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OUVINDO JESUS E FAZENDO A SUA VONTADE

O encontro da fé e as obras

Por

Pr. André S. de Almeida

Reflexões para um pré-projeto de Mestrado


Introdução:

No final do sermão do monte Jesus comparou os que ouvem as suas palavras


e as pratica, ao homem que edificou sua casa sobre a rocha (Mateus 7:24 – 29).

“Ouvir”, nesse texto, vem do grego akouó (de onde surge a palavra “acústica”),
significando “ouvir, escutar, prestar atenção”. Akouó é a palavra grega utilizada para
traduzir a palavra “ `s´emã” (shema) do A.T para o N.T (notoriamente, a advertência
de Deut.6.4: “Ouça Israel”).

Ouvir no contexto bíblico abrange não somente a percepção pelos sentidos


como também a apreensão e aceitação pela mente do contexto daquilo que se ouve.
Segundo o DITNT,

“na LXX, akouo ou akoe representa consistentemente o Heb. Sama.


Compartilha dos matizes de significado do vb. Heb. Aqui, também, o
significado primário é a percepção pelos sentidos(e.g. “ouvir” uma
trombeta, 2 Sm 15:10). A apreensão, porém entra imediatamente em
jogo tão logo a pessoa recebe uma declaraçao, um item noticioso, ou
uma mensagem (Gn 14:14). A apreensão exige a aceitação, a escuta
(Gn 4.23; êx.24:7). Logo, sama adquiriu o significado de “obedecer”.

Em Mateus 7.24, o verbo akouo está na terceira pessoa do singular do presente


do indicativo ativo (àkoúei1), designando que a ação é contínua: ouvir e continua
ouvindo, ou, obedecer e continuar obedecendo.

Ouvir era aceitar confiantemente que tudo o que Jesus falava era verdade, por
isso, dar ouvidos à sua voz era a mesma coisa que ouvir o Pai (João 10:10,11) e uma
condição para a salvação (João 5.24, 25). Era tornar-se seu discípulo, que Ele
identificou como uma ovelha que ouve a voz do seu pastor (João 10.25 -27).

Portanto, dar ouvidos a Jesus é confiar nEle, crer em suas palavras, crer que
Ele fala a verdade. Essa confiança se expressa em obediência, e também em amor:
“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, este é o que me ama” (João
14.21).

Essa obediência e esse amor se traduzem apenas em práxis – “ouvir e


praticar”. Em Jesus não há lugar para porquês, para abstrações. Na medida que se
compreende e aceita-se o que Ele diz, imediatamente pratica-se ações.

1
https://biblehub.com/interlinear/matthew/7-24.htm
Capítulo1
FÉ E OBRAS EM JESUS

Paulo e Tiago são vistos como antagônicos quando da relação entre a


fé e as obras. Contudo, não há nenhum antagonismo entre eles porque não há
nenhuma contradição entre os ensinos de Jesus e as cartas gerais. Tanto Paulo como
Tiago acertam ao falar da fé demonstrada pelas obras e justificada em Jesus.

Em Jesus fé e obras são indissociáveis porque o amor não se convenciona a


um sentimento, mas se percebe apenas na prática. É sempre um ato de doação. Fé
é sempre um ouvir e obedecer: “E temos portanto o mesmo espírito de fé, como está
escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também, por isso também falamos” (2
Coríntios 4.13, em referência ao Salmos 116.10)

Nos ensinamentos de Jesus, ouvir e obedecer apontam para Deus e o próximo,


de uma maneira específica para cada um: adoração e perdão. Jesus ensina que que
o amor a Deus é um ato de adoração exclusivo somente a Ele. E o perdão é um ato
incondicional de serviço ao próximo.

Essa adoração a Deus e esse perdão ao próximo são justificados pela fé


declarada em Jesus. Sendo Ele então que justifica essas duas ações, então é Ele
quem garante a salvação perante toda a acusação contra aquele que adorar somente
a Deus como único Deus que existe, e o perdoar o seu próximo, independente do
tamanho da dívida que ele possua.

