Você está na página 1de 18

UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS, CONTÁBEIS, ECONÔMICAS


E DA COMUNICAÇÃO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EM GESTÃO DE COOPERATIVAS

A MULHER NO COOPERATIVISMO: UMA ABORDAGEM SOBRE A COTRIROSA1

Flávia Andréia Hein2


Pedro Luís Büttenbender3
Resumo
O fortalecimento do cooperativismo no Brasil revela uma faceta interessante: o forte
crescimento da participação feminina nas cooperativas. O presente artigo tem por escopo
apresentar a mulher no cooperativismo, realizando uma abordagem sobre a Cooperativa
Cotrirosa. Para tanto, inicialmente parte-se da história do cooperativismo, apresentando a
evolução da mulher na sociedade e finalmente considerando a importância de sua participação
nas cooperativas na atualidade. Para o desenvolvimento deste estudo utilizou-se de pesquisa
exploratória, dissertando sobre a mulher no cooperativismo, realizando uma abordagem com
base em dados obtidos junto a Cotrirosa. A pesquisa foi iniciada com um levantamento
bibliográfico sobre a temática da mulher no cooperativismo, para tanto foram coletados
documentos disponibilizados pela Cotrirosa, com o intuito de identificar a participação da
mulher ao longo da história desta cooperativa. Através da análise dos dados levantados em
campo e da comparação desses dados com outros estudos, pode-se compreender um pouco
mais sobre as mudanças para as mulheres a partir de sua participação em novas formas de
organização do trabalho.
Palavras-Chave: Mulher. Cooperativismo. Gênero.

1- Introdução:
Desde seu nascimento em 1844, o cooperativismo vem sendo uma importante
ferramenta de união e integração entre os povos do mundo inteiro. No Brasil, o
cooperativismo surgiu por volta do século XIX, uma sociedade com idéias cooperativistas.
Naquela época as pessoas nada sabiam sobre cooperativismo, sobre sua importância
para o mundo. O cooperativismo não está apenas ligado a cooperativas, ou na união dessas
pessoas em prol de seus interesses perante governos e entidades. Cooperativismo em seu
significado genérico é a união, a cooperação de pessoas de um determinado seguimento em
busca de objetivos mútuos (PINHO, 1982).
Mas isso vai além da busca por direitos, porque une as pessoas através de laços de
amizade, companheirismo e amor, além dos interesses em comum, cooperativismo também é
vida, pois renova a esperança de famílias e crianças que necessitam de ajuda através de seus
projetos sociais. É informação, pois contribui para que sua sociedade fique por dentro das
mudanças sociais em diversas áreas, desde a agricultura até a educação.
1
Artigo final do Curso de Pós-Graduação em Gestão de Cooperativas, oferecido pelo Departamento
de Administração, Contabilidade, Economia e Comunicação – DACEC da UNIJUI. Ano 2011.
2
Pós-graduanda do Curso de Pós-Graduação em Gestão de Cooperativas, DACEC/UNIJUI. e-
mail:flaviaahein@yahoo.com.br Telefone 55-9984-9723
3
Mestre em Gestão Empresarial (FGV-EBAPE/2001) e Doutorando em Administração (UNaM).
Professor e pesquisador do Departamento de Administração, Contabilidade, Economia e
Comunicação – DACEC da UNIJUI. Orientador do Estudo. E-mail pedrolb@unijui.edu.br
Telefone: 55-9962-1318.
O fortalecimento do cooperativismo no Brasil revela uma faceta interessante: o forte
crescimento da participação feminina nas cooperativas. Não só aumentou o número de
mulheres associadas, agora, elas passaram a predominar nos cargos executivos das
associações.
Deste modo, este artigo aborda a questão da participação da mulher no
cooperativismo, buscando destacar a importância desta atuação.
Tem como objetivo geral estudar a participação da Mulher na Cotrirosa. Contudo,
justifica-se pela questão de que a ascensão da mulher no âmbito das organizações tem sido
considerada um dos fenômenos mais marcantes desde o final do século passado. As mulheres
passaram a ocupar novas posições dominantes nas empresas, criando e inovando o seu próprio
negócio e desempenhando funções e tarefas que por muito tempo pertenceram exclusivamente
ao mundo masculino, uma vez que, a visão do trabalho feminino sempre apareceu mais como
complemento da renda familiar. Tal fato se deve à herança cultural da sociedade patriarcal
que sempre reforçou a tradicional divisão sexual do trabalho.
Para o desenvolvimento deste estudo, realizou-se pesquisa bibliográfica e também em
documentos fornecidos pela cooperativa.
Inicialmente se apresenta um breve resgate histórico do cooperativismo no Brasil, em
seguida se faz um breve relato dos avanços da mulher em termos de direitos e participações,
considerando a questão do gênero. E finalmente, uma análise da participação da mulher na
Cotrirosa.

2- Referencial Teórico

2.1 O Cooperativismo
A experiência da cooperativa começou na França e na Inglaterra, entre 1820 e 1840;
inicialmente, além de suas funções econômicas, a cooperativa desempenhava o papel de
sociedade beneficente, de sindicato e de universidade popular. A partir do fim do século XIX,
o movimento cooperativista envolveu novos setores: agricultura (1884), comércio varejista
(1883-1885), pesca (1913), construção e habitação (1920). Introduzindo no Brasil em fins do
século passado, o cooperativismo só teve algum progresso nos últimos anos, sendo mais
importante nos Estados Sulinos, sobretudo São Paulo e Rio Grande do Sul (OCESC, 2000).
Organizações de cooperação voluntária concebidas como modelo alternativo á
concorrência capitalista. Em quase todos os países, promulgaram-se leis especificas para
regulamentá-las. São organizações democráticas, cuja administração e gestão devem efetuar-
se da forma acordada pelos sócios, que devem ter os mesmos direitos e o mesmo poder dentro
e participar da tomada de decisões. As cotas de capital, em caso de serem remuneradas,
devem receber uma taxa de juros reduzida. Os rendimentos auferidos pertencem aos
cooperativados, distribuindo-se de acordo com os seguintes critérios: em primeiro lugar,
destinando uma parte ao desenvolvimento da cooperativa; em segundo lugar, reservando outra
parte para a eventualidade de gastos extraordinários e, em terceiro lugar, distribuindo as
sobras entre os cooperativados proporcionalmente às suas contribuições para a associação.
Devem destinar fundos à formação profissional de seus membros e funcionários, assim como
à do público em geral para respeitar os princípios da cooperação econômica e democrática.
Nas cooperativas de produtores, é freqüente alguns membros contribuírem apenas com capital
- sócios capitalistas - é outros, com trabalho (OCESC, 2000).
Etimologicamente cooperação (do verbo latino cooperari, de cum e operari =operar
junto com alguém) significa a prestação de auxílio para um fim comum. Os pioneiros de
Rochdale operaram juntos a fim de amenizarem a situação de exploração à qual estavam
submetidos, tendo em vista o momento histórico o qual viviam.
Pinho (1982, p. 8) afirma que “a cooperação quando organizada segundo estatutos
previamente estabelecidos, dá origem a determinados grupos sociais. Dentre tais grupos as
cooperativas representam aqueles que visam, em primeiro lugar, fins econômicos e
educativos.”
Segundo Crúzio (2001, p.14), conceitua-se cooperativa “como uma sociedade de
pessoas, com forma e natureza jurídica própria, de natureza civil, não sujeitas a falência,
constituídas para prestar serviços aos associados”. Ou seja, é a união de profissionais ou
trabalhadores diretos que se unem com interesses individuais em produzir, comercializar ou
prestar um serviço que não entre em conflito com os objetivos gerais da cooperativa. Podemos
encontrar neste ramo vários tipos de cooperativas, como por exemplo: cooperativas de
serviços comunitários, de consumo, de produção, de trabalho, de mineração, habitacionais e
educacionais dentre muitas outras.
Ainda de acordo com Crúzio (2001, p. 7), entende-se por cooperativa como

