Você está na página 1de 36

1º SEMESTRE

Módulo 1

DEFINIÇÃO DE PREVENÇÃO
É importante realçar que o conceito formal de prevenção nasce da Saúde Pública e que a
Prevenção existiu desde de sempre, não se tratando, portanto, de um conceito recente.

 Bloom: A prevenção diz respeito a um conjunto de ações coordenadas que procuram


prevenir problemas previsíveis, proteger estados atuais de saúde e funcionamento
saudável e promover potencialidades desejadas nos indivíduos e grupos, nos seus
contextos físico e sociocultural, ao longo do tempo.
 Durlak: Prevenção diz respeito a um conjunto de estratégias que procuram prevenir o
desenvolvimento de problemas, em populações normais, através da introdução de
mudanças no meio e/ou nos indivíduos.
 Kapla: A prevenção é um escape a um percurso de vida negativo, promoção de
competências e conhecimentos com vista a evitar o dano.

PREVENÇÃO DO CRIME
Variáveis da Prevenção do Crime: (segundo Lab)

 Diminuição dos níveis atuais da criminalidade/ controlo de futuros aumentos


 Diminuição dos efeitos danosos do crime/ controlo de futuros aumentos
 Diminuição do medo do crime e da vitimização/ crimes percebidos

Prevenção do Crime segundo a perspetiva de Lab:


Para Lab a prevenção do crime envolve qualquer ação destinada a reduzir as taxas atuais de
crime e/ ou o medo do crime, ou seja, para este autor a prevenção do crime não “trabalha” com
os danos diretos da ocorrência de um crime. Para Lab a prevenção do crime passará por:

 Iniciativas do sistema de justiça criminal


 Iniciativas de indivíduos e grupos, públicos ou privados

Prevenção do Crime segundo a perspetiva das Nações Unidas:


Para as Nações Unidas a prevenção do crime engloba estratégias que visam reduzir o risco de
ocorrem crimes e os seus potenciais efeitos danosos nos indivíduos e sociedade, incluindo o
medo do crime, ao intervir para influenciar as suas múltiplas causas. Para as Nações Unidas, a
aplicação de leis, sentenças e correções também têm funções preventivas.
Causas
As causas da ocorrência de um crime dizem respeito aos fatores de proteção e aos fatores de
risco, sendo que estes últimos se dividem em:

 Fatores estáticos (fatores que não se conseguiram trabalhar)

1
 Fatores dinâmicos = necessidades criminógenas (fatores necessários trabalhar para
diminuir a criminalidade)
A maioria dos entendimentos considera que com a Prevenção (trabalhar as causas) se pode:

 Prever um resultado + Intervir no processo para alterar o resultado esperado.

PREVENÇÃO DO CRIME VS CONTROLO DO CRIME


Prevenção do crime: Consiste em eliminar o crime antes da sua ocorrência (prevenção pró-
ativa) ou antes de mais atividades criminais (prevenção reativa).
Controlo do crime: Consiste na manutenção de um determinado nível de crime e na gestão
desse comportamento, ou seja, não trata adequadamente o sentimento de insegurança uma vez
que o seu objetivo não é a eliminação do crime.

CONTROLO SOCIAL, CONTROLO DO CRIME E POLÍTICA CRIMINAL


Controlo Social: Diz respeito a um conjunto de mecanismos normativos através dos quais os
grupos/ sociedade obtêm a conformidade dos seus membros. (Trata-se do conceito mais
abrangente)
Controlo do Crime: É o conjunto de meios implementados pela sociedade (sejam eles
preventivos ou repressivos) com o intuito concreto de conter ou reduzir o número e a gravidade
dos delitos.
Política Criminal: Trata-se de um programa de objetivos, de métodos de procedimentos e de
resultados que o Mº.Pº e as autoridades de polícia criminal prosseguem na prevenção e
repressão da criminalidade. (Trata-se por esse motivo do conceito mais restrito)

ENQUADRAMENTO HISTÓRICO DA PREVENÇÃO DO CRIME


Como já se referiu a prevenção não é uma ideia nova, pois desde sempre existiu.
As primeiras respostas ao comportamento desviante centravam-se na ideia de:

 Retribuição e Vingança (“olho por olho, dente por dente”)


o Legitimação da ação individual (ausência de um controlo social)
o Deveriam restituir a honra e integridade da vítima e diminuir os benefícios da ação
do ofensor.
Mais tarde passou a existir:

 As primeiras formas de “policiamento” que eram conduzidas por forças militares


o Tinham como objetivo a proteção do estado central e da nobreza.

Entretanto com o passar dos anos emergem:

 Práticas cooperativas de “policiamento” entre cidadãos:

2
o Inglaterra, 1066: Grupos de homens entre os cidadãos eram mandatados para vigiar
em grupo e soar o alarme em caso de emergência.
o Surge o movimento de vigilantes do “novo mundo” (EUA) como forma de reforçar a
lei e ordem dentro das novas fronteiras.
Por fim, com a evolução do tempo, surge então:

 As primeiras tentativas de policiamento formal (séc. XVII em Paris), onde existe um


patrulhamento preventivo, o aumento da iluminação e a limpeza das ruas de modo a
prevenir o aumento da criminalidade.
 O policiamento formal instituído no séc. XIX
o Ex: criação da Polícia Metropolitana de Londres (1829)
o Sendo este policiamento formal restrito às cidades, deixando a restante população à
sua autoproteção.

EVOLUÇÃO DA PREVENÇÃO DO CRIME


Séc. XX: Mudanças na resposta da sociedade ao comportamento desviante

 A polícia torna-se norma.


 A emergência dos sistemas de justiça criminal e juvenil passa a incorporar mais funções
orientadas à prevenção.
 Nesta altura a polícia colocou-se de parte no que toca à prevenção, tratando somente da
parte da repressão.
Era moderna na prevenção do crime- a emergência de uma mentalidade preventiva
A mudança de paradigma deveu-se:

 Incapacidade do sistema de justiça criminal e de controlo responder ao aumento das taxas


de criminalidade, desde o pós-guerra e ainda mais nos anos 60.
 Emergência política e cultural da figura da vítima.
 Inquéritos de vitimação: muitos crimes não detetados.
 Ineficácia do recurso exclusivo ao sistema de justiça criminal.
 Descrença no ideal de punição, tratamento e reabilitação (“nothing works”- Martinson).
 Crise económica dos anos 70: compromisso governamental em encontrar formas mais
rentáveis de combate ao crime.
Na Europa nos anos 70 a prevenção do crime era foco de políticas públicas e era realizada
maioritariamente pela polícia.
Mudança de foco- Anos 80:

 As iniciativas da prevenção do crime eram responsabilidade da polícia, no entanto como


esta não dava conta de tanto trabalho, passa a existir também a prevenção do crime por
parte da comunidade, uma vez que se trata de uma responsabilidade coletiva.
 Uma prevenção do crime só pode ser conseguida com a cooperação entre as forças
policiais e a comunidade.

3
É mais eficaz e rentável, em termos de custos-benefícios, adotar uma ação coletiva e
proativa para a prevenção do crime.
 Eficácia da prevenção do crime implica a cooperação entre agências e parcerias
multissetoriais: habitação, saúde, emprego, serviços sociais, ambiente, polícia e justiça.
PREMISSAS ATUAIS (INTERNACIONAIS) DA PREVENÇÃO DO CRIME:
 Foco na prevenção proativa (isto é, antes de se dar o acontecimento)
 Maior ênfase em problemas sociais mais amplos (sociais, económicos, …)
 Foco no controlo social informal (ex: família, amigos) e nas normativas locais (mais no
modo como se ligam aos controlos formais)
 Intervenções descentralizadas e promovidas localmente
 Abordagem de parceria e cooperação entre vários agentes (polícia e comunidade)
 Foco na produção de soluções holísticas orientadas para o problema

