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Category: Music

Genre: Country
Artist: Varios
A LO LARGO
(Antonio Carlos Machado / Jerônimo Jardim)

C G 7 C E7
Meus dedos são corcéis pelo teu corpo, corcoveando pelo vale entre dois montes

Am Dm G7 C G7

Nas ancas de coxilhas onduladas busco encontro saciar-me em tuas fontes

C G7 C E7

Disseram a lo largo que o gaudério só é homem para o lombo do cavalo

Am Dm G7 C

E há quem diga que não tem nem coração, só se emociona no estrondo do pialo

F E7 Am G7 C

Homem rude dos fundões da pampa imensa, cinchando a vida, calejando a minha mão

B7 Em Am D7 G7

Em meus sonhos no galpão na noite densa te vejo e sinto apertada ao coração

F E7 Am G7 C

Em cada taipa de açude abandonado, em cada fundo abandonado de rincão

B7 Em Am D7 G7

Te apeio rica da garupa do meu flete e me enrodilho no teu corpo de ilusão


FAZ DE CONTA

(Armando Vasquez / Colmar Duarte / Valdir Santana)

D A7 Eº Bm

Calça curta, pés descalços, e pra defender meu pago

F# Bm A7 D

Uma espada de alecrim, fui o Leão do Caverá

Eº Bm F# Bm

Fui feliz quando piá, tive o mundo só pra mim

A7 G D

Eu fui herói, fui bandido, fui senhor das sesmarias

Em Bm C#7 F#

Nestas minhas fantasias tive muitos inimigos

Em Bm F# Bm

E o cardeal das laranjeiras me avisava dos perigos

A7 G D

/:A cavalo Honório Leme, pegue as armas e te prepara

C Bm F# Bm (B)

Que aí vem Flores da Cunha com seu flete de taquara:/

B C#7 F# B
Tempo de doces lembranças que o faz-de-conta criou

Em Bm C#7 F#

Mundéus de crinas trançadas, forcas que o vento balança

Em Bm G (G) (F#) F# (Bm)

/:Para os sonhos de criança que o próprio tempo ariscou:/

A7 D A7 D

Homens de um tempo sem medo, para exemplo nos brinquedos

B7 Em Eº F#

Que a vida deixou pra trás. E o piá de estância de agora

Bm G F# Bm Fº G G A Bm

homens e tempos mudaram, já não tem a quem copiar

ONDE O CANTOR EXPÕE AS RAZÕES DE SEU CANTO

(Mário Barbará / Sérgio Napp)

Dm A7 Dm D7

Por esse homem nos olhos de quem as estrelas fazem chão

Gm Dm A7 Dm D7 (Dm)

/:E em cujas mãos há uma força tamanha que ninguém adivinha:/

A7 Dm C F

Por este homem claro de céu, resto de verde, berro de boi

Dm A7 Dm A7 Dm D7

Pitangas colhidas na festa da vida, carícia de campos cobertos de trigo


Gm Em Dm A7 D

Por este homem pampa, milongas e rios é que faço meu canto

A7 D F# Bm B7

E tendo cantar meu ofício, e nada tendo além desta voz

Em Bm F# Bm B7

Que se ouça meu canto, que se ouça meu canto

Em Bm F# Bm B7

Cravo cravado em clara garganta, sangra sangrando campina e barranca

Em D A7 D

Ferra ferrando inventa alegrias nas cordas do coração

A7 D A7 Dm

Nas cordas do coração, nas cordas do coração

BAILE DO SAPUCAY (Cenair Maicá)

G D7 G D7 G

Neste compasso da gaita do Sapucay, se bailava a noite inteira lá na costa do Uruguai

C G D7 G

Luz de candeeiro e o cheiro da polvadeira, irmanava castelhano e brasileiro na fronteira

Choram as primas no compasso do bordão

E o guitarreiro canta a toda empolgação

E a cordeona num soluço retrechando


Marca o compasso do posteiro sapateando

Neste compasso da gaita do Sapucay

Se arrastava alparagatas lá costa do Uruguai

Chinas faceiras com jeito provocador

Vão sarandeando e é um convite para o amor

Levanta poeira no sarandeio das chinas

Recendendo à querosena com cheiro de brilhantina

Neste compasso da gaita do Sapucay

O Mandico se alegrava lá na costa do Uruguai

Até a guarda costeira se esqueceu do contrabando

E o Sapucay chegava a tocar se babando

E a gaita velha na baba do Sapucay

Chegou a apodrecer o fole neste faz que vai-não-vai

D7 C G

São duas pátrias festejando nesta dança

D7 C G

Repartindo a mesma herança, comungando a mesma rima

D7 C G

Disse o Cindinho que o Uruguai beija os nubentes

D7 C G
Une o casal continente Pai Brasil Mãe Argentina

E disse o poeta que o lendário rio corrente

Une o casal continente Pai Brasil Mãe Argentina

ORELHANDO (Mário Eléu Silva)

G D7 G

Orelhano de marca e sinal, fulano de tal de charlas campeiras

D7

Mesclando fronteiras retratas na estampa

rigores do pampa e serenas maneiras

Orelhano, brasileiro, argentino,

castelhano, campesino, gaúcho de nascimento

São tranças de um mesmo tento sustentando um ideal

Sem sentir a marca quente, nem o peso do bucal

B7 (C) Em(G)

/:Orelhano, ao paisano de tua estampa

B7(D7) Em(G)

Não se pede passaporte nestes caminhos do pampa:/

Orelhano, se hoje vives embretado,


procurando um descampado nesta gaúcha nação

E aquele traço de união que nos prende lado a lado

Como um laço enrodilhado à procura de ocasião

Orelhanno, vem lutar no meu costado,

num pampa sem aramado soprado pelo minuano

Repontar a liberdade que acenava tão faceira

Pras cores de uma bandeira levantada no passado

MATE COSTEIRO (José Vilela/ Marco Aurélio Vasconcelos)

Em B7

Na intimidade das horas quando jerveio solito

Em

A cantoriar despacito junto ao meu mundo costeiro

E Am

E um relicário, o primeiro recuerdo abre a cancela

Em B7 E

E tempo afora por ela se vai ponteando parceiros

B7 E

O céu menino se veste de tanta beleza e graça

B7 E

No simples papel de astraça de um barrilete que eu tinha


AE

E lá na ponta da linha saracoteava pachola

B7 E

Com duas tiras de cola: as chitas da Mariazinha

Mas pelas várzeas ficaram as tarde passarinheiras

Por andanças chalaneiras fui repontando o meu fado

Enquanto sempre estirado meu espinhel se enquedava

E pela goela enganchava de surubis e dourados

Em

E no remanso das horas vão aflorando lembranças

Das cariciadas da infância, a lida de tantos anos

Até que o tempo tirano estenda seu braço forte

E o tarrafaço da morte me enrede junto do pano

RIO DE INFÂNCIA (Apparício Silva Rillo)

A E A6

/:Minha mãe foi lavadeira e o meu pai foi pescador:/

Nosso pão de cada dia foi o rio caminhador

/:Eu cresci ao lado deles nas barrancas do Uruguai:/

Vendo as águas caminhando, ano vem e ano vai


(SOBE)

Um dia fugi com elas cansado de ser guri

/:Numa balsa rio afora fui me embora e me perdi:/

(Velho rio de minha infância tempos destinos iguais

Tuas águas e meus sonhos passando não voltam mais)

(SOBE)

Como é fácil ir embora, como é difícil voltar

Quero se guri de novo, não consigo me encontrar

(...)

