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Graduada em Educação Física, em 2001, pela Universidade Paulista (UNIP), pós-graduada em Fisiologia do Exercício,
em 2002, e mestre em Ciências, em 2007, ambos pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Professora da UNIP desde 2005 e coordenadora do curso de Educação Física, campus Marquês desde 2011.
Coordenadora do Projeto de Atividade Física Adaptada (Profa) – Extensão – UNIP. Membro do grupo de pesquisa
Formação, Atuação Docente e Educação Física (GPFAEF – CNPQ/UNIP).
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
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permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Elaine Pires
Kleber Nascimento de Souza
Talita Lo Ré
Juliana Mendes
Sumário
Educação Física Adaptada
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................9
Unidade I
1 CONCEITOS BÁSICOS...................................................................................................................................... 11
1.1 A pessoa com deficiência................................................................................................................... 11
1.2 A inclusão e a integração................................................................................................................... 13
2 A EDUCAÇÃO FÍSICA E O ESPORTE ADAPTADO.................................................................................... 15
2.1 Histórico.................................................................................................................................................... 15
2.1.1 Educação Física Adaptada.................................................................................................................... 15
2.1.2 O esporte adaptado................................................................................................................................ 15
2.2 Modalidades paralímpicas................................................................................................................. 19
2.2.1 Atletismo..................................................................................................................................................... 19
2.2.2 Basquete em cadeira de rodas........................................................................................................... 23
2.2.3 Bocha............................................................................................................................................................ 24
2.2.4 Ciclismo........................................................................................................................................................ 25
2.2.5 Esgrima em cadeira de rodas.............................................................................................................. 27
2.2.6 Futebol de cinco....................................................................................................................................... 28
2.2.7 Futebol de sete.......................................................................................................................................... 30
2.2.8 Goalball........................................................................................................................................................ 31
2.2.9 Halterofilismo............................................................................................................................................ 32
2.2.10 Hipismo...................................................................................................................................................... 33
2.2.11 Judô............................................................................................................................................................. 34
2.2.12 Natação..................................................................................................................................................... 35
2.2.13 Paracanoagem........................................................................................................................................ 38
2.2.14 Remo.......................................................................................................................................................... 38
2.2.15 Rugby em cadeira de rodas............................................................................................................... 39
2.2.16 Tênis de mesa.......................................................................................................................................... 41
2.2.17 Tênis em cadeira de rodas................................................................................................................. 41
2.2.18 Tiro com arco.......................................................................................................................................... 42
2.2.19 Tiro esportivo.......................................................................................................................................... 43
2.2.20 Triatlo......................................................................................................................................................... 44
2.2.21 Vela.............................................................................................................................................................. 45
2.2.22 Voleibol sentado.................................................................................................................................... 46
3 CONCEITOS BÁSICOS SOBRE AS DEFICIÊNCIAS................................................................................... 47
4 DEFICIÊNCIA FÍSICO-MOTORA..................................................................................................................... 49
4.1 Lesão medular......................................................................................................................................... 49
4.1.1 Conceitos..................................................................................................................................................... 49
4.1.2 Dados epidemiológicos.......................................................................................................................... 52
4.1.3 Classificação............................................................................................................................................... 52
4.1.4 Características........................................................................................................................................... 53
4.1.5 Espinha bífida............................................................................................................................................ 55
4.1.6 Poliomielite................................................................................................................................................. 56
4.1.7 Atividade física......................................................................................................................................... 57
4.2 Paralisia cerebral.................................................................................................................................... 58
4.2.1 Conceitos..................................................................................................................................................... 58
4.2.2 Classificação............................................................................................................................................... 59
4.2.3 Características........................................................................................................................................... 60
4.2.4 Atividade física......................................................................................................................................... 61
4.3 Acidente vascular cerebral (AVC).................................................................................................... 66
4.3.1 Atividade física......................................................................................................................................... 67
4.4 Amputação............................................................................................................................................... 68
4.4.1 Conceitos..................................................................................................................................................... 68
4.4.2 Classificação............................................................................................................................................... 68
4.4.3 Características........................................................................................................................................... 69
4.4.4 Atividade física......................................................................................................................................... 70
4.5 Nanismo.................................................................................................................................................... 71
4.5.1 Atividade física......................................................................................................................................... 72
4.6 Doenças neuromusculares progressivas: distrofias musculares......................................... 72
4.6.1 Conceitos..................................................................................................................................................... 72
4.6.2 Distrofia muscular de Duchenne (DMD)........................................................................................ 73
4.6.3 Distrofia muscular de Becker (DMB)................................................................................................ 74
4.6.4 Distrofia fácio-escápulo-umeral (FSH)............................................................................................ 74
4.6.5 Atividade física......................................................................................................................................... 74
Unidade II
5 DEFICIÊNCIA VISUAL....................................................................................................................................... 80
5.1 Conceitos.................................................................................................................................................. 81
5.2 Estruturas oculares e funções visuais........................................................................................... 81
5.2.1 Anatomia do olho.................................................................................................................................... 81
5.2.2 Funções visuais......................................................................................................................................... 82
5.3 Classificação da deficiência visual.................................................................................................. 84
5.3.1 Classificação educacional..................................................................................................................... 84
5.3.2 Classificação esportiva........................................................................................................................... 86
5.4 Causas da deficiência visual............................................................................................................. 86
5.5 Características........................................................................................................................................ 88
5.5.1 Características físico-motoras............................................................................................................ 88
5.5.2 Características psicossociais................................................................................................................ 89
5.6 Atividade física....................................................................................................................................... 89
5.6.1 Estímulos para a aprendizagem do movimento......................................................................... 89
5.6.2 Adaptações do ambiente...................................................................................................................... 91
5.6.3 Adaptações dos materiais.................................................................................................................... 92
5.6.4 Considerações sobre a atividade física............................................................................................ 92
5.6.5 Orientações gerais................................................................................................................................... 95
6 DEFICIÊNCIA AUDITIVA.................................................................................................................................. 96
6.1 Conceitos.................................................................................................................................................. 97
6.2 Estruturas do ouvido e funções auditivas................................................................................... 98
6.2.1 Anatomia do ouvido............................................................................................................................... 98
6.2.2 Funções da audição................................................................................................................................ 99
6.3 Classificação da deficiência auditiva...........................................................................................100
6.3.1 De acordo com a perda auditiva.....................................................................................................100
6.3.2 De acordo com o local da lesão.......................................................................................................100
6.3.3 De acordo com a época em que ocorreu a surdez...................................................................101
6.4 Causas da deficiência auditiva.......................................................................................................101
6.5 Características......................................................................................................................................102
6.5.1 Características físico-motoras..........................................................................................................102
6.5.2 Características psicossociais..............................................................................................................103
6.6 Atividade física.....................................................................................................................................104
6.6.1 Orientações gerais.................................................................................................................................105
6.7 Surdo-cegueira.....................................................................................................................................107
6.7.1 Conceitos...................................................................................................................................................107
6.7.2 Classificação da surdo-cegueira......................................................................................................107
6.7.3 Causas da surdo-cegueira..................................................................................................................108
6.7.4 Características da surdo-cegueira..................................................................................................108
6.7.5 Comunicação na surdo-cegueira....................................................................................................108
6.7.6 Atividade física.......................................................................................................................................109
Unidade III
7 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL.........................................................................................................................113
7.1 Conceitos................................................................................................................................................113
7.2 Classificação da deficiência intelectual.....................................................................................114
7.2.1 Classificação quanto ao desempenho do teste de QI (coeficiente de inteligência).................114
7.2.2 Classificação quanto à necessidade de auxílio..........................................................................114
7.2.3 Classificação quanto à capacidade de aprendizagem............................................................ 114
7.3 Causas da deficiência intelectual.................................................................................................115
7.4 Características da deficiência intelectual..................................................................................115
7.4.1 Características cognitivas...................................................................................................................115
7.4.2 Características físico-motoras.......................................................................................................... 116
7.4.3 Características psicossociais..............................................................................................................116
7.5 Síndrome de Down.............................................................................................................................117
7.5.1 Características da síndrome de Down........................................................................................... 118
7.6 Atividade física.....................................................................................................................................121
7.6.1 Orientações gerais................................................................................................................................ 123
8 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA).......................................................................................124
8.1 Conceitos................................................................................................................................................124
8.2 Características......................................................................................................................................125
8.2.1 Características físico-motoras......................................................................................................... 125
8.2.2 Características psicossociais............................................................................................................. 125
8.3 Atividade física.....................................................................................................................................126
8.3.1 Orientações gerais................................................................................................................................ 127
APRESENTAÇÃO
Esta disciplina tem o objetivo de exibir as deficiências físicas, intelectuais e sensoriais, bem como
as adaptações necessárias, para a elaboração do programa de atividade física e esportiva. Além
disso, mostra o movimento da inclusão de pessoas com deficiência e as implicações para as aulas de
Educação Física.
Assim, pretende-se proporcionar ao aluno conhecimentos sobre os diversos tipos de deficiência que
requeiram atenção especial e a atuação do profissional de Educação Física diante de cada caso.
INTRODUÇÃO
Educação Física Adaptada é uma área relativamente nova. Apenas na década de 1980 iniciou‑se
a discussão sobre a importância dela. Como é possível pensar na composição de um profissional
completo sem conhecimentos a respeito das deficiências e da inclusão? Em torno de 15% da população
mundial apresentam deficiência. No Brasil, são aproximadamente 45 milhões de pessoas. É óbvio que
um indivíduo completo e competente precisa saber realizar as intervenções típicas da Educação Física
em programas voltados para o atendimento específico de pessoas com deficiência para propiciar sua
participação irrestrita.
Para isso, abordaremos os conceitos básicos em Educação Física Adaptada, Inclusão e Esporte
Adaptado, bem como as modalidades paralímpicas. Ainda, trataremos as deficiências físico-motoras
mais comuns. Discutiremos as sensoriais, ou seja, a visual e a auditiva, além da surdo-cegueira. Por
fim, serão discutidas a deficiência intelectual (em especial a síndrome de Down) e o transtorno do
espectro autista.
Esperamos que, ao finalizar as três unidades, vocês possam entender que a diversidade está presente
e que há um universo de possibilidades na atividade física, além de esportes para as pessoas com
deficiência. Sejam bem-vindos a este universo incrível!
