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ridade no ensino fundamental sem escrever ainda alfabetica- Quando corrigir,

mente - acho que as crianças devem se alfabetizar o quanto


antes, e sei que podem fazer isso desde os cinco ou seis anos. quando não corrigir
Porém, se a realidade que vivemos hoje permite que aos nove
ou dez anos - muitas vezes, até mais - as crianças não te-
nham conquistado essa aprendizagem fundamental para sua
vida, é preciso que nós, professores, não vacilemos em assu-
mir, o quanto antes, a tarefa de ensiná-Ias a ler e a escrever. o professor desenvolve dois tipos de ação pedagógica.
Em qualquer série que seja. Uma é o planejamento da situação de aprendizagem, para
Finalmente, quero compartilhar uma das muitas lições que a qual tenta criar as condições ideais: oferecer as informa-
aprendi nestes anos todos como professora: na sala de aula, ções' montar propostas de trabalho de tal forma que o alu-
não é fácil fazer um aluno que é diferente, porque "sabe me- no possa pôr emjogo o que sabe, arriscar-se, avançar e com-
nos", se tornar alguém imprescindível para o grupo, que "sa- preender mais à frente do que sabia. O outro eixo do seu
be mais". Mas não é impossível. trabalho é a intervenção propriamente dita no processo que
está acontecendo, no qual o aluno, os grupos ou a classe,
(Marly de Souza Barbosa, 1996, escola municipal) diante de uma situação proposta, realizam coisas, e o pro-
fessor participa, desenvolvendo vários papéis.
O professor mantém em suas mãos o pulso da atividade
e o olhar atento, para fazer o tempo todo as correções de
rota necessárias. Se percebe que algumas crianças tomam
um caminho que não é o ideal para a situação de aprendi-
zagem' tem de responder imediatamente. É o que chama-
mos do "jogo de cintura" do professor. Muitas vezes é pre-
ciso mudar o rumo das coisas para dar conta do processo
real que se apresenta, de situações ou contextos não pre-
vistos quando a atividade foi planejada - já que os alunos,
quando têm como proposta realizar uma determinada ta-
refa' põem-se a fazê-Io conforme lhes é possível em cada
momento.
Uma intervenção clássica é a correção. Não é a única in-
tervenção possível, nem a mais importante, mas é a que
mais tem preocupado os professores.
Quando a prática do professor está carregada da convic-
ção de que o seu papel é, fundamentalmente, o de corrigir
o aluno, fica evidente que, para ele, aprender é substituir
respostas erradas por respostas certas. Numa concepção
construtivista de aprendizagem, a função da intervenção

