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AUTARQUIA EDUCACIONAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO – AEVASF

FACULDADE DE CIÊNCIAS APLICADAS E SOCIAIS DE PETROLINA – FACAPE

CRIME ORGANIZADO

PETROLINA-PE
2010
CRIME ORGANIZADO

CURSO: DIREITO 10° PERÍODO/MANHÃ


PROFESSOR: EDSON JORGE PACHECO
GRUPO: LUIS ALDERICO DO CARMO FERREIRA
ANA PAULA ALENCAR MACHADO
RANIELI DA SILVA DE AQUINO
AILSON VADERLEI

PETROLINA-PE

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2010
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO…………………………………………………………………… 4
2. ORIGEM E DESENVOLVIMENTO…………………………………………… 5
3. CONCEITO……………………………………………………………………… 8
4. CARACTERÍSTICAS…………………………………………………………… 9
5. MODALIDADES……………………………………………………………… 10
5.1 TRÁFICO DE ENTORPECENTES………………………………………… 11
5.2 CRIMES DE COLARINHO BRANCO……………………………………… 11
5.3 LAVAGEM DE DINHEIRO………………………………………………… 11
5.4 CONTRABANDO E DESCAMINHO………………………………………… 11
5.5 SEQÜESTRO E EXTORSÃO………………………………………………… 12
5.6 ASSALTOS, FURTO E ROUBO DE CARGA……………………………… 12
5.7 PISTOLAGEM E CRIME DE ALUGUEL…………………………………… 12
5.8 TRÁFICO DE PESSOAS…………………………………………………… 13
6. PONTOS DE INTERESSE DO CRIME ORGANIZADO…………………… 13
7. A REALIDADE DO CRIME ORGANIZADO NO BRASIL…………………… 15
8. MECANISMOS DE COMBATE …………………………………………………15
8.1 MECANISMOS INSTITUCIONAIS…………………………………………… 15
8.2 DIREITO E COOPERAÇÃO INTERNACIONAIS…………………………… 16
8.3 MEIOS OPERACIONAIS……………………………………………………… 17
8.4 ESTRATÉGIA POLICIAL……………………………………………………… 17
9. CONVENÇÃO DE PALERMO………………………………………………… 17
9.1 ÂMBITO DE APLICAÇÃO…………………………………………………… 18
9.2 CRIMES PREVISTOS NA CONVENÇÃO
………………………………… 18
10. MECANISMOS DO DIREITO INTERNACIONAL………………………… 19
10.1 CAPACITAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO………………………………… 19
10.2 INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS…………………………………………… 19
10.3 CONSOLIDAÇÃO DA LEGISLAÇÃO EFICAZ…………………………… 19
10.4 CONVERGÊNCIA DE RISCOS PARA AS REDES CRIMINOSAS…… 19
CONCLUSÃO…………………………………………………………………… 20

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INTRODUÇÃO

O Crime Organizado é o que se pode chamar de crime-negócio, de natureza


permanente. Não há tipificação legal, embora o Brasil, como signatário da
Convenção de Palermo, aprovada pelo Decreto nº. 5.015 de 12 de março de
2004, tenha se comprometido a tipificar as organizações de fins delitivos como
modalidade criminosa.

O interesse de estudo, planejamento, prevenção e repressão está voltado


àquelas organizações criminosas caracterizadas pela pluralidade de agentes,
com grande potencial ofensivo, poder de intimidação e que representam uma
ameaça concreta para a existência do Estado democrático, debilitando-o
economicamente e provocando a falência de sua atuação social e aumentando
a sensação de insegurança da população.

As organizações criminosas debilitam o Estado economicamente ao mesmo


tempo em que suas práticas, dependendo da modalidade, promovem a
sonegação de impostos; evasão de divisas; contrabando de mercadorias;
falsificação de produtos e pirataria, o que priva a arrecadação tributária do
Estado e, por conseqüência, o atendimento e provimento das obrigações
sociais. A ameaça ao Estado Democrático de Direito é uma ameaça real:
usurpa suas funções e se aproveita das situações de caos urbano e político
para a instalação do seu poder paralelo. O Estado paralelo do crime
organizado, não legitimado pelo povo, tem suporte econômico (poder de
autofinanciamento: sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, jogos ilícitos, tráfico
de drogas e armas), suporte governamental (disseminação de corrupção) e
suporte físico direto (violência estrutural) e indireto (lacunas deixadas pelas
deficiências do Estado). Em última instância, é fruto da falência de um modelo
estatal ineficiente e ineficaz na prevenção, combate e repressão à
criminalidade.

O Crime Organizado, objeto do presente estudo, no enfoque das


prioridades,é responsável pela violência estrutural que tem como origem a
debilidade do Estado, especialmente quando lhe falta a capacidade para prover
os devidos serviços essenciais. Essa violência estrutural é alimentada pelo
dever do Estado de assegurar a ordem pública e reprimir o crime organizado e
acentuada pela competição existente entre as diversas modalidades criminosas
nas disputas de mercados ilícitos.

É um fenômeno do moderno mundo cosmopolita, que se aproveita, com


astúcia, da derrubada de barreiras culturais, políticas, diplomáticas e
alfandegárias para obter maior poder ofensivo também através das brechas e
proteções legais.

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2. ORIGEM E DESENVOLVIMENTO

2.1 INTERNACIONALMENTE

A origem da criminalidade organizada não é de fácil identificação, pois seus


comportamentos variam e se amoldam em diversos países, contudo, a raiz
histórica é traço comum da maioria das organizações criminosas existentes em
alguns países.

Essas associações tiveram inicio no século XVI, como movimentos de


proteção contra arbitrariedades praticadas pelos poderosos e pelo Estado em
relação as pessoas comuns que residiam geralmente em localidades rurais
menos desenvolvidas.