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EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
Unidade I
1 CONCEITOS BÁSICOS
No Brasil, temos aproximadamente 24% da população com algum tipo de deficiência, seja ela
motora/física, intelectual, visual ou auditiva. Embora o número seja bastante expressivo, certamente não
nos deparamos com tal percentual de pessoas em uma escola, em uma academia, em uma universidade,
em um parque ou em qualquer outro espaço. O que isso significa?
Hoje em dia, fala-se muito em inclusão, mas, infelizmente, pouco se faz de efetivo para que ela
realmente aconteça.
A discussão inicial se dá justamente pelo tratamento nominal dado a esses indivíduos. Ao utilizarmos
nomenclaturas, termos incorretos ou em desuso, corremos o risco de estigmatizá-los, de criarmos uma
barreira para a aceitação social.
Não existe um único termo correto e que será válido eternamente. Isso ocorre porque nossa
sociedade e cultura são vivas, ou seja, em cada época as palavras e os significados podem mudar. O
que era considerado um termo atual torna-se obsoleto. O grande problema de perpetuar vocábulos em
desuso é que, mesmo sem a intenção, poderemos propagar um estigma que seguirá a população que
apresenta algum tipo de deficiência.
Na Antiguidade, o termo “inválido” era o mais usado e queria dizer indivíduo sem valor, um fardo
para a família e socialmente inútil.
No início do século XX, a palavra da vez era “incapacitado”, que trazia o significado de pessoas sem
nenhuma capacidade. Depois, pouco antes da década de 1960, o vocábulo passou a ter um entendimento
de pessoa com algumas habilidades reduzidas. De certa forma, tal mudança foi uma evolução, pois o
indivíduo já não era considerado um inútil.
Em seguida, a sociedade passou a utilizar “defeituoso”, especialmente para designar aqueles com
deformidades ou anomalias físicas. Uma das associações mais importantes no atendimento à população
(criada no final da década de 1950) inicialmente era denominada Associação de Assistência à Criança
Defeituosa (AACD). Tal alcunha foi alterada no ano 2000, graças a um plebiscito entre os próprios
pacientes que consideravam o termo “defeituoso” pejorativo e, assim, a sigla passou a ser Associação de
Assistência à Criança Deficiente.
11
Unidade I
Ainda, na década de 1950, surgiu a primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae).
A palavra “excepcional” significava deficiência intelectual. Apesar de alguns movimentos de defesa dos
direitos das pessoas com altas habilidades (superdotados) alegarem que o termo faz referência não
apenas àqueles com deficiência intelectual, mas a todos os que estão em pontos extremos na curva da
inteligência. A Apae mantém “excepcional” desde a sua criação até os dias atuais.
No final da década de 1980, “portador de deficiência” passou a ser utilizado com o significado de que
a pessoa tinha algo diferente agregado a ela. Inclusive, neste mesmo período, o vocábulo foi incluído na
Constituição Brasileira, que data de 1988.
Com o passar dos anos, “portador” também caiu em desuso, por se entender que a deficiência não
era carregada.
“Necessidades especiais”, que por um tempo foi agregado ao termo portador, também não perdurou
por muitos anos, já que se entende que o “ser especial” não faz referência apenas às pessoas com algum
tipo de deficiência, mas pode ser aplicado a qualquer um.
Por fim, atualmente utilizamos “pessoa com deficiência”. Após anos de mudança, considera-se que a
palavra “pessoa”, mostra que, independentemente de qualquer outra característica, antes de tudo, temos
que enxergar a pessoa, o ser humano. Portanto, literalmente, o indivíduo está à frente da deficiência.
Para que essa população seja respeitada e realmente incluída na sociedade, o primeiro passo é que
ela seja vista, antes de tudo, como formada por cidadãos.
Observação
Após os debates da Convenção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, realizada em 2006, pela
Assembleia Geral da ONU, esse termo ganhou ainda mais força e hoje é aceito e utilizado mundialmente.
A discussão acerca do nome ou termo correto é muito pertinente para que os estigmas que
rondam essas pessoas não sejam perpetuados. Caso contrário, a presença de alguma deficiência ou
característica considerada diferente continuará sendo sinônimo de incapacidade, invalidez, defeito etc.
que, definitivamente, não refletem a realidade da maior parte dos indivíduos com deficiência e acabam
impedindo que elas tenham as mesmas oportunidades que qualquer um.
É importante ressaltar que a desvantagem social, que pode ser observada em algumas situações, é
fruto da falta de oportunidade, inclusão e respeito aos direitos, e não, necessariamente, da presença ou
não da deficiência.
12
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
Por muito tempo, as palavras inclusão e integração foram utilizadas como sinônimos.
Entretanto, as discussões sobre os direitos das pessoas com deficiência acabam nos levando a
significados diferentes.
Por outro lado, no processo de inclusão, considera-se que ocorre uma incorporação total em um
ambiente que, necessariamente, sofreu mudanças importantes para receber e respeitar as características
de todos (e não apenas daqueles com deficiência). Dessa forma, são reconhecidas e valorizadas as
individualidades e todos ganham.
Para que um ambiente seja considerado inclusivo, é fundamental que haja qualidade no que se oferece
e que todos, sem exceção, sejam valorizados nas suas características individuais e, consequentemente,
colham os benefícios do processo.
Inclusão é uma prática social que se aplica no trabalho, na arquitetura, no lazer, na educação, na
cultura, mas principalmente na atitude e no perceber das coisas, de si e do outro. O trabalho com
identidade, diferenças e diversidades é central para se construir metodologias, materiais e processos de
comunicação para propiciar o atendimento de todos (CAMARGO, 2017).
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Unidade I
Exclusão Segregação
Integração Inclusão
Figura 1
Como a inclusão exige mudanças (inclusive culturais e históricas) bastante profundas e significativas,
é um procedimento muito mais complicado e que depende de diversos segmentos da sociedade. Contudo,
como todo trabalho que é benfeito, gera benefícios imensuráveis para toda a sociedade.
É preciso ter em mente que as diferenças e a diversidade significam vantagens sociais que propiciam
o surgimento e o estabelecimento de relações de solidariedade e colaboração (CAMARGO, 2017).
14
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
Observação
2.1 Histórico
A Educação Física, historicamente, traz a ideia de corpos esculturais, saudáveis, perfeitos e atléticos.
Como repensá-la para pessoas fora desses padrões?
Antes de 1900, a Educação Física Adaptada era basicamente uma ginástica médica, com objetivos
preventivos ou corretivos.
Em meados de 1950, a American Association for Health, Physical Education, Recreation and Dance
(AAHPERD) utilizou o termo Educação Física Adaptada para um programa diversificado de atividades,
jogos e dança para estudantes com deficiência que não podiam participar de forma irrestrita dos
programas de Educação Física Geral. Desde então, ela passou a ser difundida mundialmente como um
braço da Educação Física.
O primeiro grande evento esportivo envolvendo pessoas com deficiência ocorreu em Paris (1924), foi
idealizado para atletas com deficiência auditiva e chamado de Jogos do Silêncio.
15
Unidade I
Entretanto, apenas a partir da II Guerra Mundial o esporte para pessoas com deficiência ganhou
destaque mundial. Com a volta para casa dos soldados feridos durante as batalhas, o governo britânico
solicitou ao neurologista Ludwig Guttmann que criasse um local para o atendimento e a reabilitação
dos homens e das mulheres do Exército.
É neste contexto que surge o Centro Nacional de Lesados Medulares do Hospital de Stoke Mandeville,
em Aylesbury, Inglaterra. O atendimento tinha um enfoque médico que utilizava o esporte como
reabilitação física e psicológica para os soldados mutilados.
Na mesma época, e pelos mesmos motivos, nos Estados Unidos, surge o Paralyzed Veterans of
America (PVA), com um contexto mais competitivo. As duas vertentes acabam por se cruzar, já que
ambas utilizavam o esporte como forma de reabilitação e reinserção social.
Em 1958, no Brasil, o esporte adaptado também desponta a partir de duas instituições. O Clube dos
Paraplégicos de São Paulo (CPSP), foi criado pelo sr. Sérgio Del Grande, e no Rio de Janeiro, o Clube do
Otimismo surge idealizado pelo sr. Robson Sampaio.
Em 1960, em Roma, aconteceu a primeira edição dos Jogos Paralímpicos. Como hoje em dia,
realizou-se logo após a edição dos Jogos Olímpicos, utilizando as mesmas instalações.
Observação
Os Jogos Paralímpicos são um evento de alto rendimento, por isso as conquistas e a performance são
muito mais enfatizadas do que as deficiências.
Os Jogos que aconteceram no Rio de Janeiro, em 2016, contaram com a presença de mais de 4
mil atletas, de 176 países, participando em uma das 22 modalidades oferecidas. Ainda, de acordo com
o comitê organizador, mais de 2,1 milhões de pessoas compareceram aos locais de competição para
acompanhar o evento.
Esses números mostram a grandiosidade do evento, que atrai cada vez mais a atenção do
mundo inteiro.
16
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
Além dos Jogos Paralímpicos de Verão, os Jogos Paralímpicos de Inverno ocorrem desde 1976,
também após o término dos Jogos Olímpicos de Inverno. A primeira participação brasileira foi em 2014.
Figura 3
Figura 4
Estão nos Jogos Paralímpicos atletas com deficiência físico-motora, intelectual e visual.
Esportistas com deficiência auditiva participam das Surdolimpíadas (ou Deaflympics), que contam
com 21 modalidades adaptadas apenas no tocante a substituir as informações auditivas por informações
visuais. O evento acontece a cada quatro anos e é tão grandioso, em números, como as Paralimpíadas.
Além deles, vale lembrar que, desde 1968, há a Special Olympics (ou Olimpíadas Especiais), por
iniciativa da família Kennedy. Nesse evento, participam pessoas com deficiência intelectual, que podem,
ou não, apresentar outras deficiências associadas.
17
Unidade I
18
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
Saiba mais
<http://specialolympics.org.br/>.
<http://www.specialolympics.org/>.