uma união de pessoas, cujas necessidades individuais de trabalho, de


comercialização ou de prestação de serviços em grupo, e respectivos interesses
sociais, políticos e econômicos fundem-se nos objetivos coletivos de uma
associação.

Outro conceito de cooperativa encontramos em Ocesc (2000, p. 3), que define


cooperativa como “uma associação autônoma de pessoas que se unem, voluntariamente, para
satisfazer aspirações e necessidades econômicas, sociais e culturais comuns, por meio de uma
empresa de propriedade coletiva e democraticamente gerida.”
O cooperativismo expande oportunidades, sendo adotado em todas as classes e sempre
como associação de pessoas e não de capital. O poder de decisão é competência da assembléia
de associados e a distribuição das sobras financeiras no final de um trabalho deve ser
realizada de uma maneira diversa da que ocorre em empresas capitalistas. Percebendo-se
assim, as características em propriedade de cooperativa, gestão cooperativa e repartição
cooperativa. Sendo que a cooperativa trabalha para seus associados, e não para si própria
como empresa.
O processo gerencial das cooperativas tende, por um lado, a não separar a propriedade
do controle, pois via de regra os dirigentes são associados. Por outro, dada a pequena
importância das sobras da cooperativa na renda anual do cooperado, sua presença na atividade
gerencial não implica em menores possibilidades de oportunismo. Pelo contrário, os custos de
agencia permanecem, criando situação que pode afetar o desempenho corporativo.
Adicionalmente, nas cooperativas o processo interno de tomada de decisões passa por mais
instâncias do que nas empresas não-cooperativas, além de ser dissociado do grau de
participação do cooperado no negócio da cooperativa. O princípio um homem um voto, se por
um lado representa a base ideológica e doutrinária do cooperativismo, por outro, não pode ser
considerado como neutro no desempenho da empresa, induzindo a maiores custos de
transação. A estrutura de direitos de propriedade legalmente definida para a empresa
cooperativa limita seu acesso ao mercado financeiro, criando obstáculos para seu crescimento.
O desafio das estruturas cooperativas modernas é manter seu papel de sistema
produtivo centrado no homem e, ao mesmo tempo, desenvolver organização capaz de
competir com empresas de outras naturezas com orientação para o mercado.

2.1.1 Finalidades da Cooperativa


Como diz Bogardus (1964, p. 61), a finalidade da cooperativa “não é meramente fazer
negócios, mas recriar comunidades, estimulando novos processos de ajuda mútua e novos
métodos de organização e trabalho”.
Partindo do pressuposto de que as cooperativas são sociedades instrumentais, tendo
por fim social a prestação de serviços aos seus associados, a significação de sociedade
cooperativa está contida nas regras entabuladas na Lei Federal N. 5.764, de 16.12.71, a qual
define a política nacional de cooperativismo, instituindo o regime jurídico das sociedades
cooperativas. As normas dessa Lei, com os pertinentes princípios que lhe dão fundamento de
validade, compõem o regime jurídico próprio das cooperativas.
A partir do XXXI Congresso Internacional em Manchester, em 1995, passou-se a
considerar que uma cooperativa:
[...] é uma sociedade autônoma de pessoas que se uniram voluntariamente
para atender às suas necessidades e aspirações econômicas, sociais e culturais
comuns, por meio de uma empresa de propriedade conjunta e democraticamente
controlada. (RECH, 2000, p.22).

A cooperativa, assim, é uma sociedade de pessoas, fulcradas na união de esforços


coordenados para a realização de determinado fim comum, com forma e natureza jurídica
próprias, de natureza civil, não sujeitas à falência, dispondo de respaldo jurídico na atual
Constituição Federal/88, que versa alguns dispositivos a respeito dessas sociedades.
Com efeito, na alínea “c”, do inciso III, do art. 146, da Carta da República, está
disposto que lei complementar irá dar adequado tratamento tributário ao ato cooperativo
praticado pelas sociedades cooperativas. Por sua vez o § 2º, do seu art. 174, determina que a
lei apoiará e estimulará o cooperativismo e outras formas de associativismo.
Os membros da cooperativa não têm subordinação jurídica entre si, mas vivem num
regime de colaboração constante.

2.1.2 Características e vantagens das cooperativas


Neste item serão apresentadas as características que implicam em vantagens para as
cooperativas, deste modo, conforme Benato (2002), constituem princípios do cooperativismo:
a) Adesão livre e voluntária. Como um elemento essencial da democracia;
b) Controle democrático pelos sócios. Cada sócio tem direito a um voto, independente
do valor de seu capita;
c) Participação econômica dos sócios. Nas cooperativas, se adquirem quotas-partes,
podendo o sócio recebê-la quando quiser, obedecendo às normas do estatuto;
d) Autonomia e independência. Neutralidade nos campos políticos, religiosos e
sociais;
e) Educação, treinamento e informação. O homem sendo culto entende-se poder
questionar mais, ver de uma forma mais clara e conquistar os objetivos propostos;
f) Cooperação entre cooperativas. A colaboração mútua diminui os gastos e fortalece
o sistema;
g) Preocupação com a comunidade. A partir do XXXI Congresso Internacional
realizado em 1995 (RECH, 2000), as cooperativas envolveram a sociedade como um de seus
objetivos.
De acordo com Rech (2000), em 1995, na Inglaterra, durante a comemoração do
centenário de fundação da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), no Congresso
Internacional em Manchester, foram discutidos e ampliados o conceito, os valores e os
princípios do cooperativismo adotados pela instituição.
Neste sentido, perfeita interação entre cooperados e cooperativa, o trabalho em
conjunto, a igualdade de direitos e deveres, e a cooperação, mesmo diante da competição são
resumidamente, aspectos básicos do modelo cooperativista.
Conforme Crúzio (2001), as cooperativas apresentam as seguintes vantagens para seus
cooperados, sendo elas:
a) O associado é o próprio dono da associação, além de também dirigir e fiscalizar.
b) A relação é direta entre o tomador de serviço e o associado.
c) O associado produz e vende diretamente ao mercado consumidor.
d) Os interesses e necessidades são representados por todos.
e) Negociam preços e prazos junto a fornecedores e reduzem custos para terceiros.
f) Através da junção de cooperativas, podem expandir suas operações para vários
municípios, cidades e estados.
g) Direitos iguais para todos os sócios.
h) Possibilitam o desenvolvimento intelectual dos associados e seus familiares.
Poder-se-ia citar como vantagem das cooperativas sua constituição jurídica – baseada
na lei N. 5764, de 1971, onde menciona a respeito da forma de adesão e controle de seus
cooperados, da participação econômica efetiva, também da autonomia e independência dos
mesmos, assim como, a educação, treinamento e informação, existindo a colaboração entre
cooperativas, que reduz custos, e a preocupação com a comunidade em geral - pois é diferente
da constituição jurídica de outras empresas, porém de acordo com Oliveira (2006), a
constituição jurídica das cooperativas, por si só, não pode ser considerada como vantagem
competitiva, se a cooperativa não possuir um modelo de gestão eficiente e eficaz. Ou seja, as
vantagens das cooperativas não devem ser baseadas somente nas leis que regem sua
constituição mais sim na perfeita integração entre seus clientes e o mercado em geral. O
mesmo considera como fato, a tendência de que as cooperativas vão perdendo, com o tempo,
determinadas “benevolências governamentais”. E, quando isto acontecer, as mesmas que se
basearam nas vantagens de sua constituição estarão em péssimas condições.

