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mais de vinte anos Jeff Sutherland enfrentou um problema espinhoso: a


incapacidade de diversas pessoas para fazer as coisas com rapidez e
eficiência. Muitas vezes, equipes trabalham de forma contraditória entre si.
E quando a pressão sobe, emerge infelicidade.
A partir de sua experiência como piloto da Academia Militar norte-
americana, especialista em biometria, inovador no início da tecnologia dos
caixas eletrônicos, vice-presidente de engenharia e diretor executivo de
tecnologia em onze empresas diferentes de tecnologia, Jeff come-çou a
desafiar essas realidades disfuncionais, à procura de soluções que tivessem
impacto global. Dentre as realizações de Jeff com o método Scrum estão:
trazer o FBI para a realidade do século 21, ajudar a National Public Radio
(NPR) a cobrir com mais agilidade eventos emergenciais no Oriente
Médio, mudar a forma como os farmacêuticos interagem com os pacientes
e até mesmo auxiliar as pessoas a planejar seus casamentos.
O inovador método Scrum vem simplificando a vida e o trabalho de muitas
pessoas pelo mundo, pois pensa em um dos maiores bens da modenidade:
o tempo. Conforme demonstra Jeff, aumentar a produtividade otimizando
nosso tempo tem sido a meihor maneira de mudar nossas vidas.
Copyright © 2014 by Jeff Sutherland
Tradução para a língua portuguesa © 2016 LeYa Editora Ltda, Nina Lua
Título original: Scrum: The art of doing twice the work in half the time

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19.2.1998.


É proibida a reprodução total ou parcial sem a expressa anuência da editora.

Este livro foi revisado segundo o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Produção editorial: Oliveira Editorial | Anna Beatriz Seilhe


Revisão de tradução: Gustavo Penha
Diagramação: Filigrana
Revisão: Frederico Hartje
Capa: Ideias com Peso

CIP-BRASIL. Catalogação na Publicação


Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

S967s

Sutherland, Jeff
Scrum : a arte de fazer o dobro do trabalho na metade do tempo / Jeff Sutherland ; tradução
Nina Lua. - 2. ed. - São Paulo : Leya, 2016.
240 p.

Tradução de: Scrum: the art of doing twice the work in half the time
ISBN 978.85.441.0451-4
1. Administração de empresas. 2. Planejamento empresarial. I. Lua, Nina. II. Título.

16-34625 CDD: 658.4012


CDU: 005.51

Índices para catálogo sistemático:

1. Administração - negócios

Todos os direitos reservados a LEYA EDITORA LTDA.


Av. Angélica, 2318 – 12º andar
01228-200 – Consolação – São Paulo – SP
www.leya.com.br
Sumário

Prefácio

CAPÍTULO 1. A maneira como o mundo funciona está errada

CAPÍTULO 2. A origem do Scrum

CAPÍTULO 3. Equipes

CAPÍTULO 4. Tempo

CAPÍTULO 5. O desperdício é um crime

CAPÍTULO 6. Planeje a realidade, não a fantasia

CAPÍTULO 7. Felicidade

CAPÍTULO 8. Prioridades

CAPÍTULO 9. Mude o mundo

Implementando o Scrum – como começar

Agradecimentos
Notas
Índice remissivo
Prefácio

Por que Scrum?


Criei o Scrum, junto com Ken Schwaber, há vinte anos, como um jeito
mais rápido, confiável e eficiente de desenvolver softwares na indústria de
tecnologia. Até aquele momento – e até 2005 –, a maior parte do
desenvolvimento de softwares era executada com base no método em
cascata, de acordo com o qual um projeto era concluído em etapas distintas
e levado passo a passo até o lançamento para os consumidores ou usuários.
O processo era lento, imprevisível, e muitas vezes não resultava em um
produto que as pessoas quisessem ou pelo qual se dispusessem a pagar.
Atrasos de meses, ou até mesmo anos, eram endêmicos. Os antigos planos
passo a passo, confortavelmente detalhados em diagramas de Gantt, davam
à gerência uma sensação de que se tinha total controle sobre o
desenvolvimento de um projeto. No entanto, na maioria esmagadora dos
casos, em pouco tempo os atrasos em relação ao cronograma começavam e
o orçamento era ultrapassado em uma escala desastrosa.
Para superar essas falhas, inventei, em 1993, um novo jeito de fazer as
coisas: o Scrum. Trata-se de uma mudança radical em relação às
metodologias prescritivas e hierarquizadas empregadas na gerência de
projetos no passado. Ao contrário delas, o Scrum se assemelha a sistemas
evolucionários, adaptativos e autocorretivos. Desde seu nascimento, a
estrutura do Scrum se tornou a maneira como o setor de tecnologia cria
novos softwares e produtos. Porém, apesar de ter obtido muito sucesso no
gerenciamento de projetos de software e hardware no Vale do Silício, o
Scrum permanece relativamente desconhecido no mundo dos negócios em
geral. É por isso que escrevi este livro: para revelar e explicar o sistema de
gerenciamento Scrum para setores fora do mundo da tecnologia. Aqui,
falarei sobre as origens do Scrum, no Sistema Toyota de Produção e no
ciclo OODA da aviação de combate. Abordarei a forma como
organizamos projetos em torno de equipes pequenas – e por que esse é um
modo tão eficiente de trabalhar. Explicarei como priorizamos projetos;
como definimos os “sprints” de uma semana a um mês, para ganhar
impulso e para que todos na equipe sejam responsáveis pelos resultados; e
como conduzimos reuniões diárias rápidas, com todos de pé, para nos
mantermos informados sobre o que já foi feito e os desafios que surgiram
de forma inevitável. Além disso, explicarei como o Scrum incorpora os
conceitos de aprimoramento contínuo e produto viável mínimo (MVP, na
sigla em inglês) para receber retorno imediato dos consumidores, em vez
de esperar até que o projeto esteja completo. Como você verá nas páginas
a seguir, já usamos o Scrum para tudo, desde construir carros com custos
viáveis que fazem mais de 42 quilômetros por litro de combustível até
fazer com que os sistemas de bancos de dados do FBI chegassem ao século
XXI.
Continue lendo. Acho que você verá como o Scrum pode transformar a
maneira como sua empresa trabalha, cria, planeja e pensa. Acredito de
verdade que o Scrum pode revolucionar o funcionamento dos negócios em
praticamente qualquer setor, assim como ele revolucionou a inovação e a
entrada no mercado de uma gama impressionante de novas empresas e
uma variedade incrível de novos produtos vindos do Vale do Silício e do
mundo da tecnologia.

– Dr. Jeff Sutherland


CAPÍTULO 1

A maneira como o mundo


funciona está errada

Jeff Johnson tinha certeza de que aquele dia não seria nada bom. Em 3
de março de 2010, o mais ambicioso projeto de modernização do Federal
Bureau of Investigation (FBI) foi cancelado – um projeto que deveria
evitar outro 11 de Setembro, mas que se transformara em um dos maiores
fiascos de todos os tempos na indústria de software. Durante mais de uma
década, a agência tentava atualizar seu sistema de computação, mas agora
parecia que o plano não seria concretizado. De novo. E dessa vez o projeto
era de Jeff.
Ele chegara ao FBI sete meses antes, persuadido por Chad Fulgham,
novo diretor-executivo de Informação da agência, com quem havia
trabalhado no Lehman Brothers. Jeff seria o diretor-assistente da Divisão
de Tecnologia da Informação (TI). Ganhou um escritório no último andar
do edifício J. Edgar Hoover, no centro de Washington D.C. Era uma sala
grande. Tinha até vista para o Monumento de Washington. Mal sabia ele
que, nos dois anos seguintes, acabaria em uma sala sem janelas e do
tamanho de uma lata de sardinha no porão do prédio, tentando consertar
algo que todos diziam não ter conserto.
“Não foi uma decisão fácil”, conta Jeff. Junto com o chefe, tinha
decidido se dar por vencido e cancelar um projeto que já se arrastava havia
quase dez anos e custara centenas de milhões de dólares. Àquela altura,
fazia mais sentido a agência assumi-lo. “Mas precisávamos concretizá-lo,
e bem.”
O projeto, aguardado havia anos, era um novo sistema de computação
que levaria o FBI para os tempos modernos. Em 2010 – a era do Facebook,
do Twitter, da Amazon e do Google –, a maioria dos relatórios da agência
era preenchida em papel. O sistema usado pelo FBI se chamava
Automated Case Support [Auxílio de Caso Automatizado]. Rodava em
computadores gigantescos que foram o suprassumo da tecnologia em
algum momento dos anos 1980. Muitos agentes especiais nem se davam ao
trabalho de usá-lo. Era lento e inconveniente demais para uma época de
ataques terroristas e criminosos sagazes.
Quando um agente do FBI queria fazer algo – na verdade, qualquer
coisa, desde pagar a um informante para ficar de olho em um terrorista até
preparar um relatório sobre um ladrão de bancos –, o procedimento era
bem parecido com o empregado havia trinta anos. Johnson o descreve da
seguinte forma: “Era necessário escrever um relatório em um processador
de texto e imprimir três vias. Uma delas era enviada para aprovação. Outra
era arquivada no local, para o caso de se perder a primeira. Quanto à
terceira, você pegava uma caneta vermelha – não, não é brincadeira, uma
caneta vermelha mesmo – e circulava as palavras-chave, que deviam ser
inseridas no banco de dados. Você precisava indexar seu próprio
relatório.”
Quando um pedido era aprovado, a via em papel voltava dos andares
superiores com um número. Um número anotado em um pedaço de papel
era o método utilizado pelo FBI para manter o controle de todos os
arquivos de casos. Tratava-se de um método tão ultrapassado e falho que
foi apontado como um dos culpados pelo fato de a agência não ter
conseguido “ligar os pontos” que mostravam vários ativistas da Al Qaeda
entrando no país semanas e meses antes do atentado de 11 de Setembro.
Um dos escritórios desconfiava de um indivíduo. Outro não sabia por que
tantos estrangeiros suspeitos estavam tendo aulas de voo. Outra unidade
tinha um homem na lista de vigilância, mas não compartilhou a
informação. Ninguém no FBI foi capaz de unir todos os dados.
Após os ataques, a Comissão do 11 de Setembro conduziu uma
investigação profunda para tentar descobrir o principal motivo pelo qual a
agência permitira que o atentado ocorresse. A conclusão foi que os
analistas não tinham acesso às informações que deveriam analisar. “A
ineficiência dos sistemas de informação do FBI fazia com que tal acesso
dependesse em grande parte das relações interpessoais do analista com
indivíduos nas unidades operacionais ou com equipes que detinham tais
dados”, dizia o relatório.
Antes dos ataques, o FBI nunca tinha realizado uma avaliação
completa da ameaça terrorista aos Estados Unidos. Uma série de motivos
colaborou para isso, como o foco em conseguir melhorias para a carreira e
a falta de compartilhamento de informações. Entretanto, a carência de
sofisticação tecnológica foi apontada como talvez a principal razão para o
FBI ter falhado de forma tão grave nos dias que antecederam o 11 de
Setembro. “Os sistemas de informação do FBI eram completamente
inadequados”, concluiu o relatório da Comissão. “O FBI não tinha a
capacidade de saber o que sabia; não havia nenhum mecanismo adequado
para acessar ou compartilhar o conhecimento institucional.”
Quando os senadores levantaram questões constrangedoras, a agência
se limitou a dizer: “Não se preocupem, um plano de modernização já está
em andamento.” Esse plano era o sistema Virtual Case File (VCF), que
supostamente mudaria tudo. Sem deixar a crise passar em branco, os
oficiais afirmaram que só precisavam de mais 70 milhões de dólares, além
dos 100 milhões já orçados, para concluir o trabalho. Quando lemos os
relatórios sobre o VCF elaborados naquela época, duas palavras saltam aos
olhos: revolucionário e transformação aparecem aos montes.
Três anos depois, o programa foi cancelado. Não funcionava. Nem um
pouco. O FBI gastara 170 milhões de dólares dos contribuintes para bancar
um sistema de computador que nunca seria usado – nem uma linha de
código, nem uma aplicação, nem um clique. Era o mais absoluto desastre.
E tal fracasso não tinha a mesma dimensão de um erro da IBM ou da
Microsoft. A vida das pessoas corria perigo, literalmente. Na época, o
senador democrata Patrick Leahy, de Vermont, então presidente do Comitê
Judiciário do Senado, declarou ao Washington Post:

Tínhamos informações que poderiam ter impedido o 11 de Setembro.


Estavam bem ali, diante de nós, e ninguém fez nada. [...] E, até onde
vi, os problemas não foram corrigidos. [...] Talvez cheguemos ao
século XXII antes de termos a tecnologia do século XXI.1

O fato de muitos dos funcionários da época do desastre do Virtual Case


File não estarem mais no FBI é bem ilustrativo.
Em 2005, a agência anunciou um novo programa, o Sentinel. Dessa
vez daria certo. Tomariam todos os cuidados necessários, realizariam os
procedimentos orçamentários corretos e usariam as ferramentas de
controle adequadas. Haviam aprendido a lição. O preço? Meros 451
milhões de dólares. Em 2009, o sistema estaria em pleno funcionamento.
O que poderia dar errado? Em março de 2010, a resposta caiu na mesa
de Jeff Johnson. A Lockheed Martin, empresa contratada para desenvolver
o Sentinel, já gastara 405 milhões de dólares do orçamento, desenvolvera
apenas metade do projeto e já contava um ano de atraso. Um estudo
independente estimou que seriam necessários de seis a oito anos adicionais
para concluir o Sentinel, além de mais 350 milhões de dólares do dinheiro
dos contribuintes.
A tarefa de Johnson era encontrar uma solução para o problema.
O que deu errado e como a situação foi resolvida é o motivo pelo qual
estou escrevendo este livro. O problema não era a falta de pessoas
inteligentes. Também não era o caso de o FBI não ter as pessoas certas nos
lugares certos, tampouco uma questão de tecnologia errada. Não tinha
nada a ver com a ética de trabalho ou com o nível adequado de
competitividade.
A questão era a maneira como as pessoas trabalhavam. A maneira
como a maioria das pessoas trabalha. O modo como todos achamos que o
trabalho precisa ser feito, porque foi assim que aprendemos.
Quando você examina o que aconteceu, a princípio tudo parece fazer
sentido: os funcionários da Lockheed se reuniram antes de entrar na
concorrência para o contrato, analisaram as exigências e planejaram como
desenvolver um sistema que atendesse a todas as necessidades do cliente.
A empresa designou muitos funcionários inteligentes para trabalhar meses
a fio estudando o que precisava ser feito. Em seguida, a equipe passou
alguns meses planejando como tudo aquilo seria realizado. Fez lindos
diagramas que mostravam todas as metas a serem alcançadas e o tempo
que seria gasto em cada uma das etapas. Então, com uma escolha de cores
cuidadosa, expôs como cada fase sucederia a anterior, na forma de uma
cascata.

MÉTODO DA CASCATA

Esses gráficos se chamam diagramas de Gantt, em homenagem a seu


criador, Henry Gantt. Na década de 1980, com o advento dos
computadores pessoais, tornou-se bem mais fácil criar esses gráficos
complicados – e fazer com que ficassem de fato complexos –, e eles se
tornaram verdadeiras obras de arte. Todas as etapas do projeto são
detalhadas. Todos os eventos importantes. Todas as datas de entrega. Esses
diagramas são realmente impressionantes de se ver. O único problema é
que estão sempre, sempre errados.
Henry Gantt inventou esses famosos fluxogramas por volta de 1910.
Eles começaram a ser usados na Primeira Guerra Mundial pelo general
William Crozier, chefe de Material Bélico do Exército dos Estados
Unidos. Qualquer um que já tenha estudado essa guerra sabe que a
organização não foi lá um ponto notável. Nunca ficou muito claro para
mim por que uma ferramenta da Primeira Guerra Mundial passou a ser
aplicada ao gerenciamento de projetos no século XXI. Já não existe mais a
guerra de trincheiras, mas, de algum modo, as ideias que a organizaram
ainda são populares.
É muito tentador: todo o trabalho a ser feito em um projeto imenso
esmiuçado diante dos olhos de todos. Já visitei diversas empresas que
empregam funcionários cujo único trabalho é atualizar os diagramas de
Gantt todo dia. O problema é que aquele lindo plano cai por terra no
instante em que dá de cara com a realidade. Só que, em vez de descartá-lo
ou de mudar seu modo de pensar, os gerentes contratam gente que faça
parecer que o plano está funcionando. No fundo, pagam alguém para
mentir para eles.
Esse padrão desastroso lembra os relatórios que o Partido Comunista
da União Soviética recebia na década de 1980, pouco antes do colapso do
bloco. Uma miragem. Assim como naquela época, os relatórios de hoje se
tornaram mais importantes do que a realidade que deveriam mostrar. Caso
surjam discrepâncias, o problema está na prática, nunca nos gráficos.
Quando eu era cadete na Academia Militar, dormia no antigo quarto de
Dwight Eisenhower. À noite, a luz da rua refletia em uma placa dourada
em cima da lareira, e às vezes isso me acordava. A placa dizia: Dwight D.
Eisenhower dormiu aqui. E então eu lembrava que, certa vez, Eisenhower
disse que se planejar para o combate é importante, mas o plano vira
fumaça assim que o primeiro tiro é disparado. Pelo menos ele tinha o bom
senso de não usar o diagrama de Gantt.
Então a Lockheed apresentou todos aqueles lindos gráficos ao FBI, que
assinou o contrato. Na teoria, a tarefa tinha sido tão bem planejada que
nada poderia dar errado. “Olhe só, o plano tem diversas cores,
cronogramas e gráficos de barras.”
Mesmo assim, quando Jeff e o seu chefe, o diretor-executivo Chad
Fulgham, examinaram o plano na primavera de 2010, sabiam exatamente o
que era aquele gráfico: uma farsa completa, assim como todos os outros.
Quando começaram a analisar o avanço real e o que de fato tinha sido
entregue, os dois perceberam que o problema não tinha solução. Novos
defeitos no software eram descobertos muito mais rápido do que o ritmo
em que se corrigiam velhos defeitos.
Chad informou à Inspetoria Geral do Departamento de Justiça que
seria possível concluir o Sentinel se o desenvolvimento fosse feito pela
própria agência e se o número de desenvolvedores fosse reduzido. Com
isso, eles conseguiriam entregar a parte mais difícil do projeto em menos
de um quinto do tempo e por menos de um décimo da quantia orçada. O
ceticismo é evidente nos severos relatórios da Inspetoria Geral (IG) para o
Congresso. No documento de outubro de 2010, depois de expor nove
pontos da proposta que geravam preocupação, o IG concluiu: “Em suma,
temos preocupações e dúvidas significativas quanto à capacidade que essa
nova abordagem teria de finalizar o projeto Sentinel dentro do orçamento e
do prazo e com funcionamento semelhante [...].”2
Uma nova forma de pensar
O nome dessa nova abordagem é “Scrum”. Eu a criei há vinte anos.
Hoje, ela é a única maneira comprovada para auxiliar projetos desse tipo.
Há duas formas de fazer as coisas: o antigo método da “cascata”, que gasta
centenas de milhões de dólares e, com frequência, não consegue nenhum
resultado; ou a nova forma, que, com menos gente e menos tempo,
consegue mais resultados, com qualidade melhor e custos menores. Sei
que parece bom demais para ser verdade, mas os resultados provam:
funciona mesmo.
Há vinte anos, eu estava desesperado. Precisava encarar o trabalho de
um jeito novo. Com muita pesquisa, experimentação e análise de dados,
percebi que todos precisávamos de uma nova forma de organizar os
projetos. Não estou falando nada de outro mundo. Já se tocou nesse
assunto antes. Estudos da época da Segunda Guerra Mundial mostram
algumas das melhores formas como as pessoas trabalham. Contudo, por
algum motivo, ninguém tinha ligado os pontos. Nos últimos vinte anos,
tentei fazer exatamente isso. E agora essa metodologia se tornou
onipresente na área em que a pus em prática pela primeira vez: na área de
desenvolvimento de software. Em gigantes como Google, Amazon e
Salesforce.com, assim como em pequenas startups sobre as quais você
ainda nem ouviu falar, essa estrutura mudou radicalmente o modo de
trabalho.
O motivo pelo qual essa estrutura funciona é simples. Observei a forma
como as pessoas trabalham na realidade, em vez de me basear em como
elas afirmam trabalhar. Analisei pesquisas realizadas ao longo de décadas
e práticas que deram certo em empresas do mundo inteiro. Também
examinei as melhores equipes dessas empresas. O que as tornava
superiores? O que as tornava diferentes? Por que alguns grupos atingiam
resultados excepcionais e outros só chegavam a desfechos medíocres?
Por motivos que explicarei melhor nos próximos capítulos, chamei de
“Scrum” essa estrutura de trabalho em equipe. O termo vem do rúgbi, e se
refere à maneira como um time se une para avançar com a bola pelo
campo. Tudo se alinha: posicionamento cuidadoso, unidade de propósito e
clareza de objetivo. Trata-se de uma metáfora perfeita para o que quero
que as equipes façam.
Tradicionalmente, a gerência quer dois elementos em qualquer projeto:
controle e previsibilidade. O resultado disso é uma quantidade imensa de
documentos, gráficos e diagramas – justamente o que ocorreu na
Lockheed. Gastam-se meses no planejamento de todos os detalhes, para
que nenhum erro ocorra, o orçamento não estoure e tudo seja entregue no
prazo.
O problema é que esse cenário cor-de-rosa nunca se torna realidade.
Todo o esforço investido no planejamento, na restrição de mudanças e na
previsão do imponderável não serve para absolutamente nada. Em todo
projeto surgem problemas e há rompantes de inspiração. Qualquer
tentativa de restringir um empreendimento humano de qualquer magnitude
a diagramas coloridos é uma bobagem fadada ao fracasso. Não é assim que
os indivíduos trabalham e que os projetos avançam. Não é assim que as
ideias florescem ou se desenvolvem criações excepcionais.
Pelo contrário, isso gera frustração, porque ninguém consegue o que
quer. Os prazos não são cumpridos, os orçamentos estouram e muitas
vezes os projetos acabam no mais completo fracasso. Isso ocorre em
especial nos casos em que equipes trabalham na criação de algo novo. Na
maioria das vezes, a gerência só se dá conta de que tudo caminha para o
fracasso quando milhões de dólares e milhares de horas já foram
investidos em vão.
O Scrum pergunta por que tanto tempo e esforço são gastos na
realização de uma tarefa, e por que somos tão ruins em prever o tempo e o
esforço que as atividades vão exigir. A catedral de Chartres levou 57 anos
para ser construída. Posso apostar que, no início do projeto, os pedreiros
viraram para o bispo e disseram: “Vinte anos no máximo. Acho até que a
gente faz em quinze.”
O Scrum acolhe a incerteza e a criatividade. Cria um alicerce para o
aprendizado, permitindo que as equipes avaliem o que já criaram e de que
forma o criaram, o que é igualmente importante. A estrutura do Scrum
procura aproveitar a maneira como as equipes de fato trabalham,
fornecendo ferramentas para se auto-organizarem e otimizarem em pouco
tempo a rapidez e a qualidade do trabalho.
Na essência, o Scrum se baseia em uma ideia simples: quando
começamos um projeto, por que não verificar a intervalos regulares se ele
está indo no caminho certo e se aquilo é realmente o que as pessoas
querem? E por que não se perguntar se é possível aprimorar a forma como
você está trabalhando para obter resultados melhores e mais rápidos, e o
que poderia estar impedindo você de fazer isso?
O nome disso é ciclo de “inspeção e adaptação”. De tempos em
tempos, pare o que está fazendo, revise o que já fez e verifique se ainda
deveria continuar fazendo o mesmo e como poderia fazê-lo melhor. É uma
ideia simples, mas executá-la exige reflexão, introspecção, honestidade e
disciplina. É para mostrar como fazer isso que estou escrevendo este livro.
E não estou pensando apenas em empresas de desenvolvimento de
software. Já vi o Scrum ser aplicado com sucesso na fabricação de carros,
no gerenciamento de uma lavanderia, no ensino em sala de aula, na
construção de foguetes, na organização de um casamento. Até mesmo
minha esposa o utiliza para se certificar de que a minha lista de afazeres
domésticos seja cumprida todo fim de semana.
Os resultados do Scrum – o objetivo do projeto, se preferir – são
equipes que melhoram consideravelmente a sua produtividade. Ao longo
dos últimos vinte anos, montei equipes assim várias vezes. Já fui CEO,
diretor de Tecnologia da Informação ou chefe do departamento técnico de
várias empresas, desde pequenas startups com poucos funcionários
aglomerados em uma sala até grandes empresas com escritórios
espalhados mundo afora. Já prestei serviços de consultoria e coaching para
centenas de outras.
Os resultados podem ser tão impressionantes que firmas líderes de
mercado em pesquisa e análise, como a Gartner, a Forrester Research e o
Standish Group, hoje afirmam que o antigo modo de trabalho se tornou
obsoleto. As firmas que continuam insistindo nas ideias já testadas e
malsucedidas de comando e controle e que tentam impor um nível de
previsibilidade muito alto estão fadadas ao fracasso caso seus concorrentes
usem o Scrum. A diferença é grande demais. Empresas de capital de risco,
como a OpenView Venture Partners, de Boston, da qual sou conselheiro,
afirmam que o Scrum oferece uma vantagem competitiva grande demais
para não ser aplicada. Os profissionais dessas companhias não são
condescendentes; são homens de negócios de visão aguçada que
simplesmente afirmam: “Os resultados são inquestionáveis. As empresas
têm duas opções: mudar ou morrer.”
Consertando o FBI
No FBI, o primeiro problema que a equipe do Sentinel enfrentou foram
os contratos. Cada mudança mínima acabava se transformando em uma
negociação contratual com a Lockheed Martin. Assim, Jeff Johnson e
Chad Fulgham gastaram meses esmiuçando todos os acordos firmados,
passando o desenvolvimento para equipes internas e cortando o número de
funcionários de centenas para menos de cinquenta. A equipe principal era
ainda menor.
Na primeira semana, eles fizeram o que várias pessoas fazem nesse
tipo de situação: imprimiram toda a documentação de requisitos. Se você
nunca viu o que isso significa em um projeto de grande porte, digamos que
o material pode chegar a centenas de páginas. Já vi pilhas que tinham
metros de altura. Presenciei isso em vários projetos – pessoas cortando e
colando textos pré-fabricados, sendo que ninguém de fato lê aquelas
milhares de páginas. É impossível ler tudo aquilo. Essa é a questão. Os
executivos construíram um sistema que os obriga a corroborar uma ilusão.
“Havia 1.100 requisitos. Formavam uma pilha de alguns centímetros”,
conta Johnson. Só de pensar nisso sinto pena das pessoas que
provavelmente dedicaram semanas de vida produzindo documentos que
não serviam para nada. O FBI e a Lockheed Martin não são os únicos – já
vi isso em quase todas as empresas nas quais trabalhei. Aquela grande
pilha inútil é um dos motivos pelos quais o Scrum pode ser uma mudança
tão significativa para as pessoas. Ninguém deveria passar a vida fazendo
um trabalho sem propósito algum. Isso não é ruim apenas para os negócios
– isso acaba com as pessoas.
Então, depois de reunir o monte de documentos, eles o analisaram e
deram uma ordem de prioridade aos requisitos, o que é de suma
importância e mais difícil do que parece. Com frequência, as pessoas
dizem que tudo é importante. Mas a pergunta que elas precisam fazer, e
que as equipes do Sentinel fizeram, é: o que agregará mais valor ao
projeto? Faça isso primeiro. No desenvolvimento de software, a regra,
criada a partir de décadas de pesquisa, é que 80% do valor de qualquer
programa está em 20% de suas funcionalidades. Pense nisto: quando foi a
última vez que você usou o Editor do Visual Basic no Microsoft Word?
Você provavelmente não sabe o que é Visual Basic, muito menos por que
precisaria usar tal ferramenta. Mas ela está lá, e alguém gastou tempo
implementando essa funcionalidade, mas garanto que ela não aumenta o
valor agregado do Word de maneira significativa.
Fazer as pessoas estabelecerem as prioridades de acordo com o valor
as obriga a produzir esses 20% primeiro. Em geral, depois que essa parte é
concluída, elas se dão conta de que não precisam dos outros 80%, ou que o
que parecia importante no início do projeto na verdade não é.
Para a equipe do Sentinel, a questão se tornou: “Tudo bem, nós vamos
desenvolver esse projeto enorme que é de vital importância e já
desperdiçamos centenas de milhões de dólares nele. Quando ele ficará
pronto?” Depois de pensar nisso, eles prometeram entregar o sistema no
outono de 2011. O relatório da Inspetoria Geral no outono de 2010 é um
exemplo de incredulidade:

O FBI afirmou que vai utilizar uma “metodologia ágil” para concluir
o desenvolvimento do Sentinel, usando menos funcionários do FBI,
da Lockheed Martin e das empresas que forneceram os principais
componentes-padrão do Sentinel. No total, o FBI planeja reduzir o
número de funcionários contratados trabalhando no Sentinel de cerca
de 220 para quarenta. Ao mesmo tempo, o número de funcionários do
FBI designados para o projeto também será reduzido de trinta para
doze. [...] O FBI nos informou que acredita que conseguirá concluir o
Sentinel com os aproximadamente 20 milhões de dólares restantes do
orçamento e no prazo de doze meses a partir da implementação dessa
nova abordagem.3

O uso da expressão “metodologia ágil” mostra quão pouco a Inspetoria


Geral sabia a respeito do Scrum. O termo “ágil” data de uma reunião de
2001, na qual eu e dezesseis outros líderes no desenvolvimento de
software criamos o que se tornou conhecido como “Manifesto Ágil”. Nele,
declaramos os seguintes valores: indivíduos em vez de processos; produtos
que de fato funcionem em vez de documentação dizendo como deveriam
funcionar; colaboração com o cliente em vez de negociação com ele; e
responder às mudanças em vez de seguir um plano. O Scrum é a estrutura
que construí para pôr esses valores em prática. Não existe uma
metodologia.
É claro que a promessa de Johnson de entregar tudo em doze meses era
um pouco ilusória. Porque, na realidade, eles não sabiam de quanto tempo
precisariam; não era possível saber. O FBI não sabia a rapidez com que
suas equipes conseguiriam trabalhar. É algo que eu sempre digo para os
executivos: “Eu só vou saber a data à medida que vir quanto as equipes
melhoram. Quão rápidas elas ficarão. Quanto conseguirão acelerar.”
Também é essencial que os integrantes da equipe descubram o que
poderia impedi-los de acelerar. Nas palavras de Jeff Johnson: “Lidei com
a remoção do obstáculo.” Um “obstáculo” é um conceito que vem da
empresa que concebeu várias das ideias nas quais o Scrum se baseia: a
Toyota. Para ser mais específico, o Sistema Toyota de Produção,
desenvolvido por Taiichi Ohno.
Não vou entrar em detalhes, mas um dos conceitos-chave que Ohno
apresentou foi a ideia de “fluxo”. Isto é, a produção deveria fluir de forma
calma e rápida por todo o processo, e ele dizia que uma das principais
tarefas da gerência era identificar e remover os obstáculos para que tal
fluxo ocorresse. Tudo o que atrapalha esse processo constitui um
desperdício. Ohno dá ao desperdício um significado moral, assim como
uma conotação para os negócios, em seu clássico livro O Sistema Toyota
de Produção: “Não é exagero dizer que, em um período de baixo
crescimento, tal desperdício seja mais um crime contra a sociedade do que
uma perda nos negócios. A eliminação do desperdício deve ser o principal
objetivo de uma empresa.”4
Ohno aborda diversos tipos de desperdício e obstáculos que podem
atrapalhar a produção. Para que o Scrum funcione de fato, alguém do alto
escalão de gerência precisa compreender a fundo que os obstáculos são
praticamente criminosos. Vou explicar como eliminar o desperdício mais à
frente neste livro. Por ora, basta dizer que o efeito é drástico, mas as
pessoas não costumam fazer isso porque precisam ser honestas consigo
mesmas e com os outros.
Jeff Johnson sabia que esse era o seu trabalho.
A equipe do Sentinel levou cerca de três meses para descobrir quanto
tempo realmente seria necessário para concluir o projeto. Por quê? A
resposta nos remete àquele ciclo de “inspeção e adaptação” que mencionei
antes. O Scrum funciona com a definição de objetivos sequenciais, que
devem ser atingidos em um intervalo definido. No caso do FBI, eles
optaram por ciclos de duas semanas, com a compreensão de que, ao final
de cada um desses intervalos, haveria uma parte concluída do produto.
Isso significa que era preciso ter algo funcionando, algo que pudesse ser
mostrado para qualquer um que quisesse ver, principalmente para os
stakeholders e os futuros usuários do sistema.
Essa metodologia permite que as equipes recebam um feedback quase
imediato do trabalho realizado. Estão caminhando na direção certa? O que
planejam fazer em seguida é de fato o que deveriam fazer, após
considerarem tudo o que descobriram durante o ciclo anterior?
No Scrum, chamamos esses ciclos de “sprints”. No início de cada
ciclo, acontece uma reunião para planejar o sprint. A equipe determina a
quantidade de trabalho que acredita ser capaz de realizar nas duas semanas
seguintes. As tarefas são selecionadas a partir daquela lista de prioridades
e anotadas em post-its, que são colados na parede. A equipe resolve
quantas tarefas será capaz de executar durante o sprint.
No final do sprint, os integrantes do grupo se reúnem e mostram o que
conseguiram realizar naquele tempo. Analisam quantos dos post-its foram
de fato concluídos. Será que escolheram tarefas demais e não conseguiram
concluir todas? Será que selecionaram muito poucas? O importante nessa
etapa é que comecem a estabelecer uma noção básica do ritmo de trabalho
– a velocidade que conseguem atingir.
Depois de mostrarem o que conseguiram realizar – e é aqui que as
ideias de Ohno entram –, as pessoas discutem não o que fizeram, mas sim
como fizeram. Elas perguntam: “Como podemos trabalhar melhor em
conjunto no próximo sprint? O que nos atrapalhou no último? Quais são os
obstáculos que desaceleram o nosso ritmo?” Você encontrará explicações
mais detalhadas de como o Scrum funciona no Apêndice.
Foi por isso que Jeff Johnson necessitou de alguns meses antes de ser
capaz de precisar quanto tempo o projeto demoraria. Ele queria mensurar a
velocidade de cada equipe com base em alguns sprints, então ver o quanto
elas poderiam melhorar – o quanto poderiam acelerar. Depois de analisar
quantas tarefas cada equipe concluíra em cada sprint e verificar quantas
ainda faltavam até o final do projeto, Johnson foi capaz de prever uma data
de conclusão.
Além de descobrir a velocidade das equipes, ele também queria saber
quais eram os obstáculos que as atrasavam. No fundo, o que queria era
acelerar as equipes para que produzissem mais rápido – não trabalhando
mais tempo (explicarei mais à frente por que esse é um caminho inútil que
acaba fazendo com que as coisas demorem mais), mas sim melhor e de
forma mais inteligente. Jeff Johnson revelou que suas equipes
multiplicaram a produtividade por três. Passaram a avançar três vezes
mais rápido do que no início do projeto. O motivo? Ficaram melhores no
trabalho em equipe, só que o mais importante foi que descobriram o que as
atrasava e, a cada ciclo, a cada sprint, passaram a tentar se livrar dos
obstáculos.
Por fim, foram necessários dezoito meses de programação para
implementar o sistema de banco de dados do projeto Sentinel, e mais dois
meses para disponibilizá-lo para todo o FBI. “Foi uma tremenda pressão
em relação aos prazos”, contou Johnson em uma entrevista. “E vocês têm
de entender que o sistema é usado para tudo: pagamento de informantes,
armazenamento de provas, arquivos dos casos, agendas. Esta reunião está
no Sentinel.”
E, na opinião dele, qual era a parte mais eficaz do Scrum? “Os
protótipos. O trabalho voltado para um produto demonstrável com
frequência.” A cada duas semanas a equipe do Sentinel se reunia e
demonstrava tudo o que tinha realizado. E essa apresentação não servia
apenas para quem trabalhava no projeto. A equipe submetia o que tinha
feito ao crivo de quem realmente usaria o sistema. Todos os que tinham
interesse no projeto enviavam um representante, o que significava casa
cheia. Arquivo. Inteligência. Agentes especiais. O Gabinete da Inspetoria
Geral. Representantes de outras agências governamentais. Muitas vezes, o
diretor ou o vice-diretor do FBI estava presente, assim como a própria
inspetora-geral da época. Não era um público fácil.
E por isso mesmo a coisa funcionou, afirma Johnson. “O Scrum não
tem muito a ver com os desenvolvedores, mas sim com os clientes e os
stakeholders. Foi uma verdadeira mudança organizacional. Mostrar o
produto real era a parte mais eficaz.”
Na verdade, mostrar o produto era eficaz porque as pessoas estavam
bastante desconfiadas, para dizer o mínimo, quanto ao progresso que a
equipe relatava. Elas não conseguiam acreditar que o Sentinel avançava
em um ritmo cada vez mais acelerado. “Eu disse para o Congresso que
com 5% do orçamento e em vinte meses nós conseguiríamos o que a
Lockheed não tinha sido capaz de fazer com 90% do orçamento e em dez
anos”, conta Johnson. “Todos estavam céticos. Tínhamos que fazer
relatórios para o procurador-geral adjunto. Éramos transparentes em
relação ao nosso progresso, mas nosso público desconfiava de que
estávamos sendo desonestos. Antes, quando eles viam aqueles tipos de
indicadores, os relatórios eram menos detalhados, e outra coisa estava de
fato acontecendo por baixo dos panos.”
Aquele ceticismo contagiou o resto do FBI. Os caras do porão vão
ferrar com tudo de novo, era o que todos pensavam. Aquele seria apenas
mais um sistema temporário que um dia os deixaria na mão, e eles teriam
de voltar a usar o papel.
Jeff conversou com seus funcionários sobre uma citação que tivera de
decorar quando ainda era um cadete naval. Era um trecho do discurso
“Citizenship in a Republic” [Cidadania numa República], proferido por
Teddy Roosevelt na Sorbonne em 1910:

Não é o crítico que interessa; não é aquele que aponta onde o homem
forte tropeça, ou como aquele que age poderia ter feito melhor. O
crédito pertence ao homem que está de fato na arena, cujo rosto está
maltratado pela poeira, pelo suor e pelo sangue; que luta com
coragem; que erra, que quase consegue de novo e de novo, porque
não existe esforço sem erros e falhas; mas que realmente se esforça
para realizar as obras; que alcança os grandes júbilos, as grandes
devoções; que se consome em uma causa digna; que, na melhor das
hipóteses, conhece por fim o triunfo das grandes realizações, e que,
na pior, se fracassar, pelo menos fracassará ousando grandemente, de
forma que seu lugar nunca será junto às almas frias e tímidas que não
conhecem a vitória nem a derrota.5

A equipe enfrentou alguns atrasos enquanto tentava descobrir


exatamente com que rapidez conseguiria trabalhar e qual era o nível de
dificuldade do que tinha pela frente. Por fim, em julho de 2012, eles
ativaram o Sentinel. E tiveram de ativá-lo por completo, para todos, de
uma só vez. Não era possível encenar algo assim.
“Aconteceu de um dia para o outro. Em um caso de crime ou de
contraterrorismo, algo ocorrendo em Los Angeles poderia estar
relacionado a algo em Chicago”, explicou Jeff Johnson. “Não podíamos
permitir que pistas fossem perdidas. A cada etapa, tínhamos de apresentar
uma posição clara e reconhecidamente boa.”
E tal posição tinha de ser clara e boa o suficiente para se sustentar na
Justiça. Os dados do Sentinel seriam usados em julgamentos, e sua
integridade tinha de estar acima de qualquer sombra de dúvida.
Jeff estava agitado e nervoso naquele primeiro dia. Foi até seu
escritório e ligou o Sentinel. O sistema carregou. Bom sinal. Depois,
tentou aprovar um documento com uma assinatura eletrônica – uma tarefa
cotidiana básica que dezenas de milhares de funcionários do FBI teriam de
executar o tempo todo. Surgiu uma mensagem de erro. Não funcionou.
Johnson lembra que entrou em pânico, com visões desastrosas pipocando
na cabeça. Então, leu com cuidado o código do erro e se deu conta do que
havia acontecido. Ele não tinha inserido o seu cartão de identificação para
que o computador verificasse a sua identidade. Inseriu o cartão, deu um
clique no mouse, e o Sentinel estava pronto.
O sistema teve um impacto impressionante no FBI. A capacidade de
comunicação e compartilhamento de informações mudou de maneira
fundamental o que a agência é capaz de fazer. Em janeiro de 2013, um
agente do FBI foi chamado quando uma conta de uma pequena empresa
foi hackeada. A quantia de 1 milhão de dólares tinha sido transferida para
outro país antes que os bancos americanos pudessem impedir. Usando o
Sentinel, o escritório local foi capaz de coordenar uma ação conjunta com
a embaixada do país de destino. A embaixada alertou as autoridades locais,
que por sua vez impediram que a transferência fosse concluída antes que
entrasse no sistema bancário. Tudo isso aconteceu em questão de horas,
algo que simplesmente não seria possível na época das três vias de papel e
canetas vermelhas. Era a diferença entre pegar um bandido e permitir que
ele se safasse.
A equipe do Sentinel ainda se encontra no porão do FBI. As divisórias
foram removidas para que os funcionários possam ver uns aos outros. Há
um grande pôster na parede com os princípios do “Manifesto Ágil” –
princípios que ajudei a escrever, e a cuja disseminação dediquei minha
vida. Por mais estranho que isso possa parecer, naquela sala sem janelas
uma saudável alfazema cresce sob a luz fluorescente. “Alfazema” era o
codinome do protótipo do Sentinel. Os integrantes da equipe ainda estão
nos seus postos, fazendo aperfeiçoamentos e acrescentando novas
funcionalidades ao sistema que desenvolveram.
Existe uma piada antiga na comunidade do Scrum. Uma galinha e um
porco estão caminhando pela estrada, e a galinha diz: “Ei, porco, eu acho
que a gente devia abrir um restaurante.”
“E qual vai ser o nome dele?”, pergunta o porco.
“Que tal ‘Presunto e Ovos’?”
“Não, obrigado”, responde o porco. “Eu teria que me comprometer,
mas você só precisaria se envolver!”
A ideia do Scrum é que os “porcos” são os indivíduos completamente
comprometidos com o projeto. Eles são os responsáveis pelo resultado. As
“galinhas” são as pessoas informadas sobre os progressos realizados, ou
seja, os stakeholders. Na parede da sala do Sentinel, há uma campainha
com o formato de um porco. Quando ela soa, quem fez algo que todos
disseram ser impossível sabe que está sendo chamado. Há outra campainha
do lado de fora, na porta, mas essa é só para as galinhas.
A cada dia que passa, o mundo fica mais complicado, e o trabalho que
realizamos se torna mais complexo e acelerado. Os carros, por exemplo.
Eu costumava fazer consertos simples no meu carro o tempo todo. Há uns
trinta anos, eu era capaz de reconstruir um radiador. Agora, quando abro o
capô, é como se estivesse olhando para dentro de um computador. Na
verdade, é exatamente o que estou fazendo, já que um Ford novo tem mais
linhas de código do que o Facebook e o Twitter juntos. Criar algo tão
complexo é um grande empreendimento humano. Quando as pessoas estão
envolvidas em um esforço criativo e intrincado, seja para enviar um
foguete para o espaço, inventar um interruptor de luz melhor ou capturar
um criminoso, os métodos tradicionais de gerenciamento simplesmente
não funcionam.
E nós sabemos disso – tanto como indivíduos quanto como sociedade.
Enxergamos reflexos da nossa vida real representados em disto-pias
ficcionais, como as que são mostradas no desenho Dilbert ou no filme
Como enlouquecer seu chefe. Todos nós já chegamos em casa e falamos
com nossos cônjuges ou amigos sobre a loucura que é a “organização”
corporativa moderna. Todo mundo já ouviu que preencher o formulário
corretamente é mais importante do que realizar o trabalho, ou que é
preciso fazer uma reunião para se preparar para outra reunião preparatória.
É uma loucura. Ainda assim, continuamos fazendo a mesma coisa. Ainda
que estejamos diante do mais completo fracasso.
O lançamento do Healthcare.gov, o site no qual, na teoria, os
americanos poderiam se cadastrar para o seguro de saúde, é um ótimo
exemplo disso. A interface era linda. Brilhante, clara – uma maravilha de
design. Foi concluída em três meses usando o Scrum. No entanto, o back
end – a funcionalidade – era um fracasso. Simplesmente não funcionava.
Ele deveria conectar os dados da Receita Federal aos bancos de dados dos
estados, das seguradoras e do Departamento de Saúde e Serviços
Humanos. Trata-se de um sistema complexo, desenvolvido por mais de
vinte empresas que se incumbiram de diferentes partes da empreitada e
que planejaram tudo usando as técnicas em cascata. Elas só testaram bem
o site no final do projeto, durante alguns dias, em vez de realizar testes
incrementais ao longo de todo o processo.
A tragédia é que todo mundo sabia o que ia acontecer. As pessoas que
trabalham para essas empresas não são burras. Elas sabiam. O problema
foi que todo mundo disse: “Não é minha responsabilidade.” Cada empresa
entregou a sua parte e ficou por isso mesmo. Elas nunca olharam o site da
perspectiva do usuário; apenas do seu próprio ponto de vista. Fizeram isso
porque não se alinharam – não estavam unidas em torno de um objetivo
comum. O que o Scrum faz é promover a união das equipes para criar
grandes projetos, e isso exige que todos enxerguem a meta final e façam
entregas parciais para atingi-la. Não havia ninguém no comando do projeto
do Healthcare.gov que tenha insistido para que tudo fosse testado enquanto
era desenvolvido. Mas, infelizmente, em se falando de fracasso, a história
desse site não pode ser considerada atípica. E as pessoas que consertaram
o Healthcare.gov? Essas usaram o Scrum.
Quantas vezes você ouve falar de algum projeto gigantesco com custo
de milhões e milhões de dólares que é cancelado não apenas porque os
custos ultrapassaram o orçamento, mas também porque simplesmente não
deu certo? Quantos bilhões de dólares são gastos todo ano para produzir
nada? Quanto tempo da sua vida é desperdiçado em um trabalho que tanto
você quanto o seu chefe sabem que não serve para coisa alguma? Se
pensar bem, você verá que está enxugando gelo.
Não precisa ser assim. Não mesmo. O fato de todos sempre terem dito
que é assim que o mundo funciona não significa que estivessem certos.
Existe, sim, uma maneira distinta de fazer as coisas – um jeito diferente de
trabalhar.
E, se não o fizer, você será substituído. Ou a sua empresa vai morrer. O
mundo hipercompetitivo do século XXI não tem espaço para desperdícios
e disparates.
Uma questão ainda mais importante: trabalhar da forma mais produtiva
possível – do modo Scrum – não precisa se restringir aos negócios. E se
esse método fosse usado para resolver os grandes problemas da
humanidade – tais como a dependência do petróleo, as deficiências na
educação, a falta de água potável nas partes mais pobres do mundo ou o
aumento nos índices de criminalidade? E se de fato existisse uma maneira
melhor de viver, trabalhar e resolver os problemas? Uma forma de
mudarmos o mundo de verdade? Pois existe. Há pessoas usando o Scrum
para lidar com cada uma dessas questões que mencionei, e elas estão
causando um grande impacto.
Neste livro, você vai aprender algumas das maneiras fundamentais
como trabalhamos melhor, por que somos péssimos em fazer estimativas e
por que fazer hora extra vai resultar em mais atrasos no projeto. Mostrarei
todas as pesquisas e formas de aplicação que pessoas comuns, cientistas e
organizações desenvolveram diligentemente durante anos e explicarei
como o Scrum une tudo isso de uma forma que você pode começar a usar
amanhã mesmo.
E vou mostrar como fazer isso. Mas, primeiro, quero contar como
cheguei até aqui.
RESUMO
Planejar é útil. Seguir cegamente os planos é burrice. É muito
tentador desenhar inúmeros diagramas.Todo o trabalho que precisa
ser feito em um projeto de grande porte ali, detalhado, para todos
verem – mas, quando deparam com a realidade, os planos desabam.
Inclua no seu método de trabalho a possibilidade de mudança,
descoberta e inovação.
Inspeção e adaptação. De tempos em tempos, pare o que está
fazendo, revise o que já fez, e verifique se deveria continuar fazendo
o mesmo ou se existe uma maneira de fazê-lo melhor.
Mude ou morra. Ficar preso ao modo antigo de fazer as coisas –
comando, controle e previsibilidade rígida – só resultará em
fracassos. Nesse meio-tempo, o concorrente que estiver disposto a
inovar vai deixar você para trás.
Fracasse rápido para que possa corrigir o problema o quanto
antes. A cultura corporativa costuma dar mais valor a formulários,
procedimentos e reuniões do que à criação de valor concreto, que
possa ser verificado a curtos intervalos de tempo pelos usuários. O
trabalho que não resulta em valor real é loucura. Trabalhar em um
produto em ciclos curtos permite que se obtenha um feedback do
usuário logo no começo do desenvolvimento. Assim, você pode
eliminar imediatamente tudo aquilo que constitui um desperdício
óbvio de esforço.
CAPÍTULO 2