Para que o atleta possa ser considerado elegível à participação na competição de uma categoria, é
necessário que ele passe por uma classificação funcional. Ela serve para determinar, de acordo com sua
deficiência e sua funcionalidade específicas, para a modalidade, qual a classe em que o atleta competirá.
Tal divisão permite uma disputa muito mais justa e equilibrada.
2.2.1 Atletismo
Participam atletas com deficiências visual, intelectual e física. As provas dividem-se em campo, pista e rua.
• Provas de campo: lançamento de disco e club, lançamento de dardo, arremesso de peso, salto em
altura, salto em distância e salto triplo.
19
Unidade I
• Provas de pista: corridas de 100 m, 200 m, 400 m, 800 m, 1.500 m, 5.000 m e 10.000 m, além de
revezamento 4 x 100 m e 4 x 400 m.
Figura 10 - Atleta com deficiência visual classe B1, correndo com o atleta-guia
20
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
21
Unidade I
Na classificação funcional, os atletas que participam das provas de campo recebem a letra “F” (field);
já aqueles de prova de pista ou rua possuem a letra “T” (track).
Além disso, de acordo com o tipo de acometimento ou deficiência, eles recebem um número associado
à letra. A dezena representa a deficiência e a unidade retrata o nível de comprometimento do atleta.
O indivíduo com deficiência visual, dependendo da sua classe, pode utilizar atleta-guia ou apoio.
O atleta-guia deve estar ligado ao atleta por uma cordinha (guia), geralmente pelas mãos. Para
conduzir adequadamente, o guia pode correr ao lado do atleta, nunca se afastando mais do que 50 cm.
Na chegada, o atleta deve obrigatoriamente cruzar a linha na frente do guia.
22
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
Os atletas classe 13 não podem ter, em nenhuma das provas do atletismo, o auxílio de um guia.
Para as provas de arremessos e lançamentos, os indivíduos das classes F32 a F34 e F51 a F58 utilizarão
um banco próprio.
As dimensões da quadra, a altura da cesta, a divisão dos quartos de jogo (4 tempos de 10 minutos) e
o número de jogadores em quadra são exatamente iguais ao basquete olímpico. O tempo de 8 segundos
para sair da quadra de defesa e os 24 segundos que uma equipe tem para atacar também estão presentes
no basquete em cadeira de rodas.
A principal diferença nas regras é que, a cada dois toques na cadeira, o jogador deve quicar, arremessar
ou passar a bola, podendo repetir esse processo quantas vezes quiser.
Além disso, a classificação funcional da modalidade tem extrema importância para a composição da
equipe em quadra.
23
Unidade I
Durante o jogo, os cinco atletas em quadra não poderão somar mais do que 14 pontos e, em
caso de substituição, o técnico deve levar em consideração a pontuação máxima permitida. Tal regra
permite que jogadores com diferentes deficiências e acometimentos participem dos jogos de maneira
competitiva e justa.
2.2.3 Bocha
Participam atletas com deficiência físico-motora severa, geralmente com paralisia cerebral, acidente
vascular encefálico (AVE), distrofias musculares, esclerose múltipla e outras condições degenerativas.
Eles realizam os arremessos sentados na cadeira de rodas, em um local delimitado, que podem ser
feitos com as mãos, os pés ou o auxílio de um instrumento (calhas, capacetes e ponteiras). Os atletas
mais comprometidos podem obter auxílio de ajudantes, denominados calheiros.
24
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
As provas podem ser individuais, em duplas ou em equipes; o objetivo do jogo é arremessar o maior
número de bolas coloridas próximo a uma bola branca, chamada de “jack” ou “bolim”.
BC1 Atletas com paralisia cerebral e limitação severa (podem receber assistência)
BC2 Atletas com paralisia cerebral e limitação moderada a severa (não podem receber assistência)
BC3 Atletas com deficiência muito severa (utilizam equipamentos auxiliares e podem receber assistência)
BC4 Atletas com deficiência severa (que não podem receber auxílio)
A bocha é uma modalidade adaptada para pessoas com deficiências severas, mas que não
modificou a essência do jogo original. Trata-se de uma modalidade que exige muita precisão
e estratégia.
2.2.4 Ciclismo
As provas podem ser de pista ou de estrada e sofreram poucas adaptações em relação ao esporte
olímpico. Participam indivíduos com deficiências visual e físico-motora.
De acordo com a deficiência, podem existir diferenças nos tipos de bicicletas utilizadas. Elas podem
ser: convencionais, handbikes, triciclos ou tandens.
25
Unidade I
As bicicletas tandem têm dois lugares, onde vão o atleta com deficiência visual (atrás) e o
piloto, que não possui deficiência.
26
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
Participam atletas com deficiência físico-motora, especialmente com lesão medular, amputação e
paralisia cerebral.
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Unidade I
Participam indivíduos com deficiência visual. Apenas os da classe B1 podem fazer parte desta
modalidade.
Os atletas de classe B1 são os que, após avaliação das funções visuais, classificam-se como totalmente
cegos ou apresentam apenas capacidade de percepção luminosa.
As regras do futebol de cinco são baseadas naquelas adotadas pelo jogo convencional de futsal,
entretanto algumas adaptações são necessárias devido às condições visuais dos atletas.
Em quadra, são quatro atletas na linha e um goleiro. O goleiro tem visão normal e não pode ter
participado de jogos oficiais (Fifa) nos últimos cinco anos.
Os jogadores de linha, obrigatoriamente, utilizam vendas nos olhos para que não exista nenhuma
vantagem entre aqueles com diferentes percepções luminosas.
As dimensões da quadra são as mesmas do futsal, podendo ser piso de cimento, madeira, grama
natural ou sintética, ou ainda borracha sintética. Além disso, são utilizadas bandas laterais (sobre as
linhas laterais) com altura de 1 a 1,50 m, para evitar que a bola saia da quadra com muita frequência,
deixando assim, o jogo mais dinâmico.
A área do goleiro é reduzida em relação ao futsal convencional. Ela mede 5 m de largura por 2 m de
comprimento e a trave possui 3,66 por 2,14 m.
28
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
As partidas são disputadas em 2 tempos de 25 minutos com intervalo de 10 minutos entre eles. A
bola utilizada tem guizos internos para que emita sons e os atletas possam localizá-la.
Ainda, os jogadores contam com o auxílio de um chamador, que é um guia situado atrás do gol
adversário, para orientá-los. Ele só poderá se expressar quando os atletas estiverem no terço ofensivo
do campo.
No caso de cobrança de falta ou pênalti, o chamador poderá utilizar um instrumento de metal para
bater nas traves e no travessão, orientando o batedor.
O treinador e o goleiro também podem auxiliar verbalmente, entretanto o goleiro só poderá fazê-lo
quando os atletas estiverem no terço defensivo e o treinador no terço médio do campo.
29
Unidade I
O ideal é que a orientação seja dada de forma discreta e somente quando necessário para não
atrapalhar o andamento do jogo e as outras formas sonoras, por exemplo, o som do guizo.
Por fim, para que a bola emita o som dos guizos, ela precisa estar em contato com o chão ou com
os pés; por esse motivo, na maior parte do tempo, necessita ser rasteira e conduzida entre os pés do
jogador para que ele não perca o seu contato.
Participam desta modalidade os atletas com paralisia cerebral ou com sequelas de trauma
cranioencefálico ou acidente vascular cerebral (AVE).
As regras são basicamente as mesmas do futebol convencional, mas não existe impedimento e a
cobrança lateral pode ser feita apenas com uma das mãos.
São 7 jogadores em campo, 6 na linha e 1 goleiro. A disputa ocorre em dois tempos de 30 minutos,
com um intervalo de 10 minutos entre eles.
A classificação funcional da modalidade divide os atletas em 4 classes diferentes: C5, C6, C7 e C8.
Os indivíduos são separados de acordo com o comprometimento, sendo a C5 para atletas de maior
comprometimento e a C8 para os de menor.
Para garantir a participação de atletas de diversas classes, durante a partida, obrigatoriamente deve
haver, pelo menos, um atleta da classe C5 ou C6 e, no máximo, um da C8.
30
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
2.2.8 Goalball
Trata-se da única modalidade que não foi adaptada para a atuação de pessoas com deficiência, mas
criada exclusivamente para atletas com deficiência visual. Participam dela jogadores de todas as classes
juntas (B1, B2 e B3) e, para competirem em condições de igualdade, eles devem utilizar venda e óculos
de proteção.
Os atletas da classe B1 são os mais comprometidos (cegos totais ou, no máximo, com percepção
luminosa), enquanto os B2 e B3 têm baixa visão, sendo os B2 com comprometimento intermediário e os
B3 com o menor comprometimento entre as classes.
O goalball é uma modalidade baseada em confronto, realizada pelos lançamentos de uma bola, com
o objetivo de acertar o gol adversário.
Jogam duas equipes, compostas de 3 jogadores cada. A partida ocorre em dois tempos de 12 minutos,
com um intervalo de 3 minutos entre eles.
A quadra tem as mesmas dimensões de uma quadra de vôlei (9 m x 18 m), as linhas principais
apresentam demarcação em relevo e a trave mede 9 m x 1,30 m.
A bola oficial assemelha-se à de basquete em tamanho, entretanto não tem câmera de ar e é feita
de uma borracha bem espessa; apresenta alguns orifícios para que os guizos internos possam emitir
melhor o som. Trata-se de uma bola pesada (1,250 kg), o que favorece que durante os lançamentos ela
se mantenha rasteira e seja, portanto, ouvida melhor.
Todos os jogadores exercem as funções de ataque e defesa. É comum que os arremessos sejam
realizados de três formas: frontal, com giro ou de costas, sempre com as mãos, e que as defesas sejam
realizadas em pé, de joelhos, de cócoras ou sentados lateralmente, utilizando parte da coxa ou apoiado
em um dos joelhos.
31
Unidade I
Como o impacto da bola geralmente é forte, além de manter o corpo contraído durante a posição
de finalização, os atletas utilizam protetores de seios (mulheres) e de genitais (homens), além de
cotoveleiras, joelheiras e óculos.
Trata-se de um jogo muito dinâmico e divertido; entretanto, como no futebol de cinco, a torcida
só pode se manifestar e vibrar no momento do gol, pois os atletas precisam ouvir o som da bola e os
comandos dados pelo árbitro (que são todos em inglês, mesmo nas partidas realizadas no Brasil).
