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Fundamentos e conceitos

básicos da
Epistemologia Genética
Por: Bruno Peixoto Carvalho
Textos de referência
ALMEIDA, A. V.; FALCÃO, J. T. R. Piaget e as teorias da evolução orgânica. Psicologia: reflexão e
crítica. v. 21, n. 3. 2008.
CAMPOS, R. H. F.; NEPOMUCENO, D. M. Funcionalismo europeu: Claparède e Piaget em Genebra,
e as repercussões de suas ideias no Brasil. In: JACÓ-VILELA, A. M..; FERREIRA, A. A. L..;
PORTUGAL, F. T. (Orgs.). História da psicologia – rumos e percursos. Rio de Janeiro: Nau, 2005.
MACHADO, D. D-S. Jean Piaget: kantismo evolutivo e influência rousseauniana. Kínesis, v. 7, n. 15,
dez. 2015.
PALANGANA, I. C. Desenvolvimento e aprendizagem em Piaget e Vygotsky: a relevância do
social. São Paulo: Plexus, 2005.
WADSWORTH, B. J. Organização intelectual e adaptação. In: WADSWORTH, B. J. Inteligência e
afetividade da criança na teoria de Piaget. São Paulo: Pioneira, 1993.
Um pouco (bem – Atuou jundo a Claparède no Instituto
pouco) de J. J. Rousseau: centro mundial do
movimento escolanovista
contexto – Travou contato com a psicologia
diferencial (testagem) e com a
psicanálise;
– Trabalhou na avaliação de
inteligência de crianças no laboratório
da Sorbonne
Objeto da Psicologia Genética

O desenvolvimento do
conhecimento (ontogeneticamente
tomado como intelecto)

Como o conhecimento avança de


suas formas mais primitivas às
mais abstratas?
As influências do pensamento
piagetiano
• O Funcionalismo
- Qual função de algo?
- Para que serve?
- O ponto de vista genético-funcional
O conceito de autorregulação em
Claparède "Todo organismo vivo é um sistema que
tende a conservar-se intacto. Desde que se
lhe rompa o equilíbrio interior (físico-
químico), desde que comece a desagregar-
se, ele efetua os atos necessários à sua
reconstrução. É o que os biólogos chama de
auto-regulação. Pode-se pois definir a vida
como o perpétuo reajustamento de um
equilíbrio perpetuamente rompido. Toda
reação, todo comportamento, tem sempre
por função a manutenção, a preservação
ou a restauração da integridade do
organismo." (CLAPARÈDE apud CAMPOS;
NEPOMUCENO, 2007).
O conceito de inteligência em
Claparède

"[…] um instrumento de adaptação,


que entra em jogo quando falham os
outros instrumentos de adaptação, que
são o instinto e o hábito." (apud
CAMPOS; NEPOMUCENO, 2007).
O conceito de inteligência em
Jean Piaget
Esquemas: estruturas de ação (formas
de apreender o mundo)

Invariantes funcionais: organização e


adaptação (assimilação, acomodação,
equilibração)

