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Estudos de intervenção em
consciência fonológica e dislexia:
revisão sistemática da literatura
Resumo
Diversas pesquisas apontam a importância da relação
entre as habilidades de consciência fonológica e a
aprendizagem da leitura em sistemas alfabéticos. O
presente artigo tem o objetivo de revisar e apresentar
os principais resultados de pesquisas brasileiras
desenvolvidas entre 2008 e 2018 que investigaram
a relação entre o processamento fonológico e a
aprendizagem de leitura por meio de intervenções
baseadas nas habilidades de consciência fonológica
em crianças durante o processo de alfabetização. Para
tanto, foi realizado um levantamento de pesquisas no
Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de
1
Universidade do Estado de Santa Catarina, Departamento de Pedagogia, Programa de
Pós-Graduação em Educação. Av. Madre Benvenuta, 2007, Itacorubi, 88035-901, Florianópolis, SC,
Brasil. Correspondência para/Correspondence to: C.T.F. SILVA. Email: <grazifranciosi@gmail.com>.
CC
BY
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. A análise dos dados foi constituída por etapas, incluindo
apenas os estudos que adotaram programas de intervenção como instrumento de pesquisa em que
a amostra correspondia de alguma forma a crianças com dificuldades na aprendizagem em leitura.
Cada vez mais estudos têm demonstrado que a aprendizagem da linguagem escrita está relacionada
ao desenvolvimento das habilidades de consciência fonológica e que programas de intervenção
pedagógica baseados na fonologia têm apontado resultados positivos. Desta forma, infere-se que o
baixo desempenho em leitura esteja associado ao desenvolvimento insuficiente das habilidades de
consciência fonológica e que uma intervenção pedagógica baseada no estímulo dessas habilidades
e no ensino explicito das correspondências entre grafemas e fonemas pode minimizar ou superar as
dificuldades de aprendizagem de algumas crianças além de servir de ferramenta para detecção de
indicadores precoces de risco para dislexia.
Palavras-chave: Aprendizagem de leitura. Consciência fonológica. Dislexia. Pesquisa de intervenção.
Abstract
Several researches point out the importance of the relationship between phonological awareness skills and
learning to read in alphabetic systems. This article aims to review and present the main results of Brazilian
research developed between 2008 and 2018 that investigated the relationship between phonological
processing and reading learning through interventions based on phonological awareness skills in children
during the literacy process. To this end, a survey was conducted at the Bank of Theses and Dissertations of the
Brazilian Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel. The data analysis was made up
of stages, including only those studies that adopted intervention programs as a research tool in which the
sample corresponded in some way to children with learning difficulties in reading. More and more studies
have shown that learning written language is related to the development of phonological awareness skills
and that phonology-based pedagogical intervention programs have shown positive results. Thus, it is inferred
that low reading performance is associated with insufficient development of phonological awareness skills
and that a pedagogical intervention based on the stimulation of these skills and explicit teaching of the
correspondence between graphs and phonemes can minimize or overcome the learning difficulties that
children have, in addition to serving as a tool for detecting early indicators of risk for dyslexia.
Keywords: Reading learning. Phonological awareness. Dyslexia. Intervention research.
Introdução
de escrita alfabética. Esses défices fonológicos são comuns em crianças disléxicas, que demonstram ter
uma alteração na percepção categorial dos sons da fala (Dehaene, 2012).
A natureza desse distúrbio, ainda conforme Dehaene (2012), está em anomalias do tratamento
fonológico, como um défice na conversão dos signos escritos em fonemas, caracterizado pela dificuldade
da leitura de textos e causado por uma alteração ao nível das palavras provocada por problemas na
conversão dos grafemas em fonemas.
Um dos principais fatores de risco para a dislexia descritos é a presença do transtorno fonológico,
com a justificativa de que a dificuldade no desenvolvimento natural das habilidades fonológicas
prejudica a aquisição de habilidades como análise, síntese, segmentação e manipulação fonêmica
(Wang et al., 2013).
Dentre as relações significativas das habilidades de consciência fonológica com a aprendizagem
da leitura, evidenciam-se os alunos que ingressam no processo inicial de alfabetização com melhores
níveis de consciência fonológica possuem maiores expectativas no progresso de aprendizagem da
língua escrita. O trabalho envolvendo a relação grafema-fonema, de maneira explicita, favorece o
desempenho dos alunos com alterações nas percepções sonoras e nas habilidades necessárias para
a aprendizagem da leitura, enfatizando que o desenvolvimento da sensibilidade fonológica, uma
importante característica da leitura, tem estreita relação com a fase inicial do processo de alfabetização
(Cunningham; Carrol, 2011).