2.2.9 Halterofilismo
Não existe classificação pela deficiência, e os atletas são divididos apenas por categoria de peso,
sendo dez categorias no masculino e dez no feminino.
2.2.10 Hipismo
Participam atletas com deficiência físico-motora ou visual. A única disciplina no hipismo paralímpico
é a de adestramento paraequestre; as provas são individuais e por equipe.
33
Unidade I
Os esportistas passam pela classificação funcional e são divididos em 5 classes: graus IA, IB, II, III e
IV, sendo os de grau I os mais comprometidos e os de grau IV os menos comprometidos motoramente.
Os deficientes visuais são distribuídos como graus III ou IV, de acordo com o nível de deficiência, e são
auxiliados por um guia que passa as informações necessárias para a orientação.
2.2.11 Judô
Participam atletas com deficiência visual e, apesar de serem classificados em três categorias distintas
(B1, B2 e B3), todos competem juntos. A divisão é feita apenas pelo peso corporal. No caso dos judocas
classe B1, existe uma marcação (círculo vermelho) no quimono do atleta, na altura do ombro. Ela serve
simplesmente para orientar o árbitro sobre a necessidade de um auxílio maior, por exemplo, na hora de
reposicionar o desportista para a luta.
As regras utilizadas são praticamente as mesmas do esporte olímpico, com algumas adaptações: a
luta é iniciada já com o atleta tocando o quimono do oponente e, toda vez que este contato for perdido,
ela será reiniciada. Além disso, não ocorrem punições caso o atleta saia da área de combate. Como no
judô olímpico, os confrontos duram até 5 minutos. Vencerá o atleta que primeiro conquistar o ippon ou
ao final dos 5 minutos obtiver a maior vantagem sobre o adversário.
34
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
2.2.12 Natação
Para os atletas com deficiência visual, é realizada a avaliação oftalmológica; para os atletas com
deficiência intelectual, são verificados os critérios de elegibilidade; e, para os atletas com deficiência
físico-motora, são feitos os testes clínicos e físicos, os testes de mobilidade articular e os testes
técnico-motores (executados dentro da água).
A classe é definida pela letra “S” (swimming) e por um número que indica o acometimento do atleta.
No caso do estilo peito, como as exigências de membros superiores e inferiores diferem dos nados
costa, crawl e borboleta, é feita outra classificação, sendo utilizadas as letras “SB”. Por fim, a sigla “SM”
é empregada para as provas medley.
Em cada grupo de deficiência, os números menores indicam sempre o seu tipo mais severo. Por
exemplo, na classe S1 competem atletas com lesão medular completa na 4ª ou 5ª vértebra cervical,
enquanto na S9 participam aqueles com lesão medular na região sacral ou amputados em uma das
pernas acima do joelho.
35
Unidade I
As principais adaptações desta modalidade são realizadas nas largadas, viradas e chegadas, além de
algumas permissões diferenciadas por classe, nos estilos dos nados. Tais modificações são mais comuns
nas classes mais baixas (S1 a S4 e S11).
Nas saídas das classes S1 a S3, por exemplo, o atleta pode partir de dentro da água e ter a ajuda do
técnico para se sustentar até ser dado o sinal de início.
36
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
Para os atletas cegos, é permitido o auxílio do tapper, isto é, o toque na cabeça, no ombro ou nas
costas, indicando que ele está próximo às bordas da piscina e, portanto, deve realizar a virada ou a
chegada. Este toque é importante para a segurança e o melhor aproveitamento da técnica. tapper
é o nome dado à pessoa que realiza o toque (geralmente o técnico) e ao equipamento utilizado
para efetuá-lo. É muito comum que se utilize uma vara de pescar conectada a uma bola de tênis na
extremidade para confeccionar o objeto.
É importante lembrar que o técnico/tapper e o atleta devem treinar em conjunto o uso do toque
com o equipamento para que possam tirar o máximo proveito deste artifício e garantir a segurança
do nadador. Indivíduos S11 precisam obrigatoriamente utilizar o tapper; para as demais categorias de
deficientes visuais, o uso é optativo.
37
Unidade I
Para a classe S11, também é obrigatório o uso dos óculos de natação vedados, com lentes opacas, para
garantir que não haja nenhuma percepção luminosa e, portanto, propiciando igualdade de condições
entre os competidores.
2.2.13 Paracanoagem
Participam atletas com deficiência físico-motora. Trata-se de uma modalidade nova em Paralimpíadas
que conta com provas de velocidade de 200 m e 500 m.
2.2.14 Remo
A classificação funcional é realizada de acordo com o acometimento. São três classes, e cada uma
delas utiliza um tipo de barco.
38
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
Na classe LTA, há deficientes visuais e deficientes físicos. Na composição dos participantes pode
haver, no máximo, dois atletas com deficiência visual. Nela existe um timoneiro que não apresenta
nenhuma deficiência.
Participam atletas com lesão medular alta (tetraplegia ou tetraparesia) ou com lesões semelhantes nos
quatro membros (alguns tipos de paralisia cerebral, amputações, malformações ou sequelas de poliomielite).
Normalmente, os indivíduos de classes mais baixas (0,5 a 1,5) atuam na defesa, enquanto os de
classes mais altas (2 a 3,5) executam o ataque.
A quadra tem as mesmas dimensões da de basquete, e a bola utilizada é muito semelhante àquela
do voleibol.
O jogo é realizado em quatro tempos de 8 minutos, cronometrados com a bola em movimento (toda
vez que ela sai de quadra ou ocorre uma falta ou um gol, o cronômetro é parado).
Em quadra, cada equipe joga com 4 jogadores, cuja soma das pontuações (classificação) não pode
ultrapassar os 8 pontos.
Nesta modalidade não há divisão de categorias femininas e masculinas, portanto podem estar juntos
em quadra. Para cada atleta mulher em quadra, a equipe deve somar 0,5 a mais no limite total de pontos
em quadra.
Cada jogador pode ficar com a bola por, no máximo, 10 segundos e conduzi-la da forma mais
conveniente; antes o atleta deverá bater a bola no chão ou passar a um companheiro de equipe. O
objetivo, claro, é o gol.
Saiba mais
Murderball: paixão e glória. Dir. Henry Alex Rubin e Dana Adam Shapiro,
2005. 88 minutos.
40
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
As regras são basicamente as mesmas do esporte olímpico, com algumas adaptações no saque de
atletas de determinadas classes.
A classificação funcional divide o atleta em 11 classes de acordo com a deficiência, o alcance dos
movimentos de braços e pernas, a força muscular, o equilíbrio e as habilidades em segurar a raquete.
Além do uso de próteses, órteses e muletas, é permitido o uso de faixas ou bandagens para fixar a
raquete na mão e, em alguns casos, extensores ou raquetes com o cabo aumentado.
Trata-se de uma das modalidades mais parecidas com o jogo tradicional. As medidas da quadra, a
raquete, a bola e as pontuações do jogo paralímpico são idênticas àquelas do jogo olímpico.
41
Unidade I
A diferença acontece, especialmente, pelo fato de a locomoção se dar em cadeira de rodas; por isso,
são permitidos dois quiques da bola na quadra, em vez de um; portanto, antes do terceiro quique o
atleta deverá colocá-la na quadra adversária.
Na classe Open podem participar atletas com limitações nos membros inferiores que os impeçam
de praticar o tênis convencional, ou seja, que os impossibilitem de se deslocar em velocidade e com
habilidade exigidos na modalidade.
O objetivo do jogo é acertar a flecha no alvo, o mais próximo possível do centro. O objeto fica a
70 m de distância e tem 1,22 m de diâmetro.
A classificação funcional é realizada em três classes, de acordo com a necessidade ou não de cadeira
de rodas e com a mobilidade e o controle de membros superiores e tronco.
42
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
Os esportistas ARST competem com os ARW2. A disputa pode ser individual ou em equipe.
Participam atletas com deficiência físico-motora, competindo sentados ou em pé, de acordo com a
classe funcional. São avaliados o equilíbrio, a força, a mobilidade dos membros superiores e o controle
do tronco.
43
Unidade I
Apesar de ser uma modalidade recente no País, a prática é muito difundida entre policiais feridos em
combate, como ferramenta no processo de reabilitação.
2.2.20 Triatlo
PTS Atletas com deficiência físico-motora, sem Subdivisão da classe: PTS2, PTS3, PTS4 e PTS5
cadeira de rodas
PTVI Atletas com deficiência visual Subdivisão da classe: B1, B2 e B3
Como em outras modalidades, nas subdivisões de classe, quanto mais baixo o número, maior a
severidade da deficiência.
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EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
Atletas da classe PTHC fazem a corrida em cadeira de rodas e o ciclismo no handcycle; já os esportistas
da classe PTVI, como são deficientes visuais, contam com o auxílio de um guia e realizam o ciclismo na
bicicleta tandem.
2.2.21 Vela
As regras gerais das regatas paralímpicas não sofrem grandes mudanças em relação às tradicionais.
Na classe 2,4 mR apenas um atleta participa; já na SKUD18 disputam dois esportistas (uma mulher
e um homem), que devem somar até 9 pontos juntos.
45
Unidade I
Na classe Sonar participam três atletas que devem somar, no máximo, 14 pontos.
Desportistas com deficiência visual recebem as pontuações de acordo com a avaliação oftalmológica:
B1 (3 pontos), B2 (5 pontos) e B3 (7 pontos).
O jogo de voleibol sentado tem inúmeras semelhanças com o tradicional, em especial na dinâmica
da partida. A pontuação e os sets são exatamente iguais.
A quadra mede 10 m x 6 m, com a rede a 1,05 m na disputa feminina e a 1,15 m no jogo masculino.
A linha de ataque fica a 2 m.
A classificação funcional de modalidade baseia-se em 2 classes: elegível (D) e mínima deficiência (MD).
46
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
São considerados da classe D: atletas amputados, lesados medulares, com paralisia cerebral e
sequelas de poliomielite; fazem parte da classe MD: atletas com lesões articulares pequenas no quadril,
joelho ou tornozelo (que gerem sequelas permanentes de perda de força ou amplitude articular) ou com
amputações mínimas (como dos dedos da mão).
