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TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS: UMA MODALIDADE DE ESCRAVIDÃO

MODERNA BASEADA NA VULNERABILIDADE DA VÍTIMA

Vitória Gonçalves Lôbo Ramos1

RESUMO: A globalização, de modo geral, trouxe avanços para a população. No entanto,


esse progresso que adveio da expansão da tecnologia também contribuiu de forma significativa
para o desenvolvimento de atividades ilegais, como é o caso do tráfico internacional de pessoas.
Este artigo aborda o tráfico como sendo uma atividade voltada à exploração de seres humanos,
sendo esta prática equiparada a uma modalidade de escravidão moderna baseada na
vulnerabilidade da vítima, que se trata de uma realidade presente em pleno século XXI. A
pesquisa dá ênfase ao esclarecimento do conceito e de suas modalidades, à análise das
legislações vigentes, bem como, aos desafios e dificuldades que se desdobram desde a confusão
de termo ao enfrentamento desse crime enquanto violação dos direitos humanos, principalmente
em relação ao princípio da dignidade da pessoa humana.

PALAVRAS-CHAVE: Tráfico Internacional de Pessoas. Escravidão Moderna.


Vulnerabilidade de Vítima. Dignidade da Pessoa Humana.

1. INTRODUÇÃO
O tráfico de pessoas teve seu marco inicial com a prática do tráfico negreiro, sendo
considerada uma das mais antigas formas de violação de direitos humanos. Com o fim do tráfico
e da escravidão, as nacionalidades entraram em um novo século em busca de novas perspectivas
pelo mundo.
Contudo, com a globalização, a intensificação da mobilidade humana e o aumento
demasiado dos fluxos migratórios, tem-se verificado o reaparecimento dessa prática de
transporte de pessoas para fins de exploração, sendo designada a expressão “tráfico de pessoas”,
ou ainda, como equiparada neste artigo, a “escravidão moderna”. A expressão escravidão

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Graduanda em Direito pelo Centro Universitário do Rio São Francisco, Bahia.
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moderna surge para caracterizar as relações de trabalhos em que as pessoas são obrigadas a
desempenhar uma tarefa contra o seu consentimento, através de maneiras de ameaça,
intimidação, detenção e violência física ou psicológica.
A presente pesquisa pretende abordar sobre as problemáticas no que tange a exploração
das pessoas vulneráveis, buscando responder a seguinte pergunta: quais os principais desafios e
dificuldades para o enfrentamento do tráfico internacional?
O objetivo é tratar o tráfico internacional como uma atividade voltada à exploração de
seres humanos, buscando esclarecer o seu conceito, dando enfoque às medidas de iniciativa para
o seu enfrentamento e os desafios para as normas serem efetivadas, considerando também a
reinclusão da vítima na sociedade.
A metodologia utilizada neste artigo se sustentou em pesquisas bibliográficas, com base
em estudo histórico e entendimentos doutrinários, assim como também buscou ampliar
conhecimentos através das legislações pertinentes ao tema em debate.
A pesquisa se justifica pela importância dos direitos humanos, principalmente para as
pessoas vulneráveis, buscando assegurar um dos direitos mais importantes que está previsto na
Constituição Federal de 1988, que se trata do princípio da dignidade da pessoa humana, visto que
a ideia de superação da exploração humana ainda se trata de uma utopia.

2. O CONCEITO, ELEMENTOS E PRINCIPAIS CAUSAS DO TRÁFICO.


O conceito de tráfico internacional amplamente aceito por nosso ordenamento jurídico,
atualmente, é o que se encontra no art. 3º do Protocolo de Palermo. De acordo com o Protocolo,
que foi aprovado pelo Congresso Nacional em 2004, o tráfico de pessoas é:
O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas,
recorrendo-se à ameaça ou ao uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à
fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade (...) para fins
de exploração. (PALERMO, 2000)

Trata-se de uma organização criminosa transnacional, que explora seres humanos,


principalmente mulheres e crianças, para a prática de atividades desumanas e ilegais, equiparadas
à escravidão. Em grande parte, essas atividades compreendem a prostituição, exploração sexual e
laboral e a servidão por dívida.
O mesmo Protocolo trata a escravidão, de maneira simplificada, como “a exploração da
prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados,

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escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos”. Como
mencionado acima, é possível identificar a presença de uma modalidade de escravidão moderna,
ainda que, o termo “escravo” seja constantemente cogitado como um fato arcaico.
A partir do conceito, observam-se três elementos necessários para a configuração do tráfico
de pessoas, ou seja, o que é feito (ação), como é feito (meio) e o porquê de ser feito (finalidade).
Segundo a Figura 1:

Fonte: Ministério da Justiça, 2013.

