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A LEI KANDIR E SEUS IMPACTOS NA ECONOMIA PARAENSE

A Lei Kandir, lei complementar brasileira nº 87 que entrou em vigor em 13 de setembro de 1996. Dispõe sobre o imposto
dos estados e do Distrito Federal, nas operações relativas à circulação de mercadorias e serviços (ICMS). A lei Kandir isenta do
tributo ICMS os produtos e serviços destinados
à exportação. A lei pega emprestada o nome de seu autor, o ex-deputado federal Antônio Kandir. A Lei no artigo 3º diz: “O imposto
não incide sobre: operações e prestações que destinem ao exterior mercadorias, inclusive produtos primários e produtos
industrializados semi-elaborados, ou serviços.
O texto original da CF-88 estabelecia imunidade do ICMS apenas nas exportações de produtos industrializados. Assim, a
exportação de uma série de produtos semielaborados e de todos os produtos primários era tributada pelo ICMS, o que, segundo
expressiva parcela dos estudiosos da questão fiscal, diminuiria a competitividade dos produtos nacionais. Essa visão ganhou maior
dimensão com a implementação do Plano Real, uma vez que a balança comercial brasileira passou a ser deficitária. O superávit
comercial de US$10,4 bilhões, em 1994, transformou-se em déficits de U$3,4 bilhões e US$5,6 bilhões em 1995 e 1996,
respectivamente. Diante dessas circunstâncias, o Deputado Antonio Kandir apresentou o PLP nº 95/1996, que foi aprovado pelo
Congresso Nacional, durante a sua gestão como Ministro do Planejamento do Governo Fernando Henrique Cardoso, e transformou-
se desde então na chamada “Lei Kandir”, substituindo o Decreto-Lei nº 406, de 31 de dezembro de 1968, diploma legal que
estabelecia, até então, as principais regras de cobrança do ICMS.
Assim a lei Kandir gerou perdas importante causadas pela base de cálculo tributário para uma unidade federativa do
Brasil do tamanho que é o Estado do Pará e que, é grande exportador de produtos primários.

Os dados do IBGE nos mostram que o Pará é o segundo maior estado do país com uma extensão de 1.248.042,515 km²,
dividido em 144 municípios (com a criação de Mojuí dos Campos), está situado no centro da região norte e tem como limites o
Suriname e o Amapá a norte, o oceano Atlântico a nordeste, o Maranhão a leste,
Tocantins a sudeste, Mato Grosso a sul, o Amazonas a oeste e Roraima e a Guiana a noroeste. O Estado é o mais
populoso da região norte, contando com uma população de 7.321.493 habitantes. Sua capital, Belém, reúne em sua região
metropolitana cerca de 2,1 milhões habitantes, sendo a maior população metropolitana da região Norte.
Segundo o IBGE, quase um quinto da população paraense é extremamente pobre. São exatos 1.432.188 habitantes no
Estado, que residem em domicílios com rendimento menor ou igual a R$ 70,00 reais por mês. Desse total, cerca de 500 mil pessoas
têm rendimento nominal mensal domiciliar igual à zero.
A Lei Kandir causou perdas importantes na arrecadação de impostos estaduais, apesar de que o governo federal ficou
comprometido em compensar tais perdas, as regras para esta compensação não ficaram tão claras e há um impasse entre o
governo e os estados sobre este assunto. O que ocorre é que o governo apenas estabelece valores parciais para compensação e os
lança no orçamento público da União. Os Estados são obrigados a indenizar as empresas do ICMS cobrado sobre insumos usados
para as exportações. Parte destes recursos é repassada pela União, contudo, o repasse às empresas é lento, pois os créditos que
elas possuem muitas vezes são referentes a um ICMS pago sobre um insumo comprado em outro Estado. Estudo do TCE revela que
Pará já perdeu 21,5 bilhões. As autoridades paraenses resolveram se unir em torno daquele que é considerado o maior gargalo
financeiro sofrido pelo Estado: as perdas causadas pela base de cálculo tributário da Lei Kandir e o seu respectivo impacto nas
contas estaduais relativos aos repasses não recebidos daquele que é o quarto maior estado exportador de todo o país.

