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Da leitura do art. 2º CCom emerge a ideia de que certos actos jurídicos, ou seja, certos acontecimentos
juridicamente relevantes são considerados como comerciais. No entanto, a palavra “acto” deve ser
tomada num sentido mais amplo de que o compreendido no seu significado básico corrente – o da
conduta humana –, pois aqui ela abrange:
a) Qualquer facto jurídico em sentido amplo, verificado na esfera das actividades mercantis e ao qual
sejam atribuídos efeitos jurídicos, designadamente:
– Factos jurídicos voluntários, isto é, actos jurídicos, quer lícitos, quer ilícitos;
b) Tanto os factos jurídicos isolados ou ocasionais, que podem ser praticados, muitas vezes, por
comerciantes ou por não comerciantes, como os actos que fazem parte de uma actividade comercial, ou
seja, de uma massa, cadeia ou sucessão de actos jurídicos interligados pela pertinência a uma mesma
obrigação – e por visarem a prossecução de fins comuns, quer do fim imediato ou objecto – exploração de
um determinado tipo de negócio –, quer o fim mediato – consecução de lucros.
As actividades das empresas enumeradas neste artigo estão classificadas como actos do comércio
objectivos.
O que em todo o caso ressalta evidente é que o art. 230º CCom, tem destacada importância como norma
qualificadora, quer pela relevância nele atribuída à empresa no plano conceitual, que sobretudo por dele
decorrer a sujeição ao Direito Comercial de todos os actos que se enquadrem nas actividades das
empresas em questão, mesmo que não tivessem se encarados isoladamente.
Os actos praticados no exercício de uma das actividades abrangidas pelo art. 230º CCom, serão sempre
actos de comércio, por não terem“natureza essencialmente civil”[1] e por serem praticados por um
comerciante no âmbito com o seu comércio.
A actividade comercial é, um encadeado de actos interligados e duradouro, sendo o art. 230º CCom, que,
no conjunto de actos que a integram, nos permite valorar cada um deles em termos jurídico-comerciais.
Lê-se na 1ª parte do art. 2º CCom: “serão considerados actos de comércio, todos aqueles que se acharem
especialmente regulados neste Código”.
Quer o legislador referir-se a actos que devem a sua qualidade de actos de comércio à circunstância de
se acharem regulados em determinado diploma. Porque se trata de uma circunstância objectiva, que
nada tem a ver com os sujeitos que praticam esse acto, são eles designados como actos de comércio
objectivos.
a) Actos simultaneamente regulados na lei civil e na lei comercial: em princípio, estes actos serão
civis; no entanto, serão comerciais quando neles se verificarem aquelas características específicas que a
lei comercial estabelece como atributivas da comercialidade.
Pela 2ª parte do art. 2º CCom, são também considerados como actos de comércio “todos os contratos e
obrigações dos comerciantes que não forem por natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio
acto não resultar”.
Trata-se pois, daqueles actos que são comerciais, não pelo factorobjectivo consistente na lei em que são
regulados, mas sim pelo elemento subjectivo consistente em serem praticados pelos comerciantes. Daí
que se denominem actossubjectivos: é a qualidade do sujeito que os pratica, que lhes confere
comercialidade.
A lei parte do princípio de que, sendo o comerciante um profissional de comércio, actividade complexa
cujo exercício implica a montagem e orientação de uma organização potencialmente absorvente, deve-se
partir do pressuposto de que a sua actividade jurídica é, em regra, inerente à sua actividade económica.
Logo, até prova em contrário – pois a presunção é iuris tantum – os actos do comerciante são actos de
comércio por se presumir estarem ligados à sua empresa mercantil.
Precisamente por tal presunção deve ser ilidivel, a 2ª parte do art. 2º CCom, admitindo duas ressalvas ao
postulado base de que são actos de comércio “todos os contratos e obrigações dos comerciantes”. Assim,
estes actos não serão actos de comércio:
– Se forem de natureza exclusivamente civil; e
É aquele (acto) que for essencialmente civil, ou seja, que não possa ser praticado em conexão com o
comércio, que não possa ser“comercializado”, por ser impossível que tenha alguma conexão com o
exercício do comércio, nem poder deste derivar;
Os actos dos comerciantes que não forem de natureza exclusivamente civil serão comerciais, se deles
mesmos não resultar que não têm relação com o exercício do comércio do comerciante que os pratica.