UNITED NATIONS GUIDELINES FOR THE PREVENTION OF CRIME- 2002

 Vantagens das estratégias de prevenção do crime (bem planeadas):


o Prevenir o crime e a vitimação
o Promover a segurança da comunidade
o Contribuir para o desenvolvimento sustentável dos países
o Melhorar a qualidade de vida de todos os cidadãos
o A longo prazo: redução dos custos associados com o sistema de justiça criminal e
de outros custos sociais resultantes do crime
o Abordagem mais humana e rentável (custos-benefícios) para os problemas do crime
 Elementos necessários para uma prevenção eficaz:
o Responsabilidade governamental (inclusive estimulando a sociedade civil a
envolver-se na prevenção do crime)
o Estratégias e medidas, que visam reduzir o risco de ocorrência de crimes e os seus
prejuízos nos indivíduos e na sociedade, intervindo de modo a influenciar as suas
múltiplas causas
o Atender à crescente internacionalização das atividades criminais
o Envolvimento da comunidade, cooperação, colaboração e parceria
o Contemplar uma grande variedade de abordagens preventivas:
 Social
 Baseada na comunidade
 Situacional
 Reintegração
 Princípios gerais ou de base:
o Liderança governamental
o Desenvolvimento socioeconómico e inclusão
o Cooperação/ parcerias
o Sustentabilidade e prestação de contas
o Conhecimento baseado nas evidências
o Primado dos direitos humanos e da cultura de obediência à lei
o Interdependência

4
o Diferenciação
 Organização, métodos e abordagens:
Envolvimento da comunidade
o Organização: estruturas governamentais, formação e capacitação, apoio às
parcerias, sustentabilidade
o Métodos: conhecimento baseado nas evidências, planificação da intervenção, apoio
à avaliação
o Abordagens: desenvolvimento social, situacional, prevenção do crime organizado
 Cooperação internacional:
o Padrões e normas
o Assistência técnica (grupos mais desenvolvidos ajudarem os menos desenvolvidos)
o Trabalho em rede
o Ligações entre o crime local e transnacional (compreender como o crime local está
ligado com o crime nacional/ transnacional)
o Priorizar a prevenção do crime
o Disseminação

OBJETIVOS E PRIORIDADES NA PREVENÇÃO DO CRIME (SEGUNDO A EU)

 Reduzir oportunidades (=causas) que facilitem o crime


 Evitar a vitimação/ proteger a vítima
 Reduzir os sentimentos de insegurança
 Promover uma cultura de legalidade
 Prevenir a infiltração de estruturas económicas criminais

As medidas preventivas:

 Não devem abordar só a criminalidade, mas abranger comportamentos antissociais


(devem agir sobre o medo do crime)
 São um complemento necessário às medidas repressivas (implica, portanto, a articulação
das políticas de prevenção criminal com as formas de Estado e Modelos Administrativos)
 Exigem uma abordagem interdisciplinar
 Pressupõe a atualização de diplomas legais (ex: Política Criminal) e de novos modelos
para o sistema judicial
 Devem situar-se o mais próximo possível dos cidadãos (normativas locais) e envolver a
participação de vários intervenientes- exige a atuação a nível local- implica parcerias com a
sociedade civil

IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO DO CRIME: CUSTOS DA VITIMAÇÃO/ MEDO DO CRIME


Custos do crime para a sociedade

 Custos tangíveis:
o Custos para a vítima

5
o Custos para o sistema de justiça criminal (ex: quanto é que sai ao Estado um dia,
um prisioneiro na cadeia)
o Custos da carreira criminal (ex: pessoas que não contribuem para o PIB de forma
legal)
 Custos intangíveis:
o Custos associados à dor e sofrimento
o Custos associados ao risco de homicídio

Custos totais do crime: combinando estimativas dos custos tangíveis e intangíveis estima-se o
custo total do crime para a sociedade, por ofensa.
Custos para as vítimas

 Perdas económicas diretas


o Despesas médicas, perda de dinheiro, roubo ou dano de propriedade, perda de
lucros, por lesão ou outras consequências relacionadas com a vitimação
Custos para o sistema de justiça criminal

 Perdas económicas/ gastos governamentais a nível nacional e local


o Despesas com proteção policial, serviços jurídicos/ legais e de adjudicação/
julgamento, programas de correção (ex: prisão),…
Custos pela carreira criminal

 Associado com a escolha do ofensor em se envolver em atividades ilegais (vs. Legais e


produtivas- contribuem para o PIB)
Custos intangíveis

 Perdas indiretas experienciadas pelas vítimas de crime


o Dor, sofrimento, problemas psicológicos, menor qualidade de vida,..
o Custos associados à dor e sofrimento:
 Ferimentos de balas e/ou facas, ossos partidos (e lesões internas), ser
deixado inconsciente, contusões e/ou cortes, lesões relacionadas com
violações.
o Custos associados ao risco de homicídio:
 Risco de morte
 Medo do crime/ sentimento de insegurança

SENTIMENTO DE INSEGURANÇA/MEDO DO CRIME E NÍVEL DE CRIME

 Dados oficiais e de inquéritos de vitimação:


o Menos de 10% da população foi vítima de crime, mas
o 40% a 50% da população expressa sentimentos de insegurança
 Apesar de o nível global de crime vir decrescendo nos últimos anos, muitas pessoas
continuam a ser vitimizadas e o impacto do crime é significativo
 Atendendo aos níveis do crime e do medo do crime na sociedade, obtém-se uma fácil
justificação da necessidade de prevenção da delinquência/ crime.
6
 “Medo do crime”:
o Requer uma resposta emocional, de temor e ansiedade face ao crime e/ou a um
símbolo (Ferraro).
o Depende do sujeito e da base para a sua ansiedade (ex: andar na rua, ser atacado
em casa)
o Pode manifestar-se de múltiplas formas:
 Alteração no funcionamento físico (ex: maior pressão arterial, batimento
cardíaco)
 Alteração no padrão comportamental (ex: mudança de atitudes sobre andar
sozinho em certos locais ou evitar certas atividades)
o Independentemente da fonte, para o sujeito o medo é real
o Embora não necessariamente real, constrange a conduta diária, potenciando
inatividade e ansiedade
o Componente importante de muitos programas de prevenção do crime

MEDO DO CRIME/ SENTIMENTO DE INSEGURANÇA

 Variações em função de fatores demográficos


 O nível de medo não é consistente entre todos os grupos demográficos da população:
o Afeta sobretudo quem vive nas cidades
o Afeta sobretudo idosos e mulheres (embora estes sejam menos vulneráveis à
vitimação quando comparados com os homens, uma vez que estes se encontram
mais expostos)
o Afeta sobretudo pessoas negras
o Afeta sobretudo pessoas de estatuto socioeconómico mais baixo
o Afeta sobretudo pessoas que vivem em grandes comunidades

COMO JUSTIFICAR NÍVEIS ELEVADOS DE INSEGURANÇA INDEPENDENTEMENTE DO


RISCO DE VITIMAÇÃO?

 Vitimação vicariante
o Reação empática face a situações que aconteceram a outros
o Mediatização de crimes mais violentos
 Risco percebido
o Perceção de maior vulnerabilidade e de dano potencial (ex: idosos e mulheres-
posições desvantajosas em termos físicos ou de poder social)
 Incivilidades: fatores físicos e sociais envolvidos nos distúrbios e declínio comunitário
o Sinais físicos: deterioração de edifícios, lixo, graffitis, vandalismo, carros e edifícios
abandonados,..
o Sinais sociais: embriaguez pública, vadiagem, assédio, venda e uso visível de
drogas..
Os residentes podem sentir fata de controlo no bairro/ vizinhança gerando sentimentos de
insegurança.
 Fatores metodológicos
7
o Medo/ insegurança (conceito de difícil operacionalização)
o Diferenças entre estudos (por formas diferentes de colocar as questões)
 Níveis reais de crime
o Resposta a aumento factual do crime a determinada altura (ex: reportado pelos
meios de comunicação social)
o Perceção de insegurança difícil de reverter (mesmo face a decréscimo das taxas de
crime)

 Medo funcional
o Motivação para adotar precauções: ações de autoproteção (ex: evitar certos locais
de risco, utilizar mecanismos de segurança em casa, como alarme ou deixar as
portas trancadas)

ESTATÍSTICAS OFICIAIS E INQUÉRITOS DE VITIMAÇÃO- FORMAS DE AVALIAR O CRIME


Estatísticas oficiais

 Diz respeito aos crimes participados, taxas de condenação e à população prisional


 Limitações:
o Indivíduos cujos crimes chegam ao conhecimento das autoridades = apenas uma
fração dos indivíduos que cometeram crimes
 Forças policiais não detetam toda a atividade delituosa
 Vítima pode, ou não, relatar o crime à polícia
 Ex: Relatório Anual de Segurança Interna (MAI)

Inquéritos de Vitimação

 O seu objetivo é inquirir amostrar representativas (para poder obter generalizações) sobre
um certo número de crimes de que tenham sido vítimas num certo período de tempo
 Permitem obter:
o Medidas de incidência e prevalência de certos tipos de crime
o Informação sobre as perceções e reações dos indivíduos ao crime
 Internacionalmente: inquéritos de vitimação revelam mais do dobro de vitimação do que as
estatísticas oficiais
 Ex: Inquérito de vitimação na área metropolitana de Lisboa APAV 2002.