2.2 A Questão do Gênero


O conceito de gênero tem seu embasamento principal na Sociologia e nas Ciências
Sociais ou seja, no entendimento de que sociedade é a vida em grupos. E a cultura ocidental
de nossa época está marcada por interações de mulheres e homens em grupos mistos, com
destaque para a família, a escola, a igreja, a empresa e associações formais e informais dos
mais diversos fins, desde o atendimento de necessidades vitais até a satisfação de
necessidades culturais e de lazer.
Gênero, explica a Assessoria Internacional do Ministério do Trabalho, em “Brasil,
Gênero e Raça” (BRASÍLIA, 1998), é um conceito que se refere a um conjunto de atributos
negativos ou positivos que se aplicam diferencialmente a homens e mulheres, inclusive desde
o momento do nascimento, e determinam as funções, papéis, ocupações e as relações que
homens e mulheres desempenham na sociedade e entre eles mesmos. Esses papéis e relações
não são determinados pela Biologia mas sim pelo contexto social, cultural, político, religioso
e econômico de cada organização humana, e são passados de uma geração a outra.
É, portanto, a sociedade que estabelece os papéis, as funções, o comportamento e o
perfil que identificam a mulher e o homem nos grupos sociais. As características sexuais,
entretanto, são determinadas biologicamente desde o momento da concepção.
Gênero não se confunde com preconceito ou julgamento negativo prévio de pessoas ou
grupos estigmatizados por estereótipos. Nem com qualquer forma de discriminação social,
étnica, sexual, etária ou outra. As questões de gênero são também distintas das reivindicações
dos movimentos feministas e de luta das mulheres por sua emancipação.
O conceito de gênero permite problematizar as diferenças construídas socialmente
entre homens e mulheres que são, muitas vezes, naturalizadas. Enquanto a categoria “sexo”
refere-se às características biológicas associadas ao homem e à mulher, herdadas, a categoria
“gênero” refere-se a características socialmente construídas, que por motivos políticos,
econômicos, culturais e sociais, atribui papéis diferentes aos homens e mulheres (BRUMER;
PAULILO, 2004, p. 171).
Diferenças essas agravadas por um contexto, o brasileiro, de grandes desigualdades
sociais que contribuem para a consolidação do trabalho precário e do subemprego; e por que
não do cooperativismo, como uma forma de inserir-se no mercado de trabalho através de um
gupo organizado?
Sendo uma construção social, as relações entre homens e mulheres podem, portanto,
ser desconstruídas. A primeira desconstrução deve ser em relação à lógica dicotômica que
sustenta a oposição binária masculino/feminino, que faz surgir outros conceitos antagônicos
como produção/reprodução, razão/sentimento, público/privado. “A diferença biológica entre
masculino e feminino surge para justificar a diferença socialmente construída entre os sexos”
(BONI, 2005, p. 51).
Bourdieu (1999, p. 8, 111) compara esse sexismo a outros essencialismos como o de
raça, de etnia, etc., que utilizam características biológicas para servir de justificativa a
diferenças provenientes do social.
“Esse essencialismo é muito difícil de desarraigar, visto todo um trabalho milenar de
socialização do biológico e de biologização do social” (BONI, 2005, p. 51).
Para Scott (1994 apud SIQUEIRA, 2008), além de afirmar que as relações entre os
sexos são construídas socialmente, é importante enfatizar que essa construção social está
articulada com a noção de poder:

o núcleo essencial da definição repousa sobre a relação fundamental entre duas


proposições: gênero é um elemento constitutivo das relações sociais, baseadas nas
diferenças percebidas entre os sexos e mais, o gênero é uma forma primeira de dar
significado às relações de poder. (SCOTT, 1994 apud SIQUEIRA, 2008, p. 114-
115).

Giddens (2005, p. 107) enfatiza esse aspecto afirmando que em praticamente todas as
sociedades o gênero é uma forma de estratificação social. Isso porque ele influencia
profundamente os papéis que os indivíduos desempenham nos grupos. Embora esses papéis
variem de uma cultura para outra, não há nenhuma sociedade conhecida em que as mulheres
sejam mais poderosas do que os homens.