A intervenção precoce pode ser uma ferramenta eficaz na identificação do risco para dislexia, por
isso é importante que sejam identificados, no início do processo de alfabetização, as dificuldades de
leitura e os fatores de risco para o transtorno. Nesse sentido, Justino e Barrera (2012) afirmam que alunos
com e sem dificuldades no processo de alfabetização, submetidos a programas de treinamento das
habilidades de consciência fonológica, demonstraram ganhos significativos nas habilidades de leitura e
na escrita quando comparados a grupos de alunos com características parecidas, mas que não sofreram
intervenção de nenhum programa de treinamento. Existe uma influência mútua entre a consciência
fonológica e a aprendizagem da leitura e da escrita, pressupondo assim que o desenvolvimento da
consciência fonológica favorece a alfabetização. As autoras afirmam que o processo de ensino formal em
um sistema de escrita alfabética favorece especialmente o desenvolvimento da consciência fonêmica
e defendem que os programas de alfabetização que propõem aos alunos o desenvolvimento das
habilidades de consciência fonêmica por meio do ensino explícito das correspondências grafema-
fonema favorecem o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita dos alunos, em especial
daqueles que apresentam dificuldades na alfabetização.
Elbro e Petersen (2004) destacam que, se após a intervenção de programas de treinamento de
habilidades cognitivo-linguísticas as crianças não apresentam melhoras na aprendizagem da leitura, é
importante encaminhá-las para avaliações interdisciplinares a fim de investigar possíveis quadros de
dislexia, pois a não resposta à intervenção consiste em um critério para o diagnóstico do transtorno.
No Brasil ainda são poucas as pesquisas que utilizam a intervenção fonológica como alternativa
na identificação e rastreamento da dislexia. Pode-se considerar que, se após a aplicação de programas
específicos, que estimulam o desenvolvimento das habilidades preditivas para a alfabetização, os alunos
continuarem apresentando defasagem no aprendizado de leitura, existem subsídios que indicam
algum prejuízo decorrente da dislexia. Se mesmo após a intervenção específica, com a estimulação das
habilidades importantes a serem desenvolvidas, o aluno continuar apresentando dificuldades, deve-se
investigar a existência de um transtorno, como a dislexia, que exige intervenções mais especificas e
individualizadas.
Spinillo e Lautert (2008) destacam que, em pesquisas de intervenção, a ação do pesquisador
gera produção de conhecimento enquanto sujeito que intervém sobre os indivíduos e as estratégias
de intervenção que são utilizadas como recurso metodológico, a fim de contribuir na testagem de
teorias sobre o desenvolvimento da cognição humana e descobrir relações de causalidade entre
fatores e fenômenos. Salientam que, enquanto instrumento de intervenção, age como fator gerador
de mudança, o que proporciona resultados positivos na maioria dos seus estudos. Sobre pesquisas
de intervenção, Godoy, Fortunato e Paiano (2014) destacam que pesquisas que utilizam instrumentos
de intervenção como metodologia demonstram o fator essencial da consciência fonológica para
aprendizagem da escrita.
Diante do exposto, o presente estudo tem a finalidade de revisar e apresentar os principais
resultados de pesquisas brasileiras desenvolvidas entre 2008 e 2018 que investigaram a relação entre
o processamento fonológico e a aprendizagem de leitura por meio de intervenções baseadas nas
habilidades de consciência fonológica em crianças durante o processo de alfabetização. Esta revisão
busca obter dados sobre a efetividade de programas de estimulação de consciência fonológica que
obtiveram êxito sobre a aprendizagem da leitura.
Procedimentos Metodológicos
um programa de intervenção. Dos 20 estudos com crianças sem dificuldades, 6 aplicaram programas
de intervenção; e dos 26 estudos que investigaram grupo de crianças com dificuldades, 17 realizaram
estudo de intervenção (Figura 1).
A fim de que se atendesse o que foi proposto por este artigo, apenas os estudos que fizeram uso
de programas de intervenção como instrumento de pesquisa e nos quais a amostra correspondia de
alguma maneira a crianças com dificuldades de aprendizagem de leitura foram analisados.
294
46
20 26
6 17
Resultados
que o GI apresentou desempenho inferior ao GII em habilidades fonológicas e que o GIE apresentou
melhor desempenho em habilidades auditivas, fonológicas e cognitivo-linguísticas após ser submetido
ao programa, quando comparados os achados de pré- e pós-testagem. Diante dos resultados, a autora
concluiu a eficácia do programa de remediação fonológica, visto que os escolares com dislexia que
foram submetidos ao programa de remediação apresentaram melhor domínio das habilidades auditivas,
fonológicas e de leitura e escrita.
