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Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão

PJe - Processo Judicial Eletrônico

03/02/2020

Número: 0800726-19.2018.8.10.0207
Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
Órgão julgador: 1ª Vara de São Domingos do Maranhão
Última distribuição : 07/05/2018
Valor da causa: R$ 38.160,00
Assuntos: DIREITO DO CONSUMIDOR, Fornecimento de Energia Elétrica
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
MANOEL NOGUEIRA DE SOUSA (DEMANDANTE) JOAO OLIVEIRA BRITO (ADVOGADO)
Equatorial Energia S/A (DEMANDADO) LUCIMARY GALVAO LEONARDO (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
22898 19/07/2019 10:00 Acórdão Acórdão
762
PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO MARANHÃO

RECURSO Nº 0800726-19.2018.8.10.0207

ORIGEM: VARA ÚNICA DA COMARCA DE SÃO DOMINGOS DO MARANHÃO

RECORRENTE (A): COMPANHIA ENERGÉTICA DO MARANHÃO - CEMAR

ADVOGADO (A):TIAGO JOSÉ FEITOSA DE SÁ

RECORRIDO (A): MANOEL NOGUEIRA DE SOUSA

ADVOGADO (A): JOAO OLIVEIRA BRITO

RELATORA: ARIANNA RODRIGUES DE CARVALHO SARAIVA

ACÓRDÃO N.º 600/2019

EMENTA:CONSUMIDOR. FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. COBRANÇA


INDEVIDA. INOBSERVÂNCIA DO ART. 129, §7º DA RESOLUÇÃO 414/2010 PARA
APURAÇÃO DE INDÍCIOS DE PROCEDIMENTO IRREGULAR. NULIDADE DA DÍVIDA.
DANO MORAL. OCORRÊNCIA. INADIMPLEMENTO CONTRATUAL QUE
ULTRAPASSOU O PLANO DO MERO DISSABOR COTIDIANO. SUSPENSÃO DO
SERVIÇO. VALOR INDENIZATÓRIO MANTIDO. RECURSO IMPROVIDO.
1. Inicial. Narra a parte autora que a CEMAR emitiu uma fatura no valor de R$ 4.453,57 com
vencimento em 01/06/2018, em razão de um suposto consumo não registrado por irregularidade no
medidor. Alega que reclamou administrativamente acerca dessa cobrança abusiva (PROTOCOLO Nº
29305280), mas não teve sucesso. Nega que tenha realizado qualquer irregularidade no medidor.
Requereu a tutela de urgência para obstar o corte de energia e a negativação de seu nome nos
cadastros de proteção ao crédito. No mérito, requereu a nulidade do débito oriundo da fatura cobrada,
assim como seu cancelamento e o pagamento de indenização por danos morais. Emendou a inicial
para informar o corte de energia em 24/07/2018 em decorrência do inadimplemento do referido
débito.
2. Sentença. O juiz de base julgou procedente a demanda para anular a cobrança objeto da lide, no
valor de R$ 4.453,57 e condenar a CEMAR a pagar o valor de R$ 10.200,00 a título de dano moral.
3. Recurso. Insiste que restou demonstrada a irregularidade do medidor de energia, não havendo por
tal motivo cobrança indevida, haja vista que a recorrida utilizou o serviço sem a devida
contraprestação pecuniária. Assevera também que não houve violação ao princípio do contraditório e
que agiu de acordo com os procedimentos regulamentares dispostos na Resolução da ANEEL
414/2010. Assevera a legalidade do processo administrativo, onde o recorrido teve plena
possibilidade de acompanhar as vistorias e inspeções, tendo sido notificado para apresentar defesa.

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Invoca a presunção de legalidade dos seus atos. Rechaça a condenação por dano moral e formula
pedido sucessivo de redução do valor indenizatório.
4. Julgamento. Segundo prevê o art. 129 da Resolução n°414/2010-ANEEL, na ocorrência de
indício de procedimento irregular, a distribuidora deve adotar as providências necessárias para sua
fiel caracterização e apuração do consumo não faturado ou faturado a menor, compondo conjunto de
evidências para a caracterização de eventual irregularidade por meio de procedimentos. Somente
verificado o cumprimento de tal procedimento, é de ser reconhecida a legalidade da cobrança dos três
últimos ciclos de faturamento pela concessionária, nos termos do art. 113, I, da supracitada
Resolução. Segundo o §1º do art. 129, a empresa deve observar as seguintes exigências: I – emitir o
Termo de Ocorrência e Inspeção – TOI, em formulário próprio, elaborado conforme Anexo V desta
Resolução (devendo ser entregue uma cópia ao consumidor ou a quem acompanhar a inspeção, de
acordo com o §2º) ; II – solicitar perícia técnica, a seu critério, ou quando requerida pelo consumidor
ou por seu representante legal; III – elaborar relatório de avaliação técnica, quando constatada a
violação do medidor ou demais equipamentos de medição, exceto quando for solicitada a perícia
técnica de que trata o inciso II; IV – efetuar a avaliação do histórico de consumo e grandezas
elétricas; e V – implementar, quando julgar necessário, os seguintes procedimentos: a) medição
fiscalizadora, com registros de fornecimento em memória de massa de, no mínimo, 15 (quinze) dias
consecutivos; e b) recursos visuais, tais como fotografias e vídeos. Ademais, nos §§ 4º a 11 é
detalhado o procedimento a ser adotado em casa de retirada e perícia técnica do equipamento de
medição a pedido do consumidor ou por opção da empresa. Todavia, no caso em apreço, a
concessionária recorrente não colacionou aos autos a documentação prevista na Res. 414/2010 para
legitimar o procedimento para apuração do consumo não registrado ou faturado a menor. Frise-se que
a peça contestatória veio desacompanhada de documentos, a restar, portanto, configurada a falha na
prestação do serviço. Quanto ao dano moral, quadra ressaltar que a simples cobrança indevida
configura, em regra, mero inadimplemento contratual e não enseja a reparação pecuniária, mas no
caso concreto, é inegável que que o constrangimento suportado pela parte autora desbordou do mero
aborrecimento cotidiano, tendo em vista que houve a suspensão do fornecimento de energia, o qual
somente foi restabelecido por força de ordem judicial em 04/08/2018. Quanto ao valor, o montante
indenizatório deve atender aos fins que se presta, sopesadas, ainda, a condição econômica da vítima e
a do ofensor, o grau de culpa, a extensão do dano, a finalidade da sanção reparatória e os princípios
da razoabilidade e da proporcionalidade. Diante desses critérios e tendo em vista que a parte autora e
sua família ficaram privadas do serviço essencial por cerca de dez dias, tenho por justificada a
exasperação do valor indenizatório fixado em R$ 10.200,00.
5. Por unanimidade, recurso conhecido e improvido.
6. Custas como recolhidas. Honorários advocatícios arbitrados em 20% sobre o valor da condenação,
na forma do art. 55 da lei 9.099/95.
7. Súmula de julgamento que serve de acórdão, nos termos do artigo 46, segunda parte, da lei
9.099/95.

Votaram, além da relatora, o Juiz Raniel Barbosa Nunes e o Juiz Ferdinando Marco Gomes Serejo Sousa.

Sala das Sessões Turma Recursal de Presidente Dutra em Presidente Dutra a 15 de julho de 2019.

ARIANNA RODRIGUES DE CARVALHO SARAIVA

Juíza Relatora

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