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1. INTRODUÇÃO
O tráfico de pessoas teve seu marco inicial com a prática do tráfico negreiro, sendo
considerada uma das mais antigas formas de violação de direitos humanos. Com o fim do tráfico
e da escravidão, as nacionalidades entraram em um novo século em busca de novas perspectivas
pelo mundo.
Contudo, com a globalização, a intensificação da mobilidade humana e o aumento
demasiado dos fluxos migratórios, tem-se verificado o reaparecimento dessa prática de
transporte de pessoas para fins de exploração, sendo designada a expressão “tráfico de pessoas”,
ou ainda, como equiparada neste artigo, a “escravidão moderna”. A expressão escravidão
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Graduanda em Direito pelo Centro Universitário do Rio São Francisco, Bahia.
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moderna surge para caracterizar as relações de trabalhos em que as pessoas são obrigadas a
desempenhar uma tarefa contra o seu consentimento, através de maneiras de ameaça,
intimidação, detenção e violência física ou psicológica.
A presente pesquisa pretende abordar sobre as problemáticas no que tange a exploração
das pessoas vulneráveis, buscando responder a seguinte pergunta: quais os principais desafios e
dificuldades para o enfrentamento do tráfico internacional?
O objetivo é tratar o tráfico internacional como uma atividade voltada à exploração de
seres humanos, buscando esclarecer o seu conceito, dando enfoque às medidas de iniciativa para
o seu enfrentamento e os desafios para as normas serem efetivadas, considerando também a
reinclusão da vítima na sociedade.
A metodologia utilizada neste artigo se sustentou em pesquisas bibliográficas, com base
em estudo histórico e entendimentos doutrinários, assim como também buscou ampliar
conhecimentos através das legislações pertinentes ao tema em debate.
A pesquisa se justifica pela importância dos direitos humanos, principalmente para as
pessoas vulneráveis, buscando assegurar um dos direitos mais importantes que está previsto na
Constituição Federal de 1988, que se trata do princípio da dignidade da pessoa humana, visto que
a ideia de superação da exploração humana ainda se trata de uma utopia.
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escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos”. Como
mencionado acima, é possível identificar a presença de uma modalidade de escravidão moderna,
ainda que, o termo “escravo” seja constantemente cogitado como um fato arcaico.
A partir do conceito, observam-se três elementos necessários para a configuração do tráfico
de pessoas, ou seja, o que é feito (ação), como é feito (meio) e o porquê de ser feito (finalidade).
Segundo a Figura 1:
A ação ocorre quando uma pessoa física ou um representante de pessoa jurídica busca o
recrutamento por meio da persuasão para a outra pessoa realizar uma viagem. Esse recrutamento
pode se dá através de diversas maneiras, como: pessoalmente, amigos, anúncios, internet, etc. O
transporte abarca meios de locomoção e facilitação para entrada no local destinado. Por fim, o
alojamento significa oferecer abrigo às pessoas traficadas, mesmo que durante a viagem, em
trânsito ou em locais de exploração.
Em relação aos meios, a ameaça, a força ou outras formas de coação podem ser utilizadas
para alcançar o consentimento da pessoa traficada, sendo este, obviamente, de maneira viciada. O
rapto é o sequestro ou a permanência em cárcere privado. A fraude e o engano ocorrem quando o
aliciante se utiliza de meios fraudulentos como promessas falsas, emprego digno, casamento para
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o convencimento da vítima. O abuso de autoridade e a vulnerabilidade acontecem quando o
traficante se utiliza do seu poder ou da vulnerabilidade da pessoa para coagi-la. Por fim, a entrega
ou aceitação de pagamentos ou benefícios pode ser um meio utilizado, por exemplo, na entrega
de filhos em troca de um valor determinado. A respeito da exploração, o Protocolo e a Política
Nacional reconhecem expressamente os seguintes modos: prostituição ou outras formas de
exploração sexual; trabalhos forçados; escravidão ou práticas similares, servidão e remoção de
órgãos.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), as principais causas que
favorecem ao tráfico internacional são: globalização, pobreza, ausência de oportunidades de
trabalho, discriminação de gênero, instabilidade política, econômica e civil em regiões de
conflito, violência doméstica, emigração sem documento, turismo sexual, corrupção de
funcionários públicos e leis deficientes. Diante de tais fatores, percebe-se que a vulnerabilidade,
independente de origem, torna-se o principal motivo para que as pessoas se submetam à situação
do tráfico.