Sendo salvo por Cristo, por ser justificado pela fé, demonstrada na adoração a
Deus e no perdão ao próximo, como resultado do amor e obediência vinda da
confiança de que a palavra de Jesus é a verdade, tem-se a certeza da vida eterna
pelo selo do Espírito Santo, e a esperança da ressurreição quando ocorrer o Dia do
Senhor, em que Ele fará o julgamento de todos os seres humanos acusados pelo
diabo de não terem adorado somente o Deus único que existe e não terem perdoado
o próximo de forma incondicional. Pois essas são as únicas provas que tem os creem
em Jesus. Quem assim age herdará novos céus e nova terra, quem assim não faz
será lançado no lago de fogo e enxofre, preparado para o diabo e seus demônios.
Justificação é tanto um ato de absolvição e inculpabilidade no ato da crer, como
o é também no ato da ação praticada. Pois fé nos dois sentidos é somente uma
confiança inexorável, impenitente, contumaz, incorrigível, de uma entrega e
obediência absoluta a Jesus, resumida na palavra ouvir: “quem tem ouvidos, ouça”
(Mateus 13:9). Desta forma, Tiago sentencia: “Sejam praticantes da palavra, e não
somente ouvintes, enganando vocês mesmos” (Tiago 1.23).

Capítulo 2:
A ADORAÇÃO A UM ÚNICO DEUS
Só há um Deus. Ele se revelou ao homem em todas as culturas e povos, em
todos os tempos.

Mircéia Elíade afirma que está fora de dúvidas a crença num ser divino celestial,
criador do universo e assegurador da fecundidade da Terra2. Estudando a presença
de um Deus supremo entre os povos do mundo, Elíade comenta que “por toda a África
se encontram indícios de um grande deus celeste desaparecido ou em vias de
desaparecer do culto”3. Entre as populações e árticas e centro asiáticas, Eliade diz
que “o deus celeste é o criador da Terra e do homem. Ele é o ‘artífice de todas as
coisas’, o ‘Pai’. Criou as coisas visíveis e invisíveis e é ele também que faz frutificar a
terra”4

Don Richard escreve que há um fator de revelação geral de Deus, o fator


Melquisedeque. Ele defende que “O tema deste livro é que Melquisedeque
apresentou-se no Vale de Savé como um símbolo ou tipo da revelação geral de Deus
à humanidade”5

Esse Deus é único a quem o ser humano tem para adorar; não há outro além
dele qualquer outro é uma invenção humana ou perversão demoníaca. Não há lugar
para algum tipo de adequação do homem em relação a adoração a Ele.

2
ELIADE, Mirceia. Tratado de história das religiões.5ª edição. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2006,
p.37
3
Ibidem, p.45.
4
Ibidem, p.59.

5
RICHARDSON, Don. O Fator Melquisedeque: o testemunho de Deus nas culturas através do mundo.2ª edição.
São Paulo: Edições Nova Vida, 1998, p.26
Não tem como adorar a Ele e adorar outro; não tem como crer nEle e crer em
outro; não há lugar para e Ele e para outro, sejam eles semelhantes ou menores que
Ele. Não há acordo, não há concessão, não há ajuste.

Só existe uma forma de descrição para a adoração a esse Deus: o monoteísmo


absoluto. Walton6 e outros considera que é possível identificar diferentes níveis de
monoteísmo: 1) O Henoteísmo, reconhecimento na existência de outros deuses, mas
geralmente insiste na supremacia de um; 2) A Monolatria, reconhecimento da
existência ou não de outros deuses, porém só um deve ser adorado; 3) O Monoteísmo
prático, que pode reconhecer diversos deuses, mas concentra grande parte de sua
adoração e atividade religiosa numa divindade específica.

Pode se questionar que, se só existe um Deus, porque existem tantos templos,


tantas denominações dentro do cristianismo? Por que não há um só culto ou uma só
igreja?

Uma explicação para essa ecleticidade está relacionada ao culto dos atributos
que cada denominação busca destacar de Deus. Uma denominação pode destacar o
Poder de Deus, outra pode destacar a Graça de Deus, e assim por diante. Conforme
diz Walton, “...no antigo oriente próximo o deus principal poderia ter vários santuários
diferentes, cada um deles destacando um atributo diferente.”7

A exclusividade de adoração a um só Deus é determinada em Êxodo 20:3-6:

“Não terás outros deuses além de mim. Não farás para ti nenhum ídolo,
nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas
debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás
culto, porque eu, o Senhor, o teu Deus, sou Deus zeloso, que castigo
os filhos pelos pecados de seus pais até a terceira e quarta geração
daqueles que me desprezam, mas trato com bondade até mil gerações
dos que me amam e obedecem aos meus mandamentos” 8.