2.3 Gênero e as relações de trabalho


Assim como as relações entre homens e mulheres, a divisão do trabalho também é
socialmente construída. Desde o século XIX, com o advento da industrialização e da
modernização, existe uma espécie de contrato social que separa as esferas produtiva-pública e
reprodutiva-doméstica, cabendo aos homens a primeira e às mulheres a segunda. Essa divisão
estrutural do trabalho tem decisiva influência nos papéis e hierarquias de gênero na sociedade.
A partir disso o trabalho remunerado adquire diferentes “pesos”: para os homens é
considerado um dever, para as mulheres apenas um direito, pois seu dever real é o cuidado da
família e dos filhos (CAMARERO et al, 2005, p. 22).
Ao mesmo tempo em que ocorria a primeira onda do feminismo no século XIX, as
feministas já começam a se preocupar com a questão do direito das mulheres terem um
emprego e das desigualdades salariais e trabalhistas entre os sexos. A partir dos anos 1960,
tem início a chamada economia feminista, que critica a maneira de analisar a situação sócio-
econômica das mulheres dos paradigmas neoclássico e marxista (CARRASCO, 2005, p. 1).
Segundo Carrasco (2003, p. 15-16), uma dessas economistas, o trabalho doméstico e
de cuidado das pessoas do lar têm peculiaridades em relação ao trabalho remunerado, não
sendo substituível por este, porque implica relações de afetividade dificilmente separáveis da
própria atividade. Embora seja fundamental para a manutenção da sociedade, esse trabalho é
usualmente esquecido nos estudos econômicos, revelando que as atividades de reprodução
não desfrutam do mesmo reconhecimento das de produção, existindo entre elas um forte
componente hierárquico, resultado de uma longa tradição patriarcal.
Nunca é demais repetir que a manutenção de um modelo de família
patriarcal, segundo o qual cabem às mulheres as responsabilidades domésticas e
socializadoras, bem como a persistência de uma identidade construída em torno do
mundo doméstico condicionam a participação feminina no mercado de trabalho a
outros fatores além daqueles que se referem à sua qualificação e à oferta de
emprego, como no caso dos homens. A constante necessidade de articular papéis
familiares e profissionais limita a disponibilidade das mulheres para o trabalho, que
depende de uma complexa combinação de características pessoais e familiares,
como o estado conjugal e a presença de filhos, associados à idade e à escolaridade
da trabalhadora, assim como a características do grupo familiar, como o ciclo de
vida e a estrutura familiar. Fatores como esses afetam a participação feminina, mas
não a masculina, no mercado de trabalho. O importante a registrar é que o trabalho
das mulheres não depende apenas da demanda do mercado e das suas necessidades e
qualificações para atendê-las, mas decorre também de uma articulação complexa, e
em permanente transformação, dos fatores mencionados. (BRUSCHINI, 2000, p.
16-17)

Além desses fatores ligados à disponibilidade das mulheres para entrar e permanecer
no mercado de trabalho podemos ressaltar os entraves, de ordem subjetivos, que elas
encontram no próprio mercado de trabalho. Os nichos de trabalho ainda se encontram
segmentados por gênero e encontramos as mulheres mais presentes em determinadas
atividades, que por diversas razões são atividades consideradas femininas.
Então, ainda temos certas profissões ligadas ao cuidado com os outros, algumas
atividades no setor de serviços, trabalhos domésticos, vistas como femininas e de fato
realizadas por mulheres.
Para a economia oficial a sustentabilidade da vida é geralmente considerada uma
“externalidade” do sistema econômico. A família é vista como algo que evolui independente
da economia. No entanto, ainda que as sociedades tentem diversos mecanismos para cobrir as
necessidades das pessoas, os processos de reprodução e a sustentabilidade da vida têm sido
resolvidos sempre a partir dos lares e sob responsabilidade das mulheres (CARRASCO, 2003,
p. 12-13).
No Brasil, desde os primeiros anos de dominação colonial, a mulher vem sendo
submetida a um discurso moralizador e patriarcal que tanto tenta adestrá-la dentro do contrato
conjugal, a partir de uma ideologia sobre o uso de seus corpos e de seus prazeres, assim como
submetê-la a diversos tipos de restrições, que abarcam vários campos. Dentre eles, o do
trabalho, em que as mulheres, além de obterem menores salários, têm dificuldades em assumir
postos de comando dentro das empresas. Tais dificuldades alcançam, ainda, a ocupação dos
espaços públicos e políticos. A impossibilidade de compartilhar com os homens tais campos
contou com justificação ideológica da religião cristã que, através da poderosa violência
psicológica, acabou por naturalizar a incapacidade e a inferioridade femininas.
No entanto, após um longo período de invisibilidade, um novo momento para a mulher
vai surgindo, propiciado pelo seu acesso à educação e sua participação nas lutas sociais já no
começo do século XX, o que lhe proporcionou a obtenção de direitos civis e políticos. Os
processos socioeconômicos e tecnológicos que se difundiram a partir dos anos 70 afetaram
radicalmente as instituições sociais, entre as quais o casamento e a família. A nova divisão
sexual do trabalho é redefinida, assim como a dicotomia entre o público e o privado atribuída
segundo o gênero. Assim, a mulher passa a exercer múltiplas jornadas de trabalho e o homem
é chamado a comparecer com mais freqüência nos cuidados com a educação dos filhos e da
casa. Muitas mulheres deixaram de restringir suas aspirações ao casamento e aos filhos
(VAISTMAN, 2001).
Nos últimos anos do século XX o modelo familiar em que o homem era o principal
provedor da família sofre modificações. No entanto, a entrada da mulher no mercado de
trabalho não muda seu papel no trabalho familiar. A divisão sexual do trabalho não sofre
grandes modificações e os efeitos dessa nova situação têm sido assumidos pelas próprias
mulheres. A sociedade continua estruturada como se o modelo de família tradicional estivesse
mantido: um homem provedor e uma mulher com tempo integral para cuidar da casa e da
família. Se essa mulher precisar ou quiser se incorporar no mercado de trabalho será sua
responsabilidade arcar com todos os encargos do lar e da organização familiar. O homem
mantém seu papel praticamente intacto, sua participação no lar aumenta muito pouco em
algumas tarefas especificas e é vista apenas como ajuda, não como uma responsabilidade
compartilhada (CARRASCO, 2003, p. 24-25).
No Brasil, desde os primeiros anos de colonização, a mulher vem sendo submetida a
discursos moralizadores assim como submetida a diversas restrições. A mulher não sabia ler,
escrever e não tinha direitos como cidadãs. Nas escolas, administradas pela igreja, era
somente ensinadas técnicas manuais e domésticas. Esta ignorância era imposta de forma a
mantê-la dominada desprovendo-a de conhecimentos que a permitissem de pensar em
igualdade de direitos.
Após a Constituição de 1824, a mulher obteve o direito ao ensino. Neste período
foram construídas escolas que apenas as mulheres freqüentavam com ensinos voltados a
trabalhos manuais, domésticos, cânticos e instrução primária. Somente no início do século
XX foi permitido que homens e mulheres estudassem juntos.
O século XXI propõe mudanças radicais em relação à natureza, dominada agora pela
tecnociência. Surge a imagem de rede, a profusão de espaços e identidades e a permeabilidade
das fronteiras. Na era da informação, do conhecimento, das máquinas, o sujeito se torna
plástico, múltiplo. Mas se esse novo panorama é a realidade de muitas mulheres no Brasil
que, usufruindo de todas esses novos discursos e práticas se tornaram emancipadas, outras
muitas mulheres continuam sobrevivendo em outros “brasis”, não tendo acesso a essas
novidades ou, ao contrário, tendo de carregar sozinhas o peso de tantas mudanças.
Enfrentando a pobreza, continuam sendo as principais responsáveis pela procriação e pelos
cuidados domésticos, sem a presença de uma figura masculina e de uma renda que sustente a
sua família (VAISTMAN, 2001).
No entanto, hoje a força do trabalho feminino é crescente. McClelland (apud
MIRSHAWKA, 2003) acredita que atualmente as mulheres empreendedoras continuam tendo
uma necessidade de realização muito alta, e é a satisfação dessa necessidade que as levam em
busca de um empreendimento independente.
De acordo com Drucker (1987) os empreendedores estão sempre buscando mudanças,
são inovadores, tendo habilidades para conviver com os riscos causados pelas indecisões e
transformam os valores. A característica de ser empreendedor não vem da personalidade do
indivíduo, pois qualquer pessoa que toma decisões pode ser considerada empreendedora.
A busca de novos desafios e aperfeiçoamento faz dessas mudanças uma oportunidade
no mercado. Algo inovador que pode proporcionar maior rendimento familiar para a mulher
tornando-a independente e mais realizada.

