissora,
dispondo de ambiente favorável à produção de mel e outros produtos de excelente
qualidade e com alto potencial de concorrência a nível internacional, por promover
aspectos diferenciados no que tange aos seus produtos, devido, principalmente, a flora
única disposta em algumas regiões do Brasil, como por exemplo a Caatinga da região
nordeste. Contudo, apesar da apicultura brasileira apresenta-se em processo de
desenvolvimento e inovação, ainda dispõe de muito potencial inexplorado, e técnicas a
serem aprendidas e disseminada entre os apicultores.

AGRADECIMENTOS

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela


concessão de bolsa de mestrado ao primeiro autor, código de financiamento 001.

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Capítulo 18

APLICAÇÃO DO SENSORIAMENTO REMOTO NO


MONITORAMENTO DAS VAZÕES DE CONSUMO DOS PIVÔS
CENTRAIS

MUNHOZ, Daniel Junqueira de Morais.


Pós-graduando em Engenharia Civil, Informações Espaciais (PPEC).
Universidade Federal da Bahia (UFBA)
djmmunhoz@gmail.com

RESUMO
206
No Brasil é histórico o monitoramento das vazões dos rios, há um relativo conhecimento
das disponibilidades hídricas, entretanto o conhecimento das retiradas de água é invulgar.
É fundamental conciliar a gestão da oferta com a gestão da demanda para garantir o acesso
à água, principalmente em regiões de conflitos pelo uso da água. Na região de Cerrado
no oeste baiano, a irrigação pelo método por pivôs centrais é o mais utilizado e exerce
papel fundamental na produção de alimentos e no desenvolvimento socioeconômico. O
objetivo desse trabalho é aplicar a metodologia desenvolvida para estimar o consumo de
água nos pivôs centrais a partir do NDVI e do balanço agroclimático. O modelo proposto
utiliza dados de estação meteorológica para obter a evapotranspiração de referência (ETo)
e do NDVI para calcular o coeficiente da cultura (Kc). Para validação da metodologia
foram comparados os resultados das evapotranspirações potenciais da cultura (ETp) e das
lâminas de irrigação calculados por sensoriamento remoto, com os dos Relatórios de
Manejo da Irrigação da IRRIGER, de 12 pivôs centrais da fazenda SAMA em Luís
Eduardo Magalhães/BA, durante as safras de soja de 2018 a 2020. O volume médio do
consumo de água, das três safras da soja, calculado por sensoriamento remoto foi de
2.545.410 m³, sendo 2.317.525 m³ o constante nos Relatórios. A metodologia apresenta-
se como uma ferramenta eficaz no monitoramento das retiradas de água para irrigação,
subsidiando a Gestão da Demanda e a fiscalização do uso da água outorgada a fim de
proporcionar segurança hídrica.

PALAVRAS-CHAVE: Segurança hídrica, NDVI, coeficiente da cultura (Kc).

INTRODUÇÃO

Segundo a (FAO, 2017) a produção irrigada de alimentos vai aumentar mais de


50% até 2050. Todavia, o órgão reconhece que a quantidade de água necessária para esses
empreendimentos não está disponível, e que a água captada para uso na agricultura pode
aumentar somente 10%. (UNESCO, 2021).
Conforme dados da ANA (2020), a Bahia apresenta aproximadamente 10 % da área
irrigado do Brasil, ou seja, 525.441 hectares dos 5,3 milhões ha. O agronegócio nesse
estado representa 23,5% do Produto Interno Bruto (PIB), 51% das exportações e 32% dos
empregos gerados (MAYNARTE, 2019). O estado é o sexto maior produtor nacional de
soja, com uma área aproximada de 1,7 milhões de hectares em 2020, entre os cultivos de
sequeiro e irrigado.
No oeste baiano são cultivados aproximadamente 2,5 milhões ha, sendo
aproximadamente 65% de soja. Em 2018 existiam cerca de 2,3 milhões de hectares com
agricultura, apenas 8% dessa área (190.900 ha em 2018) era irrigada, sendo
majoritariamente (90%) por pivôs centrais (MANTOVANI, JÚNIOR, et al., 2019).
2021 Gepra Editora Barros et al.

O aumento da área irrigada na região oeste da Bahia tem ocasionado a


intensificação da pressão no uso das águas. Em 1990 eram 16.431 hectares irrigado
distribuídos em 187 pivôs centrais. Em 2018 esse número subiu para 192.282 hectares
irrigados em 1.745 pivôs centrais. Entre 1990 a 2018 o crescimento foi de 6.064 ha/ano e
de 2010 a 2018 foi de 11.535 ha/ano (MANTOVANI, JÚNIOR, et al., 2019).

Figura 6- Evolução da área irrigada com pivôs centrais no oeste baiano.

207

Fonte: (MANTOVANI, JÚNIOR, et al., 2019)

O estudo (POUSA, 2019) alerta para os possíveis conflitos no oeste baiano em


algumas sub-bacias mais críticas em relação à disponibilidade de água superficial, sendo
a sub-bacia do rio Corrente - a do Rio Borá -, onde ocorreu o estudo uma delas. No gráfico
abaixo, a linha vermelha representa o limite outorgável (80% da vazão de longo prazo -
1978 a 2015 - com 90% de permanência). A linha azul é a vazão de demanda para
irrigação com lâmina de 150 mm/mês (linha azul), a linha verde simulação a vazão de
demanda para irrigação com lâmina de 100 mm/mês (linha azul).

Figura 7 -- Vazões na Bacia do Rio Borá.

Fonte: (POUSA, 2019)


O recente estudo "Análise Territorial para o Desenvolvimento da Agricultura
Irrigada" (USP, 2020) aponta que a Bahia tem potencial de Área Adicional irrigável
(AAI) de 1.511.452 hectares – praticamente três vezes mais que a área atualmente irrigada
-, usando somente a disponibilidade hídrica superficial e sem considerar as áreas de
vegetação nativa legalmente passíveis de serem desflorestadas. Entretanto, grande parte
da região do oeste apresenta limitações na expansão. Segundo o estudo (USP, 2020), pág
2021 Gepra Editora Barros et al.

118, “Os estados da Bahia e Minas Gerais se destacam também com as maiores
proporções de áreas demarcadas como manutenção...” Ou seja, apesar do grande
potencial de expansão no estado, o polo nacional de agricultura irrigada Oeste da Bahia
apresenta grande parte da área classificada como Manutenção & Redirecionamento, com
algumas áreas de Intensificação. O estudo fez a divisão de seis classes de agricultura
irrigada a partir da hierarquização da combinação de quatro componentes: As classes de
Manutenção & Redirecionamento e Intensificação foram caracterizadas como:

Manutenção & Redirecionamento: Resultante da combinação de alta área


irrigada, mas com baixa área adicional irrigável... Para esta classe, a agricultura
irrigada já faz parte da matriz produtiva, porém os recursos hídricos não 208
apresentam mais capacidade de suportar uma expansão da atividade, indicando
condições de provável conflito pelo uso da água. Esse tipo de situação é
estratégico para intervenção pública no apoio e criação de alternativas à
agricultura irrigada, bem como no gerenciamento e racionalização do uso da
água.

Intensificação: (...) ocorrência da alta área adicional irrigável de intensificação


em regiões com grande tradição na prática de irrigação (presença de agricultura
irrigada). (...) Além disso, a classe intensificação favorece a exploração de
oportunidades de irrigação em épocas marginais para agricultura de sequeiro.

Conforme (UN-WATER, 2013), a segurança hídrica pode ser definida como:


A capacidade da população de garantir o acesso seguro e sustentável a
quantidades adequadas de água de qualidade aceitável para sustentar os meios
de subsistência, bem-estar humano e desenvolvimento socioeconômico, para
assegurar a proteção contra a poluição transmitidas pela água e os desastres a
ela relacionados, e, para a preservação dos ecossistemas em um clima de paz e
estabilidade política.

Dessa forma, é fundamental conhecer as vazões de água captadas para se fazer a


Gestão da Demanda a fim de promover sua alocação eficiente, resguardar o direito de
acesso dos usuários, promover o desenvolvimento sustentável e a perenidade da
2021 Gepra Editora Barros et al.

agricultura irrigada. O desafio da produção agrícola no oeste baiano é a sua


sustentabilidade, principalmente por causa da limitação na disponibilidade hídrica
superficial; logo é preciso o monitoramento do uso da água. Uma forma de se fazer o
monitoramento do consumo de água é utilizar a estimação da demanda hídricas da cultura,
conhecida também como evapotranspiração da cultura. Um dos componentes do balanço
hídrico em uma bacia hidrográfica é a evapotranspiração (ET), que também é utilizada
pelos irrigantes para calcular as lâminas de irrigação. A estimativa da ET tem sido uma
das pesquisas mais importantes na agricultura devido à escassez de água, ao aumento da
população e às mudanças climáticas. Assim houve um avanço no mapeamento da ET e
dos coeficientes de cultura (Kc) com o uso de imagens de sensores orbitais, permitindo o
manejo da irrigação por SR e possibilitando calcular por SR as necessidades totais de
água nas lavouras irrigadas para grandes áreas, poupando campanhas de campo 209
(CAISERMAN, AMIRASLANI, & DUMAS, 2021).

Os modelos em que o cálculo da ET considera o Kc relacionado com índices


vegetação (Kc-IV) é uma forma de contornar a complexidade e a necessidade de muitos
dados requerido pelo método do balanço de energia. Os estudos da relação do Kc obtidos
por SR é um tema atualmente em desenvolvimento, principalmente para o
estabelecimento dos Kc(s) calibrados regionalmente, pois assim as estimativas da ET são
mais realistas, levando em consideração os aspectos do solo, mesoclima, variedade e
espécie da cultura em questão. Assim, o objetivo deste trabalho é aplicar a metodologia
desenvolvida durante a dissertação de mestrado, do primeiro autor, para estimar o
consumo de água nos pivôs centrais com soja, a partir do NDVI e do balanço
agroclimático. Tendo essa informação grande aplicabilidade no âmbito dos instrumentos
de gestão da Política Estadual de Recursos Hídricos.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O estudo foi conduzido na fazenda SAMA, na bacia do Rio Grande, que está sobre
o aquífero Urucuia responsável pela regulação do fluxo de água durante a estação seca.
Os 12 (doze) pivôs centrais monitorados por SR durante as safras 2017/18, 2018/19 e
2019/20 totalizam uma área de 1.204 hectares
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 8 - Mapa de Localização.

210

FONTE: Autor.

Coleta de dados
Os dados utilizados neste trabalho são constituídos: • dos Relatórios de Manejo da
irrigação com as datas de plantios, lâminas de irrigação, precipitação e evapotranspiração,
• 37 (trinta e sete) imagens dos satélites Landsat 8 (órbita 220 ponto 69) e Sentinel-2
(órbita/ponto 23LLG) • dados meteorológicos de temperatura (máx., média e mínima),
umidade relativa (%), velocidade do vento (m/s), radiação (w/m²) e precipitação obtidos
da estação da marca Davis, localizado na fazenda Triflora (lat. -12,31731 e long. -
45,826397, altitude 726 m).

Análise dos dados


Com o uso da ferramenta Semi-Automatic Classification Plugin (SCP) do QGIS
fez-se a correção atmosférica da reflectância aparente (Top Of Atmosphere – TOA) para
reflectância de superfície da imagem (Bottom Of Atmosphere – BOA). Cabe destacar que
a partir de dezembro de 2018 é possível fazer o download das imagens do Sentinel-2 com
o nível de processamento 2A, que já consiste com a correção atmosférica aplicada ao
produto ortoimagem do Nível-1C. A partir das imagens RGB foi verificado a viabilidade
de sua utilização, levando-se em consideração a existências de nuvens e de suas sombras.
Caso a imagem fosse considerada viável, mas houvesse essas interferências dentro da
área dos pivôs centrais, as regiões livres de nuvens e de suas sombras foram recortadas.
Com o algoritmo Estatísticas Zonais do QGIS foram calculadas as médias dos valores do
NDVI em cada pivô, ou para área do seu recorte, na imagem da data da passagem dos
satélites.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 9 - Exemplo de áreas recortadas.

211

Fonte: Autor.

O período das imagens para cada pivô central foi ao da primeira imagem viável
mais próxima ao plantio até a última imagem viável antes da colheita. Quando a imagem
foi anterior ao plantio interpolou-se linearmente o NDVI até a data da próxima imagem;
e quando foi posterior repetiu retroativamente o valor do NDVI. Entre as datas das
imagens durante o ciclo da soja os valores do NDVI formam interpolados linearmente em
planilha Excel, obtendo um valor de NDVI para cada dia.
Foi pesquisado na literatura internacional dez equações que calculam o Kc a partir
do NDVI. Os dados diários do NDVI serviram de entrada para calcular os coeficientes
diários da cultura da soja, obtidos por SR (Kc-SR) para cada uma das dez equações, para
cada um dos doze pivôs centrais, em três safras.

Tabela 3 - Equações utilizadas para calcular o coeficiente da cultura (Kc-SR).


N° Autores Equações do Kc Satélite Método Verificação/valida
çã
I, II (KAMBLE, KILIC =1,3558xNDVI- MODIS Fluxo de Torres
e HUBBARD, 0,0744 (p/ irrig.) (I) energia. da AmeriFlux
2013)
=1,4571xNDVI-
0,1725 (seq/irrig) (II)
III, (KUKAL, 2017) =1,4178xNDVI- MODIS. Reflectânci Torres de fluxo de
IV 0,0524 (soja) (III) Produto a, NDVI. calor. Período de
MOD13A observação 1982-
=1,5286xNDVI- 3. 2013.
0,0358 (geral) (IV)
V (MUTIIBWA e =1,58xNDVI-0,111 satélite Reflectânci Torres de fluxo de
IRMAK, 2013) (universal) NOAA. a, NDVI. calor, BREBS
NEBFLUX, períod
o de 1981 a 2008
2021 Gepra Editora Barros et al.

VI (SINGH e KILIC, =1,215xNDVI-0,033 Lansat5 e soja Regressão do


2009) (soja irrig) 7 irrigada e Balanço de energia
sequeiro. por SEBAL com a
reflectância, NDVI.
VII (TASUMI, =1,18xNDVI+0,04 Landsat; NDVI e Resultados obtidos
ALLEN e METRIC balanço de pelo SR foram
TREZZA, 2006) energia. comparados com as
ET dos. lisímetros
VIII (RAFN, CONTOR =1,1507xNDVI+0,11 Landsat. METRIC. Desenvolveu
, e AMES, 2008) 67 equação do Kc pelo
IX (VIII) NDVI baseado no
=1,063xNDVI+0,29 METRIC.
(IX)
X (SPILIOTOPOUL =0,92xNDVI+0,03 Lansat7. METRIC. Espectrômetro); 212
OS e LOUKAS, Estações
2019) meteorológicas e
software CROPWA
T.
Fonte: Autor.

Os dados meteorológicos foram utilizados para alimentar o software Ref-ET para


calcular a evapotranspiração de referência (ETo) pelo método Penman Monteith FAO 56.
A ETo diária foi multiplicada pelo Kc-SR diário, obtendo-se a evapotranspiração (ETp-
SR) diária para cada uma das dez equações.
As diferenças das ETp(s) acumuladas no ciclo da cultura, entre as calculadas para
cada uma das dez equações e as ETp(s) constante no relatório de Manejo e foram plotadas
no gráfico boxplot para efeito de comparação, assim escolheu-se a equação que
apresentou a menor diferença. Para calcular as lâminas de irrigação por sensoriamento
remoto fez-se o balanço hídrico entre os valores da ETp-SR e a precipitação efetiva,
acumulados em cinco dias a partir da data do plantio até 10 dias antes do fim do ciclo,
considerado como o período de irrigação. A diferença negativa acumulada entre a
precipitação efetiva e a evapotranspiração potencial (ETp) foi dividida pela eficiência
adotada de 90% para o método de irrigação por pivô central; o resultado dessa expressão
foi o valor considerado da lâmina bruta de irrigação (Irrig-SR). Para a validação da
metodologia proposta, os dados da ETp e das lâminas de irrigação aplicadas constantes
nos Relatórios de Manejo de Irrigação foram utilizados para comparar com os dados da
ETp-SR e da Irrig-SR calculados por SR.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 10 - Fluxograma sintético da metodologia aplicada.

213

Fonte: Autor.

A evapotranspiração da cultura obtida por sensoriamento remoto foi considerada a


potencial (ETp-SR), por se tratar de uma cultura frequentemente irrigada, que
dificilmente passa por déficit hídrico, assim Ks = 1.

𝐸𝑇𝑐_𝑆𝑅 = 𝐸𝑇𝑜 × 𝐾𝑐_𝑆𝑅 × 𝐾𝑠 × 𝐾𝑙 (1)

𝐸𝑇𝑝_𝑆𝑅 = 𝐸𝑇𝑜 × 𝐾𝑐_𝑆𝑅 (2)

Em que:
ETo (mm/dia) = evapotranspiração de referência;
Kc-SR = coeficiente da cultura obtido pela equação Kc-NDVI;
Ks = coeficiente de estresse hídrico;
Kl = coeficiente de localização, igual a 1 para pivô central porque molha 100% da área.

A ETp-SR foi calculado diariamente para cada pivô, em cada safra, a partir da
data do plantio até o final do seu ciclo, geralmente de 122 dias.
A Disponibilidade Total de Água no Solo (DTA) foi calculada considerando
capacidade de campo média de 12 % em peso, ponto de murcha médio de 6 % em peso,
e densidade aparente do solo médio de 1,4 g/cm³; então a DTA = (12- 6) / 10 x 1,4 = 0,84
mm por cm de solo. A Capacidade Total de Água no Solo (CTA) considerou a
2021 Gepra Editora Barros et al.

profundidade efetiva do sistema radicular da soja de 60 centímetros, logo (CTA) foi de


0,84 mm/cm x 60 cm = 50,4 mm. A Capacidade Real de Água no Solo (CRA) utilizou 50
% (f=0,5) da DTA. Logo, a (CRA) = 50,4 mm x 0,5 = 25,2 milímetros (mm).
A precipitação (ppt) foi convertida para precipitação efetiva (ppt_ef) quando o
acumulado de 5 dias da ppt foi maior que Capacidade Real de Água no Solo (CRA), de
25,2 mm, assim, nesses casos, igualou-se a precipitação efetiva ao valor da CRA (ppt5d
≤ CRA). O déficit hídrico dividido pela eficiência de aplicação do método, de 90%, foi
considerado a quantidade (lâmina) necessária para irrigar.

∑ 𝑎𝑐( 𝐸𝑇𝑝_𝑆𝑅 − 𝑝𝑝𝑡_𝑒𝑓) 214


𝐿𝐵(𝑚𝑚) = (3)
𝐸𝑎
Em que:
LB (mm) = lâmina bruta de irrigação calculada por sensoriamento remoto (Irrig-SR).

A lâmina de irrigação (Irrig-SR), em milímetros foi convertida para vazão de


consumo de água nos pivôs centrais (Q-SR), conforme a fórmula abaixo:

𝑚3
𝑄_𝑆𝑅 ( ) = 10 × 𝐿𝐵(𝑚𝑚/𝑚ê𝑠) × á𝑟𝑒𝑎(ℎ𝑎) (4)
𝑚ê𝑠

Os valores da ETp-SR, Irrig-SR e Q-SR foram comparados com os valores


constantes nos relatórios de manejo da irrigação e analisados as diferenças.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A demanda hídrica da cultura da soja foi considerada como a evapotranspiração,


que é quantidade de água mandada para atmosfera que precisa ser reposta pela água da
chuva ou da irrigação. Para seu cálculo é imprescindível conhecer o coeficiente da cultura
(Kc). A equação Kc-NDVI n° VII (número 8) foi a que proporcionou a menor diferença
entre as ETp(s) estimada por SR com as constantes nos relatórios de manejo, a variação
foi menor que 25 mm em 50% dos dados; com a média próxima da mediada e próximas
de zero; com uma variação máxima subestimada de 60,13 mm; assimetria ligeiramente
negativa; e sem ocorrência de valores discrepantes (outliers).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 11 -- Diferença das ETp(s) para cada uma das 10 equações Kc-NDVI.

215

FONTE: Autor

O período contabilizado para a ETp-SR foi o número de dias do ciclo da variedade


da soja, que na grande maioria foi da data do plantio até 122 dias. O teste estatístico de
hipótese T de Student foi aplicado para testar estatisticamente a hipótese nula Ho: As
demandas hídricas calculadas por sensoriamento remoto não se diferenciam das
demandas hídricas constantes nos relatórios de manejo da irrigação.

Tabela 4 - T de Student para o conjunto de dados da ET.


alfa = 0,05 ET-SR ET-Rel
Média 452,86 458,56
Observações 36 36
Stat t -1,444
t crítico bi-caudal 2,030
Fonte: Autor

Considerando o nível de significância de 5% (α = 0,05) para o teste bilateral, não


há evidência suficiente para rejeitar Ho; mesmo com o nível de significância de 10%, o t
tabelado de 1,69 ainda é maior que o t calculado. Logo as demandas hídricas calculadas
por SR - com a utilização da equação VIII do Kc-NDVI - não se diferenciaram das
demandas hídricas constantes nos relatórios de manejo da irrigação. Assim, essa equação
foi utilizada para representar os Kc(s) ao longo dos estágios fenológicos da soja e para
estimar o consumo de água dos pivôs centrais.
Haja vista as diferentes datas de semeadura, os NDVI(s) e os Kc(s) foram
normalizados para Dias Após o Plantio (DAP). Os valores dos NDVI(s) e dos Kc(s), do
conjunto de dados, desde o primeiro DAP até o DAP da data da última imagem anterior
a colheita, de cinco em cinco dias, também foram plotados em gráfico boxplot.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 12 -- Boxplot do conjunto de dados do NDVI.

216

FONTE: Autor.

Figura 13 - Boxplot do conjunto de dados do Kc.

FONTE: Autor.

As medianas dos valores NDVI(s) e dos Kc(s), do conjunto de dados, foram


plotados no gráfico de dispersão com linhas, que juntamente com os dois gráficos boxplot
(NDVI e Kc) foram utilizados na definição dos intervalos DAP dos valores Kc(s) e
NDVI(s) correspondentes para os principais estádios fenológicos da soja.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 14 -- Medianas dos NDVI e Kc.


1,20
1,10
1,00
0,90
0,80
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
217
0,20
0,10
0,00
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140
DAP

NDVI Kc

FONTE: Autor.

Os intervalos dos valores NDVI(s) e Kc(s) foram divididos em cinco fases, sendo
que a transição entre dois valores se dá por meio de uma reta de coeficiente angular. O
cálculo dos valores NDVI e Kc de cada fase foi obtido pela média das medianas do
intervalo DAP. Por exemplo, o valor Kc = 0,37 foi resultante da média das medianas do
DAP 1 ao 10; do Kc = 0,68 foi resultante da média das medianas do DAP 11 ao 60 e
assim sucessivamente.

Tabela 5 – Coeficientes da cultura obtidos por sensoriamento remoto.


Fase Estágio DAP Dias Kc NDVI
VE - V1 Estabelecimento 0 10 10 0,37 – 0,68 0,22 – 0,47
V2 – R1* Desenvolvimento 11 60 50 0,68 – 1,09 0,47 – 0,84
R2 – R6 Crítica 61 120 60 1,09 0,84
R6** - R8 Maturação 121 130 10 1,09 - 0,68 0,84 - 0,47
R9 Colheita > 130 < 0,68 <0,47
* início do florescimento
** pleno enchimento de grãos
FONTE: Autor.

A estimativa da lâmina de irrigação considerou o balanço hídricos com 5 (cinco)


dias acumulados entre as precipitações efetivas e as evapotranspirações da cultura (ETp-
SR) obtida com a Eq VIII do Kc-NDVI, desde a data de plantio até 10 (dez) dias antes do
final do ciclo. As diferenças nas lâminas de irrigação para o conjunto de dados estão
representadas no gráfico abaixo.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 15 -- Delta irrigação a partir da Eq VIII do Kc-NDVI.

218

Fonte: Autor.

Considerando que a equação do cálculo das lâminas de irrigação leva em


consideração uma variável a mais (precipitação), sendo ela de variabilidade espacial,
assim optou-se pela redução do nível de significância para 1% (α = 0,01) no teste T de
Student para testar a hipótese nula Ho’: As lâminas de irrigação calculadas por
sensoriamento remoto não se diferenciam das lâminas de irrigação aplicada, constantes
nos relatórios de manejo da irrigação.

Tabela 6 - Teste T Student para o conjunto de dados das lâminas irrigação.


Alfa = 0,01 Irrig. SR Irrig. Rel
Média 211,46 192,60
Observações 36 36
Stat t 2,695
t crítico bi-caudal 2,724
Fonte: Autor.

Assim, também não evidências suficientes para se rejeitar a Ho’, logo para o nível
se significância de 1% lâminas de irrigação calculadas por sensoriamento remoto não se
diferenciam das lâminas de irrigação aplicada. As 36 observações são resultadas da
multiplicação dos 12 pivôs centrais monitorados durante 3 safras. Observa-se que na safra
2018/19 houve uma expressiva diferença nas lâminas de irrigação entre o estimado do
realmente aplicado, sendo que para as outras duas safras as médias e as medianas ficaram
próximas de zero.
A partir das lâminas de irrigação calculadas por SR e das constantes nos Relatórios,
calculou-se as vazões de consumo dos pivôs centrais pela fórmula n° 4.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 16 -– Consumo total de água.

219

FONTE: Autor.

As médias das lâminas para os doze pivôs e do conjunto das 36 observações estão
representadas no gráfico abaixo.

Figura 17 -- Lâminas médias.

FONTE: Autor.

Na média das três safras, a diferença nas lâminas de irrigação foi de 18,86 mm, o
que representa 9,8% da média realmente irrigada, de 192,6 mm. A diferença mais
discrepante (entre o calculado por SR do constante no Relatório de Manejo) na safra
2018/19 pode ser explicada, em parte, pela variação nas lâminas precipitadas entre os
pivôs da fazenda SAMA e o precipitado na estação meteorológica na fazenda Triflora;
pois o balanço hídrico utilizado para o cálculo das lâminas de irrigação dos Relatórios de
Manejo utilizam o volume precipitado em cada pivô central da fazenda SAMA, e o
balanço hídrico aplicado na metodologia utilizou as lâminas precipitadas na estação
meteorológica da fazenda Triflora, sendo que para ambos (relatório de Manejo e
calculado por SR) o cálculo da ETo utilizou-se os dados da estação meteorológica da faz.
Triflora.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 18 – Média das lâminas acumuladas precipitadas. A) Acumuladas na safra.


900
800
700
600

(mm)
500
400
300
200
100
0
2017/18 2018/19 2019/20
220
Título do Eixo

Relatório Estação

B) Acumuladas no mês.

Precipitação safra 2018/19


500
400
300
(mm)

200
100
0
out/18 nov/18 dez/18 jan/19 fev/19
Título do Eixo

ppt Rel ppt Estação

A diferença de 60 mm entre as lâminas de irrigação estimadas por sensoriamento


remoto do realmente aplicada (constante nos relatórios de manejo) pode ser justificada,
em parte, pelo maior volume de chuva precipitado em dezembro na área dos pivôs centrais
localizado na fazenda SAMA.

CONCLUSÕES

Com essas imagens foi possível calcular os coeficientes da cultura por


sensoriamento remoto (Kc-SR) ao longo do ciclo da soja, a partir da equação número oito
(Eq VIII). Assim, o cálculo diário do coeficiente da cultura por SR permite uma melhor
representação do Kc ao longo do ciclo da cultura quando comparado com os coeficientes
tabelados, tornando o cálculo das lâminas de irrigação mais condizentes com as demandas
hídricas. Esses valores do Kc-NDVI conjugados com os dados de estação meteorológico,
não tão próxima a área irrigada, permite boa estimativa no cálculo das demandas hídricas
da soja irrigada (ETp-SR) por pivô central.
A metodologia de aplicação do Balanço Hídrico com o acumulado de 5 (cinco) dias
da ETp-SR, com o acumulado de 5 (cinco) dias lâminas de precipitação efetiva de
estações pluviométrica próxima as áreas irrigadas, mostrou-se promissor como um
indicador das vazões de consumo de água na irrigação por pivôs centrais. Todavia para
2021 Gepra Editora Barros et al.

sua estimação é necessário estabelecer o período da irrigação. Os resultados obtidos neste


trabalho indicam que o início do computo da vazão de consumo de água nos pivôs parte
com um valor NDVI da lavoura próximo de 0,37 e chega na maturação próximo do valor
NDVI de 0,67, quando se corta a irrigação.
Logo, a metodologia aplicada é indicada para o cálculo das demandas hídricas da
soja e um indicador dos volumes de captação/consumo de água pelos pivôs centrais. O
cerne do monitoramento da vazão captada é refinar, melhorar o balanço hídrico entre a
oferta(disponibilidade) e demanda(consumo) de água a fim de garantir o exercício de
direito de acesso à água, protegendo seu uso e a produção de alimentos, geração de renda
e de emprego advindos da agricultura irrigada.
Assim, para aplicar a metodologia recomenda-se utilizar imagens pagas com maior
resolução temporal e densificar as estações meteorológicas, principalmente as 221
pluviométricas.
Logo, a aplicação do sensoriamento remoto para estimação dos consumos hídricos
nos pivôs centrais auxilia em sete, dos nove instrumentos da Política Estadual de Recursos
Hídricos, sendo eles: os planos de bacias, a outorga de direito de uso de recursos hídricos;
a cobrança pelo uso de recursos hídricos; o Sistema Estadual de Informações Ambientais
e de Recursos Hídricos - SEIA; o monitoramento dos recursos hídricos e a fiscalização
do uso de recursos hídricos.
Diante da informação da vazão estimada de água captada é possível comparar com
as vazões outorgadas e encontrar desvios no uso; atuando de forma eficiente no
monitoramento e fiscalização.

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Capítulo 19

APLICAÇÃO DO TESTE DUO-TRIO EM ANÁLISE SENSORIAL


DE REFRESCO SABOR MARACUJÁ

ALVES, Bruna Mirelle Vicente


Graduada em Engenharia de Alimentos
Faculdade Federal Rural de Pernambuco
bruna_ceeg@hotmail.com

SILVA, Jose Nnehanderson Freitas


Graduado em Agronomia
Faculdade Federal Rural de Pernambuco 223
nnehanderson@gmail.com

RESUMO

O maracujá devido ao seu valor nutricional é utilizado na produção de sucos. Os


preparados sólidos para refresco (PSR) são amplamente consumidos pelos brasileiros,
devido ao preço acessível, fácil preparo, são alternativa ao consumo de refrigerantes e
bebidas prontas. Os sucos desidratados tem maior vida útil, excelente rendimento e
permitem o consumo da fruta durante o ano. A análise sensorial permite avaliar a
qualidade dos alimentos nas diferentes etapas de produção, estudar a vida de prateleira,
comparação entre amostras, e sua aceitação no mercado. Este trabalho teve como objetivo
avaliar se os consumidores conseguem detectar variações na concentração de refresco
sabor maracujá, utilizando o teste Duo-trio. O teste foi realizado na Unidade Acadêmica
de Garanhuns (UAG) / Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), com vinte
e quatro provadores não treinados do curso de engenharia de alimentos. Foi preparado
duas concentrações do suco: 1 litro de água para um pacote; 1,030 litros de água para
dissolver o mesmo. Cada provador recebeu três amostras, apresentadas aleatoriamente e
codificadas, entre elas tinha o “padrão”, e pedia-se que identificasse entre as demais,
aquela igual ao padrão. Obteve-se dezoito respostas corretas, ou seja, dezoito pessoas
conseguiram identificar diferenças significativas entre as amostras, indicando que ao
realizar uma variação de 3% de água na concentração dos refrescos preparados, foi
possível identificar que as amostras diferem entre si. Através da aplicação do teste duo-
trio de fácil aplicação, permitiu conhecer a diferença estatística entre duas amostras
distintas, com 5% de significância.

PALAVRAS-CHAVE: avaliação sensorial, fruta tropical, suco.

INTRODUÇÃO

O maracujá da família Passifloraceae, pertencente ao gênero Passiflora, existem


mais de 400 espécies deste gênero, dentre essas Passiflora edulis é a mais cultivada. O
fruto é rico nutricionalmente em açúcar, gordura, proteína, vitaminas e minerais
(CARVALHO et al., 2021).
O maracujá (Passiflora edulis) é nativo da América Tropical, na América do Sul
estão os maiores produtores, evidenciando entre eles o Brasil que produz em média 14 t
há- 1 ano-1, tendo seu potencial produtivo maior para as culturas geneticamente
2021 Gepra Editora Barros et al.

modificadas, chegando a 60 t há-1 ano-1. Devido ao seu valor nutricional tem forte
potencial econômico, sendo destinado ao consumo in natura e utilizado em escala
industrial no processamento de produtos como suco concentrado, néctares, refrescos,
xaropes, entre outros derivados (FERREIRA et al., 2018; DAMASCENO, et al., 2018;
ZACHARIAS, FALEIRO, ALMEIDA, 2020).
Para obtenção de sucos, néctares, compotas e geleias, é preciso ter um mix de
matérias-primas a fim de ter um produto com alto valor nutritivo e funcional, onde sejam
mantidos suas principais características organolépticas, sabor e aroma. O principal
desafio na produção de uma bebida é preservar seus nutrientes e torná-la atrativa
sensorialmente, por isso se faz necessária estudos entre propriedades químicas e
224
processos utilizados (VILLAREAL, et al., 2013).
O consumo de sucos de frutas e hortaliças processados tem aumentado, motivado
pela falta de tempo da população em preparar suco das frutas in natura, pela praticidade
oferecida pelos produtos, substituição ao consumo de bebidas carbonatadas, devido ao
seu valor nutritivo, e preocupação com o consumo de alimentos mais saudáveis, além da
questão da renda de consumidores que fazem uso deste segmento de sucos naturais ou
industrializados (SILVA et al, 2005; BRANCO et al., 2007; BRAGA et al., 2020). O
consumo de preparado sólido para refresco (PSR) ou refresco em pó, cresceu
aproximadamente 3% de 2013 a 2014, com ingestão de 24,6 litros por habitante em 2014.
Os PSR são considerados itens essenciais da cesta básica dos brasileiros, devido ao preço
acessível, fácil preparo, e alto rendimento, além de conter na composição adição de
vitaminas e minerais (SANTANA, M. C., 2018; ROSA, et al., 2018).
Os preparados em pó para refresco surgiram em 1960, e não era adoçado. Desde
então foram ocorrendo modificações na formulação, como o misto de açúcar e adoçante.
Em 1999, com o apelo da adição de polpa de fruta, modificou o conceito do produto junto
ao consumidor. Nos últimos anos receberam mais consistência, melhor aparência e
passaram a ser ofertados em pontos de venda sofisticados, ganhando mais comodidade,
no lugar dos sucos naturais (CALEGUER et al., 2006).
A secagem de frutas vem sendo vastamente estudada, este fato se deve à qualidade
dos produtos em pó produzidos. Os produtos desidratados têm vida útil mais longa
permitindo também um maior armazenamento, devido à remoção de água, inibição do
crescimento de microrganismos e da atividade de algumas enzimas, além de oferecer
acesso ao produto durante o ano, e não apenas no período de safra da fruta (ROCHA et
al., 2014, SOUZA et al., 2016).
Segundo a legislação sobre bebidas, refresco ou bebida de fruta ou de vegetal é a
bebida não fermentada, obtida pela diluição em água potável, do suco de fruta, polpa ou
extrato vegetal de sua origem, com ou sem adição de açúcares. O refresco de maracujá
deverá conter no mínimo seis por cento em volume de suco de maracujá. Preparado sólido
para refresco é o produto à base de suco ou extrato vegetal de sua origem e açúcares,
destinado para o consumo, após sua diluição, podendo ser adicionado de edulcorante
hipocalórico e não calórico. O PSR que não contiver a matéria-prima de origem vegetal
será denominado de preparado sólido para refresco artificial (BRASIL, 2009).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Através dos órgãos dos sentidos é possível analisar alterações na qualidade do


produto, que podem ser detectadas por métodos analíticos convencionais ou por técnicas
instrumentais (OLIVEIRA et al., 2012). Os atributos de qualidade mais relevantes são as
propriedades sensoriais, aparência, aroma, textura e sabor (BARBOSA et al., 2017).
A avaliação sensorial é uma disciplina da ciência dos alimentos que consiste em
estabelecer o nível de aceitação ou rejeição de um determinado produto pelos
consumidores, apoiado na formação de grupos de julgadores considerados como
julgadores de consumo, especialistas em formação e julgadores especialistas (FUENTES
et al., 2016). A metodologia sensorial intervém nos processos do ciclo de
desenvolvimento de produtos; como seleção e caracterização de matérias primas, no
225
processo de elaboração, nas especificações das variáveis do processo, na otimização da
formulação, na seleção dos sistemas de envase e das condições de armazenamento e no
estudo de vida de prateleira do produto final (BARBOZA; FREITAS; WASZCZNSKYJ,
2003).
Os métodos discriminativos são testes objetivos e podem ser agregados no controle
de qualidade desde o desenvolvimento de novos produtos, para avaliar a precisão e a
confiabilidade dos painelistas (TEIXEIRA, 2009). O Teste Duo-Trio se enquadra nesta
metodologia discriminativo, tem sido empregado para determinar se existem diferenças
significativas quando alterações são realizadas como, nos alimentos quanto aos seus
ingredientes, no processamento, na embalagem ou no armazenamento (BEINNER et al.,
2010). É um teste de comparação entre duas amostras, uma prova sensorial de fácil
aplicação comparado aos demais. Permiti utilizar-se de uma amostra-padrão, e duas
codificadas, o provador fará a identificação entre as codificadas, a que se iguala ao padrão
(ESTEVES, 2014).
Diante do exposto acerca do uso de refrescos, este trabalho teve como objetivo
avaliar se os consumidores conseguem detectar variações na concentração de preparados
sólidos para refresco sabor maracujá, utilizando como ferramenta o teste sensorial Duo-
trio.

MATERIAL E MÉTODOS

Utilizou-se para aplicação do teste, preparado sólido para refresco (pacote contendo
30 gramas), sabor maracujá, já adoçado e de mesma marca. As amostras foram preparadas
horas antes do teste sensorial, seguindo a mesma metodologia e mantidas sob refrigeração
em geladeira à 7±2 °C, até a realização da análise, e servidos na mesma temperatura,
proporções iguais, para evitar erros aleatórios.
Na preparação dos refrescos, fez-se duas diluições: a primeira contendo as
especificações informadas no rótulo: 1 litro de água para um pacote; a segunda, 1,030
litros de água para dissolver um mesmo produto.
Para a análise sensorial utilizou-se o teste Duo-trio, cada provador recebeu três
amostras com aproximadamente 25 mL de cada formulação, apresentadas de modo
aleatório e codificadas com três dígitos, entre elas tinha uma chamada “padrão” esta era
a primeira na sequência das amostras, visto que ao julgador pedia-se que identificasse
2021 Gepra Editora Barros et al.

entre as codificadas, aquela igual ao padrão. O teste foi realizado na Unidade Acadêmica
de Garanhuns (UAG) / Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), com vinte
e quatro provadores não treinados do curso de engenharia de alimentos. Buscou-se
pessoas que tinham por hábito fazer uso deste tipo de bebida por meio de simples
questionamento quanto ao tema da análise, provar refrescos sabor maracujá, visto que
estes consumidores não foram treinados para participarem do painel sensorial em questão.
Os julgadores foram orientados a provar as amostras da esquerda para a direita e
identificar qual das duas amostras codificadas era igual a padrão, tendo como atributo o
grau de doçura. Cada um recebeu uma ficha onde simplesmente teria que circular qual
amostra era igual ao padrão. A probabilidade de ter feito escolhas certas ou erradas, ou
226
seja, indicar corretamente, qual amostra codificada era equivalente à amostra de
referência, foi igual a 0,5. Buscou-se controlar os fatores ambientais a fim de evitar
conversas paralelas e/ou que houvesse a troca de informações entre os provadores, para
evitar interferência na decisão do outro. Entre a prova das amostras, fez-se o uso de água
potável para limpar o paladar e evitar conflito de sabores.
O teste tinha como objetivo revelar que as amostras do refresco diferiam entre si,
aplicando-se um teste de diferença, para isto a sensibilidade do teste é medida em função
de três valores: risco α (probabilidade de selecionar um julgador inaceitável), risco β
(probabilidade de rejeitar um julgador aceitável) e Pd (proporção máxima permitida de
discriminadores).
Para efetuar o teste foram escolhidos os valores: risco α = 0,05; risco β = 0,20 e Pd
= 50%, ou seja, quer se ter certeza que não mais que 50% da população vai deixar de
perceber que existe diferença. Esses valores são imprescindíveis para escolher e
identificar a quantidade necessária dos provadores, para a aplicação do teste, que neste
trabalho foram vinte e quatro, anexo C, da Tabela 39, Dutcosky (2011).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com Dutcosky (2011) para o número de painelistas utilizados no teste


(vinte e quatro), seria preciso um número mínimo de dezessete respostas corretas para
revelar que as amostras diferem significativamente entre si, com uma probabilidade de
95 % de confiança, anexo D, da Tabela 40.
Foram obtidas dezoito respostas corretas, ou seja, dezoito pessoas conseguiram
identificar diferenças significativas entre as amostras, encontraram entre as amostras
codificadas aquela igual ao “padrão”, indicando que ao realizar uma variação de 3% de
água na concentração dos refrescos preparados, foi possível detectar essa pequena
alteração, ou seja, existe uma diferença significativa no teste sensorial com o nível de 5%
de significância na comparação mono-caudal, as amostras diferem entre si.
Fato este que corrobora com o estudo de Schiavon et al, (2011), que utilizou o
mesmo teste discriminativo para avaliar se os painelistas perceberiam diferença de sabor
entre o chá de fruta de maçã triturada (de saquinho) e o chá de fruta de maçã desidratada,
onde a maioria dos julgadores conseguiu identificar a diferença existente, entre os chás
analisados.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Dias et al, (2012) em estudo com o teste de discriminação duo-trio, para observar a
influência das cores em gelatina vermelha, amarela, verde, roxa e azul na identificação
dos sabores morango, abacaxi, limão, uva e tutti-frutti, aos juízes pediu-se que indicasse
a amostra diferente do padrão. Como resultado a maior parte dos provadores não detectou
relação entre cor/ sabor, a cor não teve influência estatisticamente significativa na
identificação dos sabores, ou seja, não conseguiram encontrar diferenças.
De acordo com os estudos de Santos & Basso (2013), que realizou o teste sensorial
duo-trio com gelatina à base de quefir, pode observar que não houve diferenças
significativas entre a gelatina padrão e a gelatina preparada com quefir, o que difere do
estudo aqui apresentado.
227
Estudos de Neto et al, (2015) que utilizaram suco reconstituído de cajá em pó
(obtido por spray-dryer) e suco padrão de cajá (preparado com polpa da fruta),
demonstrou que as amostras dos sucos analisados promoveram diferenças significativas
de sabor entre os refrescos desidratados em comparação ao padrão (feito com polpa de
cajá) quanto às características sensoriais, fato que corrobora com os dados aqui
discutidos.
Com a realização do teste Duo-trio, pode-se ressaltar que os provadores
participantes, possuem um forte hábito de ingerir esses refrescos, pois conseguiram
identificar alterações no preparo das amostras, mesmo estas sendo pequenas, ou seja, caso
ocorra erro durante a fabricação desses PSR os consumidores podem vir a detectar a
mudança e não voltar a fazer uso de determinada marca, passando a consumir outras de
qualidade superior. Além disso, foi plausível analisar de forma indireta, o porcentual de
pessoas que fazem uso desses preparados sólidos para refresco.

4CONCLUSÕES

Os preparados sólidos para refresco são amplamente consumidos nos lares


brasileiros, pois representam uma alternativa saudável comparada as bebidas carbonadas,
visto que são fáceis no preparo e o baixo valor de mercado, alguns motivos que apontam
os dados no aumento do consumo desta classe, fatos que justificam os provadores nesta
pesquisa terem percebido uma pequena variação na concentração dos refrescos de
maracujá analisados.
Através da aplicação do teste discriminativo duo-trio utilizando-se de 24 julgadores
não treinados, pode-se determinar se os consumidores conseguiriam detectar a diferença
entre as preparações de refrescos sabor maracujá analisados, tendo este teste como
metodologia de fácil aplicação para esta finalidade, conhecer a diferença estatística entre
duas amostras distintas, ao nível de 5% de significância.
2021 Gepra Editora Barros et al.

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Capítulo 20

AVALIAÇÃO SENSORIAL DO CREME DE FRUTO DE PALMA


(Opuntias indica ficus) COM LICOR DE CASSIS

MARTINS, Fernanda Borges


Mestranda em Agronomia
Universidade Federal da Paraíba – Campus II
nandaborgges16@gmail.com

MEDEIROS, Maria Carmenleide


Graduada em Agroecologia
IFPB – Campus Picuí 231
mileidemedeiros21@gmail.com

PEREIRA, Frederico Campos


Prof. Dr. em Recursos Naturais
IFPB – Pedras de Fogo
fredericopereiracampos@gmail.com

RESUMO

A palma compreende as plantas de diversas espécies dos gêneros Opuntia e Nopalea,


ambas da família Cactácea, são plantas suculentas, com folhas muito reduzidas em forma
de pequenos apêndices e muito caducas. Elas não têm caule e sim pseudocaule em forma
de raquetes, as quais variam de forma e apresentam, quando sadias, coloração sempre
verde (SCHULTZ, 1943). Por ser resistente a longos períodos de seca torna-se viável a
produção em zonas áridas, no Brasil sua área cultivada chega a 96.900 ha (IBGE 2017),
no entanto, a totalidade dessa produção é destinada para forragem animal, durante o
período de seca. O presente trabalhou objetou avaliar sensorialmente e comercialmente a
receita elaborada com o fruto da palma (Opuntia ficus indica). A receita foi processada e
elaborada no laboratório de beneficiamento e processamento do IFPB – campus Picuí. As
amostras foram submetidas à análise sensorial por 170 provadores não treinados numa
faixa etária entre 16 e 55 anos. Observou-se que dos provadores tiveram uma
aceitabilidade positiva, com 97% dos votos na escala hedônica entre “Gostei muitíssimo”
e “Gostei muito”. E intenção de compra com 93% das notas 5 “certamente compraria”,
onde os julgadores declaram interesse em adquirir as receitas elaboradas com palma.
Diante das análises dos resultados pode-se concluir que a receita se torna uma excelente
oportunidade para divulgação da importância nutricional do fruto da palma na
alimentação humana, além de desmistificar o uso da cultura e consequentemente
promovê-la como viável para agregar valor nutricional e renda a famílias de comunidades
rurais.

PALAVRAS-CHAVE: Aceitabilidade; opuntias; alimentação alternativa.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

O Semiárido brasileiro totaliza uma extensão territorial de 1.128.697 km2, e


abrange todos os estados do nordeste, além da parte setentrional de Minas Gerais, de
acordo com a Resolução 115, de 23 de novembro de 2017 (Sudene 2018). Associado ao
bioma caatinga essa região é caracterizada pelas elevadas taxas de insolação, baixos
valores pluviométricos, solos rasos e pedregosos, vegetação adaptada ao meio,
destacando-se a família das cactáceas.
A palma compreende as plantas de diversas espécies dos gêneros Opuntia e
Nopalea, ambas da família Cactácea, são plantas suculentas, com folhas muito reduzidas
em forma de pequenos apêndices e muito caducas. Elas não têm caule e sim pseudocaule 232
em forma de raquetes, as quais variam de forma e apresentam, quando sadias, coloração
sempre verde (SCHULTZ, 1943). Por ser resistente a longos períodos de seca torna-se
viável a produção em zonas áridas, no Brasil sua área cultivada chega a 96.900 ha (IBGE
2017), no entanto, a totalidade dessa produção é destinada para forragem animal, durante
o período de seca.
O fruto da palma é conhecido como figo-da-índia, é produzido praticamente
durante o ano todo. A fruta é doce, suculenta, comestível, com 5-10 cm de comprimento
e 8-10 cm de largura, piriforme, ligeiramente curvada para o umbigo, amarelo-
esverdeada, laranja, vermelha ou púrpura com muita polpa e uma casca fina. A variação
de peso da fruta é de 100-240 g, é rico em vitaminas (principalmente C e A), cálcio e
magnésio (NUNES, 2012).
Com base na sua baixa acidez, elevada doçura, cor atraente e estável, os frutos de
Opuntia ficus-indica (L.) Mill. podem ter um uso muito adequado como aditivos em
produtos naturais ou substituto na produção de diversos géneros alimentícios (GAGO et
al., 2016). A sua utilização como matéria prima alimentícia pode dar origem a uma grande
quantidade de produtos, a exemplo de xaropes, frutas secas, cristalizadas, geleias, sucos,
néctares, doces e vinhos (CHIACHIO et al., 2006).
Apesar de serem considerados frutos saborosos, o preconceito cultural e os
pequenos espinhos dificultam a entrada mais acentuada desses frutos no mercado
brasileiro, porém segundo Oliveira et al. (2011), a produção do fruto da palma nas regiões
semiáridas nordestinas poderá ser uma nova alternativa de desenvolvimento econômico
para reduzir a fome e minimizar as deficiências nutricionais da população regional
Nas indústrias de alimentos modernas, todas as atividades são desenvolvidas
baseadas nas preferências do consumidor (KOEHL et al., 2008). Diversos fatores podem
determinar a escolha dos alimentos, mas a interação do produto com os sentidos humanos
e a percepção da qualidade sensorial é fundamental, sendo que o sabor é considerado o
atributo sensorial mais importante na seleção de um alimento (PONTES, 2008).
A análise sensorial é definida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT, 1993) como a disciplina científica usada para evocar, medir, analisar e interpretar
reações das características dos alimentos e materiais como são percebidas pelos sentidos
da visão, olfato, gosto, tato e audição. A análise sensorial normalmente é realizada por
uma equipe montada para analisar as características sensoriais de um produto para um
determinado fim. Pode se avaliar a seleção da matéria prima a ser utilizada em um novo
2021 Gepra Editora Barros et al.

produto, o efeito de processamento, a qualidade da textura, o sabor, a estabilidade de


armazenamento, a reação do consumidor, entre outros. Para alcançar o objetivo específico
de cada análise, são elaborados métodos de avaliação diferenciados, visando a obtenção
de respostas mais adequadas ao perfil pesquisado do produto (TEIXEIRA, 2009).
Tendo em vista os fatores ambientais e socioeconômicos que o Nordeste enfrenta,
torna-se extremamente necessário divulgar a importância da palma para a região,
mostrando para a população e aos pequenos produtores que trabalham com a agricultura
familiar o múltiplo potencial de uso, principalmente de sua fruta exótica, com isso
objetivou-se avaliar sensorialmente e comercialmente, a aceitação da receita elaborada
com frutos de palma forrageira, desmistificando o uso da palma somente como forrageira,
233
estimulando a produção de espécies adaptadas as condições do semiárido como
suplemento alimentar humano e fonte de renda.

MATERIAL E MÉTODOS

A matéria prima utilizada neste estudo: frutos da palma forrageira (Opuntia ficus
indica) foram coletadas no sítio Coqui pertencente ao senhor Francisco Xavier Gomes,
localizado no município de Picuí – PB, seguiram-se critérios de maturação, aparência
geral, cor e tamanho, descartando os que apresentaram deterioração integral ou parcial.
Os demais materiais foram adquiridos em feiras livres e redes de supermercados do
município.
A receita Creme de Fruto de Palma com Licor de Cassis foi processada e
elaborada no laboratório de beneficiamento e processamento do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – campus Picuí, seguindo as recomendações
das boas práticas de fabricação, ou seja, os cladódios, os utensílios, equipamentos e
bancadas foram sanitizados com solução de hipoclorito de sódio. Durante todo o
processamento se fez uso de luvas, toucas, máscaras e aventais.

Preparação da Receita

Após a coleta e desinfestação dos frutos se realizou o descascamento


manualmente com o auxílio de faca inox. Foram feitos dois cortes da base superior e
inferior e um corte longitudinal. O material obtido após a retirada da casca foi triturado
em um multiprocessador até chegar a uma consistência ideal de polpa (Figura 1). O
material foi peneirado, acondicionado em garrafas plásticas devidamente fechadas e
mantidas em freezer um dia antes de serem utilizados.
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Figura 1: Descrição das etapas de processamento do fruto de palma

234

Fonte: Autoria Própria

Em um liquidificador se fez a mistura adicionando o sorvete de creme e a polpa


de palma. Após o preparo o creme foi acondicionado em copos plásticos. Sobre o creme
adicionou-se o licor de cassis como cobertura (Figura 2). Para produzir 200 porções de
50 g, utilizou-se 8 litros de polpa do fruto de palma, 2 litros de sorvete de creme, 1 garrafa
de licor de Cassis (720 ml).

Figura 2: Descrição das etapas para o processamento do creme.

Fonte: Autoria Própria


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As amostras foram submetidas à análise sensorial por meio de fichas contendo


uma escala hedônica de aceitação com 7 (sete) pontos, em escala decrescente: (7) gostei
muitíssimo; (6) gostei muito; (5) gostei ligeiramente; (4) nem gostei/nem desgostei; (3)
desgostei ligeiramente; (2) desgostei muito e (1) desgostei muitíssimo (Quadro 1),
distribuídas por 170 provadores não treinados numa faixa etária entre 16 e 55 anos, que
puderam através de uma questão aberta expressar suas opiniões e fazer comentários sobre
possíveis modificações no modo de preparo da receita, bem como sobre o resultado dela,
ressaltando aspectos como o cheiro, a aparência e o sabor da receita produzida.
A intenção de compra foi avaliada com uma escala hedônica de 5 pontos, em
escala decrescente: (5) certamente compraria; (4) possivelmente compraria; (3) talvez
235
comprasse/talvez não comprasse; (2) possivelmente não compraria (1) certamente não
compraria (Quadro 1). O formulário continha ainda tópicos onde os provadores poderiam
escrever sua opinião e sugestões acerca do tema (Quadro 1).

CREME DE PALMA: Assinale com X sobre sua nota atribuída à amostra


Análise Sensorial Intenção de Compra

( ) 7. Gostei muitíssimo (adorei) ( ) 5. Certamente compraria


( ) 6. Gostei muito ( ) 4. Possivelmente compraria
( ) 5. Gostei ligeiramente ( ) 3.Talvez comprasse/Talvez não
( ) 4. Nem gostei/ nem desgostei comprasse
( ) 3. Desgostei ligeiramente ( ) 2. Possivelmente não compraria
( ) 2. Desgostei muito ( ) 1. Certamente não compraria
( ) 1. Desgostei muitíssimo (detestei)
Quadro 1: Trecho da ficha de avaliação relativo à análise de aceitação e intenção de compra da receita.

O formulário continha ainda tópicos onde os provadores poderiam escrever sua


opinião e sugestões acerca do tema (Quadro 2).

Cite o que você mais gostou e o que menos gostou na receita

Resposta Livre: ______________________________________________________

Em sua opinião, por quais motivos não se processam frutos da Caatinga para
alimentação humana?

Resposta Livre: ______________________________________________________

Há viabilidade em investir na produção em escala nos produtos gerados pela


biodiversidade existente no Bioma Caatinga?

Resposta Livre: ______________________________________________________

Quadro 2: Trecho da ficha que continha perguntas abertas.


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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados com o creme de fruto de palma com licor de cassis destacou-se no


percentual de notas de 5 a 7, alcançando grande parte da porcentagem de aprovação dos
julgadores. Observa-se (Gráfico 1) que esta amostra, atingiu o maior percentual de
aprovação com notas 7 e 6 da escala hedônica, que significa “gostei muitíssimo” e “gostei
muito”, totalizando 97% das notas obtidas. Para essa receita o índice de reprovação foi
zero, já que não houve nenhuma nota de 1 a 3 que assim o classificasse.

Avaliação Sensorial do Creme de Palma 236


100% 87%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20% 10%
5%
10% 0% 0% 0% 0%
0%

Gráfico 1: Avaliação Sensorial do creme Palma.

De acordo com as respostas presentes nos formulários dos provadores, constatou-


se que a receita de creme de palma foi a mais apreciada pelo sabor suave que o sorvete
de creme lhe proporcionou, e alguns comentários foram enfáticos em afirmar que é uma
sobremesa tão deliciosa quanto várias outras já comumente conhecidas. A cor foi um
atributo mais comentado nas respostas sobre o que mais os provadores gostaram na
receita, sendo considerado um atrativo visual. Pela facilidade de preparo muitos relataram
que irão aderir a confecção desta receita em suas casas.
Quando questionados sobre a intenção de compra 93% dos julgadores atribuíram
nota 5 “certamente compraria”, declararam interesse em adquirir as receitas elaboradas
com palma.
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Intenção de Compra

93%

237
4% 0% 2% 0%

Certamente Possívelmente Talvez Possívelmente Certamente Não


Compraria Compraria Comprasse/Talvez Não Compraria Compraria
Não Comprasse

Gráfico 2: Intenção de compra da Receita creme de Palma.

A receita de Creme de Palma foi bem avaliada pelos julgadores; tanto na análise
sensorial como na avaliação de intenção de compra, o que o torna um produto que poderá
ser utilizado para incrementar a renda de trabalhadores da agricultura familiar, visto que
frutos de palma são encontrados em grandes quantidades na sua época safra.
Outras receitas com a cultura da palma tanto seu fruto como os cladódios poderão
ser testadas para averiguar sua aceitabilidade pela comunidade, a fim de tornar-se uma
boa alternativa para difusão da cultura ainda pouco conhecida e valorizada para
alimentação humana.
Resultados como os encontrados nesse trabalho e outros encontrados na literatura
só garantem a aceitabilidade dessa cultura na alimentação dos consumidores brasileiros,
o que incentiva a busca de formulação de novos produtos.

CONCLUSÕES

Diante das análises dos resultados pode-se concluir a receita creme de fruto de
palma com licor de cassis obtive boa aceitabilidade e intenção de compra entre os
provadores, tornando-se uma excelente oportunidade para utilizá-la para divulgação da
importância nutricional do fruto palma na alimentação humana, além de desmistificar o
uso da cultura e consequentemente promovê-la como viável para agregar valor nutricional
e renda a famílias de comunidades rurais do Nordeste.
2021 Gepra Editora Barros et al.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. Análise sensorial


dos alimentos e bebidas: terminologia. 1993. 8 p

CHIACHIO, F. P. B.; MESQUITA, A. S.; SANTOS, J. R. Palma forrageira: uma


oportunidade econômica ainda desperdiçada para o semiárido baiano. Bahia
Agrícola, v.7, n.3, p. 39-49, nov. 2006.

COTRIM, E. S.; NUNES, V. X.; NOGUEIRA, D. P.; Vilares, T. N.; Dias, V.F.; Oliveira,
C. G. Análise sensorial de doce cristalizado e em calda de fruto da palma forrageira
(opuntia fícus-indica mill). VII CONNEPI. Palmas-TO. 2012. 238

GAGO, C, GUERREIRO A, MIGUEL G, Faleiro L, Antunes D, 2016. Novos produtos


alimentares à base de figoda-índia desidratado. Voz do campo – Agro Ciência –
CISION.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agro. Palma forrageira.


Brasil. 2017. Disponível em
<https://censoagro2017.ibge.gov.br/templates/censo_agro/resultadosagro/agricultura.ht
ml?localidade=0&tema=76625> acesso em 18 de abr. 2021

KOEHL, L.; ZENGA, X.; ZHOUA, B.; DING, Y. Intelligent sensory evaluation of
industrial products for exploiting consumer’s preference. Mathematics and
Computers in Simulation, v.77, p. 522-530, 2008.

OLIVEIRA, E.A.; JUNQUEIRA, S.F.; MASCARENHAS, R.J. Caracterização Físico‐


Química e nutricional do fruto da palma (Opuntia fícus-indica L. Mill.) cultivada no
sertão do sub‐médio. São Francisco. Revista Holos, ano 27, v 3, 2011.

PONTES, M.M.M. Polpa de Manga Processada por Alta Pressão Hidrostática:


Aspectos Microbiológicos, Nutricionais, Sensoriais e a Percepção do Consumidor.
Seropédica: Instituto de Tecnologia da Universidade Estadual Rural do Rio de Janeiro.
2008. 136p. (Dissertação, Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos).

SCHULTZ, R.A. Introdução ao estudo da botânica sistemática. 2 ed. Porto Alegre:


Livraria O Globo, 1943. 562p.

SUDENE. Resolução Nº 115, De 23 De Novembro De 2017. Presidente do Conselho


Deliberativo da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE, que
estabelece o Acréscimo do Quantitativo de Municípios Aptos a integrar o Semiárido da
área de Atuação da SUDENE. Publicado na D.O.U. de 5 de dez de 2017.

TEIXEIRA, L. V. Análise Sensorial Na Indústria De Alimentos. Revista Instituto


Lacticínio Cândido Tostes. v. 64, n. 366. p 12. 2009.

NUNES, V. X.; DIAS, V. F.; COTRIM, E. S.; SANTOS, A. O. Caracterização física e


físico-química de frutos da palma gigante em diferentes estádios de maturação.
Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação, Palmas - TO, 2012.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 21

ASPECTOS BIOMÉTRICOS E GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE


Operculina alata (Ham.) Urban CLASSIFICADAS PELO TAMANHO

ARAUJO NETO, Aderson Costa


Doutor em Agronomia
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)
adersoncaneto@gmail.com

ARAÚJO, Paulo Costa


Doutor em Agronomia
Universidade Federal da Paraíba (UFPB) 239
pauloaraujo85@hotmail.com

ALVES, Edna Ursulino


Professora do Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais
Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
ednaursulino@cca.ufpb.br

MEDEIROS, José George Ferreira


Professor da Unidade Acadêmica de Tecnologia do Desenvolvimento
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
jose.george@ufcg.edu.br

INÔ, Claudiney Felipe Almeida


Discente do curso de Tecnologia em Agroecologia
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
claudineyfelipe27@gmail.com

RESUMO

Operculina alata (Ham.) Urban, conhecida popularmente como batata-de-purga amarela


é uma planta medicinal comum no Nordeste do Brasil, que vem sendo utilizada como
purgativa e laxativa. O conhecimento dos aspectos biométricos de frutos e sementes e a
sua influência na germinação são importantes para a produção e características de
espécies nativas. Neste sentido, objetivou-se caracterizar biometricamente frutos e
sementes de Operculina alata, bem como avaliar a influência do tamanho das sementes
sobre a sua germinação e vigor. Para tanto, foram tomados aleatoriamente 200 frutos e
igual número de sementes, determinando-se o comprimento, largura, espessura e massa
fresca dos frutos e o comprimento, diâmetro e massa fresca das sementes. Com base no
comprimento (C) e diâmetro (D), as sementes foram classificadas quanto ao tamanho em
pequenas (C = 8,8-9,5 mm e D = 8,4-8,9 mm), médias (C = 9,6-10,3 mm e D = 9,0-9,5
mm) e grandes (C = 10,4-10,9 mm e D = 9,6-10,1 mm) e, em seguida, submetidas a testes
de germinação e vigor. Avaliaram-se a porcentagem, primeira contagem e índice de
velocidade de germinação, além da porcentagem de plântulas anormais, sementes mortas
e o comprimento e massa seca das raízes e do hipocótilo de plântulas normais, em
delineamento experimental inteiramente casualizado, com quatro repetições de 25
sementes. Constatou-se que os frutos apresentaram maior variação nas dimensões em
relação às sementes. O tamanho das sementes de Operculina alata influenciou
significativamente na sua germinação e vigor, com o melhor desempenho observado nas
sementes grandes.

PALAVRAS-CHAVE: Batata-de-purga amarela, biometria, classes de tamanho.


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INTRODUÇÃO

Operculina alata (Ham.) Urban (Convolvulaceae), conhecida popularmente como


batata-de-purga amarela, é uma espécie anual com grande potencial farmacológico e
muito comum no Nordeste do Brasil, cuja planta é uma trepadeira de aspecto ornamental
que produz flores amarelas e frutos de forma estrelada, contendo de uma a quatro
sementes duras e de cor creme (MATOS, 2000), cujas raízes são tuberosas, grandes,
amiláceas e lactescentes, motivo de grande comércio para fins medicinais (LORENZI;
240
MATOS, 2002).
O comportamento vegetativo e reprodutivo, bem como os padrões biométricos de
espécies vegetais podem ser influenciados pelo meio biofísico ao qual estejam
submetidas. Assim, a caracterização biométrica criteriosa de frutos e sementes constitui
uma ferramenta importante para detectar a variabilidade genética dentro de populações
de uma mesma espécie, e as relações entre esta variabilidade e os fatores ambientais,
fornecendo importantes informações para a caracterização dos aspectos ecológicos como
o tipo de dispersão, agentes dispersores e estabelecimento das plântulas (SANTANA et
al., 2013). Neste sentido, a biometria de frutos e sementes fornece subsídios para a
conservação e exploração da espécie, permitindo incremento contínuo na busca racional,
uso eficaz e sustentável (BEZERRA et al., 2014).
As variações de tamanho de sementes existentes na própria planta são decorrentes
dos efeitos do ambiente durante o seu desenvolvimento (LEISHAMAN et al., 2000) e,
essas variações podem interferir na qualidade fisiológica das sementes (OLIVEIRA et al.,
2009).
O tamanho pode ser um indicativo da qualidade fisiológica das sementes para
muitas espécies e, geralmente, nesses casos, as pequenas apresentam menores valores de
germinação e vigor quando comparadas com as de tamanho médio e grande (FLORES et
al., 2014). No entanto, Vanzolini e Nakagawa (2007) relataram que geralmente as
sementes menores germinam mais rapidamente, porém as sementes maiores originam
plântulas de maior tamanho e massa, pois de acordo com Carvalho e Nakagawa (2012)
as sementes de maior tamanho geralmente foram mais bem nutridas durante o seu
desenvolvimento, possuindo embriões bem formados e com maior quantidade de
substâncias de reserva, sendo, consequentemente, as mais vigorosas.
As sementes maiores estão associadas a uma maior taxa de crescimento inicial da
muda, o que aumentará a probabilidade de sucesso durante o estabelecimento da muda,
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porque o rápido crescimento das raízes e caule permitirá que a planta utilize as reservas
de nutrientes e água da planta e realize a fotossíntese (BIRUEL et al., 2010).
A classificação das sementes por tamanho ou peso é uma estratégia que pode ser
utilizada para uniformização da emergência de plântulas e obtenção de mudas com
tamanhos semelhantes ou com maior vigor (CARVALHO; NAKAGAWA, 2012). A
separação das sementes por classes de tamanho para determinação da qualidade
fisiológica, através de testes de germinação e vigor tem sido bastante empregada, visando
encontrar a classe ideal para multiplicação das diversas espécies vegetais (ABUD et al., 241
2010).
A influência do tamanho das sementes na sua qualidade fisiológica tem sido
pesquisada com certa intensidade para espécies de potencial agrícola, principalmente soja
(PÁDUA et al., 2010), girassol (OLIVEIRA et al., 2011), milho (VAZQUEZ et al., 2012),
cenoura (GOMES et al., 2012) e feijão (NUNES et al., 2016); contudo, esse aspecto vem
sendo pouco pesquisado com espécies herbáceas medicinais nativas do Brasil, sobretudo
com a batata-de-purga amarela, que por ser uma espécie de destaque na medicina popular
na região Nordeste, explorada através do extrativismo predatório, predispondo-a ao risco
de extinção, o que tornam relevantes estudos que explorem aspectos relacionados a
propagação e dispersão dessa espécie.
Diante do exposto, objetivou-se caracterizar biometricamente os frutos e sementes
de Operculina alata, bem como avaliar a influência do tamanho das sementes sobre a sua
germinação e vigor.

MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado no Laboratório de Análise de Sementes, pertencente ao
Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, Areia, PB, em abril de
2016, com frutos de Operculina alata secos de coloração castanho-clara, colhidos
diretamente de plantas nativas ocorrentes no município de Lagoa de Velhos (latitude
6º0’26’’S, longitude 35º51’28’’W e altitude média de 161 m), microrregião do Potengi,
semiárido do Rio Grande do Norte. Segundo classificação climática de Köppen, o clima
da região é do tipo As’, ou seja, tropical com estação seca no verão.
Após a homogeneização, tomou-se de maneira aleatória uma amostra de 200 frutos
aparentemente sadios e inteiros para a caracterização biométrica, determinando-se o
comprimento (dimensão entre a base e o ápice do fruto), largura (dimensão mais larga em
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contraposição ao comprimento), espessura (dimensão mais larga em contraposição a


largura) e massa fresca. Posteriormente, os frutos foram beneficiados manualmente para
obtenção das sementes, utilizando-se uma amostra de 200 unidades para as análises
biométricas (comprimento, diâmetro e massa fresca). Para a mensuração das dimensões
dos frutos e sementes utilizou-se um paquímetro digital (0,01 mm), e o auxílio de uma
balança analítica (0,001 g) para a determinação da massa fresca.
Após a caracterização biométrica, as sementes foram classificadas de acordo com
o comprimento (C) e diâmetro (D) em três classes de tamanho: sementes pequenas (C = 242
8,8-9,5 mm e D = 8,4-8,9 mm), médias (C = 9,6-10,3 mm e D = 9,0-9,5 mm) e grandes
(C = 10,4-10,9 mm e D = 9,6-10,1 mm); e, em seguida, submetidas à escarificação
mecânica para quebra de dormência por fricção manual com lixa d’água número 30 até o
desgaste do tegumento no lado oposto ao da micrópila (MEDEIROS FILHO et al., 2002).
Posteriormente, as sementes foram submetidas aos seguintes testes de germinação e
vigor:
a) Teste de germinação: quatro repetições de 25 sementes foram semeadas em rolos de
papel germitest umedecidos com água destilada na quantidade equivalente a 2,5 vezes a
massa do substrato seco e mantidos em germinador tipo Biochemical Oxigen Demand
(B.O.D.) regulado a temperatura alternada de 20-30 °C com fotoperíodo de 8/16 horas de
luz e escuro, respectivamente. As sementes foram consideradas germinadas quando
haviam emitido a raiz primária e a parte aérea e se encontravam aparentemente sadias
(BRASIL, 2009), com os resultados expressos em porcentagem.
b) Primeira contagem da germinação: realizada simultaneamente com o teste de
germinação, sendo a porcentagem acumulada de plântulas normais no quinto dia após a
semeadura, considerando-se como normais as plântulas com as estruturas essenciais
perfeitas (BRASIL, 2009).
c) Índice de velocidade de germinação (IVG): determinado mediante contagens diárias,
no mesmo horário, das plântulas normais, sendo o índice calculado pela fórmula proposta
por Maguire (1962).
d) Plântulas anormais: porcentagem de plântulas que não demonstraram potencial para
continuar seu desenvolvimento e não originaram plantas normais, mesmo crescendo em
condições favoráveis (BRASIL, 2009).
e) Sementes mortas: porcentagem de sementes que no final do teste não tinham
germinado, não estavam duras, nem dormentes e, geralmente, encontravam-se
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amolecidas, atacadas por microrganismos e que não tinham nenhum sinal de início de
germinação (BRASIL, 2009).
f) Comprimento da raiz primária e hipocótilo: no final do teste de germinação, a raiz
primária e o hipocótilo das plântulas normais de cada repetição foram medidos com o
auxílio de uma régua graduada em milímetros, sendo os resultados expressos em
centímetros por plântula.
g) Massa seca das raízes e hipocótilo: ao final do teste de germinação, as raízes e o
hipocótilo das plântulas normais foram acondicionados em sacos de papel do tipo Kraft® 243
e postos em estufa com circulação de ar forçada, regulada a 65 °C até atingir peso
constante, em seguida o material foi pesado em balança analítica com precisão de 0,001
g, sendo os resultados expressos em gramas por plântula.
Os dados biométricos foram analisados em planilha eletrônica Excel, classificados
por meio de distribuição de frequência e plotados em histogramas de frequência
(OLIVEIRA et al., 2000). Para cada característica foram calculados a média, mediana,
variância, mínimo, máximo e o desvio padrão conforme Araújo Neto et al. (2002).
A análise estatística dos dados da germinação foi realizada utilizando-se o
delineamento experimental inteiramente ao acaso, em quatro repetições para cada
tratamento. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância (Teste F), e as
médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade através do programa
estatístico Sisvar.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nas Figuras 1 e 2 são apresentados os dados biométricos dos frutos e sementes de
Operculina alata. A maior parte dos frutos analisados apresentava comprimento em torno
de 22,8-26,3 mm, largura de 21,44-25,3 mm, espessura de 15,5-18,4 mm e massa fresca
de 0,209-0,298 g, atingindo nesses intervalos percentuais de frequência da ordem de 92,
88, 90 e 89%, respectivamente (Figuras 1A, 1B, 1C e 1D), de forma que o valor do desvio
padrão e da variância das dimensões e massa fresca foi relativamente baixo, indicando
baixa heterogeneidade da amostra (Tabela 1).
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Figura 1. Frequência do comprimento (a), largura (b), espessura (c) e massa fresca (d) dos frutos de
Operculina alata.

244

Fonte: Dados do Pesquisador

Tabela 1. Valores médios, medianos, mínimos, máximos, desvio padrão e variância do comprimento,
espessura e massa fresca dos frutos de Operculina alata.
Comprimento Largura Espessura
Parâmetros Massa fresca (g)
------------------------------- mm -------------------------------
Média 24,59 23,80 16,88 0,240
Mediana 24,80 23,20 16,95 0,237
Mínimo 20,90 19,50 13,90 0,164
Máximo 26,30 25,30 18,40 0,298
Desvio padrão 1,05 1,02 0,99 0,028
Variância 1,1 1,05 0,98 0,001

Fonte: Dados do Pesquisador

As variações nas dimensões dos frutos podem ser atribuídas à variabilidade


genética, aos fatores ambientais (bióticos e abióticos), bem como a interação genótipo-
ambiente, conforme citado para a espécie medicinal nativa Operculina macrocarpa (L.)
Urban (ARAÚJO et al., 2012).
Para as sementes constatou-se menor variação de tamanho quando comparadas aos
frutos, pois os valores de variância e de desvio padrão dessa característica foram menores
(Tabela 2). Entretanto, a massa fresca das sementes teve maior variação em relação à dos
frutos. Esses resultados assemelham-se aos encontrados por Santana et al. (2013) na
caracterização biométrica de frutos e sementes de Momordica charantia L. Para Magonia
2021 Gepra Editora Barros et al.

pubescens ST. Hil, Macedo et al. (2009) também verificaram que os frutos têm grande
variação nas dimensões e as sementes apresentam menor variação.
Tabela 2. Valores médios, medianos, mínimos, máximos, desvio padrão e variância do comprimento,
diâmetro e massa fresca das sementes de Operculina alata.
Comprimento Diâmetro
Parâmetros Massa fresca (g)
-------------------------- mm --------------------------
Média 10,0 9,47 2,155
Mediana 10,1 9,55 2,251
Mínimo 8,8 8,4 1,199 245
Máximo 10,9 10,1 2,703
Desvio padrão 0,40 0,40 0,354
Variância 0,16 0,16 0,126
Fonte: Dados do Pesquisador

Em relação à análise biométrica das sementes (Figuras 2A, 2B e 2C), registraram-


se maiores percentuais de frequência nos intervalos de comprimento de 9,6-10,3 mm
(74%), diâmetro de 9,0-10,1 mm (88%) e massa fresca de 1,701-2,703 g (89%). Tais
resultados estão de acordo com Oliveira et al. (2000) quando sugeriu que a relativa
uniformidade das dimensões e massa fresca das sementes sejam caracteres determinados
geneticamente para a espécie. Além disso, os resultados aqui obtidos podem indicar quais
seriam as dimensões das sementes a serem coletadas na microrregião do Potengi,
semiárido Norte-rio-grandense.

Figura 2. Frequência do comprimento (a), diâmetro (b) e massa fresca (c) das sementes de Operculina
alata.

Fonte: Dados do Pesquisador


2021 Gepra Editora Barros et al.

O tamanho das sementes influenciou significativamente a germinação das sementes


de Operculina alata (Tabela 3), sendo os maiores valores obtidos com as sementes
grandes seguidas pelas médias, provavelmente devido a maior quantidade de reservas
para a retomada do crescimento do eixo embrionário. Carvalho e Nakagawa (2012)
relatam que sementes de maior tamanho possuem, geralmente, embriões melhor formados
e maior quantidade de reservas, em relação aos de tamanhos menores. Assim,
potencialmente, apresentam maior vigor, mas que em determinadas situações podem não
246
ser as mais vigorosas. De maneira similar, o tamanho das sementes de Caesalpinia
leiostachya (Benth.) Ducke (BIRUEL et al., 2010), Melanoxylon brauna Schott.
(FLORES et al. 2014) e Sideroxylon obtusifolium (Roem. & Schult.) Penn. (SILVA et al.,
2015) também influenciou a germinação, com melhor desempenho observado nas
sementes de maior tamanho.

Tabela 3. Germinação (G), primeira contagem de germinação (PC), índice de velocidade de germinação
(IVG), plântulas anormais (PA) e sementes mortas (SM) de Operculina alata em função do tamanho.
G PC PA SM
Classes de tamanhos IVG
-------------- % -------------- -------------- % -------------
Pequenas 084 c 82 b 5,1 b 8b 8b
Médias 094 b 94 a 6,2 a 6b 0a
Grandes 100 a 97 a 6,2 a 0a 0a
CV (%) 1,2 3,21 2,42 22,87 0,00
Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Fonte: Dados do Pesquisador

No entanto, resultados distintos foram constatados em sementes de Mimosa


caesalpiniifolia Benth. (ALVES et al., 2005), Copernicia hospita Mart. (OLIVEIRA et
al., 2009) e Carthamus tinctorius L. (ABUD et al., 2010), cujo tamanho das mesmas não
afetou a germinação.
Na primeira contagem de germinação (Tabela 3), as maiores porcentagens
ocorreram nas sementes médias e grandes, embora não diferindo estatisticamente entre
si. Da mesma forma, Martins et al. (2000) observaram que em Euterpe espiritosantensis
Fernandes a germinação foi mais rápida em sementes de maior tamanho, sendo, portanto,
estas sementes consideradas as de melhor qualidade fisiológica, pois segundo Carvalho e
Nakagawa (2012), a melhor qualidade das sementes de maiores tamanhos está
relacionada à maior quantidade de reservas e assim originam plântulas mais vigorosas.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Quanto ao índice de velocidade de germinação (Tabela 3), os maiores valores


também foram obtidos com as sementes grandes e médias, o que está de acordo com
Marcos Filho (2015), quando relatou que a germinação e o vigor das sementes pequenas
é menor que o das médias e grandes, porém discordam de Vanzolini e Nakagawa (2007)
ao relatarem que as sementes menores geralmente germinam mais rapidamente, o que
segundo Krzyzanowski et al. (1999) pode ser explicado pelo fato de as sementes menores
necessitarem de menor quantidade de água, de forma que são as primeiras a germinar.
Para Mesua ferrea L. (ARUNACHALAM et al., 2003), Schizolobium amazonicum 247
(Huber) Ducke (GHISOLF et al., 2006) e Caesalpinia leiostachya (Benth.) Ducke
(BIRUEL et al., 2010), o índice de velocidade de germinação das sementes maiores
também foi superior ao daquelas de menor tamanho.
A velocidade de germinação das sementes médias e grandes de Bactris gasipaes
Kunth. foi maior em relação às pequenas (LEDO et al., 2002), enquanto, Alves et al.
(2005) observaram que a velocidade de germinação tendeu a diminuir com o aumento do
tamanho das sementes de Mimosa caesalpiniifolia Benth. Em contrapartida, em Acacia
Senegal (L.) Willd. (FERREIRA; TORRES, 2000), Copernicia hospita Mart.
(OLIVEIRA et al., 2009) e Artocarpus heterophyllus Lam. (SILVA et al., 2010), a
velocidade de germinação não foi afetada pelo tamanho das sementes.
As plântulas anormais foram originadas a partir de sementes pequenas e médias,
enquanto que ao final do teste de germinação constatou-se que apenas sementes pequenas
morreram (Tabela 3). Segundo Barros et al. (2020), a menor qualidade das sementes de
menores tamanhos possivelmente está relacionada à maior porcentagem de sementes mal
formadas, fato que, provavelmente, justifica o maior percentual de sementes mortas e
plântulas anormais oriundos das sementes pequenas.
Para o comprimento da raiz primária não houve diferença estatística entre os
diferentes tamanhos de sementes, provavelmente pelo fato das reservas das sementes
serem suficientes para um bom desenvolvimento das raízes, independentemente do
tamanho das mesmas (Tabela 4). Por outro lado, Alves et al. (2005) verificaram maiores
valores de comprimento da raiz primária de plântulas de Mimosa caesalpiniifolia Benth.
originadas de sementes grandes.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Tabela 4. Comprimento do hipocótilo (CH), massa seca do hipocótilo (MSH), comprimento da raiz
primária (CRP) e massa seca da raiz primária (MSRP) de plântulas de Operculina alata oriundas de
sementes de diferentes tamanhos.

CH CRP MSH MSRP


Classes de tamanhos
----------------- cm --------------- ------------------ g -----------------

Pequenas 2,66 b 5,06 a 0,008 c 0,007 c


Médias 3,21 a 4,81 a 0,027 b 0,021 b
Grandes 3,16 a 5,05 a 0,071 a 0,062 a
CV (%) 8,01 6,39 10,20 9,44
Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. 248
Fonte: Dados do Pesquisador

Os maiores valores de comprimento do hipocótilo foram obtidos quando as


plântulas foram originadas a partir das sementes médias e grandes, não diferindo
estatisticamente entre si (Tabela 4). Resultados semelhantes foram observados para
Tamarindus indica L. (PEREIRA et al., 2008) e Hymeneae courbaril L. (PAGLIARINI
et al., 2014), em que sementes maiores originaram plântulas mais vigorosas em relação
às menores. As plântulas de Sideroxylon obtusifolium também foram influenciadas pelo
tamanho das sementes, observando-se maior desenvolvimento inicial daquelas oriundas
a partir de sementes grandes, quando comparadas às demais classes de tamanho (SILVA
et al., 2015).
A importância do tamanho da semente baseia-se no fato de que aquelas maiores
produzem plântulas mais vigorosas, presumivelmente porque possuem mais material de
reserva, maior nível de hormônio e maior embrião (SURLES et al., 1993). Segundo
Carvalho e Nakagawa (2012), sementes maiores dispõem de maior quantidade de
substâncias de reserva para o desenvolvimento do eixo embrionário.
Os maiores valores de massa seca do hipocótilo e da raiz primária foram obtidos
com as plântulas oriundas de sementes grandes, seguidas por sementes médias e por
último, pelas sementes pequenas (Tabela 4). A maior diferenciação do vigor das
sementes, pelo teste de massa seca das plântulas se baseia no princípio de que esse é um
teste com capacidade de detectar pequenas diferenças de vigor de sementes devidas ao
genótipo, de tamanho da semente e ao local de produção, entre outros fatores (BARROS
et al., 2020).
As sementes de Clitoria fairchildiana R. Howard (SILVA; CARVALHO et al.,
2008), Dyckia goehringii Gross & Rauh (DUARTE et al., 2010) e Artocarpus
heterophyllus Lam. (SILVA et al., 2010) de maior tamanho originaram plântulas com
2021 Gepra Editora Barros et al.

maior acúmulo de massa seca, em relação às obtidas a partir de sementes menores,


concordando com os resultados obtidos neste estudo. No entanto, em Carthamus
tinctorius L., Abud et al. (2010) não verificaram influência do tamanho das sementes
sobre o conteúdo de massa seca da parte aérea das plântulas.
De maneira geral, a classificação pelo tamanho melhora a qualidade do lote de
sementes de Operculina alata. Para propagação dessa espécie sugere-se a utilização de
sementes grandes (C = 10,4-10,9 mm e D = 9,6-10,1 mm), visto que a variação do
tamanho influencia na germinação e no vigor. As sementes de menor tamanho (C = 8,8- 249
9,5 mm e D = 8,4-8,9 mm) são de baixa qualidade fisiológica e devem ser descartadas do
lote. Portanto, a seleção e classificação das sementes é uma técnica que deve ser
recomendada na avaliação da qualidade fisiológica de sementes de O. alata.

CONCLUSÕES

Os frutos e sementes amostrados de Operculina alata apresentaram baixo grau de


heterogeneidade para as características biométricas e de massa fresca.
Os frutos de O. alata apresentaram maior variação nas dimensões em relação às
sementes, no entanto, a massa fresca das sementes teve maior variação do que a dos
frutos.
O tamanho das sementes de O. alata influenciou significativamente na sua
germinação e vigor, com o melhor desempenho observado nas sementes grandes.
As sementes grandes de O. alata originaram plântulas mais vigorosas em relação
às demais classes de tamanho.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 22

ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO NO


DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL NO MUNICÍPIO
DE INGÁ-PB: EXPERIÊNCIA EM ESTÁGIO REALIZADO NA
EMATER – PB

SILVA, Érik Serafim


Mestrando em Ciências Agrárias (Agroecologia)
Universidade Federal da Paraíba - UFPB
erik.silva@professor.pb.gov.br
254
GOMES, Isaac Araújo
Mestrando em Química
Universidade Federal do Espirito Santos – UFES
isaac.gomes@edu.ufes.br

DANTAS, Aline Cavalcanti


Mestrando em Ciências Agrárias (Agroecologia)
Universidade Federal da Paraíba - UFPB
alicdantas188@gmail.com

RESUMO

Esta pesquisa oportunizou o graduando do curso de ciências agrárias, por meio da prática
de atividades relacionadas à área da ciência agropecuária, para aprimorar seus
conhecimentos adquiridos em instituições de ensino e acumular experiência no ambiente
de trabalho da empresa (EMATER-PB) com foco nas Áreas Agropecuárias, assistência
técnica e expansão rural, mostrando aos profissionais a importância da expansão rural
para o agreste paraibano. Trata-se de uma pesquisa exploratória descritiva realizada por
meio de visitas técnicas a diversas áreas rurais da área de Ingá-PB com funcionários da
EMATER-PB A experiência adquirida no “estágio” permite compreender a realidade e a
agricultura. Trabalhos. Conclui-se que a importância da assistência técnica e extensão
rural aos agricultores no município de Ingá-PB, pois observou-se várias atividades que
auxiliam os mesmos, onde essas fornecem métodos para que eles obtenham maiores
lucros e uma maior produção em suas propriedades agrícolas.

PALAVRAS-CHAVE: Assistência Rural Sustentável. Experiência Profissional.


Agricultura Familiar.

INTRODUÇÃO

No Brasil, apenas 20% das terras agricultáveis pertencem aos pequenos


produtores familiares, segundo dados do Censo Agropecuário. Mesmo assim, a
agricultura familiar é responsável por mais de 80% dos empregos gerados no campo, o
que evidencia a importância desse segmento na geração de trabalho e renda e também na
2021 Gepra Editora Barros et al.

contenção do êxodo rural. A importância da agricultura familiar está na grande produção


de alimentos que essa atividade realiza, pois, na maioria dos casos, os agricultores
familiares não direcionam suas mercadorias ao mercado externo, mas sim para o
atendimento imediato de sua produção.
É importante identificar a realidade, potencialidades e as dificuldades dos
agricultores, pois através dessa identificação, podem ser encontrados métodos para sanar
as fragilidades das pequenas, médias e grandes propriedades, pois isso pode fornecer
condições para que estes permaneçam no terreno para desenvolver suas atividades 255
agrícolas e se fortalecer a agricultura familiar, proporcionando-lhes uma boa qualidade
de vida.
Segundo Lima e Wilkinson, (2002), a produção familiar é a principal atividade
econômica em várias regiões do Brasil e precisa ser fortalecida porque o potencial dos
agricultores familiares para a geração de emprego e renda é muito importante. Além de
garantir a comercialização de seus produtos (agrícolas ou não), devem também garantir o
acesso a crédito, condições e tecnologia para a produção e gestão sustentável de suas
instalações.
Diversas instituições que se dedicam a atender os agricultores familiares por meio
dos seguintes serviços: Assistência Técnica e Extensão Rural - ATER, serviços pela
Secretaria da Agricultura Familiar - SAF e Ministério da Agricultura - MDA (BRASIL,
2004).
Caporal e Ramos (2006) apontam que a Extensão rural é uma intervenção
deliberada, de natureza pública ou privada, em um espaço rural, realizada por agentes
externos ou por indivíduos do próprio meio, orientando a realização de mudanças no
processo produtivo agrosilvopastoril, ou em outros processos socioculturais e econômicos
inerentes ao modo de vida da população rural implicada. A Emater (Empresa de
Assistência Técnica e Extensão Rural), empresa pública com patrimônio próprio e
autonomia financeira de direito privado. O objetivo da EMATER é utilizar tecnologias
que promovam e apoiem a agricultura familiar no desenvolvimento de um sistema
produtivo sustentável, bem como fortalecer o associativismo rural e gerar emprego e
renda visando à melhoria da qualidade de vida dos produtores rurais. Portanto, em busca
a tolerância social dos agricultores familiares, promovendo a promoção da tecnologia
educacional que atua no meio social e no desenvolvimento econômico das unidades
produtivas dos trabalhadores migrantes.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Este trabalho resulta da vivencia do dia a dia do técnico de campo na prestação de


serviços e assistência a agricultura familiar do município de Ingá-PB através da
EMATER/PB, que oportunizou o graduando do curso de ciências agrárias, por meio da
prática de atividades relacionadas à área da ciência agropecuária, planejar, coordenar e
executar programas de assistência técnica e extensão rural, visando a difusão de
conhecimentos de natureza técnica, econômica e social, para aumento da produção e
produtividade agrícola e a melhoria das condições de vida no meio rural, de acordo com
a política de ação dos Governos Federal e Estadual. 256

MATERIAL E MÉTODOS

A comunidade Surrão localizado no início do Planalto da Borborema, anos atrás


conhecido como Serra Velha do Ingá, a mesma é dividida em três sítios distintos: Surrão
de Baixo, Surrão de Cima e Surrão dos poços. Essa comunidade sobrevive basicamente
da agricultura familiar com as culturas de milho, feijão e fava, além de uma vasta
variedade de frutas existente nessa localidade. O complemento de renda se dá pelo
trabalho agregado nas fazendas, corte de cana-de-açúcar nas usinas (safra) e recurso do
bolsa família. Na sua grande maioria são posseiros que herdaram dos avós ou pais, boa
parte de sua produção fica para subsistência e o excedente vendidas nas feiras livres e
agroecológica da cidade e ou compradas pela prefeitura através do PNAE e PAA.
As ações foram realizadas através de relatórios descritivos de visitas técnicas as
comunidades dos Surrões, levantamento de produções e enquadramento nas políticas
públicas, acompanhando-os na assistência rural. As atividades administrativas realizadas
no escritório da EMATER em Ingá – PB bem como in loco, consideradas de caráter
ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural), sendo elas para cadastramento de Políticas
públicas, Crédito rural para custeio e capital nas linhas de crédito PRONAF, emissão de
DAP, elaboração de projeto produtivo, entrega de sementes, orientações de manejos e
tratos culturais, além de participar das reuniões com Conselho Municipal de
Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS), Central das Associações dos Pequenos
Produtores Rurais de Ingá (CAPRI).
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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Visitas Técnicas

Foram realizadas várias visitas técnicas aos agricultores, com o objetivo de sempre
orientá-los em todas as operações necessárias, na irrigação, tratos culturais, manejo
integrado de pragas, práticas agroecológicas e em processos produtivos voltados à
obtenção de informações. Os locais visitados foram comunidades, cuja quais são: Surrão
de Baixo, Surrão de Cima e Surrão dos Poços. O extensionista deve ser educador e buscar
257
constantemente o diálogo com o agricultor para melhorar a realidade e transformá-la
(BROSLER; OLIVEIRA; BERGAMASCO, 2009).

Figuras 1 e 2. Visita Técnica as comunidades

Fonte: Acervo Emater-PB (2018)

Através dessas visitas foram feitos levantamentos para emissão de DAP’s,


principalmente renovação das 49 famílias do Projeto Dom Helder, vacinação dos animais
contra a febre aftosa essas encaminhadas para a Defesa Agropecuária, levantamento das
famílias que se enquadram no Garantia safra (As DAPs que estavam vencidas e/ou a se
vencer, já foi feito o levantamento da produção anual), entrega de sementes para plantio(
sendo 2,5kg de semente de feijão macassar e 5 kg de milho para cada agricultor),
levantamento para enquadramento em projetos produtivos (Sendo esses PRONAF A e
B), orientação para cadastramento no CAR (Cadastro esse obrigatório pelo Governo),
cadastramento de 49 Famílias para inclusão no Projeto Dom Helder Câmara Os recursos
de fomento para cada família é de R$ 2.400,00 para a implantação de projetos de inclusão
produtiva, com assistência técnica continuada, visando com a inclusão social destas
famílias e permitindo também o acesso às políticas públicas, a exemplo da
comercialização de produtos ao PNAE e PAA. Ao qual visa amenizar a dificuldade
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encontrada por meio do agricultor familiar em permanecer no espaço rural por meio de
linhas de créditos acessíveis a cada produtor (MALYSZ; CHIES, 2012).

Figuras 3 e 4. Reunião no Quilombo Pedra D’água

258

Fonte: Acervo Emater-PB (2018)

Emissão de laudo e cadastramento da DAP

A EMATER-PB atua e se esforça para superar as dificuldades enfrentadas pelos


produtores da região por meio de ações, orientações e apoio técnico e prático. Portanto,
durante a visita, é necessário um relatório para avaliar a condição dos agricultores. Assim,
cabe ressaltar que os trabalhos participativos nas práticas de Extensão Rural podem
contribuir para a valorização das potencialidades e capacidades de organização coletiva
desses agricultores. Isso pode ser feito por meio de reuniões, seminários, entrevistas
coletivas e aprendizagem conjunta na solução dos problemas identificados
(THIOLLENT, 2011).
No que se refere ao DAP (Declaração de Habilitações do PRONAF), seu objetivo
é identificar os agricultores familiares ou suas formas solidárias de pessoa jurídica que
possam realizar negócios de crédito rural com o apoio do plano agropecuário do ente
nacional. (DECLARAÇÃO, 2013). Muitos agricultores não conseguem esse cadastro
devido a sua renda não está dentro dos critérios para a DAP “B”, muitos se enquadram
em DAP do tipo “V” (Variáveis).
Para que o agricultor se beneficie do PRONAF e obtenha seu DAP, ele deve
utilizar a terra como proprietário, posseiro, inquilino, sócio ou concessionário do PNRA
(Programa Nacional de Reforma Agrária), morar na propriedade ou em localidades
próximas, há nenhuma área com mais de quatro módulos de tributação, e o dever de casa
é usado principalmente nas operações comerciais e apenas o trabalho assalariado é usado
no final. Ao se cadastrar, a atenção dos responsáveis técnicos é muito importante, pois
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qualquer infração pode levar a uma investigação federal. O atual processo de


formalização dos direitos de uso da terra no país está diretamente relacionado às políticas
de apoio à agricultura familiar (ESQUERDO e BERGAMASCO, 2011).

Tarifa verde e energia solar

O governo estadual aprovou o novo plano de Tarifa Verde, que em algum


momento baixou os preços da eletricidade e baixou os custos de produção da agricultura
familiar, ajudando os agricultores familiares a reduzir a conta de luz, especialmente 259
durante os períodos de seca, quando o consumo de energia é muito maior devido às
florestas plantadas. Sistema de irrigação.
Na cidade de Ingá-PB, temos um agricultor que adquiriu a tarifa verde e hoje serve
de referência para todo estado. Além de satisfazer diferentes necessidades econômicas
(entre elas a de autossuficiência da família), a diversidade da produção favorece a
otimização do emprego da mão de obra da família, do espaço e dos recursos naturais e
econômicos disponíveis, garantindo também uma maior flexibilidade na gestão do
sistema, tanto para resistir às circunstâncias adversas como para potenciar as condições
favoráveis. (PETERSEN, 2003. apud, ALMEIDA, 2001).
O plano visa a instalação de medidores especiais de energia elétrica, a cobrança
de dupla cobrança e o aproveitamento da energia elétrica dos produtores rurais na
irrigação das plantações, reduzindo seu custo em 73%, obtendo melhor desempenho,
aproveitando e ajudando a proteger os recursos hídricos, garantindo resultados
financeiros satisfatórios em atividades de negócio. Melhorar a qualidade de vida da
pequena população rural.
De acordo com Silva (2001), o modelo energético brasileiro, recomenda uma
diversificação pela variedade e tamanho dos ambientes encontrados no país. O produtor
rural José Cândido, coleciona lucros importantes na conta da energia elétrica. Produtor
rural, ele teve uma redução de 97% em sua conta de energia elétrica no primeiro mês logo
após a instalação do sistema dos painéis fotovoltaicos. Outros produtores rurais da região,
que não pagam ICMS na conta da energia elétrica, tiveram redução de 95%. Onde não se
possui taxa de iluminação pública, a redução é ainda maior, conforme as empresas que
trabalham com este sistema.
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Crédito Rural

Abrangendo a escala nacional, no ano de 2006 foi criada a Lei nº. 11.326,
conhecida como a Lei da Agricultura Familiar, conceituando o entendimento do Estado
sobre o agricultor familiar, da seguinte forma: para ser considerado como agricultor
familiar é preciso que a propriedade tenha, no máximo, quatro módulos fiscais, cujo
tamanho é variável conforme o município e a proximidade maior ou menor com as zonas
urbana e rural; que seja utilizada predominantemente mão de obra da própria família; que
a base de sustentação da renda familiar tenha origem nas atividades econômicas 260
vinculadas ao próprio empreendimento; que o agricultor resida na propriedade ou
próximo a ela (MDA, 2017).
Os Agricultores assessorados pelos Créditos rurais 60% são para construção e
reparos de pocilgas, cercas, barreiros, barragem subterrânea, plantações de capim, sorgo
e palmas, silagem, currais e benfeitorias nas propriedades e 40% para aquisição de
pequenos animais (galinhas), médios (ovinos e caprinos) e grandes bovinos), além de
rações para subsidiar os mesmos. O principal objetivo do Crédito Rural é fortalecer a
atuação do setor e de suas cooperativas por meio do financiamento de projetos individuais
ou coletivos de aumento de renda. As terças–feiras um representante do Banco do
Nordeste além de se fazer presente no escritório local, faz visitas na Zona rural, sendo
estes utilizados por cerca de 30% dos agricultores, sempre que necessário ele faz relação
à introdução do crédito rural, falando sobre as regras do PRONAF (Política Nacional da
Agricultura Familiar), que é a principal política nacional do governo federal para o crédito
rural para a agricultura familiar. Anteriormente, a Resolução nº. 2191/1995, do Banco
Central do Brasil foi o primeiro documento oficial que conceituou a Agricultura Familiar
e deu causa à institucionalização por meio do Decreto (MDA, 2017).
Em 2003 houve uma reformulação no programa ampliando os perfis que estavam
sendo contemplados, portanto, novos sujeitos foram agregados. Novas linhas de
financiamentos com as formas de pagamento e taxas de juros correspondentes são
divulgadas anualmente por meio do Plano Safra da Agricultura Familiar. Foram
incorporadas as linhas de crédito para o PRONAF Custeio, PRONAF Mais Alimentos –
investimento, PRONAF Agroindústria, PRONAF Agroecologia, PRONAF Eco,
PRONAF Floresta, PRONAF Semiárido, PRONAF Mulher, PRONAF Jovem, PRONAF
Custeio e Comercialização de Agroindústrias Familiares, PRONAF Cota-Parte,
PRONAF Microcrédito Rural (MDA/SEAF, 2017).
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O crédito rural é muito importante porque pode ajudar os agricultores familiares


a produzir economicamente em sua propriedade agrícola, portanto, do Governo, diz que
esse tipo de financiamento aos agricultores mais carentes tem o objetivo de elevá-los a
patamares de produtividade que os deixem livres da necessidade de serem socorridos
pelos recursos públicos, ou seja, que eles consigam produzir e ter renda o suficiente para
não mais dependerem do auxílio do governo, garantindo assim, sua emancipação Boletim
DATALUTA n. 128 – Artigo do mês: agosto de 2018. ISSN 2177-4463 econômica
(BNDES, 2017). O PRONAF, como um programa que busca dar condições para o 261
camponês poder produzir e se manter em sua propriedade de forma segura e gerando sua
renda, tem recebido críticas e apoios.

Sistema de gerenciamento de informações e atividades de assistência técnica e


extensão rural - SIGATER

Trata-se de um sistema WEB desenvolvido em plataforma gratuita onde estão


disponíveis todas as unidades produtivas domiciliares cadastradas, que tem por objetivo
gerenciar o planejamento, a execução, o acompanhamento e a avaliação das atividades
realizadas pelos técnicos da EMATER, bem como o desenvolvimento dessas atividades
para os sociedade Os indicadores econômicos e ambientais da unidade de produção
familiar, bem como o diagnóstico da unidade de produção familiar e a qualificação para
a formulação de projetos, reduzindo a ocorrência de inadimplência da agricultura familiar
(COSTA, 2012).
O funcionamento desse sistema do SIGATER, que todo dia pela manhã é coletado
os dados pluviométricos, e eram disponibilizados no sistema, de todos os municípios a
qual presta jurisdição, que são: Ingá, Mogeiro, Riachão do Bacamarte, Salgado de São
Felix, Juripiranga, Gurinhém, Itabaiana, São José dos ramos, São Miguel de Taipu e Pilar.
Essa responsabilidade de coletar e munir o Assessor Regional da informação para que a
AESA se detenha dos dados e possa fazer o diagnóstico da região.

CONCLUSÕES

A experiência adquirida na prática desse estágio proporcionou-me maior reflexão


sobre a realidade e manifestação dos profissionais da área de ciências agrárias em sua
área de atuação. A teoria e a prática do agrupamento são a ferramenta básica para a
formação de profissionais qualificados, experientes e qualificados, com conhecimentos
ampliados para enfrentar o competitivo mercado de trabalho.
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Os avanços conquistados se devem à ampliação das relações com a atuação da


EMATER, os investimentos aplicados com os Créditos Rurais na linha PRONAF, desde
a compra de insumos e equipamentos para as propriedades, despesas relacionadas aos
processos executados na lavoura e no cultivo, mudou o cenário daquelas comunidades,
visto criar no pequeno a perspectiva de renda na sua propriedade. As emissões de DAP’s
levando os critérios do programa possibilitaram a inserção dos agricultores a credito e
acesso as políticas públicas. Facilitando o escoamento de suas produções seja ela por meio
de feiras livres e/ou agroecológicas, além de programas como PNAE E PAA. 262
A importância da assistência técnica e extensão rural aos agricultores da cidade
de Ingá-PB agreste paraibano, possibilitou o graduando de Ciências Agrárias planejar,
coordenar e executar programas de assistência técnica e extensão rural, visando a difusão
de conhecimentos de natureza técnica, econômica e social, para aumento da produção e
produtividade agrícola e a melhoria das condições de vida, além de observar os diferentes
contextos de realidades e o trabalho executado através dos extensionista da Emater, onde
essas fornecem aos pequenos, médio e grandes produtores métodos para que eles
obtenham maiores lucros e uma maior produção em suas propriedades agrícolas.

REFERÊNCIAS

BATISTA, João Ednilson; et al. (Ed.). Manual de inseminação artificial. Goiânia:


Secretaria da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado de Goiás, 2003.

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES. Circular SUP/AOI


nº. 16/2017-BNDES. Disponível em . Acesso em 10 dezembro 2020.

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Assistência Técnica e Extensão Rural. Brasília: MDA/SAF/Dater, 2004.

BROSLER; T. M.; et.al. Métodos na Nova Extensão Rural no Brasil: caminho para
a participação, de quem? 48° Congresso da Sociedade Brasileira de Economia,
Administração e Sociologia Rural. Anais... Campo Grande, 2009. Disponível
em:http://www.sober.org.br/palestra/15/396.pdf Acesso em: 20 dezembro 2020.

CAPORAL, F.; et al. Da extensão rural convencional à extensão rural para o


desenvolvimento sustentável: enfrentar desafios para romper a inércia. In:
MONTEIRO, D.; MONTEIRO, M. Desafios na Amazônia: uma nova assistência técnica
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COSTA, Geovanni Medeiros. SIGATER PARAÍBA: Nova Ação EM ATER na Paraíba


“Contribuindo para o fortalecimento da Agricultura Familiar”. 2012. Disponível
2021 Gepra Editora Barros et al.

em: <http://www.redereparte.org.br/arquivos/reparte21-02-2012_095926.pdf>. Acesso


em: 20. dezembro. 2020.

DECLARAÇÃO de Aptidão ao Pronaf – DAP. 2013. Disponível em:


<http://www.agricultura.al.gov.br/programas/DAP.pdf>. Acesso em: 21 janeiro. 2021.

ESQUERDO, V. F. S.; et al. Reforma agrária e assentamentos rurais: Perspectivas e


desafios. Brasília, Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura: Núcleo de
Estudos Agrários e Desenvolvimento – NEAD, 2011.

____Lei nº. 11.326, de 24 de julho de 2006. Lei da Agricultura Familiar: Estabelece


as diretrizes para a formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e 263
Empreendimentos Familiares Rurais. Brasília, p. 1-3, jul 2006.

LIMA, Dalmò M de Albuquerque; et.al. Inovação nas tradições da agricultura


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MALYSZ, Paula Angélica; CHIES, Cláudia. A importância do PRONAF na


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MITCHELL, J.D.; et al. Revisão das espécies neotropicais de Spondias (Anacardiaceae).


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PAIVA, Almeida. União nacional associações e associados em prol do projeto global


e credores da fazenda boi gordo S.A. 2013. Disponível em:
<http://www.unaa.com.br/index.php?pag=detalhe&codconteudo=199&codmenu =17>.
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PARAÍBA. Emater. Governo da Paraíba (Org.). EMATER: Empresa de Assistência


Técnica e Extensão Rural. 2013. Disponível em:
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PETERSEN, P. Avaliando a sustentabilidade: Estudos de casos sobre impactos de


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Lavras: Ufla/faepe, 2001.

THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 18. ed. São Paulo: Cortez, 2011.


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Capítulo 23
ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO INFLUENCIADOS POR
SUCESSIVAS APLICAÇÕES DE FREQUÊNCIAS E DOSES DE
BIOFERTILIZANTE

PEREIRA, Monikuelly Mourato


Doutora em Engenharia Agrícola
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
monikuelly@hotmail.com

COELHO, Eugênio Ferreira 264


Dr. em Engenharia da Irrigação
EMBRAPA, Mandioca e Fruticultura
eugenio.coelho@embrapa.br

GONDIM FILHO, Helio


Doutorando em Ciências Agrárias
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
helio.gondim91@hotmail.com

ALBUQUERQUE, Hilçana Ylka Gonçalves


Doutoranda em Ciências Agrárias
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
hilsana.goncalves@gmail.com

OLIVEIRA, Francisco Eder Rodrigues de


Mestre em Solos e Ecossistemas
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
ederigt@yahoo.com.br

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência de diferentes frequências de aplicação e


doses do biofertilizante ‘Vairo’ em um Latossolo Amarelo Distrocoeso Típico nos
atributos químicos do solo cultivado com bananeira ‘Grande Naine’ (AAA), nas
condições climáticas do município de Cruz das Almas-BA. O delineamento experimental
utilizado foi o de blocos casualizados, em esquema fatorial 3 x 5. Os tratamentos
consistiram em três frequências de aplicação (F1=15, F2=30 e F3=45 dias) e cinco doses
do biofertilizante tipo ‘Vairo’ (0, 100, 180, 280 e 375 mL planta-1), totalizando 15
tratamentos com três repetições, com seis plantas úteis por tratamento. As análises
químicas foram realizadas no Laboratório de Química pertencente à Embrapa Mandioca
e Fruticultura. Foram avaliados os seguintes atributos químicos: K, Ca, Mg, CTC e V. Os
atributos químicos do solo se apresentaram dentro dos limites considerados adequados
para o cultivo da bananeira ‘Grande Naine’. As doses do biofertilizante ‘Vairo’
provocaram alterações nos atributos químicos do solo cultivado com a bananeira ‘Grande
Naine’ fertirrigada via gotejamento pelo ‘Vairo’.

PALAVRAS-CHAVE: musa spp., disponibilidade de nutriente, complexo sortivo.


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INTRODUÇÃO

O crescimento adequado das plantas depende da quantidade e disponibilidade


adequada dos nutrientes no solo. Naturalmente, os solos contêm reservas naturais de
elementos essenciais para o desenvolvimento dos vegetais, entretanto, grande parte desses
elementos pode encontrar-se na forma indisponível para as plantas sendo liberada apenas
uma pequena porção por meio da atividade biológica ou de processos químicos. Esta
liberação é muito lenta para compensar a remoção dos nutrientes pela produção agrícola
e atender a demanda nutricional das culturas. Diante desse balanço negativo, faz-se
necessário à aplicação de fertilizantes para assegurar a nutrição adequada às plantas
(CHEN et al., 2006). 265
O aumento da população mundial representa uma ameaça à segurança alimentar,
pois, as terras agricultáveis são limitadas e estão até mesmo sendo reduzidas. Dessa
forma, é essencial que a produtividade agrícola seja aumentada nas próximas décadas
para atender à grande demanda por alimentos pela população emergente (MAHANTY et
al., 2016). A agricultura convencional desempenha um papel importante no atendimento
das demandas alimentares da população humana crescente, o que também tem ocasionado
uma maior dependência de fertilizantes químicos e agrotóxicos (BHARDWAJ et al.,
2014) e faz os agricultores negligenciarem a manutenção da matéria orgânica do solo com
consequente diminuição da sua fertilidade.
Uma das alternativas para aumentar a matéria orgânica do solo é o uso de
biofertilizantes. A inclusão de biofertilizante nos programas de fertilização das culturas
melhora a disponibilidade a ciclagem dos nutrientes, a decomposição dos resíduos das
culturas, a diversidade da população microbiana, melhorando a qualidade química do solo
e a produção das culturas. Além disso, ajuda a reduzir a demanda por fertilizantes
químicos (SINGH et al., 2016). Diversos estudos apontam o efeito benéfico da aplicação
de biofertilizante nos atributos químicos do solo. No entanto, ainda são poucas
informações sobre a influência das doses associadas com a frequência de aplicação de
biofertilizante.
O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência de diferentes frequências de
aplicação e doses do biofertilizante ‘Vairo’ em um Latossolo Amarelo Distrocoeso Típico
nos atributos químicos do solo cultivado com a bananeira ‘Grande Naine’.

MATERIAL E MÉTODOS

Localização e condução experimental

O estudo foi conduzido na área experimental da Embrapa Mandioca e Fruticultura,


Cruz das Almas, Bahia, com coordenadas geográficas 12º40’19”S; 39º06’22”W; 225 m,
no período de julho de 2015 a julho de 2018. O solo é classificado como Latossolo
Amarelo Distrocoeso Típico, (EMBRAPA, 1993, atualizado por Santos et al., 2018). O
clima é classificado como tropical úmido (Af) segundo a classificação de Köppen, com
ocorrência de precipitação em quase todos os meses do ano (ALVARES et al., 2014).
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O delineamento experimental utilizado no experimento foi o de blocos


casualizados, em esquema fatorial 3 x 5. Os tratamentos consistiram em três frequências
de aplicação (F1=15, F2=30 e F3=45 dias) e cinco doses do biofertilizante tipo ‘Vairo’
(0, 100, 180, 280 e 375 mL planta-1), totalizando 15 tratamentos com três repetições, com
seis plantas úteis por tratamento.
A cultivar utilizada no estudo foi a ‘Grande Naine’ (AAA), cujas mudas
micropropagadas foram plantadas no espaçamento de 2,5 x 2,5 m, com uma densidade de
1.600 plantas ha-1 em covas de 0,4 x 0,4 x 0,4 m.
O biofertilizante foi preparado em reservatórios plásticos com capacidade para 200
L, utilizando-se os seguintes ingredientes: 80 L de esterco bovino e 80 L de água. O
266
biofertilizante foi aplicado pelo método de irrigação localizada, do tipo gotejamento
sendo utilizados arranjados com uma linha lateral de gotejamento por fileira de plantas,
com três emissores autocompensantes de 4 L h-1 por planta, com um emissor junto à
planta e outros dois espaçados de 0,5 m do primeiro.
Os dados foram submetidos à analise de variância pelo teste F e, quando
significativos os dados obtidos a partir das frequências de aplicação aplicou-se teste de
média e os dados obtidos a partir das doses de biofertilizante foram submetidos a análise
de regressão utilizando-se o programa estatístico SISVAR (FERREIRA, 2011).

Coleta e preparo de amostras de solo para análises químicas

As coletas das amostras de solo foram realizadas por parcela ao final de cada ciclo
de produção, sendo que três subamostras deformadas formaram uma amostra composta.
As amostras foram coletadas a 0,30 m de distância da planta e na profundidade de 0,20-
0,40 m, com auxílio de um trado tipo holandês. As amostras de solo foram acondicionadas
em sacos plásticos, posteriormente foram peneiradas (2 mm) e encaminhadas ao
Laboratório de Química do Solo da Embrapa Mandioca e Fruticultura para análises
químicas, segundo metodologia da Embrapa (TEIXEIRA et al., 2017). Foram realizados
os cálculos de soma de bases (SB) em cmolc dm-3 (Ca+Mg+K+Na); capacidade de troca
catiônica (CTC) em cmolc dm-3 (SB + H+Al); saturação por bases (V) em %
(SB/CTC*100); e a saturação por sódio (Na) em % (Na/CTC*100).
Os cátions trocáveis foram analisados conforme Teixeira et al. (2017), sendo o
Ca e Mg extraídos com solução de cloreto de potássio (KCl) (1 mol L-1).
O alumínio trocável ou acidez trocável (Al) (cmolc dm-3) foi determinado por
titulação com solução de hidróxido de sódio (NaOH) (0,025 mol L-1) na presença do
indicador azul de bromotimol (0,1%). Os teores de cálcio e magnésio (Ca e Mg) (cmolc
dm-3) foram determinados por espectrofotometria de absorção atômica. Os teores de
potássio e sódio (K e Na) (cmolc dm-3) foram extraídos com solução de Mehlich-1 e
determinados por fotometria de emissão de chama (TEIXEIRA et al., 2017).
A acidez potencial (H+Al) (cmolc dm-3) foi extraída com solução tamponada de
acetato de cálcio Ca(C2H3O2)2.H2O (0,5 mol L-1) (pH 7,1-7,2 ) e determinada por titulação
com solução (NaOH) (0,025 mol L-1), na presença do indicador fenolftaleína 10 mg L-1
(TEIXEIRA et al., 2017).
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RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 1 mostra o resumo da análise de variância para os atributos químicos do


solo na profundidades 0,20-0,40 m ao final de três ciclos da bananeira ‘Grande Naine’.
Todos os atributos, com exceção do fósforo (P) foram influenciados isoladamente por
pelo menos um fator frequência, dose e ciclos, e/ou pelas interações de tais fatores.
Observa-se que o cálcio (Ca), o magnésio (Mg), a relação Ca/Mg e a capacidade de troca
catiônica (CTC) foram afetados significativamente (p<0,01) pela interação tripla ciclo x
frequências x doses. Levando-se em consideração as interações duplas verifica-se efeito
significativo (p<0,05) da interação frequência x doses para o atributo saturação por base 267
(V) e da interação ciclo x doses para o potássio (K) (p<0,05). A relação K/Mg e a matéria
orgânica do solo (MOS) foram estatisticamente afetados pelo efeito simples do fator ciclo
(p<0,01) e (p<0,05), respectivamente.

Tabela 1. Resumo da análise de variância com os quadrados médios, significâncias e coeficientes de


variação para os atributos químicos do solo na profundidade de 0,20-0,40 m em três ciclos da bananeira,
cv. Grande Naine, fertirrigada com biofertilizante via gotejamento. Cruz das Almas, BA, 2018
FV GL K Ca Mg K/Mg Ca/Mg CTC V
Bloco 2 0,07ns 0,28ns 0,001ns 0,07ns 0,23ns 0,22ns 122,31ns
Ciclo (C) 2 0,70** 1,14* 0,130* 0,79** 0,27ns 1,47* 110,85ns
Erro 1 1 0,14 0,6 0,035 0,03 0,19 0,79 1219,31
Frequência (F) 2 0,001ns 0,85* 0,058* 0,01ns 0,42ns 1,86ns 81,88ns
Erro 2 2 0,05 0,26 0,022 0,01 0,41 3,42 517,79
ns ns ns ns ns
Dose (D) 4 0,01 0,17 0,020 0,02 0,08 *
0,10 121,62ns
CxD 8 0,03** 0,05ns 0,003ns 0,03ns 0,03ns 0,43ns 69,06ns
FxD 8 0,01ns 0,41ns 0,055** 0,01ns 0,12** 0,72** 187,67*
ns ns
CxFxD 16 0,02 0,20 **
0,027 **
0,02 0,09 **
0,64 **
70,04ns
Erro 3 3 1,09 5,76 0,92 0,02 2,6 20,84 7735,45
CV1 (%) 75,59 19,66 8,62 71,33 12,04 10,68 20,85
CV2 (%) 43,07 12,83 6,89 45,79 17,46 22,18 13,59
CV3 (%) 45,83 13,27 9,71 52,91 9,62 11,95 11,46
FV = Fonte de variação; GL = Grau de liberdade; * = Significância (p<0,05); ** = Significância (p<0,01); ns = Não
significativo pelo teste F; CV = Coeficiente de variação; F = Frequência de aplicação do biofertilizante; D = Dose do
biofertilizante; K = Potássio (cmolc dm-3); Ca = Cálcio (cmolc dm-3); Mg = Magnésio (cmolc dm-3); CTC = Capacidade
de troca de cátions (cmolc dm-3); V = Saturação por bases (%).

A relação K/Mg, importante para a bananeira, deve ser superior a 0,2 e inferior a
0,6 (Borges et al., 2016). Dessa forma, constatou-se que a relação K/Mg foi ideal, ou seja,
de 0,2 ao final do terceiro ciclo de produção.
O desdobramento dos fatores ciclo x doses para o atributo K na profundidade é
apresentado na Tabela 2. Em todas as doses estudadas, o segundo ciclo apresentou teor
médio significativamente superior aos demais. Houve influência das doses apenas no
2021 Gepra Editora Barros et al.

terceiro ciclo e o teor de K aumentou linearmente à taxa de 0,21% K cmol c dm-3 por
incremento unitário da dose. Esses resultados assemelham-se aos encontrados por Dias
(2014) ao verificar a influência de seis doses de biofertilizante líquido (0, 400, 800, 1200,
1600 mL planta-1 semana-1) nos atributos do solo, constatou que houve aumento linear do
teor de K no solo em função do aumento das doses, variando de 0,68 cmolc dm-3 para o
tratamento controle a 3,24 cmolc dm-3 para a maior dose.

Tabela 2. Teores de potássio (K) (cmolc dm-3) na profundidade de 0,20-0,40 m em função de diferentes
268
doses do biofertilizante ‘Vairo’ em três ciclos de cultivo da bananeira, cv. Grande Naine. Cruz das Almas,
BA, 2015/2018
Doses (mL planta-1)
Ciclos 0 100 180 280 375 Equação R² Média
K (cmolc dm-3)
1º 0,17 b 0,17 b 0,15 b 0,16 b 0,16 b - - 0,16
2º 0,49 a 0,34 a 0,4 a 0,31 a 0,43 a - - 0,39
3º 0,12 b 0,19 b 0,21 b 0,22 ab 0,24 b y=0,0003x*+0,14** 0,86 0,19
K = Potássio (cmolc dm-3); Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey
(p<0,05).

Analisando-se o teor de Ca dentro da relação Ca/(K+Ca+Mg) verificou-se que


esses elementos se encontram em proporções adequadas, com valores no intervalo entre
0,6 a 0,8 considerado ideal para essa relação (BORGES et al., 2016), portanto, há indícios
de que não houve competição com o Mg e K por sítios de absorção da raiz.
A Tabela 3 mostra a interação ciclo x frequências x doses para Ca. No segundo
ciclo a dose de 280 mL planta-1 registrou teor de Ca significativamente superior para a
frequência de 30 dias em comparação a frequência de 45 dias (1,36 cmolc dm-3). Após
três ciclos de cultivo, observou-se a mesma tendência registrada no segundo ciclo
havendo diferença entre as frequências de aplicação apenas na dose de 280 mL planta -1.
A frequência de 30 dias apresentou média significativamente superior as demais,
registrando teor de Ca de 2,93 cmolc dm-3. Da mesma forma, verificou-se comportamento
linear decrescente do teor de Ca em função das doses na frequência de 45 dias com
decréscimo de 0,05% Ca cmolc dm-3 por aumento unitário da dose. Observando o
comportamento das doses entre os ciclos de cultivo, verifica-se diferença para frequência
de 30 dias para a dose de 280 mL planta-1. Na dose de 280 mL planta-1 o primeiro ciclo
registrou teor médio de Ca significativamente superior ao terceiro ciclo que por sua vez
não diferiu do segundo ciclo.

Tabela 3. Teores de cálcio (Ca) (cmolc dm-3) em função de diferentes frequências de aplicação, doses do
biofertilizante ‘Vairo’ em três ciclos de cultivo da bananeira, cv. Grande Naine. Cruz das Almas, BA,
2015/2018
Ciclo Doses (mL planta-1) Médi
Equação R²
s 0 100 180 280 375 a
2021 Gepra Editora Barros et al.

Frequência
s Ca (cmolc dm-3)
(dias)
2,09 2,22 2,22 1,87
15 2,44 aA - - 2,17
abA aA aA aA
2,11 1,98 2,12
1º 30 2,66 aA 2,23 aA - - 2,22
aA aA aA
1,99 1,77
45 1,94 bA 2,11aA 2,11 aA - - 2,00
aA aA
269
1,77 1,83 1,83
15 1,58 aA 1,79 abA - - 1,76
aA aA aA
1,76 1,89 2,10 1,82
2º 30 2,07 aA - - 1,93
aA aA aAB aA
2,10 1,56
45 2,01 aA 1,36 bA 1,6 aA - - 1,73
aA aA
2,27 2,21
15 1,71 aB 2,3 aA 1,83 bA - - 2,06
aA aA
1,85 1,83 1,86
3º 30 2,22 aA 2,93 aA - - 2,14
aA aA aA
1,83 1,80 1,55 y=- 0,8
45 2,10 aA 1,52 bB 1,76
aA aA aA 0,001x*+2,04** 9
dms=0,71
Ca = Calcio (cmolc dm-3); Médias seguidas pela mesma letra minúscula nas frequências, em cada ciclo, e maiúsculas
entre ciclos não diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05).

O desdobramento frequência x doses considerando os teores de Mg, é apresentado


na Tabela 4. Verifica-se que houve diferença significativa entre as frequências na dose de
375 mL planta-1 em que as frequências de 15 e 30 dias apresentaram teor de Mg
significativamente superior em comparação a frequência de 45 dias. Queiroz et al. (2004),
trabalhando com esterco líquido de suínos em pastagem natural, verificaram aumento nos
teores de Mg no solo, assim como Silva et al. (2008), ao registrarem aumentos do
macronutriente no solo com o incremento das doses de biofertilizante bovino,
corroborando com os resultados obtidos nesse estudo em que a maior dose estudada
registrou maiores teores de Mg nas frequências de 15 e 30 dias. Conforme Borges et al.
(2016), o teor de Mg foi considerado dentro da faixa adequada que é de (0,6 a 1,2 cmolc
dm-3).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Tabela 4. Teores médios de Magnésio (Mg) (cmolc dm-3) em função de diferentes frequências de
aplicação e doses do biofertilizante ‘Vairo’ na bananeira, cv. Grande Naine. Cruz das Almas, BA,
2015/2018
Frequências (dias)
15 30 45
-1
Doses (mL planta ) Mg
0 1,03 b 1,18 ab 1,21 a
100 1,19 a 1,20 a 1,18 a
180 1,16 a 1,12 a 1,18 a
280 1,17 a 1,16 a 1,12 a
270
375 1,16 a 1,23 a 0,98 b
dms=0,18
Mg = Magnésio (cmolc dm-3); Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey
(p<0,05).

O desdobramento frequência x doses x ciclo para os teores de Mg (Tabela 5), mostra


que no segundo ciclo de cultivo houve diferença entre as frequências no tratamento nas
doses de 280 e 375 mL planta-1 em que a frequência de 30 dias registrou teor médio de
Mg significativamente superior em comparação à frequência de 45 dias. Houve influência
das doses de biofertilizante apenas na frequência quinzenal na qual o modelo quadrático
se ajustou aos dados sendo observado acréscimo no teor de Mg até a dose estimada de
267 mL planta-1 com valor estimado em 1,08 cmolc dm-3. No último ciclo de cultivo,
observou-se diferença apenas na dose de 180 mL planta-1. Observou-se nesta dose o maior
valor médio de Mg registrado para a frequência de 15 dias (1,17 cmolc dm-3) sendo
significativamente superior em comparação a frequência de 45 dias. Na dose de 180 mL
planta-1 foi constatada diferença significativa no teor de Mg na frequência de 45 dias em
cada ciclo de cultivo. Nessa dose, o primeiro ciclo apresentou valor significativamente
superior (1,20 cmolc dm-3) em relação aos demais ciclos.

Tabela 5. Teores de magnésio (Mg) (cmolc dm-3) na profundidade de 0,20-0,40 m em função de diferentes frequências
de aplicação, doses do biofertilizante ‘Vairo’ em três ciclos de cultivo da bananeira, cv. Grande Naine. Cruz das Almas,
BA, 2015/2018
Doses (mL planta-1)
Frequências
Ciclos 0 100 180 280 375 Equação R² Média
(dias)
-3
Mg (cmolc dm )
15 1,06 bA 1,17 aA 1,12 aA 1,18 aA 1,06 aA - - 1,12
1 30 1,30 aA 1,21 aA 1,10 aA 1,16 aA 1,13 aA - - 1,18
45 1,04 bA 1,08 aA 1,20 aA 1,16 aA 1,09 aA - - 1,11
2* * **
15 0,87 bB 1,01 aA 1,07 aA 1,04 abA 1,02 abA y=-0,000003x +0,0016x +0,87 0,96 1,00
2 30 1,08 aB 1,08 aA 1,08 aA 1,13 aA 1,13 aA - - 1,10
45 1,17 aA 1,10 aA 0,98 aB 0,90 bB 0,92 bA - - 1,01
15 0,76 bB 1,13 aA 1,17 aA 1,01 aA 1,10 aA - - 1,03
3
30 1,23 aAB 1,06 aA 0,99 abB 1,16 aA 0,98 aA - - 1,08
2021 Gepra Editora Barros et al.

45 1,12 aA 1,18 aA 0,96 bB 1,07 aAB 0,98 aA - - 1,06


Mg = Magnésio (cmolc dm-3); Médias seguidas pela mesma letra minúscula nas frequências, em cada ciclo, e maiúsculas entre ciclos
não diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05).

Em relação à CTC (Tabela 6) não foram constatadas diferenças entre as frequências


em cada ciclo nem diferenças entre as mesmas entre os ciclos. Houve efeito das doses
apenas no terceiro ciclo e quando o biofertilizante foi aplicado a cada 45 dias. No último
ciclo, a CTC decresceu linearmente à taxa de 0,05% por aumento unitário na dose. Essa
tendência de diminuição da CTC (tanto em termos absolutos como relativos) com o
incremento de doses de biofertilizante se deve provavelmente à intensificação da
atividade microbiana. O aumento na atividade microbiana intensifica a mineralização da 271
MOS, principalmente das formas prontamente lábeis, causando diminuição nos teores de
MOS de acordo com Maia e Cantarutt (2004).
O desdobramento da interação frequência x doses para o atributo V (Tabela 6)
mostra que houve diferença entre as frequências apenas na dose de 180 mL planta-1. Nesse
tratamento a frequência de 15 dias apresentou valor médio de V significativamente
superior à frequência mensal que, por sua vez, não diferiu da frequência de 45 dias. A
saturação por bases (V%) do solo no uso de biofertilizante foi superior a 70% em todas
as profundidades, caracterizando-o como eutrófico (EMBRAPA, 2006). Esse elevado
porcentual de bases reflete a elevada SB, em função do incremento de bases trocáveis ao
longo dos três ciclos de aplicação de biofertilizante.

Tabela 6. Capacidade de troca catiônica (CTC) (cmolc dm-3)e Saturação por bases (%) na profundidade
de 0,20-0,40 m em função de diferentes frequências de aplicação, doses do biofertilizante ‘Vairo’ em três
ciclos de cultivo da bananeira, cv. Grande Naine. Cruz das Almas, BA, 2015/2018

Frequências Doses (mL planta-1)


(dias) 0 100 180 280 375 Equação R² Média

Ciclos CTC (cmolc dm-3)


15 4,19 aA 4,62 aA 4,08 aA 4,86 aA 4,15 aA - - 4,38
30 4,74 aA 4,45 aA 4,22 aA 4,63 aA 4,38 aA - - 4,48
1º 45 3,81 aA 4,30 aA 4,54 aA 4,34 aA 4,32 aA - - 4,26
15 3,75 aA 3,24 aA 4,01 aA 3,93 aA 4,12 aA - - 3,81
30 4,38 aA 3,77 aA 4,55 aA 4,26 aA 4,21 aA - - 4,23
2º 45 4,52 aA 4,75 aA 3,81 aA 3,21 aA 4,37 aA - - 4,13
15 3,27 aA 4,42 aA 4,56 aA 3,83 aA 4,44 aA 4,1
30 4,01 aA 4,19 aA 5,25 aA 4,99 aA 3,99 aA - - 4,49
* **
3º 45 4,24 aA 3,84 aA 3,36 aA 3,38 aA 3,32 aA y=-0,002x +4,08 0,79 3,63
dms=2,12
Doses (mL planta-1)
Frequências
0 100 180 280 375 Equação R² Média
(dias)
V(%)
2021 Gepra Editora Barros et al.

15 82,06 a 89,45 a 87,74 a 84,14 a 82,96 a - - 85,27


30 89,89 a 81,49 a 74,82 b 86,37 a 82,91 a - - 83,1
45 85,94 a 83,82 a 84,19 ab 83,47 a 76,55 a - - 82,79
CTC= Capacidade de troca catiônica (cmolc dm-3); Médias seguidas pela mesma letra minúscula nas frequências, em
cada ciclo, e maiúsculas entre ciclos não diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). V = Saturação por base (%);
Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05).

CONCLUSÕES

Os atributos químicos do solo se apresentaram dentro dos limites considerados 272


adequados para o cultivo da bananeira ‘Grande Naine’;
As doses do biofertilizante ‘Vairo’ provocaram alterações nos atributos químicos
do solo cultivado com a bananeira ‘Grande Naine’;
Os atributos químicos do solo foram afetados com a aplicação de biofertilizante,
principalmente, na frequência de 30 dias, a mesma proporcionou melhoria na maioria das
variáveis em todos o ciclos de produção da bananeira ‘Grande Naine’ fertirrigada via
gotejamento pelo ‘Vairo’;

REFERÊNCIAS

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DF : Embrapa, 2017. 573 p. il. color. ISBN 978-85-7035-771 -7
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 24
AVALIAÇAO DO EFEITO DOS PLASTIFICANTES GLICEROL E TRIETIL
CITRATO NA MUDANÇA CROMATICA DE INDICADORES
COLORIMETRICOS PRODUZIDOS COM EXTRATO DE AÇAI (Euterpe
oleracea Mart) EM ACETATO DE CELULOSE

TEIXEIRA, Samiris Côcco


Pós-graduando em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Universidade Federal de Viçosa
samiris.teixeira@ufv.br

OLIVEIRA, Taíla Veloso 274


PhD em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Universidade Federal de Viçosa
taveloso@yahoo.com.br

SILVA, Rafael Resende Assis


Pós-graduando em Ciência e Engenharia de Materiais
Universidade Federal de São Carlos Universidade Federal de Viçosa

STRINGHETA, Paulo César


Professor do departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos
Universidade Federal de Viçosa
paulocesar@ufv.br

SOARES, Nilda de Fátima Ferreira


Professora do departamento de Ciência e Tecnologia de Alimentos
Universidade Federal de Viçosa
nfsoares@gmail.com

RESUMO

Os indicadores colorimétricos possuem a capacidade de indicar, em tempo real, o estado


de conservação dos produtos alimentícios e por isso apresentam grande potencial para
reduzir o desperdício dos mesmos. Sabendo que os plastificantes podem influenciar na
capacidade crômica de substâncias indicadoras em bases poliméricas, foram produzidos
indicadores colorimétricos pela incorporação de extrato de antocianinas de açaí (EA) em
acetato de celulose (AC), adicionado de diferentes concentrações dos plastificantes:
glicerol (GLI) e trietil citrato (TEC), para avaliar a capacidade de discriminação entre
alimentos frescos de alimentos deteriorados. O EA foi caracterizado por espectrometria
de ultravioleta visível em diferentes valores de pH (2-12). Os indicadores colorimétricos
foram produzidos pelo método casting, com concentrações molares iguais a 1,8; 3,6; 5,4;
7,2 de plastificantes GLI e TEC em dispersão polimérica de AC e acetona na proporção
de 1:10 (m/v). As amostras foram analisadas por espectroscopia na região do
infravermelho (FT-IR), microscopia eletrônica de varredura (MEV) e por meio de análise
colorimétrica visual sob exposição à amônia e a diferentes pHs. Os resultados de FT-IR
e das micrografias dos indicadores, concluiu-se que o EA e os plastificantes foram
imobilizados na matriz polimérica de AC. O estudo do comportamento cromático em
condição simulada à exposição à amônia, indicou que os indicadores colorimétricos com
2021 Gepra Editora Barros et al.

7,2 mols de GLI e 1,8 mols de TEC, apresentaram melhores mudanças de cor, já a
avaliação do comportamento cromático em solução básica, demonstrou que os
indicadores plastificados com 7,2 mols de GLI, exibiram melhores respostas.

PALAVRAS-CHAVE: Antocianinas, Deterioração, Polímeros.

INTRODUÇÃO

A distribuição de alimentos faz parte de uma cadeia complexa que enfrenta desafios 275
consideráveis devido as variabilidades no processamento do alimento, no comportamento
dos consumidores, no desenvolvimento de novas leis e nos assuntos relacionados à
segurança alimentar. Como consequência dessas adversidades, o Índice de Desperdício
de Alimentos 2021, apurado pela Organização das Nações Unidas (ONU), revelou que
em 2019, 17% do total de alimentos disponíveis no mundo, equivalente a 931 milhões de
toneladas foram desperdiçados. As embalagens alimentícias desempenham papel
fundamental para redução de tais danos, para tanto, embalagens inovadoras e com funções
aperfeiçoadas estão sendo constantemente estudadas.
As embalagens inteligentes são definidas como um sistema que detecta, comunica
e monitora as condições dos alimentos embalados, em tempo real, com vista a fornecer
informações sobre a qualidade dos alimentos, segurança e histórico de um produto
durante toda a cadeia de produção e comercialização (JANG; WON, 2014).
A produção desses sistemas inteligentes pode ser feita por meio da inserção de
dispositivos, como os portadores de dados, indicadores e substâncias sensoras no interior
ou fora dos materiais de embalagem. Os indicadores colorimétricos são destinados a
coletar informações qualitativas fundamentadas em mudanças de temperatura e pH, e na
liberação de gases, por meio de alterações visuais colorimétricas (KALPANA et al.,
2019).
Indicadores colorimétricos podem ser produzidos pela incorporação de corantes
naturais, em matrizes poliméricas. As antocianinas são pigmentos naturais, não tóxicos,
solúveis em água e bastantes sensíveis às mudanças de pH, encontradas abundantemente
em frutas e flores. Entre as fontes de antocianinas, podemos destacar o fruto do açaí
(Euterpe oleracea Mart.), de origem nativa da América Central e do Sul, considerado a
palmeira mais produtiva da região amazônica. Indicadores com adição de antocianinas,
como as de fonte do açaí, podem fornecer informações qualitativas imediatas, por meio
de mudanças colorimétricas visuais provocadas pela alteração estrutural do pigmento, e
consequentemente indicar o frescor ou o estágio de deterioração do alimento,
apresentando-se como um método conveniente, rápido e não destrutivo de monitoração
dos produtos alimentícios (LE, et al., 2019; ZHANG; LU; CHEN, 2014).
Alimentos com elevados teores de proteínas são altamente suscetíveis à
deterioração microbiana, às condições de processamento, ao transporte e armazenamento
e por esses motivos devem ser constantemente monitorados. Há uma série de produtos
alimentares que contêm quantidades expressivas de proteínas, das quais incluem, carnes,
peixes, leite, etc. Os microrganismos que deterioram alimentos ricos em proteínas liberam
2021 Gepra Editora Barros et al.

compostos como a amônia e aminas biogênicas, substâncias capazes de alterar as


propriedades físico-químicas do sistema, como o aumento de pH (LEE et al., 2016).
alteração estrutural das antocianinas na presença dessas substâncias permite a indicação
do estado de conservação dos alimentos ricos em proteínas.
Considerando os fatos expostos, nesse estudo foram utilizados para a elaboração do
indicador colorimétrico uma base polimérica biodegradável de AC, incorporada com
extrato de açaí (EA), plastificada com TEC ou GLI, nas concentrações molares iguais a
1,8; 3,6; 5,4 e 7,2 mols para a identificação colorimétrica da degradação de peixes e
camarões devido à variação de pH ou à liberação de compostos voláteis (aminas
biogênicas). O estudo consistiu, principalmente, em avaliar a influência da variação da
276
concentração dos plastificantes TEC e GLI na resposta colorimétrica e na sensibilidade
dos indicadores colorimétricos de EA em base AC, uma vez que são compostos
usualmente adicionados nesses polímeros durante à fabricação de filmes plásticos. Dessa
forma, ressalta-se o uso de indicadores biodegradáveis e plastificados, contendo extrato
de açaí, para produção de embalagens inteligente capazes de detectar de forma simples e
prática, por meio da visualização da mudança de cor da antocianina, o estado de
conservação do alimento. Esse indicador é passível de ser aplicável na indústria de
alimentos com o propósito de garantir a qualidade nos processos alimentícios,
promovendo integralidade para o consumidor e evitando prejuízos inerentes a problemas
de contaminação dos alimentos.

MATERIAL E MÉTODOS

Materiais
Acetato de celulose (GS = 2,5; MM = 2.024.000 g.mol-1) foi disponibilizado pela
Rhodia Solvay Group (Santo André, SP, Brasil). Acetona, Glicerol e Trietil citrato foram
obtidos da empresa Sigma-Aldrich (San Luis, Missouri, Estados Unidos).

Obtenção dos frutos de açaí (Euterpe oleraceae Mart.)


Foram utilizados frutos de açaí (Euterpe oleraceae Mart.) colhidos em três
localidades do Estado do Pará, Brasil, sendo elas Abaetetuba (Latitude: 1° 43’ 42,1” S e
Longitude: 48° 52’ 11,5” O), Ilha das Onças (Latitude: 1° 26’ 34,4” S e Longitude: 48°
33’ 10,5” O) e Cametá (Latitude: 2° 14’ 21,8” S e Longitude: 49° 29’ 54,3” O). Os frutos
colhidos foram selecionados, lavados, e tiveram suas sementes retiradas. As partes
restantes (casca e mesocarpo) foram trituradas em mixer com adição de água destilada
durante 3 minutos, na proporção de 3:1 de fruto/água. A polpa homogênea resultante foi
congelada em ultrafreezer à temperatura de -60ºC até o momento das análises e utilizada
como matéria-prima para a realização de todo o experimento.

Obtenção do extrato fenólico bruto


A obtenção do extrato fenólico bruto foi realizada segundo Rocha et al., (2018).
A polpa de açaí foi filtrada a vácuo, em funil de Büchner, e o volume aferido em balão
volumétrico (mL) com solução extratora. Posteriormente, os extratos foram concentrados
2021 Gepra Editora Barros et al.

a vácuo utilizando evaporador rotativo (IKA RV 10 digital) em temperatura máxima de


50 °C até teor de sólidos solúveis totais (SST) de aproximadamente 7 ºBrix. O teor de
sólidos solúveis (o Brix) foi obtido pela leitura direta em refratômetro marca Leica,
modelo AR 200 (New York, USA). Esse extrato fenólico bruto foi armazenado em frasco
âmbar sob congelamento no ultrafreezer (aproximadamente -60 °C) até a análise.

Determinação de antocianinas totais


A determinação de antocianinas totais, pelo método pH único, foi realizada
segundo o método descrito por Fuleki & Francis (1968). Realizou-se a leitura em
espectrofotômetro UV-VIS (1601Pc marca Shimadzu), em comprimento de onda de 535
277
nm. Os resultados foram expressos em mg de antocianinas por 100 g de polpa de açaí.

Preparo dos indicadores colorimétricos


Concentrações molares iguais a 1,8; 3,6; 5,4; 7,2 de plastificantes GLI e TEC
foram adicionados, individualmente, em dispersão polimérica de AC e acetona na
proporção de 1:10 (m/v). Os recipientes contendo as dispersões foram vedados e mantidos
em repouso por 24h. Transcorrido o tempo, foram adicionadas aos recipientes 2 mL de
EA (concentração de antocianinas de 204,5 ± 0,05 mg. mL-1, previamente determinada
conforme item 2.4), homogeneizados manualmente por 2 min, e deixadas em repouso de
por 30 min. A dispersão polimérica foi vertida em placas de vidro (25 x 10 cm²) e a
evaporação do solvente foi realizada em temperatura ambiente. Os indicadores foram
armazenados sob vácuo na temperatura de 25°C, em embalagens de polietileno/nylon até
o momento da sua utilização.

Espectro UV-vis de EA e dos indicadores colorimétricos submetidos a diferentes


valores de pH
O espectro UV-vis de EA submetido a diferentes valores de pH (2-12) foram
realizados em espectrofotômetro UV-vis (Shimadzu, Japão, modelo UV 1800) nos
comprimentos de onda de 400 a 800 nm. A diluição do extrato utilizada foi de 1% (v/v).
Para investigar a mudança colorimétrica em relação ao pH, os indicadores contendo EA,
foram imersos em solução de pH 12, nos tempos de 0,20,40,60,80 e 600 segundos,
posteriormente as amostras foram secas, e o espectro UV-vis foi determinado.

Espectroscopia na região do infravermelho (FT-IR)


Os espectros na região do infravermelho dos indicadores colorimétricos foram
obtidos com auxílio do equipamento FT-IR NICOLET 6700 (Thermo Sicientific), com
32 varreduras e resolução de 4 cm-1, operando em amplitude de 4000- 700 cm-1.

Microscopia eletrônica de varredura (MEV)


As micrografias dos indicadores colorimétricos foram obtidas por meio do
Microscópio Eletrônico de Varredura (Modelo TM3000, Hitachi Hi-Tech). Amostras de
cada indicador colorimétrico, com dimensões de (0,2 x 0,5) cm2, foram fixadas em stubs
com auxílio de uma pinça em uma fita condutora dupla face de carbono. A tensão de
2021 Gepra Editora Barros et al.

aceleração de elétrons foi usada no modo automático. A magnificação das imagens


obtidas foi de 500x.

Avaliação colorimétrica dos indicadores em condição simulada e de reversibilidade


A variação de cor dos indicadores colorimétricos em condição simulada foi
realizada de acordo com Shukla et al. (2016) com modificações. Os indicadores
plastificados com diferentes concentrações molares de TEC e GLI, contendo EA, e o
indicador controle (sem adição de plastificantes) foram previamente condicionados por
12 h a 25 ± 2 °C e 53% de UR. Cinco miligramas (5 μl, 91 % de pureza) de amônia foram
colocadas em béqueres e armazenados dentro de potes de vidro de 100 mL, contendo os
278
indicadores acondicionados no fundo. O meio simulante foi vedado, onde o indicador
permaneceu na atmosfera de amônia por 0, 3, 6, 12, 20 e 30 min. Foram determinados os
parâmetros de cor L*, a* e b*, com o auxílio de um colorímetro Colorquest® XE
(HunterLab, USA), em que L0*, a0* e b0* foram considerados os parâmetros
colorimétricos dos indicadores antes da exposição à amônia. A Diferença Total de Cor
(∆E*) (Equação 1), o Índice de Saturação (C*) (Equação 2) e o Ângulo de Tonalidade
(h*) (Equação 3) foram determinados utilizando as Equações 1,2 e 3, respectivamente.
Para se determinar a reversibilidade do indicador colorimétrico, os mesmos foram
acondicionados conforme metodologia supracitada na presença de ácido acético, pelo
tempo de 30 min e determinados os mesmos fatores colorimétricos.
∆𝐸 ∗ = √[(∆𝐿∗ )2 + (∆𝑎∗ )2 + (∆𝑏 ∗ )²] Equação 1

Em que:
∆𝐿∗ = (𝐿∗ − 𝐿∗0 ); ∆𝑎∗ = (𝑎∗ − 𝑎0∗ ); ∆𝑏 ∗ = (𝑏 ∗ − 𝑏0∗ )
𝐶 ∗ = √(𝑎∗ )² + (𝑏 ∗ )² Equação 2
𝑏∗
ℎ∗ = arctan (𝑎∗) Equação 3

Análise estatística
Os dados foram submetidos à Análise de Variância (ANOVA), e para cada
resposta foi ajustada uma equação de regressão (com significância de 5% de
probabilidade) quando possível, levando em consideração os fatores avaliados. Todas as
análises estatísticas foram realizadas com o programa estatístico Minitab, versão 17 e
OriginPro 8.5.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Espectro UV-vis do EA
As variações de cor das soluções diluídas de EA, foram analisadas e foi
confirmado seu potencial uso como corante para a aplicação em indicadores
colorimétricos. O EA exibiu uma coloração inicial vermelha em pH 2,0, que alterou para
rosa/violeta em pH 2,0-5,0, para violeta em pH 6,0-7,0 e para verde/amarelado em pH
8,0-12,0, conforme pode ser observado pela Figura 1.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 1. Espectro de absorbância e as respectivas cores do EA em diferentes valores de pH.

279

Ao se observar os espectros de UV-Vis das soluções de EA, verificou-se um pico


máximo de absorção em 515 nm (pH 2.0), o qual foi atribuído à presença do cátion
flavilium (MA et al., 2018). O pico máximo de absorção foi deslocado para ~600 nm
quando o pH aumentou de 2,0 para 10,0. De acordo com Andrés-Bello et al. (2013) à
medida que os pH das antocianinas aumentam, maior é a competição cinética e
termodinâmica entre a reação de hidratação na posição 2 do cátion flavilium e as reações
de transferência de prótons e grupos hidroxil. Por conseguinte, compostos incolores ou
de coloração violeta e amarelados como carbinol pseudobase, base quinoidal e chalcona
são formados.
Em pH 6.0 foi observado a menor intensidade de absorção do espectro de onda UV-
vis, cuja coloração exibida foi violeta. A partir desse ponto, a intensidade do pico de
absorção em ~600 nm aumentou em valores maiores de pH, e mudanças colorimétricas
de violeta para verde/amarelo ocorreram devido às alterações estruturais das antocianinas.
Esse efeito de deslocamento do pico de absorção para comprimentos de onda mais longos
com o aumento do pH é conhecido como efeito batocrômico e é comumente encontrado
em antocianinas (ZHANG et al., 2016). A mudança das cores podem ser atribuídas às
antocianinas presentes no açaí, cianidina-3-O-glucosídeo e cianidina 3-O-rutinosídeo,
que exibem bandas de absorção em ~520 nm conforme observado por este estudo e
também relatado por Favaro et al. (2018) e Han e Xu (2015). Essas estruturas sofreram
alterações provocadas pelo aumento do pH que causaram a interação com diferentes
2021 Gepra Editora Barros et al.

compostos. Resultados semelhantes de alterações de cor em diversos valores de pH,


foram amplamente relatados pelos autores Liang et al. (2019); Liang; Wang (2018);
Zhang; Lu; Chen, (2014). Devido às características cromáticas exibidas pelo EA em
diferentes valores de pH, o mesmo pode ser aplicado em sistemas inteligentes para o
monitoramento simples e eficiente da deterioração de alimentos.

Avaliação do comportamento cromático dos indicadores em solução básica


Fotografias e espectros de absorção UV-vis dos indicadores de EA, plastificados
com GLI e TEC, expostos em pH 12 por 600 s podem ser observados na Figura 2. Uma 280
mudança visual de cor de rosa para amarelo-esverdeado e marrom-acinzentado pôde ser
observada devido à alteração da condição ácida das antocianinas para básica com o
aumento do tempo de exposição à solução de pH 12 (MA; WANG, 2016).
Os espectros de UV-vis (Figura 2a) indicaram a presença de pico máximo de
absorção em 528 nm, no tempo 0, ou seja, antes da exposição à solução alcalina. A
intensidade do pico diminuiu com o aumento da concentração molar do plastificante na
matriz polimérica de AC, por ser capaz de reter maiores concentrações de água, alterações
no pH inicial do indicador acarretou em modificações químicas das antocianinas
conforme mencionado por Ma e Wang (2016), reduzindo, consequentemente, a
absorbância dessa banda no espectro UV-vis (LUCHESE et al., 2017).
À medida que o tempo de exposição do indicador EA plastificado com GLI
aumentou, observou-se o desaparecimento das bandas de absorção em comprimento de
onda específico no espectro UV-vis e uma coloração marrom-acinzentado a 600 s foi
verificado (Figura 2a e 2b). Por outro lado, indicadores EA plastificados com TEC ainda
exibiram uma coloração rosada em 600 s de exposição, mantendo uma ligeira banda de
absorção em comprimentos de ondas próximos a 520 nm (Figura 2a e 2b).

Figura 2. Espectro UV-vis (a) e fotografias (b) dos indicadores de EA plastificados com GLI e
TEC em diferentes concentrações.

Até agora, vários estudos confirmaram que indicadores contendo extratos de


plantas ricos em antocianinas responderam às mudanças de pH (EBRAHIMI TIRTASHI
2021 Gepra Editora Barros et al.

et al., 2019; KUSWANDI et al., 2020; LIU et al., 2017; MA; WANG, 2016; YOSHIDA
et al., 2014; ZHAI et al., 2018). Similarmente, os resultados deste trabalho sugerem que
o indicador produzido possui propriedades cromáticas quando expostos à pHs básicos,
podendo ser utilizado como indicador de mudanças de pH e de liberação de compostos
volatéis ocasionada pela degradação dos alimentos pelos microrganismos.

Espectroscopia na região do infravermelho com transformada de Fourier (FT-IR)


Os espectros na região do infravermelho dos indicadores de EA em base de AC,
plastificados com GLI e TEC, podem ser observados na Figura 3. Verificou-se no
espectro de FT-IR do indicador não plastificado (controle) bandas em 3409 cm-1 e 1639 281
cm-1, que são atribuídas à vibração de alongamento do grupo hidroxílico de álcoois e
fenóis e vibrações de alongamento de C=C de anéis aromáticos, características do EA
(SILVA-PEREIRA et al., 2015). Além do mais nota-se a presença em 2969 cm-1 de um
pico fino, que segundo Barbosa (2007), corresponde ao estiramento da ligação de C-H,
ao qual podem estar presentes em anéis aromáticos da cianidina-3-O-glucosídeo e
cianidina 3-O-rutinosídeo presentes nas antocianinas de açaí, que a incorporação do EA
na matriz polimérica do indicador não alterou as bandas características de AC (Figura 3a)
em 1739 cm-1 correspondente ao estiramento carbonílico de éster, em 1429 cm-1 e 1371
cm-1 correspondente à deformação angular assimétrica de CH2 e simétrica de CH3, e os
picos em 1234 cm-1 e 1049 cm-1 que indicam estiramento assimétrico e simétrico de
ligações C-O-C da molécula de celulose e de acetato (BARBOSA, 2007; MARK, 1999).
Figura 3. Espectros de FT-IR dos indicadores de AC com EA plastificados com GLI (a) e TEC
(b) e dos plastificantes puros GLI (a’) e TEC (b’).

Bandas características do plastificante GLI em 2940 cm-1 e 2880 cm-1


correspondente ao alongamento de C-H de aldeídos foram observadas, confirmando a
inserção de GLI na matriz polimérica de AC (Figura 3a). Esses resultados corroboram
2021 Gepra Editora Barros et al.

com o trabalho de Liang e Wang (2018) que notaram bandas semelhantes em filmes
indicadores de pH plastificados com glicerol e adicionados com sementes de tamarindo e
extrato de Litmus Lichen. Também foi observado que para maiores concentrações
molares de GLI, a intensidade de absorção nos comprimentos de onda aumentou.
Os espectros de FT-IR dos indicadores de EA em base de AC, plastificados com
TEC podem ser observados na Figura 3b e 3b’. Verificou-se bandas em 3400 cm-1 e 1640
cm-1 atribuídas à vibração de alongamento do grupo hidroxílico de álcoois e fenóis e
vibrações de alongamento de C=C de anéis aromáticos, confirmando a presença de EA.
Ademais, notou-se a presença de dois pequenos picos nos comprimentos de onda a 1114
cm-1 e 1097 cm-1 no espectro do TEC puro, que são característicos de estiramento C-O
282
do grupo éster. Esses mesmos picos aparecem nos demais espectros dos indicadores de
EA plastificados com TEC confirmando a inserção do plastificante na matriz polimérica
de AC (BARBOSA, 2007).

Microscopia eletrônica de varredura (MEV)


As micrografias dos indicadores de EA em AC, plastificados com TEC e GLI,
podem ser observados na Figura 4. Em indicadores não-plastificados foi exibido uma
superfície heterogênea com a presença de pequenos aglomerados de AC e esferas
irregulares, que podem ser atribuídas a presença do extrato de antocianinas.

Figura 4. Micrografias dos indicadores de EA em acetato de celulose plastificados com diferentes


concentrações molares de GLI e TEC. Todas as micrografias foram amplificadas em 500x.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Similarmente, os indicadores de EA em AC plastificados com GLI, exibiu uma


superfície heterogênea, independente da concentração molar aplicada, indicando baixa
interação entre os constituintes. Ma et al. (2018) e Liang e Wang (2018), desenvolveram
filmes à base de polissacarídeos com adição de glicerol e extrato de antocianinas, e
relataram separação de fase, devido às interações intermoleculares serem reduzidas entre
as moléculas.
Da mesma forma, pequenos aglomerados de AC e alta heterogeneidade de
superfície foram observados nos indicadores de EA plastificados com baixas
concentrações de TEC. Os resultados corroboram com Lozano-Navarro et al. (2018) que
ao observar microestruturas de sensores de antocianinas, os autores ressaltaram que a
283
presença de antioxidantes naturais não influenciaram na morfologia dos sensores, e que
os pontos brancos observados estão relacionados à presença do polímero não dispersos.
Os aparecimentos de esferas com diferentes tamanhos foram observados em todos
os indicadores e são atribuídas as antocianinas, já que, essas partículas possuem caráter
hidrofílico preeminente e a matriz polimérica apresenta natureza hidrofóbica. Para
maiores concentrações molares de TEC, os indicadores apresentaram superfície altamente
homogênea, indicando boa compatibilidade e dispersão completa do polímero.

Comportamento cromático dos indicadores em condição simulada e de


reversibilidade
As coordenadas colorimétricas L* (luminosidade), a* (verde-vermelho e b* (azul-
amarelo) foram medidas e a Diferença Total de Cor (ΔE) foi para avaliar o
comportamento cromático dos indicadores de EA, plastificados com GLI e TEC, expostos
a vapores de amônia por 600 s. A coordenada a*, apresentou as maiores variações de cor
em comparação com as coordenadas L* e b*, e esse comportamento pode ser observado
pela Figura 5. No tempo zero, a coordenada a* exibiu maiores valores comparados com
os demais tempos, exibindo uma coloração que tende para o vermelho. Após a exposição
a vapores de amônia por três minutos, os indicadores colorimétricos apresentaram uma
alteração de cor visual, em que os valores da coordenada a* reduziram significativamente.
Os indicadores colorimétricos desenvolvidos nesse estudo apresentaram alterações de cor
em tempo de resposta inferior aos já desenvolvidos por Ezati and Rhim (2020) e Ezati et
al. (2019), apresentaram valores iguais a 12 min e 24 min, respectivamente.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 5. Resposta cromática dos indicadores plastificados com diferentes concentrações de


TEC e GLI, em condição simulada e na exposição aos vapores ácidos “R” (condição de reversibilidade)
por 0, 3, 6, 12, 20 e 30 min.

284

A mudança de cor visual ocorreu de forma mais rápida para os indicadores de EA


plastificados com 7,2 mols de GLI, como mostrado na Figura 5, uma vez que foram
necessários apenas 3 min para que a volatilização do NH3 fosse capaz de alterar a cor de
vermelho para roxo dos indicadores. A alta sensibilidade cromática dos indicadores
contendo a maior concentração de GLI pode ser explicada pela maior quantidade de
moléculas de água que penetraram na estrutura polimérica de AC, devido a característica
higroscópica do plastificante. Dessa forma, a presença dos compostos NH3 e H2O formam
um ambiente de base fraca por meio de reações de hidrolise, produzindo NH4+ e OH-.
Portanto, a formação de íons OH-, que são capazes de reagir com EA, acionam o
comportamento ácido-base das antocianinas, resultando na mudança cromática do
sistema. Quanto mais OH- for formado, mais rápida e sensível será a mudança de cor dos
indicadores (CAO et al., 2019).
Por outro lado, os indicadores de EA plastificados com a menor concentração
molar de TEC (1,8 mols) exibiram maior mudança de cor em 3 min de exposição ao vapor
de amônia. Tal fato se deve, já que, em maiores concentrações molares, os indicadores
apresentam maiores interações entre as cadeias poliméricas, portanto inviabilizando o
contato de EA com NH3, promovendo menores percepções colorimétricas.
Os indicadores de EA, plastificados com TEC e GLI, foram expostos à amônia
por 30 min, e posteriormente aos vapores de ácido acético por mais 30 min, para verificar
a reversibilidade da mudança de cor dos mesmos. Foi observado que os indicadores de
2021 Gepra Editora Barros et al.

EA, independente do tratamento, não foi capaz de retornar a sua cor original vermelha,
conforme demonstrado pela Figura 5. Kuswandi et al. (2020), argumentou em seu estudo
que, antocianinas em contato com ácido ou base fortes, deixam de ser estáveis e perdem
sua estrutura, não podendo voltar a sua estrutura química estável original. Para a aplicação
do indicador colorimétrico desenvolvido nesse trabalho em embalagens inteligentes, tal
fato apresenta-se como um fator crucial, impedindo que o indicador colorimétrico possa
ser utilizado em possíveis fraudes alimentícias. Freitas et al. (2020), reportaram resultados
diferentes dos achados nesse estudo, onde desenvolveu sensores de AC incorporados com
extrato de antocianinas de repolho roxo, aos quais mostraram reversibilidade de cores
quando em contato com ambiente de ácido acético volátil por 25 min.
285
O estudo do comportamento cromático dos indicadores de EA, plastificados com
GLI e TEC, prosseguiu com o ajuste de modelos matemáticos que explicassem a
diferença de cor (∆E*) dos indicadores antes e após exposição ao vapor de amônia. Um
modelo matemático foi ajustado para a variável resposta ∆E*GLI em função do tempo (t)
e da concentração (c) cujo efeito verificado foi linear positivo e quadrático negativo para
ambos os fatores, com coeficientes de regressão (R2) de 0,81 e falta de ajuste significativa,
conforme expresso na equação abaixo. Por apresentar falta de ajuste significativa o
modelo deveria ser inviabilizado, por não ser capaz de predizer sistematicamente o
comportamento cromático dos indicadores, plastificados com GLI, porém, dado alto valor
de R2, isso indica possivelmente que os resultados das repetições dos experimentos
apresentaram alta repetibilidade, fato positivo que ocasionou valor de erro puro baixo,
levando a uma falsa falta de ajuste. A metodologia de superfície de resposta, expressa na
Figura 6a, demonstra um comportamento de parábola, com ponto de máximo,
correspondente a concentração de 7,2 mols de GLI exposto por 3 min ao vapor de amônia.

Y = -4,02 + 4,58 c + 3,379 t - 0,423 c² - 0,08379 t²


Em que:
Y = ∆E* GLI;
c= concentração molar de GLI adicionado nos indicadores colorimétricos de AC;
t = tempo (min).
Figura 6. Perfis de superfície de resposta de ∆E* em função do tempo e concentração para
indicadores plastificados com (a) GLI e (b) TEC.

(a) (b)
2021 Gepra Editora Barros et al.

O modelo ajustado que explica o comportamento ∆E*TEC para os indicadores de


EA plastificados com TEC exibiu comportamento similar ao dos plastificados com GLI,
com coeficiente de regressão (R2) de 0,71 e falta de ajuste significativo, conforme
expresso na equação abaixo. Também foi observado um comportamento de parábola, com
ponto de máximo.

Y = 1,29 + 4,05 c + 2,447 t - 0,588 c² - 0,06236 – t²


Em que:
Y = ∆E* TEC;
c= concentração molar de TEC adicionado nos indicadores colorimétricos de AC;
t = tempo (min). 286
A Diferença Total de Cor foi mais influenciada pela coordenada a* e apresentou
efeitos lineares positivos e quadráticos negativos significativos para os fatores
concentração de plastificante e tempo (p<0,05). Assim como para os indicadores GLI, à
medida que o tempo de exposição dos indicadores plastificados com TEC ao vapor de
amônia aumentou, maiores foram as diferenças de cor comparadas com as do padrão
inicial. Visualmente, após 3 min de exposição, foi possível de se perceber uma mudança
de cor proeminente dos indicadores de EA. O coeficiente da concentração exibiu maiores
valores, confirmando que a concentração de plastificante foi a que mais influenciou a
coordenada a* e ∆E*.
Nesse contexto, diante do exposto, os indicadores colorimétricos de EA,
plastificados com GLI e TEC, apresentaram potencial para detecção de vapores de
amônia, sendo capazes de detectar e informar ao consumidor sobre as condições químicas
e físicas de alimentos, de forma simples, eficaz e em tempo real. Esses indicadores
colorimétricos têm o funcionamento baseados em alterações químicas das antocianinas,
que podem ser utilizadas para aplicação em alimentos ricos em proteínas, umas vez que
podem liberar compostos voláteis de natureza básica (trimetilamina, dimetilamina e
amônia voláteis) no estágio de deterioração. Dentre os alimentos, o salmão, por ser um
alimento de alto valor agregado, e possuir as características supracitadas, ao ser
comercializado com embalagens inteligentes contendo indicadores colorimétricos de
antocianinas, facilitam a tomada de decisão dos consumidores em adquirir esse alimento
de forma segura e confiável (ZHANG, X.; LU; CHEN, 2014).

CONCLUSÕES
Indicadores desenvolvidos com EA incorporados na matriz polimérica de AC são
excelente alternativa aos sensores químicos, por serem mais simples, baratos e fáceis de
se empregar na cadeia de alimentos. As diferentes concentrações molares de plastificantes
utilizadas de GLI ou TEC, ocasionaram novas propriedades de alterações de
colorimétrica, em exposição a pH básico e a amônia, essas modificações são devido à
ocorrência de diferentes ligações químicas entre as antocianinas, plastificantes e a matriz
polimérica. Em suma, os indicadores com 7,2 mols de GLI e 1,8 mols de TEC
apresentaram características excelentes para o uso em embalagens inteligentes.
2021 Gepra Editora Barros et al.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 25

AVALIAÇÃO DA CONFORMIDADE DOS RÓTULOS DE QUEIJO


COALHO COMERCIALIZADOS NO MUNICÍPIO DE SOLÂNEA -
PB
RODRIGUES, David Santos
Pós-graduando no Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Agroalimentar
Universidade Federal da Paraíba
david.engalimentos@gmail.com

LOPES, Ranúsia Maria de Melo


Pós-graduanda no Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Agroalimentar 290
Universidade Federal da Paraíba
ranusialopes@gmail.com

LÁFIA, ALIOU TORO


Pós-graduando no Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Agroalimentar
Universidade Federal da Paraíba
zime1990@gmail.com

DANTAS, ALINE CALVACANTI


Pós-graduanda no Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias (Agroecologia)
Universidade Federal da Paraíba
alicdantas188@gmail.com

CARMEM DA SILVA, Emília


Pós-graduanda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Ciência dos Alimentos
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
emythamara@gmail.com

RESUMO

Nos últimos anos as embalagens se tornaram um meio de comunicação entre as indústrias


de alimentos e os seus consumidores. A rotulagem de alimentos tem se mostrado uma
fonte primordial de informações, se transformando em um meio de comunicação entre as
indústrias e os consumidores. No Brasil a rotulagem de alimentos está sob a Resolução
RDC n° 429 de 2020 que define a rotulagem nutricional como sendo aquela que é
destinada a informar ao consumidor todas as propriedades nutricionais do alimento e
compreende a tabela de informação nutricional, a rotulagem nutricional frontal e as
alegações nutricionais. Contudo é necessário se ater as legislações de rotulagem e
verificar se os produtos estão em conformidade. Portanto objetiva-se com este trabalho
avaliar os rótulos de queijos coalhos comercializados na cidade de Solânea-PB no
primeiro trimestre de 2021. O trabalho foi conduzido por meio de visitas em diferentes
estabelecimentos comerciais sendo eles supermercados e mercadinhos e os rótulos
nutricionais dos produtos foram registrados mediante fotografia. Avaliou-se no total 4
marcas diferentes (denominadas de A, B, C, D) de queijo coalho com auxílio da aplicação
de um Checklist contendo 30 itens com os critérios C (conforme), NC (não conforme) e
NA (não se aplica), elaborado com base em algumas das principais legislações vigentes
no Brasil. Os rótulos dos queijos analisados estavam em conformidade com a maioria dos
2021 Gepra Editora Barros et al.

itens, contundo, nota-se que ocorre um descumprimento de algumas legislações para


rotulagem de alimentos de origem animal, para rotulagem de produtos derivados de leite
e de queijos.

PALAVRAS-CHAVE: Legislação, Rotulagem, Embalagem.

INTRODUÇÃO 291

Nos últimos anos as embalagens se tornaram um meio de comunicação entre as


indústrias de alimentos e os seus consumidores. A rotulagem de alimentos tem se
mostrado uma fonte primordial de informações, se transformando em um meio de
comunicação entre as indústrias e os consumidores. Sendo por meio do rótulo que, ao
adquirir um produto industrializado o consumidor verifica a qualidade do produto, os
preços e sua relação com as características do alimento e por motivos de saúde evitam
consumir certos compostos presentes (DOS SANTOS et al., 2020).
A legislação brasileira que fiscaliza e orienta as normas do país é fundamentada
no Codex Alimentarius, que estabelece as diretrizes e normas para a manipulação de
alimentos e também estabelece os padrões e as instruções para segurança alimentar. Já no
brasil os órgãos responsáveis são a Agência de vigilância sanitária (ANVISA), Ministério
da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), Instituto Nacional de Metrologia
(IMETRO) e algumas instituições públicas tais como a casa civil (SOARES e NUNES,
2021).
Os rótulos tem um papel importante na garantia da qualidade dos alimentos, pois
a conformidade das informações depende dos aspectos apresentados pelo alimento. E
sobre isto a Anvisa (2003) determina que “alimentos, produzidos e comercializados,
qualquer que seja sua origem, embalados na ausência do cliente e prontos para serem
oferecidos aos consumidores devem conter no rótulo todas as informações pertinentes ao
produto”.
No Brasil a rotulagem de alimentos está sob a Resolução RDC n° 429 de 2020
que define a rotulagem nutricional como sendo aquela que é destinada a informar ao
consumidor todas as propriedades nutricionais do alimento e compreende a tabela de
informação nutricional, a rotulagem nutricional frontal e as alegações nutricionais. As
informações sobre ingredientes dos produtos, valor nutricional, presença de alergênicos
e quantidades de energia norteiam o consumo e a alimentação das pessoas que adquirem
os alimentos (SOARES e NUNES, 2021).
Ainda segundo a ANVISA (2002) em sua RDC n° 259, de 20 de setembro de 2002
a rotulagem é toda inscrição, legenda, imagem ou toda matéria, descrição ou grafia,
escrita, impressa, estampada, gravada, gravada em relevo ou litografada ou colada sobre
a embalagem do alimento. Entre as legislações de rotulagem dos mais diversos produtos
algumas se dispõem a inspecionar os produtos derivados de leite sendo estas o
Regulamento técnico de qualidade de leite fermentados Instrução Normativa n° 46/2007
2021 Gepra Editora Barros et al.

e o Regulamento técnico de identidade e qualidade de queijos, portaria n° 146/1996. Além


disso se os produtos não estiverem de acordo com as normas da Resolução RDC n.º
12/2001 o leite pode ser considerado impróprio ao consumo (BRASIL, 2002; BRASIL, 1996;
BRASIL, 2007).
Tendo em vista que o leite é uma das mais importantes fontes de nutrientes que
existem no mundo devido ao seu rico conteúdo pois este produto contem em sua
composição integral lipídeos, proteínas, carboidratos e alguns minerais. Atualmente mais
de 1 bilhão de pessoas consumem esse alimento em suas mais diversas formas todos os
dias. Dentre essa inúmera gama de produtos lácteos destacam-se os lácteos frescos, sendo
estes o leite pasteurizado, iogurte, manteiga, o leite em pó e os queijos, entre os queijos o
292
de coalho tem se destacado sendo um produto tradicional e que necessita de uma
fiscalização mais presente (DOS SANTOS et al., 2020; ARAGÃO et al., 2020).
O queijo coalho se caracteriza como sendo um queijo de massa semicozida.
Registram apontam que a sua produção se iniciou em 1850 nos diversos estados da região
nordeste. Nos seus primórdios era comum utilizar o coalho do estômago seco e salgado
para a coagulação do leite que seria usado na produção do queijo. Porém com o avanço
dos conhecimentos enzimáticos é possível adquirir a pepsina e inserir diretamente no leite
(ARAGÃO et al., 2020; CALVACANTE et al., 2007).
De acordo com a Instrução Normativa n°. 30 de 26 de junho de 2001 do MAPA,
o queijo de coalho é o produto obtido através da coagulação do leite, em que se utiliza do
coalho ou outras enzimas, podendo ser complementada ou não pela de adição bactérias
lácteas selecionadas e devem ser comercializados normalmente com até dez dias após sua
fabricação.
Na região nordeste o queijo coalho destaca-se como um dos principais derivados
de leite comercializados. O queijo coalho também é um produto cultural presente nos
costumes da população da região, sendo uma importante fonte de renda para diversas
famílias. A fabricação deste produto ainda é sua maioria realizada por queijarias
artesanais e de forma rústica. Tal fato dificulta a inspeção e o controle por meio de
legislações. Porém é, dessa maneira, que a forma de preparo artesanal é repassada (DE
MELO BARROS et al., 2019).
Contudo é necessário se ater as legislações de rotulagem e verificar se os produtos
estão em conformidade. Portanto objetiva-se com este trabalho avaliar os rótulos de
queijos coalhos comercializados na cidade de Solânea-PB no primeiro trimestre de 2021.

MATERIAL E MÉTODOS

A metodologia do trabalho foi conduzida por meio de visitas em diferentes


estabelecimentos comerciais sendo eles supermercados e mercadinhos e os rótulos
nutricionais dos produtos foram registrados mediante fotografia. Avaliou-se no total 4
marcas diferentes (denominadas de A, B, C, D) de queijo coalho com auxílio da aplicação
de um Checklist figura 1 contendo 30 itens com os critérios C (conforme), NC (não
conforme) e NA (não se aplica), elaborado com base em algumas das principais
legislações vigentes no Brasil, sendo elas:
2021 Gepra Editora Barros et al.

• RDC nº 259/2002: Denominação de vendas, Conteúdo líquido, Lista de


ingredientes, Identificação de origem, Lote, Validade, Data de fabricação, Marca
comercial do produto, Conservação do produto, Nome ou razão social e endereço do
estabelecimento, CNPJ, Sem identificação terapêutica ou informação que induzam ao
erro, Declaração de aditivos alimentares na lista de ingredientes;
• RDC nº 360/2003: Tabela nutricional, Valor energético por porção em Kcal e Kj,
Sódio por porção em (mg), Gorduras totais por porção em (g), Gorduras totais por porção
em (g), Gorduras trans por porção em (g), Gorduras saturadas por porção em (g),
Carboidratos por porção em (g), Proteínas por porção em (g), Fibras alimentares por
porção em (g), Medida caseira;
293
• RDC n° 359/2003: Contém indicação da porção em (mL) ou (g);
• RDC nº 26/2015: Declaração de alergênicos;
• RDC n° 136/2017: Informa se contém a presença de lactose;
• Lei n° 10.674/2003: Expressão “contém glúten” ou “não contém glúten”;
• Instrução Normativa nº 22/2005: Registro no Ministério da Agricultura, Carimbo
Oficial da Inspeção Federal-SIF, Categoria do estabelecimento de acordo com o registro
do mesmo no DIPOA.
 Instrução Normativa nº 22/2005: Aconselhe seu consumo como estimulante, para
melhorar a saúde, para evitar doenças e como ação curativa, atribua efeitos ou
propriedades que não possuam ou não possam ser demonstradas. Destaque a presença ou
ausência de componentes que sejam intrínsecos ou próprios de alimentos de igual
natureza.
Figura 1 - Checklist utilizado na pesquisa de rotulagem.
Legislação
Nº Itens C NC NA correspondente

1. Denominação de vendas RDC n° 259/2002

2. Conteúdo líquido RDC n° 259/2002

3. Lista de ingredientes RDC n° 259/2002

4. Identificação de origem RDC n° 259/2002

5. Lote RDC n° 259/2002

6. Validade RDC n° 259/2002

7. Data de fabricação RDC n° 259/2002

8. Marca comercial do produto RDC n° 259/2002

9. Conservação do produto RDC n° 259/2002


Nome ou razão social e endereço do RDC n° 259/2002
10.
estabelecimento
11. CNPJ RDC n° 259/2002
Sem identificação terapêutica ou informação que RDC n° 259/2002
12.
induzam ao erro
Declaração de aditivos alimentares na lista de RDC n° 259/2002
13.
ingredientes
2021 Gepra Editora Barros et al.

14. Tabela nutricional RDC n° 360/2003


15. Valor energético por porção em Kcal e Kj RDC n° 360/2003

16. Sódio por porção em (mg) RDC n° 360/2003

17. Gorduras totais por porção em (g) RDC n° 360/2003

18. Gorduras trans por porção em (g) RDC n° 360/2003

19. Gorduras saturadas por porção em (g) RDC n° 360/2003

20. Carboidratos por porção em (g) RDC n° 360/2003

21. Proteínas por porção em (g) RDC n° 360/2003 294

22. Fibras alimentares por porção em (g) RDC n° 360/2003

23. Medida caseira RDC n° 360/2003

24. Contém indicação da porção em (mL) ou (g) RDC n° 359/2003


Expressão “contém glúten” ou “não contém Lei n° 10.674/2003
25.
glúten”
26. Declaração de alergênicos RDC n° 26/2015

27. Informa se contém a presença de lactose RDC n° 136/2017

28. Registro no Ministério da Agricultura IN n° 22/2005

29. Carimbo Oficial da Inspeção Federal-SIF IN n° 22/2005


Categoria do estabelecimento de acordo com o IN n° 22/2005
30.
registro do mesmo no DIPOA

Quanto a apuração dos resultados, foram avaliados por meio de análise descritiva
utilizando os valores das porcentagens das irregularidades para cada marca do produto
avaliado e assim tabulados com auxílio do programa Microsoft Excel versão 2019.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a tabulação e análise dos dados os rótulos das marcas de queijo de coalho
apresentaram uma variação nas adequações em relação à legislação de 78,8% a 93,93%.
Estes resultados podem ser vistos na tabela 1.

Tabela 1. Resultados Gerais das Avaliações dos rótulos.


Total de adequações por Marca (%)
A B C D
Conforme 93,93 81,81 78,78 84,84
Não Conforme 6,07 18,19 21,22 15,16
Não Se Aplica 0 0 0 0
Fonte: Autor
Tendo em vista os dados apresentados verificou-se que nenhuma das marcas
submetidas ao checklist está completamente de acordo com as exigências da legislação.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Tal fato pode ser explicado devido à falta de maior rigor na legislação de produtos
regionais, neste caso o queijo coalho. Esses dados estão em sintonia com os encontrados
por Nascimento et al (2017) em trabalho com rotulagem de queijo coalho.

A marca C apresentou o maior indicie de não conformidade entre as marcas


estudadas, alertando para o fato de não possuir nem mesmo data de validade e lote,
estando em desconformidade com a RDC n°. 259/2002 (ANVISA) onde é destacado que
todo rótulo deve ter impresso, gravado ou marcado de qualquer outro modo, uma
indicação em código ou linguagem clara, que permita identificar o Lote a que pertence o
alimento, de forma que seja visível, legível e indelével (BRASIL, 2002). A marca B
295
também não apresentou informações sobre Lote. Resultados semelhantes foram
averiguados por Lira dos Santos et al. (2016), em estudo da rotulagem nutricional de
rótulos de queijo coalho no estado de Pernambuco.

Apenas 25% das marcas estudadas apresentaram o selo de inspeção do ministério


da agricultura SIF. Contudo, algumas marcas continham o registro estadual em seu rótulo.
Resultados semelhantes foram determinados por Nascimento et al (2017). Este fato
comprova a necessidade de uma legislação federal para adequação do queijo coalho.

Vale destacar que nenhuma das marcas apresentaram os aditivos e suas funções
estando totalmente em desacordo com a resolução RDC nº 259/2002 que trata sobre os
aditivos e suas funções. Esse item é de vital importância pois as informações quanto aos
aditivos alimentares norteiam as dietas dos consumidores.

50% das marcas não apresentaram peso líquido do produto no rótulo, estando em
desacordo com a RDC Resolução RDC n°. 22, de 24 de novembro de 2005 (BRASIL,
2005). Nascimento et al (2017) verificaram marcas em desacordo com essa resolução,
fato que corrobora o presente trabalho. Tal resultado se mostra preocupante pois esses
descumprimentos podem acarretar em problemas maiores tais como fraudes.

A figura 1 mostra o gráfico que contém os resultados dos itens do checklist e seus
respectivos percentuais. Nenhuma das marcas estudadas apresentou informações que não
estavam relacionadas ao produto.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 2. Gráfico por itens avaliados.

Conformidades por itens avaliados (%)


Destaque a presença ou ausência de… 100
Atribua efeitos ou propriedades que não… 100
Aconselhe seu consumo como estimulante, para… 100
Categoria do estabelecimento de acordo com o… 25 75
Carimbo Oficial da Inspeção Federal-SIF 25 75
Registro no Ministério da Agricultura 25 75
Informa se contém a presença de lactose
Declaração de alergênicos 100
Expressão “contém glúten” ou “não contém… 100
Medida caseira 100
Contém indicação da porção em (mL) ou (g) 100
296
Fibras alimentares por porção em (g) 100
Proteínas por porção em (g) 100
Carboidratos por porção em (g) 100
Gorduras saturadas por porção em (g) 100
Gorduras trans por porção em (g) 100
Gorduras totais por porção em (g) 100
Sódio por porção em (mg) 100
Valor energético por porção em Kcal e Kj 100
Tabela nutricional 100
Declaração de aditivos alimentares na lista de…0 100
Sem identificação terapêutica ou informação que… 100
CNPJ 100
Nome ou razão social e endereço do… 100
Conservação do produto 50 50
Marca comercial do produto 100
Data de fabricação 100
Validade 75 25
Lote 50 50
Identificação de origem 100
Lista de ingredientes 100
Peso líquido 50 50
Denominação de vendas 100
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Total Conforme Total Não conforme Total Não se aplica

Fonte: Autor.

50% das marcas não apresentaram a forma correta de conservação do produto


marcas que apresentaram a falta desse item também foram encontradas nos trabalhos de
Lira dos Santos et al. (2016) e Nascimento et al (2017), os autores também atinam para a
falta de uma legislação específica, o que pode ocasionar o surgimento de fraudes, doenças
alimentares e prejuízos dos mais diversos.

CONCLUSÕES

Os rótulos dos queijos analisados estavam em conformidade com a maioria dos


itens, contundo, nota-se que ocorre um descumprimento de algumas legislações para
rotulagem de alimentos de origem animal, para rotulagem de produtos derivados de leite
e de queijos. Existem claramente a necessidade de uma fiscalização mais severa sem
perdas econômicas, tendo em vista que sendo um produto artesanal é fonte de renda para
2021 Gepra Editora Barros et al.

diversas famílias, mas deve-se buscar a segurança do consumidor e as informações nas


embalagens quando confiáveis constroem uma ponte entre as indústrias e a sociedade.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 26

AVALIAÇÃO DA ROTULAGEM DE MORTADELAS


COMERCIALIZADAS EM SANTA LUZIA-PB

SANTOS, Edilayane da Nóbrega


Pós-graduanda em Ciência dos Alimentos
Universidade Federal de Lavras
edilayane.santos@estudante.ufla.br

ANDRADE, Bruna Fernandes


Pós-graduanda em Ciência dos Alimentos
Universidade Federal de Lavras 299
bruna.andrade4@estudante.ufla.br

SANTOS, Elidayane da Nóbrega


Pós-graduanda em Fitotecnia
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
dayane-nobrega@outlook.com

RAMOS, Alcinéia de Lemos Souza


Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Universidade Federal de Lavras
alcineia@ufla.br

RAMOS, Eduardo Mendes


Doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Universidade Federal de Lavras
emramos@ufla.br

RESUMO

A mortadela é um produto cárneo bastante popular na mesa do consumidor brasileiro. As


informações contidas nos rótulos dos alimentos devem ser claras, fidedignas e atender o
que estabelece à legislação vigente. Desta forma, objetivou-se avaliar os rótulos de
diferentes marcas de mortadelas comercializadas no município de Santa Luzia-PB. As
buscas foram realizadas no comércio local, foram selecionadas 6 marcas distintas de
mortadelas (A, B, C, D, E e F) para realização da pesquisa. Inicialmente o produto foi
avaliado em relação à lista de ingredientes, informações nutricionais e conformidade dos
rótulos perante aplicação de um Checklist. Na lista de ingredientes foi observado a
presença de diversos aditivos que contêm sódio em sua composição. As marcas C, D e E
apresentaram não conformidades em seus rótulos que foram em relação à denominação
de venda e a lista de ingredientes. A partir das falhas identificadas, após avaliação da
conformidade dos rótulos das mortadelas, verifica-se que há falhas perante às exigências
da legislação vigente, o que mostra a necessidade de maior fiscalização neste setor.

PALAVRAS-CHAVE: Embutidos, Legislação, Rótulos de alimentos.


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INTRODUÇÃO

A rotulagem de alimentos é um ponto determinante na comercialização de


alimentos embalados, pois além de ser obrigatória também atua na comunicação entre
produto e consumidor, influenciando diretamente nas escolhas alimentares no momento
da compra (CORRÊA et al., 2019). Os rótulos dos alimentos exercem um importante
papel e visa informar ao consumidor sobre a qualidade e a quantidade dos componentes
nutricionais do produto (MARTÍNEZ-ÁVILA et al., 2018). Os rótulos fornecem
informações importantes que auxiliam nas escolhas e decisão de compra por parte do
consumidor, podendo contribuir para preservação da saúde do indivíduo (SILVESTRE et
al., 2015). 300
De acordo com a Resolução RDC nº 259 de 20 de setembro de 2002 da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o rótulo é definido como sendo toda
inscrição, legenda e imagem ou, toda matéria descritiva ou gráfica que esteja escrita,
impressa, estampada, gravada ou colada sobre a embalagem do alimento (BRASIL,
2002).
A mortadela é um produto bastante popular na mesa do brasileiro, tornando-se um
dos produtos cárneos mais consumidos do Brasil (FERRAZ, 2010). Sua demanda atinge
todas as classes sociais e faixas etárias, devido principalmente às suas características
particulares e preço acessível, quando comparado com outros embutidos como o salame
e presunto, por exemplo (SILVESTRE et al., 2015). O Regulamento Técnico de
Identidade e Qualidade da mortadela é estabelecido através da Instrução Normativa N° 4
de 31 de Março de 2000 a qual traz informações quanto a definição, caracterização,
denominação de venda e parâmetros físico-químicos, sensoriais e microbiológicos do
produto.
Devido a vida agitada da atualidade, o consumo de alimentos práticos, rápidos e de
fácil preparo tem sido frequente, o que inclui alimentos processados como a mortadela,
que é um produto bastante comum nos pontos de vendas de alimentos, o que implica em
maior necessidade de fiscalização (ARAÚJO, 2017; SANTOS et al., 2020).
Considerando a importância da rotulagem de alimentos e o grande consumo de
mortadelas no Brasil, objetivou-se avaliar os rótulos de diferentes marcas de mortadelas
comercializadas no município de Santa Luzia-PB.

MATERIAL E MÉTODOS

A partir das buscas realizadas no comércio local do município de Santa Luzia-


Paraíba, foram selecionadas 6 marcas distintas de mortadelas (A, B, C, D, E e F) para
realização da pesquisa. As informações foram obtidas por meio de fotos dos rótulos dos
produtos que foram tiradas em diferentes supermercados da cidade.
Inicialmente o produto foi avaliado em relação à lista de ingredientes e informações
nutricionais. Para avaliação da conformidade da rotulagem das mortadelas o Checklist
utilizado foi baseado nas principais resoluções que regem a rotulagem de alimentos no
Brasil. Dentre os parâmetros constantes nas resoluções, foram escolhidos 15 itens
(Quadro 1) para análise dos rótulos.
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Quadro 1– Checklist utilizado na avaliação dos rótulos das mortadelas.

5 Itens C NC NA Legislação

RDC 259/2002
1. Denominação de venda

RDC 259/2002
2. Marca

RDC 259/2002
3. Peso líquido

RDC 259/2002 301


4. Identificação de origem

IN n° 22/2005
5. Carimbo do Serviço de Inspeção Federal – SIF

RDC 259/2002
6. Dados do fabricante

RDC 259/2002
7. Lista de ingredientes

RDC 259/2002
8. Tabela nutricional

RDC
9. Modo de conservação antes e após aberto 259/2002

Identificação do lote RDC 259/2002


10.

RDC 259/2002
11. Validade

RDC 360/2003
12. Sódio por porção em miligramas (mg)

Expressão "Contém Glúten" ou "Não Contém Lei n°


13. Glúten"? 10.674/2003

Informação dos principais alimentos que RDC n° 26/2015


14. causam alergias alimentares

RDC n° 136/2017
15. Informa se contém a presença de lactose

C: Conforme; NC: Não conforme; NA: Não se aplica. Fonte: própria do autor (2021).

Para análise dos rótulos foram consultadas as seguintes resoluções: RDC nº


259/2002 que dispõe o regulamento técnico sobre rotulagem de alimentos embalados, a
RDC nº 360/2003 que dispõe o regulamento técnico sobre rotulagem nutricional de
alimentos embalados, a RDC n° 359/2003 que dispõe o regulamento técnico sobre
rotulagem de alimentos embalados, a RDC nº 26/2015 que dispõe sobre requisitos para
rotulagem obrigatória dos principais alimentos que causam alergias alimentares, a RDC
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n° 136/2017 que dispõe sobre a presença de lactose nos rótulos alimentares e a Lei n°
10.674/2003 que dispõe sobre a presença ou ausência de glúten, como medida preventiva
e de controle da doença celíaca e IN nº 22/2005 que dispõe sobre o regulamento técnico
para rotulagem de produto de origem animal embalado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Lista de ingredientes das marcas avaliadas


302
As mortadelas avaliadas apresentaram diferenças em sua composição, como pode
ser observado na Tabela 1.

Tabela 1. Lista de ingredientes das mortadelas avaliadas.


Marca Ingredientes

A Carne mecanicamente separada de ave, gordura suína, carne da ave, pele suína, amido,
proteína de soja, água, sal, miúdos suínos, carne suína, açúcar, regulador de acidez lactato
de sódio, aromatizantes, aromas naturais de carne, pimenta preta, pimenta vermelha,
fumaça, aromas idênticos aos naturais de cardamomo e noz-moscada, estabilizantes
tripolifosfato de sódio e pirofosfato dissódico, antioxidante isoascorbato de sódio e
conservador nitrito de sódio.
B Carne mecanicamente separada de ave (frango e/ou galinha e/ou peru), gordura suína,
pele suína, amido, carne suína, proteína de soja, água (3,49%), sal, miúdos suínos (pode
conter fígado, língua, rim e/ou coração), açúcar, pele de ave (frango e/ou galinha e/ou
peru), alho, aromatizantes: aromas naturais de carne, pimenta preta, capsicum, noz
moscada e aromas idênticos aos naturais de alho, canela, cardamomo e coentro,
estabilizantes: tripolifosfato de sódio e pirofosfato dissódico, realçador de sabor:
glutamato monossódico, antioxidante: isoascorbato de sódio, corante: carmim de
cochonilha, conservador: nitrito de sódio.
C Carne mecanicamente separada de aves carne de aves, água (10%), pele de aves, fígado de
aves, amido, proteína de soja (3,67%), regulador de acidez: lactato de sódio, sal, açúcar,
soro de leite, estabilizantes (tripolifosfato de sódio e pirofosfato ácido de sódio),
antioxidante: eritorbato de sódio, conservante: nitrito de sódio, especiarias naturais
(cebola, coentro, pimenta vermelha e alho), corante: carmim de cochonilha, aromas
naturais (fumaça, pimenta vermelha, noz moscada, alho, cravo e canela) e dióxido de
silício.
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D Carne mecanicamente separada de aves (frango), água (8,0%), carne de frango, pele de
frango, amido (4,9%), gordura suína, proteína de soja (Agrobacterium tumefaciens) (3,9%),
carne mecanicamente separada de suíno, miúdo de suíno coração, sal, dextrose, açúcar,
alho, regulador de acidez: lactato de sódio, estabilizantes tripolifosfato de sódio e
pirofosfato ácido de sódio antioxidante eritorbato de sódio, conservadores nitrito de sódio
e nitrato de sódio, aromatizantes (pimenta, cardamomo, coentro, noz moscada e sálvia) e
acidulante ácido cítrico.

E Carne mecanicamente separada de frango, carne de frango água (9%), pele de frango,
303
fécula de mandioca (5%), gordura suína, proteína de soja (Agrobacterium tumefaciens e
Bacillus thuringiensis) (3%), sal, miúdos de frango (fígado), proteína de colágeno bovina,
açúcar, especiarias (alho em pó, cebola em pó, coentro em pó, pimenta branca em pó),
aromatizantes (coentro, alho, pimenta vermelha, pimenta preta, cardamomo e páprica),
regulador de acidez lactato de sódio (INS 325), estabilizante tripolifosfato de sódio (INS
451), antioxidante eritorbato de sódio (INS 316), realçador de sabor glutamato
monossódico (INS 621), conservantes nitrito de sódio (INS 250) e inosinato de dissódico
(INS 631) e guanilato dissódico (INS 627).

F Carne mecanicamente separada de ave (frango), carne de frango, pele de frango, água
(10,34%), fécula de mandioca, proteína de soja (3,44%), cloreto de sódio (sal), açúcar,
especiarias: noz moscada e pimenta calabresa, regulador de acidez: lactato de sódio,
estabilizantes: tripolifosfato de sódio e pirofosfato tetrassódico, antioxidante: eritorbato
de sódio, conservante: nitrito de sódio e aromas naturais: alho, fumaça, pimenta preta, noz
moscada e coentro.

O consumo desses alimentos industrializados, como a mortadela, cresceu


expressivamente nos últimos anos devido principalmente à sua praticidade. Atrelado a
isso, a presença de ingredientes com alto teor de sódio, elevado conteúdo de gorduras,
alto valor energético e presença de variados aditivos são comuns nessa categoria de
alimentos, como observado para as mortadelas.
Para todas as marcas, a matéria-prima utilizada foi a carne mecanicamente separada
(CMS) de diferentes espécies de animais de açougue (ave, suíno), o que variou de acordo
com o tipo de mortadela produzida.
Todas as marcas utilizaram água como ingrediente, gordura saturada, amido,
proteína de soja e diferentes aditivos alimentares como regulador de acidez, aromatizante,
estabilizante, realçador de sabor e conservantes. Algumas marcas utilizaram aromas de
fumaça quando a mortadela era defumada. Apenas as marcas B e C utilizaram corante
que foi o corante carmim de cochonilha. Cada ingrediente apresenta uma função distinta
e importante, onde sua redução ou ausência pode implicar em defeitos no produto e
consequente rejeição por parte dos consumidores. Desta forma, pode-se destacar as
2021 Gepra Editora Barros et al.

funções dos principais ingredientes utilizados na elaboração das mortadelas, com exceção
dos aditivos (pois já têm suas funções especificadas).
A gordura é utilizada para conferir melhor sabor, textura, maciez, estabilidade e
suculência ao produto (RESOSEMITO et al., 2021). O sal é utilizado para solubilizar as
proteínas miofibrilares, que são intrínsecas da carne e auxiliam na formação da emulsão
e aumenta a capacidade de retenção de água (CRA), o que implica em maior rendimento
do produto, além de contribuir para melhorar o sabor e textura (SILVESTRE et al., 2015).
A fécula de mandioca ou amido, junto com a água, são utilizados para formar uma
consistência gelatinosa, o que promoverá um produto com emulsão mais homogênea e
melhor a CRA (FELISBERTO et al., 2015). A proteína de soja promove uma melhorar
304
textura, maciez, sabor, aumento da CRA e emulsificação da gordura e é utilizada, em
produtos cárneos, com a finalidade de substituir ou complementar as proteínas da carne,
reduzindo os custos de produção (OLIVEIRA, 2020). Já os condimentos, têm o potencial
de melhorar ou ressaltar as características sensoriais dos produtos, como também podem
auxiliar na preservação dos mesmos (COSTA et al., 2021).

Presença de aditivos que contém sódio na formulação das marcas avaliadas

Considerando a presença de muitos aditivos que contêm sal em sua composição e a


demanda do consumidor por alimentos mais saudáveis, com reduzido teor de sódio, foi
feita a observação da frequência desses aditivos nas diferentes marcas, como exposto na
Tabela 2.

Tabela 2. Presença dos principais aditivos que contêm sódio nas 6 marcas de mortadelas avaliadas.
Nome do aditivo Função do aditivo Presença por Marcas

Lactato de sódio Regulador de Acidez A, B, C, D, E, F

Tripolifosfato de sódio Estabilizante A, B, C, D, E, F

Pirofosfato dissódico Estabilizante A, B, C, D, F

Glutamato monossódico Realçador de Sabor B, E

Isoascorbato de sódio Antioxidante A, B

Eritorbato de sódio Antioxidante C, D, E, F

Nitrito de sódio Conservante A, B, C, D, E, F

Nitrato de sódio Conservante D

Inosinato de dissódico Conservante E

Guanilato dissódico Conservante E

A maior ingestão de sódio na alimentação se dá através do Cloreto de sódio (Sal


comum) que apresenta cerca de 40% de sódio (SOUZA et al., 2020). No entanto, diversos
2021 Gepra Editora Barros et al.

aditivos, contendo este mineral, são utilizados na indústria de alimentos para conferir
características particulares, bem como aumentar a vida de prateleira dos produtos.
Foram identificados 11 aditivos, que contêm sódio em sua composição, na lista de
ingredientes das marcas de mortadelas avaliadas. Todas as marcas apresentaram pelo
menos 3 aditivos que contêm sódio na sua formulação. Conforme relatado por Souza et
al. (2020), o sódio é um mineral que está associado diretamente com incidência de
hipertensão arterial, o que o torna um problema de saúde pública.
As 6 marcas continham a presença do lactato de sódio, tripolifosfato de sódio e
nitrito de sódio. Estes são ingredientes essenciais em produtos emulsionados como a
mortadela, pois atuam na manutenção da estabilidade da emulsão e conservando o
305
produto. Dentre os conservantes utilizados, o nitrato de sódio foi encontrado apenas na
marca D. Já a mortadela da marca E tinha a presença dos conservantes inosinato de
dissódico e guanilato dissódico.
Oliveira et al. (2021), ao avaliar o teor de sódio declarado na rotulagem nutricional
de embutidos emulsionados, como salsichas e mortadelas, verificaram a maior frequência
dos aditivos nitrito de sódio, o eritorbato de sódio e o glutamato monossódico na lista de
ingredientes destes produtos.

Informação nutricional das marcas avaliadas

A informação nutricional das diferentes marcas de mortadelas avaliadas estão


dispostas na Tabela 3.

Tabela 3. Informações nutricionais das mortadelas avaliadas.

INFORMAÇÃO NUTRICIONAL
Porção de 40 g

Quantidade por Porção

A B C D E F
88 kcal = 117 kcal = 95 kcal = 74 kcal = 94 kcal = 109 kcal =
Valor energético 370 kJ 491 kJ 397 kJ 312 kJ 390 kJ 452 kJ
Carboidratos 2,7 g 3,2 g 2,0 g 2,4 g 2,8 g 2,0 g
Proteínas 4,8 g 4,9 g 4,8 g 5,6 g 5,1 g 5,0 g
Gorduras totais 6,4 g 9,4 g 8,0 g 4,7 g 6,9 g 9,0 g
Gorduras
2g 3,2 g 1,6 g 1,2 g 2,1 g 4,0 g
saturadas
Gorduras trans 0g 0g 0g 0g 0g 0g
Fibra Alimentar 0g 0,6 g -- 0g 0g 0g
Sódio 562 mg 540 mg 375, 2 mg 402 mg 522 mg 210 mg
2021 Gepra Editora Barros et al.

Com relação a informação nutricional das diferentes marcas de mortadelas


avaliadas, observa-se que o conteúdo calórico variou de 74 a 117 Kcal, sendo os valores
referentes as marcas D e B, respectivamente.
Os valores de carboidrato variaram de 2,0 a 3,2 g. O teor de proteínas variou de 4,8
a 5,6 g. O conteúdo de gorduras foi o que mais variou, apresentando valores de 4,7 a 9,4
g para as marcas de mortadela D e B, respectivamente. Esta variação no teor lipídico pode
ser associada às diferentes fontes de gorduras presentes nas formulações das mortadelas
(gordura de ave, gordura suína, etc.), uma vez que os lipídeos fornecem 9 Kcal/g e o teor
de gordura varia conforme o tipo de gordura utilizada.
O teor de sódio apresentou valores de 210 a 562 mg para as marcas F e A,
306
respectivamente. Esta diferença pode ser associada à matéria-prima e aos ingredientes
utilizados na elaboração das mortadelas, uma vez que a mortadela da marca F era à base
de carne de ave (frango) e a da marca A era mista (carne de ave e de suíno).
Segundo Nascimento (2017), o uso de elevados teores de cloreto de sódio pela
indústria de alimentos é justificado pela funcionalidade desse ingrediente na fabricação
de produtos cárneos, como sua atuação na extração das proteínas miofibrilares, agente
conservante e promotor de sabor.

Avaliação das conformidades dos rótulos das marcas avaliadas

As diferentes marcas de mortadelas foram avaliadas quanto à conformidade das


informações contidas nos rótulos, conforme exposto no Gráfico 1.

Gráfico 1. Resultado da avaliação das conformidades dos rótulos de mortadela.

C: Conforme; NC: Não conforme; NA: Não se aplica.

Foram avaliados 15 itens nas 6 marcas de mortadelas. Das marcas avaliadas, apenas
as marcas A, B e F encontram-se dentro dos padrões exigidos pela legislação brasileira
2021 Gepra Editora Barros et al.

vigente. As 6 marcas apresentaram 1 item que não se aplica, que foi com relação a
presença de lactose (item 15 do Quadro 1), estando de acordo com o estabelecido na
legislação.
As marcas C, D e E apresentaram não conformidades em seus rótulos. As marcas
C e D apresentaram a mesma falha, que foi com relação a denominação de venda do
produto que não estava de acordo com o que a legislação exige (item 1 do quadro 1). No
caso, as mortadelas eram de carne de ave e não estavam denominadas da forma correta.
A marca E apresentou-se não conforme com relação à lista de ingredientes (item 7
do quadro 1), onde não apresentou a expressão “ingredientes:” ou “ingr.:” antes de listar
os mesmos.
307
Santos et al. (2020), ao avaliar os rótulos de produtos de origem animal,
encontraram resultado similar ao obtido no presente estudo, onde das quatros marcas de
mortadelas avaliadas, duas delas apresentaram não conformidades quanto a denominação
de venda do produto.

CONCLUSÕES

A legislação brasileira tem regulamento específico para mortadela. Na lista de


ingredientes observa-se a presença de diversos aditivos que contêm sódio em sua
composição. A partir da avaliação da conformidade dos rótulos das mortadelas, verifica-
se que há falhas perante às exigências da legislação vigente para rotulagem de alimentos,
o que mostra a necessidade de maior fiscalização neste setor.

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Capítulo 27

AVALIAÇÃO DAS BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO EM


PIZZARIA SITUADA NO MUNICÍPIO DE POMBAL – PB

SOUZA, Thamirys de Luna


Graduanda em Engenharia de Alimentos
Universidade Federal de Campina Grande – UFCG
thamirys_luna@hotmail.com

EVANGELISTA, Maria Ester Maia


Graduanda em Engenharia de Alimentos
310
Universidade Federal de Campina Grande – UFCG
estermaiamaiatm@hotmail.com

ARAUJO, Alfredina dos Santos


Docente/Pesquisadora do CCTA/UFCG
Universidade Federal de Campina Grande – UFCG
alfredinad@yahoo.com.br

RESUMO

Nos últimos anos, observou-se o crescimento de variados serviços de alimentação,


especialmente pizzarias. Consequentemente, acarretando um maior desenvolvimento das
doenças transmitidas por alimentos (DTA) e, portanto, resultando na indispensabilidade
da aplicação das Boas Práticas de Fabricação (BPF), afim de produzir alimentos seguros
e atender as legislações brasileiras. Dessa forma, este estudo de caráter descritivo,
objetivou a avaliação das BPF em uma pizzaria localizada no município de Pombal –PB.
Para a coleta dos dados foi utilizado a lista de verificação (check-list), que tem como base
a resolução RDC Nº 216/2004 disponibilizado na Resolução RDC Nº 275/2002, nos quais
analisaram os módulos: I-Edificações e Instalações; Equipamentos, II- Móveis e
Utensílios; III- Manipuladores; IV- Produção e Transporte dos alimentos e V-
Documentação. A lista de verificação permitiu a classificação do estabelecimento:
GRUPO 1 (76 A 100% de atendimento dos itens), GRUPO 2 (51 a 75% de atendimento
dos itens) e GRUPO 3 (0 a 50% de atendimento dos itens). Conforme, os resultados
adquiridos, apresentou alto nível de inconformidades variando entre (57,14% a 100%) e
baixo nível de conformidade entre (0% a 42,85%) resultando-se na classificação geral do
estabelecimento GRUPO III. Conclui-se, a necessidade de se adequar as legislações
vigente aplicando as boas práticas para garantir um alimento seguro e a segurança do
cliente.

PALAVRAS-CHAVE: Alimento seguro, Doenças transmitidas por alimentos, Lista de


verificação.
2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

Com a globalização e mudanças nos hábitos alimentares, as pessoas ficaram mais


predispostas a ocorrências de Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs), gerando um
grande problema de saúde pública que vem se tornando mais frequente no mundo
contemporâneo. Essas doenças são uma importante causa de morbidade e mortalidade em
todo o mundo e segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima-se que a cada
ano, causem o adoecimento de uma a cada 10 pessoas (MURLIKI, 2018; BRASIL, 2019).
Junto com a crescente demanda pela alimentação rápida, cresceu também a
incidência de doenças relacionadas aos alimentos contaminados, ocorridas pela baixa
condição higiênico-sanitária da manipulação dos alimentos e de seus manipuladores 311
(JORGE, 2018). Entretanto, não é apenas as DTAs responsáveis por causar prejuízos à
segurança alimentar, deve-se ter atenção também quanto aos riscos físicos e químicos
implicados em todo o processo de fabricação, manipulação, estocagem e fornecimento
dos alimentos (SEBRAE, 2018).
Conforme dados disponíveis pelo Ministério da Saúde (2019), em 2018 foram
detectados 597 casos de surtos alimentares, com 8.406 doentes, 916 hospitalizados e 9
óbitos. Considerando que a qualidade não é mais um diferencial e sim uma necessidade
dos estabelecimentos para uma produção e comercialização de alimentos seguros, torna-
se indispensável a adoção de práticas de higiene e manipulação adequadas, aplicando
medidas de controle preventivas em todas as etapas do processo produtivo e capacitação
técnica dos profissionais, garantindo a segurança e qualidade dos alimentos e,
consequentemente, a confiança do consumidor. Logo, as normas sanitárias devem ser
aplicadas e cumpridas, independente da atuação de órgãos fiscalizadores (MOTA et al.,
2019).
Com o objetivo de garantir a qualidade sanitária dos alimentos, em setembro de
2004 entrou em vigência no Brasil a Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 216, do
Ministério da Saúde, que dispõe sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas para Servi-
ços de Alimentação (BRASIL, 2004). E com intuito de certificar a implantação da
legislação, utiliza-se frequentemente a lista de verificação disponível pela RDC nº 275,
de 21 de outubro de 2002 (BRASIL, 2002).
Neste seguimento, tendo conhecimento da facilidade de os alimentos serem
contaminados durante toda sua cadeia de produção, por variáveis microrganismos,
utensílios e equipamentos, pelos próprios manipuladores e o ambiente de manipulação,
objetivou-se aplicar uma lista de verificação em uma pizzaria, no Município de Pombal-
PB.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Serviços de alimentação
Os hábitos alimentares dos brasileiros vêm apresentando mudanças com o
decorrer do tempo. Algumas justificativas são o aumento da população urbana, indicador
de aumento de carga horária de trabalho do cidadão brasileiro, do indicador de
2021 Gepra Editora Barros et al.

escolaridade, do poder de compra, das mulheres no mercado de trabalho, do


envelhecimento da população, entre outros, modificando diretamente as percepções e,
consequentemente, as preferências e as escolhas do que será consumido (FERREIRA et
al., 2020).
Segundo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, 2018) e Brasil
(2004), os estabelecimentos classificados como serviços de alimentação são
estabelecimentos que realizam algumas das seguintes atividades: manipulação,
preparação, fracionamento, armazenamento, distribuição, transporte, exposição à
venda e entrega de alimentos preparados ao consumo, tais como cantinas, bufês,
comissárias, confeitarias, cozinhas industriais, cozinhas institucionais, delicatéssens,
312
lanchonetes, padarias, pastelarias, restaurantes, rotisserias e congêneres. Estes serviços
devem ser previamente licenciados pela autoridade sanitária competente, mediante a
expedição de licença ou alvará sanitário para liberação da produção de alimentos.
Com o aumento do consumo de alimentos fora das residências, especialmente em
serviços de alimentação, ocorreu um aumento das DTAs que podem ser caracterizados
pela ingestão de água ou alimentos contaminados por microrganismos patogênicos
(MAIA, 2017).

Doenças transmitidas por alimentos (DTAs)


Segundo o Ministério da Saúde, existem mais de 250 tipos de DTA no mundo,
sendo que a maioria delas são infecções causadas por contaminantes biológicos. Isso
ocorre em função dos micro-organismos estarem presentes por toda a natureza, incluindo
as matérias-primas, área de preparo, manipuladores, etc. Os fatores externos, como
temperatura e umidade também influenciam na proliferação dos micro-organismos
contaminantes (ASSIS, 2017; BRASIL, 2019).
As doenças transmitidas por alimentos (DTAs) estão relacionadas com a ingestão
de alimentos e/ou água contaminados por microrganismos, podendo ser bactérias, vírus,
parasitas, toxinas, príons, agrotóxicos, substâncias químicas e metais pesados (BRASIL,
2019). Além disso, as DTAs, por meio dos agentes etiológicos são responsáveis por
causar surtos como infecção, toxinfecção e intoxicação em mais de um indivíduo, após
consumirem um alimento contaminado (DRAEGER, 2018).
Ao que se refere a primeira categoria, infecção, é provocada pela ingestão de
alimentos contaminados com microrganismos patogênicos, ocorrendo assim, a
multiplicação do agente no hospedeiro. Já a categoria subsequente, toxinfecção, é
provocada por microrganismos chamados toxigênicos, que liberam toxinas quando se
multiplicam, esporulam ou sofrem lise. Por fim, a terceira categoria, refere-se à
intoxicação, que é causada pelo consumo de alimentos contaminados por toxinas
produzidas fora do hospedeiro, resultantes do desenvolvimento de microrganismos nos
alimentos (HAUSCHILDT, 2014; DRAEGER, 2018).
Entretanto, as DTAs podem ser evitadas a partir do momento da preparação dos
alimentos utilizando as BPF, prevenindo as contaminações cruzadas, realizando a
higienização correta para cada tipo de alimento e esperando o tempo certo de cocção para
evitar alimentos malcozidos. Após o preparo o alimento deve ser armazenado em local
adequado e em temperaturas que não possibilitem o crescimento de microrganismos.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Também é importante que os manipuladores sejam treinados com as BPF para evitar
contaminações (SILVA, 2017).

Boas práticas de fabricação (BPF)


A resolução RDC nº 216 de 2004, define as Boas Práticas de Fabricação, como
procedimentos que devem ser adotados por serviços de alimentação a fim de garantir a
qualidade higiênico sanitária e a conformidade dos alimentos com a legislação sanitária
(BRASIL, 2004).
A legislação inclui regulamentações para edificação, instalações, equipamentos,
móveis e utensílios; higienização de instalações, equipamentos, móveis e utensílios;
313
controle integrado de vetores e pragas urbanas; abastecimento de água; manejo de
resíduos; manipuladores; matérias primas, ingredientes e embalagens; preparação do
alimento; armazenamento e transporte do alimento preparado; exposição ao consumo do
alimento preparado, documentação e registro e responsabilidade (BRASIL, 2004).
Para garantir que as BPF estão sendo desenvolvidas de forma apropriada, foi
elaborada pela ANVISA, a RDC nº 275, de 21 de outubro de 2002, que dispõe sobre o
Regulamento Técnico de Procedimentos Operacionais Padronizados aplicados aos
estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos e a lista de verificação das
BPF em estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos (BRASIL, 2002;
FERREIRA, 2020).
Nesse contexto, a implantação das boas práticas nos serviços de alimentação tem
como papel essencial adequar os estabelecimentos às exigências da ANVISA, direcionar
toda a sua estrutura, funcionamento e produtos às conformidades higiênico-sanitários, a
fim de garantir a segurança dos alimentos e a inocuidade e satisfação aos consumidores
(BUZINARO; GASPAROTTO, 2019).

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo refere-se a uma pesquisa de caráter descritivo com o intuito de verificar


as BPF em uma pizzaria do município de Pombal-PB, analisando os manipuladores e o
local que fornece alimentos aos clientes.
A pesquisa iniciou com uma visita técnica feita no estabelecimento, observando
as condições higiênico sanitário, durante a manipulação dos alimentos e na estrutura
física. Para coleta de dados, foi executado uma entrevista com os proprietários e os
funcionários que trabalham no local.
A pizzaria trabalha com variados sabores de pizza, onde para o presente estudo,
foi utilizado como ferramenta de pesquisa, a lista de verificação baseado na Resolução
RDC nº 216, de 15 de setembro de 2004, fornecido pela Resolução RDC nº 275, de 21 de
outubro de 2002, que se refere a um método descritivo para verificar as BPF em
estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos.
A lista de verificação é composta por 93 itens, dividindo-se nos seguintes pontos:
I- Edificações e instalações; II- Equipamentos, moveis e utensílios; III- Manipuladores;
IV- Produção e transporte do alimento; V- Documentação. Em cada ponto, a ficha de
2021 Gepra Editora Barros et al.

verificação abordou vários subitens, classificados como SIM (conforme) e NÃO (não
conforme), onde é atribuído pontuações em porcentagem conforme a quantidade de itens
analisados.
Posteriormente, com os dados coletados, estes foram examinados e calculados no
programa Microsoft Office Excel 2013, apresentados em percentagem em cada item
analisado. Para a avaliação geral foi utilizada a classificação do estabelecimento descrito
na RDC nº 275 (BRASIL, 2002), em que GRUPO 1 (76 A 100% de atendimento dos
itens), GRUPO 2 (51 a 75% de atendimento dos itens) e GRUPO 3 (0 a 50% de
atendimento dos itens).
314

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na (Figura 1), encontra-se a classificação de conformidade de cada módulo:

Figura 1. Quantificação dos itens conformes e não conformes em cada um dos módulos observados.

120
100
100
80,95 78,78
80
67,53
57,14
60
42,85
40 32,46
19,04 21,21
20
0
0
Edificações e Equipamentos, Manipuladores Produção e Documentação
Instalações Móveis e Transporte do
utensílios alimento
% Itens conformes % Itens não conformes

Fonte: Dados do estudo (2021).

Edificações e instalações
Neste módulo, pode-se verificar que obteve 67,53% de não conformidade. Isto se
deve ao fato de que, primeiramente, o estabelecimento localiza-se no centro da cidade de
Pombal-PB, com imenso trafego, acumulando sujeira e fumaça para área externa do local,
onde entra em contato com os consumidores e o próprio alimento.
Na área interna observou objetos em desuso, o teto e piso foram encontrados com
inadequado estado de conservação, não lisos, irresistentes e impermeáveis, sem sistema
de drenagem, ralos sifonadas e grelhas, com acúmulo de resíduo, trincas, rachaduras e
descascamento, ausência de ângulos abaulados entre teto e parede e parede e piso, portas
em condições inapropriadas com falhas de revestimento, sem fechamento automático,
janelas sem proteção contra insetos, pragas e vetores, instalações sanitárias e vestiários
localizados na mesma área de produção e não independentes para cada sexo, contato
2021 Gepra Editora Barros et al.

direto da área de processamento com a área externa, sendo necessário a construção de


uma parede, ausência de lixeiras com tampas e com acionamento não manual,
inexistência de registros de manutenção e higienização dos equipamentos que permitem
circulação de ar, ausência de filtros nos exaustores, inexistência de registros regularizados
pelo Ministério da Saúde, produtos e utensílios de higienização localizados em locais
inadequados e ausência de higienização dos reservatórios de água.
Em relação as conformidades, as paredes obtiveram em bom estado de conservação com
acabamento liso e impermeável, coleta de lixo frequente, presença de lavatórios para os
manipuladores, iluminação, ventilação e instalações elétricas adequadas e frequência de
higienização nas instalações.
315
Dessa forma, a edificação e as instalações devem ser projetadas de forma a
possibilitar um fluxo ordenado e sem cruzamentos em todas as etapas da preparação de
alimentos e a facilitar as operações de manutenção, limpeza e, quando for o caso,
desinfecção. O acesso às instalações deve ser controlado e independente, não comum a
outros usos. O piso, parede e teto devem possuir revestimento liso, impermeável e lavável.
As portas e as janelas devem ser mantidas ajustadas aos batentes. As portas da área de
preparação e armazenamento de alimentos devem ser dotadas de fechamento automático
(BRASIL, 2004).

Equipamentos, móveis e utensílios


Neste módulo, obteve menor nível de conformidade, pois os equipamentos estavam
fora da linha de produção, dificultando a higienização, com superfícies não lisas, presença
de umidade e corrosão. Além disso, ausência de registros de calibração, temperatura dos
equipamentos e manutenção, utensílios localizados em locais inapropriados, higienização
inapropriada dos equipamentos e ausência de registros de higienização. Os móveis,
diferentemente, apresentaram material resistente, apropriados, impermeáveis, com
superfícies integras, em bom estado de conservação e de fácil limpeza.
Os equipamentos, móveis e utensílios da pizzaria são de materiais que ao entrar em
contato com alimentos, não transmitam substâncias tóxicas, odores, nem sabores aos
mesmos, conforme estabelecido em legislação específica (BRASIL, 2004). Logo, devem
ser mantidos em adequando estado de conservação e ser resistentes à corrosão e a
repetidas operações de limpeza e desinfecção. As superfícies devem ser lisas,
impermeáveis, laváveis e estar isentas de rugosidades, frestas e outras imperfeições que
possam comprometer a higienização dos mesmos e serem fontes de contaminação dos
alimentos (BRASIL, 2004).
Resultados semelhantes foram encontrados na pesquisa de Skailo e Machado
(2017), onde obteve menor índice de conformidade, devido à inexistência de planilhas de
registros de controle de temperatura e equipamentos e ausência de um responsável para a
higienização do local.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Manipuladores
Quanto a esse módulo, apresentou o maior índice de conformidade, onde notou-
se que os manipuladores, realizam a higienização das mãos, principalmente após qualquer
interrupção e depois do uso de sanitários, também obtém de cartazes de orientação correta
da higienização das mãos, funcionários com uniformes de cor clara, limpos e adequado
estado de conservação, além da presença de asseio pessoal, ou seja, cabelos presos e
protegidos por redes, toucas ou outros acessórios apropriados para esse fim, sem o uso de
barba, unhas curtas e sem esmalte ou base, conforme recomenda a RDC Nº 216/2004.
Entretanto, apesar de apresentar maior índice de conformidade nos resultados,
obteve 57,14% de inconformidades, onde observou ausência da existência de supervisão
316
quanto ao estado de saúde dos manipuladores e de exames realizados, inexistência de
manipuladores qualificados e supervisores aptos comprovadamente a monitorar e treinar
para o serviço de BPF, assim como, de treinamentos de capacitação.
Na pesquisa de Mota et al (2019), no grupo de manipuladores o índice de não
conformidade foi de 60% e conformidade 40%, dados semelhantes deste estudo. No
estudo de Vieira et al (2020), em um Supermercado da cidade de Patos-PB, antes do
treinamento dos manipuladores obteve 71,43% de não conformidade, após o treinamento
dos mesmos, este índice reduziu para 21,43%.
Logo, é possível verificar que a qualificação dos manipuladores colabora para
aperfeiçoar os procedimentos durante a manipulação. Diante do exposto, os
manipuladores de alimentos devem ser supervisionados e capacitados periodicamente em
higiene pessoal, em manipulação higiênica dos alimentos e em DTAs. A capacitação deve
ser comprovada mediante documentação (BRASIL, 2004).

Produção e transporte dos alimentos


Nesse módulo obteve, aproximadamente, 80% de inconformidades. Nos quais
observaram ausência de local especifico e conservado para o recebimento e inspeção de
mercadorias, omissão de planilhas para o controle, falta de verificação de matérias-
primas, ingredientes e embalagens quanto a integridade, temperatura e conservação
durante a recepção e armazenamento, assim como, não é realizado a identificação e o
acondicionamento ideal, encontrando-se em locais com falta de higienização, úmidos,
desorganizados quanto ao prazo de validade e separação de gênero, perto de produtos de
limpeza propicio a contaminações, ausência de fluxo de produção durante o pré-preparo,
processamento e armazenamento e ausência de controle e planilha de registro de
temperatura para locais de controle térmico. Toda via, o transporte utilizado, é limpo e
conservado, livre de vetores e pragas.
Machado (2019), afirma que podemos verificar que a falta de inspeção dos
produtos no ato da entrega, é algo preocupante, uma vez que produtos fora do peso,
validade e com inadequados padrões de qualidade e temperatura possam estar sendo
recebidos pelos locais. Ainda, a rotulagem nutricional dos produtos é obrigatória perante
legislação sanitária e deve estar adequada por ser direito do consumidor obter
informações dos produtos produzidos e embalados em sua ausência, assim como o
adequado armazenamento dos produtos e a divisão das áreas de pré-preparo e preparo dos
2021 Gepra Editora Barros et al.

estabelecimentos, por meio de barreiras físicas ou técnicas evitando assim possíveis


contaminações cruzadas.

Documentação
Verificou-se, quanto a esse módulo, o índice de maior carência de conformidade
com 100%, pois o estabelecimento não disponibilizava do Manual de Boas Práticas
(MPF) e Procedimentos Operacionais Padronizados (POP), como também, de um
responsável capacitado para gerenciar estes documentos. No estudo realizado por Mota
et al (2019), obteve-se 100% de não conformidade neste módulo, porcentagem idêntica
comparando-se com esta pesquisa.
317
No entanto, os serviços de alimentação devem dispor de MPF e POP. Esses
documentos devem estar acessíveis aos funcionários envolvidos e disponíveis à
autoridade sanitária, quando requerido (BRASIL, 2004). É importante mencionar que
com a documentação, em concordância com a legislação, facilita o controle e a prática
das atividades, demostra que o estabelecimento é rigoroso e preocupado em efetuar as
tarefas e a segurança do consumidor, orienta sobre prováveis duvidas e impede multas
resultantes da fiscalização sanitária.

Classificação do estabelecimento
De forma geral, dos 162 itens verificados, 42 foram considerados conformes e 120
não conformes. Dessa forma, a pizzaria satisfez 26% de conformidade, como exposto na
(Figura 2), entretanto, 74% de não conformidade sendo classificado no GRUPO III, que
varia de 0 a 50% dos itens avaliados, segundo a RDC Nº 275/2002.

Figura 2. Avaliação geral dos itens conformes e Itens não conformes.

26%

% Itens conformes
74% % Itens não conformes

Fonte: Dados do estudo (2021).

Evidenciou a precariedade nas condições de comercialização e preparo dos


alimentos e o atendimento insatisfatório às legislações sanitárias. Os riscos de
contaminação estão presentes em praticamente todas as etapas da produção, uma vez
verificada a ausência de higiene, manipulação e controles adequados (MOTA et al.,
2019).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Mota et al (2019), em seus resultados publicados, obteve-se classificação do


estabelecimento GRUPO III, semelhante ao encontrado nesta pesquisa. Para a
classificação geral da cozinha, no preenchimento da lista de verificação, foram avaliados
85 (oitenta e cinco) itens aplicáveis ao setor em estudo, dos quais apenas 32 (trinta e dois)
apresentaram conformidade com a RDC 216/2004 e os demais 53 (cinquenta e três) não
atenderam aos critérios de avaliação e conformidade. A cozinha apresentou somente
37,65% de conformidade quanto aos itens avaliados (MOTA et al., 2019).
Por meio dos resultados e discursão apresentados, fica evidente a importância e
implantação das BPF como um passo importante para que as empresas que produzam
alimentos garantam a conformidade em relação à legislação e a expectativa do
318
consumidor. Com estes resultados consegue-se mostrar que é um passo indispensável à
implantação das BPF para as empresas que estão buscando mais qualidade e segurança
para os seus produtos, satisfazer os consumidores a ter um diferencial competitivo
(VIEIRA et al., 2020).

CONCLUSÕES

Através da aplicação do check-kist na pizzaria, evidenciou alto índice de


inconformidade tanto nas particularidades de cada módulo, onde apresentou alto nível de
inconformidades variando entre (57,14% a 100%) e baixo nível de conformidade entre
(0% a 42,85%), quanto na classificação geral do estabelecimento no GRUPO III,
indicando falta de higienização sanitária em toda a cadeia de produção do alimento, assim
como, na manipulação e no ambiente, não atendendo, desta forma, as exigências
estabelecidas pela legislação vigente. Logo, recomenda-se, a urgência da higienização
nos equipamentos, utensílios e toda estrutura física. Como também a presença de um
responsável técnico para treinar e monitorar os manipuladores quanto às BPF, bem como,
a implementação do MBP e POP, afim de evitar quaisquer contaminações físicas,
químicas ou biológicas garantindo um alimento seguro para o consumidor.

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Capítulo 28

AVALIAÇÃO DE ASPECTOS TÉCNICOS E ECONÔMICOS PARA


IMPLANTAÇÃO DE SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO

SANTOS, Danilo Angelo da Silva


Engenheiro de Produção
Perímetro Irrigado de Petrolina-PE
engdaniloangelo@gmail.com

SILVA, Flávia Rosana Barros da


Zootecnista
Universidade Federal Rural de Pernambuco 321
barrosflaviar@gmail.com

BARROS, Timóteo Herculino da Silva


Pós-doutorando em Engenharia de Sistemas Agrícolas
Universidade de São Paulo
timoteo@alumni.usp.br

COSTA, Jéfferson de Oliveira


Pós-doutorando em Engenharia de Sistemas Agrícolas
Universidade de São Paulo
costajo@alumni.usp.br

RESUMO
O Vale do São Francisco possui imenso potencial produtivo apesar de sua localização no
bioma Caatinga, considerado o mais seco do Brasil. A irrigação é parte fundamental no
manejo das culturas na região e tem papel importante no potencial produtivo e na
viabilidade dos projetos agrícolas. Nesse sentido, objetivou-se analisar a viabilidade de
dois projetos distintos de irrigação através de 3 (três) componentes de custos
(implantação, equipamento e operação) e 1 (um) componente operacional (flexibilidade).
Os componentes foram avaliados através de coleta de dados e tratados utilizando uma
planilha eletrônica. Após o tratamento dos dados, o estudo detalhado indicou uma relação
importante entre automação e retorno do investimento a longo prazo, já que impactou
diretamente nos custos de operação a curto e médio prazo.

PALAVRAS-CHAVE: Automação, Custo de operação, Vale do São Francisco.

INTRODUÇÃO
Em todo o mundo, mais de 324 milhões de hectares foram equipados com irrigação
até o ano 2012, dos quais cerca de 275 milhões de ha foram efetivamente irrigados (FAO,
2016). A irrigação localizada e por aspersão foi responsável por apenas cerca de 14%
desta área, sendo a área restante sistematizada para métodos de irrigação de superfície
(FAO, 2016), que incluem irrigação por sulco, faixas ou inundação.
A agricultura familiar é a base da produção agrícola nos países em
desenvolvimento. Pelo menos 90% das fazendas no mundo são fazendas familiares,
ocupando entre 50% (GRAEUB et al., 2016) e 75% (LOWDER et al., 2016) das terras
2021 Gepra Editora Barros et al.

agrícolas do mundo. O número dessas fazendas que tem irrigação ainda não foi
contabilizado, mas é bem sabido que a irrigação melhora a subsistência familiar e o bem-
estar dos pequenos proprietários (ARAUJO et al., 2019).
Os projetos públicos de irrigação brasileiros (esquemas financiados pelo governo)
concentrados no semi-árido nordestino, ocupam 219000 ha de um total de 7 milhões de
ha, e atendem a um grande número de pequenos produtores em uma das regiões mais
pobres do Brasil (AYRIMORAES, 2020).
O nordeste brasileiro sempre foi conhecido pelos seus baixos níveis pluviométricos,
desafiadores ao cultivo agrícola. O manejo racional da água permitiu que áreas antes
consideradas improdutivas passassem a suportar sistemas de produções robustos e
322
rentáveis. As cidades de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) formam um polo com mais seis
munícipios que atraem investidores e migrantes, apresentando crescimento populacional
acima da média nacional (3,2% contra 2,5%) (CORREIA et al., 2001).
Conhecido por ter sediado diversos projetos pioneiros de irrigação, o polo
Petrolina-Juazeiro configurou-se como um dos maiores perímetros públicos irrigados do
Brasil (BUSTAMANTE, 2009). Rocha Neto (1999) definiu que as principais vantagens
competitivas do polo anteriormente citado são: disponibilidade de água e terra, mão de
obra barata, condições climáticas favoráveis (alta insolação e baixa umidade),
disponibilidade de recursos federais (Finep, CNPq, Embrapa) e como destaque,
disponibilidade de infraestrutura para irrigação.
A irrigação é o principal instrumento utilizado pelo polo para vencer as
complexidades da produção agrícola na região. Correia et. al (2001) admite que este
instrumento estimula a modernização da agricultura, permite a instalação de
agroindústrias e o fomento do associativismo, transformando uma região de potencial em
uma região de fato produtora.
Sobel (2013) destaca que por se tratar de um suplemento tecnológico de alto custo
e capaz de proporcionar incrementos significativos, a correta utilização deve ser um dos
objetivos principais, isto porque o mau uso da irrigação acarreta elevação nos custos de
produção e custos sociais, caracterizados à medida que contribui para uma maior escassez
de água. Segundo Testezlaf (2017) para uma tomada de decisão coerente, os seguintes
critérios devem ser levados em consideração na seleção de um sistema de irrigação:
potencial hídrico, localização da fonte d’agua, qualidade da água, custo da água,
topografia, solo, clima, cultura e seus aspectos econômicos e por último, custos do
projeto.
Nos últimos anos, na agricultura irrigada, tem sido observado um avanço da
automação dos sistemas. Atualmente, entende-se por automação qualquer sistema,
apoiado em processadores, que substitua o trabalho humano e que vise soluções rápidas
e econômicas, a fim de alcançar os complexos objetivos das indústrias, da agricultura e
serviços. A automação implica na implantação de sistemas interligados e assistidos por
redes de comunicação, compreendendo Sistemas Supervisórios e Interfaces Homem-
Máquina (IHM), que possam auxiliar os operadores no exercício de supervisão e análise
dos problemas que porventura venham a ocorrer. Nos diversos setores produtivos, a
automação decorre de necessidades, tais como: maiores níveis de qualidade de
conformação e de flexibilidade, menores custos de operação, menores perdas de materiais
2021 Gepra Editora Barros et al.

e menores custos de capital, maior controle das informações relativas ao processo, maior
qualidade das informações e melhor planejamento e controle da produção (ALENCAR et
al., 2007; MORAES; CASTRUCCI, 2001).
O objetivo deste trabalho foi relacionar opções de projetos de irrigação para
diferentes culturas, permitindo flexibilidade na utilização de um lote agrícola, destacando
aspectos técnicos e financeiros para a implantação da tecnologia.

MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado em uma propriedade rural localizada na cidade de Petrolina
323
- PE, a 23km da sede do município. Petrolina localiza-se a uma latitude de 09º 23’ 55’’
Sul e uma longitude de 40º 30’ 03’’ oeste, com altitude de 376m. O lote agrícola hoje faz
parte do projeto Senador Nilo Coelho e possui trinta e quatro hectares agricultáveis, com
planejamento delineado para foco na produção de manga.
Os dados de duas opções de projetos de irrigação foram coletados junto ao gerente
técnico do lote, sendo que os levantamentos técnicos e financeiros foram realizados no
primeiro trimestre de 2019. Além disso, foram utilizados os dados de preço e
produtividade média fornecidos pela EMBRAPA Semiárido. Foram considerados 3 (três)
componentes de custos (implantação, equipamento e operação) e 1 (um) componente
operacional (flexibilidade).
Gouveia et al. (2006) define que os cálculos dos custos de produção e de indicadores
econômicos permitem ao produtor estabelecer prioridades, identificar a possibilidade de
novos investimentos e avaliar a viabilidade do negócio. Os 3 (três) componentes
econômicos foram avaliados e cotados no mercado regional, durante o primeiro trimestre.
Os custos com implantação envolveram o preparo do lote, adequações de infraestrutura e
outorga do recurso hídrico. Já os custos com equipamento envolveram todos os
equipamentos necessários para implantação e comissionamento do sistema. Os custos de
operação se referem aos materiais e recursos necessários para a utilização do sistema
durante o manejo das culturas.
O componente operacional (flexibilidade) foi avaliado em três níveis: alto,
moderado e baixo, definido por 3 aspectos: capacidade, métodos e sistemas.
Os componentes foram avaliados através de coleta de dados e tratados utilizando
uma planilha eletrônica (Tabela 1), responsável por calcular os indicadores. Essa planilha
foi a mesma utilizada para detalhamento de todos os estudos dos componentes de custos
e do componente operacional.
Tabela 1. Análise de dados dos projetos
Partes do projeto A - mínima automação B - automação Diferença (%)
Filtragem / Fertirrigação / Acessórios R$ 30480,00 R$ 53480,00 75,5
Registros / Válvulas/ Acessórios R$ 2580,00 R$ 13900,00 438,8
Emissores / Tubulação / Conectores R$ 52205,00 R$ 52205,00 0
Custo mão de obra mensal R$ 6910,00 R$ 2270,00 -66,7
Total R$ 218135,00 R$ 252455,00 15,7
2021 Gepra Editora Barros et al.

Fonte: Resultados originais da pesquisa.


De posse de todos os indicadores dos componentes de custos e operacional, foi
realizado um estudo detalhado das duas opções de projetos já cotados pela gerência do
lote agrícola, analisando a viabilidade de cada um deles.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
As duas opções de projeto atendem a necessidade da cultura planejada (manga) pelo
produtor em sua área de 34 hectares. Como o lote agrícola é localizado no Vale do São
Francisco, que possui um baixo regime de chuvas e altas temperaturas, a demanda hídrica 324
da cultura é considerável e fundamental para o desenvolvimento dela, tornando o sistema
de irrigação algo crítico ao desenvolvimento do negócio.
O primeiro projeto, chamado de “A – mínima automação”, foi dimensionado e
cotado em três empresas da região, atingindo os seguintes valores médios, conforme a
Tabela 2. Os valores totais para os itens 1, 2, 3, 4, 5 e 6 foram R$ 52205,00, R$ 75942,92,
R$ 30480,00, R$ 46727,00, R$ 2580,00 e R$ 10200,00, respectivamente.

Tabela 2. Descrição dos itens do projeto A - mínima automação.


Valor
Item Descrição Quantidade Unidade Valor Total
Unitário
1 Emissores/Tubulação/Conectores Total R$ 52205,00
1.1 Tubo Gotejador AZUD 2 L/h 128000 peça R$ 0,35 R$ 44800,00
1.2 Conector Inicial com anel 16mm 3700 peça R$ 0,52 R$ 1924,00
1.3 União com anéis DN 16mm 3700 peça R$ 0,38 R$ 1406,00
1.4 Final de linha 16mm 3700 peça R$ 0,15 R$ 555,00
1.5 Tubo PELBD 1608 8000 metro R$ 0,44 R$ 3520,00
2 Tubulação PVC / Conexões Total R$ 75942,92
2.1 Tubo DEFOFO PN 60 DN 250mm 68 peça R$ 315,48 R$ 21452,64
2.2 Tubo DEFOFO PN 60 DN 200mm 21 peça R$ 210,80 R$ 4426,80
2.3 Tubo Irriga LF PN 40 DN 150mm 80 peça R$ 87,40 R$ 6992,00
2.4 Tubo Irriga LF PN 40 DN 125mm 320 peça R$ 61,20 R$ 19584,00
2.5 Tubo Irriga LF PN 40 DN 75mm 776 peça R$ 22,08 R$ 17134,08
2.6 Tubo Irriga LF PN 40 DN 50mm 140 peça R$ 11,81 R$ 1653,40
2.7 Conjunto de conexões 1 unid R$ 4700,00 R$ 4700,00
3 Filtragem / Fertirrigação / Acessórios Total R$ 30480,00
3.1 Filtro tela Inóx 1 peça R$ 28000,00 R$ 28000,00
3.2 Injentora de fertilizantes 1 peça R$ 2000,00 R$ 2000,00
3.3 Chave de partida 1 peça R$ 180,00 R$ 180,00
3.4 Conjunto de conexões montagem 1 peça R$ 150,00 R$ 150,00
fertirrigação
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3.5 Conexões e Acessórios montagem 1 peça R$ 150,00 R$ 150,00


filtros
4 Pressurização / Acessórios Total R$ 46727,00
4.1 Conjunto eletrobomba MEGABLOC 1 peça R$ 18197,00 R$ 18197,00
40cv 1750 RPM
4.2 Chave Soft Starter 50 cv 1 peça R$ 7000,00 R$ 7000,00
4.3 Válvula borboleta DN 5" 1 peça R$ 780,00 R$ 780,00
4.4 Barilete de recalque AZ DN 10" 1 peça R$ 9690,00 R$ 9690,00
4.5 Carretel AZ DN 10" 1 peça R$ 1580,00 R$ 1580,00
325
4.6 Curva AZ DN 10" 2 peça R$ 750,00 R$ 1500,00
4.7 Ligação de pressão AZ DN 5" 2 peça R$ 590,00 R$ 1180,00
4.8 Succção completa DN 10" x 6m AZ 1 peça R$ 6800,00 R$ 6800,00
FL
5 Registros/Válvulas/Acessórios Total R$ 2580,00
5.1 Válvula Esfere PVC DN 75mm 12 unid R$ 100,00 R$ 1200,00
5.2 Válvula anti-vácuo DN 1/2" 12 unid R$ 15,00 R$ 180,00
5.3 Válvular de AR Cinética triplo efeito 6 unid R$ 200,00 R$ 1200,00
DN 2" PN 10
6 Montagem Total R$ 10200,00
6.1 Montagem 34 ha R$ 300,00 R$ 10200,00
Fonte: Resultados originais da pesquisa

De acordo MORAES et al. (2014), os sistemas automatizados podem ser


utilizados para o controle dos sistemas de irrigação, visando à economia de energia e de
água quando houver a necessidade de variação da vazão. Estes sistemas automatizados
de controle de irrigação tornam-se uma ferramenta essencial para a aplicação de água na
quantidade necessária e no devido tempo, contribuindo para o aumento da produção e a
diminuição do custo de produção.
SUDHA et al. (2011) utilizaram comunicação sem fio wireless em um sistema de
irrigação, testando 2 tipos de protocolos, e conseguiram redução significativa no consumo
de energia elétrica. RIBEIRO (2008) propôs-se à construção de um protótipo de pivô
central em escala reduzida e seu sistema de bombeamento acoplado ao inversor de
frequência acionado manualmente, com o objetivo de racionalização de água e energia
em sistemas de irrigação por pivô central, alcançando economia de energia elétrica da
ordem de 26% para inclinação máxima de 20% da linha lateral do pivô central.
Os principais aspectos do projeto A citado acima, é o baixo investimento na área
de fertirrigação e filtragem, exigindo maiores esforços para a operação diária do mesmo.
Utilizando os critérios definidos por esse trabalho, o projeto A é caracterizado da seguinte
maneira (Tabela 3).
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Tabela 3. Caracterização do Projeto A - mediante critério "custos" e "operacional".


Área dos Componentes Custos Operacional
Projeto Implantação Equipamento Operação Flexibilidade
A Baixo Baixo Alto Baixo
Fonte: Resultados originais da pesquisa

A mínima automação exige que 3 colaboradores atuem na operação do sistema,


44 horas semanais, conduzindo as atividades de fertirrigação e abertura e fechamento de
válvulas. Considerando que 1 (um) colaborador terá como salário R$ 1000,00 mensais, o
custo com mão de obra para condução do sistema seria de R$ 6810,00, considerando 13º 326
salário, férias, INSS, seguro por acidente de trabalho, salário-educação e família, FGTS
e descanso semanal remunerado.
Ao analisar o projeto “B – automação”, enxergamos um maior investimento em
Filtragem/Fertirrigação (em torno de 75% maior), registros e válvulas (438% maior), que
totaliza um valor superior em 15% do investimento requerido pelo projeto “A”. O projeto
“B” atingiu os seguintes valores médios (Tabela 4). Os valores totais para os itens 1, 2, 3,
4, 5 e 6 foram R$ 52205,00, R$ 75942,92, R$ 53480,00, R$ 46727,00, R$ 13900,00 e R$
10200,00, respectivamente.

Tabela 4. Descrição dos itens do projeto B – automação.


Item Descrição Quantidade Unidade Valor Unitário Valor Total
1 Emissores/Tubulação/Conectores Total R$ 52205,00
1.1 Tubo Gotejador AZUD 2,00l/h 128000 peça R$ 0,35 R$ 44800,00
1.2 Conector Inicial com anel 16mm 3700 peça R$ 0,52 R$ 1924,00
1.3 União com anéis DN 16mm 3700 peça R$ 0,38 R$ 1406,00
1.4 Final de linha 16mm 3700 peça R$ 0,15 R$ 555,00
1.5 Tubo PELBD 1608 8000 metro R$ 0,44 R$ 3520,00
2 Tubulação PVC / Conexões Total R$ 75942,92
2.1 Tubo DEFOFO PN 60 DN 68 peça R$ 315,48 R$ 21452,64
250mm
2.2 Tubo DEFOFO PN 60 DN 21 peça R$ 210,80 R$ 4426,80
200mm
2.3 Tubo Irriga LF PN 40 DN 80 peça R$ 87,40 R$ 6992,00
150mm
2.4 Tubo Irriga LF PN 40 DN 320 peça R$ 61,20 R$ 19584,00
125mm
2.5 Tubo Irriga LF PN 40 DN 75mm 776 peça R$ 22,08 R$ 17134,08
2.6 Tubo Irriga LF PN 40 DN 50mm 140 peça R$ 11,81 R$ 1653,40
2.7 Conjunto de conexões 1 conjunto R$ 4700,00 R$ 4700,00
3 Filtragem / Fertirrigação / Total R$ 53480,00
Acessórios
2021 Gepra Editora Barros et al.

3.1 Filtro tela Inóx – Automático 1 peça R$ 38000,00 R$ 38000,00


3.2 Kit injetor de fertilizantes – 1 peça R$ 15000,00 R$ 15000,00
Automática
3.3 Chave de partida 1 peça R$ 180,00 R$ 180,00
3.4 Conjunto de conexões montagem 1 peça R$ 150,00 R$ 150,00
fertirrigação
3.5 Conexões e Acessórios montagem 1 peça R$ 150,00 R$ 150,00
filtros
4 Pressurização / Acessórios Total R$ 46727,00
4.1 Conjunto eletrobomba 1 peça R$ 18197,00 R$ 18197,00
327
MEGABLOC 40cv 1750 RPM
4.2 Chave Soft Starter 50 cv 1 peça R$ 7000,00 R$ 7000,00
4.3 Válvula borboleta DN 5" 1 peça R$ 780,00 R$ 780,00
4.4 Barilete de recalque AZ DN 10" 1 peça R$ 9690,00 R$ 9690,00
4.5 Carretel AZ DN 10" 1 peça R$ 1580,00 R$ 1580,00
4.6 Curva AZ DN 10" 2 peça R$ 750,00 R$ 1500,00
4.7 Ligação de pressão AZ DN 5" 2 peça R$ 590,00 R$ 1800,00
4.8 Succção completa DN 10" x 1 peça R$ 600,00 R$ 600,00
6.00m AZ FL
5 Registros/Válvulas/Acessórios Total R$ 13900,00
5.1 Barra para solenóides c/8 2 unid R$ 1900,00 R$ 3800,00
5.2 Válvula Hidráulica 3" 12 unid R$ 400,00 R$ 4800,00
5.3 Válvula anti-vácuo 1/2" 12 unid R$ 15,00 R$ 180,00
5.4 Tubo PE Comando DN 8.00mm 14000 unid R$ 0,28 R$ 3920,00
5.5 Válvular de AR Cinética triplo 6 unid R$ 200,00 R$ 1200,00
efeito DN 2" PN 10
6 Montagem Total R$ 10200,00
6.1 Montagem 34 ha R$ 300,00 R$ 10200,00
Fonte: Resultados originais da pesquisa.

Os principais aspectos do projeto “B” são representados pelo maior investimento


na área de filtragem e fertirrigação, trazendo maior flexibilidade e automação para o
sistema, não exigindo a operação diária das injeções, sendo controlada por painel de
automação. Utilizando os critérios definidos por esse trabalho, o projeto B é caracterizado
da seguinte maneira, conforme a Tabela 5.

Tabela 5. Caracterização do Projeto B - mediante critério "custos" e "operacional".


Área dos Componentes Custos Operacional
Projeto Implantação Equipamento Operação Flexibilidade
B Moderado Moderado Baixo Moderado
Fonte: Resultados originais da pesquisa
2021 Gepra Editora Barros et al.

O investimento em automação permite que a equipe de 3 (três) colaboradores seja


reduzida para apenas 1 (um), atuando 44 horas semanais, conduzindo as atividades de
fertirrigação e abertura e fechamento de válvulas. Considerando que 1 (um) colaborador
terá como salário R$ 1000,00 mensais, o custo com mão de obra para condução desse
sistema seria de R$ 2270,00, considerando 13º salário, férias, INSS, seguro por acidente
de trabalho, salário-educação e família, FGTS e descanso semanal remunerado.
Com o investimento em automação, há uma redução de 66% do custo com mão
de obra. Como mão de obra é algo que estará presente constantemente nos custos de
produção mensal, a longo prazo, os valores extras investidos em automação seriam
328
revertidos na redução de mão de obra.
Unindo os dados dos dois projetos, temos a seguinte Tabela 6, com o resumo que
traz as principais diferenças entre eles:

Tabela 6. Diferenças entre projeto A e B.


Filtragem/ Registros/
Custo mão de obra
Projeto Fertirrigação/ Válvulas/ Total
mensal
Acessórios Acessórios
A - mínima automação R$ 6810,00 R$ 30480,00 R$ 2580,00 R$ 218134,92
B - automação R$ 2270,00 R$ 53480,00 R$ 13900,00 R$ 252454,92
Diferença (%) -66,7% 75,5% 438,8% 15,7%
Fonte: Resultados originais da pesquisa.

Observamos que há uma redução considerável no número de colaboradores,


impactando diretamente no custo mensal com mão de obra. Os valores da categoria
filtragem e registros são superiores em relação ao projeto A, justificados pelo
investimento em automação.
A região do vale do São Francisco possui seu potencial produtivo totalmente
atrelado ao desempenho da sua irrigação devido à escassez de chuvas. Ao iniciar a
concepção de um projeto agrícola, a análise da irrigação é fundamental para o sucesso do
mesmo. O investimento em automação e tecnologia impacta diretamente no nível de
serviço do sistema e nos custos mensais com mão de obra, inerentes a atividade, que
perdurarão enquanto a cultura estiver ativa.
A implementação de sistemas cada vez mais robustos, inteligentes e eficientes
aumenta a confiabilidade da iniciativa e ameniza os riscos de não produção. Além disso,
o sistema produtivo tem o menor risco em relação a causas trabalhistas, relação com
funcionário e possíveis multas rescisórias, já que diminui o quadro efetivo de
colaboradores.

CONCLUSÕES
Dessa forma, é clara a vantagem competitiva do sistema que possui maior
automação pois este permite uma maior flexibilidade na condução da cultura, diminui os
2021 Gepra Editora Barros et al.

custos com mão de obra a longo prazo (consideráveis, mediante sua grandeza na
composição do custo de produção) e diminui os riscos com causas trabalhistas, interação
com colaboradores e riscos de exposição.
Sugere-se, nesse sentido, em estudos futuros, avaliar a relação entre investimento
em automação com o desempenho produtivo da cultura e o impacto dele na operação a
médio e longo prazo, considerando uma menor equipe, porém, com maior conhecimento
técnico.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 29

AVALIAÇÃO DE MÉTODOS DE SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA


EM SEMENTES DE Pityrocarpa moniliformis

SOUZA, Wendy Mattos Andrade Teixeira de


Graduanda em engenharia florestal
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
wendymattos.a@gmail.com

PIMENTA, Jéssica Maia Alves Pimenta


Mestre em Ciências Florestais
Universidade Federal do Rio Grande do Norte 331
jessica.alves.pimenta@gmail.com

EGITO, Rômulo Henrique Teixeira


Mestrando em Gestão Ambiental
Instituto Politécnico de Coimbra
romuloegito2@hotmail.com

RESUMO

A Pityrocarpa moniliformis (Benth) Luckow & R. W. Jobson, conhecida popularmente


como catanduva, é uma espécie promissora na recuperação de áreas degradadas e
produção melífera, no entanto, apresenta dormência tegumentar em suas sementes, sendo
necessário encontrar métodos para superação. A dormência é um fenômeno pelo qual
mesmo em condições ideais de temperatura, umidade luz e oxigênio a semente não
germina, pois pode haver algum impedimento físico (tegumento) ou químico, que faz
com que a semente não inicie seu processo de germinação. Deste modo o objetivo do
trabalho foi realizar um levantamento de resultados de diversos trabalhos que estudaram
diferentes tratamentos pré-germinativos em sementes de P. moniliformis em busca de
encontrar e definir o tratamento com maior eficácia O presente estudo foi conduzido a
partir da compilação e síntese das publicações que utilizaram tratamentos pré-
germinativos para as sementes de P. moniliformis entre os anos de 2008 e 2021. Como
resultado foram encontrados 13 trabalhos, dentre eles cinco testaram diferentes
tratamentos pré-germinativos e oito fizeram uso de apenas um método de superação de
dormência, o qual basearam-se em outros trabalhos já publicados. O método mais
utilizado encontrado foi a utilização de ácido sulfúrico pelo período de 20, 25 e 30
minutos e a água quente a 100°C por 15 minutos. Visando baratear e facilitar a realização
de trabalhos com as sementes de P. moniliformis, indica-se a água quente como método
para superar a dormência das sementes, visto que, o ácido sulfúrico é um produto de maior
custo e de maior trabalhabilidade.

PALAVRAS-CHAVE: Impermeabilidade do tegumento, catanduva, germinação.

INTRODUÇÃO

A espécie arbórea Pityrocarpa moniliformis (Benth.) Luckow & R. W. Jobson


pertence à família Fabaceae, é conhecida popularmente por catanduva, catanduba, angico
de bezerro, muquém e quimpembé, é encontrada principalmente na região do bioma
Caatinga, mas também pode ser encontrada em regiões da Mata Atlântica
(NASCIMENTO; DANTAS, 2018; BENEDITO et al., 2011). É uma espécie pioneira, de
2021 Gepra Editora Barros et al.

crescimento rápido, e o seu tamanho varia em média de 4 a 9 metros de altura (PEREIRA


et al., 2015).
A área de maior abundância da P. moniliformis é a no bioma Caatinga. Essa região
cobre cerca de 11% do território nacional, passando pelos nove estados da região nordeste
e o extremo norte do estado de Minas Gerais, apresenta clima semiárido com baixas taxas
de precipitação (BRASIL, 2019).
A obtenção de dados que caracterizam os atributos físicos e fisiológicos da espécie
é importante para reduzir problemas ambientais e favorecer a recuperação de áreas
degradadas e a propagação de espécies florestais nativas, portanto, nos últimos anos tem
se intensificado as pesquisas com interesse em informações acerca da espécie (SILVA et
al., 2017). Para produção das mudas de P. moniliformis, assim como em outras espécies
florestais que apresentam dormência do tipo tegumentar, são necessários estudos que 332
venham possibilitar a superação dessa dormência (CARVALHO et al., 2019).
Algumas espécies de sementes florestais apresentam dormência, um fenômeno pelo
qual mesmo em condições ideais de temperatura, umidade luz e oxigênio a semente não
germina, pois pode haver algum impedimento físico (tegumento) ou químico, que faz
com que a semente não inicie seu processo de germinação (YILDIZ et al., 2017). A
dormência, do ponto de vista ecológico, é favorável por garantir que as sementes
sobrevivam em condições inadequadas para o seu desenvolvimento (GASTL-FILHO et
al., 2019).
Entre os tipos de dormência, destaca-se a dormência física ou tegumentar,
caraterizada pela impermeabilidade do tegumento à absorção de água ou do oxigênio.
(FARIAS et al., 2019). Dentre os tratamentos pré-germinativos para a dormência exógena
os que têm mostrado maior eficiência são as escarificações mecânica e ácida. Entretanto,
ainda são escassos os trabalhos que analisam diferentes tratamentos pré-germinativos em
sementes de P. moniliformis.
Diante do exposto, objetivou-se fazer um levantamento de resultados de diversos
trabalhos que estudaram diferentes tratamentos pré-germinativos em sementes de P.
moniliformis em busca de encontrar e definir o tratamento com maior eficácia.

MATERIAL E MÉTODOS

A busca dos trabalhos realizados sobre a dormência da espécie Pityrocarpa


moniliformis foi realizada pelos sites de busca “Scielo” “Web-of-Science”, “Periódicos
Capes” e “Google Acadêmico”. Para a coleta de dados, foram utilizados os seguintes
termos como palavras-chaves: “dormência” “tratamento pré-germinativos” combinado
com o nome “Pityrocarpa moniliformis” e sua sinonímia científica “Piptadenia
moniliformis”, entre os anos de 2008 e 2021. Além disso, para complementar as
informações, também foram realizadas buscas em livros que possuem informações
relevantes sobre o assunto.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Características morfológicas e ecológicas de Pityrocarpa moniliformis


A Caatinga é bastante rica e tem uma diversidade imensa de animais e de plantas.
Apenas de espécies lenhosas já foram identificadas mais de 600 em um total de 1.356
tipos já conhecidas, muitas se adaptaram as diversidades da região e, portanto, pode-se
notar que algumas espécies possuem uma casca clara ou reluzente que diminui o
aquecimento do tecido vivo da planta, a perda das folhas durante o período seco,
2021 Gepra Editora Barros et al.

armazenamento de água no caule, ou nas raízes, entre outras adaptações (MAIA, 2012).
Com a predominância de arbustos e árvores, que em sua maioria são decíduos no período
seco. Outra característica marcante desse tipo de vegetação é que são providas de
espinhos e/ou acúleos. Ainda podemos encontrar na região, as cactáceas, bromeliáceas e
uma gama enorme de espécies herbáceas (EMBRAPA, 2011).
O bioma possui várias fitofisionomias, cuja distribuição é determinada em grande
parte pelo clima, topografia, geologia e resultam em diferentes ambientes ecológicos
(RODAL et al., 2008). A Pityrocarpa moniliformis ocorre em grande extensão no bioma
Caatinga. Este é um domínio brasileiro que representa 17% das florestas secas tropicais
do mundo (BEUCHLE et al., 2015). O bioma cobre cerca de 70% da região semiárida do
Nordeste do Brasil e engloba os Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Pernambuco, Paraíba,
Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e a região norte de Minas Gerais (LEAL et al., 2003). 333
A Pityrocarpa moniliformis é uma espécie pioneira, de crescimento rápida e,
portanto, é de grande importância para a região semiárida do Nordeste do Brasil, devido
seu potencial forragicultor e na extração de taninos, além disso, pesquisas recentes
indicam qualidade na medicina popular e seu alto grau de produção de mel, essa
característica tem um grande valor ecológico pois atrai vários insetos como vespas,
moscas e principalmente abelhas, podemos citar o exemplo da Apis melífera, que é uma
espécie em extinção (NASCIMENTO; DANTAS, 2018; SILVA et al., 2015). Outra
característica de importância para a espécie é a madeira de qualidade, pesada e utilizada
frequentemente na construção civil, em projetos de carpintaria, também é utilizado para
o desenvolvimento de cabos para ferramentas além de ser usadas como lenha e carvão
vegetal (PEREIRA et al., 2015).
Nos ramos da espécie foram encontrados nutrientes importantes a exemplo de
proteína bruta (19,14%), fósforo (0,16%), cálcio (0,10%), entre outros, fazendo que tenha
uma grande importância nutricional na dieta dos animais. Outra característica importante
da espécie para o meio ambiente é que sua flor produz bastante quantidade de néctar, o
que influencia positivamente o desenvolvimento de abelhas (NASCIMENTO et. al,
2008).
O fruto é uma vagem que pode medir até 13 cm, de cor amarronzada e suas sementes
são brancas, ovais e compridas (MAIA, 2012). São do tipo deiscente em formato
monilfome, a sua dispersão é do tipo autocórica por gravidade, podendo também haver
dispersão secundária por meio dos animais (FERREIRA, 2009).
As folhas da espécie são bipinadas, com característica nectária na forma de disco
ou cratera, com comprimento maior que a largura, folíolos acrescentes para o ápice da
folha, com folíolos basais menores (NASCIMENTO; DANTAS, 2018).
As sementes são consideradas ortodoxas com a morfologia ovóide, sua cor
predominante quando madura é castanho-claro, com as extremidades e a parte central de
cor cinza, o pleurograma é visível de ambos os lados sendo do tipo fechado (AZERÊDO,
2009). As sementes coletadas da catanduva têm uma vida útil longa de qualidade se
acondicionada de uma forma adequada.
O período de floração ocorre principalmente durante os meses de dezembro a abril,
entre a transição do período seco para o período chuvoso, com picos entre fevereiro e
abril, em seguida, nos meses de setembro e outubro, começa a sua frutificação (MAIA-
SILVA et al., 2012). Possui alto teor de produção de grãos de pólen e suas flores são do
tipo hermafrodita em mais de 70% da árvore, o restante são flores do tipo estaminada
(FERREIRA, 2009).
As espécies nativas da região Nordeste do Brasil, são espécies que em sua grande
maioria possuem potencial apícola, as flores da espécie P. moniliformis são apreciadas
pelas abelhas, que fornecem o mel de excelente qualidade (SILVA et al., 2004). Em sua
2021 Gepra Editora Barros et al.

fase inicial de desenvolvimento, as flores têm coloração branco-esverdeada e na fase mais


velha, sua coloração característica é amarela, são arranjadas em espigas cilíndricas,
solitárias ou geminadas.
As sementes coletadas da catanduva têm uma vida útil longa de qualidade se
acondicionada de uma forma adequada. De acordo com Benedito et al. (2011), a melhor
forma de conservar as sementes é em recipientes de vidro ou saco plástico em um
ambiente favorável de temperatura entre 18 ºC e 20 ºC e com umidade relativa média de
60%, as sementes mantem a sua qualidade por até 210 dias.

Estado da arte das pesquisas sobre superação de dormência em P. moniliformis


Trabalhos como o de Marques et al., (2017) que usaram diferentes tratamentos pré-
334
germinativos em sementes de Delonix regia (Boger ex Hook.) Raf, concluíram que a
escarificação mecânica e o choque térmico são métodos mais eficazes para a superação
da dormência. Já Porto (2019) afirmou em seu trabalho sobre Ornosia arbórea que a
imersão em ácido sulfúrico proporciona um melhor resultado. Outros trabalhos
enfatizaram a necessidade de se conhecer a morfologia da espécie para não haver danos
ao embrião durante a realização da escarificação manual, a qual eles afirmam ser um
método mais eficiente para a germinação de algumas espécies arbóreas sendo elas a
Piptadenia stipulacea, Cassia fistula e Cassia leptophylla (PADILHA et al., 2018;
BENEDITO et al., 2019; CRUZ et al., 2019).
De acordo com a Regra para análise de sementes (RAS) a embebição em água sob
temperatura ambiente algumas vezes aumenta a velocidade de germinação da semente, já
a água quente ou em temperatura de 100°C é bastante usual e tem mostrado eficácia na
superação de dormência de sementes de várias espécies florestais (BRASIL, 2009).
Entretanto, Hermansen et al., 2000, relata em seu trabalho, que o método mais prático e
seguro para pequenos agricultores é utilizando a superação da dormência física, por meio
da escarficação, por ser um método simples, de baixo custo e eficaz para promover uma
rápida e uniforme germinação. Além disso, atualmente, diversos trabalhos vêm utilizando
o ácido sulfúrico como novo tratamento para superação da dormência física de sementes
de espécies arbóreas brasileiras, o qual tem obtido respostas com alta eficácia (ABREU
et al., 2017)
Deste modo, foram encontrados 13 trabalhos relacionados a sementes de P.
moniliformis, dentre eles apenas cinco usaram diferentes métodos de superação de
dormência. Os outros oito trabalhos realizaram diferentes análises, como germinação,
estresse hídrico e salino, entretanto, foram citados os métodos utilizados para a superação
da dormência e, portanto, serviram como parâmetro de análise para avaliar os métodos
mais usuais de superação da dureza tegumentar das sementes de P. moniliformis.
Foram testados dois tipos de superação de dormência no trabalho de Azeredo et al.
(2010) sendo as sementes imersas em água quente por 1; 2; 3; 4 e 5 minutos e imersas em
ácido sulfúrico por 15; 20; 25 e 30 minutos, obtendo-se como resultado uma germinação
superior a 80% nos tratamentos com ácido sulfúrico nos tempos de 20; 25 e 30 minutos.
Similar a ele, o trabalho de Benedito et al. (2008), também fez uso do ácido sulfúrico nos
tempos de 15; 20; 25 e 30 minutos, entretanto, a imersão em água quente foi por um
período diferente, sendo de 5; 10; 15 e 20 minutos, outro método testado foi o mecânico,
utilizando-se lixa d’água 40, para este autor, os melhores resultados encontrados foram
de 10 minutos em ácido sulfúrico e 15 minutos em água quente. (TABELA 1)
2021 Gepra Editora Barros et al.

Tabela 7 – Trabalhos que testaram diferentes tratamentos pré-germinativos para as sementes de P.


moniliformis
Método Tempo Melhores resultados Autores
Ácido Sulfúrico 15; 20; 25; 30 Azeredo et al.
Ácido Sulfúrico 20;25;30 min
Água a 100°C 1; 2; 3; 4; 5 min (2010)

Ácido Sulfúrico 15; 20; 25; 30


Ácido Sulfúrico 10 min e Água a 100°C Benedito et al.
Água a 100°C 5; 10; 15; 20 min
15 min (2008)
Lixa d'água N° 40 -
335
Ácido Sulfúrico 20 min
Ácido Sulfúrico 20 min Silva et al. (2017)
Hipoclorito de sódio 6; 12; 24h

5; 10; 15; 20; 25


Ácido Sulfúrico 20; 25 e 30 min Silva (2019)
min

Água a 100°C 10; 30; 60 seg Ferreira et al.


Água a 80°C 60 seg
Água a 80°C 10; 30; 60 seg (2014)
Fonte: Elaborado pelos autores (2021)

No trabalho de Silva et al. (2017) após testar ácido sulfúrico por 20 min, ele se
mostrou mais eficaz do que utilizando-se Hipoclorito de sódio por 6; 12; e 24h. Sendo
confirmado em outro trabalho de mesma autoria Silva (2019) e eficácia do ácido sulfúrico
em tempos superiores a 20 min.
Dos oito trabalhos que apenas citaram o tipo de superação de dormência utilizado,
dois tratava-se de estresse salino, dois de fatores abióticos, um de estresse hídrico, um de
seleção de matrizes, um de condutividade elétrica e um de efeito do substrato (TABELA
2).

Tabela 8 – Trabalhos que realizaram apenas um tratamento pré-germinativo em sementes de P.


moniliformis.

Tema Método Autores

Condutividade elétrica Água a 100°C 15 min Pereira (2015)

Efeito do substrato Água a 80°C até esfriar Ribeiro (2009)

Estresse hídrico Ácido Sulfúrico 30 min Azeredo (2016)

Estresse salino Água a 100°C 15 min Ramalho (2017)

Estresse salino Ácido Sulfúrico 15 min Benedito (2010)

Fatores abióticos Água a 100°C 15 min Alves (2018)

Fatores abióticos Desponte com Alicate Correia (2017)


2021 Gepra Editora Barros et al.

Seleção de matrizes Desponte com Alicate Félix (2019)


Fonte: Elaborado pelos autores (2021)

Dentre estes oitos trabalhos, quatro citaram seguir a indicação dada por Benedito
(2010), apenas um seguiu a indicação de Azeredo (2016) e os demais não citaram a sua
referência. Não foi apresentado o motivo do método mais utilizado ser a água a 100°C,
mas acredita-se que a escolha é dada pelo fácil manuseio, bem como, ser um produto de
fácil acessibilidade, enquanto, o ácido sulfúrico é um produto de maior valor, que
demanda cuidado em sua utilização, por ser um produto tóxico, e a escarificação manual
das sementes é um método que exige um tempo maior, visto que é necessário realizar o
desponte ou lixar apenas uma semente por vez.
336
Foi realizada a análise de número de publicações em relação aos anos (Figura 1), e
pode-se perceber que não houve um padrão de crescimento nos trabalhos sobre P.
moniliformis.

Figura 19 – Número de artigos sobre sementes de P. moniliformis em relação aos anos de 2008 a
2021.
4
Número de artigos

Período

Fonte: Elaborado pelos autores (2021)

Entre os 13 anos de pesquisa, os anos de 2011, 2012, 2013, 2020 foram ausentes de
publicações, o ano de 2021 até os dias de hoje também não foi um ano com trabalhos
relacionados a sementes de P. moniliformis. Já o ano de 2017 foi o ano de maior
positividade, tendo ele um total de 3 publicações. Deste modo, é possível perceber que as
sementes de P. moniliformis é uma espécie de grande potencial econômico, mas que
necessita de mais estudos com enfoque em qualidade e melhoramento.

CONCLUSÕES

Diante das referências analisadas é possível perceber que os autores sugerem


utilizar o ácido sulfúrico e água a 100°C para superação de dormência da P.
moniliformis. Assim, é possível concluir que o método utilizando água quente torna-se
mais acessível, por ser um produto de baixo valor aquisitivo e de fácil manuseio quando
comparado ao ácido sulfúrico. Ainda se faz necessário estudos sobre tratamentos pré-
germinativos para a espécie estudada, visando, um melhor desempenho em campo e
laboratório, além de maior vigor das sementes.
2021 Gepra Editora Barros et al.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 30

AVALIAÇÃO DOS HÁBITOS DE CONSUMIDORES NA


MANIPULAÇÃO DOS ALIMENTOS, DURANTE A PANDEMIA DE
COVID-19
MAIA, Amanda Raquel Guerreiro
Graduanda em Tecnologia de alimentos
IFPB, campus Sousa
amandaraquelmaia@gmail.com

SILVA, Mateus Gonçalves


Mestrando em Sistemas Agroindustriais 341
Universidade Federal Campina Grande
Matheus.goncalves2102@gmail.com

SOUZA, Rayane da silva


Graduanda em Tecnologia de alimentos
IFPB, campus Sousa
silvarayanel269@gmail.com

RESUMO

Diante do contexto de COVID-19, a quarentena foi uma das medidas governamentais


adotadas em diferentes países, afetando a vida de milhões de indivíduos, inclusive dos
hábitos alimentares dos brasileiros. Assim, este artigo apresenta os resultados de uma
pesquisa que buscou avaliar os hábitos dos consumidores brasileiros na manipulação dos
alimentos, durante a pandemia de Covid-19. Para isso, realizou-se uma enquete eletrônica
(Google Forms) que permitiu que os indivíduos respondessem o questionário online,
contendo perguntas objetivas, entre os meses de fevereiro a março de 2021. Sendo o
formulário dividido em duas partes: caracterização socioeconômica e acerca dos hábitos
de compra e manipulação de alimentos durante a pandemia. Participaram 156 pessoas de
diferentes regiões brasileiras, correspondentes aos estados do Ceará, Paraíba, Pará, Rio
Grande do Sul, Rio grande do Norte, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e
Maranhão. Com base na análise dos dados obtidos, foi possível observar que as pessoas
estão adotando pequenas ações, como a utilização de álcool e sabão para a realização da
desinfecção das embalagens e dos alimentos que entram em nossas casas, sejam elas
provenientes de feiras, mercados, deliverys e de lanchonetes. Enquanto que outros não
tomam os cuidados diariamente, realizando-os às vezes ou raramente, fazendo-se
necessário um alerta à estas pessoas para que torne isso um hábito e não um dever,
evitando assim, o contágio do vírus em casa, e o prolongamento da situação pandêmica.

PALAVRAS-CHAVE: Coronavírus, Embalagens, Transmissão.

INTRODUÇÃO

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, em janeiro de 2020, que a


Síndrome Respiratória Aguda Grave do Coronavírus (SARS-CoV-2), doença causada
pelo novo coronavírus, conhecida como COVID-19, constituía uma Emergência de Saúde
Pública de Importância Internacional (ESPII). Esta caracterização passou a ser
considerada como uma pandemia a partir do mês de março de 2020, quando o vírus
atingiu diversos países do mundo (OPAS/OMS, 2020). Por conseguintemente não
2021 Gepra Editora Barros et al.

demorou muito para que surgisse o primeiro caso na América Latina, que foi confirmado
em São Paulo em 26 de fevereiro de 2020, mediante importação do vírus do norte da
Itália, comprovada pela análise genética do vírus (CANDIDO, 2020).
Um episódio levou ao questionamento sobre se o coronavírus pode ser transmitido
por meio de embalagens de alimentos, onde traços deste vírus foram encontrados em
embalagens de um lote de frango na China, exportado pelo Brasil, o maior produtor
mundial. Segundo a prefeitura da cidade chinesa de Shenzhen, o vírus foi detectado em
um controle de rotina e o lote pertencia ao frigorífico Aurora, de Santa Catarina. Esse
caso foi noticiado em uma das reportagens na BBC News, departamento dentro da British
Broadcasting Corporation responsável pela área de jornalismo e notícias da corporação
(BBC NEWS BRASIL, 2020).
Percebeu-se que a propagação do vírus além de estar representando uma grande 342
ameaça para a saúde global, também vem interrompendo as atividades diárias da
população, devido à necessidade de distanciamento social aconselhada pela OMS, a fim
de retardar a disseminação da doença (OLIVEIRA; ABRANCHES; LANA, 2020).
Conforme a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), OMS e entidades
internacionais de controle sanitário de alimentos indicam que não existe transmissão da
Covid-19 por meio dos alimentos e, portanto, ela não é considerada uma Doença
Transmitida por Alimentos (DTA). Entretanto, mesmo que os alimentos não sejam
considerados prováveis veículos de transmissão do vírus, considera-se fundamental o
atendimento às Boas Práticas de Fabricação (BPF) e da manipulação de alimentos nesse
momento, de forma a continuar a garantir a entrega de alimentos seguros à população
brasileira (BRASIL, 2020). Não só os alimentos como também as embalagens devem
obter uma maior atenção na higiene dos mesmos.
Segundo uma pesquisa realizada pela Xian Penge, a disseminação de uma doença
infecta rapidamente comunidades de diversos países por meio de espirro, tosse, inalação
de gotículas ou por contato indireto a mucosas orais, nasais e oculares, pelo contato
próximo com um indivíduo infectado ou por contágio indireto, ou seja, por meio de
superfícies e objetos contaminados, principalmente pela tosse e espirro de pessoas
infectadas. No entanto, pesquisas da OMS demostraram que o coronavírus pode persistir
por poucas horas ou vários dias, dependendo do tipo de superfície, temperatura e umidade
do ambiente (PENG, 2020).
Na preparação de alimentos, uma das estratégias principais para evitar a exposição
e redobrar os cuidados com a higiene da comida, do ambiente e da higiene pessoal,
individualmente a lavação frequente das mãos. Tal qual pela higienização ou desinfecção
das superfícies e pelo uso de ação de detergentes, sabões e desinfetantes são os cuidados
básicos na manipulação de alimentos também devem ser levados em consideração, pois
previnem, além do novo coronavírus, uma série de outras doenças (BRASIL, 2020).
Nesse contexto a importância do cuidado na produção dos alimentos é recomendo
que as boas práticas na manipulação sejam apenas reforçadas, pois já são procedimentos
adotados para que haja controle higiênico durante a produção dos alimentos, garantindo
que eles cheguem seguros até o consumidor. A RDC 216 é uma resolução sanitária da
ANVISA e objetiva ponderar quais são os cuidados a serem mantidos durante a
manipulação para garantir que aos alimentos, sem qualquer tipo de contaminação, possa
colocar em risco a saúde dos consumidores evitando a disseminação do vírus. Para
garantir a prevenção é necessário fazer maiores exigências nas práticas de higiene
adotadas, por meio da supervisão e do treinamento, reforçando a importância do curso de
boas práticas de manipulação de alimentos, exigido na RDC 216 (BRASIL, 2004).
A reflexão acerca da manutenção da saúde é essencial neste período de pandemia,
como o fortalecimento do sistema imunológico, além da necessidade de aplicação de
2021 Gepra Editora Barros et al.

medidas de higiene para evitar contaminações. Ademais é fundamental que sejam


avaliadas as possíveis formas de contaminação do vírus no processo de manipulação e
manuseio de alimentos, sacolas e embalagens, durante o período de pandemia. Dessa
forma, pesquisas on-line rápidas, que exigem recursos humanos mínimos e podem atingir
um grande número de entrevistados em um curto espaço de tempo, podem ser uma
ferramenta valiosa para avaliar o conhecimento e percepções de uma doença infecciosa
no meio de um surto (ZHONG et al., 2020).
Em meio a toda incerteza e apelos ao distanciamento social, os consumidores estão
mudando seus hábitos neste período de pandemia em que estratégias de educação
sanitária através de meios de comunicação podem gerar transformações positivas nas
práticas de produção de alimentos seguros. Isso estimula a produção e divulgação de
materiais educativos com ampla exposição, pois esses podem contribuir com as boas 343
práticas de fabricação de alimentos (RODRIGUES, 2021).
Nesse sentido, torna-se importante conhecer o grau de conhecimento sobre como
se encontra o comportamento da população brasileira, principalmente após a
flexibilização das medidas do vírus, visando manter os cuidados que garantam a
seguridade do público. Pois, o longo tempo que a situação da pandemia se encontra, pode
gerar o desleixo das pessoas.

METODOLOGIA

A partir dos objetivos supracitados na introdução, os procedimentos adotados para


essa pesquisa foi à utilização do formulário online na plataforma Google Forms, pois
devido ao cenário atual, de quarentena, utilizamos um meio onde não houvesse contato
com os entrevistados.
O Google Forms tem agilidade e praticidade na coleta de dados e análise dos
resultados, pois quando respondido às respostas aparecem imediatamente às informações
repassadas pelo entrevistado. Uma prévia das perguntas foi escrita no Microsoft Word,
para fazer uma melhor análise das ordens cronológicas e em seguida, elaboramos o
formulário online, para depois realizarmos a divulgação.
Antes de iniciar a coleta de dados com o questionário virtual, foi inserido um Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) virtual para maiores de 18 anos, composto
por uma página de esclarecimento sobre a pesquisa, além da solicitação de autorização
para o uso dos dados.
A pesquisa foi lançada em fevereiro a Março de 2021, em toda região do Brasil,
incluindo Estados como o Ceará, Paraíba, Pará, Rio Grande do Sul, Rio grande do Norte,
Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Maranhão. A divulgação foi feito pelos
próprios integrantes dos grupos e parcerias, como amigos e familiares.
O questionário foi enviado via e-mail, divulgamos o link em redes sociais, como
Instagram, Whatsapp e Facebook, para que houvesse uma rápida divulgação e maior
acesso de pessoas ao mesmo tempo.
A amostra foi composta por 156 participantes, os mesmos responderam ao
questionário individualmente.
As perguntas foram formuladas em etapas, a primeira etapa o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), depois a caracterização socioeconômicas e
pessoais, e por fim, perguntas relacionadas em relação ao comportamento de manuseio
dos alimentos, de embalagens e quais foram às ações adotadas, na pandemia, para se
cuidarem do coronavírus dos produtos advindos de fora da residência, como deliverys e
supermercados.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Os dados obtidos foram analisados através de estatística descritiva e


confeccionados em gráficos no Excel para expor os resultados que serão discutidos a
seguir

RESULTADOS E DISCUSSÕES

CARACTERIZAÇÕES SOCIOECONOMICA DOS PARTICIPANTES

Um total de 156 pessoas voluntariou-se a participação na pesquisa, os quais estão


distribuídos em todo o Brasil. Estados como Ceará, Paraíba, Pará, Rio grande do Sul, Rio
grande do Norte, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Maranhão. No que concerne 344
aos aspectos socioeconômicos dos entrevistados, evidenciou-se que, a maioria dos
respondentes são do sexo feminino (71,2%), enquanto que o sexo masculino foi minoria
(28,8%). As faixas etárias foram entre 18 a 24 (37,8%), 25 a 35 (41,7%), 36 a 50 (18,6%)
e a partir de 51 (1,9%) anos de idade. Com escolaridade dividida entre, ensino superior
completo (66%), ensino superior incompleto (21,8%), ensino médio completo (11,5%),
ensino fundamental completo (0,6%). A renda familiar, baseando se no salário mínimo
atual de R$1.100,00. A maioria respondeu que é superior que 1 a 3 salários mínimos
(37,8%), enquanto que 25%, 20,5%, 16,7% responderam que ganhavam até 1 salário
mínimo, de 3 a 6 salários mínimo, ou recebem de até 6 ou mais de salários mínimos,
respectivamente (Tabela 1).

Tabela 1- Caracterização socioeconômica dos participantes


Variáveis Respostas
Sexo Feminino Masculino
71,2% 28,8%
Faixa etária 18- 24 25-35 36-50 50≤
37,8% 41,7% 18,6% 1,9%
Escolaridade Ensino Ensino Ensino Ensino
superior superior médio fundamental
completo incompleto completo completo
66% 21,8% 11,5% 0,6%

Renda familiar 1a3 1 salário 3a6 6 ou mais de


salários mínimo salários salários
mínimos 25% mínimos mínimos
37,8% 20,5%, 16,7%

Fonte: Autores (2021).


2021 Gepra Editora Barros et al.

COMPORTAMENTOS RELACIONADOS À MANIPULAÇÃO DE ALIMENTOS


REALIZADOS DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19

Questionou-se quantas vezes as pessoas costumam ir ao supermercado. 49,4%


responderam que uma vez na semana, 29,5% disseram que uma vez ao mês vão as
compras, 17,3% vão três vezes, na semana, enquanto que 3,8 % responderam que todos
os dias (Gráfico 1). O comportamento das pessoas de irem ao supermercado sem um
controle, de diminuir a frequência desses locais, onde há uma grande movimentação de
pessoas, elas se submetem aos locais com grandes chances de contaminação, por isso que
se é recomendado evitar sair de casa.

Gráfico 1- Quantas vezes no mês, as pessoas costumam ir a supermercados e/ou feiras. 345

Fonte: Autores (2021)

O resultado da fase inicial de um estudo desenvolvido por pesquisadores do CDTN


(Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear) em parceria com o Instituto de
Ciência Biológicas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) apresentou
evidências científicas de que há presença do coronavírus em aerossóis (partículas
invisíveis que ficam suspensas no ar). O estudo reúne evidências da possibilidade maior
de dispersão do vírus em espaços fechados com circulação de ar insuficiente, nos quais a
taxa de troca de ar costuma ser muito menor do que o necessário, na presença de
indivíduos tossindo, espirrando, gritando ou em atividades expiratórias
intensas, especialmente quando os protocolos de uso de máscara e distanciamento não
são respeitados (SILVEIRA; ABRAHÃO; PASSOS, 2021).
A presença de uma lista de compras é o recomendado para evitar que o indivíduo
realize suas tarefas com maior praticidade e rapidez, 44,2% das pessoas que responderam,
disseram que sempre faz uma lista antes de irem às compras. Porem, 35,5% votou que ás
vezes, 12,8% não realizam a lista e 7,7% raramente fazem. (Gráfico 2)
Gráfico 2- Entrevistados que costuma fazer uma lista de compras

Fonte: Autores (2021)

Quando há uma grande quantidade de pessoas no supermercado, 49,4% votaram


que costumam ir direto as compras, em contra partida que outros (32,7%) voltam outro
2021 Gepra Editora Barros et al.

horário, e 17,9% aguardam diminuir o fluxo de pessoas no local. O horário é de grande


importância para evitar o horário de pico, 45,5% sempre estão preocupam com o horário
antes de irem ao supermercado, apesar disso, 36,5%, 10,3%, 7,7% responderam que
raramente, não e às vezes, respectivamente, ocasionando muitas vezes a superlotação em
horário propício a isso. (Gráfico 3).

Gráfico 3- Entrevistados que responderam o que fazem quando há uma grande quantidade de pessoas no
local

346

Fonte: Autor (2021).

Gráfico 4- entrevistados que se preocupam com o horário de saída

Fonte: Autores (2021).

Os horários de pico nos supermercados são registrados nos aumentam entre 17h e
22h, quando os mercados costumavam ficar lotados de trabalhadores. Na parte da manhã,
das 9h às 11h, um pouco menor, mas foi registrado o dobro de clientes, se comparado ao
movimento de antes da pandemia. Das 11h às 13h, o movimento é mediano. Observações
como essas, são feitas a partir de uma ferramenta chamada de My Maps, Lançada em
2007, ajuda as pessoas a obter informações de localidades e dos horários de pico para que
os usuários saibam qual são os dias e horários mais movimentados para decidir a melhor
hora para sair de casa (MYMAPS, 2020).
Segundo Emanuel Goldman (2020) comprovou em laboratório, que o Sars-Cov-2
pode sobreviver por dias em superfícies sem vida, sobretudo em plástico. O autor cita
também que a chance de transmissão por meio de embalagens é muito pequena, e só existe
quando alguém infectado tosse ou espirra sobre a superfície (ou toca nela logo após
utilizar a mão para cobrir a tosse ou espirro). Mostrando assim, a importância da limpeza
nos produtos providos de feiras, mercados e lanchonetes. Esse foi um ponto importante
para analisar que 53,8% dos entrevistados passam álcool ou sabão, após chegar em casa
com a mercadoria. Ao mesmo tempo em que, 21,8% responderam que não, 19,9% às
vezes e 4,5% passa raramente (Gráfico 5).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Gráfico 5 - Entrevistados que passam álcool ou sabão na mercadoria, quando chegam em casa

Fonte: Autores (2021).


Do mesmo modo que 39,1% das pessoas fazem a colocação dos produtos em 347
recipientes devidamente higienizados, 35,3% se declaram que fazem às vezes, 14,7% para
não e 10,9% para raramente (Gráfico 6).

Gráfico 6- Entrevistados que retiram os alimentos da embalagem e os colocam em um recipiente,


devidamente higienizado.

Fonte: Autores (2021).

Não só a mercadoria tem que ser lavada, como os legumes e as sacolas plásticas
devem se passar pelo mesmo processo de limpeza, para que não haja transferências do
vírus pela mercadoria. Segundo os resultados da nossa pesquisa mostraram que 64,1%
lavam, enquanto que 21,2%, 9% e 5,8% responderam que às vezes, não e raramente,
respectivamente, lavam os legumes antes de porem na geladeira (Gráfico 7).

Gráfico 7- Entrevistados que Lavam os legumes, antes de por na geladeira.

Fonte: Autores (2021).

Além disso, as sacolas de supermercados não são desinfectados, por 62,8% das
pessoas que responderam, outras responderam que ás vezes (10,3%) e raramente (8,3%).
Todavia, uma pequena parcela das pessoas (18,6%), responderam que sempre fizeram a
lavagem das sacolas (Gráfico 8).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Gráfico 8- Entrevistados que lavam as sacolas dos entrevistados

Fonte: Autores (2021).


348
Outro ponto importante é sobre a troca de calçados, se eles possuíam um calçado
de sair e outro de ficar em casa. 48,1% disseram sim, 46,2% disseram não, 5,8% para
talvez. Não há evidências que a roupa precise ser lavada separadamente nestes casos.
Porém as roupas e utensílios de pessoas que estão com a COVID- 19, se cuidando em
isolamento domiciliar, devem ser lavados e higienizados separadamente das demais
(SOUZA, 2020).
A ida aos supermercados, feiras e lanchonetes apresentando sintomas da doença ou
não, é um fator que também tem que ser averiguado, pois o período de incubação de uma
doença infecciosa é o período que vai do contágio (da entrada do vírus no organismo) até
o aparecimento dos primeiros sinais e sintomas. Na COVID- 19 o tempo varia em média
de 5 a 13 dias. Por conseguinte, perguntou-se aos entrevistados se os mesmo já foram a
estabelecimentos apresentando algum dos sintomas do coronavírus, em sua maioria
94,2% responderam que não, enquanto que 2,6% responderam que sim, e 3,2% que
talvez (Gráfico 9).

Gráfico 9- Entrevistados que já foram a supermercados com sintomas parecidos com a Covid-19

Fonte: Autores (2021).

O problema é que estudos da doença têm mostrado que o paciente com a doença já
pode transmitir a infecção mesmo alguns dias antes do aparecimento de sinais e sintomas
(SERVIÇOS, 2020).
O delivery se tornou ainda mais presente na vida dos brasileiros com o fechamento
de salões de restaurantes como medida preventiva para conter o avanço do novo vírus.
Diante disso, perguntamos o que as pessoas costumam fazer com as embalagens de
delivery em suas residências, as respostam foram que 69,9% removem o alimento da
sacola, das embalagens para a louça, descartar as embalagens e higienizar as mãos antes
de comer. 16% removem o alimento da sacola e da embalagem para a louça, em seguida
descartar as embalagem e higienizar as mãos antes de comer. 14,1% Passam álcool nas
mãos antes da refeição (Gráfico 10).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Gráfico 10- Entrevistados costumam fazer com as embalagens do delivery

Fonte: Autores (2021).


349
A vista disso a Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN) destaca que a
higienização das embalagens dos produtos é de suma importância. Para isso, sugere que
a população, ao chegar das compras ou receber os produtos por serviço delivery, deve
lavar e higienizar as embalagens com água e sabão, e borrifar álcool 70% ou solução
clorada (2,0 a 2,5%) (ASBRAN, 2020).
A internet é uma ferramenta que estar ajudando a muitas pessoas no processo de
informações sobre a pandemia, o compartilhamento de informações e a busca por esse
conhecimento ajudam a combater a desinformação da população. Diante deste cenário,
os resultados apontam que 70,5% votaram que sim, 23,1% votaram que não, 6,4%
votaram que talvez, para pesquisas efetuadas pelos participantes na busca por
conhecimento no que respeito na transmissão do vírus por meio dos alimentos (Gráfico
11).

Gráfico 11- Entrevistados que buscaram pesquisar sobre a transmissão do Covid-19, por meio dos
alimentos.

Fonte: Autores (2021).

CONCLUSÃO

Conclui-se que as pessoas estão adotando pequenas ações, como a utilização de


álcool e sabão para a realização da desinfecção das embalagens e dos alimentos que
entram em suas casas, sejam elas provenientes de feiras, mercados, delivreis ou de
lanchonetes. Outras práticas estão em ação com o uso de sapatos para usar em casa e os
de uso externo, cuidados higiênicos com a comida, com o recebimento de deliverys, pela
busca por informações se tornaram atividades adotadas por essa quarentena.
Contudo, ainda existe uma pequena parte da população que não toma os cuidados
diariamente, realizando-os às vezes ou raramente, fazendo-se necessário um alerta as
pessoas para que torne isso um hábito e não um dever, evitando assim, o contágio do vírus
em casa.
2021 Gepra Editora Barros et al.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 31

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E ENUMERAÇÃO DE FUNGOS


FILAMENTOSOS E LEVEDURAS EM QUEIJOS MINAS
FRESCAL PROVENIENTES DE FEIRA LIVRE

VENÂNCIO, Anderson Henrique


Pós-graduando em Ciências dos Alimentos
Universidade Federal de Lavras
anderson123dfgh21@gmail.com

BALDUINO, Bruna Azevedo


Pós-graduanda em Ciências dos Alimentos 352
Universidade Federal de Lavras
brunaazevedo.94@hotmail.com

ALBERGARIA, Francielly Corrêa


Pós-graduanda em Ciências dos Alimentos
Universidade Federal de Lavras
franalbergaria@hotmail.com

SILVA, Mônica Aparecida


Graduanda em Nutrição
Universidade Federal de Lavras
mondiga25@gmail.com

PICCOLI, Roberta Hilsdorf


Professora titular
Universidade Federal de Lavras
rhpiccoli@ufla.br

RESUMO

Dentre os derivados lácteos, o queijo “Minas frescal” se destaca por seus benefícios
nutricionais, sendo consumido por várias classes sociais. Entretanto, por ser feito de
forma artesanal, durante suas etapas de produção e armazenamento, o queijo pode ser
contaminado por microrganismos responsáveis por modificar suas características
sensoriais e físico-químicas, podendo até mesmo, oferecer riscos à saúde do consumidor.
Diante deste contexto, este trabalho teve como objetivo avaliar a presença de fungos
filamentosos e leveduras, determinar os valores de atividade de água (Aw) e pH durante
a vida útil de queijos “Minas frescal”, provenientes de uma feira livre na região de Lavras
- Minas Gerais. Foram coletadas três unidades de queijo do mesmo lote e encaminhados,
imediatamente, ao Laboratório de Microbiologia de Alimentos, onde procedeu-se as
análises microbiológicas e físico-químicas. Foram realizadas análises nos tempos 24, 48
e 72 horas de fabricação. Os resultados demonstraram que a marca do queijo “Minas
frescal” comercializado, encontrava-se em condições higiênico sanitárias insatisfatórias
no tempo de 72 h, quando enumerados os fungos filamentosos. Os queijos apresentaram
contagens de fungos iguais a 1,0 x 101 UFC.g-1 (tempo 24 e 48 h) e 1,0 x 103 UFC.g-1 (72
h). O pH diminuiu durante a vida útil e a atividade de água (Aw) permaneceu alta durante
todos os tempos avaliados. Ressalta-se que durante a etapa de produção dos queijos, os
manipuladores devem ter as mãos higienizadas, e também, os utensílios, para dessa
forma, reduzir os riscos microbiológicos, evitando assim que seja comprometida a
qualidade final do produto.

PALAVRAS-CHAVE: Microrganismos, qualidade, lácteos.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

O leite é uma substância de alto valor biológico, caracterizado quimicamente por


possuir nutrientes como carboidratos, proteínas, lipídeos, minerais, vitaminas e água
(SALEH et al., 2019). É um dos alimentos necessários desde os primeiros momentos da
vida, por ser fonte de nutrientes que atuam de forma fisiológica no organismo (GURGEL,
2017).
O teor nutritivo do leite se torna indispensável para manter a nutrição, crescimento
e desenvolvimento, sendo seu consumo, não só na forma fluida, mas também como
derivados do leite. Um bom exemplo são os queijos, alimentos capazes de suprir as
necessidades nutricionais (SALEH et al., 2019). 353
O queijo “Minas frescal “é um é um produto que quando mal armazenado, ou
obtido sem métodos de higiene, pode oferecer riscos à saúde do consumidor
(COUTINHO et al., 2020). Quando este alimento é produzido de forma artesanal ou
industrial, o leite utilizado na sua produção deve ser pasteurizado. Deve-se garantir que o
produto chegue à mesa do consumidor com qualidade e garanta, dessa forma, sua
segurança alimentar (DA SILVA et al., 2017).
De acordo com o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de
Origem Animal (RIISPOA), o queijo “Minas frescal” é um produto feito de forma
industrial ou artesanal, de massa crua, coalhada, dessorada, que não sofre processo de
maturação (BRASIL, 2017). O queijo “Minas frescal” se caracteriza pelo alto teor de
umidade (55% a 60%), sendo boa fonte de gordura láctea, com médias variando de 16%
a 18% (LIMA; CARDOSO, 2019). Devido à sua composição, o queijo “Minas frescal”
se torna um meio propício para o desenvolvimento de fungos filamentosos e outros
microrganismos patogênicos (PINTO et al., 2011). Dentro da indústria de alimentos, a
contagem de fungos filamentosos e leveduras indicam a qualidade do produto final. São
capazes de se multiplicar em pH baixo e se desenvolver, também, em alimentos com alta
umidade.
Os fungos são microrganismos diferentes das leveduras. Eles são eucariotos
unicelulares ou pluricelulares, que possuem como material genético o ácido
desoxirribonucleico (DNA). Desenvolvem hifas longas que formam uma massa celular
no fungo denominada micélio, sendo suas formas unicelulares as leveduras, que na sua
morfologia são ovais ou elipsoides, sendo maiores que as bactérias (TORTORA;
FUNKE; CASE, 2017). Os fungos filamentosos e as leveduras indicam falhas higiênicas
na obtenção do produto e deterioram os alimentos.
Durante a deterioração dos alimentos, os fungos são aeróbios estritos. Entretanto,
as leveduras são capazes de resistir à ausência de oxigênio (O2) (DA SILVA et al., 2017).
O queijo “Minas frescal” artesanal, pode ser embalado em plásticos ou comercializado
em recipientes com ausência de oxigênio (fator intrínseco), levando à multiplicação de
fungos filamentos e leveduras.
Quando o queijo é manipulado incorretamente, o prazo de validade do produto
pode ser reduzido, causando problemas tecnológicos que não agradam o consumidor (De
BORTOLI, 2018; SALEH et al., 2019).
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Os fungos filamentosos podem crescer algumas vezes, dependendo das condições


em bolsas de ar presentes entre a embalagem e a superfície dos queijos, pois, o que limita
seu crescimento é o oxigênio. Uma das maneiras de eliminação é o processo de
pasteurização a 72 ºC por 15 segundos, processo usado pelos laticínios que inativa
esporos e fungos. Entretanto, existem espécies que são capazes de produzir esporos
resistentes (SOBRAL, 2017). Aliado a isto, devido à alta umidade e por não haver uma
correta prensagem do queijo durante a etapa de produção, é favorecido o aparecimento
de grande quantidade de soro que pode promover a multiplicação de microrganismos
patogênicos (PINTO et al., 2011).
As análises de pH e atividade de água merecem destaque por indicar o
354
comportamento de diversos microrganismos nos alimentos. O crescimento de fungos
filamentosos e leveduras acontece em pH baixo, e alimentos com um alto teor de água,
como os queijos “Minas frescal”, favorecem a multiplicação destes microrganismos
(AZEREDO et al., 2012)
Devido aos riscos microbiológicos à saúde do consumidor, como a presença de
fungos filamentosos e leveduras em derivados lácteos, que podem modificar suas
características sensoriais, este estudo teve como objetivo avaliar a vida útil de uma marca
de queijo “Minas frescal’ proveniente de uma feira livre, na região de Lavras-MG, por
meio da contagem de fungos filamentosos e leveduras, determinação do pH e atividade
de água.

MATERIAL E MÉTODOS

Local de condução do experimento

As análises microbiológicas foram realizadas no Laboratório de Microbiologia de


Alimentos, do Departamento de Ciência dos Alimentos (DCA), localizado na
Universidade Federal de Lavras (UFLA), Lavras, Minas Gerais.

Coleta de amostras de queijo e acondicionamento

Três unidades de queijo “Minas frescal”, da mesma marca e com 24 h de fabricação


artesanal, foram coletados em uma feira livre da cidade de Lavras, MG, de forma
asséptica, acondicionadas em caixa isotérmica, climatizada com gelo a 4,0 °C e
conduzidas imediatamente ao Laboratório de Microbiologia de Alimentos do
DCA/UFLA, para realização das análises microbiológicas e físico-químicas.
As análises foram realizadas nos tempos de 24, 48 e 72 h após a fabricação, com
base no prazo de validade presente no rótulo de 7 dias. Para tanto, os produtos foram
armazenados sob refrigeração à 7°C.

Análises microbiológicas

As bancadas e as embalagens dos queijos “Minas frescal” foram higienizadas com


uma solução de álcool 70% (m/v). Logo em seguida, usando uma tesoura e uma espátula
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esterilizadas, foram coletadas a unidade analítica de 25 g de cada queijo. As amostras


foram homogeneizadas com 225 mL de Caldo Citrato de Sódio 5% (m/v), em
homogeneizador tipo Stomacher (Seward Stomacher 400 Lab) a 490 golpes/min, por 2
min. Procederam-se as análises em câmara de fluxo laminar esterilizada para evitar a
contaminação.
Alíquotas de 1 mL de cada amostra foram transferidas para tubos contendo 9 mL
de água peptonada a 0,1% (m/v). A contagem total de fungos filamentosos e leveduras
foram realizadas conforme a metodologia proposta por Da Silva et al. (2017). Todas as
análises foram realizadas em triplicata e com três repetições.
A quantificação de fungos filamentosos e leveduras foi realizada pela inoculação
355
de alíquotas de 0,1 mL das diluições adequadas pelo método de superfície em ágar
Dichloran Rose Bengal Chloramphenicol (DRBC) com incubação a 28 ºC por 5 dias.
Posteriormente, foi feita a contagem de Unidades Formadoras de Colônias (UFC) por
grama, sendo selecionadas para essa contagem, placas que continham entre 25 e 250
colônias, com o auxílio de um contador de colônias (modelo CP602, BEL).

Análises físico-químicas

Foram realizadas as análises de pH e atividade de água, em triplicata, na amostra


de queijo “Minas frescal”.
A leitura do pH foi determinada de acordo com o Instituto Adolfo Lutz (IAL, 2008),
em três repetições, utilizando o pHmetro (modelo HI99163, HANNA INSTRUMENTS)
de ponta fina de penetração com a inserção do eletrodo diretamente sobre a amostra. Para
a calibração antes da leitura, foi utilizado uma solução tampão de pH 4,0 e 7,0,
introduzindo o potenciômetro. Foi realizada a leituras em 3 pontos diferentes das
amostras de queijo com a inserção de um eletrodo diretamente dentro da amostra. O
eletrodo foi limpo com água destilada e seco com um papel toalha fino após cada leitura.
A atividade de água (Aw) foi determinada por meio da leitura de unidades analíticas
de 10 g da amostra de queijo “Minas frescal”, em aparelho (Aqualab® modelo 4 TE),
com temperatura de 25 °C±1 °C.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A contagem média de fungos filamentosos das amostras de queijo “Minas frescal”


nos tempos avaliados (24, 48 e 72 h), estão demonstrados na Tabela 1.

Tabela 1. Contagem média de fungos filamentosos e leveduriformes em amostra de queijo “Minas


frescal” artesanal avaliado nos tempos 24, 48 e 72 h de fabricação.

Tempos (h) Fungos filamentosos e leveduriformes (UFC.g-1)

24 1 x 101
48 1 x 101
72 1 x 103
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Fonte: Dos autores (2021).

