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ENTRE A FANTA UVA E O OVO: UMA ANÁLISE DAS DIFICULDADES ENFRENTADAS PELOS

ALUNOS INDÍGENAS BILÍNGUES NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ

Liendria Marla Malcher Silva, Amanda Carvalho Cantal De Souza e Luana Da Silva Cardoso

Neste trabalho abordamos as dificuldades enfrentadas pelos alunos indígenas bilíngues (que não possuem o
português como língua materna) da Universidade Federal do Oeste do Pará, referentes a questões de comunicação,
uso dos auxílios, aprendizagem, deslocamento e permanência na cidade de Santarém-PA. Objetivamos refletir sobre
como tem se dado a implementação das politicas de ações afirmativas, através da adoção de cotas raciais para o
acesso ao ensino superior, especialmente para discentes autodeclarados indígenas, e quais recursos e métodos tem
sido adotados para que os mesmo se mantenham no espaço urbano. Realizamos uma pesquisa qualitativa-etnográfica
baseada em entrevistas semi-estruturadas com quatro discentes indígenas das etnias WaiWai e Munduruku. Cruzando
os dados, percebemos alguns dos principais obstáculos enfrentados e quais os pontos positivos vivenciados por estes
alunos dentro e fora da universidade durante sua trajetória de formação no ensino superior. Em 2012, o sistema de
cotas, tais como raciais, étnicas e econômicas nas universidades públicas do Brasil passam a receber incentivos com
apoio na Lei Federal 12.711/2012, seguida pela normativa nº18 e dec. nº 7824 do mesmo ano. Nesse quadro,
podemos localizar a UFOPA como uma universidade progressista na inclusão de grupos marginalizados,
considerando que desde seu projeto de criação visava-se uma universidade plural, ou seja, cujo o espaço acadêmico
seria composto pelos diversos grupos sociais e étnicos que ocupam a Amazônia e abarcaria os conhecimentos
tradicionais da região. Para tanto, desde 2010 realiza-se, na UFOPA, o Processo Seletivo Especial (PSE) indígena, e
desde 2015, o PSE Quilombola. Enquanto no Processo Seletivo Regular (PSR) 50% das vagas são reservadas para
alunos de escolas públicas. Em abril de 2014, foi criada a Diretoria de Ações Afirmativas (DAA) da UFOPA, atual
responsável pelo programa de políticas de ações afirmativas vigente na mesma. Constatamos que os problemas
indicados pelos discentes ultrapassam as questões financeiras ou de aprendizado da língua portuguesa, possuindo
raízes mais profundas que evidenciam preceitos excludentes baseados na logica cartesiana, pragmática e hierárquica
que estão presentes na construção do conhecimento dito “cientifico”, portanto, é emergencial se estabelecer relações
dialógicas que permitam a discussão tanto de problemáticas práticas, como acesso e estadia na universidade, mas
também estruturais, que se questionam os métodos da produção de conhecimento e do ensino universitário. Assim, é
fundamental que compreendamos a politica de cotas para além de uma medida que repare as desigualdades, mas que
também produz efeitos na construção do pensamento multicultural do do século XXI.

Palavras-chaves: Estudantes Indígenas; Bilíngues; Política de Ações Afirmativas; UFOPA.

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