3 - Procedimentos Metodológicos

3.1 Tipo de pesquisa


Para Roesch (1996, p. 113), “a metodologia consiste em um conjunto de métodos que
são traçados e buscados par ao aperfeiçoamento do conhecimento” que explica a realidade da
empresa.
A metodologia tem por finalidade orientar o estudo a ser elaborado, caracterizando o
tipo de pesquisa que será desenvolvida, identificando o plano de coletas, análise e
interpretação dos dados que serão demonstrados no decorrer da pesquisa. Neste contexto, o
trabalho desenvolve-se de uma maneira teórica prática, onde são mesclados os conhecimentos
e também as teorias adquiridas no decorrer do curso.
O método utilizado é de extrema importância dentro da pesquisa, pois é um fator que
contribui para a economia de tempo e esforços para a realização das tarefas, permitindo a
utilização de um estudo de caso através de métodos quantitativos e qualitativos para um
aperfeiçoamento dos conhecimentos na solução da questão em estudo.
Com base nos objetivos e nos procedimentos técnicos utilizados, esta pesquisa é
classificada como exploratória, dissertando sobre a mulher no cooperativismo, realizando uma
abordagem com base em dados obtidos junto a Cotrirosa.

3.2 Coleta de dados


A pesquisa foi iniciada com um levantamento bibliográfico sobre a temática da mulher
no cooperativismo. E foram coletados documentos disponibilizados pela Cotrirosa, através da
observação participante, análise de dados, com o intuito de identificar a participação da
mulher ao longo da história desta cooperativa.

3.3 Interpretação e análise dos dados


O processo de análise e interpretação dos dados foram obtidos através da pesquisa
bibliográfica realizada, foram representados de forma descritiva e demonstrados também em
forma de gráfico. Assim, estes resultados serão comparados ao embasamento teórico,
estabelecendo-se um melhor entendimento e, por fim, serão apresentadas as recomendações à
empresa e conclusão do trabalho.

4 - Descrição Do Estudo

4.1 Cotrirosa
A Cooperativa Tritícola Santa Rosa Ltda (Cotrirosa) foi fundada no dia 29 de junho de
1968, por um grupo de 77 agricultores que perceberam o crescimento da agricultura,
principalmente na produção de grãos. No entanto, como estavam em busca do
desenvolvimento, resolveram investir no sistema cooperativo, sendo assim sentiram a
necessidade de armazéns para armazenar os grãos que eram escassos naquela época, mas que
viria a facilitar suas vidas dentro de um sistema cooperativo, que tinha como finalidade uni-
los e defendê-los economicamente.

A criação das cooperativas se explica, de um lado, pela ação do Estado que estimula
a produção de trigo e a fundação de cooperativas par auxiliá-lo nesta tarefa, por
outro lado, porém, nada disto teria sucedido se não fosse a capacidade de
organização e de mobilização dos triticultores [...] responderam favoravelmente ao
chamado oficial no sentido de criarem cooperativas, eles o fizeram como forma de
se fortalecerem para enfrentar os comerciantes intermediários e, igualmente, para
poderem exercer pressão sobre o Estado. (FRANTZ, 1982, p. 173).

Os 77 associados mediante suas necessidades não pouparam esforços e traçaram os


rumos da Cooperativa: assistência técnica, orientação aos associados, modernização da
agricultura, repasse de recursos financeiros para o custeio das lavouras de trigo e
soja,formação de uma estrutura de armazenagem, função principal da cooperativa naquela
época e também estando voltada principalmente em função do binômio trigo e soja,
atualmente com incentivo na produção leiteira.
Conforme consta no site da Cotrirosa, a missão desta cooperativa é: “Promover e
atuar no desenvolvimento das famílias cooperadas e na região onde atua, a partir do
diferencial cooperativista, projetando inovação e expansão nos diferentes negócios.” Também
está expresso que a visão da Cotrirosa é: “Ser uma cooperativa sólida para as famílias
cooperadas, colaboradores e clientes primando pela segurança e honestidade nos negócios,
respeito pelas pessoas e união de todos.”
A cooperativa tem por objetivo congregar os agricultores e pecuaristas de sua área de
ação, promovendo a mais ampla defesa de seus interesses econômicos e sociais. Conforme o
estatuto social da cooperativa ela pode empreender quaisquer outras atividades econômicas de
interesse de seus associados, diretamente ou através da participação em outras sociedades,
necessitando para tanto,autorização da Assembéia Geral dos Associados.
Podemos mencionar que a Cotrirosa prima por alguns valores tais como:
a) Segurança nas operações;
b) Honestidade e seriedade nas relações;
c) Coerência nas decisões;
d) Solidez nos negócios;
e) Profissionalização de colaboradores;
f) Satisfação de Associados, Clientes e Colaboradores;
g) Respeito pelo outro;
h) União de todos os integrantes da Cotrirosa;
i) Relação de família entre Colaboradores e Associados.
A cotrirosa tem como foco principal o setor agropecuário, onde são desenvolvido os
principais produtos e serviços:
a) Laboratório de análise de solos e sementes;
b) Moinho de trigo(cap.moagem de 1.200 ton/mês) e moinho de milho(cap.moagem
500 ton/mês);
c) Estação meteorológica;
d) Assistência técnica;
e) Comunicação e educação;
f) Financiamento aos associados para atividades agrícolas;
g) Produção de sementes;
h) Repasse de recursos oriundos do crédito agrícola;
i) Produção de sementes;
j) Repasse de recursos oriundos do crédito agrícola;
k) Comercialização e armazenamento de produtos como:soja,trigo,milho, triticale,
sorgo entre outros;
l) Sistema de troca de sementes, insumos, farinha por trigo entre outros;
m) Cursos profissionalizantes, dias de campo, palestras, viagens de estudos;
n) Rede de Supermercados com 20 lojas, além da comercialização de produtos com
as marcas NUTRIROSA e COTRIROSA.
Conforme o Estatuto Social da cooperativa ela poderá prestar, por ato de seu Conselho
de Administração assistência social e educacional a seus associados e familiares,funcionários
e dependentes respectivos recursos para serem aplicados, mediante convênios em entidades
públicas ou privadas.