Assim, para o desenvolvimento de suas atividades esses movimentos


contavam com o apoio popular e com a conivência de autoridades corruptas
das regiões aonde esses movimentos tinham inicio.

A mais antiga delas são as tríades chinesas que tiveram origem no ano de
1644, como movimento popular para expulsar os invasores do império Ming. As
tríades incentivavam os camponeses a produção da papoula e a exploração do
ópio ainda quando a sua produção e exploração eram permitidas, contudo,
quando passou a ser proibido o comércio do ópio em todas as suas formas, as
Tríades passaram a explorar solitariamente o controle do mercado negro da
heroína.

A organização criminosa conhecida como Yakuza remonta aos tempos do


Japão Feudal do século VXIII e se desenvolveu para exploração de diversas
atividades ilícitas (cassinos, prostíbulos tráfico de mulheres, drogas, armas,
lavagem de dinheiro e extorções) e atividades licitas (teatros, cinemas, eventos
esportivos e casas noturnas), com a finalidade de dar publicidade e legalidade
as suas iniciativas.

Na Itália, a organizações conhecidas como máfias, tiveram inicio como


movimento de resistência contra o Rei de Nápoles, que baixou decreto
reduzindo os privilégios feudais e os poderes dos príncipes, que assim
contrataram os uomini dónore (homens de honra), para proteger seus territórios
das investidas contra as regiões que possuíam, os quais passaram a constituir
associações secretas denominadas de máfias. Em 1865, com a unificação
forçada da Itália e o desaparecimento da realeza, esses homens passaram a
investir contra as forças invasoras, lutando pela independência da região,
ganhando assim a simpatia da região em razão da atitude patriótica. A partir da
segunda metade do século XX seus membros passaram a se dedicar a
atividades criminosas.

As máfias italianas se dividiram em vários grupos, denominados clãs ou


famílias, a Cosa Nostra da Sicília é considerada a mais poderosa destas

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organizações e agrupa cerca de 180 clãs, 5550 homens de honra e 3500
soldados filiados. A Cosa Nostra Siciliana tinha inicialmente como ideal a
defesa e independência da Sicília, cuja população se sentia marginalizada e
abandonada pelos governos estrangeiros de Roma, por isso a organização
ditava a lei na ilha e possuíam a simpatia da população.

Nos Estados Unidos da América, a criminalidade organizada nasceu no final


da década de 20 explorando ilegalmente a comercialização do álcool, mediante
das autoridades e chantagens a empresários. Com o passar dos anos essas
organizações passaram a explorar a prostituição e o jogo. Após a segunda
guerra, algumas famílias da Cosa Nostra migraram para os Estados Unidos e
formaram a máfia italo-americana, que atuavam na extorção de comerciantes,
na exploração de cassinos, prostituição, tráfico de entorpecentes.

Na América do Sul, o cultivo e a exploração da coca remontam ao século


XVI, nessa época, os colonizadores espanhóis utilizavam-se de mão de obra
indígena e monopolizavam seu comercio no Peru e na Bolívia. Posteriormente
os agricultores locais dominaram o cultivo e sua transformação em pasta base
para refinamento de cocaína, tendo expandido suas atividades para a
Colômbia. A comercialização dessa droga para os Estados Unidos da América
e Europa por grupos organizados dessa região deu origem aos poderosos
cartéis do narcotráfico (Cali e Medellín). Atualmente acredita-se que metade do
PIB desse país seja gerenciada direta ou indiretamente por narcotraficantes.

Verifica-se, portanto, que diversas organizações, muitas vezes


internacionais, atuam no crime em diversos países ao redor do mundo,
contudo, em regra geral tais organizações não surgiram tão somente para a
exploração do crime, a maioria eram movimentos sociais que se transviaram,
provavelmente em face da repressão do Estado, para a exploração do crime.

Atualmente nas reuniões do G8, é comum encontrarmos nessas reuniões


uma cadeira vazia, que representa o exatamente o volume financeiro que
diversas organizações criminosas movimentam, em lavagem de dinheiro
oriundo de seus crimes, possuindo um volume financeiro equivalente ao PIB de
um membro do G8.

Em diversos outros países há registros de organizações criminosas, como


na Rússia, na Turquia e em vários países do oriente médio.

2.2 NO BRASIL

No Brasil, o inicio da criminalidade organizada remonta ao movimento


conhecido como cangaço, que atuou no Sertão Nordestino entre o século de
XIX e XX, tendo como origem a figura dos jagunços e capangas dos grandes
fazendeiros e a atuação do coronelismo, e que ficou personificada na figura
lendária de Lampião. Os cangaceiros tinham organização hierárquica e
atuavam saqueando vilas, fazenda e pequenas cidades, e extorquiam dinheiro

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mediante ameaça de pilhagem ou seqüestro. Possuíam a conivência de
fazendeiros, chefes políticos e policiais corruptos.

Outras organizações mais recentes, violentas e organizadas, sugiram nas


penitenciárias da cidade do Rio de Janeiro a partir da década de 70:

A Falange Vermelha, formada por chefes de quadrilhas especializadas em


roubos a bancos, nasceu no presídio da ilha grande entre 1967 e 1975.

O Comando Vermelho, uma evolução da falange vermelha, comandada por


lideres do tráfico de entorpecentes, surgiu no presídio de Bangu I na década de
70. Especula-se que o momento preponderante da criação do Comando
Vermelho tenho sido a reunião de presos políticos com presos comuns na
Galeria B do presídio da Ilha Grande. Os presos políticos haviam sido
condenados com base na Lei de Segurança Nacional, numa tentativa do
governo de equiparar os revolucionários de esquerda a criminosos. Aos poucos
com a convivência entre estes grupos, que era pouco pacifica, foi nascendo um
respeito e admiração por parte dos presos comuns aos presos políticos em
razão da organização, disciplina e companheirismo existente entre os
revolucionários, que os permitia sobreviver às péssimas condições do presídio.
Aos poucos esses presos passaram a trocas experiências sobre o modus
operandi dos guerrilheiros e assim fundaram o Comando Vermelho.