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do professor não é essa, mas a de atuar para que os alunos está sendo oferecida. Por exemplo: numa classe onde os
transformem seus esquemas interpretativos em outros que meninos já escrevem alfabeticamente, o professor passa e
dêem conta de questões mais complexas que as anteriores. vê uma criança que escreveu CUADO (quando). Ele pode
Isso não significa que a correção perde função. Na verda- simplesmente dizer: "Leia para mim o que está escrito aqui",
de, podemos dizer que a correção é algo relacionado a.qual- ou "Preste atenção em como você escreveu essa palavra.
quer situação de aprendizagem, o que varia é como ela é Pense e me diga se é assim mesmo que se escreve", ou.rPro-
compreendida pelo professor. cure essa palavra no dicionário", ou ainda: "De que outras
Pode-se pensar a correção de várias formas. A tradição formas você poderia escrever isso?" Se esta questão não for
escolar normalmente vê a correção que o professor realiza exclusiva de um determinado aluno, o professor pode - se
fora da sala de aula, longe dos olhos dos alunos, como a não for atrapalhar o desenvolvimento da atividade que es-
principal. Compete-lhe marcar no trabalho realizado aqui- tá sendo realizada - simplesmente abrir a questão para a
10 que o aluno errou, para que o erro seja corrigido e não classe e dizer: "Alguém quer, por favor, escrever a palavra
fique presente no produto do trabalho do aluno. Como diz 'quando' na lousa?", e levantar assim uma discussão.
o professor Lino de Macedo". essa é a perspectiva do em-
pirismo. muito exigente com a transmissão. Não se pode "fa- Os erros deuem ser corrigidos no momento certo. Que nem
cilitar" com a transmissão, devemos fazê-Ia o melhor pos- sempre é o momento em que foram cometidos
sível, sem o risco de perpetuar o erro. A discussão do erro assumiu um papel importante nos
Se o que o professor estiver corrigindo for uma redação, últimos tempos por motivos diferentes e até opostos. Pri-
por exemplo, e ele levar até o fim a situação de correção, meiro, foi importante perceber o mal que fazíamos aos nos-
provavelmente proporá que o aluno passe o trabalho a lim- sos alunos quando desconsiderávamos seus conhecimen-
po' corrigido. Atrás dessa proposta existe a convicção de tos com o famoso "tá errado" da caneta vermelha. A idéia
que se o erro tiver permanência - e a palavra escrita é cer- de erro construtivo abriu um mundo desconhecido que fas-
tamente permanente -, ele poderá fixar-se na memória cinou a muitos de nós, educadores. Passamos a viver um
dos alunos. Essa forma de lidar com o erro responde a uma certo encantamento com os erros: é de fato maravilhoso ver
concepção que supõe a percepção e a memória como nú- uma criança pequena escrevendo, dentro de um sistema si-
cleos na aprendizagem. lábico. poesias, parlendas ou histórias. Então nos tornamos
Outra visão de correção é a que gosto de chamar de in- leitoras entusiastas de textos silábicos. Quando as crianças
formativa. Ela carrega a idéia de que a correção deve infor- passavam a escrever alfabeticamente era mais lindo ainda.
mar o aluno e ser feita dentro da situação de aprendiza- Até aí tudo bem, mas as crianças mais velhas e alfabetiza-
gem. O professor a realiza durante a própria situação de das escreverem errado nunca alegrou ninguém.
produção, levantando questões que ajudem o aluno a per-
ceber certas incorreções ou simplesmente apontando dire-
tamente uma incorreção que, segundo sua avaliação, o alu-
no possa reconhecer, aproveitando a informação que lhe

10 MACEDO, Lino. Ensaios construtivistas. São Paulo, Casa do Psicólogo, 1994.

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1.1..
~.

I
articulando o fluxo das idéias, interrompê-Io para corrigir a
ortografia não faz sentido, a não ser que ele mesmo per-
gunte: "Cachorro é com X ou com CH?", e aí, é claro, o pro-
fessor deve responder. Isso não significa que ele não vá tra-
balhar com situações de reflexão sobre a ortografia, mas que
vai príorízar, naquele momento, o desenvolvimento da escri-
ta do texto, criando uma nova oportunidade, em um outro
momento, para intervir especificamente na aprendizagem
de ortografia. Esse novo momento poderá ser apoiado na-
quele texto em particular para aquela criança ou pode ser
um trabalho coletivo, no qual o professor tratará questões
ortográficas comuns a várias crianças da classe.
Poema escrito por Danilo, 6 anos, recém-alfabetizado. O que deve ser repensado é a concepção mais tradicio-
nal de correção, apoiada na idéia de que ela tem um caráter
No caso da ortografia, que mobiliza tanto os professo- cirúrgico, precisa ser feita no ato, em cima do erro. Muitos
res". fica claro que a correção se define pelo momento da professores e mesmo os pais consideram que o erro não
aprendizagem em que os alunos estão. Se a criança ainda corrigido ficará para sempre na memória do aprendiz. Is-
nem escreve alfabeticamente, e para escrever cachorro usa so não é verdade. Se o menino escrever CACHORO uma vez,
menos letras do que precisa - por exemplo, KXO -, de- não significa que ele nunca vá aprender que" cachorro" é
ve o professor insistir com ela que não é com X que se escrito com dois erres e não com um só, já que essa é uma
escreve, mas com CH, ou que o K nem existe no nosso alfa- ocorrência regular na língua. Além do mais, se simplesmen-
beto e ele deveria escrever com CA? Certamente que não, te ver levasse as crianças a aprenderem a escrever, aos oi-
pois isso não faz sentido ainda para ela. Além ~e inútil, to anos ninguém mais cometeria erros ortográficos, por-
poderá deixá -la atônita, porque ela não sabe sequer do que '.
que o que mais vêem é a escrita correta. Por que haveriamos
o professor está falando. Para essa criança, a intervenção de crer que a criança vê repetidas vezes a forma certa
adequada é aquela que a ajuda a transformar suas idéias e não a fixa e, num rápido e eventual contato com o erra-
sobre a escrita, isto é, aquela em que o professor cria situa- do, fixa o erro?
ções nas quais ela possa pôr em jogo sua hipótese sobre a Assim, entre o "tudo pode" e o "nada pode", entre o" não se
escrita, que nesse momento é silábica. deve deixar nem a sombra do erro" e o "agora não é mais para
Quando.num outro momento, um aluno escreve CAXORO,
corrigir" existe um enorme espaço para a atuação inteligente
o professor precisa intervir na questão ortográfica e consi-
do professor - como pode ser observado no depoimento
derar cuidadosamente a melhor forma de fazer isso. Se na-
seguinte.
quele momento o menino está escrevendo uma história, e
Quando eu era professora de uma classe de pré, vivia fas-
cinada por ser testemunha e parceira do processo de alfabe-
tização das crianças.
11 Para saber sobre como trabalhar a questão ortográfica, leia o livro de Ar-
tur Gomes de Morais, pertencente a esta coleção, que trata exclusivamen-
Uma das caracteristicas mais marcantes desse momento é
te do assunto. a consciência e, por conseguinte, a preocupação que os alunos