A origem do Scrum

Para os pilotos de combate americanos no Vietnã, o período de serviço


militar significava cem missões de voo em território inimigo. Metade dos
pilotos era abatida. Alguns deles eram resgatados, mas a maioria nunca
conseguia voltar. Em 1967, eu era um jovem e inexperiente piloto de
combate, e fui enviado da base aérea de Mountain Home, em Idaho, para a
base Udorn Royal Thai Air Force, no norte da Tailândia, para realizar o
trabalho mais perigoso na Força Aérea dos Estados Unidos:
reconhecimento.
Isso aconteceu muito antes da era das missões com drones Predator e
imagens confiáveis de satélite. Todas as armas foram retiradas do meu RF-
4C Phantom, e a aeronave foi equipada com câmeras e um tanque de
combustível extra. A minha missão era sobrevoar o território inimigo para
que o meu navegador tirasse fotos de antes e depois dos nossos
bombardeios. A maioria desses voos acontecia à noite, e eu passava pela
escuridão tropical a poucas centenas de metros do chão, quase esbarrando
na copa das árvores. No momento em que eu cruzava a fronteira do Vietnã
do Norte, o painel do avião se acendia como uma máquina de fliperama, e
o sistema de aviso antimísseis soltava bipes e apitos. O céu se iluminava
com os disparos dos canhões antiaéreos, e eu sabia que, em questão de
minutos, o radar de um míssil estaria com a minha aeronave na mira, a não
ser que 150 metros fosse uma altitude baixa o suficiente para me manter
incógnito.
Naqueles momentos, a adrenalina corria nas minhas veias, mas nunca
perdi a calma. Pelo contrário, o perigo quase me acalmava. Acredito que
isso se deve ao treinamento que recebi na Força Aérea para controlar o
risco. Nele, aprendi a fazer quatro coisas: Observar, Orientar, Decidir e
Agir. Para ser mais específico, eu observava a região-alvo, planejava o
melhor caminho para entrar na zona de ataque e a melhor rota de fuga, me
orientava para o caso de eventos inesperados e, por fim, agia de forma
decisiva com base nos instintos e no treinamento que recebera. A hesitação
poderia resultar em morte para os pilotos, mas o mesmo podia acontecer se
fôssemos imprudentes. Assim que o meu navegador tirava as fotos, eu
puxava o manche para trás e saía da zona de guerra a toda a velocidade,
com a visão reduzida a quase nada por causa da força G. Com frequência,
meu navegador desmaiava por causa disso e, em alguns casos, perdia o
controle do intestino. Mas nunca reclamava. Porque eu sempre nos levava
de volta sãos e salvos.
Naquela época, eu era apenas um jovem piloto rezando para sobreviver
às missões que me eram designadas. Não sabia que minha experiência de
voo e o treinamento que tive para pensar e agir em situações de vida ou
morte definiriam meu jeito de trabalhar pelo resto da vida. Cheguei ao
Vietnã em 1967, junto com duas esquadras de caças F-4 e duas outras da
aeronave de reconhecimento RF-4C, em um total de cem aviões, que
substituíram duas esquadras de RF-101. Dos cinquenta RF-101, apenas
quatro não tinham sido derrubados no ano anterior. E esses quatro tinham
tantos buracos de bala que era impossível voar com eles. Ainda não sei
como os pilotos conseguiram pousá-los depois da última missão. O RF-4C
era uma aeronave de combate mais resistente, e mesmo assim metade dos
aviões foi abatida em um ano. Ainda que tenhamos melhorado a taxa de
sobrevivência, 50% dos que chegaram junto comigo não voltaram para a
base. Alguns sortudos foram resgatados na floresta antes que se tornassem
prisioneiros.
Quando voltei da Guerra do Vietnã, fiz mestrado em estatística em
Stanford e passei o maior tempo possível no laboratório de inteligência
artificial da universidade. Depois, me tornei professor de matemática na
Academia da Força Aérea e iniciei um doutorado em biometria na
faculdade de medicina da Universidade do Colorado. Lá, perguntei ao meu
orientador, Dr. John Bailar, um dos mais reconhecidos pesquisadores em
medicina e estatística, como eu poderia escrever uma tese que fosse útil e
não terminasse em uma prateleira empoeirada na biblioteca. Ele me
entregou trezentos artigos sobre câncer publicados em periódicos médicos.
Cada um deles continha gráficos com dados estatísticos que variavam
radicalmente para humanos e animais e tipos de tumor. Bailar disse que, se
eu conseguisse explicar por que todos eram diferentes, ele me daria o título
de doutor. Foi exatamente o que fiz, e consegui o meu doutorado.
Para isso, passei anos tentando descobrir o que acontecia em uma
célula para que ela se tornasse cancerosa. Aprendi muito sobre teoria de
sistemas e como um sistema apresenta apenas certas condições estáveis.
Quando uma célula evolui, ela passa de um estado estável para outro.
Dediquei quase dez anos à tentativa de descobrir as regras para passar um
sistema adaptativo complexo de um estado para outro, e como fazer com
que o estado seguinte fosse positivo em vez de negativo.
Anos mais tarde, ocorreu-me que organizações, equipes e pessoas são
sistemas adaptativos complexos. Os elementos que fazem com que uma
célula passe de um estado a outro são os mesmos que movem as pessoas
de um estado a outro. Para mudar uma célula, é necessário injetar energia
no sistema. No começo o caos se instala, parece não haver regras, tudo está
em fluxo. Quando alguém faz isso em uma organização para tentar mudá-
la, as pessoas costumam se apavorar. Não entendem o que está
acontecendo e não sabem o que fazer. No entanto, de forma bastante
rápida, assim como ocorre com as células, a organização se estabiliza
novamente. A única questão é se o novo estado é melhor do que o antigo.
A célula é cancerosa ou saudável? Eu me perguntava: “Como podemos
descobrir algumas regras simples que possam guiar as equipes em
direção a um estado mais produtivo, feliz, encorajador, divertido e
realizador?” Passei os quinze anos seguintes tentando descobrir a
resposta.
Durante o governo Reagan, houve uma redução drástica nas verbas
destinadas à pesquisa científica. O corte incluiu minha bolsa nos National
Cancer Centers, onde eu trabalhava como pesquisador-chefe de coleta de
dados e análise dos estudos clínicos e epidemiológicos do Colorado
Regional Cancer Center. Enquanto eu pensava no que fazer, uma empresa
chamada MidContinent Computer Services entrou em contato comigo
porque o pessoal de lá tinha ficado sabendo que eu era o principal
especialista na área da mais nova tecnologia da firma. A MidContinent
prestava serviços para 150 bancos em toda a América do Norte, e o seu
novo produto se chamava “Automatic Teller Machine”, conhecido como
caixa eletrônico. Estávamos em 1983, quando sacar dinheiro significava
entrar em uma fila no banco ou passar de carro em um drive-through
bancário. Era necessário preencher um cheque e entregá-lo ao caixa para
“sacar” a quantia desejada.
Os caixas eletrônicos seriam a solução, mas naquela época a
MidContinent estava tendo dificuldade para fazer suas redes se
comunicarem. Eles precisavam de alguém que conhecesse sistemas para
corrigir o problema, e me fizeram uma lucrativa proposta para ser o vice-
presidente de sistemas avançados. Os computadores que formavam a rede
da empresa eram iguais aos que eu usara durante anos para rodar meus
programas de doutorado, então eu me encaixaria bem no cargo.
Foi o que pensei. As coisas nunca são fáceis, não é mesmo? Quando
entrei na empresa, dei de cara com um departamento que usava o método
em cascata para planejar os projetos. Havia centenas de programadores
que se sentavam às suas mesas o dia inteiro e trabalhavam de maneira
ostensiva, mas não conseguiam entregar nada dentro do prazo ou do
orçamento. Os custos dos caixas eletrônicos eram 30% maiores do que a
receita. A ineficiência era de cair o queixo.
No início, passei um tempo tentando entender como tudo funcionava.
Você pode imaginar como a alta diretoria tratava a minha equipe. Havia
muitos gritos, microgerenciamento, comportamento passivo-agressivo e
exigências de mais trabalho e horas extras. Mas não importava quanto os
chefes pressionavam, os atrasos eram crônicos, os projetos continuavam
acima do orçamento previsto e nada era entregue como deveria.
Resolvi que a melhor alternativa era mudar tudo. A operação tinha
problemas demais para que a consertássemos de forma gradual. Dessa
forma, decidi criar uma empresa dentro de outra empresa. Pedi a Ron
Harris, nosso CEO, que permitisse que eu formasse uma organização
separada com todos os funcionários envolvidos nas redes de caixas
eletrônicos. Teríamos nossas próprias equipes de vendas e de marketing,
nosso próprio departamento financeiro. Ron era um CEO brilhante e
criativo que confiava em meu trabalho. Talvez isso nunca tivesse
acontecido sob a direção de outra pessoa. Depois de ouvir minha ideia, ele
disse: “Sutherland, se você quer uma dor de cabeça dessas, fique à
vontade.”
E foi o que fiz. Fiz uma reunião com os desenvolvedores e os gerentes
e disse a eles: “Primeiro, temos que parar de fazer as coisas que estão
acabando conosco.” A situação era como aquela velha piada sobre ficar
batendo com a cabeça na parede só para se sentir melhor depois de parar.
“Precisamos descobrir um jeito melhor de trabalhar, e precisamos começar
agora mesmo”, afirmei.
Então passamos a dirigir nossa pequena empresa como uma equipe
dividida em equipes menores. Os bônus não eram baseados no
desempenho individual, mas sim no desempenho da empresa como um
todo. Criamos ferramentas que acabaram entrando no Scrum dez anos
mais tarde – por exemplo, os conceitos de Product Owner [dono do
produto], backlog [pendências do produto] e sprints semanais, que
abordarei mais detalhadamente neste livro. Em seis meses, nos tornamos a
divisão mais lucrativa da empresa. A receita era 30% maior do que os
custos. Os nossos sistemas Nonstop Tandem foram os primeiros
computadores de transações on-line nos quais os bancos confiaram o
suficiente para pôr em uso, e foram distribuídos por toda a América do
Norte. Hoje em dia, é possível encontrar caixas eletrônicos em quase todo
lugar. E cada uma dessas máquinas sabe exatamente quanto dinheiro você
tem. A minha equipe teve muito a ver com isso. Sim, pode agradecer.
Aprendendo a pensar como um robô
Depois da minha experiência na carreira militar seguida pela carreira
acadêmica, eu me considerava meio que um intruso no mundo dos
negócios. No entanto, o ponto de vista de alguém de fora constituiu um
dos meus maiores trunfos. Desde o primeiro dia, eu não conseguia
entender por que as pessoas insistiam em trabalhar de uma forma que
sabiam que era ineficiente, destrutiva, desumanizadora e deprimente. Acho
que elas imaginam que, se todo mundo trabalha assim, esse deve ser o
melhor método.
Adorei a época em que trabalhei na MidContinent, mas estava ávido
por testar minhas habilidades em novos desafios. Nos vinte anos seguintes,
acabei trabalhando para várias empresas, tanto pequenas quanto grandes,
como vice-presidente de tecnologia. Em cada uma delas, tentei fazer as
equipes trabalharem juntas de maneiras mais eficientes. Em uma dessas
empresas, eu trabalhava em um prédio em Cambridge, Massachusetts, a
apenas alguns quarteirões do MIT. Alguns pesquisadores e professores
tinham acabado de fundar uma nova empresa que construía robôs, cuja
sede era uma sala em um laboratório do MIT. Eles acabaram sublocando
um espaço da minha empresa.
Algumas semanas depois da ida deles para lá, aconteceu algo
completamente inesperado: um robô de seis pernas do tamanho de um gato
entrou na minha sala e começou a me perseguir em volta da minha mesa
de trabalho. Os inventores entraram nervosos e se desculparam pela
máquina, mas o episódio passou a se repetir quase toda semana. Um dos
robôs fugia do laboratório deles e corria pelo prédio. Dava para ouvir o
som das pernas mecânicas passando pelos corredores.
Nas tardes de sexta-feira, eu servia vinho e cerveja no escritório, para
que os funcionários relaxassem e socializassem depois de uma semana
pesada de trabalho. Eu convidava o pessoal da robótica para esses eventos,
e eis que um dia apareceu Rodney Brooks, professor de inteligência
artificial no MIT e um dos fundadores da empresa de robôs. Perguntei
como as máquinas errantes funcionavam.
“Durante décadas, tentamos construir uma máquina que realmente
tenha a capacidade de raciocinar”, disse ele. “Bilhões de dólares e muitos
anos de trabalho foram gastos para construir os maiores computadores
possíveis, com os maiores bancos de dados, mas tudo o que conseguimos
foi um computador que consegue vencer seres humanos em um jogo de
xadrez.”
Ele me explicou que tinha usado uma abordagem completamente
diferente com os seus robôs. Em vez de tentar projetar algo com um único
cérebro central, sua equipe construiu um robô no qual cada uma das seis
pernas tinha o próprio cérebro. Um processador no esqueleto tinha
algumas regras simples: ande para a frente, para trás, não bata nas outras
pernas. O chip da rede neural na cabeça do robô sabia essas regras e agia
como um árbitro para todas as partes do corpo. Quando atingia um
obstáculo, ele relatava às pernas o que via através da câmera – esse tipo de
coisa.
O interessante é que, sempre que é ligado, o robô aprende a andar pela
primeira vez, explicou Brooks. Não há banco de dados com a disposição
dos objetos na sala. Em vez disso, o mundo é o banco de dados. O robô
descobre tudo pela primeira vez sempre que é ligado. Ele bate nas coisas e
resolve a situação com base no lugar em que se encontra, o que significa
que pode se adaptar a qualquer ambiente.
“Vou lhe mostrar”, ofereceu o professor enquanto me levava ao
laboratório. Ele enfiou um chip neural em branco em um dos robôs com
forma de inseto, e observei enquanto a máquina ganhava vida. Hesitante, a
princípio, ela tropeçava pela sala como um filhote de cervo se erguendo
sobre as pernas pela primeira vez. A cada passo, tornava-se mais segura.
As pernas logo aprendiam a colaborar umas com as outras e a trabalhar
juntas. Em questão de minutos, o robô corria pela sala. Nenhum dado era
armazenado e não havia uma programação sobre como andar; em vez
disso, algumas regras simples faziam com que aqueles componentes
trabalhassem juntos. As pernas não pensavam, apenas agiam. Fiquei
maravilhado com a engenhosidade e a simplicidade do sistema. À minha
frente havia algo executando exatamente o que eu fora treinado para fazer
no Vietnã: Observar, Orientar, Decidir e Agir. O robô percebia o lugar em
que se encontrava e se decidia com base nos dados daquele ambiente.
Perguntei a Brooks: “O que aconteceria se a gente criasse um conjunto
simples de instruções para equipes de pessoas trabalharem juntas,
exatamente como essas pernas? Elas se auto-organizariam e se
otimizariam, da mesma forma que esse robô.”
“Não sei”, respondeu ele. “Por que você não tenta e depois me diz se
funcionou?”
Não caia em cascatas
Cada vez mais eu percebia que, se conseguisse criar um sistema como
aquele robô, que pudesse combinar pensadores independentes com
feedback constante sobre o ambiente, eu obteria níveis de desempenho
muito mais elevados. O aperfeiçoamento do fluxo de informações entre as
“pernas” de um grupo resultaria em níveis de eficiência inéditos.
Minha conversa com Rodney Brooks aconteceu há mais de duas
décadas. Durante muitos anos, ele foi o chefe do departamento de robótica
e inteligência artificial do MIT, e aquele robô aracnídeo que conheci,
batizado de Genghis Khan, agora se encontra no Smithsonian Institute
como item de colecionador. A essa altura, você deve conhecer uma das
empresas de Brooks, a iRobot, que fabrica o aspirador de pó Roomba, que,
para limpar o chão, emprega a mesma inteligência adaptativa que Genghis
Khan usava para me perseguir no escritório. A última inovação do
professor na Rethink Robotics é o robô Baxter, que consegue trabalhar de
forma colaborativa com seres humanos no mesmo espaço de trabalho.
O trabalho de Brooks me inspirou. Em 1993, levei aquelas ideias
comigo para uma empresa chamada Easel, que me contratara como vice-
presidente de tecnologia. Os executivos da firma queriam que a minha
equipe desenvolvesse em seis meses uma nova linha de produtos que seria
oferecida a alguns dos seus maiores clientes – como a Ford, que usava o
software deles para projetar e desenvolver funcionalidades internas. Reuni-
me com a minha equipe de desenvolvimento e disse que sabia que não
seria possível fazer aquilo usando o velho modelo de desenvolvimento de
software.
O método antigo era o da cascata, que descrevi no último capítulo:
todos os elementos relacionados a um projeto cuidadosamente dispostos
naqueles gigantescos diagramas de Gantt, cada tarefa medida de maneira
meticulosa em horas, destacadas com cores bonitas, que fluem pela página
como uma cascata. Aqueles diagramas eram lindos em sua precisão. E
também eram mentirosos.
Na Easel, eu sabia que a metodologia em cascata nos atrasaria meses,
ou até anos, em relação ao prazo. Precisávamos descobrir uma maneira
completamente diferente de trabalhar. Informei ao CEO que íamos rasgar
o diagrama de Gantt. Ele ficou chocado e exigiu saber o motivo.
“Quantos diagramas de Gantt você já viu ao longo da sua carreira?”,
perguntei.
“Centenas”, respondeu ele.
“Quantos estavam certos?”
Ele fez uma pausa.
“Nenhum.”
Então falei que no fim do mês entregaria um software que funcionasse,
em vez de um diagrama de Gantt não cumprido. Ele mesmo poderia testá-
lo para verificar se estávamos no caminho certo. Precisávamos tentar essa
abordagem se quiséssemos cumprir o prazo.
Minha equipe e eu passamos algumas semanas lendo centenas de
documentos, livros e artigos sobre organização de equipes e
desenvolvimento de produto. Um dia, um dos desenvolvedores trouxe um
artigo publicado na Harvard Business Review em 1986, escrito por dois
professores de administração japoneses, Hirotaka Takeuchi e Ikujiro
Nonaka. O título era “The New New Product Development Game” [O
novo jogo para desenvolvimento de novos produtos]. Takeuchi e Nonaka
tinham analisado equipes de algumas das empresas mais produtivas e
inovadoras do mundo: Honda, Fuji-Xerox, 3M, Hewlett-Packard, entre
outras. Eles argumentavam que o velho método usado para o
desenvolvimento de produtos, simbolizado pelo sistema de Planejamento
de Programas em Fases da Nasa – um sistema em cascata – , era
completamente falho. Em vez dele, as melhores empresas usavam um
processo de desenvolvimento em sobreposição que era mais rápido e mais
flexível. As equipes eram multifuncionais. Tinham autonomia. Recebiam a
autoridade para tomar as próprias decisões. E tinham um objetivo
transcendente. Estavam em busca de algo maior do que elas mesmas. A
gerência não impunha ordens. Em vez disso, os executivos eram líderes
que prestavam serviços aos funcionários e eram facilitadores focados em
retirar os obstáculos do caminho das equipes, em vez de determinar o que
tinham de fazer e como deveriam desenvolver o produto. Os professores
japoneses comparavam o trabalho de equipe a um time de rúgbi, e diziam
que as melhores equipes agiam como se estivessem em um scrum: “A bola
é passada pelo time conforme ele avança, em unidade, pelo campo.”1
O artigo de Takeuchi e Nonaka chamou a atenção quando foi
publicado pela primeira vez, sete anos antes da nossa leitura na Easel.
Todo mundo tinha admirado o conceito, mas ninguém fizera nada com ele.
O gerente americano médio não era capaz de compreender aquilo, mesmo
que a Toyota estivesse aumentando rapidamente a sua fatia de mercado
com o uso daquela abordagem. Na Easel, não tínhamos nada a perder.
Decidimos experimentá-la, ainda que o artigo se concentrasse na
fabricação de produtos, e não no desenvolvimento de software. Achei que
aquelas ideias abordavam um ponto fundamental, um processo descritivo
de como os seres humanos trabalham melhor juntos em qualquer
empreitada. Elas tinham estado presentes em todas as outras experiências
que eu já conduzira desde o meu primeiro emprego no setor privado, na
MidContinent.
Esse foi o nascimento formal do Scrum. Entregamos o produto na
Easel dentro do prazo de seis meses, abaixo do orçamento, e com menos
bugs do que qualquer outra entrega anterior.
Fiquei tão animado com as possibilidades dessa nova forma de
gerenciamento de projetos que daí para a frente todo o meu trabalho se
concentrou no refinamento do Scrum para as empresas. Em 1995, em uma
conferência de pesquisa da Association for Computing Machinery,
apresentei com Ken Schwaber um artigo intitulado “SCRUM Development
Process” [“Processo de desenvolvimento SCRUM”], que sistematizava
essas práticas. Ao longo do tempo, desistimos de usar o nome em
maiúsculas e aprimoramos a ideia, mas os princípios fundamentais ainda
são os mesmos – e as empresas que adotam o processo costumam
experimentar benefícios imediatos.2
Inspeção e adaptação
As equipes Scrum que trabalham bem conseguem obter o que
chamamos de “hiperprodutividade”. É difícil acreditar, mas vemos com
regularidade uma melhora entre 300% e 400% na produtividade dos
grupos que executam bem o Scrum. As melhores equipes conseguem um
aumento de até 800% na produtividade e repetem o sucesso várias vezes.
Elas também acabam mais que dobrando a qualidade do seu trabalho.
Então, como se constrói autonomia, transcendência e fecundação
cruzada em uma equipe Scrum, e, com tal combinação, se obtém a
hiperprodutividade? Bem, o restante deste livro é exatamente sobre isso,
mas vou delinear a estrutura básica aqui.
Uma vez que o Scrum é oriundo de técnicas utilizadas na indústria
japonesa, vale a pena saber um pouco mais sobre como os japoneses as
aprenderam. Ironicamente, eles aprenderam muitas delas com um
americano: W. Edwards Deming. Deming trabalhava para o general
Douglas MacArthur durante a ocupação americana do Japão após a
Segunda Guerra Mundial. A abordagem de MacArthur para reconstruir a
economia foi demitir a maioria dos altos gerentes nas empresas japonesas,
promover os gerentes de produção e importar especialistas em operações
de negócios, como Deming, dos Estados Unidos. A influência de Deming
na indústria japonesa foi impactante. Ele treinou centenas de engenheiros
no que chamamos “controle estatístico de processo”. A ideia básica é
medir exatamente o que está sendo feito, assim como a qualidade do que é
executado, e lutar por um “aprimoramento contínuo”. Não melhorar
apenas uma vez; melhorar constantemente. Sempre procurar algo que
possa ser aprimorado. Nunca, jamais, se acomodar. Para chegar lá, é
preciso criar o tempo inteiro testes para verificar se é possível alcançar
resultados melhores. Será melhor se eu tentar esse método? E quanto a
esse outro? E se eu mudar esse pequeno detalhe?
Deming fez um famoso discurso para líderes empresariais japoneses
em 1950. Na plateia, havia pessoas como Akio Morita, o fundador da
Sony. Naquela ocasião, o americano declarou:

[...] não importa que seus técnicos sejam excelentes, vocês, líderes,
devem buscar sempre o aprimoramento da qualidade e a
uniformidade do produto para que seus técnicos consigam fazer
melhorias. Portanto, o primeiro passo pertence à gerência. Em
primeiro lugar, os técnicos da sua empresa e suas fábricas precisam
saber que vocês se dedicam fervorosamente ao avanço da
uniformidade e da qualidade dos produtos e a um senso de
responsabilidade em relação à qualidade do produto. Nada acontecerá
se vocês apenas falarem sobre o assunto. As ações são importantes.3

E o método para agir, que talvez seja a razão para Deming ter se
tornado tão famoso, é o ciclo PDCA (Plan [planejar], Do [fazer], Check
[verificar], Act [agir]). É possível aplicar esse ciclo à produção de
qualquer coisa, seja um carro, um videogame ou até um avião de papel.
Quando treino profissionais para usar o Scrum, é este o exemplo que
uso: aviões de papel. Divido as pessoas em equipes e digo a elas que o
objetivo é produzir o maior número possível de aviões de papel capazes de
voar até o outro lado da sala. Há três funções a serem desempenhadas em
cada equipe. Alguém verifica quantos aviões conseguem de fato voar.
Outro indivíduo trabalha na produção, mas também presta atenção ao
processo em si e busca maneiras de fazer com que a equipe construa
aviões melhores e acelere a montagem. Os demais participantes devem se
concentrar em fazer a maior quantidade possível de aviões capazes de
atravessar a sala no tempo estipulado.
Em seguida, digo que vamos fazer três ciclos de seis minutos para a
fabricação dos aviões. As equipes têm um minuto de cada ciclo para
planejar (P) como farão a montagem, três minutos para fazer (D) –
construir e testar o maior número possível de aviões que realmente voem –
e, por fim, dois minutos para verificar (C). Nessa fase, a equipe procura
formas de melhorar o processo. O que deu certo? O que deu errado? O
design deve ser alterado? Como a construção pode ser melhorada? Então,
vem o momento da ação (A). Para Deming, “agir” significa mudar o modo
de trabalho com base em resultados reais e informações reais extraídas do
ambiente em questão. É a mesma estratégia usada pelo robô de Brooks.
Repita esse ciclo três vezes, esteja você construindo aviões de papel ou
espaçonaves de verdade, e se tornará melhor nisso – significativamente
melhor (de duas a três vezes mais rápido e com pelo menos o dobro da
qualidade). Esse ciclo PDCA, uma ideia radical quando Deming a
apresentou aos japoneses, foi o que fez a Toyota se tornar a montadora
número um do mundo. E é dessa forma que é feito qualquer tipo de
produção “enxuta” (o termo americano para o uso dos conceitos do
Sistema Toyota de Produção) ou de desenvolvimento de produto Scrum.
Mudar ou morrer
Um novo modo de fazer as coisas era necessário porque o
desenvolvimento de software se encontrava em um estado deplorável – e
isso explica por que uma parcela tão grande das empresas adotou esse
método. Os projetos quase sempre atrasavam, estouravam o orçamento e,
em geral, não funcionavam. E isso não acontecia porque as pessoas eram
burras ou gananciosas – na verdade, esses resultados tinham a ver com a
maneira como elas pensavam em seu trabalho. Elas insistiam no método
em cascata, teimavam que tudo podia ser planejado com antecedência, e
até mesmo que os elementos não mudariam durante um projeto com
muitos anos de duração. É a mais completa loucura.
Aprendi isso em primeira mão na BellSouth, quando, há alguns anos,
visitei a empresa como consultor. Eles possuíam engenheiros de primeira
linha, muitos vindos dos famosos Bell Labs. Executavam a cascata
perfeitamente. Entravam em concorrências para projetos enormes, que
chegavam a valores entre 10 e 20 milhões de dólares. Reuniam todas as
exigências do cliente, sumiam por dezoito meses e entregavam no prazo e
dentro do orçamento exatamente aquilo que tinha sido pedido. Era uma das
pouquíssimas empresas em todo o mundo que conseguiam fazer isso. O
problema era que, no momento da entrega, o cliente não queria mais o que
tinha dito que queria. As circunstâncias haviam mudado. Os ciclos de
negócios estavam cada vez mais curtos, e os clientes exigiam serviços
mais ágeis.
Fui chamado para ajudar a BellSouth a descobrir o que estava errado.
Logo percebi que era o método de trabalho como um todo. Pode ser difícil
ouvir isso quando parece que você está fazendo tudo certo. Um dia me
coloquei diante de 150 engenheiros da empresa e avisei que, a menos que
passassem a usar um modelo diferente, que respondesse mais às
necessidades do cliente, o negócio deles não duraria muito. A plateia era
difícil. Eram homens e mulheres muito inteligentes, mas eles acreditavam
que minhas ideias eram apenas mais um modismo de gestão. Não consegui
convencê-los, então apenas dei de ombros e os deixei com uma
advertência final: “É mudar ou morrer.” Como você talvez tenha notado, a
BellSouth não existe mais.
Shu Ha Ri
O Scrum tem raízes japonesas no pensamento e na prática. Há pouco
tempo, fui ao Japão para me encontrar com o professor Ikujiro Nonaka,
que deixou claro para mim que por lá o Scrum não é visto como o método
de trabalho da moda. Eles o consideram uma maneira de agir, um modo de
ser, um estilo de vida. Quando ensino as pessoas a aplicar o Scrum, muitas
vezes conto minha própria experiência ao longo dos anos com o estudo do
aikido, uma arte marcial japonesa. O Scrum, assim como o aikido, ou até
mesmo o tango, é algo que só se aprende na prática. Seu corpo, sua mente
e seu espírito se alinham por meio do treino constante e do
aperfeiçoamento. Nas artes marciais, aprendemos um conceito chamado
Shu Ha Ri, que estabelece diferentes níveis de domínio. No estado Shu,
você conhece todas as regras e formas e as repete, como se fossem os
passos de uma coreografia, para que o seu corpo as assimile. Você não
desvia.
No estado Ha, uma vez que já domina as formas, você pode inovar,
acrescentar um novo passo à coreografia.
No estado Ri, você é capaz de deixar as formas de lado. Você
realmente domina a prática e é capaz de ser criativo de uma forma
desimpedida, porque o conhecimento do que o aikido – ou o tango –
significa está tão profundamente entranhado em seu ser que todos os seus
passos manifestam a essência dessa arte.
Assim é o Scrum. Ele requer treino e atenção, mas também um esforço
contínuo para se chegar a um novo estado – um estado em que as coisas
apenas fluam e aconteçam. Se você já assistiu a grandes dançarinos ou
ginastas, sabe que os movimentos deles parecem não exigir nenhum
esforço, como se eles não estivessem fazendo nada além de existir. Parece
impossível serem algo diferente do que representam naquele exato
instante. Presenciei isso uma vez, quando um diminuto mestre de aikido
me lançou pelos ares sem qualquer dificuldade, mas de forma que eu
caísse no tapete sem me machucar, como se eu fosse um bebê sendo posto
no berço com toda a delicadeza.
Esse é o objetivo do Scrum. Quero que todos cheguem a esse ponto em
suas vidas. O trabalho não precisa ser chato. Ele pode fluir; pode ser uma
expressão de alegria, um alinhamento rumo a um propósito maior.
Podemos ser melhores. Podemos ser excelentes! Só precisamos treinar.
Pelo restante deste livro, cada capítulo enfocará um aspecto específico
do Scrum. Esses mergulhos profundos almejam mostrar o raciocínio por
trás dos conceitos e explicar por que o Scrum é estruturado dessa maneira.
Você encontrará uma descrição definitiva do método Scrum no apêndice,
mas ela lhe dirá apenas o que fazer. Se vier comigo, vou explicar o porquê.
RESUMO
Hesitação significa morte. Observar, Orientar, Decidir, Agir. Saiba
onde você está, avalie suas alternativas, tome uma decisão e aja!
Olhe para fora para obter respostas. Sistemas adaptativos
complexos seguem algumas regras simples, que são captadas do
ambiente.
Equipes excelentes são. Elas são multifuncionais, autônomas e
capacitadas, com um propósito transcendente.
Não adivinhe. Planeje, faça, verifique, aja. Planeje o que você vai
fazer. Faça. Verifique se o produto alcançou o resultado desejado. Aja
em relação a isso e mude a forma como está fazendo as coisas. Repita
o processo em ciclos regulares e, dessa forma, alcance um
aperfeiçoamento contínuo.
Shu Ha Ri. Primeiro, aprenda as regras e as formas. Quando tiver
domínio delas, inove. Por fim, em um estado elevado de mestria,
descarte as formas e apenas seja – com todo o conhecimento
internalizado e as decisões tomadas quase inconscientemente.
CAPÍTULO 3

Equipes

No mundo do trabalho, são as equipes que põem a mão na massa.


Algumas fazem carros, outras atendem telefones, realizam cirurgias,
programam computadores, levam notícias ao ar e arrombam portas de
apartamentos ocupados por terroristas. Sem dúvida há artesãos ou artistas
que trabalham sozinhos, mas são as equipes que fazem o mundo girar. E é
nelas que o Scrum se baseia.
Todo mundo sabe disso, mas, no mundo dos negócios, com frequência
nos concentramos apenas nos indivíduos, mesmo que a produção seja um
trabalho em equipe. Pense nos bônus por desempenho, nas promoções ou
nas contratações. O foco de tudo isso recai sobre um único ator, e não
sobre a equipe. Trata-se de um grande erro.
Gestores tendem a se concentrar no indivíduo porque essa forma de
pensar faz sentido intuitivamente. Se você quer os melhores profissionais e
as pessoas são diferentes, então a saída é manter o foco na obtenção de
quem tem o melhor desempenho, o que trará resultados melhores, certo?
Bem, não é tão simples assim.
Pensemos, por exemplo, no processo por meio do qual os estudantes
são avaliados em uma matéria. Na Universidade Yale, uma disciplina de
programação de computadores chamada CS 323, ministrada pelo professor
Stanley Eisenstat, é famosa por ser muito difícil. Quando os alunos
começaram a reclamar que demoravam muito para completar as tarefas, o
professor não facilitou os deveres. Em vez disso, começou a registrar
quanto tempo cada estudante levava para concluí-los. Então Joel Spolsky,
que cursou a disciplina de Eisenstat na década de 1980 e agora tem sua
própria firma de software, comparou os dados com as notas que as pessoas
tiravam. Ele queria descobrir se havia alguma relação entre o tempo gasto
em um projeto e a nota que o aluno tirava. Curiosamente, não há. Alguns
indivíduos trabalham rápido e tiram 10, outros executam as tarefas de
modo meticuloso e obtêm o mesmo resultado. A única diferença é o
número de horas gastas. Então, como podemos aplicar essa descoberta ao
mundo dos negócios?
Bem, se você é um gerente, parece que o melhor é contratar não apenas
os profissionais que tiram 10, mas aqueles que obtêm nota máxima
trabalhando durante o mínimo de tempo possível. No estudo realizado em
Yale, os estudantes mais rápidos ultrapassaram seus colegas lentos em
uma proporção de 10:1. Eram dez vezes mais rápidos e tiravam as mesmas
notas. Dez vezes mais rápido é algo bastante expressivo, não é mesmo?
Portanto, parece que as empresas devem se concentrar em contratar as
pessoas mais ágeis e eliminar aquelas que trabalham devagar. Essa parece
ser a melhor abordagem para aumentar a produtividade, mas outros fatores
podem ser ainda mais cruciais.
Quando analisamos equipes em vez de indivíduos, percebemos algo
interessante. Há estudos que analisaram cerca de 3.800 projetos diferentes,
incluindo trabalhos realizados em empresas de contabilidade,
desenvolvimento de softwares para navios de guerra e projetos de
tecnologia na IBM. Os analistas não se concentraram nos dados de
desempenho individual, e sim no desempenho das equipes. Quando
examinamos os resultados dos grupos, vemos algo surpreendente. Se a
melhor equipe foi capaz de executar uma tarefa em uma semana, quanto
tempo você acha que a pior equipe levou? Talvez você aposte na mesma
proporção observada em Yale – 10:1 (isto é, a equipe lenta precisou de
mais de dois meses para realizar o trabalho de que a equipe rápida deu
cabo em uma semana). No entanto, a resposta é que a diferença no
desempenho dos grupos é muito maior do que no individual. Na verdade, a
equipe lenta não precisou de dez semanas para fazer o que a melhor equipe
realizara em sete dias. Ela demorou duas mil semanas. Esse é o tamanho
da diferença entre a melhor e a pior. Então, onde se concentrar? Nos
indivíduos, com os quais é possível obter uma melhoria de dez vezes se
você conseguir fazer uma mágica e transformar todos os seus funcionários
em gênios? Ou nos grupos, com os quais é possível aumentar imensamente
a produtividade, mesmo se você apenas fizer com que suas piores equipes
se tornem medíocres? Claro, se você mirar na mediocridade, é isso o que
obterá. Mas e se for possível fazer com que todas as suas equipes sejam
ótimas?
Em certos momentos, em lugares específicos e com determinados
grupos pequenos, tudo se torna possível. Mesmo que nunca tenha feito
parte de uma equipe assim, você já viu uma delas em ação. Ouvimos
histórias sobre elas; contamos lendas sobre o que são capazes fazer. Cresci
perto de Boston e hoje em dia moro lá, de modo que algumas das grandes
equipes que vêm à minha mente são os Celtics da década de 1980 ou os
New England Patriots da era Tom Brady. Quando esses times vinham com
tudo, parecia que estavam jogando outro esporte, não aquele em que todas
as outras equipes se empenhavam. Drives e jogadas que antes pareciam
impossíveis de repente se tornavam parte do plano de jogo. Era como se os
jogadores estivessem em um estado de graça e, por um instante, não
tivessem como errar. Larry Bird se movia pelo campo e passava a bola
sem desviar o olhar para homens que pareciam ser feitos de madeira oca.
Mas, no momento em que a bola aparentava estar fora de alcance, Kevin
McHale simplesmente surgia no lugar exato onde deveria estar. Então ele
jogava a bola para o lado – mais uma vez, aparentemente sem desviar os
olhos –, e eis que Robert Parish estava na posição perfeita para uma
recepção. Essa conjunção ideal de propósito e confiança gera excelência.
Todo mundo já viu esses grupos. Alguns indivíduos tiveram a sorte de
integrar um – ou mais – deles ao longo da vida. Durante o processo de
criação do Scrum, investiguei o que equipes com desempenho
extraordinário tinham que as outras não possuíam. Eu me perguntava por
que algumas equipes mudam o mundo, enquanto outras estão atoladas na
mediocridade. Quais são os elementos que as equipes excelentes têm em
comum? E o mais importante: é possível reproduzi-los?
A resposta, na realidade, é sim.
No artigo “The New New Product Development Game” [O novo jogo
de desenvolvimento de novos produtos], que descrevia o que mais tarde se
tornou o Scrum, os professores Takeuchi e Nonaka listaram as
características das equipes que encontraram nas melhores empresas do
mundo:

1. Transcendentes: Elas têm uma noção de propósito que vai além do


comum. Esse objetivo autoconcebido lhes permite ultrapassar o trivial e
alcançar o extraordinário. A decisão de não se contentar com a média,
mas de ser grande, muda por si só a forma como a equipe se vê e o que
é capaz de realizar.
2. Autônomas: As equipes são auto-organizadas e se autogerenciam.
Podem decidir como executar o trabalho e têm o poder de fazer com
que suas decisões sejam cumpridas.
3. Multifuncionais: As equipes têm todas as habilidades necessárias para
completar o projeto. Planejamento, design, produção, vendas,
distribuição. E essas habilidades alimentam e reforçam umas às outras.
Um integrante de certa equipe projetou uma nova câmera
revolucionária para a Canon e declarou: “Quando todos os membros da
equipe trabalham em uma mesma sala, a informação de alguém se torna
sua, e não é preciso fazer esforço algum para isso. Assim, você começa
a pensar no que é a melhor opção, ou a segunda melhor, para o grupo
como um todo, e não apenas do seu ponto de vista.”1

Como criar uma equipe que visa a um objetivo maior, se organiza e


explora constantemente as habilidades de cada integrante? Passei muito
tempo pensando nisso. Afinal de contas, não se pode simplesmente gritar
com as pessoas e ordenar que elas sejam mais organizadas e
transcendentes. A motivação precisa vir de dentro. Tentar impô-la
arruinará o que você está tentando fazer. Seria possível haver um conjunto
simples de regras que estimulem o surgimento da mágica?
A grande linha cinza
Meu pensamento viajou até a época em que era parte de uma dessas
equipes mágicas. Foi no início dos anos 1960, quando eu era um cadete na
Academia Militar dos Estados Unidos, mais conhecida como West Point.
No meu último ano lá, fui escolhido como oficial de treinamento do meu
regimento, o L2, ou “Loose Deuce” [Frouxo Dois].
Em 1963, havia 24 regimentos em West Point. De A1 a M1, de A2 a
M2. Três vezes por semana, eles ocupavam o pátio e marchavam em
uniforme de gala, com fuzis segurados assim e espadas assado, faixas
brancas aqui e equipamento cuidadosamente posicionado acolá. Essas
formações de parada constituem uma competição na Academia há quase
duzentos anos. Em 1963, o Loose Deuce ocupava o rodapé desse ranking
havia mais de um século.
O oficial de treinamento não tem poder direto. Ele não é parte da
estrutura de comando do regimento. Ninguém é subordinado a ele.
Ninguém precisa fazer o que ele manda. No entanto, após cada parada, os
oficiais de treinamento se reúnem e avaliam cada regimento de acordo
com vários critérios. Como responsável por essa tarefa no Loose Deuce,
resolvi que podia tornar as coisas mais transparentes. Passei a elaborar
gráficos coloridos sobre o que dava certo e o que dava errado e a pendurá-
los nos alojamentos, onde todos os integrantes do meu regimento seriam
obrigados a vê-los todo dia.
A princípio as críticas eram simples. A espada de Charlie estava
imunda. Jim não virou em sincronia com todo mundo. A saudação de
Dave foi desleixada. Não havia punições nem atribuições de culpa; os
papéis simplesmente mostravam os fatos que os outros oficiais de
treinamento expunham durante as avaliações. Mas eram aquelas as razões
pelas quais o L2 ficava sempre nas últimas posições do ranking.
Dentro de poucas semanas os cadetes passaram a se dedicar mais, e as
avaliações ruins começaram a apontar para o comandante da companhia.
As ordens dele não eram claras o bastante; as cronometragens não eram
precisas. Não surpreende que eu tenha sido repreendido por criticar o
comandante, mas minha resposta foi esta: “As avaliações são o que são. O
que estou fazendo é somente expor os fatos. Os homens estão fazendo o
trabalho deles. Você é o problema agora. Quer corrigir isso? Ou quer ser
péssimo para sempre?” Algumas semanas depois, o L2 se tornou o
regimento número 1 em West Point.
O cadete mais honrado na história de West Point foi o general Douglas
MacArthur. Ele obteve o posto mais alto que qualquer um que se formou
lá já alcançou, e foi um oficial de teste nas duas guerras mundiais. Por ser
um general de cinco estrelas e ter recebido a Medalha de Honra, ele tinha
uma conexão especial com o Corpo de Cadetes.
Um ano antes de eu começar a treinar minha companhia, em maio de
1962, ele fez seu último discurso em West Point. Você precisa criar uma
imagem mental da cena para compreender o impacto que ela teve. Havia
três mil homens com o uniforme cinza de cadete sentados em um
gigantesco salão de pedra com grandes colunas e candelabros enormes que
pendiam do pé-direito alto. Em uma das paredes, havia uma plataforma a
cerca de dez metros de altura, da qual se via o salão inteiro. O general
MacArthur, já frágil nessa época, subiu a esse palco e proferiu o que hoje é
conhecido como o discurso “Long Gray Line” [Grande linha cinza] (a cor
do uniforme dos cadetes):

Vocês são o fermento que aglutina toda a estrutura do nosso sistema


nacional de defesa. De suas fileiras saem os grandes capitães que têm
os destinos da Nação nas mãos no instante em que soa o alarme da
guerra.
A grande linha cinza nunca nos decepcionou. Se vocês o fizessem,
um milhão de fantasmas vestidos de verde-oliva, cáqui, azul e cinza
se levantariam de suas cruzes brancas, trovejando as palavras
mágicas: Dever, Honra, Pátria.2

Lembro que, nesse momento, a sensação era a de que uma legião


desses fantasmas se levantava atrás de MacArthur enquanto ele lançava
sua carga final sobre o Corpo. E três mil homens treinados para a guerra,
cujas lágrimas não escapavam com facilidade, começaram a chorar.
Em meus sonhos, ouço de novo o estampido das armas, a algazarra
dos tiros, o murmúrio estranho e lúgubre do campo de batalha. Mas
na noite de minha memória volto para West Point. E lá sempre ecoam
repetidas vezes: Dever, Honra, Pátria.

O dia de hoje marca minha última chamada com vocês. Mas quero
que saibam que, quando eu cruzar o rio, meus últimos pensamentos
conscientes serão sobre o Corpo, o Corpo e o Corpo.3

Até hoje, todos os cadetes da Academia têm de memorizar o discurso,


linha a linha, palavra por palavra, antes da formatura. O texto se tornou o
guia espiritual do corpo de cadetes e de todo o corpo de oficiais dos
Estados Unidos: Dever, Honra, Pátria.
Quase um ano depois desse evento, o general MacArthur morreu. Uma
companhia foi selecionada para marchar no funeral. Ao som lento e
ritmado dos tambores, o Loose Deuce, aquele mesmo regimento que havia
sido a pior do Corpo por mais de cem anos, marchou atrás do carrinho que
carregava o caixão de um dos maiores generais americanos.
Alguns meses depois do funeral, marchei com o Loose Deuce pela
última vez, na minha formatura. Todos os 24 regimentos participaram, mas
o L2, por causa da nossa posição no alfabeto, marchou em 23o lugar. Após
a cerimônia, meu futuro sogro me perguntou:
– Aquele regimento. O penúltimo. Eles eram diferentes de todo o
restante. Os outros marcharam, mas eles pareciam flutuar. Quem eram?
– O meu regimento – respondi. – Esses homens enterraram o general
MacArthur.
Tínhamos atingido a transcendência.
O Scrum em tempos de revolta
Muitas vezes, quando falam sobre boas equipes, as pessoas só
mencionam a noção de propósito transcendente. No entanto, apesar de
essencial, esse elemento é apenas um dos apoios do tripé. Igualmente
crucial, mas talvez menos comentada, é a liberdade de trabalhar da
maneira que você acredita ser a melhor – ter autonomia. Em todas as
equipes excelentes, os integrantes têm a oportunidade de decidir como
concretizar as metas estabelecidas por quem comanda a organização.
A praça Tahrir se tornou um sinônimo da revolução egípcia e dos
conflitos naquele país, mas antes de janeiro de 2011 ela era apenas mais
uma rotatória suja e engarrafada no centro do Cairo. Ao norte dela
encontra-se o prédio vermelho-rosado do Museu Egípcio, e ao sul ficam os
muros altos da Universidade Americana no Cairo e o icônico Muqawama,
edifício do governo. A sede do Partido Nacional Democrático do ditador
egípcio Hosni Mubarak ficava a oeste, assim como a sede da Liga Árabe.
Curiosamente, na borda leste da praça havia, dentre todas as construções
possíveis, um KFC, que logo se tornou o pano de fundo dos manifestantes
que atiravam pedras para impedir o avanço da polícia.
No final de janeiro de 2011, um pequeno grupo decidiu se reunir na
rotatória para protestar contra o assassinato brutal de um jovem chamado
Khaled Said, morto pela polícia egípcia. O que poderia ter sido mais uma
manifestação insignificante contra um regime repressivo pegou fogo,
inflamou a imaginação egípcia e, por fim, atraiu milhões de pessoas para a
praça. Ao longo do mês seguinte, aconteceu algo que era impensável. O
simples fato de cidadãos se juntarem para dizer não fez com que um dos
regimes ditatoriais mais antigos e poderosos do Oriente Médio caísse. As
pessoas se reuniram dia após dia, noite após noite, enchendo a praça e
criando um país alternativo no qual o ditador Hosni Mubarak não mandava
e os indivíduos podiam falar o que pensavam. Eles mudaram seu próprio
mundo.
Para os jornalistas, tratava-se de uma pauta importantíssima e de
relevância histórica. Entre os que viajaram para o Cairo estava a equipe da
National Public Radio (NPR), um dos principais veículos jornalísticos dos
Estados Unidos. Pegos de surpresa no início, produtores e repórteres da
NPR estouraram prazos, perderam acontecimentos e se embaralharam para
conseguir atender às demandas dos executivos em Washington.
J.J. Sutherland, meu filho, foi enviado para ajeitar a situação. Produtor
e correspondente de guerra experiente, ele foi designado para o Cairo para
fazer com que a cobertura funcionasse. A pauta era importante demais para
não ir ao ar todo dia, toda hora, em todos os programas. J.J. aterrissou em
um país no qual os aeroportos tinham sido fechados, estrangeiros
desesperados tentavam fugir e a rede de telefonia celular e a internet foram
cortadas. Ele era o produtor que estava no comando no local, mas, assim
como um oficial de treinamento em West Point, um produtor da NPR é um
facilitador e organizador – um ajudante ou um apoio, e não um típico
gerente ou líder. O trabalho de J.J. era ajudar a equipe a fazer o melhor
trabalho possível. Não era mandar, e sim lhes proporcionar o que fosse
necessário. A gerência tinha dado ordens para que relatassem os
acontecimentos e entrassem no ar várias vezes ao dia, e o grupo descobriu
como vencer esse desafio ao resolver quais histórias contaria e como faria
isso através do rádio.
Estranhamente, o fato de a comunicação com os executivos em
Washington ser tão difícil foi o que fez com que os jornalistas obtivessem
tanto êxito. Eles estavam por conta própria de verdade. Como era
impossível que Washington os supervisionasse de forma direta e constante,
e uma vez que os eventos se sucediam com tanta velocidade, os repórteres
tiveram de se organizar para realizar o trabalho. Um dos conceitos-chave
do Scrum é que os integrantes da equipe decidam sozinhos como
trabalharão. É responsabilidade da gerência definir os objetivos
estratégicos, mas é incumbência da equipe decidir como atingir essas
metas. No Cairo, até mesmo acompanhar os eventos era uma tarefa
impossível para qualquer um que não estivesse lá. Quase todos os dias, a
equipe da NPR listava uma série de reportagens para o dia seguinte, que se
tornava instantaneamente obsoleta em face da rapidez com que os fatos
evoluíam. No caso de um grande confronto na praça, um discurso, uma
renúncia ou uma batalha, o trabalho ia todo por água abaixo. De repente,
os jornalistas passavam a se desdobrar para transmitir alguma notícia do
momento.
Eles obtiveram sucesso usando o Scrum. Os prazos estipulados
exigiam que entrassem no ar a cada doze horas, nos programas Morning
Edition e All Things Considered. A cada um desses ciclos, J.J. falava com
os repórteres e fazia três perguntas muito simples: o que você fez desde a
última vez que nos falamos? O que você vai fazer antes de nossa próxima
reunião? E quais são as dificuldades que você está enfrentando? Essas
perguntas – que constituem um dos rituais do Scrum – faziam com que os
correspondentes falassem e compartilhassem suas experiências uns com os
outros. E a principal tarefa de J.J., que na prática atuava como o Scrum
Master, era se assegurar de que as dificuldades que a equipe enfrentava em
uma reunião fossem eliminadas antes da seguinte. O obstáculo podia ser
qualquer coisa – desde problemas com a burocracia egípcia até a obtenção
de um quarto de hotel seguro; desde encontrar motoristas e intérpretes até
livrar correspondentes da custódia da temida polícia secreta do Egito, a
Mukhabarat.
Como foi que tudo isso deu certo? Bem, o que tinha começado com
caos, desavenças pessoais e incapacidade de noticiar os fatos rapidamente
se transformou em uma máquina tão azeitada que a gerência nem
precisava gerenciar. Em vez disso, a equipe se autoadministrava. Nas
semanas seguintes, o esquadrão da NPR no Cairo produziu mais matérias
do que todos imaginavam que fosse possível. E com qualidade melhor do
que a oferecida pela concorrência, o que acabou resultando em vários
prêmios. Trata-se de um feito que não teria sido alcançado se a equipe não
estivesse imbuída de uma noção de propósito (cobrir uma das pautas mais
importantes da carreira) e não tivesse autonomia (a capacidade de decidir
por conta própria como relatar as várias vertentes daquela pauta).
Hoje, o Scrum é usado na NPR inteira, desde o web design até o
jornalismo de dados, passando pela criação de novos programas de rádio.
Equipes de publicações como Chicago Tribune, New York Times,
Washington Post e ProPublica usam o Scrum. Quando os prazos começam
a se aproximar demais, elas precisam da velocidade.
Uma equipe para fazer o trabalho
A terceira perna do tripé das grandes equipes é que elas tenham todas
as habilidades necessárias para realizar as tarefas. Em uma estrutura de
organização clássica, talvez haja a equipe de planejamento, seguida da
equipe de execução, e então vêm a equipe de testes, a de produção e a de
distribuição. Cada uma precisa terminar sua parte antes que o projeto siga
para a etapa seguinte. Nenhuma delas consegue finalizar um produto por
conta própria.
O exemplo clássico dessa forma de organização é o processo “phase-
gate” da Nasa. Foi seguindo esse modelo que a agência conduziu o
programa de ônibus espacial, além de outros projetos das décadas de 1960,
1970 e 1980. As coisas mudaram muito desde então, mas eis como o
processo antigo funcionava. Primeiro, há uma “fase” de descoberta, na
qual as pessoas decidem o que tentarão realizar – pode ser a construção de
um foguete que chegue à Lua. Uma porção de estrategistas se reunirá em
uma sala e fantasiará a respeito dessa ideia. Em seguida, há um “portão”,
em que um gerente ou um grupo de gerentes precisa dar o aval para que o
projeto vá em frente. Depois disso, há uma fase de escopo, na qual todo o
“pessoal das exigências” resolve o que o produto fará. Em seguida há
outro portão, e outra série de reuniões, e aí esses documentos monstruosos
são entregues à fase seguinte, que é a elaboração do case de negócio e do
plano de projeto. Então todos esses planejamentos são levados para outra
série de reuniões e aprovações e, depois disso, passam para mais uma fase,
a fase de desenvolvimento, na qual as coisas são realmente feitas. Em
seguida há mais um monte de reuniões e documentos, e o produto é
entregue a um novo grupo para a fase seguinte, em que serão realizados os
testes. Os integrantes dessa equipe nunca viram o produto antes, mas eles o
testam, aprovam e empurram para outro portão – ou série de reuniões
intermináveis –, com mais uma pilha de documentos que ninguém leu.
Então, e só então, o produto é passado para um sexto grupo, que o lançará
de fato. Escrever sobre esse processo já é uma tarefa cansativa. E é assim
que a Nasa realizava a produção.
Em dado momento dos anos 1980, alguns executivos da Fuji-Xerox
foram aos Estados Unidos para estudar como a famosa agência espacial
funcionava. Quando eles implementaram os mesmos procedimentos no
Japão, a qualidade caiu, o índice de falhas aumentou e a capacidade de
realização despencou. Os executivos abandonaram rapidamente o processo
e afirmaram que ele tinha grandes chances de gerar erros catastróficos. A
Comissão Rogers, que investigou o desastre do Challenger em 1986,
concordou. O físico Richard Feynman deu um célebre parecer a esse
respeito no Apêndice F do relatório da Comissão: “Parece que, por algum
motivo, seja para consumo interno ou externo, a administração da Nasa
classifica com exagero a segurança de seu produto, chegando ao limite da
fantasia.”4
O fato é que, quando observamos as melhores equipes – como as que
existiam na Toyota ou na 3M quando Takeuchi e Nonaka escreveram seu
artigo, ou as que hoje trabalham no Google, na Salesforce.com ou na
Amazon –, não há divisão de papéis. Todos os integrantes de cada equipe
fazem tudo, de cabo a rabo.
Nicola Dourambeis é responsável pelas práticas ágeis na
Salesforce.com. Ela supervisiona cerca de duzentas equipes Scrum em
uma firma que aparece com frequência em listas como “As 100 melhores
empresas para trabalhar”, da Fortune, e “As empresas mais inovadoras do
mundo”, da Forbes. Nicola diz que enxerga o Scrum como o “ingrediente
secreto” da Salesforce.com. “Quando éramos uma startup”, conta ela,
“fazíamos três ou quatro grandes lançamentos por ano. Fomos crescendo e
aumentando a escala, mas continuávamos a gerenciar projetos com o típico
método da cascata, e esse número caiu para um lançamento ao ano em
2005-2006. Isso precisava mudar. Então introduzimos o Scrum. Desde
então, lançamos produtos três vezes por ano. Não existem muitas grandes
empresas capazes de fazer isso.”
O que Nicola busca em uma equipe é diversidade – de habilidades,
pensamento e experiência. Ela quer grupos que sejam altruístas e
autônomos, mas também é necessário que sejam multifuncionais – que
consigam executar um projeto inteiro.
Um dos testes que aplica para verificar se um grupo está no caminho
certo é perguntar, digamos, a um analista de redes: “Você faz parte de qual
equipe?” Se ele ou ela responder mencionando o produto em que está
trabalhando (por exemplo, automação ou integração), em vez da sua
especialidade (engenharia de redes), ela assente em aprovação. Quando um
especialista se identifica com sua especialidade mais do que com o produto
que está desenvolvendo, Dourambeis sabe que ainda tem trabalho pela
frente.
O Scrum na guerra
Um dos exemplos mais extremos de uma equipe multifuncional vem
das Forças Armadas. As Forças de Operações Especiais (SOF, na sigla em
inglês) dos Estados Unidos são exatamente assim. A típica equipe das
Forças Especiais do Exército tem doze integrantes: um líder (que é um
oficial de carreira), um oficial especialista, um sargento de equipe (que
comanda a equipe em operações do dia a dia), um sargento de inteligência
e dois sargentos de cada uma destas especialidades: armamento das Forças
Especiais, demolição, medicina e comunicações. Cada equipe tem todos os
requisitos necessários para realizar uma missão do início ao fim. E elas
executam treinamentos cruzados em cada conjunto de habilidades. Querem
garantir, por exemplo, que, se ambos os médicos forem mortos, o
especialista em comunicações seja capaz de fazer um curativo no
especialista em armamento. Além disso, as Forças Especiais, ao contrário
da maior parte das Forças Armadas “comuns”, não separam coleta de
informações e planejamento de operações. Não há passada de bastão de
um grupo para o outro, durante a qual é possível que haja erros. As Forças
Especiais não querem nenhum desastre similar ao do Challenger. Por isso,
as pessoas que coletam informações, as que planejam o que fazer com
esses dados e as que sairão porta afora se comunicam constantemente.
Durante a Guerra do Iraque, equipes das Forças Especiais mostraram
que eram muito eficazes em matar pessoas. Eram capazes de localizar um
alvo insurgente e eliminá-lo na mesma noite. Entre 2003 e 2007,
realizaram milhares de missões bem-sucedidas para desmantelar a
insurgência iraquiana, em especial o braço da Al Qaeda no Iraque. Dos
pontos de vista tático e operacional, elas quase sempre obtinham sucesso.
As equipes multifuncionais e altamente treinadas estavam entre as forças
mais letais que o mundo já vira. Mas, apesar de tanta habilidade e de tanto
talento, exerciam um impacto estratégico quase nulo. Ao longo dos
primeiros quatro anos da guerra, o número de ataques contra as forças dos
Estados Unidos e civis iraquianos aumentou quase diariamente. Em alguns
dos piores períodos, houve mais de cem ataques por dia contra os
americanos, e nem mesmo a letalidade das Forças Especiais conseguia
virar essa maré. No fim de 2006 e no começo de 2007, praticamente todos
os comentaristas bem-informados encaravam o Iraque como um caso
perdido. Cada nova morte de um americano passara a ser vista como um
sacrifício inútil.
Então, em 2007, o general David Petraeus comandou a operação que
ficou conhecida como “Surge”, em que dezenas de milhares de tropas
adicionais foram levadas ao Iraque para viver em meio à população. Essa
nova estratégia teve um impacto excepcional. Um dos motivos foi que os
iraquianos passaram a acreditar que os americanos estavam do lado deles,
lutando contra os insurgentes que explodiam bombas em suas vizinhanças
e promoviam limpeza étnica. Outra razão foi que as Forças Armadas dos
Estados Unidos, que usavam um programa chamado “Sons of Iraq” [Filhos
do Iraque], conseguiram subornar milhares de antigos insurgentes para que
passassem para o lado americano. Mas havia um terceiro componente na
estratégia – algo que o jornalista Bob Woodward classificou como tão
revolucionário quanto a invenção do tanque ou do avião.
Essa arma não era uma nova engenhoca nem um drone. Era o que o
general Stanley McChrystal, comandante do Comando Conjunto de
Operações Especiais à época, chamou de “conduta de guerra
colaborativa”. Ela incluía o uso de equipes multifuncionais de todas as
partes do governo americano para espreitar e desmantelar as redes da Al
Qaeda. Eis como o Washington Post descreveu a operação em 6 de
setembro de 2008:

A CIA fornece analistas de inteligência e equipamentos de


espionagem com sensores e câmeras que são capazes de rastrear
alvos, veículos ou aparato ao longo de até catorze horas. Especialistas
forenses do FBI dissecam dados, desde informações de telefones
celulares até lixo encontrado nos bolsos de extremistas. Oficiais do
Tesouro rastreiam o capital que flui entre os extremistas e que sai de
governos. Funcionários da Agência Nacional de Segurança (NSA)
interceptam conversas e dados de computadores, e membros da
Agência Nacional de Informação Geoespacial usam equipamentos de
alta tecnologia para apontar com precisão onde extremistas suspeitos
estão usando telefones ou computadores.5

O que eles fizeram foi criar uma equipe multifuncional que tinha todas
as habilidades necessárias para executar o trabalho. Em vez de manter
esses especialistas em grupos separados e que raramente trocam
informações, fizeram com que todos trabalhassem juntos, na mesma sala,
compartilhando dados e planejando como encontrar e executar agentes da
Al Qaeda.
Antes disso, um órgão de inteligência designava o alvo e, em seguida,
passava o bastão para uma equipe das Forças Especiais, que cuidava das
operações em si. Então essa equipe entregava quaisquer informações que
tivesse obtido para um outro grupo, que as analisava. Quem empregava o
método de passar o bastão descobriu algo que a Fuji-Xerox concluíra
décadas antes, quando os japoneses tentaram implementar o sistema
phase-gate da Nasa. Trata-se de uma das principais razões pelas quais o
Scrum foi desenvolvido: toda vez que há uma passagem de bastão, existe a
possibilidade de que um desastre aconteça. Como foi explicado no artigo
“Employing ISR: SOF Best Practices” [Aplicando Recursos dos Sistemas
de Informação (ISR): melhores práticas das Forças de Operações Especiais
(SOF)], publicado no periódico Joint Force Quarterly:

As equipes com integrantes de diversas agências tornam possível a


eliminação das fissuras entre os diferentes atores da coalizão no
Iraque, mantendo alvos de alto valor sob a mira de um “olho que
nunca pisca”. [...] A passagem de incumbências entre unidades e
organizações representava um “piscar de olhos organizacional”,
durante o qual o ímpeto diminuía e o alvo podia escapar.6

Compartilhar informações e recursos dessa forma não é fácil em


nenhuma situação. Já vi gerentes que ficaram quase paralisados quando
seus recursos foram designados para uma equipe fora de seu comando
direto. Abrir mão do microgerenciamento cotidiano e do controle é difícil,
mas fazer isso no mundo secreto da inteligência e das operações especiais
é ainda mais desafiador – tanto que, apesar de sua eficiência, as equipes do
Iraque se dissolveram logo após a Surge ser declarada um sucesso.
Christopher Lamb e Evan Munsing escreveram o fascinante artigo “Secret
Weapon: High-value Target Teams as an Organizational Innovation”
[Arma secreta: equipes com alvos de alto valor como uma inovação
organizacional], que abordava esse assunto.