Durante os treinos, os deslocamentos são parte essencial para que o indivíduo consiga desenvolver
bem as habilidades específicas do voleibol.
Saiba mais
Alguns termos serão citados abundantemente neste livro-texto, por isso é importante ficar claro o
significado de cada um deles para que seja possível a compreensão dos tópicos seguintes.
Durante muito tempo, utilizou-se o Código Internacional de Doenças (CID-10) para diagnosticar e
classificar, entre outras condições, a pessoa com deficiência. O CID-10 baseia-se no estado de saúde e/ou
no diagnóstico médico de doença, o que acabava trazendo a ideia de que todo ser com deficiência era
doente, não era saudável. Isso, em muitas situações, acentuava ainda mais o estigma e o preconceito em
relação a tais pessoas.
Em 2001, foi aprovado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) o Código Internacional de
Funcionalidade (CIF) e, em meados de 2003, ele foi traduzido para o português.
Em outras palavras, ele apresenta um olhar mais inclusivo por citar fatores externos que podem
favorecer ou dificultar o desenvolvimento integral do ser humano.
Saiba mais
As congênitas são aquelas que surgem ainda no momento do parto ou, mais comumente, na vida
intrauterina. As deficiências adquiridas, como o nome já diz, vêm após o nascimento, em qualquer
momento da vida. Já aquelas com caráter genético originam-se em decorrência de alterações nos genes
e podem se manifestar no nascimento ou em qualquer outra fase da vida.
Por fim, as deficiências podem ser progressivas ou não progressivas. As não progressivas, uma vez
instaladas, não apresentam piora; já as progressivas tendem a tornar as sequelas cada vez mais graves.
Lembrete
48
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
4 DEFICIÊNCIA FÍSICO-MOTORA
As órteses são equipamentos ou dispositivos que têm a função de auxiliar a execução de um membro
ou órgão (talas, muletas, bengalas, cadeiras de rodas, óculos, aparelhos auditivos, entre outros).
As próteses, por sua vez, substituem um membro, um órgão ou parte dele (próteses de perna ou
braço, usadas por pessoas amputadas, próteses dentárias etc.).
Neste livro-texto serão abordadas as deficiências físicas de maior incidência e que, portanto, são as
que o profissional de Educação Física provavelmente irá se deparar com maior frequência.
4.1.1 Conceitos
A medula espinhal compõe o sistema nervoso central (SNC) com o encéfalo. Medula significa miolo
e, portanto, o que está dentro. Dessa forma, entendemos que a medula espinhal se localiza dentro do
canal vertebral.
No adulto, a medula termina no nível da 2ª vértebra lombar; abaixo disso, apresenta-se a cauda
equina, formada por meninges, raízes nervosas dos últimos nervos espinhais e cone medular.
49
Unidade I
Raiz dorsal
do nervo C5 Filamentos radiculares
do nervo C6
Raiz ventral
do nervo C5 Espaço subdural
Artéria espinhal
posterior esquerda Espaço epidural
Dura-máter Nervo T2
A coluna vertebral é uma estrutura óssea, de sustentação, dividida em cinco partes: cervical (com 7
vértebras), torácica (com 12 vértebras), lombar (com 5 vértebras), sacral (com 5 vértebras) e coccígena
(fusão de 4 a 5 vértebras).
50
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
C1
C2 Cabeça e pescoço
C3 Diafragma Nervos
C4 Deltoídes, bíceps cervicais
C5 Extensores do pulso
Tríceps
C6 Mão
C7
Músculos
T1 do tórax
T2
T3
T4
T5
T6 Nervos
T7 torácicos
T8
T9 Músculos
T10 abdominais
T11
T12
L1
L2
L3 Músculos Nervos
L4 da perna lombares
L5
Bexiga e
intestinos
S1
S2 Nervos
S3 sacrais
S4 Funções
sexuais
S5
A medula espinhal é composta de massa branca e massa cinzenta, que têm o formato de
uma borboleta na parte mais centralizada (em um corte transversal). A massa cinzenta se divide,
basicamente, em corno anterior (com características essencialmente sensitivas) e corno posterior
(com propriedades basicamente motoras) (RADANOVIC; KATO-NARITA, 2016). As suas principais
funções são fornecer um centro de ações reflexas e atuar como canal por onde os impulsos transitam
para o cérebro ou dele provêm.
Tal estrutura não tem capacidade regenerativa; portanto, após a ocorrência de uma lesão em que ela
seja acometida, suas atividades motoras e sensitivas estarão permanentemente comprometidas.
Uma lesão da vértebra ou dos nervos da coluna espinhal pode resultar em condição de lesão medular.
Na maior parte das vezes, associa-se a algum grau de paralisia, já que envolve os sistemas motor,
sensorial e autônomo.
51
Unidade I
Em outras palavras, abaixo do nível da lesão, a pessoa pode ter afetados os seus movimentos, a
sua sensibilidade e algumas funções autônomas, como controle termorregulatório, circulatório, de
batimentos cardíacos, pressão arterial, funções intestinais, urinárias e sexuais (VALL, 2014).
As sequelas de uma lesão medular dependem da causa e da severidade; sua função é perdida porque
ocorre a morte tecidual na região e, consequentemente, há a interrupção (total ou parcial) das fibras
nervosas que transmitem as informações aferentes e eferentes.
Somente a partir de uma avaliação minuciosa sobre a lesão é que será possível traçar metas relacionadas
ao processo de reabilitação e à prática de atividade física adequada (GREGUOL; BÖHME, 2013).
Entre as causas, 20% são ocasionadas por fatores patológicos, infeciosos ou autoimunes e 80%
por traumas. Apesar de haver algumas divergências em relação à etiologia mais comum nas lesões
traumáticas, estão entre as principais causas: acidentes automobilísticos, ferimento por arma de fogo,
quedas – especialmente de lajes e mergulho em águas rasas (BRASIL, 2013a).
4.1.3 Classificação
A lesão pode ser caracterizada como completa ou incompleta. No caso das completas, não há
resquício de função motora ou sensitiva abaixo do nível da lesão; já nas lesões incompletas, pode haver
alguma função motora ou sensitiva remanescente.
Para as lesões completas, é utilizado o sufixo “plegia”, enquanto para as incompletas, “paresia”. Ainda,
conforme a altura da lesão, podemos aplicar a denominação “tetra” (nível cervical) ou “para” (1ª vértebra
torácica para baixo).
Como citado, apenas depois de uma avaliação minuciosa será possível determinar as sequelas exatas após
uma lesão medular. Entretanto, é provável prever a maior parte das sequelas de acordo com o nível da lesão.
52
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
A seguir serão apresentados alguns importantes níveis de lesão e suas principais características
relacionadas às funcionalidades. Nota-se que quanto mais baixo o nível da lesão, maiores são as
funções musculares remanescentes e, consequentemente, as possibilidades de movimento e autonomia
(GREGUOL; BÖHME, 2013).
4.1.4 Características
Além das alterações na motricidade, a lesão medular pode causar disfunções em outros sistemas
orgânicos devido às mudanças das funções neurovegetativas.
• Espasmos (aumento do tônus muscular): desencadeados por ação reflexa do sistema nervoso;
normalmente são causados por alternância brusca de posição, movimentos repentinos ou
estímulos externos. É mais comum em lesões acima da 6º vértebra torácica (T6).
53
Unidade I
• Incontinência urinária e distúrbios de esfíncter: podem estar presentes pela dificuldade do controle
voluntário sobre a bexiga (que esvazia-se automaticamente ou retém a urina, dificultando o
seu esvaziamento) e também do esfíncter. Nesses casos é aconselhável que o aluno esvazie a
bexiga antes do início da atividade física e se acostume a evacuar em horário regular para evitar
dificuldades durante a aula.
• Úlceras de decúbito (escaras): surgem por pressão prolongada em determinadas partes do corpo
(por exemplo, no glúteo, por ficarem muito tempo sentados na cadeira de rodas) e geram lesão
na pele e no tecido subcutâneo. O ideal é que o aluno alivie a pressão algumas vezes durante o
dia, diminuindo assim o aparecimento das escaras. A manobra push-up é muito utilizada entre as
pessoas com lesão medular; ela consiste em se apoiar sobre as mãos e elevar o quadril da cadeira
de rodas por até um minuto. O recomendado é que tal movimento seja repetido algumas vezes
durante o dia.
• Prejuízo no retorno venoso: dá-se em função da ausência ou diminuição da ação muscular nos
membros inferiores, dificultando assim o regresso do sangue ao coração. Essa dificuldade pode
gerar alterações em todo o, no sistema cardiovascular. Para minimizar o prejuízo, a realização
de movimentos passivos nos membros inferiores, bem como a elevação deles, contribui para a
melhora no retorno venoso. As atividades físicas realizadas na piscina apresentam resultados
interessantes para tal melhora.
54
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
• Alterações nas funções cardíacas: menor volume sistólico, débito cardíaco, contratilidade cardíaca e
menor frequência cardíaca de repouso, além de menor frequência cardíaca máxima em lesões que afetam
o sistema nervoso simpático, especialmente nas lesões acima da 4ª torácica (CALDEIRA et al., 2013).
Para que as atividades físicas e esportivas sejam realizadas com segurança, é de extrema importância
o conhecimento a respeito das alterações, uma vez que determinadas sequelas funcionais implicam
diretamente a execução das práticas.
Entre os eventos de lesão medular por causas não traumáticas está a espinha bífida, um caso de
lesão patológica.
A incidência no Brasil é de 1,139 a cada 1.000 nascidos vivos. Entretanto, sabe-se que a ingestão
de ácido fólico antes do período gestacional, ou a partir da descoberta da gestação, pode diminuir
a ocorrência desta má-formação. Normalmente, durante o acompanhamento pré-natal, o médico
recomendará a suplementação com ingestão de 400 microgramas/dia.
Por uma regulamentação da Anvisa (2002), desde 2004 é obrigatório que a farinha de trigo e a
farinha de milho sejam enriquecidas com ácido fólico. Alguns estudos apontam que, após essa medida,
houve uma diminuição de até 40% na incidência de espinha bífida, com variações regionais importantes,
provavelmente causada pela dificuldade na aquisição das farinhas de trigo e milho e seus derivados em
determinadas regiões do País (BIZZI; MACHADO, 2012).