A legislação brasileira da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)


vigente define os padrões microbiológicos de alimentos através da Resolução - RDC Nº
331, de 23 e dezembro de 2019, que não limita a contagem de fungos filamentosos e
leveduras para queijos (BRASIL, 2019). Entretanto, a presença desses microrganismos
indica condições de higiene insatisfatórias durante a produção (FEITOSA et al., 2003).
Segundo algumas literaturas consultadas (CARVALHO, 2015; GARCIA et al., 2017;
PINTO et al., 2011), onde encontraram resultados de populações elevadas, com contagens
de até 106 UFC.g-1 de fungos filamentosos e leveduras, já demonstra que o queijo Minas
frescal comercializado na feira é inapropriado para o consumo. Dessa forma, como pode 356
ser observado pela Tabela 1, houve uma elevada contagem (1 x 103 UFC.g-1) de fungos
filamentosos e leveduras na amostra de queijo “Minas frescal” no período de 72 h de
fabricação, com valores menores que a literatura consultada, mas que não estão nos
padrões legais. Isso pode indicar que o queijo se encontra impróprio ao consumo, ou seja,
estão em condições higiênico-sanitárias insatisfatórias.
Nos laticínios fiscalizados pelos órgãos competentes são empregados métodos de
boas práticas de fabricação, onde o leite, principal matéria-prima, passa por um
processamento térmico denominado pasteurização, no qual é submetido a um
aquecimento a 72 ºC por 15 s, reduzindo assim, a carga microbiana nos seus derivados
(SILVA; BORTOLUCI; VIVAN, 2019). Já na produção artesanal, como foi fabricado o
produto avaliado no presente estudo, esse processamento térmico pode não ser realizado,
ou feito de forma errônea. Dessa forma, aliado às boas práticas de fabricação ineficientes,
pode conduzir ao aumento da carga microbiana e redução da vida útil do produto.
Amaral et al. (2020), avaliando a qualidade microbiológica de queijos produzidos
de forma artesanal, comercializados em feiras, encontrou em seus resultados que das 30
amostras avaliadas das 10 feiras do Distrito Federal, 33% continham bolores e leveduras.
Os autores enfatizam, ainda, que deve existir maior fiscalização dos órgãos
governamentais em relação aos queijos de produção artesanal, para garantir assim, a
qualidade destes produtos até à mesa dos consumidores.
As boas práticas de fabricação devem ser utilizadas durante toda etapa de produção
dos alimentos (BOAVENTURA et al., 2017; LOPES et al., 2020). Isto é necessário para
que os queijos não percam suas características nutricionais e não seja contaminado. O uso
de toucas, a lavagem correta de utensílios como formas de PVC, são formas de controle.
Muitas das vezes, o manipulador do produto é o principal contaminante, ao não higienizar
as mãos que são utilizadas para prensagem da massa (coalhada) na forma, durante a etapa
de produção.
Bairros (2020), durante enumeração de bolores e leveduras em queijo “Minas
artesanal”, produzido na cidade de Pelotas (Rio Grande do Sul), encontrou que, das 8
amostras analisadas, houve contagem expressiva de leveduras em seis amostras, variando
de 0,8 x 104 a 33,3 x 104 log UFC.g-1, sendo uma população mais alta. Além disso, em
seu estudo destacaram que a presença de bolores e leveduras indica a falta de higiene e
gera riscos à saúde do consumidor. A falta de análises físico-químicas e microbiológicas
2021 Gepra Editora Barros et al.

aos produtores rurais artesanais faz com que o produto seja comercializado em feiras, em
condições higiênico-sanitárias insatisfatórias.
Algumas falhas nas etapas de produção, desde a retirada do leite, podem interferir
na qualidade final do queijo. Durante a ordenha, a falta de higienização dos equipamentos,
utensílios e mãos de ordenhadores podem levar à contaminação do leite cru. Portanto, é
necessário a realização de um tratamento térmico, como a pasteurização, para eliminar os
microrganismos patogênicos presentes no leite (KLEINÜBING et al., 2021; LANGE,
2017; NETA et al., 2018). No entanto, esse procedimento também deve ser monitorado
para que não ocorra falhas no pasteurizador que possam resultar em uma pasteurização
ineficiente, que não seja capaz de eliminar todos os microrganismos.
357
Durante o processamento do queijo, também é necessário seguir as boas práticas de
fabricação e garantir uma correta higienização dos equipamentos e utensílios, como a lira,
utilizada no corte da coalhada, mesa, formas e facas, além de garantir uma correta
higienização das mãos dos colaboradores e a utilização de uma matéria-prima de
qualidade. O armazenamento também deve ser realizado de forma adequada, para manter
as características físico-químicas do produto (DE SOUZA et al., 2019).
Fungos filamentosos, leveduras entre outros microrganismos são contaminantes de
queijo. O processo de produção em si proporciona o desenvolvimento dos mesmos.
Portanto, deve haver um rigoroso controle, pois, altos níveis desses microrganismos são
indesejáveis em queijo “Minas frescal” (PINTO et al., 2011). Os fungos, ao serem usados
como indicadores, fornecem as condições de preparo dos alimentos, processamento e as
características de deterioração. Quando elevados em alimentos, reduzem sua vida útil.
Muitos queijos frescos, como exemplo o “Minas frescal” e a ricota, possuem atividade de
água e nutrientes em quantidades elevadas, estes favorecem o crescimento, também, da
microbiota acompanhante oportunista, prejudicando a integridade destes produtos.
Durante a etapa de produção do queijo Minas frescal, devem ser aplicadas as Boas Prática
de Fabricação, tendo como sugestão, a aplicação de um formulário check-list. (SANTOS,
2009).
Em relação às análises físico-químicas, os valores médios e desvios padrão de pH
e atividade de água da amostra de queijo Minas frescal avaliada após 24, 48 e 72 h de
fabricação estão apresentados na Tabela 2.

TABELA 2. Resultado médio do pH e atividade de água da amostra de queijo Minas frescal


artesanal avaliado nos tempos de 24, 48 e 72 h de fabricação.
Tempos (h) pH Atividade de água

24 6,08 ± 0,270 0,9947 ± 0,0039


48 6,65 ± 0,005 0,9859 ± 0,0021
72 6,38 ± 0,025 0,9951 ± 0,0131
Fonte: Dos autores (2021).

Conforme demonstrado na Tabela 2, o pH do queijo aumentou em 48 h de


armazenamento e decaiu após 72 h (6,65 para 6,38). Não houve alteração na atividade de
água, que se manteve alta, acima de (0,90), favorecendo a multiplicação de diversos
microrganismos, por ser um alimento perecível e com alto teor de água disponível. O que
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pode ser observado na Tabela 1, em que houve o crescimento de fungos filamentosos e


leveduras. A maioria dos fungos filamentosos e leveduras se multiplicam na faixa de
atividade de água de 0,80 a 0,88 e em pH baixo, entre 3,0 e 8,0 (DA SILVA et al., 2017).
Portanto, com a redução do pH ao longo dos dias de armazenamento, a população desses
microrganismos aumentou nas amostras de queijos.
Diversos estudos têm demonstrado a análise de pH e atividade de água em queijos
Minas frescal, sendo avaliados imediatamente após o período de fabricação (tempo 0) e
durante sua vida útil.
De Souza (2020), realizando um estudo em Rio Verde-Goiás, observou que durante
as análises físico-químicas dos queijos “Minas frescal” houve aumento da acidez ao longo
358
do tempo de armazenamento sobre refrigeração, em todas as temperaturas de
armazenamento testadas e relatou, também, uma queda no valor do pH durante todos os
dias de armazenamento. Concluiu que as variações de pH e acidez estão diretamente
ligadas ao consumo de lactose residual por microrganismos do queijo “Minas Frescal”,
ou também, devido ao uso da lactose pela microbiota acompanhante. Com isto, a
segurança e a qualidade dos alimentos são de muita importância para indústrias e
produções artesanais, com intuito do produto chegar ao consumidor com características
adequadas.
De Sousa (2017), estudando a qualidade microbiológica do queijo “Minas frescal”
comercializado na Zona da Mata Mineira, encontrou que os valores de pH variaram entre
4,98 e 7,14 e a Aw entre 0,989 a 0,904 em todas as amostras analisadas,
independentemente da origem de produção. Portanto, o queijo Minas frescal
comercializado na região apresentou baixa qualidade microbiológica, sugerindo
deficiências no processamento, transporte, armazenamento e/ou comercialização,
acarretando perigo à saúde humana. É importante ressaltar que queijos com maiores
valores de pH apresentam menor vida útil, visto que pH mais próximo da neutralidade
favorece a multiplicação de microrganismos. É importante ressaltar que valores mais
elevados de pH reduzem a vida de prateleira dos queijos (DE SOUZA, 2020).
A busca por alimentos de qualidade está cada vez mais explorada, o consumidor é
o responsável pela decisão de compra. Os queijos Minas frescal devem ser produzidos
com qualidade e apresentar características físico-químicas e microbiológicas favoráveis
para que ocorra sua comercialização.

CONCLUSÕES

A contaminação por microrganismos em queijos tipo Minas Frescal, quando não


manipulado e conservado corretamente, é comum. Pois, se trata de um queijo que contém
um alto teor de umidade. Por isso, são necessárias boas condições de higiene durante a
produção para evitar a presença de microrganismos como fungos filamentosos e
leveduras que, quando presentes em quantidades elevadas, trazem problemas de saúde ao
consumidor.
Os resultados da análise microbiológica demostram que o queijo Minas frescal não
está dentro dos padrões legais, apresentando-se em condição higiênico-sanitária
insatisfatória no tempo de 72 horas. Mostram também, que é necessário ter cuidado
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quanto a higienização de equipamentos e utensílios utilizados para fabricação, para que


não haja contaminação e ofereça riscos ao consumidor.
Os valores encontrados de pH e atividade de água são altos, favorecendo a
multiplicação de microrganismos.
Ressalta-se, que as boas práticas de fabricação devem ser utilizadas. É
imprescindível que se mantenham a fiscalização e o controle microbiológico destes
produtos, além de informar e conscientizar os produtores, manipuladores e a população a
respeito dos riscos de saúde pública na qual estão expostos ao consumirem produtos não
fiscalizados.
359
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362
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 32

AVALIAÇÃO MICROBIOLOGICA DE QUEIJO MUÇARELA


PRODUZIDO NO INTERIOR DO CEÁRA

LIMA, Natália Duarte de


Professora do Eixo de Produção Alimentícia
Faculdade de Tecnologia Centec – FATEC Sertão Central
nataliaduartelima@gmail.com

PINHEIRO, Juliana Matias


Tecnóloga em Alimentos
Faculdade de Tecnologia Centec – FATEC Sertão Central 363
juliana.matias15@yahoo.com.br

GUIMARÃES, Francilda Rodrigues


Tecnóloga em Alimentos
Técnica de Laboratório Fatec Sertão Central – Quixeramobim - CE
cildinha05@yahoo.com.br

MOURA, Rodrigo Leite


Doutorando em Engenharia de Processos (CCT/UFCG)
Professor do Instituto Federal de Alagoas (IFAL)
Campus Piranhas
rodrigo.moura@ifal.edu.br

REGO JUNIOR, Pedro Francisco do


Graduando em Engenharia de Produção Civil
Instituto Federal do Ceará (IFCE)
Campus Quixadá
pfrj23@gmail.com

RESUMO

A Muçarela é um queijo conhecido mundialmente, sendo de sabor suave, de massa macia,


composto por 46 a 49% de umidade e encontra-se entre os queijos mais consumidos no
Brasil. A presença de coliformes totais e termotolerantes indica contaminação de origem
ambiental e fecal, respectivamente, baixa qualidade microbiológica e condições
higiênico-sanitárias insatisfatórias durante o processo de produção do queijo, além da
possibilidade da presença de enteropatógenos. O objetivo do presente trabalho foi avaliar
a qualidade de queijo tipo Muçarela produzido no interior do Ceará. Foram analisadas 12
amostras de queijo coletadas diretamente do laticínio, no período março a maio de 2019.
Foram realizadas analises de identificação de coliformes totais e fecais, Staphylococcus
aureus e Salmonella sp. Para o queijo Muçarela, foi observado que todas as amostras
apresentavam contagens de coliformes totais e fecais de acordo com os padrões
preconizados, ausência de E. coli e Salmonella sp. Os resultados encontrados para
Staphylococcus aureus estão de acordo com a legislação e ausência de Staphylococcus
coagulase positiva. Conclui-se que o queijo do tipo Muçarela produzido em laticínio no
interior do Ceará apresentou-se dentro dos padrões estabelecidos pelas legislações vigentes.
Desta forma, este estudo mostra a importância de um controle microbiológico frequente
de queijos nos laticínios no estado e a necessidade de sensibilização junto aos produtores
envolvendo toda a cadeia produtiva do leite e seus derivados.

PALAVRAS-CHAVE: Microrganismos, qualidade, segurança alimentar.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

Entre os derivados do leite, o queijo é um dos principais produtos, tendo alta


solicitação para consumo humano, sendo um concentrado proteico-gorduroso, cuja
aquisição é obtida através da coagulação do leite e a seguinte remoção do soro. A
produção do queijo é uma arte que, independentemente do nível de industrialização ou
do nível tecnológico, requer do fabricador dedicação e cuidados em cada etapa de
fabricação, para a obtenção de um bom produto.
O queijo se forma com a coagulação do leite pela adição de coalhos, enzimas
coagulantes ou pelo ácido lático produzido por determinados microrganismos ou
adicionados intencionalmente, dessora-se a coalhada por corte ou prensagem, forma-se 364
os moldes e, em seguida ocorre a maturação durante determinado tempo com temperatura
e umidade relativas determinadas (ORDÓNEZ, 2005).
Define-se como queijo o produto obtido da separação parcial do soro do leite,
coagulado por ação física, enzimática, bacteriana, ácidos orgânicos isolados ou
combinados, todos aptos ao consumo, com ou sem agregação de substâncias alimentícias
e/ou especiarias e/ou condimentos, aditivos especificamente indicados, substâncias
aromatizantes e matérias corantes (BRASIL, 1997).
A Muçarela é um queijo conhecido mundialmente, sendo de sabor suave, de massa
macia, é composto por 46 a 49% de umidade, 22% a 24% de gordura; teor de sal variando
entre 1,6% a 1,8%; e pH entre 5,1 e 5,3, encontra-se entre os queijos mais consumidos no
Brasil, devido à sua utilização como ingrediente em pizzas. Durante a produção deste
queijo algumas etapas do processo são capazes de reduzir a contaminação microbiana,
como, por exemplo, a pasteurização e a filagem, porém a manipulação nas etapas
subsequentes até a embalagem do produto acabado pode representar pontos importantes
de recontaminação (FAGNANI et al., 2013).
Segundo Flisch (2010), Germano e Germano (2008) todo alimento possui uma
microbiota própria associado à sua matéria prima e por contaminantes adquiridos durante
etapas do seu processamento e por aqueles que tiveram condições de sobreviver aos
processos aplicados durante seu preparo e acondicionamento. No queijo Muçarela as
várias etapas envolvidas na fabricação do queijo muçarela, tais como a pasteurização do
leite, coagulação, corte do coágulo, dessoragem, filagem, enformagem, salga, maturação
e embalagem, contribuem para o aumento do risco de contaminação microbiológica, sob
o ponto de vista microbiológico. Além de seu valor nutricional, os queijos possuem
considerável importância no perfil de consumo da população brasileira, integrando os
hábitos e a cultura nacional (APOLINÁRIO et al., 2014).
Os queijos estão sujeitos à contaminação por microrganismos de diversas origens
(animal, ambiente e ser humano). A qualidade microbiológica de variedades de queijos
está associada a variáveis como a qualidade do leite, influenciada pela sanidade do
rebanho e higiene na obtenção do leite, preparo e processamento do leite, uso e eficiência
de tratamento térmico (pasteurização), higiene de equipamentos e utensílios,
armazenamento e conservação, distribuição e comercialização (APOLINÁRIO et al.,
2014).
2021 Gepra Editora Barros et al.

A depender do nível de contaminação microbiana e de suas características, o


alimento pode ocasionar ao consumidor, infecções e intoxicações alimentares, que podem
ser denominadas como doenças transmitidas por alimentos (FLISCH, 2010). As bactérias
consideradas coliformes totais fazem parte da família Enterobacteriaceae, e têm a
capacidade de fermentar a lactose e produzir gás a 35°C. O grupo de coliformes a 45°C
ou totais colonizam o trato intestinal de animais de sangue quente, incluindo os homens
e têm sido empregados como indicadores de qualidade higiênica por muitos anos. O grupo
dos coliformes totais, população predominantemente constituída por E. coli, caracterizam
um grupo de microrganismos indicativos de contaminação de origem fecal (OKURA;
MOACIR 2010).
365
A determinação de coliformes é de grande valor devido ao fato que estes
microrganismos são eliminados facilmente durante a pasteurização. Desta forma, a
sobrevivência dos coliformes após a pasteurização pode estar relacionada à deficiência
do processo ou à contaminação dos equipamentos (RODRIGUES; FERREIRA, 2016).
Dentre os microrganismos que podem indicar a falta de segurança e higiene do
queijo, estão: Coliformes fecais e totais, Staphylococcus aureus e Salmonella sp.
(BRASIL, 2009). A IN 60/2019 estabelece as listas de padrões microbiológicos para
alimentos prontos para oferta ao consumidor, nesta estabelece-se que em queijo
Escherichia coli/g, para queijos com umidade igual ou acima de 46%, estafilococos
coagulase positiva/g de 102 e Salmonella / 25 g deve ser ausente.
A qualidade do queijo Muçarela, a manutenção das suas características sensoriais
e a segurança alimentar são essenciais aos consumidores. Dessa forma, o objetivo deste
trabalho foi verificar qualidade microbiológica de queijo Muçarela produzido no interior
do Ceará através da identificação de microrganismos do grupo coliformes totais, fecais
(E. coli), Staphylococcus aureus e Salmonella sp.

MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de um estudo quantitativo e qualitativo sobre as características


microbiológicas de queijos Muçarela produzidos em um laticínio no interior do Ceará.
Foram coletadas diretamente do laticínio no período de março a maio de 2019,
imediatamente após a produção, uma amostra semanal, durante 3 meses, totalizando 12
amostras de lotes diferentes. As amostras (200 g) foram embaladas a vácuo, identificadas
(M1, M2, M3 até M12) em caixa isotérmica com gelo até o Laboratório de Microbiologia
da Faculdade de Tecnologia Fatec Sertão Central – Quixeramobim - Ceará.
Para determinação de Staphylococcus aureus as amostras foram preparadas em
condições assépticas, após abertas as embalagens das amostras, pesou-se 25 gramas de
cada amostra e feita a diluição 10-¹ em solução salina a 0,8%, e a partir dessa primeira
diluição preparou-se as demais diluições, 10-² e 10-³.
Utilizou-se o método de contagem direta de placas, segundo Silva et al., (2010).
Para tanto, foram utilizadas as três amostras diluídas, na qual inoculou-se 0,1 mL de cada
diluição na superfície de placas de Ágar Baird-Parker. O inóculo foi espalhado com uma
alça de Drigalski, até que todo o excesso de líquido fosse absorvido, e as placas foram
2021 Gepra Editora Barros et al.

incubadas invertidas durante 48 horas a 35ºC. Em seguida, foram contadas as colônias


típicas de Staphylococcus aureus que se caracterizam sendo: colônias circulares, pretas,
pequenas (máximo 1,5 mm em diâmetro), com bordas perfeitas, lisas, convexas, massa
de células esbranquiçada nas bordas, rodeadas por uma zona opaca e/ou um halo
transparente, estendendo para além da zona opaca e as colônias atípicas podem ser
cinzentas, sem um ou ambos os halos típicos. Os dados obtidos foram expressos em
UFC/g.
Para determinação de coliformes totais e fecais foi utilizada a metodologia do
número mais provável seguido pelas normas do Manual de métodos de análises
microbiológicas Silva et al., (2010). Para a inoculação selecionou-se as três diluições
366
previamente preparadas da amostra, adicionando 1 mL da diluição em três séries de três
tubos de Caldo Verde Brilhante Bile (CVBB). Incubou-se os tubos do Caldo Verde
Brilhante (VB) a 35ºC por 24 - 48 horas para verificar crescimento com formação de gás.
Caso positivo determinar a contagem de coliformes totais.
Contagem de coliformes fecais: Os tubos de Caldo VB com produção de gás foram
repicados para tubos de caldo E. coli (EC), com duas alçadas e incubou-se em banho-
maria a 45,5ºC por 24 horas. Nos tubos que apresentaram crescimento com produção de
gás foram transferidos para o Ágar Teague e incubou-se a 35ºC por 24 horas. Caso
positivo, passar para o tubo contendo meio SIM, com agulha bacteriológica, incubar a
35ºC por 24 horas e após esse período gotejar o reagente de Indol, para a confirmação de
coliformes fecais. A determinação do número mais provável NMP/g de coliformes totais
e fecais foi verificada de acordo com a tabela de NMP apropriada às diluições inoculadas
(SILVA et al., 2010).
Para determinação de Salmonella sp., seguiu-se a metodologia descrita no Manual
de métodos de análises microbiológicas de Silva et al., (2010). Foram pesados 25 gramas
do queijo, na qual foram agitados nos Erlenmeyer com 225 mL de Caldo Lactosado de
pré-enriquecimento e levados a incubação a 35°C por 24 horas. Em seguida,
homogeneizou-se este caldo e transferiu-se 1,0 mL para o Caldo Selenito Cistina (SC),
que foram incubados por 24 - 48 horas a 35°C. Foi realizado plaqueamento de
diferenciação, na qual realizou-se estrias com uma alçada do caldo SC em placas de Ágar
Entérico de Hectoen (HE), incubando estas placas invertidas a 35°C por 24 horas onde
foi verificado se houve presença de colônias típicas de Salmonella. No ágar HE as
colônias são transparentes, verde azuladas, com ou sem centro preto, as cepas são
fortemente produtoras de H2S e podem produzir colônias inteiramente pretas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos nas avaliações microbiológicas para as amostras de Muçarela


podem ser verificados na Tabela 1.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Tabela 1. Avaliação microbiológica em queijo Muçarela produzida em laticínio no interior do Ceará.


Parâmetros
Staphylococcus Salmonella
Coliformes
Amostras Coliformes fecais aureus (UFC/g) E. coli sp.
totais
(NMP\g) (Ausência) (Ausência
(NMP\g)
em 25g)
M1 < 3,0 < 3,0 1,0 x 102 Ausência Ausência
M2 3,0 < 3,0 1,1 x 10 Ausência Ausência
M3 < 3,0 < 3,0 8,0 x 10 Ausência Ausência 367
M4 < 3,0 < 3,0 9,0 x 10 Ausência Ausência
M5 <3,0 < 3,0 5,0 x 10 Ausência Ausência
M6 6,1 x 10 6,1 x 10 6,0 x 10 Ausência Ausência
M7 2,1 x 10 1,2 x 10 5,0 x 10 Ausência Ausência
M8 5,1 x 10 3,5 x 10 8,0 x 10 Ausência Ausência
1
M9 3,5 x 10 2,5 x 10 8,0 x 10 Ausência Ausência
M10 < 3,0 < 3,0 10 x 10 Ausência Ausência
M11 5,1 x 10 3,5 x 10 10 x 10 Ausência Ausência
M12 < 3,0 < 3,0 1,0 x 102 Ausência Ausência
Padrão da
- - 102 102 Ausência
IN 60/2019
Portaria
1,0 x 105 5,0 x 103 1,0 x 103 - Ausência
364/97
Fonte: Da pesquisa (2019).

Ao avaliar os valores obtidos para coliformes totais observa-se que estão de acordo
com o estabelecido pela IN 60/2019 (BRASIL, 2019) e Portaria 364/1997 (BRASIl,
1997). A presença de coliformes em queijos fabricados com leite pasteurizado pode estar
relacionado com falhas no processo de pasteurização ou recontaminação pós-
pasteurização nas etapas subsequentes do processo (SANTOS e HOFFMAN, 2010).
Outro fator que influência a contaminação microbiana em queijos são as más
condições higiênico-sanitárias do leite e as precárias condições da fabricação dos queijos,
condições que resultam na baixa qualidade microbiológica dos queijos brasileiros
(TESSER et al., 2016).
Battaglini et al., (2012) relataram resultados de contagem de coliformes totais em
queijo Muçarela foi de 3,7 x 105 UFC/g e em queijo parmesão, 5,1 x 104 UFC/g. De
acordo com Kousta et al. (2010), é importante destacar que as bactérias do grupo
coliformes quando presente em alimentos é um indicativo de manipulação incorreta e
falta da aplicação de procedimentos de boas práticas de fabricação, podendo ser
considerado um indicativo de contaminação de origem fecal, evidenciando assim risco à
saúde dos consumidores, pois podem estar associadas a microrganismos patogênicos
como E. coli, Salmonella e S. aureus.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Oliveira et al., (2021) ao pesquisarem 21 amostras de queijo Minas Frescal


clandestinos comercializados no norte do Tocantins, verificaram que 100% das amostras
estavam em desacordo com o padrão máximo de coliformes totais e fecais previstos na
legislação.
Verifica-se que o processo tecnológico de produção do queijo tipo Muçarela inclui
a etapa de filagem realizada com água em torno de 80 ºC, nestas condições é esperado
que boa parte da contaminação introduzida no produto até essa etapa seja eliminada,
sobretudo os coliformes, que são bastante sensíveis às altas temperaturas. No entanto, as
etapas seguintes de desenformagem, salga, secagem e embalagem do produto são pontos
de recontaminação microbiológica desse queijo e requerem monitoramento das condições
368
higiênicas de produção e boas práticas de fabricação (FAGNANI et al., 2013).
Segundo Silva et al., (2010) no grupo coliformes fecais, a Escherichia coli é a
espécie predominante da microbiota intestinal de animais de sangue quente e do homem,
sendo a principal indicadora deste tipo de contaminação fecal até o momento, embora sua
presença também possa ser a partir de fontes não fecais. De acordo com Sabioni e
Pinheiro, (2008) através das fezes do bovino a E. coli pode contaminar o leite no momento
da ordenha, sem o adequado tratamento térmico do leite a bactéria pode resistir ao
processo de produção causando contaminação do queijo e possível Gastroenterite após a
ingestão do queijo.
A presença de enterobactérias pode indicar a possibilidade de contaminação por
bactérias patogênicas como as do gênero Salmonella, responsáveis por inúmeros casos de
surtos de infecção alimentar (BATTAGLINI et al., 2012). A atual legislação brasileira
determina ausência de Salmonella sp, em 25 gramas de queijo Muçarela (Brasil, 2019),
sendo assim, conforme resultado exposto (Tabela 1) no presente estudo para este
microrganismo, os índices estão dentro dos parâmetros estabelecidos, já que não foi
detectado sua presença em nenhuma das amostras. Assim como nesta pesquisa, Lembi e
colaboradores (2020) encontraram ausência em 25 gramas Salmonella sp., em Muçarela
adquiridas diretamente em laticínio, em 100% das amostras.
Santos-Koelln; Mattana e Hermes (2009), citam que a Salmonella não apresenta-se
como boa competidora, sofrendo injúria em meios ácidos ou com a presença de
coliformes, principalmente, se a contaminação inicial for com um número pequeno de
células. Nestas condições, esses microrganismos podem desaparecer ou permanecer em
números indetectáveis em alimentos ácidos ou muito contaminados.
Oliveira et al., (2021) encontraram 85,71% das amostras (21 amostras analisadas
de queijo Minas Frescal) encontravam-se acima do limite máximo previsto para E. coli,
indicando contaminação de origem fecal nas amostras e potencial presença de outros
enteropatógenos.
Feitosa et al., (2003) citam que baixos níveis de contaminação, como os observados
nesta pesquisa, podem ser relacionados à qualidade da matéria-prima ou às condições de
processamento dos queijos.
Pesquisas realizadas por Rodrigues et al., (2011), Apolinário et al., (2014) e
Reginato et al., (2019) verificaram a ausência de Salmonella sp. em amostras de Muçarela
analisadas. Estes resultados são os desejados, considerando que esses produtos são
2021 Gepra Editora Barros et al.

largamente consumidos por grande parte da população e que estes microrganismos


quando presentes são considerados um risco a saúde do consumidor.
Castro et al., (2013), avaliaram 12 amostras de queijo Muçarela comercializado no
CEASA de Vitória da Conquista – BA, na determinação de Salmonella spp, encontraram
33,33% das amostras positivo, os autores salientam que estes resultados podem
representar risco potencial à saúde da população consumidora.
Os resultados obtidos neste trabalho apresentaram valor máximo de 1,0 x102 UFC/g
que é o limite superior estabelecido pela legislação. Ressalta-se que foi negativa o teste
para Staphylococcus coagulase positiva em todas as amostras avaliadas.
A existência do Staphylococcus aureus está associada normalmente à contaminação
369
na obtenção da matéria-prima ou principalmente nos equipamentos e utensílios utilizados
durante a manipulação, transporte, processamento e o armazenamento. No homem pode
ser encontrado na boca e fossas nasais, de onde se propaga direta ou indiretamente para a
pele e feridas. A preocupação com este microrganismo voltada a sua capacidade de
produzir enterotoxinas, as quais podem se apresentar como termoestáveis, resistindo ao
tratamento térmico durante o processamento de produtos lácteos, ou ainda termoestáveis,
sendo facilmente destruídas (FRANCO e LANDGRAF, 2002).
Neste trabalho as contagens para S. aures foram valores de máximo de 1,0 x 102 e
1,1 x 10 UFC/g. Segundo Sabioni e Pinheiro, (2008), uma população acima de 106 UFC/g
no alimento é o suficiente para o S. aureus produzir toxina em nível necessário para causar
uma intoxicação alimentar, ficando impróprio para o consumo humano.
Lembi et al., (2020) ressalta que queijos produzidos sem as devidas condições
higiênico-sanitárias, e com mão de obra não qualificada pode representar um risco a saúde
de seus consumidores, sendo também importante a inspeção da temperatura da
refrigeração nos pontos de venda, como no caso de feiras livres.
Marinheiro et al. (2015) e Amorim et al. (2014) ressaltaram a importância de um
maior cuidado na elaboração e aplicação dos programas de autocontrole da indústria de
derivados de leite, em especial no que se relaciona à higiene dos manipuladores e à
limpeza e desinfecção de equipamentos e superfícies que entram em contato com o
alimento, e maior rigor na fiscalização pelos órgãos de inspeção oficial, com adoção de
medidas que informem e conscientizem os produtores, os comerciantes e os consumidores
de forma a coibir a comercialização de produtos que possam representar riscos à saúde
pública.

CONCLUSÕES

Os estudos aqui desenvolvidos mostram, que a produção de queijo do tipo Muçarela


produzido em laticínio no interior do Ceará apresentou-se dentro dos padrões
estabelecidos pelas legislações vigentes. Desta forma, este estudo mostra a importância
de um controle microbiológico frequente de queijos nos laticínios no estado e a
necessidade de sensibilização junto aos produtores envolvendo toda a cadeia produtiva
do leite e seus derivados.
2021 Gepra Editora Barros et al.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 33

AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA DE AMOSTRAS DE LEITE


PASTEURIZADO E DE DERIVADOS LÁCTEOS
COMERCIALIZADOS NO COMÉRCIO VAREJISTA DO SERTÃO
PARAIBANO

FREITAS, Francisco Bruno Ferreira de


Graduando em Engenharia de alimentos
Universidade Federal de Campina Grande
brunoferreirafrei@gmail.com
373
ARAÚJO, Alfredina dos Santos
Professora de engenharia de alimentos
Universidade Federal de Campina Grande
xalfredina.araujo@ccta.edu.br

RODRIGUES, Maria do Socorro Araújo


Doutora em Engenharia de Processos
Universidade Federal de Campina Grande
fernandaa.rodrigues@gmail.com

RODRIGUES, Amanda Araújo


Mestranda em Sistemas Agroindustriais
Universidade Federal de Campina Grande
amandaaraujo_pb_01@hotmail.com

PINHEIRO, Larissa da Silva Santos


Mestranda em Sistemas Agroindustriais
Universidade Federal de Campina Grande
larissapinheiro2004@gmail.com

RESUMO

O leite e seus derivados são alimentos de relevância na dieta de grande parte da população
e ressaltam a importância social e econômica desses produtos em nosso país. Objetivou-
se com o presente estudo, avaliação da qualidade microbiológica de uma amostra de leite
pasteurizado, leite condensado, bebida láctea e manteiga da terra, comercializados no
comercio varejista do sertão paraibano, aferindo assim, suas conformidades quanto as
legislações vigentes. Após a realização da coleta, as amostras foram transportadas
imediatamente em caixas isotérmicas para o Laboratório de Microbiologia de Alimentos
(LMA), do Centro Vocacional Tecnológico (CVT) bloco anexo da Universidade Federal
de Campina Grande, campus de Pombal, onde foram analisadas quanto a presença dos
seguintes microrganismos: Coliformes à 35 e 45°C, Salmonella sp., Staphylococcus spp.
e Bolores e Fungos filamentosos. De acordo com os resultados obtidos, todas as amostras
analisadas encontram-se habitas para o consumo. Assim, Conclui-se desta forma, que a
não presença desses microrganismos em leite e derivados lácteos asseguram à saúde do
consumidor e consequentemente à saúde pública, garantindo a qualidade dos produtos
comercializados no sertão paraibano.

PALAVRAS-CHAVE: Produtos Lácteos, Microbiologia; Condições higiênico


sanitárias.
2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

A tendência de alimentos mais saudáveis estes que promovam o bem-estar dos


consumidores tem lugar de destaque no mercado, incluindo o leite e seus derivados. Mais
recentemente, aumentando o interesse em alimentos altamente saborosos e nutritivos,
ocasionando ao desenvolvimento de alimentos ricos em proteínas por exemplo
(DOUGLAS et al., 2013).
O consumo de produtos lácteos e o custo mensal com a aquisição desses produtos
tende a ser maior entre os consumidores nordestinos, enquanto nas outras regiões esse
valor é reduzido. O aumento da renda e os novos hábitos alimentares tem influenciado
o consumo de derivados do leite da população da região Nordeste, que apresenta uma 374
perspectiva positiva com previsão de aumento desse mercado até o ano de 2020
(SEBRAE, 2013).
O leite e seus derivados são alimentos de relevância na dieta de grande parte da
população e ressaltam a importância social e econômica desses produtos em nosso país
(PEREIRA et al., 2009). Dessa forma, o controle da qualidade higiênico-sanitária e
microbiológica dos alimentos é essencial para a saúde da população (EMBRAPA, 2010).
Segundo dados divulgados pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação
(SINAN), entre os anos de 2000 e 2014, ocorreram 9.700 surtos provindos de Doenças
Transmitidas por Alimentos (DTA) no Brasil. Dentre os principais agentes suspeitos
responsáveis pelos surtos, 39% dos casos foram causados por Salmonella,13,3% por
Escherichia coli e 2,4% por coliformes (BRASIL, 2014).
A presença de microrganismos patogênicos para os seres humanos como E. coli e
Salmonella por exemplo, são indicativos de deficiência nos procedimentos de higiene
durante o processamento ou nas etapas pós-produção. Nestas condições, muitos produtos
lácteos são classificados como sendo impróprios para o consumo humano, com base nos
padrões microbiológicos vigentes na Legislação Brasileira (BRASIL, 2001), mas por
deficiência ou dificuldades operacionais nas fiscalizações sanitárias, estes produtos
continuam sendo comercializados no país, podendo se tornar um problema de saúde
pública (APOLINARIO et al., 2014)
Avaliar as condições microbiológicas no produto final disponível para o
consumidor e determinar a prevalência dos principais microrganismos com potencial
patogênico para os seres humanos em alimentos consumidos no Brasil, como o leite e
seus derivados são de extrema importância para a saúde pública (FONSECA et al., 2016).
Objetivou-se com o presente estudo, avaliação da qualidade microbiológica de uma
amostra de leite pasteurizado, leite condensado, bebida láctea e manteiga da terra,
comercializados no comercio varejista do sertão paraibano, aferindo assim, suas
conformidades quanto as legislações vigentes.

MATERIAL E MÉTODOS

Para o desenvolvimento deste trabalho, foram adquiridas 4 (quatro) amostras sendo


uma amostra de leite pasteurizado, leite condensado, bebida láctea e manteiga da terra,
comercializados no comercio varejista do sertão paraibano. Após a realização da coleta,
2021 Gepra Editora Barros et al.

as amostras foram transportadas imediatamente em caixas isotérmicas para o Laboratório


de Microbiologia de Alimentos (LMA), do Centro Vocacional Tecnológico (CVT) bloco
anexo da Universidade Federal de Campina Grande, campus de Pombal, onde foram
analisadas quanto a presença dos seguintes microrganismos: Coliformes à 35 e 45°C,
Salmonella sp. e Staphylococcus spp., Bolores e leveduras seguindo a metodologia
descrita por Silva (2017) e Contagem Total de bactérias mesófilas, seguindo a
metodologia da American Public Health Association (APHA) e descrito pela Instrução
normativa n°62 (BRASIL, 2003).
Para a determinação de coliformes a 35°C utilizou-se o método de tubos múltiplos,
onde cada diluição foi semeada em três tubos, empregando-se inicialmente o caldo Lauril
375
Sulfato Triptose para a realização do teste presuntivo. Transfeiu-se uma alíquota dos
tubos que apresentaram turvação e/ou bolhas para a realização do teste confirmatuvo com
o meio Caldo Verde Bile Brilhante (CVBB). Na quantificação dos coliformes a 45°C ,
seguiu-se empregando o Caldo Escherichia coli (Caldo EC). O Número Mais Provável
(NMP) de bactérias do grupo coliformes foi determinado a partir do número de porções
positivas, utilizando a tabela do NMP.
Na determinação de presença de Salmonella sp foi utilizado o método em superfície
no meio de cultura Salmonella Diferential Ágar, incubando-se a temperatura de 36 ± 1
°C/48 horas, segundo a metodologia recomendada.
A análise de Staphylococcus spp. foi realizada por plaqueamento em superfície
utilizando o meio Ágar Sal Manitol, sendo as placas incubadas à 35°C por 48 horas. A
contagem foi determinada multiplicando o número de colônias típicas pelo inverso da
diluição, sendo o resultado expresso em UFC/g.
Para a contagem de Bolores e Fungos Filamentosos utilizou-se o método de
plaqueamento em profundidade utilizando o meio Batata Dextrose Ágar (BDA). A
contagem das colônias foi expressa em unidades formadoras de colônia por grama de
amostra (UFC.g-1).
Por fim, a Contagem Total de Bactérias Mesófilas, realizou-se inoculação por
plaqueamento em profundidade adicionando 1 mL de cada diluição seriada em placas
descartáveis estéreis com etileno e acrescidas de Ágar Padrão para Contagem (PCA). A
contagem das colônias foi expressa em unidades formadoras de colônia por grama de
amostra (UFC.g-1).
As amostras foram analisadas conformes os parâmetros estabelecidos pelas
legislações vigentes, Instrução Normativa nº 76, De 26 de Novembro de 2018, para leite
Pasteurizado, a Instrução Normativa nº 47, de 26 de Outubro de 2018 para Leite
Condensado, instrução Normativa nº 16 de 23 de agosto de 2005 para bebida láctea e a
Instrução Normativa nº 30, de 26 de Junho de 2001 para Manteiga da terra.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com relação a qualidade microbiológica das amostras analisadas, observa-se na


Tabela 1 os resultados obtidos para as análises microbiológicas.
2021 Gepra Editora Barros et al.

AMOSTRAS
PARÂMETROS Leite Leite Bebida Manteiga
pasteurizado condensado Láctea da terra

Coliformes à 35ºC (NMP/g) <3,0 - 3,0 <3,0

Coliformes a 45ºC (NMP/g) <3,0 - <3,0 <3,0

Salmonella sp/25g Ausente Ausente Ausente Ausente


Staphylococcus coagulase
- Ausente - Ausente
positiva/g (UFC) 376
Contagem Total de
Bactérias Mesófilas (UFC/g- Ausente 7,25x102 - -
1)

Contagem de Bolores e
Fungos filamentosos - 3,5x100 6,8x100 -
-1
(UFC/g )

Observa-se que todas as amostras coletadas não apresentaram desenvolvimento de


coliformes 35°C e 45°C. A legislação vigente para leite condensado não estabelece
limites para este grupo de microrganismos, uma vez que a sua presença de coliformes a
35°C no alimento não indica, necessariamente, contaminação fecal ou ocorrência de
patógenos (ALBERTI; NAVA, 2014).
Quanto a Salmonella sp e Staphylococcus coagulase positiva, todas as amostras
encontram-se conforme as legislações vigentes, constando ausência desse
microrganismo, a Instrução Normativa nº 76, De 26 de Novembro de 2018 (BRASIL,
2018) e a Instrução Normativa nº 16 de 23 de agosto de 2005 (BRASIL, 2005) para leite
pasteurizado e bebida láctea, respectivamente, não estabelecem limites para
Staphylococcus coagulase positiva. A presença da Salmonella provoca infecção
alimentar, e a não presença do mesmo torna os produtos hábitos para o consumo quanto
a esse grupo de microrganismos. A contaminação com a Salmonella pode estar
relacionada a diferentes fontes, porém, a pasteurização é capaz de eliminá-la a bactéria,
apresentando assim um tratamento térmico eficaz (SOUSA et al., 2014). Enquanto
bactéria Staphylococcus fazem parte da microbiota natural da pele humana e a sua não
presença demonstra a eficácia na higienização dos manipuladores. Vale ressaltar que o
microrganismo Staphylococcus coagulase positiva é um patógeno responsável por
intoxicações que resultam da ingestão de alimentos contaminados por enterotoxinas
termoestáveis e pré-formadas.
Para Contagem Total de Bactérias Mesófilas, o leite pasteurizado encontra-se
conforme a legislação (BRASIL, 2018). Para o leite condensado encontrou-se valor de
7,25x102 (Tabela 1), onde a legislação vigente (BRASIL, 2018) não estabelece limites
para esse grupo de microrganismos, o mesmo se encaixa para a bebida láctea e a manteiga
da terra. Esse grupo de microrganismos podem causar do risco a saúde humana, pois a
ação de bactérias mesófilas pode induzir alterações físico-químicas irreversíveis no leite
2021 Gepra Editora Barros et al.

através da acidificação (CHOULIARA et al., 2010), onde possibilita, muitas vezes, a


desestabilização proteica e das micelas de caseína, favorecendo a coagulação, alterando
o flavour (sabor e odor), reduzindo o valor imunológico e nutricional. Logo, um processo
de pasteurização eficaz elimina os microrganismos de forma percentual, assim quanto
melhor a qualidade da matéria-prima melhor será o produto lácteo produzido
(ANDRADE et al., 2008).
Por fim, o último parâmetro analisado foi o de Bolores e Fungos filamentosos, onde
foram encontrados para leite condensado e bebida láctea, valores de 3,5x100 e 6,83x100,
respectivamente, estando conformes as legislações vigentes (BRASIL, 2018 e BRASIL,
2005). Enquanto para o leite pasteurizado e manteiga da terra, as legislações não
377
estabelecem padrões para esses alimentos. Em alimentos que apresentam esse tipo de
microrganismo, causa deteriorações (emboloramento) e produzem micotoxinas. Logo, a
não presença desse grupo de microrganismos nos alimentos analisados os tornam seguros
para o consumo.

CONCLUSÕES

Conclui-se desta forma, que o leite pasteurizado, o leite condensado, a bebida láctea
e a manteiga da terra encontraram-se conforme as legislações vigentes, estando assim
habitas para o consumo e garantindo segurança à população do sertão paraibano. Ressalta-
se que a não presença desses microrganismos em leite e derivados lácteos asseguram à
saúde do consumidor e consequentemente à saúde pública, garantindo a qualidade dos
produtos comercializados no sertão paraibano.

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comercializadas a granel por supermercados e produzidas artificialmente no município
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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 34

AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA DE AMOSTRAS DE QUEIJOS


E REQUEIJÃO COMERCIALIZADOS NO COMÉRCIO
VAREJISTA DO SERTÃO PARAIBANO

FREITAS, Pedro Victor Crescencio


Graduando em Engenharia de alimentos
Universidade Federal de Campina Grande
pedro.crescencio@hotmail.com

ARAÚJO, Alfredina dos Santos


Professora de engenharia de alimentos 379
Universidade Federal de Campina Grande
xalfredina.araujo@ccta.edu.br

RODRIGUES, Maria do Socorro Araújo


Doutora em Engenharia de Processos
Universidade Federal de Campina Grande
fernandaa.rodrigues@gmail.com

RODRIGUES, Amanda Araújo


Mestranda em Sistemas Agroindustriais
Universidade Federal de Campina Grande
amandaaraujo_pb_01@hotmail.com

MEDEIROS, Weverton Pereira de


Doutorando em Biotecnologia
Universidade Federal do Espírito Santo
weverton_cafu@hotmail.com

RESUMO

Para a fabricação adequada e segura do queijo, o leite deve ser pasteurizado com o
objetivo de eliminar os microrganismos patogênicos em atendimento a legislação vigente.
Assim, objetivou-se com o presente estudo, avaliação da qualidade físico-química de
amostras de diferentes tipos de queijos e um requeijão, comercializados no comercio
varejista do sertão paraibano, aferindo assim, suas conformidades quanto a legislação
vigente quanto aos parâmetros microbiológicos. Objetivou-se com o presente estudo,
avaliação da qualidade físico-química de amostras de diferentes tipos de queijos e um
requeijão, comercializados no comercio varejista do sertão paraibano, aferindo assim,
suas conformidades quanto a legislação vigente quanto aos parâmetros microbiológicos.
Foram analisadas quanto a presença dos seguintes microrganismos: Coliformes à 35 e
45°C, Salmonella sp. e Staphylococcus spp. Após analise dos resultados, contou-se que
todas as amostras analisadas estavam de acordo com as normas exigidas, com exceção do
queijo calho que apresetou-se inadequada para o consumo. Desta forma, pôde-se concluir
que o queijo coalho, apresentou contaminação para Salmonella sp. e Staphylococcus
coagulase positiva, uma vez que a presença desses microrganismos em derivados lácteos
pode apresentar risco para à saúde do consumidor e consequentemente à saúde pública,
visto que são frequentemente comercializados no sertão paraibano.

PALAVRAS-CHAVE: Derivados lácteos, Microbiologia, Condições higiênico


sanitárias
2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

A fabricação de queijos surgiu cerca de 12 mil anos antes do nascimento de Cristo,


em um período conhecido como paleolítico superior. O queijo primitivo era apenas o leite
coagulado, desprovido de soro e salgado. Contudo, durante a Idade Média, a fabricação
de queijos finos fica restrita aos mosteiros católicos, com novas receitas desenvolvidas
por seus monges (TONELLI; MANEIRA, 2011). Porém, com o avanço da tecnologia ao
longo dos anos, a técnica de produção queijeira sofreu modernização, culminando ao que
conhecemos atualmente.
De acordo com Silva et al. (2011), o queijo é um alimento bastante comum na dieta
humana, compondo, geralmente, a alimentação de todas as classes sociais. Dentre as 380
bactérias que podem se desenvolver em queijos destacam-se principalmente, os
coliformes totais e os termotolerantes, sendo o número e a presença destes
microrganismos, indicadores da qualidade do produto.
Uma fabricação adequada e segura do queijo, o leite deve ser pasteurizado com o
objetivo de eliminar os microrganismos patogênicos em atendimento a legislação vigente.
No entanto, é observado falhas no processo de obtenção da matéria-prima, na fabricação,
na conservação ou na distribuição podendo acarretar contaminação do produto, com
possibilidade de ocasionar toxinfecções de origem alimentar. Queijos em condições
inadequadas para consumo humano podem desencadear graves consequências para a
população, se tornando um grave problema de saúde pública (SILVA et al., 2017).
Contudo, ao que se refere a queijos informais, eles não passam por controle de
qualidade, não são inspecionados e geralmente são comercializados em feiras ou por
ambulantes, sem os cuidados necessários na produção e conservação (AMORIM et al.,
2014). Esse fato pode ocasionar grandes problemas na qualidade dos queijos, constatando
altos níveis de contaminação microbiana, geralmente atribuídas à manipulação excessiva,
à falta de boas práticas, ao alto teor de umidade que favorece o desenvolvimento de
microrganismos.
Objetivou-se com o presente estudo, avaliação da qualidade físico-química de
amostras de diferentes tipos de queijos e um requeijão, comercializados no comercio
varejista do sertão paraibano, aferindo assim, suas conformidades quanto a legislação
vigente quanto aos parâmetros microbiológicos.

MATERIAL E MÉTODOS

Para o desenvolvimento deste trabalho, foram adquiridas 4 (quatro) amostras sendo


uma amostra de Queijo Coalho, Queijo de Manteiga, Queijo Muçarela e um Requeijão,
comercializados no comercio varejista do sertão paraibano. Após a realização da coleta,
as amostras foram transportadas imediatamente em caixas isotérmicas para o Laboratório
de Microbiologia de Alimentos (LMA), do Centro Vocacional Tecnológico (CVT) bloco
anexo da Universidade Federal de Campina Grande, campus de Pombal, onde foram
analisadas quanto a presença dos seguintes microrganismos: Coliformes à 35 e 45°C,
Salmonella sp. e Staphylococcus spp., seguindo a metodologia descrita por Silva (2017).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Para a determinação de Coliformes a 35°C utilizou-se o método de tubos múltiplos,


onde cada diluição foi semeada em três tubos, empregando-se inicialmente o caldo Lauril
Sulfato Triptose para a realização do teste presuntivo. Transferiu-se uma alíquota dos
tubos que apresentaram turvação e/ou bolhas para a realização do teste confirmativo com
o meio Caldo Verde Bile Brilhante (CVBB). Na quantificação dos coliformes a 45°C ,
seguiu-se empregando o Caldo Escherichia coli (Caldo EC). O Número Mais Provável
(NMP) de bactérias do grupo coliformes foi determinado a partir do número de porções
positivas, utilizando a tabela do NMP.
Na determinação de presença de Salmonella sp foi utilizado o método em superfície
no meio de cultura Salmonella Diferential Ágar, incubando-se a temperatura de 36 ± 1
381
°C/48 horas, segundo a metodologia recomendada.
A análise de Staphylococcus spp. foi realizada por plaqueamento em superfície
utilizando o meio Ágar Sal Manitol, sendo as placas incubadas à 35°C por 48 horas. A
contagem foi determinada multiplicando o número de colônias típicas pelo inverso da
diluição, sendo o resultado expresso em UFC/g.
As amostras foram analisadas conformes os parâmetros estabelecidos pelas
legislações vigentes, sendo a Instrução Normativa nº 30, de 26 de junho de 2001 para
queijo coalho e queijo de manteiga, a Portaria n° 837, de 18 de junho de 2018 da ANVISA
para queijo Muçarela e Portaria nº 359, de 04 de setembro De 1997 para requeijão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com relação a qualidade microbiológica dos queijos e do requeijão, observa-se na


Tabela 1 os resultados obtidos para as análises microbiológicas.

Tabela 1- Resultados das análises microbiológicas dos queijos e do requeijão


AMOSTRAS
PARÂMETROS Queijo de Queijo
Queijo coalho Requeijão
manteiga Muçarela
Coliformes à
>1,6x103 >1,6x103 1,5x102 1,2x102
35ºC (NMP/g)
Coliformes a
2,1x102 6,2x100 6,2x100 3,6x100
45ºC (NMP/g)
Salmonella
Presença Ausente Ausente Ausente
sp/25g
Staphylococcus
coagulase 3,1x104 1,33x101 3,83x102 5,85x102
positiva/g (UFC)

Observa-se que todas as amostras coletadas apresentaram desenvolvimento de


coliformes 35°C, sendo a amostra de Queijo coalho e manteiga com maior valor
(>1,6x103), seguido do queijo muçarela e o requeijão (1,5x102 e 1,2x102),
respectivamente. As legislações vigentes (BRASIL, 1997; BRASIL, 2001 e BRASIL,
2021 Gepra Editora Barros et al.

2018) não estabelecem limites para este grupo de microrganismos, uma vez que a sua
presença no alimento não indica, necessariamente, contaminação fecal ou ocorrência de
patógenos (ALBERTI; NAVA, 2014).
Enquanto para coliformes a 45°C, todas as amostras analisadas encontraram-se
conforme as legislações vigentes, sendo que para os queijos coalho e manteiga a Instrução
Normativa nº 30, de 26 de junho de 2001 (BRASIL, 2001) estabelece limites máximos
de 5x103 e 1,0x103, respectivamente. A Portaria n° 837, de 18 de junho de 2018 da
ANVISA (BRASIL, 2018) para o queijo muçarela, estabelece limites de 5,0x10 2.
Enquanto para requeijão, a Portaria nº 359, de 04 de Setembro De 1997 (BRASIL, 1997)
estabelece limites de 1,0x102. O baixo número dessa população de microrganismos indica
382
baixo nível de contaminação fecal, o que pode ser atribuído à qualidade da matéria prima
ou às condições de processamento dos queijos e do requeijão.
Ainda com relação aos coliformes a 45°C, Bezerra et al. (2017) ao realizarem a
avaliação microbiológica de 20 mostras de queijo de coalho comercializado na feira livre
de Sousa – Paraíba, apresentaram em 7 (sete) das 20 (vinte) amostras apresentaram
valores acima do permitido a legislação com valores de 1,1x104.
Com relação a Salmonella sp. Todas as amostras encontraram-se em conformidade
com as legislações vigentes, coma ausência desse microrganismo, com exceção da
amostra de queijo coalho, onde detectou-se a presença de Salmonella.
A Salmonella mantém-se viável em queijos contaminados por um longo período de
tempo o que ressalta a importância do controle da qualidade microbiológica na produção
dos queijos, visto que a legislação brasileira estabelece a ausência desta bactéria em
alimentos (BRASIL, 2001).
A Salmonella é potencialmente capaz de provocar infecção alimentar, e a presença
desse microrganismo no queijo torna o produto impróprio para consumo. A contaminação
com a Salmonella pode estar relacionada a diferentes fontes, porém, a pasteurização é
capaz de eliminá-la, o que pode justificar que a única amostra positiva para esta bactéria
apresentou um tratamento térmico ineficaz (SOUSA et al., 2014). Mesmo essa sendo a
única amostra constando presença de Salmonella, isso pode representar risco à saúde da
população, uma vez que o queijo de coalho é um alimento típico regional e facilmente
acessível às diversas classes sociais.
Por fim, o último parâmetro analisado foi o de Staphylococcus coagulase positiva,
onde todas as amostras apresentaram desenvolvimento para esse grupo de
microrganismos, todavia, todas as amostras encontraram-se em conformidades com as
legislações vigentes, com exceção da amostra de queijo coalho (3,1x104), onde o máximo
permitido é de 5x103 (BRASIL, 2001). Como bactérias deste gênero fazem parte da
microbiota natural da pele humana é possível que tenha ocorrido a contaminação devido
à ineficácia na higienização dos manipuladores, principalmente quando não se utilizam
equipamentos de proteção e formas de assepsia adequadas. Vale ressaltar que o
microrganismo Staphylococcus coagulase positiva é um patógeno responsável por
intoxicações que resultam da ingestão de alimentos contaminados por enterotoxinas
termoestáveis e pré-formadas.
Ainda com relação a Staphylococcus, 13 amostras de queijo coalho analisadas por
Bezerra et al. (2017) apresentaram-se não conformes perante a legislação vigente
2021 Gepra Editora Barros et al.

(BRASIL, 2001), com valores de 1,0x104. Resultados semelhantes ao do presente


trabalho foram abordados por Oliveira et al. (2010) ao analisarem queijos de coalho
comercializados no Município do Cabo de Santo Agostinho, PE, onde todas as suas
amostras analisadas ficaram acima dos valores estabelecidos pela legislação vigente
(BRASIL, 2001) com valores que variaram de 1,6x103 a 2,0x105.

CONCLUSÕES

Conclui-se desta forma, que as de queijo de manteiga, queijo muçarela e requeijão


encontraram-se em conformidade com as legislações vigentes (BRASIL, 1997; BRASIL, 383
2001 e BRASIL, 2018), com exceção da amostra de queijo coalho, onde apresentou
contaminação para Salmonella sp. e Staphylococcus coagulase positiva, uma vez que a
presença desses microrganismos em derivados lácteos podem apresentar risco para à
saúde do consumidor e consequentemente à saúde pública, visto que são frequentemente
comercializados no sertão paraibano.

REFERÊNCIAS

ALBERTI, J.; NAVA, A; Avaliação higiênico-sanitária de linguiças tipo frescal


comercializadas a granel por supermercados e produzidas artificialmente no município
de Xaxim, SC. Unoesc & Ciência – ACBS, Joaçaba, v.5, n.1, p. 41-48, jan./jun. 2014.

AMORIM, A. L. B. C.; COUTO, E. P.; SANTANA, A. P.; RIBEIRO, J. L.; FERREIRA,


M. d. A. Avaliação da qualidade microbiológica de queijos do tipo Minas padrão de
produção industrial, artesanal e informal. Revista do Instuto Adolfo Lutz, 73, 364-367.
2014.

BEZERRA, D. E. L.; SILVA FILHO, C. R. M.; GOMES, D. J.; PEREIRA JUNIOR, E.


B. Avaliação microbiológica de queijo de coalho comercializado na feira livre de Sousa
– Paraíba. Revista Principia. N. 37. 2017.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa n°


76 de 26 de novembro de 2018. Diário Oficial da União. Brasília: MAPA, 2018.

BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução - Portaria n º 359, de 4 de setembro de 1997.


Aprova o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Requeijão ou Requesón.
1997.
2021 Gepra Editora Barros et al.

BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução – RDC n° 12 de 2 de janeiro de 2001. Aprova


o regulamento técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos. Diário Oficial da
República Federativa do Brasil, Brasília, n° 3029, 20 de dezembro, 2001.

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qualidade de queijos: Revisão. PUBVET. v.11, n.4, p.333-341. 2017.

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coliformes termotolerantes como indicadores higiênicosanitários de queijo Prato
comercializado em supermercados e feiras livres de Recife-PE. Revista de Medicina
Veterinária, 1, 21-25. 2011.

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R.F.S.; GOMES, R.A.R. Manual de métodos de análise microbiológica de alimentos
e água. 5ª edição. São Paulo: Livraria Varela, 2017.

SOUSA, A. Z. B.; ABRANTES, M. R.; SAKAMOTO, S. M.; SILVA, J. B. A.; LIMA,


P. O. L.; LIMA, R. N.; ROCHA, M. O. C.; PASSOS, Y. D. B. Physical-chemical and
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Arquivos do Instituto Biológico. v.81, n.1, p. 30-35, 2014.

TONELLI, G.; MANEIRA, A. M. A importância do serviço de inspeção municipal –


S.I.M. na evolução estrutural das queijarias da cidade de Uberaba – MG. Cadernos
de Pós-Graduação da FAZU, 1. 2011.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 35

AVALIAÇÃO SENSORIAL DO CREME DE FRUTO DE PALMA


(Opuntias indica ficus) COM LICOR DE CASSIS

MARTINS, Fernanda Borges


Mestranda em Agronomia
Universidade Federal da Paraíba – Campus II
nandaborgges16@gmail.com

MEDEIROS, Maria Carmenleide


Graduada em Agroecologia
IFPB – Campus Picuí 385
mileidemedeiros21@gmail.com

PEREIRA, Frederico Campos


Prof. Dr. em Recursos Naturais
IFPB – Pedras de Fogo
fredericopereiracampos@gmail.com

RESUMO
A palma compreende as plantas de diversas espécies dos gêneros Opuntia e Nopalea,
ambas da família Cactácea, são plantas suculentas, com folhas muito reduzidas em forma
de pequenos apêndices e muito caducas. Elas não têm caule e sim pseudocaule em forma
de raquetes, as quais variam de forma e apresentam, quando sadias, coloração sempre
verde (SCHULTZ, 1943). Por ser resistente a longos períodos de seca torna-se viável a
produção em zonas áridas, no Brasil sua área cultivada chega a 96.900 ha (IBGE 2017),
no entanto, a totalidade dessa produção é destinada para forragem animal, durante o
período de seca. O presente trabalhou objetou avaliar sensorialmente e comercialmente a
receita elaborada com o fruto da palma (Opuntia ficus indica). A receita foi processada e
elaborada no laboratório de beneficiamento e processamento do IFPB – campus Picuí. As
amostras foram submetidas à análise sensorial por 170 provadores não treinados numa
faixa etária entre 16 e 55 anos. Observou-se que dos provadores tiveram uma
aceitabilidade positiva, com 97% dos votos na escala hedônica entre “Gostei muitíssimo”
e “Gostei muito”. E intenção de compra com 93% das notas 5 “certamente compraria”,
onde os julgadores declaram interesse em adquirir as receitas elaboradas com palma.
Diante das análises dos resultados pode-se concluir que a receita se torna uma excelente
oportunidade para divulgação da importância nutricional do fruto da palma na
alimentação humana, além de desmistificar o uso da cultura e consequentemente
promovê-la como viável para agregar valor nutricional e renda a famílias de comunidades
rurais.

PALAVRAS-CHAVE: Aceitabilidade; opuntias; alimentação alternativa.

INTRODUÇÃO

O Semiárido brasileiro totaliza uma extensão territorial de 1.128.697 km2, e


abrange todos os estados do nordeste, além da parte setentrional de Minas Gerais, de
2021 Gepra Editora Barros et al.

acordo com a Resolução 115, de 23 de novembro de 2017 (Sudene 2018). Associado ao


bioma caatinga essa região é caracterizada pelas elevadas taxas de insolação, baixos
valores pluviométricos, solos rasos e pedregosos, vegetação adaptada ao meio,
destacando-se a família das cactáceas.
A palma compreende as plantas de diversas espécies dos gêneros Opuntia e
Nopalea, ambas da família Cactácea, são plantas suculentas, com folhas muito reduzidas
em forma de pequenos apêndices e muito caducas. Elas não têm caule e sim pseudocaule
em forma de raquetes, as quais variam de forma e apresentam, quando sadias, coloração
sempre verde (SCHULTZ, 1943). Por ser resistente a longos períodos de seca torna-se
viável a produção em zonas áridas, no Brasil sua área cultivada chega a 96.900 ha (IBGE
386
2017), no entanto, a totalidade dessa produção é destinada para forragem animal, durante
o período de seca.
O fruto da palma é conhecido como figo-da-índia, é produzido praticamente
durante o ano todo. A fruta é doce, suculenta, comestível, com 5-10 cm de comprimento
e 8-10 cm de largura, piriforme, ligeiramente curvada para o umbigo, amarelo-
esverdeada, laranja, vermelha ou púrpura com muita polpa e uma casca fina. A variação
de peso da fruta é de 100-240 g, é rico em vitaminas (principalmente C e A), cálcio e
magnésio (NUNES, 2012).
Com base na sua baixa acidez, elevada doçura, cor atraente e estável, os frutos de
Opuntia ficus-indica (L.) Mill. podem ter um uso muito adequado como aditivos em
produtos naturais ou substituto na produção de diversos géneros alimentícios (GAGO et
al., 2016). A sua utilização como matéria prima alimentícia pode dar origem a uma grande
quantidade de produtos, a exemplo de xaropes, frutas secas, cristalizadas, geleias, sucos,
néctares, doces e vinhos (CHIACHIO et al., 2006).
Apesar de serem considerados frutos saborosos, o preconceito cultural e os
pequenos espinhos dificultam a entrada mais acentuada desses frutos no mercado
brasileiro, porém segundo Oliveira et al. (2011), a produção do fruto da palma nas regiões
semiáridas nordestinas poderá ser uma nova alternativa de desenvolvimento econômico
para reduzir a fome e minimizar as deficiências nutricionais da população regional
Nas indústrias de alimentos modernas, todas as atividades são desenvolvidas
baseadas nas preferências do consumidor (KOEHL et al., 2008). Diversos fatores podem
determinar a escolha dos alimentos, mas a interação do produto com os sentidos humanos
e a percepção da qualidade sensorial é fundamental, sendo que o sabor é considerado o
atributo sensorial mais importante na seleção de um alimento (PONTES, 2008).
A análise sensorial é definida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT, 1993) como a disciplina científica usada para evocar, medir, analisar e interpretar
reações das características dos alimentos e materiais como são percebidas pelos sentidos
da visão, olfato, gosto, tato e audição. A análise sensorial normalmente é realizada por
uma equipe montada para analisar as características sensoriais de um produto para um
determinado fim. Pode se avaliar a seleção da matéria prima a ser utilizada em um novo
produto, o efeito de processamento, a qualidade da textura, o sabor, a estabilidade de
armazenamento, a reação do consumidor, entre outros. Para alcançar o objetivo específico
de cada análise, são elaborados métodos de avaliação diferenciados, visando a obtenção
de respostas mais adequadas ao perfil pesquisado do produto (TEIXEIRA, 2009).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Tendo em vista os fatores ambientais e socioeconômicos que o Nordeste enfrenta,


torna-se extremamente necessário divulgar a importância da palma para a região,
mostrando para a população e aos pequenos produtores que trabalham com a agricultura
familiar o múltiplo potencial de uso, principalmente de sua fruta exótica, com isso
objetivou-se avaliar sensorialmente e comercialmente, a aceitação da receita elaborada
com frutos de palma forrageira, desmistificando o uso da palma somente como forrageira,
estimulando a produção de espécies adaptadas as condições do semiárido como
suplemento alimentar humano e fonte de renda.

387
MATERIAL E MÉTODOS

A matéria prima utilizada neste estudo: frutos da palma forrageira (Opuntia ficus
indica) foram coletadas no sítio Coqui pertencente ao senhor Francisco Xavier Gomes,
localizado no município de Picuí – PB, seguiram-se critérios de maturação, aparência
geral, cor e tamanho, descartando os que apresentaram deterioração integral ou parcial.
Os demais materiais foram adquiridos em feiras livres e redes de supermercados do
município.
A receita Creme de Fruto de Palma com Licor de Cassis foi processada e
elaborada no laboratório de beneficiamento e processamento do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – campus Picuí, seguindo as recomendações
das boas práticas de fabricação, ou seja, os cladódios, os utensílios, equipamentos e
bancadas foram sanitizados com solução de hipoclorito de sódio. Durante todo o
processamento se fez uso de luvas, toucas, máscaras e aventais.

Preparação da Receita

Após a coleta e desinfestação dos frutos se realizou o descascamento


manualmente com o auxílio de faca inox. Foram feitos dois cortes da base superior e
inferior e um corte longitudinal. O material obtido após a retirada da casca foi triturado
em um multiprocessador até chegar a uma consistência ideal de polpa (Figura 1). O
material foi peneirado, acondicionado em garrafas plásticas devidamente fechadas e
mantidas em freezer um dia antes de serem utilizados.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 1: Descrição das etapas de processamento do fruto de palma

388

Fonte: Autoria Própria

Em um liquidificador se fez a mistura adicionando o sorvete de creme e a polpa


de palma. Após o preparo o creme foi acondicionado em copos plásticos. Sobre o creme
adicionou-se o licor de cassis como cobertura (Figura 2). Para produzir 200 porções de
50 g, utilizou-se 8 litros de polpa do fruto de palma, 2 litros de sorvete de creme, 1 garrafa
de licor de Cassis (720 ml).

Figura 2: Descrição das etapas para o processamento do creme.

Fonte: Autoria Própria


2021 Gepra Editora Barros et al.

As amostras foram submetidas à análise sensorial por meio de fichas contendo


uma escala hedônica de aceitação com 7 (sete) pontos, em escala decrescente: (7) gostei
muitíssimo; (6) gostei muito; (5) gostei ligeiramente; (4) nem gostei/nem desgostei; (3)
desgostei ligeiramente; (2) desgostei muito e (1) desgostei muitíssimo (Quadro 1),
distribuídas por 170 provadores não treinados numa faixa etária entre 16 e 55 anos, que
puderam através de uma questão aberta expressar suas opiniões e fazer comentários sobre
possíveis modificações no modo de preparo da receita, bem como sobre o resultado dela,
ressaltando aspectos como o cheiro, a aparência e o sabor da receita produzida.
A intenção de compra foi avaliada com uma escala hedônica de 5 pontos, em
escala decrescente: (5) certamente compraria; (4) possivelmente compraria; (3) talvez
389
comprasse/talvez não comprasse; (2) possivelmente não compraria (1) certamente não
compraria (Quadro 1). O formulário continha ainda tópicos onde os provadores poderiam
escrever sua opinião e sugestões acerca do tema (Quadro 1).

CREME DE PALMA: Assinale com X sobre sua nota atribuída à amostra


Análise Sensorial Intenção de Compra

( ) 7. Gostei muitíssimo (adorei) ( ) 5. Certamente compraria


( ) 6. Gostei muito ( ) 4. Possivelmente compraria
( ) 5. Gostei ligeiramente ( ) 3.Talvez comprasse/Talvez não
( ) 4. Nem gostei/ nem desgostei comprasse
( ) 3. Desgostei ligeiramente ( ) 2. Possivelmente não compraria
( ) 2. Desgostei muito ( ) 1. Certamente não compraria
( ) 1. Desgostei muitíssimo (detestei)
Quadro 1: Trecho da ficha de avaliação relativo à análise de aceitação e intenção de compra da receita.

O formulário continha ainda tópicos onde os provadores poderiam escrever sua


opinião e sugestões acerca do tema (Quadro 2).

Cite o que você mais gostou e o que menos gostou na receita

Resposta Livre: ______________________________________________________

Em sua opinião, por quais motivos não se processam frutos da Caatinga para
alimentação humana?

Resposta Livre: ______________________________________________________

Há viabilidade em investir na produção em escala nos produtos gerados pela


biodiversidade existente no Bioma Caatinga?

Resposta Livre: ______________________________________________________

Quadro 2: Trecho da ficha que continha perguntas abertas.


2021 Gepra Editora Barros et al.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados com o creme de fruto de palma com licor de cassis destacou-se no


percentual de notas de 5 a 7, alcançando grande parte da porcentagem de aprovação dos
julgadores. Observa-se (Gráfico 1) que esta amostra, atingiu o maior percentual de
aprovação com notas 7 e 6 da escala hedônica, que significa “gostei muitíssimo” e “gostei
muito”, totalizando 97% das notas obtidas. Para essa receita o índice de reprovação foi
zero, já que não houve nenhuma nota de 1 a 3 que assim o classificasse.

390

Gráfico 1: Avaliação Sensorial do creme Palma.

De acordo com as respostas presentes nos formulários dos provadores, constatou-


se que a receita de creme de palma foi a mais apreciada pelo sabor suave que o sorvete
de creme lhe proporcionou, e alguns comentários foram enfáticos em afirmar que é uma
sobremesa tão deliciosa quanto várias outras já comumente conhecidas. A cor foi um
atributo mais comentado nas respostas sobre o que mais os provadores gostaram na
receita, sendo considerado um atrativo visual. Pela facilidade de preparo muitos relataram
que irão aderir a confecção desta receita em suas casas.

Quando questionados sobre a intenção de compra 93% dos julgadores atribuíram


nota 5 “certamente compraria”, declararam interesse em adquirir as receitas elaboradas
com palma.
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391

Gráfico 2: Intenção de compra da Receita creme de Palma.

A receita de Creme de Palma foi bem avaliada pelos julgadores; tanto na análise
sensorial como na avaliação de intenção de compra, o que o torna um produto que poderá
ser utilizado para incrementar a renda de trabalhadores da agricultura familiar, visto que
frutos de palma são encontrados em grandes quantidades na sua época safra.
Outras receitas com a cultura da palma tanto seu fruto como os cladódios poderão
ser testadas para averiguar sua aceitabilidade pela comunidade, a fim de tornar-se uma
boa alternativa para difusão da cultura ainda pouco conhecida e valorizada para
alimentação humana.
Resultados como os encontrados nesse trabalho e outros encontrados na literatura
só garantem a aceitabilidade dessa cultura na alimentação dos consumidores brasileiros,
o que incentiva a busca de formulação de novos produtos.

CONCLUSÕES

Diante das análises dos resultados pode-se concluir a receita creme de fruto de
palma com licor de cassis obtive boa aceitabilidade e intenção de compra entre os
provadores, tornando-se uma excelente oportunidade para utilizá-la para divulgação da
importância nutricional do fruto palma na alimentação humana, além de desmistificar o
uso da cultura e consequentemente promovê-la como viável para agregar valor nutricional
e renda a famílias de comunidades rurais do Nordeste.
2021 Gepra Editora Barros et al.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. Análise sensorial


dos alimentos e bebidas: terminologia. 1993. 8 p

CHIACHIO, F. P. B.; MESQUITA, A. S.; SANTOS, J. R. Palma forrageira: uma


oportunidade econômica ainda desperdiçada para o semiárido baiano. Bahia
Agrícola, v.7, n.3, p. 39-49, nov. 2006.

COTRIM, E. S.; NUNES, V. X.; NOGUEIRA, D. P.; Vilares, T. N.; Dias, V.F.; Oliveira,
C. G. Análise sensorial de doce cristalizado e em calda de fruto da palma forrageira
(opuntia fícus-indica mill). VII CONNEPI. Palmas-TO. 2012. 392

GAGO, C, GUERREIRO A, MIGUEL G, Faleiro L, Antunes D, 2016. Novos produtos


alimentares à base de figoda-índia desidratado. Voz do campo – Agro Ciência –
CISION.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agro. Palma forrageira.


Brasil. 2017. Disponível em
<https://censoagro2017.ibge.gov.br/templates/censo_agro/resultadosagro/agricultura.ht
ml?localidade=0&tema=76625> acesso em 18 de abr. 2021

KOEHL, L.; ZENGA, X.; ZHOUA, B.; DING, Y. Intelligent sensory evaluation of
industrial products for exploiting consumer’s preference. Mathematics and
Computers in Simulation, v.77, p. 522-530, 2008.

OLIVEIRA, E.A.; JUNQUEIRA, S.F.; MASCARENHAS, R.J. Caracterização Físico‐


Química e nutricional do fruto da palma (Opuntia fícus-indica L. Mill.) cultivada no
sertão do sub‐médio. São Francisco. Revista Holos, ano 27, v 3, 2011.

PONTES, M.M.M. Polpa de Manga Processada por Alta Pressão Hidrostática:


Aspectos Microbiológicos, Nutricionais, Sensoriais e a Percepção do Consumidor.
Seropédica: Instituto de Tecnologia da Universidade Estadual Rural do Rio de Janeiro.
2008. 136p. (Dissertação, Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos).

SCHULTZ, R.A. Introdução ao estudo da botânica sistemática. 2 ed. Porto Alegre:


Livraria O Globo, 1943. 562p.

SUDENE. Resolução Nº 115, De 23 De Novembro De 2017. Presidente do Conselho


Deliberativo da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE, que
estabelece o Acréscimo do Quantitativo de Municípios Aptos a integrar o Semiárido da
área de Atuação da SUDENE. Publicado na D.O.U. de 5 de dez de 2017.

TEIXEIRA, L. V. Análise Sensorial Na Indústria De Alimentos. Revista Instituto


Lacticínio Cândido Tostes. v. 64, n. 366. p 12. 2009.

NUNES, V. X.; DIAS, V. F.; COTRIM, E. S.; SANTOS, A. O. Caracterização física e


físico-química de frutos da palma gigante em diferentes estádios de maturação.
Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação, Palmas - TO, 2012.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 36

AÇÃO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLA PÚBLICA NO


MUNICÍPIO DE ALEGRE-ES

SILVA, Chansislayne Gabriela


Graduando em Agronomia
Universidade Federal do Espírito Santo
Chansislayne_silva@outlook.com

MAROTO, Gracieli Lorenzoni


Graduando em Agronomia
Universidade Federal do Espírito Santo 393
gracielilm18@gmail.com

MARTINS, Camila Aparecida da Silva


Pós-graduada em Produção Vegetal
Universidade Federal do Espírito Santo
camila.cca@hotmail.com

RESUMO

É de extrema importância que a escola trabalhe com os alunos práticas de ações


ambientais, e que não fique presa apenas a conceitos e informações, diante isto, objetivou-
se levantar informações sobre o conhecimento dos estudantes acerca de temas com
abrangência nacional, preservação e conservação ambiental, além de realizar atividades
voltadas ao tema em questão. Foi realizada uma palestra, dinâmica e aplicação de um
questionário pré-palestra e pós-palestra interdisciplinar. A pesquisa mostrou que cerca de
85,71% dos alunos acham que é de extrema importância a realização de educação
ambiental em ambiente escola e que ações de educação ambiental são importante e 92,85
% dos alunos pensam que a conservação do meio ambiente é fundamental para a vida dos
seres humanos, sendo que 89,28% dos alunos sabem as medidas a serem adotadas para
preservação e conservação ambiental. A educação ambiental para criança e jovem mostra-
se como um instrumento fundamental para formação de adultos conscientes sobre suas
ações e a interferências das mesmo sobre a natureza, é necessário o desenvolvimento
sustentável para que as próximas gerações não sofram com sérios problemas ambientais.

PALAVRAS-CHAVE: Conscientização, Socioambiental, Recursos Naturais.

INTRODUÇÃO

A preservação do meio ambiente é conceituada por um conjunto de práticas que


visam proteger a natureza das ações que provocam danos ao ambiente natural, sendo de
conhecimento geral que o mesmo é um ato de grande importância para todos, uma vez
que, é nela que estão todos os recursos naturais necessários à sobrevivência. Dessa forma,
a Educação Ambiental apresenta-se como uma importante ferramenta para a análise de
questões sociais, econômicas e culturais que estão intimamente relacionadas ao meio
ambiente, com o objetivo de formar cidadãos mais conscientes (CORDEIRO et al., 2020).
A degradação ambiental está cada vez mais frequente no dia-a-dia dos seres
humanos seja para atender suas necessidades ou não, decorrente ao consumismo
2021 Gepra Editora Barros et al.

desenfreado, buscando uma evolução social e cultura, porém a evolução biológica não
avança da mesma forma, observa-se que desde 1970, há sinais claros de deterioração do
planeta como pode ver a redução da camada de ozônio, o aquecimento global, a chuva
ácida e a poluição da água, do ar e do solo (BOCA; SARACLI,2019).
De acordo com Adams (2012), a educação ambiental surgiu por meio da
necessidade de mudanças de atitudes do homem em relação ao meio ambiente, afim de
proporcionar o reconhecimento da importância de preservar o meio em que se vive. Dessa
forma em 1999 foi decretado a Lei de nº 9.795, que dispõe sobre a educação ambiental e
institui a Política Nacional de Educação Ambiental.
O artigo 2º da Lei, reconhece que a educação ambiental é um componente essencial
394
e permanente da educação nacional, dessa forma deve ser incentivada pelo poder público
a estar presente em todos os níveis e modalidades da educação. As questões ambientais
estão cada vez mais sendo abordadas pela sociedade e devem ser debatidas
principalmente nos meios de ensino em escolas (SUKMA et al., 2020).
A escola ela tem o papel de fortalecer a compreensão das boas práticas ambientais
aos alunos, aguçando os sentidos para as questões do meio ambiente, onde os professores
devem apresentar aos alunos questões voltadas ao desenvolvimento sustentável, como
por exemplo reciclagem de resíduos, produção de energia limpa e preservação dos
recursos hídricos (KUBISCH et al., 2021).
De acordo com Carvalho (2008), é de extrema importância que a escola trabalhe
com as atitudes dos alunos em relação as práticas ambientais, e que não fique presa apenas
a conceitos e informações. Apesar que atualmente, ainda há limitações a realização da
Educação ambiental onde destaca-se uma formação adequada dos professores, carência
de programas governamentais de incentivo, capacitação desses profissionais e outra
dificuldade é sobre a falta de material didático, onde o próprio livro didático é ausente de
conteúdos relacionados à questão ambiental, se fazendo necessário buscar outras
metodologias com outros materiais que poderiam auxiliar (VEDEIRO, 2021)
Considerando a importância da temática ambiental o presente trabalho teve por
objetivo levantar informações sobre o conhecimento dos estudantes acerca de temas com
abrangência nacional, preservação e conservação ambiental, além de realizar atividades
voltadas ao tema em questão, como palestra e debate do assunto.

MATERIAL E MÉTODOS

As atividades do projeto foram organizadas e desenvolvidas pela equipe do projeto


de extensão da Universidade Federal do Espírito Santo - UFES, intitulado por: “Ações de
Educação Ambiental em Escolas de Ensino Fundamental e Médio da Região do Caparaó”,
o qual foi desenvolvido com o propósito de conscientizar os alunos da rede pública de
ensino fundamenta e Médio sobre a importância da preservação ambiental
A equipe do projeto é composta por 14 pessoas dentre elas uma professora do
Centro de Ciências Agrárias e Engenharias da Universidade Federal do Espírito Santo
(CCAE/UFES), sento está coordenadora, formada em Agronomia e treze alunos de
graduação do curso de Agronomia e Medicina Veterinária.
2021 Gepra Editora Barros et al.

É de grande importância de se levar para sala de aula assuntos sobre o estilo de vida
contemporâneo e os problemas ambientais recorrente a relação homem e natureza, no
qual o primeiro se considera superior o segundo, assim acreditando ter controle sobre o
outro, porém a natureza é um organismo vivo e os seres humanos precisa dos recursos
naturais para se alimentar e sua riqueza provem sempre de início o meio ambiente
(OLIVEIRA & SILVA, 2021).
Escolha da escola foi realizada através de visitas em algumas escolas pertencentes
a região do Caparaó Capixaba, localizada no Sul do Estado do Espírito Santo, a fim de
selecionar disposta a receber a equipe do projeto e permitir que suas ações fossem
desenvolvidas. Nessas visitas, a coordenadora procurava pelos diretores das escolas,
395
apresentavam o projeto e ouvia deles e de alguns outros membros das escolas quais eram
seus interesses na área em que o projeto seria desenvolvido, assim como suas sugestões.
Em cada visita eram coletados dados como quantidade e idade dos alunos, datas
disponíveis no calendário escolar para que as atividades dos projetos fossem
desenvolvidas. De acordo com essa primeira conversa, as ações começaram a ser
organizadas e com o avanço delas outras visitas às escolas eram realizadas.
Dentre as escolas visitadas a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio
“Professor Pedro Simão” de Alegre foi selecionada e contemplada com as ações de
educação ambiental do projeto de extensão, foram realizados uma ação dentro de sala de
aula para 30 alunos do 6 ° ano fundamento, com objetivo de introduzir o assunto sobre a
importância que se tem em preservação e conservação ambiental nos horários de aula da
disciplina de ciências biológicas onde o professor já estava trabalhando em sala de aula o
tema de preservação e conservação dos recursos naturais.
Por meio da educação ambiental em sala de aula possibilita o desenvolvimentos de
novos valores e atitudes dos alunos, uma vez que eles são os principais agentes que podem
trazer uma melhor conservação e preservação do meio ambiente (SOUZA; HONÓRIO,
2020).
Foi realizada uma aplicação de um questionário pré-palestra interdisciplinar
(Tabela 1) a fim levantar informações sobre os conhecimentos prévios dos estudantes
acerca de temas com abrangência nacional preservação e conservação ambiental.

Tabela 1- Questionário pré-palestra sobre preservação e conservação ambiental, aplicado nas salas de
aula da “Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Professor Pedro Simão”, no dia 26 de abril de
2019, em Alegre-ES.
Questionário
1) O que você pensa sobre a preservação e conservação ambiental?
2) Na sua opinião é importante o estudo sobre a preservação e conservação ambiental?
3) Na sua opinião qual o grau de responsabilidade para a preservação e conservação ambiental?
4) Quem é o responsável pela preservação e conservação ambiental?
5) Você já ouviu falar sobre a preservação e conservação ambiental e sua importância para seres vivos?
Fonte: O autor (2019).

Após a aplicação do primeiro questionário foi realizada uma palestra e dinâmica


para mostrar para os alunos a importância dos cuidados com o meio ambiente e através
2021 Gepra Editora Barros et al.

da dinâmica demostrar para alunos ações que podem serem desenvolvidas para ajudar a
natureza.
Em seguida da palestra foi aplicado novamente um outro questionário (Tabela 2)
para levantar informações sobre o aproveitamento da atividade desenvolvida com os
alunos e professor responsável pela disciplina de ciências biológicas.

Tabela 2- Questionário pós-palestra sobre preservação e conservação ambiental, aplicado nas salas de
aula da “Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Professor Pedro Simão”, no dia 26 de abril de
2019, em Alegre-ES.

Questionário 396
1) Na sua opinião o meio ambiente tem importância na sua vida?
2) Quais são consequências do impacto ambiental em sua vida?
3) Na sua opinião a Ação de Educação Ambiental desenvolvida na sua escola contribuiu com a sua
conscientização?
4) Você sabe quais são as medidas que podem ser adotadas para a preservação e conservação
ambiental?
5) O que você e sua Família fazem para contribuir com a preservação e conservação ambiental?
Fonte: O autor (2019).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Figura 1, são apresentadas as distribuições percentuais das respostas dadas pelos


aluno e professor da “Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Professor Pedro
Simão” referentes as perguntas do questionário pré-palestra (Tabela 1), sobre prévio
acerca do assunto preservação e conservação ambiental.

Figura 1 - Resultados obtidos com a aplicação do questionário pré-palestra.

(A) (B)
2021 Gepra Editora Barros et al.

(C) (D)

397

(E)

Fonte: O autor (2019).

No geral observasse que 92,85 % dos alunos pensam que a conservação do meio
ambiente é fundamental para a vida dos seres humanos, porém 7,15% não sabem nada
referente a este assunto (Figura 1. A). Em pesquisa Lima e Fernandes (2020) constataram
que a sala de aula é o um ambiente mais atrativo para os alunos aprenderem sobre a
importância da preservação ambiental, para que possam agregar valores e que busquem
o desenvolvimento sustentável.
Em estudos White e colaboradores (2018), também observaram uma crescente
desconexão entre pessoas e a natureza e com projetos de educação ambiental em escolas
pode aumentar a conexão entre os seres humanos com a natureza e a realizar uma
conscientização dos mesmos, para formarem cidadãos mais conscientes de suas ações e
a importância da preservação ambiental para as futuras gerações, pois o ato de cada um
no presente poderá mudar o futuro de toda a humanidade.
Geralmente os seres humanos em buscas constante pela tecnologia e suas
transformações, esquecem das consequências negativas que as mesmas trazem para meio
ambiente e na figura 1.B, demostra que 78,58% dos alunos responderem que assuntos
referente ao meio ambiente muito importante serem discutidos e 21,42% de importância
mediana, na Figura 1.C 85,71% responderam que seu grau de responsabilidade com meio
ambiente é elevado e 14,29 mediano, sendo que as práticas de preservação ambiental deve
2021 Gepra Editora Barros et al.

ser começar a serem praticadas no nosso dia-a-dia para que tenhamos um ambiente
preservado (VIDAL; MAIA, 2006).
Não existe atividade humana que não traga consigo consequências e muitas das
vezes negativas para meio ambiente, sendo necessários buscar meios para que possa
minimizar estas ações, a melhoria da qualidade de vida começa com mudanças em cada
um dos seres vivos, através da adoção de novos comportamentos, assim contribuir para a
diminuição da degradação ambiental (MONTEIRO, 2020).
O conceito meio ambiente não pode ser limitado e sim abrangente é necessário
ampliar os locais e as disciplinas que abordam questões sobre a importância da
conservação do meio em que se vive, pois, o processo de aprendizado é constante e temos
398
que conscientizar as crianças e jovens, parar torna-los adultos conscientes de suas ações
(SUKMA et al., 2020).
A educação ambiental é voltada para informar crianças, jovens e adultos sobre a
gestões sobre problemas ambientais e a importância da preservação e conservação dos
recursos naturais. Em média 10,72% dos alunos ainda não ouviram falar sobre a
preservação e conservação ambiental e a importância para seres vivos e cerca 89,28% dos
alunos já estão cientes sobre o assunto (Figura 1. E). Para Amaro e Bernardes (2018) a
Educação ambiental é um caminho indispensável para a diminuição dos impactos
ambientais, pois apenas o conhecimento pode proporcionar mudanças nas atitudes dos
indivíduos.
A degradação ambiental pode considerada qualquer processo que reduza a
capacidade de um ecossistema sustentar a vida, ou seja, ameaça não somente a qualidade
de vida e bem-estar dos povos, mas sua própria sobrevivência, deste modo a preservação
e conservação ambiental é uma formar de colabora para existência de vida no planeta
(SILVA; ANNA, 2021). Estudos revelam que ações de educação ambiental em ambiente
escolar pode modificar as atitudes e comportamentos dos alunos e professores, onde os
quais tem um alto nível de compreensão para que tenham avanços positivos na área
ambiental (DEBRAH et al., 2021)
Na Figura 2, estão apresentadas as distribuições percentuais das respostas dadas
pelos aluno e professor da “Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Professor
Pedro Simão” referentes as perguntas do questionário pós-palestra (Tabela 2), mostrando
o aproveitamento da realização da palestra e dinâmica feita para os alunos e professores,
pois a troca de conhecimento com a dinâmica e palestra demostrou as razões pelas quais
se deve preservar o meio ambiente.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 2 - Resultados obtidos com a aplicação do questionário pós-palestra.

(A) (B)

399

(C) (D)

(E)

Fonte: O autor (2019).

Após a palestra observasse na Figura 2.A 100 % dos alunos responderam que meio
ambiente é importante na sua vida e na Figura 2.B 46,43 % observam que o impacto
ambiental trás para vida dos seres humanos prejuízos incalculáveis e 53,57% que o
impacto ambiental causaria à ausência dos recurso naturais disponível para produção de
alimentos, sendo que Santos e colaboradores (2017) também observaram nas suas
pesquisas que os alunos relaciona um boa qualidade de vida com um ambiente saudável,
onde consideram importante a preservação e conservação dos recursos naturais para que
2021 Gepra Editora Barros et al.

possa ter uma vida saudável, pois a adoções de ações de sustentabilidade garantem a
médio e longo prazo um planeta em boas condições para o desenvolvimento das diversas
formas de vida, inclusive a humana.
Os seres humanos é totalmente dependente dos recursos naturais que estão
dispostos na natureza e muitas das vezes não dão a devida importância e usando de tal
forma que provoca a degradação ambiental e podendo haver um esgotamento do recursos
ambientais, caso os seres humanos não consciências das suas atitudes (LUZ, 2021).
Segundo Medeiros et al., (2011), as crianças e jovens precisam conhecer a realidade do
problemas ambientais, pois de acordo com os autores, deste modo elas serão agentes
transmissores de conhecimento e se tornarão adultos mais conscientes e preocupados com
400
o meio ambiente, onde a é importante considerar o papel das instituições de ensino,
independentemente do nível escolar.
A pesquisa mostrou que cerca de 85,71% dos alunos acham que é de extrema
importância a realização de educação ambienta em escolas para contribuir com a
conscientização dos mesmos (Figura 2.C). Muitos alunos atualmente não valorizam ou
compreende a significância que o meio ambiente tem para cada ser vivo e as escolas
precisam de ações que contribuam para inovar as formas dessa informação chegar e
chamar atenção dos alunos para que se tome multiplicadores da ideia que o meio ambiente
precisa ser preservado e conservado (PINHEIRO et al., 2021).
Na figura 2.D mostrou que 89,28% dos alunos sabem as medidas a serem adotadas
para preservação e conservação ambiental e 10,72% não sabe. Segundo Martelli e
colaboradores (2018) há uma grande preocupação em conservar, preservar e reaproveitar
a água que se tem disponível, corroborando com os dados das pesquisa realizada após a
palestra onde 85,82% dos alunos responderam que uma das formas de preservar o meio
ambiente é não desperdiçar água em quantos outros 14,28% variou as resposta como
economizar energia, fazer separação do lixo (Figura 2.E).

CONCLUSÕES

A educação ambiental para criança e jovem mostra-se como um instrumento


fundamental para formação de adultos conscientes sobre suas ações e a interferências das
mesmo sobre a natureza, sendo de grande relevância o meio ambiente para vida de cada
ser vivo.
A realização de ações de educação ambiental em ambiente escola é uma ótima
estratégia de atrair atenção dos alunos para questões voltadas para natureza e a relação do
homem e meio ambiente, onde os dois devem andar em conjunto, onde o homem não
deve se sentir superior.
É necessário o desenvolvimento sustentável para que as próximas gerações não
sofram com sérios problemas ambientais, sendo na sala de aula um local adequado para
disseminação e aprendizado sobre as questões ambientais e a importância do meio
ambiente para vida de cada ser vivo.
2021 Gepra Editora Barros et al.

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403
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 37

AÇÃO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA PRESERVAÇÃO E


CONSERVAÇÃO DE RECURSOS HÍDRICOS EM ESCOLA
PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE ALEGRE-ES

MAROTO, Gracieli Lorenzoni


Graduando em Agronomia
Universidade Federal do Espírito Santo
gracielilm18@gmail.com

SILVA, Chansislayne Gabriela 404


Graduando em Agronomia
Universidade Federal do Espírito Santo
chansislayne_silva@outlook.com

MARTINS, Camila Aparecida da Silva


Pós-graduada em Produção Vegetal
Universidade Federal do Espírito Santo
camila.cca@hotmail.com

RESUMO

A Educação Ambiental abordada no contexto escolar, possibilita e contribui para


que os discentes tenham um maior conhecimento envolto aos problemas ambientais de
forma que se sintam motivados a ter uma participação mais ativa para solucionar os
problemas de domínio ambiental. Considerando a importância da temática ambiental em
relação aos recursos hídricos, o presente trabalho teve por objetivo levar o conhecimento
sobre a importância da preservação e conservação dos recursos hídricos aos alunos do 6º
ano da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Professor Pedro Simão”. Foi
realizada a aplicação de um questionário interdisciplinar em duas turmas do 6° ano do
fundamental, a fim de levantar informações sobre os conhecimentos prévios dos
estudantes acerca do tema abordado. A pesquisa mostrou que 72% da turma 1 e 84% da
turma 2 pensam que os recursos hídricos são de fundamental importância para vida. 90 e
92% respectivamente das turmas 1 e 2, consideram que a responsabilidade pela
preservação dos recursos hídricos é de todos os cidadãos. Na turma 1 (97%) já pensaram
que no futuro os recursos hídricos podem ser limitados, já na turma 2, 76% já tiveram
esse pensamento. A partir do trabalho realizado pode-se confirmar que a educação
ambiental apresenta-se como uma importante ferramenta para a formação de cidadãos
mais conscientes e sustentáveis quanto as questões ambientais, principalmente com os
recursos hídricos.

PALAVRAS-CHAVE: Conscientização, Meio ambiente, Preservação da água.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

A água é um recurso natural vital e de fundamental importância à vida,


proporciona a sobrevivência o bem-estar social e o desenvolvimento econômico de um
país. Os recursos hídricos estão envolvidos em diversas atividades cotidianas, das mais
simples as mais complexas utilidades, como geração de energia, abastecimento humano,
produção industrial e principalmente na manutenção do equilíbrio das cadeias
ecossistêmicas e no equilíbrio ambiental.
O Brasil é considerado um dos países mais ricos em disponibilidade hídrica do
mundo, concentrando aproximadamente 12% de todas as reservas de água doce do planeta
(OCDE, 2015). No entanto, apesar de ser um volume considerável, a distribuição da água 405
no território é de forma desigual, além disso, deve-se levar em consideração que devido
ao uso irracional da água, a poluição e destruição dos meios hídricos, a mesma encontra-
se em constante ameaça, o que compromete as fontes disponíveis de água doce
(PICCOLI, 2016).
Devido às consequências negativas advindas da poluição e escassez dos recursos
hídricos, é de suma importância que haja uma mudança de pensamentos assim como nas
atitudes e no comportamento da população. Assim surge a Educação Ambiental (EA),
considerada uma ferramenta de expansão de discussões e conscientização da conservação
dos recursos naturais, incluindo os recursos hídricos (CARVALHO; BARCELLOS,
2017).
De acordo com a Declaração de Estocolmo sobre o ambiente humano 1972, a
educação em questões ambientes é indispensável e o caminho mais eficaz para
fundamentar as bases de uma opinião pública bem formada, para possibilitar uma
mudança na conduta dos indivíduos que devem passar a assumir responsabilidades sobre
a proteção do meio ambiente em toda sua dimensão (ONU, 1962).
A Educação Ambiental abordada no contexto escolar, possibilita e contribui para
que os discentes tenham um maior conhecimento envolto aos problemas ambientais de
forma que se sintam motivados a ter uma participação mais ativa para solucionar os
problemas de domínio ambiental juntamente com os docentes da instituição (SANTOS et
al., 2018). De acordo com Silva e Ferreira (2014), a escola apresenta um papel
fundamental no processo de construção de valores e também proporciona o
fortalecimento da cidadania, com o intuito de que a comunidade passe a ter maiores
responsabilidades na conservação dos recursos ambientais.
Existem diversas ferramentas que podem ser utilizadas dentro das escolas para
ampliação de uma cidadania hídrica na gestão da água, como por exemplo a discussão do
tema água, sua importância, degradação, conservação e conflitos existentes devido sua
escassez. Isso contribui para a formação do aluno que passa a ter uma sensibilidade
ambiental para intervir na realidade.
Considerando a importância da temática ambiental em relação aos recursos
hídricos, o presente trabalho teve por objetivo levar o conhecimento sobre a importância
da preservação e conservação dos recursos hídricos aos alunos do 6º ano da Escola
Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Professor Pedro Simão”, a fim de levantar
informações sobre os conhecimentos prévios dos estudantes acerca do tema abordado.
2021 Gepra Editora Barros et al.

MATERIAL E MÉTODOS

As atividades do projeto foram organizadas e desenvolvidas pela equipe do projeto


de extensão da Universidade Federal do Espírito Santo - UFES, intitulado por: “Ações de
Educação Ambiental em Escolas de Ensino Fundamental e Médio da Região do Caparaó”,
o qual foi desenvolvido com o propósito de conscientizar os alunos da rede pública de
ensino fundamental e médio sobre a importância da preservação ambiental.
A equipe do projeto é composta por 14 pessoas, dentre elas uma professora do
Centro de Ciências Agrárias e Engenharias da Universidade Federal do Espírito Santo
(CCAE/UFES), sento está a coordenadora, formada em Agronomia e treze alunos de 406
graduação dos cursos de Agronomia e Medicina Veterinária.
É de grande importância levar para sala de aula assuntos sobre o estilo de vida
contemporâneo e os problemas ambientais recorrentes a relação homem e natureza, no
qual o primeiro se considera superior ao segundo, assim acreditando ter controle sobre o
outro, porém, a natureza é um organismo vivo e os seres humanos precisam dos recursos
naturais para se alimentarem e sua riqueza provem sempre de início do meio ambiente
(OLIVEIRA; SILVA, 2021).
A escolha da escola foi realizada através de visitas em algumas escolas pertencentes
a região do Caparaó Capixaba, localizada no Sul do Estado do Espírito Santo, com a
finalidade de selecionar a escola disposta a receber a equipe do projeto e permitir que
suas ações fossem desenvolvidas. Nessas visitas, a coordenadora procurava pelos
diretores das escolas, apresentava o projeto e ouvia deles e de alguns outros membros das
escolas quais eram seus interesses na área em que o projeto seria desenvolvido, assim
como suas sugestões.
Em cada visita eram coletados dados como quantidade e idade dos alunos, datas
disponíveis no calendário escolar para que as atividades dos projetos fossem
desenvolvidas. De acordo com essa primeira conversa, as ações começaram a ser
organizadas e com o avanço delas outras visitas às escolas eram realizadas.
Dentre as escolas visitadas a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio
“Professor Pedro Simão” de Alegre foi selecionada e contemplada com as ações de
educação ambiental do projeto de extensão, foi realizada uma ação dentro de sala de aula
com duas turmas do 6° ano do fundamental, onde a turma 1 tinha 29 alunos e a turma 2
25 alunos. O objetivo com a ação de educação ambiental foi levar o conhecimento sobre
a importância que se tem em preservar e conservar os recursos hídricos nos horários de
aula da disciplina de ciências biológicas onde o professor já estava trabalhando em sala
de aula o tema de preservação e conservação dos recursos hídricos.
Foi realizada a aplicação de um questionário interdisciplinar (Tabela 1), a fim
levantar informações sobre os conhecimentos prévios dos estudantes acerca de temas com
abrangência nacional, preservação e conservação dos recursos hídricos.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Tabela 1- Questionário sobre preservação dos recursos hídricos, aplicado nas salas de aula da “Escola
Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Professor Pedro Simão”, no dia 16 de abril de 2019, em
Alegre-ES.
Questionário

1) O que você pensa sobre a preservação dos recursos hídricos?


2) Na sua opinião qual grau de importância dos estudos sobre preservação dos recursos hídricos?
3) Na sua opinião qual o grau de responsabilidade para com a preservação dos recursos hídricos?
4) Na sua opinião qual grau de importância da preservação dos recursos hídricos?
5) Você já pensou que uso da água no futuro poderá ser limitado?
Fonte: O autor (2019).
407

Após a aplicação do questionário foi realizada uma palestra e uma dinâmica para
expor aos alunos a importância dos cuidados com os recursos hídricos e através da
dinâmica demonstrar para alunos ações que podem ser desenvolvidas para ajudar a
natureza.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Figura 1, são apresentadas as distribuições percentuais das respostas dadas pelos


alunos e professor da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Professor Pedro
Simão” referentes as perguntas 1 e 2 do questionário (Tabela 1), acerca do assunto,
preservação dos recursos hídricos.

Figura 1 - Resultados obtidos com Turma 1 e Turma 2 do 6° ano da “Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio “Professor Pedro Simão”.
2021 Gepra Editora Barros et al.

408

Fonte: Autor (2021)

Na Figura 1 demonstra que houve uma variação de respostas entre a turma 1 e 2,


em relação ao que pensam sobre a preservação dos recursos hídricos, onde 72% da turma
1 e 84% da turma 2 pensam que os recursos hídricos são de fundamental para vida. Na
turma 1 e 2 uma porcentagem de 21 e 8% respectivamente, disseram no questionário que
raramente pensam a respeito.
Sobre a pergunta 2, um total de 76% dos alunos da turma 1 disseram que a
importância de estudos sobre a preservação dos recursos hídricos é muito grande,
enquanto na turma 2 a porcentagem foi de 60%. Observa-se que a turma 2, apresentou
uma maior porcentagem de respostas quanto ao grau de importância “nenhum” e “pouco”,
demonstrando que apesar da turma 2 ter uma maior porcentagem de alunos que pensam
que os recursos hídricos são de fundamental importância para a vida uma grande
quantidade de alunos não enxerga a importância de estudos voltados a preservação dos
mesmos.
Segundo Pereira et al., (2019), o consumo de recursos hídricos de forma sustentável
é peça chave, no entanto, é necessário que os estudantes vivenciem na prática essa
importância através de trabalhos e estudos referentes a temática abordada. Ainda é
possível ressaltar a importância de fornecer informações básicas para que as pessoas
tenham uma compreensão de possíveis soluções para serem aplicadas na prática, dado
que a consciência ambiental é a principal ferramenta para diminuir os impactos que são
causados pelo desconhecimento da população acerca dos recursos hídricos.
Ainda na temática da importância de estudos na área dos recursos hídricos, as
atividades propostas pelos professores que são realizadas dentro da sala de aula ou até
mesmo fora dela são de fundamental importância para o sucesso de aprendizagem, dado
que as práticas contribuem para que o estudante tenha uma percepção diferente
relacionada os recursos hídricos (SILVA, 2018).
Dessa forma, a educação ambiental apresenta-se como uma solução para a
realização de atividades relacionadas ao tema de recursos hídricos nas escolas para que
os alunos tenham um momento de ensino e aprendizagem concreto e real do assunto
2021 Gepra Editora Barros et al.

abordado, o que proporciona o entendimento do seu papel perante a preservação e


consciência de que os recursos hídricos são indispensáveis a vida.
Essas informações vêm de encontro a importância da realização deste estudo, pois
de acordo com o questionário aplicado, 21 e 8% das turmas 1 e 2 respectivamente,
responderam que raramente pensam que a preservação dos recursos hídricos é de
fundamental importância. Assim quanto maior o número de atividades relacionadas ao
tema sejam aplicadas aos alunos, maior o estímulo de raciocínio acerca da sua
importância. Apesar de 3 e 4% das turmas não terem interesse de pensar sobre o assunto.
Na Figura 2, são apresentadas as distribuições percentuais das respostas dadas pelos
alunos e professor da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Professor Pedro
409
Simão” referentes as perguntas 3 e 4 do questionário (Tabela 1), acerca do assunto,
preservação dos recursos hídricos.

Figura 2 - Resultados obtidos com a Turma 1 e Turma 2 do 6° ano da “Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio “Professor Pedro Simão”.

Na sua opnião qual grau de resposabilidade


para com a preservação dos recursos
hídricos?
100
Porcentagem (%)

80
60
40 Turma 1
20 Turma 2
0
Nenhum Pouco Mediano Muito
Respostas

Fonte: Autor 2021


2021 Gepra Editora Barros et al.

Quanto ao grau de responsabilidade com a preservação dos recursos hídricos, na


turma 1, 83% responderam “muito”, enquanto na turma 2 apenas 48% dos alunos
marcaram esta opção, com 20 e 28% para as opções mediana e de pouca responsabilidade.
Em um estudo feito por Manfrin et al., (2019) com um questionário aplicado em
escolas públicas sobre a conduta dos estudantes frente ao desperdício da água, 81,14%
responderam que fazem algo para evitar o desperdício, isso demonstra que também
consideram que o grau de responsabilidade para a preservação dos recursos hídricos é
elevado além de realiza-la na prática.
Estudantes que apresentam uma percepção sustentável quanto aos recursos hídricos
de acordo com Amaral et al., (2017) demonstram que possuem um respeito e cuidado
410
com a água do planeta, essa percepção pelos alunos é de extrema importância, pois assim,
é possível que os mesmos tenham um maior interesse ao garantir a preservação desses
recursos para as gerações futuras.
Nas duas turmas uma porcentagem elevada de alunos, 90 e 92% respectivamente
para a turma 1 e 2, consideram que a responsabilidade pela preservação dos recursos
hídricos é de todos os cidadãos, e uma pequena quantidade de alunos das turmas
consideram que essa responsabilidade deve ser apenas de agricultores, grandes indústrias
ou estações de tratamento.
De acordo com Chacon-Pereira et al., (2018), no Brasil a gestão dos recursos
hídricos é fundamentada em um modelo participativo, e dessa forma é necessário que haja
um esforço conjunto de todas as esferas da sociedade, como a população civil, órgãos
governamentais e indústrias, para que as políticas ambientais sejam executadas de forma
mais efetiva e integradoras.
Na Figura 3, são apresentadas as distribuições percentuais das respostas dadas pelos
alunos e professor referente a pergunta 5 do questionário (Tabela 1).

Figura 3 - Resultados obtidos com a Turma 1 e Turma 2 do 6° ano da “Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio “Professor Pedro Simão”.

Você já pensou que o uso da água no futuro


poderá ser limitado?
100
90
80
Porcentagem (%)

70
60
50
Turma 1
40
30 Turma 2
20
10
0
Talvez Sim Não
Respostas

Fonte: Autor (2021)


2021 Gepra Editora Barros et al.

A maioria dos alunos da turma 1 (97%), já pensou que no futuro os recursos hídricos
podem ser limitados, já na turma 2, 76% já tiveram esse pensamento. 3 e 4% das turmas
1 e 2 respectivamente, não pensaram que esses recursos se tornariam limitados e 20% da
turma 2 respondeu que talvez já pensou na situação abordada.
Resultados semelhantes foram obtidos por Cavalcante et al., (2013) em sua pesquisa
na escola João Paulo II no município de Bananeiras na Paraíba, no qual 99% dos alunos
afirmam que a água é um recurso ambiental finito e será limitado, dado que grande parte
da população faz o uso inconsciente da água, o que compromete no futuro a sua
disponibilidade, tornando-a vulnerável as ações humanas. No entanto, 1% respondeu que
a água não é um recurso natural finito, pois acredita que e a mesma é um recurso
411
renovável.
Lins et al., (2021) em uma pesquisa com alunos de uma escola do Ensino
Fundamental no Maranhão sobre a educação ambiental, ao questionarem os alunos se
acreditam que a água no futuro irá acabar, obtiveram 96% de respostas de que a água
poderá acabar, sendo assim um recurso limitante no futuro.
Segundo Valmorbida (2013), é importante explicar aos alunos que devido à água
fazer parte do ciclo hidrológico ela não irá acabar, no entanto, a água potável, que é a
possível de ser consumida, essa sim poderá ser limitante, dado que sua contaminação e
poluição a torna cada vez mais escassa, sendo de suma importância a sua preservação.
Ainda, deve-se ressaltar aos alunos que devido ao fato de ser um recurso essencial
a vida e finito já existem disputas ao redor do mundo pelo seu consumo e utilização
(MARTELLI, et al., 2018). Almeida et al., (2019), afirmam que geralmente existe um
desconhecimento por parte dos alunos sobre os conflitos referente aos recursos hídricos.
Dessa forma, de acordo com Freitas e Marin (2015) é necessário ações que sensibilizem
os estudantes a terem responsabilidades, uma vez que já existem conflitos hídricos no
país, principalmente devido a sua escassez e que no futuro por ser um recurso limitado
essa situação pode se tornar alarmante.

CONCLUSÕES

A partir do trabalho realizado pode-se confirmar que a educação ambiental


apresenta-se como uma importante ferramenta para a formação de cidadãos mais
conscientes e sustentáveis quanto as questões ambientais, principalmente com os recursos
hídricos.
Apesar de a educação ambiental não ser um papel exclusivo da escola, a mesma
apresenta-se como uma importante instituição para a disseminação da temática ambiental,
tendo como objetivo incentivar os alunos a ter uma perspectiva consciente do uso dos
recursos hídricos e sua preservação.
Nesse sentido, o trabalho cumpriu com o objetivo de levar o conhecimento sobre a
importância da preservação e conservação dos recursos hídricos e aguçar o pensamento
dos estudantes para questões ambientais.
2021 Gepra Editora Barros et al.

REFERÊNCIAS

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Monografia (Pós Graduação em Gestão Ambiental em Municípios). Universidade
Tecnológica Federal do Paraná, Medianeira, 2013.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 38

BACTÉRIAS ÁCIDO-LÁCTICAS POTENCIALMENTE


PROBIÓTICAS DA ESPÉCIE Lactobacillus rhamnosus: UMA
BREVE REVISÃO
SOARES, Wisla Kívia de Araújo
Pós-graduanda em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande de Norte (IFRN)
wisla-kivia@hotmail.com

FEITOSA, Bruno Fonsêca


Graduando em Engenharia de Alimentos 414
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
brunofonsecafeitosa@live.com

ARAÚJO, Jayuri Susy Fernandes


Mestra em Sistemas Agroindustriais
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
jayuri.susy@gmail.com

CAVALCANTI, Mônica Tejo


Doutora em Engenharia de Processos
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
monicatejoc@yahoo.com.br

FEITOZA, João Vitor Fonseca


Docente
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande de Norte (IFRN)
joaovitorlg95@hotmail.com

RESUMO

A variedade de produtos com propriedades funcionais aumentou, principalmente, devido


a demanda dos consumidores por alimentos que promovam benefícios a saúde.
Objetivou-se com este trabalho revisar brevemente as propriedades tecnológicas e
funcionais de duas diferentes estirpes de bactérias ácido-lácticas (BAL) potencialmente
probióticas da espécie Lactobacillus rhamnosus. As estirpes estudadas foram duas: L.
rhamnosus EM1107 e L. rhamnosus GG. A estirpe L. rhamnosus EM1107 apresentou
propriedades tecnológica e funcional quando aplicada em queijos caprinos e outros
derivados lácteos. Por outro lado, o L. rhamnosus GG apresentou evidências de suas
propriedades benéficas em produtos de origem vegetal, como os sucos. As duas cepas
apresentaram papel promissor em casos clínicos. Tal fato instiga novas áreas de pesquisas
para ambas as estirpes.

PALAVRAS-CHAVE: alimentos funcionais, estirpes, propriedades tecnológicas.

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos tem crescido cada vez mais a demanda dos consumidores por
alimentos com propriedades funcionais. Alguns destes alimentos, como os derivados
lácteos, são geralmente induzidos a contribuírem para uma dieta saudável, promovendo
2021 Gepra Editora Barros et al.

significativamente o bem-estar do organismo. Para a adequação desses hábitos, a


indústria alimentícia vem buscando nos microrganismos potencialmente probióticos uma
alternativa para suprir as necessidades desse nicho mercadológico (MARTINS et al.,
2013; SHI et al., 2015).
Os microrganismos probióticos utilizados para promover a funcionalidade de
alimentos devem ser seguros e estar presentes em quantidades adequadas nos produtos.
Para desempenhar benefícios pelo consumo, prevê-se que uma quantidade ativa,
suficientemente em torno 6 a 7 log UFC.g-1, alcance o trato intestinal (KUMAR;
KUMAR, 2016). Embora não exista uma legislação internacional, a International Dairy
Federation (IDF) recomenda uma quantidade mínima de 7 log UFC.g-1 de produto
415
consumido (DIAS et al., 2013; FOLIGNÉ et al., 2013; KAUR et al., 2014), podendo
variar de espécie para espécie ou entre estirpes dentro de uma mesma espécie
(TRIPATHI; GIRI, 2014).
No Brasil, a Resolução nº 2, de 07 de janeiro de 2002, aprovou o regulamento
técnico de substâncias bioativas e probióticos isolados com alegação de propriedades
funcional e/ou de saúde. Esta regulamentação foi atualizada em dezembro de 2019,
definindo como substâncias com alegação de propriedades funcionais os ácidos graxos,
carotenoides, fibras alimentares, polióis, probióticos e a proteína de soja (BRASIL, 2002;
BRASIL, 2019). A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) define
probióticos como “microrganismos vivos capazes de melhorar o equilíbrio microbiano
intestinal produzindo efeitos benéficos à saúde do indivíduo” (BRASIL, 2002).
É importante escolher a estirpe probiótica mais adequada para o tipo de matriz
alimentar desejada, pois essa interação auxilia na resistência do microrganismo no trato
gastrointestinal, viabilizando o desenvolvimento de alimentos com apelo funcional.
(ESPÍRITO-SANTO et al., 2011; BURNS et al., 2014). A maioria dos probióticos são
bactérias, destacando-se as bactérias ácido-lácticas (BAL), comumente empregadas em
leites fermentados, queijos e alimentos à base de vegetais (CHEN et al., 2014). As cepas
probióticas de Lactobacillus, Bifidobacterium e Saccharomyces possuem um extenso
histórico de uso e segurança para o consumo, sendo consideradas General Recognized as
Safe - GRAS (SAAD et al., 2011).
Dentre os benefícios provocados pelo consumo de alimentos probióticos estão a
prevenção de cânceres (MALEKI et al., 2016), controle de infecções intestinais, melhoria
da absorção de nutrientes, diminuição dos níveis de colesterol total e LDL (Low Density
Lipoproteins) colesterol (BERNINI et al., 2016), redução da intolerância à lactose,
melhoria na absorção de cálcio e síntese de vitaminas (YUHARA et al., 2014), estímulo
e regulação do sistema imunológico (SAAD et al., 2013), equilíbrio da microbiota
intestinal, prevenção de doenças inflamatórias, diminuição de alergias, entre outra
vantagens (KAUR et al., 2014; SANTIAGO-LÓPEZ et al., 2015).
Neste contexto, frente aos benefícios relacionados à saúde, vale ressaltar que
existem diferenças no potencial probiótico de diferentes estirpes bacterianas, mesmo que
pertençam a mesma espécie, podendo apresentarem características únicas (SOCCOL et
al., 2010). Portanto, objetivou-se com este trabalho revisar brevemente as propriedades
tecnológicas e funcionais de duas diferentes estirpes de BAL potencialmente probióticas
da espécie Lactobacillus rhamnosus.
2021 Gepra Editora Barros et al.

REVISÃO LITERARIA

Lactobacillus

O gênero Lactobacillus concerne as bactérias do tipo bacilos, gram-positivas, que


não são formadores de esporos e se multiplicam em condições anaeróbias facultativas.
Naturalmente, habitam o trato gastrointestinal de aves, mamíferos e animais
homeotérmicos em geral, sendo encontradas ainda em local específico do corpo humano,
como na cavidade bucal. Assim, existem registros que correlacionam a presença destes
microrganismos a progressões de lesão de cárie e alta ingestão de sacarose (SAMOT et
al., 2011). 416
Diversas cepas deste gênero são classificadas como potencialmente probióticas, a
exemplo do Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus plantarum, Lactobacillus paracasei
e Lactobacillus rhamnosus (TEANPAISAN; PIWAT, 2014). Estas apresentam os ácidos
acéticos, láticos e fórmicos, além do etanol, como os principais produtos da fermentação
(LI et al., 2012).

L. rhamnosus

A espécie L. rhamnosus pertence ao grupo de BAL hetero-fermentativas,


existindo pesquisas que evidenciam a capacidade de tolerar a presença de sais biliares,
bem como de sobreviver durante a digestão gástrica (PETRULÁKOVÁ; VALÍK, 2015).
Algumas estirpes dessa espécie se destacaram pelo bom desempenho no combate a
infecções por Escherichia coli, aliado a inibição do crescimento de outros tipos de
bactérias patogênicas (ROLIM et al. 2015).De modo geral, corresponde a espécie
produtora de ácido lático mais bem estudada e comercializada no mundo todo
(RASINKANGAS et al., 2014). Nos últimos anos, as cepas de L. rhamnosus foram
amplamente identificadas em produtos alimentares e suplementos probióticos (JORJÃO
et al., 2015; ZAHRAN et al., 2017).
Os derivados lácteos fermentados possibilitam a adição de BAL probióticas, que
são produtoras de metabólitos secundários (bacteriocinas), as quais agem efetivamente na
promoção da saúde (ALMEIDA JÚNIOR et al., 2015). Quando o L. rhamnosus é
adicionado em alimentos específicos, como o queijo Coalho caprino, pode-se verificar
sua atuação como agente antimicrobiano, contribuindo com a manutenção da qualidade
microbiológica durante o armazenamento (COSTA et al., 2012; FONTENELE et al.,
2017).

L. rhamnosus EM1107

Entre as BAL se destaca a espécie L. rhamnosus EM1107, que foi isolado na flora
microbiana do leite e queijo Coalho como um potencial biotecnológico nacional. Esta
variedade apresenta forte capacidade de aplicação na forma de fermento autóctone para a
fabricação de derivados lácteos, especialmente o queijo Coalho caprino. Ela sobreviveu
neste produto durante cerca de 21 dias como uma cultura de proteção contra fungos
2021 Gepra Editora Barros et al.

deteriorantes e bactérias patogênicas, garantindo uma quantidade satisfatória de 6,75 log


UFC.g-1 (ROLIM et al., 2015).
Estudos com testes in vitro consideraram a estirpe promissora para aplicação em
matrizes alimentares, uma vez que foi comprovada sua sobrevivência a partir de
simulações do trato gastrointestinal (TGI) (ROLIM et al 2015; SANTOS et al., 2015. Do
mesmo modo, Galdino et al. (2021) observaram a sobrevivência desse microrganismo
autóctone aplicado no leite de cabra sob condições do TGI simuladas in vitro, sendo uma
alternativa favorável na produção de laticínios caprinos.
Santos et al. (2015) estudaram o queijo Coalho artesanal e observaram o L.
rhamnosus EM1107 como um candidato probiótico promissor para ser aplicado em
417
produtos lácteos fermentados. Nesta pesquisa, verificou-se a elevada resistência dessa
estirpe sob condições do TGI simuladas e a capacidade de desconjugar os sais biliares.
Barcelos et al. (2018) também observaram que a cepa potencialmente probiótica
de L. rhamnosus EM1107 destacou-se em uma bebida láctea caprina adicionada de suco
de uva, com concentração elevada (8 log UFC.mL-1) ao longo de 28 dias de
armazenamento refrigerado. Rodrigues et al. (2018), ao avaliarem o L. rhamnosus
EM1107, em forma isolada e adicionado ao queijo de cabra, elucidaram o efeito de
modulação à resposta inflamatória e eficácia na proteção e restauração da citoarquitetura
do tecido colônico dos ratos afetados com colite induzida por ácido acético.

L. rhamnosus GG

A estirpe do L. rhamnosus GG (Gorbach-Goldin) foi originada com base em um


estudo microbiológico, que permitiu isolar a cepa a partir do trato intestinal saudável de
um ser humano, em 1983. A denominação GG refere-se às iniciais dos sobrenomes dos
pesquisadores Sherwood Gorbach e Barry Goldin, os quais entraram com o pedido de
patente em 17 de abril de 1985 (GORBACH; GOLDIN, 1989; COUDEYRAS, 2008).
Esse microrganismo é caracterizado como gram-positivo, com formato de haste, não-
móvel e não esporulante (DONATO et al., 2010; LEBEER et al., 2010). Pertence ao grupo
de BAL capazes de fermentar hexoses e pentoses. Por isso, são denominadas de bactérias
hetero-fermentativas facultativas, produzindo durante a fermentação não só ácido lático,
mas também ácido fórmico, acético e etanol (PETRULÁKOVÁ; VALÍK, 2015).
Segundo a Autoridade Europeia para a Segurança de Alimentos (EFSA), o L.
rhamnosus GG possui potencial probiótico e, portanto, funcional de articular as defesas
do hospedeiro contra patógenos intestinais (EFSA, 2011). Estudos apresentam a
sobrevivência da estirpe, quando submetida à passagem pelo trato gastrointestinal, e
permanência por alguns dias nessa microbiota (REUNANEN et al., 2012; KUMPU et al.,
2013; BAJAJ et al., 2014). Provavelmente, essa capacidade é decorrente da produção de
pili e sortase, que beneficiam sua adesão ao aparelho digestivo, o que pode contribuir com
a prevenção de algumas doenças (LEBEER et al., 2012; PETRULÁKOVÁ; VALÍK,
2015). Outrossim, vem sendo cada vez mais utilizado para aliviar inflamações, prevenir
lesões, infecções gastrointestinais (HOJSAK et al., 2010; LIU et al., 2013)
O estudo carreado por Passariello et al. (2014) constatou a eficácia desse
probiótico no tratamento de diarreia infecciosa, que está diretamente relacionado com
2021 Gepra Editora Barros et al.

redução da frequência de evacuações. Do mesmo modo, Wang et al (2016) afirmaram


que a redução da diarreia aguda ou crônica associada à quimioterapia e radioterapia em
pacientes com câncer foi o efeito mais importante do L. rhamnosus GG. Por isso, a
comunidade científica tem expressado demasiado interesse no L. rhamnosus GG. Este
microrganismo tem sido cada vez mais pesquisado e comercializado na biotecnologia
industrial. A investigações direcionam no sentido de sua aplicação na elaboração de
vários produtos alimentícios (RANDAZZO et al., 2013; PAPIZADEH et al., 2016).
As alegações de benefícios impulsionaram Moreira et al. (2017) a desenvolverem
sucos mistos de manga Ubá e juçara adicionados de L. rhamnosus GG. Os autores
constataram que a adição da estirpe nessa matriz alimentar não interferiu na sua aceitação
418
sensorial pelos consumidores, mantendo uma contagem acima de 108 UFC.mL-1, durante
30 dias de armazenamento a 4 °C.
Por outro lado, Oliveira et al. (2017) desenvolveram sucos probióticos de
jabuticaba com a fruta branqueada e não branqueada adicionados de L. rhamnosus GG.
Observaram que a etapa de branqueamento interferiu significativamente na viabilidade
de L. rhamnosus GG, diminuindo sua contagem. Portanto, diferentes matrizes alimentares
apresentam resultados específicos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Visando a exploração do máximo potencial biotecnológico de cada estirpe de L.


rhamnosus, observou-se a importância de considerar as condições ideais para
multiplicação e manutenção em diferentes matrizes alimentares, além de sua
sobrevivência, ação e fixação durante à passagem pelo trato gastrointestinal.
O L. rhamnosus EM1107 vem sendo explorado em derivados lácteos, enquanto o
L. rhamnosus GG apresentou estudos promissores quando associado a produtos de origem
vegetal, como os sucos. Tal fato instiga novas áreas de pesquisas para ambas as estirpes,
atentando para os limites mínimos determinados para o desempenho de benefícios pelo
consumo.

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424
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 39

BENEFÍCIOS E DIFICULDADES NA IMPLEMENTAÇÃO DE


INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA PECUÁRIA DE CORTE

KANASHIRO, Thaís Cristina Ballestero


Médica Veterinária
Biox Pecuária Moderna.
thais.vet@globo.com

SILVA, Flávia Rosana Barros da


Zootecnista 425
Universidade Federal Rural de Pernambuco
barrosflaviar@gmail.com

BARROS, Timóteo Herculino da Silva


Pós-doutorando em Engenharia de Sistemas Agrícolas
Universidade de São Paulo
timoteo@alumni.usp.br

COSTA, Jéfferson de Oliveira


Pós-doutorando em Engenharia de Sistemas Agrícolas
Universidade de São Paulo
jefferson.costa@ifnmg.edu.br

RESUMO

Por apresentar um clima tropical, o Brasil apresenta características favoráveis para o


desenvolvimento do agronegócio. A agropecuária vem sofrendo nos últimos anos uma
reforma com as inovações tecnológicas, com o surgimento de novas ferramentas, e
principalmente com os recursos de biotecnologia que, neste cenário, incorpora os
softwares de gerenciamento como importante ao empresário rural, tornando
imprescindível uma gestão eficiente e eficaz. O presente trabalho visou oferecer uma
contribuição no melhoramento do gerenciamento dos funcionários rurais, com
metodologia voltada para uso de tecnologia na pecuária de corte, por meio de pesquisa
no campo, com potencial de ser referência para gerentes de projetos agropecuários. Neste
contexto, o objetivo da pesquisa foi identificar os benefícios e dificuldades na
implementação de tecnológicas no meio rural, além de identificar até que ponto a
influência desses colaboradores pode incidir no desenvolvimento de tais implementações
tecnológicas. Os resultados apontaram como principal entrave não somente resistência
por parte dos funcionários rurais, mas também o custo elevado para implementação e
manutenção do meio tecnológico. Em contrapartida, 70% produtores que, atualmente,
não se imaginam mais sem as facilidades e consequentes resultados satisfatórios trazidos
pela tecnologia. Dessa forma mudanças, dificuldades e transtornos iniciais são gerados, e
requerem a cooperação de colaboradores e gestores para a sua realização, para atingir
bons resultados.

PALAVRAS-CHAVE: Bovinocultura; Custo; Gestão; Tecnologia; Softwares.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

O Brasil apresenta inúmeros fatores favoráveis ao desenvolvimento do


agronegócio, destacando-se: oferta ambiental favorável, grande disponibilidade de terras,
tecnologias disponíveis, recursos humanos qualificados em vários elos da cadeia
produtiva, boa capacidade de gestão e competitividade na produção (SCOLARI, 2006).
As mudanças nos âmbitos econômico, social e político trazem à tona um novo
cenário, em diferentes contextos: indústria, comércio, pecuária, agricultura, dentre outros,
que precisaram rever suas formas de gerir os negócios e buscar novas estratégias para
garantir o constante crescimento e rentabilidade. Consequentemente, fazem com que os
gestores busquem compreender novas perspectivas para então agregá-las ao seu negócio,
até mesmo no campo as mudanças acontecem a todo o momento e obter informações para 426
aperfeiçoar processos pode ser relevante para a orientação e gerenciamento de suas
atividades (SAWAENGSAK; GHEEWALA, 2017).
A propósito, não basta somente obter informações, é preciso estabelecer ações
viáveis que busquem implementar o uso das ferramentas criadas e difundidas após as
mudanças decorrentes do processo de globalização, que são: as novas tecnologias, novas
formas de gerir os negócios e novos processos que prometem otimizar os resultados,
trazendo lucratividade e crescimento para o negócio (BRINKMAN et al., 2018).
Em meados do século passado, iniciou-se uma reviravolta no agronegócio com o
surgimento de novas tecnologias aplicadas à produção rural. Esse novo molde do
agronegócio passou a contar com recursos de biotecnologia, que neste cenário, incorpora
os “softwares” e outras ferramentas de gerenciamento como uma ferramenta importante
ao empresário rural.
Alguns entraves para a implementação das inovações tecnológicas no campo, são:
pouco nível de instrução dos trabalhadores rurais, idade média avançada e pouca
infraestrutura de comunicação (SNA, 2016). Além disso o receio dos colaboradores em
relação à troca da mão de obra pelos maquinários e softwares de gestão
Para Araújo (2003), quando estas empresas passam a utilizar um sistema de
informação gerencial, são obrigadas a reorganizar e determinar e determinar um sistema
de trabalho bem definido e estruturado. Para facilitar esta tarefa é fundamental que o
gestor demonstre aos funcionários a importância dessas alterações, buscando fazer com
que estes fiquem comprometidos e motivados com as mudanças.
O agronegócio brasileiro se resume em um conjunto de cadeias produtivas, indo
desde a produção até a comercialização dos produtos, e está ligado diretamente em
diversos setores da economia, estando entre os países com maiores índices de
produtividade e exportação.
O objetivo dessa pesquisa foi verificar quais são os benefícios e dificuldades na
implementação de sistemas tecnológicos no campo, quais os pontos de maior necessidade
para uma gestão qualificada, detectar estratégias para melhorar as atividades no meio
rural, e identificar até que ponto a influência dos trabalhadores rurais pode incidir no
desenvolvimento de uma organização.

MATERIAL E MÉTODOS

Para este trabalho foi utilizado o questionário, através do método de entrevista com
questões abertas, aplicado em propriedades rurais do estado de Goiás que são atendidas
por uma única empresa agropecuária do ramo de certificação animal.
2021 Gepra Editora Barros et al.

1 - específico para propriedades que trabalham com algum software para gestão da
produção; e outro, 2 - específico para propriedades que não utilizam os software para
gestão ou similares.

Questionário 1:
Questão 1 – Há quanto tempo faz uso de um sistema tecnológico e/ou software de
gestão para acompanhamento e controle da produção?
Questão 2 - Como avalia os trabalhos e resultados antes e depois da implementação
do sistema tecnológico?
Questão 3 - Como o uso de tecnologias tem influenciado a rotina da propriedade
rural e os funcionários? 427
Questão 4 – Há algum outro sistema tecnológico aplicado na propriedade?

Questionário 2:
Questão 1 – Qual motivo principal da não utilização de sistemas tecnológicos ou
softwares para acompanhamento e controle da produção?
Questão 2 – Há algum interesse na implementação de sistema para gestão da
propriedade?
Questão 3 - Caso resposta da questão 2 for sim, o que o está impedindo?
Questão 4 – Caso resposta da questão 2 for não, há algum interesse na
implementação de outras tecnologias na propriedade?

Para uma melhor análise dos resultados, as propriedades foram classificadas em


pequena, média e grande propriedade, de acordo com a Lei n.8.629, de 25 de fevereiro de
1993, que regulamenta e disciplina disposições relativas à reforma agrária, sendo:
I - Pequena Propriedade: o imóvel rural de área compreendida até 4 (quatro)
módulos fiscais,
III - Média Propriedade: o imóvel rural de área superior a 4 (quatro) e até 15
(quinze) módulos fiscais;
III - Grande Propriedade: o imóvel rural de área superior a 15 (quinze) módulos
fiscais. A classificação de “Grande Propriedade” não apresenta uma definição expressa
na Lei, por isso seu conceito é feito por dedução.
Partindo do conceito que, o módulo fiscal é uma unidade de medida em hectares,
cujo valor é fixado pelo (INCRA, 2021)e varia de acordo com o município onde está
localizada a propriedade, a consulta de cada município, foi realizada em pesquisa
individual no portal do (INCRA, 2021) para o cálculo individual do módulo fiscal por
estabelecimento rural.
O estudo foi realizado em 100% das propriedades rurais atendidas por uma única
empresa do ramo de certificação animal, localizada no estado de Goiás. Os questionários
foram aplicados aos produtores, gerentes e/ou administradores rurais, os quais são
responsáveis por aquisições das propriedades, durante as visitas técnicas realizadas pela
empresa certificadora.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pôde-se verificar que 80% destas propriedades fazem uso de software para gestão
da produção de bovinos de corte (Tabela 1), e apenas 20% da amostra não utilizam
nenhum sistema tecnológico para a gestão da produção (Tabela 2).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Tabela 1. Classificação das propriedades rurais, em módulos fiscais, que utilizam software para
gestão da produção na bovinocultura de corte
Propriedades Rurais Porcentagem (%)
Pequena propriedade 3 8,33%
Média propriedade 9 25%
Grande propriedade 24 66,67%
Total 36 100%
Fonte: Resultados originais da pesquisa.

Tabela 2. Classificação das propriedades rurais, em módulos fiscais, que não utilizam software para 428
gestão da produção na bovinocultura de corte
Propriedades Rurais Porcentagem (%)
Pequena propriedade 1 11,11%
Média propriedade 2 22,22%
Grande propriedade 6 66,67%%
Total 9 100
Fonte: Resultados originais da pesquisa.

Dentre as propriedades que fazem o uso de software, 55,55% utilizam sistemas


completos e avançados, e 44,45% utilizam um sistema simples e básico para
acompanhamento e resultados da produção, porém atendem as necessidades das
propriedades (Tabela 3).

Tabela 3. Classificação das propriedades rurais (módulos fiscais) versus classificação de software
para gestão da produção na bovinocultura de corte
Sistemas: Porcentagem Sistemas: Porcentagem
completos e (%) simples e (%)
avançados básicos
Pequena
0 0% 3 18,75%
Propriedade
Média
6 30% 3 18,75%
Propriedade
Grande
14 70% 10 62,50
Propriedade
Total 20 100% 16 100%
Fonte: Resultados originais da pesquisa.

Cerca de 67% das propriedades agrícolas do país usam algum tipo de tecnologia,
seja na área de gestão dos negócios ou nas atividades de cultivo e colheita da produção.
De acordo com as respostas dos produtos no questionário, foi observado que dentre as
principais barreiras para que eles não façam barreiras colocadas pelos pecuaristas, que
2021 Gepra Editora Barros et al.

não fazem uso, da tecnologia no meio rural, estão: custo, escassez de mão de obra
qualificada e internet – ausência ou sinal ruim.
Os produtores entrevistados que não fazem uso de sistemas tecnológico
afirmam que o elevado custo para a implementação de tais sistemas para gestão da
produção é o grande entrave, além da compra de maquinários, instrumentos e sistemas,
englobam investimentos com treinamentos, qualificações e capacitação de funcionários,
uma vez que a falta de mão de obra qualificada e baixo nível de instrução dos
trabalhadores do campo ainda é alta. O que corrobora com o estudo realizado por
Machado e Nantes (2011), onde observaram que uma das principais dificuldades
encontradas nos processos de implantação, coleta de dados e uso dos sistemas deve-se à
desqualificação dos funcionários. Sendo de fundamental importância que as pessoas
envolvidas nesses processos estejam comprometidas, além de serem bem treinadas e 429
orientadas
Durante os questionamentos foi observado uma resistência dos funcionários rurais
na aceitação e busca por novos aprendizados, juntamente com o receio da substituição da
mão de obra por equipamentos e maquinário. Mesma resistência encontrada por Machado
e Nantes (2011), o que pode estar causando um grande atraso na evolução da agropecuária
no estado de Goiás.
Outra dificuldade encontrada, é a falta da internet ou acesso precário nos
estabelecimentos rurais mais distante dos centros urbanos. Desde o começo de 2018, o
projeto “Internet para Todos” cujo objetivo é de melhorar esse cenário e levar banda
larga a regiões e municípios sem acesso ou com acesso precário à internet,
democratizando o acesso à internet (FOUNTAS; PEDERSEN; BLACKMORE, 2005).
Em contrapartida, aproximadamente 70% dos produtores que fazem uso de
tecnologia relatam melhorias no sistema de produção, como: aumento da produção
agrícola, melhor controle dos insumos utilizados, melhorias genéticas (tanto em animais
quanto em grãos), melhor emprego do tempo trabalhado, além do menor impacto ao meio
ambiente (ARMOUR et al., 2013). Atualmente existe uma maior qualificação no campo,
proporcionando maior produtividade, com menor danos às plantações, sendo que através
de tecnologia emprega é possível monitorar pragas, a deficiência hídrica e falhas no
plantio (INMAN-BAMBER; LAKSHMANAN; PARK, 2012).
Scolari (2006) aponta também vários pontos fortes do agronegócio brasileiro,
como: oferta ambiental favorável, bom nível de desenvolvimento tecnológico, alta
capacidade de produção de maquinários agrícola, baixo custo de produção; entre outros.
Para esse mesmo autor, o domínio e o uso de novas tecnologias passaram a desempenhar
papel de fundamental importância, uma vez que para ser competitivo o país precisa de
uma cultura exportadora, com conceitos desenvolvidos e visão estratégica de integração
de cadeias produtivas. Santos e Araujo (2017), descreve que o setor do agronegócio
demanda constantemente de novas tecnologias, a cada safra, além de novas práticas
sustentáveis para garantir a continua evolução no segmento.
Nos aspectos relacionados a gestão e tecnologias aplicadas ao agronegócio, o
agronegócio vem se destacando e ganhando importância no mundo. Os métodos
utilizados foram evoluindo e o surgimento de maquinário propiciou um salto significativo
nesse desenvolvimento. As tecnologias associadas aos equipamentos, na gestão das
propriedades, em previsões climáticas e projeções econômicas têm sido cada vez mais
utilizadas na realização de atividades agrícolas e pecuárias, a abertura da economia trouxe
a competitividade, que passou a ser relevante para o sucesso dos negócios em termos de
melhorias fornecidas aos seus usuários, produtos resultantes, desenvolvimento
tecnológico e inovação. (SIMÕES et al., 2006).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Com a globalização o setor agrícola passou a utilizar novos conceitos como, por
exemplo, marketing, organização e administração, controle de processos produtivos e
análise de mercado. Esses conceitos representam fatores que foram determinantes para
tornar o setor agrícola mais dinâmico e propício à globalização. Esse dinamismo e
expansão do mercado estão vinculados à necessidade e ao interesse de maior
produtividade e qualidade dos produtos (EVERINGHAM et al., 2002).
O crescimento dos índices de produtividade requerido decorre, inclusive, da
necessidade de suprir os custos crescentes de produção. Esses custos são originados,
também, pelo uso de tecnologias: são máquinas e equipamentos tecnologicamente
sofisticados, sistemas de gestão - softwares, insumos mais adequados para as condições
do solo e clima, pessoas mais bem capacitadas para operar máquinas e equipamentos,
entre outros. A sofisticação tecnológica e a capacitação das pessoas estão, geralmente, 430
associadas aos custos mais elevados de produtos, equipamentos e à remuneração do
trabalho (BOSCO et al., 2018).
A busca por maior produtividade e qualidade dos produtos, tem a finalidade de
alcançar mercados e faz com que agricultores de grande porte recorram a equipamentos
e tecnologias. Para os agricultores familiares, a utilização de novas práticas de gestão,
aliadas ao uso de ferramentas tecnológicas auxiliam e fortalecem a cadeia produtiva do
agronegócio. Os programas de computador ou os chamados “softwares” são um dos
instrumentos que podem ser utilizados para auxiliar na gestão, e assim prover ganho de
produtividade desses agricultores (MORAES et al., 2011).
O uso da tecnologia da informação nas atividades agrícolas pode gerar maior
dinamismo nessas atividades: desde as operações de cultivo e criação, passando pela sua
manutenção e chegando à venda dos produtos. Esse dinamismo acaba influenciando de
maneira direta o aprimoramento, o desenvolvimento e a implementação de ferramentas
que viabilizam o controle, a previsão e o acompanhamento do desempenho de uma
determinada atividade. Através do gerenciamento adequado é possível monitorar a
produção das propriedades rurais, as culturas, os investimentos, os custos operacionais, a
produtividade, as perdas e os ganhos. Além disso, é possível identificar quais podem ser
as intervenções necessárias em cada propriedade rural, elaborar projetos e estratégias de
financiamento e enviá-los às instituições financeiras (DIAS et al., 2016).
A modernização do espaço agrícola demonstra que, por meio dos processos
históricos, a propriedade da terra foi sendo subordinada a esse processo que pode afetar
diretamente diferentes áreas, em um espaço natural e social. O progresso técnico não está
igualmente difundido, mas, sim, ocorre uma concentração espacial e setorial não há um
futuro promissor para aquelas unidades que, até agora, não conseguiram se modernizar
(LOUREIRO, 1981).
Soares (2000) aponta que com a difusão da modernização, ocorre um processo de
especialização da agricultura em escala nacional. Em algumas regiões desenvolveu-se e
modernizou-se a produção de culturas que, embora presentes em economias familiares
são consideradas típicas de uma agricultura comercial. Foi o que aconteceu com a cana-
de-açúcar, o algodão, o fumo e o cacau no Nordeste, o café, o algodão e a cana-de-açúcar
no Sudeste, a bovinocultura no Centro-oeste, e o arroz, o trigo e a uva no Sul.
No setor de máquinas e implementos agrícolas no Brasil, caracterizado por uma
estrutura de mercado bastante heterogênea, com empresas de portes e de capital distintos,
vivem em constante mudança, pois a modernização da agricultura vem exigindo
características distintas desses produtos (SIMÕES et al., 2006)
Fatores como a alta sazonalidade na demanda e características gerenciais peculiares
do setor (predominantemente composto por empresas familiares ou em transição), tornam
difícil a aplicação direta de alguns conceitos para o aumento da produtividade, aplicados
2021 Gepra Editora Barros et al.

em outras indústrias mais competitivas (ABIMAQ, 2005). Desta forma, uma maneira
viável para alcançar vantagem competitiva sustentável no longo-prazo é a inovação
tecnológica. Em setores como o de máquinas e implementos agrícolas, isso constitui um
ponto vital da competição, podendo determinar o sucesso ou fracasso das empresas
(ROMANO et al., 2001).
Atualmente, as máquinas e implementos agrícolas desenvolvidos no Brasil estão
presentes em todas as atividades agropecuárias, isto é, desde o preparo do solo até o
armazenamento e transporte dos produtos, variando desde ferramentas manuais até
produtos de tecnologia de ponta para a mecanização e automação (GADANHA JÚNIOR
et al., 1991).
O uso das novas tecnologias se constitui um fator determinante para impulsionar o
aumento de competitividade das empresas e do desenvolvimento nas diversas áreas de 431
atuação. Segundo De Negri et al. (2005), as vantagens obtidas com o uso das tecnologias
no campo são várias, tanto para as empresas de agronegócios, quanto para as demais
atividades comerciais e para o próprio país. Dentre as vantagens que o uso das tecnologias
pode gerar para as empresas, destacam-se principalmente: a melhoria da qualidade dos
produtos oferecidos e a ampliação da participação da empresa no mercado de atuação. Já
para o país, as vantagens concentram-se em melhores salários e condições de trabalho,
aumento das exportações, entre outras.
De Negri et al. (2005) aponta também que o esforço para implementar as novas
tecnologias é essencial para que as empresas consigam aumentar os recursos disponíveis
e, consequentemente, suas potencialidades.
Em decorrência das condições favoráveis que apresenta para a contínua expansão
do agronegócio, como farto espaço territorial, mão-de-obra acessível e diversas questões
ligadas à conjuntura internacional, o país é visto por muitos especialistas como principal
candidato ao posto de grande fornecedor alimentício global (Simões et al., 2006).
O agronegócio é o maior negócio mundial e brasileiro. No mundo, representa a
geração de U$ 6,5 trilhões/ano e, no Brasil, em torno de R$ 350 bilhões, ou 26% do PIB
(29%, segundo a Confederação Nacional da Agricultura – CNA (TESTEZLAF, 2002). A
maior parte deste montante refere-se a negócios fora das porteiras, abrangendo o
suprimento de insumos, o beneficiamento/processamento das matérias-primas e a
distribuição dos produtos. Estes são alguns dos aspectos que reforçam a importância do
agronegócio no Brasil, além de sua grande competitividade, utilização de alta tecnologia
e gerador de empregos e riquezas para o país (STEFANELO, 2002).
O Agronegócio também chamado de “agribusiness”, segundo Batalha (2002), se
constitui um conjunto de negócios relacionados à agricultura dentro do ponto de vista
econômico. O autor divide o estudo do agronegócio em três partes. A primeira parte trata
dos negócios agropecuários propriamente ditos (ou de "dentro da porteira") que
representam os produtores rurais, sejam eles pequenos, médios ou grandes produtores,
constituídos na forma de pessoas físicas (fazendeiros ou camponeses) ou de pessoas
jurídicas (empresas).
Porém, algumas das principais dificuldades enfrentadas pelo agronegócio para a
implementação de novas tecnológicas estão relacionadas aos riscos econômicos e custos
elevados que elas demandam, esses aspectos estão coerentes com os estudos realizados
por De Negri et al. (2005), os quais identificaram que as mesmas dificuldades constituem
os principais problemas associados à implementação de novas tecnologias no
agronegócio.
Além disso, aspectos como o pouco nível de instrução dos trabalhadores rurais, que
normalmente executam o trabalho braçal, que compreendem uma faixa etária média
avançada, além da pouca infraestrutura de comunicação, em muitos casos. A chefe-geral
2021 Gepra Editora Barros et al.

da Embrapa Informática Agropecuária, Silvia Maria Fonseca Silveira Massruhá, afirma


que esses são alguns dos principais entraves para a implementação das inovações
tecnológicas no campo.
Também é importante mencionar que ainda há um receio dos trabalhadores rurais
em relação à troca da mão de obra pelos maquinários e “softwares” de gestão, afinal,
consideram que algumas das atividades necessitam fundamentalmente da presença
humana para sua execução.
Araújo (2003) acredita que quando estas empresas passam a utilizar um sistema de
informação gerencial, elas se obrigam a se reorganizar e determinar um sistema de
trabalho bem definido e estruturado. Para facilitar esta tarefa é fundamental que o gestor
demonstre aos funcionários a importância dessas alterações, buscando fazer com que
estes fiquem comprometidos e motivados com as mudanças, por isso é importante apontar 432
os pontos de melhorias na referida mudança.
O gerenciador de um agronegócio tem a responsabilidade de coordenar, planejar e
organizar o que se refere aos negócios do campo, visando o desenvolvimento rural
sustentável, assegurando que o negócio gere lucro (LUIZ, 2013).
Para Pinto e Kharbanda (1996) não há regras determinadas para que se alcance
sucesso em um projeto. Mas para que ele não alcance os resultados efetivos e seja um
fracasso, basta desconsiderar o poder que os funcionários podem exercer sobre um
projeto. Em complemento, Jugdev e Muller (2005) apontam que não há fórmulas prontas,
pois o sucesso é um conceito que pode mudar no decorrer do ciclo de vida do projeto,
basta que os objetivos determinados sejam alcançados.

CONCLUSÃO

Podemos concluir que apesar das dificuldades encontradas pelos produtores para
a implementação de tecnologias, o estabelecimento de tecnologias nas propriedades é um
processo em ascensão.
O potencial de desenvolvimento econômico das propriedades rurais demonstra
números cada vez maiores com o uso de sistemas tecnológicos, possibilitando o
crescimento gradativo do setor em relação ao aumento da produtividade, com melhoria
significativa dos resultados e lucro.
Para o aprimoramento do agronegócio, mas também como estratégia para
permanência dos produtores nesse setor, mantendo o país competitivo no comércio
mundial de produtos originários do meio rural.

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2002.
435
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 40

CAPACIDADE DE SUPORTE FORRAGEIRO NO RIO TAPEROÁ

BEZERRA, Cícero Romero Callou


Graduado em Ciências Agrárias
Universidade Federal da Paraíba
r.callou@hotmail.com

GOMES, Isaac Araújo


Mestrando em Química
Universidade Federal do Espírito Santo
isaac.gomes@edu.ufes,br 436

ARAÚJO, Alexandre Eduardo


Departamento de Agricultura
Universidade Federal da Paraíba
alexandreeduardodearaujo@hotmail.com

RESUMO

A pecuária de corte e leite do município de São João do Cariri, no estado da Paraíba


contribui com elevado percentual no PIB – Produto Interno Bruto do município.
Decorrente disto, destaca-se a necessidade de suporte forrageiro para alimentação animal
e consequente redução dos custos de produção. O objetivo desta pesquisa foi caracterizar
e qualificar a produção de forragens as margens do Rio Taperoá para utilização na
alimentação animal, avaliando o seu potencial na economia local. O estudo de campo foi
conduzido ao longo do rio Taperoá no trecho inserido no município de São João do
Cariri/PB, que vai desde os limites ao norte com o município de Parari/PB e ao sul com
o município de Cabaceiras/PB. Para realização desse trabalho foi aplicado um
questionário contendo 21 perguntas com 10 produtores rurais que exploram suas
atividades pecuárias nas margens do Rio Taperoá, as propriedades foram selecionadas
obedecendo critérios como distribuição geográfica e fator de produção. Na presente
pesquisa o cálculo de suporte forrageiro foi feito por estimativa onde cada um dos
produtores informaram a quantidade de cabeças dos rebanhos de cada espécie e o peso
médio desses animais. No rebanho bovino, chegamos a uma média de 14cab/criador com
um peso médio de 300Kg/cabeça resultando em 9,33U.A, o rebanho ovino apresenta uma
média de 47,7cab/criador com um peso médio de 30Kg/cabeça resultando em 2,65U.A e
o rebanho caprino tem uma média de 21cab/criador com um peso médio de 20Kg/cabeça
resultando em 0,933U.A. Conclui-se que existe alto potencial de suporte forrageiro para
alimentação animal instalado as margens do rio Taperoá no trecho São João do Cariri.

PALAVRAS-CHAVE: Alimentação animal; Forragens; Pastagens; Irrigação.

INTRODUÇÃO
A pecuária de corte e leite do município de São João do Cariri, no estado da
Paraíba contribui com elevado percentual no PIB – Produto Interno Bruto do município.
Decorrente disto destaca-se a necessidade de suporte forrageiro para alimentação animal
2021 Gepra Editora Barros et al.

e consequente redução dos custos de produção. O Rio Taperoá especialmente no trecho


inserido neste município, que possui altitude média de 458m está localizado na zona
geográfica do Planalto da Borborema, fazendo parte da mesorregião da Borborema e
microrregião do Cariri Oriental (ARAÚJO et al., 2010),apresenta bom potencial hídrico
em seu subsolo e esse recurso é explorado pelos produtores da região na irrigação de suas
culturas agrícolas como alho, verduras e legumes, mas, principalmente na produção de
forrageiras para fins de alimentação animal.
Segundo Osmari (2010), a utilização de pastagem para alimentação animal pode 437
ser uma alternativa recomendada aos produtores, principalmente por apresentarem
características de bom crescimento, resistentes a baixa pluviosidade e crescimento rápido.
No entanto, a distribuição das chuvas nessa região é consideravelmente baixa e
normalmente são concentradas apenas entre 3 e 4 meses durante todo o ano, decorrente
disso, os rebanhos tornam-se mais vulneráveis à escassez da produção de forragem,
deixando os produtores locais sem muitas alternativas alimentares, tornando a produção
de alimentos um dos maiores desafios durante os meses de estiagem (GONZAGA NETO
et al., 2001).
Visando aumentar a produtividade e a oferta de alimentos durante esse período,
os produtores cultivam pastagens de estação quente, pois estas se apresentam como uma
alternativa estratégica à sustentabilidade e eficiência de uso da terra para produção de
espécies forrageiras que contribuam para a manutenção dos rebanhos e redução dos custos
de produção, haja vista o crescente processo de verticalização da atividade pecuária
brasileira (NEUMANN et al., 2005).
A utilização de espécies forrageiras tropicais tem sido apontada como uma das
alternativas de menor custo/benefício na alimentação animal, principalmente quando os
valores nutricionais dessas espécies são bons o bastante para minimizar os custos com
suplementações. Considerando o impacto causado na economia do município, a redução
de custos de produção e a manutenção dos rebanhos, a presente pesquisa realizou o
levantamento e caracterização das espécies de forrageiras cultivadas e as áreas plantadas
para produção de alimentação animal às margens do Rio Taperoá no município de São
João do Cariri, estado da Paraíba, avaliando o seu potencial na economia local.
2021 Gepra Editora Barros et al.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Nos sistemas de pastejo, a produção do gado leiteiro está condicionada à estrutura
do rebanho, bem como seu potencial genético e também à capacidade produtiva da
pastagem. No entanto, a produtividade e a qualidade do pasto estão diretamente ligadas à
fertilização do solo e ao seu manejo. Sistemas produtivos que baseiam em pastagens como
a principal fonte de alimentos, podem lhe da com difíceis processos biológicos,
relacionados com a produção e utilização das pastagens (FERNANDES, PESSOA e
MASSOTTI, 2015). 438
Haja vista essas necessidades são de extrema importância que se estabeleça um
planejamento forrageiro nas propriedades. Esse planejamento age como instrumento de
planejamento alimentar visando a organização da propriedade e auxilio na tomada de
decisão, com vistas a estabelecer o dimensionamento adequado do rebanho, em razão da
área disponível para a produção das forragens, da sua capacidade de suporte, do seu ciclo
produtivo e da produção de alimentos conservados (FERNANDES, PESSOA e
MASSOTTI, 2015).
É importante destacar que para se obter sucesso na produção de forragens, se
escolha as culturas corretas para determinada região e finalidade. Para a produção de leite
a pasto podem ser utilizadas tanto espécies tropicais e subtropicais, como também as
temperadas. No entanto, a escolha da espécie deve ser de acordo com as características
da região: clima, solo, temperatura, umidade, radiação solar, entre outros. Além disso, a
espécie deve atender às necessidades do animal, com relação à quantidade e qualidade da
forragem (SIMÃO NETO, ASSIS e VILAÇA, 1986). Porém, é importante ressaltar que
geralmente em regiões subtropicais e tropicais os solos costumam apresentar baixa
fertilidade, e a obtenção de elevadas produções de forragem fica condicionada a utilização
de grande quantidade de fertilizantes, às vezes, gerando altos custos.
Nessas regiões onde o clima predomina seco e quente na maior parte do ano,
durante o período chuvoso, uma grande quantidade da forragem nativa é desperdiçada,
decorrente da grande disponibilidade de massa de forragem que é formada, como também
pelo pouco conhecimento dos métodos de conservação de forragem pelos produtores
(SILVA et al., 2004).É notória a preocupação entre grande parte dos pecuaristas que mais
“esclarecidos” quanto ao armazenamento do excedente das forragens no decorrer do
período chuvoso, que são nas formas de feno ou silagem, como mostraremos mais a seguir
nos resultados da pesquisa. No entanto, no semi-árido esta prática ainda está pouco
disseminada, principalmente utilizando espécies forrageiras nativas, que apresentam boa
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palatabilidade, digestibilidade e valor nutricional considerável, garantindo a qualidade


quando armazenadas de forma adequada, seja em forma de feno ou também de silagem
ARAÚJO et al., 2010).
A água é um recurso natural de extrema importância em diversas situações,
inclusive para a sobrevivência humana. No entanto, quando se tratada de produção das
culturas agrícolas, a água pode ser caracterizada como um fator limitante nas regiões mais
quentes e secas, a exemplo da Paraíba. Por isso, para que se garanta a produção de uma
cultura, é necessário que se utilize métodos de irrigação, onde ocorre uma elevada 439
evapotranspiração que acabam por exceder a precipitação na maior parte do ano, gerando
assim um déficit hídrico alto (FEITOSA et al., 2015).
Nesse entendimento, entra o Rio Taperoá como importante reservatório hídrico
para os produtores rurais que moram no seu entorno (Trecho São João do Cariri/PB),
objeto desta pesquisa. Os agricultores utilizam a água subterrânea deste reservatório
principalmente para irrigar suas culturas de consumo e forragens para alimentação
animal.
Logo, entende-se que a produção de forragens desempenha um papel significativo,
caracterizando-se como base no que se refere a manutenção de sistemas de produção
animal. De acordo com Ribeiro e Santos (2019), é notória que atualmente, desafios ainda
precisam ser enfrentados, a exemplo da estacionalidade no fornecimento de alimentos e
no atendimento às particularidades do clima das regiões do Brasil. Por isso, pesquisas no
âmbito da forragicultura são necessárias para o conhecimento e aperfeiçoamento de
práticas de manejo e desenvolvimento de tecnologias que assegurem o suprimento da
carência nutricional aos animais, a realização de produções mais eficiente, sustentáveis e
competitivas.

METODOLOGIA
O estudo de campo foi conduzido ao longo do rio Taperoá no trecho inserido no
município de São João do Cariri/PB, que vai desde os limites ao norte como o município
de Parari/PB e ao sul com o município de Cabaceiras/PB, o critério utilizado foi a divisão
do rio em duas partes compreendidas como parte norte e parte sul, a ponte localizada na
BR – 412 sobre o Rio Taperoá foi escolhida como ponto de partida para essa divisão.
Partindo da referida ponte até o limite com o município de Parari ficou como lado norte
e partindo da ponte até o limite do município de Cabaceiras ficou assim como lado sul.
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Figura 01. Limites aproximados do Rio Taperoá – Trecho São João do Cariri.

440

Fonte. Google Earth Pro (2021).

Para realização desse trabalho foi aplicado um questionário contendo 21 (vinte e


uma) perguntas com 10 (Dez) produtores rurais que exploram suas atividades pecuárias
nas margens do Rio Taperoá, as propriedades foram selecionadas obedecendo a critérios
como distribuição geográfica e fator de produção. No lado norte foram aplicados 04
(Quatro) questionários considerando que tem menor extensão longitudinal do Rio
Taperoá e foram visitadas as seguintes propriedades, Poço do Rancho, Siriema, Cachoeira
e Jurema. No lado sul foi aplicado 06 (Seis) questionários considerando maior extensão
longitudinal do Rio Taperoá e foram visitadas as seguintes propriedades, Bom Jardim,
Figueiras, Curral do Meio, Poço das Pedras, Riacho Fundo e Lucas.
As visitas foram feitas in loco com a aplicação do questionário e vários
pontos foram levantados em cada propriedade para obtenção de resultados. As principais
culturas trabalhadas para fins de alimentação animal são Capim elefante (Pennisetum
purpureum Schum.), Sorgo forrageiro (Sorghum bicolor (L.) Moench), Tifton (Cynodon
spp.), Palma forrageira (Opuntia stricta) e Milho (Zea mays). Os rebanhos predominantes
nessas propriedades são bovinocultura de leite e corte, caprinocultura de leite e corte e
ovinocultura.
Todas essas áreas foram visitadas e diversas atividades foram trabalhadas
juntamente com os produtores, medição com fita métrica para dimensionamento de cada
área de cada cultura, dimensionamento da altura do corte de cada cultura assim como
foram prestadas orientações técnicas quanto ao plantio dessas culturas, adubação, tratos
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culturais e um melhor aproveitamento na época chuvosa onde a pastagem na região é


mais favorável, essas forrageiras cultivadas devem ser armazenadas pelos métodos de
ensilagem que consiste método na conservação de forragem para o período seco e em
acondicioná-la em um recipiente ou espaço totalmente fechado (sem ar), para que ela
possa sofrer um processo de fermentação. Quando bem feita, não há perda do valor
nutritivo. A fenação que é um processo de conservação de forragem para um período
seco, consiste em desidratá-la ao sol, reduzindo o teor de água de 70-75% para 15-20%.

441
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De uma área média entre produtores de 61,7 hectare (ha) de propriedade rural,
cerca de 12,4ha é utilizada para irrigação destinada à alimentação animal, uma média de
1,24ha para cada um dos 10 (dez) produtores que ali residem ou exploram suas atividades,
o gráfico 1 abaixo demonstra as condições que esses ocupam nas propriedades. Dos 10
agricultores, 08 (80%) utilizam poço de anel e outros 02 (20%) utilizam cacimbas no leito
do rio como fontes para extração da água para irrigação.

Gráfico 1. Representação das condições de posse dos imóveis.

20%

10% 40%

30%

Proprietário Posseiro/Herdeiro Parceiro/Morador Comodatário

Fonte. Dados da pesquisa (2021).

Levando em consideração que a maior parte dos sistemas de produção animal da


região Semi-árida é influenciada pelas condições climáticas locais e que estão
condicionadas a essa produção de forragens, preocupa-se com os efeitos que a
dependência forrageira gera no que se refere ao desenvolvimento da atividade e da própria
vegetação, haja vista que as variações do próprio clima ocasionam oscilações na
disponibilidade de forragem, gerando uma queda nos índices produtivos dos rebanhos
devido a carências nutricionais que ficam os animais mais susceptíveis (SANTOS et al.,
2017; GOIS et al., 2017). Leite e colaboradores (2014) ainda relatam que a baixa
2021 Gepra Editora Barros et al.

produtividade do rebanho pode estar associada a discrepância da qualidade das forragens


ofertadas durante o ano inteiro, por razão da baixa capacidade de suporte forrageiro das
caatingas, além do manejo e aproveitamento de forma inadequada dessas pastagens, por
fim ainda comentam sobre a pouca utilização de tecnologias paralhe dá com o período do
estiagem. Os rebanhos das propriedades estudadas que dependem desse suporte
forrageiro são bovinos e caprinos de leite e corte e ovinos, conforme mostra o gráfico 2 a
seguir.

442
Gráfico 2. Quantitativo dos rebanhos nas propriedades estudadas.

OVINOS 47,7Cabeças
430 Cabeças

CAPRINOS 21 Cabeças
105 Cabeças
14 Cabeças
BOVINOS 140 Cabeças

0 50 100 150 200 250 300 350 400

Média por Produtor Número de Animais

Obs: Entre os 10 produtores, 10 criam bovinos, 09 ovinos e apenas 05 criam caprinos.


Fonte. Dados da pesquisa (2021).

Nestas propriedades, as forragens são fornecidas aos animais em forma de corte e


tritura por parte de 100% (10) dos produtores, enquanto 30% (3) ofertamna forma de
silagem e apenas 10% (1) através de feno. No que se refere a periodicidade do corte das
forragens, os produtores realizam por volta de 64 dias nas gramíneas e cerca de 12 meses
para palma forrageira, com um corte médio de 1,87m e 1,50m respectivamente. Na Tabela
abaixo apresentamos as principais forrageiras cultivadas pelos entrevistados.

Tabela 1. Produção de culturas por número de agricultores.


Culturas No de agricultores
Capim Tifton (Cynodon spp.) 01
Capim Elefante (Pennisetum purpureum Schum.) 10
Milho (Zea mays) 02
Sorgo Forrageiro (Sorghum bicolor (L.)Moench) 02
Palma Forrageira (Opuntia stricta) 03

Fonte. Dados da pesquisa (2021).


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Conforme relato dos agricultores, o uso da irrigação para produção de forragens é


realizado há mais de 19 anos. O gráfico 3 abaixo demonstra os métodos e o quantitativo
de produtores que a utilizam. É possível verificar que 66,7% fazem uso da irrigação por
aspersão, enquanto 16,65% o gotejamento e outros 16,65% o método de inundação,
levando em consideração que alguns produtores utilizam mais de um método.
Queiroz e colaboradores (2015) citam que os sucessos de implantação de
programas de irrigação induzem a produtividade, gerando assim ganhos econômicos.
Campos (2018) relata ainda que para que se obtenha sucesso na produção, é necessário 443
que se escolha corretamente os métodos, o sistema de irrigação e o manejo a ser seguido.

Gráfico 3. Métodos de irrigação utilizados pelos agricultores

Número de produtores

2 2

Aspersão Gotejamento Inundação

Fonte. Dados da pesquisa (2021).

Segundo Fernandes, Pessoa e Massotti (2015), as pastagens podem apresentar


significativa variação na produção de forragem, decorrentes de alguns fatores como a as
condições climáticas, a fertilidade do solo e o seu manejo. Quando questionados sobre a
realização de testes para verificar a qualidade do solo e da água utilizada na irrigação,
apenas 01 (10%) dos produtores relatou que fez a análise, acerca de 05 anos atrás, no ano
de 2016. No entanto, 30% (03) dos produtores relataram que as culturas trabalhadas
apresentavam sinais de perda da qualidade como folhas do capim amareladas e
apresentando manchas de ferrugem, podendo gerar assim, perda produtiva aos animais
que as consomem.

Na Figura 2 podem-se observar algumas áreas de produção de forragem.


2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 2. a) Capineira b) Sistema de irrigação instalado c) Pastagens no local

a b c
Fonte. Acervo pessoal (2021).

444
Segundo a EMBRAPA (1980) a capacidade de suporte é expressa em termos do
número máximo de animais suportados pela pastagem, sem causar a degradação da
mesma. A Unidade Animal (U.A) é calculada considerando um peso de 450kg/vivo como
sendo uma vaca de 450Kg/peso/vivo ou seja, para que possamos definir o cálculo de uma
U.A é preciso somar o peso viso de todos os animais de cada espécie e divide por 450Kg.
Na presente pesquisa esse cálculo foi feito por estimativa, onde cada um deles
informou a quantidade de cabeças dos rebanhos de cada espécie e o peso médio desses
animais. No rebanho bovino, chegamos a uma média de 14cab/criador com um peso
médio de 300Kg/cabeça resultando em 9,33U.A.
O rebanho ovino apresenta uma média de 47,7cab/criador com um peso médio de
30Kg/cabeça resultando em 2,65U.A e o rebanho caprino tem uma média de
21cab/criador com um peso médio de 20Kg/cabeça resultando em 0,933U.A.
Para o fechamento do peso médio dos animais de cada espécie além da média
informada pelo criador/produtor foi considerado o ECC - Escore da Condição Corporal
dos animais de cada espécie observado pelo pesquisador em alguns animais no momento
da pesquisa.
O Quadro abaixo foi utilizado como referência para a efetivação dos cálculos de
U.A – Unidade Animal levantados na pesquisa de campo, compreende-se que, na ralação
entre a necessidade de suporte forrageiro de cada espécie ou animal conforme seu peso e
a quantidade de suporte instalado a U.A – Unidade Animal pode ser suficiente ou
insuficiente.

Quadro 1. Estimativa das necessidades e disponibilidades de suporte forrageiro.


NECESSIDADES TOTAIS DISPONIBILIDADES TOTAIS
BOVINOS PASTAGENS NATIVAS
TOUROS E BOIS DE SERVIÇOS - 1.5 (0,1 A 0,4 U.A./HA)
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VACAS, NOVILHOS E NOVILHAS - 1.0 PASTAGENS CULTIVADAS


GARROTES E GARROTAS - 0.5 (0,6 A 1,7 U.A./HA)
BEZERROS E BEZERRAS - 0.33 CAPOEIRAS
EQUINOS, ASININOS E MUARES (0,2 A 0,4 U.A./HA)
ADULTOS - 1.50 CAPINEIRAS PARA CORTE
POTROS - 1.00 (5,0 A 10,0 U.A./HA)
CAPRINOS E OVINOS PASTAGENS ARBÓREAS
ADULTOS COM PESO VIVO DE 35 KG - 0.14 (0,4 A 2,0 U.A./HA)
CRIAS COM PESO VIVO DE 15 KG - 0.07 RESTOLHOS DE CULTURAS
TOTAL DE U. A. (I) (0,2 A 0,4 U.A./HA)
445
PALMA FORRAGEIRA P/CORTE
(1,2 U.A./HA)
TOTAL DE U. A. (II)
SALDO (II – I)
OBS: SE O SALDO (II – I) FOR POSITIVO, HÁ
DISPONIBILIDADE DE SUPORTE FORRAGEIRO.
SE FOR NEGATIVO, HÁ NECESSIDADE
DE SUPORTE FORRAGEIRO
Fonte. Agenda do Produtor Rural (2021).

No caso específico da pesquisa realizada para este trabalho foram encontrados os


seguintes resultados, uma necessidade de 12,91U.A e uma capacidade instalada de 11,20
configurando um déficit de 1,71 de suporte forrageiro. Porém ressaltamos que para o
trabalho realizado foi considerado apenas o suporte forrageiro instalado nas margens do
rio Taperoá no trecho São João do Cariri e que fazem uso da água do referido rio para
cultivo dessas forrageiras, sem levar em consideração outras áreas de pastagens nativas,
pastagens cultivadas fora da margem do rio, restolhos de culturas e outros.

CONCLUSÃO

Portanto, é claramente visível o potencial de suporte forrageiro para alimentação


animal instalado as margens do rio Taperoá no trecho São João do Cariri, considerando
apenas esse potencial produtivo os produtores e criadores que exploram suas atividades
pecuárias as margens do rio dispõem de boa estrutura alimentar para os rebanhos de
bovino e caprino de corte e leite e ovino.
As propriedades na sua grande maioria são de pequeno porte e a mão de obra
predominante é de base familiar, os criadores e produtores que exploram esses imóveis
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estão distribuídos em diversas categorias como proprietários; posseiros/herdeiros;


parceiro/morador são o produtor e comodatário.
As espécies de animais criadas são ovinos, bovinos e caprinos, sendo 1ª, 2ª e 3ª
respectivamente pelo número de animais, os métodos de irrigação usados é aspersão,
gotejamento e inundação sendo aspersão em maior escala entre os produtores.
A capacidade de suporte forrageiro instalada nas margens do rio Taperoá
apresenta um déficit de 1,71 U.A – Unidade Animal na relação com a quantidade dos
rebanhos levantados, contudo, não significa dizer que essas propriedades estão com saldo 446
insuficiente de suporte forrageiro uma vez que outras pastagens não foram introduzidas
nos cálculos.
Ficou explicita a carência de uma assistência técnica continuada voltada para a
melhoria no aproveitamento de solo, água e das culturas trabalhadas, melhor
gerenciamento das unidades produtoras e melhor visibilidade de instituições de fomento
e mercado consumidor.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, K. D. et al. Uso de espécies da caatinga na alimentação de rebanhos no


município de São João do Cariri – PB. Revista RA´E GA, v. 20, n. 1, p. 157-171, 2010.

CAMPOS, A. R. F. Manejo de irrigação na palma forrageira: definição de critérios


com base no potencial matricial da água no solo. Tese (Doutorado em Engenharia
Agrícola) – Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas da Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia. Cruz das Almas, 103p. 2018.

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Gramíneas forrageiras do


gênero Brachiaria. Campo Grande, 1980, 140p. (Circular Técnica n° 1).

FEITOSA, S. O. et al. Crescimento do feijão caupi irrigado com diferentes concentrações


efluente tratado e água salina. Revista Agropecuária Técnica, v. 36, n. 1, p. 146-155,
2015.

FERNANDES, C. O. M.; PESSOA, N. S.; MASSOTTI, Z. Planejamento forrageiro.


Florianópolis: Epagri, 2015. 36p. (Epagri. Boletim didático, 128).

GOIS, G. C.et al. Estratégias de alimentação para caprinos e ovinos no Semiárido


brasileiro. Nutritime Revista Eletrônica, v.14, n.4, p.7001-7007, 2017.
2021 Gepra Editora Barros et al.

GONZAGA NETO, S. et al. Composição bromatológica, consumo e digestibilidade in


vivo de dietas com diferentes níveis de feno de Catingueira (Caesalpinea bracteosa),
fornecidas para ovinos morada nova. Rev. bras. zootec., v. 30, n. 2, p. 553-562, 2001.

LEITE, M. L. M. V. et al. Caracterização da produção de palma forrageira no Cariri


Paraibano. Revista Caatinga, v.27, n.2, p.192-200, 2014.

NEUMANN, M. et al. Desempenho de bezerros e bezerras de corte em pastagem de


capim elefante (Pennisetum purpureum Schum) associado a diferentes níveis de
suplementação. Revista Ciência Rural, v. 35, n. 1, p. 157-163, 2005.
447

OSMARI, M. P. Dinâmica da pastagem de sorgo em diferentes ofertas de lâminas


foliares e características da carcaça e da carne de vacas de descarte. Dissertação
(Mestrado em Zootecnia) – Centro de Ciências Rurais da Universidade Federal de Santa
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QUEIROZ, M. G. et al. Características morfofisiológicas e produtividade da palma


forrageira em diferentes lâminas de irrigação. Revista Brasileira de Engenharia
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SILVA, D. F. et al. Exploração da caatinga no manejo alimentar sustentável de pequenos


ruminantes. In: Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, 2., 2004, Belo Horizonte,
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SIMÃO NETO, S., ASSIS, A. G., VILAÇA, H. A. Pastagens para bovinos leiteiros.
In:PEIXOTO, A.M., MOURA, J.C., DE FARIA, V.P. (eds.). ANAIS DO CONGRESSO
BRASILEIRO DE PASTAGENS, 86. FEALQ-Piracicaba-SP, 1986. p. 309-323. 1986.
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Capítulo 41

CARACTERIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES ANATÔMICAS DA


MADEIRA DE Rhizophora mangle DOS MANGUEZAIS DA ILHA
DE ALGODOAL-PA E DA ILHA DE MARAJÓ-PA

ALBUQUERQUE, Maria Janiele de Menezes


Graduada em Engenharia Florestal
Universidade Federal Rural da Amazônia
janymenezess@gmail.com

COSTA, Amanda Thayana da Silva


Graduada em Engenharia Florestal 448
Universidade Federal Rural da Amazônia
amandathcosta@gmail.com

ALBUQUERQUE, Eucinete de Menezes


Pós-graduanda em Economia Rural
Universidade Federal do Ceará
eucinetemenezes@gmail.com

BRAGA, Cesar França


Doutor em Biologia Ambiental
Universidade Federal do Pará
c_fbraga@yahoo.com.br

MESQUITA, Ricardo Gabriel de Almeida


Doutor em Ciência e Tecnologia da Madeira
Universidade Federal de Lavras
ricardogam@gmail.com

RESUMO

O Gênero Rhizophora é comum nos litorais brasileiros podendo estar presente nos
manguezais da Ilha de Algodoal e da Ilha de Marajó. Essas ilhas apresentam condições
ambientais diferentes em relação à salinidade, visto que, áreas da Ilha de Marajó são
atingidas pela água salgada apenas na estação seca. O presente trabalho busca verificar
se os diferentes ambientes de manguezais, Ilha de Algodoal e Ilha de Marajó, influenciam
no comportamento anatômico da madeira de Rhizophora mangle. Foram utilizadas
amostras de madeira oriundas de árvores naturalmente caídas nos dois ambientes
estudados: Ambiente 1 (Ilha de Algodoal) e Ambiente 2 (Ilha do Marajó). De cada
ambiente, foram selecionadas seis árvores que representam pontos de coleta, onde foi
obtido um disco de cada árvore para os estudos anatômicos. Foi realizada a caracterização
macroscópica e microscópica da anatomia da madeira. Avaliando as variáveis anatômicas
na posição radial interna ocorreu diferença significativa quanto a largura do raio em
número de células, apresentando maior número no Ambiente 1; na posição intermediária
o comprimento do raio em micrômetros e largura do raio em micrômetro e número de
células diferiram-se estatisticamente entre os ambientes com maiores valores no
Ambiente 1 e; na posição externa apenas a largura de células em micrômetro diferiu
apresentando maior largura para o Ambiente 1. Logo, as características da madeira de
Rhizophora mangle, presente nos manguezais com diferentes condições ambientais são
influenciadas quanto às propriedades anatômicas.

PALAVRAS-CHAVE: Macroscopia, Microscopia, Salinidade.


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INTRODUÇÃO

Estudos sobre as propriedades (anatômicas, físicas e químicas) da madeira de


Rhizophora mangle é importante como uma ferramenta na interpretação de processos
ecológicos, ambientais e antropogênicos aos quais os manguezais estão sujeitos. As
propriedades anatômicas (macro e microscópica) da madeira, segundo Santos (2008), têm
como princípio entender os elementos xilemáticos face às variações diante das mudanças
que ocorrem na planta onde a mesma se desenvolve.
Os mangues apresentam composição florística específica adaptada às condições
abióticas locais e, no Brasil, se constitui por espécies lenhosas altamente especializadas
dos Gêneros Rhizophora, Avicennia e Laguncularia (CARVALHO; JARDIM, 2017). 449
Batista (2011), afirma que as respostas ecofisiológicas e morfoanatômicas das espécies
presentes nos manguezais frente aos fatores ambientais e antrópicos podem refletir na
estrutura anatômica do lenho destas espécies.
As espécies são classificadas de acordo com a tolerância salina, onde, de acordo
com Parida e Jha (2010), o Gênero Rhizophora é considerado do tipo sal-excludente e
sal-acumulador. O sal-excludente ocorre quando há eliminação da parte do sal a partir da
ultrafiltração nas células das raízes, e sal-acumulador é quando se acumula sal nas células
e principalmente nos vacúolos.
Banhado pelo oceano, a Ilha de Algodoal também chamada de Ilha de Maiandeua,
tem cobertura vegetal definida por um bosque de mangue de aproximadamente 15 m de
altura e apresenta três espécies características: mangue-branco Laguncularia racemosa
L. C. F. Gaertn, mangue-preto Avicennia germinans (L.) L. e mangue-vermelho
Rhizophora mangle L (SENNA; BASTOS, 2009).
Segundo França e Pimentel (2012), em decorrência da sua posição geográfica, a
baía de Marajó recebe baixa contribuição das águas do rio Amazonas, fato este que
concorre para a penetração mais efetiva da cunha salina, proveniente do Atlântico.
Para Schaeffer-Novelli (1995), a variação na frequência de inundação do
manguezal pelas marés, pode acarretar diferenças nas concentrações de sal no sedimento,
tanto em relação à distância do mar, como em relação à fonte de água doce. Ainda de
acordo com o autor, as maiores salinidades são encontradas nos manguezais próximos ao
mar e as menores, nos bosques de mangue próximos às margens dos rios.
Tendo em vista estas peculiaridades em termos de ambientes e carência de estudos
relacionados às características da madeira das espécies do ecossistema de manguezais,
existe uma demanda por pesquisas que venham a contribuir com o conhecimento
científico sobre diversidade da Amazônia. De acordo com Soares (1999), a caracterização
da vegetação dos manguezais constitui uma valiosa ferramenta de conhecimento das
repostas desse ecossistema às condições ambienteis existentes, como também às
alterações do meio ambiente, auxiliando assim, nos estudos e ações que favoreçam a
conservação deste ecossistema.
Desta forma, considerando que, segundo Jono (2009), diversos trabalhos mostram
que as plantas possuem plasticidade na organização anatômica do lenho que permitem às
espécies sobreviver em locais com características ambientais contrastantes, estudos
específicos sobre as propriedades da madeira do gênero Rhizophora mangle dos
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diferentes ambientes são fundamentais para se compreender seu comportamento no


ecossistema local.
A partir do embasamento teórico acima descrito, o objetivo do presente trabalho foi
comparar as propriedades anatômicas da madeira de Rhizophora mangle em dois
ambientes diferentes, Ilha de Algodoal-PA e Ilha de Marajó-PA.

MATERIAL E MÉTODOS

ÁREA DE ESTUDO
450
O material coletado foi obtido do aproveitamento de árvores naturalmente caídas
nos manguezais de dois municípios: Maracanã onde está localizada a Ilha de Algodoal e
Soure que está localizado na Ilha de Marajó. Ambos estão na região nordeste do estado
do Pará. No município de Maracanã, com as coordenadas 0º13’55” S e 48º26’58” W,
localiza-se a Ilha de Algodoal, uma Área de Proteção Ambiental (APA) com
aproximadamente 2,3 ha, sendo o Ambiente 1 de coleta. Em Soure, está localizado o
Ambiente 2 de coleta, a Reserva Extrativista Marinha de Soure (Resex) sob as
coordenadas 0º13’55” S e 48º26’58” W onde possui uma área de 27.463,58 ha na costa
nordeste da Ilha de Marajó.

PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS

Tabela 1. Amostragem das coletas.


Número de Total de
Áreas de coleta Número de amostras por pontos de coleta
pontos de coleta amostras
Ambiente 1 6 3 18
Ambiente 2 6 3 18
Total 36
Fonte: Autores (2018).

As amostras foram coletadas com o auxílio de um machado. Foram realizados seis


pontos de coleta, onde cada ponto representa uma árvore, e de cada árvore extraiu-se um
torete de aproximadamente 50 cm de comprimento que deu origem a três discos com 3
cm de espessura, em média (Tabela 1). Dois dos discos foram destinados aos estudos da
retratibilidade e densidade básica, onde cada disco foi seccionado em quatro partes no
formato de cunha e o terceiro disco foi usado na descrição anatômica.
As amostras coletadas foram identificadas anatomicamente como Rhizophora
mangle por meio da identificação Taxonômica no Laboratório de Botânica-
Xiloteca/Anatomia Vegetal da Embrapa Amazônia Oriental.
O disco destinado à caracterização anatômica foi seccionado em quatro cunhas,
onde foram retirados três corpos de prova de uma das cunhas na posição radial interna
(próximo a medula), intermediária e externa (próximo a casca) para serem utilizados na
descrição microscópica. Dos 12 discos foram confeccionadas 36 lâminas histológicas e
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para a descrição macroscópica foram obtidas 12 amostras, alcançando um corpo de prova


de uma das cunhas de cada disco (Figura 1).

Figura 1. Demarcação dos corpos de prova destinados à caracterização anatômica.

451

Fonte: Autores (2017).

DESCRIÇÃO MACROSCÓPICA

As amostras foram analisadas com a identificação anatômica macroscópica e


organoléptica, observando as características visíveis a olho nu e com a lupa do tipo conta
fio de aumento 10X nos planos transversal, longitudinal tangencial e longitudinal radial.
Essas características foram identificadas com auxílio de uma ficha de descrição com
respostas diretas quanto a forma, tamanho ou distribuição dos elementos celulares: vasos,
raios parenquimáticos e parênquima axial.
Os corpos de prova foram polidos com o auxílio de um instrumento de corte afiado
(estilete) para evidenciar suas peculiaridades que foram observadas utilizando a lupa.
Foram verificados os tipos, disponibilidade e visibilidade dos parênquimas axial, poros e
raios; e características organolépticas da madeira.

DESCRIÇÃO MICROSCÓPICA

As análises microscópicas foram realizadas após a confecção de lâminas


histológicas com auxílio do microscópico óptico trinocular Motic para determinar
parâmetros qualitativos e quantitativos. As lâminas histológicas foram montadas
seguindo a técnica de Johansen (1940) (Figura 2).
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Figura 2. Preparação e montagem de lâminas histológicas: A – Micrótomo de deslize; B – Clarificação


dos cortes em hipoclorito de sódio; C – Cortes corados com safranina aquosa 1%; D – Cortes desidratados
em baterias de álcool etílico; E – Cortes em repouso por 15 minutos em acetato de butila; F – Cortes
histológicos colados entre lâmina, lamínula e identificados.

452

Fonte: Autores (2018).

Para facilitar a obtenção dos cortes histológicos, os corpos de prova foram imersos
em água destilada para saturação. Posterirormente, foram realizados os cortes
histológicos com espessura variando de 20 a 25 μm, de duas seções da madeira (seção
longitudinal tangencial e longitudinal radial) e quando possível foram realizados os cortes
no plano transversal obtidos em micrótomo de deslize (Figura 2A). Os cortes histológicos
foram alvejados em água sanitária (Figura 2B), em seguida, foram corados com safranina
aquosa 1% por 5 segundos (Figura 2C) e posteriormente procedeu-se o processo de
desidratação contínua em porcentagens de 50 %, 70%, 90% e 100% (P.A.: álcool para
análise) de álcool etílico por 15 minutos em cada bateria (Figura 2D), exceto na última
(P.A), onde permaneceu por 20 minutos. Após a desidratação, os cortes foram
transferidos para o acetato de butila por 15 minutos (Figura 2E), em seguida os cortes
foram colocados entre lâmina e lamínula (Figura 2F).
A caracterização anatômica foi realizada com a descrição geral observando
elementos estruturais anatômicos da madeira utilizando o microscópico óptico trinocular
MOTIC e mensuração do comprimento e largura de raios em micrômetros, bem como
2021 Gepra Editora Barros et al.

largura de raios em número de células. As medições foram realizadas através do programa


Motic 3.0 e executadas seguindo as recomendações feita por Coradin e Muniz (1991),
realizando 30 mensurações para cada parâmetro anatômico avaliado por ambiente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

DESCRIÇÃO MACROSCÓPICA E ORGANOLÉPTICA

A madeira de Rhizophora mangle apresenta parênquima axial difuso visível só sob


lente, a porosidade é difusa e possui agrupamento com múltiplos na disposição radial, 453
porém há predominância de solitários, visíveis apenas sob lente, conforme mostra o plano
transversal (Figura 3A). Todas as características anatômicas ora apresentadas estão de
acordo com as descrições realizadas por Batista (2011) para a espécie de Rhizophora
mangle da baía Antonina e Guaratuba do Paraná. A descrição do parênquima axial como
difuso também foi observada por Melo Junior et al. (2016) na Rhizophora mangle em
materiais coletados no sítio arqueológico Sambaqui Cubatão I em Santa Catarina e quanto
a porosidades, os autores classificaram como poros exclusivamente solitários. No entanto,
ao caracterizar anatomicamente o tecido lenhoso de uma amostra de Rhizophora mangle
no Pará, Santos e Urbinatti (2016) classificaram como poros predominantemente
solitários e porosidade semi-porosa.
No plano tangencial (Figura 3B), observa-se que os raios encontrados na espécie
estudada não são estratificados e são visíveis só sob lente. Esses resultados coincidiram
com os estudos de Melo Junior et al. (2016) e Santos e Urbinatti (2016).

Figura 3. A – Plano Transversal; B – Plano Tangencial; C – Plano Radial.

Fonte: Autores (2018).

A madeira possui cerne com coloração róseo, e essa característica lhe intitula
popularmente como mangue vermelho, dispõe de camadas de crescimento indistintas, o
floema incluso é foraminado e a textura fina. Apesar de Santos e Urbinatti (2016)
considerar que as camadas de crescimento para a espécie Rhizophora mangle sejam
distintas, neste trabalho, foram observadas camadas indistintas, semelhantes às
verificadas por Melo Junior et al. (2016) e Batista (2011).
DESCRIÇÃO MICROSCÓPICA
2021 Gepra Editora Barros et al.

Na descrição microscópica foi observado no plano transversal 4X (Figura 4A) que


os agrupamentos dos vasos são predominantemente solitários com múltiplos até de quatro
e disposição difusa uniforme. Estas observações estão de acordo com as características
apresentadas por Batista (2011) para o lenho da espécie Rhizophora mangle.
Observa-se no plano transversal 10X (Figura 4D), parênquima axial com
distribuição difusa e paratraqueal escasso. Os vasos possuem placas de perfuração do tipo
múltiplas escalariformes e pontuações intervasculares escalariformes, de acordo com o
plano radial (Figura 4F). Estas características coincidem com as classificações realizadas
por Batista (2011) e Melo Junior et al. (2016). Santos e Urbinatti (2016) também
descreveram para Rhizophora mangle vasos com placas de perfuração do tipo
454
escalariformes, pontuações intervasculares escalariformes e parênquima axial
paratraqueal escasso.
No plano tangencial 10X (Figura 4E) é possível verificar que os raios encontrados
são multisseriados homogêneos. Santos e Urbinatti (2016), Melo Junior et al. (2016) e
Batista (2011) identificaram os raios como multisseriados e para Santos e Urbinatti (2016)
os raios são heterogêneos, porém Melo Junior et al. (2016) também descreve como
homogêneos.
E no plano radial 10X (Figura 4F) podemos identificar a presença de cristais
romboédricos em forma de prismas nas células do raio. Esses cristais prismáticos também
foram encontrados por Batista (2011) e Santos e Urbinatti (2016).

Figura 4. A – Plano Transversal (4X); B – Plano Tangencial (4X); C – Plano Radial (4X); D – Plano
Transversal (10X); E – Plano Tangencial (10X); F – Plano Radial (10X).

Fonte: Autores (2018).


Quanto à caracterização quantitativa (Tabela 2), podemos observar os valores
referentes ao comprimento e largura dos raios em milímetro e largura dos raios em
2021 Gepra Editora Barros et al.

números de células de corpos de prova retirados nas posições radial interna, intermediária
e externa. Os valores das variáveis anatômicas quantitativas avaliadas estão próximos aos
encontrados por Batista (2011) em Rhizophora mangle ao realizar a caracterização
quantitativa e descrição anatômica do lenho de duas espécies arbóreas do manguezal da
baía Antonina e Guaratuba, onde a autora encontrou os valores entre 9,22 a 119,91 µm
para a largura dos raios e de 2 a 6 números de células.

Tabela 2. Parâmetros anatômicos quantitativos da espécie Rhizophora mangle.


Variáveis Ambiente 1 Ambiente 2 Ambiente 1 Ambiente 2
N
analisadas σ σ Mín-Máx Mín-Máx
455
Interna
CR (µm) 30 1526,24 a 1118,27 1067,84 a 420,97 313,82 - 4720,52 420,97 - 2061,42
LR (µm) 30 62,93 a 22,24 56,73 a 56,73 62,93 - 5,87 32,03 - 85,36
LR (nº c) 30 3,67 a 0,96 3,30 b 0,60 1,00 - 5,00 2,00 - 4,00
Intermediária
CR (µm) 30 1295,40 a 541,48 872,46 b 599.13 463,92 - 2439,58 87,23 - 2393,24
LR (µm) 30 82,72 a 19,49 45,41 b 23,28 40,05 - 131,66 6,93 - 89,32
LR (nº c) 30 4,00 a 0,79 3,40 b 0,93 2,00 - 5,00 2,00 - 5,00
Externa
CR (µm) 30 1136,55 a 665,51 976,78 a 491,63 117,40 - 3595,03 237,93 - 2106,02
LR (µm) 30 70,12 a 16,15 58,79 b 18,15 48,04 - 104,01 23,15 - 99,56
LR (nº c) 30 3,53 a 0,57 3,70 a 1,15 2,00 - 4,00 2,00 - 6,00
Médias nas linhas seguidas de mesma letra não diferem entre si significativamente a 5% de probabilidade. N = Número
de medições; CR = Comprimento do Raio; LR = Largura do Raio.
Fonte: Autores (2018).

Os estudos realizados na posição radial interna do lenho da Rhizophora mangle,


mostraram que o comprimento e largura do raio em milímetros não diferem
significativamente em relação aos ambientes. Porém houve diferenças significativas
quanto ao número de células dispostas na largura dos raios, apresentando média com
maior número de células no Ambiente 1, com 3,67 células e de 3,30 células para o
Ambiente 2. Esse resultado corrobora o relato de Jono (2009), onde as plantas possuem
plasticidade na organização anatômica do lenho que permitem às espécies sobreviver em
locais com características ambientais contrastantes.
Na posição radial intermediária, médias do comprimento do raio variaram de
1295,40 µm para o Ambiente 1 a 872,46 para o Ambiente 2, a largura do raio foi de 82,72
µm para o Ambiente 1 e 45,41 µm para o Ambiente 2 e a largura em números de células
foi de 4 para o Ambiente 1 e 3,4 para o Ambiente 2. Essas três variáveis na posição
intermediária mostraram-se diferentes estatisticamente entre os dois ambientes.
Para as variáveis na posição radial externa, apenas a largura do raio em micrômetro
apresentou diferença significativa entre os ambientes, com médias de 70,02 µm no
Ambiente 1 e 58,79 µm no Ambiente 2. Quanto ao comprimento do raio, com média de
2021 Gepra Editora Barros et al.

1136,55 µm e 491,63 µm, para os Ambientes 1 e 2, respectivamente, e largura do raio em


número de células apresentando médias de 3,53 células no Ambiente 1 e 1,15 células no
Ambiente 2, não houve diferenças entre os ambientes.
As diferenças estatísticas encontradas quanto as características anatômicas,
apresentando raios mais largos e com maior número de células para o Ambiente 1, pode
estar relacionada à salinidade, visto que, estudos sobres outras variáveis anatômicas de
espécies de mangue apresentaram essa tendência, como o estudo realizado por Schmitz
et al. (2006) relacionando a influência da salinidade sobre os vasos da espécie Rhizophora
mucronata, verificando que existe uma tendência do aumento da frequência de vasos com
o aumento da salinidade, e em um estudo de Sobrado (2006), onde analisou a relação do
456
transporte de água com as características anatômicas de espécie Laguncularia racemosa
em diferentes gradiente de salinidade observando que existe um aumento da densidade
dos vasos e um menor diâmetro com o aumento da salinidade em ramos da espécie
estudada.

CONCLUSÕES

A espécie Rhizophora mangle encontrada nos ambientes, Ilha de Algodoal e Ilha


de Marajó, apresentou diferenças estatísticas nos parâmetros quantitativos das
propriedades anatômicas da madeira. Os estudos das propriedades da madeira de
Rhizophora spp contribuem para o conhecimento científico, auxiliando assim em ações
que favoreçam a conservação deste ecossistema, visto que há uma carência em pesquisas
na área, principalmente das propriedades físicas e químicas da madeira de espécies
arbóreas de mangue.

REFERÊNCIAS

BATISTA, E. E. K. Caracterização quantitativa e descrição anatômica do lenho de


duas espécies arbóreas do manguezal da Baía Antonina e Guaratuba. 2011. 38 p.
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Federal do Paraná, Curitiba, 2011.

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leste da baía de Marajó, Pará, norte do Brasil. Revista Geonorte, v. 3, n. 4, p. 900-910,
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2021 Gepra Editora Barros et al.

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JONO, V. Anatomia ecológica do lenho e atividade cambial de Roupala rhombifolia


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2009.

MELO JUNIOR, J. C. F.; SILVEIRA, E. R.; BANDEIRA, D. R. Arqueobotânica de um


sambaqui sul-brasileiro: integrando indícios sobre o paleoambiente e o uso de recursos
florestais. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, v. 11, n. 3, p. 727-744, 2016.
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PARIDA, A. K.; JHA, B. Salt tolerance mechanisms in mangroves: a review. Trees, v.


24, p. 199-217, 2010.

SANTOS, I. D. Influência dos teores de lignina, holocelulose e extrativos na


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vegetal de cinco espécies de lenhosas do cerrado. 2008. 92 p. Dissertação (Mestrado
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JARDIM, M. A. G. (Org.). Diversidade Biológica das Áreas de Proteção Ambiental:
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SOARES, M. L. G. Estrutura vegetal e grau de perturbação dos manguezais da Lagoa da


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3, p. 584–591, 2006.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 42

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE BLENDS DE


ACEROLA E NECTARINA

LEITE, Ana Carolina Nóbrega


Pós-graduanda em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande
anacarolinanobregaleite@gmail.com

PAIVA, Yaroslávia Ferreira


Pós-graduanda em Engenharia de Processos
Universidade Federal de Campina Grande 458
yaroslaviapaiva@gmail.com

MACEDO, Antônio Daniel Buriti de


Pós-graduando em Engenharia de Processos
Universidade Federal de Campina Grande
daniel_buritt@hotmail.com

FIGUEIRÊDO, Rossana Maria Feitosa de


Orientadora no Doutorado em Engenharia de Processos
Universidade Federal de Campina Grande
rossanamff@gmail.com

QUEIROZ, Alexandre José de Melo


Orientador no Doutorado em Engenharia de Processos
Universidade Federal de Campina Grande
alexandrejmq@gmail.com

RESUMO

O interesse dos consumidores por produtos diferenciados, principalmente quanto


ao sabor, incentiva o desenvolvimento de novos produtos que possibilitem agregar valor
nutricional e sensorial a produtos rotineiramente consumidos, como os blends de frutas.
Sendo assim, objetivou-se elaborar blends de acerola e nectarina em diferentes
concentrações e caracterizá-las através de análises físico-químicas. Foram elaboradas as
seguintes formulações com as polpas integrais de acerola e nectarina: F1- 100% acerola;
F2 - 100% nectarina; F3 - 50% acerola e 50% nectarina; F4 - 25% nectarina e 75%
acerola; F5 - 75% nectarina e 25% acerola. Após elaboração, os blends foram
caracterizados, em triplicata, quanto aos parâmetros físico-químicos. Foram
determinados os seguintes parâmetros: acidez titulável (% ácido cítrico); sólidos solúveis
(SST) expressos em ºBrix; pH; cinzas; e teor de água. As formulações avaliadas
apresentam altos teores de água, evidenciando sua perecibilidade. As polpas mistas de
acerola e nectarina são classificadas como alimentos muito ácidos (pH < 4,0) e com baixo
teor de minerais. A mistura das polpas de acerola e nectarina favorece o equilíbrio entre
a acidez e a doçura das mesmas, com destaque para a formulação F5 que apresenta maior
relação SST/ATT atribuindo maior sabor doce a formulação.

PALAVRAS-CHAVE: Polpa mista, Malpighia punicifolia L., Prunus pérsica L.


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INTRODUÇÃO

As frutas são importantes alimentos indispensáveis na alimentação humana, visto


que são compostas principalmente por nutrientes essenciais, tais como vitaminas,
minerais e fibras, além de proteínas, lipídios, carboidratos, entre outras substâncias, como
os antioxidantes naturais, que podem colaborar para a redução do estresse oxidativo nas
células do organismo humano (SANTOS et al., 2019). Apesar de toda a sua composição
nutricional, são produtos altamente perecíveis, com perdas pós-colheita de 30-40%
(SPAGNOL et al., 2018). Devido a estas perdas, o processamento de frutas,
principalmente na forma de polpa, tem sua demanda aumentada no mercado consumidor
permitindo o aproveitamento integral dos nutrientes, e ressaltando a necessidade do 459
controle de qualidade (SANTOS et al., 2016).
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), polpa
é o produto não fermentado, não concentrado ou diluído, obtido pelo esmagamento de
frutos polposos, preparadas com frutas sãs, limpas, isentas de matéria terrosa, de parasitas
e detritos de animais ou vegetal, sem fragmentos das partes não comestíveis da fruta, nem
substâncias estranhas à sua composição normal, devendo ser observada também a
presença ou ausência de sujidades, parasitas e larvas (BRASIL, 2018).
Dentre as frutas produzidas e comercializadas no Brasil tem-se a nectarina e a
acerola. A nectarina (Prunus persica L.) que é considerada uma fruta funcional
importante entre os frutos de caroço, depois do pêssego e da ameixa, sendo rica em
nutrientes (JAYARAJAN e SHARMA, 2020). É um subtipo de pêssego com genes
recessivos, popularmente conhecido como "pêssego raspado" ou "pêssego sem pelo",
devido à ausência de penugem ou pelos curtos. Quando comparada ao pêssego, apesar de
possuir um crescimento e desenvolvimento semelhante, possui uma vida útil maior, o que
aumenta a possibilidade de comercialização e importância econômica (SOYSAL e
ISMAIL, 2017; OGUZ et al., 2019).
A acerola (Malpighia emarginata) é uma fruta tropical originária da América do
Sul e Central, pertencente à família Malpighiaceae e também denominada de cereja das
Antilhas. Possui sabor agradável e excelente fonte de ácido ascórbico e outros compostos
fitoquímicos, como carotenoides e polifenóis, é explorada comercialmente na forma de
suco, néctar, geléia, bala, entre outros produtos (ALVES FILHO et al., 2018; MAZZA et
al., 2020).
De acordo com Lemos et al. (2019) em razão da polpa de acerola possuir
características peculiares, pode ser utilizada na elaboração de polpas mistas ou blends, os
quais consistem na mistura de dois ou mais tipos de polpas, conferindo novas
características sensoriais e nutricionais ao produto, com a finalidade de agradar o paladar
dos consumidores. Além disso, do ponto de vista econômico, é uma alternativa para
minimizar os excedentes de produção na época da safra e introduzir no mercado produtos
inovadores, com maior aproveitamento das propriedades funcionais das frutas e
enriquecimento nutricional (SILVA et al., 2016; GADELHA et al. 2019).
Sendo assim, objetivou-se elaborar polpas mistas de acerola e nectarina em
diferentes concentrações e caracterizá-las através de análises físico-químicas.
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MATERIAL E MÉTODOS

Matérias-primas

Foram utilizados frutos de nectarina (Prunus persica L. var Rosalina) e acerola


(Malpighia emarginata Dc) em estádio de maturação maduras, adquiridas no comércio
do município de Campina Grande, Paraíba PB, em agosto de 2019.

Processamento dos frutos e elaboração dos blends


460
As frutas foram selecionadas de acordo com estádio de maturação, ausência de
injúrias e tamanho, sendo posteriormente lavadas em água corrente para retirada das
sujidades, sanitizadas em solução de hipoclorito de sódio a 100 ppm por 15 min e
enxaguadas para retirada do sanitizante.
Logo após, as acerolas foram despolpadas utilizando-se um processador
doméstico e peneiradas para separação da polpa e sementes. As nectarinas foram
descascadas manualmente e trituradas também em processador doméstico. Com a
obtenção das polpas integrais, foram elaboradas e codificadas as formulações contidas na
Tabela 1.

Tabela 9. Formulações de blends de acerola e nectarina elaboradas.


Formulações Acerola (%) Nectarina (%)
F1 100 0
F2 0 100
F3 50 50
F4 75 25
F5 25 75

Análises físico-químicas

Após elaboração, as formulações foram caracterizadas, em triplicata, quanto aos


parâmetros físico-químicos. Foram determinadas, de acordo com os procedimentos
analíticos do Instituto Adolfo Lutz (IAL, 2008) os seguintes parâmetros: acidez total
titulável (% ácido cítrico); sólidos solúveis (SST) expressos em ºBrix; pH; cinzas; e teor
de água.

Análise dos dados

Os dados obtidos foram analisados estatisticamente de acordo com o Delineamento


Inteiramente Casualizado (DIC), submetidos a análise de variância (ANOVA) e as médias
comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade, utilizando-se o
programa computacional ASSISTAT 7.7 (SILVA e AZEVEDO, 2016).
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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados referentes ao teor de água das amostras estão contidos na Figura 1.


Constata-se que todas as formulações diferiram estatisticamente entre si a 5% de
probabilidade.
A polpa integral de acerola apresentou o maior teor de água (84,44%) e a de
nectarina o menor teor (75,67%), influenciando assim nos blends (F3, F4 e F5) e
implicando no aumento do teor de água da formulação com a máxima concentração de
acerola. Verifica-se que os valores obtidos para todas as formulações foram superiores a
74%, indicando a alta perecibilidade destes produtos, como na maioria das frutas. Diante
desta constatação deve ser indicado o congelamento das formulações para aumentar a 461
vida útil ou submeter as mesmas a algum tratamento térmico.
Valores superiores foram observados por Lemos et al (2019) (90,24 a 94,64%) em
blends de acerola e jabuticaba, por Silva et al. (2016) em suco misto de melancia com
pepino, com valores variando entre 91,77 e 96,40% e por Jayarajan et al. (2019), que
observou entre variedades de nectarina um teor de água na faixa de 82,99 a 89,94.

Figura 20. Teores de água das formulações de blends elaborados.

Letras diferentes na mesma linha diferem estatisticamente ao nível de 5% de probabilidade.


F1 - 100% acerola; F2 - 100% nectarina; F3 - 50% nectarina e 50% acerola; F4 - 25% nectarina e 75% acerola; F5 -
75% nectarina e 25% acerola.

Estão apresentados na Figura 2 os dados referentes ao pH dos blends elaborados.


Novamente todas as amostras avaliadas diferiram estatisticamente entre si (p>0,05), onde
a polpa integral de acerola (F1) apresentou o menor valor (3,19) e a de nectarina (F2) o
maior (4,20). Consequentemente as formulações F3, F4 e F5 apresentaram valores
intermediários com a redução do pH a medida em que elevou-se a concentração de
acerola.
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Figura 21. pH das formulações de blends elaborados.

462

Letras diferentes na mesma linha diferem estatisticamente ao nível de 5% de probabilidade.


F1 - 100% acerola; F2 - 100% nectarina; F3 - 50% nectarina e 50% acerola; F4 - 25% nectarina e 75% acerola; F5 -
75% nectarina e 25% acerola.

Alguns autores obtiveram valores próximos do pH da polpa de acerola (F1)


avaliando o mesmo produto, como Nascimento et al. (2018) em polpas de produção
industrial (3,35) e artesanal (3,63), Lemos et al. (2019) de 3,03, Sousa et al. (2020) de
3,26 a 3,60 em polpas congeladas comerciais e Gadelha et al. (2019) de 3,83. Por outro
lado, a polpa de nectarina apresentou-se fora da faixa de pH entre 2,99 e 3,35 observada
por Falagán et al. (2015) nas amostras de tratamento controle da fruta, durante estudo da
utilização de aditivos naturais para preservar a qualidade da nectarina cv. VioWhite fresca.
Entretanto, tal diferenciação dos valores de pH pode ser atribuída à variabilidade genética
existente entre os diferentes cultivares da espécie.
Valores de pH próximos aos das formulações F3, F4 e F5 foram detectados por
Gadelha et al. (2019) ao elaborarem blends de frutos tropicais à base de tamarindo
(tamarindo, abacaxi, acerola e maracujá) apresentando características ácidas com valores
de pH entre 3,46 a 3,74 e 3,75 para o néctar de acerola. Diante da faixa de pH verificada,
tem-se que as formulações F1, F3, F4 e F5 são classificadas como alimentos muito ácidos
(pH < 4,0) e a F2 como alimento ácido (4,0 < pH < 4,5), indicando que mesmo sendo
classificado como alimento muito ácido nesta faixa de pH o crescimento de bactérias é
inibido, mas permite o desenvolvimento de fungos (AZEREDO et al., 2012), havendo
assim necessidade de aplicação de algum processo de conservação.
Quanto aos sólidos solúveis, os dados foram expostos na Figura 3 e igualmente
todas as formulações apresentaram diferença significativa entre si, ao nível de 5% de
probabilidade.
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Figura 22. Teores de Sólidos solúveis das formulações de blends elaborados.

463

Letras diferentes na mesma linha diferem estatisticamente ao nível de 5% de probabilidade.


F1 - 100% acerola; F2 - 100% nectarina; F3 - 50% nectarina e 50% acerola; F4 - 25% nectarina e 75% acerola; F5 -
75% nectarina e 25% acerola.

Observa-se que a nectarina (F2) apresentou maior concentração (11,53 °Brix) e a


acerola (F1) a menor (7,13 °Brix), diferindo estatisticamente das polpas mistas (F3, F4 e
F5) e evidenciando a maior doçura da nectarina. Esses resultados estiveram próximos aos
reportados por Jayarajan et al. (2019) ao analisarem as cinco variedades principais de
nectarina cultivadas na Índia, a saber, Silver Queen, Spring Bright, Red Gold,
Independence e Missourie, com o objetivo de analisar sua composição nutricional,
obtiveram teores variando entre 10,7 e 13,5 °Brix; e por Nasser et al. (2018) em diferentes
genótipos de acerola colhidas em duas épocas de colheita, apresentando valores médios
de 7,14-7,64 °Brix. Observa-se nas polpas mistas que não houve diferença estatística
entre as formulações F3 e F5, explicada pelo balanceamento dos sólidos solúveis na F3,
e pela maior concentração da polpa de nectarina na F5; já a F4 (75% acerola e 25%
nectarina) apresentou a menor concentração de sólidos solúveis decorrente do maior
percentual de polpa de acerola.
Os teores de acidez titulável estão contidos na Figura 4. A acidez é um importante
parâmetro para a aceitação das frutas e seus derivados pelos consumidores e é função do
estádio de maturação e conservação da fruta (SILVA et al., 2017).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 23. Teores de acidez titulável das formulações de blends elaborados.

464

Letras diferentes na mesma linha diferem estatisticamente ao nível de 5% de probabilidade.


F1 - 100% acerola; F2 - 100% nectarina; F3 - 50% nectarina e 50% acerola; F4 - 25% nectarina e 75% acerola; F5 -
75% nectarina e 25% acerola.

Observa-se para a acidez titulável das formulações, comportamento inverso ao do


pH com maior teor na acerola (F1) e menor na nectarina (F2). A baixa acidez da nectarina
foi relatada por Jayarajan et al. (2019), que observaram uma variação de 0,134 a 0,424%,
entre os diferentes cultivares da espécie estudados, sendo ‘Red Gold’ e ‘Spring Bright’ a
de menores e maiores percentuais, respectivamente; Fálagan et al. (2015) relatam acidez
variando de 1,04 a 1,12%. A elevada acidez da polpa de acerola (1,72% ácido cítrico),
corrobora com os dados obtidos por: Brasil et al. (2016) de 0,71 a 1,25% em polpas
comerciais; e por Magalhães et al. (2018) de 0,86 a 3,13%, na avaliação de características
de 24 genótipos de acerola. Interferindo assim na elevação da concentração do ácido da
formulação (F4).
A relação SST/ATT é considerada também um indicativo do estádio de maturação
e sabor da fruta e os dados referentes as formulações elaboradas estão contidas na Figura
5.
Figura 24. Teores de ratio (releção SST/ATT) das formulações de blends elaborados.

Letras diferentes na mesma linha diferem estatisticamente ao nível de 5% de probabilidade.


2021 Gepra Editora Barros et al.

F1 - 100% acerola; F2 - 100% nectarina; F3 - 50% nectarina e 50% acerola; F4 - 25% nectarina e 75% acerola; F5 -
75% nectarina e 25% acerola.

Percebe-se que a nectarina (F1) apresentou o maior valor da relação (22,19)


revelando que esta polpa apresenta um sabor mais adocicado, já a acerola (F2) apresentou
o menor valor da relação (4,15) indicando maior acidez. Os maiores valores da relação
SST/ATT são obtidos quando se tem alto teor de sólidos solúveis e baixa acidez, fato que
geralmente acontece quanto mais maduro o fruto estiver, devido ao aumento dos açúcares
e redução dos ácidos orgânicos. Diante disso, as polpas mistas F3, F4 e F5 apresentaram
um maior equilíbrio entre a doçura da nectarina e a acidez da acerola, com destaque para
a F5 com maior valor (11,84) indicando maior doçura. Observa-se que as polpas mistas 465
(F3, F4 e F5) foram influenciadas pelas concentrações das polpas, aumentando o valor da
relação com a redução da concentração de acerola.
Fachi et al. (2016) avaliaram as características físico-químicas dos frutos de três
cultivares de acerola (Cereja, Sertaneja e Roxinha) e obtiveram valores de ratio
(SST/ATT) de 3,66 a 4,0. Silva et al. (2016) detectaram valores de 13,98 em blend de
abacaxi com acerola e destaca que essa relação proporciona informações sobre o
equilíbrio de acidez entre os componentes. A polpa de acerola (F1) apresenta valores
baixos na relação SS/AT devido a maior acidez titulável, quando comparadas a polpa de
nectarina (F2). De acordo Brasil et al. (2016), a diferença observada nessa relação pode
ser atribuída a fisiologia do fruto, que é classificado como climatérico, devido ao pico na
taxa de respiração após colheita. Apesar de não existirem resoluções definidas de valores
do ratio para consumo in natura e processamento industrial, maiores teores são atributos
positivos para a indústria, que tem buscado cada vez mais, frutos mais doces (FACHI et
al., 2016).
A polpa integral de acerola (F1) e a polpa de nectarina (F2) apresentaram
diferenças estatísticas entre as mesmas para todos os parâmetros avaliados, não sendo
diferente em relação ao teor de cinzas expressos na Figura 6.

Figura 25. Teores de cinzas das formulações de blends elaborados.

Letras diferentes na mesma linha diferem estatisticamente ao nível de 5% de probabilidade.


F1 - 100% acerola; F2 - 100% nectarina; F3 - 50% nectarina e 50% acerola; F4 - 25% nectarina e 75% acerola; F5 -
75% nectarina e 25% acerola.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Baixas concentrações de cinzas foram identificadas nas formulações, o que era


esperado em razão das frutas não serem, geralmente, ricas em minerais. Os maiores e
menores conteúdos foram verificados na polpa integral de nectarina (F2) e na polpa de
acerola (F1), concomitantemente. Entretanto, as formulações F3 e F5 apresentaram
maiores resultados, demonstrando que a união dessas frutas foi efetiva no aumento dos
minerais. Blends de acerola e jabuticaba elaborados por Lemos et al. (2019) apresentaram
quantidades inferiores as formulações F2, F3, F5 e similares as F1 e F4, com variações
de 0,21 a 0,28%. Frutos de acerola analisados por outros autores apresentaram valores
similares como os teores encontrados por Vieira (2019) (0,40%) e superiores como os do
trabalho de Souza et al. (2020) (0,88%). Essas disparidades podem ser justificadas por
466
diferentes estádios de maturação, tipo de solo, alterações climáticas, método de cultivo,
entre outros.
Além disso, baixos teores de cinzas em produtos à base de frutas foram observados
por: De Jesus et al. (2016) em polpas in natura de umbu, umbu comercial e ciriguela,
apresentando 0,17, 0,37 e 0,61%, respectivamente; Silva et al. (2020) em formulações de
néctares de maracujá saborizado de camomila, as quais apresentaram teores de 0,16 a
0,28%; e por Santos et al. (2019) em polpas in natura submetidas ao processo de
congelamento de abacaxi, ameixa, caqui, laranja, maçã, mamão, maracujá, melão,
morango e uva, que apresentaram-se dentro da faixa de 0,26 a 0,64%.

CONCLUSÕES

As formulações avaliadas apresentam altos teores de água, evidenciando sua


perecibilidade. As polpas mistas de acerola e nectarina são classificadas como alimentos
muito ácidos (pH < 4,0) e com baixo teor de minerais. A mistura das polpas de acerola e
nectarina favorece o equilíbrio entre a acidez e a doçura das mesmas, com destaque para
a formulação F5 que apresenta maior relação SST/ATT atribuindo maior sabor doce a
formulação.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 43

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE GRANOLA


ENRIQUECIDA COM EXTRATO ALCÓOLICO DE PRÓPOLIS
VERDE E ADOÇADO COM MEL DE ABELHAS Apis mellifera L.
PAIVA, Luís Gustavo Gomes de
Discente do Curso Técnico em Apicultura (IFRN)
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande de Norte/Campus Pau dos Ferros.
tavinho.gomez@hotmail.com

BERNARDO, Nicole Oliveira Martins


Discente do Curso Técnico em Apicultura (IFRN) 470
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande de Norte/Campus Pau dos Ferros.
nicoleomb@hotmail.com

SOUSA, Elisabete Piancó de


Docente do Curso Técnico em Alimentos (IFRN).
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande de Norte/Campus Pau dos Ferros.
elisabete.pianco@ifrn.edu.br

CARVALHO, Leonardo Emmanuel Fernandes de


Docente dos Cursos Técnicos e Superior (IFRN).
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande de Norte/Campus Pau dos Ferros.
leonardo.emmanuel@ifrn.edu.br

MESQUITA-CARVALHO, Luciene Xavier de


Docente do Curso Técnico em Apicultura (IFRN).
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande de Norte/Campus Pau dos Ferros.
luciene.mesquita@ifrn.edu.br

RESUMO
A produção de alimentos saudáveis, nutrição balanceada e rica de componentes
benéficos, é essencial na contemporaneidade. A granola é um alimento rico em fibras,
composto por cereais e grãos integrais. Nessa perspectiva, o presente trabalho objetivou
a formulação de duas receitas de granolas, partindo de ingredientes naturais e sem açúcar,
acrescentando o mel de abelha para compor o sabor e nutrição do produto, assim como a
realização de análises físico-químicas. Em umas das formulações foi inserido o extrato
de própolis para analisar e comparar seus efeitos nos resultados obtidos através das
análises das características físico-químicas realizadas. As granolas foram submetidas ás
análises de: umidade, atividade de água, pH, acidez, açúcar redutor, açúcar não redutor e
cinzas. Apresentando as respectivas médias de 8,24%, 0,96%, 4,57, 5,63 m.E.q/kg,
10,12%, 2,09%, 17,52%, na formulação 1 e de 8,58%, 0,98%, 5,20%, 12,19 m.E.q/kg,
9,9%, 1,41%, 18,43% na formulação 2. Observou-se que os resultados físico-químicos
das formulações apresentaram diferenças estatísticas entre os parâmetros, expondo
semelhança apenas no teor de pH. Com base nos resultados adquiridos, pode-se concluir
que é possível elaborar uma granola com alto valor nutricional, com baixos indicies
calóricos e que proporcione boa conservação do produto, além de atingir uma produção
caseira equivalente ás já existentes no mercado e incrementar nas produções apícolas.

PALAVRAS-CHAVE: Açúcares redutores, Atividade de água, Acidez.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO
A procura por alimentos mais saudáveis e funcionais estão ligadas às necessidades
contemporâneas em prevenir problemas de saúde, pelo enriquecimento do sistema imunológico.
Nesse âmbito, destaca-se a granola, constituída principalmente por carboidratos, sendo assim um
produto energético, que fornece parte da energia que o corpo precisa, para exercer as atividades
do cotidiano além de garantir o bom funcionamento do organismo (MENDOZA; SANTOS;
SANJINEZ-ARGADOÑA, 2017). Segundo a RDC 12, de 02 de janeiro de 2001 as granolas
podem ser definidas como a mistura de cereais não compactados, com ou sem adições, e similares,
possibilitando assim a introdução de uma variedade de ingredientes (ANVISA, 2001). 471
A granola é um produto fonte de fibras, sendo ela composta por uma combinação de cereais
(flocos de milho, aveia, flocos de arroz), grãos integrais (linhaça, gergelim e quinoa), castanhas,
e como adoçante o mel ou açúcar, podendo ter a variação de granola com frutas secas e outros
componentes. É um alimento bastante versátil, que pode ser consumido de diversas formas, possui
uma elevada aceitação, assim como baixos teores de atividade de água e umidade (GRANADA
et al., 2003, CONNOLLY et al, 2016). Dessa forma, com um consumo balanceado desse produto
na dieta, é possível obter uma grande contribuição na saúde humana, tendo em vista toda sua
composição nutricional e funcional (AMAYA-FARFAN; MARCÍLIO; SPEHAR, 2005).
As granolas elaboradas com mel acarretam maiores benefícios e com isso, maiores
demandas. O consumo do mel se elevou nos últimos anos e é atribuído ao aumento geral nos
padrões de vida e também a um interesse maior das pessoas em incluir em sua dieta produtos mais
saudáveis (CECCHI et al., 2019). O mel possui grande importância para a saúde humana por
conter abundantes propriedades, dentre elas a antimicrobiana, curativa, calmante, regenerativa
dos tecidos, antioxidante, dentre outras (VICINIESCKI; CORDEIRO; OLIVEIRA, 2018).
Conforme o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o mel é considerado um
fluido viscoso, aromático e doce elaborado por abelhas a partir do néctar e/ou exsudatos
sacarínicos de plantas, principalmente de origens florais, os quais, depois de levados para a
colmeia pelas abelhas, são amadurecidos por elas e estocados no favo para sua alimentação
(BRASIL, 2000). A composição do mel tem influência de diversos fatores, destacando-se a
origem das fontes vegetais, mas também pelo solo, a espécie da abelha, o estado fisiológico da
colônia, a maturação do mel, as condições meteorológicas quando da colheita, entre outros
(CAMPOS; MODESTA, 2000; RIBEIRO; STARIKOFF, 2019). Sua coloração se alterna do
quase transparente ao âmbar escuro, já o gosto e níveis de açúcar vinculam-se ao paladar, a espécie
de abelha, a época da produção, a região e, principalmente, a florada (AZEREDO; AZEREDO;
DAMASCENO, 1999).
Conforme descrição do Codex Standard For Honey (2001), o mel é constituído de
diferentes açúcares, mas com concentração da glicose e frutose, variando de 85% a 95% de sua
composição (MARCHINI et al., 2005). Sendo devida essa alta quantidade e distribuição que se
2021 Gepra Editora Barros et al.

torna um excelente adoçante. Além dos açúcares em solução, o mel também contém ácidos
orgânicos, enzimas, vitaminas, flavonóides, minerais e uma vasta variedade de compostos
orgânicos, que contribuem para sua cor, odor e sabor (PAMPLONA, 1989; TOMÁS; RUSSO-
ALMEIDA; VILAS-BOAS, 2017).
Apesar de todos os benefícios nutricionais e sensoriais da granola, como todos/diversos
produtos alimentícios é um alimento que com o tempo se degrada. E uma das principais reações
de deterioração dos alimentos provoca o surgimento de irregularidades no sabor e odor. Essa
reação de deterioração faz com que ocorra redução no valor nutritivo do alimento, como
consequência da perda de ácidos graxos essenciais, sendo alguns produtos resultantes da reação 472
potencialmente tóxicos, fazendo-se necessário um ativo como conservante (ORDÓÑEZ, 2005;
SETHUPATHY et al., 2019).
Visando isso, na elaboração desta granola foi utilizada a própolis, que é um produto
resinoso natural elaborado pelas abelhas melíferas segundo o Anexo II presente na instrução
normativa para produtos apícolas (BRASIL, 2000), sendo um composto bastante complexo,
contendo mais de 300 substâncias distintas já conhecidas (BURDOCK, 1998; BANKOVA et al.,
2000). Com isso, diversas propriedades biológicas vêm sendo remetidas a própolis, como
atividade antioxidante, antimicrobiana, anti-inflamatória e antibiótica (BANSKOTA et al., 2002;
DOBROWOLSKI et al., 1991; SANTOS et al., 2002). Por isso, muitos estudos têm sido
desenvolvidos para explorar o uso da própolis e seu efeito como conservante em alimentos
(LACERDA et al., 2015). Sendo assim, vem atuando como um antimicrobiano natural, que são
identificados como substâncias elaboradas por organismos vivos na disputa com outros
organismos, objetivando espaço e alimento (COSTA; OLIVEIRA, 2017), tendo ela grande
destaque.
A produção de alimentos bem analisados e constituídos com ingredientes regionais e
seguros, a exemplo da granola elaborada nesse estudo, que poderá proporcionar uma opção
alimentícia com nutrição balanceada e rica de componentes saudáveis, possibilitando a introdução
de um alimento preservado, que não transmita e nem cause doença, como também garanta
segurança nutricional. Nessa perspectiva, o referido estudo objetivou elaborar e caracterizar
granolas com adição de mel de abelhas, com e sem adição da própolis verde

MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi dividido em duas etapas: produção das granolas, realizada no dia 20 de
fevereiro de 2020 e realização das análises físico-químicas, efetivadas 2 meses depois, no dia 21
de abril de 2020. Os ingredientes utilizados para a formulação dos produtos foram obtidos em
comércio local da cidade de Pau dos Ferros/RN e em apiário da cidade de Portalegre/RN.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Condução do experimento e materiais


O experimento foi realizado no Laboratório de Processamento de Pólen e Própolis
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN),
Campus Pau Dos Ferros. Para a elaboração da granola foram inseridos flocos de milho
sem açúcar, flocos de arroz, flocos de aveia finos, quinoa, gergelim, linhaça dourada,
castanha de caju triturada, óleo de girassol, coco ralado desidratado sem açúcar, o extrato
de própolis alcoólico com concentração de 11% compradas no mercado da cidade de Pau
dos Ferros – RN e o mel adquirido no apiário “Apiários Flora” da cidade de Portalegre – 473
RN.

Elaboração das granolas


Foram preparadas duas formulações (A e B) de granola, obtendo em ambas a
mesma quantidade de cada produto, porém com a própolis inserida em apenas uma das
formulações, visando a análise de sua atuação como conservante. Para obtenção da
quantidade exata dos produtos, foi feito o uso da balança semi-analítica para respectiva
pesagem. Todos os itens, com exceção do coco, foram sendo inseridos e misturados, tendo
como último componente o mel. Para adição da própolis na formação B foi necessário
dissolvê-la própolis para melhor absorção e distribuição desta pela granola. Após a
mistura de todos os componentes, as granolas foram colocadas em formas retangulares
de 45 cm levadas ao forno pré-aquecido a 150ºC, durante 30 minutos, sendo retirada do
forno, a cada 10 minutos, para observação e revirada dos ingredientes, a fim de obter uma
secagem uniforme. Na segunda retirada, o coco ralado foi acrescentado à granola e levada
ao forno por mais 10 minutos. Todos os ingredientes foram adicionados de acordo com
os dados descritos na Tabela 1 e mostrado na Figura 1.

Tabela 1. Ingredientes e quantidades em grama dos materiais utilizados nas formulações da granola com
extrato de própolis verde e mel apícola, analisados no Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), Campus Pau dos Ferros.
Ingredientes Formulação A Formulação B
Flocos de milho 44g 44g
Flocos de arroz 72g 72g
Aveia flocos finos 46g 46g
Quinoa 18g 18g
Gergelim 20g 20g
Linhaça dourada 18g 18g
Castanha de caju 68g 68g
2021 Gepra Editora Barros et al.

Óleo de girassol 60ml 60ml


Coco ralado 46g 46g
Mel 80g 80g
Própolis - 1ml
Fonte: elaborado pelos autores (2020)

Figura 1. As duas formulações de granolas em potes de vidros separados.

474

Fonte: elaborado pelos autores (2020)

Análise físico-química
As análises foram realizadas no laboratório de Processamento de produtos Apícola
e Geleia real, e para todas as análises utilizou-se as metodologias baseadas no livro de
Métodos físico-químicos para análise de alimentos do Instituto Adolfo Lutz (IAL, 2008)
sempre como o auxílio de aparelhos que facilitaram as análises (ZENEBON; TIGLEA,
2008). Os testes foram feitos em triplicatas, para melhor comprovação do resultado.

Umidade
Foi aquecido previamente um béquer em estufa por 10 minutos (105ºC), para
garantir que não haveria nenhuma água e esfriou em dessecador. Em seguida, foi pesada
5g das amostras, que foram depois aquecidas em estufa por 30 minutos (105ºC) e depois
esfriadas em dessecador por 30 minutos, após isso, foram pesadas. Foi realizado o método
de dessecação em estufa e esfriamento em dessecador até peso constante.

Atividade de Água
A atividade de água das granolas foi determinada em triplicada utilizando-se
higrômetro Aqua-Lab modelo CX-2, a leitura do resultado foi feita após equilíbrio das
amostras a temperatura a 25°C.
2021 Gepra Editora Barros et al.

pH
Em um béquer de 100 ml, colocou-se na balança semi-analítica previamente
calibrada, e tarou-se e pesou 10g da granola. Adicionou-se 80 ml de água destilada, e
diluiu a amostra, posteriormente foi levado até o pHmetro (Hl 221), o eletrodo foi
introduzido, e no visor do aparelho podia-se observar a medição do pH da amostra.
Valendo ressaltar que o pHmetro foi calibrado antes de seu uso.

Acidez 475
Na análise de acidez utilizou-se solução de NaOH a 0,1 normal padronizada,
fenolftaleína, água destilada, bureta, suporte universal, proveta de 100 ml, bastão de
vidro, agitador magnético e as formulações das granolas utilizadas na análise de pH.
Após o processo de titulação ocorreu o seguinte cálculo:
Acidez Livre=m×Fc ×Vt (eq.1)

Em que: m = Massa da granola; Fc= Fator de correção da solução de NaOH 0,1 N; Vt=
Volume total gasto na titulação.

Açúcares redutores e sacarose


O processo deu-se início quando houve a pesagem em uma balança semi-analítica
de aproximadamente 2 g de granola em um béquer de 100 ml. Posteriormente foi
transferido para um balão volumétrico de 100 ml, que foi completado com água destilada
até o menisco, passando assim pelo processo de filtragem.
Foi posto em um Erlenmeyer de 250 ml, 10 ml das soluções de Fehling “A” e “B”
(soluções essas padronizadas), medidos com o apoio de uma proveta graduada de 100 ml,
em seguida foi adicionado cerca de 40 ml de água destilada. O Erlenmeyer foi colocado
sobre a manta aquecedora para que ocorresse a ebulição do líquido que estava presente
em seu interior, deu-se andamento do processo quando ocorreu a adição de 1 ml de azul
de metileno para que posteriormente acontecesse a titulação em gotejamento com
hidróxido de sódio, até que assim atingisse uma coloração avermelhada
Para a análise desses dados foi utilizada a seguinte fórmula:

Glicídios redutores em glicose (%) = 100 x vb x f (eq. 02)


MxV

vb = volume do balão volumétrico utilizado (mL).


2021 Gepra Editora Barros et al.

f = fator da solução de Fehling.


M = Quantidade de amostra inicial utilizada para a análise.
V = Volume gasto na titulação (mL).

Para que ocorresse a análise de sacarose, o mesmo conteúdo já filtrado foi utilizado.
Colocou-se a solução filtrada e gotejou-se três gotas de ácido clorídrico P.A, colocando
em banho maria a 80ºC por 30 minutos. Após isso, foi neutralizado com a solução de
hidróxido de sódio a 40%, ocorreu a verificação da neutralização, fazendo-se uso do papel
tornassol. 476
Em um Erlenmeyer de 250 ml ocorreu a introdução de 10 ml do fehling “A” e “B”,
juntamente com 40 ml de água reagente, aqueceu-se a solução em chapa aquecedora, foi
adicionado 1 ml de azul de metileno para que ocorresse posteriormente a titulação da
solução já neutralizada, até que atingisse uma coloração avermelhada, do mesmo modo
que a análise anterior, em seguida ocorreu a realização dos cálculos de acordo com a
seguinte forma:
Glicídios não redutores em glicose (sacarose) (%) = 100 x vb x 2 x f (eq. 03)
MxV

Onde:
vb = volume do balão volumétrico utilizado (mL).
f = fator da solução de Fehling.
M = Quantidade de amostra inicial utilizada para a análise.
V = Volume gasto na titulação (mL).

Cinzas
Pesou-se 2g das amostras em cadinho previamente aquecido em forno mufla por 30
minutos (550 ºC) e esfriou em dessecador por 30 minutos e pesou. Em seguida foi
calcinada até a formação de cinzas brancas em forno mufla a 550 ºC, após isso esfriou-se
em dessecador e pesou-se até peso constante.
Calculou-se: % Cinzas = (Massa do cadinho com amostra) – (Massa do cadinho sem amostra) x
100 (Massa da amostra)

Análise estatística dos dados


Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado, com duas formulações e três
repetições (em triplicata). Os resultados foram submetidos à análise de variância e médias
2021 Gepra Editora Barros et al.

comparadas pelo teste de Tukey (P ≤ 0,05), com o auxílio do programa estatístico


ASSISTAT 7.7 (CCT/UFCG).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
As duas formulações analisadas diferiram significativamente (p<0,05) entre si, para
todos os parâmetros investigados, como pode ser observado na Tabela 2, ou seja, foi
possível perceber que a ausência (Formulação A) ou presença (Formulação B) da
própolis, foi capaz de modificar os aspectos umidade, atividade de água, acidez, açúcar 477
redutor, açúcar não redutor e cinzas. Apenas no critério do pH não houve diferença
estatística.

Tabela 2. Médias e desvios-padrão dos parâmetros: umidade, atividade de água, pH, acidez, açúcar
redutor, açúcar não redutor e cinzas observados na análise físico-química realizada com as granolas
enriquecidas com mel de abelhas e própolis verde, no Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), Campus Pau dos Ferros no dia 21 de abril de 2020.
Parâmetros Formulação A Formulação B
Umidade (%) 8,24 + 0,02a 8,58 + 0,008b
Atividade de água (%) 0,96 + 0,0a 0,98 + 0,0b
Ph (%) 4,57 + 0,01a 5,20 + 0,02a
Acidez (m E q/kg) 5,63 + 0,002a 12,19 + 0,0001b
Açúcar redutor (%) 10,12 + 0,001a 9,9 + 0,0006b
Açúcar não redutor (%) 2,09 + 0,0001a 1,41 + 0,0003b
Cinzas (%) 17, 52 + 0,05a 18, 43 + 0,16b
Médias dentro da mesma linha, com letra diferentes, são diferentes significativamente, ao nível de 5%,
pelo teste de Tukey.

No critério de umidade, as Formulações A e B obtiveram valores medianos em


torno de 8,24 e 8,58 nesta ordem, sendo adequados e valores esses também alcançados
em granolas elaboradas com isenção de glúten (SOUZA, 2011). O teor de umidade na
formulação 2 possivelmente apresentou maior valor devido ao acréscimo da própolis, que
se apresentou como causadora do aumento de umidade em análise de méis, o que foi
observado por Costa e Pereira (2002), que estudaram a influência da própolis no
comportamento reológico do mel puro. Com esse valor de umidade é conferida uma maior
segurança ao alimento, já que se encontra com um valor próximo ao encontrado em
produtos deste tipo, como pode-se conferir em uma análise de barras de cereais, por
Freitas (2005), que é de 11,22 e também por Fonseca et al. (2011), sendo de 4,61. Com
os valores obtidos estando dentro da média esperada, dificulta assim o desenvolvimento
de fungos, cuja ação destes na granola provoca a deterioração química e sensorial, pois o
2021 Gepra Editora Barros et al.

excesso de umidade provoca formação de torrões na granola o que dificulta a


comercialização e consumo dos produtos (RANCIARO, 2013).
Nos resultados obtidos nos parâmetros de atividade de água (Aw) houve diferença
estatística, variando de 0,96 e 0,98 nas Formulações A e B, respectivamente. Esses
resultados se diferenciam de valores encontrados em barra de frutas desidratadas com
granola, estando em torno de 0,60 (SIQUEIRA; STARLING, 2016). Segundo Takeuchi
et al. (2005) espera-se que os cereais matinais apresentem baixos valores de atividade de
água, fator que proporciona o aspecto crocante geralmente esperado durante o consumo. 478
De acordo com esses resultados é possível observar que os valores obtidos se encontram
elevados, devido um alimento com (Aw) superior a 0,85 está susceptível ao
desenvolvimento de microrganismos (bactérias, fungos e leveduras) (VASCONCELOS.;
FILHO, 2010). Assim, sendo necessário reavaliar o processo de secagem desta granola,
ou seja, se deveria aumentar a temperatura de assamento ou tempo deste processo. Para
que não ocorra a possibilidade de desenvolvimento de microrganismos deteriorantes ao
longo tempo de armazenamento do produto, que venham possa conferir a granolas
aspectos não adequados para consumo (ALMEIDA et al., 2020; DIAS et al., 2020).
Na análise de pH das formulações elas variaram de 4,57 (Formulação A) á 5,20
(Formulação B). Sendo que o pH é um dos principais indicadores do surgimento e
multiplicação de microrganismos, é observado que as duas formulações se encontram em
boa conservação, visto que em ambas o resultado deu menor que 6,5, ou seja, abaixo do
pH ótimo para proliferação de microrganismos, que sobrevivem e se multiplicam,
geralmente, em pH entre 6,5 e 7,5 (FERREIRA; et al., 2018). Os valores obtidos no
presente estudo apresentam valores próximos aos encontrados por Freitas (2005) em
barras de cereais, com uma média de 5,2 e por Granada et al., (2003), onde o pH situou-
se entre 4,84 e 5,54 (também com uma média de 5,2) em análise de granolas comerciais,
indicando assim condições de pH ácido, ideais do que se espera do produto.
Observou-se uma diferença significativa nos resultados de acidez, onde a
Formulação B obteve valores bem mais elevados (12,19 m E q/kg) quando comparada a
Formulação A (5,63 m E q/kg), porém ambas revelando um alto teor de acidez. Por haver
em sua composição uma grande variação de ácidos orgânicos, tem-se o mel como um
produto ácido (RIBEIRO et al., 2009), tornando essa uma característica importante por
conferir ao mel estabilidade frente ao desenvolvimento de microrganismos (ABADIO -
FINCO, et al., 2010). É visto que esse fator auxilia no aspecto ácido conferidos nas
granolas. A própolis possui em sua composição ácidos aromáticos e ésteres, aldeídos e
2021 Gepra Editora Barros et al.

cetonas, terpenóides e fenilpropanóides (como os ácidos caféico e clorogênico) (SILVA


et al., 2017), tendo esse fator, provavelmente, influência na diferença de percentual
apresentada entre as formulações.
Verificou-se nos açúcares redutores uma variação de 10,12 e 9,9% na primeira e
segunda formulação, respectivamente. Nos açúcares não redutores também houve
diferenças entre ambas as formulações, de 2,09(%) com apenas mel e de 1,41 (%) com
mel acrescido de própolis. Esses valores foram encontrados também em granolas
comerciais. Uma relação interessante dos resultados é que quanto maior o teor de 479
umidade, menor o teor de açúcares, e vice e versa (GRANADA et al., 2003; BARROS et
al., 2019), podendo isso ser observado no referente estudo.
Para os parâmetros de cinzas, as formulações se diferenciaram entre si, variando de
17,52 e 18,43% nas granolas sem e com própolis, respectivamente. A variação ocorre
devido as diferenças dos compostos das formulações, sendo que na granola com própolis,
há um maior valor estatístico devido ao aumento de elementos inorgânicos, como é caso
do zinco, cálcio, manganês, ferro, alumínio, ferro, vandánio e silício (MARCUCCI, 1996,
DIAS et al., 2020). O uso de mel e própolis na produção das granolas, resultou na
diferença de outros testes feitos em barras de cereais com alguns ingredientes semelhantes
(FERREIRA; ROBERTO; CAMISA, 2018).

CONCLUSÃO
Os ingredientes apícolas mel e própolis apresentam-se como ingredientes
adequados para a formulação de granola, uma vez que demonstraram melhorias nas
propriedades de umidade, pH e acidez que garantem além da diferenciação no sabor, a
segurança para o não desenvolvimento de microrganismos, além de aumentar o valor
nutricional e energético do produto. Como os resultados ficaram próximos aos de
granolas já existentes no mercado, podem alcançar valor comercial e incrementar as
produções apícolas.
Com base nesta pesquisa recomenda-se fazer análise sensorial, intenção de compra
para avaliar a aceitabilidade destas formulações no mercado consumidor. Outra analise
sugerida seria a microbiológica para garantir que esta formulação está livre de micro-
organismos deteriorantes.
2021 Gepra Editora Barros et al.

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484
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 44

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E COLORIMÉTRICA


DOS BLENDS DAS POLPAS DE ACEROLA E TANGERINA EM
PÓ OBTIDOS POR LIOFILIZAÇÃO

SANTOS, Rebeca Morais Silva


Doutoranda em Engenharia e Gestão de Recursos Naturais
Universidade Federal de Campina Grande
rebecamoraiscg@gmail.com

SOUSA, Francisca Moisés de


Doutoranda em Engenharia e Gestão de Recursos Naturais 485
Universidade Federal de Campina Grande
fran_moyses@hotmail.com

MELO, Mylena Olga Pessoa


Doutoranda em Engenharia e Gestão de Recursos Naturais
Universidade Federal de Campina Grande
mylenaopm@gmail.com

GARRIDO, Ingrid Paloma Conrado


Graduanda em Engenharia de Alimentos
Universidade Federal de Campina Grande
ingrid.paloma@estudante.ufcg.edu.br

RODRIGUES, Larissa Monique de Sousa


Doutoranda em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande
larissamonique@gmail.com

RESUMO
O objetivo deste trabalho foi o desenvolvimento de blends das polpas de acerola e
tangerina em pó obtidos por liofilização, e a caracterização do produto obtido quanto aos
parâmetros físico-químicos e colorimétricos. Para elaboração dos blends, adicionou-se
20, 40 e 60% de polpa de tangerina em relação à polpa de acerola (m/m), efetuando-se a
suficiente agitação até completa homogeneização das misturas. Em todas as formulações
foram adicionados 10% de maltodextrina DE 20. Os blends formulados foram
acondicionados em formas plásticas e congelados a -18 °C, durante 24 horas. A
desidratação foi realizada em liofilizador de bancada da marca Christ, modelo ALPHA
1-2 LDplus. As amostras congeladas foram acondicionadas nas bandejas do equipamento
e desidratadas na temperatura de -40°C, durante 48 horas. Após a liofilização, os blends
foram desintegrados e acondicionados em embalagem laminada. Através da metodologia
e das matérias-primas utilizadas foi possível produzir blends de acerola e tangerina em
pó de boa qualidade. Na caracterização físico-química, o aumento das concentrações de
polpa de tangerina no produto alterou os teores de umidade, sólidos totais e atividade de
água, mas não alterou os teores de acidez total titulável, sólidos solúveis totais, relação
SST/ATT e pH. Na análise colorimétrica, o aumento das concentrações de polpa de
tangerina nas formulações tornou as amostras mais claras com o aumento da
luminosidade (L*), reduziu a cromaticidade a* e aumentou a cromaticidade b*,
predominando as cores vermelha e amarela; e tornou ainda a coloração do produto mais
viva e atrativa para o consumidor.
2021 Gepra Editora Barros et al.

PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento de novos produtos, Conservação de alimentos,


Desidratação.

INTRODUÇÃO

O processamento de frutas com o objetivo de obtenção de polpa pode ser utilizado


no preparo de diversos produtos como, por exemplo, na elaboração de sucos ou néctares,
sorvetes, gelatinas, bebidas lácteas, mistura para bolos, alimentos infantis em geral,
principalmente na substituição dos ingredientes artificiais (BENEDETTI, 2015). As
polpas de frutas representam fonte de vitaminas, minerais e carboidratos solúveis, 486
algumas possuem conteúdos maiores de um ou de outro nutriente, devido a isso, a
formulação de blends pode ser utilizada com intuito de melhorar as características
nutricionais de determinados sucos (JAIN ET AL., 2014).
A elaboração de blends de frutas permite a criação de novos produtos com
características que podem ser escolhidas conforme o perfil do consumidor que se deseja
alcançar. Conforme a combinação escolhida pode-se ter produtos com maiores teores de
determinados nutrientes, com cores específicas, além de variados sabores e aromas
(LEMOS ET AL., 2013). Blends de polpas de frutas assumem uma posição de destaque
no setor de comercialização de sucos e néctares industrializados, caracterizando um novo
nicho de mercado e compondo produtos de elevado valor nutritivo (MORZELLE et al.,
2013). Segundo Moura et al. (2014) a formulação de blends é cada vez mais pesquisada
e inovadora, buscando o equilíbrio na junção de fatores que tenham como objetivo
proporcionar o enriquecimento nutricional e funcional, sem deixar de lado o aspecto
sensorial do produto.
Dentre as frutas promissoras para serem utilizadas no processamento de blends,
têm-se a acerola e a tangerina. A acerola (Malpighia punicifolia L.) tem como
característica polpa suculenta e casca protetora que, ao amadurecer, possui coloração
vermelha ou roxa, quando completamente amadurecida, dependendo da variedade. A
mudança de pigmento está ligada a mudanças bioquímicas complexas que envolvem
todos os seus principais compostos, como carotenos, tiamina, riboflavina, niacina, cálcio,
fósforo e vitamina C (MALEGORI, 2017).
Com relação à tangerina, apresenta uma grande diversidade de espécies, dentre elas
quatro grupos são fundamentais, as mexericas (C. deliciosa), as clementinas (C.
clementina), as satsumas (C. unshiu) e as tangerinas comuns (C. reticulata), além de
alguns híbridos destas, todos bastante apreciados pelos consumidores de frutas frescas
pela facilidade de descascamento e separação de gomos, sabor agradável, dentre outras
características (BASTIANEL et al., 2014).
Uma das técnicas de conservar os blends de frutas por um tempo longo é utilizar o
processo de secagem, dentre eles, por liofilização que, segundo Vieira et al. (2012),
agrega valor ao alimento por reter grande parte de seus nutrientes originais, uma vez que
emprega baixas temperaturas em seu processamento. Além disso, apresenta índices de
qualidade, como teor de retenção de vitamina C, capacidade de reidratação e a textura.
2021 Gepra Editora Barros et al.

O objetivo deste trabalho foi o desenvolvimento de blends das polpas de acerola e


tangerina em pó obtidos por liofilização, variando as concentrações de polpa de tangerina
(20%, 40% e 60%), e a caracterização do produto obtido quanto aos parâmetros físico-
químicos e colorimétricos.

MATERIAL E MÉTODOS

As polpas de frutas utilizadas na pesquisa (acerola e tangerina) foram adquiridas no


comercio local do município de Campina Grande, no estado da Paraíba, e foram
selecionadas unidades do mesmo lote, em boas condições de estocagem e embalagem e
487
dentro do prazo de validade. Foi utilizado o adjuvante de secagem, a maltodextrina
dextrose equivalente 20 (Mor Rex® 1920) da Corn Products Brasil, oriundo de Mogi
Guaçu, São Paulo, SP. As matérias-primas foram transportadas adequadamente, em
recipiente isotérmico, ao Laboratório de Engenharia de Alimentos (LEA) da
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Campina Grande, onde o estudo foi
desenvolvido.
As polpas de acerola e tangerina foram descongeladas em B.O.D. (Biochemical
Oxigen Demand) regulado a 6 °C. Para elaboração dos blends, adicionou-se 20, 40 e 60%
de polpa de tangerina em relação à polpa de acerola (m/m), efetuando-se a suficiente
agitação até completa homogeneização das misturas. Em todas as formulações foram
adicionados 10% de maltodextrina DE 20 (em relação à massa de acerola e tangerina),
executando-se a homogeneização em liquidificador doméstico até completa dissolução
do aditivo. Os blends formulados foram acondicionados em formas plásticas e congelados
em freezer a -18 °C pelo contato direto das amostras com o ar refrigerado, por um período
de 24 horas. A desidratação foi realizada em liofilizador de bancada da marca Christ,
modelo ALPHA 1-2 LDplus. Neste processo, as amostras congeladas foram
acondicionadas nas bandejas do equipamento e desidratadas na temperatura de -40°C,
durante 48 horas. Após o tempo de liofilização, os blends foram desintegrados com uso
de almofariz e pistilo e acondicionados em embalagem laminada, as quais foram seladas,
com o intuito de protegê-los da umidade e da luz.
Os blends em pó foram analisados, em triplicata, quanto aos parâmetros de
umidade, sólidos totais, pH, acidez total titulável (ATT) em ácido cítrico, sólidos solúveis
totais (SST), ratio, atividade de água e cor.
O teor de umidade foi determinado por secagem direta em estufa a 105 ºC,
utilizando-se 5 g de cada amostra pesada em cápsula de alumínio previamente tarada, por
24 horas. O teor de sólidos totais foi calculado através da diferença entre o peso da água
evaporada no procedimento experimental para umidade, e o peso da amostra. Para a
determinação do pH, foram homogeneizados 5 gramas de cada amostra com 50 mL de
água destilada em um Bécker, e o pH da suspensão resultante foi determinado através de
leitura direta utilizando potenciômetro modelo 0400 (Quimis, São Paulo, Brasil),
previamente calibrado com as soluções tampões de pH 7,0 e pH 4,0. A mesma solução
foi utilizada para a determinação de acidez total titulável, para qual foi titulada com
solução de NaOH 0,1N até pH 8,0. O teor de sólidos solúveis totais em ºBrix foi
determinado por meio de leitura direta por refratometria das soluções de amostras diluídas
2021 Gepra Editora Barros et al.

na proporção de 5 gramas pó para 50 mL de água destilada, utilizando refratômetro


portátil, previamente calibrado sob temperatura ambiente, com o uso de água destilada, e
a escala considerada foi de 0 a 32% corrigido para 20ºC. As análises descritas foram
realizadas segundo metodologias do Instituto Adolfo Lutz (2008).
O parâmetro ratio foi determinado por meio da razão dos SST e ATT, a atividade
de água a 25 °C foi determinada através da leitura direta das amostras em higrometro
Aqua-Lab, modelo 4TE da Decagon, e a cor foi determinada em espectrofotômetro
portátil Hunter Lab Mini Scan XE Plus, modelo 4500 L, obtendo-se os parâmetros L*, a*
e b*, em que L* define a luminosidade (L* = 0 – preto e L* = 100 – branco) e a* e b* são
responsáveis pela cromaticidade (+a* vermelho e –a* verde; +b* amarelo e –b* azul). A 488
partir destes valores, calcularam-se o croma (C*) pela fórmula C*= [(a*)2+(b*)2]0,5 e os
valores de ângulo de tonalidade (ângulo h°) pela fórmula h*= tan-1 b*/a*.
O delineamento experimental foi o de blocos inteiramente casualizados com três
tratamentos e três repetições, utilizando-se o software Assistat versão 7.7 beta. Os dados
foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e a comparação de médias foi feita
pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 1 estão apresentados os resultados obtidos da caracterização físico-


química dos blends das polpas de acerola e tangerina em pó obtidos por liofilização,
quanto aos parâmetros de umidade, sólidos totais e atividade de água, os quais sofreram
alterações com a adição de diferentes concentrações de polpa de tangerina na formulação,
pelo teste de Tukey a 5% de significância. No que se refere ao teste F, estes parâmetros
também apresentaram diferença estatística entre as amostras a 1% de significância.

Tabela 1: Médias dos parâmetros físico-químicos avaliados nos blends das polpas de acerola e
tangerina em pó obtidos por liofilização

Sólidos
Ensaio Umidade (%) Atividade de água
totais (%)

E1 4,96333 c 95,03667 a 0,18133 b


E2 5,16000 b 94,84000 b 0,20467 a
E3 5,31667 a 94,68333 c 0,20600 a
DMS 0,08141 0,08141 0,00344
Teste F 89,0842 ** 89,0842 ** 305,6471 **
E1, E2, E3 – Blends de polpa de acerola em pó respectivamente com 20, 40 e 60% de polpa de
tangerina; DMS – Diferença mínima significativa; **significativo respectivamente a 1% de
probabilidade pelo teste F; Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem estaticamente a
5% de probabilidade, pelo teste de Tukey.

A umidade observada no estudo variou entre 4,96333 e 5,31667%, em que a menor


e a maior média foram observadas no ensaio E1, com 20% de polpa de tangerina, e E2,
com 60% de tangerina, respectivamente, sendo possível constatar um aumento gradativo
2021 Gepra Editora Barros et al.

deste parâmetro com a elevação das concentrações de polpa de tangerina na formulação.


Santos et al. (2015a) observaram 4,12% de umidade em suco de abacaxi com beterraba
liofilizado; e Santos et al. (2015b), ao avaliarem blends de polpa de graviola e caju
desidratados por liofilização, verificaram uma faixa entre 4,37 e 5,37% de umidade.
Gonçalves et al. (2020), ao analisarem sucos em pó de sabor limão produzidos e
comercializados em Belém do Pará, observaram uma faixa média de teor de umidade
entre 0,68 e 6,36 %, a qual compreende as médias observadas no presente estudo. Os
autores ressaltaram a importância da determinação do teor de umidade, no que se refere
à verificação dos padrões de identidade e qualidade em produtos alimentícios, além do
auxílio na tomada de decisão nas diferentes etapas do processamento, como no 489
acondicionamento, embalagem e estocagem do produto. Cunha (2019), ao analisar sucos
de acerola verde desidratados com encapsulantes, no momento de abertura da amostra,
sem armazenamento, observou variação de médias de teor de umidade inferior à
encontrada no presente estudo, entre 2,29 e 3,81%.
Na determinação do teor de sólidos totais, foram observadas médias entre 94,68333
e 95,03667%. Por se tratar de um parâmetro determinado a partir da diferença entre o
peso total da amostra e o teor de água, apresentou comportamento contrário ao da
umidade, havendo uma redução gradativa com o aumento das concentrações de polpa de
tangerina na formulação. De acordo com o Anexo II da Instrução Normativa nº 37, de 1º
de outubro de 2018, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da
Secretaria de Defesa Agropecuária, a polpa de acerola in natura deve conter no mínimo
6% de sólidos totais (BRASIL, 2018). A diferença existente entre o padrão de sólidos
totais em polpa de acerola da legislação e os valores identificados no presente estudo está
associada à remoção da água presente na polpa da fruta pelo processo de secagem por
liofilização, que concentrou consideravelmente os sólidos presentes no material.
Em relação à atividade de água, apenas a formulação E1, com 20% de polpa de
tangerina, demonstrou diferença estatística a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey,
em relação às demais, apresentando a menor média (0,18133%). É importante ressaltar
que o teor de umidade e a atividade de água são parâmetros distintos, visto que o primeiro
representa a quantidade de água presente nos alimentos, e o segundo consiste na água
disponível nos alimentos para reações químicas e microbiológicas, respectivamente, não
sendo observado comportamento idêntico entre ambos para as formulações. Ainda assim,
foi possível constatar que a menor quantidade de polpa de tangerina adicionada na
formulação (20%) promoveu menores médias para os parâmetros referidos. Média
próxima às observadas no presente estudo foi reportada por Silva et al. (2016), ao
caracterizar blend de abacaxi com acerola liofilizado (0,28); por Santos et al. (2015a), ao
avaliarem suco de abacaxi com beterraba liofilizado (0,199); e por Santos et al. (2015b),
ao avaliarem blends de polpa de graviola e caju desidratados por liofilização (0,171 a
0,271).
Na Tabela 2 estão apresentados os resultados obtidos da caracterização físico-
química dos blends das polpas de acerola e tangerina em pó obtidos por liofilização,
quanto aos parâmetros de acidez total titulável em ácido cítrico, sólidos solúveis totais,
ratio (relação SST/ATT) e pH, em que é possível verificar que ambos não foram alterados
2021 Gepra Editora Barros et al.

com a adição de diferentes concentrações de polpa de tangerina na formulação, pelo teste


de Tukey, a 5% de significância e pelo teste F, a 1% de probabilidade.

Tabela 2: Médias dos parâmetros físico-químicos avaliados nos blends das polpas de acerola e
tangerina em pó obtidos por liofilização

Ensaio ATT (%) SST (ºBrix) SST/ATT pH

E1 5,51667 a 70,00 a 18,80094 a 3,72333 a


E2 5,51667 a 70,00 a 18,78439 a 3,72667 a
490
E3 5,51333 a 70,00a 18,80095 a 3,72333 a
DMS 0,0434 0,05413 0,34942 0,06785
Teste F 0,0370 0,0000 0,0141 * 0,0152 *
E1, E2, E3 – Blends de polpa de acerola em pó respectivamente com 20, 40 e 60% de polpa de
tangerina; ATT – Acidez Total Titulável; SST – Sólidos Solúveis Totais; DMS – Diferença
mínima significativa; **significativo respectivamente a 1% de probabilidade pelo teste F;
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem estaticamente a 5% de probabilidade,
pelo teste de Tukey.

As médias obtidas na determinação da acidez do produto em pó mantiveram-se


constante (5,51667%), não sendo observadas influências promovidas pela variação de
polpa de tangerina nas formulações. Araújo (2013) observou valor similar para acidez
titulável em polpa de acerola em pó obtida por liofilização, com média de 5,23%. De
acordo com o autor, ocorre o aumento da acidez em polpas em pó pelo processo de
desidratação que promove a manutenção dos ácidos orgânicos. Silva et al. (2016),
reportou valor de acidez superior (6,03%) ao caracterizar blend de abacaxi com acerola
liofilizado. Valores inferiores foram observados por Alcântara et al. (2018) em variedades
de tangerina comercializadas no Estado de Goiás, com média de 2,15% de acidez
titulável.
No teor de sólidos solúveis totais também não foram observadas variação com o
aumento das concentrações de polpa de tangerina na formulação, com média de 70,0 ºBrix
para todas as amostras. Silva et al. (2016) reportaram valor superior (77,33 ºBrix) ao
caracterizar blend de abacaxi com acerola liofilizado.
No estudo realizado por Araújo (2013), foi observado teor de sólidos solúveis totais
de 5,86 ºBrix e 90,0 ºBrix para polpa de acerola in natura e em pó (liofilizada),
respectivamente. De acordo com o autor, a adição de maltodextrina, também utilizada no
presente estudo, eleva as concentrações de sólidos solúveis totais em polpas liofilizadas.
Valores aproximados foram observados por Lopes (2015), em blends de frutas e
hortaliças em pó, com variação de 68,50 a 77,00 ºBrix. O autor associa o elevado teor de
sólidos solúveis nas amostras em pó à concentração destes presentes nas frutas utilizadas
(abacaxi, acerola, maçã e limão), bem como à adição da maltodextrina como agente
carreador e facilitador da secagem.
Lima et al. (2015) define o parâmetro ratio, razão entre o teor de sólidos solúveis
totais e o teor de acidez total titulável, como o grau de doçura de um fruto ou de seu
2021 Gepra Editora Barros et al.

produto, sendo possível evidenciar a partir deste o sabor predominante (doce ou ácido),
sendo possível ter uma ideia do equilíbrio entre os açúcares e a acidez presente no
produto, e quanto maior for esta razão, mais doces serão as frutas. Como não houve
variação dos sólidos solúveis e da acidez total titulável, os valores de ratio também
mantiveram-se constantes nas formulações dos blends das polpas de acerola e tangerina
em pó obtidos por liofilização, com média em torno de 18,80095. Por este resultado, foi
possível constatar que o sabor do produto em pó obtido tende a ser mais ácido do que
doce, indicando uma baixa patabilidade, podendo haver necessidade de adição de agentes
edulcorantes para o consumo, ficando a cargo da indústria produtora optar por
disponibilizar o produto adoçado ou não.
491
Silva et al. (2016) reportaram valores de ratio inferiores ao caracterizar blend de
abacaxi com acerola in natura (13,98) e liofilizado (12,81). Brasil et al. (2016) observaram
valores de ratio entre 6,04 e 9,81 para polpas de acerola congeladas comercializadas na
cidade de Cuiabá - MT. Oriente et al. (2018), ao avaliarem sucos industrializados e
refrescos em pó reconstituídos de diferentes marcas comercializadas no município de
Campina Grande - PB, obtiveram ratio de 1,50 para o suco industrializado e 0,24 para o
refresco em pó, ambos no sabor tangerina.
No que se refere ao pH, também não foram observadas variações entre as
formulações e os valores mantiveram-se na média de 3,72667. Valores aproximados de
pH para polpa de acerola (3,83) e blends (3,74) foram reportados por Gadelha et al.
(2019), ao desenvolverem blends de frutos tropicais à base de tamarindo; A partir destes
resultados, foi possível denominar os blends em estudo como ácidos, e de acordo com os
autores, para a indústria é preferível valores baixos de pH, constituindo-se um fator
favorável ao baixo favorecimento das atividades enzimáticas e desenvolvimento de
microrganismos. Oriente et al. (2018) observou médias de pH também próximas, porém
inferiores, em sucos industrializados (3,21) e refresco em pó reconstituído (2,95) sabor
tangerina; e Silva et al. (2016), em blend de abacaxi com acerola in natura e liofilizado
(3,52).
Na Tabela 3 encontram-se os resultados obtidos na caracterização física de
colorimetria dos blends das polpas de acerola e tangerina em pó obtidos por liofilização,
em que é possível observar que todos os parâmetros avaliados apresentaram diferença
entre as formulações a 5% de significância pelo Teste de Tukey, e a 1% de probabilidade
pelo Teste F, indicando que as variações de polpa de tangerina utilizadas exerceram
influência estatística no produto obtido.

Tabela 3: Médias dos parâmetros físicos avaliados nos blends das polpas de acerola e tangerina em pó
obtidos por liofilização

Luminosidade Cromaticidade Cromaticidade Ângulo de


Ensaio Croma (C*)
(L*) a* b* tonalidade (h*)

E1 57,20667 c 22,72000 a 24,73000 c 47,42562 c 33,58231 c


E2 59,29667 b 20,90667 b 26,87000 b 52,11463 b 33,75400 b
E3 61,77667 a 19,16333 c 27,78667 a 55,40754 a 34,04536 a
DMS 0,19028 0,08996 0,15401 0,09653 0,16895
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Teste F 2722,8382 ** 7361,8707 ** 1953,9382 ** 32525,5687 ** 36,1608 **


E1, E2, E3 – Blends de polpa de acerola em pó respectivamente com 20, 40 e 60% de polpa de tangerina; DMS
– Diferença mínima significativa; **significativo respectivamente a 1% de probabilidade pelo teste F; Médias
seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem estaticamente a 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey.

A análise colorimétrica demonstrou que os blends em pó apresentaram-se claros,


visto que as médias de luminosidade (L*), com variação entre 57,20667 e 61,77667, se
mostraram mais próximas de 100, que indica proximidade à cor branca. Foi possível
observar ainda a elevação do parâmetro L*, à medida que se aumentou as concentrações
de polpa de tangerina nas formulações, indicando que as amostras tornaram-se mais
claras.
Pelo resultado obtido para cromaticidade a*, as amostras tenderam à coloração 492
vermelha (+a), com faixa de 19,16333 a 22,72000, resultado coerente e já esperado,
considerando as cores características das frutas utilizadas para a elaboração do produto.
Foi observado ainda uma redução deste parâmetro com o aumento das concentrações de
polpa de tangerina nas formulações, devido esta apresentar coloração laranja, que é mais
clara quando comparada à cor vermelha da acerola, podendo ter ocorrido uma diluição ou
redução dos pigmentos desta cor.
Para a cromaticidade b*, observou-se que a coloração predominante foi a amarela
(+b), variando entre 24,73000 e 27,78667, havendo um aumento deste parâmetro com a
elevação da quantidade de polpa de tangerina nas formulações.
Silva et al. (2016), ao avaliar blend de abacaxi com acerola, observou luminosidade
de 28,32 para o blend in natura e 42,85 para o blend liofilizado, indicando que o processo
de liofilização promoveu o clareamento do produto. Os autores verificaram ainda que a
desidratação do produto aumentou significativamente as médias de intensidade de
vermelho (+a*), de 35,30 para 36,39, e reduziu a intensidade de amarelo (+b*), de 28,38
para 25,75.
Valores superiores de luminosidade (68,51 a 69,08) e inferiores de cromaticidade
a* (-2,35 a -2,20) e b* (7,89 a 8,53) foram observados por Rocha (2013), em sucos de
tangerina desidratados e formulados com 11% de maltodextrina, indicando coloração
clara, com leve tendência esverdeada e predominância de cor amarela.
Foi observado aumento no ângulo de tonalidade (h*) e na croma c*, comportamento
positivo, visto que valores elevados de c* indicam maior vivacidade da coloração no
produto, e consequentemente maior atratividade sensorial, e o ângulo de tonalidade
representa a cor perceptível no material (Oliveira et al., 2014). As médias do ângulo de
tonalidade variaram de 47,42526 a 55,40754, e os valores de croma c* demonstraram
uma faixa de 33,58231 a 34,04536. Lopes (2015) observou variação superior de 105,75
a 95,43 para o ângulo h* e inferior de 9,00 a 16,77 para croma c*, em blends em pó de
frutas e hortaliças obtidos por otimização.

CONCLUSÕES

A partir da metodologia e das matérias-primas utilizadas foi possível produzir


blends das polpas de acerola e tangerina em pó de características aceitáveis e de boa
qualidade. Na caracterização físico-química, o aumento das concentrações de polpa de
tangerina nas formulações promoveu alterações nos teores de umidade, sólidos totais e
atividade de água, mas não alterou os teores de acidez total titulável, sólidos solúveis
totais, ratio (relação SST/ATT) e pH. Na análise física colorimétrica, verificou-se que o
aumento das concentrações de polpa de tangerina nas formulações tornou as amostras
2021 Gepra Editora Barros et al.

mais claras com o aumento da luminosidade (L*), promoveu a redução da cromaticidade


a* e o aumento da cromaticidade b*, predominando as cores vermelha e amarela; além
disso, tornou a coloração do produto mais viva e atrativa para o consumidor.
Para trabalhos futuros, sugere-se a aplicação de testes sensoriais para avaliar a
aceitação do produto e a influência das variações realizadas nas formulações na percepção
do consumidor.

REFERÊNCIAS
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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 45

CARACTERIZAÇÃO IN SILICO DA PROTEÍNA RELACIONADA


À PATOGÊNESE 6 EM Manihot esculenta Crantz.
ALBUQUERQUE, Hilçana Ylka Gonçalves
Pós-graduanda em Ciências Agrárias
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
hilsana.goncalves@gmail.com

SILVA, Simone Alves


Drª em Melhoramento Genético Vegetal
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
496
sas@ufrb.edu.br

OLIVEIRA, Francielly Carvalho


Mestra em Ciências Agrárias
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
francielly-carvalho@outlook.com

CASTRO, Jacqueline Araújo


Drª em Genética e Biologia Molecular
Departamento de EBTT do IF-BAIANO Governador Mangabeira
jacqueline.castro@ifbaiano.com

PEREIRA, Monikuelly Mourato


Drª em Engenharia Agrícola
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
monikuelly@hotmail.com

RESUMO
Objetivou-se caracterizar in silico em nível de genes e proteínas a família das PR-6 em
Manihot esculenta C. Foram identificadas nove genes e suas respectivas proteínas PR-6
no genoma da espécie, depositadas no PHYTOZOME V13. A predição do ponto
isoelétrico (pI), peso molecular (MW) e grau médio de hidropaticidade (GRAVY) foram
obtidas usando o servidor Expasy ProtParam. A predição do peptídeo sinal (PS) e da
localização subcelular foram realizadas nos servidores SignalP e DeepLoc. A
identificação de locais de Fosforilação e N-glicosilação foram feitos nos servidores
NetPhos e NetNGlyc. No PFAM foi identificado o domínio funcional conservado nas
MePR-6. As nove proteínas foram chamadas neste trabalho de MePR-6a, MePR-6b,
MePR-6c, MePR-6d, MePR-6e, MePR-6f, MePR-6g, MePR-6h e MePR-6i. O pI e o MW
foi variável de 4,98 a 8,49 e 17,60 a 19,99 kDa, com o PS composto de 24 a 26 resíduos
de aminoácidos na região N-terminal das moléculas. Apenas três das noves MePRs
apresentaram um GRAVY negativo (-), indicando que são hidrofílicas. Todas
apresentaram previsão de endereçamento para o Lisossomo/Vacúolo. O número de sítios
de fosforilação variou dentre a MePR-6i com 25 sítios e a MePR-6b com 30 sítios, apenas
a MePR-6d, MePR-6e, MePR-6h e MePR-6i não apresentaram sítios de N-glicosilação.
O mesmo domínio funcional (PFAM 00188) foi conservado em todas as MePR-6. Estes
resultados auxiliarão no andamento de futuras pesquisas com as MePR-6, visando
desenvolver estratégias de controle das moléstias de importância econômica na cultura.

PALAVRAS-CHAVE: Família Gênica, Mandioca, Caracterização molecular.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

As plantas são constantemente expostas a ataques de fitopatógenos que


comprometem a sua sobrevivência, levando a uma redução significativa no rendimento
anual de algumas culturas, representando uma séria ameaça à segurança alimentar
(CRAMER et al., 2011; ROUX et al., 2014). Apesar de serem seres sésseis, as plantas
possuem mecanismos de defesa, receptores imunes que ativam respostas eficazes na
detecção de microrganismos (BOCCARDO et al., 2019).
De início, os elicitores, são reconhecidos quando a planta é atacada, e nesta
ocasião, os Padrões Moleculares Associados a Micróbios ou a Patógenos, MAMPs
(Microbe-Associated Molecular Pattern) e PAMPs (Pathogen-Associated Molecular
Pattern), são ativados e reconhecidos pelos Receptores de Reconhecimento de Padrões – 497
PRRs (Pattern Recognition Receptors) do sistema imune inato das plantas. Vários
MAMPs e/ou PAMPs e seus PRRs correspondentes já foram identificados, os elicitores
gerais reconhecidos são a flagelina, fator de alongamento Tu (EF-Tu), peptidoglicanos,
lipopolissacarídeos, Ax21 (ativador da imunidade mediada por XA21 no arroz), quitina
fúngica e β-glucanos dos oomicetos, reconhecidos pelos PRRs localizados na superfície
das plantas (NEWMAN et al., 2013).
Este reconhecimento, estimula nas plantas respostas imunológicas que levam a
ativação das vias de defesa, Imunidade Desencadeada por Padrões – PTI (do inglês
Pattern-Triggered Immunity) ou a Imunidade Ativada por Efetores – ETI (do inglês
Effector-triggered Immunity) (JONES; DANGL 2006). Após este reconhecimento, uma
série de respostas imunológicas nas plantas são desencadeadas, como a produção de
Espécies Reativas de Oxigênio (ERO), acúmulo do ácido salicílico, ácido jasmônico,
auxinas e giberelinas, bem como, das fitoalexinas e das Proteínas Relacionadas à
Patogênese (Proteínas-PR) (PARK et al., 2004; VAN LOON et al., 2006; KAUR et al.,
2017; BOCCARDO et al., 2019).
As proteínas-PR foram inicialmente classificadas em 17 classes distintas (PR-1 a
PR-17), mas dois novos membros (PR-18 e PR-19) foram adicionados à lista
(IRIGOYEN et al., 2020). Estas estão presentes em baixa concentração nas plantas e
induzidas em quantidades maiores em situações patológicas. Algumas destas proteínas
acumulam-se localmente em resposta a infecções, levando a uma Resposta Hipersensível
- RH, enquanto outras são induzidas sistemicamente, envolvidas na Resistência Adquirida
Sistemicamente – RAS, que confere imunidade subsequente, promovendo a formação de
barreiras químicas contra um amplo espectro de fitopatógenos (KINKEMA et al., 2000;
BOCCARDO et al., 2019).
Uma das principais família gênica desta classe são as PR-6, conhecidas como
inibidores de proteinase (SELS et al., 2008; MYAGMARJAV et al., 2017). Esta família
é constituída por pequenas proteínas com uma massa molecular variável de 8–20 kDa que
inibem enzimas proteolíticas tanto de origem animal quanto fúngica, amplamente
difundidas em monocotiledôneas e dicotiledôneas (RAKWAL et al., 2001; SELS et al.,
2008; MYAGMARJAV et al., 2017). É uma família de proteínas-PR bem caracterizada
na cultura da batata (Solanum tuberosum L.) e do tomate (Solanum lycopersicum L.)
(RAKWAL et al., 2001).
Na mandioca (Manihot esculenta Crantz), por ser uma das principais fontes de
carboidratos dos países em desenvolvimento, consumida por quase 800 milhões de
pessoas em todo o mundo, especialmente na África, onde é um alimento básico para 500
milhões de pessoas (FAO 2018; LYONS et al., 2021), a caracterização de novos alvos
moleculares, principalmente de proteínas, tem permitido compreender mecanismos
2021 Gepra Editora Barros et al.

moleculares que regulam as respostas do sistema imune ao ataque das principais moléstias
que acometem a cultura.
Por isso, a caracterização tornando-se uma atividade fundamental para o
desenvolvimento de estratégias de controle, pois permite ao pesquisador sabe quais alvos
moleculares estão presentes no genoma da espécie-alvo e como são regulados em resposta
ao ataque de moléstias. Desta forma, é possível manipular estes alvos moleculares no
genoma da espécie de interesse para que haja uma melhor resposta imune ao fitopatógeno
de importância econômica.
O constante investimento em projetos de desenvolvimentos de algoritmos e
tecnologias de sequenciamento no genoma de referência de M. esculenta, permitiu
estimar um tamanho aproximado de 669 Mbp, distribuído em 18 cromossomos (LYONS
et al., 2021). Estas informações foram úteis para realização deste trabalho, que teve como 498
objetivo caracterizar in silico a família das PR-6 em M. esculenta, em nível de genes e
proteínas.

MATERIAL E MÉTODOS

Análise in silico de genes MePR-6

Foram identificados um total de nove genes PR-6 (Manes.10G089700,


Manes.07G050800, Manes.07G050900, Manes.02G187900, Manes.10G089800,
Manes.10G090000, Manes.07G050200, Manes.02G187700, Manes.10G089900),
presentes no Banco de Dados de Genomas PHYTOZOME Versão 13.
(https://phytozome.jgi.doe.gov/pz/portal.html), através do acesso ao genoma de
referência de Manihot esculenta Crantz, disponível na versão 6, nesse servidor.
A partir disso, foi realizado a análise estrutural dos genes PR-6 (íntrons/éxons) e
a identificação do painel de leitura aberto – ORF (do inglês Open Reading Frames) por
meio do servidor ORFfinder (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/orffinder/), que busca
quadros de ORFs por meio da inserção de sequência de nucleotídeos obtidas da biblioteca
de DNA em formato FASTA.

Análise in silico de proteínas MePR-6

Ainda no PHYTOZOME v. 13 (https://phytozome.jgi.doe.gov/pz/portal.html),


por meio do acesso ao genoma de Manihot esculenta Crantz, v. 6, foram identificadas
também as respectivas nove proteínas PR-6, chamadas neste trabalho de MePR-6a (ID:
10G089700), MePR-6b (ID: 07G050800), MePR-6c (ID: 07G050900), MePR-6d (ID:
02G187900), MePR-6e (ID: 10G089800), MePR-6f (ID:10G090000), MePR-6g (ID:
07G050200), MePR-6h (ID: 02G187700) e MePR-6i (ID 10G089900). Esta
nomenclatura foi dada seguindo a regra: sigla do nome científico da espécie, seguido da
família gênica da proteína-PR mais uma letra do alfabeto.
Para a caracterização química destas proteínas, foram analisados o ponto
isoelétrico - pI (do inglês isoelectric point), que corresponde ao pH de uma molécula,
peso molecular - MW (do inglês molecular weight) e grau médio de hidropaticidade -
GRAVY (do inglês grand average of hydropathicity), que vai do positivo (+) indicando
regiões hidrofóbicas (apolar) ao negativo (-) indicando regiões hidrofílicas (polar), com
auxílio do servidor ExPASy ProtParam (https://web.expasy.org/protparam/)
(GASTEIGER et al., 2005). Também foi realizado a previsão do Peptídeo Sinal (PS) e da
localização subcelular com o auxílio dos servidores SignalP 1.1
(http://www.cbs.dtu.dk/services/SignalP/) (ARMENTEROS et al., 2019) e DeepLoc 1.0
2021 Gepra Editora Barros et al.

(http://www.cbs.dtu.dk/services/DeepLoc/) (ARMENTEROS et al., 2017). Os servidores


NetPhos 3.1 (http://www.cbs.dtu.dk/services/NetPhos/) (BLOM et al., 1999) e NetNGlyc
1.9 (http://www.cbs.dtu.dk/services/NetNGlyc/) foram usados para identificar possíveis
locais de fosforilação (Ser/Thr/Tyr) e possíveis locais de N-glicosilação (Tipo Asn-X-
Ser/Thr), respectivamente. Para a identificação da região de domínio proteico conservado
foi utilizado a plataforma Pfam 32.0 (https://pfam.xfam.org/) (EL-GEBALI et al., 2019).
Todas estas análises foram realizadas pela inserção das sequências proteicas
MePR-6, no formato de letras no servidor ExPASy ProtParam e formato FASTA nos
demais respectivos servidores supracitados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO 499

Caracterização in silico dos genes MePR-6

Foram identificados nove genes precursores das proteínas-PR 6 na cultura da


mandioca, chamados neste trabalho de MePR-6a (Manes.10G089700), MePR-6b
(Manes.07G050800), MePR-6c (Manes.07G050900), MePR-6d (Manes.02G187900),
MePR-6e (Manes.10G089800), MePR-6f (Manes.10G090000), MePR-6g
(Manes.07G050200), MePR-6h (Manes.02G187700), MePR-6i (Manes.10G089900).
O agrupamento de genes em uma determinada família gênica de PRs é dado
seguindo os critérios afinidade sorológica, peso molecular próximo e similaridade parcial
na sequência de aminoácidos, conforme proposto pelo virologista Van Loon que
identificou esta classe de proteínas pela primeira vez em folhas de uma cultivar de tabaco
(Nicotiana tabacum L.) que produziam resposta hipersensível à inoculação com o vírus
do mosaico do tabaco (Tabacco Mosaic Virus - TMV) (VAN LOON; VAN KAMMEN,
1970; GIANINAZZI et al., 1970; VAN LOON et al., 2006).
O número de genes encontrado neste trabalho pode diferir de outros trabalhos em
M. esculenta, devido as diferentes formas que foram adquiridos e Genbank utilizado.
Recentemente, Irigoyen et al. (2020), identificaram três genes precursores das proteínas
PR-6 no genoma de M. esculenta (Manes.01G200000; Manes.09G094800 e
Manes.15G037300), oriundo de um trabalho de expressão gênica realizado em quatro
acessos (COL2246, COL1468-CMC40, 60444 (TMS60444/NGA11) e TME3),
pertencentes a coleção do International Center for Tropical Agriculture – CIAT.
Em outras espécies, como no trigo (Triticum spp. L.) e no arroz (Oryza sativa L.),
foram identificados números próximos de genes ao identificado no presente trabalho, os
autores caracterizaram nove e seis genes PR-6, respectivamente, em ambas as culturas
(MUTHUKRISHNAN et al., 2001).
No presente trabalho, os nove genes MePR-6 foram identificados em três diferentes
grupos de ligações, nos cromossomos dois, sete e dez, sendo que a maior parte, quatro
deles, se encontram no cromossomo dez (Tabela 1). Já na pesquisa realizada por Irigoyen
et al. (2020), os três genes PR-6 (Manes.01G200000; Manes.09G094800 e
Manes.15G037300), foram caracterizados em diferentes grupos de ligação, no 1, 9 e 15.
Este tipo de caracterização é de suma importância, pois permite identificar genes
responsivos a diferentes tipos de estresse. Hoje, sabe-se que os genes precursores das
proteínas-PR respondem não apenas a estresse de origem biótica (IRIGOYEN et al.,
2020), como também aos de origem abiótica, por exemplo ao estresse hídrico e salínico,
por exemplo (SINGH et al., 2013; WU et al., 2016).
Os nove genes MePR-6 apresentaram apenas 1 região exônica sem íntrons (Tabela
1), com um painel de leitura aberto – ORF (do inglês Open Reading Frames) variável de
483 a 501 pb (Tabela 1). Evolutivamente, acredita-se que as regiões de íntrons vão se
2021 Gepra Editora Barros et al.

perdendo ao longo do processo evolutivo, sendo esse evento mais provável que o ganho
(SHI; DU et al., 2020). Logo os genes com apenas regiões exônicas são mais primitivos
em relação aos genes com regiões de íntrons, além de tornarem o processo de tradução
mais rápido. De acordo com o trabalho realizado por Lu et al., (2018), o número de éxons
em genes-PR, parece não variar muito, sendo geralmente, variável de 1 a 2, separados por
apenas uma região intrônica.

Tabela 1. Características dos genes PRs 6 presentes no genoma de Manihot esculenta


C. de acordo com PHYTOZOME V 13.

Nome do Família Localização Quantidade Quantidade


Gene ID ORF
Gene Gênica Cromossômica Éxons Íntrons 500

Cromossomo
MePR-6a PR-6 Manes.10G089700 501 1 0
10:18520987..18521487
Cromossomo
MePR-6b PR-6 1 0
Manes.07G050800 07:5273886..5274383
498
Cromossomo
MePR-6c PR-6 1 0
Manes.07G050900 07:5284240..5284737
498
Cromossomo
MePR-6d PR-6 498 1 0
Manes.02G187900 02:15279333..15279946
Cromossomo
MePR-6e PR-6 492 1 0
Manes.10G089800 10:18533279..18533826
Cromossomo
MePR-6f PR-6 498 1 0
Manes.10G090000 10:18555892..18556629
Cromossomo
MePR-6g PR-6 483 1 0
Manes.07G050200 07:5201765..5202373
Cromossomo
MePR-6h PR-6 498 1 0
Manes.02G187700 02:15272854..15273601
Cromossomo
MePR-6i PR-6 486 1 0
Manes.10G089900 10:18552806..18553303

Caracterização in silico das proteínas MePR-6

O número de aminoácidos foi muito próximo entre todos os genes MePR-6,


variando de 160 (MePR-6g) a 166 (MePR-6a). A predição do ponto isoelétrico (pI) das
nove sequências proteicas com peptídeo sinal (PS) variou de 4,98 (MePR-6e) a 8,49
(MePR-6a); com peso molecular (MW) de 17,60 kDa (MePR-6i) a 19,99 kDa (MePR-
6d). Sem o PS, o pI variou de 4,54 (MePR-6e) a 7,76 (MePR-6d); e o MW de 14,93
(MePR-6e) a 15,93 kDa (MePR-6a). O tamanho do PS variou de 24 a 26 resíduos de
aminoácidos, onde todas apresentaram probabilidade acima de 60% de exportação para
lisossomos e vacúolos celulares, com um índice de hidropaticidade médio - GRAVY (do
inglês Grand average of hydropathicity) positivo (+) indicando a presença de regiões
hidrofóbicas (apolar) nas proteínas MePR-6b, MePR-6c, MePR-6d, MePR-6f, MePR-6h
e MePR-6i (0,265 a 0, 368), e nas demais, um hidropaticidade média negativo (-), com
regiões hidrofílicas (polar), variando de -0,275 a -368 (Tabela 2).
Geralmente, esta classe de proteínas apresenta baixo peso molecular, ponto
isoelétrico e grau médio de hidropaticidade versáteis, o que permite a sua presença tanto
no meio extra e intracelular interagindo com outras moléculas (JIANG et al., 2015;
BREEN et al., 2017). Quanto o seu direcionamento para lisossomos e vacúolos, assim
2021 Gepra Editora Barros et al.

como é o caso da família das PR-1, as MePR-6 podem estar envolvidas na degradação de
compostos produzidos pelos fitopatógenos, advindos do meio extracelular, bem como de
proteínas de membrana (BREEN et al., 2017). E, este direcionamento é determinado pela
presença do Peptídeo sinal na região N-terminal de todas as sequências proteicas MePR-
6, pois determinam a entrada dessas proteínas na clássica via de transporte intracelular,
dessa forma, auxiliando na sinalização da localização subcelular das MePR-6.

Tabela 2. Características das Proteínas Relacionadas a Patogêneses 6 presentes no


genoma de Manihot esculenta C. pI: ponto isoelétrico; Mw: peso molecular em Dalton
(kDa); SP: peptídeo sinal e GRAVY: grau médio de hidropaticidade.
pI
Tamanho Mw Probabilidade de Tamanho 501
Proteína ID Proteína com/sem GRAVY
Proteína com/sem PS exportação (%) PS (aa)
PS
MePR- 18,65/15,9 Lisossomo/Vacúol
10G089700 166 8,49/7,74 1—25 -0,275
6a 3 o 69,36%
MePR- 17,70/15,1 Lisossomo/Vacúol
07G050800 165 6,00/5,35 1—25 0,265
6b 7 o 72,55%
MePR- 17,70/15,1 Lisossomo/Vacúol
07G050900 165 6,00/5,35 1—25 0,265
6c 7 o 72,55%
MePR- 19,99/15,3 Lisossomo/Vacúol
02G187900 165 8,17/7,76 1—25 0,35
6d 7 o 66,34%
MePR- 18,16/15,2 Lisossomo/Vacúol
10G089800 163 4,98/4,54 1—26 -0,374
6e 7 o 68,55%
17,91/15,3 Lisossomo/Vacúol
MePR-6f 10G090000 165 5,79/5,47 1—25 0,368
3 o 68,96%
MePR- 17,90/15,2 Lisossomo/Vacúol
07G050200 160 6,06/5,77 1—24 -0,368
6g 7 o 60,26%
MePR- 18,04/15,4 Lisossomo/Vacúol
02G187700 165 5,81/5,10 1—25 0,258
6h 3 o 68,84%
17,60/14,9 Lisossomo/Vacúol
MePR-6i 10G089900 161 5,79/5,03 1—25 0,306
3 o 66,28%

Ademais, as nove proteínas MePR-6 apresentaram múltiplos sítios de fosforilação


ao longo de toda as proteínas, contendo de 25 (MePR-6i) a 30 (MePR-6b) sítios de
Ser/Thr/Tyr. No entanto, apenas as proteínas MePR-6a, MePR-6b, MePR-6c, MePR-6f e
MePR-6g, apresentaram 2, 1, 1, 1, 1 sítios de N-glicosilação. A presença de múltiplos
sítios de fosforilação nas nove MePR-6 já era esperada, pois esta modificação pós-
traducional, é a mais frequente nas proteínas dos seres vivos (KRUGER et al., 2006) e
evidencia a evolução de um genoma (VLASTARIDIS et al., 2017). Diferente da presença
de sítios de N-glicosilação que não é tão comum, além de ser exclusiva nos resíduos de
asparagina (N), no entanto, é uma ligação tão importante quanto à fosforilação,
envolvidas na modulação de diversas estruturas e funções das proteínas eucarióticas
(MEDZIHRADSZKY, 2008) (Tabela 3).

Tabela 3. Modificações Pós-traducionais em Manihot esculenta C. das Proteínas Relacionadas


a Patogêneses 6.
Sítios de
Proteína ID Proteína Sítios de fosforilação N-
glicosilação
2021 Gepra Editora Barros et al.

T3, S6, Y11, T15, S22, S27, Y31, T34, S45,


T52, S57, S61, S74, S77, Y79, S87, Y88,
MePR-6a 10G089700 N50, N59
Y105, Y106, Y108, Y121, T129, S137, S147,
Y150, Y151, Y161
S7, S22, S27, Y31, T37, S40, T43, T54, T55,
T61, Y63, T66, S78, S80, S87, T92, S102,
MePR-6b 07G050800 N53
Y106, Y107, Y109, T111, S113, T120, Y122,
T123, S129, S130, T132, Y153, Y165
S7, S22, S27, Y31, T37, S40, T43, T54, T55,
T61, Y63, T66, S78, S80, T92, S102, Y106,
MePR-6c 07G050900 N53
Y107, Y109, T111, S113, T120, Y122, T123,
S129, S130, 132T, Y153, Y165 502
S7, S22, S27, Y31, S40, Y52, T54, T58, Y63,
T65, T66, S78, T92, S98, S102, Y107, Y109,
MePR-6d 02G187900
T111, Y122, T123, S129, S130, T138, Y153,
S154, Y165
S7, S15, T20, S23, T28, Y32, S35, T49, Y57,
Y61, S67, S74, Y78, S86, T92, Y104, Y105,
MePR-6e 10G089800
Y107, S109, S111, S114, Y121, T122, S129,
T138, T145, Y151, Y163
S7, S22, S27, Y31, S40, Y52, T54, T55, Y63,
S65, T66, S78, T92, S102, Y107, Y109, T111,
MePR-6f 10G090000 N5
Y122, T123, S129, S130, S132, T138, Y153,
S154, Y165
T10, S15, S21, S23, S26, Y30, S44, S47, T51,
Y55, Y59, S62, S73, Y74, Y77, Y85, T95, S99,
MePR-6g 07G050200 N49
Y104, Y106, S108, S110, Y119, T120, S127,
T145, Y148
S7, S22, S27, Y31, S40, Y52, T54, T55, Y63,
T66, S78, T92, Y106, Y107, Y109, T111,
MePR-6h 02G187700
S113, T120, Y122, T123, S129, S130, S132,
T138, Y153, S154, Y165
S7, S22, S27, Y31, S40, Y52, T54, T55, Y63,
S65, T66, S78, T92, Y103, Y105, T107, Y118,
MePR-6i 10G089900
T119, S125, S126, S128, T134, Y149, S150,
Y161

As nove MePR-6 também apresentaram o mesmo domínio funcional conservado,


de proteínas secretória rica em cisteínas. A presença de um ou mais domínios em uma
proteína é quem determina a função bioquímica que a proteína exerce no organismo.
Assim, a presença de abundantes cisteínas, faz com que estas proteínas sejam resistentes
a atividade proteolítica, um processo de degradação por enzimas proteases ou por digestão
intramolecular (GUO et al., 2005). Tal característica permite as proteínas se adaptarem
dentro dos vacúolos e que não sofram degradação, mas participem da degradação as
moléculas dos invasores (Tabela 4).
Além disso, essa família gênica é caracterizada como inibidores de proteinase.
Entretanto, estudos sobre a família das PR-6 ainda são incipientes, principalmente sobre
o seu papel biológico. Até o momento, sabe-se que se acumulam após a infecção por
2021 Gepra Editora Barros et al.

fitopatógenos, atuam como agentes antifúngicos e são inibidores de proteinase,


implicados na defesa contra insetos, microrganismos e nematoides.
Ademais, as PR-6 são homólogas a família gênica das PR-1, por apresentarem o
mesmo domínio funcional CAP (PFAM 00188). Este domínio, compreende nove
subfamília das quais a família de proteínas secretória rica em cisteínas foi identificada,
presente nas nove MePR-6 do presente estudo. Além disso, aproximadamente 150
aminoácidos e proteínas contendo o domínio CAP são representadas em mais de 2500
espécies, incluindo bactérias, fungos, plantas e animais, no sistema imunológico (BREEN
et al., 2017). Com base nisso, o estudo da família das PR-1 que apresentem o domínio
funcional CAP pode ser usado como referências para futuros estudos com as PR-6.

Tabela 4. Características da família de domínios proteicos conservados em Manihot esculenta 503


C. nas Proteínas Relacionadas a Patogêneses 6. aa: aminoácidos.
Domínio Intervalo Domínio Proteico conservado
ID Proteína
Funcional (PFAM) conservado (aa) Família
Família de proteínas secretória
10G089700 PFAM 00188 32:150
rica em cisteína
Família de proteínas secretória
07G050800 PFAM 00188 32:152
rica em cisteína
Família de proteínas secretória
07G050900 PFAM 00188 32:152
rica em cisteína
Família de proteínas secretória
02G187900 PFAM 00188 32:153
rica em cisteína
Família de proteínas secretória
10G089800 PFAM 00188 33:151
rica em cisteína
Família de proteínas secretória
10G090000 PFAM 00188 32:151
rica em cisteína
Família de proteínas secretória
07G050200 PFAM 00188 31:148
rica em cisteína
Família de proteínas secretória
02G187700 PFAM 00188 32:151
rica em cisteína
Família de proteínas secretória
10G089900 PFAM 00188 32-147
rica em cisteína

CONCLUSÕES

Os achados neste trabalho mostram um número significativo de genes e proteínas MePR-


6 no genoma de M. esculenta v.6, um total de nove. Contudo, este número pode variar de
acordo com o GenBank utilizado, formas de filtros empregados e versão do genoma foi
utilizado.
As características proteicas foram versáteis quanto ao pI, MW e GRAVY,
corroborando com o que tem sido relatado para esta classe de proteínas ao longo dos anos.
A presença de sítios que sofreram modificações pós-traducionais tanto de Fosforilação
quanto de N-glicosilação, modulam a estrutura e função desta classe de proteínas.
Adicionalmente, a presença de domínio funcional PFAM 00188 garantem que as MePR-
6 sejam resistentes as atividades de degradação e dessa forma, participem da degradação
de outras moléculas sem sofrerem danos.
Estes resultados auxiliarão no maior entendimento da funcionalidade das MePR-6
em futuros estudos de modelagem molecular por homologia e até mesmo de possíveis
dockings, permitindo prevê a associação de MePR-6 com outras moléculas de interesse,
2021 Gepra Editora Barros et al.

tornando possível manipular estes alvos moleculares no genoma da espécie para que haja
uma melhor resposta imune aos fitopatógenos de importância econômica.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 46
CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DE FRUTOS DE CAJU E MANGA

FERREIRA, João Paulo de Lima


Pós-graduando em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande
joaop_l@hotmail.com

SILVA, Semirames do Nascimento


Pós-Doutoranda em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande/UFCG/CNPq
semirames.agroecologia@gmail.com
508

GOMES, Josivanda Palmeira


Professora do Departamento de Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande
josivanda@gmail.com

PAIVA, Yaroslávia Ferreira


Pós-graduanda em Engenharia de Processos
Universidade Federal de Campina Grande
yaroslaviapaiva@gmail.com.br

FRANÇA, Kevison Romulo da Silva


Pós-graduando em Proteção de Plantas
Universidade Federal de Alagoas
kevsfranca@hotmail.com

RESUMO

As frutas tropicais são alimentos ricos nutricionalmente. São comumente consumidas in


natura, uma vez que suas características de cor, textura, aroma e propriedades nutricionais
podem ser mais bem apreciadas nestas condições. O caju e a manga são frutos bastante
apreciados pela população brasileira, com boa aceitação no mercado devido ao sabor e
textura agradáveis ao paladar do consumidor, sendo utilizados em grandes na forma in
natura de polpas, geleias, doces, sorvetes, entre outras. Tem-se como objetivo geral
determinar o teor de umidade de frutos de caju e manga e estudar as propriedades
químicas como pH, cinzas, atividade de água, acidez total e sólidos solúveis totais (ºBrix).
O teor de umidade (%) foi determinado pelo método padrão em estufa na temperatura de
105 °C; as cinzas (%) foram determinadas em mufla a 550 °C; atividade de água foi
analisada em equipamento Aqualab modelo 3TE; acidez total (AT%) por titulometria;
sólidos solúveis totais SST (°Brix) através de refratômetro; pH foi medido em pHmetro.
A relação SST/ATT (Ratio) foi determinada pela divisão direta dos sólidos solúveis totais
pela acidez total. Com os dados experimentais foram calculadas as médias dos resultados
obtidos. Os frutos de caju e manga apresentam alto teor de umidade e atividade de água,
baixa acidez e pH foi classificado como ácido. A quantidade de cinzas foi semelhante ao
da literatura citada. Alta relação SST/AT foi observada nos frutos, com destaque para os
frutos de manga.

PALAVRAS-CHAVE: Anacardium occidentale, composição, Mangifera indica.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

O consumo de frutas tem sido associado a uma dieta saudável no mundo inteiro,
sendo que governos nacionais e internacionais têm se dedicado à implementação de
políticas nutricionais e campanhas educacionais, para conscientizar a população de
aumentar o consumo desses produtos (BASELICE et al., 2014). Desde a colheita,
iniciam-se os desafios dos produtores de frutas, que procuram entregar produtos frescos
e de alta qualidade para o mercado. Práticas de pós-colheita adequadas para um
determinado produto servem para estabelecer cadeias de frio que mantêm temperaturas
ótimas, umidade relativa e desaceleração das taxas de respiração e produção de etileno,
utilizando embalagens apropriadas e seguindo protocolos de segurança e saneamento 509
(WATSON et al., 2015).
O Brasil é um grande produtor mundial de frutas in natura; no entanto, verificam-
se altos índices de perdas pós-colheita, incluindo o não aproveitamento de excedentes de
safra, particularmente de frutos sazonais. O assunto exige ampla discussão e decisões
urgentes de se otimizar o processo, diminuindo perdas, viabilizando o transporte e a
distribuição durante todo o ano, uma vez que a agricultura exige maior produtividade e
qualidade dos frutos, minimização dos custos e ganhos de competitividade,
principalmente, em se tratando de um produto de exportação (ALMEIDA et al., 2006).
Os frutos nativos brasileiros estão entre os mais saborosos e nutritivos; entretanto,
muitos deles são conhecidos apenas pela população local e/ou aparecem sazonalmente
em regiões específicas limitando este recurso sem que haja um reconhecimento da
produção, apesar da existência de várias espécies frutíferas (SANTOS et al., 2012). Neste
contexto podemos ressaltar a existência de vários produtos, como: caju, laranja, goiaba,
seriguela, umbu-cajá, entre outros.
O caju (Anacardium occidentale) e a manga (Mangifera indica L.) são frutos muito
apreciados, com boa aceitação no mercado, devido ao sabor e textura agradáveis ao
paladar do consumidor, sendo utilizadas em grandes variedades de alimentos e produtos
(SILVA, 2020). A manga teve origem na Ásia, possuindo inúmero cultivares, é uma das
mais importantes frutas tropicais e destaca-se entre as 10 frutíferas mais cultivadas no
mundo.
Por suas excelentes qualidades de sabor, aroma, cor e textura, o caju e a manga são
consumidos na forma in natura, porém sua industrialização é uma atividade em expansão
no Brasil, visto ser, uma maneira de diminuir as perdas no período de safra e maximizar
o aproveitamento de grande potencial da fruta. Na indústria alimentícia o maior emprego
desses frutos se dá na forma de polpa, que constitui a matéria-prima para elaboração de
diversos produtos alimentícios tais como: sucos, sorvetes, essências, balas, geleias, entre
outros (ARAÚJO, 2017).
De acordo com Schneider et al. (2020), a composição física, química e ou físico-
química do alimento, em proporções da composição centesimal, pode ter diferentes
finalidades, como: avaliação nutricional de um produto; controle de qualidade do
alimento; desenvolvimento de novos produtos e a monitoração da legislação. A maioria
das frutas e hortaliças possui um teor de água muito elevado (80% a 95%) no momento
da colheita, e mesmo alguns produtos com menor umidade, tais como banana, batata ou
2021 Gepra Editora Barros et al.

abacate, contêm mais de 70% de água (HOLCROFT, 2015). As espécies frutíferas


possuem aspectos sensoriais, como cor, sabor e aroma característicos, além de
micronutrientes, como minerais, fibras alimentares, vitaminas e compostos fenólicos, que
individualmente ou em combinação trazem benefícios à saúde.
Em geral, a vida útil de armazenamento de frutas e hortaliças varia inversamente
com a taxa de respiração. Isso ocorre porque a respiração fornece compostos que
determinam a taxa de processos metabólicos diretamente relacionados aos parâmetros de
qualidade, como firmeza, teor de açúcar, aroma e sabor (SALTVEIT, 2016). A perda de
água também é uma das principais causas de deterioração que reduzem a comercialização
de frutas e hortaliças (RUIZ-GARCIA et al., 2010). Esta perda de água tem um efeito
510
econômico imediato, na medida em que reduz o peso vendável. De acordo com Holcroft
(2015), o ponto em que a perda de água afeta a qualidade varia para diferentes frutas e
hortaliças.
Segundo Florêncio et al. (2012) a viabilização do aproveitamento do uso da manga,
com o desenvolvimento de novos produtos, com utilização máxima dos seus componentes
nutricionais, seria de suma importância para o Brasil, o qual se apresenta como grande
produtor mundial. Sendo assim, estes resíduos podem funcionar como base de incremento
de produtos alimentícios ou para o desenvolvimento de novos produtos, além de
contribuir com a diminuição dos impactos ambientais causados pelos descartes deste
resíduo em locais inadequados. As características sensoriais e funcionais de determinada
espécie variam de acordo com o fator genético, com o local de produção, os tratos
culturais, a época de colheita, o estádio de maturação entre outros fatores (BATISTA et
al., 2014).
Considerando o exposto, tem-se como objetivo geral determinar o teor de umidade
de frutos de caju e manga e estudar as propriedades químicas como pH, cinzas, atividade
de água, acidez total e sólidos solúveis totais (ºBrix).

MATERIAL E MÉTODOS

Obtenção da matéria-prima

Os frutos de manga variedade Palmer e caju, utilizados na pesquisa, foram


adquiridos na feira livre da cidade de Campina Grande, estado da Paraíba (Figura 1).

Figura 1. Frutos de caju e manga.

Fonte: Autoria própria (2021).