A ação ocorre quando uma pessoa física ou um representante de pessoa jurídica busca o
recrutamento por meio da persuasão para a outra pessoa realizar uma viagem. Esse recrutamento
pode se dá através de diversas maneiras, como: pessoalmente, amigos, anúncios, internet, etc. O
transporte abarca meios de locomoção e facilitação para entrada no local destinado. Por fim, o
alojamento significa oferecer abrigo às pessoas traficadas, mesmo que durante a viagem, em
trânsito ou em locais de exploração.
Em relação aos meios, a ameaça, a força ou outras formas de coação podem ser utilizadas
para alcançar o consentimento da pessoa traficada, sendo este, obviamente, de maneira viciada. O
rapto é o sequestro ou a permanência em cárcere privado. A fraude e o engano ocorrem quando o
aliciante se utiliza de meios fraudulentos como promessas falsas, emprego digno, casamento para

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o convencimento da vítima. O abuso de autoridade e a vulnerabilidade acontecem quando o
traficante se utiliza do seu poder ou da vulnerabilidade da pessoa para coagi-la. Por fim, a entrega
ou aceitação de pagamentos ou benefícios pode ser um meio utilizado, por exemplo, na entrega
de filhos em troca de um valor determinado. A respeito da exploração, o Protocolo e a Política
Nacional reconhecem expressamente os seguintes modos: prostituição ou outras formas de
exploração sexual; trabalhos forçados; escravidão ou práticas similares, servidão e remoção de
órgãos.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), as principais causas que
favorecem ao tráfico internacional são: globalização, pobreza, ausência de oportunidades de
trabalho, discriminação de gênero, instabilidade política, econômica e civil em regiões de
conflito, violência doméstica, emigração sem documento, turismo sexual, corrupção de
funcionários públicos e leis deficientes. Diante de tais fatores, percebe-se que a vulnerabilidade,
independente de origem, torna-se o principal motivo para que as pessoas se submetam à situação
do tráfico.

3. OS ALICIADORES, O PERFIL E A VULNERABILIDADE DAS VÍTIMAS


Os aliciadores, geralmente, são do mesmo país ou de uma cultura semelhante à da sua
vítima, o que facilita ainda mais a exploração da vulnerabilidade do seu alvo. O conhecimento
acerca da vulnerabilidade seja ela econômica, física e social torna mais simples o objetivo dos
traficantes, que se dispõe de estratégias criativas e implacáveis para persuadirem as vítimas. De
forma geral, tais estratégias tratam-se de melhores oportunidades e ótimas condições de vida.
Existem também traficantes que se utilizam da violência para raptar e obter controle sobre
as vítimas. Independente da variedade seja no consentimento através de falsas promessas ou da
coação e do emprego de violência, os aliciadores possuem um ponto em comum: o propósito de
explorar pessoas para fins lucrativos.
A vítima se caracteriza como qualquer pessoa que cruza fronteira, seja ela dentro do
território nacional ou internacional, pretendendo ir à busca de sonho ou condições digna de vida.
Normalmente, são pessoas bastante vulneráveis que são enganadas com falsas oportunidades,
decorrentes de pessoas que aparentam ser influentes e ter boas intenções.
Os grupos mais passíveis ao tráfico são crianças, adolescentes e jovens, principalmente do
sexo feminino, com baixa escolaridade. São esses os grupos que têm mais valor para o comércio,
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por exemplo, as crianças são vítimas de adoção ilegal, além de tráfico de órgãos; os adolescentes
e mulheres para casamento forçado ou até exploração sexual e prostituição.
Pesquisas realizadas no Brasil também confirmam que a maioria das vítimas registradas é
do sexo feminino (Leal & Leal, 2002; Colares, 2004; Secretaria Nacional de Justiça e
Organização Internacional do Trabalho, 2007; UNODC, 2009; Ministério da Justiça, 2013) todas
essas obras destacam que as vítimas são oriundas de classes populares, com baixa escolaridade,
que habitam espaços urbanos periféricos com carência de saneamento, transporte, moram com
algum familiar, têm filhos (Leal & Leal, 2002; Hazeu, 2008) e exercem atividades laborais de
baixa rentabilidade, como cabelereira, esteticista, auxiliar de enfermagem, professora de ensino
fundamental, vendedora, secretária e doméstica (Leal & Leal, 2002; Colares, 2004; Secretaria
Nacional de Justiça, 2005).
Como mencionado anteriormente, são muitos os fatores que favorecem ao tráfico
internacional. Porém, essas motivações podem ser mais complicadas como a vontade de conhecer
outros lugares e novas culturas, o casamento com estrangeiros ou até a necessidade de sair de
uma condição desfavorável como violência doméstica, abuso sexual, preconceito.
O tráfico se beneficia daquilo que o homem mais almeja que é sonhar, querer ser grande e
ir além. Ele age exatamente nos locais onde as pessoas têm seus sonhos desacreditados, onde não
resta alternativa a não ser confiar numa promessa que parece ser a oportunidade aceitável de uma
vida melhor.