O significado de bífida é dividida ou bifurcada, ou seja, Espinha Bífida (EB) faz referência a uma
“espinha dividida”. Dessa forma, entende-se a EB como uma má-formação congênita de um ou mais
arcos vertebrais que ocorre ainda no período de gestação, geralmente nos três primeiros meses. A má-
formação causa um defeito no tubo neural, em geral nas porções caudais (BIZZI; MACHADO, 2012).
• Espinha bífida oculta: normalmente uma pequena depressão, tufo piloso que pode aparecer no
dorso, sem extravasamento do material medular e de modo usual assintomático. Corresponde a
aproximadamente 5% dos casos.
• Mielomeningocele: é o caso mais grave e mais comum; corresponde a cerca de 80% dos casos.
Acontece o extravasamento do canal medular e forma-se um cisto na região dorsal (FREITAS et
al., 2016). A ocorrência mais comum é na região lombossacral ou toracolombar. Mesmo com a
correção cirúrgica ficam sequelas neurológicas abaixo do nível da lesão.
As alterações ortopédicas mais comuns são: luxação de quadril, desvios posturais devido à fraqueza
de alguns músculos do tronco e pés tortos. Para minimizar os problemas posturais, normalmente, é
indicado o uso de órteses (BRANDÃO; FUJISAWA; CARDOSO, 2009).
Para a prática de atividade física, devem-se programar exercícios especialmente destinados aos
membros superiores, bem como atividades que favoreçam o desenvolvimento de habilidades em cadeira
de rodas.
4.1.6 Poliomielite
O vírus da poliomielite está erradicado do Brasil desde 1990 graças à campanha de vacinação que
ocorre em todo o território nacional desde a década de 1980 (BRASIL, 2017).
Popularmente conhecida como paralisia infantil, é causada por uma infecção viral que afeta o corno
anterior da medula, responsável sobretudo pelo aspecto motor. A manifestação da infecção, em geral,
dá-se nos primeiros anos de vida e pode gerar sequelas variadas ou, em alguns casos, nem existir.
De modo regular, a sequela observada é uma paralisia flácida de um ou mais membros. Como a
infecção ocorre no corno anterior da medula, não gera sequelas sensitivas, apenas motoras.
Na maior parte das vezes, o aluno que apresenta sequelas de poliomielite não depende de uma cadeira
de rodas para se locomover, entretanto é importante o uso de órteses para evitar o aparecimento de
desvios posturais como a escoliose, especialmente nos casos em que apenas uma das pernas é acometida.
O membro acometido evidenciará uma fraqueza muscular importante, com consequente fadiga. É
comum também ter redução nas massas óssea e muscular.
É importante que o profissional de Educação Física fique atento para evitar queda durante as aulas.
Muitos atletas com poliomielite optam por modalidades que utilizam a cadeira de rodas, como atletismo,
basquete em cadeira de rodas ou tênis.
56
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
A atividade física para pessoas com lesão medular, seja congênita ou adquirida, deve especialmente
ter objetivos como a melhora da condição física e a boa saúde. Além disso, é esperado um ganho nos
aspectos sociais, emocionais e certamente um avanço na autonomia desse aluno.
Inicialmente é indicado que o professor faça uma avaliação de amplitude de movimento, força
muscular, resistência aeróbia, gordura corporal, enfim, de todos os parâmetros necessários para iniciar
um programa de exercícios.
Obviamente é importante que o professor conheça as características da lesão do aluno para saber
quais funções estão perdidas ou parcialmente ativas. Além disso, é fundamental que a atividade
seja prazerosa; portanto, encontrar uma modalidade de que o estudante goste ou tenha afinidade é
primordial para que o objetivo seja alcançado.
Para as atividades realizadas em cadeira de rodas esportiva, devem-se programar exercícios para que
o aluno se adapte à nova cadeira, pois ela é diferente daquelas utilizadas no dia a dia. Normalmente é
mais leve, rápida e não possui freios. Exercícios de propulsão da cadeira para frente, para trás, em curvas,
zigue-zague, giros, frenagens com uma ou as duas mãos auxiliam nesse processo de adaptação.
Atividades aquáticas
As atividades na piscina estão entre as mais procuradas pelos alunos, especialmente por aqueles que
já estão adaptados ao meio por terem, no processo de reabilitação, feito a hidroterapia.
Para aqueles que não apresentam controle dos músculos do pescoço (que terão dificuldade em
erguer a cabeça da água enquanto estiverem em decúbito ventral), é indicado o ensino das mudanças
de decúbito ventral para dorsal, a fim de liberar as vias aéreas e permitir a respiração.
É fundamental que o aluno perceba as características do seu corpo na água, dessa forma ele irá se
adaptar à condição e ficará mais fácil controlar e aperfeiçoar os seus movimentos no ambiente aquático.
57
Unidade I
Os exercícios devem ser direcionados para a musculatura não acometida pela lesão, ou seja, para a
musculatura ativa remanescente. O desenvolvimento de força, resistência e flexibilidade é componente
indispensável para a aptidão física. É crucial perceber que alguns músculos podem apresentar-se
apenas parcialmente ativos e por isso com um grau de força menor. Dessa forma, deve-se avaliar
o aluno constantemente para identificar se tal grau menor de força se refere à lesão ou à falta de
condicionamento físico inicial.
Sempre que possível, é recomendado o fortalecimento dos músculos posturais para favorecer um
melhor posicionamento na cadeira de rodas. Ademais, vale lembrar que, para a correta realização dos
exercícios, o aluno deve estar bem estabilizado em sua cadeira.
Para os alunos tetraplégicos, pode ser necessário o uso de luvas com ganchos ou amarras para fixar
as barras ou os halteres, em decorrência da dificuldade de preensão comum na altura de lesão medular.
Por fim, na maioria das vezes, as academias não possuem equipamentos de musculação adaptados
a usuários de cadeira de rodas; dessa forma, cabe ao profissional de Educação Física, sempre que
necessário, criar modos de adaptação dos exercícios através de pesos livres, elásticos ou qualquer outro
material que julgue pertinente.
Para Greguol e Böhme (2013), a atividade física ou esportiva auxilia a conscientizar os alunos com
lesão medular de que não são doentes, de que possuem muitas possibilidades de sucesso e superação,
sendo possível oportunizar ocasiões de lazer, diversão, vivenciar momentos de vitória e derrota, além de
manter a motivação sempre presente.
Além disso, como para qualquer outra pessoa, a prática de exercícios proporciona melhora na
autoimagem e na autoestima, fatores fundamentais para que seja alcançada uma melhor qualidade
de vida.
4.2.1 Conceitos
Paralisia cerebral (PC) é o nome popular de encefalopatia crônica da infância. Trata-se de uma desordem
do movimento causada por uma lesão não progressiva do cérebro em desenvolvimento (HORCHULIKI et al.,
2017). Ela é refletida por uma disfunção motora de tônus e reflexos medulares que geram uma disfunção
no controle da postura e dos movimentos, interferindo na motricidade do indivíduo.
O termo paralisia cerebral leva ao entendimento errôneo de que ocorre uma interrupção no
funcionamento do cérebro e das funções cognitivas, entretanto é importante ressaltar que a encefalopatia
crônica da infância leva, essencialmente, às sequelas na motricidade do indivíduo, podendo apresentar
também algumas disfunções associadas, que serão tratadas mais adiante.
58
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
A PC acontece, na maior parte das vezes, por uma hipóxia ou anóxia antes ou durante o parto.
Todavia, em algumas situações ocorridas até os 3 anos de idade, também se caracteriza a PC, como é o
caso de meningites, afogamentos, envenenamento gasoso ou traumas.
Na maior parte dos casos (86%), as causas são pré ou perinatais. A diminuição da incidência está
relacionada com a melhora do conhecimento e o desenvolvimento dos serviços de saúde (MATTOS, 2013).
Entre os fatores pré-natais estão infecções nos primeiros meses de gestação, distúrbios funcionais
da mãe, uso de drogas lícitas ou ilícitas. Já as origens natais (ou perinatais) incluem problemas durante
o parto ou parto prematuro que poderia gerar falta de oxigenação cerebral.
4.2.2 Classificação
Segundo Mattos (2013) não há dois casos semelhantes. A PC é uma condição bastante heterogênea.
Algumas pessoas apresentam sequelas quase imperceptíveis, enquanto outras são acometidas de modo
grave, tornando-se totalmente dependentes nas atividades de vida diária.
– Espástica: lesão das vias eferentes, que vão do córtex aos membros, gera a hipertonia
muscular, podendo apresentar encurtamento do tendão calcâneo. Segundo Gomes e
Golin (2013), é o tipo mais comum e representa 58% dos casos.
59
Unidade I
– Atetose: lesão nos gânglios da base; tônus muscular flutuante e movimentos involuntários que
se intensificam aos estímulos emocionais e sensoriais.
4.2.3 Características
• Retardo no progresso cognitivo: deve-se ter cautela na avaliação da condição cognitiva. Em alguns
casos, inicialmente crianças são consideradas intelectualmente deficientes porque não tiveram a
oportunidade de vivenciar a comunicação por meios alternativos, mas depois que tais procedimentos
são oportunizados a elas, foram reconhecidas como capazes intelectualmente e, portanto, não
devem ser tratadas como “eternas crianças” ou incapazes. O déficit cognitivo é mais comum em
crianças com paralisia cerebral grave, entretanto isso não pode ser considerado uma regra.
• Respiração: normalmente o indivíduo com PC apresenta uma dificuldade de controle dos músculos
posturais e, em geral, dos músculos envolvidos com a expansão torácica; em função disso, é
comum apresentar alteração da dinâmica respiratória.
• Distúrbios sensoriais: em alguns casos, pode ocorrer comprometimento visual ou auditivo; quanto
mais precocemente forem diagnosticados e tratados, menor prejuízo trarão ao desenvolvimento
geral da criança.
• Epilepsia: apesar de alguns números divergentes, calcula-se que mais de 30% das crianças com
PC tenham epilepsia (FUNAYAMA, 2005).
Observação
Muito provavelmente, o progresso motor das crianças e a aquisição das habilidades fundamentais
ocorram de modo mais tardio do que os de alguém sem a deficiência.