[...] assim que o fracasso no Iraque foi evitado por um triz, o apoio
burocrático às equipes com integrantes de várias agências começou a
diminuir. Em 2008, outros departamentos e agências, em particular
um órgão de inteligência não identificado, começaram a retirar seu
pessoal e a não mais colaborar, na crença de que o compartilhamento
de informações e a colaboração tinham ido longe demais.7

A arma mais poderosa no arsenal dos Estados Unidos, que Bob


Woodward considerou tão importante quanto a invenção do tanque ou do
avião, foi posta de lado por conta de inquietações mesquinhas de
departamentos e por gerentes de médio escalão preocupados com a própria
carreira. Vi isso acontecer repetidas vezes em uma grande instituição
financeira de Boston. Eles me telefonavam em pânico quando tinham
dificuldades em um projeto de suma importância. Pediam que eu treinasse
dezenas dos funcionários no Scrum e que montasse equipes capazes de
lidar com a emergência. Alocavam pessoas da organização inteira em
grupos multifuncionais para cuidar da questão. E então a resolviam.
Depois que a crise passava, desmantelavam as equipes e as mandavam de
volta para seus silos e feudos administrativos. A transparência e o
compartilhamento que existem em uma equipe fantástica representam
ameaças a estruturas enraizadas em segredo e obscurecimento. Muitas
vezes os gerentes não querem que seus pares, suas equipes ou outros
integrantes do círculo de poder saibam exatamente o que estão fazendo, o
que está sendo realizado e com qual velocidade. Para eles, manter essas
informações em segredo é crucial para sua posição de comando. Em vez
de aderir aos interesses do bem maior, alinham-se com suas próprias
motivações – que, com frequência, resumem-se a ganância e ambição. É o
mesmo tipo de pensamento que levou à gigantesca falha de administração
que causou o mais recente colapso econômico. Em muitas empresas, as
ações foram baseadas unicamente em quais seriam as vantagens a curto
prazo para os indivíduos. Não houve consideração pelo que beneficiaria a
todos, ou pelo que causaria menos danos à economia global.
Tamanho é documento, mas não como você pensa
Não é só porque a multifuncionalidade pode gerar ótimos resultados
que você deve bancar o Noé e pegar dois indivíduos de cada área para a
sua equipe. Essa dinâmica só funciona bem em grupos pequenos. A
configuração clássica é de sete pessoas, podendo-se acrescentar ou
eliminar duas delas, embora eu já tenha visto grupos que funcionavam
muito bem com apenas três integrantes. O mais fascinante é que os dados
mostram que, se mais de nove pessoas são incluídas em uma equipe, a
velocidade diminui. É isso mesmo. Mais recursos fazem com que a equipe
trabalhe mais devagar.
No campo de desenvolvimento de software há algo chamado “Lei de
Brooks”, que Fred Brooks cunhou em 1975, em seu livro seminal O mítico
homem-mês. Em termos simples, a Lei de Brooks afirma que “acrescentar
mão de obra a um projeto de software atrasado faz com que ele atrase
ainda mais”.8 Isso foi comprovado em diversos estudos. Lawrence Putnam
é uma figura lendária na área de desenvolvimento de software, e ele
dedicou a vida inteira a estudar quanto tempo se gasta para fazer as coisas
e por quê. Seu trabalho mostrava repetidas vezes que projetos com vinte
pessoas ou mais demandavam mais esforço do que aqueles com cinco ou
menos. Não um pouquinho mais de esforço – muito mais. Uma equipe
grande demorava cerca de cinco vezes mais horas do que uma pequena.
Ele viu isso se repetir em diversas ocasiões e, em meados da década de
1990, resolveu realizar um estudo abrangente para tentar determinar o
tamanho da equipe ideal. Analisou 491 projetos de médio porte em
centenas de empresas. Todos eles exigiam a criação de novos produtos ou
funcionalidades, e não uma reformatação de versões antigas. Putnam
dividiu os projetos conforme o tamanho das equipes e notou algo logo de
início. Quando tinham mais do que oito integrantes, os grupos demoravam
muito mais para concluir as tarefas. Equipes de três a sete pessoas
despendiam cerca de 25% do esforço das que tinham entre nove e vinte
membros para realizar o mesmo trabalho. Resultados semelhantes foram
obtidos em centenas de projetos. O fato de que grupos muito grandes
realizam menos parece ser uma regra fixa da natureza humana.
Mas por quê? Para responder a essa pergunta, precisamos examinar as
limitações do cérebro humano. Você provavelmente já ouviu falar do
clássico estudo que George Miller publicou em 1956, que mostrou que o
número máximo de itens que o indivíduo médio consegue reter na
memória de curto prazo é sete. Supostamente, essa é a razão pela qual, nos
Estados Unidos, os números de telefone têm sete dígitos. O problema é
que pesquisas posteriores provaram que a conclusão de Miller estava
errada.
Em 2001, Nelson Crown, da Universidade do Missouri, perguntouse se
a regra mágica de sete era verdadeira e conduziu uma vasta avaliação de
todas as novas pesquisas sobre o assunto. Na realidade, o número de itens
que alguém consegue reter na memória de curto prazo não é sete. É
quatro.9 Com frequência, as pessoas pensam que conseguem decorar mais
do que isso se usarem um truque mnemônico ou se simplesmente se
concentrarem mais. Mas as pesquisas são claras: somos capazes de
memorizar apenas quatro informações. O exemplo clássico é dar a alguém
a seguinte série de doze letras: f bicbsibmirs. Em geral, os indivíduos se
lembram de quatro dessas letras – a não ser quando percebem que elas
podem ser agrupadas em acrônimos conhecidos: FBI, CBS, IBM, IRS. Ao
conectar elementos na sua memória de curto prazo a associações de longo
prazo, você consegue reter mais. No entanto, a parte do cérebro que se
concentra – a parte consciente – só é capaz de guardar cerca de quatro
itens distintos de cada vez.
Portanto, há um limite fixo para o que o cérebro consegue gravar em
determinado momento. O que nos leva de volta a Brooks. Quando tentou
desvendar por que acrescentar mais pessoas fazia com que um projeto
demorasse mais, ele descobriu dois motivos. O primeiro é o tempo que os
indivíduos levam para entrar no ritmo. Como é de esperar, fazer com que
um novo integrante entre no ritmo acaba desacelerando todos os outros
membros da equipe. O segundo motivo tem a ver não apenas com a forma
como pensamos, mas também, quase literalmente, com o que nossos
cérebros são capazes de pensar. O número de canais de comunicação
aumenta de maneira radical de acordo com a quantidade de pessoas, e
nosso cérebro não consegue lidar com isso.
Se quiser calcular o impacto do tamanho de um grupo, pegue o número
de integrantes de uma equipe, multiplique-o por esse mesmo número
menos um, e divida o resultado por dois. Canais de comunicação = n (n –
1)/2. Por exemplo, se houver cinco indivíduos, haverá dez canais. Seis
indivíduos, quinze canais. Sete, 21. Oito, 28. Nove, 36. Dez, 45. Nosso
cérebro não é capaz de lidar com tantas pessoas ao mesmo tempo. Não
sabemos o que todo mundo está fazendo. E diminuímos o ritmo enquanto
tentamos descobrir.
Assim como em uma equipe das Forças Especiais, todos os integrantes
de uma equipe do Scrum precisam saber o que todos os outros estão
fazendo. O trabalho que está sendo realizado, os desafios que estão sendo
enfrentados e o progresso que é feito precisam ficar claros para todo
mundo. Se o grupo fica muito grande, a capacidade de comunicação
constante entre as pessoas é atrapalhada. Surgem muitas correntes
cruzadas. Com frequência, a equipe se divide social e funcionalmente em
subequipes que começam a trabalhar com objetivos contrários. A
multifuncionalidade se perde. Reuniões que levavam minutos começam a
demorar horas.
Não faça isso. Mantenha suas equipes pequenas.
O Scrum Master
Na época da primeira equipe de Scrum, eu lhes mostrava com
frequência um vídeo do time de rúgbi All Blacks se preparando para uma
partida. O All Blacks, um time lendário da diminuta Nova Zelândia, é uma
equipe transcendente. Antes de cada partida eles realizam a haka, uma
cerimônia de guerreiros maoris. A haka é uma dança de guerreiros que
energiza as pessoas que estão prestes a enfrentar uma batalha. Ao assisti-
la, é quase possível sentir a energia que sai de cada jogador e se mescla em
uma grande unidade. Através de batidas dos pés e das mãos e canto em
sincronia – movimentos ritualizados que significam cortar a garganta do
inimigo –, você vê homens comuns se transformarem em algo mais, algo
maior. Eles invocam um espírito guerreiro que não aceita derrota nem
desânimo.
Foram necessárias algumas exibições do vídeo, mas chegou um
momento em que os programadores ligeiramente fora de forma da minha
equipe começaram a falar sobre como eles poderiam ser daquele jeito. Eles
listaram quatro aspectos que mereciam ser imitados. O primeiro era uma
concentração intensa na meta, gerada e energizada pelos cânticos maoris.
O segundo era a colaboração extrema – braços e corpos unidos em direção
ao mesmo objetivo. O terceiro era o ímpeto de destruição – qualquer
elemento no caminho deveria ser eliminado. O quarto era o entusiasmo de
todos quando qualquer integrante do time conseguia avançar com a bola.
Não importava quem fosse. O fato em si era uma razão para comemorar.
Então estabelecemos essa estrutura de sprints, reuniões diárias em pé
(Daily Stand-up meetings), revisões (Reviews) e retrospectivas
(Retrospectives), e percebi que precisávamos de alguém cujo trabalho
fosse garantir que o processo em si funcionasse. Não um gerente – mais
um líder-servo, algo entre um capitão de time e um técnico. Enquanto
assistíamos ao All Blacks todo dia, perguntei ao grupo que nome
deveríamos dar a essa pessoa. Eles escolheram “Scrum Master” [Mestre
Scrum]. Ele ou ela conduziria todas as reuniões, se certificaria de que
houvesse transparência e, o mais importante, ajudaria a equipe a descobrir
o que estava atrapalhando o andamento do projeto. O elemento-chave seria
perceber que, com frequência, o obstáculo não é simplesmente o fato de
uma máquina não funcionar ou o cara da contabilidade ser um babaca – é o
processo em si. É tarefa do Scrum Master guiar a equipe em direção ao
aperfeiçoamento contínuo – perguntar regularmente “Como podemos fazer
melhor aquilo que fazemos?”.
No cenário ideal, ao fim de cada ciclo, de cada sprint, a equipe se
autoexaminaria – suas interações, suas práticas e seus processos – e faria
duas perguntas: “O que podemos mudar na forma como trabalhamos?” e
“Qual é nosso maior ponto de conflito?”. Se essas duas questões forem
respondidas de maneira franca, o grupo é capaz de avançar mais rápido do
que qualquer um já imaginou.
Odeie o jogo, não o jogador
Em geral, quando o moral, a coesão e a produtividade de uma equipe
estão baixos, isso se deve a um mal-entendido básico a respeito do
funcionamento humano. Quantas vezes você já se uniu a um colega para
falar mal de um terceiro que “não está fazendo o próprio trabalho”, ou
“sempre atrasa a gente”, ou “toma decisões idiotas”? Ou esteve em um
grupo que tenta encarar um problema, e a primeira coisa que todo mundo
faz é tentar apontar culpados?
Aposto que todos vocês já participaram de uma reunião assim.
Também aposto que cada um de vocês, em uma ocasião ou outra, foi quem
acabou levando a culpa. Mas também aposto que, quando põe a culpa em
outra pessoa, você encontra falhas pessoais nela, enquanto se você for
apontado como culpado, torna-se muito mais consciente dos fatores
situacionais que levaram ao problema e do motivo pelo qual você agiu de
determinada forma. Sabe por quê? Quando fala sobre si próprio, você está
completamente certo. No entanto, quando fala sobre os outros, comete um
dos erros humanos mais comuns – e destrutivos – no julgamento das ações
de terceiros. Tem até um nome: “Erro fundamental de atribuição”.
Alguns estudos fascinantes a esse respeito são mostrados em
Induction: Processes of Inference, Learning, and Discovery [Indução:
processos de inferência, aprendizado e descoberta], de John H. Holland.
Um dos artigos citados nesse livro foi publicado no começo dos anos
1970, portanto não é novo. É um texto antigo que vem sendo reproduzido
repetidas vezes, sobre o que faz os humanos explodirem. Enfim, esse
grupo de pesquisadores reuniu um monte de estudantes de faculdade do
sexo masculino e fez duas perguntas simples: “Por que você escolheu o
seu curso?” e “Por que você namora a pessoa com quem está
namorando?”. Em seguida, os pesquisadores pediram que os rapazes
respondessem às mesmas perguntas sobre seu melhor amigo. Houve
diferenças significativas. Quando o assunto eram eles próprios, os
estudantes não falavam sobre suas características pessoais, e sim sobre o
que tinha sido perguntado. Diziam coisas como “Química é uma área que
paga bem” sobre o curso escolhido, ou “Ela é uma pessoa muito afetuosa”
sobre a namorada. No entanto, quando falavam sobre os melhores amigos,
mencionavam as habilidades e as necessidades deles – por exemplo, “Ele
sempre foi bom em matemática” ou “Ele é meio dependente e precisa de
uma mulher que tome as decisões”.10
Essa percepção de mundo é engraçada quando a vemos nos outros. É
tão óbvio que estão cometendo equívocos. Mas, antes de rir, é preciso se
dar conta de que você faz o mesmo o tempo todo. Todo mundo faz isso.
Temos a impressão de que reagimos às situações, mas achamos que os
outros são motivados por sua personalidade. Um efeito colateral divertido
é que, quando nos pedem para descrever nossas características pessoais e
as particularidades de nossos amigos, sempre nos pintamos como muito
mais entediantes. Afirmamos ter muito menos traços de personalidade do
que nossos amigos.
Os autores de Induction traçam um paralelo interessante entre o modo
como pensamos erroneamente sobre motivações sociais e como indivíduos
que não são cientistas ou que têm apenas um entendimento intuitivo da
física enxergam o planeta.
Um físico intuitivo talvez explique por que uma pedra cai dizendo que
a pedra tem a característica intrínseca da gravidade, em vez de afirmar que
a gravidade é parte de um sistema de forças que age sobre a pedra. Da
mesma forma, quando falamos sobre os outros, mencionamos suas
propriedades inerentes, e não enxergamos a relação dessas propriedades
com o ambiente externo. Na verdade, são as interações com o ambiente
que guiam nosso comportamento. É o sistema à nossa volta, e não uma
qualidade intrínseca, o responsável por grande parte de nossa conduta. O
Scrum é projetado para modificar esse sistema. Em vez de procurar culpa e
falha, ele recompensa comportamentos positivos ao fazer com que as
pessoas se concentrem em trabalhar em conjunto e completar as tarefas.
Talvez a demonstração mais famosa da reação humana a sistemas
tenha sido o experimento de Milgram sobre obediência a figuras de
autoridade, realizado no início da década de 1960 na Universidade Yale. O
experimento era simples e, aos olhos modernos, um tanto cruel. Também
era devastador e poderoso, e é ensinado no primeiro ano de todas as
faculdades de psicologia. O Dr. Stanley Milgram, professor de Yale, tinha
uma pergunta que era um bocado pertinente naquela época. Três meses
antes de os testes começarem, Adolf Eichmann, o arquiteto do Holocausto,
foi a julgamento.
Uma das questões mais perenes a respeito do Holocausto é como
tantos milhões de pessoas poderiam ser cúmplices solícitos de tal horror.
Será que os alemães eram fundamentalmente repreensíveis do ponto de
vista moral? Havia algo intrinsecamente mau na constituição cultural
deles? Ou será que eles estavam de fato apenas cumprindo ordens? É
muito fácil olhar para crimes contra a humanidade e culpar os indivíduos
por suas ações. É a coisa certa a se fazer, não é? No entanto, a pergunta a
que Milgram queria responder é: os americanos comuns são tão diferentes
assim dos alemães? Será que eles teriam reagido de maneira diferente na
mesma situação? E a resposta desconfortável é não, os americanos não
teriam reagido de modo distinto. Na verdade, se levarmos em conta
quantos países e quantas culturas replicaram o experimento, ninguém teria.
Na situação propícia, somos todos capazes de sermos nazistas.
A experiência funcionava da seguinte maneira: alguém usando um
jaleco branco (que dava um verniz de autoridade científica) dizia ao
sujeito, uma pessoa comum, para administrar choques elétricos cada vez
mais fortes a um terceiro indivíduo, um ator, que estava em outra sala. O
sujeito ouvia o ator, mas não conseguia vê-lo. Conforme os choques
aumentavam, o ator começava a gritar e implorar. Em dado momento, o
ator (que em algumas versões do experimento dizia ao sujeito que tinha
um problema cardíaco) começava a bater na parede, berrando para que o
experimento fosse interrompido. Por fim, ele ficava em silêncio.
Algumas pessoas paravam em 135 volts, enquanto o ator gritava, e
perguntavam sobre o propósito do experimento. Quase todas continuavam
depois que lhes asseguravam que elas não seriam responsabilizadas.
Alguns sujeitos começavam a rir nervosamente ao ouvirem os uivos de
agonia vindos da sala ao lado. Quando o sujeito queria parar, o “cientista”
simplesmente dizia: “Por favor, continue.” E, se o sujeito não quisesse
continuar, o cientista falava: “O experimento requer que você continue.”
Se ainda assim não houvesse nenhum movimento, o cientista acrescentava:
“É fundamental que você continue.” Quase todos os sujeitos pareciam
estar sob alto nível de estresse e suavam muito. Apresentavam pulso e
temperatura elevados conforme o instinto de “luta ou fuga” assumia o
comando. Então, se ainda assim não apertassem o botão, o cientista tentava
uma última vez. “Você não tem outra escolha. Precisa continuar.”
Quase todos iam em frente, dando o último choque em alguém que
estivera gritando e então se calara. No artigo “The Perils of Obedience”
[Os perigos da obediência], de 1974, Milgram resumiu as implicações do
estudo da seguinte forma:

Pessoas comuns, simplesmente fazendo seu trabalho, e sem qualquer


hostilidade pessoal específica, podem se tornar agentes de um terrível
processo destrutivo. Além disso, mesmo quando os efeitos destrutivos
de seu trabalho se tornam evidentes e pedem que elas executem ações
incompatíveis com padrões morais fundamentais, relativamente
poucas pessoas têm os recursos necessários para resistir à
autoridade.11

Quando esse experimento é debatido em sala de aula, em geral destaca-


se para os alunos que o culpado é o sistema dentro do qual as pessoas
comuns agiram, e não os próprios indivíduos. Mas internalizar essa lição é
uma tarefa difícil, porque, se aceitarmos que é verdadeira, o que ela diz
sobre você?
O que ela afirma é que somos todos criaturas do sistema do qual
fazemos parte. O Scrum aceita essa realidade e, em vez de procurar
alguém para culpar, tenta examinar o sistema que produziu o fracasso e
consertá-lo.
Outro experimento que lança luz sobre um fenômeno parecido foi
realizado em um seminário teológico no começo dos anos 1970. É de se
imaginar que os seminaristas são as pessoas mais compassivas do mundo,
certo? Os sujeitos do estudo foram informados de que precisavam dar um
sermão no outro lado do campus. Alguns foram inclusive orientados a
correr, pois havia pessoas esperando e eles estavam atrasados. Outros não
foram avisados de que precisavam se apressar. Ao atravessar o terreno,
cada seminarista passava por alguém gemendo e pedindo ajuda em uma
porta. Quantos daqueles que foram informados de que precisavam ir
rápido pararam para ajudar? Dez por cento. Dos seminaristas.
Ainda assim as pessoas querem culpar os indivíduos, e não os
sistemas. A sensação é melhor. O erro fundamental de atribuição atrai
nosso senso de justiça. Se pudermos culpar alguém, nos isolamos da
possibilidade de que faríamos o mesmo – de que temos tanta probabilidade
de apertar o botão quanto qualquer um, se nos encontrarmos nas
circunstâncias adequadas.
Como esse erro de pôr a culpa em indivíduos, e não nos sistemas, se
manifesta no mundo dos negócios? Tenho dois bons exemplos. O primeiro
é a New United Motor Manufacturing, Inc. (Nummi), uma fábrica de
automóveis em Fremont, na Califórnia, empreendimento conjunto da
General Motors e da Toyota. A fábrica foi fechada pela GM em 1982. A
gerência classificou a mão de obra como a pior dos Estados Unidos. Os
funcionários bebiam durante o expediente, não apareciam para trabalhar e
sabotavam sutilmente os carros (por exemplo, pondo uma garrafa de
refrigerante dentro de uma porta, o que causaria um ruído que incomodaria
os clientes). A Toyota reabriu a fábrica em 1984. A GM informou aos
japoneses que os trabalhadores eram péssimos, mas que os gerentes eram
ótimos e deviam ser recontratados. Em vez disso, a Toyota não recontratou
os gerentes e chamou a maior parte da mão de obra original de volta –
chegou até a mandar alguns deles ao Japão para que aprendessem o
Sistema Toyota de Produção. Quase instantaneamente, a Nummi passou a
fabricar carros com tanta precisão e tão poucos defeitos quanto os que
eram produzidos no Japão. Mesmas pessoas, sistema diferente. A GM
nunca alcançou os mesmos níveis de qualidade em nenhuma de suas outras
fábricas nos Estados Unidos. Ela se retirou do acordo de operação conjunta
no ano em que foi à falência.
O segundo exemplo que me vem à mente é um pouco diferente. Ele me
lembra o quanto procurar alguém em quem pôr a culpa por um problema,
em vez de procurar solucioná-lo, é uma “posição padrão”. Isso tem a ver
com a forma como os capitalistas de risco com quem trabalho agem
quando decidem investir em uma empresa. Algo que surpreendeu quando
entrei para a OpenView Venture Partners é que, ao contrário de muitas
firmas que lidam com investimentos de risco, eles não ligam muito para a
forma como a empresa gastou o dinheiro que tinha antes de receber o
investimento. O passado não importa. A OpenView decide se quer gastar
seu dinheiro com base no estado atual de uma empresa – tudo o mais é
irrelevante. Eles querem saber como o dinheiro deles será gasto. Como a
empresa usou o dinheiro de outras pessoas não tem importância. Só o
futuro é relevante – apenas as soluções.
Atingindo a grandeza
O momento em que uma equipe começa a se alinhar e sincronizar pode
parecer mágico. Você sente isso acontecendo quando entra na mesma sala
que o grupo. Consegue enxergar quando um time assim entra em campo.
Eles parecem flutuar; tornaram-se maiores do que a soma dos indivíduos.
Há pouco tempo, estive na casa de um amigo em Copenhague. Como
você pode imaginar, ele é europeu e, portanto, adora futebol. Não lembro
direito qual era o torneio de que o time dele estava participando, mas foi
uma experiência intensa vê-lo pular e gritar com a televisão. Ali estava um
fã de esporte muito indignado. E então chegou o seguinte momento: o
placar estava empatado, a partida estava nos últimos segundos, e o time
dele tinha a posse da bola. Sem verificar a posição de seus companheiros,
um atacante que estava mais ou menos na metade do campo do seu time
chutou a bola para um bloco de jogadores em frente ao gol. O problema
era que nenhum deles era do time do atacante. Por um momento fiquei
desanimado, mas aí um jogador do time do meu amigo apareceu – na hora
e no lugar certos, e cabeceou a bola para dentro do gol. Ele tinha corrido a
toda velocidade do meio do campo em direção à massa de oponentes em
frente às traves, onde aproveitou a oportunidade de cabecear. Foi uma
surpresa completa. No entanto, o atacante que lançara a bola tinha fé de
que seu companheiro estaria em seu devido lugar. E o companheiro tinha
fé de que a bola seria posicionada em um ponto no qual ele pudesse fazer
algo com ela. Era o tipo de sincronia que inspira a gente.
E é esse estado que quero ajudar as pessoas a atingirem com o Scrum.
Não é impossível. Não são apenas as elites, os atletas e pessoas especiais
que podem alcançar isso. A chave é estabelecer a estrutura correta, com os
incentivos certos, e dar aos indivíduos a liberdade, o respeito e a
autoridade de fazer coisas por conta própria. A grandeza não pode ser
imposta; ela precisa vir de dentro. Mas ela existe dentro de cada um de
nós.
RESUMO
Puxe a alavanca certa. Mude o desempenho da equipe. Isso tem
muito mais impacto – muito mais mesmo – do que o desempenho
individual.
Transcendência. Equipes excelentes têm um propósito maior do que
o individual. Por exemplo, enterrar o general MacArthur ou ganhar o
campeonato da NBA.
Autonomia. Dê às equipes liberdade para tomar decisões sobre como
agir – para que sejam respeitadas como referência em suas respectivas
áreas. A capacidade de improvisar fará toda a diferença, não importa
se o grupo está cobrindo uma revolução no Oriente Médio ou
vendendo algo.
Multifuncional. A equipe precisa ter todas as habilidades necessárias
para completar um projeto, não importa se a missão é produzir
software para a Salesforce.com ou capturar terroristas no Iraque.
Menor é melhor. Equipes pequenas trabalham mais rápido do que as
grandes. A regra básica é que o ideal são sete integrantes – mais ou
menos dois. Eu diria que menos.
A culpa é idiota. Não procure as pessoas ruins, procure os sistemas
ruins – aqueles que incentivam comportamentos errados e
recompensam desempenhos fracos.
CAPÍTULO 4

Tempo

O tempo é o maior limitador dos projetos humanos. Ele afeta tudo:


quanto trabalhamos, quanto demoramos para concluir as tarefas, o nível de
sucesso que obtemos. O fluxo unidirecional implacável do tempo molda de
maneira fundamental a forma como vemos o mundo e nós mesmos. Como
disse o poeta inglês Andrew Marvell, que viveu no século XVII, “se
tivéssemos mundo de sobra, e tempo”, tudo poderia ser realizado. Mas é
claro que a consciência da mortalidade se faz presente em todos os nossos
empreendimentos. Sabemos que nosso tempo é limitado. Sendo assim, não
seria um crime terrível desperdiçá-lo? Marvell escreve:

Thus, though we cannot make our sun


Stand still, yet we will make him run.*1

Mas como fazer isso? É fácil gritar “Carpe diem!” de cima de um


palco para inspirar uma multidão, mas será que conseguimos concretizar
isso na prática? Na maioria dos empregos, pedem aos funcionários que se
sentem, apertem os cintos e fiquem lá durante várias horas. “Não pense no
mundo lá fora”, declaram nossos chefes, implicitamente. “Não se preocupe
com os seus filhos, suas férias ou seu jantar – apenas trabalhe, e depois
trabalhe mais, e você será recompensado. Receberá aquela promoção. Fará
aquela venda. Terminará aquele projeto.”
Não tenho nada contra promoções, vendas ou projetos, mas é fato que
as pessoas não sabem trabalhar dessa forma. Nossa concentração é pífia,
passamos muito mais horas no escritório do que o necessário e somos
desastrosos para estimar o tempo que cada tarefa levará. Estou falando de
todas as pessoas – nós, seres humanos, simplesmente somos assim.
Quando comecei a desenvolver o Scrum, não tinha a intenção de criar
um novo “processo”. Só queria reunir todas as pesquisas que tinham sido
feitas ao longo de décadas sobre como as pessoas trabalham melhor e
reproduzir isso. Queria incorporar as melhores práticas e roubar quaisquer
boas ideias com que me deparasse. Logo antes do primeiro Scrum de
verdade – na Easel, em 1993 –, eu trabalhava em uma empresa a algumas
quadras do Laboratório de Mídia do MIT, e uma ideia vinda do laboratório
acabou virando a essência do Scrum: o sprint.
O sprint
No começo dos anos 1990, o Laboratório de Mídia estava inventando
um monte de coisas legais. Foi nessa época que a World Wide Web
nasceu, e o pessoal de lá estava fazendo de tudo: robôs, a tinta eletrônica
que torna os e-readers possíveis, novas formas de codificar o som. Era um
tempo inebriante. Eu procurava contratar estudantes vindos do laboratório,
porque eles eram cheios de ideias, tinham uma habilidade impressionante
de fazer coisas legais e conseguiam concretizá-las rapidamente.
A velocidade com que trabalhavam se devia a uma política que o
Laboratório de Mídia estabelecera para todos os projetos. A cada três
semanas, as equipes precisavam mostrar para os colegas o que estavam
fazendo. Era uma demonstração aberta; qualquer um podia aparecer. E, se
o produto demonstrado não funcionasse ou não fosse legal, os diretores do
laboratório cancelavam o projeto. Isso obrigava os estudantes a
desenvolver coisas legais com rapidez. E, além disso, o que era ainda mais
importante, fazia com que tivessem feedback imediato.
Pense nos projetos em que você trabalha. Aposto que raramente recebe
feedback a respeito deles antes que estejam prontos – o que pode levar
meses ou até anos. É possível que você siga em uma direção
completamente errada durante meses sem sequer suspeitar. Isso significa
jogar fora grande parte da sua vida. No mundo dos negócios, essa pode ser
a diferença entre sucesso e fracasso. Isso acontece o tempo todo: uma
empresa gasta anos em um projeto que parecia uma boa ideia quando os
funcionários começaram a trabalhar nele, mas, no momento em que
cruzam a linha de chegada, o mercado já mudou por completo. Quanto
mais cedo você der amostras para seus clientes, mais rápido eles poderão
lhe dizer se você está produzindo algo de que precisam.
Assim, quando comecei o primeiro Scrum na Easel e informei ao CEO
que não lhe apresentaria um diagrama de Gantt enorme e detalhado, mas
que nós dois sabíamos que estava errado, ele disse: “Tudo bem. O que
você vai me apresentar?” E eu lhe respondi que, todo mês, apresentaria
uma parte do software em pleno funcionamento. Não algo que só
funcionasse no back end. Não um pedaço da arquitetura. Uma parte do
software que o cliente pudesse de fato usar. Uma funcionalidade
totalmente implementada.
“Ok”, disse ele. “Faça isso.”
E então minha equipe embarcou no que chamamos de “sprints”. Nós os
batizamos assim porque esse nome evoca intensidade.* Trabalharíamos a
todo vapor durante um curto período de tempo e então pararíamos para ver
em que ponto estávamos.
A equipe Wikispeed é um grupo fundado pelo maravilhosamente
batizado Joe Justice [João Justiça]. Eles produzem carros. Carros que
fazem mais de quarenta quilômetros por litro de combustível, têm
permissão para circular, obtêm nota máxima no crash test, chegam a 225
km/h e custam pouco menos do que um Toyota Camry nos Estados
Unidos. A Wikispeed ainda aprimora constantemente o carro, mas, se você
quiser comprá-lo, deposite 25 mil dólares através do site wikispeed.com e
a equipe providenciará um em três meses. E eles usam o Scrum para
fabricá-lo. Como muitas das melhores equipes da atualidade, a Wikispeed
trabalha em sprints de uma semana. Toda quinta-feira, eles se reúnem e
olham para a imensa lista de coisas a fazer, desde montar um protótipo de
um novo painel até testar as lanternas de seta. A lista é ordenada de acordo
com o nível de prioridade das tarefas, então o grupo diz: “Certo, levando
em conta a lista, quantos desses itens podemos fazer esta semana?” Com
“fazer” eles querem dizer “terminar” – finalizar o item. E essas novas
características funcionam. O carro anda. A cada semana. A cada sprint.
Ao entrar no covil da equipe Wikispeed, ao norte de Seattle, em uma
quinta-feira normal, você vê o glorioso caos organizado que é uma oficina
mecânica. Há caixas com ferramentas, serras, equipamentos eletrônicos,
parafusos e chaves inglesas. Uma fresadora Router CNC fica em um canto,
perto do chassi semiconstruído de um carro no boxe três. Uma furadeira e
uma dobradeira de metal descansam em um lado, como se fossem
cachorrinhos esperando alguém para brincar com eles. No dia em que
fizemos nossa visita, acima do chassi havia uma foto do comprador do
carro – Tim Myer. Ele gosta de escalada, batata chips e cidra. Ele não
gosta de não saber o que está acontecendo ou de não ter opções. Nos fins
de semana, é possível encontrá-lo nas montanhas; nas noites de segunda-
feira, dança na taverna Tractor.
Bem à nossa frente, no boxe um, está o primeiro carro que a Wikispeed
construiu – o mesmo que participou de um concurso da XPrize, com
prêmio de dez milhões de dólares, para carros que atingissem uma
eficiência de combustível de mais de 42 quilômetros por litro. Eles ficaram
em décimo lugar, à frente de mais de cem concorrentes de grandes
montadoras e universidades. Como resultado, a equipe foi convidada para
o Salão do Automóvel de Detroit de 2011 e ganhou um espaço
privilegiado, entre a Chevy e a Ford. Agora, esse mesmo veículo serve de
tubo de ensaio para novas ideias.
Perto do carro, há uma parede de quase quatro metros de altura
completamente revestida de quadro branco, que cobre toda a extensão da
oficina. Nela, há dezenas e dezenas de um dos artefatos mais comuns
encontrados no Scrum: post-its. Em cada um desses quadradinhos
coloridos há uma tarefa a ser realizada: “tubo de perfuração para
cremalheira da caixa de direção”, “preparar molde do interior”, “instalar
forro interno dos para-lamas para evitar sujeira dos pneus” etc.
O quadro é dividido em algumas colunas: “A fazer”, “Fazendo” e
“Feito”. A cada sprint, a equipe da Wikispeed põe na coluna “A fazer” a
maior quantidade possível de post-its que eles acreditam que conseguirão
realizar naquela semana. Conforme os dias passam, um integrante da
equipe pega uma dessas tarefas e a passa para a coluna “Fazendo”. Quando
a atividade é finalizada, ela é movida para a coluna “Feito”. Todos os
membros da equipe podem ver no que os outros estão trabalhando em
determinado momento.
Um ponto importante: nada é posto na coluna “Feito” a não ser que
possa ser usado pelo cliente. Em outras palavras, a não ser que se possa
dirigir o carro. E, se alguém dirigir o carro e disser que as alavancas das
setas estão travando, o problema é resolvido no sprint seguinte.
Às vezes chamamos os sprints de “time boxes” [caixas de tempo]. Têm
duração definida. Não se faz um sprint de uma semana e depois outro de
três semanas. É preciso ser coerente. É necessário estabelecer um ritmo de
trabalho, para que as pessoas saibam quanto conseguem realizar em certo
período de tempo. Com frequência, essa quantidade as surpreende.
No entanto, um elemento crucial de um sprint é que, assim que a
equipe se compromete com aquilo que realizará, as tarefas sejam fixas.
Nada mais pode ser acrescentado por alguém de fora da equipe. Mais à
frente explicarei melhor as razões para isso, mas, por enquanto, saiba que
interferir e distrair a equipe diminui consideravelmente a velocidade do
trabalho.
Como já mencionei, no primeiro Scrum nossos sprints tinham duração
de quatro semanas. Perto do fim do primeiro sprint, sentimos que não
estávamos indo rápido o bastante, que poderíamos fazer mais. Assistimos a
alguns vídeos dos All Blacks fazendo a haka e rompendo a linha de defesa
adversária. Por que não somos assim?, nos perguntamos. Por que não
temos esse mesmo espírito? Nosso objetivo não era apenas ser uma boa
equipe, queríamos ser a melhor de todas. Como poderíamos fazer isso?
Mais uma vez, a resposta se mostrou algo simples que pegamos
emprestado – a reunião diária.
A reunião diária
Perto de uma cidade que não posso dizer qual é, em uma empresa cujo
nome não posso revelar, um grupo se reúne todo dia para pensar em como
mandar pessoas para o espaço. Como os foguetes espaciais são na verdade
mísseis intercontinentais com carga humana, o negócio das viagens
espaciais particulares exige certa segurança e sigilo. E isso é um negócio,
não apenas o sonho louco de um bilionário. No momento em que escrevo,
outro foguete particular acaba de se acoplar à Estação Espacial
Internacional pela segunda vez. Nem mesmo o governo dos Estados
Unidos tem a capacidade para fazer isso nos dias atuais.
Mas, nesse edifício específico, nesse dia em especial, essas pessoas
estão tentando determinar qual deve ser o tamanho do recipiente que
contém os componentes aviônicos do foguete. Esses componentes
informam ao foguete qual é a sua localização, para onde ele está indo e
como chegar lá. Pense neles como o cérebro do foguete espacial.
Há duas equipes, cada uma com cerca de sete integrantes: uma para
hardware e outra para software. Todo dia, cada grupo se reúne em frente a
um quadro branco que vai do chão ao teto e que ocupa uma parede inteira.
Assim como na Wikispeed, há algumas colunas no quadro: “A fazer”,
“Fazendo” e “Feito”. Só são listadas nas colunas as tarefas que a equipe
precisa realizar durante o sprint em questão, que vão desde trabalhar com
um dos seis fornecedores de placas de circuito especializadas até mapear
como o acelerômetro se comunicará com o resto da nave. O Scrum Master,
encarregado do comando do processo, faz as seguintes perguntas a cada
integrante:

1. O que você fez ontem para ajudar a equipe a concluir o sprint?


2. O que você fará hoje para ajudar a equipe a concluir o sprint?
3. Quais obstáculos estão atrapalhando a equipe?

E só. A reunião se resume a isso. Se ela demorar mais de quinze


minutos, está sendo realizada de modo errado. O objetivo é fazer com que
toda a equipe saiba exatamente como tudo está se desenrolando no sprint.
Todas as tarefas serão executadas dentro do prazo? Há como auxiliar
outros integrantes a superar os obstáculos? Ninguém de cima atribui as
tarefas, a equipe é autônoma. São os integrantes que fazem isso. Não
existe um relatório detalhado para a gerência. Qualquer gerente ou
membro de outra equipe pode passar pela sala e dar uma olhada no quadro
Scrum da equipe de aviônica para saber exatamente em que pé as coisas
estão.
Quando queriam descobrir como se igualar aos All Blacks, os
integrantes da primeira equipe de Scrum recorreram à literatura
especializada para desvendar como as melhores equipes trabalhavam. Um
dos melhores aspectos do desenvolvimento de software é que logo no
começo a situação estava tão ruim, e tanto dinheiro estava sendo
desperdiçado – bilhões e bilhões todo ano –, que se dedicou muito tempo
em pesquisas sobre os motivos disso, de modo que existiam dados sobre
tudo.
Uma das pessoas que examinaram como o trabalho é feito no setor de
desenvolvimento de software foi Jim Coplien, nos lendários Bell Labs da
AT&T. Coplien, que é chamado por si mesmo e pelos outros de “The
Cope”, passou anos investigando centenas de projetos de desenvolvimento
de software, tentando descobrir por que apenas uma pequena parte deles
dava certo, enquanto a maioria era um desastre. No começo dos anos 1990,
ele foi convidado a inspecionar um projeto na Borland Software
Corporation, que tinha como objetivo a criação de um novo programa para
a elaboração de planilhas, batizado de “Quattro Pro for Windows”.
Durante 31 meses, oito pessoas haviam trabalhado para criar um milhão de
linhas de código. Isso significa que cada integrante do grupo produzia mil
linhas de código por semana. É o maior ritmo já registrado por qualquer
equipe, e Coplien queria descobrir como eles conseguiram isso.
Ele então mapeou todos os fluxos de comunicação entre a equipe –
quem falava com quem, quando a informação fluía e quando ela
emperrava. Esse tipo de mapeamento é uma ferramenta que pode ser usada
para identificar gargalos ou indivíduos que prendem informações. Quanto
maior a saturação de comunicação – quando todo mundo fica sabendo de
tudo –, mais rápida é a equipe. Basicamente, esse tipo de análise mede
quanto cada um sabe sobre o que precisa para realizar seu trabalho. A
Borland tinha o maior percentual já encontrado: 90%. A maioria das
empresas tem cerca de 20%.
Como poderíamos atingir o mesmo nível de saturação em nossa
equipe? O fator que atrapalha esse fluxo é a especialização – a quantidade
de papéis e títulos em um grupo. Quando recebem um título especial, as
pessoas tendem a fazer somente o que parece corresponder a ele. E, para
proteger seu cargo, em geral tentam reter conhecimentos específicos.
Então, eliminamos todos os títulos. Reuni todos os membros da equipe
e lhes pedi que rasgassem seus cartões de visita. Se alguém quisesse pôr
um título no currículo, só poderia fazê-lo para uso externo. Dentro do
escritório, onde o trabalho era realizado, todos eram apenas integrantes da
equipe.
O outro “ingrediente secreto” da Borland era que eles faziam reuniões
diárias com todos os integrantes do grupo para discutir como ia o trabalho.
Reunir todo mundo em uma sala era crucial, porque dava à equipe a
oportunidade de se organizar para enfrentar desafios. Se alguém estava
com um problema que não conseguia solucionar – por exemplo, se o
acelerômetro não estivesse se comunicando com o altímetro –, todos
tinham consciência de como o obstáculo poderia atrapalhar o sprint inteiro.
Assim, todos se debruçavam sobre essa questão, para garantir que fosse
solucionada rapidamente.
Na Borland, a reunião diária levava pelo menos uma hora. Isso me
pareceu tempo demais, então examinei quais as questões essenciais a
serem abordadas nessa ocasião e bolei as três perguntas.
E foi assim que a reunião diária foi posta em prática. Tínhamos certas
regras. O encontro ocorria no mesmo horário todos os dias, e todo mundo
precisava participar. Se a equipe inteira não estivesse presente, a
comunicação simplesmente não funcionaria. E não importava a hora que
marcássemos, desde que fosse a mesma todo dia. O importante era dar à
equipe um ritmo regular.
A segunda regra era que a reunião não poderia durar mais do que
quinze minutos. Queríamos que ela fosse ágil, direta, sem divagações. Se
qualquer ponto demandava mais discussões, anotávamos a questão e nos
reuníamos de novo mais tarde. A ideia era obter a maior quantidade
possível de informações valiosas e úteis no menor intervalo de tempo
possível.
A terceira regra era que todos tinham de participar ativamente. Para
ajudar nisso, pedi que todo mundo ficasse de pé. Dessa forma, falaríamos e
escutaríamos de maneira ativa. Isso também ajudaria a manter as reuniões
curtas.
É por isso que esse encontro é muitas vezes chamado de reunião diária
em pé ou Daily Scrum. Na verdade, não importa como você vai chamá-lo.
Ele precisa acontecer no mesmo horário todo dia, com as mesmas três
perguntas, com todo mundo de pé, e não pode durar mais do que quinze
minutos.
O problema que surge com frequência é que as pessoas têm a tendência
de tratar a reunião diária como um simples relatório individual. “Fiz isso”,
“Vou fazer aquilo”, e passa para o próximo. A melhor abordagem se
parece com as ocasiões em que os atletas se reúnem entre uma jogada e
outra no futebol americano. Um deles pode dizer: “Estou tendo
dificuldades com aquele defensor.” Outro responderá: “Deixa que eu cuido
disso, vou abrir espaço para você.” Ou o quarterback poderá dizer: “Nosso
ataque não está conseguindo passar pela defesa, vamos surpreendê-los com
um passe pela esquerda.” A ideia é que a equipe debata rapidamente como
prosseguir em direção à vitória, isto é, ao sucesso do sprint. A passividade
não é apenas um comportamento preguiçoso, ela atrapalha o desempenho
do resto do grupo. Quando identificada, precisa ser eliminada na mesma
hora.
Quero equipes agressivas, que saiam da reunião diária sabendo qual é a
coisa mais importante que precisam realizar naquele dia. Um indivíduo
pode ouvir outro dizer que uma tarefa levará um dia, mas outro integrante
do grupo pode saber como realizá-la em apenas uma hora se todos
trabalharem juntos. Quero grupos que encerrem a reunião dizendo frases
como “Vamos detonar”, “Vamos em frente”. A equipe precisa querer ser
excelente.
Meu discurso padrão para equipes, tanto grandes quanto pequenas, é:
“Vocês querem mesmo ser péssimos para sempre? É esse o propósito que
vocês têm para suas vidas? Porque se trata de uma escolha – vocês não
precisam ser assim.” Uma equipe precisa exigir excelência para si própria.
Na Easel, com a primeira equipe de Scrum, implementamos a reunião
diária durante o terceiro sprint. Havíamos planejado quatro semanas para
aquele sprint – mais ou menos a mesma carga de trabalho do mês anterior.
Terminamos tudo em uma semana. Uma melhoria de 400%. Naquela
sexta-feira, os integrantes olharam uns para os outros e disseram: “Uau!”
Foi aí que eu soube que talvez estivesse no caminho certo.
De novo e de novo
Esse nível de progresso foi incorporado ao Scrum a partir daquele
terceiro sprint. É o objetivo principal do Scrum. Em alguns casos, vi
equipes muito disciplinadas multiplicarem sua produtividade por oito. Isso
é o que torna o Scrum tão revolucionário. É possível realizar mais em
menos tempo e com menos dinheiro – o dobro do trabalho na metade do
tempo. E lembre-se de que o tempo não é importante apenas no mundo dos
negócios. O tempo define sua vida, de forma que desperdiçá-lo é, na
verdade, uma forma lenta de suicídio.
O Scrum muda a forma como você pensa no tempo. Depois de
participar de alguns sprints e reuniões diárias, você para de enxergar o
tempo como uma seta apontando para o futuro e passa a vê-lo como algo
fundamentalmente cíclico. Cada sprint é uma oportunidade de criar algo
totalmente novo; cada dia é uma chance de melhorar. O Scrum promove
uma visão de mundo holística. Quem se engaja nele passa a valorizar cada
momento como um ciclo de respiração e vida em constante movimento.
Sempre fiquei consternado com o tempo que as reformas residenciais
podem levar. Minha esposa e eu costumávamos lembrar um ao outro que
demoraria o dobro do tempo e custaria o dobro do que pensávamos. Isso se
tivéssemos sorte. Aposto que você já ouviu histórias de terror desse tipo: a
reforma da cozinha, que deveria levar duas semanas, acabou demorando
seis, obrigando a família a comer fora durante mais de um mês; a reforma
elétrica que levou três vezes o tempo estimado; o pequeno trabalho que
parecia não acabar nunca.
Há alguns anos Eelco Rustenburg, meu amigo e parceiro no Manifesto
Ágil, contou-me durante um jantar que decidira reformar a casa por
completo. Ele ia mexer em todos os cômodos, trocar a fiação, instalar
novos eletrodomésticos, pintar tudo. E que levaria apenas seis semanas.
Todos rimos e contamos as experiências sofridas que tivemos com obras.
“Seis semanas para a casa inteira?”, comentei, rindo. “Sem chance.
Demorou seis semanas para reformar minha cozinha, e eles prometeram
terminar em duas. Você vai ter que morar em um hotel pelo resto do ano.”
“Não, não”, falou ele. “A obra vai acabar no prazo e dentro do
orçamento. Vou aplicar o Scrum.”
A ideia de usar o Scrum em uma área completamente diferente do setor
de software me deixou animado. Esbarrei com Eelco cerca de seis meses
depois e perguntei como tinha sido a experiência.
“Ótima”, respondeu ele. “A obra levou seis semanas exatas. Meu
vizinho não se deu tão bem...”
Eis o que aconteceu: Eelco resolveu fazer com que o pessoal da obra
trabalhasse como uma equipe Scrum. Ele estabelecia projetos semanais
que precisavam ser transferidos para a coluna “Feito”. No trailer dos
operários estacionado na frente da casa, ele pôs um quadro Scrum cheio de
post-its com as tarefas. Toda manhã, Eelco reunia os carpinteiros, os
eletricistas, os encanadores e quem mais fosse necessário para o sprint
daquela semana e repassava o que tinha sido realizado na véspera, o que o
grupo faria naquele dia e o que estava atrapalhando o trabalho.
Ele conta que isso fez com que os funcionários pensassem e se
comunicassem em relação ao projeto de um modo diferente do que
costumavam fazer. Os encanadores e os carpinteiros falavam sobre como
podiam ajudar uns aos outros a trabalhar mais rápido. Um estoque baixo
de certos materiais era detectado antes que eles acabassem e a obra tivesse
que parar. Mas Eelco disse que o principal feito das reuniões diárias foi
eliminar dependências. Em qualquer projeto de construção, muito tempo é
gasto na espera de que uma parte do trabalho fique pronta antes que a
seguinte possa começar, e com frequência essas fases envolvem
habilidades distintas – instalação elétrica e colocação de gesso no teto, por
exemplo. As reuniões diárias fizeram com que todos se reunissem em um
mesmo lugar e resolvessem rapidamente como poderiam trabalhar juntos.
Eles não eram mais indivíduos com habilidades diferentes. Em vez disso,
tornaram-se uma equipe tentando mover a casa para a coluna “Feito”.
E funcionou. Seis semanas depois, a reforma terminou. Eelco e a
família puderam voltar para casa. A vida voltou ao normal. Quando ele me
contou isso, fiquei surpreso, mas lhe dei os parabéns por ter arranjado
ótimos construtores. “Espera aí”, disse ele, “a história não acabou”. Na
mesma rua, um vizinho queria realizar uma reforma quase idêntica em
casa. Os dois moravam em uma parte da Holanda com construções antigas,
e as duas casas tinham sido construídas na mesma época, com a mesma
planta. O vizinho viu o belo trabalho que a construtora tinha feito na casa
de Eelco e pensou que conseguiria reproduzir a mágica.
Os mesmos operários foram contratados, mas dessa vez eles
demoraram três meses. As mesmas pessoas. O mesmo tipo de casa. O
mesmo trabalho. O dobro do tempo e, é claro, o dobro do custo. A única
diferença foi que o vizinho não usou o Scrum. Os problemas que o Scrum
traz à tona não foram descobertos até que fosse tarde demais. Os operários
não se organizaram da mesma forma, e um era obrigado a esperar que
outro terminasse o trabalho para que pudesse começar o seu. O vizinho
acabou pagando quase o dobro do que Eelco gastara, e grande parte desse
dinheiro foi para pessoas esperando que outras acabassem o trabalho para
que assim dessem início à parte que lhes cabia.
Pense no seu trabalho. Quanto tempo é desperdiçado enquanto espera
que outra pessoa termine o trabalho dela, ou que alguma informação
chegue, ou porque você tenta fazer coisas demais ao mesmo tempo?
Talvez você queira passar o dia inteiro no escritório – eu prefiro ir surfar.
RESUMO
O tempo é finito. Trate-o como tal. Divida seu trabalho em partes
que possam ser realizadas em um intervalo de tempo curto, regular e
definido – de preferência entre uma e quatro semanas. Se você tiver
sido contaminado pelo Scrum, chame esses períodos de sprints. É
demonstrar ou falhar. Ao fim de cada sprint, tenha algo pronto –algo
que possa ser usado (que alguém possa pilotar, dirigir, o que for).
Jogue fora seus cartões de visita. Títulos são marcadores
especializados de status. Seja conhecido pelo que faz, não pelo seu
cargo.
Todo mundo sabe de tudo. A saturação da comunicação acelera o
trabalho.
Uma reunião por dia. Quando se trata de reuniões para verificar
como vai o trabalho, uma vez por dia é o suficiente. Junte sua equipe
durante quinze minutos na reunião diária, analise o que pode ser feito
para aumentar a velocidade e coloque em prática.
CAPÍTULO 5

O desperdício é um crime

A essência do Scrum é o ritmo. O compasso é algo essencial para os


seres humanos. A pulsação está presente em nosso fluxo sanguíneo e
embrenhada em alguns dos recônditos mais profundos de nosso cérebro.
Buscamos padrões, somos feitos para encontrar o ritmo em todos os
aspectos da vida.
No entanto, os padrões que buscamos não são necessariamente
recompensadores ou desenvolvidos para nos trazer felicidade. Por
exemplo, existem os ritmos nocivos de pessoas viciadas ou deprimidas. Se
andar por qualquer prédio de escritórios, você conseguirá observar esses
padrões negativos. Eles são encontrados com facilidade em qualquer lugar
em que alguém esteja frustrado por se sentir cerceado, ou em que haja uma
pessoa silenciosamente desesperada por ter percebido que está presa em
um sistema desumano, ou em que um indivíduo se sinta com raiva por ser
visto como uma engrenagem de uma máquina.
Isso faz parte da experiência humana. Quando voltamos milhares de
anos e lemos os textos de outras pessoas cuja vida, assim como a nossa,
estava presa a um sistema que elas se sentiam incapazes de enfrentar,
observamos os mesmos sentimentos. Mas essa sensação de aprisionamento
parece ter chegado a seu ápice no século XX. No mundo dos negócios, em
especial, criamos uma despersonalização aguda que parece imposta pelo
destino.
O Scrum cria um padrão diferente. Ele aceita o fato de que somos
criaturas movidas pelo hábito; que buscamos um ritmo; que, em certa
medida, são previsíveis, mas que ao mesmo tempo são mágicas e capazes
de transcender. Quando criei o Scrum, pensei: “E se eu conseguir fazer
com que os padrões humanos sejam positivos, em vez de negativos? E se
eu for capaz de criar um ciclo para que as pessoas se fortaleçam, que
estimule as nossas melhores características e diminua as piores?” Quando
dei ao Scrum um ritmo diário e semanal, tentei oferecer às pessoas a
chance de gostar do indivíduo que veem no espelho.
Mas há armadilhas. Padrões que parecem virtuosos podem acabar se
mostrando loucura, nada além de desperdício. É isto que abordarei neste
capítulo: o desperdício que infecta nosso trabalho, o câncer que consome
nossa produtividade, nossa organização, nossa vida e nossa sociedade.
Outro dia, estava entrevistando um candidato a uma vaga na Scrum
Inc. e perguntei por que ele queria trabalhar em uma empresa Scrum. Ele
me contou uma história. Ele trabalhava em uma empresa que produzia
livros e produtos auxiliares, como manuais e materiais para cursos,
apresentações etc. O trabalho dele era identificar acadêmicos de destaque
em uma área específica e se unir a eles para desenvolver esses produtos.
De uma forma, era muito empolgante. O candidato era graduado em
história, estudioso da América colonial e tivera a oportunidade de trabalhar
com algumas das mentes mais proeminentes nessa área.
“Trabalhei durante um ano”, disse ele. “Um ano desenvolvendo
dezenas de produtos. No fim desse tempo, revisamos pela primeira vez o
que havíamos realizado. E metade do meu trabalho fora jogado no lixo.
Não porque não era bom, mas porque não havia mais mercado para ele, ou
porque a direção havia mudado. Desperdicei seis meses da minha vida.”
Nesse momento, uma pitada de indignação e raiva transpareceu na voz
dele. Em seguida, veio a determinação. “Espero que o Scrum não deixe
isso acontecer, que meu trabalho tenha um propósito, que aquilo que eu
fizer seja de fato importante.”
Talvez você pense que esse é um caso extremo. Cinquenta por cento de
desperdício. Mas, na verdade, é uma taxa muito boa. Quando visito
empresas, em geral percebo que cerca de 85% do esforço é desperdiçado.
Somente um sexto do trabalho gera algum valor. Bem no fundo, conforme
repetimos o compasso de nossos dias, sabemos que isso é verdade. É por
isso que rimos, um pouco nervosos, com piadas sobre a insanidade e o
desperdício inerentes à vida em uma corporação moderna.
Estou aqui para lhe dizer que isso não deveria ser engraçado. Deveria
ser vergonhoso. Deveríamos lamentar as vidas e o potencial que estamos
perdendo. No primeiro capítulo deste livro, apresentei brevemente Taiichi
Ohno, da Toyota, que disse: “O desperdício é mais um crime contra a
sociedade do que uma perda nos negócios.” O pensamento dele a respeito
do desperdício influenciou minha forma de pensar. Vou discorrer um
pouco sobre isso.
Ohno definiu três tipos de desperdício. Ele usou as seguintes palavras
em japonês: Muri, o desperdício causado pela irracionalidade; Mura, o
desperdício causado pela inconsistência; e Muda, o desperdício causado
pelos resultados. Essas ideias se alinham com o ciclo PDCA de Deming, já
mencionado: Plan [planejar], Do [fazer], Check [verificar], Act [agir].
Planejar significa evitar o Muri. Fazer significa evitar o Mura. Verificar
significa evitar o Muda. E Agir se refere ao ímpeto, à motivação e à
determinação de fazer tudo isso. Vou abordar esses passos, um de cada
vez, e destacar o que evitar – o desperdício no estoque, o desperdício
resultante de não fazermos tudo direito de primeira, o desperdício de
trabalhar demais, o desperdício emocional causado por expectativas
irracionais.1
Faça uma coisa de cada vez
Com frequência, ouço pessoas se vangloriando da habilidade de fazer
várias coisas ao mesmo tempo. Aposto que você também faz isso. Se não
faz, sem dúvida conhece alguém que faça – o sujeito que toca três projetos
concomitantes, que dirige o carro e fala ao celular, que promove sua
própria competência ao reclamar em alto e bom som de todas as funções
que tem que desempenhar todo dia. Esse tipo de “contador de vantagens”
vem se tornando parte de nossa cultura de trabalho. Hoje em dia, algumas
descrições de vagas de emprego trazem como requisito “ser capaz de
conduzir cinco projetos simultaneamente”.
A capacidade de fazer malabarismo parece muito atraente, em especial
em uma era em que a informação flui através de mil canais diferentes e
coisas que precisam ser feitas “neste exato momento” se proliferam.
Queremos ser esse cara, o Supermalabarista. Dizemos a nós mesmos que
somos capazes disso. Infelizmente, não somos. E, quanto mais pensamos
ser bons nisso, pior somos.
Um ótimo exemplo é uma conhecida prática rotineira de multitarefa:
dirigir e falar ao celular. As pesquisas são muito claras. Quem faz isso,
mesmo que mantenha as mãos livres enquanto fala, sofre mais acidentes
do que as pessoas que não o fazem. O problema é ainda mais preocupante
quando se considera que, de acordo com a Administração Nacional de
Segurança do Transporte Rodoviário dos Estados Unidos, a todo momento
8% das pessoas na estrada estão falando ao celular.
Esse é o legado da prática da multitarefa.
Eis uma citação de meu artigo favorito sobre o assunto:

[...] mesmo quando direcionam o olhar para objetos na estrada, muitas


vezes os participantes não conseguem “vê-los” quando estão falando
ao celular, porque a atenção foi direcionada para um contexto interno
e cognitivo associado à conversa por telefone, em vez do ambiente
externo.2
É isso mesmo, as pessoas olham para um objeto – o carro em que elas
estão prestes a bater, ou a árvore na qual estão a ponto de enfiar o carro –,
mas não o veem. Mesmo assim, continuamos a dirigir enquanto falamos ao
telefone.
Consigo até ler sua mente agora. Você está pensando: “Bem, outras
pessoas não conseguem fazer isso. Mas eu sou um executivo poderoso.
Sou capaz de fazer isso; os outros, não.” Contudo, os estudos sobre o tema
são muitos claros: se acha que é bom nisso, você é, na verdade, pior do que
todo mundo. A Universidade de Utah, que fez muitas pesquisas
interessantes nessa área, perguntou às pessoas se elas achavam que eram
boas em fazer várias coisas ao mesmo tempo, como falar ao telefone
enquanto dirigem, e, em seguida, testou os participantes para ver se eles
estavam certos. A conclusão dos pesquisadores foi a seguinte:

Concluímos que as percepções da capacidade de realizar mais de uma


tarefa ao mesmo tempo eram extremamente infladas; na verdade, a
maioria dos participantes se julgou acima da média na capacidade de
realizar multitarefas. Essas estimativas tinham pouco a ver com a
realidade. Assim, parece que as pessoas que têm mais probabilidade
de realizar multitarefas e de falar ao telefone enquanto dirigem são
aquelas com as visões mais distorcidas acerca de suas próprias
capacidades.3

O principal autor do estudo, David Sanbonmatsu, declarou em janeiro


de 2013 ao blog Shots, da NPR: “As pessoas não realizam multitarefas
porque são boas nisso. Elas o fazem porque são mais distraídas. Têm
dificuldade para inibir o impulso de se dedicar a outra atividade.” Em
outras palavras, quem costuma realizar várias tarefas simultâneas
simplesmente não é capaz de se concentrar. Esses indivíduos não
conseguem se impedir de pular de uma atividade para outra.
Eu não deveria dizer “esses indivíduos”, e sim “nós”. Todo mundo faz
isso. É difícil evitar. Mas é crucial lembrar que esse comportamento não é
inteligente. Quero propor um pequeno exercício que sempre incluo em
meus treinamentos. É simples, mas mostra como o impacto de se
concentrar e deixar as coisas fluírem é profundo. Revela como o hábito de
realizar tarefas simultâneas é ruim para nosso cérebro, como reduz a
velocidade do trabalho, mesmo quando pensamos estar fazendo tudo mais
rápido. Demonstra como esse costume causa desperdício.
Quero que você faça o seguinte: anote os números de 1 a 10, os
numerais romanos de 1 a 10 (I, II, III, IV etc.) e as letras de A a L.
Cronometre o tempo que leva para fazer isso. O objetivo é terminar o mais
rápido possível. Mas, da primeira vez, quero que o faça nesta ordem:
escreva o numeral arábico, em seguida o numeral romano e, por último, a
letra, de forma que o seu papel fique assim:

1 I A

2 II B

3 III C

Preencha cada linha de uma vez e cronometre. Vou fazer o mesmo


aqui. Demorei 39 segundos. Agora, em vez de escrever em linhas,
preencha cada coluna de uma vez. Primeiro todos os algarismos arábicos,
em seguida os romanos, depois as letras. Estou fazendo isso aqui.
Dezenove segundos. Pelo simples fato de realizar uma tarefa de cada vez,
e não mudar de um contexto para outro, cortei pela metade o tempo do
exercício.
“Certo, Sutherland”, dá até para ouvir você dizendo, “isso funciona
muito bem quando se trata de falar ao celular e fazer listas bobinhas, mas
eu gerencio uma empresa. Tenho que fazer um monte de coisas ao mesmo
tempo, preciso que minhas equipes toquem cinco projetos simultâneos.
Preciso que meu negócio continue competitivo. Não dá para trabalhar de
outro jeito”.
É neste ponto que a incrível quantidade de pesquisas feitas sobre
projetos de desenvolvimento de software vem a calhar de novo. Lembre-se
de que esses estudos foram realizados porque esse setor estava
desperdiçando centenas de milhões de dólares a cada ano e os produtos só
pioravam. Assim, como engenheiros que são, os profissionais dessa área
começaram a examinar os dados e medir tudo. Há um ótimo gráfico em
uma das obras clássicas sobre como desenvolver softwares, Software com
qualidade, de Gerald Weinberg:4
Número de projetos Porcentagem de tempo disponível para cada Perda causada pela mudança de
simultâneos projeto contexto
1 100% 0%
2 40% 20%
3 20% 40%
4 10% 60%
5 5% 75%

O conteúdo da coluna “Perda causada pela mudança de contexto” é


puro desperdício. É isso mesmo: se você tem cinco projetos, 75% do seu
trabalho vão para o lixo – três quartos do seu dia escorrem pelo ralo. É por
isso que você não preencheu as linhas e as colunas com a mesma
velocidade. Trata-se de uma limitação física do seu cérebro.
O cientista Harold Pashler demonstrou isso no início dos anos 1990 e
chamou esse fenômeno de “interferência da tarefa dupla”. Ele realizou
alguns experimentos simples. Pedia que um grupo fizesse algo muito fácil,
como apertar um botão se uma luz se acendesse. Então, pedia a outro
grupo que realizasse essa mesma atividade e acrescentava outro elemento
simples, como pressionar um botão diferente dependendo da cor da luz
que piscasse. Assim que outra tarefa era adicionada, não importava o grau
de dificuldade, o tempo para realizar a atividade dobrava. Pashler
imaginou que havia algum tipo de gargalo de processamento – que as
pessoas só conseguem pensar em uma coisa de cada vez. Concluiu que há
certa quantidade de esforço envolvido no ato de “guardar” um processo,
recorrer à memória, pegar outro processo e em seguida executar esse
trabalho. Cada vez que mudamos de tarefa, essa cadeia de raciocínio
demanda tempo.5
O resultado é que ninguém faz isso. Você se concentra totalmente em
uma tarefa de cada vez. Enquanto conversa ao celular, apesar de só estar
falando sobre comprar leite, você não vê o carro à frente. O cérebro não
consegue processar os dois estímulos ao mesmo tempo. Algumas
pesquisas recentes se valeram de ressonâncias magnéticas funcionais para
mapear o cérebro em pleno raciocínio. Os dados mostram que só é
possível pensar em duas coisas ao mesmo tempo se cada processo for
executado em um dos lobos. Mesmo nesses casos, os exames indicam que
o raciocínio não ocorre simultaneamente. Em vez disso, o cérebro alterna
entre uma tarefa e outra. Em suma, há uma função de controle, de modo
que você não tem como ter uma discussão muito acalorada consigo
mesmo.6
De volta ao trabalho. O que isso significa quando você está tentando
realizar suas atividades? Bem, analisemos uma equipe típica. Este ano, o
grupo resolveu tocar três projetos. Vamos chamá-los de A, B e C. Então, a
equipe planeja o ano que vem pela frente e diz que vai fazer algumas
coisas no projeto A, depois no B e em seguida no C, de modo que o
cronograma se pareça com o que mostramos na página 94.
Ao tentar fazer tudo de uma vez só – a estratégia clássica –, a equipe
vai demorar até o fim de julho para concluir os três projetos. Entretanto, se
abordar o conjunto da maneira recomendada pelo Scrum, conduzindo um
projeto de cada vez para a coluna “Feito”, a equipe minimizará o
desperdício causado pela mudança de contexto e será capaz de completar
tudo no início de maio.
Não é preciso alterar o tamanho do projeto ou o que está envolvido na
criação dele. Concentrando-se exclusivamente em uma tarefa antes de
passar para a próxima, você levará pouco mais da metade do tempo para
terminar todo o trabalho. Metade.
E a outra metade? É puro desperdício. Nem um detalhe a mais será
produzido. Nem um centavo será economizado. Nem uma inovação será
implementada. É apenas desperdício de vida humana. Trabalho jogado
fora.