O mesmo já condenava o culto a outro deus e a idolatria. A idolatria é a outra


tentativa de aceitar que existem outros deuses, porém, é uma forma de expressão
mais explícita de cair no erro do politeísmo.

6
WALTON, John H. Comentário bíblico Atos: Antigo Testamento. Belo Horizonte: Editora Atos, 2003, p. 181.
7
Idibem,p.181.
8
Bíblia Sagrada, Nova versão Internacional – NVI. Sociedade Bíblica Internacional. Santo André: Geográfica,
2017.
O Salmista, como adorador do Deus eterno explica o que é um ídolo no Salmos
115.1-89:
1 Não a nós, Senhor, nenhuma glória para nós, mas sim ao teu nome,
por teu amor e por tua fidelidade!
2 Por que perguntam as nações: "Onde está o Deus deles? "
3 O nosso Deus está nos céus, e pode fazer tudo o que lhe agrada.
4 Os ídolos deles, de prata e ouro, são feitos por mãos humanas.
5 Têm boca, mas não podem falar, olhos, mas não podem ver;
6 têm ouvidos, mas não podem ouvir, nariz, mas não podem sentir

cheiro;
7 têm mãos, mas nada podem apalpar, pés, mas não podem andar;

nem emitem som algum com a garganta.


8 Tornem-se como eles aqueles que os fazem e todos os que neles

confiam.

O adorador de uma imagem, obra das mãos humanas, assume as


caraterísticas do objeto adorado, ou seja, tornar-se manipulável e apático, sem
expressão alguma.

Já o profeta, mensageiro de Deus ao seu povo, explica a insensatez e a


cegueira de se cultuar um ídolo, uma imagem de escultura:
6 "Assim diz o Senhor, o rei de Israel, o seu redentor, o Senhor dos
Exércitos: Eu sou o primeiro e eu sou o último; além de mim não há
Deus.
7 Quem então é como eu? Que ele o anuncie, que ele declare e

exponha diante de mim o que aconteceu desde que estabeleci meu


antigo povo, e o que ainda está para vir; que todos eles predigam as
coisas futuras e o que irá acontecer.
8 Não tremam, nem tenham medo. Não anunciei isto e não o predisse

muito tempo atrás? Vocês são minhas testemunhas. Há outro Deus


além de mim? Não, não existe nenhuma outra Rocha; não conheço
nenhuma. "
9 Todos os que fazem imagens nada são, e as coisas que estimam são

sem valor. As suas testemunhas nada vêem e nada sabem, para que
sejam envergonhados.
10 Quem é que modela um deus e funde uma imagem, que de nada lhe

serve?
11 Todos seus companheiros serão envergonhados; pois os artesãos

não passam de homens. Que todos eles se ajuntem e declarem sua


posição; eles serão lançados ao pavor e à vergonha.
12 O ferreiro apanha uma ferramenta e trabalha com ela nas brasas;

modela um ídolo com martelos, forja-o com a força do braço. Ele sente
fome e perde a força; passa sede e desfalece.
13 O carpinteiro mede a madeira com uma linha e faz um esboço com

um traçador; ele o modela toscamente com formões e o marca com


compassos. Ele o faz na forma de homem, de homem em toda a sua
beleza, para que habite num santuário.

9
Ibidem
14 Ele derruba cedros, ou talvez apanhe um cipreste, ou ainda um
carvalho. Ele o deixou crescer entre as árvores da floresta, ou plantou
um pinheiro, e a chuva o fez crescer.
15 É combustível usado para queimar; um pouco disso ele apanha e se

aquece, acende um fogo e assa um pão. Mas também modela um deus


e o adora; faz uma imagem e se encurva diante dela.
16 Metade da madeira, ele a queima no fogo; sobre ela ele prepara sua

refeição, assa a carne e come sua porção. Ele também se aquece e


diz: "Ah! Estou aquecido; estou vendo o fogo".
17 Do restante ele faz um deus, seu ídolo; inclina-se diante dele e o

adora. Ora a ele e diz: "Salva-me; tu és meu deus".


