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A Primavera Árabe foi motivada por uma frustração advinda de uma população que
sofria muitos problemas econômicos, especialmente, o desemprego no Oriente Médio. A
coesão social era agravada pelo modo de governar dos líderes que eram autocráticos e
corruptos, os quais não se atentavam aos problemas que afetavam o seu povo. Em contraste a
isso, a riqueza de líderes das nações do Oriente Médio, como Egito, Tunísia, Arábia Saudita,
por exemplo, só estava aumentando – fato que dificilmente conseguia ser ignorado por suas
populações (STILES, 2007).
Diante disso, houve uma onda de protestos, organizados, de modo especial, pelas
redes sociais, para romper com tais governos que estavam aquém dos anseios da população
que visavam à resolução da crise econômica que afetava, sobretudo, a empregabilidade dos
jovens árabes. Por fim, vários regimes foram derrubados, como no Egito, porém outros não,
como na Arábia Saudita. (STILES, 2007).
Com base nesse contexto, alguns questionamentos podem surgir, como, por exemplo,
o motivo pelo qual alguns países não terem alterado seus regimes por causa da Primavera
Árabe, ou seja, mais especificamente, por que as manifestações na Arábia Saudita não
acarretaram os mesmos efeitos das que ocorreram no Egito?
A compreensão da problemática proposta perpassa dois temas: o da tenacidade executiva,
algo extremamente presente e amplificado na Arábia Saudita, em comparação ao Egito, como
também o nível de cooptação dos protestos que ocorriam em solo saudita, motivados pela
situação econômica, política e social. Contudo, vale lembrar que esse cooptação não fora
incondicional, mas permeada por várias intimidações do governo para que a situação se
tornasse incontornável, como foi a do Egito.
FORÇAS SOCIAIS E ELEMENTOS ESTRUTURAIS;
‘ In general, the concept "social forces" is used as a special case
within the broader notion of social causation [...] To the social
worker and the social reformer, the social forces have been the
persons, institutions, and groups which they have felt it necessary
to take into account, either as ob- stacles to be circumvented or as
resources to be mobilized in con- nection with their particular and
concrete problems [...] To the historian, the expression "social
forces" is likely to mean the main lines of change which he thinks
he can distinguish in the history of a particular state, continent, or
region, through a given period in which he may be interested.’
(HOUSE, 1925, p.147,148)
Com uma maior abertura às questões democráticas e sociais, de alguma forma, alterar
o status quo do modo de governar do regime saudita seria uma realidade. Isto era o grande
receio da Arábia Saudita, devido ser algo que ocorreu no Egito, então, ampliar a repressão de
um governo que já é autoritário foi um caminho adotado também. , Conforme confirma o
jornal OpenDemocracy, isso pode ser exemplificado pela extrema repressão às manifestações
que ocorreram na província xiita oriental aos correligionários no país vizinho (Bahrein), a
qual teve como resultado a morte de quatro jovens. Além disso, outra manifestação contra a
atuação do governo foi marcada para um dia que foi conhecido como o “Dia da Raiva”, não
só foi reprimida, mas também incentivou o governo a publicar uma nova lei antiterrorismo, a
qual tinha o poder de criminalizar qualquer crítica aberta direcionada à Monarquia da Arábia
Saudita.
Logo, a materialidade da repressão se orientou pela expansão da militarização das
cidades para reforçar a segurança e impor um ambiente de intimidação contra esses
movimentos que queriam uma mudança no status quo da Arábia Saudita. Além disso,
funcionários do governo, caso participassem dessas atividades, poderiam ser demitidos, pois
o regime já os proíbe de estarem envolvidos com atividades políticas, por exemplo: assinar
uma petição.
Assim, a tenacidade executiva da Arábia Saudita trouxe maior repressão
governamental e ela poderia ser ampliada, caso a Monarquia julgasse necessário. Em um
primeiro momento, uma inclinação substancial a uma frequente opressão acarretaria não só a
contração das pautas democráticas e dos anseios populares de forma incontornável, como
também de temas como a participação da mulher na arena pública estariam longe até do
simbólico. Afinal, quaisquer manifestações seriam, como foram, consideradas como uma
conspiração xiita.
Por conseguinte, com a menor atenção às pautas populares e xiitas e às questões de
igualdade de gênero papel da mulher, o resultado é um olhar mais atento da Organização das
Nações Unidas às questões humanitárias no país, visto que o modo como a monarquia sunita
lida com essas questões populares é mediante a promoção do medo e da intimidação.
Em suma, como o regime conseguiu manter-se por meio da cooptação e repressão,
caso a última fosse ampliada, as prováveis consequências seriam o descontentamento
internacional, apesar do apoio norte-americano ao Estado Saudita; a maior probabilidade de
aumentar a opressão contra a sua população e seus anseios.
Dessa forma, a dinâmica ocorrida no processo da Primavera Árabe e os cenários de
maior e menor repressão, evidenciam que os esforços do governo são direcionados em prol
da manutenção do status quo. Por fim, o investimento da Arábia Saudita na “tenacidade
executiva” foi crucial para não ter o mesmo caminho que o regime no Egito.
CONCLUSÃO;
A partir do exposto, pode-se concluir que o uso de força militar pelos Estados foi a
chave para que ocorressem diferentes efeitos, mesmo que o contexto em que os atores
estavam inseridos fossem parecidos, que foi o caso do Egito e da Árabia Saudita. Caso
utilizem o aparato militar, o governo tem mais chances de manter o seu status-quo (através da
repressão). Por outro lado, há o risco de opressão pela parte sunita do governo. Por fim, há o
enfraquecimento dos direitos humanos universais e o silenciamento de minorias civis.
REFERÊNCIAS
AL-RASHEED, Madawi. 2011. The Saudi response to the ‘Arab spring’: containment and
co-option. Open Democracy, 10 jan. 2011. Disponível em:
[https://www.opendemocracy.net/5050/madawi-al-rasheed/saudi-response-
to-%E2%80%98arab-spring%E2%80%99-containment-and-co-option/]. Acesso em: 16 de
janeiro de 2021.