A pesquisa considera os valores recebidos pelo Pará neste período, em forma de ressarcimento e auxílio financeiro do
Governo Federal, para concluir que a Lei Kandir produziu um ônus de 21,5 bilhões de reais para o Estado em termos de arrecadação
de ICMS sobre o setor exportador. “Esses recursos poderiam estar sendo utilizados, com certeza, em benefício do maior
desenvolvimento do Pará, em segurança pública, saúde, educação, construções de moradias, e no bem estar da sua população”
disse o presidente do TCE.
Um dos objetivos principais na criação da Lei Kandir foi fomentar a economia do Brasil, deixando o valor do minério mais
competitivo no mercado internacional. O governo exonerava o ICMS, mas compensava essa exoneração. Nos primeiros anos de Lei
Kandir, e exoneração e a compensação formavam um casal perfeito, o estímulo na economia estava funcionando, mas, com o
passar dos anos essa relação foi se desgastando. A compensação foi sendo atrasada e consequentemente e Lei Kandir deixou de ser
cumprida.

Pelo o que se percebe ex-deputado Antônio Kandir, autor da Lei, não levou em consideração a opinião dos Estados
exportadores e maiores afetados com a Lei.
O Pará exporta por ano 17,4 milhões de toneladas de bauxita sendo o terceiro maior produtor do mundo, e esse é
apenas um dos minérios extraídos do Estado. O Estado do Pará
é um dos maiores exportadores de minério do Brasil, e o ICMS
é uma de suas maiores fontes de receita, o que afeta diretamente o desenvolvimento do Estado. Essa exoneração fiscal ao longo
desses anos de existência da Lei Kandir além de afetar diretamente o Estado do Pará, afeta também o equilíbrio do Pacto
Federativo, que tem como objetivo manter o equilíbrio socioeconômico e financeiro entre os estados da Federação, diminuindo
assim as desigualdades entre eles. O não cumprimento da Lei Kandir, já causou ao Estado do Pará uma perda superior a 32 bilhões
de reais, valor esse que poderia estar sendo investido em educação, saúde, e no implemento de políticas públicas para a aceleração
do desenvolvimento do estado, dentre outros.

QUESTÃO AGRARIA E MOVIMENTOS SOCIAIS NA AMAZÔNIA Compreender a formação social da Amazônia e em


especial seus “movimentos” (movimentos sociais), é um exercício crítico de compreensão histórica da região. Para tal, é preciso ter
clareza das diferentes intenções e dos diferentes atores que ocupam a região. Neste caso a questão da terra, seja posse ou
propriedade é fundamental.
Assim temos de um lado, principalmente os empresários, para quem a terra é fonte de lucro, de outro, principalmente
as populações tradicionais, para quem a terra é fonte de vida, de sobrevivência. A partir desse entendimento vamos entender os
diferentes conflitos que permeiam essa questão. Um embate entre aqueles que ávidos pelo lucro causam impactos ambientais e
aqueles que além de lutar pela posse de suas terras, buscam também a proteção da Amazônia e de seus ecossistemas, assim a luta
dos movimentos sociais são vinculados a realidade ambiental da região. Nesse caso devemos ter clareza que a formação econômica
da Amazônia, passando pelo caráter colonial, explorador e predatório até mesmos da ocupação recente com Grande Projetos
Agropecuários e Minerais, vai desencadear uma série de conflitos, envolvendo suas populações urbanas, rurais, tradicionais,
indígenas, entre outros. Uma verdadeira trama envolvendo diversos atores sociais e, mais recentemente observamos, estratégias de
organização utilizadas por esses movimentos visando o enfrentamento a grandes projetos econômicos e infraestruturais em curso
na região.
No que diz respeito a Questão Agrária, nas últimas décadas, o espaço amazônico, vem apresentando graves problemas
decorrentes de vários fatores, tais como:

 O processo de integração da Amazônia frente ao Centro-Sul brasileiro, a partir da década de 60, originando uma série de
problemas conflituosos na região;