4.2- Participação da Mulher na Cotrirosa


A Cotrirosa ao longo de sua história vem desenvolvendo ações direcionadas as esposas
dos associados.Inicialmente os trabalhos eram voltados as atividades na época denominadas
exclusivas ás mulheres como: cursos de corte costura, culinária, artesanatos, entre outros.
No período de 1987 a 1990 foram criados os núcleos de esposas e filhas de
associados, que além dos trabalhos descritos anteriormente, também eram desenvolvidas
palestras relacionadas à saúde da mulher e sobre cooperativismo.
Com o término dos núcleos femininos, a Cotrirosa passou a incentivar a participação
das mulheres em todos os eventos da cooperativa ( reuniões com associados, eventos técnicos,
assembléias...).
Desde março de 2007, a Cotrirosa, através da reforma estatutária, proporcionou maior
participação da mulher. Após discussão nas miniassembléias em todos os municípios da área
de atuação, foi aprovada na Assembléia Geral dos associados uma proposta que concretizou a
igualdade associativa da mulher na Cotrirosa, com a plena igualdade de direitos do homem e
da mulher, inclusive para votar e ser votada. Se o homem for o titular da matrícula e não
puder comparecer na assembléia, a mulher poderá substituí-lo e vice-versa.
Percebe-se a importância da reforma estatutária da Cotrirosa pois conforme, Pinho
(2000), apenas 2% de mulheres associadas em cooperativas agropecuárias chegam a postos de
diretoria ou conselho de administração das cooperativas agropecuárias. Na Cotrirosa não
existe nenhuma mulher no posto de comando, ou seja na diretoria da cooperativa e nem nos
conselhos.
De acordo com Bergamin (2001) as mulheres, no geral, entre outras coisas, enfrentam
grandes dificuldades no mercado de trabalho, pois além da grave crise de emprego que
enfrentamos o mercado ainda por gênero e as mulheres tem maior facilidade de se empregar
em alguns “nichos” do mercado mais precarizados, nos quais ganham salários menores. As
mulheres também têm menos acesso a uma qualificação profissional adquiridas nos meios
institucionais, fato que dificulta ainda mais sua entrada e sua permanência nos postos de
trabalho.
O objetivo dessa alteração do estatuto é para que cada vez mais a mulher participe nos
atos da Cooperativa como participa na labuta diária da atividade agropecuária em seu lar.
Com o intuito de promover o fortalecimento das relações entre a cooperativa e as
associadas, esposas de associados e filhas, desde 2009 a Cotrirosa vem realizando os
encontros das mulheres cooperativistas e a cada ano a participação das mulheres aumenta
significativamente.
A importância do papel desses encontros, que acontecem anualmente é por a
importância da participação da mulher na vida da cooperativa, o que representa a efetiva e
definitiva integração da mulher ao sistema. Esses eventos melhoram o comprometimento e a
preocupação da mulher com ocooperativismo à medida que, a partir deste trabalho assume o
compromisso de estar mais presente e buscar novos caminhos na sua cooperativa.
Além dos encontros específicos das mulheres e eventos técnicos, a Cotrirosa
desenvolve encontros anuais das famíias associadas com o objetivo de fortalecer os laços
entre as famílias e a Cooperativa e ao mesmo tempo capacitá-las a estarem melhor preparadas
e motivadas para a condução das atividades agrícolas.
As ações desenvolvidas pela Cotrirosa estão proporcionando um aumento na
participação feminina em reuniões, assembléias e palestras, nas quais anteriormente só havia
participação do homem. O envolvimento das mulheres está crescendo e trazendo ótimos
resultados para a Cotrirosa nas questões relacionadas a qualidade dos produtos e serviços e
organização das propriedades,sabemos que em muitas propriedades quem decide os negócios
que seram realizados são as mulheres.
Também é importante salientar que entre os colaboradores a Cotrirosa possui três
mulheres ocupando pontos estratégicos como gerentes de unidades, mas infelizmente no
conselho de administração da cooperativa não possui nenhuma representante femenina.

4.2.1 Quadro social da Cotrirosa


Apesar das dificuldades na agricultura os associados fizeram com que a Cotrirosa
tivesse um rápido crescimento, fortalecendo cada vez mais a união dos produtores e a
cooperativa como um todo. Percebendo a necessidade da diversificação, a Cotrirosa passou
então a investir na atividade leiteira, com montagem de uma estrutura para atender a demanda
da produção de leite da região.
Com o passar do tempo o número de associados foi aumentando, buscando na
cooperativa um órgão que viesse atender as necessidades da agricultura, resolvendo seus
problemas, principalmente da comercialização dos produtos e assistência técnica necessária
para a implantação das lavouras.
Conforme dados obtidos pelo Departamento de Arte e Comuniação da Cotrirosa esta
conta com 5.170 associados, destes associados 3.037 são considerados ativos, pois entregam
80% de sua produção na cooperativa, sendo que destes, 120 são mulheres, o que representa
4% dos associados ativos, conforme expresso no gráfico 1.

Gráfico 1: Quadro de ilustração dos associados ativos em 2011, homens e mulheres.

4%

96%

masculino
feminino

Fonte: Setor de Recursos Humanos – Cotrirosa (2011).

Conforme o Estatuto Social poderão asscociar-se à Cooperativa as pessoas que se


dediquem à atividade agrícola,pecuária ou extrativa por conta própria, em imóvel de sua
propriedade, ou ocupado por processo legítimo, localizado dentro da área de ação da
cooperativa,capazes civilmente, e tenham livre disposição sobre seus bens, e estajam
concordes com o presente estatuto,não se dedicando a atividades que possam prejudicar ou
colidir com os interesses e objetivos da entidade.
O casal com matrimônio legalmente constituído poderá associar-se, através de
matrícula única, com deveres e direitos de um só associado, sendo que, neste caso, o voto
também é único e será exercido por aquele que encabeçar a matrícula ou pelo cônjuge
designado, inclusive para ser votado, desde que preenchidos os requisitos estatutários.
Considerando que o cooperativismo surgiu com o objetivo de unir forças para
obtenção de melhores resultados do trabalho buscando minimizar as desigualdades sociais
causadas pelo desenvolvimento do capital industrial. Seus princípios, em 1844, já reconhecem
a necessidade da participação da mulher no cooperativismo. Porém, o constatado é que a
cultura, predominantemente masculina, excluiu a mulher de ampla participação social.
É importante registrar que a preocupação com as questões de gênero se iniciaram após
longo período de desenvolvimento do cooperativismo no diversos países, reconhecendo a
discriminação sofrida pela mulher no cooperativismo em expansão, não só no Brasil, mas no
mundo todo.

4.2.2 Quadro funcional


Ao longo da história da Cotrirosa, a participação das mulheres vem aumentando. De
acordo com os dados obtidos junto a Cooperativa, acerca do quadro de funcionários a partir
de janeiro de 2005, até Janeiro de 2011, verifica-se que a participação de mulheres ocupando
cargos vem crescendo.
Atualmente, conforme dados obtidos pelo Departamento de Recursos Humanos da
Cooperativa esta conta com 650 funcionários para atender a seus associados e clientes.
Na tabela n. 1, apresenta-se um resumo da evolução dos empregados da cooperativa de
janeiro de 2005 a junho de 2011.