PRIORIZAÇÃO ENTRE PROJETOS

Esse é o custo da multitarefa. Vivemos em um mundo onde vários


elementos exigem nossa dedicação. Precisamos nos desdobrar: o telefone
toca e é uma ligação muito importante, as crianças chegam da escola, o
chefe entra na nossa sala. Quero que você tenha consciência do custo da
mudança de contexto. Ele é um fato, e você deve tentar minimizá-lo.
Se estiver realizando um trabalho complicado – por exemplo,
elaborando um relatório, criando uma apresentação, desenvolvendo um
software ou escrevendo um livro –, isso significa que você tem algo
incrivelmente complexo ocupando sua mente. É preciso levar em conta
dezenas de fatores, lembrar-se do que já foi feito, do que você quer realizar
e de quais são os possíveis obstáculos. Tudo isso é bem complexo. E o que
acontece se você é interrompido ou tem que mudar rapidamente seu foco
para outro projeto, mesmo que apenas por um momento? É isto mesmo: a
arquitetura mental que construiu com tanto cuidado entra em colapso.
Talvez você tenha que trabalhar durante horas para voltar ao mesmo
estado de consciência. Esse é o custo. Portanto, minimize o custo de tentar
realizar simultaneamente as atividades que requerem um tipo específico de
concentração. Execute essas tarefas em intervalos em que seja possível
desligar o telefone e pendurar uma placa de “Não perturbe” na porta.
Na realidade, algumas pesquisas já mostraram que o hábito da
multitarefa não só causa um desperdício do seu tempo, mas também o
torna mais burro. Um estudo feito na Universidade de Londres em 20057
(uma pesquisa reconhecidamente muito pequena e que não foi revisada,
mas ainda assim relevante) estimou em que medida realizar várias
atividades ao mesmo tempo emburrece as pessoas. O psiquiatra Glenn
Wilson selecionou quatro homens e quatro mulheres e testou o QI deles
em condições tranquilas e em situações de distração (telefones tocando, e-
mails chegando). Durante os testes, ele mediu a condutância da pele, os
batimentos cardíacos e a pressão arterial dos participantes. Curiosamente,
o QI médio dessas pessoas caiu mais de dez pontos quando elas foram
postas em ambientes que as distraíam. Um dado ainda mais interessante é
que a queda foi maior nos homens do que nas mulheres. (Talvez, por
algum motivo, as mulheres sejam mais habituadas à distração).
Fazer pela metade é igual a não fazer nada
Como já mencionei, boa parte das ideias do Scrum vem do modelo de
fabricação japonês explicitado no clássico livro O Sistema Toyota de
Produção, de Taiichi Ohno. Nos Estados Unidos, esse método foi
interpretado como um modelo de produção “enxuta”. Basicamente, a
intenção é eliminar a maior quantidade possível de desperdício no
processo de fabricação. É claro que a maioria de nós não está tentando
melhorar o fluxo de uma indústria de automóveis, mas algumas das ideias
são aplicáveis a qualquer tipo de trabalho.
Um conceito que quero abordar aqui é chamado de “trabalho em
andamento”, ou apenas “inventário”. A ideia é que é um desperdício ter à
nossa volta um monte de itens que não estão sendo usados para construir
nada. Esses objetos têm um custo, não importa se são portas de carro ou
dispositivos. Se estão largados na fábrica, isso significa que há muito
dinheiro comprometido no inventário com coisas que não são de fato
necessárias naquele momento. Ter isso em mente muda a maneira como
você enxerga o que está em andamento. Por exemplo, se uma empresa
automobilística tem um monte de carros semiconstruídos, isso quer dizer
que ela gastou um monte de dinheiro e trabalho humano, mas não criou
nada que realmente tenha algum valor. Na produção enxuta, a ideia é
minimizar a quantidade de material semiconstruído parado na fábrica.
O poder dessa ideia pode ser aplicado a qualquer tipo de trabalho.
Pensemos em algo muito simples, com que quase toda pessoa casada
convive: uma lista de tarefas elaborada pelo marido ou pela mulher. Toda
semana, minha lista tem entre dez e vinte tarefas que preciso realizar. Elas
vão desde pintar o banheiro até comprar ração para o cachorro, desde
pagar o aluguel até varrer as folhas caídas no quintal. A vida cotidiana é
feita dessas atividades, que fazem parte do desgaste inerente a ser um
membro integrante da sociedade. Entretanto, há várias maneiras diferentes
de encarar essa lista. O maior erro que você pode cometer é tentar fazer
cinco coisas ao mesmo tempo. É provável que não consiga completar todas
elas e fique com trabalhos em andamento.
Imagine (ou, se você não tem muita sorte, recorde) uma ocasião em
que você tem cinco tarefas parcialmente feitas. Você só pintou uma parede
do banheiro; deixou a ração do cachorro no porta-malas; pegou o dinheiro
do aluguel, mas não foi até a imobiliária fazer o pagamento; e deixou as
folhas empilhadas, mas não as jogou no lixo. Você despendeu esforço,
porém não produziu nada de valor. O valor chega quando os jornais e as
latas de tinta já não estão mais no banheiro, o cachorro foi alimentado, a
imobiliária recebeu o dinheiro e o quintal não tem mais folha alguma.
Fazer algo pela metade é, no fundo, não fazer nada.
Como já foi dito, há um ritmo de trabalho no Scrum. A cada ciclo, ou
sprint, a equipe tenta fazer várias coisas. Mas, para que passe para a coluna
“Feito”, o produto precisa estar completo, pronto para ser utilizado pelo
cliente. No fim do sprint, algo feito pela metade é pior do que algo que
ainda não tenha sido iniciado, pois recursos, esforço e tempo foram gastos
e nada foi desenvolvido a ponto de poder ser entregue. É o mesmo que ter
meio carro. Talvez fosse melhor criar algo menor, mas que realmente
funcionasse.
Outra maneira de encarar o trabalho em andamento ou inventário é
enxergá-lo simplesmente como um estoque. Usemos os carros como
exemplo. Ter milhares de veículos que não foram vendidos parados no
pátio é um problema para um fabricante de automóveis. Mas não ter carros
disponíveis para venda também é problemático. Dessa forma, cada
fabricante e concessionária tenta manter um equilíbrio cuidadoso. O
objetivo é produzir um número de veículos suficiente para manter o
estoque disponível, mas não tão alto a ponto de a empresa investir muito
dinheiro em produtos que não são vendidos.
Vou fornecer alguns números. Em dezembro de 2012, a General
Motors começou a demitir funcionários de algumas de suas fábricas nos
Estados Unidos. Por quê? A empresa havia produzido carros demais. No
fim de novembro daquele ano, a GM tinha 245.853 picapes paradas em
pátios por todo o país. Isso equivalia a 139 dias de trabalho. Se
considerarmos seu preço médio, aqueles veículos não vendidos
representavam cerca de 7,5 bilhões de dólares. É muito dinheiro. Todo esse
dinheiro, nesse caso em forma de carro, mas ainda assim dinheiro, estava
parado. Então, a empresa começou a fechar fábricas e a demitir gente logo
antes do Natal.
Uma empresa automotiva deveria tentar manter um estoque
equivalente a quantos dias? O padrão do setor é de cerca de 60 dias, isto é,
menos da metade do que a GM tinha. Pense nisto: ao comprar ração para o
seu cachorro, você não quer adquirir suprimento para seis meses. Os sacos
ocupariam espaço na sua casa e talvez custassem tanto dinheiro que não
sobraria o suficiente para todas as suas contas do mês.
Você pode pensar: “Ei, mas eles fabricaram os carros; essa parte foi
feita, certo? Não são veículos fabricados pela metade, então qual é o
problema?” O problema é que estoque demais é praticamente a mesma
coisa que trabalho em andamento. Se comprometer muito dinheiro em
produtos que não estão dando retorno, você não terá esses recursos para
outras coisas, como fazer mais propaganda, incentivar mais vendas ou
explorar novas ideias. É preciso ter algum estoque; o segredo é minimizá-
lo.
Tarefas incompletas e produtos que não estão sendo usados são dois
aspectos da mesma coisa: esforço investido sem resultado positivo. Não
faça isso.
Faça tudo certo de primeira
O Dr. James Womack, fundador do Lean Enterprise Institute [Instituto
de Empresas Enxutas] do MIT e autor de diversos livros sobre produção
enxuta, conta uma história maravilhosa sobre os perigos do “retrabalho”
em seu clássico A máquina que mudou o mundo. Jim e sua equipe
passaram anos viajando por vários países para analisar o maior
empreendimento de fabricação já realizado por seres humanos: a produção
de carros. Ele queria descobrir por que algumas empresas fabricavam
carros mais rapidamente e com menos defeitos do que outras. Hoje em dia,
qualquer fabricante minimamente racional usa o que Jim resolveu chamar
de “produção enxuta”, mas naquela época era tudo diferente.
Uma das maiores discrepâncias entre os fabricantes estava no mercado
de carros de luxo. No Japão, empresas como a Toyota, a Honda e a Nissan
gastavam uma média de 16,8 horas produzindo um automóvel de luxo. As
peças entravam em uma extremidade da fábrica e, cerca de 17 horas
depois, um Lexus surgia na outra. E esses fabricantes tinham 34 defeitos a
cada cem veículos. Nada mau.
Na Europa, porém, a história era diferente. Empresas como a
Mercedes-Benz, a Audi e a BMW levavam 57 horas para produzir um
carro e apresentavam 78,7 defeitos a cada cem veículos.
Por que os europeus demoravam tanto? E por que apresentavam tantos
defeitos? A BMW não é conhecida por fabricar carros de baixa qualidade.
Eis o motivo: em uma fábrica da Toyota, qualquer funcionário pode parar
a linha de montagem quando surge um problema. Quando isso acontece,
todos se unem em torno do ponto em que a esteira parou, não para
reclamar com o sujeito que a paralisou, mas para resolver o problema.
Ninguém quer que os carros fiquem prontos com defeitos a serem
corrigidos depois. Solucionam o problema de uma vez e pronto, está
resolvido para sempre. Caso contrário, a mesma falha pode acabar
aparecendo em centenas de veículos.
Nas montadoras europeias de carros de luxo, a fabricação era feita de
uma maneira diferente. No fim da linha de produção, dezenas de
funcionários usando jalecos brancos circulavam corrigindo todos os
defeitos. Eles se certificavam de que a porta do BMW fazia um clique
característico ao fechar, ou que o motor ronronava no tom certo.
Garantiam que todos os componentes se uniam da forma correta. Não se
viam como fabricantes, mas como artesãos que produziam algo belo. Isso
é ótimo quando se está produzindo poucos carros. No entanto, quando se
fabricam milhões de veículos, esses custos se tornam muito altos. Womack
relata em seu livro:

[...] a fábrica alemã tinha mais trabalho para corrigir os problemas


que tinha acabado de criar do que a fábrica japonesa tinha para
produzir um carro quase perfeito de primeira.8

É isso mesmo. Os alemães gastavam mais tempo consertando um carro


recém-produzido do que os japoneses levavam para fabricar um. A Toyota
se tornou a fabricante de automóveis número 1 do mundo por um motivo:
ela acertava de primeira.
Mas nem sempre conseguimos fazer tudo perfeitamente na primeira
vez. Somos humanos; cometemos erros. O modo como você lida com
esses erros pode ter um impacto extraordinário na rapidez com que
consegue fazer as coisas e no nível de qualidade que atinge. Como
mencionado antes, na Toyota, qualquer funcionário da fábrica pode parar a
esteira. A ideia é que o processo seja melhorado continuamente e que o
momento certo para corrigir um problema é quando ele é detectado, não
depois de já ter se concretizado.
Há alguns anos, fui à Califórnia para conversar com a equipe de
desenvolvimento da Palm. Ela produziu alguns dos primeiros aparelhos
então chamados de Personal Digital Assistants (assistentes pessoais
digitais, ou PDAs, na sigla em inglês), que hoje chamamos de telefones
celulares. O grupo mapeava tudo o que fazia de modo automático. Um dos
muitos fatores medidos era o tempo gasto para corrigir um bug – ou seja,
quanto tempo um desenvolvedor de software levava para solucionar um
problema que ele mesmo tinha introduzido no sistema. O computador fazia
esse rastreamento automaticamente todas as vezes que essa situação
ocorria.
Digamos que um dia, quando a equipe de testes tentasse integrar o
código de um funcionário chamado Matt ao resto do sistema, um bug fosse
detectado. Matt, como a maioria dos desenvolvedores de software, não ia
querer voltar atrás e corrigir esse código na mesma hora. Em vez disso, ele
prometeria voltar ao problema mais tarde. Primeiro, escreveria um novo
código.
Na maioria das empresas esse tipo de teste nem sequer é feito no
mesmo dia. Poderiam se passar semanas ou meses até que todo o código
fosse testado, e só então os problemas seriam descobertos. Mas a Palm
realizava testes diários e automáticos, portanto detectava os bugs
imediatamente.
Então, o pessoal da Palm olhou para os “Matts” na empresa inteira –
centenas de desenvolvedores – e resolveu comparar o tempo necessário
para corrigir um bug no momento em que ele era detectado com o tempo
necessário para corrigi-lo algumas semanas mais tarde. Não se esqueça de
que softwares podem ser bem complicados e confusos. Então, qual você
acha que foi a diferença?
A segunda opção demorava 24 vezes mais. Quando se mexia em um
bug no mesmo dia em que ele tinha sido criado, era necessária uma hora
para corrigi-lo. Três semanas mais tarde, levava-se 24 horas. Não
importava se o erro era grande ou pequeno, complicado ou simples – três
semanas depois, o tempo gasto para consertá-lo era sempre 24 vezes
maior. Como você pode imaginar, logo todos os desenvolvedores de
software da empresa passaram a ser obrigados a testar e corrigir seu código
no mesmo dia.
A mente humana é restrita. Conseguimos nos lembrar de um número
limitado de coisas; só conseguimos concentrar nossa atenção em um
elemento por vez. Esta tendência – de o processo para consertar algo ficar
mais difícil à medida que o tempo passa – representa uma limitação
parecida. Enquanto trabalha em um projeto, você cria um espaço em seu
cérebro em torno dele. Sabe todos os diferentes motivos para algo ser feito.
Sustenta uma arquitetura complicada em sua mente. Recriar essa
arquitetura uma semana depois é difícil. É necessário se lembrar de todos
os fatores que você considerou ao tomar uma decisão. Você tem que
recriar o raciocínio que o levou àquela escolha. Precisa revisitar seu eu do
passado, voltar a uma mente que não existe mais. Fazer isso demanda
tempo. Muito tempo. Vinte e quatro vezes mais tempo do que levaria se
tivesse resolvido o problema ao descobri-lo.
Com certeza você já teve essa experiência no seu trabalho, e já lhe
ensinaram esta lição quando era criança: faça tudo certo de primeira. O
único conselho que os dados que informei agora adicionam é: se cometer
um erro – e todo mundo os comete –, corrija-o no momento em que ele for
detectado. Caso contrário, você vai pagar caro por isso.
Trabalhar demais dá mais trabalho
No início dos anos 1990, Scott Maxwell, fundador da empresa de
capital de risco OpenView Venture Partners, trabalhava como consultor na
McKinsey & Company quando recebeu uma preleção que considerou um
bocado estranha. Jon Katzenbach, então diretor da empresa e, hoje, autor
de vários livros e chefe do Katzenbach Center na Booz Allen Hamilton,
deu a Scott alguns conselhos que ele nunca esqueceu. Jon disse que nos
anos 1970, no início de sua carreira, todos trabalhavam sete dias por
semana na McKinsey. Era a cultura da empresa; era o que se esperava dos
funcionários. Se você não trabalhasse tantas horas, consideravam que não
estava se dedicando o bastante, não estava contribuindo com a equipe.
Por razões religiosas, Jon trabalhava apenas seis dias por semana. E
percebeu o seguinte: apesar de trabalhar menos horas, ele produzia mais do
que os caras – naquela época, praticamente só havia homens no mundo dos
negócios – que iam para o escritório todo dia. Então, ele decidiu
experimentar trabalhar apenas cinco dias por semana. E descobriu que
conseguia concluir ainda mais tarefas. Se trabalhar tempo demais, disse
ele, você realiza menos. Jon contou a Scott que sempre quis baixar o
número de dias de trabalho para quatro ou até mesmo três por semana para
ver o que aconteceria, mas não estava muito seguro de que a empresa
aceitaria isso.
Scott e os outros jovens consultores zombaram da ideia naquele
momento. Trabalhar menos horas? Isso não é fugir da raia? Mas a ideia
permaneceu na cabeça de Scott durante anos, à medida que ele foi subindo
na carreira. Como CEO e fundador da OpenView Venture Partners, ele
começou a investir em empresas de tecnologia, algumas das quais
aplicavam o Scrum. Ouviu falar que eu tinha inventado o método e morava
na mesma cidade, então me convidou para um café da manhã. Enquanto
tomávamos café e comíamos croissants, Scott me contou uma história
sobre uma das empresas em que ele tinha investido, na qual as equipes de
desenvolvimento haviam implementado o Scrum e aumentado a
produtividade em 25% a 35%. Ele ficara realmente impressionado.
Respondi imediatamente: “Vinte e cinco a 35%? Eles devem estar fazendo
tudo errado!”
Scott decidiu levar o Scrum para a OpenView e implementá-lo na
empresa inteira. A equipe de investimentos, o pessoal de pesquisa, o alto
escalão de gerência, o administrativo... todo mundo foi alocado em uma
equipe Scrum. E, por fim, aconteceu algo que é um dos grandes benefícios
desse método: a OpenView descobriu como as pessoas trabalham de fato,
em vez de como dizem trabalhar.
Naquela época, a empresa parecia um conjunto superdinâmico de
escritórios. A expectativa de que as pessoas trabalhassem até tarde e nos
fins de semana estava enraizada na cultura corporativa. Os funcionários
eram ambiciosos e aguerridos. Mas estavam começando a ficar esgotados,
deprimidos e desmotivados. O ambiente era tão difícil que alguns
indivíduos não aguentavam e pediam demissão.
Mas, à medida que as equipes da OpenView começaram a trabalhar
com o Scrum, Scott notou uma mudança na produtividade. Trabalhar mais
horas parou de gerar mais resultados. Um dia, ele me chamou no seu
escritório e desenhou uma curva em um quadro branco.

DOBRE OS RESULTADOS DIMINUINDO A CARGA DE


TRABALHO
O eixo y é a produtividade, o x se refere às horas de trabalho. O pico
de produtividade reside em um pouco menos de quarenta horas semanais.
Munido com esses dados, Scott começou a mandar os funcionários para
casa mais cedo.
“Levou um tempo para eles perceberem que eu estava falando sério”,
conta ele. “Mas, por fim, todos concordaram com a minha maneira de
pensar.”
Scott dizia às pessoas que trabalhar até tarde não significava
comprometimento; era um sinal de fracasso. “Não é que eu queira que
você tenha uma vida equilibrada”, dizia ele. “É porque assim você vai
produzir mais.”
Então, chega de noites e fins de semana de trabalho. Quando saem de
férias, as pessoas devem tirar férias, não checar o e-mail nem entrar em
contato com o escritório. Se você não consegue tirar um tempo livre sem
precisar verificar se está tudo correndo bem no trabalho, vale o mesmo:
você não está gerenciando bem as suas equipes.
“Várias empresas não têm essa prática [de estabelecer um limite de
horas de trabalho]”, afirma Scott. “Mas há uma correlação direta. Você
produz mais. Fica mais feliz. E a qualidade melhora.” É simples. Trabalhar
menos ajuda a fazer mais coisas com uma qualidade melhor.
Scott diz que a curva é diferente para pessoas distintas, ou até para a
mesma pessoa em diversos momentos da vida. “Conforme fui
envelhecendo e assumindo papéis diferentes, notei que meu pico de
produtividade passou a residir em um número de horas menor do que há
vinte anos”, afirma. Ele acredita que a forma física, a alimentação,
problemas pessoais e outros fatores têm influência nisso, mas também
acha que sua produtividade atinge o pico mais rápido hoje porque ele
amadureceu e refletiu profundamente sobre como trabalha. “Nos últimos
tempos, tenho tido capacidade de aproveitar oportunidades cada vez mais
relevantes.”
Por que você produzirá mais se trabalhar menos horas? Isso não parece
fazer nenhum sentido. Scott diz que quem trabalha horas demais começa a
cometer erros, os quais, como vimos, demandam mais esforço para serem
corrigidos do que criar algo novo. Funcionários que trabalham demais se
tornam mais distraídos e começam a distrair os colegas. Em pouco tempo,
todo mundo toma decisões ruins.
Os instintos de Jon Katzenbach estavam certos. Dados perturbadores
revelam que nossa capacidade de tomar decisões é muito limitada e que,
quanto mais esgotados ficamos e menos tempo de descanso temos, piores
são as nossas decisões.
Em abril de 2011, um grupo de pesquisadores israelenses publicou um
trabalho notável sobre tomada de decisões na revista Proceedings of the
National Academy of Sciences of the United States of America. O artigo,
intitulado “Fatores externos nas decisões judiciais”, examinou mais de mil
decisões judiciais tomadas por oito juízes israelenses que presidiam dois
conselhos de liberdade condicional. As decisões diziam respeito a
criminosos israelenses de origens judaica e árabe, tanto homens quanto
mulheres. Os crimes iam desde peculato e assalto até assassinato e estupro.
A grande maioria das decisões dos juízes se referia à análise de pedidos de
liberdade condicional.9
Parece bem simples, certo? Estamos falando de juízes respeitados que
usavam sua experiência e sabedoria para tomar decisões críticas, que
afetavam não só a vida dos presos e de suas vítimas, mas o bem-estar da
comunidade como um todo. Eles examinavam entre 14 e 35 casos por dia.
Se você fosse um preso, qual seria o fator decisivo para você ir para
casa ou não? Arrependimento genuíno, talvez? Seu comportamento e a
mudança de conduta que apresentou na prisão? A gravidade do seu crime?
Nada disso. O que importava de verdade era quanto tempo havia passado
desde que o juiz tinha comido um sanduíche.
Os pesquisadores analisaram em que momento as decisões tinham sido
tomadas, se o benefício fora concedido e quanto tempo se passara desde
que os juízes tinham feito um lanche. Se tivessem acabado de chegar ao
trabalho, ou acabado de voltar do almoço ou de um lanche, eles tomavam
decisões favoráveis em mais de 60% dos casos. Essa taxa caía para quase
zero com a proximidade do intervalo seguinte.
Basicamente, logo após uma pausa, os juízes tinham uma postura mais
positiva e tomavam decisões mais tolerantes. Demonstravam mais
imaginação e capacidade de enxergar que o mundo e as pessoas podem
mudar. Entretanto, conforme queimavam suas reservas de energia,
começavam a tomar cada vez mais decisões que mantinham o status quo.
Se você perguntasse a esses juízes se eles tinham certeza de que
estavam tomando decisões igualmente boas todas as vezes, estou certo de
que eles se sentiriam ofendidos. Mas os números, assim como os
sanduíches, não mentem. Quando não temos mais nenhuma reserva de
energia, ficamos propensos a fazer resoluções inadequadas.
Esse fenômeno tem sido rotulado de “esgotamento do ego”. A ideia é
que fazer qualquer escolha envolve um custo de energia. É um tipo
estranho de exaustão: você não se sente fisicamente cansado, mas sua
competência em tomar decisões diminui. Na verdade, o que muda é seu
autocontrole – sua capacidade de ser disciplinado, cuidadoso e prudente.
Um experimento fascinante mostra exatamente isso. Um grupo de
pesquisadores queria saber como o ato de tomar decisões afeta o
autocontrole. Eles reuniram os soldados de infantaria das pesquisas em
psicologia – alunos de graduação – e pediram que um grupo deles tomasse
um monte de decisões. Diferentes produtos foram apresentados a esses
estudantes, que deveriam escolher um de sua preferência. Os
pesquisadores pediram que eles pensassem com cuidado, porque
ganhariam um presente no fim do experimento e suas preferências
definiriam o que eles iam receber. O outro grupo de alunos não tinha que
tomar decisão alguma.10
Algumas perguntas foram feitas ao grupo de teste, como: “Você
prefere vela perfumada de baunilha ou de amêndoa?” “Qual é sua marca
favorita de xampu?” “Você gosta desse tipo de doce ou daquele?” Em
seguida, os estudantes receberam o teste clássico de autocontrole: durante
quanto tempo você consegue manter sua mão em água gelada?
Seja qual for o recurso consumido para tomar decisões, também é
utilizado no autocontrole. Os estudantes que tinham feito todas aquelas
escolhas entre os produtos não conseguiram manter a mão na água gelada
pelo mesmo tempo que o grupo de controle, que havia sido poupado das
decisões.
Portanto, o número de decisões sensatas que você pode tomar ao longo
de um dia é limitado. À medida que faz mais e mais escolhas, você corrói
a capacidade de regular seu próprio comportamento. Começa a cometer
erros, e pode acabar cometendo erros graves. Como mostra a Curva de
Maxwell, decisões ruins prejudicam a produtividade. Então, vá para casa
às cinco da tarde. Desligue o celular no fim de semana. Assista a um filme.
E, talvez o mais importante, coma um sanduíche. Se não trabalhar tanto,
você produzirá mais e fará um trabalho melhor.
O Scrum pede que seus participantes rompam com a mentalidade de
levar em conta as horas trabalhadas. Horas representam um custo. Em vez
disso, leve em conta o resultado. Ninguém liga para quantas horas alguém
trabalhou para fazer algo. O que importa é a rapidez com que o produto é
entregue e a qualidade dele.
Seja razoável
Existem três tipos de desperdício identificados por Taiichi Ohno que
levam as pessoas a trabalhar com mais obstinação, e por mais horas, do
que o necessário. Acabei de explicar por que fazer isso é uma péssima
ideia, mas reconhecer esses tipos de desperdício, que Ohno chama de
Muri, ou “irracionalidade”, pode ser a alavanca mais poderosa para a
mudança que almejamos.
O primeiro é o “absurdo”. É bom estabelecer metas desafiadoras para
sua equipe, para incentivá-la a tentar chegar mais longe. Mas não é bom
que seu grupo lute por objetivos absurdos e impossíveis.
O segundo tipo são as “expectativas irracionais”. Quantas vezes você
já ouviu alguém se gabar de que seus esforços heroicos salvaram um
projeto? Em geral, esse tipo de declaração é recebido com tapinhas nas
costas, elogios e parabéns. Para mim, indica uma falha fundamental no
processo. Uma equipe que depende de ações heroicas para cumprir seus
prazos não está trabalhando da maneira correta. Pular constantemente de
uma crise para outra causa esgotamento, e não permite uma melhoria
contínua e racional. Essa é a diferença entre um caubói que invade o
recinto e salva a mocinha dos bandidos e um pelotão disciplinado de
fuzileiros navais que libera uma zona de conflito.
Ohno batizou o terceiro tipo de desperdício de “sobrecarga”. É o
comportamento que Scott Adams sempre satiriza em seus cartuns Dilbert.
Ele inclui políticas corporativas onerosas que atrapalham o trabalho,
relatórios desnecessários que obrigam as pessoas a preencher formulários
sem qualquer objetivo prático e reuniões sem sentido que desperdiçam
tempo e não ajudam a concretizar nada.
Ohno não mencionou um quarto tipo de desperdício, mas tenho um em
mente: “desperdício emocional”. Ele é gerado quando uma empresa tem
um funcionário imbecil – alguém que gosta de agitar as outras pessoas,
levando-as a um estado de confusão mental. Os imbecis muitas vezes
justificam seu comportamento alegando que só estão tentando fazer com
que todo mundo trabalhe melhor, quando, na realidade, estão apenas
cedendo aos aspectos negativos de sua personalidade. Isso enfraquece a
capacidade que uma equipe tem de se destacar.
Não seja um imbecil. E não permita, incentive ou aceite esse
comportamento nos outros.
Fluxo
Num mundo ideal, não existiriam processos, reuniões, formulários ou
relatórios. Em vez disso, haveria a criação do produto exatamente como o
cliente quer, mesmo que o cliente ainda não soubesse que era aquilo que
desejava. Qualquer “processo” traz desperdícios, e isso inclui o Scrum.
Mas não vivemos em um mundo perfeito, e os processos ruins estão
tão arraigados em nosso pensamento que, como alternativa, precisamos de
um processo leve com o maior impacto possível sobre o trabalho. O Scrum
se concentra em eliminar o desperdício inútil que parece inerente ao
trabalho. Tentei fazer com que sua estrutura cause o mínimo de incômodo
possível ao mesmo tempo que mantém as pessoas focadas.
O ideal é que o trabalho flua sem muito esforço. Nas artes marciais ou
na meditação, quando você atinge uma sensação de unidade com um
movimento, isso significa que fazê-lo não é mais um esforço; é uma
energia que flui através do seu corpo. Quando você assiste a grandes
dançarinos ou cantores, percebe que eles se rendem a uma força maior do
que eles mesmos enquanto permitem que a arte os atravesse. Todos nós
devemos procurar chegar a esse ponto em nosso trabalho.
Porém, como o mestre de kung fu, o monge, o dançarino ou a estrela
da ópera poderão lhe contar, a disciplina é a raiz do fluxo. Não pode haver
nenhum movimento desperdiçado, nenhum elemento estranho, somente a
aplicação absolutamente focada de uma habilidade humana. Desperdício é
qualquer coisa que distraia você disso. Se começar a pensar sobre o
trabalho em termos de disciplina e de fluxo, é possível que você concretize
algo incrível.
RESUMO
Realizar muita coisa ao mesmo tempo emburrece. Dedicar-se a
mais de uma atividade simultaneamente faz com que você fique mais
lento e tenha um desempenho pior nas tarefas. Não faça isso. Se
estiver pensando que isso não se aplica a você, está errado. Isso serve
para todo mundo.
Fazer pela metade é igual a não fazer nada. Um carro fabricado
pela metade engessa recursos que poderiam ser usados para gerar
valor ou economizar dinheiro. Qualquer coisa “em andamento” custa
dinheiro e energia, mas não dá nenhum retorno.
Faça direito de primeira. Quando cometer um erro, corrija-o na
mesma hora. Pare tudo o que está fazendo e se dedique a isso.
Consertar o problema mais tarde pode demorar mais de vinte vezes o
tempo que levaria para corrigi-lo no momento em que ele surgiu.
Trabalhar demais dá mais trabalho. Ficar mais tempo no trabalho
não faz com que você produza mais. Na verdade, faz com que
produza menos. Trabalhar demais leva à fadiga e resulta em erros, o
que faz com que você tenha que consertar aquilo que acabou de
terminar. Em vez de trabalhar até tarde ou nos fins de semana,
trabalhe em um ritmo sustentável apenas nos dias de semana. E tire
férias.
Não seja irracional. Objetivos desafiadores são motivantes; metas
impossíveis são apenas deprimentes.
Nada de heroísmo. Se precisa de um herói para concluir o trabalho,
você tem um problema. Esforços heroicos devem ser vistos como
uma falha de planejamento.
Chega de políticas corporativas idiotas. Qualquer política que
pareça ridícula provavelmente é ridícula. Formulários idiotas,
reuniões idiotas, aprovações idiotas, padrões idiotas são isto mesmo:
idiotas. Se seu escritório se parece com um cartum do Dilbert, mude
isso.
Nada de imbecis. Não seja um imbecil e não permita que esse
comportamento ocorra. Qualquer um que crie caos emocional, inspire
medo ou receio, humilhe ou diminua os outros precisa ser impedido
de fazer isso.
Busque o fluxo. Escolha a maneira mais suave e tranquila de fazer as
coisas. O Scrum possibilita o máximo de fluxo possível.
CAPÍTULO 6

Planeje a realidade, não a fantasia

“Oi, Jeff, temos um problema.”


É assim que começa boa parte das minhas conversas telefônicas.
Alguém se meteu em um beco sem saída, então pegou o telefone e me
ligou. Dessa vez quem estava do outro lado da linha era Mark Landy,
chefe de arquitetura de software da Medco. Praticamente todos os
americanos que recebem seus medicamentos pelo correio lidam com a
empresa de Mark. No momento dessa conversa telefônica, a Medco estava
na lista da Fortune das cem maiores companhias dos Estados Unidos, com
quase 38 bilhões de dólares de receita, e era a maior farmacêutica do país,
com dezenas de milhares de empregados. E sua gerência tinha acabado de
colocá-los em uma enrascada.
Recebi o telefonema em dezembro de 2006. Em julho daquele ano, o
presidente da empresa, Kenny Klepper, havia anunciado a Wall Street sua
mais nova ideia. Mark Landy a descreveu assim: “Estávamos tentando
convencer mais e mais pessoas a passar a receber seus remédios pelo
correio. Mas há alguns obstáculos.” Entre eles, a percepção dos
consumidores de que isso seria inconveniente. Mas Mark garantiu que
existiam algumas formas de contornar isso. “Quando você entra em uma
farmácia, sua experiência não é lá muito clínica. Você entrega sua receita,
assina um documento dizendo que não quer falar com o farmacêutico e sai.
Podemos melhorar essa experiência.”
Uma das coisas que eles queriam fazer era pôr um farmacêutico ao
telefone com o paciente, alguém que estivesse familiarizado não só com o
medicamento sendo prescrito naquele momento, mas com todos os
remédios receitados para aquela pessoa. Esse último aspecto era
importante caso o paciente tivesse uma doença crônica, como diabetes ou
uma cardiopatia, o que é o caso de 80% de quem toma um remédio
regularmente. A maioria desses indivíduos – praticamente todos, quando
se trata de idosos – toma seis ou mais medicamentos ao mesmo tempo. E
seus médicos, especialistas em diferentes áreas da saúde, nem sempre
sabem disso.
“Os médicos nem [sempre] compartilham informações entre si. Nós, a
farmácia, temos mais informações do que eles, e recebemos esses dados
em tempo real, [até mesmo] antes de o plano de saúde ficar sabendo”,
disse Landy.
Eis a ideia de Klepper: “Vamos criar farmácias especializadas em
cinco locais diferentes dos Estados Unidos. Haverá a farmácia cardíaca, a
farmácia da diabetes, a da asma e assim por diante. E vamos treinar os
farmacêuticos de cada um desses locais para que estejam cientes de
interações medicamentosas, efeitos colaterais etc. Como terão uma visão
abrangente da condição do paciente, esses farmacêuticos serão capazes de
informar aos médicos quando houver possíveis contraindicações. Digamos
que alguém seja diabético. É provável que essa pessoa tenha excesso de
peso e, talvez, problemas no fígado. Consequentemente, ela metabolizará
os remédios de maneira diferente. Então, se um novo médico receitar um
medicamento para controlar a pressão arterial, o farmacêutico da Medco
poderá ligar para esse médico e recomendar que ele peça um exame do
fígado do paciente e, se necessário, ajuste a dosagem.”
O objetivo era atrair novos clientes para a Medco, que em geral atendia
empresas e planos de saúde. Com essas novas farmácias, ou Centros de
Recursos Terapêuticos, os consumidores poderiam economizar dinheiro,
não necessariamente com os custos dos remédios, mas com os gastos
médicos em geral, que tendem a aumentar quando não se toma
medicamentos da forma correta, ou se usa medicações que interagem mal
uma com a outra ou com o organismo do indivíduo. Além disso, a Medco
garantiria essa economia. Se um cliente não economizasse a quantia
projetada, a empresa pagaria a diferença.
Wall Street, para dizer o mínimo, gostou dessa ideia. Bem legal, não é
mesmo? Economizar dinheiro e fornecer serviços de saúde melhores. Mais
clientes, mais vendas. Todo mundo sairia ganhando. Havia apenas um
problema. Apesar de ter verificado com seus gerentes que a ideia era
possível do ponto de vista técnico, Klepper não tinha obtido detalhes sobre
quanto tempo seria necessário para implementar esse plano. As pessoas
que o concretizariam na prática só ficaram sabendo dele depois que o
presidente da empresa já tinha prometido a Wall Street que o novo sistema
estaria em pleno funcionamento no dia 7 de julho de 2007. Não importava
o que acontecesse.
Cumprir esse prazo era muito importante para a Medco, porque, apesar
de ter sido a primeira empresa a implementar farmácias automatizadas
com entregas pelo correio, ela não era a única, e seus concorrentes estavam
ávidos por conquistar mais mercado. Infelizmente, ela tinha que superar
uma série de obstáculos. Por exemplo, grande parte do software de que a
empresa dependia para comandar seus robôs estava desatualizada. Nas
cinco gigantescas fábricas da Medco, onde quatro mil farmacêuticos
processavam receitas médicas, robôs zuniam para lá e para cá pegando
comprimidos, embalando e enviando medicamentos pelo correio, e todos
esses sistemas precisavam se comunicar com 100% de precisão, caso
contrário alguém poderia morrer.
O novo e ousado plano de Klepper daria à Medco a oportunidade de
atualizar seus sistemas antiquados e ficar um passo à frente da
concorrência. A empresa demorou quase seis meses para perceber que não
conseguiria concretizar o plano a tempo. Os cálculos mostravam que, na
melhor das hipóteses, o sistema seria entregue com pelo menos um ano de
atraso. Provavelmente mais. Foi aí que me ligaram de lá.
Por que eles levaram seis meses até descobrir que não seriam capazes
de cumprir o prazo é algo que merece ser examinado. Não é que eles não
fossem inteligentes, ou que não tivessem as equipes certas, ou que faltasse
a tecnologia adequada. Tampouco era o caso de eles não estarem
trabalhando duro ou não serem competitivos. Não é possível uma empresa
se tornar a maior de seu setor sem fazer tudo isso.
O motivo é que a Medco cometeu um erro muito básico. O pessoal de
lá pensou que poderia planejar tudo com antecedência. Eles passaram
meses fazendo o tipo de planejamento detalhado que parece plausível,
delineado em gráficos bonitos e com etapas precisas, mas que quase
sempre descreve uma realidade ficcional.
Como já disse antes, o próprio ato de planejar é tão sedutor, tão
atraente, que o planejamento em si se torna mais importante do que o
plano. E o plano se torna mais importante do que a realidade. Nunca se
esqueça disto: o mapa não é o terreno.
Quando uma equipe se reúne pela primeira vez para traçar um projeto,
muitas vezes há uma certa empolgação na sala, uma sensação de que tudo
é possível, de que existem novos mundos a serem descobertos e novas
ideias a experimentar. É de fato um dos melhores sentimentos do mundo.
Em seguida, vem o momento em que a inspiração dá lugar aos
cálculos, e boa parte daquela energia mágica se dissipa. As pessoas
começam a questionar: “Como é que vamos chegar do ponto A ao ponto B
na realidade? E, depois que tivermos resolvido isso, quanto tempo vamos
demorar para concluir o plano?”
Infelizmente, essa fase de cálculo pode ser um processo do tipo
“garbage-in, garbage-out”.* Os indivíduos envolvidos podem ser muito
inteligentes, mas, ainda assim, não vão perceber que o que estão incluindo
em seus gráficos de planejamento não passa de pensamento positivo.
Quando Mark explicou a situação da Medco, falei: “Você tem mesmo
um problema.” Esperei um segundo e continuei: “Mas aposto que vamos
conseguir resolvê-lo.”
Logo antes do Natal, fui até Nova Jersey e passei um dia na empresa
tentando descobrir o tamanho do problema. A situação não era nada
simples. Havia pilhas de papel com exigências, regras, todo tipo de
relatórios, phase-gates e testes de qualidade. O que realmente precisava ser
concretizado estava enterrado em algum lugar no meio daquela papelada,
mas ninguém tinha um plano concreto de como fazê-lo.
Depois de me reunir com alguns funcionários-chave, liguei para Brent
Barton, um treinador de Scrum com quem eu havia trabalhado em outros
projetos. “Brent, preciso de você e de quem mais você conseguir
arrebanhar até o início de janeiro. Temos muito trabalho pela frente.”
Mais tarde, Brent afirmaria que, assim que chegou à Medco, viu uma
empresa “em um impasse”. Havia tantos interesses e pessoas em conflito
que ninguém conseguia fazer nada. No primeiro dia, nos reunimos com
cerca de sete grupos diferentes, cada um dono de uma parte do projeto, e
nenhum deles estava muito interessado em tentar algo novo. Mas eis o que
Brent diz agora: “Nós podíamos nos dar ao luxo de falar ‘Caramba, que
merda’. Você pode usar a dor e o medo como aliados quando entra em um
projeto como consultor. Quando encontrávamos resistência, dizíamos:
‘Vocês podem continuar fazendo as coisas desse jeito, seguir o método
tradicional e atrasar a entrega, tudo bem.’ E eles retrucavam: ‘Não, não
podemos atrasar a entrega.’”
Nossa primeira medida foi chamar todo mundo para uma sala de
conferência – todos os que desempenhariam um papel importante, quem
realmente realizaria o trabalho. Brent pediu que eles imprimissem todos os
documentos que tinham descrevendo o que precisava ser feito no projeto.
Não, não bastava enviar por e-mail; queríamos tudo em papel.
Estávamos em uma sala grande, de cerca de duzentos metros
quadrados, e sem janelas, como esse tipo de cômodo costuma ser, por
algum motivo misterioso. Bem no meio havia uma mesa sobre a qual
empilhamos todos os documentos que as pessoas carregaram para lá
algumas horas mais tarde. A pilha tinha pelo menos uns sessenta
centímetros de altura.
“Quantos de vocês realmente leram tudo isso?”, perguntei.
Silêncio.
“Mas, olha só”, disse eu a um dos gerentes, “você assinou este
documento. Aqui está a sua assinatura. Você não leu?”
Mais silêncio constrangedor.
Eu não queria pegar no pé dele, mas o fato é que, em um projeto atrás
do outro, as pessoas cortam, colam e enfiam um monte de clichês, mas
ninguém de fato lê todas aquelas milhares de páginas. É impossível. Essa é
a questão. Elas criaram um sistema que as obriga a colaborar com uma
ilusão.
Então Brent e eu pegamos tesouras, fita adesiva, cola e post-its. No fim
das contas, você realmente aprendeu tudo o que precisa saber no jardim de
infância.
“Vamos fazer o seguinte”, disse Brent. “Vamos examinar essas pilhas
de papel e recortar tudo o que de fato precisa ser feito para concluir o
projeto. Então vamos colar essas atividades na parede.”
Durante as horas seguintes, foi isso o que todo mundo fez. Por fim,
centenas de post-its cobriam três paredes. Sobre a mesa, ainda havia mais
da metade daquela torre de sessenta centímetros. Duplicações, clichês,
moldes. Um desperdício completo.
Falei para as equipes: “Agora precisamos estimar quanto trabalho cada
um desses post-its vai demandar.” Não a quantidade de tempo, e sim de
trabalho.
Falarei sobre as melhores maneiras de fazer isso mais adiante, ainda
neste capítulo, uma vez que os seres humanos são péssimos em fazer
estimativas de quanto trabalho algo vai dar. Ensinei aos funcionários da
Medco uma forma rápida e meio porca que é a melhor de uma série de
métodos ruins, e eles puseram as mãos à obra.
Demorou um tempo, mas eles conseguiram. Tudo o que precisava ser
feito para completar o projeto foi colado na parede e dividido em tarefas
com as quais seria possível lidar. E o pessoal havia estimado quanto
esforço seria necessário para concluir cada atividade. Eles estavam
animados. Uma pilha de papel impossível de ler tinha se transformado em
pedaços de trabalho compreensíveis. É como diz aquele velho ditado:
“Como comer um elefante? Dando uma mordida de cada vez.”
Uma das principais coisas que fazíamos com cada post-it era escrever
não só o que precisava ser criado, mas também como saberíamos quando
aquilo estivesse pronto. Foi assim que incorporamos as exigências da FDA
[Food and Drug Administration], as garantias de qualidade e os relatórios
de processos, aos quais a equipe precisava ficar atenta. Simplesmente,
dizíamos: para que esta tarefa seja concluída, esses objetivos têm de ser
cumpridos. Nós incluíamos essas metas no projeto no primeiro nível, que
definia o trabalho a ser feito, em vez de esperar até que tudo estivesse
pronto para descobrir que algo não estava em conformidade com alguma
regulação federal ou norma interna. Dessa forma, todos os integrantes da
equipe, não só o pessoal das exigências, precisava trabalhar para atingir
determinado nível de qualidade antes de passar para o próximo item. A
quantidade de retrabalho que isso elimina de um projeto é incrível. Chamo
esse padrão que precisa ser alcançado de “definição de concluído”. Assim,
todo mundo sabe quando algo está pronto ou não, pois existem normas
claras às quais qualquer parte do trabalho precisa se adequar.
Olhando para todos aqueles post-its na parede, todo mundo foi
invadido por um sentimento de realização. Agora era possível ver o que
tinha de ser feito.
“Certo”, disse Brent. “O que precisamos fazer primeiro?”
Cerca de cinco pessoas se manifestaram.
“E depois?”
Outras cinco pessoas com ideias diferentes falaram dessa vez.
“E depois?”
Queríamos que aqueles indivíduos fizessem algo que, às vezes,
ninguém quer fazer: definir as prioridades. Muitas vezes as pessoas dizem
que tudo é importante. Mas Brent estava perguntando o que agregaria mais
valor ao projeto. Aqueles eram os itens que deveriam ser realizados
primeiro.
No final, tínhamos seis linhas de post-its nas paredes, cada uma de uma
cor que representava uma equipe. As listas se estendiam ao longo de três
paredes da sala. Nesse momento eu soube que pelo menos poderíamos
começar.
Planejando um casamento
Um planejamento pode parecer simples, mas vou ilustrar as etapas
desse processo usando um exemplo em escala menor: um casamento. Um
casamento formal é um projeto com um monte de tarefas que precisam ser
concluídas até determinada data. Como você sabe, se for casado – ou como
vai descobrir, se decidir se casar um dia –, tudo dá errado e acaba exigindo
quatro vezes o trabalho previsto.
É claro que pode acontecer o contrário: algo que você acha que vai
levar horas é feito em quinze minutos. A pergunta que persiste é: “Por que
somos tão ruins em estimar quanto tempo algo vai levar?”
Somos realmente péssimos nisso. Vamos falar sobre casamento daqui a
pouco, mas primeiro quero apresentar um gráfico que tem um dos
melhores nomes que já vi: o “cone da incerteza”.
Esse gráfico mostra que as estimativas iniciais do tempo de trabalho
podem corresponder a um intervalo entre 25% e 400% do tempo gasto na
realidade. A estimativa mais alta é dezesseis vezes maior que a mais baixa.
À medida que o projeto avança e se estabiliza, essas projeções começam a
se aproximar cada vez mais do tempo real, até o momento em que não há
mais estimativas, somente a realidade.
Lembre-se da Medco. Eles passaram meses planejando o que fariam –
como seria o produto, quanto tempo levariam para produzi-lo. E, mesmo
depois de tantos meses, as pesquisas mostram que era provável que
levassem quatro vezes mais tempo que o estimado. É por isso que, na
minha opinião, o planejamento no modelo de cascata é uma maneira muito
estúpida de fazer as coisas.
Ok, Sutherland, entendi que você quer dizer que somos péssimos em
fazer estimativas, mas tenho de fazer algo, não é mesmo? Preciso de um
plano. Você está certo: de fato, é necessário ter um plano. Mas o segredo é
refinar o plano ao longo do projeto, em vez de fazer tudo com
antecedência. Faça um planejamento minucioso apenas para a entrega do
próximo elemento que agregue valor, e delineie o restante do projeto em
blocos maiores, não tão detalhados. No Scrum, ao fim de cada ciclo você
tem algo de valor que pode ver, tocar e mostrar aos clientes. Você tem a
oportunidade de perguntar para eles: “É isso que você quer? Isso resolve
pelo menos uma parte do seu problema? Estamos indo na direção certa?”
Se a resposta for não, mude o seu plano.
Como fazer isso?
Vamos voltar ao casamento. O primeiro passo é criar uma lista de
todos os elementos que compõem uma cerimônia de casamento bem-
sucedida. Pode ser algo deste tipo:

• Noivos
• Flores
• Convites
• Igreja
• Salão de festas
• Comida
• Celebrante
• Vestido
• Alianças
• Música (DJ ou banda)

A próxima etapa consiste em classificar esses itens por ordem de


prioridade. Isso vai variar de pessoa para pessoa. Cada casal tem uma
visão de mundo diferente. Perguntei ao meu amigo Alex como ele ordenou
a lista dele, e foi este o resultado:

• Noivos
• Celebrante
• Alianças
• Salão de festas
• Convites
• Comida
• Música
• Vestido
• Flores
• Igreja

O objetivo do exercício é descobrir o que é mais importante e se


dedicar primeiro a essas coisas. Para Alex, a comida e a música são mais
importantes do que realizar o casamento em uma igreja ou ter flores na
cerimônia. Esse tipo de dado é crucial. Se encontrar obstáculos
relacionados à data ou aos custos, você sabe por onde começar a cortar:
pelos últimos itens da lista. Vou falar mais detalhadamente sobre esse
assunto no Capítulo 8, mas, por enquanto, isso é o suficiente.
Na Medco, a lista de afazeres cobria três paredes da sala de
conferência e incluía centenas de itens. Seis equipes diferentes
executariam as tarefas. Mas o conceito foi exatamente o mesmo: organizar
de acordo com o valor de cada elemento, não importando a definição de
valor que estejamos usando. Esse valor pode ser relacionado aos negócios,
no caso da Medco, ou à felicidade da noiva, no caso de um casamento.
Tamanho é documento, mas só relativamente
Então, você já tem sua lista do que precisa ser feito e já a ordenou de
acordo com as prioridades. Agora a tarefa é descobrir de quanto esforço,
tempo e dinheiro o projeto precisará. Como já mencionei, nós, seres
humanos, somos péssimos em fazer esse tipo de previsão, mas parece que
somos bons em dimensionamento relativo, ou seja, em comparar o
tamanho de uma coisa com o de outra – definir a diferença entre uma
camisa P, uma M e uma G, por exemplo.
Meu exemplo favorito de dimensionamento relativo são os “pontos
caninos”. Há muitos anos, meu amigo Mike Cohn, uma das principais
figuras relacionadas ao pensamento ágil, estava – assim como eu – tendo
dificuldade em estimar o tempo e o dinheiro necessários para realizar seus
projetos. Além disso, ele não estava conseguindo concretizá-los dentro do
cronograma e do orçamento previstos. Como adorava cachorros (embora
sua mulher o tivesse proibido de ter um), começou a pedir que suas
equipes relacionassem uma raça de cão a cada parte de um projeto. Ele
listava um monte delas, mais ou menos assim:

• Labrador
• Bull terrier
• Dogue alemão
• Poodle
• Dachshund
• Pastor alemão
• Setter irlandês
• Buldogue

Em seguida, dizia: “Certo, este problema é um dachshund ou um


dogue alemão? Se aquele é um dachshund, esse deve ser mais ou menos do
tamanho de um labrador, correto?” Depois disso, as equipes examinavam
todas as funcionalidades que precisavam desenvolver e atribuíam uma raça
de cachorro a cada uma delas. Então, Mike dizia: “Vamos dar um valor
numérico a cada raça, assim vai ser mais fácil. Vamos chamar um
dachshund de 1 e um dogue alemão de 13. De acordo com essa escala,
podemos dizer que um labrador seria um 5, e um buldogue, um 3.”1
Você pode fazer o mesmo com a lista de casamento que acabamos de
elaborar. Encontrar um local, bem, isso vai exigir pesquisas, informações
sobre preços, visitas aos lugares. É um tanto complicado. Então vamos
atribuir a esse problema o tamanho de um pastor alemão, um 5. Noivos?
Aí não há nenhuma dificuldade: nós dois só precisamos aparecer no dia.
Isso é um dachshund, tamanho 1, só é necessário um telefonema. Os
convites, porém, são uma questão bastante complexa. Precisamos fazer a
nossa lista de convidados, pegar a lista da sua mãe, a lista da minha mãe,
escolher o papel, mandar os convites para a gráfica, escrever os endereços
à mão. Esse é um projeto grande: um dogue alemão, um 13. Ou talvez dois
dogues alemães. Se algo for grande assim, é melhor você dividi-lo em
partes gerenciáveis. Que tal tornar a lista de convidados um projeto e
separá-lo da tarefa de lidar com a gráfica? Essas duas atividades têm,
provavelmente, o porte de um buldogue, certo? Tamanho 3. E vamos
considerar a tarefa de escrever os endereços e mandar os convites um
pastor alemão, um 5. E assim por diante.
Isso é dimensionamento relativo, ou seja, comparar as tarefas umas
com as outras. Infelizmente, nem todo mundo usa cachorros como
parâmetro, mas talvez você tenha notado um padrão nos números que
atribuí às raças: 1, 2, 3, 5, 8, 13. Cada número da série é a soma dos dois
anteriores. O nome disso é “sequência de Fibonacci”, e há um motivo para
usarmos esse padrão. Ele está presente em tudo.

A sequência de Fibonacci está em tudo à nossa volta

• A sequência de Fibonacci é um padrão em que o número


seguinte na sequência é a soma dos dois anteriores. Por exemplo:
0, 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55...

• Onipresente em sistemas naturais, de modo que os seres


humanos têm milênios de experiência com ela.