2021 Gepra Editora Barros et al.

Local de condução das análises


As análises químicas dos frutos foram realizadas no Laboratório de Processamento
e Armazenamento de Produtos Agrícolas, da Universidade Federal de Campina Grande-
UFCG. Os frutos foram higienizados selecionados e sanitizados com solução clorada de
10 mL de hipoclorito de sódio na concentração de 2,5% de cloro ativo, para 1 L de água
potável, permanecendo imersos por 10 min, em seguida foi realizado o enxágue dos frutos
com água potável.

Análises químicas
Conforme metodologia proposta por Brasil (2008), os frutos de manga e caju foram
511
analisados, em triplicata, quanto ao:

Teor de umidade (%)


Para determinar a umidade dos frutos de caju e manga, pesou-se cerca de 5 g de
amostra (polpa + casca) em cadinhos de alumínio previamente secos em estufa a 105 °C
e tarados em balança analítica. Desidrataram-se as amostras por um período de 24 h em
estufa na mesma temperatura. Posteriormente, os cadinhos foram arrefecidos em
dessecador durante uma hora e repetiu-se a pesagem.

Atividade de água (aw)


Através de leitura direta em “Aqua-Lab”, modelo 4TE.

Acidez total (%)


Foi determinada por volumetria ácido-base por empregando a solução de NaOH a
0,1 mol.L-1 como agente titulante e a solução alcoólica de fenolftaleína a 1%, como
indicador.

Cinzas (%)
Quantificou-se por gravimetria após incineração em mufla a 600 ⁰C por 24 h. O
método de baseia na perda de peso que ocorre quando o produto é incinerado a 600 ⁰C,
com destruição da matéria orgânica.

Teor de sólidos solúveis totais (°Brix)


Foi determinado a 25 °C por meio do índice de refração, utilizando refratômetro
digital, o qual foi calibrado com água destilada a 25 ºC. Logo em seguida, foram
adicionadas duas gotas de suco da polpa dos frutos de caju e manga no prisma do aparelho
e realizada a leitura, sendo o resultado expresso em °Brix.

Relação SST/ATT (Ratio)


Foi determinada pela divisão direta dos sólidos solúveis totais (SST) pela acidez
total (AT).
2021 Gepra Editora Barros et al.

pH
Foi determinado pelo método potenciométrico em peagâmetro com auxílio de um
medidor digital calibrando-se o potenciômetro através das soluções tampão (pH 4,0 e
7,0).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os frutos apresentaram elevado teor de umidade e atividade de água, sendo os frutos


de caju os que apresentaram maior média para ambos os parâmetros avaliados. A
atividade de água dos frutos pode ser classificada como alta (Figura 2). Santos Filho 512
(2016) ao analisar características químicas de caju encontrou umidade de 85,51%, valor
próximo ao obtido no presente trabalho. Mendes-Filho et al. (2014) estudaram a
composição da polpa fresca de manga variedade Tommy Atkins e obtiveram em (g/100g)
respectivamente: 83,66 de umidade.

Figura 2. Composição química (teor de umidade) e (atividade de água) de frutos de caju e manga.
100
90 86,14%
77,36%
Teor de umidade (%)

80
70
60
50
Teor de umidade
40
30 Atividade de água
20
10 0,99 0,98
0
Caju Manga
Frutos

Fonte: Autoria própria (2021).

Costa et al. (2020) ao realizarem a caracterização química da polpa da manga


‘Ataulfo’ em diferentes estádios de maturação verificaram valores de 69,08, 72,55 e
73,55% para o teor de umidade. Segundo Neris et al. (2017), no estádio de maturação
mais avançado dos frutos ocorre o aumento no seu teor de umidade da polpa dos frutos,
em decorrência das alterações fisiológicas durante o amadurecimento, e
consequentemente ocorre a redução do teor de água da polpa, e permeabilidade da casca.
Os resultados obtidos para a acidez total e o pH dos frutos de caju e manga estão
apresentados na (Figura 3). Gomes et al. (2006) em estudos com frutas da mesma família
Anacardiaceae (cajuí do campo), observaram que a acidez dos pseudofrutos
demonstraram variação de 0,19 a 0,26%, valores superiores ao desta pesquisa. Santos
Filho (2016) observou valores de 0,20% para a acidez total e 4,56 para o pH em frutos de
caju.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 3. Composição química (acidez total) e (pH) de frutos de caju e manga.


5 4,5
4,5 4,3

Acidez total (%) e pH


4
3,5
3
2,5
Acidez total (%)
2
1,5 pH
1
0,5 0,09% 0,05% 513
0
Caju Manga
Frutos

Fonte: Autoria própria (2021).

O pH é um dos fatores intrínsecos ao produto que está relacionado ao


desenvolvimento de microrganismo, atividades enzimáticas, retenção do sabor, odor e da
conservação geral do produto. Em função deste parâmetro, de acordo com Souza et al.
(2008), os alimentos podem ser classificados em: pouco ácido (pH >4,5), ácidos (4,0 a
4,5) e muito ácidos (< 4,0). Diante desta classificação, os frutos apresentaram-se ácidos
(Figura 4). Conforme explicam Maia et al. (2007), a composição química e físico-química
do caju pode variar dependendo de vários fatores como: variedade, solo, safra, grau de
maturidade e condições climáticas.
O conteúdo mineral encontrado para os frutos de caju e manga encontra-se descrito
na (Figura 4). Silva et al. (2016) encontraram valor médio da polpa de manga (Mangifera
indica L.) variedade espada de 0,36%. Diógenes et al. (2015), em seu trabalho com a
polpa de manga integral, encontraram 0,38%. O que indica que a polpa analisada nesta
pesquisa encontra-se de acordo com valores padrões.

Figura 4. Composição química (cinzas) de frutos de caju e manga.

Fonte: Autoria própria (2021).


2021 Gepra Editora Barros et al.

Os açúcares são os principais componentes dos sólidos solúveis em frutas. Esta é a


razão porque o conteúdo de sólidos solúveis pode ser utilizado para estimar o conteúdo
de açúcar do fruto, indicando seu grau de maturidade (MENDES-FILHO et al., 2014). O
teor de sólidos solúveis totais (°Brix) encontrados nos frutos de manga (Figura 5) está
dentro do valor estabelecido pelo Regulamento Técnico para Fixação dos Padrões de
Identidade e Qualidade para Polpa de Manga (BRASIL, 2000), o qual estabelece que
polpas de manga devem possuir um valor mínimo de sólidos solúveis a 20º C de 11 ºBrix.
Mendes-Filho et. al. (2014) analisando a composição da polpa in natura de manga Tommy
Atkins obtiveram 12 °Brix de sólidos solúveis.
514
De acordo com Pinto et al. (2003), a relação SST/ATT (Ratio) é uma das melhores
formas de avaliação do sabor, sendo mais representativa que a medição isolada de
açúcares e de acidez. Silva et al. (2009) encontraram para a relação valores de 71,70, valor
inferior ao observado nesta pesquisa. Esse fato se deve ao estádio de maturação dos frutos,
ou seja, os mesmos estavam totalmente maduros. Para o consumo brasileiro a preferência
é por uma relação maior que ocasionados normalmente altos teores de SST e baixa acidez.
Em relação ao suco de caju, esse deve obedecer às características e composição de sólidos
solúveis em °Brix, a 20 °C mínimo 10, acidez total expressa em ácido cítrico (g/100g)
mínimo 0,18 (BRASIL, 2018).

Figura 5. Composição química (°Brix) e (Ratio) de frutos de caju e manga.


450
400
400
350
°Brix e Ratio

300
250
200 °Brix
138,89
150 Ratio
100
50 12,5 20
0
Caju Manga
Frutos

Fonte: Autoria própria (2021).

De acordo com Silva et al. (2012), a quantidade de nutrientes nos alimentos é


afetada pelas condições ambientais no período do seu desenvolvimento no campo e pelas
condições de colheita, secagem, beneficiamento e armazenamento. Além disso, são de
suma importância a identificação das características físico-químicas e a quantificação
dessas substâncias nos frutos, pois são de grande interesse para acrescentar qualidade
nutricional e agregar valor ao produto final.
2021 Gepra Editora Barros et al.

CONCLUSÕES

Os frutos de caju e manga apresentam alto teor de umidade e atividade de água,


baixa acidez e pH foi classificado como ácido, a quantidade de cinzas foi semelhante ao
da literatura citada. Alta relação SST/AT foi observada nos frutos, com destaque para os
frutos de manga. A composição físico-química dos frutos de caju e manga revelou a sua
importância nutricional e a possibilidade da utilização, visando a contribuir para a
melhora do estado nutricional da população.

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518
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 47

CICLAGEM DE NUTRIENTES EM ECOSSISTEMAS


FLORESTAIS DO BRASIL

PAULA, Yara Lemos de


Pós-graduando em Ciências Florestais
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
ylms_@hotmail.com

SANTOS, Ayane Emília Dantas dos


Pós-graduando em Ciências Florestais
Universidade Federal do Rio Grande do Norte 519
ayaneemilia@gmail.com

NASCIMENTO, Pedro Iramar Sousa Paiva do


Pós-graduando em Ciências Florestais
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
ppaiva.1954@gmail.com

SILVA, Maria Kely Alves Gomes da


Pós-graduando em Ciências Florestais
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
gomes.ka.ef@gmail.com

HOLANDA, Alan Cauê de


Dr. Em Ciências Florestais
Universidade Federal Rural do Semi-árido
alan.holanda@ufersa.edu.br

RESUMO
A dinâmica da serapilheira está associada aos processos de formação, acúmulo e
decomposição da matéria orgânica. Este é um processo imprescindível para a ciclagem
de nutrientes e, consequentemente, para a manutenção e o desenvolvimento das áreas
florestais e pode variar de acordo com as peculiaridades de cada ecossistema. Partindo
desse pressuposto, o presente estudo objetivou compreender a importância da dinâmica
da serrapilheira para o processo de ciclagem de nutrientes nos ecossistemas florestais
brasileiros. Para isto, foi realizada uma análise de trabalhos científicos sobre a dinâmica
da serapilheira nos principais biomas. Foram utilizadas combinações de palavras-chave
e descritores como estratégia para busca dos artigos nas principais bases de dados. A
revisão sistemática disponibilizou um panorama sobre como ocorre a ciclagem de
nutrientes nos biomas brasileiros. Assim, é possível constatar que o processo ciclagem
está diretamente relacionado às condições edafoclimáticas de cada ecossistema.

PALAVRAS-CHAVE: biomas, processo ecológico, condições edafoclimáticas.

INTRODUÇÃO

O processo de ciclagem de nutrientes possibilita o crescimento de árvores e


consequentemente o desenvolvimento das florestas em solos de baixa fertilidade
natural. Assim, ele pode ser considerado como um dos aspectos de maior relevância,
quando se trata de compreender a dinâmica que envolve o processo de transferências
2021 Gepra Editora Barros et al.

de nutrientes para o solo (VIERA e SCHUMACHER, 2010).


Entre os atuais parâmetros qualitativos e quantificadores que envolvem a
ciclagemde nutrientes em ecossistemas florestais, está a serapilheira (SANTOS et al.,
2020), que consiste em um material orgânico composto por folhas, frutos, flores,
galhos e cascas (PINTO et al., 2009; ESPIG et al., 2009). O aporte e a decomposição
deste material constituem o principal meio de transferência de nutrientes para o solo,
sendo indispensável para garantir a sustentabilidade, especialmente de ambientes que
apresentam solos intemperizados como em florestas tropicais. Desse modo, a
serapilheira torna-se elemento essencial para o auxílio do sistema de banco de
sementes e para o manejo de florestas e recuperação de áreas degradadas
520
(MACHADO et al., 2015).
Sendo, os diferentes tipos de biomas e suas respectivas composições florísticas,
tipologias edáficas, e características físico-química os principais aspectos
considerados para o estudo de dinâmica de serrapilheira (MACHADO et al., 2015;
SANTANA et al., 2017). O presente estudo objetivou registrar e compreender a
importância da dinâmica da serapilheira para o processo de ciclagem de nutrientes
nos ecossistemas florestais brasileiros.

MATERIAL E MÉTODOS
O desenvolvimento do estudo foi realizado entre os meses de setembro e
outubro de 2020, por meio da análise de trabalhos científicos que englobam fatores
que contemplam a importância ecológica da ciclagem de nutrientes para a manutenção
e equilíbrio dos 6 grandes biomas brasileiros: Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado,
Caatinga, Pantanal e Pampa.
Para tanto, foram utilizadas combinações de palavras-chave e descritores como
estratégia para busca dos artigos envolvendo a temática ciclagem de nutrientes nas
principais bases de dados: ‘Web of Science’, ‘Scielo’, ‘Scopus’ e ‘Google Scholar’.
Como critério de inclusão para análise foram consideradas produções científicas
especialmente dos anos de 2010 a 2020. Contudo, não desconsideramos referenciais
bases dos anos que foram fundamentais para nortear os principais conceitos referentes
à temática.
Os estudos foram selecionados com base numa visão geral sobre as seguintes
informações: quantidade de serapilheira acumulada, estoque de serapilheira e os
principais fatores que influenciam estes. Após a seleção dos materiais adequados ao
objetivo, foi realizada a leitura interpretativa e construção do corpus do estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O recorte temporal englobou literaturas compreendidas entre 2003 e 2020,
totalizando 33 estudos ligados à ciclagem de nutrientes. Dentre eles, 33,33% estão
relacionados ao bioma Caatinga, 21,21% à Amazônia, 18,18% ao Cerrado, 15,15% à
Mata Atlântica, 9,09% ao Pantanal e 3,03% ao Pampa.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Amazônia
A Amazônia é reconhecida como a maior floresta tropical úmida do mundo,
caracterizada por um clima equatorial, quente e úmido, com chuvas abundantes e bem
distribuídas ao longo do ano (FERREIRA, et al., 2006). O bioma apresenta altas taxas
de produtividade primária, atuando como grandes fixadoras de carbono (e nutrientes
minerais) na biomassa (ARTAXO et al., 2014). Por essas características possuem
solos com pouca disponibilidade de nutrientes. Entretanto, suas florestas são capazes
dedesenvolver-se sobre essas condições, devido a rápida produção e deposição de
serapilheira e o acelerado processo de mineralização (BELO et al., 2020).
Pesquisas em áreas que contemplam esse exuberante bioma disponibilizam 521
informações relevantes sobre o aporte de serrapilheira. Como mostram os estudos
realizados por Ferreira et al. (2006); Freire et al., (2020); e Sales et al. (2020) ao
abordarem que a dinâmica do aproveitamento dos nutrientes em solos amazonenses é
mais intensa em período chuvoso. Pois, o aumento da umidade favorece as atividades
dabiota do solo no processo de mineralizar a matéria orgânica acumulada durante o
período de baixa precipitação. Dessa forma, é importante compreender que variáveis
climáticas de temperatura e umidade relativa do ar influenciam a produção e a
decomposição de serapilheira.
Nesse viés Freire et al. (2020), avaliando a produção de serapilheira em uma
área de floresta de terra firme, obtiveram produção total de 14.130 Kg.ha-¹.ano-¹,
em períodos de estiagem. Enquanto Sales et al. (2020) em uma análise criteriosa de
solos localizados em ambientes de Florestas, Cerrado e Cerradão na Amazônia,
apresentaram uma quantidade total de serapilheira 4.240; 11.480 e 12.580 Kg.ha-1
ano-1 respectivamente. A quantidade de material aportado superior em áreas de
floresta deve-se justamente à influência da sazonalidade neste tipo de vegetação
(GIÁCOMO et al., 2012). Em relação à decomposição de serapilheira, ficou
evidenciado que o processode decomposição nos estudos analisados (FREIRE et al.,
2020; SALES et al., 2020) ocorreram com maior intensidade no período chuvoso.
Por fim, vale salientar que a manutenção de um ecossistema de floresta se dá
através dessa ciclagem de nutrientes, principalmente em solos de baixa fertilidade
natural, como os Latossolos e Argissolos situados na Amazônia, que é fundamental
paramanter os sistemas tradicionais de agricultura migratória na região (SAMPAIO
et al., 2003).

Mata Atlântica
O bioma Mata Atlântica (MA) representa aproximadamente 15% do total da
vegetação brasileira e possui uma das florestas mais ricas em biodiversidade. Seu
clima predominante é o tropical úmido e apresenta temperaturas médias elevadas
somadas a precipitações pluviométricas regulares e bem distribuídas (ALVARES et
al., 2014).
Segundo Machado et al. (2015), a MA possui uma alta capacidade de ciclagem
de nutrientes, que se refere à produção de serapilheira e de nutrientes e a velocidade
de decomposição do material foliar. Ademais, a ciclagem neste bioma é diretamente
2021 Gepra Editora Barros et al.

e gradualmente afetada pelas mudanças na estrutura florestal em função do avanço


dos estágios sucessionais, pela riqueza de espécies e área basal.
Quanto ao aporte de serapilheira, segundo Machado et al. (2015), a produção
total anual é maior nas formações florestais avançadas (17.500 Kg.ha-1ano-1) com
grande variedades de plantas lenhosas, quando comparada às formações florestais
médias (8.960 Kg.ha-1ano-1) e formações florestais iniciais (7.470 Kg.ha-1ano-1). No
que se refere a taxa de decomposição, estas variam entre 56 e 72%, podendo demorar
de 6 meses a 1 ano para a decomposição de meia-vida.
Sobre o acúmulo da serrapilheira, Diniz et al. (2015) apontaram que ela tende
aser maior em floresta secundária avançada (17.500 Kg.ha-1), o dobro do estoque
522
apresentado para a floresta secundária média (7.660 Kg.ha-1). Santos et al. (2019),
estudando a ciclagem de nutrientes em diferentes condições topográficas, registraram
maiores valores para as áreas convexas (8.350 Kg.ha-1), em altitude média de 530 m
(9.380 Kg.ha-1) e em estação seca (8.830 Kg.ha-1), com maior taxa de decomposição
(~ 50%, em 120 dias) na estação chuvosa.
A partir dos dados levantados nos estudos de Machado et al. (2015) e Diniz et
al. (2015), a serapilheira funciona como um importante estoque de carbono, podendo
chegar a 1.797,41 Kg.ha-1 ano-1, em uma importante via de transferência de N, K, P,
Ca e Mg para o solo (Tabela 1).

Fonte: DINIZ et al., 2015; MACHADO et al., 2015

Estes nutrientes são estocados em formas de folhas, frutos, flores, galhos, cascas e
lenho de acordo com a espécie florestal presente na área (CUNHA et al., 2009). E são
liberados lentamente no solo a partir da ação dos micro-organismos e das ações
climáticas (SANTANA et al., 2017).

Cerrado
O bioma Cerrado se estende por doze estados brasileiros, representando 21%
do território nacional. Declarada como um hotspot, uma área prioritária à
conservação, apresenta alta biodiversidade com mais de 12.000 espécies de flora
identificadas (MENDONÇA et al., 2008). Dentre suas formações savânicas, o
Cerrado sensu stricto (SS) é caracterizado pela presença de árvores baixas e tortuosas,
arbustos e subarbustos com desenvolvimento de órgãos subterrâneos adaptados à
rebrota (RIBEIRO e WALTER, 2008).
Com clima predominante tipo savana (Aw) e subtropical úmido (Cwa), exibe
épocas de seca e chuvas bem definidas, de modo que a dinâmica de ciclagem de
2021 Gepra Editora Barros et al.

nutrientes neste bioma está associada às estações climáticas (FELFILI, 2003).


Dentre os levantamentos, observa-se a constância do tipo climático e a baixa
variação na precipitação (Tabela 3), de modo que as maiores diferenças surgiram na
tipologia do solo. Entretanto, não ocorreu sua caracterização na totalidade das áreas
levantadas em estados distintos.

523

Fonte: Carvalho et al (2019); Ribeiro et al (2017); Alves et al (2018); Teixeira et al (2016); Silva et al
(2007); Pedro et al (2019).

A produção de serrapilheira de SS em ambas as áreas levantadas apresentou


sazonalidade, com maior quantitativo de serapilheira na estação seca e menor na
estação chuvosa. Seu acúmulo relaciona-se com seu comportamento ecofisiológico
de maiores perdas de folhagem no período seco (CARVALHO, 2019), enquanto
Ribeiro et al. (2017) associou essa queda de estoque na estação chuvosa aos incêndios
naturais que tendenciam a ocorrer no período seco, onde sua intensidade é relacionada
com o material combustível disponível.

O estoque semestral de serrapilheira no SS variou entre 4.913,5 Kg.ha-1 a


7.610,4 Kg.ha-1 na estação seca (maio - outubro), ao passo que, na estação chuvosa
(novembro - abril), variou entre 284,88 Kg.ha-1 a 4.992,46 Kg.ha-1. Dentre o
gradiente de magnitude de armazenamento dos macro e micronutrientes,
predominantemente, Nitrogênio e Cálcio se sobressaíram dentre os demais (Tabela
3).
2021 Gepra Editora Barros et al.

524

Na Tabela a seguir, constam os valores mínimos e máximos do estoque de


nutrientes encontrados no Levantamento bibliográfico:

Caatinga
O termo Caatinga é originado da língua Tupi, o qual significa mata branca,
fazendo referência a processos adaptativos realizados pelas plantas deste bioma
(MACIEL, 2016).
O bioma brasileiro Caatinga localiza-se entre os paralelos 3º e 17º S e estende-
se pelos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio
Grande do Norte, Piauí e Sergipe, compreendendo ainda um pequeno trecho da região
Sudeste - Norte do estado de Minas Gerais. Abrangendo assim, uma área de 844.453
km², o que corresponde a 11% do território nacional (IBGE, 2004).
Sua vegetação é constituída por espécies herbáceas, arbustivas e arbóreas de
pequeno porte, as quais são dotadas de adaptações como modificações foliares,
espinhos, perda de folhas em períodos de verão como forma de reter líquidos, dentre
outros processos extraordinários (FILHO, 2013). O bioma possui clima semiárido
com precipitação de 800 mm anual (ASSOCIAÇÃO CAATINGA, 2021) e o solo
dessa região é raso e pedregoso, sendo característico dos Luvissolos (EMBRAPA,
2021 Gepra Editora Barros et al.

2021).
A Caatinga sobrepõe-se ao domínio semiárido, que é caracterizado pela baixa
incidência de chuvas e pela irregularidade da precipitação. Nesse contexto, é
importante ressaltar que o padrão de deposição da serapilheira é diretamente
influenciado pelas mudanças climáticas (períodos chuvosos e períodos de estiagens)
ocorridas no bioma Caatinga (COSTA et al., 2010).
Vale destacar a influência dos solos no processo de produção de serapilheira,
pois, conforme Lacerda, Lopes e Albuquerque (2018), o Brasil é o 5º país com solos
mais degradados no mundo, sendo que esses solos se encontram nas regiões
semiáridas e subúmidas secas do nordeste brasileiro, onde está localizado o bioma
525
Caatinga.
Estudos realizados nos municípios de Pombal, São José de Espinharas e Santa
Terezinha, localizados no estado da Paraíba/PB, avaliaram a produção, o acúmulo, a
deposição e a decomposição da serapilheira. Holanda et al. (2017), Souza et al. (2017)
e Henriques et al. (2016), registraram uma produção de 3.785,67 kg.ha-1, 3.397,886
kg.ha-1 e 4.207,84 kg.ha-1, respectivamente, onde foi constatado que a folha
(2.692,69 kg.ha-1) é a maior contribuinte na produção de serapilheira e na ciclagem
de nutrientes nesse bioma.
Santana e Souto (2011), em estudo realizado na Estação Ecológica do Seridó
no estado do Rio Grande do Norte/RN, obtiveram resultados que demonstraram uma
ampla vantagem da folha em relação aos demais contribuintes do material decíduo,
isso, devido principalmente à elevada perda de folhas em períodos de seca,
característico desse bioma.
Na pesquisa desenvolvida por Souza et al. (2017), estudando o acúmulo da
serapilheira em áreas classificadas em preservadas, em processo de exploração e
explorada, obtiveram resultados superiores na área explorada (4.229,708 kg.ha-1). Tal
fato pode ser explicado em razão especial, da presença de restos orgânicos deixados
após o corte.

Pantanal
O Pantanal possui uma área de 138.183 km², sendo aproximadamente 2% do
território nacional, onde o clima é quente e úmido no verão e frio e seco em período
de inverno, a vegetação do bioma é muito variada, principalmente em função das
inundações que ocorrem durante o inverno e do tipo de solo arenoso, característico
dos plintossolos (EMBRAPA, 2020).
Estudos realizados por Marques et al. (2017) e Marques (2018), sobre a
produção de serapilheira, obtiveram números que comprovam a maior produção no
período de seca (maio-setembro) e os menores no período chuvoso (outubro-abril).
Marques et al. (2017), registraram como maior contribuinte na produção de
serapilheira em período de seca, a folha, com representativos 57,18%. Os autores
destacam ainda, que em períodos chuvosos a parte vegetativa que apresenta maior
contribuição na produção de serapilheira são os galhos (53,33%).
Em relação à produção total de serapilheira neste bioma, os valores
apresentaram variação conforme o período estacional, sendo mais representativos em
2021 Gepra Editora Barros et al.

períodos chuvosos 9.193,10 kg.ha-1 conforme apresentado por Marques (2018). Isto
é explicado devido à precipitação, mas também por outros fatores, como temperaturas
elevadas, a fitofisionomia das áreas e a taxa de decomposição.

Pampa
O bioma Pampa abrange, unicamente, o estado do Rio Grande do Sul,
totalizando 63% do território estadual e 2,07% do território nacional (MMA, 2007).
Seu clima é predominante do tipo savana (Aw), tropical com inverno seco (maio a
outubro) (ALVARES et al., 2014).
O Quanto ao estoque de serrapilheira e nutrientes, Azevedo (2011) constatou
526
quea produção de serapilheira, em ambos os períodos, foram superiores no interior e
inferiores na borda (inverno: 11.800 Kg.ha-1 e 7.870 kg.ha-1; outono: 9.850 Kg.ha-1 e
8.640 Kg.ha-1) e seus teores de macronutrientes seguiram o gradiente Ca > N > Mg
> K > P > S enquanto os micronutrientes Fe > Mn > Zn > B > Cu.

CONCLUSÕES

O processo de ciclagem está diretamente relacionado às condições


edafoclimáticas de cada ecossistema. Os períodos com maior umidade favorecem a
ciclagem de nutrientes, enquanto períodos com redução na umidade favorecem a
queda das folhas e consequentemente ao acúmulo de serapilheira. Assim, a produção
de serapilheira (Kg.ha-1) tende a ser maior para os biomas de climas úmidos e
menores para os biomas com climas semiáridos.
O bioma Pantanal e Pampa tiveram baixo volume de estudos relacionados ao
tema. Este resultado pode estar relacionado à sua abrangência limitada que representa
cerca de 2% do território nacional cada.

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Capítulo 48

COMPATIBILIDADE DE ANTAGONISTAS MICROBIANOS A


PRODUTOS QUÍMICOS: UMA REVISÃO

UNGERN-STERNBERG, Maria Julia Cambuhy von


Aluna de Iniciação Científica no Instituto Biológico de São Paulo
Universidade Presbiteriana Mackenzie
mariajuliasternberg@gmail.com

ALBERTO ALBUQUERQUE DE MEDEIROS, Carlos


Doutorando em Sanidade, Segurança Alimentar e Ambiental no Agronegócio 531
Instituto Biológico de São Paulo
albuquerque.carlos@hotmail.com

SANTOS, Keila Cristina


Aluna de Iniciação Científica no Instituto Biológico de São Paulo
Universidade Paulista
keilacristtinna@gmail.com

RIBEIRO, Michel Douglas Santos


Mestrando em Agronomia Universidade Federal do Ceará
mycheldouglass@gmail.com

RESUMO

A proteção das culturas agrícolas tem dependido da utilização de pesticidas químicos por
mais de 50 anos. No entanto, este cenário tem se alterado devido as novas legislações, os
diversos problemas ambientais e de saúde humana e o surgimento de populações de
pragas resistentes. A situação imposta sugeriu a necessidade de criação de novos sistemas
de cultura que reduzissem a dependência do controle químico. Os programas de Manejo
Integrado de Pragas surgem propondo uma combinação de táticas, como as químicas e de
controle biológico para uma tentativa de mudança nos sistemas do agronegócio global.
Em um âmbito mais abrangente, além da agricultura, os produtos químicos são utilizados
na indústria e, também, para controle de vetores transmissores de doenças humanas, o
que soma aos impactos ambientais mencionados anteriormente e a importância da
compatibilidade entre as estratégias de controle para que não haja redução da eficácia das
ferramentas. Dessa forma, o presente artigo teve como objetivo tratar da importância de
se avaliar a compatibilidade entre antagonistas microbianos e produtos químicos em
diferentes casos. Para se chegar aos resultados, foi realizado um levantamento
bibliográfico através da consulta de periódicos e anais de eventos ligados ao tema, por
meio de uma análise exploratória de revisão da literatura. A partir das evidências teóricas
e dos dados observados neste estudo, nota-se que a utilização de produtos químicos e
agentes antagonistas tem sido amplamente utilizada e estudada e tem apresentado
resultados positivos, porém ainda necessita de aprofundamento nos estudos de natureza
genética.

PALAVRAS-CHAVE: Controle Microbiano, Pesticidas, Combinação.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

O Manejo Integrado de Pragas (MIP), exige o planejamento e a configuração de


estratégias de controle, conforme uma análise detalhada da situação e uma maior
variabilidade no uso das diversas ferramentas disponíveis. É necessário que os métodos
empregados sejam compatíveis e não causem nenhum efeito redutor na eficácia do
manejo (KOGAN; BAJWA, 1999). Na agricultura, controle químico é o método
convencional para a maioria das situações. Seu uso irresponsável acarreta diversos
problemas, todavia é um método com grande poder de eficácia e não pode deixar de estar
presente nas estratégias do MIP. Sendo assim, é de extrema importância que os demais
tipos de controle mantenham compatibilidade com o uso de produtos químicos para se 532
obter sucesso na aplicação (BARZMAN et al., 2015; GENTZ et al., 2010).
O controle biológico de pragas é uma ferramenta de manejo que vem se destacando
nos últimos anos, devido ao seu viés favorável a segurança alimentar e ambiental. Essa
estratégia possui diversas linhas de aplicabilidade: o uso de inimigos naturais, predadores
e parasitoides, para controlar insetos pragas; o uso de nematoides entomopatogênicos e a
utilização de microrganismos antagonistas para o controle de insetos pragas e
fitopatógenos (BALE et al., 2008). Com o avanço dessa ferramenta de controle e
aperfeiçoamento de sua aplicabilidade, é de total importância entender a relação da
influência do controle químico perante esses organismos, quando utilizados em conjunto
(ROUBOS et al., 2014).
Nas últimas décadas, diversos trabalhos (POLETTI; OMOTO, 2003; BARZMAN
et al., 2015) relataram casos de resistência de inimigos naturais aos inseticidas, entretanto,
ainda são escassos os dados científicos sobre a compatibilidade destes produtos com
microrganismos antagonistas. Isso está relacionado a aplicabilidade do controle biológico
utilizando parasitoides e predadores, que foi executada com maior facilidade do que
aquele que utiliza microrganismos, seja para o controle de doenças ou insetos pragas.
Analisando com maior abrangência a situação, fora da área da proteção de plantas,
encontra-se também pouca informação na compatibilidade de microrganismos e produtos
químicos na área da nanotecnologia, recuperação ambiental e médica.
Devido as doenças de importância médica, transmitidas por insetos vetores, estarem
causando diversos problemas de saúde pública nos últimos anos, houve um maior
interesse na comunidade científica em aprofundar os estudos sobre a compatibilidade de
métodos biológicos e químicos, já que há grandes problemas de resistência na utilização
de moléculas químicas para o controle destes insetos (RANSON et al., 2010; MOYES et
al., 2017). Desta forma, obteve-se as primeiras informações sobre este tipo de relação
como: efeitos na redução dos mecanismos de ação dos microrganismos, relação dos
efeitos e a concentração aplicada do produto químico, simultaneidade de aplicação ou
espaço de tempo entre a aplicação e modificações na formulação de ambas as ferramentas
de manejo.
Considerando a carência de estudos desta magnitude, que reúnam e analisem este
tema de suma importância, o presente estudo tem por objetivo trazer uma análise da
compatibilidade dos antagonistas microbianos aos produtos químicos, observando os
resultados de estudos presentes na literatura. A pesquisa justifica-se pelo fato de gerar
2021 Gepra Editora Barros et al.

subsídios para o desenvolvimento de novos trabalhos nessa área que possam


consequentemente agregar para inovação das técnicas de Manejo Integrado de Pragas.

MATERIAL E MÉTODOS

Para se chegar aos resultados desse estudo, foi realizado um levantamento


bibliográfico através da consulta de periódicos e anais de eventos ligados ao tema, por
meio de análise exploratória de revisão da literatura. Esse estudo portanto, tem natureza
qualitativa.
A busca foi realizada entre os meses de junho e dezembro de 2020, e a elaboração 533
desse estudo pode ser classificada em três fases, sendo elas: (1) Levantamento
bibliográfico; (2) Leitura e análise dos artigos; (3) Apresentação dos resultados obtidos.
A pesquisa foi realizada majoritariamente nos periódicos da CAPES, através da
plataforma “Periódicos” disponível para pesquisas acadêmicas por meio do site da
instituição CAPES. Foram também considerados artigos publicados em Congressos e
Simpósios nacionais de Ciências Agrárias e Microbiologia.
Para a busca de artigos alinhados com o tema desta pesquisa, foram definidas as
seguintes palavras-chave: “produtos químicos” “controle microbiano”,
“compatibilidade”. A partir do portfólio bibliográfico, foram selecionados artigos que
fazem uma abordagem com o assunto de compatibilidade de microrganismos antagonistas
a produtos químicos.
Foi realizada a leitura completa do corpo do texto para que fossem excluídos os
artigos que não contemplavam o escopo deste estudo e os resultados e discussões das
pesquisas analisadas serão apresentados na próxima seção.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Compatibilidade de fungos antagonistas a produtos químicos

Entre os agentes de controle biológico e demais microrganismos benéficos, os fungos


são os que possuem maior aplicabilidade. Destacam-se os gêneros: Trichoderma,
Gliocladium, Beauveria e Metarhizium, presentes na indústria de biopesticidas e
bioinseticidas no controle de pragas e doenças de plantas (MARTÍNEZ et al., 2015).
Outra área que destaca-se com o uso de bioagentes é o tratamento de áreas contaminadas
com metais pesados (biorremediação), os agentes biológicos mais utilizados são
bactérias, fungos e enzimas, seguido de algas, plantas e protozoários. Os gêneros de
fungos mais estudados são Penicillium spp. Aspergillus spp. e Acremonium spp. Todavia,
ainda é uma linha de pesquisa inicial que possui também como barreira a importação e
exportação de tecnologias baseadas em microrganismos (QUINTELLA et al., 2019).

Compatibilidade de fungos dos gêneros Trichoderma e Gliocladium a Produtos


Químicos
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Os fungicidas quando não mantem compatibilidades com os fungos bioagentes afetam


o crescimento vegetativo, a viabilidade e a formação de conídios, consequentemente
alterando os mecanismos de ação e sua composição genética. Os trabalhos iniciais
executados com Trichoderma, objetivaram observar inicialmente tais características in
vivo, Ribas (2010) testou isolados de Trichoderma sp. em compatibilidade com diversos
princípios ativos de fungicidas (captana, carbendazin, fluazinam, iprodiona e tiofanato
metílico). A Captana foi especialmente escolhido devido a recomendação do Ministério
da Agricultura, Agropecuária e Abastecimento (MAPA) na utilização do manejo de
Fusariose (Fusarium oxysporum f.sp. phaseoli) e Damping off (Rizhoctonia solani)
534
recomendado junto ao biofungicida a base de Trichoderma harzianum. Em relação ao
princípio ativo Captana, os resultados do trabalho demonstraram que os isolados sofreram
diminuição do crescimento micelial em relação ao aumento da dose do fungicida. Para o
tiofanato metílico não houve alteração no crescimento vegetativo de nenhum dos isolados
testados em nenhuma das concentrações. Os outros princípios ativos, carbendazim,
fluazinam e iprodiona inibiram totalmente o crescimento dos isolados. O fungicida a base
de captana, aumentou a capacidade de esporulação da maioria dos isolados de
Trichoderma sp., diminuindo esta na proporção em que a concentração foi aumentada.
Resultados semelhantes utilizando os mesmos princípios ativos foram observados por He-
Tong et al. (2008) e Nallathambi et al. (2009).
Em produção de cogumelos comestíveis, como a espécie Agaricus bisporus, o gênero
Trichoderma pode desencadear uma doença denominada de mofo verde. Desta forma há
estudos de resistência de isolados do fungo a fungicidas comerciais, como é o caso
estudado na Servia e na Bósnia–Herzegovina, onde testou-se: clorotalonil, carbendazim,
iprodiona, trifloxistobina e tiofanato metilo, relacionando-os com efeitos diversos de pH
e fotoperíodo. Os isolados apresentaram inibição no crescimento em relação a alterações
na luz, foram mais suscetíveis ao clorotalonil e carbendazim, e apresentaram baixa
resistência a iprodiona e ao tiofanato metilo. A trifloxistobina foi o único princípio ativo
em que houve resistência do Trichoderma (KOSANOVIC et al., 2015). Resultados
semelhantes foram observados por Khan e Shahzad (2007).
A relação de fatores físico-químicos como (pH, fotoperíodo e temperatura) podem
estar diretamente relacionados aos mecanismos de resistência de Trichoderma. Um
estudo realizado em Trichoderma harzianum Rifai, testado após a exposição a luz ultra
violeta (UV), demonstrou que os isolados apresentaram alta resistência ao princípio ativo
benomyl. O mutante (2B6) foi capaz de degradar o fungicida carbedazim e benzimidazol,
em até 41,5% da molécula no período de cinco dias. Outros isolados (2B1 e 2B2)
apresentaram variação morfológica e intracelular, desta forma também foi realizado um
estudo de comparação genômica entre os isolados mutantes e o tipo selvagem,
confirmando a diferença que possibilita a degradação dos pesticidas (MELO, et al., 2010).
Estudos que se aprofundem nos mecanismos de resistência a nível molecular ainda são
escassos para o gênero Trichoderma, mas o trabalho de Helweg (1977) demonstrou
resultados semelhantes.
Visando o manejo integrado da cultura da videira, uma medida de controle preventiva
foi analisada devido a patógenos oportunistas, que desencadeavam doenças a partir de
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ferimentos provocados pela poda na cultura. Decidiu-se então testar a compatibilidade de


fungicidas químicos e biológicos, já que o primeiro, tradicionalmente utilizado, oferece
proteção a curto prazo. Utilizando radiação gama, foram gerados mutantes de
Trichoderma spp. a partir de isolados selvagens, que foram isolados naturalmente
apresentando resistência a tiofanato metílico e suscetíveis a benomil e caberdazin in vitro.
Os isolados foram aplicados a plantas de videira doentes, a partir da infecção causada por
Phaeomoniella clamydospora, em conjunto com os três tipos de fungicidas. A
combinação: Trichoderma mutante (UST1) mais carbedazin foi a mais eficaz na redução
da severidade da doença em relação as outras combinações (MUTAWILA et al., 2014).
Trabalhos semelhantes foram realizados com resultados satisfatórios em questão de
535
compatibilidade (KOTZE et al., 2011; NIEKERK et al., 2011).
O fungo antagonista Gliocladium sp. apresenta mecanismos de controle semelhantes
ao Trichoderma sp., todavia, sua aplicação comercial como produto é restrita. Os
trabalhos de compatibilidade com este gênero também objetivam determinar inicialmente
o crescimento micelial relacionado a concentrações diversas dos princípios ativos de
produtos químicos. Um estudo realizado por Bocchese et al. (2007) observou o efeito de
diferentes concentrações do fungicida benomil (0,1,2,5 e 10 ppm) no meio de cultura. O
ensaio demonstrou que entre os isolados testados, ao menos um (GLIO10) apresentou
características de resistência ao fungicida e ao menos dois isolados (GLIO6 e GLIO9),
apresentaram resistência moderada ao princípio ativo. Trabalhos anteriores relatam que
em determinados casos um bioagente sozinho não é eficaz para conter a severidade de
determinadas doenças, principalmente quando ela está associada a uma determinada parte
do hospedeiro, a junção do princípio ativo compatível com o antagonista pode ser uma
solução eficaz e sustentável.
Um estudo mais recente realizado por Bande et al. (2018) testou a inibição do
crescimento micelial de Trichoderma sp. e Gliocladium sp. por pesticidas botânicos
confeccionados a partir de extrato de casca de castanha de caju pelo método in vitro. Os
resultados mostraram que o pesticida botânico na concentração 2,5% leva a diminuição
do micélio do Trichoderma sp. e Gliocladium sp. em 22,73% e 21,04% respectivamente.
No entanto, a inibição do crescimento micelial do tratamento controle de Gliocladium sp.
não diferiu significativamente do resultado mencionado anteriormente. Logo, este estudo
provou que o pesticida de extrato de casca de castanha de caju pode ser aplicado em
sinergia com Gliocladium sp. para o controle de pragas simultaneamente. Esses dados
dão suporte aos esforços de se diminuir o uso de pesticidas químicos com a otimização
de pesticidas botânicos e estratégias de controle biológico, que segundo Supriadi (2013)
é extremamente necessário.

Compatibilidade dos fungos dos gêneros Beauveria e Metarhizium a Produtos


Químicos

A resistência das pragas aos princípios ativos de inseticidas, devido ao seu uso
irresponsável, tem ocasionado diversos problemas de resistência. Este é o principal
motivo que tem direcionado os estudos de resistência destes organismos aos inseticidas,
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e consequentemente os estudos de compatibilidade dos inimigos naturais


(entomopatógenos) a estes (ALMEIDA; ALVES, 1996; ALVES et al., 1998).
Os estudos iniciais de compatibilidade também levam em consideração os
mesmos parâmetros daqueles para fungos antagonistas de fitopatógenos. Em um estudo
realizado in vitro, testou-se a compatibilidade de Beauveria bassiana a diversos produtos
agroquímicos comerciais: três inseticidas (Temik, Actara e Regente WG), sete herbicidas
(DMA, Contain, Glifosato Norton, Karmex, Plateau, Sencor e Velpar-K) e dois
maturadores (Curavial e Modus). No grupo dos inseticidas, o Actara apresentou
compatibilidade com o isolado AM9 de B. bassiana, o Regente WG mostrou-se
compatível para todos os isolados testados ao contrário do Temik que mostrou-se tóxico.
536
Para os herbicidas, o produto Glifosato Nortox, mostrou-se compatível com o isolado
AM9. Os maturadores mostraram-se tóxicos para todos os isolados (FREGONESI et al.,
2016). Seguindo os parâmetros semelhantes ao anterior um estudo mais antigos testou
outros pesticidas: imidaclopride, flufenoxuron, teflubenzuron phuzalon, endosulfano e
amitraz sobre a germinação de conídios, crescimento vegetativo e esporulação do fungo
Beauveria bassiana. Foi observado a incompatibilidade do pesticida flufenoxuron com
B. bassiana, mas foi observada a compatibilidade de um dos isolados de B. bassiana
(isolado DEBI008) com o pesticida imidaclopride (ALIZADEH et al., 2007).
Para o gênero Metarhizium os trabalhos são semelhantes aos desenvolvidos para
Beauveria visando entender inicialmente se o princípio ativo afeta o crescimento e
esporulação do fungo. Um estudo realizado na cultura do café, relacionou sua
patogenicidade a cigarra do café (Fidicinoides pronoe) e a compatibilidade com
agroquímicos utilizados tradicionalmente na cultura. Foram testados fungicidas,
inseticidas e herbicidas. Todos os isolados testados no trabalho demonstraram
patogenicidade para o inseto praga, os produtos Recop, Garant e Actara, foram
compatíveis com a utilização de entomopatógeno variando de acordo com a concentração
(CINTRA et al., 2013).
Em sistemas de produção com grande tecnificação, principalmente no sistema de
irrigação, há o uso frequente de defensivos agrícolas e isso influencia diretamente na
evolução da resistência dos insetos pragas a esses produtos. Desta forma o controle
biológico se faz necessário no manejo, principalmente para culturas com grande valor
agregado, que são produzidas atualmente em épocas de seca, fora dos padrões de plantio,
tradicionalmente executados (FRITZ et al., 2008). Trabalhos sobre compatibilidade de
inimigos naturais com químicos são necessários, como é o caso dos experimentos
realizados por Rampelotti-Ferreira et al. (2010), onde testou-se a compatibilidade de
Metarhizium anisopliae a agrotóxicos utilizados na cultura (Fungicidas, Herbicidas e
Inseticidas). Os resultados demonstraram uma variação da seletividade as moléculas
testadas, indicando que as estratégias de manejo devem ser bem planejadas pra não haver
insucesso na aplicação dos entomopatógenos.
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Compatibilidade dos fungos dos gêneros Penicillium, Aspergillus e Acremonium a


Produtos Químicos

A presença de metais pesados no solo tem aumentado progressivamente com a


atividade industrial, naturalmente, ambientes que possuem grandes níveis dessas
moléculas químicas, também possuem uma microbiota adaptada a ser resistente a esse
ambiente nocivo (WEI et al., 2004; WU et al., 2010). Os mecanismos de ação utilizados
por esses agentes envolve sua capacidade bioquímica de atuar na decomposição de
matéria orgânica, liberação de nutrientes, formação e estabilização de agregados,
ciclagem de nutrientes, transformações de elementos metálicos entre outros. Essas
537
reações promovem benefícios para esses microrganismos na forma de energia para seus
processos vitais (PFULLER et al., 2000; LLOYD et al., 2002). De acordo com Ellis et al.
(2003), a exposição dos microrganismos aos metais exerce pressão de seleção a essa
determinada população, gerando resistência destes organismos a essas moléculas.
Um ensaio realizado com Aspergillus nidulans, testou o crescimento do fungo em
meio de cultura suplementado com metais pesados (FeSO4, ZnSO4 e CuSO4) em
concentrações variadas. Os resultados apontaram que as linhagens de A. nidulans
apresentaram capacidade de sobrevivência na presença dos metais, havendo algumas
alterações na pigmentação dos conídios e no diâmetro das colônias (MENDONÇA et al.,
2009).
A biodegradação dos compostos químicos pelos microrganismos, acontece
através do potencial microbiano e isso pode ser potencializado através da bioestimulação
dentro das relações Carbono; Nitrogênio; Fósforo; Enxofre. Tais compostos possuem
papel no metabolismo desses organismos, onde concentrações variadas podem atuar
dentro das relações. Desta forma, estudos destas condições são essenciais para entender
o processo.
Um estudo realizado por Maciel et al. (2013), testou os efeitos da bioestimulação
em Penicillium griseofulvum em função da degradação de querosene de aviação. Utilizou-
se cromatografia gasosa afim de identificar produtos da degradação da querosene em
meios de cultura, onde o fungo foi cultivado e suplementado com o produto. Os resultados
demonstraram que o isolado, após quatorze horas apresentou alteração do bioindicador
no meio, identificando a degradação de biomassa.
Enfatizando a necessidade de mudança do cenário de poluição global causado pelo
uso excessivo de pesticidas, o trabalho de Kaur e Balomajumder (2020) foi o primeiro
relato sobre estudos de optimização do processo de biorremediação realizados em solo
contaminado com carbamato misto utilizando o fungo Acremonium sp. Testou-se a
capacidade de remoção de carbamatos pelo isolado de Acremonium sp. (MK514615)
através dos parâmetros: taxa de degradação e constante cinética de crescimento da raiz
cúbica K do fungo. Os experimentos foram conduzidos em solos contaminados e os
resultados mostraram remoção bem sucedida de carbamatos.
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Compatibilidade de produtos químicos a bactérias antagonistas

O grupo das bactérias é um segmento importante para indústria de pesticidas


microbiológicos. Para doenças de plantas e controle de insetos pragas destaca-se o gênero
Bacillus, algumas espécies possuem mecanismos de ação similares aos fungos
antagonistas (B. subtilis, B. cereus, B. thuringiensis) e também estão classificados no
nicho de microrganismos promotores de crescimento.
O gênero Bacillus é empregado com grande expectativa para a indução de resistência
em plantas, desta forma, diversas vezes é utilizado no tratamento de sementes e
posteriormente são aplicados fungicidas na parte aérea quando a cultura já está
538
estabelecida. Nesse contexto, é necessário verificar a compatibilidade destes
microrganismos com as moléculas utilizadas no manejo. Radons (2016) estudou a
interação do tratamento de sementes de trigo com B. subtilis e aplicação química
(Carboxina, Trifloxistrobina e Azoxistrobina) na parte aérea e vice-versa. A avaliação foi
realizada com a quantificação de parâmetros produtivos da cultura, e os dados
demonstraram que o tratamento da semente em conjunto do tratamento químico na parte
aérea apresentou os maiores índices de produção.
A utilização de fungicidas biológicos e químicos em conjunto para um tratamento
curativo, também é um dos objetivos do MIP (BARZMAN et al., 2015). Em consequência
disto, um experimento foi realizado testando a aptidão da combinação de fungicidas e
pesticidas químicos e fertilizantes químicos com antagonistas microbianos (Trichoderma
viride e Pseudomonas fluorescens), utilizados no manejo integrado de cultura de
Cardamomo em Kerala. Os isolados de Trichoderma viride apresentaram 100% de
compatibilidade com os inseticidas (imidacloprida, spinosad, clorantraniliprol,
flubendiamida e acefato), com os fungicidas (fosfonato de potássio e fosetil alumínio) e
os fertilizantes (ureia, grânulos de uréia, superfosfato simples, muriato de potássio e
mistura de micronutrientes). Foi observado incompatibilidade entre T. viride e os
inseticidas (quinalphos e mistura de Azadirachta indica + óleo de Pongamia pinnata) e
os fungidas (carbendazim, hexaconazole, mistura de fosfonato de potássio +
hexaconazole e mistura de captana + hexaconazole). Para Pseudomonas fluorescens
também foi observado 100% de compatibilidade com os inseticidas (mistura de pongamia
e óleo de Neem, acefato, quinalphos, chlorantraniliprole, dimetoato, imidacloprida e
flubendiamida), com os fungicidas (hexaconazole e mistura de fosfonato de potássio +
hexaconazole) e fertilizantes (SSP, MOP, ureia, farinha de osso e grânulos de uréia) nas
concentrações recomendadas. Já os inseticidas chlorpyriphos, acetamiprida,
carbosulfano, e fungicidas como fosetil alumínio, hidróxido de cobre, COC, a mistura de
cymoxanil + mancozeb assim como a mistura de micronutrientes inibiram
significativamente o crescimento da P. fluorescens. Os resultados, portanto indicam a
recomendação do uso dos químicos compatíveis com seus respectivos antagonistas para
redução dos riscos ambientais devido ao uso de pesticidas tóxicos e aumento da
sustentabilidade dessas culturas (DHANYA et al., 2016).
Com o avanço das tecnologias de inovações, as plantas e microrganismos estão sendo
cada vez mais empregados em processos biotecnológicos, como é o caso da
nanotecnologia. De acordo com Gnanajobitha et al., (2013) as nanopartículas de prata
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estão desempenhando um papel importante na área médica, essas partículas podem ser
encontradas naturalmente em associação com outros elementos e podem ter um potencial
antimicrobiano. Desta forma, realizou-se um ensaio testando o efeito de nanopartículas
produzidas a partir do extrato de Vitis vinífera contra B. subtilis em diversas dosagens de
Ag. Os resultados demonstraram que foi necessário aumentar a concentração da molécula
química para conseguir um efeito antimicrobiano, demonstrando que a prata, extraída de
forma natural, pode ser um princípio ativo potencial para aplicações biomédicas.
A espécie B. thuringiensis é empregada na indústria dos bioinseticidas, devido sua
capacidade de controle entomopatogênico de diversas pragas de importância econômica.
As propriedades intrínsecas das toxinas produzidas por B. thurigiensis evitam
539
naturalmente o desenvolvimento de resistência dos mosquitos vetores e são altamente
específicos, causando efeitos mínimos em espécies que não-alvo (BOYCE et al., 2013).
Atualmente, a sociedade enfrenta diversas doenças transmitidas por insetos vetores, o
gênero Aedes está relacionado a maioria delas e tem preocupado governos e organizações
de saúde. O controle dessas doenças, consequentemente, é executado com o controle do
vetor, e o método de maior eficiência é o químico. Devido as preocupações com os
problemas do uso irresponsável dessas moléculas, o MIP se faz necessário (ACHEE et
al., 2019).
Um trabalho realizado por Narkhede et al. (2017), testou a compatibilidade do
biopesticida a base de B. thurigiensis em larvicidas químicos. O estudo concluiu que o
produto Temephos foi mais compatível com o isolado BtSV2 em relação aos outros
tratamentos, os dados apontaram que o uso dos produtos em conjunto reduziu a CL50 em
30,68% para Aedes aegypti e 22,36% contra Anophele stephensi. Observou-se nas larvas
alteração bioquímica, após o uso dos produtos sinergicamente, alterando os níveis de alfa
esterase, acetilcolina esterase e proteínas, fatores ligados a resistência.
Os estudos de compatibilidade e resistência são de total importância para sistemas de
produção com grande valor agregado, isso se dá pelo fato do uso contínuo de pesticidas
nessas culturas o que acarreta os atuais problemas de resistência. Um estudo realizado na
cultura da soja, testou a compatibilidade de B. thuringiensis com o pesticida mais
utilizado no país (MAPA, 2019), o Glifosato. O produto comercial foi acrescentado ao
meio de cultura em dosagens variadas, a bactéria foi incubada e mantida a temperatura
adequada, realizando-se a contagem nas unidades formadoras de colônia diariamente. Os
dados apresentados revelaram que não houve compatibilidade de B. thuringiensis com o
produto comercial, já que não houve crescimento bacteriano no período avaliado nos
tratamentos (AGOSTINI et al., 2012).

Compatibilidade de produtos químicos a nematoides entomopatogênicos

Uma outra vertente do controle biológico de insetos pragas, é a utilização de


nematoides entomopatogênicos, esses parasitas benéficos utilizam bactérias do seu trato
intestinal (Xenorhabdus spp. e Photorhabdus spp.) para matarem seus hospedeiros
(BOEMARE, 2002). Os gêneros de nematoides antagonistas pertencem principalmente a
duas famílias: Steinernematidae e Heterorhabditidae, e ultimamente vem sendo
empregados em estratégias de manejo integrado (MBATA; SHAPIRO-ILAN, 2018),
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desta forma se faz também necessário um estudo de compatibilidade com pesticidas


comumente utilizados na agricultura
Um ensaio realizado por Laznik e Trdan (2013), testou in vitro a compatibilidade de
juvenis infecciosos de Steinernema e Heterohabdits (S. feltiae, S. carpocapsae, S.
kraussei, H. bacteriophora) com oito pesticidas comerciais, incluindo biopesticidas
(Abamectin, lufenuron, Toxinas de B. thuringiensis, Pymetrozine, Azadirachtin,
Imidacloprid, Lambda-cyhalotrin e pirimicarb). Foi avaliado a mortalidade destes
nematoides quando expostos aos produtos e os resultados demonstraram que as espécies
S. carpocapsae e S. kraussei são sensíveis a todos os produtos testados. S. feltiae manteve
compatibilidade com azadiractina, as toxinas de B. thuringiensis e imidacloprid. Já a
540
espécie H. bacteriophora foi sensível apenas a abamectina e lufenuron, sendo compatível
com o resto das moléculas testadas.
Informações sobre a compatibilidade de nematoides entomopatogênicos com
pesticidas naturais e com outros agentes de controle biológico é de total importância para
o sucesso do MIP. Um trabalho executado por Krishnayya e Grewal (2001), testou a
compatibilidade de S. Feltiae a Óleo de neem puro, Nimbecidine, Cinnamate, Abound,
Zero tol e a mistura de óleo de Neem com um adjuvante (Soap Ajax). Neste ensaio testou-
se além da mortalidade a virulência dos juvenis pela mortalidade de Galleria mellonella,
bactéria envolvida no mecanismo de ação destes nematoides no controle de insetos praga.
O fungicida Cinnamate foi altamente tóxico aos nematoides testados, com 100% de
mortalidade após 120 horas. O óleo de Neem e o produto Abound não causaram
mortalidade aos nematoides, demonstrando compatibilidade. O óleo de Neem e o
adjuvante Ajax, não foram compatíveis causando mortalidade aos nematoides.

CONCLUSÕES

Para o sucesso do manejo integrado de pragas, são essenciais estudos sobre


compatibilidade entre os métodos, isso acarreta eficácia não somente no alvo dos
produtos, porém em todo o sistema de cultivo, desde a tecnologia de aplicação, irrigação,
fertilização e demais técnicas de manejo. É necessário maior aprofundamento sobre a
resistência dos microrganismos antagonistas com as moléculas químicas, entendendo
quais vias genéticas estão sendo modificadas para que o organismo tolere tais situações.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 49

CONDIÇÕES HIGIÊNICO-SANITÁRIAS DA FEIRA LIVRE NO


MUNICÍPIO DE ALEXANDRIA, RN, BRASIL

VIEIRA, Livia Chrisley Serafim


Técnica em Alimentos
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande de Norte (IFRN)
livia-vieira1@hotmail.com

OLIVEIRA, Emanuel Neto Alves de


Docente do Curso Técnico em Alimentos 546
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN)
emanuel.oliveira16@gmail.com

SILVA, Álvaro Gustavo Ferreira da


Graduando em Engenharia de Alimentos
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
alvarogustavosilva@gmail.com

FEITOSA, Bruno Fonsêca


Graduando em Engenharia de Alimentos
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
brunofonsecafeitosa@live.com

LIMA, Thamirys Lorranne Santos


Professora Substituta do Curso Técnico em Alimentos
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN)
thamirysl2012@hotmail.com

RESUMO

A segurança de alimentos é um grande desafio de saúde pública, tornando-se importante


a fiscalização das condições de higiene dos alimentos ofertados em feiras livres. Portanto,
objetivou-se com este trabalho avaliar as condições higiênico-sanitárias da feira livre no
município de Alexandria, Rio Grande do Norte, Brasil, considerando as principais
legislações vigentes para os serviços de alimentação. A coleta dos dados ocorreu entre
dezembro de 2018 e janeiro de 2019. O método empregado foi de observação direta e
preenchimento de uma lista de verificação adaptada, baseada na RDC nº 275 e RDC nº
216. Todos itens dos pontos “Instalações” e “Vestuário dos manipuladores” encontravam-
se não conformes. Observou-se problemas em relação a presença de animais no local, a
falta de higiene das mãos, a não utilização de uniformes de cor clara e em bom estado de
conservação, uso de uma água de baixa qualidade e embalagem reutilizadas. Portanto, a
feira livre classificou-se no grupo 3 de atendimento aos itens, recomendando-se a
realização de ações educativas direcionadas aos feirantes e consumidores.

PALAVRAS-CHAVE: legislação, manipuladores de alimentos, vigilância sanitária.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

A segurança de alimentos é um desafio de saúde pública, pois visa oferecer


alimentos seguros aos cidadãos e manter a integridade da saúde do consumidor
(FEITOSA et al., 2020). Para isso, é essencial conhecer as legislações de controle de
qualidade de alimentos.
A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 216, da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA), dispõe sobre o Regulamento Técnico de Boas Práticas
para Serviços de Alimentação (BRASIL, 2004). Já a RDC n° 275 trata do Regulamento
Técnico de Procedimentos Operacionais Padronizados (POP’s) aplicados aos
Estabelecimentos Produtores/industrializados de Alimentos (BRASIL, 2002). 547
A feira livre é um dos ambientes de comercialização que mais atrai consumidores,
principalmente, devido ao baixo preço dos produtos (MOREL et al., 2015). Entretanto,
os hábitos higiênico-sanitários dos manipuladores são, muitas das vezes, inadequados,
podendo afetar a qualidade dos alimentos adquiridos pelos consumidores, tornando-se um
fator de risco à saúde (SILVA et al., 2020)
Na cidade de Alexandria, a feira livre surgiu com a comercialização de algodão e
animais, passando a expandir à outros produtos, como frutas e hortaliças. Nesse sentido,
a investigação da qualidade dos alimentos vendidos associada às condições de higiene
apresentadas no local torna-se importante do ponto de vista da vigilância sanitária.
Portanto, objetivou-se com este trabalho avaliar as condições higiênico-sanitárias
da feira livre no município de Alexandria, Rio Grande do Norte (RN), Brasil,
considerando as principais legislações vigentes para os serviços de alimentação.

MATERIAL E MÉTODOS

A coleta dos dados ocorreu no município de Alexandria, localizada no interior do


RN, Brasil, entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019. O método empregado foi de
observação direta e preenchimento de uma lista de verificação (checklist). O checklist das
Boas Práticas de Manipulação foi adaptado, baseado na RDC nº 275, de 21 de outubro de
2002, e na RDC nº 216, de 15 de setembro de 2004 (BRASIL, 2002; BRASIL, 2004).
Foram averiguados 30 itens, conforme apresentado na Tabela 1.

Tabela 1. Pontos avaliados através do check list, na feira livre do município de Alexandria, RN, Brasil.
Ordem Pontos avaliados Itens
1 Instalações 6
2 Hábitos higiênicos 7
3 Vestuário dos manipuladores 2
3 Qualidade da água 2
4 Higiene dos alimentos 7
4 Embalagens de alimentos 3
5 Equipamentos e utensílios 3
Fonte: Autores (2018-19).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Entre as opções de resposta estavam “Conforme”, “Não conforme” e “Não se


aplica”. Os resultados foram tabulados, interpretados e expressos em gráfico de colunas
verticais, utilizando o Microsoft® Office Excel 2013.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Instalações

Todos itens do ponto “Instalações” encontravam-se não conformes (Figura 1A).


Os principais problemas encontrados foram: presença de animais no local; piso em
paralelepípedos, que dificultam a higienização; acúmulo de lixo nas imediações (Figura 548
1B); bancadas em mal estado de conservação (Figura 1C); e o uso de caixotes de madeira,
que aumentam o risco de contaminação dos alimentos, devido a porosidade da madeira.

A legislação vigente exige que as superfícies em contato com os alimentos, como


bancadas e mesas, devem ser mantidas em bom estado de conservação, sem rachaduras,
trincas e outros defeitos (BRASIL, 2004).
Hábitos higiênicos
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Observou-se 61,43% de itens não conformes em relação aos “Hábitos higiênicos”


(Figura 2A), entre os quais a falta de higiene das mãos, contato das mãos que manipulam
alimentos também manipulando dinheiro, manipuladores com unhas grandes, barba e
pulseiras, além de indicadores da presença de enfermidades e feridas (Figura 2B). Sabe-
se que os alimentos podem ser veículos para a transmissão de doenças – DTA’s (AYRES
et al., 2003; SOUZA, 2006). Os itens indicadores de “não se aplica” foram relacionados
a disponibilidade de banheiros químicos no ambiente e distribuição por sexo.

549

Entre os itens observados também estavam o asseio pessoal, no qual apenas 10%
dos manipuladores estavam com boa apresentação, mãos limpas, ausência de adornos e
cabelos protegidos. Segundo Andreotti et al. (2003), a higiene pessoal na produção de
alimentos depende de hábitos de banho, higienização e manutenção de unhas curtas,
proteção dos cabelos, entre outros cuidados.
Góes et al. (2001) complementam que os manipuladores devem ser treinados
periodicamente. A educação e o treinamento periódico dos manipuladores de alimentos
são importantes para a manutenção da qualidade higiênico-sanitária dos produtos
2021 Gepra Editora Barros et al.

alimentícios. A maioria das toxinfecções alimentares está relacionada com a


contaminação do alimento pelo manipulador (RODRIGUES et al., 2020).
Ao avaliar a comercialização de alimentos por ambulantes, Santi et al. (2009)
observaram que 27% dos vendedores de alimentos ambulantes manipulavam dinheiro e
alimento ao mesmo tempo. Já Martins e Ferreira (2018) avaliaram as feiras livres de
Macapá-AP e constataram que 90% dos feirantes fumavam durante comercialização dos
alimentos.

Vestuário dos manipuladores e qualidade da água

Em relação ao “Vestuário dos manipuladores”, 100% dos itens estavam não 550
conformes (Figura 3A), destacando-se a não utilização de uniformes de cor clara e em
bom estado de conservação. Em alguns dias, as vestimentas apresentavam-se com
sujidades, correspondendo a um risco de contaminação para os alimentos.

A RDC n° 218, de 29 de julho de 2005, dispõe sobre o Regulamento Técnico de


Procedimentos Higiênico-sanitários para Manipulação de Alimentos e Bebidas
Preparadas com Vegetais. Ela remete o uso contínuo de uniforme de cor clara, adequado
ao ambiente e isento de sujidades, de modo que o manipulador esteja sempre limpo e não
se torne uma fonte de contaminação para o seu próprio produto (BRASIL, 2005).
O ponto “Qualidade da água” demonstrou 95% de itens não conformes (Figura
3B), estando diretamente ligados ao fornecimento de água da rede pública, que existe,
mas é distante do local onde ocorre a feira livre. Por isso, a alternativas tomadas pelos
feirantes acarretam ao uso de uma água de baixa qualidade, sendo armazenada em
recipientes impróprios e exposta a fatores externos de contaminação.
2021 Gepra Editora Barros et al.

551

A água é indispensável à vida, pois ela é utilizada em quase todas as nossas


atividades diária. Na manipulação de alimentos a água deve ser de boa qualidade e livre
de qualquer contaminante, que possa comprometer a saúde do consumidor. A utilização
de água sem o adequado controle de qualidade compromete a saúde pública (NORETE
et al., 2018).

Higiene dos alimentos e embalagem dos alimentos

Na feira livre do município de Alexandria-RN, 48,57% dos itens relacionados a


“Higiene dos alimentos” estavam não conformes (Figura 4A). Destacou-se como
problema a presença de frutos podres em grande parte das bancas, seja de pequeno, médio
ou grande porte, estando em contato com os alimentos de boa qualidade.

Os itens conformes (37,15%) foram referentes a separação adequada de cada tipo


de alimento e proteção da ação de raios solares. A qualidade sanitária dos alimentos é um
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fator importante no momento da compra e consumo. No ambiente da feira livre, esse


cuidado deve ser duplicado, pois grandes partes dos agentes etiológicos de determinadas
enfermidades estão vinculados por intermédio de hortaliças, legumes e verduras
(GERMANO; GERMANO, 2019).
As principais funções da embalagem são proteger o produto, facilitar o transporte
e marketing (SOUZA et al., 2017). O uso inadequado de embalagens pode acarretar
diversos prejuízos ao consumidor, como a contaminação pela migração de elementos
indesejáveis. A migração desses componentes, mesmo que pequena, pode acarretar à
intoxicação do consumidor (GERMANO; GERMANO, 2019).
Em relação ao ponto “Embalagem dos alimentos”, 65% dos itens estavam não
552
conformes (Figura 4B), tratando-se do uso de embalagem reutilizadas de forma
inadequada, uma vez que podem ser fontes de contaminação por microrganismos. O
indicado é o uso de sacolas plásticas transparentes próprias para alimentos.

Também foi observada a utilização de jornais para embalar alimentos. O papel


usado na fabricação do jornal é reciclado, possuindo impurezas que não foram corrigidas
durante o processamento. A migração de impurezas ou de solventes químicos para as
frutas embaladas traz riscos à saúde do consumidor. Os feirantes ainda não tiveram o
cuidado necessário com a embalagem, posto que eram colocadas sob a bancada, próximas
ao piso. Muitas vezes eram presas ao corpo do feirante por algum tipo de cordão.

Equipamentos e utensílios

Um dos fatores mais importantes referentes à qualidade de um determinado


produto no local de venda é a higiene dos manipuladores, equipamentos e utensílios
(MEDEIROS et al., 2017). Diante do que foi observado nas feiras livres do município de
Alexandria-RN, notou-se que os feirantes não possuíam uma rotina de higienização dos
utensílios e equipamentos. Em relação ao ponto “Equipamentos e utensílios”, 100% dos
itens estavam não conformes (Figura 5A).
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553

O equipamento mais utilizado pelos feirantes foi a balança, com a finalidade de


pesar os alimentos (Figura 5B). Todas as balanças observadas possuíam sujidades,
permitindo a contaminação cruzada dos alimentos.

CONCLUSÕES

A feira livre do município de Alexandria, RN, Brasil, classificou-se no grupo 3 de


atendimento aos itens, pelo checklist adaptado, baseado na RDC nº 275. O ambiente e a
forma de comercialização dos alimentos encontram-se com inúmeros itens não conformes
em relação as condições higiênico-sanitárias. Recomenda-se a realização de ações
educativas direcionadas aos feirantes e consumidores, além de campanhas educativas pela
administração local.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 50

CONDIÇÕES HIGIÊNICO-SANITÁRIAS DO LEITE CRU


COMERCIALIZADO EM BANANEIRAS, PARAÍBA

FRANÇA, Kevison Romulo da Silva


Doutorando em Proteção de Plantas
Universidade Federal de Alagoas
kevsfranca@gmail.com

PAIVA, Yaroslávia Ferreira


Doutoranda em Engenharia de Processos
Universidade Federal de Campina Grande 556
yaroslaviapaiva@gmail.com

SANTOS, FrancislaineSuelia dos


Doutoranda em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande
francislainesuelis@gmail.com

SILVA, Semirames do Nascimento


Pós-doutoranda em Engenharia Agrícola
CNPq/Universidade Federal de Campina Grande
semirames.agroecologia@gmail.com

FERREIRA, João Paulo de Lima


Doutoranda em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande
joaop_l@hotmail.com

RESUMO

Embora a comercialização direta do leite cru sem tratamento térmico ou controle de


inspeção sanitária é proibida por lei em todo o território nacional e apesar dos recentes
avanços em produtividade, o Brasil possui somente uma pequena parcela de produtores
que atendem aos critérios de excelência de qualidade exigida pelo mercado.Visto que a
esse tipo de comercialização é comumente utilizada no município de Bananeiras, Paraíba,
objetivou-se avaliar a qualidade microbiológica de amostras de leite cru advindas dessa
cidade. Para a realização desse trabalho, coletou-se uma amostra (em recipientes estéreis)
de cada um dos oito estabelecimentos (A, B, C, D, E, F, G e H) durante cinco semanas
consecutivas, totalizando assim 40 amostras. As mesmas foram analisadas quanto aos
parâmetros de Coliformes à 35º e 45ºC (NMP/mL), Salmonellasp. (presença/ausência),
Staphylococcuscoagulase positiva (UFC/mL), Contagem total de bactérias Aeróbias
Mesófilas (CTM) (UFC/mL) e Escherichia coli. (presença/ausência). Todas as análises
foram realizadas com base na metodologia adotada por Silva e seus colaboradores (2010).
O leite cru comercializado em todos os estabelecimentos do município de Bananeiras
apresentou-se fora dos padrões microbiológicos para todos os parâmetros analisados,
estando impróprio para o consumo. Esses resultados reforçam a necessidade de adoção
de critérios rigorosos nas medidas higiênico-sanitárias adotadas na ordenha, transporte,
acondicionamento e distribuição do leite.

PALAVRAS-CHAVE: Microbiologia, Qualidade, Tipo C.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

O leite é uma substância líquida secretada pelas glândulas mamárias de um animal


sadio e que não apresenta alteração na sua composição original, ou seja, não tenha sido
submetido a nenhum tratamento que modifique seu valor nutricional (CRUZ et al., 2019).
Devido justamente às suas características nutricionais, esse produto favorece o
desenvolvimento de uma diversidade de microrganismos, entre os quais, fungos
filamentosos e leveduras (LIMA et al., 2020).
Os principais perigos dos produtos lácteos à saúde humana estão diretamente
relacionados às contaminações químicas e microbiológicas decorrentes de falhas na
pasteurização, consumo de leite cru contaminado por agentes causadores de doenças 557
comuns aos homens e animais, ou produtos fabricados sem tratamento térmico (CRUZ et
al., 2019).
Embora a comercialização direta do leite cru sem tratamento térmico ou controle
de inspeção sanitária é proibida por lei em todo o território nacional (BRASIL, 1969), e
apesar dos recentes avanços em produtividade, o Brasil possui somente uma pequena
parcela de produtores que atendem aos critérios de excelência de qualidade exigida pelo
mercado (LIMA et al., 2020). 20% a 30% da produção leiteira brasileira é comercializada
sem inspeção sanitária, o que tem preocupado especialistas nessa área, visto que essas
irregularidades têm colocado a saúde do consumidor em risco, porque não há informações
sobre a qualidade microbiológica e composição nutricional do produto vendido
ilegalmente (MOTTA et al., 2015).
A higiene na produção de leite é o ponto mais importante para a qualidade do
produto final, embora a realidade sanitária do leite nas regiões brasileiras esteja muito
distante de ser adequada, isso ocorre por motivo da produção leiteira ser muito variável e
possuir diversos tipos de produção, manejo e propriedades que vão da ordenha manual
até a mais tecnológica (JESUS et al., 2020).
Outro fator importante é a crença existente entre os consumidores, pois muitos são
adeptos do leite cru comercializado clandestinamente, por acharem que são mais ricos em
nutrientes e que são mais naturais, por não passar pela indústria, e não conter aditivos e
conservantes (COSTA et al., 2020), além da questão da comodidade e baixo custo
(AMARAL; SANTOS, 2011), o que leva todos ao perigo, pois a falta de tratamento
térmico do leite deixa o consumidor exposto à contaminação por bactérias patogênicas
(COSTA et al., 2020) e outros perigos.
Visto que a esse tipo de comercialização é comumente utilizada no município de
Bananeiras, Paraíba, objetivou-se avaliar a qualidade microbiológica de amostras de leite
cru advindas dessa cidade.

MATERIAL E MÉTODOS

Inicialmente foi realizada uma pesquisa informativa acerca da comercialização do


leite cru no município, onde foram identificados oito pontos de venda, identificados como
A, B, C, D, E, F, G e H. Coletou-se umaamostra (em recipientes estéreis) de cada
estabelecimento, durante cinco semanas consecutivas, totalizando assim40amostras. As
2021 Gepra Editora Barros et al.

mesmas foram analisadas quanto aos parâmetros de Coliformes à 35º e 45ºC (NMP/mL),
Salmonellasp. (presença/ausência), Staphylococcuscoagulase positiva (UFC/mL),
Contagem total de bactérias Aeróbias Mesófilas (CTM) (UFC/mL)e Escherichia coli.
(presença/ausência). Todas as análises foram realizadas com base na metodologia adotada
por Silva e seus colaboradores (2010).

Preparo das diluições das amostras


De cada amostra foram pesadas, assepticamente, 25 gramas, as quais
foramcolocadas em frascos contendo 225 mL de água peptonada a 0,1%, esterilizada.
AmisturafoihomogeneizadaemaparelhoStomacherporumminuto,obtendoadiluição inicial
558
de 10-1. Após esse processo foram realizadas diluições decimais até10-7utilizando-
seomesmodiluente.

Coliformes à 35ºC
Teste presuntivo: três séries de tubos de caldo lauril sulfato triptose, comtubo de
Durhan invertido, foram inoculados com 1 mL a partir das diluições de 10 -1 a10-7. Após
serem incubados a 35ºC por 24 a 48 horas, as culturas que
produziramgásforamconsideradas positivas.
Teste confirmativo: de cada tubo com resultado positivo no teste presuntivofoi
transferida uma alçada da cultura (alça de níquel-cromo de 3 mm de diâmetro)para tubos
correspondentes contendo caldo lactose-verde brilhante-bile a 2,0% etubo de Durhan
invertido. Após o processo foi realizada a incubação a 35ºC por 24 a48 horas e
considerados positivos os desenvolvimentos bacterianos que produziramgás
nesteperíodo.
De acordo com o número de tubos positivos e, empregando a tabela de Hoskins, foi
determinado o NMP de coliformes totais por grama.

Coliformes à 45ºC
Apartirdecadatubodecaldolaurilsulfato triptose com resultado positivo no teste
presuntivo para coliformes a 35ºC,foram inoculados com alça, tubos correspondentes
contendo caldo EC e tubo deDurhan invertido. A incubação foi realizada em banho-maria
a 44,5 ±0,2ºC por 24 ±2horas e considerados positivos os tubos com multiplicação
bacteriana e produção de gás. De acordo com o número de tubos positivos e, empregando
a tabela de Hoskins, foi determinado o NMP de coliformes termotolerantes por grama.

Escherichia Coli.
A partir dos tubos com resultados positivos para coliformes a 45ºC em caldo EC,
foram semeadas placas de ágareosina-azul de metileno (EMB) e em seguida encubadas a
35ºC por 24 horas. Após o período e havendo desenvolvimento de colônias, foram
transferidas de cada placa, três colônias características (cor negra, chata, seca e com brilho
metálico), para ágarnutriente inclinado. Após incubação a 35ºC por 24 horas, realizou-se
coloração de Gram em cada tubo, para a verificação da morfologia dos isolados.
Constatada a presença de bacilos Gram-negativos, em cultura pura, esses foram semeados
emmeios para confirmação bioquímica através das provas do IMViC ou seja: produçãode
2021 Gepra Editora Barros et al.

indol (I), Vermelho de Metila (VM), Voges-Proskauer (VP) e do aproveitamento


decitrato (C). Na realização dessas provas, foram adotadas metodologias descritas em
MacFaddin(1976).
As culturas que se apresentavam em forma de bacilos Gram negativos e, queao
teste do IMViC apresentaram resultados + + - - ou - + - -, foram consideradas como
de E. coli.

Salmonella sp.
Pré-enriquecimento de cada amostra foi retirado, assepticamente, 25 gramas e
adicionados a 225 mL de água peptonada a 1,0%. Após homogeneização em aparelho
559
Stomacher, a mistura foi incubada a 37ºC por 24horas.
Enriquecimento seletivo: duas alíquotas, uma de 1 mL e outra de 0,1 mL dacultura
de pré-enriquecimento, foram inoculadas respectivamente, em 10 mL de caldo selenito
cistina e em 10 mL de caldo Rappaport-Vassiliadis, adicionados de 0,1 mL de solução
de novobiocina a 0,4%, dando uma concentração de 40 microgramas do principio ativo
por mililitro do meio. Em seguida, os caldos seletivos foram incubados a 37ºC por
24horas.
Plaqueamento seletivo com auxilio de uma alça de níquel-cromo, cada cultura em
caldo de enriquecimento foi semeada pela técnica de esgotamento em ágarverde-brilhante
e ágar MacConkey, seguido de incubação a 37ºC por 24horas.
Identificação presuntiva: 3 a 5 colônias, com características sugestivas do gênero
Salmonella, obtidas no plaqueamento seletivo seriam retiradas com auxilio de agulha de
níquel-cromo previamente flambada e inoculadas em tubos contendo ágar tríplice açúcar
ferro (TSI) e meio para a realização da prova da descarboxilaçãodalisina(LIA).
Confirmação sorológica: para tal, cultivos que, na identificação presuntiva,
apresentass em reações condizentes com o gênero seriam transferidos com alça deníquel-
cromo para lâminas de vidro contendo gotas de solução fisiológica. Após
homogeneização da colônia com a solução fisiológica na lâmina, seria acrescentada uma
gota de soro anti-salmonela polivalente somático-O, seguido de movimentação da lâmina
para leitura. Se ocorresse aglutinação na mistura, a prova seria considerada positiva. O
mesmo procedimento seria realizado para o soro polivalente flagelar-H. Seria considerada
como gênero Salmonellao cultivo que apresentasse positivida de em ambas as provas.

Staphylococcuscoagulase positiva
Para a determinação dos Staphylococcuscoagulaseforam pesados 25 g de cada
amostra e homogeneizadas em 225 mL de solução salina para a obtenção da diluição 10 -
1
. Para cultura na diluição 10-1, foi semeada uma alíquota de 1 mL distribuída em três
placas de Petri contendo ágar Baird-Parker (Himedia, Mumbai, Índia). Para as demais
diluições, foram realizadas análises em duplicata utilizando alíquotas de 0,1 mL
originárias da diluição anterior.
As placas foram incubadas em estufa a 37 °C por 48 horas. Ao fim desse período,
foi realizada a contagem de colônias e foram selecionadas três colônias típicas e três
colônias atípicas de cada placa, que foram semeadas em caldo Infusão de Cérebro e
Coração (BHI, Acumedia) para realização posterior da prova de coagulase, utilizando
2021 Gepra Editora Barros et al.

alíquotas de 300 μL de cada cultura adicionadas a 300 μL de plasma de coelho que


foramincubadas por 6 horas em estufa a 37 °C. Passado esse período e observada a
formação de coagulação que caracteriza resultado positivo, foi realizado o cálculo de
colônias coagulase positiva por placa para obtenção da contagem final.

Contagem total de bactérias Aeróbias Mesófilas - CTM


Foram depositados 1mL de cada diluição no fundo de placas de Petri esterilizadas,
em quadruplicata. A seguir, adicionados 15 mL a 17 mL de ágar padrão para contagem
(PCA) fundido e resfriado a temperatura em torno de 45ºC. Após a homogeneização e
solidificação do ágar a temperatura ambiente, duas placas foram incubadas a 35ºC por 48
560
horas para a quantificação de mesófilos, e as outras duas placas restantes, incubadas a 7ºC
por 10 dias para quantificação de psicrotróficos. As contagens foram realizadas no
contador de colônias segundo a técnica padrão, dando preferência as placas com 25 a 250
colônias.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 1 estão expostos os resultados obtidos para Coliformes a 35ºC, a 45ºC


e Escherichia Coli.
Observa-se que 100% das amostras avaliadas apresentaram >1100 NMP/mLtanto
para Coli a 35ºC, quanto para Coli a 45 ºC, estando acima do limite determinado pela
legislação vigente que é de 4,0 NMP/mL. A pesquisa dePereira et al (2019) corrobora
com os dados obtidos, visto que 92,3% das amostras de leite cru do estado do Amazonas
obtiveram número mais provável idêntico para Coli a 35 ºCaos aqui encontrados. Outros
estudos também corroboram como o de Amaral e Santos (2011), Paiva et al. (2018) e
Dias et al. (2015), em amostras advindas de Solânea (PB), Pombal (PB) e Norte do Piauí,
respectivamente, que apresentaram >1100 NMP/Mlpara ambos os coliformes analisados.
A presença de Escherichia Coli. foi detectada em seis dos oito estabelecimentos
avaliados, correspondendo a 25% (10 amostras) do total. 60% do leite cru das
propriedades rurais de Minas Gerais analisados por Sequetto et al. (2017) também
continham essa bactéria.
Visto que um dos principais grupos de microrganismos indicadores das condições
higiênico-sanitárias é o dos coliformes(CARVALHO et al., 2008) esses resultados
demonstram falta de higiene durante todo o processamento, principalmente na ordenha.

Tabela 10. Resultados obtidos para Coliformes a 35 ºC, Coliformes a 45 ºC e Escherichia Coli. nas
amostras de leite cru do município de Bananeiras, Paraíba.

Estabelecimentos Coliformes a Coliformes a Escherichia Coli.


35 ºC 45 ºC (presença/ausência)
(NMP/g) (NMP/g)

>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente


2021 Gepra Editora Barros et al.

>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente


A >1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Presente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Presente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Presente
B >1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Presente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Presente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente 561
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente
C >1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente
D >1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Presente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Presente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente
E >1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Presente
F >1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Presente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente
H >1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Ausente
>1100 NMP/mL >1100 NMP/mL Presente
Fonte: Autores (2020).

Em relação a Staphylococcusspp.eStaphylococcuscoagulase positiva (Tabela 2) as


contagens variaram de 1,25 x102 a 3,51 x106 e 1,8 x10 a 3,36 x103, respectivamente.
Apesar de a RDC nº 12, de 2 de janeiro de 2001, da ANVISA, não estabelecer padrões
para o leite, relacionados aStaphylococcuscoagulase positiva, ela estabelece os padrões
para os alimentos no geral, tendo como limite permitido 103UFC/g. Sendo assim, apenas
uma amostra do estabelecimento B teria ultrapassado o preconizado pela legislação.
Contudo, a presença Staphylococcusspp. no leite evidencia a falta de higiene
durante ordenha e manuseio, uma vez que espécies do gênero estão presentes em diversas
2021 Gepra Editora Barros et al.

partes do corpo do ser humano, como pele, garganta e fossas nasais também de forma
assintomática (SANTOS et al., 2007).

Tabela 11. Resultados obtidos para Staphylococcus spp. e Staphylococcuscoagulasepositiva nas


amostras de leite cru do município de Bananeiras, Paraíba.

Estabelecimentos Staphylococcus Staphylococcuscoagulase


spp. positiva
(UFC/g) (UFC/g)

2,35 x103 1,14 x102 562


5,67 x102 1,08 x102
A 1,23 x104 2,36 x10
8,90 x103 1,97 x10
3,68 x103 3,33 x10
6,66 x102 2,63 x10
5,20 x103 1,30 x102
B 3,51 x103 4,12 x10
3,69 x103 3,36 x103
2,63 x104 6,69 x10
6,25 x105 5,39 x10
2,54 x105 2,62 x103
C 1,25 x102 1,74 x103
3,74x105 3,57 x102
5,14 x104 6,99 x10
2,25 x104 2,26 x102
8,32 x103 5,28 x10
D 3,51 x106 3,69 x102
1,29 x104 8,53 x10
3,33 x105 6,90 x10
1,27 x103 8,74 x10
1,74 x104 2,64 x102
E 2,28 x103 4,31 x102
1,16 x103 6,57 x10
2,69 x105 1,80 x10
6,66 x104 1,20 x10
2,54 x104 9,0 x102
F 5,26 x105 1,82 x10
4,13 x105 3,37 x10
1,73 x105 2,68 x10
2,26 x104 3,87 x102
7,61 x105 1,14 x102
H 3,67 x104 2,18 x103
3,33 x105 3,65 x102
2021 Gepra Editora Barros et al.

3,59 x104 3,58 x102


Fonte: Autores (2020).

Altas contagens de bactérias Aeróbias Mesófilas foram identificadas (Tabela 3) em


todos os estabelecimentos, com variações de 4,51 x104 a 5,25 x108 UFC/g. Levando em
consideração que o limite máximo é de 1 x105 UFC/g, 75% (30 amostras) estiveram
inaptas ao consumo humano. Resultados semelhantes foram encontrados por Mattos et
al. (2010), em amostras de leite cru produzido na região do agreste pernambucano, onde
83% das amostras avaliadas encontraram-se acima do valor estabelecido pela legislação.
CTM é um parâmetro microbiológico de extrema importância, uma vez que este
grupo de microrganismo é composto principalmente por bactérias de importância médica 563
por serem patogênicas ao homem (PAIVA et al., 2018). Apesar disso, as quantidades de
CTM são preocupantes não só no quesito microbiológico, mas também no físico-químico,
pois envolvem vários fatores relacionados as características nutricionais e tecnológicas
que já foram comprovadas por vários autores como por exemploNeto et al. (2012) e
Andrade et al. (2009), que afirmam que esse grupo de microrganismos influencia
negativamente os constituintes do leite, afetando sua composição química e reduzindo
seu rendimento no processamento do leite.
Nenhuma amostra apresentou a presença de Salmonellasp., estando todas de
acordo com a legislação, assim como o leite de outras regiões da Paraíba, avaliados por
Freitas, Travassos e Maciel (2013), demonstrando a baixa incidência desse
microrganismos em amostras advindas da Paraíba.

Tabela 12. Resultados obtidos para Contagem total de bactérias Aeróbias Mesófilas
eSalmonella sp. nas amostras de leite cru do município de Bananeiras, Paraíba.

Estabelecimentos Contagem total de Salmonellasp.


bactérias Aeróbias (presença/ausência)
Mesófilas
(UFC/g)

8,97 x106 Ausente


5,25 x108 Ausente
A 3,85 x107 Ausente
4,69 x106 Ausente
7,68 x106 Ausente
9,58 X106 Ausente
3,94 X107 Ausente
B 2,83 X106 Ausente
2,98 X105 Ausente
1,83 X105 Ausente
9,78 x105 Ausente
4,59 x107 Ausente
C 2,95 x107 Ausente
2021 Gepra Editora Barros et al.

3,33 x106 Ausente


3,84 x107 Ausente
2,23 x106 Ausente
2,56 x106 Ausente
D 3,34 x105 Ausente
4,51 x104 Ausente
3,78 x105 Ausente
3,48 x105 Ausente
8,14 x104 Ausente
E 1,38 x105 Ausente 564
3,73 x106 Ausente
2,02 x106 Ausente
8,07 x105 Ausente
5,51 x106 Ausente
F 6,49 x105 Ausente
6,66 x104 Ausente
7,48 x104 Ausente
1,19 x106 Ausente
9,68 x104 Ausente
H 5,84 x105 Ausente
7,68 x105 Ausente
9,58 x105 Ausente
Fonte: Autores (2020).

CONCLUSÃO

O leite cru comercializado em todos os estabelecimentos do município de


Bananeiras apresentou-se fora dos padrões microbiológicos para todos os parâmetros
analisados, estando impróprio para o consumo. Esses resultados reforçam a necessidade
de adoção de critérios rigorosos nas medidas higiênico-sanitárias adotadas na ordenha,
transporte, acondicionamento e distribuição do leite.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 51

CONFORTO TÉRMICO E BEM-ESTAR DE OVINOS


LINS, Renan Castro
Mestrando em Desenvolvimento Regional Sustentável
Universidade Federal do Cariri (UFCA)
renancastro94@hotmail.com

TAVARES FILHO, Gilberto Saraiva


Mestrando em Engenharia Agrícola
Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF)
gilfilho753@hotmail.com
567
MASCARENHAS, Nágela Maria Henrique
Doutoranda em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
eng.nagelamaria@gmail.com

ARAÙJO, Cícero Aparecido Ferreira


Graduando em Agronomia
Universidade Federal do Cariri (UFCA)
nino1178@live.com

FEITOSA, José Valmir


Doutor em Zootecnia
Professor da Universidade Federal do Cariri (UFCA)
valmir.feitosa@ufca.edu.br

RESUMO

A ovinocultura sofreu inúmeras alterações ao longo dos anos, apresentando um


crescimento expressivo no mercado, assim atingindo posturas consideráveis na cadeia
produtiva mundial, colaborando positivamente para a economia. Na região semiárida
brasileira predomina a criação de pequenos ruminantes, como a ovinocultura, devido à
capacidade e potencialidades produtivas e adaptativas desses animais à região. O objetivo
do presente estudo é verificar informações referentes as características adaptativas de
ovinos, por meio de uma revisão bibliográfica. A metodologia empregada baseou-se nas
seguintes etapas: escolha do tema, seleção da problemática, coleta de dados e
interpretação dos trabalhos experimentais que possem maior relevância sobre o assunto
explorado, assim contribuindo com uma melhor explanação sobre o assunto. A partir dos
achados bibliográficos pode se inferir que o estresse provocado pelas as altas
temperaturas têm ocasionado danos financeiros expressivos em todo o mundo e a
aclimatação dos ruminantes a ambientes quentes estabelece ajustamentos
comportamentais, fisiológicos e metabólicos para diminuir a tensão e aumentar a
probabilidade de sobrevivência, todavia, frequentemente, diminui o desempenho dos
ovinos, chegando até a comprometer a saúde desses animais. Buscar animais com
características genéticas de resistência ao estresse, podem subsidiar com maior precisão
o desenvolvimento raças tolerantes a temperatura superior, com capacidade produtiva,
capazes de sobreviverem a diferentes mudanças ambientais.

PALAVRAS-CHAVE: Adaptação, Ambiência, Estresse térmico.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

A ovinocultura é bastante difundida no mundo, sendo criados nas mais diversas


regiões, muitas vezes em condições extremas, tanto ambientais como nutricionais, onde
tais condições prejudicam a eficiência produtiva e reprodutiva dos animais (TORRES et
al., 2017; DARCAN; SILANIKOVE, 2018).
Na região semiárida brasileira predomina a criação de pequenos ruminantes, como
a ovinocultura, devido à capacidade e potencialidades produtivas e adaptativas desses
animais à região, fortalecendo notavelmente nos últimos anos, com a introdução de
rebanhos com raças especializadas, melhoramento genético e técnicas de manejo que 568
propiciaram a elevação da produtividade, sendo economicamente viável a criação desses
animais nesta região (SEJIAN et al., 2018).
O conhecimento sobre a interação animal X ambiente e o índice de tolerância ao
calor desses animais frente às condições ambientais enfrentadas é relevante, já que o
estresse calórico tem sido reconhecido como fator limitador relevante da produção animal
nas regiões quentes (COSTA et al., 2015; BORGES et al., 2018).
O ambiente térmico que circunda o corpo dos animais, é composto por inúmeros
elementos climáticos: temperatura ambiente, umidade relativa, radiação solar, velocidade
do ar, onde todos esses elementos isolados ou combinados (em diferentes proporções),
podem desencadear uma série de alterações nas funções biológicas, que pode afetar
negativamente a sanidade, a produção e a reprodução dos animais (LIMA et al., 2017;
AMORIM et al., 2019).
O estresse provocado pelas as altas temperaturas têm ocasionado danos financeiros
expressivos em todo o mundo e a aclimatação dos ruminantes a ambientes quentes
estabelece ajustamentos comportamentais, fisiológicos e metabólicos para diminuir a
tensão e aumentar a probabilidade de sobrevivência, todavia, frequentemente, diminui o
desempenho dos ovinos, chegando até a comprometer a saúde desses animais
(BERNABUCCI et al., 2010; DARCAN; SILANIKOVE, 2018).
Na criação de ovinos é recomendado escolher raças mais adaptadas às condições da
região, pois o aumento da temperatura pode acarrear diversos problemas na produção,
uma vez que o animal em condição de estresse diminui a ingestão de alimentos e, como
resultado a sua aptidão de produzir é reduzida (COSTA et al., 2015).
Diante as mudanças climáticas que vem ocorrendo no mundo, o objetivo desta
revisão é reunir e sumarizar informações relevantes referentes as características
adaptativas de ovinos.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa baseia-se em uma revisão de literatura de caráter qualitativa e descritiva


através do levantamento de trabalhos publicados em bases cientificas.
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A busca foi norteada pela utilização dos termos: ovinocultura, bem-estar animal,
estresse térmico. Nesse sentido, foi possível analisar os trabalhos científicos que mais
contribuíssem com a melhor explanação sobre o assunto.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ovinocultura

A exploração de pequenos ruminantes no Brasil, como a ovinocultura, está em


constante evolução, onde os ovinos podem adaptar-se as variadas condições climáticas 569
do país, a qual permitem sua criação em sistemas de produções, seja para carne, leite, pele
ou lã, sendo que no país são exploradas um elevado número de raças de ovinos, onde
além das exóticas, existem as raças provenientes de cruzamentos aleatórios, em que
permaneceram sob seleção natural em determinados ambientes, adquirindo assim,
características específicas de adaptação a nova condição, conhecidas como crioulas,
locais, nativas ou naturalizadas (EUSTÁQUIO FILHO et al., 2011; TURCO et al., 2013;
DANTAS et al., 2015).
Em toda extensão da região nordestina brasileira, são criados ovinos de raças
exóticas, nativas e sem padrão racial definido (SPRD), como animais das raças Santa
Inês, Dorper, Anglo nubiana, Morada Nova, Cara curta, entre outros grupos genéticos,
que são exemplos de animais nativos e que vem ganhando destaque pelo elevado grau de
adaptação, apresentando vantagem competitiva, principalmente para sistemas de criação
extensiva e semi-intensivas nas condições do semiárido brasileiro, por serem tolerantes
ao calor, ausência de estacionalidade reprodutiva, boa habilidade materna e excelente
qualidade de carne e peles (EMBRAPA, 2018; FAÇANHA et al., 2020; NUNES et al.,
2020).
É necessário o conhecimento da tolerância ao calor e da capacidade de adaptação
das raças como fundamento técnico para a utilização ovina como fonte de renda, para
propor que raças sejam introduzidas nesta região, objetivando à obtenção de tipos ou raças
mais adequadas a uma condição específica de ambiente.

Conforto térmico e bem estar animal

Em condições climáticas desfavoráveis aos animais, pode sofrer uma série de


reações fisiológicas e comportamentais nos animais, que podem afetar negativamente sua
sanidade, reprodução e produção, sendo que os mesmos, quando submetidos a
temperaturas acima da zona de conforto térmico pode ocasionar perda de peso,
crescimento lento, problemas respiratórios, reprodutivos e hormonais, entre outros
(SEJIAN, 2013; FAÇANHA et al., 2020).
Os animais homeotérmicos necessitam manter sua temperatura corpórea dentro de
um padrão constante por uma série de meios de ajuste térmico, os quais incluem respostas
fisiológicas e comportamentais ao ambiente, além que o animal e o meio possuir uma
constante troca de calor dividida em calor sensível e calor insensível com isto à perda de
2021 Gepra Editora Barros et al.

calor sensível envolvem trocas diretas de calor com o ambiente por condução, convecção
ou radiação e dependem da existência de uma gradiente térmica entre o corpo do animal
e o ambiente (FAÇANHA et al., 2013; RUIZ; DWYER, 2015).
A produção animal nos trópicos é limitada principalmente devido ao estresse
calórico e há um complicador, pois as raças selecionadas para maior produção são
vulneráveis, desta forma, torna-se indispensável o conhecimento sobre adaptação das
principais espécies e raças exploradas no Brasil, bem como a escolha dos sistemas de
criação e manejo que desenvolvam a produção pecuária de forma sustentável, sem agravar
o bem-estar dos animais (RIBEIRO et al., 2018; AMORIM et al., 2019).
A importância em buscar novas técnicas de alta aptidão para aferir a tolerância ao
570
calor fragmenta-se em dois aspectos, constituídos pela identificação de raças ou linhagens
que conservem a homeotermia quando em elevadas temperaturas, além do entendimento
de particularidades anatomofisiológicos implicados na termólise (LEITE et al., 2018).

Elementos ambientais que influenciam o conforto térmico

O conforto térmico dos animais depende da interatividade entre os elementos


ambientais e, para avaliar o conforto ou desconforto do animal em determinados
ambientes, pode-se utilizar as variáveis meteorológicas ou índices de conforto térmico,
que incorporam esses elementos, tais como índice de temperatura e umidade (ITU) e o
índice de temperatura de globo negro e umidade (ITGU), possibilitando a análise do meio
em que os animais são inseridos (SOUZA; NERY, 2012).
O bem-estar animal é resultante da interação de fatores relacionados ao manejo, as
instalações e principalmente ao ambiente, esses aspectos demonstram correlações
positivas, uma vez que sua influência altera diretamente o conforto do animal implicando
em seu desempenho (NOBRE et al., 2013).
A temperatura do ar e a umidade relativa do ar são variáveis utilizadas para calcular
índices climáticos que, ao serem aplicadas se torna uma variável única, capaz de
apresentar termicamente o ambiente estudado (SILVA et al., 2019). O Índice de
Temperatura e Umidade (ITU), desenvolvido por Thom (1958), para o conforto humano
tem sido extensivamente utilizado para analisar o nível de conforto térmico em ovinos
(LEITÃO et al., 2013; MAIA et al., 2015).
A radiação solar, temperatura do ar e umidade relativa do ar, tem efeito considerável
sobre o animal em conjunto com a nutrição e sanidade (LEITE et al., 2018). Existem
várias maneiras de verificar o estresse térmico, sendo a mais utilizada o Índice de
Temperatura e Umidade que é calculado a partir da temperatura e da umidade relativa do
ar, entretanto, a mais precisa é a aferição da temperatura retal do animal (SILVA et al.,
2019).
De acordo com Marai et al. (2007), o ITU para ovinos com valores abaixo de 82
manifesta ausência de estresse, de 82 a 84 estresse moderado, valores acima de 84 estresse
severo.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Variáveis fisiológicas

As adversidades climáticas podem alterar as variáveis fisiológicas dos animais,


ocasionando declínio da produção, sendo que a temperatura retal, superficial, frequência
respiratória e cardíaca pode sofrer influência do turno do dia, temperatura ambiente,
radiação solar, produção, consumo de alimentos, atividade física (FURTADO et al., 2017;
TORRES et al., 2017).
O resultado do estresse térmico sobre o animal é mensurado através das respostas
fisiológicas anunciadas pelos próprios animais, que pode ser através da: temperatura retal,
frequência respiratória e frequência cardíaca (SEJIAN et al., 2018). Para manter as
funções fisiológicas normais, esses animais possuem mecanismos de troca de energias 571
que atuam no fluxo de calor dissipado para o meio (PERISSINOTTO et al., 2007;
ALEENA et al., 2018).
Os ovinos possuem glândulas sudoríparas do tipo apócrinas, associadas aos
folículos pilosos, em ambientes tropicais, a temperatura do ar tende a estar dentro de uma
mesma faixa da temperatura corporal, consequentemente os mecanismos de transferência
de calor sensível, como a convecção e condução, tornam-se ineficazes (LIMA et al.,
2017).
A temperatura retal dos ovinos varia entre 38,5 a 39,5 °C, no entanto algumas
condições podem provocar alterações, entre os quais: idade, sexo, período do dia e estação
do ano (EUSTÁQUIO FILHO et al., 2011). Considerando a relação da TR com a hora do
dia, tem-se que os maiores valores são encontrados durante o período da tarde,
diferenciando também, de acordo com a categoria animal (MASCARENHAS, 2018).
O aumento de 1°C na temperatura retal, já é suficiente para reduzir o desempenho
na maioria das espécies de animais (MCDOWELL, 1989). Vale ressaltar que a
temperatura retal é uma variável fisiológica na qual é demonstrada a quantidade de calor
acumulado pelos animais ao decorrer de um período, sendo tanto maior no final do dia,
quanto maior for o estresse a que o animal tiver sido submetido durante o dia (Marai et
al., 2007; Torres et al., 2017).
Quando ocorre uma elevação na temperatura ambiente, os mecanismos
termorregulatórios são acionados, aumentando a perda de calor na forma latente através
da sudorese, como elevação da frequência respiratória (OLIVEIRA; COSTA, 2013).
Ovinos apresentam frequência respiratória média de 16 a 34 mov min-1 (SWENSON;
REECE, 1996). Uma respiração acelerada e contínua por várias horas pode interferir na
ingestão de alimentos e ruminação, afetando o desempenho do animal (MCDOWELL,
1989).
O acréscimo na frequência respiratória é bastante eficaz para dissipação do calor,
com isto quanto maior for esse aumento na respiração, maior será a perda de calor por
evaporação, pois o animal consegue inspirar/expirar o ar assim aquecendo-o e
umedecendo-o com mais rapidez (FARIAS, 2010). Em ovinos a classificação pode variar
entre 40-60, 60-80 e 80-120 mov min-1, o que caracterizam respectivamente, estresse
baixo, médio-alto e alto e acima de 200 mov min-1, estresse severo (SILANIKOVE,
2000).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Elevadas frequências respiratórias nem sempre indicam que o animal esteja em


estresse térmico, sendo assim, se a frequência respiratória registrada esteja elevada, mas
em contrapartida, o animal tenha sido eficiente em dissipar calor para o meio,
conseguindo manter sua homeotermia (SILVA; STARLING, 2003). A respiração elevada
e contínua pode prejudicar a ingestão de alimentos e ruminação, aumentando o calor
endógeno a partir da atividade muscular e fazendo com que a energia seja desviada dos
processos metabólicos e produtivos (DAS et al., 2016).
Quando há um gradiente favorável o excedente de calor é dissipado do corpo
aquecido para o meio mais frio, não ocorrendo este mecanismo o animal aciona outros
dispositivos, a sudorese e/ou frequência respiratória é tido como o primeiro sintoma
572
visível da resposta do animal ao estresse térmico, assim, a função respiratória é uma
relevante forma de o animal perder calor quando submetido a temperaturas elevadas
(MCDOWELL, 1989; RIBEIRO et al., 2018).
A pele é o maior órgão do corpo do animal, e suas funções vão desde barreira natural
contra infecções, lesões e controle da termorregulação (TOMMASI JUNIOR et al., 2014).
De modo que a pele é se torna uma das principais rotas para a troca de calor entre a
superfície do corpo e o meio ambiente (SEJIAN et al., 2019). A temperatura da superficial
corpórea representa uma variável importante para avaliação da adaptação em ovinos
(SANTOS et al., 2006).
A superfície externa do corpo tem grande destaque na interação entre o organismo
e o ambiente, os animais que se encontram em regiões com temperaturas muito quentes
tendem a ser capaz de dissipar o excesso de energia metabólica para o ambiente e
simultaneamente evitar entrada do calor proveniente do mesmo (DANTAS et al., 2015).
Ruminantes sob circunstâncias térmicas inadequadas tendem a ter um acréscimo
calórico na fermentação ruminal, induzindo a redução da ingestão e digestão do alimento,
na tentativa de ajustar as respostas fisiológicas e produtivas com propósito de se
adaptarem ao ambiente de criação (NÓBREGA et al., 2011; COSTA et al., 2015; LIMA
et al., 2017).
A capacidade de o animal preservar a temperatura corporal influência diretamente
na produtividade e para isso os animais empregam diversas estratégias para manter a
homeotermia, como o redirecionamento do fluxo sanguíneo para a superfície corporal,
pela vasodilatação, favorecendo a dissipação de calor por mecanismos não evaporativos,
condução, convecção e radiação (SANTOS et al., 2006).
A pelagem interfere diretamente nas trocas de calor entre o animal e o ambiente
(SANTANA, 2011), e segundo Aiura et al. (2010), as características morfológicas do
pelame, tais como espessura da capa, número de pelos por unidade de área, densidade de
pelos, podem indicar a condição de aclimatação do animal ao ambiente em que vivem, e
segundo os autores animais que possuíam pelo mais comprido, obtiveram melhor
proteção contra a radiação solar direta.
Pelos mais curtos facilitam a termólise convectiva, como também a evaporação
cutânea (MAIA et al., 2003), portanto a seleção de animais que possuam um pelame
menos resistente a difusão de vapor, com altas taxas de sudação, torna-se um recurso para
os programas de melhoramento genético de animais de clima tropical (LIGEIRO et al.,
2006).
2021 Gepra Editora Barros et al.

CONCLUSÕES

O estresse térmico é o fator mais deletério para a produção de ovinos. Condições


climáticas desfavoráveis causam aos animais uma série de reações fisiológicas e
comportamentais nos animais, que podem afetar negativamente sua sanidade, reprodução
e produção. Buscar animais com características genéticas de resistência ao estresse,
podem subsidiar com maior precisão o desenvolvimento raças tolerantes a temperatura
superior, com capacidade produtiva, capazes de sobreviverem a diferentes mudanças
ambientais.

573
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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 52

CONSTELAÇÃO SISTÊMICA ORGANIZACIONAL APLICADA


NA GESTÃO DE EMPRESAS
SIQUEIRA, Sérgio Wagner de
Engenheiro Agrônomo (Produtor Rural)
Fazenda Canãa
sergiowsiqueira@hotmail.com

SILVA, Flávia Rosana Barros da


Zootecnista
Universidade Federal Rural de Pernambuco
barrosflaviar@gmail.com 578

BARROS, Timóteo Herculino da Silva


Pós-doutorando em Engenharia de Sistemas Agrícolas
Universidade de São Paulo
timoteo@alumni.usp.br

COSTA, Jéfferson de Oliveira


Pós-doutorando em Engenharia de Sistemas Agrícolas
Universidade de São Paulo
jefferson.costa@ifnmg.edu.br

RESUMO

Sabe-se que o problema central da gestão empresarial é a busca incessante por


produtividade, através de planejamento, controle, liderança e organização. No aspecto do
planejamento, define-se uma estratégia que indique onde a organização deseja estar no
futuro e como chegar lá. Neste trabalho, objetivou-se demonstrar e comparar a consultoria
organizacional sistêmico dinâmica, que através da ferramenta das “Constelações
Organizacionais”, orienta empresas nessa busca por maior produtividade. O trabalho foi
desenvolvido com base em dados de uma empresa do ramo de embalagens situada em
Americana-SP, que tinha decidido abrir uma filial no Paraguai, visando entrar em um
novo mercado que não atuava em sua Matriz no Brasil, e para isso iria mudar o fornecedor
da matéria prima para obter maior competitividade. Foram comparadas as dinâmicas
(demandas) que foram apresentadas pelo cliente (empresa) no ato da consultoria, as
percepções e os resultados nas constelações para cada demanda apresentada, bem como
o que ocorreu nos anos subsequentes até os dias de hoje. As percepções evidenciadas na
constelação organizacional forneceram uma imagem complementar e surpreendente da
realidade que era a manutenção do fornecedor brasileiro e o foco no mercado de
customizados como sendo o melhor caminho para a filial. No entanto, indicavam uma
outra direção àquela que a empresa tinha decidido seguir em sua filial, que era a mudança
do fornecedor e o foco em outro segmento de mercado (fertilizante). Foi comprovado
com o passar do tempo, que os caminhos evidenciados através da constelação seriam os
mais produtivos e rentáveis para a filial.

PALAVRAS-CHAVE: controle, percepção, planejamento.


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INTRODUÇÃO

A Consultoria Organizacional Sistêmico Dinâmica pode ser compreendida como


instrumento que observa e altera as respectivas dinâmicas em organizações, considerando
determinados parâmetros sistêmicos como propriedades básicas de sistemas empresariais.
Esta ferramenta nos oferece um perfil de trabalho completamente novo, altamente efetivo,
unindo os critérios de orientação nas metas e soluções, com a importante vantagem de um
mínimo de dispêndio de tempo (Grochowiak e Castella, 2007; Polack, 2017).
Segundo Kaat e Kroon (2017), o trabalho sistêmico fenomenológico
originalmente inicia-se com um método chamado familiar e organizacional, que hoje é 579
conhecido amplamente. Nos últimos 15 anos as constelações vêm nos ensinando como
os sistemas sociais incluindo organizações são colocados juntos. A intervenção sistêmica,
atualmente, é mais uma abordagem deliberativa e permanente que uma ferramenta
temporária.
Essa técnica possibilita ampliar a compreensão de como o sistema está organizado
e das ordens sistêmicas presentes, identificando o que equilibra e o que desequilibra o
sistema, ajudando a encontrar novas possibilidades de solução. Ela tem suas raízes na
teoria sistêmica e fenomenológica, e oferece uma grande possibilidade: ter uma
compreensão clara dos complexos sistemas nos quais estamos inseridos e assim encontrar
caminhos de solução de uma forma prática e concreta (Bakker e Steeghs, 2017).
Para a melhor compreensão do sistema e a forma específica de relacionamentos,
usa-se o termo técnico “interdependência”, ou seja, os elementos do sistema não existem
isoladamente, mas que seu comportamento influencia o dos demais de tal forma que uma
mudança em um ponto gera uma mudança em outro que, por sua vez, tem efeito de
mudança para o primeiro ponto (Stam, 2017; Stam e Hoogenboom, 2018).
Logo, a teoria sistêmica não considera mais o elemento isolado, mas desde o início
direciona seu foco em sua totalidade. Aqui, totalidade não é compreendida como a soma
das partes, mas como o efeito recíproco dos elementos e as inter-relações entre eles.
Assim, pode-se constatar o aspecto mais importante, ao grau de abstração que se
evidencia (Schlotter, 2018).
Nas Constelações Organizacionais se utiliza pessoas ou objetos para representar a
imagem interna do tema a ser trabalhado. Eles atuam como representantes das pessoas ou
das variáveis que compõe a questão a ser pesquisada. Esse resultado é possível porque,
por meio destas pessoas e/ou objetos, emerge a imagem interna do campo sistêmico, de
como a situação é vista, tornando assim objetiva sua subjetividade, deixando visíveis as
dinâmicas inconscientes que podem estar afetando a problemática em questão (Regis,
2013; Stam e Hoogenboom, 2018).
Essas informações também são adquiridas acessando o campo mórfico e/ou
morfogenético do sistema (campo de informação invisível), no qual a questão está
inserida, segundo Sheldrake (2014) a presença do passado, modificando eventos
probabilísticos. A escuta dessas informações é feita através das sensações, emoções e
pensamentos dos representantes de cada lugar do sistema colocado. Especialmente as
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sensações, pois elas são as mais fidedignas fontes de informação, assim as que mais guiam
na busca de soluções.
Segundo Stam e Hoogenboom (2018), os representantes têm acesso a informações
do sistema colocado de maneira inexplicável. Pelas sensações e percepções dos
representantes, todos os participantes recebem nesse momento muitas informações
adicionais, às quais antes não teriam acesso. Esse recurso funciona como um mapa
orientador para a implementação das soluções encontradas. Essas imagens são como
forças propulsoras que impulsionam o cliente em direção à solução encontrada e têm uma
repercussão durante certo tempo depois.
A experiência mostra que um quadro de soluções bem fundamentadas volta a
580
aparecer continuamente diante do olhar da mente, nos meses que seguem à colocação,
ativando dessa maneira a percepção das possibilidades e de novos caminhos para as
soluções (Bakker e Steeghs, 2017; Regis, 2013).
Hellinger (2006) constatou em longos anos de pesquisa que os sistemas familiares
possuem propriedades específicas de sistema: o vínculo, a ordem, o equilíbrio entre dar e
receber, essas ordens necessitam ser encontradas e respeitadas, aceitas e reconhecidas,
para o bom funcionamento do sistema. Quando estamos diante de um desequilíbrio do
sistema, estamos diante de uma pista de que ali existe uma crença, uma distorção, um
padrão persistente e que precisamos olhar, escutar e permitir que ela se expresse para que
assim possa ser acolhida, ressignificada e transformada.
Assim, podemos afirmar que a Consultoria Organizacional considera
organizações como totalidades, não focaliza unidades isoladas (funcionários, chefes,
clientes, departamentos...etc). A empresa é um sistema, onde os elementos estão em
constante interdependência, cada mudança em algum ponto gera mudança em todos os
outros (Hellinger, 2007).
Portanto, pode ser aplicada no Planejamento Estratégico das organizações,
orientando nas tomadas de decisão dos gestores, resolução de conflitos, resolução de
problemas de desempenho, de estrutura, fusões, relacionamentos, marketing, alocação de
pessoas em diversas áreas da empresa, processos, produtos, vendas e mercados.
O objetivo central deste trabalho foi demonstrar, através de indicadores
confiáveis, que a ferramenta das constelações organizacionais, pode apresentar eficácia
na orientação e aconselhamento empresarial, uma abordagem sistêmica fenomenológica,
ajudando no planejamento estratégico, no equilíbrio e no aumento de performance das
organizações e empresas e contribuindo para uma maior produtividade.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido com base em dados de uma empresa familiar do ramo
de embalagens com mais de 25 anos de atuação no mercado, situada em Americana-SP,
que vamos chamá-la de Matriz. A mesma decidiu no ano de 2014 por fazer uma
Constelação Familiar colocando como tema aspectos pessoais e também o
relacionamento entre seus diretores (mãe e três filhos), já que o fundador (pai) tinha
falecido a alguns anos e tudo na empresa ainda estava sendo “feito do jeito do fundador”,
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além da presença de muitos problemas/Conflitos de relacionamento entre os diretores


(irmãos).

O resultado desta Constelação Familiar foi a identificação de um aborto de um


primeiro filho da mãe e também foi trabalhado o desapego e aceitação do novo em relação
a morte do pai. Percebeu-se que foi muito proveitoso para a família, e também para a
empresa, as percepções e mudanças ocorridas e observadas nos meses subsequentes a
esse trabalho.

Assim, um ano depois, agosto de 2015, a empresa (Matriz), decidiu por realizar
581
uma expansão para o Paraguai, com a abertura de uma filial, (empresa que chamaremos
de Filial), e também abertura de novos mercados e fornecedores, isso tudo dentro de um
planejamento estratégico que estava sendo feito pela empresa.

Foi decidido utilizar a ferramenta das Constelações Organizacionais, através de


uma Consultoria Organizacional, para validar, orientar, ratificar, observar e verificar se
estariam caminhando na direção correta, com essas decisões que estavam sendo tomadas.

Neste momento, agosto de 2015, foram realizadas as Constelações


Organizacionais, levando como questões à serem consteladas a mudança do fornecedor
da matéria prima (Dinâmica do fornecedor) e o foco em novos mercados e produtos
(Dinâmica de mercado/produtos).

A Constelação Organizacional foi realizada em agosto de 2015, utilizando pessoas


estranhas ao sistema como representantes. Foram realizadas diversas dinâmicas, porém
serão objeto de estudo deste trabalho apenas duas dinâmicas, Mercado/Produtos e
Fornecedor.

A dinâmica do fornecedor teve como objetivo avaliar qual seria a melhor opção
de fornecedor, dentro de três possibilidades de fornecedores, para fornecer a matéria
prima para a filial que iria ser aberta no Paraguai (Figura 1). As opções de fornecedores
eram:

1)ENVAPAR – Paraguai;
2)BULK LIQUID – Índia;
3)PROPEX – Brasil.
2021 Gepra Editora Barros et al.

1)Figura
PROPEX – Brasil.
1.Esquema da dinâmica do fornecedor realizada em agosto de 2015, sendo F1: Envapar
(Paraguai), F2: Bulk Liquid (Índia), F3: Propex (Brasil) e F4 (Outros fornecedores, Estelar-Paraguai).

Metaflex (Filial)

?!

582

F1, F2, F3 e F4 Produto da metaflex


(Big Bag)

Fonte:Dados originais da pesquisa.

A proposta do facilitador foi em relação a leitura e as percepções que poderiam


ser proveitosas para a empresa Filial em termos estratégicos. Foi pedido que se escolhesse
um elemento/representante para cada fornecedor, além desses, um representante para o
produto e um para a empresa Filial que seria instalada no Paraguai.
Primeiro foi posicionado o representante da empresa, em segundo do produto, e
por último os fornecedores, de forma intercalada, ou seja, dentro da dinâmica, um
fornecedor entrava por vez, não ocupavam o campo simultaneamente, e então eram
perguntadas as diferenças percebidas para os representantes da empresa (Filial) e do
produto, cada vez que um representante diferente entrava. As informações obtidas por
cada representante em relação a cada fornecedor foram arquivadas em planilhas do
Microsoft Excel.
Já na Dinâmica de Mercado/Produtos, objetivou-se avaliar qual mercado seria
mais vantajoso para a Filial focar, dentro de três possibilidades (Figura 2). Lembrando
que o planejamento inicial para a Filial era entrar no mercado de Fertilizantes (Target
Market 1). As três opções de mercado eram:
1) Target Market 1 - Fertilizantes, embalagens padrão com baixo valor agregado,
commodities, altas quantidades e com 60% do mercado.
2) Target Market 2 - Produtos intermediários, embalagens difíceis de serem feitos,
mas não tanto quanto os customizados, big bags afunilados, modelos travados e com 30%
do mercado.
3) Target Market 3 - Produtos Especiais (Customizados), alto valor agregado,
baixo volume e com 10% do mercado.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 2.Esquema da dinâmica de vendas (Mercado/Produtos).

Produtos Produtos
Fertilizantes intermediários customizados

Target Market 1 Target Market 2 Target Market 3

583

Filial

Fonte:Dados originais da pesquisa.

A proposta do facilitador nessa dinâmica foi em relação a leitura e as percepções


que poderiam ser proveitosas para a empresa (Filial) em termos de estratégia de vendas.
Foi pedido pelo facilitador para escolher um elemento/representante para cada nicho de
mercado possível de atuação, além desses, um para os possíveis clientes da Filial e um
para a própria Filial (empresa que iria ser montada no Paraguai). Foi pedido aos
representantes que escolhessem uma posição no ambiente de forma espontânea, e quando
todos estivessem em seus lugares, foram observados os posicionamentos e as descrições
das sensações que cada um dos representantes percebia.
A empresa Matriz, focava e atuava, bem como foca e atua ainda na atualidade, no
Mercado Customizado, e também no mercado de produtos intermediários, mas não atuava
no mercado de fertilizantes. Dentro do plano da empresa para sua Filial no Paraguai, já
que se projetava um custo de produção bem menor que o da Matriz no Brasil, se planejava
entrar nesse Mercado Fertilizante com a produção que seria feita na Filial. As informações
obtidas foram arquivadas em planilhas do Microsoft Excel.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As informações dadas e percebidas no exercício da Constelação Organizacional


na dinâmica do fornecedor podem serem vistos na Tabela 1.

Tabela1.Informações dadas e percebidas no exercício da Constelação Organizacional na dinâmica


do fornecedor.
FORNECEDOR 2
FORNECEDOR FORNECEDOR 1 FORNECEDOR 3
(BULK LIQUID - ÍNDIA)
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(ENVAPAR - (PROPEX DO
PARAGUAI) BRASIL)
Corpo leve, muita
leveza, sensações de
Pressão nas costas,
Desconforto na região da bem-estar, segurança
desconforto, irritabilidade.
barriga, costas pesadas, e tranquilidade. "Me
Frases ditas: "Sinto-me
Descrições dadas sensação de enjoo, maresia. sinto bem aqui, me
muito pequeno perto desse
pelo Produto "Essa posição horrível para sinto acolhida, gosto
elemento, sinto-me
mim, sinto-me muito mal, muito desse elemento
rejeitado e desvalorizado,
sem força, sem lugar" que acabou de entrar,
não gosto dessa pessoa"
tenho vontade de me
virar pra ele"
Sensação de fluxo,
Palpitação, inquietude, Sem sensações no corpo,
vontade virar as costas e apenas uma leve pressão no
corrente elétrica 584
correndo no corpo,
olhar para outro lado. peito, ansiedade e
mãos formigando.
Frase dita: "Essa pessoa sentimentos de raiva,
"Vejo o casamento
Descrições dadas me deixa inquieta, irritação. "Aqui me sinto
perfeito em minha
pela Metaflex apreenssiva, ela traz uma realmente desconectada de
frente, gosto muito
certa rigidez pra a união tudo, não gosto desses dois
desses dois aí,
dos dois elementos na minha frente, me parece
parecem que foram
(Fornecedor e Produto) que isso não faz muito
feitos um para o
sentido"
outro"
Falta de ar, formigações no Formigamento nos braços e
braço direito, inquietude. uma relativa inquietude. Tranquilidade,
Frase dita: "Não existe "Me sinto forte e tenho sobreidade, alegria.
nenhuma conexão aqui, visão de todos aqui, "Meu lugar é aqui,
Descrições dadas
estou solto e independente, gostaria de mais sinto como se
pelo Fornecedor
nem vejo, nem sinto essas proximidade, porém não pudesse ficar aqui
pessoas que aqui estão sinto conexões com pra sempre, gosto
presentes, estou no meu nenhum desses elementos muito daqui"
próprio mundo" aqui"
Fonte:Dados originais da pesquisa.

As informações provenientes da Constelação dos Mercados/Produtos em relação


a cada um dos mercados podem serem vistos na Tabela 2.

Tabela2.Informações provenientes da Constelação dos Mercados/Produtos em relação a cada


umdosmercados.
Target Market 3 Produtos
Target Market 1 Target Market 2
FORNECEDOR Especiais
Fertilizantes Produtos Intermediários
(Customizados)
O representante olhava
diretamente para esse
O representante se O representante tinha
mercado. Dizia: “Aqui me
posicionou de costas interesse no mercado aqui
sinto acolhido, aqui me sinto
para o representante representado, por mais
visto”. E tanto o
do Mercado de que não olhasse para esse
Descrições dadas representante do mercado
Fertilizantes e mercado diretamente. Já a
pelo como o representante da
descrevia descrição do representante
representante do própria FILIAL, por todo o
desconexão e da própria FILIAL se
cliente da tempo mantiveram suas
desinteresse em tal dirigia a esse elemento
FILIAL posições orientadas um para
mercado, rejeição. com uma conexão
o outro. Outro ponto a ser
Frase dita: “Não agradável, uma
descrito é que apenas nesse
gosto deste curiosidade, mas pouca
mercado houve conexão com
elemento”. visibilidade.
o representante/elemento da
FILIAL.
Fonte:Dados originais da pesquisa.
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Na constelação que foi trabalhada a questão dos fornecedores, foi observado e


evidenciado que não havia nenhuma conexão entre a FILIAL, tanto com o fornecedor
indiano (BULK LIQUID), como com o fornecedor paraguaio (ENVAPAR). Porém a
empresa FILIAL tinha decidido, dentro de seu planejamento comprar a matéria prima do
fornecedor indiano, tentando reduzir custos, o que foi realmente colocado em prática nos
dois anos subsequentes, apesar de ter sido demonstrado na constelação que a melhor
conexão se dava com o fornecedor brasileiro (PROPEX).
A apresentação dos indicadores obtidos nas diferentes situações observadas pode
ser vista na Tabela 3.
585
Tabela3.Apresentação dos indicadores obtidos nas diferentes situações observadas da dinâmica do
fornecedor.
FORNECEDOR 1 FORNECEDOR 3
FORNECEDOR 2
FORNECEDOR (ENVAPAR - (PROPEX DO
(BULK LIQUID - ÍNDIA)
PARAGUAI) BRASIL)
Leadtime (Tempo 30 dias + Tempo do
40 dias 120 dias
de entrega) Frete
U$ 2,20,
40% confirmação do U$ 3,10,
Preço e forma de U$ 2,60,
pedido, 60% chegada do 60 dias pós emissão
pagamento a vista.
pedido no porto de Nota Fiscal.
Assunção
Ampla, restrito as
Gama de Ampla, restrito as
Limitada quantidades
produtos quantidades solicitadas
solicitadas
20 anos de parceria
no Brasil,
Sem confiança e sem Comercialmente abertos e relacionamento com
Relacionamento
abertura. disponíveis. flexibilidade,
tolerância e
confiança
De forma bastante
estável o índice de
Primeiras Compras: 11%
Nunca chegamos a desperdício se
de desperdício (Altíssimo),
comprar desse fornecedor, mantém em 3%
conforme reclamações e
pois o mesmo quando (prática aceitável
relatórios, gradativamente
descobriu que iriamos nos pelo mercado),
% de desperdício foram capazes de alcançar
instalar no Paraguai, Pontualmente
(por defeitos de um patamar de 6% a 7%,
entendeu que problemas de entrega
qualidade) índice ainda alto. Inúmeros
representaríamos um risco e ou qualidade são
problemas gerados na
ao seu mercado e não quis relatados, porém são
produção em razão da baixa
desenvolver mais os tratados com
qualidade das matérias
negócios. eficiência e quando
primas.
não resolvidos,
reembolsados.
O projeto Paraguai
No momento que Todo o projeto do Paraguai
(Metaflex) nasceu
decidimos pela efetivação girava em torno da
por duas razões
do projeto Paraguai possibilidade de se habilitar
principais: 1-
Outras (Metaflex), nossa primeira fornecedores estrangeiros,
Romper com a
informações opção como fornecedor era uma vez que a carga
dependência
relevantes a ENVAPAR, porém, os tributária para produtos
existente entre a
mesmos por já estarem no importados no Brasil
empresa do Brasil
Paraguai, entenderam que tornava a compra desses
(Agilbag) e o
nossa vinda ao Paraguai fornecedores inviáveis.
fornecedor Propex e
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representaria um risco 2- Ser capaz de


comercial a eles. alcançar um patamar
de preço para entrar
no mercado de
fertilizantes.
Fonte:Dados originais da pesquisa.

Na constelação que foi trabalhada a questão dos mercados e produtos, foi


observado e evidenciado, no campo acessado, que não havia nenhuma conexão entre os
clientes da Filial, bem como da própria Filial, com o mercado de fertilizantes. Já entre os
mercados intermediários e customizados (Target Market 2 e 3) e a Filial havia boas
conexões. Lembrando que a Matriz resolveu abrir sua Filial no Paraguai para entrar no 586
mercado de fertilizantes, mas a constelação indicava que não existia nenhuma conexão
entre a Filial e o mercado de fertilizantes.
A apresentação dos indicadores obtidos nas diferentes situações observadas na
dinâmica de vendas pode ser vista na Tabela 4.

Tabela4.Apresentação dos indicadores obtidos nas diferentes situações observadas da dinâmica de


vendas (Mercados/Produtos).
Target Market 3 Produtos
Target Market 1 Target Market 2
FORNECEDOR Especiais
Fertilizantes Produtos Intermediários
(Customizados)
Preços praticados
no mercado R$ 16 a R$ 27 R$ 40 a R$ 70 R$ 80 a R$ 200
comumente
Preços oferecidos
pela Agilbag R$ 42 a R$ 55 R$ 60 a R$ 80 R$ 80 a R$ 200
(BR)
Preços oferecidos
pela Metaflex R$ 30 a R$ 40 R$ 45 a R$ 75 R$ 50 a R$ 150
(PY)
Fonte:Dados originais da pesquisa.

Este levantamento, bem como os indicadores apresentados, foi realizado em


fevereiro de 2018, logo mais de dois anos e meio após os resultados das constelações. As
constelações foram realizadas em agosto/2015 e a filial foi aberta em dezembro/2015.
Apesar da percepção observada na constelação dos mercados e produtos, que não
havia conexão entre a filial e seus clientes com o mercado de fertilizantes, o que trouxe
mais confusão do que esclarecimento para a empresa, se decidiu por insistir em seu
planejamento inicial e focar sua estratégia de vendas nesse mercado para a Filial.
O resultado que realmente ocorreu foi que nesses mais de dois anos e meio de
operação na Filial, nenhum contrato de produtos fertilizantes foi fechado, não se
conseguiu um preço competitivo para tal, apesar de muito se tentar. Já o mercado de
produtos intermediários, o que tinha sido demonstrado melhor conexão na constelação,
foi o que mais se mostrou mais interessante para a empresa FILIAL, inclusive sendo o
que mais contribuiu para a manutenção dos clientes da “Matriz” dos produtos
intermediários, com a crise vivenciada no Brasil nos anos de 2016/2017.
Portanto pode-se concluir que todo o processo percebido na Consultoria
Organizacional Sistêmica, através das dinâmicas das Constelações foi comprovado, e
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tudo se mostrou muito coerente, onde a melhor conexão da FILIAL era com o mercado
de produtos intermediários, e não com o mercado de produtos fertilizantes.
Segundo o Diretor da Empresa FILIAL: “Tudo que pudemos perceber com a
dinâmica foi que nosso ideal inicial, vender no mercado de fertilizante (um mercado
gigantesco a nível de quantidade, porém dificílimo a nível de preço) seria inviável. De
certa maneira todo o processo nos trouxe muito aprendizado, pois vimos que muitas vezes
limitamos a nossa visão, excluindo alternativas de forma irresponsável e ingênua.
Foi possível perceber que mesmo produzindo no Paraguai, nossos padrões de
exigência e gestão ainda seriam restritivos para atuar no mercado de fertilizantes, porém
ainda seriamos capazes de atuar nos outros mercados, com melhor margem e
587
lucratividade elevada. Por fim, ao instalarmos no Paraguai e começarmos a produzir,
percebemos que de fato precisaríamos atuar inicialmente em mercados onde nossos
custos compensavam e assim fizemos, hoje estamos com 75 funcionários e estamos
vendendo para clientes antigos que já não compravam de nós em razão do preço. Ou seja,
recuperamos antigos clientes e ainda abrimos novos clientes no mesmo mercado que
atuávamos no Brasil.
Em relação a dinâmica do fornecedor, a empresa buscava através da ferramenta
da Constelação Organizacional, uma validação e mais informações sobre qual dos novos
fornecedores se poderia apostar, ou pelo menos, o que esperar de cada um.
Com a dinâmica do fornecedor a empresa acabou ficando mais confusa, pois
tinha-se como certo a possibilidade de explorar nossos fornecedores do Paraguai e da
India, e segundo o que os elementos expressavam nas dinâmicas, ficava claro que não
seriam opções/alternativas viáveis.
Ao final, relutantes, a diretoria da empresa optou por arriscar e realizar as compras
provenientes da Índia, pois o único fornecedor habilitado no Paraguai fechou as portas
assim que soube da instalação da FILIAL no Paraguai.
Efetivamente os resultados foram péssimos, muitos problemas de qualidade,
problemas de prazo de entrega, formas de pagamento com congestionamento de fluxo de
caixa, efetivamente, nada funcionou. Por fim, foram sendo finalizados os negócios com
esse fornecedor.
Atualmente a empresa FILIAL está comprando apenas do fornecedor brasileiro
PROPEX, e apesar de estar buscando alternativas, ainda não foi encontrada uma que
atenda com qualidade e praticidade.
Foi demonstrado durante esses dois anos e pouco, que os negócios com esse
fornecedor indiano, foram de extrema dificuldade, situações comerciais que não foram
possíveis de serem avaliadas no planejamento inicial da empresa para sua FILIAL, porém
foram evidenciadas na constelação organizacional (dinâmica do fornecedor), apesar da
empresa não ter seguido o aconselhamento da Consultoria Organizacional Sistêmica que
utilizou a constelação para acessar essas informações “ocultas”.
E, atualmente, as compras de matéria prima da Filial, estão sendo feitas em sua
maioria do fornecedor brasileiro, o que tinha sido demonstrado a melhor conexão com a
Filial, durante a consultoria.
Logo, os resultados observados na constelação organizacional, demonstraram, 6
meses antes mesmo de se ter aberto a Filial, que o melhor caminho para a empresa era, e
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foi comprovado com o tempo, manter o foco no mercado de produtos intermediários,


como também a manutenção do fornecedor brasileiro.

CONCLUSÕES

Concluiu-se que a ferramenta das Constelações Sistêmicas Organizacionais, através


de uma abordagem sistêmica fenomenológica, enxergando e aceitando a realidade
exatamente como é revelada, possibilita algo novo surgir. Permite o diagnóstico da
situação em curso, através da percepção de padrões persistentes, conhecendo causas
inconscientes e invisíveis, testando hipóteses e possibilidades de solução. Orienta os
gestores no Planejamento Estratégico das Organizações e Empresas, bem como nas suas
588
tomadas de decisão, resolução de problemas de desempenho, de conflitos e alocação de
pessoas em diversas áreas da empresa, de estrutura, fusões, relacionamentos e
comunicações. Como também orienta nos processos, produtos e mercados. Enfim, uma
ferramenta valiosa no auxílio na busca do equilíbrio e de maior produtividade das
empresas.

REFERÊNCIAS

Bakker, S.; Steeghs, L. 2017. Unlocking Systemic Wisdom. Systemic Books Publishing.
ISBN 978-1973714231 (NUR 470).

Grochowiak, K.; Castella, J. 2007. Constelações Organizacionais - Consultoria


Organizacional Sistêmico Dinâmica. Cultrix. São Paulo, SP, Brasil.

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Systemic Books Publishing. ISBN 978-1539788454 (NUR 801).

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Regis, L. 2013. Coaching Sistêmico- Um caminho de conquistas através do SER.


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Schlotter, P. 2018. The Social Nature of Man - falsifiable. Carl-Auer-Systeme,


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ISBN 978-9492331472 (NUR 801).
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Capítulo 53

CONTRIBUIÇÃO DO CONHECIMENTO ETNOBOTÂNICO PARA


A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: ESTUDO DE CASO
PARA O BIOMA CAATINGA

SANTOS, Ayane Emília Dantas dos


Pós-graduanda em Ciências Florestais
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
ayaneemilia@gmail.com

NEVES, Abidã Gênesis da Silva,


Gaduando em Engenharia Florestal 589
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
abidagenesis@hotmail.com

FAJARDO, Cristiane Gouvêa


Dra. em Ecologia
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
genegoista00@gmail.com

VIEIRA, Fábio de Almeida


Dr. Em Ciências Florestais
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
vieirafa@gmail.com

RESUMO

Estudos etnobotânicos realizados com os agrupamentos humanos locais têm


apresentadoconsideráveis contribuições na formulação de medidas mitigadoras aos
impactos ambientais gerados pela ação antrópica.A fim de identificar como as
informações geradas a partir da investigação de conhecimentos tradicionais podem
contribuir na elaboração de estratégias conservacionistas realizou-se uma revisão
sistêmica de literatura nas bases de dados: ‘Web of Science’, ‘Scielo’, ‘Scopus’ e ‘Google
Scholar’. Foram utilizadas as combinações de palavras-chave (etnobotânica,
etnoconhecimento e etnociência) e descritores como (etnobotânica no bioma Caatinga,
conhecimento popular e preservação ambiental), de que modo para busca de artigos que
contemplam a relevância da etnobotânicapara a conservação do meio ambiente, com
enfoque especial para as abordagens realizadas no bioma Caatinga. Partindo da premissa
de que este bioma brasileiro é um dos mais afetados pelas alterações físicas provocados
no meio ambiente, além de ser pouco conhecido e estudado pelo meio científico. Assim,
discutiu-se a importância de pesquisas que se dedicam a compreensão da relação homem
e natureza para a determinação de práticas apropriadas ao manejo dos recursos naturais,
associados ao uso sustentável e conservação desse ambiente.

PALAVRAS-CHAVE: Recursos naturais, saberes tradicionais, estratégias


conservacionistas.
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INTRODUÇÃO

Atualmente, um dos grandes desafios da humanidade é a conservação dos recursos


naturais, principalmente devido aos impactos causados pela ação humana, que têm posto
em risco a dinâmica ecológica dos biomas. A magnitude dessas ações tem sido observada
especialmente na região Nordeste do Brasil (DOS SANTOS; PEREIRA, 2016). Dentro
deste aspecto, o bioma Caatinga apresenta um dos maiores índices de alterações
registradas (MMA, 2020), com impactos diretos na sua biodiversidade. Diante desse
contexto, conservacionistas e instituição de pesquisas apontam a necessidade de
introduzir alternativas de conservação democráticas, participativas que beneficiem a
conservação e a diversidade cultural (DIEGUES, 2019). Logo,a etnobotânica,ciência que 590
engloba a notoriedade das práticas e do domínio popular sobre os bens ambientais, que
considera suas aplicabilidades como alternativa para a conservação e o uso racional da
biodiversidade (ROCHA et al., 2014), apresenta-se como um essencial instrumento para
alcançar-se esse objetivo.
As experiências que permeiam a relação histórica do homem com o meio ambiente
estão imbricadas na forma como se relacionam com a biodiversidade dos ecossistemas
que estão inseridos (SILVA et al., 2017). Como podem gerar informações úteis para o
planejamento ambiental, na preservação da biodiversidade, e no manejo sustentável dos
recursos naturais, são considerados significativos (BORGES; PEIXOTO, 2009). Além de
contribuírem na identificação biológica de espécies pouco conhecidas.
Com base no exposto, a etnobotânica torna-se primordial para compreender a
problemática ambiental que envolve o Bioma Caatinga e seus recursos vegetais. Por meio
da análise do conjunto de informações ambientais acumuladas pelo homem ao longo do
tempo, é possível definir estratégias capazes de romper ou minimizar, impactos
ambientais que assolam este bioma. Desse modo, o presente estudo objetivou por meio
de revisão sistemática da literatura, registrar as contribuições dos
conhecimentosetnobotânicos para a construção e os fortalecimentos de ações sustentáveis
com ênfase no Bioma Caatinga.

MATERIAL E MÉTODOS

O desenvolvimento do estudo foi realizado por meio da análise de trabalhos


científicos que contemplam a contribuição da etnobotânicapara a conservação do meio
ambiente, com ênfase especial para as abordagens realizadas no Bioma Caatinga, visto
que pesquisas etnobiológicas tem se destacado especialmente na região Nordeste (FELIX
et al., 2019).
Para tanto, foram utilizadas combinações de palavras-chave: etnobotânica,
etnoconhecimento e etnociência; e descritores como, etnobotânica no Bioma Caatinga,
conhecimento popular e preservação ambiental. Além disso, foram selecionados artigos
sobre a temática etnobotânica nas bases de dados: ‘Web of Science’, ‘Scielo’, ‘Scopus’,
‘PubMed’ e ‘Google Scholar’. Como critério de inclusão para análise, foram
considerados produções científicas entre os anos de 2001 e 2020.Para cada estudo
referente à temática analisada com base nos parâmetros acima, foram extraídas as
2021 Gepra Editora Barros et al.

seguintes informações, de que modo quea percepção popular vem sendo difundida pelas
populações tradicionais, de que forma ele pode contribuir para o uso racional da
biodiversidade. Para estudos realizados especificamente no Bioma Caatinga foram
analisados a potencialidade medicinal de sua flora para a produção de novos fitofármacos,
bem como a prioridade de conservação de algumas espécies medicinais. Nessa
perspectiva, buscou-se compreender também como as Unidade de Conservação
funcionam, quais seus principais impasses, e como estas podem junto aos conhecimentos
populares proteger os recursos naturais essenciais para a sobrevivência das populações.

591
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Influência dos conhecimentos tradicionais sob os recursos naturais


O elo estabelecido entre as comunidades locais e o meio ambiente ao longo do
tempo, favoreceu ao homem, um acúmulo de saberes que foram sistematizados como
conhecimentos. Estes adquiridos, principalmente, por meio de práticas adotadas na
agricultura itinerante que envolvem diretamente o manejo de espécies vegetais.O
conjunto de técnicas usualmenteexercidas pelas populações tradicionais caracterizou-se
como sistema tradicional de manejo (SILVA et al., 2017). Dessa maneira, as diferentes
formas e intensidade de como o ecossistema e as espécies que o compõe são manejadas
pelo homem, confere a biodiversidade um caráter peculiar, comumente chamado de
sociobiodiversidade (ARAÚJO; TREVISAN,2018). O termo carrega a marca da
influência humana sobre a diversidade biológica (SILVA et al., 2017), pois os seres vivos
em sua diversidade participam da identificação do espaço (DIEGUES, 2019).Portanto, a
biodiversidade faz parte de uma complexa relação que pertence tanto ao domínio natural,
quanto ao cultural (DIEGUES, 2019).
Por essareunião de práticas, costumes, discernimentos e valores que envolvem as
comunidades tradicionais, suas populações apresentam-se como indispensáveis agentes
de proteção de áreas naturais. Uma vez que, exibem estilo de vida capaz de coexistir
dentro de certos limites de equilíbrio com a biodiversidade (PEREIRA; DIEGUES,
2010). À vista disso, as informaçõesculturais dessas populações são imprescindíveis para
as práticas de manejo sustentáveis, e para a conservação da diversidade biológica dos
ecossistemas (ARAÚJO; TREVISAN, 2018; MATHEUS, 2019). Proporcionam ainda,
uma alternativa para vislumbrar soluções referentes à problemática que envolve a relação
homem e natureza, na perceptiva da conservação ambiental (TOMCHINSKY et al.,
2014). Porqueas experiências tradicionais se configuram como o resultado de uma
coevolução estabelecida ao longo do tempo entre as sociedades e seus ambientes naturais
(DIEGUES; ARRUDA, 2001).
É nítido que as técnicas de manejos produzidas e reproduzidas pelas comunidades
tradicionais ao longo das gerações, resultam em conjunto de práticas conservacionistas.
Desse modo, os princípios populares que circundam as comunidades, podem ser a chave
para novas alternativas sustentáveis, que se adequem a realidade dos ecossistemas,
garantindo o equilíbrio e consequentemente à conservação da natureza. Por fim, é
2021 Gepra Editora Barros et al.

interessanteressaltar que asculturastradicionais, propõe ainda, uma conscientização, no


sentido de construir valores e hábitos que possam auxiliar na minimização dos impactos
ambientais (VIEIRA; SOUZA, 2018).

Etnobotânica como instrumentodelineador de estratégias para a conservação das


espécies e seus potenciais

Compreender a dimensão da relação estabelecida entre o homem e natureza, é


fundamental para a formulação de medidas mitigadoras à degradação ambiental
desencadeada pela sociedade moderna (BARBOSA et al., 2020). Bem como para a
592
definição de estratégias que potencialize a conservação das espécies, especialmente
florísticas. Nesse sentido, a grande lacuna da identificação florística no Brasil, inclui não
somente a riqueza total de espécies, mas o nome científico, onde estão localizadas, o
tamanho,as respectivas distribuições das populações, o estado de conservação e a riqueza
relativa destas espécies em cada bioma (ARAÚJO; TREVISAN, 2018). Outro impasse
registrado no país refere-se as Unidades de Conservação (UC), que apesar de prever
oportunidades de sustentabilidade para a utilização dos recursos naturais, em alguns casos
são insuficientes na definição de seus critérios de usos sustentáveis. Sendo necessário a
implementação de plano de manejo em muitas dessas UC’s (PRADO et al., 2019). Ainda
de acordo com os autores, reconhecer o conhecimento que envolvem os vegetais, tal como
as práticas agroecológicas e o uso consciente da flora, são fatores determinantes para o
progresso socioeconômico e ambiental, corroborando para identidade e autonomia dos
que habitam nestas áreas.
Por esses motivos, a ocorrência e sobrevivência das plantas estão também
relacionadas com a forma que os seres humanos as manipulam. Nesse contexto,
investigações etnobotânicas podem desempenhar funções de grande valia.
Alicerceesteque nos permite reunir informações acerca dos vegetais, que cooperam
significativamente para o desenvolvimento de novas formas de exploração dos
ecossistemas que se oponham às formas destrutivas vigentes (SALES;
SARTOR;GENTILLI, 2015). Os especialistas apontam ainda, que o foco das
investigações etnobotânicas expandiu-se ao redor do mundo. Atualmente, engloba todas
as sociedades tradicionais e industriais e suas relações estabelecidas com a flora.
A contribuição daetnobotânica para conservação da biodiversidade é observado
através do valor que as coleções biológicas retratam. Os recursos naturais presentes nestas
coleções estão geralmente associados ao acúmulo de práticas e crenças elaborados
durante processos adaptativos entre os seres vivos e seus ambientes (OLIVEIRA-MELO
et al., 2019). Dessa maneira, conhecimentos etnobotânicosé englobado por essas
coleções, e desempenham papéis significativosnas ações diretamente relacionadas a
metas da Estratégia Global para Conservação de Plantas (GSPC) atualizada no ano de
2010, na reunião da Convenção de Diversidade Biológica em Nagoia, Japão, previstas
para serem alcançadas até 2020 (DALCIN; JACKSON, 2018).
Estas metas foram traçadas com objetivo de definir estratégias que contemplam a
exploração sustentável de plantas e de recursos genéticos associados à subsistência
humana (OLIVEIRA-MELO et al., 2019). A GSPC fornece, ainda, uma estrutura para
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trabalhar em todos os níveis (local, regional, nacional e global) para entender, conservar
e usar de forma sustentável a imensa riqueza mundial da diversidade vegetal (CERATI,
2018).Nesse viés, o Brasil, exerce um papel indispensável nas negociações da CDB e do
Protocolo de Nagoia, em razão da sua expressiva contribuição no setor agrícola, bem
como sua interdependência econômica. Além disso, o país é o maior detentor da
diversidade biológica do planeta, o que o torna centro das atenções nas discussões
internacionais sobre o uso sustentável e conservação da biodiversidade (MAPA, 2021).
Portanto, o posicionamento e a sua participação são indispensáveis para apreservação do
seu patrimônio biológico e cultural, expresso pelas vivências dos povos que habitam as
comunidades tradicionais.
593
Os aprendizados retratados pelas coleções etnobotânicas podem deterpapel
central, com influência em três das 16 metas publicadas na GSPC (Oliveira- Melo, 2016).
Dentre elas, destaca-se a meta (2) referente a avaliação dos estados de conservação de
todas as espécies de plantas descritas pela botânica. A meta (16), que trata da manutenção
dos conhecimentos, de inovações de práticas tradicionais e locais associado aos recursos
vegetais. Por fim, a meta (14) relacionada a incorporação da dimensão da diversidade de
espécies vegetais e da necessidade de sua conservação nos programas de comunicação,
educação e conscientização pública (OLIVEIRA-MELO et al., 2019).
Além de se apresentar como instrumento para o alcance dessas metas, os registros
presentes nos acervos de coleções etnobotânicas, agregam informações que auxiliam nas
atividades de coleta de germoplasma de conservação ex situ e de mapeamento da
disponibilidade de recursos vegetais. As coleções etnobotânicas subsidiam também o
estabelecimento de áreas prioritárias para conservação in situ (FORZZA et al., 2016).
Em geral, as comunidades tradicionais apresentam intensa diversidade genética,
proporcionando uma rede de circulação de propágulos e princípiosassociados como
determinante na proximidade genética dos acervos (OLER et al., 2020)A eficácia dos
saberes tradicionais no que concerne a conservação de espécies, é evidenciada inclusive
em inúmeraspesquisas etnobotânicas (PERRINO; CALABRESE, 2018; KUMAR et al.,
2018; PEDROLLO et al., 2016). De fato, a etnobotânica é uma ferramenta útil para a
determinação de práticas apropriadas para ao manejo da vegetação. Ainda subsidia
trabalhos sobre emprego sustentável da biodiversidade, através da valorização e do
aproveitamento dasbases empíricas das sociedades humanas, a partir da definição dos
sistemas tradicionais (SALES; SARTOR; GENTILLI, 2015).

Etnobotânica no bioma Caatinga

A região Nordeste é uma das áreas que tem sido muito agredida pela ação
antrópica, sendo os Biomas Caatinga e o Cerrado, os mais afetados (SANTOS;
PEREIRA, 2016). Pouco se sabe sobre o panorama das unidades de conservação dessa
região, como também há dificuldade de se obter informações completas sobreelas, de
forma generalizada e, organizada, principalmente sobre as áreas de Proteção Integral ou
de Uso Sustentável. Isso devido à falta de informações atualizadas sobre as unidades de
conservação da região (DOS SANTOS; PEREIRA, 2016).Consta-se que a região
semiárida do Brasil, apresenta apenas 6,71% de seu território coberto por UCs, e que estas
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dispõem de ínfimos recursos, considerando milhões de hectares da Caatinga, mesmo com


a oferta dos indispensáveis serviços ambientais (FONSECA et al., 2018; PAZ et al.,
2020).
Estudos teóricos e empíricos apontam que a interligação da paisagem é
fundamental para a subsistência a longo prazo da diversidade genética das populações, da
estrutura da comunidade e das atividades ecossistêmicas (FONSECA et al., 2018). Nesse
sentido, a etnobotânica torna-se importante para o estudo da Caatinga e dos seus recursos
florestais. Uma vez que, essaárea daciência analisa as bases das populações tradicionais
em relação à utilização de plantas (COSTA; MARINHO, 2016). O saber local e as formas
de manejo utilizadas pelas populações que habitam essas regiões são fundamentais na
594
preservação da biodiversidade (FAGUNDES; OLIVEIRA; SOUZA, 2017). As pesquisas
ressaltam que as abordagens etnobotânicas favorecem a identificação de espécies vegetais
e de suas diversas aplicabilidades de uso.
Nos últimos anos as pesquisas etnobiológicas tem ganhado impulso na região
Nordeste, como mostram os trabalhos de Rocha e Marisco (2016) que apontam a
relevância desses estudos para o resgate e preservação dos hábitos indígenas,
especialmente nessa área. Silva et al. (2014), Cordeiro; Félix 2014, Costa; Marinho
(2016), Siqueira e colaboradores (2020) também relatam que as populações que ocupam
território da Caatinga fazem uso da sua flora para os mais diversos fins, inclusive
medicinal. A compreensãosobre a diversidade florística local permite as comunidades, o
reconhecimento biológico das espécies queé essencial para a manutençãodesse
ecossistema. Da mesma maneira como para à construção do conhecimento científico e
consequentemente para a produção de novos fármacos (BORGES; PEIXOTO, 2009;
SPÉZIA et al., 2020). Conforme Pereira Júnior et al. (2014)existe uma riqueza florística
na região da Caatinga, evidenciadopelo potencial de suas espéciespara a obtenção de
novos fitofármacos. No meio das quais destaca-se a aroeira (Astroniumurundeuva) ,
quixabeira(Sideroxylonobtusifolium), cumaru(Amburana cearensis), pajéu
(Triplarisgardneriana), angico(Anadenanthera colubrina), jatobá(Hymenaeacourbaril)
e mororó(Bauhiniacheilantha) (PEREIRA JÚNIOR, 2014).
Estudosetnobiológicos favorecem além de informações sobre o manuseio das
espécies, um panorama sobre como as diversas espécies nativas e exóticas que são
manipuladas (DOS SANTOS MACHADO et al., 2018) Nessa conjuntura os autores
também abordam como as cactáceas típicas do semiárido têm sido empregadas e
manejadas em comunidades do interior nordestino. Alertama respeito da influência do
uso sustentável, e consequentemente, a conservação das espécies através do
conhecimento tradicional. Portanto, a etnobotânicapossui potencial para traçar estratégias
de conservação. Santos et al. (2017) explana acerca dea prioridade de conservação de
algumas espécies medicinais nativas da Caatinga, indicando este ramo da botânica como
instrumento essencial para que se alcance esse objetivo.
É perceptível que investigações etnobotânicas têm sido direcionadas
especialmente para a Caatinga, visando entender as noções e o uso da vegetação desse
bioma por comunidades tradicionais (LEITE et al., 2012; SILVA et al., 2014). Nesta
região, as ervas medicinais sãovaliosos componentes culturais da vida das populações
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(MALAFAIA et al., 2018).Informações essas que colaboramcom o uso racional de


vegetais e a relevância em preservá-las (PENIDO et al., 2016).
Estimular o interesse da comunidade científica pela preservação da Caatinga é
necessárioatravés da ampliação de estudos na região (DE ALBUQUERQUE et al., 2010).
Por esse motivo, etnobotânicaéuma ferramenta de pesquisa que contribui naconstrução
do conhecimento junto às comunidades tradicionais, de formas específicas de manejo dos
recursos naturais em cada ecossistema, propondo a elaboração de estratégias que
garantam a conservação da diversidade local (DOS SANTOS MACHADO et al., 2018).
Além de favorecer no reconhecimento da identidade biológica das espécies.
595

CONCLUSÕES

É possível constar que, a diversidade de informações que circulam as


comunidades tradicionais, constituídas pelos mais diversos povos, podem fornecer dados
relevantes sobre a diversidade florística que compõe que os ecossistemas. Ampliam as
possibilidades de aproveitamentos dos recursos naturais associados à conservação da
biodiversidade, sobretudo de biomas que requerem uma atenção especial, como é o caso
da Caatinga. Contudo, políticas mais eficientes relacionadas à conservação de espécies
são necessárias, principalmente, sobre a divulgação da representatividade das Unidades
de Conservação (UC) do referido bioma, para que a população entenda e possa perceber
a magnitude de conservação da biodiversidade (FREIRE et al., 2020).
Portanto, pesquisas que se dedicam a compreensão da relação homem e natureza
facilitam ainda a determinação de práticas apropriadas ao manejo da vegetação com
finalidade utilitária. Além de incentivar a geração de bases científicas e tecnológico
voltados para o uso sustentável de plantas.

REFERÊNCIAS

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600
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 54

CONTROLE ALTERNATIVO PARA PATÓGENOS VEÍCULADOS


PELO SOLO
SANTOS, Keila Cristina
Aluna de iniciação científica no Instituto Biológico de São Paulo
Universidade Paulista
keilacristtinna@gmail.com

UNGERN-STERNBERG, Maria Julia Cambuhy Von


Aluna de iniciação científica no Instituto Biológico de São Paulo
Universidade Presbiteriana Mackenzie
mariajuliasternberg@gmail.com
601

RIBEIRO, Michel Douglas Santos


Mestrando em Agronomia
Universidade Federal do Ceará
mycheldouglass@gmail.com

MEDEIROS, Carlos Alberto Albuquerque


Doutorando em Sanidade, Segurança Alimentar e Ambiental no Agronegócio
Instituto Biológico de São Paulo
albuquerque.carlos@hotmail.com

RESUMO

A intensificação da agricultura leva a evolução de fitopatógenos uma vez que ambos


vivem em intensa interação. O manejo de fitoenfermidades gera alto custo econômico e
a necessidade de produção para o consumo humano torna-se intransigente grandes perdas.
O controle químico foi um grande avanço na área rural, mas vem sendo um problema
devido ao alto custo, degradação e poluição do meio ambiente. O objetivo deste trabalho
é abordar através da revisão de literaturas alternativas de controle visando possível
economia e qualidade na produção. Todavia, é fundamental o conhecimento do patógeno
para o manuseio correto. Um bom planejamento e a integração de medidas são fatores
imprescindíveis para o sucesso na fitossanidade. Hoje o invés de investir no manejo
preocupa-se em evitar e prevenir que haja a formação de fitoenfermidades.

PALAVRAS-CHAVE: fitopatógeno, agricultura, fitossanidade

INTRODUÇÃO

Naturalmente as espécies vegetais e os organismos patogênicos mantem uma


interação que vem evoluindo ao longo do tempo. Com o exercício da agricultura que
intensifica o cultivo de certas espécies vegetais, de certa forma, acabamos por favorecer
tais organismos patogênicos. Isso afeta diretamente na produção, ameaçando a demanda
de alimentos e gera custos para executar o controle (FUJIWARA et al., 2011).
2021 Gepra Editora Barros et al.

O controle químico destaca-se como um avanço significativo na área, que


conseguiu abrir novos horizontes na produção agrícola. Todavia, a utilização
irresponsável deste recurso tem gerado problemas significativos para sociedade atual, seja
pela degradação ambiental e poluição de fontes hídricas (SILVA et al., 2014). O uso
correto do controle químico é possível de ser executado. Entretanto seu uso exclusivo
pode gerar ainda outro problema no manejo de doenças, o desencadeamento de resistência
dos fitopatógenos as moléculas químicas. Em contrapartida há diversas formas de
controle que são alternativas ao químico e são também eficazes e dependendo do caso,
mais econômicas (HALFELD-VIEIRA et al., 2016).
O manejo integrado de doenças tem por objetivo traçar estratégias de controle que
602
se apliquem melhor a cada situação, com menor custo. É essencial que os profissionais
da área se preocupam em entender melhor as causas patogênicas, para só assim, entrar
com uma ação de controle. A sociedade atual preza por qualidade de vida e isso inclui
alimentação saudável. Alimentos com resíduos de agrotóxicos, que indiretamente,
contribuem para a poluição ambiental, não cabem nessas exigências (DALIO et al., 2015).

REFERENCIAL TEÓRICO

Controle cultural

Michereff (2005) destaca que o objetivo primordial do controle cultural é reduzir


as chances de contato entre o hospedeiro e o agente patogênico. É essencial para uma boa
execução do controle cultural, que as informações a respeito do agente etiológico sejam
claras, desde de sua fisiologia ao hábito de parasitismo (REIS e FORCELINI, 1995). Tal
conhecimento irá permitir distinguir períodos de vulnerabilidade do patógeno e evitar
danos e gastos excessivos com outros métodos.
A rotação de cultura destaca-se como uma medida simples e de importância
primordial quando o agente etiológico está identificado. Um conceito clássico é descrito
por Michereff (2005) onde salienta-se que a rotação de cultura se baseia na alternância de
cultivares de espécies diferentes numa mesma área de plantio.
Podemos considerar que a rotação de culturas não é uma medida de controle eficaz
quando se trata de patógenos que produzem estruturas de resistência, que permanecem na
microbiota do solo por longos períodos de tempo. Todavia pode se tornar um aliado
importante para desenvolver e auxiliar outros métodos de controle. Um estudo feito em
áreas de alta produção agrícola na Argentina, onde se alternou entre monocotiledôneas e
dicotiledôneas, resultou na incrementação da diversidade de fungos micorrizos
arbusculares (ORIO et al., 2016). Há comprovações na literatura (MOREIRA e
SIQUEIRA, 2006) que as micorrizas podem atuar como agentes de controle biológico
assim como melhoram a fertilidade do solo e absorção de nutrientes pela planta.
A conservação do solo é uma importante estratégia no controle de doenças de
plantas. O plantio direto se destaca como prática conservacionista dentro das medidas do
controle cultural que pode influenciar diretamente na incidência, sobrevivência e infecção
2021 Gepra Editora Barros et al.

de patógenos, principalmente aqueles que destrói a célula hospedeira e desfruta de seus


nutrientes, chamados de necrotróficos (MICHEREFF, 2005).
Todo o manejo adotado para executar o plantio e durante todo o desenvolvimento
da cultura, pode servir diretamente como medida de contenção de doenças. Manter a
nutrição mineral das espécies cultivadas, partindo do princípio que a infecção irá ser mais
dificultosa caso o hospedeiro esteja bem nutrido. Á irrigação e drenagem deve ser
conivente com a fitossanidade, evitando favorecer patógenos e sua disseminação como é
o caso de algumas bactérias. A profundidade de semeadura, densidade de plantio e pH do
solo também são fatores que não devem ser extrapolados devido a influência direta no
desenvolvimento da cultura e sua predisposição ao ataque de fitopatógenos (REIS e
603
FORCELINI, 1995). Tais fatores variam de acordo com a cultura. Modolo et al. (2010)
aponta que para a cultura de feijão, a profundidade com melhores resultados é de 5,0 e
7,0 cm. Para Michereff et al. (2005), a densidade de plantio ideal para a cultura de soja é
de 25/30 plantas/m², embora encontra-se lavouras de até 80 plantas/m². O pH do solo
deve ser corrigido de forma que desfavoreça o patógeno e não afete o plantio, Huber
(1994) reduz a incidência de Plasmodiophorabrassicaeatravés da correção do solo para
6,8 utilizando calcário.

Controle biológico

O método de controle biológico ou microbiolização utiliza organismos


antagonistas, isto é, agentes biológicos com potencial para impedir o desenvolvimento do
patógeno. Agentes antagonistas podem ser utilizados de forma direta na presença do
organismo, ou indireta aplicando seus metabólitos. Os metabólitos variam de acordo com
o agente utilizado, como: estimulante do sistema de defesa das plantas, antibióticos,
inibidores de patógenos, degradação de parede celular de fungos e nematoides e
produtores de toxinas como gliovirina e gliotoxina (BETTIOL et al. 2019; SILVA et al.,
2014). Diversas vias são utilizadas pelos microrganismos para exercerem sua competição
natural na microbiota do solo, seja por território ou por alimentação. Os microrganismos
podem utilizar antibiose, emitindo substancias antimicrobianas, como compostos voláteis
e secundários que inibem o desenvolvimento de outros indivíduos (STOCKWELL e
STACK, 2007).
Os agentes de controle biológico também podem parasitar organismos
fitopatogênicos, recebendo o status de hiperparasita. Eles extraem sua necessidade
nutricional a partir do outro indivíduo. Todavia tal mecanismo só é importante para o
biocontrole se o agente for capaz de parasitar o fitopatógeno antes que o mesmo entre em
contato com a planta (BEDENDO, 2011). É importante salientar que ao introduzir um
organismo para realizar o controle biológico em determinada área, há necessidade de
manejo correto para que o agente antagônico não se torne a praga, principalmente se não
houver predadores naturais (RIBEIRO et al., 2018).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Fungos como agente de controle biológico

O gênero de fungos Trichodermaé atualmente, um dos mais versáteis agentes de


controle biológico a nível mundial (MEYER et al., 2019). O fungo é encontrado
associado diversos ecossistemas e desempenham um papel essencial em sua saúde
(MEYER et al., 2019). Há provado (BETTIOL e MORANDI, 2009; JUNGES, 2016;
MACIEL et al., 2017) a eficácia do fungo em conferir proteção as plantas contra ação de
determinadas espécies de agentes patogênicos dos gêneros Fusarium, Pythium,
Macrophomina, Sclerotinia, Lasiodiplodia, Penicillium, Alternaria,
Trichotecium,ChaetomiumeSclerotium. Recentemente também tem se demonstrado a
ação de mecanismos do fungo em conferir tolerância ao stress abiótico, melhoram o 604
crescimento vegetal, solubilizam nutrientes, e biorremediam metais pesados e poluentes
ambientais (MEYER et al., 2019).
Devido sua versatilidade em invadir e destruir agentes fitopatogênicos, mais de
60% dos produtos fitossanitários de base biológica são desenvolvidos com o fungo
(VERMAR et al., 2007). A situação do mercado em relação aos produtos à base de
Trichoderma, caracterizam oficialmente 13 empresas em território nacional que
produzem e comercializam. Todas elas utilizam a técnica de fermentação solida em cerais
e produzem mais de 550 t/ano de grãos. Existe uma diversidade quanto as formulações
dos produtos à base do fungo, o consumidor pode encontrar disponível pó-molhável,
grânulos dispersíveis, suspensão concentrada, óleo emulsionável, grãos colonizados e
esporos secos (MEYER et al., 2019).
Outro fungo que vem sendo explorado como um possível agente antagônico é
Stachybotryslevispora(SKLYAR et al., 2020). Onde estudos in vitro revelaram inibição
do crescimento de S. Sclerotiorumem até 20% (RIBEIRO et al., 2018).

Bactérias como agente de controle biológico

As bactérias destacam-se significativamente na ação contra fitopatógenos,


demonstrando um leque de mecanismos de controle tão eficaz quanto os fungos. O gênero
Bacillus é tido como promissor na formulação de biopesticidas, destacando seu potencial
em induzir resistência sistêmica nos hospedeiros (BETTIOL et al., 2009). Além deste
fator, é um ótimo competidor por nichos ecológicos, conquistando tais espaços seja pela
produção de substancias antimicrobianas como por crescimento acelerado (CAWOY et
al., 2015).
Rocha et al. (2016) avaliou o potencial de isolados de Bacillus sp. no controle de
Curtobacteriumflaccumfacienspv. Flaflaccumfaciens, e o resultado foi a redução de 69%
dos sintomas. As bactérias deste gênero possuem em particular a formação de estruturas
de sobrevivência denominadas endósporos. Segundo Lanna-Filho et al. (2010), este fator
contribui para sua longa manutenção em nichos ecológicos específicos, inclusive o solo.
Tal mecanismo dribla as estratégias de defesa dos fitopatógenos tornando o controle ainda
mais eficaz.
Assim como o Trichoderma, as bactérias do gênero Bacillus também são capazes
de induzir crescimento nas plantas, classificando assim o gênero como RPCP
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(rizobactérias promotoras de crescimento em plantas) (ONGENA et al., 2005).


Recentemente outros estudos relacionados ao stress salino e hídrico tem destacado o
gênero como indutor de tolerância a doenças abióticas devido à produção de etileno
endógeno (GRAÇAS et al., 2015). Há outros gêneros de bactéria com potencial
antagônico que são utilizados para a formulações de biopesticidas, destacam-se as
Pseudomonas do grupo de espécies P. Fluorescentes e P. Putida, Streptomycesspp e
alguns gêneros da família Enterobacteriaceae (SILVA et al., 2008). Produtos
fitossanitários a base de bactérias representa mais de 70% das vendas totais neste setor
(SHORESH et al., 2010).
605
Bacteriófagos como agente de controle biológico

Bacteriófagos ou fagos foram descobertos em 1917 são vírus líticos ou lisogênicos,


que parasitam de forma natural bactérias específicas (ABEDON et al., 2017), não
afetando a microbiota local. Bacteriófagos lisogênicos são caracterizados pela integração
de seu material genético com a bactéria permanecendo em um estado latente sem romper
a célula, chamado profago (FERREIRA et al., 2008). Enquanto na forma lítica, os fagos
tem a capacidade de infectar e realizar lise de células bacterianas diminuindo sua
população, e aumentando o número de indivíduos na presença das células visadas
(BIOSCA et al., 2016).
O biocontrole com bacteriófagos é um método já explorado com bons resultados no
tratamento de doenças causadas por bactérias fitopatogênicas (BUTTIMER et al., 2017),
inclusive, com microrganismos resistentes a antibióticos (SOUSA, 2012).Tais se
mostraram eficaz no controle de Xanthomonascampetris(LIN et al., 1999)e
Ralstoniasolanacearum(YAMADA, 2012; YAMADA et al., 2007) no laboratório e na
estufa com tomateiros (ÁLVAREZ et al., 2019).
O biocontrole com fagos tem uma aplicação fácil, custo baixo, não afeta a
microbiota e é seguro para humanos e animais. Entretanto, são altamente específicos,
devendo levar em consideração o nicho, a bactéria alvo e a evolução a partir da interação
do fago-hospedeiro (YAMADA, 2012).

Controle físico

O manejo de doenças de plantas a partir de técnicas utilizando temperatura


elevadas, que variam de 50ºc a 80ºc, e radiação com finalidade de controle, é conhecido
como controle físico (BEDENDO et al., 2011; BETTIOL et al., 2003). O método é muito
utilizado no controle de patógenos (NÓBREGA, 2020). Com esse manejo é possível
realizar a desinfestação dos solos com precisão sem causar a morte de organismos
benéficos ou destruir a microbiota do solo. É possível reduzir significativamente a ação
de vários fitopatógenos, Fusarium, Phytophthora, Sclerotinia, Rhizoctoniae Pythium,
destruindo suas estruturas de resistência. (MARRONI et al., 2009).
De uma forma geral, o controle físico de patógenos habitantes do solo, visa realizar
uma esterilização que atinja somente tais microrganismos. Há uma diversidade de
técnicas que são utilizadas, desde vaporização de pequenas áreas como a esterilização por
2021 Gepra Editora Barros et al.

meio de autoclaves e contêiner especializado (AGRIOS, 2011). Quando empregada sem


planejamento a técnica acarreta em efeitos colaterais significativos, atingindo a população
de organismos benéficos.
A solarização é um método baseado no aquecimento por meio da energia solar para
a desinfestação do solo. Este consiste na cobertura do solo com um plástico transparente
durante o período de maior radiação solar (RITZINGER et al., 2010). A solarização pode
ser integrada ao manejo quando outros métodos alternativos não obtêm bons resultados.
Funahashi e Parker (2016) utilizaram a solarização para reduzir inoculo de P. ramorum
em conjunto com a aplicação de T. asperellum. O estudo apontou que a solarização
diminuiu o inoculo do Oomycete no solo, entretanto não houve aumento da redução com
606
a aplicação do agente de controle biológico. Em contrapartida a adubação orgânica em
conjunto com a solarização obteve bons resultados para o controle de P. capisicie P.
nicotianaeem produção de pimenta em regime protegido (LACASA et al., 2015).

Controle genético

A evolução da interação das espécies vegetais e os organismos fitopatogênicos


ocorre naturalmente no ecossistema ao longo do tempo. Quando exercemos o cultivo
intenso de uma determinada cultivar, quebramos tal conexão e desfavorecemos a planta.
Atualmente as pesquisas na agropecuária vem avançado significativamente na
manipulação de genes de defesa, com finalidade de impedir a diminuição da produção
(AMORIM, 2011)
Os estudos para o desenvolvimento de resistência genética se iniciam na
identificação de genes na própria espécie cultivada. Caso a expressão dos mesmos não
seja eficaz, é recomendável a procura de tais germoplasmas em espécies selvagens que
habitam em sítios que não foram manipulados pelo homem. Conclui-se que em tais áreas
a interação planta e patógeno está ainda ocorrendo naturalmente, isso influencia
diretamente nos genes de resistência. (ARAUJO et al., 2008). Tal modelo é caracterizado
como resistência sistêmica adquirida (ALVES, 2007).
Outras linhas de estudos no manejo da resistência genética, utilizam fatores bióticos
e abióticos para a expressão dos mecanismos de defesa. Sabe-se da importância do
acibenzolar-S-methil (ASM), ácido b-aminobutírico (BABA) e quitosana (JAKAB et al.,
2001). Alguns agentes de controle biológico possuem alta capacidade para induzir
resistência nas plantas, tal resistência é classificada como resistência sistêmica induzida
(CHOUDHARY et al., 2007). Os indutores de resistência se relacionam diretamente com
o sistema de defesa das plantas, esses estímulos ativam as proteínas e enzimas que se
relacionam diretamente com a produção de fitoalexinas e lignina (RAFFAELLE et al.,
2010). Agentes de controle biológico produzem substâncias voláteis que são capazes de
promover o estágio de resistência da planta, tornando-se mais uma opção para indústria
fitossanitária (CORDOVEZ et al., 2015).
A biologia molecular contribuiu significativamente para os avanços no
entendimento da relação biológica entre os microrganismos fitopatogênicos e seus
hospedeiros. Estudos detalham quais os fatores que envolvem o processo de parasitismo
e ativação de defesa da planta. Os patógenos possuem a capacidade de reconhecer a
2021 Gepra Editora Barros et al.

fragilidade da planta para iniciar sua infecção, em contrapartida as plantas conseguem


identificar sinais da presença dos microrganismos e iniciar sua defesa (DALIO et al.,
2015).
As plantas podem iniciar seu sistema de defesa por meio de duas maneiras. A
primeira é o reconhecimento dos PAMP’S, abreviação de pathogenassociated molecular
patterns, por meio de receptores padrões (PRRs), situados na membrana plasmática. A
segunda via de reconhecimento é a tentativa do patógeno de suprimir o sistema de defesa
da planta, por meio de moléculas efetoras. Por sua vez a planta utiliza proteínas a partir
de genes de resistência (R) que se associam a esses efetores (HOGENHOUT et al.,
2009).Os dois processos de defesa são denominados de PAMP-triggeredimmunity (PTI)
607
e effectortriggeredimmunity(ETI), respectivamente. E essa relação complexa é
denominada interação gene-a-gene (JONES e DANGL, 2006). Essas informações dos
processos e mecanismos da disputa entre planta e patógeno é essencial para o
planejamento de estratégias de controle que sejam aplicáveis a cenário atual da nossa
agricultura (RAFFAELE, 2010).

MATERIAL E MÉTODOS

Entre o mês de fevereiro e março de 2021 foi realizado um levantamento


bibliográfico em artigos periódicos, livros e capítulos de livros; através da leitura e análise
foi possível chegar aos resultados deste estudo.
A revisão de literatura é de grande importância trata-se da junção, evolução do tema
e das ideias de diversos autores sobre determinado assunto (OLIVEIRA, 2011).
Após decidir o objetivo do trabalho, foi realizado buscas na plataforma de
periódicos CAPES, Google Acadêmico e acervo do Instituto Biológico, utilizando
palavras-chaves: biocontrole, fitopatógenos, antagonismo, fitopatologia, controle; e pelo
nome científico dos patógenos citados no estudo. A partir da análise dos resultados o
trabalho pode ser desenvolvido.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A rotação de cultura se destaca nas práticas de controle cultural, mas, recomenda-


se o complemento com outras formas de controle (MICHEREFF et al., 2005).
Agentes biológicos dispõem de diversas ferramentas antagônicas para confrontar
agentes fitopatogênicos, todavia, seu desempenho pode variar de acordo com as
condições ambientais e estado de desenvolvimento. Ribeiro (2018) destaca que se
introduzido de forma incorreta, o agente antagônico pode desempenhar um papel negativo
no desenvolvimento da planta.
A partir de técnicas utilizando radiação UV-C e elevação de temperatura com
radiação solar, o controle físico é bastante e utilizado, podendo reduzir significativamente
a ação de agentes fitopatogênicos (HALFELD-VIEIRA, 2016). Stevens et al., 1998
aponta a potencialização do controle ao integrar tratamento sequencial utilizando radiação
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UV-C e biocontrole usando leveduras Debaryomyceshansenii. As temperaturas e os


períodos de exposição variam, e um pequeno aumento de tempo de exposição ou de
temperatura podem trazer consequências negativas a cultura.
A indução de resistência tem como objetivo estimular mecanismos latentes de
resistência da planta através do uso de agentes abióticos ou bióticos
(eliciadores/indutores), de modo que a planta tenha sucesso na defesa contra o ataque de
patógenos (PASCHOLATI et al., 2009). A indução pode manifestar menor ou maior
sucesso na proteção da planta, dependendo da rota metabólica ativada e da natureza do
agente indutor. Conseguinte, há necessidade do engajamento de pesquisas com
experimentos que decifrem os mecanismos de defesa e a melhor forma de ativá-los,
608
levando a aumentos na produção e à diminuição no uso de pesticidas (BALMER et al.,
2013).
Um dos mais importantes fatores que determinam a qualidade de produção é a
fitossanidade da cultura (NÓBREGA, 2020). Os controles alternativos possuem
vantagens econômicas e ambientais, entretanto, é necessário conhecimento do patógeno
para o manejo correto. Na maioria dos casos, desiquilíbrio nutricional prejudica as plantas
deixando-as suscetível a patógenos. A nutrição é essencial no controle de doenças de
plantas (FRANÇA-NETO et al., 2016).

CONCLUSÕES

Com o melhor entendimento das interações que desencadeiam doenças de plantas,


foi possível modificar a visão das medidas de controle na agricultura atual. Hoje
preocupa-se em evitar e prevenir que haja a formação de fitoenfermidades, ao invés de
investir no manejo. A integração de medidas e um bom planejamento são fatores
essenciais para o sucesso na fitossanidade.

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616
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 55

COOPERATIVISMO COMO INCENTIVO AO


DESENVOLVIMENTO PECUÁRIO DO MUNICÍPIO DE BOA
VISTA DO TUPIM-BA

CERQUEIRA, Edvânia Ferreira


Graduada em pedagogia
Técnica em Agronegócio- Senar/BA
seagripmbvt@gmail.com

CAMPOS, Maria Socorro Oliveira 617


Graduanda em Biblioteconomia
Técnica em Agronegócio- Senar/BA
socorrooliveirauneb@hotmail.com

SAMPAIO, Jaqueline Trajano


Zootecnista
Doutora em Nutrição animal
UFPB
jakezootecnia@gmail.com

COELHO, Bruno Emanuel Souza


Engenheiro Agrônomo
Mestrando em Agronomia/Produção Vegetal - Univasf
Instrutor e Tutor do SENAR - AR/BA
bruno.coelho@senarbrasil.org.br

RAMOS, Isabele Sodré


Pedagoga
Mestre em Educação e contemporaneidade- UNEB
isabele.ramos@senarbahia.org.br

RESUMO

Com advento das tecnologias e nova forma de empreender têm levado às pessoas a
procurar mudanças a fim de melhorar seu negócio, sua empresa. Os empreendedores têm
optado pelo cooperativismo, onde se unem em prol do mesmo objetivo que é alcançar o
desenvolvimento social e econômico. Com isso, este estudo teve por objetivo analisar as
potencialidades comerciais, jurídicas e ambientais do município de Boa vista do Tupim-
Ba para incentivo à criação de cooperativas. O levantamento dos dados foi realizado, por
meio de uma pesquisa com alguns produtores rurais do município, no período 07 a 20 de
janeiro de 2021, através de um questionário semiestruturado contendo onze perguntas
formuladas com base na OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) e com relatos
de experiência dos produtores da região. O questionário foi montado através do
formulário do docsgoogle e enviado à trinta e oito produtores, pelo aplicativo de
WhatsApp. Observou-se que a maioria dos entrevistados responderam que tinham um
grau de conhecimento sobre o tema, vendo a cooperativa, como proporcionadora de um
desenvolvimento igualitário aos proprietários rurais, além de que os dados resultantes
serviram de base para identificar a aceitabilidade do produtor ao sistema de
cooperativismo.

PALAVRAS-CHAVE: Agronegócio, Desenvolvimento, Lucratividade.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO
Segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), transformar, uma
sociedade uma comunidade, na busca pela igualdade de pensamentos, de ideias atitudes
e como tão bem traduz a instituição, que é possível unir desenvolvimento econômico e
social, aliando produtividade e sustentabilidade, individual e o coletivo (OCB 20--).
Assim, para que uma empresa ou mesmo outro tipo de modelo socioeconômico
mantenha-se atualizado e em condições de empregabilidade, necessita de uma educação
permanente como estímulo para construção do bem-estar social de uma comunidade, 618
situação que nos fornece a dimensão exata da importância de um movimento
participativo.
O cooperativismo agrega dando oportunidades as pessoas que viviam em situação
de marginalização social, como ex-detentos, catadores de latinhas e pessoas em situação
de vulnerabilidade.
Avaliando o papel do cooperativismo para as regiões, e a grande representatividade
do estado da Bahia, no cenário do Agronegócio brasileiro é importante incentivar esse
tipo de cooperação entre pessoas, para que o setor, que venham agregar, prestar melhores
serviços, competir no mercado com igualdade, acompanhar os cooperados em toda à
produção, e onde o lema “um por todos, todos por um”, usado pelos personagens dos
livros escrito pelo francês Alexandre Dumas, publicado em 1844 (SICOOB/CECRESP,
2014), principalmente o pecuário, pela representação da região do Piemonte no estado, e
que seja a tônica da futura cooperativa da região. Mesmo com muitas dificuldades
enfrentadas no Brasil em 2020 que ora passa pelas consequências da Pandemia, causadas
pela COVID 19, muitas empresas faliram e automaticamente o desemprego, mesmo
assim segundo a OCB (20--) “o modelo de negócio das cooperativas mostrou força,
manteve empregos” isto prova o quão importante o cooperativismo no desenvolvimento
econômico e social de um País.
No contexto de cooperativismo, a Bahia é o estado nordestino que possui o maior
número de cooperativas, entre elas são 191 cooperativas e conta com mais de 243.148
cooperados e com 3.022 empregados (OCB, 2020). Ganhando força pela promulgação da
lei estadual do cooperativismo, em 2009, e foi regulamentado pelo Poder Executivo no
ano de 2011. Observando a forma como outros Estados agiam, o governo da Bahia,
instituiu um programa de Política Estadual de Apoio ao Cooperativismo, elencando as
atribuições e obrigações, entre eles o estímulo, a valorização e o tratamento adequado ao
2021 Gepra Editora Barros et al.

cooperativismo, em função da sua importância social, econômica e de fortalecimento da


democracia (Lessa, 2016).
O município de Boa Vista do Tupim passou por grandes transformações, porém em
alguns anos de estagnação no seu desenvolvimento, porém observando a força e
organização do cooperativismo traz aprendizados e esperança. Em 1998 foi criada a
primeira cooperativa em meados de 1998, denominada Cooperativa dos Produtores de
ado de Leiteiro de Boa Vista do Tupim LTDA (COOPERTUPIM), com o nome fantasia
Coopertupim, nascia um projeto de defesa de direitos sociais, com sede na Av. Joao 619
Durval Carneiro. A COOPERTUPIM sobreviveu por 7 anos com uma média de 10 mil
litros por dia de leite, em 2005 reativou seu CNPJ, mas no ano seguinte deixou de
funcionar por questões que os sócios não chegam a um denominador comum, mas nos
permite observar que a cada 10 cooperados 5 tem seu investimento próprio em sua
propriedade e continuam no ramo leiteiro, a cooperativa permaneceu fechada até 2016.
Não sendo donos e não participando das decisões, durante a pandemia de 2020 o
atual presidente resolveu encerrar as atividades e há um ano os produtores voltaram a
distribuir o leite produzido individualmente. No entanto, os dados segundo censo do
IBGE (2019) mostraram uma produção de 1.540 litros de leite/dia no município. Algo
que vai mais além do que o estimado da produção é o desejo de renovar as expectativas
e de poder unir fatores de produção ao fator de comercialização, percebendo que existem
225 estabelecimentos e uma média de 1.366 litros de leite/dia. No dia a dia percebe-se a
vontade de empreender coletiva por esses produtores, talvez a consciência adquirida de
que unir forças é um ganho constante.
Segundo Chiquetti, (2020), o cooperativismo, quando praticado alinhado à vontade
de seus associados e gerido com profissionalismo e muita competência, será sempre uma
solução viável para construir uma sociedade mais justa em todos os seus aspectos.
Progredir nos dias atuais significa ter a capacidade de acompanhar os avanços
científicos e tecnológicos que vêm ocorrendo de forma acelerada. Ao se pensar em um
modelo empresarial que suprisse as necessidades dos produtores rurais, que valorizasse a
participação coletiva e o setor pecuário no município, através da realização deste estudo
que servindo como ponto de partida para o conhecimento das principais características e
peculiaridades do cooperativismo como incentivo para alavancar o desenvolvimento do
município. Tendo em vista o exposto neste texto, este trabalho tem o objetivo de analisar
as potencialidades comerciais, jurídicas e ambientais da região de Boa vista do Tupim-
Ba para incentivo à criação de cooperativas.
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MATERIAL E MÉTODOS

O levantamento dos dados foi realizado através de uma pesquisa no município de


Boa Vista do Tupim-BA (mesorregião Centro Norte Baiano), no período 07 de janeiro de
2021 a 20 de janeiro de 2021, e que segundo dados do IBGE (2020) possuem
18.531 habitantes, com uma extensão territorial de 2.972,109 km². A definição da região
para o estudo deu-se pela sua representativa dentro agronegócio na Bahia, e pela
proximidade das autoras aos produtores da área, o que auxiliou na coleta de dados para a
melhor caracterização da área e do conhecimento dos produtores sobre finalidade e 620
aspectos relacionados à criação de cooperativas.
A pesquisa foi realizada a partir da aplicação de um questionário semiestruturado,
formulado através de perguntas encontradas no site na OCB (Organização das
Cooperativas Brasileiras) e do conhecimento prévio das autoras através de conversas com
produtores, abordando questões que visavam identificar a percepção e o conhecimento
deles sobre o tema e as principais limitações que possam impactar no futuro após a criação
de uma cooperativa. O questionário foi montado no formulário do docsgoogle e enviado
à 38 produtores, via internet através do aplicativo WhatsApp.
Os dados coletados foram tabulados no programa Excel, para elaboração de
gráficos, e consequentemente comparação das questões acerca do tema proposto na
pesquisa, baseada na metodologia utilizada por Barrozo, et al. (2019 pg. 101). Ressalta-
se que as interpretações foram baseadas na porcentagem de cada resposta obtida em
relação ao total de entrevistados. Apenas uma pergunta teve que se realizar o ajuste, pois
apresentou mais de uma resposta por entrevistado (pergunta nº: Na sua opinião qual o
maior benefício em ser cooperado?).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após disparar nas redes sociais as questões contidas no anexo, foi possível analisar
a perspectiva do produtor rural no município avaliado. Em relação ao tema
cooperativismo, ressalta-se que cada produtor respondeu espontaneamente e sem
interferência das autoras.
Neste cenário temos um percentual de 84% de produtores que responderam que
entendendo o que faz uma cooperativa (gráfico 1). Um elemento cada vez mais
importante para o meio rural com um potencial de fortalecimento das cadeias produtivas.
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Gráfico 1. Produtor rural, você sabe o que faz uma cooperativa?

621

Fonte: elaborado pelas autoras (2021).

Ao serem questionados se sabem a diferença entre o cooperativismo e o


associativismo, 92% dos produtores entendem que o cooperativismo tem o objetivo
econômico, visando a viabilidade de um negócio produtivo dos cooperados no meio
comercial, entendem que os cotistas são os verdadeiros donos dos direitos e das
obrigações e que serão diretamente beneficiados com os ganhos, pois são quesitos que
marcam a tabela de diferenciação do associativismo que tem por definição sociedade civil
sem fins econômicos e sem fins lucrativos.

Gráfico 2. Sabe a diferença entre o cooperativismo e o associativismo?

Fonte: elaborado pelas autoras (2021).

Segundo o SEBRAE Nacional (2017), cooperativa é uma organização constituída


por membros de determinado grupo econômico ou social que objetiva desempenhar, em
benefício comum, determinada atividade. E que algumas premissas são importantes
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como: Identidade de propósitos e interesses; Ação conjunta, voluntária e objetiva para


coordenação de contribuição e serviços; Obtenção de resultado útil e comum a todos.
Vale ressaltar que entender o que faz uma cooperativa é um quesito muito
importante para que a organização tenha uma identidade compreendida por todos, que
possam absorver o sentindo da união, pois um dos princípios do cooperativismo é a
adesão voluntária e este só é possível quando se conhece qual o objeto quer alcançar ao
participar de uma organização cooperativista.
O resultado deste quesito não poderia ser diferente (gráfico 3), conforme 622
mencionado nesta pesquisa com 61% respondendo que não conhecem nenhuma
cooperativa ativa, e apenas 39% responderam que conhecem. Mostrando que o território
ainda não está fortalecido na aplicação do cooperativismo, além de que não na região a
única coorporativa do setor agropecuária de Leite foi desativada para suprir as
necessidades do município.

Gráfico 3. Você conhece alguma cooperativa, que esteja ativa, na redondeza, que possa satisfazer a
necessidade do grupo

Fonte: elaborado pelas autoras (2021).

Na cooperativa “Os associados contribuem e controlam democraticamente o


capital de sua cooperativa. Ao menos parte desse capital é, geralmente, de propriedade
comum da cooperativa” (Sebrae/2017), sendo este um dos princípios para o
fortalecimento econômico de uma região garantindo equidade no desenvolvimento
econômico.
Para um dos questionamentos sobre os negócios (compras e vendas) são suficientes
para que os cooperados tenham benefícios? E; você está disposto a destinar o seu produto
para uma cooperativa? Observou-se que houve um empate técnico nas respostas dos
produtores (50% para sim e não), estes resultados mostram que os produtores
compreendem os benefícios da cooperativa sem ter vivenciado o processo.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Os resultados observados no gráfico 4, remetem sobre os benefícios de serem


cooperado, em que as letras A (13%), B (11%) e C (76%), representam a percepção da
maioria sobre a força do cooperativismo no fortalecimento da comercialização.

Gráfico 4. Na sua opinião qual o maior benefício em ser cooperado

623

Fonte: elaborado pelas autoras (2021); Legenda da figura: A= Pode fazer


compra compartilhada; B= Acessar as políticas públicas; C= Ganhar
mercado para comercialização.

Em meios a tantos desafios dentro e fora da porteira, o momento de comercialização


ainda é onde o produtor acaba levando maior prejuízo, se associando a uma cooperativa
esse, ganhará mercado e mais tempo para sua articulação e aumento da produtividade,
pois terá a certeza de que faz parte de uma organização que cuidará dos outros detalhes,
além de fornecer maior assistência técnica, financiamentos, estreitando o contato com o
mercado de compras entre outros.
Sendo que 97% (gráfico 5) entende que a cooperativa é uma solução viável para o
desenvolvimento econômico da região. “A escala ou o tamanho da cooperativa permite
que elas sejam mais fortes em qualquer negociação do que seria o produtor individual, o
que garante ao cooperado as melhores condições possíveis nos resultados dos negócios”
(Senar, 2015, pag. 65).

Gráfico 5. Você acha que uma cooperativa trará benefícios econômicos e sociais para a região.

Fonte: elaborado pelas autoras (2021).


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Diante dos gráficos apresentados é possível analisar que uma porcentagem


considerável pretende operar integralmente com uma cooperativa (95%) obedecendo ao
princípio da ética em outras palavras solidariedade e mutualismo definições que fazem
parte do embasamento de um sistema cooperativista (gráfico 6). É preciso entender que
o princípio da igualdade está relacionado ao acesso a direitos e deveres de forma igual.

Gráfico 6. Os interessados estão dispostos a operar integralmente com a cooperativa?

624

Fonte: elaborado pelas autoras (2021).

Entender que a cooperativa só irá funcionar quando todos funcionarem como uma
engrenagem que ao final do seu círculo encontrará êxito em seu objeto que “é a atividade
empresarial desenvolvida pela cooperativa para satisfazer o fim, ou seja, a melhoria dedo
status econômico dos sócios” (Senar, 2015, pag. 72).
Ao tempo é preciso analisar que no gráfico 7, demostram-se que 55% não tem
conhecimento sobre a principal forma de receita destinada para a cooperativa, mas que
pode ser analisado pelo contexto histórico do município onde no momento em que mais
precisavam a cooperativa fechou as portas e os mesmos precisaram de imediato se
readequar.

Gráfico 7. Você sabe qual é a principal forma de receita da cooperativa

Fonte: elaborado pelas autoras (2021).


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Dentre as dúvidas do produtor, as receitas oriundas da cooperativa são uma delas.


No quadro definições do Senar (2015) cita: “Receita da cooperativa Taxa de serviços
sobre as operações dos cooperados e das operações bancarias, diferenças entre custos de
produção ou compra e venda de produtos”. É possível compreender que desde o valor
aplicado numa cota parte que geralmente é o capital social da cooperativa as demais
operações se tornam receitas e ainda tem os resultados financeiros.
Unindo os dois gráficos podemos associar a um item mencionado pelo Senar, 2015, 625
“Distribuição das sobras líquidas do exercício aos associados, proporcionalmente às
operações realizadas por cada um, salvo deliberação em contrário da assembleia geral”
confirmando o questionamento 10 ainda tem o lucro, as sobras e o retorno.
No lucro dos atos cooperados é feita a distribuição de resultados, “as sobras são os
resultados obtidos da diferença entre as receitas (venda de produtos ou prestação de
serviços) e os custos (dos serviços e das mercadorias vendidas), deduzido o total dos
custos” (Senar, 2015). E o retorno ao deduzir as porcentagens do Fundo de Reserva e o
Fundo de Assistência técnica, Educacional e Social é o retorno das sobras líquidas do
exercício proporcionalmente ás operações dos associados. É preciso dar importância ao
aspecto informativo no momento de montar ou revitalizar cooperativas, pois esse quesito
pode ser crucial para o sucesso da atividade a ser explorada.
Nesta última análise perceber-se o quanto o produtor do município aposta e está
disposto a conhecer melhor o cooperativismo na questão: Você acredita que o
cooperativismo seja a solução mais adequada para enfrentar os obstáculos sociais,
políticos e financeiros que impede você e os demais produtores rurais da sua região, se
desenvolver? Todos os produtores responderam que sim, e na questão: Você está disposto
(a) a participar de um curso sobre o cooperativismo? Todos afirmaram à disposição na
participação de um curso para compreenderem de forma mais claro o que é o
cooperativismo, bem como suas peculiaridades de funcionamento.
Com esse cenário é possível analisar que o produtor aposta no cooperativismo e
acredita na mudança de vida e realidade social ao qual está inserido, tem a percepção de
que uma união de princípios, valores e força de trabalho pode ser o gerador de impacto
político e financeiro. Portanto, poderá ser um propulsor da economia, através de atrativos
e buscas de parcerias em todas as esferas sem perder autonomia, visando a melhoria de
vida do cooperado e do meio em que está inserido. Buscando no cooperativismo e na sua
2021 Gepra Editora Barros et al.

simbologia, sempre a esperança como fonte de vida e de renda, assim como seu lema é
ser um agente de transformação para as comunidades.

CONCLUSÕES
Observou-se a necessidade da criação de uma cooperativa agropecuária em Boa
Vista do Tupim- BA, que venha agregar, prestar bons serviços, competir no mercado com
igualdade, acompanhar os cooperados em toda cadeia produtiva, e onde o lema “Um por
todos, todos por um”, seja a tônica da futura cooperativa da região. Mostrando que é 626
possível cooperar em uma cidade pequena, usando as adversidades para tornar a
cooperativa uma realidade, como agente transformado da realidade comunitária.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 56

CRESCIMENTO VEGETATIVO DO ABACAXIZEIRO PÉROLA


EM FUNÇÃO DE DOSES DE BIOFERTILIZANTE E DE LÂMINAS
DE ÁGUA
SILVA, Jéssica Trajano da
Estudante de Graduação em Agronomia
Universidade Estadual da Paraíba, Catolé do Rocha, PB
jessicatrajano.04@gmail.com

SILVA, Natália Lara Ferreira da


Estudante de Graduação em Agronomia 628
Universidade Estadual da Paraíba
laranatalia75@gmail.com

LIMA, Alex Serafim de


Estudante de Graduação em Agronomia
Universidade Estadual da Paraíba
alexcdf10@hotmail.com

SILVA, Francisca Lacerda da


Estudante de Graduação em Agronomia
Universidade Estadual da Paraíba
franciscalacerdadasilva@hotmail.com

SANTOS, José Geraldo Rodrigues dos


Departamento de Agrárias e Exatas
Universidade Estadual da Paraíba
josegeraldo@ccha.uepb.edu.br

RESUMO

Objetivou-se com o presente trabalho avaliar os efeitos da aplicação de doses de


biofertilizante via fertirrigação e de lâminas de irrigação no crescimento vegetativo do
abacaxizeiro pérola em condições semiáridas. A pesquisa foi conduzida no Centro de
Ciências Humanas e Agrárias da UEPB, Campus-IV, Catolé do Rocha-PB. O
delineamento experimental adotado na pesquisa foi o de blocos casualizados, com 15
tratamentos, no esquema fatorial 5x3 (dose versus lâmina), com quatro repetições,
totalizando 60 parcelas, com 8 plantas por parcela, perfazendo 480 plantas experimentais.
Foram estudados os efeitos de 5 doses de biofertilizante (D1 = 20; D2 = 40; D3 = 60; D4 =
80 e D5 = 100 mL/planta/vez) e de 3 lâminas de água (L1 = 80%; L2 = 100% e L3 = 120%
da Necessidade de Irrigação Bruta. As mudas do abacaxizeiro pérola foram plantadas, em
fileiras duplas, no espaçamento de 1,35 m x 0,4 m x 0,2 m (linha x fileira x planta). Foram
analisadas as características de crescimento das plantas aos 15 meses após o plantio.
Sendo avaliada a massa fresca da planta (MFP). Para obtenção da massa seca da planta,
avaliou-se massa verde da folha (MVF) e massa verde do caule (MVC). As variáveis de
crescimento vegetativo do abacaxizeiro pérola aumentaram com o aumento da dose de
biofertilizante até limites na faixa entre 40 e 50 mL/planta/vez. Os efeitos das doses de
biofertilizante nas variáveis de crescimento vegetativo do abacaxizeiro pérola foi mais
significativo na lâmina de água L2 (100% NIB).

PALAVRAS-CHAVE: Ananas comosus L.; fertilizante orgânico; características


morfométricas.
2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

O abacaxizeiro (Ananas comosus L. Merril), é uma monocotiledônea herbácea


pertencente à família Bromeliaceae e gênero Ananas, é uma planta tropical originária da
América do Sul. Segundo o Anuário Brasileiro de Fruticultura (2018) o abacaxi é a uma
das três principais frutas em produção e valor na fruticultura do Brasil. As cultivares mais
conhecidas no Brasil são: Pérola que é a variedade mais produzida, seguida pela cultivar
Smooth Cayenne, (DOSSA e FUCHS, 2017).
Em 2019 foi colhido um total de 1.617.684 frutos, produzidos em uma área de
67.167 ha, alcançando a produtividade de 24.085 mil frutos/há, onde os maiores
produtores são a região Nordeste com (35,7%), seguida das regiões Norte (31,4 %) e 629
Sudeste (26,5%), que são responsáveis por mais de 90% da produção nacional (IBGE,
2019).
Dentre os estados brasileiros, à Paraíba ocupa a segunda posição de maior produtor
da abacaxicultura, com uma produtividade de 30.510 frutos ha-1, ficando atrás apenas do
Pará (IBGE, 2019), entre os municípios que lideram a produção de abacaxi no estado
estão Itapororoca, Araçagi, Santa Rita, Pedras de Fogo, Lagoa de Dentro e Curral de
Cima, (GOVERNO DA PARAÍBA, 2019), fazendo com que seja gerado empregos,
impulsionando a economia estadual.
A adubação é uma prática fundamental para que a cultura do abacaxi possa obter o
máximo potencial de produção, a disponibilidade de nutrientes no solo é um fator
importante do desenvolvimento das culturas. Os fertilizantes orgânicos e químicos são
métodos de gestão de nutrientes visando o aumento da produtividade das culturas. Os
insumos químicos trouxeram um aumento significativo na produtividade, no entanto são
produtos caros e que acarretam problemas como poluição ambiental e degradação do solo.
Busca-se alternativas sustentáveis para que se tenha bons resultados de produtividade e
práticas que não afetem de maneira negativa ao meio ambiente.
O sistema orgânico compreende ao uso de resíduos de origem animal, vegetal,
agroindustrial e outros, tais como esterco de animais, compostos orgânicos, húmus de
minhoca e biofertilizante. A adubação orgânica ao longo do tempo libera nutrientes
devido à necessidade de mineralização pelos microrganismos (OTERO et al., 2019),
mantendo a disponibilidade de nutrientes nos níveis de demanda das plantas por um maior
período (ARIF et al., 2017).
Diante disso o biofertilizante surge com alternativa sustentável, além de ser um
produto simples e econômico esse insumo é produzido a partir da decomposição de
compostos orgânicos e da fermentação por microrganismos, são micróbios vivos
benéficos ao crescimento e o desenvolvimento das plantas, além impactar a diversidade
da comunidade microbiana do solo como: pH, textura do solo e matéria orgânica, que
influenciam no crescimento, desenvolvimento e produtividade das culturas (RAIMI et al.,
2021).O abacaxi é classificado como uma planta CAM (metabolismo ácido das
crassuláceas) do tipo facultativo, com alta eficiência no uso de água (EUA), possui
características que minimizam as perdas de água, como cutículas grossas, grandes
vacúolos e estômatos com pequenas aberturas (TAIZ et al., 2017). Os nutrientes que mais
influenciam à cultura do abacaxi são especialmente nitrogênio (N) e potássio (K2O),
2021 Gepra Editora Barros et al.

(PAULA et al., 1998). Suas exigências hídricas são relativamente baixas se comparada a
outras frutíferas, contudo, apresenta demanda permanente de água durante todos os seus
estágios de desenvolvimento (RUFINI et al., 2019), não tolerando déficit ou excesso de
água no solo.
Melo et al. (2006) citam a importância do uso adequado de água para o crescimento
e desenvolvimento da cultura do abacaxi em regiões semiáridas, refletindo
significativamente na produção. Ao mesmo tempo que a água representa a maior
proporção do volume celular nas plantas é também o recurso mais limitante. Em
condições de déficit hídrico a planta pode sofrer desidratação celular, sendo afetado os
estágios de crescimentos vegetativo e reprodutivo (TAIZ et al., 2017). Do mesmo modo
630
que a disponibilidade de nutrientes no solo é considerado como fator crucial em resposta
ao desenvolvimento e produtividade das plantas (BRIAT et al., 2020).
Objetivou-se com este trabalho avaliar o crescimento vegetativo do abacaxizeiro
pérola, sob efeitos de aplicações de doses de biofertilizante e lâminas de irrigação, em
condições semiáridas em Catolé do Rocha-PB.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada no Centro de Ciências Humanas e Agrárias - CCHA, da


Universidade Estadual da Paraíba - UEPB, Campus-IV, em Catolé do Rocha-PB, situado
na região semiárida brasileira, no Noroeste do Estado da Paraíba; localizado pelas
seguintes coordenadas geográficas: latitude de 6º20’28’ Sul e longitude de 34º44’59’’ ao
Oeste do meridiano de Greenwich. A altitude é de 275 m.
O delineamento experimental adotado foi o de blocos casualizados, com 15
tratamentos, no esquema fatorial 5x3 (dose versus lâmina), com quatro repetições,
totalizando 60 parcelas, com 8 plantas por parcela, perfazendo 480 plantas experimentais.
Foram estudados os efeitos de 5 doses de biofertilizante (D1 = 20; D2 = 40; D3 = 60; D4 =
80 e D5 = 100 mL/planta/vez) e de 3 lâminas de água (L1 = 80%; L2 = 100% e L3 = 120%
da NIB – Necessidade de Irrigação Bruta).
O solo da área experimental é classificado como Neossolo Flúvico Eutrófico
(EMBRAPA, 2018), de acordo com análise realizada no Laboratório de Irrigação e
Salinidade (LIS) do Centro de Tecnologia e Recursos Naturais da Universidade Federal
de Campina Grande (UFCG). Conforme análise físico-química, o solo da área
experimental tem textura arenosa, composta de 660 g kg-1 de areia, 207 g kg-1 de silte e
132 g kg-1 de argila, com densidade aparente de 1,44 g cm-3, umidade de saturação de
231,6 g kg-1, umidade de capacidade de campo de 112,3 g kg-1 e umidade de ponto de
murcha permanente de 65,6 g kg-1; apresentando pHps de 7,24, CEes de 0,83 dS m-1, CTC
de 5,42 cmolc kg-1, RAS de 2,69 (mmolc L-1)1/2, PSI de 4,42 e 1,24% de matéria orgânica.
As adubações de cobertura foram realizadas, em intervalos de 30 dias, utilizando-
se as doses de biofertilizante preconizadas no projeto em questão, aplicadas via água de
irrigação, utilizando um injetor de fertilizante. O biofertilizante foi produzido de forma
anaeróbia em recipientes plásticos (biodigestores) com tampa, com capacidade individual
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para 240 litros, contendo uma mangueira ligada a uma garrafa plástica com água para
retirada do gás metano produzido pela fermentação do material através de
microrganismos (bactérias). Em cada biodigestor, foram colocados 70 kg de esterco verde
de vacas em lactação, 120 L de água, 4 kg de farinha de rocha MB4, 5 kg de leguminosa,
2 kg de cinza de madeira, 5 kg de açúcar ou melaço e 5 L de leite.
A irrigação foi através de sistema localizado, sendo a condução da água feita
através de canos, mangueiras e emissores utilizando-se a ação da gravidade. A água foi
bombeada de um poço amazonas para uma caixa de polietileno elevada em uma estrutura
de alvenaria com altura de 6 metros. A água foi deslocada em canalização adutora de
PVC de 50 mm e de mangueiras de 16 milímetros, espaçadas de 0,9 metro, além de 631
emissores distanciados de 30 cm. As irrigações foram feitas diariamente, sendo as
quantidades de água aplicadas calculadas com base na evaporação do tanque classe A,
repondo-se no dia seguinte o volume correspondente à evaporação do dia anterior.
Para o cálculo dos volumes de água aplicados, foram levados em consideração o
coeficiente do tanque classe A de 0,75 (DOORENBOS e PRUITT, 1977) e os coeficientes
de cultivos para os diferentes estádios de desenvolvimento das culturas (DOORENBOS
e KASSAN, 1994), além de valores diferenciados de coeficiente de cobertura ao longo
do ciclo da cultura, sendo a necessidade de irrigação líquida (NIL) diária determinada
pela seguinte equação:
NIL Diária = 0,88 x Kc x Epan x Cs
onde Kc é o coeficiente de cultivo da cultura (tabelado); Epan é a evaporação
diária do tanque classe A, em mm; e Cs é o coeficiente de cobertura do solo (tabelado).
A necessidade de irrigação bruta (NIB) foi determinada pela seguinte equação:
NIB Diária = NIL Diária/(1 - FL) x Ei
onde Ei é a eficiência do sistema de irrigação; e FL é a fração de lixiviação,
estimada pela equação FL = CEa/(5 x CEes - CEa), onde CEa é a condutividade elétrica
da água de irrigação e CEes é a condutividade elétrica limite do extrato de saturação do
solo em que o rendimento potencial da cultura ainda é de 100%.
A necessidade de irrigação bruta (NIB) foi determinada pela seguinte equação:
NIB Diária = NIL Diária/(1 - FL) x Ei
onde Ei é a eficiência do sistema de irrigação; e FL é a fração de lixiviação,
estimada pela equação FL = CEa/(5 x CEes - CEa), onde CEa é a condutividade elétrica
da água de irrigação e CEes é a condutividade elétrica limite do extrato de saturação do
solo, em que o rendimento potencial da cultura ainda é de 100%.
A água utilizada para as irrigações foi captada de um poço amazonas. A análise
química fornecida pelo Laboratório de Irrigação e Salinidade (LIS) do Centro de
Tecnologia e Recursos Naturais da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG),
segundo a classificação de Richards (1954) C3S, com os seguintes resultados: 7,3 (pH);
condutividade elétrica de 0,75 (dS.m-1); Ca: 23,0 (cmolc.L-1); Mg: 15,6 (cmolc.L-1); Na:
40,0 (cmolc.L-1); K 0,02 (cmolc.L-1); cloreto: 39,0 (cmolc.L-1); carbonato 0,57 (cmolc.L-
2021 Gepra Editora Barros et al.

1
); bicarbonato: 38,5 (cmolc.L-1); Adsorção de sódio: 2,88 (cmolc.L-1)1/2. Segundo a
classificação C3S a água não apresentou problemas de salinidade, podendo ser utilizada
para irrigação sem riscos de redução de produtividade.
A indução floral foi realizada, aos 12 meses após o plantio das mudas, utilizando-
se uma única aplicação de 50 mL/planta de uma solução preparada com 60 gramas de
carbureto de cálcio mais 400 gramas de carbureto dissolvidos em em 20 litros de água.
Foram analisadas as características de crescimento das plantas aos 15 meses após
o plantio das mudas. A massa fresca da planta (MFP) foi avaliada com a pesagem de cada
planta coletada em balança de precisão (0,01 g), separando-se as folhas do caule. Para
obtenção da massa seca da planta, as massas verdes das folhas e do caule foram colocadas 632
em estufa de circulação de ar forçada, a temperatura de 65°C, até atingirem pesos
constantes, determinados em balança de precisão de 0,01 g. A massa seca da planta
(MSP), em grama, foi determinada pela seguinte equação:
MSP = MSF + MSC
onde MSF = Massa seca das folhas, em g, e MSC = Massa seca do caule, em g.
As análises foram realizadas através de métodos normais de análises de variância
(Teste F), utilizando-se o modelo polinomial (FERREIRA, 2000), enquanto o confronto
de médias foi feito pelo teste de Tukey, utilizando-se o programa estatístico SISVAR para
realização das análises estatísticas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Houve efeitos significativos da interação dose de biofertilizante versus lâmina de


água, ao nível de 0,01 de probabilidade, pelo teste F, sobre o peso da massa seca das
folhas, o peso da massa seca do caule, indicando que as ações desses fatores foram
dependentes, ou seja, um fator exerceu influência sobre a ação do outro e vice-versa.

Tabela 1. Resumo das análises de variância do peso da massa seca das folhas (PMSF), peso da massa
seca do caule (PMSC) do abacaxizeiro pérola.
FONTES DE VARIAÇÃO GL QUADRADOS MÉDIOS
PMSF PMSC
Doses de Biofertilizante (D) 4 166419,375** 1275,625**
Lâminas de Água (L) 2 46923,750** 5,000ns
Interação DxL 8 19867,500** 269,062**
Resíduo 45 3131,111 28,888
Coeficiente de Variação (%) - 15,48 14,73
** - Significativos, aos níveis de 0,01 de probabilidade, pelo teste F; ns – Não significativo.

O desdobramento da interação dose de biofertilizante versus lâminas de água


revelou efeitos interativos significativos sobre o peso da massa seca das folhas do
abacaxizeiro pérola (Tabela 2), havendo aumentos dessa variável com o incremento da
dose de biofertilizante até os limites ótimos de 44,6; 44,5 e 45,0 mL/planta/vez, para as
lâminas de água L1, L2 e L3, respectivamente, que proporcionaram 497,5; 521,8 e 475,5
gramas de folhas secas por planta (Figura 1), havendo reduções a partir desses patamares,
constituindo-se num comportamento quadrático. Observa-se que o maior valor de peso
2021 Gepra Editora Barros et al.

da massa seca das folhas foi proporcionado pela lâmina de água L2 (100% da NIB), vindo,
em seguida L1 (80% da NIB) e L3 (120% da NIB). Este resultado confirma a teoria de
Silva e Silva (2006), que afirmam que o abacaxizeiro não tolera excesso e nem déficit de
água.
Os aumentos verificados no peso da massa seca das folhas do abacaxizeiro com o
aumento da dose de biofertilizante, possivelmente, foram devido às ações das substâncias
húmicas, formadas a partir da aplicação do biofertilizante, que, segundo Nardi et al.
(2002), podem exercer efeitos nas funções vitais das plantas, resultando, direta ou
indiretamente, na absorção de íons e na nutrição mineral delas. As reduções verificadas
no peso da massa seca das folhas nas doses de biofertilizante acima dos limites ótimos
podem estar associadas ao aumento do consumo de nutrientes pelos microrganismos do
solo, que, em condições de elevada fertilidade, se multiplicam de forma intensa, havendo, 633
em consequência disso, diminuição da disponibilidade de nutrientes para as plantas
devido à concorrência por nutrientes pelos microrganismos no solo (MALAVOLTA,
VITTI e OLIVEIRA, 1997).

Tabela 2. Resumo do desdobramento da interação significativa dose de biofertilizante versus lâminas de


água no peso da massa seca das folhas (PMSF) do abacaxizeiro pérola.
QUADRADOS MÉDIOS
FONTE DE VARIAÇÃO GL Lâminas de Água
L1 L2 L3
Doses de Biofertilizante (D) 4 59695,000** 88189,375** 58270,000**
Regressão Linear 1 3001,785ns 1027,785ns 78765,625**
Regressão Quadrática 1 235622,500** 329422,500** 149325,446**
Regressão Cúbica 1 40,000ns 22090,000* 4900,729ns
ns ns
Desvio da Regressão 1 115,714 217,215 88,200ns
Resíduo 45 3131,111 3131,111 3131,111
* e** - Significativos, aos níveis de 0,05 e de 0,01 de probabilidade, respectivamente, pelo teste F; ns – Não
significativo.

Figura 1. Variações do peso da massa seca das folhas do abacaxizeiro pérola em


função do uso de diferentes doses dos biofertilizantes e de lâminas de água.

600
Massa Seca das Folhas (g)

500

400

300
····· L1 ► y = -0,0996x² + 8,8755x + 299,78 R² = 0,99
200
– – L2 ► y = -0,1044x² + 9,2941x + 314,96 R² = 0,98
—– L3 ► y = -0,094x² + 8,4585x + 285,23 R²= 0,99
100

0
20 40 60 80 100
Doses de Biofertilizante (mL/planta/vez)
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 2. Coleta das folhas do abacaxi para análise.

634

Fonte: autor principal (2018).

O desdobramento da interação dose de biofertilizante versus lâminas de água


revelou efeitos interativos significativos sobre o peso da massa seca do caule do
abacaxizeiro pérola (Tabela 3), havendo aumentos dessa variável com o incremento da
dose de biofertilizante até os limites ótimos de 43,6; 42,5 e 46,9 mL/planta/vez, para as
lâminas de água L1, L2 e L3, respectivamente, que proporcionaram 44,2; 47,5 e 44,2
gramas (Figura 2), havendo reduções a partir desses, constituindo-se num comportamento
quadrático. Observa-se que o maior valor de peso da massa seca do caule foi
proporcionado pela lâmina de água L2 (100% da NIB), vindo, em seguida L1 (80% da
NIB) e L3 (120% da NIB), fato também ocorrido para o peso da massa seca das folhas.
Os aumentos verificados no peso da massa seca do caule com o incremento da
dose de biofertilizante podem ser explicados pela aplicação da adubação de cobertura em
níveis adequados considerando as necessidades nutricionais do solo e cultura. As
reduções verificadas no peso da massa seca do caule nas doses de biofertilizante acima
dos limites ótimos podem ser explicadas pela teoria de Malavolta, Vitti e Oliveira (1997),
ao afirmarem que, em condições de fertilidade elevada, pode haver concorrência por
nutrientes entre as plantas e os microrganismos do solo. As reduções também podem ser
explicadas pela lei do máximo de André Voisin (1973) onde o excesso de um nutriente
no solo reduz a eficácia de outros e, por conseguinte, pode diminuir o rendimento das
colheitas. Podem ainda estarem associadas ao excesso de nutrientes fornecidos nas
adubações, causando fitotoxicidade às plantas (MADALOSSO et al., 2014). Segundo
Marschner (2012), a aplicação de adubos no solo não garante o aproveitamento dos
nutrientes pela cultura, uma vez que os elementos estão sujeitos a processos de perdas ou
podem assumir formas indisponíveis às plantas ou, ainda, interagirem em processos de
inibição e sinergismo.
Tabela 3. Resumo do desdobramento da interação significativa dose de biofertilizante versus lâminas de
água no peso da massa seca do caule (PMSC) do abacaxizeiro pérola.
QUADRADOS MÉDIOS
FONTE DE VARIAÇÃO GL Lâminas de Água
L1 L2 L3
Doses de Biofertilizante (D) 4 716,875** 605,000** 491,875**
Regressão Linear 1 196,875* 100,446ns 855,625**
2021 Gepra Editora Barros et al.

Regressão Quadrática 1 2465,625** 1480,625** 975,625**


Regressão Cúbica 1 140,625* 810,000** 129,017*
Desvio da Regressão 1 64,375ns 28,928ns 7,232ns
Resíduo 45 28,888 28,888 28,888
* e** - Significativos, aos níveis de 0,05 e de 0,01 de probabilidade, respectivamente, pelo teste F; ns – Não
significativo.

Figura 3. Variações do peso da massa seca do caule do abacaxizeiro pérola em


função do uso de diferentes doses dos biofertilizantes e de lâminas de água.

60

50 635
Massa Seca do Caule (g)

40

30

····· L1 ► y = -0,0077x² + 0,6711x + 29,622 R² = 0,97


20
– – L2 ► y = -0,0085x2² + 0,7225x + 32,208 R²= 0,96

10 —– L3 ► y = -0,0091x² + 0,8532x + 24,242 R² = 0,96

Polinômio (····· L1 ► y = -0,0077x² + 0,6711x + 29,622 R² =


0 0,97)
Polinômio (– – L2 ► y = -0,0085x2² + 0,7225x + 32,208 R²=
20 0,96) 40 60 80 100
Polinômio (—– L3 ► y = -0,0091x² + 0,8532x + 24,242 R² =
Doses de Biofertilizante (mL/planta/vez)
0,96)

CONCLUSÕES

As variáveis de crescimento vegetativo do abacaxizeiro pérola aumentaram com


o aumento da dose de biofertilizante até limites na faixa entre 40 e 50 mL/planta/vez;

Os efeitos das doses de biofertilizante nas variáveis de crescimento vegetativo do


abacaxizeiro pérola foi mais significativo na lâmina de água L2 (100% NIB).

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 57

CRIAÇÃO ARTIFICIAL DE INSETOS ENTÓFAGOS: UMA


REVISÃO
RIBEIRO, Michel Douglas Santos
Mestrando em Agronomia (Fitotecnia)
Universidade Federal do Ceará
mycheldouglass@gmail.com

MEDEIROS, Carlos Alberto Albuquerque


Doutorando em Sanidade, Segurança Alimentar e Ambiental no Agronegócio 638
Instituto Biológico de São Paulo de São Paulo
albuquerque.carlos@hotmail.com

SANTOS, Keila Cristina


Aluna de iniciação científica no Instituto Biológico
Universidade Paulista
keilacristtinna@gmail.com

UNGERN-STERNBERG, Maria Julia Cambuhy Von


Aluna de iniciação científica no Instituto Biológico
Universidade Presbiteriana Mackenzie
mariajuliasternberg@gmail.com

RESUMO

A criação de insetos entomófagos artificialmente, após a produção de inimigos naturais


eficazes a custo baixo, e o nível de qualidade dos insetos, consequentemente estimasse
desenvolver métodos confiáveis para medir esse parâmetro. A fiscalização de qualidade
seja rígida em programas que utilizam dietas artificiais. Essas produção rentável é um
pré-requisito para o sucesso do controle biológico, visando estabelecer um excelente
desempenho dos agentes naturais no agroecossistemas. Sendo assim, houve um interesse
de pesquisar como ocorre a criação artificial de insetos entomófagos artificialmente e a
sua importância. Foi realizado um levantamento bibliográfico através da consulta de
periódicos e anais de eventos ligados ao tema, por meio de análise exploratória de revisão
da literatura. Com o intuito de entender as formas e execuções atuais na melhoria da
criação massal artificial e as novas tecnologias no que tange sua aplicabilidade em campo
aberto e pomares.

PALAVRAS-CHAVE: Agroecossistemas; Levantamento bibliográfico; Criação massal.

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento de técnicas para criação de inimigos naturais in vitro, tem


proporcionado um avanço significativo nos programas de controle biológico. Os estudos
nessa área (SKODA, 2014) possibilitaram produções com alta qualidade desses agentes,
2021 Gepra Editora Barros et al.

o que elevou a utilização de programas baseados em técnicas inundativas, já que houve


uma rápida evolução no tempo de produção desses insetos.
Os avanços da produção massal in vitro, proporcionaram produções em larga
escala tanto de predadores como parasitoides, todavia o numero de espécies de
parasitoides criadas é muito maior que a de predadores (CÔNSOLI e PARRA, 1999a). O
grau de interação fisiológica entre parasitoide e hospedeiro e bem menor que o de presa
e predador, o que proporciona um manejo mais fácil para criação nessas condições
(CÔNSOLI e PARRA, 1996).
A integração do controle biológico dentro da estrutura do manejo integrado de
pragas, ao qual conhecemos atualmente, somente foi possível graças o aprimoramento
639
das técnicas de criação artificial. Wahner (2008) destaca que para que o sistema seja
aplicável, a produção em larga escala aliada ao baixo custo são fatores primordiais para
a criação, com isso a produção de insetos artificialmente tem se destacado como nova
tecnologia.
A criação artificial de inimigos naturais ainda é uma ciência recente, com a ajuda
de entomologistas que especializam seus trabalhos para as mais diversas áreas, como
genética, nutrição e comportamento desses agentes, tem proporcionado o
desenvolvimento de métodos para a produção em condições que os farão igualmente
vigorosos e adaptados ao ambiente quanto os insetos selvagens, senão ainda mais eficazes
(GRENIER, 1977). O principal objetivo da produção artificial de predadores e
parasitoides é a utilização dos mesmos nas estratégias de controle biológico. Existem
algumas vantagens que a criação artificial proporciona: reduz os problemas de alergia
gerados por traças, a partir e hospedeiros alternativos ou presas, menores custos na
produção e aumento significativo na produção (GRANIER, 2000b).
A cadeia de alimentos básicos para insetos entomófagos é o sistema natural
envolvendo hospedeiros e presas, consequentemente envolvia a utilização de espécies
vegetais aos quais esses insetos se alimentavam (SIMPSON, 2015).
Segundo Lacerda (2020) aponta que os avanços consideráveis nas pesquisas e no
uso do Controle Biológico Aplicado, seja como método único ou integrante dos
programas de manejo integrado, no mundo e especificamente no Brasil, são vários os
entraves apontados pelos pesquisadores nessa área, sejam: econômicos, culturais ou
científicos.
O objetivo do trabalho foi realizar uma revisão bibliográfica acerca do tema:
criação artificial de insetos entomofos.

MATERIAL E MÉTODOS

Para se chegar aos resultados desse estudo, foi realizado um levantamento


bibliográfico através da consulta de periódicos e anais de eventos ligados ao tema, por
meio de análise exploratória de revisão da literatura. Esse estudo portanto, tem natureza
qualitativa.
2021 Gepra Editora Barros et al.

A busca foi realizada entre os meses de junho e dezembro de 2020, e a elaboração


desse estudo pode ser classificada em três fases, sendo elas: (1) Levantamento
bibliográfico; (2) Leitura e análise dos artigos; (3) Apresentação dos resultados obtidos.
A pesquisa foi realizada majoritariamente nos periódicos da CAPES, através da
plataforma “Periódicos” disponível para pesquisas acadêmicas por meio do site da
instituição CAPES. Foram também considerados artigos publicados em Congressos e
Simpósios nacionais de Ciências Agrárias e Microbiologia.
Para a busca de artigos alinhados com o tema desta pesquisa, foram definidas as
seguintes palavras-chave: “produtos químicos” “controle microbiano”,
“compatibilidade”. A partir do portfólio bibliográfico, foram selecionados artigos que
640
fazem uma abordagem com o assunto de compatibilidade de microrganismos antagonistas
a produtos químicos.
Foi realizada a leitura completa do corpo do texto para que fossem excluídos os
artigos que não contemplavam o escopo deste estudo e os resultados e discussões das
pesquisas analisadas serão apresentados na próxima seção.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Criação artificial de insetos entomofagos (IVREI)

De acordo com Grenier (2000a), o objetivo da IVREI se resume a duas metas


principais: a) Ferramenta eficiente para a realização de trabalhos acadêmicos e b) Uso
pratico comercial.
O principal uso do IVREI no meio acadêmico tem se destacado no estudo da
fisiologia dos insetos, destacando-se investigações que determinaram o tempo de cada
etapa de desenvolvimento e numero de fases larvais (GRENIER et al., 1977), estudos
sobre a nutrição e ingestão de alimentos (JAJEES et al, 1998), melhoria de dietas
utilizadas na criação massal (YOUCUM et al, 2006) e estudos comportamentais
(GREANY e VISON, 1984).
Mais recente o IVREI tem proporcionado análises das relações simbióticas entre
algumas bactérias e vírus, com os insetos entomófagos. Um exemplo de destaque é a
relação de Wolbachia (gênero de bactérias que mantem relação simbiótica com
artrópodes) afetando a reprodução e fecundidade em Trichogramma spp (Hymenoptera:
Trichogrammatidae) (GRANIER e DE CLERQC, 2003). Outro exemplo de destaque,
agora atuando no parasitismo de vespas endoparasitóides da família Braconidae , é a
relação simbiótica com Polydnavirus (PDV), as partículas do PDV são injetadas
juntamente com os ovos de vespas nas larvas expressando proteínas que interagem com
a defesa do hospedeiro da vespa, suprimindo sua resposta de defesa (LAWRENCE,
2002).
Uma das primeiras ideias para melhorar esse aspecto foi substituir essas fontes
nutricionais por sistemas biotróficos de alimentação, apresentando-se duas possibilidades:
Substituir as espécies vegetais que serviam como alimento para presas e hospedeiros por
alimento artificial (THOMPSON, 1986), ou utilizar presas alternativas que seriam mais
2021 Gepra Editora Barros et al.

viáveis para a criação in vitro, tais como: Spodoptera frugiperda (Lepidoptera:


Noctuidae) para criação de Podisus nigrispinus (Hemiptera: Pentatomidae) (OLVEIRA
et al, 2004).
Granier (2000b) relata que a solução final para encurtar a linha de produção seria
a disponibilidade de um meio artificial que permita a evolução de larva e pupa até a
emergência dos adultos e possivelmente a postura de ovos do parasitoides. Exemplos
aplicados ao uso pratico são ainda bastante escassos, Trichogramma produzidos em ovos
artificiais do hospedeiro é o trabalho mais relevante executado na China, estima-se que
foram testados em 1600 ha de cana de açúcar, em 1500 ha de arvores de lichia e mais de
1000 ha de outras culturas com sucesso no controle de insetos pragas (HUBEI COOP,
641
1979), outro exemplo pratico foi testado em produção de algodão nos EUA (MORALES-
RAMOS, 1998).

Regulação nutricional

Existem diversas linhas de trabalho para as formulações utilizadas no IVREI.


Destacam-se as dietas oriundas de partes de insetos e outros animais, preparações mais
simples como pupa de lepidópteros e a utilização de carnes e fígado de suínos e bovinos.
A segunda e mais inovadora são as formulações quimicamente definidas (GRENIER,
2000b).
Dougherty (1959) classificou as dietas artificiais em três tipos; Oligídicas,
holídicas e meridicas. O autor utilizou como parâmetros a ausência ou presença de
determinados componentes complexos para classifica-las. De fato a tipificação dessas
formulações não são fáceis de caracterizar, entretanto a presença ou ausência de partes
de insetos é mais utilizada na distinção (GRANIER, 2000b).
Para a criação artificial tanto de predadores como de parasitoides alguns
componentes principais na dieta são imprescindíveis, atualmente ainda são utilizados a
base dietética descrita por House (1961), composta por carboidratos, lipídeos, vitaminas
e sais minerais. Grenier, (1997) salienta que a dieta não influencia tanto a criação dos
insetos mas tem um efeito expressivo na qualidade desses agentes. Ainda de acordo com
Granier (2000b), para se obter sucesso no IVREI todas as necessidades fisiológicas tem
que ser supridas, mas a nutrição é um dos parâmetros mais críticos e o mesmo determinará
a confiabilidade do produto.

Tecnologias na criação in vitro

Existem varias direções nas quais os estudos sobre o IVREI podem seguir,
Algumas perspectivas são consideradas, tais como estrutura das pesquisas, potenciais
espécies para a criação artificial e o processo de produção (CÔNSOLI e PARRA, 1999a).
No campo de pesquisa há uma expectativa de que os estudos sobre criação artificial sejam
promovidos pela união de universidades, instituições de pesquisa e empresas privadas,
com fins de partilhar suas estruturas de pesquisa e fazer intercâmbios mútuos entre países
(GRANIER, 2000b). Ainda de acordo com Garnier (2000a) os corpos governamentais
devem investir em alguns campos de investigação, tais como programas de controle
biológico de aclimatação de uma espécie de entomófagos para controlar uma espécie
2021 Gepra Editora Barros et al.

praga não nativa, como já foi executado no passado em situações criticas como o uso de
Rodolia cardinalis (Coleoptera: Cocinelidae,) na California – EUA.
Côsoli e Parra, (1999b) relatam possíveis espécies que serão promissoras na
criação artificial, apresentando duas abordagens. A primeira seriam espécies especificas
de insetos que limitem os efeitos secundários do controle biológico, tais como insetos
parasitoides, principalmente o Trichogramma ou outro parasitoides de ovos e alguns
Hymenopteros parasitando pulgões (Aphelinidae e Aphidiidae).
A outra vertente seria a utilização mais aplicável dos predadores polífagos que
predam um maior numero de insetos praga ao mesmo tempo, os exemplos são da família
Coccinellidae, nas ordens Neuroptera e alguns representantes na Heteroptera.
642

Hospedeiros Artificiais Para Parasitoides

De acordo com Cônsoli e Parra (1999b) um dos principais passos durante o


desenvolvimento de um sistema in vitro de criação de parasitoides é a criação de um
hospedeiro artificial, os mesmos autores apresentaram uma metodologia para o
desenvolvimento de um ovo artificial a partir de membrana de plástico com o objetivo da
criação in vitro de espécies de Trichogramma spp. Outra pesquisa relacionada a criação
de ovos de hospedeiros artificiais foi proposta pela Hubei Coop. Research Group (1979),
a maquina tem o poder de produzir mais de 13 milhões de Trichogramma spp e 0.3
milhões de Anastatus spp (Hymenoptera: Eupelmidae) por dia.

A criação de um ovo hospedeiro artificial também pode ser realizada através da


técnica de gota em suspensão onde os ovos de Trichogramma são depositados para se
desenvolverem (ROMEIS,et al., 2005). Há ainda também os ovos feitos de cera (Mistura
de cera e parafina), e os de plástico (paradixylylene polimerizado ou LM polietileno /
polipropileno) (GRENIER, 1997). O desenvolvimento de Trichograma foi observado a
partir de pequenos sacos de polietileno selados em alta temperatura com uma serie de
cúpulas hemisféricas completes de meios de cultura artificial (CÔNSOLI e PARRA,
1996).
Os estudos de Grenier (1977) demonstraram que para as posturas ocorrerem
diretamente nos ovos artificiais, as fêmeas de Trichograma necessitam de estimulação, o
processo é feito com manchas na superfície dos ovos artificiais por parte de alguns
produtos químicos (Moth scale [Extratos] e álcool polivinilinico). A casca dos ovos
artificiais devem ser permeáveis ao oxigênio e ao dióxido de carbono, mas devem conter
o vapor de água afim de evitar a dessecação, há relatos de que os ovos fabricados a partir
de paradixylylene, interferiram no desenvolvimento do inseto o paralisando na fase de
pupa, provavelmente por impedir o limite de trocas gasosas (HAN et al., 1994).

Presas Artificiais Para Predadores

Para predadores a apresentação da dieta é um parâmetro chave, dietas liquidas e


meios quimicamente definidos são os principais artifícios para a montagem de uma presa
artificial. Grenier (1977) relata a utilização de capsulas de cera para a criação de insetos
2021 Gepra Editora Barros et al.

da ordem Neuroptera (Chrysoperla carnea ) (Chrysopidae) e predadores Hemipteros


(Geocoris punctipes) (Geocoridae), outro caso de sucesso é a encapsulação das
formulações em esponjas de celulose ou sob a forma de pó hidroscópico.
Dietas para coccinelídeos predadores podem ser fabricadas em cubos gelificados,
como pó ou pellets secos. O parafilm também foi utilizado para embalar as dietas
artificiais de consistência pastosa para vários predadores hemípteros, bem como para
algumas espécies de coccinelídeos (SIMPSON, 2015). Ainda há o relato da utilização de
parafilm lacrando cubos de espuma sintética embebidos com dietas artificiais, com
sucesso na criação de Macrolophus traseira (Hemiptera: Miridae) (COHEN, 1995).
Para a criação de percevejos (Podisus spp) foram desenvolvidos larvas artificiais
643
de forma cilíndrica (2-3 cm de comprimento e 0,3 cm de diâmetro), a dieta no interior
tinha composição a base de carne, era posta sob uma folha de papel filme estirado e
envolta numa camada de parafilm (DE CLERCQ e DEGHEELE, 1995). Para Orius
laevigatus (Hemiptera: Anthocoridae) as dietas foram encapsuladas em parafilm usando
um dispositivo de encapsulamento (ARS, Gainesville, EUA), formando pequenas cúpulas
hemisféricas (35μl) seladas com fita adesiva transparente, o parafilm foi esticado antes
do encapsulamento para facilitar a penetração do estilete pelos primeiros estádios do
predador (BONTE e DE CLERQ, 2008, 2010).
A mesma estrutura foi testada com duas dietas artificiais, obtendo-se sucesso para
o desenvolvimento e reprodução de M. calignosus (VANDERKHOVEet al., 2006). A
estrutura tem que ser pensada para considerar o habito de digestão extra-bucal de muitos
insetos predadores, o que lhes permite atacar presas relativamente grandes em relação ao
seu próprio tamanho. A injeção de enzimas hidrolíticas na presa e a absorção de fluidos
resultantes, tem proporcionado uma melhor eficiência nutricional das presas. (COHEN,
1995).
A biotecnologia trouxe uma inovação significativa nos padrões de aplicabilidade
das dietas artificiais, a microencapsulação tem sido aplicada na embalagem das dietas
modernizando as produções. Os trabalhos de Tan et al (2010) indicam consistência
significativa nas dietas artificiais microencapsuladas para o desenvolvimento de O.
sauteri, (Hemiptera: Anthocoridae) também apresentam um leque de receitas adequadas
para dietas artificiais na forma de microcápsulas (TAN et al., 2013) e recentemente
otimizaram uma formulação microencapsulada para a criação artificial de Coccinelídeos
(Propylea japônica).

Fatores que afetam a criação

Pressão Osmótica (PO)

A PO da dieta é um parâmetro importante e deve ser adaptado para cada uma das
espécies, controlando-o no meio de cultura e ambiente que o inseto irá ser criado
artificialmente (GRENIER, 2000). Ectoparasitoides Himenópteros são apontados como
mais tolerantes a esse fator físico, há relatos que indicam que Itoplectis conquisitor
(Hymenoptera: Ichneumonidae) pode-se desenvolver-se em meio com uma PO de ate
2021 Gepra Editora Barros et al.

1700 mM (YAZGAN, 1972). Thompson (1986) relata que uma faixa de PO de 400 a 700
mOsM é o ideal para se obter sucesso na criação de Brachymeria lasus
(Hymenoptera.Chalcididae) e Pachycrepoideus vindemiae (Hymenoptera: Pteromalidae).

Em larvas de Taquinídeos a PO ideal varia entre 350 a 400 mM e não observou-


se nenhum desenvolvimento na faixa acima de 450 mM (GRENIER, 1977). Para uma
espécie especial de Trichogramma (T oophagous) não há nem a eclosão dos ovos, para
ocorrer o desenvolvimento larval padrão a PO é recomendada perto de 320 mM
(GRENIER, 2000). Ainda de acordo com o autor, o grau de tolerância de PO parece ter
relação com as características anatômicas do tegumento das larvas, alguns Himenópteros
possuem uma cutícula hidrofóbica que permite ter um contato mais próximo com o meio, 644
porem ao contrario alguns endoparasitóides Himenópteros e Dípteros podem não ter esse
tegumento espesso e sofrer um choque osmótico.

Potencial Hidrogeniônico (pH)

Normalmente a concentração de íons de hidrogênio na hemolinfa dos insetos,


varia entre 6,0 a 8, mas a frequência mais observada é entre 6,4 e 6,8 (WAYTT, 1957). A
maioria dos meios de cultivo artificiais para parasitoides possuem um pH próximo aos
valores apresentados para parasitoides, ainda há uma ausência de estudos sobre esse fator
e sua aplicação no desenvolvimento do inseto (GRENIER, 2000).
Observou-se (Nettles, 1990) que as larvas de taquinídeos tiveram uma alta
tolerância ao pH, o autor observou que não há diferença significativa entre pupa e adulto,
houve rendimentos de dietas com pH variando de 5,5 a 8,0, embora os rendimentos
absolutos mais elevados foram obtidos entre 6,75 e 7,5.
Meios contendo partes de Antheraea pernyi (Lepidoptera: Saturniidae) com uma
formulação contendo leite, gema de ovo e água, recomenda-se uma pH variando entre
6,7 e 6,95, visando obter boa produção de T. confusum. Normalmente altas porcentagens
desse parasitoide (Trichogramma spp) foram obtidas entre pH 6,6 e 7,0 (GRENIER,
2000).

Controle de qualidade

O objetivo principal para a criação de insetos entomófagos artificialmente, após a


produção de inimigos naturais eficazes a custo baixo, é o nível de qualidade dos insetos,
consequentemente estimasse desenvolver métodos confiáveis para medir esse parâmetro
(GRENIER e DE CLERQ, 2003).
É essencial que a fiscalização de qualidade seja rígida em programas que utilizam
dietas artificiais (SORATI et al., 1996), essa produção rentável é um pré requisito para o
sucesso do controle biológico, visando estabelecer um excelente desempenho dos agentes
naturais no agroecossistema (THOMPSON, 1986). A avaliação desses inimigos naturais
a nível de campo só tem utilidade quando certos parâmetros básicos são monitorados no
ambiente de produção assim como mudanças e adaptações na criação artificial
(GRENIER e DE CLERQ, 2003).
Segundo Leppla e Fisher (1989), o controle de qualidade de insetos criados
2021 Gepra Editora Barros et al.

artificialmente pode ser baseado naqueles desenvolvidos primeiramente para insetos


herbívoros. Existem procedimentos de controle de qualidade recomendados para a
produção in vivo que podem ser usados na produção In vitro (BIGLER, 1989). Análises
comparativas de atributos qualitativos para a produção de Trichogramma spp, podem ser
conferidas em O’neil et al. (1998). Os parâmetros básicos analisados foram fecundidade,
longevidade, razão sexual e tamanho do adulto como atributos de qualidade, porém para
parasitoides se avalia também a taxa de parasitismo (SOARES et al, 2012).
Uma importante quesito é descrito por Hassan e Zhang (2001), os requisitos
qualitativos básicos da criação irão ser definidos de acordo com o objetivo, não sendo
aplicado nenhum conceito absoluto. Grenier e De Clerq (2003) afirmam que a criação
645
artificial ainda é uma ciência recente, parâmetros para classificar a qualidade do produto
final ainda estão sendo desenvolvidos, a partir da criação de mais insetos entomófagos
artificialmente.

CONCLUSÕES

Diversas linhas de pesquisas estão sendo executadas atualmente na melhoria da


criação massal artificial, essa nova tecnologia deve objetivar sua aplicabilidade em campo
aberto e pomares. Esforços no compartilhamento de pesquisas já realizadas também serão
essenciais para a melhoria da técnica.
O mercado atual está cada vez mais preocupado com a saúde humana e qualidade dos
alimentos, a agricultura orgânica se apresenta como um poderoso incentivo ao IVREI,
consequentemente isso se aplica ao controle biológico e reforça sua participação como
ferramenta no controle integrado de pragas.
Para alcançarmos tal patamar será necessário o intercâmbio entre as áreas de
pesquisas, Engenheiros, entomologistas, economistas e demais pesquisadores, devem fazer
esforço para saírem do individualismo em busca de avanços e qualidade.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 58

CURVA DE EMBEBIÇÃO PARA FEIJÃO CAUPI BRS TAPAIHUM


EM DIFERENTES ESPECTROS DE LUZ

MARQUES, Rebeca Lavínia de Andrade


Graduanda em Ciências Biológicas
Universidade Estadual da Paraíba
beca.lavinia97@gmail.com

ALMEIDA NETO, Venâncio Eloy


Pós-graduando em Ciências Agrárias
Universidade Estadual da Paraíba 649
netove7@gmail.com

CAVALCANTE, Igor Eneas


Pós-graduando em Ciências Agrárias
Universidade Estadual da Paraíba
igorencavalcanti@gmail.com

FERRAZ,Rener Luciano de Souza


Universidade Federal de Campina Grande
Campina Grande-Paraíba
ferragroestat@gmail.com

MELO, Alberto Soares de


Doutor em Recursos Hídricos
Universidade Estadual da Paraíba
albertosoares915@gmail.com

RESUMO

O feijão-caupi é uma leguminosa de destaque socioeconômico por todo o território


brasileiro. Na região Nordeste, todavia, a sua produtividade é consideravelmente baixa
(391 kg/ha), o que pode ser atribuído a fatores abióticos como incidência luminosa,
estresse hídrico e térmico, afetando diretamente na germinação das sementes. A
germinação consiste numa série de mudanças que consistem na transformação do embrião
em plântula. A embebição é a primeira etapa do modelo trifásico da germinação e consiste
na entrada de água no interior da semente por diferença de potencial entre o meio e o
embrião, aumentando o volume e massa da semente até o fim dessa fase. O presente
estudo tem por objetivo analisar a influência da luz no processo de embebição de
sementes de feijão-caupi “BRS Tapaihum”.O experimento foi conduzido com 4
tratamentos (LBR: luz branca, LVE: luz vermelha, LAZ: luz azul e LVX: luz vermelho
extremo) e 4 repetições, totalizando 16 parcelas experimentais. Os resultados obtidos
foram submetidos a análise de variância (F<0,05) e Teste de Tukey para as médias (p<
0,05). Concluiu-se que a luz vermelha promoveu menor de tempo de embebição,
comparado às outras luzes estudadas, estabilizando-se após três horas e dando fim ao
processo de embebição.

PALAVRAS-CHAVE: Vignaunguiculata(L.) Walp., embebição, luz.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO
O feijão-caupi [Vignaunguiculata (L.) Walp.] é uma leguminosa amplamente
cultivada na região Nordeste do Brasil onde se apresenta como um dos principais
componentes da dieta da população, principalmente de baixa renda (SILVA et al., 2019).
Nessa região, a produtividade média dessa leguminosa ainda é consideravelmente baixa
(391 kg/ha), o que pode ser atribuído a ocorrência de deficiência hídrica, oscilações
térmicas e qualidade de luz (PAIVA et al., 2018; SINGH et al., 2010), fatores que
interferem no processo de germinação das sementes.
Germinação consiste, morfologicamente, na transformação do embrião em plântula,
ao mesmo tempo em que há retomada do metabolismo e crescimento, reduzidos ou 650
suspensos após a maturidade da planta mãe (JANN E AMEN, 1980). O processo de
germinação inicia-se com o acúmulo de água pela semente em condições favoráveis de
umidade, temperatura e luz (CARVALHO E NAKAGAWA, 2012), a entrada de água
promove a ruptura do tegumento facilitando a saída da raiz primária devido ao aumento
no volume líquido no embrião (MARCOS FILHO, 2015).
O processo de germinação apresenta três fases, sendo a primeira, a fase de
embebição, onde ocorre rápida entrada de água na semente, devido diferença de potencial
entre a semente e o meio. Esse processo exclusivamente físico garante reidratação dos
tecidos da semente e o reparo de estruturas que podem ter sido danificadas na fase final
da maturação(NONOGAKI et al., 2010). A embebição, fase I, acaba quando a semente
não absorve mais água, estabilizando sua massa e equilibrando o potencial com o meio.
A luz é considerada um fator limitante para o desenvolvimento das culturas, já que
pode atuar nas plantas como agente estimulante ou limitante de processos biossintéticos
importantes (KUMARI & PRASAD, 2013), podendo desta forma estimular ou inibir a
germinação (LIMA, 2019).
Segundo Eprintsev et al. (2018) o controle da germinação e do desenvolvimento
pela luz está diretamente ligado a capacidade da planta em perceber o estímulo luminoso,
bem como à qualidade e quantidade da mesma. Desta forma, variações no espectro
luminoso podem influenciar a germinação, crescimento e desenvolvimento das plantas,
inclusive sendo determinante para sobrevivência dos vegetais em condições de estresses
abióticos.
Diante do exposto, objetivou-se com o presente estudo analisar a influência da luz
no processo de embebição de sementes de feijão-caupi “BRS Tapailhum”.

MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo foi realizado nas dependências do Laboratório de Ecofisiologia
de Plantas Cultivadas (ECOLAB), pertencente a Universidade Estadual da Paraíba
(UEPB), no departamento de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS), Campus I,
Campina Grande, PB. As sementes de feijão caupi “BRS Tapaihum” foram concedidas
pela Embrapa Meio-Norte para realização do experimento. As sementes foram separadas
e tratadas, retirando as defeituosas.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Foram analisadas quatro incidências luminosas: branca (LBR), vermelho (LVE),


azul (LAZ) e vermelho extremo (LVX), constituindo 4 tratamentos, realizados utilizando-
se fita Led RGB, com quatro repetições, resultando em 16 parcelas.

Figura 1: Montagem dos tratamentos (LBR: luz branca, LVE: luz vermelha, LAZ: luz azul e
LVX: luz vermelho extremo).

651

Fonte: ECOLAB (2021)

Para o processo de embebição, inicialmente foram pesadas cinco sementes de feijão


caupi, representando uma repetição e colocadas em caixa GERBOX®(Figura 2 A)
transparentes com 11 x 11 x 3,5 cm de comprimento, largura e altura, respectivamente,
em câmara de germinação, B.O.D (Figura 2 B), com umidade relativa controlada, e
temperatura de 30ºC, durante um período de oito horas (Figura 1). A solução de
embebição foi feita com agua destilada na proporção de 1:5 (g/ml). Amassa das sementes
2021 Gepra Editora Barros et al.

foi acompanhada com auxilio de balança analítica de precisão(Bel MARK M214Ai)em


intervalos de 60 minutos.

Figura 2: CaixaGERBOX® (A) e B.O.D, câmara de germinação de sementes (B).

652

Fonte: ECOLAB (2021)

Os dados foram submetidos a análises de variância (F<0,05) e teste de Tukey para


as médias (p< 0,05), com auxílio do software estatísticoSisvar 5.6.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No tempo 0, os valores para a variável massa das sementes (em gramas) foram
iguais, uma vez que nesse momento, não houve ação da solução de embebição, tão quanto
das luzes, sobre as sementes de feijão caupi BRS Tapaihum. Todavia, uma hora após a
2021 Gepra Editora Barros et al.

aplicação dos tratamentos, a luz vermelha foi quem forneceu maior acúmulo de massa
nas sementes em relação aos demais espectros de luz. A luz branca acompanhou o
comportamento da luz vermelha apenas duas horas após a embebição, no tempo 2. E no
tempo 3, a luz azul (Tabela 1).

Tabela 1.Tempo de embebição em horas de feijão caupi BRS Tapaihum em função de espectros de luz
(LBR: luz branca; LVE: luz vermelha; LAZ: luz azul; LVX: luz vermelho extremo). Letras maiúsculas
comparam entre linhas, letras minúsculas comparam as colunas.

Tempo de embebição (horas) 653


Luz

0 1 2 3 4 5 6 7 8

LBR 1,10Da 1,60Cb 2,06Ba 2,19ABa 2,39ABa 2,31Aab 2,32Aab 2,34Aab 2,35Aab

LVE 1,13Ca 1,89Ba 2,14Aa 2,27Aa 2,33Aa 2,33Aab 2,35Aab 2,36Aab 2,36Aab

LAZ 1,17Ea 1,58Db 1,86Cb 2,17Ba 2,39ABa 2,49Aa 2,49Aa 2,53Aa 2,53Aa

LVX 1,04Ea 1,52Db 1,71CDb 1,93BCb 2,07ABb 2,15ABb 2,19Ab 2,22Ab 2,25Ab
Fonte:ECOLAB (2021).

A tendência de acúmulo de massa pelas sementes é verdadeira, uma vez que a fase
I da germinação, a embebição, caracteriza-se pela entrada de líquidos (geralmente água)
no interior da semente, preparando-a para a saída da raiz primária, processo essa
consequência das forças matriciais da semente (BEWLEY e BLACK, 1994).
O acúmulo de massa foi reduzindo após cinco horas de embebição para os
tratamentos com luz vermelho e branco, sinalizando estabilidade e fim da fase de
embebição, quando comparados com a luz azul e vermelho extremo que levaram tempo
maior para isso (Tabela 1).
A intensidade de luz em sementes é de particular interesse, uma vez que a luz pode
afetar mecanismos fotossintéticos do vegetal (SZYMAŃSKA et al., 2017). O acúmulo de
massa na fase I da germinação ocorre devido a diferença do potencial hídrico da semente
e do meio em que está sendo exclusivamente uma fase de processos físicos (ESTEVAM,
2014).
Observando a luz branca durante o período do tratamento, foi possível perceber que
quatro horas de embebição foi suficiente para a estabilização no acúmulo de massa pelas
sementes de feijão caupi (Figura 3 A). Já para a luz de espectro vermelho, apenas três
horas foram suficientes para o fim da etapa I da germinação (Figura 3B). As luzes de
espectro azul e vermelho extremo, levaram maior tempo para finalizar o processo de
2021 Gepra Editora Barros et al.

embebição para as sementes de feijão-caupi, sendo cinco horas necessárias para isso
(Figura 3 C e D).

Figura 3.Curva de embebição para genótipo “BRS Tapaihum” na luz branca, luz vermelha, luz azul e luz
vermelho extremo.

A B

654

C D

Fonte:ECOLAB (2021).

O sistema de fitocromos é essencial na germinação de sementes, participando do


monitoramento do potencial de água disponível em conjunto com os diferentes espectros
de luz, induzindo a germinação quando percebe situação favorável para o surgimento da
plântula (TAKAKI, 1990). O efeito da luz na germinação dá-se devido a ação dos
fitocromos após receberem luminosidade, esse que atuam diretamente na germinação de
sementes (FERRAZ-GRANDE e TAKAKI, 2006). A maior velocidade de embebição
pela luz vermelha pode ser devido a participação maior do fitocromo B, ativado pela luz
de espectro vermelho, conforme visto por Casal e Sanchez (1998).
2021 Gepra Editora Barros et al.

CONCLUSÕES

Para as sementes de feijão caupi BRS Tapaihum, a luz vermelha promoveu menor
tempo de embebição, comparada às outras luzes estudadas, estabilizando-se após três
horas.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 59

DESENHO EXPERIMENTAL ESTATÍSTICO APLICADO À


PRODUÇÃO DA KOMBUCHA A BASE DE UMBU (SPONDIAS
TUBEROSA).

ESTEVAM, Heloise Ferreira Santos


Graduando em Licenciatura em Ciências Biológicas
Universidade Federal de Alagoas
heloise.estevam95@gmail.com

SANTOS, Emeson Farias Araujo


Graduando em Licenciatura em Ciências Biológicas 657
Universidade Federal de Alagoas
emeson.araujo.santos@gmail.com

SILVA, Barbara Lisboa Lucena


Graduando em Licenciatura em Ciências Biológicas
Universidade Federal de Alagoas
lucenabarbara@outlook.pt

PORTO, Camila Souza


Doutora pelo Programa de Pós-graduação em Biotecnologia-RENORBIO
Universidade Federal de Alagoas
camila.porto@penedo.ufal.br

RESUMO

O desenvolvimento da bebida kombucha a partir de uma segunda fermentação à base de


fruta pode resultar na produção de fitoquímicos com diversas propriedades, além de uma
maior aceitabilidade do consumidor. Neste sentido, o presente trabalho teve por objetivo
otimizar as condições de produção da bebida kombucha à base da fruta umbu (Spondias
tuberosa). A manutenção da “Cultura Simbiótica de Bactérias e Leveduras” SCOBY foi
realizada em chá verde de Camellia sinensis. A primeira fermentação foi realizada com
uma concentração de 10% de chá STARTER. Para a segunda fermentação, foi utilizada
a fruta umbu (Spondias tuberosa). Foram analisadas as determinações analíticas de
Phmetria e °Brix - Sólidos solúveis totais, usando um planejamento fatorial completo 24.
Todos os valores de pH encontrados no planejamento fatorial se adequam à legislação
vigente, variando de 3,08 até 3,18, otimizando o processo do desenvolvimento da bebida
kombucha a base de umbu (Spondias tuberosa). Conclui-se que o planejamento fatorial
foi essencial para avaliar qual melhor concentração de açúcar e chá para fermentação do
desenvolvimento da kombucha.

PALAVRAS-CHAVE:Frutas, Fermentação, Bioativo.

INTRODUÇÃO

A indústria alimentícia tem demonstrado grande interesse na produção de


alimentos funcionais, o que resultou em um crescente investimento na elaboração de
2021 Gepra Editora Barros et al.

diferentes produtos ricos em compostosbioativos (SILVA et al., 2016). Um alimento


funcional é um produto com a presença de atividades biológicas essenciais para
proporcionar melhor qualidade de vida, assim sendo, quando consumido como parte da
dieta usual, produz efeitos metabólicos e/ou fisiológicos gerando benéfica a saúde, se
tornando seguro para consumo (MODANÊSI; MERCER; BERNARDI, 2016).
No mercado alimentício, um dos alimentos funcionais de grande interesse são os
probióticos (ANJO, 2020; FERREIRA et al., 2020; SILVA et a., 2021). Para a satisfação
dos consumidores, bactérias probióticas estão sendo inseridas em uma variedade de 658
alimentos que fazem parte de uma dieta que proporciona benefícios à saúde (TRENTIN;
SANTOS, 2020; FERREIRA; FALLER, 2020). A busca crescente por um estilo de vida
mais saudável mostra que os consumidores atuais priorizam a sensorialidade de um
produto e buscam os benefícios e funcionalidades que ele pode acrescentar em sua dieta
(SANCHO; PASTORE, 2016; SCHULER.; VIEIRA 2020;DIAS et al., 2020).
Entre esses alimentos, a bebida kombucha tem se destacado devido à presença de
atividades biológicas importantes para manutenção da vida, como atividade antioxidante,
antimicrobiana, anti-diabética, anti-hipertensiva, o que acarreta em uma melhor qualidade
de vida para indivíduos que a consome (CÂMARA et al., 2018; CARDOSO et al., 2018;
PEREIRA et al., 2020; BARBOSA, 2020 ).
A kombucha é uma bebida gaseificada, levemente ácida, de origem asiática, no
qual é artesanalmente desenvolvida à base de chá verde ou chá preto com substrato para
o processo de fermentação, utilizando uma associação simbiótica de bactérias acéticas,
lácticas e leveduras, posteriormente forma uma película chamada SCOBY Symbiotic
Culture of Bacteria and Yeasts (SANTOS; SANTOS; CRISTINA; MODESTO;
RIBEIRO, 2018). O SCOBY é responsável por realizar reações bioquímicas durante sua
fermentação. Ele transforma a kombucha em uma bebida gaseificada e rica em enzimas
e vitaminas proporcionando diversos benefícios para à saúde (CARDOSO et al., 2018;
MEDEIROS; CECHINEL-ZANCHETT, 2019; SEIXAS et al., 2020). O SCOBY tem
aparência de uma gelatina, formado por bactérias, produz de forma organizada uma
película resistente composta de fibras de celulose. Estas bactérias fermentam o açúcar e
os diversos compostos presentes nos chás, esses componentes são encontrados no mosto,
essa reaçãoproduz, entre outras substâncias, o ácido acético (BROOME, 2015).
Entre os diferentes substratos utilizados no processo de fermentação, o chá
produzido a partir das folhas da planta Camellia sinensis tem sidoconsumido como uma
bebida saudável, sendo utilizado na China há aproximadamente 3.000 anos, sendo este
2021 Gepra Editora Barros et al.

país o seu principal produtor, no qual são amplamente cultivadas no sul da Ásia, China,
Índia, Japão, Tailândia, Sri Lanka e Indonésia. (RODRIGUESet al., 2018). O chá verde,
utilizado como substrato para a produção de kombucha, é cultivado e consumido há anos,
ele possui propriedades medicinais, pois indicam inúmeros benefícios para à saúde
(RODRIGUES, 2018).
Estudos apontam que a utilização de frutas como substrato secundário no processo
de fermentação no desenvolvimento da kombucha pode gerar maior aceitabilidade dos
consumidores, devido às alterações organolépticas dos compostos bioativos das frutas 659
(SEPTEMBRE-MALATERRE; REMIZE; POUCHERET, 2018). Somando a isto, alguns
trabalhos têm evidenciado que a kombucha à base de fruta apresenta maiores frequências
de atividades antioxidante e antimicrobiana, além de atividades importantes para
promover melhor qualidade de vida como antidiabética e antihipertensiva (MUCHENJE
et al., 2018; SEPTEMBRE-MALATERRE; REMIZE; POUCHERET, 2018; FLORES-
GARCÍA et al., 2019).
No entanto, há poucos estudos que têm utilizado fruta como substrato secundário
para o processo de fermentação, o que resulta da necessidade de desenvolver novas
pesquisas (MORALES, 2020). Para efeito disso, o design estatístico é um fundamental
para evidenciar as melhores concentrações de açúcar e chá para uma bebida dentro dos
parâmetros da legislação vigente.Diante disso, este trabalho teve por objetivo selecionar
a melhor concentração de pasta de umbu a ser utilizada para a elaboração de suco a fim
de ser utilizado como substrato para segunda fermentação.

MATERIAL E MÉTODOS

Culturas de kombucha
As culturas de Kombucha (SCOBY - Symbiotic Culture of Bacteria and
Yeasts/Cultura Simbiótica de Bactérias e Leveduras) foram oriundas de uma empresa
comercial e de uma produtora caseira de Penedo-AL. Sendo armazenadas e pertencentes
ao Laboratório de Desenvolvimento de Bioprodutos e Bioprocessos (LADBIOPROS) da
Unidade Educacional de Penedo - UFAL.

Manutenção da cultura kombucha


Foi realizada a manutenção a cada 30 dias do SCOBY em chá verde de
Camelliasinensis, utilizando proporção de 40g de biofilme para cada 1L de chá. O preparo
2021 Gepra Editora Barros et al.

do chá foirealizado utilizando água fervida com 1% de folhas e 10% de sacarose, a uma
temperatura de75°C±2°C (KAEWKOD, BOVONSOMBUT; TRAGOOLPUA, 2019).

Fermentação da cultura kombucha em chá verde (1º Fermentação)


A fermentação foi iniciada inoculando o SCOBY juntamente com o chá
STARTER (10% de chá fermentado) em reatores de vidro de 2L contendo 1,5L de chá
previamente preparado, as análises foram realizadas em triplicata. Os reatores foram
fechados com papel descartável utilizando elásticos para fixação, foram mantidos 660
estaticamente a uma temperatura de 28°C ±2°C.

Fermentação utilizando suco de umbu (Spondias tuberosa) com substrato (2º


Fermentação)
Após o período de fermentação do chá verde pelo SCOBY, o líquido metabólico
foi retirado do fermentador e adicionado pasta de umbu, por 24h para saborização. Após
o período de saborização o líquido fermentado foi filtrado e envasado em garrafa de vidro
hermeticamente fechada previamente higienizada. As garrafas foram mantidas em
repouso a 28°C ± 2°C durante três dias (ao abrigo da luz), a fim de proporcionar a
carbonatação e propriedades organolépticas provenientes do processo da segunda
fermentação. Após o tempo de fermentação, as garrafas foram refrigeradas a 8°C e
coletadas amostras para as determinações analíticas.

Determinações analíticas
Phmetria
As leituras das medidas foram realizadas diretamente do potenciômetro
digitalpreviamente calibrado (pHmetro TEC – 3MP- TECNAL). As análises de pH foram
realizadas conforme metodologia do Instituto Adolfo Lutz (IAL, 2008).

Brix - Sólido solúveis totais


A determinação de concentração de sólidos solúveis totais foi feita com a coleta
tubo tipo Eppendorf e centrifugado por 15 minutos (Micro centrifuga HT Modelo:
CM610). Após, foirealizada a leitura do °Brix em refratômetro digital portátil (Modelo
HL 96801).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Planejamento fatorial completo de produção da kombucha


Para determinar a melhor condição para produção da kombucha, foi utilizado um
planejamento fatorial completo 24 (Tabela 1), considerando-se como variáveis
independentes a concentração de chá verde (Camellia sinensis) e a concentração da fonte
de carbono (sacarose açúcar orgânico), analisando as variáveis resposta pH, ºBrix ao final
da primeira fermentação e da segunda utilizando umbu com o substrato secundário.

Tabela 1- Planejamento fatorial completo 22 para otimização das condições de produção da kombucha a
661
base de umbu (Spondias tuberosa).

Variável Níveis

Menor (-1) Cental( 0 ) Maior (+1)

Chá verde (g/L) 6 8 10

Açúcar 70 80 90
orgânico (g/L)

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A kombucha é uma bebida milenar, porém atualmente ela tem despertado


interesseindustrial devido seus benefícios à saúde humana e de seu sabor marcante.
(SANTOS et al., 2018) diz que a realização da bebida é feita a partir da fermentação do
chá de Camellia sinensis podendo este ser preto, verde ou branco, açucarado, onde uma
cultura simbiótica de bactérias e leveduras (SCOBY) atua em uma cinética de
fermentação até chegar às características físico-químicas, organolépticas e bioquímicas
desejáveis.
O cultivo dessas folhas é realizado tradicionalmente em países com o clima ameno e
úmido, a árvore é originária do Sudeste Asiático como dos países da China e Índia.
Atualmente no Brasil já existem cultivos de Camellia sinensis com várias formas de
processamento de suas folhas. Um dosparâmetros principais para o sabor do chá é o local
da plantação e a forma de cultivo. Para o chá verde, a colheita das folhas ocorre quando
estão jovens, antes de estarem completamente desenvolvidas; a secagem é feita
rapidamente e logo após são enroladas ainda quentes para a formação do chá. Após esse
2021 Gepra Editora Barros et al.

processo, elas são secadas, adquirindo assim um produto final de cor verde escura e de
forma enrolada (MOURA,2019).
Ao longo do processo fermentativo as bactérias e leveduras, metabolizam o chá e
a sacarose presente liberando várias vitaminas em especial as pertencentes ao complexo
B e vitamina C; minerais; ácidos orgânicos (ácido acético, lático, glucônico, glucurônico)
e aminoácidos (CHAKRAVORTYA et al., 2016). Neste processo fermentativo é
produzido também ácido carbônico e posteriormente ocorre à produção de gás, esta
reação proporcionapara a bebida gaseificada e unindo as moléculas citadas anteriormente 662
faz da Kombucha umabebida de excelente qualidade nutricional.
Devido ao exposto foi realizado um planejamento fatorial completo 22 com a
finalidade de avaliar como a concentração de chá e de sacarose influenciam o processo
fermentativo da Kombucha. Os resultados do planejamento podem ser visualizados na
tabela 2 abaixo.

Tabela 2 - Planejamento fatorial completo 22 para otimizar as condições de produção da kombucha a


base de umbu (Spondias tuberosa).
Ensaio Chá verde Açúcar
pH F1 °Brix F1 pH F2 °Brix F2
(g/L) orgânico
(g/L)

1 6 70 2,84 6,2 3,08 8,0


2 10 70 2,9 6,2 3,15 8,6

3 6 90 2,81 7,8 3,12 8,8

4 10 90 2,88 7,5 3,14 9,0

5 8 80 2,92 7,1 3,17 8,3

6 8 80 2,9 7,1 3,17 8,3

7 8 80 2,9 7,0 3,17 8,3

8 8 80 2,87 7,1 3,18 8,3

F1- Primeira fermentação utilizando chá de Camellia sinensis; F2 segunda fermentação utilizando para a
saborização a pasta de umbu.

O chá utilizado na pesquisa foi o chá verde, devido em estudo realizado por
Watawanaet al., (2015) ter verificado que o mesmo tem um melhor efeito de estimulação
2021 Gepra Editora Barros et al.

na fermentação da kombucha quando comparados a outros chás como por exemplo o chá
preto, mesmo ambas as formas de apresentação serem da mesma espécie vegetal as
Camellia sisnensis. Ele se destaca também na forma milenar de consumo direto do chá,
sendo ele uma das bebidas mais populares no mundo. Pode-se destacar em sua
composição além das moléculas já citadas neste texto, sua composição fotoquímica como:
alcalóides, cafeína, flavonoides,galotaninos, saponinas, teaflavinas, triterpeno.
Quanto à fonte de carbono, no presente experimento foi utilizada a sacarose, a
literatura traz que o açúcar é como substrato mais adequado para fermentação de 663
kombucha. Durante o processo de fermentação ocorre a degradação da sacarose, esse
processo acontece devido às enzimas que são produzidas pelas leveduras presentes no
SCOBY, ocorrendo a liberação de glicose e frutose. As leveduras transformam a glicose
em CO² (dióxido de carbono) e em álcool etílico, e as bactérias ácido-acéticas (BAA)
utilizam a glicose para produzir o ácido glucônico e o etanol para produzir ácido acético,
assim caracterizando a cinética fermentativa principal que ocorre durante a fermentação
da kombucha (MALBAŠA; LONČAR; DJURIĆ, 2008 apud ROSSONI, 2019;
JAYABALAN et. Al., 2014). Ao longo do processo fermentativo, bactérias, leveduras,
chá e açúcares fazem a liberação de várias vitaminas, minerais e ácidos orgânicos, esta
reação proporciona para a bebida gaseificada uma excelente qualidade nutricional.
Dentre os parâmetros físico-químicos estabelecidos pela única legislação que existe
no Brasil para produção de kombucha, o pH é um parâmetro importantíssimo. A Instrução
Normativa (BRASIL, 2018) estabelece que os valores de pH da kombucha estejam entre
2,5 e 3,5, assim destaco que todos os valores de pH encontrados no planejamento fatorial
se adequam à legislação vigente. Devido à produção de ácidos orgânicos já destacados
anteriormente, o pH é um parâmetro com a cinética de decaimento muito rápida sendo
ele que controla o curso correto de fermentação e é utilizado para definir do processo do
processo fermentativo com um pH final de 2,5 (MALBAŠA; LONČAR; DJURIĆ, 2008;
JAYABALAN et. Al., 2010). SegundoChu e Chen (2006) apontam como responsável
pela diminuição da qualidade sensorial o baixo pH, devido a grande concentração de
ácidos orgânicos, especialmente o ácido acético.
Durante os dias de fermentação o ecossistema microbiano fermentativo da
Kombuchavai consumindo algumas substâncias presentes e metabolizando outras, assim
a cor do líquidovai modificando acentuadamente e diminuindo em comparação a cor
original do chá verde. Segundo LIU et al., (1996) essas alterações acontecem devido
2021 Gepra Editora Barros et al.

principalmente a metabolização/alterações que ocorrem na conformação dos complexos


fenólicos resultantes da ação de enzimas microbianas sobre os polifenóis.
Segundo Souza et al., (2017) entende-se que após o processo fermentativo
em chá verde, é possível agregar mais sabor e propriedades a kombucha, a fim de
favorecer a aceitação da bebida. Assim, para esta saborização na presente pesquisa foi
utilizado pasta de umbu(Spondias tuberosa), fruta nativa brasileira que tem origem do
nome tupi-guarani “y-mb-u”, que significa “árvore que dá de beber”. É uma árvore típica
do agreste e caatinga, facilmente encontrados na região Nordeste e Norte de Minas Gerais, 664
comumente encontrados na região onde há a transição entre a Mata Atlântica e a Caatinga.
Como benefício à saúde humana, essa fruta apresenta ação antioxidante, ajudando a
fortalecer o sistema imunológico, protege contra o aparecimento de doenças, previne o
envelhecimento precoce, ajuda no emagrecimento e é uma rica fonte de vitamina C.
Assim agregando ainda mais a composição funcional da Kombucha, unindo os princípios
ativos do chá verde, com os produtos da fermentação e as propriedades da fruta utilizada
na saborização.

CONCLUSÕES

A busca por melhor concentração de açúcar e chá utilizado para o


desenvolvimento da kombuchaà base de umbu (Spondias tuberosa) por meio do
planejamento estatístico é fundamental para otimizar o processo de produção. Nessa
pesquisa foi evidenciado que todas as concentrações de chá e açúcar utilizados para o
processo de fermentação acarretaram nos parâmetros de pH e açúcar dentro da legislação
vigente pela ANVISA.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 60

DESENVOLVIMENTO DE BEBIDA ALCOÓLICA À BASE DE


SORO DE LEITE E GOIABA
NASCIMENTO, Nataly Miranda do
Pós-graduada em Nutrição
Instituto Federal de Alagoas
natalymn86@gmail.com

NASCIMENTO, Natalia Miranda do


Pós-graduada em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Instituto Federal Fluminense
nataliamestrealimentos@gmail.com 668

NETO, João Paixão dos Santos


Pós-graduado em Ciência e Agronomia
Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária -Portugal
joãopaixãoneto@gmail.com

SILVA, Lívia Manuela Oliveira da


Pós-graduanda em Bioquímica e Fisiologia
Universidade Federal de Pernambuco
liviamosilva@gmail.com

NEITZEL, Gustavo Stênio Magnago


Pós-graduado em Gestão em Docência do Ensino Superior
Instituto Federal Fluminense
magnagoneitzel@gmail.com

RESUMO

O objetivo deste estudo foi o desenvolver e caracterizar uma bebida alcoólica, similar ao
licor, elaborada com o soro do leite, goiaba e cachaça comercial; bem como caracterizar
os parâmetros físico-químicos, avaliar o índice de aceitabilidade dos atributos sensoriais
do produto e identificar a intenção de compra. Na formulação foi adicionado um xarope
de goiaba feito com o soro de leite. As análises físico-químicas apresentaram resultados
na faixa de pH 4,63; Acidez 26 ºD; Brix 27 ºBrix e Gordura 0,3%. Foi realizada uma
análise sensorial com 60 julgadores não treinados. A amostra apresentou índices de
aceitabilidade, com relação aos atributos, aparência, cor, aroma, sabor, textura e
impressão global que variaram de 85,8% a 97,4%, assim, indicando que o produto possui
um alto potencial mercadológico. Com relação à pesquisa de intenção de compra, 91%
dos provadores afirmaram que certamente comprariam o produto; enquanto 9%
afirmaram que provavelmente comprariam o produto. Sobre o consumo de bebida
alcoólica, 88% dos provadores afirmaram que consomem bebida alcoólica; 63%
responderam que consomem frequentemente; 15% responderam que consomem às vezes,
enquanto 12% afirmaram que nunca consumiram bebida alcoólica. Os resultados obtidos
inferem que é viável a produção da bebida alcoólica, semelhante ao licor, a base de soro
de leite com adição de cachaça e de goiaba na sua formulação, como uma alternativa
sustentável para o reaproveitamento do soro do leite contribuindo para a economia local,
promovendo a valorização dos frutos regionais e gerando emprego e renda para a
população Brasileira mais especificamente do Sertão Nordestino.

PALAVRAS-CHAVE: Descarte, subproduto, agregar valor.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

O Brasil está entre os maiores produtores de bebidas alcoólicas do mundo e faz


parte deste setor o consumo de bebidas como os licores. O consumo de licores tem
crescido de forma contínua no Brasil (SEBRAE, 2014; KUASNEI et al., 2017).
Em 2010, o consumo de licores pelos brasileiros apresentou um crescimento de
5,1%, sendo apontado como uma das bebidas alcoólicas mais consumidas pelo povo
brasileiro (ALVES et al., 2010). Dessa forma, pelo fato de o Brasil estar entre os três
primeiros países de maior produção de frutas, o mercado de licores de frutas torna-se um
potencial que pode ser facilmente explorado, agregando valor aos frutos nacionais.
(KUASNEI et al., 2017). 669
O setor de bebidas apresenta relevância econômica no Brasil devido a sua
diversidade e complexidade e, em 2012, representou 9,5% do Produto interno Bruto (PIB)
deste País (REIS, 2015).
O licor é uma bebida com graduação alcoólica de 15% a 54% (v/v) a 20 °C, com
percentual de açúcar acima de 30 g/L, sendo ainda classificado quanto ao teor de açúcar
(BRASIL, 2009). É definido como uma bebida alcoólica obtida por mistura, preparado
sem o processo fermentativo, cujos principais ingredientes são a fruta e o álcool potável
de qualidade superior, obtido através do processo de maceração alcoólica (PENHA, 2006;
BRASIL, 2010).
O Brasil é conhecido como um país rico em biodiversidade, onde ganham destaque
seus frutos nativos com elevado valor nutritivo (MORZELLE et al., 2009). A goiabeira
(Psidium guajava L.) é uma árvore frutífera pertencente à família Myrtaceae, oriunda das
regiões tropicais da América Central e América do Sul e até 2006 a cultivar “Paluma” foi
a mais plantada (POMMER; MURAKAMI; WATLINGTON, 2006; LIMA et al., 2010).
A goiaba é um fruto originário da América, e é encontrada principalmente no Brasil,
Antilhas e sudeste asiático. É um fruto carnudo que possui diversos tipos, variando nas
cores de casca, contém dezenas de pequenas sementes que podem ser ingeridas e são ricas
em ácido linoleico (ômega-6). As variedades possuem uma quantidade excelente de
vitamina C, sendo referida como fonte deste micronutriente. A goiaba possui intensa
atividade metabólica, alto teor de perecibilidade, requerendo o uso de tecnologias pós-
colheita para extensão de sua vida útil e manutenção da qualidade (AZZOLINI;
JACOMINO; BRON, 2004).
Além disso, é uma fruta de baixo valor comercial e facilmente encontrada em várias
regiões do País e no sertão nordestino. Os sistemas de produção de goiaba, com e sem o
ensacamento dos frutos, são sustentáveis economicamente. (TOKAIRIN; CAPPELLO;
SPOSITO, 2014)
A goiaba é uma fruta que possui boa aceitação devido ao sabor e quantidades
significativas de vitamina C, porém sua alta perecibilidade torna limitada a sua
comercialização (SAHOO et al., 2015).
Devido às suas propriedades antioxidantes como consequência da presença de
compostos fenólicos, o consumo equilibrado de licores de frutas pode proporcionar
benefícios à saúde (GEÖCZE, 2007). O reaproveitamento de frutas regionais para
2021 Gepra Editora Barros et al.

produção de licores confere ainda como resultado, um produto com valor agregado, baixa
perecibilidade e fácil armazenamento (TEIXEIRA et al., 2005).
O soro do leite é um subproduto ou coproduto aquoso derivado da produção de
“queijos duros, semiduros e de pasta mole” (96%), da indústria de produção de caseína
(6%) e em menor grau, iogurte concentrado (BOŽANIĆ; BARUKČIĆ; LISAK, 2014).
O soro é amplamente reconhecido pelo seu alto valor nutricional (BRANDELLI;
DAROIT; CORRÊA, 2015; YADAV et al., 2015) e contém, em média, 93% de água, 5%
de lactose, 0,9 a 0,7% de proteínas, 0,5 a 0,3% de gordura e 0,2% de ácido láctico. Dentre
os minerais presentes no soro, encontram-se aproximadamente 1.050,0 mg. L-1 de cálcio,
970,0 mg.L-1 de fósforo e 1,0 mg.L-1 de ferro (GIROTO; PAWLOWSKI, 2001). A fração
670
proteica contém, aproximadamente, 50% de β-lactoglobulina, 25% de α-lactoalbumina e
25% de outras frações proteicas, incluindo imunoglobulinas (FITZSIMONS;
MULVIHILL; MORRIS, 2007).
O soro do leite é um produto controverso da indústria de laticínios devido ao alto
volume gerado e a sua carga orgânica, que dentre os principais impactos ambientais
gerados pela indústria, destaca-se a geração de quantidades significativas de efluentes
líquidos com elevada carga orgânica. Este subproduto é uma rica fonte de nutrientes e a
utilização do soro de leite vem coadjuvando para o desenvolvimento de novos produtos
(ROHLFES et al., 2011).
O soro é um subproduto da fabricação de queijos que pode representar de 80% a
90% do volume total do leite utilizado durante sua produção. Este é composto por água e
aproximadamente 55% dos nutrientes do leite, sendo eles, minerais, proteínas solúveis,
lactose, vitaminas e uma baixa quantidade de gordura, que, após a coagulação do leite,
ficam retidas no soro (ALVES et al., 2014).
Apesar de sua importância como fonte nutritiva, o soro de leite apresenta sério
problema de poluição ambiental, visto que aproximadamente 50% são lançados
diretamente em curso d’água (SILVA; CARVALHO; GONÇALVES, 2003). Isso
propicia uma grande agressão ao meio ambiente causada pelos efluentes líquidos gerados
e um desperdício de um subproduto que pode ser utilizado para enriquecer
nutricionalmente preparações alimentares. Ainda segundo Alves et al. (2014), muitos
laticínios ainda consideram o soro de leite um efluente, que, se não for tratado
corretamente, gera poluição ambiental (devido a concentração de matéria orgânica), e
para diminuir este impacto, existe a possibilidade de reaproveitamento.
Assim, o objetivo desse trabalho foi desenvolver uma bebida alcoólica semelhante
ao licor, reaproveitando o soro de leite do resíduo da indústria de laticínios, e a fruta
goiaba, com intuito de agregar valor a esse coproduto da indústria de laticínios e valorizar
a fruta, que apesar de ser bastante consumida pelos brasileiros, possui uma alta
perecibilidade, e dessa forma este trabalho contribui para agregar valor a um produto
alimentício, minimizando os impactos negativos que o descarte inadequado do soro do
leite pode causar no meio ambiente.
2021 Gepra Editora Barros et al.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho foi desenvolvido no laboratório de Alimentos do Instituto


Federal de Alagoas Campus Batalha. O fluxograma com as etapas de processamento da
bebida alcoólica de soro de leite e polpa de goiaba está demonstrado na Figura 1.
Neste trabalho, apenas uma única formulação foi desenvolvida, conforme descrito
posteriormente.
O soro do leite foi cedido por uma pequena agroindústria de laticínios do Sertão
Alagoano.
A base alcoólica da bebida foi conferida através da adição de uma cachaça de baixo
valor comercial com graduação alcoólica de 39% (v/v), comumente encontrada nos 671
comércios do sertão nordestino.
As goiabas (Psidium guajava) utilizadas no processamento foram obtidas na feira
municipal de Batalha-AL. Inicialmente, os frutos foram higienizados, descascados e
esmagados manualmente. Em seguida, foram pesados 1000 gramas de goiaba já
esmagadas, em balança semi-analítica. Nesta massa pesada, foram incorporados 2 litros
de soro de leite e 600 gramas de açúcar cristal.
A mistura foi submetida ao cozimento por um período de 50 minutos, há uma
temperatura média de 85 ºC. Após o período de cozimento a mistura foi arrefecida em
temperatura ambiente por cerca de 30 minutos e posteriormente foi realizada a filtração.
Por fim, foram adicionados 600 ml de cachaça à mistura, homogeneizando-a. O
produto foi envasado em garrafas de vidro previamente esterilizadas com tampas
rosqueáveis e armazenado sob refrigeração.

Figura 1. Esquema da produção da bebida alcoólica mista de soro de leite e polpa de goiaba.

Fonte: Autores (2020).


2021 Gepra Editora Barros et al.

Análise físico-química

Foram realizadas as análises físico-químicas de pH, acidez titulável (Dornic,


NaOH 0,111 N), sólidos solúveis e gordura (IAL, 2008). Todos os ensaios foram
realizados em triplicata.

Análise sensorial

A análise sensorial do produto foi realizada no Laboratório de processamento de


alimentos do IFAL Campus Batalha. O ambiente para a realização da análise sensorial
672
era limpo, silencioso e com área toda branca, sem poluição sonora ou visual, com
temperatura ambiente agradável na faixa de 22ºC, a área da análise sensorial foi
organizada para que nenhum fator ambiental pudesse interferir no humor do provador e
na análise da amostra.
O índice de aceitabilidade da bebida alcoólica a base de soro do leite e goiaba foi
avaliada por uma equipe de 60 julgadores não treinados, homens e mulheres, maiores de
18 anos. A análise sensorial foi realizada com a aplicação da ficha sensorial (Figura 2) e
foram avaliados os atributos sensoriais quanto à aparência, cor, aroma, textura, sabor e
impressão global. Foi adotada escala hedônica, estruturada de 9 pontos (1- desgostei
muitíssimo a 9- gostei muitíssimo) seguindo a metodologia de Dutcosky (2011).
Assim, foi servida apenas uma amostra da bebida alcoólica à base de soro de leite
e goiaba, na temperatura de aproximadamente 13 ºC, acompanhada de água, em
temperatura ambiente, para limpeza do palato.
Paralelamente, também foi analisada, a intenção de compra da bebida, com a
aplicação de um questionário com uma escala de 5 pontos no qual as respostam variavam
de 1- certamente não compraria o produto a 5- certamente compraria o produto.
Na ficha sensorial (Figura 2), os provadores também foram questionados se
consomem bebida alcoólica e qual a frequência de consumo deste tipo de bebida.

Índice de aceitabilidade

A fim de verificar a aceitabilidade da bebida à base de soro de leite e goiaba, foi


realizado o cálculo do índice de aceitabilidade (IA), de acordo com a metodologia de
Dutcosky (2011), utilizando a Equação 1. O IA com boa repercussão deve ter o valor
mínimo de 70%.

%= (1)

Onde:
A - Nota média da escala hedônica obtida para o produto analisado;
2021 Gepra Editora Barros et al.

B - Representa a nota máxima na escala hedônica que o produto recebeu

Figura 2. Ficha de Análise sensorial.


Avaliação sensorial da Bebida alcoólica a base de soro de leite e goiaba
Nome:________________________________________________Idade:______
e 150mL de vodca, onde aGênero:_______
goiaba, o soroData:
de leite e o açúcar foram levados ao fogo
___/___/_____.
 Consome Bebida alcoólica? ( ) sim ( ) não
em
 uma
Qualtemperatura deconsumo?
a frequência de 100ºC por (5 )minutos. Logo(depois,
frequentemente o xarope
) às vezes ( ) nuncadeconsumi
goiaba foi deixado
em temperaturaVocê
ambiente
receberápor
umamais 5 minutos
amostra para esfriar.
de bebida alcoólica Por
base de sorofim, depois
de leite do xarope
e goiaba
acompanhada
esfriado, de água, que deverá
foi adicionado 150mLserdeavaliada
vodcautilizando-se
e duas gotas a escala hedônica
de corante emdegel
9 pontos, ondecor
para dar aojulgados673
serão
se gosta ou desgosta dos atributos que serão avaliados: aparência, cor, textura, aroma, gosto, e impressão global.
Por favor, prove a amostra e avalie o quanto você gostou ou desgostou utilizando a escala hedônica abaixo.
produto.
Escala Hedônica
1- desgostei muitíssimo, 2- desgostei muito, 3- desgostei moderadamente, 4- desgostei ligeiramente, 5- nem gostei e
nem desgostei, 6- gostei ligeiramente, 7- gostei moderadamente, 8- gostei muito, 9- gostei muitíssimo.

Atributos avaliados
Amostras
Aparência Cor Aroma Textura Sabor Impressão global

Finalmente, indique, utilizando a escala abaixo, qual sua atitude se você encontrasse esta amostra a venda.
Intenção de compra
1- certamente não compraria o produto, 2- provavelmente não compraria o produto, 3- tenho
dúvidas se compraria ou não o produto, 4- provavelmente compraria o produto e 5-certamente
compraria o produto.
Amostras Intenção de compra

Comentários:

Fonte: Autores (2020).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Análises físico-químicas

Os valores dos parâmetros físico-químicos avaliados estão dispostos na Tabela 1.

Tabela 1. Parâmetros físico-químicos de bebida alcoólica mista de soro de leite e polpa de goiaba.
pH Acidez Sólidos Solúveis Gordura
(ºDornic) (°Brix) (%)
4,63 ± 0,05 25,33 ± 0,47 27,33 ± 0,47 0,37 ± 0,05
Legenda: Valores apresentados como Média ± Desvio Padrão. Fonte: Autores (2020).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Na única amostra de bebida alcoólica a base de soro de leite e goiaba, desenvolvida


nesta pesquisa, foram observados os seguintes resultados: de pH no valor de 4,63 ± 0,05;
acidez titulável de 25,33 ± 0,47 ºDornic; teor de sólidos solúveis (°Brix) de 27,33 ± 0,47
e de gordura 0,37 ± 0,05%.
Uma bebida láctea fermentada probiótica sabor pêssego foi formulada com a
composição (30% de extrato hidrossolúvel de soja; 36,6% de leite de vaca; 33,3% de soro
de queijo) por Kempka et al. (2008) e na pesquisa do referido autor observou-se que o
uso da polpa de pêssego promoveu uma diferenciação na qualidade físico-química, visto
que a acidez ficou bastante evidenciada a partir de alguns dias de armazenamento, o que
influenciou no término da vida de prateleira da bebida. A partir de 22 dias de estocagem,
674
verificou-se acentuada acidificação do produto, comprovada pela avaliação das
características organolépticas, causando a desestabilidade da estrutura protéica e sua
coagulação, visto que as proteínas do leite apresentam ponto isoelétrico em pH próximo
a 4,6 e as da soja, pH 5,2 (ANVISA, 2001).
Contudo, nesta pesquisa de bebida alcóolica a base de soro de leite e goiaba, o pH
apresentou resultado semelhante a bebida relatada acima, elaborada por Kempka et al.
(2008), porém não houve coagulação das proteínas, provavelmente devido a diferença de
pH do pêssego e da goiaba e tal resultado pode ter ocorrido devido que nesta pesquisa o
soro do leite passou por um processo de cozimento por 50 minutos a uma temperatura na
faixa de 85 ºC.
No trabalho de Brandão (1997), onde ele elaborou uma bebida láctea fermentada, a
bebida desenvolvida apresentou uma variação de pH durante o processo fermentativo no
valor de 4,6 após 6 horas de fermentação, valor considerado ideal para iniciar o
resfriamento da bebida.
O valor de pH apresentado da bebida alcoólica a base de soro de leite e goiaba foi
de 4,63 ± 0,05, também semelhante ao encontrado por Brandão (1997). Porém, vale
destacar que a bebida desenvolvida neste projeto não sofreu processo de fermentação,
pelo fato de que a base alcoólica adicionada na bebida desta pesquisa, já era fermentada
e destilada comercialmente, levando em consideração que foi utilizada uma cachaça de
baixo valor de mercado, muito consumida na região, portanto o respectivo destilado
alcoólico foi adicionado ao produto conforme metodologia do processo de produção
descrito anteriormente.
Entretanto, Reis (2019) desenvolveu uma bebida alcoólica utilizando soro do leite
e realizou fermentação por Saccharomyces cerevisiae e os valores de pH encontrados nos
tratamentos foram demonstrados na ordem de 6 e 6,8, valores esses superiores aos valores
encontrados, quando comparados a esta pesquisa e a de Brandão (1997).
Caldeira et al. (2010) encontraram valores de acidez na faixa de 10,9 ºD na
produção de uma bebida láctea, valores bastante divergentes quando comparados ao
presente trabalho. Os valores de acidez encontradas no presente estudo apresentaram um
resultado de 25,33 ± 0,47 ºD, resultado que pode ter ocorrido devido ao fato da bebida
não ter sido submetida a um processo de fermentação, já as bebidas lácteas passam por
um processo de fermentação o que pode justificar sua maior acidez quando comparada
com a bebida alcóolica utilizando o soro do leite e goiaba que foi elaborada neste trabalho.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Santos et al. (2006) desenvolveram uma bebida láctea fermentada com soro do
queijo tipo mussarela (20%, 40%, 60% e 80% v/v), acrescida de polpa de umbu (Spondias
tuberosa sp.). As características físico-químicas e aceitação sensorial não apresentaram
diferença significativa (P>0,05) para as formulações com 20%, 40% e 60% de soro,
caracterizando a bebida com 60% de soro como a mais viável em termos de utilização do
maior volume desse subproduto.
Lima, Lima & Galvão (2011) avaliaram o conteúdo de sólidos solúveis de diversos
produtos lácteos por meio de refratômetro na escala °Brix, dentre eles o shake de
chocolate foi o que apresentou 22,0 °Brix, valor inferior ao encontrado na bebida
alcóolica a base de soro de leite e goiaba desenvolvida nessa pesquisa. O maior resultado
675
de sólidos solúveis encontrado nesta pesquisa pode ter ocorrido devido aos açúcares
presentes no soro do leite, o açúcar comum (sacarose) adicionado e aos açúcares da
própria fruta que foram utilizados, fatores influenciaram em um maior teor de sólidos
solúveis.
De acordo com a Instrução Normativa de nº. 46, de 23 de outubro de 2007
(BRASIL, 2007), os Padrões de Identidade e Qualidade para Leites Fermentados
descrevem os produtos que durante a produção são submetidos a processos fermentativos,
antecedidos por um tratamento térmico. Porém, o produto desenvolvido neste trabalho
não passa pelo processo fermentativo e não existe uma legislação adequada que trate com
especificidade o tema abordado nessa pesquisa.

Análise sensorial

A análise sensorial da bebida alcoólica à base de soro de leite e goiaba apresentou


índices de aceitabilidade com relação aos atributos sensoriais avaliados (>70%):
aparência, cor, aroma, sabor, textura e impressão global. Os resultados variaram de 85,8%
a 97,4%, conforme demonstrado no gráfico da Figura 3, indicando que o produto
apresentou um alto potencial mercadológico.
Com relação à pesquisa de intenção de compra, 91% dos provadores afirmaram
que certamente comprariam o produto; enquanto 9% afirmaram que provavelmente
comprariam o produto
Com relação a pergunta sobre o consumo de bebida alcoólica 88% dos provadores
afirmaram que sim, que consomem bebida alcoólica; já com relação ao questionamento
sobre a frequência de consumo de bebida alcoólica, 63% dos provadores responderam
que consomem frequentemente, 15% responderam que consomem as vezes, enquanto
12% afirmaram que nunca consumiram bebida alcoólica.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 3. Índice de aceitabilidade dos atributos sensoriais da bebida.

100,00%

95,00% Cor
Aroma
90,00%
Sabor

85,00% Textura
Impressão global
80,00%
Indice aceitabilidade

676
Fonte: Autores (2020).

Baseado no conceito de alimento probiótico, Silva et al. (2011) elaboraram e


avaliaram as características sensoriais de bebidas mistas à base de cajá (Spondias mombin
l.) E caju (Anacardium occidentale) enriquecidas com frutooligossacarídeos e inulina e
observou-se que todas as formulações, independente do tipo de probiótico, apresentaram
aceitação sensorial, já que a maioria dos provadores atribuíram notas acima de 6, portanto,
as notas apresentaram-se dentro da faixa de aceitação do produto.
Brandão, Seibert, & Mendonça (2006) utilizaram soro de queijo para obtenção de
uma bebida fermentada adicionada de polpa de abacaxi e observaram que, do ponto de
vista sensorial, a bebida apresentou ótima aceitação pois foi enquadrada no termo
hedônico “gosto muito”, além de oferecer os benefícios relacionados aos alimentos
fermentados adicionados de extratos de frutas. De acordo com Hossain & Rahman (2011),
o abacaxi possui alto valor nutritivo, sendo fonte de vitaminas A, C e do complexo B,
cálcio, fósforo e ferro. Além disso, pode-se explicar a bioatividade funcional dessa fruta
pela presença de compostos fenólicos que proporcionam uma boa ação antioxidante.
Outra bebida láctea fermentada probiótica sabor pêssego foi formulada com a
composição (30% de extrato hidrossolúvel de soja; 36,6% de leite de vaca; 33,3% de soro
de queijo) por Kempka et al. (2008). A aceitação sensorial apresentou resultado positivo
significativo.
O desenvolvimento das empresas de laticínios e o interesse da população
consumidora por produtos que ofereçam qualidade sensorial e nutricional além de
praticidade, tem impulsionado o desenvolvimento de novas formulações de produtos.
Dessa forma, percebe-se que há uma tendência da união de indústrias do setor de laticínios
em desenvolver bebidas com o principal resíduo da Indústria que é o soro do leite.
Tecnologicamente, observa-se que o reaproveitamento do soro para desenvolvimento de
formulações voltadas para a alimentação humana pode ser bastante interessante devido a
variedade de nutrientes, além de possibilitar uma diminuição da poluição ambiental pelo
fato de oferecer a esse resíduo um novo destino, contribuindo também para diminuição
nos custos de disposição final pela empresa; e, através disso, aumentar a produtividade, a
lucratividade e a oferta de emprego e renda nas indústrias de laticínios no Brasil e no
sertão do Nordeste Brasileiro, aonde este trabalho foi desenvolvido.
Adicionalmente, é relevante destacar que o aproveitamento de frutas,
principalmente aquelas de baixo valor comercial e alta perecibilidade como é o caso da
2021 Gepra Editora Barros et al.

goiaba, pode ser bastante importante devido à grande variedade de nutrientes, sendo o seu
processamento destinado a obtenção de produtos mais elaborados, agregando valor
comercial, já que a qualidade alimentícia e comercial do fruto in natura é influenciada
pelas condições de amadurecimento e armazenamento.

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos permitiram inferir que é viável a produção da bebida


alcoólica, similar a um licor, à base de soro de leite com adição de cachaça e de goiaba
na sua formulação, como uma alternativa sustentável para o reaproveitamento de um
importante resíduo da indústria de laticínios, que é o soro do leite e a valorização da 677
goiaba. A goiaba e o soro do leite conferem maior valor nutritivo e sensorial a bebida, ao
mesmo tempo que contribui para a economia local, promovendo a valorização dos frutos
regionais e gerando emprego e renda para a população do Brasileira e mais
especificamente do Sertão Nordestino.

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681
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Capítulo 61

DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO FISICO-QUÍMICA


DE BISCOITO INTEGRAL TIPO COOKIE COM ADIÇÃO DE
FARINHAS DE BANANA VERDE E COCO
BARBOSA, Alba Valéria Oliveira de
Técnica em alimentos e laticínios
IF Sertão Pernambucano
albavobarbosa@gmail.com

SILVA, Ângela Maria Soares da


Graduada em Tecnologia de alimentos 682
Faculdade de Tecnologia FATEC Sertão Central
angela.ejovem@gmail.com

PAULINO, Cláudio Gonçalves


Mestre em Tecnologia de Alimentos (IFCE Campus Limoeiro do Norte)
Professor na Faculdade de Tecnologia CENTEc - Sertão Central
claudio.goncalves@centec.org.br

LIMA, Natália Duarte de


Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos (CCA/UFC)
Professora da Faculdade de Tecnologia CENTEC - Sertão Central
natalia.lima@centec.org.br

DAMASCENO, Geísa Almeida


Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos (CCA/UFC)
Professora da Faculdade de Tecnologia CENTEC - Sertão Central
geisaad@hotmail.com

RESUMO

Biscoitos são produtos muito apreciados pelos brasileiros, que além de sua praticidade,
por serrem fonte de carboidratos, fornece energia para atividades cotidianas variadas.
Versáteis quanto a sua formulação, diversos estudos têm sido feitos para incrementar seu
valor nutricional, adicionando diferentes farinhas e outros componentes, agregando valor
biológico e mercadológico nesses produtos. Objetivou-se desenvolver e caracterizar
físico-química formulações de biscoito integral tipo cookie com adição de farinhas de
banana verde e de coco. Foram desenvolvidas três formulações: CF1(100% de farinha de
banana verde), CF2 (100% de farinha de coco) e CF3 (50% de farinha de banana verde e
50% de farinha de coco) com adição de demais ingredientes com quantidades fixas.
Despois de prontos foram realizadas as análises físico-químicas para caracterização
(umidade, proteína, lipídios, cinzas e carboidratos por diferença). Os resultados que
apresentaram diferenças significativas (p ≥ 0,05) entre as formulações foram lipídios e
carboidratos. Conforme os resultados encontrados, observou-se que todas as formulações
desenvolvidas apresentaram resultados relevantes e em coerentes com a literatura,
destacando-se a CF1, com baixo teor de gorduras e elevado teor de carboidratos,
tornando-se uma opção saudável para lanches.

PALAVRAS-CHAVE: Panificação, novos produtos, parâmetros de qualidade.


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INTRODUÇÃO

Os recentes estudos evidenciaram a relação entre alimentação e saúde, motivando


a procura por alimentos mais saudáveis, ricos em nutrientes essenciais que auxiliam no
desenvolvimento e manutenção da saúde (DIAS et al., 2016).
O estilo de vida atual, influenciada pelas novas estruturas econômicas e sociais,
reduzem o tempo que seria destinado para elaboração das refeições cotidianas sobretudo
lanches rápidos, dessa forma os consumidores buscam por alternativas práticas e assim,
os produtos de panificação/confeitaria como os biscoitos que destacam nesse cenário pois
tratam-se de alimentos práticos e de boa aceitação (LAFIA, 2020).
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias 683
e Pães & Bolos Industrializados - ABIMAPI, o Brasil destaca-se, como um dos maiores
produtores e consumidores de biscoitos do mundo. Em 2020, ocupou a terceira posição
no ranking mundial, com um volume de vendas estimado em 1,5 toneladas e um consumo
per capita/ano estimado em 7,02 kg (ABIMAPI, 2021).
Para Ferreira (2017), os biscoitos são produtos de grande interesse comercial,
devido à facilidade na fabricação, comercialização e distribuição, estando presente em
98% dos lares brasileiros. Muitos destes produtos têm sido desenvolvidos com a
finalidade de incrementar o valor nutricional, principalmente, em relação ao teor de fibras
e proteínas, visando grupos populacionais preocupados com o consumo de alimentos mais
saudáveis (CARVALHO et al., 2017).
Lima et al. (2019) afirma que, uma das áreas mais promissoras na indústria de
panificação e confeitaria é a elaboração de formulações de biscoitos com adição de cereais
e/ou ingredientes funcionais, com o objetivo de produzir alimentos. Estudos relacionados
a novas formulações de biscoitos, em que são utilizadas farinhas de diferentes fontes
vegetais (cereais, oleaginosas e resíduos), com a proposta de agregar valor tecnológico,
comercial e nutricional ao produto, promovem a diversificação aos produtos disponíveis
no mercado (OLIVEIRA; XAVIER; BRAGA, 2018).
Conforme o exposto acima, este trabalho tem como objetivo desenvolver e
caracterizar físico-químicamente formulações de biscoito integral tipo cookie com
enriquecimento de farinhas de banana verde e farinha de coco.

