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A IMPORTÂNCIA DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA NO PROCESSO DE

ALFABETIZAÇÃO

Rachel de Souza Lima

Joana Dark Venancio

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como estudo a importância da consciência fonológica no


processo de alfabetização, sendo a consciência fonológica uma habilidade
metalingüística amplamente reconhecida na literatura como essencial para o
entendimento do principio alfabético, o princípio dos símbolos escritos (uma letra ou
um grupo de letras – os grafemas) estão associados a fonemas (menor unidade da
cadeia falada que permite fazer distinções semânticas).

A descoberta do principio alfabético é dificultada pelo fato da fala ser caracterizado


por um fluxo continuo. Dessa forma, um dos maiores desafios para uma criança
começar a aprender um sistema de escrita alfabético é entender que o fluxo
contínuo da fala pode ser segmentado em unidades menores de som e que essas
pequenas unidades são manipuláveis.

Estudos apontam que intervenções feitas para treinar esta habilidade, além de
favorecer o processo de alfabetização, podem prevenir e tratar dificuldades de
aprendizagem. Em um levantamento das pesquisas realizadas no Brasil sobre a
relação entre habilidades metalingüísticas e aquisição da linguagem escrita, no
período de 1987 a 2005, Maluf, Zanella & Pagnes (2006) encontraram 157 trabalhos.

É importante relatar que dos estudos analisados, mais de 50% se referiam a


consciência fonológica. Embora estudos transversais não permitam a determinação
de causa-efeito, outros estudos de caráter longitudinal, avaliando habilidades de
consciência fonológica no ingresso da 1ª série (ou mesmo durante a pré-escola) e o
desempenho posterior em leitura e escrita, no final do primeiro ano escolar, tem
evidenciado relações significativas entre essas competências sugerindo que os
alunos que iniciam o processo formal de alfabetização com níveis mais avançados
de consciência fonológica, tem melhores perspectivas de progredirem na
aprendizagem de leitura e escrita. (Barrera &Maluf, 2003; Bradley & Bryant, 1983;
Pestin, 2005).

Através, desse contexto, como estimular habilidades de consciência fonológica


nas práticas em sala de aula?! , partindo do pressuposto que a importância do
estimulo dessas habilidades são de grande importância para a aprendizagem de
leitura e escrita.

O interesse em compreender a complexidade do processo de aprendizagem da


leitura e da escrita, nos leva ao levantamento de dados sobre como a importância da
consciência fonológica na alfabetização, poderá servir para traçar metas de ação
para melhorar a qualidade do ensino básico, um dos objetivos do plano de
desenvolvimento da educação (PDE) (BRASIL,2011) e contribuir para
implementação de atividades baseadas no desenvolvimento da consciência
fonológica, tanto do ponto de vista preventivo, quanto remeativo no processo de
alfabetização.

A partir desse contexto, objetivamos em relatar a importância do trabalho com


consciência fonológica, e do entendimento por parte dos autores, da concepção de
língua e linguagem que sustentam uma dimensão mais ampla no processo de
alfabetização, ao tentar compreender e analisar os efeitos de uma abordagem fônica
em crianças em processo de descoberta do principio alfabético e essa relação entre
habilidades de leitura e escrita e a consciência fonológica.

Deste modo, autores como Bradley & Bryant (1983), Cunha & Capellini (2011),
Piccoli & Camini (2012), nos ajudaram a fazer ponderações sobre essa questão.
Além de uma pesquisa de cunho bibliográfico de modo a analisar e comparar
informações que levantam dados sobre a leitura e escrita de crianças em fase de
alfabetização, visto que a alfabetização compreende a aprendizagem da leitura e
escrita, e é um importante objeto de conhecimento humano, a pesquisa seguiu uma
abordagem quantitativa, colocando o pesquisador em contato com vários materiais
que contribuem para o seu trabalho, seguindo o objetivo de caráter descritivo.

Estudos sobre a consciência fonológica vem ganhando espaço e importância entre


os estudiosos da área da educação desde a década de 1970, com pesquisas
realizadas no intuito de verificar a importância desta para aquisição da escrita e da
leitura. Desta forma, essa complexidade, tem se tornado objeto de estudos e
discussões, sendo realizados sob diferentes olhares e enfoques, em que:

Os autores destes estudos explicam que os estágios iniciais da consciência


fonológica contribuem para o estabelecimento dos estágios iniciais do
processo de leitura e estes, por sua vez, contribuem para o
desenvolvimento de habilidades fonológicas mais complexas. Desta forma,
enquanto a consciência de alguns segmentos sonoros (suprafonêmicos)
parecem se desenvolver naturalmente, a consciência fonêmica parece exigir
experiência especifica em atividades que possibilitam a identificação da
correspondência entre os elementos fonêmicos da fala e os elementos
grafêmicos da escrita (Cunha & Capellini,2011.p.88).

No Brasil, segundo Capovilla & Capovilla (2003), alguns pesquisadores tem


estudado o desenvolvimento de habilidades metalingüísticas em crianças e
construindo instrumentos para avaliar a consciência fonológica e a futura habilidade
de leitura e escrita.

Neste contexto, as autoras Piccoli & Camini (2012,p.102), descrevem as


“habilidades que trata a competência metalingüística : consciência fonológica,
consciência semântica, consciência sintática e consciência pragmática”.