Esta exegese pretende-se com a própria redacção do artigo: “o contrário” reporta-se à frase do princípio
do artigo: “serão considerados actos de comércio…”. Os actos dos comerciantes serão considerados
comerciais se deles não resultar o contrário, isto é, que não são actos de comércio, por não terem relação
alguma com o comércio de quem os praticou, ou seja, que não têm natureza nem causa mercantil.
É a interpretação que atende à razão de ser da norma: à presunção de que os actos jurídicos praticados
pelos comerciantes o são no exercício do comércio. Logo, quando do próprio acto resultar que ele não
tem qualquer ligação ou pertinência ao comércio de quem o praticou, conclui-se que ele não é um acto de
comércio.
– Os que estiverem regulados no Código Comercial e em outras leis em razão dos interesses do
comércio: actosobjectivos;
– E os que forem praticados por comerciantes – actossubjectivos –, presumindo-se que o são no
exercício ou em ligação com o seu comércio; presunção esta que será elidível pela demonstração: ou de
que o acto é de natureza exclusivamente civil, por não poder ser praticado em relação com o comércio; ou
de que do próprio acto resulta que é alheio à actividade comercial de quem o praticou.
São actos de comércio objectivos, os que são regulados na lei comercial, em razão do seu conteúdo ou
circunstâncias.
São actos de comércio subjectivos, aqueles que a lei atribui comercialidade pela circunstância de serem
tais actos conexos com a actividade comercial dos seus autores.
Os actos de comércio absolutos ou por natureza são comerciais devido à sua natureza intrínseca, que
radica do próprio comércio, na vida mercantil. São actos gerados e tipificados pelas necessidades da vida
comercial.
– Uns, – que são a maior parte – são actos absolutos em virtude de serem os actos caracterizadores,
típicos, essencialmente integrantes daquelas actividades que tornam o objectivo material do Direito
Comercial;
– Outros são actos absolutos em razão da sua forma, ou do objecto sobre o qual incidem.
Os actos de comércio por conexão ou acessórios são comerciais apenas em virtude da sua especial
ligação a um acto de comércio absoluto ou a uma actividade qualificada de comercial.
12. Teoria do acessório
Partindo da constatação de que certos actos, civis pelas suas características, podem tornar-se comerciais
por serem praticados em ambiente comercial. Segundo a teoria do acessório, são actos de comércio
acessórios os actos praticados por um comerciante no exercício do seu comércio, e além disso, os actos
ligados a um acto de comércio absoluto.
Assim, para esta teoria há duas categorias de actos de comércio: os que estão ligados à actividade
comercial de um comerciante; e, os que adquirem comercialidade por terem relação com o de um acto de
comércio por natureza.
Desta teoria nada de novo resultaria que o nosso direito não reconhecesse já: os actos acessórios da
primeira categoria são os actossubjectivos (2ª parte do art. 2º CCom); e os da segunda categoria, não
sendo subjectivos, serão objectivos, isto é, seriam os actos de comércio simultaneamente objectivos e
acessórios, os actos de conexão objectiva.
A teoria do acessório conduz a incluir nesta segunda categoria de actos acessórios, certos actos que não
são em face dos preceitos da nossa lei: por ela, seriam também actos de comércio acessórios os actos
conexos com os actos de comércio objectivos e absolutos praticados por um não comerciante.
Actos substancialmente comerciais, os que têm comercialidade em razão da própria natureza, ou seja,
por representarem, em si mesmos, actos próprios de actividades materialmente mercantis.
Diz-se causal, todo o acto que a lei regula em ordem a preencher ou a realizar uma determinada e
específica causa-função jurídico-económica.
São bilaterais ou puros os actos que têm carácter comercial em relação às duas partes. E são unilaterais
ou mistos os actos que apenas são comerciais em relação a uma das partes, e civis em relação à outra (art.
99º CCom).
Noção de comerciante
O legislador não deu uma definição legal de comerciante, mas sim, indica quais sãos as categorias legais
de comerciantes (art. 13º CCom).
Tem-se segundo o entendimento tradicional do art. 13º CCom, por um lado os comerciantes que são
pessoas singulares – geralmente designados por comerciantes em nome individual – e os comerciantes
que são pessoas colectivas – as sociedades comerciais.
No domínio do Direito Comercial, deve prevalecer, em geral, a noção de comerciante que resulta do art.
13º CCom: comerciante é quem, enquadrando-se numa das duas categorias do art. 13º CCom, seja
titular de uma empresa que exerça uma das actividades comerciais, tais como as qualificam o art. 230º
CCom, e as demais disposições no avulsas que caracterizam e englobam no Direito Comercial certas
actividades económicas.