MATERIAL E MÉTODOS

Material

Para o desenvolvimento das formulações de biscoito tipo cookie, todos os


ingredientes (farinhas de banana verde e de coco, flocos de aveia, flocos de amaranto,
açúcar mascavo, ovos, coco ralado, essência de baunilha, banana passas e uva passas)
foram adquiridos no comercio local da cidade de Quixeramobim - CE.
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Formulação dos biscoitos

O processo de formulação dos cookies foi realizado no laboratório de panificação e


confeitaria da Faculdade de Tecnologia CENTEC – Sertão Central, localizada na cidade
de Quixeramobim - CE.
Para tanto, seguiu metodologias utilizadas por Zago (2014), com modificações.
Foram elaboradas três formulações com quantidades fixas de essência de baunilha,
fermento químico, flocos de amaranto, banana passa, uva passa, coco ralado, flocos finos
de aveia e açúcar mascavo, representadas por 20g, 32g, 60g, 120g, 120g, 120g, 276g e
450g, respectivamente. Variando o quantitativo das farinhas de banana verde e farinha de
coco. O percentual de ovos também variou (FC1) em virtude da textura das farinhas 684
utilizadas, como apresentado na tabela 1.

Tabela 1. Concentrações dos ingredientes utilizados nas formulações de biscoito integral tipo cookie
FORMULAÇÕES
INGREDIENTES
FC1 FC2 FC3
Farinha de coco - 315 g 157,5 g
Farinha de banana 315 g - 157,5 g
Flocos finos de aveia 276 g 276 g 276 g
Flocos de amaranto 60 g 60 g 60 g
Açúcar mascavo 450 g 450 g 450 g
Banana-passa 120 g 120 g 120 g
Uva-passa 120 g 120 g 120 g
Fermento químico 32 g 32 g 32 g
Coco ralado 120g 120 g 120 g
Ovos 300 g 410 g 410 g
Essência de baunilha 20 g 20 g 20 g
Fonte: Próprio autor.

Em que:
CF1 = Cookie com 100% de farinha de banana verde;
CF2 = Cookie com 100% de farinha de coco;
CF3 = Cookie com 50% de farinha de banana verde e 50% de farinha de coco.

O preparo dos biscoitos integrais tipo cookie seguiram os passos expostos no


fluxograma abaixo (figura 01):
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Figura 1. Fluxograma de processamento de biscoitos tipo cookie


Pesagem dos
ingredientes

Homogeneização /
Modelagem

Assamento (20
minutos / 180 °C)

Resfriamento 685
(temperatura
ambiente)

Acondicionamento

Fonte: Próprio autor.

Processamento dos biscoitos

Os ingredientes foram pesados e adicionados a formulação na seguinte ordem:


‘secos’ (farinha de banana verde e/ou farinha de coco, flocos de aveia e amaranto,
fermento químico e coco ralado) e ‘úmidos’ (uvas e as bananas cortadas em pequenos,
ovos e essência de baunilha. Logo após, foi promovida a mexedura manual dos
ingredientes até a obtenção de uma massa homogênea, na qual foi modelada também
manualmente em formato padrão de cookies. Após modelagem, os biscoitos foram
colocados em assadeiras retangulares untadas com margarina e farinha de trigo e levados
para assar em forno elétrico pré-aquecido a 180ºC por 20 minutos (figura 2).

Figura 2. Preparo da massa para modelagem e assamento dos biscoitos tipo cookie

Fonte: Próprio autor.


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Depois de assados, os biscoitos foram acondicionados em sacos de polietileno e


armazenados em temperatura ambiente, ao abrigo da luz (figura 3).

Figura 3. Armazenamento dos biscoitos tipo cookie embalados em sacos de polietileno

A B C

686

Em que: A (CF1 = Cookie com 100% de farinha de banana verde), B (CF2 = Cookie com 100% de
farinha de coco), C (CF3 = Cookie com 50% de farinha de banana verde e 50% de farinha de coco.
Fonte: Próprio autor.

Caracterização físico-química

As análises físico-químicas das formulações de biscoito integral tipo cookie foram


realizadas no Laboratório de Bromatologia da Faculdade de Tecnologia CENTEC -
Sertão Central, localizada na cidade de Quixeramobim - CE.

Todas as análises da caracterização físico-química das formulações, foi realizada


em triplicata, conforme metodologia descrita abaixo:
Umidade: Pelo método gravimétrico por aquecimento em estufa a 105 °C, até
peso constante (IAL, 2008).
Cinzas: Por incineração da matéria orgânica em forno mufla a 550ºC (IAL, 2008).
Proteína bruta: Através do método de Kjeldahl por digestão com mistura
digestora (sulfato de cobre, sulfato de potássio, ácido sulfúrico), seguido de destilação e
posterior titulação com solução de ácido clorídrico, empregando-se 6,25 como fator de
conversão de nitrogênio em proteína (AOAC, 1990).
Lipídios: Utilizou-se o método de Soxlet, empregando hexano para extração (IAL,
2008).
Carboidratos: Por diferença, subtraído do somatório dos valores já obtidos de
umidade, cinzas, proteínas e lipídios (AOAC, 2005).
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Tratamento estatístico

Os resultados das análises foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e


comparadas entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância, com o auxílio
do programa Statistica® versão 7 (STATSOFT, 2007).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos nas análises físico-químicas das formulações de biscoito


integral tipo cookie, estão dispostos na tabela 2. 687

Tabela 2. Resultado das análises físico-químicas das formulações de biscoito integral tipo cookie com
adição de farinhas de banana verde e de coco
FORMULAÇÕES
PARAMETROS (%)
CF1 CF2 CF3
Umidade 10,73a ± 0,93 10,90a ± 1,47 10,40a ± 1,31
Proteína 1,13a ± 0,13 1,20a ± 0,24 1,16a ± 0,07
Cinzas 2,37a ± 0,15 2,37a ± 0,21 2,47a ± 0,06
Lipídios 1,61a ± 1,58 8,17b ± 0,15 9,17b ± 0,15
Carboidratos 84,16b ± 2,53 77,37a ± 1,65 76,81a ± 1,13
Letras iguais na mesma linha não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey (p ≥ 0,05).
Resultados expressos como média ± desvio padrão. Fonte: Próprio autor.

Os resultados de umidade, proteínas e cinzas, quando analisados estatisticamente, não


diferiram significativamente entre si (p>0,05) para as formulações estudadas. Os resultados
encontrados para umidade foram CF1 (10,73%), CF2 (10,90%) e CF3 (10,40%). Esses
valores encontrados foram menores que os obtidos por Silva et al. (2019), que
desenvolveram biscoitos tipo cookie com adição progressiva de farinha do caroço de
abacate e obtiveram 18,44%, 14,04% e 13,87%, respectivamente, 5, 10 e 20% de adição
progressiva da farinha.
A baixa umidade favorece a conservação dos produtos, pois segundo Ribeiro e
Seravalli (2004), a deterioração de um alimento é normalmente resultante das ações de
microrganismos, reações químicas e atividade enzimática, que dependem da presença de
água para acontecerem. Portanto alimentos que possuem baixo teor de água, desde que
armazenados adequadamente, tendem a terem uma vida útil maior.
Dias et al. (2016) afirmam ainda que, menores percentuais de umidade são ideais
para um aumento da sua vida útil, já que baixos conteúdos de umidade são capazes de
inibir o crescimento de microrganismos e provocar modificações na textura.
Os valores de proteína das formulações CF1 (1,13%), CF2 (1,20%) e CF3 (1,16%),
foram inferiores ao obtidos por Fiorentin et al. (2019) com formulações de cookies com
concentrações de 15% e 30% de farinha de feijão caupi biofortificada, apresentou
resultados de 10,71% e 11,31%, respectivamente. Isso ocorreu por se tratar de um produto
elaborado com ingredientes que possuem baixo valor proteico, com exceção do ovo, os
demais eram de origem vegetal.
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Os resultados obtidos das cinzas, para as três formulações CF1 (2,37%), CF2
(2,37%) e CF3 (2,47%), foram similares aos encontrados nos trabalhos de Almeida e
Gherardi (2019), com o biscoito tipo cookie com farinha de linhaça, sendo observado
valores de cinzas de 2% e Fiorentin et al. (2019), com formulações de cookie com
concentrações de 15% e 30% de farinha de feijão caupi biofortificada, com valores para
cinzas de 2,21% e 2,16% respectivamente. E superiores aos obtidos por Queiroz et al.
(2017) que encontraram valores variando de 0,90% a 0,96%, para cookies formulados
com farinha de coco, com valores superiores ao encontrado na formulação padrão
(0,84%), sendo atribuído esse aumento ao incremento da farinha de coco. Portanto, adição
de farinhas alternativas contribuem para o aumento do conteúdo mineral dos biscoitos,
688
característica de produtos integrais.
Na análise dos parâmetros de lipídeos e carboidratos, a formulação CF1, diferiu
significativamente (p>0,05) em relação as formulações CF2 e CF3. Tal fato, foi atribuído
a variação quanto o quantitativo de farinhas de banana verde e farinha de coco presentes
na composição das formulações elaboradas.
A análise de lipídios mostrou que a formulação CF1 (1,61%), apresentou o menor
percentual de gordura em relação as formulações CF2 (8,17) e CF3 (9,17%). Essa
diferença foi atribuída, a ausência de farinha de coco em sua formulação, tendo em vista
que o coco apresenta reconhecido valor lipídico em sua composição. Tal correlação pode
ser observada nos resultados das formulações CF2 e CF3, que apresentaram valores
semelhantes não diferindo significativamente entre si (p>0,05) e, em ambas as
formulações, a farinha de coco faz parte da sua constituição. Valores semelhantes às
formulações CF2 e CF3 foram encontrados por Silva et al. (2019), com biscoitos tipo
cookie adicionados de farinha do caroço de abacate, com valores de 8,0% e 9,40% para
as formulações com 5% e 10% de farinha de caroço de abacate e inferiores ao valor obtido
por Almeida e Gherardi (2019), que desenvolveram biscoito tipo cookie com farinha de
linhaça, apresentando resultado de 25,01% para gordura.
Os resultados distintos encontrados na literatura, assim como os resultados
encontrados nesse trabalho, podem ser justificados pela presença de componentes em suas
formulações ricos em conteúdo lipídico, sobretudo em formulações com a presença de
oleaginosas como o observado no estudo de Silva, Monteiro e Rosa (2014), que
formularam cookies com castanha de pequi, obtendo o resultado de 23,33% de gordura
na formulação.
Comparando os resultados, os biscoitos tipo cookie elaborados com farinha de
banana e com farinha de coco, apresentaram a vantagem de possuir um baixo teor de
gordura em relação aos valores da literatura relatados acima, com destaque para a
formulação CF1, com 100% de farinha banana verde, que apresentou o menor valor entre
eles, tornando-se a opção mais saudável pelo baixo teor lipídico.
Os resultados obtidos para carboidratos demonstram que a formulação CF1
(84,16%) apresentou valores superiores, quando comparado à CF2 (77,37%) e CF3
(76,81%) que não diferiram significativamente entre si (p>0,05). Resultados assim podem
ser atribuídos a farinha de banana verde presente na formulação CF1. Segundo Silva et
al. (2015) na obtenção da farinha de banana verde, fatores como tipo de cultivar ou
variedade da fruta, presença ou ausência de casca, técnica de desidratação e condições de
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operação do equipamento, podem influenciar em suas características físico-químicas,


tecnológicas e funcionais.
Em estudos realizados por Soares et al. (2020), que caracterizaram farinhas de
banana verde, encontraram valores para carboidratos na ordem de 80,07% a 83,03%, já
em estudos realizados por Queiroz et al. (2017) encontraram valores em torno de 17% de
carboidratos totais. Neste mesmo estudo Queiroz et al. (2017) formularam cookies com
diferentes concentrações de farinha de coco e obtiveram valores para carboidratos totais
na ordem de 53 a 64% e 69% para a formulação padrão (sem adição de farinha de coco)
e atribuíram esse valor inferior a adição da farinha de coco às formulações.
Contudo, os valores obtidos, demonstram que os biscoitos obtidos apresentaram
689
percentuais consideráveis de carboidratos (componente majoritário dos biscoitos),
portanto, podem ser considerados alimentos fonte de carboidratos e consequentemente
contribuir com valor energético para a alimentação.

CONCLUSÕES

Conclui-se que todas as formulações apresentaram parâmetros físico-químicos


relevantes e similares aos observados na literatura. O baixo teor de umidade apresentado
em todas as formulações, favorece a sua conservação, contribuindo para o prolongamento
da sua vida útil. O carboidrato foi o componente majoritário das formulações, o que é
característico dos biscoitos tipo cookie. O baixo teor lipídico, encontrado nas formulações
estudadas, em comparação com outros resultados observados na literatura, que associado
ao elevado teor de carboidratos, podem ser considerados uma opção saudável para café
da manhã e lanches rápidos, fornecendo energia para atividades cotidianas.

Dentre as formulações, a CF1 elaborada com 100% de farinha de banana verde,


destacou-se por apresentar menor conteúdo lipídico e maior teor de carboidratos,
caracterizando-a como a opção mais saudável entre as três formulações estudadas.

REFERÊNCIAS

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Capítulo 62

DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA


DE BLENDS EM PÓ DE UVA COM TANGERINA PELO
PROCESSO DE LIOFILIAÇÃO
MELO, Mylena Olga Pessoa
Pós-graduando em Engenharia e Gestão de Recursos Naturais
Universidade Federal de Campina Grande- UFCG
mylenaopm@gmail.com

SOUSA, Francisca Moisés


Pós-graduando em Engenharia e Gestão de Recursos Naturais 692
Universidade Federal de Campina Grande- UFCG
fran_moyses@hotmail.com

SANTOS, Rebeca Morais Silva


Pós-graduando em Engenharia e Gestão de Recursos Naturais
Universidade Federal de Campina Grande- UFCG
rebecamoraiscg@gmail.com

BARROS, Sâmela Leal


Pós-graduando em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Universidade Federal do Ceará - UFC
samelaleal7@gmail.com

RODRIGUES, Larissa Monique de Sousa


Pós-graduando em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande- UFCG
larissamonique@gmail.com

RESUMO

Diante da busca do consumidor por produtos mais práticos, porém com um considerável
valor nutricional, o presente estudo teve como objetivo desenvolver um blend de uva e
tangerina em pó. O método utilizado foi o de secagem por liofilização. Para a elaboração
dos blends foram extraídas a polpa de uva e de tangerinas e preparadas três formulações,
nas quais variou-se a porcentagem de polpa de tangerina. Os pós foram analisados com
relação ao teor de água, sólidos solúveis totais, pH, acidez total titulável, cor (L*, a* e
b*). Obteve-se um blend em pó com uma elevada concentração de sólidos solúveis totais
e baixa atividade de água, indicando estabilidade microbiológica, porém é salutar que
estudos complementares sejam realizados, principalmente no que diz respeito a
armazenamento e aceitação comercial, sendo sugerido a execução de testes
microbiológicos e sensoriais.

PALAVRAS-CHAVE: Conservação de alimentos, Praticidade, Secagem.

INTRODUÇÃO

As uvas Vitis s.p., pertencentes à família Vitaceae, nativas do sudeste dos Estados
Unidos. Atualmente, compreendem mais de cem cultivares (WEI et al. 2017),
caracterizadas por apresentar cachos pequenos, bagas médias ou grandes, com coloração
2021 Gepra Editora Barros et al.

em geral marrom escuro, com variedades claras e bronzeadas. São pouco açucaradas, com
muitos cachos por planta, poucas bagas por cacho, com formação de uma zona de
abscisão entre a fruta e a ráquis. A casca é não estriada e aderente, de lenho duro e
maturação escalonada (DENEGA et al., 2010).
Segundo Park & Oh (2015) relatam que as uvas da espécie Vitis
rotundifolia possuem aroma e sabor bastante característicos, o que favorece o consumo in
natura em relação ao suco ou vinho, no entanto, as uvas muscadíneas estão no mercado
dos Estados Unidos há décadas, comercializadas como fruta fresca, sucos, geleias e
vinhos (FONSAH e AWONDO, 2016).
De acordo com a FAO (2019), o Brasil era o quarto maior produtor mundial de
693
tangerina em 1990, tendo passado para sexto em 2016 e quinto em 2017 Outras cultivares
também plantadas no Brasil são a África do Sul, Clementina, Clementina Caçula,
Clemenville, Cravo, Dancy, Estância, Madre Tereza, Mineira, Ponkan Swatow, Ponkan
Variegada, Szinkon, Trepadeira e Vermelha. Também há plantios da variedade Dekopon,
que tem se tornado importante no Brasil, representando um híbrido sem sementes, com
elevado teor de açúcar e alto valor agregado (VASCONCELOS, 2019).
Considerando a alta perecibilidade das frutas, torna-se necessário que sejam
aplicadas técnicas de conservação com o objetivo de aumentar sua vida de prateleira e até
mesmo a criação de novos produtos. Para que esse novo produto tenha um tempo de
prateleira significativo é necessário a utilização de processos que propiciem que essas
características sejam alcançadas.
A secagem é um dos processos mais antigos de preservação dos alimentos e uma
alternativa que apresenta bastante vantagem, a qual visa à redução dos teores de água dos
produtos a níveis que dificultem o crescimento microbiano e o desenvolvimento de
reações físico-químicas minimizando as perdas pós-colheita. Muitos processos de
secagem têm sido empregados para a produção de alimentos em pó, entre os quais se
destaca a secagem por liofilização. Segundo Oliveira (2016), este processo de liofilização,
é utilizado, para além de preservar alimentos perecíveis, conservar princípios ativos e
microrganismos, entre outros produtos. Seu princípio é o congelamento dos materiais
onde na etapa posterior a água é retirada do material por sublimação, (passagem da água
do estado sólido para o estado gasoso sem a passagem pelo estado líquido).
Diante disso, considerando-se a possibilidade de agregar valor a frutas tropicais,
objetivou-se elaborar três formulações de blends com polpas de uva e tangerina obtidos
por liofilização e caracterizar quanto aos parâmetros físico-químicos.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho foi realizado no Laboratório de Engenharia de Alimentos,


pertencente ao Departamento de Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de
Campina Grande, PB.
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Formulação do produto

Foram adquiridas uvas e tangerinas no mercado local da cidade de Campina


Grande – PB, conforme figuras 1 e 2. Para ser utilizado como adjuvante de secagem, foi
adquirida maltodextrina dextrose equivalente 20 (Mor Rex® 1920) da Corn Products
Brasil, oriundo de Mogi Guaçu, São Paulo, SP.

Figura 26: Uva itália roxa.

694

Fonte: Autores, 2021.

Figura 27: Tngerina pokan.

Fonte: Autores, 2021.


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Processamento das matérias-primas


As uvas e tangerinas foram lavadas com água clorada (10 ppm). Após lavadas as
tangerinas tiveram suas superfícies externas retiradas. A extração dos sucos foi feita com
o auxílio do equipamento Walita Pure Essentials Collection Centrifuga Juicer.
Foram formulados três blends (F1, F2 e F3), F1 composto por 100 gramas de polpa de
uva e 20 gramas de polpa de tangerina, F2 produzida a partir de 100 gramas de polpa de
uva e 40 gramas de polpa de tangerina e F3 formulada com 100 gramas de polpa de uva
e 60 gramas de polpa de tangerina. Em todas as formulações foram adicionados 10% de 695
maltodextrina dextrose equivalente 20 (em relação à massa de uva e tangerina),
procedendo-se homogeneização em liquidificador doméstico até completa dissolução do
aditivo. Os blends formulados foram acondicionados em formas plásticas e congelados
em freezer a -18 °C pelo contato direto das amostras com o ar refrigerado, por um período
de 24 h.
A desidratação foi realizada em liofilizador de bancada da marca Christ, modelo
ALPHA 1-2 LDplus. Para tanto, as amostras congeladas foram colocadas nas bandejas
do equipamento e desidratadas na temperatura de -40°C por 48 h. Passado o tempo de
liofilização, os blends foram desintegrados com uso de almofariz e pistilo e
acondicionados em embalagem laminada, com o intuito de protegê-los da umidade e da
luz.

Análises físico-químicas
Os parâmetros físico-químicos foram analisados em triplicata usando metodologia
proposta pelo INSTITUTO ADOLFO LUTZ (2008).

pH
A determinação do pH foi feita utilizando um phmetro de bancada (marca
QUIMIS), diluindo-se 5g da amostra em água destilada e realizado-se a leitura.

Acidez titulável
A determinação da acidez foi feita por titulometria utilizando o hidróxido de sódio
como titulante. Pesou-se aproximadamente 5g de cada amostra e diluiu-se com água
destilada, depois de homogeneizada titulou-se sob agitação constante com a solução de
hidróxido de sódio a 0,1M até atingir pH 8. O índice foi obtido a partir da relação entre o
peso da amostra, o volume titulado e o fator de correção da solução titulante.
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Teor de água
O cadinho foi tarado previamente seco em estufa com temperatura a 105ºC por
uma hora. Logo após o cadinho foi colocado no dessecador e com o auxílio da pinça
retirado e pesado na balança analítica. O peso do cadinho foi anotado e a balança tarada.
Neles foram colocadas aproximadamente 2g de amostra para cada formulação, após, os
cadinhos foram levados a uma estufa a vácuo na temperatura de 105ºC onde
permaneceram por 24h. Após este tempo foram retirados da estufa e pesados. O teor de
água foi obtido a partir da relação entre a massa de água e a massa da amostra. 696

Sólidos solúveis totais (SST)


Os sólidos solúveis totais serão determinados conforme metodologia
refratométrica, com refratômetro de bancada, expressos em ° Brix segundo as normas do
Instituto Adolfo Lutz (2008).

Ratio (Relação SST/ATT)


A relação SST/ATT será calculada através da razão entre os sólidos solúveis totais
(SST) e a acidez total titulável (ATT) de acordo com o manual do Instituto Adolfo Lutz
(2008).

Atividade de água
A atividade de água a 25 °C foi obtida através da leitura direta das amostras em
higrometro Aqua-Lab, modelo 4TE da Decagon.

Cor
A cor das amostras foram determinadas em espectrofotômetro portátil Hunter Lab
Mini Scan XE Plus, modelo 4500 L, obtendo-se os parâmetros L*, a* e b*, em que L*
define a luminosidade (L* = 0 – preto e L* = 100 – branco) e a* e b* são responsáveis
pela cromaticidade (+a* vermelho e –a* verde; +b* amarelo e –b* azul). A partir destes
valores, calcularam-se o croma (C*) pela fórmula C*= [(a*)2+(b*)2]0,5 e os valores de
ângulo de tonalidade (ângulo h°) pela fórmula h*= tan-1 b*/a*.

Análise experimental
O delineamento experimental foi o de blocos inteiramente casualizados com três
tratamentos e três repetições, utilizando-se o software Assistat versão 7.7 beta. Os dados
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foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e a comparação de médias foi feita


pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Estão apresentados nas Tabelas de 1 a 3 os resultados das análises físicas e químicas


dos blends em pó de uva e tangerina obtidos por liofilização. Observou-se que o teor de
água aumentou significativamente (p<0,5) conforme houve o aumento da quantidade de
polpa de tangerina acrescida na formulação, este comportamento também foi obtido por 697

Santos et al. (2015) ao estudar blends de graviola e caju obtidos por liofilização, ao
aumentar a porcentagem de polpa de caju também houve aumento no teor de água. Porém
no presente estudo todas as formulações apresentaram para o teor de água valores
inferiores a 6% variando entre 5,18% e 5,42%, inferiores também aos obtidos por Vilar
et al. (2020), quando analisou físico-quimicamente um suco misto em pó também obtido
por liofilização, que apresentou 6,84 % de teor de água. Os sólidos totais diminuíram
significativamente (p<0,5) de acordo com o aumento da adição de polpa de tangerina,
podendo isto está relacionado à diluição de componentes nutricionais, considerando que
tal comportamento se mostrou inverso ao ocorrido com o teor de água. Para este teor as
valores variaram entre 94,82 % e 94,58 % assemelhando-se aos valores encontrados por
Santos et al. (2015) ao analisar blends de graviola e caju liofilizados com valores de
sólidos totais entre 95,63% e 94,63%. A atividade de água apresentou-se diretamente
proporcional ao teor de água, expandindo-se à medida que o conteúdo de água foi
elevado. Verificou-se atividade de água oscilando entre 0,168 e 0,207, indicando
estabilidade microbiológica do produto, posto que não há dissolução de constituintes
nutricionais das amostras pela água.

Tabela 1 – Resultado das análises de umidade, sólidos totais e atividade de água dos
blends de uva e tangerina obtidos por liofilização.
Formulação Teor de água Sólidos totais Atividade de água
F1 5,18000 c 94,82000 a 0,16867 c
F2 5,32333 b 94,67667 b 0,17900 b
F3 5,42000 a 94,58000 c 0,20700 a
dms 0,06837 0,06837 0,00392
Teste F 58,7612 ** 58,7612 ** 482,7727 **
F1, F2, F3 – Blends de uva e tangerina em pó respectivamente com 20, 40 e 60% de polpa de tangerina;
DMS – Diferença mínima significativa; **significativo respectivamente a 1% de probabilidade pelo teste
2021 Gepra Editora Barros et al.

F; Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem estaticamente a 5% de probabilidade, pelo teste
de Tukey.

Para os blends em pó em estudo o teor de acidez titulável (ATT) (Tabela 2) variou


de 1,31% a 1,48%, aumentando proporcionalmente ao aumento de polpa de tangerina,
valores bem inferiores aos obtidos por Gonçalves et al. (2020) ao analisar sucos artificiais
em pó 4,45% e 5,08% e próximos ao obtido por Vilar et al. (2020), 1,21 % de ATT para
suco misto em pó. Em todas as formulações do presente estudo a ATT permaneceu baixa,
abaixo de 2%, não conferindo um sabor tão ácido aos blends.
Os sólidos solúveis totais não apresentaram diferença significativa (p<0,5) entre as 698
formulações dos blends, mantendo o valor de 70 °Brix para as três formulações, valor
elevado, porém esperado, considerando que a redução de água em produtos desidratados
promove a concentração de açúcares e ácidos orgânicos que, favorecendo a elevação
desse parâmetro.
Ocorreu um decréscimo significativo (p<0,5) da relação SST/ATT atestando que a
adição da polpa de tangerina promove redução do sabor doce na mistura, sendo
necessários testes sensoriais para comprovar o impacto da alteração da relação SST/ATT
na preferência dos consumidores. Santos et al. (2015) ao liofilizarem polpa de graviola e
caju encontraram relação SST/ATT de 25,34 e 22,91%, estando bem abaixo ao
encontrado neste trabalho. Todavia, deve-se considerar que as características físico-
químicas de produtos agrícolas são muito varáveis e dependentes das condições
climáticas, tratos culturas, tipo de solo cultivado, dentre outros fatores. Observou-se
pequeno decréscimo (p<0,5) nos valores de pH com o aumento da adição de tangerina às
formulações, entretanto todas as amostras apresentaram valores inferiores a 4,0. Sendo
assim, os blends em pó foram classificados como muito ácidos (FRANCO e
LANDGRAF, 2005), com desenvolvimento microbiano restrito quase que
exclusivamente a bolores e leveduras, caso as condições de atividade de água
permitissem. Resultados de pH inferiores a 4,0 também foram reportados em outros
estudos de blends de polpas de frutas liofilizados, suco misto (VILAR et al., 2020) e blend
de graviola e caju (SANTOS et al., 2015).

Tabela 2 – Resultado das análises de acidez total titulável (ATT), sólidos solúveis totais
(SST), relação SST/ATT e pH dos blends de uva e tangerina obtidos por liofilização.
Acidez total Sólidos solúveis Relação
Formulação pH
titulável (ATT) totais (SST) SST/ATT
F1 1,31333 c 70,00000 a 53,30424 a 3,48667 a
F2 1,40333 b 70,00000 a 49,88509 b 3,40333 b

F3 1,48667 a 70,00000 a 47,08857 c 3,31333 c

dms 0,03828 0,05413 1,37322 0,03828

Teste F 96,6190 ** 0.0000 * 96,7980 ** 96,6190 **


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F1, F2, F3 – Blends de uva e tangerina em pó respectivamente com 20, 40 e 60% de polpa de tangerina;
DMS – Diferença mínima significativa; **significativo respectivamente a 1% de probabilidade pelo teste
F; Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem estaticamente a 5% de probabilidade, pelo teste
de Tukey.

Conforme expresso na Tabela 3 verificou-se que todas as formulações


apresentaram-se escuras, com valores de luminosidade (L*) inferiores a 60,0. Apesar
disso, o acréscimo da polpa de tangerina aos blends promoveu um leve clareamento
significativo (p<0,5) aos produtos, com aumento de quase 1,5% de L* entre as amostras
contendo a menor e a maior concentrações de tangerina. A cromaticidade a* foi distante 699
de zero, com tendência de tonalidade vermelha (+a*) nas amostras das três formulações,
porém os valores diminuíram significativamente (p<0,5) nas amostras elaboradas com as
maiores concentrações de tangerina. A cromaticidade b* não apresentou predominância
em relação a cromaticidade a*, com dados inferiores a 5,0 em todas as amostras,
indicando tonalidade azul (-b*) mais evidente. A -b* revelou acréscimo significativo
(p<0,05) à medida que se adicionava polpa de tangerina, logo, a sua adição promoveu,
elevação da tonalidade azulada do produto. O ângulo de tonalidade (h*) permaneceu
próximo a região do vermelho (h*= 0°) em todas as amostras, indicado ser essa a cor
perceptível dos produtos. Entretanto, essa tonalidade vermelho arroxeada tornou-se
menos intensa à medida que se aumentava a adição de polpa de tangerina, evidenciada
pela diminuição do croma (C*) com o aumento da porcentagem da polpa de tangerina.
Essa diminuição do C* promoveu intensificação da cor vermelha, tornando o produto
com um aspecto mais vivo e mais atrativo.

Tabela 3 – Colorimetria dos blends de uva e tangerina obtidos por liofilização


Formulação Luminosidade Cromaticidade Cromaticidade Ângulo de Croma
(L*) a* b* tonalidade (C*)
(h*)
F1 49,10000 c 21,98333 a 2,69333 c 6,98470 c 22,14783
a
F2 49,76000 b 21,72333 b 3,98000 b 10,38217 b 22,08493
a
F3 50,83333 a 21,45667 c 4,72667 a 12,42339 a 21,97114
b
dms 0,1375 0,10631 0,14515 0,3815 0,10334
Teste F 762,5240 ** 115,5802 ** 945,8146 ** 976,8417 ** 14,1451
**
F1, F2, F3 – Blends de uva e tangerina em pó respectivamente com 20, 40 e 60% de polpa de tangerina;
DMS – Diferença mínima significativa; **significativo respectivamente a 1% de probabilidade pelo teste
F; Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem estaticamente a 5% de probabilidade, pelo teste
de Tukey
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CONCLUSÕES

Os blends de polpa de uva com diferentes concentrações de polpa de tangerina


apresentaram diferença significativa entre si, em todas as características físicas e químicas
dos pós produzidos através da secagem por liofilização, mediante o aumento da
concentração de polpa de tangeria, excetuando-se os sólidos solúveis totais, que manteve
o valor de mantendo o valor de 70 °Brix para as três formulações, valor elevado, porém
esperado por se tratar de um processo de desidratação que corrobora para a concentração
dos sólidos e consequentemente favorece a obtenção de um baixo teor de água e atividade
de água, comportamento este que ocorreu no presente estudo, indicando uma possível 700
estabilidade microbiológica do produto, porém para a comprovação desta estabilidade
sugere-se um estudo de armazenamento, realizando análises microbiológicas durante um
período mínimo de 180 dias, e para identificar a aceitabilidade dos produtos por parte dos
consumidores, sugere-se a realização de análise sensorial.

REFERÊNCIAS

DENEGA, S., BIASI, L. A., ZANETTE, F., MAGGI, M. F., JADOSKI, S. O., &
BLASKEVICZ, S. J.. Características físicas e químicas dos cachos de cultivares de Vitis
rotundifolia. Semina. Ciências Agrárias, 2010.

FAO. Food and agriculture data: production: crops. Disponível em:<


http://www.fao.org/faostat/en/#data/QC> Acesso em: 20 mar. 2021.

FONSAH, E. G., & AWONDO, S. N. Cost estimates and investment analysis for
muscadine grapes production in Georgia. Journal of Food Distribution Research, 2016.

FRANCO, B. D. G. M; LANDGRAF, M. Microbiologia dos alimentos. São Paulo:


Atheneu, 2005. 196p.

GONÇALVES, J. K. M.; LIMA, J. P. R.; SOUZA, E. C.; BARBOSA , I. C. C.; MORAES


JUNIOR, E. F.; ALLYSON ROSÁRIO, A. P.; NEGRÃO, C. A. B.; SILVA, A. S.;
NEVES, E. R. S. Estudo físico-químico de sucos de limão em pó comercializados em
Belém do Pará. In: ANDRADE, D. F. (Org.). Processos Químicos e Biotecnológicos.
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S.; LIMA, W. D. L.; SANTOS, D. C. Características físicas e química de blends das
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2015.

VASCONCELOS, L. H. C. Aplicação de técnicas pré e pós-colheita em tangerina


‘Dekopon’. 2019. Tese (Doutorado em Produção Vegetal) - Universidade Federal de
Goiás, Goiânia, 2019. Disponível em:<
https://repositorio.bc.ufg.br/tede/bitstream/tede/9312/5/Tese%20-
%20Luis%20Henrique%20Costa%20Vasconcelos%20%20-%202019.pdf>. Acesso em:
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701
VILAR, S. B.O.; OLIVEIRA, A.B.; ALBUQUERQUE JÚNIOR, N. M.; BARROS, S.
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characterization of mixed powdered juice obtained by the foam mat drying method.
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WEI, Z., LUO, J., HUANG, Y., GUO, W., ZHANG, Y., GUAN, H., XU, C., & LU, J.
(Profile of polyphenol compounds of five muscadine grapes cultivated in the United
States and in newly adapted locations in China. International Journal of Molecular
Sciences, 2017.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 63

DIAGNÓSTICO DA GERAÇÃO DE RESÍDUOS EM UM


RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO NA CIDADE DE
BANANEIRAS-PB
ALMEIDA, Rogério Silva de
Graduando em Bacharelado em Agroindústria
Universidade Federal da Paraíba
rogersilvva0@gmail.com

SOUTO, Valter Oliveira de


Doutorando em Ciência e Tecnologia de Alimentos 702
Universidade Estadual de Ponta Grossa
valter.o.souto@hotmail.com

RESUMO

O desperdício de alimentos é uma problemática queocorre em diversos ambientes e etapas


de produção, entre os principais fatores que contribuem no desenvolvimento da geração
de resíduos, os restaurantes universitários se destacam por serem responsáveis pela
produção e distribuição contínua de refeições diariamente, tendo as etapas de preparação
e consumo como as maiores causadoras dodesperdício neste âmbito. Dessa
forma,opresente trabalho teve como objetivo avaliar a geração de resíduos em um
restaurante universitário - RU,a fim de identificar a forma de coleta e descarte destes
resíduos. Para realização do estudo foram feitas entrevistas semanalmente com os
responsáveis do RU, com o intuito de obter informações, tais como,destinação dos
resíduos, demanda de alimentos e forma de coleta realizada, além de observações diretas.
Observou-se que os resíduos recicláveis como plástico e papelões são separados e
coletados pelas associações de catadores, porém, embalagens de produtos de limpezasão
descartadas no lixo comum e todo óleo utilizado é descartado na caixa de gordura. Além
disso, são gerados aproximadamente 300 kg de resíduos oriundos da etapa de preparação
e sobras deixadas pelos consumidores nas bandejas, sendo destinados a uma granja de
suínos e coletados diariamente. Conclui-se queé realizada a coleta de alguns resíduos
recicláveis contribuindo para a geração de renda das associações envolvidas. Contudo, é
notória a necessidade de uma busca para melhor destinação final dos resíduos orgânicos
e do óleo utilizado que poderiam ser reaproveitados na produção de compostagem e sabão
contribuindo na geração de empregos.

PALAVRAS-CHAVE:Desperdício de alimentos, reaproveitamento, sustentabilidade.

INTRODUÇÃO

O crescimento diário na geração de resíduos sólidos é resultante do aumento


populacional, acarretado pelo desenvolvimento tecnológico e globalização do mundo
atual. O ato de consumir de forma exacerbada indica a necessidade de desenvolver novas
metodologias de reciclagem e destinos adequados para resíduos e rejeitos. Além disso, é
notório um relevante desperdício de alimentos que ocorre desde a fase de produção até a
mesa do consumidor (SILVA, 2020).
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Devido a grande transformação no estilo de vida da população brasileira, o hábito


de se alimentar fora de casa tem se tornado uma das alternativas mais viáveis e práticas
que se pode ter. Toda essa praticidade está aliada a expansão do setor alimentício fora do
lar, e consequentemente, têm-se uma grande proporção no uso dos recursos naturais
etambém um alarmante aumento na geração de resíduos. Tendo em vista que a obtenção
do produto só é realizada ao término de todas as etapas de produção, é notória a
importânciano desenvolvimento de práticas ambientais a fim de evitar possíveis
desperdícios (LADEIA, 2020).
O descarte final de alimentos é considerado um problema mundial, exercendo uma
influência negativa em diversas áreas do âmbito social, econômico e ambiental, tornando-
703
se um desafio para a sustentabilidade. Pelo fato de ter se tornado um dos principais fatores
responsáveis pela fome no mundo, ele pode comprometer economicamente as empresas
do ramo produtivo, industrial e comercial, tendo em vista que a matéria-prima, o capital
e a energia utilizadasão descartados juntamente com o produto, deixando assim de
adquirir lucro (FAO, 2013; RIBEIRO, 2020).
De acordo com os dados disponibilizados pela Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação – FAO,estima-se que aproximadamente 1,3 bilhões de
toneladas de alimentos são desperdiçados em todo mundo anualmente. Observar-se que
devido ao impacto ambiental que esse desperdício causa, o país tem uma perda econômica
que pode chegar a aproximadamente 750 bilhões de dólares por ano (FAO, 2017; FARIA,
2019).As instituições de ensino superior desenvolvem um papel de extrema importância
para o desenvolvimento econômico e social do país, realizando inúmeras ações de apoio
à comunidade acadêmica para compartilhamento do conhecimento científico. Dentre elas,
se destaca os restaurantes universitários (RU), que atendem toda demanda universitária
de acordo com a política de alimentação e nutrição juntamente com as políticas nacionais,
estimulando ações como educação nutricional, o bem estar e a qualidade dos alimentos
(FARIA, 2019).
O desperdício de alimentos pode ocorrer em diversos âmbitos e etapas de produção,
onde se se encontram as Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN´s) como uma das
principais fontes de desperdício. Isso se dá pelo fato destas unidades serem responsáveis
pela produção e distribuição de refeições diariamente, com garantia de qualidade
nutricional e produção de refeições seguras do ponto de vista higiênico-sanitário
(SPINOSA, 2019).
Dentre as UAN´S, os restaurantes universitários são um dos responsáveis pela
grande geração de desperdícios de alimentos e alto consumo de recursos
naturais(DELIBERADOR, 2019). Grande desperdício de alimentos nos restaurantes
universitários pode ser influenciado por diversos fatores, dentre eles encontram-se falhas
no planejamento das refeições, falta de treinamento adequado para funcionários que
trabalham na manipulação de alimentos e preferências por parte dos consumidores
(DELIBERADOR, 2019).
Na etapa de processamento de matérias-primas, realizada pelos restaurantes, são
utilizadas diversas fontes de energia que geram uma grande quantidade de resíduos, e em
maior parte encontram-se os resíduos orgânicos, podendo causar impactos negativos ao
meio ambiente. Diante disso, se dá a importância do mapeamento de todos os processos
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facilitando o entendimento e atuação correta para que ocorra a minimização nos


desperdícios(BORGES; BONATO; RIBEIRO, 2020).
Spinosa (2019) e Ribeiro (2020) discutem a respeito de estratégias que minimizam
as quantidades de desperdícios gerados durante a etapa de preparação e consumo de
alimentos em restaurantes. Todavia, de acordo com os autores, a execução destas
estratégias só é viável se os dados sobre a quantificação e as devidas razões do desperdício
de alimentos forem estabelecidos.
Considerando que os restaurantes universitários constituem uma grande parcela
no desperdício de alimentos e seu importante papel no suporte de ensino das
universidades e acesso dos alunos a uma alimentação saudável, o presente trabalho teve
704
como principal objetivo avaliar a geração de resíduos no restaurante universitário de uma
instituição de ensino superior localizada na cidade de Bananeiras – PB..

MATERIAIS E MÉTODOS

O local de estudo referente à geração de resíduos se deuno restaurante universitário


(RU), de uma Instituição de Ensino Superior, localizada na cidade de Bananeiras na
Paraíba. O restaurante, conta com uma equipe de 16 funcionários, onde realizam
diferentes funções como recepcionistas, cozinheiros, responsáveis pela limpeza, entre
outros.
O RU atende cerca de 450 usuários diariamente, tanto de nível superior, como de nível
técnico. Se horário de funcionamento se dá de segunda à sexta, para discentes de nível
superior e se estende aos sábados e domingos para os discentes de nível técnico.
Para realização do estudo,foram obtidas informações a respeito da demanda de
alimentos recebidos, forma de coleta realizada e a destinação final dos resíduos gerados
diariamente pelo RU, por meio de entrevistas e observações diretas. O estudo teve
duração de três meses, e as entrevistas foram realizadas semanalmente com os
responsáveis pela direção e subdireção do RU.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A produção das refeições é realizada de forma intensa e contínua, são ofertadas


todos os dias da semana, entre as principais refeições (café da manhã, almoço e jantar)
para os alunos da instituição. Essa produção em larga escala causa uma grande geração
de resíduos orgânicos e inorgânicos, onde são destinados para coleta e possível
reutilização.
Os resíduos recicláveis, tais como plásticos e papelões são devidamente separados
e coletados duas vezes na semana pelas associações de catadores CATABANS e
CATASOL, localizadas nas cidades de Bananeiras-PB e Solânea-PB. Porém, embalagens
de alguns produtos de limpeza que deveriam seguir o mesmo processo e destino, mas são
armazenadas em uma área reservada distante da área de processamento, sendo coletadas
e descartadas no lixo comum sem que haja nenhum tipo de reaproveitamento.
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A geração de resíduos que é produzida diariamente no RU envolve:copos


plásticos,cascas de legumes, guardanapos, óleo, resíduos oriundos das bandejas utilizadas
nas refeições, Equipamento de Proteção Individual (EPI), entre outros. A quantidade de
embalagens de alimentos, EPI e produtos de limpeza utilizados diariamente no restaurante
estão definidos na (Tabela 1).

Tabela 1.Quantidade de embalagens geradas diariamente no RU.


Quantidade de
Produtos Utilizados
Embalagens/unidade
Arroz 28
705
Feijão macassar 23
Feijão preto 28
Feijão carioca 25
Macarrão 22
Bisteca suína 9
Peixe 12
Frango/sobrecoxas 25
Carne bovina 38
Polpa de fruta 38
Café 38
Toucas 14
Luvas 25
Máscaras 12
Água sanitária 6
Detergente 4

Sabão em pó 3
Polidor de alumínio 3
Fonte: Autores.

De acordo comos dados apresentados na (Tabela 1), observa-se que existem uma
grande quantidade e variedade de materiais plásticos, orgânicos e inorgânicos que se
tornam resíduos que são depositados no meio ambiente, tais como resíduos orgânicos,
provenientes das sobras de alimentos, como também os inorgânicos, decorrentes do uso
de copos plásticos, guardanapos, embalagens, entre outros. E de acordo com Valones e
Silva (2018), esses resíduos apresentam uma maior composição residual variada, tendo
em vista que são gerados tanto resíduos orgânicos, provenientes das sobras de alimentos,
como também os inorgânicos que podem impactar direta ou indiretamente o meio
ambiente.
2021 Gepra Editora Barros et al.

A demanda de alimentos perecíveis e não perecíveis, que são servidos diariamente


pelo RU é recebida semanalmente, onde são recepcionadas e armazenadas imediatamente
após o descarregamento. Estes alimentos recebidossão devidamente separados e
armazenados de acordo com suas exigências individuais. Na (Tabela 2)está a quantidade
de alimentos que são recebidos semanalmente pelo restaurante.

Tabela 2. Quantidade de alimentos recebidos semanalmente.


Alimentos Quantidade (Kg/Unidade/L)
Arroz 170 kg
Feijão 170 Kg 706
Macarrão 70Kg
Bisteca suína 170 Kg
Peixe 120 Kg
Frango/sobrecoxas 220 Kg
Carne bovina 380 Kg
Polpa de fruta 380 L
Café 38Unidades
Laranja 200 Kg
Banana 300 Kg
Melancia 150 Kg
Abacaxi 60 Kg
Mamão 150 Kg
Melão 200 Kg
Chuchu 20 Kg
Batata Doce 200 Kg
Repolho 60 Kg
Macaxeira 200 Kg
Inhame 150 Kg
Batata inglesa 80 Kg
Cebola 60 Kg
Cenoura 70 Kg
Fonte: Autores.

Como observado na tabela, esses alimentos ao serem armazenados são


distribuídos de acordo com a quantidade necessária para que seja feita a produção das
refeições diariamente. Além do mais, todo controle ocorre por meio de nutricionistas
responsáveis pela elaboração do cardápio, tendo que ter o controle para que não sobre e
nem falte alimentos ao final de semana.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Com relação ao óleo produzido, a informação obtida foi que, parte era destinado
ao laboratório de química (LABQUIM), da própria instituição para produção de sabão
em barra, procedimento esse que faz parte do projeto de um professor vinculado ao
mesmo. Mas, com o término do projeto todo óleo produzido passou a ser descartado na
caixa degordura.Além disso, estima-se que são gerados em média 300 Kg de resíduos
orgânicos por dia, oriundos das etapas de produção da alimentação bem como as sobras
das refeições deixadas nas bandejas pelos discentes (Figura 1).

Figura 1. Sobras de alimento.

707

Fonte: Autores

O destino final desses resíduos é feito através da coleta diária, a informação obtida
é que um rapaz coleta esses resíduos para servir como alimentação em uma granja de
suínos localizada na cidade de Solânea – PB. Os resíduos gerados são armazenados em
um tanque no RU e pode ser visualizado na Figura 2.
Em um estudo realizado por Rodrigues (2018), ao analisar um restaurante
universitário durante um período de 12 dias, observou-seque eram produzidos em média
228 Kg de resíduos diariamente, um dado relevante e que se aproxima deste caso em
estudo. Tendo em vista, a alta geração de resíduos e as possíveis falhas no armazenamento
de alimentos prontos, torna-se necessário um planejamento adequado do cardápio por um
profissional que possa se atentar aos aspectos como quantidade de refeições a serem
produzidas, dias da semana em que se tem aumento ou diminuição na demanda e entre
outros fatores que possam colaborar para uma produção sem excessos (RODRIGUES,
2018; ZANINI et al., 2020).
Figura 2. Resíduo armazenado

Fonte: Autores
2021 Gepra Editora Barros et al.

Outra forma que deve ser considerada e que pode apresentar maior desperdício de
alimentossão os restaurantes que adotam o método self-service, onde os próprios
discentes servem seus pratos, podendo exceder a quantidade de alimento necessária para
suprir seu corpo e na maioria das vezes, acabam deixando um grande volume de comida
tendo que descartar o que restou(SILVA; ROSAS; LIMA, 2021).
Com relação às sobras alimentares e os resíduos orgânicos não processados que é
destinado ao criador de suínos, o Brasil possui duas Instruções Normativas do Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (IN MAPA n° 06/2004 e no 44/2007) que
relatam a respeito do uso de restos alimentares para a alimentação de suínos. A IN n°
06/2004 proíbe a utilização de sobras alimentares que contenham proteína de origem
708
animal, porém salvo quando submetido a tratamento térmico assegurando a inativação do
vírus da Peste suína Clássica (PSC). A IN n° 44/2007 também não permite o uso de restos
alimentares na alimentação de suínos, a não ser que passem por processo térmico que
assegura a inativação do vírus da febre Aftosa (BRASIL, 2004; BRASIL, 2007;
ZOTESSO et al., 2016).
De acordo com Borges, Neta e Lopes (2017), o restaurante deve realizar a medição
e pesagem das sobras, ao longo do tempo, com o intuito de estabelecer um parâmetro
adequado para o próprio restaurante. Em casos de quantidades excessivas de sobras, o
desperdício pode ser influenciado por diversas medidas onde se destacam: Planejamento,
preferências alimentares, forma de apresentação dos pratos e racionamento. Assim, a
realização de um monitoramento constante com relação a quantidade e modo de preparo
são medidas que devem ser adotadas para que se tenha uma redução nas sobras.
Segundo Peixoto e Fernandes (2016), os resíduos orgânicos podem ser reutilizados
através dos processos de incineração, biodigestão e compostagem. Onde, na incineração
os resíduos orgânicos passam por uma queima para produção de energia elétrica ou
térmica. A biodigestão consiste em um processo de decomposição anaeróbica gerando
adubo e gás como CO₂ e o metano que podem ser captados para a produção de energia, e
a compostagem é um processo que ocorre a decomposição do resíduo podendo ser de
forma anaeróbia ou aeróbica que se transforma em adubo servindo como fertilizante.
No que se refere ao destino final do óleo utilizado, o restaurante juntamente com a
instituição poderia realizar parcerias para possíveis descartes vantajosos podendo ser
utilizado na elaboração de biodiesel, sabão, tintas, solventes, rações para animais entre
outros produtos. Além disso, fabricação de sabão pode ser vista como uma das melhores
maneiras para destinação de óleo usado, tendo em vista, que podem ser formadas
cooperativas para a produção, servindo como geração de renda para essas populações
(OLIVEIRA, 2017).
De forma a tentar minimizar a redução no desperdício de alimentos, o estudo
realizado por Borgeset al.(2019), observaramo impacto de uma campanha na redução de
desperdícios, obtendo um resultado positivo tanto na capacitação ofertada aos
funcionários como aos comensais, apresentando assim uma diminuição nas sobras e nos
restos de ingestão. Além disso, Destacando a importância da conscientização e
capacitação para que se possa atingir a meta na menor geração de desperdícios.
2021 Gepra Editora Barros et al.

CONCLUSÕES

A avaliação da geração de resíduos no restaurante universitário é de grande


importância, uma vez que se verificou nesse estudo que o RU da instituição de ensino
gera grande impacto ambiental dos resíduos gerados na sua produção alimentícia. Dessa
forma, conclui-se que o objetivo da presente pesquisa foi alcançado, e assim, sugere-se
como alternativa de minimizar o impacto ambiental e também como proposta de pesquisa
futura, diminuir a geração de resíduos no RU,sendo necessária a adoção de medidas
diárias e a utilização de novas formas de reaproveitamento. Tendo em vista, que as sobras,
cascas e demais resíduos poderiam seguir para a produção de compostagem envolvendo
709
os próprios discentes da instituição em hortas comunitárias e incentivando projetos de
educação ambiental para abordagem e conscientização de toda comunidade acadêmica.

REFERÊNCIAS

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http://periodicos.unifacef.com.br/index.php/rea. Acesso em: 24 fev. 2021.

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com a geração de resíduos em um restaurante universitário. Engevista, Maringá, v. 18,
n. 2, p. 294-308, dez. 2016.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 64

ECOTOXICOLOGIA DO COBRE EM SOLOS COM CULTIVO DE


VIDEIRAS

CORONAS, Mariana Vieira


Professora Adjunta da Universidade Federal de Santa Maria, Campus Cachoeira do Sul
mariana.coronas@ufsm.br

JAEGER, Douglas Vinicius


Acadêmico em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Santa Maria- Campus Cachoeira do Sul
dogajaeger@hotmail.com 712

AZEVEDO, Amanda Rampelotto de


Acadêmica em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Santa Maria- Campus Cachoeira do Sul
amanda-azv@hotmail.com

FERREIRA, Paulo Ademar Avelar


Professor Adjunto da Universidade Federal de Santa Maria, Campus Cachoeira do Sul
paulo.ferreira@ufsm.br

FRESCURA, Viviane Dal-Souto


Professora Adjunta da Universidade Federal de Santa Maria, Campus Cachoeira do Sul
viviane.frescura@ufsm.br

RESUMO

O presente trabalho avaliou os efeitos ecotoxicológicos de solos agrícolas usados na


viticultura com histórico de altas concentrações de cobre. A fitoxicidade foi avaliada
através da germinação e crescimento de sementes de alface (Lactuca sativa) e ensaio de
comportamento de fuga realizado com minhocas da espécie Eisenia andrei. Minhocas,
além da sua relevância ecológica na estrutura e processos dos solos, possuem a
capacidade de detecção química e, assim, perceber e fugir do hábitat contaminado.
Amostras de solos da camada de 0-10 cm em solo de vinhedos (VN) implantado em 1978
e de uma área de campo natural (CN) do município de Santana do Livramento foram
coletadas, secas e armazenadas até o momento dos ensaios. As concentrações de Cu
determinadas para cada solo foram de 0.81mg.kg-1 no campo nativo e 45 mg.kg-1 de Cu
no solo de vinhedo. No ensaio de comportamento de fuga que o solo destinado a produção
de uvas com alta concentração de Cu induziu resposta de fuga significativa em minhocas
da espécie Eisenia andrei quando comparado a um solo de campo nativo. No teste de
germinação com alface a resposta observada para a concentração do contaminante foi de
baixa toxicidade considerando os índices de porcentagem de germinação residual
normalizado (IGN) e de porcentagem de alongamento radical residual normalizado (IER).
Investir na continuação de pesquisas sobre os efeitos desse solo em outros sistemas
biológicos e marcadores permitirão a ampliação do entendimento sobre os impactos dos
processos e contaminantes na diversidade biológica e, consequentemente na
funcionalidade dos ecossistemas.

PALAVRAS-CHAVE: qualidade do solo, ensaio de germinação, ensaio de fuga.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

Na produção agrícola o solo possui papel imprescindível como substrato para a


produção de alimentos. O cobre é um elemento essencial e está amplamente distribuído
na natureza. Além disso, foi um metal importantíssimo no desenvolvimento da civilização
e muitas tecnologias hoje existentes foram desenvolvidas a partir desse nobre metal.
Em videiras as contínuas aplicações de fungicidas a base de cobre na composição
tem causado o acúmulo desse metal no solo. Obviamente, sempre que ocorre o uso
inadequado dos insumos agrícolas, há o risco de poluição dos solos, comprometendo a
flora, fauna e as relações ecológicas. Na produção de uvas o manejo e controle de fungos
é indispensável, e dentre estes compostos químicos utilizados, destaca-se a calda 713
bordalesa, um fungicida amplamente utilizado no controle do míldio em videiras. A
intensa utilização deste produto a base de cobre resulta em uma adição considerável do
metal ao solo, aumentando o potencial de toxicidade e contaminação ao ambiente
(MIOTTO et al., 2014).
Este fungicida é extremamente utilizado, principalmente na serra gaúcha, maior
região vitivinícola do Brasil, resultando em uma adição anual considerável de cobre ao
solo desta região, aumentando assim a toxicidade e contaminação. Apesar do cobre ser
um micronutriente importante para produção vegetal, facilmente ele atinge níveis
fitotóxicos. Entre as consequências desse aumento total de cobre, está a toxidez às plantas
aos microrganismos e a fauna do solo. (MICHALSKI et al., 2011). Na produção vinícola
isso representa uma diminuição da produtividade, e em nível ecossistêmico, um impacto
na quantidade e diversidade de espécies, com prejuízo as funcionalidades e sua
sustentabilidade.
De acordo com Brun et al., (1998), as adições frequentes de cobre no solo podem
aumentar a quantidade de formas solúveis, potencializando a toxidez às plantas, ou seja,
pode acrescentar ao sistema quantidades de cobre acima da capacidade máxima de
adsorção, aumentar a quantidade nas formas solúveis e ultrapassar o teor crítico do solo.
Assim a distribuição do cobre nos diversos sítios de adsorção das partículas reativas do
solo pode ser usada para estimar a sua biodisponibilidade ou predizer contaminações do
ambiente. A contaminação do solo traz grande preocupação, dada a importância deste
recurso natural como reservatório de água e nutrientes para plantas e como habitat para
organismos decompositores (ANDRÉA, 2010).
Os estudos das áreas contaminadas em solos brasileiros ainda são precários.
Somente em 2009 o Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA publicou uma
resolução (Resolução CONMA nº 420 de 28 de dezembro de 2009) que estabelece
critérios e valores de qualidade do solo, constando que: o gerenciamento de áreas
contaminadas tornou-se factível, com adoção de medidas que assegurem o conhecimento
das características dessas áreas e dos impactos por ela causados, proporcionando os
instrumentos necessários à tomada de decisão quanto às formas de intervenção mais
adequadas. Os critérios estabelecidos foram determinados por função das propriedades
químicas, e a qualidade do solo pode ser descrita como a capacidade do solo funcionar
dentro dos limites ambientais, garantindo o sustento da produtividade biológica e a saúde
animal e vegetal. Quando a presença de teores superiores a 60 mg.kg-1 de cobre no solo,
2021 Gepra Editora Barros et al.

a agência ambiental brasileira sinaliza a necessidade de medidas corretivas destinadas a


restabelecer sua qualidade.
Com base nestas informações, a Fundação Estadual de Proteção Ambiental
(FEPAM) elaborou a portaria nº 85/2014, que estabelece valores de referência de
qualidade para solos do estado gaúcho (FUNDAÇÃO ESTADUAL DE PROTEÇÃO
AMBIENTAL, 2014). Para os solos da Depressão Central, como o próprio nome diz, são
solos localizados no centro do estado, entre o Planalto Médio e a Serra do Sudeste, o valor
de referência do cobre é de 13 mg.kg-1. Contudo, no momento da avaliação levam-se em
conta apenas parâmetros químicos, que muitas vezes não representam o comportamento
deste contaminante no ambiente como um todo.
714
As substâncias químicas aplicadas no solo podem ser avaliadas através de um
parâmetro chamado teste ecotoxicológico. A abordagem ecotoxicológica permite
compreender e prever os efeitos das substâncias sobre os sistemas naturais em condições
realistas (CHAPMAN, 2002). Assim, a utilização de bioindicadores permite determinar
a concentração dos poluentes que influenciam os organismos, bem como o padrão de
contaminação e a biodisponibilidade. Os marcadores dos ensaios ecotoxicológicos devem
ser bem padronizados, robustos e associados a funções ecológicas e biológicas relevantes.
O número de trabalhos que utilizam minhocas em testes ecotoxicológicos está
crescendo cada vez mais. As minhocas apresentam um bom desempenho na avaliação de
solos pois são organismos altamente influenciados pela contaminação do solo, uma vez
que ao ingerir resíduos destas substâncias durante sua alimentação podem se intoxicar,
incorporar e até bioacumular esses poluentes em seus tecidos (MABOETA; FOUCHÉ,
2014). A espécie padrão recomendada pelos protocolos internacionais para os testes
ecotoxicológicos de substâncias químicas para regiões temperadas e tropicais é a minhoca
Eisenia andrei, em função do papel fundamental que desempenha na macro-fauna, pelo
seu curto ciclo de vida, sua alta tolerância à umidade e temperatura e sua operação
relativamente simples (DOMÍNGUEZ; PÉREZ-LOSADA, 2010).
Além do ensaio de fuga com minhoca em diferentes solos, os testes de germinação
também são bons indicadores de contaminação. A semente, que desempenha importante
função biológica, a continuação da vida, além de ser componente essencial para a
produção agrícola. Pode ser utilizada em testes de germinação onde a velocidade
germinativa das sementes nos permite visualizar os efeitos de diferentes tipos de solos e
contaminações.
O sucesso da germinação de sementes depende em estarem sob estágio não
dormente e encontrarem um espaço onde condições ambientais permitam a germinação.
(MEULEBROUCK et al. 2008). A germinação, é um processo crítico no ciclo de vida
das plantas, e sua adaptativamente, a dormência é importante já que inibe a germinação
quando as condições ambientais não são favoráveis para o estabelecimento das plântulas.
Qualquer teste de germinação, em laboratório, deve fornecer resultados
reproduzíveis, o sucesso da germinação das sementes não dormentes, são de fato afetadas
por agentes químicos, por fatores ambientais como por exemplo a luz, temperatura,
disponibilidade de água e nutrientes no substrato utilizado, pela ação de microrganismos
entre outros. Logo, as interações entre os requerimentos para a germinação das sementes
não dormentes e as características ecológicas do habitat são importantes para o
2021 Gepra Editora Barros et al.

subsequente sucesso do estabelecimento das plântulas (FINCH-SAVAGE; LEUBNER-


METZGER, 2006).
Dentro deste contexto, o presente trabalho teve por objetivo avaliar a qualidade do
solo e seus efeitos na germinação das sementes e no desenvolvimento de plântulas em
alface (Lactuca sativa) e no comportamento de minhocas (Eisenia andrei) como
indicadores de efeitos ecotoxicológico de solos sob cultivo de videiras e histórico de alta
concentração de cobre (Cu).

MATERIAL E MÉTODOS
715
O solo investigado destina-se ao cultivo de uvas no município de Santana do
Livramento (RS) com mais de 30 anos de aplicação de fungicidas a base de Cu para
proteção de doenças foliares. Santana do Livramento está localizada na Região da
Campanha, que é composta também pelos municípios de Alegrete, Bagé, Candiota, Dom
Pedrito, Hulha Negra, entre outros. Esta região é de tradição na produção pecuária e no
cultivo de arroz, recentemente vem crescendo timidamente com a produção de uvas e
vinhos na Campanha. O solo e suas classes predominante nos vinhedos são os Argissolos
eutrófico e distrófico, as associações de Neossolos litólicos com fase de relevo suave
ondulado e ondulado e de Argissolo Crômico com Argissolo acinzentado. Todas as
classes de solo citadas acima têm um teor de areia bastante elevados e baixa fertilidade
natural (FLORES et. al, 2007).
As amostras de solos utilizadas nos testes são de camadas de 0 a 10 cm em solo de
vinhedos (VN) implantado em 1978 com histórico de muitos anos de aplicação de
fungicidas a base de cobre para prevenção de doenças foliares, o outro solo de estudo foi
coletado com mesma profundidade, porém sua origem é de uma área de campo natural
(CN), sendo ambos solos do município de Santana do Livramento. A Capacidade Máxima
de Retenção de Água é determinada previamente a realização dos ensaios.
Para realização do ensaio de fuga (Figura 1) foram utilizadas minhocas da espécie
Eisenia andrei (Oligocheaeta: Lumbricidae) seguindo a norma ABNT NBR ISO17512-1
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2011) com adaptações, as
minhocas são criadas e mantidas com manutenções periódicas de alimentação e umidade
do substrato, realizadas no LAPROBIO, Laboratório de Processos Biológicos na
Universidade Federal de Santa Maria, Campus Cachoeira do Sul.

Figura 1. Estrutura do ensaio de fuga

Fonte: Acervo dos autores.


2021 Gepra Editora Barros et al.

Inicialmente, cada uma, das cinco réplicas de recipiente teste, foram colocados
250g de cada tipo de solo, desfaunados (passando por dois períodos de congelamento por
48h e descongelamento), e a capacidade máximas de retenção de água (CRA) foi ajustada
a 60%. Na sequência, foram depositadas 10 minhocas sobre a linha divisória entre os dois
tipos de solo (Figura 1), apenas minhocas cliteladas entre 300 e 600mg, são consideradas
adultas e ideais para o teste, logo, os recipientes foram fechados com tampa micro
perfurada para manutenção da aeração, mas evitando perda de umidade e fuga de animais.
A duração do experimento foi de 48 horas e, após isso, sendo já consolidado e finalizado
o tempo comportamental necessário da espécie, foi inserido um divisor no centro de cada
recipiente e feita a contagem do número de indivíduos em cada lado, onde indivíduos
716
partidos ao meio, independentemente do comprimento, foram considerados como 0,5
indivíduo para cada seção.
O efeito ecotoxicológico em organismos produtores das amostras de solo foi
avaliado através da exposição aguda de sementes de Lactuca. sativa (alface) semeados
em elutriato, baseados nas metodologias descritas por Morales (2004). Para obtenção do
elutriato, uma mistura na proporção 4:1 (água destilada: solo-teste) foi manualmente
agitada por um minuto e sedimentada por 24 h. O sobrenadante filtrado foi utilizado para
avaliação ecotoxicológica em sete concentrações (100; 50; 25; 12; 6; 3 e 1,5%) e controle
positivo com sulfato de zinco a 1%. Nesse experimento 10 sementes previamente
selecionadas, buscando usar somente as de tamanho intermediário, similares e
homogêneas, foram colocadas em placa de Petri contendo papel filtro saturado (4 ml) de
solução teste. Para cada organismo teste as amostras foram feitas em triplicatas. Visando
evitar a dessecação da amostra, foram seladas as placas Parafilm®. O tempo de ensaio
foi de 120 horas onde permaneceram em uma germinadora de temperatura controlada a
22 ± 2ºC. Foram avaliados os índices de germinação e o desenvolvimento da radícula
(Figura 2).

Figura 2. Etapas de desenvolvimento e esquema de plântula de Lactuca sativa ao final da exposição

Fonte: Morales (2004).

O teste exato de Fisher foi utilizado para avaliar a resposta de fuga entre os solos
testados. O teste compara a distribuição observada dos indivíduos na combinação testada
com uma distribuição teórica, a qual considera o comportamento de ausência de fuga
como hipótese nula (Natal da Luz et al., 2008). No presente estudo foi considerado o teste
unilateral, uma vez que apenas uma resposta de fuga pode a ser considerada. Nesse caso,
2021 Gepra Editora Barros et al.

a hipótese nula assumiu que metade dos organismos permaneceu no solo testado
(vinhedo), indicando a ausência de uma resposta de fuga para aquele solo. Nos resultados
do ensaio de germinação foi aplicada apenas estatística descritiva e índices descritores
interpretativos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As concentrações de cobre (Cu) dos solos foram de 0.81mg.kg-1 de Cu no campo


nativo e 45 mg.kg-1 de Cu no solo de vinhedo. Respostas do comportamento de fuga para
espécie Eisenia andrei são apresentados na Figura 3. Durante o ensaio comportamental 717
não se apresentou ocorrência de mortalidade e nem escape dos indivíduos para fora do
sistema teste em nenhuma combinação de amostras ou réplicas.
O pH dos solos foi medido em solução de KCl em pHmetro de bancada antes da
realização do ensaio de fuga, sendo 5,19 o pH do solo de vinhedo e 5,15 para amostra de
solo de campo nativo. O percentual de fuga observado do solo de vinhedo foi significativo
e de 45,8% (p<0,01). A função de habitat do solo é considerada limitada se menos de
20% das minhocas forem encontradas no solo teste (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS, 2011), o que não ocorreu no presente estudo. No entanto,
diferença estatística significante (p<0,001) na distribuição das minhocas entre o solo de
campo nativo e o de vinhedo foi observada.
Ensaio de fuga com minhocas, bem como outras abordagens ecotoxicológicas com
organismos terrestres, são ferramenta úteis para medidas de controle, avaliação e gestão
ambiental pois ajudam a indicar os riscos das práticas e aplicação de substâncias nos solos
e consequências no ambiente. Esse ensaio de fuga com minhoca tem se mostrado sensível
para avaliação de agrotóxicos no Brasil (AZEVEDO; CORONAS, 2018).

Figura 3. Resposta do ensaio de fuga de minhocas Eisenia andrei nos diferentes solos testados.

*Percentual de organismos significativamente menor (p<0,01) no Teste Exato de Fisher (unilateral).


Fonte: Elaborado pelos autores.

Os resultados obtidos no ensaio de germinação são apresentados na tabela 1 para o


solo de vinhedo e tabela 2 para o solo de campo nativo. A germinação de sementes não
2021 Gepra Editora Barros et al.

foi impactada em nenhuma concentração, estando acima de 90% de germinação, exceto


para concentração de 100% elutriato de solo de campo nativo (Tabela 2). Pode-se
observar que os comprimentos médios das radículas tenderam a aumentar onde as
concentrações do elutriato eram menores que 6% no solo de vinhedo (Tabela 1). No
entanto as medidas de comprimentos são semelhantes em todas as concentrações
estudadas. Respostas semelhantes foram observadas no solo de campo nativo (Tabela 2).
Assim, comparando as tabelas 1 e 2 se observa que os resultados do comprimento das
radículas foram bem semelhantes e as medidas de alongamento de radícula se enquadram
entre 30 a 40 mm de comprimento, o que indica, embora os solos sejam diferentes, e a
concentração houve pouca interferência no desenvolvimento da radícula.
718

Tabela 1. Ensaio de toxicidade com sementes de Lactuca sativa em solo sob cultivo de vinhedo (Santana
do Livramento-RS)

Porcentagem Média do Porcentagem de


Solo de vinhedo de germinação comprimento Desvio inibição do
(%) da radícula padrão crescimento da IGN (%) IER (%)
(mm) radícula (%)
Controle Negativo 96,7 38,4 11,7 0 - -

1,50% 91,7 36,8 9,57 4,16 -0,05 -0,04


Concentração do elutriato

3% 93,3 39,1 11,2 -1,82 -0,03 0,02

6% 100 36,1 11,6 5,99 0,03 -0,06

12% 95 32 14 16,67 -0,02 -0,02

25% 90 36,4 12,6 5,21 -0,07 -0,05

50% 91,7 36,2 13,2 5,73 -0,05 -0,06

100% 93,3 30,8 12,4 19,79 -0,03 -0,2


Controle Positivo 0,00 0,00 0,00 100,0 - -
IGN: índice de porcentagem de germinação residual normalizado; IER: índice de porcentagem de alongamento
radical residual normalizado.
Fonte: Elaborado pelos autores

Tabela 2. Ensaio de toxicidade com sementes de Lactuca sativa em solo de Campo Nativo (Santana do
Livramento-RS)

Porcentagem Média do Porcentagem de


Solo de Campo Nativo de germinação comprimento Desvio inibição do
(%) da radícula padrão crescimento da IGN (%) IER (%)
(mm) radícula (%)
Controle Negativo 96,7 38,4 10,7 100 - -
1,50% 93,3 36,2 9,6 5,73 -0,03 -0,06
elutria
Conce
ntraçã
o do

to

3% 96,7 35,1 10,9 8,59 0 -0,09


2021 Gepra Editora Barros et al.

6% 93,3 37,6 13,7 2,08 -0,03 -0,02


12% 95 31,3 12,5 18,49 -0,02 -0,2
25% 98,3 36,5 12,1 4,95 0,02 -0,05
50% 98,3 34,5 12,1 10,16 0,02 -0,1
100% 85 33,9 14,4 11,72 -0,1 -0,1
Controle Positivo 0,00 0,00 0,00 100,0 - -
IGN: índice de porcentagem de germinação residual normalizado; IER: índice de porcentagem de alongamento
radical residual normalizado.
Fonte: Elaborado pelos autores.

719

A inibição de crescimento de radícula máxima foi 19,79% na concentração de 100%


do elutriato do solo de vinhedo, mas inibição similar foi observada também no elutriato
do solo de campo nativo a 12% (18,4% de inibição). Os índices de porcentagem de
germinação residual normalizado (IGN) e de porcentagem de alongamento radical
residual normalizado (IER) foram calculados e estão apresentados nas tabelas 1 e 2.
Segundo Bagur-González et al., (2011), os índices IGN e IER indicam o nível de
toxicidade, seguindo as seguintes categorias:

 0 à -0,25: Toxicidade baixa;


 -0,25 à -0,5: Toxicidade moderada;
 -0,5 à -0,75: Toxicidade alta;
 -0,75 à -1,0: Toxicidade muito alta;
 Maior que 0: Hormese.

Sendo que, hormese consisti em um efeito estimulante causado por baixas doses do
contaminante, o que não significa que o contaminante seja benéfico para o organismo
teste. Os índices obtidos em solo de vinhedo, onde resultados do IGN se mostram muito
baixos, com os valores na maior parte próximos a zero, variando de 0,03 a -0,07, o que
indica a ausência de toxicidade ou até mesmo hormese (Tabela 1). Resultados como estes
são provavelmente devido aos micronutrientes presentes nas amostras do solo, como por
exemplo potássio, fósforo, e ferro são metais necessários para o desenvolvimento dos
seres vivos, entretanto isso não significa que o solo não seja tóxico. Toxicidade baixa
também foi observada na amostra de campo de vinhedo (Tabela 2). O IER que é um dos
índices mais sensíveis avaliado no teste de germinação, trouxe resultados que
demonstram uma baixa toxicidade no solo (Tabelas 1 e 2). Apesar do solo de vinhedo
apresentar maior concentração de cobre, outras substâncias também estão presentes, nas
duas amostras, e podem passar para o elutriato e apresentar efeito, mesmo que discreto
fitotóxico. Efeitos sinérgicos, antagônicos e potenciais estão presentes na ecotoxicologia,
embora difícil de discriminar tanto pela incapacidade de determinar e quantificar todas as
substâncias presentes e as interações dessas e suas transformações com a própria matriz
ambiental, como o solo, e seus componentes físicos, químicos e biológicos. A fitoxicidade
2021 Gepra Editora Barros et al.

através do ensaio de germinação é sensível para indicar o efeito conjunto de substâncias,


como nanopartículas (Silva-Júnior et al., 2019)

CONCLUSÕES

O solo destinado a produção de uvas com alta concentração de cobre (Cu) induziu
resposta de fuga significativa em minhocas da espécie Eisenia andrei quando comparado
a um solo de campo nativo. Já no teste de germinação, com alface (Lactuca sativa) a
resposta do elutriato foi de toxidade baixa. A continuação das pesquisas sobre os efeitos
720
desse solo em outros sistemas biológicos e marcadores permitirão a ampliação do
entendimento sobre os impactos dos processos e contaminantes na diversidade biológica
e, consequentemente na funcionalidade dos ecossistemas. Os bioensaios podem ser
ferramentas de grande importância na avaliação da qualidade ambiental e indicadores dos
impactos do manejo de áreas agrícolas na funcionalidade do ecossistema.

Agradecimentos

Trabalho apoiado pelo programa FIPE – Sênior 2019 projeto 050856/2019-5 e CNPq
processo 409736/2016-3.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 17512‐1:


Qualidade do solo Ensaio de fuga para avaliar a qualidade de solos e efeitos de substâncias
químicas no comportamento - parte 1: ensaio com minhocas (Eisenia fetida e Eisenia
andrei). Rio de Janeiro, 2011.

ANDRÉA, M.M. de. O uso de minhocas como bioindicadores de contaminação de solos.


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AZEVEDO, A.R. de; CORONAS, M.V. Use of avoidance tests with earthworms Eisenia
andrei e Eisenia fetida for identification of pesticides toxicity in Brazil: a brief review of
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Toxicity assessment using Lactuca sativa L. bioassay of the metal (loid) s As, Cu, Mn,
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Acesso em: 28 de junho de 2019.

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FUNDAÇÃO ESTADUAL DE PROTEÇÃO AMBIENTAL, Portaria nº 85/2014.


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722
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 65

EFEITO LETAL DE RESÍDUOS DE INSETICIDAS SOBRE


OPERÁRIAS ADULTAS DA ABELHA Apis mellifera

COÊLHO, Diego de Albuquerque


Mestrando em Horticultura Tropical PPGHT/CCTA/UFCG
diegoalbuqerqec@gmail.com

BARROS, Carlos Henrique Peixoto


Discente do curso de Agronomia do CCTA/UFCG
henriquepeixotodb8@gmail.com
723
MATOS, Patrícia Raquel
Discente do curso de Agronomia do CCTA/UFCG
prpatriciamatos@gmail.com

COSTA, Jaqueline Alves de Medeiros Araujo


Dra. Em Fitotecnia
jacquelinne87@hotmail.com

COSTA, Ewerton Marinho da


Prof. Dr., Universidade Federal de Campina Grande
ewertonmarinho10@hotmail.com

RESUMO

A abelha Apis mellifera (Hymenoptera: Apidae) é um dos mais importantes polinizadores


em áreas agrícolas em todo o mundo. Nos últimos anos tem sido observado o declínio
nas populações de polinizadores em áreas agrícolas devido, em parte, ao uso abusivo de
pesticidas nas lavouras. O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito letal de inseticidas
utilizados em cultivo de meloeiro sobre A. mellifera, por meio da exposição da abelha aos
resíduos dos produtos, em condições de laboratório. Os inseticidas avaliados foram:
Espinetoram, Clorantraniliprole e Ciantraniliprole, nas doses máximas recomendadas
pelos fabricantes para a cultura do meloeiro. Como controle absoluto foi utilizado água
destilada e como controle positivo o inseticida Tiametoxam. O efeito letal dos inseticidas
foi avaliado por meio do contato das abelhas com resíduos dos produtos. Foram avaliadas
a mortalidade e o comportamento (prostração, tremores, paralisia etc.) por um período de
24 horas. Observou-se que o inseticida Espinetoram ocasionou a morte de 100% das
abelhas ao final das 24 horas de avaliação e foi tão letal quanto o controle positivo. Os
inseticidas Clorantraniliprole e Ciantraniliprole proporcionaram os menores percentuais
de mortalidade sobre A. mellifera, 18,0% e 26,0%, respectivamente. Diante disso, os
resultados obtidos indicam que o contato com resíduos dos inseticidas Clorantraniliprole
e Ciantraniliprole, nas doses máximas recomendadas para o controle de pragas em
meloeiro, é pouco nocivo à sobrevivência de operárias adultas de A. mellifera, e o
inseticida Espinetoram foi nocivo as abelhas. Pesquisas visando obter informações sobre
a toxicidade de inseticidas sobre abelhas são imprescindíveis, pois fornecem subsídios
para preservação dos polinizadores nas lavouras e contribuem para sustentabilidade na
agricultura.
2021 Gepra Editora Barros et al.

PALAVRAS-CHAVE: Toxicidade, Mortalidade, Polinizadores

INTRODUÇÃO

A abelha Apis mellifera L. (Hymenoptera: Apidae) é um dos mais importantes


polinizadores do mundo, sendo fundamental para garantir a produção de frutos em
diversas espécies de importância agrícola (McGREGOR 1976; GARIBALDI et al., 2016;
CRIDLAND et al, 2017). Salienta-se que, devido a sua importância, ocorre o aluguel e
manejo de colônias da referida abelha para diversas culturas, como, por exemplo,
meloeiro (Cucumis melo), macieira (Pyrus malus) e pessegueiro (Prunus persica) (KILL 724
et al., 2015; KLEIN et al., 2020).
Áreas com a adição de colônias de A. mellifera produziram 18,09% a mais quando
comparadas as áreas que foram privadas da visita de polinizadores, assim como as abelhas
nativas da região aumentaram a produção em 6,34% (MILFONT et al., 2013).
A utilização das abelhas para produção apícola, ou aumento de produção agrícola,
é estimulada e considerada como boas práticas produtivas e, até mesmo,
conservacionistas, sendo que a espécie de abelha mais manejada atualmente no mundo é
a A. mellifera, em suas diversas subespécies e híbridos (ALTIERI ET AL., 2015).
Apesar da importância das abelhas para agricultura, nas últimas décadas tem sido
observado o declínio nas populações de polinizadores em áreas agrícolas. Nesse cenário,
o uso abusivo de pesticidas, especialmente inseticidas, é considerado o recurso
tecnológico que mais causa impacto e redução das populações de polinizadores nas
lavouras (LEONHARDT et al., 2013; GODFRAY et al., 2014; PIRES et al., 2016;
CHRISTEN; FENT, 2017; RORTAIS et al., 2017). Com isso, torna-se um desafio realizar
o controle químico de pragas sem impactar negativamente as abelhas.
Dentre os entraves para o manejo seguro e sustentável de polinizadores em áreas
agrícolas no Brasil, ainda está à escassez de informações em relação aos impactos dos
pesticidas sobre esses agentes (PINHEIRO; FREITAS, 2010), ou seja, é imprescindível
ampliar os estudos sobre a toxicidade de inseticidas sobre as abelhas. As abelhas podem
entrar em contato com os pesticidas de forma direta (com as gotículas de uma
pulverização), ingestão de alimento contaminado e com os resíduos após uma
pulverização (SILVA et al., 2015; CHAM et al., 2017; HEARD et al., 2017), sendo as
duas primeiras formas de exposição as mais estudadas.
Em relação ao efeito residual de pesticidas sobre A. mellifera, alguns trabalhos já
foram realizados no Brasil, como por exemplo, para inseticidas/acaricidas utilizados em
citros e meloeiro. Carvalho et al. (2009), constataram que os resíduos de Tiametoxam,
Metidationa e Abamectina, nas doses máximas registradas para uso na citricultura, foram
extremamente tóxicos para adultos de A. mellifera. Costa et al. (2014), observaram que
os resíduos dos inseticidas Tiametoxam, Abamectina e Clorfenapir, em folhas do
meloeiro, foram extremamente tóxicos a operárias adultas de A. mellifera, provocando
100%, 100% e 92% de mortalidade, respectivamente.
Pesquisas visando determinar a toxicidade de inseticidas sobre abelhas são
indispensáveis, pois fornecem subsídios para preservação de polinizadores nas áreas
2021 Gepra Editora Barros et al.

agrícolas e contribuem para sustentabilidade na agricultura. Com isso, torna-se


imprescindível avaliar produtos e doses comerciais que ainda não foram testados para
garantir que o controle químico de pragas seja realizado com o mínimo de impacto sobre
as abelhas. Diante do exposto, o objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito letal de
inseticidas utilizados em cultivo de meloeiro sobre operarias adultas de A. mellifera, por
meio da exposição da abelha aos resíduos dos produtos, em condições de laboratório.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado no Laboratório de Entomologia do Centro de Ciências e 725


Tecnologia Agroalimentar (CCTA) da Universidade Federal de Campina Grande
(UFCG), Pombal – PB. Para realização do trabalho foram utilizadas operárias adultas de
A. mellifera provenientes de três (03) colônias pertencentes ao apiário do CCTA/UFCG.
Os inseticidas avaliados foram: Espinetoram, Clorantraniliprole e Ciantraniliprole,
nas doses máximas recomendadas pelos fabricantes para a cultura do meloeiro. O
inseticida Tiametoxam, também na dose máxima recomendada, foi utilizado como
controle positivo (Tabela 1).

Tabela 1. Inseticidas e respectivas doses utilizadas para avaliar o efeito letal sobre Apis mellifera, Pombal-
PB, 2021.
Inseticida Grupo Químico Dose*
Espinetoram Espinosina 160 g/ha
Clorantraniliprole Antranilamida 7,5 ml/100 L
Ciantraniliprole Antranilamida 500 ml/ha
Tiametoxam Neonicotinoide 600 g/ha
*Todas as diluições foram realizadas com base em um volume médio de calda de 500 L/ha.

O efeito letal dos inseticidas foi avaliado por meio do contato das abelhas com
resíduos dos produtos na superfície de arenas. As arenas foram constituídas por
recipientes plásticos (14cm de diâmetro X 16,5cm de altura) com 70% extremidade
superior coberta com tela anti – afídeo e as laterais com aberturas de cerca de 0,1 cm de
diâmetro para possibilitar a circulação de ar no ambiente. Os inseticidas foram aplicados
por meio de pulverizadores manuais, em toda superfície interna das arenas, simulando
uma aplicação em campo. Logo após a evaporação do excesso da calda, foram
adicionados no interior de cada arena um recipiente plástico (com 28 mm de diâmetro e
16 mm de altura) contendo dieta artificial (pasta cândi) e um chumaço de algodão
embebido em água destilada. Em seguida, as abelhas foram colocadas no interior das
arenas. Para facilitar o manuseio das abelhas durante a realização do experimento, os
insetos foram previamente “anestesiados” por meio da utilização do frio (± 4ºC por 1,5
minuto).
Foram avaliadas a mortalidade e o comportamento (por exemplo, prostração,
tremores, paralisia etc.) das abelhas a 1, 2, 3, 4, 5, 6, 9, 12, 15, 18, 21 e 24 horas após o
início da exposição aos inseticidas. Foram contabilizadas como mortas às abelhas que não
2021 Gepra Editora Barros et al.

responderem a estímulos mecânicos (toques no corpo das abelhas com um pincel fino de
cerdas macias) em cada horário de avaliação.
O experimento foi realizado em delineamento inteiramente casualizado composto
por cinco tratamentos (Controle absoluto – água destilada; Controle positivo – inseticida
Tiametoxam; e os inseticidas Espinetoram, Clorantraniliprole e Ciantraniliprole) e 10
repetições, sendo cada unidade experimental formada por 10 abelhas adultas.
O percentual de mortalidade foi calculado para cada tratamento e as médias foram
comparadas pelo teste não paramétrico de Kruskal – Wallis ao nível de 5% de
significância por meio do software R (R Development Core Team, 2011).
726

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observou-se que o inseticida Espinetoram ocasionou a morte de 100% das abelhas


ao final das 24 horas de avaliação (Tabela 2) e foi tão letal quanto à controle positivo, o
neonicotinoide Tiametoxam, inseticida que já foi registrado em diversos trabalhos como
extremamente tóxico as abelhas, independente do modo de exposição ao produto
(IWASA et al., 2004; CARVALHO et. al., 2009; COSTA et al., 2014; ARAUJO et al.,
2017). As abelhas que entraram em contato com os resíduos do Espinetoram apresentaram
distúrbios locomotores como tremores, prostração e paralisia antes da morte. O
Espinetoram, inseticida pertencente ao grupo químico Espinosina, atua no sistema
nervoso central dos insetos como modulador alostérico dos receptores nicotínicos da
acetilcolina. Este inseticida provoca a transmissão contínua dos impulsos nervosos,
causando tremores e posterior paralisia em virtude da fadiga muscular, sendo em seguida
observada a morte dos insetos (GALLO et. al., 2002; IRAC, 2021).

Tabela 2. Mortalidade (%) de operárias adultas de Apis mellifera após contato com resíduos de inseticidas,
Pombal – PB, 2020.
Tratamento Dose (%) de Mortalidade*
Controle absoluto (água destilada) - 0,0c
Controle positivo (inseticida Tiametoxam) 600g/ha 100,0a
Espinetoram 160 g/ha 100,0a
Clorantraniliprole 7,5 mL/100 L 18,0b
Ciantraniliprole 500 mL/ha 26,0b
*
Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Kruskal – Wallis ao nível
de 5% de significância.

Os inseticidas Clorantraniliprole e Ciantraniliprole proporcionaram os menores


percentuais de mortalidade sobre A. mellifera, 18,0% e 26,0%, respectivamente (Tabela
2), sendo estatisticamente iguais entre si e diferentes dos demais inseticidas avaliados. É
importante destacar que não foi observado nenhum efeito adverso no comportamento das
abelhas após as 24 horas de contato com resíduos das duas referidas antranilamidas. O
inseticida Clorantraniliprole, independente do modo de exposição, tem se mostrado pouco
2021 Gepra Editora Barros et al.

tóxico para A. mellifera e outras abelhas como, por exemplo, a Bombus terrestris e B.
impatiens (DINTER et al., 2009; LARSON et al., 2011; GOMES et al., 2020). Entretanto,
é imprescindível ressaltar que, apesar de ocasionar baixa mortalidade sobre adultos de A.
mellifera, existem relatos de que Clorantraniliprole provocou alteração em genes que
regulam o sistema imunológico (CHRISTEN; FENT, 2017) e compromete a capacidade
de voo dessa abelha (GOMES et al., 2020). Já em relação ao Ciantraniliprole, apesar de
não haver informações sobre efeito residual, Dinter e Samel (2014) afirmaram que o
inseticida oferece baixo risco para A. mellifera quando expostas ao contato direto com o
inseticida.
Diante disso, os resultados obtidos indicam que o contato com resíduos dos
727
inseticidas Clorantraniliprole e Ciantraniliprole, nas doses máximas recomendadas para
o controle de pragas em meloeiro, é pouco nocivo à sobrevivência de operárias adultas de
A. mellifera. Salienta-se ainda que o presente trabalho reforça a necessidade de atenção
no momento de aplicação de inseticidas nas lavouras de meloeiro, especialmente em
relação ao Espinetoram, no momento de floração e forrageamento das abelhas. Os
resultados obtidos irão subsidiar a realização de novas pesquisas, tanto em situações de
laboratório quanto de campo, com a finalidade de aprofundar as informações em relação
aos inseticidas avaliados. Com isso, espera-se contribuir com os esforços globais para
minimizar os impactos adversos dos pesticidas sobre polinizadores nas áreas agrícolas.

CONCLUSÕES

 Os resíduos do inseticida Espinetoram ocasionaram a morte de 100% das abelhas em


24 horas, sendo tão letal quanto o inseticida Tiametoxam;

 Os resíduos dos inseticidas Clorantraniliprole e Ciantraniliprole proporcionaram os


menores percentuais de mortalidade sobre A. mellifera.

 O contato com resíduos dos inseticidas Clorantraniliprole e Ciantraniliprole, nas


doses máximas recomendadas para o controle de pragas em meloeiro e nas condições
do presente estudo, é pouco nocivo à sobrevivência de operárias adultas de A.
mellifera.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 66

EFEITOS DA MUCILAGEM DE Abelmoschus esculentus (L.) Moench


IN NATURA E LIOFILIZADA SOBRE AS CARACTERÍSTICAS
SENSORIAIS DE MOLHOS TIPO CAESAR
SILVA, Luciana Márcia Andrade da
Engenheira de Alimentos
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
luciana.andradepb@gmail.com

ARAÚJO, Sousliny Skolen Fernandes Pereira de


Engenheira de Alimentos 731
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
souslinyaraujo@hotmail.com

FEITOSA, Bruno Fonsêca


Graduando em Engenharia de Alimentos
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
brunofonsecafeitosa@live.com

SILVA, André Leandro da


Doutor em Biotecnologia
Universidade Federal do Ceará (UFC)
andre.leandro@ufcg.edu.br

CAVALCANTI, Mônica Tejo


Doutora em Engenharia de Processos
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
monicatejoc@yahoo.com.br

RESUMO

A utilização de biopolímeros da mucilagem do quiabo no processamento de alimentos


pode agregar valor ao produto, sendo uma matéria-prima disponível, barata e não tóxica.
Assim, objetivou-se avaliar o efeito da mucilagem de Abelmoschus esculentus (L.)
Moench in natura e liofilizada sobre as características sensoriais de molhos tipo Caesar.
Os molhos (CT – molho controle, F1 –mucilagem in natura e F2 –mucilagem liofilizada)
foram elaborados seguindo as etapas de higienização dos ingredientes, trituração,
homogeneização, cocção, homogeneização, acondicionamento e armazenamento; sendo
submetidos à avaliação das condições higiênico-sanitárias e análise sensorial, por meio
da aceitação sensorial, Índice de Aceitabilidade (IA) e Teste CATA (Check All That
Apply). Em Delineamento Inteiramente Casualizado, os dados foram analisados através
de Análise de Variância e as médias foram comparadas pelo Teste de Tukey, a nível de
5% de significância (p<0,05). Os molhos estavam aptos para o consumo em relação aos
parâmetros microbiológicos de Salmonella sp. (ausência em 25 g), Coliformes a 35 e 45
ºC (< 3 NMP/g), Staphylococcus coagulase-positiva (< 10 UFC/g) e fungos filamentosos
e leveduriformes (< 10 UFC/g). As médias dos atributos cor e aroma não apresentaram
diferenças estatísticas significativas entre si (p<0,05). A adição da mucilagem in natura
influenciou negativamente os atributos aparência e consistência (IA < 70%). Os atributos
sabor e impressão global indicaram melhor aceitação sensorial do molho com mucilagem
liofilizada, sendo descrito com termos de uniformidade do produto: pastoso, muito
consistente, suave, macio e cremoso. Infere-se que a mucilagem liofilizada atuou de
forma satisfatória como um agente texturizante e emulsificante.
2021 Gepra Editora Barros et al.

PALAVRAS-CHAVE: hidrocolóides, índice de aceitabilidade, molhos alimentícios.

INTRODUÇÃO

O quiabo (Abelmoschus esculentus L. Moench) é um vegetal nativo das regiões


tropicais e subtropicais do mundo, pertencente à família Malvaceae. Esta espécie tornou-
se bastante cultivada nas regiões brasileiras, especialmente no Nordeste (SOUSA et al.,
2015; MACIEL et al., 2017). É geralmente consumida por sua fruta na forma fresca ou
seca e possui folhas e sementes comestíveis com uso menos comum (CAMCIUC et al.,
732
1998; ADETUYI; OSAGIE, 2011; MANICKAVASAGAM et al., 2015).
O valor nutricional das vagens imaturas é altamente apreciado pelos
consumidores, uma vez que o fruto do quiabo é fonte de fibras dietéticas, carboidratos,
vitaminas e minerais (ADETUYI; OSAGIE, 2011; GEMEDE et al., 2014;
PETROPOULOS et al., 2018). Também é rica em mucilagem, um hidrocolóide de textura
grossa, viscosa, por conter polissacarídeos em sua composição, principalmente, galactose,
ramnose e ácido galacturônico (SENGKHAMPARN et al., 2010; HUSSEIN et al., 2011;
ARCHANA et al., 2013; DIMOPOULOU et al., 2015).
O quiabo pode desempenhar um papel importante na dieta humana por conter
teores de vitamina C, vitamina A, fibra dietética, conteúdo de cálcio e baixo teor de
gordura saturada (SOBUKOLA, 2009). Além do uso comestível, extratos dos frutos do
quiabo foram utilizados para várias aplicações na indústria de alimentos como
emulsionantes, devido ao alto teor em biopolímeros e compostos bioativos (ADETUYI;
OSAGIE, 2011; ARLAI et al., 2012; GHORI et al., 2014).
Diversas pesquisas reportaram bons resultados com o uso da mucilagem de
quiabo, como substituto de gordura em sobremesas lácteas congeladas (ROMANCHIK-
CERPOVICZ et al., 2006), na melhora da textura de iogurtes (HUSSEIN et al., 2011) e
ação estabilizante em sorvetes (YUENNAN et al., 2014), devido a boa capacidade
emulsificante em emulsões ácidas (ALBA et al., 2013; NOORLAILA et al., 2015;
TEMENOUGA et al., 2016).
A utilização de biopolímeros da mucilagem do quiabo como aditivo natural no
processamento de alimentos é de fundamental importância e pode agregar valor ao
produto, sendo uma matéria-prima disponível, barata e não tóxica. Neste contexto,
objetivou-se avaliar o efeito da mucilagem de Abelmoschus esculentus (L.) Moench in
natura e liofilizada sobre as características sensoriais de molhos tipo Caesar, por meio
das análises de aceitação sensorial, Índice de Aceitabilidade (IA) e Teste CATA (Check
All That Apply).

MATERIAL E MÉTODOS

O quiabo foi adquirido em feiras livres nas cidades de Aparecida e Pombal,


Paraíba (PB), Brasil, considerando boa qualidade de maturação e uniformes quanto ao
volume e coloração verde. O azeite de oliva, vinagre branco, queijo parmesão ralado,
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salsinha desidratada, alho picado, molho inglês, suco de limão, sal, pimenta do reino e
amido de milho foram obtidos no comércio local da cidade de Pombal, PB, Brasil.
A pesquisa procedeu-se no Centro de Ciências e Tecnologia Agroalimentar
(CCTA) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), campus Pombal, PB,
Brasil. A preparação da mucilagem de quiabo in natura e o processo de liofilização foi
realizado de acordo com Araújo et al. (2020). Para a elaboração dos molhos tipo Caesar
foram realizados teste preliminares e padronizadas três formulações, sendo CT – molho
controle, F1 – molho com mucilagem in natura e F2 – molho com mucilagem liofilizada.
As proporções dos ingredientes para cada formulação estão dispostas na Tabela 1.
733
Tabela 1. Proporção dos ingrediente para cada formulação de molho tipo Caesar.
Molhos tipo Caesar
Ingredientes
CT F1 F2
Azeite de oliva (mL) 240,0 240,0 240,0
Queijo parmesão ralado (g) 200,0 200,0 200,0
Vinagre branco (mL) 80,0 80,0 80,0
Alho picado (g) 50,0 50,0 50,0
Salsinha desidratada (g) 10,0 10,0 10,0
Molho inglês (mL) 5,0 5,0 5,0
Suco de limão (mL) 5,0 5,0 5,0
Sal (g) 2,5 2,5 2,5
Amido de milho (g) 2,0 2,0 2,0
Pimenta do reino (g) 1,0 1,0 1,0
Água (mL) 120,0 - 120,0
Mucilagem in natura (mL) - 120,0 -
Mucilagem liofilizada (g) - - 2
(-) não utilizado.

Inicialmente, os ingredientes foram lavados em água potável e sanitizados em


solução de cloro ativo (0,02 g.Lˉ¹/30 min.). Posteriormente, foram triturados e
homogeneizados com auxílio de um liquidificador industrial (IndShop®, A.R), em
velocidade baixa (30 s), com aumento da velocidade (30 s). A mistura foi submetida a
aquecimento não superior a 90 °C.
O amido de milho foi adicionado, permanecendo a mistura em cocção durante 5
minutos, após a fervura. Os molhos tipo Caesar foram novamente homogeneizados para
melhor incorporação do azeite de oliva, após esse período, sendo acondicionados em
recipientes de Polietileno (PE) com tampas, devidamente higienizados, e armazenados
sob refrigeração (4 ± 2 °C).
As condições higiênico-sanitárias dos molhos elaborados foram avaliadas quanto
a contagem microbiológica de Coliformes a 35 ºC, Coliformes a 45 ºC, Staphylococcus
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coagulase-positiva, fungos filamentosos e leveduriformes, e Salmonella sp., conforme as


metodologias recomendadas por Silva et al. (2017).
Todas os molhos foram analisados sensorialmente quanto a aceitação sensorial,
IA e Teste CATA, considerando 70 provadores, não treinados, de ambos os gêneros,
seguindo as recomendações de Macfie et al. (1989) e Dutcosky (2013). A aceitação
sensorial dos atributos cor, aroma, aparência, consistência, sabor e impressão global foi
avaliada, utilizando a escala hedônica de nove pontos, sendo: 1 - desgostei extremamente,
2 - desgostei muito, 3 - desgostei moderadamente, 4 - desgostei ligeiramente, 5 - nem
gostei, nem desgostei, 6 - gostei ligeiramente, 7 - gostei moderadamente, 8 - gostei muito
e 9 - gostei muitíssimo (MEILGAARD et al., 2006).
734
Os IA e Aceitabilidade Geral dos molhos tipo Caesar foram calculados,
utilizando-se a Equação 1, na qual M - nota média geral obtida pelo atributo e N - nota
máxima adquirida pelo atributo (GULARTE, 2009).

𝑀
𝐼𝐴 (%) = ∗ 100 (1)
𝑁

De acordo com a metodologia descrita por Ares et al. (2010), os avaliadores foram
submetidos ao Teste CATA, que consiste no preenchimento de um questionário contendo
uma lista de palavras ou frases. Neste questionário, os respondentes podem selecionar
todas as palavras que considerarem apropriadas para descrever os produtos.
Em Delineamento Inteiramente Casualizado (DIC), os dados obtidos na análise
senhorial foram analisados com o auxílio do software Assistat versão 7.7 beta (SILVA;
AZEVEDO, 2016). Utilizou-se a Análise de Variância (ANOVA) e comparou-se as
médias pelo Teste de Tukey, a nível de 5% de significância (p<0,05). Os resultados
gerados pelo Teste CATA foram avaliados por Análise de Correspondência, através do
software R (R CORE TEAM, 2014).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os molhos tipo Caesar apresentaram condições higiênico-sanitárias apropriadas,


com ausência de Salmonella sp. em 25 g, assim como baixas contagens para Coliformes
a 35 e 45 ºC (< 3 NMP/g), Staphylococcus coagulase-positiva (< 10 UFC/g) e fungos
filamentosos e leveduriformes (< 10 UFC/g).
Resultados semelhantes para os parâmetros de Salmonella sp. (ausência em 25 g)
e Coliformes a 35 e 45 ºC (< 3 NMP/g) foram obtidos por Feitosa et al. (2020), ao
avaliarem molho artesanal e industrial, provavelmente devido a aplicação de tratamentos
térmicos eficientes ou fatores intrínsecos (composição química), que desfavoreceram a
multiplicação dos microrganismos.
Na Figura 1 estão apresentados os resultados obtidos na aceitação sensorial dos
molhos tipo Caesar, no formato de gráfico radar. Esta apresentação pode ser utilizada
para a visualização das diferenças e semelhanças quanto ao perfil hedônico dos
respectivos atributos para cada formulação.
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Figura 1. Gráfico radar para os atributos de aceitação sensorial dos molhos tipo Caesar.

735

CT – molho controle, F1 – molho com mucilagem in natura, F2 – molho com mucilagem liofilizada.

O centro da figura indica o ponto zero da escala, aumentado sua magnitude para
as extremidades, sendo que a média de cada atributo por amostra é marcada no eixo
correspondente em que o perfil sensorial é traçado pela vinculação dos pontos. Os dados
obtidos sugerem que não ocorreram diferenças entre o CT e F2 na maioria dos atributos
avaliados, com destaque para maiores notas hedônicas no F2.
Para confirmação dos resultados, os valores médios da aceitação sensorial estão
expressos na Tabela 2, assim como os valores de IA e Aceitabilidade Geral estão
representados na Figura 2, que permitem visualizar o potencial mercadológico individual
dos produtos para comercialização.

Tabela 2. Resultados da aceitação sensorial dos molhos tipo Caesar (média ± desvio-padrão).
Molhos tipo Caesar
Atributos
CT F1 F2
Cor 6,24a ± 1,89 6,07a ± 1,91 6,76a ± 1,77
Aroma 6,53a ± 1,78 6,34a ± 1,85 6,71a ± 1,81
Aparência 6,33ab ± 1,74 5,94b ± 1,87 6,73a ± 1,91
Consistência 6,79a ± 1,73 6,00b ± 2,07 7,23a ± 1,86
Sabor 6,51ab ± 1,093 6,09b ± 2,14 7,00a ± 1,78
Impressão Global 6,49ab ± 1,86 5,87b ± 2,04 6,83a ± 1,88
CT – molho controle, F1 – molho com mucilagem in natura, F2 – molho com mucilagem liofilizada. Médias seguidas
na linha pela mesma letra não diferem significativamente entre si pelo Teste de Tukey (p<0,05).

Figura 2. Índice de Aceitabilidade (IA) dos atributos sensoriais e Aceitabilidade Geral dos molhos tipo
Caesar.
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736

CT – molho controle, F1 – molho com mucilagem in natura, F2 – molho com mucilagem liofilizada.

As médias dos atributos cor e aroma não apresentaram diferenças estatísticas


significativas entre si (p<0,05), com termos hedônicos entre “gostei ligeiramente” e
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“gostei moderadamente”. O molho F2 destacou-se com IA superiores, posto que esta


formulação possuía uma coloração verde mais claro, mas aroma semelhante as demais
formulações. Tal fato pode ter influenciado para uma melhor aceitação dos provadores
(F2 > CT > F1), com IA de 75,08 (cor) e 74,60% (aroma).
De acordo com Gularte (2009), um produto precisa indicar o mínimo de 70% para
ser bem aceito em relação as propriedades sensoriais e para testes mercadológicos. A
adição da mucilagem in natura influenciou negativamente os atributos aparência e
consistência (IA < 70%), possivelmente devido a consistência menos pastosa e separação
de fase. Enquanto isso, o F2 foi efetivo como possível agente texturizante, demonstrando
o potencial da mucilagem liofilizada.
737
Os atributos sabor e impressão global também indicaram melhor aceitação
sensorial do molho com mucilagem liofilizada em relação a mucilagem in natura (F2 –
7,00 e 6,83, respectivamente). O sabor é um dos mais importantes atributo que interferem
na compra e consumo dos consumidores. Com uma variação dos termos hedônicos entre
“gostei ligeiramente” e “gostei moderadamente”, o F2 se destacou com IA de 77,78
(sabor) e 75,87% (impressão global).
Na Aceitabilidade Geral, os molhos CT (72,01%) e F2 (76,40%) se destacaram em
relação ao F1 (67,25%), o qual não atingiu o percentual mínimo de 70%. Os resultados
do Teste CATA estão representados pela Figura 3, através de Análise de
Correspondência, na qual os atributos específicos tendem ao agrupamento e permitem a
visualização das características dos produtos.

Figura 3. Análise de Correspondência do Teste CATA para os molhos tipo Caesar.

CT – molho controle, F1 – molho com mucilagem in natura, F2 – molho com mucilagem liofilizada.
Pouco Pastoso – P. Pastoso; Muito Consistente – M. Consistente; Pouco Consistente – P. Consistente; Pouco Viscoso
– P. Viscoso; Aparência Desagradável – A. Desagradável; Aparência Homogênea – A. Homogênea; Aparência
Heterogênea – A. Heterogênea; Aparência Desuniforme – A. Desuniforme; Aparência Agradável – A. Agradável;
Aparência Uniforme – A. Uniforme; Ocorre separação de fases – Fases; Sabor Marcante – S. Marcante; Sabor
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Agradável – S. Agradável; Sabor Desagradável – S. Desagradável; Sabor Adstringente – S. Adstringente; Sabor de


Azeite – S. Azeite; Aroma de Alho – A. Alho.

O F2 apresentou correspondência com os termos descritores de uniformidade do


produto: pastoso, muito consistente, suave, macio e cremoso, o que caracteriza boa ação
da mucilagem liofilizada como agente texturizante. O F1 apresentou um maior número de
termos descritores relacionados a oleoso, azedo, separação de fases e desagradável,
provavelmente pela má homogeneização dos ingredientes na formulação. Já o CT
apresentou características relacionadas à aparência heterogênea, arenoso e granulado,
provavelmente pela ausência de um aditivo que auxiliasse o processo de texturização e/ou
738
emulsificação.

CONCLUSÕES

Os molhos estavam aptos para o consumo em relação aos parâmetros


microbiológicos avaliados. O molho com mucilagem liofilizada destacou-se em relação
ao molho com mucilagem in natura, com aceitação sensorial significativamente
semelhante (p<0,05) ao molho controle, ambos com IA > 70%. Infere-se que a mucilagem
liofilizada atuou de forma satisfatória como um agente texturizante e emulsificante,
permitindo ao molho tipo Caesar uma descrição como pastoso, muito consistente, suave,
macio e cremoso.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 67

EFEITOS DA SOLUBILIZAÇÃO ÁCIDA E DESLIPIDIFICAÇÃO


COM ETANOL NA OBTENÇÃO DE CONCENTRADO PROTEICO
DE PEITO DE FRANGO COM MIOPATIA “WHITE STRIPING”

SOUTO, Valter Oliveira de


Doutorando em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Universidade Estadual de Ponta Grossa
valter.o.souto@hotmail.com

ALMEIDA, Rogério Silva de


Graduando em Agroindústria 742
Universidade Federal da Paraíba
rogersilvva@gmail.com

RESUMO

A produção de carne frango vem se destacando no mercado nacional e internacional, e


com o melhoramento genético, o nível de estrese físico dos frangos aumentou, surgindo
miopatias espontâneas, como estrias e/ou listras brancas (White Striping - WS), ao qual
está associado à produção animal intensiva e sistemas exaustivos durante a sua produção.
Diante disto, estre trabalho teve como objetivo avaliar os métodos de solubilização ácida
e deslipidificação com etanol nos parâmetros físicos de cor instrumental e físico-químicos
de pH e atividade de água na obtenção de concentrado proteico de peito de frango com
miopatia WS. Os métodos de obtenção dos concentrados proteicos CPPF1: concentrado
proteico de peito de frango obtido pelo método de solubilização ácida seguida de
neutralização e CPPF2: concentrado proteico de peito de frango obtido pelo método de
deslipidificação com etanol influenciaram os parâmetros físicos e físico-químicos
analisados e todos os parâmetros obtiveram diferença estatística significativa (p<0,05).
Os valores de cor instrumental variaram de L* (83,18 a 87,30), a* (-0,80 a 0,09), b*
(16,91 a 27,22), o pH (4,06 a 6,27) e Aa (0,37 a 0,65). Com isso, observou-se que a carne
de peito de frango com miopatia WS possui grande potencial de exploração. Sendo
verificado neste estudo que os métodos de obtenção de concentrado proteico
apresentaram nível baixo de pH e atividade de água, podendo ser um produto com uma
vida de prateleira adequada, tornando-se uma alternativa de potencialização e fabricação
do concentrado proteico de peito de frango com miopatia WS na indústria de alimentos.

PALAVRAS-CHAVE: cor instrumental, estrias brancas, parâmetros físicos, parâmetros


físico-químicos.

INTRODUÇÃO

A carne de frango é uma matéria-prima altamente considerada, sendo uma das mais
eficientes fontes de proteínas. A demanda de consumo da carne de frango aumentou nas
últimas décadas, devido aos baixos custos de produção, uma vez que o Brasil se tornou o
país que mais cresceu na produção industrial de carne de frango, como indicam números
2021 Gepra Editora Barros et al.

entre 2011 e 2019, destacando-se no mercado internacional, ocupando, desde 2011, o


terceiro lugar mundial. É possível indicar a elevação no consumo para 13,5 quilos de
carnes de avesper capita no mundo em 2015, tendo produzido em 2019 mais de 13,2
milhões de toneladas, ficando atrás dos Estados Unidos e da China que produziram cerca
de 19,9 milhões e 13,7 milhões de toneladas, respectivamente. Em 2018, produziu 12,85
milhões de toneladas de carne de frango e de acordo com relatório de 2020 da Associação
Brasileira de Proteína Animal -ABPA, o Brasil destina cerca de 68% da sua produção ao
mercado interno e 32 % à exportação (SANTOS FILHO et al., 2018; ABPA, 2018; ABPA
2019; ABPA, 2020).
O aumento da produção para satisfazer a demanda do mercado tem tornado
743
possível, em parte, por meio de várias seleções genéticas e favorecendo fortemente o
aumento na taxa de produção de frango de corte e seleção de frango para crescimento
rápido e alto rendimento de carcaça (BOERBOOM et al., 2018; CARVALHO et al.,
2020). Entretanto, com a crescente taxa de crescimento e o melhoramento genético,
aumentou-se também o nível de estrese físico dos frangos, surgindo miopatias
espontâneas, em especial, no peito de frango, como estrias e/ou listras brancas (White
Striping - WS), ao qual está associado à produção animal intensiva e sistemas exaustivos
durante a sua produção (CARVALHO et al., 2020).
A ocorrência de estrias brancas ao longo da direção da fibra muscular torna os peitos
de frango afetados por WS facilmente reconhecíveis. As listras brancas são reveladas, na
microscopia, como acúmulo de lipídios e tecido conjuntivo. Ao contrário da típica
gordura marmorizada (gordura intramuscular), observada em certos produtos de suínos e
músculos de bovinos, essas estrias não respondem a um acréscimo fisiológico dos lipídios
que podem melhorar a qualidade da carne. No entanto, é considerado um reflexo de um
processo de miodegeneração, que além do aumento da deposição de gordura e tecido
conjuntivo, envolve inflamação intersticial, edema, infiltração de células inflamatórias e
necrose (CARVALHO et al., 2020). Na carne de frango, especialmente no peito, a
miopatia WS é a mais comum com mais de 98% das aves às 9 semanas de idade avaliado
nos Estados Unidos, apresentando sintomas de miopatia, em que mais de 55% são
classificados como casos graves e moderados (KUTTAPPAN et al., 2019).
Tendo em vista que os consumidores compõem o elo final para consumo de
produtos cárneos de frango, sua atitude com relação à presença e percepção da miopatia
deve ser considera de extrema importância, uma vez que interfere diretamente no poder
de compra do produto. Entretanto, poucos estudos foram realizados a respeito do
conhecimento desses consumidores na origem dessas estrias ou se até mesmo repararam
a presença dessas estrias na carne. Com isso, a utilização do peito de frango afetado por
WS pode servir como alternativa para o desenvolvimento e/ou aperfeiçoamento de novos
produtos, a por exemplo do concentrado proteico que pode aumentar a qualidade e
agregar valor a esta matéria-prima (PETRACCIet al., 2019; CARVALHO et al., 2020).
As utilizações de técnicas para a concentração e utilização de proteínas têm sido
consideradas de extrema importância, pois permitem obter produtos com um alto valor
proteico, facilitando a adição em diversos produtos alimentícios. O concentrado proteico
é um produto que tem aproximadamente cerca de quatro vezes mais conteúdo proteico do
que o produto de forma in natura. Sendo, basicamente, moídos e desidratados,
2021 Gepra Editora Barros et al.

apresentando aroma e sabor de acordo com a matéria-prima e o método a ser utilizado


para obtenção. Além disso, podem ser obtidos por métodos químicos, físicos e
enzimáticos, apresentando alta digestibilidade quando comparados a proteínas dos demais
alimentos, permitindo assim, disponibilizar aos consumidores produtos ricos em
nutrientes (FLORENTINO, 2019).
Portanto, estre trabalho teve como objetivo avaliar os métodos de solubilização
ácida e deslipidificação com etanol nos parâmetros físicos de cor instrumental e físico-
químicos de pH e atividade de água na obtenção de concentrado proteico de peito de
frango com miopatia White Striping
744
MATERIAL E MÉTODOS
OBTENÇÃO DA MATÉRIA-PRIMA E LOCAL DO EXPERIMENTO

O peito de frango comercial (1Kg) foi adquirido em um supermercado atacadista


localizado no município de João Pessoa, Paraíba - PB. A matéria-prima foi transportada
em caixa isotérmica até o Laboratório de Apoio Técnico - LAPT, do Departamento de
Engenharia de Alimentos, pertencente ao Centro de Tecnologia - CT, da Universidade
Federal da Paraíba - UFPB, Campus I, João Pessoa, PB. Foi realizado uma análise
preliminar visual da qualidade do peito de frango e observou-se que o mesmo tinha a
miopatia “White Striping”. Os reagente utilizados na pesquisa foram de grau analítico e
toda a pesquisa foi executada no LAPT.

DELINEAMENTO EXPERIMENTAL DA PESQUISA


O planejamento da pesquisa ocorreu em 3 etapas, conforme apresentado na Figura
1 abaixo.
Figura 1. Planejamento experimental da pesquisa.

Fonte: Autores.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Na primeira etapa, foi realizado a obtenção da carne mecanicamente separada


(CMS) do peito de frango, separando-se a carne da pele, gordura e ossos e realizando-se
a trituração em triturado. A obtenção dos concentrados proteicos de peito de frango foi
efetuada na segunda etapa do experimento, utilizando dois métodos: (1) solubilização
ácida seguida de neutralização e (2) desodorização com ácido fosfórico seguida de
deslipidificação com etanol. A terceira e última etapa da pesquisa consistiu na avaliação
dos parâmetros físicos e físico-químicos de pH, Aa – Atividade de água e cor instrumental
(L*, a*, b* e ΔE – diferença colorimétrica total).

MÉTODOS DE OBTENÇÃO DOS CONCENTRADOS PROTEICOS


745
A obtenção dos concentrados proteicos de peito de frango (CPPF) foi realizada a
partir de dois métodos:

Método 1 – apresentado na Figura 2(solubilização ácida seguida de neutralização): A


CMS foi lavada em dois ciclos utilizando 3 partes de água destilada fria (10 ºC) para 1
parte de CMS (p/p) sob agitação constante por 10 minutos. Em seguida, a mistura foi
filtrada para remoção do excesso de água. A solubilização das proteínas foi obtida através
da adição de HCl 1 N até pH 2,5, seguida de neutralização com NaOH 0,5 M até pH 5,0.
A CMS solubilizada e neutralizada foi disposta em forma inoxidável coberta com papel
alumínio e submetida à secagem em estufa com ventilação forçada à 65 ºC por 15 horas.
Posteriormente, o concentrado proteico foi triturado em triturador até a obtenção de um
pó uniforme, o qual foi embalado à vácuo, recoberto com papel alumínio e congelado a -
18 ºC até o início das análises – (CPPF 1) (VIDAL, 2007; SILVA et al., 2006;
FLORENTINO, 2019).

Figura 2.Fluxograma de obtenção de concentrado proteico em escala de laboratório.

Fonte: Florentino, 2019.


2021 Gepra Editora Barros et al.

Método 2 – apresentado na Figura 3 (desodorização com ácido fosfórico seguida de


deslipidificação com etanol): a CMS foi lavada em dois ciclos utilizando 3 partes de água
destilada fria (10 ºC) para 1 parte de CMS (p/p) sob agitação constante por 5 minutos. Em
seguida, a mistura foi filtrada para remoção do excesso de água. O terceiro ciclo de
lavagem utilizou 3 partes de ácido fosfórico (H3PO4) 0,01% à 5ºC para 1 parte de CMS,
agitando manualmente por 15 minutos. A separação das fases para remoção da gordura
foi feita por decantação e a fase sólida foi filtrada para remoção do excesso de água. A
CMS lavada foi disposta em forma inoxidável coberta com papel alumínio e submetida à
secagem em estufa com ventilação forçada à 65 ºC por 15 horas. Posteriormente, o
concentrado proteico foi submetido à lavagem com etanol 98%, utilizando a proporção
746
de 2 partes de etanol para 1 parte de concentrado (p/p). A mistura foi filtrada e submetida
novamente à secagem em estufa com ventilação forçada à 65 ºC por 3 horas. Logo após
a secagem, o material obtido foi triturado até a obtenção de um pó uniforme, o qual foi
embalado à vácuo, recoberto com papel alumínio e congelado -18 ºC até o início das
análises laboratoriais – (CPPF 2) (VIDAL, 2007; SIMÕES et al., 2004; FLORENTINO,
2019).

Figura 2.Fluxograma de obtenção de concentrado proteico em escala de laboratório.

Fonte: Florentino, 2019.

ANÁLISES FÍSICAS E FÍSICO-QUÍMICAS

O pH foi determinado com o auxílio de pHmetro digital (DIGIMED, 300M, São


Paulo, Brasil) equipado com eletrôdo de vidro (Quimis, Q400 AS, Diadema, Brasil),
calibrado com solução tampão pH 7,0 e 4,0.
A atividade de água foi determinada pelo método 978.18 descrito pela AOAC
(2012), utilizando o aparelho AQUALAB 4TE (Decagon series, USA).
2021 Gepra Editora Barros et al.

A cor instrumental dos concentrados proteicos foideterminadautilizando


colorímetro digital Konica Minolta (CR-300, Minolta, Mahwah/New Jersey, USA) para
leitura dos parâmetros L* (luminosidade), a* (intensidade de vermelho/verde) e b*
(intensidade de amarelo/azul), conforme especificações da ComissionInternationale de
L’éclairage - CIE (2004). A diferença colorimétrica total (ΔE) entre os concentrados
proteicos obtidos pelo método 1e 2 foi calculada utilizando a equação ΔE = [(ΔL*)2 +
(Δa*)2 + (Δb*)2 ]1/2.

TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS


747
Os resultados obtidos nas análises dos concentrados proteicos foram submetidos ao
teste t para amostras independentes ao nível de 5% de significância. Os tratamentos
estatísticos foram analisados com o auxílio do programa SPSS, versão 22.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados dos parâmetros físicos de cor instrumental e físico-químicos de pH e


Aa – atividade de água,dos concentrados proteicos de peito de frango com miopatia WS,
obtido pelos métodos de solubilização ácidaseguida de neutralização e deslipidificação
com etanol estão dispostos na (Tabela 1).

Tabela 1.Parâmetros físicos e físico-químicos dos concentrados proteicos de peito de frango WS.
Parâmetros CPPF1 CPPF2 Valor de p

Físicos

L* 83,18±0,03 87,30±0,01 <0,05

a* -0,80±0,02 0,09±0,01 <0,05

b* 27,22±0,01 16,91±0,02 <0,05

ΔE 11,14 - -

Físico-Químicos

6,17±0,01
pH 4,06±0,05 <0,05

0,37±0,01
Aa 0,65±0,01 <0,05

Fonte: Autores. Valores de p ≤ 0,05 indicam diferença significativa entre as amostras pelo Teste t
student.CPPF1: concentrado proteico de peito de frango obtido pelo método de solubilização ácida seguida
de neutralização. CPPF2: concentrado proteico de peito de frango obtido pelo método de deslipidificação
com etanol. ΔE= diferença colorimétrica total.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Os métodos de obtenção dos concentrados proteicos, solubilização ácida seguida


de neutralização e desodorização com ácido fosfórico seguida de deslipidificação com
etanol, influenciaram os parâmetros físicos e físico-químicos analisados e todos os
parâmetros obtiveram diferença significativa (p<0,05).
A cor da carne ou dos produtos cárneos é um dos principais atributos de qualidade
e tem forte influência em sua aceitação pelo consumidor. Existem diversos fatores que
são considerados essenciais e afetam a cor da carne. Entre eles, destacam-se o estado
química e a concentração dos pigmentos entre a microestrutura muscular, os ingredientes
adicionados e as condições de processamento e armazenamento em que os produtos são
submetidos (SOUTO et al., 2018).Na análise de cor instrumental dos concentrados
748
proteicos, a luminosidade (L*) e a intensidade de cor vermelha (a*) foi maior no
tratamento CPPF2, enquanto o tratamento CPPF1 obteve menor luminosidade e menor
intensidade de cor vermelha.Tal fato pode estar relacionado com a quantidade de
lavagens sucessivas do método de desodorização com ácido fosfórico e deslipidificação
com etanol (CPPF2), o que contribuiu para uma maior luminosidade e menor intensidade
de cor amarela. Florentino (2019) encontrou alta luminosidade e baixa intensidade de cor
amarela em concentrado proteico de carne de pescoço de frango caipira obtidos pelo
método de desodorização com ácido fosfórico e deslipidificação com etanol,
corroborando com o método utilizado na obtenção de concentrado proteico deste estudo.
O método de solubilização ácida seguida de neutralização utilizado no tratamento CPPF1
superou o tratamento CPPF2 na intensidade de com amarela (b*), e isto pode ser
explicado pela concentração lipídica que o tratamento CPPF1 deva ter, uma vez que o
etanol aplicado no tratamento CPPF2 pode ter extraído os componentes lipossolúveis da
carne de peito do frango (RIBEIRO, SERAVALLI, 2007; FLORENTINO, 2019).
Com relação o valor de diferença colorimétrica total entre os concentrados
proteicos de peito de frango WS obtidos por distintos métodos, observa-se que há uma
diferença visual perceptível entre os tratamentos avaliados, uma vez que o valor de ΔE
encontrado foi maior que 2,00 (FRANCIS; CLYDESDALE, 1975).
Diversos micro-organismos dependem de condições para sua sobrevivência e
multiplicação. As características de processamento e armazenamento inerentes aos
próprios alimentos influenciam no tipo e diversidade microbiana, sendo essas
características intrínsecas ou não ao alimento, por exemplo o pH e a atividade de água
podem representar uma barreira na multiplicação microbiana (PINTO; LANDGRAF;
FRANCO, 2018).
Os concentrados proteicos elaborados apresentaram diferença estatística (p<0,05)
nos valores de pH, os quais apresentaram valores de 4,06 e 6,17, respectivamente.
Conforme, Pinto; Landgraf e Franco (2018), o pH é um fator determinante na
multiplicação microbiana, pois a maioria dos micro-organismos deteriorantes se
multiplicam em pH próximo a neutralidade (6,6 a 7,5). Entretanto, os tratamentos
avaliados apresentaram pH abaixo da neutralidade e o tratamento CPPF1 apresentou o
pH mais ácido do que o tratamento CPPF2. Consideravelmente, o nível de pH está
relacionado com as soluções utilizadas nos métodos de obtenção dos concentrados
proteico utilizados.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Florentino (2019), define a atividade de água como a quantidade de água que está
associada aos constituintes não aquosos do alimento e que está disponível para as reações
químicas, bioquímicas e microbiológicas. Os métodos de obtenção dos concentrados
proteicos de peito de frango com miopatia WS apresentaram efeito significativo com
diferença estatística (p<0,05) no parâmetro de atividade de água (Aa). O tratamento
CPPF2 apresentou uma redução de 43,08% na Aa em relação ao tratamento CPPF1. Fato
este, devido ao maior tempo de secagem aplicado ao tratamento CPPF2 que contribuiu
para os menores valores de atividade de água. Nesse sentido, a baixa atividade de água
nos concentrados proteicos obtidos neste estudo é favorável, pois os microrganismos
possuem o seu desenvolvimento condicionado a existência de água disponível (VIDAL,
749
2007; FLORENTINO, 2019).

CONCLUSÕES

A carne de peito de frango com miopatia WS possui grande potencial de exploração.


A miopatia existente não afeta o desenvolvimento de novos produtos, nem tampouco o
aperfeiçoamento de produtos existentes. Foi verificado neste estudo que os métodos de
obtenção de concentrado proteico influenciam os parâmetros físicos e físico-químicos.
No entanto, observou-se que os mesmos apresentaram nível baixo de pH e atividade de
água, podendo ser um produto com uma vida de prateleira adequada. Entretanto, outros
parâmetros devem ser avaliados, por exemplo, composição química, estabilidade
oxidativa, microbiológica e perfil sensorial como alternativa de potencializar a fabricação
do concentrado proteico de peito de frango com miopatia WS na indústria de alimentos.

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751
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 68

EFEITOS DO ESTRESSE TÉRMICO SOBRE O


COMPORTAMENTO FISIOLÓGICO DE CAPRINOS – REVISÃO
DE LITERATURA
LIMA, Marcelo Santos
Graduando em Medicina Veterinária
Centro Universitário Dr. Leão Sampaio (Unileão)
marcelosantosmedvet@gmail.com

SILVA, Larissa Feitosa


Graduando em Medicina Veterinária 752
Centro Universitário Dr. Leão Sampaio (Unileão)
lalafeitosa@hotmail.com

QUEIROGA, Inês Maria Barbosa Nunes


Professora do Curso de Medicina Veterinária
Centro Universitário Dr. Leão Sampaio (Unileão)
inesmaria@leaosampaio.edu.br

ANDRÉ, Weibson Paz Pinheiro


Professor do Curso de Medicina Veterinária
Centro Universitário Dr. Leão Sampaio (Unileão)
weibsonpaz@leaosampaio.edu.br

RESUMO

A elevada temperatura é um grande problema na produção animal, uma vez que resulta
em estresse térmico, afetando negativamente o bem-estar, a saúde e a produtividade dos
animais. Animais expostos ao estresse térmico apresenta alteraçõesque podemcausar
impactos negativos na produção animal. Sendo assim, o objetivo desse trabalho é
evidenciar as alterações causadas pelo estresse térmico em caprinos. O estudo foi
realizado com metodologia de caráter exploratório, com a utilização de pesquisas
bibliográficas obtidas através das bases de dados: scielo, pubmed e sciendirect, utilizando
como principais descritores: bioclimatologia, estresse por calor e parâmetros fisiológicos.
O estresse térmico tem um efeito sobre os animais, sendo comprovado pelas mudanças
nos parâmetros hematológicos, glóbulos vermelhos, glóbulos brancos, hemoglobina, e
pH do sangue. Os principais parâmetros fisiológicos a serem avaliados em condição de
estrese térmico são frequência cardíaca, frequência respiratória e temperatura retal). A
elevação da temperatura ambiental, resulta na alteração do mecanismo de
termorregulação testicular, acarretando uma degeneração dos testículos, sendo
considerada a causa principal de subfertilidade e infertilidade de caprinos.Animais
submetidos a estresse crônico tem como resposta períodos de elevadas concentrações de
cortisol, diminuindo a aptidão por causar imunossupressão e atrofia dos tecidos de defesa
do organismo.O estresse térmico tem ação prejudicial a produção leiteira, devido os
animais em lactação serem mais sensíveis ao calor. Conclui-se que é de suma importância
dar atenção as características ambientais em que o animal vive, pois são essas que são
responsáveis por propiciar condições para que o animal expresse todo o seu potencial
genético.

PALAVRAS-CHAVE: estresse por calor, parâmetros fisiológicos, ambiência.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

A caprinocultura é bastante difundida no mundo, sendo uma atividade agropecuária


de suma importância para a economia do país, assegurando renda familiar para inúmeros
pequenos e grandes produtores. Além disso, a atividade possui grande importância
socioeconômica, sendo fonte alternativa de alimento de alta qualidade (Mascarenhas et
al., 2019). Os caprinos são considerados animais rústicos com relação ao ponto de vista
bioclimático, mas mudanças nas características ambientais, podem acarretar uma
diversidade de alterações no perfil fisiológico, hematológico, produtivo, e reprodutivo
desses animais. Dentre essas características, algumas podem interferir diretamente na
produtividade desses animais, como a temperatura, velocidade do vento, umidade relativa 753
do ar e radiação solar (Mascarenhas et al., 2019). Dessa forma, o equilíbrio climático do
local de criação destes, teminfluência significativa na capacidade de determinadas raças
apresentarem um maior potencial genético e por sua vez alcançando um maior pico
produtivo e reprodutivo. As alterações climáticas têm influência significativa nas perdas
que envolve a produção pecuária, entretanto, devem ser realizados estudoscapazes de
fornecer informações relevantes quanto aos mecanismos de adaptabilidade dos animais a
situações de mudanças extremas de temperatura (Ribeiro et al., 2018).
O bem-estar animal está diretamente interligado com os efeitos ambientais, sendo
estes os responsáveis pelas consequências da produção e produtividade de determinada
criação. O estresse térmico é um dos principais fatores responsáveis por limitara
produção animal nos trópicos, devidoa temperatura elevada ser capaz de interferir no
consumo de alimentos ou na alta ingestão de água, no ganho de peso, nas taxas produtivas,
reprodutivas e na produção de leite e carne(BARROS, Junior et al., 2017).Dessa forma,
estudos da bioclimatologia são ferramentas fundamentais para avaliar os efeitos
climáticos sobre o comportamento fisiológico dos animais, contribuindo desta forma com
a seleção de animais com maior grau adaptativo às condições climáticas do semiárido
(Miranda et al., 2018). Para se obter uma adequada climatização de uma instalação
pecuária é indispensável dispor dos dados meteorológicos do local da instalação (Vieira
et al., 2016). A forma adaptativa de cada espécie e raça e a interação ambiente-animal são
fatores essenciais para a produção animal, pois a partir deles, decisões são tomadas sobre
a escolha do sistema de criação e melhores estratégias de manejo para potencializar a
produção. (Ribeiro et al., 2018).Diante o exposto, o trabalho tem como objetivo
evidenciar algumas das alterações causadas pelo estresse térmico em caprinos.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para o estudo em evidência a metodologia utilizada foi de caráter exploratório,


por meio de pesquisas bibliográficas realizadas em bases de dados científicos (GIL,
2008). Dada por pesquisas em fontes dos últimos 5 anos de forma seletiva de acordo com
o assunto em específico, com posterior análise, interpretação e discussão dos dados
resultantes da coleta.Os dados foram coletados a partir deartigos científicos obtidos
através das seguintes bases de dados: pubmed,sciendirecte scielo, utilizando como
2021 Gepra Editora Barros et al.

descritores: bioclimatologia, caprinos, estresse térmico, ambiência e parâmetros


fisiológicos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O estresse térmico é responsável por desencadear inúmeros prejuízos na produção


animal, por meio do declínio no rendimento destes,sendo necessário o produtor lançar
mão de aparatos capazes de manter o equilíbrio térmico entre o animal e o ambiente em
que está inserido. O estresse térmico sofre influência dos componentes do ambiente
térmico sobre o organismo, culminandoem uma reação do organismodecorrenteà 754
capacidade do mesmo compensar os as alterações causadas pelo estresse e pela
intensidade da força aplicada. O organismo animal possuiuma diversidade de respostas
fisiológicas que são utilizadas para quantificar o grau de conforto térmico ao qual o
animal está submetido (Polli et al., 2020).

Parâmetros fisiológicos

A frequência cardíaca, frequência respiratória e temperatura retal são os principais


parâmetros fisiológicos afetados, sendo estes utilizados como medida de adaptabilidade
da espécie. De modo geral, os parâmetros fisiológicos sofrem alterações de acordo com
a idade, sexo, estação, hora do dia, consumo de água, ingestão de alimentos, exercícios e
estágio fisiológico (Ribeiro et al., 2018). Na verificação de homeotermia dos ruminantes,
o parâmetro mais utilizado é a temperatura retal, quando aumentada, desencadeia a
ativação de mecanismos compensatórios para reestabelecer a homeostasia corporal
(BARROS, Junior et al., 2017). A temperatura retal éótima alternativa de a tolerância do
calor em animais, apresentando resultados de todos os processos de ganho e perda de
calor do corpo (Sarangi, 2018). A temperatura retal é considerada como um bom índice
de temperatura corporal, embora haja uma variação considerável em diferentes partes do
núcleo corporal em diferentes momentos do diaA avaliação da frequência respiratória
nessa espécie, deve ser realizada levando em consideração um leque de características,
como a temperatura do local em que o animal está inserido. O controle da temperatura
nos ruminantes é realizado principalmente por meio das variações dos movimentos
respiratórios, na qual tem como objetivo a troca de calor com o meio ambiente. Quanto
mais elevada a temperatura, mais intensa se torna a sudorese e frequência respiratória,
que por sua vez, evita o acumulo de calor no organismo animal, culminado em uma
redução no desempenho do animal (BARROS, Junior et al., 2017). A avaliação da
severidade do estresse térmico pode ser realizada na quantificação de movimentos
respiratórios, em que frequências de 40-60, 60-80 e 80-120 mov/min caracteriza um
estresse baixo, médio-alto e alto, respectivamente (BARROS, Junior et al., 2017). A
frequência respiratória normal dos caprinos é quando apresenta o valor médio de 15
mov/min, podendo sofrer uma variação de 12 a 15 movimentos por minuto, a depender
da temperatura ambiental, atividade muscular, idade, tamanho do animal, gestação e
ingestão de alimentos(BARROS, Junior et al., 2017).
2021 Gepra Editora Barros et al.

A frequência cardíaca é influenciada diretamente pela raça, idade, características


climáticas, condições fisiológicas, tamanho, alimentação e peso do animal (BARROS,
Junior et al., 2017). De acordo com Ribeiro et al., (2018), os caprinos possuem a
frequência cardíaca média de 90 batimentos por min. podendo variar de 70 a 120
batimentos por min.As informações quanto a frequência cardíaca na literatura científica,
na maioria das vezes, édiscrepante, uma vez que podem ser alteradas a depender das
diferentes condições ambientais em que foram obtidas (BARROS, Junior et al., 2017).O
aumento da frequência cardíaca pode ser causado devido à elevação da vasodilatação
periférica e diminuição da pressão sanguínea, com o intuito de minimizar a produção de
calor (MIRANDA et al., 2018). Segundo o mesmo autor, à medida que a temperatura do
755
ambiente se eleva, os parâmetros fisiológicos também aumentam.

Temperatura dos testículos

O sucesso na reprodução sofre influência direta da temperatura, devido as células


da linhagem germinativa possuírem sensibilidade à ação do calor (Vieira et al., 2018). A
termorregulação escrotal, é um fenômeno de suma importância que favorece o
funcionamento normal de inúmeros mecanismos no organismo animal. O cone vascular,
na qual é formado pelos vasos do plexo pampiniforme, é responsável por permitir a troca
contracorrente de calor, a perda de calor por irradiação e regulação do fluxo sanguíneo
(BARROS, Junior et al., 2017). A elevação da temperatura ambiental, resulta na alteração
do mecanismo de termorregulação testicular, acarretando uma degeneração dos
testículos, sendo considerada a causa principal de subfertilidade e infertilidade em
reprodutores por alteração da espermatogênese e esteroidogênese. Do ponto de vista
endocrinológico, o hormônio testosteronatem ação regulatória da espermatogênese,
estimulando a expressão dos caracteres sexuais secundários e o comportamento sexual
(Silva et al., 2016).Animais que apresentam estresse térmico possui sua termogênese
prejudicada, devido ao aumento da temperatura corporal. Para que ocorra a
espermatogênese normal, é necessário a temperatura testicular apresentar-se
aproximadamente 1º C inferior a temperatura orgânica do animal. Machos que são
submetidos a quadro de estresse térmico testicular, seguido de degeneração testicular,
apresentam uma produção de espermatozoides com baixo potencial de fecundação e uma
maior incidência de morte embrionária (BARROS, Junior et al., 2017). Além disso, a
elevação da temperatura testicular é responsável por causar danos severos e de
recuperação lenta (Vieira et al., 2018).

Parâmetros hematológicos

O sangue tem como sua principal função o transporte de oxigênio, sendo este
responsável por favorecer o funcionamento celular e consequentemente estabelecer a
homeostase corporal.O perfil sanguíneo dos animais possui sensibilidade a mudanças na
temperatura ambiental, sendo um importante indicador de respostas fisiológicas a agentes
estressantes. Dessa forma, determinar os parâmetros sanguíneos dos animais, é de suma
importância para estabelecer o efeito do estresse pelo calor. O estresse térmico tem um
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efeito sobre os animais como, sendocomprovado pelas mudanças nos parâmetros


hematológicos, glóbulos vermelhos, glóbulos brancos, hemoglobina, linfócitos,
neutrófilos, neutrofilos, eosinófilos, monócitos, granulócitos, volume de células
embaladas e pH do sangue (Sarangi, 2018). Animais estressados termicamente,
apresentam como mecanismo compensatório o aumento de sua frequência respiratória,
que favorece um maior consumo de oxigênio pelos tecidos, apresentando no hemograma
uma elevação nos valores de hemoglobina. Com relação ao hematócrito, ele pode
apresentar um aumento devido a perda de líquidos corpóreos resultante dos mecanismos
evaporativos de dissipação de calor, como a sudorese e respiração (BARROS, Junior et
al.,2017).
756
Animais sob estresse térmico de longo prazo apresentam má nutrição, resultando
na diminuição do número de eritrócitos e dehemoglobina, sendo caracterizado pela
diminuição dos glóbulos vermelhos na corrente sanguínea (Ribeiro et al., 2018). Ainda o
mesmo autor relata que o aumento da temperatura ambiental, estimula a perda de líquido
pelo trato respiratório do animal, culminando na redução do volume do plasma sanguíneo
e aumentando a concentração do hematócrito. Em casos de esforço físico prolongado, o
animal apresenta desidratação e, consequentemente, perda de líquidos por evaporação,
resultando em aumento do hematócrito.

Ingestão de alimentos

O consumo de alimentos pelos animais vai variar em função do peso vivo e da taxa
de ganho de peso, na qual ainda é determinada pela genética, nutrição, sanidade,
instalações e pelo clima (Pollis et al., 2020). De acordo com o mesmo autor, o consumo
de alimentos pelos ruminantes, é influenciado por mecanismos psicogênicos, físicos ou
fisiológicos. Animais sob alto grau de estresse reduzem o consumo de alimentos, pois de
acordo com Miranda et al. (2018), o consumo de alimentos dos caprinos tem correlação
inversa com a temperatura ambiental, uma vez que em seu trabalho, houve a diminuição
do consumo com o aumento da temperatura, sendo considerado um mecanismo de
diminuir a produção de calor interna. O estresse térmico resulta em uma diversidade de
mudanças no funcionamento biológico dos animais, como a diminuição do consumo,
distúrbios no metabolismo da água, proteínas, energia, balanço de minerais, reações
enzimáticas, secreção hormonal e metabólitos sanguíneos (Polli et al., 2020). Segundo
Jodar et al. (2018), em um estudo realizado com cabras leiterias, foi possível observar que
o estresse térmico foi responsável por diminuir consideravelmente a ingestão de matéria
seca em 29%, em contrapartida, o consumo de água teve um aumento 69%.

Perfil hormonal

O sistema termorregulador dos caprinos tem como finalidade manter a temperatura


corporal dentro dos valores normais da espécie, independentemente da temperatura
ambiente. Eles possuem uma menor quantidade de glândulas sudoríparas que os bovinos
e, devido a isto, utilizam mais o processo respiratório do que a sudorese para perder calor
e manter a temperatura corporal (Da Silva et al., 2016). O estresse térmico é responsável
2021 Gepra Editora Barros et al.

por desencadear uma diversidade de alterações no perfil hormonal dos animais. Os


Hormônios tiroxina, triiodotiroxina, leptina, prolactina,adiponectina, hormônio do
crescimento, glicocorticóides, catecolaminas, mineralocorticóides e antidiuréticos, tem
envolvimento no processo de adaptação térmica, podendo ser indicadores importantes
para avaliação do estresse em animais (Sarangi, 2018).Durante o estresse por calor, o
metabolismo do animal é reduzido e acelerado durante o estresse pelo frio, sendo essas
mudanças controladas pelos hormônios da tireoide e cortisol (Ribeiro et al., 2016).
Segundo Vieira et al., 2016, temperaturas elevadas associadas a altas umidades do are
radiação solar são os principais elementos climáticos estressantes que causam diminuição
na taxa de crescimento, na produção de leite e nas falhas de reprodução, diminuindo o
757
índice de fertilidade dos rebanhos. Em um estudo realizado por Ludri&Sarma (1985), foi
possível concluir que o estresse térmico pode acarretar em alteração na concentração
plasmática de cortisol (Vieira et al., 2016). O hormônio cortisol é um dos principais
envolvidos na resposta ao estresse, tendo como principal função a estimulação do
metabolismo das proteínas para converte-las em aminoácidos, favorecendo a
gliconeogênese. A síntese de cortisolpelo córtex adrenal auxiliana degradação e liberação
de glicose, gordura e aminoácido no tecido adiposo, músculo e fígado (Ribeiro et al.,
2018).
A diminuição nosníveis de hormônios tiroidianosem situaçõesde estresse térmico é
uma resposta adaptativa do organismo, que afeta o sistema hipotalâmico-pituitário -
adrenalina para diminuir o hormônio liberador da tirotropinano qual permite que os
animais consigam reduzir a taxa metabólica e a quantidade de calor produzida pelas
células (Sarangi, 2018). A redução do cortisol, ocorre durante a exposição crônica ao
calor, devido esse hormônio ser termogênico, acontecendo também a redução na
atividade adreno-cortical, sendo considerado um mecanismo termorregulatorio de
prevenção ao aumento da síntese de calor metabólico (DA SILVA et al., 2016)Segundo
o autor supracitado, os valores séricos de T3 e T4 fisiológicos em caprinos podem variar
de 88 a 190 ng/dl e 3 a 4,23 µg/dl, respectivamente.Ele ainda destaca que a redução desses
hormônios em níveis séricos, se dá pela diminuição na taxa de produção de calor
metabólico em situação de estresse calórico.
Os glicocorticoides estão diretamente relacionados com o estresse, exercendo a
função catabólica que culmina na inibição da multiplicação celular da glicose e
aminoácidos, resultando em um déficit na taxa do metabolismo (Polli et al., 2020). Os
níveis hormonais na glândula tireoide sofremvariações de acordo com a raça, idade o
estágio fisiológico, temperatura, crescimento, sexo e ambiente. Sendo essa glândula um
dos órgãos mais sensíveis à variação da temperatura ambiental, devido seus hormônios
estarem relacionados diretamente com a termogênese (Ribeiro et al., 2018). Segundo DA
SILVA et al. (2016) durante estresse por calor, fêmeas caprinas apresentam
concentrações plasmáticas de P4 significativamente mais elevadas quando comparadas
àquelas mantidas em condições termoneutras. Também foi possível observar aumentos
nas concentrações plasmáticas de estradiol (E2) assim como na de P4 durante o verão,
em machos caprinos. O mesmo autor explana que o estresse térmico acarreta em um
decréscimo nas concentrações séricas de T3, devido a elevada temperatura ambiente e
também, pela estacionalidade reprodutiva. No testículo caprino, o T3 induz a produção
2021 Gepra Editora Barros et al.

de uma proteína solúvel em células de Leyding, que estimula a liberação de andrógenos.


Em explicação a redução dos níveis sanguíneos de T3 e de T4, em resposta à exposição
às altas temperaturas, afirma-se que é devido à menor taxa de produção de calor
metabólico em situação de estresse calórico. A diminuiçãodas concentrações séricas de
T3 no jejum ocorre principalmente devido o decréscimo na conversão de T4 para T3 pela
enzima 5’ -deiodinase. Mas, o estado nutricional do animal, que é influenciado pelo
estresse calórico,tem influência significativano nível de T3 no sangue, como também na
atividade do sistema nervoso simpático, havendo aumento da atividade no estado
alimentado e um decréscimo no estado em jejum.
758
Perfil bioquímico

Interpretar os perfis bioquímicos é uma prática que exige bastante conhecimento,


devido ser bem complexa, pois envolve tanto os mecanismos que controlam o nível
sanguíneo de vários metabólitos, como as variações que os níveis destes apresentam,
sendo estas promovida por diversos fatores, como a raça, idade, estágio fisiológico, dieta
e manejo do animal e, o clima. O conhecimento do perfil bioquímico do sangue, é crucial
para definir o perfil metabólico, os distúrbios do metabolismo, perfil bioquímico, as
anormalidades ósseas e a função hepática. E com base nessas informações é possível
avaliar o nível de adaptação de uma espécie as mudanças climáticas (Ribeiro et al., 2018).
O equilíbrio acidobásico é um processo complexo, realizado pelo organismo para manter
o pH estável no corpo de um animal. São utilizados diferentes mecanismos para combater
as mudanças realizadas no equilíbrio acidobásico, como o ajuste respiratório do ácido
carbônico no sangue (H2CO3), amortecimento químico, e excreção de íons hidrogênio
ou bicarbonato (HCO3-) pelos rins (Sarangi, 2018).
Estudos evidenciaram que ambientes com temperaturas elevadas afetam
diretamente nos níveis de glicose e colesterol, apresentando uma diminuição nas suas
concentrações séricas, sendo considerado um indicador de falha na homeostase (Ribeiro
et al., 2018), o mesmo ainda afirma que a composição do plasma sanguíneo quanto aos
lipídeos, são compostos por três grupos principais: triglicerídeos, colesterol e
fosfolipídios. Sendo o colesterol total o que sofre mais alterações em condições de
estresse calórico, sendo justificado pelo aumento da utilização de ácidos graxos para a
síntese de energia em decorrência da diminuição da concentração sérica de glicose em
animais submetidos a estresse calórico. Durante o estressetérmico,a concentração de
colesterol apresenta uma diminuição em resposta à demanda pela produção do hormônio
cortisol. O mesmo é capaz de limitar o uso de glicose, devido mobilizar algumas reservas
de energia, como triglicerídeos e proteínas (Ribeiro et al., 2016).De acordo com Sarangi,
2018, o animais em situaçoes de estresse termico apresenta alterações em seus
parâmetros bioquímicos, sendo esses a fosfatase alcalina, alanina-aminotransferase,
aspartato transaminase, lactato desidrogenase, proteína total, albumina, globulina,
glicose, colesterol, nitrogênio uréico no sangue, ácidos graxos não-ester, beta-
hidroxibutirato, creatinina, triiodotiroxina, tiroxina, cortisol, prolactina, sódio, potássio,
cloreto, cálcio, magnésio, ferro, manganês, cobre, zinco e parâmetros de estresse
oxidativo (peroxidase de glutatião, glutatião redutase, superóxido dismutase e peróxidos
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lipídicos). Os niveissericos de creatinina de animais em temperaturas elevadas, apresenta


uma certa diminuição. Acredita-se que seja devido ao aumento da temperatura do ar, que
por sua vez promove a elevação da frequenciarespiratoria (Ribeiro et al., 2016).

Produção de leite

A produção de leite de cabra no Brasil vem aumentando ao passar do tempo, porém,


nem sempre esse aumento vem acompanhado com uma melhoria na produtividade dos
animais (Fonseca et al., 2016). O mesmo autor relata que o leite é um dos principais
produtos explorados na criação de cabras. E que sua produção sofre interferência de
diversos fatores, tais como genética, fatores ambientais, estagio da lactação, clima, 759
fisiologia e a nutrição desses animais.A elevada temperatura ambientalé considerada um
dos principais fatores estressantes para caprinos, bubalinos, bovinos, ovinos e suínos,
devido esses animais apresentarem incapacidade de manterem a termo regulação
eficiente, resultando em quadros de hipertermia, devido da inabilidade de dissipar o calor
corporal, comprometendo o mecanismo termo regulatório, e influenciandono surgimento
de alterações adaptativas como alteração na ingestão de água e alimentos, diminuição da
produção de leite e do metabolismo basal (MELO et al., 2016). De acordo com um estudo
realizado por Fonseca et al. (2016), caprinos criados em regiões de clima tropical,
apresentam uma diminuição na produção de leite, associado a diminuição de alguns de
seus componentes, como sólidos totais e gordura. Em um estudo experimental realizado
por Jodar et al. (2018), com cabras leiteiras sob condição de estresse térmico crônico, foi
possível observar que a produção de leite, correção de gordura, gordura do leite e a
proteína do leite apresentaram uma diminuição de 8,15,12 e 13% respectivamente. Sendo
atribuído como causa a diminuição do consumo de ração, tendo efeito direto na glândula
mamaria.O estresse calórico é capaz de alterar a composição do leite, apresentando
redução nos teores de gordura, cálcio,proteína lactose, ácido cítrico e potássio. Os níveis
de sólidos totais (ST) do leite apresentam uma variação sazonal anual, na qual se eleva
durante o período de frio e decresce na época de calor e chuva. (MELO et al., 2016).
Ainda o mesmo relata que os sólidos não-gordurosos apresentam uma diminuição durante
os meses quentes, tendo como causa principal à variação no conteúdo proteico do leite.

Resposta imunológica

As células de defesa(leucócitos), é um grupo de diversos tipos de células


responsáveis executar a resposta imunológica do corpo. As células de defesa se originam
de células-tronco hematopoiéticas que se diferenciam em diversos tipos de células
funcionais (Jodar et al.,2018).O estresse térmico tem ação prejudicial ao funcionamento
imunológico, tendo como consequência o aumento da suscetibilidade de adquirir doenças.
Jodar et al. (2018) explica esse fato, relatando que animais sob condições de estresse
apresentam claramente uma menor capacidade de migração de leucócitos em sua
circulação. O sistema imunológico, em geral é dividido em duas categorias: imunidade
inata e imunidade adaptativa. Dentre os componentes da defesa inata podemos citar a
barreira física da pele e epitélios mucosos, leucócitos (macrófagos, neutrófilos e células
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naturais assassinas), células não imunes (células epiteliais e endoteliais) e certos


mediadores solúveis (citocinas, eicosanóides e proteínas de fase aguda). Sendo a
inflamação uma das primeiras respostas de defesa do organismo (Sarangi, 2018). O autor
supracitado ainda relata que, em resposta a condições de estresse, tem o estimulo do eixo
hipotálamo-hipófise, que por sua vez estimula a produção de catecolamina e
glicocorticoides. A síntese de citocinas e a modulação do estresse ocorrem devido à
produção de interleucinas. Elas possuem ação local, modulando a resposta imune e
açãosistêmica, que é capaz de mudar o comportamento, o metabolismo e a secreção
neuroendócrina.O estresse por calor é responsável por induzir resposta inflamatória, na
qual foi confirmado pelo aumento TNF-α e IL-6. Animais submetidos a estresse térmico
760
apresenta o sistema mononuclear fagocitário deficiente, devido a atovação alterada do
PPARγ que inibe a expressão de genes pró-inflamatórios e também ativa arginases (Jodar
et al., 2018).

CONCLUSÕES

Apesar dos caprinos serem considerados animais com características rusticas e


homeotérmicos, altas temperaturas podem culminar em uma diversidade de prejuízos no
desempenho produtivo e reprodutivo desses animais, alterando alguns parâmetros
fisiológicos, reprodutivos, hematológicos bioquímicos , produtivo e hormonalÉ de suma
importância dar atenção as característicasambientais em que o animal vive, pois são essas
que sãoresponsáveispor propiciar condições para que o animal expresse todo o seu
potencial genético. Eter oconhecimento do comportamento e das diferentes respostas
fisiológicas que o animal apresenta em situação de estresse calórico, é um fator crucial
para avaliar o seu desempenho adaptativo no ambiente.

REFERÊNCIAS

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de caprinos na Região Nordeste brasileira. Embrapa Meio-Norte-Artigo em periódico
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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 69

EFEITOS ECOTOXICOLÓGICOS DE SOLOS EM PASTAGEM


CULTIVADA, NATIVA E CULTURA ANUAL NO SUL DO BRASIL
AZEVEDO, Amanda Rampelotto de
Acadêmica em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Santa Maria- Campus Cachoeira do Sul
amanda-azv@hotmail.com

CORONAS, Mariana Vieira


Professora Adjunta da Universidade Federal de Santa Maria, Campus Cachoeira do Sul
mariana.coronas@ufsm.br
762

RESUMO

O objetivo do projeto foi avaliar os efeitos nas propriedades ecotoxicológicas de solos


sob pastagem cultivada, nativa e cultura anual pelo ensaio de germinação nas espécies
vegetais alface (Lactuca sativa) e rúcula (Eruca sativa). O efeito ecotoxicológico nas
espécies vegetais foi avaliado através da exposição aguda de sementes de Lactuca sativa
e Eruca sativa semeados diretamente no solo. Foram avaliados os IG (índices de
germinação), GRS (germinação relativa de sementes), CRR (crescimento relativo da
radícula), IGN (índice de porcentagem de germinação residual normalizado), IER (índice
de porcentagem de alongamento radical residual normalizado) e o desenvolvimento de
raiz e do hipocótilo. Os solos de pastagem cultivada, nativa e cultura anual apresentaram
nível de toxicidade baixa quando considerado o crescimento de radícula e hipocótilo
como fator indicativo. Efeito de hormese foi observado no crescimento de algumas
sementes. A resposta desse estudo indica que análises complementares utilizando outros
testes ecotoxicológicos e/ou outros organismos devem ser realizados para que assim,
possamos entender o impacto nos ecossistemas frente as práticas de manejo.

PALAVRAS-CHAVE: Bioensaios; Ensaio de germinação; Espécies vegetais.

INTRODUÇÃO

No Brasil cerca de 45% da utilização do total de terras é destinado a ocupação de


pastagens, um total de 160 milhões de hectares. A área total de pastagens no estado do
Rio Grande do Sul corresponde a 9 milhões de hectares, ou seja, 42% da utilização de
terras (IBGE, 2017). A área total de pastagens nativas é de 7 milhões de hectares,
dominando a área total de pastagens do estado (IBGE, 2017).
As pastagens nativas no Rio Grande do Sul, além de apresentar grande valor
ecológico, também possui potencial e importância nutricional na pecuária. O Rio Grande
do Sul é o segundo maior produtor de ovinos e sexto maior produtor de bovinos do país,
sendo os municípios de Alegrete e Santana do Livramento os maiores produtores de
ovinos e bovinos, respectivamente (IBGE, 2017).
2021 Gepra Editora Barros et al.

A expansão agrícola com a introdução de espécies não nativas, especialmente pela


crescente demanda para a produção de celulose vem atuando diretamente na redução de
espaço territorial das pastagens. Nos últimos 11 anos houve uma redução no território
total de pastagens nativas no Rio Grande do Sul de 748,7 mil hectares (IBGE, 2017). Os
campos naturais que dão forma ao bioma Pampa, no Brasil restrito ao Rio Grande do Sul
ocupando em torno de 60% do seu território, apresentam grande importância na
conservação dos ecossistemas e papel fundamental na segurança ambiental (PEREIRA,
2014).
Práticas incorretas de manejo e estresse ambiental são fatores que também podem
levar a redução das pastagens através da degradação (PERON, 2004). E segundo Macedo
763
et al. (2013), a degradação das pastagens leva a degradação dos solos, altera suas
propriedades originais, dificulta a entrada e movimento da água dentro das partículas,
causa erosão e assoreamento dos rios.
Para que um ecossistema fique próximo das condições originais é necessário
organismos edáficos para realizar a manutenção das propriedades do solo participando na
recuperação de áreas degradadas (NIVA; BROWN, 2019). Nesse contexto, os ensaios
ecotoxicológicos podem servir como avaliação da segurança ambiental por mudanças no
uso do solo associadas a causas acidentais ou a práticas incorretas, como a utilização de
produtos químicos em excesso (MAGALHÃES; FERRÃO FILHO, 2008). Assim, os
bioensaios são ferramentas sensíveis também na avaliação do potencial de toxicidade de
contaminantes e sua biodisponibilidade no ambiente (LOUREIRO; SOARES;
NOGUEIRA, 2005). A dormência da semente é uma propriedade fundamental que define
as condições ambientais ideais para a sua germinação. Além das propriedades água,
oxigênio e temperatura adequada, a semente também pode ser sensível a outros fatores,
como luz e nitrato (FINCH-SAVAGE; LEUBNER-METZGER, 2006). Porém, alguns
compostos mesmo quando aplicados em baixas concentrações podem causar inibição ou
retardamento da germinação de plantas, afetando diretamente o sistema biológico de
espécies vegetais, o que indica a sensibilidade e recomendação desse ensaio para níveis
mais baixos de compostos (SOBRERO; RONCO, 2004). Estudos avaliando o efeito da
aplicação de Glifosato na concentração de 4 mg.L-1 mostraram efeito tóxico nas sementes
de alface (Lactuca sativa) e concentração acima de 12 mg.L-1 resultaram em efeito tóxico
em sementes de coentro (Coriandrum sativum) (NASCIMENTO et al., 2009).
A partir disso, o objetivo do projeto foi avaliar os efeitos nas propriedades
ecotoxicológicas de solos sob pastagem cultivada, nativa e cultura anual pelo ensaio de
germinação nas espécies vegetais alface (Lactuca sativa) e rúcula (Eruca sativa),
comparando esses solos sob diferentes sistemas produtivos.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O trabalho foi realizado em área rural localizada no munícipio de Cachoeira do Sul,


Rio Grande do Sul. A cidade de Cachoeira do Sul, reconhecida por ser um dos maiores
produtores de arroz do Estado do Rio Grande do Sul, já teve 80 mil hectares destinados a
2021 Gepra Editora Barros et al.

produção dessa cultura (CONAB, 2015). Atualmente está em 7º lugar no ranking na


produção de soja do RS (IBGE, 2017), além da produção de milho e possui cabanhas
tradicionais (locais dedicados à criação de gado). Segundo os dados do Censo
Agropecuário do IBGE (2017) o município conta com produção de 137.237 cabeças de
bovinos em 1.879 estabelecimentos e 33.006 ovinos em 654 estabelecimentos em
Cachoeira do Sul. Em território ocupado por forrageiras, o município possui uma área
predominante de pastagens naturais de 90.126,000 ha em 2.142 estabelecimentos (IBGE,
2017). Áreas plantadas em boas condições correspondem a 23.734,000 ha em 492
estabelecimentos e em más condições 238,5 ha em 35 estabelecimentos (IBGE, 2017). A
propriedade rural onde foi realizado a coleta das amostras destina-se a produção de
764
bovinos e ovinos com solos agrícolas decorrente da utilização como pastagens cultivadas,
nativas e cultura anual, práticas predominantes do Bioma Pampa no Rio Grande do Sul.

Coleta das amostras

O solo coletado na região é classificado como Argissolo vermelho-escuro (IBGE,


2019). As amostras de solo foram coletadas em áreas de pastagem cultivada, há mais de
10 anos, ambas destinadas a criação de bovinos e ovinos, área de pastagem nativa (campo
nativo) e uma área de produção de culturas anuais de verão e inverno, como soja e milho,
aveia e azevém. Os três sistemas estão localizados em áreas adjacentes da mesma
propriedade. Em cada sistema foram amostrados nove pontos na profundidade de 0 – 20
cm. As amostras foram agrupadas, formando uma amostra composta, homogeneizadas,
secas a temperatura ambiente e, após, mantidas em refrigeração até a realização do ensaio.
Antes de serem utilizados nos bioensaios, os solos foram submetidos ao processo de
desfaunagem (PESARO et al., 2003), que consistem em dois ciclos de congelamento por
48h, seguidos por descongelamento e após o descongelamento, as amostras foram
peneirados.

Ensaio de germinação

O efeito ecotoxicológico na espécie vegetal foi avaliado através da exposição aguda


de sementes de Lactuca sativa e Eruca sativa semeados diretamente no solo baseados nas
metodologias descritas por Morales et al. (2004). As amostras foram testadas em
triplicatas. Foram utilizados copos plásticos, cada um contendo 25 g de solo, 4,0 ml de
água destilada e 10 sementes. Os recipientes testes foram cobertos com filme plástico
para não perder umidade e incubados por 120h ao abrigo da luz. Foram realizados em
placa Petri controles negativos e controle positivo (sulfato de zinco a 1%), sendo utilizado
papel Parafilm® somente para o selamento das placas, evitando a dessecação da amostra.
Os demais procedimentos seguiram como descrito para avaliação diretamente no solo.
Ao final do período de incubação foram avaliados a porcentagem dos índices de
germinação (IG), germinação relativa de sementes (GRS), crescimento relativo da
radícula (CRR), índice de porcentagem de germinação residual normalizado (IGN),
índice de porcentagem de alongamento radical residual normalizado (IER),
2021 Gepra Editora Barros et al.

desenvolvimento de raiz e do hipocótilo (CRUZ et al., 2013; LAPA, 2014; LELES, 2017;
LOPES, 2014).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Análise dos solos

As análises físico-químicas dos solos avaliados foram realizadas no Laboratório de


Análise de Solos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e são apresentados na
Tabela 1. A textura do solo (areia silte e argila) dado em % em pastagem nativa é de (60- 765
14-26), pastagem cultivada (49-23-28) e cultura anual (56-27-17) (GOERGEN, 2020).

Tabela 1. Parâmetros físico-químicas dos solos avaliados sob diferentes sistemas de produção em
Cachoeira do Sul (RS)
Parâmetro Pastagem nativa Pastagem cultivada Cultura anual
pH H2O 4,80 5,50 5,70
Matéria orgânica (%) 2,40 2,60 2,80
P (mg/dm³) 26,40 21,30 12,60
K (mg/dm³) 160,00 148,00 96,00
Ca (cmolc/dm³) 2,06 4,70 5,24
Mg (cmolc/dm³) 1,22 2,24 2,47

As áreas de cultura anual e pastagem cultivada recebem, conforme necessidade,


correção de base preparatória antes do cultivo. Assim, os altos teores de Ca e Mg presente
nas camadas superficiais desses solos podem estar relacionados a combinações de adubo,
resultado também observado por Dalla Nora et al. (2014). Ainda, a área de cultura anual,
recebeu dois anos antes da coleta cama de aviário como adubo orgânico. Na área de
campo nativo, não é feito qualquer tipo de manejo no solo. Os três solos amostrados são
similares em estrutura e teor de matéria orgânica. É evidente pelas correções e demandas
das culturas que para o solo de pastagem cultivada e cultura anual os valores encontrados
para fósforo e potássio decrescem quando comparado ao solo de pastagem nativa. Isso
está relacionado ao fato de que o potássio é elemento fundamental para os processos
químicos da planta, responsável nos processos enzimáticos, de síntese e transporte de óleo
para as sementes (ZAMBIAZZI et al., 2017). Além disso, a adubação fosfatada e
potássica em leguminosas contribui na germinação das sementes e produtividade da
cultura (BATISTELLA FILHO et al., 2013). Os valores de pH diferem nos três solos
amostrados com valores de 4,8, 5,5 e 5,7 para pastagem nativa, cultivada e cultura anual,
respectivamente. Conforme Barreto et al. (2006) valores baixos de pH em solos com
vegetação nativa podem estar associados a mineralização da matéria orgânica e aumento
da liberação pelas raízes de plantas de exsudação de ácidos orgânicos. Também, valores
altos encontrados em solos cultiváveis podem significar o uso agrícola inadequado dos
solos, erosão e exposição de solos profundos, de baixa fertilidade e solos ácidos (DE
SOUSA; DE MIRANDA; DE OLIVEIRA, 2007).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Ensaio de germinação Lactuca sativa e Eruca sativa

Nas Tabela 2 e Tabela 3 são apresentadas as respostas do ensaio de germinação


para as espécies Lactuca sativa e Eruca sativa, apresentando a média, desvio padrão e
porcentagem de inibição do crescimento. Os ensaios foram realizados em solo de
pastagem cultiva, nativa e cultura anual, testando a presença de contaminantes e/ou os
efeitos das ações antrópica. Após um período de 120 horas as sementes são retiradas da
germinadora para realização da contagem de sementes germinadas e para medição do
hipocótilo e radícula das plantas germinadas. Para a cultura da alface considera-se
sementes germinadas aquelas que apresentam radícula com comprimento maior que 1 766
mm (ROMERO et al., 2014) e 2 mm para a cultura da rúcula (DA SILVA et al., 2014).

Tabela 2. Alongamento de raiz em ensaio de toxicidade com sementes de Lactuca sativa e Eruca sativa
em solo de pastagem cultivada, nativa e cultura anual
Alface1 Rúcula2

Comprimento Comprimento Inibição da


Inibição da
Amostra da radícula Desvio da radícula Desvio radícula
radícula (%)
(mm) padrão (mm) padrão (%)
Controle 8,07 17,53 7,56 -
18,94 -
Negativo
Pastagem Nativa 13,18 3,92 30,20 15,39 8,18 12,00
Pastagem 7,79 12,37 5,64 29,10
15,30 19,00
Cultivada
Cultura Anual 19,72 6,96 -4,20 16,31 8,39 6,80
Controle 6,42 18,44 11,90 -5,10
9,18 51,40
Positivo
1 2
Lactuca sativa, Eruca sativa.

Conforme a Tabela 2 é possível observar que o comprimento médio de radícula no


alface aumentou no solo de cultura anual quando comparado aos solos de pastagem nativa
e pastagem cultivada. Ao comparar ao controle negativo as sementes no solo de pastagem
nativa apresentaram 30,2% de inibição da radícula. Já as sementes no solo de cultura
anual não obtiveram inibição.

Tabela 3. Alongamento de hipocótilo em ensaio de toxicidade com sementes de Lactuca sativa e Eruca
sativa em solo de pastagem cultivada, nativa e cultura anual
Alface1 Rúcula2

Amostra
2021 Gepra Editora Barros et al.

Comprimento Desvio Inibição do Comprimento Desvio Inibição do


do hipocótilo padrão hipocótilo do hipocótilo padrão hipocótilo
(mm) (%) (mm) (%)
Controle 11,24 51,24 19,29 -
34,08 -
Negativo
Pastagem 8,44 35,40 14,22 30,80
39,80 -16,70
Nativa
Pastagem 11,50 45,83 16,20 10,50
40,45 -18,50
Cultivada
Cultura Anual 36,05
767
13,29 -5,90 45,61 18,44 10,90
Controle 9,44 41,03 17,54 19,90
21,60 36,70
Positivo
1
Lactuca sativa; 2 Eruca sativa.

Os dados de germinação de alface apresentaram a maior inibição no alongamento


de radícula na amostra de pastagem nativo. Nas amostras de pastagem nativa, se observou
maior inibição do alongamento da radícula (29,1%), mas para o hipocótilo houve um
aumento nas sementes de rúcula comparado ao controle. Ao comparar os valores da
Tabela 2 e Tabela 3 é possível perceber que os comprimentos médios dos hipocótilos são
maiores que das radículas para ambas as culturas. Resultado inverso foi constatado por
Leles (2017) para alface (Lactuca sativa). Segundo a autora supracitada quando o
comprimento médios dos hipocótilos são maiores que das radículas podem indicar
estímulo a algum contaminante, ao invés de causar o efeito de inibição. Conforme
Rodrigues et al. (2013), os estímulos podem estar relacionados ao contaminante ou outras
partículas presentes, ou também indicar um efeito falso negativo que é o resultado da
disponibilização química de nutrientes adsorvidos na matéria orgânica do sedimento.
Tanto nos ensaios realizados com a alface quanto com a rúcula foram encontrados valores
altos para desvio padrão, resposta encontrada também por Leles (2017) para a cultura da
cebola (Allium cepa). Em solos de pastagem nativa a porcentagem de inibição da radícula
para a rúcula foi a maior nas amostras testadas, sendo de 30,8%. Esse efeito pode estar
relacionado a dormência de sementes de plantas invasoras presentes no bioma pampa,
como, o alecrim-do-campo, causando a alelopatia de outras plantas. Foi constatado por
Gusman, Bittencourt e Vestena (2008) efeitos alelopáticos no crescimento inicial da
plântula de plantas causados por extratos aquosos de folhas secas de alecrim-do-campo.
Conforme Ferreira e Borghetti (2004) as etapas de germinação e desenvolvimento da
plântula são sensíveis e podem comprometer o ciclo de vida da espécie vegetal.
Além das medições do hipocótilo e da radícula das plantas germinadas também
foram avaliados a porcentagem dos IG, GRS, CRR, IGN, IER e o desenvolvimento de
raiz e do hipocótilo (Tabela 4 e Tabela 5). Segundo Bagur-González et al. (2011), os
índices IGN e IER indicam o nível de toxicidade, sendo às categorias:
 0 à -0,25: Toxicidade baixa;
 -0,25 à -0,5: Toxicidade moderada;
 -0,5 à -0,75: Toxicidade alta;
2021 Gepra Editora Barros et al.

 -0,75 à -1,0: Toxicidade muito alta;


 Maior que 0: Hormese.

Tabela 4. Porcentagem dos indicativos avaliados para sementes de Lactuca sativa


Amostra Gerrminação GRS (%)1 CRR IG (%)3 IGN (%)4 IER (%)5
(%) (%)2
Controle Negativo 90,00 100,00 100,00 100,00 0,00 0,00
Pastagem Nativa 83,33 92,59 69,63 64,47 -0,07 -0,30
Pastagem Cultivada 96,66 107,41 80,74 86,72 0,07 -0,19 768
Cultura Anual 93,33 103,70 104,10 107,96 0,03 0,04
Controle Positivo 80,00 88,89 48,48 43,10 -0,11
1
GRS: Germinação relativa de sementes; CRR: Crescimento relativo da radícula; 3CRR:
2

Crescimento relativo da radícula; 4IG: Índice de germinação; 5IGN: Índice de porcentagem de


germinação residual normalizado; 6IER: Índice de porcentagem de alongamento radical residual
normalizado.

Tabela 5. Porcentagem dos indicativos avaliados para sementes de Eruca sativa


Amostra Germinação GRS (%) CRR (%) IG (%) IGN (%) IER (%)
(%)
Controle Negativo 96,66 100,00 100,00 100,00 0,00 0,00
Pastagem Nativa 100,00 103,44 87,75 90,78 0,03 -0,12
P. Cultivada 96,66 100,00 70,54 70,54 0 -0,29
Cultura Anual 86,66 89,65 93,02 83,40 -0,10 -0,06
Controle Positivo 100,00 103,44 105,20 108,82 0,03
1
GRS: Germinação relativa de sementes; 2CRR: Crescimento relativo da radícula; 3CRR:
Crescimento relativo da radícula; 4IG: Índice de germinação; 5IGN: Índice de porcentagem de
germinação residual normalizado; 6IER: Índice de porcentagem de alongamento radical residual
normalizado.

Na Tabela 4 para as sementes de alface (Figura 1) os resultados de IGN variam


entre -0,11 a 0,03 indicando toxicidade baixa para solos de pastagem nativa e para os
solos de pastagem cultivada e da cultura anual os resultados indicam hormese. Os
resultados do IER variam entre -0,30 a 0,04 indicando toxicidade moderada para solos de
pastagem nativa e cultivada e novamente hormese para solos de cultura anual, indicando
baixas doses de contaminante presente no solo testado. Os contaminantes podem causar
ação estimulante na germinação, como foi observado no GRS, contudo, também podem
inibir fortemente a radícula, como observado no CRR nos solos de pastagens, em especial
na pastagem cultivada. Essa ação pode ser influenciada pela quantidade e intensidade da
concentração desses contaminantes (AOKI et al., 1997). Chapman (2001) defini a
hormese como efeito estimulante que ocorre na presença de substâncias, que quando
aplicada em alta concentrações causa efeito negativo, seja por inibição de crescimento e
de reprodução e quando aplicada em baixa concentrações causa efeito positivo, seja por
estimulação do crescimento e reprodução de plantas. Essa substância também pode causar
2021 Gepra Editora Barros et al.

uma resposta adaptativa no organismo exposto, descrito como um comportamento


bifásico de dose-resposta (CALABRESE; BALDWIN, 2003). Ação estimulante aos
contaminantes são indicadas por aumento dos valores no GRS e a redução dos valores no
CRR indicam inibição da radícula. Essa ação conjunta foi observada nas amostras de
pastagem cultivada no ensaio com alface (Tabela 4) e na pastagem nativa no ensaio com
rúcula (Tabela 5). Leles (2017) encontrou valores altos para GRS, em estudo conduzido
analisando diferentes concentrações de efluente têxtil nas espécies vegetais Lactuca
sativa e Allium cepa. E assim como observado por Leles (2017) houve presença de partes
vegetais necrosadas e enrolamento de radícula, indicativo de toxicidade nos solos
estudados. O surgimento de necrose e anomalias em plantas pode representar efeitos
769
causado por substâncias alelopáticas (FERREIRA; ÁQUILA, 2000) ou também por
compostos químicos presentes no ambiente (NUNES; ARAÚJO, 2000). Ambas as
culturas mostraram ser sensíveis aos solos analisados, estes resultados corroboram com
Lapa (2014), para a cultura da rúcula, que relaciona a sensibilidade e proteção da semente
ao seu tamanho.

Figura 1. Sementes germinadas de Lactuca sativa em solos de pastagem cultiva, nativa e cultura anual.

Fonte: Autor.

CONCLUSÕES

A exposição aguda das sementes das espécies Lactuca sativa e Eruca sativa
mostrou ser sensível aos diferentes solos analisados. Os solos de pastagem cultivada,
nativa e cultura anual não apresentaram potencial de toxicidade quando considerado a
germinação como fator indicativo, mas quando considerado o crescimento de radícula e
hipocótilo foi observado potencial de toxicidade baixo para os sistemas produtivos
avaliados. A resposta desse estudo indica que análises complementares utilizando outros
testes ecotoxicológicos e outros organismos devem ser realizados para que assim,
2021 Gepra Editora Barros et al.

possamos entender o impacto nos ecossistemas frente às práticas de manejo. Dessa forma
podemos promover a preservação seus elementos e processos fundamentais para garantir
a sua capacidade produtiva, manutenção da ciclagem dos elementos e sustentabilidade
para o presente e futuro da humanidade.

AGRADECIMENTOS

Esse trabalho contou com o auxílio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico


e Tecnológico – CNPq (Processo: 409736/2016–3) e do Fundo de Incentivo à
Pesquisa/UFSM (FIPE – Sênior/UFSM – 2018 – projeto 047062).
770

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 70

ELABORAÇÃO DE FLUXOGRAMAS DOS PRODUTOS


PRODUZIDOS EM INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS NO SERTÃO DA
PARAÍBA
EVANGELISTA, Maria Ester Maia
Graduando em Engenharia de alimentos
Universidade Federal de Campina Grande
estermaiamaiatm@hotmail.com

SOUZA, Thamirys de Luna


Graduando em Engenharia de alimentos 774
Universidade Federal de Campina Grande
thamirys_luna@hotmail.com

LIMA, Maria Eduarda Paz de


Graduando em Engenharia de alimentos
Universidade Federal de Campina Grande
dudespqs@gmail.com

FERNANDES, Amanda Sonalle


Graduando em Engenharia de alimentos
Universidade Federal de Campina Grande
amanda_sonalle@hotmail.com

GONÇALVES, Mônica Correia


Professora do Curso de Engenharia de Alimentos
Universidade Federal de Campina Grande
monica.coreia@professor.ufcg.edu.br

RESUMO

A cadeia produtiva leiteira é um ramo da agricultura que desenvolve um importante


segmento do agronegócio brasileiro. Dentro da indústria de laticínios, o leite sofre
diversas alterações e emprego de tecnologias para o seu beneficiamento, ações que são
de grande importância para a entrega de um derivado lácteo de qualidade. Diversas são
as etapas do processo de fabricação de derivados lácteos, para garantir o bom
funcionamento da cadeia produtiva, é necessário o emprego de ferramentas do controle
de qualidade, a exemplo a elaboração e aplicação de fluxogramas para cada tipo de
alimento, visando diminuir o risco de contaminação e erros durante o processamento,
além de padronizar o fluxo de produção. Diante disso, este trabalho teve como finalidade
aplicar uma ferramenta do controle de qualidade que foi a elaboração de fluxogramas de
produtos derivados do leite, como uma forma de melhorar as etapas do processamento
dos produtos em uma indústria de laticínios. Para isto foi feita uma revisão teórica junto
à indústria de laticínios sobre com os produtos elaborados na cooperativa juntamente com
o uso do fluxograma como ferramenta de controle de qualidade. Os fluxogramas de
fabricação foram elaborados para os produtos leite pasteurizado, bebida láctea, queijo
Muçarela e queijo Coalho. Com a construção dos fluxogramas foi possível de forma
simples e ordenada observar todos os passos do processo, o que facilitará a identificar
possíveis causas de problemas que venham a surgir, garantindo uma maior segurança as
organizações e aos consumidores, evitando e diminuindo riscos e prejuízos.

PALAVRAS-CHAVE: Ferramenta, derivados lácteos, qualidade.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

A cadeia produtiva leiteira é um ramo da agricultura que desenvolve um


importante segmento do agronegócio brasileiro e é fundamental para garantir à população
a segurança alimentar (WERNCKE, 2016) visando garantir à população acesso a
alimentação saudável e suficiente para satisfazer as necessidades alimentares garantindo
uma vida ativa e saudável.
Segundo o RIISPOA (2017), o leite é definido como o produto oriundo da ordenha
completa, ininterrupta, em condições de higiene, de vacas sadias, bem alimentadas e
descansadas. O leite é considerado um alimento completo, tem um alto valor nutritivo,
que fornecem ao homem, nutrientes para o desenvolvimento e manutenção da vida 775
(CAMPOS et al., 2016). Em 2017, segundo o IBGE, a produção de leite no Brasil foi de
33,8 bilhões de litros.
Na indústria de laticínios, o leite sofre o beneficiamento para a fabricação de
diversos derivados, que assim como a matéria-prima apresentam um alto valor nutritivo.
No beneficiamento o leite passa por diversas etapas até obter produtos como queijos,
iogurtes e bebidas lácteas.
Leite e seus derivados são alimentos que fazem parte da dieta da população
diariamente e que apresentam uma boa aceitabilidade. A qualidade do leite e derivados é
percebida pelo consumidor através de características visuais, de sabor, odor e composição
nutricional enquanto que para a indústria, diz respeito tanto as características nutricionais,
como o peso adequado, bem como, e fundamentalmente, sua segurança quanto a
contaminantes físicos, químicos e biológicos (MEDEIROS, 2018).
Durante o processo na indústria de laticínios o leite e seus derivados passam por
várias etapas, que envolvem manipuladores e máquinas, seu elevado valor nutritivo torna
seus derivados um excelente meio para o desenvolvimento de patógenos associados às
doenças de origem alimentar (GUILHERME; ESTEVES, 2017)
Devido ao processo de mudanças e inovações tecnológicas, o mercado atual está
mais competitivo e as organizações se viram obrigadas a adotarem novas práticas para
atenderem as exigências e as expectativas dos clientes com relação ao produto, que estão
cada vez mais exigentes, tanto no que diz respeito à segurança do alimento quanto a
satisfação em consumir um alimento que atenda as características sensorial e nutricionais
esperadas.
Para atender as expectativas e se manter no mercado, a indústria de alimentos
necessita garantir a qualidade do alimento em todas as etapas da cadeia produtiva, para
satisfazer às exigências dos clientes (BARBOZA et al., 2017). A implementação de
ferramentas de controle de qualidade, tem como objetivo garantir a qualidade do produto,
possibilitando uma melhoria de forma contínua aumentando a demanda de seus produtos
e colocando a empresa em posição de destaque para os consumidores (LUIZ et al., 2016).
As ferramentas da qualidade são de grande importância, pois auxiliam no dia a dia
organizacional dando suporte para que ocorra o melhoramento constante dos
procedimentos, sua utilização é importante e necessária, promovendo o controle dos
processos, auxiliando na tomada de decisões e no aumento da qualidade (KIRCOV et al.,
2016).
2021 Gepra Editora Barros et al.

O fluxograma é uma técnica que fornece na sua aplicação, uma maior adequação
a realidade da empresa, uma ferramenta que oferece as informações necessárias para o
tipo de trabalho realizado, ou seja, a ordenação de tarefas e as paradas para decisão e para
espera (AZEVEDO,2016). A elaboração de um fluxograma é realizada por meio de uma
sequência gráfica simples, através da utilização de figuras geométricas, que mantêm um
padrão possível para todas as pessoas entenderem, e essas figuras são ligadas por setas
que demonstram a sequência das ações (SOUZA et al., 2016; ANJOS, 2020).
MELLO (2008) e AZEVEDO (2016) enumeraram diversas vantagens na utilização
do fluxograma, dentre elas, permitir verificar como se conectam e relacionam os
componentes de um sistema, analisar facilmente a eficácia do processo, observas as
776
possíveis deficiências do processo, e localizar em que etapas elas acontecem ou venham
a acontecer, permitir fácil visualização dos passos, transportes, operações e formulários e
propiciar o entendimento de qualquer alteração que se proponha nos sistemas existentes
pela clara visualização das modificações introduzidas.
Objetivou-se com esse trabalho, a elaboração e aplicação da ferramenta de
qualidade, fluxogramas de produção dos derivados do leite produzidos na indústria
localizada no sertão paraibano, como uma forma de melhorar as etapas do processamento
dos produtos através da padronização da produção.

MATERIAL E MÉTODOS

Esta pesquisa foi realizada em uma indústria de laticínios situada no município de


Catolé do Rocha, cidade localizada no sertão da Paraíba. A indústria é responsável pelo
processamento de aproximadamente 4 mil litros de leite por dia oriundos do próprio
município e também municípios vizinhos, tendo em média 117 associados. O leite
recebido é destinado à produção de leite pasteurizado (destinado ao programa de
distribuição de leite a famílias de baixa renda, que é um programa federal que distribui
leite gratuito para famílias cadastradas no programa e que deve seguir critérios
estabelecidos pelo município), queijo Coalho, Muçarela e bebida láctea. A indústria é
considerada de pequeno porte, contando com 6 funcionários, dos quais 4 são responsáveis
pela linha de produção.
Para a elaboração deste trabalho foi realizada visitas in loco à indústria onde
averiguou-se quais os tipos de ferramentas de qualidade eram utilizados pela indústria e
for realizado o acompanhamento das etapas de produção dos produtos leite pasteurizado,
queijo Coalho, Muçarela e bebida láctea.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram acompanhados os procedimentos de todos os produtos produzidos no


laticínio para a elaboração dos fluxogramas, desde a entrada da matéria-prima até o
produto final. Os processos foram desdobrados em sub processos para avaliação de cada
fase da produção. Para um melhor entendimento dos elementos utilizados nos
2021 Gepra Editora Barros et al.

fluxogramas, foram utilizados símbolos com seus respectivos significados (Quadro 1),
sendo utilizados de forma apropriada para cada etapa.

777

Em todos os processamentos, na etapa de recepção do leite in natura, são


realizadas análises, de acordo com a Instrução Normativa Nº 76 de 2018 (Brasil, 2018)
para verificar os requisitos físico-químicos e se ocorreu alguma fraude no leite. As
análises realizadas são a verificação da temperatura, acidez, índice crioscópico,
densidade, gordura, proteína e presença de antibióticos. Caso o leite esteja dentro dos
parâmetros exigidos pela legislação ele segue para a etapa de processamento, caso
contrário é devolvido ao produtor.

Etapas de Fabricação dos produtos


Leite Pasteurizado
No fluxograma descrito (Figura 1), encontram-se as etapas do processamento do
leite pasteurizado. Após a recepção do leite, é realizado teste de acidez e densidade para
garantir que o leite não foi alterado e esteja dentro dos parâmetros para consumo humano.
Depois o leite é filtrado com o objetivo de remover todos os perigos físicos no leite, como
pedras, cabelos, pelos e outros materiais estranhos que não façam parte da composição
do leite, após a filtração é feita a padronização do leite, onde ocorre à retirada parcial da
gordura presente, essa etapa é responsável por deixar o leite com teor de gordura
padronizada de acordo com a legislação vigente, que para leite pasteurizado integral é de
3% (FIGUEREDO et al., 2016).
Após a padronização, o leite passa pelo processo de pasteurização rápida, em que
o leite é submetido ao aquecimento a 77 °C por 15 segundos. A pasteurização é um
tratamento térmico que tem como principal objetivo eliminar micro-organismos
patogênicos e reduzir o número de deterioradores, seguido de resfriamento, aumentando
assim a vida útil do leite e seus derivados, sem alteração sensível da sua composição
nutricional e sensorial (MONTEIRO et al.,2014).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Após o tratamento térmico, o leite pasteurizado é envasado em embalagem


adequada de polietileno com capacidade para 1L de leite. Após o envase o leite é
armazenado em câmaras de refrigeração a 2° C, com acompanhamento da temperatura,
para garantir o armazenamento adequado do produto. A temperatura adequada, tanto no
armazenamento como na distribuição, é um dos fatores que podem contribuir para a
garantia da manutenção da qualidade e segurança dos alimentos (MONTEIRO et
al.,2014).

Figura 1: Fluxograma do processamento de leite pasteurizado

778

Fonte: Autoria própria (2019)

Bebida Láctea
No fluxograma de processamento da bebida láctea (Figura 2) após a recepção, o
leite foi pasteurizado a 77 ºC por 15 segundos. O leite e o soro são colocados no
equipamento iogurteira, a quantidade de leite utilizado não é um valor fixo, depende da
quantidade de leite recebido e que esteja à disposição. Para a produção de 100L de leite
são adicionados 10kg de açúcar, 1,6kg de amido modificado, 100g de sorbato e 2g de
fermento são feitos os cálculos dos ingredientes usados na formulação de acordo com a
quantidade de leite. Após a mistura a formulação segue para a fermentação por 5h a
5h30min. Posteriormente, é adicionado 50 mL de corante carmin de cochonilha, para cada
100 litros de leite na formulação do iogurte sabor morango e 50 mL de corante urucum
2021 Gepra Editora Barros et al.

para o iogurte sabor salada de frutas. Por fim, os iogurtes são envasados em sacos de
polietileno e armazenados sob refrigeração.

Figura 2: Fluxograma de processamento das bebidas lácteas

779

Fonte: Autoria própria (2019)

Queijo Muçarela

No fluxograma a seguir (Figura 3) , após a recepção, o leite é submetido a


pasteurização a 77 ºC durante 15 segundos, e resfriamento a 37ºC. Depois é adicionado
2g de fermento para cada 100 L de leite deixando a massa em repouso por 30 minutos
2021 Gepra Editora Barros et al.

para coagular. Após a coagulação é realizado cortes de forma horizontal e vertical na


massa que é submetida ao cozimento com agitação até a temperatura de 42ºC, o corte tem
como principal função provocar a contração da matriz de paracaseina e promover a
expulsão da fase aquosa presente no gel (SILVA,2016), em seguida, a massa permanece
em repouso para a acidificação por 2h/2h30min até que atinja o pH ideal para a filagem.
Após atingir o valor ideal ( pH = 5,2) o processo de filagem é realizado manualmente,
cortando a massa em pedaços pequenos e adicionando em água a 85ºC para filar a massa,
apresentando uma textura alongada. Depois da filagem o queijo Muçarela e imerso em
salmoura e armazenado na câmara fria durante 4 a 5 dias. Os queijos são embalados à
vácuo em plásticos de polietileno e armazenados sob refrigeração.
780
As fases de fermentação, filagem e a maturação do queijo Muçarela, são etapas
importantes, visto que são responsáveis pela caracterização final do queijo (SILVA,
2016).
Figura 3: Fluxograma do processamento do queijo Muçarela

Fonte: Autoria própria (2019)


2021 Gepra Editora Barros et al.

Queijo Coalho

No processamento de queijo Coalho (Figura 4) , após a recepção do leite e


realização das análises de qualidade, o leite é pasteurizado a 77ºC durante 15 segundos.
O coagulante é adicionado ao leite a 37 C°, cloreto de cálcio é adicionado deixando a
massa em repouso por 30 minutos para coagular. Após a dessoragem, a massa é cozida a
55ºC. A enformagem, do queijo Coalho é realizada em formas cilíndricas. Em seguida,
as formas são colocadas em prensas mecânicas por 2 horas e viradas, é removido o
excesso de massa e as formas são colocadas de volta as prensas. Os queijos são
posteriormente armazenados em câmera fria, para a secagem, durante 24 horas. Depois,
são embalados à vácuo em plásticos de polietileno e armazenados a 5ºC. 781

Figura 4. Fluxograma do processamento de queijo Coalho.

Fonte: Autoria própria (2019)

CONCLUSÕES

Observou-se que a aplicação de fluxogramas como uma ferramenta de qualidade,


é um método eficiente, pois mostra de forma simples e ordenada todos os passos de um
processo, o que facilita identificar possíveis causas de problemas que venham a surgir,
2021 Gepra Editora Barros et al.

garantindo a produção padronizada dos produtos e uma maior segurança as organizações


e aos consumidores, evitando e diminuindo riscos e prejuízos.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 71

ELABORAÇÃO E ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE BISCOITO


INTEGRAL TIPO COOKIE ADICIONADOS DE FARINHAS DE
BANANA VERDE E DE COCO
PAULINO, Cláudio Gonçalves
Mestre em Tecnologia de Alimentos (IFCE Campus Limoeiro do Norte)
Professor na Faculdade de Tecnologia CENTEc - Sertão Central
claudio.goncalves@centec.org.br

SILVA, Ângela Maria Soares da


Graduada em Tecnologia de alimentos 784
Faculdade de Tecnologia FATEC Sertão Central
angela.ejovem@gmail.com

BARBOSA, Alba Valéria Oliveira de


Técnica em alimentos e laticínios
IF Sertão Pernambucano
albavobarbosa@gmail.com

LIMA, Natália Duarte de


Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos (CCA/UFC)
Professora da Faculdade de Tecnologia CENTEC - Sertão Central
natalia.lima@centec.org.br

DAMASCENO, Geísa Almeida


Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos (CCA/UFC)
Professora da Faculdade de Tecnologia CENTEC - Sertão Central
geisaad@hotmail.com

RESUMO

Estudos recentes, motivando a busca por alimentos mais saudáveis, evidenciam a relação
entre alimentação e saúde versus segurança alimentar. Como um dos maiores produtores
e consumidores de biscoitos, o Brasil destaca-se ocupando a quarta posição no ranking
mundial. Biscoitos tipo cookies tem sido formulado com a intenção de enriquecê-los com
fibras ou proteínas. O alimento quando processado de maneira correta, seguindo todas as
exigências estabelecidas pela a legislação vigente é considerado seguro. Tendo este
trabalho objetivado desenvolver e avaliar microbiologicamente formulações de biscoito
integral tipo cookie com adição de farinhas de banana verde e farinha de coco. As análises
microbiológicas realizadas foram coliformes totais, coliformes termotolerantes a 45 °C,
bolores e leveduras, estafilococos coagulase positiva, Salmonella sp. e aeróbios
mesófilos. Os resultados revelaram que todas as amostras de biscoito analisadas se
encontravam dentro do máximo permitido por Brasil (2001) para cada um dos
microrganismos avaliados e foram elaboradas segundo as boas práticas de fabricação, não
apresentando riscos à saúde do consumidor.

PALAVRAS-CHAVE: Microbiologia, farináceos, alimento funcional.


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INTRODUÇÃO

Os recentes estudos evidenciam a relação entre alimentação e saúde, motivando a


procura por alimentos mais saudáveis, ricos em nutrientes essenciais que auxiliam no
desenvolvimento e manutenção da saúde (DIAS et al., 2016).
O estilo de vida atual influenciada pelas novas estruturas econômicas e sociais,
reduzem o tempo que seria destinado para elaboração das refeições cotidianas sobretudo
lanches rápidos, dessa forma os consumidores buscam por alternativas práticas e assim,
os produtos de panificação/confeitaria como os biscoitos que destacam nesse cenário pois
trata-se de alimentos práticos e de boa aceitação (LAFIA, 2020).
O Brasil destaca-se como um dos maiores produtores e consumidores de biscoitos, 785
ocupando a quarta posição no ranking mundial, com um volume de vendas estimado em
1,3 toneladas e um consumo per capita/ano estimado em 7,02 kg (ABIMAPI, 2019).
Os biscoitos tipo cookie possuem várias características tecnológicas que
possibilitam a sua produção, tais como baixo custo, preparo fácil, vida de prateleira
estendida, excelente aceitação sensorial, principalmente entre crianças e jovens, sendo
considerado um alimento versátil (BATISTA et al., 2017; BAUMGARTNER et al.,
2018). Em razão de sua versatilidade, cada vez mais formulações estão sendo estudadas
com o objetivo de implementar sua fortificação com fibras, vitaminas e/ou proteína,
devido ao forte apelo nutricional para a ingestão de alimentos mais ricos nesses nutrientes
(DIAS et al., 2016; LIMA, et al., 2019).
Em estudos relacionados a formulações de biscoitos, são utilizadas farinhas de
diferentes fontes vegetais (cereais, oleaginosas e resíduos), com a proposta de agregar
valor tecnológico, comercial e nutricional ao produto, promovendo diversificação nos
produtos disponíveis no mercado (OLIVEIRA; XAVIER; BRAGA, 2018).
A produção de farinha de banana verde, encontra ampla aplicação na indústria de
alimentos, principalmente na elaboração de produtos de panificação, produtos dietéticos
e alimentos infantis, sendo uma fonte de amido resistente e sais minerais, tais como
potássio, cálcio, ferro, magnésio e enxofre. Além dos benefícios nutricionais, a farinha de
banana verde contribui na redução das perdas pós-colheita, aumento do tempo de vida de
prateleira e na agregação de valor à fruta (SILVA et al., 2015).
A farinha de coco, além de ser isenta de glúten, apresenta rica fonte de fibras
alimentares, proteínas, lipídios, cinzas (ferro e cálcio) e carboidratos, além de conter baixa
quantidade de gordura e TCM (triglicerídeo de cadeia média), que estão relacionados com
a melhoria do funcionamento do intestino, redução dos níveis de colesterol ruim e
controle da diabetes (QUEIROZ et al., 2017)
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, na Resolução n° 263, de 22 de
setembro de 2005, define biscoitos ou bolachas como sendo produtos obtidos pela mistura
de farinha (s), amido(s) e/ou fécula(s) com outros ingredientes, submetidos a processos
de amassamento e cocção, fermentados ou não, os quais podem apresentar cobertura,
recheio, formato e textura diversos (BRASIL, 2005).
O alimento quando processado de maneira correta, seguindo todas as exigências
estabelecidas pela a legislação vigente é considerado seguro, ou seja, não possibilita
riscos à saúde do consumidor. No entanto, os alimentos também têm a capacidade de
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veicular doenças por meio de fungos, bactérias, protozoários ou vírus. A maioria dos
surtos estão relacionados com a bactéria Salmonella spp. as variáveis presentes em mais
de 50% dos estudos como, microrganismo, alimento e local de ocorrência também se
encontram presente nas notificações (DA COSTA SILVA et al., 2018).
A contaminação cruzada é definida como a transferência direta ou indireta de
micro-organismos de um alimento contaminado para outro alimento não contaminado.
Essa transferência está baseada em três fatores: uma fonte de contaminação, uma fase
intermediaria (equipamentos, utensílios, manipuladores, etc.) e uma matriz ou alimento,
além disso, pode ser afetada pela concentração do micro-organismo no produto e a
superfície de contato, a composição do alimento e outros fatores como os níveis de
786
umidade, tempo de contato e pressão (RODRIGUEZ, 2015).
Mediante o exposto acima, este trabalho tem como objetivo desenvolver e avaliar
microbiologicamente formulações de biscoito integral tipo cookie com adição de farinhas
de banana verde e farinha de coco.

MATERIAL E MÉTODOS

Material

Para o desenvolvimento das formulações de biscoito tipo cookie, todos os


ingredientes (farinhas de banana verde e de coco, flocos de aveia, flocos de amaranto,
açúcar mascavo, ovos, coco ralado, essência de baunilha, banana passas e uva passas)
foram adquiridos no comércio local da cidade de Quixeramobim - CE.

Desenvolvimento das formulações de biscoito tipo cookie

Para o processo de desenvolvimento dos cookies, seguiu a metodologia descrita por


ZAGO (2014), com modificações. Foram elaboradas três formulações que continham
quantidades fixas de essência de baunilha, fermento químico, flocos de amaranto, banana
passa, uva passa coco ralada, flocos finos de aveia e açúcar mascavo, representadas por
20g, 32g, 60g, 120g, 120g, 120g, 276g e 450g, respectivamente. Variando o quantitativo
das farinhas de banana verde e farinha de coco. O percentual de ovos também variou na
formulação CF1, em virtude da textura das farinhas utilizadas (Tabela 1).

Tabela 1. Concentrações dos ingredientes utilizados nas formulações das amostras de cookies
AMOSTRAS
INGREDIENTES
CF1 CF2 CF3
Farinha de coco - 315 g 157,5 g
Farinha de banana 315 g - 157,5g
Flocos finos de aveia 276 g 276 g 276 g
Flocos de amaranto 60 g 60 g 60 g
Açúcar mascavo 450 g 450 g 450 g
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Banana-passa 120 g 120 g 120 g


Uva-passa 120 g 120 g 120 g
Fermento químico 32 g 32 g 32 g
Coco ralado 120g 120 g 120 g
Ovos 300 g 410 g 410 g
Essência de baunilha 20 g 20 g 20 g
Fonte: O próprio autor.

Onde: CF1 = Cookie com 100% de farinha de banana verde, que corresponde a 315g de
farinha de banana verde utilizada na formulação; 787
CF2 = Cookie com 100% de farinha de coco, que corresponde a 315g de farinha de coco
na formulação;
CF3 = Cookie com 50% de farinha de banana verde, corresponde a 157,5g de farinha de
banana e 50% de farinha de coco, que corresponde a 157,5g de farinha de coco na
formulação.
O processamento das amostras dos biscoitos ocorreu conforme fluxograma a seguir
(Figura 1).

Primeiramente, todos os ingredientes secos foram pesados utilizando-se balança


digital com precisão de um grama e colocados em recipientes de plástico, onde se
adicionou as uvas e as bananas cortadas em pequenos pedaços. Em seguida, foram
adicionados os ovos e a essência de baunilha.
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Os ingredientes foram misturados manualmente até a obtenção de uma massa


homogênea. Posteriormente, procedeu-se a moldagem dos cookies, também manual. Os
biscoitos foram colocados em assadeiras retangulares untadas com margarina e farinha
de trigo e levados para assar em forno elétrico pré-aquecido a 180 ºC por 20 minutos.
Depois de assados, os biscoitos foram embalados em sacos de polietileno e
armazenados em temperatura ambiente, ao abrigo da luz (Figura 2).

Figura 2. Processamento das amostras de biscoito tipo cookies

788

Fonte: O próprio autor. Onde: (A) Pesagem e homogeneização dos ingredientes; (B) Modelagem,
assamento e resfriamento dos biscoitos; (C) Empacotamento dos biscoitos em embalagens plásticas.

Análises microbiológicas dos biscoitos integral tipo cookie

As análises microbiológicas foram realizadas no Laboratório de Microbiologia da


Faculdade de Tecnologia CENTEC - Sertão Central, situada em Quixeramobim - CE e
“obedeceram aos padrões microbiológicos estabelecidos pela Resolução - RDC n. 12 de
2001.” (BRASIL, 2001).
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De acordo com esta resolução, os seguintes padrões microbiológicos exigidos para


biscoitos são: Contagem máxima de 1,0x10² UFC g-1 para Coliformes a 45 ºC, ausência
de Salmonella sp. em 25g do produto e 5,0x10² UFC g-1 para estafilococos coagulase
positiva. Além destas análises, também foi realizada a análise de bolores e leveduras,
Staphylococcus aureus e bactérias aeróbias mesófilas.

Análise de Salmonella sp.

De acordo com a APHA (2001), a análise de Salmonella consiste na incubação a


36°C de 16 a 24 horas de 25g da amostra de cookie adicionada em 225 ml de diluente
789
específico. Para a realização do estudo em questão, foi utilizado o caldo lactosado como
teste diluente para o teste de pré-enriquecimento, com o intuito de promover o
crescimento de células injuriadas.
O meio foi colocado em estufa a 35°C durante 24 horas. Para o enriquecimento
seletivo, foram utilizados meios Rappaport-Vassiliadis (RV) e Selenito-cistina (SC) que,
em estufas de 35 a 42°C, foram incubados de 18 a 24 horas. Para o plaqueamento seletivo,
utilizou-se o meio Ágar Salmonella Shigella (SS) e em seguida foi realizado o estriamento
em placas de Petri e estas foram incubadas a 35°C por 24 horas com objetivo de verificar
se ocorria o crescimento de colônias de Salmonella.

Análise de Coliformes totais e termotolerantes a 45 °C

A análise de coliformes foi realizada segundo APHA (2001), a qual a partir de três
diluições das amostras seriadas de 10-1; 10-2; 10-3 foi inoculado 1ml de cada diluição
em tubos de ensaios com rosca contendo 8 ml de caldo lactosado e tubos de Durhan
invertidos.
Em seguida, os tubos foram incubados em estufa a 35°C de 24-48 horas com o
objetivo de verificar se os tubos apresentavam a formação de gás, o que confirmaria a
presença de coliformes nos produtos.

Análise de bolores e leveduras

Para análise de bolores e leveduras, seguiu-se metodologia proposta por APHA


(2001), na qual se semeou em superfície 0,1mL de cada diluição decimal seriada (10-
1,10-2,10-3) em série de tubos múltiplos, utilizando o Ágar Batata Dextrose (BDA). A
incubação deu-se na estufa Demanda Bioquímica de Oxigênio, por cinco dias, para
realização da contagem de bolores e leveduras, respectivamente. As amostras foram
analisadas em duplicatas.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Todas as formulações desenvolvidas na presente pesquisa apresentaram resultados


de coliformes totais e termotolerantes a 45 °C abaixo do preconizado pela legislação
vigente (BRASIL, 2001), como mostrado na tabela 2.
Apenas a amostra CF1 apresentou valor < 3 e as demais apresentaram ausência de
contaminação, estando as amostras analisadas dentro dos parâmetros estabelecidos pela
legislação (Tabela 2).
Fiorentin et al. (2019) analisaram amostras de cookies com adição de farinha de
feijão caupi (brs xiquexique) biofortificada, apresentaram resultados para coliformes
totais e termotolerantes a 45 °C <3,0 em todas as formulações. 790
Os dados obtidos por esta pesquisa (Tabela 2), para coliformes a 45 °C, estão de
acordo com os obtidos por Ribeiro et al. (2018), onde analisaram amostras de cookies
elaborados com farelo de arroz, em que os limites estavam abaixo dos determinados pela
legislação vigente.
Resultados para contagem de coliformes totais, coliformes a 45 °C, bolores e
leveduras, estafilococos coagulase positiva, Salmonella sp. e aeróbios mesófilos, sendo
os resultados comparados com a legislação brasileira, estão apresentados na Tabela 2.

Tabela 2. Resultados obtidos das análises microbiológicas das três formulações de biscoito tipo cookie.
AMOSTRAS
MICRORGANISMOS ANALISADOS
CF1 CF2 CF3
Coliformes totais (NNP/g) <3 Ausente Ausente
Coliformes a 45 °C (NNP/g) Ausente Ausente Ausente
Bolores e leveduras (UFC/g) Ausente Ausente Ausente
Estafilococos coagulase positiva (UFC/g) <10 <10 <10
Salmonella sp. (UFC/g) Ausente Ausente Ausente
Aeróbios mesófilos (UFC/g) <10 1,0x10³ <10
Fonte: O próprio autor. Onde: CF1 = Cookie com 100% de farinha de banana verde; CF2 = Cookie com 100% de
farinha de coco; e CF3 = Cookie com 50% de farinha de banana verde e 50% de farinha de coco.

Quanto à presença de estafilococos coagulase positiva (UFC/g), todas as amostras


das formulações apresentaram resultados em conformidade com a legislação vigente
(BRASIL, 2001).
Fiorentin et al. (2019), avaliando a qualidade microbiológica de biscoitos tipo
cookies com adição de farinha de feijão caupi (brs xiquexique) obteve resultados
inferiores a 10² para Staphylococcus coagulase positiva, estando superiores aos valores
obtidos nesta pesquisa.
Ribeiro et al. (2018), analisando amostras de cookies elaborados com farelo de
arroz, identificaram que não houve crescimento para estafilococos coagulase positiva.
Gregório et al. (2020), pesquisando sobre a elaboração e qualidade microbiológica
de biscoitos tipo cookies com adição da farinha de quinoa e aveia, obteve ausência de
Salmonella sp. nas três formulações estudadas, sendo os mesmos resultados obtidos por
esta pesquisa.
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Fiorentin et al. (2019), analisando microbiologicamente amostras de cookies com


adição de farinha de feijão caupi (brs xiquexique) biofortificada, apresentaram ausência
para Salmonella sp. nas três formulações em estudo.
Ausência de Salmonella sp. nas amostras de cookies elaborados com farelo de arroz
foram encontradas por Ribeiro et al. (2018), sendo os mesmos resultados obtidos por este
estudo.
Torna-se importante estudar a presença de bolores e leveduras, nos produtos de
panificação, para verificar se os produtos, durante a elaboração, atenderam as orientações
das legislações que regulamentam as Boas Práticas de Fabricação, pois estas regras de
manipulação são fundamentais para reduzir as contaminações, contribuindo para uma
791
qualidade higiênico-sanitária mais elevada do produto (Sabino et al., 2017).
Monteiro et al. (2020), para o cookie com o bagaço de acerola, também não houve
o crescimento de bolores, o que indica que as condições higiênico-sanitárias, durante a
elaboração dos cookies, foram cumpridas, semelhantemente aos resultados encontrados
pelos autores.
Os bolores, quando presentes em produtos de panificação, diminuem o tempo de
vida de prateleira dos produtos e podem causar alterações sensoriais nesses alimentos. No
entanto, a aplicação das medidas de higiene, durante a manipulação, e a etapa de cocção
dos cookies, contribuem para diminuir a carga microbiana (MONTEIRO et al., 2020).
Ribeiro et al. (2018), caracterizando microbiologicamente cookies elaborados com
farelo de arroz apresentou resultado superior para bolores e leveduras no tempo zero de
armazenamento. Resultado diferente dos encontrados por esta pesquisa, em que
apresentou ausência de bolores e leveduras nas três formulações de biscoito analisadas.
O controle de umidade, nos produtos de panificação, é um outro ponto
particularmente importante, pois os baixos teores de umidade, após a etapa de elaboração
e durante o armazenamento do produto, dificultam o crescimento microbiano. Os
produtos de panificação, quando elaborados, manuseados e acondicionados de maneira
correta, dificultam o crescimento de bolores (MONTEIRO et al., 2020).
De forma a agregar valor, a ANVISA criou e instituiu os procedimentos
operacionais padronizados (POP’s), pela resolução nº 275, de 21 de outubro de 2002, que
dão suporte para além da elaboração do manual de boas práticas (BRASIL, 2002).
O objetivo da elaboração desta valiosa ferramenta é que estejam bem documentadas
todas as etapas do processo de fabricação, desde o recebimento da matéria prima e o
processamento, até a expedição para o mercado consumidor, englobando os mais diversos
aspectos industriais, como qualidade dos insumos; higienização de ambientes,
equipamentos e utensílios; especificações técnicas; escolha de fornecedores; qualidade da
água, contaminantes; documentação e processos eficientes de trabalho (EMBRAPA,
2015).
Os resultados revelaram que todas as amostras de biscoito analisadas se
encontravam dentro do máximo permitido pela legislação para cada um dos
microrganismos avaliados, dando um indicativo de que as amostras foram elaboradas de
acordo com as boas práticas de fabricação, não oferecendo riscos à saúde.
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CONCLUSÕES

Os resultados das análises microbiológicas que as três formulações foram


submetidas apresentaram valores dentro dos padrões exigidos pela legislação vigente e
foram elaboradas segundo as boas práticas de fabricação, não apresentando riscos à saúde
do consumidor. É importante, ao desenvolver um produto, avalia-lo microbiologicamente
visando identificar e garantir sua inocuidade.

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792
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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 72

ESTIMATIVA DA INCIDÊNCIA DO BICUDO-DO-ALGODOEIRO


COM ÍNDICE TÉRMICO NA REGIÃO DO MATOPIBA, BRASIL

SOUZA, Gabriel Henrique de Olanda


Bacharelando em Agronomia
Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), Naviraí, Mato Grosso do Sul, Brasil
gabriel.souza4@estudante.ifms.edu.br

APARECIDO, Lucas Eduardo de Oliveira


Doutor e Mestre em Agronomia(Produção Vegetal)
Universidade Estadual Paulista (Unesp), Jaboticabal, São Paulo, Brasil 795
lucas.aparecido@ifms.edu.br

DUTRA, AlexsonFilgueiras
Pós-Doutorando UFPI/CNPq/FAPEPI
Doutor em Agronomia (Ciência do Solo)
Universidade Estadual Paulista (Unesp), Jaboticabal, São Paulo, Brasil
alexsondutra@gmail.com

LIMA, Rafael Fausto de


Bacharelando em Agronomia
Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), Naviraí, Mato Grosso do Sul, Brasil
rafael.lima2@estudante.ifms.edu.br

RESUMO

Considerada uma das principais fronteiras agrícolas no Brasil, o MATOPIBA chama a


atenção pela produtividade crescente, com clima favorável aos cultivos agrícolas, como
por exemplo, o algodoeiro. Assim, o objetivo deste trabalho foi estimar o número de
gerações e a duração do ciclo do bicudo-do-algodoeiro (Anthonomusgrandis), principal
praga da cultura, empregando o modelo de índice térmico graus-dia para auxiliar nas
estratégias de controle nos estados do MATOPIBA, Brasil. Dados de temperatura
máxima e mínima do ar (ºC) foram coletados na plataforma NationalAeronauticsand
Space Administration/Predictionof World Wide Energy Resources - (NASA/POWER),
para todos os municípios presentes nos estados do MATOPIBA, de 1989-2019 (30
anos).Com o auxílio do software Python 3.8.6 foram elaborados gráficos box-plots. Para
a obtenção dos mapas, utilizou-se o software ArcGis versão 10.8. Para o cálculo de graus-
dia (GD), foi utilizada a temperatura basal da praga correspondente a 10,2ºC subtraída
pela temperatura média do ar, logo foi calculada a duração do ciclo da praga em função
da constante térmica 428,2 e GD e a quantidade de gerações por ano.O bicudo-do-
algodoeiro demonstrou maior número de gerações nas regiões produtoras do Piauí, entre
14 e 16 ao ano, no Maranhão e Tocantins entre 13 e 15 gerações ao ano e na Bahia entre
10 e 14 gerações ao ano.

PALAVRAS-CHAVE: Clima, Anthonomus grandis, algodão.


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INTRODUÇÃO

O algodoeiro (Gossypiumhirsutubm L.) é a principal commodity do agronegócio de


fibras e fios naturais do mundo (TAUSIF et al., 2018; SEVERINO et al.,
2019),desempenhapapel essencial a sustentabilidade socioeconômica em mais de 60
países(ALBERTINI, 2017; ABRAPA, 2021). Sua área de cultivo no mundo abrange
38.640.608 milhões de hectares, com produção de82.589.031 milhões de toneladas, sendo
os países da China, Índia, Estados Unidos e Brasil, que concentram75% da produção
(FAOSTAT, 2019).
A produção brasileira de algodão está em torno de6.893.340 milhões de
toneladas(ICAC, 2021), se concentranas regiõesCentro-Oeste (72,6%) e Nordeste 796
(24,1%) do país, onde os estados deMato Grosso (67,5%) e Bahia (21,7%)se destacam
por produzir89,2% de todo algodãonacional (IBGE, 2019).
Na região Nordeste, a fronteira agrícola do MATOPIBA tem se tornado um
importante polo agrícola nacional (ARAÚJO et al., 2019) que, devido as condições
climáticas favoráveis à agricultura, proporciona ótimo desempenho produtivo aos
cultivos (EMBRAPA, 2021). Além disso, a região do MATOPIBA é uma área contínua
representada por uma rápida expansão agrícola mediada pelo cultivo de soja, milho e
algodão nas áreas do Cerrado do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (OLIVEIRA et al.,
2021).
O cultivo de algodão no MATOPIBA localiza-se em maior parte no estado daBahia,
maior produtor com 1.493.474 toneladas, seguido por Maranhão (103.680 toneladas),
Piauí (57.486 toneladas) e Tocantins (12.709 toneladas)(IBGE, 2019).
Em áreas de produção agrícola, diversos fatores podem impactar negativamente o
desempenho produtivo das plantas, especialmente na cultura do algodão em que fatores
bióticos, como pragas, causam danos consideráveis e, muitas vezes, irreparáveis para a
cultura(RAJENDRANet al., 2018;TARAZI et al. 2020). Nos ambientes do MATOPIBA,
o cultivo do algodão é afetado diretamente pela ocorrência de pragas, que, quando não
realizado o manejo preventivo, pode acometer o potencial produtivo da cultura (PAPA et
al., 2016).
De todas as pragas do algodoeiro, o bicudo (Anthonomus grandis) é a de maior
importância econômica (BARROS et al., 2019), pois pode causar danos de até 70% na
lavoura, prejudicando drasticamente a produtividade da cultura (MARTINS,
2018).Assim, seu controle é fundamental para tornar o cultivo de algodão viável
economicamente (MONTEIRO, 2020). No entanto, os custos com manejo de controle
preventivo e as perdas ocasionadas pelo bicudo (Anthonomus grandis), podem ultrapassar
US$200 por hectare (MIRANDA e RODRIGUES, 2018), com perdas médias estimadas
de 5,45 arrobas por hectare, podendo variar de 0,7 a 15 arrobas, e em média 17 a 23
pulverizações específicas para controlar o inseto-praga em cada safra de algodão (AMPA,
2016).
A incidência de pragas nas lavouras pode ser favorecida pelas condições climáticas
da região, uma vez que o clima tem influência na atividade biológica de pragas (FANG
et al., 2021), sendo a temperatura do ar um fator críticoinfluente a dinâmica da população
de insetos (GOVINDAN e HUTCHISON, 2020). Entretanto, devido a variabilidade na
2021 Gepra Editora Barros et al.

ocorrência dos índices climáticos, prever condições climáticas que favoreça a incidência
do bicudo (Anthonomus grandis) torna-se um fator importante para o manejo e controle
e redução de custos. Assim, estudos de modelagem que forneçam informações que
auxiliem o produtor a aperfeiçoar seu controle à incidência do bicudo (Anthonomus
grandis) utilizando parâmetros climáticos são escassos, especialmente na região do
MATOPIBA.Para estimar o desenvolvimento de pragas agrícolasutiliza-se a metodologia
dos graus-dia,em que relacionao desenvolvimento do inseto e temperatura do ar
necessários para finalizar seu ciclode vida (ORLANDINI et al., 2017). Fandet al. (2021)
utilizaram graus-dia para quantificar a população de Pectinophoragossypiella,Saunders,
lagarta que afeta o rendimento doalgodoeiro (Gossypium sp. Lin.) para as regiões
797
subtropicais e tropicais semiáridas da Índia, os autores determinaram sete gerações para
a lagarta rosa, cuja duração variou entre 35 e 73 dias em resposta à temperatura do ar.
Conforme os prejuízos causados pelo bicudo-do-algodoeiro, hipotetiza-se que é
possível utilizar o índice térmicograus-dia para estimar a influência da temperatura do ar
nos danos causados, nas atividades metabólicas e na flutuação populacional do bicudo
(Anthonomus grandis). Portanto, objetivou-se, com este trabalho, estimar o número de
gerações e a duração do ciclo do bicudo-do-algodoeiro empregando o modelo de índice
térmico graus-dia para auxiliar nas estratégias de controle na região do MATOPIBA.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O estudo foi realizado na região do MATOPIBA do Brasil, utilizando a área total


dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, com1.423.625,887 km² e 997
municípios(IBGE, 2019). Conforme Alvares et al. (2014), a classificação climática
deKöppen (1936) para a região delimitada por estes estados, apresenta a classeAw(clima
tropical com estação seca de inverno) com maior distribuição (67,5%), entretanto,
classesBsh(clima das estepes quentes de baixa latitude e altitude), As(clima tropical com
estação seca de verão), Am(clima de monção), Af(clima equatorial) e Cwb(clima
temperado úmido com inverno seco e verão temperado) encontram-se distribuídas,
respectivamente, em 13,2%, 11,9%, 4,1%, 2,3% e 0,4% do território desses estados.
Apenas pequenas porções da região (0,2%) são classificadas como Cfa (clima temperado
úmido com verão quente), Cfb (clima temperado úmido com verão temperado) e Cwa
(clima temperado úmido com inverno seco e verão quente) (Figura 1).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 1. Localização dos estados que compõe a região agrícola do MATOPIBA, Brasil

798

Dados meteorológicos e geográficos

Dados históricosda normal climatológica de 1989 a 2019 (30 anos), referentes à


temperatura máxima (TMAX), mínima (TMIN) e média (TMED) do ar diária dos municípios
que compreendem a região do MATOPIBA foram obtidos da plataforma National
Aeronautics and Space Administration/Predictionof World Wide Energy Resources -
(NASA/POWER). A plataforma fornece informações meteorológicas em grade com
resolução espacial de 1°, ≅110,57 km (NASA-POWER, 2019).Além de suas respectivas
latitudes (ϕ), longitudes (λ) e altitudes (h), obtidos da plataforma territorial do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2017).

Graus-dia (GD), duração do ciclo de vida(CP) e número de gerações (NG) de


Anthonomus grandis

Os graus-dias, a duração do ciclo de vida e o número de gerações do bicudo-do-


algodoeiro (Anthonomu sgrandis) foram estimados conforme as equações 1, 2 e 3,
respectivamente,para todas as cidades da regiãodoMATOPIBA.

Σ 𝐺𝐷 = 𝑇MED − 𝑇BASAL (eq. 1)

𝐶𝑇
CP = 𝐺𝐷 (eq. 2)
2021 Gepra Editora Barros et al.

365
NG = (eq. 3)
𝐶𝑃

Onde:GD é o somatório dos graus-dia, TMEDtemperatura média do dia, TBASALtemperatura


basal da praga, CP é o ciclo da praga (dias), CT constante térmica e NG número de
gerações (un).

Análises geoestatísticas

Para a obtenção dos mapas, utilizou-se o software ArcGis versão 10.8 e a


ferramenta Geostatiscal Analyst,com o método kriging ordinário (KRIGE, 1951) e ajuste
estatístico do semivariograma. 799

Metodologia

Para os valores de temperatura basal (TBASAL) e constante térmica (CT) do bicudo-


do-algodoeiro, foram considerados 10,2ºC e 428,3, respectivamente (BROGLIO-
MICHELETTI, 1991; CALDEIRA, 2017).
Os dados de área plantada (ha), quantidade produzida (ton) e rendimento médio (kg
-1
ha ) de algodão no MATOPIBA referentes a safra 2019, foram obtidos do Sistema IBGE
de Recuperação Automática - SIDRA (IBGE, 2019), servindo para comparar a incidência
do bicudo (Anthonomusgrandis) nas principais áreas cultivadas.
Elaborou-se a adaptação do ciclo fenológico do algodoeiro para verificar o período
crítico de incidência e o ciclo biológico do bicudo (Anthonomusgrandis).
Gráficos box-plots foram elaborados para sintetizar a distribuição da variabilidade
do bicudo-do-algodoeiro no MATOPIBA, identificando os quartis, contendo a média,
mediana e os pontos extremos dos dados (ADILAH et al., 2020; MORETTIN e SINGER,
2020). Para estas análises foi utilizado osoftware Python 3.8.6 e suas bibliotecas externas
para manipulação dos dados (PACHALY et al., 2017).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A produção de algodão na região do MATOPIBA concentra-se principalmente nas


áreas de Cerrado das mesorregiões do Extremo Oeste Baiano, Sudoeste do Piauí, Sul do
Maranhão e Oriental do Tocantins, formando a região conhecida como cinturão do
algodão (Figura 2).
A relação área plantada (ha) (Figura 2A), quantidade produzida (ton) (Figura 2B) e
rendimento médio (kgha-1) (Figura 2C) do MATOPIBA é preponderantemente positivo,
exceto em algumas áreas do Centro Sul Baiano, Vale do São-Franciscano da Bahia e
Sudeste piauiense.
A Bahia possui o maior índice em produção de pluma por hectaredo Brasil e maior
produtividade em sequeiro do planeta (ABAPA, 2020), amesorregião do Extremo Oeste
Baiano é a maior produtora de algodão da região, onde osmunicípios de Barreiras (BA) e
São Desidério (BA) destacam-se em produção.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 2.Variação espacial dos dados de área plantada(A), quantidade produzida (B) e rendimento médio
(C)do algodoeironos estados que compõe a região agrícola do MATOPIBA.

800

O algodoeiro é mais suscetível ao ataque do bicudo no momento em que surge os


primeiros botões florais (Figura 3), entre os 40 e 90 dias após a semeadura,fase
considerada a mais crítica(GABRIELet al., 2016). Para minimizar a ocorrência do bicudo
(Anthonomus grandis), a destruição dos restos culturais pós-colheita é uma prática
recomendada para que não haja reinfestação proveniente da entressafra no próximo
cultivo (SILVA et al. 2018).
O monitoramento da lavoura para o surgimento do bicudo (Anthonomus grandis)
deve ser constante e contínuo, uma vez que, a pragase alimenta da biomassa do algodão,
do botão floral e da cápsula do algodão durante seu ciclo de vida (IBARRA et al., 2019;
GUERRERO et al., 2020).Além disso, o ataque do inseto gera danos às estruturas
reprodutivas do algodoeiro devido a atividade de alimentação e oviposição realizada pelo
inseto, o que ocasionaabortamento do botão floral e, consequentemente, menor produção
de plumas pela planta (GRIGOLLI et al., 2016).
2021 Gepra Editora Barros et al.

801

O ciclo biológico de A. grandis está diretamente relacionado com a temperatura do


ar (AZAMBUJA e DEGRANDE, 2014), sendo um fator climático que pode alterar o
período de incubação dos ovos (3 a 5 dias), a duração do estágio larval (7 a 12 dias),
asfasespupa (3 a 5 dias) e adulta com longevidade de aproximadamente 21 dias, podendo
variar entre 20-40 dias (JEGER et al., 2017). A temperatura média (TMED) da região do
MATOPIBA variou de 22,6 a 28,8ºC, comTMED superior a 25ºC predominante na maior
parte das áreas do Maranhão, Tocantins e Piauí (Figura 4A). No entanto, maior
variabilidade e menores TMED foram encontradas no estado da Bahia.

Em relação a altitude dos estados que compreendem a região do MATOPIBA,


observa-se um gradiente térmico específico inversamente proporcional a temperatura do
ar (FRITZONS et al., 2016; CHAVES et al., 2018), fato que, influencia,
consequentemente o ciclo biológico do bicudo-do-algodoeiro (Figura 4B).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 4.Variação espacial da temperatura média do ar e altitude nos estados que compõe a região
agrícola do MATOPIBA.

802

A distribuição variável da ocorrência do bicudo-do-algodoeiro nos estados do


MATOPIBA demonstrou que os menores ciclos apresentaram a maior média de gerações
ao ano (Figura 5). O bicudo-do-algodoeiro apresentou um ciclo médio em torno de 24,72
(±8,20) dias em ambientes do Maranhão, 25,91 (±5,59) dias no Tocantins, 24,11 (±3,75)
dias para o Piauí e 28,45 (±10,32) dias em áreas da Bahia (Figura 5A). Por outro lado, os
números de gerações por ano foram maiores nos ambientes do Piauí com 15,15 (±2,22),
seguido por Maranhão com 14,78 (±4,0), Tocantins com 14,11 (±2,78) e Bahia com 12,89
(±4,47) (Figura 5B). Estes resultados indicam que o controle do inseto deve ser realizado
de forma incisiva e contínua, durante a fase reprodutiva e de maturação do algodoeiro,
nas áreas em que a infestação é maior devido ao elevado número de gerações.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 5. Box-plots do ciclo (A) e número de gerações (B)do bicudo-do-algodoeiro em função da


probabilidade de ocorrência nosestados que compõe a região agrícola do MATOPIBA.

803

Fonte: autor próprio (2021).

A duração do ciclo e número de gerações da praga foi influenciado


significativamente pela temperatura do ar (TAR) e altitude, sendo registrada uma relação
inversamente proporcional entre as variáveis e o tempo de desenvolvimento da praga, fato
também observado em estudos com percevejo-bronzeado (WREGE et al., 2017) e
Spodoptera eridania (SAMPAIO et al., 2019). Observou-se uma variação significativa
nos estados do MATOPIBA, com valores de ciclo entre 23 e 35 dias (Figura 6A) e de 10
a 16 gerações por unidade (Figura 6B).
Os maiores ciclos e menores gerações são encontrados no Centro-Sul, Centro-Norte
e Extremo Oeste Baiano, enquanto, os menores ciclos e maiores gerações abrangem
grande parte do estado do Piauí e Norte maranhense.
Nas zonas de maior altitude, onde as temperaturas do ar são mais amenas ocorreu
um alongamento no ciclo da praga e consequentemente menor número de gerações. Onde
pode-se visualizar o ciclo da praga entre 27 e 35 dias e número de gerações de 10 a 13 ao
ano.
2021 Gepra Editora Barros et al.

O menor ciclo e maior desenvolvimento populacional do bicudo-do-algodoeiro foi


observado nas regiões mais quentes, geralmente de menor altitude. Em que o ciclo do
inseto variou de 23 a 27 dias e seu número de gerações de 13 a 16 ao ano.
A flutuação populacional do bicudo-do-algodoeiro foi maior no estado do Piauí,
onde as regiões produtoras se inserem entre 14 e 16 gerações ao ano, entre 13 e 15
gerações ao ano no Maranhão e Tocantins e na Bahia entre 10 e 14 gerações ao ano.

Figura 6. Variação espacial do ciclo de vida e número de gerações do bicudo-do-algodoeiro nos estados
que compõe a região agrícola do MATOPIBA.

804

Fonte: autor próprio (2021).

CONCLUSÕES

Os números de gerações estimados para o bicudo (Anthonomus grandis) no


MATOPIBA variou de 10 a 16 ao ano e o ciclo de vida de 23 a 35 dias. O estado com
maiores índices de números de gerações foi o Piauí e o estado com menor foi a Bahia.
Os números de gerações nas regiões produtoras variaram entre 14 e 16 no Piauí, 13
e 15 no Maranhão e Tocantins e na Bahia de 10 a 14 gerações ao ano.
O ciclo da praga e o número de gerações estão correlacionados ao gradiente térmico
e altitude da região. As diferenças de ambiente térmico e altitude entre as regiões podem
determinar uma menor ou maior incidência do bicudo (Anthonomus grandis).
O modelo de simulação sobre o desenvolvimento de pragas, podem ser úteis na
previsibilidade de frequência e ocorrência numa determinada região, contribuindo ao
planejamento de estratégias do manejo da cultura e do controle da praga.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 73

ESTRESSE HÍDRICO NA FASE DE PRÉ-FLORAÇÃO DO


FEIJOEIRO COMUM
MARTINS, Camila Aparecida da Silva
Doutora em Produção Vegetal
Universidade Federal do Espírito Santo
camila.martins@ufes.br

SILVA, Chansislayne Gabriela


Graduanda em Agronomia
Universidade Federal do Espírito Santo
Chansislayne_silva@outlook.com 810

ULIANA, Eduardo Morgan


Doutor em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Mato Grosso
morganuliana@gmail.com

RESUMO

A cultura do feijoeiro é principal fonte de proteína da população de menor poder


aquisitivo, por fornecer nutrientes essenciais para mais de 700 milhões de pessoas do
mundo, e as condições ambientais podem influenciar no seu desenvolvimento, pois a
disponibilidade de água no solo é um dos fatores importantes para obter uma boa
produção. Assim, objetivou-se avaliar o efeito do déficit hídrico na fase de pré-floração
do feijoeiro comum, cultivar BRS Pontal, cultivado em um Latossolo Vermelho-
Amarelo. Foi desenvolvido um experimento em esquema de parcelas subdivididas, sendo
as parcelas um fatorial 2 x 4, onde o fator capacidade de campo apresentou dois níveis
(TCc1 = 0,010 MPa e TCc2 = 0,033 MPa) e o fator déficit hídrico no solo apresentou
quatro níveis (DH = 0%, DH = 20%, DH = 40% e DH = 60%) em um delineamento
inteiramente casualizado, com três repetições. A análise de crescimento foi realizada na
fase de pré-floração (R5). Os dados foram submetidos à análise de variância (p≤0,05) e
quando significativos, utilizou-se o teste F (p ≤ 0,05) para o fator tensão e a análise de
regressão para o fator déficit hídrico. Na fase de pré-floração do feijoeiro comum o déficit
hídrico no solo tem interferência negativa sobre as variáveis em estudo (massa seca total,
área foliar, número de folíolos por planta e comprimento da haste principal). A cultivar
BRS pontal apresentou melhor desempenho vegetativo quando submetida a umidade do
solo na capacidade de campo definida com a tensão de 0,010 MPa.

PALAVRAS-CHAVE: Tensão. Capacidade de campo. Phaseolus vulgaris L.

INTRODUÇÃO

No Brasil a produção de feijão no ano de 2018/2019 foi de aproximadamente 3.023


toneladas em uma área de 2.933 hectares (CONAB, 2020). Esta leguminosa é principal
fonte de proteína da população de menor poder aquisitivo, por fornecer nutrientes
essenciais para os seres humanos, tais como: ferro, cálcio, magnésio e vitaminas, para
mais de 700 milhões de pessoas do mundo (KINYANJUI et al., 2014). O feijão-comum
2021 Gepra Editora Barros et al.

pertence à família Fabaceae, e a espécie é Phaseolus vulgaris L. é caracterizada como


uma planta herbácea anual (PEIXOTO; CARDOSO, 2016).
A cultura do feijoeiro possui uma ampla adaptação edafoclimática e pode ser
cultivada durante todo o ano (BARCELO et al., 2020), pelo fato de não apresentar
sensibilidade ao fotoperíodo e desde que não ocorram limitações de temperatura e
umidade, pois a ocorrência de déficit hídrico em plantas cultivadas pode interferir no
crescimento das culturas (SILVA et al., 2016).
A disponibilidade de água no solo é um dos fatores importantes para obter uma boa
produção, devido as mudanças climáticas (MORAIS et al., 2017). Em condições que o
cultivo é sequeiro pode-se reduzir de forma expressiva a produção de grãos, além de afetar
811
a taxa de evapotranspiração, com o aumento da absorção de água, onde as plantas
expostas ao déficit hídrico apresentam efeito direto na produção (GONÇALVES et al.,
2015).
As respostas ao déficit hídrico e tensão de água no solo podem variar de acordo
com as diferentes fases de desenvolvimento que a planta se encontra (SOURESHJANI et
al., 2019), sendo importante realizar uma análise sobre o efeito da tensão e déficit hídrico
no desenvolvimento do feijoeiro, uma vez que cada cultivar responde de modo
diferenciado ao déficit hídrico no solo, devido a interação solo-água-planta-atmosfera
(MAGALHÃES et al., 2019; TAIZ & ZEIGER, 2017).
Para vários autores, entre os quais estão Sánchez-Reinoso et al. (2018), o estresse
hídrico provoca alterações nas características morfológicas, fisiológicas e bioquímicas, e
no comportamento vegetal, cuja irreversibilidade vai depender do genótipo, da duração,
da severidade e do estádio de desenvolvimento da planta. Devido a importância social e
econômica do feijão-comum, a fase de pré-floração é considerada como a mais sensível
ao estresse hídrico, mas cada cultivar de feijoeiro responde modo diferenciado ao déficit
hídrico no solo (MACKAY & EAVES, 1962)
Diante do exposto, objetivou-se avaliar o efeito do déficit hídrico na fase de pré-
floração do feijoeiro comum, cultivar BRS Pontal, cultivado em um Latossolo Vermelho-
Amarelo.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido em ambiente protegido, do Centro de Ciências


Agrárias e Engenharias da Universidade Federal do Espírito Santo (CCAE/UFES),
localizado no munícipio de Alegre, Espírito Santo.
A espécie vegetal utilizada foi Phaseolus Vulgaris L., cultivar BRS Pontal,
pertencente ao grupo comercial do tipo carioca, que foi cultivada em vaso plástico com
capacidade de 8 litros (L). Foi instalado no esquema fatorial 2 x 4, onde o fator capacidade
de campo apresentou dois níveis (TCc1 = 0,010 MPa e TCc2 = 0,033 MPa) e o fator
déficit hídrico no solo apresentou quatro níveis (DH = 0%, DH = 20%, DH = 40% e DH
= 60%) em um delineamento inteiramente casualizado, com três repetições, totalizando
24 unidades experimentais.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Para a realização do experimento, foram coletadas amostras deformadas na


profundidade de 0,00 - 0,20 m de um Latossolo Vermelho-Amarelo (LVA) no município
de Alegre-ES. O solo foi seco ao ar, destorroado e passado em peneira de 2,0 mm para
obtenção da terra fina seca ao ar (TFSA) e destinadas às análises física e química dos
solos no Laboratório de Análise de Solos do CCAE/UFES, conforme a metodologia da
Embrapa (2017).
Os atributos físicos e químicos do Latossolo Vermelho-Amarelo (LVA) estão
apresentados nas Tabelas 1 e 2, respectivamente.

Tabela 1. Atributos físicos do Latossolo Vermelho-Amarelo (LVA)


Granulometria(1) 812
Solo Ds(2) Dp(3) PT(4)
Areia Silte Argila
------------------ % ----------------- ------- kg dm-3 ------- -- m3 m-3 --
LVA 72 8 20 1,23 2,22 0,45
(1) Método da Pipeta (Agitação Lenta): Areia (⌀ > 0,05 mm); Silte (⌀ de 0,05 - 0,002 mm); Argila (⌀ < 0,002 mm);
(2) Ds = Massa específica do solo: Método da Proveta; (3) Dp = densidade de partículas: Método do Balão
Volumétrico; e (4) PT = Porosidade Total: 1 - (Ds/Dp) (EMBRAPA, 2017).
Fonte: Elaborado pelo próprio Autor (2019).

Tabela 2. Atributos químicos do Latossolo Vermelho-Amarelo (LVA)


MO P K Na Ca Mg H + Al SB CTC V
Solo pH
-1 -3 -3
(g kg ) (mg dm ) ------------- cmolc dm ------------ (%)
LVA 5,85 15,99 1,79 142,00 2,00 1,23 0,86 4,87 2,47 7,34 33,65
Extração e determinação: pH em água (1:2,5); MO: dicromato de potássio (1 mol L-1) e titulação pelo sulfato ferroso
(0,5 mol L-1); P: Mehlich-1 e colorimetria; K: Mehlich-1 e espectrofotometria de chama; Ca e Mg: KCl
(1 mol L-1) e espectrometria de absorção atômica; Al: KCl (1 mol L-1) e titulometria; e H + Al: acetato de cálcio
(0,5 mol L-1) (EMBRAPA, 2017).
Fonte: Elaborado pelo próprio Autor (2019).

A calagem foi realizada em cada unidade experimental, por meio da aplicação de


10 g de calcário dolomítico (PRNT = 96%) conforme a metodologia proposta por Prezotti
et al. (2007) e a adubação foi realizada por meio da aplicação de 3,5 g de sulfato de
amônio (21% de nitrogênio), 10,5 g de superfosfato simples (19% de P2O5) e 1,8 g de
cloreto de potássio (58% de K2O), de acordo com a metodologia proposta Novais et al.
(1991).
Realizou-se a semeadura das sementes certificadas de feijão comum no mês de abril
de 2018, na qual foram semeadas quatro sementes por vaso e aos 15 dias após a semeadura
foi realizado um desbaste para manter a planta mais vigorosa em cada vaso. A análise de
crescimento foi realizada na fase de pré-floração, ou seja, fase R5 da cultura, que
corresponde a aproximadamente 25 dias após a emergência (DAE).
O teor de umidade do solo referente à capacidade de campo nas tensões de 0,010
Mpa e de 0,033 MPa e da umidade do solo no ponto de murcha permanente na tensão de
1,5 MPa do Latossolo Vermelho-Amarelo, foram obtidos por secamento, conforme a
metodologia descrita pela Embrapa (2017), a partir de amostras deformadas, previamente
peneiradas, que depois de saturadas por no mínimo 12 horas, foram levadas à câmara de
pressão de Richards com placa porosa para estabilização, adotando-se um tempo não
2021 Gepra Editora Barros et al.

inferior a três dias e posterior determinação da umidade gravimétrica (U). A umidade


volumétrica (θ) para cada uma das tensões foi obtida pelo produto da umidade
gravimétrica pela densidade do solo (θ = U. Ds).
A água disponível (AD) foi calculada observando-se os valores de umidade
volumétrica na curva de retenção de cada solo para a capacidade de campo (Cc)
determinada nas tensões de 0,010 MPa (TCc1) e 0,033 MPa (TCc2) e para o ponto de
murcha permanente (Pmp) na tensão de 1,5 MPa, como pode ser visto na Equação 1 (Eq.
1).
AD = Cc – Pmp (Eq. 1)
Em que: AD = água disponível no solo; Cc = umidade volumétrica nas tensões de
813
0,010 MPa (TCc1) e 0,033 MPa (TCc2); e Pmp = umidade volumétrica residual na tensão
de 1,5 Mpa.
A partir da água disponível no solo, foram estabelecidas as umidades dos déficits
hídricos de 20%, 40% e 60% (DH = 20, 40 e 60%), destinadas ao cálculo da lâmina de
irrigação, conforme a metodologia descrita por Mantovani, Bernardo e Palaretti (2009).
As lâminas de irrigação a serem aplicadas para elevar o teor de umidade do solo (Ua) à
capacidade de campo nos déficits de 40%, 60% e 80% da AD, foram calculadas pela Eq.
2:
L= [(Cc – Ua)/10] x Ds x Z (Eq.2)
Onde:
L = Lâmina de irrigação, em mm; Cc = umidade do solo na capacidade de campo,
% em peso; Ua = umidade atual do solo, % em peso; Ds = densidade aparente do solo,
em g cm-3; e Z = profundidade do sistema radicular, em cm.
Para transformar a lâmina de irrigação (L) em volume (mL vaso-1), multiplicou-se
a lâmina de irrigação pela área do vaso (0,032 m2). Foi realizada a padronização da massa
de todos os vasos após a semeadura. Após o período destinado ao estabelecimento das
plantas, foi realizada uma amostragem de solo dos vasos destinada à determinação da
umidade do solo pelo método termogravimétrico (EMBRAPA, 2017), e em seguida, foi
reposta a mesma quantidade de solo no vaso.
Foi elevado o teor de umidade do solo à capacidade de campo determinada na
tensão de 0,010 MPa pela câmara de pressão de Richards, com posterior pesagem dos
vasos. Uma vez estabelecida a massa dos vasos e correspondente umidade da TCc1 (0,010
MPa), foram determinadas as massas dos vasos na TCc2 (0,033 MPa) e os déficits
hídricos de 20%, 40% e 60% de todos os níveis da capacidade de campo do solo de textura
média em estudo. Para tanto, foi realizado o monitoramento da umidade do solo e
pesagem dos vasos a cada 12 horas, até que fossem obtidos os teores de umidade de cada
tratamento.
O estabelecimento e controle do teor da umidade dos déficits hídricos da Cc foi
realizado pelo monitoramento da massa do vaso da repetição 1 (R1) de cada tratamento,
incluindo solo, planta e umidade. As irrigações foram realizadas manualmente por
diferença de pesagem, sempre no horário de 6:00 às 8:00 horas, para que a umidade do
solo fosse elevada até o nível de umidade referente aos níveis de déficit hídrico em estudo.
A análise de crescimento foi realizada aos 25 dias após a emergência (DAE), para
determinação de massa seca total (MST), área foliar (AF), número de folíolos por planta
2021 Gepra Editora Barros et al.

(NFP) e comprimento da haste principal (CHP), do feijoeiro comum, na fase fenológica


R5.
Para obter a massa seca total realizou-se um corte no caule das plantas próximo a
superfície do solo, em seguida, o material vegetal coletado foi acondicionado em sacos
de papel e acondicionados em estufas de ventilação forçada de 75°C por 72 horas, para
determinação da massa seca da parte aérea e radicular, onde as raízes foram separadas do
solo por lavagem em água corrente, com auxílio de uma peneira com malha de 0,005 mm.
A área foliar foi determinada a partir de um medidor de área foliar, modelo LI-300, o
número de folíolos por planta foi determinado por meio de contagem direta e o
comprimento da haste principal foi determinado utilizando-se uma fita métrica.
814
Os dados foram submetidos à análise de variância (p ≤ 0,05) e quando significativos
foi utilizado o teste F (p ≤ 0,05) para o fator tensão, que apesar de ser um fator
quantitativo, não possui grau de liberdade suficiente para realização da análise de
regressão, pelo fato de apresentar apenas dois níveis e a análise de regressão, para o fator
déficit hídrico. Os modelos foram escolhidos com base na significância dos coeficientes
de regressão, utilizando-se o teste t de Student, ao nível de 5% de probabilidade e pelo
coeficiente de determinação. As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o
programa Sisvar (FERREIRA, 2011).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Pela análise de variância, verifica-se a ocorrência de interação significativa entre os


níveis de tensão e déficit hídrico em estudo para as variáveis massa seca total e área foliar
na fase de pré-floração do feijoeiro comum (p<0,05), com exceção do número de folíolos
por planta e comprimento da haste principal que não apresentaram interação significativa
entre os níveis dos fatores em estudo (Tabela 3).
Na Tabela 3 é possível observar que houve efeito significativo dos níveis de tensão
adotados para definir a umidade do solo na capacidade de campo e de déficit hídrico no
solo (p<0,05) para todas as variáveis analisadas. Estes resultados são explicados pelo fato
de que o déficit hídrico e a tensão adotada para determinar a capacidade de campo de um
solo podem afetar os processos fisiológicos da planta, tais como: transpiração,
fotossínteses, respiração, crescimento e produtividade (TAIZ & ZEIGER, 2017).

Tabela 3 - Resumo da análise de variância de massa seca total (MST), área foliar (AF), número de
folíolos por planta (NFP) e comprimento da haste principal (CHP), na fase fenológica R5¹ do feijoeiro
comum, cultivar BRS Pontal.
Quadrados médios
Fonte de variação GL
MST (g) AF (cm2) NFP CHP (m)
Tensão 1 135,3750* 257819,0104* 20,166667* 0,024067*
Déficit Hídrico 3 408,2639* 4196301,2504* 528,000000* 0,873200*
Tensão*Déficit Hídrico 3 4,3750* 303801,1171* 5,055556ns 0,003844ns
Resíduo 16 1,0416 11279,7204 1,666667 0,001546
Média Geral 29,5416 2568,8542 41,50 0,9166
2021 Gepra Editora Barros et al.

Coeficiente de Variação (%) 3,45 4,13 3,11 4,29


¹ R5 – Pré-floração.
*Significativo a 5%; e ns não significativo.
Fonte: Elaborado pelo próprio Autor (2019).

O déficit hídrico pode ser considerado como um dos principais fatores limitantes
para desenvolvimento do feijoeiro, conforme observado também por Androcioli et al.
(2020) ao verificarem que há diferença significativa na biomassa vegetal quando
submetida ao déficit hídrico, sendo a cultivar BRS Pontal sensivelmente afetada em
condições de déficit hídrico, o que corrobora com os resultados apresentados.
Por meio da análise de desdobramento dos níveis de tensão dentro dos níveis de
815
déficit hídrico e vice-versa (Tabela 4), verifica-se resposta significativa (p<0,05) para as
variáveis massa seca total e área foliar do feijoeiro comum, na fase de pré–floração,
submetido a diferentes níveis de tensão adotados para definir à umidade na capacidade de
campo. Para as variáveis massa seca total e área foliar, a tensão de 0,010 MPa (TCc1)
proporcionou maiores valores médios, quando comparado com os resultados obtidos com
a tensão de 0,033 MPa (TCc2). Em cada nível de tensão em estudo, os valores médios
das variáveis diminuíram com o aumento do nível de déficit hídrico no solo (Tabela 4).

Tabela 4 - Valores médios obtidos para massa seca total (MST) e área foliar (AF) em função dos níveis
de tensão adotados para determinação da umidade do solo na capacidade de campo (TCc1 = 0,010 MPa e
TCc2 = 0,033 MPa), para cada nível de déficit hídrico no solo (DH = 0%, DH = 20%, DH = 40% e DH =
60%), na fase fenológica R5¹ do feijoeiro comum, cultivar BRS Pontal.
Déficit Hídrico (%)
Tensão
0 20 40 60
MST (g)
TCc1 42,6666 a* 35,3333 a 27,0000 a 22,6666 a
TCc2 37,000 b 28,6666 b 24,0000 b 19,0000 b
AF (cm2)
TCc1 3.959,9000 a 2.918,9000 a 2.219,3000 a 1.591,9000 a
TCc2 3.101,7666 b 2.828,2666 a 2.396,8333 a 1.533,9666 a
¹ R5 – Pré-floração.
*Médias seguidas de mesma letra, minúscula nas colunas, não diferem significativamente entre si pelo teste F
(p<0,05).
Fonte: Elaborado pelo próprio Autor (2019).

Os diferentes níveis de tensão adotada para definir a capacidade de campo e de


déficit hídrico no solo provocam alterações no comportamento da espécie vegetal,
conforme apresentado na Tabela 3. Os valores médios das variáveis massa seca total, área
foliar, número de folíolos por planta e comprimento da haste principal são reduzidos à
medida em que se aumenta o nível de déficit hídrico no solo (Tabelas 4 e Figura 2).
Tais resultados são ocasionados pelo fato de que o déficit hídrico no solo influencia
o desenvolvimento vegetal, pelo fato de proporcionar a perda de turgor das células
vegetais, que resulta em fechamento dos estômatos e diminuição do crescimento celular
(FREITAS et al., 2017).
2021 Gepra Editora Barros et al.

O estresse hídrico exerce influência direta sobre o comportamento do feijoeiro, que


para se adaptar as condições do ambiente sofre modificações, por meio de mecanismo de
defesa, que possibilitam as plantas fecharem os estômatos para diminuir a perda de água
durante as trocas gasosas, o que resulta em menor taxa de fotossíntese, menor crescimento
vegetal e consequentemente menor produção (ABID et al., 2017).
Nota-se na Figura 1 o efeito significativo (p<0,05) para a interação entre tensão e
déficit hídrico para a variável massa seca total e área foliar. À medida em que houve
aumento do nível de déficit hídrico no solo ocorreu um decréscimo dos valores médios,
independente da tensão adotada para determinação da capacidade de campo.
O modelo matemático que apresentou o melhor ajuste para o comportamento das
816
variáveis massa seca total e área foliar foi o quadrático, sendo que um déficit de 60%
proporciona, em média, uma redução de 50% nas variáveis em estudo, quando comparado
com as variáveis das plantas que não foram submetidas ao déficit hídrico (Figura 1).

Figura 1 - Massa seca total (A) e área foliar (B) em função dos níveis de déficit hídrico no solo níveis
(DH = 0%, DH = 20%, DH = 40% e DH = 60%), para cada tensão (TCc1 e TCc2), na fase fenológica R5¹
do feijoeiro comum, cultivar BRS Pontal.
(A) (B)

Fonte: Elaborado pelo próprio Autor (2019).

A massa seca total (MST) apresentou decréscimos de aproximadamente 17, 37 e


51% para a tensão de 0,01 MPa (TCc1), e de 23, 35, 49% para a tensão de 0,033 MPa
(TCc2) em plantas do feijoeiro comum, cultivar BRS Pontal, submetidas aos níveis de
20, 40 e 60% de déficit hídrico no solo, respectivamente, quando comparado com as
plantas não submetidas ao déficit hídrico (Figura 1-A).
Nota-se na Figura 1-B que a área foliar apresenta um decréscimo em função do
nível de déficit hídrico no solo. Nas plantas submetidas a umidade do solo na capacidade
de campo definida pela tensão de 0,001 MPa (TCc1) e aos níveis de 20, 40 e 60% de
déficit hídrico houve uma redução média de 26, 44, e 60% e nas plantas submetidas a
umidade do solo na capacidade de campo determinada pela tensão de 0,033 MPa (TCc2)
a redução foi de 9, 23 e 51% da área foliar, respectivamente, em relação às plantas não
submetidas ao déficit hídrico no solo.
O crescimento das plantas é influenciado negativamente pelo decréscimo da
disponibilidade de água no solo, como pode ser visto na Figura 1. Independentemente da
2021 Gepra Editora Barros et al.

tensão adotada para definir a umidade do solo na capacidade de campo, houve um


decréscimo das variáveis à medida que houve um aumento do nível de déficit hídrico no
solo. De acordo com os estudos realizados por Belachew et al. (2019) e Jacinto et al.
(2019) as plantas apresentam diversas respostas fisiológicas quando expostas ao déficit
hídrico, pelo fato de afetar seu desenvolvimento, por meio de alterações nos processos
fisiológicos e bioquímicos, tais como: fotossíntese, translocação de água, nutrientes e
fotoassimilados.
Na Tabela 5 observa-se respostas significativas (p<0,05) para o número de folíolos
por plantas e comprimento da haste principal do feijoeiro comum, na fase de pré-floração,
submetido a diferentes níveis de tensão utilizados para determinação da umidade do solo
817
na capacidade de campo. Na fase de pré-floração, as plantas de feijoeiro comum
apresentaram maiores valores médios de número de folíolos por plantas e comprimento
da haste principal na tensão de 0,010 MPa (TCc1), em relação às plantas submetidas a
tensão de 0,033 MPa (TCc2). Tendo em vista que na tensão de 0,010 MPa (TCc1) a
disponibilidade de água para planta é maior do que na tensão de 0,033 MPa (TCc2).

Tabela 5 - Valores médios obtidos para número de folíolos por planta (NFP) e comprimento da haste
principal (CHP), em função dos níveis de tensão considerados para umidade do solo na capacidade de
campo (TCc1 = 0,010 MPa e TCc2 = 0,033 MPa), na fase fenológica R5¹ do feijoeiro comum, cultivar
BRS Pontal
Tensão NFP CHP (m)
TCc1 42,4166 a* 0,9483 a
TCc2 40,5833 b 0,8850 b
¹ R5 – Pré-floração.
*Médias seguidas de mesma letra, minúscula nas colunas, não diferem significativamente entre
si pelo teste F (p<0,05).
Fonte: Elaborado pelo próprio Autor (2019).

Os resultados apresentados nas Tabelas 4 e 5, comprovam que menores tensões de


água no solo proporcionam melhores médias nas variáveis avaliadas (MST, AF, NFP,
CHP), assim como o déficit hídrico. Jadoski et al. (2015) ao analisarem a cultura do
feijoeiro em diferentes tensões de água no solo, verificaram que há uma diminuição nos
valores de condutância estomática decorrente do aumento da tensão hídrica no solo.
Observa-se na Figura 2 uma diminuição no número de folíolos por planta e no
comprimento da haste principal devido ao aumento do nível de déficit hídrico. Nota-se
que o modelo matemático com melhor ajuste para as variáveis número de folíolos por
planta e comprimento da haste principal foi o modelo linear, pois à medida que o nível
de déficit hídrico no solo aumenta os valores médios destas variáveis diminuem
linearmente.

Figura 2 - Número de folíolos por planta (A) e comprimento da haste principal (B) em função dos níveis
de déficit hídrico no solo níveis (DH = 0%, DH = 20%, DH = 40% e DH = 60%), fase fenológica R5¹ do
feijoeiro comum, cultivar BRS Pontal.
2021 Gepra Editora Barros et al.

(A) (B)

818

Fonte: Elaborado pelo próprio Autor (2019).

Os resultados obtidos corroboram com os resultados encontrados por Sani et al.


(2018), onde a área foliar do feijoeiro foi reduzida devido ao déficit hídrico, que pode ter
contribuído para obtenção de menores valores de massa seca total, pelo fato de que a
planta apresenta perda de turgescência quando exposta ao déficit hídrico, o que reduz a
expansão celular, e consequentemente afeta o número de folíolos por planta (NFP) e o
comprimento da haste principal (CHP).
De acordo com os resultados estimados, observa-se que para cada variação unitária
crescente do nível de déficit hídrico no solo ocorre uma redução da ordem de 2, 5 e 7%
para variável número de folíolos por planta (NFP) e de 4, 7, 11% para o comprimento da
haste principal (CHP), quando submetidas aos níveis de 20, 40 e 60% de déficit hídrico
no solo, respectivamente, em comparação com as plantas não submetidas ao déficit
hídrico (Figura 2). Segundo Oliveira et al. (2015) o déficit hídrico no solo também pode
interferir, pois a condutância estomática afeta as concentrações de vapor de água na folha
e no ar, e assim ocasiona uma menor eficiência fotossintética, que afeta o
desenvolvimento das plantas.
Nesse contexto, observa-se que as plantas manifestaram respostas morfológicas por
meio da diminuição nos valores médios de área foliar (AF), número de folíolos por planta
(NFP) e do comprimento da haste principal (CHP) (Figuras 1-B e 2), devido ao déficit
hídrico que as plantas foram expostas, o que resultou em uma diminuição do acúmulo de
biomassa, independente da tensão para determinar a capacidade de campo (Figura 1-A).
Tais resultados são explicados pelo fato de que o déficit hídrico ocasiona redução
em todas as variáveis em estudo, independentemente da tensão adotada para definir a
capacidade de campo. Diante a sua fluência direta sobre o desenvolvimento das plantas,
pelo fato de ocasionar uma redução do potencial hídrico foliar, porque a taxa de
assimilação de CO2 diminui e a temperatura foliar aumenta e os responsáveis pelos
acúmulos de fotoassimilados são afetados e consequentemente reduz a produção da
cultura do feijoeiro (TAIZ & ZEIGER, 2017).
2021 Gepra Editora Barros et al.

CONCLUSÕES

A cultivar BRS Pontal submetida ao déficit hídrico tem uma diminuição


significativa nos valores médios de massa seca total, área foliar, número de folíolos por
plantas e comprimento da haste principal independente da tensão considerada para
determinação da umidade do solo na capacidade de campo.
Na fase de Pré-floração, o feijoeiro comum submetido a umidade do solo na
capacidade de campo definida pela tensão de 0,010 MPa apresenta melhor
desenvolvimento vegetativo.

819
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Capítulo 74

ESTUDO DE CASO: EFEITO DA COBERTURA DO SOLO SOBRE


A INCIDÊNCIA DE MANCHAS FOLIARES NA CULTURA DO
TRIGO

NOGUEIRA, Paulo Henrique da Silva


Engenheiro Agrônomo
Faculdade do Centro do Paraná – UCP
paulo.nogueira@ucpparana.edu.br

LACONSKI, James Matheus Ossacz


Engenheiro Agrônomo 822
Faculdade do Centro do Paraná – UCP
james.laconski@ucpparana.edu.br

VUJANSKI, Rubens Felipe


Engenheiro Agrônomo
Faculdade do Centro do Paraná – UCP
vujanski.rubens@ucpparana.edu.br

SECCO, Daiane
Doscente do curso de Engenharia Agronômica
Faculdade do Centro do Paraná – UCP
prof_daianesecco@ucpparana.edu.br

RESUMO

O trigo (Triticum aestivum L.), é amplamente cultivado em vários países, no entanto esta
cultura é acometida por diversas doenças que afetam o seu desenvolvimento e prejudicam
o aumento de seus índices de produtividade. Dentre as doenças é possível destacar o
complexo de manchas foliares, sobresaindo-se a mancha amarela da folha, causada por
Drechsleratritici-repentis e a mancha marrom, causada por Bipolaris sorokiniana. As
sementes infectadas e os restos culturais constituem as principais fontes de inóculo
primário para os fungos causadores dessas manchas. Diante desta problemática, o estudo
teve por objetivo quantificar e comparar os efeitos da cobertura do solo sobre a incidência
de manchas foliares. Para tanto foi realizada uma pesquisa em três propriedades rurais
entre os meses de junho a novembro de 2020, localizadas no município de Pitanga-PR,
levando em consideração o fator cobertura do solo. Foram realizadas duas avaliações da
incidência das manchas foliares, nos estádios de emborrachamento e espigamento. As
manchas foliares foram avaliadas coletando-se de forma aleatória 50 plantas de cada área.
Diante da pesquisa, observou-se que a incidência de manchas foliares não ocorreu na fase
de emborrachamento, devido ao menor acumulado pluviométrico. Na fase de
espigamento a incidência foi mais elevada sobre a cobertura de soja. Portanto, o fator
cobertura de solo causa efeitos sobre a incidência das manchas foliares.

PALAVRAS-CHAVE: Triticum aestivum L., Doenças das Plantas, Rendimento.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

O trigo (Triticum aestivum L) é amplamente cultivado em vários países, constitui a


segunda cultura de grãos ao nível mundial de produção, sendo superado apenas pelo
milho. A importância desse grão se dá para a fabricação de farinhas e farelo para
alimentação humana e animal, auxiliando também na rotação de culturas em sistemas de
cultivo. Ainda traz melhorias nas condições físicas, biológicas e químicas do solo,
proporcionando melhores condições para o desenvolvimento das culturas sucessoras
(SILVA; PIRES, 2017).
Segundo dados da CONAB (2019), o Brasil possui uma área próxima a 59 milhões 823
de hectares cultivados, sendo 2 milhões de hectares cultivados de trigo, e uma produção
de 5,4 milhões de toneladas 2018/2019.
Com amplo cultivo na região Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, a produtividade
do trigo depende de fatores inconstantes principalmente o clima, para garantir o
rendimento esperado. Portanto, conhecer amplamente a cultura, suas exigências, técnicas
aplicadas ao controle de pragas e doenças é fundamental para que sejam alcançados bons
resultados produtivos (MAPA, 2015).
A busca por maior produtividade do trigo, tanto em quantidade quanto em
qualidade, faz com que essa cultura cada vez mais seja conduzida de maneira a aumentar
seu teto de rendimento. No entanto, a cultura do trigo encontra inúmeros fatores bióticos
e abióticos que a prejudicam. Dentre os fatores bióticos, destaca-se as doenças foliares
que danificam o seu desenvolvimento, comprometendo a produtividade e a qualidade dos
grãos (RANZI et al,. 2015).
Com relação às doenças foliares de maior importância, pelos danos que podem
causar na cultura do trigo destaca-se a mancha amarela causada por Drechsleratritici-
repentis Died. e a mancha marrom causada por Bipolaris sorokiniana (DOMINGUES et
al., 2020)
A mancha amarela do trigo é considerada a principal mancha foliar na região Sul
do país, tem ampla disseminação, sendo mais frequente e mais intensa nas lavouras em
que o trigo é cultivado em monocultura e em sistema de plantio direto (REIS; CASA,
2011).
Já a mancha marrom não é considerada um patógeno severo à cultura do trigo nas
regiões de baixa temperatura, porém o agente patogênico dessa doença esta associado à
semente de trigo. A mancha marrom produz lesão de centro pardo-escura e bordas
arredondadas e de tamanho indefinido (DOMINGUES et al., 2020).
Pode-se perceber, no entanto, que práticas culturais vem sendo adotadas para
minimizar a incidência de manchas foliares no trigo, com intuito de estabilizar o
rendimento de grãos. A rotação de culturas é uma dessas práticas culturais, que pela
diversificação de espécies, e a presença de resíduos vegetais na área, contribui para a
eliminação ou redução do inóculo de patógenos, possibilitando maior rendimento de
grãos de trigo (PRESTES; DOS SANTOS; REIS, 2002).
Diante disso, o presente trabalho abordará por meio de um estudo de caso, os efeitos
da cobertura do solo sobre a incidência de manchas foliares na cultura do trigo com o
objetivo de quantificar e comparar os efeitos da cobertura do solo sobre a incidência de
2021 Gepra Editora Barros et al.

manchas foliares e sobre o rendimento de grãos.

REFERENCIAL TEÓRICO
A CULTURA DO TRIGO

O trigo é uma gramínea de ciclo anual, pertencente ao gênero Triticum, onde seu
cultivo é realizado no inverno e primavera. Apresenta cerca de 30 espécies geneticamente
modificadas, onde apenas três são cultivadas com finalidade comercial: o T. aevestivum,
o T. turgidumdurume o T. compactum (REIS; CASA, 2005).
824
O trigo (Triticum aestivum L.) é um dos cereais mais produzidos mundialmente,
especialmente pela grande demanda de seus derivados, o mesmo está presente na
alimentação humana como farinha de biscoitos, pães, bolos dentre outros e na
alimentação animal onde é usado na foram de forragem, grão ou composição de ração
(SILVA; PIRES, 2017).
Segundo Conab (2017), a primeira menção ao trigo no estado do Paraná remonta a
1820, quando o naturalista francês Auguste Saint-Hilaire observou lavouras do cereal nos
arredores de Curitiba, mas a cultura era incipiente. A imigração europeia durante o século
19 incentivou o aumento da produção, mas ainda destinada apenas à subsistência, não
possibilitando a produção de excedentes significativos.
A cultura do trigo ainda foi pouco significativa no estado por algumas décadas,
período no qual o grande produtor nacional foi o estado do Rio Grande do Sul. A área
cultivada do cereal no Paraná concentrava-se quase inteiramente na região centro-sul,
caracterizada por temperaturas mais frias e clima úmido, cujo solo tinha alto índice de
alumínio tóxico, com a estatização do trigo na década de 60 o crédito rural e a oferta se
expandiu sendo subsidiado e incentivando a produção (CONAB, 2019).
Atualmente, no Brasil cultiva-se trigo nos estados de São Paulo, Minas Gerais,
Goiás, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Entre os cereais ocupa a segunda posição em produção em espécies vegetais, ficando atrás
apenas do milho. Segundo o levantamento sistemático da produção agrícola (LPSA) a
produção de trigo chegou a 5,5 milhoões de toneladas, sendo a região Sul do país a maior
produtora nacional (CONAB, 2019).
Dados fornecidos pelo CONAB (2019) explicam que o consumo de trigo no Brasil
é de aproximadamente 12,5 milhões de toneladas por ano. Assim, o Brasil não é
autossuficiente na produção, e ainda importa grande quantidade do cereal, sendo a
Argentina um dos nossos principais parceiros comerciais. Portanto, os dados mostram a
necessidade de expansão da área cultivada e o aumento da produtividade.
Uma das motivações pra continuar plantando trigo é pelos benefícios da rotação e
pelo fato de não deixar o solo descoberto no inverno. Com isso é de suma importância o
conhecimento das patologias que afetam a cultura, bem como seus diferentes métodos de
controle, tornam-se indispensáveis para uma produção permanente e de sucesso.
Atualmente há uma grande diversidade de pragas e doenças que vem causando prejuízos
à cultura, porém, ainda se tem um número reduzido de alternativas de controle dos
mesmos. O controle químico é um método eficaz no manejo de doenças foliares e na
2021 Gepra Editora Barros et al.

manutenção da sanidade da cultura quando realizado no momento certo de aplicação dos


fungicidas, possibilitando manter o potencial produtivo da cultura (SILVA et al., 2020,
BRUM; MULLER, 2008).
Portanto, a produtividade do trigo pode ser afetada por diversos fatores, dentre eles
pragas e doenças que quando não controladas de maneira adequada, podem debilitar a
planta e até mesmo levá-la à morte, dentre essas, em maior importância, estão às manchas
foliares (RANZI et al,. 2015).

COMPLEXO DE MANCHAS FOLIARES


825
As doenças foliares de maior importância, pelos danos que podem causar na cultura
do trigo no Brasil, são o oídio, manchas foliares, giberela, ferrugem da folha e do colmo
e brusone. As principais manchas foliares do trigo, no Sul do Brasil, são a mancha amarela
e a mancha marrom (CONAB, 2019).
A mancha amarela é causada pelo fungo Drechsleratritici-repentis (Died.) o fungo
apresenta conidióforos simples ou em grupos de 2- 3, emergentes pelo meio dos
estômatos ou entre células epidérmicas, retos ou flexuosos, cilíndricos ou ligeiramente
afilados no ápice e dilatados na base, hialinos e pardo claros, lisos normalmente medindo
até 250 µm de comprimento. A temperatura ótima para o desenvolvimento da doença vai
de 18 a 28°C, requerendo para a infecção, 30 horas de molhamento. Sobre as lesões são
produzidos conídios, que são disseminados pelo vento a curtas distâncias. A disseminação
do fungo a longa distâncias é realizada pela semente (REIS; CASA, 2005).
A mancha marrom causada por (Bipolaris sorokiniana Sacc.) também pode ser
comumente denominada de mancha borrada da folha, carvão do nó e ponta preta dos
grãos. Esta mancha é uma das doenças mais graves na cultura do trigo principalmente nas
regiões tropicais (ZHANG et al., 2020).
As contaminações ocorrem em todos os estágios de desenvolvimento da planta, mas
tornam-se mais severas por volta do estádio de crescimento EC 56 (três quartos da
inflorescência emergida) da escala de Zadoks, por causa das altas temperaturas que
predominam após este estágio. As condições ótimas para desenvolvimento desta doença
são temperatura que varia entre 25-30°C e alta umidade. A infecção ocorre com mais de
15 horas de molhamento foliar contínuo, com temperaturas superiores a 18°C e os
principais agentes de disseminação são as sementes, o vento e os respingos da chuva
(REIS et al., 2001).

MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado com base no acompanhamento de propriedades rurais entre
os meses de junho a novembro de 2020, localizadas na comunidade de Rio XV de Baixo
no município de Pitanga-PR. Três propriedades estando localizadas geodesicamente nas
coordenadas: propriedade A: latitude 24° 37’ S e longitude 51° 52’, propriedade B:
latitude 24º 37' S, longitude 51º 52' e propriedade C: latitude 24º 38' S, longitude 51º 51'
(GOOGLE EARTH - MAPAS, 2020) com produção de trigo, foram escolhidas levando
em consideração o fator cobertura do solo, sendo diferentes para cada área: Área A)
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cobertura de restos culturais de soja; Área B) cobertura de restos culturais de milho, e;


Área C) cobertura de restos culturais de feijão. As três propriedades realizaram o plantio
de aveia preta na safra de inverno do ano anterior. As características de cada área estão
descritas na (Tabela 1).

Tabela 1. Caracterização das áreas avaliadas.


Área Tamanho Cobertura Inverno Geolocalização
(ha) Anterior
A 10,4 Soja Aveia Preta latitude 24º 37' S, longitude 51º 52'
826
B 11,7 Milho Aveia Preta latitude 24º 37' S, longitude 51º 52'

C 15,2 Feijão Aveia Preta latitude 24º 38' S, longitude 51º 51'

Fonte: Google Earth Mapas (2020).

Em todas as áreas a cultivar utilizada foi a TBIO Sonic, a qual apresenta um ciclo
de desenvolvimento superprecoce, possui uma arquitetura consderada baixa, possuindo
um espigameto e maturação de suas espiguetas considerado precoces, é uma cultivar
moderadamente suscetivel a geadas na fase de desenvolvimento vegetativo (BIOTRIGO
GENÉTICA, 2018).
As três áreas avaliadas receberam 165 kg/ha de sementes, distribuidas em um
espaçamento de 17cm entre linhas e uma adubação de base com formulado 16-16-16 na
dose de 370kg/ha. A suplementação nitrogenada foi feita a lanço com a utilização de ureia
na quantidade de 300kg/ha, divididas em duas aplicações, sendo a primeira após 40 dias
da semeadura, administrando 60% e 20 dias após a primeira aplicação administrou-se a o
restante da adubação nitrogenada. Em relação aos tratamentos fitossanitários, foram feitas
quatro aplicações ao longo do ciclo.
As condições meteorológicas ao longo do desenvolvimento da cultura foi normal,
tendo uma menor concentração durante o emborrachamento, seguida de um aumento na
fase de espigamento, com acumulados médios de 40mm mensais nos meses de julho e
agosto, enquanto que em setembro os acumulados ultrapassaram os 100mm de
precipitação, coincidente com as fases de emborrachamento e espigamento
respectivamente, as quais foram utilizadas como base para avaliação do presente trabalho
(INMET, 2020).
Durante o desenvolvimento da cultura, foi realizado avaliações da incidência das
manchas foliares, Mancha Amarela (Drechsleratritici-repentis) e Mancha Marrom
(Bipolaris sorokiniana). As avaliações foram realizadas nos estádios de
emborrachamento e espigamento. As manchas foliares foram avaliadas coletando-se de
forma aleatória 50 plantas, posteriormente retiradas a folha bandeira e feita a contagem
de manchas e dividida pela quantidade de plantas para obter o número médio de manchas
por folha bandeira.
Os dados obtidos foram analisados através de estatística descritiva a qual
contabilizou uma média de manchas foliares em cada área avaliada coforme o
2021 Gepra Editora Barros et al.

contabilizado através das 50 folhas selecionadas ao acaso. Os mesmos foram tabulados


no programa Excel para a confecção dos gráficos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A escolha da avaliação das manchas foliares nos estádios de emborrachamento e
espigamento, justifica-se, pois segundo a literatura os sintomas das manchas foliares são
observados com maior frequência quando o trigo está nestes estádios, sendo visualizado
com maior facilidade após a ocorrência de condições climáticas favoráveis (MEHTA,
1993).
827
Conforme relatado por Santana et al. (2012) para ocorrência da doença são
necessárias condições favoráveis para o desenvolvimento dos patógenos, principalmente
condições climáticas. Na fase de emborrachamento a incidencia das doenças avaliadas foi
imperceptivel pelo baixo regime pluviométrico, o que se mostra contrario à fase de
espigamento que a incidência foi mais elevada, se sobressaindo sobre a área com
cobertura de soja apresentando uma média de 2,4 manchas marrons por folha e 15,3
manchas amarelas por folha, enquanto que na cobertura de palhada de milho foi de 1,6
manchas marrons e 12,15 manchas amarelas e na cobertura de palhada de feijão 3,1
manchas marrons e 13,4 manchas amarelas (Figura 1).

Figura 1. Números médios de manchas foliares em trigo em áreas com diferentes coberturas no periodo
de espigamento.

Fonte: Dos autores (2020).

Reis; Casa (2007) destacam que a mancha amarela da folha de trigo é considerada
a principal mancha foliar na região Sul do Brasil, pela mesma ter ampla dissiminação,
informação que corrobora com os resultados desse estudo. Segundo Bohatchuk (2008),
nota-se que a mancha amarela aparece em maior incidência quando há o plantio direto
com monocultura, havendo, portanto, a intensidade da doença. De acordo com Tonin
(2012) há outros fatores para a incidência da doença, como o fato do patogéno causador
2021 Gepra Editora Barros et al.

da mancha ser introduzido na lavoura através do uso de sementes infectadas e também a


presença em restos culturais infectados, como azevém e aveia, que podem ser as
principais fontes de inúculo primário para o próximo cultivo.
A área com cobertura de soja foi a que apresentou maiores valores da incidência
de doenças, principalmente em questão a mancha amarela e foi a área que obteve menor
rendimento do grão (Figura 1 e 2). Fatores como as condições ambientais, aliados a
suscetibilidade das cultivares e dependendo das práticas culturais, o trigo pode ter seu
rendimento prejudicado pelo ataque de doenças. E esses prejuízos no rendimento podem
ser maiores quando doenças ocorrem simultaneamente (TONIN, 2012). Autores relatam
em seus estudos que a redução na produtividade devido a incidência de manchas foliares
828
pode chegar a valores próximos a 50% (REES; PLATZ, 1983; BALARDIN, 2001).

Em relação a produtividade, a área com restos culturais de feijão foi a mais


produtiva, com 55,78 sacas por hectare, seguido da área com restos culturais de milho
com 51,65 sacas por hectares, e a área com restos culturais da soja foi a menos produtiva,
com 49,58 sacas por hectare (Figura 2).

Figura 2. Produtividade da cultivar de trigo TBIO Sonic em áreas com Tipos de Cobertura

57
55,78
56
55
Produtividade em sc/ha

54
53
52 51,65

51
50 49,58
49
48
47
46
Cobertura Soja Cobertura milho Cobertura feijão

Tipos de cobertura
Fonte: Dos autores (2020).

CONCLUSÕES

Com os dados obtidos foi constatado que a fase de emborrachamento não teve
incidência das machas avaliadas, devido as condições climáticas serem menos favoraveis,
já na fase de espigamento a incidência foi mais elevada sobre as folhas de trigo na área
com cobertura de soja em relação as demais áreas avaliadas. Portanto, concluímos que a
cobertura de solo causa efeitos sobre a incidência da mancha amarela e marrom na cultura
do trigo na região de Pitanga no centro do Paraná.
2021 Gepra Editora Barros et al.

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831
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 75

ESTUDO SENSORIAL E NUTRICIONAL DA MERENDA


ESCOLAR OFERTADA NA REDE PÚBLICA DE ENSINO DO
MUNICÍPIO DE CAMPO GRANDE – RN
DE SÁ, Ayla Dayane Ferreira
Pós-graduanda em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande de Norte (IFRN)
ayladayane@hotmail.com

MAIA, Keliane da Silva


Técnica de Laboratório 832
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande de Norte (IFRN)
kelianemaia@gmail.com

VIEIRA, Milena Sandja Ferreira


Discente
Universidade Potiguar (UnP)
m.sandja@hotmail.com

DO VALE, Maria Luiza Barbosa


Discente
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
maria.vale@estudante.ufcg.edu.br

FEITOZA, João Vitor Fonseca


Docente
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande de Norte (IFRN)
joaovitorlg95@hotmail.com

RESUMO

Os hábitos alimentares adquiridos durante a infância e adolescência podem influenciar


preferências e práticas na idade adulta e, consequentemente, também o estado nutricional.
Assim, é importante a inclusão da educação alimentar e nutricional no processo de ensino
e aprendizagem, inserida no próprio currículo escolar com enfoque no tema alimentação,
nutrição e desenvolvimento de práticas saudáveis de vida. O Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE), visa atender no mínimo 20% das necessidades nutricionais
diárias dos alunos durante sua permanência na escola. Diante disso, objetivou-se avaliar
a aceitação e a qualidade nutricional da alimentação escolar oferecida na rede pública de
ensino no município de Campo Grande - RN. As preparações apresentaram uma
aceitabilidade compatível ao padrão apropriado, contudo na qualidade nutricional, as
refeições não atenderam ao exigido. Assim, seria necessário fazer uma valorização da
qualidade nutricional para não interferir de modo negativo no aprendizado e nem
contribuir para evasão escolar.

PALAVRAS-CHAVE: Alimentação escolar, Composição centesimal, Ensino básico.

INTRODUÇÃO

O consumo alimentar e o quadro de sobrepeso e obesidade na população brasileira


foram modificados ao longo dos anos. O consumo alimentar desta população caracteriza-
2021 Gepra Editora Barros et al.

se pelo aumento de refrigerantes, frituras, embutidos e salgadinhos e diminuição no


consumo de frutas e hortaliças (VILLA et al., 2015). Esse tipo de alimentação reflete a
ingestão excessiva de gorduras saturadas, ácidos graxos trans, açúcares livres, bem como
a inadequação de macro e micronutrientes (SOUZA, 2016).
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), gerenciado pelo Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação, do Ministério da Educação (FNDE/MEC), é
referência mundial na área da alimentação escolar. Atende estudantes matriculados na
educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e na educação de jovens e adultos
(EJA) das escolas públicas e filantrópicas do país, tendo por base a perspectiva do direito
humano à alimentação. No decorrer do tempo, a concepção de merenda escolar passou
833
por uma transformação, até fins da década de 80, o PNAE funcionava de forma
centralizada no governo federal, fornecendo alimentos desidratados, que contrariavam os
hábitos alimentares do público-alvo. No contexto da promoção da alimentação saudável,
alguns eixos são prioritários, na qual são vinculados ao PNAE: ações de educação
alimentare nutricional; estímulo à produção de hortas escolares; estímulo à implantação
de boas práticas de manipulação de alimentos; restrição aocomércio e preparações com
altos teores de gordura saturada, gordura trans, açúcar livre e sal; incentivo ao consumo
de frutas, legumes e verduras e monitoramento da situação nutricional dos escolares
(FNDE, 2007).
A importância da alimentação para a criança em idade escolar reside no fato de ser
uma fase de crescimento lento, porém, constante, ao passo que, para o adolescente, ocorre
crescimento intenso. Em virtude dessas diferenças, as exigências nutricionais devem ser
atendidas em todos os parâmetros (energéticos, proteicos, lipídicos, vitamínicos, minerais
e de fibra). Muitas situações podem afetar o estado nutricional do escolar, com destaque
para ingestões inadequadas, pobreza, doenças nutricionais (Desnutrição, Diabetes e
Hipertensão), fatores psicossociais e modo de vida (JACOBSON, 1998).
A aceitação de um alimento pelo aluno é o principal fator para determinar a
qualidade do serviço prestado pelas escolas, no tocante ao fornecimento da merenda
escolar. Para averiguar a aceitação de determinadoalimento, a pesquisa de preferência e
aceitação da merenda escolar é um instrumento fundamental, pois é de fácil execução e
permite verificar a preferência média dos alimentos oferecidos (CALIL et al., 1999).
O planejamento do cardápio deve ser fundamentado para auxiliar no respeito às
diretrizes do PNAE (SOUSA et al., 2015). Sendo assim, o cardápio bem planejado e
executado pode auxiliar na formação de hábitos alimentares saudáveis. Existem métodos
que auxiliam na avaliação dos cardápios e dos gêneros alimentícios adquiridos para a
alimentação escolar, como forma de analisar as dimensões de qualidade nutricional,
sensorial e o cumprimento das regulamentações. Avaliar o cardápio é fundamental para
auxiliar na garantia da qualidade nutricional das preparações servidas no ambiente
escolar. No entanto, avaliar o cardápio isoladamente não garante a qualidade do alimento
ofertado, pois se torna necessário analisar os alimentos adquiridos, ou seja, as listas de
compras. Os cardápios e as listas de compras são documentos que devem demonstrar as
modificações da legislação sobre alimentação escolar, refletindo a qualidade nutricional
da alimentação proposta (MARTINELLI et al., 2014).
2021 Gepra Editora Barros et al.

A escola é um espaço que permite a construção do hábito alimentar saudável, para


tanto, deverá ofertar e facilitar o acesso a refeições que atendam às necessidades
nutricionais dos estudantes e incluir no currículo escolar temas relacionados à saúde. O
acesso facilitado a esses alimentos tem um reflexo positivo nas escolhas alimentares dos
estudantes (ABREU et al., 2009).
Nesse contexto da contribuição da alimentação e a segurança nutricional no
desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis na escola e fora dela, este estudo teve
como objetivo analisar a composição centesimal, calórica e sensorial da merenda nas
escolas públicas do município de Campo Grande - RN frente aos objetivos propostos pelo
PNAE.
834

MATERIAL E METÓDOS

Foi realizado um teste de aceitabilidade da merenda escolar nas quatro unidades de


ensino público do município de Campo Grande no estado do Rio Grande do Norte, pelo
método resto ingestão, descrito por Dutcosky (2007), que consiste, basicamente, em pesar
a refeição preparada antes e depois de servida. Os valores das pesagens são utilizados
para calcular o percentual de rejeição de acordo com a equação (1) obtendo-se o índice
de aceitabilidade de cada refeição. As escolas visitadas foram codificadas em A, B, C e
D com o intuito de preservar a imagem das instituições de ensino. Paralelamente, avaliou-
se o cardápio da semana, quanto ao conteúdo de macronutrientes e valor calórico. Para
isso foram coletadas cinco amostras da merenda de cada unidade escolar, uma para cada
dia da semana. As amostras das refeições foram acondicionadas em sacos plásticos,
armazenadas em embalagens térmicas e enviadas para o Laboratório de Nutrição Animal
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte – IFRN
Campus Apodi para seguir com os testes de avaliação nutricional.

Equação (1)

Percentual de rejeição: Peso da refeição rejeitada x 100


(Peso do alimento preparado – sobras)

A avaliação nutricional foi determinada pela composição centesimal das


preparações da merenda e usou-se os métodos analíticos do Instituto Adolfo Lutz (2008).
Foi determinado o teor de umidade por secagem em estufa a 105°C; conteúdo mineral
(cinzas) por incineração em mufla a 550°C; lipídios pelo método Folch; proteínas método
Kjeldahl e os carboidratos foram calculados por diferença, subtraindo-se de 100 os
valores encontrados para umidade, cinza, lipídio e proteínas.
As porções servidas na merenda das escolas em estudo foram observadas pelo
método de visualização de porções, utilizando os utensílios disponíveis no local (caneca,
colher de servir, escumadeira). Os dados foram anotados e posteriormente convertidos
em valores numéricos, por meio de Tabelas de Composição dos Alimentos e Medidas
caseiras (PACHECO, 2006), para posterior cálculo de valor calórico.
2021 Gepra Editora Barros et al.

O valor calórico das amostras foi determinado através da soma das calorias
fornecidas por carboidratos, lipídios e proteínas, multiplicando-se seus valores em gramas
pelos fatores de 4 kcal, 9 kcal e 4 kcal, respectivamente (RIBEIRO et al., 2003).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os cardápios oferecidos pelo PNAE devem ser planejados, de modo a atender, em


média, às necessidades nutricionais, de modo a suprir no mínimo, 20% (vinte por cento)
das necessidades nutricionais diárias dos alunos matriculados na educação básica, em
835
período parcial; no mínimo, 30% (trinta por cento) das necessidades nutricionais diárias
dos alunos matriculados em escolas localizadas em comunidades indígenas e em áreas
remanescentes de quilombos. Os alunos matriculados na educação básica, no período
parcial, quando ofertadas duas ou mais refeições, devem atender no mínimo, 30% (trinta
por cento) das necessidades nutricionais diárias; quando em período integral, no mínimo,
70% (setenta por cento) das necessidades nutricionais diárias dos alunos, incluindo as
localizadas em comunidades indígenas e em áreas remanescentes de quilombos (FNDE,
2003).
Os hábitos alimentares adquiridos durante a infância e adolescência podem
influenciar preferências e práticas na idade adulta e, consequentemente, também o estado
nutricional. Assim, uma importante inovação trazida pela Lei no 11.947/2009 é a inclusão
da educação alimentar e nutricional no processo de ensino e aprendizagem, inserida no
próprio currículo escolar com enfoque no tema alimentação, nutrição e desenvolvimento
de práticas saudáveis de vida, sob a ótica da segurança alimentar e nutricional. Com
efeito, o fato de a educação nutricional ser o meio mais concreto de orientação para o
aprendizado, adequação e incorporação de hábitos nutricionais adequados entre os
escolares é inquestionável. Estudos mostram que a correta formação dos hábitos
alimentares na infância favorece a saúde, permitindo o crescimento e o desenvolvimento
normal e prevenindo uma série de doenças crônico-degenerativas na idade adulta
(GANDRA, 2000).
Não há dúvida de que muitos hábitos alimentares são condicionados desde os
primeiros anos de vida, o que evidencia o importante papel da família e da equipe escolar
na alimentação e na educação nutricional das crianças, na medida em que possibilita a
oferta de uma aprendizagem formal a respeito do conhecimento da alimentação saudável
e adequada. (DOMENE, 2008).
Segundo a resolução nº 26, de 17 de junho de 2013 do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE) que dispõe sobre o atendimento a alimentação
escolar aos alunos da educação básica no âmbito do Programa Nacional de Alimentação
Escolar- PNAE (BRASIL, 2020) a merenda só é considerada aceita se apresentar índice
de aceitabilidade igual ou maior que 90% quando realizado teste de resto ingestão. Os
valores de aceitação e o cardápio semanal das escolas estão expressos na Tabela 1 e 2
respectivamente.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Tabela 1: Percentual de aceitação da merenda escolar em Campo Grande-RN


ESCOLAS ÍNDICE DE ACEITAÇÃO (%)
SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA
A 58.47 90.20 78.82 83.48 89.16

B 84.15 96.25 93.16 79.68 89.73

C 85.07 93.36 87.74 94.36 83.41

D 96.04 85.99 92.61 98.33 96.11

Nota-se que na escola A apenas a refeição da terça-feira (cuscuz com suco)


conseguiu atingir esse valor. Na escola B, os dias de terça-feira (suco com bolacha) e 836
quarta-feira (risoto de frango) ultrapassaram o valor referência de 90%.
Analisando a escola C, percebe-se que os dias de terça-feira (macarronada) e
quinta-feira (salada), são os dias em que a merenda possui uma boa aceitabilidade pelos
alunos apresentando valores superiores a 90% de aceitação. A escola D tem sua merenda
aceita em quase todos os dias da semana, com exceção para a terça-feira (sopa de costela)
que foi o único dia em que não atingiu 90% de aceitabilidade.
No geral, a merenda mostrou-se satisfatória quanto ao aspecto sensorial já que nos
dias em que a meta não foi atingida ela apresentou valores próximos ao valor de
referência, variando de 78% a 89% de aceitabilidade. O dia em quem a merenda teve o
seu pior índice foi na segunda-feira (sopa de carne) na escola A, apresentando apenas
58,47% de aceitabilidade.
Um estudo realizado com escolares matriculados na antiga 8ª série do ensino
fundamental da rede pública municipal da cidade do Rio de Janeiro verificou-se alto
consumo de alimentos não saudáveis, como doces, refrigerantes, frituras e salgados e
baixo consumo de frutas e hortaliças (CASTRO et al., 2008). Em outro estudo, avaliaram-
se práticas alimentares de adolescentes entre 10 e 17 anos de idade matriculados na rede
pública de ensino da cidade de Piracicaba (São Paulo), por meio de questionário de
frequência alimentar semiquantitativo, revelando que 83,8% apresentaram ingestão
energética e 36,7% de lipídios, acima das recomendações (CARMO et al., 2006).

Tabela 2: Cardápio semanal fornecido nas escolas do município de Campo Grande-RN.


ESCOLAS CARDÁPIO
SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA
A Sopa de carne Cuscuz com Risoto de Risoto de Macarronada
ovo frango frango de frango
B Sopa de carne Suco com Risoto de Sopa de Canja
bolacha frango carne
C Risoto de Macarronada Pão com ovo Salada de Canja
frango de carne frutas
D Bolacha com Sopa de costela Bolacha com Canja Bolacha com
suco suco suco
2021 Gepra Editora Barros et al.

A aceitação de um alimento pelo aluno é o principal fator para determinar a


qualidade do serviço prestado pelas escolas, no tocante ao fornecimento da merenda
escolar. A busca de uma maior aceitação e adesão dos alunos à alimentação oferecida na
escola deve partir da realização de diagnósticos sobre as suas preferências alimentares. A
qualidade e, consequentemente, a maior aceitabilidade do cardápio escolar depende da
obediência a critérios como hábitos alimentares, características nutricionais, aceitação,
custo, horário de distribuição e estrutura das cozinhas das unidades educacionais
(MARTINS et al., 2004).
Observando-se os critérios definidos pela FNDE em resoluções específicas
dispondo sobre a alimentação escolar a alunos atendidos pelo PNAE, sugere-se a
837
elaboração de cardápios com função de suprir as necessidades nutricionais de acordo com
a faixa etária, permanência na escola e número de refeições oferecidas, oferecendo
nutrientes e calorias adequadas.
A resolução do FNDE número 26/2013 define os valores do consumo dos
escolares (BRASIL, 2020). Dessa forma, os resultados encontrados durante o período de
análise da qualidade nutricional da alimentação escolar nas escolas do município de
Campo Grande - RN, demonstrou variação no valor energético e de macronutrientes,
como pode ser observado na Tabela 3. Em diferentes ocasiões, o cardápio avaliado não
supre as exigências em calorias, como é o caso das bolachas com suco.
A escola A e B que apresenta faixa etária de 4 a 10 anos e 4 a 14 anos,
respectivamente, atendem as exigências calóricas em apenas dois dias do cardápio
semanal, sendo esses na quinta (risoto de frango) e sexta (macarronada de frango) para a
escola A e as quintas (sopa de carne) e sextas (canja), para a escola B. Já a escola C com
alunos de 6 a 14 anos atende ao exigido em um dia na semana, nas terças feiras, com a
oferta de macarronada de carne. A escola D com idades de 15 a 18, é a que apresenta
situação mais crítica pois não atende as exigências em nenhum dia da semana.

Tabela 3: Composição centesimal do cardápio semanal das merendas escolares do município de Campo
Grande-RN.
Escola A – faixa etária de 4 a 10 anos
Composição Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Resolução
centesimal (%) 26/2013 do
FNDE*
Umidade 87,1 81,7 66,1 48,0 76,5 __
Cinzas 1,2 0,5 3,9 0,5 1,0 __
Lipídios 0,7 2,4 2,4 0,95 2,2 6,8g – 7,5
Proteínas 0,85 1,0 2,95 1,75 3,0 8,4g – 9,4g
Carboidratos 10,0 14,4 24,65 48,8 17,3 43,9g – 48,8g

Kcal por porção 258,35 166,4 229,8 358,3 404 270Kcal –


300Kcal
Escola B - faixa etária 4 a 14 anos
2021 Gepra Editora Barros et al.

Composição Segunda Terça Quarta Quinta Sexta


centesimal (%)
Umidade 88,2 81,3 72,55 88,0 86,2 __
Cinzas 0,7 0,1 0,2 0,3 0,3 __
Lipídios 1,15 1,35 1,8 0,6 1,3 6,8g – 10,9g
Proteínas 1,25 0,45 3,55 0,5 4,35 8,4g – 13,6g
Carboidratos 6,67 17,3 22,6 11,4 7,9 43,9g – 70,7g
Kcal por porção 219,2 135,7 205,7 276,3 315,6 270Kcal –
435Kcal
Escola C - faixa etária 6 a 14 anos
838
Composição Segunda- Terça- Quarta- Quinta- Sexta-feira
centesimal (%) feira feira feira feira
Umidade 76,65 74,8 76,35 55,8 91,3 __
Cinzas 0,8 0,4 0,45 1,2 2,1 __
Lipídios 1,08 2,05 1,27 0,29 1,1 6,8g – 10,9g
Proteínas 1,97 3,35 0,55 0,35 0,5 8,4g – 13,6g
Carboidratos 19,49 19,19 21,37 42,36 5,0 43,9g – 70,7g
Kcal por porção 162,4 437,6 99,11 260,1 165,5 270Kcal –
435Kcal
Escola D – faixa etária 15 a 18 anos
Composição Segunda- Terça- Quarta- Quinta- Sexta-feira
centesimal (%) feira feira feira feira
Umidade 85,8 88,3 81,3 79,0 87,65 __
Cinzas 0,1 0,7 0,2 0,5 0,1 __
Lipídios 0,25 0,55 2,15 0.9 0,9 10,9g – 12,5g
Proteínas 0,4 1,05 0,5 1,9 0,85 13,6g – 15,6g
Carboidratos 13,45 9,4 15,85 17,7 10,5 70,7g – 81,3g
Kcal por porção 118,2 243,1 173,7 449,9 109,7 435Kcal –
500Kcal
Fonte: BRASIL, 2020.

Segundo Assis et al. (2000), o consumo de alimentos ricos em vitamina A,


complexo B, minerais, cálcio, ferro e zinco é inadequado para todas as faixas etárias.
Assim como as necessidades de cálcio para a mineralização adequada e a manutenção do
crescimento ósseo, a vitamina D é necessária para absorção do cálcio, da proteína e do
fósforo. As crianças com idade entre 2 e 8 anos precisam de duas a quatro vezes mais
cálcio por quilograma.
Os minerais e as vitaminas são essenciais para o crescimento e o desenvolvimento
normal de uma criança. A ingestão insuficiente desses elementos pode resultar em atraso
de crescimento e em doenças como o raquitismo, anemia, infecções, depressão, entre
outras. As crianças em idade pré-escolar e escolar estão sob o alto risco de anemia por
deficiência em ferro (FLAVIO et al., 2004).
2021 Gepra Editora Barros et al.

O leite e seus derivados, por serem fontes primárias de cálcio, as crianças que não
consomem nenhuma quantidade ou consomem quantidades limitadas desses alimentos
estão em risco de deficiência de cálcio quando adultos (KRAUSE, 1998), suscetíveis ao
desenvolvimento da osteoporose, entre outras doenças quando adultas. Um conjunto de
fatores que interagem entre si para contribuir com a saúde e o desenvolvimento da criança,
e a alimentação têm um papel fundamental no seu processo.
Estabelecendo-se um comparativo entre a recomendação do PNAE e os resultados
obtidos nas avaliações realizadas nas escolas (Tabela 3), constata-se as inadequações
referentes as quantidades de macro nutrientes em relação as exigências estabelecidas por
lei, em todas as escolas, demonstrando que não há pelo cardápio original (Tabela 2),
839
distinção de elaboração para as diferentes faixas etárias. Logo, no que se refere aos
nutrientes estudados, as refeições reuniram quantidades que se mostraram insuficientes a
atender 20% das necessidades nutricionais, como preconiza o FNDE/PNAE.

CONCLUSÃO

Os estudos demonstraram que há uma deficiência energética e uma negligência


nutricional na dieta escolar dos alunos. As preparações de alimentação escolar oferecidas
não atenderam às metas propostas pelo PNAE no que se refere ao valor calórico e
macronutrientes. Pesquisas direcionadas aos hábitos alimentares da população,
contribuem para a formação de um consumo consciente e saudável na escola,
evidenciando a relevância de um cardápio bem planejado.
Apesar de possuir boa aceitação pelos alunos, a merenda não está balanceada
podendo causar danos à saúde dos alunos da escola, contribuindo para o sobrepeso e
obesidade. Levando em conta a necessidade nutricional que a alimentação escolar deve
fornecer aos alunos, seria necessário fazer uma valorização da qualidade nutricional para
não interferir de modo negativo no aprendizado e na evasão escolar.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 76

ESTÁGIO DE VIVÊNCIA E PRÁTICAS AGROECOLÓGICAS NA


UNIDADE DE PESQUISA DE PRODUÇÃO ORGÂNICA – UPPO
OU ‘‘FAZENDINHA ORGÂNICA” DA EMBRAPA
BARBOSA, Audrey Ferreira
Mestranda em Solos e Qualidade dos Ecossistemas
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
audreybarbosa@hotmail.com

SILVA, Janildes de Jesus da


Doutoranda em Ciência do Solo 842
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
janildesdejesus@hotmail.com

ANJOS, Ângela Santos de Jesus Cavalcante dos


Tecnologia em Agroecologia
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
angelasjca@hotmail.com

SANTOS, Fábio Pulgas dos


Tecnologia em Agroecologia
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
fabinhosantos777@gmail.com

QUINTELA, Matheus Pires


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
matheus.quintela@gmail.com

RESUMO

A vivência é de fundamental importância para a formação dos Tecnólogos em


Agroecologia, pois através, deste implica conhecimento mais amplo do que aquele posto
em sala de aula. O objetivo deste trabalho é vivenciar as atividades de rotina da
fazendinha orgânica na Unidade de Pesquisa de Produção Orgânica da Embrapa no
município de Cruz das Almas, Bahia. A vivência e práticas agroecológicas foram
realizados na Unidade de Pesquisa de Produção Orgânica – UPPO, que possui
aproximadamente dois hectares e está localizada na área experimental da Embrapa
Mandioca e Fruticultura, no Município de Cruz das Almas, BA. Durante o estágio de
vivência foram feitas várias atividades, sempre com as orientações dos técnicos,
explicando como seria o funcionamento das atividades realizadas na área experimental.
As práticas desenvolvidas na vivência agroecológica, nos possibilitou um aprimoramento
do conhecimento adquirido em sala de aula, possibilitando assim uma melhor preparação
para solucionar situações que encontrará em sua profissão.