MARIA GRINGA MORENA (Francisco Castilhos/ Albino Manique)

Em Dm Am Em

Maria gringa morena, diferente de outras gringas

Dm Am B7

Não tem loiro nos cabelos, nem tem azul no olhar

E A B7 E

Mas quando apontas ao longe, todos ficam esperando

A B7 E

Pra ver Maria passar

G# C#m B7 E
Beleza pura de flores, de madrugada serena

A B7 E

Promessa de mil amores, Maria gringa morena

Em Dm Am Em

Maria gringa morena, ternura feito mulher

Dm Am B7

Carinho em forma de gente, paz, amor e alegria

E A B7 E

A vida é mais bonita para quem tem a ventura

A B7 E

De conhecer-te Maria

PALAVRA BEM DITA (Mário Barbará/ Sérgio Napp)17-16-13-12-10-23-22-Bm

BmF# Bm B7 Em

Quem parte reparte a terra por obra de sua força

A7 D F# Bm

Um dia acaba sem terra nem que seja pela força

Então por que não trocamos a força bruta da adaga

Pela palavra bem dita que nos iguala e afaga

F# Bm B7 Em

Ninguém forja o alheio destino nem pode mandar nessa vida


A7 D F# Bm

Quem pôs as coisas no mundo falou em paz e justiça

Em Bm F# C B7

Iguais na mesma verdade, parceiros da mesma briga

Em Bm G F# Bm

Irmãos de campo e trabalho, de teto, afeto e comida

Por dentro daquele que ama, há sempre espaço de sobra

Há sempre portas abertas pra quem chega e pede pouso

E aquele que é amado ao verse amado mais ama

Se faz semente e bom fruto, é chuva que alegra o pasto

PAISAGEM (Sérgio Napp/ E. Vieira /C. Amaro)

Em

As avencas na varanda adivinham quando chegas

C G B7 Em

Teu corpo todo milongas, as manhas do teu silêncio

C D7 B7 Em

/:A calmaria dos gestos, as flautas do teu sorriso:/

As avencas adivinham o beijo que tens na boca

C G B7 Em

O temporal em teus olhos, a fogueira no teu ventre


C D7 B7 Em

/:A seda que tens na pele, as teias que são teus braços:/

Am D7 G B7 Em

/:E quando chegas de manso é tamanha a tua luz

Am G B7 Em

Que o sol parece aninhar-se entre as paredes do rancho:/

As avencas adivinham o beijo que tens na boca

Am D7 G B7 Em

O temporal em teus olhos, a fogueira no teu ventre

Am B7 Em

/:A seda que tens na pele, as teias que são teus braços:/

CASAMIENTO DE NEGROS (Violeta Parra)

(Seqüência de acordes por estrofe A-E-G-D / B7-E-B7-E / D-E-A

AE GD
B7 E B7 E

DEA
Si há formando um casamiento todo cubierto de negros

Negros novios y padrinos, negros cuñado y suegros

Y el cura que los casó era de los mismos negros


Cuando empezaram la fiesta pusieron un mantel negro

Cuando llegarón al postre si sirvierón higos secos

Y si fuerón a acostar debajo de un cielo negro

Y allá están las dos cabezas de la negra con el negro

Amanecierón con frio, tuverión que prender fuego

Carbón trajo la negrita, carbón que también es negro

Algo le duele a la negra, vino el médico del pueblo

Recetó emplasto de barro, pero del barro más negro

Y le derón a la negra, jugo de maqui del cerro

Y ya se murió la negrita, que pena pa el pobre negro

Y la fueram a enterrar en cajón pinta´o de negro

No prendierón ni una vela, ah que velorio más negro

Y ya partió la negrita, levitando para el cielo

Y era un dia mui nublado, todo se veía negro

La abrió la puerta San Pedro, que era de los mismos negros

DESCAMINHO (Marco Aurelio Vasconcellos)

F#m Bm C#7 F#m

A lanterna da cidade deslumbra os olhos da china


C#7 F#m

Que quando sai de seu pago pelas luzes se fascina

Bm E A

As grossas mãos calejadas de sanga, planta e capina

C#7 F#m D C#7

Se acende a luz do desejo de cambiar de pago e sina

F#m Bm E A

Vê seu rancho tão pequeno que aos de casa contamina

C#7 F#m D C#7

Sonha os filhos empregados, as charlas pelas vizinhas

F#m E D C#7

Sorte melhor ao campeiro que se consome na lida

F#m E D C#7

Seguir os rastro dos outros que ergueram rancho na vila

D C#7 D C#7 F#m

Que ergueram rancho na vila, que ergueram rancho na vila

D C#7 F#m D C#7 F#m

Que ergueram rancho na vila, que ergueram rancho na vila

A mesma luz da cidade a mais olhares fascina

Lá se vai o plantador vender as terras que tinha

Buscar trabalho no povo, operário de oficina

Vender a força e saúde, soltar as filhas na vida


A carreta vai vergada, os ombros vão mais ainda

Logo, logo estão changueando pelo prato de comida

Lavando roupa pra fora, pegando frete e capina

Pra encher a boca dos filhos e encher a vida vazia

e encher a vida vazia, e encher a vida vazia

Pra e encher a vida vazia, e encher a vida vazia

PORTAS DO SONHO (Mário Barbará)

G Am D7 G

Quando abro as portas do sonho sinto um gosto de liberdade

Pés descalços, camisa aberta, mesas postas pelas varandas

E uma dor roendo meu peito, se fazendo sem ter razão

Deve ser a dona alegria campereando pelas coxilhas

Entre avencas e samambaias, pelas sangas abrindo trilhas

Maneirosa dona Alegria redomando meu coração

Geme gaita, chora viola, corta firme punhal de prata

Espanta o medo, abre asas e voa livre meu coração

Quando abro as portas do sonho sopram ventos de rebeldia

Trovoadas, raios e nervos, ferve sangue em meio aos receios

E depois em calma e riso, faz o canto paz e aconchego


Me levando feito magia a lugares de não sei mais

É a vida em seu galope, me envolvendo, redemoinho

É punhal que se crava lento e abre frestas meu coração

PELOS FOGÕES (Nelcy Vargas/ Lauro Simões) D C G D – D C G A7

D A7 D G D G

Nas vozes que remontam primaveras, e levam seus caudais de galhardia

A7 Bm C D

Renascem das veredas novos qüeras, ponteando correntezas de poesias

CDCDC

ponteando correntezas de poesias, poesias,

Pois lá pelos fogões a campo fora, retratam os gaudérios na amplidão

E acordam com acordes de atavismo, um canto que tem alma e coração

Um canto que tem alma e coração, coração C7

F C7 Bb F

É igual quando o gaiteiro espicha o olhar pra verdejar visões pro velho taita

Dm G7 C7

Que traz um sentimento sem idade do fundo da invernada da sua gaita

F C7 Bb F

São olhos que povoam-se de estrelas banhando a luz do imenso firmamento


Ab Bb C7

Pra preservar na pampa as ressonâncias dos nativos dos fogões

F Eb F Eb Bb C D

De acampamento, de acampamento

Nos versos que aventam nas muradas, se mesclam ao apelo das imagens

Mocitos fogoneando um tempo novo, de paz e telurismo nas mensagens

De paz e telurismo nas mensagens, nas mensagens

É a hora em que se abancam irmanados, reunidas almas gêmeas pra matear

E projetar na vozes suas raízes no rumo de um eterno despertar

No rumo de um eterno despertar, despertar

COLORADA (Apparício Silva Rillo/ Mário Barbaráa)

Em G D Em G D Em

Olha a faca de bom corte, olha o medo na garganta

C Am B7

O talho certo e a morte no sangue que se levanta

Onde havia um lenço branco, brota um rubro de sol-pôr

Se o lenço era colorado o novo é da mesma cor

Em G D Em G D C

Quem mata chamam bandido, quem morre chamam herói

Am B7
O fio que dói em quem morre, na mão que abate e não dói

C B7

Na mão que abate e não dói

Em

Era no tempo das revolução, das guerra braba de irmão contra irmão

Dos lenço branco contra os lenço colorado,

B7

dos mercenário contratado a patacão

Era no tempo em os morto votava e governava os vivo até nas eleição

Era no tempo dos combate a ferro branco,

que fuzil tinha mui pouco e era escassa a munição

Era no tempo, do inimigo não se poupa,

prisioneiro era defunto, e se não fosse era exceção

Botavam nele a gravata colorada,

que era o nome da degola nesses tempos de leão

Em, Em/G, Em/F#, Em, Em/D

C#, C, B, A (BORDÔES) Am B7 - Em G D Em

PAMPA DE LUZ (Luiz Miranda, Pery Souza)