4. INICIATIVA PARA O ENFRENTAMENTO


O tráfico é um problema moderno de dimensão exorbitante que abala a situação social de
qualquer país, razão pela qual seu enfrentamento apenas se torna possível por intermédio de uma
rede de cooperação.
Por se tratar de um crime complexo e necessitar de inúmeras respostas para cada caso, seu
enfrentamento deve abarcar questões como: segurança pública, relações internacionais, direitos
humanos, desigualdade social, proteção de direitos da mulher e das crianças e adolescentes, entre
outros. Ainda, faz-se necessária à execução de políticas públicas para a reinclusão na sociedade.
A Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas instituiu o Dia Nacional de
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, a ser comemorado anualmente no dia 30 de julho, quando
também se comemora o mesmo dia pela Organização das Nações Unidas (ONU).
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A semana que precede esse dia ocorrem ações de grande visibilidade para o alerta contra o
tráfico de pessoas, são realizadas em vários países pelo Escritório da Nações Unidas sobre
Drogas e Crime (UNODC) e pelos Estados que aderiram à Campanha Coração Azul. O Brasil
aderiu essa campanha de conscientização em 2013 e, desde então, realiza essa Semana de
Nacional de Mobilização.
Entre os objetivos dessa Semana estão: ampliar o conhecimento e a mobilização da
sociedade, ampliar a participação da sociedade civil, divulgar e oferecer visibilidade às ações
desenvolvidas para o enfrentamento do tráfico, implementar o III Plano Nacional de
Enfrentamento e disseminar a Campanha Coração Azul, como instrumento de prevenção.

4.1 LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL


Para combater ao tráfico, o Brasil ratificou instrumentos internacionais com a intenção de
incorporar e adaptar a legislação interna à legislação internacional. Foram eles: Convenção para
a Eliminação do Tráfico de Pessoas e da Exploração da Prostituição (1958), Convenção contra o
Crime Organizado Transnacional (Decreto nº 5015 12/03/2004), Protocolo Facultativo Relativo à
prevenção, repressão e punição do tráfico de pessoas, em especial mulheres e meninas (Decreto
nº 5017 12/03/2004) e Protocolo Facultativo Relativo ao Tráfico de Migrantes por via terrestre,
marítima e aérea (Decreto nº 5016 12/03/2004).

4.1.1 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DE DIREITOS HUMANOS


A Declaração Universal de Direitos Humanos (UDHR) foi adotada em 1948 pela
Organização das Nações Unidas (ONU) e tem como suas principais preocupações a efetivação
internacional dos direitos fundamentais dos seres humanos. Essa Declaração tem como base a
dignidade da pessoa humana e serve como código de conduta mundial para assegurar que esses
direitos são universais, independente da condição da pessoa ou do lugar em que esteja.

4.1.2 PROTOCOLO DE PALERMO


O Protocolo de Palermo ou Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra
a Criminalidade Organizada Transnacional relativo à Prevenção, à Repressão e à Punição do
Tráfico de Pessoas, em especial de Mulheres e Crianças, do qual o Brasil é signatário, alega em

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seu texto que pretende “prevenir e combater” ao tráfico internacional de pessoas, mas tropeça
na legislação de cada país. Em seu preâmbulo, cita:

“Declarando que uma ação eficaz para prevenir e combater o tráfico de pessoas, em
especial mulheres e crianças, exige por parte dos países de origem, de trânsito e de
destino uma abordagem global e internacional, que inclua medidas destinadas a prevenir
esse tráfico, punir os traficantes e proteger as vítimas desse tráfico, designadamente
protegendo os seus direitos fundamentais, internacionalmente reconhecidos, tendo em
conta que, apesar da existência de uma variedade de instrumentos internacionais que
contêm normas e medidas práticas para combater a exploração de pessoas,
especialmente mulheres e crianças, não existe nenhum instrumento universal que trate de
todos os aspectos relativos ao tráfico de pessoas, (...)” (PALERMO, 2000).