PALAVRAS-CHAVE: Agroecologia; Agricultura; Formação profissional.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

O estágio de vivência é o momento onde os estudantes vão vivenciar a realidade


da produção agroecológica observar e colocar em práticas os conhecimentos adquiridos
em sala de aulas, buscando uma troca de conhecimentos científicos e populares. Para
Souza et al (2009) esse estágio foi criado para atender as necessidades dos estudantes de
vivenciar a realidade de vida dos agricultores familiares e de sistemas de produção
orgânica, ou seja, consiste em uma etapa no método de aprendizagem, onde vão ser
contraídos novos ensinamentos de um mundo real, possibilitando um crescimento pessoal 843
e profissional dos futuros educadores. De acordo com Lima et al (2008) a conquista do
conhecimento não se dá unicamente por meio das atividades acadêmicas e sim através
das relações sociais.
O estagio de vivência surgiu na década de 70, por meio de ações de estudantes do
curso de Agronomia que estavam insatisfeitos com o modelo imposto pela Instituição de
ensino que era voltada apenas para atender as demandas do agronegócio e preocupados
com os profissionais que estavam surgindo. Esses estudantes sentiram-se a necessidade
de conhecer a realidade e demandas dos agricultores familiares que são os principais
responsáveis por abastecerem a sociedade. A partir dai surgiu a FEAB - (Federação dos
Estudantes de Agronomia do Brasil) que visava aproximar os discentes a realidade social
e econômico dos agricultores familiares. O primeiro estágio de vivência foi realizado o
final da década de 80, na região de Dourados – Mato Grosso do Sul em uma área de
assentamentos da Reforma Agrária (SANTANA et al.,2014).
Atualmente é relevante a importância econômica, social e ambiental da agricultura
familiar no meio rural sendo considerada à base da produção agroecológica. Segundo
Padovan et al (2011) o conhecimento tradicional do pequeno agricultor é essencial para
sustentar os princípios agroecológicos.
A agricultura familiar priorizar a diversificação da produção conforme os
princípios embasados na produção agroecológica que busca o desenvolvimento
sustentável através da produção de alimentos saudáveis, preocupando-se com o meio
ambiente e a qualidade de vida da sociedade, sendo uma alternativa eficaz para reduzir
os impactos sociais e ambientais ocasionados pelas contaminações do uso intensivo de
agrotóxicos (MOREIRA et al., 2002, SILVA et al., 2012).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Contudo, vivenciando e compreendendo a realidade das famílias agricultoras, no


que diz respeito ao seu modo de vida e de cultivo, sua lógica organizativa, econômica e
política, suas limitações e potenciais, sonhos e agonias.
O mercado de trabalho está cada vez mais competitivo, o profissional precisa estar
preparado para encarar essa realidade, se aperfeiçoando constantemente. Pois nem sempre
os conhecimentos adquiridos em sala de aula são suficientes para a formação técnica do
profissional, por isso é necessário experiências práticas externas a universidades.
A agroecologia consiste numa técnica de manejo e uso do solo que objetiva 844
produzir de maneira sustentável, sem agredir o meio ambiente, considerando as lavouras
como ecossistemas, onde as interações ecológicas devem ser respeitadas
(CAMPANHOLA E VALARINI, 2001). Agroecologia é uma ciência fundamentada
segundo os princípios ecológicos voltados para um desenvolvimento rural sustentável por
meio da conservação dos recursos naturais e tecnologias adequadas ao pequeno
agricultor, proporcionando um sistema de produção ambientalmente correto, socialmente
justo e economicamente viável. E a agroecologia visa integrar os conhecimentos
tradicionais do pequeno agricultor com os científicos para diversificar a produção e
entender as relações existentes entre eles (ALTIERI, 2003).
A agricultura familiar é uma forma de produção em que predomina a interação
entre gestão e trabalho. São os agricultores familiares que dirigem o processo produtivo
na propriedade, dando ênfase na diversificação da produção com a utilização do trabalho
familiar, considera-se a agricultura familiar uma forma de produção importante por sua
função ambiental, econômica e social. A forma de utilização da terra pode ter efeitos
benéficos ou danosos ao meio ambiente. Sob o aspecto econômico, a agricultura familiar
atua como meio de sobrevivência das famílias, em relação ao aspecto social ela pode
garantir a melhoria na qualidade de vida das pessoas (CHIARELLO, et al. 2008).
A agricultura orgânica visa à promoção da qualidade de vida como a proteção do
meio ambiente, através das produções de alimentos saudáveis, é também conhecida como
agricultura natural, alternativa ou ecológica, baseia-se na produção de alimentos livres de
agrotóxicos e no uso mínimo de insumos externos (CAMPANHOLA E VALARINI,
2001; LUCCHESI, 2005; BORGUINI E TORRES, 2006). Conforme Londres (2011) a
Agroecologia reforça a proposta da produção de alimentos mais saudáveis, visto que nesta
prática não é utilizado nenhum insumo químico. O objetivo deste trabalho é vivenciar as
atividades de rotina da fazendinha orgânica na Unidade de Pesquisa de Produção
Orgânica da Embrapa no município de Cruz das Almas, Bahia.
2021 Gepra Editora Barros et al.

MATERIAL E MÉTODOS

A vivência e práticas agroecológicas foi realizado na Unidade de Pesquisa de


Produção Orgânica – UPPO, conhecida como “Fazendinha Orgânica”, que possui
aproximadamente dois hectares e está localizada na área experimental da Embrapa
Mandioca e Fruticultura, no Município de Cruz das Almas, BA. A região possui um clima
do tipo Am úmido a subúmido, com temperatura média de 24,1 C, precipitação média
anual de 1.170mm e umidade relativa do ar de 80% (ALMEILDA,1999). 845
A prática ocorreu entre os meses de novembro de 2015 a janeiro de 2016, com os
discentes do curso de Tecnologia em Agroecologia da Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia – UFRB. Os discentes foram supervisionados pela coordenação,
pelos técnicos, pelos estudantes de agronomia e bolsistas IC da Fapesb, que estavam
presentes em uma das atividades executadas durante o período da vivência.
Existe uma diversidade de culturas na área experimental como maracujá,
mandioca, citros (laranja, limão), banana, acerola, abacaxi e manga que são
acompanhadas pelos técnicos e estagiários, sendo que cada cultura tem um responsável
para realizar as práticas e as avaliações.
As variedades do maracujá existentes na fazendinha orgânica são: BRS Gigante
Amarelo, BRS Rubi do Cerrado e Perola do cerrado. E os cultivos das bananeiras são
divididos em blocos, e as variedades existentes na área são Platanum (tipo terra), Prata
Anã, BRS Platina, Galil – 18 (PA 94-01), BRS, Princesa, Pacovan, BRS Japira, BRS
Preciosa, BRS Vitória. Foram acompanhadas atividades como controle de pragas via
armadilhas, acompanhamento da produção e revolvimento do composto orgânico, manejo
da cultura do maracujá e manejo da cultura da banana.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante o estágio de vivência foram feitas várias atividades no estágio sempre


com as orientações dos técnicos, funcionários e dos estagiários quando estavam presentes
nas atividades desenvolvidas, explicaram como seria o funcionamento das atividades
realizadas na área experimental.
As variedades do maracujá existentes na fazendinha orgânica são: BRS Gigante
Amarelo, BRS Rubi do Cerrado e Perola do cerrado. E os cultivos das bananeiras são
divididos em blocos, e as variedades existentes na área são Platanum (tipo terra), Prata
2021 Gepra Editora Barros et al.

Anã, BRS Platina, Galil – 18 (PA 94-01), BRS, Princesa, Pacovan, BRS Japira, BRS
Preciosa, BRS Vitória. Foi realizado o monitoramento e condução do maracujá quase
todos os dias da vivência. O maracujazeiro por se tratar de uma planta trepadeira,
necessita de suporte para proporcionar uma boa distribuição dos ramos e garantir maior
produção de frutos, por isso é necessário fazer esse tutoramento e condução. Ambas as
atividades executadas, foi possível vivenciar algumas práticas agroecológicas como o
controle biológico de pragas, manejo do solo, variedades resistentes a pragas e doenças,
produção de composto orgânico, compostagem laminar, cercas vivas, quebra vento e 846
cobertura viva do solo.
Na identificação das plantas mortas, foi feito um levantamento dessas plantas
distribuídas por covas, fileiras e covas enumeradas para facilitar no replantio do maracujá.
Em volta do replantio foram colocadas brachiaria para proteção, por ser uma gramínea
vigorosa que tem como características capacidade de cobertura rápida do solo e a
resistência de pragas como formiga cortadeira entre outras. Também ele é rico em
carbono, por isso é de difícil decomposição.
A montagem do composto foi feito em novembro de 2015 por estagiários e
técnicos. A compostagem é uma técnica muito fácil de manejar, reduz o descarte de
resíduos sólidos, reduz a emissões de gases que causam efeito estufa, além de ser de baixo
custo financeiro. A compostagem é uma técnica viável para o produtor pois é de baixo
custo e fácil implantação, constitui-se de um processo biológico aeróbio e controlado,
onde os resíduos orgânicos de origem animal ou vegetal são transformados em resíduos
estabilizados e mineralizados na forma ideal e disponível para absorção da planta
(BIDONE, 2001).
Consiste em observar a relação Carbono/Nitrogênio da matéria prima escolhida,
realizado processo em local adequado de acordo com a fermentação, controlar a umidade,
aeração, temperatura e demais fatores.
O composto foi preparado em camadas, utilizando os materiais disponíveis na área
experimental, onde na primeira camada foram utilizados os seguintes materiais palhada,
gliricídia, esterco bovino e cama de frango. Sendo que na segunda camada tudo da
primeira, incluindo o esterco de cabra e a terceira camada tudo da primeira camada. E
como fonte de nitrogênio utilizou-se folhas de Gliricidia sepium que é uma leguminosa
rica em nitrogênio, e como fonte de carbono utilizou-se a palhada como cobertura vegetal,
o esterco bovino como inoculante, cama de frango adubo orgânico que pode ser utilizado
para a preparação do composto.
2021 Gepra Editora Barros et al.

O uso de adubos orgânicos como esterco bovino curtido é uma prática muito
utilizada nos sistemas agrícolas de produção tanto no agroecológico como no tradicional,
e o esterco bovino proporciona um fornecimento de nutrientes para as plantas além de
melhorar o conteúdo de matéria orgânica (GLIESSMAN, 2011).
A broca do rizoma que popularmente é conhecida como o moleque da bananeira
(Cosmopolotes sordidus) é a principal praga dos bananais que causa sérios prejuízos ao
cultivo. Sendo que a variedade Platanum conhecida como banana da terra é a mais
susceptível ao ataque da praga (LINS et al., 2013). 847
O manejo da broca do rizoma é realizado utilizando as iscas atrativas do tipo
“telha” que são feitas com porções do pseudocaule da bananeira cortado em forma se uma
telha e colocado virado para baixo em contato com o solo ou resíduos vegetais. Realizou-
se a coleta dos moleques nas bananeiras com a finalidade de controlar e quantificar a
incidência da praga.
Esse controle foi realizado contatando as quantidades de insetos que tinha na isca
anotava e passava para o estagiário o total dos moleques e as armadilhas só contam
quando troca, e o moleque da bananeira tem hábito noturno e durante o dia quase não se
locomove.
O método utilizado para irrigação tanto das culturas da banana (Musa spp) como
do maracujá (Passiflora sp) é pelo sistema de irrigação por gotejamento, onde a água é
levada sob pressão por tubos, até ser aplicada no solo em alta frequência e baixa
intensidade. Por isso é importante estarmos monitorando para ver se há algo errado no
gotejamento, que muitas vezes acontece de não está ajustando-se água em determinada
cultura, por conta do bloqueio no sistema de condução, da passagem da água, entretanto
influenciando assim no desenvolvimento da planta.

CONCLUSÕES

Através do conhecimento foi possível compreender a forma como técnicos e


funcionários se relacionam com cada cultura, permitindo um entendimento e discussão
com os discentes a respeito dos procedimentos adotados pela Unidade de Pesquisa de
Produção Orgânica - UPPO. Outro fator que foi percebido durante a vivência é que as
práticas vegetativas não estão sendo suficientes para proteger os cultivos, pois existem
espaços vazios nas barreiras físicas podendo acarretar em futuras contaminações. E essas
2021 Gepra Editora Barros et al.

práticas vegetativas tem a finalidade de proteger o cultivo contra a deriva de agrotóxicos,


ventos e insetos que podem ser fontes de infecção de pragas e doenças.
Entretanto, as práticas desenvolvidas na área agroecológica, nos possibilitou um
aprimoramento do conhecimento adquirido em sala de aula, possibilitando assim uma
melhor preparação para solucionar situações que encontrará em sua profissão.

REFERÊNCIAS
848
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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 77

EXPERIÊNCIAS AGROECOLÓGICAS NA COMUNIDADE


TOURÃO NO MUNICÍPIO DE MONSENHOR TABOSA-CE,
BRASIL
BARBOSA, Rodolfo dos Santos
Graduando em Agronomia
Universidade Federal de Campina Grande
rodolfobar2011bar.rb@gmail.com

FERREIRA, Kaiki Nogueira


Graduando em Agronomia
Universidade Federal de Campina Grande 850
kaicknf95@gmail.com

LIMA, Francileide do Nascimento


Graduando em Agronomia
Universidade Federal de Campina Grande
francileide.lima.1@gmail.com

NOGUEIRA, Antonio Elizeneudo Peixoto


Graduando em Agronomia
Universidade Federal de Campina Grande
elyzyneudo@gmail.com

RESUMO

Agroecologia é um campo de conhecimentos, de natureza multidisciplinar, que tem como


objetivo contribuir na construção de estilos de agricultura com bases agroecológicas,
desenvolvendo estratégias para o desenvolvimento rural de forma sustentável. O presente
trabalho tem como objetivo relatar a experiência de agroecologia que acontece na
comunidade Tourão, localizada no município de Monsenhor Tabosa – CE, E mostrar
como a adoção de um sistema agroecológico traz benéficos organizacionais, de produção
e bem viver. Para o desenvolvimento do trabalho foram realizadas entrevistas com as
famílias da comunidade, com o presidente da associação, além de participação nos
eventos que a comunidade organiza e nas atividades que são desenvolvidas, assim
entendendo o dia-a-dia daquelas pessoas. A união dos agricultores da comunidade Tourão
em forma de associação em que o pensamento agroecológico e unificado fortaleceu a
aceitação deste estilo de vida, promovendo assim uma maior difusão das práticas
agroecológicas. A união dos agricultores da comunidade Tourão em forma de associação
em que o pensamento agroecológico é unificado fortaleceu a aceitação deste estilo de
vida, promovendo assim uma maior difusão das práticas agroecológicas. As atividades
em conjunto e individuais seguindo os princípios agroecológicos, obteve um expressivo
aumento de produção, os princípios empregados na comunidade auxiliam muito a
convivência com o semiárido, assim, foi possível o aumento de sua produção. O
fortalecimento da agroecologia na região da comunidade, garante a produção e a
segurança alimentar das famílias, produzindo seu alimento e gerando sua renda de forma
que preserve a biodiversidade e convivendo com o semiárido.

PALAVRAS-CHAVE: Sustentabilidade, Agricultura Familiar, Bem Viver


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

Agroecologia é entendida como um campo de conhecimentos, de natureza


multidisciplinar, que pretende contribuir na construção de estilos de agricultura de bases
ecológicas e na elaboração de estratégias de desenvolvimento rural, tendo como
referências os ideais da sustentabilidade numa perspectiva multidimensional de longo
prazo (CAPORAL et al. 2011).
De acordo com o relatório de Brundtland (1987), a sustentabilidade ou
desenvolvimento sustentável é aquela que atende às necessidades do presente sem
comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem as suas próprias
necessidades. Assim, as práticas agroecológicas têm por objetivo alcançar a 851
sustentabilidade dos ecossistemas e agroecossistemas, uma vez que seus manejos não
configuram prejuízos ao meio ambiente, pois são livres da utilização de agrotóxicos,
fertilizantes e agroquímicos em geral.
Diferentemente dos sistemas agroecológicos, o agronegócio utiliza técnicas a base
de agrotóxicos e fertilizantes químicos que ocasionam desequilíbrios ambientais. Já a
agricultura ecológica se baseia em estratégias de diversificação, tais como policulturas,
rotações de cultura, cultivos de cobertura e integração animal, para melhorar a
produtividade, e garantir a saúde do agroecossistema (PENTEADO, 2000).
A agroecologia pode ser considerada um “estilo de vida” em muitas comunidades
do semiárido brasileiro que buscam o bem viver3 (ALCANTARA; SAMPAIO, 2017).
Essas comunidades veem na agroecologia não só uma forma de alimentação saudável,
mas também uma alternativa de convivência com a seca, fenômeno presente na região e
que nos últimos anos vem se intensificando. Portando, adotar técnicas de convivência
com a seca é crucial para quem reside no semiárido.
As comunidades rurais buscam se organizarem através de associações, modelo que
atende as suas necessidades, pois o associativismo é uma organização sem fins lucrativos,
uma maneira de organização permanente e democrática pelo qual um grupo de indivíduos
ou entidades procura realizar determinadas necessidades, sendo essas necessidades
políticas, sociais, educacionais e defesa de interesse de classe (CARDOSO et al, 2014).
A organização dos pequenos agricultores em associações sejam elas para fins de
produção, comercialização ou de serviços, ou qualquer outra atividade que possa ser
realizada em conjunto, em pequenas unidades de produção constitui-se uma das formas
mais viáveis de sustentação, possibilitando aos produtores além da sobrevivência almejar
um modo de produção (SOUZA, 2016).
Entre as diversas atividades trabalhadas por meio de associativismo rural está a
caprinovinocultura, pois a criação de caprinos e ovinos tem sido uma alternativa de
alimentação para boa parte dos brasileiros, principalmente para os nordestinos. Além da

3
O bem viver, diferente do viver bem, está longe de estar ligado com o consumismo que o capitalismo
prega, também não está ligado apenas em necessidades biológicas e culturais, busca dispor medidas
educacionais, políticas, sociais e materiais para os indivíduos, sendo essas medidas, garantidas de forma
ética, além disso garantido o desejo pela liberdade pessoal, não negando a liberdade pública.
2021 Gepra Editora Barros et al.

carne e do leite, o couro ou a lã têm permitido também a obtenção de uma renda extra
para os pequenos criadores (ELOY et al, 2007).
O fortalecimento de associações e cooperativas de criadores, um dos caminhos para
a melhoria do setor caprinovinocultor, que passam a suprir necessidades individuais a
partir das diferenças coletivas e proporcionam, ou devem proporcionar, dessa forma, a
implementação da melhoria produtiva dos associados, já que a interdependência e a ação
organizacional reduzem a dependência por recursos individuais e ampliam a dependência
dos recursos coletivos (KUNZLLER; BULGACOV, 2011).
Uma outra atividade que ganha destaque é a produção de hortaliças em sistema
orgânico que cresce a cada dia, principalmente pela necessidade de proteger a saúde dos
852
produtores e consumidores, como também de preservar o meio ambiente, entre outros
fatores. Esse sistema de produção é usado, principalmente, por agricultores familiares,
por se encaixar bem às condições das pequenas propriedades, pela diversidade de
produtos que podem ser cultivados na mesma área, pelo fato de se utilizar um menor
capital e um bom aproveitamento da mão de obra familiar e menor uso de recursos
externos (SEDIYAMA et al, 2014).
Nesse sentido, o trabalho tem como objetivo relatar a experiência de agroecologia
que acontece na comunidade Tourão, localizado no município de Monsenhor Tabosa –
CE. E mostrar como a adoção de um sistema agroecológico traz benéficos
organizacionais, de produção e bem viver.

DESENVOLVIMENTO

A comunidade Tourão está localizada nas seguintes coordenadas geográficas


4°58'00"S 40°07'23"W, a 30 km de distância da sede do município de Monsenhor Tabosa
– CE, o município está localizado na microrregião do Inhamuns Crateús, ela engloba 20
municípios. Esta microrregião é uma das mais secas do estado, por este motivo a produção
animal e vegetal é muito difícil.
Segundo Rodrigues (2016), o município de Monsenhor Tabosa tem uma média
pluviométrica em torno de 600 mm, devido ao clima da região ser o semiárido as chuvas
não são distribuídas igualmente durante todo o ano e sim de forma sazonal nos primeiros
meses do ano.
No desenvolvimento do trabalho foram realizadas visitas a comunidade, entrevista
com as famílias que ali residem e com o presidente da associação, além de participação
nos eventos que a comunidade organiza e nas atividades que são desenvolvidas, o que
possibilitou o entendendo do dia-a-dia daquelas pessoas.
A comunidade começou a se organiza e planejar para a fundação de uma associação
em meados de 2005 e foi concretizado a criação da associação em 2006, assim a
comunidade decidiu colocar o nome da associação e homenagear um dos primeiros
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moradores da mesma e uma das pessoas que mais contribuiu para o desenvolvimento da
comunidade no início de tudo, sendo então nomeada associação comunitária Pedro Alves
Cardoso.
A partir da implantação da associação na comunidade começou-se a realizar
algumas atividades em conjunto, assim no ano seguinte da implantação em 2007, depois
de verem as famílias da comunidade buscando novos conhecimentos chegou então o
Instituto de Desenvolvimento da Economia Familiar (IDEF), um instituto de assessoria
técnica que em parceria com o Projeto Dom Helder Câmera (PDHC), trouxeram novas 853
tecnologias e conhecimentos para as famílias da comunidade.
A partir daí com a assessoria do IDEF e com a força de vontade das famílias, o local
onde não se tinha esperança de produção e que não tinha produção orgânica ou
agroecológica, viu nessa alternativa uma forma de saída para poder conviver com a seca,
então iniciou-se as capacitações e as visitas em locais que já produziam
agroecológicamente e a partir de visitas em locais como estes e capacitações como a de
aproveitamento do leite caprino, manejos ideais de caprinos e de armazenamento de água
e forragem a comunidade que antes não tinha muita produção foi começando a realizar
os primeiros passos em busca da agroecologia e de sua soberania.
Umas de suas primeiras atividades após a implantação da associação e ao chegar o
IDEF foi a criação de uma horta agroecológica comunitária, onde as maiorias dos manejos
é realizado pelo grupo de mulheres, porém os homens também ajudam, mas a maior parte
do trabalho é realizado por elas. Simultaneamente a criação da horta surgiu a construção
do minhocário que serve para a produção de húmus para colocar como adubação nas
fruteiras e hortaliças. Os manejos contra os insetos que se alimentam das plantas são
realizados, não só na horta, como em toda a comunidade de forma agroecológica usando
bioprotetores, como por exemplo a calda de NIM (Azadirachta indica), calda bordalesa,
calda de fumo, biofertilizantes, etc., (PAES, 2015).
Desde então a comunidade ainda visita outras atividades para obter novos
conhecimentos e técnicas que podem ser utilizadas e que se adequam a realidade da
comunidade, pois buscar conhecimento nunca é demais e isso as famílias que residem
nessa localidade sabem muito bem. Mas além de buscar novas técnicas em outras
comunidades que já trabalham a agroecologia a bastante tempo, hoje e desde que iniciou
esse trabalho com agroecologia, comunidades que também buscam a agroecologia e
querem iniciar uma produção agroecológica procuram ver como é a realidade e o trabalho
das famílias que fazem parte da comunidade Tourão.
2021 Gepra Editora Barros et al.

A divulgação das técnicas e manejos agroecológicos assim como a forma de


organização da comunidade de Tourão acontece por meio de dias de campo aberto ao
público, principalmente a comunidades rurais, a organização do evento assim como a
apresentação dos resultados obtidos e forma de trabalho da comunidade é realizado pela
instituição (IDEF) e pelos próprios integrantes da comunidade. A visitação é realizada
nos diversos setores de produção e beneficiamento dos produtos agroecológicos. Como
ilustrado nas imagens abaixo:

854
Figura 1. Dia de campo com visita de comunidades para o repasse dos conhecimentos e práticas
agroecológicas na horta.

Fonte: arquivo pessoal do autor (2019).

Figura 2. Dia de campo para o repasse de conhecimento sobre a produção de caprinocultura para
comunidades que vão começar a criação de caprinos.

Fonte: arquivo pessoal do autor (2019).

Depois da horticultura veio a criação de caprinos também através do IDEF com o


PDHC, o qual foram responsáveis por conseguir um projeto sem fundo, onde os
associados, o presidente da associação e o IDEF escolhiam por votação quem se
enquadrava nos critérios para receber os caprinos, foram escolhidas 10 famílias da
comunidade para receber cada uma 10 matriz e um reprodutor para duas famílias. A partir
2021 Gepra Editora Barros et al.

desse projeto e de todas as capacitações que as famílias haviam participado e viram que
a criação de animais de grande porte (bovino) não é adaptada para a região semiárida,
então depois desse incentivo e vontade da comunidade diminuiu drasticamente a criação
de bovinos e intensificaram a criação de caprinos, logo hoje na comunidade há cerca de
20 famílias com a criação de caprinos e ovinos, além de ser uma quantidade considerável
de criadores, cada criador cria em média 50 matrizes.
A chegada dos caprinos trouxe consigo uma preocupação e surgiu a seguinte
dúvida: como criar caprinos respeitando os princípios da agroecologia? Bom, veja bem,
respeitar os princípios agroecológico não é criar um caprino completamente
agroecológico, porque os caprinos e ovinos são animais que contém muitos patógenos,
855
não seria possível produzi-los de forma totalmente agroecológica, mas respeitando os
princípios e buscando se aproximar o máximo possível de produzir um caprino de forma
agroecológica.
Buscando esse objetivo as famílias procuraram novos conhecimentos sobre o
assunto e aceitaram o desafio, assim para o controle de alguns parasitas como endo e
ectoparasitas é utilizado a folha do NIM (Azadirachta indica) junto com o sal que é
fornecido ao rebanho (PAIVA; NEVES, 2009). Além de combater é realizado
prevenções, como a limpeza dos apriscos duas vezes por semana e a desinfecção por
vassoura de fogo (maçarico) uma vez por mês para a retirada de alguns microrganismos
que podem acometer alguma doença aos animais, como é o caso da linfadenite caseosa
(mal-do-caroço), pododermatite (frieira), verminose, também existe nas instalações
pedilúvios com cal virgem para evitar a entrada de microrganismos de outros locais e
também serve para evitar a frieira, é realizado o método famacha, que consiste na
observação da pálpebra do animal para ver o estado anêmico do animal, caso ele esteja
anêmico aplica-se algum medicamento a base de ferro, como por exemplo ferrodex e
Nutrifer e se necessário aplica-se o vermífugo, esse método é utilizado para evitar o
máximo uso de medicamento e para evitar que o patógeno fique resistente ao
medicamento, já que antes desse método era realizado a vermifugação a cada 3 meses, o
método famacha é indicado por Rosalinski-Moraes et al. (2012). Todos esses manejos
também são realizados nos ovinos devido suas doenças e patógenos serem bem parecidas,
o sistema de criação dos caprinos e ovinos é o semi-intensivo, sendo que os reprodutores
da maior parte dos criadores são criados no sistema intensivo para que não tem gasto de
energia e afete a reprodução.
Cada criador de caprino e ovino tem uma área de suporte forrageiro em sua
propriedade para fornecer a alimentação para os seus animais, essa área possui diversas
plantas forrageiras como por exemplo: a leucena (Leucaena leucocephala), gliricídia
(Gliricídia sepium), feijão guandú (Cajanus cajan), capim elefante (Pennisetum
purpureum), capim brachiarea (Brachiaria decumbens), sorgo (Sorghum bicolor), milho
(Zea Mays), cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) entre outras forrageiras, além de
utilizarem plantas nativas como, a catingueira (Caesalpinia pyramidalis). Essas plantas
podem ser utilizadas no lugar de alguns produtos na alimentação dos animais, como as
leguminosas citadas podem substituir a soja, devido essas leguminosas terem um alto teor
de proteína bruta (PB).
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Os manejos realizados nos suporte forrageiros são: a aplicação de bioprotetores


(calda de NIM, calda bordalesa, calda de fumo), que são basicamente os mesmos
utilizados na horta, é utilizado caso aconteça o aparecimento de alguma praga e também
é utilizado algumas vezes como prevenção, esses são preparados pelos próprios
agricultores, é realizado podas, roços, quando há o aparecimento de plantas daninhas e o
restante de cultura é deixado no solo para que ocorra a incorporação do mesmo no solo e
seja utilizado como adubo, é realizado a cobertura morta e cobertura verde, tanto para
evitar a perda de água por evaporação, como também para favorecer a ciclagem dos
nutrientes que foram extraídos daquele solo. Também realizado o coroamento para que
evite a perda de água que é colocada nas plantas, a irrigação da maior parte é pelo sistema
856
de gotejamento.
Além do suporte forrageiro também é realizado a prática de armazenamento de
forragem pelos métodos de ensilagem, como também o feno. A silagem é feita de sorgo,
milho, cana-de-açúcar e capim elefante cada criador tem no mínimo 5 silos de capacidade
cada tem de 1.900 kg de silagem, não é o bastante e nem está perto do objetivos deles ser
só essa quantidade de silagem, porém alguns já tem mais silos e os outros que não tem,
tentam suprir a necessidade de forragem armazenada com os fenos e vem dando certo,
além de ser uma ótima técnica de convivência com o semiárido, armazenar e ter um
suporte forrageiro, no qual o manejo é realizado agroecológicamente, lhe oferece uma
segurança alimentar, pois você sabe que o animal que você está consumindo não
consumiu nenhum produto que tem resíduo químico e nenhum produto que foi utilizado
agrotóxico para sua produção. Os fenos são feitos das pastagens nativas, como da jitirana
(Ipomoea cairica), maniçoba (Manihot pseudoglaziovii) e mata-pasto (Senna
obtusifolia). Essas práticas de armazenamento de forragem são muito eficientes devido
no período de escassez não ter a disponibilidade da pastagem nativa, então a forragem
armazenada serve como complemento na alimentação.
Figura 3. Processo de ensilagem e fornecimento de silagem para os reprodutores caprinos.

Fonte: arquivo pessoal do autor (2019).

Depois da chegada da caprinocultura na comunidade viu-se a necessidade de um


local para a o beneficiamento do leite caprino e a comunidade novamente com o IDEF e
o PDHC buscaram, lutaram e conseguiram uma minifábrica de beneficiamento do leite
caprino, essa minifábrica também veio para quebrar um paradigma que a sociedade e a
região onde se localiza a comunidade tem, que é o preconceito que a maioria das pessoas
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tem com derivados do leite caprino, devido o odor que a criação for mal manejada ela vai
oferecer para o leite. Mas com achegada da minifábrica novamente as famílias foram em
busca de novos aprendizados e em busca de cursos para aprimorarem seus conhecimentos
e assim fazerem derivados do leite caprino, porém apenas as mulheres realizam essa
atividade de beneficiamento do leite, mesmo muitos homens tendo participado das
capacitações.
Os derivados que são produzidos na comunidade são iogurte, bebida láctea, doces
de leite (barra e pastoso) e queijos, tudo isso sendo produzido pelo grupo de mulheres.
Todos da comunidade participam de todas as atividades realizadas na comunidade, mas
há as atividades que um grupo realiza mais intensamente que o outro.
857

Figura 4. Produção e embalagem dos derivados do leite caprino.

Fonte: Arquivo pessoal do autor (2019).

Com todas essas atividades a comunidade viu a necessidade de disseminar sua


realidade e seus conhecimentos e para isso iniciou a sua participação em feiras
agroecológicas e de agricultura familiar locais, municipais, regionais e estaduais e em
todas mostrando destaque em suas produções, tanto na comercialização de caprinos,
ovinos e seus derivados, quanto tendo destaque em concursos como desfile de raças e
concursos leiteiros de caprinos.
Hoje a comunidade além de participar de feiras fora da comunidade, a própria
comunidade realiza sua feira local, desde o ano de 2011, tendo a participação de todos os
criadores e todas as famílias da comunidade e também a participação de criadores,
artesãos, horticultores orgânicos de toda a região, disseminando as suas tecnologias e
conhecimentos.
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Figura 5. Feira local na comunidade Tourão.

858

Fonte: arquivo pessoal do autor (2019).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A agroecologia que para muitos é tida apenas como um projeto alternativo,


articulado e incentivado por organizações que contestam o atual modelo de agricultura
convencional, é essencial que seja aceita pelos produtores na forma de uma realidade
legítima e coerente. É necessário que ocorra um choque no curso normal dos
acontecimentos para seu reconhecimento, que suscite em uma revisão das crenças
anteriores. Contudo a simples tomada de consciência por parte do agricultor não é
suficiente para manter essa realidade. Faz-se necessário para fortalecimento do ideal a
participação de grupo ou organização que permita ao agricultor reconhecer a agroecologia
como socialmente válida, como uma realidade alcançável (BAUER; MESQUITA, 2008).
A união dos agricultores da comunidade Tourão em forma de associação em que o
pensamento agroecológico e unificado fortaleceu a aceitação deste estilo de vida,
promovendo assim uma maior difusão das práticas agroecológicas. A adoção destas
práticas proporcionou a comunidade de Tourão melhorias socioeconômicas, pois além de
os integrantes da comunidade terem se organizado por meio da associação, corretamente
regularizados e com força para reivindicar seus direitos, os integrantes mesmo sendo
agricultores familiares passaram a obter renda através dos trabalhos realizados em suas
terras mesmo em um clima tão severo quanto semiárido.
Por meio da associação conseguiu-se solucionar um dos maiores problemas no meio
rural e principalmente quando se trata de pequenos produtores que trabalham de forma
individual não tendo poder de barganha principalmente devido ao baixo volume de oferta
de seus produtos para o mercado. Então foi criado a minifábrica que garantia a compra
do leite de cabra dos agricultores e pagando preço justo. O que propiciou uma melhor
questão econômica para as famílias da comunidade, para divulgar os produtos
agroecológicos de origem animal e vegetal e ampliar a comercialização, a associação com
apoio do IDEF criaram a feira da agricultura familiar e agroecológica, outros meios de
comercialização é o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional
de Alimentação Escolar (PNAE).
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O beneficiamento dos produtos como a produção do doce de leite, queijo e bebidas


lácteas de cabra, agregou valor ao produto melhorando o faturamento, abrindo as portas
para novos mercados e que também por meio da associação facilita a entrada do produto
no comercio.
Em geral a comunidade se mostrou a frente de outras que não adotam o sistema
agroecológico, tanto em organização, em produção e preservação, porém a continuidade
de práticas extensionistas e a busca pelos conhecimentos e novas tecnologias dos
envolvidos na área se fazem necessária, pois garante que novas técnicas agroecológicas
cheguem à comunidade, acompanhamento e manutenção das práticas já existentes além
de manter os produtores capacitados.
859
Pode-se observar que devido a organização por meio da associação a comunidade
se destaca de outras por ser mais politizada, com menos preconceito, menos machismo e
que luta por seus direitos, incluindo todos os integrantes da comunidade em grupos de
jovens, grupos de mulheres, sendo que os membros da associação também compõem os
grupos citados e cada membro, seja individual ou coletivamente realizam atividades
agroecológicas, desde criação de pequenos animais, baseando-se de princípios
agroecológicos, ou atividades como, beneficiamento de frutas, de leites, produção de
hortaliças, entre outras atividades.

CONCLUSÕES

A comunidade Tourão com as atividades em conjunto e individuais seguindo os


princípios agroecológicos, obteve um expressivo aumento de produção, os princípios
empregados na comunidade auxiliam muito a convivência com o semiárido, assim,
aprendendo a conviver com o clima, foi possível o aumento de sua produção. A forma de
organização em associação também ajudou muito pra que os objetivos e o bem comum
de todos sejam realizados, buscando conhecimento e novas tecnologias para todos da
comunidade.
O fortalecimento da agroecologia na região da comunidade, na qual a mesma foi
uma das pioneiras, garante a produção e a segurança alimentar das famílias, produzindo
seu alimento e gerando sua renda de forma que preserve a biodiversidade e convivendo
com o semiárido.

REFERÊNCIAS

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Desenvolvimento: o nosso futuro comum. Universidade de Oxford. Nova Iorque, v. 4,
n. 1, p. 17-25, 1987.

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ou novo paradigma para o desenvolvimento rural sustentável. In CAPORAL, F. R;
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ELOY, A. M. X.; COSTA, A. L.; CAVALCANTE, A. C. R.; SILVA, E. R.; SOUSA, F.


B.; SILVA, F. L. R.; ALVES, F. S. F.; VIEIRA, L. S.; PINHEIRO, R. R. Criação de
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conclusão de curso (Graduação em Geografia) - Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, Caicó, 2016.

861
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 78

FERTILIZANTE ORGANOMINERAL NO DESENVOLVIMENTO


DE MUDAS DE MELÃO

SILVA, Bruna de Jesus


Graduada em Agronomia
Fundação Presidente Antônio Carlos de Uberlândia – UNIPAC
brunajs@outlook.com.br

RESUMO
862
O melão é uma olerícola consumida como fruta, muito importante no cenário nacional e
mundial, apesar de sua produção ser mais direcionada ao mercado interno. A produção de
mudas é uma etapa importante do sistema de produção, pois influencia o desenvolvimento,
o ciclo, a qualidade e a quantidade a ser produzida. Dentre as práticas de manejo, o uso de
produtos organominerais líquidos ainda é recente. Diante disso, objetivou-se avaliar a
influência de diferentes dosagens do fertilizante foliar organomineral LANNOITE® no
desenvolvimento de mudas de melão. Realizou-se o experimento em condições de
ambiente protegido em Uberlândia-MG. No experimento foi utilizado a cultivar melão
Eldorado 300, avaliando-se quatro dosagens do fertilizante (0,50; 0,75 e 1 mL) mais um
tratamento testemunha, sem aplicação de produto. Em relação ao produto nos parâmetros
de comprimento da raiz, massa verde total e massa seca total a dosagem de LANNOITE®
mostrou melhor resultado na dosagem de 1 mL para: massa seca e massa vede. E em
comprimento de raiz não teve bons resultados em nenhuma das doses.

PALAVRAS-CHAVE: Adubação, Cucumis melo L, Nutrição.

INTRODUÇÃO

A fruticultura é uma dos principais ramos de importância agrícola para o


agronegócio brasileiro. Cultivada nas mais diversas condições edafoclimáticas, a produção
de frutas conquistou resultados expressivos, sendo fonte geradora de emprego, renda e
oportunidades para os produtores de todo o país (COSTA et al., 2019).
O melão encontra-se frequentemente entre as olericolas e frutos mais exportados
pelo Brasil. A região Nordeste é a principal produtora de melão, contribuindo com mais de
90% da produção nacional (SEBRAE, 2017). A produção de melão ocupa cerca de 20 mil
hectares no país, dos quais 90% divididos entre Ceará (5 mil hectares) e Rio Grande do
Norte (13 mil hectares) (ABRAFRUTAS, 2019).
Os melões são geralmente classificados como inodoros ou aromáticos. Os inodoros
possuem a casca lisa com uma coloração amarela ou verde escura, sua polpa possui uma
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coloração entre a branca e a verde-clara. São mais resistentes que os aromáticos


(ALMEIDA et al., 2017).
O melão é tradicionalmente plantado por semeadura direta, aumentando
significativamente os custos de produção, principalmente quando se utiliza sementes
híbridas, tornando muitas vezes o processo mais oneroso em comparação ao uso de mudas.
O método de transplante direto com produção de mudas em recipientes, constitui-se em
uma alternativa para a redução dos custos com sementes, uma vez que apresenta maior
economia de sementes (OLIVEIRA et, al., 2020). 863
A produção em larga escala de mudas de boa qualidade tem motivado os produtores
a adotarem técnicas mais modernas, procurando obter mudas de melhor qualidade. A alta
qualidade da muda é essencial, uma vez que a condição inicial da planta afeta o pegamento
das mudas no campo, a produção precoce e a produção total (OLIVEIRA et al., 2016).
Consequentemente, a alta eficiência produtiva só é possível com o investimento,
principalmente em novas tecnologias de produção. Todavia, a atividade de produção de
mudas de cucurbitáceas ainda é um tema pouco explorado, o que torna indispensável novos
estudos (COSTA et al., 2019). O estudo por novos produtos que possam melhorar a
qualidade e acelerar o crescimento das plântulas são de grande relevância (MIRANDA et
al., 2019).
De acordo com Malavolta (2014), a produtividade do meloeiro depende do
equilíbrio nutricional durante todo o ciclo da planta, sendo necessário que cada nutriente
esteja disponível em quantidades e proporções adequadas (ZEBALOS, 2017).
Uma das linhas de estudo voltadas para a nutrição de hortaliças considera o uso de
compostos orgânicos como fontes de nutrientes para esse tipo de cultura. Dentre as fontes
de adubação estão os fertilizantes organominerais, os quais se caracterizam pela mistura de
uma fonte de matéria orgânica a um fertilizante mineral. A utilização da adubação
organomineral é considerada uma das alternativas para propiciar maior rendimento das
culturas e melhor qualidade da produção (OLIVEIRA, 2016).
Na produção de mudas, a utilização de fertilizantes, estimulantes e outras formas
de nutrição auxiliam no desenvolvimento de mudas vigorosas. A utilização destes no início
do ciclo da planta pode ser essencial, pois é um dos momentos mais importantes do ciclo
(MIRANDA et al., 2019).
De acordo com Mocellin (2004), a aplicação de fertilizante foliar é o mais efetivo
sistema para fornecer micronutrientes ou pequenas quantidades de nutrientes, como
suplementos de nutrientes essenciais, podendo corrigir deficiências, aumentar a velocidade
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e a qualidade de crescimento, o que, é o objetivo principal no uso de fertilizantes.


(ALMEIDA et al., 2017).
O principal motivo na adição de nutrientes minerais aos fertilizantes orgânicos é
diminuir a taxa de mineralização, fixação e lixiviação dos nutrientes. Além disso, esses
fertilizantes orgânicos têm o inconveniente de não apresentar proporções fixas e definidas
de NPK, ao contrário das fórmulas comerciais de fertilizantes minerais, em que a
composição pode ser balanceada de acordo com a planta e o solo (OLIEVEIRA et al.,
2016). A forma líquida de fertilizantes organominerais enquadra-se nas categorias de 864
ativantes biológicos, estimulantes e reguladores de crescimento, fontes de nutrientes
minerais de baixa concentração, condicionadores e agentes umectantes (OLIVEIRA 2016).
Esse tipo de produto é relativamente novo e ainda pouco estudado, do mesmo modo
que a sua utilização em culturas olerícolas. Assim, não existem, ainda, vastas informações
sobre o modo de ação desses produtos e seus efeitos.
Conforme esse contexto o objetivo deste trabalho foi avaliar a aplicação de doses
de fertilizante organomineral, via foliar, no desenvolvimento de mudas de Melão Eldorado.

MATERIAL E MÉTODOS.
O experimento foi conduzido no município de Uberlândia, Minas Gerais, situado a
18º 57’ 10” Sul e 4º 14’ 58” Oeste e 800m de altitude. O clima da região, de acordo com a
Köppen e Geiger (1948) é classificado como Aw, com temperatura média anua de 21,5 °C
e pluviosidade média de 1479 mm anuais.
O experimento foi implantando no dia 01 de maio de 2020, com avaliação aos 30
DAS (dias após a semeadura). A semeadura foi realizada utilizando-se sementes de melão
Eldorado 300, em bandejas com 100 células e substrato Bioplant plus, a base de
(vermiculita, turfa de sphagnum, casca de arroz, calcário, fibra de coco e casca de pinus).
Foi semeada uma semente por célula, com profundidade de 3 cm. As bandejas ficaram a
uma altura de 1 m do chão, com materiais de sombrite, mantendo-os protegidos. A irrigação
foi realizada todo fim de tarde, utilizando-se regador manual.
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado (DIC) com quatro
tratamentos e cinco repetições, totalizando 20 parcelas. Foram utilizadas doses do
fertilizante organomineral Lannoite ®, assim dispostas: T1-0; T2 -0,50 mL; T3-0,75 mL e;
T4-1 mL. O produto foi diluído em proporção de 1:1 (em um litro de água foi colocado
1ml de produto) e aplicado com borrifador. Segundo consta no catálogo do fabricante
Sinergia, o Lannoite® é um fertilizante organomineral misto, que possui em sua
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composição aminoácidos e regulador hormonal que contém 4% de nitrogênio (N), 0,1% de


ferro (Fe), 0,2% de manganês (Mn), 17% de carbono (C), 0,1% de cobre (Cu), 4% de boro
(B), 0,1% de molibdênio (Mo), 0,005% de níquel (Ni), 0,3% de zinco (Zn), 5% de extrato
de algas, 5% de poliflavonoides, 3% de compostos salicílicos, 5% de ácidos fúlvicos e 50%
de aminoácidos.

A primeira aplicação foi feita sete dias após a semeadura a segunda aplicação foi
feita 17 dias após a semeadura e a terceira aplicação 25 dias após a semeadura. Aos 30 dias 865
após a semeadura (DAS) foram avaliados: comprimento da raiz (CR), número de folhas
(NF), massa verde total (MFT) e massa seca total (MST), conforme descrição a seguir.
- Comprimento da raiz (CR) – As raízes das mudas foram medidas com o auxílio
de uma régua graduada em milímetros e os resultados expressos em cm;
- Número de folhas (NF) – Contagem manual das folhas das mudas das parcelas;
- Massa verde total (MFT) – Foi realizada a pesagem em balança de precisão e os
resultados expressos em grama;
- Massa seca total (MST) – As mudas foram acondicionadas em sacos de papel e
secas em estufa de ventilação forçada a 65°C, onde permaneceram até atingir peso
constante, às 72 horas. A pesagem do material seco foi realizada em balança com precisão
e os resultados expressos em grama;
Os dados obtidos foram submetidos a análises estatísticas utilizando-se o programa
SISVAR (FERREIRA, 2014), onde os resultados para o fator quantitativo foram
submetidos à análise de regressão polinomial (VIEIRA, 2008), testando-se os modelos
lineares e quadráticos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para os parâmetros de comprimento da raiz (CR), massa verde total (MFT) e massa
seca total (MST), houve diferenças significativas (p<0,05), em função das doses aplicadas
(Figuras 1, 2 e 3). Contudo, não foram observadas diferenças significativas (p>0,05)
quando ao número de folhas (NF) das mudas de melão. De acordo com Miranda (2019), a
utilização de fertilizante com presença de hormônios vegetais, também não apresentou
diferença significativa em função das doses utilizadas e, relatou ainda, que a adição de
hormônios vegetais presentes no extrato, nas concentrações utilizadas, podem ter causado
efeito fitotóxico, deixando assim de serem promotoras de desenvolvimento.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Gráfico 1: Comprimento de raiz (cm) de mudas de meloeiro, em função de diferentes doses do


fertilizante.
5,0

4,5
Comprimento de raiz (cm)

4,0

3,5

3,0 y = -3.9847x2 + 2.6288x + 4.4443 866


R² = 96,96%
2,5

2,0
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00
Doses (mL L-1)

Pela análise da regressão (Figura 1), observa-se que a curva para o comprimento de
raiz, em função das doses aplicadas, ajustou-se a um modelo quadrático. Assim, com o
aumento das doses do fertilizante, houve um aumento no comprimento das raízes, até a
dose de 0,33 mL L-1, com a qual foi observado o maior comprimento das raízes, de 4,88
cm. A partir daí, houve um decréscimo nos comprimento das raízes com o aumento das
doses, em que observou o menor comprimento, de 3,02 cm, com a aplicação de 1,0 mL L-
1
.
Em experimentos conduzidos por Beckett e van Staden (1989) e por Papenfus et al.
(2013), com quiabo e trigo respectivamente, foi observado maior incremento de raízes com
a aplicação de produto à base extrato de algas nas plantas, corroborando com os resultados
obtidos neste trabalho.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Gráfico 2: Massa verde total (g) de mudas de meloeiro, em função de diferentes doses do
fertilizante.

Massa de matéria verde total (g)


19,5
y = 20.351x2 - 17.293x + 16.177
18,0 R² = 80,38%

16,5

15,0

13,5
867
12,0
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00
Doses (mL L-1)

Pela análise de regressão (Figura 2), observa-se que os dados de MVT em função
das doses aplicadas ajustou-se a um modelo quadrático. Assim, nota-se um decréscim no
incremento da MVT com o aumento das doses, até a dose de 0,43 mL L-1, com a qual a
MVT foi de 12,50 g e se atingiu a menor produção de MVT do experimento. A partir deste
ponto, com o aumento das doses, houve um aumento na MVT, até a dose de 1,00 mL L-1,
onde a produção de MVT foi de 19,92 g.
Os resultados encontrados por Miranda (2019) diferem dos encontrados presente
trabalho de pesquisa, em que os autores verificam que não ocorreu diferença significativa
em MVT nas mudas de maracujazeiro, com a aplicação do fertilizante. Segundo o autor,
valores menores de MVT e MST indicam que a muda não teve bom desenvolvimento.
Ainda segundo ele, esse pouco desenvolvimento pode prejudicar a adaptação das mudas
após o plantio em local definitivo.
Em relação à MST, observa-se pela análise de regressão (Figura 3), que a curva
para a MST em função das doses aplicadas ajustou-se a um modelo quadrático, havendo
um decréscimo para na produção de MST com o aumento das doses, até a dose de 0,41 mL
L-1, com a qual a MVT foi de 0,69 g, sendo observada o menor incremento de MST do
experimento. A partir dessa dose, a curva apresentou crescimento na produção de MST,
atingindo o teor máximo na dose de 1,00 mL L-1 (1,15 g). Galindo et al. (2019) menciona
que alguns trabalhos mostram que os bioestimulantes podem não favorecer ou até mesmo
diminuir a absorção de nutrientes pelas plantas, indicando que as respostas às suas
aplicações dependem de outros fatores, tais como a espécie a planta e a composição das
substâncias húmicas presentes nos produtos usados, sendo necessárias mais informações
2021 Gepra Editora Barros et al.

sobre o verdadeiro efeito desses produtos no desenvolvimento das plantas de MST, em


plantas de milho, contrastando com os resultados no presente estudo.

Gráfico 3: Massa de matéria seca total (g) de mudas de meloeiro, em função de diferentes doses do
fertilizante.

Massa de matéria seca total 1,2


1,1 y = 1.265x2 - 1.0437x + 0.902
1,0 R² = 90,04%
868
0,9
(g)

0,8
0,7
0,6
0,00 0,25 0,50 0,75 1,00

Doses (mL L-1)

Com os resultados obtidos (Figuras 1, 2 e 3), observa-se que o fertilizante


organomineral utilizado mostra-se promissor para o aumento da eficiência nutricional e
agronômica da cultura do melão. No entanto, há a necessidade de maiores investigações a
respeito do uso de fertilizantes organominerais na cultura do meloeiro, devido à escassez
de trabalhos nesta linha de pesquisa na literatura atualmente.

Tabela 1: Resumo da análise de variância (Quadro médio) comprimento da raiz, número de folhas, massa
verde e massa seca na produção de mudas de melão.
Rótulos de Média de Média Média de Soma de
Linha CompRaiz de NFolhas MST MFT
0,00 4,465575547 2 0,892228148 79,74942716
0,50 4,63508216 2,2 0,755249014 69,91681268
0,75 4,344526032 2,6 0,752382286 64,17649714
1,00 3,024707996 2,2 1,152729811 99,58938717
Total Geral 4,117472934 2,25 0,888147315 313,4321241

CONCLUSÃO
A aplicação do fertilizante organomineral na cultura do melão não altera o
número de folhas mas altera o comprimento de raiz e a produção de massa verde e massa
seca total das mudas, mostrando-se promissora para o aumento da eficiência nutricional e
agronômica.
2021 Gepra Editora Barros et al.

REFERÊNCIAS

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(Cucumis melo L.). Rio Grande Do Norte, 2019.

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S. F. Calagem e adubação na cultura do meloeiro. FAEMA, 2017.

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Derivados. 2019. Disponível em: <https://abrafrutas.org/2020/01/melao-exportacoes- 869
estao-satisfatorias-na-safra-2019-20-2/>.

SEBRAE. O cultivo e o mercado do melão. 2014 REV. 2017. Disponível em:


<https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/o-cultivo-e-o-mercado-do-
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FERREIRA, D. F. SISVAR: a Guide for its Bootstrap procedures in multiple comparisons.


Ciência e Agrotecnologia, Lavras, 2014.

BECKETT, R. P.; VAN STADEN, J. The effect of seaweed concentrate on the growth and
yield of potassium stressed wheat. Plant Soil, Dordrecht, 1989.

ALMEIDA, R.R. INFLUÊNCIA DE DOSAGENS DE FERTILIZANTE FOLIAR NO


DESEMPENHO AGRONÔMICO DO MELÃO (Cucumis melo L.) CV.
ELDORADO 300. 2017. TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (GRADUAÇÃO
AGRONOMIA) - IF SERTÃO-PE, PETROLINA.

OLIVEIRA, G.S. AVALIAÇÃO DE PLÂNTULAS DE MELÃO AMARELO SOB


DIFERENTES SUBSTRATOS. 2020. Trabalho de conclusão de curso
(BACHARELADO EM AGRONOMIA) - INSTITUTO FEDERAL GOIANO, Goiás.

OLIVEIRA, R.C Uso de fertilizante organomineral no desenvolvimento de mudas de


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PAPENFUS, H. B.; KULKARNI, M.G.; STIRK, W. A.; FINNIE, J. F.; VAN STADEN,
J. Effect of a commercial seaweed extract (kelpak) and polyamines on nutrient-deprived
(N, P and K) okra seedlings. Scientia Horticulturae, Amsterdam, 2013.

SANTOS, V. M.; MELO, A.V.; CARDOSO, D.P; GONÇALVES, A.H.; VARANDA,


M.A.F; TAUBINGER, M. Uso de bioestimulantes no crescimento de plantas de Zea mays
L. Revista Brasileira de Milho e Sorgo, Sete Lagoas, 2013.
2021 Gepra Editora Barros et al.

MIRANDA, J. F.; MATIAS, S. S. R.; BORGERS, I. V.; FERREIRA, M. D. S.; SILVA,


T. F.; JUNIOR, E. S. Mudas de maracujazeiro amarelo produzidas com bioestimulante base
de algas marinhas. Revista verde, 2019.

GALINDO, F.S. Extrato de algas como bioestimulante na nutrição e produtividade do trigo


irrigado na região de Cerrado. Colloquium Agrariae, SÃO PAULO, v. 15, ano 2019, n.
1, p. 130-140, 08/03/2019 2019. Disponível em:
<file:///C:/Users/bruna/Desktop/artigo/2346-Texto%20do%20artigo-12237-1-10-
20190422.pdf>.
870
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 79

FIXAÇÃO BIOLÓGICA DO NITROGÊNIO: A FAVOR DO


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA PRODUÇÃO
AGRÍCOLA FAMILIAR

SANTOS, Ana Maria Bomfim dos


Graduada em Letras Vernáculas - UFBA
Técnica em Agronegócio- Senar/BA
Pós-Graduação em Docência no Ensino Superior
(Faculdade pedagogia Afonso Cláudio)
anabomfim23@gmail.com
871
SANTOS, Marli Leal de Souza
Técnica em Agronegócio- Senar/BA
Técnica em Transações Imobiliárias
corretoraleal@hotmail.com

SAMPAIO, Jaqueline Trajano


Zootecnista
Doutora em Nutrição animal -UFPB
jakezootecnia@gmail.com

COELHO, Bruno Emanuel Souza


Engenheiro Agrônomo
Mestrando em Agronomia/Produção Vegetal -
Univasf
Instrutor e Tutor do SENAR - AR/BA
bruno.coelho@senarbrasil.org.br

RAMOS, Isabele Sodré


Pedagoga
Mestre em Educação e contemporaneidade- UNEB
isabele.ramos@senarbahia.org.br

RESUMO

A técnica de inoculação é utilizada para aumentar a eficiência da fixação biológica do


nitrogênio (FBN) no âmbito da agricultura familiar brasileira, conhecendo os principais
inoculantes, a importância e os benefícios da técnica na produção agrícola familiar. Nessa
perspectiva, apresentar pesquisas e projetos realizados pela Embrapa e outras instituições
parceiras que vêm contribuindo para a difusão do conhecimento e do aperfeiçoamento da
técnica FBN, bem como a viabilização do acesso à tecnologia aos produtores rurais,
inclusive, os agricultores familiares, e assim, corroborando com o Plano ABC, que busca
disseminar a adoção de práticas sustentáveis em prol da redução das emissões dos gases
do efeito estufa (GEE). Geralmente na produção agrícola são utilizados os fertilizantes
nitrogenados, mas com o uso dos inoculantes, existe a possibilidade de proporcionar
aumento da produtividade, sustentabilidade e rentabilidade dos produtores familiares
rurais. Dessa forma, uma alternativa sustentável é a utilização de bactérias capazes de
realizar fixação biológica do nitrogênio (FBN) a baixo custo em culturas como, feijão,
milho, amendoim através do uso dessa técnica FBN. Para aproximar essa categoria da
técnica, a difusão do uso do inoculante caseiro surge como uma solução alternativa para
o produtor rural que não tem acesso nem mesmo aos inoculantes comerciais. Para que a
2021 Gepra Editora Barros et al.

tecnologia possa estar ao alcance do produtor rural familiar são fundamentais que se
desenvolvam novas alternativas e formas mais fáceis de utilização a adaptadas para
pequena propriedade rural.

PALAVRAS-CHAVE: Alternativa, Inoculantes, produtividade, Tecnologia.

INTRODUÇÃO
A Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) é uma tecnologia fundamental no
aumento da produtividade e da fertilidade dos solos, contribuindo para atenuar os
872
impactos socioambientais na agricultura. Do ponto de vista da agricultura familiar, esse
fenômeno é extremamente pouco conhecido ou com limitado acesso, porém é justamente
neste setor onde a técnica microbiológica FBN se torna necessária estar ao alcance dos
pequenos e médios produtores.
O uso dessa tecnologia surgiu a partir da pesquisa para adaptação de espécies
cultivadas às condições tropicais, sendo uma técnica que a incorpora o nitrogênio
disponível no ar em favor do mecanismo de nutrição das plantas. Sendo considerada como
um dos fenômenos naturais mais importantes além da fotossíntese, para o
desenvolvimento vegetal e para todos os seres vivos do planeta (MAPA, 2015).
De acordo com a EMBRAPA (2015) “FBN é um processo bioquímico natural
realizado por bactérias, que conseguem tirar o nitrogênio do ar e o fornecem diretamente
à cultura fazendo a fertilização do sistema”. Nessa perspectiva, a tecnologia de inoculação
possibilita melhorar a eficiência desse processo. Além do mais, trata-se de um dos pilares
tecnológicos do Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas
(ABC) no combate a baixa emissão de gases do efeito estufa (GEE) com o propósito “de
expandir em mil hectares de 2012 a 2015 e em 4 mil hectares de 2016 a 2020 a área
cultivada com FBN” (LISBOA, [ 2013? ], p.4).
Nesse sentido, é crucial o fomento à pesquisa e o incentivo a investigação para
permitir o aprimoramento contínuo da FBN a ser utilizada em todos os sistemas agrícolas.
No entanto, embora se reconheça a importância da disseminação de boas práticas
agrícolas desenvolvidas pela EMBRAPA em conjunto com a ATER, nesse âmbito,
mudanças são necessárias, para transformar a realidade atual em pleno acesso dos
produtores familiares às novas tecnologias em face da necessidade da agricultura familiar,
requerendo, sobretudo, receber apoio mais concentrado. Para isso, este artigo de revisão
objetivou-se demonstrar a importância e os benefícios do incentivo para difusão dessa
tecnologia de fixação biológica do nitrogênio para a produção agrícola familiar.
2021 Gepra Editora Barros et al.

OS PRIMEIROS INOCULANTES: HISTÓRICO


As primeiras referências no Brasil sobre a simbiose rizóbio/leguminosas datam de
1930, em relatórios do Instituto Agronômico de Campinas, sobre a execução de
experimentos de inoculação e distribuição de culturas da bactéria” (Freire e Vernetti,
1997). Em 1948, é citada a realização de seleção de estirpes e teste de inoculantes
importados (LOPES e GIARDINI, 1981 apud FREIRE E VERNETTI, 1997). Em 1949,
por um curto período, inoculantes para soja e alfafa era produzido no Instituto Biológico
de São Paulo (FREIRE, 1982 apud FREIRE E VERNETTI, 1997). 873
Segundo dados da Revista Pesquisa FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo), relatados por Jones (2019), mostrando que os primeiros estudos
sobre fixação biológica de nitrogênio (FBN) foram motivados pelo sucesso comercial da
soja, sendo iniciados no país no ano de 1950, com os trabalhos pioneiros dos agrônomos
Johanna Döbereiner e Ruy Jardim Freire. Estes cientistas participavam do quadro de
pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). Em 1953,
a pesquisadora Döbereiner enfrentou resistências com sua tese favorável à FBN, porque
naquela época o padrão era o emprego massivo de adubos nitrogenados na sojicultora. A
pesquisadora voltou sua atenção nas observações de gramas batatais que crescem em todo
o lugar e permanecem verdes, e viçosas sem precisar da utilização de adubos
nitrogenados.
Nos anos seguintes de 1958 e 59 juntamente com alguns colegas, publicou trabalhos
sobre a FBN em cana-de-açúcar na Revista Brasileira de Biologia, mostrando dados
relacionados à ocorrência da associação dessas bactérias (microrganismos) com plantas
superiores, e mesmo observando entre os colegas uma descrença quanto à eficácia da
técnica, ao passar dos anos, conseguiu comprovar a eficácia dos seus estudos que
acabaram recebendo reconhecimento internacional, chegando a ser indicada para o
Prêmio Nobel em 1997 (JONES, 2019). Outras referências antigas sobre inoculação na
cultura da soja foram relatadas por diversos autores nos anos seguintes (FREIRE, 1953,
1958, 1959a, 1959b, 1961, 1962a, 1962b, 1963, 1965;); (GALLI, 1957; GARGANTINI
(1956) e SILVA (1948, 1949) apud FREIRE E VERNETTI, 1997).
“As pesquisas relacionadas à fixação biológica de nitrogênio e ao desenvolvimento
de inoculantes para a soja foram divulgadas em diversas ocasiões por Pesquisa FAPESP
nos últimos 20 anos” (JONES, 2019).
2021 Gepra Editora Barros et al.

TÉCNICA DE INOCULANTES X SUSTENTATIBILIDADE AGRÍCOLA


A tecnologia FBN depende do mercado de inovação, sobretudo, do incentivo às
pesquisas relacionadas à produção de inoculantes e de métodos de inoculação, incluindo
o desenvolvimento de avanços nos estudos de genômica funcional e estrutural associados
à bioprospecção de genes que contribuam para o surgimento de novas estirpes para
aumentar a eficiência da interação planta-bactéria na agricultura. Recentemente, através
de técnicas avançadas de identificação conhecida como proteômica, pesquisadores da
Embrapa juntamente com a colaboração da Universidade Estadual do Norte Fluminense 874
(UENF), descobriram proteínas nas folhas do feijoeiro-comum (Phaseolus vulgaris) que
podem maximizar o processo de inoculação com bactérias fixadoras de nitrogênio
(EMBRAPA, 2020).
O portal Mundo Husqvarna (2015) informa que a ciência vem evoluindo quanto aos
estudos sobre FBN no feijoeiro e a eficácia do inoculante, salientando que a Embrapa
busca avaliar o metabolismo da planta e a interação com a bactéria, baseando-se nos
métodos da cromatografia (técnica que permite a separação e identificação de
substâncias) e proteômica (estudo do conjunto de proteínas presentes em uma espécie em
determinado momento) para identificar moléculas que estejam ligadas ao processo de
FBN no feijoeiro. E, assim, o uso das proteínas se tornou uma estratégia metodológica
mais rápida, fácil e barata para detectar a ocorrência de FBN em programas de
melhoramento de feijão.
Um dos primeiros inoculantes microbiológicos utilizado de forma comercial para
outra cultura que não a soja, foi destinada especialmente para o uso na cana-de-açúcar
(Saccharum officinarum), em São Paulo foi lançado a Aprinza, o que configurou um
marco histórico nas pesquisas sobre FBN, conforme reportagem no site da EMBRAPA
(2018). Em contrapartida, há necessidade de um tempo para a pesquisa desenvolver novos
inoculantes que viabilizem a ação dessa tecnologia em culturas como a cana-de-açúcar, o
milho, o arroz, o trigo, o feijão-comum, feijão-caupi e outros, assim, consigam se
aproximar ou se igualar da máxima contribuição da FBN realizada na cultura da soja.
O papel da FBN na agricultura familiar é de extrema importância para alavancar
esse setor da economia e promover sustentabilidade. A técnica de inoculação é objeto de
pesquisas há décadas, sendo de interesse nacional e internacional, e, dessa forma, está
inter-relacionada com políticas e projetos que promovem o desenvolvimento consciente
e sustentável no país. Dessa forma, refere-se a uma política governamental brasileira
instituída em 2010 que propõe metas e resultados previstos até 2020, com a finalidade de
2021 Gepra Editora Barros et al.

“melhorar a eficiência no uso de recursos naturais, aumentando a resiliência de sistemas


produtivos e de comunidades rurais e possibilitar a adaptação do setor agropecuário às
mudanças climáticas através da redução das emissões de GEE” (HONIGMANN, 2020).
Portanto, a política ABC de adoção e mitigação das tecnologias obtiveram
resultados que superaram as expectativas, de modo que, as estimativas são bastante
promissoras. No entanto, apesar dos dados positivos, é essencial maior investimento em
treinamento de técnicos, extensionistas, elaboradores de projetos e operadores de crédito
rural para trabalharem e levarem a tecnologia até o produtor rural. 875

O CICLO DO NITROGÊNIO PELAS PLANTAS


O ciclo de nitrogênio baseia-se no processo de simbiose realizado através das
bactérias fixadoras de nitrogênio realizado em cinco etapas do ciclo do nitrogênio:
Fixação, Assimilação, Amonização, Nitrificação e Desnitrificação, sendo estas
transformações distintas do nitrogênio em seus diferentes estados e formas, favorecendo
a absorção dele pelos animais e plantas (SENAR, 2019, p.26 apud MARTINS 2003).
A fixação é a primeira etapa do ciclo do nitrogênio que envolve a transformação do
N2 da atmosfera em outros compostos nitrogenados, como o nitrato, o amoníaco e o
nitrito. Tal transformação pode se dá de três formas: biológica (capacidade das bactérias
fixadoras de nitrogênio em captar o N por meio da enzima nitrogenase), atmosférica
(energia proveniente de descargas elétricas que permitem a união do nitrogênio com o
oxigênio, formando o monóxido de nitrogênio) e industrial (quando o amoníaco é
produzido por processos químicos. (SENAR, 2019, p.27-28) como se observa no
infográfico, apresentado na figura 1, a seguir:
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Figura 01 - Fluxograma do ciclo do nitrogênio: Biológica, Atmosférica e Industrial.

876

Fonte: Retirada do site https://profissaobiotec.com.br/fixacao-biologica-de-nitrogenio-e-biotecnologia-favor-das-


plantas/).

O nitrogênio é um dos elementos mais abundantes na atmosfera e um dos


macronutrientes fundamentais para o desenvolvimento das plantas. Sob o mecanismo
biológico, nem sempre ocorre eficiência simbiótica necessária para que o nitrogênio
fixado garanta bom desenvolvimento das plantas. Por isso, a técnica inoculação de
sementes é capaz de oferecer rizóbios eficientes através do inoculante. Para Parizotto
(2015, apud VIEIRA et al., 2006), inoculante significa “produto ou formulado que contém
determinados tipos de micro-organismos viáveis, como bactérias, esporos de fungos,
leveduras, que são utilizados para aumentar a população microbiana de um ambiente”.
Além das bactérias simbióticas (rizóbios), a FBN é realizada também pelas
“bactérias de vida livre (BFNVL) – cianobactérias, pseudomonas, azospirillum,
azotobacter” (SENAR, 2019, p.31). Estas, por sua vez, são bactérias promovedoras do
crescimento da planta por diversos mecanismos, como a fixação de nitrogênio, a produção
de hormônios de plantas (auxina, giberelina e citocinina), estimulando a ramificação da
raiz, aumentando a biomassa da parte aérea e da raiz, a permeabilidade da raiz, a absorção
de minerais em geral, e a resistência a condições adversas como seca, salinidade e
compostos tóxicos (PARIZOTTO, 2015 apud BASHAN; BASHAN, 2005).
2021 Gepra Editora Barros et al.

A VIABILIZAÇÃO DA TECNOLOGIA PARA O AGRICULTOR FAMILIAR


A inoculação diz respeito ao processo por meio da qual, bactérias fixadoras de
nitrogênio, selecionadas pela pesquisa, são adicionadas às sementes das plantas antes da
semeadura, com uso de um produto chamado inoculante. O MAPA orienta que a
aplicação correta pelo agricultor deve ser realizada através de recomendações específicas,
inclusive, indicações de dosagem fornecidas pelo fabricante do inoculante para cada
produto (registrado pelo MAPA) e para cada cultura (EMBRAPA, 2016, p.4).
No âmbito da agricultura familiar, um exemplo possível no tratamento de semente 877
de leguminosas, é o feijão, cultura capaz de estimular a fixação biológica de nitrogênio.
Além do feijão-comum, outras culturas como a ervilha, o feijão-caupi, o amendoim, a
alfafa, os trevos e diversas leguminosas são beneficiadas pela FBN, bem como em
culturas não leguminosas, como milho, cana-de-açúcar, trigo e arroz. Para garantir uma
eficiente da técnica, é necessário utilizar inoculantes específicos para cada cultura.
A viabilização do acesso da técnica de inoculação para os agricultores familiares
rurais enfrenta muitos desafios, mas existem ações sendo desenvolvidas para
transferência de tecnologia (TT) realizada pela EMBRAPA em todo o país, sobretudo,
voltadas, para a construção e a geração de conhecimento e de aproximação das
tecnologias como a técnica de inoculação de sementes, oferecendo, principalmente,
subsídio para o pequeno agricultor. De modo geral, a tecnologia de inoculação gera
diversos benefícios como: “redução do custo de produção e ajuda na recuperação de áreas
degradadas, na melhoria da fertilidade e da qualidade solo, além de contribuir para a
redução da emissão de gases de efeito estufa (GEE) e de contaminação dos mananciais
hídricos” (EMBRAPA, 2016).
No trabalho “Transferência Tecnológica Relatório Anual 2016” (2017) a
EMBRAPA, a partir da Diretoria de Transferência de Tecnologia (DTT), com o então
Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), demonstra uma série de ações
vinculadas ao Plano Nacional de Inovação e Sustentabilidade para a Agricultura Familiar
com objetivo de aproximar as demandas da agricultura familiar da pesquisa e do ensino,
tendo como elo a extensão rural e a assistência técnica. Além disso, relatam-se, nesse
trabalho, inúmeras atividades desenvolvidas (capacitações, treinamentos, eventos e
oficinas) em parceria com as unidades descentralizadas da Embrapa (EMBRAPA, 2017,
p.17).
Tendo em vista a importância de difusão de tecnologia a EMBRAPA Agrobiologia,
tem desenvolvido pesquisas e dias de campos com a aplicação da técnica de FBN a partir
2021 Gepra Editora Barros et al.

do extrato de nódulos em alimentos produzidos pela agricultura familiar como, feijão e


feijão-Caupi nos municípios fluminenses de Seropédica, Nova Iguaçu, Paracambi, Itaguaí
e Magé a fim de apresentar formas alternativas de inoculação, com bactérias fixadoras de
nitrogênio, com fertilizante nitrogenado ou sem qualquer aditivo.
A EMBRAPA (2017, p. 98) Agropecuária Oeste, apresentaram aos agricultores
familiares da região esta tecnologias e algumas práticas para difundi-la e sobre a
importância dos inoculantes, fixação de nitrogênio, indicadores biológicos de qualidade
do solo e manejo do solo em sistemas de produção em diversas regiões brasileiras. Além 878
disso, outros estudos desenvolvidos na EMBRAPA Meio-norte apresentaram e
reforçaram as diversas atividades para produção da cultura do Feijão-Caupi, com ênfase
na FBN e com abrangência em todo território nacional (EMBRAPA, 2017, p. 400).
Entretanto, Reis e et al (2018, apud RUMJANEK et al. 2017) apontam fatores que
dificultam o uso dessa tecnologia pelos agricultores familiares, dentre eles são:
Dificuldade de produção e distribuição dos inoculantes bacterianos que
precisam chegar com parâmetros de qualidade pré-estabelecidos em termos de
viabilidade celular, a pureza e eficácia de resposta, além do desconhecimento
dos benefícios dessa tecnologia pelos agricultores.
Sendo assim, para superar esses gargalos, no âmbito do espaço rural, inclusive, da
agricultura familiar, o primeiro passo é a informação:
Matéria-prima para o desenvolvimento, tanto para os moradores urbanos e
rurais. Prosperidade, progresso e desenvolvimento de qualquer nação
dependerá da capacidade do país para adquirir, produzir, acessar e usar as
informações pertinentes [...]. O acesso à informação também é crucial para
permitir que as pessoas conheçam os seus direitos a benefícios sociais e fontes
de apoio para superar a exclusão social (AFFONSO; SAN’TANA, 2015 apud
HARANDE, 2009, p.1).
Posto isto, em função do acesso limitado ao conhecimento das tecnologias, a
EMBRAPA Agrobiologia (2017) desenvolveu uma solução alternativa, um inoculante
caseiro para o pequeno produtor que não tem acesso nem mesmo aos inoculantes
comerciais, sendo uma alternativa prática que permite que o agricultor faça seu inoculante
bacteriano caseiro a partir das raízes das plantas, podendo, assim, aumentar a
produtividade das lavouras feijão-caupi em até 33%, alcançando, portanto, um nível de
produção semelhante ao da produção com o inoculante comercial. Sendo uma “técnica
simples e não de baixo custo” por utilizar equipamentos que o agricultor possa ter na
propriedade como, um liquidificador e daí realiza-se a extração do líquido das raízes do
próprio feijão-caupi e, para aplicação nas sementes antes do novo plantio. Assim como
mostrado na figura 02, a seguir:
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 02 - Inoculante comercial e alternativo.

879
Fonte: Retirada do site em: https://maissoja.com.br/inoculante-feito-na-propriedade-rural-aumenta-produtividade-de-
feijao-caupi-em-ate-33/.

Veja alguns exemplos abaixo das culturas agrícolas brasileiras mais produzidas no
meio rural familiar e o reflexo do uso de inoculantes.

FEIJÃO-COMUM
Segundo a Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores
Familiares Rurais – CONAFER (2020), o feijão se constitui em um dos produtos agrícolas
de maior relevância econômica e social do país e a maior parte é produzida nas
propriedades dos pequenos agricultores, inclusive, familiares.
Segundo Parizotto et al. (2015), o Brasil é considerado o maior produtor mundial
de feijão. Os autores relatam que o feijoeiro apresenta propriedades de fixar nitrogênio
da atmosfera quando em simbiose com bactérias do gênero Rhizobium, o qual pode
possibilitar a cultura a não utilização de fertilizantes nitrogenados, e, assim, uma
alternativa de baixo custo, capaz de proporcionar suprimento de nitrogênio, cujas
quantidades superiores a 100 kg ha¹ são necessárias para o desenvolvimento dessa planta.
Em contramão do uso de fertilizantes nitrogenados, EMBRAPA (2019) expõe um
exemplo prático sobre a técnica de inoculação alternativa aplicada na cultura do feijoeiro
e o aprendizado do agricultor familiar numa situação de ensino-aprendizagem na
comunidade quilombola Cachoeira, situada no município de Dom Joaquim, em Minas
Gerais. Nessa ocasião, mostraram-se os benefícios da inoculação para aumentar a
produtividade na cultura do feijoeiro e como poderia ser feito o preparo do inoculante
caseiro em substituição aos comerciais, geralmente mais caros e de difícil logística.
2021 Gepra Editora Barros et al.

FEIJÃO-CAUPI
“O feijão-caupi tem grande importância na geração de renda da agricultura familiar
e atinge entre 98% a 100% da área total plantada com feijão nos estados do Maranhão,
Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí” (REIS e et al, 2018, apud CONAB, 2018). Além do
mais, Reis e et al (2018) argumentaram que o provavelmente o baixo rendimento estaria
atribuído ao incipiente manejo com fertilizantes nitrogenados e a carência em solos
brasileiros da disponibilidade de nitrogênio. Após a utilização de inoculantes para fixação
biológica de nitrogênio (FBN), a produtividade média de feijão-caupi em 16 municípios 880
do Maranhão aumentou de 515 quilogramas por hectare em 2016 para 1.170 quilogramas
por hectare em 2018, devido à implantação do Programa de Ações de Pesquisa e
Transferência de Tecnologias para a Agricultura Familiar, inclusive, realizada pela
Embrapa Agrobiologia e a Embrapa Cocais, e outros parceiros (EMBRAPA
AGROBIOLOGIA, 2019).
Para Souza (2007, p.23) a deficiência do nitrogênio tem sido compensada por meio
de fertilizantes nitrogenados, no entanto, é um vegetal que pode se beneficiar mais com a
tecnologia FBN devido sua grande capacidade de fixar nitrogênio em simbiose com o
gênero Bradyrhizobium. Na cultura do feijão-caupi, o aumento da eficiência do processo
de nodulação garantida pela FBN proporciona maior crescimento da planta, da
produtividade do que os fertilizantes nitrogenados.

AMENDOIM
O amendoim (Arachis hypogaea L.) é uma planta leguminosa, herbácea, anual,
originária da América do Sul, pertencente à família Fabaceae, sendo a quarta oleaginosa
mais cultivada no mundo, ocupando cerca de 24 milhões de hectares (SILVA et al. , 2017
apud FAOSTAT, 2017).
Silva et al. (2017) afirmaram que o amendoim por ser uma espécie leguminosa,
possui a capacidade de associação com bactérias fixadoras de N (Bradyrhizobium sp.), o
que lhe permite eficiência no processo de absorção desse nutriente. No entanto, a prática
de inoculação com Bradyrhizobium (rizóbio) nos cultivos comerciais de amendoim no
Brasil não tem sido muito comum [...] (SILVA e et al ,2017 apud THIES et al., 1991). No
seio dessa discussão, pode-se dizer que o uso da técnica FBN no amendoim depende de
maior estudo da variabilidade e da capacidade de nodulação por estirpes nativas de
rizóbios, e assim, adquirir novos parâmetros genéticos entre planta e bactéria e, dessa
forma, embasar os futuros programas de inoculação de estirpes e melhoramento vegetal
2021 Gepra Editora Barros et al.

(BORGES et al, 2007, p. 33). O cultivo de amendoim é uma alternativa para os


produtores rurais utilizados em programas de rotação de culturas (SILVA e et al, 2017).

MILHO
A produção de milho é considerada como o principal cereal cultivado no Brasil e
que apresenta possibilidade do cultivo por pequenos agricultores, mas que pela exigência
da cultura é necessário utilização de técnicas como a FBN que possibilitem maior
produtividade para ser utilizada pela agricultura familiar. Corroborando com essa 881
afirmação, Cruz e et al (2011 apud AGRICULTURA, 2011) relata que a EMBRAPA
tendo em vista a produção de milho na agricultura familiar, verifica que a grande maioria
dos produtores desse grão são familiares, cuja produção nas lavouras apresentam baixa
quantidade de insumos utilizados e em condições desfavoráveis, seja do ponto de vista
técnico, econômico, político e social: nem todos os agricultores têm acesso, via
instituições de extensão e pesquisa, aos recursos filotécnicos adequados à sua realidade.
Pandolfo e et al (2015) esclarece que o milho é uma cultura exigente em
nitrogênio (N) e, para suprir a deficiência desse nutriente no solo e aumentar o seu
rendimento, utilizam-se fertilizantes nitrogenados. Estes “representam 75% dos custos da
adubação do milho, o que corresponde a cerca de 40% dos custos totais de produção da
cultura. Porém, a alternativa para economia de fertilizantes nitrogenados é a fixação
biológica de nitrogênio” (VINHAL-FREITAS; RODRIGUES, 2010, p. 143).
A técnica FBN na cultura do milho utilizando inoculante com Azospirillum
Abrasiliense é alvo de pesquisas, inclusive, da EMBRAPA. Nessa perspectiva, a
EMBRAPA (2019) na unidade da Amazônia Ocidental, publicou-se o estudo
experimental a qual demonstra a eficácia do uso do inoculante Azospirillum na redução
do uso de fertilizante nitrogenado e no aumento da produtividade do milho em 104% no
estado do Amazonas, permitindo economia de 20 kg de nitrogênio por hectare e
rendimento médio foi de 5.359 Kg por hectare nos cultivos experimentais.
De modo geral, Pinto e et al. [2011?] da Fundação Brasileira para o
Desenvolvimento Sustentável – FBDS, afirmam que no Brasil, cerca de 95% do mercado
de inoculantes é destinado à cultura da soja. No caso do feijão-caupi, há inoculantes
disponíveis, sendo necessário disseminar seu uso entre os produtores, em especial na
região Nordeste. Para outras culturas, o uso de FBN está em fase de desenvolvimento
tecnológico e de mercado e que apresentam resultados animadores para difusão dessa
tecnologia.
2021 Gepra Editora Barros et al.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A agricultura familiar carece de técnicas mais fáceis de apropriação e uso da
tecnologia para atender essa categoria, a qual se baseia na simplicidade e no saber
popular, conscientizando-a da importância e dos benefícios trazidos pela adoção das
tecnologias sustentáveis como fixação biológica do nitrogênio que visam combater os
impactos no meio ambiente, associadas ao aumento da produção e eficiência do setor
produtivo agrícola familiar. 882
Dessa forma, nota-se que essa tecnologia, especialmente, entre os agricultores
familiares, é ainda muito baixa, e as chances do produtor desenvolver essa tecnologia é
bastante remota, pois além da cultura do feijão, não há indícios da prática de inoculação
de sementes no milho e no amendoim no contexto agrícola familiar. A maioria dos
projetos para difusão dessa tecnologia parte de instituições de pesquisa científicos e
tecnológicas como, universidades e a EMBRAPA, tornando-se um esforço dos centros
para a com a comunidade. Além disso, o uso dessa e de outras tecnologias de baixo custo
são importantes para que possam estar ao alcance do pequeno produtor rural familiar e
assim, auxiliá-lo no desenvolvimento do setor agrícola.

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através de Microarranjo de Dna. Dissertação (Doutorado em Microbiologia
Agropecuária) - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual
Paulista, Jaboticabal, 2006. Disponível em:
https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/103907/souza_jam_dr_jabo.pdf?seq
uence=1. Acesso em: 20 de jan.2021.

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Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/at/article/view/4515/4636. Acesso
em: 28 jan. 2021.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 80

FORMULAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E INTENÇÃO DE


COMPRA DE MEL DE ABELHA Apis mellifera L., ENRIQUECIDO
COM EXTRATO ALCÓOLICO DE PRÓPOLIS VERDE E
ESSÊNCIA DE BAUNILHA

LEMOS, Jennifer de Oliveira


Discente do Curso Técnico em Apicultura. Instituto Federal de Educação.
Ciência e Tecnologia do Rio Grande de Norte (IFRN) – Campus Pau dos Ferros.
jennifer1ol@hotmail.com
886
Fernandes, Maria Vitória Nunes
Discente do Curso Técnico em Apicultura. Instituto Federal de Educação.
Ciência e Tecnologia do Rio Grande de Norte (IFRN) – Campus Pau dos Ferros.
vitorianunesfer@hotmail.com

Mesquita-Carvalho, Luciene Xavier de


Docente do Curso Técnico em Apicultura. Instituto Federal de Educação.
Ciência e Tecnologia do Rio Grande de Norte (IFRN) – Campus Pau dos Ferros.
luciene.mesquita@ifrn.edu.br

Carvalho, Leonardo Emmanuel Fernandes de


Docente do Instituto Federal de Educação.
Ciência e Tecnologia do Rio Grande de Norte (IFRN) – Campus Pau dos Ferros.
leonardo.emmanuel@ifrn.edu.br

RESUMO

O mel composto é uma mistura de mel floral com outros produtos oriundos das abelhas
ou não. Objetivou-se neste trabalho formular amostras de mel de abelha composto com
extrato de própolis verde e enriquecidos com essência de baunilha, analisando
sensorialmente e físico-química, tendo como parâmetros físico-químicos os exigidos pelo
Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Mel e avaliando também a sua
intenção de compra. A pesquisa consistiu em quatro etapas: a formulação dos produtos
(amostra 1: mel, baunilha e própolis; amostra 2: mel e baunilha; amostra 3: mel e
própolis), análise sensorial, análise da intenção de compra e análises físico-químicas.
Ademais, foi executado a análise estatística dos dados. Observou-se que as três
formulações obtiveram índice de aceitabilidade razoáveis, apresentando resultados
superiores a 70%, o que indica grande aceitação do público consumidor, sendo a amostra
1 foi a mais bem avaliada. Em relação às análises sensoriais e impressão global, todas as
amostras obtiveram resultados satisfatórios e iguais para os parâmetros. A amostra 1 foi
a que também obteve melhores resultados no que diz respeito a intenção de compra. Nas
análises físico-químicas, no que se refere aos parâmetros de cor, umidade, acidez e açúcar
redutor e não redutor os resultados enquadram-se nos padrões exigidos pela Normativa.
Portanto, os bons resultados adquiridos tanto nas análises sensoriais e físico-químicas
tornam-se um incentivo para agregar valor ao mel.

PALAVRAS-CHAVE: Aceitabilidade, Apicultura, Produto apícola.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

Segundo a Instrução Normativa Nº 11 de 20 de outubro de 2000, o mel é definido por


ser um produto oriundo do néctar floral ou das secreções derivadas de fragmentos vivos
de plantas, ou de excreções de insetos que habitam nelas. É processado pelas abelhas que
retiram, transformam e misturam com substâncias próprias, para posterior armazenagem,
que depois de tal processo são submetidos a sua maturação nos favos da colônia
(BRASIL, 2000). Por possuir características medicinais, terapêuticas e adoçante, o mel
deve ser mais utilizado na alimentação das pessoas, para enriquecer a dieta e trazer 887
benefícios à saúde (TAYLOR et al., 2019).
Já a própolis é um dos diversos produtos apícolas, que possui característica resinosa
e de aroma balsâmico. É coletada pelas abelhas nas flores, brotos, ramos e exsudatos de
árvores (BRASIL, 2000). Tem a capacidade de prevenir diversas doenças, pois possui
poder anti-inflamatório e antioxidante, uma vez que contém um alto teor de flavonoides.
Além disso, possui propriedade antitumoral, antibacteriana, antiviral e antifúngica
(BRASIL, 2000; SANTOS; DAVID; DAVID, 2016).
Da própolis pode-se obter o extrato de própolis, seja este alcoólico, glicólico ou
aquoso. É bastante utilizado na indústria farmacêutica e cosmética, auxiliando na
regeneração de tecidos, tratamento de doenças alérgicas como rinite, bronquite e sinusite.
Também é muito utilizada na elaboração de essências e aromatizantes (BRASIL, 2000;
ALMEIDA et al., 2016). A própolis verde, ou própolis de alecrim-do-campo, é um
produto tipicamente brasileiro, produzida em diversas áreas do país, tornando o Brasil um
dos principais produtores e exportadores do composto (BASTOS, 2006; MARCUCCI et
al., 2001).
Da mistura do mel floral com outro produto oriundo das abelhas como a própolis
se obtêm o mel composto, podendo também ser adicionado essências, extratos vegetais e
plantas medicinais para enriquecer o valor nutricional dele. Vale salientar, que o mel
composto é uma estratégia de venda mercadológica, por ser um produto que agrega valor
ao mel e dependendo da sua composição, pode ter elementos de ação terapêutica, que
trazem benefícios à saúde humana (PASSAMANI, 2005).
O mel composto não apresenta nenhuma legislação vigente e nenhum parâmetro
físico-químico que o regularize. No entanto, existe legislação independente para o mel
(Instrução Normativa Nº 11, de 20 de outubro de 2000) e para a própolis pura (Instrução
Normativa Nº 3 de 19 de janeiro de 2001). Vale salientar, que a junção do mel com a
2021 Gepra Editora Barros et al.

própolis é o tipo de mel composto com maior incidência de vendas no mercado, e o


mesmo só pode ser comercializado com a permissão do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (M.A.P.A.) através do Selo de Inspeção Federal (S.I.F.)
(BERA; ALMEIDA-MURADIAN, 2005).
A junção do extrato de própolis com o mel, faz com que o produto tenha maior
valor nutricional, devido às características apresentadas anteriormente. Ademais, a adição
da essência de baunilha ao extrato de própolis proporciona um sabor mais agradável ao
produto (GUZMAN; ZARA, 2012). 888
Nos dias atuais, ainda há uma carência de estudos no que se refere aos méis
compostos ou enriquecidos com essências e demais produtos. Este produto não é muito
estudado pela ciência, uma vez que os meios acadêmicos não dispõem de muitas
informações. Devido a estes fatores, faz-se necessário produzir um mel composto
enriquecido com essências, tomando por base os parâmetros da Normativa para mel,
promovendo um incentivo à pesquisa e produção dos méis compostos (BERA;
ALMEIDA-MURADIAN, 2005).
A baunilha (Vanilla planifolia) é uma planta trepadeira do tipo orquídea, natural da
Guatemala e presente em toda América Central. Há espécies nativas da baunilha no
Brasil, entretanto o aroma da planta brasileira é pouco apreciado. Devido a seu alto custo
e a produção em pequena escala (o que torna a baunilha um produto raro de se encontrar
no mercado), é comum utilizar-se na indústria aromatizantes sintéticos que tem função
análoga ao aroma da baunilha, ou seja, as essências sintéticas de baunilha (HOMMA;
MENEZES; MATOS, 2006; DAUGSCH; PASTORE 2005).
A essência de baunilha é um dos compostos sintéticos mais utilizados e estimados
em todo o mundo, muito utilizado como flavorizante para alimentos e, por isso, bastante
utilizado na culinária (DAUGSCH; PASTORE, 2005).
Isto posto, a adição de compostos ao mel é de forma geral, uma maneira de ampliar
o mercado consumidor deste produto e auxiliar o apicultor com a difusão de sua principal
mercadoria, tornando-se um potencial produto a ser comercializado.
Por fim, objetivou-se neste trabalho analisar sensorialmente as amostras de méis,
assim como os parâmetros físico-químicos, comparando-os com a Regulamento Técnico
de Identidade e Qualidade do Mel, para as respectivas análises: umidade, acidez livre,
pH, açúcares redutores e não redutores, cor e analisar a intenção de compra do produto.
2021 Gepra Editora Barros et al.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi dividido em quatro etapas: produção dos méis compostos, realização
da análise sensorial, intenção de compra e realização das análises físico-químicas. Os
ingredientes utilizados para a formulação dos produtos foram obtidos em comércio local
de Pau dos Ferros/RN.

Produção dos méis compostos


O experimento foi realizado no Laboratório de Processamento de Pólen e Própolis 889
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN),
Campus Pau dos Ferros. Formulou-se três amostras de mel, sendo a primeira composta
apenas por mel de abelha Apis mellifera, extrato de própolis verde e essência de baunilha,
a segunda continha apenas mel de abelha Apis mellifera e essência de baunilha, e, por
fim, a terceira amostra, era composta apenas por mel de abelha Apis mellifera e extrato
de própolis verde. A fórmula manipulada encontra-se na Tabela 1.

Tabela 1. Ingredientes e quantidades utilizadas na formulação dos méis compostos de extrato de própolis
verde e essência de baunilha, analisados sensorialmente no Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), Campus Pau dos Ferros.
Ingredientes Formulação 1 Formulação 2 Formulação 3
Mel de abelhas Apis melífera 300 g 300 g 300 g
Extrato de Própolis verde 3 ml ------- 3 ml
Essência de baunilha 3 ml 3 ml --------
Fonte: autores, 2020.

Foram medidos os ingredientes (extrato de própolis verde e a essência de baunilha),


em uma proveta de 25ml, logo após foram feitas as pesagens dos méis em uma balança
semi-analítica, e misturou-se tudo em uma batedeira na rotação leve por cinco minutos
para sua homogeneização, em seguida as amostras foram reservadas em vidros limpos
com tampa rosqueada.

Análise sensorial
O experimento foi realizado nos Laboratórios de Carnes do Instituto e no
Laboratório de Processamento de Pólen e Própolis do IFRN, Campus Pau dos Ferros.
As amostras foram analisadas por 50 provadores voluntários não treinados, dos
sexos femininos e masculinos, composto por sua maioria com idade de 15 a 20 anos,
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sendo todos alunos do IFRN- Campus Pau dos Ferros. Para cada um deles, foi entregue,
em uma bandeja de isopor, três amostras de méis compostos codificados com números
aleatórios de três dígitos gerados por um software, além de um copo de água em
temperatura ambiente e duas bolachas água e sal para serem consumidos entre cada uma
das amostras, isso fez necessário para a limpeza do palato.
Na avaliação das amostras dos méis compostos foram utilizados métodos afetivos
que tinham como objetivo desenvolver explicações subjetivas de quanto o avaliador
gostou ou desgostou de uma amostra exclusivamente, obtendo resultados determinantes 890
a aceitabilidade ou preferência referente ao produto. Para a avaliação dos atributos
sensoriais das amostras cor, aroma, textura, sabor, doçura e impressão global, foi
conferido a cada provador uma ficha com escala hedônica que varia de 1 (“Desgostei
extremamente”) a 9 (“Gostei extremamente”). Também foram avaliados a intenção de
compra utilizando uma escala que varia de 1 (“compraria com certeza”) a 5 (“não
compraria com certeza”), como está demonstrado na Figura 1 (DUTCOSKY, 2013).

Figura 1. Ficha avaliativa e amostras de méis compostos. Fonte: autores, 2020.

Fonte: autores, 2020.

Calculou-se ainda o Índice de Aceitabilidade (IA) das amostras, utilizando-se a


fórmula a seguir: IA (%) = A x 100 / B. Considera-se A como a nota média geral obtida
pelo atributo e B como a nota máxima adquirida pelo atributo (TEIXEIRA et al., 1987).
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Análise físico-química
As análises foram realizadas no laboratório de Processamento de produtos apícola
e geleia real, e para todas as análises utilizou-se metodologias reconhecidas pelo Instituto
Adolfo Lutz, sempre com o auxílio de aparelhos que facilitaram as análises feitas. Os
testes foram realizados em triplicatas, para obtenção de resultado mais precisos.

pH
Para a realização da análise de pH, utilizou-se as Normas Analíticas do Instituto 891
Adolfo Lutz (2008). Com base nesta metodologia, inicialmente foi colocado o béquer de
100 ml na balança semi-analítica e tarou-se a mesma para inserir 10 g do mel composto.
Logo após, foi adicionado 80 ml de água destilada medida em uma proveta de 100 ml,
após a diluição, transferiu-se o conteúdo do béquer para um erlenmeyer de 100 ml, o qual
foi levado até o pHmetro (modelo Hl 221), com o eletrodo previamente lavado com água
destilada, para que não houvesse alterações nos resultados das análises de pH. O eletrodo
foi inserido no Erlenmeyer, de forma que não tocasse no fundo e nas laterais do recipiente.
Após cerca de um minuto, foi observado no visor do aparelho a medição de pH da
substância.

Análise de acidez
Para as análises de acidez, utilizou-se mais uma vez as Normas Analíticas do
Instituto Adolfo Lutz (2008). Para realização foi necessário seguir os seguintes
procedimentos: solução de NaOH a 0,1 normal padronizada, fenolftaleína, água destilada,
bureta, suporte universal, proveta de 100 ml, bastão de vidro, agitador magnético, além
das próprias amostras de mel composto. Foram aproveitadas as mesmas formulações
utilizadas para a análise do pH. A princípio, o erlenmeyer foi posto no agitador magnético,
com uma barra magnética em seu interior, que serviu de auxílio na dissolução da amostra.
Em seguida foi adicionado 50 ml de solução de NaOH na bureta, que estava fixada em
um suporte universal para titulação em gotejamento das amostras. A titulação dos méis
era finalizada quando se alcançava o ponto de viragem, que era observado visualmente
quando a amostra diluída atingia a coloração rósea.

Logo após o procedimento realizou-se o seguinte cálculo:


Acidez Livre=m×Fc ×Vt (eq.1)
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Em que: m = Massa de mel; Fc= Fator de correção da solução de NaOH 0,1 N; Vt=
Volume total gasto na titulação.

Açúcares redutores e sacarose


A determinação dos açúcares redutores e sacarose aparente foi utilizado para a
análise de açúcares redutores os seguintes materiais: erlenmeyer de 250 ml, béquer de
100 ml, proveta de 100 ml, bastão de vidro, bureta de 100 ml, funil, papel de filtro, balão
volumétrico de 100 ml, balança semi-analítica, aquecedor/agitador magnético, manta 892
aquecedora, banho maria, barra magnética, água destilada, solução de NaOH a 0,1, ácido
clorídrico PA, fehling “A” e fehling “B” padronizados e as amostras dos méis.

Inicialmente foi pesado em uma balança semi-analítica aproximadamente 2 g de


mel de cada amostra, que estavam em um béquer de 100 ml. Logo após diluiu-se com
água destilada as amostras e estas foram transferidas para um balão volumétrico de 100
ml, que foi completado com água destilada até o menisco, onde posteriormente passou
pelo processo de filtragem, fazendo uso do funil de vidro e do papel de filtragem.
Seguidamente, foi posto em um erlenmeyer de 250 ml, 10 ml das soluções de Fehling
“A” e “B”, medidos com o apoio de uma proveta graduada de 100 ml, subsequentemente
adicionou-se cerca de 40 ml de água destilada. O erlenmeyer foi posto na manta
aquecedora, até que o líquido em seu interior entrasse em ebulição, em seguida, foi
adicionado 1 ml de azul de metileno para posterior titulação em gotejamento com
hidróxido de sódio, até que atingisse uma coloração avermelhada.

O cálculo utilizado para a análise dos dados foi o seguinte:

Glicídios redutores em glicose (%) = 100 x vb x f (eq. 02)


m x v Onde:

Onde:
vb = volume do balão volumétrico utilizado (mL).
f = fator da solução de Fehling.
M = Quantidade de amostra inicial utilizada para a análise.
V = Volume gasto na titulação (mL).

Foi utilizado o mesmo conteúdo filtrado para a análise de sacarose. Em um balão


de fundo chato de 100 ml, foi colocado a solução já filtrada, gotejando 3 gotas de ácido
2021 Gepra Editora Barros et al.

clorídrico PA, levado ao banho maria a 80º C por 30 minutos. Após o tempo necessário,
retirou-se o erlenmeyer que ficou em temperatura ambiente até o seu resfriamento, após
isso, foi neutralizado com a solução de hidróxido de sódio a 0,1, e utilizado papel
tornassol para a verificação da sua neutralização. Em seguida, levou-se a solução para um
balão volumétrico de 100 ml, que foi completado com água destilada até o menisco.
Posteriormente, introduziu em um erlenmeyer de 250 ml, mais uma vez os 10 ml de
feeling “A” e “B”, juntamente com 40 ml de água reagente, aqueceu esta solução em
chapa aquecedora, e foi adicionado 1 ml de azul de metileno para a titulação da solução 893
neutralizada, até atingir uma coloração vermelha, assim como na análise anterior. Após a
realização da análise, foi calculado a porcentagem de sacarose aparente por meio da
seguinte fórmula:

Glicídios não redutores em glicose (sacarose) (%) = 100 x vb x 2 x f (eq. 03)


mxv

Onde:
vb = volume do balão volumétrico utilizado (mL).
f = fator da solução de Fehling.
M = Quantidade de amostra inicial utilizada para a análise.
V = Volume gasto na titulação (mL).

Análise de cor
Para análise de cor, foi utilizado a metodologia de Vidal e Fregosi (1984), fazendo
uso dos respectivos materiais: espectrofotômetro (modelo – HI96785), pisseta com água
destilada, glicerol, béquer de 100 ml, cubetas e as amostras dos méis compostos. Após
ser calibrado com glicerol, foi retirada a cubeta do aparelho e colocada a amostra do mel
composto em seu interior. O resultado aparece instantaneamente no visor do
espectrofotômetro na escala de mm Pfund.

Análise de umidade
A umidade das amostras foi determinada por refratromeria com base nos métodos
de Atago (1988). A análise consistiu no seguinte procedimento: tarou-se o refratômetro
(modelo Pal 22S), utilizando a água destilada, em seguida retirou-se e secou a água do
aparelho, onde posteriormente foi posto cerca de 1 g da amostra de mel composto, em
2021 Gepra Editora Barros et al.

seguida o equipamento realizou a leitura da umidade do mel, e em seu visor apareceu a


taxa percentual de umidade ali presente.

Análise estatística dos dados


Para a análise estatística dos dados, aplicou-se o Delineamento Inteiramente
Casualizado, com o teste de médias a posteriori pelo teste Tukey a 5% de probabilidade,
pelo programa ASSISTAT 7.7 (CCT/UFCG).
894

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Análise sensorial
Ao avaliar a tabela 2, na qual as notas foram atribuídas de acordo com os parâmetros
de aceitação na escala hedônica, variando de “Gostei regularmente” com valores médio
igual a sete e “Gostei moderadamente” com médias em torno de oito, verifica-se que os
méis compostos avaliados sensorialmente (1, 2 e 3), não apresentaram diferença
estatística para os atributos avaliados (p>0,05).

Tabela 2. Notas (média + desvio padrão) atribuídas pelos provadores às características sensoriais das
formulações 1, 2 e 3 dos méis compostos enriquecidos com extrato alcóolico de própolis verde e essência
de baunilha.
Análises Formulação 1 Formulação 2 Formulação 3
Cor 8,44+ 0,84 8,34 + 1,04 8,38 + 0,75
Aroma 8,20 + 1,01 7,74 + 1,44 7,90 + 1,45
Sabor 8,34 + 0,89 7,94 + 1,06 7,92 + 1,01
Textura 8,24 + 1,20 7,98 + 1,12 8,08 + 1,05
Doçura 8,20 + 0,78 7,86 + 1,05 7,92 + 1,07
Impressão Global 8,32 + 1,29 7,84 + 0,98 7,92 + 1,18
Fonte: autores, 2020

Com relação ao parâmetro cor, todas as amostras agradaram os avaliadores, na qual


a presença ou ausência da baunilha ou própolis, não afetou visualmente a preferência dos
mesmos, onde obtiveram notas acima de 8 (“Gostei muito”) sendo bem aceitas. Essa
avaliação é muito importante, pois a cor é uns dos primeiros critérios na tomada para
aquisição de um produto (MACAGNAN et al., 2014).

Nas avaliações de aroma e sabor, para todas as formulações apresentaram médias


superiores a 7, que significa “Gostei regularmente ou moderadamente”. Quanto ao
critério de aroma, todos terem se apresentado sem diferença estatística, pode-se deduzir
2021 Gepra Editora Barros et al.

que o aroma balsâmico característico que a própolis possui não foi suavizado ou
modificado pela essência de baunilha (BRASIL, 2001). Outra explicação para que as
avaliações médias de todas as notas no quesito aroma e no quesito sabor também tenham
sido sem diferença estatística pode ser sugerido pelo fato de ter sido avaliado por
provadores não treinados para avaliação sensorial de méis, pois Bastos et al. (2002)
afirma que provadores com treinamento para avaliação de méis de abelhas são capazes
de conseguem detectar a diferença de florada nos critérios singulares como origem floral,
aromas e sabores e até mesmo pontos de fermentação. 895
Quanto textura não obteve variação estatística, pois não era intenção que as
formulações perdessem sua viscosidade devido a adição do extrato ou essência (BRAISL,
2000). De modo que avaliação da textura poderá ser julgado como uma condição
indispensável, considerável ou de inferior valor a depender do alimento analisado, e o
mel como é uma bebida a textura terá uma contribuição menos (BOURNE, 2002).

Já a doçura ter tirados notas acima de 7 (sete) “gostei regularmente” é algo muito
promissor na avaliação de méis que na sua composição 80% são açúcares, pois o sabor
doce é algo requerido pelos seres humanos com variações devido à idade, etnia e questões
culturais, pois ao longo dos processos evolutivos a doçura ajudou a conduzir a conduta
nutricional porque entender que uma alimento é doce intrinsicamente está afirmando que
é fonte calórica, ou seja, recurso energético (DREWNOWSKI et al., 2012).

Qualificar a impressão global significa que o avaliador sensorial está indicando a


preferência da amostra em relação a intensidade dos atributos sensoriais avaliados
(ZHOU, 2019).

Para a intenção de compra, as médias das Formulações 2 e 3ficaram com médias


1,94 e 2,50 respectivamente sugerindo que “provavelmente compraria” e a formulação 1
amostra A ficou com média 1,504 que significa que “compraria com certeza”, como pode
ser observado na Tabela 3.

Tabela 3. Intenção de compra atribuída pelos provadores das formulações 1, 2 e 3 dos méis compostos com
extrato alcóolico de própolis verde e essência de baunilha.
Análises Formulação 1 Formulação 2 Formulação 3
Intenção de compra 1,50 + 1,34a 1,96 + 0,67b 2,50 + 3,11b
Médias dentro da mesma linha letras iguais, não são significativamente diferentes no nível de 5%, pelo
teste de Tukey. Fonte: autores, 2020
2021 Gepra Editora Barros et al.

Ao analisar a intenção de compra se avalia o desejo de consumir ou não um produto


e com a coleta desta informação é que os produtores conseguem traçar as possibilidades
de comercialização de sua inovação (CUNHA; REINERI; LOSS, 2015).

Teixeira et al. (1987), afirmam que um produto com Índice de Aceitabilidade (I.A.)
com no mínimo 70% possui potencial comercial. De acordo com este preceito, a partir do
Figura 2, pode-se constatar que os atributos de qualidade sensorial avaliados obtiveram
I.A. satisfatórios aos parâmetros estabelecidos, tendo condições de ser colocado no
mercado. 896

Figura 2. Índice de aceitabilidade (I.A) das três amostras de méis compostos.

93,00
92,00
91,00
90,00
89,00
88,00
87,00
86,00
1 2 3

Fonte: autores, 2020.

Com esse resultado observa-se, que a formulação 1 alcançou as maiores avaliações


no índice de aceitabilidade, enquanto que a formulação 2 alcançou as menores, até mesmo
do que a composição de mel e própolis (formulação 3). Os resultados apontados, sugerem
que a baunilha sozinha com o mel não agrada muito os consumidores, pois ambos
possuem propriedades sensoriais semelhantes (sabor adocicado) o que torna o produto
menos apreciado (AKAMATSU; VIEIRA; BERNARDI, 2019)

Análise físico-química
Os parâmetros de cor, acidez, açúcar redutor (glicose e frutose) e o açúcar não
redutor (sacarose) nas três formulações analisadas diferiram significativamente (p<0,05)
entre si. Já nos critérios de umidade e pH não houve diferença estatística (p>0,05) entre
as amostras. Os resultados obtidos na avaliação físico-química do mel enriquecido com
extrato de baunilha estão expressos na Tabela 4.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Tabela 4. Resultados obtidos das análises físico-químicas para cada formulação com suas respectivas
médias e desvio padrão e comparadas com legislação brasileira de identidade e qualidade para mel de
abelhas.
Parâmetros Formulação 1 Formulação 2 Formulação 3 BRASIL (2000)
Umidade (%) 18,2 ± 0,25 18,33 ± 0,20 18,63 ± 0,15 Max. 20%
Cor (PFund) 47,33 ± 0,25a 51 ± 0,20b 71 ± 0,15c Incolor a pardo-escura
pH 3,5 ± 0,1 3,53 ± 0,15 3,71 ± 0,21 ----
Acidez (m E q/kg) 32,41 ± 0,73a 34,48 ± 4,03b 49,92 ± 0,06c Max. 50 meq/kg
Açúcar redutor (%) 73,31 ± 0,50a 78,23 ± 1,23b 66,72 ± 0,71c Min. 65%
Açúcar não redutor (%) 1,58 ± 0,30a 4,51 ± 0,42b 5,89 ± 0,17c Max. 6%
897
Médias dentro da mesma linha letras iguais, não são significativamente diferentes no nível de 5%, pelo
teste de Tukey. Fonte: autores, 2020

A porcentagem das médias de umidade das formulações 1, 2 e 3 estão dentro do


valor permitido pela Regulamento ou Normativa Técnico (a) de Identidade e Qualidade
do Mel, que exige que o mel possua no máximo 20% de teor de umidade em sua
composição (BRASIL, 2000). Esse valor de umidade confere segurança do alimento para
que o mel não fermente pela ação de microrganismos, processo esse que provoca a
deterioração do produto e inviabiliza a sua comercialização e consumo (AL-GHAMDI;
MOHAMMED; ANSARI; ADGABA, 2019). A umidade é uma das propriedades mais
significativas do mel, uma vez que esta influência no amadurecimento, no processo de
cristalização, na viscosidade e inclusive no peso do produto (CARVALHO et al., 2005).
A análise de cor apresentou a formulação 1, de acordo com a escala de Pfund, se
enquadra na cor extra âmbar claro e as formulações 2 e 3 apresentam coloração âmbar-
claro. Estes resultados encontrados podem ser explicados pelo fato da coloração natural
do extrato de própolis tender para um marrom escuro (âmbar escuro ou castanho escuro),
o que contribui para uma coloração mais escura da formulação 3 (71 PFund), enquanto
que a essência de baunilha por possuir uma coloração tendendo para o caramelo (um
castanho claro quase “cor de mel”), contribuiu para uma coloração mais clara das
formulações 1 (47 Pfund) e 2 (51 Pfund). Isso também pode ser explicado pelo aumento
da coloração avermelhada/castanho escuro da própolis, o que leva a uma diminuição da
cor amarelada do mel. Este fato torna o mel um produto mais escuro, dificultando a
passagem da luz no refratômetro (CAMPOS, 1987). É importante que haja adição de
substâncias que atuem no clareamento do mel, visto que o público consumidor aprecia
méis mais claros aos mais escuros (MONTE et al., 2020). Neste sentido, a adição da
essência de baunilha pode surgir como um fator positivo nesta situação, pois, por possuir
uma coloração mais clara, favorece o clareamento do mel. Estes valores encontrados não
2021 Gepra Editora Barros et al.

implicaram na qualidade dos resultados, pois os mesmos encontram-se em conformidade


com a legislação, que considera méis que variam de incolor à pardo-escuro (BRASIL,
2000).
Os valores obtidos nos resultados das análises de pH variaram de 3,5 a 3,7. Embora
o pH não seja indicado atualmente como análise obrigatória no controle de qualidade dos
méis brasileiros, mostra-se útil como variável auxiliar, para avaliação da qualidade,
contribuindo também para a estabilidade microbiana do mel. Os valores obtidos no
presente estudo estão dentro dos limites indicados por Moreti et al. (2009), que indica 898
valores de pH para mel entre 3,40 e 5,60 (SILVA et al., 2004; BOGDANOV et al., 1999).
Para os parâmetros de acidez, apresentaram valor de acordo com exigido pela legislação
vigente, sendo, no máximo, 50meq/kg. Esse parâmetro serve de barreira para o não
desenvolvimento de microrganismos, contribuindo para estabilidade do mel (ANANIAS;
MELO; MOURA, 2020; BOGDANOV et al., 1999).
Os valores obtidos nas análises de açúcares redutores (calculados como açúcar
invertido) em todas as formulações obtiveram resultados condizentes com os estipulados
pela legislação brasileira, que exige valores de no mínimo 65% para este parâmetro
(BRASIL, 2000). Isto ocorreu possivelmente porque a adição do extrato de própolis e da
essência de baunilha não alteraram a característica do mel, e este em condição pura já
possui uma característica de açúcar redutor alta.
A Normativa ou Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Mel, exige
que os parâmetros de açúcar não redutor (sacarose aparente) seja de no máximo 6%,
portanto os valores obtidos nas formulações 1, 2 e 3 para os valores alcançados nas
análises foram insatisfatórios. Aplica-se, portanto, as mesmas justificativas aplicadas na
análise de açúcares redutores, reforçando mais uma vez que é necessário, já ter um
conhecimento prévio dos açúcares redutores, antes do acréscimo de qualquer outra
substância em sua composição. Apesar das amostras não estarem em conformidade com
os parâmetros exigidos pela Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Mel, não
se pode atestar uma inadequação dos valores encontrados, uma vez que não existe uma
legislação apropriada para o mel composto.

CONCLUSÃO
De acordo com o presente estudo, as análises sensoriais das formulações
alcançaram resultados bastante positivos, sempre variando hedônicamente entre “gostei
regularmente” e “gostei moderadamente”. Os resultados obtidos no Índice de
2021 Gepra Editora Barros et al.

Aceitabilidade (IA) foram bastante satisfatórios, destacando-se a formulação 1. Tal


afirmação foi comprovada ao analisar a intenção de compra das formulações.
As três formulações dos méis compostos apresentaram bons resultados das análises
físico- mesmo que estes não tenham uma legislação própria, o que caracteriza a qualidade
dos produtos formulados, evidenciando ainda mais a importância de se criar leis com
parâmetros específicos para méis compostos.
Os bons resultados adquiridos tanto nas análises sensoriais quanto nas análises
físico-químicas, Índice de Aceitabilidade e intenção de compra tornam-se um incentivo 899
para o desenvolvimento de produtos que ajudem no crescimento da atividade apícola,
utilizando-se não apenas de somente um produto oriundo das abelhas, mas acrescendo
uma variedade destes produtos no mercado e apresentando novas opções aos
consumidores.

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902
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 81

IMPACTOS AMBIENTAIS PROVENIENTES DO USO DE


AGROTÓXICOS NO BRASIL: UMA REVISÃO DE LITERATURA
SOUZA, Alex Costa de
Graduando em Agronomia
Universidade Federal do Cariri
costaalex2017@gmail.com

BATISTA, Daliane da Silva


Graduanda em Agronomia
Universidade Federal do Cariri 903
dalianeagrimensura@gmail.com

SOBRAL, Selton David Cavalcante


Graduando em Agronomia
Universidade Federal do Cariri
sobralsdc@gmail.com

PINHEIRO, Cicero Cordeiro


Graduando em Agronomia
Universidade Federal do Cariri
cicerocordeiro99@gmail.com

COUTINHO, Janailton
Doutorado em Educação Brasileira
Universidade Federal do Ceará
janailton.coutinho@ufca.edu.br

RESUMO

A agricultura brasileira destaca-se mundialmente pelo crescimento acelerado nas últimas


décadas, ao mesmo tempo, em que há o desenvolvimento e alto consumo de novos
insumos agrícolas para combater pragas, como insetos, patógenos e plantas invasoras que
estejam afetando a produção agrícola. Os principais produtos químicos utilizados nas
lavouras são defensivos agrícolas, pesticidas, praguicidas, desinfectantes, biocidas,
agroquímicos, produtos fitofarmacêuticos e produtos fitossanitários. Apesar de alguns
autores afirmarem que há a contribuição à produção agrícola do país, há uma grande perda
na biodiversidade e diversos impactos socioambientais em diversos setores da sociedade
e do meio ambiente. Nesse contexto, o presente artigo de revisão de literatura objetiva
analisar os principais impactos ambientais e os estudos de caso que abordam efeito
adverso dos agrotóxicos em solo brasileiro. O presente estudo foi realizado com base em
uma revisão bibliográfica, utilizando trabalhos científicos, acerca dos impactos dos
agrotóxicos no meio ambiente. Utilizou-se banco de dados de literatura científica Scielo
e a Plataforma de Pesquisa Google Acadêmico, no período de janeiro de 2000 a 2020,
tendo as seguintes palavras-chave: “Agricultura”, “Agrotóxicos”, “Contaminação” e
“Matrizes ambientais”. Os resultados demostraram que o uso incorreto desses produtos
químicos nas atividades agropecuárias possui um alto potencial de contaminação das
matrizes ambientais solo, água e ar, além dos impactos significativos na saúde dos
2021 Gepra Editora Barros et al.

agricultores, tendo em vista que, quando aplicados inadequadamente, prejudicam o meio


ambiente e a saúde dos trabalhadores rurais e dos consumidores. Os impactos ambientais
mais recorrentes de acordo com a literatura são na matriz água e solo (cerca de 83.33%),
posteriormente no ar com apenas 5.55% da literatura analisada.

PALAVRAS-CHAVE: Produtos fitossanitários, Contaminação, Matrizes ambientais.

INTRODUÇÃO
904
A agricultura brasileira tem crescido em ritmo acelerado, em parte devido a
modernização do setor no último século, como também pela consolidação do setor de
insumos modernos, no qual vem contribuindo para sua expansão (BELCHIOR et al.,
2017). Além disso, há o elevado crescimento demográfico, no qual forçou o aumento da
produção de alimentos e a utilização intensa de defensivos agrícolas com finalidade de
obter alto índice de produção (MELLO et al., 2019).
A produção agrícola pode ser afetada por pragas, como insetos, patógenos e
plantas invasoras (BOHNER; ARAÚJO; NISHIJIMA, 2013). Phyn e Santos (2003)
afirmam que os produtos químicos como inseticidas, fungicidas, acaricidas, nematicidas,
bactericidas e vermífugos são comumente utilizados para combater as pragas nas
plantações. No Brasil, os insumos agrícolas são utilizados de forma intensa na proteção
de plantas contra pragas e doenças em culturas cultivadas em campo aberto ou ambiente
protegido (MATTEI et al., 2017). O uso de produtos químicos na agricultura está
diretamente relacionado à histórica tradição do uso desses produtos junto aos produtores,
facilidade de aplicação e disponibilidade de equipamentos e serviços no mercado
(TAMAI, 2002).
De acordo com Tavella et al. (2012), em 2008 o Brasil passou a ser o maior
consumidor de agrotóxico do mundo. Nesse país, os agroquímicos utilizados são
classificados de acordo com sua finalidade, ou seja, são definidos pelo seu mecanismo de
ação no alvo biológico, sendo geralmente plantas invasoras, doenças e pragas de espécies
agrícolas cultivadas.
A consequência da utilização de produtos fitossanitários em larga escala na
agricultura é a perda da biodiversidade, como: contaminação do solo e da água
(SEQUINATTO et al., 2006; VEIGA et al., 2006; ARIAS et al., 2007; STEFFEN;
STEFFEN, 2011; MOREIRA et al., 2012; MARTINI et al., 2012; ISMAEL; ROCHA,
2019; FERNANDES; SANTOS, 2020), comprometimento da qualidade do ar
(JACOBSON et al., 2009; SOUZA et al., 2017; SOUZA et al., 2020), contaminação dos
alimentos (STOPPELLI; MAGALHÃES, 2005; PERES et al., 2005; BALLESTE;
MANTELLI, 2020), podendo interferir nos organismos aquáticos (CASTRO et al., 2015;
VIEIRA et al., 2016; MENDES et al., 2016; SANCHES et al., 2017) e riscos de saúde
(PIGNATI, 2017; CORCINO et al., 2019).
Veiga et al. (2006) corroboram ao afirmar que a aplicação de produtos
fitossanitários no meio ambiente pode contaminar as matrizes ambientais, como o solo,
2021 Gepra Editora Barros et al.

os sistemas hídricos superficiais e subterrâneos, como também o ar, resultando em uma


degradação ambiental e consequentemente prejuízos à saúde e alterações significativas
nos complexos sistemas ecossistêmicos.
Como grande parte do produto agrícola não atinge apenas o alvo de interesse,
existem diversas variáveis que determinam o destino do pesticida no meio ambiente.
Destaca-se: as propriedades físico-químicas dos agrotóxicos, a quantidade e a frequência
de uso, métodos de aplicação, características bióticas e abióticas do ecossistema e as
condições climáticas, como temperatura, umidade e intensidade de radiação solar
(KLINGMAN; ASHTON; NOORDHOFF, 1982).
Além dos problemas ambientais, destaca-se também a exposição química direta e
905
indireta a esses produtos químicos próximos às áreas de cultivo onde o agrotóxico é
aplicado (MIORIN et al., 2016). Podem ocasionar sérios problemas de saúde pública, pois
segundo Rigotto et al. (2013), as substâncias químicas que constituem os agrotóxicos
podem agir como promotor tumoral, promovendo o surgimento de células cancerígenas,
além de agir na malformação congênita dessas pessoas que estão minimamente expostas.
O presente artigo traz uma revisão de literatura de estudos científicos sobre os
impactos diretos e indiretos de agrotóxicos sobre o meio ambiente, objetivando analisar
os principais impactos ambientais e os estudos de caso que abordam efeito adverso dos
agrotóxicos em solo brasileiro. A escolha desse tema para o presente trabalho justifica-se
pelo fato de na última década o Brasil ter expandindo em 190% o uso de agrotóxicos, o
que colocou o país em primeiro lugar no ranking mundial de consumo desde 2008
(LOPES; ALBUQUERQUE, 2018).

MATERIAL E MÉTODOS

Tipo da Pesquisa
Conforme caracteriza Köche (2016), do ponto de vista da natureza, esse trabalho
trata de uma pesquisa básica. Pela perspectiva de abordagem, é uma pesquisa qualitativa.
Analisando os objetivos essa pesquisa é exploratória e em relação aos procedimentos
técnicos é do tipo revisão bibliográfica. Lakatos e Marconi (2002, p. 71) afirmam que “a
pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo
assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a
conclusões inovadoras”.

Realização do estudo
O presente estudo foi realizado com base em uma revisão bibliográfica, utilizando
trabalhos científicos, acerca dos impactos ambientais causados pelos agrotóxicos, por
meio do banco de dados de literatura científica Scielo e a Plataforma de Pesquisa Google
Acadêmico, no período de janeiro de 2000 a 2020, tendo as seguintes palavras-chave:
“Agricultura”, “Agrotóxicos”, “Contaminação” e “Matrizes ambientais”. Os
procedimentos metodológicos de um trabalho acadêmico é um processo lógico com
finalidade principal de atingir um determinado fim ou para se chegar ao conhecimento de
um determinado assunto (ASSUNÇÃO et al., 2016).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Trujillo (1974) conceitua método como “forma de proceder ao longo de um


caminho. Na ciência os métodos constituem os instrumentos básicos que ordenam o
pensamento em sistemas, traçam de modo ordenado a maneira de proceder do cientista
ao longo de um percurso para alcançar um objetivo.” Para a realização desse estudo, a
primeira etapa foi a organização do problema a ser pesquisado, para posteriormente
avaliar e aplicar todo o máximo do material bibliográfico disponível, uma vez que o tema
deve conter relevância tanto teórica como prática e proporcionar interesse de ser estudado
(GIL et al., 2008). O esquema metodológico utilizado nesse estudo está apresentado na
Figura 1.
906
Figura 1: Esquema metodológico utilizado no presente estudo.

Fonte: Autores (2020).

Os dados foram obtidos por meio de publicações em revistas, Trabalhos de


Conclusão de Curso, Dissertações de Mestrado e Tese de Doutorado. Para organizar as
informações dos trabalhos selecionados da base de dados, foi utilizada a leitura flutuante
dos títulos e resumos dos trabalhos bem como os resultados apresentados. A métrica
utilizada para a seleção das literaturas foram os impactos diretos e indiretos de
agrotóxicos sobre o meio ambiente.
O principal critério de exclusão de artigos está relacionado ao tempo da
publicação, visto que apenas obras mais recentes são bem vistas no meio científico. O
presente trabalho centrou-se no levantamento, sistematização e análise de artigos
publicados nos principais periódicos de ciências ambientais, agronômicas e agrícolas, que
abordam o tema de interesse. Para melhor visualização dos processos de seleção dos
artigos foi feito um fluxograma (Figura 2).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 2: Fluxograma do processo da busca dos trabalhos.

907

Fonte: Autores (2020).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização da literatura abordada


Após a filtragem das publicações, foram selecionadas 18 literaturas abordando os
impactos ambientais causados pelo uso de produtos fitossanitários, sendo 13 trabalhos
publicados em Periódicos Científicos (cerca de 72.22%), 1 Tese de Doutorado (cerca de
5.55%), 1 Trabalho de Conclusão de Curso (cerca de 5.55%), 1 Livro (cerca de 5.55%) e
2 trabalhos publicados em Congressos Científicos (cerca de 11.11%).
Importante ressaltar a pouca quantidade de trabalhos publicados sobre o assunto,
possivelmente pela recente preocupação com as questões ambientais em atividades
agrícolas. A Tabela 1 apresenta a caracterização da literatura em vista aos parâmetros
estabelecidos.

Tabela 1: Caracterização da literatura em vista aos parâmetros estabelecidos.


Parâmetros abordados Nº de trabalhos
Trabalhos que apresentaram impactos
ambientais provenientes do uso inadequado 10
de agrotóxicos em águas.

Trabalhos que apresentaram impactos


ambientais provenientes do uso inadequado 2
de agrotóxicos no solo.

Trabalhos que apresentaram impactos


ambientais provenientes do uso de 3
agrotóxicos no solo e na água.

Trabalhos que apresentaram impactos


ambientais provenientes do uso de 1
agrotóxicos no solo, na água e no ar.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Trabalhos que apresentaram impactos do uso


de agrotóxicos na saúde dos agricultores e ao 2
meio ambiente.
Fonte: Autores (2020).

A Tabela 1 apresenta a caracterização dos trabalhos abordados no presente


trabalho de revisão, de acordo com o conteúdo abordado, mostrando a distinção das
pesquisas quanto aos parâmetros estabelecidos. Cata-se a contaminação do solo;
contaminação da água; contaminação do solo e da água; contaminação do solo, água e ar;
908
e por último, impactos do uso de agrotóxicos para a saúde dos agricultores e ao meio
ambiente.

Impactos ambientais causados pelo uso dos agrotóxicos


A consequência da utilização não correta dos agrotóxicos nas atividades agrícolas
ocasiona diversos problemas socioambientais e de saúde pública pelo contato direto e
indireto com os produtos químicos, como: contaminação do solo e da água (FILIZOLA,
2002; BORTOLUZZI, 2005; VEIGA et al., 2006; LUCAS et al., 2006; SEQUINATTO
et al., 2006; CORREIA, 2007; SOARES; PORTO, 2007; QUEIROZ, 2010;
CALHEIROS; FERRACINI; SOARES, 2011; MARTINI et al., 2012; MOREIRA et al.,
2012; GAMA; OLIVEIRA; CAVALCANTE, 2013; SOARES; FARIAS; ROSA, 2017;
FAN et al., 2018; ISMAEL, 2019).
Além da contaminação do solo e da água, há também o comprometimento da
qualidade do ar (SPADOTTO, 2006) e impactos do uso de agrotóxicos para a saúde dos
agricultores e ao meio ambiente (GOMES; BARIZON, 2014; SILVA, 2017). A Tabela 2
apresenta os principais resultados encontrados pelos trabalhos selecionados na literatura
sobre os impactos ambientais ocasionados pelos agrotóxicos.
Os resultados obtidos no trabalho de Soares, Farias e Rosa (2017), verificaram
uma alta quantidade de agrotóxicos de classes altamente toxicológicas e com risco de
contaminação ambiental na região de Campo Novo do Parecis - Mato Grosso, tendo em
vista que 45,6% dos produtos comercializados são das classes I e II da classificação
ambiental, ou seja, são altamente perigosos e muito perigosos, respectivamente. Como
também foi verificado que 26,1% dos ingredientes adicionados nesses agrotóxicos
possuem alta potencialidade de contaminação de águas subterrâneas.
Fan et al. (2018) encontraram em seu estudo sobre a presença de agrotóxicos em
água e solo no Rio Grande do Sul altas concentrações de agrotóxicos. Os autores afirmam
2021 Gepra Editora Barros et al.

que essas concentrações são provenientes das plantações de fumo, no qual são em sua
maioria, realizadas próximas às casas dos agricultores. As concentrações de produtos
químicos foram detectadas na água e no solo na região de Costa do Rio e Linha do Rio,
como também no Rio Pardo e em pequenos afluentes a jusante dessa região.
Em um estudo realizado na Bacia do Alto Paraguai, Calheiros, Ferracini e Queiroz
(2010) verificaram baixas concentrações de uma determinada substância nas águas,
substância essa conhecida como atrasina. Apresentaram valores abaixo dos padrões
estipulados pela legislação, entretanto, os autores demostraram uma preocupação com os 909
efeitos sub-letais e de longo prazo de contaminações constantes por tais compostos
tóxicos em especial para as algas.
Bortoluzzi et al. (2005) em um trabalho com finalidade de quantificar a presença
de moléculas de agrotóxicos em águas superficiais na microbacia hidrográfica de
cabeceira em Agudo (RS), verificaram que a qualidade das águas superficiais foi
comprometida devido à presença de princípios ativos dos agrotóxicos imidacloprid,
atrazina e clomazone. Além disso, as águas dos córregos margeadas por lavouras com
fumo tendem a apresentar agrotóxicos e não se enquadram na classe I de qualidade de
água preconizada pelo CONAMA.
Correia (2007) estudou a influência do tipo de sistema de manejo sobre o potencial
de adsorção do herbicida atrazina no solo. Os resultados demostraram maior adsorção no
solo PD sem dessorção constitui forma efetiva para redução do transporte de agrotóxicos
para camadas mais profundas do solo, diminuindo o risco de contaminação das águas
subterrâneas.
A Tabela 2 apresenta os principais estudos encontrados sobre os impactos dos
agrotóxicos na água, solo e no ar no meio ambiente brasileiro.

Tabela 2: Resultados encontrados na literatura analisada.


PROBLEMA ANALISADO MATRIZ CONCLUSÕES REFERÊNCIA

Risco de contaminação da água Água 45,6% dos agrotóxicos Soares, Farias e


subterrânea por resíduos de possuem alta capacidade de Rosa (2017)
agrotóxicos usados na agricultura contaminação ambiental
2021 Gepra Editora Barros et al.

Resíduos de agrotóxicos em água e Água e solo Presença de contaminantes Fan et al. (2018)
solo em região produtora de fumo relacionados com agrotóxicos
com potencial efeito sobre a
saúde humana

Contaminação por agrotóxicos em Água Detecção de herbicida atrazina Calheiros, Ferracini


águas da Bacia do Alto Paraguai em níveis de variando de e Queiroz (2010)
0,0064 a 0,0477 μg L-1.
Contaminação de água superficial Água UP em áreas de lavouras de Bortoluzzi et al.
em unidades paisagísticas (UP) em fumo e reduzida mata ciliar (2005) 910
função do uso do solo apresenta princípios ativos de
agrotóxicos.
Impacto de agrotóxicos aplicados Água Presença de agrotóxico em Soares (2011)
em culturas de café na qualidade da 67% das amostras coletadas
água mananciais superficiais de em período chuvoso e 21% em
abastecimento. períodos de estiagem.
Contaminação da água por Água Detecção de resíduos de Sequinatto et al.
agrotóxico em uma comunidade diferentes agrotóxicos (2006)
rural produtora de fumo. analisados, com exceção do
flumetralin.
Risco de contaminação química de Água e solo 13,2% a 36,4% dos princípios Gama, Oliveira e
recursos hídricos pelo uso de ativos analisados foram Cavalcante (2013)
agrotóxicos. classificados como potenciais
contaminantes de recuso
hídrico.
Contaminação de água superficial e Água 52% dos 25 princípios ativos Ismael (2019)
subterrânea por agrotóxicos em analisados para a água
uma área de produção canavieira. subterrânea apresentam
tendência de contaminação
potencial; e tendências de
contaminação da água
superficial pelo transporte.
Contaminação da água superficial e Água Detecção de resíduos de Moreira et al.
da chuva por agrotóxicos em áreas diferentes agrotóxicos nas (2012)
de produção de soja, milho e amostras de água e degradação
algodão. ambiental dos recursos
hídricos, além de anomalias
em uma espécie de anfíbio
anuro.
Probabilidade de contaminação da Água Para água superficial o Martini et al. (2012)
água superficial e subterrânea por glifosato e carbofurano
agrotóxicos baseados em suas apresentam alto potencial de
características físico-químicas, transporte por escoamento; na
recomendado para culturas de arroz água subterrânea vários
irrigado. agrotóxicos apresentam
potencial contaminador.
Potencial de poluição por Água 19 dos 27 pontos analisados Veiga et al. (2006)
agrotóxico em fontes de continham poluição por
abastecimento de água em área de pesticida. Dois pontos
cultivo de tomate.
2021 Gepra Editora Barros et al.

contendo pesticida acima do


limite permitido.
Concentração de agrotóxicos em Água Identificação de agrotóxicos Lucas et al. (2006)
água para consumo humano em em todas as 15 amostras
região central do Rio Grande do analisadas.
Sul.
Influência do tipo de sistema de Solo Recomenda-se o uso do Correia (2007)
manejo no potencial de adsorção do plantio direto para a redução
herbicida atrazina no solo. da lixiviação e contaminação
do lençol fretico.
Consequentemente do impacto
ambiental. 911
Contaminação de solos em áreas Solo A carência de estudos quanto Filizola (2002)
agrícolas. a contaminação do solo por
agrotóxicos. Os poucos
realizados mostram que os
solos analisados não estão
contaminados, principalmente
pela lixiviação ao longo do
perfil do solo e da degradação.
Externalidade de contaminação do Solo e água Encontra-se fatores de risco de Soares e Porto
solo e da água pelo uso de contaminação no solo e na (2007)
agrotóxicos em áreas agricultáveis. água por agrotóxicos e
fertilizantes.
Impactos do uso de agrotóxicos x Uso de agrotóxicos não Silva (2017)
para a saúde dos agricultores e ao recomendados para as culturas
meio ambiente. de milho pimentão e tomate.
Além do descarte incorreto de
embalagens, têm causado
sinais clínicos de tonturas,
vômito, desmaio e outros.
Influência das condições Ar, água e A eficiência agronômica e a Spadotto (2006)
meteorológicas no transporte de solo segurança ambiental
agrotóxicos no ambiente. dependem de outros fatores,
como as condições
meteorológicas, durante e
depois da aplicação.
Contaminação por agrotóxicos e x Verifica-se a detecção de Gomes e Barizon
nitratos de origem agrícola no resíduos de agrotóxicos e (2014)
Brasil. nitratos no monitoramento de
regiões do país.
Fonte: Autores (2020).

A Tabela 2 apresenta os estudos de interesse nesse artigo com suas respectivas


conclusões, a matriz de interesse e o problema analisado.

CONCLUSÕES

Os resultados demostraram que o uso incorreto desses produtos químicos nas


atividades agropecuárias possui um alto potencial de contaminação das matrizes
ambientais solo, água e ar, além dos impactos significativos na saúde dos agricultores. Os
2021 Gepra Editora Barros et al.

impactos ambientais mais recorrentes de acordo com a literatura são na matriz água e solo
(cerca de 83.33%), posteriormente no ar com apenas 5.55% da literatura analisada.
Recomenda-se para futuros trabalhos uma análise sobre os possíveis impactos
ambientais causados pelos agrotóxicos que foram liberados pelo atual governo por meio
de estudos de casos e revisão bibliográfica. Espera-se que o presente trabalho corrobore
com a temática em questão e sirva de base para futuras pesquisas.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 82

IMPORTÂNCIA ALIMENTÍCIA E SOCIOECONÔMICA DO AÇAÍ:


PRODUÇÃO, CONSUMO E NUTRIÇÃO

MEDEIROS, Natália Lopes


Pós-graduando em Ciências Florestais
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
natalialopesmedeiros@hotmail.com

SANTOS, Ayane Emília Dantas dos


Pós-graduanda em Ciências Florestais 917
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
ayaneemilia@gmail.com

OLIVEIRA, George Moreira


Pós-graduando em Ciências Florestais
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
oliveirageorgemoreira@gmail.com

SILVA, Roberto Jackson Rodrigues


Pós-graduando em Ecologia
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
sergiorodrigues474@gmail.com

RESUMO

O açaí (Euterpe oleracea Mart.) é um fruto típico da região amazônica, com propriedade
alimentícia funcional comprovada cientificamente. Possui em sua composição química
compostos nutricionais indispensáveis ao organismo humano. Por apresentar benefícios
indispensáveis à saúde, tem demonstrado alta representatividade na escala comercial
nacional e internacional. Nessa perspectiva, o presente artigo teve como objetivo
apresentar uma revisão bibliográfica, avaliando a importância alimentícia e
socioeconômica do açaí no Brasil, por meio da análise de dados de produção e consumo.
E por uma revisão sistêmica de literatura nas bases de dados: ‘Web of Science’, ‘Scielo’,
‘Scopus’ e ‘Google Scholar’. Foram utilizadas as combinações de palavras-chave
(Euterpe oleracea Mart e açaí) e descritores como (importância socioeconômica e cultivo,
beneficiamento e comercialização do açaí), de modo para busca de artigos que
contemplam a relevância nutricional, social e econômica da cultura da espécie. Dessa
forma, foi possível correlacionar todos os aspectos que envolvem a cadeia produtiva do
açaí e concluir que, os benefícios nutricionais da espécie é um dos fatores que têm
impulsionado o consumo dos produtos derivados do açaí em vários polos do mundo.

PALAVRAS-CHAVE: Propriedades alimentícias, valor nutricional, comercialização

INTRODUÇÃO
O açaí é um fruto bacáceo de cor roxa, oriundo do açaizeiro planta nativa da
Amazônia Brasileira. Pertencente ao gênero Euterpe, na qual apresenta dez espécies
registradas no Brasil, e das sete que ocorrem na Amazônia, três são de maior interesse,
2021 Gepra Editora Barros et al.

do ponto de vista Agroindustrial: E. oleracea, E. edulise, e a E. precatoria (CONAB,


2019). As espécies do gênero Euterpe, pertencem à família botânica Aracaceae
(VIANNA, 2020), típicas de florestas de países da América do Sul, como o Brasil.
Apresenta ocorrência no Maranhão, Estado que contempla a região Nordeste do país e,
no Norte onde se sucede espontaneamente nos Estados do Amapá, Pará, Tocantins,
Amazonas, Rondônia e Roraima, formando grandes colônias próximas a ribeirões e rios
(TEXEIRA, 2018; FLORA DO BRASIL, 2020). Por ocupar grandes áreas nessas regiões,
o açaí tornou-se um dos componentes mais representativos da floricultura amazônica
(CARVALHO; COSTA; SEGOVIA, 2017).
A espécie Euterpe oleracea Mart. atualmente é uma das espécies mais importantes
918
para atividade extrativista não madeireira. Por representar como uma das fontes de renda
mais relevantes de grande parte dos produtores agrícolas da região Norte brasileira,
demonstrando seu papel socioeconômico para o desenvolvimento das famílias ribeirinhas
e para economia mundial (COELHO et al., 2017). Além dos fatores sociais e econômicos,
o açaí tem ganhado cada vez mais visibilidade no setor nutricional por ser um produto
rico em diversas fontes de vitaminas: E e B1, Ferro, ômega 6 e 9, lipídios, fibras, fósforo,
minerais e antioxidantes, chegando a ser classificado como um dos alimentos mais ricos
em compostos essenciais à saúde humana, sendo extremamente recomendável na dieta
populacional (OLIVEIRA et al., 2015; CEDRIM et al., 2018).
Considerado uma “superfruta” devido suas propriedades a comercialização e o
consumo de produtos de seus derivados, são crescentes tanto em nível nacional como
internacional (MARCIEL et al., 2014; BECKER, 2018). Devido à comprovação
científica e a divulgação do seu potencial nutritivo e energético com destaque para as
antocianinas, associadas a efeitos benéficos à saúde (COELHO et al., 2017). O “ouro
roxo” como é conhecido o açaí nas regiões produtoras, está sendo exportado para quase
todos os continentes do mundo sua movimentação financeira está em concordância com
essa dimensão planetária.
Desse modo, o presente artigo teve como objetivo apresentar uma revisão
bibliográfica, avaliando a importância alimentícia e socioeconômica do açaí no Brasil,
por meio da análise de dados de produção e consumo.

MATERIAL E MÉTODOS
O primeiro momento da pesquisa contemplou consultas de dados estatísticos
disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Por meio
dos quais foi possível analisar dados referentes à produção da extração vegetal de açaí
entre os anos de 1992 - 2016. Alguns dados requerem atenção, especificamente aqueles
relacionados aos anos de 2010 e 2014 por não se apresentarem disponíveis na plataforma
do IBGE para acesso público. Nesse contexto foram analisadas informações referentes à
produtividade do açaí nos anos de 2015 e 2016 isoladamente em um primeiro gráfico. De
2010 a 2020 foram analisados dados de produtividade por meio dos relatórios
disponibilizados pela Companhia Nacional de Abastecimento.
É importante salientar que os dados coletados pelo IBGE e pela CONAB não refere-
se a produção total de valores do açaí, uma vez que o cultivo desse produto vem
2021 Gepra Editora Barros et al.

aumentando e, por se tratar de uma cultura permanente, não é acompanhada pela


Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura - PEVS do IBGE, conforme declara o
instituto.
Por já ter sido realizada ampla discussão da produção até o ano de 2013 no trabalho
publicado por Teixeira (2018) será abordado nessa pesquisa, principalmente os dados de
2014 a 2020. No segundo momento, foi realizada uma busca em relatórios publicados
periodicamente pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).
Em sequência a metodologia adotada consistiu no levantamento de trabalhos
científicos que englobam fatores que contemplam desde a importância alimentícia da
cultura do açaí, aos seus impactos socioeconômicos. Para tanto, foram utilizadas
919
combinações de palavras-chave e descrições como estratégia para busca dos artigos
envolvendo a temática açaí nas principais bases de dados: ‘Web of Science’, ‘Scielo’,
‘Scopus’ e ‘Google Scholar’. Para cada estudo referente à temática, foram retiradas as
seguintes informações: composição nutricional, produção, consumo, distribuição, e
impactos socioeconômicos da espécie estudada. A produção científica foi indispensável
para o levantamento de dados concretos sobre as propriedades químicas e biológicas da
espécie, assim como para compreender o atual cenário de produção, exportação e
importação dos produtos, nos oferecendo suporte para compreender os dados registrados
pelo IBGE e CONAB.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Importância socioeconômica do açaí


A palmeira do açaí fornece o fruto e o palmito, e as informações sobre a presença
desses produtos na dieta alimentar encontram-se registradas nos diários de Cabral, Moura
(2010) Souza et al. (2019), o que evidencia a utilização milenar desse produto florestal
não madeireiro no Brasil. Desse modo, o açaí se inclui historicamente como alimento e
produto comercial na vida cotidiana da população, especialmente na região Norte do país
(MOURÃO, 2010; SOUZA et al., 2019).
A cadeia exploratória do açaí envolve um conjunto de mão de obra que contempla
extrativistas, produtores, intermediários, indústrias de beneficiamento e batedores
artesanais (TAVARES; HOMMA, 2015). Nesse viés, Sousa et al. (2019) apontam que a
relação socioeconômica do açaí, quando segue um padrão organizado, contribui
significativamente para a geração de emprego na produção local e consequentemente de
renda. Fortalecendo, dessa forma, a agricultura familiar e a permanência do homem no
campo.
Sendo atualmente um dos frutos que têm maior relevância para a economia do país,
sendo classificado com o PFNM com maior valor (R $539,8 milhões) de produção na
extração vegetal no Brasil no ano de 2016 (IBGE, 2017). O maior responsável pelo valor
de produção é o Estado do Pará, classificado como maior produtor nacional por alcançar
uma produção de um milhão de toneladas de frutos anualmente (Figura 1).
Por possuir um grande potencial em relação à produção de açaí tanto do ponto de
vista do extrativismo, do manejo nas várzeas e do cultivo em terra firme, e o estado do
2021 Gepra Editora Barros et al.

Pará tem se sobressaído em relação aos demais ano após anos, como é possível observar
no gráfico abaixo, referente a produção de açaí nos anos de 2015 e 2016 (Figura 1). Em
2017, o açaí ficou em 3º lugar entre as frutas mais produzidas no Brasil. No mercado
internacional a rota do açaí tem chegado a quase todos os continentes e sua movimentação
financeira acompanha essa dimensão (CONAB, 2019).

Figura 1: Quantidades produzidas em toneladas e valores da produção por Estado que tiveram registros
no ano de 2015 e 2016.

- Valor da produção (R$) - Quantidade produzida (T)

920

376794
327935
126027
116722

131836
65638
99761
57572
21876
14864
25422
17508
7086
5454
5568
4459
3303
2413
3942
2627

3711
1674
3264
1605

44
23
4
1
2015 2016 2015 2016 2015 2016 2015 2016 2015 2016 2015 2016 2015 2016
Acre Amapá Amazonas Maranhão Pará Rondônia Roraima
Fonte: própria dos autores (2020).

De acordo com Bentes et al. (2017), o Estado do Pará é capaz de possibilitar a


ampliação da oferta e o fortalecimento da cadeia produtiva. Os resultados apresentados
em relação à produção do açaí podem ser explicados pelo fato do Pará possuir
características ambientais que favorecem o desenvolvimento da cultura do açaí (BENTOS
et al., 2017). Como por exemplo, seu vasto território (1.248.042 km²) que por possuir
2,7% de área de inundação (várzea e igapó) e ser considerado o segundo maior, em termos
de área degradada, dentro da Amazônia Legal (INPE, 2014), que aumentaram a
possibilidade de utilização da terra para o cultivo do açaizeiro, tornando possível o
aumento da produção (BENTES; HOMMA; SANTOS, 2017).
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (2020), o açaí teve aumentos
consecutivos de produção ao longo dos últimos anos. Contudo, esse aumento não é
apresentado para cada estado, onde é possível observar a ocorrência de oscilações e ponto
de redução da produção em alguns anos. Essa observação é encontrada em resultados dos
trabalhos de Teixeira et al. (2018) e Silva et al. (2017).
Em virtude do crescimento e importância da produção do açaí impulsionado
principalmente pelas exportações, houve um aumento progressivo em áreas manejadas e
plantadas de açaizeiro. Junto a isso houveram aprimoramentos das técnicas de manejo
que foram cada vez mais difundidos pela EMBRAPA aos agricultores, tendo como
principal resultado o aumento da produção do fruto (CONAB, 2020).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Distribuição comercial do açaí


No processo de comercialização do açaí, a gestão da logística e do transporte da
matéria prima encontra-se ligada à eficiência e eficácia do processamento da fruta. Para
um bom desenvolvimento dessa logística, o meio de transporte deve ser considerado para
dar forma ao crescimento que a economia do açaí tem no Pará.

Figura 2: Exportação de Açaí em toneladas de 2010 até metade de 2020.

921

Fonte: Agrostat MAPA (2020).

Os dados apresentados (Figura 2) mostram um aumento no quantitativo exportado


ao longo do período avaliado, com pontos de inflexão de 2015 e 2018. O percentual em
relação à produção nacional apresentou um comportamento com oscilações no mesmo
período indicando que o aumento da exportação ocorreu nas mesmas proporções que o
incremento na produção. Contudo, não é possível inferir que o aumento da demanda
externa é um dos principais motivadores do crescimento da produção brasileira de açaí
(CONAB, 2020).
A região Norte do país concentra a maior parte da produção de açaí, com Pará e
Amazonas respondendo por 87,5% do total. O estado do Pará é o maior produtor mundial
de açaí, tendo dobrado sua produção nos últimos 10 (dez) anos e o maior exportador
brasileiro, seguido do Amazonas. O estado do Maranhão aumentou a extração de açaí nos
últimos cinco anos, está em terceiro lugar no ranking nacional e vem consolidando-se
como um dos maiores produtores do fruto no Brasil (CONAB, 2019).
Em 2016 no Amazonas a produção caiu 12,3% por causa da seca, o que tornou mais
difícil o escoamento do fruto em algumas regiões. A produção nacional de açaí extrativo
caiu 0,2% em comparação à 2015, somando 215.609 toneladas, apesar do valor de
produção ter subido 12,4%. Maior produtor nacional, o Pará respondeu por 61,2% do total
de 2016, com crescimento de 4,6%. Já o Maranhão aparece com 8,1% de participação na
produção brasileira de 2016 (CONAB, 2019).
Em 2017, a produção nacional foi de 219.885 toneladas, volume 2,0% acima do
registrado no período anterior. Esse aumento levou a um crescimento de 10,5% no valor
de produção (R$596,8 milhões) do açaí. Os estados do Acre, Amapá e Rondônia são os
principais produtores brasileiros (CONAB, 2019).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Todo o processo está ligado de forma direta à crescente demanda do consumo de


produto alimentício do açaí, ressalta-se a preocupação existente com a qualidade e o
manejo, além da distribuição para comercialização. Nesse sentido, uma boa gestão
administrativa do processo desde a extração até o consumidor final do açaí deve ser
considerada para evitar problemas como prejuízo na qualidade do produto durante a
exportação para outras localidades. Visto que existe uma distância significativa entre os
maiores Estados produtores e os consumidores.
Analisando o período de 2019/2020, verifica-se que a qualidade do fruto vem
crescendo e os preços tornaram-se mais competitivos para o mercado internacional. Com
o cenário de pandemia, ocorre a expectativa em relação ao impacto na produção e
922
exportação do açaí. Até o momento, contudo, o que tem sido observado é que o volume
de exportação para o ano corrente tem sido observado é que o volume de exportação para
o ano corrente tem sido satisfatório se tomado como base o desempenho dos anos
anteriores. Até o mês de julho, o quantitativo total exportado em 2020 equivalia a 30%
do que foi exportado em 2019, ano cujo registro de volume de exportação foi o maior no
período de 2010 a 2019 (CONAB, 2020).
O mercado de açaí, como já exposto, tem apresentado franca expansão ao longo dos
anos no que se refere à quantidade produzida, qualidade e conquistas de mercado. No ano
de 2019 pôde-se perceber a ascensão da cadeia do açaí em termos de aumento de produção
e avanço em mercados internacionais (CONAB, 2020).
Estima-se que somente no Estado do Pará, sejam consumidas anualmente cerca de
300 mil toneladas de açaí, segundo a EMBRAPA (Figura 3). Fora do Estado paraense,
são consumidas cerca de 150 toneladas de açaí no Estado de São Paulo, 500 toneladas no
Rio de Janeiro e 200 toneladas nos outros Estados. O Pará é responsável por mais de 90%
da produção brasileira de açaí. Segundo informações do Sindicato das Indústrias de Frutas
e Derivados do Pará (Sindfrutas), 60% dessa produção é consumida no Estado e os outros
35% são destinados a outras regiões do país.
O valor oferecido pelo preço (Figura 3) apresenta variações em função do período
de safra e de fatores relativos à sazonalidade, como chuvas que podem interferir na
extração/colheita, entre outros fatores de ocorrências pontuais, podendo gerar uma
significativa variação de preço entre cidades próximas do mesmo estado (CONAB, 2019).
Os Estados que apresentaram preço pago (Figura 3) ao produtor menor que o preço
mínimo em algum momento nesse período foram: Pará, Amazonas e Amapá sendo que
este último apresentou um dos menores índices do período. O Maranhão foi um dos
estados cujo produto apresentou maior valor agregado e menor variação neste intervalo
de tempo (CONAB, 2019).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 3: Valores médios pagos aos produtos de Açaí por Estados produtores em 2020 (R$/Kg).

923
Fonte: SIAGRO – CONAB (2020).

Quando se observa o comportamento dos preços pagos pelo açaí ao produtor


extrativista dentro do ano de 2020 (Figura 3), constata-se que o período de safra é a
variável determinante na variação dos preços. Os impactos e depreciações nos preços
causados pela pandemia são observados quando comparados com o mesmo período do
ano anterior, conforme discutido acima. De acordo com o gráfico, no Pará, o ano tem
início em período de entressafra e, neste período, o preço pago ao produtor esteve abaixo
de R $3,00 (janeiro). Contudo, de maio a junho houve, pela primeira vez no ano, baixa
no preço pago ao produtor, tendência observada no mesmo período nos últimos anos
devido, provavelmente, ao início do período de safra.
A alta dos preços no Amapá, típica do período de entressafra no estado, foi
comprometida pela escassez da demanda no Pará, estado que historicamente busca no
Amapá produto para atender a demanda principalmente neste período de entressafra
(CONAB, 2020). Nos estados onde o período de safra ocorreu durante o primeiro
semestre do ano, houve tendência de queda dos preços, com recuperação no final de maio
e início de junho, como Amazonas, Rondônia, Acre. Os problemas gerados pelo cenário
de pandemia tiveram maior ou menor impacto nos ganhos e na formação de renda do
produtor, dependendo do nível de estruturação da cadeia e dos problemas inerentes à
cadeia de açaí em cada região. O esquema abaixo mostra de forma resumida, a conjuntura
do mercado de açaí na região norte (CONAB, 2020).
O ano de 2020 trouxe o cenário de pandemia e a consequente mudança tanto no
ânimo dos agentes da cadeia quanto nas previsões e planejamentos. Nos estados onde a
safra de açaí ocorreu no primeiro semestre observou-se que o quadro de pandemia
provocou impactos na produção e estabelecimento do preço de venda do fruto. Em
Rondônia e no Amazonas, por exemplo, estados onde a safra do açaí ocorreu entre janeiro
e junho, início da pandemia, com medidas de isolamento social e fechamento do comércio
de forma generalizada, observou-se uma redução nos índices de preço em comparação ao
mesmo período do ano passado.
Além do cenário de pandemia, uma preocupação constante dos produtores e outros
fatores da cadeia, bem como das entidades de classe é a dificuldade com a logística no
Amazonas, devido à existência de poucas estradas e ao transporte ser feito em grande
parte por rios. Em Rondônia, segundo informações repassadas pelo técnico da Conab na
região, a percepção que se tem é que a Pandemia da COVID-19 afetou e prejudicou toda
2021 Gepra Editora Barros et al.

a cadeia produtiva, desde o preparo dos acessos à colheita. A comercialização do produto


a partir do momento em que foram adotadas as primeiras medidas de isolamento com
restrições para circulação de pessoas e os fechamentos de comércios, como bares,
lanchonetes, restaurantes, entre outros, coincidindo em boa parte com a entrada da safra
do produto.
No Acre, informações levantadas apontam o impacto da pandemia na
comercialização do fruto no estado, onde a safra ocorreu também no primeiro semestre,
sendo que o estado apresentou um dos menores índices de preço no primeiro semestre do
ano. Contudo, informações do município de Feijó - um dos maiores produtores de açaí
do estado – relatam que houve grande atividade no processamento nas, as quais chegaram
924
a processar mais de 1000 toneladas ao longo da safra somente no município.
O Amazonas e Maranhão, segundo e terceiro maiores produtores nacionais, o
incremento na produção ocorreu de forma consecutiva, nos demais estados a variação na
quantidade produzida oscilou no período avaliado. O aumento das áreas exploradas e
manejadas/plantadas e o aprimoramento de técnicas de manejo têm sido os principais
responsáveis pelo aumento da produção do fruto (CONAB, 2020).
Destaca-se que a temperatura ambiente também influencia na qualidade dos
produtos derivados do açaí. Considerando este aspecto, Menezes et al. (2008) alertam que
o contato com microrganismos torna o açaí altamente perecível, logo a técnica do
resfriamento e congelamento é um método para aumentar a durabilidade da polpa do açaí
transportado. Porém, esse método de congelamento ou pasteurização é capaz de ocasionar
a perda nutricional da polpa, que alteram o valor nutricional do açaí comprometendo
ainda seu aspecto visual.
A comercialização para fora do estado do Pará é feita em vias de caminhões
frigorificados, em meio à longa distância, como São Paulo, por exemplo. Ao chegar ao
seu destino as empresas normalmente realizam uma checagem para averiguar as
condições e qualidade do açaí transportado em polpa, por conta da alta perecibilidade. O
açaí congelado deve ser entregue em aproximadamente uma semana depois da saída das
empresas importadoras.
O açaí transportado pode sofrer alterações devido à presença microbiana, um dos
fatores principais que torna o fruto curta duração. Para a indústria de comercialização,
adotam-se métodos de conservação que oferecem mais durabilidade ao açaí
comercializado para fora do estado ou fora do País.
A pasteurização, já citada nesta discussão, é um processo utilizado para conservar
o açaí em modo de congelamento que retarda o processo metabólico do fruto, conferindo
ao produto uma durabilidade adicional de 12h, essenciais para suportar longas viagens.
Outro processo conhecido é a desidratação, também conhecido por atomização (spray
dryer), método que envolve a retirada de quase toda água do açaí em polpa. Para tanto,
utiliza-se uma câmara de secagem, que no final do processo o açaí apresenta o aspecto
em pó (NOGUEIRA et al., 2005). Ainda de acordo com o autor, o processo de
pasteurização encarece o produto devido à utilização de tecnologias, implicado ainda, em
alterações no sabor original.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Comércio nacional e internacional do açaí e os seus impactos socioeconômicos


O comércio do açaí está ligado à economia brasileira, que tem como base a venda
de produtos rurais, os quais geram crescimento econômico ao país, que é um dos maiores
produtores rurais do mundo (SZEZERBICKI, 2014). Segundo Homma (2006), o pioneiro
na importação do açaí brasileiro foi os Estados Unidos. Em suas pesquisas mais recentes,
Homma (2017) aborda que a expansão do fruto do açaí corresponde a uma grande massa
de consumo que vem crescendo não apenas nos estados brasileiros, mas também em
outros países; contudo, trata-se de um crescimento modesto comparado ao consumo no
Brasil.
No ano de 2016 registrou-se a exportação de açaí para 33 países, onde o estado do
925
Pará se destacou como o maior exportador, mas a quantidade de açaí enviada para outros
países ainda se demonstra pequena quando comparada à quantidade total produzida no
Brasil (BENTES; HOMMA; SOUZA, 2017). Recentemente tem-se registrado o aumento da
exportação para países da União Europeia, como Holanda, Bélgica e Alemanha,
amplificando assim a concorrência pelo produto. (HOMMA, 2015; CONAB, 2020).
No que diz respeito ao preço dos produtos exportados, os valores variam muito; no
caso no Japão, por exemplo, o produto apresenta acréscimo maior no valor de mercado.
Isso em decorrência da distância percorrida e pela preferência desse mercado pela polpa
do tipo açaí grosso (TAVARES; HOMMA, 2015).
Levando em conta o somatório quantitativo de 2015 até 2020 analisados pela
CONAB (Figura 2), tem-se os EUA como o maior importador isolado de açaí, com 66%
do total, seguido da Austrália, Japão e países da União Europeia (Alemanha, Bélgica,
Portugal e França); nota-se um incremento de 10 vezes a quantidade exportada em 2019
em relação a 2010, saltando de 314 toneladas para 3.500 toneladas. (CONAB, 2020).
Havia grande expectativa sobre a expansão internacional do comércio do açaí no
ano de 2020, estava em curso a conquista de mais mercados, como o árabe, por exemplo;
o primeiro mês do ano apresentou um aumento no volume exportado duas vezes superior
ao mesmo período em 2019, porém os meses seguintes já apresentavam um decréscimo,
reflexo da pandemia de COVID-19 (CONAB, 2020).
Devido às suas propriedades nutricionais, o açaí vem conquistando mercados
nacionais e internacionais e essa expansão do consumo vem promovendo um aumento na
demanda que, consequentemente, vem aumentando os preços e dificultando o seu
consumo para a população de baixa renda, principalmente em áreas urbanas (BENTES;
HOMMA; SOUZA; 2017). Em um estudo de Madureira, Guedes e Santos (2020), foram
quantificados o consumo e a venda de açaí de 23 famílias na Ilha das Cinzas, no município
de Gurupá no estado do Pará, entre os meses de julho e dezembro de 2018, onde os
resultados demonstraram que, independente do preço e da quantidade produzida, as
famílias priorizavam o açaí para consumo próprio, evidenciando assim a importância
alimentar do açaí na região.
Pensando no aumento da oferta e na soberania alimentar das pessoas das regiões
produtoras, foram adotadas técnicas como a irrigação, cultivo em terras firmes e o manejo
de populações naturais para possibilitarem a produção do açaí no período de entressafra
(janeiro a junho) (OLIVEIRA et al., 2017). Contudo esse aumento de produção está
bastante relacionado ao aumento das áreas cultivadas e em decorrência disso surgem
2021 Gepra Editora Barros et al.

alguns problemas ambientais como a homogeneização da paisagem, extinção de outras


espécies nativas, assoreamento dos rios entre outros. Além de problemas sociais
associados à perda da diversidade produtiva dos pequenos agricultores e o aumento da
dependência econômica da cultura do açaí (TAGORE; CANTO; SOBRINHO, 2018).

CONCLUSÃO

O açaí apresenta-se como um alimento funcional com potencial para prevenir


doenças em função da sua qualidade nutricional, que dispõe de substâncias indispensáveis
para o bom funcionamento do corpo humano. Os seus benefícios nutricionais é um dos
926
principais fatores que têm impulsionado a consumação em vários países do mundo.
Registra-se ainda, a importância das comunidades tradicionais para o extrativismo desse
produto, sendo indispensável para assegurar a manutenção de sua cadeia produtiva.
Portanto, a exploração desse produto florestal não madeireiro quando direcionado
corretamente, contribui para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental, de modo
que a utilização PFNM’s é vista como alternativa ao desenvolvimento sustentável.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 83
IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA DOS CUPINS (ISOPTERA) PARA
AGRICULTORES DO ASSENTAMENTO JUAZEIRO- ALTO
SERTÃO DA PARAÍBA
BRANDÃO, Gabriella Henrique
Graduanda em Agroecologia
Universidade Estadual da Paraíba-UEPB
gabriellabrandao77@gmail.com

SOUZA, Bruna dos Santos 930


Graduanda em Agroecologia
Universidade Estadual da Paraíba-UEPB
souza.brusbs@gmail.com

BARROSO, Vitória Saskia Ferreira


Graduanda em Agroecologia
Universidade Estadual da Paraíba-UEPB
vitoriasaskia17@gmail.com

GOMES, Joyce Lorenna Pinto


Graduanda em Química
Universidade Federal de Campina Grande- UFCG
joycelorennag@gmail.com

RESUMO

Os cupins (Isoptera) são integrantes do grupo dos engenheiros do ecossistema, apesar de


serem mais conhecidos pelo potencial como pragas de madeira e materiais ricos em
celulose, eles exercem um papel fundamental para a fertilidade do solo e
consequentemente proporcionam melhores condições para o desenvolvimento das
plantas. Objetivou-se através do presente trabalho conhecer as percepções e práticas de
19 agricultores familiares do assentamento Juazeiro, localizado na cidade de Marizópolis-
Alto Sertão Paraibano, a fim de analisar a importância ecológica dos cupins para esses
agricultores, assim como práticas e formas de manejo de cupins, práticas
conservacionistas do solo, pragas e doenças. A pesquisa realizada é de caráter quali-
quantitativo, ocorreu entre os dias 03 e 26 de fevereiro de 2021, através de entrevistas
com questionários semi-estruturados com 8 perguntas sobre percepções, práticas e
manejo dos cupins, pragas, doenças e do solo. Os resultados mostram que 68% dos
agricultores desconhecem as atividades benéficas dos cupins, 57% deles não praticam
técnicas de cobertura do solo, todos enfrentam problemas com pragas e doenças e 78%
utilizam agrotóxicos para controlar estas, além disso 68% deles não consideram os cupins
como seres benéficos para o solo. Houve um crescimento no uso de veneno para controle
de cupins e um decréscimo do uso de defensivos naturais para a mesma finalidade, quando
comparadas as técnicas utilizadas pelos pais dos agricultores no passado e pelos
agricultores nos dias atuais.

PALAVRAS-CHAVE: Agricultura, Ecologia, Microbiologia do solo.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

Os cupins são considerados integrantes do grupo dos engenheiros do ecossistema


por desempenharem funções primordiais no solo, através da construção de seus ninhos e
formação de galerias, assim como pela ação de bioturbação e decomposição de matéria
orgânica (KUMAR et al., 2020).
As atividades dos cupins em conjunto com os demais seres que compõem a micro,
meso, macro e megafauna edáfica são fundamentais para manter viva as atividades e
relações existentes no ecossistema solo e assim favorecer o desenvolvimento de plantas
mais saudáveis e menos suscetíveis ao ataque de pragas e doenças (KUMAR et al., 2020).
Os cupins são capazes de auxiliar na capacidade de resiliência do ecossistema, uma 931
vez que a presença de bactérias, fungos, protozoários e enzimas vivendo em atividade
simbiótica na microbiota de seus intestinos proporcionam a decomposição de diversos
componentes presentes no solo, como a celulose e lignocelulose (GRIFFITHS et al.,
2019).
A presença de alguns microrganismos benéficos para o solo e consequentemente
para o desenvolvimento das plantas é observada a microbiota do intestino dos térmitas,
como Penicillium e Aspergillus que são gêneros de fungos que podem associar-se com
raízes de gramíneas que são capazes de melhorar a estrutura do solo. Além disso, existe
a presença de bactérias fixadoras de N no trato intestinal dos cupins, o que implica em
uma fonte de disponibilização desse elemento para o solo e plantas (ENAGBONMA;
BABALOLA., 2020).
Apesar de desempenharem funções fundamentais no solo e contribuírem para a
manutenção de outras atividades essenciais para manter e incentivar a fertilidade deste,
aproximadamente 10% das espécies de cupins são consideradas insetos pragas na zona
urbana e rural, através do ataque aos materiais de madeira ou ricos em celulose, assim
como podem causar danos aos cultivos, ao atacar as raízes e folhas (OURIVES;
OLIVEIRA; MOREIRA., 2016).
Diante do exposto, objetivou-se conhecer as percepções e práticas realizadas por 19
agricultores familiares do assentamento Juazeiro, na cidade de Marizópolis-PB, a fim de
analisar a forma que os agricultores enxergam os cupins, se utilizam práticas
conservacionistas do solo, se enfrentam problemas com pragas, doenças nos cultivos e
manejos utilizadas por seus pais para controle dos cupins, visando observar se
antigamente eram usadas mais práticas ecológicas para esta finalidade em analogia aos
dias atuais no Assentamento Juazeiro- Alto Sertão paraibano.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa realizada é de caráter quali-quantitativo, e ocorreu entre os dias 03 e 26


de fevereiro de 2021, sendo direcionada para 19 agricultores familiares do assentamento
Juazeiro, na cidade de Marizópolis, localizada no estado da Paraíba, apresentando latitude
06º50’31” Sul e longitude 38º20’49” Oeste, altitude de 300 metros, está inserida na região
semiárida do Nordeste e apresenta baixos índices pluviométricos (IBGE, 2017).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Segundo Schneider, Fujii e Corazza (2017), a pesquisa quali-quantitativa possibilita


trabalhar com a complexidade dos fenômenos sociais e as relações que os cercam através
da tradução de informações, opiniões e informações em números.
A pesquisa foi realizada através de entrevistas a partir de um questionário
semiestruturado com 8 perguntas sobre as percepções de 19 agricultores: 1. “Você já
percebeu a presença de cupins em sua propriedade?”, 2. “Na sua opinião, os cupins têm
algum potencial benéfico?”, 3. “Como você lida com os cupins em sua propriedade?”, 4.
“Você utiliza práticas de cobertura de solo?”, 5. “Na prática agrícola você enfrenta
problemas com pragas e doenças? Se sim, quais?”, 6. “O que você utiliza para fazer o
manejo de pragas e doenças nos cultivos?”, 7- “Na sua opinião, os cupins são importantes
932
para o solo?, 8- “Quais eram as práticas utilizadas por seus pais para o controle de
cupins?”.
As respostas foram analisadas seguindo o método da estatística descritiva, através
da exposição das respostas traduzidas em números e expostas em percentuais, a fim de
melhor explicar os resultados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Sobre o primeiro questionamento: 1. “Você já percebeu a presença de cupins em


sua propriedade?”, 100% das respostas foram “sim”, ou seja, os 19 agricultores disseram
que já perceberam a presença de cupins em suas propriedades.
De acordo com Ourives, Oliveira e Moreira (2016), a presença dos térmitas pode
ser um bioindicativo de boas condições de fertilidade do solo, uma vez que estes insetos
podem estar associados a processos que alteram a qualidade e estrutura do solo,
propiciando melhores condições para o desenvolvimento vegetal.
A fração viva do solo, caracterizada pela atividade da micro, meso, macro e
megafauna, é essencial para o funcionamento do solo, estima-se que a presença dos cupins
possa representar indícios de atividades de regeneração do solo, através da decomposição
de matéria orgânica, disponibilizando assim mais fonte de alimento para os
microrganismos e enzimas, que podem produzir antibióticos para proteção da planta
contra patógenos, no caso dos microrganismos e degradar compostos orgânicos,
facilitando a assimilação por outros organismos, como é o caso das enzimas (CARDOSO,
ANDREOTE., 2016).
Quanto ao olhar dos agricultores sobre o potencial benéfico dos cupins, os
agricultores foram questionados: 2. “Na sua opinião, os cupins têm algum potencial
benéfico?”, 63% dos agricultores disseram que “Não” e 37% disseram que “Sim”,
mostrando assim que a maioria dos agricultores não conhecem o papel ecológico dos
cupins.
Segundo Scifoni (2019), o ato da preservação está condicionado ao conhecimento
sobre aquele fato, ao relacionar com o contexto das percepções dos agricultores sobre a
importância ou potencial benéfico dos cupins, pode-se perceber que estes insetos estão
cada vez mais propensos às ações antrópicas, visto que a falta de conhecimento sobre a
2021 Gepra Editora Barros et al.

importância pode ser um fator prejudicial na busca pela conservação e preservação destes,
visto sua tamanha importância para o solo e ecossistema.
Em relação aos agricultores que disseram que os cupins possuem algum potencial
benéfico (37%), foram citadas as atividades consideradas por eles benéficas, onde todos
os agricultores relacionaram estas ações benéficas com a decomposição de matéria
orgânica, mostrando uma visão ainda limitada sobre os benefícios que os cupins podem
trazer para o solo.
Os solos que contam com a presença de cupins possuem uma maior riqueza
microbiana associada aos ninhos dos cupins, sendo estes compostos por solo, fezes e
saliva, composto por diversas bactérias, fungos e actinobactérias que podem auxiliar na
933
defesa dos cupins contra o ataque de patógenos, além disso, a riqueza microbiana do
ninho pode contribuir para a fertilidade do solo e melhor desenvolvimento das plantas,
como foi observado por Ourives, Oliveira e Moreira., (2016) para Phaseolus vulgaris.
Quanto aos resultados do terceiro questionamento: “Como você lida com os cupins
em sua propriedade?”, 63% dos agricultores disseram que utilizam veneno e 37%
disseram que utilizam defensivos naturais.
Por estarem associados com simbionte, os cupins têm a capacidade de contribuir
para a disponibilização de elementos essenciais como N e desempenham atividades
fundamentais para o maior índice de sequestro de C no solo, auxiliando na
disponibilização de alimento aos microrganismos do solo, o que mais tarde acarretará na
maior produtividade agrícola e na menor suscetibilidade dos cultivos ao ataque de pragas
e doenças. Os cupins são insetos extremamente sensíveis aos distúrbios e ações antrópicas
no ambiente, sendo a aplicação de veneno um fator de preocupação quando consideramos
os prováveis efeitos e consequências dessas práticas para a continuidade das atividades
desempenhadas pelos cupins (AGUERO et al., 2021).
Os resultados do quarto questionamento: “Você utiliza práticas de cobertura de
solo?”, mostraram que 57% dos agricultores disseram não utilizar práticas de cobertura
de solo e 43% disseram que utilizam. Os agricultores que disseram utilizar cobertura de
solo relataram o uso da palha e do capim para tal finalidade, mostrando opções limitadas
para a prática conservacionista de cobertura do solo.
As práticas de cobertura do solo podem proporcionar melhores condições para o
desenvolvimento dos microrganismos do solo e para as relações existentes entre os
demais componentes edáficos, inclusive os cupins. Logo, estima-se que práticas de
cobertura de solo podem contribuir para a biodiversidade do solo, favorecendo a ciclagem
de nutrientes e sustentação do ecossistema (CARDOSO, ANDREOTE., 2016).
A falta de cobertura de solo pode acarretar em perdas de biodiversidade de
microrganismos e demais componentes edáficos que contribuem para o melhor
funcionamento do ecossistema, visto que sem essa riqueza microbiana e funcional, as
plantas estarão mais suscetíveis ao ataque de pragas e infestação de doenças (CARDOSO,
ADREOTE., 2016).
As respostas ao quinto questionamento “Na prática agrícola você enfrenta
problemas com pragas e doenças? Se sim, quais?”, mostraram que 100% dos agricultores
enfrentam problemas com pragas e doenças, e as citadas foram pragas como a lagarta
(84%), mosca-branca (57%), formigas cortadeiras (31%) e gafanhotos (26%).
2021 Gepra Editora Barros et al.

A incidência de pragas e doenças nos cultivos pode indicar alguma deficiência ou


excesso de macro ou micronutrientes, assim como outros elementos essenciais para o
desenvolvimento da planta, pois, boas condições de sobrevivência favorecem a
resistência horizontal da planta, corroborando a teoria de que na natureza resistência é
regra, porém fatores bióticos e abióticos interferem positivamente ou negativamente
nessa ferramenta utilizada pelas plantas (CARDOSO, ADREOTE., 2016).
Práticas como a cobertura de solo se mostram como formas eficazes para criar
microclimas necessários para a conservação do solo, da vida microbiana e as relações
oriundas desse vínculo (CARDOSO, ANDREOTE., 2016), de acordo com os resultados
do quarto questionamento, 57% dos agricultores disseram não utilizar a prática e 43%
934
disseram que utilizam, entre eles foram citadas a palha e o capim como as formas de
cobertura de solo utilizadas.
Em contraste, os resultados do quarto questionamento provavelmente podem ser
um dos fatores que contribuem para a alta incidência de pragas nos cultivos dos
agricultores do assentamento Juazeiro, confirmando a ideia de que o manejo ecológico
do solo pode contribuir para o desenvolvimento de plantas menos suscetíveis a pragas e
doenças (CARDOSO, ANDREOTE., 2016).
Na sexta pergunta os agricultores foram questionados: “O que você utiliza para
fazer o manejo de pragas e doenças nos cultivos?”, os resultados mostraram que 78%
deles utilizam agrotóxicos para o manejo de praga.
As consequências do uso de agrotóxicos para o controle de pragas têm se mostrado
ineficazes e preocupantes no que se refere aos mecanismos de defesa e resistência que
podem ser utilizados por inseto, por exemplo, para sobreviver, o que pode acarretar na
resistência da praga e o consequente aumento da dose aplicada, o que constitui uma
atividade insustentável, pois é incerta e muito provavelmente prejudicial a ação de
agrotóxicos no solo e ambiente (CHIARELLO et al., 2017).
Os resultados do primeiro questionamento, sobre a presença de cupins na
propriedade dos agricultores mostrou que todos observam a presença de cupins, algo que
se torna ainda mais preocupante e relevante quando associa-se às consequências do uso
de agrotóxicos podem trazer para os cupins e consequentemente para o equilíbrio do
ecossistema, levando em consideração que alguns produtos podem causar distúrbios
metabólicos até alterações mais sérias no funcionamento do organismo dos indivíduos
presentes no agroecossistema (CHIARELLO et al., 2017).
Para a sétima pergunta: “Na sua opinião, os cupins são importantes para o solo?”,
68% dos agricultores disseram que os cupins não são importantes para o solo e 32% deles
disseram que os cupins desempenham funções importantes no solo, atrelando essa
importância às atividades de decomposição de matéria orgânica desempenhadas pelos
cupins.
Os cupins fazem parte do grupo dos engenheiros do solo e juntamente com as
formigas e minhocas, por exemplo, desempenham funções fundamentais para o equilíbrio
das comunidades microbianas e melhoria da estrutura do solo, assim como ciclagem de
nutrientes e disponibilização de elementos essenciais para o melhor desenvolvimento das
plantas, algo que reflete na qualidade nutricional dos alimentos que mais tarde serão
consumidos por nós (CHEN et al., 2019).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Apesar de tamanha importância ecológica, 68% dos agricultores disseram que os


cupins não são importantes para o solo, o que reflete na falta de práticas conservacionistas
desses insetos e falta de conhecimento do funcionamento da biologia do solo, acarretando
em manejos não-conservacionistas nos agroecossistemas.
Quanto aos resultados da oitava pergunta: “Quais eram as práticas utilizadas por
seus pais para o controle de cupins?”, 52% dos agricultores disseram que seus pais
utilizavam veneno para controlar os cupins e 48% dos agricultores disseram que seus pais
utilizam defensivos naturais para controle dos cupins.
O entendimento das práticas desempenhadas pelos ancestrais dos agricultores pode
ser um dos fatores de explicação para muitas práticas utilizadas por eles atualmente, visto
935
que o conhecimento do homem do campo na atividade agrícola muitas vezes é passado
de geração em geração, sofrendo alterações das tecnologias e novidades ofertadas nos
dias atuais, em virtude do crescente avanço do agronegócio (ARAÚJO, 2017).
Em contraste aos resultados do terceiro questionamento, que abordava a forma de
controle que os agricultores utilizavam para manejo dos cupins, observa-se que enquanto
63% deles disseram utilizam veneno, 52% deles disseram que seus pais utilizavam
veneno, mostrando que houve um crescimento em relação a utilização desses produtos,
além disso, 37% dos agricultores disseram usar defensivos naturais, enquanto 48%
disseram que seus pais utilizavam defensivos naturais, mostrando que enquanto o uso de
veneno para controle dos cupins cresceu, o uso de defensivos naturais diminuiu entre os
pais dos agricultores e os agricultores do assentamento Juazeiro.

CONCLUSÕES

Apesar da imensa importância dos cupins para o funcionamento do solo e


ecossistema, o papel ecológico dos cupins é desconhecido por 63% dos agricultores do
assentamento Juazeiro, Marizópolis-PB, além disso, 37% deles mostraram
conhecimentos limitados sobre as ações benéficas dos cupins para o solo, onde 63% deles
utiliza veneno como a principal forma de controle dos cupins.
As práticas de conservação como cobertura do solo são pouco utilizadas pelos
agricultores, onde 57% deles não usam e 100% deles relataram enfrentar problemas com
pragas e doenças, principalmente com pragas como a lagarta e a mosca-branca, onde 78%
dos agricultores utilizam agrotóxicos para controlar essas pragas.
Além disso, 68% dos agricultores não consideram os cupins como seres benéficos
para o solo, a análise das práticas dos pais desses agricultores em comparação ao que é
realizado atualmente por eles para controlar os cupins, mostra que houve um crescimento
no uso de venenos (cerca de +11%) e um decréscimo no uso de defensivos naturais para
a mesma finalidade (cerca de -9%).
2021 Gepra Editora Barros et al.

REFERÊNCIAS

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Environmental Microbial Diversity on the Cuticle and in the Galleries of a Subterranean
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ARAÚJO, D. B. Profecias de chuvas na visão dos agricultores e agricultoras do


município de Remígio- PB. 2017. 26 f. TCC (Graduação) - Curso de Ciências
Biológicas, Universidade Federal da Paraíba, Areia - PB, 2017.

CARDOSO, E. J. B. N.; ANDREOTE, F. D. Microbiologia do Solo. 2. ed. Piracicaba: 936


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CHEN, Q. L.; AN, X. L.; ZHENG, B. X.; GILLINGS, M.; PEÑUELAS, J.; CUI, L.; SU,
J. Q.; ZHU, Y. G. Loss of soil microbial diversity exacerbates spread of antibiotic
resistance. Soil Ecology Letters, v. 1, n. 1-2, p. 3-13, jun. 2019.

CHIARELLO, M.; GRAEFF, R.; MINETTO, L.; CEMIN, G.; SCHNEIDER, V. E.;
MOURA, S. Determinação de agrotóxicos na água e sedimentos por HPLC-HRMS e sua
relação com o uso e a ocupação do solo. Química Nova, p. 158-165, 20 out. 2016.

ENAGBONMA, B. J.; BABALOLA, O. O. Unveiling Plant-Beneficial Function as Seen


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GRIFFITHS, H. M.; ASHTON, L. A.; EVANS, T. A.; PARR, C. L.; EGGLETON, P.


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Demográfico 2017. Rio de Janeiro, 2019. Disponível em:
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2021 Gepra Editora Barros et al.

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contribuições para a pesquisa em ensino de ciências. Revista Pesquisa Qualitativa, São
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937
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 84

INFLUÊNCIA DA SECAGEM NAS PROPRIEDADES FÍSICAS DO


PHASEOLUS VULGARIS
SILVA, Semirames do Nascimento
Pós-Doutoranda em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande/UFCG/CNPq
semirames.agroecologia@gmail.com

GOMES, Josivanda Palmeira


Professora do Departamento de Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande
josivanda@gmail.com 938

FERREIRA, João Paulo de Lima


Pós-graduando em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande
joaop_l@hotmail.com

PAIVA, Yaroslávia Ferreira


Pós-graduanda em Engenharia de Processos
Universidade Federal de Campina Grande
yaroslaviapaiva@gmail.com.br

FRANÇA, Kevison Romulo da Silva


Pós-graduando em Proteção de Plantas
Universidade Federal de Alagoas
kevsfranca@hotmail.com
RESUMO

O feijão é uma das principais culturas de importância socioeconômica para a região


semiárida do Nordeste brasileiro, devido seu papel em sistemas de produção agrícola e
por ter importância para a alimentação humana. A secagem é uma alternativa importante
para os grãos, pois além de possibilitar uma armazenagem de forma segura, também pode
promover alterações nas propriedades físicas por meio da redução do teor de água e
mudanças qualitativas indesejáveis, tais como a descoloração, trinca ou quebra dos grãos.
Devido à importância, as propriedades físicas dos produtos agrícolas, têm sido tema de
diversas pesquisas, em que se tem verificado a influência do teor de água do produto na
determinação de seus principais caracteres físicos. Objetivou-se com a pesquisa avaliar
as propriedades físicas do Phaseolus vulgaris em função de diferentes temperaturas de
secagem. Os grãos foram submetidos a quatro temperaturas de secagem: 40, 60, 70 e 80
°C em estufa. Determinaram-se as propriedades físicas: umidade, atividade de água,
massa de 1000 grãos, massa do grão, massa específica real, massa específica aparente,
esfericidade, volume, porosidade, ângulo de repouso, comprimento, largura e espessura.
As temperaturas de secagem influenciaram diretamente nas propriedades físicas dos grãos
de feijão, provocando a redução da maioria das características físicas. Houve redução da
umidade, da atividade de água, da massa de 1000 grãos, da massa do grão, do volume, do
comprimento, da largura e da espessura dos grãos. Quando submetidos à secagem a 80
°C, os grãos apresentaram umidade dentro do estabelecido pela legislação de sementes.
Com a redução da atividade de água a ocorrência de deterioração biológica e química
pode ser minimizada.

PALAVRAS-CHAVE: desidratação, feijão, umidade.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

A cultura do feijão é conduzida, principalmente, por pequenos produtores, estes


armazenam o produto por diversas razões, seja para sua posterior utilização como
semente, consumo e comercialização em épocas mais rentáveis, sendo este último a
principal causa de estudos do armazenamento desta cultura. Flutuações de preço da
cultura do feijão causam ao produtor instabilidade de renda, tornando necessário o
armazenamento na fazenda para uma posterior comercialização seja para outros
produtores, consumidores, beneficiadores ou intermediários (DALMORO et al., 2017).
De acordo com Smiderle et al. (2017), a expansão e crescente relevância da cultura tem
exigido o aumento do nível tecnológico empregado nas diversas fases da cadeia 939
produtiva. No que se refere à pós-colheita, o material colhido em grande escala necessita
passar por uma série de etapas, como a secagem e limpeza, objetivando-se a melhoria
física e a manutenção da qualidade do produto durante o armazenamento, até o
processamento ou semeadura na safra seguinte (MORAIS et al., 2013).
Para Ullmann et al. (2015) sementes com elevado grau de umidade apresentam
atividade respiratória e demais processos metabólicos acelerados, desse modo, há o
consumo antecipado de tecidos de reserva, contribuindo para o avanço da deterioração do
produto. Por isso, quando armazenadas com elevados teores de água, tendem a apresentar
perda de qualidade fisiológica, física, química ou bioquímica, mais acentuada que quando
armazenadas com grau de umidade seguro (ALI et al., 2014). Similarmente ao que
acontece com outras culturas, os grãos de feijão devem ser pré processados para que
viabilizem uma armazenagem segura mantendo seus atributos físicos e químicos
(SILVEIRA et al., 2019).
A secagem de grãos é o principal método para a conservação das características
qualitativas de produtos agrícolas, uma vez que reduz o crescimento de microrganismos
e a taxa das reações enzimáticas e não enzimáticas. O que ocorre é a redução do teor de
água dos grãos, influenciando diretamente a alteração das suas propriedades físicas
durante a secagem, fator que gera um conhecimento de extrema importância para o
dimensionamento e projeção de equipamentos. Essa atividade deve ser feita de forma a
preservar a aparência, as qualidades nutritivas e, no caso de grãos, a viabilidade como
semente (OLIVEIRA et al., 2014). Elevadas taxas de remoção de água podem prejudicar
a qualidade do produto e promover maiores alterações físicas aos grãos. Morais et al.
(2013) notaram que com o aumento da temperatura do ar de secagem houve maior taxa
de remoção de água do produto, essa remoção ocorre de forma decrescente devido ao
aumento de resistência em transferir a água do interior do produto para a superfície.
A importância do conhecimento das características físicas dos grãos se refere à
necessidade de construir e operar equipamentos de secagem e armazenagem. Variáveis a
exemplo do teor de água, da forma, do tamanho, a constituição externa, influenciam os
valores de ângulo de repouso dos grãos que, por sua vez, é um fator influenciador no
dimensionamento de silos, correias, moegas e rampas. Segundo Li et al. (2019)
informações a respeito dos caracteres físicos do produto ainda podem auxiliar em estudos
de transferência de calor e massa e movimentação de ar na massa granular durante
processos de secagem ou aeração. A alteração da umidade pelo processo de secagem, as
2021 Gepra Editora Barros et al.

modificações ocorridas nas propriedades físicas do material biológico se devem,


mormente, à redução do seu volume externo; fenômeno, esse, conhecido como contração
volumétrica, (CORRÊA et al., 2011; MARTINS et al., 2017).
De acordo com Araújo et al. (2014), a alteração dos parâmetros físicos dos grãos
ocorre em função da redução dos teores de água; no caso da massa específica aparente, a
redução do teor de água promove a contração da parte interna dos grãos. Em alguns casos,
tem-se a formação de espaços vazios no interior dos grãos, sendo assim, a redução do
volume dos grãos pode não ser proporcional à redução do teor de água, tal fato pode
interferir nos valores de massa específica aparente, massa específica unitária e
porosidade. Para Quequeto et al. (2018), dados referentes à contração volumétrica da
940
massa podem ser utilizadas no cálculo do volume de produto a ser reposto na câmara de
secagem do secador, para que o mesmo sempre trabalhe na máxima capacidade,
otimizando seu uso
Apesar de indispensável, a secagem pode causar alterações significativas nas
propriedades físicas de produtos agrícolas devido à redução da umidade, uma vez que
essa é descrita como sendo o principal fator que causa influencia sobre as características
físicas, provocando o encolhimento do produto, alterações na forma, na rugosidade
superficial, dentre outros (BOTELHO et al., 2015; SOUSA et al., 2016). Araujo et al.
(2014) afirmaram que a caracterização completa do comportamento das propriedades
físicas desses produtos agrícolas durante a secagem é uma importante ferramenta para a
minimização dos custos de produção, elaboração de novos projetos e equipamentos
usados nas operações de colheita e pós-colheita de grãos, desse modo, tornando
agricultura cada vez mais competitiva e sustentável. Em virtude do que foi mencionado,
objetivou-se avaliar as propriedades físicas do Phaseolus vulgaris em função de
diferentes temperaturas de secagem.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada no Laboratório de Armazenamento e Processamento de


Produtos Agrícolas da Universidade Federal de Campina Grande, Brasil. Foram
utilizados sementes de feijão que ainda não haviam atingido o estádio de maturação
fisiológica. Os grãos foram submetidos à secagem durante 24 h em quatro temperaturas
distintas: 40, 60, 70 e 80 °C, em estufa de secagem, marca Tecnal 2 (Figura 1).

Figura 1. Feijão antes do processo de secagem em diferentes temperaturas.


2021 Gepra Editora Barros et al.

941

Fonte: Autoria própria (2021).

Avaliaram-se as seguintes características físicas das sementes de Phaseolus


vulgaris in natura e secos.

Umidade (%)
Foi determinada pelo método gravimétrico, utilizando-se uma estufa a temperatura
de 105±3 ºC, durante 24 h, conforme a Regra para Análises de Sementes - RAS (BRASIL,
2009).

Atividade de água (aw)


Determinou-se através da leitura direta das amostras dos grãos em um analisador
de atividade de água, AquaLab, modelo 3TE, marca Decagon Device.

Massa do grão (g)


Foram selecionados ao acaso trinta grãos (3 repetições com 10 grãos cada), os
mesmos foram pesados individualmente em balança analítica de precisão 0,0001 g.

Massa de 1000 grãos (g)


Obtida pela avaliação da massa de três repetições de mil grãos.

Massa específica real (g/cm3)


Foram realizadas três pesagens com dez sementes cada: a primeira pesagem
consistiu na simples pesagem da semente em balança de precisão, a segunda pesagem
consistiu na pesagem de um becker contendo água e a terceira pesagem consiste na
pesagem do becker + água + semente submersa. Para que a semente ficasse totalmente
imersa na água de forma que não tocasse às bordas nem o fundo do recipiente, foi fixada
uma haste móvel (Figura 2), acoplada a um suporte que permitiu o movimento até a
completa imersão da semente (ALMEIDA et al., 2006).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 2. Adaptação de um suporte para pesagem de semente submersa.

Bastão com uma fina


haste metálica

Becker com água

942
Balança
210,943

Fonte: Almeida et al. (2006).

Massa específica aparente (g/cm3)


Foi calculada pela relação entre a massa das sementes e o volume ocupado pelas
sementes (volume do recipiente), de acordo com metodologia Mohsenin (1986).

Volume do grão (cm3)


Foi medido pelo método do deslocamento de líquido utilizando-se uma bureta de
50 mL, com amostras compostas de 30 sementes (RUFFATO et al., 1999).

Ângulo de repouso dinâmico (°)


Determinou-se usando uma estrutura de madeira montada sobre uma plataforma
plana, porém móvel (Figura 3). A plataforma foi então inclinada até se conseguir o início
do movimento das sementes, ou seja, até que as sementes iniciassem o movimento,
momento em que foi medido o ângulo correspondente ao início do movimento
(ALMEIDA et al., 2006).

Figura 3. Dispositivo para determinação do ângulo de repouso dinâmico de sementes.


Container
Com sementes
Transferidor

rd

Fonte: Almeida et al. (2006).


2021 Gepra Editora Barros et al.

Esfericidade (%)
Determinada com auxílio de paquímetro digital e retroprojetor (Figura 4), seguindo
metodologia de Almeida et al. (2006) e Mohsenin (1986).

Figura 4. Determinação da esfericidade dos grãos de feijão com auxílio de retroprojetor e


paquímetro digital.

943

Fonte: Almeida et al. (2006) e Mohsenin (1986).

Tamanho dos grãos (mm2)


O tamanho: comprimento, largura e espessura foram medidos com auxílio de
paquímetro digital, em que “a” representa o comprimento ou maior eixo, mm; “b” a
largura ou eixo médio, mm e “c” a espessura ou menor eixo, mm, conforme Mohsenin
(1986).

Porosidade (%)
Obteve-se conforme metodologia de Mohsenin (1970), utilizando-se fórmula
abaixo:

   a 
  1   
   r 

Em que:

ℇ: porosidade da massa granular (%)


pa: massa específica aparente (g/cm3)
pr: massa específica real ou unitária (g/cm3)

Análise estatística
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e as médias
comparadas entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, utilizando o programa
estatístico ASSISTAT 7.7 (SILVA; AZEVEDO, 2016).
2021 Gepra Editora Barros et al.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados das análises das propriedades físicas dos grãos de feijão antes de
submetidos à secagem estão descritos na Tabela 1. Os grãos apresentaram alta umidade e
atividade de água em função do estádio em que foram adquiridos. Quando colhidos,
geralmente os grãos apresentam teor de água inadequado a um armazenamento seguro,
se fazendo necessária a secagem.

Tabela 1. Propriedades físicas de P. vulgaris antes de submetidos à secagem.


Propriedades Físicas Média e Desvio Padrão
Umidade (%) 65,87±0,46
944
Atividade de água (aw) 0,99±0,00
Massa de 1000 grãos (g) 47,30±0,17
Massa do grão (g) 0,47±0,03
Massa específica real (g/cm3) 0,95±0,05
3
Massa específica aparente (g/cm ) 0,57±0,03
Esfericidade (%) 62,46±2,74
Volume (cm3) 0,50±0,02
Porosidade (%) 39,70±1,18
Ângulo de repouso (°) 29,00±1,41
a (comprimento, mm2) 12,96±0,11
b (largura, mm2) 8,43±0,25
2
c (espessura, mm ) 7,01±0,05

Segundo Dias et al. (2012), o teor de água acima de 15% pode acelerar a
deterioração dos grãos. Dependendo do genótipo e condições edafoclimáticas, a vagem
de feijão pode apresentar a formação de sementes de diferentes tamanhos, pesos e formas.
Em decorrência da alta umidade, os grãos tiveram seu volume aumentado, sua massa
específica real, aparente e a esfericidade. O inverso é observado para a porosidade.
À medida que os grãos foram submetidos ao aumento de temperatura de secagem,
a água livre foi sendo evaporada, logo, foram observadas reduções na umidade e atividade
de água dos grãos durante o processo de secagem (Figura 5).

Figura 5. Sementes de feijão verde após o processo de secagem.

Fonte: Autoria própria (2021).


2021 Gepra Editora Barros et al.

As diferenças significativas verificadas na Tabela 2 para os dois parâmetros


(P<0,01) mostram que ao aplicar a temperatura de 80 °C, os grãos apresentaram umidade
dentro do estabelecido para grãos, inferior a 13% (BRASIL, 2009).

Tabela 2. Propriedades físicas de P. vulgaris em função de diferentes temperaturas de secagem.


Temperatura de secagem (°C)
Propriedades físicas 40 60 70 80
a b c
Umidade (%) 51,29 40,56 20,09 10,97d
a b c
Atividade de água (aw) 0,98 0,29 0,27 0,22d
a b b
Massa de 1000 grãos (g) 31,25 17,67 18,04 16,88b
Massa do grão (g) 0,36a 0,19b 0,18b 0,18b
3 a a a 945
Massa específica real (g/cm ) 0,97 0,94 0,91 0,91a
3 a b b
Massa específica aparente (g/cm ) 0,61 0,58 0,57 0,56b
Esfericidade (%) 67,97a 63,23ab 59,70b 58,77b
3 a b b
Volume (cm ) 0,38 0,23 0,21 0,19b
a ab ab
Porosidade (%) 42,36 41,00 40,24 37,53b
Ângulo de repouso (°) 35,00ª 25,66b 25,67b 23,33c
2 a b b
a (comprimento, mm ) 11,39 10,25 10,11 10,02b
2 a ab ab
b (largura, mm ) 7,38 6,89 6,87 6,77b
2 a b b
c (espessura, mm ) 5,69 5,07 5,07 5,07b
Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade.

Quanto à atividade de água observou-se que a partir da temperatura de 60 °C, os


grãos apresentaram baixa aw, o que pode limitar o crescimento microbiano e a ocorrência
de reações químicas e enzimáticas. Oba et al. (2019) ao avaliarem as características física
das sementes de feijão-caupi, cultivar BRS Guariba, durante o processo de secagem,
obtiveram ao final do processo de secagem teor de água de 0,11 b.s.
Em função das temperaturas aplicadas aos grãos, verificaram-se reduções
significativas, também, na massa de 1000 grãos, massa do grão, massa específica real,
massa específica aparente, volume, comprimento, largura e espessura. Araujo et al.
(2014) explicam que o efeito direto da secagem sob o grão é a perda de água que, por sua
vez, acarreta alterações nas características físicas dos grãos, como decréscimo nos valores
da massa específica unitária, presença de espaços vazios no seu interior, redução da
massa, aumento da porosidade, redução na esfericidade dos grãos, redução no valor da
massa de mil grãos, ocorre também uma contração volumétrica dos grãos que leva a uma
redução das dimensões características do produto e encolhimento dos grãos. Jesus et al.
(2013) ao analisarem a secagem de duas cultivares de feijão (BRS Valente e BRS Pontal)
notaram que a massa específica aparente aumentou a medida que o teor de água presente
nos grãos diminuía, apresentando valores de 757,06 e 738,66 kg m-3 para as umidades de
0,11 e 0,22, respectivamente.
A partir a temperatura de 60 °C, os grãos não apresentaram diferença para a massa
de 1000 grãos e massa individual do grão, entretanto a temperatura de 40 °C diferiu
estatisticamente das demais e resultou em maior valor para as duas propriedades físicas.
De acordo com Blair et al. (2010), os grãos de feijão apresentam massa de 1000 grãos
inferior a 25 g. Coradiet al. (2015) ao avaliarem as propriedades físicas de grãos de
girassol após secagem observaram que as temperaturas de 65 e 75 °C foram as que mais
2021 Gepra Editora Barros et al.

influenciaram na redução do peso. Jesus et al. (2013) ao avaliarem as propriedades físicas


de grãos de feijão com diferentes teores de água, verificaram que a massa específica
aparente apresentou maior valor para o menor teor de água. Oba et al. (2019) observaram
decréscimo do teor de água resultando no aumento da massa específica aparente e na
redução das magnitudes das demais propriedades físicas.
Araújo et al. (2014) afirmam que quando a esfericidade mantiver valores abaixo de
80%, isso evidencia a incapacidade de classificação como esféricos, portanto, os grãos
não foram classificados como esféricos. Observou-se que as temperaturas de 60 e 80 °C
não influenciaram nesse parâmetro, pois os valores foram estatisticamente semelhantes.
Devido o aumento do tempo de secagem e a redução do teor de água, observou-se uma
946
contração do volume do grão. Isso está relacionado com a contração volumétrica que
ocorre durante o processo de secagem, reduzindo as dimensões do grão. Para Hauth et al.
(2018), a circularidade e a esfericidade, associadas a outras propriedades relacionadas ao
tamanho, são importantes características a serem consideradas no projeto de
equipamentos de classificação, permitindo o aumento da eficiência do processo e a
redução de perdas ocasionadas pela quebra produto.
Comparando-o com o resultado obtido antes da secagem, verifica-se aumento nos
valores da porosidade. Em se tratando das temperaturas aplicadas nota-se que os grãos
submetidos à temperatura de 40 °C apresentaram maior porosidade ou espaços vazios. De
acordo com Farias et al. (2018), o teor de água dos produtos agrícolas é um fator
importante que determina a variação da porosidade dos grãos, pois grãos com maiores
teores de água apresentam uma tensão superficial maior que grãos secos, fato observado
nesta pesquisa, no qual os grãos com menor temperatura de secagem e consequentemente,
maior teor de água apresentaram maior porosidade. Para Li et al. (2019) e Quequeto et al.
(2018), decréscimos nos espaços vazios intergranulares, como os verificados neste
trabalho, podem resultar em maior resistência oferecida à passagem de ar pela massa do
produto, afetando o comportamento, uniformidade e a eficiência de operações de secagem
ou aeração.
Botelho et al. (2015) verificaram que a temperatura do ar de secagem alterou
significativamente as propriedades físicas de grãos de soja, causando o aumento do
ângulo de repouso, além da redução da massa específica aparente e unitária e da massa
de mil grãos. Aviara et al. (2013) durante a secagem de sementes de Moringa oleífera,
observaram que com a redução do teor de água o ângulo de repouso também reduziu.
Trabalhos desenvolvidos por Almeida et al. (2013) mostraram que temperaturas maiores
causam maiores alterações nas propriedades físicas dos grãos de feijão.
Destaca-se a importância desta pesquisa, pois de acordo com Araujo et al. (2015),
a forma de um determinado produto agrícola pode ser caracterizada pela sua circularidade
e esfericidade. Já o seu tamanho é, comumente, representado por características como
volume, diâmetro geométrico, área projetada, área superficial e relações entre superfície
e volume e entre superfície e massa. São essas informações que determinam a forma e o
tamanho de furos de peneiras utilizadas para o beneficiamento de sementes e grãos. Oba
et al. (2019) verificaram que a redução do teor de água promoveu decréscimos
significativos nas dimensões características principais das sementes de feijão-caupi,
2021 Gepra Editora Barros et al.

cultivar BRS Guariba, nos quais os valores de comprimento, largura e espessura variaram
linearmente de 10,21 a 9,34 mm; 7,08 a 6,57 mm e 5,72 a 5,54 mm, respectivamente.
Quando o teor de água é removido dos grãos, os poros se fecham e com isso os
grãos têm seus volumes reduzidos e suas propriedades físicas alteradas. Uma vez que o
teor de água intersticial é removido e os espaços vazios se contraem reduzindo dessa
forma as suas dimensões. Assim, os grãos de feijão apresentaram diminuição dos seus
tamanhos, não sendo observadas diferenças significativas a partir da temperatura de 60
°C para o comprimento, largura e espessura.
A secagem de grãos de feijão é o processo mais utilizado para assegurar sua
qualidade e estabilidade, uma vez que as atividades biológicas e físico-químicas que
947
ocorrem durante o armazenamento, diminuem com a redução do teor de água, inibindo
também o crescimento de microrganismos e a possibilidade de proliferação de insetos e
pragas (JESUS et al., 2013).

CONCLUSÕES

Os grãos apresentaram redução na umidade e atividade de água em função do


aumento da temperatura de secagem. O decréscimo do ângulo de repouso com a elevação
da temperatura de secagem sugere que com maior temperatura, os grãos diminuem a
rugosidade de sua superfície, impondo, assim, uma menor resistência ao deslizamento de
uma partícula da massa de produto contra a outra, reduzindo o ângulo de repouso do grão.
Há uma contração volumétrica nos grãos em função do processo de dessorção, que
consiste em perda de água. A temperatura de secagem influenciou significativamente nas
propriedades físicas de grãos de feijão.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 85

LEVANTAMENTOS FITOSSOCIOLÓGICOS EM ÁREAS DE


CAATINGA
LOPES-NUNES, Ana Luiza da Silva
Pós-graduanda em Ciências Florestais
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
analuizaslps@gmail.com

FAJARDO, Cristiane Gouvêa


Doutora em Ecologia
Universidade Federal do Rio Grande do Norte 951
genegoista00@gmail.com

NUNES, Lucas Jean


Engenheiro Florestal
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
lucasjeansnunes@gmail.com

COSTA, Malcon do Prado


Professor Doutor
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
malconfloresta@gmail.com

HOLANDA, Alan Cauê de


Professor Doutor
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
alan.holanda@ufersa.edu.br

RESUMO
O bioma Caatinga representa um abundante patrimônio biológico, ocupando cerca de
11% do país. Contudo, apesar de sua riqueza e relevância, o bioma já perdeu 46% do seu
território, resultado do desmatamento indiscriminado na região. Frente a este cenário, os
estudos relacionados à composição florística e estrutura horizontal tornam-se
fundamentais ferramentas para uma gestão dos recursos florestais que priorize a
preservação, conservação e o manejo florestal adequado. Nessa perspectiva, o presente
levantamento bibliográfico objetivou reunir informações de cunho fitossociológico em
áreas de Caatinga com floresta secundária e/ou submetidas ao manejo florestal. Como
critério de inclusão para análise, foram consideradas produções científicas entre os anos
de 1990 a 2020. Os dados compilados foram referentes à diversidade, florística, estrutura
horizontal e estrutura diamétrica. Os resultados indicaram que a densidade e diversidade
de indivíduos, em diferentes tipologias na Caatinga, podem variar de valores baixos à
altos, como uma densidade de 1.924 até 5.043,8 ind ha-1, ou uma diversidade de 1,59 até
2,34 nats. ind-1. As famílias que se destacam em número, na estrutura demográfica da
vegetação, foram Fabaceae e Euphorbiaceae, sendo comum também à grande parte dos
levantamentos considerados neste estudo, evidenciando a relevância desses táxons à flora
do bioma Caatinga. Além disso, reforçou-se a necessidade de uma maior disseminação
de estudos fitossociológicos na Caatinga, a fim de contribuir no reconhecimento de sua
2021 Gepra Editora Barros et al.

riqueza e variedade, além de auxiliar na conservação adequada dos seus recursos


florestais.

PALAVRAS-CHAVE: composição florística, diversidade florestal, estrutura


diamétrica.

INTRODUÇÃO 952
Com abundante patrimônio biológico e cultural, a Caatinga ocupa uma área de
912.529 km2 na região semiárida do Nordeste, equivalente a 10,7% do território brasileiro
(SILVA et al., 2017). Não obstante, apesar de sua riqueza e relevância, o bioma já perdeu
46% do seu território, resultado do desmatamento indiscriminado na região (BRASIL,
2020). Os efeitos antropogênicos sobre o bioma resultam, principalmente, da elevada
demanda por dendrocombustíveis na região (MEUNIER et al, 2018). Considerando os
aspectos da exploração extrativista na Caatinga, uma alternativa viável para o suprimento
dessa demanda é o Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS). Previsto na Lei
12.651, de 25 de maio de 2012, o PMFS deve contemplar técnicas de condução,
exploração, reposição florestal e manejo compatíveis com os variados ecossistemas que
a cobertura arbórea forme, previsto na (BRASIL, 2012).
Aliado ao sistema de exploração sustentável, alguns autores indicam a
necessidade de um programa de monitoramento, com medição de parcelas permanentes
antes da intervenção, identificação e etiquetagem da cepa de todos os indivíduos
(SCOLFORO, 1997). Esta proposta evidencia a importância de quantificar os impactos
causados pela exploração, identificar a dinâmica de regeneração natural do fragmento e,
desse modo, averiguar a perda de diversidade florística.
Os estudos relacionados à composição florística e estrutura horizontal constituem,
portanto, ferramentas fundamentais para uma gestão dos recursos florestais que priorize
a preservação, conservação e o manejo florestal adequado (WERNECK et al., 2000).
Nessa perspectiva, o presente levantamento bibliográfico objetivou reunir
informações de cunho fitossociológico em áreas de Caatinga com floresta secundária e/ou
submetidas a manejo florestal. Assim, foram compilados os dados referentes à
diversidade, florística, estrutura horizontal e estrutura diamétrica.

MATERIAL E MÉTODOS
Para obtenção dos dados desta revisão bibliográfica, realizou-se uma busca em
periódicos nacionais e internacionais, priorizando publicações reconhecidas na pesquisa
fitossociológica. Os acervos consultados foram: Web of Science, Scielo e Open Journal
System. Acerca do tema, foram consultados: livros, revistas científicas, artigos, notícias,
legislação pertinente, dissertações e teses. Utilizando-se as seguintes palavras-chave:
florística, estrutura, fitossociologia, Caatinga e Floresta Tropical Sazonalmente Seca
(FTSS).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Após compilação dos dados referentes à fitossociologia em fragmentos do bioma


Caatinga, estes, foram agrupados em tópicos distintos, conforme os parâmetros abordados
pela fitossociologia (florística, densidade, frequência, dominância e valor de
importância).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao todo, nesta revisão, foram analisados 17 estudos fitossociológicos em áreas de
Caatinga, distribuídos em 15 localidades e sete estados da região Nordeste, conforme
descrito na tabela 1. A fitofisionomia dos fragmentos variou de Caatinga arbustiva-
953
arbórea (FONSECA, 1991; PEREIRA et al., 2002; ALCOFORADO-FILHO et al., 2003;
SILVA, 2011; FERRAZ et al., 2013; PEREIRA JÚNIOR et al., 2012; HOLANDA et al.,
2015; LIMA et al., 2019; COSTA, 2020; SOUZA et al., 2020), Caatinga arbustivo-
arbórea aberta (AMORIM et al., 2005; SANTANA et al. 2016; RODAL et al., 2008;
SABINO et al., 2016), Caatinga arbustiva (LEMOS e RODAL, 2002), Caatinga arbustiva
densa (LIMA e COELHO, 2018) à Caatinga de floresta alta (LIMA e LIMA, 1998).

Tabela 13. Estudos fitossociológicos em áreas de Caatinga utilizados nesta revisão.


Autores Localidade Estado Vegetação
Poço Redondo e Canindé do São
Fonseca (1991) SE Caatinga arbustiva-arbórea
Francisco
Contendas do Sincorá, Chapada
Lima e Lima (1998) BA Caatinga de floresta alta
Diamantina
Pereira et al. (2002) Areia e Remígio PB Caatinga arbustiva-arbórea
Lemos e Rodal (2002) Serra da Capivara PI Caatinga arbustiva
Alcoforado-Filho et al.
Caruaru PE Caatinga arbustiva-arbórea
(2003)
Amorim et al. (2005);
Estação Ecológica do Seridó RN Caatinga arbustivo-arbórea aberta
Santana et al. (2016)
Reserva Particular do Patrimônio
Rodal et al. (2008) PE Caatinga arbustivo-arbórea aberta
Natural (RPPN) Maurício Dantas
Silva (2011); Ferraz et
Canindé do São Francisco SE Caatinga arbustiva-arbórea
al. (2013)
Pereira Júnior et al.
Monteiro PB Caatinga arbustiva-arbórea
(2012)
Holanda et al. (2015) Cajazeirinhas PB Caatinga arbustiva-arbórea
Sabino et al. (2016) Patos PB Caatinga arbustivo-arbórea aberta
Lima e Coelho (2018) Chapada Moura CE Caatinga arbustiva densa
RPPN Fazenda Almas, São José dos
Lima et al. (2019) PB Caatinga arbustiva-arbórea
Cordeiros
Costa (2020) Floresta Nacional de Açú RN Caatinga arbustiva-arbórea
Souza et al. (2020) Serra do Mel RN Caatinga arbustiva-arbórea
2021 Gepra Editora Barros et al.

Florística arbóreo-arbustiva

Lima e Lima (1998), analisando a composição florística em área de Caatinga


de floresta alta, conforme classificação de Andrade-Lima (1981), na Chapada
Diamantina, Bahia, com indícios de transição com o bioma Cerrado, identificaram 71
espécies, 51 gêneros e 23 famílias, em um total de 2.897 indivíduos, com uma área
inventariada de 1,0 ha (100 parcelas de 20 x 5 m). Alcoforado-Filho et al. (2003) 954
analisando um remanescente em Caruaru, Pernambuco, identificaram 39 espécies e 19
famílias no componente arbóreo, destacando-se Euphorbiaceae e Fabaceae. Em
levantamento recente, realizado na Chapada Moura, Ceará, em área de Caatinga arbustiva
densa, Lima e Coelho (2018) catalogaram 36 espécies, 29 gêneros e 13 famílias,
constituindo-se 2.421 indivíduos amostrados, em uma área inventariada de 0,9 ha (45
parcelas de 10 x 20 m).
Em Sergipe, um estudo conduzido às margens do Rio São Francisco, em
remanescente de Caatinga arbustiva-arbórea no Monumento Natural Grota do Angico,
registrou 24 espécies, 21 gêneros e 12 famílias, em 30 parcelas de 20 x 20 m (400 m2).
Destacando-se em diversidade, as famílias: Fabaceae (7), Anacardiaceae (3) e
Euphorbiaceae (3) (FERRAZ et al., 2013). Além disso, outro levantamento também
conduzido no Monumento Natural Grota do Angico, constatou a existência de 31 espécies
e 20 famílias (SILVA, 2011). Fonseca (1991), ao realizar inventário em 5 subáreas, nos
municípios de Poço Redondo e Canindé do São Francisco, também em Sergipe, registrou
46 espécies e 20 famílias.
Em contraste aos estudos mencionados, em um levantamento
fitossociológico na Estação Ecológica do Seridó (ESEC), em Serra Negra do Norte, Rio
Grande do Norte, Amorim et al. (2005) mensuraram 3.427 indivíduos, pertencentes a 15
espécies, 15 gêneros e 10 famílias. Santana et al. (2016), ao conduzirem estudo na mesma
área de abrangência da ESEC, mensuraram 2.448 indivíduos, distribuídos em 22 espécies,
20 gêneros e 12 famílias.
Quanto às espécies e famílias distintas entre os levantamentos de Amorim
et al. (2005) e Santana et al. (2016), estão: Varronia globosa Jacq. (ex Cordia globosa),
Boraginaceae (AMORIM et al., 2005); Macfadyena unguis-cati (L.) A.H. Gentry, Cereus
Jamacaru DC., Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L.P.Queiroz, Chamaecrista desvauxii
(Collad.) Killip (ex Cassia tetraphylla), Senna macranthera (DC. ex Collad.) H.S.Irwin
& Barneby, Cnidoscolus quercifolius Pohl, Croton heliotropiifolius Kunth (ex Croton
moritibensis), Lantana camara L., além das famílias Verbenaceae e Cactaceae
(SANTANA et al., 2016). O elevado número de indivíduos registrado na ESEC, pode
estar associado às restrições de exploração do fragmento, por constituir uma Unidade de
Conservação de Proteção Integral.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Densidade e Dominância
Lima e Coelho (2018) estimaram uma densidade de 5.043,8 ind ha-1, desse
total, 93,2% eram de indivíduos vivos. Entre as espécies com maiores índices de
mortalidade estavam Senna trachyphus e Mimosa tenuiflora. Contudo, sabe-se que M.
tenuiflora é bastante explorada como insumo energético no Nordeste brasileiro. Com isso,
é possível levantar questões acerca do grau de conservação deste fragmento, o que
corrobora com os relatos dos moradores do entorno, sobre a ausência de exploração na
área nos últimos 70 anos. Além disso, o estado de conservação da área justificaria o alto
valor de densidade estimada por hectare. Em outros estudos, como em Rodal et al. (2008),
a densidade estimada foi de 2.172 ind ha-1 em área de Caatinga arbustivo-arbórea aberta. 955
Percebe-se que a densidade de indivíduos, em diferentes tipologias na Caatinga, é
bastante variável.
Analisando os dados de densidade absoluta dos estudos fitossociológicos
apresentados, nota-se uma correspondência aos dados de precipitação média anual das
respectivas localidades (Figura 1). Em que, áreas onde há maior pluviosidade, houve
densidade estimada de indivíduos por hectare mais alta. Ao passo que, áreas com regime
de chuvas mais baixo, como no estudo de Ferraz et al. (2013), a densidade mostrou-se
reduzida. Com exceção de Holanda et al. (2015), cuja área possui elevada precipitação
média anual, mas apresentou baixa densidade de indivíduos; provavelmente decorrente
da criação de ovinos e bovinos nesta área, conforme relatam os autores, que interferem
na regeneração natural das espécies – seja pela compactação do solo (pisoteamento) ou
pela herbivoria.

7000,00
800,00
6000,00
700,00

600,00 5000,00

500,00
ind./ha

4000,00
mm/ano

400,00
3000,00
300,00
2000,00
200,00

100,00 1000,00

0,00 0,00

Precipitação Média (mm/ano) Densidade Absoluta (ind./ha)

Figura 28. Relação entre a precipitação média anual e a densidade absoluta dos levantamentos
fitossociológicos analisados.
2021 Gepra Editora Barros et al.

A redução do número de indivíduos, em decorrência da baixa pluviosidade, é


comumente mencionada em trabalhos na Caatinga (MELO, 2016; SILVA, 2017;
COSTA, 2020). Sampaio et al. (1981), por exemplo, relataram a influência dos índices
pluviométricos sobre a densidade e o porte dos indivíduos na região dos Cariris Velhos,
na Paraíba. Gomes (1979) e Lira (1979), detalham que, nessa área paraibana, a diminuição
no porte da comunidade associa-se não só aos baixos índices de pluviosidade, como à
profundidade dos solos, geralmente, rasos, pedregosos e com menor capacidade de
retenção de água.
No que se refere à dominância relativa, Lima e Coelho (2018) listaram
956
valores superiores para: Pityrocarpa moniliformis (14,8%), Combretum leprosum
(11,40%) e Croton blanchetianus (10,36%). A dominância da P. moniliformis, apesar de
sua menor densidade quando comparada à C. leprosum e C. blanchetianus, foi atribuída
aos valores superiores de diâmetro que a espécie apresentou. Estas espécies, entretanto,
não foram dominantes em outros levantamentos, como em Lima e Lima (1998), Amorim
et al. (2005), Santana et al. (2016) e, com exceção de C. leprosum, em Sabino et al. (2016).
Nestes estudos mencionados, verificou-se a dominância de indivíduos de
Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B.Gillett, Chloroleucon foliolosum (Benth.)
G.P.Lewis, Astronium urundeuva (M. Allemão) Engl., Anadenanthera macrocarpa
(Benth.) Brenan, Tabebuia spongiosa Rizzini, Aspidosperma cylindrocarpon Müll.Arg.,
Cenostigma pyramidale (Tul.) E. Gagnon & G.P. Lewis, Mimosa tenuiflora (Willd.)
Poir., Aspidosperma pyrifolium Mart. & Zucc., e Croton blanchetianus Baill.

Valor de Importância
No estudo de Lima e Coelho (2018), as espécies Croton blanchetianus,
Combretum leprosum, Pityrocarpa moniliformis, Piptadenia stipulacea, somaram 56,8%
do Valor de Importância (VI) de todas as espécies amostradas. Com relação às famílias,
destacaram-se: Fabaceae, Euphorbiaceae e Combretaceae, que juntas representaram
90,6% do VI total da área amostrada.
De semelhante modo, apesar de tratar-se de locais distintos, Ferraz et al.
(2013) estimaram índices de valor de importância superiores para espécies pertencentes
a família Fabaceae, Euphorbiaceae e Apocynaceae. Em contrapartida, Costa (2020)
calculou valores de importância mais altos para as espécies Cenostigma pyramidale e
Handroanthus impetiginosus, ao estudar a Floresta Nacional de Açú, em Assú, no Rio
Grande do Norte.
Os valores mais altos de importância, em Souza et al. (2020), foram para:
Croton blanchetianus (26,17%), seguida de Mimosa tenuiflora (18,05%), Cenostigma
pyramidale (14,90%), Mimosa ophthalmocentra (11,47%), Bauhinia forficata (11,40%),
e Aspidosperma pyrifolium (7,05%). Além disso, os autores destacam a riqueza, tanto em
número de espécies, quando em número de indivíduos, das famílias Fabaceae e
Euphorbiaceae.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Diâmetro e Altura
Acerca da estrutura diamétrica, Lima e Coelho (2018) identificaram que as espécies
Amburana cearensis, Aspidosperma pyrifolium, Mimosa caesalpiniifolia, Pityrocarpa
moniliformis e Handroanthus impetiginosus apresentaram diâmetros médios acima de 15
cm. A ocorrência de indivíduos com valores de Diâmetro a Altura do Peito (DAP) mais
altos, pode indicar o estado de conservação da área e uma baixa atividade de exploração
madeireira.
Ademais, 47,2% das espécies amostradas apresentaram indivíduos com
DAP máximo acima de 20 cm, entre elas: Mimosa caesalpiniifolia (78,6 cm), Pityrocarpa
moniliformis (56,3 cm), Amburana cearensis (40,4 cm), Handroanthus impetiginosus 957
(39,8 cm), Aspidosperma pyrifolium (31,2 cm) e Croton blanchetianus (34,5 cm) (LIMA;
COELHO, 2018). Enquanto Souza et al. (2020), obtiveram os maiores diâmetros em
indivíduos de Cenostigma pyramidale, em que, integravam 88% dos indivíduos presentes
nas duas classes diamétricas superiores.
Em relação às classes de altura, Lima e Coelho (2018) registraram alturas
máximas para indivíduos de Pityrocarpa moniliformis, Amburana cearensis,
Anadenanthera colubrina e Poincianella bracteosa, que variaram de 13 a 16 m. Contudo,
a distribuição de frequência das alturas indicou concentração de 42,1% dos indivíduos
arbóreos entre 5,0 a 6,9 m. Costa (2020), em seu levantamento de 2015 na FLONA de
Açú, revelou que os estratos arbustivo e arbóreo variaram de 2,0 a 11,0 m de altura, com
média de 4,41 m. Já no levantamento de 2019, os indivíduos variaram, em altura, entre
1,70 e 14 m, com média de 4,74 m. Na Estação Ecológica do Seridó, a altura média
registrada por Amorim et al. (2005) foi de 3,4 m, sendo a maior altura encontrada em um
indivíduo de Aspidosperma pyrifolium (9,5 m).
Souza et al. (2020) destacaram Mimosa tenuiflora por apresentar as alturas
mais elevadas em seu estudo, integrando 50,92% do total de indivíduos presentes na
classe de altura superior (H ≥ 4,34). Constataram, ainda, uma alta ocorrência de árvores
na segunda classe de altura, entre 2,54 e 4,34 m.

Diversidade
A diversidade, ou seja, a variedade de espécies amostradas em determinada
comunidade, pode ser subdividida em: riqueza e equabilidade. A riqueza de um fragmento
florestal está associada ao número de espécies que compõe a flora da área. Por outro lado,
a uniformidade refere-se à distribuição de indivíduos entre as espécies ocorrentes (MATA
NATIVA, 2016).
Entre os parâmetros de diversidade, estão o índice de Shannon (H’) e o valor
da equabilidade de Pielou (J’). Para Lima e Coelho (2018), esses parâmetros foram,
respectivamente, 1,59 nats ind-1 e 0,53, considerados baixos em comparação a outras
formações florestais. Altos valores de H’, indicam alta diversidade florística da população
em foco (MATA NATIVA, 2016).
Conforme citado por Costa (2020), a diversidade florística estimada na
FLONA de Açú, representada pelos índices de diversidade H’ para 2015 e 2019, foram:
2,19 nats ind-1 e 2,34 nats ind-1, respectivamente. Este acréscimo calculado por Costa
2021 Gepra Editora Barros et al.

(2020) entre os anos de medição, equivale a um aumento de 25,80% da riqueza. Enquanto


Amorim et al. (2005), estimaram um índice de diversidade de 1,94 nats ind-1 na Estação
Ecológica do Seridó.
Em termos de diversidade, destacam-se os estudos de Lima e Rodal (2002),
que ao analisarem um trecho de Caatinga arbustiva no Parque Nacional Serra da Capivara,
no Piauí, calcularam H’ de 3,00 nats ind.-1; e Lima et al. (2019), na RPPN Fazenda Almas,
em São José dos Cordeiros, Paraíba, que estimaram uma diversidade de Shannon para o
componente lenhoso de 3,466. Valores superiores quando comparados à maior parte dos
levantamentos na região semiárida.
De modo geral, os trabalhos fitossociológicos na Caatinga contribuem para
958
ampliação do acervo científico sobre a flora do bioma, constituindo relevantes fontes de
informação sobre a estrutura das florestas naturais, riqueza e diversidade florística, e
auxiliando na conservação adequada dos recursos florestais. Em contrapartida, ainda há
a necessidade de contínuo exercício destes levantamentos, fornecendo aporte para
projetos como o manejo sustentável, a restauração florestal e a recuperação de áreas
degradadas.

CONCLUSÕES
Há uma elevada variação nos valores de densidade e diversidade de indivíduos
nas diferentes tipologias da Caatinga. Esse gradiente estrutural e florístico, além do
caráter inerente à vegetação, pode estar associado aos processos antropogênicos sobre o
bioma.
As famílias que se destacaram na estrutura demográfica da vegetação foram
Euphorbiaceae e Fabaceae, sendo comum à grande parte dos levantamentos considerados
neste estudo, evidenciando a relevância desses táxons à flora do bioma Caatinga.
A influência do gradiente de precipitação sobre a densidade absoluta dos
indivíduos em fragmentos de Caatinga é abordada em muitos estudos; e configura uma
perspectiva relevante em levantamentos de fitossociologia. Outro aspecto pertinente nesta
relação é a profundidade dos solos na região do bioma e a sua capacidade de retenção de
água.
Faz-se necessário uma maior disseminação de estudos fitossociológicos na
Caatinga, a fim de contribuir no reconhecimento de sua riqueza e variedade, além de
auxiliar na conservação adequada dos recursos florestais do bioma. Além de estudos que
fomentem o conhecimento genético e de tolerância das espécies ao manejo de corte raso,
atualmente permitido e amplamente utilizado na Caatinga.

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962
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 86

META-ANÁLISE PARA ESTIMATIVA DO GANHO DE


PRODUTIVIDADE DE PALMA IRRIGADA

FERRAZ, Rener Luciano de Souza


Prof. Dr. em Engenharia Agrícola (Irrigação e Drenagem)
Universidade Federal de Campina Grande
ferragroestat@gmail.com

COSTA, Patrícia da Silva


Doutoranda em Engenharia Agrícola (Irrigação e Drenagem)
Universidade Federal de Campina Grande 963
patriciagroambiental@gmail.com

BONOU, Semako Ibrahim


Mestrando em Engenharia Agrícola (Irrigação e Drenagem)
Universidade Federal de Campina Grande
bonouibrahim@gmail.com

PEREIRA, João Vitor da Silva


Bacharelando em Agroecologia
Universidade Estadual da Paraíba
vitorpereira.vp644@gmail.com

DANTAS NETO, José


Prof. Dr. em Agronomia (Irrigação e Drenagem)
Universidade Federal de Campina Grande
zedantas1955@gmail.com

RESUMO

A palma forrageira, importante para segurança alimentar e combate à fome no semiárido,


pode ter sua produção reduzida pela seca, havendo necessidade de irrigação, fato que tem
intensificado o desenvolvimento de pesquisas científicas sobre irrigação com a espécie.
Contudo, a experimentação pode ter custo elevado e isso evidencia a Metanálise como
ferramenta preponderante na ciência mundial. Objetivou utilizar revisão sistemática e
meta-análise para estimativa do ganho de produtividade de palma forrageira irrigada em
relação ao cultivo de sequeiro. Realizou-se revisão sistemática, obtendo-se médias de
produtividade e medidas de tendência e dispersão dos estudos. Os dados foram
submetidos a testes de normalidade meta-análise de efeitos aleatórios. Constatou-se que
os cultivos de palma forrageira irrigados promovem incremento de produtividade de
53,54 t ha-1 ano-1 quando comparados aos cultivos de sequeiro, podendo chegar a
produtividades de 80,25 t ha-1 ano-1 com elevadas lâminas de irrigação e 26,83 t ha-1 ano-
1
com menores lâminas em ambientes com maior ocorrência de chuvas, havendo
probabilidade de obtenção de produtividades ainda mais elevadas, sobretudo em regiões
semiáridas.

PALAVRAS-CHAVE: Nopalea, Opuntia, revisão sistemática.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

A palma (Opuntia ficus-indica Mill. e Nopalea cochenillifera Salm Dyck) é uma


opção alimentícia e forrageira para as regiões semiáridas do mundo (JARDIM et al.,
2021). Fonte de energia e água, é usada no setor agropecuário visando aumento da
segurança alimentar e redução da fome e pobreza nas áreas semiáridas (DUBEUX JR et
al., 2021). Apesar de adaptada ao semiárido, a espécie tem sua produtividade reduzida
em função da baixa disponibilidade de água e fertilidade do solo (LEMOS et al., 2021).
Pesquisas têm sido desenvolvidas em regiões semiáridas visando mitigação dos
efeitos negativos do déficit de água e nutrientes na palma (ARAÚJO JÚNIOR et al., 2021;
LÉDO et al., 2021; MATOS et al., 2021; PEREIRA et al., 2021). Ressalta-se que o custo 964
com pesquisa científica é elevado (MCMANUS; NEVES, 2021) e isso chama a atenção
para avaliação de sua qualidade (MCKENNA, 2021), inclusive para nortear o
financiamento científico no ensino superior (SU; KARADAĞ, 2021).
Uma estratégia promissora para redução de custos na pesquisa científica é o uso de
revisão sistemática e meta-análise, pois são técnicas por meio das quais dados de
pesquisas primárias são reunidos, revisados e reanalisados para fornecem respostas
amplas sobre a temática em estudo (PATOLE, 2021). Com base no exposto, pode-se
inferir que a literatura existente sobre palma forrageira irrigados pode comprovar a
eficiência da irrigação para aumento de produtividade da espécie.
Objetivou utilizar revisão sistemática e meta-análise para estimativa do ganho de
produtividade de palma forrageira irrigada em relação ao cultivo de sequeiro.

MATERIAL E MÉTODOS

A busca sistemática foi realizada entre os dias 23 e 27 de outubro de 2017, sem


restrições de data e local e sem utilização de filtros. A pesquisa foi realizada nas bases de
dados: BD1= Scholar Google, BD2= Scopus, BD3= Science Direct, BD4= Springer Link,
BD5= Wiley Online Library e BD6= Banco de Teses e Dissertações da CAPES. Foram
utilizadas as seguintes strings de busca: SB1= “Opuntia” AND “lâminas de irrigação”,
SB2= “Opuntia” AND “irrigation depths”, SB3= “Opuntia” AND “níveis de irrigação”,
SB4= “Opuntia” AND “irrigation levels”, SB5= “Nopalea” AND “lâminas de irrigação”,
SB6= “Nopalea” AND “irrigation depths”, SB7= “Nopalea” AND “níveis de irrigação”,
SB8= “Nopalea” AND “irrigation levels”.
Os critérios para inclusão de estudos foram: I) Experimentos com aplicação de
lâminas de irrigação na palma forrageira e resposta em produção ou produtividade; II)
Experimentos que apresentavam os níveis de irrigação aplicados; e III) Experimentos que
apresentavam medidas de variabilidade e dispersão de dados, além do número de
repetições. O fluxo de seleção de referências foi realizado conforme descrito por Lima et
al. (2017), utilizando-se o software Mendeley. Os dados obtidos dos experimentos
selecionados foram submetidos à análise de normalidade pelos testes de Shapiro-Wilk
(SHAPIRO; WILK, 1965) e Kolmogorov-Smirnov (KOLMOGOROV, 1933;
SMIRNOV, 1948).
2021 Gepra Editora Barros et al.

A medida de efeito dos estudos (D), foi obtida a partir da diferença entre a
produtividade obtida de cultivos irrigados (PI) de palma forrageira e a produtividade
obtida de cultivos de sequeiro (PS) de palma forrageira, conforme modelo descrito por
Tupich et al. (2017): D = (PI - PS). A variabilidade dos dados inseridos na meta-análise
foi estimada pelo erro padrão, conforme descrito por Tupich et al. (2017). Para tanto, foi
calculado o desvio padrão (σ), a partir do coeficiente de variação (CV) apresentado em
cada estudo, utilizando-se como base, as médias de produtividade dos cultivos irrigados
(PI) e as médias de produtividade dos cultivos de sequeiro (PS), utilizando o modelo:
σ=((PI+PS)/2*CV)/100. Para cada entrada de dado, obteve-se o número de repetições do
experimento (n) para fim de estimar seu respectivo erro padrão (S), utilizando-se do
965
modelo: S=σ/√n.
A estimativa da variabilidade entre os estudos (τ2) foi feita pelo método descrito
por DerSimonian e Laird (1986) e o cálculo da ponderação de cada estudo foi feito
utilizando-se o método do inverso da variância. Devido à elevada heterogeneidade, foi
utilizado o modelo de efeitos aleatórios (SANTOS; CUNHA, 2013). A meta-análise foi
conduzida no software R, utilizando-se do pacote para procedimento meta-analítico
“metafor” (VIECHTBAUER, 2010; R CORE TEAM, 2017).
Para utilização do modelo de efeitos aleatórios, constatou-se a partir do teste de
normalidade que o conjunto de estudos tem distribuição normal com o efeito médio (μ) e
variância do efeito (τ²) representado pela notação θᵢ ~ N (μ, τ²), conforme descrito por
Tupich et al. (2017). Assim, o modelo utilizou como fontes causadoras de efeito a
variação dentro do estudo (within-study) e entre os experimentos (between-study),
conforme descrição a saber:Yj = μ + ξj + εj, em que Yj representa o efeito observado no
estudo j, μ é o efeito comum a todos os estudos, ou a medida sumarizada ou medida meta-
analítica, Ɛj corresponde ao erro aleatório do estudo j e ξj é a variação nos efeitos
verdadeiros. Para obter a estimativa global e minimizar a variância, calculou-se a média
ponderada, em que o peso atribuído a cada entrada foi dado pelo inverso de sua variância,
a partir da variância dentro do estudo e entre estudos.
A heterogeneidade da estimativa global foi obtida a partir dos índices H2 e I2
propostos por Higgins e Thompson (2002). A respeito destes índices, Tupich et al. (2017)
reportam que, o I2 fornece a porcentagem total de variância que é devida à
heterogeneidade entre estudos, enquanto que o H2 faz uma relação entre o tamanho do
intervalo de confiança e a estimativa da medida de efeito. Estes pesquisadores destacam
que H2 maior que dois indica que a variação entre estudos possui influência substancial
no efeito global.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foi encontrado um total de 2.583 referências, das quais 1.204 no Scholar Google
(BD1), 9 no Scopus (BD2), 8 na Science Direct (BD3), 772 na Springer Link (BD4), 450
na Wiley Online Library (BD5) e 140 no Banco de Teses e Dissertações da CAPES (BD6).
O total de referências foi submetido a análise inicial para verificação da pertinência ao
objetivo do estudo, sendo 2.558 referências excluídas, restando 25 referências as quais
2021 Gepra Editora Barros et al.

passaram por revisão sistemática sendo excluídas 20 referências por não atenderem aos
critérios de inclusão, restando cinco referências de onde foram extraídos dados de entrada
para realização da meta-análise (Figura 1).

Figura 29. Diagrama de fluxo do processo de seleção de referências para revisão sistemática e obtenção
de dados para meta-análise.

966

Fonte: Elaboração dos autores.

Estes resultados indicam que a base de dados Scholar Google (BD1) possui elevado
número de referências relacionadas às strings de busca, tanto em inglês como em
português, possivelmente por recuperar referências contidas nos outros bancos de dados
(FERRAZ et al., 2017). Estes pesquisadores reportam que, para maior eficiência de busca
nas bases de dados utilizadas nesta pesquisa, recomenda-se a utilização das strings de
busca em inglês.
Nas bases de dados historicamente consolidadas, como BD2= Scopus, BD3= Science
Direct, BD4= Springer Link, BD5= Wiley Online Library, o processo para indexação é
rigoroso (MUGNAINI; STREHL, 2008), justificando menor número de referências
encontradas nestas bases em relação ao Scholar Google. Isto ocorre devido ao fato de o
Scholar Google incluir diversos tipos de materiais acadêmicos (NORUZI, 2005).
Ressalte-se que a cobertura do Scholar Google não abrange todo o conteúdo pertinente,
ratificando a busca em bases consagradas (GIUSTINI; BARSKY, 2005).
Os critérios de inclusão de referências na meta-análise são primordiais para garantia
da qualidade conclusiva do estudo, de modo que estes critérios devem ser descritos
detalhadamente (MCDONAGH et al., 2013). No entanto, critérios bem elaborados
reduzem o número de entradas de dados para a estimativa meta-analítica (MELINE, 2006;
COGO et al., 2017). Nesta pesquisa, do total de 2.583 referências, apenas cinco atenderam
aos critérios, garantindo a qualidade da meta-análise quanto à pertinência dos estudos
para comprovação da hipótese testada.
Com base no teste de Kolmogorov-Smirnov (K-S), para análise da normalidade dos
dados, obteve-se estatística D de 0,23 (P>0,05) para todas as entradas de dados (T-E) de
2021 Gepra Editora Barros et al.

palma irrigada e D de 0,21 (P>0,05) para dados de palma sob cultivo de sequeiro. Há,
portanto, forte evidência de que os dados das duas populações de palma forrageira seguem
distribuição normal, atendendo às suposições para uso de estimativa meta-analítica. Os
dados de palma irrigada e de sequeiro não foram normalmente distribuídos pelo teste de
Shapiro-Wilk.

Tabela 14. Testes de normalidade de Shapiro-Wilk (S-W) e Kolmogorov-Smirnov (K-S) para dados de
produtividade de palma irrigada e de sequeiro.
Palma irrigada Palma de sequeiro
Dados S-W K-S S-W K-S
W P D P W P D P 967
T-E 0,84 3E-4 0,23 0,07 0,89 5E-3 0,21 0,11
W: Estatística do teste de Shapiro-Wilk, D: estatística do teste de Kolmogorov-Smirnov, P:
probabilidade de significância dos testes, T-E: todas as entradas.
Fonte: Elaboração dos autores.

Em meta-análise, a normalidade dos dados é primordial para garantia da qualidade


da estimativa do efeito, de modo que dados não distribuídos normalmente podem ser
analisados por modelos meta-analíticos de efeitos aleatórios (SUN et al., 2018). Embora
os dados desta pesquisa sejam normalmente distribuídos pelo teste de K-S, Torman et al.
(2012) reportam que o desempenho deste teste em comparação a outros também
consagrados é baixo e recomenda o uso do teste de S-W. Seguindo esta recomendação,
verificou-se que os dados de palma de sequeiro não possuem distribuição normal, o que
se deve à elevada heterogeneidade no conjunto de todas as entradas (TORMAN et al.,
2012; BUJKIEWICZ et al., 2015; SNELL et al., 2017).
É importante ressaltar que nos casos em que as fontes de variação diferentes daquela
em estudo influenciam a distribuição dos dados e são conhecidas pelo pesquisador,
admite-se a suposição de normalidade. De fato, Lee e Thomson (2008) ao explorarem
modelos paramétricos flexíveis para meta-análise de efeitos aleatórios, quando as
suposições de normalidade entre os estudos não se mantem, ressaltam que é importante
permitir a distorção, especialmente quando a distribuição preditiva é de interesse.
A partir da revisão sistemática das referências, verificou-se que os experimentos
com palma irrigada foram conduzidos em locais diferentes e adotavam sistemas de
manejo diferentes, sugerindo heterogeneidade dos dados e, portando, denotando a
necessidade de uso do modelo de efeitos aleatórios. De fato, foi constatada elevada
heterogeneidade (P < 0,001), dada pela estatística τ² (3258,49) que mede a variação entre
estudos e ratificada pelo elevado I2 (78,10) e pelo H2 correspondente a 2,14 (Figura 2).
A estimativa meta-analítica de todas as entradas de dados (T-E), representada pela
média das diferenças (MD) no intervalo de confiança de 95%, evidenciou aumento
significativo (P < 0,001) de produtividade de palma irrigada em relação ao cultivo de
sequeiro. O ganho de produtividade meta-analítico foi de 53,54 t ha-1 ano-1, com limite de
ganho superior de 80,25 t ha-1 ano-1 no melhor cenário e limite inferior de 26,83 t ha-1 ano-
1
(Figura 2).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 30. Forest plot da distribuição de diferenças de produtividade de palma forrageira irrigada
comparada à cultivada em condições de sequeiro. LI: limite inferior, LS: limite superior, D: diferença de
produtividade, MD: média das diferenças, (): tamanho do efeito e (): estimativa meta-analítica.

968

Fonte: Elaboração dos autores.

A origem da heterogeneidade de uma meta-análise pode ser clínica, metodológica


ou estatística. A heterogeneidade clinica é inerente à meta-análise e é devida à
variabilidade existente entre os participantes. Já a heterogeneidade metodológica faz
referência à variabilidade entre os delineamentos dos estudos, características das
amostras, variações no tratamento, variações na qualidade do projeto, entre outras;
enquanto que a heterogeneidade estatística é devida à variabilidade nas medidas de efeito
entre os diferentes estudos e decorre das variabilidades clínica, metodológica ou de ambas
(HIGGINS; GREEN, 2008; MACASKILL et al., 2010; BOWDEN et al., 2011).
Com base nas informações supracitadas, pode-se inferir que a heterogeneidade na
meta-análises com todas as entradas de dados (T-E) é devida à variabilidade natural ao
acaso entre as plantas de palma forrageira nos experimentos originais; à variabilidade
2021 Gepra Editora Barros et al.

entre as condições de cultivo divergentes entre os experimentos; além da interação entre


ambas as variabilidades e à variabilidade elevada entre as medidas de diferença entre
palma irrigada e de sequeiro obtidas de cada entrada de dado inserida na meta-análise.

CONCLUSÕES

Os cultivos de palma forrageira irrigados possuem incremento de produtividade de


53,54 t ha-1 ano-1 quando comparados aos cultivos de sequeiro, podendo chegar a
produtividades de 80,25 t ha-1 ano-1 com elevadas lâminas de irrigação em ambientes
969
restritivos e 26,83 t ha-1 ano-1 com menores lâminas em ambientes com maior ocorrência
de chuvas, havendo probabilidade de obtenção de produtividades ainda mais elevadas
com adoção de sistemas de manejo da adubação associados à irrigação.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 87

MODELAGEM EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

COSMO, Bruno Marcos Nunes


Doutorando em Agronomia – Agricultura,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Botucatu – Brasil.
brunomcosmo@gmail.com

GALERIANI, Tatiani Mayara


Mestranda em Agronomia – Agricultura,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Botucatu – Brasil.
tatianigaleriani@gmail.com
973
ARLANCH, Adolfo Bergamo
Doutorando em Agronomia – Irrigação e Drenagem,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Botucatu – Brasil.
adolfoarlanch@gmail.com

ZANETTI, Willian Aparecido Leoti


Doutorando em Agronegócio e Desenvolvimento,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Tupã – Brasil.
willianleoti@gmail.com

GAVA, Glauber José de Castro


Professor Doutor e Pesquisador Científico
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Botucatu – Brasil
Instituto Agronômico de Campinas, Jaú – Brasil
ggav@iac.sp.gov.br

RESUMO

O agronegócio é um dos principais setores da economia nacional e mundial. Todavia, o


setor encontra-se vulnerável aos eventos ambientais como as oscilações climáticas,
pragas, doenças e afins. Diante destes fatores, estratégias que visam predizer o
comportamento das culturas diante de diferentes eventos são estudadas e podem envolver
o emprego da modelagem no meio rural. Neste contexto, esta revisão bibliográfica teve
como objetivo caracterizar as aplicações e as etapas que constituem a modelagem de
sistemas agrícolas. Para tal, realizou-se uma revisão de literatura fundamentada em livros,
artigos, teses e similares publicados preferencialmente nos últimos 5 a 10 anos. Os
resultados foram separados entre o conceito de modelagem, suas aplicações no meio
agrícola e as etapas do processo. Os modelos são utilizados para representar sistemas
físicos reais, utilizando, por exemplo, equações matemáticas. Na agricultura estes
modelos podem ser empregados com foco no desenvolvimento e produtividade de
culturas, na ocupação do solo, sistemas hidrológicos, estabelecimento de manejos como
adubação, irrigação e aplicação de defensivos, dentre outros. Contudo, para utilização da
técnica suas etapas devem ser compreendidas e realizadas adequadamente. A modelagem
consiste na construção de um modelo que será calibrado conforme o banco de dados
disponíveis, esse modelo será avaliado para ser validado por meio de parâmetros
estabelecidos. Uma vez validado, o modelo poderá ser utilizado para simular novas
informações em diferentes cenários. Conclui-se que a modelagem é uma ferramenta
promissora no planejamento e na tomada de decisão no meio rural.

PALAVRAS-CHAVE: Predição de Safras; Simulações; Sustentabilidade.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

Em nível nacional e mundial, o setor agropecuário representa um dos principais


segmentos da economia. Em países como o Brasil, o agronegócio pode representar uma
parcela de mais de 1/4 do Produto Interno Bruto Nacional (PIB) (JOAQUIM et al., 2018).
Estes fatores evidenciam o papel de destaque do setor, pois além de grande movimentação
econômica, a agropecuária é responsável pelo emprego de grande parcela da população
(COSTA; PACHECO, 2017; SOARES, 2019).
No Brasil as características naturais do país, envolvendo sua extensão territorial que
resulta em grande diversidade edafoclimática, disponibilidade hídrica e tecnologias de
produção específicas para cada região, culminam em uma propensão natural para a 974
realização das atividades agropecuárias (SAATH; FACHINELO, 2018). Contudo, devido
às características naturais desse setor, como o desenvolvimento de seus processos em
campo, ou seja, em ambiente aberto, tornam o segmento vulnerável às condições
ambientais, como o clima (SOGLIO; KUBO, 2016).
Além das condições ambientais que envolvem o clima, a ocorrência de pragas e
doenças e fatores similares, a atividade agropecuária também sofre com flutuações
econômicas envolvendo a aquisição de insumos e a comercialização dos produtos finais
(GHITTI, 2019; SANCHES et al., 2019). Diante de tais instabilidades, muitas estratégias
envolvendo o planejamento com base na predição de condições climáticas e do
comportamento mercadológico são empregadas.
Uma ferramenta com grande crescimento no meio agrícola e com potencial de
utilização sem precedentes é a modelagem dos sistemas produtivos (COSMO et al.,
2020). A modelagem consiste na construção de um modelo baseado em diversos fatores
que pondera a influência destes, permitindo a construção de hipóteses sobre os
acontecimentos futuros (ASSAF, 2016; CARVALHO, 2019).
A modelagem não é um procedimento natural ou exclusivo da agropecuária, muitos
outros setores envolvendo a indústria fazem uso desta ferramenta (RATHMANN, 2017;
LUCENA; SILVA, 2018). No setor agropecuário, a modelagem permite a simulação de
diversos cenários futuros, relacionados a modificações no clima, manejo, características
da cultura implantada, dentre outros fatores (ANTOLIN, 2019).
Embora na agricultura, a modelagem seja focada nos sistemas de produção vegetais
(desenvolvimento das culturas), ela pode ser empregada para características do solo,
bacias hidrográficas, características de mercado e outras utilizações (MELLO et al., 2016;
MENDONÇA et al., 2019; OZBEK, 2020).
Considerando a modelagem dos sistemas agrícolas com foco nas culturas
produzidas, existem plataformas com modelos desenvolvidos para uma infinidade de
culturas, como a cana-de-açúcar (RIBEIRO et al., 2016; LEDA et al., 2019), a soja
(SANTOS, 2017; VANZELA et al., 2021), o milho (MAGALHÃES et al., 2016;
BERTOLIN et al., 2017; APARECIDO et al., 2020), o arroz (SILVA et al., 2016), dentre
outras. Estes modelos, como mencionado, permitem prospectar o comportamento destas
culturas em função de alterações de manejo e no ambiente de produção, bem como
simular/estimar a produtividade nestas condições, possibilitando a construção de
estratégias de trabalho no meio rural.
2021 Gepra Editora Barros et al.

A modelagem agrícola apresenta ainda outros benefícios que não se limitam às


previsões futuras, mas que estão relacionados com as mesmas. Por exemplo, para culturas
perenes como a cana-de-açúcar que exigem grande extensão de área e mão-de-obra para
a realização de experimentos, a modelagem surge como uma possibilidade de reduzir o
tempo de resposta dos estudos, além de reduzir a necessidade de espaço e recursos
empregados na realização destes estudos (URIBE et al., 2016).
Neste cenário a modelagem surge como uma ferramenta promissora e que pode
gerar resultados rápidos e consistentes com a realidade de produção, entretanto, um
aspecto fundamental para a obtenção destas respostas e a construção e calibração de
modelos coerentes, fundamentados em dados climáticos, de solo e culturais de longa
975
duração e confiáveis (FONTOURA JUNIOR et al., 2010; SCARPARE et al., 2012). A
utilização de um modelo mal dimensionado, além de não atender os objetivos da técnica,
pode retornar informações inadequadas que poderão prejudicar a atividade.
Neste contexto, esta revisão teve como objetivo caracterizar as aplicações e as
etapas que constituem a modelagem de sistemas agrícolas.

MATERIAL E MÉTODOS

Com o objetivo de caracterizar as aplicações e etapas que compõem a modelagem


de sistemas agrícolas, realizou-se uma pesquisa de finalidade básica, com abordagem
qualitativa e objetivos exploratórios para a confecção de uma revisão de literatura
(FONTELLES et al., 2009).
A revisão de literatura ou pesquisa bibliográfica consiste na utilização de materiais
já discutidos e publicados por outros autores e que, portanto, já receberam alguma forma
de avaliação pelo local de publicação (editora, periódico ou similar). Com estas
informações é possível construir um banco de informações amplo, consistente e
atualizado que permite a análise, comparação e discussão das informações disponíveis
(PRADANOV; FREITAS, 2013; PRAÇA, 2015; FERNANDES et al., 2018).
Os materiais utilizados para a realização da pesquisa bibliográfica foram artigos
científicos, livros, dissertações, teses e materiais similares publicados preferencialmente
nos últimos 5 a 10 anos, buscando garantir uma base de dados atualizada. Os locais de
busca destes materiais são representados por plataformas online, com destaque para
plataformas de periódicos específicos voltados para estudos no setor agrícola.
Buscando facilitar a busca por informações e filtrá-las previamente, foram
empregados descritores que são considerados por Galvão (2010), como palavras-chave
que direcionam a pesquisa para o sentido específico da mesma, como exemplo de
descritores foram utilizados os termos “modelagem agrícola”, “modelos de predição de
safras”, “modelagem de sistemas agrícolas” e outros similares.
Ao final da busca por material, o mesmo foi selecionado, buscando-se manter
apenas os trabalhos de maior relevância e consistência em relação ao tema abordado, as
informações provenientes destes trabalhos foram estruturadas na revisão a seguir.
2021 Gepra Editora Barros et al.

MODELAGEM EM SISTEMAS AGRÍCOLAS

CONCEITO DE MODELOS E MODELAGEM

Em termos gerais um modelo é a representação de diferentes conceitos que podem


ser ideias, objetos, eventos, fenômenos, processos ou outros. Neste sentido, um modelo
refere-se a uma correspondência existente entre dois sistemas quaisquer, possibilitando o
estabelecimento de relações entre eles (HEIDEMANN et al., 2016).
De acordo com Santos (2015), na ciência os modelos são um conjunto de hipóteses
sobre a ocorrência de um evento em um sistema físico. Na agricultura, Scarpare et al.
(2012), destaca que eles apresentam papel fundamental como ferramentas de investigação 976
e pesquisa para compreensão do comportamento das culturas em determinadas condições
ambientais.
Os modelos podem utilizar diferentes meios de determinar/representação de um
fenômeno e sua aplicação em áreas diversas é muito frequente, podendo-se citar a
modelagem aplicada à educação e compreensão de eventos das ciências humanas
(SOUZA; ROZAL, 2016; BURAK, 2019), a modelagem na área de tecnologia de
informação (MUSSA et al., 2018; GONÇALVES et al., 2020) e a ênfase deste trabalho,
a modelagem na agricultura (MAGALHÃES et al., 2016; RIBEIRO et al., 2016; SILVA
et al., 2016; BERTOLIN et al., 2017; SANTOS, 2017; LEDA et al., 2019; APARECIDO
et al., 2020; VANZELA et al., 2021).
Para Corrêa et al. (2011), os modelos na área agrícola podem ser utilizados para
investigar diferentes fenômenos relacionados com o desenvolvimento e a produção
vegetal, possibilitando maior compreensão sobre o comportamento da cultura diante de
determinados fatores ambientais. Este conhecimento permite adotar estratégias que se
alinham com a melhoria do sistema de produção como um todo.
Desta forma, os modelos em qualquer aplicação são basicamente meios de
representação de fenômenos reais. Dentre as formas de representação mais comum, estão
os modelos matemáticos que buscam descrever o comportamento de uma determinada
variável em função da modificação de outra ou outras variáveis (COSTA, 2009; SILVA;
CATELLI, 2019).
No meio agrícola, emprega-se comumente modelos empíricos e mecanísticos,
sendo estes últimos divididos ainda em modelos fisiológicos ou agrometeorológicos,
estas variações fazem menção às informações de entrada que são utilizadas para
prospectar o comportamento vegetal, ou seja, como a cultura deverá comportar-se em
função da sua fisiologia, do ambiente ou ainda de outros fatores (MARIN, 2014).
Diante da compreensão dos modelos, caracterizar a modelagem torna-se algo
simples. Se os modelos são as representações de fenômenos reais, a modelagem é a
utilização de modelos para compreender, investigar e simular tais fenômenos.

APLICAÇÕES DA MODELAGEM NA AGRICULTURA

A agricultura ou o agronegócio como um todo é um dos principais setores da


economia brasileira, representando cerca de 1/4 do PIB nacional (JOAQUIM et al., 2018).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Como descrito anteriormente, apesar de sua grande representatividade, o setor encontra-


se vulnerável às condições/ oscilações ambientais (SOGLIO; KUBO, 2016).
Embora, outros fatores também apresentam grande importância ao uso da
modelagem, as condições climáticas ou ainda as possíveis mudanças climáticas,
representam um dos principais objetivos da modelagem na agricultura. Para muitas
culturas a realização de estudos que buscam determinar seu comportamento diante das
modificações climáticas, alterações no manejo, ou ainda buscando avaliar a adoção de
determinadas técnicas e seu impacto integrado com as mudanças ambientais
(MAGALHÃES, 2013; BRASIL, 2016).
Em contextos como este a modelagem torna-se uma ferramenta para obtenção de
977
respostas em períodos menores, empregando menores recursos espaciais, financeiros e
humanos e possibilitando a geração de respostas rápidas, realistas e valiosas para o
planejamento das safras seguintes (URIBE et al., 2016).
Considerando que os modelos são meios de representar matematicamente um
fenômeno real, as aplicações da modelagem passam a ser mais claras e facilmente
visualizadas. Qualquer modelo utilizado em um estudo pode ser considerado uma via de
modelagem, por exemplo, experimentos que determinam uma regressão linear entre
produtividade e adubação. Contudo, nos últimos anos o avanço desta técnica permitiu sua
utilização na configuração de robôs para realizarem operações específicas em estufas,
construção de malhas para adubação em agricultura de precisão, dentre outras aplicações
(BERNARDI et al., 2015; AFFONSO et al., 2017; PORSCH et al., 2018; BASSOI et al.,
2019; FERRONATO et al., 2019).
Analisando o estudo de Affonso et al. (2017), destaca-se que a modelagem pode ser
observada no uso de sensores para realização de aplicações de fertilizantes e defensivos,
softwares de simulação e dimensionamento de sistemas hidráulicos, simular o
comportamento de um defensivo após sua aplicação, dentre outras possibilidades.
Desta forma, embora muitos estudos descrevam principalmente a utilização da
modelagem para simular o desenvolvimento das culturas diante as projeções de mudança
climáticas e aos procedimentos de manejo que serão adotados (SILVA et al., 2017; FAVA
et al., 2019), existe uma gama de aplicações muito grande da modelagem, sem considerar,
que como mencionado, qualquer processo que utilize uma equação para estabelecer uma
relação entre duas ou mais variáveis é considerado uma forma de modelagem.

ETAPAS DO PROCESSO DE MODELAGEM

Partindo das diversas aplicações da modelagem que podem envolver o


desenvolvimento das culturas, o comportamento dos sistemas envolvendo o solo,
hidrologia e outros aspectos, bem como as diversas vertentes da modelagem é necessário
compreender como este procedimento ocorre e separa-se. O primeiro passo é a
determinação/ estabelecimento de um modelo, com o modelo estabelecimento, esta
passará pelas etapas de calibração e validação.
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CALIBRAÇÃO DOS MODELOS

A calibração de um modelo pode ser considerada a etapa inicial de qualquer


trabalho de modelagem. Para compreendê-la de forma simples, emprega-se um exemplo,
que busca estabelecer uma relação entre as doses de nitrogênio fornecidas para o milho e
a produtividade da cultura. Considerando que as informações resultaram em um modelo
de regressão linear, tem-se a seguinte equação genérica: Y = aX + b, onde Y é a
produtividade e X são as doses de nitrogênio.
Embora o modelo genérico seja simples, é preciso determinar/ ajustar os valores de
“a” e “b” de tal forma que seja possível estabelecer uma relação entre Y e X. Essa etapa
de ajuste dos parâmetros pode ser considerada como a calibração do modelo. 978
A calibração busca tornar as respostas obtidas pelo modelo, o mais próximo
possível dos resultados reais, dadas as mesmas condições. Na modelagem agrícola, com
foco nas culturas, esta etapa busca parametrizar fatores culturais, ambientais e de manejo
para elevar a eficiência do modelo (NASSIF et al., 2012; MARIN, 2014).
É na etapa de calibração que a necessidade de utilização de bancos de dados de
longa duração e confiáveis torna-se mais evidente (COSMO et al., 2020). Retomando ao
exemplo da regressão linear simples, a presença de muitos valores de Y em função de X,
torna mais coerente e consistentes os valores determinados para “a” e “b” do que a
utilização de um pequeno conjunto de valores.
Contudo, Corrêa et al. (2011), destaca que a calibração deve ser realista e cautelosa
com os dados utilizados, pois, embora o número de observações possa elevar a
assertividade do modelo, a utilização de dados tendenciosos ou coletados em uma
determinada condição, poderão realizar ajustamentos tão específicos que impedem o uso
do modelo para situações que oscilem minimamente das condições de calibração.
Ressalta-se que a calibração não permite a utilização de um modelo único de forma
precisa para descrever todos os cenários de produção de uma cultura, por exemplo, porém,
a utilização dos dados de uma única safra, mesmo que componha um número alto de
observações, pode tornar o modelo tendencioso e ajustado apenas para aquelas condições
de adubação e clima, por exemplo, impossibilitando outras simulações.

VALIDAÇÃO DOS MODELOS

Enquanto a calibração refere-se à construção e ajustamento do modelo em atingir


os objetivos para os quais ele foi proposto, a validação refere-se à etapa de avaliação, ou
seja, busca determinar por meio de parâmetros pré-definidos qual é a capacidade do
modelo construído em simular adequadamente os eventos desejados (VIANNA;
SENTELHAS, 2014; COLLICCHIO et al., 2015; RIBEIRO et al., 2015).
Segundo Blainski et al. (2017), um aspecto importante da validação é realiza-la
utilizando um conjunto de dados divergente da calibração. Por exemplo, para um conjunto
de dados coletados entre 2011 a 2020 (10 anos), pode-se realizar o uso dos dados dos
anos impares (2011; 2013; 2015; 2017 e 2019) para realizar a calibração, enquanto os
anos pares (2012; 2014; 2016; 2018 e 2020) poderão ser empregados na validação do
modelo gerado.
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É importante ressaltar que um modelo realístico sempre apresentará pequenas


divergências em relação aos dados reais por mais calibrado que o modelo esteja, portanto,
é necessário estabelecer parâmetros básicos de aceitação ou rejeição do modelo. Destaca-
se também que existem muitos parâmetros de avaliação dos modelos, dentre tais
parâmetros pode-se citar a utilização do Erro Médio (EM), Erro Médio Percentual (EMP),
Erro Médio Absoluto (EMA), Erro Médio Absoluto Percentual (EMAP), Raiz Quadrada
do Erro Médio (RQEM), dentre outros, estes parâmetros apresentam como aspecto
comum que quanto menores forem seus valores mais próximos os resultados simulados
são dos reais.
Contudo, existem outros parâmetros que apresentam interpretações distintas e que
979
por não oscilarem em função da unidade utilizada no modelo, permitem o estabelecimento
de faixas de interpretação, dentre estes parâmetros, serão descritos os Coeficientes de
Correlação de Pearson (r) e de Determinação (R²), além dos Índices de Eficiência de
Modelagem (E), Concordância (d) e de Confiança (c).
O “r” descreve a associação ou relação existente entre duas variáveis distintas,
enquanto R² expressa o grau de aproximação entre os valores reais e os valores simulados
por um modelo estabelecido entre estas variáveis. Estes coeficientes oscilam de 0 a 1,
sendo 0 a ausência de correção/determinação, enquanto 1, expressa correlação ou
determinação completa entre as variáveis (FIGUEIREDO FILHO; SILVA JÚNIOR,
2009; QUININO et al., 2011). Existem escalas para a avaliação destes valores, permitindo
determinar se um valor de “r” e R² é elevado ou não.
O índice E foi desenvolvido para sistemas hidrológicos, porém passou a ser
utilizado na avaliação de sistemas agrícolas. Seus valores oscilam de -∞ a 1, onde valores
abaixo de 0 implicam na falta de aplicação do modelo, indicando a utilização da média
dos dados observados (utilizados na calibração) em relação aos valores simulados pelo
modelo, entre 0 a 1 os valores são considerados realistas e permitem utilizar com boa
aceitação os valores simulados, enquanto 1 representa ajuste total do modelo, que pode
ser considerado um super ajustamento implicando na falta de ajuste dos dados para
condições onde o mesmo não foi calibrado (YANG et al., 2014; SANTOS, 2015).
O índice “d” indica o grau de exatidão do modelo, refletindo o afastamento entre os
valores reais e os simulados. Este índice oscila de 0 a 1, sendo 0 a ausência de
concordância, enquanto 1, refere-se a concordância total entre os dados simulados e
observados (SILVA, 2012).
O índice “c” é um dos principais parâmetros de aceitação de um modelo, sendo o
resultado entre a multiplicação de “r” e “d”, este índice apresenta uma categorização em
7 classes proposta por Camargo e Sentelhas (1997), que oscila desde muito baixo até
ótima. Nesta classificação valores acima de 0,51 são considerados toleráveis, enquanto
acima de 0,66 são enquadrados como bom, sendo ótimos quando superiores a 0,85.
Portanto, constata-se que a validação é a etapa da modelagem que avalia o modelo
gerado e por meio de parâmetros estabelecidos, determina se este modelo apresenta
aplicabilidade ou não, portanto, calibração e validação são etapas complementares, pois,
caso o modelo não atenda as premissas de validação, ele pode passar por um novo
processo de calibração e assim várias vezes até a obtenção de um modelo assertivo para
aquela situação.
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SIMULAÇÕES OU PROJEÇÕES UTILIZANDO OS MODELOS

As simulações ou projeções realizadas utilizando um modelo não são


necessariamente etapas da construção do mesmo, elas podem ser categorizadas como os
resultados do processo de modelagem, pois, ao final da calibração e validação, se o
modelo atender os parâmetros estabelecidos nestas etapas, ele poderá ser empregado na
realização de projeções em condições semelhantes às de calibração e inserir modificações
referentes ao manejo, ambiente e afins.
Retomando o exemplo da regressão linear entre produtividade do milho e adubação
nitrogenada, pode-se realizar a seguinte analogia. Enquanto o modelo utilizado foi Y = 980
aX + b, onde Y é a produtividade e X são as doses de nitrogênio. Os valores de “a” e “b”
foram determinados no processo de calibração, com estes parâmetros e utilizando-se
dados reais para comparação o modelo calibrado foi avaliado e validado ou não.
Considerando que o modelo foi validado, agora é possível utilizá-lo para realizar
simulações em condições nas quais ele não foi testado.
Por exemplo, se os valores de X (adubação nitrogenada) foram de 0; 50; 100; 200;
300; e 500 kg ha-1, uma vez gerado o modelo é possível simular qual seria a produtividade
com a utilização de 423 kg ha-1 ou em qualquer outro valor compreendido na faixa de 0
a 500 kg ha-1 (com maior segurança) ou até fora desta faixa (com menor segurança).
Diante dos cenários de possíveis mudanças climáticas a utilização da modelagem
para realizar simulações de desenvolvimento das culturas em diferentes cenários de
modificação climática tem se tornado comum (CAMILO et al., 2018; OLIVEIRA et al.,
2018; SILVA et al., 2018; SOUZA et al., 2018; TEIXEIRA et al., 2020).
Nestes cenários de modificação climática as simulações podem empregar a
modificação de fatores isolados como a temperatura, precipitação ou concentração de
CO2 atmosférico ou ainda a combinação destes fatores, e tais modificações podem refletir
em atributos distintos como a produtividade, desenvolvimento das culturas e até na
distribuição das regiões de produção (MARIN et al., 2007; SOUZA et al., 2008;
EVANGELISTA et al., 2009; VUN; ALLEN JUNIOR, 2009; MORGAN et al., 2011;
FARIA; HADDAD, 2013; MARIN; NASSIF, 2013; MARIN et al., 2014).
Portanto, as simulações ou projeções são a utilização dos modelos calibrados e
validados para a estimativa/ obtenção de respostas para condições dentro das faixas de
calibração ou fora destas a partir de alterações no cenário original de calibração. Quanto
melhor a calibração e validação do modelo, melhores são as chances de obtenção de
simulações confiáveis.
Neste estudo os exemplos foram focados nos sistemas agrícolas de produção
vegetal, porém, conforme já descrito, a modelagem pode enfatizar sistemas maiores como
uma bacia hidrográfica, o solo de uma região, índices de escoamento e erosão, dentre
outras alternativas, demonstrando a versatilidade da modelagem.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A modelagem consiste na utilização de modelos para representar o comportamento


de sistemas ou fenômenos reais. Estes modelos devem ser calibrados com os resultados
observados em condições experimentais e/ou de campo, após calibrado o modelo deverá
ser validado por meio de parâmetros estabelecidos pelo pesquisador para classificar seu
grau de eficiência e possibilitar sua utilização na projeção/simulação de diferentes
informações.
Na agricultura a modelagem pode ser aplicada para diferentes finalidades, nos
últimos anos, elevou-se o número de estudos envolvendo bacias hidrográficas, uso e
manejo do solo e principalmente o comportamento das culturas diante dos possíveis 981
cenários de modificação climática. Estes estudos demonstram a capacidade da
modelagem em ser aplicada como uma ferramenta de planejamento agrícola, auxiliando,
portanto, a tomada de decisão referente à cultura que será implantada, o manejo adotado,
nível de investimento e etc.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 88

NANOPARTÍCULAS DE SILÍCIO ATENUAM ESTRESSE


HÍDRICO DURANTE A RIZOGÊNESE DE PLÂNTULAS DE
Moringa oleífera

COSTA, Patrícia da Silva


Doutoranda em Engenharia Agrícola (Irrigação e Drenagem)
Universidade Federal de Campina Grande
patriciagroambiental@gmail.com

FERRAZ, Rener Luciano de Souza 989


Prof. Dr. em Engenharia Agrícola (Irrigação e Drenagem)
Universidade Federal de Campina Grande
ferragroestat@gmail.com

BONOU, Semako Ibrahim


Mestrando em Engenharia Agrícola (Irrigação e Drenagem)
Universidade Federal de Campina Grande
bonouibrahim@gmail.com

OLIVEIRA-VIANA, Priscylla Marques de


Bacharelanda em Agroecologia
Universidade Estadual da Paraíba
pri.marques.o@hotmail.com

DANTAS NETO, José


Prof. Dr. em Agronomia (Irrigação e Drenagem)
Universidade Federal de Campina Grande
zedantas1955@gmail.com

RESUMO

A Moringa oleifera apresenta alta adaptabilidade às regiões áridas e semiáridas, e é


caracterizada por ser utilizadas como suplemento nutricional, remédio, purificador de
água e ração animal. No entanto, o estresse hídrico provoca condições de crescimento
desfavoráveis para as plantas. Assim, objetivou-se avaliar se nanopartículas de silício
aplicadas via pré-condicionamento de sementes atenuam estresse hídrico induzido por
polietilenoglicol 6000 durante a rizogênese de plântulas de Moringa oleifera. O
delineamento utilizado foi inteiramente casualizado, em esquema fatorial 2 x 2, sendo o
fator déficit hídrico constituído de dois níveis (Ψh = -0,8 MPa e Ψh = 0,0 MPa) e o fator
pré-condicionamento de sementes constituído de dois níveis (H2O = água e NPsSi = 600
mg L-1 de nanopartículas de silício), com quatro repetições. O estresse hídrico reduziu o
teor de água e crescimento das raízes. As nanopartículas de silício ajustaram o status
hídrico e o crescimento do sistema radicular como estratégia para atenuar o estresse
hídrico durante a rizogênese de plântulas de Moringa oleifera.

PALAVRAS-CHAVE: Seed priming, estresse abiótico, nanotecnologia.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

Nativa do Norte da Índia, a Moringa oleifera Lamarck (Moringaceae) vem sendo


cultivada em muitas regiões subtropicais da África, América tropical, México, Malásia e
Filipinas. É conhecida como árvore da vida, pois possui propriedades antioxidantes,
concentrações de cálcio, potássio, magnésio, vitamina A, C, E, aminoácidos, entre outras.
Todas as suas partes, por exemplo, folhas, sementes e flores, podem ser utilizadas como
suplemento nutricional, remédio, purificador de água e ração animal, para garantia da
segurança alimentar mundial (HEDHILI et al., 2021).
A M. oleifera apresenta alta adaptabilidade às regiões áridas e semiáridas
(BENHAMMOUCHE et al., 2021). No entanto, estresses abióticos como altas e baixas
temperaturas, déficit hídrico, salinidade, falta de nutrientes e alta intensidade de luz 990
provocam condições de crescimento desfavoráveis para as plantas (ESMAEILI et al.,
2021). O estresse hídrico, que ocorre com maior frequência, diminui o conteúdo de
pigmentos fotossintéticos, a turgidez das folhas, causa danos às membranas celulares e
inibe a divisão celular em partes crescentes das plantas, o que provoca modificações na
morfologia externa da planta, por exemplo, nas raízes (KHAN et al., 2021).
A aplicação de silício (Si) pode atenuar o estresse hídrico durante a rizogênese, pois
o Si protege as plantas contra a seca e murcha, aumentando a eficiência do uso da água,
reduzindo as perdas de água por evapotranspiração (ATTIA; ELHAWAT, 2021). Na
forma de nanopartículas (NPsSi), o elemento promove efeitos positivos no crescimento e
fisiologia das plantas (MUKARRAM et al., 2021). Sua eficiência também já foi testada
quando aplicada via pré-condicionamento de sementes (HATAMI et al., 2021)
Com base no exposto, objetivou-se avaliar se nanopartículas de silício aplicadas via
pré-condicionamento de sementes atenuam estresse hídrico induzido por polietilenoglicol
6000 durante a rizogênese de plântulas de Moringa oleifera.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Laboratório de Fisiologia Vegetal e na Casa de


Vegetação, pertencente a Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola do Centro de
Tecnologia e Recursos Naturais da Universidade Federal de Campina Grande. O Campus
está localizado no município de Campina Grande, Paraíba, nas coordenadas geográficas:
latitude 7°12’51.9”S e longitude 35°54’24.1”W em altitude de 551 metros, com clima
equatorial semiárido, temperatura média de 25 ºC e umidade relativa do ar variando entre
72 e 91%.
O delineamento utilizado foi inteiramente casualizado, montado em esquema
fatorial 2 x 2, sendo o fator déficit hídrico constituído de dois níveis (Ψh = -0,8 MPa e Ψh
= 0,0 MPa) e o fator pré-condicionamento de sementes constituído de dois níveis (H2O =
água e NPsSi = 600 mg L-1 de nanopartículas de silício), com quatro repetições.
Foram utilizadas sementes de M. oleifera, obtidas de um produtor da comunidade
rural do município de Catolé do Rocha, Paraíba. As sementes passaram pelo processo de
assepsia com hipoclorito de sódio a 1%, por 3 min (CARVALHO; CARVALHO, 2009).
Imediatamente após o processo de assepsia, as sementes foram alocadas em caixas
plásticas, tipo Gerbox®, medindo 11 x11 x 3,5 cm de comprimento, largura e altura,
respectivamente. Foi adicionado 121 mL de solução em cada caixa, para o pré-
2021 Gepra Editora Barros et al.

condicionamento H2O foi adicionada água deionizada e para o pré-condicionamento


NPsSi, foi realizada a pesagem e diluição de dióxido de silício (SiO2 em NPs) em água
deionizada à temperatura de 25 °C (HUSSAIN et al., 2019).
Posteriormente, as caixas contendo as sementes foram acondicionadas em
câmaras de germinação tipo B.O.D. adaptadas com painéis de LED para fornecimento da
condição de luminosidade e ajustada à temperatura de 25 ºC. O tempo de aplicação do
pré-condicionamento das sementes foi de 24 h, período necessário para embebição das
sementes (fase II) sem que haja a conclusão do processo de germinação (GUIMARÃES
et al., 2008). Posteriormente, as sementes foram transferidas para caixas Gerbox® sem
tampa, com duas camadas de papel germitex secas, e submetidas à secagem durante 72
991
horas nas mesmas condições de luminosidade e temperatura utilizadas durante o pré-
condicionamento.
Após secagem, as sementes foram alocadas em bandejas plásticas, sendo a
vermiculita o substrato utilizado, e levadas para a Casa de Vegetação. O déficit hídrico
teve início nove dias após a semeadura, e foi induzido pela redução do potencial hídrico
(Ψh = -0,8 MPa) por polietilenoglicol 6000 (PEG 6000) e sem déficit hídrico (Ψh = 0,0
MPa) utilizando-se de água deionizada. Após 15 dias da semeadura, as plântulas foram
removidas para a avaliação das variáveis diâmetro da raiz principal (DRA, mm),
utilizando-se de paquímetro digital, matéria fresca (MFR, g) e seca das raízes (MSR, g)
pesados em balança analítica com precisão de 0,0001 g, teor de água das raízes (TAR, %)
e densidade de raízes (DER, g dm-3) (FERRAZ et al., 2017).
Os dados obtidos foram submetidos ao teste de normalidade de Shapiro-Wilk
(SHAPIRO; WILK, 1965) e avaliados por análise de variância (teste F à 5% de
probabilidade de erro). As médias foram comparadas pelo teste t Student (p ≤ 0,05),
utilizando-se o programa computacional Sisvar 5.6 (FERREIRA, 2019). Para
compreender a relação linear entre as variáveis estudadas, foi realizada análise de
correlação linear de Pearson utilizando-se do software Statistica v. 7.0 (STATSOFT,
2004).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foi verificado efeito significativo do pré-condicionamento de sementes com


nanopartículas de silício (PCS) sobre o diâmetro da raiz principal (DRA), a matéria fresca
das raízes (MFR) e teor de água nas raízes (TAR), enquanto que a matéria seca das raízes
(MSR) e densidade de raízes (DER) não foram influenciados significativamente. O
estresse hídrico (EHI) teve efeito significativo na MFR, MSR, TAR e DER, enquanto o
DRA não diferiu em função do estresse. Houve interação significativa entre SPR e EHI
para o DRA (Tabela 1).

Tabela 1. Resumo das análises de variância para efeito de pré-condicionamento de sementes com
nanopartículas de silício e estresse hídrico durante a rizogênese de plântulas de Moringa oleifera.
Quadrados Médios
Fonte de variação GL
DRA MFR MSR TAR DER
Pré-condicionamento de sementes (PCS) 1 0,067** 0,003** 2,5E-7ns 13,690** 0,002ns
2021 Gepra Editora Barros et al.

Estresse hídrico (EHI) 1 1E-4ns 0,038** 4E-5** 74,822** 0,490**


Interação SPRxEHI 1 0,014* 4E-4ns 4E-6ns 0,490ns 0,040ns
Resíduo 12 0,002 1E-4 1E-6 0,209 0,013
CV (%) 1,88 7,05 6,47 0,52 6,47
GL - grau de liberdade; *, ** - significativo a 5% e a 1% de probabilidade; ns - não significativo; DRA -
diâmetro da raiz principal; MFR - matéria fresca das raízes; MSR - matéria seca das raízes; TAR - teor de
água nas raízes; DER - densidade de raízes e CV - coeficiente de variação.
Fonte: Elaboração dos autores.

Plântulas não submetidas ao estresse hídrico (Ѱw = 0 MPa) expressam redução de


6,74% no DRA (2,63 mm) sob SPR com 600 mg de NPsSi quando comparado ao DRA
de 2,82 mm obtido no controle (H2O). Em condições de estresse (Ѱw = -0,8 MPa) o DRA
não diferiu em função do SPR com NPsSi. Não foram evidenciadas diferenças no DRA 992
das plântulas em função do estresse hídrico (Figura 1). O fato de o estresse hídrico não
ter reduzido o diâmetro da raiz principal pode indicar maior crescimento secundário do
tecido radicular, uma vez que, segundo Benhammouche et al. (2021), a M. oleifera é
considerada adaptada às regiões semiáridas onde a condição de estresse hídrico é
recorrente e induz modificações radiculares para suportar os estresses.

Figura 1. Diâmetro da raiz de plântulas de Moringa oleifera em função da interação entre pré-
condicionamento de sementes com nanopartículas de silício e estresse hídrico durante a rizogênese.
H2O NPsSi
4

aA aA aA
Diâmetro da raiz (mm)

3 bA

0
0 -0,8
Potencial hídrico - Ѱw (MPa)
Fonte: Elaboração dos autores.

O estresse hídrico reduziu em 45,45% o acúmulo de matéria fresca das raízes


(MFR) quando os 0,12 g de raízes das plantas estressadas foram comparados com os 0,22
g obtidos no controle (Figura 2A). A aplicação de pré-condicionamento de sementes com
NPsSi também reduziu a MFR em 15,79% quando os 0,19 g obtidos no controle foram
comparados com os 0,16 g obtidos nas plântulas obtidas de sementes submetidas aos pré-
condicionamento de sementes com NPsSi (Figura 2B). As reduções observadas no
acúmulo de matéria fresca das raízes e no diâmetro da raiz principal (em plantas não
estressadas) podem ser devidas ao fato das NPsSi terem induzido maior mobilização das
reservas para crescimento da parte aérea das plântulas em detrimento ao sistema radicular,
2021 Gepra Editora Barros et al.

pois, para Mukarram et al. (2021), o Si promove ajustes fisiológicos e melhora o


crescimento das plantas.

Figura 2. Matéria fresca da raiz de plântulas de Moringa oleifera em função do estresse hídrico (A) e pré-
condicionamento de sementes com nanopartículas de silício durante a rizogênese (B).
A) B)
0,3 0,3

a
Mtaéria fresca da raiz (g)

Mtaéria fresca da raiz (g)


0,2 0,2 a
b 993
b

0,1 0,1

0,0 0,0
0 -0,8 H2O NPsSi
Potencial hídrico - Ѱw (MPa) Pré-condicionamento de sementes
Fonte: Elaboração dos autores.

Foram constatadas reduções de 20 e 17% no acúmulo de matéria seca da raiz e na


densidade de raízes, respectivamente, quando os 0,02 g e os 1,98 g dm-3 obtidos no
controle foram comparados com 0,01 g e os 1,64 g dm-3 obtidos nas raízes de plântulas
estressadas (Figura 1). As reduções da matéria seca e densidade de raízes em função do
estresse hídrico estão associadas à limitação da disponibilidade de água no substrato e
consequente redução da pressão de turgor celular, fato que foi ratificado pela redução do
teor de água nas raízes, bem como pela correlação entre matéria seca, teor de água e
densidade das raízes (Figura 3).

Figura 3. Matéria seca das raízes (A) e densidade de raízes (B) de plântulas de Moringa oleifera em
função do estresse hídrico durante a rizogênese.
A) B)
0,03 2,5
a
Densidade de raiz (g dm-3)

2,0
Mtaéria seca da raiz (g)

a b
0,02
b 1,5

1,0
0,01
0,5

0,00 0,0
0 -0,8 0 -0,8
Potencial hídrico - Ѱw (MPa) Potencial hídrico - Ѱw (MPa)
Fonte: Elaboração dos autores.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Verificou-se que o estresse hídrico reduziu o teor de água nas raízes de 90,89%
obtido no controle para 86,50% obtido nas plântulas estressadas (Figura 4A). Houve
redução no teor de água nas raízes de plântulas geradas a partir de sementes submetidas
ao pré-condicionamento de sementes com NPsSi (87,79%) em relação àquelas oriundas
de sementes controle (89,63%), com diferença percentual absoluta de 1,85% (Figura 4B).

Figura 4. Teor de água na raiz de plântulas de Moringa oleifera em função do estresse hídrico (A) e pré-
condicionamento de sementes com nanopartículas de silício durante a rizogênese (B).
A) B)
120 120
994
100 a 100 a
Teor de água na raiz (%)

b b

Teor de água na raiz (%)


80 80

60 60

40 40

20 20

0 0
0 -0,8 H2O NPsSi
Ѱw - Potencial hídrico (MPa) Pré-condicionamento de sementes
Fonte: Elaboração dos autores.

O estresse ocasionado pelo PEG 6000 aumentou o potencial osmótico do meio e


reduziu a absorção de água pelas raízes (TAVARES et al., 2021). Durante essa condição
de estresse, é possível que tenha ocorrido redução da translocação das reservas oriundas
dos cotilédones (JOTHIMANI; ARULBALACHANDRAN, 2020).
A redução do TAR em plântulas oriundas do pré-condicionamento com NPsSi pode
ser explicada pelo fato de que o Si ao se polimerizar nas paredes celulares das raízes
diminuiu sua flexibilidade, ocasionando dificuldade da entrada de água nas raízes das
plântulas (LUZ et al., 2006).
Foram verificadas correlações significativas entre as matérias fresca (MFR) e seca
das raízes (MSR); MFR e teor de água das raízes (TAR); MFR e densidade de raízes
(DER); MSR e TAR; MSR e DER; e TAR e DER (Figura 5). Com base nessas
correlações, foi possível identificar que o aumento do TAR induziu aumento da MFR,
fato que explica a maior DER e consequente acúmulo de MSR, isso justifica o uso de
análise de correlação de Pearson nesta pesquisa, haja vista que facilitou a interpretação
dos resultados, notadamente, por permitir a compreensão da relação linear entre as
variáveis estudadas para dar suporte a compreensão da rizogênese em função do estresse
hídrico induzido por PEG 6000 e sua atenuação por NPsSi (ZHOU et al., 2016).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 5. Correlações entre diâmetro da raiz principal (DRA), matéria fresca das raízes (MFR), matéria
seca das raízes (MSR), teor de água nas raízes (TAR) e densidade de raízes (DER) de plântulas de
Moringa oleifera em função do estresse hídrico e pré-condicionamento de sementes com nanopartículas
de silício.

DRA

r = 0,22 r = -0,20 r = 0,30 r = -0,20


p = 0,41 p = 0,47 p = 0,25 p = 0,47

MFR
995
r = 0,83 r = 0,98 r = 0,83
p = 0,00 p = 0,00 p = 0,00

MSR

r = 0,73 r = 1,00
p = 0,00 p = 0,00

TAR

r = 0,73
p = 0,00

DER

Fonte: Elaboração dos autores.

CONCLUSÕES

O estresse hídrico reduziu o teor de água e crescimento das raízes. As


nanopartículas de silício ajustaram o status hídrico e o crescimento do sistema radicular
como estratégia para atenuar o estresse hídrico durante a rizogênese de plântulas de
Moringa oleifera.
2021 Gepra Editora Barros et al.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 89

O CO-CULTIVO COMO FERRAMENTA PARA POTENCIALIZAR


A PRODUÇÃO IN VITRO DE EMBRIÕES BOVINOS
MARTINS, Solano Dantas
Graduando em Biomedicina
Centro Universitário Maurício de Nassau
solanodantas59@gmail.com

ALVES, Fernanda Lima


Pós-graduando em ciências fisiológicas
Universidade Estadual do Ceará
fe.lima.alves@gmail.com 998

OLIVEIRA, Maria Alice Felipe


Graduanda em Biologia
Universidade Estadual do Ceará
alice.oliveira@aluno.uece.br

FILHO, João Eudes Farias Cavalcante


Pós-graduando em ciências veterinárias
Universidade Estadual do Ceará
joao.eudes@aluno.uece.br

ARAÚJO, Valdevane Rocha


Professora universitária
Universidade Estadual do Ceará
valdevane.araujo@uece.br

RESUMO

Nas últimas décadas grandes avanços foram realizados na área de reprodução animal,
utilizando técnicas como a inseminação artificial, fertilização in vitro e injeção
intracitoplasmática de espermatozoide, afim de aumentar a quantidade e a produtividade
dos rebanhos de gado para fins comerciais e de pesquisa, sendo assim, diversas técnicas
tem sido estudadas para tal finalidade, dentre elas os sistemas de co-cultivo tem-se
mostrado eficientes em aumentar a produção e o desenvolvimento embrionário inicial de
embriões da espécie bovina e reduzir os níveis de espécies reativas de oxigênio (EROs).
Sendo assim, o presente estudo tem como objetivo mostrar os diversos benefícios desta
técnica, assim como o seu impacto na produção in vitro (PIV) de embriões. Para isso, a
presente revisão de literatura foi realizada utilizando a base de dados PubMed, foram
selecionados artigos majoritariamente dos últimos cinco anos em língua inglesa, tendo
como objeto de estudo a espécie bovina. Conclui-se, que a técnica de co-cultivo tem
efeitos benéficos na PIV, no entanto, se faz necessário a realização de novos estudos na
área, afim de elucidar os mecanismos pelos quais estas células co-cultivadas exercem os
seus efeitos.

PALAVRAS-CHAVE: Cultivo in vitro, produção animal, ruminantes.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

Avanços científicos na área da reprodução animal nas últimas décadas, resultaram


em uma série de ferramentas tecnológicas conhecidas como técnicas de reprodução
assistida, essas biotécnicas têm como foco principal maximizar o número de descendentes
advindos de animais geneticamente superiores (FERRÉ et al., 2019).
Inicialmente, a utilização dessas ferramentas foi verificada na Rússia e na
Dinamarca durante o início dos anos 1900, utilizando a técnica de inseminação artificial
(IA) o que possibilitou além dos ganhos genéticos uma maior segurança aos
trabalhadores, visto que, não se tinha a necessidade da criação de touros nas fazendas.
Porém, apenas na década de 90 com o desenvolvimento da maturação de oócitos
e capacitação de espermatozoides in vitro surgiram os primeiros protocolos para produção 999
in vitro (PIV) de embriões. A prática da PIV cresceu rapidamente no início dos anos 2000
até os dias atuais, com produção em grande escala principalmente na América do Sul
(MOORE; HASLER, 2017).
Devido ao seu potencial para seleção genética e para a realização de cruzamentos,
a PIV exerce um papel central na geração de animais com finalidade de produção de leite
e carne. Entretanto, apesar de ser de grande valor econômico, esta tecnologia ainda possui
algumas limitações técnicas que reduzem a sobrevivência de embriões produzidos in
vitro, como os meios de cultivo, sendo um dos fatores mais importantes na qualidade do
embrião (OPIELA et al., 2018).
Com o propósito de melhorar a qualidade embrionária na PIV, diversos
suplementos têm sido propostos para os meios de cultivo, afim de mimetizar as condições
encontradas no sistema reprodutor feminino, em que um pré-requisito essencial para o
sucesso dessa biotécnica é fornecer um ambiente rico para a cultura de oócitos e embriões.
Outra estratégia utilizada é a co-cultura de gametas e embriões com diferentes tipos de
células (ASAADI et al., 2019).
O sistema de co-cultivo baseado em células somáticas vem demonstrando grande
importância na espécie bovina, sendo que estas atuam secretando substâncias que
desempenham papel primordial na remoção de componentes tóxicos e diminuindo os
danos causados por espécies reativas de oxigênio, além da secreção de substâncias como
citocinas e fatores de crescimento, que atuam de forma parácrina beneficiando o período
inicial do desenvolvimento embrionário (MIRANDA et al., 2016).
Diante do exposto, tendo em vista o grande potencial da associação da técnica de
co-cultivo com a PIV, objetivou-se com este estudo esclarecer os efeitos benéficos do co-
cultivo na produção de embriões bovinos.

METODOLOGIA

Esta é uma revisão narrativa baseada em uma avaliação rigorosa dos principais
resultados do potencial do co-cultivo na melhora da produção in vitro de embriões.
Partindo de uma questão norteadora: "Os benefícios do sistema de co-cultivo na produção
in vitro de embriões". Foram então criados os seguintes critérios de inclusão: artigos em
língua inglesa utilizando como objeto de estudo a espécie bovina, na qual, abordavam a
temática sugerida, majoritariamente dos últimos cinco anos e de exclusão: após avaliação
foram descartados artigos com data de publicação inferior a cinco anos, com outras
espécies que não a bovina, assim como artigos em outras línguas que não a inglesa.
2021 Gepra Editora Barros et al.

As buscas foram realizadas através do banco de dados PubMed, utilizando os


seguintes descritores "embryo", "co culture", “in vitro fertilization" e “bovine”. Em
seguida, foram realizadas as leituras por título e resumo, para posteriormente realizar a
leitura completa dos trabalhos selecionando os que contribuíam para a temática do
presente estudo.

1000

Figura 01. Processo de seleção dos artigos utilizados na revisão. Para seleção dos artigos utilizados neste
estudo seguimos os seguintes passos: (01) Artigos identificados por meio dos bancos de dados PubMed
Central (298), Seleção de artigos em inglês que trabalharam com a espécie bovina utilizando a técnica de
co-cultivo nos últimos 5 anos (11), Retirada de artigos com base nos critérios de exclusão definidos (3),
Seleção de artigos com base nos critérios de inclusão definidos e por fim na Seleção final dos artigos que
foram incluídos nesta revisão (5).

REVISÃO DE LITERATURA

TECNOLOGIAS DA REPRODUÇÃO

A produção in vitro (PIV) de embriões é uma biotécnica reprodutiva que visa a


obtenção de embriões fora do aparelho reprodutor feminino e é composta das seguintes
etapas: recuperação de oócitos, maturação in vitro (MIV), fertilização in vitro (FIV) e
cultivo in vitro (CIV) (LUSTOSA et al., 2018). Historicamente os primeiros relatos sobre
a produção de embriões em ambientes artificiais se deu em 1929, porém apenas em 1959
obteve-se o primeiro nascimento de um mamífero, um coelho, advindo desta técnica, no
caso para os animais de produção apenas na década de 80 se iniciaram os relatos sobre o
uso da PIV e apenas em 1994 os primeiros embriões foram produzidos no Brasil (MELLO
2021 Gepra Editora Barros et al.

et al., 2016). Atualmente, a PIV é utilizada em grande escala, e tem grande relevância
comercial (MOULAVI et al., 2006).
Em mamíferos, uma das etapas mais críticas para um processo de gestação é o
desenvolvimento inicial do embrião (CARVALHO et al., 2017). Desde o nascimento do
primeiro bezerro derivado de FIV, um progresso considerável foi feito no
desenvolvimento de técnicas de PIV, no entanto, as taxas de sucesso em termos de
produção de blastocisto (30-40%) ainda permanecem abaixo das taxas de produção in
vivo, além da qualidade embrionária que é menor na produção in vitro, o que pode afetar
diretamente na implantação e viabilidade do embrião (MOULAVI et al., 2006).
Especialmente em bovinos, se observa a uma grande perda de embriões o que
acarreta baixas taxas de prenhez, essa característica se apresenta de forma ainda maior
em vacas leiteiras de alta produção (CARVALHO et al., 2017). Diversos fatores podem 1001
afetar diretamente no sucesso da PIV, desde a qualidade do oócito, composição do meio
de cultivo ou a exposição à EROs. Embora algumas secreções do oviduto sejam
reconhecidas como quimiocinas, citocinas, fatores de crescimento e reguladores de
apoptose, pouco se sabe sobre os fatores cruciais para o desenvolvimento inicial do
embrião (CARVALHO et al., 2017), mas sabe-se que na produção in vivo de embriões
são necessários baixos níveis de EROs para uma regulação adequada da função e
desenvolvimento dos gametas, porém in vitro a exposição às EROs, principalmente em
condições de cultura atmosférica, induz a uma baixa qualidade e pior viabilidade
embrionária (TRUONG; GARDNER, 2017). Fato este corroborado por Elomda et al.
(2018), que observaram baixo índice de desenvolvimento embrionário quando o cultivo
era exposto aos radicais livres.

FATORES QUE AFETAM NEGATIVAMENTE A PRODUÇÃO IN VITRO DE


EMBRIÕES

As EROs são moléculas instáveis e altamente reativas geradas em função de


eventos fisiológicos e patológicos (GOMES,2017), estas englobam as espécies
radicalares de oxigênio (O2- e OH) e as não radicalares (H2O2 e HOCl) (BAYR, 2005). O
ambiente intracelular ajuda a prevenir os danos causados pelas EROs, este ambiente é
mantido pela ação de substâncias e enzimas antioxidantes, como a superóxido dismutase
(SOD), catalase (CAT) e glutationa peroxidase (GPx) (ZAKEN; KOHEN; ORNOY,
2001). Alterações no balanço redox podem gerar estresse oxidativo (BAYR, 2005).
O estresse oxidativo está vinculado ao aumento do número de radicais livres o que
pode levar a diminuição da concentração de antioxidantes. As EROs podem causar
diversas lesões aos embriões como peroxidação lipídica da membrana, interrupção do
metabolismo e apoptose (ELOMDA et al., 2018; NEHA et al., 2019). A maioria das
células in vivo é exposta a baixas concentrações de O2, sendo que no cultivo in vitro
(comumente realizado em incubadora) sob 95% de ar e 5% de co2 pode elevar a produção
espécies reativas de oxigênio, sendo que nessas condições a pressão de O2 chega a ser até
quatro vezes maior que em ambiente natural
De acordo com Truong et al. (2016), o oxigênio atmosférico afeta de maneira
negativa induzindo danos ao DNA do embrião de bovinos, além de produzir alterações
epigenéticas e a produção de EROs podem acarretar em apoptose.
Os efeitos deteriorantes ocasionados pelos radicais livres podem ser reduzidos
pelo ação dos antioxidantes naturais, tais como, o retinol, ácido ascórbico, vitamina E e
dentre outros, nos quais, os estudos têm buscado desenvolver métodos que reduzam a
geração de EROs as eliminado com melhor eficiência (ELOMDA et al., 2018; ZAKEN
et al., 2001). O co-cultivo com células somáticas é uma das formas de reduzir os danos
2021 Gepra Editora Barros et al.

causados pelas EROs, visto que podem secretar substâncias que agem paracrinamente
protegendo contra o estresse oxidativo e gerando um efeito embriotrófico (SÖKMEN et
al., 2004; MARURI et al., 2018).

EFEITOS BENÉFICOS DO CO-CULTIVO

O cultivo in vitro pode acontecer utilizando um único meio, porém a simplicidade


dos substratos presentes no meio não mimetizaria o ambiente complexo e rico em
substratos presentes in vivo. (MARURI et al., 2018). Assim, o co-cultivo com células
somáticas podem ser uma alternativa para melhorar as condições de CIV e promover um
melhor desenvolvimento embrionário. A co-cultura em sua essência é uma técnica 1002
simplista, esta é projetada neste caso para que as células co-cultivadas ajudem a imitar o
ambiente diverso do sistema reprodutor feminino, a dificuldade desta forma de cultivo se
dá pela dificuldade de apontar quais fatores estão sendo benéficos, prejudiciais ou não
fazendo efeitos e quais vias de ação estão sendo ativadas (MARURI et al., 2018).
Diversos estudos demonstram os efeitos benéficos do co-cultivo de monocamadas
celulares de diversos tipos de células somáticas no desenvolvimento embrionário de
mamíferos in vitro (MOULAVI et al., 2006; Maruri et al., 2018; ASAADI et al., 2019).
Inicialmente os sistemas de co-cultivo foram desenvolvidos utilizando células epiteliais
do oviduto, em ovelhas e bovinos, tendo maior destaque as células da espécie bovina,
pois estas demostraram influenciar fortemente a melhoria no desenvolvimento dos
embriões (CARVALHO et al., 2017), sendo observado melhora considerável na
morfologia embrionária assim como uma diminuição na fragmentação dos blastômeros
(COHEN et al., 1990). Isso pode ocorrer em consequência de uma série de mecanismos
realizados pelas células co-cultivadas, desde remover componentes deletérios do meio de
cultura, proteger contra o estresse oxidativo, modular as condições físico-químicas do
meio ou através da secreção fatores embriotróficos (CATT et al., 1994).
Posteriormente, diversos tipos diferentes de células somáticas foram utilizados no
co-cultivo, entre elas as células da granulosa, células do ovidutos, células uterinas,
fibroblastos fetais do endométrio bovino e células epiteliais do rim do macaco verde
africano (células Vero) e foi visto que todas essas células foram capazes de melhorar o
desenvolvimento in vitro de zigotos bovinos quando co-cultivadas (MOULAVI et al.,
2006).
No estudo de Maruri et al. (2018) em um relato de co-cultivo de embriões e células
luteias bovinas (BLC-1), os resultados demonstram um efeito benéfico e uma alternativa
para melhorar e otimizar a PIV, em contrapartida outro estudo avaliou a eficiência em co-
cultivo de complexo cumulos oócito junto a oócitos desnudos e foi observado que não se
obteve melhora significativamente na fertilização e na competência do desenvolvimento
(APPELTANT et al., 2016).
Ao observar um comparativo 3 diferentes sistemas de cultivo sendo eles o uso do
co-cultivo de células mesenquimais derivadas de tecido adiposo bovino (b-ATMSCs),
utilização de meio condicionado com estas mesmas células e um co-cultivo de células da
granulosa, foi visto que a utilização de b-ATMSCs melhorou a taxa e a qualidade do
blastocisto quando comparado aos outros tratamentos, os efeitos da b-ATMSCs no
desenvolvimento embrionário relatado foi provavelmente devido à modulação parácrina
do microambiente, dada a capacidade relatada dessas células de exercer efeitos positivos
in vivo e in vitro na imunomodulação, angiogênese e na homeostase (MIRANDA et al.,
2016).
2021 Gepra Editora Barros et al.

O co-cultivo de oócitos bovinos com uma monocamada de células ampulares


bovinas congeladas-descongeladas durante as últimas 6 horas de maturação in vitro
(MIV) aumentou o rendimento do blastocisto quanto a qualidade embrionária, tal estudo
sugere que o co-cultivo com tais células fornecem as condições necessárias para
maturação do oócito e desenvolvimento embrionário além de fornecer uma maneira
confiável e reprodutível para MIV, FIV e CIV podendo reproduzir efetivamente as
condições in vivo (ASAADI et al., 2019).
Porém, em estudo de Opiela et al. (2018), o mesmo resultado benéfico não foi
observado ao utilizar células mesenquimais (MSCs) oriundas da medula óssea, foi visto
que as MSCs oriundas da medula óssea não se mostraram eficazes em potencializar e
melhorar a técnica de fertilização e o cultivo in vitro.
1003

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista os resultados apresentados podemos concluir que o sistema de co-


cultivo tem efeito benéfico sobre a produção de embriões bovinos, desde a maturação do
oócito in vitro até o cultivo dos embriões. Este fato é decorrente da secreção de
substâncias pelas células co-cultivadas que agem paracrinamente reduzindo o estresse
oxidativo e secretando fatores embriotróficos. No entanto a literatura acerca do tema
ainda é bastante reduzida e com poucos artigos atuais o que reforça a necessidade de
novos estudos na área visando cada vez mais o avanço e melhora na PIV.