Tabela 1: Demonstrativo mensal dos funcionários da Cotrirosa, Santa Rosa, RS, por
sexo, no período de 2005 a 2011.
Ano Mês Masculino Feminino Total
Janeiro 288 49 337
2005
Junho 260 86 346
Janeiro 257 96 353
2006
Junho 268 92 360
Janeiro 297 88 385
2007
Junho 297 95 392
Janeiro 311 107 418
2008
Junho 305 115 420
Janeiro 333 144 477
2009
Junho 337 145 482
Janeiro 363 159 522
2010
Junho 364 171 535
Janeiro 501 205 706
2011
Junho 493 220 713
Fonte: Setor de Recursos Humanos – Cotrirosa (2011).

Como verifica-se na tabela n. 1, em janeiro de 2005, eram 288 colaboradores do sexo


masculino e 49 do sexo feminino. Já em junho deste mesmo ano, passaram a ser 260
masculino e 86 feminino, sendo que em junho de 2011 estes dados alteraram-se para 493
homens e 220 mulheres atuando junto a cooperativa.
Jonathan (2001) afirma que dentro do contexto de um significativo crescimento do
trabalho feminino no Brasil, as mulheres vêm aumentando sua atuação em posições de
liderança nas empresas e conquistando mais terreno no espaço público.
Essa evolução do crescimento dos funcionários quanto ao gênero, na Cotrirosa, está
expressa no gráfico 2.

Gráfico 2: Quadro de ilustração do demonstrativo de 2005 a 2011.

500

400

300

200

100

0
masculino
Janeiro

Junho

Janeiro

Junho

Janeiro

Junho

Janeiro

Junho

Janeiro

Junho

Janeiro

Junho

Janeiro

Junho

feminino

Fonte: Setor de Recursos Humanos – Cotrirosa (2011).


No gráfico 2, se visualiza claramente o crescimento no quadro de funcionários da
cooperativa, assim como se verifica, que apesar do número de empregados do sexo masculino
ainda ser bastante superior, o sexo feminino vem crescendo ao longo dos anos.
De acordo com Bruschini e Puppin (2004) estudos apontaram que essa realidade é
caracterizada pelas contínuas mudanças. Para Ferber, O’Farrel e Allen (1991) esse aumento
expressivo da participação das mulheres na força de trabalho pode ser considerado a causa da
transformação mais importante no mercado de trabalho nos últimos vinte anos.
Considerando particularmente os dados relativos ao ano de 2011, se verifica que 31%
dos funcionários são mulheres, informação que pode ser vizualizada no gráfico 3.

Gráfico 3: Quadro de ilustração do demonstrativo de 2011.

31%

69%

masculino
feminino

Fonte: Setor de Recursos Humanos – Cotrirosa (2011).

Comparando o gráfico 1 e o 3, se verifica que a participação da mulher na cooperativa


Cotrirosa como funcionária é extremamente mais alta do que como associada.

4.1.3 Proposições
Através do presente estudo espera-se que a Cooperativa continue crescendo e se
desenvolvendo, e que desta forma também desenvolva cada vez mais programas educacionais
e de treinamento para melhorar o trabalho e a qualificação dos funcionários e associados, bem
como incluir o gênero na agenda da cooperativa e apoiar ações de formação e capacitação na
área de gênero, para gestores e lideranças bem como apoiar o intercâmbio entre cooperativas e
associações, fortalecendo e divulgando as experiências produtivas das mulheres voltadas para
geração de renda e crescimento pessoal.
Endende-se que seria interessante a Cooperativa tentar colocar como membro uma
mulher no conselho de administração pois mostraria que realmente a Cotrirosa se preocupa
com a mulher e a sua valorização,pois entende-se que a mulher não quer privilégios, quer
oportunidades, ela sabe que para tudo na vida temos que estar preparados, seja no
cooperativismo ou na vida de cada um.
Pois neste sentido, Pinho (2000, p. 90) menciona que é a partir do trabalho educativo
e o esforço conjugado de todos os cooperativistas, que se forma a base para que o Movimento
Cooperativo Brasileiro possa vencer os desafios da desigualdade profissional entre homens e
mulheres, e conseguir que ambos participem do processo de desenvolvimento da cooperativa
em condições equitativas.
5 - Considerações Finais
Através da análise dos dados levantados em campo e da comparação desses dados com
outros estudos, pode-se compreender um pouco mais sobre as mudanças para as mulheres a
partir de sua participação em novas formas de organização do trabalho.Através deste estudo
buscou-se delimitar a participação da mulher no quadro associativo e funcional, bem como
propor iniciativas que visem aumentar a participação da mulher buscando uma maior
igualdade de gênero.
Trabalhar com a perspectiva de gênero pressupõe a incorporação de novos valores e
conceitos nos aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais. É necessário assumir uma
nova postura e um novo olhar para as perspectivas de gênero nas práticas sociais e nos
programas e projetos de desenvolvimento do cooperativismo, construindo consciência de
cidadania, considerando a diversidade da população brasileira.
É importante salientar a relevância dos estudos de gênero no empoderamento da
mulher e na construção de um olhar diferenciado sobre a economia. Isso porque a
sustentabilidade da vida e a reprodução da família sempre se deram no âmbito doméstico e
sob responsabilidade das mulheres. Dar visibilidade e reconhecimento ao trabalho reprodutivo
permite perceber as dificuldades que as mulheres enfrentam por serem tradicionalmente
responsáveis por ele, possibilitando também uma valorização desse trabalho. Além disso, dá
lugar a uma mudança de enfoque em que a sustentabilidade da vida passa a vir em primeiro
plano em relação à economia de mercado e não o contrário, como ocorre na visão tradicional
de economia.
Diante do que foi exposto, acredita-se que o cooperativismo envolve liberdade e
autonomia onde se pode relacionar com a mulher que sempre esteve em sua busca pelo seu
espaço no mercado de trabalho. Entende-se que os objetivos foram atingidos e espera-se que a
presente pesquisa possa servir como um marco inicial para estudos futuros sobre o tema da
mulher no cooperativismo.
Este estudo foi de grande importância, pois podemos perceber o crescimento da
mulher associada e funcionária na Cotrirosa e sugere-se que pesquisas semelhantes sejam
realizadas para analisarmos qual é a real necessidade e vontade de crescimento da mulher
associada e funcionaria dentro da cooperativa Cotrirosa.

6 – Referências

As Cooperativas e o Desenvolvimento Socioeconomico (mulheres). Disponível em:


<http://www.inscoop.pt/Inscoop/comunicacao/docs/As%20coops%20no%20desenvolvimento
%20social.pdf>. Acesso em 10 Jun. 2011.

BENATO, João Vitorino Azolin. O ABC do cooperativismo. São Paulo: OCESP-


SESCOOP/SP. 2002.

BERGAMIN, Marta de Aguiar. A Qualificação do Trabalho Feminino e suas


Representações Sociais. Dissertação de Mestrado apresentada ao Departamento de
Sociologia da USP. São Paulo, 2001.