CRIME E SOCIEDADE: PADRÕES DO CRIME


Padrões do crime:

 Padrões espaciais:
o Cidades; centro da cidade e bairros “mais pobres”
 Padrões temporais:
o Dia (furto em lojas durante a hora de almoço; menos crimes entre as 4h-12h)
o Semana (crime relacionados com o consumo de álcool à noite)
8
o Ano (assaltos a casas em época de bom tempo- portas e janelas abertas/ período
de férias)
 Padrões de vítimas:
o Vitimação repetida: o risco aumenta com o nº de crimes experienciados e maior
proximidade à última experiência de vitimação.
o Maior risco: mais jovens; homens; desempregados; pessoas que habitam em áreas
citadinas mais “empobrecidas”.
 Padrões de alvos:
o Objetos pequenos, acessíveis, leves, de elevado valor, anónimos (não se
conseguindo identificar o dono ou o criminoso) – ex: dinheiro, jóias
 Padrões de ofensores:
o Homens
o Criminosos/as de carreira tendem a incorrer em delitos mais cedo do que criminosos
ocasionais
o Taxa de envolvimento no crime decresce à medida que a idade aumenta

DIMENSÕES ESSENCIAIS PARA UMA PREVENÇÃO EFICAZ


Planeamento Estratégico

 Descrição do problema: (definir o problema)


o O que inclui, como se manifesta, que tipo de crime cobre
 Tipo e natureza do fenómeno
 Tipo: violência familiar (crianças, idosos, conjugês…), violência
comunitária (por conhecidos ou estranhos), violência urbana…
 Natureza: violência física, psicológica, sexual, negligência..
o Em que contextos surge, quem é afetado
 Geografia e localização
 Âmbito: local, nacional, internacional
 Localização geográfica: país, região, distrito, cidade…
 Definição da população-alvo: rural, peri-urbana, urbana
 Variáveis socioeconómicas
 Caracterização da população-alvo como um todo
o Quais as consequências
o Há quanto tempo existe (ou é conhecido)…
o O que tem sido feito para solucionar, que métodos são aplicados, o que (não)
funciona…
o Fontes de informação:
 Estatísticas
 Relatórios
 Inquéritos
 Estudos nacionais e internacionais
 Boas práticas…
 Análise das condições que levaram à emergência do problema (identificar fatores de
risco e de proteção)
9
o Explicar o problema- dados teóricos e empíricos
o Orientação teórica
 Escolhas teóricas e instrumentos conceptuais (ex: abordagem de saúde
pública, perspetivas ecológicas,…)
o Consideração de variáveis que influenciam o comportamento
 Fatores de risco e de proteção
o Quais são as causas
 Procura os porquês do fenómeno
 Modelo ecológico- fatores de risco e proteção em 4 níveis: individual,
relacional, comunitário, social
o Fontes de informação para identificar fatores de risco e proteção:
 Literatura
 Avaliação do risco/ necessidades -> instrumentos de medida estruturados e
aprovados (ex: Community risk, SIR, OGRS, ACE)
o Fatores de risco e de proteção:
 Fatores de risco: aumentam a
probabilidade
 Estáticos: fatores históricos ou
passados que não podem ser
alterados, não são passíveis de
intervenção. A sua presença
aumenta o risco.
 Dinâmicos: características individuais ou circunstâncias do meio
passíveis de mudança e de intervenção. São fatores de risco cuja
alteração tem impacto na probabilidade de comportamento criminal
futuro. (Dizem respeito às necessidades criminógenas)
 Fatores de risco menores na previsão da reincidência: (menos
promissores na redução da reincidência)
o Perturbações pessoais/ emocionais (baixa autoestima,
ansiedade, depressão)
o Doença mental grave
o Questões de saúde física
o Medo da punição oficial
o Condição física
o Baixo IQ
o Classe social de origem
o Gravidade do crime atual
o Outros fatores não relacionados ou apenas moderadamente
relacionados com a ofensa
 Fatores de proteção: inibe e reduz a probabilidade
 Aspetos que poderão aumentar a resistência do indivíduo, mesmo se
exposto a altos níveis de risco
 Dizem respeito a fatores pessoais/ externos
 Identificação dos objetivos
o Objetivos gerais (ex: prevenção da delinquência no contexto escolar)
10
o Objetivos específicos (ex: reforçar competências de mediação de conflitos entre
alunos e professores (menor nº de ocorrências sinalizadas e/ou denunciadas))
o Estes 2 tipos de objetivos têm que:
 estar ligados teoricamente
 ser operacionalizáveis e mensuráveis
 definição de indicadores de eficácia
 definir os grupos-alvos (ex: idade, características)
 definir o limite temporal
 Determinar a intervenção para alcançar os objetivos
o Que trabalho e para quem
 Identificar as medidas apropriadas para alcançar o grupo-alvo e os objetivos
 Identificar e justificar a/s estratégia/s de prevenção a usar
 Identificar, explicar e justificar as atividades a desenvolver
 Explorar a disponibilidade de recursos (…)
o Fontes de informação:
 Literatura/ Estudos nacionais e internacionais (boas práticas…)
 Identificação de programas: o que funciona, o que não funciona, o que é
promissor
 Desenho e execução do projeto
o Explicitar:
 Papel das parcerias e responsabilidades de cada parceiro
 Cronograma
 Métodos de avaliação
 Natureza da intervenção e prevenção
 População-alvo: Idade (população geral, só crianças/idosos- x a x
anos); sexo (só homens, só mulheres, ambos); vítimas/perpetradores
(só 1, ambos)…
 Locais: escolas, lares, prisões, locais de trabalho, bairro/vizinhança…
 Informações sobre o programa: se vai ser aplicado a um ou mais
locais; objetivos operacionais; quantas pessoas vão usufruir;
recursos…
 Planificação, implementação e resultados
 Avaliação
o Identificar o tipo de avaliação e os métodos usados
o Explorar até que ponto o grupo-alvo e os objetivos foram alcançados?
o Explorar e explicar: quais as mudanças observadas? Até que ponto podem ser
atribuídas às medidas implementadas?
o Assegurar a utilidade dos dados de uma avaliação - natureza da informação
determinada em fases planeadas
 Delinear: decidir que informação reunir
 Obter: reunir informação necessária para a descrição, julgamentos e tomada
de decisões
 Fornecer: analisar os dados, documentá-los e disseminar a informação às
audiências

11
 Utilizar: uso concetual, instrumental e persuasivo na compreensão,
julgamento e tomada de decisões
 Conclusões e documentação

Avaliação e Disseminação

 Avaliação
o Aplicação sistemática e rigorosa de metodologias científicas para aceder
objetivamente ao processo e aos resultados da política de intervenção
o Processo de delinear, obter e providenciar informação que é usada na descrição e
compreensão de um programa e que ajudará a tomar decisões relativamente ao
mesmo
o Porque se deve avaliar:
 Decisões de qualidade
 Desenvolvimento de outros programas
 Gerar conhecimento
o Deve responder a 4 questões centrais:
 Relevância
 Qualidade
 Eficiência
 Replicabilidade