O Terceiro Comando uma dissidência do CV, foi idealizado no mesmo


presídio, em 1988, por presos que não concordavam com a prática de
seqüestros e crimes comuns na região que atuavam. Atualmente o Terceiro
Comando se encontra extinto. Seu fundador o Uê foi expulso do Comando
Vermelho após matar o então líder da facção, Orlando Jogador.

A ADA(amigos dos amigos), surgiu durante os anos 90, aliando-se ao


Terceiro Comando em 1998 na tentativa de minimizar a influência do Comando
Vermelho. Quando Uê foi morto por Fernandinho Beira-Mar, Celsinho da Vila
Vintém, então líder da ADA foi tido como traidor, houve então um divisão entre
a ADA e o Terceiro Comando, que se tornaram rivais. Os membros do TC
optaram por continuar na ADA ou seguir para o Terceiro Comando Puro.

O Terceiro Comando Puro, criado no complexo da maré em 2002, resultou


da extinção do Terceiro Comando após a morte do seu líder, o traficante Uê,
atualmente é liderado pelo traficante Facão.

Apartir dos anos 90 surgiram também as milícias, grupos parapoliciais, com


perfil de organização criminosa, porém, com a suposta finalidade de expulsar
as facções criminosas que controlam o tráfico. Contudo, agem extorquindo
comerciantes, impondo tributos e controlando o fornecimento de diversos
serviços, como gás, eletricidade, transporte privado e outros.

Em São Paulo, em meados da década de 90, surgiu no presídio de


segurança máxima anexo a Casa de Custódia a organização criminosa
denominada PCC (Primeiro Comando da Capital), com atuação criminosa em
diversos Estados. Além de patrocinar rebeliões e resgates de presos, o PCC

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atua em roubos a bancos e carros de transporte de valores extorsões a
pessoas presas, seqüestros e tráfico de entorpecentes com ligações
internacionais. O PCC foi fundado em 31.08.1993, e atualmente é maior facção
criminosa do país. Possui grande organização e poder em relação a seus,
vasta atuação no comercio de drogas em diversos Estado, além disso, é
considerado o Partido do Crime e cobra de seus membros mensalidades para
o partido.

Diversos outros grupos organizados também atuam no Brasil, com o tráfico


de animais silvestres, com o comércio irregular de madeiras nobres, tráfico de
pessoas para trabalho escravo e prostituição e ainda no desvio de verbas
públicas.

No Brasil, portanto, densa maioria desses grupos surgiram dentro das


próprias penitenciárias do Estado, por pessoas que já eram criminosas, como
forma de exploração organizada e hierarquizada do crime, para fortalecer o
próprio crime e seus membros, não possuindo assim qualquer ligação com
movimentos sociais, muito embora, a organização do Comando Vermelho,
tenha surgido por influência dos grupos de esquerda do regime militar.

3. CONCEITO

“Em acepção vulgar, crime significa toda ação cometida com dolo, ou culpa,
sendo uma infração contrária aos costumes, à moral, à lei. A criminalidade
organizada surge através das condições oferecidas pela sociedade, como os
avanços tecnológicos proporcionados pela modernização, através da
globalização.”

Há diferentes acepções que se põem no debate conceitual, e todas vão


depender da amplitude e do enfoque pretendido ou adotado.

A Lei nº. 9.034/95 trata sobre a prevenção e repressão de ações praticadas


por organizações criminosas. Embora defina e regule os meios de prova e
procedimentos investigatórios que versem sobre ilícitos decorrentes de ações
praticadas por quadrilha ou bando ou organizações ou associações criminosas
de qualquer tipo, foi a Convenção de Palermo que cuidou sobre as linhas,
diretrizes, requisitos e conceito de crime organizado. Com a edição do Decreto
nº. 5.015 de 12 de março de 2004, que incorporou a Convenção de Palermo ao
ordenamento jurídico pátrio, desaparece a lacuna da Lei em definir
precisamente o que seja crime organizado e estabelece-se a definição de
grupo criminoso organizado:

Grupo criminoso organizado - grupo estruturado de três ou mais pessoas,


existente há algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de
cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na presente Convenção,
com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou
outro benefício material (art. 2º, “a” da Convenção de Palermo de 2000,
aprovada pelo Decreto 5.015/2004).

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4. CARACTERÍSTICAS DO CRIME ORGANIZADO

A expressão crime organizado tem adequado emprego para definir a


modalidade de organização criminosa que, atuando até de forma transnacional,
estrutura-se empresarialmente para a exploração de uma atividade ilícita
impulsionada, em geral, por uma demanda de mercado e utiliza-se de
modernos meios tecnológicos, em práticas mercantis usuais, aproveitando-se
das fragilidades ou deficiências das estruturas oficiais de repressão.

Nas diversas modalidades de crime organizado, ou formas em que se


revelam e que as diferenciam da criminalidade comum, são suas principais
características:

Antijuridicidade
Característica indispensável para configuração da figura delitiva de participação
em organização criminosa, a “antijuridicidade”, é certo, imprescinde da
associação de pessoas com objetivo de praticar atividades ilegais, portanto,
antijurídicas.

Planejamento Empresarial
Da mesma forma que em negócios lícitos, as organizações criminosas fazem
seus planejamentos para minimizar custos e riscos e, principalmente,
maximizar os lucros.