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seu texto que pretende “prevenir e combater” ao tráfico internacional de pessoas, mas tropeça
na legislação de cada país. Em seu preâmbulo, cita:
“Declarando que uma ação eficaz para prevenir e combater o tráfico de pessoas, em
especial mulheres e crianças, exige por parte dos países de origem, de trânsito e de
destino uma abordagem global e internacional, que inclua medidas destinadas a prevenir
esse tráfico, punir os traficantes e proteger as vítimas desse tráfico, designadamente
protegendo os seus direitos fundamentais, internacionalmente reconhecidos, tendo em
conta que, apesar da existência de uma variedade de instrumentos internacionais que
contêm normas e medidas práticas para combater a exploração de pessoas,
especialmente mulheres e crianças, não existe nenhum instrumento universal que trate de
todos os aspectos relativos ao tráfico de pessoas, (...)” (PALERMO, 2000).
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autorização da pessoa em vida ou dos familiares. Esta lei também não tipifica os atos anteriores
como transporte, fraude, coação, entre outros.
Por fim, tanto o Protocolo de Palermo com a Política Nacional não são taxativos, isto é,
abrem a possibilidade para outras formas de exploração. Dessa forma, pesquisas de campo têm
identificado outras modalidades como tráfico para fins de mendicância ou adoção ilegal e para
fins da prática de crimes.
São muitos os desafios para o enfrentamento do tráfico, são eles: promover e efetivar os
direitos humanos, definir estratégias de prevenção e repressão, assim como medidas protetivas e
de assistências, compreender a definição do termo para distinguir de outras situações, direcionar
política de enfrentamento juntamente com mecanismos estruturados e consistentes e identificar a
rota das práticas no âmbito nacional e internacional.
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Os planos devem se basear nos princípios fundamentais, levando em consideração a
responsabilidade e dever do Estado, incentivando a participação da sociedade para elaborar e
concretizar uma política capaz de prevenir, combater e reinserir a pessoa vitimizada, tendo em
vista as suas vulnerabilidades.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realidade do tráfico de pessoas, ainda silenciosa e invisível, necessita ser conhecida
para ser combatida em todas as suas maneiras de exploração, ora quando se relaciona ao trabalho
escravo, quando possibilita a venda de órgãos humanos, ou quando resulta na exploração sexual
de mulheres, crianças e/ou adolescentes.
A escravidão, como observado, ainda existe na contemporaneidade e o tráfico constitui
uma de suas modalidades. O direito internacional busca através de Tratados e Convenções
combater esse crime, mas é preciso que cada nação se dedique para que esse objetivo seja
alcançado.
A simples ratificação dos direitos universais não é suficiente, tendo em vista que é
necessário aplicar outras medidas que sejam capazes de administrar essa organização criminosa.
Para que a legislação seja adequada e abarque todas as problemáticas, é preciso englobar e
promover a identificação, proteção e assistência às vítimas. Para isso, fazem-se necessários
maiores esforços pelo Estado para que a legislação seja cumprida e fiscalizada.
É preciso estimular e investir na produção de conhecimentos no que se refere a questão do
tráfico de pessoas e suas características, violações, assistência às vítimas, e outras questões
paralelas. Mesmo com semelhanças a outras violações, precisa analisar com cautela às vítimas,
de modo que não implique em erros, novas violações e menosprezo daquilo que necessita de
atenção especial.
Outrossim, as iniciativas para o enfrentamento devem ser estratégicas, ou seja, é preciso
se especializar nas modalidades do tráfico, como também em perfis e ações que favoreçam o seu
acontecimento, o papel do Estado e em possibilidades de não comprometer o risco de revitimizar
grupos que apresentam vulnerabilidades.
Enfim, a manifestação do tráfico de pressão não precisa servir para acusar pessoas,
impossibilitar fluxos migratório, conter comportamentos lícitos de grupos, legitimar processos
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socioeconômicos, palestras socioafetivas ou instrumentos de controle social, pois evitar o
discurso sobre tema é uma maneira de silenciar a violação dos direitos de suas vítimas.
7. REFERÊNCIAS
ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Exploração de trabalho escravo e tráfico de seres humanos:
a face desconhecida do trabalho organizado. São Paulo: Jus Humanum – Revista Eletrônica de
Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade Cruzeiro do Sul. São Paulo, v. 1, n. 3, jan./jun. 2014
BRASIL, Secretaria Nacional de Justiça. Tráfico de pessoas: uma abordagem para os direitos
humanos / Secretaria Nacional de Justiça, Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e
Qualificação; organização de Fernanda Alves dos Anjos... [et al.]. – 1ª ed. Brasília: Ministério da
Justiça, 2013.
VENSON, Anamaria Marcon; PEDRO, Joana Maria. Tráfico de pessoas: uma história do
conceito. Revista Brasileira de História. São Paulo, 2013.
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