GD
Tudo o que morre me mim, vive dentro de ti

Em A7 D7

É uma estrela perdida, nave de luz na noite

C7+ Em

É a vida que venta e renasce sozinha

B7 Em A7 D7

É o trabalho do tempo que grava em nós os sinais do caminho

Tudo o que morre em mim fica ventando no chão

Paixão de luz sem fim que o amor leva leve

No colo azul da brisa, na lisa mão do mar

Nas notas do meu cantar que grava em nós os sinais do caminhar

G C7+

Mas tudo renasce em ti, amor, amar, auroras

D7 G

Lugar donde nunca parti que brilha, brilha, brilha

Em A7 D7

Ontem, hoje, agora, no céu, no mar, no sul

G C7+

Na pampa de luz azul, amor, amar, auroras

D7 G

Lugar donde nunca parti que brilha, brilha, brilha


Em A7 D7 G

/:Perdido cometa, perdido cometa, na trilha luminosa deste planeta:/

CANTIGA DO OFERECIDO (Talo Pereira)

D6 Em A7 D6

Se não te faz feliz a flor que brota dos currais

Que sobrevive às patas dos baguais, que desafia

Eu cruzarei os campos, eu chegarei ao mar

Hei de fazer brotar alguma flor na maresia

Se não te faz feliz o verso que improviso

Se achas que é preciso inspiração de trovador

D6 Em A7 D6

Irei neste momento, num sonho ou pé de vento

C#7 F#m E A

Pra me inspirar no mar que Garibaldi navegou

F#m Bm

Mas se te satisfaz a flor do chão, se meu verso é capaz de te agradar

B7 Em

Me deixa aprofundar esta paixão, fazendo do teu corpo imenso mar

A7 D6

Tornando marinheiro este teu peão


O RIO E EU (Mário Barros)

F#m C#7 F#m

Ao ver o rio correr bravio me perguntei,

AEA

por onde andam estas águas mal domadas

C#7 F#m

Eu sei que às vezes são serenas como asas

D C#7 F#m

e às vezes tensas como potros em debandada

Ser como um rio me faz pensar num pago novo

Andar e andar sem ter licença nem fronteira

Poder cruzar terras sem dono ou proibidas,

Vagar solito, ser remanso ou corredeira

EA

Seguir a luz do sol em tons de colorado

EA

E murmurar uma cantiga à luz da lua

C#7 F#m

Abrir os braços em abraços caborteiros

D C#7 F#m
Ao afagar o ventre da pampa chirua

Vou como um rio sem ter desejos de voltar

Sem vacilar, seguindo o rumo que ele mande

Talvez um dia eu seja a água em branca espuma

Jorrando livre no vazio de um salto grande

AURORA DA LIBERDADE (Valdomiro Maicá)

C G7 C

Quando o sol abre seus olhos, seca as lágrimas da noite

G7 C

Que o vento feito um açoite, fez pousar junto aos meus pés

C7 F Dm G7

Com provas de amor e fé, desperta a mãe natureza

F C G7 C

/:Cantando toda a beleza, desta terra de Sepé:/

E Am E Am

A lua agora tão tímida, receia estar sem afeto

F Dm G7

E tenta conseguir teto no canto de uma garganta

F Dm G7
Que por ela se encanta, junto com a passarada

F C G7 C

/:Na ceva da madrugada, da pampa que se levanta:/

Pelas frinchas de minh’alma que metram todas as canções

Entono com emoções que a cidade não me dá

Como canto de um sabiá na choradeira da sanga

/:Namorando sua pitanga, cantando ao sol raiar:/

Desperta o rio Uruguai agora mais cristalino

Brilhando em olhos meninos relâmpagos lambaris

Como meu Deus, sempre quis, pra nesta simplicidade

/:Que a aurora da liberdade seja de um povo feliz:/

BODOQUEANDO (Noel Guarany)

G G7 C G

Duas tiras de borracha, resina de seringueira

D7 G

Bem atados na forquilha do galho da pitangueira

CG

A bolsa, cano de bota, donde sai a tiradeira

30 44 32 30 44 42 D7 C G D7 G

Velho bodoque crioulo da minha infância primeira


As marcas da tua forquilha são legendas de um passado

Em que vivi embodocado caçando tatu na toca

Derrubando sabiá choca, sangue-de-boi, canarinho

O que cruzasse meu caminho de São Luiz a Boçoroca

E te recordo saudoso ao relembrar-te bodoque

E quando ponho em retoque certas lembranças que tomo

Pedra enconchada no trono tenteando que algum pombaço

Descesse de um bodocaço das grimpas do cinamomo

Por isso, meu velho amigo, foste guardião de minha infância

Me lembro com arrogância teu garbo no meu pescoço

Num deboche de índio moço no dia em que estava azedo

Largava àquele piazedo saraivadas de caroço

E quem diria bodoque, meu companheiro de antanho

Que agora deste tamanho conservo a devoção

De trazer-te bem à mão pendurado a preceito

Qual pica-pau sobre o peito no tronco do coração

NA DANÇA DA MÃOS (Chico Saratt e Mauro Moraes)

C Em Ebº G7
Certas canções que por aí vagueiam são como folhas soltas ao vento

E Am D7 G7

Esporeando em nós a fibra d’alma, Erguendo mãos à solidão do tempo

C Am F G7

Essas canções que tento escutar ao longe vão sem mim

E Am F G7 C

Levando penas, espalhando amores, misturando mágoas e suor no capim

F C E Am

/:Tudo o que enfeitiça a vida, traz a sedução das mãos

F C F G7 C (G7)

Enlouquece o povo, abre cantorias, e ajuda a gente a separar o grão:/

C Em Gm A7Dm G7 C G7

Como é difícil sustentar nos olhos, a vastidão do canto frio do lar

C Em Gm A7Dm G7 C

Como é tamanho o pouco sonhado, neste caminho, neste caminhar

E Am D7 G7

Não tem na terra, a dança das mãos, lavrando tristezas, arando cidades

E Am F G7 C

É vento, ventena, no cio, a assanhar amor e buliçar saudades


BALAIOS, LANÇAS E TAQUARAS (Cenair Maicá)

C Em Dm G7 C

Caminham guaranis pelas estradas, trapos de gente se arrastando a pé

Dm G7 C

Restos da raça dos meus Sete Povos, últimas crias do sangue de Sepé

Fazem balaios de taquaras brabas em pobres ranchos que parecem ninhos

Onde se abrigam aves migratórias a mendigar alguns mil réis pelo caminho

G7 C

/:O balaio foi taquara, a taquara foi a lança:/

G7 F C

Que esteiou os Sete Povos quando o pago era criança

C7 F G7 C

Vão os índios pela estrada qual aguapé pelos rios

F Em Dm C

Cantam ventos tristes nos seus balaios vazios,

Bb F G7 C

Cantam ventos tristes nos seus balaios vazios

“Seguem os índios o destino peregrino dos sem-terra, tropeçando nos caminhos já sem luz.
Afogados na fumaça do progresso, junto aos animais em debandada das florestas virgens,
violentadas pelos que vieram sob o símbolo da cruz”.

