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O encontro da fé e as obras
Por
“Ouvir”, nesse texto, vem do grego akouó (de onde surge a palavra “acústica”),
significando “ouvir, escutar, prestar atenção”. Akouó é a palavra grega utilizada para
traduzir a palavra “ `s´emã” (shema) do A.T para o N.T (notoriamente, a advertência
de Deut.6.4: “Ouça Israel”).
Ouvir era aceitar confiantemente que tudo o que Jesus falava era verdade, por
isso, dar ouvidos à sua voz era a mesma coisa que ouvir o Pai (João 10:10,11) e uma
condição para a salvação (João 5.24, 25). Era tornar-se seu discípulo, que Ele
identificou como uma ovelha que ouve a voz do seu pastor (João 10.25 -27).
Portanto, dar ouvidos a Jesus é confiar nEle, crer em suas palavras, crer que
Ele fala a verdade. Essa confiança se expressa em obediência, e também em amor:
“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, este é o que me ama” (João
14.21).
1
https://biblehub.com/interlinear/matthew/7-24.htm
Capítulo1
FÉ E OBRAS EM JESUS
Sendo salvo por Cristo, por ser justificado pela fé, demonstrada na adoração a
Deus e no perdão ao próximo, como resultado do amor e obediência vinda da
confiança de que a palavra de Jesus é a verdade, tem-se a certeza da vida eterna
pelo selo do Espírito Santo, e a esperança da ressurreição quando ocorrer o Dia do
Senhor, em que Ele fará o julgamento de todos os seres humanos acusados pelo
diabo de não terem adorado somente o Deus único que existe e não terem perdoado
o próximo de forma incondicional. Pois essas são as únicas provas que tem os creem
em Jesus. Quem assim age herdará novos céus e nova terra, quem assim não faz
será lançado no lago de fogo e enxofre, preparado para o diabo e seus demônios.
Justificação é tanto um ato de absolvição e inculpabilidade no ato da crer, como
o é também no ato da ação praticada. Pois fé nos dois sentidos é somente uma
confiança inexorável, impenitente, contumaz, incorrigível, de uma entrega e
obediência absoluta a Jesus, resumida na palavra ouvir: “quem tem ouvidos, ouça”
(Mateus 13:9). Desta forma, Tiago sentencia: “Sejam praticantes da palavra, e não
somente ouvintes, enganando vocês mesmos” (Tiago 1.23).
Capítulo 2:
A ADORAÇÃO A UM ÚNICO DEUS
Só há um Deus. Ele se revelou ao homem em todas as culturas e povos, em
todos os tempos.
Mircéia Elíade afirma que está fora de dúvidas a crença num ser divino celestial,
criador do universo e assegurador da fecundidade da Terra2. Estudando a presença
de um Deus supremo entre os povos do mundo, Elíade comenta que “por toda a África
se encontram indícios de um grande deus celeste desaparecido ou em vias de
desaparecer do culto”3. Entre as populações e árticas e centro asiáticas, Eliade diz
que “o deus celeste é o criador da Terra e do homem. Ele é o ‘artífice de todas as
coisas’, o ‘Pai’. Criou as coisas visíveis e invisíveis e é ele também que faz frutificar a
terra”4
Esse Deus é único a quem o ser humano tem para adorar; não há outro além
dele qualquer outro é uma invenção humana ou perversão demoníaca. Não há lugar
para algum tipo de adequação do homem em relação a adoração a Ele.
2
ELIADE, Mirceia. Tratado de história das religiões.5ª edição. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2006,
p.37
3
Ibidem, p.45.
4
Ibidem, p.59.
5
RICHARDSON, Don. O Fator Melquisedeque: o testemunho de Deus nas culturas através do mundo.2ª edição.
São Paulo: Edições Nova Vida, 1998, p.26
Não tem como adorar a Ele e adorar outro; não tem como crer nEle e crer em
outro; não há lugar para e Ele e para outro, sejam eles semelhantes ou menores que
Ele. Não há acordo, não há concessão, não há ajuste.
Uma explicação para essa ecleticidade está relacionada ao culto dos atributos
que cada denominação busca destacar de Deus. Uma denominação pode destacar o
Poder de Deus, outra pode destacar a Graça de Deus, e assim por diante. Conforme
diz Walton, “...no antigo oriente próximo o deus principal poderia ter vários santuários
diferentes, cada um deles destacando um atributo diferente.”7
“Não terás outros deuses além de mim. Não farás para ti nenhum ídolo,
nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas
debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás
culto, porque eu, o Senhor, o teu Deus, sou Deus zeloso, que castigo
os filhos pelos pecados de seus pais até a terceira e quarta geração
daqueles que me desprezam, mas trato com bondade até mil gerações
dos que me amam e obedecem aos meus mandamentos” 8.
6
WALTON, John H. Comentário bíblico Atos: Antigo Testamento. Belo Horizonte: Editora Atos, 2003, p. 181.