18 Eles nada sabem, nada entendem; seus olhos estão tapados, não

conseguem ver, e suas mentes estão fechadas, não conseguem


entender.
19 Ninguém pára para pensar, ninguém tem o conhecimento ou o

entendimento para dizer: "Metade dela usei como combustível; até


mesmo assei pão sobre suas brasas, assei carne e comi. Faria eu algo
repugnante com o que sobrou? Iria eu ajoelhar-me diante de um
pedaço de madeira? "
20 Ele se alimenta de cinzas, um coração iludido o desvia; ele é incapaz

de salvar a si mesmo ou de dizer: "Esta coisa na minha mão direita não


é uma mentira? "10

No Novo Testamento, essa cegueira e insensatez é vista como uma estratégia


do diabo para fazer as pessoas adora-lo como um deus. Ele tentou Jesus com esse
intento, mas Jesus, de forma inteligente e sábia, refutou a hermenêutica do diabo:
8 Depois, o diabo o levou a um monte muito alto e mostrou-lhe todos
os reinos do mundo e o seu esplendor.
9 E lhe disse: "Tudo isto lhe darei, se você se prostrar e me adorar".
10 Jesus lhe disse: "Retire-se, Satanás! Pois está escrito: ‘Adore o

Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto’".


11 Então o diabo o deixou, e anjos vieram e o serviram 11.

Percebe-se que existe uma cilada na proposta do diabo que é facilitar a vida de
Jesus em troca da adoração para ele. Ou seja, o diabo está por trás de toda a
adoração que não é somente para o Deus único, e está por trás da ideia de um deus
que barganha o culto em troca de benefícios pessoais, principalmente quem busca o
poder.

Em Apocalipse 16.14, é revelado que os o diabo se utiliza de espíritos de


demônios enganadores para ter seguidores no poder e assim fazer oposição ao Deus
Eterno: “São espíritos de demônios que realizam sinais miraculosos; eles vão aos
reis de todo o mundo, a fim de reuni-los para a batalha do grande dia do Deus todo-
poderoso”12.

10
Ibidem , Isaías 44.6-20.
11
Ibidem, Mateus 4.8-10
12
Ibidem
Paulo, apóstolo dos gentios, afirma que quem adora a um ídolo está na
realidade adorando a demônios:

19 Portanto, que estou querendo dizer? Será que o sacrifício


oferecido a um ídolo é alguma coisa? Ou o ídolo é alguma coisa?
20 Não! Quero dizer que o que os pagãos sacrificam é oferecido aos
demônios e não a Deus, e não quero que vocês tenham comunhão
com os demônios 13.

Jesus ensinou que Deus é espírito 14 (pneuma, ruá), portanto, não pode se
encaixar, conformar numa imagem de madeira, metal, barro, plástico etc. Bem como
não é uma árvore, uma pedra, um animal, a água, o sol, a lua, uma estrela.

Deus não é um ser humano; não é fruto da imaginação; não está na mente de
alguém. Calvino certa vez disse: “a mente de um homem é como um depósito de
idolatria e superstição; de modo que, se o homem confiar em sua própria mente, é
certo que ele abandonará a Deus e inventará um ídolo, segundo sua própria razão”. 15

A Filosofia Moderna tentou fazer o homem crer que Deus é a consciência que
o homem tem de si mesmo; que o conhecimento de Deus é o conhecimento que o
homem tem de si mesmo. Feurbach escreve que “a religião anterior é para a
posterior uma idolatria: o homem adorou sua própria essência”16

Chesterton chamara a atenção que “o homem foi concebido para duvidar de


si mesmo, mas não duvidar da verdade, e isso foi exatamente invertido” 17.