Portanto, quem organizar ou adquirir uma empresa comercial terá de preencher, em si mesmo, os
requisitos necessários para obter de si a qualidade de comerciante.
O art. 13º/1 CCom, refere-se a pessoas. Em geral, entende-se que aquele n.º 1, só abrange pessoas
singulares: os chamados comerciantes em nome individual. Mas pode questionar-se se ali se abrangerão
também pessoas colectivas.
a) As sociedades civis em forma comercial: a solução tradicional, que sustenta que não são
comerciantes, foi posta em dúvida face ao art. 42º/1 DL 42645, de 14 de Novembro de 1959, tal como
pode sê-lo hoje perante o art. 3º CRC, que sujeita tais sociedades à matrícula. Ora, a matricula no registo
comercial é um acto apenas aplicável aos comerciantes e às demais entidades expressamente mencionadas
no CRC. As sociedades civis em forma comercial não são, pois comerciantes, já que apenas estão
sujeitas, por equiparação, ao regime das sociedades comerciais, mas não lhes és genericamente aplicável
o regime dos comerciantes.
b) Empresas públicas: serão comerciantes, face ao art. 13º/1 CCom? E se o não forem, deverão ser
qualificadas como comerciantes, mercê do respectivo regime estatutário geral (DL 260/76, de 8 de
Março)? Em face destas duas normas, entre si conjugadas, afigura-se que, se as empresas públicas não
são rigorosamente qualificáveis como comerciantes, no entanto estão pela lei a eles equiparadas, no que
toca à capacidade jurídica e às normas aplicáveis às suas actividades; e uma dessas normas será
precisamente, a 2ª parte do art. 2º CCom.
O art. 13º/1 CCom, só abrange pessoas físicas: os usualmente denominados comerciantes em nome
individual.
Em face do CRC, constata-se que a matrícula não é uma condição nem necessária, nem suficiente, para a
aquisição da qualidade de comerciante.
Não basta estar matriculado como comerciante mesmo sem matrícula. Esta não é, portanto, condição nem
suficiente nem necessária da aquisição da qualidade de comerciante em nome individual.
a) Personalidade jurídica
Quanto a este requisito, não há aqui a considerar quaisquer especialidades face ao regime geral do Direito
Civil.
Assim, além de assumir a personalidade jurídica das pessoas singulares (art. 66º CC), a lei comercial
atribui-a às sociedades comerciais (art. 5º CSC) e às sociedades civis em forma comercial (art. 1º/4 CSC).
b) Capacidade comercial
A capacidade jurídica constitui a medida dos direitos e obrigações de que uma pessoa é susceptível de ser
sujeito (art. 67º CC) e que a doutrina distingue entre a capacidade de gozo e a capacidade de exercício.
Dos arts. 14º/1 e 17º CCom, resultam restrições à capacidade comercial sem fim lucrativo e de Direito
Público.
Quanto à capacidade de exercício, deverá ter-se em conta o art. 7º CCom, que enuncia dois princípios
fundamentais: o da liberdade de comércio e o da coincidência entre a capacidade civil e a capacidade
comercial.
A plena capacidade comercial depende de uma pessoa – singular ou colectiva – ter capacidade civil e não
estar abrangida por alguma norma que estabeleça uma restrição ao exercício do comércio.
O art. 13º/1 CCom, ao exigir capacidade para a prática de actos de comércio, pretende referir-se à
capacidade jurídica de exercício, tanto mais que alude ao carácter profissional do comércio, o que
pressupõe uma prática habitual de actos geradores, mediadores ou extintivos de direitos e obrigações.
Assim, parece que não pode conceber-se o exercício de uma profissão deste jaez por um incapaz: o
próprio conceito de profissão e, no caso, a circunstância de ela se traduzir numa contínua e habitual
prática de actos e negócios jurídicos, sendo, portanto, absorvente e responsabilizante, afigura-se
incompatível com a situação jurídica de incapacidade.
a) Não basta a prática de actos de comércio isolados ou ocasionais: para se adquirir a qualidade de
comerciante é indispensável a prática regular, habitual, sistemática, de actos de comércio;
b) Não basta a prática, mesmo que habitual de quaisquer actos de comércio: nem todos estes actos têm
a mesma potencialidade de atribuir a quem os pratique a qualidade de comerciante;
c) É indispensável para que haja profissionalidade que o indivíduo pratique os actos de comércio de
forma a exercer como modo de vida uma das actividades económicas que a lei enquadra no âmbito do
direito mercantil;
d) Deve entender-se como indispensável que a profissão de comerciante seja exercida de modo pessoal,
independente e autónomo, isto é, em nome próprio, sem subordinação a outrem;
e) É indispensável que o comerciante organize factores de produção com vista à produção das
utilidades económicas resultantes de uma daquelas utilidades económicas que a lei considera como
comerciais.