BOGARDUS, E. Cooperação: princípios. Rio de Janeiro: Lidador, 1964.

BONI, Valdete. Produtivo ou reprodutivo: o trabalho das mulheres nas agroindústrias


familiares – um estudo da Região Oeste de Santa Catarina. Dissertação de Mestrado.
Programa de pós-graduação em Sociologia Política - Universidade Federal de Santa Catarina:
Florianópolis, 2005.

BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988. Vade


Mecum. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

BRASÍLIA. Programa Brasil, Gênero e Raça. Discriminação: Teoria e Prática. Ministério do


Trabalho. Brasília, 1998.

BRUSCHINI, C.; PUPPIN, A. B. Trabalho de mulheres executivas no Brasil no final do


século XX. São Paulo: Cad. Pesqui. v.34 n.121, 2004.

BRUSCHINI, Cristina. Gênero e Trabalho no Brasil? Novas conquistas ou persistências da


discriminação? In: Trabalho e Gênero - mudanças e permanências e desafios. Org. por
Maria Isabel B. da Rocha. 34. ed. Campinas, São Paulo: NEPO; Belo Horizonte,
CEDEPLAR, 2000.

BRUMER, Anita; PAULILO, Maria Ignez. As agricultoras do Sul do Brasil. In: Revista de
Estudos Feministas. V. 7, Nº. 12, p. 171 -174. Florianópolis: UFSC. 2004.

CAMARERO, L (org.). Empreendedoras rurales: de trabajadoras invisibles a sujetos


pendientes. Centro Francisco Tomás y Valente. UNED. Alzira-Valência. Colección
Interciências 27, 2005.

CARRASCO, Cristina. A sustentabilidade da vida humana: um assunto de mulheres? In:


FARIA, Nalu; NOBRE, Mirian (orgs.). A produção do viver: ensaios de economia
feminista. São Paulo: SOF, 2003.

______. Introdução: para uma economia feminista. Articulação de Mulheres


Brasileiras: uma articulação feminista anti-racista. Articulando Eletronicamente, n° 126,
jul./2005. Disponível em:
<http://www.articulacaodemulheres.org.br/publique/media/cristinacarrasco_revistaproposta_1
03_104_ano28_29.pdf>. Acesso em: 8 de junho de 2011.

CRÚZIO, Helnon de Oliveira. Como organizar e administrar uma cooperativa: uma


alternativa para o desemprego. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2001. 155p.

DUCKER, Peter F. Inovação e Espírito Empreendedor: Práticas e Princípios. São Paulo:


Pioneira, 1987.

Estatuto Social da Cotrirosa. Disponível em: <www.cotrirosa.com>. Acesso em 10 Jun.


2011.

FERBER, M. A.; O’FARRELL, B.; ALLEN, L. R. (Eds.). Work and family: Policies for a
changing work force. Washington, D.C.: National Academy, 1991.

FERREIRA, Juliene Barbosa; RESENDE, Raquel Cristina.EnEO - Divisão de Estudos


Organizacionais. O Perfil Profissional das Mulheres nas Cooperativas da Região de
Monte Carmelo/MG. Disponível em:
<http://www.anpad.org.br/evento.php?acao=trabalho&cod_edicao_subsecao=582&cod_event
o_edicao=51&cod_edicao_trabalho=11543>. Acesso em 10 Jun. 2011.

FRANCO DE SÁ, Ronice; MC INTYRE, Jimmy; SILVA, Emanuel; FREIRE, Socorro.


Participação Feminina nas Cooperativas de Pernambuco: Necessidade de Políticas Públicas
Inclusivas. Anais: IX Seminário Internacional Da Rede Unircoop. Pensamento
Associativista e Prática Cooperativa. Disponível em:
<http://www.unircoop.org/unircoop/files/seminaires/conferences/Ronice%20de%20S%C3%A
1.pdf>.

FRANTZ, Walter. Cooperativismo: Reflexões e apontamentos sobre o cooperativismo. Série


8. Ijuí: UNIJUÍ/RS, 2005.

FRANTZ, T. R. Cooperativismo empresarial e desenvolvimento agrícola: o caso da


COTRIJUÍ. Ijuí: FIDENE, 1982.

GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.

JONATHAN, E. G. Mulheres Empreendedoras: Quebrando Alguns Tabus. Brasília:


UEM, UEL, UNB; 41-53 (2001).

KUHLMANN, Soraya Gulhote. As Mulheres E O Cooperativismo. Disponível


em:<http://www.catho.com.br/jcs/inputer_view.phtml?id=3663>. Acesso em 10 Jun. 2011.

LIMA, Terezinha Moreira; HIRATA, Helena; NOGUEIRA, Claudia Mazzei; GOMES, Vera
Lúcia Batista. Trabalho, Gênero e a Questão do Desenvolvimento. III Jornada
Internacional De Políticas Públicas. São Luís, MA: Ago. 2007. Disponível:
<http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinppIII/html/mesas/Terezinha_Helena_Claudia_Vera.
pdf>. Acesso em 07 Set. 2011.

MAGALHÃES, Reginaldo Sales. A “masculinização” da produção de leite. Disponível em:


<http://www.rimisp.org/seminariotrm/doc/MAGALHAES.PDF>. Acesso em 10 Jun. 2011.

MIRSHAWKA, V. Gestão criativa: aprendendo com os mais bem-sucedidos


empreendedores do mundo. São Paulo: DVS Editora, 2003.

OCESC. Organização das Cooperativas do estado de Santa Catarina. Disponível em:


<www.ocesc.org.br>. Acessado em 03 Jun de 2008.

OLIVEIRA, D. de P. R. Manual de gestão das cooperativas: uma abordagem prática. 3. ed.


São Paulo: Atlas, 2006.

ROESCH, S. M. A. Projetos de estágio do curso de administração: guia para pesquisas,


projetos, estágios e trabalhos de conclusão de curso. São Paulo: Atlas, 1996.

PINHO, Diva Benevides. O cooperativismo no Brasil: da vertente pioneira à


vertente solidária. Saraiva, São Paulo, 1982.

PINHO, Diva Benevides. Gênero em Cooperativas. Disponível em:


<http://www.projetoe.org.br/tv/prog05/html/ar_05_02.html>. Acesso em 07 Set. 2011.

RECH, Daniel. Cooperativas: Uma alternativa de organização popular. Rio de Janeiro:


DP&A, 2000.

SIQUEIRA, Tatiana Lima. Joan Scott e o papel da história na construção das relações de
gênero. Revista Ártemis, nº 8, Jun/2008, p.: 110 – 118.

VAISTSMAN, Jeni. Gênero, identidade, casamento e família na sociedade contemporânea.


In: MURARO, Rose Marie; PUPPIN, Andréa Brandão. Mulher, gênero e sociedade. Rio de
Janeiro: FAPERJ, 2001.

www.crediacsc.org.br/HomeSC/tabid/54/.../Default.aspx. Acesso em 10 Jun. 2011.

Você também pode gostar