A natureza se estabelece de acordo com essa sequência, seja na concha


de um molusco, nos galhos de uma árvore, na casca de um abacaxi ou nas
pétalas de uma pinha. Ela aparece na couve-flor e nas curvas do cérebro
humano. É a mesma na folha de uma samambaia ou no formato de uma
galáxia. É um daqueles fenômenos que parecem bem estranhos quando
paramos para pensar.
Há um nome para esse fenômeno: é chamado de “proporção áurea” ou
“número de ouro”. Nós o incluímos em construções e obras de arte. Desde
o Partenon, em Atenas, até a Grande Mesquita de Kairouan, na Tunísia.
Nós o utilizamos para decidir o tamanho e o formato das páginas de um
livro e as proporções das cartas do baralho. Os seres humanos são
programados para considerar essas proporções atraentes. Para nosso
objetivo aqui neste livro, o importante é saber que a nossa espécie tem um
entendimento profundo das relações presentes na sequência de Fibonacci.
Nós as conhecemos de forma intuitiva.
Na sequência de Fibonacci, a distância entre os números é suficiente
para que percebamos com facilidade a diferença entre eles. É fácil escolher
entre um e outro. Se alguém estima que um objeto corresponde a um 5 e
outro, a um 8, conseguimos diferenciá-los intuitivamente. Mas a diferença
entre um 5 e um 6? É muito sutil, mais do que nosso cérebro é capaz de
registrar.
Na medicina, há um consenso mais ou menos geral de que, para que os
pacientes relatem ter percebido o alívio de um sintoma, é preciso haver
uma melhora superior a 65%. Nossa mente não percebe aumentos tênues.
Notamos melhor guinadas de um estado para outro – e não estou falando
de mudanças suaves, mas sim bruscas.
Usar a sequência de Fibonacci para calcular a dimensão de uma tarefa
permite que façamos previsões que não têm de ser 100% exatas. Nada será
exatamente um 5, um 8 ou um 13. No entanto, usar esses números nos dá a
chance de obter opiniões sobre o tamanho de uma atividade que usem
aproximadamente a mesma escala de medida. Assim, é possível chegar a
um consenso.
Fazer previsões em grupo dessa maneira tem como resultado uma
estimativa muito mais precisa do que aquela a que chegaríamos sozinhos.
O Oráculo de Delfos
Agora sabemos que somos bons em comparar dois elementos. Também
sabemos a melhor proporção para usar nessa atividade comparativa. Mas
como chegamos a esse ponto? Fazer uma lista de tarefas e ordená-las de
acordo com suas prioridades é relativamente fácil, mas como chegamos à
conclusão de que um item é um 5 e outro é um 8? O que é um golden
retriever e o que é um schnauzer? E, mesmo que alguém ache que fez uma
boa estimativa, como podemos ter certeza de que ela se alinha com a de
todo mundo? E se esse indivíduo não estiver levando em conta alguns
fatores essenciais?
Como você deve imaginar, essa não é uma questão muito nova. As
pessoas têm dificuldades com isso há décadas. Um problema é que os
diferentes integrantes de uma equipe têm conhecimentos distintos, mas
existe outro, às vezes chamado de efeito “de contágio”. Você com certeza
já esteve em reuniões desse tipo. Acontece quando alguém tem uma ideia e
todos começam a debatê-la. Mesmo que tenha discordado no início, você
acaba indo na onda, porque o grupo todo parece aprová-la. E todo mundo
concorda em seguir um caminho que aparenta ser ótimo naquele momento,
mas acaba se mostrando um desastre completo. Quando questiona os
indivíduos sobre a decisão tomada, você quase sempre descobre que eles
tinham algumas ressalvas, mas não as expressaram porque achavam que o
resto da equipe estava animado. As pessoas presumem que, se todo mundo
concorda com algo, suas próprias ressalvas são bobas ou estão erradas, e
ninguém quer parecer burro perante o grupo. Lembre-se de que esse tipo
de decisão grupal não é uma falha individual, é uma falha humana.
Na literatura científica, esse efeito é explicado como uma “cascata
informacional”. Sushil Bikhchandani, David Hirshleifer e Ivo Welch,
autores do artigo “A Theory of Fads, Fashion, Custom, and Cultural
Change as Informational Cascades”, descrevem o processo: “Uma cascata
informacional ocorre quando o ideal para um indivíduo, tendo observado
as ações daqueles à sua frente, é seguir o comportamento de quem o
precedeu sem levar em conta sua própria informação.”2
Um ótimo exemplo dado pelos autores é quando alguém submete um
artigo a uma revista científica. Digamos que o editor da primeira revista
rejeite o texto. Em seguida, o autor apresenta o mesmo artigo para uma
segunda publicação. O editor dela, sabendo que o trabalho não foi aceito
pela primeira revista, tem mais probabilidade de rejeitá-lo. E, se houver
uma terceira revista, seu editor, ciente das duas rejeições anteriores, tem
uma probabilidade ainda maior de rejeitar o artigo. As pessoas presumem
que as outras tomam boas decisões, mesmo que essas opiniões
contradigam as suas próprias. Isso é ruim. Quando está estipulando um
prazo de entrega para um projeto multibilionário, ou tentando prever se vai
conseguir aprontar tudo a tempo para o seu casamento, é fundamental que
você tome suas próprias decisões. Use outras estimativas apenas para
melhorar a sua, não para substituí-la.
Outro problema bem conhecido é o que chamamos de “efeito halo”.
Ele ocorre quando uma característica de algo influencia o modo como as
pessoas percebem outras características da mesma coisa, não relacionadas
à primeira. Esse efeito foi estudado de maneira empírica pela primeira vez
por Edward Lee Thorndike, em 1920. Em seu clássico artigo, “A Constant
Error in Psychological Ratings”, Thorndike pediu que oficiais militares
classificassem seus soldados de acordo com várias características: físico,
intelecto, liderança, personalidade etc. Em seguida, examinou como um
conjunto de qualidades afetava a classificação dos indivíduos em outras
características. Descobriu que as notas tinham uma correlação muito
próxima. Se o físico de alguém recebesse uma avaliação boa, suas
habilidades de liderança também recebiam. Assim como a inteligência e a
personalidade. Essa pesquisa foi corroborada por outros estudos ao longo
dos anos, confirmando que, por exemplo, se alguém é bonito, todo mundo
presume que também é inteligente e confiável.3
Mas o efeito halo vai muito além da mera beleza física; ele pode surgir
em qualquer situação. Pesquisadores apontam, por exemplo, que as ONGs
são frequentemente tratadas como grupos que praticam o bem, mesmo que
não o pratiquem; que as montadoras de automóveis criam um carro “halo”
para passar uma boa impressão para a linha inteira; e que o iPod deu um
verniz cool a todos os produtos da Apple.
Tal como acontece com o efeito de contágio, as pessoas que se
concentram no “halo” não analisam os dados reais. Em vez disso, elas são
atraídas para algo que tem uma aparência positiva. De novo, essa falha não
é proposital; trata-se da natureza humana. Combatê-la é bobagem, é como
tentar lutar contra a força da gravidade.
Mas você pode lidar com ela de forma inteligente. Na década de 1950,
a Rand Corporation foi convidada a responder a algumas perguntas bem ao
estilo das questões aterrorizantes que se discutiam durante a Guerra Fria.
Invocando, em sua própria terminologia, o Oráculo de Delfos [em inglês,
Oracle of Delphi], onde sacerdotisas previam o futuro, Norman Dalkey e
Olaf Helmer publicaram em 1963 um artigo maliciosamente intitulado
“An Experimental Application of the Delphi Method to the Use of
Experts” [Uma aplicação experimental do método Delphi para o uso de
especialistas], com a útil referência “Memorandum RM-727/1-Abridged”
[Memorando RM-727/1-Resumido]. No artigo, eles declararam a intenção
de fazer perguntas sem que as opiniões de uma pessoa afetassem as de
outra. Então, reuniram um grupo de especialistas – quatro economistas, um
profissional especializado em vulnerabilidade física, um analista de
sistemas e um engenheiro elétrico – e propuseram o seguinte:

Aplicar a opinião de especialistas para selecionar, do ponto de vista


de um planejador estratégico soviético, um alvo industrial ideal nos
Estados Unidos, além de estimar o número de bombas atômicas
necessárias para reduzir a produção de munição a uma quantidade
estabelecida.4

Ou, simplificando, a ideia era perguntar de quantas bombas nucleares


os russos precisavam para impedir que os americanos produzissem seu
próprio armamento nuclear. Isso na época em que se acreditava que um
conflito nuclear poderia não apenas ocorrer, mas também ser vencido.
Dalkey e Helmer não queriam que seus especialistas fossem
influenciados um pelo outro. E se um deles fosse um chefe de
departamento em uma grande universidade e outro fosse um humilde
membro do corpo docente de uma faculdade pequena? Como impedir que
as falsas premissas de uma pessoa contaminassem as opiniões dos outros?
A solução que os dois pesquisadores encontraram foi realizar uma série
de levantamentos anônimos. Nenhum dos especialistas sabia quem eram os
outros; eles deveriam simplesmente dar suas estimativas. Depois de cada
questionário, Dalkey e Helmer reuniam as respostas – e os dados que
tinham servido de base paralelas – e as repassavam ao grupo, removendo
quaisquer características que identificassem quem as tinha dado. Em
seguida, repetiam o procedimento.
No primeiro levantamento, o número de bombas necessárias para
destruir com 50% de certeza a indústria de armamentos dos Estados
Unidos foi estimado entre cinquenta, no mínimo, e cinco mil, no máximo.
Quando os pesquisadores analisaram as respostas, notaram que havia
alguns pontos em comum no raciocínio: a vulnerabilidade de vários alvos,
a capacidade de recuperação de diversas indústrias, depósitos iniciais etc.
Então, os dois perguntaram aos especialistas se a análise estava correta e
que informações eles tinham usado para chegar a suas estimativas.
A dupla de pesquisadores recebeu dados de todo tipo, como o nível de
resistência das fábricas, a diferença entre vulnerabilidade física e
econômica e o tempo mínimo para a fabricação de diversos componentes.
Em seguida, Dalkey e Helmer coletaram esses dados, distribuíram as
informações para todos os especialistas e perguntaram: “E agora, quantas
bombas?” Dessa vez, as estimativas variaram entre 89 e 800. Logo depois,
os pesquisadores repetiram o processo. E repetiram mais uma vez. Os
resultados foram oscilando cada vez menos. Por fim, a variação passou a
ser entre 167 e 360 bombas nucleares.
Peneirar uma variação enorme de estimativas – de 10.000% para cerca
de 200% – é uma habilidade incrivelmente útil para quem lida com
planejamento. Isso permite que se obtenha um consenso entre os
especialistas sem se preocupar com influenciações. Essa ferramenta é tão
poderosa que é usada ainda hoje pela Rand. Um exemplo recente foi um
exercício realizado em 2011 de acordo com o método Delphi. A pesquisa
enfocou o conflito no Afeganistão e estimou as chances de sucesso dos
Estados Unidos. As previsões, se você estiver interessado, não foram
muito favoráveis.
O pôquer do planejamento
A vantagem do método Delphi é que ele recolhe uma grande variedade
de pontos de vista, tenta remover a maior quantidade possível de ideias
preconcebidas e, com informações úteis porém anônimas, restringe as
opiniões a uma estimativa geralmente aceitável. A parte ruim, para nossos
propósitos, é que isso leva muito tempo. Quando me reuni com as equipes
da Medco, não gastei nem um segundo com pesquisas anônimas. Queria
que todas aquelas centenas de itens fossem estimadas em questão de horas,
não dias – muito menos em semanas.
Felizmente, existe um jeito de coletar estimativas que é bem rápido e
preciso. Ele se chama “pôquer do planejamento”.

A ideia é simples. Cada pessoa tem um baralho de cartas com estes


interessantíssimos números de Fibonacci: 1, 2, 3, 5, 8, 13 etc. Escolhe-se
uma tarefa por vez para ser avaliada. Então, cada integrante do grupo
separa a carta que considera corresponder à quantidade de esforço exigida
por aquela tarefa e a coloca virada para baixo na mesa. Em seguida, todo
mundo vira sua carta ao mesmo tempo. Se as opiniões de todos estiverem a
uma distância de até duas cartas umas das outras (digamos, há um 5, dois 8
e um 13), a equipe apenas soma esses números, tira a média (neste caso
6,6) e passa para o próximo item. Lembre-se de que estamos falando de
estimativas, não de cronogramas rígidos. Além disso, trata-se de previsões
para pequenas partes do projeto.
Se as cartas escolhidas estiverem a uma distância de mais de três
números presentes na sequência, quem selecionou a mais alta e a mais
baixa explica seu raciocínio. Então, todo mundo faz outra rodada. Caso
contrário, se calcula a média das estimativas, que ficarão próximas do
resultado encontrado pelos estatísticos da Rand Corporation.
Eis um exemplo: digamos que você esteja pintando o interior de uma
casa e precise estimar quanto tempo vai demorar para completar a sala de
estar, a cozinha e dois quartos. Você está realizando essa tarefa com uma
equipe com a qual já trabalhou antes no mesmo tipo de atividade. Primeiro
vocês opinam sobre os dois quartos – todo mundo estima que eles sejam
um 3. Nenhuma discordância; todos já fizeram isso antes e acham pintar os
quartos uma tarefa bem simples. Em seguida, o grupo passa para a sala de
estar. É bem grande, mas não é muito complicada. As previsões variam
entre 5 e 13, e a média fica em 6. Mais uma vez, não há necessidade de
discussão. Então é a vez da cozinha, e há um 3, um 8, um 13 e um 5 sobre
a mesa. A pessoa do 3 diz que o cômodo é muito pequeno, portanto há
menos área de parede para pintar do que nos quartos. O indivíduo que
escolheu o 13 argumenta que levará muito tempo para instalar a proteção
contra tinta nos armários e nas bancadas, e que todas as áreas pequenas
precisarão ser pintadas com pincel, e não com rolo. A equipe seleciona
rapidamente novas cartas. Agora o 3 se tornou um 8, e todo o resto
permaneceu igual. Tudo próximo o suficiente, então o grupo soma os
números, tira a média e passa para a próxima tarefa.
Esse método incrivelmente simples evita qualquer tipo de
comportamento de ancoragem, como o efeito de contágio ou o efeito halo,
e permite que toda a equipe compartilhe seus conhecimentos a respeito de
determinada tarefa. No entanto, é fundamental que as previsões sejam
feitas pelo grupo que executará o trabalho, e não por quaisquer avaliadores
“ideais”.
Aprendi isso do pior jeito quando trabalhava na GSI Commerce, uma
empresa de e-commerce da Pensilvânia. Desde então, ela foi comprada
pelo eBay. A GSI projeta as lojas on-line de empresas como a Levi’s, a
Toys “R”Us, a Major League Baseball e a Zales Diamonds. Esses projetos
não são nada pequenos, e a GSI é muito boa no que faz.
Mas a empresa teve uma ideia que a princípio pareceu excelente: em
vez de as previsões serem feitas pelas equipes, essa tarefa seria dada aos
melhores estimadores da empresa – os caras mais inteligentes, que
entendiam de verdade os projetos e a tecnologia, e sabiam o que precisava
ser feito. Esses especialistas fizeram previsões para alguns projetos. Este
aqui deve levar tanto tempo, aquele ali mais esse tanto, e assim por diante.
O plano era entregar estimativas de oitenta projetos multimilionários, tanto
para os clientes quanto para as equipes que fariam o trabalho. Parece
razoável, certo?
Na verdade, é uma forma tão errada de fazer as coisas que a GSI
cancelou o experimento na metade, depois de quarenta projetos terem sido
estimados. A situação me lembrou daqueles testes de medicamentos que
são interrompidos pois se chega à conclusão de que os remédios estão
matando os pacientes em vez de curá-los. As previsões se mostraram tão
errôneas que eram inúteis. Nada foi entregue a tempo. Os clientes estavam
insatisfeitos. As equipes se sentiam desmoralizadas. Foi um desastre
completo. A gerência voltou a delegar a tarefa de fazer as estimativas para
os grupos que realizariam cada trabalho. E eis que as previsões voltaram a
corresponder à realidade.
A conclusão que tirei é que somente quem põe a mão na massa sabe
quanto tempo e quanto esforço um trabalho vai exigir. Pode ser que a
equipe seja muito boa em um tipo de atividade, mas péssima em outro.
Talvez o grupo tenha um especialista que seja útil em determinada área,
mas ninguém que possua conhecimento em outro campo. Equipes, como já
vimos, são únicas. Cada uma tem seu próprio ritmo. Forçar grupos
diferentes a seguir uma receita de bolo dá em desastre na certa.
Não existem tarefas, somente histórias
Quando você lista coisas a fazer, é tentador elencar os itens como eu
fiz antes para o casamento de Alex: igreja, flores, celebrante, comida etc.
O problema é que, se delegar qualquer um desses elementos a uma equipe
que não esteja intimamente envolvida nos resultados das decisões, que, por
exemplo, não seja afetada pelas consequências da escolha entre rosas
brancas e margaridas, é possível que você não obtenha os resultados que
deseja.
Em seu trabalho, quantas vezes já lhe deram uma tarefa que você não
entende por que precisa ser realizada? Alguém lhe pede para determinar a
variação das vendas mês a mês na região A, em lojas com mais de
cinquenta metros quadrados. Você o faz, mas não sabe por que isso é
necessário. E, por esse motivo, é possível que você forneça o tipo errado
de dados, que interprete a pergunta de maneira errônea ou que fique
ressentido por ter recebido um monte de trabalho inútil. Ou então, se for
um gestor, pode ficar chocado por seus funcionários não entenderem de
primeira que você está cogitando fechar lojas pequenas e abrir
estabelecimentos grandes.
O problema é que você não está recebendo, ou fornecendo,
informações suficientes para que o trabalho seja feito do jeito certo. As
pessoas pensam por meio de narrativas, de histórias. É assim que
entendemos o mundo. Compreendemos intimamente personagens, desejos
e motivações, mas temos dificuldade em extrair papéis discretos do enredo
principal e lidar com eles fora de contexto.
Assim, quando estiver elaborando uma tarefa, o primeiro elemento que
você deve levar em consideração são os personagens ou os papéis – por
exemplo, um cliente, uma noiva, um leitor, um funcionário. Para quem
esse trabalho está sendo feito? De quem devemos nos colocar no lugar
quando construirmos essa coisa, tomarmos essa decisão ou entregarmos
esse produto?
Em seguida, você precisa se perguntar o quê – o que queremos fazer.
Em geral, começamos e encerramos os projetos com essa informação. Mas
ela é apenas o meio do processo que estamos executando.
Por fim, você precisa pensar na motivação. Por que esse personagem
quer isso? Como é que esse produto vai servir e encantar esse cliente? E,
de certa forma, essa é a parte mais importante. A motivação é o que dá cor
a tudo.
Meu exemplo favorito desse raciocínio vem de um meme que surgiu
na internet há alguns anos. Trata-se de uma imagem do capitão Jean-Luc
Picard, da Enterprise, com a seguinte legenda: “Como comandante de uma
nave espacial, eu gostaria que a função de diário de bordo usasse
automaticamente a data estelar de hoje.” Se você parar para pensar, faz
sentido. Você nunca se perguntou por que, num futuro distante, o
comandante de uma nave espacial teria de mencionar a data toda vez que
faz uma inclusão em seu diário de bordo? “Diário de bordo do
comandante. Data estelar 4671.7. O planeta Marte está fascinante...” Nos
dias atuais, nós já não precisamos fazer isso ao postar em um blog. Por que
ele precisaria?
Mas a questão crucial que não é respondida naquela imagem é por quê.
Por que ele quer essa funcionalidade? Para que ela servirá? Será apenas
para manter os registros ordenados segundo a data? Ou será por um motivo
mais importante? Será que as observações do comandante precisam ser
inalteráveis, para que sirvam a algum tipo de auditoria por parte dos
investigadores da Frota Estelar? Essas são duas implementações muito
diferentes. Uma é casual, a outra é séria. A equipe tem de descobrir o que
o comandante quer de fato. Quando tiver essa informação, ela pode pensar
em um modo completamente diferente de atingir o mesmo objetivo, com
outros elementos relevantes nos quais Picard talvez nem tivesse pensado,
mas que lhe seriam muito úteis.
Muitas vezes, as necessidades mudam conforme os personagens.
Imagine, por exemplo, uma história que termine assim: “...quero um carro
para que eu possa ir até o trabalho.” Se você começar essa frase com
“Como alguém que mora num bairro residencial distante...” ou com
“Como um agricultor do interior de Dakota do Sul...”, sua interpretação de
qual seria o veículo ideal será muito diferente.
Portanto, antes de ordenar por prioridade as tarefas que sua empresa
precisará executar, você precisa definir o personagem, o usuário, o cliente,
ou seja, a pessoa que usará o que você vai produzir. É essencial saber do
que ela gosta, o que detesta, quais são suas paixões, suas frustrações e suas
alegrias. E então você tem de entender suas motivações. Como esse tipo de
personagem realiza seus desejos? Por que ele precisa de um carro? O que
vão fazer como diário de bordo da Enterprise?
Isso também influenciará a maneira como você vai fazer suas
estimativas. Bom, eles querem uma simples função de calendário; isso é
fácil. Uma datação inalterável para fins legais é algo um pouco mais
complicado.
Escreva histórias curtas
Quando for escrever suas histórias, certifique-se de que elas fiquem
curtas o suficiente para que seja possível estimá-las. Imagine a história da
Amazon.com: “Como cliente, quero a maior livraria on-line do mundo,
para que eu possa comprar todo livro que desejar a qualquer momento.”
Essa narrativa sem dúvida resume a Amazon, mas é grande demais para
que se consiga de fato realizar algo a partir dela. É necessário dividi-la.
Em blocos pequenos.
Você pode escrever histórias como estas para uma livraria on-line:

• “Como cliente, quero ser capaz de pesquisar livros por gênero, para que
eu possa encontrar o tipo de obra de que gosto.”
• “Como cliente, quero pôr um livro em um carrinho de compras, para que
eu possa comprá-lo.”
• “Como gerente de produto, quero poder rastrear as compras de uma
cliente, para anunciar livros específicos com base no que ela já
comprou.”

Essas histórias têm o tamanho adequado para que uma equipe as


execute. É possível debater sobre como implementá-las. Elas são
específicas o suficiente para serem postas em prática, mas não prescrevem
como serão feitas. Lembre-se: a equipe decide como o trabalho será
realizado, mas o que será feito é definido pelo valor do negócio. O
conjunto de histórias que, unidas, podem se tornar a ideia de uma livraria
on-line é muitas vezes chamado de um “Épico”. Ele é grande demais para
ser executado por inteiro, mas inclui uma série de histórias menores que,
somadas, formam uma única ideia.
Tim Stoll é um daqueles sujeitos cuja carreira abrange o que
poderíamos chamar de um “amplo espectro de eventos”, com foco na
coordenação de equipes para a execução rápida de projetos. Ele serviu
como médico das Forças Especiais dos Estados Unidos no Iraque e no
Afeganistão, trabalhou com a CIA, foi policial – caçando criminosos
violentos – e, hoje em dia, é treinador de Scrum. Ele costuma dizer que
sempre foi treinador de Scrum, mesmo quando comandava missões das
Forças Especiais.
“Nessas operações, nós não chamamos as partes de um projeto de
histórias, e sim de Cursos de Ação. Mas é a mesma coisa.”
Uma das poucas histórias que Tim pode contar publicamente sobre o
tempo em que era das Forças Especiais é sobre uma missão médica no
Laos. “Tivemos dois Épicos. O primeiro foi um curso médico:
precisávamos treinar as forças locais em medicina de combate. O segundo
foi uma operação de remoção de minas terrestres, em que tivemos de lidar
com artefatos não deflagrados.”
Como médico, Tim esteve no comando do primeiro Épico. Ele diz que,
antes da missão, sentou-se e delineou o que precisava realizar e como
deveria ordenar as sub-histórias. Ele conta que começou com ideias que se
encaixariam com facilidade na estrutura do Scrum.
“Como médico das Forças Especiais, eu devo ensinar fisiologia básica
aos meus alunos, para que eles entendam o corpo humano.”
Tim sabia que precisava partir desse ponto assim que começou a
escrever suas histórias. Seus alunos tinham de entender onde os ossos
ficavam para poder prestar os primeiros socorros. “Primeiro, eu ensinaria
sobre os ossos longos. Em seguida, falaria sobre ossos curtos; depois sobre
os pulsos, os tornozelos, os tendões e os ligamentos.” Só depois que os
alunos aprendessem as histórias básicas ele poderia falar sobre como
reposicionar os ossos, abrir as vias aéreas e estancar hemorragias.
Quando terminou de escrever essas histórias, Tim conseguiu
determinar de que material de apoio precisava para atingir seus objetivos:
um esqueleto e folhetos em inglês e laociano. Em seguida, dividiu tudo em
ciclos ou sprints. “Dois dias viajando até o Laos. Uma semana para me
preparar. Em seguida, dois ciclos de seis semanas lecionando. Era
necessário que nossos alunos saíssem do básico e se tornassem técnicos de
emergência médica de nível intermediário. E conseguimos.”
Ficando pronto
Quando for escrever histórias ou elaborar uma lista de tarefas, é
importante fazer duas perguntas: A história está pronta? E como você vai
saber quando ela estiver concluída?
Vamos usar a história de Tim como exemplo: Como médico das
Forças Especiais, eu devo ensinar fisiologia básica aos meus alunos, para
que eles entendam o corpo humano.
Há um truque mnemônico que sempre uso para determinar se uma
história está pronta. Ele foi criado por Bill Wake, um profundo pensador
de design de software. Bill diz que, para que uma história esteja pronta, ela
precisa atender aos critérios invest:

Independente. A história precisa ser acionável e “completável” por


conta própria. Ela não deve ser intrinsecamente dependente de outra
história. Negociável. Até que seja de fato executada, é preciso que a
história possa ser reescrita. Dar margem para mudanças deve ser uma
de suas características.
Valiosa. Ela realmente entregará valor a um cliente, um usuário ou
um stakeholder.
Estimável. Você tem que ser capaz de dimensioná-la.
Sucinta. A história precisa ser pequena o suficiente para que seja
possível estimá-la e planejá-la com facilidade. Se for grande demais,
você deve reescrevê-la ou dividi-la em histórias menores.
Testável. A história precisa possuir um teste pelo qual ela deve passar
a fim de ser declarada como concluída. Elabore o teste antes de
executar a história.

A história de Tim é independente; ele é capaz de cumprir sua missão


sem ter que considerar, por exemplo, quanto combustível de helicóptero
será necessário para que os alunos cheguem ao local. Ela é negociável:
ensinar fisiologia é a história que ele acha que precisa executar, mas se
chegar lá e descobrir que os alunos já têm esse conhecimento, ou parte
dele, Tim pode mudar sua tática de ensino. A história é valiosa: os alunos
vão adquirir conhecimento prático e útil sobre o corpo humano. É sucinta:
ele dará aulas de anatomia básica, não tentará ensinar como fazer uma
cirurgia como nível de conhecimento de anatomia que passará aos alunos.
E é testável: ele conhece as informações que deseja transmitir e pode
aplicar um teste para verificar se os estudantes de fato aprenderam o
conteúdo.
Para cada história, deve haver tanto uma “definição de pronta” (como,
por exemplo, “Será que ela satisfaz a todos os critérios invest?”) quanto,
por fim, uma “definição de concluída” (como “Que condições precisam ser
atendidas, em quais testes a história precisa passar, para que a gente
encerre os trabalhos?”). Na prática, descobrimos que, se as histórias
estiverem realmente prontas, a equipe duplicará a velocidade de
implementação. E, se as histórias forem de fato concluídas até o fim de um
sprint, as equipes podem dobrar a velocidade novamente. Esse é um dos
truques necessários para fazer o dobro do trabalho na metade do tempo.
Planejamento do sprint
No Scrum, esse tipo de planejamento acontece a cada sprint numa
reunião que é chamada de “planejamento do sprint”. Todo mundo se
reúne, analisa a lista de histórias que precisam ser concluídas e diz: “O que
podemos fazer neste sprint? Essas histórias estão prontas? Elas podem ser
concluídas até o fim deste ciclo? Podemos, então, demonstrá-las para o
cliente e apresentar valor real?” O segredo para responder a essas
perguntas se encontra na velocidade com que a equipe está trabalhando.
Saiba sua velocidade
Agora, podemos enfim começar a responder quando as coisas estarão
prontas, porque já sabemos como medir o que a equipe está de fato
fazendo. Temos todas essas histórias, com tudo o que precisa ser feito. E já
as avaliamos – isso é um 8, isso aqui é um 3, e assim por diante. Então
começamos nosso primeiro sprint. Digamos que ele tenha uma semana de
duração. No fim da semana, verificamos todas as histórias que concluímos
e somamos os pontos que atribuímos a elas. Esse número nos diz em que
ritmo a equipe está trabalhando, a velocidade do grupo. Uma vez que
souber essa velocidade, você pode contar quantas histórias ainda precisam
ser executadas e quantos pontos elas representam. Assim, você saberá
quando o trabalho será concluído.
Além disso, uma vez que você souber sua velocidade, pode determinar
o ponto mais importante do Scrum: o que o está impedindo de trabalhar
mais rápido? O que o está impedindo de acelerar? No capítulo anterior,
falei sobre desperdício, sobre os elementos que podem atrapalhar seu
desempenho. É assim que você descobre se está realmente se livrando do
desperdício.
Voltemos à Medco, onde começamos este capítulo. Depois de
estimarmos todo o trabalho, me reuni com os gestores seniores
responsáveis pelo projeto. Havia vários executivos que comandavam
unidades de negócios e um vice-presidente sênior.
Nós nos sentamos na mesa de conferência, e o vice-presidente sênior
tinha apenas uma pergunta.
“Você vai ser capaz de cumprir o prazo original?”, indagou ele,
batendo a mão na mesa.
“Não sei. Mas vamos conseguir concluir tudo antes da data revista que
seus funcionários projetaram, ou você receberá seu dinheiro de volta”,
respondi.
“Isso não é o suficiente! Você vai cumprir o prazo original?”
“Não tenho essa resposta hoje. As equipes precisam começar a
trabalhar para sabermos a velocidade delas. É o seguinte: em seis semanas
eu vou dizer a vocês a nossa data de entrega, e vocês não vão gostar dela.
Mas...”, disse eu, antes que ele pudesse me interromper, “...vou entregar
uma lista dos problemas que sua equipe está enfrentando, que estão
impedindo que ela cumpra a data que vocês prometeram a Wall Street.
Uma lista de obstáculos. E seu trabalho será removê-los o mais rápido
possível”.
Ele riu.
“Obstáculos! Sem problema, Jeff. Eu trabalhava na Toyota.”
Eu ri e disse: “Esse projeto já está soando bem aos meus ouvidos.”
Eu sabia que ele aderira à taxonomia de desperdícios de Taiichi Ohno e
compreendia como as coisas funcionavam – que se livrar do desperdício é
crucial para fazer com que as equipes acelerem.
Assim, depois de três sprints medindo a velocidade, as equipes tinham
acelerado de 20 a 60 pontos por ciclo, e eu sabia a provável data em que o
trabalho seria entregue. Dada a velocidade dos grupos, e naquele ponto nós
estávamos no início de março, seriam necessários outros dezenove sprints
de duas semanas: 1o de dezembro.
Os gestores não ficaram muito satisfeitos. Não era bom o bastante. Era
1o de julho ou nada. Tudo dependia disso.
Então, eu lhes entreguei uma lista com doze obstáculos, que iam desde
não dar poder às pessoas para tomar decisões até requisitos técnicos
onerosos, desde algumas pessoas não aparecerem nas reuniões até coisas
simples, como o fato de que nem todos os integrantes de uma equipe
trabalhavam na mesma sala. Havia problemas relacionados a processos,
personalidades e procedimentos – elementos que são endêmicos em
qualquer corporação.
Esses obstáculos podem parecer insuperáveis. Diversas vezes você já
deve ter observado seu próprio local de trabalho e pensado: “Nós fazemos
isso desta forma, sempre fizemos assim, e todo mundo sabe que isso não é
inteligente.” Mas por alguma razão as pessoas acham que mudanças na
cultura corporativa são impossíveis. Eu concordava com isso,
principalmente quando se tratava de grandes empresas, com uma cultura e
políticas empresariais calcificadas.
A Medco provou que eu estava errado, e nunca vou voltar a pensar
como antes. Aquele vice-presidente sênior da Toyota enviou minha lista de
obstáculos para todos os seus funcionários em uma segunda-feira. Ao lado
de cada obstáculo havia o nome de um gerente. E todos os empecilhos
foram eliminados até a quinta-feira da mesma semana. Às vezes as pessoas
precisam de uma arma apontada para a cabeça para que se motivem a
mudar, mas esse episódio mostrou o que pode ser feito se houver vontade
(ou se um cara da Toyota estiver no comando). Nada é imutável.
Questione tudo.
No fim do sprint seguinte, a velocidade das equipes tinha aumentado
em 50%. A nova data de entrega passou a ser 1o de setembro. Isso
significava que ainda haveria dois meses de atraso, apesar de os
funcionários terem passado de 20 para 90 pontos por sprint, um aumento
de mais de 400%!
Mas isso ainda não era bom o suficiente.
Então, Brent e eu reunimos todo mundo: engenharia, marketing,
analistas de negócios, gerência etc. E todos estavam com medo. Temiam
por seus empregos e por suas carreiras se não conseguissem concluir tudo
no prazo. Então, fiz três perguntas:
1. Existe algo que possamos fazer de maneira diferente para acelerar o
trabalho?
O chefe de engenharia falou: “Bem, no meio do último sprint o
pessoal de segurança da TI desligou uma porta da internet, por isso
nossas equipes na Índia e no Brasil não conseguiram fazer nada.”

“Bem, a gente deveria resolver isso, não é mesmo?”, observei,


incrédulo.

O chefe de engenharia olhou para o chefe de TI, que estava sentado


do outro lado da mesa. Eles chegaram à conclusão de que, com essa
questão resolvida, poderíamos eliminar mais um mês do tempo que
seria necessário para entregar o produto. Agora faltava cortar mais
dois meses.

2. Podemos nos livrar de alguns itens do backlog? Há algo que possamos


delegar a outras equipes? Ninguém tinha nenhuma ideia boa sobre isso.
3. É possível não fazer algumas coisas? Podemos reduzir o escopo do
projeto, mesmo que minimamente?
A princípio, eles me disseram que de jeito nenhum, que já tinham
eliminado todos os requisitos possíveis. Ok, respondi, mas vamos
passar a tarde aparando as arestas. Cada tarefa vai ter de lutar para
sobreviver.

Levamos algumas horas, mas conseguimos cortar outro mês do prazo


de entrega.
Foi nesse momento que eu disse: “Tudo bem, ainda falta um mês para
atingirmos a data de entrega original. Se não conseguirmos pensar em mais
nenhuma solução, vamos dizer à diretoria que não vai ser possível terminar
o projeto até lá.”
“Não”, responderam todos. “Vamos ser demitidos. Vamos dar mais
uma olhada nas três perguntas.” Eu propus que nos reuníssemos com a
diretoria. O problema não era apenas nosso. Era deles também, e eles
poderiam ajudar.
Foi uma reunião curta. A diretoria tomou ciência da situação e disse:
“Bem, precisamos entregar em 1o de julho. Talvez pudéssemos fazer a
implementação em uma fábrica primeiro? Apenas um centro? Ou dois?
Será que isso resolveria o problema?” Houve um burburinho enquanto
algumas coisas eram reorganizadas. Mas, por fim, todos chegaram à
conclusão de que seria possível reduzir as funcionalidades necessárias e
fazer a entrega em julho de 2007, na data que o presidente havia prometido
a Wall Street.
No fim da reunião, o vice-presidente sênior me disse simplesmente:
“Já podemos declarar vitória. Ligue se você tiver qualquer problema.”
Foi incrível acompanhar o preço das ações da Medco naquele verão.
Quando iniciamos a construção da infraestrutura, o valor começou a subir,
e continuou subindo depois que fizemos a entrega. Quanto? Bem, muitos
bilhões de dólares, partindo de 25 para mais de 50 até o fim do ano. Wall
Street decidira que a empresa continuaria a crescer, atrairia novos clientes
e manteria a liderança do setor. Em retrospecto, acho que eu deveria ter
pedido um percentual do aumento do valor de mercado como pagamento,
em vez de uma quantia fixa.
Alguns anos depois, a Medco usou o Scrum para construir o que
chamou de “Medco 2.0”. Eles reestruturaram todas as áreas da empresa.
Novas fábricas, novos robôs, novos processos, mais automação. Mark
Landy, que àquela altura era o diretor técnico da corporação, diz que, sem
a experiência adquirida no projeto do Centro de Recursos Terapêuticos, a
Medco não teria conseguido fazer isso. “Não permitiriam que a gente
reformulasse a empresa inteira. Mas tínhamos a confiança de todos os
departamentos: desenvolvimento, operações, financeiro, clínico. Fomos
capazes de criar uma nova cultura.” “E esta é a parte mais importante do
Scrum: ele muda a cultura de trabalho, o que pode ser assustador para
algumas pessoas. Na verdade, a Medco teve de dispensar funcionários que
não conseguiram se adaptar à mudança”, segundo Landy, não porque eram
incompetentes, mas porque estavam retendo informações e conhecimentos
para seu próprio benefício, para garantir que seriam indispensáveis, em vez
de ajudar a equipe e a empresa. No entanto, mudar essa cultura é o que
permite que a verdadeira excelência surja.
RESUMO
O mapa não é o terreno. Não se apaixone pelo seu plano. É quase
certo que ele esteja errado.
Planeje apenas o necessário. Não tente projetar tudo com anos de
antecedência. Planeje apenas o suficiente para manter suas equipes
ocupadas.
Que raça de cachorro é esta tarefa? Não estime em termos
absolutos, como horas. Foi provado que os seres humanos são
péssimos nisso. Calcule o tamanho das coisas de modo relativo – por
exemplo, esse problema corresponde a que raça de cachorro, ou a
qual tamanho de blusa (P, M, G, GG, GGG)? Ou, mais comumente,
use a sequência de Fibonacci.
Pergunte ao oráculo. Use uma técnica de cegamento, como o
método Delphi, para evitar vieses, como o efeito halo, o efeito de
contágio ou um simples raciocínio ruim de grupo.
Planeje com o pôquer. Use o pôquer do planejamento para estimar
rapidamente alguma atividade que precisa ser realizada.
O trabalho é uma história. Pense primeiro em quem receberá o
valor de algo, em seguida pense sobre o que esse algo é, depois por
que essa pessoa precisa disso. Os seres humanos pensam por meio de
narrativas, então dê uma narrativa a eles. Como X, eu quero Y, para
que Z.
Saiba sua velocidade. Toda equipe deve saber quanto trabalho
consegue realizar em cada sprint. E também deve saber quanto pode
aumentar essa velocidade ao trabalhar de modo mais inteligente e ao
remover barreiras que diminuem seu ritmo.
Velocidade × Tempo = Entrega. Uma vez que souber a sua
velocidade, saberá em quanto tempo chegará ao destino.
Defina metas audaciosas. Com o Scrum, não é tão difícil dobrar a
produção ou cortar pela metade o tempo de entrega. Se você aplicá-lo
da maneira certa, sua receita e o valor de sua empresa devem dobrar
também.
CAPÍTULO 7

Felicidade

As pessoas querem ser felizes. Não de um jeito complacente,


subserviente, e sim de uma forma ativa. Thomas Jefferson, entre muitos
outros, exaltou a felicidade que surge quando temos um propósito. De fato,
ter um propósito parece trazer felicidade. O Scrum, quando executado da
maneira correta, faz com que trabalhadores, clientes, gerentes e acionistas
fiquem felizes (geralmente nessa ordem).
A verdadeira felicidade não vem fácil. Certa vez, conheci um alpinista
que me vendeu uma foto do topo do Himalaia ao pôr do sol. Ele a tirara
pouco depois de ter chegado ao cume do monte Evereste sozinho quando
já estava quase escurecendo. Parecia impossível voltar ao acampamento
base antes que a noite chegasse. Se ele não conseguisse, com certeza
morreria congelado. A pungência da foto refletiu seus sentimentos no
momento em que ele escreveu o que pensava ser sua última anotação: ele
estava feliz por ter alcançado o cume, apesar do fato de que a pessoa que
leria o bilhete talvez o encontrasse morto.
Se você conversar com alpinistas sobre uma expedição, eles não vão
passar muito tempo falando sobre a experiência de alcançar o topo de uma
montanha. Em vez disso, falarão sobre as temperaturas geladas, as bolhas
dolorosas, a comida ruim, as péssimas condições e o equipamento difícil
de carregar. E lhe dirão que, após a euforia de atingir o topo, há
geralmente uma decepção (a menos que a experiência de quase morte
continue). Eles conseguiram. A luta teve um resultado. Mas, se perguntar
quando se sentiram mais felizes, eles responderão que foi nos momentos
de desafio, quando levaram o corpo, a mente e o espírito ao limite. Esse é
o instante em que foram mais felizes, em que experimentaram a verdadeira
felicidade. E é isso que querem viver de novo. Pensando friamente,
ninguém em sã consciência se meteria de livre e espontânea vontade nessa
mesma situação duas vezes. No entanto, os alpinistas parecem incapazes
de parar e desafiam montanha após montanha, procurando a felicidade na
busca do cume seguinte.
O mais fascinante é que a maioria das culturas não recompensa nem
incentiva esse tipo de felicidade. Tal Ben-Shahar, professor que ministrava
a disciplina mais popular na Universidade Harvard, chamada psicologia
positiva, escreve em seu livro Seja mais feliz: “Nós não somos
recompensados por desfrutar a jornada em si, mas pela conclusão bem-
sucedida de uma jornada. A sociedade recompensa resultados, não
processos; chegadas, não viagens.”
Mas quase todo o nosso cotidiano é constituído de jornadas. Não é
todo dia que atingimos cumes, ou tiramos uma nota alta, ou ganhamos um
grande bônus. Passamos a maioria dos dias nos esforçando em direção aos
nossos objetivos, sejam eles quais forem. Em uma empresa, a meta pode
ser entregar aquele produto excelente, ou tornar a vida das pessoas um
pouco melhor, ou resolver algum problema que atormenta o mundo. Mas,
se formos recompensados apenas por resultados, e não por processos,
seremos muito infelizes.
Assim que deixei o universo acadêmico para entrar no mundo dos
negócios, no início dos anos 1980, fui posto no comando de dezenas de
programadores infelizes. Seus projetos estavam sempre atrasados e
estourando o orçamento – isto é, quando eles chegavam a dar certo. O
estado de espírito deles se tornou tão negativo que o clima da empresa
deixava todo mundo para baixo. O processo que eles usavam estava tão
errado que era impossível serem bem-sucedidos. Passei os últimos trinta
anos resolvendo esse tipo de problema.
Percebi a importância da felicidade quando estava montando minha
primeira equipe de Scrum. Me dei conta de que, além do raciocínio,
precisava abordar o estado emocional da equipe. Para um piloto de caça
treinado em West Point, isso significava uma mudança e tanto. Eu estava
acostumado a ser muito pragmático. Era racional e científico, então levei
algum tempo para descobrir que, para empoderar as pessoas, para mudar a
vida delas para melhor, eu também precisava mudar. Ao longo dessa
primeira tentativa do Scrum, percebi que a verdadeira grandeza está
profundamente enraizada na alegria. E que ser feliz é dar o primeiro passo
em direção ao sucesso.
Se tudo isso parece um pouco nova era, ou como se eu estivesse
prestes a mandar você se sentar perto de uma fogueira de acampamento e
entoar um mantra, saiba que, na época em que comecei a assessorar
startups, os investidores com quem trabalhei pensavam que eu era um
verdadeiro hippie de São Francisco. Na visão de mundo deles, empoderar
as pessoas nunca traria resultados. Claro, hoje em dia trabalho como
consultor sênior para empresas de capital de risco e muitas vezes sou
tratado como um oráculo. Quando têm um problema difícil, as pessoas
pedem uma solução ao oráculo. Elas não necessariamente esperam que a
resposta faça sentido. Só a experimentam e, para sua surpresa, quase
sempre dá certo.
Isso ocorre porque a felicidade é crucial para os negócios. Na verdade,
ela prevê a receita melhor do que a maioria das métricas que os diretores
de finanças oferecem. Neste capítulo, vou mostrar como a felicidade é
importante para os resultados e como capturá-la, medi-la e aplicá-la. Isso é
o que chamo de felicidade com rigor.
Posso ter me tornado uma pessoa melhor através do desenvolvimento
do Scrum, o que faz com que minha família e eu sejamos mais felizes.
Mas, como um homem de negócios e um cientista, gosto de dados
concretos.
Felicidade é sucesso
As pesquisas são surpreendentemente claras. As pessoas felizes se dão
melhor – em casa, no trabalho, na vida. Ganham mais dinheiro, têm
empregos melhores, se formam na faculdade e vivem mais tempo. É
bastante notável. Elas são melhores no que fazem – esse é um fato quase
universal.
Pessoas felizes vendem mais produtos, ganham mais dinheiro, custam
menos, são menos propensas a largar o emprego, são mais saudáveis e
vivem mais. Ou, como afirma um artigo de 2005 que fez uma meta-análise
de cerca de 225 artigos científicos com mais de 275 mil participantes:

A felicidade leva ao sucesso em quase todos os setores da nossa vida,


incluindo casamento, saúde, amizade, participação na comunidade,
criatividade e, em particular, no trabalho, na carreira e nos negócios.1

Os meta-analistas mostraram que quem se sentia feliz tinha mais


probabilidade de garantir entrevistas de emprego, ser avaliado mais
positivamente por supervisores, mostrar desempenho e produtividade
superiores e gerir equipes melhor.
No entanto, ainda não contei a parte mais interessante do estudo.
Intuitivamente, faz sentido que pessoas felizes se deem melhor – elas são
felizes por causa do sucesso delas, certo? Errado. Eis o que concluiu essa
mesma meta-análise: “Sucessivos estudos mostram que a felicidade
precede resultados importantes e indicadores de prosperidade.”
É isso mesmo. As pessoas não são felizes porque são bem-sucedidas;
elas são bem-sucedidas por serem felizes. A felicidade é um medidor
profético. E o desempenho melhora mesmo que os indivíduos fiquem
apenas um pouco mais felizes. Não é necessário mudar a vida de alguém
de maneira drástica para torná-lo mais feliz, pelo menos por um tempo.
Até mesmo um pouco de felicidade leva a resultados muito melhores. As
pessoas não precisam estar felizes de um jeito delirante, como se
estivessem sempre no dia do casamento. Precisam estar somente um pouco
mais felizes do que antes. Claro, torná-las ainda mais felizes tem um efeito
ainda maior. Mas a mensagem que quero passar é simples: mesmo
pequenos gestos podem ter um grande impacto. O Scrum se concentra em
pegar esses pequenos detalhes e uni-los sistematicamente, construindo um
andaime para o sucesso. Com apenas uma coisa de cada vez, você pode
mudar o mundo de verdade.
Vou fornecer um kit de ferramentas para medir sua felicidade e a
felicidade de sua equipe, de sua empresa, de sua família, ou de qualquer
organização da qual você faça parte. Isso é o que o Scrum faz. Esqueça
exercícios para gerar confiança. Em vez disso, construa a confiança todo
dia. E quero que você a meça. Achar que as pessoas estão felizes não é o
suficiente. Quero que aja como um cientista, quantificando-a e
comparando-a com o desempenho. Se os dados não forem
correspondentes, há um problema. É ótimo ir ao bar com a equipe toda e
fazer amizades. Mas a empresa não é tão beneficiada se essas amizades
não resultarem em um desempenho melhor. Há várias pessoas com quem
saio apenas por diversão. Com minha equipe, quero que essa vida social se
reflita diretamente no desempenho. E isso de fato acontece.
Medindo a felicidade
Como fazer com que nós mesmos, nossos funcionários e nossos
colegas de equipe sejam felizes? Como canalizar essa felicidade para
conseguir mais produtividade e mais receita?
Para responder a essas perguntas, preciso voltar à Toyota e à cruzada
de Taiichi Ohno para eliminar o desperdício. Esse objetivo levou-o à ideia
de “aprimoramento contínuo”. Chegar a certo nível de produtividade e
permanecer nele não é o suficiente; a ideia é examinar de forma constante
os seus processos, de forma a melhorá-los o tempo todo e para sempre.
Claro que é impossível atingir a perfeição, mas cada incremento em
direção a ela é relevante.
Assim como o trabalho e o tempo precisam ser divididos em partes
gerenciáveis, o aprimoramento precisa ser realizado um passo de cada vez.
Em japonês, a palavra usada é kaizen, ou “melhoramento”. Qual é a
pequena melhoria que pode ser realizada de imediato e que vai tornar as
coisas melhores?
No Scrum, isso é capturado no fim de cada sprint, durante aquilo que
chamo de “retrospectiva do sprint”. Depois que a equipe mostra o que
realizou durante determinado ciclo – o que está “Feito” e pode ser enviado
a clientes para receber feedback –, todos se sentam e pensam sobre o que
deu certo, o que poderia ter sido melhor e o que pode ser melhorado no
sprint seguinte. Qual é o aprimoramento no processo que eles podem
implementar de imediato, em equipe?
Para ser eficaz, essa reunião requer certo nível de maturidade
emocional e um ambiente de confiança. É essencial que todos se lembrem
de que não estão procurando um culpado, mas sim examinando o processo.
Por que isso aconteceu dessa forma? Por que não percebemos aquilo? O
que faria com que trabalhássemos mais rápido? É crucial que as pessoas
assumam a responsabilidade pelo processo e pelos resultados em equipe e
busquem soluções em equipe. Ao mesmo tempo, os indivíduos precisam
ter estrutura emocional para mencionar as questões que os incomodam de
modo a buscar uma solução, e não de uma forma que pareça acusatória. E
o resto do grupo tem que ter maturidade suficiente para ouvir o feedback,
levá-lo em consideração e procurar uma solução, em vez de ficar na
defensiva.
A reunião de retrospectiva é a parte “Verificar” do ciclo Planejar-
Fazer-Verificar-Agir (PDCA), de Deming. O segredo é alcançar o passo
“Agir”, o kaizen, que é o que de fato mudará o processo e o tornará melhor
da próxima vez. Compartilhar seus sentimentos não é o bastante; você
precisa ser capaz de agir.
A “métrica da felicidade” é o melhor método que encontrei para captar
tudo isso. É uma maneira simples, mas muito eficaz, de chegar àquilo que
o kaizen deve ser, mas também ao kaizen que fará com que as pessoas
fiquem mais felizes. Já empreguei essa técnica e obtive ótimos resultados.
Veja como ela funciona. Ao fim de um sprint, cada integrante da
equipe responde a algumas perguntas:

1. Em uma escala de 1 a 5, como se sente em relação ao seu papel na


empresa?
2. Nessa mesma escala, como se sente em relação à empresa como um
todo?
3. Por que se sente assim?
4. O que faria com que ficasse mais feliz no próximo sprint?

É isso. Leva apenas alguns minutos. Cada integrante da equipe fala de


uma vez, e isso gera conversas muito interessantes. Em conjunto, o grupo
geralmente pensa em um kaizen com bastante rapidez. O método expõe o
que é mais importante para cada membro da equipe e o que ele acha que é
mais relevante para a empresa.
E aí vem a parte crucial. A equipe torna a melhoria essencial
mencionada nas respostas a tarefa mais importante do sprint seguinte –
com testes de aceitação. Como provar que você de fato realizou o
aprimoramento? É preciso definir o que é sucesso de forma concreta e
acionável, de modo que, na retrospectiva do sprint seguinte, fique bem
fácil verificar se o kaizen foi alcançado.
Há alguns anos, decidi expandir minha empresa, a Scrum Inc.,
oferecendo um serviço completo de consultoria de Scrum. Medimos nossa
velocidade e descobrimos que estávamos executando cerca de 40 pontos
de histórias a cada sprint de uma semana. Quando implementei a métrica
da felicidade, o primeiro comentário que veio à tona foi que nossas
histórias de usuário não eram muito boas. Elas não estavam finalizadas,
não tinham uma definição de “Feito” e eram muito vagas. Trabalhei nessa
questão, e começamos a obter histórias melhores. Durante o sprint
seguinte, as histórias de usuários ainda não estavam boas o suficiente.
Nossos números de felicidade refletiam isso. No terceiro sprint, outra
questão surgiu. Então, trabalhamos em cima dela. E assim foi. Dentro de
algumas semanas, nossa velocidade aumentou de 40 para 120 pontos por
sprint. Triplicamos a produtividade só de perguntar o que tornaria as
pessoas mais felizes. Como resultado, nossos clientes ficaram mais felizes
e nossa receita disparou de maneira drástica. Tudo o que precisei fazer foi
começar a perguntar para a equipe “O que faria com que você ficasse mais
feliz?” e, em seguida, tentar concretizar isso.
Elaboramos gráficos com esses dados ao longo do tempo e vimos
algumas coisas muito interessantes. Como CEO, tenho que me concentrar
naquilo que vai acontecer no futuro com a nossa receita, o nosso
crescimento e a nossa produtividade. Ao contrário das métricas
financeiras, descobri que a métrica da felicidade é profética. Os dados
financeiros enfocam o que aconteceu no passado, mas, quando você
pergunta qual é o nível de felicidade das pessoas, elas projetam para o
futuro. E, quando pensam sobre seu nível de felicidade com relação à
empresa, elas começam a projetar de acordo com o nível de sucesso que
acreditam que a empresa está obtendo. Como resultado, você terá sinais de
que um problema está a caminho antes que ele chegue. E, se prestar
atenção suficiente àquilo que sua equipe lhe diz, pode agir e resolver a
questão antes que ela se torne um problema. No gráfico abaixo, por
exemplo, uma queda na felicidade precede uma diminuição da velocidade
ou da produtividade em algumas semanas. Se só observasse a
produtividade, você não saberia que havia um problema até que ela
despencasse de um penhasco. Mas, se vir uma queda de felicidade que
atinge uma equipe inteira, mesmo que a produtividade esteja aumentando,
saberá que há uma questão que precisa ser resolvida, e logo.
Deixe tudo às claras
Quais são os elementos que realmente fazem as pessoas felizes? São os
mesmos que produzem grandes equipes: autonomia, domínio e propósito.
Ou, usando mais palavras para dizer a mesma coisa, é a capacidade de
controlar o próprio destino, é a sensação de que se está melhorando em
alguma atividade, é saber que se está servindo a algum propósito maior.
Mas também há algumas atitudes simples e concretas que os gestores
podem tomar para fazer com que a cultura da empresa incentive essas
qualidades.
Um elemento do Scrum que muitas vezes é um prelúdio para o alcance
da autonomia, do domínio e do propósito é a transparência. A ideia é que
não deve haver nenhuma conspiração secreta, nenhum objetivo escondido,
nada por debaixo dos panos. No mundo empresarial, com muita frequência
não fica claro no que todo mundo está trabalhando, ou não se sabe como a
atividade diária de cada pessoa ajuda na concretização das metas da
empresa.
Quando estava começando a aplicar o Scrum, passei muito tempo
pensando nas leis que um grande amigo meu tinha ajudado a introduzir na
legislação do Colorado: as leis “Sunshine”, nome que em inglês significa
“luz do Sol”. Elas exigem que todas as reuniões públicas sejam abertas,
que todos os registros estejam disponíveis para o público e que nada ocorra
a portas fechadas – ou seja, que nada seja escondido. É por isso que, no
Scrum, qualquer um pode ir a todas as reuniões. Qualquer stakeholder
pode acompanhar uma reunião diária ou assistir a uma demonstração.
Eu queria tornar tudo visível. E isso pode ser assustador para algumas
pessoas. A PatientKeeper é uma empresa que desenvolve dispositivos
portáteis para hospitais e médicos. Quando fui contratado pela empresa,
apliquei o Scrum de imediato em toda a área de desenvolvimento. Disse
aos desenvolvedores que todo mundo saberia de tudo. Eles estavam tão
acostumados com o fato de usarem medições para criticar o seu trabalho
que ficaram com medo de que o novo nível de transparência significasse
apenas mais broncas.
“Confiem em mim”, pedi. “Isso não vai ser usado contra vocês. Nem
para puni-los. Só vai servir para melhorar as coisas.”
Como já mencionei, não me interesso muito pelo desempenho
individual; só o que me interessa é o desempenho da equipe. Sou capaz de
dobrar a produtividade de uma equipe em um mês, mas a de um indivíduo?
Talvez demorasse um ano. E um monte de indivíduos? Um departamento?
Uma empresa inteira? Isso poderia levar uma eternidade. Uso a
transparência para me concentrar em melhorar a equipe. Em geral, observo
que a própria equipe consegue resolver problemas individuais de
desempenho. Os integrantes do grupo sabem exatamente o que as pessoas
estão fazendo, quem está ajudando, quem está atrapalhando, quem faz com
que a equipe seja ótima e quem torna o trabalho penoso.
Então, no Scrum, tudo é visível. Nas minhas empresas, qualquer
salário, dado financeiro ou despesa fica disponível para todos. Nunca
entendi por que motivo alguém manteria essas informações em segredo, a
não ser para promover seus próprios objetivos individuais ou para manter
as pessoas infantilizadas. Quero que o assistente administrativo possa ler o
balanço da empresa e entender exatamente como o trabalho dele contribui
para aquele resultado. Quero que todos os funcionários da empresa se
unam em torno de um único propósito. Pulverizar as pessoas em feudos
informacionais só diminui a velocidade de todo mundo. Além disso, esse
tipo de cultura gera suspeita e desconfiança. Divide uma empresa entre os
grandes, que sabem de tudo, e os peões, que se limitam a executar
pequenas tarefas para algum propósito misterioso que são incapazes de
compreender. Besteira. Se não pode confiar nas pessoas que trabalham
com você, isso significa que contratou os indivíduos errados e criou um
sistema que carrega o fracasso em sua estrutura.
O quadro Scrum é a representação visual mais radical dessa ideia, e
você o verá em todas as salas de trabalho de equipes Scrum no planeta.
Agora, existem softwares que medem todo tipo de dados, que lhe
fornecem todas as métricas e análises possíveis, mas o quadro Scrum é
somente um monte de post-its em um quadro branco. Existem três níveis
de status de tarefa: “A Fazer”, “Fazendo” e “Feito”. Quando alguém pega
uma história para si, todo mundo sabe quem está trabalhando nela. E todos
ficam sabendo quando ela é realizada. Como o quadro tem post-its que
representam tudo o que precisa ser feito em um único sprint, todo mundo
sabe como o sprint está evoluindo. Qualquer um pode entrar na sala, olhar
o quadro e saber exatamente como o trabalho da equipe está se
desenrolando.
Uma vez que a equipe sabe o que já foi feito e o que ainda precisa ser
executado, seus integrantes podem se autorregular. Eles sabem o que
precisam fazer, podem ver se um colega está com um problema, se uma
história permanece na coluna “Fazendo” durante muito tempo. A equipe
pode se organizar para enfrentar problemas que se tornam óbvios, porque
tudo é transparente.
Na PatientKeeper, a transparência que os desenvolvedores temeram de
início acabou gerando frutos. Como todo o trabalho se tornou transparente,
fomos capazes de coordenar tarefas entre várias equipes. Todo mundo
sabia exatamente o que todos os outros estavam executando a todo
momento. Eles podiam ajudar uns aos outros se alguém deparasse com um
obstáculo. Talvez um desenvolvedor já tivesse pensado em uma solução
para um problema enfrentado por outro, mesmo que eles não estivessem na
mesma equipe! A produtividade na PatientKeeper mais do que
quadruplicou. Em um ano, conseguimos lançar 45 versões de um software
da empresa. Não estamos falando de uma atualização no Angry Birds;
trata-se de um produto utilizado em grandes hospitais, algo que mexe com
a vida das pessoas. Entretanto, depois de aplicar a transparência em
relação a tudo, nos tornamos capazes de pôr o produto no mercado mais
rápido do que qualquer um. Esse é o resultado de deixar tudo às claras.
Depois que saí da PatientKeeper, uma nova equipe de gestão decidiu
que o Scrum não era mais a melhor maneira de executar o trabalho. O
resultado? O número de lançamentos de novas versões de software caiu de
45 para 2 por ano, a receita caiu de 50 para 25 milhões de dólares ao ano, e
a rotatividade de pessoal, que era inferior a 10%, subiu para mais de 30%.
Ao retornar ao comportamento corporativo tradicional, a PatientKeeper
deixou de ser uma grande empresa e voltou a ter um desempenho
medíocre.
Entregando a felicidade
Uma empresa que vê a felicidade como algo essencial em sua cultura é
a Zappos. Esse site de sucesso estrondoso convenceu as pessoas a fazer
algo que muita gente achava impossível: comprar sapatos na internet. No
seu livro Satisfação garantida: no caminho do lucro e da paixão, o CEO
Tony Hsieh escreve sobre a cultura singular da empresa, que é baseada na
criação de momentos de deslumbramento para os clientes. Na verdade,
para fazer os clientes felizes, você precisa de pessoas felizes do outro lado
do balcão.
Ao falar com os executivos da Zappos, uma palavra que se ouve muito
é conexão. Pesquisas realizadas pela empresa mostram que, quanto mais
conectadas aos colegas de trabalho, mais felizes as pessoas são – e,
aparentemente, mais produtivas e inovadoras também. Assim, os
executivos da Zappos decidiram criar essas conexões, não apenas em uma
equipe ou em um departamento, mas em toda a empresa. E não somente
entre os funcionários de um mesmo nível, mas entre diferentes escalões,
desde os diretores até os funcionários do financeiro.
Isso é feito com métodos ao mesmo tempo simples e complexos. Por
exemplo, há o incentivo físico dos encontros casuais. A sede da empresa
tem muitas saídas, mas todas ficam fechadas, exceto uma, o que obriga os
funcionários a entrar e sair por uma única porta. A ideia é que, ao se
esbarrarem, as pessoas têm mais probabilidade de criar essas conexões e
nutri-las.
Outro exemplo tem a ver com a maneira como as pessoas são inseridas
na cultura da Zappos. Cada funcionário, desde um estoquista até um
diretor, tem que passar pelo que Christa Foley, gerente sênior de recursos
humanos da Zappos, chama de “treinamento”. Durante quatro semanas,
cada funcionário é instruído sobre como a empresa funciona, mas também
sobre como é a cultura da empresa. Na verdade, essa é a segunda triagem
no processo de contratação da Zappos. Mesmo depois de receber a oferta
de emprego, você precisa provar que consegue absorver a cultura.
“Os resultados são notáveis”, diz Foley. “As conexões [entre
funcionários] feitas durante o treinamento permanecem com eles ao longo
de suas carreiras.” O treinamento é intenso de propósito – as pessoas têm
de chegar às sete da manhã, trabalhar duro, cumprir prazos e passar por
testes. Mas funciona. Indivíduos que passam juntos pelo treinamento
permanecem conectados, não apenas durante meses, mas por anos,
organizando seus próprios encontros e churrascos para manter contato.
“O grupo se transforma em uma grande família”, afirma Rachel
Brown, executiva da Zappos. “Você convida seus colegas de trabalho para
a sua casa. Você sai e se diverte com eles.”
Outra tática da Zappos para manter as pessoas felizes é dar aos
funcionários a oportunidade de aprender e crescer. A empresa quase
sempre prefere contratar internamente. Digamos que surge uma vaga no
RH e alguém da contabilidade, que sempre pensou que poderia gostar
daquele tipo de trabalho, vê o anúncio. Aquele indivíduo que tem
curiosidade a respeito do RH pode ser levado para uma “aprendizagem”.
Esse programa dá ao funcionário a oportunidade de verificar se ele gosta
mesmo daquele trabalho, e dá ao gerente uma chance de ver se aquele
indivíduo se encaixa bem na equipe. A empresa também oferece aulas
gratuitas ministradas por outros funcionários – finanças básicas,
desenvolvimento de código para iniciantes etc. A Zappos quer que as
pessoas cresçam dentro da empresa.
Como mencionei no Capítulo 3, sobre equipes, as pessoas querem
crescer; elas querem melhorar naquilo que fazem e descobrir no que mais
podem evoluir. A ideia é que se aprimorar no trabalho traz motivação. Dar
às pessoas a oportunidade de descobrir onde se encaixam melhor ajuda a
Zappos a manter os funcionários felizes, animados e empenhados.
Para muitos que já tiveram uma carreira muito tradicional, essa cultura
pode ser uma brisa refrescante. “Durante toda a minha carreira antes da
Zappos, eu me concentrava muito no recrutamento”, diz Foley. “A rotina
era maçante e eu ficava exausta.” Ir para a Zappos fez com que Foley
sentisse um novo vigor. Segundo ela, a cultura da empresa é responsável
por isso. “É isso que me deixa animada de vir para o trabalho.”
E é isso que a Zappos quer; aliás, é o que qualquer empresa deveria
querer. É o que eu quero. Quero que as pessoas adorem ir para o trabalho.
É uma mudança de mentalidade. É a diferença entre trabalhar para uma
empresa e trabalhar com a minha empresa. Algumas pessoas têm
dificuldade de adotar essa mentalidade. É por isso que a Zappos se
concentra em realizar promoções internas. Eles descobriram que os
indivíduos que vêm de fora, em especial para cargos mais altos, têm
dificuldade de se adaptar. “Nós somos uma mistura de empresa
empreendedora e inovadora”, afirma Foley. Mas isso é apenas metade da
história. “A outra metade é a colaboração.” A empresa quer que as pessoas
que trabalham juntas desenvolvam relacionamentos. Às vezes, isso não se
encaixa na cultura corporativa padrão. Um gerente sênior me disse: “Eu
não tenho um título. Acreditamos que, em grupo, podemos trabalhar muito
melhor.”
Em várias empresas, vemos com frequência gerentes que querem
encaminhar seu próprio setor sem transparência e sem colaboração. Criam
uma dinâmica de “nós contra eles”. Delimitam suas fronteiras, e é quase
possível ver os diferentes departamentos tramando uns contra os outros.
Parece uma cena maquiavélica de uma corte medieval. Imagine como uma
organização seria muito mais produtiva se todos trabalhassem juntos em
direção a um objetivo comum. Imagine uma empresa na qual todo mundo
pense como minha empresa, onde cada dia seja uma chance de se
aprimorar, de fazer algo melhor, de aprender algo novo. Em vez disso, a
maioria das corporações cria um ambiente no qual as pessoas estão mais
preocupadas com a política interna do que em gerar lucros.
Na Zappos, se você não se der bem com a equipe e a cultura, você não
se encaixa na empresa. A taxa de rotatividade é de 12% ao ano, e a maior
parte das mudanças de funcionários, dizem, é no call center. Isso ocorre
porque eles demitem indivíduos que não têm uma verdadeira paixão por
prestar bons serviços para os clientes. A Zappos vê esses funcionários
como a imagem pública da empresa, então os padrões são elevados. O
pessoal de lá é flexível em relação a um monte de coisas, mas não nesse
ponto.
Já vi essa mesma dinâmica se desenrolar em outras equipes. Talvez um
integrante de um grupo tenha habilidades ou conhecimentos especializados
– conhecimentos que ele retém, como um avarento. Ele vê isso como uma
posse que garante o seu emprego. O Scrum, através das retrospectivas e da
transparência, expõe esse tipo de comportamento quase de imediato.
Torna-se óbvio quais são os obstáculos, onde está o desperdício. Quando
comando uma empresa, digo a essas pessoas com hábitos “avarentos” que
elas não podem se dar ao luxo de manter a equipe e a empresa como
reféns. Ou elas mudam sua mentalidade ou vão trabalhar em outro lugar.
A Zappos descobriu que, quanto mais idade tiver o novo contratado,
mais enraizado estará seu modo de pensar e, portanto, mais ele terá de se
esforçar para deixar de trabalhar à moda antiga. O Scrum fornece um
alicerce para que isso seja feito. Ele oferece uma estrutura para a
organização inteira caminhar em direção a um objetivo comum. Seus
pilares são a transparência, o trabalho em equipe e a colaboração. Hoje,
muitas empresas abraçam essa filosofia – e, o que é inevitável, essas
organizações não perdem para as que não passam pela transformação.
A Zappos pulou de 1,6 milhão de dólares em vendas, em 2000, para
mais de 1 bilhão em 2008. Essa é uma taxa de crescimento de 124% ao
ano durante oito anos consecutivos. Não sei você, mas acho que esse é um
argumento muito convincente para fazer com que as pessoas fiquem
felizes. E o Scrum oferece ferramentas que você pode usar para chegar lá.
Estoure a bolha da felicidade
Algo que não é igual a felicidade – pelo menos o tipo de felicidade de
que estou falando – é a complacência. A felicidade é o contrário disso: ela
é um envolvimento positivo e apaixonado. Como diz Christa Foley, da
Zappos, a felicidade é o oposto da passividade. “Adoro vir para o trabalho.
Em vez de [incentivar que você se torne] complacente, nossa cultura
positiva e animadora faz com que trabalhe com mais afinco.” De fato, o
pessoal da Zappos tem de eliminar aqueles que pensam que trabalhar em
um lugar feliz significa não trabalhar. Eles querem pessoas que usem a
alegria como combustível.
E a Zappos não está sozinha nisso. A edição de janeiro-fevereiro de
2012 da Harvard Business Review foi toda dedicada à felicidade. O que
eles descobriram foi