Cadeia de Comando
Existem fortes hierarquia e disciplina, muitas vezes fundamentadas no
argumento da violência. Dentro da organização criminosa, a decisão é
centralizada no mais alto nível, em uma projeção vertical e compartimentada.

Pluralidade de Agentes
Este é um requisito legal em diversos dispositivos e leis extravagantes. Há
crime de quadrilha ou bando quando se associarem mais de 3 pessoas
objetivando cometer crimes (ou seja, exige a participação de pelo menos
quatro pessoas, segundo o art. 288 do Código Penal). Para o Decreto nº.
5.015/2004, há grupo criminoso organizado quando três ou mais pessoas têm o
propósito de cometer as infrações descritas na Convenção de Palermo. O art.
35 da Lei 11.343/2006 (o revogado artigo 14 da Lei n.º 6.368/76, “Associarem
se 2 (duas) ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente, ou não,
qualquer dos crimes previstos nos arts. 12 e 13 desta lei.” ) descreve como
figura delitiva de associação para tráfico “Associarem-se duas ou mais pessoas
para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos
nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei”, sendo que nas mesmas penas
incorre quem se associa para a prática reiterada do crime definido no art. 36
(financiamento ou custeio do tráfico de drogas). O concurso de agentes de
natureza eventual, não-permanente, anteriormente previsto no art. 18, III da Lei
nº 6.368/76, deixou de ser fato típico penal e não foi contemplada na nova lei,
configurando abolitio criminis.

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Compartimentação
Esta característica faz com que as atividades das diversas etapas ou níveis da
organização não sejam conhecidas por outros setores. Presta-se como fator de
segurança, protegendo a organização contra as ações de controle ou
investidas das agências oficiais. Compreende ainda a divisão do trabalho,
combinando a centralização do controle com a descentralização das ações. As
organizações criminosas têm a capacidade de incorporar e de substituir
imediatamente seus integrantes nos vários níveis de sua estrutura, sem que
perca o comando e as características de estabilidade e permanência.

Códigos de Honra
A disciplina, a lealdade e a satisfação de regras são impostas por códigos
próprios. Por exemplo, a lei do silêncio, difundida pela máfia italiana. Outro
exemplo é a precisão de pagamentos dos prêmios do “jogo do bicho”, em que
se proclama que “vale o que está escrito”.

Fins Lucrativos
De par com a pluralidade de agentes, é no objetivo do lucro ou na expectativa
de auferi-lo que se resume a principal característica do crime organizado. O fim
lucrativo é o suporte básico motivador, o combustível, a mola propulsora de
toda organização criminosa, daí a competição ou a disputa violenta entre as
organizações pelo controle de mercados. É o crime-negócio.

Controle Territorial
Diz respeito ao controle de atividades criminosas em determinadas regiões ou
área, respeitando os limites estabelecidos para cada organização,
dependendo, é claro, da modalidade criminosa, pois há exceções como nos
crimes de colarinho branco, sonegação fiscal, crimes cibernéticos, que
prescindem de tal controle.

Diversificação de Áreas
Esta é uma tendência verificada em diversas organizações para garantir
retorno financeiro em várias atividades lícitas ou ilícitas, até como uma maneira
de proteger o capital aplicado.

Estabilidade
Segundo a interpretação dos Tribunais pátrios, nos crimes de quadrilha ou
bando (art. 288 do CP) e associação para tráfico (art. 35 e seu parágrafo único
da Lei n.º1.343/2006), é exigida a estabilidade ou permanência do vínculo
associativo como elemento essencial para a sua tipificação.

5. MODALIDADES

As principais modalidades do crime organizado serão comentadas com


realce de suas características mais singulares. Observe-se, porém, que é traço

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comum e essencial a todas elas a comunhão de vontades das pessoas
envolvidas, associadas para o cometimento de ações criminosas.

5.1 TRÁFICO DE ENTORPECENTES


Pontuando o ranking das diversas modalidades de crime organizado, sobressai
o tráfico de drogas como uma das mais graves, complexas e lesivas entre
todas as formas de manifestação da criminalidade organizada. A existência de
uma base associativa e de certa planificação empresarial, em degraus de
atividades que gozam de alguma autonomia, são notas especialmente nocivas
do tráfico de drogas, são empecilhos para que seja determinada a autoria do
agente oculto que dirige o tráfico. Para que seja possível a individualização de
cada uma das condutas dos integrantes da organização criminosa ligada a
traficantes de drogas é necessário o emprego de procedimentos de
investigação próprios e munidos de adequado material e pessoal, por meio de
infra-estrutura operacional compatível com a dimensão da organização
criminosa e seu potencial ofensivo.

5.2 CRIMES DE “COLARINHO BRANCO”


Modalidade bastante conhecida é a dos chamados crimes do “colarinho
branco”, que se manifesta por condutas sofisticadas e não-violentas das
organizações que se dedicam à prática de crimes contra o sistema financeiro.
Essa modalidade de crime organizado teoricamente inclui a sonegação fiscal,
os crimes praticados contra a administração pública e contra o sistema
previdenciário.

5.3 “LAVAGEM” DE DINHEIRO


A “lavagem” de dinheiro desponta como atividade indispensável a qualquer tipo
de organização criminosa. A clássica manifestação do branqueamento de
capitais ocorre por meio da constituição de empresas de fachada para o
encobrimento das atividades ilegais e o mascaramento dos lucros. Consiste no
processo de aplicação, em atividades legais, dos lucros obtidos nas diversas
modalidades do crime organizado, de sorte que, uma vez “legitimado” no meio
circulante, o dinheiro investido retorna, depois, para alimentar a mesma
atividade criminosa que lhe deu origem. O crime de lavagem de dinheiro tem,
em sua base, a existência de outro crime autônomo. Não subsiste sem que
objetivamente se tenha realizado outro crime anterior, outra figura delitiva,
especificamente delimitada na Lei n.º 9.613/98. Diante da gravidade e do
caráter transnacional da lavagem de dinheiro, somente uma legislação
internacional sincronizada, somada a uma eficiente cooperação interestadual e
internacional, poderiam ser eficazes nos âmbitos de prevenção e repressão
dessa prática. Essa constatação resultou na celebração de tratados e
convenções, elaboração de diretivas, resoluções e recomendações, tais como
a Convenção de Viena de 1988, o Grupo de Ação Financeira Internacional
(Gafi), a Convenção de Estraburgo de 1990, a Diretiva 308 - 1991 das
comunidades européias e a Convenção de Palermo, todas com o objetivo de
informar e prestar auxílio a diferentes países.