TIPOS DE AVALIAÇÃO

 Avaliação do impacto (ou de resultados)


o Foca-se nas alterações que ocorrem após uma intervenção ou programa
o Ex: avaliação de programas de tratamento através das taxas de reincidência;
 Avaliação de processo
o Examina a implementação/ procedimentos de um programa ou iniciativa de
prevenção
o Considera os objetivos, a qualidade do staff, os recursos disponíveis, os obstáculos,
o envolvimento dos alvos, a qualidade da informação recolhida, as alterações ao
programa -> informação sobre o contexto, o que correu bem e o que correu mal:
permite a replicação/ generalização da intervenção
 Avaliação de custos-benefícios
o Procura avaliar se os custos de uma intervenção são justificados pelos benefícios
ou resultados que dela advêm
o Forma de avaliação de processo que requer simultaneamente a avaliação do
impacto: compreender se os custos são justificados através das mudanças
alcançadas
 Follow-Up
o Resultados a curto, médio e longo-prazo
o Possível diminuição ou eliminação dos efeitos do programa
o Ideal será proceder a follow-up em diferentes intervalos temporais (ex: 3/6/18
meses)

12
PONTOS A CONSIDERAR

 Teoria subjacente ao programa de prevenção


o Explicar porquê e como a intervenção poderá conduzir à mudança esperada: não
apenas centrado na (in)eficácia do programa (ex: alterações no desenho e
iluminação do parque de estacionamento- impacto no assalto a veículos)
 Problemas de mensuração
o Intervenção localizada (pequenas áreas geográficas): sem dados específicos do
contexto para se poder avaliar as mudanças
o Inquéritos de vitimação nem sempre disponíveis e muito dispendiosos
o Operacionalização de variáveis-chave- conceitos fluídos como o sentimento de
insegurança
o Controlar influência de variáveis (ex: patrulhamento por cidadãos pode
consciencializar uma comunidade para o problema do crime e aumentar as queixas
efetuadas)

MÉTODOS

 Experimentais: exige alto grau de controlo sobre onde, quando, como e para quem é
dirigida a intervenção
 Quasi-experimentais: preocupação com comparações entre grupos e uso de dados
quantitativos; compara grupos não-equivalentes sujeitos a diferentes intervenções e
mudanças ao longo do tempo
 Investigação por inquérito + naturalísticos: métodos mais descritivos; sobretudo para
obter dados sobre as perceções do contexto, dos processos e dos resultados de um
programa
 Investigação ex post facto: estudos retrospetivos; findo o programa, participantes
comparados com sujeitos que não participaram
Nenhum método é superior. O seu uso depende do contexto da avaliação que se quer fazer,
atendendo aos objetivos e constrangimentos.

PREVENÇÃO BASEADA NO CONHECIMENTO


Inclui abordagens que usam evidências como base da ação, desde o diagnóstico à avaliação
Conhecimento baseado em evidências

 Determinar o tamanho e o alcance do problema


 Analisar as causas
 Identificar possíveis soluções (boas práticas)
 Selecionar e avaliar estratégias e programas
13
FONTES DE DADOS E INSTRUMENTOS
Fontes:

 Estatísticas oficiais
 Inquéritos de vitimação
 Potenciais fontes de dados secundários:
o Polícia + outras entidades do sistema de justiça: tribunais, estabelecimentos
prisionais e de reinserção social
o Serviços de apoio à vítima
o Serviços de habitação e serviços ambientais
o Serviços de educação, incluindo escolas e estabelecimentos de ensino superior
o Serviços de assistência social
o Prestadores de cuidados de saúde, incluindo hospitais particulares e clínicas
o Instituições de investigação, incluindo universidades
o Serviços de bombeiros
o Grupos comunitários + organizações da sociedade civil sem fins lucrativos
o Empresas de segurança privada e seguradoras

Instrumentos de diagnóstico sistemático

 Observatórios/ centros de monitorização (ex: OSCOT; ONVG)


 Sistemas de informação geográfica
o Mapeamento do crime através da análise espacial
 Diagnósticos Locais de Segurança
o “Análise sistemática cujo objetivo é compreender o crime e os problemas
relacionados com situações de vitimização numa determinada comunidade,
identificando equipamentos e recursos que permitam uma atividade preventiva,
identifiquem as prioridades e apoiem o desenvolvimento de uma estratégia que
permita atingir os objetivos acordados”
o Diagnóstico local de segurança à escala comunitária
 Contextualizar em termos gerais a comunidade visada, enfatizando os
aspetos demográficos, económicos e outras características
 Analisar o crime e a violência e os problemas que lhes estão associados (ex.
problemas de ordem pública e atos antissociais), incluindo a escala, as
tendências, a distribuição e o impacto desses problemas
 Caracterizar vítimas e delinquentes (ex. género, idade, etnia, nse)
 Investigar padrões nos fatores de risco que têm probabilidade de contribuir
para a ocorrência do crime e da violência
 No que diz respeito à prevenção, avaliar a eficácia dos projetos e serviços
nas diferentes áreas (ex. saúde, habitação, apoio social, educação)
 Aferir a envolvente política e institucional de modo a identificar oportunidades
de desenvolvimento de atividades para a prevenção

14
 Identificar as oportunidades, forças e potencialidades da área (ex. capital
social, sociedade civil, projetos existentes onde a futura estratégia se
desenvolverá)

Módulo 2
DIFERENTES FORMAS DE CLASSIFICAR AS ESTRATÉGIAS PREVENTIVAS

 Dimensão temporal/ nível de desenvolvimento do problema


o Primária
o Secundária
o Terciária
 População/ grupo alvo
o Universal
o Seletiva
o Indicada
 Foco do trabalho- em termos de estratégias e destinatários
o Desenvolvimento social, comunitária, situacional, pela reintegração
o Estratégias centradas no ofensor, na vítima, no ambiente, na comunidade

VÁRIAS FORMAS DE PENSAR A PREVENÇÃO DO CRIME

 Prevenção social
 Prevenção comunitária
 Prevenção primária, secundária, terciária
 Estratégias centradas no ofensor, na vítima, no ambiente, na comunidade
 Prevenção situacional
 Prevenção pela reintegração
 Prevenção universal, seletiva, indicada

PREVENÇÃO UNIVERSAL, SELETIVA E INDICADA


Prevenção universal: trabalho direcionado para a população e locais em geral
Prevenção seletiva: trabalho dirigido a pessoas e locais identificados como estando numa
situação de maior risco do que a população em geral
Prevenção indicada: trabalho direcionado para pessoas e situações associadas a um alto risco

PREVENÇÃO PRIMÁRIA, SECUNDÁRIA E TERCIÁRIA

 Modelo de saúde pública


15
o Prevenção primária: ex: Vacinas
o Prevenção secundária: ex: testes de rastreio
o Prevenção terciária: ex: tratamento

PREVENÇÃO PRIMÁRIA

 Design ambiental e arquitetónico


o Técnicas para dificultar o crime (ex: planeamento arquitetónico para aumentar
visibilidade, iluminação; identificação da propriedade; controlo de acesso
 Neighborhood watch e patrulhas de cidadãos
o Capacidade dos residentes em aumentar o controlo; aumenta o risco para
potenciais ofensores
 Dissuasão geral
o Presença da polícia; sistema penal
 Educação sobre o crime e sobre a prevenção do crime
 Atividades de prevenção desenvolvimental
o Programas de intervenção precoce (ex: programas de competências parentais)
 Atividades de prevenção social
o Ações dirigidas a questões culturais que poderão subjazer ao crime (desemprego,
pobreza, etc)

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA

 Capacidade de identificação e predição de problemas (pessoas ou situações)


o Ex: consumo de álcool e droga como alvos
o Importância do contexto escolar
 Prevenção situacional do crime
o Identificação de problemas específicos e desenvolvimento de intervenções
direcionadas para os problemas identificados
16
o ex: alterações do design físico, melhorias na vigilância, policiamento comunitário
orientado para um problema

PREVENÇÃO TERCIÁRIA

 Dissuasão específica
o Atividades do sistema de justiça criminal relativamente a um indivíduo
 Tratamento e reabilitação

TIPOLOGIA BI-DIMENSIONAL DE PROJETOS DE PREVENÇÃO DO CRIME


PREVENÇÃO SOCIAL, SITUACIONAL, COMUNITÁRIA, PELA REINTEGRAÇÃO

 Prevenção social/ através do desenvolvimento social


o Promover o bem-estar e encorajar o comportamento pró-social
 Através de medidas sociais, económicas e de saúde pública
 Especial ênfase nas crianças e nos jovens
 Focalizado nos fatores de risco e de proteção associados com o crime e a
vitimação
 Prevenção comunitária/ Prevenção baseada localmente
o Modificar as condições das comunidades locais que influenciam a perpetração de
crime, a vitimação e a insegurança, a partir do comportamento, iniciativas e
expertise da comunidade
 Prevenção situacional
o Prevenir a ocorrência de crimes, reduzindo as oportunidades, aumentando os riscos
de se ser apanhado e minimizando os benefícios associados ao crime
 Através do design ambiental e assistência e informação a (potenciais) vítimas
 Programas de reintegração
o Prevenir a reincidência através da assistência na reinserção social dos ofensores e
outros mecanismos preventivos

17
CLASSIFICAÇÕES ALTERNATIVAS
Hunter divide a prevenção do crime em diferentes níveis, mantendo as distinções entre prevenção
primária, secundária e terciária.