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começam a ter em escrever convencionalmente ou, nas pa- do de estar fazendo errado, e, ao mesmo tempo, não se con-
lavras das próprias crianças, escrever certo. Na educação tentavam com pouco .
.infantil, se você pedir às crianças que escrevam alguma coisa,
na grande maioria das vezes elas não têm o menor pudor: (Cláudia Aratangy; classe de pré. escola particular)
pegam o papel, o lápis ou caneta e se põem a escrever. Mas
no pré, como alguns já começam a escrever convencional- Os alunos sabem o que achamos importante que
mente, outros ficam meio intimidados e não querem se expor. eles aprendam, mesmo que não falemos nada
Este é um dos maiores desafios do professor. Nossa expec- No extremo oposto ao do professor que não permite a
tativa é que eles escrevam e, a partir dessa produção, pos- sombra de um erro está o professor que - continuo com os
samos colocar questões e problematizar para que avancem exemplos de língua portuguesa e ortografia - permite to-
nas suas idéias sobre a lingua escrita. Mas e quando pedi- dos. Por não querer bloquear a criatividade do aluno, aca-
mos que escrevam e eles dizem que não sabem escrever? Aí ba deixando que ele escreva de qualquer jeito. Essa postu-
é uma encrenca. Eu vivi essa situação. Quando os alunos ra educacional acaba consolidando um contrato didático
começavam a mostrar resistência para escrever, eu ficava implícito, pois de alguma forma o aluno percebe que o pro-
perturbada. Afinal, era verdade que eles não sabiam. A úni- fessor.hão valoriza esse tipo de conhecimento e acaba por
ca coisa que sobrava, e que eu achava correto, era dizer: desvalorizá-Io também, não investindo nessas aprendiza-
"Escreva do seu jeito". gens. Os alunos sabem o que achamos importante que eles
No primeiro momento isso atéfuncionou. Eles se despreocu- aprendam, mesmo que não digamos nada. Se um professor
pavam. relaxavam e acabavam escrevendo. O problema é que enfatiza que escrever corretamente é importante, mas não
algumas crianças começaram a achar que escrever dojeito delas
dedica muito do tempo escolar às atividades de reflexão so-
era sinônimo de escrever de qualquer jeito. Resultado: eu ti-
bre a ortografia, estará mostrando - na prática e com mui-
nha que engolir qualquer coisa porque, afinal, era do jeito de-
to mais força - que não é tão importante assim o que ha-
las. Ficou claro também que estavam realizando produções in-
via recomendado. Da mesma forma, quando aceita que o
feriores ao que seriam capazesde fazer:
aluno escreva errado palavras já bem conhecidas, também
Percebendo isso e discutindo com outros professores que
estará concordando com essa maneira de escrever.
também estavam sentindo esse problema, acabamos encon-
É importante que o professor tenha claro que certos er-
trando uma solução. Passamos então a pedir que as crianças
escrevessem "da melhor maneira possível" ou "do melhor jeito ros, depois de um tempo de escolaridade, são inaceitáveis.
que conseguissem". Passamos também a chamar a atenção Uma criança alfabetizada que copia as lições no caderno
das crianças para que utilizassem conhecimentos sobre os não pode escrever "lissao de caza" ou "resouva os proble-
nomes deles e dos colegas, que olhassem as listas (de histórias mas". Para situações como essa ele pode fazer um trato com
conhecidas, de materiais, etc.) que havia na classe, que todos os alunos: "Essas palavras não podem mais ser escri-
procurassem no alfabeto letras que pudessem servir, etc. tas errado". A lista dessas palavras é um instrumento efi-
Creio que foi um salto de qualidade para a nossa atua- ciente não só para que o aluno escreva certo, mas também
ção como professores. Desse modo, as crianças não se sen- para que tenha certeza de que escrever certo é importante
tiam obrigadas a escrever convencionalmente, com me- e necessário.