O Protocolo deixou sob responsabilidade dos países signatários a criminalização,


penalização e adoção de medidas legais para reprimir e condenar os atos ilegais. No Brasil, o
mesmo foi recepcionado pelo Decreto de nº 5.017/2004 e a Lei 12.015/2009 acrescentou o artigo
231 ao Código Penal Brasileiro.

4.2 LEGISLAÇÃO INTERNA


A legislação penal brasileira ainda não aprecia todas as modalidades de tráfico, apenas o
de pessoas para fins de exploração sexual. Esta modalidade está prevista nos arts. 231 e 231-A do
Código Penal. O artigo 231 define o crime como a ação de “Promover ou facilitar a entrada, no
território nacional, de alguém que nele venha a exercer a prostituição ou outra forma de
exploração sexual, ou a saída de alguém que vá exercê-la no estrangeiro” e o artigo 231-A como
a conduta de “Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território nacional para
o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual”.
As demais formas de exploração estão previstas em outros tipos penais, fazendo com que
a exploração em si consiga ser punida, mas não necessariamente a mercantilização da pessoa que
se caracteriza com a ação, o meio e que precedem à exploração. É o que ocorre com o tráfico para
fins de trabalho ou serviços forçados, que pode ser punida através do art. 149 do CP, que
caracteriza o tipo penal da “redução à condição análoga a de escravo”. Esse tipo penal pode
incidir no caso de tráfico de pessoas, punindo apenas a conduta da exploração, mas não os atos
anteriores.
O tráfico para fins de remoção de órgãos encontra na Lei de Transplante, Lei nº 9.434/97,
que criminaliza qualquer forma de extração de órgãos, tecidos ou partes do corpo sem

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autorização da pessoa em vida ou dos familiares. Esta lei também não tipifica os atos anteriores
como transporte, fraude, coação, entre outros.
Por fim, tanto o Protocolo de Palermo com a Política Nacional não são taxativos, isto é,
abrem a possibilidade para outras formas de exploração. Dessa forma, pesquisas de campo têm
identificado outras modalidades como tráfico para fins de mendicância ou adoção ilegal e para
fins da prática de crimes.

4.3 REINCLUSÃO DA VÍTIMA NA SOCIEDADE


Na trajetória do ser humano em posição de vítima, existe uma série de acontecimentos
desagradáveis. A vítima se encontra numa situação desumana e infeliz, mas tem consciência de
que precisa voltar para o mesmo cenário de onde saiu. Quando volta, sente vergonha por ter sido
enganada e começa a sentir um novo ciclo de vitimização, sabendo que a sociedade não vai
aceitar.
É nesse momento que precisa existir uma melhoria acerca da assistência às vítimas,
retomando a importância do cuidado para que não aconteça novamente a vitimização. A inclusão
no mercado de trabalho é uma matéria complicada, mas necessita-se, nesse momento, da ação de
amigos e familiares para a conscientização dos familiares para acolher a pessoa que está tentando
voltar a ter sua dignidade.

5. OS DESAFIOS E AS DIFICULDADES PARA O ENFRENTAMENTO


Os desafios se estendem da necessidade de instrumentos legais mais adequados às
diretrizes internacionais capazes de preparar os agentes para o enfrentamento, de informar a
sociedade que o crime ainda existe e é recorrente no país, de produzir conhecimentos mais
qualificados para compreender a expressão “tráfico humano”, de estimular políticas públicas
para responder às questões que integram a problemática.

São muitos os desafios para o enfrentamento do tráfico, são eles: promover e efetivar os
direitos humanos, definir estratégias de prevenção e repressão, assim como medidas protetivas e
de assistências, compreender a definição do termo para distinguir de outras situações, direcionar
política de enfrentamento juntamente com mecanismos estruturados e consistentes e identificar a
rota das práticas no âmbito nacional e internacional.