Atividades manipulativas exigem uma progressão passo a passo, inicialmente estática e só depois
realizada de forma dinâmica.
61
Unidade I
Exemplo de aplicação
Verifique no seu estágio quais as atividades utilizadas para estimular a coordenação visomotora.
Quais adaptações seriam necessárias se o seu aluno fosse uma criança com PC que apresenta dificuldade
no controle da preensão palmar?
É importante lembrar que a aptidão física e o desempenho podem ser limitados pela presença
de espasmos musculares, movimentos atetoides (involuntários), rigidez e incoordenação. Segundo
Mattos (2013), 50% das pessoas com PC apresentam espasmos que podem levar à limitação da força
e à resistência muscular; 25% têm atetose, que causa problemas na execução de habilidades motoras
refinadas e, por outro lado, afeta menos a força e a resistência musculares.
De uma forma geral, o desempenho é afetado por características e acaba gerando um gasto energético
elevado. Parte dessa energia, por exemplo, é despendida nos espasmos e movimentos involuntários,
especialmente nas atividades de maior intensidade. Como consequência, é bastante comum que a
frequência cardíaca se apresente também elevada nessa população.
Em relação aos exercícios aquáticos, é válido destacar que a temperatura pode influenciar a
característica do tônus muscular. Para tanto, nos casos de espasticidade, o ideal é que a água esteja
entre 30 ºC e 32 ºC a fim de minimizar a hipertonia e favorecer a amplitude de movimentos.
Quando for possível, a realização da marcha deverá ser estimulada, pois pelas características
hidrostáticas há o favorecimento da manutenção de equilíbrio.
Para a aprendizagem dos estilos, são necessárias algumas adaptações em função da dificuldade na
coordenação e também por apresentarem uma amplitude de movimento geralmente reduzida. O uso
de flutuadores pode contribuir com a estabilidade do corpo e a manutenção da flutuação (GREGUOL,
2010). As atividades realizadas em velocidade, de modo habitual, implicam uma dificuldade ainda maior
na coordenação.
62
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
No caso dos alunos que têm movimentos involuntários, o ideal é diminuir o estresse do ambiente
e os estímulos excessivos. Normalmente a água aquecida tende a diminuir esse tipo de deslocamento.
Para os alunos com característica atáxica, ou seja, com hipotonia, a água não deve passar dos 30 ºC,
a fim de não dificultar a realização das contrações musculares (GREGUOL, 2010).
Como as atividades em meio líquido demandam um controle respiratório refinado, vale lembrar
que a incoordenação presente nos alunos com PC pode dificultar o controle subaquático. Dessa forma,
é importante o profissional de Educação Física estar atento e estimular exercícios que desenvolvam
tal habilidade. Provavelmente, de início, os movimentos em decúbito dorsal sejam mais indicados
para esses alunos.
Por fim, para qualquer tipo de atividade, é crucial que o professor encontre uma posição que
favoreça a inibição dos reflexos primitivos (que se mantêm presentes nas pessoas com PC, mesmo em
idade adulta). De modo geral, a cabeça em posição neutra, quadril e joelhos em leve flexão, por exemplo,
minimizam o aparecimento das respostas reflexas. Além disso, a preferência por movimentos simétricos
favorece o controle e a coordenação.
No caso de alunos com deficiência mais severa ou que apresentem movimentos involuntários ou
espasticidade que atrapalhem na realização das atividades propostas, pode ser necessário tentar posições
diferentes até encontrar alguma que proporcione melhor controle dos movimentos, especialmente para
as atividades que envolvam manipulação. A posição em decúbito ventral é muito utilizada, em particular
para crianças menores. Entretanto, assim que a criança adquirir um controle maior no equilíbrio do
tronco e da cabeça, é indicado posicioná-la sentada.
Tanto para a posição deitada como para a sentada, podem ser utilizados instrumentos que facilitem
um melhor posicionamento.
63
Unidade I
64
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
No exemplo anterior, é possível substituirmos o adulto por uma almofada confeccionada de uma
calça jeans, com enchimento de espuma e retalhos de tecido. Ela pode ser utilizada para posicionar a
criança tanto sentada como deitada em decúbito ventral.
65
Unidade I
Lembrete
De qualquer forma, como dito, “não existem dois casos semelhantes”; portanto, para um resultado
mais satisfatório é aconselhada a avaliação prévia dos padrões de movimento do aluno e, sempre que
possível, o compartilhamento de informações com outros profissionais da área de saúde.
As atividades físicas e esportivas para pessoas com PC podem melhorar muito a qualidade de vida
quando atendem às necessidades e respeitam as limitações e possibilidades.
Saiba mais
O acidente vascular cerebral (AVC) é considerado uma epidemia mundial. Os dados epidemiológicos
apontam para um aumento na incidência que o elevam ao primeiro lugar nos casos de morte e ao
terceiro lugar entre as condições que mais geram deficiência no mundo (HANKEY, 2014).
AVC refere-se a uma lesão em área cerebral, gerada pela interrupção da circulação sanguínea local.
Ela pode ocorrer por causa isquêmica (quando há um trombo, por exemplo) ou hemorrágica (se existe
um extravasamento de sangue dos vasos). Por esta última condição, o AVC é popularmente conhecido
como “derrame”.
66
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
Em geral, as suas sequelas são motoras e sensoriais, podendo afetar a comunicação, as emoções e a
consciência, dependendo da gravidade da lesão, ou seja, da área atingida e da relevância dela.
A consequência mais comum é a hemiplegia/hemiparesia em grau mais ou menos grave. Além dos
aspectos motor e sensitivo, podem aparecer outras condições associadas, como incontinência urinária e
intestinal, depressão, perda parcial da memória e alterações proprioceptivas.
A prática de atividade física, sempre que possível, pode contribuir com a minimização dos sintomas
de depressão e propiciar a recuperação e a manutenção da atividade muscular.
É importante que o aluno se sinta motivado para a realização de exercícios; dessa forma, o ideal é
encontrar uma modalidade que lhe agrade. A natação ou a hidroginástica, a musculação ou os exercícios
funcionais estão entre as categorias mais procuradas.
Lembrete
A participação em um programa de atividade física pode trazer uma nova perspectiva ao aluno com
sequelas de AVC, como novas possibilidades de movimento, de motivação, de autonomia e de vida social.
Saiba mais
67
Unidade I
4.4 Amputação
4.4.1 Conceitos
Amputação é a ausência ou retirada, parcial ou total, de um ou mais membros. Entre as causas mais
comuns estão os problemas vasculares (mais de 50% por complicações do diabetes), traumas, tumores e
infecções. No Brasil, são mais usuais as amputações realizadas em membro inferior (BRASIL, 2013b). Os
casos de má-formação congênita de membros representam a menor parte das ocorrências.
Com o advento das técnicas de cirurgia e anestesia, atualmente, é possível realizar um planejamento
com técnicas e instrumentos mais adequados e assim buscar cotos cada vez mais funcionais e próteses
apropriadas a qualquer caso (PEDRINELLI; TEIXEIRA; SPOSETO, 2013).
4.4.2 Classificação
As amputações podem ser totais (desarticulação do membro) ou parciais (quando ocorre a secção
do osso). Nas situações parciais, como existe o coto (parte remanescente), o encaixe e a adaptação à
prótese ficam facilitados. Podemos ainda classificar as amputações como unilaterais, quando ocorrem
apenas em um dos lados do corpo, ou bilaterais, quando acometem os dois lados.
68
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
4.4.3 Características
69
Unidade I
• Psicológicas: a “sensação fantasma” pode ser experimentada por grande parte das pessoas que sofrem
uma amputação. Ela é descrita como um resquício de percepção do membro que foi amputado,
sendo caracterizada por dor, formigamento, coceira e até mesmo a impressão de um movimento.
Quando não ocorre a dor, essa sensação pode até contribuir para a adaptação à prótese, já que
mantém a autoimagem da pessoa amputada; em caso afirmativo ou de desconforto importante,
ocorrem prejuízos no processo de adaptação à prótese e à marcha, e podem ser necessários tratamentos
medicamentoso e psicológico (LIMA; CHAMLIAN; MASIERO, 2006).
O mecanismo da sensação fantasma ainda não está claro, mas aparentemente acontece uma
reorganização cortical como resultado da amputação (FARIA; SILVA, 2014).
O coto deve ser fortalecido para favorecer a adaptação e a funcionalidade da prótese. Deve também
ser alongado para evitar contraturas musculares e restrições na amplitude de movimento.
Os exercícios podem ser realizados conforme o tamanho do coto e da alavanca existentes nesse
membro. Dessa forma, entende-se que, caso não seja possível utilizar aparelhos de musculação, podem-
se adaptar outros instrumentos para a sua realização.
Todos os demais músculos do corpo devem ser exercitados, especialmente os grupos envolvidos no
controle postural, minimizando os prováveis desvios observados nas amputações unilaterais.
As atividades aquáticas também são um excelente meio para a prática de exercício físico por não
trazerem impacto ao coto. Entretanto, espera-se uma mudança no centro de gravidade e na flutuação,
pela ausência de um ou mais membros. Nas amputações unilaterais, estando em decúbito dorsal ou
ventral, é comum o aluno rotacionar o tronco pelo desequilíbrio corporal causado com a amputação.
É aconselhado que o profissional de Educação Física busque estilos que proporcionem maior equilíbrio
e estabilidade deste corpo na água para trazer maior sensação de segurança ao aluno. O treinamento
fará com que o estudante descubra formas diferentes de ajustar o seu corpo à água.
Apesar de as atividades aquáticas serem altamente recomendadas, alguns alunos podem sentir-se
incomodados pelo fato de exibirem o corpo (pelo uso de sungas ou maiôs), por isso o professor deve
estar atento para não gerar exposição desnecessária (GREGUOL, 2010).
70
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
Observação
4.5 Nanismo
O tipo mais comum de displasia esquelética é a acondroplasia, condição que leva o indivíduo a um
quadro de baixa estatura, conhecido como nanismo.