O art. 14º e 17º CCom, pretende evitar um alargamento excessivo da categoria de comerciante. O art.
14º/2 CCom, aplica-se aos acasos do art. 13º/1 CCom.
Quer as pessoas de fim desinteressado, quer as pessoas colectivas de fim interessado não económico, não
podem ser comerciantes.
Mandatário comercial, a doutrina entende que não são comerciantes, são sujeitos que a título profissional
executam um mandato comercial com representação.
Quem em nome e por conta de um comerciante trata do comércio desse comerciante, no lugar onde esse
comerciante tenha ou peça para actuar.
Tem um poder de representação (art. 249º CCom), é um poder geral e compreensivo de todos os actos
pertencentes e necessários ao exercício do comércio para que tenha sido dado, não são comerciantes.
São encarregados de um desempenho constante em nome e por conta dos comerciantes de algum (s) dos
ramos de tráfico.
d) Comissários (dos comerciantes) – art. 266º CCom, contratos de comissão, art. 268º CCom)
Fica directamente obrigado com as pessoas com quem contratou como se o negócio fosse seu.
O comissário pratica os actos para o comitente, repercutem-se na esfera jurídica do comissário, fica o
titular dos bens adquiridos. Há uma segunda negativa que regula a relação que o comissário tem com o
comitente. O comissário vai receber do comitente além da sua remuneração (ordinária) um outro
montante.
Se o comissário, praticar actos de forma comercial, faz do comércio profissão para efeitos do art. 13º
CCom, é irrelevante se ele os pratica para ele ou por conta de outrem – ele é comerciante – fica obrigado
pela prática dos seus actos.
e) Mediadores
Pessoa colectiva ou singular, que servem de elo de ligação entre diversos sujeitos jurídicos, promove a
celebração de negócios entre duas pessoas. Executam actos de comércio, a sua actividade está incluída no
art. 230º/3 CCom.
f) Agentes comerciais
Promove por conta de outrem a celebração de contratos. Operador independente mediante retribuição. O
essencial da sua actividade é a promoção do contrato, pode celebrar também se tiver mandato para isso.
20. Forma
O princípio da consensualidade ou liberdade de forma (art. 219º CC) é por vezes aplicado de forma mais
extensa no âmbito do direito comercial: aqui o intuito de promover as relações mercantis, protegendo o
crédito e a boa fé, leva a promover a simplicidade da forma.
21. Solidariedade passiva
A solidariedade das obrigações não se presume: tem que resultar da lei ou da vontade das partes (art. 513º
CC), assim é, em direito comum, ou seja, quanto às obrigações civis, nas quais, portanto, a regra é
a conjunção.
Mas não é assim nas obrigações comerciais, nas quais, salvo estipulação em contrário, os co-obrigados
são solidários (art. 100º CCom), a menos que se trate de actos de comércio unilaterais, nos quais não há
solidariedade para os obrigados em relação aos quais o acto não for comercial (art. 100º § único CCom).
Este regime constitui a ressalva constante da 2ª parte do art. 99º CCom, e tem por escopo o reforço do
crédito, que constitui um dos princípios inspiradores do Direito Comercial.
No actual regime dos efeitos do casamento sobre os direitos patrimoniais dos cônjuges, prevalece o
princípio da igualdade de direitos e deveres, a ambos pertencendo a orientação da vida em comum e a
direcção da família (art. 1671º CC). No tocante às dívidas contraídas pelos cônjuges, aquele primeiro
princípio tem como corolário, o disposto no art. 1690º/1 CC: qualquer dos cônjuges tem legitimidade para
contrair dívidas sem o consentimento do outro.
A lei não se basta com o já apontado regime do art. 1691º/1-d CC, para a protecção dos interesses dos
credores dos comerciantes, a bem do próprio comércio. Vai mais além, pois o art. 15º CCom, determina
que: “as dívidas comerciais do cônjuge comerciante presumem-se contraídas no exercício do seu
comércio”.