5.4 CONTRABANDO E DESCAMINHO

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Modalidades do crime organizado, tipificadas no artigo 334 do Código Penal
Brasileiro, tecnicamente são atividades distintas. Contrabando é a importação
ou introdução em território nacional de material proibido, enquanto o
descaminho trata da internação de mercadoria estrangeira sem o pagamento
das obrigações tributárias. Genericamente, esta atividade é chamada de
contrabando, ou seja, o comércio em geral de mercadoria estrangeira proibida
ou internada ilegalmente no País. Ressalve-se que, para configurar crime
organizado, essa prática exige a necessária participação de vários elementos,
com atribuições distintas, dedicando-se à aquisição ilícita, transporte e
distribuição de mercadorias, falsificação de documentos, controle de depósito e
armazenamento dos produtos contrabandeados, como também pela colocação
dos mesmos produtos nos pontos de venda a varejo.

5.5 SEQUESTRO E EXTORSÃO


É a típica modalidade de crime organizado violento que compreende distintas
atividades, por exemplo: a organização e planejamento, a seleção de alvos, o
levantamento da rotina das vítimas, preparação de ações táticas, até a
execução de atos de força. Paralelamente, envolve atividades de risco, tais
como a manutenção de cativeiro e a negociação do valor do resgate exigido
para a libertação da vítima. No Brasil, o seqüestro (CPB, Art. 158, 159 e 160) é
considera do crime hediondo. A prática de extorsão mediante seqüestro
também tem sido utilizada pelas organizações criminosas, havendo casos em
que toda uma comunidade ou determinado segmento de atividade empresarial
são obrigados a pagar uma taxa de proteção aos bandidos em troca de não
serem molestados. Esse recurso foi bastante utilizado pela tradicional máfia
italiana, que extorquia uma espécie de dízimo (chamado pizzo) para “garantir”
proteção aos comerciantes. É a chamada indústria de proteção, cuja lógica
consiste em pagar ou sofrer a represália da organização.

5.6 ASSALTOS, FURTO E ROUBO DE CARGA


Esse tipo de crime, quando praticado por quadrilha, pode ser considerado
como modalidade do crime organizado, desde que presentes os indicativos
relacionados com a pluralidade de agentes, a associação estável, a
intimidação, a ameaça e a violência marcantes. Mas não é só. Existe também o
planejamento e a seleção de alvos, de forma sistemática, precedendo a
execução das ações táticas. Essa modalidade assume contornos de crime
organizado quando perpetrada, sistematicamente, por grupos identificáveis
pela comunhão de ações e ligações e pela associação duradoura. Exemplos
apropriados são o furto e o roubo de mercadorias de alto valor econômico, furto
de veículos, roubo de carga, assaltos a bancos e a carros-fortes, de larga
incidência no País.

5.7 PISTOLAGEM E CRIME DE ALUGUEL


Outra forma como se manifesta o crime organizado, é o crime de aluguel ou
pistolagem, que consiste na contratação de pessoas (pistoleiros) para eliminar
um desafeto ou concorrente. A prática de pistolagem é modalidade criminosa
bastante conhecida na região Nordeste do Brasil, envolvendo uma intrincada
rede de proteção ou cobertura para a realização das tarefas. Exemplo também
apropriado é o das quadrilhas ou grupos de extermínio atuantes nos Estados
de São Paulo e Rio de Janeiro, os chamados justiceiros, apontados pela

12
imprensa como responsáveis pela execução de pessoas em troca de
pagamento. Vale referir que essas ocorrências são mais freqüentes nas áreas
pobres e periféricas das grandes cidades, sendo as ações dessas quadrilhas
vulgarmente denominadas chacinas.

5.8 TRÁFICO DE PESSOAS – LENOCÍNIO


O tráfico de mulheres voltado para a exploração da prostituição é considerado
também crime organizado, quando praticado por diversas pessoas ou grupos
que se organizam para tal fim, em caráter habitual e objetivando lucros. Suas
manifestações mais evidentes ocorrem no exterior, notadamente em países da
Europa. Com a edição da Lei n.º 11.106 de 28 de março de 2005 a
nomenclatura “tráfico de mulheres” foi substituída por “tráfico de pessoas”,
alterado o art. 231 do Código Penal (doravante denominado tráfico
internacional de pessoas) e acrescido o art. 231-A que estatui o “tráfico interno
de pessoas”, como o ato de:

Art. 231-A. Promover, intermediar ou facilitar, no território


nacional, o recrutamento, o transporte, a transferência, o
alojamento ou o acolhimento da pessoa que venha
exercer a prostituição:

Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

6. PONTOS DE INTERESSE DO CRIME ORGANIZADO

Com objetivo meramente didático, ainda convém destacar os principais


pontos de interesse identificados da organização criminosa, dentre as de
diversas modalidades, os quais, de certo modo, se confundem com as
características já estudadas, mas que se apresenta de maneira menos
marcante que aquelas.