7
Idibem,p.181.
8
Bíblia Sagrada, Nova versão Internacional – NVI. Sociedade Bíblica Internacional. Santo André: Geográfica,
2017.
O Salmista, como adorador do Deus eterno explica o que é um ídolo no Salmos
115.1-89:
1 Não a nós, Senhor, nenhuma glória para nós, mas sim ao teu nome,
por teu amor e por tua fidelidade!
2 Por que perguntam as nações: "Onde está o Deus deles? "
3 O nosso Deus está nos céus, e pode fazer tudo o que lhe agrada.
4 Os ídolos deles, de prata e ouro, são feitos por mãos humanas.
5 Têm boca, mas não podem falar, olhos, mas não podem ver;
6 têm ouvidos, mas não podem ouvir, nariz, mas não podem sentir
cheiro;
7 têm mãos, mas nada podem apalpar, pés, mas não podem andar;
confiam.
sem valor. As suas testemunhas nada vêem e nada sabem, para que
sejam envergonhados.
10 Quem é que modela um deus e funde uma imagem, que de nada lhe
serve?
11 Todos seus companheiros serão envergonhados; pois os artesãos
modela um ídolo com martelos, forja-o com a força do braço. Ele sente
fome e perde a força; passa sede e desfalece.
13 O carpinteiro mede a madeira com uma linha e faz um esboço com
9
Ibidem
14 Ele derruba cedros, ou talvez apanhe um cipreste, ou ainda um
carvalho. Ele o deixou crescer entre as árvores da floresta, ou plantou
um pinheiro, e a chuva o fez crescer.
15 É combustível usado para queimar; um pouco disso ele apanha e se
Percebe-se que existe uma cilada na proposta do diabo que é facilitar a vida de
Jesus em troca da adoração para ele. Ou seja, o diabo está por trás de toda a
adoração que não é somente para o Deus único, e está por trás da ideia de um deus
que barganha o culto em troca de benefícios pessoais, principalmente quem busca o
poder.
10
Ibidem , Isaías 44.6-20.
11
Ibidem, Mateus 4.8-10
12
Ibidem
Paulo, apóstolo dos gentios, afirma que quem adora a um ídolo está na
realidade adorando a demônios:
Jesus ensinou que Deus é espírito 14 (pneuma, ruá), portanto, não pode se
encaixar, conformar numa imagem de madeira, metal, barro, plástico etc. Bem como
não é uma árvore, uma pedra, um animal, a água, o sol, a lua, uma estrela.
Deus não é um ser humano; não é fruto da imaginação; não está na mente de
alguém. Calvino certa vez disse: “a mente de um homem é como um depósito de
idolatria e superstição; de modo que, se o homem confiar em sua própria mente, é
certo que ele abandonará a Deus e inventará um ídolo, segundo sua própria razão”. 15
A Filosofia Moderna tentou fazer o homem crer que Deus é a consciência que
o homem tem de si mesmo; que o conhecimento de Deus é o conhecimento que o
homem tem de si mesmo. Feurbach escreve que “a religião anterior é para a
posterior uma idolatria: o homem adorou sua própria essência”16
Xenófanes de Colofão ( 570 – 528 a.C) já havia feito uma crítica à ideia de
deuses gregos segundo a imagem do homem. E como eram os deuses gregos?
Carentes de amor, brigões, ciumentos, vingativos etc. Eram tão cheios de vícios
humanos que Platão disse:
13
Ibidem, 1Coríntios 10:19, 20.
14
Ibidem, João 4.24
15
https://www.pensador.com/autor/joao_calvino/. Consulta em 29 de Março de 2021.
16
LUDWING, Feurbach. A essência do Cristianismo. Petrópolis: Vozes, , p. 45.
17
Chesterton. Ortodoxia. P. 54.
18
https://www.pensador.com/busca.php?q=Pond%C3%A9. Acesso em 29 de Março de 2021.
“precisamos começar por vigiar os criadores de fábulas, separar as
suas composições boas das más...Aceitas, então, que é esta a
segunda regra que se deve seguir nos discursos e nas composições
poéticas a respeito dos deuses: não são mágicos que mudam de
forma e não confundem com mentiras, palavras ou atos...Quando um
poeta falar assim dos deuses ficaremos irritados, não faremos cor o
com ele e não permitiremos que os mestre se sirvam das suas fábulas
para a educação da juventude, se quisermos que os nossos
guardiães sejam piedosos e semelhantes aos deuses, no maior grau
em que os homens possam ser19”.