Semelhante à proposta do estudo anterior, Silva (2009) realizou uma pesquisa com o objetivo de
verificar a eficácia terapêutica de um programa de remediação fonológica e leitura em escolares com
transtorno de aprendizagem. Quarenta estudantes do 2º ao 4º ano do Ensino Fundamental participaram
do estudo, distribuídos nos seguintes grupos: GI (20 escolares sem dificuldades de aprendizagem),
subdividido em GIE (Grupo 1 experimental, composto por 10 escolares que foram submetidos ao
programa de remediação fonológica e leitura) e GIC (Grupo 1 controle, composto por 10 escolares
que não foram submetidos ao programa de remediação fonológica e leitura), e GII (composto de 20
escolares com diagnóstico interdisciplinar de distúrbio de aprendizagem), subdividido em GIIE (Grupo 2
experimental, composto por 10 escolares que foram submetidos ao programa de remediação fonológica
e leitura) e GIIC (Grupo controle 2, composto por 10 escolares que não foram submetidos ao programa
de remediação fonológica e leitura). Em procedimento de pré- e pós-testagem, todos os participantes
foram submetidos a testes de processamento fonológico, seguidos de avaliação de leitura oral e de
compreensão de textos. Como resultado, a autora indicou que o GI apresentou desempenho inferior
ao do GII em atividades relativas às habilidades de consciência fonológica. O GIE e o GIIE demonstraram
melhor desempenho em habilidades fonológicas depois da aplicação do programa de remediação
fonológica e leitura quando comparados aos achados do GIC e do GIIC.
Com o objetivo de avaliar os efeitos de uma intervenção escolar baseada no desenvolvimento
da consciência fonológica e no ensino explícito da correspondência entre grafemas e fonemas sobre a
aprendizagem de leitura e escrita de um grupo de alunos do Ensino Fundamental com dificuldades na
aprendizagem de leitura e escrita, participaram da pesquisa de Justino (2010) 31 alunos com idades entre
9 e 21 anos que frequentavam do 4º ao 8º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública. Todos
os participantes foram submetidos ao pré-teste, intervenção e pós-teste. Os testes que compuseram
o pré- e o pós-teste avaliaram conhecimento de letras, consciência fonológica e leitura e escrita de
palavras. A intervenção era composta por atividades de reforço escolar baseadas no desenvolvimento
das habilidades de consciência fonológica e no ensino explícito da correspondência entre grafemas e
fonemas. As análises estatísticas indicaram diferenças significativas em todas as habilidades avaliadas no
pré- e no pós-teste. A autora concluiu que as intervenções escolares baseadas no desenvolvimento da
consciência fonológica e no ensino explícito da correspondência entre grafemas e fonemas mostraram-
-se eficazes na superação das dificuldades de alfabetização dos alunos participantes da pesquisa.
Carvalho (2012) investigou os efeitos de um programa de intervenção voltado para o ensino
sistemático da linguagem escrita, com base na fonologia, em alunos do 5º ano do Ensino Fundamental
que apresentavam atrasos na aprendizagem da leitura e da escrita. Participaram do estudo 19 crianças
divididas entre grupo controle e grupo de intervenção. Os dois grupos foram submetidos à pré- e
pós-testagem, com provas de leitura de palavras e frases e escrita de palavras e frases. O programa
de intervenção aplicado apenas ao grupo de intervenção foi composto de atividades e jogos para o
Sob o título de “A consciência fonológica e o ensino das relações letra-som para a compreensão
do princípio alfabético: resultados de um programa de intervenção”, Pitombo (2016) realizou um estudo
com alunos do 3º ano do Ensino Fundamental que não garantiram a aprendizagem da leitura e da
escrita no momento adequado, cujo objetivo era analisar os resultados de um programa de intervenção
composto por atividades de consciência fonológica e atividades de ensino das relações letra-som para a
compreensão do princípio alfabético. Para tanto, a investigação da pesquisa experimental contou com um
Grupo Controle (GC) e um Grupo de Pesquisa (GP), com aplicação de pré-teste, programa de intervenção
e pós-teste. Os resultados revelaram que a participação dos alunos do grupo de pesquisa no programa
de consciência fonológica e ensino das relações letra-som propiciou um avanço na compreensão do
princípio alfabético, evidenciando, assim, a importância do investimento nas habilidades metalinguísticas
e no ensino sistemático das correspondências grafema-fonema no processo de alfabetização.