71
Unidade I
Algumas alterações ortopédicas são relevantes e devem ser consideradas pelo profissional de Educação
Física, para que elabore um programa de exercícios adequado à condição do aluno com acondroplasia:
• hiperlordose lombar (especialmente após a aquisição da marcha), que pode acarretar protuberância
abdominal;
Além disso, podem ser observados, em alguns casos, hipotonia muscular e alterações cardíacas.
Um programa de atividade física para pessoas com acondroplasia deve priorizar exercícios de
fortalecimento muscular, especialmente dos membros inferiores e do tronco, para minimizar a incidência
das alterações posturais ocorridas por desproporção corporal e fraqueza muscular.
As práticas de alongamento também devem ser realizadas, evitando-se amplitudes exageradas nos
casos de frouxidão ligamentar.
Além da evolução da aptidão física e da manutenção do peso corporal saudável, a atividade física
pode contribuir para o progresso da percepção corporal e da autoimagem, domínios fundamentais para
uma melhor qualidade de vida.
4.6.1 Conceitos
As miopatias são doenças caracterizadas por mudanças estruturais ou funcionais dos músculos.
Entre as mais comuns, estão as distrofias musculares progressivas (DMP).
Independentemente do tipo, em todas vão ocorrer fraqueza muscular, fadiga e perda da capacidade motora.
Trata-se da distrofia mais comum e agressiva. Estima-se uma incidência em torno de 1:3.500 - 5.000
meninos nascidos vivos (LIM; MARUYAMA; YOKOTA, 2017).
Embora em algumas situações possa afetar o gênero feminino, pois a mulher possui dois cromossomos
X, se um deles for acometido pelo erro genético, o outro oferecerá uma compensação e a doença não se
manifestará, razão pela qual a mulher geralmente é assintomática. São raros os casos em que a mulher
desenvolve os sintomas desta distrofia, e geralmente eles ocorrem em mulheres com síndrome de Turner
(BAUMGARTNER; RUIZ, 2008; FLORIAN et al., 2016).
A alteração deste cromossomo afeta a produção da proteína distrofina, fundamental para o bom
funcionamento da musculatura.
A DMD manifesta-se inicialmente entre 2 e 5 anos, quando a criança começa a apresentar quedas
frequentes (em função da constante flexão do quadril e do joelho) e dificuldade para subir degraus e
levantar-se do chão, observada pelo sinal de Gowers. Nesta fase, notam-se também marcha alargada
e anserina (pendular ou com balanço), com o pé caído e uma acentuação da lordose lombar.
2 3
1
Evolui para insuficiência respiratória e/ou cardíaca, que geralmente leva a óbito por volta dos
20 anos.
73
Unidade I
A DMD é também conhecida como distrofia pseudo-hipertrófica por apresentar, em especial nos
músculos da perna e do antebraço, acúmulo de tecido conjuntivo e adiposo entre as células degeneradas
da musculatura, dando a impressão de hipertrofia, daí o nome pseudo-hipertrofia.
Os fatores psicológico e social devem ser motivos de atenção, pois é comum que haja instabilidade
emocional, não aceitação e, às vezes, revolta, em particular durante a adolescência.
Estima-se uma incidência de 1:30.000 meninos nascidos vivos. Os sinais e sintomas são semelhantes
aos da DMD, entretanto notavelmente mais leves. Os primeiros aparecem mais tardiamente (em geral
entre a 1ª e a 2ª décadas de vida), e sua progressão também se apresenta mais lenta. Existe uma
variabilidade muito grande no que diz respeito à gravidade da DMB, inclusive entre membros de uma
mesma família.
Como na DMD, os níveis de CPK são elevados e a função cardíaca está prejudicada, normalmente
pela presença de insuficiência cardíaca.
Além dos músculos da face, a cintura escapular acomete, em especial, os músculos do ombro e do
antebraço. É comum ter a escápula mais elevada (escápula alada) e consequente dificuldade para elevar
os braços, em particular acima da altura dos ombros. Os músculos peitoral e abdominal também são
acometidos, mas a capacidade de deambular não é perdida.
Na maior parte dos casos, o comprometimento da musculatura é leve e a progressão lenta, não
sendo causa de óbito.
A atividade física para pessoas com distrofia ainda é bastante controversa; entretanto, estudos têm
sugerido que quando são prescritos com cautela podem melhorar muito a qualidade de vida desses
alunos. Sabe-se que exercícios em intensidade leve podem contribuir com o ganho de resistência e a
força muscular, sem efeitos prejudiciais ao músculo (ROQUE et al., 2011).
74
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
Na DMD, por acometer crianças muito jovens, devem ser priorizadas atividades lúdicas e recreativas
que propiciem a melhora da aptidão física e das interações sociais, bem como dos aspectos emocionais.
Nos casos de alunos que apresentam DMB e FSH, os exercícios resistidos são mais facilmente
controlados (pela idade de acometimento); dessa forma, devem-se priorizar os tipos concêntricos e
isométricos, com poucas séries e repetições.
Os exercícios excêntricos, especialmente realizados com cargas mais altas, podem afetar o
metabolismo de colágeno (NASCIMENTO et al., 2005) e causar prejuízos ao aluno com distrofia muscular
já que, devido às alterações de proteínas musculares, não conseguem efetuar a reparação tecidual
necessária após esse tipo de prática. Deve-se ter em mente que a fadiga é uma condição naturalmente
observada nessa população.
Em relação aos exercícios aeróbios, apesar de importantes, devem ser feitos com baixa intensidade,
pois provavelmente apresentem alguma condição cardíaca adversa. Segundo Roque et al. (2011),
é indicado também o uso da escala de esforço subjetivo de Borg entre 11 (relativamente fácil) e 13
(ligeiramente cansativo).
As atividades aquáticas são recomendadas, para todos os tipos de distrofia, pois favorecem a melhora
ou a manutenção da capacidade respiratória, além de propiciarem mais autonomia e liberdade pelas
características hidrostáticas.
Zachi, Taub e Ventura (2012) verificaram uma associação entre o perfil comportamental, a idade do
diagnóstico e o comprometimento motor de crianças e adolescentes com distrofia. Dessa forma, fica
clara a importância de um trabalho multidisciplinar para favorecer o desenvolvimento global e propiciar
uma melhor qualidade de vida a esses alunos.
Saiba mais
“Pessoas amputadas surfando. Pessoas cegas jogando futebol [...] Pessoas surdas dançando [...] Pessoas
hemiplégicas nadando [...] Pessoas autistas patinando. Pessoas!” (PEDRINELLI; VERENGUER, 2013).
75
Unidade I
Antes de qualquer outro adjetivo, é imprescindível que possamos enxergar a pessoa, o aluno que
está à nossa frente, e não apenas a sua deficiência. É fundamental, como profissional de Educação
Física, pensar em criar oportunidades para que todos possam participar e beneficiar-se dos programas
de atividade física e esportes, inclusive aqueles com deficiência.
Fala-se muito em inclusão, mas ainda estamos dando os primeiros passos para que ela aconteça de
fato. Para tanto, além dos instrumentos legais, é fundamental que os profissionais das mais diversas áreas
consigam convergir para o mesmo objetivo. A inclusão traz benefícios para quem faz parte do processo,
e não somente para os indivíduos com deficiência. Aprender a conviver e respeitar as diversidades é
primordial para qualquer sociedade.
Apesar de a Educação Física e o esporte adaptado serem temas relativamente recentes, na última
década houve um crescimento exponencial no interesse por eles. Inúmeros alunos com deficiência os
têm praticado com os mais diversos objetivos, seja buscando melhora da aptidão física e qualidade de
vida, seja por performance, visando a uma competição.
Os eventos esportivos para pessoas com deficiência são grandiosos e estão entre os mais importantes
do mundo. As modalidades paralímpicas, em sua maioria, são apenas adaptadas em relação ao esporte
olímpico e podem atender atletas com as mais diversas deficiências.
Entretanto, nem sempre o objetivo é competitivo ou o alto rendimento. Mesmo nos grandes eventos,
há espaço para a participação pelo simples prazer de correr, de saltar ou de jogar, como acontece na
Special Olympics.
Por fim, independentemente do objetivo, um programa de atividade física e/ou esporte bem planejado,
com certeza, trará inúmeros benefícios e contribuirá, imensamente, para o processo de inclusão.
Resumo
76
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
Exercícios
Questão 1. (Enade 2016, adaptada) Em janeiro de 2016, entrou em vigor a Lei Brasileira de
Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI), instrumento que garante mais direitos às pessoas com
deficiência e prevê punições para atos de discriminação. A Lei destaca a importância de estratégias
de inclusão e de superação de barreiras oriundas de deficiência. Um exemplo de superação e
inclusão é a atuação do atleta paralímpico Daniel Dias. O nadador, que nasceu no dia 24 de maio
de 1988, sem partes de alguns membros, conquistou, aos 28 anos de idade, sua 24ª medalha, das
quais 14 de ouro, sendo nove conquistadas nas Paralímpiadas do Rio de Janeiro. Orgulho para
os brasileiros.
I – O esporte, para ser inclusivo, requer prática orientada para cada tipo de deficiência.
77
Unidade I
III – A LBI foi fundamental para a inclusão de Daniel Dias, que se tornou o melhor nadador paralímpico
da história.
A) II, apenas.
B) III, apenas.
C) I e II, apenas.
D) I e III, apenas.
E) I, II e III.
I – Afirmativa correta.
Justificativa: para ser considerado inclusivo, o profissional de Educação Física deve adequar e orientar
o esporte às características das pessoas com deficiência.
II – Afirmativa correta.
Justificativa: a LBI não foi criada para a inclusão somente do nadador paralímpico Daniel Dias,
mas para atender às necessidades de todas as pessoas com alguma deficiência. Além disso, o nadador
já estava inserido neste contexto de inclusão, pois utilizou as estratégias para superar suas barreiras
oriundas da deficiência.
Questão 2. (Enade 2016) Uma pessoa com paralisia cerebral procurou um clube esportivo para
iniciar a prática de uma modalidade paralímpica em alta performance com vistas à sua participação nas
próximas Paralímpiadas. Nessa situação, que modalidade esportiva paralímpica que essa pessoa poderia
praticar oficialmente junto ao Comitê Paralímpico Brasileiro?
A) Bocha paralímpica.
B) Voleibol sentado.
78
EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA
C) Futebol 5.
D) Golbol.
E) Judô.
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