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das contribuições que eu havia preparado anteriormente. Um
As correções feitas pelo professor não podem ser todas
exemplo é a história do Rajael, meia página, cheia de erros
da mesma natureza, porque os conteúdos não o são. Não
é da mesma natureza trabalhar com cálculo mental e com ortográficos e ainda sem sentido. O que fazer com ele? Cor-
.os diferentes gêneros literários. Em cada situação há vá- rigir os erros? Dizer que precisa desenvolver o texto? Acho
rias formas de fazer o aluno saber o que errou, onde er- que vou sentar com ele e pedir que diga tudo o que pensou em
rou, por que errou, de maneira a ajudá -10 a avançar. Há escrever, pois ele participou muito das discussões que fize-
ocasiões, também, em que apontar o erro é inútil - como mos sobre os textos de terror, e parecia cheio de idéias. Quem
vimos no caso da escrita silábica =, porque o aprendiz não sabe posso recuperá-Ias com ele e traçar um roteiro para que
tem ainda como modificar o que está produzindo na dire- escreva novamente. Em compensação o do Maurício estava
ção pretendida pelo professor naquele momento. No ge- demais, li para todos em casa e fez o maior sucesso. Apenas
ral pode-se, sim, apontar o erro. Resta saber se o profes- algumas questões ... Este conto mostrou como ele melhorou
sor está corrigindo porque "professor tem de corrigir", ou em relação aos contos anteriores. .
se, corrigindo, ele está ensinando. Mas o que me perturbou mais, por incrível que pareça, foz
É evidente que, para perceber em que momento o seu o conto do Guilherme. Muito bom, como de costume, ele está
aluno está e a partir daí intervir corretamente, o professor virando um excelente escritor, mesmo, mas algumas partes
precisa estar instrumentalizado. Numa época em que sa- são incompreensíveis. A trama é interessante e cheia de idéias,
bíamos muito pouco sobre as questões da textualídade, so- mas alguns parágrafos são extremamente confusos, com uma
bre os recursos coesivos. uma professora de 3~série com escrita enrolada. Parece que sai de um lugar e não chega a
quem eu trabalhava vivia angustiada. Ela sempre propu- nenhum outro. Como sempre, marquei com um traço na mar-
nha atividades de escrita bem preparadas, com leituras pré- gem da folha os parágrafos que precisava arrumar. O que
vias de bons textos para inspirar a escrita de seus alunos, acontece é que cada vez que eu faço isso ele se desanima e
mas não sabia como intervir para que avançassem na or- simplesmente corta o parágrafo, dando um jeito de a história
ganização textual. Muitos escreviam bem, outros tinham não precisar dele. Eu sinto que com isso não estou ajudando
um texto que não fluía. Para intervir na coerência e coesão em nada. Acabo deixando a história dele menos interessante
dos textos destes últimos, a única coisa que conseguia fa- do que poderia ficar. E o pior, ele, que escreve muito bem e
zer era apontar onde não estava bom para que eles refizes- bastante, acaba por ter mais coisas para revisar do que a Ma-
sem. A seguir reproduzo um trecho de seu diário. ria na, que escreve umas histórias pequenas e mais simples.
Estou perdida, definitivamente não sei como intervir nos
(trecho de diário de Ana Rosa Abreu. escola particular,
textos de meus alunos para que avancem. Tenho sentimentos 3~série, 1987)
ambíguos. Proponho atividades de escrit-a de contos bem pre-
paradas, leio muito para eles para que se inspirem, analiso
Essa professora costumava anotar ao lado do parágrafo
como os bons autores escrevem. Todos adoram nossas leitu-
que ela achasse mal escrito a palavra" confuso" e devolver
ras e discussões. Hoje começaram a escrever um conto de ter-
ao aluno para que ele arrumasse. Como tudo o que ela ofe-
ror. Cheguei em casa e comecei a ler. Algumas das produções
recia ao aluno era o seu julgamento, as crianças ficavam
me deixaram animaãissima, estavam bem-feitas, com o uso
aflitas e começavam a simplificar o texto, escrevendo o mí-
de diversos recursos para criar um clima de pavor. Outras
nimo possível para tentar garantir o acerto. Isso é muito co-
eram fracas, sem graça, não incorporavam à produção nada