O estudo de Rodrigues (2017) teve como objetivo verificar o desenvolvimento de habilidades de
consciência fonológica e aquisição de leitura e de escrita em crianças com dificuldades de aprendizagem
por meio do emprego de programas informatizados de consciência fonológica e de ensino de leitura e
de escrita. Para tanto, sete alunos com dificuldades de aprendizagem, matriculados no 2º ano do Ensino
Fundamental, foram submetidos a testes antes e após a intervenção de um programa informatizado de
ensino de leitura e de escrita e de consciência fonológica. Os resultados demonstram que a intervenção
favoreceu e facilitou o progresso das habilidades de consciência fonológica e da aprendizagem de leitura
e escrita dos participantes. A autora enfatiza a necessidade de aprimorar e ampliar procedimentos de
ensino para o desenvolvimento de habilidades de consciência fonológica.
A dissertação de César (2018) investigou 15 sujeitos do 3º ao 5º ano do Ensino Fundamental
com idades entre 8 e 10 anos e com diagnóstico interdisciplinar de dislexia. A investigação foi de
natureza experimental, na qual todos os participantes foram submetidos a pré- e pós-testagem. No
entanto, o programa de intervenção foi aplicado apenas aos escolares pertencentes ao GI. O objetivo
do estudo foi elaborar um programa de intervenção multissensorial para sujeitos com dislexia e analisar
a significância clínica do desempenho dos sujeitos. O programa de intervenção foi elaborado a partir
das habilidades de reconhecimento do alfabeto, correspondência grafema-fonema, conhecimento do
ponto articulatório do fonema, realização do traçado de letra e habilidades de consciência fonológica. Os
resultados evidenciaram que os sujeitos do GI submetidos à intervenção obtiveram melhor desempenho
na pós-testagem em comparação com a pré-testagem. A autora concluiu que o programa elaborado
foi eficaz e obteve aplicabilidade, podendo ser utilizado como uma ferramenta de intervenção, baseada
em evidência científica, que auxilia na melhora do desempenho em decodificação e codificação da
leitura e escrita de escolares com dislexia.
O objetivo da pesquisa de Souza (2018) foi verificar o impacto de uma intervenção explícita e
sistemática, composta por atividades de linguagem escrita e guiada por instrução fônica, em um grupo
de crianças do 3º ano do Ensino Fundamental com atrasos na alfabetização. Participaram do estudo sete
crianças que foram submetidas a provas de linguagem escrita e consciência fonológica antes e após a
aplicação do programa de intervenção. Os resultados evidenciaram que a intervenção proporcionou
significativo desenvolvimento das habilidades de leitura, escrita e consciência fonológica das crianças
participantes da pesquisa.
textos. Os achados permitem concluir que a intervenção implementada junto aos disléxicos do grupo
experimental foi eficiente em termos de promover a leitura de palavras isoladas e compreensão de
sentenças e pequenos textos.
Por fim, a tese de Freire (2018) verificou a aplicabilidade de um programa de estimulação da
consciência fonológica, abrangendo habilidades fonêmicas, para escolares do 1º ano do Ensino
Fundamental. Para tanto, participaram do estudo 69 escolares divididos em Grupo Experimental (GE=48)
e Grupo Controle (GC=21). O programa de intervenção foi aplicado ao GE, com atividades de estimulação
das habilidades silábicas e fonêmicas de síntese, segmentação e identificação, além da associação
grafema-fonema. Todos os participantes dos dois grupos foram avaliados antes e após a intervenção
por meio de testes padronizados que averiguaram as habilidades de consciência fonológica, nível de
leitura e hipótese de escrita. Os resultados encontrados demonstraram que o programa promoveu
avanços estatisticamente significativos nas habilidades de consciência fonológica do GE, possibilitando
a evolução da aquisição da leitura e escrita. Sete escolares não obtiveram melhora no desempenho das
habilidades de leitura e escrita após as intervenções. Desses, cinco foram encaminhados para instituições
especializadas que confirmaram os diagnósticos de transtornos de aprendizagem.
Freire (2018) infere, dessa forma, que por intermédio da metodologia empregada no estudo
foi possível identificar crianças com sinais de riscos para os transtornos de aprendizagem e direcioná-
-las precocemente para os tratamentos adequados. O autor conclui que, perante os efeitos positivos
observados no processo de alfabetização dos participantes, o programa de consciência fonológica é
aplicável ao contexto escolar e sua implementação é uma necessidade do sistema educacional.