[...] que o único caminho para a felicidade de um funcionário que


também beneficia os acionistas é por meio de um sentimento de
satisfação que é resultado de um trabalho importante bem feito.
Devemos tentar não só tornar os funcionários “felizes”, mas fazer isso
enquanto os ajudamos a alcançar grandes feitos. Em suma, devemos
defender apaixonadamente os nossos funcionários, em prol da missão
e do sucesso da empresa, ajudando-os a defender apaixonadamente os
clientes.2

E essa defesa apaixonada tem benefícios tangíveis. Funcionários


felizes comparecem ao trabalho, se esforçam mais e não só não saem da
empresa, como também atraem outros com o mesmo ímpeto. Em seu
artigo para a Harvard Business Review, Gretchen Spreitzer e Christine
Porath decidiram não se referir a essas pessoas como “felizes” por causa
das conotações de complacência. Em vez disso, chamaram esses
indivíduos de “prósperos”. Elas descobriram que essas pessoas tinham um
desempenho 16% melhor do que seus pares, tinham um índice de
esgotamento 125% menor, eram 32% mais comprometidas e 46% mais
satisfeitas com o trabalho. Elas também tiveram menos faltas por motivos
de doença, foram menos vezes ao médico e tinham mais probabilidade de
serem promovidas.3
O que esses indivíduos “prósperos” têm em comum é aquilo que venho
escrevendo ao longo deste capítulo: todos são vigorosos e apaixonados e
tentam aperfeiçoar seu ofício, não importa se integram a tripulação de uma
companhia aérea ou se são funcionários em um restaurante. O que as
empresas podem fazer para criar um ambiente em que as pessoas
prosperem? Os gerentes podem incentivar a autonomia ao permitir que a
equipe tome as próprias decisões sobre suas tarefas. E as organizações
podem garantir que os funcionários saibam de tudo o que está
acontecendo, porque, como dizem, “fazer o seu trabalho em um vácuo de
informação é ente-diante e não traz inspiração”. Os gerentes também
devem ter tolerância zero com atitudes incivilizadas e não podem permitir
que um funcionário envenene a cultura corporativa com abusos ou
desrespeito. E, por fim, devem fornecer feedback rápido e direto.
O Scrum oferece tudo isso. Ele é configurado para fazer com que isso
aconteça, em especial o feedback direto, que é dado todo dia na reunião
realizada com todos de pé. Esse também é o objetivo da retrospectiva do
sprint e da métrica da felicidade.
No entanto, há uma cautela que deve ser tomada e que eu gostaria de
ressaltar. É possível – certo, acontece tantas vezes que já passei muito
tempo estudando os motivos disso – que surja uma “bolha de felicidade”.
Em geral, isso ocorre depois que uma equipe atingiu grande sucesso ou
aumentou a produtividade de maneira drástica usando o Scrum. O grupo se
organizou e se sente orgulhoso do progresso atingido. E é nesse ponto que
a complacência pode se instalar. As pessoas dizem para si mesmas: “Poxa,
nós melhoramos tanto, não precisamos melhorar mais.” Elas atingem um
patamar de produtividade e logo em seguida param de fazer um ótimo
trabalho. Mas estão bem o suficiente para que, por um tempo, vivam nessa
bolha de felicidade que as isola de verdades desagradáveis. Não percebem
que o aprimoramento contínuo significa exatamente isto: não para nunca.
Na época em que fui piloto de caça, dizíamos que, depois de três mil horas
no cockpit, você precisa pedir demissão, porque se torna complacente, e
esse comportamento pode matá-lo. No mundo dos negócios, uma equipe
complacente corre menos riscos, mas o desempenho do grupo está
ameaçado.
Com frequência, essa atitude complacente se revela em um comentário
como este: “A gente merece desacelerar; a gente já se dedicou o bastante.”
Ou os integrantes valorizam tanto o seu espírito de equipe e a sua
felicidade que não querem pôr tudo a perder. Ou temem qualquer mudança
por sentirem que, se o time está ganhando, para que mexer nele?
As “bolhas da felicidade” me preocupam muito porque são o ponto em
que as fórmulas do Scrum talvez saiam do eixo. Vi isso se repetir várias
vezes: a equipe faz tudo o que o Scrum ensina – priorização, realização de
uma tarefa de cada vez, multifuncionalidade, rituais de revisão –, mas para
de melhorar. Muitas vezes o grupo está muito melhor do que era antes de
aprender o Scrum e obteve diversos sucessos para provar isso, mas
descansa sobre os louros. Diz: “A gente não precisa melhorar mais.”
Isso me lembra do time de basquete dos Estados Unidos nos Jogos
Olímpicos de 2004. Aquela equipe tinha alguns dos melhores jogadores do
mundo – LeBron James, Tim Duncan e Allen Iverson, para citar apenas
alguns –, e os Estados Unidos tinham um histórico de não apenas vencer,
mas dominar o esporte, em especial desde que jogadores profissionais
foram autorizados a participar. O time de basquete americano sabia que
era o melhor. Só que não era. A equipe perdeu mais jogos do que qualquer
outro time de basquete olímpico dos Estados Unidos na história. Foi
derrotada pela Lituânia. O orgulho e a complacência dos jogadores
causaram a sua derrocada. Eles estavam vivendo na bolha da felicidade.
Mas como estourar a bolha antes que seus jogadores envergonhem o
país ao vivo na televisão, na frente de bilhões de pessoas? O primeiro
passo é ter consciência do problema. É por isso que quero que as equipes
meçam sua velocidade a cada sprint. Quero saber qual é a taxa de mudança
delas. Se não houver um crescimento positivo, sei que precisamos nos
esforçar mais. Para fazer isso, dependo do Scrum Master. Essa pessoa
precisa ser capaz de identificar o problema e abordá-lo com a equipe. É
crucial que alguém faça as perguntas difíceis. O que você quer é um “Bobo
Sábio”.

Admira-me como tu e tuas filhas são aparentados: elas me açoitam


por eu dizer a verdade, enquanto tu farias o mesmo por eu mentir; e
às vezes sou açoitado por permanecer quieto.4

– Rei Lear, ato 1, cena 4

O “Bobo Sábio” é a pessoa que faz perguntas desconfortáveis ou traz à


tona verdades desagradáveis. Nem sempre é fácil conviver com esses
indivíduos, pois podem ser considerados causadores de problemas ou os
outros podem pensar que eles não se integram à equipe, mas esse tipo de
pessoa precisa ser cultivado e utilizado.
Talvez o melhor exemplo disso seja bem conhecido: ele vem do
clássico conto “A roupa nova do imperador”, de Hans Christian Andersen.
Como deve se lembrar, era uma vez um imperador que amava tanto roupas
refinadas que possuía uma veste diferente para cada hora do dia. Se
estivesse procurando o imperador, o primeiro lugar em que deveria
procurá-lo era o quarto de vestir. Certo dia, alguns vigaristas foram até ele
e juraram ter um tecido secreto tão refinado que as pessoas que não fossem
astutas o bastante seriam incapazes de enxergá-lo. Eles exigiram a melhor
seda, mas apenas fingiram costurá-la. Em vez disso, “teceram” o ar e
puseram os materiais caros em suas malas. Um dia, o imperador foi
verificar o progresso dos alfaiates, mas não viu nada. Lembrando que o
tecido só era visível para quem fosse inteligente, elogiou-o como o mais
refinado que já vira. Ele interrogou seus assessores, mas eles também
juraram que o material era o mais maravilhoso que já tinha existido. No
dia da entrega, os vigaristas vestiram o imperador, com cuidado, em nada,
sob comentários animados da corte. Assim, o imperador decidiu desfilar
pela cidade, mostrando às pessoas o tecido mágico.
Você se lembra de como a história termina: todos assistiram ao desfile
sem comentar nada sobre a nudez do imperador, pois ninguém queria ser
visto como tolo. Assim, a procissão real prosseguiu pela avenida até que
uma criancinha gritou: “Mas o imperador está nu!” A princípio, o pai da
criança mandou que ela se calasse, mas, em seguida, com sussurros que
foram crescendo até se tornarem gritos, o povo da cidade começou a
exclamar: “O imperador está nu!” O imperador, apesar de temer que todos
estivessem certos, continuou seu desfile. E seus cortesãos o seguiram,
segurando uma cauda inexistente.
O Bobo Sábio é aquela criança: a pessoa que enxerga que a verdade
aceita por todos é uma ilusão consensual, e que, na verdade, o imperador
está nu. Então, se tiver um ou dois Bobos Sábios, cultive-os.
Há outras maneiras de estourar a bolha da felicidade – por exemplo,
incluindo sangue novo no grupo ou por meio de intervenções da gerência
–, mas, no fundo, todas são iguais: fazem a equipe encarar uma realidade
desagradável. Felizmente, tudo é transparente no Scrum: o nível de
produção da equipe, a qualidade do trabalho, a satisfação do cliente. Uma
das virtudes do Scrum é que ele torna o desconfortável visível com muita
rapidez, ao contrário de equipes e organizações tradicionais, que podem
caminhar alegremente em direção a um penhasco e só depois se perguntar
o que teria dado errado. Elas esperam tempo demais para obter feedback
que possa ser posto em prática, tanto do mercado quanto dos próprios
funcionários da empresa.
Feliz hoje, feliz amanhã
Psicólogos, incluindo Ben-Shahar, de Harvard, dizem que uma forma
de analisar como as pessoas veem o mundo é perguntar se o que estão
realizando as faz felizes hoje, e se isso as tornará mais felizes amanhã.
Considero essa ferramenta uma lente útil para examinar os indivíduos em
ambientes de trabalho.
As pessoas tendem a se dividir em quatro categorias, de acordo com
Ben-Shahar. O primeiro tipo, o “hedonista”, é alguém que está fazendo o
que o torna feliz hoje. Amanhã? “Vamos nos preocupar com o amanhã
quando ele chegar. Vou aproveitar o presente.” Vejo esse tipo de
comportamento com frequência em startups: um monte de gente em uma
garagem figurativa, fazendo as coisas só porque é legal e divertido. Mas
não se presta muita atenção à criação de um produto sustentável.
Pouquíssima energia mental é canalizada para o futuro da empresa dali a
um mês, muito menos dali a um ano.
E normalmente isso preocupa os investidores. Então, eles contratam
um monte de gestores para comandar os hackers. E, de repente, os hackers
descobrem que o mundo que eles tanto adoravam se tornou uma droga.
Passou a haver um monte de regras, testes e relatórios. O presente está
uma droga, e eles acham que vai ser uma droga para sempre. Vamos
chamá-los de “niilistas”.
O terceiro grupo é o das pessoas que foram chamadas para comandar o
lugar. Elas são as únicas dispostas a trabalhar oitenta horas por semana (e
dispostas a chicotear os outros para que façam o mesmo), porque pensam
que depois vão ser promovidas e, então, ficarão mais felizes. É claro que,
quando são promovidas, elas só passam a ter novas dores de cabeça com as
quais lidar, que requerem ainda mais tempo. Elas gostam dessa rotina
estressante e competitiva.
O quarto tipo de pessoa é aquele que o Scrum tenta identificar e
incentivar: o indivíduo que trabalha em coisas divertidas hoje, mas que
mantém o foco em um futuro melhor e está convencido de que vai ser
divertido para sempre. Esse tipo de pessoa raramente passa por
esgotamento ou desilusão. Ele não tem os mesmos sentimentos negativos
em relação ao trabalho dos hedonistas, dos niilistas e dos gerentes
workaholics que se esforçam para fazer todo mundo andar na linha.
O Scrum promove um único quadro mental que estimula a todos.
Como todo mundo trabalha junto, a equipe ajuda o hedonista a olhar para a
frente, convence o niilista de que há um futuro sem sofrimento e diz aos
gestores presos em uma rotina interminável que, na verdade, existe um
caminho melhor para fazer as coisas.
É por isso que implementei a métrica da felicidade na minha empresa.
Ela faz com que a equipe ajude seus integrantes a se tornarem pessoas
melhores. Remove de maneira sistemática, cuidadosa e progressiva as
causas da infelicidade. Empodera as pessoas para que se transformem e
oferece um incentivo para que elas o façam.
Você se lembra do erro fundamental de atribuição? Quando estiver
cercado por idiotas, não busque as pessoas ruins; procure os sistemas ruins
que as recompensam por agir dessa maneira. Em seguida, use a métrica da
felicidade para consertar a situação.
Na faculdade, muita gente estuda a “hierarquia das necessidades” do
psicólogo americano Abraham Maslow. Ela mostra, em forma de
pirâmide, as necessidades das quais os seres humanos cuidam primeiro e,
em seguida, aquelas que se tornam mais prementes à medida que os itens
das camadas inferiores são alcançados. Na base da pirâmide estão as
necessidades fisiológicas: ar, água, alimento, roupas e moradia. Se não
tivermos esses elementos, não conseguimos nem sequer começar a pensar
em outra coisa. A camada seguinte é a segurança, não apenas física e
financeira, mas também a garantia de uma boa saúde. É importante ter
acesso a cuidados médicos. Curiosamente, muitas pessoas param por aí,
mesmo que a camada seguinte inclua aquilo de que, como seres humanos,
necessitamos muito, mas que a sociedade ignora com frequência: amor e
sensação de pertencimento – a conexão de que a Zappos fala. Acima disso,
há a camada com a necessidade de autoestima e respeito dos outros. E, no
topo da pirâmide, fica a necessidade de autorrealização.
Essa camada mais alta era a que mais interessava a Maslow, e é nela
que o Scrum se concentra: ajudar as pessoas a alcançarem crescimento
pessoal e um sentimento de realização. Os indivíduos localizados nos
níveis mais altos dessa pirâmide não só são mais felizes e se sentem mais
realizados, mas também são mais eficazes e inovadores. E são capazes de
produzir excelência.
Quase consigo ver você assentindo agora, porque todos conhecemos
essa pirâmide de maneira intuitiva, mesmo que nunca a tenhamos visto. O
truque é tentar escalar até as camadas mais altas e, em seguida, ter uma
maneira de medir com precisão o impacto que você produz. Se estiver no
comando de uma empresa, talvez meça a excelência em termos de receita e
crescimento. Se estiver tentando fazer com que indivíduos doentes
melhorem, talvez a meça pelo número de pessoas que não morrem. Se
estiver tentando mudar o mundo, talvez sua medida de excelência seja
quanto já o mudou. Se estiver tentando cumprir a lista de tarefas elaborada
por seu cônjuge, talvez meça a grandeza pelo número de fins de semana
em que consegue se dedicar ao lazer.
Ser feliz não é o suficiente. A felicidade precisa ser aproveitada para
produzir resultados. Todos os elementos do Scrum se unem para ajudar as
pessoas a fazer isso. O verdadeiro truque? Prioridades. É delas que vamos
falar a seguir.
RESUMO
O que importa é a viagem, não o destino. A verdadeira felicidade é
encontrada no processo, não no resultado. Muitas vezes só premiamos
os resultados, mas devemos de fato recompensar as pessoas que se
esforçam para obter excelência.
A felicidade é a nova moda. A felicidade ajuda a tomar decisões
mais inteligentes. Além disso, quando se está feliz, a pessoa é mais
criativa, não quer largar o emprego e é mais propensa a realizar muito
mais do que podia imaginar.
Quantifique a felicidade. Sentir-se bem não é o suficiente; você
precisa medir esse sentimento e compará-lo com o desempenho.
Outras métricas se concentram no que já aconteceu. A felicidade é
uma métrica que mira no futuro.
Melhore a cada dia – e meça isso. Ao fim de cada sprint, a equipe
deve escolher um pequeno aprimoramento, ou kaizen, que a tornará
mais feliz. Esse elemento deve se tornar o objetivo mais importante
do sprint seguinte.
O sigilo é venenoso. Nada deve ser secreto. Todo mundo deve saber
de tudo, e isso inclui os salários e as finanças. O obscurantismo só
serve àqueles que servem a si próprios.
Torne o trabalho visível. Providencie um quadro que mostre todo o
trabalho que precisa ser feito, o que está sendo feito e o que já foi
realizado. Todo mundo deve vê-lo e atualizá-lo todo dia.
Felicidade é autonomia, domínio e propósito. Todo mundo quer
controlar seu próprio destino, melhorar naquilo que faz e servir a um
propósito maior.
Estoure a bolha da felicidade. Não fique feliz a ponto de acreditar
em suas próprias mentiras. Certifique-se de que a felicidade seja
medida em relação ao desempenho. Se houver uma desconexão,
prepare-se para agir. A complacência é inimiga do sucesso.
CAPÍTULO 8

Prioridades

Conheci Scott Maxwell no restaurante Johnny’s Luncheonette do


Newton Center há alguns anos. Já falei sobre ele neste livro. É o fundador
da OpenView Venture Partners e foi quem descobriu que trabalhar mais
horas resulta em mais trabalho do que produção. Há oito anos trabalho
com a OpenView e algumas de suas empresas, e vimos aumentos
significativos na produtividade de todas elas. Mas o objetivo do Scrum não
é apenas fazer as equipes trabalharem mais rápido. Trata-se de impulsionar
o impacto, que, no caso do setor de capital de risco, assume uma forma
simples: receita. Se uma empresa não estiver ganhando dinheiro, você não
tem um empreendimento bem-sucedido; tem um hobby.
Não consigo nem contar quantas vezes vi empresas com grandes ideias
e um produto muito legal – algo que deixa todo mundo animado, que
parece preencher um nicho de mercado, que deve ser bem-sucedido. É tão
legal. Mas, apesar de doses cavalares de imaginação, inspiração e trabalho
duro, as pessoas que fazem o produto nunca conseguem descobrir um jeito
de ganhar dinheiro com ele.
Qual é a diferença entre uma Pets.com e uma Zappos? As duas viram
um segmento de mercado no qual as pessoas gastam bilhões de dólares por
ano. As duas descobriram uma maneira de entregar produtos com mais
facilidade e menos custo on-line. Uma se tornou um símbolo do excesso
de empresas na internet e do desperdício de muito dinheiro; a outra vale
mais de um bilhão de dólares. Ambas tinham visão. O que a Pets.com não
tinha era um senso de prioridades. Eles não sabiam o que fazer a cada
momento.
Gosto de mostrar este diagrama de Venn:

O DONO DO PRODUTO DEVE EQUILIBRAR SEUS VÁRIOS


ATRIBUTOS

Toda empresa precisa pensar nesse diagrama. Se se concentrar apenas


no que pode realizar, talvez acabe fazendo algo que ninguém quer de
verdade, mesmo que você ame aquilo. Se se concentrar apenas no que
pode vender, talvez prometa um produto que não consegue desenvolver.
Se só produzir o que tem potencial de vendas, mas não amar o produto,
acabará trabalhando duro para fazer algo medíocre. Mas no centro do
diagrama, naquela área perfeita, existe uma visão baseada na realidade e
que pode de fato se tornar algo excelente. Neste capítulo, vou mostrar
como você pode chegar lá. Os capítulos anteriores se concentraram em
como trabalhar mais rápido e melhor. Este capítulo é sobre como fazer o
“mais rápido e melhor” trabalhar para você – como alcançar a excelência.
Scott Maxwell diz que o verdadeiro poder do Scrum está na lista de
coisas a fazer definida, priorizada e estimada de acordo com o escopo das
tarefas. É por isso que ele implementou o método no seu grupo de capital
de risco e que o considera uma vantagem competitiva essencial.
A lista de tarefas: o que fazer e quando
O primeiro passo quando se está implementando o Scrum é criar uma
lista de tarefas, que também podemos chamar de backlog. Ela pode ter
centenas de itens ou conter apenas uns poucos elementos nos quais você
precisa trabalhar primeiro. Claro, é preciso ter uma ideia clara do que quer
ao fim do trabalho. Pode ser um produto, um casamento, um serviço, uma
nova vacina ou uma casa pintada. Não importa qual seja o seu objetivo.
Quando tiver um projeto, precisa considerar o que será necessário para que
ele se concretize.
Há uma empresa com a qual venho trabalhando que produz sistemas de
automação para edifícios – aquecimento, refrigeração, elétrica,
encanamento, tudo o que possa imaginar. Um dos novos produtos é um
sistema de automação residencial. Eles estão desenvolvendo um programa
que controla todos os aspectos da sua casa – abrir a porta da frente,
controlar seus gastos com aquecimento, acender as luzes –, tudo isso a
partir de seu smartphone. Então, o pessoal da empresa se reuniu e escreveu
uma lista de tudo o que seria necessário para concretizar esse projeto:
interruptores, controladores, interfaces, sensores, protocolos de
comunicação etc. Eles não descreveram as regras e as peças específicas,
mas sim todas as “histórias” que seriam necessárias.
Então, escreveram coisas como: “Como proprietário de uma casa,
quero ser capaz de ver quem está na minha porta, para que eu possa abri-la
apenas para as pessoas que quero que entrem.” Pensaram em histórias
sobre como abrir o portão da garagem, ligar o aquecimento, controlar as
lâmpadas. Continuaram escrevendo essas narrativas até que tivessem uma
lista de tudo o que achavam que seu sistema precisaria fazer para ser um
produto atraente.
No fim das contas, a lista tinha centenas de itens. Trata-se de um
sistema grande e complicado. A ideia do backlog é conter tudo o que pode
ser incluído no produto. Na realidade, você não vai desenvolver tudo, mas
é bom ter uma lista de tudo o que poderia haver nessa visão de produto.
Porém, é crucial o que você decide realizar primeiro. Esta é a pergunta
que deve ser feita: quais são os itens que têm o maior impacto sobre o
negócio, que são mais importantes para o cliente, que podem gerar mais
dinheiro e que são mais fáceis de concretizar? Você precisa ter em mente
que há um monte de itens da lista que nunca serão postos em prática. O
ideal é trabalhar primeiro nas tarefas que agregam mais valor e trazem
menos riscos. Com o desenvolvimento e a entrega graduais do Scrum, o
objetivo é começar com os elementos que vão gerar receita imediatamente,
de forma a “eliminar os riscos” do projeto. E fazer isso também em relação
às funcionalidades do produto. Você precisa entregar valor aos seus
clientes o mais rápido possível. Você deve ter algo pronto, na coluna
“Feito” – algo que possa mostrar. Pode ser uma pequena parte do projeto
maior, mas deve estar comprovadamente pronta. Se está pintando uma
casa, talvez o primeiro item a ser feito seja a sala de estar.
No desenvolvimento de produto, há uma regra simples que tem se
provado verdadeira repetidas vezes. Já falei sobre ela: 80% do valor está
em 20% das funcionalidades. Pense nisso por um segundo. Em qualquer
coisa que você compre, a maior parte do valor – a maior parte daquilo que
as pessoas de fato querem – se concentra em apenas um quinto do que foi
desenvolvido. No caso da empresa de que estou falando, quando o pessoal
olhou para a enorme lista de itens que poderiam ser incluídos em seu
sistema de automação residencial, todos sabiam – sabiam – que os clientes
só queriam realmente 20% deles. O truque do Scrum é determinar como
desenvolver esses 20% primeiro. No desenvolvimento de produto
tradicional, as equipes não sabem quais são esses 20% até entregarem
tudo. Isso significa que 80% do esforço delas é desperdício. E você sabe o
que penso sobre o desperdício.
E se você pudesse começar a desenvolver seus produtos cinco vezes
mais rápido do que a concorrência, com cinco vezes mais valor? Esse é um
bom negócio.
Então, os funcionários da empresa de automação tinham uma enorme
lista de funcionalidades e se perguntaram: “O que faremos amanhã? O que
é mais importante para o cliente? Como podemos entregar valor a ele mais
rápido do que qualquer concorrente?” Como diz Scott Maxwell, o difícil
não é descobrir o que se quer realizar; é descobrir o que se pode realizar.
Isso serve para a construção de uma casa ou para a fabricação de um carro,
para a escrita de um livro ou para o desenvolvimento de um videogame,
para combater o crime ou fazer uma faxina. Descubra em que ponto pode
entregar mais valor com menos esforço e faça isso de imediato. Em
seguida, identifique o próximo item mais valioso, e assim por diante.
Quando menos perceber, você terá criado ou entregado algo com
resultados demonstráveis, reais. O segredo é priorizar o trabalho.
Como fazer isso? Bem, primeiro você precisa de alguém que consiga
descobrir qual é a visão e em quais itens o valor se concentra. No Scrum,
chamamos essa pessoa de Product Owner.
O Product Owner
Existem apenas três funções no Scrum. Ou você é parte da equipe e
realiza o trabalho, ou é um Scrum Master e ajuda a equipe a determinar
como realizar o trabalho de uma maneira melhor, ou você é um Product
Owner. Tudo isso está descrito no apêndice. O Product Owner decide qual
deve ser o trabalho. Essa pessoa controla o backlog, o que é incluído nele,
e, mais importante, como ele é ordenado.
Quando comecei a primeira equipe Scrum, em 1993, não havia um
Product Owner. Eu fazia parte da equipe de liderança e tinha um monte de
outras responsabilidades além de definir o que a equipe deveria fazer em
cada sprint. Exercia funções de gestão e de marketing, lidava com clientes
e bolava estratégias. Nesse primeiro sprint, percebi que poderia lidar com
o backlog. Eu só precisava me certificar de que tinha “histórias” e recursos
suficientes para a equipe trabalhar durante o sprint seguinte. O problema
foi que, após o segundo sprint, introduzimos a reunião diária. A velocidade
aumentou 400% no sprint depois desse, e a equipe concluiu em uma
semana o que pensamos que demoraria um mês. Não havia mais nenhum
item na lista! Pensei que teria um mês para criar mais “histórias”. Está
certo que esse é um ótimo problema para se ter, mas ele precisava ser
resolvido. Então, pensei nesse papel de Product Owner e em quais
qualidades alguém precisaria ter para executá-lo corretamente.
Minha inspiração para essa função veio do engenheiro-chefe da
Toyota. Um engenheiro-chefe da Toyota é responsável por uma linha de
produtos inteira, como o Corolla ou o Camry. Para fazer isso, ele precisa
aproveitar os talentos de grupos especializados na engenharia do motor, do
chassi, da elétrica etc. O engenheiro-chefe precisa de todos esses grupos
para montar uma equipe multifuncional capaz de criar um carro. Fora da
Toyota, todo mundo pensa nesses lendários engenheiros-chefes (ou
Shusas, como eram chamados originalmente) como líderes todo-poderosos
do “Sistema Toyota”. E, de certo modo, é isso o que eles são. Mas eles não
têm autoridade. Ninguém se reporta a eles. Em vez disso, eles se reportam
a suas próprias equipes. As pessoas podem dizer aos engenheiros-chefes
que eles estão errados, e eles precisam ter certeza de que estão certos. Eles
não fazem avaliações de desempenho nem dão promoções ou aumentos.
Mas decidem sobre a visão do carro e sobre como ele será produzido – à
base de persuasão, não coerção.
Essa é a ideia que eu queria incorporar ao Scrum. John Shook, do Lean
Enterprise Institute, descreveu o papel do engenheiro-chefe citando o
manual de liderança do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos:

A responsabilidade de um indivíduo para com a liderança não


depende de autoridade. [...] o pressuposto profundamente enraizado
de que autoridade deve ser igual a responsabilidade é a fonte de
muitos males organizacionais. Acredito que o mau entendimento
dessa questão é excessivo, problemático e é tão infiltrado em nossa
consciência que nós nem sequer o percebemos.1

Ao refletir sobre o tempo que passei em West Point e no Vietnã,


cheguei à conclusão de que liderança não tem nada a ver com autoridade.
Pelo contrário, tem a ver com – entre outras coisas – possuir conhecimento
e ser um líder-servidor. O engenheiro-chefe não pode simplesmente dizer
que algo precisa ser feito de determinada maneira. Ele precisa convencer,
persuadir e demonstrar que o seu caminho é o correto, o melhor. Em geral,
alguém precisa de trinta anos de experiência para preencher essa função.
Eu queria isso no Scrum, mas também tenho consciência de que
pouquíssimas pessoas têm esse nível de habilidade e experiência. Então,
dividi a função em duas, dando o como ao Scrum Master e o quê ao
Product Owner.
Mesmo no começo do Scrum, eu sabia que precisava de alguém que
fosse profundamente ligado ao cliente. O Product Owner tinha de ser
capaz de passar o feedback do cliente para a equipe a cada sprint. Ele
precisava gastar metade do seu tempo falando com as pessoas que
compram o produto (recebendo suas opiniões sobre a entrega parcial mais
recente e como ela tinha agregado valor) e a outra metade com a equipe
criando o backlog (mostrando do que os clientes tinham gostado ou não).
Lembre-se: o “cliente” pode ser o consumidor em geral, um grande
banco, seu marido ou alguém que precisa de vacina contra o rotavírus e
depende de você para que ela seja disponibilizada. O cliente é quem
receberá o valor do que é feito.
Mas eu não queria um gerente. Queria alguém em quem a equipe
acreditasse e confiasse quando ordenasse o backlog de acordo com as
prioridades. Chamei o melhor profissional em marketing de produto – não
em engenharia, mas sim em marketing. E foi assim que Don Rodner se
tornou o primeiro Product Owner. Ele conhecia aquilo que estávamos
produzindo não de um ponto de vista técnico – embora entendesse disso o
suficiente para se comunicar com os desenvolvedores –, mas, sim de um
ponto de vista do cliente. Do que precisavam as pessoas que estavam de
fato usando o produto? Quando for escolher um Product Owner, contrate
alguém que consiga se pôr no lugar de quem receberá o valor do que está
produzindo. Como diz um amigo meu: “Minha esposa é o Product Owner
perfeito; ela sabe o que quer. Eu só tenho de implementá-lo.”
O Product Owner não precisa apenas de uma gama de habilidades mais
ampla do que o Scrum Master. Essas habilidades também precisam ser
postas em prática de acordo com um conjunto de padrões diferentes. O
Scrum Master e a equipe são responsáveis pela velocidade do trabalho e
pelo quanto podem aumentá-la. O Product Owner é responsável por
traduzir a produtividade da equipe em valor.
Ao longo dos anos, resumi as características essenciais de um Product
Owner a quatro pontos:
Um, o Product Owner precisa ter conhecimento sobre o campo. Isso
significa duas coisas: ele deve entender o processo que a equipe está
executando bem o suficiente para saber o que pode ser realizado e, tão
importante quanto isso, o que não pode ser feito. Mas também tem de
compreender o o quê bem o suficiente para saber como traduzir o que pode
ser concretizado em valor real e significativo. Tanto faz se o produto é um
sistema de computador que ajuda o FBI a capturar terroristas ou um
método de ensino que melhora o desempenho dos alunos de escolas
públicas. O Product Owner precisa conhecer o mercado bem o suficiente
para saber o que vai fazer diferença.
Dois, ele precisa ter o poder de tomar decisões. Assim como a gerência
não deve interferir na equipe, ele deve receber carta branca para tomar
decisões sobre qual será a visão do produto e o que precisa ser feito para
chegar lá. Isso é muito importante, porque ele fica sob pressão de um
monte de stakeholders diferentes, tanto internos quanto externos, e tem de
ser capaz de aguentar firme. O Product Owner deve se responsabilizar
pelos resultados, mas deixar que a equipe tome suas próprias decisões.
Três, ele tem de estar disponível para a equipe, para explicar o que
precisa ser feito e por quê. Ele é, em última instância, responsável pelo
backlog, assim é necessário que haja um diálogo constante com a equipe.
Muitas vezes a experiência do grupo indica as decisões que o Product
Owner precisa tomar. O Product Owner tem de ser confiável, coerente e
disponível. Sem acesso a ele, a equipe não vai saber o que fazer, ou em
que ordem executar as tarefas. Os integrantes do grupo contam com ele
para “a visão” e também para aplicar a inteligência de mercado à
importância das tarefas. Se ele não estiver disponível para a equipe, o
processo inteiro pode desmoronar. Essa é uma das razões pelas quais eu
raramente recomendo que CEOs e outros executivos de alto escalão sejam
Product Owners. Eles não têm o tempo de que a equipe necessita.
Quatro, ele precisa ser responsável pelo valor. No mundo dos
negócios, o que importa é a receita. Avalio um Product Owner pela receita
que ele gera para cada “ponto” de esforço. Se a equipe produz 40 pontos
de trabalho a cada semana, devo medir a receita gerada por ponto. Mas
minha medida também poderia ser o sucesso do grupo. Conheço uma
equipe das forças policiais cuja medida de valor era o número de prisões
de criminosos procurados realizadas a cada semana. Conheço igrejas que
usam o Scrum e medem seu sucesso pela qualidade dos serviços prestados
à sua congregação e pelo crescimento dela. O essencial é decidir qual é a
medida de valor e dar ao Product Owner a responsabilidade de entregá-lo
em quantidades cada vez maiores. No Scrum, é fácil observar esse tipo de
métrica por causa da incrível transparência do método.
Mas isso é trabalho demais para uma pessoa só. É por isso que, em
grandes projetos, em geral há uma equipe de Product Owners para atender
a todas as necessidades. Entrarei em detalhes mais para a frente. Mas,
primeiro, como uma maneira de visualizar o que o Product Owner precisa
fazer, quero que você se imagine no cockpit de uma aeronave F-86 Sabre
prestes a entrar em uma batalha acima da península coreana.
Observar, Orientar, Decidir, Agir
O combate aéreo durante a Guerra da Coreia ocorreu principalmente
entre aeronaves F-86 Sabre americanas e MiG-15 de fabricação russa. O
MiG era mais rápido, mais ágil, tinha uma relação empuxo-peso melhor,
além de ser, no geral, uma aeronave superior. Teoricamente, os MiG-15
deveriam ter exterminado os pilotos americanos. Em vez disso, eles foram
derrubados a uma proporção de 10 para 1. A tentativa de descobrir como
era possível que isso tivesse acontecido moldou o futuro das guerras e
também se tornou crucial no desenvolvimento do Scrum.
John Boyd foi o maior piloto de caça que já existiu, apesar de nunca ter
abatido um inimigo em combate. Ele voou em apenas 22 missões sobre a
Coreia antes do armistício, e naquela época você precisava voar trinta
missões como ala antes de assumir a liderança como um “atirador”. Foi
depois da guerra, ensinando na Escola de Armamentos da Força Aérea dos
Estados Unidos na base aérea de Nellis, no sul do estado de Nevada, que
ele se destacou. Em um sistema de forças armadas que valoriza o
revezamento frequente de pessoal, ele passou um total de seis anos como
instrutor na base aérea, algo sem precedentes.
Pilotos de caça não costumam ser muito humildes. No momento em
que chegam a Nellis, eles já são considerados os melhores pilotos da Força
Aérea americana, por isso exibem certa arrogância. Boyd tinha uma
maneira infalível de desmantelar o ego de um piloto, para que o aluno de
fato aprendesse o que ele tinha a ensinar. Ele convidava seus alunos para
voar e os mandava para a posição “seis”, logo atrás dele – a melhor
posição no combate aéreo. Em seguida, mandava o aluno atacar. Sem
exceção, dentro de quarenta segundos Boyd se punha em posição de dar
um tiro mortal na traseira do novato, ao mesmo tempo que gritava
“Armas! Armas! Armas!” pelo rádio. Isso foi antes do advento dos lasers,
dos computadores e das armas simuladas. Era esse grito que dizia ao aluno
que ele estava morto. O sucesso infalível de Boyd lhe rendeu um apelido:
“Forty Second” Boyd.*
Sua outra alcunha, “Mad Major”, ou “Major Maluco”, foi um apelido
que ele ganhou por causa de suas... declarações enérgicas. Elas eram feitas
quase sempre com o rosto a menos de dez centímetros de quem o estava
contradizendo, enquanto ele cutucava o peito do adversário com dois
dedos. De novo sem exceção, entre esses dois dedos havia um charuto
Dutch Masters aceso. Reza a lenda que, de vez em quando –
acidentalmente, tenho certeza –, ele punha fogo na gravata do adversário.
Nessas ocasiões, não demonstrava nenhum arrependimento. Boyd usava
qualquer arma de seu arsenal para ganhar uma discussão.
Boyd tinha a capacidade de enxergar o espaço de batalha por inteiro.
Como contou uma vez:

Eu me via em uma grande bola – dentro dela – e conseguia visualizar


todas as ações que ocorriam em volta dela. Enquanto isso, claro, eu
estaria o tempo todo manobrando. [...] Eu podia visualizar a partir de
dois pontos de referência. Quando estava em combate aéreo, eu
conseguia me ver como um observador imparcial olhando para mim
mesmo, além de todos ao meu redor.2

Esse tipo de consciência, a capacidade de ver um pedaço inteiro do céu


e assistir enquanto os eventos se desdobram, influenciou as teorias
militares de Boyd e, por fim, redefiniu a ação dos Estados Unidos em
guerras.
Quando deixou a Escola de Armamento, Boyd decidiu estudar
engenharia. Ao fazê-lo, criou um modelo de desempenho de aeronaves que
descrevia o combate aéreo em termos de relações energéticas. A teoria de
Energia-Manobrabilidade (EM) leva em consideração as energias cinética
e potencial de um avião em qualquer situação – sua altitude, velocidade e
direção – e a rapidez com que ele pode alterar qualquer uma dessas
variáveis. Por fim, a teoria foi inserida na forma como a maioria dos caças
são projetados, levando ao desenvolvimento do F-15 e do F-16, as
aeronaves que dominaram essa categoria nos últimos quarenta anos.
O problema era que, de acordo com a teoria de Boyd, o MiG-15
deveria ter arrasado o F-86 Sabre. Não fazia sentido. Boyd, segundo a
biografia de Robert Coram, passou dias tentando desvendar o porquê
disso. Ele tinha certeza de que sua teoria estava certa, mas qual seria a
razão para a taxa de destruição de 10 para 1 a favor dos pilotos
americanos? Treinamento? Isso só explicava parte do motivo. Tática?
Talvez, porém mais uma vez esse fator não conduziria a um resultado tão
desigual. E então ele teve um estalo. Os pilotos americanos enxergavam
melhor e agiam mais rápido. Não por causa de qualquer qualidade
inerente, mas através de algumas escolhas simples de design. O Sabre
tinha a capota em forma de bolha, enquanto a do MiG tinha vários painéis
de vidro e suportes bloqueando a visão do piloto. O F-86 também tinha
controles de voo hidráulicos, enquanto o MiG só tinha controles com
assistência hidráulica. Os pilotos de MiG-15 eram conhecidos por levantar
peso para ganhar força na parte superior do corpo e assim poder manobrar
a aeronave.
Como resultado, os pilotos americanos conseguiam ver os MiGs
primeiro e, em seguida, o que era crucial, conseguiam agir com base nessa
informação mais rápido do que os pilotos chineses e norte-coreanos. A
batalha não foi decidida apenas pelo que a máquina era capaz de fazer,
mas pela rapidez com que a observação era traduzida em ação. O MiG
realizava uma ação, o piloto americano respondia e, enquanto o piloto do
MiG tentava reagir, o piloto americano conseguia realizar uma nova ação.
Ele reagia a cada novo alinhamento do MiG tão mais rápido que o avião
com tecnologia mais avançada tornava-se um alvo fácil.
O mesmo fenômeno ocorreu no Vietnã quando eu estava lá. Àquela
altura, aeronaves diferentes eram utilizadas, o MiG-21 e o F-4. No entanto,
mais uma vez, a visibilidade superior do F-4 superou o poder de manobra
do avião de fabricação soviética. Como Boyd diria, sua mais famosa
inovação pôs os pilotos “dentro do ciclo de decisões do inimigo”.
Essa percepção se tornou fundamental para a forma como as guerras
são travadas. E foi exatamente para isto que formatei o Scrum: para
permitir que um Product Owner tome decisões rapidamente, com base no
feedback em tempo real. Ao receber comentários constantes do cliente –
seja ele a pessoa que clicará no botão “comprar” na Amazon, o fiel de uma
igreja, a criança em uma sala de aula ou alguém experimentando um
vestido –, você consegue fazer ajustes constantes na estratégia e atingir o
sucesso mais rápido.
A ideia atende pelo nome um tanto ridículo de ciclo OODA. É a sigla
para Observar, Orientar, Decidir e Agir. Embora possa soar engraçada, ela
é mortal na guerra e nos negócios. Invadir o processo de tomada de
decisão de alguém deixa a pessoa confusa e em dúvida. Ela acaba reagindo
de forma exagerada ou insuficiente. Como Boyd explicou em um briefing
para outros oficiais: “Quem consegue lidar com a taxa de mudanças mais
rápida sobrevive.”3 Consulte a tabela do ciclo OODA na página 175.
“Observar” é um tanto óbvio: significa ver claramente a situação
enquanto ela se desenrola. No entanto, isso não é tão simples quanto
parece. Boyd descreveu isso como se mover para fora de si mesmo, de
modo a enxergar a situação por completo, não apenas de seu próprio ponto
de vista.
“Orientar” não tem a ver apenas com o lugar onde você está, mas
também com os resultados que é capaz de visualizar – o cardápio de
alternativas que você cria para si próprio. De acordo com Boyd, herança
genética, tradições culturais, experiências anteriores e, claro, os
desdobramentos das circunstâncias influenciam nessa criação de
alternativas. Assim, a orientação reflete não apenas como você vê o mundo
e seu lugar nele, mas que mundo você é capaz de visualizar.
A combinação de observação e orientação leva a uma “decisão”, que
conduz a uma “ação”. Então o ciclo recomeça, com a observação dos
resultados de suas ações e das ações de seu oponente, ou, no mundo dos
negócios, a observação da reação do mercado.
O Scrum, por meio da entrega de um incremento utilizável, dá ao
Product Owner a capacidade de verificar quanto valor esse incremento
gera, como as pessoas reagem a ele. Em seguida, com base nessa
informação, ele pode mudar o que a equipe vai realizar no próximo sprint.
Isso cria um ciclo de feedback constante que acelera a inovação e a
adaptação, permitindo que o Product Owner meça quanto valor é entregue.
(No mundo dos negócios, a medida é o dinheiro. Se estivesse pintando o
interior de uma casa, a medida poderia ser o número de cômodos
concluídos.) O Product Owner, portanto, tem a capacidade de se adaptar de
imediato a um mundo em constante mudança.

Ciclo OODA

Pode ser difícil imaginar versões de incrementos de produtos ou


projetos que não parecem, a princípio, ter qualquer valor até que estejam
completos. Por exemplo, como fazer entregas parciais de um carro? Ou de
um videogame de centenas de milhões de dólares? O segredo é olhar para
quais partes realmente têm valor – valor suficiente para que obtenha
feedback de verdade sobre elas e reaja em tempo real.
Vamos usar os carros como exemplo. A Toyota desenvolveu o Prius,
desde o conceito até o lançamento, em quinze meses, mais rápido do que
qualquer entrega que a empresa já tinha feito. Apesar de a equipe que
projetou e fabricou o Prius não ter começado a vender o carro antes de ele
ser concluído, ela fez protótipos do veículo para que o engenheiro-chefe
pudesse testá-lo e ver se a equipe estava indo na direção certa. Esse tipo de
montagem rápida de protótipos – fabricar veículos funcionais antes do
lançamento e, em seguida, melhorar esses protótipos de maneira gradual
até obter o produto que se deseja vender aos consumidores – pode
conduzir a mudanças incrivelmente rápidas. O segredo é não ter um design
engessado no início, mas, em vez disso, fazer um protótipo funcional e ver
o que pode ser aprimorado. E então, depois de realizar os aprimoramentos,
fazer o protótipo seguinte e melhorá-lo. A ideia é que, quanto mais cedo
receber um feedback real, mais rápido você conseguirá fabricar um carro
melhor.
A Equipe Wikispeed, sobre a qual escrevi no Capítulo 4, produz
protótipos completos de seu carro a cada semana. E eles vendem esses
protótipos. Essas transações não ocorrem em um mercado de massa – a
Wikispeed ainda não está pronta para isso –, mas existem compradores
dispostos a pagar 25 mil dólares por esses primeiros protótipos. Quando
estiver pensando em fazer um produto, não presuma que só pode entregar
algo de valor no fim. Em vez disso, tente pensar no produto mínimo
viável, o MVP. “O que é o mínimo absoluto que eu posso produzir e, ainda
assim, entregar algum valor para o cliente?”
Os videogames são outro bom exemplo. Hoje em dia, cada vez mais
desenvolvedores estão permitindo que consumidores paguem por um
acesso “alpha”, logo no início do processo. Dessa forma, os produtores
obtêm um feedback de seus fãs mais dedicados antes que o jogo funcione
de fato. Isso permite que eles verifiquem como as pessoas reagem de
verdade, em vez de tentar adivinhar como elas vão reagir.
Dependendo do setor em que você trabalha, ou da organização que
comanda, pode ser difícil se convencer a adotar essa ideia de versões
incrementais. Uma alternativa, se não puder apresentar algo a um cliente
externo, é identificar um cliente interno – por exemplo, o Product Owner –
que possa atuar no lugar do público. Mostre a seu cliente interno qualquer
coisa que gere feedback útil: partes de um plano de expansão imobiliária,
um projeto de melhoria de uma fábrica, uma reformulação de um sistema
de freio, uma campanha de trabalho voluntário etc. A ideia é criar uma
oportunidade para que você inspecione o produto e possa adaptá-lo. Uma
empresa ou organização que não consegue reagir a mudanças das
condições, dos concorrentes ou de gostos está em apuros.
Boyd diz o seguinte:

Queremos entrar no ritmo do outro, no espaço onde vamos conseguir


detê-lo. [...] Precisamos obter uma imagem ou um quadro mental, que
chamamos de orientação. Então temos de tomar uma decisão sobre o
que vamos fazer e, em seguida, implementar a decisão. [...] Em
seguida, olhamos para a ação [resultante], mais a nossa observação, e
acrescentamos novos dados, nova orientação, nova decisão, nova
ação, ad infinitum. [...] A orientação não é apenas um estado em que
você se encontra; é um processo. Você se orienta o tempo todo. [...]

Um mundinho pequeno e agradável em que nada muda [...] [criaturas


que vivem em um mundo assim são] dinossauros; elas vão morrer. O
crucial é não se tornar um dinossauro. Se estiver em uma condição de
equilíbrio, você está morto. [...] A mensagem subjacente é simples:
não há como fugir disso. [...] É assim que as coisas são, pessoal.4

É assim que as coisas são, pessoal. Como eu disse no Capítulo 1, você


tem uma decisão muito difícil pela frente: mudar ou morrer. Se não invadir
o ciclo decisório dos seus concorrentes, eles vão invadir o seu. Como disse
Boyd: “Quero dobrar meu adversário. [...] Então conseguirei deixá-lo
confuso e perturbado e farei com que ele fique paralisado.” Não sei você,
mas prefiro estar ao lado de quem faz isso do que ao lado do alvo.
Comece pelo começo
Então você tem um Product Owner que atualiza constantemente o
backlog, ordenando os itens a serem realizados e entregues. Se tiver
algumas centenas de itens, esse processo de ordenamento pode se tornar
bem complexo em pouco tempo. O essencial é descobrir como entregar o
máximo de valor o mais rápido possível. Pode haver milhões de maneiras
de organizar o backlog, mas a ideal é a entrega no período mais curto
possível daqueles 20% de funcionalidades que concentram 80% do valor.
É quase certo que sua primeira tentativa de fazer isso no primeiro sprint
não seja o caminho certo – mas ela será sua melhor escolha naquele
momento.
Mas isso é apenas a primeira tentativa. Após o primeiro sprint, depois
de ter concluído o ciclo OODA e entregado algum produto aos clientes,
você vai mudar a ordem da lista, percebendo que, na verdade, outra
organização é melhor.
Então você continua fazendo isso, atualizando e revisando as
prioridades do backlog a cada sprint, tentando chegar à ordem que entrega
valor mais rápido. É provável que a ordem perfeita nunca seja alcançada,
mas você deve caminhar em direção a ela passo a passo, a cada sprint.
O mais importante é se lembrar de que a ordem está sempre em fluxo.
A ordem certa para uma semana não será a mesma na semana seguinte.
Seu ambiente terá mudado. Você terá aprendido coisas novas. Terá
descoberto que alguns itens são mais fáceis e outros, mais difíceis. Essa
mudança constante do ordenamento do backlog acontece em cada sprint. O
essencial é reconhecer a incerteza, aceitar que suas concepções atuais de
ordem e valor só são relevantes naquele momento específico. Elas
mudarão de novo. E de novo. E de novo.
Um mau hábito que uma empresa pode adquirir, por causa da constante
mudança das necessidades do mercado e porque os gerentes não sabem
exatamente onde fica a maior parte do valor, é priorizar tudo. Tudo é
prioridade máxima. Devemos ter em mente o seguinte ditado de Frederico
II da Prússia, que mais tarde se tornaria conhecido como Frederico, o
Grande: “Aquele que defende tudo acaba não defendendo nada.” Se não
concentrar tanto os seus recursos quanto as suas energias mentais, você os
diminuirá tanto que eles se tornarão irrelevantes.
Há alguns anos comemorei meu aniversário de 70 anos na Normandia,
na França. Fui ver a famosa praia onde meu pai desembarcou durante a
invasão do Dia D. Na maré baixa, a praia de Omaha parece se inclinar ao
longo de quilômetros antes de encontrar o mar – uma faixa de areia
aparentemente infinita. Correr por aquela ladeira extensa e molhada,
encarando as armas alemãs, deve ter exigido uma coragem que não dá nem
para imaginar. Andar pelas sepulturas de milhares de pessoas que
morreram naquele dia exige silêncio e respeito. Mas, quando comecei a ler
sobre as defesas alemãs, percebi que uma das razões pelas quais a invasão
americana foi bem-sucedida foi que os alemães esqueceram o conselho de
Frederico, o Grande. Eles ficaram tão confusos com as manobras dos
Aliados que acabaram espalhando suas forças ao longo de toda a costa da
França. Como resultado, os Aliados conseguiram isolar as unidades
alemãs, derrotando uma de cada vez. Os nazistas não definiram suas
prioridades de modo adequado e, felizmente, acabaram perdendo tudo.
Lançamento
Então, você tem as prioridades. Sabe onde estão os 80% de valor.
Quando o produto será lançado? É nesse ponto que o Scrum consegue
entregar valor radicalmente mais rápido. Sempre que fizer algo, o ideal é
dar o produto o mais rápido possível para quem irá de fato usá-lo. Faça
isso antes mesmo de concretizar os 20% das funcionalidades. Faça isso
com algo que proporcione, pelo menos, um pouquinho de valor. Chamo
isso de “produto mínimo viável”, ou MVP. Isso é o que você deve mostrar
ao público pela primeira vez. Qual deve ser o nível de eficácia do MVP?
Bem, ele deve funcionar de fato, embora, para alguém que esteja
trabalhando nele, possa parecer meio constrangedor. Você precisa entregar
esse produto ao público assim que possível! Dessa forma, receberá o
feedback de que precisa para alimentar o seu ciclo de decisão e definição
de prioridades. Trata-se da Versão 0.5. É uma câmera que tira fotos, mas
não consegue focar. É uma mobília de sala de jantar com apenas duas
cadeiras. É a distribuição de uma vacina para cinco das cem cidades que
está tentando ajudar. É algo quase ridiculamente incompleto.
Mas isso lhe dá feedback. Não dá para manejar a câmera direito porque
o botão do obturador está em um lugar bizarro. A madeira da cadeira não
combina com o material da mesa. Você acaba ofendendo os idosos da
cidade com uma gafe que poderia ter sido evitada com facilidade. Cometa
esses erros no início, com o mínimo de dano possível.
Então, quando fizer o lançamento oficial, ou der início a um grande
programa, você já terá feito os ajustes e descoberto o que as pessoas
valorizam de fato. No nosso exemplo da câmera, talvez os fotógrafos
tenham dito que um modo paisagem e uma ferramenta para compartilhar
fotos no Facebook têm valor igual. No entanto, quando começaram a usar
a câmera, eles nunca usavam o modo paisagem, mas sempre queriam
postar fotos no Facebook.
Isso permite que você desenvolva primeiro as características que os
clientes valorizam e lance o seu produto tendo feito apenas cerca de 20%
do trabalho. Você sabe que não é perfeito, mas está bem perto disso. Cada
hora gasta dando aquele polimento no produto é uma oportunidade perdida
de gerar valor.