 Nível micro: estratégias dirigidas a indivíduos, pequenos grupos, áreas circunscritas ou


pequenas empresas / comércio
o Focalizado em vulnerabilidades específicas
 Nível meso: estratégias dirigidas a comunidades / bairros ou a grupos mais alargados de
indivíduos ou de negócios (ex. cadeia de supermercados)
o Promove a cooperação
 Nível macro: estratégias dirigidas a comunidades alargadas, à sociedade como um todo
o Mudanças sociais (ex. alterações de práticas educativas; oportunidades de
emprego, mudanças legislativas)
Tonry & Farrington

 Desenvolvimental
 Comunitária
 Situacional
 Justiça criminal

Gordon, Farrington & Welsh

 Universal (população em geral)


 Seletiva (grupos em maior risco)
 Indicada (casos manifestos / ofensores)

Walklate

 Estratégias centradas:
o no ofensor
o na vítima
o no ambiente

18
o na comunidade

MÓDULO
3

PREVENÇÃO PRIMÁRIA

 Esforços para eliminar fatores no meio físico e social que constituem oportunidades para a
ocorrência do comportamento desviante.
 O objetivo será remover ou mitigar os aspetos criminógenos da sociedade.
 Exemplos:
o Prevenção através do design ambiental
o Iniciativas comunitárias locais
o O papel dos media
o A prevenção desenvolvimental
o Dissuasão geral

PREVENÇÃO DO CRIME ATRAVÉS DO DESIGN AMBIENTAL

 Objetivo: tornar o crime mais difícil de ocorrer e incrementar o sentimento de segurança


dos/as residentes.
o Através de alterações no design físico: reduzir as recompensas e aumentar o risco
associado ao comportamento.
 Ex: aumentar iluminação, melhorara fechaduras e portas, usar equipamento
de vigilância, etc.
 Surge a partir da noção de espaço defensivo de Oscar Newman.
o Espaço defensivo (Newman):
 “Modelo que inibe o crime ao criar uma expressão física de um tecido social
que se defende a si mesmo.”

19
 A ideia central é a de que as características físicas de uma área podem
influenciar tanto o comportamento dos/as residentes assim como o dos/as
potenciais ofensores/as.
 Para os/as residentes, a aparência e design de uma área podem gerar uma
atitude de maior cuidado, potenciando o contacto entre residentes,
conduzindo a progressivas ações para o controlo e eliminação do crime.
 Para os/as potenciais ofensores/as a aparência de uma área poderá sugerir
que os/as residentes a usam, cuidam e prestam atenção ao que ocorre,
intervindo se detetado um comportamento criminoso.
 Elementos do Espaço Defensivo de Newman: territorialidade; vigilância
natural; imagem e meio social.

ELEMENTOS DA PREVENÇÃO DO CRIME ATRAVÉS DO DESIGN AMBIENTAL

20
PREVENÇÃO DO CRIME ATRAVÉS DO DESIGN AMBIENTAL (2ª GERAÇÃO)

 Estudos de impacto dos programas de prevenção do crime através do design ambiental


o Produzem resultados contraditórios que poderão dever-se à pouca atenção aos
fatores sociais (ex: territorialidade, coesão social).
 A 2ª geração advoga a necessidade de:
o Incorporar os fatores e atividades sociais na prevenção.
o Considerar a configuração social das áreas/bairros a intervir, o capital social e a
coesão social (ex: vigilância organizada).
o Respostas orientadas para a comunidade
 Aumentar a interação e coesão sociais, os sentimentos de pertença e posse/
territorialidade e reduzir o medo.

DESIGN DE PRODUTO

 Design físico aplicado a objetos de forma a proteger do furto/ roubo ou do seu uso noutras
ofensas.
 Hot products- objetos mais suscetíveis a ser alvo de crime/ desejáveis:
o Concealable (ocultáveis)
o Removable (removíveis)
o Available (disponíveis)
o Valuable (valiosos)
o Enjoyable (agradáveis)
o Disposable (descartáveis)
 Exemplos:
o Sistemas de bloqueio de ignição ou da direção de carros
o Rádios removíveis
o Sistemas de localização
o Pacotes grandes para itens pequenos (menos ocultáveis)
o Alças mais fortes de carteiras/malas
o Caller ID- sistema de identificação dos telefones

INICIATIVAS COMUNITÁRIAS (PREVENÇÃO ORIENTADA PARA A COMUNIDADE)

 Procuram o envolvimento dos cidadãos em ações que deverão promover a coesão, a


participação e a ação comunitária, o sentido de controlo e a territorialidade que afetam o
crime e o medo do crime.
 Possíveis técnicas: neighbourhood watch, cooperação na defesa dos interesses da
comunidade, patrulha de cidadãos e design físico.
 Estratégia geral mais importante: envolvimento dos cidadãos que deve preceder outros
fatores, tais como o design físico.

21
ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL DA PREVENÇÃO BASEADA NA COMUNIDADE

NEIGHBORHOOD WATCH

 Objetivo de incrementar a consciencialização da comunidade e a resolução de problemas.


o Organização de grupos de residentes para discutir problemas da comunidade,
trabalhar para aumentar a identificação e a coesão comunitária e promover ações
conjuntas.
 Ações idealmente proativas
o Reconhecimento de problemas antes da sua ocorrência
o Identificação de recursos na comunidade (ex: escolas, famílias, redes comunitárias)
 Promoção do controlo social informal, sobretudo através da vigilância (“olhos e ouvidos” da
polícia)
o Incremento da capacidade de distinguir usuários legítimos de ilegítimos
o Atividades, tais como operações de identificação, inquéritos de segurança, crime
hotlines, organização de controlo parental, melhoria da iluminação, serviços de
acompanhamento, contratação de vigilantes e outras formas de vigilância
organizada, serviços de assistência a vítimas e testemunhas.
 Exemplo de programa de controlo parental- Block Parent

PATRULHAS DE CIDADÃOS

 Elemento chave do neighborhood watch.


 Propósito de detetar estranhos numa dada área e crimes em progresso.
22
 Os residentes não são encorajados a intervir fisicamente: a simples presença destes
grupos ou pessoas deverá dissuadir criminosos/as.
 Variações deste método incluem o Whistle Stop.
o Exemplo de um programa- Guardian Angels

PREVENÇÃO DO CRIME ATRAVÉS DOS MEDIA

 Programas direcionados a uma maior amplitude de audiências (população em geral).


 Objetivos (Bowers & Johnson)
o Aumentar o risco para os/as ofensores/as
o Aumentar o risco percebido para os ofensores/as

o Encorajar práticas de segurança


o Tranquilizar o público

CAMPANHA DE PREVENÇÃO MCGRUFF

 Instituído nos finais dos anos 70.


 Programa “Taking a Bite out of Crime”.
 Objetivos:
o Alterar as perceções do público sobre o crime e o sistema de justiça criminal-
componente educacional: visão realística do crime e do papel da justiça criminal.
o Gerar responsabilidade social para a prevenção do crime.
o Promover a cooperação entre os cidadãos e o sistema de justiça criminal.
o Promover os esforços de prevenção existentes.
 Temas:

23
o Segurança em casa, neighborhood watch, comunidades seguras, proteção de
crianças e jovens, prevenção do abuso de substâncias nas crianças e jovens,
segurança online, usurpação de identidade, fraude contra idosos…

OUTRAS ATIVIDADES DE PREVENÇÃO DO CRIME ATRAVÉS DOS MEDIA

 Newsletters/ Folhetos Informativos


o Direcionadas a audiências mais limitadas atendendo às suas especificidades.
o Conteúdos sobre o/s crime/s e medidas de prevenção- instrumento educativo.
 Níveis e tipos de crime
 Áreas/grupos mais vulneráveis e problemas associados
 Informação sobre ofensores
 Técnicas de autoproteção
 Meios de denúncia
 Localização das forças policiais ou de outros recursos
 Linhas de informação
o Solicitação ao público de informação sobre crimes.
o Ex: crime Stoppers
 Garante o anonimato da denúncia e recompensa
 1193 programas em 24 países
 Publicidade de uma estratégia/ programa de intervenção pode ter impacto por si só
na redução do crime
o Ex: implementação de CCTV
o Benefício antecipatório ao alterar a perceção do risco e recompensa para os
ofensores
 Resposta prévia à implementação do programa
o Vários estudos reconhecem a influência direta da publicidade na diminuição do
número de crimes.