Quem os vê na humildade dos perdidos na senda larga desses tempos novos


Não acredita que seu braço um dia levantou as catedrais dos Sete Povos

Vende balaio o índio que plantava um novo mundo no império das Missões

Balaios de taquaras que eram lanças marcando a história das Sete Reduções

ESTEIO E SONHO (Vinícius Pitágoras Gomes/ Luiz Bastos)

Cm G7 Cm G7 Cm

Por esta vida nas duras lidas, busca sofrida pra te encontrar

G7 Cm G7 Cm

Quinchei o rancho, esteio e sonho, sangrei auroras neste esperar

C7 Fm Bb7 Eb

Esteio e sonho, flor de gaúcha, pura ternura de entardecer

Fm Cm G7 Cm (C)

/:Sorriso claro de sol maduro, rumo seguro pra o meu querer:/

C G7 C

Companheira, mulher companheira,

G7 C

/:graça de garça pra enfeitar a primavera,

G7 C (Cm)

garra de fera pra lutar a vida inteira:/

Em cada olhar a mesma estrada, luta e carinho em nossas mãos


Calos e flores colhendo juntos e dividindo o mesmo pão

Quando o silêncio do nosso inverno, chegando manso deixar em nós

/:Ausências tristes e sonhos mortos que não nos deixem mateando sós:/

MÁGOAS DE POSTEIRO (Cenair Maicá/ Jaime Caetano Braun)

C A7 Dm

Voltei ao rancho da querência onde nasci,

G7 C

vim ao tranquito assobiando uma vaneira

A7 Dm

Não vi ramada, não vi rancho nem mangueira,

G7 C

pensei comigo, com certeza me perdi

Campo lavrado no lugar que era um potreiro,

campo lavrado no pelado do rodeio

E o braço erguido de um pedaço de um esteio,

adeus pra sempre no meu rancho de posteiro

E Am D7 G7

Berro de gado, rincho de potros, canto de galo, riso de gente

F C G7 C

Tenho o passado, perdi o presente, beira de povo, meu tempo é outro

“Por que será, meu rancho velho, te arrancaram sem terra e tudo do meu chão de primavera? Por
que será, meu rancho velho, te negaram de ter ao menos o direito de ser tapera?”

O ronco estranho de um trator substituindo

a voz dos pastos, da ternura e da inocência

Monocultura até nas mentes destruindo

Memória e campo que roubaram da consciência

Eu tenho ganas que este mal lá sem respeito

que fez lavoura na invernada onde vivia

Tente arrancar as gramas verdes de poesia

deste Rio Grande que carrego no meu peito

VISITA (Antônio Ferreira, Luiz Bastos)

Dm A7

Na noite de ventania o arvoredo se escabela

Dm

E eu fecho os olhos no escuro, porque a saudade atropela

Bb

As lembranças ficam claras como na janela

Coração aberto, alma sentinela,

A7 Dm A7 Dm

na noite de ventania o arvoredo se escabela


C7 F

Na vigília desta hora, quando a alma insone vela

Gm C7 F

Surge em forma nebulosa, turvos riscos de aquarela

D7 Gm C7 F

/:Aos poucos a silhueta linda e leve, esguia e bela

Dm Gm A7 Dm

Se desenha na memória e define os traços: é ela!:/

A7

Agora sei quem vai chegar, ouço o ranger da cancela

A7 Dm

/:É leve seu caminhar, desliza em brisa a chinela:/

C7 F A7 Dm

Sinto o perfume do lar no tempero de canela

Gm F A7 Dm

/:E este aroma de pomar que me vem do corpo dela:/

ARRANCHADO (Armando Vasques/ Valdir Santana)

F#m C#7 F#m

Nessa colméia povoeira onde fiz arranchamento

E D C#7 F#m
Amarro fletes de sonho nos palanques de cimento

F# Bm E A

Vou bebendo nostalgias de sanga, pitanga e vento

F#m E D C#7 F#m

/:Semarias de saudade não cabem no apartamento:/

C#7 F#m

Quando a lua se debruça no arranha-céu dos viveiros

E D C#7 F#

Onde arranchei minha alma no meu exílio povoeiro

Bm E A

/:Coiceia dentro do peito um coração caborteiro

C#7 F# (F#m)

Me sinto um pássaro preso na angústia do cativeiro:/

EA

Um luceiro imaginário na quincha de um céu nublado

C#7 F#m

Vai apartando rebanhos de fumaça nos telhados

Bm(C#7) E A(F#m)

/:E uma saudade de noivo, de campo e berro de gado:/

Vou-me embora pra querência pra me arranchar no meu chão


Acordes da 2ª estrofe

Amanhã eu ponho anúncio nos grandes classificados

/:Vende-se um apartamento no coração da cidade

A preço de ocasião, por motivo de saudade:/

UMA CANÇÃO PRA MINHA PRENDA (Basílio Conceição)

Em E Am

Tentei fazer uma canção bonita dessas que se vão

D7 G

De pago em pago, saudade que eu trago no meu coração

B7 Em

Ah! Quando eu me lembro, prenda tão vistosa assim nunca se viu

GC

Como um relâmpago veio e sumiu

F# B7

Sangrou meu peito, encharcou meu olhar de tristeza e dor

Em E7 Am

E dor estrada velha que eu conheço como a própria mão

D7 G

E leva a gente queira ruma à solidão

B7 Em

Ah! Prenda bonita, nunca fui poeta e pouco sei cantar


GC

Fiz estes versos tortos pra lembrar

F# B7 E

Pintei o rancho e lavei os lençóis pra te esperar

DAS SALAMANCAS (Nilo Brum/ Everton Ferreira)

Dm Gm A7 Dm A7

Das salamancas, dos gabinetes, estranhos ventos te ameaçam

Dm Gm A7 Dm A7

Coxilha agora é um perigo, já vem do céu o inimigo

Dm Gm C7 F

Tafonas brancas e saladeiros, por razões bem conhecidas

Dm Gm A7 Eº Dm

Estão vazios sem movimento, lá fora o vento devora vidas

Gm Dm A7 Dm

devora vidas lá fora o vento, devora o vento lá fora vidas

Dm Gm C7 F

O pala que te protege da geada e do minuano

Dm Gm A7 Eº Dm

Contra a garoa da radiação, não vale nada porque é de pano

Gm Dm A7 D

Porque é de pano não vale nada, de nada vale porque é de pano


Montado em um foguete vai o ginete buscar resposta

G Em

Nos quatro cantos do continente todos esperam nova proposta

A7

E as nebulosas contem segredos e em potros lerdos ninguém aposta

G F#m Eº D

Ninguém aposta porque são lerdos, porque são lerdos ninguém aposta

G F#m E A7

Ninguém aposta porque são lerdos, porque são lerdos ninguém aposta

G F#m A7 D

Ninguém aposta porque são lerdos, porque são lerdos, porque são lerdos (A F A)

D G Em

E se o fantasma deste ginete trouxer sementes quando voltar

A7 G F#m

Nos intervalos dos campos santos o recomeço terá lugar

G F#m Eº D

Terá lugar por ser começo, por ser começo terá lugar

G F#m E A7

Terá lugar por ser começo, por ser começo terá lugar

G F#m Eº D

Terá lugar por se começo, por ser começo, por ser começo
PANDORGA (Nelson de Souza/ Humberto Gabbi Zanatta)

C G7 C

Retorno à infância nas manhãs deste meu tempo,

E Am

E sou guri de brinquedo e sentimento

F Ebº C G7 C

Minha pandorga é um pássaro maluco que gambeteia no azul do firmamento

G7 C E Am

Finas varetas, quase sempre de taquara e a cobertura de um papel bem escolhido

F Ebº C G7 C

/:Colava tudo com um grude de farinha e para o rabo longos trapos coloridos:/

F D7 G7

Minha pandorga tinha ronco e telegrama, era estrela, era navio ou barrilete

FC

Pra levantá-la ia tenteando contra o vento

G7 C C7

Como uma potrilho corcoveando sem ginete

F E Am

Coisa bonita de se ver minha pandorga com roncadeira, rabo duplo envenenada

B7 Em D7 G7

Enchia o céu de colorido e de esperança e era a festa e o orgulho da piazada


G7 C

Sei que na vida volta e meia sou pandorga

E Am

Voando alto nos meus sonhos andarilhos

F Ebº C

/:Mas puxo a linha que me faz voltar a terra

G7 C

E sigo adiante sem cabresto no meu trilho:/

MEU QUARAY MIRIM (Jorge Amarante)

G E Am

Eu me lembro bem ainda, daquelas planícies infindas no meu Quaray Mirim

G Em D7 G

Das gostosas macaquices, de comer as gulodices que Siá Dona fez pra mim

Relembro o plafe das tábuas, da roupa cheirando a magoas e o cantar das lavadeiras