CURVA DE VALOR — ENTREGA RADICALMENTE MAIS


RÁPIDA

O melhor desse processo é que ele é cíclico: simplesmente repita.


Quando receberem o seu produto, o seu serviço ou uma mudança em suas
vidas, as pessoas vão informar quais são os próximos itens mais valiosos.
Em seguida, desenvolva 20% deles e entregue de novo. E de novo.
Com esse processo de lançamentos incrementais, no período que
gastaria para criar metade das funcionalidades do seu produto ou projeto
inicial você consegue lançar 200% do valor, na metade do tempo. Esse é o
verdadeiro poder do Scrum. É assim que ele é capaz de realizar uma
mudança fundamental não apenas no modo como você trabalha, mas na
maneira como vive. Não se concentre em entregar uma lista inteira de
itens. Concentre-se em entregar o que tem mais valor, aquilo que as
pessoas realmente desejam ou de que precisam.

AUMENTANDO O VALOR – ENTREGA RADICALMENTE


MELHOR

Lembro-me de algumas histórias do Iraque ou do Afeganistão. Eram


mais ou menos assim: um pelotão americano chega a uma cidade, olha em
volta, e diz: “Essas pessoas estão criando galinhas. Vamos construir uma
fábrica de processamento de carne para elas.” Então, milhões de dólares
são gastos para construir uma fábrica da mais alta categoria. Ninguém leva
em conta que quase não há energia elétrica regular, ou que a maioria dos
habitantes da cidade é analfabeta e não pode ser facilmente treinada para
usar o equipamento. Então, alguém chega à cidade e pergunta aos
moradores: “O que de fato ajudaria vocês?”, ao que eles respondem:
“Sabe, seria ótimo ter uma passarela sobre o rio, assim a gente não
precisaria gastar metade do dia caminhando até a ponte mais próxima para
chegar ao mercado.” Essa passarela custa algumas centenas de dólares. Ela
é muito menos impressionante do que uma grande fábrica. Quando falar
com seus chefes em Washington sobre ela, não soará nada extraordinário.
Mas, para as pessoas daquela cidade, isso é infinitamente mais valioso do
que o edifício extravagante com as máquinas que, hoje em dia, estão lá
enferrujando.
Outro ponto interessante é que às vezes você termina antes do que
imaginava. Digamos que esteja produzindo um superdespertador de última
geração para a Despertadores Ltda. Você tem uma lista com dezenas de
funcionalidades: um relógio, um botão de soneca, um cronômetro, um
alarme bem alto, um rádio, um encaixe para iPhone, um GPS etc. Mas,
como um Product Owner experiente, prioriza o que as pessoas querem de
fato: um alarme fácil de programar, que toque alto o suficiente, um rádio e
um display que brilhe o bastante para ser visto quando o cômodo estiver
claro ou escuro. Quando sua equipe termina isso, você percebe que ela
criou o despertador mais elegante de todos os tempos. É o iPod dos
despertadores. É bonito e cumpre sua função muito, muito bem. Em vez de
fazer com que sua equipe trabalhe em funcionalidades adicionais, você
lança o relógio e começa a trabalhar no próximo projeto. A equipe pode
produzir mais valor fazendo outra coisa.
Dinheiro por nada e alterações de graça
No início deste livro, contei a história do projeto Sentinel do FBI. Você
deve lembrar: uma empresa terceirizada gastou centenas de milhões de
dólares no desenvolvimento de um software que não funcionava. Um dos
maiores motivos do excesso de custos nesse projeto – e em praticamente
qualquer contrato, seja para desenvolver software, fabricar aviões ou
construir edifícios – eram as taxas de alteração. Acumular taxas de
alteração é, na verdade, o modelo de negócio de um monte de fornecedores
do governo. Eles orçam um projeto por baixo, sabendo que vão lucrar por
causa de pedidos de alteração. Quando um contrato de um projeto com
duração de vários anos é elaborado, com todos os requisitos enunciados
naqueles lindos gráficos, é tentador dizer: “Bem, isso é tudo.” Então, o
fornecedor diz: “Concordo em fazer isso e apenas isso. Se você quiser
qualquer mudança, vai ter um custo.” Esse faturamento posterior se tornou
a fonte de tantas despesas que empresas e agências criaram conselhos de
controle de alterações. Do ponto de vista dos custos, faz sentido.
Limitando o número de mudanças, você limita o custo associado a elas.
O que eles não percebem é que estão criando um sistema que nega às
pessoas o que elas realmente querem. Ao tentar limitar os custos, eles
limitam a aprendizagem, a inovação e a criatividade. Se você começar um
projeto e perceber em pouco tempo que o valor real, aqueles 20%, não
reside nas funcionalidades que foram estabelecidas, mas sim em um
conjunto diferente de elementos que você descobriu durante o trabalho, o
gerenciamento de projetos tradicional é configurado para detê-lo. É
configurado para deter a entrega de valor mais rápida.
Além do mais, o esforço para “exercer controle firme” nem sequer
funciona! Mesmo com conselhos de controle de alterações tentando evitar
mudanças, a necessidade de realizá-las é tão grande que muitas vezes as
equipes passam por cima deles. Sem as alterações o projeto não teria valor
algum. Assim, a contragosto, os conselhos de controle de alterações
permitem essas mudanças, e o projeto acaba custando mais. E depois outra
alteração precisa ser feita. E, ops!, mais outra. E em pouco tempo o projeto
ultrapassa o orçamento em milhões de dólares e fica atrasado em um, dois
ou cinco anos.
Foi por isso que pensei na ideia de “alterações gratuitas”. Em um
contrato de preço fixo padrão, diga que as alterações são de graça. Liste
todas as funcionalidades que espera. Por exemplo, se estiver fabricando
um tanque, quer que ele alcance uma velocidade de 110 km/h e dispare dez
séries de tiros por minuto, tenha capacidade para quatro pessoas, ar-
condicionado etc. – tudo aquilo que acha necessário em um tanque. O
construtor olha para essa descrição e diz: “Hmm, construir esse motor,
acho que isso equivale a cem pontos; o mecanismo de carregamento,
digamos que são cinquenta pontos; o assento, cinco pontos.” E por aí vai,
até o fim da lista. Por fim, há determinado número de pontos para cada
recurso. Então, a cada sprint, o cliente, que nesse cenário é obrigado por
contrato a trabalhar em estreita colaboração com o Product Owner, pode
mudar as prioridades. Todos os itens do backlog podem ser reordenados. E
novos recursos? Sem problema: basta abdicar de outras funcionalidades
com o mesmo tamanho. Ah, você quer um sistema guiado a laser agora?
Bem, isso equivale a cinquenta pontos de trabalho – para compensar esse
acréscimo, vamos deixar de lado cinquenta pontos de funcionalidades de
baixa prioridade, que estão nas últimas posições do backlog.
Algumas empresas têm levado a um novo nível a ideia de entregar
apenas funcionalidades de alto valor para o cliente. Há alguns anos, ouvi
falar sobre um desenvolvedor Scrum que assinou um contrato de dez
milhões de dólares para fornecer um software para uma grande
construtora. As duas partes concordaram com um prazo de vinte meses.
Mas a empresa Scrum inseriu uma cláusula no contrato. A construtora
poderia finalizar o projeto a qualquer momento – só teria de pagar 20% do
valor do restante do contrato. Basicamente, se o software funcionasse da
maneira que o cliente queria, ele poderia fazer com que a empresa Scrum
parasse o trabalho.
O desenvolvedor de software começou os sprints, que tinham duração
de um mês. Após o primeiro mês, a construtora redirecionou uma parte do
esforço do desenvolvedor para obter mais valor. No segundo mês, ocorreu
o mesmo. Após o terceiro mês, o cliente rescindiu o contrato, pegou o
software e começou a utilizá-lo. Ele já tinha obtido o valor de que
precisava.
Vamos fazer umas contas para ver como todo mundo saiu ganhando.
Nos primeiros três meses do contrato, o cliente pagou 1,5 milhão de
dólares para a firma Scrum. Encerrar o contrato mais cedo do que o
previsto obrigava a construtora a pagar 20% dos 8,5 milhões restantes, o
que dá 1,7 milhão. Ela pagou 3,2 milhões por um software que pensava
que custaria 10 milhões e recebeu o produto dezessete meses mais cedo do
que o planejado.
E não foi apenas a construtora que saiu ganhando. A empresa Scrum
assinou o contrato esperando uma margem de lucro de 15%. Então, gastou
1,3 milhão no desenvolvimento durante os primeiros três meses. Mas
recebeu 3,2 milhões. Sua margem de lucro passou de 15% para 60%. Isso
é um aumento de 400% no lucro. E, nesse momento, com seus
desenvolvedores ociosos, a empresa poderia trabalhar em outros projetos.
Ótimo negócio.
Isso foi possível por causa da maneira como o trabalho é organizado no
Scrum. Ao se autogerir como uma unidade multifuncional, a equipe foi
capaz de acelerar rapidamente, entregando mais valor em menos tempo.
Ao fim de cada sprint, um incremento do produto estava “Feito”.
Funcionava. Podia ser implementado de imediato. A cada sprint, o Product
Owner foi capaz de reordenar as prioridades do backlog com base no
feedback do cliente. E, quando a construtora considerou que valor
suficiente havia sido criado, todo mundo parou de trabalhar. Dessa forma,
o Scrum atende aos interesses de todos: da equipe, do Scrum Master, do
Product Owner, do cliente e da empresa. Todos trabalham para o mesmo
objetivo e com a mesma visão: oferecer valor real o mais rápido possível.
Adoro situações em que todo mundo sai ganhando, e ganhar mais dinheiro
oferecendo produtos melhores a um preço inferior me parece um ótimo
negócio.
Risco
O gerenciamento de risco está no cerne de qualquer empreendimento
de sucesso. O Scrum permite que você reduza os riscos de fracasso. Os
três tipos mais comuns são o risco de mercado, o risco técnico e o risco
financeiro. Ou, para dizer o mesmo de outra forma: As pessoas querem o
que estamos produzindo? Podemos de fato produzi-lo? Vamos conseguir
vender o que produzimos?
Já escrevi muito sobre o risco de mercado. O Scrum minimiza isso ao
enfatizar a entrega de incrementos. Ele permite que você coloque o cliente
em contato com o produto com mais rapidez. Através da obtenção de
feedback com antecedência e com frequência, você pode fazer pequenas
alterações na hora, em vez de ser forçado a fazer grandes mudanças depois
de investir milhões de dólares e só aí perceber que o que está produzindo
não é aquilo que o cliente quer. Muitas vezes, é o que o cliente disse que
queria no início do processo, mas, na realidade, as pessoas não sabem o
que querem de fato até experimentar o produto. No mundo dos negócios,
há muitos conselhos que têm a ver com falhar o mais rápido possível.
Prefiro pensar em entregar rápido.
O risco técnico é interessante. A questão de saber se é efetivamente
possível realizar o que o cliente quer é um assunto delicado,
principalmente se você estiver produzindo algo físico, concreto, o que
exige plantas, ferramentas e um investimento inicial.
Lembra-se da empresa com o sistema de automação residencial? Eles
abordaram o projeto realizando o que é chamado de “esquemas
concorrentes experimentais”. Traduzindo: isso significa “fabricar alguns
protótipos diferentes para ver qual deles funciona melhor antes de realizar
a produção completa”. Por exemplo, eles sabiam que precisavam de uma
câmera para que os clientes vissem quem estava batendo à porta antes de
abri-la para o visitante. A parte mais cara da câmera, e a que exigia mais
tempo, era a lente. Será que ela deveria ser de plástico? Vidro? Cristal?
Qual material resiste a qualquer tipo de condições climáticas? Qual
arranha com facilidade? Qual produz a melhor imagem? Qual é o custo de
fabricação de cada tipo de material?
Em vez de tomar a decisão logo de cara e passar para a fabricação
definitiva, a empresa produziu três lentes funcionais e as comparou. Uma
vez que só estava tentando resolver a questão da lente e precisava fazer
isso primeiro por causa do longo tempo de fabricação, a equipe testou cada
protótipo de lente na câmera de um laptop. Revelou-se que o vidro
preenchia melhor os requisitos. O que muda tudo é que a equipe foi capaz
de tomar essa decisão depois de ver algo que funcionava de verdade. A
escolha não foi baseada em presunções teóricas. Os funcionários tinham
algo que podiam olhar e tocar. Com essa questão resolvida, passaram para
o projeto do recipiente da lente e dos processadores de imagem. Ao
priorizar a decisão relativa à lente, a empresa pode ter economizado
milhões de dólares. A Apple é famosa por fazer isso com todos os seus
produtos, muitas vezes fabricando mais de dez protótipos totalmente
funcionais antes de realizar testes para ver qual deles é o melhor. Isso
permite que diferentes ideias sejam postas em prática com rapidez e sem
um investimento gigantesco.
O risco financeiro é o que faz com que a maioria das empresas vá à
falência. Alguém fabrica um produto legal, mas não consegue vendê-lo por
um preço que dê lucro de fato. Um exemplo clássico é o jornalismo on-line
e a morte do jornal. Quando a internet começou a explodir, nos anos 1990,
os jornais ficaram ansiosos para lançar seu conteúdo on-line. Alguns
diretores de jornais acharam que, tanto na internet quanto no papel, as
pessoas pagariam para anunciar, então disponibilizaram o conteúdo de
graça. O problema, é claro, era que os anunciantes estavam dispostos a
pagar muito menos por anúncios on-line do que pelos impressos. No
entanto, o custo de produção das reportagens ainda era o mesmo. Houve
quem tentasse cobrar pelo conteúdo, mas havia tantos sites que ofereciam
notícias de graça que muitos acabaram sendo obrigados a fazer o mesmo.
Enviar repórteres para outros lugares para testemunhar os fatos é algo caro.
Os resultados disso podem ser vistos no fechamento de redações do mundo
inteiro.
A ideia de fornecer conteúdo ou um serviço de graça e ganhar dinheiro
com publicidade ainda é muito comum em startups de tecnologia.
Empreendedores olham para o Facebook ou o Google e dizem: “Eu posso
fazer isso.” O problema é que não há muitos Facebooks e Googles por aí.
Nos primórdios da internet, quando o espaço on-line começou a permitir
que empresas mirassem em segmentos específicos de consumidores, a
“hipersegmentação” era vista como algo valioso. Mas, à medida que mais
e mais plataformas surgem para facilitar isso, essa capacidade não exerce o
mesmo fascínio.
Outra maneira de empresas desmoronarem financeiramente é pagar
demais para adquirir clientes. Um exemplo são empresas de compras
coletivas, como Groupon e Living Social. No início, elas adquiriam
clientes de forma rápida e fácil. Mas, à medida que expandiram seu
alcance e aumentaram o seu porte, foi se tornando cada vez mais caro
atrair anunciantes adicionais e mais pessoas dispostas a comprar cupons.
Você pode ver os resultados no valor de mercado dessas empresas.
Com o Scrum, um negócio precisa responder rápido à seguinte
pergunta crucial: Será que vamos ganhar dinheiro fazendo isso? Ao
fornecer protótipos aos clientes de forma rápida, descobrirá o que eles
valorizam e quanto estão dispostos a pagar. Se seus primeiros palpites
estiverem errados, você pode fazer alterações. O máximo que pode perder
é o tempo e a energia que investiu em alguns poucos sprints, em vez de
gastar milhões de dólares na montagem de uma infraestrutura complexa,
apenas para descobrir que, apesar de adorarem o seu produto, as pessoas
não gostam dele o suficiente para pagar o preço de custo.
O que você vai fazer amanhã
Certo, o que você pode fazer amanhã para implementar o Scrum no seu
trabalho? O primeiro passo é montar um backlog e uma equipe. Pense na
visão que tem para o seu produto, o seu serviço, o que for, e comece a
delimitar as tarefas que precisa executar para concretizar essa visão. Você
não precisa de muito, basta um backlog equivalente a uma semana de
trabalho. Enquanto os integrantes da equipe estiverem realizando as
reuniões diárias e executando o primeiro sprint, você conseguirá elaborar
um backlog suficiente para manter a equipe ocupada durante os dois
sprints seguintes. Contudo, fique atento ao backlog, porque, conforme sua
equipe for acelerando, ela começará a executar mais trabalho do que você
pensava que fosse possível.
Então, como Product Owner, monte um roteiro com o rumo que acha
que o trabalho deve tomar. O que acredita que pode ser feito neste
trimestre? Aonde quer chegar até o fim do ano? É importante lembrar que
isso é apenas uma previsão momentânea. Por isso, não planeje demais;
faça apenas uma estimativa. Você não está criando um contrato
vinculativo das entregas; está só estabelecendo onde pensa que conseguirá
chegar em certo período. Acredite em mim, as previsões vão mudar.
Talvez de forma radical.
Esse tipo de planejamento deve ser feito para criar transparência dentro
da organização. Se você tem uma equipe de vendas, ela precisa saber quais
são as funcionalidades em que está trabalhando para que possa começar a
comercializá-las. A gerência precisa ter alguma ideia de quais serão as
fontes de receita – e também quando ela virá e de quanto será. O mais
importante é passar a mensagem de que tudo está sendo feito às claras.
Qualquer um pode ver em que ponto o produto está a qualquer momento.
Os funcionários podem observar as histórias se deslocando pelo quadro
Scrum até a coluna “Feito”. Podem representar graficamente quanto tempo
cada ponto de história levou para ser realizado em um gráfico de
burndown e ver a linha se mover de maneira constante até o zero. Todos
podem saber quantos pontos sua equipe realizou no último sprint e quantos
você estima que ela realizará no próximo. Saiba que, como Product
Owner, você vai ser avaliado em relação à receita e ao custo.
O que você perceberá bem rápido, em especial se estiver trabalhando
em um lugar com várias equipes, é que precisará montar uma equipe de
Product Owners para gerar backlog suficiente para o pessoal continuar
trabalhando. Talvez tenha um Product Owner que se concentre mais na
estratégia e na interação com o cliente, e outro que seja mais tático,
decidindo o que as equipes farão no decurso de cada sprint.
O importante é começar. Simplesmente comece. Você pode ver as
etapas detalhadas sobre como fazer isso no apêndice. O Scrum é projetado
para que você consiga pôr uma equipe para trabalhar em poucos dias.
Monte seu backlog, planeje o primeiro sprint e vá em frente. Você não
precisa dedicar muito tempo ao planejamento, à reflexão, a meditações,
declarações de missão ou projeções de cinco anos para a frente. Deixe tudo
isso para seus concorrentes e faça com que eles comam poeira. E, no
caminho, por que não tornar o mundo melhor? No próximo capítulo, vou
mostrar como.
RESUMO
Faça uma lista. Verifique duas vezes. Crie uma lista de tudo o que
poderia ser feito em um projeto. Em seguida, ordene os itens de
acordo com as prioridades. Coloque os itens com maior valor e menor
risco no começo do backlog, e assim por diante.
O Product Owner. Transforma a visão em um backlog. Precisa
compreender o negócio, o mercado e o cliente. Tem conhecimento do
setor e poder de tomar decisões definitivas. Está disponível para
responder a perguntas e é responsável pela entrega de valor.
Um líder não é um chefe. Um Product Owner define o que precisa
ser feito e por quê. Cabe à própria equipe decidir como a equipe
realiza o trabalho e quem faz o quê.
Observar, Orientar, Decidir, Agir (OODA). Observe todo o quadro
estratégico, mas aja de forma rápida e tática.
Medo, incerteza e dúvida. É melhor dar do que receber. Invada o
ciclo OODA de seus concorrentes e faça com que eles fiquem
confusos em seu próprio processo decisório.
Dinheiro e alterações grátis. Crie funcionalidades novas apenas
quando elas acrescentarem valor ao produto. Esteja disposto a trocá-
las por coisas que exigem a mesma quantidade de esforço. O que
pensou que precisava no início nunca é de fato necessário.
CAPÍTULO 9

Mude o mundo

O Scrum teve origem no universo do desenvolvimento de software.


Hoje, ele está presente em uma infinidade de outros ambientes de trabalho.
Vários tipos de negócios usam o método com diversos objetivos, como a
construção de foguetes, o gerenciamento de folhas de pagamento e a
expansão de recursos humanos, e ele também aparece em setores tão
díspares quanto o mercado financeiro, firmas de investimento, empresas de
entretenimento e veículos jornalísticos. Volta e meia fico impressionado
quando penso que um processo que criei em 1993 para melhorar o
desenvolvimento de software tenha se provado universalmente aplicável.
O Scrum acelera o esforço humano, não importa qual seja.
De fato, comecei a ver o método ser aplicado nos lugares mais
improváveis, para resolver os problemas mais espinhosos que a
humanidade enfrenta. Pense em alguns desses problemas. Por exemplo, o
fato de existirem pessoas que vivem na pobreza, o que é não somente
aviltante, mas também gera uma série de males sociais, como a
criminalidade, a corrupção, a guerra e a destruição. Há também nosso
sistema educacional, que fracassa com alunos do mundo inteiro. Em vez
de ensinar habilidades do século XXI, atolamos nossos jovens em métodos
de ensino e aprendizagem criados no século XIX. E outro elemento
disfuncional que vem à mente é o governo, que se paralisou de muitas
maneiras, baseando-se em ideias formadas há centenas de anos e que não
parecem adequadas ao nosso modo de vida atual.
É fácil sentir vontade de jogar a toalha quando vemos as notícias mais
recentes sobre as pessoas que morrem na África, a violência nas escolas ou
os embustes sem fim dos nossos governantes. Às vezes, parece impossível
lidar com tudo isso. Mas é justamente para lidar com esses problemas, os
mais difíceis, que o Scrum é projetado. Neste exato momento, há pessoas
recorrendo a ele para solucionar essas questões, e, assim como no mundo
dos negócios, esses indivíduos estão conseguindo sucessos notáveis.
Educação
Em alguns aspectos, comunidades residenciais são muito parecidas no
mundo inteiro. Elas ficam a alguns quilômetros de uma grande metrópole e
é para lá que as pessoas se mudam para comprar casas mais baratas, criar
suas famílias e mandar seus filhos para a escola sem ter de enfrentar
muitos dos problemas das grandes cidades.
Alphen aan den Rijn é uma cidade bem típica nesse sentido. Ela fica no
oeste da Holanda, entre Leiden e Utrecht, a 45 minutos de Amsterdã. Se
você pegar a estrada em direção à cidade em um dia de semana, todo o
tráfego estará na direção contrária – rumo aos empregos em outros lugares.
Fazendas de produção de laticínios e moinhos de vento, o velho e o novo,
cobrem a zona rural.
Dentro da cidade, praticamente só transitam bicicletas. Centenas de
pessoas se encaminham para a escola pública local, a Ashram College,
que, assim como a cidade, é bem típica para os padrões holandeses. Há
cerca de 1.800 alunos com idades entre 12 e 18 anos. A Holanda divide
seus estudantes desde cedo, oferecendo diversos programas: programas de
formação profissional básica, visando à profissionalização de
cabeleireiros, mecânicos, secretários, entre outros; programas de formação
profissional superior, destinados a orientar os jovens para a enfermagem, a
administração e a engenharia; e programas ligados a universidades,
destinados àqueles inclinados para a medicina, o direito ou a pesquisa
científica. Os alunos dos programas básicos podem começar a trabalhar
aos 16 anos, enquanto aqueles dos programas superiores talvez
permaneçam na universidade ou em instituições de ensino profissional até
quase completarem 30 anos. Todos os programas educacionais requerem
algumas disciplinas básicas em comum, embora cada grupo tenha aulas
separadas. Na Ashram, há todos os três programas. E uma dessas
disciplinas em comum é a que Willy Wijnands leciona a todos os alunos
da escola: química.
Tenho certeza de que você se lembra das aulas de química no ensino
médio. Nos Estados Unidos, em geral há laboratórios com fileiras de
mesas em linha reta de frente para o professor, talvez uma semana de aula
seguida de alguns dias de trabalho prático em dupla, sendo que a escolha
desse colega era muitas vezes estratégica e um bocado estressante. Talvez
você gostasse de química, talvez ficasse terrivelmente entediado, e talvez
Breaking Bad tenha feito você reconhecer o potencial monetário de
aprender bem as técnicas do laboratório e a importância de escolher o
parceiro correto. Seja qual for a sua experiência, assim que o professor
começasse a falar sobre ligações covalentes ou algum outro conceito
obscuro, é provável que você e seus colegas se distraíssem e começassem
a olhar pela janela, a rabiscar desenhos ou a pensar naquele menino ou
naquela menina na segunda fileira. Sejamos sinceros, nas escolas
americanas e de várias outras partes do mundo, quando a aula de química
começa, a distração aparece.
Mas não é isso que acontece nas aulas de Wijnands. “Olhe só”, diz ele
no momento em que os alunos invadem a sala e correm para suas mesas –
estranhamente, eles não se sentam. “Eu não faço nada.” São 8h30 de uma
quarta-feira normal de setembro, e a sala de Wijnands não tem a aparência
de uma sala de aula clássica. As mesas não são alinhadas em fileiras
voltadas para o professor. Em vez disso, ficam posicionadas de modo que
os alunos se dividam em quartetos e fiquem de frente uns para os outros.
Em vez de se sentarem no início da aula, os estudantes colam na
parede uma grande folha de papel coberta de post-its e se reúnem ao redor
dela. O cartaz é dividido em algumas colunas. Alle items, na extrema
esquerda. Em seguida, Te doen, In uitvoering e, por último, Klaar. Como
você deve imaginar, elas querem dizer “Todos os itens”, “A fazer”,
“Fazendo” e “Feito”.
Na parte inferior das colunas há quatro títulos adicionais: “D.O.D.”,
sigla para “Definition of Done” [definição de feito]; “Grafiek”, que indica
o gráfico de burndown do grupo, mostrando o progresso em direção à
meta; e, por fim, retrospectiva e velocidade, onde os estudantes medem
quantos “pontos” realizam durante cada lição. Os sprints geralmente
duram de quatro a cinco semanas e terminam com um teste.
Em frente aos quadros Scrum – ou “flops”, como são chamados em
holandês –, os alunos tentam definir quais exercícios terminarão na aula de
hoje. Eles pegam na coluna All eitems (o backlog) os post-its que acham
que conseguirão realizar, colam as tarefas em Te doen e começam a
trabalhar. Nesse momento, Wijnands continua sem fazer nada, como ele
gosta de dizer. Os alunos abrem seus livros e começam a aprender por
conta própria. Ou, o que talvez seja o mais importante, eles ensinam uns
aos outros. Wijnands caminha pela sala, examinando os quadros Scrum e
os gráficos de burndown. De vez em quando, ele vê um ponto em que os
alunos estão tendo dificuldade, explica de maneira rápida um conceito
complicado ou escolhe ao acaso uma história da coluna Klaar e faz
perguntas a cada aluno sobre ela, certificando-se de que todos
compreenderam os conceitos. Se os estudantes não entenderam, ele põe a
tarefa de volta na coluna Te doen. É que parte da definição de “Feito” é
todo mundo entender a matéria.
Os alunos têm uma parte exclusiva do quadro Scrum: uma “definição
de diversão”. O trabalho não é só realizar todas as tarefas, eles também
precisam se divertir no processo. Os três testes são confiança, humor e
uma palavra holandesa quase intraduzível: Gezelligheld. É um conceito
que pode ser descrito como “aconchego”, “companheirismo”, “divertido”
ou “agradável”, como ver um amigo depois de uma longa ausência, ou
passar um tempo com seus entes queridos, ou uma sensação de
pertencimento. Na verdade, acho que essa é uma maneira perfeita de
descrever o sentimento de apoio, prazer, esperança, alegria, conforto e
animação que temos quando fazemos parte de uma equipe muito boa.
“Você não precisa ser a polícia”, diz Wijnands. “Agora temos outra
forma de lidar com os alunos. Eles fazem tudo. Até definem qual será seu
próprio dever de casa!” Cada equipe sabe em que ponto a matéria está, os
prazos que tem para realizar etapas intermediárias e se precisará levar
trabalho para casa para aprender toda a matéria a tempo. “Eles se
organizam e desenvolvem métodos de estudo mais inteligentes e mais
rápidos. Uma das equipes começou pelo teste e trabalhou a partir dele, de
trás para a frente. Um monte de crianças de 11 anos. ‘Isso não é bom’,
falei. Eles ficaram assustados.” Wijnands abre seu sorriso contagiante.
“Então, concluí: ‘É excelente!’”
O Scrum, ou o eduScrum, como Wijnands chama sua abordagem, é
apresentado aos estudantes no primeiro dia de aula. A primeira tarefa deles
é escolher as equipes, que precisam ser multifuncionais. Os alunos se
avaliam em várias categorias, como bravura, gosto pela matemática,
preocupação com os sentimentos dos outros e “foco nos objetivos”. Em
seguida, são orientados a formar grupos multifuncionais, que tenham todas
as habilidades necessárias para aprender a matéria. Wijnands afirma que
isso ensina algo tão importante quanto a química: a trabalhar com pessoas
com talentos diferentes dos seus e a valorizá-las.
Tim Jansen tem 17 anos e está na última série do colégio. Ele vem
realizando o Scrum há três anos e está prestes a entrar na universidade,
onde pretende estudar química. Tim tem a aparência de um típico nerd.
“Eu consigo aprender mais rápido do que os outros”, diz. “Mas, ao
trabalhar em grupo, você se aprimora, melhora. Aprendo a matéria melhor
ao explicá-la para os outros.” Ele se vira para Gudith Zwartz, sentada à
frente dele. “Ela sabe que pode me fazer perguntas sobre a matéria. E eu
posso fazer perguntas a ela sobre organização. Ela consegue se organizar
melhor do que eu.”
Gudith tem uma aparência muito diferente da de Tim: é magra, bonita,
loura. “Você começa a conhecer melhor seus colegas. Sabe quem é melhor
no quê.”
“O Scrum ajuda os alunos mais excluídos a se conectar com os colegas
de turma”, opina Maneka Bowens, amiga de Gudith e tão bonita quanto
ela. “Às vezes, você escolhe a equipe, e outras vezes é escolhido. Você
aprende que seus colegas são melhores do que você em algumas áreas.”
Wijnands afirma que esse tipo de aprendizado é parte do seu objetivo –
fazer com que habilidades inconscientes se tornem conscientes.
Habilidades que podem ser testadas em uma prova estão longe de ser as
únicas que importam. Ajudar os alunos a identificar e valorizar pontos
fortes diferentes em si mesmos e nos outros é uma habilidade do século
XXI. É algo que todo mundo precisa aprender.
Depois de escolher suas equipes, os alunos aprendem a estimar o
trabalho, não em horas ou dias, mas em pontos. Em seguida, eles estimam
cada parte da matéria que precisam aprender jogando o pôquer do
planejamento, durante o qual usam o dimensionamento relativo inerente à
sequência de Fibonacci. Willy explica a ideia dos pontos de uma forma
bem simples: “Ignore todas as medidas que você conhece. Não há medidas
absolutas. Se eu peso cinquenta pontos, quantos pontos você pesa?”,
pergunta ele, apontando para uma aluna magra do ensino médio.
“Hum, quarenta?”, responde ela, tentando adivinhar.
“Ora, muito obrigado! Mas eu apostaria que você está mais perto dos
vinte pontos.”
Ao fim de cada conjunto de lições, as equipes fazem uma
retrospectiva, na qual se perguntam “O que deu certo?”, “O que poderia ter
ido melhor?” e “Como a equipe pode melhorar?”.
Wijnands afirma que esse foco em equipes às vezes surpreende os pais.
Ele conta a história de uma mãe que lhe telefonou e disse que sua filha
tinha feito todo o trabalho do grupo. Por que ela tinha que carregar os
outros nas costas?
“Eu disse que a menina precisava ter a coragem de pedir aos colegas
que fizessem mais. Ela fez isso, e as notas da equipe melhoraram. A mãe
ligou depois para me agradecer. Os alunos precisam aprender a trabalhar
não apenas para si mesmos, mas também em grupo.”
A energia nas salas de aula da Ashram é impressionante, e isso se
traduz em resultados. No sistema educacional holandês, as notas vão de 1 a
10, e 5,5 é a média necessária para passar em uma matéria. Na disciplina
de Willy, a média é 7. E os alunos correspondem a essa expectativa.
Wijnands conta que, no ano passado, as notas subiram mais de 10%.
Ele descobriu o Scrum através do genro, que trabalha em uma grande
empresa técnica na Holanda que utiliza o método. Ele leciona há quase
quatro décadas e diz que, durante todo esse tempo, era isto que estava
procurando: uma abordagem que ensina os alunos a ser autodidatas e a
valorizar suas próprias habilidades e as dos outros. E, além disso, que
permita que eles se divirtam no processo.
Devo dizer algo importante sobre o Scrum: ele raramente permanece
isolado, sendo usado em pequena escala, por muito tempo; ele é projetado
para ganhar escala. Nas escolas holandesas, por exemplo, o eduScrum não
depende de uma pessoa, mesmo quando se trata de um grande professor
como Wijnands. Embora o método tenha começado com Willy, e ele possa
ter convencido alguns de seus colegas que também lecionam química na
Ashram a experimentá-lo, o Scrum está crescendo por lá. Apoiada pela
comunidade empresarial, existe atualmente na Holanda uma Fundação
eduScrum, que treina professores e apresenta o método a escolas. Até
agora, a fundação já treinou 74 professores, de todas as matérias, em 12
escolas. Eles planejam treinar 60 professores e 15 escolas por ano. Em
cinco anos, isso significará mais 300 professores e 75 escolas. Um bom
começo. Encontrei-me com alguns dos professores em várias partes do
país, e eles me disseram que esse é o novo Montessori. Eles veem o
eduScrum como um movimento.
Mas isso não está acontecendo apenas na Holanda. No Arizona,
Estados Unidos, há uma charter school* para alunos pobres, do meio rural
e com origem indígena que utiliza o Scrum. O método começou a ser
ensinado em algumas universidades. Na Harvard Business School (HBS),
foi construída uma nova sala de aula chamada de “Innovation Lab”
[laboratório de inovação], onde todo o ensino é baseado em equipes. E,
como o professor Hirotaka Takeuchi da HBS me disse, quando você
ensina equipes, a melhor maneira de fazê-lo é com o Scrum.
Quando estive na Ashram, conversei com alguns estudantes da escola.
Quando pedi que me fizessem perguntas, um menino levantou a mão.
“Não acredito que você criou isso para o desenvolvimento de
software”, comentou. “Parece feito sob medida para a escola.”
Enquanto eu olhava para aquele jovem, surgiram lágrimas em meus
olhos. Mais tarde, fiquei sabendo que ele era autista. Antes do Scrum, ele
era um aluno desinteressado e resignado. O Scrum lhe proporcionara um
caminho para seguir em frente, para de fato desfrutar da escola e para se
tornar uma pessoa melhor, mais completa.
Anos atrás, quando estava tentando resolver os problemas de algumas
empresas de software, não percebi que também estava criando algo que
poderia ajudar a resolver os problemas das pessoas. Mas o Scrum fez isso.
E talvez tenha realizado mudanças ainda mais drásticas na zona rural de
Uganda.
Pobreza
Uganda é um dos países mais pobres do mundo. Mais de um terço dos
habitantes vive com menos de $ 1,25 por dia. A grande maioria dos
ugandenses reside em áreas rurais, onde a pobreza é endêmica e as pessoas
lutam para subsistir por meio da pequena agricultura familiar. Muitas
dessas terras cultiváveis são mais do que remotas – ficam a dias de viagem
a pé da cidade mais próxima. As famílias têm muita dificuldade de mandar
as crianças para a escola, pois a mão de obra delas é necessária para ajudar
na agricultura. As meninas, em particular, abandonam cedo os estudos. A
expectativa de vida é de 53 anos. A mortalidade infantil atinge mais de
cinco bebês a cada cem nascidos vivos, e cerca de seis mil mulheres
morrem anualmente por conta de complicações na gravidez. A vida de um
agricultor rural em Uganda não é fácil.
A Fundação Grameen foi criada pelo banco Grameen, do vencedor do
prêmio Nobel Muhammad Yunus. O banco foi pioneiro em micro-
financiamentos para pessoas extremamente pobres em Bangladesh. A
fundação se concentra em ajudar a tirar da pobreza pessoas de todo o
mundo, não por meio de doações, mas aproveitando os pontos fortes
subvalorizados desses indivíduos. Em Uganda, a instituição resolveu tentar
fazer exatamente isso, dando aos pobres a capacidade de compartilhar e
produzir conhecimento.
Para isso, foram recrutadas cerca de 1.200 pessoas em áreas rurais
pobres, que foram denominadas “trabalhadores com conhecimento
comunitário” (CKWs, na sigla em inglês). A fundação já havia
desenvolvido aplicativos para celular relacionados a microfinanças e
pagamentos. Assim, decidiu fornecer a esses trabalhadores não apenas
informações sobre transações bancárias, mas também conhecimentos que
eles poderiam usar no cotidiano, o que, no caso de Uganda, significava
algo que pudesse ser aplicado à agricultura. A fundação forneceu aos
trabalhadores acesso às melhores práticas agrícolas, dando-lhes
smartphones e transmitindo as informações por meio deles.
Há pouco tempo, Steve Bell, integrante do Lean Enterprise Institute e
um Scrum Master certificado, visitou duas aldeias remotas e descreveu
como o processo funciona nelas. Há uma reunião de agricultores, que se
encontram todos de pé em um campo. Nesse dia, um agricultor trouxe uma
planta afligida por uma doença. Rapidamente, os CKWs olharam algumas
fotos no celular até encontrarem uma imagem de uma planta sofrendo da
mesma doença. Então, nesse mesmo instante, estava disponível o
tratamento científico para a praga – algo que não exigia pesticidas ou
produtos químicos caros, e sim um método que o agricultor poderia pôr em
prática na mesma hora.
Bell diz que a transmissão rápida de informações que podem ser postas
em prática já seria uma ferramenta suficientemente poderosa, mas o
aplicativo também conecta os agricultores a seus pares ao redor do país.
Ao usar essa conectividade, eles podem compartilhar informações precisas
sobre como estão as vendas dos produtos no mercado da cidade mais
próxima, muitas vezes a dias de distância. Antes, os agricultores ficavam à
mercê de intermediários que se aproveitavam de sua falta de conhecimento
do mercado para estipular os preços como quisessem. Agora, os
agricultores sabem quanto os intermediários estão ganhando.
Bell me contou a história de uma mulher que lhe disse que, depois que
passou a ter acesso aos dados agrícolas, dobrou sua produção. Mas os
dados de mercado também fizeram com que ela dobrasse os seus preços.
Ela costumava ganhar trezentos xelins por alqueire. No entanto, após saber
que sua produção estava sendo vendida por mil xelins por alqueire, ela foi
capaz de negociar um preço de seiscentos xelins. O dobro do lucro, a
mesma quantidade de trabalho. O Scrum é projetado para fazer exatamente
isso, e foi isso o que ele fez pela agricultora.
Eric Kamara lidera o grupo de tecnologia do escritório da Fundação
Grameen em Kinshasa. Seu grupo usa o Scrum para desenvolver seus
aplicativos. Ele diz que cada vez que alguém pede um conjunto de
funcionalidades, sua equipe classifica o pedido em uma escala de 1 a 7 em
três questões:
1. Qual é a importância desse trabalho para a missão de ajudar os pobres?
2. Como essa funcionalidade contribuirá para o trabalho dos CKWs?
3. Há o apoio de algum parceiro para a funcionalidade? (A fundação
prefere trabalhar com parceiros, como a Fundação Gates, em vez de
realizar os projetos sozinha.)

Isso permite que Kamara priorize o trabalho usando critérios objetivos.


Ele conta que, antes do Scrum, as pessoas pediam tudo ao mesmo tempo.
Com os recursos limitados de uma organização sem fins lucrativos, era
impossível fazer tudo. O resultado era que a equipe acabava não fazendo
nada. Agora, em cada sprint, os diferentes grupos que querem
funcionalidades fazem seus pedidos e podem ver de forma transparente
como o que pedem se compara a outras requisições. Isso ajuda um grupo
com pouco poder de barganha a determinar o que terá o maior impacto.
Já vi ocorrer em outros lugares: esse tipo de trabalho se espalha pelo
resto dos escritórios de Kinshasa, mudando a maneira como as pessoas
encaram suas tarefas diárias. Antes, o escritório realizava o tipo de reunião
semanal que todo mundo detesta – uma atualização sobre o andamento do
trabalho que se arrastava por horas, durante a qual as pessoas descreviam
seus problemas e se queixavam, mas muito pouco era realizado. A reunião
não acabava nunca, e todo mundo saía insatisfeito. Muitas vezes, o único
resultado era apontar culpados, em vez de procurar soluções. Kamara
conta que, agora, todas as equipes têm um quadro Scrum. Antes da
reunião, problemas e obstáculos se tornam facilmente visíveis. Hoje em
dia, o diretor pode caminhar pelo escritório e verificar de forma
instantânea quais são os obstáculos ou os impedimentos – basta olhar o
quadro Scrum.
Quando converso com as pessoas no universo das ONGs, uma queixa
recorrente é que suas organizações estão cheias de pessoas que têm
propósitos e compromissos em comum, mas que não têm disciplina. O
Scrum é capaz de pegar a paixão das pessoas e aproveitá-la, deixando
claro o que devem priorizar.
É fácil defender o uso do Scrum nos negócios. Se aplicá-lo, você
ganhará mais dinheiro – muito mais. Você fará o dobro do trabalho na
metade do tempo. Mas a promessa mais importante para a humanidade
está com as pessoas que dedicam suas vidas a ajudar os mais pobres. Se o
Scrum conseguir auxiliar esses indivíduos que vêm trabalhando à margem
a obter o mesmo efeito, isso significará um passo gigantesco em direção ao
bem da humanidade.
Esse “bem” não somente chegará mais cedo, mas também será
mensurável. O Scrum torna as pessoas capazes de medir o progresso com
facilidade. Na Fundação Grameen, há o que os funcionários chamam de
“índice de progresso para fora da pobreza”, que mede a eficácia de cada
programa. Eles podem pesquisar e ver exatamente o impacto que aqueles
trabalhadores com conhecimento comunitário que receberam telefones
celulares estão exercendo nas áreas rurais. Podem experimentar diferentes
maneiras de fazer as coisas. Podem ajudar as pessoas a inovar para sair da
pobreza.
Para mim, é incrível ver o Scrum voltar às suas raízes. Quando dei
início ao método, fui inspirado pela forma como o banco Grameen e outras
instituições de microfinanciamento ajudavam grupos de pessoas pobres a
trabalhar juntos para sair da pobreza. Elas reuniam uma equipe desses
indivíduos e pediam que cada pessoa desenvolvesse um plano de negócios
explicando como aplicariam 25 dólares. Talvez um quisesse comprar um
carrinho para vender frutas na praça da cidade. Outra talvez desejasse
comprar uma máquina de costura para fazer vestidos e depois vendê-los.
Somente quando todos os empréstimos da equipe fossem quitados o grupo
poderia receber mais dinheiro emprestado. Os integrantes da equipe se
reuniam toda semana para ver como podiam ajudar uns aos outros. Os
resultados foram incríveis. No início, era possível que a mulher com a
máquina de costura ganhasse dinheiro suficiente para alimentar seus filhos.
Algumas semanas depois, talvez ela fosse capaz de comprar sapatos para
eles. Depois, ela poderia matriculá-los na escola. Alguns ciclos depois, era
possível que ela tivesse um pequeno negócio e pudesse começar a
construir uma casa de verdade. Na época, eu dizia aos programadores de
software com quem estava trabalhando: “Essas pessoas pobres não têm
sapatos, mas ainda assim conseguem se alavancar para sair da pobreza.
Vocês têm sapatos, mas não têm um software. Esses indivíduos
descobriram uma maneira de trabalhar em conjunto para sair da miséria.
Vocês estão dispostos a fazer o mesmo?” E assim nasceu o Scrum.
Organizações sem fins lucrativos são apenas uma das áreas em que
podemos inovar para fazer o bem para a sociedade. Que tal abordarmos a
maneira como nos organizamos? Será que podemos melhorar o governo?
Governo
O governo não é apenas nossa forma de organizar a esfera pública – o
meio pelo qual obtemos estradas, policiamento, tribunais e órgãos como o
Detran. Ele é também a maneira como formalizamos nossa identidade
como povo. É uma codificação daquilo que acreditamos que somos. Nos
Estados Unidos, as aspirações fundamentais do povo americano foram
registradas em um documento assinado por um grupo de rebeldes formado
por indivíduos que certamente teriam sido enforcados se não andassem
juntos: a Declaração da Independência. Escrita por um latifundiário
aristocrata, idealista e escravocrata, a Declaração capturou de modo
surpreendente um conceito radical de que tipo de povo os americanos da
era revolucionária queriam ser.

Consideramos estas verdades evidentes: que todos os homens são


criados iguais, que são dotados pelo Criador de certos direitos
inalienáveis, que entre esses estão a vida, a liberdade e a busca da
felicidade. Que, para assegurar esses direitos, governos são instituídos
entre os homens, derivando seus justos poderes do consentimento dos
governados.

Nos dias atuais, é difícil compreender como essas palavras representam


uma fuga à norma. As ideias do Iluminismo tinham começado a se
espalhar. No entanto, não existiam democracias naquela época. As leis
eram impostas de cima, advindas do direito divino dos reis e do poder das
armas. Grandes impérios governavam boa parte do mundo – não apenas a
Grã-Bretanha, mas também a França, a Áustria, a Rússia e o Império
Otomano. A ideia de que os indivíduos eram dotados de direitos, em vez
de receberem esses direitos dos poderosos, era, para dizer o mínimo,
revolucionária.
A “república” foi uma forma de governo que emergiu desses ideais.
Assim como o robô de Rodney Brooks fazia enquanto aprendia a andar, os
Estados Unidos cambalearam, tropeçaram, caíram e, de vez em quando,
tomaram o caminho errado. Mas aqueles ideais inspiraram revoluções no
mundo inteiro, e, hoje, a maioria das potências é governada, ao menos
formalmente, pelos povos que pretendem representar.
O problema, claro, são os duzentos anos de acúmulo de burocracia –
interesses permanentes incorporados à própria estrutura do governo que
fazem com que as vozes do povo enfrentem dificuldades para serem
ouvidas. A corrupção, seja em pequena escala – burocratas que recebem
subornos por serviços – ou em grande escala – grandes bancos que
acumulam riquezas ao privatizar os lucros e repassar as perdas para a
sociedade –, é resultado da falta de transparência e da centralização do
poder nas mãos de poucos.
Na maioria das capitais do mundo, proliferou-se uma classe similar a
uma corte que constitui o governo permanente. Os indivíduos ganham
licitações, dinheiro e poder de acordo com o critério de “quem você
conhece”, não “o que você é capaz de fazer”. É evidente como políticos,
generais e burocratas poderosos se revezam constantemente entre cargos
no governo e no mundo dos negócios. É impressionante o número de
generais de quatro estrelas que comandam empresas que ganham licitações
das Forças Armadas, ou de senadores que se tornam lobistas, ou de ex-
funcionários do governo que dirigem grupos empresariais.
Contudo, como enfatizei no Capítulo 3, é inútil tentar apontar as
pessoas ruins; em vez disso, devemos procurar os sistemas ruins. Façamos
uma pergunta que tem uma chance real de mudar as coisas: “Quais são os
incentivos que impulsionam as atitudes ruins?” Duvido que qualquer um
dos bandidos no governo americano se veja como um mau indivíduo e
aposto que a maioria deles é de fato bem-intencionada. Foi o sistema que
falhou com eles e conosco. Mas como podemos mudar isso? Como
podemos incentivar a transparência, o estabelecimento de prioridades e a
tomada de responsabilidade? Você sabe a resposta: com o Scrum.
Vamos começar em um local a milhares de quilômetros a oeste de
Washington D.C., na capital do estado de Washington, Olympia. Lá, os
dois últimos governadores – primeiro um republicano, agora um
democrata – adotaram o que chamam de governo enxuto. O atual
governador, Jay Inslee, disse o seguinte em uma entrevista durante a
campanha de 2012: “Boa parte do que o Estado faz é tomar decisões.
Queremos encontrar uma maneira de acumular menos papel na mesa.”1
O plano do governador tem cinco pontos que poderiam ser encontrados
em qualquer plataforma de campanha: 1. um sistema educacional “de
ponta”, desde a pré-escola até a faculdade; 2. uma “economia próspera”; 3.
tornar Washington um líder nacional em energia sustentável e meio
ambiente limpo; 4. comunidades saudáveis e seguras; 5. governo eficiente,
eficaz e responsável.
Esses objetivos não são revolucionários. São simplesmente aquilo que
as pessoas deveriam esperar do governo. O próprio fato de que soam como
um clichê é um indicador de sua importância. Afinal de contas, um clichê
é apenas uma verdade repetida tantas vezes que se torna banal. Mas o
governo Inslee é diferente na forma como concretiza esses objetivos. Eles
apelidaram sua nova abordagem de SMART, acrônimo em inglês para
metas Específicas, Mensuráveis, Tangíveis, Relevantes e que seguem um
Cronograma. Em outras palavras, o governo quer usar o Scrum. E, na
verdade, é isso o que está sendo feito.
O diretor de tecnologia da informação do estado de Washington é
responsável não só pela tecnologia que é comprada, mas também por como
ela é produzida. O departamento é composto de vinte pessoas cuja função
é garantir que enormes falhas de TI, que podem custar dezenas de milhões
de dólares, não ocorram. Ao mesmo tempo, a equipe lida com atualizações
para setores do governo que fazem de tudo – emitem carteiras de
motorista, distribuem auxílio-desemprego, regulam a pesca e a fauna etc.
Em 2012, o departamento supervisionou oitenta pedidos, que totalizaram
mais de quatrocentos milhões de dólares. Além disso, o setor emite normas
e orientações para várias agências do governo sobre como implementar
políticas estaduais.
Para fazer isso, o departamento usa o Scrum. Os funcionários de fato
derrubaram as divisórias dos cubículos de seus escritórios e se
organizaram sob a forma de equipes Scrum.
Michael DeAngelo, o vice-diretor de tecnologia da informação, conta
que a equipe tenta entregar toda semana políticas implementáveis, que
possam ser postas em prática, para os departamentos estaduais: “Estamos
atualizando o processo de como nossas agências apresentam planos de
investimento. Estabelecemos o objetivo de mudar uma coisa por semana.
Nossa abordagem é progressiva. Toda semana, temos um produto
potencialmente utilizável e que pode ser experimentado pelas agências.
Eles recebem algo tangível.” “Produto utilizável”, nesse caso, significa que
as mudanças nas políticas estaduais podem ser postas em prática. Não
precisa ser uma grande transformação; só tem de ser algo que crie valor.
Em vez de tentar criar um documento enorme e hiperabrangente que
preveja cada parte do processo, a equipe decidiu dividir o trabalho em
partes. O objetivo é entregar toda semana uma melhoria na forma como o
estado é administrado.
DeAngelo conta que as reações têm sido controversas. Há um grande
medo de que o departamento não entregue o produto perfeito. Em agosto
de 2013, ele disse: “Na semana passada, fizemos uma alteração na forma
como os clientes podem entrar em contato conosco. Mas os contatos
antigos ainda não foram alterados em vários lugares – no nosso site, em
documentos, esse tipo de coisa. Então, havia todas essas outras coisas que
a gente teria de mudar [antes]. Decidimos não esperar, simplesmente
mudamos o contato. Vamos atualizar a documentação no próximo sprint.
A alternativa era não dar ao público uma forma de atendimento melhor
durante meses [...], mas aí estaríamos privando-o de valor.”
O departamento de TI também está tentando implementar o Scrum em
toda a burocracia estatal. É por isso que seus próprios processos foram
adaptados ao Scrum: para que a equipe sirva de exemplo, para que possa
falar por experiência própria. Há tantos benefícios que é injustificável não
aplicar o método.
Mas existem alguns obstáculos. DeAngelo conta que eles perceberam
que, em alguns casos, o método de cascata foi incorporado às leis
estaduais. Mudar isso pode ser difícil. O estado de Washington realiza seus
financiamentos em ciclos de dois anos. “Você é obrigado a pedir grandes
volumes de trabalho. Não podemos falar que vamos agregar valor até que
nos digam que já fizemos o suficiente”, afirma DeAngelo. “O governo
quer saber que vai custar uma determinada quantidade de dinheiro, e que
vamos obter uma determinada quantidade de valor em um determinado
período de tempo. Isso é feito para que o governo possa apresentar os
projetos para os cidadãos. Mesmo que a gente saiba que é um método
muito menos eficiente.”
Parte do problema é que, nos Estados Unidos, tanto no nível federal
quanto no estadual, os legisladores são divididos em comitês. Um grupo
cuida da educação, outro se incumbe dos crimes, outro trata do orçamento
e ainda há outro que se concentra nos serviços sociais.
“Eles são fraturados. Nunca examinam o quadro completo”, diz Rick
Anderson, que atua como consultor para agências estaduais, condados e
cidades em Washington, no Oregon, na Califórnia e no Havaí. Anderson já
trabalhou com legisladores e diz que, embora isso possa levar algum
tempo, é necessário que haja mudanças.
Ele acredita que os legisladores devem começar a definir metas
baseadas em desempenho. “Certo, Agência X, aqui estão seus objetivos,
aqui estão os resultados esperados. Quando tivermos isso, poderemos
começar a elaborar legislações baseadas em resultados”, afirma Anderson.
Em um mundo reformulado, conduzido de acordo com o Scrum, em
vez de aprovar um plano específico para construir uma ponte sobre um rio,
um órgão legislativo diria para o departamento de estradas: “Queremos
que um número X de pessoas seja capaz de atravessar esse curso de água
em uma quantidade Y de tempo com um custo de Z. Como fazer isso é
com vocês.” Isso permitiria que houvesse descoberta e inovação.
Em vez disso, hoje em dia o normal são projetos de construção que
ultrapassam o orçamento em centenas de milhões de dólares. O motivo? À
medida que trabalham no projeto, as equipes descobrem novos problemas
e novas formas de resolvê-los. Em vez de sufocar essas inovações com
conselhos de controle de alterações e uma quantidade gigantesca de
relatórios, deveríamos encorajá-las.
Mas e aqueles ideais com os quais comecei este capítulo, quando uma
sociedade se molda através de um documento? Digamos, uma
constituição? Bem, um país decidiu que, para elaborar uma constituição
que de fato representasse a vontade do povo, o Scrum deveria ser posto em
prática.
Em 2008, uma crise financeira que poderia ter sido evitada atingiu o
mundo. Os grandes bancos elevaram os preços às alturas, erguendo-se
repetidas vezes por meio de inúmeros empréstimos que nunca poderiam
ser pagos. Um dos países mais atingidos foi a Islândia. Lá, bancos
privatizados foram desvinculados do governo e se arriscaram imensamente
no mercado financeiro. Como dizem em Wall Street, se não sabe quem é o
otário na sala, então você é o otário. Nesse caso, a Islândia era o otário. A
quantidade de dinheiro que eles tomaram emprestado era surpreendente
para um país tão pequeno. Em dado momento, os bancos foram avaliados
em doze vezes o tamanho do orçamento nacional. Quando tudo desabou, o
“milagre econômico” islandês foi destruído.
Indignados, os cidadãos de Reykjavik tomaram as ruas e bateram
panelas do lado de fora do Althing, sede do parlamento do país. O
governo, que supervisionara as práticas financeiras, caiu naquela que ficou
conhecida como a “Revolução dos Panelaços”. O governo renunciou, e
uma nova liderança prometeu uma nova constituição.
Para redigir essa constituição, algumas autoridades decidiram adotar
uma abordagem aberta que envolvesse o povo. Então, eles formaram um
comitê constituinte que resolveu usar o Scrum. O comitê se reunia toda
semana, resolvia uma parte do documento e a entregava ao público toda
quinta-feira. Então, recebia o feedback das pessoas através do Facebook e
do Twitter. Em questão de meses, o comitê tinha uma nova constituição
que ganhara o apoio esmagador da população islandesa. Era uma nova
expressão de como o povo via a si próprio.
Infelizmente, os poderes que tinham se beneficiado da fraude
financeira contra-atacaram. Após promover atraso após atraso – depois de
confundir, protestar e agir contra a vontade do povo –, um novo
parlamento constituído pelos mesmos partidos que haviam supervisionado
a destruição da economia islandesa decidiu ignorar a nova constituição.
Uma das principais exigências da revolução foi negada. Pelo menos por
enquanto.
O mundo está se transformando, e, em pouco tempo, aqueles que
lucram com segredos e embustes não vão poder mais se esconder. O
Scrum está mudando tudo à volta deles. Eles podem lutar na retaguarda,
mas as transformações são inevitáveis. A estrutura do Scrum é tão mais
rápida, transparente e sensível às vontades do povo que acabará por
derrotar os políticos que se colocarem no seu caminho.
É mudar ou morrer.
Como todos nós trabalharemos um dia
Já falei neste livro sobre o conceito Shu Ha Ri, que vem das artes
marciais. Os indivíduos no estado Shu seguem as regras de maneira estrita,
para que aprendam as ideias por trás delas. As pessoas no estado Ha
começam a criar seu próprio estilo dentro das regras, adaptando-as a suas
necessidades. Os indivíduos no estado Ri têm uma existência que
transcende as regras; eles incorporam os ideais. Assistir a um verdadeiro
mestre no estado Ri é como observar uma obra de arte em movimento. As
ações parecem impossíveis, mas isso ocorre porque o mestre se
transformou em uma filosofia de carne e osso, uma ideia materializada.
Digo tudo isso porque há algumas regras no Scrum, e você faria bem
em aprendê-las e transcendê-las. Eu as listei no apêndice deste livro,
“Implementando o Scrum – como começar”, e em todos os capítulos
expliquei por que essas regras existem, incentivando você, espero, a
aplicá-las em sua vida pessoal, em sua empresa e em sua comunidade.
Porém, o paradoxo dessas regras é que elas eliminam fronteiras, criam
liberdade – e, para muitos, a liberdade pode ser assustadora.
Uma empresa que aprendeu a deixar seus funcionários livres e otimizar
a inovação é a Valve. Observando essa empresa, vemos como todos nós
temos a capacidade inerente de organização, seja para desenvolver
softwares melhores, ajudar as pessoas a saírem da pobreza, planejar um
casamento ou reformar uma casa.
Criada na década de 1990 como uma produtora de videogames que
desenvolveu sucessos revolucionários como Half-Life e Portal, a Valve é
totalmente autofinanciada e é dona de toda a sua propriedade intelectual.
Quase todos os seus mais de trezentos funcionários trabalham em um
único edifício em Bellevue, no estado de Washington. A empresa tem mais
de cinquenta milhões de clientes e uma receita de centenas de milhões de
dólares por ano. E não há ninguém realmente no comando.
A Valve se originou, vejam só, da Microsoft. Hoje em dia, a Microsoft
é uma empresa muito diferente, mas na década de 1990 ela era o epítome
da corporação comandada de cima para baixo. Todo mundo se definia pela
posição que ocupava na pirâmide corporativa em relação ao fundador e
CEO, Bill Gates – que naquela época era o homem mais rico do mundo, e
que continua entre os mais ricos.
Greg Coomer faz parte do grupo de indivíduos que fundou a Valve.
Ele trabalhava para Gabe Newell, que dirigia um grupo de
desenvolvimento da Microsoft. Greg descreve como a supervalorização
dos cargos corporativos influenciava até mesmo as ferramentas que os
funcionários usavam: “Na Microsoft, havia um plug-in do Outlook
chamado ‘Org Chart’. Quando recebiam um e-mail, todas as pessoas
clicavam nesse plug-in para ver qual era o nível do remetente dentro da
organização. A quantos cliques de distância de Bill esse funcionário
estava, quantos subordinados diretos tinha, se era um inimigo ou um aliado
– tudo isso podia ser descoberto a partir da posição do indivíduo no Org
Chart.”
Greg diz que, se diminuísse o zoom, você via uma pirâmide gigantesca
com Bill no topo. Se aumentasse o zoom, havia blocos de pirâmides
menores. “Eram pirâmides e mais pirâmides.”
Exceto no grupo de Gabe Newell. Havia algumas centenas de pessoas
nele, e todas elas se reportavam diretamente a Newell. “O departamento se
destacava visualmente no aplicativo ‘Org Chart’”, conta Greg. “Era algo
que não se encaixava. E isso estava causando problemas políticos, porque
Gabe não tinha a quantidade certa de gerentes ou a estrutura correta.” A
resposta da empresa foi similar à que ocorre quando os glóbulos brancos
do sangue se concentram para atacar uma infecção. Hoje em dia, é claro, a
Microsoft já tem três mil pessoas que trabalham em equipes Scrum, e
pretende aumentar esse número para cerca de vinte mil pessoas. Mas
naquela época a “infecção” precisava ser eliminada.
Então Gabe, Greg e alguns outros colegas saíram da Microsoft e
montaram sua própria empresa, a Valve. Há alguns anos, Greg tentou
formular um manual do funcionário explicando como a Valve funciona. O
documento não listava níveis de remuneração nem dizia se óculos eram
dedutíveis do imposto descontado em folha. Em vez disso, era uma
tentativa de transmitir o espírito da Valve.
“Descobri que as pessoas estavam levando de nove a dezesseis meses
para internalizar o jeito Valve de fazer as coisas. Demorava muito tempo
para as pessoas se sentirem no controle”, diz Greg. O documento tinha
como objetivo fazer com que os indivíduos se sentissem à vontade mais
rápido, mas Greg e os outros fundadores tiveram dificuldades com as
palavras, porque não queriam que a explicação parecesse vir de cima. A
primeira seção é “Bem-vindo a Horizontelândia”:

Essa é a nossa forma abreviada de dizer que não temos gerência, e


ninguém “é subordinado” a ninguém. Temos, sim, um
fundador/presidente, mas nem mesmo ele é seu gerente. Nessa
empresa, você dirige – em direção a oportunidades e para longe de
riscos. Você tem o poder de aprovar projetos. Você tem o poder de
enviar produtos.
Uma estrutura plana remove todas as barreiras organizacionais
entre o seu trabalho e o cliente que desfruta desse trabalho. Toda
empresa lhe dirá que “o cliente é o chefe”, mas aqui essa declaração
tem peso. Não há nenhuma burocracia que o impeça de descobrir por
si próprio o que nossos clientes querem e, em seguida, dar isso a eles.
Se estiver pensando “Uau, isso parece muita responsabilidade”, você
está certo.2

Eis como um projeto começa na Valve: alguém decide começá-lo. Só


isso. Você decide qual é o melhor uso do seu tempo e da sua energia, o que
vai servir a empresa e o cliente da melhor maneira, e executa esse plano.
Como consegue outras pessoas para trabalhar no projeto? Você precisa
convencê-las. Se a outra pessoa achar que sua ideia é boa, ela entra na sua
equipe, ou “conspiração”, como eles chamam na Valve. Todas as centenas
de mesas na Valve têm rodinhas. Quando começam a trabalhar juntas em
um projeto, as pessoas aderem com suas mesas, movendo-as para uma
nova configuração.
Greg explica como esse sistema funcionou em um produto chamado
“Big Picture”. Um dos maiores produtos da Valve é a plataforma Steam,
que oferece videogames e softwares para os usuários. Tanto jogos da
Valve quanto jogos de terceiros estão na plataforma. Hoje, ela é a forma de
entrega mais comum para jogos de PC. Mas, como Greg recorda, em dado
momento ele e alguns colegas temiam que já estivessem alcançando o
maior número possível de clientes, mais de cinquenta milhões.
“Começamos a pensar em como nossa empresa estava crescendo e em
como o Steam estava crescendo, e pensamos que já tínhamos o número
máximo de clientes que poderíamos atingir. Queríamos alcançar pessoas
em outros lugares, nas salas de estar, em dispositivos móveis, no que
fosse.”
Então, ele começou a falar com algumas pessoas – designers e
profissionais de outras áreas. Ele as convenceu de que era uma boa ideia
inventar algo que funcionasse em televisores, celulares e tablets, e o grupo
criou a ideia do Big Picture – um meio de fornecer videogames a essas
plataformas. Mas os indivíduos que Greg tinha convencido não possuíam
todas as habilidades necessárias para concretizar o projeto. Eles sabiam
como queriam que fosse o Big Picture, mas não tinham a capacidade de
implementá-lo.
“Começamos a fazer um protótipo de como poderia ser a interface e,
em seguida, fizemos um filme para mostrar como seria legal. E usamos
esse filme para recrutar pessoas para o projeto. Nós não tínhamos como
escrever o código, [por isso] precisávamos recrutar pessoas que tivessem
essa habilidade.”
E foi isso o que eles fizeram. O produto foi lançado cerca de um ano
depois. Quem decidiu quando lançá-lo? As pessoas que trabalharam nele.
Quem decidiu que estava bom o suficiente? As pessoas que trabalharam
nele.
“Quando uma empresa se otimiza em torno da inovação, ela costuma
mudar de forma fundamental, eliminando estruturas e hierarquias internas,
qualquer estrutura interna”, defende Greg. A Valve opera dessa forma o
tempo todo. Eles não esperam ser obrigados a mudar por conta de uma
crise; mudam constantemente. É assim que a empresa é tocada no dia a
dia. Declara o manual da Valve:

A Valve não é avessa a toda estrutura organizacional – ela acaba


brotando em muitas formas o tempo todo, temporariamente. Mas
surgem problemas quando a hierarquia ou as divisões codificadas de
trabalho não são criadas pelos integrantes do grupo ou quando tais
estruturas persistem por longos períodos. Acreditamos que, de
maneira inevitável, essas estruturas começam a servir a suas próprias
necessidades e não às necessidades dos clientes da Valve. A
hierarquia começará a reforçar sua própria estrutura por meio da
contratação de pessoas que se encaixem em seu formato e pela adição
de indivíduos para preencher funções subordinadas de apoio. Seus
membros também são incentivados a desenvolver comportamentos de
busca de ganhos pessoais que se aproveitam da estrutura de poder, em
vez de se concentrar em simplesmente entregar valor aos clientes.3

Pode parecer que a Valve é vulnerável a aproveitadores – pessoas que


querem se aproveitar do sistema –, mas há constantes avaliações entre os
colegas. Claro, os indivíduos podem decidir no que querem trabalhar, mas
se eles não conseguirem convencer ninguém de que sua ideia é boa, talvez
ela realmente não seja. Greg diz que, em vez de ter o luxo de ter alguém
para lhe dizer o que fazer, você tem um grupo de colegas declarando o que
pensam daquilo que você decidiu fazer.
Não é um sistema perfeito. Nenhuma organização humana é perfeita.
Mas, na Valve, em geral questões relativas a funcionários são levantadas
por colegas de equipe que conversam entre si. Eles podem decidir
consultar outras pessoas. Isso pode resultar em feedback, em uma
advertência severa ou até mesmo em demissão. Mas a decisão é tomada
em equipe.
A exceção ocorreu em 2013, quando a Valve desenvolveu um
problema com o qual seu sistema não foi capaz de lidar. Pela primeira vez,
eles contrataram um grupo grande de pessoas de uma só vez. A empresa
tinha decidido se aventurar no setor de hardware e dispositivos móveis,
mas a equipe não tinha as habilidades necessárias para isso. Então, várias
pessoas foram contratadas para resolver a questão.
Mas a contratação simultânea de tantas pessoas que não eram
acostumadas à cultura da Valve acabou causando problemas. Surgiram
bolsões de funcionários que não tomavam as decisões segundo a tradição
da Valve. Eles diziam a outras pessoas o que fazer. E, pior ainda, não
tinham um desempenho compatível com os padrões da Valve.
Normalmente, outros membros da equipe não iriam tolerar esse tipo de
comportamento, mas, como todos eram novos no grupo, seus colegas não
confiavam suficientemente no método da Valve para tomar uma atitude.
“Então, um grupo de funcionários do núcleo da Valve, que trabalha na
empresa há bastante tempo, entrou em ação para proteger a cultura da
empresa. Embora eles tenham precisado agir de uma maneira que não
corresponde à cultura para fazer isso”, conta Greg. A empresa demitiu
dezenas de pessoas ao mesmo tempo. Ao conversar com Greg, consegui
perceber que ele encara isso como um fracasso. Ele descreve a situação
como uma reação quase biológica, estranhamente similar à forma como a
Microsoft agiu em relação aos fundadores da Valve: organismos que
atacam invasores externos para proteger o todo.
“Temos conversado muito sobre o que significa, para nossos objetivos
declarados, o fato de termos agido de um modo que não corresponde a
eles”, reflete Greg. “Sobre como podemos evitar isso no futuro, para não
precisarmos contar com um grupo de pessoas que estão na empresa há
muito tempo.” Ele pausa por um momento e então diz, confiante: “Em um
ano, vamos ter resolvido isso.”
Greg tem fé no que a empresa realizou: uma tentativa reiterada de
maximizar a liberdade, a capacidade e a criatividade humanas. Podem ter
surgido percalços ocasionais, mas essa forma de funcionamento é poderosa
demais para não ser replicada.
“Esta é uma inovação capitalista tão poderosa quanto muitas das
inovações industriais que mudaram a natureza do trabalho”, comenta. “É
tão útil e tão bem-sucedida que não é possível que ela não possa ser uma
força de mudança no mundo.”
A Valve usa o Scrum? Bem, segundo Greg, se andar pelos corredores,
você verá um monte de quadros brancos sobre rodinhas, cobertos com
post-its. Mas eles não obrigam as pessoas a usar o método; permitem que
os funcionários decidam qual processo é o melhor para o seu grupo. Como
acontece com a maioria dos assuntos, Greg e os outros fundadores se
abstêm de dizer às pessoas o que fazer. Mas muitos funcionários da Valve
resolveram que, já que podem escolher o método que quiserem, eles
preferem o Scrum. E isso basta para mim.
Ainda não existem muitas empresas como a Valve. No entanto, mais e
mais delas surgem a cada dia. E não só no universo dos softwares. A
Morning Star, líder mundial em processamento de tomates, não tem
chefes. Cada funcionário negocia suas funções e responsabilidades com os
colegas, quer elas tratem sobre vender os produtos, dirigir caminhões ou
elaborar projetos sofisticados. Em qualquer empresa, em primeiro lugar,
você precisa que os funcionários se libertem e, em seguida, tem de fazer
com que eles aceitem a responsabilidade que provém disso.
Ou, como o Funkadelic disse nos idos de 1970: “Liberte a sua mente
[...] e seu bumbum seguirá.”
O que não podemos fazer?
Talvez o ceticismo seja uma resposta racional ao desespero, mas ele é
uma das concepções humanas mais corrosivas. Os primeiros anos deste
século têm sido abundantes em termos de elementos que causam
ceticismo: guerras sem sentido disfarçadas de patriotismo, terrorismo
niilista fantasiado de fé, ambição disfarçada de razão ideológica, políticos
ambiciosos que perseguem seus próprios fins egoístas.
O cético suspira com conhecimento de causa e diz: “É assim que o
mundo funciona. Os seres humanos são essencialmente corruptos e
egoístas. Fingir o contrário é ingenuidade.” Dessa forma, eles justificam
restrições e racionalizam limites.
Ao longo das últimas duas décadas, mergulhei nos textos sobre o que
gera a excelência. A resposta surpreendente é que, em sua essência, os
seres humanos querem ser grandes. As pessoas querem fazer algo que
tenha um propósito, querem tornar o mundo um lugar melhor, ainda que só
um pouquinho. O segredo é se livrar do que está atravancando seu
caminho, eliminar aquilo que impede que elas se tornem quem são capazes
de se tornar.
É isso o que o Scrum faz. Ele define metas e, de forma sistemática,
passo a passo, desvenda como chegar lá. E, o que é ainda mais importante,
identifica o que está nos impedindo de chegar ao nosso destino.
O Scrum é o código do anticético. Ele não espera passivamente por um
mundo melhor nem se rende ao que existe. Pelo contrário, é um método
prático e acionável para implementar a mudança. Conheço projetos Scrum
destinados a entregar vacinas para crianças em situação de risco, a
construir casas de forma mais barata, a eliminar a corrupção, a capturar
criminosos perigosos, a eliminar a fome e a enviar pessoas para outros
planetas.
Os projetos que mencionei não são desejos intangíveis. Pelo contrário,
são planos que podem ser colocados em prática. Não se engane, esses
planos terão de ser inspecionados, adaptados e modificados a cada passo
do caminho, mas eles estão em movimento. No mundo inteiro, estão
ocorrendo ciclos rápidos que nos impulsionam em direção a um mundo
melhor.
É isto que eu espero que você leve deste livro: o conhecimento de que
é possível – de que você pode mudar as coisas, de que você não tem de
aceitar a maneira como elas são.

Todos os homens sonham, mas não da mesma forma. Aqueles que


sonham de noite, nos recessos empoeirados de suas mentes, acordam
de manhã e descobrem que era tudo vaidade. Mas aqueles que
sonham de dia são homens perigosos, pois podem realizar seus
sonhos de olhos abertos, tornando-os possíveis.

– T.E. Lawrence, Os sete pilares da sabedoria4

Não dê ouvidos aos céticos que lhe dizem o que é impossível.


Surpreenda-os com aquilo de que você é capaz.
RESUMO
O Scrum acelera todos os empreendimentos humanos. Não
importa o tipo de projeto ou problema – o Scrum pode ser usado para
melhorar o desempenho e os resultados em qualquer
empreendimento.
Scrum para escolas. Na Holanda, um número crescente de
professores usa o Scrum para dar aula no ensino médio. Eles veem
uma melhora quase imediata de mais de 10% nos resultados de
provas. E têm obtido o engajamento de todos os tipos de alunos,
desde os que querem seguir uma profissão mais simples até os
superdotados.
O Scrum contra a pobreza. Em Uganda, a Fundação Grameen usa o
Scrum para fornecer dados agrícolas e de mercado a agricultores
pobres. O resultado: o dobro da produção e o dobro da receita para
algumas das pessoas mais pobres do planeta.
Rasgue seus cartões de visita. Livre-se de todos os títulos, de todos
os gerentes, de todas as estruturas. Dê às pessoas a liberdade de fazer
o que acham melhor e a responsabilidade pelas suas decisões. Você se
surpreenderá com os resultados.
Implementando o Scrum - como
começar

Agora que você já leu o livro, eis um resumo de como começar um


projeto Scrum. Esta é uma descrição bem generalizada do processo, mas
deve ser o suficiente para começar. O livro foi escrito para lhe dar o
porquê por trás do Scrum. Isto lhe dará, de forma abreviada, o como.

1. Escolha um Product Owner. Essa pessoa é quem tem a visão do que


sua equipe fará, produzirá ou realizará. Ela leva em consideração os
riscos e as recompensas, o que é possível, o que pode ser feito e aquilo
pelo que tem paixão. (Veja o Capítulo 8, “Prioridades”, para mais
informações.)
2. Selecione uma equipe. Quem serão as pessoas que realizarão o trabalho?
Essa equipe precisa possuir todas as habilidades necessárias para pegar
a visão do Product Owner e concretizá-la. As equipes devem ser
pequenas – de três a nove pessoas é a regra geral. (Veja o Capítulo 3,
“Equipes”, para saber mais.)
3. Escolha um Scrum Master. Esse é o indivíduo que treinará o resto da
equipe na estrutura do Scrum e ajudará os outros integrantes a
eliminarem qualquer coisa que esteja diminuindo seu ritmo. (Veja o
Capítulo 4, “Desperdício”, para saber mais.)
4. Crie e ordene, de acordo com as prioridades, um backlog do produto.
Essa é uma lista de tudo o que precisa ser construído ou realizado para
que a visão se torne realidade. Essa lista existe e evolui ao longo de
toda a vida do produto; ela é o mapa do produto. A qualquer momento,
ele é a visão única e definitiva de “tudo o que a equipe poderia um dia
vir a realizar, em ordem de prioridade”. Só existe um backlog do
produto. Isso significa que o Product Owner precisa tomar decisões de
como priorizar as tarefas ao longo de todo o projeto e deve consultar
todos os stakeholders e a equipe para se certificar de que está
representando tanto o que as pessoas querem quanto o que é possível de
ser feito. (Veja o Capítulo 8, “Prioridades”, para mais informações.)
5. Refine e estime o backlog. É crucial que as pessoas que irão de fato
completar os itens da lista estimem quanto esforço eles demandarão. A
equipe deve olhar para cada item do backlog e ver se ele é realmente
factível. Há informações suficientes para realizar a tarefa? Ela é
pequena o bastante para ser estimada? Existe uma definição de Feito,
isto é, todo mundo concorda sobre quais são os critérios que devem ser
cumpridos para que algo seja considerado “Feito”? A tarefa cria valor
visível? Deve ser possível exibir, demonstrar e – esperamos – entregar
para o cliente qualquer um dos itens. Não estime o backlog em horas,
porque as pessoas são péssimas nisso. Estime as tarefas de acordo com
um tamanho relativo: pequeno, médio ou grande. Ou, ainda melhor, use
a sequência de Fibonacci e estime o valor de cada item em pontos: 1, 2,
3, 5, 8, 13, 21 etc. (Veja o Capítulo 6, “Planeje a realidade, não a
fantasia”, para saber mais.)
6. Planejamento do sprint. Essa é a primeira reunião do Scrum. A equipe,
o Scrum Master e o Product Owner se sentam para planejar o sprint. Os
sprints sempre têm uma duração determinada, que deve ser de menos
do que um mês. Hoje, a maioria das pessoas realiza sprints de uma ou
duas semanas. A equipe olha para o topo do backlog e prevê quantas
tarefas conseguirá realizar no sprint em questão. Se já tiver realizado
alguns ciclos, o grupo deve verificar o número de pontos que realizou
no sprint anterior. Esse número é conhecido como a velocidade da
equipe. O Scrum Master e o grupo devem tentar aumentar esse número
a cada sprint. Essa é outra oportunidade para que a equipe e o Product
Owner se certifiquem de que todos entendem exatamente como esses
itens contribuirão para completar a visão. Além disso, durante esse
encontro, todos devem entrar em acordo em relação a uma meta do
sprint, o que todo mundo quer realizar nesse ciclo.
Um dos pilares do Scrum é que, uma vez que a equipe tenha se
comprometido com o que acredita que pode realizar em um sprint, esse
objetivo seja selado. Ele não pode ser mudado e nada pode ser
acrescentado a ele. A equipe precisa trabalhar de forma autônoma
durante o sprint para completar aquilo que previu que faria. (Veja o
Capítulo 4, “Tempo”, e o Capítulo 6, “Planeje a realidade, não a
fantasia”, para saber mais.)
7. Torne o trabalho visível. A maneira mais comum de fazer isso no
Scrum é criar um Quadro Scrum com três colunas: “A Fazer”,
“Fazendo” e “Feito”. Post-its representam os itens que devem ser
realizados, e a equipe move essas notas pelo quadro Scrum conforme os
itens vão sendo completados, um a um.
Outra maneira de tornar o trabalho visível é criar um gráfico de
burndown. Um eixo representa o número de pontos que a equipe
designou para o sprint, e o outro representa o número de dias. Todo dia,
o Scrum Master calcula o número de pontos realizados e acrescenta
essa informação ao gráfico. O ideal é que haja uma linha íngreme
descendo em direção a zero ponto restante no último dia do sprint.
(Veja o Capítulo 7, “Felicidade”, para mais informações.)
8. Reunião diária ou Scrum diário. Essas são as batidas do coração do
Scrum. Todo dia, no mesmo horário, durante não mais do que quinze
minutos, a equipe e o Scrum Master se reúnem e respondem a três
perguntas:

• O que você fez ontem para ajudar a equipe a concluir o sprint?

• O que você fará hoje para ajudar a equipe a concluir o sprint?

• Há algum obstáculo que esteja impedindo você ou a equipe de


alcançar a meta do sprint?
Só isso. A reunião se resume a isso. Se ela levar mais do que quinze
minutos, isso significa que você a está realizando da forma errada.
Esse encontro ajuda a equipe inteira a saber exatamente em que ponto
as coisas estão no sprint. Todas as tarefas serão completadas a tempo?
Há oportunidades para auxiliar outros integrantes do grupo a superar
obstáculos? Não existe isso de delegar tarefas de cima para baixo. A
equipe é autônoma, são os integrantes que fazem isso. Ninguém faz
um relatório detalhado para a gerência. O Scrum Master é
responsável por fazer com que os obstáculos ao progresso da equipe
sejam eliminados. (Veja o Capítulo 4, “Tempo”, e oCapítulo 6,
“Planeje a realidade, não a fantasia”, para saber mais.)

9. Revisão do sprint ou Demonstração do sprint. Essa é a reunião em


que a equipe mostra o que realizou durante o sprint. Qualquer um pode
participar, não apenas o Product Owner, o Scrum Master e a equipe,
mas também os stakeholders, o comando da empresa, os clientes etc.
Essa é uma reunião aberta em que a equipe demonstra o que conseguiu
mover até a coluna “Feito” durante o ciclo.
A equipe só deve demonstrar o que atender à definição de “Feito”. O
que estiver totalmente terminado e puder ser entregue sem mais
nenhum trabalho. Pode não ser um produto completo, mas deve ser uma
funcionalidade completa de um produto. (Veja o Capítulo 4, “Tempo”,
para mais informações.)
10. Retrospectiva do sprint. Depois que tiver mostrado o que conseguiu
realizar durante o último sprint – aquilo que está “feito” e tem a
possibilidade de ser enviado para os clientes para que receba feedback
–, a equipe se reúne e pensa no que deu certo, no que poderia ter sido
melhor e no que pode ser melhorado no sprint seguinte. Qual é o
aprimoramento no processo que os integrantes da equipe, em grupo,
podem implementar de modo imediato?
Para que seja eficaz, essa reunião requer certa maturidade emocional e
um clima de confiança. O essencial é se lembrar de que vocês não estão
procurando alguém em quem pôr a culpa; estão examinando o processo.
Por que isso aconteceu dessa maneira? Por que não percebemos aquilo?
Como podemos trabalhar mais rápido? É crucial que o grupo se
responsabilize pelo processo e pelos resultados, e busque soluções em
equipe. Ao mesmo tempo, as pessoas precisam ter estrutura emocional
para abordar as questões que as incomodam de modo a buscar uma
solução, e não de maneira acusatória. E o resto do grupo precisa ter
maturidade para ouvir o feedback, levá-lo em consideração e procurar
uma solução, em vez de ficar na defensiva.
Ao fim da reunião, a equipe e o Scrum Master devem combinar qual é o
aprimoramento no processo que será implementado no sprint seguinte.
Esse aprimoramento, que às vezes é chamado de kaizen, deve ser
incluído no backlog do sprint seguinte, com testes de aceitação. Assim,
o grupo pode verificar com facilidade se conseguiu implementar a
melhoria e qual foi o efeito dela na velocidade. (Veja o Capítulo 7,
“Felicidade”, para saber mais.)
11. Comece de imediato o sprint seguinte, levando em consideração a
experiência da equipe em relação aos obstáculos e os aprimoramentos
no processo.
Agradecimentos

Nenhum projeto é resultado do trabalho de uma só pessoa, e sim o


produto de uma equipe, e este livro não é exceção.
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a meu filho, J.J. Sutherland,
que deu a sugestão de escrevermos juntos um livro sobre a extraordinária
jornada pela qual o Scrum me levou há alguns anos. Ele queria dar uma
pausa depois de uma década correndo atrás de guerras e desastres para a
NPR, e achava que contar a história de como o Scrum surgiu, por que o
método funciona e como ele mudou o mundo não seria apenas importante,
mas também muito divertido. O livro que você tem em mãos, apesar de
conter minha história, é o produto de muitas horas que passamos juntos,
mas foi ele quem pôs as palavras no papel.
Howard Yoon, o agente literário mais esperto que existe, pediu que
pensássemos grande, em algo mais amplo e abrangente. Suas dicas, seus
conselhos, sua sabedoria e seu know-how perspicaz não apenas tornaram
este livro possível, mas também o elevaram a outro patamar.
Não é sempre que alguém tem a chance de trabalhar com um
verdadeiro mestre em seu ofício, e tive muita sorte de ter essa
oportunidade com Rick Horgan, do Crown Publishing Group. Seu trabalho
hábil e meticuloso torna as coisas melhores. E ele faz tudo parecer tão
fácil. Tiro o meu chapéu e agradeço de verdade.
O Product Owner chefe Alex Brown, Joe Justice e o resto da equipe da
Scrum, Inc. compartilharam suas ideias críticas, sua energia ilimitada e sua
experiência profunda.
Também gostaria de agradecer:
Aos professores Hirotaka Takeuchi e Ikujiro Nonaka, cujo trabalho foi
a centelha da ideia do Scrum, e que, desde então, tornaram-se bons
amigos.
A meu cocriador, Ken Schwaber, cuja obstinação irascível ajudou a
formatar o Scrum e a torná-lo a força que é hoje.
Acima de tudo, a minha esposa, Arline. Ela esteve ao meu lado desde o
começo e, como ministra unitário-universalista, apresentou o Scrum a
muitas igrejas. Ela tornou o mundo um lugar melhor quando nos mostrou
como aplicar o Scrum em uma organização inteira.
E, por fim, gostaria de agradecer às centenas de milhares de Scrum
Masters, Product Owners e equipes ao redor do planeta que vivem o
Scrum de fato todo dia. Vocês fazem com que o Scrum seja essa força
vibrante e positiva no mundo e nunca deixam de me impressionar com
tudo o que conseguiram realizar com ele.
Notas
Capítulo 1
1. Eggen, Dan; Witte, Griff. “The FBI’s Upgrade That Wasn’t; $170
Million Boughtan Unusable Computer System” [A melhoria do FBI
que não se concretizou; 170 milhões de dólares gastos em um sistema
de computador inútil]. Washington Post, 18 de agosto de 2006: A1.
2. Status of the Federal Bureau of Investigation’s Implementation of the
Sentinel Project [Status da implementação do projeto Sentinel pelo
FBI]. Departamento de Justiça dos Estados Unidos, Gabinete do
Inspetor--Geral. Relatório 11-01, outubro de 2010.
3. Ibid.
4. Ohno, Taiichi. O Sistema Toyota de Produção: além da produção em
larga escala. Porto Alegre: Bookman, 1997. [Obra esgotada]
5. Roosevelt, Theodore. “Cidadania numa República”. Discurso dado na
Sorbonne, Paris, França, em 23 de abril de 1910.
Capítulo 2
1. Takeuchi, Hirotaka; Nonaka, Ikujiro. “The New New Product
Development Game” [O novo jogo para desenvolvimento de novos
produtos]. Harvard Business Review, janeiro/fevereiro de 1986: 285-
305.
2. Schwaber, Ken. “Scrum Development Process” [Processo de
desenvolvimento Scrum]. In: Sutherland, J.; Patel, D.; Casanave, C.;
Miller, J.; Hollowell, G. (orgs.). OOPSLA Business Object Design and
Implementation Workshop. Londres: Springer, 1997.
3. Deming, W. Edwards. “To Management” [Para a gerência]. Discurso
dado no Centro de Conferências Mt. Hakone, Japão, 1950.
Capítulo 3
1. Takeuchi, Hirotaka; Nonaka, Ikujiro. “The New New Product
Development Game” [O novo jogo para desenvolvimento de novos
produtos]. Harvard Business Review, janeiro/fevereiro de 1986: 285-
305.
2. MacArthur, Douglas. “The Long Gray Line” [A grande linha cinza].
Discurso dado em West Point, Nova York, 1962.
3. Ibid.
4. Feynman, Richard. Report of the Presidential Commission on the Space
Shuttle Challenger Accident, Appendix F – Personal Observations on
Reliability of Shuttle [Relatório da comissão presidencial sobre o
acidente do ônibus espacial Challenger: Apêndice F – Observações
pessoais quanto à segurança da espaçonave]. Relatório (1986).
5. Warrick, Joby; Wright, Robin. “U.S. Teams Weaken Insurgency In Iraq”
[Equipes americanas enfraquecem a rebelião no Iraque]. Washington
Post, 6 de setembro de 2006.
6. Flynn, Michael; Jergens, Rich; Cantrell, Thomas. “Employing ISR: SOF
Best Practices” [Aplicação da pesquisa de sistemas de informação:
melhores práticas das forças de operações especiais]. Joint Force
Quarterly 50, 3o trimestre de 2008: 60.
7. Lamb, Christopher; Munsing, Evan. “Secret Weapon: High-value Target
Teams as na Organizational Innovation” [Arma secreta: equipes para
alvos de alto valor como uma inovação organizacional]. Institute for
National Strategic Studies: Strategic Perspectives, no 4, 2011.
8. Brooks, Frederick P. O mítico homem-mês: ensaios sobre engenharia de
software. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
9. Cowan, Nelson. “The Magical Number 4 in Short-Term Memory: A
Reconsideration of Mental Storage Capacity” [O mágico número 4 na
memória de curto prazo: uma reconsideração da capacidade de
armazenamento mental]. Behavioral and Brain Sciences, no 24, 2001:
87-185.
10. Nisbett, Richard; Caputo, Craig; Legant, Patricia; Marecek, Jeanne.
“Behavior as Seen by the Actor and as Seen by the Observer”
[Comportamento conforme percebido pelo agente e como percebido
pelo observador]. Journal of Personality and Social Psychology, 27.2,
1973: 154-164.
11. Milgram, Stanley. “The Perils of Obedience” [Os perigos da
obediência]. Harper’s Magazine,1974.
Capítulo 4
1. Marvell, Andrew. “To His Coy Mistress”, 1681.
Capítulo 5
1. Ohno, Taiichi. O Sistema Toyota de Produção: além da produção em
larga escala. Porto Alegre: Bookman, 1997. [Obra esgotada]
2. Strayer, David; Drews, Frank; Crouch, Dennis. “A Comparison of the
Cell Phone Driver and the Drunk Driver” [Uma comparação entre o
motorista que fala ao celular e o motorista bêbado]. Human Factors,
48.2, verão de 2006: 381-391.
3. Sanbonmatsu, D.M.; Strayer, D.L.; Medeiros-Ward, N.; Watson, J.M.
“Who MultiTasks and Why? Multi-Tasking Ability, Perceived Multi-
Tasking Ability, Impulsivity, and Sensation Seeking” [Quem realiza
multitarefas e por quê? A capacidade de realizar multitarefas, a
capacidade percebida de realizar multitarefas, a impulsividade e a busca
de sensações]. PLoS ONE, 8(1): 2013.
4. Weinberg, Gerald M. Software com qualidade. São Paulo: Makron
Books. [Vários volumes, obra esgotada]
5. Pashler, Harold. “Dual-taskInterference in Simple Tasks: Data and
Theory” [Interferência dual de tarefas em tarefas simples: dados e
teoria]. Psychological Bulletin, 116.2, 1994: 220-244.
6. Charron, Sylvain; Koechlin, Etienne. “Divided Representation of
Concurrent Goals in the Human Frontal Lobes” [Representação
dividida de objetivos concomitantes no lobo frontal dos seres
humanos]. Science, 328.5976, 2010: 360-363.
7. Wilson, Glenn. “The Infomania Study” [O estudo da infomania].
Resumo disponível em:
http://www.drglennwilson.com/Infomania_experiment_for_HP.doc.
Acesso em 6 de junho de 2016.
8. Womack, James P.; Jones, Daniel T.; Roos, Daniel. A máquina que
mudou o mundo. Rio de Janeiro: Elsevier: 2004.
9. Avnaim-Pesso, Liora; Danziger, Shai; Levav, Jonathan. “Extraneous
Factors in Judicial Decisions” [Fatores externos em decisões judiciais].
Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States
of America, 108.17, 2011.
10. Vohs, K.; Baumeister, R.; Twenge, J.; Schmeichel, B.; Tice, D.;
Crocker, J. Decision Fatigue Exhausts Self-Regulatory Resources – But
So Does Accommodating to Unchosen Alternatives [Fadiga de decisão
exaure os recursos autorreguladores – mas se ajustar a alternativas não
escolhidas provoca o mesmo]. 2005.
Capítulo 6
1. Cohn, Mike. Agile Estimation and Planning [Estimativa e planejamento
ágeis]. Upper Saddle River, NJ: Prentice Hall, 2005.
2. Bikhchandani, Sushil; Hirshleifer, David; Welch, Ivo. “A Theory of
Fads, Fashion, Custom, and Cultural Change as Informational
Cascades” [Uma teoria sobre modismos, moda, hábitos e mudança
cultural como cascatas informativas]. Journal of Political Economy,
100.5, 1992: 992-1026.
3. Thorndike, Edward Lee. “A Constant Error in Psychological Ratings”
[Um erro constante em classificações psicológicas].Journal of Applied
Psychology, 4.1, 1920: 25-29.
4. Dalkey, Norman; Helmer, Olaf. “An Experimental Application of the
Delphi Method to the Use of Experts” [Uma aplicação experimental do
método Delphi para o uso de especialistas]. Management Science, 9.3,
abril de 1963: 458-467.
Capítulo 7
1. Lyubomirsky, Sonja; King, Laura; Diener, Ed. “The Benefits of
Frequent Positive Affect: Does Happiness Lead to Success?” [Os
benefícios do sentimento positivo frequente: a felicidade leva ao
sucesso?]. Psychological Bulletin, 131.6, 2005: 803-855.
2. Spreitzer, Gretchen; Porath, Christine. “Creating Sustainable
Performance” [Criando um desempenho sustentável]. Harvard Business
Review, janeiro/fevereiro de 2012: 3-9.
3. Ibid.
4. Shakespeare, William. Rei Lear. Porto Alegre: L&PM, 1997.
Capítulo 8
1. Shook, John. “The Remarkable Chief Engineer” [O incrível engenheiro-
chefe]. Lean Enterprise Institute, 3 de fevereiro de 2009.
2. Ford, Daniel. A Vision So Noble: John Boyd, the OODA Loop, and
America’s War on Terror [Uma visão tão nobre: John Boyd, o ciclo
OODA e a guerra dos Estados Unidos contra o terror]. S.l.: Create
Space Independent, 2010.
3. Boyd, John. New Conception. 1976.
4. Ibid.
Capítulo 9
1. Shannon, Brad. “McKenna, Inslee Outline Plans to Bring Efficiency to
Government” [McKenna e Inslee traçam planos para trazer eficiência
ao governo]. The Olympian, 6 de outubro de 2012.
2. Valve Handbook for New Employees [Manual da Valve para novos
funcionários]. Bellevue, WA: Valve Press, 2012.
3. Ibid.
4. Lawrence, T.E. Os sete pilares da sabedoria. Rio de Janeiro: Record,
2000.
Índice remissivo

3M 39, 58
11 de Setembro 10
A
“A Fazer” 79, 80, 151, 193, 221
A máquina que mudou o mundo 98
“A roupa nova do imperador” (Andersen)
     158
Academia da Força Aérea dos Estados
     Unidos 33
Adams, Scott 107
Afeganistão 127, 133, 181
Agência Nacional de Informação Geoespa-
     cial 60
Agência Nacional de Segurança (NSA) 60
Agir 32, 37, 174
Al Qaeda 10, 59, 60
All Blacks 65, 66, 79, 81
Aliados, na Segunda Guerra Mundial 179
Alphen aan den Rijn 192
alpinistas
 felicidade de 141
alterações grátis 190
Amazon.com 10, 15, 58, 132, 173
Andersen, Hans Christian 158
Apple 125, 186
aprimoramento contínuo 41, 145
 Métrica da felicidade 146
Ashram College 192
Association for Computing Machinery 40
AT&T 81
Audi 99
Automated Case Support, sistema 10
autonomia 39, 40, 54, 56, 73
aviação de combate 8
aviões de papel 42
B
backlog 35, 165
Bailar, John 33
Banco Grameen 199, 201
Bangladesh 199
Barton, Brent 115
basquete americano na Olimpíada de 2004,
     time de 157
Baxter, robô 38
Bell Labs 43, 81
BellSouth 43
Bell, Steve 199
Ben-Shahar, Tal 142, 159
Big Picture 211
Bikhchandani, Sushil 124
BMW 99
Bobo Sábio 158, 159
“bolhas de felicidade” 157
Booz Allen Hamilton, Katzenbach Center
     na 101
Borland Software Corporation 81
Boston 18, 49, 62
Boston Celtics 49
Bowens, Maneka 196
Boyd, John 171, 172, 173
Brooks, Fred 63
Brooks, Rodney 36, 37, 38, 203
Brown, Rachel 153
burocracia 56, 203, 206
C
Cairo 54
Caixas eletrônicos 34, 35
call center da Zappos 154
capital de risco 18, 101, 143, 163, 164
cascata informacional 124
CBS 64
celular
 dirigir falando ao 89
Centros de Recursos Terapêuticos 112
ceticismo 15, 23, 214
Challenger, desastre do 57
charter school 197
Chevy 78
Chicago Tribune 56
CIA 60, 133
ciclo de \ 40
ciclo de \“inspeção e adaptação\” 17, 21
ciclo OODA 8, 174, 178, 190
ciclo PDCA 41, 89, 146
ciclos curtos 29
ciclos de negócios 43
“Citizenship in a Republic” (Roosevelt) 27
Cohn, Mike 120
colaboração 20, 62, 154, 155, 184
Colorado Regional Cancer Center 34
Comando Conjunto de Operações Espe-
     ciais 60
Comissão do 11 de Setembro 11
Comissão Rogers 57
compartilhamento de informação 10, 11, 50
complacência
 perigos da 155, 156, 157
“conduta de guerra colaborativa” 60
cone da incerteza 118
conselhos de controle de alterações 183
“conspiração” 211
“Constant Error in Psychological Ratings,
     A” (Thorndike) 125
consultoria de Scrum 17, 43, 147
contexto, perdas por causa da mudança de
     94, 95
contratos 18
controle estatístico de processo 41
Coomer, Greg 209
Copenhague 72
Coplien, Jim 81
Coram, Robert 173
Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados
     Unidos 168
crescimento pessoal 161
crise financeira de 2008 207
Crown, Nelson 64
Crozier, William 13
cultura corporativa 28, 154, 156
 mudanças na 102, 137
Curva de Maxwell 106
D
Dalkey, Norman 125
DeAngelo, Michael 205
Decidir 32, 37, 174
Declaração de Independência dos Estados
     Unidos 202
Deming, W. Edwards 41
Departamento de Justiça dos Estados
     Unidos 14
Departamento de Saúde e Serviços Hu-
     manos dos Estados Unidos 27
desempenho individual versus desempen-
     ho de equipes 48
desenvolvimento de software 7, 15, 17, 19,
     38, 40, 42, 48, 63, 81, 92, 191, 198
desperdício 87, 88, 89, 163
 pela inconsistência 89
 pela irracionalidade 89
 pelos resultados 89
desperdício emocional 107
Dia D 179
diagrama de Gantt 7, 13, 14, 38, 77
Dilbert 107
Dourambeis, Nicola 58
E
Easel 38, 39, 76, 77, 83
e-commerce 129
edifício J. Edgar Hoover 9
educação (eduScrum) 195, 197
efeito de contágio 125, 129, 140
efeito halo 125, 129, 140
Egito, revolução no 56
Eichmann, Adolf 68
Eisenhower, Dwight D. 14
Eisenstat, Stanley 47
Employing ISR
 SOF Best Practices 61
Enterprise [Star Trek] 132
equipe
 versus indivíduos 48
equipe de aviônica 81
equipe Scrum 40, 85, 102, 167
equipe Wikispeed 77, 78, 176
e-readers 76
erro fundamental de atribuição 67, 70, 160
Escola de Armamentos da Força Aérea dos
     Estados Unidos 171
esgotamento do ego 106
espírito guerreiro 65
esquemas concorrentes experimentais 186
Estação Espacial Internacional 80
estado de Washington 204, 205, 206, 209
estrutura plana 210
Exército dos Estados Unidos 13
expectativas irracionais 89, 107
“Experimental Application of the Delphi
     Method to the Use of Experts, An”
     (Dalkey e Helmer) 126
F
F-4 173
F-15 172
F-16 172
F-86 Sabre 171, 173
Facebook 10, 26, 180, 187, 207
falhar rapidamente 186
Fazendo 79, 80, 151, 193, 221
FBI 21, 60, 64, 169, 182
feedback 21, 29, 37, 76, 77, 145, 156, 159,
     168, 173, 174, 176, 177, 179, 185,
     207, 222
Feito 79, 80, 145, 151, 166, 189, 193, 221
felicidade
 como medida profética do sucesso 143,
     144
 complacência versus 155, 157
 na cultura corporativa da Zappos 152,
     153
 passividade versus 83
 produtividade e 142, 143, 144, 145
 quantificação da 144
 velocidade e 147
Feynman, Richard 57
foguetes 17, 80, 191
Foley, Christa 152
Forbes 58
Força Aérea dos Estados Unidos 31
Ford Motor Company 38, 78
Forrester Research 18
Fortune 58, 111
Frederico II, o Grande, rei da Prússia 178
Fremont, Califórnia 70
Fuji-Xerox 39, 57, 61
Fulgham, Chad 9
Fundação eduScrum 197
Fundação Gates 200
Fundação Grameen 199, 200
futebol 72
G
Gantt, Henry 13
Gartner 18
Gates, Bill 209
General Motors (GM) 70, 97
Genghis Khan (robô) 38
gerentes de médio escalão 62
Gezelligheld 195
Google 10, 15, 58, 187
Governo
 Scrum no 202
gráfico de burndown 189, 194, 221
gráficos de burndown 194
Groupon 187
GSI Commerce 129
Guerra da Coreia 171
Guerra do Iraque 59
Guerra Fria 125
guerreiros maoris 65
H
haka 65, 79
Half-Life 209
Harris, Ron 34
Harvard Business Review 39, 155, 156
Healthcare.gov 26, 27
hedonistas 160
Helmer, Olaf 125
Hewlett-Packard 39
hiperprodutividade 40
Hirshleifer, David 124
Holanda 192
Holland, John H. 67
Holocausto 68
Honda 39, 98
Hsieh, Tony 152
I
IBM 11, 64
idiotas 66, 109, 160
igrejas com o Scrum 218
igrejas, Scrum em 170
impedimentos 201
índice de progresso para fora da pobreza
     201
indivíduos
 versus equipes 48
Induction
 Processes of Inference, Learning, and
     Discovery (Holland) 67
Inslee, Jay 204
“interferência da tarefa dupla” 93
internet 55, 131, 138, 152, 163, 187
inventário 96, 97
INVEST, critérios 134, 135
iRobot 38
IRS 64
Islândia 207
J
Jansen, Tim 195
Japão
 Deming no 41
 fabricação de carros de luxo no 71
Jefferson, Thomas 141
Johnson, Jeff 9
Joint Force Quarterly 61
jornalismo on-line 187
juízes, fatores que influenciam nas sen-
     tenças de 105
Justice, Joe 77
K
kaizen 145, 146, 162, 223
Kamara, Eric 200
Katzenbach, Jon 101
Khan, Genghis 38
Kinshasa 200
Klepper, Kenny 111
L
Laboratório de Mídia do MIT 76
Lamb, Christopher 61
Landy, Mark 111
Laos 133, 134
Lawrence, T.E. 215
Leahy, Patrick 11
Lean Enterprise Institute 98, 168
Lehman Brothers 9
Lei de Brooks 63
Lei Sunshine 149
Lexus 98
lista de tarefas 123, 134. Consulte backlog
 do cônjugue 96, 161
Living Social 187
Lockheed Martin 12
Loose Deuce (regimento de cadetes L2) 51
M
MacArthur, Douglas 41
Manifesto Ágil 20, 25
marketing de produto 169
Marvell, Andrew 75
Maslow, Abraham 161
Maxwell, Scott 166
McChrystal, Stanley 60
McKinsey & Company 101
Medco 111, 112, 113, 114, 116, 118, 120,
     127, 136, 137, 139
 Medco 2.0 139
Mercedes-Benz 99
método de cascata 206
método Delphi 126, 127, 140
métrica da felicidade 145, 146, 147, 156,
     160, 161
microfinanciamento 199, 201
microgerenciamento 34, 61
Microsoft 11, 209, 210, 213
 Org Chart 209
 usando Scrum 210
MidContinent Computer Services 34
MiG-15 171
MiG-21 173
Milgram, Stanley 68
Miller, George 63
Mítico homem-mês, O (Brooks) 63
Morita, Akio 41
Morning Star 214
morte do jornal 187
Mubarak, Hosni 54
Muda (desperdício nos resultados) 89
Mudar ou morrer 18, 42, 177, 208
Mukhabarat 56
multitarefa 90
 custo da 95
Munsing, Evan 61
Mura (desperdício por inconstância) 89
Muri (desperdício por irrazoabilidade) 89
Myer, Tim 78
N
Nasa 39, 56, 57, 61
National Public Radio (NPR) 54, 55, 56,
     91, 217
New England Patriots 49
“New New Product Development, The”
     (Takeuchi e Nonaka) 39
New United Motor Manufacturing, Inc.
     (Nummi) 70
New York Times 56
Newell, Gabe 209
niilistas 160
Nissan 98
Nonaka, Ikujiro 39, 43, 58
Normandia 179
número de ouro 122
O
Observar 32, 37, 174
Ohno, Taiichi 20, 22, 89, 96, 107, 137, 145
Olympia, no estado de Washington 204
Omaha, praia de 179
OpenView Venture Partners 18, 71, 101,
     102, 163
Oráculo de Delfos 125
organização não governamental (ONG)
     201
Orientar 32, 37, 174
P
padrões
 negativos 87
 no Scrum 88
Palm 100
Pashler, Harold 93
PatientKeeper 149, 151
Perda causada pela mudança de contexto
     92
“Perils of Obedience, The” (Milgram) 69
Personal Digital Assistants (PDAs) 100
Petraeus, David 59
Pets.com 163
planejamento 16, 56, 59, 109, 114, 117,
     119, 135, 188, 189, 220
 no modelo cascata 118
pobreza 191, 198, 199, 201, 209
“pontos caninos” 120
pôquer do planejamento 127, 140, 196
Porath, Christine 156
Portal 209
post-its 21, 78, 85, 116, 117, 151, 193, 214,
     221
Primeira Guerra Mundial 13
priorização 157
Proceedings of the National Academy of
     Sciences of the United States of
     America 105
produção enxuta 96, 98
Product Owner 35
 características de 167
 características de um 167, 169, 170
produtividade
 aumento da 40, 48
 aumento de 102
 e desperdício 88
 e equipe 66
 e felicidade 143
 e horas de trabalho 103
produto mínimo viável (MVP) 176
propaganda 98
proporção áurea 122
propósito 16, 44, 49, 53, 56, 72, 83, 88, 127,
     141, 148, 150, 152, 162, 201, 215
ProPublica 56
Putnam, Lawrence 63
Q
quadro Scrum 81, 85, 150, 189, 195, 201,
     221
“Quattro Pro for Windows” 81
R
Rand Corporation 125, 128
receita 35, 111, 140, 143, 145, 147, 151,
     163, 166, 170
Receita Federal dos Estados Unidos 26
reconhecimento 31
Rei Lear (Shakespeare) 158
Rethink Robotic 38
retrabalho 98, 117
retrospectiva 66, 145, 146, 154, 194, 196,
     222
reuniões diárias em pé 8, 66, 82, 84, 85,
     188
revisão 66
RF-4C Phantom, jato de reconhecimento
     31
Rick Anderson 206
risco de mercado 185
risco financeiro 185
risco técnico 185, 186
ritmo de trabalho 79, 81, 82, 87, 97
rituais de revisão 157
robôs 36, 37, 76, 113, 139
Rodner, Don 169
Roomba 38
Roosevelt, Theodore 24
rúgbi. Consulte All Blacks
 como analogia 39
Rustenburg, Eelco 84, 85
S
Said, Khaled 54
Salão do Automóvel de Detroit 78
Salesforce.com 15, 58
Sanbonmatsu, David 91
Satisfação garantida\
 no caminho do lucro e da paixão
     (Hsieh) 152
saturação da comunicação 86
Schwaber, Ken 218
Scrum
 alcance da excelência com o 49, 161,
     162, 164, 214
 aumentos de produtividade com o 143,
     145, 149
 backlog como combustível do 165
 e a felicidade 142
 e Healthcare.gov 26
 e técnicas da indústria japonesa 41
 e técnicas de indústrias japonesas 43
 na Medco 114
 na NPR 55
 na OpenView 18
 na Salesforce.com 15
 na Valve 211
 origens do, na Easel 38
 origens do, no desenvolvimento de
     software 38
 tamanho das equipes no 63
 transparência no 66, 148
“Scrum Development Process” 40
Scrum Master 56, 65, 66, 80, 158, 167, 168,
     169, 185, 199, 219, 220, 221, 222,
     223
“Secret Weapon\High-value Target Teams
     as an Organizational Innovation”
     (Lamb & Munsing) 61
Segunda Guerra Mundial 41
Seja mais feliz 142
Sentinel, sistema 12, 14, 18, 19, 21, 23, 24,
     25, 182
sequência de Fibonacci 122, 123, 140, 196,
     220
Shook, John 168
Shu Ha Ri 43, 45, 208
sistema de automação residencial 165
Sistema Toyota de Produção 8, 42, 71
Sistema Toyota de Produção, O (Ohno) 96
sistemas adaptativos complexos 33, 45
sistemas Nonstop Tandem 35
SMART, governo 204
Smithsonian Institute 38
sobrecarga 107
Software com qualidade (Weinberg) 92
Sony 41
Spolsky, Joel 48
Spreitzer, Gretchen 156
sprints 8, 21, 22, 35, 66, 77, 79, 84, 86, 134,
     137, 184, 188, 194, 220
Standish Group 18
Steam, plataforma 211
Stoll, Tim 133, 134
Sutherland, J.J. 54
T
Tahrir, praça 54
Takeuchi, Hirotaka 39, 58, 198
tamanho relativo 220
tarefa
 papel ou função 120
tarefas
 motivação 95, 102, 116
 papel ou função 120
teoria de Energia-Manobrabilidade (EM)
     172
The New New Product Development Game
     50
“Theory of Fads, Fashion, Custom, and
     Cultural Change as Informational
     Cascades, A” (Bikhchandani,
     Hirshleifer e Welch) 124
Thorndike, Edward Lee 125
tinta eletrônica 76
títulos
 eliminação de 82, 86, 216
Todos os itens 193
tomada de decisões 105
Toyota 20, 39, 42, 58, 70, 89, 98
 e Nummi 71
 e Prius 176
trabalho
 em equipe 155
 estimativa do 116, 118
 maneiras como as pessoas realizam o
     118
trabalhadores com conhecimento comu-
     nitário (CKWs) 199, 201
transcendência 40, 53, 72
transparência 62, 66, 148, 151, 154, 155,
     170, 188, 203
Twitter 10, 26, 208
U
Udorn Royal Thai, base aérea 31
Uganda 198, 199, 216
Universidade de Londres 95
Universidade de Utah 90
Universidade do Missouri 64
Universidade Harvard 142
Universidade Yale 47, 68
 experimento de Milgram na 68
V
valor 19, 28, 61, 89, 96, 97, 109, 117, 119,
     120, 133, 134, 135, 139, 140, 166,
     167, 169, 170, 174, 178, 182, 183,
     187, 205, 220
Valve 209, 210, 211, 212, 214
 manual da 212
velocidade 22, 32, 62, 63, 76, 79, 86, 91, 93,
     135, 136, 147, 150, 158, 167, 169,
     183, 194, 220
videogames 176, 209, 211
Vietnã 31, 168, 173
Virtual Case File (VCF), sistema 11
visão do produto 170
W
Wake, Bill 134
Wall Street 111, 113, 136, 139, 207
Washington D.C 9, 204
Washington Post 56
Weinberg, Gerald 92
Welch, Ivo 124
West Point (Academia Militar dos Estados
     Unidos) 51, 52, 55, 143, 168
Wijnands, Willy 193, 194, 195, 196
Wilson, Glenn 95
Womack, James 98, 99
Woodward, Bob 60, 62
workaholics 160
World Wide Web 76
Y
Yunus, Muhammad 199
Z
Zappos 152, 153, 154, 155, 163
Zwartz, Gudith 195
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JEFF SUTHERLAND
é o cocriador do Scrum e o maior especialista sobre como o método
evoluiu para atender às necessidades atuais de negócios. A metodologia
desenvolvlda em 1993 e formalizada em 1995 com Ken Schwaber já foi
aprovada pela maioria das empresas de desenvolvimento de softwares em
todo o mundo. Mas Sutherland percebeu que os benefícios do Scrum não
se limltam a softwares e desenvolvimento de produtos, tendo adaptado a
estratégia de para vários outros segmentos, como finanças, saúde e
telecomunicação. O autor continua a compartilhar as melhores pràticas
com organizaçães de todo o mundo e tem escrito extensivamente sobre
regras e métodos Scrum.
SCRUM
Para aqueles que acreditam que deve haver uma maneira mais eficiente
para as pessoas fazerem as coisas, SCRUM é um livro instigante sobre o
processo de gestão que está mudando nosso modo de viver. Com o
advento do método, já foram registrados ganhos de produtividade de até
1.200%. Jeff Sutherland, empreendedor que desenvolveu a primeira equipe
SCRUM há mais de vinte anos, apresenta de maneira brilhante e lúcida a
iniciativa.
Tecida com insights de artes marciais, tomadas de decisão judicial.
combate aéreo avançado, robótica e muitas outras disciplinas, SCRUM é
sempre fascinante. Seja para inventar uma tecnologia pioneira ou para
estabelecer os alicerces de prosperidade de uma família, a razão mais
importante para ler este livro é que ele pode ajudá-lo a alcançar aquilo que
os outros consideram inatingível.

“Jeff Sutherland escreveu a essência do SCRUM para as


pessoas comuns. Este livro eleva o Scrum de uma ferramenta
para resolver problemas para um modo de vida.”

HIROTAKA TAKEUCHI,
PROFESSOR DE PRATICA GERENCIAL,
HARVARD BUSINESS SCHOOL
* “Pois, se não podemos o sol deter / Podemos ao menos fazê-lo correr.”
[N. da T.]
* Em inglês, sprint significa ir a toda velocidade por um breve período de
tempo, em especial nas corridas de curta distância. [N. da T.]
* Expressão em inglês criada por um técnico da IBM, George Fuechsel,
referente à qualidade de dados inseridos na programação de um
computador. A ideia é que, se o sistema for alimentado com dados inúteis,
dará resultados inúteis. [N. da E.]
* O equivalente a Boyd “Quarenta Segundos” em português. [N. da T.]
* Charter schools são escolas públicas com uma gestão privada,
independentes da Secretaria de Educação local. [N. da T.]
Índice
Capa Página
Página de Título
Direitos Autorais Página
Sumário
Prefácio
CAPÍTULO 1: A maneira como o mundo funciona
está errada
CAPÍTULO 2: A origem do Scrum
CAPÍTULO 3: Equipes
CAPÍTULO 4: Tempo
CAPÍTULO 5: O desperdício é um crime
CAPÍTULO 6: Planeje a realidade, não a fantasia
CAPÍTULO 7: Felicidade
CAPÍTULO 8: Prioridades
CAPÍTULO 9: Mude o mundo
Implementando o Scrum - como começar
Agradecimentos
Notas
Índice remissivo
A
B
C
D
E
F
G
H
I
J
K
L
M
N
O
P
Q
R
S
T
U
V
W
Y
Z

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