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Os planos devem se basear nos princípios fundamentais, levando em consideração a
responsabilidade e dever do Estado, incentivando a participação da sociedade para elaborar e
concretizar uma política capaz de prevenir, combater e reinserir a pessoa vitimizada, tendo em
vista as suas vulnerabilidades.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realidade do tráfico de pessoas, ainda silenciosa e invisível, necessita ser conhecida
para ser combatida em todas as suas maneiras de exploração, ora quando se relaciona ao trabalho
escravo, quando possibilita a venda de órgãos humanos, ou quando resulta na exploração sexual
de mulheres, crianças e/ou adolescentes.
A escravidão, como observado, ainda existe na contemporaneidade e o tráfico constitui
uma de suas modalidades. O direito internacional busca através de Tratados e Convenções
combater esse crime, mas é preciso que cada nação se dedique para que esse objetivo seja
alcançado.
A simples ratificação dos direitos universais não é suficiente, tendo em vista que é
necessário aplicar outras medidas que sejam capazes de administrar essa organização criminosa.
Para que a legislação seja adequada e abarque todas as problemáticas, é preciso englobar e
promover a identificação, proteção e assistência às vítimas. Para isso, fazem-se necessários
maiores esforços pelo Estado para que a legislação seja cumprida e fiscalizada.
É preciso estimular e investir na produção de conhecimentos no que se refere a questão do
tráfico de pessoas e suas características, violações, assistência às vítimas, e outras questões
paralelas. Mesmo com semelhanças a outras violações, precisa analisar com cautela às vítimas,
de modo que não implique em erros, novas violações e menosprezo daquilo que necessita de
atenção especial.
Outrossim, as iniciativas para o enfrentamento devem ser estratégicas, ou seja, é preciso
se especializar nas modalidades do tráfico, como também em perfis e ações que favoreçam o seu
acontecimento, o papel do Estado e em possibilidades de não comprometer o risco de revitimizar
grupos que apresentam vulnerabilidades.
Enfim, a manifestação do tráfico de pressão não precisa servir para acusar pessoas,
impossibilitar fluxos migratório, conter comportamentos lícitos de grupos, legitimar processos

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socioeconômicos, palestras socioafetivas ou instrumentos de controle social, pois evitar o
discurso sobre tema é uma maneira de silenciar a violação dos direitos de suas vítimas.

7. REFERÊNCIAS
ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Exploração de trabalho escravo e tráfico de seres humanos:
a face desconhecida do trabalho organizado. São Paulo: Jus Humanum – Revista Eletrônica de
Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade Cruzeiro do Sul. São Paulo, v. 1, n. 3, jan./jun. 2014

BARROSO, Luis Roberto. A Dignidade da Pessoa Humana no Direito Constitucional


Contemporâneo: Natureza Jurídica, Conteúdos Mínimos e Critérios de Aplicação. Versão
provisória para debate público. Mimeografado, dezembro de 2010.

BRASIL, Ministério da Justiça. Desafios para o enfrentamento ao tráfico de pessoas.


Organização: Michelle Gueraldi. 1ª ed. Brasília: Coordenação de Enfrentamento ao Tráfico de
Pessoas, 2014. 193 p. – (Cadernos temáticos sobre tráfico de pessoas; v. 5).

BRASIL, Ministério da Justiça. Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.


Brasília: Ministério da Justiça, 2007, p. 57.

BRASIL, Secretaria Nacional de Justiça. Tráfico de pessoas: uma abordagem para os direitos
humanos / Secretaria Nacional de Justiça, Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e
Qualificação; organização de Fernanda Alves dos Anjos... [et al.]. – 1ª ed. Brasília: Ministério da
Justiça, 2013.

CAMPOS, Bárbara Pincowsca Cardoso. O tráfico de pessoas à luz da normativa internacional


de proteção dos direitos humanos. Revista do Instituto Brasileiro de Direitos Humanos,
Fortaleza, ano 7, n. 7, n. 7, p. 37-49. 2006/2007, p. 42.

HAZEU, Marcel. Políticas públicas de enfrentamento ao tráfico de pessoas: a quem interessa


enfrentar o tráfico de pessoas? Política nacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas. 2. ed.
Brasília: SNJ, 2008.
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LEAL, Maria Lúcia & LEAL, Maria de Fátima P. (2002). Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres,
Crianças e Adolescentes para Fins de Exploração Sexual Comercial no Brasil. Centro de
Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes (CECRIA).

PEARSON, Elaine. Direitos humanos e tráfico de pessoas: um manual. Rio de Janeiro:


Aliança Global Contra Tráfico de Mulheres, 2006, p. 24.

Protocolo de Palermo. Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra a


Criminalidade Organizada Transnacional relativo à Prevenção, à Repressão e à Punição do
Tráfico de Pessoas, em especial de Mulheres e Crianças. Acesso em: 18 de setembro de 2020.

VENSON, Anamaria Marcon; PEDRO, Joana Maria. Tráfico de pessoas: uma história do
conceito. Revista Brasileira de História. São Paulo, 2013.

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