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mum: os alunos escrevem pouco para errar pouco. O Gui-
lherme' que escrevia muito bem, também reconhecia que A necessidade e os bons
partes dos seus textos não estavam claras, mas não tinha usos da avaliação
. recursos para escrever orações subordinadas como queria.
Tentando ousar e escrever mais "bonito", como os autores
que lia, usava conectivos inadequadamente. Com esse tipo
de intervenção da professora, em vez de melhorar, acabava
empobrecendo a própria produção. Para ajudá-Ia era ne- Quando um professor pensa que ensino e aprendiza-
cessário a professora procurar compreender as suas reais gem são duas faces de um mesmo processo, faz sentido acre-
dificuldades e encontrar formas de intervir que lhe infor- ditar que, ao final dele, só existam duas alternativas: o alu-
massem não apenas que aqueles trechos estavam confusos no aprendeu, ou não aprendeu. Diferentemente disso, se
mas como melhorá-Ias. É preciso que a correção seja in- ele vê a aprendizagem como uma reconstrução que o apren-
formativa para o aluno e o instrumentalize para superar as diz tem de fazer dos seus esquemas interpretativos e per-
dificuldades.
cebe que esse processo é um pouco mais complexo do que
Se a correção incide apenas sobre o produto final, o pro- o simples "aprendeu ou não aprendeu", algumas questões
fessor poderá ter uma lição sem erros, o que não significa precisam ser consideradas.
que o aluno tenha aprendido. Mas, quando é sobre o pro- Uma delas é a necessidade de ter claro o que o aluno já
cesso de aprendizagem, ela é fundamental, porque corres- sabe no momento em que lhe é apresentado um conteúdo
ponde exatamente à intervenção que se espera do profes- novo, já que o conhecimento a ser construído por ele é, na
sor - alertar o aluno para alguma inadequação da atividade verdade, uma reconstrução que se apóia no conhecimento
que :stá sendo realizada, reorientar a ação do aprendiz, prévio de que dispõe. O conhecimento prévio é o conjunto
alerta-Ia para algo que ele não considerou ou percebeu, le- de idéias, representações e informações que servem de sus-
vantar questões que o ajudem a pensar sobre aspectos de tentação para essa nova aprendizagem, ainda que não te-
que ele não tinha se dado conta. Porque o objetivo do ensi- nham, necessariamente, uma relação direta com o conteú-
no é que o aluno aprenda e produza cada vez mais e me- do que se quer ensinar. Como já vimos anteriormente,
lhor, não que faça lições sem erros ou que tenha um cader- investigar e explorar essas idéias e representações prévias
no "perfeito".
é importante porque permite saber de onde vai partir a
aprendizagem que queremos que aconteça. Conhecer es-
sas idéias e representações prévias ajuda muito na hora de
construir uma situação na qual o aluno terá de usar o que
já sabe para aprender o que ainda não sabe.
Essa necessidade de avaliar no início do processo é ca-
racterística da relação entre ensino e aprendizagem vistos
numa ótica construtivista. Nela, a informação que o aluno
recebeu anteriormente como ensino não define o conheci-
mento prévio, porque esse constitui toda a bagagem de sa-
beres que o aluno tem, oriundos de diferentes fontes e que
são pertinentes para a nova aprendizagem proposta. Por-

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