Inimigo Comum
Praticamente todas as organizações criminosas têm nas agências de controle o
seu inimigo comum, e se empenham tanto em escapar do seu alcance como
em neutralizá-las por meio da infiltração sórdida, da corrupção ou pela pura e
simples ameaça.

Segurança
É questão de sobrevivência da própria organização a segurança proporcionada
para os negócios e para os seus integrantes, sendo esse aspecto de essencial
importância para a preservação da incolumidade física, para o planejamento e
proteção das rotas clandestinas de fuga.

Benemerências

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A organização criminosa busca o apoio das pessoas, mediante práticas de
benemerência, geralmente entre a população carente, o que muitas vezes é
facilitado pela ausência de ações efetivas do Estado. No Brasil, em áreas de
influência do crime organizado, é comum observar manifestações de
solidariedade, até mesmo de maneira violenta, quando determinados chefes ou
integrantes de grupos criminosos são presos ou mortos, em confronto com as
forças de segurança.

Alianças
O estabelecimento de alianças estratégicas para racionalizar custos e diminuir
os riscos operacionais é uma tendência do crime organizado, particularmente
mais visível na modalidade do tráfico de drogas. Nas alianças, são
corporificados e sustentados os consórcios criminosos.

Intimidação
A intimidação é traço forte do crime organizado de vocação violenta. Se não
conquista com a benemerência ou com a corrupção, busca o domínio pelo
poder da ameaça. Como se frisou anteriormente, é característica principal da
organização do tipo mafiosa – consagrada no Código Penal italiano – sustentar
se com o poder de intimidação e da condição de sujeição, proporcionados tão
somente pelo vínculo associativo dos criminosos.

Influência Política
Por esse meio, a organização criminosa tenta se vincular a bancadas políticas,
apoiando financeiramente os segmentos políticos que lhes possam ser úteis.
Outras vezes, poderá ocorrer que os próprios integrantes sejam eleitos,
movidos pelo propósito de arregimentar facilidades para as práticas criminosas
e de se protegerem por meio do instituto da imunidade parlamentar.

Lucro
Todas as organizações criminosas buscam incessantemente os lucros, nisso
constituindo a razão de sua existência.

Rotas clandestinas
As organizações criminosas podem adotar rotas específicas para escoamento
dos produtos ilícitos, contrabandeados e drogas, por exemplo. Podem recorrer
a rotas desconhecidas, originárias de locais insuspeitos, a rotas que despertem
menor vigilância ou rotas que tenham maior ônus financeiro, para desviar do
parâmetro da lógica comum, com o fim de despistarem os agentes públicos de
repressão ao crime organizado. Também são entabuladas rotas de fuga,
preestabelecidas, com fins emergenciais ou alternativos.

Caos
Na visão de crime organizado, “quanto pior, melhor!” A lógica é a de que as
agências de controle relaxariam as atividades repressivas, enquanto
empenhadas em situações de crise. Em síntese, é a aposta no desastre.

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7. A REALIDADE DO CRIME ORGANIZADO NO BRASIL

Seguindo o posicionamento do Dr. Luiz Flávio Gomes, o Brasil ainda não


seria matriz de nenhuma organização criminosa em nível internacional, o que
não implica na prematura conclusão de que o crime organizado não esteja
presente em território nacional. Está presente e com força assustadora.

Pois bem, o Brasil é hoje um refúgio ideal para mafiosos alienígenas de alto
nível, vez que o país conta com uma estrutura precária de investigação
internacional, bem como de acompanhamento interno de pessoas e de
movimentação financeira suspeita tal fato atrai o criminoso estrangeiro que, ao
vir para o Brasil, traz consigo parte de sua estrutura criminosa e passa a operar
daqui, em um primeiro instante e, após, passa a operar aqui mesmo no Brasil.

É o Brasil uma interessante praça para a lavagem do dinheiro de origem


ilícita, vez que qualquer pessoa abre uma firma nas Juntas Comerciais, bem
como há a falta de controle das transações financeiras, movimentação da
empresa e declaração de imposto de renda, fazendo do país verdadeiro
território livre para a lavagem do dinheiro proveniente do crime; isto sem sequer
comentarmos a livre atuação das casas de câmbio nas regiões de fronteira, por
onde se despacham quaisquer quantias para o exterior.

Outra realidade brasileira a ser considerada é o fato de ser o Brasil o maior


fornecedor e produtor de matérias químicas utilizadas pelos laboratórios na
produção dos entorpecentes; produtos químicos que tomam rumo dos países
vizinhos produtores, de forma ilegal, em face da precária fiscalização nas
estradas fronteiriças ou em face do chamado golpe do seguro, em que se forja
um assalto a uma carga de produtos químicos (obviamente segurada), quando
na realidade a carga já está no país vizinho ou apenas aguarda um tempo para
ser.transferida.

O Brasil transformou-se, ainda, em ponto estratégico de trânsito para o


tráfico de entorpecentes produzidos nos países vizinhos (principalmente Bolívia
e Colômbia), porque o nosso país conta com boa e movimentada infra-
estrutura aeroportuária, com imensa rede fluvial e rodoviária com pouquíssima
fiscalização e, ainda, forte comércio com o exterior, o que facilita a criação de
empresas exportadoras de fachada para transportar o entorpecente até o seu
destino.final.

8. MECANISMOS DE COMBATE

8.1 MECANISMOS INSTITUCIONAIS

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No Brasil, as ações do crime organizado estão sujeitas à legislação ordinária
e aos estatutos jurídico-penais especiais. No tocante ao primeiro caso, incide o
Código Penal e seu art. 288; e no que se refere à legislação especial vigora
com especificidade a Lei n.º 9.034/95, que dispõe sobre a prevenção e
repressão aos crimes praticados por organizações criminosas. Supletivamente,
comportam aplicabilidade, ainda, a Lei n.º 8.072/90 (crimes hediondos) e a Lei
nº 11.343/06 (lei de entorpecentes). Por fim, cabe destacar, ainda, a
interceptação das comunicações telefônicas, disciplinada na Lei nº 9.296/96,
como um dos mais eficazes recursos de investigação disponibilizados
institucionalmente ao organismo policial para o enfrentamento das
organizações criminosas.