Discussão
Para Spinillo e Lautert (2008), pesquisas de intervenção com crianças podem acontecer de maneira
experimental controlada ou em sala de aula. As intervenções que ocorrem de forma experimental em
situações controladas são feitas por meio de interações individuais ou em grupos pequenos anteriormente
definidos. Com relação às pesquisas que ocorrem no contexto de sala de aula, participam os alunos
que compõem salas inteiras que estão em funcionamento independente da pesquisa. As interações
estabelecidas são múltiplas e variadas por se tratar de um ambiente institucional, envolvendo relações
determinadas pelos papéis sociais entre professores e alunos. Há maior complexidade na aplicação de
controle metodológico em contexto institucional, graças à dificuldade em formar grupos equivalentes.
Nas pesquisas apresentadas, as intervenções ocorreram tanto em situações controladas quanto
em salas de aula, a depender do desenho traçado para melhor responder aos objetivos propostos. Foi
possível identificar que, independentemente do contexto escolhido, os resultados foram positivos na
aplicabilidade dos treinamentos, tanto nos realizados individualmente, em pequenos grupos, quanto
naqueles realizados em sala de aula.
Em pesquisas de intervenção, existe o princípio metodológico da adoção de dois grupos. A
amostragem geralmente é dividida entre grupo experimental e controle. O grupo experimental é
composto pelos participantes submetidos à intervenção proposta pelo tema a ser estudado, enquanto
o grupo controle não participa de qualquer tratamento por parte do pesquisador, existindo apenas
como forma de comparação com o grupo experimental (Spinillo; Lautert, 2008).
Maluf, Pagnez e Zanella (2006) relataram em seu estudo que a grande maioria dos trabalhos
encontrados investigaram a aprendizagem de escrita e as habilidades de consciência fonológica, com
um aumento significativo no número de pesquisas de intervenção.
Como visto, as dificuldades no uso das habilidades de consciência fonológica precoces podem
comprometer o sucesso do processo de alfabetização. Dessa maneira, a avaliação das habilidades de
consciência fonológica pode ser um instrumento preventivo e de impacto no processo de verificação
para crianças com maiores riscos de apresentar dificuldades na aprendizagem da leitura e escrita
(Morais, 1996).
A avaliação das habilidades de consciência fonológica nas crianças em processo de alfabetização,
faixa etária compreendida em grande parte das pesquisas aqui analisadas, configura-se como uma
importante ferramenta no auxílio do planejamento de atividades escolares, no desenvolvimento de
programas pedagógicos nessa área e na identificação precoce de crianças com risco de dislexia.
Os princípios básicos para aprendizagem de leitura estão focados no processo de correspondência
entre grafema-fonema, no reconhecimento de palavras escritas e na consciência fonêmica. Os estudos
analisados demonstraram que tanto no âmbito educativo quanto no clínico, os programas com atividades
focadas no processamento fonológico são eficazes no desempenho de habilidades de consciência
fonológica e no desenvolvimento das habilidades de leitura.
Para o desenvolvimento de uma intervenção, o entendimento das causas do transtorno parece
ser um bom ponto de partida. Reconhecer o conjunto de indicadores preditivos, importantes para a
aprendizagem da linguagem escrita, fornece aos professores um direcionamento a respeito de quais
conteúdos utilizar em um programa de ensino. Em razão de que as dificuldades no desenvolvimento
da consciência fonêmica podem ocasionar problemas na aprendizagem da leitura, programas de
ensino que foquem na estimulação das habilidades de consciência fonológica e das correspondências
grafema-fonema demonstram ser importantes ferramentas para o processo de alfabetização, visto que
o bom desempenho das habilidades de consciência fonológica agregam valor significativo na formação
de bons leitores.
Nesse sentido, ressalta-se a importância de programas de ensino que busquem a estimulação
das habilidades preditivas para a aprendizagem de leitura e que sirvam de instrumentos para
identificação precoce de risco para caracterizar crianças disléxicas. Assim, os resultados encontrados
nos estudos aqui apresentados corroboram os principais achados de pesquisas internacionais, como
apontado por Godoy, Fortunato e Paiano (2014), para as quais as habilidades de consciência fonológica
são vistas como um forte preditor para o sucesso da alfabetização e as atividades que estimulam
essas habilidades facilitam a aprendizagem da leitura. Além disso, as pesquisas internacionais também
investigam a colaboração específica das habilidades de consciência fonológica como causa da dislexia,
visto que compreender o princípio da dislexia pode auxiliar na escolha da metodologia mais eficiente
para cada caso, o que permite uma melhor condução das dificuldades tanto no ambiente educativo
quanto no clínico.
Conclusão
Colaboradores
G.F. SILVA contribuiu na concepção, projeto, pesquisa, análise e interpretação dos dados na redação do
artigo. D.M.A. GODOY contribuiu na revisão crítica relevante do conteúdo intelectual, supervisão, correção e na
aprovação final da versão a ser publicada.
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