Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
31890006
A crise econômica
de 2014/2017
FERNANDO DE HOLANDA BARBOSA FILHO I
Introdução
A
economia brasileira encontra-se formalmente em recessão desde o se-
gundo trimestre de 2014, segundo o Comitê de Datação do Ciclo Eco-
nômico (Codace) da Fundação Getulio Vargas. O produto per capita bra-
sileiro caiu cerca de 9% entre 2014 e 2016. Essa situação cria um ambiente de
forte pressão para uma pronta recuperação da economia brasileira. No entanto,
a saída da recessão depende de uma compreensão adequada de suas causas. Este
artigo contribui para a compreensão da crise e sugere possíveis soluções para a
retomada de um crescimento sustentável.
A crise resulta de um conjunto de choques de oferta e de demanda. Pri-
meiramente, o conjunto de políticas adotadas a partir de 2011/2012, conhecido
como Nova Matriz Econômica (MNE),1 reduziu a produtividade da economia
brasileira e, com isso, o produto potencial. Mais, esse choque de oferta possui
efeitos duradouros devido à alocação de investimentos de longa recuperação em
setores pouco produtivos.
Os choques de demanda estão divididos em três grupos. O primeiro en-
globa o esgotamento da NME a partir do final de 2014. O segundo choque
seria a crise de sustentabilidade da dívida pública doméstica de 2015. O terceiro
foi a correção do populismo tarifário que demandou uma política monetária
contracionista para o controle inflacionário após a perda de credibilidade do
Banco Central. Além disso, a consolidação fiscal tentada no ano de 2015 possui
impacto menor sobre essa recessão devido à sua baixa magnitude e duração.
A aprovação da PEC do teto dos gastos, combinada com o envio da refor-
ma da previdência, marca o início da solução da crise de sustentabilidade da dívi-
da. A redução do risco país e a queda da inflação permitem a redução da taxa de
juros e o início da recuperação. Dessa forma, a retomada do crescimento passa
em um primeiro estágio pela utilização da capacidade instalada que possibilitará
algum crescimento nos próximos anos. No entanto, a manutenção de um ritmo
de crescimento próximo dos 4% ao ano dependerá da adoção de medidas que
recuperem a produtividade doméstica e, com isso, o produto potencial.
Este artigo contém quatro seções iniciadas por esta introdução. A segunda
seção analisa os determinantes da crise, enquanto a terceira seção debate a saída
para essa recessão. A quarta seção conclui o presente trabalho.
30
25
20
15
10
0
dez-01
abr-02
ago-02
abr-03
ago-03
abr-04
ago-04
abr-05
ago-05
dez-05
abr-06
ago-06
abr-07
ago-07
dez-07
abr-08
ago-08
dez-08
abr-09
ago-09
dez-09
abr-10
ago-10
abr-11
ago-11
dez-11
abr-12
ago-12
abr-13
ago-13
abr-14
ago-14
abr-15
ago-15
dez-15
abr-16
ago-16
dez-02
dez-03
dez-04
dez-06
dez-10
dez-12
dez-13
dez-14
dez-16
Fonte: Bloomberg.
0l-jan-11 ','i)
l
Figura 3 – Risco país para Brasil, México e Chile (CDS 10 anos). mar-07
jun-07
0l-mai-11 set-07
01-set-11
dez-07
mar-08
',/
f,)
01-jan-12 set-08
~
}
t
dez-08 ........... ",
31 (89), 2017
CP 01-mai-12
-,
ClJ
~-
mar-09
jun-09 <'-,-,~
01-set-12 set-09
01-jan-13 {
{ dez-09
mar-10
J_____-t;.,,
1
/ 1 jun-10
';_. 1
01-mai-13 o set-10
~ dez-10 . . . ---J
01-set-13 ~ mar-11
i
n
::::r
01-jan-14 í
ii..
\
§"
l
jun-11
set-11
dez-11
)
',
J
ro 01-mai-14 ) mar-12 ''
01-set-14
\
i.~~
~
1
il.
ju n-12
set-12
\,
o
f
dez-12
01-jan-15 w.