Equilibração majorante
A continuidade dos processos
biológicos
"A inteligência verbal ou refletida repousa na
inteligência prática ou sensório-motora, que se
apoia em hábitos e associações que são adquiridos
para voltarem a se combinar. Estas associações
pressupõem, por outro lado, o sistema de reflexos
cuja relação com a estrutura anatômica e
morfológica do organismo é evidente. Há, pois,
uma certa continuidade entre a inteligência e os
processos puramente biológicos de morfogênese e
de adaptação ao meio." (PIAGET, 1970, p. 15)
A invariantes "A inteligência é uma adaptação.
Para apreender as suas relações
funcionais com a vida em geral é necessário
determinar quais as relações que
existem entre o organismo e o
meio ambiente. De fato, a vida é
uma criação contínua de formas
cada vez mais completas, uma
busca progressiva do equilíbrio
entre essas formas e o meio."
A invariantes “Dizer que a inteligência é um caso
particular da adaptação biológica é
funcionais supor que é essencialmente uma
organização cuja função é estruturar
o Universo, como o organismo
estrutura o meio imediato. Para
descrever o mecanismo funcional do
pensamento em termos
verdadeiramente biológicos basta
encontrar os invariantes comuns a
todas as estruturações de que a vida
é capaz.”
As funções: “Se chamarmos acomodação ao
organização e resultado das pressões exercidas pelo
meio, podemos então dizer que a
adaptação adaptação é um equilíbrio entre a
assimilação e a acomodação. Esta
definição aplica-se também à própria
inteligência. A inteligência é de fato
assimilação na medida em que
incorpora todos os dados da
experiência.” (PIAGET, 1970, p. 19)
"Quaisquer que sejam as diferenças de natureza que separam a vida
orgânica (a qual elabora materialmente as formas, e assimila desta as
substâncias e as energias do meio ambiente), a inteligência prática ou
sensório-motora (que organiza os atos e assimila ao esquematismo
destes comportamentos motores as situações que o meio oferece) e a
inteligência reflexiva ou gnóstica (que se contenta em pensar as formas
ou em construí-las interiormente para lhes assimilar o conteúdo da
experiência), tanto umas como as outras se adaptam assimilando os
objetos ao sujeito." (p. 19)
"Resumindo, a adaptação intelectual,
como qualquer outra, é uma equilibração
progressiva entre um mecanismo
assimilador e uma acomodação
complementar. O espírito só se pode
considerar adaptado a uma realidade
quando há uma acomodação perfeita, isto
é, quando nada nesta realidade modifica
os esquemas do sujeito." (p. 19).
"Ela [a inteligência] não aparece, pois, como um poder de
reflexão independente da situação particular que o
organismo ocupa no Universo, mas está ligada desde o início
por a priori biológico: não tem nada de um independente
absoluto, mas é uma relação entre outras, entre o organismo
e as coisas.(p. 21) "
A teoria piagetiana como uma
proposta evolucionista
"[...] a obra de Jean Piaget como
uma retomada da problemática
kantiana que se resolverá à luz
da Biologia e da concepção do
ser humano como um animal
simbólico. (RAMOZZI-
CHIAROTTINO apud MACHADO,
2015)"
"A vida é essencialmente auto-regulação. A
explicação dos mecanismos evolutivos,
encerrada por muito tempo na alternativa
sem saída entre o lamarckismo e o
neodarwinismo clássico, parece encontrar
seu caminho na direção de um tertium, que é
cibernético e se orienta efetivamente no
sentido da teoria da auto-regulação [...] Os
processos cognoscitivos aparecem então
simultaneamente como a resultante da auto-
regulação orgânica, da qual refletem os
mecanismos essenciais, e no âmbito das
interações com o exterior, de tal maneira que
acabam, no homem, por estendê-las ao
universo inteiro. (PIAGET, apud ALMEIDA;
FALCÃO, 2008)."
A influência do kantismo
– Kant: nossa apropriação do mundo (o que eu posso conhecer) está determinada pelos aprioris (estruturas) da
razão
– A noção de tempo e espaço é anterior à experiência e estruturam a experiência
– Estruturas das quais todo sujeito é dotado e por meio das quais apreende o mundo lá fora
– Não é possível conhecer a essência das coisas, pois o conhecimento está restringido pelas faculdades da razão
– Os objetos tocam os sentidos > a intuição os organiza sob a forma de tempo e espaço > o entendimento explora
as relações do objeto
– Em síntese: o que pomos nós no mundo
– Kant: contra o idealismo racionalista e o empirismo
– Papel ativo do sujeito na produção de conhecimento
– Piaget: esquemas (motores) a priori, a partir dos quais, na interação do organismo com o meio, o sujeito estende
as suas funções
– Os aprioris piagetianos: organização e adaptação
"Segundo Piaget, a estrutura cognitiva possui uma
lógica de funcionamento que é necessariamente um
a priori, na medida em que depende dela a
construção do conhecimento. Postulado isto, é
possível questionar o paralelo entre Kant e Piaget,
argumentando que, para o primeiro, o a Priori é
absolutamente transcendental, enquanto para o
segundo, este a priori adquire conotações
biológicas, orgânicas. Por outro lado, ainda que tais
argumentos sejam pertinentes, fica patente que, em
ambos, o a priori cumpre sempre a mesma função:
tanto para Kant como para Piaget, a priori é
condicionante, ou melhor, possibilitador da própria
construção do conhecimento." (PALANGANA)
“Piaget especifica quatro fatores como sendo responsáveis
pela psicogênese do intelecto infantil: o fator biológico,
particularmente o crescimento orgânico e a maturação do
sistema nervoso; o exercício e a experiência física, adquirida
na ação empreendida sobre os objetos; as interações e
transmissões sociais, que se dão, basicamente, através da
linguagem e da educação; e o fator de equilibração das
ações.” (PALANGANA)
"Piaget afirma que o importante para o desenvolvimento
cognitivo não é a seqüência de ações empreendidas pela
criança, consideradas isoladamente, mas sim o esquema
dessas ações, isto é, o que nelas é geral e pode ser
transposto de uma situação para outra. Lembra ainda que,
em sendo o esquema concebido como resultado direto da
generalização das próprias ações, ele não é, absolutamente,
de natureza perceptível. (PALANGANA)"
"O esquema é a condição primeira da ação, ou seja, da troca
do organismo com o meio. Ele é engendrado pelo
funcionamento geral de toda organização viva, a adaptação.
O organismo com sua bagagem hereditária, em contato com
o meio, perturba-se, desequilibra-se e, para superar esse
desequilíbrio, ou seja, para adaptar-se, constrói os
esquemas" (CHIAROTTINO, 1984, p. 34)"

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