Como disse o professor ateu Felipe Ponde, “quando se deixa de acreditar em


Deus, passa-se a acreditar em qualquer besteira. Na natureza, na história, na ciência
ou em si mesmo. Essa última eu acho, é a pior de todas, coisa de gente cafona”. 18

Xenófanes de Colofão ( 570 – 528 a.C) já havia feito uma crítica à ideia de
deuses gregos segundo a imagem do homem. E como eram os deuses gregos?
Carentes de amor, brigões, ciumentos, vingativos etc. Eram tão cheios de vícios
humanos que Platão disse:

13
Ibidem, 1Coríntios 10:19, 20.
14
Ibidem, João 4.24
15
https://www.pensador.com/autor/joao_calvino/. Consulta em 29 de Março de 2021.
16
LUDWING, Feurbach. A essência do Cristianismo. Petrópolis: Vozes, , p. 45.
17
Chesterton. Ortodoxia. P. 54.
18
https://www.pensador.com/busca.php?q=Pond%C3%A9. Acesso em 29 de Março de 2021.
“precisamos começar por vigiar os criadores de fábulas, separar as
suas composições boas das más...Aceitas, então, que é esta a
segunda regra que se deve seguir nos discursos e nas composições
poéticas a respeito dos deuses: não são mágicos que mudam de
forma e não confundem com mentiras, palavras ou atos...Quando um
poeta falar assim dos deuses ficaremos irritados, não faremos cor o
com ele e não permitiremos que os mestre se sirvam das suas fábulas
para a educação da juventude, se quisermos que os nossos
guardiães sejam piedosos e semelhantes aos deuses, no maior grau
em que os homens possam ser19”.

Deus não é como o homem; não é uma invenção humana; não é uma
alienação; não é uma doença antropológica; não é uma neurose. Mas, é saudável
ler sobre o que dizem a respeito de Deus, mesmo quando o que é dito é uma
tentativa de fazê-lo morrer20, destruir sua realidade. Carlo Greco compartilha que “a
contribuição mais significativa das hermenêuticas desmistificadoras é o ato lúcido de
pôr em evidência as possíveis patologias das atitudes dos comportamentos
religiosos. Mérito dos mestres da suspeita é o fato de ter desmascarado os ídolos,
nos quais o divino se torna algo manipulável ou funcional segundo a necessidades
do homem, destruindo sua pretensa sacralização” 21

Portanto só há um Deus que deve ser adorado. Esse Deus é conhecido


através de Jesus22: “Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim”. “Quem me vê, vê o
Pai.” “Eu e o Pai somos um”. “Ninguém conhece o Filho a não ser o Pai, e ninguém
conhece o Pai a não ser o Filho e aqueles a quem o Filho quiser revelar”.

Paulo, no desenvolvimento da cristologia do Novo Testamento a partir da


visão do Cristo Cósmico, advoga o seguinte23: “Seja a atitude de vocês a mesma de
Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era
algo a que devia apegar-se”. “Ele é a imagem do Deus invisível”.

O autor da carta aos Hebreus declara: “O Filho é o resplendor da glória de


Deus e a expressão exata do seu ser...”24

19
PLATÃO. A República. P. 65- 73.
20
NIETCHZS, Friederich. Assim falava Zaratrusta.
21
GRECO, Carlo. P. 161.
22
Bíblia, Op.Cit. João 14.6, 11; 10:30; Mateus 11:27.
23
Ibdem., Filipenses 2:5,6; Colossenses 1:15
24
Ìbdem., Hebreus 1:3.
Esse Deus é o Deus que se conhece em Jesus Cristo, cujas informações
estão na Bíblia como Escritura Sagrada. Ele é o Deus que Era, que É e que Será
(Êxodo 3.14; Apocalipse 1:8 ); É o criador de todas as coisas (Genesis 1:1; João 1.1-
3; Colossenses 1.15-17). Segundo o Aeropagita, Deus é:

“a infinidade supersubstancial acima das substâncias, e a unidade


que está acima da inteligência, acima das inteligências e nenhum
pensamento pode pensar o uno que está acima do pensamento, e
nenhuma palavra pode exprimir o bem que está acima de toda a
palavra, unidade que unifica todas as unidades, substancia
supersubstancial, inteligência ininteligível, palavra inefável, ausência
de razão, ausência de inteligibilidade, ausência de nome, a qual não
existe segundo nenhum dos entes e tanto é causa do ser de tudo
como não existe em si, na medida em que está situada acima de toda
substância e na medida que se revela a si mesma soberanamente e
cientemente” 25