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Capítulo 90

OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE BLENDS EM PÓ DAS


POLPAS DE CAJÁ COM ACEROLA PELO PROCESSO DE
LIOFILIZAÇÃO

SOUSA, Francisca Moisés de


Pós-graduando em Engenharia e Gestão de Recursos Naturais
Universidade Federal de Campina Grande
fran_moyses@hotmail.com

SANTOS, Rebeca Morais Silva


Pós-graduando em Engenharia e Gestão de Recursos Naturais 1006
Universidade Federal de Campina Grande
rebecamoraiscg@gmail.com

MELO, Mylena Olga Pessoa


Pós-graduando em Engenharia e Gestão de Recursos Naturais
Universidade Federal de Campina Grande
mylenaopm@gmail.com

RODRIGUES, Larissa Monique de Sousa


Pós-graduando em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande- UFCG
larissamonique@gmail.com

BARROS, Sâmela Leal


Pós-graduando em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Universidade Federal do Ceará - UFC
samelaleal7@gmail.com

RESUMO

O presente trabalho objetivou caracterizar, quanto a parâmetros químicos e físicos, blends


das polpas de cajá e acerola, obtidos pelo processo de liofilização. Os blends foram
processados adicionando-se 20, 40 e 60% de polpa de acerola em relação a polpa de cajá
(m/m), com posterior acréscimo 10% de maltodextrina DE 20 como adjuvante de
secagem. As formulações foram congeladas a -18 °C e desidratadas em liofilizador de
bancada na temperatura de -40°C por 48 h. Os produtos em pó obtidos foram analisados
quanto aos parâmetros de teor de água, sólidos totais, acidez total titulável (ATT), sólidos
solúveis totais (SST), pH, relação dos SST e ATT, atividade de água e cor (L*, a*, b*, h*
e C*). O resultado da caracterização foi avaliado por análise estatística univariada
(ANOVA) e teste de médias (Tukey, p<0,05). Observou-se que a elaboração de blends
de cajá com diferentes concentrações de polpa de acerola alterou significativamente as
características químicas e físicas dos pós produzidos através da secagem por liofilização.

PALAVRAS-CHAVE: Suco misto, Secagem, Novos produtos.

INTRODUÇÃO

Os sucos de frutas são consumidos e apreciados em todo mundo, não só pelo seu
sabor, mas também por serem fontes naturais de nutrientes (CARDOSO et al., 2015). O
2021 Gepra Editora Barros et al.

Brasil é um dos três maiores produtores de frutas do mundo, superando os 43 milhões de


toneladas, ficando atrás apenas de países como China e Índia (ADECE, 2013). As
características peculiares dos frutos tropicais e os estudos relacionados à alimentação com
qualidade de vida vêm estimulando os consumidores a ingerir alimentos mais saudáveis,
porém a maioria destes frutos são altamente perecível, o que implica em perdas pós-
colheita maior que 30% (GADELHA, 2016).
A produção de polpas, sucos e néctares, se encaixa como uma alternativa para
escoar a produção de frutas tropicais com agregação de valor, pelos produtores e
indústrias fixados na região, além destes produtos conquistarem cada vez mais o paladar
dos consumidores, devido ao seu sabor e por proporcionarem benefícios à saúde
1007
(FONSECA, 2014). Outra alternativa de minimizar os excedentes na época de safra e
agregar valor aos frutos da região, seria o processamento desses frutos tropicais em forma
de blends ou sucos mistos, que são misturas de sucos elaborados com a finalidade de
melhorar às características sensoriais e nutricionais dos componentes isolados. Sendo
assim, os blends apresentam características nutricionais com propriedades do fruto in
natura, oferecendo ao mercado competitivo, novos produtos, com tendência de mercado
em expansão por serem feitos com a finalidade de padronizar e melhorar características
físico-químicas, nutricionais e sensoriais (VILAS BOAS, 2014).
Dentre os frutos tropicais, pode-se destacar o cajá e a acerola. No Brasil, a cajazeira
é encontrada principalmente nos Estados do Norte e Nordeste cujos frutos recebem
diferentes denominações, tais como, cajá, cajá verdadeiro, cajá-mirim e taperebá
(SOARES et al., 2006) e esta fruta tem alto potencial agroindustrial podendo ser
consumida e comercializada na forma in natura ou como matéria-prima para a produção
de polpas, gelados, sorvetes, néctares e compotas, geleias, aguardentes, licor (DIAS et.
al., 2003; OLIVEIRA, 2014; MAMEDE et.al., 2015). Segundo Pereira (2018), o fruto é
extremamente aromático e rico em carotenóides, que dão a sua polpa além de intensa
coloração amarela, um apelo funcional bastante significativo.
A acerola possui várias aplicações, podendo ser consumida in natura, na forma de
polpas congeladas, licores, geleias, doces em calda e em pasta, sorvetes (FREITAS,
2019). O suco de acerola se revela como uma boa fonte vitamina C, vitamina A, ferro e
cálcio, sendo uma bebida consumida em todo mundo por pessoas de todas fases da vida
(BARBOSA et al., 2015).
O processo de conservação de polpa de frutas mais utilizado é o congelamento.
Entretanto esse método é oneroso, pois há a necessidade de manutenção da cadeia do frio,
custos com estocagem, devido ao grande volume ocupado pelo produto, além de gastos
com aquisição de freezers e considerável contingente de embalagens (SANTOS et al.,
2015). Levando em consideração estes fatos, um processo alternativo para a conservação
de polpas de frutas é a liofilização, pois realiza um armazenado de forma segura. Quando
aplicada a tecnologia de liofilização, a composição do leite e o seu valor nutricional
mantém-se similares à do leite antes do tratamento, os produtos liofilizados quando
reconstituídos retornam às suas propriedades originais como nenhum outro produto
desidratado, provocando poucas alterações no que diz respeito às características
sensoriais, como o sabor, odor, cor e textura do produto (MARTINS et al., 2011).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Desta forma, o objetivo do trabalho foi avaliar as características químicas e físicas


dos blends das polpas de cajá e acerola obtidos por liofilização, considerando-se a
possibilidade de agregação de valor a frutas tropicais.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Engenharia de Alimentos,


pertencente ao Departamento de Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de
Campina Grande, PB.
1008
Elaboração dos blends

As frutas de cajá e de acerola foram obtidas no mercado varejista da cidade de


Campina Grande, PB, conforme Figuras 1 e 2.
Realizou-se uma seleção com cuidado das amostras de um mesmo padrão, que
demonstraram boa qualidade, toda a matéria prima foi transportada adequadamente ao
Laboratório de Engenharia de Alimentos (LEA). Empregou-se como adjuvante de
secagem a maltodextrina dextrose equivalente 20 (Mor Rex® 1920) da Corn Products
Brasil, oriundo de Mogi Guaçu, São Paulo, SP.

Figura 31. Frutos do cajá (Spondias mombin L.).

Fonte: Autores, 2021.


2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 2. Frutos da acerola (Malpighia emarginata DC).

1009

Fonte: Autores, 2021.

As frutas foram lavadas com água clorada (10 ppm). A extração dos sucos foi
realizada com o auxílio do equipamento Walita Pure Essentials Collection Centrifuga
Juicer. Para elaboração dos blends, adicionou-se 20, 40 e 60% de polpa de acerola em
relação à polpa de cajá (m/m), aplicando-se a suficiente agitação até completa
homogeneização da mistura. Em todas as formulações foram adicionados 10% de
maltodextrina DE 20 (em relação à massa de cajá e acerola), procedendo-se
homogeneização em liquidificador Oster Osterizer Clássico até completa dissolução do
aditivo.
Os blends formulados foram acondicionados em formas plásticas e congelados em
freezer a -18 °C pelo contato direto das amostras com o ar refrigerado, por um período de
24 h. As amostras congeladas foram colocadas nas bandejas do equipamento e
desidratadas na temperatura de -40°C por 48 h. A desidratação foi realizada em
liofilizador de bancada da marca Christ, modelo ALPHA 1-2 LDplus. Após o tempo de
liofilização, os blends foram desintegrados com uso de almofariz e pistilo, em seguida
armazenadas em embalagem laminada, com o objetivo de protegê-los da luz e umidade.

Análises químicas e físicas

Os blends em pó foram analisados, em triplicata, quanto aos parâmetros de teor de


água, sólidos totais, acidez total titulável (ATT) em ácido cítrico, sólidos solúveis totais
(SST) e pH segundo metodologias do Instituto Adolfo Lutz (2008), ratio por meio da
relação dos SST e ATT, atividade de água a 25 °C através da leitura direta das amostras
em higrometro Aqua-Lab, modelo 4TE da Decagon.
A cor foi determinada em espectrofotômetro portátil Hunter Lab Mini Scan XE
Plus, modelo 4500 L, obtendo-se os parâmetros L*, a* e b*, em que L* define a
luminosidade (L* = 0 – preto e L* = 100 – branco) e a* e b* são responsáveis pela
cromaticidade (+a* vermelho e –a* verde; +b* amarelo e –b* azul). A partir destes
valores, calcularam-se o croma (C*) pela fórmula C*= [(a*)2+(b*)2]0,5 e os valores de
ângulo de tonalidade (ângulo h°) pela fórmula h*= tan-1 b*/a*.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Análise experimental

O delineamento experimental foi o de blocos inteiramente casualizados com três


tratamentos e três repetições, utilizando-se o software Assistat versão 7.7 beta. Os dados
foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e a comparação de médias foi feita
pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas Tabelas de 1 a 3 estão apresentados os resultados das análises químicas e físicas 1010
dos blends de cajá e acerola obtidos pelo processo de liofilização. Nota-se na Tabela 1
que o teor de água aumentou à medida que se adicionava polpa de acerola porém não
diferiu significativamente (p<0,05), o que pode estar relacionado a diferenças nos
conteúdos de teor de água das polpas utilizadas. Na literatura pode-se encontrar valores
médios de teor de água para polpa de cajá de 86% (SILVA et al., 2018) e para polpa de
acerola 95% (LEMOS et al., 2019).
Em relação ao produto em pó, todos os conteúdos de teor de água apresentaram-se
inferiores a 5% estando em conformidade com a legislação brasileira que estabelece valor
máximo de 25% de umidade para produtos de frutas secos ou desidratados (BRASIL,
2005). Valor de teor de água superior (11,54%) foi reportado por Silva et al. (2018) ao
avaliarem a polpa de cajá liofilizada com 10% de maltodextrina, no entanto Ferreira et al.
(2014) encontrou valores inferiores (2,51%) ao encontrado nessa pesquisa, em seu estudo
realizado com a polpa de cajá em pó obtida pelo método de secagem em leito de jorro.
Os sólidos totais não diminuíram significativamente (p<0,05) em decorrência da
adição de polpa de acerola, apresentando comportamento inverso do teor de água, com
teores variando de 95,066 a 95,060%. Comportamento semelhante foi observado por
Santos et al. (2015) em pesquisa com blends de polpas liofilizadas, com resultados médios
de 95,00%. A atividade de água (aw) mostrou-se diretamente relacionada com o teor de
água, aumentando significativamente (p<0,05) a medida que o conteúdo de água elevava-
se. Verificou-se aw oscilando entre 0,121 e 0,152, indicando estabilidade microbiológica
do produto, uma vez que não há dissolução de constituintes nutricionais das amostras pela
água. Resultados superiores foram evidenciados por Silva et al. (2018) e Lemos et al.
(2019) respectivamente em polpas de cajá com 10% de maltodextrina (0,35) e polpa de
acerola (0,98) liofilizadas.

Tabela 1. Resultado das análises de teor de água, sólidos totais e atividade de água dos blends de cajá e
acerola obtidos por liofilização.
Blend Teor de água (%) Sólidos totais (%) Atividade de água

F1 4,93333 a 95,06667 a 0,12100 c


F2 4,93667 a 95,06333 a 0,13100 b
F3 4,94000 a 95,06000 a 0,15200 a
DMS 0,09776 0,09776 0,00434
Teste F 0,0219 * 0,0219 * 250,3333 **
2021 Gepra Editora Barros et al.

F1, F2, F3 – Blends de cajá em pó respectivamente com 20, 40 e 60% de polpa de acerola; DMS – Diferença mínima
significativa; **significativo respectivamente a 1% de probabilidade pelo teste F; Médias seguidas da mesma letra, na
coluna, não diferem estaticamente a 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey.

Analisando a Tabela 2, tem-se que a acidez total titulável (ATT) variou de 7,19 a
6,99%, com redução significativa (p<0,05) a medida que se adicionava polpa de acerola
aos blends. Em todas as formulações a ATT permaneceu elevada, superior a 2,0%, o que
garante o sabor ácido característico das frutas quando os blends em pó forem
reconstituídos ou utilizados como suplementos alimentares (OLIVEIRA et al., 2014). Ao
liofilizarem polpa de cajá com 10% de maltodextrina, Silva et al. (2018) evidenciaram
ATT semelhante, de 7,17%.
1011
Os sólidos solúveis totais (SST) apresentaram um acréscimo à medida que se
aumentou a concentração da polpa de acerola (Tabela 2), sendo constatado uma variação
de 50 a 65°Brix, provavelmente devido a diferenças nos conteúdos de SST das polpas
utilizadas. Todas as amostras apresentaram elevados conteúdos de SST, fato
compreendido uma vez que a redução de água em produtos desidratados promove a
concentração de açúcares e ácidos orgânicos que, por sua vez, favorecem para a elevação
desse parâmetro. Entretanto, Oliveira et al. (2014) observou resultados de SST superiores
em polpas liofilizadas de cajá, com 78 °Brix, de acordo com Chitarra e Chitarra (2005
apud Ferreira et al., 2014) o teor de sólidos solúveis (SS) é utilizado como uma medida
indireta do teor de açucares presentes no alimento, ocorrendo um aumento à medida que
há acúmulo de açucares na fruta.
Houve acréscimo significativo (p<0,05) da relação SST/ATT a medida que se
adicionava polpa de acerola aos blends (Tabela 2). Isso atesta que a adição da acerola
promove elevação do sabor doce na mistura, sendo necessários testes sensoriais para se
diagnosticar o impacto da alteração da relação SST/ATT na preferência de consumidores.
Segundo Gadelha (2016) a relação SS/AT indica o grau de doçura de um fruto ou de seu
produto, evidenciando qual o sabor predominante, doce ou ácido, ou ainda se há equilíbrio
entre eles. Alves (2016) ao estudar o processamento e estabilidade em blends de frutas
encontraram relação SST/ATT de 6,99, estando está inferior ao encontrado neste trabalho,
porém, deve-se considerar que as características físico-químicas de produtos agrícolas
são muito varáveis e dependentes das condições climáticas, tratos culturas, tipo de solo
cultivado, dentre outros fatores.
Observou-se uma ligeira redução (p<0,05) nos valores de pH com a adição da polpa
de acerola às formulações, todavia as amostras permaneceram com valores inferiores a
4,01. Logo, os blends em pó foram classificados como muito ácidos (FRANCO &
LANDGRAF, 2005), com desenvolvimento microbiano restrito quase que
exclusivamente a bolores e leveduras, caso as condições de aw permitissem. Resultados
de pH inferiores a 4,0 também foram reportados em outros trabalhos com polpas
liofilizadas, como cajá (OLIVEIRA et al., 2014) e acerola (LEMOS et al., 2019).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Tabela 2. Resultado das análises da acidez total titulável (ATT), sólidos solúveis totais (SST), relação
SST/ATT e pH dos blends de cajá e acerola obtidos por liofilização.
Acidez total Sólidos solúveis Relação
Blend titulável (ATT) totais (SST) SST/ATT pH
F1 7,19000 a 50,00000 c 6,95333 c 4,00333 a
F2 7,05667 b 60,00000 b 8,50000 b 3,91667 b
F3 6,99000 c 65,00000 a 9,29667 a 3,70333 c
DMS 0,0487 7,3766 1,05534 0,06306
Teste F 82,35 ** 20,19 ** 24,01** 112,91 **
F1, F2, F3 – Blends de cajá em pó respectivamente com 20, 40 e 60% de polpa de acerola; DMS – Diferença mínima
significativa; **significativo respectivamente a 1% de probabilidade pelo teste F; Médias seguidas da mesma letra, na 1012
coluna, não diferem estaticamente a 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey.

Verificou-se na Tabela 3 que o parâmetro L* apresentou diminuição com valores


variando de 64,33 a 59,03 para as amostras F1 e F3 respectivamente, demostrando um
ligeiro escurecimento significativo (p<0,05), sendo este inferior ao encontrado por Sousa
et al. (2016) (72,25) e superior ao reportado por Oliveira et al. (2014) (58,41) para a polpa
de cajá. Os valores de a* foram crescendo, chegando a 19,40 na formulação F3 com 60%
de polpa de acerola, valor superior aos encontrados por Santos et al. (2016) (9,85). A
cromaticidade b* apresentou-se predominante em relação a cromaticidade a*, com dados
superiores a 37,0 em todas as amostras, indicando uma tonalidade amarela (+b*) mais
evidente na formulação F1 com 40, 53, valor superior ao encontrado por Sousa et al.
(2016) que foi de 38,30 para polpa de cajá. A +b* revelou decréscimo significativo
(p<0,05) à medida que se adicionou-se polpa de acerola, o que já era esperado, visto que
esta fruta apresenta pigmentos de cor mais avermelhada.
O ângulo de tonalidade (h*) indica a cor amarelo (h*= 100°) perceptível nos
produtos. As formulações de blens estudadas apresentaram valores variando de 69,25º
para F1 a 62,45º para F2, indicando que o menor ângulo representa a maior intensidade
na faixa de cor entre vermelho e azul, portanto nota-se que a tonalidade amarelada
tornou-se menos intensa a medida que se aumentava a adição de polpa de acerola a polpa
de cajá, evidenciada pela redução nos valores do croma (C*) entre as amostras F1 e F3,
elaboradas respectivamente com 20 e 60% de polpa de acerola.

Tabela 3. Colorimetria dos blends de cajá e acerola obtidos por liofilização.


Ângulo de
Blend Luminosidade Cromaticidade Cromaticidade tonalidade Croma
(L*) a* b* (h*) (C*)
F1 64,33667 a 15,35333 c 40,5333 a 69,25333 a 43,3433a
F2 63,54667 a 17,70000 b 39,1733 b 65,68667 b 42,990 b
F3 59,031333 b 19,40000 a 37,2666 c 62,49667 c 42,0133c
DMS 2,55291 0,08599 0,28496 0,24077 0,24063
Teste F 21,09** 10516,57** 624,59** 3712,08** 154,39**
2021 Gepra Editora Barros et al.

F1, F2, F3 – Blends de cajá em pó respectivamente com 20, 40 e 60% de polpa de acerola; DMS – Diferença mínima
significativa; **significativo respectivamente a 1% de probabilidade pelo teste F; Médias seguidas da mesma letra, na
coluna, não diferem estaticamente a 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey.

CONCLUSÕES

A elaboração de blends de polpa de cajá com diferentes concentrações de polpa de


acerola altera significativamente as propriedades químicas e físicas dos pós produzidos
através da secagem pelo processo de liofilização, sendo essencial testes sensoriais
complementares para se detectar a influência dessas mudanças na aceitação pelos
consumidores deste produto.
1013

REFERÊNCIAS

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graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Lavras,
Lavras, 2014.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 91

PARADIGMAS E CONCEPÇÕES AMBIENTAIS NO CONTEXTO


ESCOLAR DE CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE
VULNERABILIDADE SOCIAL NO SCFV POMBAL-PB
BRILHANTE, Cledinildo Lopes
Pós-graduando em Sistemas Agroindustriais
Universidade Federal de Campina Grande
clednildolopes@gmail.com

SANTOS, Igor Antônio Pereira


Graduando em Engenharia Civil 1016
Universidade Federal de Campina Grande
igotantoniopereirasantos@gmail.com

SEVERO, Fernanda Kelly de Lima


Graduanda em Administração
Universidade Federal de Campina Grande
fernandasevero42@gmail.com

MOURA, Leila Felix de Souza


Licenciada em Pedagogia do Campo
Universidade Federal da Paraíba
leila_felix@hotmail.com

RIBEIRO, Michel Douglas Santos


Pós-graduando em Agronomia (Fitotecnia)
Universidade Federal do Ceará
mycheldouglass@gmail.com
RESUMO

Objetivando-se avaliar o estudo da temática Educação Ambiental no Serviço de


Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) em Pombal-PB e o elo entre
Universidade e escola, assim como, analisar as possiblidades e limitações de se trabalhar
o tema na sua interdisciplinaridade com crianças e adolescentes no contexto universidade
– escola, realizou-se a presente pesquisa. No primeiro momento buscou-se conhecer o
que já era trabalhado sobre a EA na escola, para a isso foram feitos questionários
estratégicos, com o intuito de medir o conhecimento que os alunos já detinham, analisou-
se a possibilidade da criação de um elo que pudesse suprir as necessidades que os
educadores tinham quando o assunto era EA. Com o elo criado vários trabalhos foram
feitos e programados para serem desenvolvidos durante o ano letivo no SCFV, tais como:
palestras, amostra de vídeos, a implantação de uma horta sustentável e reciclável, horta
vertical, entre outros. Observou com os dados obtidos através do questionário que o SCFV
não tinha nenhuma oficina que tratasse do meio ambiente, embora este fosse um dos
temas transversais do programa. Dos professores entrevistados 25% não abordar o eixo
“Educação Ambiental” em suas aula, e 75% trabalham com o tema em suas aulas teóricas
e/ou práticas. O SCFV realiza 55% das atividades com o Artesanato com produtos
recicláveis e 15% das atividades com o incentivo à coleta seletiva na escola. Concluindo
este trabalho observou-se a realização de atividades interdisciplinares que tratam a EA,
porém ainda não é dada a devida importância a este tema na escola.
2021 Gepra Editora Barros et al.

PALAVRAS-CHAVE: Educação ambiental; Práticas educativas; Sustentabilidade.

INTRODUÇÃO

Os indivíduos tem a noção do espaço no qual estão inseridos antes mesmo do


período de escolaridade, no entanto cabe à escola fornecer ao aluno elementos que lhe
permitam compreender as formas pelas quais a sociedade organiza seu lugar. Entretanto,
para que esse processo de aprendizagem seja eficaz, a realidade que cerca o aluno deve
ser a base para a exemplificação e contextualização dos acontecimentos que fazem parte 1017
do lugar onde o mesmo se encontra, incluindo assim sua visão e conhecimento dos
processos naturais que ocorrem a sua voltar (TAVARES, BARROS & SILVA, 2013).
Segundo Fão et al. (2020), afirma que estamos passando por um período onde o
grande agente modificador de atitudes é a educação. Ao invés de remediar episódios, é
muito mais eficaz evitar que eles aconteçam, dessa maneira, educar e conscientizar é a
melhor forma de mudança de paradigmas. bAlém dessa característica, a atualidade nos
traz à tona um problema recorrente, mas que agora apresenta-se de forma mais grave, a
degradação do meio ambiente.
Para Padoan (2007) hoje há uma exigência de se formar seres humanos capazes
de se adaptar a novos ambientes, com a capacidade de coordenar o elevado volume de
informações e novos conhecimentos que se contrapõem aos padrões de referência até
então dominantes. Ele ainda acrescenta que as universidades têm um papel decisivo na
definição do cenário educacional para os próximos anos.
A ideia de que Educação Ambiental no âmbito escolar deve ser uma disciplina
que atue separadamente de outras, é tida como um tema transversal e que muitas vezes se
torna esquecido, isto porque os educados ficam presos aos conteúdos que lhes são
estabelecidos e que na maioria das vezes são tão extensos que o mesmo não consegue
concluí- los até o fim do ano letivo, e o pior é que muitos professores não se sentem na
obrigação da aplicação de um tema transversal, embora este seja de extrema importância
(CUBA, 2010).
A escola é um espaço privilegiado para estabelecer conexões e informações e o
Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), o antigo Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) no município de Pombal tem como uma de suas
atribuições criarem condições e alternativas que estimulem os alunos a terem concepções
e posturas cidadãs, cientes de suas responsabilidades e integrantes do meio ambiente ao
qual fazem parte.
Como uma atividade educativa interdisciplinar, a Educação Ambiental nas
escolas contribui diretamente na qualidade de vida e na forma criativa e lúdica dos
educados, incentivando-os a participarem ativamente na melhoria do meio ambiente em
que vivem.
Diante ao exposto, objetivou-se com este trabalho compreender a concepção de
crianças e adolescentes assistidos pelo programa (SCFV) quando questionados sobre a
temática Educação Ambiental.
2021 Gepra Editora Barros et al.

MATERIAL E MÉTODOS

O município de Pombal situa-se na região oeste do Estado da Paraíba, Mesorregião Sertão


Paraibano e Microrregião Sousa. Apresenta Latitude - 6.76º S e longitude -37.8º O, e uma altitude
de 184 metros. Conta com uma população de 32.110 habitantes em uma área territorial de 888,807
km².
O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) atende hoje a cerca de
320 crianças e adolescentes, dando assistência também às respectivas famílias, funciona durante
os turnos matutino e vespertino. Para o desenvolvimento da pesquisa sobre a percepção que os
alunos tinham sobre o tema Educação Ambiental foram feitos dois questionários semiestruturados
diferentes para os alunos, tendo em vista a diferença de idade das duas turmas (matutina e 1018
vespertina) e um questionário específico para os educadores.
Foram coletados e analisados os dados. Com intuído de investigar o interesse em trabalhar
e avaliar os conhecimentos em Educação Ambiental. Para esta pesquisa utilizou-se uma
amostragem de 100 alunos, 50 alunos (crianças) do período da manhã com idade entre 6 a 15 anos
e 50 do período da tarde com idade entre 15 e 17 anos (adolescentes).
Para apuração dos dados utilizou nesta pesquisa a metodologia de Cavalheiro (2008). Os
dados foram apurados de forma manual e para as perguntas fechadas utilizou-se um padrão de
contagem e aplicação de percentual, foram organizadas em gráfico pelo programa Excel e tabelas.
Para as perguntas abertas e semiabertas foram utilizadas planilhas, onde os conceitos chaves e
palavras chaves foram analisados conforme sua incidência.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a primeira turma (manhã) buscou-se avaliar a visão das crianças sobre o meio
ambiente, os impactos e as possíveis ideias para se trabalhar o tema na visão infantil.
O questionário foi aplicado a 50 alunos com faixa etária de 6 a 15 anos, foi composto de
10 questões fechadas (objetivas) e 2 questões abertas (subjetivas), totalizando 12 questões. As
questões foram elaboradas de forma simples, tendo a ideia de que a maioria dos entrevistados
eram crianças, mas foi capaz de observar o que elas sabiam sobre a educação ambiental e o que
elas imaginam sobre o mundo que as cerca, bem como identificar a forma como poderia melhor
às atividades sobre o tema.
Do total de 50 alunos entrevistados 58% eram do sexo masculino e 42% eram do sexo
feminino, destes 35% tinham entre 6 a 9 anos de idade, a maioria, 45% estavam na faixa etária de
10 a 12 anos e o restante 20% entre 13 e 15 anos. A primeira pergunta do questionário para essa
turma foi se eles já tinham estudado ou estudavam na atualidade a temática ambiental, com a
intenção de verificar quantos daquela turma conheciam o tema, o resultados segue apresentado
no (Figura 1).

Acima estar apresentado o resultado da pesquisa quando foi questionado se os alunos já


tinham estudado o assunto na escola em algum momento de suas vidas. Notou- se houve uma
certa uniformidade nas respostas não variando muito entre a população entrevistada, sendo que a
maioria já estudou sim, em algum momento a temática abordada 35%, mas que apenas 20% estuda
na atualidade o eixo apresentado. Mas 30% dos alunos nunca estudaram o que é um número que
deve ser considerado, levando em consideração a magnitude deste estudo na vida e no cotidiano
de cada um desses alunos.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Escrivão e Nagano (2016) também confirmam a importância da construção do


conhecimento na educação ambiental, já que, por meio do processo de construção do
conhecimento, aprende-se mais, se comparado a um processo no qual somente se recebe
conhecimento “pronto”
O reflexo pode ser fundamentado através de leis, decretos, orientações e programas, a
aplicação da EA, de fato, ainda gera muita discussão. Há dados do próprio Ministério da Educação
(MEC) que presentam as dificuldades ou compreensões dúbias da EA nas escolas brasileiras
(CORDEIRO, 2020).

Figura 1. Avaliação do estudo da EA na vida dos estudantes da primeira turma do SCFV.


1019

Fonte: Autores, 2021.

Quando foi pedido aos alunos para eles explicarem a importância do estudo do meio
ambiente o resultado foi o seguinte: quase que 100%, ou seja, 96,4% disseram que SIM é
importante estudar o meio ambiente e outros 4,6% afirmaram que não tem importância nenhuma
o estudo do ambiente nas escolas.
Foi solicitado às crianças que destacassem alguns problemas ambientais que eram
observados no seu contexto de social, desde sua casa até mesmo na escola e com as respostas das
crianças. Para uma melhor análise e interpretação os dados são representados na Tabela 1.
Observou-se que pela maioria das crianças (17) o maior problema ambiental observado
em seu dia a dia estar nos resíduos sólidos jogados na rua o LIXO, e o segundo maior é a poluição
do rio, isto se explica pelo fato de ter um rio que corta a cidade que antes era usado para tomar
banho e hoje não é tão utilizado por estar sujo e 10 crianças ainda notaram o desperdício de água
e energia em suas casas e na escola.
Na segunda turma (tarde) visou-se investigar o que eles já tinham estudado sobre temas
como: o ecossistema e os recursos naturais até os dias de hoje; o desenvolvimento sustentável,
efeito estufa, agroecologia, chuva ácida, causas da desertificação, poluição ambiental e a falta de
água.
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Tabela 1. Principais problemas ambientais observados pelas crianças em seu contexto social.

1020

Fonte: Autores, 2021.

Levando-se em consideração a faixa etária desta turma que variou de 15 a 17 anos, os


questionários, foram mais bem elaborados, tentando medir o conhecimento e a visão crítica dos
adolescentes quanto a assuntos relevantes da atualidade. Também foram avaliados 50 alunos,
sendo 25% com 15 anos, 56% tinham até a data da pesquisa 16 anos de idade e com 17 anos teve
na amostra um percentual de 19% dos estudantes com 17 anos, destes 53% do sexo feminino e
47% do sexo masculino.
Quando foi perguntado se estes sabiam o conceito de Educação Ambiental os alunos
tiveram a opção de dizer SIM ou NÃO e o resultado estar representado no (Figura 2).

Figura 2. Perguntou-se: “Você saberia definir (conceito) Educação Ambiental”?

Fonte: Autores, 2021.

Nota-se que a maioria saberia definir, com suas palavras o termo Educação ambiental,
com um percentual de 63% os alunos disseram SIM a primeira pergunta do questionário, o
restante 37% afirmaram não saber definir a EA, não lembrar o conceito ou não entendiam sobre
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o assunto.
Foi questionado sobre alguns conhecimentos da área ambiental de relevante importância
na atualidade e que são fatos do dia a dia de cada um e o resultado foi: quanto ao assunto:
ecossistema e os recursos naturais observou-se que os adolescentes estavam atualizados,
demonstrando de forma subjetiva um prévio conhecimento sobre o tema e a importância deste ser
trabalho no cotidiano escolar, em relação ao tema o desenvolvimento sustentável e agroecologia,
houve certa dificuldade de argumentação, mas a maioria mostrou-se ter pelo menos uma ideia do
conteúdo citaram até alguns exemplos como a produção orgânica e o uso de agroquímicos, já
quanto ao efeito estufa, a grande maioria não conseguiu responder, deixando em branco o espaço
para a resposta.
Um dos questionamentos que foi feito aos educadores foi quanto a realização de 1021
atividades dentro da escola, a pergunta foi: “A escola (o programa SCFV) desenvolve alguma
atividade na área ou mesmo sobre a educação ambiental?” e em seguida foi questionado “Qual
(is)” para que pudessem descrever alguma, em caso de desenvolver, como a resposta foi sim pela
maioria 85% dos entrevistados, desenvolveu-se com as respostas subjetivas A Figura 3.
As respostas para a pergunta acima foram as seguintes, das atividades que o Serviço de
Convivência e Fortalecimento de Vínculos em Pombal realiza 55% destas atividades com o tema
ambiental são com o Artesanato com produtos recicláveis como garrafa pet, anéis de latas em
geral, uso de papeis, jornais e revistas, pneus etc. 15% das atividades estão relacionadas com o
incentivo à coleta seletiva na escola, para utilização dos materiais recicláveis, e o restante das
atividades são abordadas nas participações em eventos correlacionados e aulas de campo.
Segundo Querino e Pereira (2016) no Brasil a educação ambiental assume uma
perspectiva mais abrangente, não restringindo seu olhar à proteção e uso sustentável de recursos
naturais, mas incorporando fortemente a proposta de construção de sociedades sustentáveis.
Quando foi perguntado se a escola do SCFV tinha projetos com arborização, hortas
agroecológicas, ou outros espaços e atividades que envolvem a prática agrícola sustentável a
resposta foi de 100% dos entrevistados que “NÃO”, não há nenhum espaço dos citados que
trabalhe a temática ambiental com os estudantes, a não ser nas aulas de campo, mesmo assim o
tema é tratado de forma superficial.

Figura 3. Desenvolvimento de atividades na área da EA.

Atividades Desenvolvidas na área EA no SCFV - Pombal

100%

80%

60%

40%

20%

0%
Aulas de Campo Eventos Iniciação à Coleta Artesanato com
correlacionados a Seletiva reciclagem
EA

Fonte: Autores, 2021.


2021 Gepra Editora Barros et al.

A Figura 4 apresenta os resultados da seguinte pergunta direcionada ao educandos:


“Quais os meios utilizados pela escola, para desenvolver atividades com os alunos sobre
Educação ambiental?”. O meio mais utilizado pelos professores e colaboradores para abordar a
temática ambiental na escola é a coleta e separação do lixo, pra este ser reutilizado na confecção
de
O meio mais utilizado pelos professores e colaboradores para abordar a temática
ambiental na escola é a coleta e separação do lixo, pra este ser reutilizado na confecção de
materiais no artesanato, sendo representado com um percentual de 45 % dos meios, ficando em
segundo colocado vem os Passeios com 15 % do total de meios, a utilização de teatros e painéis
somam 20 % dos meios utilizados.
1022
Figura 4 - Materiais utilizados pelo SCFV para apresentar a Educação Ambiental na escola.

Meios Utilizados para abordar a EA para os


Estudantes

100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%

Fonte: Autores, 2021.

Esta primeira parte da pesquisa analisou o que os professores do SCFV fazem para tratar
o assunto na escola e os meios que são utilizados e como é utilizado para trabalharem, pelo menos
o mínimo que é preciso o eixo ambiental com os alunos. Por outro lado, tais projetos enfrentam
diversos obstáculos que vão desde a valorização profissional, falta de conhecimento de conceitos
teóricos e práticos sobre educação ambiental (BARBOSA et. al., 2015).
Observou-se que a limitação para os professores, monitores, colaboradores e para o
próprio coordenador trabalhar o tema é a limitação de conhecimento dos próprios, sobre o assunto.

CONCLUSÕES

Com a aplicação desta pesquisa de campo, com questionários semiestruturados foi


possível observar um déficit na qualidade de ensino da Educação Ambiental no Serviço de
Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) no município de Pombal e a urgente
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necessidade da implantação de atividades correlatas ao tema para os alunos, no entanto observou-


se também que os alunos já trazem consigo uma pequena bagagem de conhecimento de outras
escolas, o que é bom, pois o processo de ensino- aprendizagem só precisa ser reforçado e
reorganizado.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, E. S.; SILVA, A. C.; PEREIRA, K. C.; ARAÚJO JÚNIOR, A. C. R.


Princípios e práticas de educação ambiental na Escola Presidente Costa e Silva em Boa
1023
Vista/RR. Revista Educação Ambiental, n. 53, p. 1-16, 2015.

CAVALHEIRO, J. S. Consciência ambiental entre Professores e alunos da escola


estadual Básica Dr. Paulo Devanier Lauda (Monografia de especialização). Santa Maria
– RS. 2008.

CORDEIRO, T. Diagnóstico da Educação Ambiental nas Escolas públicas de educação


básica do Município de Parauapebas-PA. Revista Brasileira de Educação Ambiental,
v. 15, n. 7, p. 173-185, 2020.

CUBA, M. A. Educação ambiental nas escolas. Eccom, v. 1, n. 2, p. 23-31, 2010.


ESCRIVÃO, G.; NAGANO, M. Gestão do conhecimento na educação ambiental: estudo
de casos em programas de educação ambiental em universidades
brasileiras. Perspectivas em Ciência da Informação, v. 19, n. 4, 2016.

FÃO, J. M; ZALUSKI, F. C.; ZANARDI, F.; KOHLER, R. A Importância Da Educação


Ambiental Nas Escola; Um Estudo Nas Escolas Do Ensino Fundamental De Frederico
Westphalen/RS. Revista Livre de Sustentabilidade e Empreendedorismo. v.5, n. 1, p.
108-123, 2020.

PADOAN, F. A. C. A interdisciplinaridade no ensino da contabilidade gerencial em


instituições públicas de ensino superior do Estado do Paraná. Curitiba – PR, 2007.
QUERINO, L. A. L.; PEREIRA, J. P. G. Geração de Resíduos Sólidos: A Percepção da
População de São Sebastião de Lagoa de Roça, Paraíba. Revista Monografias
Ambientais - REMOA, v. 15, n.1, 2016.

TAVARES, G. G.; BARROS, M. M.; SILVA, S. D. Lugar e percepção ambiental: estudo


da vivência ambiental da comunidade das escolas municipais Ayrton Senna e Moacyr
Romeu Costa, Anápolis/GO. Didactica, v. 5, p.79-82, 2013.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 92

PARÂMETROS QUALITATIVOS DE MUDAS DE PINHEIRA


IRRIGADA COM ÁGUA SALINA E DOSES DE NITROGÊNIO VIA
FOLIAR
FÁTIMA, Reynaldo Teodoro de
Pós-graduando em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande
reynaldo.t16@gmail.com

NÓBREGA, Jackson Silva


Pós-graduando em Agronomia 1024
Universidade Federal da Paraíba
jacksonnobrega@hotmail.com

COÊLHO, Ester dos Santos


Pós-graduanda em Fitotecnia
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
estersantos12@hotmail.com

FIGUEIREDO, Francisco Romário Andrade


Pós-graduando em Fitotecnia
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
romarioagroecologia@yahoo.com.br

RIBEIRO, João Everthon da Silva


Professor
Universidade Estadual do Maranhão
j.everthon@hotmail.com

RESUMO

A salinidade da água de irrigação consiste em um dos principais problemas para o


desenvolvimento agrícola da região nordeste, a qual é capas de ocasionar perdas severas
de qualidade de mudas para transplantio em campo. Como alternativa, a suplementação
adequada de nitrogênio pode atenuar os efeitos deletérios da salinidade, devido ser
rapidamente disponibilizado por meio da adubação foliar. Diante do exposto, objetivou-
se avaliar parâmetros qualitativos de mudas de pinheira quando irrigadas com águas
salinizadas e sob doses de nitrogênio aplicado via foliar. O experimento foi conduzido
em delineamento de blocos casualizados, com base na matriz Composto Central de Box,
usando cinco valores de condutividade elétrica da água de irrigação – CEai de 0,5; 1,15;
2,75; 4,35 e 5,0 dS m-1 e nitrogênio via foliar aos níveis de 0,0; 0,33; 1,15; 1,97 e 2,3 g
L-1 com quatro repetições e duas plantas por parcela. As variáveis analisadas foram o
acúmulo de fitomassa seca da folha (AFF), caule (AFC), raiz (AFR), relação parte
aérea/raiz (RPAR), área foliar especifica (AFE) e razão de área foliar (RAF) aos 90 dias
após a emergência (DAE). A irrigação com águas salinas eleva o acúmulo de fitomassa
do caule e área foliar aos demais órgão das plantas de pinheira aos 90 DAE. A adubação
nitrogenada foliar contribuiu para elevar percentagem de folhas e parte aérea das mudas
de pinheira quando irrigadas com água salinas aos 90 DAE.

PALAVRAS-CHAVE: Annona squamosa L., adubação nitrogenada, salinidade.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

A pinheira (Annona squamosa L.), conhecida como fruta do conde ou ata, consiste
em uma frutífera altamente adaptada as condições climáticas da região nordeste, a que a
torna uma alternativa viável para pequenos e médios produtos do semiárido, pois
apresenta elevado valor comercial devido a alta aceitação de seus frutos para o consumo
in natura ou processos industriais, para a produção de doces, geleias e sucos (LEONEL
et al., 2015; SÁ et al., 2021).
No entanto, essa região apresenta complexos casos de escassez hídrica, provocada
pela baixa pluviosidade e alta evaporação, o que tem levado a limitações do aporte hídrico
e a disponibilidade de águas de boa qualidade. Fato que tem provocado a utilização de 1025
águas de baixa qualidade para a irrigação, dentre estas, a utilização de águas fortemente
salinas, a qual tende a provocar perturbações as funções fisiológicas e bioquímicas das
plantas, restringindo a absorção de água e nutrientes, e por ventura ocasionando acúmulo
de elementos tóxicos em seu interior, o que reduz o desenvolvimento do vegetal
(SAFDAR et al., 2019; PARVEZ et al., 2020). Em frutíferas, os efeitos do estresse salino
têm se mostrado mais severo em fases iniciais de crescimento das plantas (SOUZA et al.,
2017; FATIMA et al., 2019). O que tem levado a perdas de produção pela baixa qualidade
de mudas quando submetidas ao estresse por sais.
Como alternativa, pesquisas vem mostrando os efeitos benéficos da adubação
nitrogenada na atenuação do estresse salino (MELO et al., 2018; BEZERRA et al., 2019).
Fato que está relacionado a função desse nutriente na planta, que vai desde estrutural,
fazendo parte dos compostos orgânicos, até a formação de metabolitos secundários, que
participam no combate dos radicais livres e osmoproteção (SINGH, 2018; KUMAR,
2019).
Porém, quando aplicado via solo este nutriente pode ter sua absorção prejudicada
pela competição ocorrida nos sítios de absorção das raízes entre as formas de nitrogênio
e os sais acumulados no solo (LI et al., 2019). Com tais perdas podendo ser amenizadas
pela adubação nitrogenada foliar, pois esse nutriente apresenta uma rápida absorção pelas
folhas. Entretanto, pesquisas nesse sentido, ainda são escassas e, por isso, estudos com
esse objetivo devem ser desenvolvidos.
Diante do exposto, objetivou-se avaliar parâmetros qualitativos de mudas de
pinheira quando irrigadas com águas salinizadas e sob doses de nitrogênio aplicado via
foliar.

MATERIAL E MÉTODOS

A condução do experimento ocorreu no período de abril a agosto de 2019 em


ambiente protegido, no Centro de Ciências Agrárias, da Universidade Federal da Paraíba,
Areia, Paraíba, Brasil. O clima da região, conforme a classificação de Köppen é do tipo
As’, que significa verão seco e quente e chuvas no inverno (ALVARES et al., 2013). A
temperatura média observada durante a condução do experimento foi de 27,5 °C, com
2021 Gepra Editora Barros et al.

variações para a máxima e mínima temperatura se situando entre 36,2 e 18,8°C,


respectivamente.
O delineamento experimental adotado foi o de blocos casualizados, com quatro
repetições e duas plantas por parcela, em esquema de fatorial incompleto 5 x 5, referentes
a cinco condutividade elétrica da água de irrigação - CEai (0,5; 1,15; 2,75; 4,35 e 5,0 dS
m-1) e cinco doses de nitrogênio fornecido via foliar (0,0; 0,33; 1,15; 1,97 e 2,3 g L-1), as
quais foram obtidas através da matriz Composto Central de Box (MATEUS et al., 2001).
Através das seguintes combinações apresentadas na tabela 1.

Tabela 1. Esquema representativo das combinações e os fatores (CEai - condutividade elétrica da água de 1026
irrigação; DNF - doses de nitrogênio foliar) utilizados no experimento.
Níveis Doses
Tratamentos -1
CEai DN CEai (dS m ) N (g L-1)
1 -1 -1 1,15 0,33
2 -1 1 1,15 1,97
3 1 -1 4,35 0,33
4 1 1 4,35 1,97
5 -1,41(α) 0 0,50 1,15
6 1,41(α) 0 5,00 1,15
7 0 -1,41(α) 2,75 2,30
8 0 1,41(α) 2,75 0,00
9 0 0 2,75 1,15

A condutividade elétrica de cada água de irrigação (CEai) foi obtida através da


diluição de cloreto de sódio (NaCl) na água do sistema de abastecimento (0,5 dS m-1),
até o valor previamente estabelecido, usando condutivímetro portátil modelo
microprocessado Instrutherm® (modelo CD-860). Os valores da condutividade elétrica
da água de irrigação foram baseados no estudo de Andrade et al. (2018), que registraram
efeitos negativos da salinidade em mudas de pinheira ao serem irrigadas com águas de
CEai de 0,5 a 4,5 dS m-1.
As doses de nitrogênio, foram baseadas na necessidade de 300 mg por planta
proposta por Novais et al. (1991) para experimento de vaso de 1 dm3, sendo a maior dose
avaliada de 400 mg por planta, equivalente ao tratamento de 2,30 g L de nitrogênio. Como
fonte de nitrogênio foi utilizado produto comercial que contem em sua composição 99 g
L-1 de N, a base de ureia.
As mudas de pinheira foram produzidas por sementes de plantas criolas localizadas
no perímetro irrigado das Várzeas de Sousa, Sousa - PB, em sacos de polietileno preto
com capacidade de 1150 mL, preenchidos com substrato formado por 85% de solo do
tipo Latossolo, 10% de areia fina lavada e 5% de esterco bovino. O substrato foi analisado
quanto às características físicas e químicas pela fertilidade e salinidade, seguindo as
metodologias proposta por Embrapa (2017) e Richards (1954) como indicado na Tabela
2.
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Tabela 2. Composição física e química dos componentes do substrato usado no experimento.


Física Valor Fertilidade Valor Salinidade Valor
Areia (g kg-1) 639 pH em água (1: 2,5) 7,00 pH 7,30
Silte (g kg-1) 227 P (mg dm-3) 146,32 CEes (dS m-1) 2,73
-1 + -3 -2 -1
Argila (g kg ) 134 K (mg dm ) 633,29 SO4 (mmolc L ) 1,02
+ -3 +2 -1
Classe textural Franco Na (cmolc dm ) 0,27 Ca (mmolc L ) 16,00
Arenoso Al+3 (cmolc dm-3) 0,00 Mg+2 (mmolc L-1) 16,75
+ +3 -3 + -1
H +Al (cmolc dm ) 2,84 K (mmolc L ) 6,90
+2 -3 -2 -1
Ca (cmolc dm ) 5,53 CO3 (mmolc L ) 0,00
Mg+2 (cmolc dm-3) 1,70 HCO3-2 (mmolc L-1) 40,00 1027
SB (cmolc dm-3) 9,12 Cl- (mmolc L-1) 30,00
-3 + -1
CTC (cmolc dm ) 11,96 Na (mmolc L ) 0,89
MO (cmolc dm-3) 26,69 RAS (mmolc L-1) 0,94
PST (%) 2,25
Classificação Não - salino
MO = Matéria orgânica; SB = Soma de bases (Na+ + K+ + Ca2+ + Mg2+); CTC = Capacidade de troca
catiônica = SB + (H+ + Al3+); CEes = Condutividade elétrica do extrato de saturação; RAS = Relação de
adsorção de sódio = Na+ × [(Ca2+ + Mg2+)/2] -1/2; PST
= Percentagem de sódio trocável (100 × Na+/ CTC)

No semeio, foram utilizadas três sementes por saco de polietileno, com substrato
mantido com umidade ao nível de capacidade de campo desde o semeio até a germinação,
em torno de 25 dias após a semeadura, após esse período foi realizado o desbaste,
deixando-se apenas uma planta por recipiente.
Aos 10 dias após a emergência das plântulas (DAE), iniciou-se a irrigação com
águas salinas, com aplicações diárias fornecendo-se o volume evapotranspirado no dia
anterior de modo a devolver ao solo a umidade ao nível da capacidade de campo, para
tanto, foram adicionados coletores nos sacos de polietileno e aplicado volume conhecido
ao final da tarde e observado o volume drenado pela manhã do dia seguinte (BERNARDO
et al., 2006). A cada 15 dias foram aplicadas uma fração de lixiviação de 10% com base
no volume aplicado neste período, para lixiviar os sais acumulados no substrato pelas
irrigações de cada período.
A adubação nitrogenada foliar teve início aos 15 DAE, repetidas a cada 10 dias e
concluídas aos 75 DAE, referentes a sete aplicações e volume total aplicado de 175 mL
por planta. A diluição do produto foi realizada em água destilada no dia de cada aplicação
e a aplicação foi realizada por pulverizador manual.
Aos 90 DAE, foram avaliadas a alocação de fitomassa seca de folha (AFSF), caule
(AFSC) e raiz (AFSR), relação parte aérea / raiz (RPAR), área foliar especifica (AFE) e
razão de área foliar (RAF) conforme metodologia descrita por Benincasa (2003) e
apresentadas nas equações a seguir:

𝐹𝑆𝑜𝑟𝑔ã𝑜
𝐴𝐹 = ( ) 𝑥 100 (𝑔 𝑔−1 ) (1)
𝐹𝑆𝑇
2021 Gepra Editora Barros et al.

Em que: AF = acúmulo de fitomassa no órgão (folha, caule ou raiz); FSorgão =


Fitomassa seca do órgão; FST = fitomassa seca total.
AF
AFE = (cm2 g−1 ) (2)
FSF
Em que: AFE = área foliar específica, em cm2 g-1; AF = área foliar, em cm2; FSF =
fitomassa seca da folha, em g.

AF
RAF = = (cm2 g−1 ) (3)
FSPA
Em que: FSPA= fitomassa seca da parte aérea (g), AF: área foliar (cm²)
1028
Os dados foram submetidos a análise de variância e de regressão, utilizando-se o
programa estatístico R (R CORE TEAM, 2017).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Conforme o resumo de variância (Tabela 3), constata-se efeito significativo da


interação dos fatores doses de nitrogênio e condutividade elétrica da água de irrigação em
todas as variáveis analisadas aos 90 DAE.

Tabela 3. Resumo da análise de variância para as variáveis de acúmulo de fitomassa da folha (AFF), do
caule (AFC), da raiz (AFR), relação fitomassa da parte aérea / raiz (RPAR), área foliar especifica (AFE) e
razão de área foliar (RAF) de mudas de pinheira irrigadas com águas salinizadas (CE ai) e doses de
nitrogênio foliar (DNF), analisadas aos 90 dias após a emergência (DAE).
Fonte de variação GL Quadrado médio
AFF AFC AFR RPAR AFE RAF
Blocos 3 0,010** 0,001ns 9,92e-3** 1,587** 848,0ns 522,7ns
Tratamento 8 0,003** 0,003** 6,52e-3** 0,990** 4318,0** 992,4*
DNF (L) 1 0,011ns 0,071** 0,084** 0,939** 60,0** 19,49*
DNF (Q) 1 0,028ns 0,024* 0,013ns 0,121ns 48,1* 17,79ns
CEai (L) 1 0,026ns 0,023* 0,011ns 0,128ns 46,7* 17,50ns
CEai (Q) 1 0,010ns 0,007ns 0,008ns 0,006ns 11,7ns 3,58**
DNF (L) x CEai (L) 1 0,021** 0,023** 0,045** 0,575** 29,2** 14,19**
CV 7,00 5,40 11,40 15,40 13,50 13,80
ns, **, * respectivamente não significativo, significativo a p ≤ 0,01 e p ≤ 0,05.

Para a interação dos fatores no acúmulo de fitomassa das folhas de mudas de


pinheira (Figura 1A), nota-se respostas positivas da adubação nitrogenada foliar, bem
como no aumento da salinidade da água de irrigação. Sendo observado o máximo
acúmulo de 0,438 g g-1 na dose de 1,97 g L-1 de N e CEai de 2,54 dS m-1, a qual apresenta
superioridade de 52,08% em relação as mudas que foram tratadas sem adubação
nitrogenada foliar e irrigadas com água de abastecimento de 0,5dS m-1 (0,288 g g-1). O
que demostra a influência do nitrogênio na atividade meristemática, que com o aumento
2021 Gepra Editora Barros et al.

de sua disponibilidade contribuiu para elevar a fixação de carbono na planta e assim


elevar a expansão foliar da planta (BEZERRA et al., 2019).

Figura 1. Representação gráfica da interação entre os fatores condutividade elétrica da água de irrigação
e doses de nitrogênio via foliar nas variáveis acúmulo de fitomassa da folha (A), caule (B), raiz C) e
relação fitomassa da parte aérea / raiz de mudas de pinheira aos 90 DAS.

A. B.

1029

C. D.

Já para o acúmulo de fitomassa do caule (figura 1B), a interação dos fatores, mostra
influência direta do aumento da condutividade elétrica da água de irrigação nesta variável,
com as doses de nitrogênio foliar apresentando uma menor resposta sobre a curva de
aumento da mesma. Fato que é observado ao compararmos os pontos de máximo e
mínimo acúmulo de fitomassa do caule, que se encontra nas combinações sem adubação
nitrogenada foliar e irrigadas respectivamente com águas de maior salinidade (0,360 g g-
1
) e menor salinidade (0,273 g g-1), cujo aumento está em torno de 31,87%. Tal resposta,
demonstra um processo adaptativa da planta ao estresse salino, com a redução do acúmulo
de fitomassa da folha e consequente aumento na fitomassa do caule, pois a senescência
e/ou redução da área foliar ocorre para amenizar os danos provocados pela energia
excessiva liberada por distúrbios no aparato fotossintético (SAFDAR et al., 2019).
Na figura 1C, diferindo dos demais acúmulo de fitomassa, o apresentando pela raiz
das mudas de pinheira, mostra que as plantas que foram mantidas sob condições de baixa
salinidade e sem adubação nitrogenada foliar apresentaram os maiores valores para essa
2021 Gepra Editora Barros et al.

variável (0,4557 g g-1), resultado esse superior em 53,95% as plantas sob maior dose de
N e menor salinidade e 47,95% as que foram mantidas em condições de alta salinidade e
sem aplicação foliar de N. No entanto, o ponto de menor acúmulo de fitomassa da raiz
foi encontrado na combinação da dose de 1,56 g L-1 de N e CEai de 3,57 dS m-1, sendo
que esse apresentou uma depreciação de 93,42% em relação ao ponto de maior acúmulo.
O menor acúmulo de fitomassa da raiz pela adubação nitrogenada está associada
esse nutriente provocar um maior gasto energético para o equilíbrio osmótico na planta,
o que contribui para uma maior absorção de nutrientes, sem a necessidade de desprender
energia para o crescimento radicular (KUMAR, 2019). No entanto, em condições de
estresse salino, tal redução pode estar relacionado ao contato direto das raízes aos sais do
1030
solo, levando ao ajustamento do crescimento e a homeostase, assim podendo ser
considerada a primeira linha de defesa (SINGH, 2018).
Resultados esses que corroboram com o observado na relação fitomassa seca da
parte aérea / raiz (Figura 1D), com os menores valores sendo encontrados nas plantas sem
adubação nitrogenada foliar e irrigadas com água de 0,5 dS m-1 (0,78 cm mm-1). Contudo,
a aplicação de N foliar e o aumento dos níveis salinos contribuíram para elevar a RPAR,
com o valor máximo de 3,16 cm mm-1 sendo observado ao combinar a dose de 1,33 g L-
1
e a CEai de 4,81 dS m-1, valor esse 4 vezes superior ao encontrado no menor ponto.
Nas variáveis de área foliar especifica (Figura 2A) e razão de área foliar (Figura
2B) observa-se comportamentos similar, com os máximos ganhos ocorrendo quando as
plantas foram irrigadas com água de maior salinidade e sem adubação nitrogenada foliar.
Cujos os valores foram de 315,71 cm2 g-1 para a AFE e 156,42 cm2 g-1 para RAF, valores
esses 69,06 e 55,13% superior ao observado nas plantas irrigadas com água de menor
salinidade e sem adubação nitrogenada, respectivamente.

Figura 2. Representação gráfica da interação entre os fatores condutividade elétrica da água de irrigação
e doses de nitrogênio nas variáveis de área foliar especifica (A) e razão de área foliar em mudas de
pinheira aos 90 DAS.

A. B.

No entanto, as doses de nitrogênio foliar apresentaram respostas distintas no menor


e maior nível salino (Figura 2). Sendo que ao serem irrigadas com água de abastecimento
(0,5 dS m-1), nota-se que a adubação nitrogenada foliar contribui no aumento de 5,05%
na AFE e 40,83% na RAF em relação ao observado nas plantas sem aplicação de
2021 Gepra Editora Barros et al.

nitrogênio. O que difere das respostas obtidas nas plantas ao serem irrigadas com águas
de CEai de 5,0 dS m-1, que apresentaram reduções pela adubação nitrogenada foliar, com
decréscimos de 42,10 e 20,06% nas variáveis de área foliar especifica e razão de área
foliar, quando comparadas as plantas sob a dose de 2,3 g L-1 e as que não receberam
adubação nitrogenada.
Tal resposta pode estar relacionada a manutenção do crescimento na menor
salinidade, pois o nitrogênio contribui para elevar a atividade metabólica da planta
(SOUZA et al., 2017; MELO et al., 208). Enquanto que na maior salinidade, a adubação
nitrogenada pode ter contribuído para a manutenção do aparato fotossintético, através da
recuperação da Rubisco e integridade dos cloroplastos, desta forma, reduzindo a
1031
necessidade de expansão foliar (Li et al., 2019).

CONCLUSÕES

A irrigação com águas salinas eleva o acúmulo de fitomassa do caule e área foliar
aos demais órgão das plantas de pinheira aos 90 DAE.

A adubação nitrogenada foliar contribuiu para elevar percentagem de folhas e parte


aérea das mudas de pinheira quando irrigadas com água salinas aos 90 DAE.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 93

PERCEPÇÃO DE MORADORES DO BAIRRO VILA MOURA


SOBRE COLETA SELETIVA

VASCONCELOS, Rafael Souza


Bacharelando em Ciências Exatas e Tecnológicas
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
svrafa@hotmail.com

OLIVEIRA, Francisco Eder Rodrigues de


Mestre em Solos e Ecossistemas
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia 1034
ederigt@yahoo.com.br

GONDIM FILHO, Helio


Doutorando em Ciências Agrárias
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
helio.gondim91@hotmail.com

PEREIRA, Monikuelly Mourato


Doutora em Engenharia Agrícola
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
monikuelly@hotmail.com

ALBUQUERQUE, Hilçana Yilka Gonçalves de


Doutoranda em Ciências Agrárias
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
hilsana_goncalves@hotmail.com

RESUMO

A coleta seletiva é uma técnica de destinação correta de materiais recicláveis visando


aumentar a vida de matérias primas escassas na natureza. O objetivo do estudo foi
diagnosticar a percepção os moradores do bairro Vila Moura, município Iguatu-CE sobre
a relevância da coleta seletiva. A pesquisa teve cunho qualitativo com aplicação de
questionários semiestruturados. A coleta de dados foi realizada para uma amostra de 53
entrevistados. Diante dos resultados obtidos, observa-se que a maioria, 94%, não faz a
separação do lixo por tipo de material e que 6% faz a devida separação. Quando
questionados sobre saber o que é coleta seletiva, 70% afirmaram não saber, e 30%
afirmaram saber. Em relação à coleta seletiva no bairro, 98% relataram que gostariam que
houvesse coleta seletiva no bairro. Os resultados mostram que a coleta seletiva é uma
prática desconhecida pela maioria dos entrevistados, o que evidencia a necessidade da
atuação dos administradores da cidade no bairro através da implementação e
gerenciamento de um sistema de coleta seletiva e de projetos de educação continuada que
contribuam para construção de conhecimento e sensibilidade dos moradores sobre seu
papel diante dos impactos gerados pelo acondicionamento inadequado dos resíduos
sólidos.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduos sólidos, Coleta de materiais recicláveis, Lixeiras


seletivas.
2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento econômico, a urbanização das cidades, o aumento da população


mundial e a mudança de hábitos de consumo geram resíduos que causam impactos no
meio ambiente e, atualmente, constituem-se em um dos principais problemas ambientais
da humanidade (SALGADO et al., 2013).
Conforme a NBR 10004/04 (ABNT, 2004) os resíduos sólidos são definidos como
resíduos no estado sólido e semissólido, que resultam de atividades antrópicas, de origem
doméstica, comercial, públicos (de serviços e de varrição), agrícola, industrial e
hospitalar. A produção excessiva associada à gestão inadequada dos resíduos sólidos
provocam inúmeras doenças, problemas sanitários, assoreamento dos rios, entupimento 1035
de bueiros, contaminação do ar e solo, entre outros (DIAS et al., 2017).
Uma das alternativas para reduzir a carga excessiva de lixo nos depósitos e ainda
colaborar para a sustentabilidade urbana, é a implantação da coleta seletiva de
resíduos recicláveis (BRAVO et al., 2018). A coleta seletiva de lixo consiste em um
processo de separação e recolhimento dos resíduos descartados por empresas e pessoas.
Desta forma, os materiais que podem ser reciclados são separados do lixo orgânico (restos
de carne, frutas, verduras e outros alimentos). Este último tipo de lixo é descartado em
aterros sanitários ou usado para a fabricação de adubos orgânicos (BEZERRA et al.,
2017).
A coleta seletiva reduz os impactos negativos diretos na qualidade de vida da
população envolvida, que auxilia no reaproveitamento de materiais que podem ser
reciclados e que seriam descartados de forma inadequada. Contudo, a prática da coleta
seletiva ainda não é acessível em toda comunidade urbana, além da baixa adesão da
população ao processo de separação dos materiais recicláveis dos produtos orgânicos e
não recicláveis (SALGADO et al., 2013). Dentre os fatores relacionados a não realização
da coleta seletiva na maior parte dos municípios brasileiros é possível citar o baixo apoio
governamental em educação ambiental à população, o valor elevado de implantação do
sistema de coleta nos municípios e a falta de apoio direto das empresas e pessoas na
realização da separação dos materiais de forma correta.
A coleta seletiva de forma isolada não resolve os problemas dos impactos
ambientais gerados pelos resíduos sólidos nos municípios, no entanto essa atividade
auxilia na redução da extração de matérias primas para produção de novos produtos, além
de fornecer renda a pessoas envolvidas na coleta e reciclagem desses materiais. Dessa
forma, é essencial que se conheçam práticas desenvolvidas no espaço urbano como
bairros residenciais. Uma das formas de se identificar o que os atores envolvidos nessa
problemática pensam ou conhecem é através de sua percepção acerca da importância da
coleta seletiva. Ela permite um diagnóstico conceitual e a identificação de definições ou
ações com equívocos a serem reparados ou modificados pela educação ambiental.
Diante desse contexto, o objetivo do estudo foi diagnosticar a percepção dos
moradores do bairro Vila Moura no município de Iguatu-CE sobre a relevância da coleta
seletiva.
2021 Gepra Editora Barros et al.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O estudo foi realizado no bairro Vila Moura situado no município de Iguatu-CE,


localizado na região Centro Sul do Ceará. O bairro ocupa uma área de 0,26 km² (Figura
1) onde residem duas mil pessoas.
Figura 32. Mapa de localização do bairro Vila Moura.

1036

Fonte: Google Earth Maps (2020)

Levantamento bibliográfico

Para a elaboração deste estudo foi necessário consultar a literatura especializada por
meio de artigos científicos, dissertações, livros, monografias e trabalhos que conduziram
a uma reflexão teórica sobre conceitos e ideias importantes de autores que tratam da
temática de coleta seletiva e percepção dos moradores, bem como, leis e normas
pertinentes ao assunto.

Levantamento de dados

A pesquisa possui cunho qualitativo descritivo com técnica de estudo de campo


(GIL, 2002), com levantamentos de dados junto aos moradores do bairro através de
questionários semiestruturados com questões abertas e fechadas. Dentre as pessoas
entrevistadas estavam homens e mulheres acima de 18 anos num total de cinquenta e três
entrevistados, com renda familiar menor que um salario mínimo variando até quatro
salários mensais na residência. E número de pessoas residentes entre uma a seis pessoas
por casa.
A coleta de dados se deu com abordagens as pessoas que se encontravam nas vias
publicas do bairro, como também localizados em suas respectivas moradias, de forma que
no primeiro momento da pesquisa foi esclarecida ao entrevistado que se tratava de uma
pesquisa cientifica sem cunho politico partidário, e que se buscava conhecer a percepção
dos moradores locais sobre coleta seletiva e possível adesão caso houvesse essa atividade
no bairro.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Análise de dados

O processamento dos dados ocorreu com auxilio da planilha eletrônica do Excel,


onde foi feito o agrupamento das respostas semelhantes e posteriormente geradas tabelas
para melhor entendimento dos resultados. Essa etapa da pesquisa baseou-se na construção
da explanação com o objetivo é analisar os dados do estudo de caso, construindo uma
explicação sobre a realidade estudada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
1037
Os resultados foram divididos duas partes. Inicialmente buscou-se obter
informações sobre a produção e concepção dos entrevistados sobre resíduos sólidos.
Posteriormente buscou-se verificar a percepção dos moradores sobre coleta seletiva e a
possibilidade de adesão a esta atividade.
A definição de lixo pode ser realizada de várias formas como, por exemplo: “coisas
que não são mais úteis às pessoas”. No entanto, materiais que são descartados como lixo
pode ser reutilizados por pessoas e empresas na produção de materiais e utensílios dos
mais diversos setores da economia. Sobre a conceituação de lixo, 87% dos moradores
afirmaram saber, no entanto ao serem questionados sobre sua definição muitos
apresentaram um conceito equivocado, confundindo o conceito de lixo com o conceito de
materiais recicláveis. O conflito de informações sobre o conceito de lixo é algo comum
entre a população que geralmente associa materiais recicláveis ao lixo (OLIVEIRA;
SANTOS; VIANA, 2016).

Tabela 1. Lixo produzido pelos moradores do Bairro Vila Moura no município de Iguatu-CE.
Número de
Sabe o conceito de lixo Percentagem
entrevistados
Sim 51 87%
Não 2 13%
Sabe informar quais resíduos sólidos produzidos
em sua residência são recicláveis?
Sim 24 45%
Não 29 55%
Sabe a quantidade de lixo produzido na
residência
Sim 52 98%
Não 1 2%
Destino do lixo produzido em sua residência
Coleta municipal 52 98%
Coleta municipal e terreno baldio 1 2%
Frequência que o lixo é coletado em sua rua
2021 Gepra Editora Barros et al.

Duas a três vezes semanais 53 100%


Separa o lixo pelo tipo de material?
Sim 3 6%
Não 50 94%
Fonte: Dados da pesquisa

O conflito de ideias sobre a definição de lixo está relacionado ao fato das pessoas
possuírem dúvida sobre quais materiais podem ser reciclados ou reutilizados antes de
serem definitivamente descartados como lixo. Esse pensamento se mostra claro quando
os entrevistados foram perguntados sobre quais resíduos sólidos que são produzidos nas 1038
casas deles poderiam ser reciclados (Tabela 1). A maioria, 55%, relatou não saber quais
materiais poderiam ser reaproveitados na reciclagem. Este resultado pode estar associado
ao conhecimento limitado da população sobre reciclagem de materiais e ao baixo
interesse do poder público e privado em fazer a divulgação e conscientização da
população consumidora. Clarke e Maantay (2006) em estudo sobre as razões da existência
de diferentes taxas de participação na coleta seletiva, entre bairros da cidade de Nova
Iorque, constataram que fatores como a falta de compreensão do programa por parte dos
moradores e a qualidade da infraestrutura e dos serviços de limpeza pública prestados
podem afetar negativamente a taxa de participação social.
Ao serem questionados sobre o destino do resíduo solido produzido em sua casa,
os entrevistados em quase sua totalidade, 98%, respondeu que o lixo é coletado pelo
serviço coleta municipal. No entanto, o serviço de coleta municipal não é realizado
diariamente. Isto leva ao acúmulo de lixo na casa dos moradores que descartam os
resíduos em terrenos baldios em função do odor desagradável e do acúmulo de animais
sobre o lixo. Um entrevistado relatou que além de usar o serviço municipal de coleta de
lixo, também descartava parte do lixo em terreno abandonado próximo a sua residência.
O descarte incorreto de resíduos sólidos na rua e/ou terrenos “baldios”, está entre os
principais problemas ambientais encontrados nos bairros dos centros urbanos
(RODRIGUES; REZENDE NETO ; MALAFAIA, 2010), pode trazer problemas graves
à população local como o entupimento de canais de coleta de água da chuva (JACOBI;
BESEN, 2011 e SALGADO et al., 2013), e surgimento de patologias causadas por
fungos, bactérias, protozoários e vírus tendo como hospedeiros intermediários insetos e
roedores que se alimentam dos materiais orgânicos que estão presentes nos resíduos
descartados.
Em relação à separação do lixo por tipo de material, verificou-se que 6 % faz a
separação enquanto 94% não realiza esse procedimento, o que pode estar relacionado com
o fato da maioria dos moradores não possuir conhecimento acerca dos materiais que
podem ser reciclados e a ausência de coleta seletiva.
A coleta seletiva de resíduos sólidos é um processo de separação dos materiais que
podem ser reciclados visando dar uma destinação correta aos materiais considerados
como lixo (BELTRAME; LHAMBY, 2013). Ao verificarmos a Tabela 2, podemos ver
informações sobre a percepção dos moradores sobre coleta seletiva, e seu interesse sobre
essa forma de descarte dos resíduos sólidos em seu bairro.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Tabela 2. Percepção dos moradores do Bairro Vila Moura sobre coleta seletiva.
Sabe o que é coleta seletiva? Número de entrevistados Percentagem

Sim 16 30%
Não 37 70%
Gostaria que houvesse coleta
seletiva em seu bairro?
Sim 52 98%
Não 01 2%
1039
Caso houvesse coleta seletiva
em seu bairro ajudaria com a
separação do lixo produzido
em sua casa?
Sim 52 98%
Não 01 2%
Caso houvesse coleta seletiva
em seu bairro ajudaria a
convencer seus vizinhos e
amigos a participar da
mesma?

Sim 48 90%
Não 05 10%
Fonte: Dados da pesquisa.

Ao serem questionados sobre a definição de coleta seletiva, 70% dos entrevistados


relatou não saber informar ou conhecer sobre o assunto (Tabela 2). Contudo, dentre os
entrevistados que afirmaram saber o que é coleta seletiva alguns não conseguiram
formular uma definição concreta sobre o assunto, classificando a coleta seletiva como:
“lixeiras coloridas que fazem separação do lixo pelo tipo de material”; “local de pôr o
lixo que pode ser reciclado”, e os que relataram que “não levar no momento”. A
conceptualização de coleta seletiva conforme a visão dos entrevistados não está
totalmente incorreta, mas sim mal formulada. Isso se deve ao fato de que muitos dos
entrevistados não têm uma relação direta com a temática de separação dos materiais
recicláveis por tipo de material, nem uma formação relacionada à área e/ou vivência com
coleta seletiva no município dificultando a formulação do seu pensamento sobre tal
conceito. Conforme Queiroz (2015), um dos principais problemas encontrados na adesão
da coleta seletiva pela população é a falta de informação sobre o assunto, o que traz
desconfiança da real importância e pensamento de utopia fora da realidade local.
O interesse dos moradores sobre a possibilidade de implantação de sistema de
coleta seletiva em seu bairro foi de 98% dos entrevistados (Tabela 2). Em relação à
disponibilidade em realizar a separação do lixo por tipo de resíduo foi verificado que 98%
dos entrevistados realizaria a separação se existe um sistema de coleta seletiva no bairro
2021 Gepra Editora Barros et al.

(Tabela 2). Esses resultados se assemelham aos reportados por Bringhenti e Günther
(2011) e Silva et al. (2019) que avaliando a percepção de moradores das cidades de
Vitória-ES e Cariacica-ES, respctivamente, verificaram alta receptibilidade dos
entrevistados à separação do lixo para reciclagem. A participação dos moradores do
bairro Vila Moura em relação à coleta seletiva dos materiais recicláveis, vai além da
separação dos resíduos sólidos que são produzidos em suas residências, há um interesse
na implantação desse tipo de destinação final dos produtos consumidos para o município,
sendo que 90% dos entrevistados relataram que caso houvesse a coleta seletiva em seu
bairro, trabalharia na divulgação e conscientização de pessoas próximas a exemplo de
vizinhos e familiares para mostrar a importância dessa destinação desses produtos. Isso
1040
se constitui um ponto relevante, pois mostra que os moradores buscam uma destinação
mais sustentável para seus resíduos sólidos.
A coleta seletiva é uma alternativa para reduzir os problemas ambientais, sociais e
de saúde publica do bairro Vila Moura causados pelo grande volume de resíduos sólidos
presente no lixão e mini-lixões espalhados pelo bairro. No entanto, sua implantação está
condicionada ao interesse do poder público, aliado ao interesse da população local em
aderir essa forma de destinação final dos resíduos produzidos em suas residências e
empresas.

CONCLUSÕES

De forma geral os moradores do bairro Vila Moura não sabem o que é coleta
seletiva e a maioria não têm noção de que muitos materiais presentes nos resíduos sólidos
poderiam ser reciclados. A maioria considera a coleta seletiva importante e há expectativa
positiva em relação a uma possível implantação de um sistema de coleta seletiva.
Evidencia-se a necessidade do município incentivar por meio da educação ambiental o
interesse da população em relação à coleta seletiva.

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Cariacica (ES). Revista Brasileira De Educação Ambiental v.14, n.3, p.260-275, 2019.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 94

PERCEPÇÃO DOS PRODUTORES RURAIS QUANTO AO USO DE


EPI’S NA APLICAÇÃO DE AGROTÓXICOS
OLIVEIRA, Juliana Elias
Graduando em Agronomia
Universidade Federal do Espírito Santo
juliana.elias.o@hotmail.com

SILVA, Chansislayne Gabriela


Graduando em Agronomia
Universidade Federal do Espírito Santo
chansislayne_silva@outlook.com 1042

SARTÓRIO, Weliton Geraldo


Graduando em Agronomia
Universidade Federal do Espírito Santo
w.elitongs@hotmail.com

PEREIRA, Jéssica Barboza


Graduando em Agronomia
Universidade Federal do Espírito Santo
jessicabarbozaper@gmail.com

SIQUEIRA, Haloysio Mechelli


Graduado em Agronomia
Universidade Federal do Espírito Santo
haloysio.siqueira@ufes.br

RESUMO

Considerando o uso predominante de produtos químicos no modelo de produção agrícola


convencional, esta pesquisa faz uma abordagem sobre a percepção dos produtores rurais
quanto ao uso de EPI’s na aplicação de agrotóxicos, com o objetivo de conhecer a
avaliação que fazem a respeito dos riscos associados ao uso de agrotóxicos e das
restrições ao uso de EPI’s no trabalho rural. No presente trabalho evidenciou que os
motivos que levam ao não uso dos EPI’s, estando relacionados a fatores de desconforto e
até mesmo à falsa “boa experiência” para realização da atividade sem os equipamentos
de proteção, além da orientação técnica, é necessário que se acolha os reais motivos que
interferem no uso desses equipamentos, para que dessa forma se entenda melhor a questão
e se repense as estratégias de motivação para que, no futuro, mais agricultores passem a
utilizar os mesmos de forma consciente e correta.

PALAVRAS-CHAVE: Produto químicos, Saúde do agricultor, Extensão Rural.

INTRODUÇÃO

Os agrotóxicos são produtos originados a partir de substâncias químicas formadas


por grupos orgânicos e inorgânicos, cujo o objetivo é a eliminação de pragas e patógenos
causadores de altos prejuízos nas plantas cultivadas, além de serem utilizados na
eliminação de ervas daninhas. Eles são caracterizados de acordo com seu uso e são
2021 Gepra Editora Barros et al.

divididos em classes toxicológicas (MIGUEL, 2018). Devido à grande utilização na


agricultura, são uma fonte de perigo para o homem, dependendo da toxicidade, do grau
de contaminação e do tempo de exposição durante as aplicações (MEIRELLES, 2016).
Quando mal administrado, o seu uso pode causar impactos e ser um grande poluidor
do meio ambiente, contaminando a água, solo, ar atmosférico e consequentemente sendo
responsáveis por danos à saúde humana (DE SOUSA, 2016). Nesse sentido, é necessário
se haja maiores estudos e pesquisas tanto na parte prática da utilização dos agrotóxicos,
como no comportamento dos agricultores perante ao uso de equipamentos de proteção
individual (EPI’s), bem como, na prestação de serviços como a assistência técnica por
pessoas especializados no uso de agrotóxicos (SALVADOR, 2020).
1043
O uso inadequado de agrotóxicos, atrelada a alta pressão do comércio e indústria
para tal utilização, somado a toxicidade de produtos e, a ausência de informações da
realização de aplicações com segurança, agravam problemas sérios de cunho ambiental,
social e econômico. Os agricultores, principalmente aqueles que vivem exclusivamente
da agricultura e possuem a mão de obra familiar predominante, são aqueles considerados
mais vulneráveis tanto em relação à saúde, quanto ao trabalho (RECENA, 2008).
O uso correto de EPI é uma das chaves para a redução dos riscos e mitigação das
consequências do uso sucessivo de agrotóxicos, favorecendo principalmente à saúde e à
segurança do trabalhador (WURZ, 2020). Atualmente, a preocupação com a difusão das
informações a respeito da importância do uso dos EPI’s é enorme, e compõe um grande
acervo de materiais muito deles até mesmo transmitidos em folhetos, palestras e diálogos
aos agricultores, porém, para maiores elucidações na discussão do tema proposto alguns
questionamentos ainda necessitam de respostas (ZIN, 2020).
Por que ainda vemos tantos agricultores se abstendo do uso dos equipamentos de
proteção individual? Quais os reais motivos para o não uso? Em quais bases se sustentam
as informações dos agricultores para que justifiquem tal ato?
Perguntas como essas ajudam a entender o que de fato, pode estar por trás dessa
resistência ao uso dos EPI’s por muitos agricultores nas atividades agrícolas, até mesmo
quando a informação já chegou até eles.
Considerando o uso predominante de produtos químicos no modelo de produção
agrícola convencional, esta pesquisa faz uma abordagem sobre a percepção dos
produtores rurais quanto ao uso de EPI’s na aplicação de agrotóxicos, com o objetivo de
conhecer a avaliação que fazem a respeito dos riscos associados ao uso de agrotóxicos e
das restrições ao uso de EPI’s no trabalho rural.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo
O presente estudo é identificado como pesquisa descritiva (GIL, 2002), centrando
se na compreensão da dinâmica das relações de um grupo social com os recursos
disponíveis para o trabalho.
Foi realizado o estudo com quatro grupos focais de produtores rurais, sendo 3 deles
no estado do Espírito Santo e um grupo no estado da Bahia, em novembro de 2020.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Seguindo a distribuição espacial das comunidades no estado do Espírito Santo, foram


definidas duas regiões rurais:
Noroeste: Vila Valério – Atividades agropecuárias principais: café conilon e
pimenta do reino; município com 14307 habitantes e área territorial de 474 km² e com
altitude média de 140 m, na região grande número de pessoas se dedica as atividades
agropecuárias encontrando-se no município propriedades de pequeno a grande porte.
Sudoeste Serrana: Marechal Floriano – Atividades agropecuárias principais:
olerícolas em geral, com destaque para as culturas do tomate e do inhame; município com
aproximadamente 14249 habitantes, possui uma área de 286,102 km² e uma altitude de
560 m. O relevo do local é extremamente montanhoso possuindo um clima mais frio.
1044
Brejetuba (São Jorge) – Atividade agropecuária principal: café arábica; município
com aproximadamente 11921 habitantes, área total de 342,507 km² e uma altitude de 915
m. O clima da região é mais frio, chuvoso e com relevo acidentado. No município se
destaca a produção de cafés especiais.
O estudo também contou com um município baiano que se encontra no extremo Sul
da Bahia: Nova Viçosa– Atividades agropecuárias principais: olerícolas, com destaque
para as culturas da melancia e do melão; município com aproximadamente 44052
habitantes, área total de 1 317,390 km² e altitude média de 11 m.

Coleta e análise dos dados


Baseado nos pressupostos do estudo e na fase exploratória da pesquisa, definiu-se
como instrumento de levantamento de dados um questionário (Quadro 1 no apêndice)
contendo perguntas fechadas a respeito da percepção de risco na utilização de
agrotóxicos, e também a respeito da importância do uso de EPI’s. O questionário foi
composto por 21 perguntas, dividindo-as em três eixos: Perfil do trabalhador rural;
Aspectos da utilização de EPI’s; Conhecimento acerca do receituário e da bula de
agrotóxicos.
A entrevista foi conduzida com auxílio do questionário impresso, onde as respostas
foram anotadas pelo entrevistador e conduzidas nas residências dos trabalhadores, em
ambiente reservado a fim de garantir a privacidade necessária para sua efetivação, com
tempo médio de 10 minutos, dependendo exclusivamente da rapidez do entrevistado.
Junto ao questionário, foi apresentado um termo de livre consentimento e
esclarecimento (TCLE), que após a explanação dos objetivos do estudo, era assinado pelo
agricultor (entrevistado) caso consentisse em participar da pesquisa. Sendo assim, foi
explicado que, a qualquer momento, o entrevistado poderia desistir de participar e retirar
seu consentimento. A sua recusa, desistência ou retirada de consentimento não acarretaria
em prejuízo.
O trabalho teve como critério de exclusão produtores rurais que não utilizavam
agrotóxicos em suas propriedades, ou seja, que não realizavam atividades com exposição
direta, sendo, neste trabalho, os que manipulam os agrotóxicos, adjuvantes e produtos
afins em quaisquer das atividades de aquisição, transporte, armazenamento, preparo e
aplicação, destino final das embalagens vazias e lavagem de roupas e de equipamentos
de proteção individual (EPI) contaminados. Entretanto, nos casos em que os produtores
rurais não realizavam alguma dessas atividades diretamente, outros trabalhadores da
unidade produtiva foram entrevistados. Trabalhadores rurais menores de 18 anos e do
2021 Gepra Editora Barros et al.

sexo feminino também foram excluídos da pesquisa. Trabalhadoras do sexo feminino


foram excluídas da pesquisa, pois em algumas das regiões avaliadas, não foi possível
encontrar mulheres realizando trabalhos relacionados com o uso de agrotóxicos.
O principal limite do estudo se refere à dificuldade de levantamento de dados junto
às comunidades visitadas em razão do cenário atual de pandemia devido ao coronavírus.
Por essa razão, optou-se por trabalhar apenas nas comunidades nas quais os membros das
equipes residiam, tomando todos os cuidados possíveis quanto ao uso de máscara e
assepsia das mãos, o que tornou a amostra de produtores e/ou trabalhadores rurais
considerada uma “amostra intencional”. Nesse estudo, os autores também optaram por
manter questões curtas. Esta opção tornou a aplicação do instrumento mais ágil
1045
(diminuindo o tempo de explicações a serem dadas a cada questão) e possibilitando a
contextualização e explicação dos dados quantificáveis pela introdução de perguntas
semiabertas (com alternativas de resposta).
A tabulação de dados e a construção dos gráficos foram realizadas por meio do
programa Microsoft Excel 2010. Utilizou-se a estatística descritiva para análise dos dados
por meio do cálculo das frequências relativas das respostas dadas com os resultados
apresentados em porcentagens.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao analisar a figura 1, constata-se que, 40% dos entrevistados tem ensino médio
completo, sendo que o município que apresentou menor nível de escolaridade foi
Brejetuba, e apenas em Marechal Floriano houve um agricultor que possui nível superior
de ensino.

Figura 1: Nível de escolaridade dos trabalhadores rurais localizados nos municípios de Brejetuba, Nova
Viçosa, Marechal Floriano e Vila Valério.
Nível de escolaridade dos
100 trabalhadores rurais
Fundamental
80
Porcentagem (%)

incompleto
60 Fundamental
completo
40 Médio
completo
20 Médio
0 incompleto

Cidade
Fonte: O autor (2020).

Dessa forma constata-se que na grande maioria os agricultores apresentam baixo


nível de escolaridade, fator esse que pode gerar grandes problemas aos trabalhadores,
esses muitas vezes não são capacitados para manipular os defensivos e interpretar as bulas
dos produtos, causando assim contaminação humana e ambiental, (ANDRADE, et al.
2020).
Analisando a tabela 1, tornou-se possível identificar alguns aspectos comuns ao
grupo amostral, entre eles observa-se que a idade dos entrevistados tem uma grande
2021 Gepra Editora Barros et al.

variação, encontrando-se trabalhadores nas faixas etárias entre 18 a 30 anos, com


destaque para Marechal Floriano e 46 a 60 anos principalmente em Brejetuba. Entretanto,
65% dos entrevistados possuem mais de 30 anos, fato esse esperado e muito comum nas
áreas rurais distribuídas pelo Brasil, pois grande parte das pessoas que desenvolve as
atividades rurais são mais velhas (BRITO; GOMIDE; CÂMARA, 2009) e (ABREU;
ALONZO, 2016).

Tabela 1: Caracterização do perfil dos trabalhadores localizados nos municípios de Brejetuba,


Nova Viçosa, Marechal Floriano e Vila Valério.

Idade (anos) Brejetuba (%) Nova V. (%) Marechal F. (%) Vila V. (%) Total (%) 1046
18 a 30. 0 40 80 20 35
>30 a 45. 20 20 0 40 20
>45 a 60. 60 40 0 40 35
>60. 20 0 20 0 10
Trabalho
Produtor 100 20 100 40 65
Contratado 80 0 60 35
Assistência
Sim 20 100 60 100 70
Não 80 0 40 0 30
Intoxicação
Sim 20 40 0 40 25
Não 80 60 100 60 75
Atendimento
Sim 100 0 0 100 60
Não 0 100 0 0 40
Sequela
Sim 0 0 0 50 20
Não 100 100 0 50 80
Fonte: O autor (2020).

De acordo com a situação de trabalho, 65% dos entrevistados são os próprios donos,
com destaque para os municípios de Marechal Floriano e Brejetuba, fato esse associado
ao enquadramento como “agricultores familiares”, os quais, além de donos das
propriedades, desenvolvem os trabalhos com a mão de obra unicamente familiar. A maior
parte dos agricultores possuem assistência técnica, equivalendo a 70% dos entrevistados,
fato este muito diferente da realidade média brasileira. Os municípios de Vila Valério e
Nova Viçosa apresentaram 100% dos participantes recebendo assistência técnica
especializada, fato este que pode estar relacionado ao nível tecnológico das propriedades
e ao tamanho, tendo em vista que esses municípios possuem propriedades de médio a
grande porte (CASTRO; PEREIRA, 2017).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Em relação à intoxicação pelo uso de agrotóxicos, Vila Valério e Nova Viçosa


foram as localidades com maiores incidências, o que pode estar relacionado às culturas
utilizadas na região, lavouras de café conilon e hortaliças como melancia e abóbora, que
necessitam de muitas aplicações de agrotóxicos para o controle de pragas e doenças,
seguindo o que é observado no país como um todo, onde existe comercialização de
grandes quantidades de agrotóxicos para utilização nessas culturas (MORAES, 2019).

No município de Brejetuba, também houve relatos de intoxicação, fato este que


pode estar relacionado à pouca utilização de EPI’s (Figura 2). Apenas os entrevistados de
Vila Valério e Brejetuba procuraram atendimento médico para tratamento após
1047
intoxicação por uso de agrotóxicos, entretanto, no município de Vila Valério, foram
relatadas sequelas após a intoxicação dos agricultores. Segundo a Organização Mundial
da Saúde (2018), a notificação das intoxicações por agrotóxicos é baixa, para cada caso
notificado, existem outros muitos que não se tem conhecimento. Na maioria das vezes o
intoxicado não procura por atendimento médico, além dos casos que o paciente se
automedica, e ainda há aqueles casos em que o paciente intoxicado não deixa de trabalhar
mesmo tendo sintomas de intoxicação.

Embora saibam e reconheçam a importância do uso de EPIs, os entrevistados dos


municípios em análise, salvo o município de Marechal Floriano, relataram que não os
utilizam porque se sentem desconfortáveis, sentido muito calor quando usam os EPI’s
completos. Outro ponto a ser considerado é que, exceto o município de Nova Viçosa, os
demais entrevistados dos municípios em análise 55% dos entrevistados responderam que
o não uso dos EPIs se justificava por não ser necessário usar, evidenciando que sabem da
importância para a proteção no desenvolvimento das suas atividades laborais, entretanto
negligenciam aspectos relacionados às questões de segurança quanto ao manuseio e uso
de EPI’s (Figura 2).
2021 Gepra Editora Barros et al.

1048

A maior parte dos entrevistados dos municípios em análise, exceto Brejetuba,


afirmaram utilizar EPIs “sempre” nas pulverizações de agrotóxicos. No município de
Brejetuba, a maioria dos entrevistados relataram a opção “nunca” para regularidade de
uso durante as aplicações. As razões pelas quais não há uma regularidade no uso de EPI’s,
2021 Gepra Editora Barros et al.

neste município, pode ser justificada por se sentirem desconfortáveis com o uso do EPI’s,
sentido muito calor, e devido ao baixo número de agricultores que recebem assistência
técnica (Figura 2).
Outros estudos realizados junto a comunidades de trabalhadores rurais no país
(CASTRO; CONFALONIERI, 2005; RECENA; CALDAS, 2008) também encontraram
uma baixa adesão ao uso contínuo de EPIs, principalmente relacionada à
inexistência/indisponibilidade desses equipamentos nas propriedades onde trabalhavam e
à ausência de orientação técnica adequada. Vale destacar que 80% dos entrevistados em
Brejtuba não recebem assistência técnica sobre o uso de EPIs.
Fonseca e colaboradores (2007) relataram como principal razão para a não adoção
1049
de EPIs, a alegação dos trabalhadores de que aquela tarefa (pulverização) era rápida e
que, assim, não necessitava de uso de equipamento de proteção, mesmo que fosse repetida
diversas vezes por semana ao longo de toda uma vida no trabalho.
Quando questionados sobre o uso de equipamentos de proteção individual (EPI),
muitos agricultores afirmaram não usar viseiras e avental, embora conhecessem esses
equipamentos e considerassem que deveriam usá-los. Somente o uso de chapéu e bota foi
relatado pela maioria dos agricultores. Chapéu e botas fazem parte da vestimenta regional
e os agricultores os reconhecem como proteção ao contato com o agrotóxico, embora esse
motivo não seja fator de decisão para o seu uso (Tabela 2).

Tabela 2: EPI’s utilizados pelos trabalhadores nos municípios de Brejetuba, Nova Viçosa, Marechal
Floriano e Vila Valério.
EPI's Brejetuba (%) Nova V. (%) Marechal F. (%) Vila V. (%) Total (%)
Bota 100 100 100 100 100
Avental 0 20 40 20 20
Chapéu 80 100 60 80 80
Óculos de proteção 60 100 40 60 65
Camisa 0 100 60 80 60
Calça 0 100 60 60 55
Touca árabe 0 60 20 60 35
Viseira 20 0 20 20 15
Máscara 40 100 60 100 75
Luvas 40 100 40 100 70
Fonte: O autor

Os dados coletados corroboram com os resultados encontrados por Oliveira et al.


(2015) ao avaliarem a exposição de 27 trabalhadores da pecuária leiteira aos riscos
ocupacionais, identificando que 100% dos entrevistados não usavam todos os EPI’s,
havendo um maior uso de botas entre os participantes.
A maioria dos trabalhadores possui acesso ao receituário pela loja onde os mesmos
adquirem os produtos, só variando para Nova Viçosa onde o acesso ao receituário é pelo
representante de vendas (Figura 3). Isso demonstra a necessidade de fiscalização e a
necessidade de que esse receituário seja emitido sempre por um profissional da área,
perante o acompanhamento e orientação técnica, para que assim se tenha informações
2021 Gepra Editora Barros et al.

concretas e seguras de como, quando, onde aplicar, além é claro da explanação dos riscos
advindos de aplicações indevidas, tanto em questões de doses, épocas e do não uso de
equipamentos de proteção individual, como também referente ao desrespeito dos prazos
de carência.

Figura 3. Conhecimento sobre o receituário agronômico e a bula de agrotóxicos, dos trabalhadores rurais
de Brejetuba, Marechal Floriano, Nova viçosa e Vila Valério.

1050

Quando se trata da leitura da bula, todos os entrevistados de Brejetuba não leem a


bula dos produtos utilizados, fato este que pode estar relacionado à menor escolaridade
dos entrevistados (CRAVEIRO, 2019). Já quando comparamos com o município de
Marechal Floriano, vemos que os entrevistados leem a bula dos produtos, enquanto nas
outras duas localidades as respostas ficaram divididas entre lerem ou não (Figura 3). Um
quesito importante, além das orientações profissionais, é a leitura da bula do produto a
ser aplicado, pois na mesma contém informações que corroboram para o melhor
desempenho e maior segurança nas aplicações de agrotóxicos.
No que tange ao tempo de uso de agrotóxicos, nota-se que variou de 10 a 20 anos
em todas as localidades (Figura 3). Alguns entrevistados relataram que não conhecem
outras formas de manejo fitossanitário além dos agrotóxicos, e entre os agricultores que
2021 Gepra Editora Barros et al.

afirmaram conhecer outras alternativas, muitos deles relatam que já ouviram falar ou já
usaram alguns produtos como óleo de nim, calda bordaleza ou sulfocáustica e o agente
de controle biológico Beauveria bassiana.

CONCLUSÕES

Mesmo sabendo que há um grande volume de informações e recomendações sobre


a importância do uso de EPI’s, se faz necessário o conhecimento prévio do cenário de
cada agricultor, afim de entender os motivos que levam ao não uso dos EPI’s, estando 1051
relacionados a fatores de desconforto e até mesmo à falsa “boa experiência” para
realização da atividade sem os equipamentos de proteção, assim justificando ser
desnecessário usá-los, conforme evidenciado no presente estudo. Além da orientação
técnica, é necessário que se acolha os reais motivos que interferem no uso desses
equipamentos, para que dessa forma se entenda melhor a questão e se repense as
estratégias de motivação para que, no futuro, mais agricultores passem a utilizar os
mesmos de forma consciente e correta.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 95

PERFIL DE MERCADO DOS POSSÍVEIS CONSUMIDORES DE


PATÊ DE CODORNA

VALE, Maria Heloísa Barbosa do


Discente do Técnico em Agropecuária
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande de Norte (IFRN)
helo051@hotmail.com

MORAIS, Ildeson Tiago de Oliveira


Discente da Licenciatura em Química
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande de Norte (IFRN) 1053
tiagomorais09@outlook.com

GRACINDO, Ângela Patrícia Alves Coelho


Docente
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande de Norte (IFRN)
angela.gracindo@ifrn.edu.br

MAIA, Keliane da Silva


Técnica de Laboratório
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande de Norte (IFRN)
kelianemaia@gmail.com

FEITOZA, João Vitor Fonseca


Docente
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande de Norte (IFRN)
joaovitorlg95@hotmail.com

RESUMO

A carne de codorna é muito apreciada pelos seus bons aspectos sensoriais, contudo, não
é comum encontrá-la comercialmente como ingrediente em produtos cárneos,
principalmente na forma de patê. Os produtos cárneos são conhecidos por seus altos
teores de gorduras saturadas, logo, já existe uma tendência na indústria de alimentos para
o desenvolvimento de produtos com ingredientes funcionais que, quando consumidos,
proporcionem benefícios à saúde humana. Portanto, objetiva-se com este trabalho,
realizar uma pesquisa de mercado, com o intuito de observar a possibilidade de
comercialização de um novo produto cárneo, o patê de codorna. O estudo foi
desenvolvido a partir de uma coleta de dados por meio de questionário online composto
por 15 questões relacionadas diretamente com o perfil de mercado de possíveis
consumidores de patê de codorna. O formulário esteve disponível por 24 dias e foram
obtidas 307 respostas. Constatou-se que a maioria dos possíveis consumidores já
consomem produtos cárneos (salsicha, linguiça, hambúrguer, patê etc.) e já consumiam
patê, mas pouquíssimos experimentaram o patê de codorna. Portanto, o patê de codorna
praticamente não é consumido, por sua pouca disponibilidade no mercado, mas a sua
utilização mostrou-se possível em grande número, tendo em vista que muitas pessoas
afirmaram que fariam tal consumo, além disso, também foi observado a satisfação dos
entrevistados quanto à aparência e cor do patê produzido.

PALAVRAS-CHAVE: Carne, desenvolvimento, produto cárneo


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INTRODUÇÃO

No Brasil, a inclusão da coturnicultura japonesa para fins de postura foi no ano


de 1989. A partir de 1996, foram introduzidas codornas da linhagem europeia (Coturnix
coturnix coturnix) para produção de carne (PAIVA, 2017). Ao longo dos anos houve um
crescimento na produção de codornas no país, sendo considerada como atividade
econômica em potencial (IBGE, 2016; SANTHI; KALAIKANNAN, 2017). O Brasil
possui um número efetivo de codornas, acima de 15 milhões (IBGE, 2016), onde a maior
parte deste valor são de codornas destinadas à para produção de ovos.
A carne de codorna é bastante apreciada, considerada exótica e com grande
valor comercial. Dessa forma, apresenta-se como um produto diferenciado, sendo 1054
altamente palatável e permitindo que vários tipos de processamentos sejam realizados
(PANDA; SINGH, 1990). A carne processada é a carne submetida a processos
tecnológicos adequados visando aumentar a vida útil de prateleira, uma vez que, os
produtos cárneos funcionais devem ser vistos como uma oportunidade de diferenciação,
diversificação e posicionamento em um mercado de crescimento contínuo (LIMA et al.,
2013; ZENG et al., 2019).
A busca por alimentos mais saudáveis pode trazer inúmeros benefícios a saúde
humana, principalmente aqueles cujos teores de ácidos graxos poli-insaturados são mais
elevados. Pesquisas têm sido desenvolvidas em torno dessa problemática constatando
que, ácidos saturados possuem efeitos negativos a saúde humana promovendo o
aparecimento de doenças do tipo cardiovasculares, enquanto os poli-insaturados possuem
efeito contrário prevenindo ou retardando essas doenças (CALDER, 2015; MENSINK,
2016; NAGY; TIUCA, 2017).
Em decorrência do desperdício das partes menos nobres nas carnes, surgiu a
necessidade de alternativas para aproveitamento, ocorrendo a geração de produtos que
atendam a necessidade do público consumidor e sejam provenientes das carnes do
mercado, atendendo positivamente requisitos como: odor, cor, maciez e aparência
(CARLI, 2015). Os produtos cárneos industrializados têm sido cada vez mais procurados
pela sua facilidade em preparo e tal facilidade permite que salsichas, linguiças, patê,
salames etc. façam parte da alimentação estando presentes diariamente na vida das
pessoas, uma vez que a aceleração do ritmo urbano contribui para isso. Todavia, devem
serem consumidos de maneira segura para evitar possíveis problemas de saúde como
obesidade e hipertensão (OLIVEIRA, 2013).
O patê, de acordo com o Decreto nº 9.013 que regulamenta a Lei nº 1.283, de 18
de dezembro de 1950, e a Lei nº 7.889, de 23 de novembro de 1989, que dispõem sobre
a Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA), é um produto
cárneo obtido a partir de carnes, de miúdos das diferentes espécies animais ou de outros
produtos cárneos, transformado em pasta, sendo adicionado ingredientes e submetido a
processo térmico específico (BRASIL, 2017).
Estudos sobre o perfil do consumidor de produtos cárneos da carne de codorna
são escassos. Aprofundamentos neste tema poderão ser úteis para a relevância da
coturnicultura e do desenvolvimento de produtos cárneos a partir da carne de codorna, já
que investimentos das atividades pecuárias nesta região são bastantes existentes e é um
2021 Gepra Editora Barros et al.

bom método de geração de renda. Neste contexto, objetivou-se com esta pesquisa analisar
o perfil dos possíveis consumidores de patê de codorna, considerando suas preferências
e expectativas para com o produto.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi desenvolvido a partir de uma coleta de dados por meio de


questionário online (Google forms) composto por quinze questões relacionadas com o
perfil de mercado de possíveis consumidores, consumo de produto cárneos e a
possibilidade do uso do patê de codorna. Dessas questões, quatorze eram objetivas e 1055
obrigatórias e apenas uma era dissertativa e não obrigatória. O formulário obteve 307
respostas e esteve disponível por 24 dias.
A coleta de dados acerca do consumo de patê de codorna levava em consideração
os seguintes fatores: o gênero, a idade, local de residência, grau de escolaridade, renda
mensal, consumo de produtos cárneos, consumo de patê, preferência de produtos cárneos,
possibilidade de consumir patê de codorna e avaliação desse mesmo produto a partir de
uma imagem disponível no questionário abordando cor e aparência. Além disso, o
questionário também possibilitou que as pessoas pudessem responder opcionalmente uma
questão discursiva expondo sua opinião e sugestão acerca do trabalho desenvolvido com
o intuito de conhecer melhor o perfil e interesse dos possíveis consumidores. A partir dos
dados coletados foram gerados gráficos adaptados no Software Microsoft Excel, versão
2013, a fim de auxiliar a compreensão e melhor visualização.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em relação ao perfil das pessoas que responderam ao questionário sobre consumo


de patê de codorna, observou-se que das 307 pessoas, 70,7% (n = 217) eram do gênero
feminino e 29,3% (n = 90) eram do gênero masculino. Em uma pesquisa sobre perfil de
consumidores de carnes, Fanalli (2018) também destacou que a maioria de seus
entrevistados pertenciam ao sexo feminino, no qual 68% pertenciam ao gênero feminino
e 32% eram do sexo masculino.
Cerca de 35,5% (n = 109) das pessoas afirmaram ter idade entre 10 e 20 anos;
38,4% (n = 118) delas possuíam idade entre 20 e 30; 14,3% (n = 44) tinham entre 30 e 40
anos de idade; 10,1% (n = 31) se enquadram nas idades entre 40 e 50 anos e 1,7% (n = 5)
tinham entre 60 e 70 anos de idade. A maioria das pessoas que responderam ao
questionário possuem de 20 a 30 anos, corroborando assim com os resultados obtidos por
Sá (2016) que destaca em seu estudo que a maior parte dos pesquisados sobre consumo
de produtos cárneos no município de Medianeira - PR são de idade entre 20 e 25 anos.
Quanto ao local de residência e grau de escolaridade, observou-se que 89,9% (n =
276) das pessoas afirmaram residir na zona urbana e apenas 10,10% (n = 31) na zona
rural. Enquanto 5,5% (n = 17) concluíram apenas o ensino fundamental, 37,8% (n = 116)
concluíram o ensino médio e 28% (n = 86) e 28,7% (n = 88) possuíam grau de
escolaridade referentes a graduação e pós-graduação, respectivamente. Raimundo e Zen
2021 Gepra Editora Barros et al.

(2009) destacam que as pessoas que possuem maior grau de instrução sabem identificar
com uma maior facilidade, notícias verdadeiras acerca dos alimentos consumidos,
garantido melhor chances do consumo de um alimento saudável. Segundo os mesmos
autores, tais informações podem ser adquiridas através do nível de escolaridade.
No quesito renda mensal familiar, observou-se que 39,7% (n = 122) possuíam
renda entre 1 e 3 salários-mínimos, 27% (n = 83) ganhavam entre 3 e 6 salários mínimos,
19,2% (n = 59) ganhavam mais de 6 salários mínimos, 12,1% (n = 37) dos participantes
possuíam renda menor que 1 salário-mínimo, e 2% (n = 6) declararam não possuir renda.
Faz-se importante esse quesito pois ele estar relacionado diretamente com a
disponibilidade do acesso ao mercado de produtos cárneos que possuem grandes variantes
1056
de preço.
Associado a isto, também pode-se observar que 75,6% (n = 232) destas pessoas
afirmaram consumir produtos cárneos (salsicha, linguiça, hambúrguer, patê etc.),
enquanto 22,5% (n = 69) não fazem esse consumo e 2% (n= 6) afirmaram que talvez
consumissem. Com esses resultados, nota-se que o consumo desses produtos é bastante
presente na vida das pessoas e além da maioria deles possuírem rápido modo de preparo,
também estão presentes em altas quantidades nas prateleiras do supermercado, sendo,
portanto, de fácil consumo e acesso.
Quanto ao consumo de patê, em específico, 83,4% (n = 256) das pessoas já
consumiram tal produto, 12,1% (n = 37) não consumiram e 4,6% (n = 14) talvez tenham
consumido (Figura 1). Contudo, pode-se afirmar que o patê já é um produto bem
conhecido entre as pessoas que participaram da presente pesquisa e se maioria delas já
consomem tal produto cárneo, pode-se concluir que o patê de codorna também
apresentará grandes números de consumo.

Figura 1. Consumo de patê dos participantes.

4,60%
12,10%
Sim
Não
83,40%
Talvez

O Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Patê estabelecido pelo


Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), determina a identidade e
as características físico-químicas que um patê deverá apresentar. Sendo amido e/ou
carboidratos totais não superior a 10%, umidade máxima de 70% (maior que 60%, deverá
ser, compulsoriamente, pasteurizado), gordura de até 32% e 8% de proteína, no mínimo.
Estabelece como ingredientes obrigatórios a carne e/ou miúdos específicos das diferentes
espécies de animais de açougue (deverão conter no mínimo 30% da matéria-prima que o
designe, exceto o de fígado cujo limite mínimo poderá ser de 20%), sal (cloreto de sódio)
2021 Gepra Editora Barros et al.

e nitrito e/ou nitrato de sódio e/ou potássio. Pode adicionar ingredientes opcionais como
gordura animal e/ou vegetal, proteínas de origem animal e/ou vegetal, açúcares,
maltodextrina, leite em pó, amido, aditivos intencionais, vinho e conhaque, condimentos,
aromas, especiarias, vegetais (amêndoas, pistaches, frutas, trufas, azeitona, etc.) e queijos
(BRASIL, 2000).
Sobre a preferência quanto ao tipo de carne como ingrediente principal em
produtos cárneos, 46,3% (n = 142) dos participantes que responderam, possuíam
preferência pela carne bovina, 30,9% (n = 96) pela carne de frango, 12,1% (n = 37) pela
carne de peixe, 10,1% (n = 31) pela carne suína e 0,3% (n = 1) por soja. Portanto, a carne
bovina é a preferida de acordo com os 307 entrevistados (Figura 2).
1057
A carne de codorna passou a ser mais apreciada nos últimos anos (BONI et al.,
2010), levando a um aumento na produção mundial dessas aves, principalmente, nos
países em desenvolvimento (SANTHI; KALAIKANNAN, 2017). É uma excelente fonte
de aminoácidos, vitaminas (tiamina, niacina, riboflavina, ácido pantotênico e
pirodoxina), minerais, (ferro, fósforo, zinco e cobre), ácidos graxos poli-insaturados e
vitaminas A, B e E, que beneficiam a saúde humana. A quantidade de colesterol
encontrada na carne de codorna é de 76 mg por 100 g, valor este intermediário quando
comparado ao colesterol da carne do peito (64 mg/100 g) e da coxa e sobrecoxa (81
mg/100 g) do frango (PASTORE et al., 2012; RIBEIRO; CORÇÃO, 2013; SILVA,
2014).
O consumo de carne bovina é bastante aceito e nesse contexto, Raimundo e Zen
(2009) destacam o maior consumo desse tipo de carne e uma baixa no consumo de peixe.
Vale considerar que a carne de codorna também apresenta positividades devido ao seu
alto teor de proteína, baixo teor de gordura e de colesterol (JATURASHITA et al., 2004;
MURAKAMI et al., 2007).

Figura 2. Preferência quanto ao tipo de carne como ingrediente principal em produtos cárneos.

0,30%
12,10% Bovina
46,30% Suína
30,90%
Frango
10,10% Peixe
Soja

Por muito tempo, a criação de codorna teve sua produção destinada apenas aos
ovos, porém, com o passar do tempo e com a utilização de linhagens específicas para o
corte, a produção da carne e sua qualidade tem melhorado significativamente (ABREU
et al., 2014). A partir dos resultados obtidos no questionário, é sabido que a carne de
codorna ainda não é tão popular entre os questionados, visto que os dados mostram que
69,7% (n = 214) dos participantes nunca consumiram nenhum produto cárneo com carne
de codorna, 23,5% (n = 72) já consumiram e 6,8% (n = 21) talvez tenham consumido.
Quanto ao consumo do patê de codorna, apenas 0,7% (n = 2) afirmaram ter
consumido, 5,2% (n = 16) destacou que talvez tivessem consumido e 94,1% (n = 289)
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nunca fizeram o consumo. Contudo, cerca de 46,6% (n = 143) das pessoas afirmaram que
consumiriam o produto, 37,1% (n = 114) talvez consumiriam e 16,3% (n = 50) não
consumiriam o patê. Com base nestes dados, é possível afirmar que o patê de codorna não
é um produto com grande número de consumo, praticamente desconhecido, mas que
possui potencial para ser inserido na dieta das pessoas, uma vez que, os baixos valores do
número de pessoas entrevistadas podem estar relacionados com a pouca ou nenhuma
disposição do produto no mercado.
Os dados apresentados nas Figura 3 e 4 foram obtidos com base na Figura 5 e são
referentes às opiniões dos participantes sobre a aparência do patê de codorna produzido
no IFRN, Campus Apodi.
1058
Figura 3. Avaliação da aparência do patê de codorna.
29,3 29,3
30
Participantes (%)

20,5
25
20 13,7
15 7,2
10
5
0

As porcentagens revelam que as opiniões referentes a aparência foram as


seguintes: 20,5% (n = 63) gostaram muito, 29,3% (n = 90) gostaram moderadamente,
29,3% (n = 90) nem desgostaram e nem gostaram, 13,7% (n = 42) desgostaram
moderadamente e 7,2% (n = 22) desgostaram muito. Portanto, a aparência do produto foi
aceita pela maioria, visto que poucas pessoas afirmaram desgostar da aparência do
produto.
Relativo à cor com base na mesma imagem (sem edição), 20,8% (n = 64) gostaram
muito, 32,2% (n = 99) gostaram moderadamente, 28,7% (n = 88) nem gostaram e nem
desgostaram, 12,4% (n = 38) desgostaram moderadamente e apenas 5,9% (n = 18)
desgostaram muito. O questionário apenas considerou avaliações feitas por modo visual,
visto que outros sentidos como sabor, odor e textura não puderam ser percebidos.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 4. Avaliação da cor do patê de codorna.

32,2
35 28,8 28,7

Participantes (%)
30
25
20 12,4
15
10 5,9
5
0

1059

Ainda assim, os resultados confirmam que com base nos quesitos anteriores que
45,3% (n = 139) das pessoas comprariam patê de codorna enlatado após observar a
imagem (Figura 4), 35,5% (n = 109) talvez comprariam e 19,2% (n = 59) não comprariam
(Figura 6). Sendo assim, o produto em questão obteve boa aceitação no que diz respeito
aos aspectos visuais (cor e aparência) e, se aprovado nos aspectos sensoriais (sabor, odor
e textura), apresentaria bom retorno em vendas.

Figura 5. Patê de codorna desenvolvido

Figura 6. Possibilidade de compra do patê de codorna na forma enlatada.

35,50% 45,30% Sim


Não
19,20%
Talvez
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Por fim, o questionário permitiu que as pessoas dissertassem sobre suas opiniões
acerca do mesmo e na situação, 44 pessoas registraram suas respostas sendo a maioria de
cunho positivo e destacando: a pesquisa como algo muito interessante, o interesse em
degustar o patê da carne de codorna, as vantagens da pesquisa para o empreendedorismo,
a contribuição para a indústria alimentícia e a oportunidade da pesquisa proporcionar
maiores conhecimentos na área abordada, dentre outros comentários acerca das perguntas
mencionadas.

CONCLUSÕES
1060
O conhecimento prévio sobre o comportamento, o perfil e as preferências dos
possíveis consumidores de um produto são de grande importância, uma vez que, através
disto é possível buscar atender as exigências e obter melhores resultados do mesmo no
mercado. Com base neste estudo, pode-se perceber que o patê de codorna ainda não é um
produto muito conhecido, mas desperta interesse para consumo e uma boa aceitação no
mercado consumidor, já que o consumo de produtos cárneos é bastante presente no dia a
dia das pessoas.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 96

PERFIL E PERCEPÇÃO DO(A) PARAIBANO(A) NA RELAÇÃO


DE COMPRA E CONSUMO DE ALIMENTOS ORGÂNICOS

MOREIRA, Joserlan Nonato


Professor Orientador
Doutor em Fitotecnia
Instituto Federal da Paraíba-IFPB
joserlan.moreira@ifpb.edu.br

ANDRADE, Aquiles Herbert Machado de


Mestre em Sistemas Agroindustriais 1063
Universidade Federal de Campina Grande-UFCG

SILVA, Mateus Gonçalves


Agroecólogo
Mestrando em Sistemas Agroindustriais
Universidade Federal de Campina Grande-UFCG
matheus.goncalves2102@gmail.com

OLIVEIRA, Dalany Menezes


Professora
Doutora em Ciência de Alimentos
Instituto Federal da Paraíba-IFPB
dalany.oliveira@ifpb.edu.br

DUARTE, Amélia Lizziane Leite


Professora
Doutora em Medicina Veterinária
Instituto Federal da Paraíba-IFPB
amelia.duarte@ifpb.edu.br

RESUMO

Com o crescimento na busca de produtos de origem orgânica, em virtude dos benefícios


trazidos à saúde humana, ao meio ambiente e a sociedade como um todo, surge a
necessidade de analisar o perfil do consumidor e suas percepções em relação a esses
alimentos. Portanto, objetivou-se conhecer o perfil destes consumidores, seus hábitos e
os aspectos relevantes na decisão de compra. A pesquisa adotou uma abordagem quanti-
qualitativa e foi realizada em seis municípios paraibanos, visando obter uma cobertura
geográfica de diferentes regiões do Estado. Os resultados evidenciaram que o perfil dos
consumidores de produtos orgânicos na Paraíba pode ser traçado como:
Predominantemente do sexo feminino, com uma faixa etária variável, sem filhos, com
nível superior de escolaridade, com uma renda familiar entre 1 e 2 salários mínimos.
Esses consumidores adquirem produtos principalmente em feiras de orgânicos; vegetais
e hortaliças são os produtos mais consumidos; os critérios mais observados no momento
da compra são a qualidade, o preço e a ausência de agrotóxicos. A saúde destacou-se
como o principal motivo que impulsiona para a compra de alimentos orgânicos.

PALAVRAS-CHAVE: Análise de dados, pesquisa exploratória, consumidor Paraibano.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

O desequilíbrio ambiental, o uso de pesticidas agressivos que contaminam o


homem e a natureza, o emprego de adubos químicos, a falta de manejo adequado da água
e do solo, são consequências de práticas antrópicas inadequadas, muitas vezes
apresentadas como tecnológicas, que ignorando a preservação dos recursos naturais como
solo, flora, fauna e mananciais de água, tornaram muitas áreas inapropriadas para a
produção agrícola e a vida humana.
Diante deste cenário de degradação ambiental, a agricultura orgânica surgiu como
alternativa para equilibrar os exageros da agricultura convencional. Assim, de acordo com 1064
Penteado (2009), a agricultura orgânica é definida como um sistema de produção baseado
em princípios ecológicos.
De muitas maneiras, a agricultura orgânica conserva os recursos naturais e protege
o meio ambiente de forma mais adequada que a agricultura convencional. As pressões
cada vez maiores da opinião pública para a conservação do solo e da água, e para a
preservação do meio ambiente estão gerando em todo o mundo um crescente interesse
pelas práticas da agricultura orgânica, onde a unidade de produção é tratada como um
organismo integrado com a flora e a fauna, onde se aplicam conhecimentos da ecologia e
manejo das atividades baseado numa visão holística, isto se refere ao todo como sendo
mais do que os diferentes elementos que o compõe (BRITO et al., 2009).
Segundo Cuenca et al. (2007), o sistema de produção orgânico surgiu como
alternativa ao sistema convencional, que preconiza o uso intensivo de agrotóxicos e de
adubos solúveis visando maximizar a produtividade e lucro, promovendo a contaminação
ambiental e afetando a saúde de produtores e consumidores pela presença indesejável de
resíduos químicos nos alimentos.
Conforme pesquisa do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em
Alimentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde (PARA),
só no ano de 2011, em cerca de 63% das amostras de produtos agrícolas alimentícios
analisadas, foram encontrados vestígios de contaminação por agrotóxicos. Destas
amostras, produtos hortícolas são os que tem maior incidência em níveis elevados de
contaminação, com destaque para culturas como o pimentão (91,8%), morango (63,4%),
pepino (57,4%), alface (54,2%), cenoura (49,6%) e beterraba (32,6%) (ANVISA, 2011).
Com base em dados como estes, evidencia-se a necessidade de mudança nos hábitos
alimentares, optando por sempre procurar consumir produtos com procedência orgânica,
sem vestígios de agroquímicos.
A agricultura orgânica se caracteriza positivamente não somente por fornecer
alimentos saudáveis, mas também como um sistema produtivo que visa sustentar a saúde
dos solos e ecossistemas, a partir de processos ecológicos e cíclicos, utilizando-se
produtos naturais como restos vegetais, subprodutos de agroindústria, pó de madeira, pó
de café, estercos de animais, húmus de minhoca como formas de adubos e repelentes
alternativos à utilização de químicos (SILVA et al., 2019). De acordo com a legislação
brasileira, o sistema orgânico de produção agropecuária consiste num produto orgânico
in natura ou processado "[...] obtido em sistema orgânico de produção agropecuária ou
2021 Gepra Editora Barros et al.

oriundo de processo extrativista sustentável e não prejudicial ao ecossistema local."


(BRASIL, 2007).
Como visto, o sistema orgânico, consiste em não somente deixar de utilizar
agroquímicos, substituindo por produtos alternativos e naturais, como muitos pensam,
mas também envolve fatores ambientais, sociais, ética, segurança alimentar e respeito às
relações trabalhistas e sociais justas.
Atualmente, é crescente a conscientização e a busca por produtos de origem
orgânica, em virtude dos benefícios trazidos à saúde humana, ao meio ambiente e a
sociedade como um todo (BIONDO et al., 2014). Atrelado a esse crescimento surge a
necessidade de analisar o perfil do consumidor e suas percepções em relação a esses
1065
alimentos.
Quando o consumidor opta pela compra de um produto orgânico, espera estar
adquirindo um produto natural, livre de agrotóxicos e adubos químicos. Frise-se, que
muitas vezes os consumidores compram uma qualidade que não é visível, visto que as
características embutidas nos produtos orgânicos não podem ser observadas com
facilidade no momento da compra.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento informou que o mercado
brasileiro de orgânicos faturou no ano passado R$ 4 bilhões, resultado 20% maior do que
o registrado em 2017. O Brasil é apontado na pesquisa como líder do mercado de
orgânicos da América Latina (REVISTA GLOBO RURAL, 2019).
Apesar da crescente busca por esses produtos de origem orgânica, é escassa a
produção científica referente ao perfil desse consumidor contemporâneo. Dessa forma,
dadas as dimensões continentais de nosso país e distinções socioculturais, em suas
diferentes regiões, estudos localizados, regionalmente, se fazem necessários para
conhecer, caracterizar, mapear e descrever em suma e potencial, o perfil dos
consumidores de produtos orgânicos no Brasil, haja visto, que as pesquisas existentes, em
suas totalidades, se concentram em cidades específicas e não em estados e/ou regiões.
O conhecimento do perfil de consumidores é vital para promover a expansão do
mercado de produtos orgânicos, de modo a adequá-lo às expectativas e necessidades de
seu público em termos de produtos e serviços. As informações a serem identificadas são
fundamentais para definir estratégias e pontuar demandas, além de direcionar o processo
de propaganda e comunicação (disponibilidade, locais, produtos e serviços).
Segundo Marcelino et al. (2017) é essencial conhecer as características do
consumidor, suas necessidades, valores e crenças, avaliando os aspectos e características
determinantes da compra. Fator primordial para que estratégias de marketing adequadas
sejam desenvolvidas, como por exemplo, pela utilização das redes sociais, como canais
de comunicação e de informação para os consumidores com conteúdo e interações de
qualidade.
O mapeamento e catalogação do perfil de consumidores proporcionam o
direcionamento de políticas públicas governamentais, de forma a promover o crescimento
do setor na cadeia de consumo e/ou estimular o fortalecimento da expansão da agricultura
familiar no país.
Com base no exposto, esse estudo objetiva analisar o perfil e percepção do
Paraibano, frente a relação de compra e consumo de alimentos orgânicos. Os resultados
2021 Gepra Editora Barros et al.

gerados através dessa pesquisa pretendem contribuir com a lacuna e/ou carência de
informações sobre esse perfil e suas respectivas escolhas de alimentos orgânicos no
Estado da Paraíba, e dar suporte aos produtores e gestores públicos no desenvolvimento
e/ou identificação do potencial de mercado desses produtos.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa, de caráter exploratório e descritivo, foi realizada no estado da Paraíba


e adotou uma abordagem quanti-qualitativa. O estado da Paraíba é uma das 27 Unidades
Federativas do Brasil e limita-se com o estado do Rio Grande do Norte, ao norte, 1066
Pernambuco, ao sul, e Ceará, ao oeste, além do oceano atlântico, ao leste. O território é
dividido em 223 municípios e apresenta uma área de 56 469,778 km². Com uma
população de 3,996 milhões de habitantes, a Paraíba é o décimo quarto estado mais
populoso do Brasil (IBGE, 2018).
Para amostragem, a população foi definida com todos os seus habitantes tendo
como referência o último censo (2010). A amostra foi estabelecida com base no tamanho
da população. Considerou-se:

onde: N é o tamanho da população, a qual se refere; e é a margem de erro (utilizamos


5%,); z o escore z (o qual para o grau de confiança de 95% que equivale a 1,96) e p é a
proporção da população em estudo. O referido cálculo apresentou um tamanho amostral
de, aproximadamente, 399 para todo o Estado da Paraíba. Optamos por usar um número
amostral inteiro (400 questionários) que posteriormente foi estratificado em seis macro-
regiões representativas da Paraíba que abrangiam os municípios de João Pessoa,
Soledade, Campina Grande, Patos, Sousa e Cajazeiras, cobrindo geograficamente as
diferentes regiões do estado em estudo. O período da pesquisa ocorreu entre julho e
dezembro de 2019.
Os questionários (instrumento do tipo semi-estruturado) foram aplicados
pessoalmente, in locu, de forma aleatória, em diferentes espaços públicos (Instituições de
ensino, supermercados, feiras, estabelecimentos comerciais, residências, etc). A coleta
de dados foi realizada com o auxílio de alunos pesquisadores do Curso de Tecnologia em
Agroecologia do Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia da Paraíba –
campus Sousa.
O Instrumento de coleta de dados foi dividido em duas partes, primeiramente
abordando informações sobre o perfil sócio-demográfico, como sexo, idade, estado civil,
número de filhos grau de escolaridade e renda familiar dos entrevistados.
A segunda parte do questionário foi composta por questões referentes ao
comportamento de compra de orgânicos, tipos de produtos consumidos, critérios
2021 Gepra Editora Barros et al.

analisados pelo consumidor no momento da compra, motivos para começar ou continuar


consumindo alimentos orgânicos dentre outros aspectos.
O tratamento dos dados foi realizado com base na estatística descritiva. Após
coleta, os dados foram tabulados em planilhas e as respostas dos entrevistados foram
validadas através da transcrição e transformação em frequências percentuais, sob as
comparações de médias e desvio padrão ao nível de 95% de confiabilidade, utilizado o
software SPSS Statistics 21. Após análises e averiguações, foi possível conhecer e/ou
identificar o perfil médio do consumidor de produtos orgânicos no estado da Paraíba, os
tipos de alimentos consumidos, os critérios analisados na hora da compra, bem como os
motivos que impulsionam a comprar tais produtos.
1067

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Através da análise dos dados obtidos pela aplicação dos questionários, tornou-se
possível conhecer o perfil do consumidor de alimentos orgânicos, cujos dados levantados
estão dispostos a seguir:

Quanto ao perfil Sócio-demográfico

Para traçar o perfil sócio-demográfico dos consumidores de produtos orgânicos


no estado da Paraíba, foram analisadas as variáveis: gênero, faixa etária, estado civil,
número de filhos, grau de escolaridade e renda familiar.
Diante da análise dos dados, podemos observar que a maioria dos consumidores
é do gênero feminino, correspondendo a 58% dos consumidores, enquanto 39% são do
sexo masculino, conforme indica a figura 1.

Figura 1: Gênero dos consumidores de produtos orgânicos.

Fonte: Elaborado pelos autores/2019

Conforme a figura, as mulheres são as principais responsáveis pela aquisição e


consumo de produtos orgânicos nas famílias paraibanas.
Um resultado semelhante também pôde ser observado no estudo sobre perfil do
Consumidor de Produtos Orgânicos em municípios do semiárido Potiguar, por Souza
Neto et al. (2016), apontando também as mulheres como as maiores consumidoras de
2021 Gepra Editora Barros et al.

produtos orgânicos. Silva et al. (2008) também observaram, em pesquisa sobre o perfil
de consumidores de produtos orgânicos em uma feira agroecológica de Recife, que as
mulheres são as maiores consumidoras desses produtos. Em estudo realizado em cidade
específica da Paraíba, Sousa-PB, Sousa et al. (2020) verificam que o percentual de
mulheres que frequentam feiras agroecológicas é bem maior quando comparado às feiras
livres convencionais. Dados estes podem explicar o fato da mulher ser citada como
referência no que concerne a preocupação com o bem estar e saúde da família.
Kotler (2003) destaca o papel da mulher e mãe na escolha dos alimentos para a
família. Ottman (1990) argumenta que, além de compradoras primárias, as mulheres
influenciam nas decisões de compra do restante da sociedade e da geração seguinte.
1068
Quanto à faixa etária, observou-se que 35%, ou seja, a maioria dos consumidores
de produtos orgânicos possui uma faixa etária de 20 a 30 anos; que 30% estão numa faixa
etária de 40 a 60 anos, 23% correspondem aos que possuem idade entre 30 e 40 anos e
apenas 10% dos consumidores possuem idade igual ou superior a 60 anos Figura 2.
O que podemos observar com a análise desse aspecto é que não houve uma
diferença significativa entre as faixas etárias presentes, havendo uma pequena variação
entre consumidores de orgânicos com idades entre 20 e 60 anos, e uma menor
porcentagem de consumidores com a idade de 60 anos ou mais.

Figura 2: Faixa etária dos consumidores de produtos orgânicos.

Fonte: Elaborado pelos autores/ 2019

Em relação ao estado civil, verificou-se que 48% são solteiros, 46% são casados
e 6% viúvos ou divorciados (Figura 3). Resultado semelhante foi obtido por Sindelar et
al. (2018) em estudo sobre o Perfil de Consumo e Percepção em Relação aos Alimentos
Orgânicos dos Consumidores Gaúchos, onde verificou uma porcentagem de 54,4% de
solteiros, 36,9% de casados, 3,5 % divorciados, 2,7% separados viúvos ou outros e 2,5%
não informaram.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 3: Estado civil dos consumidores de produtos orgânicos.

1069

Fonte: Elaborado pelos autores/2019

No que diz respeito ao número de filhos por família, observou-se que a grande
maioria dos entrevistados informou não possuir filhos, com um percentual de 46%, sendo
que 11% dos entrevistados possuem 1 filho, 18% possuem 2 filhos, 12% possuem 3 filhos
e 12% dos entrevistados informou que possui 4 ou mais filhos (Figura 4). Esse percentual
de 46% dos consumidores que não possui filhos está em consonância com o dado anterior,
referente ao estado civil, que atesta que a maioria dos consumidores são solteiros.

Figura 4: Número de filho por família.

Fonte: Elaborado pelos autores /2019

Quanto ao grau de escolaridade, observou-se que a maioria dos consumidores


possui um grau de escolaridade mais elevado, visto que 53% dos consumidores
concluíram curso superior, 32% concluíram o nível médio, 12% possuem o nível básico
de escolaridade e 1% dos consumidores não frequentou a escola (Figura 5).
A maioria dos estudos relacionados ao tema apontam que a maior parte dos
consumidores de alimentos orgânicos possuem nível superior de escolaridade, como
podemos verificar na pesquisa de Venancio et al. (2017), avaliando o perfil dos
consumidores de alimentos orgânicos das feiras agroecológicas do estado de São Paulo,
onde 65,0% dos consumidores de orgânicos possuem nível superior completo. Branco
2021 Gepra Editora Barros et al.

(2017), no mesmo sentido, constatou que 40,3% dos consumidores de produtos orgânicos
em Brasília possuem pós-graduação, e 27,0% nível superior. Sousa et al. (2020)
verificaram que dentre as pessoas que frequentam feiras agroecológicas na cidade de
Sousa, Paraíba, um percentual significativo de 34%, tem nível superior de escolaridade.
É notório que pessoas com maior grau de instrução fazem parte de um grupo que
preferem consumir alimentos provenientes da agricultura orgânica. Laurenzini e Silva
(2004) afirmam que, entre outros fatores, o nível educacional está entre um dos principais
que influencia os gastos com alimentação na sociedade.

Figura 5: Nível de escolaridade.


1070

Fonte: Elaborado pelos autores/2019

Com relação a renda familiar, observou-se que o consumo de produtos orgânico


está presente nas mais diversas faixas de renda, predominando, com um percentual de
42% nos consumidores com renda familiar entre 1 e 2 salários mínimos, 20% possuem
uma renda familiar de 2 a 3 salários mínimos, 13% possuem renda de 3 a 4 salários e 23
% com uma renda de 5 salários ou mais (Figura 6).

Figura 6: Renda familiar dos consumidores de produtos orgânicos.

Fonte: Elaborado pelos autores/2019


2021 Gepra Editora Barros et al.

Resultado semelhante foi obtido em estudo realizado em feiras de orgânicos de


municípios do semiárido Potiguar, onde Neto et al. (2016) constataram que a escolha por
produtos orgânicos é uma realidade em todas as faixas de renda familiar, com destaque
para as rendas entre 01 e 02 salários mínimos, com uma concentração de 28,71%; entre
03 e 04 salários mínimos com 31,68% e entre 05 e 06 com 18,81%.
Esse resultado diverge de estudos realizados em outras regiões do país, onde a
maioria dos consumidores de produtos orgânicos possuem uma renda familiar bastante
elevada, como no Rio de Janeiro, onde Silva et al. (2013) constataram que 54% dos
consumidores de produtos orgânicos possuem uma renda superior a 10 salários mínimos.
No estado de São Paulo, Venacio et al. (2017), 35% dos consumidores possuem uma
1071
renda familiar que varia entre 02 a 05 salários mínimos e 31,7% possuem uma renda entre
06 a 10 salários mínimos.

Quanto aos dados de comportamento e compra

Após a colheita das informações referentes aos dados sócio-demográficos, os


participantes foram questionados sobre seus hábitos e comportamento de compra de
produtos orgânicos.
Neste momento buscou-se identificar o percentual de consumidores desses
produtos dentro da amostra, desta faixa, constatou-se que 51% do total de entrevistados
consomem alimentos orgânicos (Figura 7).

Figura 7: Percentual de consumidores de produtos orgânicos.

Fonte: Elaborado pelos autores/2019

Esses consumidores, quando indagados sobre o tempo de consumo de alimentos


orgânicos, 41% dos consumidores adquirem esses alimentos há 05 anos ou mais,
enquanto 7% adquirem esses produtos entre 03 e 04 anos, 14% entre 02 e 03 anos e 27%
começaram a consumir alimentos orgânicos mais recentemente, entre 01 e 02 anos
(Figura 8).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 8: Tempo de consumo de produtos orgânicos.

1072

Fonte: Elaborado pelos autores/2019

Quando questionados sobre o local de aquisição desses alimentos, 42% dos


consumidores adquirem esses produtos em feiras específicas de produtos orgânicos,
enquanto 32% adquirem em mercados, 29% em feiras livres e 20% compram direto do
produtor (Figura 9).
Segundo Silva et al. (2014), as feiras agroecológicas desempenham um papel
socioeconômico importante, pois além de fornecer produtos saudáveis, ainda contribuem
para a valorização do trabalho do agricultor, tornando-os mais rentáveis para os
produtores familiares por eliminar o atravessador, agregando valor ao produto e
assegurando a sua venda em um mercado mais perene.
Avaliando os dados obtidos, ficou demonstrado que as feiras de orgânicos
desempenham um importante papel para o escoamento da produção e para o crescimento
do mercado desses produtos no Estado da Paraíba.

Figura 9: Local de aquisição de produtos orgânicos.

Fonte: Elaborado pelos autores/2019


2021 Gepra Editora Barros et al.

No que se refere aos produtos adquiridos, observou-se uma diversificação de


produtos, destacando-se o maior consumo (80%), são de vegetais e hortaliças, seguido de
frutas (66%) e ovos (34%) (Figura 10).

Figura 10: Percentual de produtos orgânicos consumidos.

1073

Fonte: Elaborado pelos autores/2019

Cavalcanti et al. (2015) em estudo realizado também no estado da Paraíba,


obtiveram resultados semelhantes, quando em suas pesquisas observaram um percentual
de consumo de produtos na forma de 49% de hortaliças, 33% frutas, 10% carnes, 5% leite
e derivados e 3% panificados.
Diante dos números obtidos, podemos presumir os produtos mais disponibilizados
para os consumidores na Paraíba, são os vegetais, hortaliças e frutas.
Quanto aos critérios analisados no momento da compra, diversos fatores foram
indicados pelos entrevistados, como a preocupação com qualidade do produto (59%), o
preço (41%), a presença de agrotóxicos nesses alimentos (41%), origem (35%), frescor
(33%), sustentabilidade (20%), estabelecimento (13%), certificação (12%) e marca (7%)
(Figura 11).
Figura 11: Critérios analisados pelos consumidores no momento da compra.

Fonte: Elaborado pelos autores/2019


2021 Gepra Editora Barros et al.

Em estudo sobre a mesma temática realizado no estado do Rio Grande do Sul,


Sindelar et al. (2018) obtiveram resultados semelhantes, destacando que os dois critérios
mais analisados pelos consumidores no momento da compra foram a qualidade e o preço
dos produtos. Diversos estudos realizados em cidades da Paraíba retratam atributos de
qualidade, origem orgânica e sem agrotóxicos como principais quesitos evidenciados por
consumidores em feiras agroecológicas (SOUSA et al., 2020; SILVA et al., 2017).
Os consumidores estão cada vez mais exigentes, observando diversos fatores no
momento da aquisição de um produto orgânico. Normalmente, um dos fatores mais
citados como relevante na literatura é o preço de venda do alimento orgânico, de modo
geral, mais alto em relação ao convencional (BARBÉ, 2009; CUENCA, 2007). Darolt
1074
(2002), afirma que o preço desses produtos é um dos entraves apresentados no setor
orgânico, dificultando seu crescimento, fazendo com que grande parte da população,
principalmente nos países em desenvolvimento, opte pela agricultura convencional. Os
alimentos orgânicos podem ser 10% a 40% mais caros no valor comparado com o
convencional.
Orgânicos são cultivados sem agrotóxicos nem adubos químicos. Nesse tipo de
cultura, o controle de pragas e do solo é feito através de recursos oferecidos pela própria
natureza, para produzir alimentos de melhor qualidade, preservando teores de nutrientes
e características sensoriais. Além disto, destaca-se a preservação da qualidade do solo
quando esse tipo de cultivo é praticado (DAROLT, 2002).
Quando questionados sobre os motivos que impulsionam a compra de alimentos
orgânicos, foram apontados vários motivos, sendo que os entrevistados poderiam citar
mais de um deles. Desta forma, 73 % dos consumidores destacaram a saúde como motivo
relevante para o consumo de orgânicos; questões envolvendo a qualidade desses produtos
e o modo sustentável de sua produção foram indicados por 33% dos consumidores; o
sabor foi citado por 29%; o fato de ser um produto limpo e livre de corantes 17%, ao
passo que 8% dos consumidores afirmaram como motivo que impulsiona o consumo de
orgânicos a sugestão de outro consumidor ou apenas a curiosidade em provar esses
alimentos (Figura 12).

Figura 12: Motivos que impulsionam a compra de alimentos orgânicos.

Fonte: Elaborado pelos autores/2019


2021 Gepra Editora Barros et al.

Esse resultado evidencia a valorização dos aspectos relacionados a saúde, os


consumidores, cada vez mais, procuram adquirir um produto que traga benefícios para
sua saúde. Souza Neto et al. (2016) em estudo realizado em municípios do semiárido
Potiguar, obteve resultado semelhante, quando a contribuição para a saúde, foi citado
como motivo de influência acentuada por 93,08% dos consumidores participantes de sua
pesquisa. Esses resultados ainda corroboram com informações divulgadas em outros
estudos (VILAS BOAS et al., 2006; SINDELAR et al., 2018).

CONCLUSÕES 1075

Os dados mostram que o perfil do consumidor de produtos orgânicos na Paraíba


pode ser traçado como: Predominantemente do sexo feminino, com uma faixa etária
variável, sem filhos, com nível superior de escolaridade, com uma renda familiar entre 1
e 2 salários mínimos.
Esses consumidores adquirem esses produtos principalmente em feiras de
orgânicos; vegetais e hortaliças são os produtos mais consumidos; os critérios mais
observados no momento da compra são a qualidade, o preço e a ausência de agrotóxicos.
A saúde destacou-se como o principal motivo que impulsiona para a compra de alimentos
orgânicos.

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1078
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 97

CONDIÇÕES HIGIÊNICO-SANITÁRIAS DE QUEIJOS DE


COALHO PRODUZIDOS NO SERTÃO PARAIBANO

ARAÚJO, Morgana Aragão


Pós-graduanda em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Instituto Federal do Rio Grande do Norte
morganaaragao@hotmail.com

GREGÓRIO, Mailson Gonçalves


Pós-graduando em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande 1079
gregoriomailcon@gmail.com

NETO, Moisés Sesion de Medeiros


Pós-graduando em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande
moisesion@live.com

ARAÚJO, Alfredina dos Santos


Docente
Universidade Federal de Campina Grande
alfredinad@yahoo.com.br

FEITOZA, João Vitor Fonseca


Docente
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte
joaovitorlg95@hotmail.com

RESUMO

O queijo de Coalho é um tipo de derivado lácteo típico da região Nordeste do Brasil. Em


sua elaboração usa-se o leite, o coalho, cloreto de cálcio e cloreto de sódio. Na sua
produção a qualidade higiênico-sanitária tem papel fundamental para obter um produto
apto ao consumo humano e com maior vida de prateleira. Objetivou-se com esse trabalho
verificar a qualidade microbiológica dos queijos de Coalho produzidos nas queijarias do
sertão paraibano distribuídas nos municípios de Pombal, São Bentinho, Condado e
Aparecida. Foram realizadas análises microbiológicas de Coliformes totais e
termotolerantes, Salmonella sp, contagem total de aeróbios mesófilos, contagem total de
aeróbios psicrotróficos, fungos filamentosos e leveduras e Staphylococcus aureus
coagulase positiva em dez amostras. De acordo com os resultados, constatou-se que
cinco queijarias não estavam com amostras aptas ao consumo, pois houve presença de
Salmonella sp, Coliformes termotolerantes e S. aureus coagulase positiva. Os queijos de
Coalho produzidos nas queijarias analisadas apresentaram falhas na fabricação, podendo
ocasionar danos à saúde do consumidor. Assim, recomenda-se a realização de
capacitações com os manipuladores de alimentos em relação a forma de preparar,
manusear e armazenar os queijos de Coalho.

PALAVRAS-CHAVE: Derivado lácteo, laticínios, segurança dos alimentos.


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INTRODUÇÃO

A produção de leite no Brasil vem aumentando, onde se estima que em 2025 o


Brasil produza 47,5 milhões de toneladas de leite (VILELA, 2015). Esta expansão ocorre
por este alimento ser consumido diariamente pelas diversas faixas etárias de seres
humanos, por ser considerado um alimento nutritivo e de fácil acesso, seja através das
gôndolas de supermercado ou através do produtor artesanal.
No Brasil, a grande produção de leite ocorre na região Sudeste, que é responsável
por cerca de 39% do total de leite produzido no país, seguida pela região Sul, cuja
produção atinge cerca de 29%. Em seguida estão às regiões Centro-Oeste (15%),
Nordeste (11%) e Norte (6%) (MORAES; FILHO, 2017). 1080
A composição do leite difere por diversos fatores como o tipo de rebanho, a saúde
do animal, alimentação, região, ano, mês, período de conservação da amostra e escore de
células somáticas (QUADROS, 2019). A produção de leite com boa qualidade higiênico-
sanitária é de grande importância para os produtores, devido ao leite ser a principal
matéria prima utilizada na fabricação de produtos lácteos.
O queijo classificado como uma classe de derivado lácteo possui diversos tipos, os
quais diferem quanto aos ingredientes, o processamento, armazenamento, a temperatura,
entre outras ações. Em suas características sensoriais destacam-se a textura e o sabor, que
são importantes critérios de qualidade que definem a identidade de um queijo, e que
afetam enormemente a sua preferência e aceitação pelo consumidor (LEITÃO, 2017).
O queijo de Coalho é caracterizado por ser típico do Brasil, onde é fabricado
principalmente no Nordeste (Paraíba, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte). O
sertão paraibano destaca-se por obter inúmeras queijarias com produção de diversos tipos
de derivados lácteos, sendo o queijo de Coalho o mais vendido. Esse protudo tem uma
atuação considerável na economia, sendo significante na renda dos produtores de leite
(LIMA, 2017). Além disso, é um produto de grande valor comercial por ser de fácil
fabricação e bom rendimento no processo (CRUZ, 2019).
O cuidado com a qualidade e a inocuidade do queijo de Coalho produzido nesta
região da Paraíba é imprescindível para se obter um alimento seguro, necessitando de
cuidados em todas as etapas do processamento. Deve-se ressaltar a importância do uso
constante de Boas Práticas de Manipulação e procedimentos de higienização (SANTOS
et al., 2019). A qualidade higiênico-sanitária destes estabelecimentos produtores de
produtos lácteos tem papel fundamental na qualidade do produto na segurança do
consumidor. Por isto, este trabalho teve como objetivo verificar a qualidade higiênico-
sanitária dos queijos de Coalho produzidos nas queijarias do sertão paraibano.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi executado em dez queijarias localizadas no sertão paraibano


distribuídas nos municípios de Pombal, São Bentinho, Condado e Aparecida. Foram feitas
análises microbiológicas de Salmonella sp., Staphylococcus aureus coagulase positiva,
Coliformes totais, Coliformes termotolerantes, contagem total de aeróbios mesófilos,
contagem total de aeróbios psicotrópicos e fungos filamentosos e leveduras. O presente
2021 Gepra Editora Barros et al.

trabalho foi realizado nos meses de setembro e outubro do ano de 2018, considerando os
parâmetros regidos pela RDC nº 12, de 02 de janeiro de 2001 (BRASIL, 2001).
As análises realizadas seguiram as metodologias conforme o APHA (2001). Para
Coliformes totais foi realizado a teste presuntivo, utilizando a técnica de tubos múltiplos,
na qual homogeneizou 25 g de amostra, com 225 mL de água peptonada 0,1%. Para o
teste presuntivo, alíquotas de 1 mL de cada diluição foram inoculadas em três tubos
contendo 9 mL de Caldo Lauryl Sulfato Triptose (TM MEDIA, Brasil), com tubos de
Duhran invertidos e incubados a 35 ºC por 24 horas. A partir dos tubos com leitura
positiva do teste presuntivo, foi transferida uma alçada da cultura para o teste
confirmatório no Caldo Verde Bile Brilhante (HIMEDIA, Brasil), com período de
1081
incubação a 35 °C por 24 horas.
Na determinação de presença de Salmonella sp. foi utilizado o método em
superfície no meio de cultura Salmonella Diferential Àgar (HIMEDIA, Brasil), incubados
a temperatura de 36 ± 1 °C por 48 horas. Para fungos filamentosos e leveduras foi
utilizado o método de plaqueamento direto em superfície, em meio Ágar Batata Dextrose
(Prodimol Biotecnologia, Brasil), fundido e acidificado com ácido tártarico a 10%.
Posteriormente, as placas foram incubadas a 35 ºC por 5 dias.
Para a análise de S. aureus coagulase positiva foi utilizado o método em superfície
no meio de cultura Ágar Baid-Parker (TM MEDIA, Brasil), suplementado com solução
de gema de ovo a 50% e telurito de potássio a 3,5%. As placas foram incubadas a 35 °C
por 48 horas. Na determinação de contagem total de aeróbios mesófilos foi utilizado o
método de plaqueamento direto em superfície, em meio Agar Nutriente (HIMEDIA,
Brasil) e posteriormente as placas foram incubadas a 35 ºC por 48 horas.
Na determinação de contagem total de aeróbios psicrotróficos foi utilizado o
método de plaqueamento direto em superfície, em meio Agar Nutriente (HIMEDIA,
Brasil) e posteriormente as placas foram incubadas a 35 °C por 120 horas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 1 encontram-se os resultados das análises microbiológicas para os


parâmetros de Coliformes totais, Coliformes termotolerantes e Salmonella sp.

Tabela 1: Contagem dos parâmetros Coliformes totais, termotolerantes e Salmonellsa sp. em queijos
Coalho do sertão paraibano.
Amostras C. totais (NMP/g) C. termotolerantes (NMP/g) Salmonella sp./ 25 g
3 3
A1 1,1 × 10 2,0 × 10 Ausente
A2 2,1 × 102 3,0 × 102 Ausente
4 5
A3 3,0 × 10 5,2 × 10 Presença
A4 < 3,0 < 3,0 Ausente
A5 2,0 × 105 2,8 × 105 Presença
A6 1,0 × 105 5,3 × 105 Presença
2 2
A7 3,0 × 10 5,0 × 10 Ausente
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A8 2,5 × 101 2,0 × 102 Ausente


A9 3,0 × 105 5,6 × 105 Ausente
5 5
A10 4,5 × 10 5,7 × 10 Presença
PADRÕES - 5 × 103 Ausente

Na Tabela 1, verifica-se que a quantidade de Coliformes totais nos queijos de


Coalho variou de < 3,0 NMP/g (A4) a 4,5 × 105 NMP/g (A10), porém a legislação não
preconiza valores para Coliformes totais. Resultados similares foram encontrados por
Silva et al. (2018), avaliando os aspectos microbiológicos de queijos Coalhos
comercializados em feiras livres do município de Petrolina-PE, com valores variando de 1082
6,3 × 105 NMP/g a 1,1 × 106 NMP/g.
Oliveira et al. (2017) em estudos com as condições higiênico sanitárias da produção
de queijos tipo mussarela e minas frescal comercializados no Norte do Paraná, analisaram
50 amostras e em todas encontraram presença, com valores variando de 1,1×102 NMP/g
a 1,5×105 NMP/g.
As amostras A3 (5,2 × 105 NMP/g), A5 (2,8 × 105 NMP/g) A6 (5,3 × 105 NMP/g),
A9 (5,6 × 105 NMP/g) e A10 (5,7 × 105 NMP/g) apresentaram-se contaminadas por
Coliformes termotolerantes, pois a legislação estabelece o máximo de 5 × 103 NMP/g
como o permitido para este tipo de alimento. Entre os principais microrganismos
deterioradores do queijo estão os Coliformes, pois são causadores do estufamento
precoce. Magalhães et al. (2019), analisando 24 amostras de queijo de Coalho
comercializado em Manaus - AM, observaram que todas amostras estavam contaminadas.
Bezerra et al. (2017) realizaram análises microbiológicas em queijos de Coalho
comercializados na feira livre de Sousa-PB e constataram que, das 20 amostras
analisadas, 7 amostras estavam com valores acima do permitido. Vale ressaltar que a
presença de Coliformes termotolerantes em alimentos processados é vista como uma
indicação de contaminação na sanitização ou fabricação, relevando práticas de higiene
aquém dos padrões requeridos para o processamento de alimentos.
A Salmonella sp. é um gênero de bactérias pertencentes à família
Enterobacteriaceae. Essas bactérias podem causar infecções alimentares no ser humano,
em que o contágio acontece, principalmente pela ingestão de alimentos crus ou mal
cozidos que estejam contaminados. As amostras A3, A5, A6 e A10 apresentaram presença
de Salmonella sp. A legislação dispõe que este tipo de microrganismo deve estar ausente
nos alimentos. Este dado enaltece a preocupação com a qualidade dos queijos avaliados,
visto que este microrganismo é capaz de causar patologias no ser humano.
Santos et al. (2019) analisando duas amostras de queijos tipo Coalho obteve
resultados com presença deste patógeno em uma das amostras, fator este preocupante pois
estes microrganismos servem como indicadores higiênico-sanitários, que neste estudo,
possibilitaram a identificação de produtos impróprios para consumo.Resultados parecidos
foram apontados por Sousa et al. (2020) em estudos com a avaliação microbiológica do
queijo artesanal produzido e comercializado na cidade de Soledade localizada no interior
da Paraíba. Foi observada a presença de Salmonella sp. em cinco amostras de sete
analisadas.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Lima et al. (2019) em estudos com a qualidade microbiológica de queijo minas


frescal, artesanal, comercializados em feiras livres do Distrito Federal, constatou que dos
20 queijos caracterizados microbiologicamente, apenas um não apresentou presença de
Salmonella sp.
Na Tabela 2 estão expostos os resultados microbiológicos para os parâmetros de
contagem total de aeróbios mesófilos, contagem total de aeróbios psicrotróficos, fungos
filamentosos e leveduras e S. aureus coagulase positiva nas amostras de queijo de Coalho.

Tabela 2: Resultados dos parâmetros contagem total de aeróbias mesófilas, contagem total de aeróbias
psicrotróficas, fungos filamentosos e leveduras e S. aureus coagulase positiva em queijos Coalho do sertão
1083
paraibano.
Contagem total de Contagem total de Fungos filamentosos S. aureus
Amostras aeróbias mesófilas aeróbias psicrotróficas e leveduras coagulase
(UFC/g) (UFC/g) (UFC/g) positiva (UFC/g)
A1 3,4 × 102 2,0 × 102 1,3 × 101 4,0 × 102
A2 4,7 × 103 1,5 × 103 2,4 × 101 2,0 × 103
A3 6,2 × 104 5,0 × 103 2,5 × 103 5,0 × 104
A4 5,0 × 102 2,5 × 102 3,8 × 101 2,0 × 102
A5 5,5 × 104 3,0 × 104 3,0 × 103 3,0 × 104
A6 3,0 × 10 5 5,1 × 104 3,2 × 103 3,5 × 105
A7 4,0 × 103 2,0 × 103 2,0 × 101 4,2 × 103
A8 5,0 × 102 1,0 × 102 1,4 × 102 2,0 × 102
A9 6,0 × 105 2,7 × 104 2,3 × 101 2,0 × 104
A10 4,3 × 105 3,5 × 104 2,5 × 103 1,0 × 105
PADRÕES - - - 1,0 × 103

Nota-se na Tabela 2 que houve crescimento de bactérias aeróbias mesófilas em


todas as amostras de queijo de Coalho, com valores de 3,4 × 102 UFC/g (A1) a 6,0 × 105
UFC/g (A9). A legislação não preconiza valores para este tipo de microrganismos. Nunes
(2017), avaliando a qualidade microbiológica e perfil de resistência aos antimicrobianos
do queijo de Coalho artesanalmente produzido, encontraram 2,9 × 105 UFC/g. Este autor
atribuiu a contagem à elevada presença desses microrganismos, devido ao uso da matéria
prima de origem não segura, má higienização de utensílios, elaboração sob condições
insalubres, e armazenamento e comercialização em temperaturas inadequadas.
Em estudos com a qualidade microbiológica do queijo tipo minas “frescal”
comercializado na cidade de Fernandópolis-SP, Camargo et al. (2020) encontraram
resultados de 2,01 × 102 UFC/g a 6,67 × 103 UFC/g, valores estes próximos aos do
presente trabalho. Analisando as características microbiológicas e sensoriais de queijo
minas frescal comercializado na cidade de Curitiba-PR, Silvério et al. (2017) obtiveram
como resultado valores de 1,3 × 102 UFC/g a 6,6 × 107 UFC/g.
Na contagem total de bactérias aeróbias psicrotróficas obteve-se presença de 2,0 ×
10 UFC/g (A1) a 5,1 × 104 UFC/g (A6). A legislação não estabelece limites para este
2
2021 Gepra Editora Barros et al.

tipo de microrganismo. Na qualidade do leite, as bactérias psicrotróficas são o grupo que


mais contribui para deterioração do leite e produtos lácteos. Elas causam deterioração
quando se multiplicam no leite cru antes da pasteurização ou após a pasteurização. Altas
contagens de microrganismos psicrotróficos estão associadas a deficiências na higiene da
ordenha, falhas na limpeza e sanitização do tanque e equipamento de ordenha ou
refrigeração inadequada do leite, ou quando o tempo de estocagem do leite refrigerado é
demasiadamente longo (PAULO et al., 2021), interferindo nos produtos lácteos
originados a partir destes leites.
Deus (2017) obteve como resultado na contagem total de bactérias aeróbias
psicrotróficas 3,64×101UFC/g na ocorrência de microrganismos indicadores e
1084
patogênicos em amostras de queijo Coalho comercializados em praias da ilha de
Itaparica-BA. Barbosa (2019), analisando dois tipos de queijo minas frescal
comercializados em feiras livres do Gama – DF, encontrou valores de 55×103 UFC/g e
98×102 UFC/g.
Os valores referentes à quantidade de fungos filamentosos e leveduras observados
na Tabela 2 foram de 1,3 × 101 UFC/g (A1) a 3,2 × 103 UFC/g (A6). A legislação não
prescreve padrões para este tipo de microrganismo. A presença dos fungos em alimentos
interfere diretamente na aparência e sabor do produto, desenvolvendo-se através de pH,
atividades de água, quantidade de nutrientes, temperatura e umidade favoráveis para o
seu crescimento. Garcia et al. (2017), verificando a qualidade microbiológica de queijos
minas frescal comercializados na região metropolitana de Campinas – SP, encontraram
valores de 9,0 × 102 UFC/g a 3,0 × 106 UFC/g.
Avaliando a qualidade microbiológica de queijo manteiga comercializado em João
Pessoa/PB, Souza et al. (2020) encontraram resultados de 6 × 102 UFC/g a 105 × 103
UFC/g, valores estes próximos ao do presente trabalho. Casaril et al. (2017), em estudo
com qualidade microbiológica de queijos coloniais produzidos e comercializados na
região Sudoeste do Paraná, verificaram que as amostras apresentaram resultados de 4,25
× 104 a 2,45 × 105 UFC/g. Esses valores foram superiores ao do presente trabalho,
podendo ser justificado pelo tipo de queijo analisado.
Bairros et al. (2016) em estudos com a análise de fungos filamentosos e leveduras
em queijos tipo minas comercializados em feira livre, observaram que oito amostras
analisadas, todas apresentaram presença de colônias deste tipo de microrganismo
variando de 0,2×101 UFC/g a 33,3×104 UFC/g.
Conforme a Tabela 2 foi verificado a presença de S. aureus coagulase positiva nas
amostras A3 (5,0 × 104 UFC/g), A5 (3,0 × 104 UFC/g), A6 (3,5 × 105 UFC/g), A9 (2,0 ×
104 UFC/g) e A10 (1,0 × 105 UFC/g), mostrando que estes queijos de Coalho não estão
conforme o que preconiza a legislação vigente, que tem como valor máximo de 10 3
NMP/g (BRASIL, 2001). Nota-se que as mesmas amostras com presença de Salmonella
sp foram as que apresentaram S. aureus coagulase positiva. Isto reforça que as queijarias
que produzem estes produtos possuem condições de higiene desfavoráveis, causando
perigo ao consumidor (MEDEIROS, 2020).
Pereira et al. (2017), em estudos com Staphylococcus aureus e Salmonella sp em
queijos de Coalho artesanais produzidos em São Rafael, Rio Grande do Norte,
constataram em sete amostras que todas estavam com valores acima do permitido pela
2021 Gepra Editora Barros et al.

legislação, variando de 4,52 × 105 NMP/g a 6,66 × 106 NMP/g. Costa (2017), estudando
a qualidade de 14 amostras de queijo de Coalho comercializado em Governador Dix-Sept
Rosado-RN, observou que todas as amostras demonstraram discordância com o permitido
pela legislação para S. aureus coagulase positiva.
Gasparotto et al. (2019) investigando Staphylococcus aureus em queijos tipo
muçarela, constataram que das 156 amostras analisadas, cinco apresentaram
contaminação por este tipo de microrganismo, com valores variando de 1,1×101 UFC/g a
5,1×103 UFC/g.

CONCLUSÕES 1085

A partir dos dados obtidos nas análises microbiológicas dos queijos de Coalho
produzidos no sertão paraibano foi possível identificar que algumas queijarias
distribuídas nos municípios de Pombal, São Bentinho, Condado e Aparecida
evidenciaram falhas de condições higiênico-sanitárias nos queijos de Coalho analisados.
Assim, recomenda-se a realização de capacitações com os manipuladores de alimentos
de como preparar, manusear e armazenar a matéria-prima e os produtos fabricados.

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Capítulo 98

PLANEJAMENTO FORRAGEIRO EM UMA PROPRIEDADE


RURAL DE BOA VENTURA DE SÃO ROQUE - PR: UMA
PESQUISA DE CAMPO

LACONSKI, James Matheus Ossacz


Engenheiro Agrônomo
Faculdade do Centro do Paraná, Pitanga.
james.laconski@ucpparana.edu.br

NOGUEIRA, Paulo Henrique da Silva 1089


Engenheiro Agrônomo
Faculdade do Centro do Paraná, Pitanga.
paulo.nogueira@ucpparana.edu.br

KELNIAR, Ana Claudia


Engenheira Agrônoma
Faculdade do Centro do Paraná, Pitanga.
ana.kelniar@ucpparana.edu.br

RESUMO

A produção de leite no Brasil, tem feito com que permaneçam nessa atividade aqueles
que possuem maior produção e/ ou melhor posicionamento tecnológico. Nesse sentido,
um instrumento capaz de auxiliar nesses processos é o planejamento forrageiro, que
consiste em um planeamento alimentar que objetiva organizar a propriedade. O presente
trabalho visa realizar um planejamento forrageiro em uma propriedade rural de Boa
Ventura de São Roque, PR, e propor soluções para a otimização da produção de forragens,
através de um diagnóstico da propriedade. A propriedade está é dividida em 3 áreas. Para
a área 1, de 1,5 hectares, recomenda-se a adoção da cultivar BRS ZURI, a qual deverá ser
devidamente adubada, e deverá ter a entrada dos animais quando obtiver tamanho de 70
a 75 cm de altura. Para a área 2, é recomendado que se utilize a cultivar Tifton 85, que
terá a entrada de animais ao adquirir tamanho suficiente. Em ambas as áreas será utilizado
no inverno a associação ervilha e amendoim de modo a propiciar o conceito de agricultura
regeneradora. A área 3 será destinada ao cultivo de culturas anuais, recomenda-se o
cultivo de milho, para obtenção de grão úmido e silagem e no inverno a associação aveia
e azevém. Nesse sentido, o estudo indica que para a elaboração do planejamento é
necessário levar em conta diversos aspectos da propriedade, dos animais e da forrageira.
Através disso, é possível desenvolver um método de cultivo sustentável e rentável.

PALAVRAS-CHAVE: Forragem, Manejo, Pastagem, Produção de Leite.

INTRODUÇÃO

Com o término da Segunda Guerra Mundial, permeando até os dias de hoje, tornou-
se necessário o incremento na produção de alimentos, que se deu através da
especialização dos sistemas de produção, causando a redução da diversidade e maior uso
2021 Gepra Editora Barros et al.

de insumos. Com a utilização sucessiva desses sistemas, estes entraram em colapso, em


função de severos danos ao ambientes, relacionados à perda da biodiversidade e ao
aumento da poluição ambiental (CARVALHO et al., 2015; FOLEY et al., 2011;
CARVALHO et al., 2011).
A partir disso, surge a necessidade de adoção de sistemas e/ou instrumentos que
explorem o sinergismos entre solo-planta-animal-atmosfera, de modo a: reduzir impactos
ambientais; manter as características físicas, químicas e biológicas do solo; controlar a
erosão; aumentar os níveis de produção animal e vegetal, entre outros fatores
(CARVALHO et al., 2006).
A produção de leite no Brasil, está distribuída por todo o território nacional, e a
1090
modernização tem provocado a diminuição dos custos de produção, fazendo com que
permaneçam nessa atividade aqueles que possuem maior produção e/ ou melhor
posicionamento tecnológico (OMETTO e CARVALHO, 2006).
Em sistemas extensivos a produção de leite está acondicionada à condição, oferta e
capacidade produtivas das pastagens; à estrutura do rebanho e ao potencial genético das
vacas. Nesse sentido, as pastagens podem apresentar acentuadas variações em sua oferta,
por conta das condições climáticas, fertilidade do solo e seu manejo (FERNANDES,
PESSOA e MASSOTTI, 2015).
De acordo com Fernandes; Pessoa e Massotti (2015) os instrumentos que são
capazes de auxiliar nesses processos são: planejamento forrageiro; o sistema de
piqueteamento adequado e os ajustes entre produção de pastos e demandas.
O planejamento forrageiro consiste em um planejamento alimentar que objetiva
organizar a propriedade, cuja adoção pode adequar a demanda de forragens à capacidade
de produção das pastagens; aumentar a lotação de vacas por área; maximizar a
produtividade, tornando a atividade leiteira mais viável; diminuir a necessidade de
alimentos conservados; otimizar o uso de mão-de-obra e estruturas; reduzir a
instabilidade dos agricultores devido a inúmeros imprevistos, entre outros fatores
(FERNANDES, PESSOA e MASSOTTI, 2015; CARVALHO et al., 2005).
Nesse contexto, objetiva-se com o presente trabalho realizar um planejamento
forrageiro em uma propriedade rural de Boa Ventura de São Roque, estado do paraná, e
propor soluções para a otimização da produção de forragens, através de um diagnóstico
da propriedade.

REVISÃO DE LITERATURA

O Brasil é o 6º maior produtor de leite no mundo, com produção de 27 milhões de


toneladas em 2019. Em primeiro lugar, têm-se a Índia com produção de 194 milhões de
toneladas, seguido por: União Europeia (160 milhões de toneladas); Estados Unidos (99
milhões de toneladas); China (32 milhões de toneladas) e Rússia (30 milhões de
toneladas), (CONAB, 2020).
Nacionalmente a produção de leite está distribuída nas regiões do país, em destaque,
têm-se a região Sudeste, que em 2019 foi responsável por produzir 9,8 bilhões de litros,
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seguida pela região Sul com 9,3 bilhões de litros, Centro Oeste (3,2 bilhões de litros),
Nordeste (1,5 bilhões de litros) e Norte (1 bilhão de litros), (CONAB, 2020).
A região Sul, é a segunda colocada em produção das regiões do Brasil. O estado do
Rio Grande do Sul é o que mais produziu leite em 2019, com 3,3 bilhões de litros, na
sequência está o Paraná com 3,2 bilhões de litros e Santa Catarina com produção de 2,7
bilhões de litros (CONAB, 2020).
O estado do Paraná, de acordo com Deral (2016) conta com um rebanho de
aproximadamente 2,5 milhões de cabeças, com 1,7 milhões de vacas em lactação. A
produção de leite está presente em todos os 399 municípios do Paraná, funcionando como
uma alternativa à geração de renda tanto para pequenos, médio e grandes produtores
1091
(TONET, 2016).
Entre os municípios paranaenses, Castro se destaca, ao apresentar a produção de
292 milhões de litros de leite em 2018, seguido por Carambeí com 179 milhões de litros
produzidos. Com relação a Boa Ventura de São Roque, município onde será realizado o
presente estudo, o volume de produção foi de 22 milhões de litros em 2018 (DERAL,
2018).
Na região de Boa Ventura de São Roque, é comum a utilização de forragens, as
quais apresentam altos rendimentos com temperaturas mais altas, o que acaba causando
uma limitação na disponibilidade de alimentos nos meses de Junho e Julho, havendo
assim a necessidade de adoção de sistemas, técnicas e ferramentas que amenizem essa
indisponibilidade, como por exemplo o planejamento forrageiro (TONET, 2016).

Planejamento forrageiro

O planejamento forrageiro é um instrumentos que permite a organização alimentar


da propriedade, eliminando o vazio outonal de forragens, disponibilizando alimento para
todo o rebanho durante o ano, diminuindo a necessidade de suplementação através de
alimentos volumosos e concentrados (LAZZARI, 2017).
O planejamento leva em conta o objetivo e o dimensionamento do rebanho, a área
disponível para o pasto, a pastagem, sua capacidade de suporte e ciclo produtivo,
produção de alimentos conservados, as condições climáticas da região, a topografia,
fertilidade do solo, a disponibilidade de mão de obra do pecuarista, entre outros fatores
(FERNANDES, PESSOA e MASSOTTI, 2015).
Coppetti et al., (2019) reforça as vantagens expostas, para os autores, o
planejamento forrageiro é essencial para a produção animal, pois, incrementa a produção
de forragem, assim como a distribuição desta ao longo do ano, elimina períodos de vazio
forrageiro, possibilita maior produção animal por área, reduz custos de produção e gera
mais renda ao pecuarista.
Vargas et al., (2019) complementam a funcionalidade desta ferramenta, para os
autores a pastagem representa a principal fonte de nutrientes para a criação de ruminantes
e também a forma mais barata de realizar essa produção, porém dependente da oferta de
forragens. A carência de produção de forragens em determinados períodos do ano, acaba
se tornando um impasse ao produtor, que pode causar a diminuição da produção e
aumento dos custos com a necessidade de alimentação. Com isso, o planejamento do
2021 Gepra Editora Barros et al.

sistema pode contornar tais situações ou diminuir seus efeitos negativos, através de uma
projeção da dinâmica alimentar, através da elaboração de um calendário de pastagem e o
conhecimento das espécies forrageiras cultivadas e o das épocas críticas às pastagens.
Para que o planejamento seja feito da maneira correta e para que atinja seus
objetivos é necessário a observação de alguns pontos, como a projeção da dinâmica do
rebanho, a identificação de épocas de maiores necessidades de oferta de forragem, como
a estação de monta e o período de engorda, o estabelecimento de níveis de produtividade
que se almeja, e entre outros. Com isso são estabelecidas épocas de provável escassez de
forragem, possibilitando que seja possível prever intervenções necessárias, de modo que
se evite situações de estresses nutricionais e a utilização inadequada das pastagens
1092
(BARIONI et al., 2003).
Fernandes, Pessoa e Massoti (2015) mencionam pontos essenciais para a correta
adoção do planejamento, são elas: o cálculo do número de unidade animal (450 kg de
peso vivo), uma vez que a projeção do rebanho que será alimentado é essencial para
hierarquizar os animais, a partir da maior demanda por pasto; verificar a estrutura do
rebanho, pois quando a produção é a de leite e a área disponível para a pastagem é
pequena: “recomenda-se que o produtor mantenha novilhas e terneiras somente para
reposição do plantel. Nesse caso, o número de unidade animal de vacas pode chegar a
75% (três quartos) das unidades animal presentes no plantel” e a capacidade de suporte
das pastagens, representada através do número de unidades animal que a forragem é capaz
de suportar em um determinado período do ano, sem que cause degradação à pastagem.
Se tratando do número de animais Poli e Carvalho (2001) citam a taxa de lotação,
que se refere ao número de animais por hectare e está relacionada a número de unidade
animal. Essa variável é fundamental para a utilização eficiente da pastagem, pois indica
quanto de alimento está disponível para o animal. Para os autores, à medida que essa taxa
aumenta, ocorre a diminuição da oferta de forragem, dos níveis de consumo de matéria
seca, produção de leite por vaca e seleção da dieta.
Aliada a estrutura do rebanho está a demanda animal citada por Nabinger, Ferreira
e Sant’Anna (2008). Os autores mencionam que é fundamental conhecer os componentes
do rebanho, ou seja, as distintas categorias e consequentemente seus desempenhos, de
forma que se conheça os indicadores produtivos e as necessidades de recursos
alimentares. Cada categoria possui uma determinada exigências nutricional, conhece-las
é essencial para que o manejo ocorra de forma distinta para cada animal. Para os autores
animais com maior demanda por matéria seca devem ser direcionados a recursos
alimentares de maior qualidade, enquanto que animais maduros ou que não necessitem
de alto desempenho podem ser manejos com dietas de qualidade inferior.
Outro ponto relevante citado por Nabinger, Ferreira e Sant’Anna (2008) é a
dinamicidade do planejamento forrageiro. O sistema de produção pecuário está sujeito a
numerosos fatores, que podem inclusive interagirem entre si. Nesse sentido, a previsão
de respostas das forragens são dependentes de uma visão sistêmica do processo, portanto,
qualquer alteração dos fatores envolvidos provocará alterações no planejamento
forrageiro, ressaltando a importância da análise e respostas das plantas envolvidas no
sistema.
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De acordo com Coelho (2014) o planejamento forrageiro pode ser dividido em três
níveis: o estratégico, o tático e o operacional. O estratégico envolve o estabelecimento de
metas para a produtividade, através de fluxos e índices financeiros e econômicos e
estimativas da quantidade de forragem necessária a ser produzida em cada área, a taxa de
lotação, o número de piquetes e a quantidade de demanda de forragem (BARIONI et al.,
2003; OENEMA 1998).
O nível tático considera as decisões de como proceder frente a situações de falta ou
excesso de forragem e demandas específicas em um determinado período. Já o nível
operacional, envolve ações diárias ou semanais, como a alocação de pastagem para
diferentes categorias animais, duração do pastejo num certo piquete, antecipação do
1093
período seco das vacas, a duração do período de descanso das pastagens, entre outros
fatores (POLI e CARVALHO, 2001).
A partir disso é possível elaborar um planejamento forrageiro para uma
propriedade, que busque a interação harmônica de todos os fatores envolvidos, tendo em
vista que o pasto está susceptível a condições pouco previsíveis, sendo portanto passíveis
de modificações para melhor adequação ao sistema de produção (COELHO, 2014; POLI
e CARVALHO, 2001).
Nesse sentido, Silveira (2011) cita que a utilização do planejamento forrageiro em
propriedades garante a sustentabilidade da atividade, através do equilíbrio entre produção
de forragem e demanda por alimentos das distintas categorias de animais em cada época
do ano. Para o autor essa ferramenta é útil na gestão dos sistemas de produção, visto que
busca contornar situações adversas à produção de forragem, sendo a principal, as
condições climáticas. Vargas et al., (2019) citam que a ineficiência da gestão dos recursos
nas forrageiras podem acarretar em baixa lucratividade, baixa produtividade, alta
degradação das pastagens e do solo e até mesmo causar a morte do rebanho por falta de
alimento, demonstrando a importância na condução forrageira.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo foi realizado em uma propriedade de gado leiteiro do município


de Boa Ventura de São Roque, PR. Trata-se de uma pesquisa de campo, qualitativa, a
qual não se preocupa com representatividade numérica, mas sim, busca explicar o porquê
das coisas, evidenciando o que convém ser feito, e quantitativa na qual os resultados da
pesquisa podem ser quantificados, além disso, utiliza-se da linguagem matemática afim
de descrever as causas de um fenômeno (GERHARDT e SILVEIRA, 2009). Buscou-se
realizar um planejamento forrageiro para dois anos da propriedade através de um
levantamento dos animais, da área e das forragens.
Após esse levantamento, realizou-se análises químicas de solos de toda à
propriedade, de modo que através dos resultados pudesse ser separada através de lotes.
Além disso, buscou-se encontrar a melhor forrageira e/ou consorciamento para ser
utilizado em cada um dos lotes. Através dela foi possível também determinar as correções
de solo e adubações necessárias.
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Foram levantados os números e idade de animais de modo a determinar o número


de lotes e o método de pastejo que será adotado, bem como a taxa de lotação, afim de
possibilitar o uso mais adequado de cada forragem, através da altura de entrada e saída
dos animais em cada área, evitando situações de sub-pastejo e super-pastejo.
Com isso, foi possível criar um planejamento forrageiro adequado à propriedade,
que leve em conta períodos de descanso das forrageiras, bem como à necessidade de
forragem aos animais. De modo a desenvolver a atividade de uma maneira sustentável e
rentável.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
1094
A propriedade é dividida em 3 áreas, as quais serão denominadas de área 1, 2 e 3.
A propriedade possui 30 cabeças de gado, dos quais 15 são vacas em lactação, dez
novilhas, quatro novilhos e uma vaca seca. Com exceção das vacas em lactação, os demais
animais são alimentados exclusivamente no cocho.
Para a área 1, a qual possui 1,2 hectares, de grama comum que será substituída pela
BRS Zuri. Serão recomendados para o planejamento forrageiro, à dessecação, que deverá
ser realizada dia 05 de janeiro de 2020, através de herbicida de ingrediente ativo glifosato,
o qual, segundo Machado (2016) inibe a ação de uma enzima essencial para o crescimento
das plantas, provocando sua eliminação
A recomendação sequente é a adubação de 166 kg/ha de superfosfato simples,
calculada através de análise de solo e na sequência a utilização da grade, de modo a
propiciarem a incorporação dos resíduos orgânicos, triturar e incorporar plantas daninhas
e preparar o solo. Após 15 dias recomenda-se a realização do plantio da cultivar BRS
Zuri. Uma planta cespitosa de porte ereto e alto que apresenta resistência às cigarrinhas-
das-pastagens e à mancha foliar (EMBRAPA GADO DE CORTE, 2013).
A semeadura deve ser realizada com 3 a 4 kg de sementes puras viáveis/ hectare,
de modo que se estabeleça de 20 a 50 plantas/m2, na profundidade de 3 a 5 cm,
incorporando às sementes por meio de grade niveladora ou através de semeadora.
Após a implantação da pastagem, se recomenda a utilização de calcário dolomítico,
sob a dose de 2,1 toneladas/ hectare, no mês de maio. Além disso se faz necessária a
adubação de 19,6 kg/ hectare de cloreto de potássio, que deve ser realizada em março e
outubro de 2020. Uma vez que, segundo Cunha e Neto (2015) um dos métodos para
aumento da produtividade das pastagens é a adubação, na qual todos os nutrientes são
importantes para que as plantas que compõe a pastagem, cresçam de modo rápido e
satisfatório. Costa, Oliveira e Faquin (2006) também relatam a importância de se manter
em níveis ideais a fertilidade do solo para que se obtenha resultados satisfatórios.
A entrada dos animais deve ocorrer quando as plantas apresentarem altura de
entrada de 70 a 75 cm de altura, o que provavelmente vai ocorrer em novembro de 2020,
à variar, conforme as condições climáticas. A altura de saída dos animais para descanso
da pastagem deve ocorrer quando esta se encontrar com tamanho de 30 a 35 cm. A
importância da altura do pastejo são relatadas por Jochims, Silva e Portes (2018), os
autores citam que remoções excessivas da pastagem, caracterizam o superpastejo, pois
esta situação reduzem drasticamente a área foliar e esgotam as reservas das plantas,
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causando redução no vigor de rebrota, o que resulta em menor produção de forragem e


diminuição da persistência da forrageira.
Na área 2, de 1,5 hectares que apresenta grama comum, recomenda-se a dessecação,
também com herbicida de ingrediente ativo glifosato, com posterior utilização da grade e
plantio da cultivar Tifton 85. Uma cultivar de porte alto, que apresenta colmos maiores e
folhas mais largas, em relação à outras pastagens híbridas, possui resistência e tolerância
ao pisoteio e se destaca pela boa qualidade nutricional e por seus rizomas e estolões
(FONTANELI, SANTOS e FONTANELI, 2012). De modo similar à área 1, para a 2 a
adubação foi de 166 kg/hectare de superfosfato simples realizada em janeiro, anterior à
utilização da grade. Em março e outubro 19,6 kg/ha de cloreto de potássio e 2,1 toneladas
1095
de calcário dolomítico, aplicado à lanço, em maio de 2020.
Em ambas as áreas (1 e 2) serão adotados o piqueteamento rotacionado. Esse
método, de acordo com Júnior et al., (2003), tem sido uma das principais técnicas
adotadas para a intensificação de sistemas pastoris, consiste na utilização de no mínimo
dois piquetes submetidos a períodos de descanso e ocupação. Na ocupação, os animais
utilizam o pasto para alimentação, enquanto que no descanso ocorre a rebrota da
forrageira, por conta da ausência de animais. Para tanto, as áreas serão divididas em
piquetes de 60 m2, no qual ficaram por cerca de um a dois dias.
A área 3 destina-se a produção de culturas anuais, apresenta cerca de 4,42 hectares,
nos quais serão cultivados milho, aveia e azevém. Portanto, será implantando o milho
verão em 2019, com espaçamento de 50 cm destinado à silagem ou grão úmido com
adubação de 413 kg/hectare de formulado NPK 08.20.20 na linha de plantio e 289
kg/hectare de cloreto de potássio, jogado à lanço em outubro. No inverno será adotado o
consórcio aveia/azevém, com adubação de 08.20.20 na dose de 247 kg/ hectare e 206 kg/
hectare de cloreto de potássio.
Para 2021, será utilizado o conceito de agricultura regeneradora de cobertura do
solo, através do consórcio ervilhaca e amendoim forrageiro nas áreas 1 e 2. Esse conceito
envolve o efeito de reversão, que a pastagem possui, em reduzir as ações causadas pelos
animais nas características físicas do solo, ocasionadas pelo pisoteio (MORAES et al.,
2000).
Além disso, nas áreas 1 e 2 haverá a adubação de 200 kg/hectare de formulado NPK
08.20.20, de modo a propiciar a manutenção dos níveis adequados de fertilidade do solo.
Uma vez que, de acordo com Souza et al., (2001) a ausência de adubação ou reposição
da extração de nutrientes, podem causar às pastagens variados graus de degradação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O planejamento forrageiro é uma importante ferramenta para organização da


propriedade, que leva em consideração aspectos relacionados à pastagem, ao solo e ao
rebanho.
Além disso, a utilização do planejamento pode proporcionar aumentos na
disponibilidade de forragem de alta qualidade em qualidade adequado para o rebanho;
assegurar a produtividade; causar a persistência e eficiência das pastagens; melhorar a
2021 Gepra Editora Barros et al.

produtividade por vaca e por área; menor dependência de silagem; maior capacidade de
lotação por hectare; entre outros fatores.
No presente estudo, adotou-se medidas como pastoreio rotativo, plantio direto e
adubações de cobertura e na linha aliados ao planejamento, os quais juntos podem
proporcionar o desenvolvimento da atividade de uma maneira sustentável e rentável, de
modo que as famílias produtoras possam se manter na propriedade com boa qualidade de
vida, evitando o êxodo rural.

1096
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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 99

PONTOS DE MATURAÇÃO INFLUENCIAM NA QUALIDADE DA


FARINHA DE ACEROLA?
MOLHA, Nicholas Zanette
Graduando em Agronomia
Faculdade de Ciências Agronômicas, Unesp
nz.molha@unesp.br

CÂNDIDO, Hebert Teixeira


Pós-graduando em Horticultura
Faculdade de Ciências Agronômicas, Unesp
hebert.candido@unesp.br 1100

SANTOS, Ingrid da Silva


Graduanda em Nutrição, IB, Unesp
ingrid_9672@hotmail.com

FERNANDES, Maria Fernanda Primo


Graduanda em Nutrição, IB, Unesp
mariafernandaprimo@hotmail.com

LEONEL, Magali
Pesquisadora
Centro de Raízes e Amidos Tropicais, CERAT, Unesp
magali.leonel@unesp.br

RESUMO

A acerola é um fruto nativo do continente americano, o qual é altamente perecível após a


colheita. O fruto possui alto teor de vitamina C e pode ser utilizado para a fabricação de
farinhas com ou sem sementes. O presente trabalho teve como objetivo avaliar a farinha
de acerola elaborada a partir de frutos em três diferentes pontos de maturação: frutos com
coloração de casca verde (VD); frutos com coloração de casca vermelha, independente
do tom de vermelho e ausência de coloração verde (VE); e frutos com coloração de casca
vinho (VI). Os tratamentos foram escolhidos devido à simplicidade de separação manual
durante a colheita. As variáveis analisadas foram: rendimento, umidade, cinzas, lipídeos,
fibra bruta, coloração e fenóis totais. Os frutos de coloração vinhos tiveram o menor
rendimento após a secagem. Todos os tratamentos apresentaram valores de umidade em
conformidade com a legislação vigente. A farinha VI apresentou 3,5 g100g-1 de lipídeos,
VD e VE não apresentaram valores detectáveis. As farinhas elaboradas não apresentaram
diferença para o teor de fibras e cinzas. A farinha VD foi a que apresentou maior
luminosidade e hue, o que lhe confere tonalidade menos avermelhada. O teor de fenóis
totais aumentou conforme o ponto de maturação. Assim, as farinhas de acerola podem ser
consideradas farinhas ricas em fibras e com um considerável teor de minerais. E, as
farinhas VD e VR, classificadas como livres de gorduras totais.

PALAVRAS-CHAVE: Malphigia emarginata L, Agregação de valor, Nutrição.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

A acerola é um fruto originário do continente americano, provavelmente Caribe e


Antilhas. O fruto é composto majoritariamente pelo mesocarpo (polpa), que corresponde
à 70%-80% de sua massa, seu epicarpo (casca) é fino e o endocarpo trilobado, o qual
geralmente contém uma semente. Os frutos maduros contêm umidade em torno de 95%
e são altamente perecíveis com vida útil inferior a 4 dias em temperaturas superiores a 20
ºC (MOURA et al., 2018).
Segundo o último Censo Agropecuário, a produção brasileira de acerola foi de
60.966 toneladas e com valor de produção superior a 91 milhões de reais. A fruta é
cultivada em 6.646 propriedades rurais, a qual ocupa 5.753 hectares e distribuída por 1101
todos os Estados brasileiros. A Região Nordeste se destaca como principal polo produtor,
principalmente o Estado de Pernambuco, responsável por 35% da produção nacional
(IBGE, 2021).
Os frutos de acerola podem ser utilizados para a produção de farinha, a qual pode
ser preparada a partir de frutos com ou sem sementes (REIS et al., 2017) e a partir de
resíduos da indústria de polpa (ABUD e NARAIN, 2009; AQUINO et al., 2010). A
farinha de acerola se apresenta como uma boa opção para a substituição parcial da farinha
de trigo, devido ao seu alto conteúdo de ácido ascórbico que aumenta o seu valor nutritivo
(AQUINO et al., 2010), sendo que as farinhas produzidas a partir de frutos com semente
apresentam maior conteúdo de ácido ascórbico (REIS et al., 2017). Além disso, pode ser
considera uma farinha rica em fibras (STORCK et al., 2015). A farinha pode ser
empregada para a fabricação de biscoitos do tipo cookie e barrinha de cereais (ABUD e
NARAIN, 2009; AQUINO et al., 2010; RESSUTE et al., 2019).
Dessa forma, devido a sua importância nutracêutica, oportunidade de
aproveitamento dos resíduos da indústria de polpa, importância econômica, e pouco
tempo de prateleira dos frutos in natura, este trabalho teve como objetivo estudar a
qualidade da farinha de acerola elaborada a partir de diferentes pontos de maturação,
sendo assim, elaborou-se a seguinte hipótese: farinhas de acerola elaboradas a partir de
diferentes pontos de maturação são iguais? Espera-se gerar conhecimento que possa ser
utilizado para o aproveitamento dos frutos em seus diferentes estádios de maturação e
agregação de valor.

MATERIAL E MÉTODOS

Os frutos foram obtidos na Fazenda Experimental do Lageado, UNESP, Botucatu-


SP. O experimento foi composto por três tratamentos: farinha obtida a partir de frutos
com coloração de casca verde (VD); farinha obtida a partir de frutos com coloração de
casca vermelha, independente do tom de vermelho e ausência de coloração verde (VE); e
frutos com coloração de casca vinho (VI). Esses pontos foram escolhidos devido à
simplicidade para separação manual durante a colheita. Para o preparo das farinhas, os
frutos foram lavados em água corrente, alocados em bandejas de alumínio, encaminhados
para secagem em estufa com circulação de ar forçada em temperatura de 55°C por ± 72h
e posteriormente moídos em moinho de facas. As farinhas foram preparadas com uso
2021 Gepra Editora Barros et al.

integral dos frutos, sem a retirada das sementes. As variáveis analisadas foram:
rendimento, umidade, cinzas, lipídios, fibra bruta, cor (L*, hue e croma) e fenóis totais.
O rendimento foi determinado a partir da diferença entre a massa inicial (frutos in natura)
e a massa final (após a secagem dos frutos em estufa a 55°C). A umidade foi obtida pelo
método de secagem em estufa com circulação de ar a 105°C por mais de 8h. O teor de
cinzas foi determinado a partir de combustão em mufla a 550°C. A matéria graxa
(lipídeos) foi obtida em extrator Soxhlet, utilizando-se éter de petróleo. A determinação
de fibra bruta foi realizada por hidrólise ácida seguida de hidrólise alcalina (AOAC,
2012). A cor foi obtida em Colorímetro Minolta, CR-400. Para a análise de fenóis totais,
utilizou-se o método do espectrofotômetro, com Folin-Ciocalteu utilizado como reagente
1102
(SINGLETON et al., 1999). As análises foram realizadas em triplicatas, submetidas à
análise de variância e ao teste de médias Tukey no software SISVAR (FERREIRA, 2014).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O rendimento de massa de frutos após a secagem a 55ºC foi melhor para os


tratamentos VD e VE, possivelmente devido a maior umidade apresentada pelos frutos
no estádio VI, próximos à senescência (MANICA, 2003). A umidade da farinha foi maior
no tratamento VI (Tabela 1). Apesar da diferença de umidade entre os tratamentos
testados, todos se apresentaram abaixo do valor estabelecido pela ANVISA, 25% para
frutos desidratados (BRASIL, 2005) e abaixo daquelas apresentadas em outros estudos
(PAULA et al., 2018; REIS et al., 2017). O teor de cinzas não apresentou diferença entre
os tratamentos (Tabela 1). As cinzas encontradas neste estudo ficaram um pouco abaixo
do teor encontrado por Amorim (2016) que encontrou 5,31 g100g-1 e superiores aos
estudos de Paula et al., (2018) que encontraram 2,37 g100g-1, Aquino et al. (2010) 3,03
g100g-1 e Marques et al. (2013) 1,65 g100g-1 (farinha de semente) e 3,46 g100g-1 (farinha
de bagaço). Variação que pode ocorrer devido ao estado nutricional da planta e ao teor de
umidade da farinha, o qual pode diluir ou concentrar o teor de minerais. Amorim (2016)
mostrou que o teor de cinzas em farinhas de acerola é superior aos teores encontrados nas
farinhas de abacaxi, cajá, maracujá e manga. Logo, uma farinha com considerável teor de
minerais. Segundo Moura et al. (2018) os principais minerais presentes em acerola são o
potássio, magnésio, cálcio e fósforo.

Tabela 1. Rendimento de matéria prima (%) e nutrientes (g 100g-1) em farinhas de acerola (base úmida).
Rendimento** Umidade Cinzas Lipídeos Fibras
Tratamento
% g 100g-1
VD 9,0 a 11,9 c 4,1ns nd 13,2ns
VE 9,06 a 16,1 b 4,3ns nd 10,3ns
VI 8,6 b 18,5 a 4,5ns 3,5 13,2ns
C.V (%) 1,76 2,04 4,79 0,68* 15,08
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*Desvio padrão; **Massa de frutos disponíveis para moagem após secagem em estufa a 55°C; ns: não
significativo pelo teste F (p < 0,05); nd: não detectado. Médias seguidas pelas mesmas letras não diferem
estatisticamente entre si pelo teste Tukey (p < 0,05).

As farinhas VE e VD não apresentaram valor detectável de lipídeos, assim, podem


ser classificadas segundo a legislação como: ausente para gordura totais. O tratamento VI
apresentou valor de 3,5 g100g-1 em sua composição centesimal, portanto, acima do
mínimo para ser considerado um alimento de baixo teor de gordura 3 g100g-1 segundo
RDC nº 54 de 12 de novembro de 2012 (BRASIL, 2012). No entanto, ao se considerar o
desvio padrão de VI (Tabela 1), seu valor pode ser classificado como de baixo teor para
gorduras totais. O teor de lipídeos encontrado na farinha VI ficou abaixo dos teores 1103
encontrados por Marques et al. (2013) para farinhas de resíduos de acerola 5,27 g100g-1
(farinha de semente) e 5,61 g100g-1 (farinha de bagaço) e muito próximo ao apresentado
por Prakash e Baskaran (2018) de 3,2. g100g-1 (farinha de resíduo de sementes). Segundo
esses autores, os principais ácidos graxos presentes na fração lipídica são o oleico
(31,9%), linoleico (29,2%), palmítico (21,8%), esteárico (13,9%) e linolênico (1,3%).
Segundo a literatura, a peroxidação lipídica pode causar a deterioração dos lipídeos
ao longo da maturação das acerolas (MOURA et al., 2018; PRAKASH e BASKARAN,
2018). No entanto, os resultados encontrados neste estudo são diferentes (Tabela 1),
porém estão de acordo com os apresentados por Xu et al. (2020) que encontraram maior
teor de lipídeos em acerolas maduras. Segundo Caetano et al., (2011) a elevada atividade
antioxidante da acerola pode inibir a peroxidação do ácido linoleico (±30% da fração
lipídica) e retardar a formação de peróxidos. Em estudos com banana Campuzano et al.
(2018) encontraram maiores teores de lipídeos em estádios mais avançados de maturação,
os quais se correlacionaram com os teores de açúcares e carboidratos, e poderiam estar
associados à conversão de carboidratos em lipídeos. No entanto, neste estudo não foram
avaliados os teores de açúcares, carboidratos e atividade antioxidante. Assim, não está
claro o maior teor de lipídeos no tratamento VI.
O teor de fibras (Tabela 1) ficou abaixo dos teores encontrados em outros estudos
(AMORIM, 2016; MARQUES et al., 2013; STORCK et al., 2015). No entanto, todas as
farinhas podem ser consideradas ricas em fibras, pois apresentam valores superiores a 5g
por porção (BRASIL, 2012).
Com relação à cor das farinhas, os maiores valores de L* e hue apresentados pela
farinha VD, mostram que essa apresentou coloração mais clara e maior distância dos tons
de vermelho (Tabela 2). A coloração mais escurecida apresentada pelas farinhas VE e VI,
com tendência a coloração avermelhada, pode ser devido a composição dos frutos nesse
estádio apresentarem maiores teores de carotenoides e antocianinas (BELWAL et al.,
2018). Trabalhando com diferentes temperaturas de secagem (60 ºC, 70ºC e 80ºC) Reis
et al. (2017) encontraram valores que variaram de 36,1 – 40,9 (L*), 32,0 – 36,3 (croma)
e 67,3 – 68,5 (hue), para a mesma data de avaliação. Apesar dos valores de L* estarem
próximos aos valores apresentados por este estudo (Tabela 2), os valores de hue e croma
mostram que as farinhas daqueles autores tinham menor tendencia para o vermelho.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Tabela 2. Parâmetros de coloração.


Tratamento L* Hue c
VD 36,90 a 61,67 a 23,32 b
VE 34,47 b 57,53 c 25,98 a
VI 34,54 b 58,56 b 22,94 b
C.V (%) 1,14 0,21 1,77
Médias seguidas pelas mesmas letras não diferem estatisticamente entre si pelo teste Tukey (p < 0,05).

O tratamento VI apresentou maior teor de fenóis totais, o qual aumentou conforme 1104
a maturação dos frutos (Tabela 3). Os frutos de acerola podem ser considerados uma
excelente fonte de compostos fenólicos (RIBEIRA da SILVA et al., 2014), os quais
aumentam com a maturação dos frutos e têm seus teores preservados em detrimento do
teor de vitamina C (MOURA et al., 2018). Dentre esses compostos, têm-se
principalmente: derivados do ácido benzoico, fenilpropanóides, flavonoides e
antocianinas (BELWAL et al., 2018). Os fenóis totais encontrados nas farinhas (Tabela
3) são inferiores ao teor encontrado em farinha de casca de jabuticaba 2,45 mg GAE 100g-
1
(MARQUETTI et al., 2018), outro fruto amplamente distribuído em pomares caseiros.

Tabela 3. Fenóis totais (mg EAG 100g-1).


Tratamentos Fenóis totais
VD 127,90 c
VE 165,99 b
VI 198, 03 a
C.V (%) 4,15
Médias seguidas pelas mesmas letras não diferem estatisticamente entre si pelo teste Tukey (p < 0,05).

CONCLUSÕES

O maior rendimento de matéria prima foi obtido com os frutos verdes e com os
vermelhos. A farinha VD foi a que apresentou coloração com menor tendência para o
vermelho. As farinhas VD e VE são livres de gorduras totais, enquanto a farinha VI
apresentou valou de 3,5 g 100g-1. O teor de fenóis totais aumentou conforme a maturação
do frutos. Todos os tratamentos apresentaram valores de umidade em conformidade com
a legislação vigente. Todas as farinhas podem ser consideradas ricas em fibras e de
considerável teor de minerais.
2021 Gepra Editora Barros et al.

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1107
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 100

KOMBUCHA E SEUS BENEFÍCIOS À SAÚDE HUMANA: UMA


REVISÃO INTEGRATIVA

SILVA, Barbara Lisboa Lucena


Graduanda em Licenciatura em Ciências Biológicas
Universidade Federal de Alagoas
lucenabarbara@outlook.pt

ALVES, Raniele Oliveira


Doutoranda em Biotecnologia Industrial pelo Programa de Pós-Graduação - RENORBIO
Universidade Federal Rural de Pernambuco 1108
ranieleoliveira@outlook.com

SANTOS, Emeson Farias Araujo


Graduando em Licenciatura em Ciências Biológicas
Universidade Federal de Alagoas
emeson.araujo@gmail.com

PORTO, Tatiana Souza


Doutora em Tecnologia Bioquímica-Farmacêutica pela Universidade de São Paulo
Universidade Federal Rural de Pernambuco
portots@yahoo.com.br

PORTO, Camila Souza


Doutora em Biotecnologia pelo Programa Programa de Pós-Graduação - RENORBIO
Universidade Federal de Alagoas
camila.porto@penedoufal.br

RESUMO
Kombucha é uma bebida fermentada com sabor ácido e efervescente que é originada a
partir da fermentação de chá preto ou verde (Camellia sinensis) com a ação de um
consórcio microbiano de bactérias e leveduras (SCOBY). Esta bebida vem ganhando
destaque devido às suas propriedades funcionais e características sensoriais atraentes ao
consumo. No entanto, há uma necessidade de evidências clínicas que demonstrem suas
propriedades funcionais. Assim, este trabalho teve por objetivo realizar uma revisão
sistemática sobre as principais evidências clínicas sobre os benefícios da kombucha para
a saúde humana, bem como verificar as principais atividades biológicas presentes na
bebida. Os artigos foram incluídos no período de 2015 a 2020. Foram selecionados
trabalhos científicos publicados em português e inglês. Realizou-se uma busca em quatro
bases de dados eletrônicas da literatura revisada por pares, sendo elas: Pub Med, Scopus,
Science Direct e Web of Science. A análise ocorreu por meio da verificação do conteúdo
em organização, codificação e categorização das informações obtidas por meio da
estratégia população, intervenção, comparador e desfecho. Após a busca sistemática na
literatura, os trabalhos disponíveis foram totalizados em 1.093 nos quais foram
selecionados 16 e incluídos na seleção para a revisão sistemática integrativa. Entre os
trabalhos elegíveis para revisão, foi possível evidenciar atividades biológicas importantes
para promoção à saúde do ser humano, como atividades anti-inflamatória, antioxidante e
antimicrobiana. Deste modo, a bebida kombucha pode ser considerada um alimento
funcional importante, em destaque para aquelas pessoas que buscam uma melhor
qualidade de vida, tendo em vista a presença de atividades biológicas essenciais para
manutenção da saúde.
2021 Gepra Editora Barros et al.

PALAVRAS-CHAVE: Fermentação, Bebida Funcional, Atividades Biológicas.

INTRODUÇÃO

O chá fermentado conhecido como kombucha vem despertando interesse devido às


suas propriedades benéficas à saúde. Apesar de estar ganhando grande destaque
atualmente, segundo registros, essa bebida teve origem na China por volta de 221 a. C.
Com a expansão da procura de novas rotas marítimas comerciais, a bebida fermentada
acabou sendo inserida em outros países e no ano de 1960 pesquisadores suíços
1109
constataram que o consumo do chá trazia benéficos a saúde humana, o que levou a
popularização da bebida (KAPP; SUMNER, 2019)
A kombucha é uma bebida fermentada produzida a partir da fermentação do chá
preto ou chá verde (Camelia sinensis) por meio da adição de açúcar e de um consórcio
microbiano formado por bactérias e leveduras denominado SCOBY. O SCOBY
(traduzido do inglês Symbiotic Culture of Bacteria and Yeast) que consiste na cultura
simbiótica de bactérias ácido lácticas e bactérias ácido acéticas como também leveduras
(AMARASINGHE; WEERAKKODY; WAISUNDARA, 2018). Esses micro-
organismos degradam o substrato que pode ser o chá ou o açúcar, quebrando-os e
convertendo-os em álcool, ácido acético, ácido lático, enzimas e vitaminas C, K e do
complexo B. As bactérias também produzem celulose formando um biofilme celulolítico
redondo e emborrachado na superfície do líquido (AYED; BEN ABID; HAMDI, 2017)
A kombucha é uma bebida que apresenta um grande potencial de ascensão no
mercado por ser um produto saudável e natural. Tem sido considerada por muitos
pesquisadores como uma bebida funcional por conter uma vasta quantidade de polifenóis,
ácidos orgânicos, enzimas dentre outras substâncias, onde estas são responsáveis por
alguns efeitos promotores da saúde, como atividade antioxidante, antidiabética, distúrbios
metabólicos dentre outros, além de possuir lactobacilos que ajudam a fortalecer e
restaurar a microbiota intestinal, podendo se tornar uma alternativa para a substituição de
refrigerantes e bebidas alcoólicas (VILLARREAL-SOTO et al., 2020).
A bebida vem ganhando popularidade em todo o mundo devido as suas funções
benéficas à saúde, entre eles estão: efeitos antidiabéticos, antioxidantes e anti-
inflamatórios, em células de câncer colorretal, hepatite, doenças no fígado, doenças
cardiovasculares, encefalomielite, além de melhorar o funcionamento da microbiota
intestinal (BHATTACHARYA et al., 2016). No entanto, há uma necessidade em verificar
as evidências clínicas que demonstrem quais são os reais benefícios que a kombucha
apresenta.
Diante disso, o presente trabalho teve como objetivo realizar uma revisão
sistemática sobre as principais evidências clínicas com respeito aos benefícios do
consumo de kombucha para a saúde humana, bem como verificar as principais atividades
biológicas relatadas nos estudos.
2021 Gepra Editora Barros et al.

MATERIAIS E MÉTODOS

Área de estudo

Foi executada uma revisão sistemática da literatura segundo De-La-Torre-Ugarte-


guanilo; Takahashi; Bertolozzi, 2011 buscando compreender a qualidade e avaliando os
estudos já publicados, como também investigando as possíveis lacunas que esses
trabalhos pudessem apresentar. Foram investigados os trabalhos publicados disponíveis
para a análise dos dados, os quais apresentassem resultados dos benefícios gerados pelo
consumo da kombucha para a saúde humana.
1110
Busca da literatura

Foram selecionadas quatro bases de dados eletrônicas de literatura, revisadas por


pares, sendo elas: Pubmed, Scopus, Science Direct e Web of Science. A realização da
busca ocorreu através de dois pesquisadores, tendo o auxílio de um terceiro pesquisador
em casos de discordância entre pesquisadores. Sete termos foram utilizados para as buscas
pesquisadas em inglês, entres elas estão: Kombucha, Efeitos (Effect), Doenças (Disease),
Atividade (Activity), Benefícios (Benefits) e Saúde (Health). A partir da combinação dos
operadores booleanos, formulou-se as buscas: Kombucha AND Effect, Kombucha AND
Disease, Kombucha AND Activity, Kombucha AND Benefits e Kombucha AND Health.
As palavras-chave utilizadas para a seleção dos trabalhos se deu por base de dados, sendo:
Pubmed “free full text” entre os anos de 2015 a 2020, Scopus “keywords”, “articles” e
“review” entre os anos de 2015 a 2020”, Web of Science “title, “articles” e “articles”entre
os anos de 2015 a 2020 e Science Direct “research articles” entre os anos de 2015 a 2020.
Foi acordado não incluir teses, dissertações e monografias. Foram eliminados trabalhos
duplicados entre as bases de dados, bem como os que não se aplicavam à temática do
estudo.
A seleção dos trabalhos ocorreu em duas etapas. O primeiro passo foi a avaliação do título
e resumo de forma independente pelos dois pesquisadores. Em seguida foi executada uma
avaliação por meio de leitura integral dos trabalhos a fim de selecionar os trabalhos
elegíveis a temática e objetivo da pesquisa para compor a revisão sistemática
bibliográfica, utilizando o diagrama PRISMA.

Critério de Inclusão

Os artigos que traziam resultados relacionados à presença de atividades biológicas


na kombucha como atividade antioxidantes, anti-inflamatória, antimicrobiana, dentre
outras, além de estudos que relataram evidências científicas com ensaios clínicos em
animais, in vitro e seres humanos que demonstram a melhora no quadro dos nas atividades
fisiológicas quando tratados com kombucha.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Critérios de Exclusão

Os seguintes estudos foram excluídos: artigos com estudos da composição


microbiana, que apresentassem apenas aspectos físico-químicos e microbiológicos e
relacionados com o desenvolvimento do processo da produção de kombucha.

Coleta dos dados e análise de dados

O primeiro passo consistiu em organizar os conteúdos conforme os dados de


interesse dos artigos que apresentavam em suas pesquisas quais eram as evidências
científicas do consumo do chá kombucha para promover a saúde de qualidade às pessoas. 1111
O segundo passo foi compilar as informações por meio da seguinte ordem: título, autor,
ano de publicação, país onde a pesquisa foi realizada e conclusão que as pesquisas do
trabalho validaram. O terceiro passo se deu através da sintetização dos dados por
categorias apresentando nomes dos autores, ano de publicação, país onde a pesquisa foi
realizada e a conclusão que o trabalho validou. Os dados foram coletados por meio dos
critérios contendo as informações do autor, ano, país, P.I.C.O. (População, intervenção,
comparador e desfecho) e resultado. A análise das informações extraídas dos artigos deu-
se por meio da análise do conteúdo, com os seguintes passos: organização, codificação e
categorização das informações obtidas por meio da estratégia P.I.C.O. (BORGES, 2020
apud BARDIN, 1976).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Seleção dos estudos para compor a revisão sistemática sobre os benefícios da bebida
kombucha para saúde humana

O mapeamento iniciou-se pela análise do número absoluto dos artigos científicos


encontrados nas quatro bases de dados analisadas de acordo com os termos utilizados
(kombucha, kombucha and effect, kombucha and activity, kombucha and health,
kombucha and benefits e kombucha and diese), onde foi observado o número total de
1.093. Na Figura 1 pode-se observar a distribuição da frequência de acordo com os termos
de busca utilizados nas diferentes bases de dados.
Diante dos termos de busca utilizados para seleção dos estudos da revisão
sistemática sobre kombucha e seus benefícios à saúde humana, foi possível verificar que
o termo de busca "kombucha" foi o que mais apresentou trabalhos disponíveis, isto pode
ser explicado por esse alimento ser uma bebida milenar, no qual provocou um rol de
interesses para a academia científica. No entanto, esse termo de busca por ser muito
genérico apresentou muitos trabalhos ilegíveis para compor esta revisão sistemática.
Diante disso, o melhor termo de busca utilizado foi "kombucha and effect" uma vez que
apresentou trabalhos mais específicos e legíveis para compor a revisão sistemática.
Somando-se a isso, a base de dados "Science Direct" foi a que mais apresentou trabalhos
disponíveis, independente do termo de busca utilizado, em contrapartida a base de dados
“Pubmed” foi a que apresentou mesmo trabalhos disponíveis. Com isso, para aqueles que
2021 Gepra Editora Barros et al.

desejam compreender sobre a temática, é recomendado a utilização da base de dados


“Science Direct”.

Figura 33. Distribuição dos artigos científicos encontrados nas bases de dados pesquisadas com os
termos Kombucha, kombucha and effect, kombucha and activity, kombucha and health, kombucha and
benefits e kombucha and diese no período de 2015 a 2020.
400

350

300

250
1112
200

150

100

50

0
kombucha kombucha kombucha kombucha kombucha kombucha
and effect and activity and health and benefits and disease

SCIENCE DIRECT SCOPUS PUBMED Web of science

Fonte: Autor, 2021

Após a busca dos artigos nas bases de dados, foi realizada a leitura com base nos
critérios de inclusão e exclusão definidos na metodologia, a fim de selecionar os artigos
que apresentavam resultados relacionados à presença de atividades biológicas da
kombucha, conforme observado na Figura 2. Comprovações científicas do potencial
biológico da kombucha são importantes, pois devem visar o bem-estar da população
como também a promoção de saúde, levando em consideração que esses fatores estão
diretamente ligados ao consumo de alimentos saudáveis e que fornecem benefícios à
saúde. Para Silva et al., 2016 os altos índices do aumento de casos de doenças crônicas
por parte da população, tem sido despertado uma preocupação e interesse fazendo com
que indivíduos reconsidere seus hábitos alimentares e procurem por opções de alimentos
funcionais, ou seja, que são saudáveis e que satisfaçam as atividades nutricionais básicas
no organismo humano, além de ser uma fonte de potencial a saúde (SILVA, 2016). Em
contrapartida, a kombucha é um alimento alternativo para os indivíduos que buscam
melhores condições de saúde, visto que é uma bebida funcional devido as suas
propriedades biológicas (SALAFZOON; HOSSEINI; HALABIAN, 2018; SHAHBAZI
et al., 2018; JUNG et al., 2019).
Após a busca sistemática da literatura dos trabalhos disponíveis, foram localizados
1.093 artigos. A partir dessa seleção foram feitas as leituras dos títulos e resumos para a
avaliação dos trabalhos que se enquadravam aos critérios de inclusão desta revisão.
Contudo, apesar do grande número de artigos encontrados com os termos de busca
utilizados após a leitura e avaliação na íntegra com base no critério de conter a atividade
biológica, em um primeiro momento, foram selecionados 20 estudos sendo retirados 4
2021 Gepra Editora Barros et al.

por se tratar de trabalhos de revisão sistemática. Por fim, 16 artigos se enquadraram e


foram incluídos na pesquisa (Figura 2).

Figura 2. Fluxograma da busca dos artigos científicos em diferentes bases de dados que apresentam
resultados relacionados aos benefícios do consumo da kombucha à saúde humana identificados por meio
de um processo de pesquisa e seleção.

1113

Fonte: Autor, 2021.

Sumarização e categorização dos principais trabalhos inclusos da revisão


sistemática sobre os benefícios da kombucha entre os anos de 2015 a 2020

Durante a análise dos dados levantados pela revisão sistemática sobre os benefícios
da kombucha, pode-se perceber que dos 16 artigos selecionados, foram desenvolvidos
ensaios pré-clínicos in vitro (por meio da cultura de células e ação de reagentes) e in vivo
(a partir de análises entre organismos animais), nenhum artigo relatou sobre ensaios
clínicos em humanos. As principais atividades biológicas, ensaios clínicos e efeitos estão
apresentados na Tabela 1. A exemplo foram observadas evidências científicas da bebida
relativo à prevenção de algumas doenças como estresse oxidativo, processos
inflamatórios, esteatose hepática, danos cerebrais, câncer e diabetes, através de modelos
experimentais in vitro e in vivo (VÁZQUEZ-CABRAL et al., 2017; JAFARI et al., 2020;
HYUN et al., 2016; KARIBI; SETORKI, 2016; SALAFZOON; HOSSEINI;
HALABIAN, 2018; ZUBAIDAH et al., 2019).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Tabela 1. Atividades biológicas e ensaios clínicos encontrados na literatura tendo kombucha como
fonte de tratamento publicadas entre os anos de 2015 a 2020.

Resultados
Autor/ano Ensaio Atividade biológica Efeito
BELLASSOUED et Ratos (Wistar – via Atividade Dieta hipercolesterolêmica
al., 2015 alimentar oral) antioxidante

KARIBI; SETORKI, Ratos (Wistar – Atividade Danos cerebrais (isquemia


2016 condições controladas) antioxidante cerebral transitória e 1114
reperfusão)

HYUN et al., 2016 Camundongos Atividade Esteatose hepática e danos


(C57BLKS – via antioxidante ao fígado
alimentar oral)

VÁZQUEZ-CABRAL in vitro (Células Atividade Estresse oxidativo e


et al., 2017 monocíticas humanas antioxidante e anti- processos inflamatórios
THP-1) inflamatória

SALAFZOON; Camundongos (BALD Atividade Câncer de mama


HOSSEINI; – via alimentar oral) antioxidante
HALABIAN, 2018

SHAHBAZI et al., in vitro (Reagente Atividade Estresse oxidativo


2018 Folin-Ciocalteu e antimicrobiana e
DPPH)) antioxidante

GAGGÌA et al., 2019 in vitro (Células de Atividade Recuperação de danos


fibroblastos) antioxidante oxidativos

ZUBAIDAH, et al., Ratos (Wistar albinos – Atividade


2019 indução de antidiabética Dimunuição dos níveis de
estreptozotocina) glicose

JUNG et al., 2019 Camundongos db/db Efeito probiótico Doenças hepática


(C57BLKS – via gordurosa não alccólica
alimentar oral
2021 Gepra Editora Barros et al.

KAEWKOD; in vitro (células Atividade Toxidade seletiva em


BOVONSOMBUT; NIH/3T3 e células antioxidante e células cancerígenas
TRAGOOLPUA, Caco-2) inibição de colorretal
2019 bactérias
patogênicas

PAKRAVAN; Camundongos (NMR - Atividade Síndrome do intestino


KERMANIAN; indução de sulfato de antioxidante permeável
MAHMOUDI, 2019 dextrano de sódio)
1115
LEE et al., 2019 Camundongos (via Atividade Doença hepática gordurosa
alimentar oral antioxidante não alcoólica

JAKUBCZYK et al., in vitro (determinação Atividade Estresse oxidativo


2020 espectro fotométrica – antioxidante e anti-
reagente DPPH) inflamatória

ALAEI; DOUDI; Coelhos (originados da Efeito probiótico Proteção da microflora


SETORKI, 2020 Nova Zelândia) intestinal

VILLARREAL et al., in vitro (DPPH; 15-, Atividade Antiproliferativa de células


2020 lipoxigenase; células antioxidante e anti- tumorais
humana de câncer de inflamatória.
cólon; células de câncer
de mama)
JAFARI et al., 2020 in vitro (fibroblastos de Atividade Estresse oxidativo
camundongos L929 – antioxidante
ATCC-CCL1)
Fonte: Autor, 2021

Devido à popularidade da kombucha está aumentando, tem movimentado cada vez


mais a comunidade científica para investigar o seu papel na saúde humana, tendo em vista
que os benefícios da kombucha são um campo de estudo recente (KAPP; SUMNER,
2019).
Muitos trabalhos científicos publicados nos últimos anos têm apontado sobre a
importante relação entre uma dieta saudável na prevenção de doenças crônicas.
Atualmente a maioria dos indivíduos não tem um estilo de vida saudável, mas a grande
informação sobre as consequências do sedentarismo, má alimentação, diabetes entre
outras, tem despertado em toda a população mundial a busca de um estilo de vida mais
saudável a fim de uma maior promoção de saúde (LEAL et al., 2018). Isso porque o
consumo de alimentos funcionais tem evidenciado uma relação de melhoria na qualidade
de vida de pessoas que apresentam doenças crônicas, em destaque as metabólicas; a
2021 Gepra Editora Barros et al.

melhoria na qualidade de vida dessas pessoas com enfermidades crônicas com o uso de
alimentos funcionais ocorre devido a presença de propriedades essenciais no
retardamento das complicações degenerativas das doenças crônicas como: vitaminas,
ácidos orgânicos e fibras alimentares (SILVA; ORLANDELL, 2019).
Com isso, a maioria dos benefícios do consumo de kombucha foi estudada apenas
em modelos experimentais e há a necessidade de evidências científicas baseadas em
modelos humanos. Todavia a kombucha tem sido buscada como uma alternativa de
bebidas saudáveis que trazem benefícios adicionais além dos disponíveis através da
alimentação, promovendo assim saúde aos seus consumidores.
Dentre os efeitos benéficos da kombucha à saúde foram encontrados entre os
1116
estudos uma importante atividade antioxidante proporcionada pelo chá. Essa função está
ligada a presença de polifenóis, incluindo também flavonóides, estes por sua vez que
possuem propriedades quelantes, ou seja, sua combinação com metais livres diminui sua
probabilidade de danificar moléculas vitais que participam de processos fisiológicos
(JAKUBCZYK et al., 2020) e potencializado durante o processo fermentativo. Com isso
as propriedades antioxidantes da kombucha contribuem para redução de radicais livres
no organismo (BELLASSOUED et al., 2015). Essa função desempenha um papel de
proteção ao organismo humano contra estresse oxidativo que é causado pelo acúmulo
desses radicais. Os pesquisadores Gaggìa e colaboradores (2019) relataram que o preparo
da kombucha a partir de chá preto e verde apresentou uma maior atividade antioxidante
em comparação com outro tipo de chá (rooibos). A importância de que mais estudos sobre
a atividade antioxidante proporcionada pela bebida kombucha podem apresentar um
importante avanço na prevenção de doenças como câncer e aterosclerose, tendo em vista
que esse efeito é capaz de neutralizar danos oxidativos dos radicais livres nas células
(MIRANDA et al., 2010). Eles são responsáveis pela proliferação de reações que podem
danificar o sistema biológico.
A kombucha também foi avaliada quanto ao potencial anti-inflamatório ou
imunomoduladores, fazendo-se necessário mais estudo na área para uma maior
comprovação. Entre eles, Villarreal-Soto et al. (2019; 2020) observaram que o chá preto
de kombucha foi capaz de inibir in vitro a atividade da 5-lipooxigenase, uma enzima
envolvida na conversão de ácidos graxos em leucotrienos e implicada na inflamação.
Além disso, Vázquez-Cabral et al. (2017) aplicaram kombucha a macrófagos ativados
por peróxido de hidrogênio (THP-1) e relataram uma redução na secreção de citocinas
pró-inflamatórias (TNF-α e IL-6). Além disso, o chá kombucha apresenta um importante
valor medicinal para pacientes com doenças inflamatórias intestinais, como ruptura de
mucosa, ulceração e câncer de cólon (PAKRAVAN et al., 2019). No entanto, o trabalho
de Pakravan et al., 2019 foi desenvolvido por meio de um procedimento metodológico
utilizando animais, com isso faz-se necessário o desenvolvimento de novas pesquisas por
meio de análises desses efeitos produzidos no organismo humano. É necessário
experimentos clínicos em humanos porque, mesmo apresentando efeitos positivos
relativos à prevenção de doenças inflamatórias intestinais em animais, a kombucha pode
apresentar outros efeitos quando aplicado em humanos.
Quanto ao efeito antimicrobiano, os artigos pesquisados neste trabalho mostraram
que a bebida kombucha apresentou grande potencial, principalmente para as cepas de S.
2021 Gepra Editora Barros et al.

aureus e Salmonella typhimurium, Escherichia coli (MIZUTA, 2020; SHAHBAZI et al.,


2018). A kombucha possui diversas substâncias tanto inerentes ao chá quanto produzidas
durante a fermentação, essas substâncias como o ácido acético, ácido glucônico, ácido
glucurônico, bacteriocinas, são indicadas como responsáveis por produzir esse efeito
antimicrobiano (MIZUTA, 2020). Essa atividade biológica apresenta uma importante
função no organismo na inibição de microrganismos patogênicos evitando assim o
desenvolvimento de doenças em indivíduos.
A diabetes mellitus está entre as doenças que mais tem afetado pessoas em todo o
mundo. Segundo Ogurtsova et al. (2017), estima-se que cerca de 415 milhões de pessoas
apresentam altos níveis de glicose no sangue. Dados projetados para o ano de 2040,
1117
estimam que o número de pessoas com diabetes chegará a 642 milhões. A causa desta
doença está diretamente ligada a resistência à insulina pelas células do corpo que acabam
não desempenhando sua função normal. Zubaidah et al. (2019) buscou analisar a
atividade antidiabética da kombucha em 24 ratos Wistar albinos machos modificados
geneticamente. Após o processo de fermentação e análise, o chá foi aplicado por via oral
em ratos diabéticos induzidos pelo composto estreptozotocina em 5 ml/kg durante 28
dias. Foi constatado que os ratos diabéticos tratados com kombucha apresentaram um
melhor perfil lipídico comparado ao grupo de ratos diabéticos de controle, o consumo de
kombucha resultou na redução dos níveis de TG (triglicerídeos) e LDL Low Density
Lipoproteins, em contrapartida, os ratos diabéticos do grupo de controle apresentaram
altos níveis de colesterol HDL. Os efeitos atribuídos a kombucha pela pesquisa podem
ser devido aos compostos fenólicos apresentados pela fruta cobra juntamente com a
kombucha. O estudo de Alaei, Doudi e Sertoki (2020), buscou analisar os efeitos do
chá kombucha em relação a microbiota intestinal de coelhos machos da Nova Zelândia.
As análises deram-se a partir de 4 grupos divididos em: dieta normal, dieta com alto
colesterol, dieta normal mais kombucha e dieta rica em colesterol mais kombucha. Os
resultados do trabalho demonstraram que houve significativas mudanças na microbiota
intestinal dos coelhos a partir do consumo da kombucha. Foram observados efeitos
positivos em atividades como hipercolesterolemia e aterosclerose.
Como já comprovado por muitos estudos, uma dieta balanceada pode influenciar
diretamente no desenvolvimento da doença (SALES-PERES, 2016). Dessa forma, é
importante o consumo de produtos que além de saudáveis desenvolvam um papel de
prevenção contra doenças. A kombucha aparece como uma fonte rica em potenciais na
prevenção de doenças como a diabetes. Diante dos dados apresentados, pode-se constatar
que são necessárias uma maior análise de ensaios clínicos randomizados que busquem
validar os efeitos benéficos da kombucha em relação à diabetes e que comprovem que o
seu consumo pode reduzir consideravelmente os níveis de diabetes no sangue.
Durante a pesquisa desenvolvida no presente estudo foram observados muitos
efeitos positivos no consumo da kombucha para a saúde humana. Durante os anos o
crescimento na produção de artigos científicos nesta área tem aumentado
consideravelmente, mostrando que com a tendência do consumo de alimentos e bebidas
mais saudáveis, naturais e funcionais que as pessoas têm desenvolvido há a necessidade
de buscar mais alternativas para suprir essa demanda atual. A kombucha tem se mostrado
um forte substituto para bebidas gaseificadas, como o refrigerante e bebidas alcoólicas,
2021 Gepra Editora Barros et al.

tendo em vista a diminuição do consumo desta bebida nos últimos tempos devido a grande
quantidade de açúcar, além dos problemas de saúde causados pelo seu consumo, como
diabetes, pressão alta, dentre outros.
Foram também observados que ainda há a necessidade de se realizar mais pesquisas
aplicadas em ensaios randomizados para validar os efeitos das atividades biológicas
referentes a kombucha em seres humanos. Portanto, estudos realizados em humanos são
necessários para validar as atividades biológicas da kombucha, no entanto os resultados
encontrados nos trabalhos analisados são muito satisfatórios e com o aumento das
pesquisas, a tendência é que mais estudos sejam realizados e os efeitos da kombucha
sejam gradualmente confirmados.
1118

CONCLUSÕES

O levantamento dos artigos sobre os benefícios da kombucha na literatura


possibilitou evidenciar que muitas pesquisas científicas têm sido realizadas com o intuito
de obter comprovação dos efeitos promotores à saúde pelo consumo da kombucha. No
presente trabalho os 16 artigos que foram analisados todos demonstraram resultados
relacionados à presença de atividade biológica, como atividade anti-inflamatória, anti-
hipertensiva, antioxidante, antidiabéticas, antiproliferação de células tumorais, proteção
da microbiota intestinal, proteção a danos cerebrais e proteção a doenças hepáticas. No
entanto, ainda se fazem necessários mais pesquisas na área para fortalecer as evidências
das propriedades presentes na kombucha, tendo em vista que existem grandes
oportunidades de potenciais desta bebida para a saúde do ser humano.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 101

POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO DOS ÁCIDOS ORGÂNICOS


COMO ADJUVANTES NO PROCESSO DE TECNOLOGIA DE
BARREIRA APLICADOS A CONSERVAÇÃO PESCADO: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA

SANTOS, Emeson Farias Araujo


Graduando em Licenciatura em Ciências Biológicas
Universidade Federal de Alagoas
emeson.araujo.santos@gmail.com
1122
SANTOS, Aldeci França Araujo dos
Mestranda em Diversidade Biológica e Conservação nos Trópicos
Universidade Federal de Alagoas
aldeci-franca@hotmail.com

SILVA, Barbara Lisboa Lucena


Graduanda em Licenciatura em Ciências Biológicas
Universidade Federal de Alagoas
lucenabarbara@outlook.pt

PORTO, Camila Souza


Doutora pelo Programa de Pós-graduação em Biotecnologia-RENORBIO
Universidade Federal de Alagoas
camila.porto@penedo.ufal.br

RESUMO

Este trabalho teve por objetivo analisar sistematicamente trabalhos disponíveis nas bases
de dados eletrônicos científicas sobre o uso de ácidos orgânicos como auxílio adjuvante
na conservação do pescado, bem como obter indicadores relativos ao potencial e
aplicações biotecnológicas. Como procedimento metodológico houve a pesquisa
bibliográfica integrativa nas bases de dados ScieLo, Web of Science, SCOPUS,
ScienceDirect, Google Scholar e BDTD. Os critérios de elegibilidade foram trabalhos de
pesquisas experimentais e revisões sistemáticas, nos idiomas inglês, espanhol e
português. A análise deu-se por meio da análise do conteúdo, com a técnica análise
categorial. Dos 290 trabalhos encontrados foram selecionados 8 trabalhos como elegíveis
para revisão. Foi possível verificar poucos artigos publicados como artigos científicos
recentemente e mais trabalhos de conclusão de curso. Somando-se a isso, os ácidos
orgânicos são substâncias importantes para conservação do pescado, com atribuições em
atividades antioxidantes e antimicrobiana. Entre diversas substâncias químicas, os ácidos
orgânicos possuem propriedades físicas e químicas importantes para conservação de
produtos alimentícios. Exemplo dessas propriedades são os potencias biotecnológicos
antioxidante e antimicrobiano presentes nos ácidos orgânicos. Conclui-se que os ácidos
orgânicos são uma alternativa de conservação na indústria alimentícia do pescado, sendo
os ácidos mais utilizados os ácidos cítrico, acético e lático, devido ao potencial
antioxidante e antimicrobiano.

PALAVRAS-CHAVE: Antioxidante, Antimicrobiano, Tecnologia do Pescado.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

Para a comercialização de um pescado de qualidade, com um processo do


beneficiamento de forma eficiente e com menor impacto ao meio ambiente, a indústria
pesqueira encontra-se no desafio de prover novas técnicas biotecnológicas capazes de
conservar o pescado, além de atribuir garantia de uma conservação com maior
durabilidade e, ao mesmo tempo, conferir qualidade ao produto (FAO/WHO, 2013;
TSIRONI; TAOUKIS, 2018; TSIRONI; HOUHOULA; TAOUKIS, 2020). Apesar da
excelente composição nutricional, a carne do pescado é altamente perecível, devido à alta
concentração de água nos tecidos, quantidade de muco e fatores microbiota associada;
sendo, portanto, fatores limitantes para a comercialização e consumo deste tipo de
produto alimentício (CORBO et al., 2009; TSIRONI; TAOUKIS, 2012; TSIRONI; 1123
TAOUKIS, 2018).
O pescado possui alto valor nutricional, devido a alguns fatores: ótima fonte de
aminoácidos essenciais como a lisina e leucina; ácidos graxos poli-insaturados; vitaminas
A, D e complexo B; uma ótima fonte de minerais e cálcio; além de possuir grande teor de
proteínas de alto valor agregado e de fácil digestão, o que pode conferir ao produto um
status de alimento funcional (MARTINS; OETTERER, 2010; ANDRADE; BISPO;
DUZIAN, 2009). No entanto, esses valores nutricionais podem ser afetados, de forma
negativa, durante os processos químicos, físicos e microbiológicos quando não utilizado
técnicas de conservação do produto capazes de retardar a proliferações de
microrganismos maléficos, o que resultaria diretamente na qualidade do alimento
(MOTTA, 2013; ERKMEN; BOZOGLU, 2016, LEONARDI, AZEVEDO, 2018).
Os métodos de conservação e processamento do pescado podem diferir de acordo
com diversos fatores, tais como: a espécie do pescado, idade, forma de captura e de acordo
com o local (VIEIRA, 2003; FAO / WHO, 2013; TSIRONI et al., 2017). Assim sendo,
mundialmente, 35% do processamento de conservação e comercialização do pescado é
de forma congelada (FAO, 2020). Existe na literatura a utilização de novos produtos
oriundos da biotecnologia para melhorar o processo de conservação de alimentos, bem
como potencializar a qualidade do produto. Estas técnicas são conhecidas como
“tecnologias de barreiras”, sendo produtos ou subprodutos com um conjunto de fatores
com potencial de conservar o produto por meio barreias que impedem a deteriorização do
pescado (ERKMEN; BOZOGLU, 2016).
Os ácidos orgânicos constituem a classe de conservante mais utilizada em alimentos
em geral, por serem compostos orgânicos que inibem o crescimento tanto de bactérias
quanto de fungos, além de existirem relatos sobre a inibição da germinação e do
crescimento de esporos de bactérias (SETHI et al, 2013; GAUTAM; AZMI, 2017; WHO,
2017). Entretanto, é importante saber quais são os ácidos orgânicos utilizados, quais as
tecnologias de produção dos ácidos orgânicos, classificar de acordo com a frequência que
é utilizada, identificar o princípio ativo das propriedades de cada ácido orgânico e sua
implicação no processamento de conservação do produto. Entender essas lacunas é
importante para o desenvolvimento de novas tecnologias de barreiras capazes de
conservar o produto com maior durabilidade e qualidade do produto pesqueiro
(ERKMEN; BOZOGLU, 2016). E isto é importante porque há um aumento na busca por
consumo de produtos e subprodutos do pescado, acarretando maior crescimento no
mercado industrial do pescado (FAO, 2016). Logo, este mercado necessita de tecnologias
de barreiras eficientes.
Levando em consideração a revisão integrativa da literatura como ferramenta capaz
de integrar e sintetizar a literatura bibliográfica disponível nas bases de dados eletrônicos,
o objetivo do presente trabalho foi realizar uma revisão bibliográfica sistematicamente
2021 Gepra Editora Barros et al.

sobre a utilização de ácidos orgânicos na conservação do pescado, bem como obter


indicadores qualitativos ou não relativos ao potencial e aplicações biotecnológicas dos
ácidos orgânicos.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo e aspectos éticos

O presente estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica de natureza quanti-


qualitativa de acordo com os princípios de Mendes, Silveira e Galvão (2008). Baseada na
revisão integrativa da literatura, norteada por cinco passos de forma linear e gradual 1124
(CROCHANE, 2015). Para tanto, foi preciso identificar o problema/lacuna na literatura,
selecionar os artigos científicos para compor o embasamento teórico-científico, coletar
os dados e analisar as informações disponíveis nos trabalhos primários.
A Resolução 466/12 CNS-CONEP (Conselho Nacional de Saúde / Comissão
Nacional de Ética em Pesquisa) enquadra este projeto como dispensado do Comitê de
Ética, uma vez que a Revisão Integrativa da Literatura é caracterizada como um
documento digital de arquivo (dados) público assegurado pela Lei de Acesso à
Informação Pública (LAI) (BRASIL, 2011) e passivo de disponibilização pelas
plataformas de divulgação científica.

Identificação do problema

O problema foi identificado com a elaboração da seguinte pergunta: Quais as


implicações do uso de ácidos orgânicos para a conservação do pescado? Quais são os
ácidos orgânicos mais utilizados na conservação do pescado? Os ácidos orgânicos são
realmente bons subprodutos para conservar o pescado? O que caracteriza os ácidos
orgânicos como bons conservantes? O que ainda falta ser feito para potencializar o uso
de ácidos orgânicos na conservação do pescado?
Os estudos foram selecionados entre os meses de outubro de 2020 a fevereiro de
2021. Os critérios de inclusão dos estudos foram: trabalhos originais publicados entre os
anos de 2017 a 2021, idiomas em inglês, espanhol e/ou português. Foram excluídos
trabalhos em outros idiomas, duplicados e trabalhos de revisão.

Busca da literatura

As buscam dos artigos foram executadas nas plataformas de dados ScieLo, Web
of Science, SCOPUS, ScienceDirect, Google Scholar e BDTD (Biblioteca Digital
Brasileira de Teses e Dissertações).

Termos de buscas

Houve a padronização de palavras-chaves para busca dos artigos, sendo-as:


TITULO-ABS-PALAVRA-CHAVES (“Ácidos orgânicos” AND (“conservação do
pescado” OR “subproduto do pescado” OR “condimento do pescado” OR pescado OR
“indústria alimentícia do pescado”) AND (biotecnologia OR “biotecnologia industrial”
OR “potencial biotecnológico” OR “atividade biológica”) e ("Ácidos orgânicos" E
("conservante de peixe" OU "deterioração de peixe" OU "contaminação de peixe" OU
"controle de contaminante de peixe"); TITLE-ABS-KEY (“Organic acids” AND (“fish
conservation” OR “fish by-product” OR “fish flavoring” OR fish OR “fish food
2021 Gepra Editora Barros et al.

industry”) AND (biotechnology OR “industrial biotechnology” OR “biotechnological


potential” OR “activity biological”) e (“Organic acids” AND (“fish preservative” OR
“fish deterioration” OR “fish contamination” OR “fish contaminant control”); TÍTULO -
RESUMEN - PALABRAS CLAVE (“Ácidos orgánicos” Y (“conservación de pescado”
O “subproducto de pescado” O “condimento de pescado” O pescado O “industria de
alimentos para pescado”) Y (biotecnología O “biotecnología industrial” O “Potencial
biotecnológico” O "actividad biológica") e ("Ácidos orgánicos" Y ("conservante de
pescado" O "deterioro del pescado" O "contaminación del pescado" O "control de
contaminantes del pescado").

Estratégia de busca 1125

Condição de interesse – Perfil dos ácidos orgânicos, Potencial biotecnológico dos ácidos
orgânicos, Ácidos orgânicos utilizados na conservação do pescado.

Intervenção – Procedimento de conservação do pescado a base de ácidos orgânicos.

Delineamento dos estudos incluídos - Estudos laboratoriais, experimentais, bancada e


trabalhos primários.

O presente trabalho seguiu as orientações “PRISMA” (Preferenciais para Revisões


Sistemáticas e Meta-análises) para a realização da busca dos dados nas plataformas
digitais (LIBERATI et al., 2009). Logo, o primeiro passo foi realizar a busca dos dados
nas plataformas eletrônicas já mencionadas com os devidos termos de busca definidos.
Por conseguinte, identificar os estudos a partir das estratégias de busca com a leitura do
título e resumo, e logo em seguida fazer uma seleção dos artigos com a exclusão dos
trabalhos duplicados, revisões e que não tinha informações relevantes para compor a
revisão. Por fim, eleger os estudos e realizar a síntese quali-quantitativa dos trabalhos.
Vale ressaltar o presente trabalho não teve interesse em análises estatísticas das
evidencias científicas sobre as atividades dos ácidos orgânicos, com isso não houve a
inclusão de meta-análise.

Coleta dos dados

A extração das informações dos trabalhos selecionados para compor a revisão


integrativa seguiu um protocolo (Tabela 1) com critérios já definidos, sendo autor, ano,
População, intervenção e desfecho (LIBERATI et al., 2009).

Tabela 1. Critérios de extração das informações importantes dos artigos selecionados para compor a
revisão integrativa da literatura sobre perfil e potencial biotecnológico dos ácidos orgânicos utilizados na
indústria alimentícia do pescado.
CRITÉRIOS INFORMAÇÕES ESPERADAS
Autor Autores que publicaram o trabalho selecionado
para a revisão.
Ano de publicação Ano de publicação dos estudos entre 2017 a
2021.
População Qualquer produto oriundo do pescado.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Utilização de ácidos orgânicos para


conservação do pescado ou seu subproduto;
Intervenção análises de atividades biológicas e potencial
biotecnológico dos ácidos orgânicos; principais
ácidos orgânicos utilizados na conservação do
pescado e afins, bem como sua caracterização.
Conclusão do estudo bem como perspectiva
Desfecho futura para utilização dos ácidos orgânicos na
conservação do pescado.
1126
Fonte: Liberati et al., 2009 (com modificações).

Análise dos dados

As informações dos trabalhos selecionados e elegíveis incluídas na revisão


integrativa foram analisadas conforme os critérios de análise do documento por meio da
técnica de análise categórica através de três passos básicos (BARDIN, 2008).
Sendo, organização dos estudos elegíveis, por meio das bases de dados;
codificação das informações importantes dos estudos, pro meio de uma síntese e
caracterização geral dos trabalhos selecionados para revisão; por fim, a categorização das
informações obtidas, como “perfil dos ácidos orgânicos utilizados na indústria alimentícia
do pescado” e “potencial biotecnológico e Caracterização dos ácidos orgânicos na
conservação do pescado”. Parâmetros estes importantes para verificar se o trabalho
realmente comtemplava as informações necessárias para compor o estudo sobre o
potencial biotecnológico dos ácidos orgânicos na conservação do pescado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Seleção dos estudos sobre o uso de ácidos orgânico na conservação do pescado

Tecnologias de barreias são conjuntos de técnicas e produtos oriundos da


biotecnologia no interesse de conservar o pescado. Entre essas técnicas e produtos, os
ácidos orgânicos são comumente utilizados para conservar o pescado. Para definir quais
ácidos orgânicos mais utilizados, o seu perfil e indicadores que caracterizem com uma
boa tecnologia de barreira foi conduzido uma revisão sistemática a fim de caracterizar o
perfil e os indicadores de aplicações biotecnológicas dos ácidos orgânicos na conservação
do pescado. Ao conduzir essa busca na literatura sobre o uso de ácidos orgânicos como
produtos de conservação do pescado foram rastreados cerca de 290 estudos nos quais
apenas 8 estudos foram considerados elegíveis para compor a revisão sistemática
integrativa.
A grande maioria dos estudos foram trabalhos de conclusão de curso (TCC,
DISSERTAÇÃO E TESE). É importante mencionar todos os estudos não tinham como
objetivo principal avaliar os efeitos dos ácidos orgânicos na conservação do pescado,
entretanto havia indicadores relativos ao potencial biotecnológico de barreias para
aplicação do produto sou subproduto na conservação do pescado. Diante disto, é
importante compreender que a ausência desses trabalhos específicos dificulta a realização
de um estudo de revisão sistemática, necessitando da realização de novos estudos
2021 Gepra Editora Barros et al.

primários que avaliem o potencial dos ácidos orgânicos como uma tecnologia de barreia
no processo de retardar a deteriorização do pescado.

Tabela 2. Caracterização geral dos estudos selecionados para compor a revisão integrativa da literatura
sobre utilização dos ácidos orgânicos na conservação do pescado.

AUTOR / TIPO DE OBJETIVO INTERVENÇÃO DESFECHO


ANO ÁCIDO
Cruz et al., Ácido gálico; Avaliar o efeito de um A composição Esses resultados
2021 Ácido cítrico. revestimento em bicamada química, juntamente mostram que o
de alginato de sódio com as atividades GPE pode ser uma 1127
incorporado ao extrato de antioxidante e ótima alternativa
própolis verde na vida útil, antibacteriana do de conservante
propriedades físico- extrato de própolis natural para
químicas, propriedades verde brasileira cobertura de
microbiológicas e aceitação (GPE) foi peixes.
sensorial de filés de investigada.
Colossoma macropomum.
Dayrell Ácido lático; Avaliar o potencial de Foram utilizados 45 Os melhores
(2019) Ácido cítrico; bactérias probiótica no peixes, divididos em resultados foram
ácido acético. controle de patógenos do nove caixas de 70L, obtidos no
gênero Vibrio, para melhor cujos tratamentos tratamento
desenvolvimento do cultivo utilizados foram: utilizando a
de tainha. controle, utilização de mistura de três
duas cepas cepas bacterianas,
bacterianas e o qual pode ser
utilização de três considerado
cepas bacterianas efetivo como
como potenciais probiótico.
probiótica.
Ribeiro Ácido cítrico; Obter e caracterizar a As silagens foram Não foram
(2019) ácido cítrico. silagem ácida de resíduo de elaboradas com ácido constatadas a
dourada Brachyplatystoma acético como agente presença de
rousseauxii, piramutaba acidificante, sorbato Salmonella,
Brachyplatystoma vaillantii de potássio como bolores e
e pescada amarela agente fungiostático e leveduras,
Cynoscion acoupa, ácido cítrico como coliformes
provenientes do agente antioxidante. termotolerantes à
beneficiamento da indústria 35° e 45ºC e
da pesca. estafilo coagulase
positiva.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Viana Ácido cítrico; Avaliar o potencial Os testes de ensaios Os resultados


(2019) ácido lático antimicrobiano do extrato de microbiológicos in demonstraram que
folhas de araçaúna (Psidium vitro para avaliação o EB tem um
sp.) sobre microrganismos da atividade grande potencial
contaminantes do pescado. antimicrobiana foram antimicrobiano,
realizados pelo porém deve ainda
método de difusão em ser estudado em
disco. Foi relação à
determinada a composição de
Concentração suas substâncias 1128
Inibitória Mínima do bioativas para
EB. Para a estimativa verificar se há
da atividade algum grau de
antimicrobiana do EB toxicidade para o
no controle de consumo humano
patógenos no pescado e assim
refrigerado, foram determinar sua
realizadas contagens segurança para
de Staphylococcus uso na indústria de
aureus (cepa FP) em processamento
UFC/g. pesqueiro.
Nascimento Ácido acético Visou testar esse potencial a Submetidas a O extrato da
(2018) partir de extratos de processos de secagem macroalga
macroalgas coletadas na e recuperação em Sargassum
costa da praia de Piúma – ES. solventes com vulgare, fração
diferentes acetato de etila,
polaridades, contra as mostrou-se
bactérias patogênicas significativamente
comumente eficiente no
encontradas em controle de micro-
pescado e seus organismos
derivados. presentes no
pescado.
Olsen e Ácido Destacar que a preservação O ácido fórmico no Isso pode
Toppe fórmico. da silagem de subprodutos hidrolisado pode encorajar os
(2017). usando ácido fórmico produz contribuir para o processadores de
um hidrolisado de proteína crescimento e o bem- peixes a preservar
que pode funcionar como um estar dos peixes, em os subprodutos
aditivo alimentar útil e não particular em usando silagem
condições ácida e os
2021 Gepra Editora Barros et al.

apenas um nutriente microbiológicas produtores de


alimentar importante. desfavoráveis. rações
incorporarem os
produtos na ração.
Amaral et Ácido acético. Elaborar diferentes produtos Procedimento foi Foram elaborados
al., 2017. a partir de tecnologias realizado em 11 produtos
tradicionais de diferentes etapas: processados a
processamento (defumação, obtenção da carne de partir da carne de
adição de aditivos, pescado, retirada dos mapará, obtendo-
empanamento e filés (sem pele), se assim produtos
1129
congelamento) a partir da obtenção da pasta diferenciados e
carne de mapará base de peixe, adição competitivos,
(Hypophthalmus edentatus). de aditivos e apresentando
defumação de peixes novas opções de
inteiros, além de escolha ao
outros procedimentos mercado
específicos a consumidor do
determinados oeste do Pará.
produtos.
Damasceno Ácido Avaliar o efeito de As amostras foram Os revestimentos
(2016) ascórbico. revestimentos bioativos à divididas em grupos, à base de
base de quitosana sobre a como a seguir: C- quitosana foram
vida útil e a segurança da cavala in natura; T1- efetivos para
cavala (Scomberomorus cavala revestida com prolongar a vida
cavalla) refrigerada. quitosana + óleo útil da cavala,
essencial de orégano embora não tenha
+ ácido ascórbico; T2: havido um único
Cavala revestida com tipo de
quitosana + ácido revestimento que
ascórbico; T3: Cavala tenha sido
revestida com eficiente para
quitosana + óleo todos os
essencial de orégano; parâmetros
T4: cavala revestida analisados.
com quitosana.

Perfil dos ácidos orgânicos utilizados na indústria alimentícia do pescado

Na indústria de alimentos, há um crescente interesse na busca de conservantes


com potencial antioxidante e antimicrobiano no intuito de fornecer proteção contra
deterioração do pescado, bem como assegurar um tempo útil de prateleira com maior
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durabilidade e qualidade do produto (GRAM; HUSS, 1996; CORBO et al., 2009;


VIANA, 2019). De fato, alguns conservantes de origem natural ou sintética são
substâncias que quando adicionada em alimentos não tem fortes influências nas
características físicas, química e, sobretudo, nutritiva do produto alimentício
(LEONARDI; AZEVEDO, 2018). Resultando no interesse dos setores industrial
alimentício e agroindustrial nesses conservantes (TSIRONI; TAOUKIS, 2018).
Exemplo disso foi uma análise do efeito de um sistema de congelamento
utilizando três tipos de ácidos orgânicos “ácidos ascórbico, cítrico e láctico” para avaliar
a qualidade microbiológica de espécies de peixes “Merluccius
merluccius, Lepidorhombus whiffiagoni e Lophius piscatorius” mantidos na forma de
comercial que é resfriado (REY et al, 2012). Ao conduzir essa pesquisa, observaram que
os ácidos orgânicos são subprodutos biotecnológicos importantes para conservação do 1130
pescado, no entanto cada ácido orgânico apresenta propriedades diferentes que interferem
no grau de potencialidade de cada tipo de ácido. O que resulta na necessidade de
caracterizar o perfil de cada ácido orgânico a fim de verificar qual tem maior potencial de
aplicação como tecnologia de barreira na conservação do pescado.
De acordo com a teoria, as substâncias utilizadas como conservantes podem ser
classificadas de acordo com seu grupo bioativo funcional, como exemplo: os
antioxidantes, inibidores enzimáticos e antimicrobianos (LEONARDI; AZEVEDO,
2018). Dentre esses grupos funcionais, é reportado na literatura o potencial
biotecnológico dos ácidos orgânicos na conservação do pescado. Grupos esses como
ácidos orgânicos com função antioxidante e antimicrobiana.
O ácido orgânico com potencial antioxidante tem função de evitar o contato com
o oxigênio livre na atmosfera com o produto alimentício, exemplo de um ácido orgânico
com potencial antioxidante é o ácido cítrico. Já o potencial antimicrobiano tem a função
preservar o produto por meio de matar ou inibir o crescimento de microrganismos
patógenos (NASCIMENTO, 2018). Além disso, a adição de ácidos orgânicos pode ser
aplicada diretamente na carne como uma alternativa para a conservação de alimentos.
Atualmente, o mundo está enfrentando grandes desafios na luta contra a
resistência antimicrobiana. Por isso é fundamental o investimento em produtos com
função de conservantes de forma eficazes no combate a esses patógenos. De acordo com
Gabriel (2012), uma das alternativas na indústria do pescado para controle de
microrganismo patógeno é a utilização de extratos de plantas com potenciais em produzir
metabólitos secundários, como exemplos alguns ácidos orgânicos.

Potencial biotecnológico e Caracterização dos ácidos orgânicos na conservação do


pescado

Tecnologias e/ou biotecnologias são de grande interesse no setor agroindustrial


como procedimento na conservação do pescado. Diante disso, as características dos
ácidos orgânicos tem motivado o interesse na aplicação da conservação de alimentos, em
destaque o peixe (TSIRONI; TAOUKIS, 2018; LEONARDI; AZEVEDO, 2018). Entre
os métodos de conservação e processamento do pescado, os ácidos orgânicos mais
utilizados como conservante do pescado são os ácidos láticos e cítricos (Tabela 3.),
devido a pouca quantidade de oxigênio disponível na carne do pescado após sua morte, o
ácido lático torna-se fundamental para a realização das reações bioquímicas presente no
produto alimentício (VIANA, 2019). Além disso, picos altos de acidez provocados por
ácidos láticos são importantes para inativar determinadas enzimas e preservar os
substratos de fonte energética.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Tabela 3. Tipos de ácidos mais utilizados como alternativa na conservação do pescado.

ÁCIDO ORGÂNICO FUNÇÃO POTENCIAL


BIOTECNOLÓGICO

 Solúvel em água
 Não inflamável
Ácido cítrico Antioxidante  Baixo ponto de fusão
 Atóxico
1131
 Biodegradável
 Propriedade umectante
 Controle enzimático
 Composto químico essencial
Ácido lático Antimicrobiana para a realização de
processos bioquímicos
fundamentais.

 Controle enzimático
 Composto químico essencial
Ácido acético Antimicrobiana para a realização de
processos bioquímicos
fundamentais

O ácido lático é bastante utilizado devido à capacidade de propriedade umectante,


um potencial biotecnológico em propiciar o produto alimentício uma maior retenção de
água; Essa propriedade é importante na conservação no pescado na tentativa de manter o
produto mais hidratado por maior tempo, além de manter o valor nutritivo do produto
(PANGUILA, 2016). O ácido lático pode ser produzido por Streptococcus lactis através
da fermentação, também pode ser produzido em nosso próprio corpo e está presente em
muitos alimentos.
Na conservação do pescado, o ácido cítrico é um dos mais utilizados devido suas
propriedades químicas, tais como: completamente solúvel em água, não inflamável, de
baixo ponto de fusão, atóxico e biodegradável, no qual o torna um grande potencial na
preservação e condimentação de produtos alimentícios (AMARAL et al., 2017), os ácidos
cítricos podem ser obtidos por meios naturais ou artificiais, na forma natural é encontrado
comumente nas frutas por isso se torna um conservante de fácil acesso e uso, pois atribui
acidez ao produto fazendo com que alguns microrganismos maléficos não sobrevivam a
menores pH.
O uso de ácido lático e ácido cítrico como conservante e agente oxidante,
respectivamente, é regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA) desde 1997 proporcionando aos alimentos maior vida útil.
2021 Gepra Editora Barros et al.

CONCLUSÕES

A busca por ácidos orgânicos e seus indicadores de potencial biotecnológico para


aplicação na conservação do pescado é essencial para melhorar as técnicas de barreiras
de deteriorização do pescado, garantindo maior vida útil do pescado. Nessa pesquisa
foram evidenciadas características de indicadores que os ácidos orgânicos possuem para
uma atuação na conservação do pescado e possíveis aplicações biotecnológicas.
No entanto, levando em consideração toda gama de propriedades físicas e
químicas e potenciais biotecnológicos dos ácidos orgânicos, o cenário atual ainda é uma
área de estudo pouco explorada. A partir dessa revisão foi possível compreender que os
ácidos orgânicos, principalmente os ácidos láticos e cítricos, possuem propriedades
importantes para uma melhor conservação do pescado. Diante disso, surge a demanda de 1132
mais investimentos em pesquisas experimentais para avaliar o potencial antioxidante e
antimicrobiano individual de cada ácido orgânico, além de verificar nossas possibilidades
de produção de ácidos orgânicos e suas aplicações no processo de conservação do
pescado.

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February,
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 102

PRODUTOS NATURAIS COMO ALTERNATIVA NO CONTROLE


DE PRAGAS E DOENÇAS
SILVA JÚNIOR, Djanildo Francisco da
Graduando em Agronomia
Faculdades Nova Esperança – João Pessoa/PB
franciscodjann@gmail.com

CARNEIRO, Josenildo Laurentino


Graduando em Agronomia
Faculdades Nova Esperança – João Pessoa/PB
josenildo199819@gmail.com 1135

OLIVEIRA, Lucas Silva de


Graduando em Agronomia
Faculdades Nova Esperança – João Pessoa/PB
lucassilvaoliveira02@gmail.com

SOUZA, Mileny dos Santos de


Docente do curso Agronomia
Faculdades Nova Esperança – João Pessoa/PB
mileny.lopes67@gmail.com

RESUMO

A expansão agrícola promoveu ruptura dos ecossistemas com a implantação de


monocultivos, tornando o ambiente propícios ao ataque de pragas e doenças. O controle
dessas enfermidades geralmente é feito com agrotóxicos. Contudo, o uso indiscriminado
desses produtos pode comprometer o meio ambiente e a saúde pública. Desta maneira, o
objetivo desta revisão foi mostrar os benefícios dos produtos naturais como alternativa
no controle de pragas e doenças. Os óleos essenciais e extratos vegetais tem
características bioquímicos oriundos do metabolismo secundário das plantas, e
apresentam potencial para controlar pragas e doenças. Várias pesquisas demonstram que
estes elementos tem propriedade químicas que quando em contato as pragas e patógenos
atuando como inseticida, fungicida e nematicida, sendo, portanto, eficazes no manejo
fitossanitário dos cultivos. Além disso, tornam a agricultura mais sustentável, pois não
provocam impactos ao meio ambiente e ao ser humano.

PALAVRAS-CHAVE: agrotóxicos, óleos essenciais, extratos vegetais

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento de tecnologias e a crescente demanda por alimentos levou a


expansão da agricultura em todo o território brasileiro (Gomes, 2019). No entanto, o
crescimento exponencial da produção gerou alguns entraves na agricultura, devido ao
ataque de pragas e doenças nas lavouras.
Os insetos oportunistas e os microrganismos patogênicos são um grande problema
no setor agrícola, pois infectam e atacam as plantas e afetam negativamente os cultivos,
2021 Gepra Editora Barros et al.

gerando redução da qualidade dos produtos. Esses organismos além de causar injúrias a
planta e deformação na qualidade do produto, causam perdas produtividade, e
inviabilidade econômica de condução das áreas de cultivo, sendo necessário recorrer a
métodos de controle para contornar essa situação. A forma mais comum de controle
dessas espécies se dá pelo uso de moléculas químicas sintéticas. No entanto, de acordo
com Pinheiro et al. (2018) os produtores em algumas ocasiões por não terem
conhecimento do correto manejo de pragas agrícolas, acabam realizando uso incorreto
dessas moléculas o que ocasiona sérios problemas como a poluição de rios, córregos e do
próprio solo como também ao ser humano. Paralelo a isto, o uso de moléculas químicas
ainda pode induzir a resistência dos insetos a inseticidas, reduzir a população de insetos
1136
benéficos nas lavouras e promover novas pragas agrícolas.
A conscientização social acerca dos malefícios causado pelo uso indiscriminado
desses produtos ao ser humano e ao meio ambiente, em decorrência dos riscos à saúde
pública os custos de aquisição dessas moléculas, são fatores que estão levando a
sociedade a buscar alternativas para minimizar o uso de defensivos agrícolas (Monnerat
et al. (2018).
Em vista disso pesquisas são desenvolvidas buscando um meio alternativo e
ecológico de combater as pragas que não proporcione impactos ao meio ambiente. Como
forma de alternância aos agrotóxicos, os produtos naturais são apontados como eficazes
no controle de pragas e doenças (Sardeiro et al., 2019). Os produtos naturais, são os óleos
essenciais e extratos vegetais que apresentam substâncias orgânicas extraídas de partes
vegetativas de plantas (Taiz et al., 2017), e que exibem qualidades agronômicas
desejáveis. Por possuírem ação inseticida, e microbiocida, são bastante utilizados para o
controle de pragas e doenças na agricultura e contribuem para minimizar o ataque desses
agentes, reduzir aplicação de moléculas químicas, além de ser uma técnica de baixo custo
e oferecer pouco risco ao ser humano e meio ambiente (Ayres et al., 2020). Desta maneira,
o objetivo desta revisão foi o de expor os benefícios dos produtos naturais como
alternativa no controle de pragas e doenças.

REFERENCIAL TEÓRICO

Na agricultura a realização do controle químico é feita em vista a eficiência e a fácil


aplicação desses produtos. Porém, o seu uso indiscriminado pode afetar negativamente o
equilíbrio do ecossistema produtivo, promovendo a mortandade de organismos benéficos
e induzindo a resistência de insetos e patógenos. Com o desenvolvimento de novos
princípios ativos, esses compostos desencadearam um aumento na produção de
compostos químicos, que ocasionou o surgimento de inúmeros produtos do mesmo tipo.
Bettiol et al., (2014) destacam que por ser um país tropical, o Brasil lida com uma alta
pressão de pragas e patógenos na agricultura, ajudando dessa forma, no desenvolvimento
de um grande mercado consumidor de agrotóxicos.
Em vista disso se faz necessário o desenvolvimento de novas moléculas que
promovam o controle fitossanitário dos cultivos, de modo que ofereçam mais segurança,
sejam seletivas e economicamente viáveis (Monnerat et al. 2018).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Como forma de auxiliar no desenvolvimento sustentável dos cultivos agrícolas,


vem-se se utilizando biocompostos de espécies vegetais. Esses compostos são
naturalmente produzidos pelas plantas como forma de defesa, podendo ainda, ser
extraídos e utilizados em diversas finalidades, inclusive no controle sanitário das culturas.
Esses componentes são obtidos através do metabolismo secundário das plantas. De
acordo com Peres (2021), esse metabolismo não é necessário para que as plantas
completem seu ciclo, no entanto, desempenham um papel fundamental para as espécies
vegetais, dentre eles a defesa contra agentes externos. Os compostos oriundos desse
metabolismo são os flavonoides, terpenos e alcaloides, e os dois últimos, bastante
presente nos óleos e extratos vegetais. Esses produtos secundários apresentam uma
1137
atividade contra a herbivoria, ataque de patógenos, competição entre plantas e atração de
organismos benéficos. Os óleos e extratos vegetais podem ter efeito inseticida, repelente
ou deterrente sobre os insetos e ácaros.
A proposta do descobrimento de pesticidas a partir de fontes naturais tem razões
convincentes, tais como, os inúmeros compostos ativos ainda não explorados (Halfeld-
Vieira et al., 2016). Segundo Coser (2018) os produtos oriundos de plantas medicinais e
aromáticas tem grande destaque por atuarem efetivamente no controle de pragas e as
substâncias presentes nestes compostos não são nocivas. Além disso, o uso extratos de
vegetais em proteção de plantas quando comparado aos produtos sintéticos tem a
vantagem de gerar novos compostos os quais os patógenos não se tornem capazes de
inativar, além de serem menos tóxicos, serem degradados rapidamente pelo ambiente,
possuírem um amplo modo de ação e de serem derivados de recursos renováveis.

O ATAQUE DE PRAGAS E DOENÇAS

Os insetos para se desenvolver e completar seu ciclo necessitam de alimentos que


geralmente são fornecidos pelas plantas. Dentre as espécies de insetos as ordens mais
comuns que ocasionam danos são lepidópteras, coleópteros, hemípteras, himenópteras e
dípteras.
No entanto, não apenas artrópodes afetam os cultivos, mas também microrganismos
e vermes têm sua parcela de contribuição nos danos as plantas. Segundo Romão e Araújo
(2021), estimasse que cerca de 10% de todas espécies fúngicas tem caráter patogênico
nas lavouras agrícolas. Estes seres se propagam por meio de esporos, nas lavouras
deslocam-se por meio do vento de espécies vegetais afetadas até plantas sadias,
colonizando os tecidos dos órgãos vegetais como as folhas, raízes, frutos, caules e
sementes; esses organismos desviam as fontes energéticas das plantas como forma de
sobreviverem no ambiente, e através disso podem causar ou não a morte celular e necrose
dos tecidos vegetais, comprometendo órgãos importantes de consumo.
Já os nematoides colonizam os tecidos radiculares formando nódulos e se
alimentam de reservas nutritivas das plantas. Eles comprometem o desenvolvimento e
crescimento das raízes, diminuindo a taxa de absorção de água e de nutrientes e
consequentemente o crescimento da planta (Ferraz e Brown, 2016). Em suma, estas
espécies são corriqueiras nas lavouras brasileiras, e tem sua parcela de contribuição na
limitação da produção.
2021 Gepra Editora Barros et al.

ATUAÇÃO DE BIOCOMPOSTOS NAS PRAGAS E PATÓGENOS

Na natureza há uma vastidão de espécies vegetais com potencial de produzir


compostos repelentes e inseticidas, entretanto, com apenas algumas foram realizados
estudos para comprovação cientifica. Zanuncio Júnior et al. (2018) relatam o uso de
plantas repelentes como Tanacetum vulagare L., Tropaeolum majus L., Tagetes sp.,
Mentha sp., Amaranthus spinosus L., Amaranthus viridis L., Sapindus saponária L.
Nicotiana tabacum L., Ruta graveolens L., Curcuma longa L., Chrysanthemum
cinerariaefolium, Cymbopogon nardus, Azaradachta indica, Sesamum indicum e
Coriandrum sativum, estas podem atuar no controle de insetos sugadores e mastigadores.
1138
Oliveira et al. (2020), observaram o potencial de controlar pulgões, moscas e fungos
de 11 espécies de plantas medicinais, sendo: Rosmarinus officinalis, a Ruta graveolens,
Aloe vera, Equisetum, Cymbopogon citratus, Tagetes erecta, Eucaliptus citriodora,
Curuma longa, Siparuna guianensis, Artemisia absinthium, e Ocimum basilicum. A
exemplo de espécies com potencial de controle de pragas e doenças já estão registradas
comercialmente moléculas orgânicas extraidas de A. indica, além de outras já registrados
como Piper aduncum L., ambos produtos estão registrados para utilização na forma de
óleo essencial.
Os óleos essenciais tem ação inseticidas no controle de espécies coleópteros. Brito
et al. (2018), concluíram que o uso de óleo essencial de citronela contribuiu para redução
de Acanthoscelides obtectus Say, após 48 horas da aplicação do produto. Albiero et al.
(2019) avaliando potencial inseticida de óleos essenciais concluíram que A. indica e A.
graveolens foram efetivas no controle de Sitophilus zeamais.
Oliveira et al. (2020), utilizando óleo essencial de eucalipto no controle de Zabrotes
subfasciatus inferiram que na concentração de 2,5% do óleo essencial de eucaliptos
híbridos do genótipo 1250 e 0321, provocaram a mortalidade de espécies do Z.
subfasciatus. Silva Júnior et al., (2020) estudando o manejo alternativo para besouros
fitofágos na cultura da batata doce, concluíram que o extrato de gergelim foi eficaz no
controle destas pragas. Brito et al. (2019), realizando estudos de óleos essencial no
manejo de Z. subfasciatus, concluíram que o emprego de Cymbopongon winterianus,
Baccharis trimera e Pimpinella anisum, apresentaram efeito fumigante em espécies de Z.
subfasciatus provocando a mortandade deste inseto.
Ckless e Jahnke (2019), avaliaram o potencial de óleos essenciais no controle de
Plutella xylostella no cultivo de couve e concluíram que o uso de Schinus terebinthifolius
Raddi, Eucaliptus grandis Hill ex Maiden e C. winterianus Jowitt foram eficazes no
controle desta praga. Ribeiro (2014), avaliando óleos essenciais no controle de espécies
lepidópteros na cultura da soja concluiu que o emprego de óleo essencial de A. sativum
foi o mais eficiente no controle de espécies Anticarsia gemmatilis e Spodoptera
frugiperda. Stasiak (2018), estudando o potencial inseticida de óleos essenciais sobre
Chrysodeixis includens concluiu que o óleo essencial de Eugenia uniflora L. na
concentração de 1% provocou a maior mortalidade dessa praga.
Os óleos essenciais ainda podem promover o controle de espécies hemípteras.
Martins et al. (2017), estudando a caracterização química e toxicidade de óleos essenciais
cítricos sobre Dysmicoccus brevipes concluíram que os óleos de limão siciliano e laranja
2021 Gepra Editora Barros et al.

doce promoveram maiores mortandade deste inseto. Souza (2017), realizando o controle
do pulgão Aphis craccivora Koch no feijão-caupi com óleos vegetais fixos e essenciais,
constatou que a aplicação de Lippia origanoides e Lippia lasiocalycina promoveram
maior toxicidades a praga em estudo chegando a controlar cerca de 50% destes
indivíduos. Sobrinho et al. (2018), avaliaram o potencial de óleos essenciais no controle
se Aleurodicus cocois na cultura do cajueiro e concluíram que o uso de óleos essenciais
de Lippia alba, Ocimum basilicum e C. citratus se apresentaram com grande potencial no
controle de ninfas de mosca-branca-do-cajueiro em concentrações de 5%.
Nos estudos de Andrade et al., (2018), a bioatividade de extratos hidroalcóolicos
sobre Aphis spp. na cultura da acerola foi avaliada, sendo constatado que os extratos de
1139
arruda, neem e canela promoveram efeito inseticida sobre esta espécie de pulgão. Dantas
et al. (2019), avaliando o uso de extratos botânicos no controle de cochonilha da escama
na cultura da palma forrageira, concluíram que o uso de barbatimão (Stryphnodendron)
na concentração de 10% causou a mortandade de 100% das ninfas desta espécie.
Santos et al. (2020), usando extratos vegetais no controle in vitro de patógenos em
sementes de Glycine max (L.), os extratos alcoólicos de alho, canela, cravo-da-índia na
dose de 10% foram eficiente no controle fúngico nas sementes de soja. Barbiere et al.
(2020) avaliando o controle de Fusarium solani com o uso de óleos essenciais
constataram que os uso de óleos de Mentha avensis e Eucalyptus citriodora se
apresentaram como biofungicidas.
Queiroz et al. (2020), realizando estudos com extratos de óleos essenciais como
alternativa no controle de isolados de Sclerotinia sclerotiorum e Sclerotium rolfsii em
Glycine max L., inferiram que os óleos essenciais de C. citratus, C. nardus e Melissa
officinalis L. inibiram 100% o desenvolvimento fúngico. Silva et al. (2018), realizando o
controle alternativo de Colletotrichum gloeosporioides com óleos essenciais
confirmaram que todos os produtos vegetais aplicados se mostraram eficientes, sendo o
óleo essencial de Malaleuca alternifolia o mais eficiente no controle de crescimento
micelial. Brito et al. (2018), utilizando óleos essencial de C. citratus, C. nardus e A. indica
no controle de insetos e microrganismos, detectou que o uso desses óleos resultou na
diminuição dos crescimentos micelial de Penecillium spp. em vista do aumento da
concentração utilizada.
Além disso, os óleos essenciais podem ter aplicabilidade no controle de nematoides.
Borges (2017), avaliando o efeito nematicida de extratos de plantas do cerrado e óleos
essenciais, concluiu que o uso de óleo de Schinus terebinthifolius reduziu a eclosão de
Meloidogyne javanica e o extrato folhas e ramos de Copaifera langsdroff são eficientes
no controle da eclosão de juvenis de segundo estádio (J2) de M. javanica. Gonçalves et
al. (2017), observando o efeito nematicida de óleo essencial de eucalipto sobre
nematoides de galhas, constatou que o óleo essencial de Eucaliptus globulus nas
concentrações de 2% reduziu em até 90% a população de M. javanica. Gonçalves et al.
(2016), avaliando a atividade antagonista do óleo essencial de Lippia alba (Mill.) em
espécies de M. incognita (Kofoid & White), concluiu que aplicação desse produto
promoveu a um acentuado efeito supressor nesse patógeno. No entanto, a explicação para
esse efeito deletério nas espécies estudadas, está relacionado com a presença de moléculas
orgânicas que algumas plantas ostentam.
2021 Gepra Editora Barros et al.

De acordo com Grandi (2014), algumas espécies vegetais, como a arruda (Ruta
graveolens) apresenta alcaloides, canela (Cinnamomum verum), alho (A. sativum) e
menta (M. spp.) são compostos por terpenos, em quanto que o barbatimão
(Stryphnodendron spp.) e eucalipto (E. spp.) apresentam tanino, e o cravo-da-índia e o
gergelim tem constituintes de compostos fenólicos. Esses componentes auxiliam no
combate de insetos e patógenos indesejáveis uma vez que atuam como inseticidas e
repelentes.
Esses efeitos são comuns quando aplicados os óleos essenciais e extratos vegetais,
pois quando em contato com os organismos liberam as moléculas orgânicas e estas
atuando suprimindo essas pragas ou inibindo seu desenvolvimento, no caso dos
1140
microrganismos. Silva et al. (2018), com o conhecimento e uso dessa tecnologia é
possível obter os óleos essenciais e extratos vegetais, e ainda argumentam que o uso
desses produtos pode trazer benefícios aos produtores de orgânicos, como uma alternativa
ao uso de produtos químicos e manejo de pragas e doenças. Esses relatos só reforçam e
dão ênfase a efetividade desses constituintes orgânicos em vista da atividade supressora
de insetos e patógenos.
Tendo em vista o conhecimento da ação natural desses compostos, Oliveira et al.
(2020) afirmam que a utilização de espécies vegetais no controle se praga são
presumíveis. Entretanto, na visão de Barbiere et al. (2020) mesmo com os estudos sobre
a composição química e biológicas dos produtos naturais, ainda se faz necessário estudos
mais aprofundados nessa área do conhecimento, acerca da utilização desses componentes
vegetais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os óleos essenciais e extratos vegetais promovem o controle de pragas e patógenos


nas lavouras, e com isso, minimizam os impactos provocados pelo uso de agrotóxicos.
Se faz necessário mais pesquisas acerca do uso e eficiência dos produtos naturais
no controle fitossanitário das culturas, bem como o repasse dessa tecnologia para os
pequenos e médios produtores.

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Capítulo 103

PRODUÇÃO DA VIDEIRA ISABEL EM FUNÇÃO DE DOSES DE


BIOFERTILIZANTE E LÂMINAS DE IRRIGAÇÃO

SILVA, Natália Lara Ferreira da


Graduanda em agronomia
Universidade Estadual da Paraíba; Catolé do Rocha, PB
laranatalia75@gmail.com

SANTOS, José Geraldo Rodrigues dos


Prof. Dr. Em Recursos Naturais
Departamento de Agrárias e Exatas 1145
Universidade Estadual da Paraíba; Catolé do Rocha, PB
josegeraldo@ccha.uepb.edu.br

SILVA, Jéssica Trajano da


Graduanda em agronomia
Universidade Estadual da Paraíba; Catolé do Rocha, PB
jessicasilva.trajano04@hotmail.com

LIMA, Alex Serafim de


Pós-Graduação em Sistemas Produtivos Sustentáveis para o Semiárido
Universidade Estadual da Paraíba; Catolé do Rocha, PB
alexcdf14@gmail.com

MAIA, Diogo Dantas


Graduando em agronomia
Universidade Estadual da Paraíba; Catolé do Rocha, PB
diogomaia440@gmail.com

RESUMO

No experimento da videira Isabel foram analisados peso de cacho e peso de cacho por
planta. Objetivou-se com o presente trabalho avaliar os efeitos da aplicação de doses de
biofertilizante e de lâminas de água na produção da videira Isabel. A pesquisa foi
conduzida no setor de agroecologia, Centro de Ciências Humanas e Agrárias - CCHA da
UEPB, Campus IV, Catolé do Rocha/PB. O delineamento experimental adotado na
pesquisa foi o de blocos casualizados, com 15 tratamentos, no esquema fatorial 5x3, com
quatro repetições, totalizando 60 parcelas experimentais, com 2 plantas/parcela,
perfazendo 120 plantas experimentais. Foram estudados os efeitos de 5 doses de
biofertilizante (D1 = 1,0; D2 = 1,5; D3 = 2,0; D4 = 2,5 e D5 = 3,0 L/planta/ciclo) e de 3
lâminas de água de irrigação (L1 = 80%, L2 = 100% e L3 = 120% da NIB – Necessidade
de Irrigação Bruta) na produção da videira Isabel. O biofertilizante foi produzido de forma
anaeróbia em biodigestores pequenos, com capacidade individual para 240 litros. Foram
analisadas o peso do cacho e peso de cachos por planta na colheita da videira isabel. A
produção da videira Isabel aumentou de forma linear com o aumento da dose de
biofertilizante; os efeitos de doses de biofertilizante no peso do cacho foram mais
significativos na lâmina de água L3 (120% NIB); e os efeitos de doses de biofertilizante
no peso de cachos por planta foram mais significativos na lâmina água L2 (100% NIB).
2021 Gepra Editora Barros et al.

PALAVRAS-CHAVE: Vitis labrusca, fertilizante orgânico, produtividade

INTRODUÇÃO

A videira Isabel (Vitis labrusca L.), pertencente à família Vitaceae, gênero Vitis,
é uma das mais antigas plantas cultivadas pelo homem. Essa cultura possui grande
importância econômica, a qual gera muitos empregos diretos e indiretos nos setores de
insumos, processamento, serviço de apoio, produção, distribuição e turismo (NETO;
SOUSA, 2018).
A viticultura destaca-se como uma das mais importantes cadeias produtivas da 1146
agricultura irrigada no Nordeste brasileiro, sendo que, em 2018, 31% da produção
nacional e 14% da área cultivada estão concentrados no Submédio do Vale do São
Francisco (IBGE 2020). Em 2016 a produção total de uvas no Brasil foi de 1.388.859
toneladas, o Estado de São Paulo produziu 158.781 toneladas da fruta, ocupando a terceira
posição no contexto nacional (AGRIANUAL, 2017). Ao longo da última década ocorreu
substituição de cultivares de uvas de mesa, mas não houve ampliação significativa das
áreas cultivadas (IBGE, 2020).
O biofertilizante vem sendo usado na agricultura orgânica como alternativa
sustentável, a gestão sustentável dos resíduos agropecuários tem sido recomendada como
forma a mitigar os problemas causados pelo seu acúmulo. A utilização da adubação
orgânica, por meio da compostagem de resíduos orgânicos, é um método concentrado
e acelerado de decomposição de resíduos semelhante aos processos que ocorrem
naturalmente e gradualmente na natureza para a decomposição e a formação de húmus
a partir de matéria orgânica (Sediyama etal., 2014; Adnan et al., 2017).
Tende a aumentar a vida útil do solo e a não o empobrecer, como acontece quando se
utilizam apenas os adubos químicos minerais ao longo de anos de cultivo (Adnan et al.,
2017).
Os subprodutos da uva são diversos e com seu processamento junto a reações
químicas vão de remédios medicinais à diversas bebidas. Estima-se que
aproximadamente 70% do conteúdo fenólico é preservado no bagaço de uva após
processamento (BERES et al., 2017; DWYER; HOSSEINIAN; ROD, 2014). As uvas
podem ser consumidas in natura mas podem ser obtidos diversos produtos a partir dela
como vinho, suco, geléias, vinagre, óleo de semente de uva, passas, entre outros (BERES
et al., 2017; ZHU et al., 2015).
Uma planta em situação de déficit hídrico responde de diferentes formas, com
alterações no seu metabolismo celular e inibição de processos fisiológicos, como também,
uma planta em situação de excesso de água pode apresentar estresse por deficiência de
oxigênio nas raízes e redução na absorção de nutrientes e água por falta de energia (TAIZ
et al., 2017; NASCIMENTO, 2019). Apesar da resposta positiva para a remoção dos sais
com o aumento da fração de lixiviação adotada, o emprego de lâminas de água elevadas,
pode aumentar consideravelmente as perdas de nutrientes do solo quando as plantas estão
submetidas ao estresse salino (LACERDA et al., 2018).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Na região Nordeste onde a água é um fator limitante, o estresse hídrico é um dos


principais problemas da produção agrícola. Portanto, é necessário irrigações
centralizadas com a quantidade correta. Essas modificações ocorrem em função das
reduções na capacidade das plantas em realizar atividade essenciais, como fotossíntese,
transpiração (CARREGA et al., 2019).
Objetivou-se com este trabalho avaliar os efeitos da aplicação de doses de
biofertilizante e de lâminas de água na produção da videira Isabel.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi executada período entre novembro de 2019 a março de 2020 no 1147
setor de agroecologia, Centro de Ciências Humanas e Agrárias - CCHA, da Universidade
Estadual da Paraíba - UEPB, Campus-IV, em Catolé do Rocha-PB. Noroeste do Estado
da Paraíba, localizado pelas seguintes coordenadas geográficas: latitude de 6º20’28’ Sul
e longitude de 34º44’59’’ ao Oeste do meridiano de Greenwich, tendo uma altitude de
275 m.
A microrregião de Catolé do Rocha apresenta clima tropical, predominando o
semiárido no interior, com médias térmicas elevadas (em torno de 27 °C) e chuvas
escassas e irregulares (menos de 800 mm por ano). A estação chuvosa ocorre de janeiro
a julho, sendo que nesta época as chuvas caem mais nos meses de fevereiro, março e maio
o que chamamos de inverno com histórico de pluviosidade nos últimos cinco anos, 2016,
2017, 2018, 2019 e 2020, respectivamente de 533,2; 623,6; 916,7; 777,7; 1324,91 mm
ano-1 (AESA, 2020), valores médios de temperatura e umidade relativa do ar de 37,5ºC
e 15%.. A vegetação é caracterizada pelo bioma caatinga com plantas espinhosas e
árvores pequenas, como cactos e bromeliáceas.
O delineamento experimental foi o de blocos casualizados, com 15 tratamentos, no
esquema fatorial 5x3, com quatro repetições, totalizando 60 parcelas experimentais, com
2 plantas/parcela, perfazendo 120 plantas experimentais. Foram estudados os efeitos de 5
doses de biofertilizante (D1 = 1,0; D2 = 1,5; D3 = 2,0; D4 = 2,5 e D5 = 3,0 L/planta/ciclo)
e de 3 lâminas de água de irrigação (L1 = 80%, L2 = 100% e L3 = 120% da NIB –
Necessidade de Irrigação Bruta) na produção da videira Isabel. A irrigação foi conduzida
nos horários entre 7 e 9:00, em que durante o período do experimento houve precipitações
pluviométricas que foram consideradas para aplicação das lâminas em questão.
Conforme análise físico-química, o solo da área experimental tem textura arenosa,
composta de 660 g kg-1 de areia, 207 g kg-1 de silte e 132 g kg-1 de argila, com densidade
aparente de 1,44 g cm-3, umidade de saturação de 231,6 g kg-1, umidade de capacidade de
campo de 112,3 g kg-1 e umidade de ponto de murcha permanente de 65,6 g kg-1;
apresentando pHps de 7,24, CEes de 0,83 dS m-1, CTC de 5,42 cmolc kg-1, RAS de 2,69
(mmolc L-1)1/2, PSI de 4,42 e 1,24% de matéria orgânica.
O controle de ervas daninhas foi uma prática rotineira, tendo sido realizados roços
entre as linhas de plantio e limpas manuais nas covas. Foram realizadas retiradas de brotos
e de gavinhas nos ramos de produção, bem como podas de formação e de produção.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura1. Colheita de frutos da videira Isabel

1148

Fonte: autor principal

O combate às pragas foi feito utilizando-se defensivos naturais, como a calda


bordalesa que é composta basicamente por bicarbonato de sódio e cal virgem para a
prevenção e combate de doenças fúngicas da videira. As aplicações foram preventivas e
feitas intervalos de 7 dias.
O preparo da calda bordalesa foi feito pela mistura de 200 gramas de bicarbonato
de sódio pentahidratado e 400 gramas de cal virgem diluídos em 20 litros de água.
Aplicados na forma de pulverização em folhas e galhos.

O biofertilizante foi produzido de forma anaeróbia em biodigestores pequenos,


com capacidade individual para 240 litros, contendo uma mangueira ligada a uma garrafa
plástica com água para retirada do gás metano produzido pela fermentação do material
através de bactérias. O biofertilizante foi produzido à base de esterco verde de vacas em
lactação (70 kg) e água (120 L), adicionando-se 5 kg de açúcar, 5 L de leite, 4 kg de
farinha de rocha MB4, 5 kg de leguminosa e 3 kg de cinza de madeira.

A videira Isabel foi irrigada através de sistema localizado, sendo a distribuição da


água feita por mangueiras gotejadoras, espaçadas de 2,5 metros.
As irrigações foram feitas diariamente, sendo as quantidades de água aplicadas
calculadas com base na evaporação do tanque classe A, repondo-se no dia seguinte o
volume correspondente à evaporação do dia anterior.
Para o cálculo dos volumes de água aplicados, foram levadas em consideração o
coeficiente do tanque classe A de 0,75 (DOORENBOS e PRUITT, 1977) e os coeficientes
2021 Gepra Editora Barros et al.

de cultivos para os diferentes estádios de desenvolvimento das culturas (DOORENBOS


e KASSAN, 1994), além de valores diferenciados de coeficiente de cobertura ao longo
dos ciclos das culturas, sendo a necessidade de irrigação líquida (NIL) diária determinada
pela seguinte equação:
NIL Diária = 0,88 x Kc x Epan x Cs
onde Kc é o coeficiente de cultivo da cultura (tabelado); Epan é a evaporação diária do
tanque classe A, em mm; e Cs é o coeficiente de cobertura do solo (tabelado).
A necessidade de irrigação bruta (NIB) foi determinada pela seguinte equação: 1149
NIB Diária = NIL Diária/(1 - FL) x Ei

onde Ei é a eficiência do sistema de irrigação; e FL é a fração de lixiviação, estimada pela


equação FL = CEa/(5 x CEes - CEa), onde CEa é a condutividade elétrica da água de
irrigação e CEes é a condutividade elétrica limite do extrato de saturação do solo em que
o rendimento potencial da cultura ainda é de 100%.

A nona colheita, realizada em março de 2020, foi concluída quando as plantas


alcançaram os 118 meses de idade.
Para a avaliação da produção da videira Isabel, foram considerados o peso do cacho
e o peso de cachos por planta.
Os efeitos das variáveis estudadas na produção da videira Isabel foram avaliados
através de métodos normais de análises de variância (Teste F), utilizando-se o modelo
polinomial (FERREIRA, 2000), enquanto que o confronto de médias foi feito pelo teste
de Tukey, utilizando-se o programa estatístico SISVAR para realização das análises
estatísticas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As análises estatísticas dos dados da produção da videira Isabel revelaram efeitos


significativos da interação dose de biofertilizante versus lâmina de água, ao nível de 0,01
de probabilidade, pelo teste F, sobre o peso do cacho e o peso de cachos por planta (Tabela
1), indicando que as ações desses fatores foram dependentes, ou seja, um fator exerceu
influência sobre a ação do outro e vice-versa.
Tabela 1. Resumo das análises de variância do peso do cacho (PC) e peso de cachos por planta PCP)
da videira Isabel.
FONTES DE VARIAÇÃO GL QUADRADOS MÉDIOS
PC PCP
Doses de Biofertilizante (D) 4 410,725** 1,016**
Lâminas de Irrigação (L) 2 177,484** O,277ns
Interação DxL 8 177,562** 0,601**
Resíduo 45 28,563 0,167
Coeficiente de Variação (%) 8,49 10,28
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ns
** - Significativs, aos níveis de 0,01 de probabilidade, pelo teste F; - Não significativo.

O desdobramento da interação dose versus tipo de biofertilizante revelou efeitos


significativos das doses sobre o peso do cacho da videira Isabel (Tabela 2),
proporcionando aumentos lineares de 13,25 e 12,1 gramas por aumento unitário da dose
de biofertilizante para as lâminas de água L1 e L3, respectivamente, chegando a pesos de
71,5 e 76,5 gramas na dose máxima de 3,0 L/planta/ciclo (Figura 2). O efeito do estresse
hídrico nas culturas é observado no estudo da resposta das plantas em situações de
estresse é de grande importância, principalmente em contextos regionais onde o cultivo é
afetado por escassez de água e altas temperaturas (AMMAR et al., 2020).
1150
100
90
80
Peso do Cacho (g)

70
60
50
40 ····· L1 ► y = 26,5x + 31,792 R² = 0,98
30 – – L3 ► y = 24,2x + 40,248 R²= 0,95
20
10
0
1 1,5 2 2,5 3
Doses de Biofertilizante (L/planta/ciclo)

Figura 2. Variações do peso do cacho da videira Isabel em função do uso de diferentes doses dos
biofertilizante e das lâminas de água L1 e L3

Tabela 2. Resumo do desdobramento da interação significativa dose de biofertilizante versus lâmina


de irrigação no peso do cacho da videira Isabel.
QUADRADOS MÉDIOS
FONTE DE VARIAÇÃO GL Lâminas de Irrigação
L1 L2 L3
Doses de Biofertilizante (D) 4 422,125** 37,072ns 306,652**
Regressão Linear 1 1550,025** 0,600ns 773,502**
ns
Regressão Quadrática 1 117,160* 98,583 329,420**
Regressão Cúbica 1 1,225ns 19,551ns 146,876ns
ns ns
Desvio da Regressão 1 20,089 25,382 54,752ns
Resíduo 45 28,563 28,563 28,563
* e** - Significativos, aos níveis de 0,05 e de 0,01 de probabilidade, respectivamente, pelo teste F; ns
– Não significativo.

O desdobramento da interação dose versus tipo de biofertilizante revelou efeitos


significativos das doses sobre o peso de cachos por planta da videira Isabel (Tabela 3),
proporcionando aumentos lineares de 0,282 e 0,368 kg por aumento unitário da dose de
biofertilizante para as lâminas de água L1 e L2, respectivamente, chegando a pesos de 4,2
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e 4,6 kg na dose máxima de 3,0 L/planta/ciclo (Figura 3). Os aumentos verificados no


peso do cacho e no peso de cachos por planta podem ser explicados pela melhoria das
características físicas, químicas e biológicas do solo, com o decorrer do tempo
(DAMATTO JUNIOR et al., 2009). A planta adaptada em condições de estresse é
influenciada pelo duração e magnitude do estresse, além da genética variabilidade. Em
condições de baixa disponibilidade de água no solo, vários processos metabólicos nas
plantas podem ser influenciados, como fechamento estomático, declínio na taxa de
crescimento, solutos e acúmulo de antioxidantes e a manifestação de genes específicos de
estresse (MIGUEL et al., 2009).
1151

6
Peso de Cachos por Planta (kg)

3
····· L1 ► y = 0,282x + 3,356 R² = 0,97

2 – – L2 ► y = 0,368x + 3,476 R² = 0,97

0
1 1,5 2 2,5 3
Doses de Biofertilizante (L/planta/ciclo)

Figura 3. Variações do peso de cachos por planta da videira Isabel em função do uso de diferentes doses
dos biofertilizante e das lâminas de água L1 e L2.

Tabela 3. Resumo do desdobramento da interação significativa dose de biofertilizante versus lâmina de


irrigação no peso de cachos por planta da videira Isabel.

QUADRADOS MÉDIOS
FONTE DE VARIAÇÃO GL Lâminas de Irrigação
L1 L2 L3
Doses de Biofertilizante (D) 4 0,675** 1,350** 0,776ns
Regressão Linear 1 2,025** 2,816** 0,418ns
Regressão Quadrática 1 0,446ns 2,011** 0,214ns
ns ns
Regressão Cúbica 1 0,100 0,001 0,093ns
ns ns
Desvio da Regressão 1 0,128 0,012 0,023ns
Resíduo 45 0,167 0,167 0,167
ns
* e** - Significativos, aos níveis de 0,05 e de 0,01 de probabilidade, respectivamente, pelo teste F;
– Não significativo.
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CONCLUSÕES

1. A produção da videira Isabel aumentou de forma linear com o aumento da dose de


biofertilizante;
2. Os efeitos de doses de biofertilizante no peso do cacho foram mais significativos na
lâmina água L3 (120% NIB);
3. Os efeitos de doses de biofertilizante no peso de cachos por planta foram mais
significativos na lâmina água L2 (100% NIB).
4. A dose máxima de biofertilizante proporcionou melhores efeitos da produção da videira
1152
Isabel em condições semiáridas com médias térmicas elevadas e chuvas escassas em
Catolé do Rocha- PB

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1154
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 104

PRODUÇÃO DE NÉCTAR E POTENCIAL PARA PRODUÇÃO DE


MEL DE Acacia mangium WILLD (LEGUMINOSAE,
MIMOSOIDEAE) NO ESTADO DE RORAIMA

MADURO, Cice Batalha


Pós-graduando em Agroecologia
Universidade Estadual de Roraima - UERR
cicebatalhamaduro@gmail.com

SILVA, Sílvio José Reis


Profº. Dr. Orientador Mestrado em Agroecologia 1155
Universidade Estadual de Roraima
silviojosereisdasilva@gmail.com

RESUMO

Acacia mangium, espécie mellifera da família Mimosaceae, apresenta nectários


extraflorais (NEFs) na base dos filódios. A produção de néctar é praticamente constante
o ano todo. Esse néctar é utilizado como alimento para várias espécies de animais,
principalmente insetos sugadores como as abelhas. Entre elas, as da espécie Apis mellifera
que são as principais coletoras desse néctar extrafloral, que é conduzido as colmeias e
transformado em mel. Este estudo teve como objetivo determinar o volume de néctar
produzido e estimar o potencial para produção de mel dos NEFs em plantios de A.
mangium no estado de Roraima. As coletas ocorreram nos meses de abril, maio, julho,
setembro, novembro e dezembro de 2018. Foram examinados 764 NEFs em 30 árvores
amostradas. Dos NEFs examinados, 292 continham néctar suficiente para a determinação
do volume e do percentual de sólidos solúveis totais. Para a estimativa da produção de
mel nos plantios de A. mangium em Roraima, levou-se em consideração o fato das abelhas
consumirem cerca de 70 % do que coletam para seu sustento. Considerando a produção
atual de mel de Roraima em 100 toneladas, isso corresponde a 0,25% do total teórico de
41 mil toneladas estimadas neste trabalho. Este fato demonstra que, a produção de mel
pode ser multiplicada várias vezes e fomentar o desenvolvimento do mercado econômico
local deste alimento.

PALAVRAS-CHAVE: Apicultura, Brasil, Amazônia.

INTRODUÇÃO

Acacia mangium Willd é uma árvore originária das Ilhas de Irian, Java e Molucas,
no leste da Indonésia, província oeste de Papua, Nova Guiné, bem como do Nordeste do
Estado de Queensland na Austrália (TONINI; HALFELD-VIEIRA; SILVA, 2010). No
Brasil existem plantios situados no estado de Roraima, no Amazonas, Amapá, Maranhão,
Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. (ATTIAS; SIQUEIRA; BERGALLO,
2013; INSTITUTO HÓRUS, 2013). Em Roraima, atualmente, os plantios de A. mangium
totalizam uma área de aproximadamente 30 mil hectares (TONINI; HALFELD-VIEIRA;
2021 Gepra Editora Barros et al.

SILVA, 2010) e estão localizados em cinco municípios: Boa Vista, Cantá, Alto Alegre,
Mucajaí e Bonfim, ocupando áreas originalmente cobertas por savanas.
A espécie A. mangium apresenta característica peculiares. Suas folhas típicas caem
já no viveiro de mudas e os filódios se desenvolvem grandemente substituindo as próprias
folhas. O néctar é extrafloral, produzido na base dos filódios e exsudado durante quase
todo o ano sendo, portanto, aproveitado por vários animais, principalmente por insetos
sugadores como abelhas, vespas e formigas. As abelhas sobressaem como coletoras de
néctar, notavelmente a espécie doméstica, Apis mellifera L. (SILVA, 2010).
A apicultura (criação racional de abelhas Apis mellifera) é considerada viável e
economicamente promissora para o agronegócio no estado de Roraima (SILVA, 2007a).
1156
Quando realizada próximo a plantios de A. mangium apresenta altos índices de
produtividade, uma vez que o néctar é disponibilizado em grande quantidade e de fácil
acesso às abelhas. Com base no volume de mel apícola processado na Associação
Setentrional de Apicultores de Roraima (ASA) estima-se que o Estado de Roraima produz
mais de 100 toneladas de mel por ano. Desta produção, provavelmente, a maior
quantidade é oriunda de nectários extraflorais de A. mangium, uma vez que grande parte
dos apiários estão instalados a pouca distância de plantios dessa espécie vegetal. De
acordo com relatos de indígenas de aldeias próximas aos plantios de A. Mangium de que
é possível encontrar mel o ano todo, o aumento na atividade de coleta de mel em colônias
silvestres de A. mellifera confirmam que a presença do exsudato açucarado nos nectários
extraflorais dessa espécie promove um aumento significativo na produção de mel (Silva,
2010).
Diante da importância da A. mangium para a apicultura, esta pesquisa é de grande
relevância por demonstrar o potencial melífero desta espécie vegetal no estado de
Roraima, contudo, existe a necessidade de comprovação científica que confirme esse
potencial. Ante o exposto, o presente trabalho teve como objetivo determinar o potencial
para produção de mel dos NEFs de plantios de A. mangium no Estado de Roraima.

MATERIAL E MÉTODOS

Nestas áreas a vegetação predominante é de savana, conhecida regionalmente como


“lavrado”. As médias anuais de temperatura, umidade relativa e índice de precipitação
para Boa Vista, são respectivamente: 27,45o C; 75,66 % e 1.502,2 mm (EMBRAPA,
1982). Um estudo mais detalhado da distribuição das chuvas em Roraima é dado por Silva
et al. (2015) apresentando uma média história anual maior para Boa Vista, 1.637,7 mm
(1910 a 2014).
Analisou-se indivíduos de A. mangium selecionados aleatoriamente e dispostos nas
bordas do plantio, em um transecto de 100 metros. Foram escolhidos cinco indivíduos de
porte arbóreo em cada data de coleta. Em cada indivíduo foi selecionado aleatoriamente
um ramo com no mínimo 50 folhas (filódios) e próximo do alcance das mãos. Os ramos
foram isolados com sacos de malha fina (tecido de tule).
O isolamento ocorreu aproximadamente às 17:00 h do dia anterior a coleta. No dia
subsequente, sempre no período matutino a partir das 6 h, os sacos foram removidos para
verificação cautelosa da existência de néctar nos NEFs. Em sequência, para melhor
2021 Gepra Editora Barros et al.

controle das amostras coletadas, os nectários foram numerados a partir do filódio que se
encontrava no ápice do ramo (nectário número um). Portanto, o último nectário numerado
foi o que estava no filódio da base do ramo, em direção ao tronco da árvore. Os dados
anotados em caderneta de campo no momento da coleta foram: data, hora, o volume e
teor de sólidos solúveis totais (SST) do néctar coletado. Posteriormente os dados foram
registrados em planilha do Microsoft Excel.
Para coleta de néctar foi utilizado microtubo capilar (o mesmo utilizado para
hematócritos), com dimensões de 75 mm de comprimento, 1 mm de diâmetro interno e
1,5 mm de diâmetro externo, marca Precision Class Line. Esse método consistiu na
colocação do microtubo capilar diretamente no nectário e, devido ao efeito de
1157
capilaridade ocorria a sucção automática, bastando encostar o microtubo na superfície do
néctar (Figura 01).

Figura 01: Microtubo capilar contendo néctar extrafloral de A. mangium (em destaque).

Fonte: Própria autoria (2018).

A altura da coluna do fluido dentro do microtubo foi medida com régua


milimetrada. Para o cálculo do volume de néctar por nectário foi calculada a média para
todos os valores de coluna de microtubo e feita à conversão em microlitros, considerando
a fórmula de cálculo do volume do cilindro, temos: Fórmula 01: Transformação da coluna
de néctar em microlitros. Volume = π x r2 x h, onde π é constante e igual a 3,1415, r2 é
o raio do microtubo ao quadrado = 0,52 e h é a altura da coluna de néctar. Então: Volume
de néctar = 3,1415 x 0,25 x h ou V= 0.785375 x h (V em mm3 = 1μl).
Para o cálculo do volume médio de néctar produzido por planta foi necessário
estimar o total de filódios por árvore e, então, determinar a produção de néctar por hectare.
Como cada filódio de A. mangium apresenta uma glândula nectarífera, realizamos a
contagem destes em duas árvores distintas. Uma no Sítio das Abelhas a pleno sol e com
a copa livre, isto é, não limitado pela copa de outras árvores, e outra dentro dos plantios
comerciais, na Fazenda Haras Cunhã Pucá.
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A medida da circunferência a altura do peito (CAP) foi transformada em diâmetro


altura do peito (DAP). Cada uma das árvores selecionadas foi mensurada por meio de fita
métrica, bem como as medidas das circunferências de todos os galhos. Em seguida foram
realizados os desbastes de todos os galhos e/ou a derrubada da árvore para a contagem
dos filódios. A fórmula utilizada para o cálculo do diâmetro a altura do peito foi: Formula
02: DAP= CAP/π.
A árvore selecionada no plantio de A. mangium do Sítio das Abelhas estava
localizada na borda do plantio, em posição relativamente isolada das demais árvores, sob
luz solar direta, apresentando crescimento vertical pronunciado e em estágio final de
frutificação. Os galhos estavam dispostos acima da medida do DAP. No plantio de A.
1158
mangium da Fazenda Haras Cunhã Pucá a árvore selecionada estava localizada no meio
do plantio, com pouca incidência de luz solar devido a sombra de outras árvores da mesma
espécie. Apresentava crescimento vertical retilíneo e formação de frutos maduros e
imaturos. Os galhos estavam dispostos bem acima da medida do DAP.
Como cada filódio apresenta uma glândula nectarífera na base do pecíolo, o número
de nectários foi considerado igual ao de filódios. Com os dados obtidos na contagem dos
filódios desses dois indivíduos foi realizada a análise de regressão para a estimativa da
quantidade de nectários por planta em função do DAP.
Logo após a determinação do volume de néctar, as amostras contidas no microtubo
capilar foram colocadas diretamente no prisma do refratômetro de mão, para determinar
os teores de sólidos solúveis em percentual. Para essa metodologia foram utilizados dois
refratômetros da marca Eclipse, com escalas de 0 a 50% e outro com escala de 45 a 80%
de teor de sólidos solúveis totais (Figura 02).

Figura 02: Refratômetro de mão utilizado na determinação de SST

Fonte: Própria autoria (2018).

Para a determinação do volume de açúcar considerou-se como sendo o mesmo valor


de SST, determinando-se a provável produção de mel em plantios de A. mangium de
Roraima. A competição pelo consumo de néctar por outros animais, como pássaros e
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outras espécies de abelhas e demais insetos foram desconsideradas, uma vez que não há
parâmetros que possam ser utilizados para sua mensuração.
A produção de mel em plantios de A. mangium foi obtida por meio de visitas a
Associação Setentrional dos Apicultores (ASA), em sua unidade de extração de mel (ou
casa do mel) localizada no bairro de Monte Cristo, Boa Vista - RR. As informações foram
adquiridas com a secretária da ASA, cujos dados sobre a produção de mel estavam
organizados em formato de quadro, descrevendo a data de entrada do produto (por
colheita), o nome do produtor e o total do mel produzido em kg.
Para os dados coletados foram realizadas análises estatísticas de ANOVA no intuito
de verificar as diferenças no volume de néctar produzido entre árvores e a análise de ki-
1159
quadrado para o teor de SSTs.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram realizadas seis coletas durante o experimento nos dias: 26 de abril, 30 de


maio, 21 de julho, 22 de setembro, 08 de novembro e 11 de dezembro de 2018. Examinou-
se um total de 764 NEFs de A. mangium distribuídos em 30 árvores amostradas, durante
o período de coletas. Do total de NEFs examinados, 292 continham néctar suficiente para
a medição no microtubo (Tabela 01).

Tabela 01 - Total de nectários extraflorais de A. mangium amostrados e percentual com néctar por data
de coleta. Boa Vista, Roraima.
Datas Total Com Néctar Percentual.
26/04/2018 127 88 69,3
30/05/2018 135 60 44,4
21/07/2018 100 2 2,0
22/09/2018 167 62 37,1
08/11/2018 116 28 24,1
11/12/2018 119 52 43,7
Total Geral/Percentual 764 292 38,2
Fonte: Própria autoria (2018).

Os NEFs que não apresentaram produção de néctar foram incluídos apenas no total
de NEFs encontrados, portanto, descritos como valor zero.
O maior volume de néctar produzido por árvore foi de 143,7 mm e coletado em 22
de setembro de 2018, com um total para essa data de 304,3 mm (Tabela 02).

Tabela 02: Altura total e médias (mm) de néctar nos micro tubos por data de coleta e por árvores. Sítio
das abelhas. Boa Vista, Roraima.
Árvore\Data 26/04/2018 30/05/2018 21/07/2018 22/09/2018 08/11/2018 11/12/2018
1 58,5 14,9 1,6 143,7 0,0 12,2
2 60,5 9,4 0,4 18,1 161,2 5,9
3 23,8 26,3 0,0 63,6 29,1 3,5
4 21,2 0,4 0,0 31,0 19,6 9,0
5 16,1 80,9 0,0 47,9 90,3 18,5
Médias 36,0 26,4 0,4 60,9 60,0 9,8
Total 180,1 131,9 2,0 304,3 300,2 49,1
2021 Gepra Editora Barros et al.

Fonte: Própria autoria (2018).