A Lei nº 9.034/95, disponibiliza meios de investigação e coleta de prova, para a


aplicação aos crimes que regula. São estes:

a) A ação controlada ou a entrega vigiada (art. 2º, inciso II);


b) O acesso a dados e a quebra de sigilo bancário (cujas hipóteses de
cabimento são ampliadas e reforçadas no inciso III);
c) A especialização dos órgãos investigatórios (art. 4º)
d) A identificação criminal compulsória (art. 5º);
e) O estímulo à colaboração e à confissão espontânea (delação premiada, art.
6º);
f) A ampliação do prazo da prisão processual;
g) A vedação aos benefícios de liberdade provisória e de apelo em liberdade
(art. 8º, 7º e 9º);
h) A infiltração policial (acrescentada pela Lei nº 10.217/2001 ao art. 2º da Lei
do Crime Organizado).

8.2 DIREITO E COOPERAÇÃO INTERNACIONAIS

No plano externo, em que se insere o esforço de cooperação entre os


países, numerosos acordos, tratados e convenções internacionais são
celebrados, com plena adesão do governo do Brasil a todos eles, o que reflete
a preocupação de combate ao crime organizado em termos globais. Esses
tratados e acordos bilaterais e multilaterais, igualmente, se constituem em
mecanismos institucionais, concebidos no plano do Direito Internacional, com
vistas ao enfrentamento da criminalidade organizada, sendo importantes fontes
dos regramentos legais adotados em todos os países, inclusive no Brasil.

Entre os mecanismos de Direito Internacional, cabe mencionar a Convenção


das Nações Unidas Contra o Crime Organizado Transnacional, incorporada ao
ordenamento jurídico pátrio, com força de legislação federal, pelo Decreto nº.
5.015 de 12 de março de 2004. Os três primeiros instrumentos (Convenção das
Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, mais dois protocolos
adicionais à convenção: Protocolo para Prevenir, Suprimir e Punir o Tráfico de
Pessoas especialmente Mulheres e Crianças e Protocolo contra o Contrabando
de Migrantes por Terra, Mar e Ar) foram abertos para assinatura na cidade de
Palermo, na Itália, no período de 12 a 15 de Dezembro de 2000. Um Terceiro
Protocolo (armas de fogo - Protocolo contra a Produção Ilícita Tráfico de Armas
de Fogo, suas Partes e Componentes e Munição) foi adotado e aberto para

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assinatura em Nova Iorque, Estados Unidos, em julho de 2001. Todos os
quatro instrumentos ficaram disponíveis para assinatura até 12 de dezembro de
2002 e depois disso apenas por adesão.
Como antecedentes da Convenção de Palermo, temos a Assembléia Geral
da ONU que aprovou a Declaração de Nápoles e um Plano de Ação Global e a
criação de um comitê ad hoc intergovernamental aberto, em dezembro de
1998, para completar a Convenção e seus três protocolos até o final do ano de
2000, sendo que a Assembléia Geral da ONU, em Nova Iorque, adotou os três
primeiros instrumentos em 15 de novembro de 2000 e o último protocolo em
maio de 2001.

8.3 MEIOS OPERACIONAIS


Já foi dito que no Brasil, sem prejuízo da atuação de outras agências de
fiscalização e controle, o esforço de prevenção e repressão ao crime
organizado é assentado nas estruturas da Polícia Federal e das polícias civis
dos Estados e complementado pela atuação das polícias militares, estas
atuando marcadamente no aspecto preventivo e ostensivo. Nesse mister, o
aparelho policial desenvolve e emprega meios e técnicas operacionais
diversos, no esforço de investigar e de neutralizar as ações de grupos
criminosos. Dentre eles podemos destacar:

 Mandado de Busca e Apreensão


 Vigilância eletrônica
 Ação controlada ou entrega vigiada
 Infiltração policial
 Colaboração eficaz
 Controle de informantes
 Adesão de empresas de transporte
 Confisco de bens
 Proteção a testemunhas
 Força-Tarefa
 Assuntos internos
 Controle de apenados
 Controle da “lavagem” de dinheiro – Investigação financeira

8.4 ESTRATÉGIA POLICIAL


É Estratégia Policial priorizar o conhecimento sobre as organizações
criminosas, de maior potencial ofensivo, através de atividades permanentes de
inteligência, com ênfase especial à investigação financeira. Nessa linha, a
Estratégia se torna apta a operacionalizar concretamente as ações de combate
ao crime organizado.

9. CONVENÇÃO DE PALERMO

A Convenção das Nações Unidas contra o crime organizado transnacional


(também chamada de “Convenção de Palermo”) adotada na Assembléia Geral
da ONU, na cidade de Nova Iorque, em 15 de novembro de 2000, foi precedida

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de projeto debatido no Décimo Congresso da ONU sobre a Prevenção do
Delito e Tratamento do Delinqüente, realizado em Viena/Áustria, no período de
10 a 17 de abril de daquele mesmo ano.

Foi o Decreto nº. 5.015 de 12 de março de 2004 que incorporou a


Convenção de Palermo ao ordenamento jurídico pátrio. Mundialmente referida
como Convenção de Palermo, a Convenção das Nações Unidas contra o crime
organizado transnacional é o documento normativo básico que, no plano
internacional, rege as ações legais e as políticas institucionais de combate ao
crime organizado praticadas na maioria dos países celebrantes desse Tratado
Internacional. Com efeito, é a Convenção de Palermo que contém os
postulados básicos, as diretrizes fundamentais que inspiram e orientam a
elaboração de leis e a formulação das políticas de prevenção e repressão ao
crime organizado, adotados pelos 147 países que a subscreveram e a
ratificaram, sob a égide das Nações Unidas.