PREVENÇÃO DESENVOLVIMENTAL DO CRIME

 Foco no potencial dos indivíduos para se tornarem criminosos/as.


 Pressuposto: atividade criminal e desviante é o resultado de experiências precoces e da
aprendizagem.
 Procura enfrentar as causas numa fase precoce do processo para mitigar os fatores que
colocam os indivíduos em posições de maior vulnerabilidade para o cometimento de atos
delinquentes ou criminosos.
o Pressuposto positivista: crime é causado por fatores não controlados pelo indivíduo
(capacidade de escolha é limitada por estes fatores).
o Parte da identificação de fatores de risco- aqueles que mais fortemente influenciam
as escolhas e comportamento do indivíduo.
 Não encaixa necessariamente na prevenção primária.
 Fatores de risco e prevenção desenvolvimental

24
o A lista de fatores de risco para a delinquência e criminalidade é extensiva. Poderá
ser agrupada em categorias:
 Fatores individuais/psicológicos, familiares, do grupo de pares, da
comunidade e da escola.
 Nem todos os fatores de risco são modificáveis e, por isso, alvo dos
programas de intervenção (ex. idade, sexo, etnia)
o A prevenção desenvolvimental revela particular atenção com os fatores individuais e
familiares.
o Fatores de risco individuais:
 Baixo nível de inteligência e insucesso escolar
 Baixo nível de empatia
 Impulsividade
 Pobres competências sociocognitivas
o Fatores de risco familiares:
 Criminalidade familiar
 Famílias numerosas
 Pobre supervisão parental
 Estratégias punitivas severas
 Vinculação familiar pobre/fria
 Negligência e maus tratos infantis
 Famílias desestruturadas

PROGRAMAS: TREINO DE COMPETÊNCIAS

 Procuram ensinar as crianças a reconhecer situações problemáticas e a reagir de forma


apropriada.
o Treino de autocontrolo, controlo da raiva, reconhecimento de sentimentos e
emoções, construção de uma autoimagem positiva, identificação das necessidades
dos outros, resolução de problemas.
 Ex. Promoting Alternative Thinking Strategies (PATHS).
o Aplicado nas aulas do Ensino básico
o Procura reduzir problemas comportamentais e emocionais ao desenvolver
competências de autocontrolo e resolução de problemas.
o Impacto evidenciado ao nível da capacidade de resolução de problemas, da
hiperatividade, dos problemas de comportamento autorrelatados e reportados
pelos/as professores e da agressão entre os pares.

PROGRAMAS: TREINO DE COMPETÊNCIAS PARENTAIS

 Foco na preparação e capacidade dos pais em providenciar um ambiente apropriado para


o desenvolvimento das crianças.
 Ex. Elmira Prenatal/ Early Infancy Program
o Tem como alvo a fase mais precoce do desenvolvimento da criança.
 Mães solteiras, jovens, com nse baixo, grávidas pela 1ª vez.

25
o Visitas domiciliárias de enfermeiros/as desde o início da gravidez até ao 2º
aniversário da criança.
o Foco em 3 áreas:
 Saúde e atividades saudáveis da criança e da mãe/ cuidados apropriados à
criança/ competências pessoais e sociais para as mães.
o Resultados: redução da negligência e maus tratos infantis e o follow-up (15 anos)
revelou menos fugas de casa, menos detenções e menos abuso de substâncias por
crianças alvo do programa e menos detenções das mães.
 Ex. Incredible Years
o Os alvos são famílias cujas crianças apresentam precocemente problemas de
comportamento.
o Dividido em diferentes programas: 0-3 anos; 3-6 anos e 6-12 anos.
o Os pais recebem treino de competências parentais sobre como reconhecer e lidar
com os comportamentos problemáticos dos filhos e como estabelecer regras e usar
incentivos.
o A componente com as crianças centra-se no reconhecimento de emoções, como
lidar com a raiva, nas respostas apropriadas a situações problemáticas e nas
competências educacionais.
o O treino dos/as professores/as foca-se na gestão em sala de aula, no
desenvolvimento de competências com os/as jovens, na gestão de problemas de
comportamento e nas práticas disciplinares.
o As avaliações deste programa são consistentemente positivas.

PROGRAMAS: PROGRAMAS PRÉ-ESCOLARES

 Centram-se na preparação precoce das crianças para a escola


o Desenvolvimento de competências básicas e de uma atitude positiva perante a
escola.
 Ex. Programa Perry Preschool
o Introduz de forma positiva a criança no sistema educativo
 Envolvimento da criança no planeamento de atividades
 Estabelece um rácio professor/a-crianças baixo
 Promove o reforço do desempenho dos/as alunos/as
 Promove o envolvimento dos pais através de visitas domiciliárias
o Sujeitos-alvo provêm tipicamente de famílias de nível socioeconómico baixo,
afroamericanas, tipicamente com níveis baixos de educação parental,
desempregadas e monoparentais.
o Os alvos (crianças) foram avaliados periodicamente até aos 40 anos de idade com
resultados positivos quer ao nível académico quer ao nível dos comportamentos
delinquentes/criminais.

PROGRAMAS: PROGRAMAS MULTICOMPONENTES

26
 Estabelecem tipicamente como alvos jovens que já demonstram comportamentos
antissociais ou delinquentes (prevenção terciária).
 Reconhecem a necessidade de focar em fatores que conduzem ao comportamento
desviante e evitar que os/as jovens desenvolvam mais condutas problemáticas.
o Intervenção o ais precoce possível (tipicamente no início da adolescência).
 Utilizam uma variedade de abordagens interventivas/ diferentes estratégias.
 Ex. Communities That Care
o Não pressupõe um conjunto de estratégias ou programa pré-estabelecido.
o Requer a análise dos problemas que dada comunidade enfrenta, a identificação dos
fatores de risco presentes e o desenvolvimento de uma intervenção desenhada
especificamente para a situação e as necessidades do problema.
o Tem como alvos múltiplos fatores de risco para além dos individuais e familiares.
o Pressupõe o envolvimento de vários indivíduos e recursos.
o Os resultados são apenas evidenciados a longo-prazo mas são promissores.
o O desenvolvimento de intervenções é feito em várias fases:
 Fase 1- Preparação da comunidade
 Definir a comunidade
 Avaliar a motivação da comunidade relativa ao programa
 Identificar possíveis participantes
 Fase 2- Organização e formação
 Convidar um número alargado de participantes da comunidade
 Formar subgrupos para tópicos específicos
 Educar participantes sobre a avaliação do risco e a prevenção
 Fase 3- Análise
 Avaliar o risco
 Incluir toda a comunidade
 Listar os recursos disponíveis e necessidades da comunidade
 Fase 4- Desenvolvimento de um plano compreensivo
 Criar um plano compreensivo
 Definir resultados
 Identificar programas/estratégias a implementar
 Desenvolver um plano de avaliação
 Implementar os programas
 Fase 5- implementação e avaliação
 Implementar o plano
 Avaliar o impacto
 Analisar as operações do programa
 Identificar alterações necessárias
 Implementar alterações

DISUASSÃO GERAL

 A ação do sistema de justiça criminal tem como objetivo a eliminação do crime através da
dissuasão.
27
o “Influência pelo medo”, “prevenção geral”
o Potenciais ofensores abstêm-se do ato criminal pelo medo da punição
o Não é necessário que ocorra a experiência de punição para que o indivíduo detenha
o comportamento: a ameaça da punição poderá ser suficiente.
 Dissuasão Geral
o Previne o ato antes da sua ocorrência (Prevenção Primária)
o Direcionada a qualquer potencial ofensor/a
o Punição de uma pessoa serve de exemplo às restantes
 Dissuasão Específica
o Esforços para impedir que um/a ofensor/a viole novamente a lei
o A experiência de punição deverá prevenir a reincidência (Prev. Terciária)
 A dissuasão baseia-se na existência de 3 fatores:
o Severidade: os custos associados à punição devem sobrepor-se à recompensa do
ato criminal.
o Certeza: possibilidade de ser apanhado e punido. A ação criminal deve implicar uma
resposta punitiva (das agências de controlo formal).
o Celeridade: rapidez da resposta. A punição contingente à ação tem maior impacto:
associação do prazer à dor.