 Os incentivos fiscais viabilizados pelo governo federal que permitiram a concentração de terras nas mãos de minorias
privilegiadas (grandes empresas, fazendeiros, latifundiários, etc.), atraídos por incentivos e créditos;
 A política oficial da Amazônia que criou, por meio de estímulos ao fluxo migratório de “sem terras” para a
Amazônia já que, provocaram um processo de grilagem de terra de maneira a garantir sua exploração, em virtude da descoberta de
grandes jazidas minerais;

 A intensificação da grilagem de terras e as grandes extensões de terras cobiçadas por pessoas que utilizam
mecanismos fraudulentos, como a grilagem (falsificação de títulos de terras), para garantir a apropriação das mesmas;
intensificando os conflitos em virtude da exploração e expropriação da população ali existente.
 Projetos incentivados pela Sudam, voltados para a exploração da madeira e agropecuária;

 Projeto Grande Carajás, destinado à extração e exportação de minérios;

 Usinas hidrelétricas que exploram o potencial hídrico dos rios. As políticas responsáveis por esse
planejamento regional transformaram a Amazônia em um grande investimento de capital.

Sul e do Nordeste.
Os grandes projetos e a construção de rodovias atraíram para a Amazônia grandes fluxos migratórios provenientes do Centro-

Essa “conquista” da Amazônia desencadeou uma série de conflitos sociais envolvendo posseiros, grileiros, empresários,
jagunços, empreiteiros, peões e indígenas. O resultado foi um grande número de mortos.
• Posseiros são agricultores que cultivam pequenos lotes, geralmente há muitos anos, mas não possuem o título de
propriedade da terra. Eles têm a posse da terra, mas não os documentos legais registrados em cartórios, que garantem a sua
propriedade. São vítimas de fazendeiros e empresas.
• Grileiros são agentes de grandes proprietários de terras que se apropriam ilegalmente de extensas porções de terras,
mediante a falsificação de títulos de propriedade. Com a ajuda de capangas e jagunços, expulsam posseiros e índios das terras. As
terras “griladas” passam ao controle dos novos “proprietários”.
• Empresários são pessoas ou empresas que adquirem enormes extensões de terra na Amazônia, algumas vezes com
títulos de propriedade duvidosos.
• Jagunços são homens armados, contratados por grileiros, empresários ou empreiteiros para patrulhar suas terras e
expulsar posseiros ou indígenas.
• Empreiteiros são pessoas que contratam os trabalhadores para as grandes fazendas. São também chamados de “gatos”
ou intermediários.
• Peões são trabalhadores rurais, recrutados pelos
“gatos”. Ganham baixos salários e, muitas vezes, trabalham sem carteira assinada, não se beneficiando dos direitos trabalhistas.
Eles se iludem com promessas de um enriquecimento que nunca acontece e ficam sempre devendo ao patrão, não podendo deixar
o emprego.
As estradas, como o eixo de Belém-Brasília e a Transamazônica, atraíram posseiros e grileiros para a Amazônia
Oriental (“Bico de Papagaio”, o sudeste do Pará, o norte do
Tocantins e oeste do Maranhão). Essas áreas se transformaram no principal foco de violência rural do Brasil, chamando a atenção
de organizações de direitos humanos. Os municípios dessa região ficaram conhecidos como centros de grilagem de terras.
As populações tradicionais constituem o setor mais frágil e mais prejudicado com essa ocupação da Amazônia. Os
Concurso: CFP-PMPA- 2020
índios, por exemplo, são expulsos de suas terras pelos jagunços contratados por empresários, pelas hidrelétricas, pela derrubada da
mata etc. A vida dos povos da floresta está ligada
à terra e, sem ela, os grupos se desorganizam. Com a introdução da economia moderna, o meio ambiente sofre terríveis
consequências, como a devastação da floresta por empresas madeireiras, mineradoras, agrícolas e pecuaristas.
Queimadas, desmatamentos, morte de índios, violência contra seringueiros e posseiros são fatos que passaram a ser
discutidos em todas as partes do planeta. A destruição da Amazônia e os seus conflitos sociais passaram a ser condenados e o
governo brasileiro passou a ter mais preocupação com a maior floresta equatorial do mundo.

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