/:E no seu torto caminho, o rio murmura baixinho namorando as pitangueiras:/

D7 40 53 50 G

Piazito canela arranhada, descalço pisando as geadas nas duras manhãs de frio

G C Cm G D7 G

Amei a vida campestre, comendo frutas silvestres, sentado à beira do rio


Lembro o rufar dos tambores do Quinto dos Caçadores, unidade do meu pago

/:Foi a mais doce morada, esta cidade encantada, namorada do Uruguai:/

PONCHO MOLHADO (José Hilário Retamozzo/ Everton Ferreira)

D Em D

Poncho molhado, olhar na tropa e no horizonte,

D7 G A7

vai o tropeiro devagar, estrada afora

G F#m

A chuva encharca, está chovendo desde antontem,

Em A7 D

dói dentro d’alma esta demora

Em D

Irmão do gado ele se sente nessa hora

D7 G A7

e o seu destino também vai nesse reponte

G F#m

Igual à tropa nesse tranco estrada afora,

Em A7 D

sempre encharcado de horizonte

Em

A tropa segue devagar mugindo tonta,

A7 D
talvez pressinta que seu fim é o matadouro

D7 G A7 D

E o tropeiro entristecido se dá conta,

Em A7

/:que o boi é bicho mais tem alma sobre o couro:/3X

GD

O boi é bicho mais tem alma sobre o couro,

LINHA DE MÃO (José Hilário Retamozzo/ Juarez Chagas)

Em C D B7

No giro da linha boleadeira, uma lua inteira se estende no rio

Em C

É giro de laço que faz com que o braço,

D B7

/:Caminhe no espaço e se atire no rio:/

E B7 D E

Não levo tarrafa, não levo espinhel,

B7 D E

só meia garrafa de canha com mel

A E B7 (F#) E7 (B7)

/:Minhoca de isca e linha de mão e o que me belisca é só solidão:/


Nos remos o rumo, no rio a razão,

meu naco de fumo, meu peixe , meu pão

/:Minh’alma sozinha criou a ilusão

que o rio não caminha na linha de mão:/

Espelho campeiro da lua e do sol,

és meu prisioneiro na ponta do anzol

/:Até que me deixe sem fome de pão,

o rio é meu peixe na linha de mão:/

PIAZITO DE CAMPANHA (Jorge Rodrigues de Freitas/ Walter Florenza)

Dm C A7 Dm

Debruça o piá sobre o leito de um rio que passa solito

Lavando o rosto em suas águas e depois segue ao tranquito

Vai-se a cumprir seus encargos, tal qual um rio, o piazito

É domingo na fazenda, tem carreira no povoado

O piazito pega a cesta, não pode ficar parado

Rapadura a cinco pila, ele grita entusiasmado (D)

D A7 D

Eira boi, eira boiada, passou a semana inteira

B7 Em A7 D
Nos domingos tem carreira e o patrão o dispensou

Piazito de peito aberto, calça curta e pé no chão

Ele sai de madrugada, se enfurna na imensidão (Dm)

Mas de tarde quando o sol já se esconde pra dormir

Num crepúsculo de sonhos, o piazito sem sentir

Volta pra estância sem pressa, cesto cheiro sem sorrir

D7 Gm C7 F

Como encarar a mãe velha, como encarar os piás

A7 Dm

Se eu sou o homem da casa, que vergonha de voltar

C A7 Dm

Rapadura a cinco pila o povo não quis comprar

C G D C G A7 D

Rapadura a cinco pila o povo não quis comprar

CANTIGA DE RIO E REMO (Apparício Silva Rillo/ José Bicca)

E B7

/:Olha o dourado que bateu no espinhel,

traz a canoa que rio fundo não dá pé:/


B7

Esta cantiga é muito antiga, é muito amiga

E me acompanha desde o dia em que eu nasci

Levo a canoa quando saio noite afora

E B7 E

Pescando estrelas no Uruguai ou no Ibicuí

Ela é remanso, é corredeira, é lua cheia

Ela é piava, ela é dourado, é surubi

Ela é o espanto do piá que a vez primeira

Tirou das águas para o céu um lambari

É o pão da mesa para a fome de quem pesca

O peixe arisco da aventura que há de estar

Na voz humilde de quem canta esta cantiga

Sem outro sonho que não seja o de pescar

REGRESSO DO CARRETEIRO (Leonardo)

D A7

Botei os bois na carreta, peguei mulher e criança

D
E parti por este mundo carreteando uma esperança

Am D7 G

Cortei coxilhas e serras deste país frente a fundo

Dº D A7 Dm

Voltei com a carreta cheia das tristezas deste mundo

A7 Dm

Andei por muitos lugares, mas voltei ao meu rincão

C Bb Dm

Pois não vi em outras plagas o que existe no meu chão

A7 Dm

Senti falta das noitadas, das guitarras milongueiras

Gm Dm A7 D

Das sesteadas que eu fazia, sob a sombra das paineiras

Não vi boitatá correndo nas campinas de outros pagos

Quantas vezes faltou erva pra cevar meu mate amargo

Faltou-me uma mão amiga nas horas de precisão

Por isso é que estou de volta ao meu querido rincão

Deixei meu pago chorando, os campos de vacaria

Bebi goles de saudade soluçando de alegria

Pra minha china e os piás compus a canção que canto

E jamais hei de deixar esta terra que amo tanto


TOADA DO PEÃO SOLITO (José Sarturi/ Miguel Marques)

D D/C# Bm D Bm Em

Este minuano que assobia nas coxilhas, traz-me lembranças que o presente não desfaz

A7 D

Há nos peçuelos um cheiro de maçanilha e nos lençóis teu jeito manso e tua paz

Bm D D7 G

O rancho velho está tristonho qual tapera e já não tem a mesma graça que antes tinha

Dº D B7 E A7

Chego da lida e no portal ninguém me espera, cevo meu mate e sorvo só de tardezinha

G A7 D Bm E A7 D

Chego da lida e no portal ninguém me espera, cevo meu mate e sorvo só de tardezinha

A7 D F# Bm

/:Há uma saudade penetrando em cada fresta, há uma tristeza estampada em meu olhar

G Dº D E (A7) A7 (D)

Só uma esperança insistente é o que me resta, soprando rimas pra tristeza repontar:/

Olho o fogão e aquele espelho que era dela, a mesa posta, o gato velho e o pilão

Tantos recuerdos que fazem pensar nela e que machucam ainda mais meu coração

Se pelo menos do romance com essa china restassem frutos pra regar e pra colher

/:Alguns piazitos que abrandassem esta sina


que dessem força e sangue novo ao meu viver:/

RODA CANTO (Apparício Silva Rillo/ Mário Barbará)

Dm Gm

Meu canto chega de longe, vem na garupa do vento

A7 Dm A7 Dm

Vem no vento vem, da furna funda do tempo

Dº Gm A7 Dm A7

Veio do grito da bugra amando o primeiro branco

Dm Am A7 Dm

/:Sangue, sol, sêmen, semente:/

Gm C7 F Gm C7 F

Foi flete, foi lança e laço, foi guerra e foi pastoreio

C7 F Gm A7 Dm A7

Foi berço, foi cancha e campa, /:foi rumo, rancho e razão:/

Dm Gm

Meu canto chega de longe, foi destino e foi estrada,

A7 Dm A7 Dm

estrada foi por onde cruzava o boi

Dº Gm A7 Dm

Foi massa, cambota e raio, alvoradas e sol-pôr


Bb Dº A7

Roda, rodado, rodando

Gm C7 F Gm A7 Dm

Enquanto a roda do tempo acompanhava a carreta

Bb Dº A7

Roda, rodado, rodando

Gm C7 F Dm A7 Dm

/:Fazendo das sesmarias, trilho aberto e campo em flor:/

Gm A7

Meu canto chega de longe, do pai, do pai de meu pai

Dm Am A7 Dm Bb Dº A7 Bb C D

/:Sangue, sol, sêmen, semente, roda rodando se vai:/3x Se vai

BALSEIROS DO RIO URUGUAI (Barbosa Lessa)