O maior volume por nectário foi de 25,9 mm e coletado em oito de novembro de


2018. Comparando o número total de nectários examinados observamos que, mais da
metade (61,8%) não apresentavam quantidade significativas de néctar, embora tenha sido
constatada a presença de vestígios. Estudos realizados para determinar o volume de néctar
têm demonstrado que, ocorre variação significativa entre plantas diferentes, como o de
Queiroz (2015) que ao avaliar diversas plantas do cerrado paulista encontrou grande
variação na produção de néctar floral.
Na coleta de 21 de setembro de 2018 verificou-se que, somente dois nectários
continham néctar suficiente para medição na coluna do microtubo e para determinação 1160
de SSTs. O total de néctar coletado foi de 2 mm de coluna do microtubo para essa data,
onde registramos a presença de botões florais e flores abertas.
Nos meses de setembro e novembro ocorreram os maiores volumes de néctar, com
a coluna do microtubo apresentando um total superior a 300 mm em cada. Essas
diferenças foram confirmadas por meio das análises estatísticas. Utilizando o teste de
ANOVA verificamos diferenças significativas entre as coletas: 1ª (26/04/2018) x 3ª
(21/07/2018) p<0,01; 3ª (21/07/2018) x 4ª (22/09/2018) p<0,01; 3ª (21/07/2018) x 5ª
(08/11/2018) p<0,01 e 4ª (22/09/2018) x 6ª (11/12/2018) p=0,05.
Podemos supor que, em períodos de intensas chuvas como é o caso do mês de julho
em Roraima, as árvores de A. mangium invistam mais energia no crescimento e produção
de flores, diminuindo a produção de néctar, já que esse é um dos meses de maior
florescimento da espécie em Roraima (TONINI; HALFELD-VIEIRA, 2010). Para todas
as coletas foram realizadas análises estatísticas de ANOVA, para verificar as diferenças
no volume de néctar produzido entre árvores. Na coleta de 21 de julho, por ter somente
dois dados válidos, não foi realizada a ANOVA e na coleta de 11 de dezembro não houve
diferença estatisticamente significativa que justificasse a análise de variância. Nas demais
coletas ocorreram diferenças estatisticamente significativas quanto ao volume de néctar
produzido.
Somando os totais de néctar coletados em todas as amostragens obtemos o volume
total de 967,6 mm de coluna do microtubo. Convertendo esse valor em microlitros, por
meio da Fórmula 01, obtemos um total de 759,91 μl. Considerando o total de nectários
avaliados (764), incluindo os que não apresentavam néctar, obtemos uma média de 0,994
μl por nectário para todas as amostras.
Para determinação do volume de néctar produzido por árvore de A. mangium foram
contados todos os filódios de duas árvores, uma a pleno sol no Sítio da Abelhas e outra
em plantio comercial na fazenda Haras Cunhã Pucá. Os valores obtidos foram tabulados
e foi realizada a análise de correlação entre o DAP versus o número de filódio.
Para a árvore da Fazenda Haras Cunhã Pucá a medida do DAP foi 11,8 cm, com
um total de nove galhos apresentando diâmetros entre 1,5 a 4,7 cm. Os valores obtidos
foram tabulados e foi realizada a análise de correlação entre o DAP versus o número de
filódio.
Na Figura 03 pode-se ver no gráfico de dispersão correspondente o valor de R2,
bem como a equação de análise de Regressão linear.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 03: Gráfico de dispersão para o número de folhas (filódios) em função do diâmetro do
galho/DAP. Plantio da Fazenda Haras Cunhã Pucá, município do Cantá, Roraima.

1161

Fonte: Própria autoria (2018).

Na árvore analisada da Fazenda Haras Cunhã Pucá, o valor de R2 foi de 0,9614,


altamente significativo estatisticamente (p<0,01), significando que o modelo se ajustou
perfeitamente aos dados. O gráfico de dispersão correspondente encontra-se na Figura 04.
A equação da análise de regressão obtida foi: y= 594,1x – 1224,5.

Figura 04: Gráfico de dispersão para número de folhas em função do diâmetro do galho/DAP. Sítio das
Abelhas, Boa Vista, Roraima.

Fonte: Própria autoria (2018).

Observando a Figura 03 percebemos que, a linha de tendência cruza o eixo do “X”


indicando, por extrapolação, uma possibilidade de número de folhas negativo, o que
obviamente é impossível. Esse fato indica que, a tendência de linearidade não se aplica
aos galhos com diâmetro pequenos.
Também no gráfico da Figura 04 percebemos que, a linha de tendência linear tocaria
abaixo do eixo X, indicando valor negativo para número de filódio. Este fato indica que,
com diâmetros tão baixos a tendência pode não ser linear.
2021 Gepra Editora Barros et al.

O valor de R2 de 0,972 é altamente significativo estatisticamente (p < 0,01), o que


indica a robustez do modelo na determinação do número de filódio por árvore. A equação
gerada pela análise de regressão foi: y= 1499,9x – 5303,3.
Com as equações de regressão do número de filódios versus DAP ou diâmetro dos
galhos, podemos calcular o volume de néctar produzido por planta. Utilizando-se as
equações de regressão para número de folhas versus DAP obtemos dois cenários distintos,
considerando-se diâmetro de plantios com 15 anos em sítios ruins (DAP = 10 cm) e sítios
bons (DAP = 20 cm), conforme dados de Tonini (2010).
Considerando que a produção média de néctar por nectário de A. mangium é de
aproximadamente um microlitro (= 0,994), podemos estimar a produção por árvores
1162
multiplicando esse valor pelo número de folhas.
Cenário 01:árvores em plantios com DAP de 10 e 20 cm.
Cenário 02: árvores a pleno sol com DAP de 10 e 20 cm.
Tendo em conta que a produção média de néctar por nectário de A. mangium é de
1 mm3, podemos estimar a produção por árvores multiplicando esse valor pelo número
de filódios. Podemos perceber na Tabela 03 que, a produção de néctar por indivíduo de
A. mangium pode ser variável. A menor produção de néctar por árvore ficou abaixo de
5.000 microlitros para o cenário 01, com DAP de 10 cm e a maior ficou próximo de
25.000 microlitros, considerando-se plantios com DAP de 20 cm no cenário 02.

Tabela 03: Produção em litros de néctar de A. mangium, por planta, por hectare, por dia e anual
em Roraima. Considerando 30.000 ha plantados.
Cenário 01 - nos plantios Cenário 02 - a sol pleno
Regressão: y= 594,1x – 1224,5 Regressão: y= 1499,9x – 5303,3
DAP Árvore ha Dia* Anual* Árvore ha Dia* Anual*
10 0,004717 6,55 196520,8 71.730.104 0,009696 13,47 403987,5 147.455.437
20 0,010658 14,80 444062,5 162.082.813 0,024695 34,30 1028945,8 375.565.229
Fonte: Própria autoria (2018).

Se todos os plantios apresentarem um espaçamento de 3,60 m por 2 m, segundo


dados de Tonini (2010), essa premissa nos permite calcular o total de árvores plantadas
por hectare de A. mangium: que é igual a 1.388 plantas por hectare. Multiplicando esse
valor pela produção por planta obtemos um mínimo de 6,55 litros a 34,3 litros de néctar
por dia e por hectare.
Tomando como referência o total de hectares de A. mangium plantados em Roraima
apenas pela empresa FIT, que é de 30.000, obtemos uma produção de néctar para o estado
de Roraima que pode superar 375 milhões de litros de néctar anualmente.
O percentual de SSTs variou de 2,4% na coleta de novembro/2018 a 62% na coleta
de dezembro/2018. A média geral foi de 36,5% de SSTs.
Nas amostras provenientes de nectários de uma mesma árvore, o teor de SSTs não
variou estatisticamente para o teste do qui-quadrado (X2), com exceção das amostras da
árvore número um da coleta de 26 de abril de 2018; e da árvore cinco em 30 de maio de
2018 e em 22 de setembro de 2018. Nas demais amostras de árvores de mesma coleta não
houveram diferenças estatisticamente significativas para o SSTs. Na análise estatística de
X2 ocorrem diferenças estatisticamente significativas entre todas as árvores de coletas
diferentes, com p<0,0001 (última coluna da direita), mas só ocorreu uma diferença
2021 Gepra Editora Barros et al.

significativa entre árvores da mesma data de coleta, no mês de maio/2019 com p <0,01
(Tabela 04).

Tabela 04: Teor de sólidos solúveis totais no néctar de A. mangium por mês de coleta. Roraima
2018.
Árvore/Mês Abril Mai. Jul. Set. Nov. Dez. X2
1 39.4 23.7 30.2 17.2 - 58.7 p<0.0001
2 56.3 - - 31.0 14.0 59.0 p<0.0001
3 54.9 50.8 - 30.0 10.2 57.9 p<0.0001
4 58.7 - - 27.3 17.7 59.2 p<0.0001
5 59.3 38.3 - 28.3 7.4 57.0 p<0.0001
Média 53.7 37.6 30.2 26.8 12.3 58.4 36.5 1163
X2 ns p<0.01 - ns ns ns
Fonte: Própria autoria (2018).
ns = não significativo.

Com estes resultados verificamos que, a maior variação no conteúdo de SSTs foi
devido à sazonalidade e não por causas intrínsecas aos próprios indivíduos de A.
mangium. A concentração do SSTs do néctar é influenciada pela umidade do solo e do
ar, principalmente. Porém, outras variáveis como idade dos nectários, idade da planta e
fertilidade do solo também exercem influência nesse parâmetro (SOARES; LANGE;
DEL-CLARO 2011; LANGE; SOARES; DEL-CLARO 2017). Lima et al. (2014)
encontraram uma variação de 17 a mais de 22 % de SSTs para néctar de Luffa cylindrica.
Pereira et al. (2011) verificaram variação de SSTs no néctar floral da espécie
Merremia aegyptia em diferentes horários, 7 horas, 11 horas e 15 horas. Nesse estudo a
média de SSTs observada foi de 31,75%. Souza et al. (2012) encontraram média de
24,63% em SSTs no néctar floral para as espécies do gênero Aechmea, Alcantarea,
Ananas e Vriesea. As médias de SSTs de néctar floral nesses dois estudos são menores,
quando comparamos com a média de 36,5% de SSTs no néctar extrafloral de A. mangium
obtida neste estudo.
Com a determinação do volume de néctar produzido nos plantios de A. mangium
pode-se inferir qual seria o potencial de produção de mel para o estado de Roraima nessas
plantações. Devemos, no entanto, levar em conta que o néctar é transformado em mel
pelas abelhas de várias formas: retirando boa parte do conteúdo de água, no caso das
abelhas Apis fica geralmente em torno de 20%. Neste estudo, o valor médio de SSTs no
néctar de A. mangium ficou em torno de 36,5 %, consequentemente, com umidade média
de 63,5 % (Tabela 04). Se convencionarmos que o percentual de SSTs seja igual ao de
açúcar e considerando plantios com 15 anos de idade com DAP de 20 cm, teremos um
total de 137.081.308,7 litros de néctar (Tabela 04). Considerando que as abelhas
consomem cerca de 70% do que coletam para seu próprio sustento, que o conteúdo de
SSTs médio foi de 36,5% e que cada litro de néctar seja correspondente a um quilograma
temos então, fórmula para cálculo do volume de açúcar produzido pelos plantios de A.
Mangium em Roraima: Volume de açúcar produzido = Volume de néctar produzido X
36,5% (% de açúcar) X 30% (sobra do consumo próprio das abelhas de 70%).
Embora a produção do mel apícola de Roraima seja principalmente de mel de A.
mangium, o total produzido está abaixo do valor teórico obtido neste trabalho. Os dados
2021 Gepra Editora Barros et al.

fornecidos pela ASA de 2015 a 2019 apontam uma produção irregular, com um total
anual variando de 20 a quase 50 mil quilos de mel processados em 2018 (Tabela 05).

Tabela 05: Mel processado (em kg) na Casa do Mel da Associação Setentrional de Apicultores de
Roraima (ASA) no período de janeiro de 2015 a abril de 2019. Boa Vista, Roraima.
Mês Ano
2015 2016 2017 2018 2019
jan. 2906
fev. 3160
mar 5705,04 2457
abr. 85
1164
mai.
jun. 2321
jul. 4452 1283,75 926,19
ago 1525,9 1460 454
set 4621,53 495 3832,8 1400,37
out 10779,76 2553 8724 19025
nov. 8919 9007 19830
dez 11007 6165 4992,85
Total 21.379,19 31.422,79 27.728,80 48.949,41 8.608,00
Fonte: Própria autoria (2019).

A quantidade de mel processado pela ASA não pode ser considerada como a
produção total do estado de Roraima, uma vez que existem outras associações e uma
empresa particular que também processa mel. A produção total é estimada de 100 a 200
toneladas por ano. Essa produção é variável ao longo dos anos. Pode-se observar no
gráfico da Figura 05 o processamento de mel apícola por mês dos apicultores da ASA.
Os meses de maior produção são os de outubro e novembro. Coincidindo com os meses
de maior produção de néctar, mas com menor teor de SST (Tabela 02 e 04,
respectivamente).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 05: Gráfico da produção mensal e anual de mel apícola da Associação dos Apicultores de
Roraima.

1165

Fonte: Própria autoria (2019).

Se considerarmos a produção real de mel em 100 toneladas, esse valor corresponde


apenas a 0,25% do total teórico máximo de 41 mil toneladas obtido neste trabalho. Este
fato demonstra que o potencial de Roraima para produção de mel de A. mangium é enorme
podendo ser multiplicada várias vezes.
Os apicultores de Roraima reconhecem o potencial melífero dos plantios de A.
mangium para a produção de mel. Em algumas localidades já ocorre super povoamento
de colmeias.
SILVA (2010) apresenta um gráfico de produção de mel de A. mangium semelhante
ao obtido nesse trabalho para o mel processado na ASA. Os resultados alcançados neste
estudo são surpreendentes, pois somente o estado de Roraima com a produção de mel em
plantios de A. mangium poderia suplantar toda a produção nacional de mel apícola, que
gira em torno de 30 mil toneladas (IBGE, 2014; VIDAL, 2018).
O fato de mais da metade dos nectários amostrados não conterem néctar, pode ser
devido a casos em que o néctar tenha escorrido naturalmente, ou pelo balanço do vento
ou até pelo manuseio no momento da retirada dos sacos de tule. Em estudos de
polinização e biologia floral tem sido verificado que, a secreção de néctar pode ser
extremamente variável. A produção depende da idade, hora do dia, umidade e temperatura
do ar e do solo como fatores principais (CORBET, 2003; SILVA, 2010; LANGE;
SOARES; DEL-CLARO, 2017).
No Quadro 01 extraído de Assad et al. (2018) pode-se observar a quantidade de
colmeias, produção de mel e produtividade por região geográfica do Brasil no ano de
2017. Nota-se que, a região Sul foi a que produziu mais mel em 2017, com quase 13 mil
toneladas.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Quadro 01: Número de colmeias, produção de mel e produtividade nacional de mel apícola por
região.
Número de estabelecimentos com atividade apícola por região.
Fonte: IBGE – Censo Agropecuário 2017
Número de Quantidade de mel Produção de mel por caixa
Região
caixas (t) (kg)
Norte 37.428 484 12,9
Nordeste 672.819 8.552 12,7
Sudeste 347.718 7.733 22,2
Sul 1.045.976 12.993 12,4
Centro-Oeste 51.199 1.387 27,1
Brasil 2.155.140 31.149 14,5 1166
Fonte: (ASSAD et al., 2018).

Por meio de estudos e observações, em Roraima, é sugerida a colocação de oito


colmeias por hectare; e considerando uma produção estimada de 100 kg por colmeia ao
ano (SILVA, 2010) teríamos uma produção de: 100 kg/mel x 8 colmeias x 30.000 ha =
24 mil toneladas de mel. Este valor está abaixo do valor teórico obtido neste trabalho (41
mil ton.), mas acima da produção total de qualquer região brasileira. A produtividade,
portanto, é seis vezes maior do que a média nacional por colmeia de 14,5 kg/colmeia,
(Quadro 01).
No cálculo teórico de produção máxima consideramos que, a produção é contínua.
Normalmente ocorrem eventos climáticos imprevisíveis. Chuvas e secas prolongadas
podem impedir as abelhas de trabalharem e/ou diminuem a produção de néctar (SILVA,
2010).
Nos dados obtidos junto a ASA, os meses compreendidos de março a agosto são de
entressafra, com pouco mel coletado. Silva (2010) apresenta um gráfico de produção de
mel de A. mangium para Roraima. Observa-se que, nos meses de junho e julho não há
produção de mel, com lento crescimento em agosto e setembro.
É importante considerar o estado populacional da colônia de abelhas. Somente
colmeias populosas e saudáveis produzem mel satisfatoriamente. Para a manutenção de
colmeias populosas é necessário que as abelhas satisfaçam as suas necessidades
nutricionais, principalmente a de proteína, que é obtida pela coleta de pólen de outras
espécies, já que o néctar contém pouca ou quase nenhuma quantidade deste nutriente. As
árvores de A. mangium produzem flores em períodos específicos do ano. Em Roraima, a
florada ocorre entre junho e julho (TONINI, 2010). Isso obriga as abelhas a saírem desses
plantios em busca de outras flores que forneçam pólen. Em plantios adensados e
contínuos, as abelhas poderão ter dificuldade em encontrar plantas com flores, como
também em períodos de estiagem prolongados (janeiro a março) que ocorre em Roraima.
Para a manutenção de apiários em plantios de A. mangium é necessária uma
suplementação proteica a base de soja, milho e arroz nos meses mais secos do ano.
Solucionado o problema da alimentação proteica e com técnicas adequadas, a produção
de mel de A. mangium em Roraima pode tornar o estado o maior produtor nacional desse
alimento (Silva, 2010).
2021 Gepra Editora Barros et al.

CONCLUSÕES

A produção de néctar extrafloral de A. mangium é variável entre nectários, entre


árvores e entre períodos do ano.
O teor de sólidos solúveis do néctar de A. mangium variou de 2,4 a 62%.
A sazonalidade foi o fator mais importante na variação do volume e no conteúdo de
SSTs para o néctar de A. mangium.
A produção atual de mel de A. mangium é inferior a um por cento do valor teórico
para os plantios implantados em Roraima.

1167

REFERÊNCIAS

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Plano de fortalecimento da cadeia produtiva da apicultura e da meliponicultura do
Estado de São Paulo, 2018.

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Histórico, Formas de Uso e Potencial de Invasão. Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade p.74 - 96, 2013.

CORBET S. Nectar sugar content: estimating standing crop and secretion rate in the field.
Apidologie, v. 34, n. 1, p.1 - 10, 2003.

EMBRAPA, 1983. Relatório Técnico Anual da Unidade de Execução de Pesquisa de


Âmbito Territorial - UEPAT de Boa Vista. 211p. 1982.

IBGE. Pesquisa pecuária municipal. 2014. Disponível em:


<http://www.cidades.ibge.gov.br/comparamun/compara.php?lang=&coduf=14&idtem
a=147&codv=v19&search=roraima|canta|sintesedasinformacoes2014> Acesso em: 30
de mar. 2016.

INSTITUTO HÓRUS. Base de dados Brasil de espécies exóticas invasoras. 2013.


Disponível em: http:http://www.institutohorus.org.br/. Acesso em: 01 fev. 2018.

LANGE, D.; SOARES, E. C.; DEL-CLARO, K. Variation in extrafloral nectary


productivity influences the ant foraging. PLOS ONE. v. 12, n. 1, 2017.

LIMA, C. J.; OLIVEIRA, F. L.; MARACAJÁ, P. B.; SILVA, R. A.; SOUSA, R. M.;
SOUSA, J. S.; PEREIRA, D. S. Influência da concentração e o volume de néctar em flores
de Luffa cylindrica (L.) M. Roem no comportamento de forrageio de Apis mellifera
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PEREIRA, D. S.; SOUSA, R.; MARACAJÁ P. B.; SILVEIRA NETO, A. A.;


SAKAMOTO, S.; OLIVEIRA, A. M. Produção de néctar da Merremia aegyptia e
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Brasilica, v.5, n.2, p.168-177. 2011.
2021 Gepra Editora Barros et al.

QUEIROZ, E. P. Produção e distribuição temporal de néctar em área de regeneração


de cerrado: implicações na polinização e estrutura de comunidade de abelhas.
Ribeirão Preto, São Paulo. 2015. 71p. Dissertação (Mestrado em Ciências, área de
concentração Entomologia) - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto
da USP, 2015.

SILVA, D.; SANDER, C.; JÚNIOR, A. C. R. A.; WANKLER, F. L. Análise dos Ciclos
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In: II Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos, 24 a 28 de setembro de 2012, Belém
- PA. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-
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TONINI, H.; Características em plantios e propriedades da madeira de Acacia mangium.


In: TONINI, H.; HALFELD-VIEIRA, B. A.; SILVA, S. J. R. Acacia mangium:
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TONINI, H.; HALFELD-VIEIRA, B. A. Descrição morfológica, habitat e ecologia. In:


TONINI, H.; HALFELD-VIEIRA, B. A.; SILVA, S. J. R. Acacia mangium:
características e seu cultivo em Roraima. EMBRAPA, Roraima. 2010.

VIDAL, M. F. Produção de mel na área de atuação do BNB entre 2011 e 2016. Caderno
Setorial ETENE. ano 3, n. 30, abril, 2018. Disponível em:
https://www.bnb.gov.br/documents/80223/3183360/30_apicultura_04-2018.pdf/.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 105

PROPOSTA DE RECUPERAÇÃO DE ÁREA DEGRADADA EM UM


LIXÃO DESATIVADO NO MUNICÍPIO DE MAMANGUAPE-PB

SOUZA, João Batista de


Mestre em Ciências Agrárias (Agroecologia)
Universidade Federal da Paraíba
juba_batista@yahoo.com.br

SILVA, Josinaldo Clemente da


Doutor em Educação
Universidad Autónoma de Asunción (UAA) 1169
josincs@gmail.com

SOUZA, Ramon Santos


Doutorando em Geografia
Universidade Federal da Paraíba
ramonssouza93@gmail.com

SILVA, Simone da
Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente
UFPB/PRODEMA
simoneds86@gmail.com

RESUMO

Uma das estratégias para a reabilitação de áreas contaminadas é a fitorremediação, que


consiste na introdução de espécies vegetais altamente especializadas em acumular a
concentrações de metais pesados em seus tecidos, as plantas e sua comunidade
microbiana associados, degradam, sequestram ou imobilizam poluentes presentes no solo.
Esta pesquisa objetiva elaborar uma proposta de um plano de Recuperação de Áreas
Degradadas (PRAD) para um lixão desativado no município de Mamanguape na Paraíba
com a vista a utilização de técnicas de fitorremediação, para a descontaminação do solo
e água. O recorte espacial estudado está situado na Bacia Sedimentar Paraíba, cuja porção
emersa se estende, os dados foram coletados a partir de visitas de campo, o diagnóstico
foi realizado de forma participativa dentro da área de abrangência, integrando a
comunidade e outros atores sociais e institucionais de interesse, para que estes possam
contribuir com o estudo e se apropriarem do mesmo. Para atingir o propósito deste
trabalho, buscou-se no referencial teórico um arcabouço acadêmico abrangente e
consistente referente ao tema estudado. O estudo teórico serviu como suporte para a
presente pesquisa. Vale ressaltar que durante o estudo foram realizadas visitas de campo
na área do lixão desativado. Esta pesquisa procurou apresentar uma proposta alternativa
para o tratamento de áreas degradadas que podem ter a condição de uma recuperação
usando um processo menos agressivo que os atualmente empregados. A Fitorremediação
é uma técnica in situ que consiste no emprego de plantas acumuladoras e/ou tolerantes a
metais pesado, sua microbiota associada, amenizantes do solo, além de práticas
agronômicas otimizadas

PALAVRAS-CHAVE: Recuperação ambiental, meio ambiente, fitorremediação.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

Uma das estratégias para a reabilitação de áreas contaminadas é a fitorremediação,


que consiste na introdução de espécies vegetais altamente especializadas em acumular a
concentrações de metais pesados em seus tecidos, as plantas e sua comunidade
microbiana associados, degradam, sequestram ou imobilizam poluentes presentes no solo
(SOUZA et al., 2010).Segundo a lei nº 12.305/10, que instituiu a Política Nacional de
Resíduos Sólidos estabelecendo para todos os municípios brasileiros atenderem o manejo
e tratamento correto dos resíduos sólidos, no entanto uma boa parte dos municípios
brasileiros ainda permanecem com os lixões a céu aberto.
Afitorremediação é um processo biológico que utiliza as plantas como agentes 1170
remediadores (MATTA, 2007), com os objetivos reduzir os teores de contaminantes a
níveis considerados seguros para a saúde humana e qualidade ambiental e limitar a
disseminação destes elementos no meio ambiente (MEJÍA et al, 2014; MENDES,2018).
E um método mitigador que consiste na utilização de plantas que atua através da matéria
microbiana, degradar e imobilizar os agentes poluentes presentes no solo (TAVARES,
2009). Para que possa obter-se os resultados positivo com aplicação da fitorremediação é
importante o uso de espécies de plantas que possuem características de absorção e de alta
taxa de crescimento (COUTINHO et al., 2015). E que produza muita biomassa, além de
acumuladora de metais (VASSÃO, 2019).
Dentre das alternativas para a despoluição ambiental a fitorremediação possibilita
a descontaminação ambiental, associada à necessidade de grandes áreas para a disposição
e tratamento, que se tornou uma das soluções para o problema do Resíduos Sólidos
Urbano um dos mais sérios desafios para as administrações públicas municipais (PAZ &
SOUZA NETO, 2020). Porém, os métodos de remediação mais apropriados dependem
das características do local, da concentração e, dos tipos de poluentes a serem removidos,
e do uso final do meio contaminado (PEREIRA et al., 2013). E quanto ao sucesso da
fitoremediação é dependente da existência de plantas tolerantes aos contaminantes e
capazes de remover, estabilizar ou imobilizar metais no solo (SILVA, 2019).
A fitorremediação de herbicidas pode se dar por dois mecanismos: rizodegradação
ou fitoestimulação e fitodegradação ou fitotransformação (SCHNOOR & DEE, 1997). O
primeiro caso ocorre em nível rizosférico, realizado por microrganismos, associados às
raízes de plantas tolerantes, cuja ação é estimulada pela exsudação radicular dessas
espécies (CUNNIGHAM et al., 1996). A fitotransformação, por sua vez, se dá pela
absorção com subsequente volatilização, ou degradação parcial ou completa, com
transformação em compostos menos tóxicos, combinados e/ou ligados nos tecidos das
plantas (ACCIOLY & SIQUEIRA, 2000).
Portanto, a fitorremediação tem atraído o interesse devido à sua eficiência,
adequação a aplicações em longo prazo, pouca manutenção exigida e vantagens estéticas,
e ainda tem o atrativo de apresentar um custo baixo e de ser melhor aceita pela população,
pois utiliza plantas em um processo reconhecido como mais “natural” (BURKEN, 2002).
Dentre as várias formas de fitorremediação, a fitoextração, uso de plantas para remoção
de metais dos solos mediante absorção pelas raízes, transporte e concentração na
biomassa da parte aérea, é uma das mais utilizadas (TAVARES et al., 2013). Nesta
2021 Gepra Editora Barros et al.

técnica são empregadas plantas hiperacumuladoras para remover metais do solo pela
absorção e acúmulo na parte aérea, e estas depois de colhidas, poderão ser dispostas em
aterros sanitários ou recicladas para a recuperação do metal. O solo é um recurso natural.
Sendo assim, quaisquer alterações indesejáveis das características químicas, físicas ou
biológicas, podem afetar prejudicialmente o modo de vida das espécies que nele habitam
(ODUM, 1997). Portanto, apesar das pressões, a fitorremediação é a tecnologia mais
barata, com capacidade de atender uma maior demanda, e que apresenta o maior potencial
de desenvolvimento futuro (SOUSA, 2018).
Alguns requisitos para a implantação de programas de fitorremediação devem ser
levados em consideração, principalmente as características físico-químicas do solo e do
1171
contaminante, e sua distribuição na área. Qualquer fator que venha a interferir
negativamente no desempenho das plantas deve ser controlado ou minimizado, para
favorecer sua ação descontaminante. É desejável que as plantas que apresentem potencial
para fitorremediação possuam algumas características que devem ser usadas como
indicativos para seleção (NEWMAN & REYNOLDS, 2004).
Portanto, a fitorremediação é uma alternativa ambientalmente aceita para a
despoluição do solo e água contaminados com compostos orgânicos e inorgânicos. Em
razão disto, é crescente o número de pesquisas envolvendo a fitorremediação.
Esta pesquisa objetiva elaborar uma proposta de um plano de Recuperação de
Áreas Degradadas (PRAD) para um lixão desativado no município de Mamanguape na
Paraíba com a vista a utilização de técnicas de fitorremediação, para a descontaminação
do solo e água.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O município de Mamanguape está localizado na Mesorregião da Zona da Mata


Paraibana, mais precisamente na Microrregião do Litoral Norte (Figura 1). Tem como
pontos limítrofes ao norte, o Estado do Rio Grande do Norte; ao Sul, os municípios de
Rio Tinto e Capim; ao leste, os municípios de Rio Tinto e Mataraca; ao oeste, os
municípios de Jacaraú, Curral de Cima, Itapororoca e Capim.
2021 Gepra Editora Barros et al.

1172

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o


município conta com uma população estimada para o ano de 2020 de 45.136 habitantes.
O topônimo Mamanguape, de acordo com Teodoro Sampaio apud Andrade e
Vasconcelos (2005) tem origem na junção dos vocábulos indígenas: Maman= de beber,
para beber; Gua=água; Pe= nas. Significando então, Mamanguape, “Nas águas de beber”
ou o mais popularmente difundido “No bebedouro”
Segundo Andrade e Vasconcelos (2005, p. 41-42), devido ao excelente
desempenho econômico e social, Mamanguape era tida como a segunda cidade de maior
destaque na Paraíba. Suas ruas eram calçadas com rocha granítica proveniente de sua
própria pedreira, a Pedreira de São lázaro e também providenciava o calçamento de
cidades vizinhas; dispunha de iluminação pública e era tão imponente que foi apelidada
de a Atenas Paraibana. Os Mamanguapenses eram muito prestigiados em virtude das
belezas e riquezas de sua terra, onde a cada dia eram erguidos mais e mais sobradinhos
com os típicos azulejos portugueses, como símbolo de ostentação e riqueza. Estes
azulejos, segundo Costa, eram importados diretamente da Europa e eram despachados
diretamente do porto de Recife para o porto de Salema. “Eles identificavam o conforto e
o poder da família patriarcal” (COSTA, 1986, p.51).
O recorte espacial estudado está situado na Bacia Sedimentar Paraíba, cuja porção
emersa se estende, segundo Araújo (1992, p. 36), ao longo do litoral, alcançando parte da
plataforma. A Bacia Sedimentar Paraíba, de acordo com Barbosa (2004, p.30), ocupa a
faixa sedimentar costeira que se estende do Lineamento Pernambuco à Falha de
Mamanguape, entretanto foi desenvolvida uma série de estudos para a definição dos seus
atuais limites.
2021 Gepra Editora Barros et al.

O perímetro usado para o lixão é considerado área de preservação permanente,


nos termos da Lei nº 4.771/65 do Código Florestal, pois está localizado em topo de
elevação e respectiva encosta, com características de grota, aflorando ao fundo uma
nascente e um riacho que serve para dessedentação de animais e para agropecuária. Esta
área serve como local de disposição do lixo domiciliar e industrial, do serviço de limpeza
pública (poda de árvores, roça de jardins etc.).
A cidade de Mamanguape, possui coleta de resíduos sólidos, os tipos domiciliar e
comercial são de responsabilidade do município, sendo coletados por meio de caminhões
que passam nas residências e nos estabelecimentos comerciais recolhendo tais materiais.
Já os resíduos hospitalares gerados na cidade, são de responsabilidade da empresa Serquip
1173
(SEC. MEIO AMBIENTE-PMM). A disposição final dos resíduos em Mamanguape é
feita de forma inadequada, no lixão.

Estratégias metodológicas e coleta de dados

Os dados foram coletados a partir de visitas de campo, o diagnóstico foi realizado


de forma participativa dentro da área de abrangência, integrando a comunidade e outros
atores sociais e institucionais de interesse, para que estes possam contribuir com o estudo
e se apropriarem do mesmo. O aprofundamento teórico sobre o tema ocorreu durante toda
a pesquisa como forma de respaldar e subsidiar as análises de resultados.
Para analisar a conjuntura atual da área de estudo, faz-se necessário compreender
o contexto histórico no qual o Município de Mamanguape está inserido, como se deu a
apropriação e a conquista do espaço, bem como as economias que ali se desenvolveram
e que foram fatores preponderantes para sua configuração atual.
A pesquisa de caráter exploratório se estruturou por meio de uma revisão
bibliográfica relacionada a temática proposta depois, evidenciaram-se as vantagens e
desvantagens da técnica da fitorremediação. Também utilizamos para realização desse
trabalho a visita in loco, a pesquisa documental e o estudo de caso, em que os dados foram
obtidos por meio de observação direta.
A visita realizada in loco, foi registrada por meio fotográfico, proporcionando para
constatar que o tratamento e a disposição final dos resíduos sólidos não estão realizados
de forma apropriada, pois, o descarte desses resíduos se dá diretamente em valas, sem o
devido tratamento e sem a correta impermeabilização do solo, de forma a agravar os
índices de contaminação das águas e lençol freático do entorno do lixão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diagnóstico da área de estudo

A fitorremediação é o uso de espécies vegetais na recuperação de áreas


degradadas. Portanto esta técnica também pode ser conceituada como o uso de plantas e
seus microrganismos associados, para tratamento de solo, água ou ar contaminado
(CUNNINGHAM et al., 1995).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Os resultados da fitorremediação não são imediatos, podendo levar semanas,


meses e até anos para que o efeito esperado seja alcançado. Assim, ela pode ser
desaconselhada em áreas que precisam uma resposta rápida e que oferecem risco aos seres
vivos. Uma estratégia para aumentar a captura dos contaminantes é o melhoramento
genético das plantas com potencial fitorremediador (GARDEATORRESDEY et al.,
2005). No entanto para que a tecnologia usada na fitorremediação seja de fato eficiente,
faz-se necessário identificar fatores que venham intervir negativamente no processo de
remediação, para que sejam minimizados e controlados. Portanto torna-se fundamental
conhecer a distribuição do contaminante no solo e suas características físico-químicas,
assim como a profundidade da contaminação.
1174
Devido às vantagens que a fitorremediação apresenta em relação a outras técnicas
de remediação do solo, apresenta um elevado potencial de utilização. É notório a ação
negativa do Lixão (Figura 2), pois exerce um grau de alto impacto no meio ambiente tais
como: redução da biota do solo, stress da fauna, processos erosivos, compactação do solo
através da passagem do veículo, possível depreciação da qualidade da água subterrânea e
contaminação dos catadores, poluição do solo e ar, redução da biodiversidade nativa,
poluição visual, proliferação de macro e micro vetores.

Em relação ao meio antrópico, observou-se, principalmente, a poluição visual com


dispersão dos resíduos mais leves para áreas circunvizinhas, tornando um aspecto estético
de ordem bastante negativa, bem como a presença de catadores no local sujeitos a
contaminação direta pelos resíduos, além do desnudamento do solo com a retirada da
vegetação nativa predominante da mata atlântica. Prevalece na área a presença da
mamona como espécie vegetal espontânea, que é indicadora de contaminação do solo por
metais pesados.
Como fatores de degradação ambiental observaram-se indícios de queimadas e
alguns materiais soltos, ainda não aterrados, de composição diversa (como sacolas
plásticas, restos de comidas, entulhos de construção, podas de árvores e jardinagem),
2021 Gepra Editora Barros et al.

indicando ausência de separação das frações recicláveis dos resíduos sólidos no momento
do aterramento. Foram verificados lixo hospitalar e trabalho de catadores como também
de menores e adolescentes.
Os locais e a forma de disposição provisória dos resíduos sólidos urbanos apontam
para uma situação de lixões em condições inadequadas críticas e severas. Em relação à
prestação de serviços de limpeza pública, foi observado presença de caminhões de coleta
de resíduos sólidos passando pelas ruas e recolhendo os resíduos que se encontrava
disposto nas calçadas à frente das residências. As ruas estavam limpas, também foi
observado a varrição das ruas e avenidas.
Outro fator que merece ser destacado refere-se ao fato de que os solos da região
1175
do município de Mamanguape-PB apresentam, normalmente, valores elevados de Fe.
Teores elevados de manganês, ferro e zinco também foram encontrados em áreas de lixão
em Niterói-RJ, por Sissino e Moreira (1996).
Os principais impactos do lixão são a lixiviação e a geração de gases tóxicos já
que é feito a queima de resíduos no local e de chorume. De um modo geral, para a
realização de um melhor diagnóstico dos efeitos da disposição inadequada dos resíduos
sobre o solo na referida área, será realizar análises laboratoriais (SILVA et al., 2014).
Resultados obtidos em estudos de campo corroboram as pesquisas in loco, bem
como demonstram um menor impacto ambiental, a limpeza e o baixo custo da tecnologia
na remediação de áreas contaminadas, nos últimos tempos vem despertando grande
interesse por parte de pesquisadores de diversas. Por outro lado, as observações e o
levantamento da colonização natural de espécies vegetais em área de disposição de
resíduos tornam-se uma ferramenta importante para as pesquisas sobre fitorremediação,
pois partindo de áreas já contaminadas e colonizadas.

Proposição de recuperação da área

Como estratégia de recuperação para área do lixão em Mamanguape, indica-se


que tal área seja reflorestada, uma vez que, se trata de um ambiente contaminado por
diversos tipos de substâncias perigosas. Dessa maneira, o contato de pessoas com essa
área não seria indicado, uma vez que poderia causar problemas de saúde. Como a
concentração de contaminantes presentes no lixão provavelmente é alta, antes de realizar
o reflorestamento deve-se proceder com a descontaminação do solo e da água até níveis
adequados para o desenvolvimento das plantas a serem inseridas na revegetação da área
degradada.
Para fazer a descontaminação da área, indica-se uso de técnicas de
biorremediação, tanto a biorremediação microbiana, quanto a fitorremediação. A primeira
técnica deve ser usada para a descontaminação do solo por substâncias orgânicas,
enquanto a última será usada no tratamento de substâncias inorgânicas, como metais
pesados (ENSLEY, 2000).
Compreende-se que o sistema de tratamento dos efluentes do antigo lixão deve
ser desenvolvido no local, para que eles se enquadrem nos padrões de lançamento de
efluentes para águas. Entretanto, recomenda-se a análises do solo e da água que seja
2021 Gepra Editora Barros et al.

efetuada para se reconhecer a atual condição das águas subterrâneas e superficiais da área
(MEJÍA, et al., 2014).
No que se refere aos impactos, inicialmente previstos (lixiviação e chorume) além
daqueles, provavelmente de ordem social, pública e visual, serão adotadas se comprovada
a presença de diferenciados tipos de substâncias danosas um possível reflorestamento
como estratégia de recuperação para a área estudada, por ser mais seguro em termos de
saúde, mais economicamente viável e positiva em termos ambientais (COLLET, et al.,
2018).
Diante do referido exposto, serão indicadas as técnicas mais adequadas para a
resolução dos problemas levantados, através da execução de etapas propostas para a
1176
recuperação da área degradada (lixão) que estão listadas a seguir:

Recomendações gerais

O universo das plantas, através da fotossíntese, tem papel de fundamental na


manutenção da vida na Terra. A conversão de CO2 e da água na presença de luz solar em
carboidratos e a liberação de O2 na atmosfera possibilitam dessa forma a diminuição dos
teores de CO2 no ar, a filtração da radiação solar, a regulação da temperatura,
promovendo a melhoria da qualidade do ar que respiramos e a produção de alimentos. No
entanto, as plantas, por si só, atuam na remediação do ar, água e solo (LIMA, 2015).

- delimitação da área, que deve ser cercada completamente para impedir a entrada de
animais e pessoas;
- realização de sondagens para definir a espessura da camada de lixo ao longo da área
degradada;
- limpeza da área de domínio;
- movimentação e conformação da massa de lixo: os taludes devem ficar com declividade
de 1:3 (V:H);
- cobertura final dos resíduos expostos com uma camada de solo argiloso de 0,50 m de
espessura e uma camada de solo vegetal de 0,60 m de espessura sobre a camada de argila;
- promoção do plantio de espécies nativas de raízes curtas, preferencialmente gramíneas.

Recomendações para o controle dos lixiviados, dos gases e das águas superficiais

- construção de valetas para a drenagem superficial ao pé dos taludes em toda a área;


- execução de um ou mais poços verticais para a drenagem de gases;
- aproveitamento dos furos de sondagens e implantação de poços de monitoramento
(sendo no mínimo dois a montante do lixão recuperado e dois a jusante);
- instalação de poços a montante e a jusante do lixão para averiguação da qualidade da
água;
- monitoramento das águas superficiais.

Tanto para aterros sanitários como para antigos lixões, deve-se considerar a
possibilidade de captação do biogás para queima em flares e/ou aproveitamento
2021 Gepra Editora Barros et al.

energético, para que sejam vendidos como créditos de carbono através do Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (ROCHA & TAVARES, 2008; COLLET, M. L. et al., 2018).

Recomendações de caráter social

- Cadastramento dos catadores, de forma a conhecer o perfil de cada um;


- Estudo e implantação de alternativas de emprego e renda para os catadores, retirandoos
da frente de trabalho irregular e insalubre.

Para o planejamento da remediação em uma área contaminada, deve-se adotar três


abordagens: mudança do uso definido da área para minimizar o risco, remoção ou 1177
destruição dos contaminantes para a eliminação do risco e redução da concentração dos
contaminantes ou contenção desses para eliminar ou minimizar risco (LASAT,2000).
Diante disso, o primeiro procedimento a ser executado é a demarcação dos pontos
que delimitam a área do lixão. Para isso, será realizado um georreferenciamento da área.
Em seguida, será realizado o isolamento do agente degradante. Mediante a necessidade
de desativar o lixão, encerrando todas as atividades realizadas no local, será estudado
junto a prefeitura e órgãos competentes a viabilidade de outro lugar para fazer a
disposição final dos resíduos sólidos ou mesmo a escolha de uma área que atenda as
exigências para implantação de um aterro sanitário, seguindo as orientações das normas
e leis vigentes.
De acordo com Huang et al. (2005), as técnicas de remediação podem promover
a descontaminação, mesmo que parcial, de uma área ou isolar o material contaminado de
modo a evitar a dispersão dos poluentes.
Indica-se as análises laboratoriais para quantificar o nível de tolerância de
contaminação existente, estarão previstas análises físico-químicas (pH e condutividade
elétrica) e metais pesados (Cd, Cr, Cu, Fe, Mn, Ni, Pb, Zn, As e Hg), por serem estes os
encontrados com maior frequência em áreas de lixão. Caso o resultado dessas análises
não esteja dentro do limite admissível da legislação vigente, a localidade sofrerá um
processo de descontaminação (RASKIN, I & ENSLEY, 2000; PIRES, 2003).
Tendo em vista que, costumeiramente é alta a concentração de contaminantes em
lixões, antes do possível reflorestamento serão realizados procedimentos de
descontaminação do solo e da água até níveis adequados, se, comprovada essa hipótese
afim de que ocorra o bom desenvolvimento das plantas introduzidas na área como parte
integrante da recuperação paisagística local (CORRÊA,2019).
Para a etapa de descontaminação local, será indicado inicialmente o uso de
técnicas de biorremediação, tanto a biorremediação microbiana, quanto a
fitorremediação. A primeira técnica deverá ser usada para a descontaminação do solo por
substâncias orgânicas, enquanto a posterior será usada no tratamento de substâncias
inorgânicas, como metais pesados.
A retirada dos contaminantes orgânicos do solo dar-se-á pela utilização da
bioestimulação e a bioaumentação (SANTOS, 2007). Já com relação aos contaminantes
inorgânicos casos confirmados à presença deles no solo, serão adotadas técnicas de
2021 Gepra Editora Barros et al.

fitorremediação, cujas plantas escolhidas na etapa dar-se-ão mediante os contaminantes


encontrados.
Para a descontaminação da água, a priori será indicado o uso da rizofiltração para
a remoção de possíveis contaminantes retidos no tecido vegetal, ao qual por garantia,
ainda serão ajustados os teores de matéria orgânica e de umidade, bem como estrutura,
pH e textura do solo. Tais procedimentos terão sua importância pautada do fato de que
trabalharemos com o meio biótico, isto é, plantas e microrganismos durante seu decurso
(BELI, et al., 2005.).
No que compete a reposição vegetal da área, avaliaremos as condições iniciais do
solo, a fim de aferir as condições ideais desejáveis ao seu desenvolvimento. Estarão
1178
previstas análises físicas (textura, porosidade e densidade) e de fertilidade do solo (P, K+,
Ca2+, Mg2+, Na+, matéria). Caso algum desses atributos não esteja adequado para um
bom desenvolvimento vegetal as correções necessárias serão realizadas, tais como,
aragem, gradagem, descompactação, inserção de matéria orgânica, calagem, entre outras
ações que venham a deixar o solo em condições aceitáveis para a produção vegetal
(BRAGA, 2002; SNAKIN, 1996).
Portanto, para que seja efetivada a remediação de uma área contaminada a mesma
deverá ser feita de três maneiras, no local onde ocorreu a contaminação com remoção (on
site) ou não do solo (in situ), ou fora do local onde ocorreu a contaminação recolhendo o
material contaminado e tratando-o em uma planta de tratamento (ex situ), ou aplicando
as duas simultaneamente (ANDRADE et al., 2011).
Serão adotadas na revegetação da área, as mesmas espécies presentes no Lixão
como a mamona, o capim colonião e o capim elefante, uma vez que o objetivo principal
é tentar fazer com que a recuperação da extensão se aproxime ao máximo de uma
regeneração natural, onde não há interferência antrópica.

CONCLUSÃO

Para atingir o propósito deste trabalho, buscou-se no referencial teórico um


arcabouço acadêmico abrangente e consistente referente ao tema estudado. O estudo
teórico serviu como suporte para a presente pesquisa. Vale ressaltar que durante o estudo
foram realizadas visitas de campo na área do lixão desativado.
Esta pesquisa procurou apresentar uma proposta alternativa para o tratamento de
áreas degradadas que podem ter a condição de uma recuperação usando um processo
menos agressivo que os atualmente empregados.
Em relação ao solo pode ser remediado por várias maneiras que constituem os
tipos da fitorremediação. Atualmente as técnicas in situ estão sendo priorizadas por não
agredir drasticamente o meio ambiente. Outro fator de relevância é o baixo custo fator
pelo qual esse tipo de descontaminação é preferencialmente escolhido, além de que pode
ser aplicado em grandes áreas e dispor de facilidade de aplicação.
A Fitorremediação é uma técnica in situ que consiste no emprego de plantas
acumuladoras e/ou tolerantes a metais pesado, sua microbiota associada, amenizantes do
solo, além de práticas agronômicas otimizadas (ANDRADE et al., 2007; COUTINHO &
2021 Gepra Editora Barros et al.

BARBOSA, 2007) com a finalidade de remover, conter ou tornar inofensivos, transferir,


estabilizar e/ou degradar, os contaminantes da água, solos e sedimentos contaminados por
diversos tipos de poluentes (ROSSATO, 2010; COUTINHO & BARBOSA, 2007).
O processo de remediação de solos contaminados por metais pesados com a
utilização da técnica de fitorremediaçao apresenta-se como uma alternativa viável, haja
vista que além de recuperar a área contaminada facilita a revegetação do local. Essa
tecnologia é também considerada de baixo custo e de fácil implementação. No entanto, é
necessário que se faça pesquisas que sejam capazes de apontar diagnósticos mais
consistentes em relação à capacidade fitorremediadora de cada espécie vegetal proposta
(CRISTALDI et al., 2017).
1179
A fitorremediação também pode ser empregada para intensificar a ação de
microrganismos na degradação de compostos orgânicos poluentes. Apesar de promissora,
essa a técnica apresenta algumas limitações, uma vez que os resultados podem ser
observados em longo prazo, pelo fator de adaptação das plantas, sendo dessa forma
apresentar a principal desvantagem.
Portanto, foi possível constatar em visitas à área do lixão abandonado a
inexistência de monitoramento ambiental e geotécnico. Neste caso, recomendamos que
sejam realizados o monitoramento ambiental da água e do solo e o monitoramento
geoambiental.
Realizamos um levantamento na literatura sobre as técnicas mais utilizadas para
a realização de técnicas de remediação de solo em área de disposição final de resíduos
sólidos urbanos pós encerramento. Quanto ao monitoramento da água não foi muito
explorado neste estudo, devido ao fato do objeto da pesquisa em se pautar nas possíveis
características de alteração químicas e biológicas do solo.
Enfim, a fitorremediação é a tecnologia baseada no emprego de espécies vegetais
capazes de capturar, transportar, armazenar e imobilizar elementos químicos durante seu
ciclo de vida (MOURA, 2006). Portanto, compreende-se a urgência em termos
ambientais, que o lixão da cidade de Mamanguape-PB, vem agravando a poluição do ar,
do solo e das águas, além de provocar poluição visual.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 106

PRÁTICAS E GESTÃO DE USO DO SOLO NA AGRICULTURA


FAMILIAR
BATISTA, Regiane Farias
Pós-graduando em Ciência do Solo
Universidade Federal da Paraíba- CCA/UFPC
regiane.2594@gmail.com

VITAL, Adriana de Fátima Meira


Professora Doutora em Ciência do Solo
Universidade Federal de Campina Grande- CDSA/ UFCG 1184
vital.adriana@gmail.com

SOUSA, Manoel Markson Simões Paulino de


Tecnólogo em Agroecologia
Universidade Federal de Campina Grande- CDSA/ UFCG
marksonagroecologia@gmail.com

FARIAS, Paulo César Batista de


Pós-graduando em Ciência Animal
Universidade Federal de Campina Grande- CSTR/UFPC
pc.20batista@gmail.com

SILVA, Francisco Edson


Pós-graduando em Ciência do Solo
Universidade Federal da Paraíba- CCA/UFPC
frcedson@gmail.com

RESUMO

O solo é o recurso natural por excelência, complexo, dinâmico, finito, responsável por
inúmeras funções para manutenção da vida. Conhecê-lo nas suas limitações e
potencialidades e compreender a percepção dos agricultores familiares quanto ao seu
manejo é indispensável para que seu uso se dê de forma sustentável. O presente trabalho
objetivou verificar a percepção ambiental dos agricultores familiares das Comunidades
Rurais do Tigre, Santa Rosa, Riacho da Roça, Angico Torto, Maracajá e Terra Vermelha,
(Sumé-PB), em relação às práticas conservacionistas do solo. Foi aplicado um
questionário com perguntas semiestruturadas, que versaram sobre o entendimento para
fertilidade e qualidade do solo e adoção de práticas conservacionistas. Os resultados
evidenciam que os agricultores trazem conceitos próprios sobre solos, que se remetem
sobretudo ao uso dos sentidos tátil e visual e que adotam práticas convencionais no
manejo do solo, como o uso de estercos, mas desconhecem práticas que potencializam a
fertilidade do solo, a exemplo da compostagem. A partir dos resultados verificou-se a
urgência de apoio por parte dos órgãos de assessoria técnica para difundir tecnologias
sociais e práticas de conservação do solo, além de apontar para a necessidade de serem
implantadas atividades de pesquisa e extensão universitária, que permitam a interlocução
e o compartilhamento de experiências com estes atores sociais para evitar a degradação
ambiental, disseminar práticas de conservação do solo que incrementem renda, como a
policultura, além de introduzir nas comunidades rurais alternativas de atividades
econômica e ambientalmente sustentáveis, capacitando os moradores para desenvolvê-
las.

PALAVRAS-CHAVE: Conservação do Solo; Semiárido; Etnopedologia.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

O solo é o grande organismo que sustenta a vida no planeta Terra, sendo o principal
substrato utilizado pelas plantas para sustentação, crescimento e disseminação,
fornecendo às raízes água, oxigênio e nutrientes (REICHARDT; TIMM, 2004;
MUGGLER et al., 2006; VITAL et al, 2018). O funcionamento do solo na paisagem é
base de vários serviços ecossistêmicos, como meio de suporte para produção de biomassa,
provisionamento, filtro, acumulador, amortecedor, regulador e transformador de diversos
compostos, fazendo parte integrante do ciclo hidrológico e de outros ciclos
biogeoquímicos, habitat da biodiversidade, além de exercer funções de natureza sócio
econômica e do patrimônio natural e cultural, que oferecem múltiplos benefícios aos seres 1185
humanos (JÓNSSON et al., 2017).
As práticas agrícolas com uso indiscriminado do solo levaram muitas áreas a se
tornarem cada vez mais susceptíveis à desertificação, tornando os solos mais pobres e
consequentemente provocando a redução de áreas agricultáveis (SÁ et al., 2010;
TABARELLI et al., 2017). A degradação do solo também resulta no enfraquecimento da
qualidade do solo, o que causa grande diminuição na produtividade e aumento dos riscos
a sustentabilidade e na qualidade e estabilidade do meio ambiente, gerando aumento nos
custos de combate a degradação do solo e a redução continua na produtividade, com efeito
adverso no desenvolvimento econômico e social (DARKWAH et al., 2019).
A erosão acelerada do solo é causada principalmente por modificações no uso e
manejo da terra, através do desmatamento e da grande expansão das áreas de cultivo
(BORRELLI et al., 2017). No Brasil a erosão causa em média a perda 4 t. ha-1 de solo ao
ano há mais do que em Países vizinhos, a exemplo da Alemanha com 0,2 t. ha-1 ano-1 a
menos (WUEPPER et al., 2020). No Nordeste, as áreas apresentam 23,4% de tendência
à degradação, sendo que 4,5% dessas sofreram degradação induzida por ações antrópicas
devido as atividades agropecuárias (MARIANO et al., 2018).
Para diminuir os efeitos da degradação do solo, são usados métodos agrícolas que
dizem respeito aos diferentes caminhos de desenvolvimento agrícola, tornando-os
importantes, também para o desenvolvimento rural, e se esses forem melhor
compreendidos, sobretudo pelos agricultores, o desenho de políticas públicas para apoiar
as práticas agrícolas também será facilitada, mostrando como diferentes caminhos de
desenvolvimento agrícola se tornam disponíveis e implementados em diferentes
comunidades (HUTTUNEN, 2019).
As práticas de conservação do solo são processos que podem prevenir a erosão,
gerando impactos positivos na produtividade do solo e em muitos outros serviços
ecossistêmicos, assim como na avaliação ambiental para auxiliar o planejamento regional
(SUN et al., 2019). Para a Agroecologia, na conservação do solo não existem receitas,
apenas conceitos, que segundo Primavesi (1997; 2006), o solo deve ser protegido,
coberto, e, para tanto, práticas como cobertura morta, rotação de cultura e adubação verde
deve ser estimulada para aumentar a biodiversidade e o aporte de matéria orgânica nos
agroecossistemas. A agricultura familiar sustentável atende as práticas de gestão de uso
de terras e a política de uso do solo, a longo prazo, com aumento da produtividade e
conservação dos recursos naturais, considerando a promoção de práticas agrícolas
2021 Gepra Editora Barros et al.

sustentáveis, evitando à degradação do solo e os problemas ambientais causados pela


intensificação da produção agrícola nas últimas décadas (LAMPACH; TO-THE;
NGUYEN-ANH, 2021).
Analisar o entendimento de agricultores familiares com relação à determinadas
tecnologias sociais e ambientais, buscando o conhecimento e percepção, é um passo
importante, uma vez que será possível conhecer as relações que permeiam percepções e
reflexos na subjetividade dos produtores (LOPES et al., 2011; MATOS et al., 2014).
Nesse entendimento, Gervazio et al. (2014), estabelecem que as atividades
compartilhadas com os agricultores são importantes para construção de parâmetros de
avaliação sobre suas áreas de exploração para adoção de práticas de manejo e recuperação
1186
do solo, o que facilita o acesso e permitir maior compreensão do recurso solo.
Por oportuno é importante ressaltar que na Rio-92, a Conferência das Nações
Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), muito se discutiu sobre
a importância de se preservar o conhecimento das comunidades tradicionais, pois o
manejo adequado e sustentável dos recursos naturais quando aliado ao conhecimento
tradicional, estabelece-se como forte instrumento de conservação ambiental. Tal enfoque
é denominado pelas correntes conservacionistas de etnoconservação (PEREIRA &
DIEGUES, 2010), como área da etnopedologia, que de acordo com Portela et al (2015),
é uma ferramenta que facilita os processos de aprendizagem na formação de um conceito
de solo a partir do conhecimento dos agricultores familiares estimulando a existência de
uma relação mais interativa e afetiva entre as pessoas e esse grande organismo.
O presente trabalho objetivou verificar a percepção dos agricultores de
comunidades rurais do Cariri paraibano sobre a adoção de práticas conservacionistas do
solo como proposta de compreensão do conhecimento popular local sobre o uso e manejo
do solo, considerando os valores da tradição e cultura local.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada no município de Sumé, Cariri Ocidental Paraibano,


microrregião do Estado da Paraíba, com coordenadas geográficas de 07º 40’ 18” de
latitude Sul e 36º 52’ 48” de longitude Oeste, com área territorial de 864 Km², o município
situa-se a cerca de 276 km da capital do estado (João Pessoa).
A população do município é de 17.085 habitantes (IBGE, 2015), sendo o segundo
maior município de território do Cariri Ocidental Paraibano, em termos populacionais.
Destes habitantes, aproximadamente 66% residem na zona urbana e 34% na zona rural.
As comunidades rurais escolhidas para desenvolver a pesquisa foram: Sitio Tigre, Santa
Rosa, Riacho da Roça, Angico Torto, Maracajá e Terra Vermelha.
O clima da região é do tipo BSh de Köppen (semiárido quente), com precipitação
anual média de 568 mm e temperaturas que variam entre média mínima de 20,7 °C a
média máxima de 24,5 °C (ALVARES et al., 2013). Os solos predominantes destas
regiões são caracterizados como pouco a moderadamente desenvolvidos, com
2021 Gepra Editora Barros et al.

predominância das classes dos Neossolos Lítolicos, Luvissolos Crômicos e Planossolos


Háplico (BRASIL, 1972; PARAÍBA, 1978; MEDEIROS, 2018).
A metodologia priorizada foi a participativa, que segundo Grossi (1981), promove
uma transformação social em benefício dos participantes, com realização de palestras e
rodas de prosa para conhecer a realidade local. O instrumento de pesquisa utilizado foi
um questionário semiestruturado, aplicado aleatoriamente com dez agricultores de cada
comunidade (78,3% homens e 21,7% mulheres), sobre as práticas de uso e manejo do
solo, enfatizando o entendimento de agricultores familiares com relação à determinadas
tecnologias sociais e ambientais. A escolha foi realizada a partir da visitação e aplicação
do questionário com os agricultores que se encontravam em casa na hora da pesquisa,
1187
evitando causar constrangimento ao seu cotidiano de atividades no campo.
A interpretação e classificação das respostas teve como base um estudo prévio
bibliográfico. Respeitou-se o anonimato e o sigilo das respostas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A aplicação dos questionários trouxe considerações importantes sobre a visão dos


agricultores familiares das seis comunidades rurais pesquisadas. Inicialmente buscou-se
saber o tempo de moradia dos entrevistados nas comunidades, e todos afirmaram que
moram na comunidade desde sempre. Os agricultores afirmaram também trabalhar
sozinhos ou apenas com os membros da família, o que torna pertinente o processo de
sucessão, proporcionando a continuidade das atividades e a transição para as gerações
futuras, assim como a permanência dos negócios e atividades nas propriedades rurais que
facilmente se perdem ao longo dos anos devido o êxodo rural (FOGUESATTO, et al.,
2020).
Como observado na Figura 1, quanto ao grau de escolaridade, constatou-se uma
impressionante baixa escolaridade, o que dificulta o desempenho da atividade agrícola e
principalmente o acesso, a organização e o desenvolvimento das novas atividades que se
colocam para o meio rural. O nível de escolaridade atual compromete o próprio exercício
de cidadania, uma vez que os agricultores nem sempre conseguem ter acesso aos direitos
legalmente constituídos.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 1. Grau de escolaridade por comunidade.

1188

Os altos níveis de escolaridade contribuem na melhoria dos conhecimentos e


consciência sobre como conservar o solo e tendem a reconhecer os riscos associados à
erosão, além de terem tendencia de buscarem conhecimento dos agentes de
desenvolvimento sobre as práticas de conservação do solo e também sobre tecnologias
agrícolas (BELACHEW, MEKURIA & NACHIMUTHU, 2020).
Apenas os agricultores das comunidades Angico Torto, Riacho da Roça e Maracajá
concluíram o ensino fundamental II, já na Terra Vermelha apenas uma pessoa
entrevistada concluiu o fundamental I, e na comunidade do Tigre ninguém estudou,
evidenciando a grande carência das escolas do campo (Figura 1).
A agricultura familiar pode ser entendida com base no tamanho da propriedade,
pois utiliza basicamente mão de obra familiar, apresenta diversidade de produção e
prioriza o autoabastecimento, com a comercialização do excedente (CALLADO,
ALBUQUERQUE, SILVA, 2007).
No que diz respeito ao tamanho dos imóveis dos agricultores mostrado na Figura 2,
as propriedades trabalhadas são de tamanho intermediário, situando-se numa faixa de 10
a 30 ha, sendo a mão de obra estritamente familiar, entre duas e cinco pessoas, o que deixa
claro tratar-se de pequenos produtores. A pequena propriedade é o imóvel rural explorado
pelo agricultor e sua família, admitida à ajuda eventual de terceiros, garantindo a eles a
subsistência e o progresso social e econômico, sendo a que o tamanho da área é variável
conforme a região do país onde ela se localiza.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 2. Tamanho do imóvel de cada Agricultor entrevistado.

1189

A agricultura familiar é responsável pela maior parte da produção de alimentos,


principalmente por sua característica de integrar a produção e o consumo, nesse sentido,
a grande maioria dos agricultores trabalham com a produção convencional e apenas dois
agricultores da comunidade Angico Torto e um agricultor de Terra Vermelha trabalham
com a produção orgânica, para subsistência, com venda do excedente baseada na
fruticultura e na olericultura. A agricultura orgânica é considerada uma alternativa
sustentável, e o Brasil é o maior consumidor orgânico da América Latina (IFOAM, 2017),
onde 80% da produção é proveniente da agricultura familiar, (FROEHLICH, MELO &
SAMPAIO, 2018).
A atuação feminina na agricultura familiar é de extrema importância, pois em
entrevista, 60% das mulheres afirmaram ajudar na renda familiar através da confecção de
toalhas com bordados de crochê, produção de mudas de plantas ornamentais (suculentas),
produção hortícola e produção de bolos e comidas regionais, que são vendidos nas
próprias comunidades e na feira livre do município.
No âmbito da economia, nas comunidades rurais, a dependência de alimentos e
matérias-primas é pequena, pois estas áreas também se transformam de espaços de
produção e consumo em espaços onde o turismo e o lazer desempenham um papel cada
vez mais importante, onde inclui a mudança dos padrões de uso da terra (WESTLUND
& NILSSON, 2019).
O solo desempenha um papel de extrema importância no ecossistema, por isso
devemos nos preocupar com sua conservação, bom aproveitamento e um mínimo de
danos, sendo necessário conhecer o tipo de solo que vai ser utilizado. Considerando o
conhecimento empírico dos agricultores, o termo usado pelos mesmos para designar terra
fértil de boa qualidade diz respeito à presença de água (umidade), com esterco e estrume,
sobretudo das regiões de ‘várzeas’ (baixios), como mostra o seguinte gráfico (Figura 3).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 3. Termos usados pelos agricultores para designar terra fértil.

1190

A comunidade rural do Tigre foi a que mais trouxe contribuições referenciadas ao


seu entendimento para terra agricultável e que dizem respeito, sobretudo, ao aspecto
visual e tátil. A referência a cor avermelhada do solo reflete o entendimento empírico da
qualidade do solo, evidenciando a percepção de muitos dos agricultores das seis
comunidades. Contudo, ainda persiste o entendimento errôneo de que solo bom e fértil, é
solo limpo, entendimento que também foi mencionado na comunidade do Angico Torto
e Terra vermelha (Figura 3).
Na Figura 4 estão dispostos as práticas de conhecimento pelos agricultores para
proteger o solo dos efeitos danosos da erosão e criar condições adequadas ao
desenvolvimento das plantas, onde também falam que é necessário conhecer o solo e
adotar boas práticas agrícolas, portanto, ao se perguntar sobre os cuidados adequados do
solo, a maioria respondeu positivamente, pois se preocupam com os efeitos danosos da
erosão afim de criar condições adequadas ao desenvolvimento das plantas, adotando boas
práticas agrícolas.
Questionados sobre o conhecimento de uso e práticas de conservação do solo, as
respostas foram bem diversas, mas, é possível observar que, enquanto o uso de estercos
é uma prática bastante comum, a compostagem não foi mencionada (Figura 4).

Figura 4. Práticas de Conservação do solo utilizadas pelos Agricultores.


2021 Gepra Editora Barros et al.

Considerando a prática corriqueira da limpeza e roçado do mato, que pode ser


direcionado para a formação de composteiras, numa atividade constante de promoção da
qualidade do solo e geração de renda, buscamos saber sobre o uso dado ao material
roçado, onde a maioria destina a queima, a deixar no local para decomposição, fazem
carvão ou cercados e destinam para os animais.
Dentre as práticas conservacionistas citadas pelos agricultores, é observado que a
maioria entrevistada (91,7%) praticam a conservação de solo, seguida das práticas de uso
de esterco (76,7%) e barramento (66,7%), já a análise do solo é feita por apenas 13,3%
dos agricultores, enquanto apenas 10% promovem a cobertura do solo, e uma baixa
1191
parcela entrevistada pratica o reflorestamento (3,3%).
Na Figura 5 é mostrado os resultados para o número de agricultores com
entendimento sobre a prática de compostagem, onde verifica-se que grande minoria
(13,3%) conhece sobre tal, e a maioria dos agricultores (86,7%) mostrou
desconhecimento dessa prática simples e importante para manutenção da saúde do solo.

Figura 5. Percepção dos agricultores sobre compostagem nas comunidades.

Sabendo-se que a compostagem é a forma mais eficiente de reciclagem dos resíduos


orgânicos e consiste na mistura de material vegetal (capim, poda de árvores, folhas, restos
culturais), provenientes da própria propriedade, resultando na produção do composto que
fornece nutrientes importantes para o crescimento das plantas e que é indispensável para
manter a estrutura adequada do solo e a capacidade de retenção de água (NAKASAKI et
al, 2019).
Sabe-se que a assistência técnica rural é fundamental, por suas características
próprias, é uma atividade complexa e urgente para o estabelecimento de práticas
sustentáveis para manutenção da qualidade do solo.
Pelas respostas dos agricultores entrevistados foi possível inferir que os produtores
orgânicos dispõem de assistência técnica, diferente da maioria dos produtores
convencionais, enfatizando o levantamento feito por Froehlich, Melo & Sampaio (2018),
que diz que apesar de apresentar pequenas diferenças, há maior número de agricultores
2021 Gepra Editora Barros et al.

orgânicos assistidos do que os convencionais, independentemente do tipo de orientação,


sendo que o atendimento mais presente entre os agricultores convencionais muda apenas
quando é feita por cooperativas.
Sabe-se que é obrigação do Estado propiciar estes serviços para os agricultores
familiares, mas estes serviços não acontecem com a regularidade e frequência necessária,
e para que estes serviços aconteçam o agricultor não deveria ficar esperando, uma vez
que são muitos os profissionais formados e qualificados que poderiam prestar serviços de
orientações ao povo do campo.

1192
CONCLUSÕES

A utilização do método de pesquisa permitiu interagir com os agricultores de


maneira espontânea, onde os mesmos puderam falar com tranquilidade sobre suas
percepções. Respondendo às questões que nortearam a pesquisa, verificou-se que os
agricultores das comunidades trabalhadas ainda carecem de informações e orientações
que promovam a adoção de práticas conservacionistas para a sustentabilidades dos
agroecossistemas, mas evidenciou como estão receptivos às ações que sensibilizem para
a importância de um manejo adequado do solo.
No geral os resultados apontam para um grande desconhecimento das práticas
conservacionistas, sobretudo para práticas simples, como a compostagem, adubação
verde, formação de bancos de sementes, além da visão que os agricultores trazem para
nomear solo de boa qualidade e solo improdutivo.
A vivência com os agricultores das seis comunidades pesquisadas permitiu
conhecer ‘in loco’ sua realidade, o que contribuiu sobremaneira, para buscar colaborar na
construção do desenvolvimento sustentável da região, envidando esforços para
disseminar conceitos sobre conservação, preservação e recuperação dos solos da região
caririzeira. Por outro lado, verificou-se nas conversas a necessidade de apoio por parte
dos órgãos de assessoria técnica para disseminar tecnologias sociais e práticas de
conservação do solo, para evitar a degradação ambiental nas áreas visitadas.

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Capítulo 107

QUALIDADE DE CARNE DE BÚFALO: UMA BREVE REVISÃO

ANDRADE, Bruna Fernandes


Pós-graduanda em Ciências dos Alimentos
Universidade Federal de Lavras
bruna.andrade4@estudante.ufla.br

SANTOS, Edilayane da Nóbrega


Pós-graduanda em Ciências dos Alimentos
Universidade Federal de Lavras
edilayane.santos@estudante.ufla.br 1196

RAMOS, Eduardo Mendes


Doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Universidade Federal de Lavras
emramos@ufla.br

RAMOS, Alcinéia de Lemos Souza


Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Universidade Federal de Lavras
alcineia@ufla.br

RESUMO

No Brasil a bubalinocultura e a produção de carne de búfalo está em ascensão, porém,


ainda são poucos os estudos que discutem sobre o processo, e os fatores que afetam a
qualidade de carne desses animais, ademais, há uma grande divergência de resultados em
trabalhos que discutem sobre a qualidade da carne bubalina em função da ausência de
padronização dos animais abatidos e sua interação com a produção leiteira. Desta forma,
objetivou-se com esta pesquisa, realizar uma pesquisa bibliográfica sobre a qualidade da
carne de búfalo. As buscas foram realizadas nas principais bases de dados, como os
periódicos Web of Science, Science Direct, Google acadêmico e Scielo. Diante dos
resultados obtidos, pesquisas indicam que os bubalinos apresentam padrões de qualidade
de carne similares aos bovinos, porém apresentam particularidades que devem ser
consideradas afim de se obter carnes com alta qualidade.

PALAVRAS-CHAVE: Bubalinocultura, Maciez, Rigor mortis.

INTRODUÇÃO

Embora os bubalinos (Bubalus bubalis) apresentem características semelhantes


(fenotípicas e anatômicas) as espécies bovina Bos taurus taurus e Bos taurus indicus,
cada uma delas apresenta particularidades fisiológicas associadas à sua evolução em seus
ambientes de origem (MARCONDES, 2011). A produção de carne de búfalo é
predominante em países menos industrializados, principalmente nos países asiáticos, e,
ou, aqueles localizados em regiões tropicais, em que há maior capacidade adaptativa e de
produtividade desses animais (MARCONDES, 2011). Tem sido observado uma expansão
2021 Gepra Editora Barros et al.

da criação e abate desses animais, por ser uma alternativa a produção de carne de boa
qualidade, pois, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO, 2017), há uma necessidade de expansão da produção de alimentos de
alto valor biológico para compor a alimentação da população prevista em 2050.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2018, o rebanho
brasileiro correspondeu a 1,39 milhão de animais e foi apontado como o país de maior
produção de bubalinos do ocidente (IBGE, 2019). Porém, a produção de carne e sua
comercialização ainda não é amplamente explorada como nos países asiáticos, sendo
considerado como uma prática exótica em grande parte do país, devido à falta de oferta e
disponibilidade de produtos. Alguns trabalhos tem sido realizados, e têm gerado boas
1197
expectativas para o mercado, devido a boa aceitação para os atributos sensoriais, como
maciez e sabor, para a carne de búfalo (ANDRIGHETTO et al., 2008; MARQUES et al.,
2016).
A distribuição de búbalos no país não é homogênea, sendo que a maior parcela
desses animais de corte corte são encontrados na região Norte do Brasil (BERNARDES,
2007). Já na região Sudeste, a maior concentração bubalinos são voltados para a pecuária
leiteira (MARQUES et al., 2016). Segundo Malhado et al. (2017), o Brasil possui três
principais raças de búfalos, sendo uma de origem italiana, a Mediterrâneo e duas indianas,
a Murrah e a Jafarabadi. A raça Murrah, é apresentada com grande potencial para a
produção de leite e carne (ALVES; FRANZOLIN, 2015; AZEVÊDO; SOUZA;
CARNEIRO, 2017), fazendo com que seja crescente o interesse dos produtores de búfalos
com dupla finalidade, bem como a inserção de fêmeas de descarte para a produção de
carne. Devido à dupla aptidão dos animais (carne e leite), bem como os poucos trabalhos
brasileiros que avaliam a cadeia produtiva dos búfalos, há uma falta de especificidade e
definição do mercado, o que dificulta a discriminação e padronização dos animais
abatidos e consequentemente da qualidade da carne. Em geral, a comercialização da carne
de búfalo ocorre como produto de alta qualidade em mercado ‘gourmet’ ou como bovina,
quando são atribuídas de menor qualidade, sendo destinadas à charquearia. Também há
registros de fraudes, em que se tem a substituição parcial de carne bovina por bubalina
em hambúrgueres (HOSSAIN et al., 2017) e carnes moídas (OLIVEIRA et al., 2015).
Devido ao fato de a maior população de búfalos encontrar-se na Ásia, os trabalhos
científicos sobre a qualidade de carne desses animais também estão concentrados nessa
região (RAJ et al., 2000; DOSI et al., 2007; NAVEENA; KANDEEPAN et al., 2009;
KIRAN et al., 2011; KIRAN et al., 2016; LI et al., 2018;). Assim, as características de
qualidade da carne compreendidas nesses trabalhos podem não abranger
significativamente às produções brasileiras e de demais países, em função da diferença
genética dos rebanhos e sistema de abate. Na Índia, por exemplo, existem mais de 19
raças de búfalos reconhecidas e outras ainda não reconhecidas com importância
econômica (FERREIRA, 2018), e o processo de abate é conduzido de forma diferente do
sistema de abate brasileiro, como o método Halal (FAROUK et al., 2014). Sendo assim,
essa esta pesquisa, tem como objetivo realizar brevemente uma pesquisa bibliográfica
sobre a qualidade da carne de búfalo e os principais pontos que influenciam a qualidade
de carne.
2021 Gepra Editora Barros et al.

MATERIAL E MÉTODOS

Para realização das buscas foram consultadas as principais bases de dados, como o
Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), o Google Acadêmico, o Scientific Electronic Library Online (SciELO) e a
Science Direct. As buscas foram feitas no período de Janeiro 2018 a Janeiro de 2020,
usando as palavras-chave em português e inglês: carne de búfalo, qualidade de carne,
maciez, Murrah, Brasil, cor, rigor mortis e maturação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO 1198

QUALIDADE DA CARNE

A qualidade da carne in natura é dependente de fatores denominados intrínsecos


(ante mortem) e extrínsecos (post mortem). Sendo os fatores intrínsecos aqueles
associados ao animal (sexo, idade, espécie e raça), sua dieta alimentar e o manejo
(intensivo e/ou extensivo), e os extrínsecos podem ser divididos em dois momentos: 1)
desenvolvimento do rigor mortis, em que são importantes a forma de pendura das
carcaças, estimulação elétrica das carcaças, a taxa de refrigeração e o comportamento do
declínio de pH, pois influenciam na modificação da estrutura e na bioquímica muscular
que podem intensificar ou não o enrijecimento do músculo; 2) armazenamento post rigor,
resultando em alterações estruturais miofibrilares em decorrência das ações enzimáticas
das calpaínas e catepscinas (KOOHMARAINE; WARNER et al., 2010, GEESINK, 2006;
RAMOS; GOMIDE, 2017). Assim, para diferentes grupos de animais e diferentes
práticas post mortem são esperadas variações em características de qualidade da carne,
como pH, capacidade de retenção de água, força de cisalhamento, índice de fragmentação
e cor (WARNER et al., 2010; RAMOS; GOMIDE, 2017). De uma maneira geral, a
maciez e cor de carne são considerados os principais atributos considerado pelos
consumidores para a compra do produto e satisfação.

RIGOR MORTIS

O processo de rigor mortis desencadeia uma série de alterações estruturais e


bioquímicas no músculo e é dependente tanto do manejo ante mortem do animal quanto
das técnicas de armazenamento das carcaças. O conjunto desses fatores afeta diretamente
a qualidade da carne e, por essa razão, cada um deles devem ser conhecidos e, ou,
controlados. Foi sugerido por Bate-smith e Bendall (1946)⁠ que o processo de rigor estaria
associado à extensibilidade do músculo e foram atribuídas três fases para o seu
desenvolvimento: a fase de atraso, fase rápida e fase pós-rigor. Em um primeiro
momento, quando a carcaça entra no estágio de pré-rigor ou fase de atraso (delay phase),
sua extensão é majoritariamente dependente da quantidade de glicogênio presente no
músculo. Uma vez que ainda há produção de ATP (adenosina trifosfato) pelos
mecanismos de fosfocreatina, glicólise e principalmente, pelo mecanismo anaeróbico
convertendo piruvato em ácido lático, nesse momento o músculo ainda manifesta
2021 Gepra Editora Barros et al.

extensibilidade (BATE-SMITH; BENDLL, 1946; LAWRIE; LEDWARD, 2006;


HONIKEL, 2014; RAMOS; GOMIDE, 2017).
Quando as concentrações de ATP se encontram em torno de 1 µmol/g no tecido
muscular é desenvolvido o rigor (onset phase), marcado pela rápida perda de
extensibilidade, quando o complexo de actomiosina formado não consegue retornar à
posição inicial (estado relaxado), consequentemente o encurtamento do sarcômero torna-
se irreversível. A presença de ácido lático proporciona as condições necessárias para a
promoção do complexo de actomiosina irreversível, ou seja, favorece liberação de cálcio
e redução do conteúdo de ATP (BATE-SMITH; BENDLL, 1946; HONIKEL, 2014;
RAMOS; GOMIDE, 2017). Na etapa de conclusão do rigor (post rigor phase), a
1199
extensibilidade volta a ser constante, porém com valores mínimos devido à ação
proteolítica de complexos enzimáticos, principalmente das calpaínas. As concentrações
de ATP se aproximam de 0,1 µmol/g no tecido muscular. O desenvolvimento do rigor
mortis ocorre normalmente durante as primeiras 24 horas post mortem em bovinos e é
dependente do binômio pH e temperatura do teor de glicogênio presente no músculo
(BATE-SMITH; BENDLL, 1946; HONIKEL, 2014; RAMOS; GOMIDE, 2017).
As alterações bioquímicas e estruturais do músculo durante sua conversão em carne
são acompanhadas através do teor e presença de metabólitos, tais como glicose,
glicogênio, ATP, adenosina difosfato (ADP), ácido lático, e pelo comprimento do
sarcômero (RAMOS; GOMIDE, 2017)⁠⁠. À medida que a reserva de energia de
fosfocreatina muscular é reduzida, os níveis de ATP também diminuem, ocorrendo a
degradação de ATP à hipoxantina. A relação do consumo de ATP é estimada pelo valor-
R, em que a razão das absorvâncias em 260 nm (nucleotídeos de adenina: ATP, ADP e
AMP) e 250 nm (IMP, ionosina e hipoxantina) permite estimar o início e o fim do rigor,
quando os valores de R estão entre 1,05 e 1,10 e próximos a 1,30, respectivamente
(HONIKEL; FISCHER, 1977). De acordo com Honikel et al. (1981)⁠, o pH também pode
ser utilizado para estimar o início e o término do rigor mortis, de modo que quando este
se encontra próximo a 5,9, é caracterizado como início do rigor e este é finalizado quando
o pH se aproxima de 5,5.

MATURAÇÃO

O processo de maturação é utilizado com a finalidade principal de minimizar a


inconsistência da maciez do músculo pós rigor. O desenvolvimento da maciez nesse
período é decorrente da ação enzimática de complexos endógenos que promovem a
fragmentação de proteínas miofibrilares e citoesqueléticas, como a miosina, α-actina,
desmina, troponina (I, C e T), nebulina (N1 e N2), vinculina, meta-vinculina, distrofina,
titina, tropomiosina e proteína C (KOOHMARAIE; GEESINK, 2006)⁠. De acordo com
Koohmaraie; Geesink (2006)⁠ a região que apresenta maior relevância no processo de
amaciamento é a ligação da miofibrila desmina, na altura da linha Z. Porém, em outros
estudos (KOOHMARAIO; GEESINK, 2006; KEMP et al., 2010), o surgimento da
polipeptídeos com 30 KDa e degradações da toponina T, desmina e nebulina tem sido
apresentadas com grande importância.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Dentre os complexos enzimáticos envolvidas na degradação da estrutura miofibrilar


estão as catepcinas lisssomais e as calpaínas (KOOHMARAIE E GEESINK, 2006;
LONERGAN; ZHANG; LONERGAN, 2010).⁠ Entretanto, outros complexos também
estão sendo estudados, como as caspases e o proteosoma, associados ao processo de
apoptose celular de forma colaborativa na proteólise post mortem (KEMP et al., 2010;
BARÓN, 2016)⁠. Porém, são consideradas às calpaínas e catepsinas maior atuação, sendo
que as calpaínas possui um inibidor naturalmente presente no sarcoplasma, denominado,
calpastatina. Esses dois grupos enzimáticos possuem diferentes condições de ativação e
de atividade ótima.
No trabalho de Koohmaraie (1992) foram consideradas três características
1200
fundamentais para as alterações post mortem, sendo elas a localização das enzimas (no
músculo esquelético), ter acesso ao subtrato (miofibrilas) e ser capaz de hidrolisar as
proteínas miofibrilares indicadas durante o armazenamento. Nesse sentido, à temperatura
de armazenamento de 2 - 4 ° C, as calpaínas foram apresentadas como o principal sistema
proteolítico, por apresentar mesmo padrão de degradação do músculo dito maturado
(KOOHMARAINE, 1992; NOWAK, 2011)⁠.
Convencionalmente a maturação acontece à temperatura acima do ponto de
congelamento da carne de 1,5ºC, sob refrigeração entre 0 e 4ºC. As calpaínas são
consideradas de maior relevância na proteólise devido às suas condições atuação. De
forma geral, as calpaínas são cálcio (Ca+2) dependentes, ou seja, necessitam da presença
do íon bivalente para atuar e são inibidas pela presença de calpastatina. Porém, se diferem
quanto a localização e as condições ótimas de pH e temperatura para atuação. As
catepsinas estão localizadas no lipossoma, são consideradas proteases ácidas em razão de
possuir ação em pH ácido (abaixo de 5,5) e possuem temperaturas ótimas mais elevadas,
entre 25-35ºC. Além das proteínas miofibrilares e estruturais, as catepsinas L e D são
capazes, de forma exclusiva, de degradar colágeno. Já as calpaínas estão localizadas no
sarcoplasma, são consideradas neutras, pois, possuem pH ótimo próximo ao neutro (7,0-
7,5) e temperatura ótima entre 10 e 25ºC (KOOHMARAIE, 1994; RAMOS; GOMIDE,
2017)⁠.

CARACTERÍSTICAS DE QUALIDADE DE CARNE


COR

A cor de carne é considera como o principal atributo que afeta a escolha do


consumidor no momento da compra, e é utilizada por muitos consumidores como
indicativo de frescor e de qualidade microbiológica, embora nem sempre esta relação seja
verdadeira (ACEBRÓN; DOPICO, 2000). Após a realização da sangria do animal, a
mioglobina é considerada como a principal responsável pela cor de carne (de 70 a 95%).
No que diz respeito a forma química da mioglobina, sabe-se que o complexo proteico é
constituído de uma proteína globular globina (Mb) e um grupo prostético heme, resultado
da união de 4 anéis de porfirina, um átomo de ferro que possui uma valência livre (sexta
valência) para ligações com pequenas moléculas gasosas (CO, O2, NO) (RAMOS;
GOMIDE, 2017). A emissão do comprimento de onda emitido pelo pigmento,
correspondente à cor percebida na carne, sofre alterações com o estado estrutural da
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proteína globina, a integridade do anel de porfirina, o número de oxidação (NOX) do


átomo de ferro (Fe+2 ou Fe+3) assim como a molécula de gás (CO, O2, NO) que se encontra
ligada à sexta valência livre do ferro (RAMOS; GOMIDE, 2017; JACOB, 2020).
De uma maneira geral, em carne in natura considera-se a coexistência dos
pigmentos de mioglobina (oximioglobina - OMb; metamioglobina - MMb e
deoximioglobina – DMb), que é dependente de uma série de fatores que a afetam direta
ou indiretamente, assim, dependendo das condições do sistema, ocorre a predominância
de um deles. O blooming compreende ao processo de oxigenação da mioglobina, que
resulta na formação do pigmento OMb, que confere a carne a cor vermelho brilhante
desejada pelo consumidor. Esse processo é dependente da disponibilidade e difusão do
1201
oxigênio bem como da temperatura e ação de complexos enzimáticos, que ditam a
estabilidade da cor de carne (RAMOS; GOMIDE, 2017; JACOB, 2020).
São esperadas diferenças de cor associadas: a diferentes animais e tipos de manejo,
como: animais de diferentes raças, espécies, sexo, sistemas de criação e dietas
alimentares; e diferentes músculos; de forma que maiores teores de mioglobina implicam
em colorações mais intensas de vermelho, esperados em músculos de animais mais
velhos, músculos mais exigidos fisicamente que aumentam a produção de mioglobina.
Também são esperadas diferenças de cor para carnes que apresentem com diferentes
características físico-químicas e tecnológicas, como: pH e capacidade de retenção de
água; diferenças intensidades de reações químicas como: atividade enzimática e
microbiológica; e diferentes condições de armazenamento e de blooming, como
composição química da atmosfera, temperatura e luminosidade, em função de alterar a
capacidade de absorção e reflexão da luz (JACOB, 2020; PURSLO; WARNER;
CLARKE; HUGHES, 2020).

MACIEZ

A maciez de carne é o principal atributo para a satisfação do consumidor e está


relacionada aos fatores ante mortem (intrínsecos) e post mortem (extrínsecos)
(BIANCHINI et al., 2007)⁠. Os fatores intrínsecos são aqueles relacionados: ao animal
(músculo, sexo, raça, espécie e idade), impactando sob o teor de colágeno insolúvel,
gordura de marmoreio e teor de calpastatina; ao manejo de criação (sistema de criação e
dieta alimentar), devido à maior ou menor atividade muscular, alterando o teor de
colágeno insolúvel e gordura de marmoreio; e o manejo pré-abate (em especial, o estresse
crônico), que interfere no teor de glicogênio muscular, composto que prediz a extensão
da glicólise durante a conversão do músculo em carne (LAWRIE; LEDWARD, 2006;
RAMOS; GOMIDE, 2017; WARNER et al., 2010).
Segundo Koohmaraie (1992), a variação na maciez de carne encontra-se
relacionada ao percentual de marmoreio e de colágeno (15 %), de forma que carnes mais
marmorizadas e com baixo percentual de colágeno proporcionam a maciez, e cerca de 85
% da textura verificada corresponde à proteólise post mortem, por enzimas endógenas.
De acordo com Ramos; Gomide (2017)⁠, avaliar somente o conteúdo de colágeno não é
suficiente para predizer a sua influência sob a maciez de carne, mas sim o perfil de suas
ligações cruzadas e suas respectivas frações, solúveis e insolúveis, visto que músculos
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mais macios possuem menor número de ligações cruzadas e consequentemente maior


fração de colágeno solúvel e menor fração insolúvel.⁠
Como exemplo, para os bovinos já foi elucidada a associação entre o genótipo do
Bos taurus e sua maior maciez de carne em relação a de Bos indicus ( WHIPPLE et al.,
1990; WHEELER et al., 1990; SHACKELFORD, WHEELER; KOOHMARAIE, 1995).
A maior maciez de carne dos bovinos taurinos está relacionada ao menor conteúdo de
calpastatina desses animais, possibilitando maior taxa de ação das calpaínas (WHEELER
et al., 1990; KOOHMARAIE, 1994;), e a sua maior deposição de gordura intramuscular
(marmoreio), uma vez que estimulam as papilas gustativas e favorecem a percepção de
maciez (WHEELER; CUNDIFF; KOCH, 1994).⁠
1202
Já os fatores extrínsecos estão relacionados aos efeitos post mortem estão
associados ao desenvolvimento do rigor mortis e as práticas do processo que podem levar
a uma maior rigidez da carne e o armazenamento post rigor, ou processo de maturação
(KOOHMARAINE; GEESINK, 2006; WARNER et al., 2010; RAMOS; GOMIDE,
2017). O durante a maturação é decorrente da ação enzimática de complexos endógenos
que promovem a fragmentação de proteínas miofibrilares e citoesqueléticas, como a
miosina, α-actina, desmina, troponina (I, C e T), nebulina (N1 e N2), vinculina, meta-
vinculina, distrofina, titina, tropomiosina e proteína C (KOOHMARAIE; GEESINK,
2006)⁠. Também são consideradas as influências de diferentes metodologias de cocção sob
a qualidade de carne, como a maciez, de forma que a medida em que a temperatura
aumenta é esperada maior dureza de carne, visto que assume condições desnaturantes
para as proteínas miofibrilares (VASANTHI, VENKATARAMANUJAM;
DUSHYANTHAN, 2007; RAMOS; GOMIDE, 2017).

RIGOR MORTIS DO MÚSCULO BUBALINO

Em pesquisas realizadas com o músculo Longissimus thoracis foram obtidos


resultados sugerindo que a carne de búfalo apresenta atividade proteolítica
significativamente maior que a bovina (NEATH et al., 2006; 2007)⁠. Neath et al. (2006)
avaliaram as alterações de amaciamento e o declínio de pH dos músculos Longissimus
thoracis e semimembranosus 48 horas post mortem de búfalas mestiças (Carabao e
Murrah) e fêmeas de gado mestiços (Brahman e filipino nativo), submetidos a mesma
dieta e abatidos com 30 meses de idade. As búfalas apresentaram maior espessura de
gordura de cobertura em relação aos bovinos. Foi concluído que as carcaças das búfalas
obtiveram declínio lento de pH em relação à bovina, visto que no tempo 0 horas post
mortem as búfalas apresentaram pH de 6,7 e os bovinos pH 6,3, ambos atingiram pH final
(5,5) com 48 horas post mortem, sendo atribuído aos bubalinos maior capacidade
tamponante do músculo. Foram verificadas maiores degradações da proteína troponina T
nos músculos das búfalas. Também foi verificada diferença nos valores da força de
cisalhamento, de modo que a carne de búfala apresentou maior maciez com 2 e 7 dias
post mortem (67 e 37 N, respectivamente) em relação aos bovinos (73 e 53 N), sendo esse
achado atribuído à maior atividade das calpaínas. Em outro estudo Neath et al. (2007)⁠
concluíram que não houve diferenças na atividade de calpastatina e na expressão das
2021 Gepra Editora Barros et al.

calpaínas nos músculos bubalinos e bovinos. A diferença foi atribuída à possível atividade
de calpaína precoce nas primeiras horas post mortem.
Raj et al. (2000) avaliaram os músculos Biceps femoris (BF), Semimembranosus
(SM) e Semitendinosus (ST) de búfalas submetidas à regrigeração atrasada e à refrigeração
imedita. Os músculos foram retitados com 2 horas post mortem e mantido à temperatura
ambiente (26 ± 2 °C) por 6 horas. Em seguida os cortes foram refrigerados à taxa de 2 ±
3 °C por 18 horas. Foi registrada rápida queda de pH, variando de 6,5 para 5,6 em 6 horas
post mortem. Também foram registradas maior maciez quando comparado àqueles cortes
submetidos a refrigeração imediatamente post mortem. De acordo com Bhat et al. (2018)
a manutenção de carcaças em temperaturas acima de 25 °C e o aumento das concentrações
1203
de cálcio diminui a atividade de calpastatina e proporciona rápida atividade das calpaínas.

CARACTERÍSTICAS DA CARNE DE BÚFALO

A carne de búfalo têm sido descrita como de cor mais escura em relação à bovina
(LAPITAN et al., 2007; NAVEENA et al. 2011; KANDEEPAN et al., 2013; HASSAN et al.,
2018). Ao avaliar os índices de cor da carne descongelada de bovinos italianos (Frisian) e búfalos
(Mediterrâneo) com 4, 8 e 12 meses de idade, Tateo et al. (2007) sugeriram que a carne bubalina
apresentou maior capacidade de conservação de suas características quando descongeladas, visto
que o pH permaneceu mais estável durante o armazenamento, bem como a cor da carne. Também
foi verificado que a carne bovina apresentou maior tendência em produzir oximioglobina (MbO2),
enquanto a carne de búfalo, o pigmento de metamioglobina (MMb). Dosi et al. (2007)
encontraram cor mais escura para a carne de bubalinos (water buffalo) quando comparadas à carne
bovina comercial, entretanto, não observaram variação no blooming da mioglobina, mas sim no
teor de mioglobina (0,393 ± 0,005 g/100 g de tecido) e metamioglobina (0,209 ± 0,003 g/100 g
de tecido) na carne de búfalo, sendo esse valor duas vezes superior à encontrada em carne bovina.

Ao comparar búfalos italianos e touros italianos mantidos com mesma dieta


alimentar, Spanghero et al. (2004)⁠ concluíram que os músculos Longissimus thoracis e
semitendinoso de bubalinos apresentavam cor vermelha mais intensa, melhor perfil
lipídico e maior maciez. Foram verificados maior percentual de ácido oleico e de gordura
de marmoreio para os búfalos e menor força de cisalhamento (búfalos 46,3 N e bovinos
68,8 N). Já no trabalho de Hassan et al. (2018), realizado no Egito com carnes importadas
congeladas de bovino (brasileira) e búfalo (indiano), não foram verificadas diferenças no
total de ácidos graxos insaturados e saturados, exceto C14:0 (ácido tetradecanoico), que
foi significativamente maior nos bovinos. Contudo, os músculos de bubalinos
apresentaram maior teor de proteínas. Foi verificada maior solubilidade de colágeno nos
bovinos e menor índice de vermelho (a*). Na análise sensorial foram verificadas melhores
notas de aparência, maciez e suculência para a carne bovina.
Rodrigues; Andrade (2004), compararam as características físico-químicas da carne
(Longissimus dorsi) de bubalinos Mediterrâneo e de bovinos Nelore x Sindi, ambos
castrados e inteiros. Os resultados apontaram que para a carne de búfalo, a castração não
afetou a deposição de gordura. Quando comparados aos bovinos, os búfalos apresentaram
um teor de gordura 7% menor. De acordo com Murthy; Devadason (2003)⁠, a carne de
búfalo apresenta mais benefícios à saúde quando comparada à bovina em virtude de seu
menor percentual de ácidos graxos saturados e de colesterol, e seu maior percentual de
2021 Gepra Editora Barros et al.

proteínas. Também nos trabalhos de Giuffrida-Mendoza et al. (2015)⁠ foi atribuída à carne
bubalina melhores benefícios à saúde quando avaliado o índice aterogênico (IA), em que
se mede o risco cardiovascular. Os músculos bovinos (Brahman) apresentaram maiores
valores de IA em relação aos búfalos d’água (water buffalo).
Appa Rao; Thulasi; Wilfred Ruban (2009) avaliaram o efeito do sexo e idade (de 6
meses a 2 anos, de 2 a 4 anos e acima de 4 anos) nas características da carne de búfalo
indiano comercial e concluíram que esses efeitos exercem grande influência na qualidade
de da carne. As fêmeas apresentaram menor valor de pH (6,58) em relação aos machos
(6,72) imediatamente após abate, contudo, a diferença não permaneceu após 24, 48h e 7
dias post mortem (pH 5,65). Foi percebido que animais com idade mais avançada
1204
possuíam maior diâmetro da fibra muscular, em decorrência das variações fisiológicas e
bioquímicas dos tipos de fibras musculares presentes. Para a cor da carne, foi verificado
aumento nos valores de c* (saturação) com a idade do animal, indicando uma tonalidade
mais intensa na carne dos animais mais velhos. Para o efeito dos sexos, foi verificado que
os machos apresentavam maiores valores de h* (tonalidade) do que as fêmeas. Os búfalos
machos apresentaram menor capacidade de retenção de água e maiores valores para a
força de cisalhamento (Warner-Bratzler) após 24h post mortem (macho 4,96 Kgf e fêmea
3,88 Kgf) e com 7 dias de armazenamento (macho 3,61 Kgf e fêmea 2,73 Kgf).
Nos estudos de Kandeepan et al. (2009), foram verificadas as diferenças entre
búfalos machos jovens (< 18 meses), machos e fêmeas de idade avançada (> 10 anos) 24
h post mortem. Os valores de pH para os búfalos machos (5,59; > 10 anos) foram
superiores aos das fêmeas (5,52;> 10 anos). Os búfalos jovens apresentaram maiores
valores para a solubilidade de colágeno, teor de pigmentos de mioglobina e comprimento
do sarcômero. Para força de cisalhamento, foram verificados menores valores para os
machos jovens (60,60 N), em seguida para os machos com idade 10 anos (81,90 N) e as
fêmeas com idade 10 anos apresentaram maior dureza (93,81 N). Resultados similares
foram encontrados na análise sensorial para o atributo de maciez. As fêmeas velhas
apresentaram menor capacidade de retenção de água em relação aos machos (jovens e de
idade avançada).

CONCLUSÕES

As pesquisas indicam que os bubalinos apresentam padrões de qualidade de carne


similares aos bovinos, porém apresentam particularidades que devem ser consideradas
afim de se obter carnes com alta qualidade. Poucas são as pesquisas brasileiras, que
consideram as principais raças, sistemas de abate e refrigeração do Brasil a respeito dos
impactos sobre a qualidade da carne de búfalo, o que possibilita um grande espectro de
investigação para futuras pesquisas.
2021 Gepra Editora Barros et al.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 108

QUALIDADE DE POLPAS MISTAS VERMELHAS E BRANCAS


DURANTE O ARMAZENAMENTO
OLIVEIRA, Alison dos Santos
Graduando em Engenharia de Alimentos
Universidade Federal de Campina Grande
alisonoliverpb@gmail.com

SOUSA, Sara Morgana Felix


Graduanda em Engenharia de Alimentos
Universidade Federal de Campina Grande
saramfs@hotmail.com 1209

SANTOS, Adriana Ferreira


Doutora em Agronomia
Universidade Federal de Campina Grande
adrefesantos@yahoo.com.br

BEZERRA, Júlia Medeiros


Pós-graduanda em Engenharia de Processos
Universidade Federal de Campina Grande
juliamedeiros1709@hotmail.com

SILVA, Rosenildo dos Santos


Pós-graduando em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande
rosenildo.sb@gmail.com

RESUMO

As polpas mistas visam melhorar as características tecnológicas, nutricionais e sensoriais


dos componentes consumidos isoladamente, podendo potencializar a parte nutricional,
seja pelo alto teor em vitaminas ou pelas características funcionais. Sabendo disso, o
objetivo do trabalho foi elaborar diferentes formulações de polpas mistas a base de frutas,
hortaliças e farinhas funcionais, assim como avaliar a qualidade durante o período de
armazenamento. As frutas foram descascadas e despolpadas, enquanto que, do couve-flor
foram retirados os talos, para obtenção dos extratos. As polpas, os extratos e as farinhas
foram quantificadas e homogeneizadas, sendo acondicionadas em embalagens com
fechamento hermético e armazenadas sob congelamento. Foram realizadas análises de
parâmetros de cor, físico-químicas e compostos bioativos durante um período de 30 dias,
com as avaliações representadas pelos dias +1, +15 e +30 dias após o processamento. O
experimento foi conduzido em um delineamento inteiramente casualizado em esquema
fatorial 4 x 3 e os resultados submetidos à análise de variância utilizando o teste de Tukey
ao nível de 5% de probabilidade. As formulações F1 e F2 apresentaram teores elevados
de ácido ascórbico, tendo a acerola como fator decisivo para este resultado. Os parâmetros
físico-químicos e de compostos bioativos avaliados se mantiveram estáveis ao longo dos
30 dias de armazenamento sob congelamento, tendo apenas o teor de ácido ascórbico
apresentado uma redução expressiva ao final desse tempo do período de armazenamento.
A adição de farinhas funcionais contribuiu de forma significativa para o enriquecimento
das polpas em comparação aos resultados das polpas individuais.
2021 Gepra Editora Barros et al.

PALAVRAS-CHAVE: processamento; compostos bioativos; farinhas funcionais.

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, a população está cada vez mais preocupada com uma dieta
saudável. Devido a esse interesse o consumo de frutas no Brasil vem aumentando,
resultado da maior conscientização sobre o valor nutricional e os benefícios das frutas
para a saúde (HENRIQUE et al., 2016; LIU, 2013). No entanto, ainda existem muitas 1210
perdas pós-colheitas devido principalmente à alta perecibilidade, juntamente com o
manuseio inadequado durante a colheita, o transporte e o armazenamento. Sendo desta
forma, o processamento a melhor opção para minimizar o prejuízo com essas perdas
(FONSECA, 2014).
Entre os processamentos realizados com frutas, estão as misturas de polpas, sucos
ou néctares, que são produtos que visam melhorar as características tecnológicas,
nutricionais e sensoriais dos componentes consumidos isoladamente, podendo
potencializar a parte nutricional, seja pelo alto teor em vitaminas ou pelas características
funcionais, como os antioxidantes (GADELHA et al., 2019; SILVA et al., 2014). A
combinação com frutas, hortaliças, farinhas funcionais pode ser uma alternativa para o
aproveitamento do potencial de cada produto, sabendo que tem produtos com bons teores
de nutrientes, a exemplo da acerola, que é conhecida como fonte de vitamina C e tornou-
se popular como um alimento funcional entre os consumidores (LEMOS et al., 2013;
OLIVEIRA et al., 2012).
Observa-se que a indústria de alimentos, nos últimos anos, tem direcionado seu foco
em desenvolver novos produtos não só com propriedades que apenas fornecem os
nutrientes necessários para a alimentação humana, mas também que ajudem a prevenir
doenças relacionadas a nutrição como diabetes, obesidade, hipertensão, e complicações
cardiovasculares. Pois, constatou-se que há uma correlação significativa entre a ingestão
regular de fitoquímicos e a prevenção dessas doenças associadas ao estilo de vida
(RODRIGUES-JIMENEZ et al., 2018).
Nesse contexto, o objetivo do trabalho foi elaborar diferentes formulações de polpas
mistas a base de frutas, hortaliças e farinhas funcionais, em diferentes colorações,
avaliando sua qualidade durante o período de armazenamento congelado.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado no Laboratório de Tecnologia de Produtos de Origem


Vegetal (LTPOV) do Centro de Ciências e Tecnologia Agroalimentar da Universidade
Federal de Campina Grande, na cidade de Pombal – PB. As frutas (acerola, melancia,
melão e graviola), hortaliças (beterraba e couve-flor) e farinhas funcionais comerciais
(hibisco vermelho e coco em pó) foram adquiridas nos comércios das cidades de Pombal
e Campina Grande-PB.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Após a obtenção, as frutas e hortaliças foram acondicionadas em caixas e


transportadas para o LTPOV, onde foi realizada uma seleção visual, descartando o
material que apresentou alguma injúria, onde os demais foram lavados, sanitizados por
imersão em solução de 100 ppm de cloro ativo por 10 minutos e enxaguados em solução
de 3 ppm de cloro ativo, sendo a preparação adequada a cada tipo vegetal. Os frutos foram
descascados e despolpados em um liquidificador industrial. A beterraba foi descascada e
da couve-flor foram retirados os talos, para obtenção dos extratos. As polpas, os extratos
e as farinhas foram quantificados em concentrações adequadas e homogeneizadas
formando quatro formulações, apresentadas na Tabela 1.
1211
Tabela 1. Formulação das polpas mistas a base de frutos, hortaliças e farinhas funcionais.
CONCENTRAÇÕES
FORMULAÇÕES
Vermelhas
F1 Acerola (70%) + Melancia (23%) + Beterraba (5%) + Hibisco em pó (2%)
F2 Acerola (70%) +Melancia (19%) + Beterraba (10%) + hibisco em pó (1%)
Brancas
F3 Melão (70%) + Graviola (20%) + couve-flor (8%) + Leite de coco em pó (2%)
F4 Melão (70%) + Graviola (15%) + couve-flor (14%) + Leite de coco em pó
(1%)

Após a homogeneização, as polpas mistas das frutas, hortaliças e farinhas


funcionais foram acondicionadas em sacos zip com fechamento hermético, contendo
aproximadamente 500 gramas (Figura 1), sendo em seguida armazenadas sob
congelamento. As análises do armazenamento foram realizadas em um período de 30
dias, onde o período de avaliação é representado pelo primeiro dia (+1) após o
processamento.

Figura 1: Acondicionamento das polpas de frutas mistas em sacos zip

Fonte: Autor, (2020).


2021 Gepra Editora Barros et al.

Caracterização físico-químicas e de compostos bioativos

Foram avaliados os parâmetros de cor aparente analisada mediante leitura direta


da amostra em colorímetro Minolta (CR300, Tokyo) operando no sistema CIELab. Sendo
L* a luminosidade, variando de 0 (preto) para 100 (branco); o croma (C*) expressa
saturação ou intensidade da cor, enquanto o ângulo de matiz (hº) indica a cor observável
e é definido como iniciando no eixo; as características físico-químicos de acidez titulável,
sólidos solúveis, pH segundo Instituto Adolfo Lutz - IAL (2008), açúcares solúveis totais
(g.100g-1) segundo metodologia descrita por Yemn e Willis (1954); e quanto aos
compostos bioativos como ácido ascórbico (mg.100g-1), determinado pelo método de
1212
Tillmans, segundo Carvalho et al. (1990), clorofila total, de acordo com a metodologia
descrita por Lichtenthaler (1987) e antocianinas (mg.100g-1) e flavonoides (mg.100g-1)
segundo Francis (1982).

Análise Estatística

O experimento foi conduzido em um delineamento inteiramente casualizado em


esquema fatorial 4 x 3, onde 4 representa as formulações e 3 os períodos de
armazenamento, sob congelamento. Os resultados foram submetidos à análise de
variância e quando detectado significância para o teste F, comparados pelo teste de Tukey
ao nível de 5% de probabilidade. Foi utilizado o programa computacional SISVAR,
versão 5.7. (SILVA; AZEVEDO, 2016).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Coordenadas de Cor (c*, L e H°)

Os resultados da avaliação de cor (C*, L*, H°) apresentaram-se estatisticamente


diferentes para as formulações e período analisados (Tabela 2). Considerando ainda
que a legislação regulamenta apenas os aspectos visuais da cor da polpa da fruta, as
amostras avaliadas apresentaram-se de acordo com o estabelecido para polpas simples
em função da cor. Houve diferenças estatisticamente significativas entre os valores de
saturação da cor croma (C*) a 1% de probabilidade, com melhores resultados para a
formulação F4.
Os valores médios de luminosidade (L*) também apresentaram diferenças
significativas a 1% de probabilidade nas polpas analisadas. De acordo com os
resultados expressos, é possível notar que as formulações de polpas brancas F3 e F4
obtiveram os maiores valores de L* em todo o decorrer dos dias de armazenamento,
estando de acordo com o esperado, já que valores de L* próximos a 100 tendem ao
branco e 0 ao preto. Em contrapartida, as formulações de coloração branca F3 e F4
decaíram com o passar dos dias de armazenamento, resultado de um possível
escurecimento.
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Tabela 2. Valores médios dos parâmetros de coloração do índice de croma (C*), luminosidade (L) e
ângulo hue (H*) em polpas mistas armazenadas por 30 dias

Período (dias)
Parâmetros Formulações
+1 +15 +30
F1 17,30 ± 0,11d A 17,50 ± 0,04d A 17,30 ± 0,17cd A
Índice de F2 17,70 ± 0,02cd A 17,66 ± 0,10c A 17,66 ± 0,02cd A
Croma (C*) F3 18,40 ± 0,04c A 16,50 ± 0,02e B 18,30 ± 0,08c A
F4 16,50 ± 0,02e A 16,43 ± 0,08e A 16,73 ± 0,04e A
F1 26,30 ± 0,17c B 27,43 ± 0,32c A 27,60 ± 0,51b A 1213
Luminosidade F2 26,20 ± 0,03c B 26,83 ± 0,09c B 27,40 ± 0,08bc A
(L) F3 29,50 ± 0,07b A 29,30 ± 0,01b C 27,70 ± 0,01b B
F4 34,10 ± 0,04a B 32,03 ± 0,02aA 31,06 ± 0,02a B
F1 76,90 ± 0,23d A 73,63 ± 0,02f B 72,50 ± 0,11d C
Ângulo Hue F2 76,40 ± 0,01d A 73,70 ± 0,03f B 71,63 ± 0,05f C
(H*) F3 83,20 ± 0,00ab B 84,10 ± 0,07a A 81,63± 0,02b C
F4 83,60 ± 0,01a A 83,13 ± 0,05b A 83,40 ± 0,04a A
Médias seguidas por letras iguais minúsculas na mesma coluna e maiúsculas nas linhas não diferem
significativamente entre ao nível de 95% de confiança (P≤ 0,05). Onde: F1 e F2: polpas amarelas; F3 e
F4 polpas verdes. Houve interação significativa a 1% (P≤ 0,01)

Nos resultados observados para a característica ângulo de tonalidade (H°), houve


diferenças significativas a 1% de probabilidade nas polpas analisadas. O ângulo Hue (H°)
representa a tonalidade da cor, ou seja, a cor propriamente dita. Valores próximos a 90º
indicam cor amarela e 0º indicam a cor vermelha. Desse modo, observando os resultados
encontrados para as formulações F3 e F4 estão acima de 80º, ou seja, mais próximos do
amarelo. A tendência ao declínio observada aos 30 dias de avaliação para algumas
formulações é um indicador de escurecimento enzimático das polpas de frutas. Uma
alternativa para evitar esse escurecimento seria adicionar uma etapa de branqueamento
do fruto antes do processamento da polpa. Melo (2015), analisando o branqueamento
em maçãs, obteve no tempo de 3 minutos, após branqueamento, um produto sem
escurecimento.

Caracterização físico-química das polpas mistas

Os resultados obtidos dos valores de pH das polpas mistas aos 30 dias de


armazenamento sob congelamento estão expressos na Tabela 3. Nota-se que não foram
verificadas diferenças expressivas no decorrer do período de armazenamento, havendo
uma pequena redução ao final do período avaliado quando se comparado com o primeiro
dia de avaliação. As formulações de polpa na cor branca F3 e F4 apresentaram teores de
pH maior que as formulações de polpa vermelha (F1 e F2). Nascimento et al. (2018)
estudando polpas de acerolas artesanais congeladas encontraram teores de pH de 3,63 e
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industrial de 3,35, valores estes semelhantes aos teores encontrados para as polpas mistas
F1 e F2, que contém acerola como destaque na sua composição. Santos et al. (2019)
estudando polpas de frutas sob congelamento, encontraram teores de pH para a polpa de
melão de 6,0, podendo assim explicar os maiores teores de pH nas formulações F3 e F4,
as quais continham a polpa de melão em maior concentração em sua composição.

Tabela 3. Teores médios de pH, acidez titulável (g.100g-1), sólidos solúveis (°Brix) e açúcares
solúveis totais (g.100g-1) em polpas mistas armazenadas por 30 dias
Período (dias)
Parâmetros Formulações
+1 +15 +30
1214
F1 3,45 ± 0,01f A 3,31 ± 0,01f A 3,25 ± 0,00g A
F2 3,73 ± 0,01de A 3,62 ± 0,00de B 3,49 ± 0,17f C
pH
F3 5,26 ± 0,00a A 5,24 ± 0,02a A 5,19 ± 0,06b A
F4 5,18 ± 0,02a A 5,16 ± 0,00a A 5,04 ± 0,03a B
F1 1,74 ± 0,37a B 2,02 ± 0,24a A 1,32 ± 0,17ab C
Acidez F2 1,70 ± 0,08a A 1,66 ± 0,08a B 1,14 ± 0,05ab C
Titulável
(g/100g) F3 0,44 ± 0,06b A 0,38 ± 0,03eB 0,26 ± 0,08eC
F4 0,44 ± 0,06b A 0,46 ± 0,03e A 0,30 ± 0,00eB
F1 4,83 ± 1,33e B 5,00 ± 0,00b A 7,53 ± 0,23b A
Sólidos F2 4,13 ± 0,58e B 6,13 ± 0,28c A 6,66 ± 0,11c A
Solúveis
(°Brix) F3 7,16 ± 0,15d B 10,83 ± 0,05b A 10,66 ± 0,23b A
F4 5,93 ± 0,30d B 9,30 ± 0,00b A 9,76 ± 0,11b A
F1 3,62 ± 0,05cb C 4,52 ± 0,17d B 5,54 ± 0,23d A
Açúcares
Solúveis F2 2,9 ± 0,07c C 3,72 ± 0,23d B 4,50 ± 0,51d A
Totais F3 7,69 ± 0,38a B 7,94 ± 0,54c AB 8,18 ± 0,71c A
(g/100g)
F4 6,35 ± 0,25b A 6,11 ± 0,14d A 5,88 ± 0,50d B
Médias seguidas por letras iguais minúsculas na mesma coluna e maiúsculas nas linhas não diferem
significativamente entre ao nível de 95% de confiança (P≤ 0,05). Onde: F1 e F2: polpas amarelas; F3 e
F4 polpas verdes. Houve interação significativa a 1% (P≤ 0,01)

Os valores para Acidez Titulável (AT) apresentaram tendência ao declínio com o


passar do período de armazenamento, corroborando com os resultados referentes ao pH
das polpas. A redução nos valores de acidez ocorreu, provavelmente devido a oxidação
dos ácidos orgânicos da amostra com o tempo de armazenamento em razão das condições
de armazenamento. Tendo ainda as formulações F1 e F2 como sendo as que apresentaram
os maiores teores para AT o que pode ser devido a presença da acerola em suas
composições.
Foi observado um aumento no teor de sólidos solúveis (SS) nos períodos de
avaliação com maiores valores detectados nas formulações F3 e F4. A legislação
brasileira (BRASIL, 2000) fixa o valor de 5,5 °Brix como valor mínimo para polpa
simples acerola, 7,0 °Brix da polpa de melão e 9,0 °Brix da polpa de graviola, sendo condizente
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com os resultados encontrados, tendo em vista que a acerola e o melão possuem as maiores
concentrações em suas formulações. E os menores valores foram detectados nas formulações
F1 e F2, entretanto no período +15 dias aos +30 dias ocorreu um acúmulo considerável
deste valor em todas as formulações. Esse aumento pode ser explicado pela leve
concentração do produto, em função da perda de água, durante o armazenamento.
Observa-se ainda na Tabela 3, o acréscimo no conteúdo de Açúcares Solúveis
Totais (AST) em todas as formulações, com exceção da formulação F4, onde foi
observado uma redução em seu teor durante os períodos de avaliação. As polpas F1 e
F2 apresentaram menores valores de AST, quando comparadas as polpas F3 e F4, que
obtiveram valores superiores. Santos et al. (2019) estudando polpas de frutas
1215
congeladas, encontraram teores de 10,78 g/100mg de Açúcares Solúveis Totais em
polpa de melão, enquanto a legislação brasileira (BRASIL, 2000) descreve o mínimo
de 4,0 e máximo de 9,0 g/100mg de AST em polpa de acerola, explicando assim os
resultados encontrados neste trabalho.

Avaliação dos compostos bioativos

De acordo com a Tabela 4 verificou-se efeito significativo para a interação das


formulações e períodos de avalição com tendência a diminuição dos valores de ácido
ascórbico ao longo do período de armazenamento. As formulações F1 e F2
apresentaram uma grande quantidade de ácido ascórbico devido a maior concentração
da polpa de acerola e beterraba em sua composição estando de acordo com instrução
normativa de 2000 dos Padrões de Identidade e Qualidade para Polpa de Frutas
(BRASIL, 2000), onde estima-se para polpa de acerola uma concentração de 800,0mg.
Apesar das formulações F1 e F2 apresentarem uma diminuição em relação ao valor
mínimo da normativa, devemos levar em consideração que a polpa de acerola não está
pura, não havendo um padrão para polpas mistas. Todas as formulações apresentaram
uma diminuição no teor de ácido ascórbico ao longo dos dias de armazenamento,
podendo estar relacionada ao acondicionamento das polpas mistas em sacos
transparentes, o que facilita a degradação desse composto devido a reação com a luz.

Tabela 4. Valores médios dos teores de ácido ascórbico (mg/100g), antocianinas (mg.100g-1) e flavonoides
(mg.100g-1) em polpas mistas armazenadas por 30 dias
Período (dias)
Parâmetros Formulações
+1 +15 +30
F1 721,35 ± 1,95b A 660,48 ± 2,32b B 510,38 ± 8,50a C
Ácido F2 739,06 ± 3,38a A 675,63 ± 4,69a A 377,68 ± 13,82b A
ascórbico
(mg/100g) F3 13,02 ± 1,95d B 17,51 ± 3,35d A 10,48 ± 0,00cd C
F4 10,41 ± 0,74d B 16,09 ± 0,67d A 6,98 ± 1,52dC
F1 8,76 ± 1,16c B 11,51 ± 1,81a A 12,59 ± 0,85a C
Antocianinas
F2 4,95 ± 5,44cdB 5,73 ± 0,59b A 7,86 ± 0,38b C
(mg.100g-1)
F3 0,136 ± 4,01e B 0,18 ± 0,13c A 0,16 ± 0,13b AB
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F4 0,87 ± 0,63b A 0,09 ± 0,05c B 0,08 ± 0,02b B


F1 10,76 ± 0,58b C 15,73 ± 2,49b B 24,32 ± 0,08a A
Flavonoides F2 7,06 ± 0,30d C 8,07 ± 0,38d A 8,59 ± 0,88d B
(mg.100g-1) F3 0,09 ± 0,71e C 0,89 ± 0,0,30a A 1,03 ± 0,32e B
F4 0,97 ± 0,16e B 0,82 ± 0,31a A 0,87 ± 0,05e B
Médias seguidas por letras iguais minúsculas na mesma coluna e maiúsculas nas linhas não diferem
significativamente entre ao nível de 95% de confiança (P≤ 0,05). Onde: F1 e F2: polpas amarelas; F3 e
F4 polpas verdes. Houve interação significativa a 1% (P≤ 0,01)

1216
Foi detectado efeito significativo para a interação formulações e períodos de
avaliações para antocianinas (Tabela 4). Verificou-se uma oscilação dos teores de
antocianinas, independente dos períodos de avaliação e das formulações avaliadas, com
melhores concentrações no período +1 dias de armazenamento para a formulação F1.
As formulações de cor branca F3 e F4 apresentaram o menor teor deste fotoquímico
durante o período de avaliação, isso já era espero, já que as antocianinas são pigmentos
coloridos presentes em vegetais que variam de vermelho a roxo (ZILLO et al., 2019).
De acordo com a Tabela 4, foi detectado efeito significativo para a interação
formulações e períodos de avaliações para flavonoides. Percebeu-se que as formulações
F1 e F2 foram as que apresentaram as maiores concentrações de flavonoides em
comparação com as demais formulações estudadas, corroborando com os resultados nos
teores de antocianinas (grupo pertencente aos flavonoides) para as mesmas formulações.
A formulação F1 apresentou um acúmulo considerável durante os períodos avaliados de
flavonoides. Santos et al. (2020) estudando o desenvolvimento de bebidas mistas a base
de frutas tropicais, hortaliças e farinhas comerciais observou que bebidas que continham
em suas composições acerola, beterraba e hibisco em pó apresentaram maiores teores de
antocianinas e flavonoides do que as formulações que continham melão, graviola e leite
de coco em pó, resultado condizente ao encontrado neste trabalho.
As farinhas funcionais adicionadas em pequenas concentrações podem ter
contribuído no acréscimo nos compostos bioativos comparados a polpas simples, a
exemplo do hibisco utilizado como farinha funcional nas polpas, como descrito por
Cunha et al. (2016), como um componente fitoterápico utilizado em diversos
tratamentos devido à grande atividade antioxidante e o combate a radicais livres no
organismo, sendo ainda componente fonte de cálcio, magnésio, ferro, niacina,
riboflavina, polissacarídeos, açucares redutores, vitamina A e C, fibra alimentar,
pectina e ácidos: tartárico, succínico, málico e oxálico.

CONCLUSÕES

As características de qualidade avaliadas mantiveram-se estáveis ao longo dos 30


dias de armazenamento sob congelamento, tendo apenas o ácido ascórbico uma redução
expressiva ao fim desse período, enquanto as formulações F1 e F2 apresentaram teores
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elevados de ácido ascórbico, tendo a acerola como fator decisivo para este resultado. A
adição de farinhas funcionais contribuiu de forma significativa para o enriquecimento das
polpas. Estudos mais aprofundados podem ser realizados nas polpas mistas, como por
exemplo uma análise sensorial para medir, avaliar e interpretar a percepção sensorial das
polpas mistas.

REFERÊNCIAS

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1219
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 109

QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA DE DOCES DE LEITE


COMERCIALIZADOS NO SERTÃO PARAIBANO

GOMES, Michael Marcos de Aquino


Graduando em Agronomia
Universidade Federal de Campina Grande - UFCG
michael.marcos@estudante.ufcg.edu.br

ARAÚJO, Alfredina dos Santos


Professora de engenharia de alimentos
Universidade Federal de Campina Grande 1220
alfredina.araujo@ccta.edu.br

FREITAS, Francisco Bruno Ferreira de


Graduando em Engenharia de alimentos
Universidade Federal de Campina Grande
brunoferreirafrei@gmail.com

MEDEIROS, Weverton Pereira de


Doutorando em Biotecnologia
Universidade Federal do Espirito Santo
weverton.medeiros@edu.ufes.com

RODRIGUES, Maria do Socorro Araújo


Doutora em Engenharia de Processos
Universidade Federal de Campina Grande
fernandaa.rodrigues@gmail.com

RESUMO

O doce de leite é definido como sendo o produto obtido através da cocção do leite
adicionado de sacarose, que adquire coloração, textura e sabor característicos em função
de reações de escurecimento não enzimático. No setor alimentício, em específico na
indústria de lácteos, o doce de leite vem ganhando mercado e crescendo continuamente
devido suas excelentes propriedades sensoriais e nutricionais. O doce de leite é
classificado de acordo com a sua consistência em: pasta, cremoso e em tablete; pode ser
utilizado como ingrediente na elaboração de alimentos como bolos, sorvetes, e como
complemento em pão e queijo. Objetivou-se com o presente estudo, avaliação da
qualidade físico-química de uma amostra de Doce de leite, doce de leite com coco, doce
de leite com achocolatado e um doce de leite com goiaba, comercializados no comercio
varejista do sertão paraibano, aferindo assim, suas conformidades quanto a legislação
vigente. As análises físico-químicas dos doces foram realizadas conforme as
metodologias recomendadas pelo Instituto Adolfo Lutz quanto a umidade (%), proteínas
(%) pelo método de kjeldahl, cinzas (%) e matéria gorda (Lipídeos) (%). A partir dos
resultados obtidos, constou-se que todos os doces se apresentaram conformes a legislação
brasileira, estando assim conformes para o consumo. Conclui-se que 100% das amostras
de doces de leite apresentaram dentro dos padrões de identidade e qualidade segundo a
legislação brasileira, elucidando que a elaboração dos produtos foi realizada com boas
condições higiênico sanitárias e sem aparentes adulterações nas matérias primas.

PALAVRAS-CHAVE: análise, padrões, produtos lácteos.


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INTRODUÇÃO

No setor de alimentos, em especifico a indústria de lácteos encontra-se entre uma


das áreas mais lucrativas e seu espaço no mercado vem crescendo continuamente, visto
as suas excelentes propriedades nutricionais e sensoriais (FARAH et. al., 2017). Com é o
caso dos doces de leite.
Doce de leite é o produto que resulta da cocção de leite com açúcar, que pode ser
ou não adicionado de outros ingredientes alimentícios permitidos, até que se obtenha
concentração conveniente e parcial caramelizarão. O produto e denominado por doce de
leite ou doce de leite que possua substancia acrescentada que o caracteriza. O doce de
leite pode ser classificado de acordo com a sua consistência em: pasta, cremoso e em 1221
tablete (ADOLF LUTZ, 2008).
Considerado um importante alimento, o doce de leite tem sua produção e
alimentação sobretudo na Argentina, Uruguai e no Brasil, estando seu consumo em
ampliação na Europa e nos Estados Unidos. Diversos tipos de doces de leite saborizados
são existentes no mercado (ROCHA et al., 2017).
Em relação ao seu processamento, é feito por empresas, com inclusão dos que são
produzidos de forma caseira, e utiliza formulações junto com processos de produção
personalizados (adição de outros ingredientes, gerando diferenças consideráveis na
formulação desses produtos (MELO NETO, et al., 2020) Pode ser usado como
ingrediente para a elaboração de alimentos como sorvetes, bolos, biscoitos e também ser
consumido diretamente na alimentação como sobremesa, adicionado em pão, torradas ou
em queijo (RODRIGUES, et al.; 2019).
A legislação brasileira (BRASIL, 1997) permite que o doce de leite seja acrescido
de ingredientes opcionais, tais como: creme; sólidos de origem láctea; mono e
dissacarídeos que substitua a sacarose em no máximo de 40% m/m; amidos ou amidos
modificados (menor que 0,5 %), cacau, chocolate, coco, amêndoas, amendoim, frutas
secas, cereais e/ou outros produtos alimentícios isolados ou misturados em uma
proporção entre 5% e 30% m/m do produto final. Sendo assim, existem diversos produtos
no mercado para a escolha do consumidor, não sendo o doce de leite tradicional, os quais
contêm coco, chocolate, doce de goiaba, ameixa, amendoim, dentre outros.
De acordo com a legislação (BRASIL, 1997), o doce de leite pastoso deve conter
teores máximos de umidade de 30% (m/m) e de cinzas de 2,0% (m/m). O teor mínimo de
proteínas deve ser de 5,0% (m/m) e o conteúdo de matéria gorda deve estar entre 6,0 e
9,0% (m/m).
Objetivou-se com o presente estudo, avaliação da qualidade físico-química de uma
amostra de Doce de leite, doce de leite com coco, doce de leite com achocolatado e um
doce de leite com goiaba, comercializados no comercio varejista do sertão paraibano,
aferindo assim, suas conformidades quando comparados com a legislação vigente.

MATERIAL E MÉTODOS

Para o desenvolvimento deste trabalho, foram adquiridas 4 (quatro) amostras sendo


uma amostra de Doce de leite, Doce de leite com coco, doce de leite com achocolatado e
2021 Gepra Editora Barros et al.

um doce de leite com goiaba, comercializados no comercio varejista do sertão paraibano.


Após a realização da coleta, as amostras foram transportadas imediatamente em caixas
isotérmicas para o Laboratório de Análises físico-químicas do Centro Vocacional
Tecnológico (CVT) bloco anexo da Universidade Federal de Campina Grande, campus
de Pombal, para posteriores análises.
As análises físico-químicas dos doces foram realizadas conforme as metodologias
recomendadas pelo Instituto Adolfo Lutz (2008) quanto a umidade (%), proteínas (%)
pelo método de kjeldahl, cinzas (%) e matéria gorda (Lipídeos) (%).
As mostras foram analisadas conformes os parâmetros estabelecidos pela legislação
vigente, sendo a Portaria nº 354 de 1997 do Ministério da Agricultura, Pecuária e
1222
Abastecimento – MAPA, para determinação de sua conformidade, verificando assim a
sua segurança para os consumidores.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 1, encontram-se os resultados das análises físico-químicas das amostras


de doces comparados com o padrão da Portaria nº 354 de 1997 do MAPA.

Tabela 1. Resultados físico-químicos das amostras de doces de leite.


AMOSTRAS*
PARAMETROS Padrão (BRASIL,
DL DLC DLA DLG
1997)**
Umidade (%) 25,0 26,18 22,71 21,53 Máx. 30
Proteínas (%) 8,97 8,47 9,57 7,52 Min. 5,0
Cinzas (%) 1,71 1,79 1,79 1,26 Máx. 2,0
Lipídeos (%) 6,4 6,7 6,29 6,48 Min. 6,0 / Máx. 9,0
*DL- Doce de Leite; DLC- Doce de leite com Coco; DLA- Doce de leite com Achocolatado; DLG- Doce de
leite com Goiaba. **Portaria nº 354 de 1997 do MAPA.

Para a análise de umidade, todas as amostras de doces encontraram-se em


conformidade com a legislação vigente (BRASIL, 1997) onde o máximo permite é de
30%, e a maior nota para o tocante parâmetro foi a amostra DLC (26,18%). A água contida
no alimento é representada pela umidade, que pode ser classificada em: umidade de
superfície, sendo à água livre ou presente na superfície externa do alimento, de fácil
evaporação e umidade adsorvida, que é a água ligada, localizada no interior do alimento,
que não se combina quimicamente com o mesmo. Valores de umidade podem indicar o
favorecimento ao crescimento de microrganismos (SIQUEIRA, et al., 2020), porém,
também pode facilitar o aparecimento de arenosidade, um defeito que muitas vezes é
percebido sensorialmente nesses produtos.
Ainda, de acordo com Siqueira, et al., (2020) que também analisaram doces de
leite verificaram variação de 29,73% e 26,68% de umidade. Oliveira et al. (2019) ao
analisarem doces de leite comercializados na região do vale do Jaguaribe-CE verificaram
variações de 15,67 a 29,05% de umidade. Vilela et al. (2020), em uma análise sensorial e
2021 Gepra Editora Barros et al.

físico-química de doces de leite observaram que conforme a legislação vigente, apenas


duas das suas seis amostras avaliadas que correspondem a 25,0% e 28,33%. Francisquini
et al. (2016) também analisando doces de leite verificaram variação de 25,40 a 44,87%
de umidade. Já Oliveira et al. (2010) analisaram físico-quimicamente doces de leite
comercializados em Lavras-MG e constataram que as amostram revelaram umidade
oscilando entre 15,57 e 39,03%, com reprovação de 50% dos doces de leite analisados.
Quanto às proteínas, os doces analisados revelaram teores compreendidos entre
7,52 (DLG) a 9,57% (DLA), com todas as amostras apresentando conteúdo proteico acima
de 5%, que é o mínimo permitido pela legislação brasileira (BRASIL, 1997). Segundo
Demiate et al. (2001), considerando-se a elaboração do doce de leite, a partir de leite e de
1223
sacarose, é difícil explicar conteúdos de proteína desproporcionais aos teores médios do
leite (3,2%). Oliveira et al. (2010) também encontraram todas as amostras em
conformidade com a legislação, com teores de proteínas variando de 8,88 a 10,49%, já
Pieretti et al. (2012) analisando também doce de leite pastoso reportaram valores de 5,4
a 5,9 g/100g para proteínas.
Levando em consideração a elaboração do doce de leite, a partir de leite e de
sacarose, Rodrigues et al., (2019) em seu trabalho viram quer o teor de proteína
encontrado nas amostras estão de acordo com a legislação, estando acima do padrão
mínimo de 5,0, estando seus resultados entre 8,4% e 8,9%. Segundo esses autores, é difícil
explicar conteúdos de proteínas desproporcionais aos teores médios do leite. Entretanto,
a adição de soro de leite pode contribuir para alguma diferença nessa proporcionalidade,
assim como a adição de amido.
Os teores de cinzas tiveram valores enquadrados entre 1,26% (DLG) a 1,79% (DLC
e DLA), com todos os doces de leite avaliados apresentando menos de 2% de conteúdo
mineral, que é o mínimo estabelecido pela legislação brasileira (BRASIL, 1997). De
acordo com Demiate et al. (2001), baixos valores de cinzas podem indicar que os produtos
foram obtidos com pouco leite ou outras matérias-primas lácteas. Como o conteúdo
mineral é relativamente constante na matéria-prima, sua quantificação é um importante
indicador da presença de leite no doce de leite. Corroborando com os valores encontrados
por Oliveira et al. (2019) obtiveram valores que variaram entre 1,11% a 1,97%, estando
também conforme a legislação brasileira (BRASIL, 1997).
Santos et al., (2017) observaram que em seus resultados de análises físico-químicas
de doce de leite que o conteúdo de cinzas estava acima do recomendado pela legislação.
O teor elevado de cinzas pode ter relação com a quantidade bicarbonato de sódio, que é
usado para corrigir a acidez do leite utilizado na formulação do produto.
Os teores de lipídeos dos doces analisados tiveram variação de 6,29 (DLA) a 7,92%
(DLC), apresentando-se conformes com a legislação com teores dentro da faixa de 6 a 9%
(BRASIL, 1997). Os lipídios são importantes no controle de qualidade, pois podem afetar
o rendimento e a textura dos doces de leite. Por isso devem ser utilizados leites
padronizados no processamento desse derivado lácteo, a fim de se obter produtos em
conformidade com as especificações legais. Entretanto, Oliveira et al. (2010) relataram,
para o parâmetro de lipídeos, reprovação de 100% das amostras de doces de leite
comercializados em Lavras-MG.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Rodrigues, et al., (2019) avaliando a caracterização físico-química de doces de leite


encontraram em seus resultados que o conteúdo de lipídeos das amostras analisadas foi o
esperado para doces de leite integral de acordo com a legislação obtendo valores de
lipídeos entre 4,2% à 5,2%. Os resultados obtidos por Santos, Marques (2010) das
análises de doce de leite do comércio informal da cidade de Currais Novos mostraram
que os valores de lipídios estão dentro dos padrões exigidos pela Portaria Nº 354, de 4 de
setembro de 1997 (Brasil, 1997).

CONCLUSÕES
1224
Conclui-se que 100% das amostras (DL, DLC, DLA e DLG) de doces de leite
apresentaram dentro dos padrões de identidade e qualidade segundo a legislação
brasileira, elucidando que a elaboração dos produtos foi realizada com boas condições
higiênico sanitárias e sem aparentes adulterações nas matérias primas.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Departamento de


Inspeção de Produtos de origem Animal. Portaria n° 354, de 04 de setembro de 1997.
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VILELA, M. AM.; BRAZ, J. M.; MARIANO, M. M.; BULHÕES, N. G.; SANTOS, D.


C.; DUTRA, M. B. L. Avaliação sensorial e físico-química de doce de leite pastoso
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Tostes, Juiz de Fora, v. 75, n. 1, p. 22-33, jan/mar, 2020.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 110

QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA DE PRODUTOS LÁCTEOS


COMERCIALIZADOS NO SERTÃO PARAIBANO

SILVA, Elaine Juliane da Costa


Mestre Sistemas Agroindustriais
Universidade Federal de Campina Grande
elainejuliane300308@gmail.com

ARAÚJO, Alfredina dos Santos


Professora de engenharia de alimentos
Universidade Federal de Campina Grande 1226
alfredina@ccta.ufcg.edu.br

FREITAS, Pedro Victor Crescêncio


Graduando em Engenharia de Alimentos
Universidade Federal de Campina Grande
pedro.crescencio@hotmail.com

MEDEIROS, Weverton Pereira de


Doutorando em Biotecnologia
Universidade Federal do Espírito Santo
weverton_cafu@hotmail.com

GOMES, Isaac Araújo


Mestrando em Química
Universidade Federal do Espírito Santo
isaac.gomes@edu.ufes.br

RESUMO

No setor de alimentos, em especifico a indústria de lácteos encontra-se entre uma das


áreas mais lucrativas e seu espaço no mercado vem crescendo continuamente, visto as
suas excelentes propriedades nutricionais e sensoriais. Objetivou-se com o presente
estudo, avaliação da qualidade físico-química de uma amostra de leite pasteurizado, leite
condensado, bebida láctea e manteiga da terra, comercializados no comercio varejista do
sertão paraibano, aferindo assim, suas conformidades quanto às legislações vigentes. As
análises físico-químicas foram realizadas em triplicata conforme as metodologias
recomendadas pelo Instituto Adolfo Lutz e os resultados expressos em porcentagem,
quanto aos parâmetros de índice crioscópico (°H), acidez, teor de gordura pelo método
de Gerber, determinação de pH, sólidos não gordurosos, lactose e extrato seco total,
proteínas pelo método de kjeldahl, sólidos não gordurosos e Determinação de gordura de
origem vegetal. A partir dos resultados obtidos das análises físico-quicas de todos os
produtos lácteos, verificou-se que todos estavam conformes perante as legislações
vigentes. Conclui-se que todas as amostras de produtos lácteos analisadas, apresentaram
resultados dentro dos padrões de identidade e qualidade segundo a legislação brasileira,
elucidando que a elaboração dos produtos foi realizada com boas condições higiênico-
sanitárias e sem aparentes adulterações nas matérias primas.

PALAVRAS-CHAVE: leite pasteurizado; bebida láctea; análises.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

No setor de alimentos, em especifico a indústria de lácteos encontra-se entre uma


das áreas mais lucrativas e seu espaço no mercado vem crescendo continuamente, visto
as suas excelentes propriedades nutricionais e sensoriais (FARAH et. al., 2017).
O leite por sua vez, é sem outra especificação, caracterizado como produto oriundo
de ordenha completa, ininterrupta, de animais saudáveis, bem alimentados e descansados,
com lactação iniciada há pelo menos dez dias após o parto e finalizada com trinta dias de
antecedência para o próximo parto. O leite de outra espécie deve vir destacada a
respectiva espécie em que o produto foi obtido (BRASIL, 2018).
O Brasil no ano de 2018 ocupava a quinta posição em volume de leite produzido, 1227
correspondente a 7% do volume mundial, sendo que grande parte deste alimento é
utilizado para fabricação de derivados lácteos (CEPEA, 2018). A atividade leiteira ocorre
em todo o território nacional, movimentando a economia de pequenas cidades ajudando
na distribuição de renda, geração de empregos permanentes e fixação do homem no
campo (CARVALHO et al., 2007; ZOCCAL, 2016).
Logo, o controle de qualidade na produção e comercialização do leite é de bastante
relevância, uma vez que, cada vez mais pesquisadores buscam analisar o leite e seus
derivados comercializados em regiões diversas para certificar que a qualidade do produto
está própria para o consumo ou não. Análise estas que servem como forma de averiguação
dos procedimentos executados durante o processamento e comercialização (FAGAN et
al., 2008).
Assim, A qualidade pode ser avaliada através de determinações físicas, químicas,
microbiológicas, sensoriais e provas de higiene. A composição química deve ser sempre
analisada nos laticínios e nas indústrias em razão dos padrões mínimos exigidos pelo
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (VENTUROSO et al., 2007).
Dessa forma, uma das maneiras de se garantir a qualidade do leite é realizar uma
avaliação das metodologias/técnicas empregadas para detecção de fraudes, tampouco o
aperfeiçoamento dessas, com o objetivo de poder-se realizar um controle mais seguro e
rigoroso desse alimento a fim de se garantir a qualidade do produto final evitando perdas
econômicas e principalmente assegurar a saúde pública (WANDERLEY et al.,2012).
Objetivou-se com o presente estudo, a avaliação da qualidade físico-química de
uma amostra de leite pasteurizado, leite condensado, bebida láctea e manteiga da terra,
comercializados no comercio varejista do sertão paraibano, aferindo assim, suas
conformidades quanto às legislações vigentes.

MATERIAL E MÉTODOS

Para o desenvolvimento deste trabalho, foram adquiridas quatro amostras de


produtos lácteos, sendo estes, leite pasteurizado, leite condensado, bebida láctea e
manteiga da terra, comercializados no comercio varejista do sertão paraibano. Após a
realização da coleta, as amostras foram transportadas imediatamente em caixas
isotérmicas para o Laboratório de Análises físico-químicas, do Centro Vocacional
2021 Gepra Editora Barros et al.

Tecnológico (CVT), bloco anexo da Universidade Federal de Campina Grande, Campus


de Pombal-PB, para posteriores análises.
As análises físico-químicas foram realizadas em triplicata conforme as
metodologias recomendadas pelo Instituto Adolfo Lutz (2008) e os resultados foram
expressos em porcentagem.
No leite pasteurizado avaliou os parâmetros quanto ao índice crioscópico (°H),
acidez lática, teor de gordura pelo método de Gerber, determinação de pH, sólidos não
gordurosos, lactose e extrato seco total estabelecidas pela Instrução Normativa Nº 76
(2018), proteínas pelo método de kjeldahl.
Na Bebida Láctea avaliou os parâmetros de umidade, proteínas pelo método de
1228
kjeldahl, gordura e matéria gorda. Já para a Manteiga da Terra foram realizadas as
análises de umidade, matéria gorda, acidez em soluto alcalino normal, sólidos não
gordurosos e Determinação de gordura de origem vegetal.
As mostras foram analisadas conformes os parâmetros estabelecidos pelas
legislações vigentes para cada produto, Instrução Normativa nº 76, de 26 de Novembro
de 2018, para leite pasteurizado; Instrução Normativa nº 47, de 26 de Outubro de 2018,
para leite condensado; Instrução Normativa nº 16, de 23 de agosto de 2005, para bebida
láctea e a Instrução Normativa nº 30, de 26 de Junho de 2001, para manteiga da terra.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 1, encontram-se os resultados obtidos das análises físico-químicas


realizadas no leite pasteurizado. Os resultados apontam que o leite está de acordo com os
padrões estabelecidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(BRASIL, 2018).

Tabela 1. Análises físico-químicas leite pasteurizado.


AMOSTRA
PARÂMETROS Padrão (BRASIL, 2018)
Leite Pasteurizado
pH 6,50 6,5 -7,5
Acidez (%) (de ácido láctico) 0,15 0,14 -0,18
Lactose (%) 4,65 -
Proteínas (%) 3,10 Min. 2.9
Índice Crioscópico (ºH) -0,544 - 0,530ºH a -0,550ºH
Sólidos Não-Gordurosos (g/100g) 8,46 Min. 8,4
Gordura (%) 4,42 Min 3,0

Os valores obtidos de pH, acidez, Lactose (%), proteínas (%), índice crioscópico
(ºH), sólidos não gordurosos (%) e lipídeos (%) foram, sucessivamente, 6,50; 0,15; 4,65;
3,10; -0,544; 8,46 e 4,42 como descrito na Tabela 1. Oliveira et al. (2015) ao avaliarem
as características físico-químicas em leites pasteurizados comercializados na
microrregião de Ubá–MG, obtiveram em uma das amostras de leite índice crioscópico -
0,542 °H; extrato seco total 12,01%; proteínas 3,17 g/100g; acidez 0,17 g/100g; lactose
2021 Gepra Editora Barros et al.

4,71 g/100g; e sólidos não gorduroso 8,58 g/100g. Resultados semelhantes encontrados
nesta pesquisa. Na tabela 2, estão expostos os resultados obtidos para os derivados lácteos
(Leite condensado, bebida láctea e manteiga da terra).

Tabela 2. Análises físico–químicas leite condensado, bebida láctea e manteiga da terra.


AMOSTRAS
PARAMETROS
Leite Condensado Bebida Láctea Manteiga da terra
Umidade (%) 44,03 78,0 0,05
Proteínas (g) 35,46 3,50 -
Cinzas (%) 6,10 - -
Sólidos solúveis 1229
70,5 - -
(ºBrix)
Sólidos totais (%) 29,8 - -
Lipídeos (%) 9,65 3,0 -
Matéria gorda (%) - 13,0 98,8
Acidez (%) - - 0,31
Sólidos não
- - 0,06
gordurosos (%)
Determinação de
gordura de origem - - Negativa
vegetal
Com relação a umidade, a amostra de manteiga da terra encontrou-se conforme a
legislação vigente (BRASIL, 2001) onde o limite máximo é de 0,3%. Para leite
condensado e bebida láctea, as legislações não estabelecem valores para este parâmetro.
Clemente e Abreu (2008) verificaram resultados superiores ao do presente trabalho ao
analisarem manteiga de garrafa, com valores que variaram de 0,6 e 3,0% de umidade,
estando não conformes com a legislação vigente. Cassanego et al (2012) e Ferreira et al.
(2016) obtiveram valores que variaram para bebida láctea a base de leite caprino e leite
condensado comerciais 80,13 e 81,32; 16,47 a 52,93, respectivamente.
Para proteínas, verifica-se que para o Leite condensado e a bebida láctea encontram-
se conformes as legislações vigentes (BRASIL, 2018 e BRASIL, 2005) onde os valores
mínimos exigidos são de 34 e 1,0, respectivamente, e foram encontrados 35,46 e 3,50,
respectivamente. Para manteiga da terra, a legislação brasileira não estabelece valores
para este parâmetro. Gerhardt et al. (2013) na analisarem bebidas lácteas com soro de
ricota encontraram valores similares ao do presente trabalho com variação de 2,99 a
4,44%. Já Costa et al (2013) verificaram valores inferiores com variação de 2,21 a 2,58%.
No tocante a cinzas, foi verificado valor para leite condensado de 6,10. Todavia,
nenhuma das legislações vigentes para os produtos analisados determinam valores para
este parâmetro. De acordo com Demiate et al. (2001), baixos valores de cinzas podem
indicar que os produtos foram obtidos com pouco leite ou outras matérias-primas lácteas,
assim, o alto valor de cinzas encontrado no presente trabalho para o leite condensado
mostra a eficácia da sua elaboração. Ferreira et al (2016) determinou valores para leites
condensados comerciais que variaram entre 1,83 a 10,48.
As legislações brasileiras não estabelecem valores para Sólidos Solúveis (°Brix)
para leite condensado, bebida láctea e manteiga da terra. Contudo, foi verificado alto valor
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de °Brix para leite condensado, o que já era esperado por ser um produto com uma grande
quantidade de açúcar presente em sua elaboração. Por sua vez, a legislação vigente
estabelece valores para Sólidos totais para o leite condensado (BRASIL, 2018) onde o
mínimo estabelecido é de 28%, logo o produto analisado no presente trabalho encontra-
se de acordo com a legislação com valor de 29,8%.
No tocante aos Lipídeos, foi verificado valores de 9,65 e 3,0 para leite condensado
e bebida láctea, respectivamente. Segundo a legislação para leite condensado, determina-
se que o valor mínimo para este parâmetro seja de 8,0%, estando assim conforme a
legislação brasileira. Contudo, não há preconização para este parâmetro pra bebida láctea
e manteiga da terra. Costa et al. (2013) e Gerhardt et al. (2013) verificaram valores para
1230
este parâmetro, que variaram entre 1,47 a 1,63 e 2,90 a 3,10, respectivamente. Por outro
lado, as legislações Brasil (2005) e Brasil (2001) estabelecem valores para matéria gorda
para bebida láctea e manteiga da terra, com valores mínimos de 2,0 e 98,5%,
respectivamente, onde na presente pesquisa verificou-se valores de 13 e 98,8%,
respectivamente, estando assim conformes com as legislações brasileiras.
Para os parâmetros de Acidez, Sólidos não gordurosos, determinação de gordura de
origem vegetal, a legislação brasileira de manteiga da terra (BRASIL, 2001) estabelecem
valor máximo de 3,0%, máximo 1,0% e negativo, respectivamente. Desta forma afirma-
se que a manteiga da terra analisada encontra-se conforme a legislação brasileira.
Clemente e Abreu (2008) ao analisarem 10 amostras de manteiga de garrafa,
identificaram que 50% das amostras estavam não conformes a legislação brasileira quanto
a acidez e 70% das amostras estavam não conformes quanto a sólidos não gordurosos.

CONCLUSÕES

Conclui-se que todas as amostras de produtos lácteos analisadas, apresentaram


resultados dentro dos padrões de identidade e qualidade segundo a legislação brasileira,
elucidando que a elaboração dos produtos foi realizada com boas condições higiênico-
sanitárias e sem aparentes adulterações nas matérias primas.

REFERÊNCIAS

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 111

QUALIDADE FISIOLOGICA DE SEMENTES DE FEIJÃO


SUBMETIDAS A INOCULAÇÃO COM Rizobium tropici E DOSES
DE NITROGÊNIO

MEDEIROS, Rosevaldo Domingos


Graduando em Agronomia
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
rosevaldomdrrdm@gmail.com

LOPES, Adriano da Silva


Pós-Doutorado em Agronomia
1232
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
lopes@uems.br

CENTURIÃO, Michell Arce


Graduando em Agronomia
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
michellac999@gmail.com

KRAESKI, Marcos Jefferson


Pós-graduando de Doutorado em Agronomia
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
marcos_kraeski@hotmail.com

FANAYA JÚNIOR, Eder Duarte


Pós-Doutorado em Agronomia
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
eder.fanayajr@alumni.usp.br

RESUMO

O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de feijão, e também um dos maiores


consumidores desse grão. Esse trabalho teve como objetivo avaliar a qualidade fisiológica
de sementes de feijão submetidas a adubação nitrogenada e inoculação de sementes, sob
irrigação. O experimento foi conduzido na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul,
unidade universitária de Aquidauana. A cultura foi irrigada por sistema de pivô central,
cujo manejo de adotado foi pelo método de Penman-Monteith. O delineamento
experimental foi em blocos casualizados, em esquema de parcelas subdivididas e 4
repetições, sendo que as parcelas foram os tratamentos com e sem inoculação de sementes
com Rhizobium tropici, e nas subparcelas diferentes doses de nitrogênio (N) (0, 50, 100,
150 e 200 kg ha-1). A cultivar utilizada foi a TAA Dama, cultivada no período de inverno.
Foram avaliados a massa de cem grãos, e os testes de germinação, germinação em baixa
temperatura, envelhecimento acelerado, emergência de plântulas à campo e massa seca
de plântulas. Os dados foram tabulados e analisados por testes de médias Tukey a 5% de
probabilidade e análise de regressão. O feijoeiro irrigado por pivô central na região de
Aquidauana MS proporciona produção de sementes de boa qualidade fisiológica. As
doses de nitrogênio e a inoculação de sementes de feijão com Rhizobium topici não
alteram a qualidade fisiológica das mesmas.

PALAVRAS-CHAVE: Feijão de inverno, germinação, Penman-Monteith.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

O feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) teve a sua origem evolutiva e sua diversificação
primária nas Américas, porém o local específico ainda é motivo de controvérsias por
muitos autores. Acontece o mesmo quanto a sua domesticação, pois as informações
disponíveis são divergentes, devido a sua grande diversidade, envolvendo genótipos de
diferentes centros (OLIVEIRA NETO et al., 2018).
O ciclo do feijão comum é relativamente curto, possibilitando que no Brasil seja
cultivada em três épocas ao longo do ano agrícola. A primeira safra também conhecida
como feijão das águas, o feijão da seca ou segunda safra e o feijão de inverno, terceira
safra, a semeadura do feijão de inverno é realizada entre os meses de maio e junho 1233
(CONAB, 2020). Nesta última safra a utilização da irrigação é de grande importância,
devido às condições climáticas.
A melhor época para realização da semeadura depende muito da região devido a
influência de fatores como a temperatura e a precipitação, que influenciam os
desempenhos e limitam a produtividade do feijoeiro (PEREIRA et al., 2016). O Brasil é
o terceiro maior produtor mundial de feijão, e também um dos maiores consumidores
desse grão, sendo umas das culturas de maior importância socioeconômica para o país,
está presente na dieta alimentar da população, como fonte de proteína e na ocupação e
geração de renda (FAOSTAT, 2021).
De acordo com a CONAB (2020) na safra 2019/20 a produção de feijão no Brasil
chegou a 3,2 milhões de toneladas, cultivados em 2,9 milhões de hectares, distribuídos
nas três safras, sendo que a safra de inverno contou com 588,2 mil hectares, produzindo
879,8 mil toneladas do grão. Vale ressaltar que com apenas 20,1% da área plantada ao
longo do ano, a produção representou 27,2% do total produzido.
A irrigação aliada a adequada nutrição pode proporcionar aumento na
produtividades de diversas culturas (BISPO et al., 2015). Quando uma cultura destina-se
a produção de sementes, pode-se destacar a relevância de reunir todas as condições
favoráveis ao seu desenvolvimento e produção, fatores ambientais, manejo e distribuição
de plantas na área, tratos culturais e fitossanitários, para que a semente produzida consiga
expressar todo seu potencial produtivo, proporcionando produtividade à cultura,
perpetuando a espécie com sementes de alto vigor, boa germinação, pureza física e
isenção de patógenos (VAZQUEZ; SÁ, 2016).
A utilização de sementes de alta qualidade constitui a base para aumento da
produtividade agrícola (TUNES et al., 2011; CRUZ et al., 2020). A qualidade das
sementes é considerado como o somatório dos atributos genéticos, físicos, fisiológicos e
sanitários que afeta a capacidade de originar plântulas normais relacionadas à
uniformidade de emergência em campo (MUGNOL; EICHELBERGER, 2008).
Para Bertolin et al. (2011) a qualidade das sementes influencia fortemente o sucesso
ou fracasso da cultura, especialmente em condições de estresse ambiental, para tanto,
métodos experimentais de determinação de vigor e germinação foram desenvolvidos para
minimizar o risco de utilização de sementes de baixa qualidade.
A emergência de plantas pode variar, mesmo para lotes de semente de alta
porcentagem de germinação, em função do vigor das sementes que devem ser
2021 Gepra Editora Barros et al.

considerados no processo produtivo. Franco et al. (2018) ressaltam ainda que sementes
de boa qualidade, associadas ao tratamento pré-germinativo, ajudam no estabelecimento
das plantas em campo.
Um fator de elevada importância na manutenção da qualidade fisiológica das
sementes tratadas é o armazenamento, o qual visa garantir a qualidade das sementes
durante o período compreendido entre o beneficiamento e a comercialização (PESKE et
al., 2003). O armazenamento prolongado de sementes exige um criterioso cuidado no
atendimento das condições ideais de cada espécie, bem como o tipo adequado de
embalagem.
A nutrição adequada da cultura pode favorecer na obtenção de sementes de boa
1234
qualidade e, maior potencial produtivo, aliado a isso a quantidade de água no solo
influencia diretamente na disponibilidade dos nutrientes para as plantas
(FRANCO et al., 2018). Nesse sentido, o nitrogênio (N) destaca-se como fator limitante
na produção de sementes com adequada qualidade fisiológica, pois os seus efeitos variam
com as condições ambientais e o estádio de desenvolvimento da planta em que ocorre a
aplicação do fertilizante (BARRETO et al., 2016).
Junto a adubação nitrogenada, outro aspecto que deve ser considerado é a utilização
da inoculação das sementes com a bactéria Rizobium tropici, segundo Oliveira et al.
(2017) sua utilização, tende a aumentar o número de vagens por planta, e o teor de N nas
folhas, massa de cem grãos e a produtividade, de modo que a adubação nitrogenada possa
até ser substituída pela inoculação de sementes.
Com base na importância de estudos capazes de gerar informações sobre as
necessidades nutricionais do feijoeiro cultivado em época de inverno, espera-se que a
inoculação de sementes com Rhizobium tropici possa reduzir ou até mesmo substituir a
necessidade de adubação nitrogenada, que proporcione maior produtividade para a
cultura, especialmente sob condição de irrigação.
Diante disso, o objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade fisiológica de
sementes de feijão submetidas a adubação nitrogenada e inoculação de sementes, sob
irrigação.

MATERIAIS E METODOS
O experimento foi realizado na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
(UEMS) na área experimental da Unidade Universitária de Aquidauana, nas coordenadas
geográficas 20°27’11’’ Sul, 55°40’09’’ Oeste e altitude média de 207 metros. O clima da
região é classificado segundo Köppen-Geiger como Aw, tropical sub úmido, com verão
chuvoso e inverno seco, precipitação média anual4 de 1.279,2 mm. O solo da área foi
identificado como Argissolo Vermelho distrófico (SCHIAVO et al., 2010).
Os dados climáticos foram obtidos da estação meteorológica localizada na UEMS,
com dados diários de temperatura mínima, média e máxima, obtendo-se assim o
somatório dos graus-dia acumulados (Figura 1), conforme proposto por Arnold (1959)
citado por Renato et al. (2013).

4
Pluviosidade média calculada a partir dos dados do ano de 2007 à 2018, obtida em:
http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=estacoes/estacoesautomaticas
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 1. Dados médios de temperatura máxima, média e mínima (Tmáx, Tméd, Tmín), e o somatório
dos graus-dia acumulados, referentes ao período de 23 de maio de 2019 a 15 de agosto de 2019, em
Aquidauana-MS.VG = Crescimento vegetativo; FEG = Florescimento e enchimento de grãos; M =
Maturação; DAE = Dias após a emergência.
T máx T mín T méd graus-dia

40 1400
DV FEG M
35 1200

graus-dia acumulados (C)


30 1000
Temperatura (ºC)

25
800
20
15
600 1235
10 400

5 200
0 0
1 7 13 19 25 31 37 43 49 55 61 67 73 79 85 91
DAE

Fonte: Arquivo pessoal.

O experimento foi conduzido em delineamento em blocos casualizados, em


esquema de parcelas subdivididas, totalizando 10 tratamentos com 4 repetições. Nas
parcelas foram alocados os tratamentos relacionados à inoculação de sementes: com e
sem inoculação da estirpe Rhizobium tropici e; nas subparcelas, os tratamentos
relacionados às doses de nitrogênio (N): 0, 50, 100, 150 e 200 kg de N ha-1.

O método de irrigação utilizado foi a aspersão, sob o sistema de pivô central, da


marca FOCKINK®, o qual foi avaliado quanto a sua uniformidade de aplicação de água
(Figura 2), sendo que para a velocidade de 100% o resultado do Coeficiente de
Uniformidade de Christiansen (CUC) foi de 84,8% e do Coeficiente de Uniformidade de
Distribuição (CUD) de 75,4%. Já, para a velocidade de 10%, o resultado do CUC foi de
86,2% e de 71,7% para CUD.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 2. Lâmina média observada, durante o teste de uniformidade de aplicação do pivô central a10% e
100% de sua velocidade máxima.
Lâmina observada 100% Lâmina 100%
35,0 Lâmina observada 10% Lâmina média 10%

30,0
Lâmina aplicada (mm)

25,0

20,0

15,0
1236
10,0

5,0

0,0
5 11 17 23 29 35 41 47 53 59 65 71
Distância da base do pivô (m)
Fonte: Arquivo pessoal.

O manejo da irrigação utilizado foi o modelo de Penman-Monteith (PM), este


recomendado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura
(FAO) como método padrão, foi baseado na estimativa da evapotranspiração de
referência (ETo) segundo Allen et al. (1998), com fator “p” de depleção de água no solo
de 0,5. Com o valor de ETo, foi estimada a evapotranspiração da cultura (ETc), conforme
Equação 1.

ETc=ETox kc (1)

Em que: ETc = Evapotranspiração da cultura (mm d-1); ETo = Evapotranspiração


de referência (mm d-1); kc = Coeficiente da cultura (adimensional), o qual utilizou valores
de 0,25 para fase inicial e desenvolvimento vegetativo; 1,15 para fase de floração e
enchimento de grãos; e 0,35 para a fase de maturação (ALLEN et al., 1998).

As unidades experimentais foram compostas por 4 linhas de plantas com 5 m de


comprimento, espaçadas a 0,45 m entre si. A área útil de cada parcela foram as duas linhas
centrais, com 4 m de comprimento, totalizando 3,6 m2 de área útil por unidade
experimental, cuja densidade de semeadura foi de 15 sementes por metro.
A semeadura foi realizada no dia 17 de maio de 2019, em sistema convencional
utilizando o cultivar TAA Dama, com 15 sementes m-1. A emergência ocorreu 6 dias após
a semeadura. Os dados da precipitação pluviométrica foram obtidos por meio de coletas
realizadas em pluviômetro instalado na área experimental, e, para controle das lâminas
de irrigação, foram instalados 24 coletores distribuídos aleatoriamente nas parcelas, sendo
estes mensurados ao fim de cada irrigação.
Para o tratamento de sementes, foi utilizado Imidacloprid na dose de 84 g e
Carboxina + Tiram com 30 + 30 g para cada 50 kg de sementes. Já nos tratamentos que
2021 Gepra Editora Barros et al.

utilizaram inoculação, as sementes foram inoculadas com Rhizobium tropici – Semia


4077 (Total Nitro®), com 300 mL do produto comercial para cada 50 kg de sementes.
A adubação de semeadura foi realizada a partir da análise química do solo e de
acordo com Ambrosano et al. (1997), utilizando o superfosfato simples (18% fósforo),
com 82,2 kg ha-1. Já, para a adubação nitrogenada em cobertura, foram aplicados os
diferentes tratamentos, sendo que a mesma foi realizada em estádio V4, ocorrido 28 dias
após emergência (DAE). Como fonte de N foi utilizado a ureia e depois da distribuição
foi realizada uma irrigação com lâmina de 10 mm para melhor incorporação no solo.
Para o controle de plantas daninhas foram feitas capinas manuais e aplicações de
herbicidas: fluazifope-p-butílico e fomesafem ambos na dose de 250 g ha-1. O controle de
1237
mosca branca foi realizado por meio de aplicação do inseticida Tiametoxam (42,3 g ha-1)
+ Lambda-Cialotrina (31,8 g ha-1). Foi realizada uma aplicação do fungicida
Trifloxistrobina (75 g ha-1) + Tebuconazol (150 g ha-1) no estádio V4, terceira folha
trifoliolada aberta e planta, da planta.
Após a colheita e trilhamento manual das sementes, estas foram acondicionadas em
laboratório para as avaliações.
Para a massa de 100 grãos (MCG) coletou-se ao acaso três amostras contendo 100
sementes de feijão por unidade experimental. Sendo estas pesadas em balança de precisão
de 0,01 g e depois determinadas as suas umidades para correção para 13% em base úmida
(MAPA, 2015).
Já para a germinação (GERM) de cada unidade experimental foram contadas 50
sementes, as quais foram acondicionadas em papel germitest, umedecidas com volume
de água equivalente a 2,5 vezes o peso do substrato e mantidas a temperatura de 25ºC e
fotoperíodo de 12 horas de luz, sendo realizadas as avaliações das plântulas normais no
quinto e nono dia após a instalação do teste (MAPA, 2015).
Para o teste de germinação em envelhecimento acelerado (GEA) também foi
realizado teste com 50 sementes, estas sementes foram acondicionadas sobre telas fixadas
na superfície de copos plásticos e no interior dos copos adicionado 50 mL de água
destilada. Estes copos com as sementes foram mantidos a 42°C por um período de 72 h
(MARCOS FILHO, 1999). A seguir as sementes serão submetidas ao teste padrão de
germinação, avaliando a porcentagem de plântulas normais no quinto e nono dia (MAPA,
2015).
Já para a germinação em baixa temperatura (GBT) foram realizados testes com 50
sementes, acondicionadas em papel germitest, da mesma forma do teste de GERM. Estes
foram mantidos na B.O.D. a 10°C, sendo avaliados no quinto e nono dia.
Para a emergência de plântulas a campo (EPC) realizou-se a semeadura de 4
repetições de 50 sementes em sulcos, com espaçamento entrelinhas de 0,20 m, a uma
profundidade de 0,04 m, considerou a contagem com número total de plantas emergidas
no 21º dia após a semeadura (VIEIRA; CARVALHO, 2004).
A parte aérea das plântulas provenientes do teste de EPC foram coletadas,
acondicionadas em sacos de papel e encaminhadas para a estufa com circulação de ar
forçada, mantida à temperatura de 80ºC por um período de 24 horas (NAKAGAWA,
1999). Após este período a massa seca das plântulas (MSP) foram pesadas em balança
com precisão de 0,01 g e os resultados expressos em gramas.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Os resultados foram submetidos ao teste de médias e Tukey a 5% de probabilidade


e análise de regressão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A variação da água disponível (AD) na maior parte do desenvolvimento da cultura
ficou acima do limite inferior da água facilmente disponível (AFD) comprovando a
eficiência do manejo de irrigação por Penman-Monteith na cultura do feijoeiro (Figura 3),
somente ficando abaixo em dias que antecederam chuvas e no final do ciclo que ficou
abaixo do limite inferior e não foi irrigado, pois já tinha atingido a maturação fisiológica 1238
das plantas, e a irrigação suspensa.
A precipitação pluviométrica no decorrer do ciclo do feijoeiro foi de 46,7 mm,
provando a necessidade da irrigação, as irrigações realizadas somaram 198,64 mm,
totalizando uma lâmina de 245,3 mm, próximo ao recomendado para a cultura por
Oliveira et al. (2017), que é entre 250 e 350 mm distribuídos ao longo do ciclo.

Figura 3. Precipitação, lâminas de irrigação aplicadas e variação do armazenamento no solo por manejo
de tensiômetros.
Irrigação Precipitação
Limite superior da AFD Limite inferior da AFD

60 60
Armazenamento de água no solo

Precipitação (mm)
45 45
(mm)

30 30

15 15

0 0
1 7 13 19 25 31 37 43 49 55 61 67 73 79 85 91
DAE
Fonte: Arquivo pessoal.

A presença ou ausência de inoculação não influenciou nos resultados da massa de


cem grãos (Tabela 1), possivelmente relacionado a presença de estirpes nativas no solo
como observado por Vazquez; Sá (2016) no qual relatam que a presença de estirpes
nativas pode influenciar os resultados da inoculação com estirpes conhecidas no feijoeiro,
visto que podem dificultar a introdução e nodulação de estirpes mais eficientes. Além
disso, os resultados dessa variável são influenciados principalmente pelo cultivar e pela
demanda hídrica, no período de enchimento de grãos.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Tabela 1. Massa cem grãos (MCG), germinação (GERM), germinação em envelhecimento acelerado
(GEA), germinação em baixa temperatura (GBT), emergência de plântulas á campo (EPC) e massa seca
de plântulas (MSP) em função da inoculação.
MCG GERM GEA GBT EPC MSP
(g) (%) (g)
Com 30,11 a 98,90 a 97,90 a 98,50 a 83,90 a 26,07 a
Sem 30,56 a 98,40 a 98,00 a 99,10 a 80,30 a 25,65 a
CV (%) 6,22 2,18 1,10 1,85 17,09 31,90
DMS 3,95 4,84 2,42 4,10 31,56 18,57
CV= Coeficiente de variação; DMS= Diferença mínima significativa; Médias seguidas de letras
diferentes, diferem entre si pelo teste de tukey a 5% de significância. Fonte: Arquivo pessoal.
1239
A germinação não apresentou diferenças entre os tratamentos com e sem inoculação
das sementes, entretanto os valores obtidos nessa variável foram superiores a 98%,
enfatizando a qualidade de sementes obtidas as quais certamente podem ser utilizadas a
campo, visto que o exigido para a comercialização como semente é de 80% (MAPA,
2013).
Nota-se que o alto nível de germinação das sementes permaneceu acima de 97%
mesmo após as sementes serem submetidas a um processo de envelhecimento acelerado
em temperatura de 42°C e alta umidade durante 72 hora, para Barbosa et al. (2011) quanto
maior a umidade do ar e a temperatura, menor será a porcentagem de germinação. Não
foi encontrado diferença entre os tratamentos, de acordo com Brito et al. (2015) a
presença de estirpes nativas no solo, é considerado um dos principais fatores que limitam
o sucesso da inoculação de feijão comum.
A germinação em baixa temperatura também obteve médias superiores a 98%, não
havendo diferença entre os tratamentos, nota-se que se obteve um nível excelente de
germinação. Autores como Lopes et al. (2011) relatam que podem ocorrer variações no
tempo de germinação dependendo da temperatura que a semente está submetida, ou seja,
em baixas temperaturas os processos de germinação ocorrem de forma mais lenta.
Para as variáveis emergência de plântulas a campo e massa seca de plântulas não
houve diferenças entre a presença ou ausência de inoculante na semeadura. Pode ser
observado na tabela 1, que a porcentagem média de emergência de plântulas a campo
foram superiores a 80%, obtendo uma qualidade superior que podem ser comercializadas
como semente, visto que, o percentual mínimo germinação, de sementes de feijão, exigido
pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Meio Ambiente é de 80% (MAPA, 2013). Logo
a MSP não apresentou diferença em reação a presença ou ausência de inoculação, cujas
médias foram superiores a 25 g, evidenciando a qualidade dessas plântulas em
desenvolvimento inicial.
Em relação as diferentes doses de nitrogênio (N) aplicados em cobertura, os
resultados das variáveis analisadas, não apresentaram efeito significativo de suas
regressões, bem como não houve interação entre as doses de N e a presença ou ausência
de inoculação com Rhizobium tropici (Tabela 2).
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Tabela 2. Massa cem grãos (MCG), germinação (GERM), germinação em envelhecimento acelerado
(GEA), germinação em baixa temperatura (GBT), emergência de plântulas á campo (EPC) e massa seca
de plântulas (MSP) em função das doses de nitrogênio em cobertura.
MCG GERM GEA GBT EPC MSP
(g) ------------------------ (%)------------------------ (g)
0 29,86 a 97,25 a 99,25 a 97,75 a 77,00 a 23,28 a
50 30,80 a 99,00 a 98,75 a 98,00 a 79,00 a 28,59 a
100 30,27 a 99,00 a 97,25 a 99,50 a 83,75 a 24,53 a
150 30,55 a 99,50 a 97,50 a 99,75 a 86,25 a 24,59 a
200 30,21 a 98,50 a 97,00 a 99,00 a 84,50 a 28,34 a
CV (%) 3,87 1,83 2,39 1,60 8,11 17,81
DMS 2,69 3,76 4,89 3,28 13,89 9,60 1240
CV= Coeficiente de variação; DMS= Diferença mínima significativa; Médias seguidas de letras
diferentes, diferem entre si pelo teste de tukey a 5% de significância. Fonte: Arquivo pessoal.

A variável massa de cem grãos apresentou resultados muito semelhantes em razão


das diferentes doses de N aplicadas em cobertura, esses valores corroboram com os
obtidos por Santis et al. (2019) para a cultivar, que foi de 30,8 g. A absorção de nitrogênio
no feijoeiro ocorre durante todo o seu ciclo, porém, a época que a planta necessita de uma
maior demanda deste nutriente é na época do florescimento (R6) e enchimento de grãos
(R8). Recomenda-se geralmente a adubação de nitrogênio na semeadura juntamente com
o fósforo e potássio e outra parte em cobertura (VIEIRA; CARVALHO, 2004).
Os valores de germinação, germinação em envelhecimento acelerado, germinação
em baixa temperatura foram superiores a 97% de germinação, de modo que das 200
sementes testadas em cada tratamento, em média 197,3, 195,9, 197,6 germinaram
respectivamente. Enquanto para emergência de plântulas a campo, esse resultado chegou
a 164,2 sementes germinadas das 200 sementes semeadas, estes valores demonstram a
qualidade de sementes obtidas no experimento, já que a germinação exigida pelo
Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento é de 80% (MAPA, 2013).
A massa seca de plântulas também não apresentou diferença entre as diferentes
doses de N em cobertura. O nitrogênio tem influência direta na fotossíntese e crescimento
da planta, sendo parte integrante da molécula de clorofila (BINOTTI et al. 2009). Essa
variável é influenciada diretamente pela qualidade das sementes, visto que nessa fase
inicial, boa parte do desenvolvimento da plântula é dependente dos nutrientes presentes
nos cotilédones.

CONCLUSÕES
O feijoeiro irrigado por pivô central na região de Aquidauana MS proporciona
produção de sementes de boa qualidade fisiológica.
As doses de nitrogênio e a inoculação de sementes de feijão com Rhizobium topici
não alteram a qualidade fisiológica das mesmas.
2021 Gepra Editora Barros et al.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 112

QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE FEIJÃO-CAUPI

COSTA, Jacquelinne Alves de Medeiros Araújo


Doutora em Fitotecnia,
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
jacquelinne87@hotmail.com

LIMA, Jailma Suerda Silva de


Professor Associado I,
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
jailmaagro@gmail.com 1244

SILVA, Antônio Gideilson Correia da


Graduando em Agronomia,
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
antoniogideilson@hotmail.com

FERNANDES, Gabriel Kariel Ferreira


Graduando em Agronomia,
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
gabrielkariel@gmail.com

FRUTUOSO, Rebeca Monique Silva


Graduando em Agronomia,
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
rebeca.monique@hotmail.com
RESUMO

A realização do teste de germinação associado a testes de vigor é essencial para a


identificação mais precisa dos lotes de sementes que apresentarão maior e menor
probabilidade de desenvolverem plantas mais vigorosas nas condições de campo ou
mesmo durante o seu armazenamento. O objetivo deste trabalho foi avaliar a qualidade
fisiológica de sementes de cultivares de feijão-caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp.)
submetendo-as ao teste de germinação e testes de vigor. O experimento foi realizado
utilizando três cultivares da Embrapa de feijão-caupi (BRS Cauamé, BRS Tumucumaque
e BRS Itaim). As características avaliadas foram: porcentagem de germinação; índice de
velocidade de germinação; primeira contagem; altura de plântula; comprimento radicular;
massa fresca e seca das plântulas. Foram observadas diferenças significativas entre as
cultivares de feijão-caupi em todas as características analisadas. A cultivar BRS Cauamé
apresentou os maiores percentuais de germinação (99%) e índice de velocidade de
germinação (15). Além disso, em relação aos testes de vigor, a cultivar BRS Cauamé
apresentou os melhores resultados de primeira contagem de germinação (93%),
comprimento de parte aérea (31,69 cm) e de raiz das plântulas (17,75 cm), bem como
massa fresca (85,33g) e seca de plântulas (7,13 g). Enquanto a cultivar BRS
Tumucumaque apresentou os menores resultados em todas as características analisadas.
A cultivar BRS Cauamé foi considerada a mais vigorosa entre as cultivares de feijão-
caupi analisadas. Enquanto a cultivar BRS Tumucumaque, pode ser considerada a menos
vigorosa, principalmente por ter sido a cultivar que apresentou percentagem de
germinação inferior ao percentual mínimo comercial exigido.

PALAVRAS-CHAVE: Germinação, Vigor, BRS Cauamé.


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INTRODUÇÃO
O feijão-caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp.) trata-se de uma das leguminosas
economicamente mais importantes na região Nordeste, além de ser alimento básico na
alimentação principalmente da população mais carente (OLIVEIRA, 2016;
CAVALCANTE et al., 2017). A expansão do seu cultivo para outras regiões agrícolas
no Brasil ocorreu, principalmente devido ao desenvolvimento de variedades com ciclos
de maturação precoces e uniformes, com arquiteturas modernas aptas para sistemas de
cultivos mecanizados (FREIRE FILHO et al., 2011). 1245
Essa expansão da área de plantio e o desenvolvimento de tecnologias para as
culturas de feijão-caupi aumentaram a demanda por sementes de alta qualidade, uma vez
que, a utilização de sementes com baixa qualidade genética e fisiológica pode acarretar
na redução da produtividade da cultura (DUTRA et al., 2007; FREITAS et al., 2012;
WAMALWA et al., 2016; MOURA et al., 2017; RAISSE et al., 2020).
A capacidade das sementes em apresentarem desempenho adequado quando
expostas a diferentes condições ambientais é o que se denomina vigor (CARVALHO;
NAKAGAWA, 2000). A realização de testes de vigor é importante, pois permite
identificar os lotes com maior e menor probabilidade de apresentarem melhores
desempenhos no campo ou mesmo durante o armazenamento (GUEDES et al., 2009).
Tradicionalmente, o teste de germinação é o método mais utilizado para a análise
da qualidade de sementes, realizado a partir da determinação da proporção de sementes
capazes de produzir plântulas normais sob condições favoráveis de temperatura, luz,
umidade, aeração e substrato (BEWLEY; LACK, 1994). A primeira contagem do teste
de germinação pode ser utilizada como um teste de vigor, uma vez que a velocidade de
germinação é reduzida com o avanço da deterioração da semente (NAKAGAWA, 1999).
Oliveira e Morais (2017) avaliando a qualidade fisiológica de cultivares de feijão-
caupi (BRS Marataoã e BRS Guariba) em diferentes períodos de desenvolvimento
verificaram diferenças significativas entre as cultivares analisadas para percentual de
germinação e primeira contagem, sendo a BRS Marataoã a mais vigorosa.
Além disso, amostras de sementes que originaram plântulas com maiores valores
de comprimento de parte aérea e raiz, massa fresca ou seca de plântulas são consideradas
mais vigorosas, sendo, portanto, estas características também utilizadas como teste de
vigor (AOSA, 1983; GUEDES et al., 2009).
A avaliação comprimento de raiz de plântulas, em pesquisa realizada por Oliveira
et al. (2018) permitiu a diferenciação de lotes das cultivares BRS Guariba e BRS
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Novaera, enquanto que o comprimento da parte aérea de plântulas foi eficiente para a
distinção de lotes apenas da cultivar BRS Novaera.
Assim, a qualidade fisiológica das sementes irá depender do genótipo, tipo de lotes
e até mesmo das variações no comprimento e coloração dos tegumentos das sementes
(BATISTA et al., 2012; OLIVEIRA; MORAIS, 2017; CHAGAS et al., 2018).
Por isso, se faz necessária a realização de teste de germinação associado a testes de
vigor para identificação mais precisa dos lotes que apresentarão maior probabilidade de
desenvolverem plantas mais vigorosas nas condições de campo. 1246
Diante do exposto, este trabalho teve por objetivo avaliar a qualidade fisiológica
de sementes de cultivares de feijão-caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp.) submetendo-as
ao teste de germinação e testes de vigor.

MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado no Laboratório de Análise de Sementes (LAS) da
Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Mossoró-RN (5º11’ de latitude
sul e 37º20’ de longitude W. Gr.) no período de julho a setembro de 2015. Conduzido em
um delineamento inteiramente casualizado, utilizando três cultivares da Embrapa de
feijão-caupi, sendo elas: BRS Cauamé, BRS Tumucumaque e BRS Itaim.
A avaliação da qualidade fisiológica das cultivares de feijão-caupi foi realizada
através de testes de porcentagem de germinação; índice de velocidade de germinação
(IVG); primeira contagem; altura de plântula; comprimento radicular; massa fresca e
seca das plântulas.
O teste de germinação foi realizado utilizando quatro repetições de 50 sementes
para cada cultivar de feijão analisada. As sementes foram semeadas em bandejas
contendo como substrato areia esterilizada, as quais foram mantidas sob bancadas no
laboratório a temperatura de 30˚C durante oito dias. As contagens de germinação foram
realizadas no período do quinto ao oitavo dia após a semeadura, conforme proposto por
Brasil (2009), e os resultados expressos em percentagem de plântulas normais.
O índice velocidade de germinação (IVG) foi realizado juntamente com o teste de
germinação, sendo as avaliações das plântulas normais realizadas diariamente, a partir
da primeira contagem, cujo cálculo será de acordo com a fórmula proposta por Maguire
(1962), onde:
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Em que: IVG = índice velocidade de emergência; G1 , G2 , ... Gn = número de


plântulas normais germinadas a cada dia; N1, N2, ... Nn = número de dias decorridos da
semeadura a primeira e última contagem.
A primeira contagem de germinação foi realizada em conjunto com o teste de
germinação, verificando o percentual de plântulas normais ocorridas no quinto dia após 1247
a instalação do teste. O comprimento de parte aérea e de raiz das plântulas foram obtidos
com o auxilio de uma régua para medição de todas as plântulas normais de cada repetição
no oitavo dia após a instalação do experimento, e os resultados expressos em
centímetros/plântula conforme descrito por Nakagawa (1999).
As plântulas normais, obtidas a partir do teste de germinação, foram pesadas em
balança analítica, e o valor expresso em gramas para a obtenção da massa fresca de
plântulas. Após a pesagem, foram acondicionadas em sacos de papel, previamente
identificados e levadas à estufa com circulação de ar forçada a 65°C durante 72 h, para a
obtenção de massa seca, conforme Nakagawa (1999).
Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância utilizando o
software estatístico SISVAR (FERREIRA, 2000), e aplicado o teste Tukey a 5%
utilizado para comparar as médias das variáveis qualitativas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos demonstram diferenças significativas entre as cultivares de


feijão-caupi em todas as características analisadas (Tabela 1).

Tabela 1 – Testes de germinação (%G); Índice de velocidade de germinação (IVG); Primeira contagem
de germinação (%PC); Comprimento de parte aérea de plântulas (CPA); Comprimento radicular de
plântulas (CR); massa fresca de plântulas (MFP); e Massa seca de plântulas (MSP) de cultivares de feijão-
caupi.
Cultivares %G IVG %PC CPA (cm) CR (cm) MFP (g) MSP (g)
BRS Cauamé 99 a 15 a 93 a 31,69 a 17,75 a 85,33 a 7,13 a
BRS
66 c 9c 56 c 28,71 ab 14,28 b 63,07 c 4,76 b
Tumucumaque
BRS Itaim 85 b 11 b 70 b 23,30 b 13,10 b 71,23 b 6,83 a
* Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem pelo teste de Tukey a 5%.
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Com relação à porcentagem de germinação e índice de velocidade de germinação,


a cultivar BRS Cauamé apresentou os maiores resultados, respectivamente 99% e 15
(Tabela 1).
Pode-se observar ainda que as cultivares BRS Cauamé e BRS Itaim apresentaram
percentual de germinação superior ao mínimo exigido (99% e 85%, respectivamente)
que é de 80%, segundo as Regras de Análises de Sementes (BRASIL, 2009), enquanto
que a BRS Tumucumaque apresentou percentual inferior ao mínimo exigido (66%),
sendo este lote de sementes considerado de baixo vigor. 1248
O maior percentual de geminação de plântulas normais observados na cultivar BRS
Cauamé, permite que esta seja considerada a mais vigorosa entre as cultivares aqui
testadas, uma vez que lotes de sementes que apresentam maiores percentuais de plântulas
normais são considerados mais vigorosos, apresentando, assim, maiores probabilidades
de emergir e produzir plantas normais em condições adversas de campo (OLIVEIRA et
al., 2009).
O maior IVG observado na cultivar BRS Cauamé pode estar associado ao fato
desta cultivar apresentar as sementes de menor tamanho, já que sementes menores
necessitam de menor quantidade de água para serem embebidas e germinar, e
consequentemente necessitam de menor tempo para germinação (ARAÚJO NETO et al.,
2014; CHAGAS et al., 2018).
Em relação ao teste de primeira contagem de germinação, pode-se observar maior
percentual na cultivar BRS Cauamé (93%). Percentual de germinação e primeira
contagem são características que podem ser influenciadas pelo genótipo, lotes de
sementes, períodos de desenvolvimento em que as sementes foram obtidas, e até mesmo
tamanho e coloração do tegumento dessas sementes (BATISTA et al., 2012; OLIVEIRA;
MORAIS, 2017; CHAGAS et al., 2018; SILVA et al., 2019).
Batista et al. (2012) avaliando a qualidade fisiológica de lotes de sementes de
feijão-caupi da cultivar BRS Guariba não observaram diferença significativa para
percentagem de germinação e primeira contagem. Silva et al. (2019) avaliando a
qualidade fisiológica de sementes certificadas da Embrapa (BRS Guariba e BRS Pujante)
e crioulas de feijão-caupi utilizadas por pequenos produtores no semiárido brasileiro
observaram que as sementes apresentaram diferenças em relação ao percentual de
germinação o teste de primeira contagem. As cultivares da Embrapa, segundo esses
pesquisadores apresentaram-se como as mais vigorosas, enquanto as variedades crioulas
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apresentaram qualidades fisiológicas inferiores, sugerindo, assim, tanto a influência da


variabilidade genética como dos diferentes ambientes de cultivo.
Em relação ao comprimento de parte aérea e de raiz das plântulas, a cultivar BRS
Cauamé apresentou os melhores resultados (31,69 cm e 17,75 cm, respectivamente).
Pesquisa realizada por Batista et al. (2012) mostrou diferenças significativas entre os
lotes da cultivar de feijão-caupi BRS Guariba quanto ao parâmetro comprimento de
radícula, na qual os lotes A e B constituíam-se de sementes de menor vigor enquanto as
sementes dos lotes C e D apresentavam-se mais vigorosas. 1249
A análise do comprimento radicular de plântulas é uma característica importante a
ser analisada, pois sementes que apresentam maior crescimento da radícula podem ser
consideradas como potencialmente vigorosas e proporcionar maiores taxas de
crescimento no período inicial de estabelecimento da cultura (DUTRA et al., 2007).
Quanto à massa fresca e seca de plântulas, verificou-se também que a cultivar BRS
Cauamé apresentou os melhores resultados em ambas as características, respectivamente
85,33 g e 7,13 g, não diferindo estatisticamente da cultivar BRS Itaim quanto ao teor de
massa seca de plântulas (6,83 g).
O fato de a BRS Cauamé ter apresentado maiores valores de massa fresca de
plântulas quando comparadas as demais, implica em dizer que o maior acúmulo de
reservas nas sementes desta cultivar resultou em desenvolvimento inicial mais vigoroso
das plântulas (CANGUSSÚ et al., 2013).
A cultivar BRS Tumucumaque, pode ser considerada a menos vigorosa entre as
cultivares analisadas, já que apresentou os menores valores em todas as características
analisadas (Tabela 1), além de ter sido a única cultivar que apresentou percentagem de
germinação inferior ao percentual mínimo comercial estabelecido pela Regras de
Análises de Sementes (BRASIL, 2009).
Assim, o potencial fisiológico da semente está relacionado com os atributos de
germinação e vigor, o que pode influenciar na velocidade de germinação e emergência,
e, consequentemente, interferir na uniformidade do estande final, levando à perda de
produtividade (PÁDUA et al., 2010; CHAGAS et al., 2018). Portanto, testes de vigor de
sementes precisam ser realizados de forma a complementar os testes de germinação,
garantindo maior segurança sobre o desempenho de um determinado lote de sementes no
campo ou no seu armazenamento (SHAIBU; IBRAHIM, 2016).
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CONCLUSÕES

A cultivar BRS Cauamé foi considerada a mais vigorosa entre as cultivares de


feijão-caupi analisadas.
A cultivar BRS Tumucumaque pode ser considerada a menos vigorosa entre as
cultivares analisadas, principalmente por apresentar percentagem de germinação inferior
ao percentual mínimo comercial exigido.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 113

QUALIDADE FISIOLÓGICA E DORMÊNCIA DE SEMENTES


FLORESTAIS: UMA REVISÃO SOBRE IMPLICAÇÕES PARA
PRODUÇÃO DE MUDAS

PIMENTA, Jéssica Maia Alves Pimenta


Mestre em Ciências Florestais
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
jessica.alves.pimenta@gmail.com

SOUZA, Wendy Mattos Andrade Teixeira de


Graduanda em engenharia florestal 1253
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
wendymattos.a@gmail.com

EGITO, Rômulo Henrique Teixeira


Mestrando em Gestão Ambiental
Instituto Politécnico de Coimbra
romuloegito2@hotmail.com

RESUMO

Em razão do crescente interesse pelas espécies florestais nativas, justificam-se estudos


para a caracterização da qualidade das sementes, por meio de testes de germinação e
vigor, além de estudos sobre tecnologia de superação de dormência. Sendo assim, o
aprimoramento da tecnologia de sementes de espécies florestais é importante, pois por
meio de diversos testes realizados em condições de laboratório é possível avaliar a
qualidade física e fisiológica das sementes dos lotes para fins de armazenamento,
semeadura e comercialização, bem como para a manutenção da biodiversidade por meio
da produção de mudas. Dessa forma, o trabalho foi realizado por meio de revisão de
literatura sobre as informações relacionadas à avaliação da qualidade de sementes,
dormência e influência sobre a produção de mudas. Os métodos de avaliação da qualidade
fisiológica são fundamentais para a sobrevivência das espécies em ambientes naturais a
longo prazo, visto que os resultados obtidos expressam informações sobre o desempenho
fisiológico das sementes florestais. Portanto, para obtenção de resultados satisfatórios na
produção de mudas, é fundamental analisar os fatores que influenciam sua qualidade.

PALAVRAS-CHAVE: qualidade de sementes, mudas florestais, testes fisiológicos.

INTRODUÇÃO

A análise de sementes é realizada com diferentes finalidades, dentre as quais podem


ser destacadas a determinação da qualidade das sementes, o estabelecimento de bases para
a comercialização e a identificação de problemas que afetam o desempenho das sementes
e suas possíveis causas (MARCOS FILHO, 2005). Diversas espécies podem apresentar
diferenças na qualidade de sementes, pois existem aspectos relacionados a qualidade
2021 Gepra Editora Barros et al.

fisiológica das sementes que interferem na capacidade de desempenhar funções vitais, em


aspectos relacionados com sua germinação e seu vigor (DANTAS et al., 2015).
O controle de qualidade das sementes florestais produzidas e comercializadas no
Brasil é realizado de acordo com o estabelecido na Lei 10.771 de 2003 referente ao
Sistema Nacional de Sementes e Mudas (BRASIL, 2003). De acordo com a lei, para
comercialização das sementes é preciso a realização de análises, conforme abordado nas
Regras para Análise de Sementes (RAS) (BRASIL, 2009) e nas Instruções para Análises
de Sementes de Espécies Florestais (BISPO et al., 2013) pelo Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento.
A produção de sementes florestais de qualidade é essencial para o sucesso de
1254
qualquer programa voltado para silvicultura, restauração de áreas degradadas e
conservação de recursos genéticos (ATAÍDE et al., 2015). A qualidade é o resultado de
uma série de aspectos, como o fisiológico, físico, genético e sanitário. Porém, a falta de
um sistema suficientemente organizado para obtenção e utilização de sementes com
qualidade, limita a implementação dos programas de reflorestamento (FIGLIOLIA,
2015).
Um aspecto que deve ser considerado para uma produção de qualidade é o
entendimento sobre os mecanismos das sementes florestais. A dormência é um processo
evolutivo que é definida como sendo um bloqueio da germinação de uma semente intacta
e viável, sob condições favoráveis para a sua germinação (BEWLEY, 1997; DAVIDE;
SILVA, 2008). De acordo com Marco Filho (2005) a dormência das sementes é um
mecanismo de defesa contra as variáveis do ambiente que dificultam ou impedem sua
atividade metabólica normal. O entendimento sobre a dormência faz com que sejam
desenvolvidas técnicas adequadas para a necessidade dos diferentes tipos de sementes,
ocasionando uma maior qualidade e desenvolvimento das futuras mudas.
Portanto, o aprimoramento da tecnologia de sementes de espécies florestais é
importante para a conservação dos diversos ecossistemas, visto que através dos diversos
testes realizados em condições de laboratório de sementes é possível identificar a
qualidade física e fisiológica dos lotes de sementes para fins de semeadura,
armazenamento e comercialização, bem como a manutenção da biodiversidade (TELES;
BARREIRA, 2018). Neste contexto, a qualidade das sementes assume grande
importância tendo em vista que as mudas formadas a partir delas iram favorecer na
capacidade das mesmas em originar plantas sadias para futuras populações florestais
(ARAÚJO et al., 2018).
Considerando a importância da qualidade fisiológica das sementes de espécies
nativas para programas de recuperação, conservação e melhoramento vegetal, o objetivo
deste trabalho foi realizar um levantamento bibliográfico sobre os aspectos da qualidade
fisiológica e dormência das sementes florestais na produção de mudas.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho foi produzido a partir da revisão bibliográfica com base nas
seguintes plataformas de busca de dados como “Scielo” “Web-of-Science”, “Periódicos
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capes” e “Google Acadêmico”. Para a compilação dos trabalhos, foi realizado um


levantamento das principais informações relacionadas à qualidade fisiológica em
sementes florestais, dormência de sementes e produção de mudas. Para a coleta de dados,
foram utilizados os seguintes termos como palavras-chaves: “qualidade fisiológica”,
“vigor”, “análise de sementes”, “dormência de sementes” e produção de sementes,
combinado com o nome “sementes florestais”, entre os anos de 2004 e 2021. Além disso,
para complementar as informações, também foram realizadas buscas em livros que
possuíam informações relevantes sobre o assunto.

1255
RESULTADOS E DISCUSSÃO

A qualidade fisiológica é uma ferramenta de diferenciação e avaliação de lotes para


seleção de sementes de alta qualidade, pois reúne informações sobre a germinação
(viabilidade) e vigor das sementes (MARCOS FILHO, 2005). A viabilidade é a
capacidade de germinação da semente sob condições ambientais favoráveis, enquanto o
vigor é a união de todos os atributos fisiológicos da semente que favorecem um rápido e
uniforme estabelecimento das plantas no campo, sob ampla diversidade de condições do
ambiente (OLIVEIRA et al., 2016).
A seleção de árvores matrizes é essencial para a produção de mudas de qualidade,
visto que a baixa diversidade genética dentro das populações recém-criadas pode limitar
sua capacidade de responder às mudanças nas condições ambientais e, além disso, pode
afetar a produtividade florestal, devido este fator estar intimamente ligado à qualidade do
material genético disponível (PEREIRA et al., 2015).

Qualidade fisiológica de sementes

A qualidade fisiológica das sementes pode ser definida como a capacidade da


semente desempenhar funções vitais, que são caracterizadas principalmente pelo seu
poder de germinação e vigor, cujo poder de germinação da semente é expresso pelo
percentual de sementes germinadas, ou seja, sua viabilidade (SANTOS; PAULA, 2009).
O vigor é um dos aspectos mais importantes na análise da qualidade de sementes,
considerando que o processo de deterioração está diretamente relacionado com a perda
do vigor. O vigor das sementes é reflexo de um conjunto de características ou
propriedades que determinam o seu potencial fisiológico, ou seja, o comportamento
quando são expostas às diferentes condições ambientais (BISPO et al., 2013).
Os estudos que avaliam a qualidade fisiológica de sementes de espécies florestais
nativas têm como finalidade auxiliar no conhecimento prévio do potencial de germinação
das sementes de um lote. Sementes com baixo potencial fisiológico podem resultar em
redução na velocidade de germinação, menor potencial de armazenamento, aumento na
sensibilidade das sementes e plântulas a injúrias, devido ao baixo vigor, dentre outras
consequências (MARCOS FILHO, 2005). Esses resultados contribuem para inferir a
determinação da densidade de semeadura, sendo utilizado para a comparação do potencial
fisiológico dos lotes amostrados (CHAVES et al., 2018).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Entre os testes disponíveis para a avaliação da qualidade fisiológica, o teste de


germinação é um dos mais utilizados em sementes de diferentes espécies, no entanto, o
teste é realizado em condições ótimas, com temperatura, umidade e substrato e, portanto,
pode ter pouca eficiência para estimar o desempenho das sementes no campo, onde as
condições nem sempre são favoráveis (ARAÚJO et al., 2014). Sendo assim, testes
adicionais são essenciais para obter resultados satisfatórios da emergência das plântulas
dentro de amplas condições ambientais. Nesse contexto, os testes de vigor são
instrumentos importantes como complementares ao teste de germinação para avaliação
da qualidade fisiológica de sementes, pois permitem comparar e identificar lotes com
maior ou menor probabilidade de se estabelecerem a campo (GUEDES et al., 2009).
1256
Dentre as análises, vários outros testes podem auxiliar na avaliação da qualidade de
sementes, incluindo condutividade elétrica, teste de tetrazólio, crescimento de plântulas,
envelhecimento acelerado, tamanho de plântulas, índice de velocidade de germinação,
entre outros (MARCOS FILHO, 2005). No entanto, os atributos isolados das análises não
são suficientes para determinar o nível de desempenho de um lote de sementes e, portanto,
são necessárias as análises das características genéticas, físicas, fisiológicas e sanitárias
(MARCOS FILHO, 2015).

Fatores que afetam a qualidade fisiológica

Em todos os segmentos ligados à semente, a qualidade fisiológica tem sido a


primeira preocupação, sejam esses produtores, comerciantes, pesquisadores, ou
consumidores em razão de ser o principal fator responsável pelo estabelecimento da
planta no campo (SILVA et al., 2014). A qualidade fisiológica das sementes pode ser
afetada por diversos fatores, entre os quais estão: os fatores genéticos; os problemas
durante o desenvolvimento da semente; adversidade no campo, após a maturação
fisiológica e antes da colheita; tamanho da semente; injúrias mecânicas na colheita e
beneficiamento; injúrias térmicas na secagem da semente e teor de água (ARAÚJO et al.,
2018).
Além disso, a qualidade fisiológica pode ser prejudicada especialmente pelo
desconhecimento do período da viabilidade máxima das sementes. Também, a forma e
época de coleta são decisivas para a obtenção de sementes com elevada porcentagem de
germinação e bom desenvolvimento da planta. Além disso, outras variáveis devem ser
levadas em consideração como a fenologia reprodutiva, baixa densidade populacional,
propagação vegetativa e a dispersão de pólen em elevadas intensidades a curtas distâncias,
devido fatores de cruzamento entre plantas aparentadas (LEÃO et al., 2011).
A temperatura e a umidade do ar em que as sementes são armazenadas são os
principais fatores que afetam a qualidade fisiológica da semente (MARTINS; LAGO;
CICERO, 2011). A umidade relativa do ar controla o teor de água no interior da semente,
enquanto a temperatura afeta a velocidade dos processos bioquímicos na semente, sendo
assim, diferentes níveis de umidade criam condições diversas no armazenamento na
semente (PINHO et al., 2009).
O tamanho da semente em muitas espécies pode ser indicativo de sua qualidade
fisiológica. Assim, dentro do mesmo lote, as sementes pequenas, normalmente,
2021 Gepra Editora Barros et al.

apresentam menor potencial de germinação e vigor que aquelas de tamanho médio e


grande. Entretanto, segundo Guollo et al. (2017), o tamanho da semente nem sempre afeta
a germinação em si, porém afeta o vigor da plântula resultante, portanto, as sementes
maiores tendem a originar plântulas mais vigorosas, visto que, possuem embriões bem
formados e com maior quantidade de substâncias de reserva.
Alguns estudos avaliando a qualidade fisiológica de sementes florestais, indicam
que o peso está diretamente ligado a umidade e outros aspectos germinativos. No entanto,
estudos realizados por Teles e Barreira (2018), demonstraram que não houve correlação
do peso de mil sementes (PMS), com outros parâmetros analisados, no entanto, ocorreu
processo inverso na espécie Hymenaea courbaril, a matriz que apresentou o maior valor
1257
de PMS, foi a que obteve menor umidade e taxa de germinação. Sendo assim, a umidade
das sementes está intimamente associada com vários aspectos de sua qualidade
fisiológica, podendo indicar o estádio de maturação, o período de colheita, influenciar no
armazenamento e em eventuais tratamentos pré-germinativos.
Além disso, fatores como a temperatura, a luz e o substrato, também influenciam
na qualidade fisiológica. A temperatura interfere nos processos bioquímicos e fisiológicos
e sua influência pode ser avaliada a partir de mudanças na porcentagem, velocidade e
frequência de germinação. A temperatura considerada ótima é aquela que proporciona
alta porcentagem de germinação em curto período (FIGLIOLIA, 2015).
A luz promove o controle respiratório, a síntese de enzimas e de hormônios, além
de exercer efeito sobre a permeabilidade do tegumento e o metabolismo de lipídios. O
substrato está relacionado à capacidade de retenção de água, estrutura e aeração que
influenciam na disponibilidade de água e oxigênio para as sementes (MARCOS FILHO,
2005).
A umidade e o oxigênio também afetam, visto que, a falta ou excesso de água no
substrato pode resultar em efeitos negativos sobre a germinação. A falta de água dificulta
a reativação dos processos bioquímicos, físicos e fisiológicos que determinam a retomada
do crescimento do embrião, e o excesso de água pode comprometer a disponibilidade de
oxigênio. A falta de oxigênio pode retardar o processo germinativo e o desenvolvimento
de plântulas, como também, provocar anormalidade nas plântulas com a ausência ou
atrofiação da raiz (FIGLIOLIA, 2015; AZEREDO et al., 2016).
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento nas Instruções para análise
de sementes de espécies florestais, recomenda que os testes de germinação sejam
conduzidos com luz branca, de modo a favorecer o desenvolvimento das estruturas
essenciais das plântulas e evitar o ataque de microrganismos (BISPO et al., 2013). No
entanto, é preciso estar atento às variações decorrentes da adaptação ecológica da espécie
ao habitat de ocorrência, pois o uso de método não condizente com as exigências da
espécie pode não refletir o potencial germinativo das sementes do respectivo lote
(FIGLIOLIA, 2015).
Sementes de mesmo genótipo podem apresentar aspectos fisiológicos distintos, de
forma que a região e a área de produção e as condições climáticas durante a maturação
afetam diretamente o desempenho das sementes maduras (MARCOS FILHO, 2005).
Dessa forma, lotes de sementes da mesma espécie e idade cronológica podem exibir
comportamento variável durante a germinação, ou mesmo quando armazenados sob
2021 Gepra Editora Barros et al.

mesmas condições (ATAIDE et al., 2015). Os fatores genéticos, podem influenciar nas
características de qualidade fisiológica, devido a constituição genética da semente e,
portanto, uma mesma espécie pode apresentar vigor e longevidade distintos
(CARVALHO et al., 2016).

Tipos de dormência e tecnologias para superação da dormência

Algumas espécies de sementes florestais apresentam dormência, um fenômeno pelo


qual mesmo em condições ideais de temperatura, umidade luz e oxigênio a semente não
germina, pois pode haver algum impedimento físico (tegumento) ou químico, que faz
1258
com que a semente não inicie seu processo de germinação (YILDIZ et al., 2017). A
dormência, do ponto de vista ecológico, é favorável por garantir que as sementes
sobrevivam em condições inadequadas para o seu desenvolvimento (MATIAS et al.,
2017).
Em seu ambiente natural, as sementes superam a dormência por meio de ações
naturais, que ocasionam as condições ideais, a exemplo das sementes que são ingeridas
por ruminantes, morcegos, roedores, entre outros, e que após passarem pelo trato
digestivo do animal tem a sua dormência superada, e logo que são dispersas pelos animais
por meio das fezes iniciam o processo de germinação. Outros fatores naturais como as
condições climáticas e precipitação também fazem com que as sementes que apresentam
algum tipo de dormência consigam germinar (PEREIRA et al., 2015).
Em uma forma geral a semente é dividida em três partes, tegumento, que é a parte
mais externa da semente, o endosperma, local onde a semente armazena os nutrientes, e
o embrião. A dormência primária ocorre durante o desenvolvimento da semente ainda na
planta-mãe (BEWLEY, 1997). A dormência primária não envolve apenas mecanismos
fisiológicos (como aqueles controlados pelo ácido abscísico (ABA), podendo se incluir
nessa categoria as sementes com dormência física e morfológica (CARDOSO, 2009).
Esse tipo de dormência ocorre durante a fase de maturação da semente, de modo que ela
já é dispersa dormente, sendo necessários tratamentos ou condições específicas para que
se inicie o processo de germinação (SILVA; OLIVEIRA; PEREIRA, 2018; DAVIDE;
SILVA, 2008).
A dormência secundária ocorre em resposta a determinadas condições do ambiente.
A semente desencadeia a manifestação do mecanismo que determina a dormência, nesse
caso as sementes não estão dormentes quando se desligam fisiologicamente da planta-
mãe (MARCO FILHO, 2005; SILVA; OLIVEIRA; PEREIRA, 2018). Ainda de acordo
com os autores, a semente pode ter a dormência secundária sem ter sido dormente ou após
ter superado a dormência primária.
A dormência primária é dividida em dois grupos, o das exógenas que ocorre na
região externa ao embrião que é o tegumento, e a endógena que é conhecida como
dormência embrionária. A dormência endógena pode ser classificada como fisiológica,
morfológica, morfofisiológica, ou seja, o embrião está bem desenvolvido, a dormência, é
causada por fatores relacionados a processos fisiológicos, e pela ausência de substâncias
essenciais para a germinação. A dormência fisiológica em alguns casos também pode ser
2021 Gepra Editora Barros et al.

causada pela presença de compostos encontrados no próprio fruto ou semente, fazendo


com que a semente não germine (PEREIRA et al., 2015).
A dormência endógena classificada como morfológica é um tipo de dormência onde
encontramos a semente subdesenvolvida em seu tamanho, mas é diferenciado em
cotilédone e eixo hipocótilo-radícula (BASKIN; BASKIN, 2004). Ocorre em sementes
com embriões pequenos em tamanho, porém com algumas diferenciações, apresentam
cotilédones e hipocótilo visível (DAVIDE; SILVA, 2008). Pereira et al. (2015), entendem
que dormência morfológica, é causada pela imaturidade do embrião, que se apresenta
pouco desenvolvido, necessitando de condições especiais para que possa concluir o seu
desenvolvimento.
1259
E a dormência endógena classificada como morfofisiológica é a combinação da
fisiológica e morfológica onde as sementes apresentam um embrião pequeno (dormência
morfológica), e apresentam bloqueio fisiológico que impede o crescimento do embrião
(dormência fisiológica) (DAVIDE; SILVA, 2008).
A dormência exógena pode ser classificada em dormência física, química e
dormência mecânica. A dormência física é causada por conta da impermeabilidade à água
por uma ou mais camadas de células, que ficam localizadas na região tegumentar das
sementes (BASKIN; BASKIN, 2004; FARIAS et al., 2019). Davide e Silva (2008)
concordam com essa definição e complementam que a impermeabilidade das sementes
pode ser causada pela deposição de camadas de suberina, ceras e cutinas na região do
tegumento das sementes.
A dormência exógena classificada como química ocorre por meio de químicos
presentes no tegumento e/ou no endosperma que podem inibir o crescimento do embrião
ou o enfraquecimento das pareces celulares do endosperma. Os químicos mais conhecidos
são: fenóis, flavonoides, taninos e ácido abscísico (ABA) (DAVIDE; SILVA, 2008). E a
dormência mecânica é identificada por causa de uma barreira à expansão do embrião e
protrusão da radícula provocada pelo endosperma da semente (DAVIDE; SILVA, 2008).
Para a produção de mudas seja para comercialização ou para fins de conservação,
são necessárias técnicas para que essa dormência seja superada. De um modo geral a
sementes são submetidas a diferentes métodos, entre eles, embebição em água, retirada
do tegumento, desponte (corte do tegumento), escarificarão química com ácido sulfúrico
e ácido clorídrico, entre outros (ARAÚJO et al., 2018). O produto mais utilizado para
este fim é o ácido sulfúrico, que dependendo da espécie necessita passar mais tempo em
imersão, para que a dormência seja superada, outros químicos como água oxigenada e
ácido muriático também são utilizados (PEREIRA et al., 2015). Ainda de acordo com os
autores, a escarificação mecânica é realizada em sementes que tem dormência
tegumentar, onde são submetidas a processos de abrasão ou raspagem para que haja um
desgaste tornando a semente permeável à água e ao oxigênio. Nesse caso podem ser
utilizadas lixas ou tesouras de poda para este fim.

Testes e avaliações de qualidade fisiológica

O uso de sementes de qualidade é um fator determinante para o sucesso dos plantios


florestais, a principal característica relacionada à qualidade a ser analisada é a capacidade
2021 Gepra Editora Barros et al.

germinativa das sementes, visto que, a partir desse valor, será obtido as principais
informações para a produção de mudas de qualidade e para a implantação de plantios de
reflorestamento com bons resultados (SILVA et al., 2014).
Através dos testes de qualidade fisiológica é possível avaliar o potencial fisiológico
das sementes. Dentre as análises mais utilizadas para avaliar a qualidade fisiológica,
citam-se: a determinação do teor de água, peso de mil sementes, caracterização biométrica
e o teste de germinação (GUEDES et al., 2013).
Entre os principais procedimentos para a determinação do potencial fisiológico de
sementes destaca-se o teste de germinação, que consiste em determinar o potencial
germinativo das sementes de um lote para fins de semeadura e produção de mudas
1260
(ARAÚJO et al., 2018). É realizado em laboratório, sob condições controladas de
temperatura, umidade e luz. Devem ser realizados de acordo com as recomendações e
prescrições estabelecidas na RAS (PEREIRA et al., 2015). Porém, este teste possui pouca
eficiência para estimar o desempenho no campo, onde as condições encontradas nem
sempre são favoráveis (LIMA et al., 2015).
De forma complementar ao teste de germinação são realizados testes de vigor, que
tem como finalidade detectar diferenças significativas no potencial fisiológico de lotes
com germinação semelhantes, fornecendo informações adicionais às proporcionadas pelo
teste de germinação (SANTOS; PAULA, 2009). Dentre os testes de vigor, estão os testes
realizado com base na análise de germinação, sendo os mais utilizados o tempo médio de
germinação, o índice de velocidade de germinação, a primeira contagem do teste de
germinação e a análise de plântulas. Todos esses métodos são considerados indiretos por
serem executado em condições de laboratório (ARAÚJO et al., 2018).
Dentre os testes de vigor de resistência, destaca-se o teste de envelhecimento
acelerado, esse teste tem como finalidade expressar o vigor das sementes, por meio do
aumento na taxa de deterioração das sementes em exposição às altas temperaturas e
umidade relativa do ar. Deste modo, sementes de baixa qualidade deterioram-se mais
rapidamente, apresentando queda mais acentuada da viabilidade (GOMES JUNIOR;
LOPES, 2017). Vários trabalhos indicam o uso do teste de envelhecimento acelerado para
avaliação do potencial fisiológico de sementes de espécies florestais (GUARESCHI et
al., 2015; CARVALHO et al., 2016; LAMARCA; BARBEDO, 2017).
Dentre os testes bioquímicos, o que possui maior destaque é o teste de tetrazólio,
pois sua principal vantagem é a rapidez com que fornece resultados confiáveis sobre as
sementes, além de não ser afetado pela presença de fungos e bactérias (FOGAÇA et al.,
2011). É um método rápido para estimar a viabilidade e o vigor das sementes com base
na alteração da coloração dos tecidos vivos, em presença de uma solução de cloreto de
2,3,5-trifenil tetrazólio, refletindo a atividade do sistema de enzimas desidrogenasses
(ABBADE; TAKAKI, 2012). Na literatura, entre as espécies utilizadas encontram-se a
Araucaria angustifólia (SILVA et al., 2016), Poincianella pyramidalis (SOUSA et al.,
2017), Enterolobium timbouva (NOGUEIRA et al., 2014) dentre várias outras espécies.
Entretanto, ainda há poucos trabalhos que indicam a utilização do teste de tetrazólio
para a avaliação da viabilidade e do vigor de sementes de espécies florestais na Caatinga.
Dantas et al. (2015) relataram que poucos trabalhos científicos foram publicados com
espécies do bioma Caatinga. Ao todo, foram encontrados nas pesquisas baseadas na
2021 Gepra Editora Barros et al.

internet, apenas 15 trabalhos científicos, sendo destes, dez artigos em revistas indexadas,
uma tese de doutorado, duas dissertações de mestrado e uma monografia de conclusão de
curso. Uma grande porcentagem (73%) dos trabalhos encontrados foi publicada há menos
de 5 anos. As evidências indicam, portanto, que esse assunto vem sendo explorado há
pouco tempo em sementes florestais da Caatinga.
Assim, é necessário maior esforço de grupos de pesquisa para determinar
metodologias para a avaliação da viabilidade e do vigor de sementes de espécies florestais
desse bioma. Há ainda que se focar no estudo das espécies ameaçadas de extinção,
visando sua preservação e consequentemente a preservação e a conservação do bioma
Caatinga (DANTAS et al., 2015).
1261
Além desses testes, o teste à frio que apesar de não ser muito difundido na avaliação
de sementes de espécies florestais arbóreas, pode ser promissor, já que simula as
condições adversas de baixa temperatura e alta umidade, as quais permitem a
sobrevivência somente das sementes mais vigorosas (OLIVEIRA et al., 2016). O teste de
frio pode potencialmente ser aplicado em sementes produzidas na região sul do Brasil,
onde se registra períodos do ano com chuvas associadas a frentes frias, condições essas
determinantes para deterioração das sementes e perda do vigor (ARAÚJO et al., 2018).
Poucos trabalhos indicam o uso do teste de frio para avaliação do potencial
fisiológico de sementes de espécies florestais, sendo realizados apenas para as espécies
Moringa oleifera (ROCHA et al., 2016) e Jatropha curcas (OLIVEIRA et al., 2015).
O emprego de testes rápidos para o controle de qualidade de sementes é ferramenta
imprescindível para a avaliação da qualidade fisiológica de sementes, e por isso tem
merecido permanente atenção dos tecnologistas, produtores e pesquisadores. Além disso,
também há uma crescente demanda por métodos rápidos e eficientes para a avaliação da
qualidade fisiológica de sementes florestais nativas. Contudo, muitas espécies florestais
ainda possuem inúmeras limitações pela falta de conhecimento quanto às características
de morfoanatomia e ecofisiologia de suas sementes (GUOLLO et al., 2017)
Em razão do crescente interesse pelas espécies florestais nativas, torna-se
importante tanto a caracterização da qualidade de suas sementes, por meio de testes de
germinação e vigor, como a obtenção de informações sobre a eficiência e rapidez de
diferentes testes de vigor para se estimar a qualidade das sementes (GUEDES et al.,
2009). A avaliação da qualidade fisiológica das sementes é um aspecto importante a ser
considerado em um programa de produção, pois a elucidação dos fatores que afetam a
qualidade dessas sementes depende diretamente da eficiência dos métodos usados para
determiná-la (GONZALES et al., 2011).

CONCLUSÕES

A produção de sementes florestais de qualidade é essencial para o sucesso de


qualquer programa voltado para silvicultura, restauração de áreas degradadas e
conservação de recursos genéticos. Neste contexto, a qualidade fisiológica das sementes
assume grande importância tendo em vista que as mudas formadas a partir delas, afetam
diretamente no desempenho das mudas de espécies florestais no campo. Sendo assim, a
utilização de procedimentos eficientes para análise de sementes é fundamental para
2021 Gepra Editora Barros et al.

programas de controle de qualidade, auxiliando na escolha de sementes de maior


potencial para a produção de mudas. Além disso, o entendimento dos processos naturais
das sementes como a dormência são importantes para que seja possível o
desenvolvimento de tecnologias de produção de mudas específico para cada espécie. Para
obtenção de resultados consistentes e comparáveis é fundamental a padronização das
metodologias utilizadas durante a condução dos testes, principalmente para espécies da
Caatinga, visto que, foram encontrados um número reduzido de informações sobre elas.

1262
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1266
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 114

QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE DOCES DE LEITE


ARTESANAIS COMERCIALIZADOS NO MUNICÍPIO DE
BANANEIRAS – PB

SANTOS, Francislaine Suelia dos


Doutoranda em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande
francislainesuelis@gmail.com

PAIVA, Yaroslávia Ferreira


Doutoranda em Engenharia de Processos
1267
Universidade Federal de Campina Grande
yaroslaviapaiva@gmail.com

FRANÇA, Kevison Romulo da Silva


Doutorando em Proteção de Plantas
Universidade Federal de Alagoas
kevsfranca@gmail.com

AZEVEDO, Plínio Tércio Medeiros de


Mestre em Sistemas Agroindustriais
Universidade Federal de Campina Grande
eng.pliniotercio@gmail.com

ARAÚJO, Karoline Thays Andrade


Doutoranda em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande
karoline_thays@hotmail.com

RESUMO

O doce de leite é um produto muito apreciado no Brasil, em particular, na região nordeste.


Sua produção é realizada por grandes e pequenas empresas, sendo comumente
regionalizado e produzido muitas vezes de maneira artesanal, sem as mínimas condições
higienicossanitárias. Apesar de não ser um produto favorável ao desenvolvimento de
microrganismos por apresentar alta concentração de carboidratos e consequentemente,
baixa atividade de água, a probabilidade de veicular bactérias patogênicas não está
excluída. A fim de verificar os limites microbiológicos de acordo com os padrões e órgãos
competentes, foram analisadas cinco marcas de doce de leite pastoso artesanais
comercializadas em estabelecimentos do município de Bananeiras - PB, de cada marca,
foram avaliadas cinco amostras com datas de fabricação diferentes. Foram realizadas
análises microbiológicas da presença de coliformes a 35 e 45 °C, Salmonella sp. e
Escherichia Coli e Staphylococcus spp. e a Contagem total de bactérias Aeróbias
Mesófilas (CTM), conforme exigido pelo regulamento técnico sobre padrões
microbiológicos para alimentos. De modo geral, os doces avaliados obtiveram-se baixos
percentuais de contaminação, excerto as amostras A e E que apresentaram elevadas
quantidades de micro-organismos indicadores de condições higienicossanitárias e
patogênicos insatisfatória, onde reforçam a importância de investimentos em programas
2021 Gepra Editora Barros et al.

de qualidade nas agroindústrias com maior atenção na padronização e controle de


qualidade.

PALAVRAS-CHAVE: Derivados lácteos, contaminação, controle de qualidade.

INTRODUÇÃO

1268
O doce de leite é um produto típico da América Latina, produzido e consumido em
grande escala no Brasil e na Argentina, é definido como produto concentrado de leite ou
leite reconstituído por ação de calor a pressão atmosférica ou reduzida, sendo facultativa
a adição de outras substâncias alimentícias e sólidos de origem láctea, adicionado de
sacarose com substituição parcial ou não por monossacarídeos e dissacarídeos; sua
produção no Brasil encontra-se ao redor de 34.000 t/ano (BRASIL, 1997; SANTOS;
SILVA, 2020). Apresenta elevado valor nutricional por conter proteínas e minerais, além
do alto conteúdo energético, sendo consumido diretamente como sobremesa,
acompanhado ou não de biscoitos, queijos, geleias e torradas, empregado também como
recheio ou cobertura na confeitaria. (FEIHRMANN; CICHOSKI; REZENDE, 2004).
Existe uma grande escassez de referências científicas na literatura sobre doce de
leite, havendo falta de dados sobre a composição química e microbiológica, devendo ser
atribuído à produção caseira praticada no Brasil e ao consumo concentrado
principalmente na América do Sul, com pesquisas científicas desenvolvidas somente nos
países dessa região. Dessa forma, observa-se que não há uniformidade na qualidade dos
doces fabricados pela grande variação nos parâmetros físico-químicos e sensoriais,
constituindo como entrave para o mercado europeu e norte americano (FRANÇA et al.,
2014).
Embora o doce de leite não seja um produto favorável ao desenvolvimento de
microrganismos por apresentar alta concentração de carboidratos e, consequentemente,
baixa atividade de água, a probabilidade de veicular bactérias patogênicas não é nula, de
fato ocorre pelo fracionamento do doce de leite para venda no varejo, que conta com a
manipulação inadequada e exposição ao meio ambiente tornando importante a avaliação
microbiológica para averiguação da presença de Salmonella, Staphylococcus e coliformes
que podem constituir perigo à saúde do consumidor (FERREIRA JÚNIOR et al. 2020).
A exposição desse alimento a ambiente sem refrigeração, sem proteção contra
poeira e insetos, pode alterar seus padrões de qualidade. Deve-se atentar aos riscos em
potencial de os alimentos artesanais se apresentarem contaminados. Os fatores que
contribuem para aumentar o risco de enfermidades são o uso de matérias-primas de fontes
não seguras, utensílios mal higienizados ou contaminados e elaboração em condições
impróprias (FRANÇA et al., 2014; DUARTE et al., 2005). Pensando no bem da saúde
pública, a população deve ter ao seu alcance alimentos de boa qualidade, estes alimentos
deverão estar dentro de padrões pré-estabelecidos de valores nutritivos e higiênicos para
serem consumidos com segurança para o consumidor (FAGUNDES; OLIVEIRA, 2004).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Portanto a qualidade microbiológica dos alimentos e consequentemente a segurança


do consumidor, estão condicionadas a ausência de microrganismos deteriorantes e
patogênicos nos alimentos. A presença de microrganismos contaminantes no leite ou em
seus derivados pode levar a uma perda de sua qualidade físico-química, já que uma grande
parte desses microrganismos em condições apropriadas são capazes de fermentar a
lactose e produzir ácido lático, aumentando assim a acidez do produto (ORDONEZ,
2005). Entretanto, o maior risco consiste na possibilidade desses microrganismos
causarem algum tipo de doenças transmitidas pelos alimentos.
Diante do exposto este trabalho teve por objetivo avaliar a qualidade microbiológica
de doces de leite pastosos artesanais comercializadas em estabelecimentos do município
1269
de Bananeiras – PB, a fim de verificar os limites microbiológicos de acordo com os
padrões e órgãos competentes.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi desenvolvida no município de Bananeiras localizada no Brejo


paraibano (Figura 1) que apresenta uma população estimada em 21.269 habitantes
distribuídos em uma área territorial de 258 km² segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia Estatística (IBGE, 2021).

Figura 1. Localização do Munícipio de Bananeiras no mapa da Paraíba

Fonte: (IBGE, 2021)

Coleta das amostras

Os doces foram coletados em cinco estabelecimentos comerciais da cidade de


Bananeiras – PB. As coletas foram realizadas em dias diferentes para que de cada ponto
de comercialização fossem analisadas cinco amostras com datas de fabricação diferentes.
As amostras foram coletadas em recipientes próprios para comercialização, disponíveis
em cada ponto de venda, em seguida foram imediatamente acondicionadas em caixas
isotérmicas e encaminhadas ao laboratório para a realização das análises. Os
estabelecimentos foram denominados como A, B, C, D e E, e os resultados apresentados
a partir da média das vinte e cinco amostras totalizadas.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Análises realizadas

Os doces foram avaliados quanto aos parâmetros de Coliformes à 35º e 45ºC


(NMP/g), Salmonella sp. (presença/ausência), Staphylococcus spp. (UFC/g)
Staphylococcus coagulase positiva (UFC/g), Contagem total de bactérias Aeróbias
Mesófilas (CTM) (UFC/g) e Escherichia coli. (presença/ausência). Todas as análises
foram realizadas com base na metodologia adotada por Silva et al. (2010).

Preparo das diluições das amostras


1270
De cada amostra foram pesadas, assepticamente, 25 gramas, as quais foram
colocadas em frascos contendo 225 mL de água peptonada a 0,1%, esterilizada. A mistura
foi homogeneizada em aparelho Stomacher por um minuto, obtendo a diluição inicial de
10-1. Após esse processo foram realizadas diluições decimais até 10-7 utilizando-se o
mesmo diluente.

Coliformes à 35ºC

Teste presuntivo: três séries de tubos de caldo lauril sulfato triptose, com tubo de
Durhan invertido, foram inoculados com 1 mL a partir das diluições de 10-1 a 10-7. Após
serem incubados a 35ºC por 24 a 48 horas, as culturas que produziram gás foram
consideradas positivas.

Teste confirmativo: de cada tubo com resultado positivo no teste presuntivo foi
transferida uma alçada da cultura (alça de níquel-cromo de 3 mm de diâmetro) para tubos
correspondentes contendo caldo lactose-verde brilhante-bile a 2,0% e tubo de Durhan
invertido. Após o processo foi realizada a incubação a 35ºC por 24 a 48 horas e
considerados positivos os desenvolvimentos bacterianos que produziram gás neste
período.
De acordo com o número de tubos positivos e, empregando a tabela de Hoskins, foi
determinado o NMP de coliformes totais por grama.

Coliformes à 45ºC

A partir de cada tubo de caldo laurilsulfato triptose com resultado positivo no teste
presuntivo para coliformes a 35ºC, foram inoculados com alça, tubos correspondentes
contendo caldo EC e tubo de Durhan invertido. A incubação foi realizada em banho-maria
a 44,5 ±0,2ºC por 24 ±2 horas e considerados positivos os tubos com multiplicação
bacteriana e produção degás. De acordo com o número de tubos positivos e, empregando
a tabela deHoskins, foi determinado o NMP de coliformes termotolerantes por grama.

Escherichia Coli.

A partir dos tubos com resultados positivos para coliformes a 45ºC em caldo EC,
2021 Gepra Editora Barros et al.

foram semeadas placas de ágar eosina-azul de metileno (EMB) e em seguida encubadas


a 35ºC por 24 horas. Após o período e havendo desenvolvimento de colônias, foram
transferidas de cada placa, três colônias características (cor negra, chata, seca e com brilho
metálico), para ágar nutriente inclinado. Após incubação a 35ºC por 24 horas, realizou-
se coloração de Gram em cada tubo, para a verificação da morfologia dos isolados.
Constatada a presença de bacilos Gram-negativos, em cultura pura, esses foram semeados
em meios para confirmação bioquímica através das provas do IMViC ou seja: produção
de indol (I), Vermelho de Metila (VM), Voges-Proskauer (VP) e do aproveitamento de
citrato (C). Na realização dessas provas, foram adotadas metodologias descritas em Mac
Faddin (1976).
1271
As culturas que se apresentavam em forma de bacilos Gram negativos e, que ao
teste do IMViC apresentaram resultados + + - - ou - + - -, foram consideradas como de E.
coli.

Salmonella sp.

Pré-enriquecimento: de cada amostra foi retirado, assepticamente, 25 gramas e


adicionados a 225 mL de água peptonada a 1,0%. Após homogeneização em aparelho
Stomacher, a mistura foi incubada a 37ºC por 24 horas.

Enriquecimento seletivo: duas alíquotas, uma de 1 mL e outra de 0,1 mL da cultura de


pré-enriquecimento, foram inoculadas respectivamente, em 10 mL de caldo selenito
cistina e em 10 mL de caldo Rappaport- Vassiliadis, adicionados de 0,1 mL de solução
de novobiocina a 0,4%, dando uma concentração de 40 microgramas do princípio ativo
por mililitro do meio. Em seguida, os caldos seletivos foram incubados a 37ºC por 24
horas.

Plaqueamento seletivo: com auxílio de uma alça de níquel-cromo, cadacultura em caldo


de enriquecimento foi semeada pela técnica de esgotamento em ágar verde-brilhante e
ágar MacConkey, seguido de incubação a 37ºC por 24 horas.

Identificação presuntiva: 3 a 5 colônias, com características sugestivas do gênero


Salmonella, obtidas no plaqueamento seletivo seriam retiradas com auxílio de agulha de
níquel-cromo previamente flambada e inoculadas em tubos contendo ágar tríplice açúcar
ferro (TSI) e meio para a realização da prova da descarboxilaçãoda lisina (LIA).

Confirmação sorológica: para tal, cultivos que, na identificação presuntiva,


apresentassem reações condizentes com o gênero seriam transferidos com alça de níquel-
cromo para lâminas de vidro contendo gotas de solução fisiológica. Após
homogeneização da colônia com a solução fisiológica na lâmina, seria acrescentada uma
gota de soro anti-salmonela polivalente somático-O, seguido de movimentação da lâmina
para leitura. Se ocorresse aglutinação na mistura, a prova seria considerada positiva. O
mesmo procedimento seria realizado para o soro polivalente flagelar-H. Seria considerada
como gênero Salmonella o cultivo que apresentasse positividade em ambas as provas.
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Staphylococcus coagulase positiva

Para a determinação dos Staphylococcus coagulase foram pesados 25 g de cada


amostra e homogeneizadas em 225 mL de solução salina para a obtenção da diluição 10 -
1
. Para cultura na diluição 10-1, foi semeada uma alíquota de 1 mL distribuída em três
placas de Petri contendo ágar Baird-Parker (Himedia, Mumbai, Índia). Para as demais
diluições, foram realizadas análises em duplicata utilizando alíquotas de 0,1 mL
originárias da diluição anterior.
As placas foram incubadas em estufa a 37 °C por 48 horas. Ao fim desse período,
foi realizada a contagem de colônias e foram selecionadas três colônias típicas e três 1272
colônias atípicas de cada placa, que foram semeadas em caldo Infusão de Cérebro e
Coração (BHI, Acumedia) para realização posterior da prova de coagulase, utilizando
alíquotas de 300 μL de cada cultura adicionadas a 300 μL de plasma de coelho que foram
incubadas por 6 horas em estufa a 37 °C. Passado esse período e observada a formação
de coagulação que caracteriza resultado positivo, foi realizado o cálculo de colônias
coagulase positiva por placa para obtenção da contagem final.

Contagem total de bactérias Aeróbias Mesófilas - CTM

Foram depositados 1 mL de cada diluição no fundo de placas de Petriesterilizadas,


em quadruplicata. A seguir, adicionados 15 mL a 17 mL de ágarpadrão para
contagem (PCA) fundido e resfriado a temperatura em torno de 45ºC. Após a
homogeneização e solidificação do ágar a temperatura ambiente, duas placas foram
incubadas a 35ºC por 48 horas para a quantificação de mesófilos, e asoutras duas placas
restantes, incubadas a 7ºC por 10 dias para quantificação de psicrotróficos. As
contagens foram realizadas no contador de colônia segundo atécnica padrão, dando
preferência as placas com 25 a 250 colônias.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Apresenta-se na Figura 2 os resultados dos Coliformes à 35 e a 45 ºC presentes nas


amostras de doce de leite avaliadas. Verificou-se a contaminação de coliformes a 35 e 45
°C em todas as amostras em estudo, destacando-se o doce advindo do estabelecimento A
com a presença de ≥110 NMP/g em ambos os microrganismos avaliadas, assim como o
D com o mesmo valor para coliformes a 35 °C, seguido do E.
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Figura 2. Valores médios dos resultados dos Coliformes à 35 e a 45 ºC verificados nas amostras de doce
de leite dos estabelecimentos avaliados.
120
110 110 110

100 95

80
65
60

42
1273
40

21 23
19
20
7,2

0
A B C D E

Coliformes à 35 ºC (NMP/g) Coliformes à 45 ºC (NMP/g)

Fonte: Autores (2021).

Para os Coliformes a 35 °C a legislação Resolução RDC nº 12/2001 (BRASIL,


2001) não preconiza um limite para doce de leite e demais pastas ou molhos a base de
leite e derivado. Já para os Coliformes a 45 °C há uma preconização de valores máximos
de 50 NMP/g para o doce de leite, estando nesse caso apenas as amostras dos pontos de
venda B, C e E dentro dos padrões solicitados.
Segundo Santos et al. (2018) o número elevado de coliformes pode não significar
contaminação direta com material fecal, mas sim na manipulação inadequada, como
higiene do manipulador, transporte e acondicionamento. Resultados inferiores aos da
presentes pesquisa foram verificados por Santos et al. (2016), ao avaliarem doce de leite
industrializado, identificaram para a contagem de coliformes totais valores abaixo de 3,0
NMP/g, indicando que as amostras estavam no padrão preconizado.
Observa-se na Figura 3 os valores médios de Salmonella sp. e Escherichia Coli.
presentes nas amostras de doce de leite do município de Bananeiras. Verificou-se que
apenas os pontos de comercialização A e E apresentaram a presença da Salmonella sp.
destacando-se o doce E com maior presença. Quanto a presença de Escherichia Coli foi
verificada apenas no E.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 3. Valores médios de Salmonella sp. e Escherichia Coli verificados nas amostras de doce de leite
dos estabelecimentos avaliados.

Salmonella sp. (% presença) Escherichia Coli. (% presença)

60

1274

20 20

0 0 0 0 0 0 0

A B C D E

Fonte: Autores (2021).

A RDC nº 12/2001 (BRASIL, 2001) preconiza a ausência de Salmonella sp. para


doces de leite e demais pastas ou molhos a base de leite e derivado, e não avalia os limites
para a Escherichia Coli.
Os resultados verificados neste trabalho, foram semelhantes aos obtidos por Timm
et al. (2007) onde ao analisar 28 amostras de doce de leite comercializado a varejo na
cidade de Pelotas, observaram que 100% das amostras apresentaram contagem de
coliformes termotolerantes e estafilococos coagulase positiva abaixo dos limites máximos
estabelecidos pela legislação vigente, porém, uma das amostras analisadas, apresentou a
presença de Salmonella sp. em 25 g do produto.
Destri et al. (2009), encontraram ausência de microrganismos patogênicos entéricos
(coliformes termotolerantes, estafilococos coagulase positiva e Salmonella sp.) em 100%
das amostras de doce de leite artesanal analisadas de feiras livres da cidade de Pelotas no
Rio Grande do Sul. Penteado e Castro (2016) afirma que a intoxicação alimentar é
normalmente causada pelo consumo de alimentos ou água contaminada contendo
diferentes bactérias, vírus, parasitas ou toxinas de natureza bioquímica ou química sendo
a Salmonella spp. uma das principais causas de intoxicação alimentar.
Verifica-se na Figura 4 os resultados dos valores médios dos Staphylococcus spp. e
Contagem totais de bactérias Aeróbias Mesófilas – CTM nos doces de leite artesanais do
município de Bananeiras – PB. Observou-se a que apenas o estabelecimento C não
apresentou a presença de CTM, destacando-se A com maiores valores, quanto aos
Staphylococcus spp. nenhuma das amostras em estudo apresentaram a sua presença, a
RDC nº 12/2001 (BRASIL, 2001) não apresenta limites para os CTM e para os
Staphylococcus spp. preconiza um limite máximo de 10² NMP/g.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 4. Valores médios de CTM e Staphylococcus spp. verificados nas amostras de doce de leite dos
estabelecimentos avaliados.

CTM (UFC/g) Staphylococcus spp. (UFC/g)

930

1275

180
100
60
0 0 0 0 0 0

A B C D E

Fonte: Autores (2021).

CONCLUSÕES

De modo geral, os doces avaliados foram verificados contaminação, com destaque


as amostras advindas dos estabelecimentos A e E que apresentaram elevadas quantidades
de microrganismos indicadores de condições higienicossanitárias e patogênicos
insatisfatória, o que pode tornar estes alimentos potenciais causas de veiculação de
patógenos aos consumidores, estando assim, impróprios ao consumo humano.
Reforçando assim, a importância de investimentos em programas de qualidade nas
agroindústrias e a adoção das Boas Práticas de Fabricação e fiscalização.

REFERÊNCIAS

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Defesa Agropecuária. Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal. Portaria
n° 354, de 04 de setembro de 1997. Regulamento Técnico para Fixação de Identidade e
Qualidade de Doce de Leite. Diário Oficial da República Federativa do Brasil.
Brasília, 8 de setembro de 1997.

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RDC n. 12 de 02 de janeiro de 2001. Dispõe sobre o regulamento técnico sobre padrões
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Brasília, DF, 10 de jan. 2001.
2021 Gepra Editora Barros et al.

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MINGUILÓN, F. G. G.; PERALES, L. L. H.; CORTECERO, M. D. S. Tecnologia de
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Alimentos. Volume I: Componentes dos alimentos e processos. Editora Artmed, Porto
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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 115

QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE SUSHIS


COMERCIALIZADOS EM PATOS, PARAÍBA
PAIVA, Yaroslávia Ferreira
Doutoranda em Engenharia de Processos
Universidade Federal de Campina Grande
yaroslaviapaiva@gmail.com

FRANÇA, Kevison Romulo da Silva


Doutorando em Proteção de Plantas
Universidade Federal de Alagoas
kevsfranca@gmail.com 1278
SANTOS, Francislaine Suelia dos
Doutoranda em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande
francislainesuelis@gmail.com

SILVA, Semirames do Nascimento


Pós-doutoranda em Engenharia Agrícola
CNPq/Universidade Federal de Campina Grande
semirames.agroecologia@gmail.com

FERREIRA, João Paulo de Lima


Doutoranda em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande
joaop_l@hotmail.com

RESUMO

O consumo crescente de sushi vem tornando-se uma preocupação para a saúde pública,
não só pelo fato de ser um produto altamente perecível, mas também, devido aos aspectos
higiênico-sanitários de sua preparação e conservação. Sendo assim, objetivou-se avaliar
a qualidade microbiológica dos sushis comercializados em todos os estabelecimentos da
cidade de Patos, Paraíba. Cinco amostras foram coletadas de um dos cinco
estabelecimentos (S1, S2, S3, S4 e S5), durante 3 semanas consecutivas, totalizando assim
75 amostras. As mesmas foram obtidas nos próprios recipientes ofertados pelos locais
analisados. As amostras foram analisadas quanto aos parâmetros de Coliformes à 35º e
45ºC (NMP/mL), Salmonella sp. (presença/ausência), Staphylococcus coagulase positiva
(UFC/mL), Contagem total de bactérias Aeróbias Mesófilas (CTM) (UFC/mL), Vibrio
spp. e Escherichia coli. (presença/ausência). Todas as análises foram realizadas com base
na metodologia adotada por Silva e seus colaboradores (2010). Não foram identificadas
presenças de Salmonella sp., Escherichia Coli e Vibrio parahaemolyticus em 100% das
amostras avaliadas. Em relação a Coliformes a 45º e Staphylococcus coagulase positiva
os sushis estiveram de acordo com a legislação vigente RDC nº 12. Com os dados obtidos
verificou-se que os sushis avaliados estavam dentro do limite estabelecido pela legislação
vigente para todos os microrganismos, porém as altas contagens de Mesófilos observadas
demonstram necessidade de maiores cuidados higiênico-sanitários com a matéria-prima
utilizada e a adoção das Boas Práticas de Fabricação e durante o manuseio desses
produtos.
2021 Gepra Editora Barros et al.

PALAVRAS-CHAVE: Culinária japonesa, Condições higiênico-sanitárias, Pescado


cru.

INTRODUÇÃO

O consumo de peixe ao longo dos anos tem crescido em maior proporção,


associado à busca por uma vida mais saudável e pelo baixo teor de gordura dos alimentos
(GUIMARÃES, SILVA E GUIMARÃES, 2016). Consequentemente existe uma grande
procura por restaurantes especializados em culinária japonesa (SANTOS et al., 2012),
onde os pratos típicos mais procurados são aqueles preparados com pescados crus, como 1279
por exemplo, sashimi e sushi (MORAIS e CARVALHO, 2020), porém esses alimentos
vêm sendo comercializados também em vários outros tipos de estabelecimentos no Brasil,
como em restaurantes de comida “no peso”, fast foods, deliverys, shoppings, entre outros
(GUIMARÃES, SILVA; GUIMARÃES, 2017).
Atualmente o sushi é um nome genérico e representa uma grande variedade de
alimentos que apresentam uma forma de bolinho (retangular, cilíndrica, triangular,etc.)
contendo basicamente arroz temperado, algas e peixe cru. Tradicionalmente é feito com
arroz temperado (vinagre, açúcar e sal), combinado com algum tipo de peixe, frutos do
mar e vegetais, frutas ou até mesmo ovo. A tradição japonesa é de servi-lo acompanhado
de wasabi (raiz forte japonesa) e shoyu (molho de soja) (SATO, 2013).
O consumo crescente desse tipo de alimento vem tornando-se uma preocupação
para a saúde pública, não só pelo fato de ser um produto altamente perecível, mas
também, devido aos aspectos higiênico-sanitários de sua preparação e conservação.
(SANTOS et al., 2012).
A ingestão de alimentos crus é considerada uma das principais causas de doenças
transmitidas por alimentos (DTA), uma vez que esses alimentos apresentam condições
favoráveis ao desenvolvimento dos microrganismos responsáveis por tais enfermidades,
associado às condições inadequadas de preparo e armazenamento do produto no que se
refere à temperatura, local e tempo de exposição que podem colaborar para aumentar o
risco à saúde do consumidor (VALLANDRO et al. 2011). Essas doenças podem provocar
sintomas como: diarreias, vômitos, e complicações como: febre, dores abdominais, dor
de cabeça, olhos inchados, dentre outros (GUIMARÃES, SILVA; GUIMARÃES, 2017).
Nos últimos anos, tem-se mostrado cada vez mais comum, em vários países, casos
de DTA’s, de etiologias variadas, muitas vezes por contaminação da matéria-prima ou do
produto pronto para o consumo (SALES et al, 2021). Para que os alimentos da culinária
japonesa tenham boa qualidade microbiológica é essencial promover a acidificação do
arroz (pH < 4,6), o controle de temperatura durante o preparo e armazenamento, bem
como a manipulação adequada (MUSCOLINO et al., 2014), além da adoção das Boas
Práticas de Fabricação.
Sendo assim, objetivou-se avaliar a qualidade microbiológica dos sushis
comercializados em todos os estabelecimentos da cidade de Patos, Paraíba.
2021 Gepra Editora Barros et al.

MATERIAL E MÉTODOS

Inicialmente foi realizada uma pesquisa informativa acerca da comercialização


deste tipo de produto no município de Patos, Paraíba com o objetivo de identificar todos
os restaurantes físicos e delivery. A partir disso, cinco estabelecimentos foram analisados,
sendo identificados como: S1, S2, S3, S4 e S5.
Uma amostra foi coletada de cada estabelecimento, durante cinco semanas
consecutivas, totalizando assim 25 amostras. As mesmas foram obtidas nos próprios
recipientes ofertados pelos locais analisados e transportadas imediatamente para o
Laboratório de Microbiologia da Universidade Federal de Campina Grande.
As amostras foram analisadas quanto aos parâmetros de Coliformes à 35º e 45ºC 1280
(NMP/mL), Salmonella sp. (presença/ausência), Staphylococcus coagulase positiva
(UFC/mL), Vibrio spp. e Escherichia coli. (presença/ausência) com base na legislação
vigente RDC nº12 (ANVISA, 2001), além disso Contagem total de bactérias Aeróbias
Mesófilas (CTM) (UFC/mL) também foram avaliados. Todas as análises foram realizadas
com base na metodologia adotada por Silva e seus colaboradores (2010).

Preparo das diluições das amostras


De cada amostra foram pesadas, assepticamente, 25 gramas, as quais foram
colocadas em frascos contendo 225 mL de água peptonada a 0,1%, esterilizada. A mistura
foi homogeneizada em aparelho Stomacher por um minuto, obtendo a diluição inicial de
10-1. Após esse processo foram realizadas diluições decimais até 10-7 utilizando-se o
mesmo diluente.

Coliformes à 35ºC e à 45ºC


Cada diluição foi semeada em três tubos, contendo caldo Lauril Sulfato Triptose
(LST), para realização do teste presuntivo/24h a 35 ºC. Em seguida transferiu-se uma
alíquota dos tubos positivos para cultura em meio Caldo Verde Bile Brilhante durante
24h a 35ºC para a quantificação do número mais provável de coliformes a 35ºC. Após
esse procedimento, os tubos que apresentaram turvação e/ou bolhas (considerados
positivos) foram repicados para o meio de cultura Caldo EC e incubados a 45ºC por 48h,
para a quantificação de Coliformes a 45 ºC.

Escherichia coli
Após a quantificação de Coliformes à 45ºC, os tubos que apresentaram turvação
e/ou bolhas (considerados positivos) foram repicados para placas de Petri contendo o
meio de cultura Ágar EMB, sendo incubadas a 35-37ºC por 48 horas, para a identificação
da presença/ausência de Escherichia Coli.

Salmonella sp.
Pré-enriquecimento: de cada amostra foi retirado, assepticamente, 25 gramas e
adicionados a 225 mL de água peptonada a 1,0%. Após homogeneização em aparelho
Stomacher, a mistura foi incubada a 37ºC por 24 horas.
Enriquecimento seletivo: duas alíquotas, uma de 1 mL e outra de 0,1 mL da cultura
2021 Gepra Editora Barros et al.

de pré-enriquecimento, foram inoculadas respectivamente, em 10 mL de caldo selenito


cistina e em 10 mL de caldo Rappaport- Vassiliadis, adicionados de 0,1 mL de solução
de novobiocina a 0,4%, dando uma concentração de 40 microgramas do principio ativo
por mililitro do meio. Em seguida, os caldos seletivos foram incubados a 37ºC por 24
horas.
Plaqueamento seletivo: com auxilio de uma alça de níquel-cromo, cadacultura em
caldo de enriquecimento foi semeada pela técnica de esgotamento em ágar verde-
brilhante e ágar MacConkey, seguido de incubação a 37ºC por 24 horas.
Identificação presuntiva: 3 a 5 colônias, com características sugestivas do gênero
Salmonella, obtidas no plaqueamento seletivo seriam retiradas com auxilio de agulha de
1281
níquel-cromo previamente flambada e inoculadas em tubos contendo ágar tríplice açúcar
ferro (TSI) e meio para a realização da prova da descarboxilaçãoda lisina (LIA).
Confirmação sorológica: para tal, cultivos que, na identificação presuntiva,
apresentassem reações condizentes com o gênero seriam transferidos com alça de níquel-
cromo para lâminas de vidro contendo gotas de solução fisiológica. Após
homogeneização da colônia com a solução fisiológica na lâmina, seria acrescentada uma
gota de soro anti-salmonela polivalente somático-O, seguido de movimentação da lâmina
para leitura. Se ocorresse aglutinação na mistura, a prova seria considerada positiva. O
mesmo procedimento seria realizado para o soro polivalente flagelar-H. Seria considerada
como gênero Salmonella o cultivo que apresentasse positividade em ambas as provas.

Staphylococcus coagulase positiva

Foram pesados 25 g de cada amostra e homogeneizadas em 225 mL de solução


salina para a obtenção da diluição 10-1. Para cultura na diluição 10-1, foi semeada uma
alíquota de 1 mL distribuída em três placas de Petri contendo ágar Baird-Parker (Himedia,
Mumbai, Índia). Para as demais diluições, foram realizadas análises em duplicata
utilizando alíquotas de 0,1 mL originárias da diluição anterior.
As placas foram incubadas em estufa a 37 °C por 48 horas. Ao fim desse período,
foi realizada a contagem de colônias e foram selecionadas três colônias típicas e três
colônias atípicas de cada placa, que foram semeadas em caldo Infusão de Cérebro e
Coração (BHI, Acumedia) para realização posterior da prova de coagulase, utilizando
alíquotas de 300 μL de cada cultura adicionadas a 300 μL de plasma de coelho que foram
incubadas por 6 horas em estufa a 37 °C. Passado esse período e observada a formação
de coagulação que caracteriza resultado positivo, foi realizado o cálculo de colônias
coagulase positiva por placa para obtenção da contagem final.

Contagem total de bactérias Aeróbias Mesófilas


Pipetou-se assepticamente 1,0 ml das diluições 10-1, 10- 2 e 10- 3 para cada amostra
em duplicata, colocou-se em placas de Petri identificadas e após, adicionou-se meio Agar
Nutriente. As placas foram invertidas e incubadas à 35-37ºC, por 48 horas.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Vibrio parahaemolyticus

Inicialmente 25 gramas de cada uma das amostras foram adicionadas asoluções


contendo 225 mL de salina fosfatada tamponada (PBS) esterilizada. Após incubação a 35
±2ºC por 18 a 24 horas, o material pré-enriquecido foi semeado pelo método de
esgotamento em placas de Petri contendo ágar Tiossulfato Citrato Bile Sacarose (TCBS).
Após, as placas foram incubadas a 35 ±2ºC por 18 a 24 horas.
Na etapa seguinte, 3 a 5 colônias típicas de cada amostra, ou seja, opacas, verde-
azuladas com 2 a 3 mm de diâmetro, seriam inoculadas em ágar arginina glicose inclinado
(AGS) e incubadas a 35 ±2ºC por 18 a 24 horas. Após o período deincubação, as amostras
presuntivas de Vibrio parahaemolyticus apresentariam desenvolvimento com 1282
acidificação na base (arginina dehidrolase negativa) e alcalinização no bisel, sem
produção de H2S e de gás. Seriam inoculados também, por picada profunda, tubos com
meio semi-sólido para teste de motilidade.
As culturas móveis, Gram negativas, que produzissem ácido na base e fossem
alcalinas no bisel em ágar AGS, e não formassem gás seriam submetidas àsprovas da
oxidase, hidrólise da arginina, descarboxilação da lisina, crescimento em caldo nutriente
com 0% a 10,0% de cloreto de sódio, crescimento a 42ºC, fermentação da sacarose, da
D-celobiose, da lactose, da arabinose, da D-manose e do D-manitol, ONPG, Voges-
Proskauer (VP), sensibilidade a 10µg e 150µg do agente vibriostático O/129, gelatinase
e urease para a confirmação da espécie.Estas provas seriam realizadas através da
metodologia descrita em Mac Faddin (1976).
A diferenciação do Vibrio parahaemolyticus e V. vulnificus se daria através do
desenvolvimento exclusivo até a 8,0% de cloreto de sódio, pela fermentação variável da
D-celobiose, fermentação da arabinose, pela resistência no teste de sensibilidadea 10µg
do agente vibriostático O/129 e variabilidade na produção de urease.
Todas as cepas identificadas bioquimicamente como Vibrio parahaemolyticus
seriam submetidas ao teste de Kanagawa. Para isso o microrganismo suspeito seria
inoculado em caldo soja tripticase (TSB) com 3,0% de cloreto de sódio e incubado a 35
±2ºC por 18 a 24 horas. Após esse período, seriam inoculadas várias gotas, com ajuda de
alça de níquel-cromo, em placas contendo ágar Wagatsuma. Após aincubação a 35 ±2ºC
por 18 a 24 horas, seriam realizadas as leituras.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 1 estão contidos os dados obtidos para os parâmetros do grupo


Coliformes. Observou-se que houve presença de Coliformes à 35 ºC em todos os
estabelecimentos analisados, sendo que as amostras advindas do S4 apresentaram maiores
contaminações (≤ 3,0 a 73,0 NMP/mL), seguidas da S1 (≤ 3,0 a 28,0 NMP/mL), S5 (≤
3,0 a 11,0 NMP/mL), S2 (≤ 3,0 a 7,2 NMP/mL) e S3 (≤ 3,0 a 3,6 NMP/mL). Apesar de
não haver padrão referente a quantidade máxima desses microrganismos na legislação
vigente (BRASIL, 2001), a presença de grupo coliformes indica contaminação externa
2021 Gepra Editora Barros et al.

durante a manipulação e processamento, comprometendo, assim, a qualidade final do


produto (PÉRICO, 2011).
Em relação a Coliformes a 45 ºC, todas as amostras apresentaram-se dentro do
limite estabelecido pela legislação RDC nº 12 (ANVISA, 2001) de 102 NMP/mL
(BRASIL, 2001), estando aptas ao consumo, assim como 100% dos sushis
comercializados em Sobral (CE) avaliados pro Mouta et al (2014). Outros trabalhos
relataram presença desse microrganismos em desacordo com a legislação, como em 30%
dos sushis avaliados por de Pinheiro et al (2006) em amostras advindas de Fortaleza (CE)
e 50% dos estudados por Martins (2006) em sushis de São Paulo (SP).
Escherichia Coli. esteve ausente em 100% dos estabelecimentos avaliados,
1283
diferente dos avaliados por Sato (2013) e por Mouta et al. (2014), onde 30% e 15% das
amostras avaliadas respectivamente, estavam contaminadas com E. Coli.

Tabela 15. Resultados obtidos para Coliformes a 35 ºC, Coliformes a 45 ºC e Escherichia Coli. nos sushis
avaliados.
Estabelecimentos Coliformes a Coliformes a Escherichia Coli.
35 ºC 45 ºC (presença/ausência)
(NMP/g) (NMP/g)
≤ 3,0 ≤ 3,0 Ausente
21,0 ≤ 3,0 Ausente
S1 9,3 ≤ 3,0 Ausente
28,0 ≤ 3,0 Ausente
≤ 3,0 ≤ 3,0 Ausente
4,2 ≤ 3,0 Ausente
3,6 ≤ 3,0 Ausente
S2 ≤ 3,0 ≤ 3,0 Ausente
7,2 ≤ 3,0 Ausente
2,7 ≤ 3,0 Ausente
≤ 3,0 ≤ 3,0 Ausente
≤ 3,0 ≤ 3,0 Ausente
S3 ≤ 3,0 ≤ 3,0 Ausente
≤ 3,0 ≤ 3,0 Ausente
3,6 ≤ 3,0 Ausente
73,0 ≤ 3,0 Ausente
64,0 ≤ 3,0 Ausente
S4 20,0 ≤ 3,0 Ausente
≤ 3,0 ≤ 3,0 Ausente
≤ 3,0 ≤ 3,0 Ausente
11,0 ≤ 3,0 Ausente
≤ 3,0 ≤ 3,0 Ausente
S5 ≤ 3,0 ≤ 3,0 Ausente
3,6 ≤ 3,0 Ausente
7,9 ≤ 3,0 Ausente
Fonte: Autores (2020).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Na Tabela 2 estão os dados referentes a Staphylococcus spp., Staphylococcus


coagulase positiva e Salmonella sp.. A presença de Samonella sp. não foi verificada em
nenhum dos sushis analisados, estando dentro do critério estabelecido pela RDC nº 12
(ANVISA, 2001). Resultados semelhantes foram encontrados por Moraes, Darley e
Timm (2019) em estabelecimentos especializados em comida japonesa e por Santos et al.
(2012) em sete restaurantes de Aracajú, Sergipe.
Dentre as vinte e cinco amostras analisadas, todas apresentaram Staphylococcus
sp., com populações que variaram de 6,9 x 10 a 8,4 x 105 UFC/g. Diferente dos resultados
aqui avaliados, em estudo de Albuquerque et al. (2006) 43,0% das 30 amostras de sushis
comercializados em estabelecimentos de Fortaleza - CE, encontraram-se fora da do limite
1284
determinado pela legislação vigente. Santos et al. (2012), analisando 32 amostras de
sushis comercializados em restaurantes de Aracaju - SE, identificaram Staphylococcus
sp. em 20 amostras, totalizando 57,1% delas.
Staphylococcus coagulase positiva foram identificados em três estabelecimentos
(S3, S4 e S5), correspondendo a 32% (8 amostras) com valores entre 5,2 x10 a 3,3 x103
UFC/g. Apesar das altas contagens apresentadas, todas as amostras apresentaram-se
dentro do limite (5 x103) exigido pela RDC nº 12 (ANVISA, 2001). Resultados diferentes
foram encontrados na literatura, onde 11,4% das amostras avaliadas por Santos et al
(2012) e 13,33% dos sushis analisados por Sato (2013) obtiveram contagens superiores a
5x103, estando inaptas ao consumo.

Tabela 16. Resultados obtidos para Staphylococcus spp., Staphylococcus coagulase positiva e Salmonella
sp. nos sushis avaliados.
Estabelecimentos Staphylococcus Staphylococcus Salmonella sp.
spp. coagulase (presença/ausência)
(UFC/g) positiva
(UFC/g)

9,5 x103 0 Ausente


1,8 x 102 0 Ausente
S1 0,7 x102 0 Ausente
2,5 x102 0 Ausente
1,9 x104 0 Ausente
6,9 x10 0 Ausente
3,0 x102 0 Ausente
S2 2,4 x102 0 Ausente
9,8 x102 0 Ausente
4,7 x102 0 Ausente
1,9 x103 3,3 x103 Ausente
8,4 x105 1,5 x102 Ausente
S3 5,3 x104 4,2 x102 Ausente
2,6 x103 0 Ausente
4,1 x102 0 Ausente
6,4 x104 0,9 x103 Ausente
2021 Gepra Editora Barros et al.

4,2 x103 1,0 x102 Ausente


S4 5,4 x103 0 Ausente
1,8 x102 0 Ausente
7,3 x102 0,7 x102 Ausente
2,5 x103 0 Ausente
1,8 x102 0 Ausente
S5 4,6 x103 0 Ausente
3,7 x102 5,2 x10 Ausente
5,2 x102 1,2 x102 Ausente
Fonte: Autores (2020). 1285

Na Tabela 3 encontram-se os resultados obtidos para Contagem total de bactérias


Aeróbias Mesófilas e Vibrio parahaemolyticus. Em todos os estabelecimentos foram
encontrados CTM, com contagens que variaram de 1,6 x102 a 8,3 x108 UFC/g. A
legislação vigente RDC nº12 (ANVISA, 2001) não apresenta padrão para essas bactérias,
porém Segundo Jay (2005), populações acima de 106 UFC/g podem ser responsáveis pelo
desencadeamento de doenças de origem alimentar.
Além disso, Gilbert et al. (2000) apresentaram uma classificação referente a
qualidade de alimentos à base de pescados crus, com base na contagem de Mesófilos
averiguada, na qual produtos com populações inferiores a 103 UFC/g são considerados
adequados para consumo, entre 103 e 104 são satisfatórios e acima de 104 UFC/g são
considerados insatisfatórios. Isso significa dizer que 40% (10) dos sushis avaliados
estiveram aptos para o consumo, 20% estiveram satisfatórios e outros 40% inaptos. É
importante destacar que em todos os estabelecimentos, no mínimo uma amostra
apresentou resultados insatisfatórios, sendo o S3 e S5 os que apresentaram maiores
porcentagens 12% (3 amostras), em ambos.
O método utilizado para análise de Vibrio parahaemolyticus não foi o sugerido pela
RDC nº12, diferindo da forma como os resultados estão apresentados, porém não
contatou-se presença desse microrganismo em nenhum sushi avaliado, estando todos de
acordo com o padrão estabelecido que é de no máximo 103 UFC/g. A ausência desse
microrganismos também foi constatada por Vallandro et al. (2011) em sushis
comercializados em Fortaleza (CE) e Sato (2013) em amostras de estabelecimentos
especializados em comida japonesa e não especializados.

Tabela 17. Resultados obtidos para Contagem total de bactérias Aeróbias Mesófilas e Víbrio
parahaemalyticus nos sushisavaliados.
Estabelecimentos CTM Vibrio
(UFC/g) parahaemolyticus
(presença/ausência)
S1 3,1 x102 Ausente
2,2 x104 Ausente
5,9 x103 Ausente
8,3 x108 Ausente
1,6 x102 Ausente
2021 Gepra Editora Barros et al.

S2 1,3 x106 Ausente


8,6 x103 Ausente
2,6 x102 Ausente
3,2 x102 Ausente
4,7 x102 Ausente
S3 5,1 x107 Ausente
2,4 x103 Ausente
8,5 x102 Ausente
3,9 x104 Ausente
1,8 x105 Ausente 1286
S4 4,1 x102 Ausente
3,3 x105 Ausente
1,9 x103 Ausente
7,9 x102 Ausente
5,8 x102 Ausente
S5 7,9 x103 Ausente
3,8 x106 Ausente
5,0 x102 Ausente
1,6 x105 Ausente
5,8 x104 Ausente
Fonte: Autores (2020).

CONCLUSÃO

Com os dados obtidos verificou-se que os sushis avaliados estavam dentro do


limite estabelecido pela legislação vigente para todos os microrganismos, porém as altas
contagens de Mesófilos observadas demonstram necessidade de maiores cuidados
higiênico-sanitários com a matéria-prima utilizada e a adoção das Boas Práticas de
Fabricação e durante o manuseio desses produtos.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE WF et al. 2006. Ocorrência de Vibrio parahaemolyticus e


Estafilococos coagulase positivo, em sushis comercializados em alguns estabelecimentos
de Fortaleza, CE. Higiene Alimentar 20: 58-61.

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gerais para o estabelecimento de critérios e padrões microbiológicos para alimentos.
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Disponível em:< http://www.
vigilanciasanitaria. gov. br/anvisa. html>. Acessado em: 23 de janeiro de 2021.
2021 Gepra Editora Barros et al.

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GUIMARÃES, K. P.; SILVA, R. M. R.; GUIMARÃES, K. P. Investigação da qualidade


microbiológica de sushis comercializados nas cidades de Crato e Juazeiro do Norte– 1287
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PÉRICO, Edna et al. Avaliação microbiológica e físico-química de méis comercializados


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PINHEIRO, H. M. C.; VIEIRA, R. H. S. F.; CARVALHO, F. C. T.; REIS, E. M. F.;


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2021 Gepra Editora Barros et al.

Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária, Faculdade de Ciências Agrárias e


Veterinárias, Universidade Estadual Paulista. Jaboticabal, Brasil.

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C.; TUNON, G. I. L. Avaliação da qualidade microbiológica de sushi comercializado em
restaurantes de Aracaju, Sergipe. Scientia Plena, v. 8, n. 3 (a), 2012.

SILVA, N. da; JUNQUEIRA, V.; SILVEIRA, N. F. A.; TANIWAKI, M. H.; SANTOS,


R. F. S. dos, GOMES, R. A. R. Manual de métodos de análise microbiológica de
alimentos e água. 4 edição. São Paulo: Livraria Varela, 614p, 2010.
1288
VALLANDRO, M. J.; CAMPOS, T. D.; PAIM, D.; CARDOSO, M.; KINDLEIN,
L. Microbiological quality of salmon-based sashimi prepared at restaurants specialized
in japanese food. Revista do Instituto Adolfo Lutz (Impresso), v. 70, n. 2, p. 144-150,
2011.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 116

SABERES SOBRE SOLOS E PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS


DE AGRICULTORES FAMILIARES DO CARIRI PARAIBANO

LIMA, Vanessa Íris dos Santos


Graduando em Engenharia de Biossistemas
Universidade Federal de Campina Grande
Vanessa2453@live.com

AYRES, Bárbara Brena Ferreira


Graduando em Engenharia de Biossistemas
Universidade Federal de Campina Grande 1289
barbara_brena8@hotmail.com

CRUZ, Pâmela Monique Valões


Graduando em Engenharia de Biossistemas
Universidade Federal de Campina Grande
valoespamela@gmail.com

VITAL, Adriana de Fátima Meira


Professora orientadora
Universidade Federal de Campina Grande
vital.adriana@gmail.com

RESUMO

O solo é o grande patrimônio dos agricultores e na agricultura familiar estabelece-se uma


relação de muita afetividade e respeito entre as pessoas e o solo, sendo fundamental
entender como se dá o entendimento dos camponeses sobre o cuidado com o solo. Dessa
maneira a pesquisa objetivou verificar a percepção de agricultores de três comunidades
rurais do município de Coxixola-PB sobre os saberes do solo e as práticas usadas para
manter sua fertilidade. Como resultado nós obtivemos respostas que ligam a fertilidade e
qualidade do solo a sua cor, a presença de água (umidade), além da localização em áreas
de várzea (vargem ou baixios). Para terra improdutiva as definições usadas se remetem
principalmente a estrutura, textura e presença de pedregosidade, apesar de que a cor
também seja mencionada. Ao serem abordados sobre as práticas de conservação do solo,
as respostas foram bem distintas observando que o uso de estercos e os consórcios são
práticas comuns, enquanto a análise do solo foi pouco lembrada pelos entrevistadores.
Verificou-se ainda a relação que se reporta ao entendimento do cuidado com o solo e a
necessidade das ações extensionistas para disseminar práticas de conservação. Os estudos
de percepção são fundamentais para proposituras de novas pesquisas bem como para
discutir políticas públicas de cuidado com o solo.

PALAVRAS-CHAVE: Etnopedologia, Agricultura, Conservação.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

O solo é o grande organismo vivo que sustenta a vida no Planeta; é um componente


integrador do meio ambiente fundamental a manutenção da vida. O solo suporta as ações
humanas e naturais que ocorrem na superfície do Planeta (SANTOS, 2011) e desempenha
um papel de extrema importância para os sistemas agroalimentares, por isso é de grande
importância disseminar práticas de conservação, todavia, para um bom aproveitamento e
um mínimo de danos ao solo, é necessário conhecer suas potencialidades e limitações, ou
seja, indo mais adiante, é preciso saber como os agricultores, verdadeiros mordomos do
solo, o percebem.
A agricultura familiar pode ser definida como o conjunto das unidades produtivas 1290
agropecuárias com exploração em regime de economia familiar, compreendendo aquelas
atividades realizadas em pequenas e médias propriedades, com mão de obra da própria
família. Correspondendo a unidade de produção agrícola onde a propriedade e trabalho
está intimamente ligado à família, ou seja, esses empreendimentos familiares têm duas
características principais são eles a administração e trabalho familiar.
A agricultura familiar cria oportunidades de trabalho local, reduz o êxodo rural,
diversifica os sistemas de produção, possibilita uma atividade econômica em maior
harmonia com o meio ambiente e contribui para o desenvolvimento dos municípios de
pequeno e médio porte (LIMA & WILKINSON, 2002).
Para Freire (1983) uma das críticas ao modelo de difusão e adoção da agricultura
moderna é esta ter desconsiderado as culturas locais, os seus próprios saberes,
especialmente no caso de países pobres. Assim, a valorização do saber e da participação
local ganha força diante do desafio de construir novas relações entre população e
ambiente, necessitando que as inovações técnicas se ajustem às características peculiares
dos agroecossistemas, a fim de construir novas possibilidades de produção (AYRES &
RIBEIRO, 2010).
É relevante observar o papel fundamental dos agricultores na conservação do solo,
principalmente aqueles que vivem em áreas ecologicamente frágeis e de recarga hídrica
especial, o que implica vivencias os princípios da Educação em Solos de modo a
conhecer, fortalecer, consolidar e valorizar os saberes para o uso e ocupação sustentáveis
(MUGGLER, SOBRINHO, MACHADO, 2006).
A perda de solo no Brasil é expressiva e geram graves consequências ambientais e
socioeconômicas (EMBRAPA, 2007). A conservação do solo passa com isso a ter um
conceito social que implica e coloca em prática como o homem pode satisfazer suas
necessidades físicas, econômicas e ecológicas a partir do solo, sem danificar sua
capacidade de continuar a satisfazer-lhe as necessidades do futuro (TAVARES FILHO &
RINSCHEDE, 2009).
Certamente que a ação humana pode provocar grandes alterações ao meio ambiente,
em algumas situações com danos irreversíveis. No que diz respeito a agricultura familiar,
alguns dos seus sistemas de produções são os principais responsáveis por diversos
impactos ambientais. Diante desse cenário, necessita-se repensar e discutir algumas de
suas práticas, de maneira a permitir, de forma sustentável, a continuidade e melhora da
produção agrícola (LIMA, 2016).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Assim, para refletir sobre essa situação e para que as práticas conservacionistas possam
ser empregadas de maneira sistemática e adequada, torna-se necessário saber como o
povo do campo percebe o solo, além de que as atividades de extensão rural junto aos
produtores precisam ser potencializadas.
Em função do constante contato direto com a terra, agricultores familiares têm maior
preocupação com a sustentabilidade do meio em seu entorno e nos processos de produção,
sobretudo pelos conhecimentos tradicionais, em busca de maior qualidade no processo e
no seu produto, por isso saber de sua percepção ambiental tem grande importância não
apenas no estudo das interações entre o homem e o ambiente, mas também para gestão
dos agroecossistemas (FERNANDES, et al., 2004; KAMIYAMA, 2011).
1291
Dessa forma, a agricultura familiar e a conservação dos solos estão intimamente
ligadas, oferecendo produção de alimentos saudáveis, a partir de técnicas que ajudam a
preservar a biodiversidade e o meio ambiente, além de assegurar o consumo de produtos
naturais saudáveis e de qualidade sem deixar de lado o crescimento econômico.
Nesse cenário, o objetivo do trabalho foi realizar um estudo de percepção com
agricultores familiares do município de Coxixola-PB no que se refere ao entendimento
do solo e práticas conservacionistas para propiciar o aumento da capacidade produtiva do
solo, de modo a promover a geração de empregos e a melhoria da renda.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada ao longo do mês de abril, no ano de 2017, em três


comunidades rurais do município de Coxixola-PB: Matumbo, São Joãozinho e Campo do
Velho. Campo do Velho é a maior com 57 famílias, Matumbo com 18 e São Joãozinho
com 10 famílias. Foram entrevistadas aleatoriamente 10 pessoas que participaram de uma
roda de prosa organizada para apresentar ações extensionistas, numa reunião da
associação comunitária.
O enfoque da pesquisa foi a percepção dos agricultores sobre as práticas sustentáveis
do solo por meio de um questionário semiestruturado como roteiro norteador (Apêndice),
com questões abertas sobre o tema. A análise e interpretação e correção das respostas teve
como base um estudo prévio bibliográfico. Foi respeitou-se o anonimato e o sigilo das
respostas dos entrevistados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A faixa etária média dos entrevistados variou de 30 a 75 anos, sendo 53,0% do gênero
masculino. Embora esse dado, a presença das agricultoras foi expressiva, o que revela seu
papel na agricultura, que além de muitas vezes ser a precursora na unidade familiar,
responsável pelas atividades do lar e das escolhas de produção, Karam (2004) aponta que
a mulher é cada vez mais atuante na produção, encarando desafios e responsabilidades
que para a sociedade atual ainda é papel apenas do homem.
A escolaridade variou de pessoas que não estudaram até aqueles que concluíram o
ensino fundamental II. Na totalidade os entrevistados são casados ou em união estável.
2021 Gepra Editora Barros et al.

A agricultura convencional é praticada pela maioria dos moradores. As práticas de


manejo nas propriedades constituem-se da adubação orgânica e química, além da
utilização de fungicidas e inseticidas, embora alguns já comecem a despertar para o
cuidado com a conservação dos solos e a produção agroecológica. A irrigação dos
cultivos nas propriedades, quando realizada, é feita unicamente de forma manual ou pelo
uso de cisternas, dada a situação de semiaridez.
Sobre o entendimento de solo fértil os entrevistados trouxeram diferentes
compreensões (Gráfico 1).

Gráfico 1 - Visão dos agricultores sobre solo fértil nas três comunidades.
1292

Fonte: Dados da pesquisa.

As respostas para a questão foram abertas e agrupadas pela identificação. Verifica-se


nessas respostas que para os agricultores o solo é entendido como componente essencial
do meio ambiente, essencial à vida, que deve ser conservado e protegido da degradação,
pois segundo os entrevistados, todo solo é produtivo, basta cuidá-lo conforme suas
necessidades.
Por outro lado, a maioria dos entrevistados define solo fértil com a ligação a presença
de água (umidade), a cor do solo e ao uso de esterco ou estrume, além da localização em
áreas de várzea (vargem ou baixios). Contudo, um grande número lembrou que todo solo
é fértil e bom, basta cuidar, o que remete a ideia de identificação com a terra.
No mesmo sentido, para terra improdutiva os termos usados se remetem
principalmente a estrutura, textura e presença de pedregosidade, embora a cor também
seja mencionada, como segue no gráfico 2.
Gráfico 2 - Solo improdutivo na percepção dos agricultores das três comunidades.

Fonte: Dados da pesquisa.


2021 Gepra Editora Barros et al.

Questionados sobre o conhecimento de práticas de conservação do solo, as respostas


foram bem diversas, mas observa-se que, enquanto o uso de estercos e os consórcios são
as práticas bastante comuns, a análise de solo foi pouco lembrada pelos entrevistados, o
que pode expressar a falta da assistência técnica local, situação muito preocupante,
embora seja uma realidade cada vez mais presente na zona rural.
Sabe-se que a assistência técnica rural é fundamental, por suas características próprias,
é uma atividade complexa e urgente para o estabelecimento de práticas sustentáveis para
manutenção da qualidade do solo, mas pelos diálogos e respostas dos agricultores
entrevistados foi possível inferir que muitos, senão a grande maioria não dispõe de
assistência técnica e até que estes serviços aconteçam o agricultor não deveria ficar
1293
esperando, uma vez que são muitos os profissionais formados e qualificados que
poderiam prestar serviços de orientações ao povo do campo.
Freitas et al., (2009) verificaram em sua pesquisa sobre a ação dos órgãos de extenso
rural, em Juína (MT), que a maioria dos entrevistados recebeu assistência técnica de
empresas particulares (43%) e ou de empresas agropecuárias (21%), fato que revela uma
real necessidade de uma maior atuação das instituições públicas junto aos agricultores.
Outras práticas foram mencionadas, como a manutenção da cobertura do solo e a
adubação com o mato (Gráfico 3).

Gráfico 3 - Respostas dos agricultores sobre práticas de conservação.

Fonte: Dados da pesquisa.

As práticas citadas são as mais comuns na região, inclusive o uso do mato espontâneo
como adubação verde e os estercos, que para Menezes e Salcedo (2007), é uma alternativa
amplamente adotada áreas de agricultura familiar na região semiárida e agreste do
Nordeste brasileiro para o suprimento de nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo.
Tais resultados estão de acordo com outros estudos realizados sobre percepção de
agricultores que demonstraram adoção de práticas conservacionistas por produtores
orgânicos com uma percepção importante quanto aos impactos negativos do uso do solo
(RODRIGUES & CAMPANHOLA, 2003; GUIMARÃES & PAULA, 2013; LIMA et al,
2016).
2021 Gepra Editora Barros et al.

CONCLUSÕES

Os agricultores entrevistados possuem muitas lacunas no que se refere ao


conhecimento acerca do tema manejo e uso do solo e práticas conservacionistas.
A percepção dos agricultores a respeito do solo fértil e solo improdutivo ligam-se a
cor do solo e a presença de adubação, mas remete-se igualmente ao cuidado devido a esse
recurso ambiental valioso.
Como as práticas ficaram evidentes o uso dos estercos e dos barramentos, ações
comuns na região do Cariri Semiárido Paraibano.
1294
O resultado da pesquisa expressa a visão e o entendimento dos agricultores sobre o
solo, mas revela igualmente a necessidade de apoio e assistência técnica para ampliar e
disseminar o uso de práticas de conservação.
Estudos de percepção são muito relevantes para definir propostas de projetos de
pesquisa e extensão universitária e estabelecer conexões para a formulação de políticas
públicas para a conservação do solo, recurso natural fundamental à vida.

Agradecimentos: Aos agricultores e agricultoras das comunidades de realização da


pesquisa pelo acolhimento e disponibilidade em participar desta pesquisa.

REFERÊNCIAS

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percepção ambiental como instrumento de gestão em aplicações ligadas às áreas
educacional, social e ambiental. Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em
Ambiente e Sociedade, Anais.. v. 2, n. 1, p. 1-15, 2004.

FREITAS, S. E.; MACHADO, G. Q. E.; JOÃO, J. A.; GAMA, J. B.; JUNG, W. W.


Desenvolvimento e produção: a caminho da sustentabilidade – In: II Jornada Científica
do IFMT – Campos de Juína, 2013.

GUIMARÃES, S. O.; PAULA, A. Análise da Percepção Ambiental de Produtores Rurais


do Assentamento Amaralina, Vitória da Conquista – BA. Enciclopédia Biosfera, Centro
Científico Conhecer - Goiânia, v.9, n.16; p.211-216, 2013.

KAMIYAMA, A.; DE MARIA, I. C.; SOUZA, D. C. C.; SILVEIRA, A. P. D. Percepção


ambiental dos produtores e qualidade do solo em propriedades orgânicas e convencionais.
Bragantia, v.70, n.1, p.176-184, 2011

KARAM, K. F. A mulher na agricultura orgânica e em novas ruralidades. Estudos


feministas, v. 12, n. 1, p. 303, 2004.

LIMA, L. C. M.; SANTOS, T. E. M. dos; SOUZA, E. R. de; OLIVEIRA, E. L. de.


Práticas de manejo e conservação do solo: Percepção de agricultores da Região Semiárida
2021 Gepra Editora Barros et al.

pernambucana. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, v. 11,


n.4, p.148-153, out-dez, 2016.

MENEZES, R.S.C.; SALCEDO. I.H. Mineralização de N após incorporação de adubos


orgânicos em um Neossolo Regolítico cultivado com milho. Revista Brasileira de
Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v.11, p.361-367, 2007.

MUGGLER, C. C.; SOBRINHO, F. de A. P.; MACHADO, V. A. Educação em Solos:


Princípios, Teoria e Métodos. Revista Brasileira de Ciência do Solo. 30:733-740, 2006

RODRIGUES, G.S.; CAMPANHOLA, C. Sistema integrado de avaliação de impacto


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Londrina, PR. Semina, Ciências Agrárias, 30:1195-1202, 2009.
2021 Gepra Editora Barros et al.

APÊNDICE
ROTEIRO DE QUESTIONÁRIO

Senhor(a), esta pesquisa tem por objetivo conhecer a percepção dos agricultores da
comunidade sobre o uso do solo e práticas conservacionistas. Esse estudo vai nos ajudar
a entender como as pessoas se relacionam com o solo e as práticas que usam. Sua
participação é muito importante e seus dados não serão divulgados. Obrigada(a).

1. DADOS DE IDNETIFICAÇÃO:
GÊNERO
FAIXA ETÁRIA 1296
ESCOLARIDADE
TEMPO DE RESIDÊNCIA NA AAGRICULTURA
TIPO DE PRODUÇÃO

2. CONSIDERA QUE DE MODO GERAL AGRICULTORES CUIDAM BEM DO


SEU SOLO?
( ) SIM ( ) DEPENDE ( ) NÃO
3. O QUE É UMA TERRA FORTE, FÉRTIL?
4. O QUE É UM SOLO FRACO, IMPRODUTIVO?
5. QUE PRÁTICAS USA PARA CUIDAR DO SOLO?

Eu ____________________________ entendo que a participação neste estudo é


totalmente voluntária e concordo em participar do estudo realizado pelos acadêmicos de
Tecnologia em Agroecologia e Engenharia de Biossistemas do Centro de
Desenvolvimento Sustentável do Semiárido (CDSA) da Universidade Federal de
Campina Grande (UFCG), sob a orientação da professora Adriana de Fátima Meira Vital
(CDSA/UFCG).

__________________________________________
ASSINATURA OU DIGITAL
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 117

SECAGEM CONVECTIVA E SUAS APLICAÇÕES NA INDÚSTRIA


DE ALIMENTOS

SOARES, Guilherme Sampaio


Discente do Curso Técnico de Alimentos
Instituto Federal do Rio Grande do Norte
E-mail: soaress.guilherme@gmail.com

FREITAS, Yagho Judá Queiroz


Discente do Curso Técnico de Alimentos
Instituto Federal do Rio Grande do Norte 1297
E-mail: yaghojuda46@gmail.com

SOUSA, Elisabete Piancó


Docente do Curso Técnico de Alimentos
Instituto Federal Rio Grande do Norte
E-mail: elisabete.pianco@ifrn.edu.br

LEMOS, Daniele Martins


Docente do Curso Técnico de Agroindústria
Instituto Federal de Alagoas
E-mail: danielemartinsali@gmail.com

LIMA, Thamirys Lorranne Santos


Docente do Curso Técnico de Alimentos
Instituto Federal do Rio Grande do Norte
E-mail: thamirys.lorranne@ifrn.edu.br
RESUMO

A secagem convectiva é uma técnica de secagem utilizada na indústria alimentícia para


aumentar a durabilidade dos produtos, minimizar o desperdício, além da redução dos
custos de embalagem, armazenamento, manuseio e transporte. Portanto, objetivou-se
nesse estudo realizar uma revisão sobre a secagem convectiva e suas aplicações. Nesse
contexto, foi realizado um levantamento bibliográfico por meio de artigos publicados
entre os anos de 2000 e 2021. A abordagem contempla os aspectos gerais da secagem,
princípios, cinética e viabilidade da secagem convecti
va. Assim, buscou-se demostrar a relevância dessa técnica de processamento de
alimentos, tendo em vista a complexidade da composição das matérias primas
alimentícias. Esse estudo traz a sociedade informações científicas sobre a secagem
convectiva para uma melhor compreensão da temática para indústria de alimentos e para
fins de atendimentos das demandas populacionais.

PALAVRAS-CHAVE: Desidratação, Conservação, Qualidade

INTRODUÇÃO

Uma alternativa de expandir a produção de alimentos é por meio de aplicação de


tecnologias voltadas para preservar e aumentar a durabilidade dos alimentos, além de
reduzir significativamente o desperdício. Atualmente, a indústria de alimentos tem-se
destacado com aplicação de técnicas de secagem para melhor conservação e
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comercialização. A secagem possui inúmeras vantagens, dentre elas: prolonga a vida de


prateleira dos produtos, reduz problemas de sazonalidade, custos embalagem,
armazenamento, manuseio e transporte (AZMIR; HOU & YU, 2020).
A qualidade dos alimentos desidratados é influenciada pelas condições e pelo
método de secagem. Logo, temperaturas elevadas durante a secagem de alimentos,
ocasionam reações químicas e biológicas irreversíveis, acompanhadas de várias
modificações estruturais, físicas e mecânicas (NAIDU et al., 2016).
Os processos térmicos no setor de alimentos geralmente envolvem transferência de
energia entre o produto que está sendo desidratado e o ar. Esses processos convectivos,
como secagem, exigem grandes volumes e alta velocidade de ar, bem como baixa ou alta
temperatura ambiente, o que pode aumentar a demanda e o consumo de energia
(DARVISHI et al., 2016). 1298
A secagem convectiva é caracterizada pelo contato direto do ar quente com a
superfície do alimento, que espalha energia pelo interior do mesmo com isso é criado um
gradiente de pressão de vapor de água entre o interior e o exterior do alimento, e este
gradiente causa a extração de água do interior para a superfície do produto na qual um
sorvedor, como o ar em movimento, entra em atividade levando para fora o vapor de água
formado (CORRÊA, 2014).
Um fator importante da secagem é a cinética de secagem que relaciona o binômio
tempo e temperatura, logo consiste em acompanhar o comportamento do material
biológico e a redução do tempo de secagem com o aumento da temperatura
ocorreu em razão da maior transferência de calor e massa que tem como consequência
perda de água mais rápida. O aumento da temperatura aumenta a transferência de calor
do material e consequentemente ocorre diminuição do tempo de secagem. Existem dois
fatores que podem influenciar no comportamento, que são a velocidade do ar de secagem
e espessura do material, que influenciam nas resistências difusionais e convectivas que
facilitam a transferência de massa e calor do material favorecendo, desta forma, redução
do tempo de secagem (FURTADO et al., 2014; MORAES FILHO et al., 2014).
O comportamento da cinética de secagem de produtos agrícolas pode ser
representado por meio dos modelos matemáticos, como foi reportado por Resende et al.
(2008). Esses modelos podem ser teóricos, que considera apenas a resistência interna, a
transferência de calor e a água entre o produto e o ar quente e os modelos semiteóricos, e
os empíricos, que consideram somente a resistência interna, a temperatura e a umidade
relativa do ar de secagem (RESENDE et al., 2011). Os estudos investigativos relacionada
a modelo matemática são fundamentais para representar o processo de transferência de
calor e massa do produto, os ajustes dos dados de secagem aos modelos podem descrever
as curvas de secagem, para determinadas condições experimentais.
A importância deste estudo traz a sociedade informações científicas sobre a
secagem e suas aplicações na indústria de alimentos. Uma abordagem que destaca a
importância e compreensão da relevância da secagem. Nesse contexto, objetivou-se
realizar um levantamento bibliográfico sobre a secagem convectiva e suas aplicações na
indústria de alimentos.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa desenvolvida apresenta caráter analítico a respeito de secagem


convectiva de materiais biológicos. A revisão bibliográfica foi realizada por meio de
buscas em site de modo que os termos usados na busca foram: secagem de alimentos,
cinética de secagem, importância da secagem convectiva.
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Foi definido como critério de inclusão de artigos publicados entre os anos de 2000
a 2021, nos idiomas português e inglês. Os artigos dessa revisão foram consultados em
bases de dados indexadas na plataforma Google Scholar e Scielo (Scientific Electronic
Library Online), a pesquisa busca demostrar as aplicações da secagem convectiva onde a
coleta de dados foi realizada no período de fevereiro de 2020 a janeiro de 2021.
O levantamento bibliográfico mostrou a proporção significativa relacionada a
secagem de matérias-primas alimentares, no âmbito de desenvolvimento de novos
produtos e a técnica de secagem convectiva. Nesse contexto, o processo de secagem tem
sido comumente usados para preservar a qualidade dos alimentos e prolongar a vida útil
(NUROĞLU et al. 2019).

1299
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Secagem

A secagem é uma operação unitária da retirada de água por evaporação ou


sublimação, mediante aplicação de calor em condições controladas, que faz decrescer sua
atividade de água, permitindo minimizar a deterioração causada pelas reações
microbiológicas e enzimáticas, ocorrendo a transferência de calor através da vaporização
do líquido e transferência de massa do líquido ou vapor presente no interior do material
para a atmosfera, na forma de vapor (TADINI et al., 2016). Com a secagem, o produto
obtido tem armazenamento prolongado com maior estabilidade e vida útil, podendo o
consumidor ter acesso ao mesmo durante o ano todo e não apenas no período de safra
(KARAM et al, 2016).
Os processos de secagem são distintos e divididos em natural e artificial. No natural
é utilizada a energia solar e/ou eólica, enquanto na secagem artificial, ocorre o emprego
de energia térmica e mecânica (secagem convectiva, liofilização, secagem por aspersão,
leito de jorro entre outros). Apesar do gasto energético, os métodos artificiais, ao contrário
da secagem natural, não dependente das condições climáticas, possibilitam um controle
eficaz de todo processo, permitindo um rigor de qualidade e previsão da produção,
podendo ser aplicados aos mais diversos materiais, inclusive frutas e vegetais (PARK et
al. 2016).
O controle da secagem depende das condições internas de transferência de massa,
e os limites da temperatura do ar de secagem são determinados em função da sensibilidade
dos princípios ativos do produto e conservação das características sensoriais e
tecnológicas (SHISHIR e CHEN, 2017). A escolha do método mais adequado de secagem
é determinada pela natureza do produto, pela forma e qualidade que se deseja atribuir ao
produto processado, pelo valor econômico e pelas condições de operação.
O processo de secagem é muito importante para produção de alimentos de alta
qualidade produtos, permitindo a preservação de propriedades químicas e físicas,
reduzindo o teor de umidade para níveis seguros para armazenamento, para que o produto
possa ser utilizado em períodos em que a hortaliça e/ou fruto não é produzido (RESENDE
et al.,2018).

Princípios da secagem

Existem diferentes métodos e processos de secagem. Logo, os processos de


secagem podem ser contínuos ou intermitentes. Para os processos contínuos o material
deve entrar no secador e sofrer secagem sem a interrupção no equipamento. Assim, o
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produto será seco por meio de operação contínua. No processo intermitente, o produto
úmido permanece no secador até que se atinja a umidade desejada (ROCHETI, 2014).
Durante processo de secagem utiliza-se ar quente para a transferência de calor para
o alimento e a consequente vaporização da água contida nesse, ocorrendo a desidratação.
A secagem pode ocorrer à pressão atmosférica ou à pressão reduzida. A capacidade do ar
para eliminar a água de um alimento depende, principalmente, de sua temperatura e de
sua umidade relativa. Logo, a secagem é um processo contínuo e simultâneo de
transferência de calor e massa (CELESTINO, 2010). Nesse processo o calor é aplicado
no material por convecção através do ar, ou por condução através do contato com uma
superfície quente. O calor é utilizado para vaporizar o líquido na superfície do sólido, ou
próximo da superfície se a mudança de estado ocorrer dentro do produto, e esse vapor é
retirado pelo fluxo de ar, por meio de convecção natural ou forçada (FIOREZE, 2003). 1300
Na secagem artificial para obtenção de pós ou de farinhas, é necessário uso de
secador e/ou estufa. O método de secagem é primordial para qualidade do produto final,
logo existem alguns que são mais custosos, a exemplo spray dring, liofilização e leito de
jorro. No entanto, o método de secagem em estufa (secagem convectiva) é considerado
mais viável economicamente. Este ocorre por meio da circulação forçada de ar quente,
onde a água evaporada é dispersada para o ambiente externo, impedindo assim, o retorno
da mesma para a amostra. O método de estufa foi ressaltado, pois será utilizado no
desenvolvimento do trabalho em questão. No entanto, é um método utilizado para
desenvolvimento de vários estudos voltados para obtenção de polpa em forma de pó ou
farinha, no qual constatou se que os estudos de secagem convectivas usam temperaturas
intermediaria oscilando entre 40 a 80 ºC em determinadas espessuras e velocidade de ar
(SANTOS et al., 2012).
Nascimento et al. (2019) estudaram a secagem convectiva dos frutos da bacaba
obtidos em um secador convectivo de leito fixo nas temperaturas de 50ºC, 60ºC e 70ºC.
Sousa et al. (2017) estudaram cinética de secagem da polpa de pequi por meio da secagem
convectiva realizada em triplicata, em estufa de ar forçado em diferentes condições de
temperatura (50, 60, 70 e 80 ºC) e espessura (0,5; 1,0 e 1,5 cm). Park; Yado & Brod
(2001) realizaram a secagem convectiva da pêra bartlett (Pyrus sp.) em secador vertical
convectivo nas temperaturas de 50, 60 e 70°C e velocidades do ar de 0,5, 1,0 e 1,5m/s.
Tsuda et al. (2014) estudaram secagem de fatias berinjela em um secador convectivo com
escoamento forçado de ar, nas temperaturas (40°C, 60°C e 70°C) e velocidade do ar (1,0;
1,5; e 2,0 m/s). Leite et al (2017) realizaram a cinética de secagem da casca do abacaxi,
na forma de placas com comprimento de 15 cm e largura de 8 cm, em estufa com
circulação forçada de ar nas temperaturas de 75 e 85 °C. Santos et al (2019) estudaram
cinética de secagem e propriedades termodinâmicas da polpa de patauá (Oenocarpus
bataua Mart.) sob diferentes temperaturas (40, 50 e 60 °C) e espessuras da camada (0,3 e
0,6 cm).

Cinética de secagem

A secagem de produtos agrícolas pode ser disposta de diversas formas nos quais os
dados da cinética de secagem podem ser representados por modelos matemáticos teóricos,
semiteóricos e empíricos. Sendo que os modelos teóricos consideram a transferência de
energia em forma de calor e massa na área de interação do produto, como também, em
seu interior, do qual pode apresentar a resistência convectiva como desprezível
comparando-se com a resistência difusiva, tornando-se possível considerar transferências
somente no interior do produto (SANTOS et al., 2020).
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Os métodos de cálculo da cinética de secagem são aplicados de modo diferente


dependendo do período de secagem considerado. No primeiro período de taxa de secagem
constante, as transferências de calor e de massa na interface ar-produto governam a
secagem e fixam a velocidade de secagem, enquanto no segundo período (período de taxa
de secagem decrescente) as transferências internas são limitantes. A taxa de secagem pode
ser acelerada com o aumento da temperatura do ar de secagem e, ou, com o aumento do
fluxo de ar que passa pelo produto por unidade de tempo (PARK et al.,2004). A
quantidade de ar utilizada para a secagem depende de vários fatores. Entre eles: a umidade
inicial do produto e a espessura da camada. Portanto, a eficiência do processo de secagem
depende das propriedades do alimento, das propriedades do ar de secagem, da umidade
relativa, da velocidade do ar de secagem e da temperatura (GOUVEIA et al., 2003).
De acordo com Diógenes et al (2013) A secagem é uma forma de minimizar perdas, 1301
possibilitando o transporte, o armazenamento e aumentando a vida útil, garantindo a
viabilidade econômica e segurança microbiológica pela eliminação da água do material,
através da evaporação.
Conforme Dionello et al. (2009), as características de secagem de qualquer produto,
inclui a avaliação dos modelos matemáticos que melhor descrevem o processo, são
importantes na seleção e desenvolvimento de equipamentos e no cálculo dos custos
operacionais.
Esses modelos são utilizados para o ajuste dos dados experimentais da cinética de
secagem em camada delgada ou fina, sendo estas realizadas com diversos produtos
agrícolas, polpas e em algumas espécies de plantas, que possuem importância econômica.
No entanto, deve-se levar em consideração o produto e as condições do processo de
secagem (MARTINAZZO et al., 2007). Segundo Ferreira (2003) é importante mencionar
que o método de secagem em camada fina é o mais empregado para a determinação da
cinética de secagem, que consiste em colocar uma camada do material sob o ar de
secagem, com a temperatura e umidade relativa constantes, sendo as condições de
secagem consideradas inalteradas quando em contato com o material. Sendo assim, é
possível a determinação de parâmetros de secagem e equações para taxa de secagem.
Silva (2008) relatou que a modelagem de dados obtidos através de experimentos
planejados, permite resumir os resultados do experimento e predizer a resposta para os
valores quantitativos.
Na Tabela 1 se encontram algumas das equações empíricas e semi-empíricas mais
comuns para representação da cinética de secagem, nas quais são voltadas para materiais
biológicos de acordo com Faria et al. (2012).

Tabela 1. Equações empíricas e semi-empíricas para representação da cinética de secagem.

Designação do
Modelo Equação
Modelo
Page RX = exp(−k. t ⁿ) (1)
Midilli RX = a. exp(−k. t ⁿ) + b. t (2)
Henderson e
RX = a. exp(−k. t ) (3)
Pabis
Henderson e
RX = a. exp(−k. t ) + b. exp(−k. t) + exp(−k. t) (4)
Pabis Modificado
Aproximação por
RX = a. exp(−k. t ) + (1 − a)exp(−k. b. t) (5)
Difusão
Dois Termos RX = a. exp(−k 0 . t) + b. exp(−k1 . t) (6)
Exponencial de
RX = a. exp(−k. t ) + (1 − a)exp(−k. a. t) (7)
Dois Termos
Logarítmico RX = a. exp(−k. t ) + c (8)
Thompson RX = exp((−a − (a2 + 4bt)0,5 )/2b (9)
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Newton RX = exp(−k. t) (10)


Verma RX = a. exp(−k. t ) + (1 − a)exp(−k1 . t) (11)
Wang e Sing RX = 1 + a. t + b. t² (12)
Sendo:
RX- razão de umidade do produto, adimensional;
k, k0, k1 - constantes de secagem, h-1;
a, b, c, n - coeficientes dos modelos;
t - tempo de secagem, h.

Vários pesquisadores avaliaram o comportamento da cinética de secagem de


produtos agrícolas por meio de modelos matemáticos, alguns trabalhos são citados a
seguir.
Santos et al. (2019) realizaram a cinética de secagem da casca de pitomba (Talisia 1302
esculenta) em secador convectivo de velocidade de ar fixa (1,5 ms-1) nas temperaturas de
50, 60 e 70 ° C, aplicaram a modelagem matemática usando os modelos de Lewis,
Handerson e Pabis e Page, os dados experimentais ajustados aos modelos comprovaram
que o modelo matemático Page apresentou o melhor ajuste devido aos seus altos valores
de R2 (R2> 0,99) e os menores valores da função qui-quadrado (chi-square function) para
todas as temperaturas de secagem aplicadas.
Resende et al. (2011) estudaram a secagem em leito fixo de sementes de pinhão
manso (Jatropha curcas) nas temperaturas de 30, 40, 50, 60 e 70 °C. Os dados foram
ajustados a onze modelos matemáticos que são utilizados para representação de secagem
de produtos agrícolas, por fim os modelos de Page e Henderson e Pabis Modificado
apresentaram os melhores ajustes aos dados experimentais, sendo o modelo de Page
selecionado para a descrição das curvas de secagem do pinhão-manso devido a sua
simplicidade.
Leite et al. (2016) realizaram a secagem da carambola utilizando um secador
convectivo para o experimento, nas temperaturas de 60, 70 e 80 °C e velocidade do ar de
secagem de 1,5 m s-1. Foi constatado que os modelos matemáticos que melhor se
ajustaram aos dados experimentais foi o de Henderson, Lewis e Page. O modelo que se
configurou da forma mais satisfatória aos experimentos foi o de Page devido apresentar
maior coeficiente de determinação (R²).
Ferreira et al. (2020) estudaram cinética de secagem convectiva de cubos de mamão
que foram submetidos à desidratação osmótica em soluções de sacarose a 40 e 50 ºBrix,
em temperaturas de 50 e 60 ºC, seguida de secagem convectiva complementar em estufa
com circulação forçada de ar sob três temperaturas (50, 60 e 70 °C) e velocidade do ar
constante de 1,0 m s-1. Aos dados experimentais foram ajustados dez modelos
matemáticos de secagem em camada fina. O aumento da temperatura do ar e a diminuição
da concentração da solução osmótica resultou em aumento da taxa de remoção de água.
O modelo de Dois Termos foi o que melhor descreveu a cinética de secagem das amostras
para todas as condições avaliadas.
Silva et al. (2017) avaliaram os parâmetros termodinâmicos e cinéticos de cenouras
submetidas a secagem por convecção, como também ao ajuste dos modelos matemáticos
aos dados experimentais, e a determinação dos parâmetros termodinâmicos do processo.
Utilizando-se de amostras nas temperaturas de 50, 60, 70 e 80ºC. Os modelos de Page e
de Midlli apresentaram o maior coeficiente de correlação (R2).
Silveira et al (2016) realizaram secagem de goiaba vermelha (Psidium guajava L.)
estudaram cinética de secagem para diferentes temperaturas (50, 65 e 80ºC) e
velocidades do ar (1,0; 1,5 e 2,0 m/s). O modelo de Henderson e Pabis obteve um
coeficiente de determinação (R2) em torno de 0,99 para todos os experimentos. A partir
desses modelos matemáticas foram determinadas as características químicas das
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amostras de goiaba vermelha, exemplificando a cinética de secagem e as alternativas


mais viáveis para tal determinação.

Viabilidade da secagem convectiva

A secagem convectiva em estufa com circulação de ar forçada provoca o


comportamento de redução de água do material biológico em função do tempo de
secagem e da temperatura em razão da maior transferência de calor e massa que tem como
consequência perda de água mais rápida. Furtado et al. (2014) afirma que o aumento da
temperatura aumenta a transferência de calor do material e consequentemente ocorre
diminuição do tempo de secagem. Segundo Moraes Filho et al. (2014) existem dois
fatores que podem influenciar no comportamento, que são a velocidade do ar de secagem 1303
e espessura do material, que influenciam nas resistências difusionais e convectivas que
facilitam a transferência de massa e calor do material favorecendo, desta forma, redução
do tempo de secagem. Celestino (2010), afirma que a capacidade do ar para eliminar a
água de um alimento depende principalmente de sua temperatura e de sua umidade
relativa.
Todavia, a seleção das condições de operação de secagem (temperatura, tipo de
secagem e tempo) influência nas alterações do produto tendo em vista sua importância
para obtenção de produtos de qualidade (AQUINO et al., 2009). Nesse contexto, a
indústria de alimentos faz uso da secagem convectiva em escala industrial devido a
quantidade de matéria-prima a ser usada no método, custo reduzido quando comparado
com demais métodos de secagem e no caso de uso de temperaturas entre 40 a 80 º C tende
a não reduzir significativamente na composição nutricional dos produtos dessecados.
Silva et al. (2015) estudaram secagem e caracterização físico-química da uva
crimson (Crinsom seedless) e foi possível concluir que o processo de secagem em secador
elétrico com circulação de ar apresenta vantagem sobre as características de cor, além de
aumentar a sua vida de prateleira; observou-se também este processo foi mais efetivo
quando comparado com a secagem em estufa solar e em estufa ventilada, pois apresentou
menor umidade (13,01%) em 24 horas. Com a desidratação das uvas Crimson houve
concentração dos sólidos solúveis, dos compostos inorgânicos e dos ácidos orgânicos
aumentando significativamente os sólidos solúveis de 5,8 °brix para 17,3 °brix, cinzas
0,55% para 2,37% e acidez titulável de 0,48g para 2,00g, logo a secagem concentra os
nutrientes dos alimentos que foram dessecados. Com isso, aferiu-se características
desejáveis a uva crimson a partir do procedimento de secagem, desde as características
físicas, como também químicas, com essa pesquisa obtém-se uma nova possibilidade a
indústria de alimentos no que se refere a procedimentos que atuem como “aditivos” de
qualidade sensorial.
Almeida et al. (2020) estudaram determinação de compostos bioativos e
composição físico-química da farinha da casca de jabuticacaba obtida por secagem
convectiva realizada em estufa de circulação de ar na temperatura de 50 °C e velocidade
de ar de 1,0 m.s-1 durante 24h e liofilização realizada a uma temperatura de -50 °C por 48
h. A casca in natura e os pós obtidos foram caracterizados quanto aos seguintes
parâmetros físico-químicos para secagem convectiva: umidade (14,90 ± 0,57), cinzas,
(2,78 ± 0,18) lipídeos (1,08 ± 0,10), proteína (5,78 ± 1,23), fibra bruta (4,50 ± 1,72),
carboidratos (70,96 ± 0,93), atividade de água (0,395 ± 0,14), acidez (1,84 ± 0,15),
açúcares redutores (21,48 ± 0,75) e sólidos solúveis totais (19,00 ± 0,10). Após a secagem
das cascas da jabuticaba in natura para obtenção da farinha, observou-se que estas são
viáveis para o desenvolvimento de novos produtos. A obtenção de produtos farináceos
oriundos da secagem convectiva a partir de produtos frutíferos é uma alternativa cada vez
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mais viável as indústrias, despontando como alternativas mais saudáveis, além disso,
podem ser utilizados para o desenvolvimento de novos produtos.