No tocante aos instrumentos que devem ser adotados para um combate


eficaz ao crime organizado, destacam-se a responsabilidade das pessoas
jurídicas (penal, civil e administrativamente), a extradição, assistência judicial
recíproca, a possibilidade de investigações conjuntas e técnicas especiais de
investigação – como a ação controlada, infiltração de agentes e vigilância
eletrônica -, assim como a instituição de unidades de inteligência financeira
com a finalidade de reunir informações sobre as atividades criminosas.

9.1 ÂMBITO DE APLICAÇÃO


De acordo com o estabelecido no art. 3º, a Convenção de Palermo aplica-se à
prevenção, à investigação e à repressão penal dos delitos nela previstos (crime
organizado transnacional, arts. 5º, 6º, 8º e 23); a outros crimes específicos que
venham a ser definidos na forma recomendada no art. 2º; e aos crimes
previstos nos Protocolos da referida Convenção, desde que, como dito
anteriormente, sua manifestação tenha o caráter de transnacionalidade ou
envolva a participação de um grupo criminoso organizado.

9.2 CRIMES PREVISTOS NA CONVENÇÃO

Transnacionalidade: É a nota de definição de cooperação, assistência jurídica


internacional, confisco de bens e incorporação das figuras delitivas da
Convenção ao ordenamento jurídico interno dos países signatários. As figuras
delitivas típicas de lavagem de dinheiro e corrupção já existem na nossa
legislação. A primeira consta na Lei nº 9.613/98 (crimes de “lavagem” ou
ocultação de bens, direitos e valores). O delito de corrupção abrange a
corrupção ativa (art. 333 do CP), corrupção passiva (art. 317 do CP) e
corrupção de funcionário público estrangeiro (art. 337-b do CP). O Brasil é
signatário das principais convenções internacionais de combate à corrupção,
sendo exemplo mais recente disso o Decreto nº. 5687/2006, de 31 de janeiro
de 2006, que promulgou a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção,
adotada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 31 de outubro de 2003
e assinada pelo Brasil em 9 de dezembro de 2003.

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Pela Convenção de Palermo os delitos revelam natureza transnacional nas
seguintes hipóteses:

a. Quando cometidos em mais de um Estado;


b. Quando parte substancial de sua preparação, planejamento e direção se
realiza em Estado diverso da execução;
c. Quando envolve a atuação de grupo criminoso organizado, envolvido em
atividades criminosas em mais de um Estado;
d. Quando, tendo sido objeto de planejamento e execução em um Estado,
venha a produzir substantivos resultados em outro.

O artigo 34.2 do texto da Convenção de Palermo esclarece que a


incorporação dos novos fatos típicos penais descritos ao direito interno não
precisa guardar relação com a transnacionalidade delitiva ou pela sua prática
por organizações criminosas, ou seja, poderão ser aplicados nos casos em que
o crime apurado seja apenas local e cometido por uma pessoa.

10. MECANISMOS DE DIREITO INTERNACIONAL

Outros mecanismos de Direito Internacional são também marcantes como


fontes de regramento para o combate das organizações criminosas, como, por
exemplo, a Conferência do Cairo e a Convenção Mundial de Nápoles (1994),
sendo oportuno mencionar as recomendações seguintes, resumidas em quatro
grupos distintos, segundo a similaridade de assuntos:

10.1 CAPACITAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO


Refere-se tanto à capacidade e aperfeiçoamento dos quadros quanto à
melhoria das estruturas organizacionais das agências envolvidas com o
enfrentamento do fenômeno. O profissionalismo dos órgãos de controle,
particularmente dos serviços de polícia, requer qualificação e capacitação
apropriadas.

10.2 INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS


A recomendação textual é no sentido de aprimorar a organização e a
coordenação entre as instituições responsáveis, aqui referidas como agências
de controle. A atuação coordenada e eficaz exige que as agências estejam
minimamente organizadas, em estruturas compatíveis e que possibilitem a
integração dos diferentes sistemas.

10.3 CONSOLIDAÇÃO E LEGISLAÇÃO EFICAZ


Também se recomendou, no âmbito dos acordos internacionais, o
aperfeiçoamento da legislação, objetivando recepcionar técnicas modernas de
investigação, por exemplo, a infiltração policial, que, somente no ano de 2001,
foi autorizada no Brasil.

10.4 CONVERGÊNCIA DE RISCOS PARA AS REDES CRIMINOSAS

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Outro objetivo recomendado internacionalmente, e que passa pelo necessário
ajuste da legislação, foi o de estabelecer uma convergência ou uniformização
de riscos para os delinqüentes e seus negócios, em qualquer país em que
venham a se instalar.

CONCLUSÃO

As manifestações do Crime Organizado afrontam o Estado, e sua


repercussão nociva reflete o interesse dos países membros da ONU, na
procura de mecanismos eficazes de enfrentamento. E essa comunhão global
de interesses implica o reconhecimento de que a repressão ao fenômeno
estudado somente alcançará êxito se houver estreita cooperação entre os
países, principalmente contra as organizações transnacionais. Daí a conclusão
de que somente pelo emprego uniforme, coeso e efetivo dos mecanismos é
que haverão de se concretizar os postulados dessa colaboração, o que ora se
preconiza como via de solução, a despeito de se reconhecer o desequilíbrio de
forças entre o crime e as estruturas oficiais de coerção, quadro que se verifica
não apenas no nosso País, mas no contexto da grande maioria das nações.

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