Am G F C

Oba, viva, veio a enchente, o Uruguai transbordou, vai dar serviço pra gente

Vou soltar mia balsa no rio, vou rever maravilhas que ninguém descobriu

G7

Amanhã eu vou-me embora pros rumos de Uruguaiana

Vou levando na mia balsa cedro, angico e cangerana

G7
Quando chegar em São Borja, dou um pulo a Santo Tomé

F G7 C E

Só pra ver las correntinas a bailar um chamamé

Ao chegar no Salto Grande me despeço deste mundo

Rezo a Deus e a São Miguel e solto a balsa lá no fundo

Quem se escapa deste golpe, chega a salvo na Argentina

Mas duvido que se escape do olhar das correntinas

CANTADEIRA (Rubens Dario Soares/ Pedro Ortaça)

AE

Anda, anda, mia carreta cantadeira

B7 E

pela estrada do rincão que lá se vai

E cruzando os caminhos da fronteira,

dar os costados nas barrancas do Uruguai

Seus eixos choramingam já mui lentos,

num eira boi, Pintassilgo, Boi Pintado

Sesteia à noite, ao abrigo dos ventos

na restinga, bem juntinho do alambrado


Carreteiro vai levando a alma do pago,

daquele tempo que era lindo e que se foi

E a de ombro vai repetindo eira boi,

estrada afora a caminho de Santiago

Velha imagem refletindo ao pôr-do-sol,

estradeando vagarosa ao pampa largo

Alma gêmea do churrasco e mate amargo,

duma saudade carreteando no arrebol

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Nov 6, '05 6:14 PM


musicas gauchas
for everyone

Category: Music
Genre: Country
Artist: varios
BAILE DE CANDEEIRO

Sérgio Napp/Albino Manique

Camisa branca, lenço colorado

Umas botas novas, calça de riscado

Pelos cabelos muita brilhantina

Que tem bate-coxa no salão da esquina

E vou chegando, meio ressabiado

Pelo lusco-fusco deste candeeiro

E no entrevero busco a tal morena

Por quem me deixei assim, enfeitiçar

E já nos tocamos pro meio do baile

E mais uma volta, e outra volta e meia

Toca mais um xote, mais uma vaneira

Que eu mostro meu valor

E eu me apeio pelo seu cangote

E o seu perfume me deixando tonto

Mais uma volteada, que eu não abro mão

De quem é o meu amor


Ah, meu candeeiro

Se apagas teu lume agora

Eu pego esta flor de morena

Encilho meu pingo

E me vou mundo afora

CANTANDO O XOTE

José Roberto C. Pires

Eu vou cantar, cantar é bom

Um xote, um tom

Que tenha alma e harmonia

Se perguntar: “Prá que cantar?”

Vou responder e assim dizer:

Que o xote é bom

Prá se cantar uma canção de amor

Prá se dançar assim, bem marcadinho

Prá enxotar tristeza o xote é bom

Se bem juntinho, ainda mais

Não tem calo, nem dedo inchado, e apertado o pé


Um xotezito bem marcado, que beleza é

Dança João, dança Maria, Chico, Pedro e Terezinha

E solta a gaita, Zé!

CANTO DE MORTE DE GAUDÊNCIO SETE LUAS

Luiz Coronel/M. A . Vasconcelos III Califórnia

Silêncio, abanem os lenços

Chora o vento em despedida

Gaudêncio, velho Gaudêncio

Pulou a cerca da vida

Adaga, atirou no rio

É mais um peixe de prata

Sete Luas já partiu

Com seu poncho cor de mata

Espora, jogou ao léu

Boleando na imensidão

Mandou estrelas pro céu

Quem se deitou neste chão

Nas mãos, levou sementes

Nada mais ele precisa


No eucalipto se sente

Que Gaudêncio virou brisa

Dormindo em cova rasa

Sem nome ou data nenhuma

Se um pássaro bater asas

É Gaudêncio envolto em plumas

Quem quer levar oferendas

Prá Gaudêncio em noite escura

Leve um bom trago de venda

Mate amargo e rapadura

CHAMAMECERO

Mauro Moraes

Como se a escuridão trouxesse luz


Como se o coração fosse explodir

Mastiguei a fala, negaceei a mágoa,

Só prá ver a lágrima feliz.

Quis amansar a dor, me vi pela vida


Quis conhecer o amor, fiz um chamamé

Cheio de carinho, “loco de faceiro”,

Mas, que chamamecero me senti.

Coisa de bom menino abraçando o pai

Coisa de mãe saudosa mimando o filho,

Fui me emocionando a mando do gaiteiro

Mas, que chamamecero, repeti...

A mão vem me dando soco,

Eu prendo-lhe um sapucai

O pé pisoteia a marca

Que a alma arrepia em pelo

E quase arrebenta o fole

Que torce

Prá vida melhorar

COPLA DE ASSOBIAR SOLITO

Luiz C. Borges./José Fernando Gonzales


Meu pai um dia me fazia moço

E me levando para camperear

Assobiava qualquer coisa doce

Como se fosse de luz de luar

Aquela copla que não era um hino

E era simples e era só sua

Ia amansando nossa vida dura

Ia adoçando duas almas nuas

A copla terna que meu pai trazia

Não transcendia para alguém mais ver

Era a essência do lugar da arte

Ensimesmada no seu próprio ser

Não se achegava ao derredor do fogo

Nem vinha junto pro galpão da estância

Era parceira apenas campo afora

Só sem querer me acalentava a infância

Hoje, a lo largo, na cidade grande

Quando vagueio a procurar por mim

Me dou de conta assobiando a esmo

E me interrompo sem chegar ao fim

A minha copla de assobiar solito


Tropeando ruas numa remembrança

É aquela mesma que o meu pai trazia

E estranhamente me deixou de herança

DE COMO AMAR UM RIO

Beto Barros/Sérgio Rojas

Fundeei rente às barrancas do meu rio


Fui náufrago, nadei por sobre a bruma

Retive águas tensas do meu pranto

Por acalantos brancos de ninar espumas

Amar o rio e com ele aprender

Saciar a sede em suas corredeiras

Embalar descansos nos remansos

Deitar estrelas no vão das cabeceiras

Rio que é das garças


Que mora no peito

E tem o despeito

De não se afogar

Ter então que morrer aos pouquinhos

Arrastando queixumes
Prás bandas do mar
Na distância paciente de tuas margens
Nas tuas viagens de secas e de cheias

Asfixiados de couro e escamas

Nadam em vão e se vão virando areia

De que vale o consolo de uma sanga

E poluentes por diante levar

Se tão logo retorna para as caixas

A ganância que manda sujar

DESGARRADOS

11ª Califórnia

Mário Barbará/Sérgio Napp

Eles se encontram no cais do porto, pelas calçadas


Fazem biscate pelos mercados, pelas esquinas

Carregam lixo, vendem revistas, juntam baganas

E são pingentes nas avenidas da capital

Eles se escondem pelos botecos, entre os cortiços

E prá esquecerem, contam bravatas, velhas estórias

Então são tragos, muitos estragos por toda a noite

Olhos abertos, o longe é perto, o que vale é o sonho


Sopram ventos, desgarrados
Carregados de saudades

Viram copos, viram mundos

Mas o que foi

Nunca mais será

Cevavam mate, sorriso franco, palheiro aceso


Viravam brasas, contavam causos, polindo esporas

Geada fria, café bem quente, muito alvoroço

Arreios firmes e nos pescoços lenços vermelhos

Jogo do osso, cana de espera e o pão de forma

O milho assado, a carne gorda, a cancha reta

Faziam planos e nem sabiam que eram felizes

Olhos abertos, o longe é perto, o que vale é o sonho.