CONCLUSÕES

Esta revisão comprova as aplicações da secagem na indústria alimentícia e enfatiza


a complexidade do processo de secagem convectiva e seus fundamentos. Portanto,
comprova que a secagem convectiva é uma alternativa viável capaz de agregar valor aos
produtos alimentícios e expandir a vida útil, além de reduzir significativamente as perdas
na cadeia produtiva.
1304

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 118

SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG) NO


ZONEAMENTO AGRÍCOLA DO CAFÉ
ZANETTI, Willian Aparecido Leoti
Doutorando em Agronegócio e Desenvolvimento,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Tupã – Brasil.
willianleoti@gmail.com

COSMO, Bruno Marcos Nunes


Doutorando em Agronomia – Agricultura,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Botucatu – Brasil.
brunomcosmo@gmail.com 1308

GALERIANI, Tatiani Mayara


Mestranda em Agronomia – Agricultura,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Botucatu – Brasil.
tatianigaleriani@gmail.com

ARLANCH, Adolfo Bergamo


Doutorando em Agronomia – Irrigação e Drenagem,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Botucatu – Brasil.
adolfoarlanch@gmail.com

PUTTI, Fernando Ferrari


Professor Doutor
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Tupã – Brasil
fernando.putti@unesp.br

RESUMO

No setor agrícola brasileiro a cafeicultura tem papel de destaque histórico, social e


econômico, a ponto de assegurar o país em nível mundial como um dos maiores
produtores e exportadores. No entanto, fatores ambientais e impactos climáticos tem se
tornado uma das maiores preocupações para manter os níveis de produtividade e
qualidade dos grãos. O café é uma cultura na qual os preços de mercado são definidos de
acordo com atribuições, como na qualidade. Este fato impulsiona a necessidade de
adequação e introdução de técnicas capazes de contornar as adversidades e seus impactos,
como a inclusão dos Sistemas de Informação Geográfica atrelados ao zoneamento
agroclimático. Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi caracterizar a aplicação do
Sistema de Informação Geográfica no zoneamento agroclimático para a cultura do café.
Para o desenvolvimento foi realizado um levantamento e análise qualitativa em materiais
de base de dados nacionais e internacionais com dados referentes ao tema, em livros,
artigos, jornais e afins, preferencialmente no período inferior a 5 anos. Resultando na
importância destes sistemas como ferramentas no desenvolvimento do zoneamento
agroclimático na cultura do café, como forma de buscar tomadas de decisão efetivas e
manter a produtividade. Conclui-se que o setor cafeeiro tem buscado introduzir
ferramentas capazes de auxiliar no planejamento e gerenciamento, considerando a
necessidade de contornar as adversidades climáticas presentes no sistema de produção.

PALAVRAS-CHAVE: Agronegócio, Mudanças climáticas, Geoprocessamento.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

O agronegócio é caracterizado como vetor de influência e desenvolvimento na


economia brasileira, com participação importante no Produto Interno Bruto (PIB),
movimentando uma parcela de aproximadamente 20% do mesmo, atuando na garantia de
segurança alimentar, produtividade, geração direta ou indireta de empregos e integração
socioeconômica nacional (MAISTRO et al., 2019; OLIVEIRA; CARRARO, 2019).
Neste contexto, tem-se buscado nos últimos anos a introdução de ferramentas que
possam assegurar resultados favoráveis, principalmente com a adoção de novas
tecnologias e inovações que possam auxiliar e contornar as adversidades climáticas, que
representam um dos fatores que mais interferem na produtividade e desenvolvimento 1309
agrícola (BECKMANN; SANTANA, 2017).
Dentro do setor agrícola, a cafeicultura com cultivares pertencentes à família das
Rubiáceas, gênero Coffea, se destaca como uma das culturas de grande relevância,
principalmente por posicionar o Brasil como um dos maiores produtores e exportadores
mundiais. Considerando os valores de produção em 2020, com características de
bienalidade positiva, a produção beneficiada ficou em torno de 63,08 milhões de sacas,
resultado favorável e com aumento de 27,9% em relação à safra anterior (CONAB, 2020;
COSTA, 2020).
No entanto, o café possui algumas restrições para a sua implantação, sobretudo em
relação a tolerância de temperatura e déficit hídrico, que condicionam seu
desenvolvimento e a garantia de resultados promissores de produtividade. O que torna
fatores cruciais de atenção na prática agrícola, principalmente em tempos de eventos mais
frequentes de adversidades climáticas e a necessidade de tentar contornar seus impactos
(BRAGANÇA et al., 2016).
No Brasil por sua grande extensão territorial, normalmente direta ou indiretamente
podem ocorrer adversidades relacionadas aos fatores climáticos e que possam afetar o
desenvolvimento da produção em determinadas localidades. Tornando importante a
adoção de ferramentas capazes de identificar regiões que assegurem melhores respostas
de inserção da cultura e aptidão (FRANCISCO et al., 2021).
Com isso, a introdução de ferramentas relacionadas ao zoneamento vem abrindo
espaço no desenvolvimento e na análise agrícola. Possibilitando um planejamento
racional e preciso, como forma de mitigar impactos ou até mesmo riscos climáticos, além
de um manejo eficiente e disponibilidade de investimentos com acesso ao crédito rural
(CALDANA et al., 2020).
Desta forma, o zoneamento agroclimático é caracterizado como uma técnica para
determinar áreas favoráveis, ou seja, com maior aptidão para o desenvolvimento agrícola.
Empregando o levantamento de exigências da cultura, assim como da região de emprego
ou que deseja ser implantada, visando cessar riscos e obter melhores resultados
(FERREIRA et al., 2018; NERES et al., 2019).
Atrelado ao desenvolvimento tecnológico e a introdução do zoneamento está a
aplicação da ferramenta SIG (Sistema de Informação Geográfica) que vem auxiliar na
análise, processamento, classificação, elaboração e interpretação de mapas, atuando no
2021 Gepra Editora Barros et al.

planejamento agrícola e por meio da caracterização das realidades climáticas de uma


região (WOLLMANN; GALVANI, 2013; SOUZA et al., 2018).
Neste contexto, esta pesquisa teve por objetivo caracterizar os aspectos climáticos
e adoção dos SIGs no zoneamento agroclimático do café.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho visa caracterizar o conceito de Sistemas de Informação


Geográfica (SIG) aplicado no zoneamento agroclimático da cultura do café. Para o
desenvolvimento deste estudo foi realizada uma revisão de literatura por meio de pesquisa 1310
qualitativa, utilizando livros, artigos, jornais, materiais de cunho científico e afins,
averiguados em base de dados nacionais e internacionais.
Foram adotadas publicações com um período de publicação preferencialmente
inferior há 5 anos. Como forma de evidenciar com maior precisão e atualidade o
desenvolvimento de trabalhos na área, além de poder contribuir com pesquisas e estudos,
visto a importância da cultura para o país e a necessidade de inserção de ferramentas cada
vez mais precisas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A cultura do café

O café é originário das florestas tropicais da Etiópia, Quênia e Sudão, regiões com
predominância de altitudes elevadas, temperaturas amenas e grande volume de
precipitações. A cultura apresenta mais de 100 espécies, pertence ao gênero Coffea, com
duas espécies de maior representação econômica e social: o C. arábica e o C. canephora
(ADEPOJU et al., 2017; WIKSTRÖM et al., 2020).
No Brasil sua introdução ocorreu no século XVIII inicialmente na região Norte.
Com a boa adaptação da cultura e resultados favoráveis, expandiu-se por diversas regiões,
introduzindo mudanças na economia e ações importantes para o desenvolvimento do país,
com a expansão das ferrovias, setor de serviços, formação de cidades, estímulo de
crescimento de indústrias, entre os mais diversos benefícios, assegurando-se por muitos
anos como a principal atividade econômica do país (MELO et al., 2018, WINTER, et al.,
2020).
Atualmente o destaque na produção é assegurado pelos estados de Minas Gerais,
Espírito Santo, São Paulo, Bahia e Rondônia. Evidenciando a liderança no topo de
produção pelo estado Minas Gerais, que tem o café como uma importância cultural,
social, histórica e econômica. Com uma produção em 2020 que totalizou 34,65 milhões
de sacas de 60 kg, valor que representa um crescimento de 41,1% (CONAB, 2020; KOH
et al., 2020; RIBEIRO, 2020).
Configurando a cadeia cafeeira como um dos setores de grande representatividade
na economia brasileira por estar fortemente envolvida no âmbito de exportação e na
geração de empregos, representando, no médio e longo prazo, um dos principais produtos
2021 Gepra Editora Barros et al.

estratégicos do país. Sua importância pode ser vista na produção, no consumo interno, na
participação na linha exportação e na promoção de empregos e receita na economia
(FARIA, 2020).
Pode-se analisar que o crescimento da produção cafeeira brasileira está relacionado
aos fatores de inserção de conceitos tecnológicos utilizados no cultivo do café ao longo
dos anos, melhoramento genético, planejamento de produção, resistência a pragas e
doenças e aperfeiçoamento dos processos de qualidade (MOREIRA et al., 2019)

Morfologia do café

O café é caracterizado como uma cultura de porte arbustivo e possui altura média 1311
de 2 a 4 metros, podendo chegar a 10 metros, de acordo com as características climáticas
da região e espécie. Possui caule cilíndrico e dois tipos de ramos, denominados de
plagiotrópicos, conhecido como laterais ou produtivos, podendo originar os ramos
ortotrópico, no qual crescem paralelos ao caule, assim se origina a denominação de ramos
“ladrão” (FERRAZ, 2013).
O cafeeiro produz flores com fragrância que se aproximam ao jasmim, e seus frutos
são expressos em tons verdes ao vermelho, passando ainda pelo amarelo (FERRAZ, 2013;
AYALEW, 2018).

Fenologia do cafeeiro

Quanto à fenologia do café, a duração de cada etapa do ciclo produtivo pode variar
de espécie para espécie, dependendo das condições climáticas da região, cada etapa
possui funções fisiológicas e metabólicas próprias, essenciais para a formação final dos
frutos. O período fenológico correspondente ao período de floração e crescimento dos
frutos das lavouras representa o período mais crítico para o crescimento das plantas, pois
nessas fases, uma vez que as estações mudam, elas são mais vulneráveis aos efeitos
adversos do meio ambiente (NEGREIROS et al., 2019).
Para o cafeeiro, o ciclo fenológico apresenta uma atividade distinta em comparação
a maioria das plantas que manifestam inflorescência na primavera e frutificam no mesmo
ano fenológico. Ocorrendo no seu caso uma sucessão de fases vegetativas e reprodutivas,
que ocorrem durante aproximadamente dois anos, ou seja, ocorre uma bienalidade na
produção (DINIZ; LIMA, 2019).
Desta forma, durante o período de maior produção, o crescimento dos frutos exige
maior consumo da atividade metabólica, induzindo a redução do desenvolvimento
vegetativo. Para as condições tropicais do país, foi desenvolvido um ciclo em que se
subdivide em seis fases, distribuídas em duas fases vegetativas e quatro reprodutivas,
conforme Tavares et al. (2014):
1ª fase: vegetação e formação de gemas foliares (setembro a março);
2ª fase: indução e maturação das gemas florais (abril a agosto);
3ª fase: florada e expansão dos frutos (setembro a dezembro);
4ª fase: granação dos frutos (janeiro a março);
5ª fase: maturação dos frutos (abril a junho);
2021 Gepra Editora Barros et al.

6ª fase: repouso e senescência dos ramos terciários e quaternários (julho a agosto).


Considerando o ciclo fenológico do cafeeiro que exprime sucessivamente suas fases
vegetativas e reprodutivas, esse modelo permite identificar as exigências e a influência
em que as condições climáticas passam a interferir na produção da cultura. Induzindo a
partir do conhecimento de cada fase, no desenvolvimento de manejos precisos quanto às
exigências e emprego de tomadas de decisão que possam ser efetivas, como o
desenvolvimento de podas (MIRANDA et al, 2018).

Exigências de aptidão do cafeeiro

Com a interferência de adversidades climáticas cada vez mais presentes na 1312


agricultura, bem como no setor cafeeiro, compreender as exigências de aptidão da cultura
e as características climáticas da região de cultivo, tornaram-se fatores fundamentais.
Principalmente para a estruturação, planejamento e dimensionamento de tomadas de
decisão. Como forma de buscar o manejo adequado para determinadas situações, a
espécie que melhor se adapta, assim como analisar a viabilidade de investimentos, como
forma de buscar o melhor desenvolvimento da cultura e garantir resultados favoráveis de
produtividade (MOAT et al., 2017; TEIXEIRA et al., 2021).

Temperatura

Pode-se salientar com relação às exigências do café quanto à temperatura, que as


melhores faixas que denominam a sua aptidão estão entre 18 a 23ºC, não tolerando limites
inferiores a 10°C e valores maiores que 30ºC. Visto que na fase de crescimento
vegetativo, correspondente até os 12 meses, o valor ideal é de até 30º C no período diurno
e 23°C no período noturno (SANTINATO; FERNANDES, 2012).
Assim como para realização da fotossíntese os índices de temperatura também
apresentam significância, pois reduz o processo em 10% a cada 1 grau em que se desloca
da faixa ideal que é em torno de 24°C, dado os valores a partir de 34° C a mesma se torna
praticamente nula (SANTINATO; FERNANDES, 2012; SOUZA; OLIVEIRA, 2018).
Outro fator não menos importante em que ocorre interferência, é no florescimento, que
apresenta uma faixa de condições ideias com valor de 23°C no período diurno e 17°C
noturno (MARSETTI et al., 2013).
Identificando a partir das características necessária para desenvolvimento da cultura
em relação às faixas de tolerância em relação a temperatura, limites fora da zona de
adaptabilidade podem afetar perdas no crescimento vegetativo, desenvolvimento e
preenchimento dos grãos, além de reduzir a quantidade de internódios da safra seguinte,
reduzindo a produtividade (OLIVEIRA et al., 2012).

Precipitação

Para assegurar as exigências de precipitação no cultivo do café, deve-se considerar


um volume anual ideal na faixa de 1.200 mm a 1.800 mm. De modo que a mesma
apresente uma distribuição uniforme durante o ciclo reprodutivo, principalmente nas
fases de desenvolvimento da floração e frutificação, por serem os períodos que asseguram
2021 Gepra Editora Barros et al.

os valores produtivos. Considerando que valores de até 150 mm de déficit hídrico são
tolerados sem grandes prejuízos (COBRA et al., 2020).

Umidade relativa

Considerando as exigências do café para o seu desenvolvimento, a umidade relativa


do ar também é um dos fatores de relevância. De forma que valores de umidade alta assim
como baixa, podem proporcionar efeitos desfavoráveis (ALVES et al., 2011).
Considerando que a incidência de umidade alta propícia ao surgimento de pragas, doenças
e fermentações indesejáveis, acarretando perda de qualidade da bebida e redução no valor
de mercado. A baixa umidade também pode causar o surgimento de algumas pragas e 1313
induzir a má formação da planta (RODRIGUES et al., 2020). A partir do exposto, o
Quadro 1 exibe as faixas ideais de aptidão para o café quanto a umidade relativa do ar.

QUADRO 1. Aptidão do cafeeiro em relação à umidade relativa do ar.


FAIXA UMIDADE RELATIVA DO CARACTERIZAÇÃO
AR (%)
80-70 Adequada - Ideal
70-50 Satisfatória
< 50 Insatisfatório
Fonte: Adaptado de Santinato e Fernandes (2012).

Solo e Altitude

Para o desenvolvimento adequado da cultura o solo deve proporcionar um ambiente


favorável, apresentando características físicas, químicas e biológicas. Considerando
níveis propícios para a promoção da mesma, quanto à profundidade efetiva mínima deve
ser de 120 cm, além de possuir uma boa estrutura e textura. Visto que no cultivo nacional
a maior parte é realizado em regiões que apresentam solos com classificação de
Latossolos e de 15 a 20% em Argissolos (MESQUITA et al., 2016).
A altitude também configura um fator de importância na adaptação e potencialidade
produtiva, pois regiões de valores baixos dificultam ou inviabilizam o desenvolvimento,
como regiões ao nível do mar (GAMONAL et al., 2017; FERREIRA et al., 2018;
SANTACRUZ et al., 2020). Recomenda-se o seu cultivo em regiões em que a mesma
varie de 600 a 1.200 metros (NEGREIROS et al., 2019).

Zoneamento Agroclimático na cultura do café

Considerando à adoção de novas ferramentas que viabilizam contornar as


adversidades climáticas que interferem no cultivo do cafeeiro e sua importância no
agronegócio brasileiro, a adoção de novas tecnologias de previsão e avaliação de safras,
além da estruturação de análises para identificação de áreas propícias para o
desenvolvimento da cafeicultura, vem ganhando importância no setor (PRADO et al.,
2016).
O conceito de zoneamento agroclimático no café é considerado uma ferramenta
com relevância para o planejamento, gestão, bem como a promoção socioeconômica das
2021 Gepra Editora Barros et al.

regiões produtoras. Demarcando áreas com características homogêneas, indicadores de


potencialidade, de fornecimento de subsídio e estímulo da competitividade e
desenvolvimento do agronegócio (ANDRADE et al., 2012; SOUZA et al, 2018).
O que proporciona uma série de benefícios ao setor cafeeiro, pois o
desenvolvimento da classificação de limites ideais de aptidão, permitirá identificar
regiões propensas ao cultivo, regiões que necessitam da introdução de mecanismo que
possam contornar as adversidades e regiões que são inaptas (BRAGANÇA et al., 2016).
De modo, que a partir da introdução desses princípios de aptidão de acordo com as
exigências do café, foram desenvolvidos parâmetros técnicos que permitem classificar as
regiões aptas, restritas e inaptas ao cultivo da cultura de acordo com as faixas de
1314
temperatura e déficit hídrico, que são os parâmetros que mais interferem no seu
desenvolvimento, como pode ser observado na Tabela 1 (CORTEZ et al., 2020).

Tabela 1. Dados de referências técnicas para o zoneamento agroclimático da cultura do café.


TEMPERATURA (ºC) DÉFICT HIDRICO (mm)
APTIDÃO Arábica Conilon Arábica Conilon
Regiões aptas 18,0 – 22,5 22,5 – 24,0 < 150 < 200
Regiões restritas 22,5 – 24,0 20,0 – 22,5 150 – 200 200 – 400
Regiões inaptas < 18,0 e > 24,0 20,0 e > 24,0 > 200 mm > 400
Fonte: Adaptado LUPPI et al., (2014).

Portanto, o zoneamento aplicado na cafeicultura é uma técnica que permite


determinar áreas com características favoráveis ao seu desenvolvimento, considerando as
condições ambientais e climáticas da região de inserção, assim como as exigências e
faixas propícias ao seu desenvolvimento, como forma de favorecer a produtividade e as
margens de lucro (FERREIRA et al., 2018).

Sistemas de Informação Geográfica no Zoneamento Agroclimático do café

Com a necessidade de avanços no setor agrícola, o desenvolvimento por


ferramentas que possam assegurar o volume de produção e da qualidade, tornou-se cada
vez mais presente uso dos SIGs, que tem se mostrado um excelente mecanismo com
obtenção rápida e eficaz, maior planejamento e levantamento de informações
cartográficos com valores de custo menos exorbitantes e construção de bancos de dados
que possibilitam uma melhor adequação dos cultivos (SANTOS et al., 2017).
Os SIGs são apontados como instrumentos computacionais do geoprocessamento,
caracterizados por englobar ferramentas habilitadas em obter, armazenar, recuperar,
manipular e explorar informações de propriedades espaciais. Associando e analisando
dados provenientes de inúmeras fontes, como imagens, provenientes de mapas, censos,
cartas climatológicas, satélites, entre outros (FARINA et al., 2017).
É um termo que ficou amplamente conhecido com a introdução do conceito de
Agricultura de Precisão, que visa assegurar um gerenciamento agrícola associado à
introdução de tecnologias nas culturas, com a finalidade de atingir maiores valores de
produtividade em menores áreas e com o menor custo (FERREIRA, 2019).
SIG vem sendo empregado em diversas áreas e com os mais diversos objetivos,
desde o monitoramento de práticas agrícolas assegurando a preservação de áreas nativas,
2021 Gepra Editora Barros et al.

variabilidade no solo e no clima como forma de identificar causas em alterações temporais


e espaciais, aplicação precisa de insumos agrícolas, análise de efeitos na produtividade,
além de avaliar a qualidade (BARBOZA et al., 2020).
Com os avanços das mudanças climáticas e a interferência no setor agrícola, os
conceitos e aplicações dos SIGs vêm auxiliando o campo da agrometeorologia na
transformação de dados numéricos em análises informacionais e construção de
parâmetros de estimativas futuras, apontando áreas agro economicamente mais aptas para
a introdução de determinadas culturas, planejamento e elaboração de projetos de
irrigação, definindo o melhor período para plantio e colheita (RODRIGUES et al., 2020).
Constatando diferentes aplicações de SIG na cultura do café, como no trabalho de
1315
Ferreira et al. (2021), que evidenciou a importância do emprego de técnicas de
geoprocessamento como auxílio de tomada de decisões para mapear áreas propícias ao
cultivo do café no munícipio de Caratinga em Minas Gerais.
Como também observado o emprego dessas técnicas na análise temporal, por meio
de imagens aéreas no período de 2008 e 2019 utilizando imagens dos satélites Landsat-5
e Landsat-8 para identificação de impacto da cafeicultura no uso e ocupação do solo na
microbacia do rio Ribeirão Cacau, no estado de Rondônia em Alvorada D’Oeste, no
trabalho de SILVA; MEDEIROS (2020).
Assim, dentre esses empregos e não menos importante, o zoneamento agroclimático
vem se firmando como uma figura de definição de áreas homogêneas dentro de uma
estabelecida região, de acordo com especificações preestabelecidas. De forma que a
execução do zoneamento na cultura do café utilizando o SIG, permite um planejamento
consistente e eficiente desde antes do plantio até a colheita, facilitando manipulações e
tomadas de decisão para os melhores resultados (NGOLO et al., 2018).
Principalmente pela relevância no setor agrícola brasileiro e a necessidade de
potencializar os resultados produtivos e manter os patamares. Tornando essencial o
desenvolvimento de ferramentas que possam planejar, gerenciar e administrar, visto os
fatores de influência climática (VELLAR et al., 2016).
Evidenciando a importância da associação de ferramentas de SIGs no zoneamento,
pois preveem o emprego de técnicas de geoprocessamento e cartografia para
classificação, análise e sobreposição de dados, desenvolvimento de bancos de dados para
criação e síntese de construção do estudo (LUPPI, et al., 2014; MIRANDA et al., 2018).
Observando que o zoneamento ainda é algo recente, porém vem se tornando um
estudo base para diversas aplicações de estudos no setor do agronegócio, estruturando
tomada de decisão e o planejamento para diversas culturas, como a cana-de-açúcar
(CASTRO et al., 2020).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o estudo foi possível verificar que o zoneamento agroclimático associado com
SIGs na cultura do café é uma importante ferramenta na elaboração, planejamento e
desenvolvimento de análises para identificação de adaptações da cultura, como forma de
2021 Gepra Editora Barros et al.

observar áreas com denominações de potencial produtivo, necessidade de restrições,


introdução de manejos e técnicas mais eficazes e precisas.

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1321
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 119

SISTEMA DE INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA-FLORESTA:


INTENSIFICAÇÃO DE UMA AGRICULTURA SUSTENTÁVEL

ARAÚJO, Cícero Aparecido Ferreira


Graduando em Agronomia
Universidade Federal do Cariri (UFCA)
nino1178@live.com

TAVARES FILHO, Gilberto Saraiva


Mestrando em Engenharia Agrícola
Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) 1322
gilfilho753@hotmail.com

PINHEIRO, Cicero Cordeiro


Graduando em Agronomia
Universidade Federal do Cariri (UFCA)
cicero.cordeiro@aluno.ufca.edu.br

PINHEIRO, Jucivânica Cordeiro


Mestrando em Fitotecnia
Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA)
jucivaniacordeiro98@gmail.com

COUTINHO, Janailton
Doutor em Educação Brasileira
Professor da Universidade Federal do Cariri (UFCA)
janailton.coutinho@ufca.edu.br

RESUMO

A humanidade atualmente tem promovido intensificação na demanda por produção de


alimentos. Nesse contexto, a utilização de atividades inovadoras que visem à
sustentabilidade e conservação dos recursos naturais existentes, vem se tornado uma
realidade. A integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF) pode ser usada como uma
estratégia de produção envolvendo vários sistemas de produção como, agricultura,
pecuária e silvicultura na mesma área. Este sistema está chegando a consolidar sua
posição no Brasil e tornar-se uma importante opção para o setor de produção agrícola. O
objetivo desta revisão é averiguar os principais pontos do sistema de integração lavoura-
pecuária-floresta além de seus benefícios para o agroecossistema. A pesquisa baseou-se
em uma revisão bibliográfica de cunho qualitativo, com as seguintes etapas: identificação
do tema, seleção da problemática, coleta de dados e interpretação dos trabalhos
experimentais que mais contribuíssem com uma melhor explanação sobre o assunto. A
partir dos achados bibliográficos é comprovado que o sistema iLPF traz consigo inúmeros
benefícios para os sistemas de produção, trazendo uma alternativa sustentável para o
manejo das áreas de produção. Porém, se faz necessário a utilização de mais estudos e
práticas desse sistema sobre a viabilidade de sua implantação, por meio da combinação
de espécies diferentes, a fim de ampliar as áreas que adotem esse sistema produtivo.

PALAVRAS-CHAVE: Sustentabilidade, Solo, Agrossilvipastoril.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

A humanidade atualmente tem promovido intensificação na demanda por


produção de alimentos. Nesse contexto, a utilização de atividades inovadoras que visem
à sustentabilidade e conservação dos recursos naturais existentes, vem se tornando uma
realidade.
Uma dessas novas tecnologias é o sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta
(iLPF) que segundo Balbino et al. (2011), é uma das estratégias que visa a produção
sustentável integrando todas as atividades florestais, pecuárias e agrícolas de uma mesma
área em cultivo consorciado em rotação ou sucessão de culturas, afim de buscar os efeitos
benéficos desta associação. 1323
Para Kichel et al. (2019) desde o início da agricultura, os humanos combinavam
as culturas com a pecuária e as florestas, bem como rebanhos com as plantações. Quando
essa combinação é feita de forma planejada e correta, o resultado é o incremento da
produção por unidade de área e os vários benefícios ambientais.
O modelo tradicional de agricultura convencional atualmente em uso requer uma
grande quantidade de insumos externos, como fertilizantes inorgânicos e agrotóxicos para
sua manutenção e, em muitos casos, esses insumos são utilizados de forma inadequada e
apresentam riscos potenciais ao meio ambiente (ROSSET et al., 2014).
Acredita-se que a crescente concentração de gases de efeito estufa na atmosfera
seja a principal causa do aquecimento global, que pode levar às mudanças climáticas. Esta
nova realidade climática pode ter um impacto negativo na agricultura e em outras
atividades econômicas. (BALBINO et al., 2011).
Embora o sistema iLPF seja considerado inovador, ele é conhecido e adaptado
desde o século XVI. Devido à mecanização e intensificação dos sistemas agrícolas e à
enorme dificuldade de colheita manual de frutas, o sistema iLPF quase desapareceu
(PORTO, 2019).
A iLPF, tem a finalidade de melhorar a qualidade do solo atuando nos atributos
químicos, físicos e biológicos, de modo a elevar os teores de matéria orgânica,
favorecendo o aumento da atividade microbiológica do solo que consequentemente irá
proporcionar a ciclagem de nutrientes (BALBINO et al., 2011). Com isso, o objetivo
desta revisão é averiguar os principais pontos do sistema de integração lavoura-pecuária-
floresta além de seus benefícios para o agroecossistema.

METODOLOGIA

A pesquisa baseou-se em uma revisão bibliográfica de cunho qualitativo, com as


seguintes etapas: identificação do tema, seleção da problemática, coleta de dados e
interpretação dos trabalhos experimentais que mais contribuíssem com uma melhor
explanação sobre o assunto. Foram averiguados artigos publicados nas bases cientificas
(Google Acadêmico, Scopus, Science Direct e Web of Science). A busca foi norteada
pela utilização dos termos: iLPF, sustentabilidade no sistema iLPF, Integração lavoura-
pecuária-floresta e seus benefícios.
2021 Gepra Editora Barros et al.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

INTEGRAÇÃO- LAVOURA-PECUÁRIA-FLORESTA (ILPF)

"Integração" refere-se o ato ou efeito de integrar ou tornar inteiro, ou seja, é a


combinação de partes isoladas para a formação de um conjunto que trabalha como um
todo. Um dos usos deste termo no Brasil é identificar um sistema de produção agrícola
que combina atividades de agricultura, pecuária e/ou silvicultura na mesma área ou terra
para produzir. Isso pode ser feito de diferentes maneiras, por exemplo, usando consórcio,
sucessão e/ou rotação (CORDEIRO et al., 2015).
1324
No Brasil, o sistema Integração Lavoura-Pecuária (iLP) é relativamente novo.
Desde a década de 1960, afetadas pelo grave problema da degradação das pastagens,
instituições de pesquisa (como a Embrapa) têm utilizado sistemas iLP (como Barreirão e
Santa Fé) para desenvolver soluções. Mais tarde, houve a inserção do componente
florestal, se tornando o sistema Lavoura Pecuária Floresta (iLPF) (KLUTHCOUSKI et
al., 1991).
ILPF é uma estratégia de produção que integra sistemas de produção agropecuária
e florestal nas dimensões espacial e/ou temporal, buscando sinergia entre os diversos
componentes do ecossistema agrícola para alcançar a sustentabilidade das unidades
produtivas (BALBINO et al., 2011a).
Segundo Balbino et al.,(2011), a estratégia da integração entre lavoura-pecuária e
floresta contempla quatro tipos: integração-lavoura-pecuária, que integra apenas a
lavoura e pecuária em rotação, consorcio e/ou sucessão em uma mesma área por um
tempo; integração lavoura-pecuária-floresta, conhecido popularmente como
agrossilpastoril, que integra os três componentes na mesma área; integração pecuária-
floresta, ou silvipastoril, que integra a pecuária e a floresta na mesma área; e por último
a integração lavoura-floresta, ou silviagrícola, que integra lavoura e floresta por meio de
espécies arbóreas florestais com culturas de interesse agrícola. De acordo com Balbino et
al. (2011) a adoção do sistema iLPF pode promover a conservação da água e do solo por
meio da adequada distribuição espacial das árvores no terreno, o que favorece a
movimentação das máquinas e a observação do comportamento animal, promovendo
assim a adoção do sistema iLPF.

COMPONENTES DO SISTEMA

LAVOURA

Em relação ao componente agrícola, as espécies mais utilizadas são: milho, sorgo,


milheto, feijão, soja e arroz (TOMAZ et al., 2017). Para Alvareng et al. (2010), as
lavouras de milho e sorgo para grãos e silagem são os destaques da ILPF porque existe
potencial para uso em propriedades de qualquer porte, desde o cultivo em pequena escala
com poucos hectares de terra como em grandes, e o uso de mão de obra familiar, e até
mesmo o potencial para negócios de alta tecnologia. Além disso, essas culturas
apresentam vantagens comparativas, por exemplo, são diferentes da soja ou do arroz,
2021 Gepra Editora Barros et al.

principalmente em consórcio lavoura pasto. Essas vantagens costumam fazer a diferença


e sinalizar a escolha das espécies a serem utilizadas em um determinado sistema de
produção e, sendo assim, com o iLPF pode-se obter maior produção de forragem na
propriedade, e aumentar a capacidade de suporte das áreas de pastagens recuperadas, com
o plantio consorciado de forrageira para silagem (milho, sorgo, milheto) e para pastejo.
Essas áreas, com pastagem de ótima qualidade nutricional, podem ser utilizadas no
período da seca. Dessa forma, a produção animal será incrementada, tanto pelo aumento
na capacidade de suporte das pastagens, como pela melhoria do ganho de peso individual,
em função da oferta de forragem de boa qualidade. É imprescindível o uso da pastagem,
pois os objetivos mais relevantes para o uso são: produção de palha em plantio direto,
1325
aumento do teor de matéria orgânica do solo; rotação de cultura e redução de pragas e
ervas daninhas (KICHEL et al., 2014).

PECUÁRIA

A principal atividade do setor agropecuário é a pecuária de corte, que ocupa


posição de destaque na economia brasileira. O Brasil é um dos maiores produtores e
exportadores mundiais de carne bovina, e as pastagens são a principal fonte de ração
animal. Porém, além do gado, outros animais também podem ser inseridos no sistema
ILPF (BUNGENSTAB, 2012).
Behling et al. (2013), diz que a escolha do componente animal deve se adequar a
realidade de cada produtor, ou seja, o porte dos animais (pequeno, médio e grande porte),
como galinhas, caprinos, ovinos e predominantemente bovinos, dando preferência à
utilização de animais precoces obtidos em rebanhos que prezam pelo melhoramento
genético de raças puras ou animais oriundos de cruzamentos industriais.
Machado et al. (2019), ao pesquisar sobre a escolha de animais e formação de
lotes de bovinos para sistemas de integração, concluiu que o conhecimento usado na
pecuária tradicional é útil e devem ser ponderados na integração da agricultura e pecuária,
porque nem todos os métodos são aplicáveis ao sistema de produção intensivo, além de
afirmar que quanto mais jovem for o animal, maior será a probabilidade de ganhar peso.
A categoria que deve ser promovida para a integração lavoura-pecuária.

FLORESTA

As espécies florestais reduzem os gases de efeito estufa no sistema de integração


lavoura-pecuária-floresta, devido ao aumento da capacidade de sequestro de carbono.
(BALBINO et al, 2011). Além desse efeito, quando há a presença de árvores, as alterações
microclimáticas podem favorecer o desempenho dos animais da propriedade, pois as
sombras projetadas pelas árvores podem criar zonas de conforto térmico (MAGALHÃES
et al., 2018).
Pezzopane et al. (2015), quantificaram as mudanças no microclima nos sistemas
de floresta e pastagem em diferentes escalas de tempo e espaço no sudeste do Brasil, e as
compararam com pastagens individuais. Os autores concluíram que as árvores reduziram
em 40% a incidência de radiação solar fotossinteticamente ativa em pastagens.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Há um grande aumento na dinâmica da água devido à colocação do elemento


floresta, melhorando a distribuição do vapor d'água, favorecendo a estabilização
temperatura e umidade relativa do ar, o que permite proteger a superfície do solo, visto
como uma ferramenta eficaz para combater o aquecimento global e mudanças climáticas.
As árvores não fornecem apenas estabilidade térmica e formação de nuvens que reduzem
a ocorrência de radiação solar, bem como seus resíduos que incidem sobre o solo faz com
que a água da chuva se acumule (PRIMAVESI, 2007).
Em relação ao componente floresta, as espécies florestais que são mais utilizadas,
destacam-se: o eucalipto (Eucalyptus sp), mogno (Khaya spp), nim indiano (Azadirachta
indica A. Juss), cedro australiano (Toona ciliata), paricá (Schizolobium parahyba),
1326
mogno africano(Khaya ivorensis), pau-de-balsa(Ochroma pyramidale), acácia (Acacia
mangium), leucena (Leucaena leucocephala), albizia, gliricidia (Gliciridia sepium),
jurema-preta (Mimosa tenuiflora) e dentre outras espécies (SANTOS, 2010).

IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA-


FLORESTA (ILPF)

Os produtores rurais que adotam o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta


possuem pouco espaço para improvisações, pois se trata de um sistema complexo que
exige conhecimento técnico. Portanto, a fim de planejar bem o implante para a
implantação do sistema iLPF, deve realizar um bom diagnóstico, incluindo investigação
da área para seleção de cultura e raças para determinação do melhor momento da
realização das atividades e introdução da cultura (BALBINO et al., 2012).
Um aspecto relevante a ser considerado normalmente em sistemas iLPF é que o
número de anos com pastagem não pode ser superior a três anos, e para evitar outro ciclo
de degradação da pastagem, torna-se necessário a realização de adubações de manutenção
para mantê-las produtivas (GONTIJO NETO et al., 2014).
Para Carvalho et al. (2017), ao revisarem sobre pastagens degradadas e técnicas
de recuperação deduziu que isto acontece porque a intensidade de pastejo é alta, com o
animal pastejando a forragem cada vez mais próxima do solo, reduzindo-se a quantidade
de material vegetal para captação de luz solar e realização da fotossíntese, diminuindo
assim as reservas das plantas, podendo levar à morte destas com o avançar do tempo.
Gontijo Neto et al. (2014), ao trabalharem com sistemas de integração lavoura-
pecuária-floresta em Minas Gerais, Brasil; concluiram que outro ponto importante é a
compreensão do mercado regional onde a produção será comercializada, principalmente
no que se refere ao tipo de produto a ser produzido. O planejamento do ano agrícola deve
levar em consideração tudo o que o sistema necessita em todo o ciclo das atividades
agroflorestais. E vale salientar que o produtor geralmente não implanta o sistema em toda
a propriedade ao mesmo tempo, ou seja, a propriedade deve ser dividida em múltiplas
parcelas, e o sistema integrado deve ser introduzido em uma das parcelas a cada ano.
2021 Gepra Editora Barros et al.

BENEFÍCIOS DO SISTEMA DE INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA-


FLORESTA (ILPF)

Os principais benefícios que podem ser obtidos pela implantação da integração


lavoura-pecuária-floresta citados por Behling et al., (2013), são: otimização e
intensificação da ciclagem de nutrientes no solo; melhoramento da qualidade e
conservação das características produtivas do solo; manutenção da biodiversidade e
sustentabilidade da agropecuária; melhoria do bem-estar animal em decorrência do maior
conforto térmico e melhor ambiência; aumento na produção de grãos, carne, leite e
produtos madeireiros e não madeireiros; aumento da renda líquida do produtor e/ou
1327
produtores mais capitalizados; estabilidade econômica com redução de riscos e incertezas
devido à diversificação da produção; maior eficiência de utilização dos recursos (água,
luz, nutrientes e capital investido) e ampliação do balanço energético; maior otimização
dos processos e dos fatores de produção.
Para Kichel e Miranda (2001), As principais vantagens do uso de iLPF são:
restauração da fertilidade do solo; fácil implementação de medidas de proteção do solo e
restaurar pastagens a um custo mais baixo; melhorar as propriedades físicas, químicas e
biológicas do solo; prevenir pragas e ervas daninhas; usar fertilizantes com eficácia; usar
máquinas, equipamentos e mão de obra de forma mais eficiente; diversificar o sistema de
produção e aumentar a eficácia da produção O negócio agrícola torna-o sustentável na
ecologia econômica e agrícola.
Para Cunha (2012), a iLPF é uma opção economicamente viável, ambientalmente
correto e benéfico para a sociedade, justamente para o crescimento da produção de
alimentos seguros, proporciona diversas atividades relacionadas à propriedade, reduz os
riscos climáticos e de mercado, aumenta a renda e a qualidade de vida no meio rural, e
colabora para reduzir o desmatamento e reduzir processos erosivos e para que as emissões
de gases de efeito estufa podem alcançar uma produção sustentável.

LIMITAÇÕES PARA A IMPLATAÇÃO DO SISTEMA ILPF

A implantação do sistema lavoura-pecuária-floresta possui certas limitações


quanto à sua adoção. Para Behling (2013), as principais destas limitações são: gestão e
manejo que necessitam de mais especialização em decorrência da sua complexidade em
diferentes ramos da agropecuária; os altos custos iniciais e seu lento retorno em lucro no
início da atividade; limitação em relação ao uso de máquinas e implementos agrícolas,
induzindo ao menor rendimento operacional, pois nas áreas onde há arvores existe uma
restrição ao trânsito de máquinas; ausência de capacitação dos técnicos e produtores
rurais, resultando em baixa motivação para a implantação do sistema iLPF.
TOMAZ et al. (2017), ao estudarem as barreiras à adoção do sistema iLPF no
Estado de Goiás, Brasil; verificaram que os produtores goianos possuem limitações,
dificuldades e muitos entraves para a adoção do sistema, acreditam que a principal
dificuldade é a falta de assistência técnica aos agricultores e pecuaristas do estado, onde
os mesmos afirmam em que são poucos os técnicos capacitados a orientar adequadamente
2021 Gepra Editora Barros et al.

os produtores no processo de implementação e de execução do sistema, ou seja, a grande


parte dos obstáculos estão relacionados à produção e à implementação em si.

ATRIBTUTOS DOS SOLOS

O manejo adequado do solo agrícola é a consideração principal para a agricultura


sustentável, porque o sistema de produção afetará significativamente as propriedades
físicas, químicas e biológicas do solo, o que por sua vez afeta a produtividade das safras
(SILVA et al., 2015).
A intensificação da produção observada no sistema de integração lavoura-
1328
pecuária-floresta (iLPF) melhora todos os atributos do solo e também melhora a eficiência
de reciclagem e utilização de nutrientes; reduz custos de produção; diversifica e estabiliza
a renda das propriedades rurais e potencial de restauração das áreas de pastagens
degradadas (ALVARENGA et al., 2010).
A resistência à penetração de um solo está diretamente ligada com o manejo em
que é submetido, e os sistemas integração lavoura-pecuária-floresta são essenciais na
recuperação de pastagens degradadas, além de aumentar a lucratividade do proprietário
(SANTANA, 2014).
Souza et al. (2020) ao analisarem os atributos físicos de um Latossolo Vermelho
Amarelo de diferentes sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta para monitorar a
compactação do solo, verificaram que áreas com cinco anos de uso do sistema
apresentaram mais resistentes a compactação.
Freitas et al. (2020), avaliaram os atributos físicos do solo após a conversão de
pastagem degradada em sistemas de iLPF,onde coletaram as amostras nas profundidades
de 0-5, 5-10, 10-20 e 20-30 cm. O resultado no atributo densidade do solo verificou-se
que no sistema de pastagem degradada a densidade do solo se mostra maior em relação
ao cultivo com java (Macrotyloma axillare), sendo perceptível e promoveu rápida
resposta na diminuição da densidade do solo e aumento da porosidade total nas camadas
superficiais do solo.
Resultados de Pergher et al. (2011), onde avaliaram a densidade, porosidade total,
macro e microporosidade em sistemas integrados de produção, mostraram que os maiores
valores de densidade do solo na camada de 0-5 cm superior a 1 mg dm-3 na iLPF em
função da maior concentração de animais entre linhas que podem ter gerado maior
adensamento da camada analisada e, com relação à porosidade total e macroporosidade a
iLPF manteve uma tendência de menores valores, que podem estar associados à menor
precipitação e oferta de forragem nesse período. Na camada de 5-10 cm a iLPF teve
menores valores de densidade em relação à iLP, estando associado às condições de
estrutura e agregação originada pelas raízes das árvores.
Santana et al. (2014), descreveram em seu estudo sobre resistência à penetração
em solo sob sistema integração lavoura-pecuária-floresta, pasto convencional e mata
nativa do cerrado a condição de menor resistência à penetração na camada mais
superficial do solo em que existe mata nativa tem relação com a baixa alteração antrópica
sobre a área e as áreas de pasto com iLPF estão sob maior pisoteio de bovinos, se
2021 Gepra Editora Barros et al.

comparadas com o pasto convencional, desta forma verifica-se menor resistência a


penetração.

CONCLUSÃO

Levando-se em consideração esses aspectos, entende-se que o sistema de


integração lavoura, pecuária e floresta, quando usado adequadamente, considerando a
associação entre espécies e práticas de conservação, é uma opção viável e promissora
para uma agricultura sustentável.
1329
É um sistema poderoso que comprova o notável avanço da tecnologia brasileira
que atrai o interesse dos produtores rurais em adotar a tecnologia e desenvolvê-la para
um ambiente sustentável.
Se faz necessário a utilização de mais estudos e práticas desse sistema sobre a
viabilidade de sua implantação, por meio da combinação de espécies diferentes, afim de
ampliar as áreas que adotem esse sistema produtivo.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 120
TEOR DE PIGMENTOS DE MUDAS DE Passiflora edulis SOB
CONDIÇÕES DE ESTRESSE SALINO E MANEJO DA ADUBAÇÃO

PEREIRA, Micaela Benigna


Doutoranda em Agronomia
Universidade Federal da Paraíba
micaelabp.fg@gmail.com

FATIMA, Reynaldo Teodoro de


Doutorando em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande 1333
reynaldoteodoro@outlook.com

FERREIRA, Jean Télvio Andrade


Doutorando em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande
jeantelvioagronomo@gmail.com

NOBREGA, Jackson Silva


Doutorando em Agronomia
Universidade Federal da Paraíba
jacksonnobrega@hotmail.com

FIGUEIREDO, Francisco Romário Andrade


Doutorando em Fitotecnia
Universidade Federal Rural do Semiárido
romarioagroecologia@yahoo.com.br

RESUMO

Na região semiárida do Brasil um dos grandes entraves para o cultivo de espécies


agrícolas tem sido a concentração de sais encontrados nas águas para irrigação.
Objetivou-se com o desenvolvimento desta pesquisa analisar o efeito do nitrogênio e
potássio no teor de pigmentos de mudas de maracujazeiro submetidas ao estresse salino.
O delineamento utilizado foi em blocos casualizados, em esquema fatorial incompleto
5x5, gerados a partir da matriz Composto Central de Box, com cinco condutividades
elétricas da água de irrigação (0,5; 0,98; 2,15; 3,32 e 3,80 dS m-1) e cinco doses crescentes
de nitrogênio e potássio (0,0; 29,08; 100,0; 170,92 e 200,0%), com quatro repetições.
Foram avaliadas: índices de clorofila a, clorofila b, clorofila total e, razão clorofila a/b.
Os dados foram submetidos à análise de variância e de regressão polinomial. Concluiu-
se que a aplicação de nitrogênio e potássio diminui os efeitos nocivos da salinidade da
água de irrigação sobre os teores de clorofila a clorofila total e para a razão clorofila a/b
e o suprimento adequado de nitrogênio e potássio, gera efeitos benéficos sobre a clorofila
b de plantas de maracujazeiro.

PALAVRAS-CHAVE: índices de clorofila, salinidade, semiárido.

INTRODUÇÃO

O Brasil é considerado o maior produtor mundial de maracujazeiro (Passiflora


edulis), tendo alcançado no ano de 2018 uma produção de 602.651 t em uma área
2021 Gepra Editora Barros et al.

cultivada de 43.248 hectares, sendo que a região Nordeste responde por 62,31% deste
total (IBGE, 2018). No entanto, mesmo com tamanha expressão, nota-se que a
produtividade nacional alcançada ainda é baixa, com média de 13,49 t ha-1 ano-1 (IBGE,
2018), uma vez que, o potencial produtivo da cultura pode ultrapassar 40 t ha-1 (FREITAS
et al., 2011).
A disparidade entre a produtividade média e o potencial da cultura do maracujazeiro
se deve a vários fatores bióticos e abióticos (FREIRE et al., 2014). Em particular na
região Nordeste, com destaque para a região semiárida, um dos fatores que vem limitando
o sucesso das áreas de cultivo é o excesso de sais solúveis, encontrado nas fontes de água
para irrigação (CAVALCANTE et al., 2012; FREIRE et al., 2014; SILVA et al., 2018).
1334
O uso de água salina na irrigação causa efeitos deletérios nas culturas, pois quando
ocorre uma redução do potencial osmótico do solo tem-se uma diminuição na
disponibilidade de água para as plantas, promovendo o fechamento estomático e
comprometendo a transpiração e a fotossíntese (SILVA et al., 2015; ABBASI et al.,
2014).
Pesquisas vem sendo realizadas com o intuito de atenuar os efeitos nocivos causados
pelas concentrações de sais da água de irrigação nas plantas. Dentre as alternativas
estudadas, destaca-se o suprimento nutricional com elementos como nitrogênio (N) e
potássio (K) que são elementos que podem provocar respostas positivas as espécies
vegetais sob estresse salino. Logo, com o fornecimento adequado de nutrientes, pode-se
aumentar a capacidade de ajuste osmótico das plantas à salinidade e a tolerância das
culturas ao estresse salino, promover ainda o restabelecimento do equilibrio nutricional e
diminuição dos efeitos tóxicos do íon Na+ (BLANCO et al., 2008; SILVA et al., 2008).
Objetivou-se com o desenvolvimento desta pesquisa analisar o efeito da aplicação de
nitrogênio e potássio no teor de pigmentos e na morfologia de mudas de maracujazeiro
submetidas ao estresse salino.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado em 2018 em ambiente protegido, no Centro de Ciências


Agrárias, da Universidade Federal da Paraíba, município de Areia, Paraíba, Brasil. O
município está situado pelas coordenadas geográficas: latitude 6o 58’ 00’’ S, longitude
35o 41’ 00’’ W e altitude de 575 m. O clima da região, conforme a classificação de
Köppen é do tipo As’ que significa verão seco e quente e chuvas no inverno (ALVARES
et al., 2013).
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, com quatro
repetições e duas plantas por parcela, em esquema fatorial com cinco níveis de
condutividade elétrica da água de irrigação (CEa) e cinco doses de composto contendo
nitrogênio e potássio (D), totalizando nove combinações, geradas através da matriz
Composto Central de Box (MATEUS et al., 2001).
As combinações de CEa (dS m-1) e D (%) foram: T1 – 0,98 dS m-1, 29,08%; T2 – 0,98
dS m-1, 170,92 %; T3 – 3,32 dS m-1, 29,08 %; T4 – 3,32 dS m-1, 170,92%; T5 – 0,50 dS
m-1, 100 %; T6 – 3,80 dS m-1, 100 %; T7 – 2,15 dS m-1, 200 %; T8 – 2,15 dS m-1, 0 %; e
T9 – 2,15 dS m-1, 100 %.
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O nível de cada condutividade elétrica da água de irrigação (CEa) foi obtido através
da diluição da água de barragem, fortemente salina (14,6 dS m-1) em água não salina (0,5
dS m-1), com auxílio de um condutivímetro portátil. Os níveis salinos foram escolhidos
baseados em OLIVEIRA et al. (2015), que observaram inibição no crescimento das
mudas de maracujazeiro a partir da CEai de 1,5 dS m-1.
O composto utilizado foi obtido pela combinação de dois produtos comerciais para
atender a necessidade de potássio e nitrogênio proposta por NOVAIS et al. (1991) para
vaso, sendo estas de 150 mg dm-3 de K e 300 mg dm-3 de N, as quais corresponderam a
combinação de 100% nesta pesquisa. O primeiro produto contem em sua composição 100
gl-1 de N e 100 gl-1 de K2O, o qual serviu para atender a necessidade de potássio e o
1335
segundo produto para complementar a necessidade de nitrogênio, sendo que esse
apresenta em sua composição 99 gl-1 de N.
As mudas de maracujazeiro foram produzidas em sacos de polietileno, com
capacidade de 1150 ml, preenchidos com substrato composto de 85% de solo, 10% de
areia fina e 5% de esterco bovino curtido. O substrato foi analisado quanto às
características físicas e químicas pela fertilidade e salinidade, seguindo as metodologias
de EMBRAPA (2017) e RICHARDS (1954) como indicado na Tabela 1.

Tabela 1. Composição física e química dos componentes do substrato usado no


experimento.
Física valor Fertilidade Valor Salinidade Valor
-1
Areia (g kg ) 639 pH em água (1:2.5) 7.00 pH 7.30
Silte (g kg-1) 227 P (mg dm-3) 146.32 ECw (dS m-1) 2.73
-1 + -3 2- -1
Argila (g kg ) 134 K (mg dm ) 633.29 SO4 (mmolc L ) 1.02
+ -3
Classe textural Franco Na (cmolc dm ) 0.27 Ca2+ (mmolc L-1) 16.00
Arenoso Al3+ (cmolc dm-3) 0.00 Mg2+ (mmolc L-1) 16.75
H++Al3+ (cmolc dm-3) 2.84 K+ (mmolc L-1) 6.90
2+ -3 2+ -1
Ca (cmolc dm ) 5.53 CO3 (mmolc L ) 0.00
2+ -3
Mg (cmolc dm ) 1.70 HCO32+ (mmolc L-1) 40.00
SB (cmolc dm-3) 9.12 Cl- (mmolc L-1) 30.00
-3 -1
CTC (cmolc dm ) 11.96 RAS (mmolc L ) 0.94
-3
MO (cmolc dm ) 26.69 PST (%) 0.13
Classificação Salino

Na semeadura utilizaram-se sementes provenientes da variedade de maracujazeiro


amarelo (Passiflora edulis f. favicarpa), por apresentar uma elevada produtividade e
aceitação do mercado consumidor. Para tanto utilizou-se três sementes por saco de
polietileno, sendo esse mantido próximo a capacidade de campo do semeio até o
estabelecimento da germinação.
Aos 20 dias após o semeio (DAS) iniciou-se a aplicação das águas salinizadas, com
irrigações diárias de forma manual, conforme a necessidade da cultura, sendo está
determinada pelo método de lisimetria de drenagem, proposta por BERNARDO et al.
(2006), a qual consiste em aplicar diariamente o volume de água evapotranspirada. Para
tanto foram selecionados 10 recipientes, nos quais foram colocados coletores para se
2021 Gepra Editora Barros et al.

determinar, pela diferença entre o volume aplicado e o volume drenado da irrigação


anterior, a capacidade de água suportada pelo recipiente. A cada 15 dias foram aplicadas
uma fração de lixiviação de 10% com base no volume aplicado neste período, com o
propósito de reduzir o acumulo de sais do substrato.
As adubações com o composto também se iniciaram aos 20 DAS, as quais foram
divididas em 7 aplicações iguais, realizadas semanalmente ao final da tarde. Para tanto,
determinou-se as quantidades dos produtos para se alcançar a necessidade de potássio e
nitrogênio, em seguida os mesmos foram diluídos em água destilada até atingir o volume
equivalente à necessidade hídrica no período de aplicação.
As avaliações foram realizadas aos 75 DAS, através da determinação dos índices de
1336
clorofila a, b, total e relação clorofila a/b, pelo método não destrutivo, utilizando-se
clorofilômetro portátil (ClorofiLOG®, modelo CFL 1030, Porto Alegre, S), com os
valores dimensionados em índice de clorofila Falker (ICF).
Os dados foram submetidos à análise de variância e análise de regressão polinomial,
utilizando-se o programa estatístico R (R Core Team, 2017).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os teores de clorofila a, razão clorofila a/b e clorofila total foram influenciados pela
interação entre os fatores CEai e doses NK, enquanto que para a clorofila b houve efeito
significativo isolado.
Os efeitos deletérios da salinidade da água de irrigação sobre os teores de clorofila a
e clorofila total, foram atenuados pela aplicação das doses de NK de 200% e 198,73% até
a CEai de 0,5 dS m-1, onde foram quantificados valores na ordem de 41,78 mol m-2 e
56,21 mol m-2 (Figura 1A e 1B).
A z = 36,76 - 5,72x + 1,35x2 + 0,03y + 7,52e-5y2 - 0,0185xy
B
z = 50,12 - 11,35x + 2,59x2 + 0,0467y + 1,139e-4y2 - 0,026xy

44
28 60
42 30
32 35
l m-2 )

40 34 55 40
mol m )

45
-2

36
38 38 50
Clorofila a ( mo

40 50 55
Clorofila total (

36 42 60
44
34 45

32 3,5 3,5
3,0 40
30 3,0
-1
)

-1

2,5
)
m

2,5
m
S

28 2,0
S
(d

35 2,0
(d
ai

1,5
ai

150 1,5
CE

150
CE

100 1,0 100 1,0


Dose 50 0,5 Dose 50
NK (% s de 0,5
0 NK (%) 0
)

Figura 1. Clorofila a (A) e clorofila total (B) de plantas de Passiflora edulis, submetidas a diferentes
condutividades elétricas da água de irrigação e doses de nitrogênio e potássio.

A atenuação dos efeitos da CEai associado a interação das doses de nitrogênio e


potássio podem estar relacionadas à ação sinérgica desses dois elementos, atuando na
2021 Gepra Editora Barros et al.

atividade fotossintética, de modo que o nitrogênio desempenha importante papel no


balanço osmótico, além de ser constituinte de moléculas de clorofila responsável pela
captação de energia luminosa, aminoácidos e proteínas (TAIZ et al. 2015, FEIJÃO et al.,
2011, NOBRE et al. 2010), participa de atividades antioxidantes e alívio de toxicidade
iônica (BAHMANZADEGAN e ABOUTALEBI, 2013), e outras. O potassio promove a
ativação de enzimas envolvidas na respiração e fotossíntese, aumento na taxa
fotossintética, e melhorias no balanço hídrico (PRAZERES et al., 2015; MENDES et al.,
2013).
A salinidade da água de irrigação e as doses do composto mostraram efeitos isolados
para a clorofila b, onde ocorreu uma redução linear dos teores com o aumento da
1337
condutividade elétrica da água de irrigação, com valor de 11,13 mol m-2 e 8,28 mol m-2
nas CEai de 0,5 e 3,8 dS m-1, respectivamente, representando uma redução de 25,60%
(Figura 2A e 2B).

A B

Figura 2. Clorofila b (A e B) de plantas de Passiflora edulis, submetidas a diferentes condutividades


elétricas da água de irrigação e doses de nitrogênio e potássio.

Freire et al., (2014) explicam que reduções nos terrores de clorofila em função do
aumento da CEai ocorre provavelmente devido à diminuição da síntese de clorofilas ou à
participação da enzima clorofilase, que degrada as moléculas desse pigmento
fotossintetizador.
Corroborando com os resultados do presente estudo a redução do conteúdo de
pigmentos fotossintetizadores foi observada também em Malpighia emarginata D. C.
(LIMA et al., 2018) e Artocarpus heterophyllus L. (OLIVEIRA et al. 2018).
Para os efeitos gerados pelas doses de nitrogênio e potássio, contatou-se um
comportamento quadrático, sendo que os maiores teores de clorofila b, correspondente a
10,82 mol m-2 foram registrados na dose 120,17%. Esse desempenho pode ser atribuído
à ação do potássio no auxílio do nitrogênio na formação de clorofila no tecido vegetal,
quando o fornecimento associado é adequado, pois embora o potássio não participe da
estrutura das moléculas de clorofila ou de qualquer composto orgânico, ele desempenha
papel importante no metabolismo do nitrogênio, o que requer quantidades adequadas de
K no citoplasma, fundamentais para a síntese deste pigmento (VIANA e KIEHL, 2010).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Ao contrário dos resultados obtidos para os teores de clorofila a e total, a razão entre
a clorofila a/b (Figura 3) apresentou um comportamento crescente em função da
salinidade, sendo influenciada em sua expressão máxima pela CEai de 3,8 dS m-1 e a dose
1,38% NK, atingindo um aumento de 20,23% ao comparar aos valores mínimos obtidos
na CEai de 0,5 dS m-1 e na dose 1,03 NK. Percebe-se que esse aumento se deve pela suave
recuperação do teor de clorofila a nos níveis mais altos de salinidade e queda constante
do teor da clorofila b.
z = 3,30 + 0,0128x + 0,0572x2 + 0,0035y + 1,431e-6y2 - 0,00188xy

4,4
1338
4,2 3,2
3,4
3,6
4,0
Clorofila a/b

3,8
4,0
4,2
3,8

3,6
3,5
3,4 3,0

-1
)
2,5

m
S
3,2 2,0

(d
ai
150 1,5

CE
100 1,0
Dose 50
s de 0,5
NK (%) 0

Figura 3. Razão entre a clorofila a/b de plantas de Passiflora edulis, submetidas a diferentes condutividades
elétricas da água de irrigação e doses de nitrogênio e potássio.

Esse incremento na razão entre a clorofila a/b pode estar associado a um


mecanismo de defesa desenvolvido pela planta para suportar os danos do estresse salino,
essa reação da planta ocorre através do desenvolvimento do cloroplasto (aumento no
número de tilacóides) ou do aumento no número de cloroplastos o que pode gerar a
ativação de um mecanismo de proteção ao sistema fotossintético da planta (GARCÍA-
VALENZUELA et al., 2005).

CONCLUSÕES

A aplicação de nitrogênio e potássio diminui os efeitos nocivos da salinidade da


água de irrigação sobre os teores de clorofila a, clorofila total e para a razão clorofila a/b.
O suprimento adequado de nitrogênio e potássio gera efeitos benéficos sobre a clorofila
b.

AGRADECIMENTOS

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES -


Brasil) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq -
Brasil) pelo apoio financeiro.
2021 Gepra Editora Barros et al.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 121

TOLERÂNCIA AO DÉFICIT HÍDRICO DE LINHAGENS


AVANÇADAS DE MAMONEIRA (Ricinus communis L.) EM DOIS
PERÍODOS DE PRECIPITAÇÃO CONTRASTANTE
GONDIM FILHO, Helio
Doutorando em Ciências Agrárias
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
helio.gondim91@hotmail.com

SILVA, Simone Alves


Profª. Drª. do Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas 1342
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
simonealves22@gmail.com

PEREIRA, Monikuelly Mourato


Dra. em Engenharia Agrícola
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
monikuelly@hotmail.com

dos SANTOS, Laurenice Araujo


Pós-Doutoranda em Ciências Agrárias
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
lasagro@hotmail.com

SOUZA, D. R.
Prof. Dr. do Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
drsouza@ufrb.edu.br

RESUMO

O déficit hídrico é um dos fatores abióticos que mais reduz a produção agrícola. O
objetivo deste trabalho foi avaliar a tolerância ao déficit hídrico de 195 linhagens de
mamoneira (Ricinus communis L.) em dois períodos de precipitação contrastante. A
avaliação consistiu no desempenho das linhagens de acordo com seis índices de tolerância
à seca utilizando as variáveis: altura de planta (ALT), número de racemos emitidos (NRE)
e produtividade (PROD). As linhagens UFRB 205, UFRB 193, UFRB 199, UFRB 188,
UFRB 7 e UFRB 5 apresentaram maior estabilidade na ALT em ambos os períodos de
cultivo. As linhagens UFRB 128, UFRB 225, UFRB 33, UFRB 121, UFRB 195 e UFRB
35 foram as mais sensíveis enquanto que as linhagens UFRB 60, UFRB 249, UFRB 62,
UFRB 224, UFRB 67 e UFRB 250 as mais tolerantes. Considerando o NRE, foi
observada maior estabilidade para as linhagens UFRB 74, UFRB 210, UFRB 62 e UFRB
256. As linhagens mais sensíveis foram: UFRB 262, UFRB 225, UFRB 76, UFRB 214 e
141. Por outro lado, as linhagens UFRB 130, UFRB 183, UFRB 236, UFRB 223, UFRB
45 e UFRB 181 foram as mais tolerantes. Em relação à produtividade, as linhagens UFRB
15, UFRB 205, UFRB 224, UFRB 60, UFRB 221 e UFRB 193 apresentaram maior
estabilidade na produção. Independentemente do desempenho produtivo, as linhagens
UFRB 121, UFRB 225, UFRB 33, UFRB 122 , UFRB 143 e UFRB 128 foram
consideradas as mais sensíveis e as linhagens UFRB 62, UFRB 184, UFRB 224, UFRB
80, UFRB 5, UFRB 2 e UFRB 130 as mais tolerantes ao déficit hídrico. Os índices de
tolerância ao déficit hídrico foram eficientes na seleção das linhagens quanto à tolerância
ao déficit hídrico.
2021 Gepra Editora Barros et al.

PALAVRAS-CHAVE: Índice de tolerância à seca, análise cluster, biplot.

INTRODUÇÃO

A mamona (Ricinus communis L.) pertence à família Euphorbiaceae e acredita-se que tenha
se originado na África, especificamente, na Etiópia (KIRAN; PRASAD, 2017). Atualmente é
produzida em 47 países em uma área plantada próxima de 1,3 milhões de hectares e uma produção
total de aproximadamente 1,4 milhões de toneladas (FAOSTAT, 2018). O óleo extraído de suas
sementes é usado como matéria-prima para diversos produtos industriais, como lubrificantes de
alta qualidade para aeronaves, alternativa aos lubrificantes / aditivos poluentes à base de enxofre 1343
em diesel de petróleo, tintas, revestimentos, polidores, corantes têxteis, surfactantes, resinas,
plásticos, ceras, sabões, medicamentos, cosméticos, perfumes, etc. (SINGH et al., 2015). É
considerada tolerante à seca (SAUSEN; ROSA, 2010; DABERTO et al., 2017) ,no entanto, os
estudos relacionados à tolerância ao déficit hídrico estão relacionados principalmente com
parâmetros morfológicos e fisiológicos.
O déficit hídrico é um dos fatores ambientais que mais influenciam a produtividade das
culturas, diminui o crescimento, o potencial hídrico foliar, a estabilidade da membrana celular, a
taxa fotossintética além de promover o acúmulo de carboidratos (TARDIEU et al., 2014;
ASSAHA et al., 2016; SALEHI-LISAR; BAKHSHAYESHAN-AGDAN, 2016, MAU et al.,
2019).
Para a avalição da tolerância ao déficit hídrico, alguns índices de seleção baseados na perda
de produção sob condições de estresse em comparação às condições normais têm sido usados para
seleção de genótipos tolerantes à seca (GHOLINEZHAD; et al., 2014), como a produtividade
geométrica média (GMP) (FERNANDEZ, 1992), o índice de tolerância à seca (DTI)
(FERNANDEZ, 1992), a produtividade média (MP) (ROSIELLE; HAMBLIN, 1981),
susceptibilidade (SUS) (HOSSAIN et al., 1990), o índice de susceptibilidade à seca (DSI)
(FISCHER; MAURER, 1998) e o índice de estabilidade da produção (YSI) (BOUSLAMA;
SCHAPUGH, 1984).
A maioria dos estudos relacionados com os índices de tolerância ao estresse foi realizada
com cereais, principalmente cevada (KHALILI et al.,2016; DOROSTKAR et al., 2016; EL-
HASHASH; AGWA, 2018 ) e trigo (ALI; EL-SADEK, 2016; MOHAMED; ASHRAF, 2016;
MOHAMMADI, 2018). Nikneshan et al. (2019) utilizaram oito índices de tolerância ao déficit
hídrico e verificaram variabilidade em genótipos de mamoneira quanto a tolerância à seca.
Diante do exposto, o objetivo do trabalho foi avaliar a tolerância de linhagens de
mamoneira em dois períodos de precipitação contrastante.

MATERIAL E MÉTODOS

Localização e descrição climatológica

O experimento foi realizado no campo experimental do Núcleo de Melhoramento


Genético e Biotecnologia da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, situada no
município de Cruz das Almas-Bahia (12º40’19’’S, 39º06’22’’W; pluviosidade anual de
1069 mm; altitude de 225 m; temperatura média anual variando de 20,8 a 29,02 ºC e clima
tropical úmido (Af)) (ALVARES et al., 2013; MELO et al., 2016) no período de maio a
2021 Gepra Editora Barros et al.

fevereiro nas safras de 2011-2012 e 2012-2013. Os valores médios da precipitação (P),


evapotranspiração da cultura (ETc) e do balanço hídrico durante o período experimental
são apresentados na Tabela 1.
Tabela 1. Valores médios da precipitação (P), evapotranspiração da cultura (Etc) e do balanço hídrico
durante o período experimental.
Ano Mês P (mm) ETc (mm mês-1) BH (mm)
2011 Jul 64,1 128,2 -64,1
2011 Ago 92,4 144,5 -52,1
2011 Set 90,1 160,9 -70,8
2011 Out 121,8 168,1 -46,3
2011 Nov 70,3 93,0 -22,7 1344
2011 Dez 21,2 170,8 -149,6
2012 Jan 33,4 231,1 -197,7
2012 Fev 53,7 204,9 -151,2
2012 Jul 99,4 138,2 -38,8
2012 Ago 129,9 150,5 -20,6
2012 Set 48,4 175,2 -126,8
2012 Out 29,5 186,8 -157,3
2012 Nov 51,0 193,0 -142,0
2012 Dez 11,0 146,5 -135,5
2013 Jan 102,7 225,6 -122,9
2013 Fev 76,7 197,8 -121,1
Fonte: (INMET, 2020).

Material vegetal e tratos culturais

Foram utilizadas 195 linhagens do programa de melhoramento genético do NBIO


(Tabela 1). O espaçamento de plantio foi de 3 x 1 m e foram semeadas três sementes de
cada linhagem e de cada cultivar, por cova. Aos 25 dias após a germinação foi feito o
desbaste, deixando uma planta por cova. Adubação foi realizada de acordo analise
química do solo. Na época do plantio a adubação de fundação com P2O5 foi de 100
gramas por cova. A adubação de cobertura foi realizada aos 30 e 60 dias após o plantio
com 20g de ureia e 10g de cloreto de potássio por planta.

Variáveis utilizadas nas análises relativas à tolerância ao déficit hídrico

Altura de planta (ALT) (m);


Número de racemos emitidos (NRE) (número por planta);
Produtividade (PROD) (t ha-1)
2021 Gepra Editora Barros et al.

Tolerância ao estresse hídrico

Considerando a safra de 2011-2012 como o ano de condição adequada para o


cultivo da mamona (Yp) e a safra de 2012-2013 como ano de ocorrência de estresse (Ys)
as variáveis foram submetidas aos seguintes índices para avaliar a tolerância ao estresse:

Produtividade geométrica média (GMP)

GMP = (Yp × Ys) 0,5 (FERNANDEZ, 1992) (1)


1345
Índice de tolerância ao estresse hídrico (DTI)
(Yp × Ys)
DTI = (FERNANDEZ, 1992) (2)
(Yp) 2

Produtividade média
(Yp + Ys)
MP = (ROSIELLE; HAMBLIN, 1981) (3)
2

Susceptibilidade (SUS)
SUS = Yp - Ys (HOSSAIN et.al, 1990) (4)

Índice de susceptibilidade ao estresse (DSI)


Ys
1 - Yp Ys
DSI = , onde SI = 1 - (FISCHER; MAURER, 1978) (5)
1 - SI Yp

Índice de estabilidade da produção (YSI)


Ys
YSI = (BOUSLAMA; SCHAPAUGH, 1984) (6)
Yp

Análise estatística

As variáveis foram submetidas à análise de variância e as médias anuais das


variáveis estudadas foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade
utilizando-se o pacote easyanova (ARNHOLD, 2013). Os dados referentes aos índices de
tolerância ao estresse, assim como Yp e Ys de cada variável foram submetidos à análise
de componentes principais utilizando-se o pacote factoextra (KASSAMBRA; MUNDT,
2017). Para a definição do número de grupos foi realizado um agrupamento não
hierárquico k-means de forma a minimizar a distância dos elementos a um conjunto k
centros dado por χ={x1, x2,..., xk} de forma iterativa. A distância de um ponto pi e um
conjunto de clusters, dada por d(pi, χ), é definida como sendo a distância do ponto ao
centro mais próximo dele. A função a ser minimizada então, é dada pela seguinte equação
(7):
2021 Gepra Editora Barros et al.

1 n
d(P, χ ) = ∑ d(p , χ ) 2
n i =1 i
(7)

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 2 apresenta o resultado de variância para as variáveis altura de planta


(ALT), número de racemos emitidos (NRE) e produtividade (PROD) de linhagens de
mamoneira em dois períodos de cultivo com precipitação contrastante. Observa-se que
houve diferença significativa (p<0,01) entre os períodos para todas as variáveis avaliadas. 1346
Na comparação de médias das variáveis entre os dois períodos de cultivo de linhagens é
possível observar redução significativa de todas as variáveis (p<0,05) na comparação das
safras 2012-2013 e 2011-2012.

Tabela 2. Resumo da análise de variância para altura de planta (ALT), número de racemos emitidos
(NRE) e produtividade (PROD) de linhagens de mamoneira.
Quadrado médio
FV GL ALT(cm) NRE PROD (t ha-1)
Ano 1 91,37** 2256,42** 15887900**
CV% 16% 33% 33%
Período Valores médios
2011/2012 208,42a 9,00a 805,68a
2012/2013 112,10b 4,00b 412,93b
Redução (%) 55 44 51
Fonte: Autores (2021).

Análise de correlação

Em relação à análise de correlação entre os índices de tolerância ao déficit hídrico


e os valores de ALT, NRE e PROD nas duas safras, foi observado para todas as variáveis
uma baixa correlação entre Yp e Ys, mostrando, portanto que Yp não é um bom indicador
para prever o comportamento destas variáveis sob condições de estresse (Tabela 3). GMP,
DTI e MP apresentaram alta correlação com Yp e Ys em todas as variáveis avaliadas. Por
outro lado, SUS e DSI apresentaram correlação positiva com Yp e negativa com Ys,
indicando que linhagens com menores valores de destes índices sob condições de estresse
são mais tolerantes ao estresse hídrico. YSI se correlacionou positivamente com Ys o que
indica que linhagens com maiores valores deste índice são mais tolerantes quando
submetidas ao déficit hídrico. Em todos os tratamentos, a correlação entre os índices de
tolerância mostrou uma forte correlação positiva entre MP, GMP e DTI (0,948 a 0,996)
e entre SUS e DSI (0,820 a 0,90) enquanto uma forte correlação negativa foi observada
2021 Gepra Editora Barros et al.

entre SUS e YSI (-0,820 a -0,900) e DSI e YSI (-1,000). Considerando estudos
relacionados com os índices de tolerância ao déficit hídrico, estes resultados corroboram
os reportados por Mau et al. (2019) na cultura do arroz, Bellague et al. (2016) ,alfafa,
Dorostkar et al. (2016) ,cevada, e Oliveira et al. (2017), mandioca.
Os índices MP, DTI e GMP estão associados ao maior valor da característica
agronômica, independentemente da tolerância ao estresse hídrico. Podem ser usados para
detectar genótipos com baixa demanda de água e/ou que sofrem menor redução de
rendimento por falta de água durante seu período de crescimento, sendo indicado o cultivo 1347
dos mesmos em regiões com recursos hídricos limitados, a fim de aumentar a área
cultivada e a eficiência da produção. Em contrapartida, YSI, SUS e DSI estão associados
à tolerância ao estresse hídrico, independentemente da produção dos genótipos (FARD;
SEDAGHAT, 2013; OLIVEIRA et al., 2017).

Tabela 3. Correlação de Pearson entre os caracteres avaliados e os índices de tolerância à seca.


ALT
Yp Ys GMP DTI MP SUS DSI YSI
Yp 1
Ys 0.392 1
GMP 0.807 0.857 1
DTI 0.805 0.854 0.996 1
MP 0.911 0.736 0.978 0.975 1
SUS 0.805 -0.230 0.301 0.301 0.489 1
DSI 0.483 -0.605 -0.113 -0.110 0.084 0.900 1
YSI -0.483 0.605 0.113 0.110 -0.084 -0.900 -1 1
NRE
Yp Ys GMP DTI MP SUS DSI YSI
Yp 1
Ys 0.336 1
GMP 0.833 0.794 1
DTI 0.821 0.785 0.985 1
MP 0.941 0.635 0.969 0.955 1
SUS 0.900 -0.109 0.511 0.502 0.699 1
DSI 0.541 -0.537 0.056 0.050 0.251 0.820 1
YSI -0.541 0.537 -0.056 -0.050 -0.251 -0.820 -1 1
PROD
Yp Ys GMP DTI MP SUS DSI YSI
Yp 1
Ys 0.247 1
GMP 0.727 0.838 1
2021 Gepra Editora Barros et al.

DTI 0.732 0.820 0.985 1


MP 0.896 0.651 0.953 0.948 1
SUS 0.834 -0.329 0.231 0.246 0.502 1
DSI 0.466 -0.691 -0.213 -0.198 0.049 0.848 1
YSI -0.466 0.691 0.213 0.198 -0.049 -0.848 -1.000 1
Fonte: Autores (2021)

Análise de agrupamento e componentes principais

A análise de componentes principais (PCA) foi realizada considerando os valores


1348
dos tratamentos agronômicos em ambas as safras e os índices de tolerância, sendo
submetidos à análise biplot para obtenção da relação entre esses índices e as linhagens de
mamoneira (Tabela 4).

Tabela 4. Análise de componentes principais de caracteres agronômicos de linhagens de mamoneira em


dois períodos de precipitação contrastante.
Variável ALT NRE PROD
Componente PC1 PC2 PC1 PC2 PC1 PC2
Autovalores 4.542 3.428 4.853 3.004 4.313 3.569
Variância (%) 56.773 42.855 60.668 37.548 53.910 44.617
Variância acumulada (%) 56.773 99.628 60.668 98.216 53.910 98.528
Yp 0.938 -0.343 0.985 -0.126 0.842 0.530
Ys 0.685 0.727 0.466 0.874 0.729 -0.675
Correlação com os

GMP 0.961 0.271 0.906 0.416 0.980 -0.173


componentes

DTI 0.960 0.269 0.897 0.418 0.978 -0.156


MP 0.997 0.074 0.975 0.211 0.993 0.106
SUS 0.550 -0.831 0.824 -0.538 0.405 0.902
DSI 0.158 -0.985 0.455 -0.878 -0.051 0.988
YSI -0.158 0.985 -0.454 0.878 0.052 -0.989
Fonte: Autores (2021).

Considerando a variável ALT observa-se que os dois primeiros componentes


principais explicaram 99,628 % da variância. O PCA1 explicou 56,773% da variação e
alta correlação positiva com Yp, GMP, DTI, MP, moderada com SUS e baixa com DSI e
YSI (Tabela 4 e Figura 1A). Este resultado indica que as linhagens com altos valores
positivos no PCA1 tendem a possuir maior estatura de planta tanto em ambientes irrigados
quanto sob déficit hídrico. O PCA2 contém 42,855% da explicação variância total e foi
registrada alta correlação positiva entre Ys e YSI e negativa entre SUS e DSI (Tabela 4 e
Figura1A). Assim, linhagens com alto valor neste componente são mais tolerantes sob
condições de déficit hídrico. A partir destes resultados e da análise de agrupamento
observa-se as linhagens do grupo 1, principalmente UFRB 205, UFRB 193, UFRB 199,
UFRB 188, UFRB 7 e UFRB 5, são as que mais possuem estabilidade na altura tanto em
condições de produção normais quanto sob condições de déficit hídrico. No entanto,
considerando a tolerância sob condições de déficit, o grupo 4 foi o mais tolerante,
principalmente as linhagens UFRB 60, UFRB 249, UFRB 62, UFRB 224, UFRB 67 e
2021 Gepra Editora Barros et al.

UFRB 250. Em contrapartida o grupo 2 mostrou-se como mais sensível, sobretudo as


linhagens UFRB 128, UFRB 225, UFRB 33, UFRB 121, UFRB 195 e UFRB 35 (Figura
1A e B). Em estudo conduzido por Carvalho et al. (2019) também foi observada
variabilidade na altura da mamoneira submetida ao déficit hídrico sendo reportada maior
tolerância da cultivar ‘BRS Energia’ em comparação a ‘BRS 188 Paraguaçu’.

Figura 1. (A)-Análise de componentes principais e de agrupamento de 195 linhagens avançadas de


mamoneira para a altura (ALT) e os índices de tolerância à seca. (B) – Boxplot da ALT (Yp e Ys) e dos
valores dos índices de tolerância de cada grupo. GMP – Produtividade média geométrica; DTI – Índice de
tolerância à seca, MP – Média geométrica; SUS – Susceptibilidade; DSI – Índice de susceptibilidade à
seca; YSI – Índice de estabilidade da produção.
1349

Fonte: Autores (2021).

Os dois primeiros componentes principais explicaram 98,216% da variação


observada no NRE. O PCA1 explicou 60,668% da variação total observada. Este
componente apresentou alta correlação positiva com Yp, GMP, DTI, MP e SUS. O
segundo componente principal registrou 37,548% da variância total, alta correlação
positiva Yp e YSI e negativa com SUS (moderada) e DSI (muito forte) (Tabela 4 e Figura
2A). A partir destes resultados e avaliando-se o agrupamento observa-se que os grupos 1
e 4 apresentaram os maiores de GMP, DTI e MP e, portanto, as linhagens destes grupos,
especialmente UFRB 74, UFRB 210, UFRB 62 e UFRB 256, tendem a possuir maior
estabilidade no NRE em ambas as condições de cultivo. Em contrapartida, o grupo 1
registrou os maiores valores de SUS e DSI e os menores de YSI, sendo considerando o
mais sensível sob condições de déficit hídrico severo. Considerando esta mesma
condição, o grupo 3 foi o mais tolerante (menores valores de SUS e DSI e maiores valores
de YSI) com destaque para as linhagens UFRB 130, UFRB 183, UFRB 236, UFRB 223,
UFRB 45 e UFRB 181(Figura 2A e B).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 2. (A)-Análise de componentes principais e de agrupamento de 195 linhagens avançadas de


mamoneira para o número de ramos emitidos (NRE) e os índices de tolerância à seca. (B) – Boxplot do
NRE (Yp e Ys) e dos valores dos índices de tolerância de cada grupo. GMP – Produtividade média
geométrica; DTI – Índice de tolerância à seca, MP – Média geométrica; SUS – Susceptibilidade; DSI –
Índice de susceptibilidade à seca; YSI – Índice de estabilidade da produção.

1350

Fonte: Autores (2021).

Para PROD os dois primeiros componentes principais explicaram 98,528% da


variação total encontrada. PCA1 registrou 53,910% da variação total e alta correlação
positiva com Yp, Ys, GMP, DTI e MP. O PCA2 explicou 44,617 % da variação total e
apresentou alta correlação positiva com SUS e DTI, e negativa com YSI (Tabela 4 e
Figura 3A) Os grupos1 e 4 registraram os maiores valores de GMP, DTI e MP, portanto,
as linhagens destes grupos, principalmente UFRB 15, UFRB 205, UFRB 224, UFRB 60
e UFRB 221, possuem maior estabilidade da produção sob condições normais de cultivo
e de déficit hídrico moderado. Os grupos 1 e 2 foram considerados como susceptíveis ao
déficit hídrico (maiores valores de SUS e DSI e menores valores de YSI). Os grupos 3 e
4 registraram os menores valores de SUS e DSI e os maiores de YSI sendo considerados
os mais tolerantes ao déficit hídrico com destaque para as linhagens UFRB 62, UFRB
184, UFRB 224, UFRB 80, UFRB 5, UFRB 2 e UFRB 130 (Figura 3A e B). Em estudos
conduzidos com outras culturas também foi observada variabilidade na tolerância ao
déficit hídrico como nas culturas da mandioca (OLIVEIRA et al., 2017), milho
(BARUTCULAR et al., 2016) e do girassol (GHOLINEZHAD et al., 2014)
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 3. (A)-Análise de componentes principais e de agrupamento de 195 linhagens avançadas de


mamoneira para a produtividade (PROD) e os índices de tolerância à seca. (B) – Boxplot da PROD (Yp e
Ys) e dos valores dos índices de tolerância de cada grupo. GMP – Produtividade média geométrica; DTI –
Índice de tolerância à seca, MP – Média geométrica; SUS – Susceptibilidade; DSI – Índice de
susceptibilidade à seca; YSI – Índice de estabilidade da produção.

1351

Fonte: Autores (2021).

CONCLUSÕES

No presente estudo os índices de tolerância ao déficit hídrico puderam ser usados


na pré-seleção de linhagens de mamoneira. Em todas as características agronômicas
avaliadas, GMP, MP e DTI apresentaram alta correlação com Yp e Yp sendo melhores
preditores da produção potencial em ambas as condições (déficit hídrico moderado e
severo). SUS, DSI e YSI apresentaram alta correlação com Ys e são mais indicados para
seleção de linhagens tolerantes ao estresse independentemente da produção. Em
ambientes onde ocorra déficit hídrico esporadicamente recomenda-se o cultivo das
linhagens UFRB 15, UFRB 205, UFRB 224, UFRB 60 e UFRB 221. Considerando
apenas a tolerância ao estresse hídrico e a produtividade como parâmetro mais importante,
as linhagens UFRB 225, UFRB 240, UFRB 33, UFRB 121 e UFRB 122 foram
consideradas as mais sensíveis enquanto que as linhagens UFRB 62, UFRB 184, UFRB
224, UFRB 80, UFRB 5, UFRB 2 e UFRB 130 as mais tolerantes.
2021 Gepra Editora Barros et al.

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p.1628-1635, 2014.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 122

TÉCNICAS ALIADAS AO PROCESSAMENTO DE POLPAS DE


FRUTAS
ALMEIDA, Rafael Fernandes
Pós-graduando em Engenharia de Alimentos
Universidade Estadual de Campinas
rafaelfernandes.creajrba@gmail.com

TIANO, Suzanne de Souza


Graduanda em Engenharia de Alimentos
Instituto Federal da Bahia
suzanne16.st@gmail.com
1355
OLIVEIRA, Tarine Matos de
Graduanda em Engenharia de Alimentos
Instituto Federal da Bahia
tarine_matos@hotmail.com

INÔ, Magda Maria Oliveira


Pós-graduanda em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Universidade Federal de Goiás
m.oliveira.ino@gmail.com

MAMEDE, Alexandra Mara Goulart Nunes


Dra. em Ciência dos Alimentos
Instituto Federal da Bahia
alexandramaram06@gmail.com

RESUMO

O Brasil se destaca como um dos grandes produtores mundiais de frutas, em que a


fruticultura no país se encontra em fase de crescimento devido a grande diversidade de
espécies produzidas, pela modernização da agricultura e pela expansão da
industrialização. Frutas apresentam uma alta perecibilidade e uma das alternativas para
aumentar sua vida útil é por meio do processamento da polpa. Existem diferentes formas
de realizar o processamento de polpas. Pensando nisso, objetivou-se fazer um
levantamento bibliográfico a respeito das técnicas que podem ser aplicadas, bem como as
tecnologias envolvidas nestes processos. Este trabalho foi de cunho qualitativo e
exploratório, sendo elaborado por meio de revisão de literatura nas bases de dados da
SciELO e Google Acadêmico; além de sites tarimbados e embasamento nas normas
vigentes. Foi observado que os métodos de elaboração e conservação de polpas de frutas
se dividem em: convencionais, que se referem aos procedimentos comumente utilizados
no preparo de polpas, como pasteurização, conservação por aditivos químicos e
congelamento; e os alternativos, que são métodos desenvolvidos recentemente quando
são comparados aos procedimentos convencionais, como irradiação, métodos
combinados e desidratação.

PALAVRAS-CHAVE: industrialização, métodos, tecnologias.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

Devido a sua grande extensão territorial aliada às condições adequadas do clima e


do solo, o Brasil produziu 43 milhões de toneladas de frutas em 2019, destacando-se como
um dos maiores produtores do mundo, atrás somente da China (265 milhões de ton) e
Índia (93 milhões de ton) (MARTINS et al., 2019; CARVALHO; KIST; BELING, 2020).
Carvalho, Kist e Beling (2020) afirmam que a fruticultura do Brasil se encontra em fase
de crescimento, ocasionado pela diversidade de espécies produzidas nas cinco regiões do
país, bem como pela modernização da agricultura e expansão da industrialização.
Embora Carvalho, Kist e Beling (2020) relatem que o consumo per capita de frutas
no Brasil seja de apenas 58 kg, abaixo dos 140 kg recomendados pela Organização
Mundial da Saúde (OMS), Martins et al. (2019) explanam que tem ocorrido um aumento 1356
significativo na ingestão desses e de outros produtos vegetais. Este aumento pode ser
explicado por fatores como: maior preocupação das pessoas em consumir produtos
saudáveis, aumento da renda da população brasileira e melhoria da qualidade e
diversidade das frutas ofertadas.
De acordo com Carvalho, Kist e Beling (2020), através do Anuário Brasileiro da
Fruticultura, o Brasil tem pretensão de atingir a meta de U$$ 1 bilhão em exportações de
frutas por ano. Porém, enfrenta uma série de empecilhos, entre eles o alto nível de
perecibilidade dos produtos. Logo, uma das alternativas encontradas para sanar este
problema está na fabricação e comercialização de polpas de frutas.
Conforme Brasil (2000, p.1), por meio da Instrução Normativa nº 01, de 7 de janeiro
de 2000, “polpa de fruta é o produto não fermentado, não concentrado, não diluído, obtido
de frutos polposos, através de processo tecnológico adequado, com um teor mínimo de
sólidos totais, proveniente da parte comestível do fruto”. A comercialização de polpas
permite o consumo de frutas em períodos de entressafra, assim como a disseminação de
frutas, que antes eram conhecidas só em determinada região do país (MARTINS et al.,
2019; CARVALHO; KIST; BELING, 2020); culminando assim em maior
aproveitamento e aumento da conservação das mesmas. Para tanto, existem diferentes
maneiras de realizar o processamento de polpas, de forma que prolongue a sua vida útil.
Em via destes fatos, objetivou-se fazer um levantamento bibliográfico a respeito
das diversas técnicas que podem ser aplicadas, bem como as tecnologias envolvidas
nestes processos.

MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho é de cunho qualitativo e exploratório, e foi elaborado por meio da


revisão de literatura nas bases de dados da SciELO e Google Acadêmico; além de sites
eletrônicos com boa procedência e embasamento nas normas vigentes, tais como o da
Instrução Normativa nº 01, de 7 de janeiro de 2000 (BRASIL, 2000), no período de junho
de 2019 a agosto de 2020. As palavras-chave utilizadas foram “polpas”, “processamento”
e “frutas” e suas correspondentes em inglês: “pulps”, “processing” e “fruits”. Foram
critérios de exclusão: artigos publicados antes de 2010, a exceção de publicações
contendo informações relevantes que não estão disponíveis em estudos atuais; e sites sem
embasamento teórico.
Somando todas as fontes de pesquisa, foram encontrados 105 trabalhos, nos quais
alguns não atendiam as especificações deste estudo. Foram, portanto, selecionados 82
artigos para a leitura do resumo e excluídos aqueles que não se adequaram. Então, após a
leitura dos resumos foram selecionados 35 estudos, além de duas legislações, uma ligada
ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e outra publicada pela
2021 Gepra Editora Barros et al.

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Foi realizada a leitura integral


destas publicações.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Métodos Convencionais

Métodos convencionais referem-se aos procedimentos comumente utilizados no


preparo de polpas, tanto artesanalmente quanto industrialmente. Pereira, Borges e
Thaynara (2012) explanam que a pasteurização, conservação por aditivos químicos e
congelamento (Figura 1) são as técnicas mais utilizadas para elaboração e preservação de 1357
polpas, podendo ser usadas em conjunto ou separadamente, no caso do congelamento.

Figura 1. Fluxograma descritivo das etapas dos métodos convencionais de preparo das polpas de frutas.

Fonte: Os Autores (2021).


2021 Gepra Editora Barros et al.

Congelamento

O congelamento é o procedimento mais utilizado para elaboração e conservação de


polpas de frutas, uma vez que a sua aceitação é maior devido à preservação das
características sensoriais do fruto, além de ser o mais indicado para a preservação das
propriedades químicas e nutricionais dos alimentos (NASCIMENTO et al., 2018;
CARVALHO; MATTIETTO; BECKMAN, 2017). Esse procedimento é um dos mais
antigos métodos de conservação de alimentos, sendo utilizado pelo homem pré-histórico
que guardava a caça em meio ao gelo para comê-la futuramente (VASCONCELOS;
MELO FILHO, 2010). A utilização do frio como meio de conservação na indústria de
alimentos se mostrou como uma grande evolução, que possibilitou o armazenamento e
transporte de produtos perecíveis (OLIVEIRA et al., 2018). 1358
Segundo Ramos (2016), o método de congelamento permite o armazenamento dos
produtos com economia de espaço por um tempo prolongado. Contudo, alimentos como
frutas podem sofrer injúrias, como algumas lesões a partir do congelamento, sendo então
a elaboração de polpas uma alternativa eficaz para armazenar e conservar estes produtos.
É necessário que esse processo seja realizado de maneira adequada e imediatamente
após o envase da polpa, afim de favorecer a manutenção e preservação das características
sensoriais e nutricionais originais da fruta; contudo, deve-se considerar também que é
muito difícil evitar mudanças na qualidade dos alimentos durante a aplicação de processos
de conservação (CARVALHO; MATTIETTO; BECKMAN, 2017).
De acordo com Vasconcelos e Melo Filho (2010), deve-se também observar que o
fruto deve ser sadio, uma vez que a exposição a baixas temperaturas não restitui uma
qualidade perdida e que a cadeia de frio não deve ser interrompida em nenhum momento,
se mantendo estável desde a colheita até o consumo.
A atuação do método de conservação pelo uso do frio ocorre através da inibição
total ou parcial dos principais agentes responsáveis pela alteração dos alimentos, tais
como: microrganismos e enzimas, tomando que quanto mais baixa for a temperatura, mais
reduzida será a ação química, enzimática e o crescimento microbiano (OLIVEIRA et al.,
2018; VASCONCELOS; MELO FILHO, 2010). Dessa forma, os alimentos congelados
possuem maior resistência ao desenvolvimento de microrganismos, que por sua vez
necessitam de temperaturas mais altas para o seu crescimento (RAMOS, 2016).
De acordo com Oliveira et al. (2018), existem dois tipos de congelamento, o lento
e o rápido. O congelamento lento perdura de 3 a 12 horas, e a temperatura sofre
diminuição gradativa até alcançar a desejada. Então, os primeiros cristais de gelo são
formados no interior da célula, forçando a água migrar do seu interior, o que provoca
rupturas de algumas paredes celulares.
No congelamento rápido, a diminuição de temperatura ocorre de maneira rápida e
brusca, congelando a água dos espaços intercelulares imediatamente, formando pequenos
cristais de gelo de modo que evite danificar as membranas celulares, sendo então o tipo
de congelamento considerado ideal, pois ao descongelar, o alimento reassume suas
condições iniciais sem que ocorra perda significativa de nutrientes e de propriedades
sensoriais (OLIVEIRA et al., 2018; OLIVEIRA, 2017).
O congelamento é ainda classificado em quatro tipos: congelamento por ar, por
contato, por imersão e por aspersão com líquidos resfriados. O congelamento por ar é
realizado com o uso de ar insuflado. No congelamento por contato, ocorre o contato do
alimento com uma placa resfriada por líquido refrigerante. Para o congelamento por
imersão, ocorre a imersão direta do alimento no meio refrigerante, o que provoca um
congelamento quase instantâneo. E no congelamento por aspersão de líquidos resfriados,
é utilizado a pulverização do meio congelante sobre o produto (OLIVEIRA et al., 2018).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Carvalho Mattietto e Beckman (2017), avaliaram a estabilidade física, química e de


capacidade antioxidante de polpas mistas de frutas tropicais (acerola, abacaxi, açaí, caju,
cajá e camu-camu) com o uso do método de conservação por congelamento durante 365
dias, observaram que o armazenamento sob congelamento foi eficaz na manutenção das
características químicas e das capacidades antioxidantes das polpas de frutas mistas
estudadas. No trabalho de Morgado et al. (2019), foi avaliada a influência de dois tipos
de processo de acondicionamento, o congelamento e o vácuo, na qualidade da polpa de
araticum congelada e armazenada a -18 ºC, os autores constataram que para a conservação
da polpa de araticum por 402 dias não é necessário a utilização de vácuo utilizando-se
uma temperatura de congelamento de -18 ºC. Já Haida et al. (2015), em seu trabalho
intitulado ‘Compostos fenólicos e atividade antioxidante de goiaba (Psidium guajava L.)
fresca e congelada’, encontraram que as polpas de frutos de goiaba podem ser congeladas 1359
e conservando seus compostos funcionais por 60 dias.

Pasteurização

O método de conservação por pasteurização é um tratamento térmico controlado


que foi desenvolvido em 1864 por Louis Pasteur, uma vez que o alimento é aquecido a
temperaturas menores que 100 °C. A aplicação desse método causa a destruição da forma
vegetativa de microrganismos patogênicos, contudo, é considerado de curta duração,
sendo necessário o emprego de outro método de conservação complementar, como a
refrigeração. Assim, a aplicação deste método é recomendada para produtos sensíveis ao
calor, como é o caso das frutas (VASCONCELOS; MELO FILHO, 2010).
Segundo Ramos (2016), no Brasil não há legislação que estabeleça a pasteurização
de polpas de frutas para comercialização na forma congelada. Assim, acaba sendo um
processo térmico utilizado em polpas de frutas com o objetivo de garantir a eliminação
de Bacillus cereus. A presença desse microrganismo em polpas representa má qualidade
no manuseio, falhas nas Boas Práticas de Fabricação ou falhas nas temperaturas de
armazenamento e transporte.
A microbiota capaz de se desenvolver em polpas de frutas mostra-se com baixa
resistência térmica, fazendo com que o processo de pasteurização seja considerado um
bom método para a conservação desses produtos (BARROS et al., 2015). Dessa forma, o
processo de pasteurização consiste, basicamente, na utilização de calor com o objetivo de
aumentar a vida útil por meio da redução da carga microbiana e da inativação enzimática
endógena (MARTINS, 2018).
De acordo com Barros et al. (2015), a pasteurização é um processo relativamente
barato que pode ser aplicado às polpas de frutas nas unidades de processamentos das
cooperativas ou associações de pequenos produtores, quando levada em consideração a
manutenção da qualidade que pode ser obtida, tanto com relação à estabilidade
microbiana quanto à fixação de nutrientes.
Existem dois tipos de pasteurização, a lenta e a rápida. A pasteurização lenta (LTLT
– Low Temperature and Long Time ou Baixa Temperatura e Longo Tempo) é adequada
para pasteurização de pequenos volumes, onde emprega-se temperaturas que giram em
torno de 63 °C por 30 minutos. Já a pasteurização rápida (HTST – High Temperature and
Short Time ou Alta Temperatura e Curto Tempo) é um processo em que se utiliza
temperaturas na faixa de 72 °C por 15 segundos.
Silva (2013), em seu trabalho intitulado ‘Conservação de polpa de juçara (Euterpe
edulis) submetida à radiação gama, pasteurização, liofilização e atomização’, obteve
como resultado de uma análise sensorial que a polpa pasteurizada congelada, apresentou
as melhores características sensoriais, sendo descrita como aerada, pouco heterogênea,
2021 Gepra Editora Barros et al.

sabor pouco amargo e pouco adstringente. No trabalho de Zillo et al. (2014) sobre os
parâmetros de polpa de uvaia (Eugenia Pyriformis) que foi submetida à pasteurização, foi
obtido como resultado que a pasteurização da polpa manteve todas as suas qualidades,
viabilizando o consumo e uma maior acessibilidade da fruta. Já Para o trabalho de Barros
et al. (2015), relacionado aos efeitos da pasteurização sobre as características da polpa de
juçaí, possuiu como resultado que a polpa pasteurizada apresentou boa qualidade
microbiológica e em todas as temperaturas analisadas se mostraram adequadas para a
redução expressiva de carga microbiana.

Aditivos Conservantes

A conservação de alimentos por aditivos implica na adição de produtos químicos 1360


aos alimentos (VASCONCELOS; MELO FILHO, 2010). Krolow (2012), relata que o uso
de aditivos químicos é um método que pode ser empregado para a conservação de polpas,
embora a vida útil das submetidas a esse método seja menor do que uma polpa
pasteurizada, fechada hermeticamente ou congelada. Esse método, no entanto, deve ser
utilizado em combinação com outros métodos de conservação, como a refrigeração. Os
conservantes químicos mais utilizados são os ácidos sórbico e benzoico ou seus derivados
de sais de sódio e potássio e a sua utilização deve ser feita imediatamente após o
resfriamento da polpa, com concentração no produto final de no máximo 0,1% sobre o
peso da polpa.
O MAPA, por meio da Instrução Normativa n° 01, de 07 de janeiro de 2000, que
trata da fixação dos Padrões de Identidade e Qualidade para polpa de fruta, estabelece que
a polpa de fruta destinada à industrialização de outras bebidas e não destinada ao consumo
direto poderá ser adicionada de aditivos químicos previstos para a bebida a que se destina
(BRASIL, 2000).
De acordo com Vasconcelos e Melo Filho (2010), para permitir a segurança no uso
de determinado aditivo o mesmo deve ser adicionado em uma quantidade que garanta
uma Ingestão Diária Aceitável (IDA), que representa a quantidade do aditivo alimentar,
expresso na base de peso corporal, que pode ser ingerida diariamente durante toda a vida
sem risco à saúde. Assim, os aditivos podem ser considerados seguros, desde que sejam
utilizados dentro dos limites especificados pela legislação.
A utilização de aditivos durante o processamento de frutas pode ser responsável por
ocasionar alterações em algumas características sensoriais das frutas, sendo de grande
importância o estudo e a verificação do impacto destas alterações nas propriedades físico-
químicas dos produtos elaborados (GOMES, 2014). Tavares Filho et al. (2010), em seu
trabalho intitulado ‘Avaliação microbiológica da polpa de cajá conservada por métodos
combinados’, inferiram que a formulação da polpa pasteurizada combinada com
metabissulfito de sódio apresentou uma maior eficácia quanto ao controle de carga
fúngica e manteve o produto apto ao consumo ao longo de 90 dias.

Métodos Alternativos

Métodos alternativos (Figura 2), dizem respeito às técnicas de elaboração e


conservação de polpas de frutas que são pouco usadas, tanto de forma artesanal, quanto
industrial. São métodos desenvolvidos recentemente quando são comparados aos
procedimentos convencionais ou que já eram bastante conhecidos, porém, não eram
utilizados para esta finalidade. A Embrapa (2010) destaca o uso de irradiação como
processamento alternativo à conservação das polpas, enquanto que outros pesquisadores
citam o uso de métodos combinados ou até mesmo a desidratação por meio da liofilização
e/ou atomização.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 2. Fluxograma descritivo das etapas dos métodos alternativos de preparo das polpas de frutas.

1361

Fonte: Os Autores (2021).

Irradiação

O tratamento com o uso de radiação visa conservar os alimentos por mais tempo,
reduzindo as perdas causadas por brotamento ou maturação, além de reduzir a presença de
microrganismos, parasitas e pragas sem afetar a qualidade do produto. A tecnologia de
irradiação já é empregada em mais de 50 países e é aplicada, por exemplo, para a
preservação de carnes, frutas frescas, condimentos, ervas medicinais e temperos
(WIELAND et al., 2010).
Conforme Junqueira-Gonçalves et al. (2006), em comparação aos métodos
convencionais de conservação, a irradiação ɣ (gama) apresenta a vantagem de o alimento
2021 Gepra Editora Barros et al.

poder ser tratado já embalado e/ou congelado e ainda assim eliminar ou reduzir
microrganismos, parasitas e pragas sem a ação do calor e sem causar qualquer prejuízo
ao alimento, tornando-o também mais seguro ao consumidor.
De acordo com Wieland et al. (2010), para frutas frescas, como manga e papaya, o
maior interesse fitossanitário é a desinfestação de insetos e a dose média aplicada é 0,4 kGy.
No caso de redução de micro-organismos até a esterilização de alimentos, aplica-se uma dose
mais alta, de até 50 kGy. Segundo o mesmo autor, o tratamento de alimentos com radiação
é feito em irradiadores com fonte radioativa intensa de cobalto-60 ou em aceleradores de
partículas. E ainda conta que mesmo com o alimento, já na sua embalagem final, pode
ser exposto à radiação.
No Brasil, a ANVISA, por meio da Resolução RDC nº 01, de 26 de janeiro de 2001
aprovou o Regulamento Técnico para a Irradiação de Alimentos, que permite a irradiação 1362
de qualquer alimento, com a condição de que a dose máxima absorvida seja inferior
àquela que comprometa as propriedades funcionais e/ou os atributos sensoriais do
alimento e que a dose mínima absorvida seja suficiente para alcançar o objetivo
pretendido (ANVISA, 2001).
A Embrapa (2010), em seu comunicado intitulado ‘Irradiação de Polpa de Cupuaçu
(Theobroma grandiflorum)’ recomenda após estudos, a aplicação de 1500 Gy para a
conservação da polpa de cupuaçu por irradiação.
Silva et al. (2014) concluiu em seu trabalho ‘Avaliação dos efeitos da radiação
Gama na conservação da qualidade da polpa de amora-preta (Rubus spp. L.)’ que o
tratamento de 1,5 kGy foi o que apresentou a menor contagem de microrganismo e
garantiu a qualidade microbiológica por mais tempo, ou seja, 60 dias de armazenamento
sob refrigeração. Além disso, manteve-se apta ao consumo e em conformidade com o que
determina a legislação brasileira vigente. Foi observado que, durante todo o período de
armazenamento, a acidez, pH, teor de sólidos solúveis e teor de sólidos totais
permaneceram sem grandes modificações, mostrando dessa maneira, que não houve
interferência da irradiação gama nos parâmetros físico-químicos durante o tempo
analisado.

Desidratação

De acordo com Bezerra (2007), desde épocas remotas o homem vem


desenvolvendo diversas técnicas para a conservação dos alimentos de modo que permita
o seu melhor aproveitamento, sendo assim, a desidratação constitui uma delas.
A secagem ou desidratação implica em conservar os alimentos por meio da redução
da quantidade de água presente no alimento, ou seja, também engloba a sua atividade de
água (Aa). Assim, essa redução tem como consequência uma inibição da grande maioria
das reações enzimáticas e químicas responsáveis por algumas alterações no alimento e
também impedem o desenvolvimento microbiano, consequentemente, prolonga-se a vida
útil com apenas uma pequena modificação sensorial e nutricional (BEZERRA, 2007).
A desidratação de polpas de frutas pode ser feita pela aplicação de alguns métodos
conhecidos por alternativos, sendo esses menos utilizados. São eles: liofilização e
atomização.
Liofilização

A criodesidratação ou criosecagem ou mais conhecida como liofilização se trata de


um processo diferenciado de desidratação de produtos, pois, é realizado em condições
especiais de pressão e temperatura em que a água ou o solvente aquoso previamente
congelado passa diretamente para o estado de vapor sem passar pelo estado liquido, ou
seja, ocorre a mudança de estado físico por sublimação. Assim, o método não somente
2021 Gepra Editora Barros et al.

aumenta a vida útil do produto como reduz as perdas com relação a compostos
termossensíveis ou voláteis (RIBEIRO, 2012).
A liofilização é indicada para secagem de alimentos que contenham quantidades
consideráveis de antioxidantes sensíveis ao calor, como tocoferóis, ácido ascórbico,
carotenoides e compostos fenólicos. O método atua aumentando a vida útil dos alimentos
por impedir a proliferação de microrganismos e diminuir a taxa de oxidação lipídica.
Sendo assim, é o método que consegue atingir o mais alto padrão de qualidade no produto
seco em relação a cor, sabor, textura e aspectos nutricionais. No entanto, seu alto custo
operacional e o longo tempo de processo são fatores que minimizam seu uso em escala
industrial (SHOFIAN et al., 2011).
Souza (2011), em seu trabalho intitulado ‘Efeito da liofilização e desidratação em
leito de espuma sobre a qualidade do pó de polpa de cupuaçu (Theobroma grandiflorum)’ 1363
afirma que diante dos resultados obtidos pode-se concluir que, a liofilização é o método
mais adequado para produzir polpa de cupuaçu em pó, pois, apesar da semelhança nas
características físico-químicas, o produto liofilizado foi melhor aceito do que o obtido por
desidratação em leito de espuma.

Atomização

O processo de secagem por atomização constitui em uma alternativa de


conservação, resultando em produtos em pó com características estáveis, prolongando a
vida útil do produto seco. A encapsulação cria uma barreira entre o nutriente, ou também
o princípio ativo sensível ou relevante em questão, e o oxigênio, luz, ou outro tipo de
ambiente/quesito desfavorável à integridade do produto. A técnica facilita o manuseio,
armazenagem, e transporte do produto, sendo alguns dos benefícios do processo de
secagem (MARTIN, 2013).
O contato do líquido com o ar quente é o início da fase de secagem do líquido
durante a atomização, onde o contato do ar pode ser feito através de corrente normal
(pulverização na mesma direção do ar) e contracorrente (fluxo de ar em direção oposta à
pulverização do líquido). A temperatura do ar de secagem varia entre 150 e 220 ºC na
entrada e 50 a 80 ºC na saída, evitando possíveis degradações do produto final por altas
temperaturas (SOUZA et al., 2015).
Segundo Martin (2013), em estudo realizado cujo título é ‘Estudo da secagem da
polpa de cupuaçu por atomização’, concluiu que secagem por atomização nas condições
avaliadas é capaz de preservar o teor de vitamina C. As partículas da polpa in natura
tiveram melhor estrutura morfológica e maior retenção de vitamina C.

Métodos Combinados

A utilização dos métodos combinados consiste na junção de dois ou mais métodos


de conservação, como por exemplo: congelamento, irradiação, desidratação, adição de
aditivos, entre outros, tornando-se assim, um método alternativo pouco aplicado devido
ao custo.
A aplicação da tecnologia por meio de métodos combinados é utilizada como técnica
alternativa à refrigeração, congelamento, desidratação e outros procedimentos que, geralmente,
necessitam de alto investimento em equipamentos e ainda consomem muita energia (TAVARES
FILHO, 2010).
Segundo Ferro (2012), durante a fabricação de polpas de frutas são utilizados
artifícios que resultem em uma melhoria da qualidade microbiológica do produto, mas
que também podem acarretar em alterações na constituição do produto, como perda da
originalidade do sabor, aroma, viscosidade, cor, além de custos elevados.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Hojo (2010), ao estudar o efeito da combinação de métodos de conservação em


lichias ‘Bengal’, concluiu que a combinação entre tratamento hidrotérmico (52 ºC por
minuto) e resfriamento em HCl a 0,087M permitiu conservar a coloração das lichias por
até dois dias com 25% de escurecimento e até o 3º dia, com 50% de escurecimento.

Aproveitamento dos Resíduos Gerados no Processamento de Polpas

Martins et al., (2019), em seu trabalho denominado ‘Resíduos da indústria


processadora de polpas de frutas: capacidade antioxidante e fatores antinutricionais’,
explana que o processamento de frutas para a elaboração de polpas, além de produtos
como sucos e outros derivados, é responsável pela geração de toneladas de resíduos, os
quais são, em sua maioria, descartados de maneira inadequada, acarretando em poluição 1364
ambiental. Afirmação compartilhada com Sobrinho (2014), em seu trabalho
‘Propriedades nutricionais e funcionais de resíduos de abacaxi, acerola e cajá oriundos da
indústria produtora de polpas’.
Sobrinho (2014) argumenta que estes resíduos são constituídos de nutrientes e
fitoquímicos bioativos importantes para saúde humana, evidenciando a importância do
reaproveitamento desse material, o que infelizmente não é feito pela maior parte das
indústrias do país. No entanto, ao longo dos anos, diversos pesquisadores vêm sugerindo
por meio de seus trabalhos, alternativas de reaproveitamento de resíduos de diferentes
frutos.
Em artigo publicado na Revista Enciclopédia Biosfera, Perazzini e Bitti (2010)
desenvolveram uma metodologia para produzir etanol a partir de resíduos sólidos
orgânicos gerados por uma empresa de extração e envase de polpa de frutas tropicais, na
qual constataram por meio de ensaios experimentais que resíduos de abacaxi são capazes
de produzir este combustível, mesmo que em poucas quantidades. Os autores agora
estudam maneiras de aumentar o rendimento.
Oliveira, Regis e Resende (2011) em seu trabalho ‘Caracterização dos resíduos da
polpa do maracujá-amarelo’, sugerem o uso das sementes para extração de óleo,
argumentando que somente no estado do Rio de Janeiro, a produção anual poderia
ultrapassar 64 toneladas, com base nos cálculos de rendimento de sementes neste fruto.
Gerhardt et al. (2012) ao estudarem a atividade microbiana de casca de citrus,
notaram que o extrato da casca de limão-bergamota apresentou uma excelente atividade
antibacteriana, apresentando CIM em torno de 24 mg.mL-1 e CBM de 42 mg.mL-1 para
bactérias mais resistentes; o que sugere o uso destes resíduos pela própria indústria
alimentícia como meio de combater o desenvolvimento de patógenos em seus produtos.
Avaliando as propriedades físico-químicas e sensoriais de biscoitos tipo cookies,
elaborados com farinha de resíduos de acerola, Aquino et al. (2010) constataram que esta
farinha é uma boa alternativa para substituir parcialmente a farinha de trigo, tendo em
vista que possui elevado teor de ácido ascórbico, o que melhora o valor nutritivo do
biscoito.
Estes e outros trabalhos comprovam que as indústrias alimentícias que atuam no
país podem dar um novo destino para seus resíduos. No entanto, é necessário que se tenha
um maior investimento em pesquisas, objetivando descobrir novos potenciais para a
utilização destes resíduos, contribuindo assim, para o desenvolvimento da indústria de
alimentos, e que além de preservar o meio ambiente pode ser capaz de minimizar a fome
a desnutrição, considerando que estes subprodutos são uma ótima fonte de nutrientes
(NASCIMENTO FILHO; FRANCO, 2015).
2021 Gepra Editora Barros et al.

CONCLUSÕES

Por meio da verificação e análise dos estudos disponíveis nas bases de dados, assim
como as legislações e os conteúdos de sites tarimbados, nota-se que a indústria de polpas
de frutas dispõe de uma diversidade de técnicas e metodologias disponíveis, cada uma
com suas particularidades, que visam o mesmo objetivo: conservação das polpas,
oferecendo vantagens e desvantagens que cabem justamente a cada empresa avaliar e
decidir o método que melhor se adequa as necessidades e os interesses das suas fábricas.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 123

USO DE SILÍCIO NA PROMOÇÃO DE RESISTÊNCIA DO


REPOLHO AO PULGÃO Brevicorine brassicae
SANTOS, Danilo Salustiano
Graduando em Bacharelado em Agroindústria
Universidade Federal da Paraíba
nilodansantos7@gmail.com

FERREIRA, Pâmella Silva Soares


Graduanda em Bacharelado em Agroindústria
Universidade Federal da Paraíba
pamella.ferreira@gmail.com 1369

SILVA, Renato Anulino


Bacharel em Agroindústria
Universidade Federal da Paraíba
renatoanulinocchsa@gmail.com

SILVA, Mateus Gonçalves


Pós-Graduando em Sistemas Agroindustriais
Universidade Federal de Campina Grande
matheus.goncalves2102@gmail.com

BANDEIRA, Catarina Medeiros


Orientadora
Universidade Federal da Paraíba
catmbio@hotmail.com

RESUMO

O repolho (Brassica oleracea var. capitata) é uma hortaliça pertencente à família das
Brassicaceae, com características marcantes por possuir um alto teor foliar e uma seiva
aquosa, o que as deixam mais susceptíveis a incidência de pragas. O objetivo desse
trabalho foi avaliar o efeito da utilização do Silício (Si) na promoção da resistência do
repolho ao pulgão (Brevicoryne brassicae). O experimento foi conduzido em área
experimental localizada no Centro de Ciências Humanas Sociais e Agrárias (CCHSA),
da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Utilizou-se duas cultivares do repolho:
Chato de quintal e Matsukase, que receberam cinco diferentes doses de silício (0, 3, 6, 9
e 12 kg h-¹). O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados com
quatro repetições em duas cultivares de repolho. Aos 20, 30, 40 e 50 dias após o
transplantio (DAT) foi avaliada a incidência de pulgão sobre as plantas tratadas com as
diferentes dosagens de (Si). Pôde-se verificar que a cultivar Chato de quintal obteve um
efeito significativo da adubação com silício a 6L h-1 para o número médio de pulgões aos
55 (DAT); entretanto, não houve efeito significativo da adubação silicatada sobre o
número médio de pulgões por planta para o híbrido Matsukate aos 55 DAT, e nem para
os tipos de repolho aos 35, 45 e 65 DAT.

PALAVRAS-CHAVE: Brassica oleracea; Adubação silicatada; Aumento de


resistência.
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INTRODUÇÃO

As hortaliças folhosas são espécies vegetais de grande destaque entre os


consumidores, devido à sua facilidade de preparo e nutrientes que possuem. Estas
hortaliças se incluem como as mais consumidas no mundo, pois apresentam grande
diversidade tanto em cor e sabor como também em textura. Dentro do grupo de espécies
hortícolas folhosas destacam-se a cultura do repolho, alface, couve, rúcula, espinafre,
salsa entre outras. Para suprir a grande demanda do mercado e das classes consumidoras
desses produtos agrícolas, tem que se atender aos quesitos de qualidade, quantidade e
constância. Portanto, torna-se necessário o desenvolvimento e uso de sistemas de cultivo
que permitam elevada produtividade e em qualidade (NASCIMENTO, 2017). `Para isso 1370
é imprescindível o estudo de possibilidades que garantam a diminuição de insetos pragas
e doenças que venham a causar danos críticos à produção.
O uso da adubação que promova aumento da resistência da planta ao ataque de
pragas, associado ao controle biológico são ferramentas essenciais para o
desenvolvimento sadio das plantas, principalmente para aquelas que possuem seiva
aquosa e ficam mais propícia a incidência de pragas, tendo como exemplo o repolho
(Brassica oleraceae var, Capitata). O repolho é uma brassicacea, herbácea de folhas
arredondadas e cerosas que se caracteriza pela formação de uma cabeça compacta de
folha, no decorrer de um período de seu desenvolvimento. Tem uma grande versatilidade
não somente pelo seu valor nutritivo (LEDO et.al., 2000; FILGUEIRA 2007), mas
também por ser rica em cálcio, proteínas e Vitamina C, e que se destaca também pelo seu
caráter social, uma vez que a produção abrange pequenos e grandes produtores
(CARVALHO et.al., 2011).
Segundo o Anuário Brasileiro de Hortaliças (2015), o repolho se destaca com uma
das principais hortaliças cultivadas no Brasil. Deve-se isso, a sua grande adaptação e
suporte a temperaturas elevadas, fruto de muitos estudos e pesquisa aplicadas às
hortaliças, onde os mesmos avaliam a maioria das vezes: adaptação a diversos tipos de
solo, período de estresse hídrico que a planta pode passar, adubação - seja ela orgânica
ou química - e resistência a pragas que afetam a vida do vegetal. Podemos citar como
estresse de natureza biótica os pulgões, que são insetos que atacam os vegetais geralmente
em sua fase vegetativa.
O pulgão (Brevicoryne brassicae), é oriundo da Europa Meridional e Ocidental e
encontra-se distribuído amplamente nas regiões temperadas e subtropicais do mundo.
(LOPES, 2018). O pulgão verde é um dos principais colonizadores de espécies da família
brassicacea, ele vem evoluindo com seu hospedeiro e sobrenadou como inseto praga de
importância econômica em cultivos de brássicas. (MELO, 2017).
Os pulgões causam danos severos às brassicáceas, são conhecidos por formarem
grandes colônias e pela sucção contínua da seiva, prejudicando assim o desenvolvimento
da planta; são encontrados, na maioria das vezes, na parte inferior das folhas e quando o
número é muito expressivo podem aparecer na parte superior. Os pulgões adultos alados
têm o tórax de coloração verde e o abdômen amarelo-esverdeado, são recobertos por
glóbulos serosos, são responsáveis por disseminar a espécie. A fêmea áptera possui
cabeça escura, tórax e abdome verde acinzentado ou verde opaco, com manchas escuras
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na parte dorsal, corpo recoberto por cera branca‐acinzentada e comprimento de 1,8 a 2,1
mm, e são responsáveis pela reprodução dentro da colônia. (LOPES, 2018).
O ataque de pulgões às plantas de repolho, trazem diversos prejuízos, como o
comprometimento da integridade do limbo que é uma qualidade importante para a
formação das cabeças de tamanho comercial, a agressão causada pelo pulgão confere
deformidades e dificultam o encaixe das folhas durante a formação da bola. (MELO,
2017). O controle do pulgão é feito principalmente por aplicações de inseticidas
sintéticos, porém seu uso indiscriminado pode causar problemas de natureza econômica,
ecológica e ambiental devido à presença de resíduos nos alimentos, efeitos prejudiciais
sobre os inimigos naturais e seleção de populações de insetos resistentes.
1371
Na agricultura o uso de inseticidas, pesticidas e acaricidas químicos tem sido
utilizado como principal tática de controle de pragas. O controle químico deve ser feito
com pulverizações com inseticidas registrados para as culturas e seletivo aos inimigos
naturais da praga. No entanto, o acúmulo de resíduos de agrotóxicos pode acarretar em
danos à saúde dos consumidores e acarretar maior resistência da praga. Contudo, os
adubos que garantem maior resistência à planta (cultura) contra o ataque de insetos pragas
vêm adquirindo cada vez mais importância como alternativas ao uso direto de compostos
químicos inseticidas. Fertilizantes à base de silício (Si), citados na literatura, são os
principais alvos de estudos, para serem utilizados como indutores de resistência
(MONTES et al., 2015).
O silício (Si) é o segundo elemento mais abundante no solo e acumula-se a níveis
significativos dentro das células de muitas espécies de plantas. Embora o papel fisiológico
do Si assimilado pelas plantas seja bastante debatido, seus efeitos benéficos na resistência
das plantas para ambos os estresses abióticos e bióticos, incluindo insetos herbívoros é
bem estabelecido (MA, 2004; SA et al.,2015; MEHARG, 2015). A inclusão do silício
como fertilizante agrícola ainda é uma prática pouco utilizada na agricultura, no ramo da
horticultura, porém seus benefícios têm sido cada vez mais reconhecidos por
pesquisadores em todo o mundo (LUDWING, et.al.; 2015).
No Brasil, esse elemento foi incluído num Decreto do Ministério da Agricultura
(nº. 4.954, 14/01/2004) como elemento “benéfico” (Brasil, 2004). Entre os benefícios
proporcionado pelo Si, pode-se destacar o aumento da absorção de magnésio, cálcio e
aumenta a resistência da parede celular e regulação da evapotranspiração, estímulo à
produção de fitoalexinas (fenóis), aumento da taxa fotossintética, além de melhorar a
arquitetura foliar, a redistribuição do manganês na planta e proporcionar redução na
preferência alimentar de insetos e incidência de doenças, principalmente fúngicas (REIS
et al., 2008).
A adubação com silício possibilitaria um desenvolvimento vegetativo mais
eficiente, compensando as perdas provocadas por pragas que atacam as estruturas
vegetativas, podendo ser usada como tática de manejo de insetos. Este elemento além de
promover melhorias no metabolismo de plantas, ativa os genes envolvidos na produção
de enzimas relacionadas com os mecanismos de defesa contra insetos, revelando-se como
uma alternativa promissora (KORNDÖRFER, 2004; MONTES, et. al., 2015; SA et al.,
2015).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Pesquisas comprovam que após o uso desse micronutriente pelas plantas, ocorre
a absorção, onde o mesmo é depositado na parede da célula vegetal, onde o acúmulo de
sílica nos órgãos de transpiração leva à formação de uma dupla camada de sílica, essa
confere proteção e ameniza os efeitos de estresse de natureza, seja ela de origem biótica
quanto de origem abiótica (EPSTEIN, 1999). Com isso, pode-se esperar resultados
significativos e positivos na aplicação de silício na forma fertilizante ou da adubação com
plantas acumuladoras de Si.
Nesse contexto, a presente pesquisa teve o intuito de avaliar o uso do silício na
promoção da resistência do repolho ao pulgão Brevicoryne brassicae, uma das principais
pragas que afetam essa cultura.
1372

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada na área experimental do Campus III do Centro de Ciências


humanas, Sociais e Agrárias (CCHSA – UFPB), no munícipio de Bananeiras- PB. O
município de Bananeiras encontra-se localizado geograficamente pelos pontos das
coordenadas: latitude 6°46' S S e longitude de 35°38' W e com altitude de 617 m. O clima
segundo a classificação de Köppen, é do tipo As’ (tropical chuvoso), quente e úmido,
com temperatura máxima de 38 ºC e mínima de 18 ºC, sendo as maiores precipitações
nos meses de março a julho.
O solo local foi classificado por Brasil (1972), enquadrando-se na nova classificação
proposta pela EMBRAPA (2006), como Latossolo Amarelo distrófico, textura franco
arenosa a franco argilosa. A formação das mudas de repolho foi realizada em bandejas
preenchidas com substrato comercial (Plantmax®). Foram utilizadas sementes dos
híbrido Matsukase® e a variedade Chato de quintal. Aos 25 dias após a semeadura,
quando as plantas apresentaram altura média de 10 cm e de cinco a seis folhas definitivas,
foram transplantadas para o campo, espaçadas de 0,8 m entre leirões e de 0,4 m entre
plantas. O delineamento experimental utilizado foi de blocos casualizados com quatro
repetições, com os tratamentos dispostos em arranjo fatorial (2 x 5), referente duas
cultivares de repolho e cinco diferentes doses de silício (0, 3, 6, 9 e 12 kg ha-1),
totalizando 40 parcelas. A área da parcela experimental foi de 16 m², composta por quatro
fileiras de dez plantas (Figura 1). Para efeito de avaliação foram avaliadas as duas fileiras
centrais de cada tratamento.
A recomendação de adubação mineral e orgânica foi baseada na análise química do
solo e exigência nutricional da cultura. A adubação orgânica e mineral (fósforo e potássio)
foram realizadas no momento do plantio utilizando respectivamente, esterco bovino,
superfosfato simples e cloreto de potássio. Em cobertura foi realizada a adubação
nitrogenada aos 20 e 40 dias após o transplantio (DAT). Durante a condução do
experimento foram realizados os tratos culturais comuns ao repolho tais como: controle
de plantas daninhas com uso de capinas manuais, fornecimento de água nos períodos de
ausência de precipitação pelo sistema de gotejamento, ao nível da base das plantas, com
turno de rega de dois dias. Não foram realizados os controles fitossanitários para não
alterar a população de pulgão. A colheita foi realizada aos 130 DAT, quando as “cabeças”
2021 Gepra Editora Barros et al.

atingiram o ponto comercial, estimado pelo imbricamento completo das folhas internas,
além de aspectos sensoriais como compacidade e coloração (FILGUEIRA, 2008).
Foram avaliadas e analisadas as seguintes variáveis: incidência de pulgão sobre as
plantas de repolho adubadas com diferentes doses de silício - avaliada periodicamente a
partir dos 20 dias após o transplantio (DAT), em intervalos quinzenais até os 105 DAT.
Foram coletadas três plantas por tratamento com secção ao nível da base do caule, sendo
posteriormente acondicionadas em sacos plásticos e conduzidas ao Laboratório de
Entomologia, sendo quantificada a população total de insetos ápteros por planta. A
variação populacional foi feita quantificando-se o número médio de pulgões planta-1,
durante todo o ciclo do repolho, em função dos tratamentos de pulgão com diferentes
1373
doses de silício.
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância com aplicação do teste F
ao nível de 5% de probabilidade. Os dados referentes às doses de silício foram submetidos
às análises de regressão polinomial. As médias referentes as duas cultivares de repolho
foram comparadas pelo teste de Tukey a 5%.

Figura 1: Área do experimento.

Fonte: Acervo Pessoal (2020).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

População de pulgões em repolho em função da adubação com silício

Verifica-se pela disposição dos dados no gráfico que aos 55 dias após o
transplantio (DAT) (Figura 2C), houve efeito significativo da adubação com silício para
o número médio de pulgões na cultivar chato de quintal, visto que se ajustaram ao modelo
linear decrescente, ou seja, a medida em que foi aumentando a dose de silício, o número
médio de pulgões foi diminuindo, chegando a menos de 100 com aplicação de 6L de
2021 Gepra Editora Barros et al.

silício por h-1. Observa-se que não houve efeito significativo da adubação silicatada sobre
o número médio de pulgões na cultivar híbrido, nesta mesma condição de DAT.
No que tange aos demais períodos DAT, constatou-se que não houve efeito
significativo da adubação silicatada sobre a incidência de pulgões por planta para os dois
tipos de repolho, aos 35 (Figura 2A), 45 (Figura 2B) e 65 (Figura 2D).

1374

*Significativo a 5%, NS – não significativo.

Figura 2. Número médio de pulgões em plantas de dois tipos de repolho adubados com silício avaliados
aos 35 (A), 45 (B), 55 (C) e 65 (D) após o transplantio. UFPB, Bananeiras – PB, 2020.

Para a cultivar chato de quintal, avaliada aos 55 DAT, o maior número médio de
pulgões por planta foi de 427,55 no tratamento sem adubação com silício. Com a elevação
das doses de silício, houve diminuição no número médio de pulgões por planta
apresentando o menor valor que foi de 53,45 pulgões por planta, com aplicação de 6 L
ha-1 de silício.
Aos 35 (Figura 2A), 45 (Figura 2B) e 65 (Figura 2D) DAT, o número médio de
pulgões em plantas de repolho foram de 7,02; 4,5; 24,35; 23,15; 3.884 e 5.958 nos tipos
de repolho híbrido Matsukaze e chato de quintal, respectivamente. Aos 35 (DAT) (Figura
2C), no hibrido Matsukaze, o número médio de pulgões por planta foi 149.
Em um estudo realizado por Duarte (2016), onde foi estudada diversas formas de
controle da população de pulgões em couve-de-folha, pôde-se observar que a flutuação
populacional no tratamento à base de silício (Ksil), se diferenciou dos demais, onde o
número médio de pulgões cresceu desde a colonização inicial das plantas, até os 35 DAP
(dias após o plantio), e esse número veio decrescendo até na última avaliação que ocorreu
2021 Gepra Editora Barros et al.

aos 45 DAT. No mesmo estudo a autora concluiu que embora o uso do silício não fosse
o objetivo principal do trabalho, mas as aplicações reduziram a velocidade de crescimento
das populações dos pulgões.
Isso pode ser explicado, pois fertilizantes à base de silício estão entre os produtos
citados na literatura como indutores de resistência (DATNOFF et al., 2001).
Os pulgões podem infestar significativamente hortaliças folhosas e comprometer
sua qualidade quando não tratadas corretamente. Observou-se que no tratamento sem
aplicação de silício a infestação foi significativa, gerando aspecto visual não propício à
comercialização do produto, pois o mesmo não atinge quesitos de qualidade (Figura 3).
1375
Figura 3: Pulgões sob planta de repolho no tratamento controle.

Fonte: Acervo Pessoal (2020)

CONCLUSÃO

A utilização do silício na dosagem de 6 L ha-1, obteve a maior redução do número


populacional de pulgões, aos 55 DAT, na variedade de repolho chato de quintal, já no
hibrido Matsukase os efeitos não foram significativos, onde o pico máximo da população
ocorreu nas duas variedades aos 65 DAT.
2021 Gepra Editora Barros et al.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 124

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E SENSORIAL DE NÉCTAR DE


ABACAXI (Ananas comosus L.) ADOÇADO COM MEL DE
ABELHA
SILVA, Jose Nnehanderson Freitas
Graduado em Agronomia
Universidade Federal Rural de Pernambuco
nnehanderson@gmail.com

ALVES, Bruna Mirelle Vicente


Graduada em Engenharia de Alimentos 1378
Universidade Federal Rural de Pernambuco
bruna_ceeg@hotmail.com

RESUMO

O Brasil se destaca na produção de abacaxi sendo um dos maiores produtores e


exportadores do mundo, a fruta é largamente consumida no país seja in natura ou de forma
processada como geleias, cristalizados e sucos. Néctar de abacaxi é uma bebida não
fermentada, obtida da diluição em água potável da parte comestível de seu extrato,
adoçado, podendo ser acrescido de ácidos. O objetivo deste trabalho foi elaborar um
néctar de abacaxi adoçado com mel de abelha, avaliar as características físico-químicas
do produto e realizar análise sensorial e sua aceitabilidade em relação ao néctar adoçado
com açúcar. Foram analisadas as características físico-químicas do néctar, o teor de
sólidos solúveis e pH, e realizada a avaliação sensorial para verificar a aceitabilidade do
produto junto aos consumidores. De acordo com os resultados físico-químicos, o néctar
de abacaxi adoçado com mel apresentou valores de pH 3,54 e 14,60 ºBrix. Na avaliação
sensorial os atributos mais significativos foi a cor e o aroma, com média acima de 6,0. De
maneira geral apresentou aceitação global com média 6,4 (gostei ligeiramente) nas
características analisadas, sabor, cor e aroma. O presente estudo apesar de ter avaliado
poucos parâmetros importantes segundo a legislação, foi possível evidenciar a relevância
de mais uma alternativa tecnológica para o aproveitamento do abacaxi e do mel.

PALAVRAS-CHAVE: fruta tropical, Apis mellifera, aceitabilidade.

INTRODUÇÃO

Originário do Brasil o abacaxizeiro (Ananas comosus L. Merril), pertencente à


família Bromeliaceae, é nativa das regiões tropicais e subtropicais das Américas
(PALMA-SILVA et al., 2016). O fruto é utilizado tanto para o consumo in natura quanto
na industrialização, em diferentes formas: pedaços em calda, suco, pedaços cristalizados,
geleias, licor, vinho, vinagre e aguardente. Como subproduto desse processo industrial
pode-se obter ainda: álcool, ácidos cítrico, málico e ascórbico; rações para animais e a
bromelina. A bromelina é um produto de alto valor medicinal, trata-se de uma enzima
muito utilizada como digestivo e anti-inflamatório. Na culinária, o suco de abacaxi é
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utilizado para o amaciamento de carnes. Além disso, os frutos são ótimas fontes de cálcio
e vitaminas A, B e C (PY et al., 1984).
O Brasil se destaca na produção de abacaxi sendo um dos maiores produtores e
exportadores do mundo (MARTINELLI et al., 2019). Os dados mais recentes do IBGE
(2017) destacam a produção brasileira de 1.502.598 mil frutas, em uma área de 62.116
ha. As variedades mais cultivadas são a Pérola e Smooth Cayenne. Cultiva-se ‘Pérola’
predominantemente na Bahia, Paraíba, Rio Grande do Norte, Pará, Tocantins e Maranhão,
os frutos destinam-se ao mercado interno de frutas frescas, enquanto o ‘Smooth Cayenne’
é cultivado notadamente em São Paulo e Minas Gerais, e os frutos destinam-se ao
mercado externo. A cultivar Pérola é a preferida nos plantios do Brasil por possuir baixos
1379
teores de acidez satisfazendo o paladar do consumidor (MELETTI et al., 2011; BRITO
NETTO et al., 2008). Por ser um fruto perecível apresenta condições favoráveis de perdas
pós-colheita, uma alternativa é a aplicação de tecnologias de conservação que preservem
suas principais características, acrescentando-lhe valor e uma nova opção de produto
transformado aos consumidores (MIRANDA et al., 2015).
De acordo com a legislação Brasileira, néctar é uma bebida não fermentada, obtida
da diluição em água potável da parte comestível do vegetal ou de seu extrato. O néctar
diferente da polpa não possui a obrigatoriedade de conservar todas as características
originais de um suco natural de fruta, sendo permitido apenas a adição de açúcar, e não
permitido a adição de corantes e aromatizantes. A porcentagem de polpa é fixada em
Regulamento Técnico específico, quando não há especificação mínima, considera-se que
o néctar de determinada fruta deve conter no mínimo 30% da respectiva polpa, ressalvo
o caso de fruta com acidez ou conteúdo de polpa muito elevado ou sabor muito forte e,
neste caso, o conteúdo de polpa não deve ser inferior a 20% (BRASIL, 2003).
Em sua definição regulamentar, o Néctar de Abacaxi é a bebida não fermentada,
obtida da dissolução, em água potável, da parte comestível do abacaxi e açúcares,
destinado ao consumo direto, podendo ser adicionado de ácidos. Em sua composição deve
apresentar como características, cor variando de branco a amarelada, sabor característico
e aroma próprio (BRASIL, 2003).
Segundo a Anvisa, mel é o produto natural elaborado por abelhas a partir de néctar
de flores e/ou exsudatos sacarínicos de plantas. Dentre os produtos fornecidos pelas
abelhas, o mel é sem dúvida o mais conhecido e difundido (ABREU, 2003). Com sua
variedade de cores e sabores é provavelmente o ingrediente e adoçante mais interessante
para ser utilizado na produção de néctares e sucos, sua qualidade é determinada pelas
propriedades sensoriais, físicas e químicas (NHB, 2006; TOMÁS, ALMEIDA, BOAS,
2017). Esta aceitação se deve ao baixo valor de pH, apresentando-se quimicamente
compatível com muitas bebidas, podendo ser incorporado diretamente em diversas
formulações (SILVA et al., 2008).
Tradicionalmente a sacarose vem sendo utilizada como adoçante de néctares e
sucos de frutas. Todavia, pelo fato de grande parte da população optar por alimentação
saudável, torna-se necessário buscar alternativas de adoçantes naturais que, por sua
natureza e composição, estejam associados a um melhor estilo de vida (SANTOS et al.,
2014).
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A avaliação sensorial exerce o papel de suporte técnico para pesquisas,


industrialização, marketing e controle de qualidade, por meio de testes sensoriais sejam
eles discriminativos, descritivos e/ou afetivos (DUTCOSKY, 2011). É uma resposta
particular que varia de indivíduo para indivíduo, em função das experiências,
expectativas, grupo étnico, faixa etária, sexo e hábitos alimentares (HENRIQUES, 2012).
É uma ciência que utiliza os sentidos humanos para avaliar os atributos de um
produto. Os testes afetivos são usados para avaliar a preferência e/ou aceitação, acessam
diretamente a opinião do consumidor ou o potencial de um produto, visando a
manutenção da qualidade, a otimização de processos e o desenvolvimento de novos
produtos (SANTOS et al., 2012).
1380
Objetivou-se neste trabalho elaborar um néctar de abacaxi adoçado com mel de
abelha, assim como avaliar as características físico-químicas do produto, realizar análise
sensorial e sua aceitabilidade em relação ao néctar adoçado com açúcar.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no bloco de processamento do Laboratório de Ensino,


na Unidade Acadêmica de Garanhuns-PE/ Universidade Federal Rural de Pernambuco
(UAG/ UFRPE). Para elaboração do néctar foram utilizados frutos de abacaxi
pertencentes a variedade pérola, devido a sua fácil aquisição nos principais mercados da
região, já o mel de abelha foi obtido por meio de apicultores familiares do município.

Produção do néctar de abacaxi

A metodologia adotada foi adaptada de Silva et al. (2008), que fez uso de caju em
sua formulação. Foram seguidos os mesmos procedimentos para elaboração dos dois
produtos: o néctar adoçado com mel e o néctar utilizando o açúcar como agente adoçante.
Os néctares foram formulados conforme apresentado na Tabela 1.

Tabela 1. Formulação utilizada na elaboração dos néctares de abacaxi.


Ingredientes Néctar adoçado com açúcar Néctar adoçado com mel

Polpa de abacaxi 50% 50%


Açúcar 9% -
Mel - 10%
Ácido cítrico 1% 1%
Água 40% 39%

Para produção do néctar, as frutas passaram por processos de recepção e seleção,


limpeza e descascamento, trituração, obtenção da polpa de abacaxi, mistura dos
ingredientes, envase, branqueamento e armazenamento, conforme descrito na Figura 1.
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1381

Figura 1. Fluxograma de elaboração do néctar de abacaxi.

Utilizou-se cinco frutos de abacaxi, selecionados de forma a garantir uniformidade


nos aspectos de coloração da casca, ponto de maturação (desprendimento fácil da coroa),
ausência de injúrias mecânicas, ataque de pragas e de doenças. Após a recepção e a
seleção dos frutos, estes foram lavados externamente em água corrente com detergente
neutro, e posteriormente imersos em solução de água clorada na concentração de 150
ppm, por 20 minutos. Para a higienização dos utensílios foi utilizada solução de
hipoclorito de sódio na concentração de 10%.
Após a sanitização, os abacaxis foram descascados usando faca de aço inox para
retirada da casca e do talo, em seguida cortados em cubos para serem triturados em
liquidificador por 3 minutos para extração da polpa. O néctar deverá possuir ºBrix igual
a 12º, desta forma 50% é polpa e os outros 50% compõem o xarope também a 12 ⁰Brix.
O xarope é uma solução de água com açúcar ou mel para correção do ºBrix, e ácido cítrico
que além de regular a acidez (pH = 4) garantindo a conservação, também é utilizado pois
realça o aroma e confere frescor ao produto. Os néctares produzidos foram
acondicionados em frascos plásticos com volume equivalente a 500 mL, sendo
hermeticamente fechados para posterior processo de branqueamento.
Para obtenção de um alimento mais saudável, isento da contaminação de patógenos
realizou-se o branqueamento, esta etapa foi realizada na temperatura de 95 ºC por 3
minutos, seguido de resfriamento em água gelada 7 ± 2 °C. O armazenamento foi em
refrigerador a 7 ± 2 °C para não comprometer a qualidade final do produto.

Análise Sensorial
A análise sensorial foi realizada em uma sala de aula da Unidade Acadêmica de
Garanhuns. O grupo de provadores era composto por alunos, professores e funcionários
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da unidade, sendo o perfil destes de diferentes níveis de faixa etária e dos sexos,
masculino e feminino.
Os atributos sensoriais cor, sabor e aroma dos néctares foram avaliados através de
testes de aceitação utilizando escala hedônica estruturada de nove pontos, na qual 9
representa “gostei muitíssimo” e 1 “desgostei muitíssimo” (MEILGAARD et al., 1987),
aplicados a 50 provadores não treinados. Cada provador recebeu duas amostras servidas
em copos plásticos com aproximadamente 30 mL, a temperatura de 7 ± 2 °C, de forma
aleatória e codificados com três dígitos. Os provadores foram orientados a provar as
formulações da esquerda para a direita, e entre a prova destas fez-se uso de água para
limpar o paladar, evitando conflito entre as amostras analisadas. Cada um recebeu uma
1382
ficha para o preenchimento das características globais dos produtos.

Avaliação das características físico-químicas

Quanto as características físico-químicas, foi avaliado os parâmetros teor de sólidos


solúveis, ºBrix, e o potencial hidrogeniônico, pH, da polpa de abacaxi e dos néctares
produzidos. Para determinação de pH foi utilizado pHmêtro digital. O pH foi
determinado através de leitura direta em potenciômetro de marca WTW, modelo
330i/SET, calibrado a cada utilização com soluções tampão pH 4,0 e 7,0 conforme AOAC
(2012). Os sólidos solúveis determinados por refratometria através da medida do °Brix
em refratômetro marca ATAGO, com escala variando de 0 a 32 °Brix, conforme Instituto
Adolfo Lutz (IAL, 2008).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Avaliação sensorial

Os atributos analisados sabor, aroma e cor, de acordo com a Figura 2 abaixo,


evidenciou que os provadores de ambos os sexos aprovaram com maior valor o néctar a
base de açúcar em relação ao néctar adoçado com mel, obtendo-se valores médios
próximos a 7. Segundo relatado por Jesus et al. (2017), que analisou sensorialmente néctar
de mangaba e maracujá adoçado com mel, o sabor e a doçura foram os atributos com as
menores notas sensoriais, 6,2 e 5,4, já a cor e o aroma receberam as maiores médias, 7,6
e 6,8, fato que corrobora com os dados aqui apresentados.
De acordo com Morzelle et al. (2012), a intenção de compra está intimamente
relacionada com a aceitabilidade no parâmetro sabor. O sabor foi o atributo menos
apreciado pelos avaliadores que provaram o néctar a base de mel, com índice de
aceitabilidade próximo a 6. Já em relação ao néctar a base de açúcar o parâmetro com
menor aceitação foi a coloração, alcançando valor médio de 6,5.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Avaliação Sensorial dos Néctares


7

6,8

6,6

6,4

6,2 Adoçado com mel


Adoçado com açúcar 1383
6

5,8

5,6

5,4
Sabor Cor Aroma

Figura 2. Avaliação sensorial do néctar adoçado com açúcar e néctar adoçado com mel.

Segundo Amorim et al. (2018), a cor é um dos atributos sensoriais que mais
influenciam o consumidor na atitude de compra, por se tratar do primeiro contato entre o
consumidor e o produto, a partir deste pré-requisito a decisão de compra é aceita. Quanto
a coloração, o néctar adoçado com mel apresentou melhor aceitação que o néctar a base
de açúcar, apresentando valores médios próximos a 7.

Figura 3. Avaliação dos atributos referentes aos néctares: cor, sabor e aroma.

Pode-se visualizar através do gráfico aranha (Figura 3), que o néctar adoçado com
mel obteve melhor nota no quesito cor e menor para o sabor. Já com relação ao néctar
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adoçado com açúcar, este obteve as melhores notas para o parâmetro sabor e menor valor
comparado com a cor. O único atributo que as amostras se assemelharam foi o aroma, ou
seja, não houve diferença significativa de aroma para os agentes adoçantes utilizados, o
mel e açúcar. Estudos de Dutra & Bolini (2013), que avaliaram néctar de acerola adoçado
com sacarose e diferentes adoçantes, observaram que as amostras não diferiram quanto
ao aroma, e os néctares adoçadas com sacarose e sucralose apresentaram maior aceitação
para sabor, fato semelhante aos dados aqui apresentados para o néctar adoçado com
açúcar.

Avaliação físico-química
1384

Na Tabela 2 pode ser observado que as amostras analisadas apresentaram pH abaixo


de 4,50, os néctares desenvolvidos apresentaram valores de pH muito próximos, entre
3,54, inclusive ao pH da própria fruta, sendo considerados estatisticamente iguais.
Alvarenga et al. (2016) que elaborou néctar de abacaxi e chá verde adoçado com açúcar,
os valores de pH variaram entre 4,50 e 4,10. Fonseca (2014) em seus estudos sobre análise
sensorial e caracterização em compostos bioativos de néctares mistos de frutas tropicais,
obteve valores de pH variando 3,02 a 4,00, o que difere dos resultados aqui apresentados,
não ocorreu variações de pH.

Tabela 2. Valores médios (VM) das análises físico-químicas dos néctares de abacaxi elaborados.
Néctar pH ºBrix

Polpa 3,60 13,50

Néctar com açúcar 3,39 14,00

Néctar com mel 3,54 14,60

Em relação aos sólidos solúveis, os néctares obtiveram valores de 14 ºBrix.


Segundo Brasil (2003) apresentaram-se conforme estabelecido pela legislação vigente,
cujos teores mínimos são de 11 °Brix para néctar de abacaxi. Gomes et al. (2019) que
caracterizou blends de abacaxi, cenoura e couve adoçados com mel, apresentou valores
de sólidos solúveis na faixa de 11,23 a 13,53 °Brix, valores inferiores ao relatado no
presente estudo, devido a presença da couve que possui baixo teor de sólidos solúveis.
De acordo com Silva et al. (2016), a determinação da concentração de sólidos
solúveis é importante pois determina o nível de aceitação do produto pelo consumidor, já
que é uma medida indireta do teor de açúcar. Entretanto o mesmo varia de acordo com a
fruta e o estado de maturação da mesma.
O pH, embora não seja regulamentado pela legislação brasileira para néctar de
abacaxi, é de suma importância para a formulação das bebidas, uma vez que este
parâmetro nunca deve ser superior a 4,50, visto que acima deste valor pode favorecer o
crescimento do Clostridium botulinum (MIRANDA, et al., 2015).
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CONCLUSÕES

O néctar de abacaxi adoçado com mel durante o período de processamento, obteve


valores físico-químicos de pH 3,54 e 14,60 ºBrix, conforme a legislação vigente para estes
parâmetros.
Na avaliação sensorial apesar de o sabor ter sido o atributo com menor nota em
termos sensorial, a cor e o aroma obtiveram melhores notas, dessa forma o produto
apresentou-se dentro da aceitação global com média 6,4 (gostei ligeiramente), tendo um
grau de aceitabilidade satisfatório quanto aos provadores em questão. De modo geral o
presente estudo apesar de ter avaliado poucos parâmetros importantes segundo o que
preconiza a legislação, foi possível evidenciar a relevância de mais uma alternativa 1385
tecnológica para o aproveitamento do abacaxi e do mel. Se faz necessário estudos futuros
que possam tornar viável a produção e comercialização deste produto, o néctar de abacaxi
adoçado com mel de abelha.

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Capítulo 125
CAULE DECOMPOSTO DE BURITI (Mauritia flexuosa L.) NO
DESENVOLVIMENTO MORFOLÓGICO DE ESTACAS DE
FIGUEIRA
NUNES, Thaís Paula Martins
Pós-graduanda em Ciências Agrárias
Universidade Federal do Piauí (UFPI)
thays-paulla@gmail.com

MATIAS, Sammy Sidney Rocha


Doutor em Agronomia
Professor da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) 1388
ymmsa2001@yahoo.com.br

TAVARES FILHO, Gilberto Saraiva


Pós-graduando em Engenharia Agrícola
Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF)
gilfilho753@hotmail.com

MATOS, Alex Pinto de


Doutorando em Agronomia
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)
alex-pinto-1@hotmail.com

PEREIRA, Gustavo Alves


Doutor em agronomia
Professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI)
gustavopereira@ufpi.edu.br

RESUMO
A produção de mudas é uma das etapas mais importantes do sistema de cultivo, pois todo
o desempenho final é dependente dela, dessa forma a escolha do substrato correto pode
significar aumento substancial na produtividade. Sendo assim, objetivou-se com o
presente estudo, avaliar o desenvolvimento de mudas de figueira produzidas com
substratos orgânicos a base de caule decomposto de buriti. Foram feitas diferentes
proporções do substrato (20%, 40%, 60%, 80% e 100%) com diferentes tempos de
decomposição (0, 15, 30, 45 60 e 75 dias) e um de 100% solo, totalizando 31 tratamentos,
os mesmos foram distribuídos em 5 blocos, em que os blocos eram as repetições. Ao final
de 60 dias foram avaliadas variáveis morfológicas das estacas, massa fresca da parte
aérea, massa fresca da raiz, comprimento da raiz, massa seca da parte aérea, massa seca
da raiz, diâmetro e comprimento do maior broto, e índice de clorofila a e b. Percebeu-se
que os tempos de decomposição não surtiram resultados positivos. O período chuvoso
proporcionou uma maior proliferação de fungos, que prejudicou o desenvolvimento das
mudas, dessa maneira também não foi possível notar resultados significativos para as
diferentes proporções do substrato, contudo percebeu-se que mesmo com as condições
climáticas não favoráveis, o caule decomposto de buriti proporcionou melhores
resultados quando comparado com o solo de forma isolada.

PALAVRAS-CHAVE: Substrato orgânico, figo, frutífera.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de frutas, essa posição tem contribuído
para melhoria no rendimento da economia do país, pois tem aumentado sua participação
no mercado externo (IBGE, 2018). Dentre as várias frutas produzidas no Brasil o figo,
vem se destacando devido a sua boa adaptabilidade nos diversos climas e também ao
rápido retorno produtivo que a cultura tem.
Apesar de o Brasil ser destaque como maior produtor desse fruto da América do
Sul, no Estado do Piauí sua produção é insipiente e sequer aparece nas estatísticas (FAO,
2018), mesmo com condições climáticas que permitem o seu cultivo. Pensando no rápido
retorno financeiro da cultura e nas boas condições climáticas e hídricas do Estado do 1389
Piauí, o figo seria uma boa opção de fonte de renda e de produção para pequenos e grandes
produtores.
Sendo assim, surge a necessidade de estudos que possam contribuir para a
introdução da cultura de maneira significativa no Estado do Piauí, além de pensar na
redução dos custos de produção. A produção de mudas é uma das etapas mais importantes
do sistema de cultivo, pois o desempenho final é dependente dela (SILVA et al., 2019).
E escolha do substrato correto pode significar um aumento substancial na
produtividade, já que está diretamente relacionado com a qualidade das mudas, esses
substratos podem ser comerciais ou orgânicos e são escolhidos de acordo com as
exigências nutricionais de cada cultura. Segundo Silva et al. (2019) a escolha do substrato
correto pode significar um aumento substancial na produtividade, esses substratos podem
ser comerciais ou orgânicos, e são escolhidos de acordo com o que se deseja produzir.
Os substratos orgânicos possuem a vantagem de contribuírem para redução dos
impactos ambientais, além de serem mais econômicos quando comparados com os
comerciais, vários substratos orgânicos são estudados e também já são utilizados, como
esterco caprino, bovino, cama de frango, caule decomposto de babaçu, caule decomposto
de buriti e outros. O caule decomposto de buriti (Mauritia flexuosa L.), pode ser uma
opção de susbtrato para a introdução da figueira de maneira significativa no Estado do
Piauí, já que o mesmo possui boas condições químicas (FONSECA et al., 2019;
CAVALCANTE et al., 2011; COSTA JUNIOR et al., 2017), tem em grande quantidade
na região e é de fácil acesso para o produtor.
Dessa maneira objetivou-se com o presente estudo avaliar as características
fitotecnicas de mudas de figueira produzidas com substratos compostos por caule
decomposto de buriti, visando a redução de custo e melhoria na qualidade da muda.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado em telado coberto com sombrite a 50% de


luminosidade, na Universidade Federal do Piauí, no Campus Professora Cinobelina
Elvas, em Bom Jesus-PI, localizada às coordenas geográficas 09º04’28” de latitude Sul,
44º21’31” de longitude Oeste com altitude média de 277, segundo Köppen (1948), o
clima dessa região é tropical com menos pluviosidade no inverno do que no verão, é
2021 Gepra Editora Barros et al.

classificado como Aw, quente e semiúmido, com temperatura média de 26,7° e com
pluviosidade média anual de 1002 mm.
O mesmo foi dividido em duas etapas, a primeira delas teve início em dezembro de
2019 com a coleta do caule de buriti (Mauritia flexuosa L.), realizada no Assentamento
Brejo dos altos, localizado a aproximadamente 20 km de Bom Jesus – PI. Todo o material
foi passado em uma forrageira para que fosse feito o substrato (Figura 1).

a b

1390

d
c

e f
2021 Gepra Editora Barros et al.

g h

Figura 1. Etapas da montagem e coletas de dados do trabalho. Material do caule decomposto (a), 1391
recipiente para decomposição nos intervalos dos dias (b), preparo dos tratamentos (c), planta de figo que
forneceu o material (d), experimento montado (e), verificando e medindo as variáveis (f, g e h).

Após a coleta do material, iniciou-se a decomposição em diferentes intervalos de


tempo, 0, 15, 30, 45, 60 e 75 dias, sendo irrigados manualmente todos os dias. Após os
75 dias de decomposição, deu-se início a segunda parte do experimento, em março de
2020, e para cada um dos tempos de decomposição foram feitas 5 proporções de caule
decomposto de buriti, misturado ao solo nas seguintes proporções: 20%, 40%, 60%, 80%
e 100%, além disso também foi colocado um tratamento adicional 100% solo, totalizando
31 tratamentos, mais um adicional (Figura 1).
Utilizou-se saquinhos de polietileno de 750 ml para fazer o plantio das estacas, as
mesma foram coletadas de plantas com 3 anos, no pomar didático da Universidade
Federal do Piauí, no Campus Professora Cinobelina Elvas, as mesmas foram
padronizadas no tamanho de 25 cm e plantadas em cada uma das proporção do substrato,
mantidas em uma bancada coberta por plástico formando uma câmara úmida com a
irrigação controlada por timer automático para 5 vezes ao dia nos seguintes horários:
06:00; 10:00;12:00; 16:00 e 18:00 horas, por um tempo de 4 minutos cada uma delas.
Após 60 dias de montagem do experimento, foram avaliados parâmetros
morfológicos das estacas como: número de folhas, obtido pela contagem direta de todas
as folhas expandidas ou abertas totalmente presentes na planta, número de brotos, obtido
pela contagem direta de todos os brotos principais presentes na planta, índice de clorofila
a e b, obtidos através da utilização de clorofilômetro portátil, modelo CFL 1030
ClorofiLOG as avaliações foram feitas utilizando a 3ª folha de cada estaca, comprimento
da raiz, foi realizada utilizando régua graduada em cm, medido a partir da inserção da
raiz na base do colo, até o ápice radicular, matéria fresca da parte aérea e raiz (g) - obtida
através da pesagem em balança analítica, Matéria seca da parte aérea e raiz (g) - a matéria
seca de parte aérea e raiz foram obtidas após secagem em estufa de circulação forçada de
ar a 65ºC por 72 h, procedendo, em seguida, à pesagem em balança analítica.
Para cada variável morfológica foi realizada uma análise formada por uma amostra
composta numerada de 1 a 31, como mostra a tabela 1.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Tabela 1. Amostras dos tratamentos das variáveis morfológicas analisadas.


Número do tratamento Proporção Tempo
1 100% SOLO
2 20% de CDB + 80 % SOLO 0 dias
3 20% de CDB + 80 % SOLO 15 dias
4 20% de CDB + 80 % SOLO 30 dias
5 20% de CDB + 80 % SOLO 45 dias
6 20% de CDB + 80 % SOLO 60 dias
7 20% de CDB + 80 % SOLO 75 dias
8 40% de CDB + 60 % SOLO 0 dias
9 40% de CDB + 60 % SOLO 15 dias
10 40% de CDB + 60 % SOLO 30 dias 1392
11 40% de CDB + 60 % SOLO 45 dias
12 40% de CDB + 60 % SOLO 60 dias
13 40% de CDB + 60 % SOLO 75 dias
14 60% de CDB + 40 % SOLO 0 dias
15 60% de CDB + 40 % SOLO 15 dias
16 60% de CDB + 40 % SOLO 30 dias
17 60% de CDB + 40 % SOLO 45 dias
18 60% de CDB + 40 % SOLO 60 dias
19 60% de CDB + 40 % SOLO 75 dias
20 80% de CDB + 20 % SOLO 0 dias
21 80% de CDB + 20 % SOLO 15 dias
22 80% de CDB + 20 % SOLO 30 dias
23 80% de CDB + 20 % SOLO 45 dias
24 80% de CDB + 20 % SOLO 60 dias
25 80% de CDB + 20 % SOLO 75 dias
26 100% de CDB 0 dias
27 100% de CDB 15 dias
28 100% de CDB 30 dias
29 100% de CDB 45 dias
30 100% de CDB 60 dias
31 100% de CDB 75 dias
CDB – Caule decomposto de Buriti (Proporção)

Além das variáveis morfológicas também foi realizada uma análise química do
substrato de caule decomposto de buriti com as respectivas proporções (SILVA, 2009),
as análises do substrato foram realizadas antes e após a montagem do experimento através
de amostras compostas, onde não foram realizadas repetições.
Utilizou-se o delineamento em blocos casualizados, com cinco blocos e duas
plantas por parcela. Os dados foram organizados em excel, bem como a formação dos
gráficos para interpretação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após os 60 dias de montagem do experimento, observou-se que os tempos de


decomposição não surtiram resultados significativos para o desenvolvimento das estacas
de figueira. Além disso as estacas de figo não se desenvolveram de forma significativa
para as proporções de caule decomposto de buriti, a ação de fungos provocada pelo
2021 Gepra Editora Barros et al.

aumento da umidade dentro da câmera úmida, em que as estacas se encontravam causou


um mal desenvolvimento das mesmas.
Entretanto pode-se observar que o caule decomposto de buriti, mesmo com as
condições não favoráveis, devido a ação de fungos, proporcionou melhores resultados
para as variáveis analisadas, quando comparado com o substrato que continha 100% solo,
como podemos observar para as variáveis massa fresca da parte aérea (MFPA), massa
fresca da raiz (MFRZ), massa seca da parte aérea (MSPA) e massa seca da raiz (MSRZ)
(Figura 2).

1393
a

Figura 2. Massa fresca da parte aérea (MFPA) e massa fresca da raiz (MFRZ) (a) e massa seca da parte
aérea (MSPA) e massa seca da raiz (MSRZ) (b) em função das diferentes proporções e tempos de
decomposição de caule decomposto de buriti.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Percebe-se que a adição de composto orgânico proporcionou um melhor


desenvolvimento da massa fresca da parte aérea e que o solo de forma isolada não obteve
nenhum valor para essa variável (Figura 2a). Silva et al. (2014) observaram que a adição
de composto orgânico contribuiu para o desenvolvimento da parte aérea do couve-flor,
bem como foi verificado no presente estudo. Da mesma maneira houve também aumento
substancial na seca da raiz e parte aérea das estacas que estavam em substratos formados
por caule decomposto de buriti, quando comparados com o solo de forma isolada.
Pode-se observar também que a massa seca da raiz acompanhou o desenvolvimento
da massa seca da parte aérea, como mostra a figura 1b. Apesar das condições adversas
1394
sofridas pelas mudas de figueira, o caule decomposto de buriti proporcionou melhores
resultados (Figura 2b), constatou-se que para essa variável, os tratamentos em que se
encontravam 100% de caule decomposto de buriti proporcionou melhores resultados.
Delarmelina et al. (2014) destaca que a matéria seca da parte aérea, indica
rusticidade das plantas sendo que os maiores valores representam mudas mais lignificadas
e rústicas, proporcionando maior aproveitamento em ambientes com condições adversas.
Os autores ainda destacam que as plantas jovens necessitam de oxigênio para o processo
respiratório, que advém do próprio substrato, por isso há necessidade que os substratos
apresentem boa aeração para maior crescimento das raízes, dessa maneira pode-se
observar que os substratos que continham maiores proporções de caule decomposto de
buriti proporcionaram melhor desenvolvimento das raízes.
Do mesmo modo o comprimento e o diâmetro do maior broto de cada estaca se
desenvolveram melhor nos substratos em que continham caule decomposto de buriti
(Figura 3). É importante observar que o caule decomposto de buriti proporcionou
melhores resultado de brotações quando comparado com o solo, pode-se perceber
também que esses valores estavam atrelados ao aumento das proporções do substrato.

Figura 3. Diâmetro do maior broto (DMB) e Comprimento do maior broto (CMB) em função das
diferentes proporções e tempos de decomposição de caule decomposto de buriti.
2021 Gepra Editora Barros et al.

O número de brotações representa o bom desenvolvimento das mudas em seu local


de transplantio, o mesmo pode proporcionar melhores condições de adaptações para a
planta, principalmente em sua fase inicial (VÉRAS et al., 2018).
O comprimento da raiz, como se observar na figura 4 o tratamento que continha
100% solo ofereceu condições para o desenvolvimento da mesma, mas os melhores
resultados de CRZ foram observados nos substratos em que continham caule decomposto
de buriti.

1395

Figura 4. Comprimento da raiz (CRZ) em função das diferentes proporções e tempos de decomposição
de caule decomposto de buriti.

Verás et al. (2018) destacam que o comprimento das raízes é essencial para a
obtenção de mudas de qualidade, pois possibilita uma melhoria no processo de absorção
de água e nutrientes nos estágios iniciais de desenvolvimento. O comprimento da raiz
também influencia no aumento da matéria seca da raiz (OLIVEIRA et al., 2017) bem
como observado no presente trabalho, os autores ainda destacam que essa variável quando
bem desenvolvida proporciona maior capacidade de absorção de água e nutrientes.
O teor de clorofila a e b obteve melhores resultados na proporção de 40% e com
tempo de decomposição de 75 dias, pode-se observar que o solo de forma isolada não
apresentou folhas para que essa variável fosse analisada (Figura 5).
2021 Gepra Editora Barros et al.

1396

Figura 5. Índice de clorofila a e b, em função das diferentes proporções e tempos de decomposição de


caule decomposto de buriti.

As clorofilas são os principais pigmentos responsáveis pela coleta de radiação solar,


que durante o processo fotossintético é convertida em energia química na forma de ATP
para a planta (SILVA, 2020). E a combinação entre as clorofilas a e b torna as plantas
aptas para captarem a energia disponível da luz solar, estimando assim o potencial
fotossintético da planta, devido a sua ligação direta com absorção e transferência de
energia luminosa (MOURA et al., 2021).

CONCLUSÕES

Percebeu-se que os tempos de decomposição não surtiram resultados positivos. O


período chuvoso proporcionou uma maior proliferação de fungos, que prejudicou o
desenvolvimento das mudas, dessa maneira também não foi possível notar resultados
significativos para as diferentes proporções do substrato, contudo percebeu-se que mesmo
com as condições climáticas não favoráveis, o caule decomposto de buriti proporcionou
melhores resultados quando comparado com o solo de forma isolada.

REFERÊNCIAS

CAVALCANTE, I. H. L.; ROCHA, L. F.; JÚNIOR, G. B. S.; NETO, R. F. Seedling


production of gurguéia nut (Dypterix lacunifera Ducke) I: seed germination and suitable
substrates for seedlings. International Journal of Plant Production, v.5, n. 4, p. 319-
322, 2011.
2021 Gepra Editora Barros et al.

DELARMELINA, W. M.; CALDEIRA, M. V. W.; FARIA, J. C. T.; GONÇALVES, E.


D. O.; ROCHA, R. L. F. (2014). Diferentes substratos para a produção de mudas de
Sesbania virgata. Floresta e Ambiente, v. 21, n. 2, p.224-233, 2014.

FAO, Food and Agriculture Organization of the United Nations. Crops. FAOSTAT,
2018. Disponível em: http://www.fao.org/faostat/en/#data/QC. Acesso em: 13 de julho
de 2020.

FONSECA, W.L. OLIVEIRA, A. M.; SOUSA, T. O.; PEREIRA, J. L. S.; ZUFFO, A.


M.; FONSECA, R. L.; FONSECA, W. J. L. Caule decomposto de buritizeiro e doses de
nitrogênio no crescimento de Acacia. In: ZUFFO, A.M.; AGUILERA, J.G.; OLIVEIRA, 1397
B.R.; Ciência em Foco. Pantanal editora, v. 30 p. 30- 34, 2019.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Área plantada


ou destina a colheita, área colhida, quantidade produzida, rendimento médio e valor da
produção das lavouras temporárias e permanentes, 2018. Disponível em:
https://censos.ibge.gov.br/agro/2017/templates/censo_agro/resultadosagro/agricultura.ht
ml?localidade=0&tema=76294, acesso em 16 de julho de 2020.

COSTA JUNIOR, E. D. S.; MATIAS, S. S. R.; DE CARVALHO SOUSA, S. J.; DOS


SANTOS SOARES, G. B.; DE MORAIS, D. B.; DO NASCIMENTO, A. H. Produção
de mudas de Carica papaya, tipo formosa, com resíduos de pau de buriti (Mauritia
flexuosa L.f.). Revista de Ciências Agrárias, v.40, n.4, p. 746-755, 2017.

KÖPPEN, W. Climatologia: con um estúdio de los climas de la tierra. Mexico: Fondo


de Cultura Enonómica, 1948. 478p.

MOURA, A. N.; MOURA, B. S.; SOUSA, L. L.; PORTELA, W. N; LIMA, E. A.;


JÚNIOR, Â. D. S. G.; HOLAND, J. G. J. R. Teores de clorofila da rúcula em função de
diferentes ambientes e doses de esterco caprino. Brazilian Journal of Development, v.
7, n. 1, p. 6502-6512, 2021.

OLIVEIRA, F. A.; OLIVEIRA, J. M.; NETA, M. L. S.; OLIVEIRA, M. K.; ALVES, R.


C. Substrato e bioestimulante na produção de mudas de maxixeiro. Horticultura
Brasileira, v. 35, n. 1, p. 141-146, 2017.

SILVA, F.C. Manual de análises químicas de solos, plantas e fertilizantes. Brasília,

SILVA, L. D. S.; DAMASCENO, R. S.; CAVALCANTE, B. S.; MATOS, R. R. S. D.


S.; GOMES, W. D. A. Caule decomposto de buriti no desenvolvimento de mudas da
couve-flor, Horticultura brasileira, CONTECC, 2015.

SILVA, L. P.; DE OLIVEIRA, A. C.; ALVES, N. F.; DA SILVA, V. L.; DA SILVA, T.


I. Uso de substratos alternativos na produção de mudas de pimenta e pimentão.
Colloquium Agrariae. V. 15, N. 3, p. 104-115, 2019.
2021 Gepra Editora Barros et al.

SILVA, M. F. Manejo de plantas daninhas na cultura da soja (Glycine max L.). 2020.
40 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Agronomia) – Universidade
Federal Rural de Pernambuco.

VÉRAS, M. L. M., MENDONÇA, R. M. N., FIGUEREDO, L. F., ARAÚJO, V. L.,


MELO FILHO, J. S., PEREIRA, W. E. Enraizamento de estacas de umbuzeiro
potencializado pela aplicação de ácido indol-3-butírico (AIB). Revista Brasileira de
Ciência Agrária, v. 13 n .3, p. 1-9, 2018.

1398
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 126

UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DE MARACUJÁ PARA


ELABORAÇÃO DE DOCES: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

SILVA, Wellyson Jorney dos Santos


Graduando em Tecnologia em Alimentos
Faculdade de Tecnologia do Cariri – FATEC Cariri
wellney1046@gmail.com

AZEVEDO, Enrile de Matos


Graduando em Tecnologia em Alimentos
Faculdade de Tecnologia do Cariri – FATEC Cariri 1399
enrilematos@gmail.com

LISBÔA, Cícera Gomes Cavalcante de


Doutora em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande
cicera.lisboa@centec.org.br

RESUMO

O desenvolvimento de novos produtos como o doce de corte, obtidos através da utilização


do albedo do maracujá vem se mostrando uma alternativa viável e rentável, além de
proporcionar um melhor aproveitamento ao contornar problemas de perecibilidade,
sazonalidade e ser um produto de boa aceitação pela população em geral. Objetivou-se
com esse trabalho realizar um levantamento bibliográfico de artigos sobre a produção de
doces elaborados com resíduos do maracujá, apresentando os resultados satisfatórios. A
metodologia para a pesquisa utilizou-se de artigos que abordam o reaproveitamento dos
resíduos do maracujá (albedo, cascas e sementes) na elaboração de novos produtos. No
levantamento de dados conferiu-se que as formulações de doce de corte do albedo
(mesocarpo) de maracujá foram viáveis uma vez que teor de sólidos solúveis impede a
proliferação de microrganismos que causam deterioração do produto. Na elaboração de
doce em massa da casca (epicarpo) de maracujá amarelo, os resultados mostraram que os
teores de pH e acidez se encontram aceitáveis para doce e que o teor de sólidos solúveis
está abaixo dos padrões descritos na legislação. Já a elaboração de doce feito da casca do
maracujá, apresentou um pH inferior, o que faz com que o doce não sofra ataques de
microrganismos; e obteve maior concentração de açúcares totais. Conclui-se que o
reaproveitamento dos resíduos do maracujá na produção de diversos tipos de doces
apresenta-se como uma boa alternativa para difusão dos produtos, uma vez que
conseguem promover sabor, qualidade nutricional e viabilidade econômica.

PALAVRAS-CHAVE: formulação, maracujá, reaproveitamento.

INTRODUÇÃO

O maracujá é uma frutífera pertencente à família Passifloraceae, sendo uma fruta


originária da América Tropical, a espécie tem sido relatada como de grande expressão
socioeconômica no mundo (SILVA et al., 2020). Nacionalmente e mundialmente, as
2021 Gepra Editora Barros et al.

espécies de maracujá mais produzidas são maracujá-amarelo (Passiflora edulis f.


flavicarpa), maracujá-roxo (Passiflora edulis Sims.) e o maracujá-doce (Passiflora alata),
das espécies cultivadas no Brasil, o maracujá amarelo lidera com 95% sendo utilizado na
preparação de sucos (CEPLAC, 2015; OLIVEIRA, 2019).
A economia do maracujá é principalmente movimentada pela produção de polpas
que possui uma rica fonte de compostos fenólicos ao qual são conferidas distintas
atividades biológicas (VIGANÓ et al., 2020).
Segundo Neiva Jr. et al. (2007), o processo de beneficiamento do maracujá gera
resíduo correspondendo aproximadamente a 70% do total da fruta, com base nessas
informações, o aproveitamento dos resíduos agroindustriais quando beneficiados e
1400
processados de maneira correta, acarreta grande possibilidade na produção de
subprodutos, estes apresentam valor nutricional, bem como também, uma ação
sustentável ao meio ambiente (COSTA FILHO et al., 2017).
Gava (1984) cita que dentro da tecnologia em alimentos, a produção de doces surgiu
como uma eficaz alternativa tornando-se uma técnica aceitável no que diz respeito da
conservação da matéria-prima, uma vez que minimiza as perdas dos alimentos que se
excedem, maximiza a vida útil dessas frutas como também permite o consumo de frutas
que se encontram fora do período de safra aumentando a sua disponibilidade.
Bananada, goiabada, marmelada, pessegada, figada entre outros, são considerados
doces em massa e apresentam diferentes consistências, onde podem ser homogêneos,
mole, pastoso ou com uma consistência mais resistente possibilitando ser cortado, mas
ambos os doces devem ser bem acondicionados afim de evitar uma má conservação
(TORREZAN, 2015).
O desenvolvimento de novos produtos como o doce de corte, obtidos através da
utilização do albedo do maracujá vem se mostrando uma alternativa viável e rentável,
além de proporcionar um melhor aproveitamento ao contornar problemas de
perecibilidade, sazonalidade e ser um produto de boa aceitação pela população em geral,
devido às suas características sensoriais (ANDRÉ et al., 2018; KOPF, 2008;
MACHADO; MATTA, 2006).
Nos últimos anos, têm sido estudadas as inúmeras propriedades da casca do
maracujá, com direcionamento a quantidade e tipo de fibras. Com 52% de composição
mássica, a casca do maracujá, por oferecer propriedades funcionais no desenvolvimento
de novos alimentos, não podendo ser mais julgada como resíduo industrial. (MEDINA,
1980; CÓRDOVA et al., 2005).
A parte branca presente na casca do maracujá, é chamada de albedo e por ser rico
em fibras, é ingrediente principal no desenvolvimento de alguns alimentos de caráter
funcional. Produtos que exigem hidratação e desenvolvimento de viscosidade também
fazem aplicação do albedo do maracujá (LÓPEZ-VARGAS et al., 2013). De acordo com
Pita (2012), doces em calda podem ser fabricados a partir das cascas de maracujá e que
ainda, a produção de farinhas com a mesma matéria prima, tem sido cada vez mais
estudadas a fim da utilização como medidas terapêuticas, tal como também na elaboração
de formulações de novos alimentos.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Diante disto, objetivou-se com esse trabalho realizar um levantamento bibliográfico


de artigos sobre a produção de doces elaborados com resíduos do maracujá, apresentando
os resultados satisfatórios.

MATERIAL E MÉTODOS

A metodologia para a pesquisa, se deu pela utilização de meios direcionados a


respostas mais precisas, selecionando trabalhos com enfoque na bibliografia pesquisada
e aplicada a problemática.
Utilizou-se artigos que abordam o reaproveitamento dos resíduos do maracujá
(albedo, cascas e sementes) na elaboração de novos produtos, sendo estes publicados nos 1401
últimos 5 anos, de 2011 a 2020 como mostra o fluxograma (Figura 1).

Figura 1. Fluxograma com etapas da metodologia.

Pesquisa bibliografica
no google academico
de artigos entre os
anos de 2011 a 2020

Artigos sobre
resíduos
agroindustriais de
maracujá

Artigos sobre doce


Artigos sobre doce Artigos sobre doce
em pasta (cremoso e
em calda em massa (tipo corte)
pastoso)

Fonte: Autores (2020).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As partes do maracujá utilizadas nas elaborações dos doces foram as cascas


(epicarpo) e albedos (mesocarpo), que podem ser observadas abaixo (Figura 2).

Figura 2. Morfologia do maracujá

Fonte: Federação da Agricultura do Estado do Paraná (2007).


2021 Gepra Editora Barros et al.

Através dos dados alcançados, foram organizados em tabela informando o resíduo


utilizado, o produto elaborado e a referência bibliográfica. Os dados podem ser
observados na tabela 1 abaixo.

Tabela 1. Levantamento bibliográfico de doces elaborados com o albedo do maracujá .


Resíduo utilizado do Produto elaborado Referência
maracujá
Albedo Doce em calda André et al., 2018
Cascas Doce em pasta Silva et al., 2014
Albedo (mesocarpo) Doce em massa (tipo corte) Silva et al., 2020 1402
Albedo Doce em pasta Dias et al., 2011
Fonte: Elaborada pelos autores (2020).

Doce em calda

Doce de fruta em calda, doce em pasta e geleia de frutas são, de modo geral, produtos
obtidos a partir do processamento de frutas com açúcar podendo-se adicionar outros
ingredientes e aditivos (Instituto Adolfo Lutz, 2008).
A Resolução CNNPA (Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos)
n° 12 de 1978 da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) caracteriza doce
de fruta em calda como o produto obtido de frutas inteiras ou em pedaços, com ou sem
sementes ou caroços, com ou sem casca, cozidas em água e açúcar, envasados em lata ou
vidro e submetido a um tratamento térmico adequado. O mesmo ainda cita que para as
características físicas e químicas, a densidade da calda em graus Brix deve apresentar-se
entre 30 e 65º (BRASIL, 1978).
A conservação das frutas na forma de doce em calda permite aumentar
significativamente a sua conservação, pois, além do calor, é adicionado o açúcar, que
promove o aumento do teor de sólidos solúveis, diminuindo a atividade de água (DA
MATTA et al., 2010).
No trabalho de André, Silva e Almeida (2018), foram produzidas três formulações
de doce de corte com utilização do albedo de maracujá, variando a proporção
albedo/polpa/açúcar e foram realizadas análises das características químicas e físico-
químicas como pH, acidez, teor de sólidos solúveis e de atividade de água. Os resultados
das análises demonstraram que os valores de pH para os doces apresentaram uma variação
de 3,21 a 3,48, os quais não diferiram muito. Na acidez, apenas a formulação 3 apresentou
o maior teor de 1,69 (g ácido cítrico/100 g), pois constituiu na elaboração do doce uma
maior concentração da polpa. No teor de sólidos solúveis do produto (°Brix), a
formulação 1 apresentou um menor teor de 38,0° Brix. A atividade de água (Aw), obteve
maior valor na formulação 3 por conta da quantidade de açúcar adicionado promovendo
a desidratação osmótica do produto, reduzindo o teor de água da formulação sendo
influenciado também pela quantidade de polpa utilizada, pois ao ser acrescentado mais
sólidos à formulação, também contribuiu para a desidratação do produto final. As
2021 Gepra Editora Barros et al.

formulações 2 e 3 são as mais viáveis uma vez que teor de sólidos solúveis impede a
proliferação de microrganismos que causam deterioração do produto.
Miranda et al. (2013) cita que a tecnologia de produção de doce em calda é de baixo
custo, acessível e pode ser implementada aos pequenos agricultores e agricultores
familiares.

Doce em massa

O produto resultante do cozimento da fruta com açúcares, com ou sem água, além
de pectina, ácido e outros ingredientes permitidos pela legislação de alimentos até a
obtenção da consistência apropriada é considerado doce em massa (TORREZAN, 2015). 1403
A produção de doce em massa, além de propiciar um melhor aproveitamento
das frutas, diminuindo as perdas, é mais uma alternativa para o consumidor de
produtos elaborados a base de frutas. Este tipo de produto tem uma boa aceitabilidade
pela população em geral, pelo agradável sabor e aroma (SILVA et al., 2020).
Dependendo da consistência, o doce em massa pode ser designado por doce
cremoso ou pastoso e doce de corte, podendo ser classificado em doce simples, quando
preparado com um tipo de polpa e doce misto, quando fabricado com mais de um tipo de
polpa (MOURA et al., 2014).
Silva et al. (2014) elaboraram doce da casca de maracujá amarelo utilizando na
elaboração a casca limpa e sem deformações, açúcar refinado e coco flocado e em seguida
analisaram as características físico-químicas e sensoriais. Para a caracterização físico
química realizaram análises de pH, acidez e sólidos solúveis totais. As análises
apresentaram para pH o valor de 4,23 apresentando-se ácido, estando dentro das
recomendações exigidas. Em decorrência da grande concentração de ácidos orgânicos, a
acidez apresentou um elevado teor. Os sólidos solúveis de 11,33 ° Brix apresentam um
valor baixo de doçura no doce. Ao final, pode-se concluir que os teores de pH e acidez
encontram-se aceitáveis para doce e que o teor de sólidos solúveis está fora dos padrões
por conferir um teor de doçura muito abaixo do exigido pela legislação.
Silva et al. (2020) visando a partir do mesocarpo do maracujá amarelo a elaboração
de doces em massa de maracujá, acerola e cajá, realizou a caracterização físico química
e sensorial dos doces produzidos. Na formulação misturou-se as polpas das frutas com a
pectina e o açúcar e foram levadas ao fogo em tachos de alumínio com agitação contínua
até que alcançasse a concentração determinada pela legislação para ° Brix . Foram
realizadas análises de pH, acidez total titulável e de sólidos solúveis totais. Os resultados
revelarem que as formulações, para o teor de sólidos solúveis, estão dentro dos valores
permitidos pela legislação; o pH determinado, por consequência da concentração dos
sólidos solúveis e da quantidade de pectina presente, não houve comprometimento no
processo de geleificação dos doces e a acidez titulável analisada variou entre as 3
formulações de 0,33% a 0,70%, mostrou-se eficiente uma vez que não proporcionou
alterações físicas e química, contribuindo na preservação do doce contra ataques
microbiológicos e que não se faz necessário a presença de conservantes como os
acidulantes.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Alguns fatores intrínsecos, tais como o grau de esterificação da pectina e o pH do


doce, influem no processamento, como também o pré-processamento da fruta,
temperatura de cocção, tamanho da embalagem, tempo e temperatura de geleificação, e a
ordem de aplicação dos ingredientes afeta o processo de fabricação de geleias e doces,
gerando um produto final de qualidade inferior ( ALBUQUERQUE, 1997; ALMEIDA,
2016).

Doce em pasta

Andrade (2019) cita que de acordo com a legislação, o produto feito a partir do
processamento de partes comestíveis, desintegradas de vegetais, com açúcares, com ou 1404
sem adição de água, pectina, que contenha ajustadores de pH, além dos aditivos nas
quantidades suficientes e que também possa vir a ter na sua composição o suco de frutas,
méis de abelha, ervas e especiarias, sendo este o padrão para que o produto seja
considerado doce em pasta.
O processo de produção de doce em pasta tipo cremoso é semelhante ao doce em
pasta em massa tipo corte, diferenciando-se pela utilização da pectina, quando deseja-se
aumentar o rendimento do produto, uma vez que esta propicia consistência menos
maleável e o ponto final (teor de sólidos solúveis totais e consistência). Em ambos os
produtos, as características físico-químicas e sensoriais de cor, sabor e aroma devem
provir da(s) fruta(s) de origem (SOUZA, OLIVEIRA e FEITOSA, 2018).
Dias et al., (2011), a fim de melhorar a qualidade do doce em massa, determinou-
se o melhor processo de maceração para remoção do gosto amargo do albedo (casca do
maracujá), elaboraram 5 formulações de doce com diferentes concentrações de °Brix e
em seguida realizou-se a caracterização físico- química do doce. Foram determinados os
teores de umidade, sólidos solúveis, acidez total titulável (ATT), pH, açúcares totais e
redutores. A formulação que teve melhores resultados foi a F1, pois apresentou um pH
inferior às demais, o que fez o doce não sofrer ataques de microrganismos e obteve maior
concentração de açúcares totais. Então foi concluído que seus teores estão dentro dos
permitidos pela legislação para doces em massa.

CONCLUSÕES

O reaproveitamento dos resíduos do maracujá na produção de diversos tipos de


doces apresenta-se como uma boa alternativa para difusão dos produtos, visto que os
resultados das análises físico-químicos dos trabalhos citados foram muito satisfatórios em
relação a estabilidade e segurança quanto ao ataque por microrganismos.
Com isso, os produtos elaborados atendem as novas tendências de mercado
atribuídas pelos consumidores que se encontram cada vez mais exigentes e os doces
conseguem promover sabor, qualidade nutricional, viabilidade econômica e atenção às
questões ambientais.
2021 Gepra Editora Barros et al.

REFERÊNCIAS

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 127

ZONEAMENTO CLIMÁTICO PARA A FERRUGEM ASIÁTICA


DA SOJA (Phakopsora pachyrhizi) NO MAPITOBA E SEALBA

LIMA, Rafael Fausto de


Bacharelando em Agronomia
Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), Naviraí, Mato Grosso do Sul, Brasil
rafael.lima2@estudante.ifms.edu.br

APARECIDO, Lucas Eduardo de Oliveira


Doutor e Mestre em Agronomia (Produção Vegetal)
Universidade Estadual Paulista (Unesp), Jaboticabal, São Paulo, Brasil 1408
lucas.aparecido@ifms.edu.br

SOUZA, Gabriel Henrique de Olanda


Bacharelando em Agronomia
Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), Naviraí, Mato Grosso do Sul, Brasil
gabriel.souza4@estudante.ifms.edu.br

DUTRA, Alexson Filgueiras


Pós-Doutorando UFPI/CNPq/FAPEPI
Doutor em Agronomia (Ciência do Solo)
Universidade Estadual Paulista (Unesp), Jaboticabal, São Paulo, Brasil
alexsondutra@gmail.com

RESUMO

O agronegócio brasileiro representa um dos principais pilares econômicos do país que se


mantém devido a elevada produção de grãos, especialmente de soja que é a cultura líder
em produção e exportação. As fronteiras agrícolas do MATOPIBA e SEALBA têm sido
ambientes promissores para o cultivo da soja, mas o surgimento de doenças como a
ferrugem asiática (FAS) pode provocar danos a cultura com potencial redução na
produção. Nesse sentido, objetivou-se, com este trabalho, avaliar o desenvolvimento
potencial da ferrugem asiática da soja nas condições climáticas das regiões produtivas do
MAPITOBA e SEALBA. Para tanto, dados climáticos de temperatura do ar, umidade
relativa do ar e precipitação do período de 1989 – 2019 foram extraídos da plataforma
NASA/POWER e utilizados para determinar o desenvolvimento da ferrugem asiática da
soja (DFAS). Os mapas foram elaborados utilizando o software ArcGis 10.8. Os estados
do Maranhão e Tocantins apresentaram os maiores índices de temperatura média anual,
com médias de 27,28 (± 0,81) °C e 26,33 (± 1,05) °C, respectivamente. Bahia e Tocantins
apresentaram precipitação média anual de 955 (± 27 mm) e 1724 (± 109) mm,
respectivamente. A duração do período de molhamento foliar foi mais elevada nos meses
de janeiro a julho nos estados do Maranhão, Piauí e Tocantins. O desenvolvimento da
ferrugem asiática da soja foi menor na região do MAPITOBA entre os meses de outubro
a novembro, ocorrendo desenvolvimento médio da ferrugem asiática nos meses de
dezembro a março. Na região produtiva do SEALBA, o surgimento da ferrugem asiática
da soja foi elevado nos meses de abril a setembro.

PALAVRAS-CHAVE: Agrometeorologia, Doenças, Molhamento foliar.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

A soja tornou-se amplamente cultivada nos países tropicais e subtropicais com


ampla contribuição para o agronegócio mundial devido sua gama de utilizações na
alimentação humana e animal (RODRIGUES et al., 2021). O Brasil é um dos países
líderes em produção e exportação de grãos de soja (ARAUJO et al., 2019), sendo um dos
principais produtos do agronegócio brasileiro (CONTIN et al., 2021). O cultivo de soja
no Brasil ocupa uma área de 36,9 milhões de hectares com produção de 124,8 milhões de
toneladas de grãos (CONAB, 2020). Seu cultivo em áreas do Nordeste brasileiro tem
permitido a expansão da cultura para novas fronteiras agrícolas que possuem condições
edafoclimáticas desafiantes para o ciclo produtivo da cultura, mas que tem contribuído 1409
para incrementar a produção de soja no país. As fronteiras agrícolas do MATOPIBA e
SEALBA são regiões, com grande potencial para o cultivo da soja, que abrangem uma
extensa faixa de terras, no bioma cerrado, dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí,
Bahia, Sergipe e Alagoas (ARAUJO et al., 2019; SANTOS; CAMPOS, 2020).
O cultivo da soja na região do SEALBA ocorre entre abril e setembro (PROCOPIO
et al., 2018) e, por isso, torna-se uma região com características adequadas para um polo
de produção de sementes de soja que atenderia a demanda da região agrícola do
MATOPIBA, onde o plantio inicia em outubro-novembro (HIRAKURI et al., 2016).
Nas áreas produtoras de soja, a ferrugem asiática (FAS) é uma das principais
doenças de importância econômica que atinge a cultura (BERUSKI et al., 2019). Causada
pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, a FAS interferi de forma significativa na rentabilidade
das lavouras (BERUSK et al., 2018), diminuindo a produtividade e aumentando a carga
de pesticidas nos sistemas de cultivo (CHILDS et al., 2018), podendo causar perdas acima
de 90% (HARTMAN et al., 2015). Estima-se que nas lavouras brasileiras a FAS promove
prejuízo de dois bilhões de dólares por safra, considerando custo de controle da doença e
as perdas econômicas pela redução da produção (XAVIER et al., 2015).
No entanto, a ocorrência e intensidade da FAS nas lavouras depende de vários
fatores, incluindo variáveis agrometeorológicas que afetam todos os processos biológicos
do fungo (IGARASHI et al., 2018). Além disso, a duração do molhamento foliar (DPM),
definida como a extensão de tempo em que a água livre permanece na superfície do tecido
vegetal (BASSIMBA et al., 2017; SHIN et al., 2021), é uma importante variável que se
relacionada à taxa de infecção e desenvolvimento de patógenos (JIAN et al., 2020).
Para o controle da FAS deve-se utilizar cultivares de ciclo precoce e eliminar
plantas de soja voluntárias no período de vazio sanitário (ARAUJO; GODOY, 2019).
Entretanto, quando o fungo já está instalado, o uso de fungicidas continua sendo o
principal método de controle a ser utilizado (SILVA et al., 2020). Recentemente, as
recomendações de manejo para a ferrugem asiática da soja têm sido baseadas na aplicação
de fungicidas protetores em mistura com triazóis, estrobilurinas e carboxamidas (DE SÁ
et al., 2020), apresentando melhores resultados em relação as demais formas de manejo
(ALVES; JULIATTI, 2018).
O fungo Phakopsora pachyrhizi apresenta-se como grande potencial limitador do
desenvolvimento e expansão da cultura da soja. Assim, o objetivo deste trabalho foi
2021 Gepra Editora Barros et al.

avaliar o desenvolvimento potencial da ferrugem asiática da soja nas condições climáticas


das regiões produtivas do MAPITOBA e SEALBA.

MATERIAL E MÉTODOS

Dados climatológicos foram coletados de estações localizadas nos estados do


Maranhão, Piauí, Tocantins, Bahia, Sergipe e Alagoas, que possuem áreas agrícolas para
a expansão do cultivo da soja que formam as fronteiras agrícolas do MAPITOBA e
SEALBA (Figura 1). A produção de soja nessas regiões representa 12,3% (15,4 milhões
de toneladas) da produção brasileira (CONAB, 2020). As áreas dos estados apresentam a 1410
ocorrência de onze classes climáticas de Köppen, sendo Aw, As e BSh com maior
predominância de acordo com Alvarez et al. (2013).

Figura 1. Mapa de localização da área de estudo.

Fonte: Autor.

Foram utilizados dados climáticos de precipitação (Prec - mm), umidade relativa


(%) e temperatura máxima (Tmax), mínima (Tmin) e média (Tmed)) do ar (°C) obtidas
em escala diária para 1030 municípios (Figura 1). Os dados foram coletados na
plataforma National Aeronautics and Space Administration/Prediction of World Wide
Energy Resources - NASA/POWER (STACKHOUSE, 2015) no período de 1989-2019.
Essa plataforma fornece dados meteorológicos com resolução espacial de 1° latitude-
longitude, tornando-se uma fonte potencial para estudos agrometeorológicos
(MONTEIRO et al., 2018).
Para determinar a ocorrência de FAS, necessitou-se estimar a umidade relativa para
cada hora do dia através da temperatura do ponto de orvalho, umidade relativa máxima,
umidade relativa mínima e a temperatura do ar.
A temperatura do ponto de orvalho foi calculada através da pressão de vapor de
saturação na temperatura média (esTmed) e pressão de vapor real para temperatura média
(eaTmed) derivada da umidade relativa média (URmed) e temperatura média do ar
(Equação 1-3) como adotado por Paredes et al. (2018).
2021 Gepra Editora Barros et al.

(17.27 𝑥 𝑇𝑚𝑒𝑑 )
𝑒𝑠𝑇𝑚𝑒𝑑 = 0.6108𝑒𝑥𝑝 [ ] (1)
𝑇𝑚𝑒𝑑 +237.3
𝑈𝑅𝑚𝑒𝑑
eaTmed = 100
x 𝑒𝑠𝑇𝑚𝑒𝑑 (2)
𝑒𝑎𝑇𝑚𝑒𝑑
237.7𝑙𝑛( 0.6108 )
𝑇𝑝𝑜 = 𝑒𝑎𝑇𝑚𝑒𝑑 (3)
17.27−𝑙𝑛( 0.6108 )

Com dados da pressão de vapor de saturação na temperatura do ponto de orvalho


(esTpo) obtidos pela temperatura do ponto de orvalho (Tpo), associados a pressão de
vapor de saturação na temperatura máxima (esTmax) e mínima (esTmin) do ar, foi
estimada a umidade relativa máxima (URmax) e mínima (URmin) (Equação 4-8)
conforme descrito por Qiu et al. (2021). 1411

(17.27 𝑥 𝑇𝑝𝑜 )
𝑒𝑠𝑇𝑝𝑜 = 0.6108𝑒𝑥𝑝 [ 𝑇𝑝𝑜 + 237.3
] (4)
(17.27 𝑥 𝑇𝑚𝑖𝑛 )
𝑒𝑠𝑇𝑚𝑖𝑛 = 0.6108𝑒𝑥𝑝 [ 𝑇𝑚𝑖𝑛 +237.3
] (5)
(17.27 𝑥 𝑇𝑚𝑎𝑥 )
𝑒𝑠𝑇𝑚𝑎𝑥 = 0.6108𝑒𝑥𝑝 [ 𝑇 + 237.3
] (6)
𝑚𝑎𝑥
𝑒𝑠
𝑈𝑅𝑚𝑎𝑥 = [𝑒𝑠 𝑇𝑝𝑜 ] 𝑥 100 (7)
𝑇𝑚𝑖𝑛
𝑒𝑠𝑇𝑝𝑜
𝑈𝑅𝑚𝑖𝑛 = [ ] 𝑥 100 (8)
𝑒𝑠𝑇𝑚𝑎𝑥

A temperatura do ar para cada hora do dia (Tar_hr) foi estimada proporcionando


uma transição suave entre máximas e mínimas (Equação 9) como descrito por Buddhadeb
et al. (2021).

𝑇𝑚𝑎𝑥 +𝑇𝑚𝑖𝑛 𝑇 −𝑇
𝑇𝑎𝑟_ℎ𝑟 = ( 2
) + ( 𝑚𝑎𝑥 2 𝑚𝑖𝑛 ) 𝑥 cos(0.2618 𝑥 (ℎ − 𝑇𝑖𝑚𝑒𝑉𝑎𝑟)) (9)

A umidade relativa horaria (Equação 10) foi estimada utilizando como entrada
dados de temperatura máxima, temperatura mínima, e umidade relativa máxima e mínima
associados aos valores estimados de temperatura do ar para cada hora do dia, como
utilizado por Kupfer et al. (2020).

(𝑇𝑎𝑖𝑟_ℎ𝑟 −𝑇𝑚𝑖𝑛 )
𝑈𝑅ℎ𝑟 = 𝑈𝑅𝑚𝑎𝑥 + [ ] 𝑥 (𝑈𝑅𝑚𝑖𝑛 − 𝑈𝑅𝑚𝑎𝑥 ) (10)
(𝑇𝑚𝑎𝑥 −𝑇𝑚𝑖𝑛 )

A duração do período de molhamento foliar foi determinado considerando-se o


número de horas com umidade relativa igual ou superior a 90% (≥ 90%) conforme
adotado por Alvares et al. (2015) e Montone et al. (2016). Beruski et al. (2019) relata
estimativas mais confiáveis para o DPM usando o número de horas com umidade relativa
acima de 90%.
O fungo Phakopsora pachyrhizi se desenvolve em condições ambientais
favoráveis, com uma temperatura na faixa de 15-28 °C e na presença de umidade na
superfície da folha por um período de 6-12 h, a uredinia se desenvolve 5-7 dias após a
infecção (MURITHI et al., 2016), podendo ocorrer em qualquer estádio fenológico da
cultura da soja, sendo evitado o controle em R7 devido ao custo benefício (SALVADORI;
2021 Gepra Editora Barros et al.

BACALTCHUK, 2016). Os sintomas iniciais da doença são pequenas lesões foliares de


coloração castanha a marrom-escura desenvolvinda na face inferior da folha urédias que
se rompem e liberam os uredosporos (PELIN et al., 2020). Plantas severamente infectadas
apresentam desfolha precoce, o que compromete a formação, o enchimento de vagens e
o peso final do grão (GODOY et al., 2018).
Para determinar quais localidades apresentam maior suscetibilidade ao
desenvolvimento da ferrugem asiática da soja (DFAS) foi utilizado uma temperatura
média de 15 a 25 °C (RAMIREZ-CABRAL et al., 2019) e DPM ≥ 6 horas (BERUSKI et
al., 2020) para o período que representa o cultivo da soja de abril a setembro
(outono/inverno) na região SEALBA (PROCOPIO et al., 2018) e de outubro a março na
1412
região do MAPITOBA (CONTE et al., 2018).
Combinando as variáveis climáticas de temperatura média (TMED) e duração do
período de molhamento foliar (DPM) foi determinada as classes de DFAS, sendo elas:
alto para TMED e DPM adequados ao DFAS, médio para TMED ou DPM limitantes ao
DFAS e baixo para TMED e DPM limitantes ao DFAS.
Os mapas para todas as variáveis agrometeorológicas necessárias foram elaborados
através do software ArcGis versão 10.8, utilizando krigagem ordinária com um modelo
esférico (PANDAY et al., 2018). Com a sobreposição de mapas foi obtido a delimitação
espacial para o desenvolvimento da ferrugem asiática da soja.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A temperatura média da região de estudo (Figura 2) apresentou variação de 16,40


a 29,10 °C entre os meses de janeiro a dezembro, com média anual de 25,28 (±2,05) °C.
Os maiores índices de temperatura média anual foram registrados nos estados do
Maranhão e Tocantins, com médias de 27,28 (±0,81) °C e 26,33 (±1,05) °C,
respectivamente. Alagoas, Bahia, Piauí e Sergipe apresentaram temperatura média anual
de 24,87 (±1,35) °C, 23,61 (±1,39) °C, 25,91 (±0,85) °C, e 25,35 (±1,31) °C,
respectivamente. Resultados corroboraram aos encontrados por Casaroli et al. (2018).
Entre agosto e dezembro é o período com temperatura do ar mais elevada (acima
de 28 °C) no Tocantins, Maranhão e Piauí. Medeiros et al. (2020) obteve média de 26,5
°C com oscilações entre 25,3 °C no mês de fevereiro a 28,3 °C em outubro para o estado
do Piauí.
Sergipe, Alagoas e o nordeste da Bahia apresentaram índices acima de 28 °C nos
meses de novembro a março. No mesmo período, Medauar et al. (2020) constatou
variação de 24,7 a 25,3 °C para o estado da Bahia.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 2. Temperatura média do ar mensal.

1413

Fonte: Autor.

A precipitação média anual (Figura 3) variou de 37 a 186 mm nos meses de janeiro


a dezembro, obtendo precipitação média anual de 1227 (±51) mm para a área de estudo.
Os estados da Bahia e Tocantins apresentaram precipitação média anual de 955 (±27) mm
e 1724 (±109) mm, respectivamente, correspondendo aos locais com menor e maior
precipitação. Alagoas, Maranhão, Piauí e Sergipe registraram médias anuais de 1142
(±58) mm, 1681 (±107) mm, 1061 (±79) mm e 1126 (±57) mm, respectivamente.
Resultados similares aos obtidos por Oliveira et al. (2017).
2021 Gepra Editora Barros et al.

O período de maio a outubro foi caracterizado como o mais seco, apresentado


índices abaixo de 100 mm em toda a região, com exceção Sergipe, Alagoas, norte do
Maranhão e nordeste da Bahia que apresentaram índices entre 100 e 200 mm. Santos e
Souza (2018) destacaram maior intensidade de precipitação entre os meses de abril a
agosto, oscilando entre 102,50 mm a 175,20 mm no estado do Sergipe.
No período com maior índice pluviométrico (novembro a maio), os maiores índices
ficam concentrados nos estados do Maranhão, Tocantins e Piauí, sendo registrado 267
(±18) mm no Tocantins para o mês de janeiro. Meneses et al. (2020) destacou maiores
índices de precipitação ocorrendo no período de março a abril para a microrregião do
Baixo Paranaiba-MA.
1414
Figura 3. Precipitação média mensal para a região de estudo.

Fonte: Autor.
2021 Gepra Editora Barros et al.

A duração do período de molhamento foliar (Figura 4) foi maior nos estados do


Maranhão, Piauí e Tocantins entre janeiro a julho, com índices de 8 a 12 horas e acima
de 12. Os mesmos índices foram registrados para o estado de Sergipe, Alagoas e oeste da
Bahia nos meses de abril a outubro. Resultados corroborando com Alvarez et al. (2015).

Figura 4. Período de duração do molhamento foliar.

1415

Fonte: Autor.

O desenvolvimento da ferrugem asiática da soja (DFAS) sofreu influência positiva


para o aumento do DPM e negativa para o aumento da temperatura média do ar, uma vez
que valores de temperatura fora de certos intervalos podem inibir a esporulação de fungos,
germinação de esporos e infecção, reduzindo assim a probabilidade de doença (SILVA et
al., 2018).
Os meses de dezembro a abril apresentam alto DFAS no oeste da Bahia com divisa
para o Tocantins, e em pequenos locais ao leste (Figura 5). O mesmo período apresenta
2021 Gepra Editora Barros et al.

predomínio de baixo DFAS nos estados do Sergipe e Alagoas, período caracterizado pela
retomada das chuvas e aumento no DPM. No período de maio a agosto a classe alto para
DFAS se intensifica em uma faixa que compreende todo o leste da Bahia e os estados do
Sergipe e Alagoas, essas localidades apresentam diminuição da temperatura média do ar
e aumento do DPM. Wang et al. (2015) destacou maior infecção por Glomerella cingulata
com aumento do período de molhamento foliar e da umidade relativa.
Em contrapartida, nota-se um predomínio da classe baixa para DFAS nos estados
do Piauí, Maranhão, Tocantins para o mesmo período. Os meses de setembro a novembro
apresentam classe alta para DFAS em localidades próximas ao litoral, como o leste da
Bahia e os estados do Sergipe e Alagoas. O restante da região presenta maior predomínio
1416
da classe baixa para o DFAS. Ramirez-Cabral et al. (2018) destacou maior
desenvolvimento da ferrugem asiática da soja nos estados da região sul, sudeste e todo
litoral brasileiro, principalmente na região do SEALBA.
O cultivo da soja na região do MAPITOBA é caraterizado com baixo DFAS nos
meses de outubro e novembro no Maranhão, Piauí, Tocantins e oeste da Bahia, seguido
de médio DFAS nos meses de dezembro a março no Tocantins, Maranhão, oeste do Piauí
e sudeste da Bahia. O mesmo período apresenta alto DFAS no leste da Bahia na divisa
com Tocantins. O período de cultivo da soja na região SEALBA ocorre de abril a
setembro, corresponde aos meses com alto DFAS, podendo acarretar em perdas de
produtividade devido ao desenvolvimento da doença.

Figura 5. Desenvolvimento da ferrugem asiática da soja.

Fonte: Autor.
2021 Gepra Editora Barros et al.

CONCLUSÕES

A ferrugem asiática da soja é mais propicia a ocorrer com mais intensidade nos
meses de maio a setembro em ambientes de cultivo localizados no leste da Bahia e nos
estados do Sergipe e Alagoas. Os Estados do Maranhão e Piauí não apresentaram
ocorrência da ferrugem asiática da soja nas lavouras cultivadas entre janeiro e dezembro.
A região do MAPITOBA possui baixo potencial para desenvolvimento da ferrugem
asiática na soja cultivada entre outubro e novembro, mas com potencial médio nas
lavouras cultivadas nos meses de dezembro a março no Tocantins, Maranhão, oeste do
Piauí e sudeste da Bahia.
A região do SEALBA apresenta alta DFAS nos meses de abril a setembro, 1417
correspondendo ao período de cultivo da soja.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 128

ÁCIDO SALICÍLICO PROMOVE INCREMENTOS


FOTOSSINTÉTICOS EM FEIJÃO-CAUPI SOB RESTRIÇÃO
HÍDRICA
Alencar, Rayanne Silva de
Graduando em Ciências Biológicas
Universidade Estadual da Paraíba
rayannesilvadealencar@gmail.com

Cavalcante, Igor Eneas


Pós-graduando em Ciências Agrárias 1422
Universidade Estadual da Paraíba
igorencavalcante@gmail.com

Dias, Guilherme Felix


Graduando em Agroecologia
Universidade Estadual da Paraíba
guilhermefelix038@gmail.com

Melo, Yuri Lima


Doutor em Fitotecnia /Agronomia
Universidade Estadual da Paraíba
yurimelo86@gmail.com

Melo, Alberto Soares de


Doutor em Recursos Hídricos
Universidade Estadual da Paraíba
albertosoares915@gmail.com

RESUMO
No Nordeste do Brasil, o feijão-caupi [Vigna unguiculata (L.) Walp.] tem seu
desenvolvimento e produtividade reduzidos devido à escassez de água provocado pela
baixa precipitação pluvial. Na tentativa de aprimorar o nível de tolerância dessa cultura à
restrição hídrica, o uso do ácido salicílico (AS) tem atuado como sinalizador em niveis
fisiológicos e bioquímicos. Assim, objetivou-se avaliar a aplicação foliar do AS como
atenuador do deficit hídrico em feijão-caupi. Para isso, foi utilizada a cultivar BRS
Tapailhum cultivada em campo. O delineamento experimental foi em blocos casualizados
com 2 doses de AS (AS0 = 0 e AS2 = 2 g L-1) – aplicadas 18 dias após semeadura (DAS)
- e 2 lâminas de irrigação (100% = W100 e 50% = W50 da evapotranspiração da cultura
- ETc), com 3 repetições. Aos 30 DAS, no estádio V7, foram avaliados: conteúdo relativo
de água (CRA); vazamento de eletrólitos; fotossíntese líquida; carbono interno;
condutância estomática e transpiração. Não observou-se efeito do estresse hídrico nem da
aplicação de AS sobre o CRA. Contudo, em condições de deficit hídrico, verificou-se
aumentos no vazamento de eletrólitos e reduções na fotossíntese líquida, carbono interno,
condutância estomática e na transpiração, efeitos revertidos pela alicação do AS. Conclui-
se que o AS contribuiu para a melhoria do status hídrico e promoveu aumentos nos
indicadores de trocas gasosas da cultivar BRS Tapailhum sob condições de restrição
hídrica.

PALAVRAS-CHAVE: Vigna unguiculata (L.) Walp, status hídrico, trocas gasosas


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

O feijão-caupi [Vigna unguiculata (L.) Walp.] é leguminosa de expressiva


importância econômica, social e ambiental, pois constitui-se em fonte de proteínas,
carboidratos, óleos, vitaminas, minerais e gera renda. Neste sentido é cultivado em
diversos países tropicais e subtropicais, pois é adaptado às condições edafoclimáticas
distintas (VARELA et al., 2019). Devido às suas características nutricionais intrínsecas,
variabilidade genética e, sobretudo, moderada adaptabilidade ao déficit hídrico no solo,
1423
o feijão-caupi tem sido amplamente cultivado em regiões semiáridas, onde a má
distribuição espaço-temporal das chuvas causa deficiência hídrica sazonal (LI et al.,
2019).
O deficit hídrico é um fator agravante que induz consequências físicas, bioquímicas
e fisiológicas nos vegetais, principalmente a perda de produtividade (FREITAS, 2017).
Os danos celulares, a desidratação e a perda de turgor induzem lesões à maquinária
fotossintética, que ocorrem principalmente a partir da restrição da abertura estomática
(TOMBESI et al., 2018). Como resultado, a planta evita a perda de água pelos estômatos
ao passo que limita a fixação de CO2, o que inibe o seu crescimento, desenvolveimto e
restringe a produção (RIVAS et al., 2016).
Vêm-se utilizando algumas substâncias eliciadoras exógenas, como o ácido
salicílico (AS) para amenizar os efeitos do déficit hídrico na fisiologia e bioquímica em
espécies de plantas cultivadas (ANDRADE, 2020; DUTRA, 2017). O AS é um composto
fenólico amplamente distribuído em todo o reino vegetal (SHI et al., 2005), que é
sintetizado ou absorvido exogenamente pelas plantas, atuando como sinal em níveis
fisiológicos e bioquímicos durante estresses abióticos (WANI et al., 2016 ). Há evidências
de que a aplicação exógena de AS desempenha papel importante no ajuste no vazamento
de eletrólitos celular (ARAUJO, 2018), mitiga o impacto do estresse (QI et al., 2018)
e promoveu aumento na atividade antioxidativa em cultivares de feijão-caupi (DUTRA
et al. (2017),. Além de atuar como modulador de fatores hídricos e maximizar a taxa
fotossintética líquida da planta (EL-ESAWI et al., 2017; NAZAR et al., 2015 ).
Considerando a importância socioeconômica dessa cultura para as regiões com
limitações hídricas, a indução de melhorias na fisiologia do feijão-caupi torna-se uma
ferramenta importante para potencializar seu cultivo no semiárido. Assim, objetivou-se
avaliar a aplicação foliar do AS como atenuador do deficit hídrico através do status
2021 Gepra Editora Barros et al.

hídrico e das trocas gasosas de feijão-caupi cultivado sob restrição hídrica em condições
de campo.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido na área agrícola pertencente ao Centro de Ciências


Agrárias e Ambientais (Campus II - Lagoa Seca-PB) e no Laboratório de Ecofisiologia
de Plantas Cultivadas (Campus I - Campina Grande-PB), na Universidade Estadual da 1424
Paraiba.
No experimento, foi utilizada a cultivar BRS Tapailhum, cultivada em
delineamento de blocos casualizados com 2 doses de AS (AS0 = 0 e AS2 = 2 g L-1) x 2
lâminas de irrigação (100% = W100 e 50% = W50 da evapotranspiração da cultura -
ETc), com 3 repetições. As parcelas experimentais tinham 1,10 m de largura e 0,5 m de
comprimento, compostos de uma linha de irrigação contendo 10 plantas, das quais cinco
plantas foram consideradas na parcela útil para as avaliações.
Aos 18 dias após semeadura (DAS) foi realizada a aplicação do AS, acrescido do
sulfarctante Adesil®, via pulverizador costal, direcionadas às faces abaxial e adaxial das
folhas do feijoeiro, até o ponto de escorrimento da solução (Figura 1).

Figura 1. Aplicação foliar do AS nas plantas de feijão-caupi

Fonte: EcoLab 2021 (https://br.freepik.com/)

Aos 30 dias após a semeadura (DAS), no estádio V7, folhas foram coletadas para
a análise do conteúdo relativo de água da parte aérea (CRA). Foram cortados cinco discos
foliares de cada planta com um perfurador de cobre com área de 0,8 cm2 , depois pesadas
em balança analítica para verificar a massa fresca do disco (MFD). Em seguida, os discos
foram imersos em água destilada por 24 horas, para pesagem da massa túrgida do disco
2021 Gepra Editora Barros et al.

(MTD). Posteriormente, esse material foi levado à estufa com circulação de ar a 80 °C


por período de 24 horas para aferição da massa seca do disco (MSD). A partir destes
dados, o CRA(%) foi calculado por meio da equação: CRA(%) = {[(𝑀𝐹−𝑀𝑆)/(𝑀𝑇−𝑀𝑆)]
*100} (SMART e BINGHAM, 1974).
Para estimar o extravasamento de eletrólitos (VE), mensurado no estádio V7, do
ramo principal, utilizou-se um perfurador de cobre a fim de se obter, por unidade
experimental, cinco discos foliares, os quais foram lavados e acondicionados em tubos de
ensaio contendo 10 mL de água deionizada. Após fechados, os mesmos permaneceram 1425
em repouso durante 24 horas, em seguida, foi aferida a condutividade inicial do meio (Xi)
usando condutivímetro. Posteriormente os tubos foram submetidos à temperatura de 100
°C, por 60 minutos, em banho-maria, e após resfriamento do conteúdo dos mesmos,
aferiu-se a condutividade final (Xf). O extravasamento de eletrólitos foi expresso
seguindo a equação: VE(%) = [( 𝑋𝑖/𝑋𝑓 ) * 100] (SCOTTI CAMPOS e THU PHAM THI,
1997).
As trocas gasosas foram obtidas em folhas completamente expandidas, no folíolo
central, da terceira folha do ramo principal, com auxílio do analisador de gás
infravermelho - GFS 3000 FL, representadas pela fotossíntese líquida (A, em µmol CO2
m-2 s-1), transpiração (E, em mmol H2O m-1 s-1), condutância estomática (gs, em mmol
H2O m-1 s-1) e concentração interna de CO2 (Ci, em ppm). As avaliações foram realizadas
no período das 8 às 12 horas.
Os dados obtidos foram submetidos ao teste de normalidade de Shapiro-Wilk
(SHAPIRO & WILK, 1965) e avaliados por análise de variância (teste F, P ≤ 0,05). As
médias foram comparadas pelo teste t student (P ≤ 0,05), utilizando-se o programa
computacional Sisvar 5.6 (FERREIRA, 2019).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Utilizados como importantes indicadores de tolerância à seca, o conteúdo relativo


de água (CRA) e o vazamento de eletrólitos (VE) são duas das principais variáveis
determinantes da atividade metabólica e sobrevivência da folha, além de indicar se as
folhas estão em bom status hídrico (ALMEIDA NETO, 2019). Neste trabalho, quando
avaliado o conteúdo relativo de água (CRA), não foi observada diferença significativa
com a imposição ao estresse hidríco, bem como com a aplicação do AS. Contudo,
2021 Gepra Editora Barros et al.

verificou-se diferenças estatisticas nas variáveis vazamento de eletrólitos (VE),


fotossíntese líquida (A), Carbono interno (Ci), Condutância estomática (E) e na
transpiração (gs), tanto com a indução do estresse hídríco, como na imposição do AS
(Tabela 1).

Tabela 1. Resumo das análises de variância para as variáveis de status hídrico e dados fotossintéticos
em cultivar de Feijão-caupi sob lâminas de irrigação com doses de AS.
Quadrados Médios
Fonte de variação GL
CRA VE A Ci E gs
1426
Lâmina (L) 1 0,063ns 797,40** 0,444** 87,488** 0,15** 76,50**
Ácido Salicílico (AS) 1 46,57ns 285,0** 0,568** 3072,0** 0,98** 3024,2**
Interação LxAS 1 43,02ns 60,93 ns 157,04** 748,92** 3,31** 19080,2**
Resíduo 8 27,83 26,45 0,001 0,010 0,0001 0,010
CV (%) 6,75 7,88 0,03 0,07 0,31 0,04
GL - Grau de liberdade; ** - significativo a 5% a de probabilidade; ns - não significativo; CRA –
conteúdo relativo de água; VE – vazamento de eletrólitos; A – fotossíntese líquida; Ci – carbono
interno; gs – condutância estomática; E - transpiração e CV – coeficiente de variação.

É possível que o fato do CRA não ter diferido em função do estresse e doses de AS,
pode ser explicado através dos dados de trocas gasosas, apartir das lâminas sem o
atenuador. Verifica-se que a condutância estomática (gs) e a transpiração (E) reduziu em
W50, sugerindo um fechamento estomático devido ao estresse, essa ação faz com que a
planta consiga armazenar mais água em seus tecidos. Tal fato sugere o papel sinalizador
do AS no mecanismo de controle estomático.
O déficit hídrico provocou aumento de 34,8% no valor médio do vazamento de
eletrólitos quando comparado à lâmina W100 sem AS (Figura 2). O efeito da restrição
hídrica na variável VE foi revertido após a aplicação de AS nas plantas submetidas ao
W50, nas quais houve redução de 17,7% ao comparar àquelas cultivadas na lâmina W50
e ausência de AS.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 2. Vazamento de eletrólitos (VE) da cultivar BRS Tapaihum sob lâminas de irrigação (W100 =
100% e W50 = 50% da ETc ) e 2 doses de AS (AS0 = 0 e AS2 = 2 g L-1). Letras minúsculas comparam
doses de AS; letras maiúsculas comparam as lâminas de irrigação. Campina Grande-PB, 2021.

1427

Fonte: Ecolab, 2021.

Quando as plantas são submetidas ao estresse hídrico, ocorrem diversas alterações


fisiológicas e bioquímicas que podem ser usadas como mecanismos contra o estresse. No
presente estudo, a aplicação de AS reduziu o vazamento de eletrólitos. Tal feito pode estar
associado às supraregulações induzidas pelo eliciador, inclusive no sistema antioxidante,
que diminuem o dano às membranas celulares e, portanto, melhora a sua integridade,
evitando a perda de água (CUI et al., 2010).
Em W50, na ausência de AS, houve reduções nos valores médios de 20,2% na
fotossíntese líquida (A) (Figura 3A), acompanhado das reduções de 14,5% no carbono
interno (Ci) (Figura 3B); 24,2% na condutância estomática (E) (Figura 3C); 29,4% na
transpiração (gs) (Figura 3D), quando comparados às suas lâminas W100, sem AS. A
aplicação de 2 g L-1 de AS mostrou-se responsiva também ao tratamento W50, que
aumentou em 25% a taxa fotossintética, acompanhado de incrementos nos valores médios
de 38; 64 e 62,3% na concentração de carbono interno, condutância estomática e
transpiração, respectivamente, comparados à lâmina W50 sem AS (Figura 3 B, C e D).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 3. Fotossíntese líquida (A µmol CO2 m-2s-1) (A); Carbono interno (Ci ppm) (B); Condutância
estomática (E - mmol H2O m-1s-1) (C) e Transpiração (gs - mmol H2O m-1s-1) (D) da cultivar BRS
Tapaihum sob lâminas de irrigação (W100 = 100% e W50 = 50% da ETc) e 2 doses de AS (AS0 = 0 e
AS2 = 2 g L-1). Letras minúsculas comparam doses de AS; letras maiúsculas comparam as lâminas de
irrigação. Campina Grande-PB, 2021.

1428

Fonte: Ecolab, 2021.

A concentração de 2 g L-1 de AS sob estresse contribuiu na redução dos danos às


membranas, que repercutiu no incremento de trocas gasosas pela melhoria da abertura
estomática (Figura 3D), a qual proporcionou maior entrada de CO2 (Figura 3B) e maior
taxa fotossintética (Figura 3A). Esse resultado revelou que o AS tem um efeito protetor
no aparelho fotossintético, visto que houve aumento na condutância estomática. As
melhorias envolvendo essa variável está associada ao aumento da transpiração (E) que
após aplicação de AS contribuiu para um maior fluxo de CO2 (Ci) e maior valor da taxa
fotossintética, em comparação com plantas expostas ao déficit hídrico sem AS (HABIBI,
2012). Simultaneamente, o aumento da transpiração é relacionado aos efeitos benéficos
do AS, inibindo a concentração de ácido abscísico (ABA) em células-guardas e
minimizando o fechamento estomático (KHAN et al., 2013).
2021 Gepra Editora Barros et al.

CONCLUSÕES

O deficit hídrico promoveu vazamento de eletrólitos e reduções nas trocas gasosas


da “BRS” Tapaihum. A aplicação de 2 g L-1 de ácido salicílico nas plantas com deficit
hídrico promoveu a redução do vazamento de eletrólitos e incrementos nos indicadores
fotossintéticos.

1429
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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 129

ÍNDICES E FLUORESCÊNCIA DA CLOROFILA a EM PLANTAS


DE TOMATEIRO SOB DIFERENTES DENSIDADES
POPULACIONAIS DE Meloidogyne javanica E DOSES DE ÁCIDO
SALICÍLICO

FIGUEIREDO, Francisco Romário Andrade


Pós-graduando em Fitotecnia
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
romarioagroecologia@yahoo.com.br
1432
NÓBREGA, Jackson Silva
Pós-graduando em Agronomia
Universidade Federal da Paraíba
jacksonnobrega@hotmail.com

RIBEIRO, João Everthon da Silva


Professor
Universidade Estadual do Maranhão
j.everthon@hotmail.com

FÁTIMA, Reynaldo Teodoro de


Pós-graduando em Engenharia Agrícola
Universidade Federal de Campina Grande
reynaldo.t16@gmail.com

COÊLHO, Ester dos Santos


Pós-graduanda em Fitotecnia
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
estersantos12@hotmail.com
RESUMO

O nematoide das galhas M. javanica é um dos principais patógenos de solo da cultura do


tomateiro, ocasionando perdas quantitativas e qualitativas, variando de acordo com a
densidade populacional. O ácido salicílico aplicado de forma exógena pode ser uma
alternativa promissora para minimizar os danos causados por este patógeno. Com isso, o
objetivo deste trabalho foi avaliar os índices e fluorescência de clorofila em plantas de
tomateiro em função do aumento da densidade populacional de M. javanica e doses de
ácido salicílico na fase inicial de crescimento. O delineamento em blocos casualizado em
esquema fatorial incompleto (Composto Central de Box) com cinco densidades
populacionais (0, 5816, 20000, 34184 e 40000 ovos por planta) e cinco doses de ácido
salicílico (0.0, 0.29, 1.0, 1.71 e 2.0 mM), com quatro repetições e duas plantas por
repetição foi utilizado. Os índices de clorofila a, b, total e a razão clorofila a/b e
fluorescência inicial, fluorescência máxima, fluorescência variável, a razão e rendimento
quântico do fotossistema II foram determinados aos 30 dias após o transplantio e
infestação do solo. Aos 30 dias após o transplantio, o aumento da densidade populacional
de M. javanica reduz os índices de clorofila a, b e total de plantas de tomateiro. A
aplicação exógena de ácido salicílico em doses superior a 0,87 mM favorece o aumento
dos índices de clorofila. Entretanto, são necessários novos estudos para obter uma dose
otimizada. A fluorescência da clorofila não foi afetada pelas concentrações de ácido
salicílico e densidades de nematoides.

PALAVRAS-CHAVE: Fitohormônio, nematoide das galhas, Solanum lycopersicum L.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO

O tomateiro (Solanum lycopersicum L.), planta pertencente à família botânica


Solanaceae, possui grande importância socioeconômica, sua produção e consumo vem
aumentando cada vez mais, sendo fonte de nutrientes, licopeno, β-caroteno, flavonoides
e vitamina C (GERSZBERG et al., 2015). O Brasil é o décimo maior produtor em nível
mundial, atingindo no ano de 2019 uma produção de aproximadamente 3,9 milhões de
toneladas (FAO, 2021).
No entanto, vários problemas fitossanitários podem prejudicar esta cultura, com
destaque para a meloidoginose, doença causada pelos nematoides pertencentes ao gênero
1433
Meloidogyne spp. (SOUSA et al., 2010). Os nematoides pertencentes a este gênero são
endoparasitas sedentários, os quais penetram nas raízes e alimentam dos recursos
nutricionais do hospedeiro (SAUCET et al., 2016). O sintoma característico do ataque
desses patógenos é a formação de galhas no sistema radicular das culturas parasitadas.
Entre as espécies que causam perdas significativas na cultura do tomateiro está o
Meloidogyne javanica.
Altos níveis de infestação destes fitopatógenos pode gerar perdas de até 100% na
produção e qualidade dos frutos (OLIVEIRA; ROSA, 2014). Os métodos de controle vão
desde a utilização de cultivares resistentes, rotação com plantas não hospedeiras, até o
uso de produtos químicos. Entretanto, os nematicidas químicos utilizados são caros,
necessitam de maior habilidade para sua aplicação e proporcionam riscos a saúde humana
e ao meio ambiente (OGWULUMBA; OGWULUMBA, 2016).
Diante disso, a busca por métodos que possam reduzir as perdas causadas por esses
nematoides e que sejam viáveis para os produtores é de grande importância. Uma
alternativa a ser considerada é a utilização de elicitores, os quais estimulam várias reações
no hospedeiro, induzindo a resistência. Entre esses elicitores tem-se o ácido salicílico, um
dos fitormônios que coordena a indução de defesa das plantas, sinalizando quando
atacadas por patógenos (MARTÍNEZ‐MEDINA et al., 2017).
A aplicação exógena de ácido salicílico aumenta a resistência das plantas contra
doenças, devido ativar proteínas PR e enzimas relacionadas a defesa, como a quitinase,
β-glucanase, fenilalanina amônia liase e polifenoloxidase (DU et al., 2021). Estudo
recente em plantas de tomateiro com 45 dias após a inoculação, o aumento da densidade
populacional de M. javanica reduziu os índices de clorofila, mas a utilização do ácido
salicílico até a dose de aproximadamente 1,00 mM favoreceu a taxa fotossintética e
eficiência de carboxilação (FIGUEIREDO et al., 2020).
Com isso, o objetivo deste trabalho foi avaliar os índices e fluorescência de clorofila
em plantas de tomateiro em função do aumento da densidade populacional de M. javanica
e doses de ácido salicílico na fase inicial de crescimento.
2021 Gepra Editora Barros et al.

MATERIAL E MÉTODOS

Preparo do Inóculo

Plantas de tomate (Solanum lycopersicum L. cv. Santa Clara) foram cultivadas em


vasos de 2 dm3 com solo e areia (2:1 v/v), durante 70 dias, para multiplicar e obter o
inóculo do patógeno (Meloidogyne javanica). Raízes de tomate infectadas por nematoides
foram lavadas e trituradas em liquidificador em solução de hipoclorito de sódio (NaClO)
a 0,5%, sob baixa rotação por 20 segundos. A solução foi filtrada em peneiras de 200 e
500 mesh, respectivamente. O conteúdo da peneira de 500 mesh foi lavado com água para
1434
eliminar o NaClO e colocado em béquer para quantificar o número de ovos em
microscópio óptico (HUSSEY; BARKER, 1973). A infestação do solo foi realizada no
momento do transplantio de acordo com os tratamentos.

Preparo do Ácido Salicílico

Água destilada foi utilizada no preparo das doses de ácido salicílico. As aplicações
foram realizadas em um intervalo de sete dias, totalizando três aplicações, sendo a
primeira realizada logo após o transplantio e infestação do solo.

Condições e Delineamento Experimental

A pesquisa foi realizada em casa de vegetação do Departamento de Fitotecnia e


Ciências Ambientais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), município de Areia,
Paraíba, Brasil.
As mudas de tomate (cultivar Santa Cruz Kada (Paulista), Isla®) foram produzidas
em bandejas de polietileno com substrato comercial (Basaplant®). O transplantio foi
realizado quando as plantas tinham de 10 a 15 cm de altura. As plantas foram cultivadas
em vasos de 5 dm3 com solo, areia e esterco bovino (3:1:1 v/v), previamente esterilizados
em autoclave à temperatura de 120 ºC, 1 atm de pressão de vapor durante 2 horas. As
irrigações foram realizadas, sempre que houve necessidade, mantendo a umidade do solo
próxima à capacidade de campo. Uma amostra do substrato foi coletada para a análise de
fertilidade conforme metodologia da Embrapa (2018), os resultados estão expressos na
tabela 1.

Tabela 1. Características químicas dos componentes do substrato usado no experimento.


pH P K+ Na+ H+ +Al+3 Al+3 Ca+2 Mg+2 SB CTC M.O.
--- mg kg-3 --- -------------------------- cmolc dm-3 -------------------------- g kg-1
7,8 85,55 693,60 0,23 0,00 0,00 2,91 1,59 6,50 6,50 22,21
Fonte: Autores.
SB= Soma de bases, CTC= Capacidade de trocas de cátions e MO= Matéria orgânica.
2021 Gepra Editora Barros et al.

O delineamento experimental foi em blocos casualizado (DBC), em esquema


fatorial incompleto (Composto Central de Box), com cinco densidades populacionais de
nematoides (0, 5816, 20000, 34184 e 40000 ovos por planta) e cinco doses de ácido
salicílico (0.0, 0.29, 1.0, 1.71 e 2.0 mM), com quatro repetições e duas plantas por
repetição, totalizando nove combinações (MATEUS et al., 2001).

Variáveis Analisadas

Os índices de clorofila a, b, total e a razão clorofila a/b foram determinados aos 30


dias após o transplantio e infestação do solo, pelo método não destrutivo, com um
1435
clorofilômetro portátil (ClorofiLOG®, modelo CFL 1030, Porto Alegre, RS), sendo os
valores dimensionados em índice de clorofila Falker (ICF). Para as avaliações das
variáveis de fluorescência de clorofila foi utilizado fluorômetro modulado (Sciences Inc.-
Model OS-30p, Hudson, USA). Foram colocadas pinças foliares por 30 minutos antes das
leituras para adaptação das folhas ao escuro. Foram mensuradas a fluorescência inicial
(F0), fluorescência máxima (Fm), fluorescência variável (Fv=Fm-F0), a razão Fv/F0 e
rendimento quântico do fotossistema II (Fv/Fm).

Análise estatística

Os dados foram submetidos à análise de variância pelo teste F até 5% de


probabilidade, nos casos de significância foi realizada análise de regressão polinomial,
utilizando-se o programa estatístico R (R CORE TEAM, 2019).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Não houve interação significativa entres os fatores, densidades populacionais de M.


javanica (DP) e doses de ácido salicílico. O aumento da DP influenciou negativamente
nos índices de clorofila a, b e total em plantas de tomateiro, com reduções de 12, 20 e 11
%, respectivamente, na DP de 40000 ovos por planta em relação ao controle (Figura 1A,
1B e 1C). A razão clorofila a/b aumentou 9,5 % na DP de 40000 ovos por planta (Figura
1D).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Figura 1. Índices de clorofila a, b, total e a razão clorofila a/b em plantas de tomateiro sob diferentes
densidades de M. javanica.

A B

1436

C D

O aumento da densidade populacional de nematoides favorece a um maior número


de galhas nas raízes, fazendo com que haja menor absorção de água e nutrientes, afetando
diretamente a síntese de clorofilas (TAIZ et al., 2017). Isso ocorre devido haver a
obstrução dos vasos condutores, alteração no padrão de absorção e translocação de água
e nutrientes e alterações fisiológicas (ALMEIDA et al., 2011).
Já a razão clorofila a/b aumentou em função da densidade populacional por que o
decréscimo no índice de clorofila a (12%) foi menor em relação ao de clorofila b (20%).
A clorofila a está presente em maior quantidade nas plantas superiores, já a clorofila b é
classificada como pigmento suplementar (BORRMANN, 2009). A redução na quantidade
desses pigmentos influencia negativamente no desenvolvimento das plantas, pois a
combinação das clorofilas a e b e dos pigmentos acessórios é essencial na absorção de luz
solar e convertê-la em energia química durante o processo de fotossíntese
(MARTINAZZO et al., 2007).
Resultados semelhantes foram observados por Figueiredo et al. (2020), com
decréscimos nos índices de clorofila a (9,6%), b (15,5%) e total (11,1%) em plantas de
tomateiros aos 45 dias após o transplantio e infestação do solo com os nematoides.
Corroborando com a afirmação supracitada, Silva et al. (2015) e Vieira et al. (2014)
estudando as culturas da berinjela (Solanum melongena L.) e cana-de-açúcar (Saccharum
officinarum L.) sob estresse hídrico evidenciaram reduções nos teores de clorofilas.
2021 Gepra Editora Barros et al.

As doses de ácido salicílico não influenciaram significativamente a razão clorofila


a/b. Os índices de clorofila a, b e total foram reduzidos até as doses 0,83, 0,87 e 0,84 mM
de ácido salicílico, aumentando nas doses superiores (Figura 2A, 2B e 2C). Entretanto,
os maiores índices foram observados na dose de 2,00 mM.

Figura 2. Índices de clorofila a, b e total em plantas de tomateiro sob doses crescentes de ácido salicílico.

A B

1437

Esses resultados de clorofila a, b e total em função das doses de ácido salicílico, é


um indicativo de que na cultura do tomateiro nas condições em que o estudo foi realizado,
as maiores doses não afetaram negativamente o metabolismo primário das plantas
(HAYAT; AHMAD, 2007). No entanto, até a dose de aproximadamente 0,87 mM esses
índices foram reduzidos. O ácido salicílico tem efeitos contrastantes, os quais dependem
da espécie e dose aplicada (NAZAR et al., 2011), evidenciando que estudos futuros
devem ser realizados a fim de obter conclusões mais precisas.
Resultados semelhantes foram obtidos por Ribeiro et al. (2020) em plantas de
melancia (Citrullus lanatus L.) e Silva et al. (2019) em plantas de manjericão (Ocimum
basilicum L.), onde as maiores doses proporcionaram os melhores resultados. Entretanto,
Borsatti et al. (2015) expõem que a aplicação exógena desse fitohormônio reduz a
produção de clorofilas e carotenoides em amoreira-preta (Rubus spp), o que difere do que
foi observado neste trabalho em plantas de tomateiro.
2021 Gepra Editora Barros et al.

A fluorescência inicial (F0), variável (Fv), máxima (Fm), eficiência quântica do FSII
(Fv/Fm) e a razão (Fv/F0) em plantas de tomateiro não foram afetadas pelas doses de ácido
salicílico e as densidades de nematoides (Tabela 2).

Tabela 2. Fluorescência inicial (F0), variável (Fv), máxima (Fm), eficiência quântica do FSII (Fv/Fm) e a
razão (Fv/F0) em plantas de tomateiro (Solanum lycopersicum L.) sob doses de ácido salicílico e
densidades populacionais de Meloidogyne javanica.
Ácido Salicílico (mM)
F0 Fv Fm Fv/Fm Fv/F0
Doses
elétrons quantun-1 1438
0,00 83,0 a 189,8 a 272,8 a 0,70 a 2,34 a
0,29 83,5 a 229,0 a 312,5 a 0,73 a 2,83 a
1,00 77,5 a 222,4 a 300,0 a 0,74 a 2,93 a
1,71 70,0 a 208,4 a 278,4 a 0,74 a 3,01 a
2,00 80,5 a 217,3 a 297,8 a 0,71 a 2,74 a
CV (%) 19,1 13,7 13,4 4,1 15,9
Nematoides (Ovos/Planta)
F0 Fv Fm Fv/Fm Fv/F0
Densidades
elétrons quantun-1
0,00 79,5 a 218,8 a 298,3 a 0,73 a 2,79 a
5816,00 77,8 a 214,5 a 292,3 a 0,73 a 2,85 a
20000,00 82,9 a 212,0 a 294,9 a 0,71 a 2,59 a
34184,00 75,8 a 222,9 a 298,6 a 0,75 a 2,98 a
40000,00 68,0 a 219,5 a 287,5 a 0,76 a 3,29 a
CV (%) 19,1 13,7 13,4 4,1 15,9

A mensuração da fluorescência da clorofila é uma técnica que permite avaliar a


eficiência fotoquímica do fotossistema II das plantas frente a diferentes estresses
(MARTINAZZO et al., 2012). Além de ser um método não destrutivo, fornece
informações a respeito do aproveitamento da energia luminosa pelo fotossistema II e suas
relações com a capacidade fotossintética (AZEVEDO NETO et al., 2011).
O fato de as variáveis de fluorescência da clorofila não diferirem entre as doses de
ácido salicílico e densidades populacionais de nematoides é um indicativo de que esses
fatores não causaram danos ao aparato fotossintético das plantas. Isso fica mais evidente
ao observar a baixa variação dos valores de Fv/Fm, onde reduções significativas neste
parâmetro estão associadas ao desvio de parte dos fótons para a via da fluorescência, ao
invés da via fotoquímica (FIGUEIREDO et al., 2018).
2021 Gepra Editora Barros et al.

Corroborando com esses resultados, Christen et al. (2007) afirmam que as leituras
da fluorescência da clorofila a pode ser um método eficiente para caracterizar, quantificar
e detectar estresses em plantas de videira (Vitis vinifera L.). Comportamento semelhante
foi constatado por Figueiredo et al. (2018) em plantas de berinjela (Solanum melongena
L.), onde as variáveis de fluorescência não foram alteradas pela presença ou ausência de
M. javanica. Para a cultura do cafeeiro (Coffea arabica L.), essa técnica foi eficiente na
detecção de genótipos tolerantes ao M. paranaensis em áreas sujeitas ao déficit hídrico
(SILVA et al., 2015).

1439
CONCLUSÕES

Aos 30 dias após o transplantio, o aumento da densidade populacional de M.


javanica reduz os índices de clorofila a, b e total de plantas de tomateiro.
A aplicação exógena de ácido salicílico em doses superior a 0,87 mM favorece o
aumento dos índices de clorofila. Entretanto, são necessários novos estudos para obter
uma dose otimizada.
A fluorescência da clorofila não foi afetada pelas concentrações de ácido salicílico
e densidades de nematoides.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 130

VIABILIDADE ECONÔMICA DA IMPLANTAÇÃO DE


PRODUÇÃO DE COGUMELO SHIITAKI (Lentinula edodes) NA
REGIÃO DE MOGI DAS CRUZES USANDO RECURSOS DO FEAP

Oliveira, Gisele Santana de


Especialista em Agronegócios
Universidade de São Paulo
gisele.oliveira@sp.gov.br

Rossi, Fabiana Ribeiro 1443


Doutora em Engenharia de Produção
Universidade Estadual do Estado de São Paulo
fabiana.rossi@sp.gov.br

RESUMO

O Estado de São Paulo é grande produtor de cogumelos e a cidade de Mogi das Cruzes
possui condições climáticas favoráveis à fungicultura. O shiitake é um dos cogumelos
mais produzidos do mundo, possui importantes propriedades nutritivas e é muito
apreciado. O cultivo de shiitake pode ser uma alternativa complementar de renda as
atividades agropecuárias já exercidas na propriedade ou uma fonte principal de renda em
pequenas áreas. O objetivo desse artigo foi avaliar a viabilidade econômico financeira do
investimento na atividade usando recursos do Fundo de Expansão do Agronegócio
Paulista – FEAP para implantação da produção. Considerou-se uma taxa de desconto do
capital de 7% e os indicadores econômicos calculados foram Valor Presente Líquido
[VPL], Taxa Interna de Retorno [TIR], payback simples e payback descontado. Analisou-
se três cenários de mercado (otimista, realista e pessimista) e utilizou-se a análise de
sensibilidade para verificar o impacto da redução da receita e do aumento dos custos de
produção nos indicadores econômicos. O projeto apresentou VPL de R$ 881.412,05 e
TIR de 56% a.a. no cenário realista, superior à taxa de desconto do capital (7%). Os
resultados de VPL e TIR em todos os cenários indicaram que o projeto saldou o
investimento inicial e garantiu a remuneração mínima exigida pelo investidor. O valor de
payback descontado foi de 2 anos 2 meses e 6 dias demonstrando que o tempo de retorno
do capital inicial investido foi inferior ao período do projeto. De acordo com os
indicadores econômicos analisados pôde-se concluir a viabilidade financeira do
empreendimento em análise.

PALAVRAS-CHAVE: fungicultura, empreendedorismo, investimento.

INTRODUÇÃO

A fungicultura (produção de fungos comestíveis e medicinais) tem a capacidade de


transformar matérias primas de baixo custo como feno, bagaço de cana, madeira, resíduos
culturais (agrícola e agroindustrial), em proteína alimentícia e compostos medicinais de
altíssima qualidade e é uma atividade em expansão no Brasil (Gomes et al, 2016).
2021 Gepra Editora Barros et al.

O cultivo de cogumelos teve origem há 1700 anos na Ásia, mais especificamente


na China. Posteriormente o Japão também iniciou a fungicultura no país e o alimento foi
incorporado na culinária dos dois países (Bononi et al., 1995; Royse et al., 1985).
No Brasil, segundo dados do Sistema IBGE de Recuperação Automática de 2017,
o Estado que mais produz cogumelos é São Paulo com 252 estabelecimentos de produção
(32 % do total no país) e uma produção anual de mais de 11 mil toneladas. Grande parte
dos produtores é descendente de imigrantes orientais e produzem o cogumelo trabalhando
em mutirão e em sistema familiar de pequenas propriedades (Bononi et al., 1995).
A partir de 2008, a entrada do cogumelo em conserva importado no país,
aproveitando a baixa de impostos de importação para esse tipo de produto, prejudicou a
fungicultura brasileira, pois tem preço final mais atrativo e abaixo do custo de produção
do cogumelo nacional, o que fez com que o produto brasileiro perdesse mercado (Taba 1444
da Silva, 2018). A solução encontrada foi a produção e comercialização de cogumelos
frescos, pois este produto possuí uma série de vantagens em relação ao em conserva, tais
como menor custo de produção e investimentos reduzidos quando comparado ao produto
industrializado, pois não é necessário equipamento para secagem, cozimento e
processamento.
Os cogumelos fornecem proteína de alta qualidade, são ricos em fibra, minerais,
vitaminas e possuem baixo teor de gordura total (Miyaji et al., 2001). Além disso, muitas
espécies não são apenas nutritivas, possuindo também propriedades terapêuticas e
medicinais.
Apesar de ser uma ótima alternativa na alimentação e atender diretamente aos
interesses dos consumidores de produtos orgânicos e pessoas que pretendem substituir as
proteínas encontradas na carne, o consumo nacional ainda é baixo se comparado ao de
países Europeus (Bett et al., 2011). Segundo dados do CENARGEN (2010), no Brasil
consome-se anualmente aproximadamente 30 gramas por habitante, enquanto na França
o consumo chega a 2 kg por habitante (ano), na Itália 1,3 kg por habitante (ano) e na
Alemanha o consumo alcança 4 kg por habitante (ano).
As principais espécies cultivadas comercialmente são: Champignon de Paris
(Agaricus bisporus); Shimeji (Pleurotus ostreatus); Shiitake (Lentinula edodes). O
Shiitake (shii, tipo de árvore; take, cogumelo em japonês) é um fungo aeróbio
decompositor de madeira que pertence à classe dos Basidiomicetos (Chang e Miles,
1989).
O Lentinula edodes é um fungo saprófito, que cresce em madeiras de árvores e
forma corpos de frutificação a temperaturas entre 18ºC a 22ºC, sob condições de umidade
próximas a 90% (Maciel, 2012)
O cultivo de shiitake pode ser dividido em duas categorias: uma forma rudimentar
de cultivo realizada em toras de madeira e outra forma, que requer mais tecnologia, que
é o cultivo em substratos sintéticos, denominado cultivo axênico (Chang e Miles, 2004).
Esse segundo tipo de cultivo é uma alternativa rentável na produção comercial desse
cogumelo, uma vez que a colheita acontece mais rapidamente e a eficiência biológica do
fundo é bastante elevada (Hiromoto, 1991; Levanon et al., 1993; Przybylowicz e
Donoghue, 1998).
A produção se inicia com a preparação do substrato e a inoculação do fungo. Em
Mogi das Cruzes tem sido muito utilizada uma mistura de farelos de soja, trigo e milho.
O substrato é acondicionado em sacos plásticos de polipropileno cilíndricos e vedados
com respiradores de papel filtro. Os blocos precisam passar por autoclavagem para evitar
contaminações e depois são inoculados, usando uma capela de fluxo laminar, em
temperatura ambiente, com umidade do ar em torno de 85% - 90% e ausência de luz.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Para indução da frutificação, após 60 dias os blocos são expostos à luz (12
horas/dia) durante 15 dias de acordo com Rossi (1999). Aos 90 dias pode ser realizado o
choque térmico (diminuindo a temperatura para 4ºC) ou mecânico e os blocos são
retirados dos sacos e passam para as salas de cultivo. Cerca de 15 dias após o início da
frutificação iniciará a colheita dos cogumelos. Para um segundo ciclo de produção é
necessário imergir os blocos em água à temperatura de 14ºC, por 8 horas e depois
transferi-los para as salas de cultivo novamente.
O interesse no consumo do shiitake é atribuído às suas ricas propriedades
nutricionais e medicinais e pelo seu apreciável sabor, tornando-se o segundo cogumelo
mais consumido no mundo (Piccinin et al., 2010). No Brasil, seu cultivo vem crescendo
significativamente, devido ao bom retorno econômico, possibilidade de ser cultivado em
pequenas áreas e necessitar de baixo investimento inicial (Rossi, 1999). 1445
A cidade de Mogi das Cruzes, localizada na Região Metropolitana do Estado de
São Paulo, faz parte do Cinturão Verde, um conjunto de cidades que abastecem as
cidades com a produção de alimentos. A cidade é um grande polo de produção de
hortaliças, frutas, cogumelos e flores. Segundo Da Silva et al (2018), a produção de
cogumelos na região representa mais de 80% da produção nacional, devido
principalmente às características climáticas favoráveis ao seu cultivo e à proximidade
com grandes centros consumidores do produto.
Dentre as políticas agrícolas públicas, disponibilizadas pelo Governo do Estado
de São Paulo, através da Secretaria da Agricultura e Abastecimento, está o Fundo de
Expansão do Agronegócio Paulista [FEAP]. O FEAP permite, entre outros instrumentos,
a equalização e taxas de juros subsidiadas para financiamentos, apoio financeiro aos
produtores rurais, bem como suas cooperativas e associações através dos programas e
projetos de desenvolvimento rural, autorizados por decreto estadual.
Visto que o cultivo pode ser uma alternativa complementar de renda as atividades
agropecuárias já exercidas na propriedade ou uma fonte principal de renda em pequenas
áreas, o objetivo desse artigo é avaliar a viabilidade econômico financeira do investimento
na atividade usando recursos do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista – FEAP
para implantação da produção.

MATERIAL E MÉTODOS

Foi definido o município de Mogi das Cruzes como localização para a implantação
da produção de Shiitake. A cidade possui aproximadamente 440 mil habitantes (IBGE,
2018), com área total de 713 metros quadrados, localizada no bioma mesclado entre
cerrado e mata atlântica, altitude média de 712 metros e precipitação média anual de
aproximadamente 1.600 mm. O clima do município, como em toda a Região
Metropolitana de São Paulo, é o subtropical, tipo Cwa. O verão é pouco quente e chuvoso;
o inverno, ameno e subseco. A média de temperatura anual gira em torno dos 17 °C, sendo
o mês mais frio julho (média de 11 °C) e o mais quente fevereiro (média de 20 °C).
Foi simulada a implantação da produção em uma pequena propriedade de 5 hectares
em terreno próprio, na cidade de Mogi das Cruzes, no sistema familiar de produção,
atendendo ao enquadramento de agricultura familiar do governo federal, ou seja, possui
área inferior à 4 módulos rurais, não possui mais funcionários do que o número de
familiares trabalhando na atividade e a maior parte da renda da família é proveniente da
atividade agropecuária.
Foi admitido que o produtor irá adquirir os blocos já inoculados com o fungo há 30
dias de um fornecedor da região, já que o processo de inoculação exige muito
2021 Gepra Editora Barros et al.

conhecimento técnico, alto risco de contaminação e infraestrutura especifica com


laboratórios e equipamentos como autoclaves e capelas de fluxo laminar além de exigir
mais mão de obra.
O levantamento de produtividade da cultura e os custos de produção, incluindo
todos os materiais e investimentos em maquinário e equipamentos, foram obtidos por
meio de pesquisas de mercado e visitas a três produtores de grande, médio e pequeno
porte, com produção consolidada na região, além de um investidor que está na fase de
planejamento e implantação do projeto.
O projeto previu o uso de dois galpões: um para o período de incubação com 300
m² quadrados, onde os blocos ficarão de 60 a 90 dias em temperatura ambiente e outro
galpão com condições de temperatura e umidade controladas, contendo 12 salas para o
período de frutificação dos fungos que leva 15 dias até a colheita. Para montagem da 1446
infraestrutura dos galpões, foi utilizada a estimativa de custo de material e mão de obra
para um galpão com 540 m² elaborado por um escritório de arquitetura e construção
(Estúdio Brasil Arquitetura e Construção). O custo total do investimento desse galpão
com salas de cultivo de shiitake foi orçado em R$ 76.215,03.
Além da estrutura dos galpões, foi necessário investir em estantes para
acondicionamento dos blocos. Optou-se por estantes de madeira, com largura de 1 metro
e comprimento de 4 metros nas salas de frutificação e comprimento de 8 metros no galpão
de incubação. Cada estante possuirá de 6 a 7 prateleiras. Na fase de incubação 1 metro
quadrado de prateira comporta 12 blocos e na fase de frutificação, 8 blocos. O galpão de
incubação terá então um total de 480 metros quadrados de prateleiras com capacidade
para acondicionar 5760 blocos enquanto o galpão de frutificação terá 560 metros
quadrados de prateleiras no total e comportará 4480 blocos. Esses dados também foram
utilizados para cálculo da capacidade de produção, onde foi estimado que cada bloco
produz aproximadamente 300 gramas de shiitake no primeiro ciclo e 200 gramas no
segundo ciclo. Essa estimativa foi definida a partir dos dados obtidos com os produtores
visitados.
Inicialmente o produtor utilizará a capacidade de acondicionamento do galpão de
frutificação como parâmetro para comprar os blocos inoculados. No cenário otimista, ao
longo dos anos do projeto, haverá um acréscimo de 3% nas compras de blocos, visto que
ele passará a ser mais eficiente na produção e melhor aproveitará a capacidade de
acondicionamento dos barracões.
A estimativa do investimento necessário com máquinas e equipamentos para
climatização dos galpões totalizou R$ 42.274,60 e o cálculo da depreciação foi
realizado de forma linear ao longo de 10 anos, que é o período de análise do projeto, de
forma que os bens tenham se depreciado totalmente necessitando novos reinvestimentos
caso a atividade tenha continuidade.
O investimento se dará com recursos do FEAP da Linha “Desenvolvimento Rural
Sustentável Paulista”, que contempla a implantação de agricultura em ambiente
protegido, incluindo fungicultura, sendo tomado o valor de R$ 100.000,00 com taxa de
juros de 3% a.a., carência de 2 anos e pagamento anual de 3 parcelas, totalizando 5 anos.
O tempo de análise do projeto foi de 10 anos, visto que após esse período grande
parte da estrutura precisaria ser renovada e novos reinvestimentos deveriam ser feitos.
Considerou-se que no ano 5, devido ao tempo de vida útil dos umidificadores de
ar, houve o investimento em novos aparelhos e que o pró-labore dos proprietários seria
de 2 mil reais por mês.
Como o agricultor tem CNPJ de produtor rural, mas é pessoa física, a tributação
da sua receita foi feita pelo imposto de renda de pessoa física. Optou-se pela apuração do
resultado tributável pelo limite de 20% sobre a receita bruta total utilizando o desconto
2021 Gepra Editora Barros et al.

simplificado. Essa opção implica na perda do direito à compensação dos saldos dos
prejuízos dos anos anteriores e/ou do resultado negativo do próprio ano-calendário.
A viabilidade econômica do cultivo de cogumelo Shiitaki foi realizada por meio
dos indicadores econômicos Valor Presente Líquido [VPL], Taxa Interna de Retorno
[TIR], payback simples e payback descontado e análise de sensibilidade. A partir desses
indicadores foi possível avaliar se o empreendimento seria capaz de proporcionar lucro
aos investidores no final do negócio.

Valor Presente Líquido (VPL)

O Valor Presente Líquido (VPL) é o resultado das análises de investimentos e o


seu valor é obtido pela subtração do valor inicial de um projeto, do valor presente dos 1447
fluxos de entrada de caixa, descontados a uma taxa igual ao custo do capital da empresa
(Gitman, 2004). A obtenção do VPL foi realizada pela eq. (1) seguinte:

𝑉𝑃𝐿
𝑛
𝐹𝐶𝑡 (1)
= −𝐼+∑
(1 + 𝑘)𝑡
𝑡=1

onde, I: investimento inicial; t:período, sendo utilizado um período anual; n: tempo total
do projeto (oito anos); k: taxa de desconto do fluxo de caixa, sendo considerado 2,88%
ao ano, comparada ao rendimento médio anual de aplicação do valor na poupança; FC:
fluxo de caixa por período.

Taxa Mínima de Atratividade (TMA)


A TMA é a taxa de juros que representa o mínimo que o investidor se propõe a
ganhar, a qual poderá ser comparada, por análise do custo de oportunidade, com outros
investimentos que por ventura possam trazer um retorno maior (Sviech e
Mantovan,2013). A TMA considerada nesse estudo é de 10%.

Taxa Interna de Retorno (TIR)


A Taxa Interna de Retorno – TIR corresponde a taxa de juros que iguala, em
determinado momento do tempo, ao valor presente das entradas (recebimentos) com o
das saídas (pagamentos) previstas de caixa (Pereira e Almeida, 2010), ou seja, enquanto
o valor da TIR for maior que o valor do custo de capital (K), o projeto poderá ser aceito.
A TIR foi calculada através da eq. (2) seguinte:
𝑛 𝐹𝐶𝑡
0 = −𝐼 + ∑ 𝑡
(2)
𝑡=1 (1 + 𝑘)

onde ,I: investimento inicial; t:período, sendo utilizado um período anual; n: tempo total
do projeto (oito anos); k: taxa de desconto do fluxo de caixa, sendo considerado 2,88%
ao ano, comparada ao rendimento médio anual de aplicação do valor na poupança; FC:
fluxo de caixa por período.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Payback simples e payback descontado


O payback é o período de tempo necessário para que as receitas líquidas de um
projeto recuperem o custo do investimento, ou seja, é o tempo esperado para se recuperar
o investimento inicial, normalmente baseado em anos (Weston; Brigham, 2000).

O payback é uma medida simples de análise de projeto que observa apenas o


momento de inversão do sinal do fluxo de caixa líquido acumulado. Esse método pode
ser realizado considerando o fluxo de caixa líquido acumulado que resulta no payback
simples ou considerando o fluxo de caixa líquido descontado acumulado formando o
payback descontado (Camargo et. al, 2012).
1448
Análise de Sensibilidade
Considerou-se 3 cenários de mercado: um cenário otimista, onde no primeiro de
ano de produção vendeu-se 80% da oferta e apenas no último ano do projeto atingiu-se
100%; um cenário realista onde, no primeiro ano, vendeu-se 60% da produção atingindo
90 % de vendas no último ano e um cenário pessimista onde no primeiro ano apenas 40%
da oferta era absorvida pelo mercado atingindo o máximo de 85% de vendas no último
ano do projeto.

Por fim, foi feita a análise de sensibilidade utilizando uma variação negativa de
20% no preço médio de venda e 10% de aumento no custo de produção utilizando o
cenário realista e cenário pessimista.

Os cálculos foram realizados com ferramentas disponibilizadas no Excel.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A mão de obra utilizada no processo produtivo é principalmente é familiar. As


Tabelas 1, 2 e 3 demonstram a totalidade do fluxo de caixa do projeto nos 3 cenários
analisados.

Primeiro considerou-se um cenário otimista (Tabela 1) onde no primeiro de ano


de produção vendeu-se 80% da oferta, com acréscimo de 2% nos demais anos, atingindo
100% no último ano do projeto.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Tabela 1: Fluxo de Caixa (R$) para o cultivo de cogumelo shiitake em Mogi das Cruzes considerando um cenário de
mercado otimista

1449

Fonte: Resultados originais da pesquisa

A Tabela 2 mostra um cenário realista, onde no primeiro ano vendeu-se 60% da


produção com acréscimo de 3% nos anos seguintes e atingindo 90% de vendas no
último ano do projeto.

Tabela 2: Fluxo de Caixa (R$) para o cultivo de cogumelo shiitake em Mogi das Cruzes considerando um cenário de
mercado realista

Fonte: Resultados originais da pesquisa


2021 Gepra Editora Barros et al.

No cenário pessimista (Tabela 3), as vendas do primeiro ano alcançaram apenas


40% do total da produção de Shiitake. Houve aumento de 5% das vendas nos anos
seguintes atingindo 85% de vendas no último ano do projeto.

Tabela 3: Fluxo de Caixa (R$) para o cultivo de cogumelo shiitake em Mogi das Cruzes considerando um cenário de
mercado pessimista

1450

Fonte: Resultados originais da pesquisa

A análise de sensibilidade usando o cenário realista (Tabela 4) demonstrou o


efeito da redução de 20% no valor de venda e aumento de 10% do custo de produção, ao
longo de todos os anos do projeto

Tabela 4: Fluxo de Caixa (R$) para o cultivo de cogumelo shiitake em Mogi das Cruzes considerando redução de
20% no valor de venda e aumento de 10% do custo de produção no cenário realista.

Fonte: Resultados originais da pesquisa


2021 Gepra Editora Barros et al.

A análise de sensibilidade usando o cenário pessimista (Tabela 5) demonstrou o


efeito da redução de 20% no valor de venda e aumento de 10% do custo de produção
em todos os anos do projeto.

Tabela 5: Fluxo de Caixa (R$) para o cultivo de cogumelo shiitake em Mogi das Cruzes considerando redução de
20% no valor de venda e aumento de 10% do custo de produção no cenário pessimista

1451

Fonte: Resultados originais da pesquisa

Análise do VPL
Este índice, quando apurado no cenário otimista (Tabela 1) apresentou valor de
R$ R$1.367.235,15. No cenário realista (Tabela 2) o índice foi de R$ 783.883,16 e no
cenário pessimista (Tabela 3) foi de R$ 328.881,20 demonstrando-se superior à zero,
logo, o projeto é viável, podendo ser aceito pelo responsável quanto ao poder de decisão
sobre o projeto. Paula et al (1999), também apurou resultados satisfatórios na análise
econômica da produção de shiitake em toras no noroeste de São Paulo, obtendo uma
margem bruta de 92,48% em relação ao custo total de produção e índice de lucratividade
de 48,05%, mas salientou que melhores resultados poderiam ser obtidos se o produtor
reduzir o investimento inicial, sem comprometer a qualidade e produtividade do produto,
utilizando uma estrutura já existente na propriedade, por exemplo.

Análise do Payback simples e descontado


Esta variável permitiu a análise do tempo necessário para o retorno do
investimento, sendo revelado o prazo de 11 meses e 17 dias no cenário otimista, 2 anos e
1 mês no cenário realista e 5 anos 6 meses e 13 dias no cenário pessimista. No sistema de
cultivo em toras, Duarte (2020) obteve um payback de 4 anos, mostrando que no sistema
mais tecnificado, o prazo de recuperação do investimento previsto pode ser reduzido
praticamente pela metade. Quando considerado o payback descontado os tempos
encontrados foram de 1 ano e 25 dias no cenário otimista, 2 anos 8 meses e 13 dias no
cenário realista e 6 anos 4 meses e 6 dias no cenário pessimista.

Análise da TIR
No que tange ao cálculo da TIR, este projeto apresentou rentabilidades de 95%
a.a. no cenário otimista; 50% a.a no cenário realista e 21% a.a no cenário pessimista,
2021 Gepra Editora Barros et al.

portanto muito maior que a base de comparação de 10 % a.a. atribuída como mínimo para
o projeto. Desta forma, a decisão para aceitação do projeto está respaldada pela larga
superação da TMA apresentada na TIR em todos os cenários estudados. Duarte (2020)
analisou a viabilidade de uma empresa de produção de Shiitake em toras de eucalipto em
Portugal e obteve 30,56% de TIR corroborando os resultados apresentados nesse estudo
e demonstrando que tanto na faixa intermediária de sistema cultivo quanto no sistema
mais tecnificado, como apresentado nesse trabalho, o projeto é viável.

Análise de Sensibilidade
A análise de sensibilidade usando o cenário realista (Tabela 4) mostrou que com
a redução de 20% no preço médio de venda e o aumento de 10% no custo de produção, o 1452
projeto apresentou VPL de R$135.532,40, mostrando que o projeto é viável com
rentabilidade de 15% segundo o cálculo da TIR. O payback simples mostrou tempo de 2
anos 1 meses e 16 dias para retorno do investimento e o payback descontado, 7 anos 1
mes e 22 dias.
Já a análise de sensibilidade realizada no cenário pessimista (Tabela 5) apresentou
VPL de R$ -228.429,17 e TIR de -4%, mostrando que nesse caso o investimento não é
viável. O prazo para retorno do investimento considerando o payback simples foi de 5
anos 5 meses e 13 dias, mas se considerado o payback descontado, o investimento não
obteve retorno no tempo de análise do estudo. Nessa situação, o projeto é inviável.

CONCLUSÃO

A produção de shiitake, é um investimento viável na agricultura familiar, desde


que não ocorra um desajuste considerável na oferta e demanda que reduzisse 20 % no
preço médio de venda e uma redução drástica na demanda, concomitantemente.
Considerando os demais cenários analisados foi possível concluir que o projeto é
considerado um investimento rápido e com uma boa taxa de retorno, representando uma
forma eficaz de investimento no meio rural.

REFERÊNCIAS

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10. ed. Atlas. São Paulo, São Paulo, Brasil.
2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 131
IMPACTO DO ANETOL NA REPRODUÇÃO: UMA REVISÃO

OLIVEIRA, Maria Alice Felipe


Graduanda em Biologia
Universidade Estadual do Ceará
alice.oliveira@aluno.uece.br

FILHO, João Eudes Farias Cavalcante


Pós-graduando em ciências veterinárias
Universidade Estadual do Ceará
joao.eudes@aluno.uece.br
1455
ALVES, Fernanda Lima
Pós-graduando em ciências fisiológicas
Universidade Estadual do Ceará
fe.lima.alves@gmail.com

MARTINS, Solano Dantas


Graduando em Biomedicina
Centro Universitário Maurício de Nassau
solanodantas59@gmail.com

ARAÚJO, Valdevane Rocha


Professora universitária
Universidade Estadual do Ceará
valdevane.araujo@uece.br

RESUMO

Extratos vegetais e seus benefícios vêm sendo alvo de investigações entre as mais
variadas linhas de pesquisa. Nesse contexto, o anetol, extraído de plantas como a canela-
de-cunhã (Croton zehntneri), vem se destacando por ser apontado como potencial
antioxidante, além de ter também atividades antifúngica, antibacteriana e anti-helmíntica.
Atualmente, há trabalhos que analisam o impacto desse extrato natural em alguns tecidos,
tais como os tecidos hepático e nervoso. Contudo, são escassos os trabalhos que avaliam
a influência desse extrato vegetal nos tecidos e células reprodutivas de fêmeas ou de
machos. Desta forma, a presente revisão de literatura tem como objetivo reunir os
principais trabalhos que avaliaram os efeitos do anetol em tecidos reprodutivos e gametas
de machos e fêmeas. Para tal, foram analisados 8 artigos em língua inglesa extraídos das
bases de dados PubMed Central e Scholar Google. Os resultados demonstraram que o
anetol tem sido benéfico para o desenvolvimento de folículos e oócitos de animais de
diferentes espécies. Por esta razão, o anetol pode ser um importante composto a ser
utilizado para auxiliar na reprodução de fêmeas. Entretanto, o anetol apresentou efeitos
citotóxicos no tecido reprodutivo masculino, como a vesícula seminal e espermatozoides.

PALAVRAS-CHAVES: Produção animal, Extrato de plantas, Células reprodutivas.


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INTRODUÇÃO

Anetol (1-methoxy-4-[(1E)-prop-1-en-1-yl]benzene) é um composto natural


vastamente encontrado em óleos essenciais, que por suas características de aroma e
paladar açucarado possui grande utilização na indústria de alimentos e cosméticos
(MARINOV; VALCHEVA-KUZMANOVA, 2015; SÁ et al., 2018; LUO et al., 2020).
Além disso, possui vasta utilização na indústria farmacêutica por possuir efeito anti-
inflamatório, anestésico, anticarcinogênico e antioxidante (MARINOV; VALCHEVA-
KUZMANOVA, 2015; SÁ et al., 2018; ANJOS et al., 2019).
A utilização de compostos naturais como suplementos em técnicas de reprodução
assistida é comum e abrangente, estes compostos são utilizados com o intuito de 1456
mimetizar o ambiente natural de fertilização e reduzir os efeitos indesejados causados
pela maior pressão de oxigênio do ambiente in vitro (BUDANI; TIBONI, 2020). Dentre
esses compostos o anetol vem se destacando por sua característica antioxidante, tem sido
utilizado com sucesso na produção in vitro de embriões (PIV) (SÁ et al., 2018; ANJOS
et al., 2019).
Diversos estudos vêm ressaltando os benefícios do anetol nas diversas etapas da
PIV, desde a maturação até o cultivo dos embriões, tanto em modelos bovinos quanto
caprinos (SÁ et al., 2018; SÁ et al., 2019). Porém, este composto se apresenta de forma
diferente para os gametas masculinos. Estudos demonstraram que animais do gênero
masculino, quando submetidos à exposição ao anetol tiveram parâmetros de fertilidade
reduzidos (FAROOK et al., 1991; DHAR, 1995; HATEGEKIMANA; ERLER, 2020).
Portanto, tendo em vista as possíveis implicações do anetol na reprodução
assistida e as diferenças quanto à interação com os gametas feminino e masculino, essa
revisão se faz necessária a fim de evidenciar os conhecimentos sobre o mesmo.

METODOLOGIA

Esta é uma revisão narrativa baseada em uma avaliação dos principais achados em
relação a influência do anetol nas células reprodutivas. Para isso, partiu-se da seguinte
questão norteadora “Quais impactos o anetol causa nas células reprodutivas de fêmeas e
machos?”. Para realizar a busca de trabalhos que pudessem responder tal questionamento
foram estabelecidos como critérios de inclusão: (01) artigos em inglês, (02) artigos que
tenham trabalhado com anetol e (03) artigos experimentais que tenham realizado ensaios
in vivo ou in vitro. Para a exclusão de trabalhos, foram determinados os seguintes
critérios: (01) experimentos sem análises com células e/ou tecidos do sistema reprodutor
e (02) revisões de literatura. Os passos para a seleção dos artigos estão esquematizados
na figura 01 abaixo.
As buscas foram realizadas através dos bancos de dados PubMed Central e Scholar
Google, utilizando os descritores "anethole and male reproductive system" ou “anethole
and female reproductive system”. Em seguida, foram realizadas as leituras por título e
resumo, para posteriormente realizar a leitura completa dos trabalhos selecionados. Os
artigos escolhidos para esta revisão estão expressos na tabela 01 abaixo.
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1457

Tabela 1. Trabalhos com anetol e células/tecidos reprodutivos.

ANETOL E SUAS ATIVIDADES FARMACOLÓGICAS

O anetol é um composto aromático amplamente encontrado na natureza. Ele é


responsável pelo sabor característico de algumas plantas como o anis e o funcho, ambos
da família Apiaceae, como também pode ser encontrada na planta Croton zehntneri,
popularmente conhecida como canela-de-cunhã. Além disso, este composto pode ser
encontrado em altas concentrações (80% a 90% da composição total) em diversos óleos
vegetais, como o óleo de anis e o óleo de erva-doce (MARINOV, 2015).
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Em determinadas plantas esse composto tem a função de proteger o vegetal contra


a ação de vírus, bactérias, fungos e outros patógenos, além de atrair abelhas e facilitar a
dispersão da espécie (GHELARDINI; GALEOTTI; MAZZANTI, 2001). Tal extrato
vegetal vem sendo apontado em diversos estudos como um potencial anti-helmíntico,
importante para manter a produtividade de pequenos ruminantes, além de desempenhar
efeito hepatoprotetor e potencial antioxidante (SÁ et al., 2018).
Suliman et al. (2000) verificaram que níveis plasmáticos elevados de homocisteína
(Hcys) estão ligados a doenças cardiovasculares ateroscleróticas e os compostos que
contém enxofre, como o anetol ditioletiona (ADT) tem sido investigado como uma
possível nova classe de agentes redutores de Hcys. Giustarini et al. (2014) avaliaram a
1458
capacidade de reduçāo da homocisteína tanto no plasma como em órgão de ratos com
administração intraperitoneal do composto na dose de 10mg/kg durante um ou três dias
seguidos. Foi verificado que ele seria capaz de reduzir Hcys em condições normais em
animais com hiper-homocisteinêmicos e, concomitantemente, aumentar a glutationa
(GSH) em tecidos sólidos e plasma. Desse modo, pode-se inferir que tal composto seja
benéfico ao sistema cardiovascular e por essa razão deve-se investigar sua utilização por
humanos.
Ao ser administrado oralmente, o anetol é facilmente absorvido, sendo seus
metabólitos eliminados pela urina e parte perdida através da respiração. A medicina
tradicional costumava utilizar o anis, planta que possui altas concentrações de anetol, para
iniciar a menstruação, tratar cólicas, aliviar as dores do parto e aumentar o desejo sexual
em mulheres e, em homens, este era indicado para tratar sintomas da “menopausa
masculina”, comportamentos que indicavam os possíveis benefícios deste composto
aromático (MARINOV, 2015).

UM DOS PRIMEIROS ESTUDOS: AVALIAÇÃO DO IMPACTO DO ANETOL


EM FÊMEAS E MACHOS

Um dos estudos mais antigos que objetivaram avaliar o impacto do anetol no


sistema reprodutor, tanto de machos como de fêmeas, foi realizado por Dhar (1995), onde
este administrou o trans-anetol nas doses de 50, 70 e 80 mg/kg. No experimento I o extrato
foi administrado oralmente em ratas grávidas (detecção da gravidez foi realizada através
de esfregaço das células no canal vaginal) do dia 1 ao dia 10 de gravidez. No experimento
II as ratas grávidas foram separadas em três grupos, variando o tempo de administração
do trans-anetol: grupo I (tratadas nos dias 1 e 2 de gravidez), grupo II (tratadas nos dias
3 a 5 de gravidez) e grupo III (tratadas nos dias 6 a 10 de gravidez).
Em seguida, foram realizadas análises progestacionais e anti-progestacionais.
Posteriormente, as ratas foram ainda reorganizadas em 5 grupos, onde foi avaliado os
efeitos da administração do trans-anetol na dose de 80 mg/kg, tanto sozinho como
adicionado 2 mg de progesterona. O trans-anetol exerceu atividade antifertilidade em
todas as doses, principalmente nas ratas tratadas com a maior dose (80 mg/kg), onde
nenhuma das ratas deste grupo foi observado o desenvolvimento da gravidez.
No caso do experimento com os machos, nesse estudo, foi utilizado animais
sexualmente imaturos para os testes e estes foram submetidos ao trans-anetol também na
2021 Gepra Editora Barros et al.

dosagem de 80 mg/kg, sozinho ou adicionado 150 μg de propionato de testosterona. Em


relação aos resultados obtidos, o trans-anetol quando administrado junto ao propionato
de testosterona não foi capaz de alterar significativamente o peso da próstata e vesícula
seminal, diferente do que ocorreu no grupo tratado somente com trans-anetol.
Dessa forma, foi visto que a atividade antifertilidade do trans-anetol é dose
dependente e pode afetar a gravidez em algumas das etapas ou até mesmo ter efeito
abortivo em fêmeas, enquanto que nos machos pode afetar a fertilidade ao causar atrofia
na vesícula seminal e na próstata.

ANETOL E SEUS BENEFÍCIOS NO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO


1459
FOLICULAR E OOCITÁRIO DE BOVINOS, CAPRINOS E OVINOS

A utilização de folículos pré-antrais ovarianos tem sido uma importante alternativa


como fonte potencial de oócitos para fertilização in vitro e produção de embriões. Em
contrapartida, o crescimento in vitro desses folículos (pré-antrais) demonstram limitados
resultados à produção de embriões em algumas espécies, tendo como principal entrave
estabelecer um meio de cultivo ideal garantindo o crescimento adequado e a maturação
dos oócitos dos folículos pré-antrais ovarianos (FIGUEIREDO et al., 2011; ARAÚJO et
al., 2011; ARAÚJO et al., 2014).
A ocorrência dos eventos celulares no cultivo in vitro direcionam ao aumento na
produção de espécies reativas de oxigênio (ERO), propiciando danos à membrana
plasmática, ácido desoxirribonucleico (DNA), bem como proteínas e lipídeos que compõe
uma célula. Com isso o desbalanço do sistema de defesa antioxidante pode culminar no
estresse oxidativo em consequência de reações metabólicas que afetam o crescimento e a
sobrevivência de oócitos. Assim, dentre os mecanismos naturais de defesa contra esse
estresse oxidativo, é evidenciado a ação de antioxidantes (ROMERO et al., 1998; LEAL-
CARDOSO et al., 1999; SAHPAZ et al., 2002; ARAÚJO et al., 2011).
Entre os diversos antioxidantes naturais, o anetol tem sido o foco em vários estudos.
Esse composto é encontrado no nordeste do Brasil, que tem como atividade antioxidante
confirmada por diminuir as concentrações de ERO in vivo e in vitro. Ao verificar o efeito
de três concentrações de anetol (30, 300 e 2000 μg/mL) quanto ao diâmetro folicular e
maturação oocitária em folículos ovarianos pré-antrais caprinos isolados antes e após o
cultivo in vitro por 18 dias, observou-se que as taxas de ovócitos para MIV (diâmetro
≥110 μm), bem como as taxas de retomada da meiose foram significativamente relevantes
nos tratamentos que utilizaram concentrações de anetol 30 e 2000 μg/mL (SÁ et al.,
2018).
Quanto às ERO, a partir do dia 12 de cultivo, foi observado que todos os tratamentos
com adição de anetol apresentam valores significativamente mais baixos do que α-MEM
(Minimum Essential Medium) e a utilização de outro antioxidante. Nessa perspectiva a
adição de anetol ao meio de cultivo in vitro foi capaz atuar no desenvolvimento dos
folículos pré-antrais caprinos, reduzindo as concentrações de ERO e aumentando a
porcentagem de oócitos capazes de retomar a meiose (SÁ et al., 2018).
Quando estudado o efeito de diferentes concentrações de anetol no cultivo in vitro
de folículos pré-antrais da espécie caprina, fragmentos ovarianos foram fixados e
2021 Gepra Editora Barros et al.

distribuídos em cinco tratamentos: α-MEM + (controle de cultivo), α-MEM +


suplementado com ácido ascórbico a 50 μg/mL (AA) e anetol a 30 (AN30), 300 (AN300),
ou 2000 μg/mL (AN2000), por 1 ou 7 dias. Após 7 dias de cultivo, uma porcentagem
significativamente maior de folículos morfologicamente normais foi observada perante a
utilização de anetol na concentração de 2000 μg/mL. Em ambos tempos de cultivo (1 e 7
dias), notou-se um maior percentual de folículos em crescimento com o tratamento de
anetol a 30 μg/mL em comparação com os tratamentos ácido ascórbico e a concentração
de 2000 μg/mL (SÁ et al., 2015).
O anetol nas concentrações de 30 e 2000 μg/mL nos dias 1 e 7 de cultivo resultou
em um aumento significativo no diâmetro folicular do que no tratamento controle. O
1460
anetol na concentração de 30 μg/mL no dia 7 apresentou diâmetro oocitário
significativamente maior do que os outros tratamentos, exceto quando comparado ao
tratamento que utilizou a concentração de 2000 μg/mL. No dia último dia de cultivo (dia
7), os níveis de EROS foram significativamente menores no tratamento com 30 μg/mL
do que nos outros tratamentos estudados. Dessa maneira, constatou-se que a
suplementação com anetol no meio de cultivo melhora a sobrevivência e o
desenvolvimento folicular precoce em diferentes concentrações na espécie caprina (SÁ
et al., 2018).
A PIV é uma etapa sucedida da maturação de oócitos in vitro (MIV), fertilização in
vitro (FIV) e subsequente ao cultivo in vitro de presumíveis zigotos. A técnica de PIV é
rotineiramente usada para aumentar a proliferação de animais geneticamente
selecionados, bem como uma ferramenta para entender os processos fisiológicos
envolvidos no desenvolvimento embrionário inicial (MOORE E HASLER, 2017).
Embora essa técnica seja aplicada em todo o mundo em diferentes centros reprodutivos,
a otimização dos resultados ainda é necessária (WRENZYCKI, 2018).
Outra ferramenta in vitro que permite a preservação da fertilidade feminina é a
criopreservação de tecido ovariano. A aplicação do processo de vitrificaçāo nessa técnica
tem como intuito a supressão da formação de cristais de gelo intra e extracelulares,
contudo, também podem acontecer danos metabólicos causados pelo desequilíbrio das
defesas antioxidantes (JASEMI et al., 2017).
Diante disso, Morais et al. (2019) avaliaram os efeitos da adição antioxidantes como
o anetol em diferentes concentrações (30 μg/mL, 300 μg/mL e 2000 μg/mL) em solução
de vitrificaçāo e em meio de incubação in vitro por 24h em tecido ovariano ovino.
Verificou-se que a porcentagem de folículos ativados em todos os tratamentos foi maior
do que no grupo controle, a densidade das células de estroma foi significativamente maior
no tratamento com 2000 μg/mL do que outros tratamentos com antioxidantes e a
morfologia folicular foi similar ao tecido fresco. Outra ação relevante é a redução dos
níveis de ERO tanto na vitrificaçāo quanto no meio de cultivo quando comparado ao
controle. Esses achados podem ser justificados pelo tamanho pequeno da molécula e
característica lipofílica do anetol, capaz de atravessar a membrana plasmática e eliminar
H2O2 (GALICKA et al., 2014).
2021 Gepra Editora Barros et al.

DANOS CAUSADOS PELO ANETOL NA VESÍCULA SEMINAL DE RATOS E


EM ESPERMATOZOIDES DE HUMANO

Um dos estudos iniciais que avaliaram o efeito do anetol na fertilidade de machos


foi realizado por Farook et al. (1991), objetivaram avaliar os impactos causados pelo
anetol na vesícula seminal de ratos albinos. Para esta finalidade, os animais foram tratados
com anetol nas doses de 10 e 50 mg/100g, via intramuscular, durante 7 dias. Após o
período de 24h da última aplicação os animais foram eutanasiados e os tecidos coletados
para posteriores análises bioquímicas.
Foi registrado neste estudo que o peso da vesícula seminal dos animais tratados
1461
com anetol na dosagem de 50 mg/100g, diminuiu significativamente quando comparado
ao controle. Além disso, foi avaliada a concentração de DNA, RNA e proteínas na
vesícula seminal, como também foi avaliada a atividade de fosfatos alcalinos e
desidrogenase láctica. Os resultados mostraram que as concentrações de DNA
aumentaram significativamente, do mesmo modo a atividade da desidrogenase láctica e
de fosfatos alcalinos. Confirmando que os resultados foram mais pronunciados na maior
dose testada (50 mg/100g).
Em outro estudo mais recente, realizado por Tao Luo et al. (2020), avaliaram o
impacto de diferentes doses de anetol (0,1; 1; 10; e 100 μM) em espermatozoides de
humano in vitro. Concentração de cálcio intracelular e fosforilação de tirosina, parâmetros
essenciais para a função fertilizante do espermatozoide, foram avaliados. Os resultados
demostraram que as doses de 10 e 100 μM reduziram significativamente a motilidade,
hiperativação e capacidade de penetração do espermatozoide.
Outros danos, ainda foram relatados, como a inibição das funções espermáticas
induzidas por progesterona. Também foi observada diminuição na tirosina basal e
diminuição na fosforilação da progesterona, além de diminuir a corrente do canal
catiônico do esperma (Catsper) que possui fluxo predominante de Ca2+. Tais dados
sugerem que o anetol inibe o funcionamento do espermatozoide ao afetar mecanismos de
Ca2+ e fosforilação de tirosina, sendo sugerido que estudos posteriores seriam importantes
para avaliar se o anetol pode ser um composto utilizado como anticonceptivo masculino.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os achados até o momento sugerem que o anetol pode auxiliar na produção in vitro
de embriões, uma vez que este tem sido benéfico na maturação in vitro (MIV) e
fertilização in vitro (FIV). Contudo, em machos foram observados diversos danos à nível
tecidual e celular. Portanto, mais estudos são necessários para investigar através de quais
mecanismos o anetol atual no sistema reprodutor de fêmeas e machos.
2021 Gepra Editora Barros et al.

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2021 Gepra Editora Barros et al.

Capítulo 132

REVISÃO BIBLIOMÉTRICA SOBRE A UTILIZAÇÃO DE


EXTRATO DE PRÓPOLIS COMO REVESTIMENTO E SEU
EFEITO NA CONSERVAÇÃO DA MAÇA FUJI (MALUS
DOMESTICA)

MEDEIROS, Weverton Pereira de


Mestre em Sistemas Agroindustriais
Universidade Federal de Campina Grande – UFCG
weverton_cafu@hotmail.com.br
1465
ARAÚJO, Alfredina dos Santos
Professora da Unidade Acadêmica de Tecnologia de Alimentos
Universidade Federal de Campina Grande – UFCG
alfredina@ccta.ufcg.edu.br

RODRIGUES, Maria do Socorro Araújo


Doutora em Engenharia de Processos
Universidade Federal de Camina Grande
fernandaa.rodrigues@hotmail.com

RODRIGUES, Amanda Araújo


Graduanda em Agronomia
Universidade Federal de Camina Grande
amandaaraujo_pb_01@hotmail.com

ALBUQUERQUE, Tiago da Nóbrega


Mestre em Sistemas Agroindustriais
Universidade Federal de Campina Grande – UFCG
tiagofernandes_pb@hotmail.com

RESUMO
Os avanços na tecnologia nos permitem inúmeras possibilidades aplicadas a indústria de
alimentos, possibilitando conservar e atribuir características a produtos. Revestimento
comestível é uma película que atua diretamente como uma camada protetora no fruto,
evitando assim sua degradação. Essa camada pode ser composta por diversos produtos,
entre eles a própolis, que é composta por resina vegetal, pólen, e cera de abelha. Essa
pesquisa objetivou-se em reunir os principais artigos publicados em períodos nacional e
internacional. A pesquisa foi realizada de forma online, por meio de revisão
bibliográfica. Foram utilizadas bases de dados dos periódicos CAPES, do PUBMED, do
MEDLINE e do Scientific Eletronic Library Online (SCIELO). O critério de seleção
para o levantamento foi realizado em busca de artigo originais publicados em periódicos,
teses e dissertações que abordassem sobre a temática. Foram utilizadas palavras-chave
como “Red própolis” “Própolis vermelha” “Malus domestica’’ em um período de 2010
a 2018. Conclui-se que as características da própolis apresentas um alto grau de
relevância para a saúde, isso devido ao seu potencial antimicrobianas e antioxidantes.
Além de apresentar uma vasta literatura sobre a temática que permite desenvolver
pesquisas experimentais, bibliográficas e de campo.

PALAVRAS-CHAVE: Estudos, própolis, conservação.


2021 Gepra Editora Barros et al.

INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos e dos avanços tecnológicos, se fez necessário cada vez mais a busca
de alternativas na conservação de alimentos que possam, além de aumentar sua vida útil
de prateleira, agregar características ao produto, que seja viável de forma ambiental e
econômica.Com isso enfatizou os estudos com a utilização da própolis como revestimento
comestível, utilizando suas características antioxidantes, antibactericida e antifúngica
para conservar os frutos e hortaliças.
Revestimento comestível é uma camada preparada a partir de determinados tipos de
materiais biológicos, que age como uma ferramenta de proteção, evitando danos físicos e
biológicos e elevando o tempo de vida útil dos alimentos, como maçãs (HENRIQUE et 1466
al). O uso desse revestimento atribui diversas características ao produto, podendo ser
físicas, químicas, microbiológicas e sensoriais. A difícil permeabilidade do mecanismo
faz com que ofruto aumente sua vida útil, evitando um escurecimento enzimático, e com
o uso de ceras, misturas e óleos podendo aumentar o brilho superficial. Como o
revestimento comestível agregado ao fruto tende a ser ingerido, os materiais em sua
composição devem ser considerados GRAS (Generally Recognized As Safe), ou seja,
atóxicos e seguro para o consumo (FDA, 2013).
O uso dessa embalagem traz grandes vantagens por apresentar um polímero natural
em sua composição (DAVANÇO et al., 2007). Possui um custo de produção satisfatório
e não tóxico. que influência de forma positiva, diretamente na aparência do produto
submetido ao revestimento (OLIVEIRA; NUNES, 2011).
O revestimento apresenta diversas funções como barreira, evitando a troca gasosa (CO2
e O2) e consequentemente a perda de umidade, diminuição da respiração do fruto,
melhorando a aparência intrínsecas do fruto coberto pela solução (SANCHEZ-
GONZALEZ etal., 2011).
O número de pesquisas sobre a própolis como filmes poliméricos são reduzidos ainda
e as pesquisas realizadas usualmente sem fins alimentícios (PASTOR et al., 2010).Os
flavonóides são compostos fenólicos e principais agentes biológicos ativos da própolis
(CABRAL, et al. 2009), no entanto podemos encontrar em sua composição diversas
substâncias, entre elas as ceras, óleos essenciais, pólen e vários componentes orgânicos
como ferro e zinco, vitaminas (B1, B2, B3 e B6), ácido benzóico, éster, cetonas, lactonas,
quinona, esteróides e açúcares e ainda pigmentos naturais como clorofilas e carotenóides.
Para a pesquisa foi escolhido a maçã do tipo Fuji por ser a segunda cultivar mais
produzida no Brasil, sendo esta uma variedade bastante conhecida no comércio por suas
características físicas, sensoriais e nutricionais, que a deixa em evidência por ser
firme, crocante, sabor picante, com um teor de açúcar elevado e baixa acidez, e por
apresentar resistência ao armazenamento maior que as demais, além do seu valor
econômico maisacessível.
A safra da maçã é no período de fevereiro a abril dentro do ano, por isso necessita de
técnicas de armazenamento apropriada para que não falte o produto nos meses
subseqüentes. Existe uma quantidade de variedade aproximada de 7.500 tipos de maçã.
No Brasil as cultivares mais produzidas são a “Gala” e a “Fuji” que apresentam uma
produção de 90% da área plantada. A gala, originada da nova Zelândia, se encontra em
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nosso país desde se 1970 e a fugi, que é original do Japão, desde 1930.
Esse estudo, além do aumento da vida útil do fruto, contribui para o comerciante e
consumidor economicamente, pois a própolis retarda a deterioração de frutos e hortaliças,
consegue evitar o desperdício, possibilitando que o produto tenha mais tempo em
prateleirasendo alimento saudável.
Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do revestimento a base de
extrato de própolis vermelha em maçãs do tipo Fuji armazenadas a temperatura ambiente
controlada e refrigerada durante 30 dias para um melhor detalhamento durante o período
de conservação.
1467

MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho trata-se de pesquisa realizada através de revisão de literatura
do tipo qualitativa, exploratória e descritiva, sendo realizada buscas em bases de dados
com a intenção de apresentar as principais informações sobre estudos com própolis.
A pesquisa foi realizada de forma online, por meio de revisão bibliográfica.
Foram utilizadas bases de dados dos periódicos CAPES, do PUBMED, do MEDLINE e
do Scientific Eletronic Library Online (SCIELO). O critério de seleção para o
levantamento foi realizado em busca de artigo originais publicados em periódicos
nacionais e internacionais, teses e dissertações que abordassem sobre a temática. Foram
utilizadas palavras-chave como “Red própolis” “Própolis vermelha” “Malus domestica’’
em um período de 2010 a 2018.

REFERENCIAL TEÓRICO
Os biofilmes comestíveis são embalagens aderidas ao alimento, semipermeáveis,
agem como bloqueadores de troca gasosos, evitando que o fruto entre em contato com o
meio, constituídos por produtos naturais que sintetizam e polimerizam de forma que
isolam o fruto, sem que o mesmo cause problemas à saúde, já que são metabolizadas pelo
organismo, e sua passagem pelo gastrointestinal é de forma inibida (MAIA et al., 2000).
Por serem biodegradáveis as coberturas comestíveis vem ganhando um grande
espaço nas pesquisas, devido a sua biodregadibilidades, já que o fruto pode ser consumido
em conjunto com biofilme, com tudo, pode ser adicionando varias características, com
adição de aditivos, seja ele nutricional ou sensorial, já que o revestimento atua como
agente microbiano, o uso de coberturas e revestimentos data-se como praticas
aperfeiçoada recentemente, já que os primeiros usos foram realizados na década do final
do século passado (FAI et al., 2008). O uso de biofilme se deu pela necessidade de
substituir o uso de filmes tradicionais, já que o mesmo expostos ao meio ambiente
demoram décadas para de decompor (FAI et al., 2008).
Para que se possa obter uma solução filmogênica é necessário o uso de
constituintes básicos como polímeros de alto peso molecular, denominados como agente
formadores que são os lipídios, proteínas e polissacarídeos, entre os solventes estão à água
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e etanol, entre os agente plastificante podemos citar o glicerol, sorbitol e triacetina, e


agente ajustador de pH (BATISTA, 2004).
Na formulação do filme do filme comestível, deve-se incluir um componente, que
vai agir como uma matriz adequada, ou seja, coesa e aderente (GUILBERT; BIQUET,
1995). Esses componentes se adéquam a três categorias: polissacarídeos, lipídios e
proteínas. Longares et al. (2005) afirma que os polissacarídeos como a goma vegetal ou
microbiana, celulose, amido, apresentam características favoráveis na elaboração do
biofilme, esses formando com compostos hidrofílicos proporciona resultados satisfatórios
em eficiência, agindo como barreiras contra óleos e lipídios, já no quesito umidade deixa
a desejar (OLIVEIRA; CEREDA, 2003).
1468
A combinação desses compostos pode gerar qualidades funcionais no que diz
barreira de mecanismo (GROSSMAN et al., 2007) e proporcionar uma maior eficiência
como atuante de revestimento comestível, principalmente em frutas perecíveis no caso da
maça.

Própolis

O primeiro relato do uso da própolis se deu no Egito e na Mesopotâmia


(CASTALDO; CAPASSO, 2002). Na metade de década de 80 passou a ser considerada
como um produto fitoterápico, como um medicamento complementar (LUSTOSA, 2007).
Atualmente a própolis vem sendo usado pela farmacologia como um produto da medicina
alternativa (LOTTI et al., 2010).
A própolis é uma substancia resinosa coletada a parti de diversas partes vegetais
como ramos, flores, brotos e exsudatos de arvores, por meio das abelhas africanizadas
Apis mellifera (SILVA, 2008). A mesma é usada por abelhas como substancia selante nos
espaços dentro da comeia, mas podemos encontrar cera e outros tipos de secreções das
abelhas (LOTTI et al., 2010).
Existem relatos de pesquisas que a própolis pode ser influenciada quimicamente
de acordo com a sazonalidade regional, podendo interferir no seu pode de ação
(SFORCIN et al. 2000; CASTRO et al., 2007) A composição da própolis é reflexo da
flora utilizada pelas abelhas (BURDOCK, 1998; RUSSO et al., 2002), onde podemos
encontrar diversas tonalidades amarelo-esverdeado, passando pelo marrom-avermelhado
ao negro (INOUE et al., 2007).
A própolis é uma composição química que apresenta características balsâmicas é
resinosa, modificada pelas abelhas através da saliva . Ou seja, é uma mistura complexa.
E é utilizada na comeia como forma de proteção contra a proliferação de microorganismos
incluindo fungos e bactérias (SILVA et al., 2006).
Vários estudos afirmam que á própolis e seus derivados atuam contra a toxicidade
de células cancerígenas e atividade antioxidante, antiviral, antiúlceras, cicatrizante e
antibiótica frente às bactérias gram-positivas (KHALIL, 2006). O seu alto teor de
flavonóides está inteiramente ligado ao seu pode antioxidante, observou que a fração
clorofórmica apresenta maiores atividades (CABRAL ET al., 2009). Vários estudos
comprovaram a ação anti-séptica, antifúngica, antipirética, adstringente, antiinflamatória
e anestésica (SANTOS et al., 2003).
2021 Gepra Editora Barros et al.

O numero de pesquisas sobre a própolis como filmes poliméricos são reduzidos


ainda, e as pesquisas realizadas não ao feita com fins alimentícios (PASTOR et al.,
2010).Os flavonóides que são compostos felónicos e principais agentes biológicos ativos
da própolis (CABRAL, et al. 2009), no entanto podemos encontrar em sua composição
diversa substancias entre elas a ceras, óleos essenciais, pólen e vários componentes
orgânicos como ferro e zinco, vitaminas (B1, B2, B3 e B6), ácido benzóico, éster, cetonas,
lactonas, quinona, esteróides e açúcares e ainda pigmentos naturais como clorofilas e
carotenóides.

Macieira (Malus domestica)


1469
A maça é uma fruta de clima temperado, produzida de cultivo mais extensivo no
sul do País. A macieira foi originada do oeste da Ásia e foi introduzida no Brasil através
dos primeiros colonizadores no ano de 1969 por meio dos incentivos ficais. Foram
produzidos os primeiros pomares (ABPM, 2001). Desde então a maça vem sendo um
fruto com uma aceitação satisfatória devido as suas características nutricionais e
sensoriais, devido a possuir o sabor apetitoso e agradável, além de apresentar grandes
benefícios para saúde.
A safra da maça é no período de fevereiro á abril dentro do ano, por isso necessita
de técnicas de armazenamento apropriada para que não falte o produto nos vezes
subseqüentes. Existe uma quantidade de variedade aproximada de 7.500 tipos de Maça.
No Brasil as cultivares mais produzidas é a “Gala” e a “Fuji” que apresentam uma
produção de 90% da área plantada. A gala originada da nova Zelândia se encontra em
nosso país desde se 1970, e a fugi que é original do Japão desde 1930.
O grande problema enfrentado por produtores no dias atuais é a forma de
conservação, já que em média de 40% da produção dos frutos maduros vira desperdícios
entre a pós colheita e a comercialização, esse desperdício gera um aumento excessivo no
valor do fruto atingindo principalmente no bolso do consumidor final. A principal causa
é de perda é a deteorização do fruto, devido apresentar um grande teor de água livre em
sua composição. Portanto buscam-se alternativas viáveis de conservação que submeta o
alimento a ficar estável na sua deteorização microbiana e química (MELONI, 2006).
A maça (Malus domestica) é um pseudofruto de arvores mais cultivas que
crescem em pequenas arvores, de folha caducifólia, que florecem na primavera, mais só
produzem no outono. Encontramos em sua composição pectina, que é usado como um
regulador natural de colesterol (MASTRODI, 2005). Entre outras qualidades do consumo
da maça podemos destacam com emagrecimento, problemas cardíacos, e problemas
intestinais, devido ao seu alto teor de potássio, podendo aumentar a vida útil do coração,
além de contém as seguintes vitaminas: B1, B2 e Niacina, além de sais minerais,
como fósforo e ferro (MASTRODI, 2005) .

Vida útil dos frutos

A principal causa de perda dos frutos é causada por danos mecânicos, que são
submetidos durante a produção até a comercialização, o uso de revestimentos a parti de
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polímeros naturais e biodegradável, torna eficaz para o aumento de vida útil dos alimentos
(RINALDI et al., 2011).
O uso do biofilme de origem vegetal como alternativa de conservar o fruto além
de permitir aumentar a vida útil, devido a sua redução de perda da umidade, e controle da
troca gasosa. Oferta características físicas na quais torna a aparência do fruto mais
atraente para o consumidor, A tecnologia de alimentos vem estimulando pesquisas que
estude novos tipos de filmes, com isso melhores formas de aplicação (OLIVEIRA et al.,
2007).
A técnica de aplicação de biofilme começou a parti do século XIII através dos
chineses, que aplicaram cera em frutas cítricas, durante viagens marítimas visando sua
1470
conservação por meio dos nutrientes encontrados naquela solução. Em 1930 as ceras de
abelha, parafinas, óleos vegetais e minerais e a carnaúbas, foram usando com alternativa
de conservação dos frutos (VILLADIEGO et al., 2005).
Nos revestimentos podemos encontrar diversos oxidantes, como por exemplo,
terpenos, tocoferóis, já carotenóides e vitaminas, são usadas com o intuito de diminuir a
oxidação lipidas, com isso prolongando a vida útil dos frutos (BROINIZI et al., 2007).
Como vantagem do uso do biofilme pode citar como barreira contra o vapor, já
que é um filme permeável, baixo custo já que se usam produtos naturais em sua
composição, tecnologia simples e biodegradável, estabilidade bioquímica, físico-química
e microbiológica entre outras, e oferecendo propriedades mecânicas facilitando o
manuseio e transporte, podendo ser usada em processo industrial na forma de “blends”,
ou como meio de separação para consumo próprio, como porção individual (DARABA,
2008).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando todas informações observadas durante a pesquisa, conclui-se que as
características da própolis apresentas um alto grau de relevância para a saúde, isso devido
ao seu potencial antimicrobianas e antioxidantes. Estudos como esses devem ser
realizados afim de reunir informações que contribua com a comunidade cientifica e
estimule a utilização da própolis em diversas áreas como industrial, fitoterápica e
farmacológica. Além, de servir como material de apoio para pesquisas experimentais,
bibliográficas e de campo.

REFERÊNCIAS

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1472
ORGANIZADORES

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