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ARISTÓTELES. Política, 1252 b 27- 1253 a; 1280 b KANT, Immanuel. Sobre a pedagogia. Piracicaba:
33- 1281 a 4; 1324 a 6- 1325 a 10. Ed. Unimep, 1996, p. 15.
A Grécia Antiga encarnou, num que devemos criar e realizar pensa, inventa e
determinado contexto histórico, o ideal e a realiza a escola, o saber, os métodos de
luta para realizar a educação como paidéia, investigação e ensino, a prática educativa.
cultura, elevação da alma à sua mais alta Criador de ideias e artesão do saber, com o
perfeição, formação humana fundada na qual mantém relação intrínseca, ética, de
excelência moral (areté). Compreendeu muito crítica e de fidelidade, ele trabalha com livros
bem o sentido e a importância da educação, que respeitam a inteligência do
ao não separar a ética e a política, o homem estudante/leitor, provocando-lhe a
(ánthropos) e a cidade, a paidéia e a pólis, ou inquietação intelectual, a dúvida, a crítica, a
seja, a educação como cultura, civilização, permanente busca da verdade, a sede
formação do caráter, e a cidade como insaciável do rigor no trato com os textos, com
existência humana fundada na autonomia, na as ideias.
igualdade e na justiça e, portanto, na areté. Ao procurar a cada momento se fazer
Impossível, pois, haver ação política, sem professor, não coloca o mercado e o sucesso
formação ético-política que leve o homem a pessoal e profissional em primeiro lugar, não
colocar a coisa pública em primeiro lugar, nem apresenta modelos a serem seguidos, não
educação, sem cuidado com a perfeição da impõe doutrina e padrões de conduta, não
pólis, a realização da vida excelente, a melhor repete o já pensado por ele ou por outrem.
possível para todos os membros da Pelo contrário, busca, duvida, questiona; refaz
comunidade política. Os vínculos entre caminhos, produz conceitos e, por isso, ensina
educação como paidéia e a pólis, a sociedade, com autoridade, iniciando os estudantes nos
eram demasiado estreitos e profundos para caminhos do pensamento.
que pudessem ser esquecidos e banalizados Ao retomar a formação humana na
sob a ótica da transmissão de conhecimentos escola, repensá-la e recriá-la, ensina a ler com
e informações. rigor os textos, o mundo físico e social e a
Assim como os gregos do passado todos convida ao trabalho e ao prazer da
também nós somos chamados a reconhecer leitura e da produção intelectual. Esse
que a sociedade atual e seus cidadãos não são professor possível (diferente de provável),
perfeitos, não são excelentes e, ao mesmo esse professor utópico,3 exigido pela história,
tempo, a não afastar nosso olhar da pela democracia e pela ética, e cuja
autonomia, da igualdade, da justiça, da construção se impõe a todos, é e será sempre
perfeição, e a buscá-la sempre. A situação insubstituível, jamais será superado pela
concreta de opressão, de injustiça, de miséria, mídia, pelo avanço da tecnologia.
de desemprego, de prepotência, de negação
dos mais elementares direitos e de grave
empobrecimento do processo de
escolarização não pode levar-nos à
acomodação, mas impõe a todos lucidez,
coragem e persistência no trabalho de
superação dessa realidade existente e, ao
mesmo tempo, de criação do que ainda não
existe. E nesse processo é imprescindível a
criação de uma outra escola.
Mais do que transmitir conhecimentos
e informações, essa escola radicalmente
diferente será imprescindível para a formação
do homem em cada professor e estudante,
para a humanização de todos os seres
humanos, para o aprofundamento do
processo civilizatório. Em vez de armazenar e 3
CHAUÍ, Marilena de Souza. Ideologia e educação.
distribuir o conhecimento aos alunos, o In: Educação e Sociedade. São Paulo, v. 2, n. 5, p.
professor exigido pela educação e pela escola 24-40, jan. 1980.