IMPACTO DA DISSUASÃO

 Investigação falha em encontrar argumentos fortes de que a lei e sanções associadas


tenham impacto significativo nas taxas de crimes.
 A severidade tem pouca influência no comportamento.
o Poderá dever-se à falta de conhecimento sobre as sanções em vigor.
 O resultado mais promissor aponta para que o aumento da certeza de ser apanhado e
punido resulta na redução do crime. Logo, os esforços devem concentrar-se no aumento
do risco (ou da perceção do mesmo) para os ofensores.
 O poder punitivo do sistema de justiça criminal não é suficiente para deter indivíduos
motivados da prática de atos criminosos.
 São necessárias técnicas de prevenção, como auxiliares do sistema de justiça, para
aumentar o risco (percebido) de punição.

PREVENÇÃO SECUNDÁRIA

 Foco em indivíduos, contextos, situações que apresentam potencial para o desvio.


 Ênfase continua a ser na prevenção antes da ocorrência do crime.
 Identificação do risco
o Baseia-se na ideia da identificação e da previsão
 Identificação de potenciais ofensores, contextos ou situações com maior
probabilidade de ocorrência da atividade criminal.
 Quem se tornará desviante? Quando e onde irá ocorrer o crime? Quem serão
as vítimas? Quais serão os alvos?

28
PREVER O COMPORTAMENTO DESVIANTE/CRIMINAL
1. O que prever? Risco
o Mais comum é a reincidência
o Âmbito da Prevenção II: Potencial envolvimento em atividades criminais
2. Escolher as variáveis
o Identificar os melhores preditores fatores de risco
3. Grau de precisão da previsão
o Objetivo: maximizar previsões verdadeiras; minimizar os erros
o Falsos positivos: prevê-se que um indivíduo se irá envolver em atividades
criminosas, mas não age dessa forma- indesejáveis de uma perspetiva da liberdade
e direitos individuais.
o Falsos negativos: não se considera que o indivíduo é uma ameaça, mas este acaba
por se envolver em atividades criminais- implicações para a segurança da
sociedade.

PREVER ESPAÇOS E SITUAÇÕES

 Prever o espaço, o tempo e os alvos do crime:


o Permite uma melhor distribuição dos esforços e dos recursos.
o Permite orientar as atividades de prevenção a partir da perspetiva da vítima (em vez
do potencial ofensor).
 Hot Spots:
o “pequenos espaços em que a ocorrência do crime é tão frequente que se torna
altamente previsível, pelo menos durante um período de um ano” (Sherman).
o Análise espacial e temporal das ocorrências do crime.
o Exemplos:
 Localização- empresas, escolas, edifícios abandonados…
 Período temporal- final da tarde, noite, fim-de-semana, férias…
o Rengert identificou hot spots relacionados com o furto em Filadélfia.
 Localização dos hot spots varia de acordo com os diferentes períodos
temporais.
 Atrações turísticas e instituições de educação como hot spots durante o dia.
 Locais de entretenimento e bares como hot spots durante a noite.
o É importante considerar a estabilidade dos hot spots no tempo:
 A concentração do crime identificada é transitória ou persistente?
 As iniciativas de prevenção deverão acompanhar a deslocalização.
 Mapeamento prospetivo: criação de mapas que predizem localizações futuras
de crime baseada no conhecimento dos eventos recentes.
 Hot Products:
o Itens que atraem a atenção dos criminosos/as (especialmente em casos de furto ou
roubo) e que poderão explicar a existência e a distribuição dos hot spots.
o Craved: ocultáveis; removíveis; disponíveis; valiosos; agradáveis; descartáveis.
 Vitimação repetida:
29
o Pessoas ou espaços alvos de vitimação pelo menos uma segunda vez após um
primeiro evento de vitimação criminal.
o Maioria das repetições ocorre num curto intervalo de tempo.
 Útil para a planificação temporal das atividades de prevenção.

EXPLICAÇÕES PARA A VITIMAÇÃO REPETIDA

 A vitimação prévia (ou outro fator) identifica a vítima ou o local como alvo apropriado para
vitimação futura.
 O mesmo ofensor comete outra ofensa baseado na experiência passada com essa vítima
ou local: replicação de experiências de sucesso.
 A informação sobre a vitimação repetida permite:
o Melhor distribuição de recursos (ex: polícia, foco em hotspots).
o Focar nos alvos que apresentam maior risco.
o Pensar em formas de prevenção informadas pelas ofensas passadas.

PREVENÇÃO SITUACIONAL

 Estratégias direcionadas a problemas, locais, tempo e pessoas específicos.


 Parte da identificação do problema: ações focalizadas.
 Tem como base o trabalho de prevenção do crime do Home Office (Reino Unido) nos anos
70.
 A prevenção situacional do crime contempla medidas (segundo Clarke)
o Direcionadas a formas de crime altamente específicas.
o Que envolvem a gestão, o design ou a manipulação do meio imediato de forma o
mais sistemática e permanente possível.
o Que reduzam as oportunidades para o crime e aumentem os riscos para um número
abrangente de ofensores.
 Base teórica: Teorias da Oportunidade
o Teoria da Escolha Racional:
 A decisão do indivíduo em cometer um crime é baseada:
 No esforço necessário;
 Na recompensa potencial;
 No grau de apoio dos pares para ação;
 No risco de ser apanhado e de punição;
 Nas necessidades do indivíduo;
 Tomada de decisão é ponderada pela avaliação dos custos e dos benefícios:
avaliação da oportunidade.
o Teoria das Atividades de Rotina:
 As atividades diárias das vítimas e ofensores criam oportunidades para o
crime.
 O crime resulta da convergência de três elementos no tempo e no espaço:
 Ofensor motivado para cometer o crime.
 Alvo apropriado.
30
 Ausência de guardiões capazes.
o Teoria dos Estilos de Vida:
 Focalizada na atividade da vítima.
 O estilo de vida de um indivíduo e as suas escolhas comportamentais
determinam a vulnerabilidade à vitimação pela exposição ao risco.
o Teoria do Padrão Criminal:
 O comportamento criminal reproduz padrões que poderão ser entendidos em
termos de quando e onde o crime ocorre.
 Semelhanças relativas ao evento criminal, local, situação, contexto, modelo
do crime, eventos precipitantes e fatores que influenciam a preparação e a
vontade dos indivíduos cometerem crimes.

 Infratores reincidentes, vítimas repetidas, locais repetidos


 Análise das ofensas passadas fornece informação para a prevenção.

TIPOLOGIAS DE PREVENÇÃO SITUACIONAL

 Desenvolvimento e melhoria progressiva de uma tipologia situacional.


 Cinco técnicas principais de medidas situacionais, 25 técnicas de prevenção situacional.

31
 Críticas e Refutações:

EXEMPLOS DE PREVENÇÃO SITUACIONAL

 Transportes públicos: vandalismo e viajar sem bilhete


o Monitores / vídeo nos autocarros e obrigatoriedade dos/as passageiros/as entrarem
pelo lado do condutor/a.