Deus não é como o homem; não é uma invenção humana; não é uma
alienação; não é uma doença antropológica; não é uma neurose. Mas, é saudável
ler sobre o que dizem a respeito de Deus, mesmo quando o que é dito é uma
tentativa de fazê-lo morrer20, destruir sua realidade. Carlo Greco compartilha que “a
contribuição mais significativa das hermenêuticas desmistificadoras é o ato lúcido de
pôr em evidência as possíveis patologias das atitudes dos comportamentos
religiosos. Mérito dos mestres da suspeita é o fato de ter desmascarado os ídolos,
nos quais o divino se torna algo manipulável ou funcional segundo a necessidades
do homem, destruindo sua pretensa sacralização” 21
19
PLATÃO. A República. P. 65- 73.
20
NIETCHZS, Friederich. Assim falava Zaratrusta.
21
GRECO, Carlo. P. 161.
22
Bíblia, Op.Cit. João 14.6, 11; 10:30; Mateus 11:27.
23
Ibdem., Filipenses 2:5,6; Colossenses 1:15
24
Ìbdem., Hebreus 1:3.
Esse Deus é o Deus que se conhece em Jesus Cristo, cujas informações
estão na Bíblia como Escritura Sagrada. Ele é o Deus que Era, que É e que Será
(Êxodo 3.14; Apocalipse 1:8 ); É o criador de todas as coisas (Genesis 1:1; João 1.1-
3; Colossenses 1.15-17). Segundo o Aeropagita, Deus é:
Sobre o que até aqui foi dito, é conclusivo dizer como Stº Agostinho:
Sois Grande Senhor, e infinitamente digno de ser louvado, e grande
o vosso poder e incomensurável a vossa sabedoria. O homem
fragmentozinho da criação, quer louvar-vos; o homem que publica a
sua mortalidade, arrastando o testemunho do seu pecado e as prova
do que vós resistis aos soberbos. Todavia, esse homem,
particulazinha da criação, deseja louvar-vos. Vós o incitais a que se
deleite nos vossos louvores, porque nos criastes para vós e o nosso
coração vive inquieto enquanto não repousar em vós” 26
25
DIONÍZIO. P. 58,59.
26
HIPONA, Agostinho. Confissões. P. 27.
27
Bíblia, Op.Cit., Apocalípse 14:7; 19:10; 22:9.
Capítulo 3:
O PERDÃO AO PRÓXIMO
Perdão como graça é obra de Deus e não uma obra humana, de modo que é
oferecido quantos vezes for necessário – “50x7”.
Jesus perdoa o homem porque Ele obedece o Pai. O cristão perdoa seu
semelhante porque obedece a Jesus.
O maior serviço é o ato de perdoar, como Jesus fez ao lavar os pés dos
discípulos e dizer que se não os lavasse, não teriam parte com Ele. “Lava-me o
corpo todo”, disse Pedro.
A pregação de João Batista era sobre o perdão dos pecados (Marcos 1:4;
Lucas 3:3).
28
COLIN, Lothar Brown. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. 2ª Edição. São Paulo: Vida
Nova, 2000.
29
Bíblia, Op.cit., Lucas 7.42-47.
O ensino de Paulo para a igreja de Filipenses era para que houvesse perdão
de uns para com os outros, como Deus os perdoou em Cristo (Filipenses 4:31, 32).
Seria, então, o perdão, maior que a justiça? É possível ser justo com uma
pessoa, sem perdoá-la?33 Não é a justiça que se desconstrói, é o direito 34. Então,
o perdão não é maior que a justiça, pois ser justo é perdoar. O perdão é maior que
o direito, pois por aquele deve-se abrir mão desse.
Recomeçar, reiniciar; o perdão permite que o outro renasça, que ele reviva
para ser quem ele é, na esperança de que tenha atitudes diferentes com o perdão
recebido, ao mesmo tempo que se tem a consciência de que ele possa falhar
novamente. Por isso é preciso obedecer para continuar perdoando até o fim.
30
Paul Ricoeur. O Perdão pode curar?. p.7, disponível em:
https://marcosfabionuva.files.wordpress.com/2011/08/o-perdc3a3o-pode-curar.pdf. P. 7.
31
Ibidem
32
Ibidem
33
Pondé, Op. Cit.
34
DERRIDA, Jacques. Força de Lei: o fundamento místico da autoridade. Tradução: Leila Perrone-Moises – 2.
Edição. São Paulo: Editora WMF Marins Fontes, 2010.
35
https://www.pensador.com/autor/martin_luther_king/ Acesso em 30 de Março de 2021.
Conclusão:
Desse modo conclui-se que adoração é exclusiva a Deus, pois não há outro
além dEle. E o perdão é incondicional aos seguidores de Jesus.
Portanto, pratique a fé em Jesus; ouça o que Ele diz, e obedeça a Ele: Isso
é a essência do seu ensino.
Referências Bibliográficas:
ELIADE, Mirceia. Tratado de história das religiões. 5ª edição. São Paulo: Editora WMF
Martins Fonte, 2006.
CHESTERTON, Gilbert Keith. Ortodoxia. 1ª edição. São Paulo: Mundo Cristão, 2008.