Sobre o que até aqui foi dito, é conclusivo dizer como Stº Agostinho:
Sois Grande Senhor, e infinitamente digno de ser louvado, e grande
o vosso poder e incomensurável a vossa sabedoria. O homem
fragmentozinho da criação, quer louvar-vos; o homem que publica a
sua mortalidade, arrastando o testemunho do seu pecado e as prova
do que vós resistis aos soberbos. Todavia, esse homem,
particulazinha da criação, deseja louvar-vos. Vós o incitais a que se
deleite nos vossos louvores, porque nos criastes para vós e o nosso
coração vive inquieto enquanto não repousar em vós” 26

A sentença final de todo o argumento, está no último livro da Bíblia: “Adore a


Deus”!27

25
DIONÍZIO. P. 58,59.
26
HIPONA, Agostinho. Confissões. P. 27.
27
Bíblia, Op.Cit., Apocalípse 14:7; 19:10; 22:9.
Capítulo 3:
O PERDÃO AO PRÓXIMO

O perdão deve ser dado ao próximo como prova de obediência. Perdoa-se


não porque se tem vontade, porque se sente bem; perdoa-se porque obedece-se a
Jesus.

A satisfação de perdoar não repousa no sentimento de alívio psicológico ou


de uma culpa. A satisfação de perdoar está na alegria de agir como Deus age.

O perdão como satisfação em Deus expressa o entendimento de quem é o


semelhante: como eu, ele é falho, ele irá pecar; ele vai agir sem saber o que faz. É
um humanizar-se sabendo que o perdão não é um merecimento, é uma graça
divina.

Perdão como graça é obra de Deus e não uma obra humana, de modo que é
oferecido quantos vezes for necessário – “50x7”.

Perdão é uma adequação à santidade de Deus. Ele perdoa porque não


aceita o pecado, Ele é Santo. Assim, aquele que é perdoado por Deus passa a ser
santificado pela santidade dEle. Sendo santificado, o homem deixa de viver em
função do pecado, tanto dele como do outro. Quando ele peca, se arrepende
porque foi perdoado e está sendo santificado por Deus. Quando o seu próximo
peca, ele o perdoa como Deus o perdoou.

Jesus perdoa o homem porque Ele obedece o Pai. O cristão perdoa seu
semelhante porque obedece a Jesus.

O maior serviço é o ato de perdoar, como Jesus fez ao lavar os pés dos
discípulos e dizer que se não os lavasse, não teriam parte com Ele. “Lava-me o
corpo todo”, disse Pedro.

Existem pessoas que creem no poder do perdão, na cura do perdão. Na


religião, na Psicologia, na Política, Justiça, o perdão é compreendido como uma
poderosa terapia, um santo e milagroso remédio para a reconciliação, uma
ataraxia que acalma a alma e traz felicidade.
A palavra perdão vem do grego “aphiémi”: mandar embora, deixe em a paz,
permissão. Aparece 37 vezes no Novo Testamento 28. Perdoar é deixar em em paz;
não ficar segurando a pessoa, prendendo-a a si, retendo-a ao sentimento de
direito, de ofensa.

Nos ensinos de Jesus, a mensagem a ser transmitida é a mensagem do


perdão dos pecados (Lucas 24.47).

O querigma da comunidade primeira era o perdão dos pecados (Atos 2:38,


5:31, 10:43, 13:38, 26:18).

As epístolas falam que só em Cristo há perdão de pecados (Efésios 1:7;


Colossenses 1:14).

A pregação de João Batista era sobre o perdão dos pecados (Marcos 1:4;
Lucas 3:3).

A morte de Jesus na cruz foi para perdoar os pecados (Mateus 26:28).

Deus vê o mundo com a necessidade de perdão para todas as pessoas. Por


isso, quem crê em Jesus é perdoado por Deus. E quem é perdoado por Deus deve
perdoar o próximo.

Qual a diferença do perdão de Jesus, do perdão que não é o de Jesus? O


perdão de Jesus liberta o ser humano do poder do pecado. O que a Lei diz que é
pecado, ela mesma é incapaz de livrar o homem. Mas, em Jesus o que é
impossível para a Lei é possível nEle (|Romanos 8:1-4).