32
o Novos tipos de bilhetes e máquinas para pagamento, promoções para aquisição de
passes.
o Portas automáticas no metro de Londres.
o Graffiti no metro de Nova Iorque
 Pinturas “antigraffiti” e presença de seguranças não funcionaram.
 Impedir que o trabalho fosse visto: as carruagens só estão em serviço se
limpas.
 Furto de veículos
o Impacto positivo dos sistemas de imobilização de direção e de ignição.
 Sistema de imobilização eletrónica obrigatório na UE desde 1995
o Furtos de motociclos diminuiu a partir da obrigatoriedade do uso de capacete.
o Alterações nos parques de estacionamento: restrição do acesso; melhoria da
iluminação; videovigilância; eliminar obstáculos à observação.
 Outros furtos
o Identificação eletrónica da propriedade (ex. identificação dos livros da biblioteca,
sistema de alarmes nas lojas e supermercados).
o Diminuir o congestionamento de pessoas nas lojas de forma a aumentar a vigilância
(ex. alargar corredores).
o Demarcar zonas de segurança e colocar espelhos no multibanco.
o Usurpação da identidade: programas antivírus; encriptação dos dados de forma a
inutilizar informação e os computadores roubados; banir as pens drives que podem
captar dados de outros computadores; métodos de validação de identidade nos
pagamentos com cartão de débito ou crédito (cartão do cidadão), chips e PINs..
 Revitimação
o Identificação dos alvos de vitimação para implementar medidas.
 Incrementar a segurança física dos domicílios; instalação de alarmes.
 Demarcação e identificação de propriedades.
 Neighborhood watch direcionado a um pequeno grupo de casas.
 Abuso sexual de menores
o Internet aumenta a capacidade de abusadores de menores interagir e atraírem
vítimas e aumenta o suporte social.
 Bloqueio de páginas da internet por parte dos pais.
o Aumentar o esforço dos potenciais ofensores em entrar em áreas onde estão
crianças; triagem específica nos empregos que lidam diretamente com crianças.
o Limitar o acesso a pornografia infantil e o contacto com outros ofensores.
 Crime organizado
o Prostituição organizada.
 Desativar estabelecimentos e gerir a permissão de negócios.
 Renovação da área para atrair usuários e estabelecimentos legítimos.
o Tráfico humano.
 Promover formas legítimas de (i)emigração.
 Aumentar controlo nas fronteiras.
o Produção e distribuição de droga.
 Limitar a disponibilidade das substâncias e material necessário para a
produção (ex. ectasy).
33
Controlo nas fronteiras: revista de passageiros e bagagem (ex. body
screening).
 Violência coletiva (controlo de multidões)
o Festas de estudantes, protestos e manifestações, eventos desportivos ou de
entretenimento.
o Considerar o ciclo do ajuntamento desde o planeamento à dispersão.
o Considerar as características do local, do evento, do staff e dos potenciais
problemas.
o Barreiras de controlo de multidões, limitar o acesso ao campo ou palco, providenciar
parques de estacionamento adequados e lugares marcados.
o Limitar a disponibilidade de álcool, remover espectadores que estejam a perturbar,
manter a distância entre grupos rivais, revista aos participantes.

VÉRTICES DE ATUAÇÃO COM OFENSORES

 Punir
 Controlar
 Tratar

PREVENÇÃO TERCIÁRIA

 Foco na eliminação do comportamento reincidente por parte dos ofensores.


o Ação do sistema de justiça formal- punição/controlo.
o Reabilitação.

DISSUASÃO ESPECÍFICA

 É direcionada a ofensores/as, prevenindo a sua reincidência.


 Consiste na imposição de sanções sobre um indivíduo com o objetivo de que este não
reincida após a aplicação ou o período de punição.
 Princípio de que a imposição de sanções/punição se sobrepõe ao prazer/vantagem
alcançada pela atividade criminal.

INCAPACITAÇÃO

 Prevenção do crime por parte do ofensor, através do seu controlo.


o Impossibilidade física de atividade criminal na sociedade.
o Redução do crime durante o período de detenção.
o Detenção e pulseira eletrónica.
 Incapacitação coletiva: imposição de sentenças para todos que exibem o mesmo
comportamento, sem considerar as especificidades do indivíduo.
 Incapacitação seletiva: enfatiza a identificação de ofensores de alto risco e uma
intervenção (punição) direcionada para estes especificamente.
34
o Aqueles que constituem maior ameaça- maior risco- para a sociedade deverão
receber penas mais longas.
o Three-strikes laws.

VIGILÂNCIA ELETRÓNICA
Vantagens:

 Menor sobrelotação dos estabelecimentos prisionais.


 Permite melhor supervisão dos ofensores na comunidade.
 Redução de custos.
 Permite um nível intermédio de punição.
 É um método mais humano (vs. detenção).
 Assiste a reintegração do ofensor ao possibilitar a manutenção de laços familiares e a sua
rede de suporte.

REABILITAÇÃO

 Martinson (1974) ― “with few and isolated exceptions, the rehabilitative efforts that have
been reported so far have had no appreciable effect on recidivism”.
o “Nothing works”
 “What Works”?
o Estudos de meta-análises revelam que o tratamento de ofensores pode ter um
pequeno efeito, mas significativo em termos da redução da reincidência.
 10 a 15 %
 O efeito reduzido pode ser promovido, realizando programas de “elevado
impacto”.
o Programas específicos para ofensores específicos.
o Princípios do risco, necessidade e responsividade.
o Foco no comportamento abusivo do ofensor de alto-risco.
o Programas de desenvolvimento de competências interpessoais, intervenções
cognitivo-comportamentais, abordagens multimodais e programas baseados na
comunidade.
o Programas estruturados com objetivos bem definidos, orientados por técnicos
especializados, apoiados, geridos e avaliados pelas instituições.

JUSTIÇA RESTAURATIVA

 "É um processo no qual a vítima, o infrator e/ou outros indivíduos ou membros da


comunidade afetados por um crime participam ativamente e em conjunto na resolução das
questões resultantes daquele, com a ajuda de um terceiro imparcial.”
 Reparação do dano relativo à vítima e à comunidade.
 Pressupõe que o ofensor poderá beneficiar do processo.
 Junta as diferentes partes interessadas num contexto não confrontativo.
35
 Os participantes, enquanto grupo, procuram compreender o que conduziu ao
comportamento antissocial ou criminal e os sentimentos e preocupações de todas as
partes.
 Objetivo de negociar ou mediar uma solução que agrade a todos e assistir a sua
implementação.
 Os autores do crime (infratores) têm oportunidade de:
o assumir a responsabilidade pelo seu ato;
o explicar o porquê da prática do crime;
o tomar consciência dos efeitos do crime na vítima e compreender a verdadeira
dimensão humana das consequências do seu comportamento, o que mais
facilmente conduzirá ao seu verdadeiro arrependimento;
o pedir desculpa;
o proporcionar à vítima justa reparação pelos danos causados;
o atuar no futuro de acordo com a experiência e conhecimentos entretanto adquiridos;
o aumentar o nível de autoconhecimento e de autoestima;
o promover a sua reinserção social – reabilitando-o junto da vítima e da sociedade e
contribuindo para a redução da reincidência.
 Modelos de justiça restaurativa
o Mediação vítima-infrator / penal:
 Presença de mediador treinado, vítima e infrator.
 Identificação do tipo e nível de dano sofrido pela vítima.
 Foco na reparação do dano da vítima, ajudar a vítima a ultrapassar a
experiência de vitimação, restaurar a comunidade ao estádio pré-crime e
reintegrar o ofensor.
 O resultado deverá será ser uma resolução do agrado de todos.
o Conferência familiar (family group conference):
 Inclusão de familiares, amigos próximos e outros grupos de suporte da vítima
e ofensor.
 Espera-se que estas pessoas possam responsabilizar-se pela monitorização
do ofensor e que as resoluções alcançadas sejam cumpridas.
 Presença de facilitador que procura que as discussões sigam uma orientação
Positiva.
o Painéis comunitários de reparação (community reparative boards):
 Tipicamente direcionados para jovens ofensores não violentos.
 Procura a restauração aos estádio pré-crime das vítimas e comunidades.
 Procura que o/a ofensor/a se consciencialize do impacto das suas ações.
 Aberto ao público.
 São sugeridas ações que devem ser implementadas pelo ofensor e que são
supervisionadas pelo painel.
o Encontros restaurativos (conferencing) / comités de decisão de penas (sentencing
circles):
 Participação das partes interessadas na determinação da sanção.
 A todos é dada a oportunidade de expressar os seus sentimentos e opiniões.
 A resolução deverá consistir num plano de ação consensual entre os
participantes e obrigatório para o/a ofensor.

36

Você também pode gostar