·;7 s
.:.
mar-13
jun-13
)
01-mai-15 set-13 )
dez-13
$
(D ,
01-set-15 :·,\..
·'-:-
-,.
\;~-
mar-14
jun-14 'Z, ........ , .... ,
~-
n
01-jan-16 l~:-,•
set-14
/'
mar-15
f ....(~· ;;¼.
,· jun-15 .................
01-set-16 3
'\_ )•
~»_,
~
set-15
dez-15
"\ ,,_1
<..···
01-jan-17 mar-16
',
jun-16
z. ........... >
n s:tD, ...
ti:! set-16
:-..
=-
;;- X
;:;·
QJ
~
dez-16
o•
~
o
~
o
~
o g o o o o 6
0
55
O impacto desse conjunto de políticas pode ser observado no comporta-
mento do PIB brasileiro e de seus componentes de demanda. A Tabela 2 mostra
que a desaceleração da economia brasileira tem início no ano de 2014, com
redução gradual do ritmo de crescimento.
Fonte: IBGE.
Notas
1 A NME se baseava em uma de forte intervenção governamental e englobava redução da
taxa de juros básica, controle de preços, investimentos direcionados e subsídios.
2 O total de empréstimos do BNDES aumenta mais de 8% do PIB entre 2009 e 2013.
3 Diversos Estaleiros e a Sete Brasil (empresa criada para fornecer equipamentos para a
Petrobras) estão em crise desde 2015.
4 Para mais detalhes ver Cichelli (2016), Orair et al. (2016), Mereb e Zilberman (2017)
e Mendonça, Holland e Prince (2016).
5 Esgotamento da NME e crise de sustentabilidade da dívida.
Referências
BARBOSA FILHO, F.; PESSÔA, P. Desaceleração veio da Nova Matriz e não do Con-
trato Social. In: BONELLI, R.; VELOSO, F. (Org.) Ensaios IBRE da Economia Brasi-
leira – II, Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. p.1-29.
CICCHELLI, G. How does fiscal fragility affect fiscal multipliers? Rio de Janeiro, 2016.
Dissertação (Mestrado em Economia) – Pontifícia Universidade Católica. Rio de Janei-
ro, 2016.
MENDONÇA, D.; HOLLAND, M.; PRINCE, D. Is fiscal policy effective in Brazil?
An empirical analysis. Working Paper, São Paulo School of Economics, n.433, 2016.
MEREB, J.; ZILBERMAN, E. Multiplicadores no Brasil em tempos de fragilidade fis-
cal. Textos para Discussão, FGV IBRE, 2017.
ORAIR, R.; SIQUEIRA, F.; GOBETTI, S. Política fiscal e ciclo econômico: uma aná-
lise baseada em multiplicadores do gasto público. XXI Prêmio do Tesouro Nacional,
2016.
resumo – Este artigo mostra que a crise de 2014/2017 é fruto de uma combinação de
choques de oferta e demanda resultado de erros de política econômica. Esses choques
produziram uma redução da capacidade de crescimento da economia brasileira e risco
de insolvência das finanças públicas. A solução da crise fiscal, através da PEC do teto dos
gastos, fará que o país retome o crescimento econômico a partir de 2017, utilizando a
capacidade ociosa da economia. No entanto, a taxa de crescimento do produto poten-
cial não recuperará o ritmo anterior devido aos efeitos duradouros das políticas da Nova
Matriz Econômica (NME) que reduziram o produto potencial nacional. Recomenda-
-se, portanto, a adoção de políticas que induzam uma recuperação da produtividade da
economia brasileira.
palavras-chave : Crise econômica, Recessão, Sustentabilidade da dívida.
Fernando de Holanda Barbosa Filho é Ph.D em economia pela New York University.
Pesquisador da Fundação Getulio Vargas, Instituto Brasileiro de Economia (RJ).
@ – fhbf@fgv.br
Recebido em 22.2.2017 e aceito em 8.3.2017.
I
Instituto Brasileiro de Economia, Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro/ Rio de
Janeiro, Brasil.