DIAMANTE
Zé Caradípia/Sérgio Silva

Clara como todo o pensamento


Que passou num pé de vento

Que soprou do teu olhar

Brincas qual criança distraída


Que faz graça e acredita

Que na vida é só brincar

Sempre quando saio do planeta

Te percebo entre as estrelas

Colorida, a cintilar

E voa ao tempo exato de um segundo

Que é prá viver em cada mundo

Que tua luz possa alcançar

Creio que um dia, não distante


Teu olhar de diamante

Me convide prá pousar

E serei teu pássaro cativo

Teu estado de espírito

Teu motivo de brilhar

Mas, se quiseres a distância

Podes usar da lembrança

E assim, poder voltar


É, mas não será de todo a sina

Pelo espaço da cortina

Ainda posso te avistar

ERA UMA VEZ


Apparício S. Rillo/Mário Barbará

Era uma vez um potrinho baio


Era uma vez um negrinho só

Quando o potrinho fez-se potro, o negrinho

Continuou pequenininho e cada vez mais só

Foi numa vez, numa carreira grande

O corredor era o negrinho só

O baio-raio tropeçou na raia

Libras de ouro se fizeram pó, e o negrinho só.

Acenda velas quem não sabe o resto

Da velha história que eu cortei ao meio

E ao pé das velas, deixe fumo em rama

Para o Negrinho do Pastoreio

Galopa, lope, galopa, cavalo de assombração


/: Baio-raio, pêlo de lua, risca-chispa na escuridão :/

Passa o passo, fica o rastro


Passa o vulto, fica o susto

/: Quem viu, duvida que viu

Quem pensa que viu, não viu :/

ESQUILADOR
9ª Califórnia

Telmo de Lima Freitas

Quando é tempo de tosquia


Já clareia o dia com outro sabor
As tesouras cortam em um só compasso

Enrijecendo o braço do esquilador

Um descascarreia, o outro já maneia

E vai levantando para o tosador

Avental de estopa, faixa na cintura

E um gole de pura prá espantar o calor

Alma branca igual ao velo

Tosando a martelo, quase envelheceu

Hoje perguntando para a própria vida

Prá onde foi a vida que ele conheceu?

Quase um pesadelo arrepia o pelo

Do couro curtido do esquilador


Ao cambiar de sorte levou simbronaço

Ouvindo o compasso tocado a motor

A vida disfarça, lembrando a comparsa

Quando alinhavava o seu próprio chão

Envidou os pagos, numa só parada

Trinta e três de espada, mas perdeu de mão

Nesta vida guapa, vivendo de inhapa

Vai voltar aos pagos para remoçar

Quem vendeu tesouras na ilusão povoeira

Volte prá fronteira para se encontrar

ESTEIO E SONHO

Luis Bastos/Vinicius P. Gomes

Por esta vida, nas duras lidas


Busca sofrida prá te encontrar

Quinchei o rancho, esteio e sonho

Sangrei auroras neste esperar

Esteio e sonho, flor de gaúcha

Pura ternura de entardecer

/: Sorriso claro de sol maduro

Rumo seguro pro meu querer :/


Companheira, mulher companheira
/: Graça de garça prá enfeitar a primavera

Garra de fera prá lutar a vida inteira :/

Em cada olhar, a mesma estrada


Luta e carinho em nossas mãos

Calos e flores colhendo juntos

E dividindo o mesmo pão

Quando o silêncio do nosso inverno

Cruzando manso, deixar em nós

/: Ausências tristes, e sonhos mortos

Que não nos deixe mateando sós :/

ESTRELA GURIA

11ª Califórnia

João Alberto Fogaça/Pery Sousa

Eu quis contar um segredo


A uma estrela faceira

Mexendo os cabelos, riu

Nem me olhou, nem me ouviu

Com seus arreios de nuvens

E os estribos de vento
Bem longe, na escuridão

Minha estrela sumiu

Vem no clarão da fogueira


No chiar da chaleira,

Na água da lua, vem

Eu sei que não é de ninguém

Minha estrela vadia

Minha estrela guria

‘Lumia a solidão

Deste meu coração

Se as cigarras e abelhas
Que cochicham nos campos

Falassem do meu amor

Poderia saber

E se os grilos da noite

Nas varandas serenas

Falassem da minha dor

Poderia saber

GALOPADA

Knelmo Alves
Debrucei-me na janela
Noite linda, enluarada

Na brisa o perfume dela

A distância não é nada

Não é nada esta distância,

Esta distância não é nada

Mas porquê toda esta ânsia de chegar antes que a estrada?

Mas porquê toda esta ânsia de chegar antes que a estrada?

Madrugada, vai-te embora


Deixa que o dia apareça

Pr’eu sair estrada afora

Antes que ela me esqueça

Vou sair estrada afora

Minha alma desespera

Upa, upa meu cavalo

Que saudade não espera

Upa, upa meu cavalo

Que saudade não espera

Da capo

Nas patas do meu cavalo


Corre louca uma saudade
Na pampa verde-esperança

Tranço minha felicidade

Madrugada...

HINO AO RIO GRANDE

(Simão Goldman)

Rio Grande do Sul


O gaúcho quer cantar

A querência, o céu azul

Os verdes pampas e o mar

E as mulheres que são belas

As calmas noites nos rincões

O céu bordado de estrelas

Manto de heróis e tradições

Rio Grande do Sul


Dos prados que não têm fim

Por maior que tu sejas, Rio Grande

Caberás sempre dentro de mim

NATALÍCIO
Renato Teixeira/Luís Coronel

Brilha em cima do rancho uma estrela luzidia

Todo menino é Jesus e toda mãe é Maria

Quando a vida abre porteiras de longe vêm os parentes

Sob o manto de seus ponchos trazem humildes presentes

E já se achegam pro rancho animais de estimação

Rezam padrinhos de casa, com a vela acesa nas mãos

E lá se vão pela estrada, peão, mulher e criança

Vão na mala de garupa as provisões de esperança

Aprende logo o menino um pouco de ler e contar

As lides do pastoreio, ofícios de capinar

Quando volta da lavoura, a tarde quase sem luz

Unindo corpo e enxada, a sombra desenha uma cruz

NOITE DE SÃO JOÃO

(Pery Souza e Kledir Ramil)


Era noite de São João e eu saía com meu irmão

De bigode de rolha, e chapéu novo em folha

Brim coringa e alpargata

Toda noite de São João

Eu sonhava em pegar na mão

De uma prenda bonita, de vestido de chita

E maria-chiquinha

Soltando fogue-tchê

Pulando fogueirá

Era noite de São João

Soltando fogue-tchê

Pulando fogueirá

Era noite de São João

Toda noite de São João a quermesse era um festão

Bandeirinhas no arame, de papel celofane

Pau de sebo e de fita

Era noite de São João e depois de comer pinhão

Vinha pé de moleque, puxa-puxa e um pileque

De caninha ou de quentão

Era noite de São João, cordeona com violão


Esquentavam as moças, e eu neste bate-coxa

Não podia me segurar

Toda noite de São João, eu voava que nem balão

Namorava as estrelas que são primas terceiras,

E afilhadas de São João

O FACHO DA ESTRELA GUIA

Luis Coronel/Airton Pimentel

Agora mesmo chegamos

Pelos rastros da alegria

Como os reis Magos seguimos

O facho da estrela guia

Vossa janela se abriu

E o vulto que foi visto

Tem a inocente bondade

Do menino Jesus Cristo

Se aqui fora existe a treva

Em vossa casa existe a luz

Que se abra vossa porta

Como os braços de Jesus

Como os braços de Jesus


Saudamos o Deus menino

Neste terno de louvor

Nosso canto se faz reza

Com viola, tiple e tambor

Temos fome, temos sede

De andar pelos caminhos

Se há Jesus em vossa casa

Surge o pão e suge o vinho

Se são pobres nossas vestes

Prá louvar criança loura

Foi também pobre o menino

Que nasceu na manjedoura

Nós já vamos em despedida

Para outra freguesia

Levando de vossa casa

O amor de José e Maria

SEMEADURA
(Vítor Ramil e Fogaça)

Nós vamos prosseguir, companheiro


Medo não há
No rumo certo da estrada, unidos vamos
Crescer e andar
Nós vamos repartir, companheiro

O campo e o mar

O pão da vida, meu braço, meu peito

Feito prá amar

Americana, pátria, morena


Quiero tener

Guitarra y canto libre

En tu amañecer

No pampa, meu pala a voar

Esteira de vento e luar

Vento e luar

Nós vamos semear, companheiro

No coração

Manhãs de frutos e sonhos prá um dia acabar

Com esta escuridão

Nós vamos preparar, companheiro

Sem ilusão

Um novo tempo em que a paz e a fartura

Brotem das mãos

«Minha guitarra, companheiro, fala o idioma das águas, das pedras, dos cárceres,

do medo, do fogo e do sal.