O amor é expressão maior da prática do perdão:

“Como nenhum dos devedores conseguiu lhe pagar, ele


generosamente perdoou ambos e cancelou suas dívidas.
Qual deles o amou mais depois disso? Simão lhe
respondeu: - Suponho que aquele de quem ele perdoou a
dívida maior”. Você está certo, disse Jesus...Os pecados
dela, que são muitos, foram perdoados e por isso, ela
demonstrou muito amor por mim. Mas a pessoa a quem
pouco foi perdoado demonstra pouco amor.” 29

28
COLIN, Lothar Brown. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. 2ª Edição. São Paulo: Vida
Nova, 2000.
29
Bíblia, Op.cit., Lucas 7.42-47.
O ensino de Paulo para a igreja de Filipenses era para que houvesse perdão
de uns para com os outros, como Deus os perdoou em Cristo (Filipenses 4:31, 32).

Na filosofia, Paul Ricoer disse: “O perdão é o contrário do esquecimento de


fuga; não se pode perdoar o que foi esquecido; o que deve ser destruído é a dívida,
não a lembrança”30

Para Ricoer o perdão cura quando acompanha o esquecimento ativo, aquele


que ligamos ao trabalho de luto 31. Isso porque “o perdão dirige-se não aos
acontecimentos cujas marcas devem ser protegidas, mas à dívida cuja carga
paralisa a memória e, por extensão, a capacidade de se projetar de forma criadora
no porvir”32.

Perdoar não é esquecer, é não cobrar. Esquecer é amnésia, anistia,


prescrição.

Seria, então, o perdão, maior que a justiça? É possível ser justo com uma
pessoa, sem perdoá-la?33 Não é a justiça que se desconstrói, é o direito 34. Então,
o perdão não é maior que a justiça, pois ser justo é perdoar. O perdão é maior que
o direito, pois por aquele deve-se abrir mão desse.

Segundo Lutherking, “o perdão é um catalizador que cria a ambiência


necessária para uma nova partida, para um reinício”35

Recomeçar, reiniciar; o perdão permite que o outro renasça, que ele reviva
para ser quem ele é, na esperança de que tenha atitudes diferentes com o perdão
recebido, ao mesmo tempo que se tem a consciência de que ele possa falhar
novamente. Por isso é preciso obedecer para continuar perdoando até o fim.

30
Paul Ricoeur. O Perdão pode curar?. p.7, disponível em:
https://marcosfabionuva.files.wordpress.com/2011/08/o-perdc3a3o-pode-curar.pdf. P. 7.
31
Ibidem
32
Ibidem
33
Pondé, Op. Cit.
34
DERRIDA, Jacques. Força de Lei: o fundamento místico da autoridade. Tradução: Leila Perrone-Moises – 2.
Edição. São Paulo: Editora WMF Marins Fontes, 2010.
35
https://www.pensador.com/autor/martin_luther_king/ Acesso em 30 de Março de 2021.
Conclusão:

Jesus ensinou de forma clara e insofismável, que duas coisas são


fundamentais na vida dos seus ouvintes: fé e obras.

A fé e as obras em Jesus são demonstradas através do amor a Deus e o


serviço ao próximo. Sendo que, o amor a Deus se evidencia pela adoração a ele
como sendo o único Deus que existe, e o serviço ao próximo deve visto através do
perdão.

Discute-se se podemos reduzir os ensinos de Jesus à adoração a Deus e o


perdão ao próximo. No entanto, nas páginas dos Evangelhos e nas Cartas Gerais,
encontramos de forma exaustiva o ensino sobre a adoração a Deus e o perdão ao
próximo.

Desse modo conclui-se que adoração é exclusiva a Deus, pois não há outro
além dEle. E o perdão é incondicional aos seguidores de Jesus.

Portanto, pratique a fé em Jesus; ouça o que Ele diz, e obedeça a Ele: Isso
é a essência do seu ensino.
Referências Bibliográficas:

AGOSTINHO, Santo, Bispo de Hipona. Confissões. 6ª edição. Petrópolis: Vozes,


2015.

Bíblia Sagrada Nova versão Internacional – NVI. Sociedade Bíblica Internacional.


Santo André: Geográfica, 2017.

GRECO, Carlo. A experiência religiosa: Um roteiro de filosofia da religião. Tradução


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