Nesta dimensão, é importante pensar na estrutura da competência metalingüística a


partir de um conjunto de habilidades que permite o sujeito raciocinar sobre o próprio
uso que o sujeito faz da língua. Deste modo, a consciência fonológica é parte
integrante da competência metalingüística.

Denotamos que Piccoli & Camini (2012,p.103) salientam que:

A consciência fonológica pode ser agrupada como um conjunto de


habilidades que permite a criança compreender e manipular unidades
sonoras da língua, conseguindo segmentar unidades maiores e menores.
Tais capacidades são fundamentais na alfabetização, tendo em vista que a
consciência fonológica depende da série de processos fundamentais para a
aprendizagem da leitura e da escrita.

Ainda segundo Piccoli & Camini (2012,p.103), “as habilidades podem ser agrupadas
em três níveis: consciência silábica, consciência de rimas e aliterações e consciência
fonêmica.”

Complementarmente, Cunha & Capellini (2011,p.87), descreveram que:

A consciência fonológica é uma parte integrante da consciência


metalingüística e esta relacionada à habilidade de refletir e manipular os
segmentos da fala, abrangendo além da capacidade de reflexão (consultar
e comparar), a capacidade de operar com rimas, aliteração, sílabas e
fonemas (contar, segmentar, unir, adicionar, suprimir,substituir e transpor)

Por conseguinte, a consciência sílabica refere-se a habilidade de reconhecer e


manipular palavras por sílabas. Já a consciência de rimas e aliterações consiste na
habilidade de reconhecer e produzir semelhanças sonoras ao final das palavras
(rimas), como também fonemas semelhantes repetidos no inicio das palavras so
longo de uma frase ou verso (aliterações). Por fim, a consciência fonêmica refere-se
à habilidade de reconhecer e manipular os fonemas, as menores unidades da
língua, o que envolve, por exemplo, a consciência de que um fonema diferente pode
alterar totalmente o sentido da palavra. Portanto, a importância da consciência
fonológica se insere no fato de preparar a criança para o processo de decodificação
da língua por meio do estudo de grafemas, sons, sílabas e palavras, a partir de uma
concepção mais dialógica e aberta sempre a novas descobertas e reflexões. Neste
sentido, o sucesso dos primeiros passos da leitura e da escrita, depende inclusive,
de um determinado nível de consciência fonológica adquirido anteriormente pela
criança, seja de maneira formal ou informal e que inicia coma oralidade.

Com referência ao aprendizado formal, alguns métodos foram desenvolvidos a fim


de possibilitar ao aluno um aprendizado mais sistemático da leitura e escrita. As
abordagens para o código escrito envolvem, basicamente, o método analítico, e o
método global, e em relação a estas abordagens, observam-se concepções
divergentes na literatura .

Ferreiro & Teberosky (1986), em oposição ao método fônico, consideram que esta
abordagem, utilizada pelas escolas, caracteriza-se como sendo de caráter mecânico
com a utilização de exercícios motores relacionado ao desenho das letras bem como
do estabelecimento de associação de formas sonoras as formas gráficas e a sua
memorização considerando a alfabetização simplesmente como uma associação
entre respostas sonoras e estímulos gráficos.

Capovilla & Capovilla (2002), referiram que a teoria da aquisição da escrita


postulada por Ferreiro & Teberosky (1986), apresenta severas limitações,
principalmente no que se refere a alfabetização, uma vez que a teoria de Piaget, que
originou a abordagem da psicogenética na alfabetização proposta pelas referidas
autoras, refere-se basicamente a epistemologia e não a educação.
Neste caso, a abordagem piagetiana, a linguagem escrita representa a forma mais
complexa de atividade simbólica que decorre do desenvolvimento cognitivo sem ser
considerada como uma habilidade distinta com propriedades particulares.

Moraes (1996), considerou que os progressos são significativamente mais


importantes na leitura e escrita quando são exercitados, ao mesmo tempo, a
habilidade de analise fonêmica intencional e o conhecimento das correspondências
entre as letras e seus “sons”.

Capovilla & Capovilla (2002), fizeram referência ao programa de intervenção para o


tratamento de distúrbios da leitura e escrita, com ênfase no desenvolvimento destas
habilidades por considerarem que as habilidades com consciência fonológica são
um dos fatores interferentes no processo de alfabetização.

Estudos feitos recentemente, confirmam a teoria de que , para que o processo de


aquisição de leitura e da escrita obtenha o resultado esperado, ele precisa estar
diretamente ligado a consciência fonológica, demonstrando a reciprocidade dessa
relação. (c.f. CORREA; MACLEAN, 2011).

Essa relação é defendida por ELLIS (2011,P.16), quando afirma que “[...] ler é a
habilidade de converter as palavras em significado e em fala” e, esta habilidade
depende da relação que ele estabelece com seu processo cognitivo, sendo que este
é quem determina o que, e como o texto é visto.

Nesta perspectiva o professor deve considerar o fato de que os alunos possuem


conhecimentos prévios a respeito da linguagem e, nesse sentido, propor atividades
desafiadoras, as quais propiciem o contato do aluno com práticas efetivas da leitura,
escrita e da oralidade. Ações como ler instruções para um jogo, uma noticia de
jornal, o horário de uma festa, um convite de aniversário, escrever na agenda,
podem oportunizar situações em que as práticas de leitura, escrita e oralidade
estejam relacionadas a uma necessidade, que tenha uma função social de
comunicação e que possibilitem ao aluno não somente a apropriação do código
lingüístico, mas a compreensão de seus atos e formas de utilização.
Referências

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