Minha guitarra tem os demônios da ternura e da tempestade.

É como um cavalo que rasga o ventre da noite, beija o relâmpago

E desafia os senhores da vida e da morte.

Minha guitarra é minha terra, companheiro.

É meu arado semeando na escuridão

Um tempo de claridade.

Minha guitarra é meu povo, companheiro!»

UM MATE POR TI

Vinícius Brum//Beto Bollo./Apparício Silva Rillo VII Seara

Na bomba do mate ficaram teus lábios

E um gosto maduro de mel de mirim

E se não mateio depois que partiste

É que ando triste, perdido de ti

A bomba é uma pomba de penas cansadas

E a cuia morena, seu ninho vazio

E agora que foste, chegou o inverno

E as águas do mate tiritam de frio

Ás vezes meus lábios recordam os beijos


Que a cuia trazia de ti para mim

E o mate de ontem me lembra

Que tudo o que é doce a princípio se amarga no fim

Por outras me indago se não vale a pena

Trocar um capricho por um chimarrão

Tomar mais um mate por ti que levaste

Meus restos de doce na palma da mão

GAUDÊNCIO SETE LUAS

(Marco Aurélio Vasconcellos, Luiz Coronel)

A lua é um tiro ao alvo

E as estrelas, bala e bala

Vem minuano e eu me salvo

No aconchego do meu pala

Se troveja a ventania

Já relampeja minha adaga

E quem não mostra valentia


Já na peleia se apaga

Marquei a paleta da noite

Com o sol, que é ferro em brasa

E o dia veio mugindo

Prá se banhar na água rasa

Prá me aquecer, mate quente

Prá me esfriar, geada fria

Não vai ficar prá semente

Quem nasceu prá ventania

LAGO VERDE AZUL (Adair de Freitas)

Dm

Um medo de andar solito, ouvindo vozes e gritos

A7

E até do barco um apito na sua imaginação

Gm

Os olhos esbugalhados do moleque assustado, olhando aquele mar bravo

A7 D

Ora doce, ora salgado, num temporal de verão

Sem camisa na beirada bombachita arremangada


A7

Botou petiço na estrada quando a areia lhe guasqueou

Sentiu um arrepio com aquele ar frio que o açude e rio

A7 D

E as águas que ele viu não lhe provocou

A7

(Coqueiro e figueira dos matos e a bela Lagoa dos Patos, ó verdadeiro tesouro

(G) (A7) D Bis

Lago Verde e Azul que na América do Sul Deus botou pra bebedouro)

Dm

Tempos que ainda tinham o bailado da tainha

A7
Quando o boto vinha com gaivotas em revoadas

Gm

E entre outros animais, no meio dos juncais

A7 D

Surgiam patos baguais que hoje não se vê mais este símbolo da aguada

Nas noites de lua cheia, a gente sentava na areia

A7
Para ver se ouvia a sereia entre as ondas cantando

E hoje eu volto ali, no lugar em que eu vivi

G A7 D

Onde nasci quando guri me olho lagoa em ti e me enxergo chorando

( )Int.

VENTO NORTE

Dirceu Abrianos/ A Pimentel

Tal qual fole de uma forja sopra o fogo nas cambonas

E nas frinchas dos galpões entoa vozes de cordeonas

Te chamam vento haragano, conhecedor de caminhos

Mas a “Terra da Alegria” é tua morada, é teu ninho

Se um dia eu pudesse ter a força que tem os ventos

Iria varrer dos pagos tantos descontentamentos

Vai chover daqui três dias, previsão que ninguém erra

Pois chegou o Vento Norte rebojando ao pé da serra


Trouxe em seu canto campeiro a estridência das cigarras

Bordoneando no aramado melodias de guitarras

Sopra forte, vento norte


Antes que esta chuva caia

Quero ver a chinoquinha

Segurar a sua saia

VETERANO

10ª Califórnia

Antônio Augusto Ferreira/Everton Ferreira

Está findando o meu tempo a tarde encerra mais cedo


Meu mundo ficou pequeno e eu sou menor do que penso

O bagual tá mais ligeiro, o braço fraqueja às vezes

Demoro mais do que quero, mas alço a perna sem medo

Encilho cavalo manso, mas boto laço nos tentos

Se a força falta no braço, na coragem me sustento

Se lembro o tempo de quebra, a vida volta prá trás


Sou bagual que não se entrega, assim, no más.

Nas manhãs de primavera, quando vou parar rodeio


Sou menino de alma leve, voando sobre o pelego
Cavalo do meu potreiro, mete a cabeça nos tentos

Encilho no parapeito, mas não ato nem maneio

Se desencilho o pelego, cai no banco onde me sento

Água quente e erva buena para matear em silêncio

Neste fogo onde me aquento, remôo as coisas que penso

Repasso o que tenho feito para ver o que mereço

Quando chegar meu inverno que me vem branqueando o cêrro

Vai me encontrar venta-aberta, de coração estreleiro

Mui carregado dos sonhos que habitam o meu peito

E que irão morar comigo no meu novo paradeiro

XOTE NO SUL

Mário Barbará

Vou cantar um xote carreirinha

Coisa muito minha, muito nossa

O xote, que tocado o baile engrossa

Fazendo o pó subir que nem farinha!

Oigalê! Eu sou gaúcho


A alma forte pela seiva dos amargos

Nas alegrias, bebo luas nas cacimbas

Nas amarguras, canha pura em trago largo.

Venha, tchê! Venha pro xote

De roupa nova, brim listrado ou brim-azul

Que ele é um mistério muito sério, e é gaudério

Tem cor e cheiro e tempero aqui do sul

Se arremange, venha pro xote

Se alvorote, entre no passo, que nem eu

E dê-lhe gaita, dê-lhe pé com a sirigaita

Que nos seus braços é uma flor que amanheceu

Caramba! O xote manda

Manda e comanda gente como eu nunca vi

Faz entreveros de povoeiro com campeiro

E dançam juntas a bombacha e a “calça lee”

AMARGO

Lupicínio Rodrigues/Piratini
Amigo, boleia a perna
Puxe o banco e vá sentando

Encoste a palha na orelha

E o crioulo vá picando

Enquanto a chaleira chia

O amargo vou cevando

Enquanto a chaleira chia

O amargo vou cevando

Foi bom você Ter chegado

Eu tinha que lhe falar:

Um gaúcho apaixonado

Precisa desabafar.

Chinoca fugiu de casa

Com meu amigo João

Bem diz que mulher tem asa

Na ponta do coração

Bem diz que mulher tem asa

Na ponta do coração

ANITA GARIBALDI

Alcy Cheuiche/Marlene Pastro

Na beira da praia na longínqua Itália


Anita contempla as ondas do mar

A mão poderosa de um louro pirata

Levou-a prá longe da terra natal

Anita morena da pele macia


Amante de noite, soldado de dia
Um filho no braço, no outro um fuzil

Um filho no braço, no outro um fuzil

Guerreira farrapa, guerreira uruguaia

Guerreira italiana rolando na cama

Guerreira farrapa, guerreira uruguaia

Nos braços de um homem com cheiro de mar

Anita morena da verde Laguna

Mulher farroupilha, legaste tua fibra

Fizeste tuas filhas a todas mulheres

A todas mulheres do sul do Brasil

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