O art. 15º CCom, apenas se aplica aos casos de dívidas comerciais – isto é, resultante de actos de
comércio de um comerciante casado.
Se um credor de um comerciante fizer prova de que a dívida é comercial e o devedor é comerciante,
presume-se que a dívida foi contraída por este no exercício do comércio e, portanto, a dívida é da
responsabilidade de ambos os cônjuges (arts. 1691º/1-a e 1695º CC; art. 15º CCom).
Para afastar este regime é preciso que o cônjuge do comerciante ou mesmo este:
– Ilida a presunção do art. 15º CCom, provando que a dívida do comerciante, apesar de ser
comercial, não foi contraída no exercício da actividade comercial daquele;
– Ou, em todo o caso, ilida a presunção implícita no art. 1691º/1-d CC, provando que a dívida não
foi contraída em proveito comum do casal.
23. A firma
O comércio é executado sob uma designação nominativa, que constitui a firma. Há, porém, no direito
comparado duas concepções diversas de firma:
Para o conceito objectivo, a firma é um sinal distintivo do estabelecimento comercial. Daí decorrem,
como corolários, a possibilidade de tal designação ser composta livremente e ser transmitida com o
estabelecimento, independentemente de acordo expresso.
Para o conceito subjectivo, a firma é um sinal distintivo do comerciante – o nome que ele usa no
exercício da sua empresa: é o nome comercial do comerciante. Daí que, em relação ao comerciante
individual, nesta concepção, a firma deva ser formada, a partir do seu nome civil e, em princípio
intransmissível.
O art. 18º CCom[2], está relacionado com o estatuto de comerciante. Considera-se a firma o nome
comercial do comerciante, sinal que os identifica ou individualiza também o faz para alguns não
comerciantes – sociedades civis não comerciais.
24. Constituição da firma
A firma consoante os casos, pode ser formada com o nome de uma ou mais pessoas (firma-nome), com
uma expressão relativa ao ramo de actividade, aditada ou não de elementos de fantasia (firma-
denominação ou simplesmente denominação), ou englobar uns e outros desses elementos (firma mista).
Em todo o caso, ele será um sinal nominativo e nunca emblemático: sempre uma expressão verbal, com
exclusão de qualquer elemento figurativo.
e) Sociedades comerciais
Poderão ter a alusão à actividade comercial (art. 177º/1 CSC). O art. 200º CSC, a firma que as sociedades
por cotas devem ser formadas com ou sem sigla, nome completo ou abreviado de todos ou alguns dos
sócios, tem de quer sempre o aditamento Lda.
Tem de dar a conhecer quanto possível o objecto da sociedade (art. 10º/3 CSC). Deve aludir ao objecto
social. Vale integralmente para as Sociedades Anónimas (art. 275º CSA) e para as sociedades em
comandita, a firma tem de ser composta pelo nome completo ou abreviado por todos os sócios
comanditados (art. 467º CSC).
A firma deve corresponder à situação real do comerciante a quem pertence, não podendo conter
elementos susceptíveis de a falsear ou de provocar confusão, quer quanto à identidade do comerciante em
nome individual e ao objecto do seu comércio, quer, no tocante às sociedades, quanto à identificação dos
sócios, ao tipo e natureza da sociedade, à (s) actividade (s) objecto do seu comércio e outros aspectos a
ele relativos.
A firma deve possuir distintividade, esta não se limita a ser uma designação genérica.
O art. 32º/3 RNPC, exclui os vocábulos de uso corrente. Quanto às firmas dos comerciantes individuais e
às firmas nome, mistas das sociedades e dos ACE’s, são compostos por nomes de pessoas ou pelos sócios
dos associados, têm a capacidade distintiva.
As firmas de denominação por quotas das Sociedades Anónimas, dos ACE’s, das Empresas Públicas, das
Cooperativas e dos AEIE, as denominações devem dar a conhecer o respectivoobjecto, sob pena de
incapacidade distintiva, a referência ao objecto não se basta com designações genéricas (como sociedade
de seguros) nem com vocábulos de uso corrente ou de proveniência.
Marca a prioridade da firma já registada ou licenciada procurando evitar surgir outra firma com a mesma
denominação da existente.
É aferida no âmbito da exclusividade, podendo haver firmas semelhantes se tiver âmbito de exclusividade
diferente, a racio legis, é não haver firmas iguais.
O juízo de confundabilidade (fundamentação de recurso) tem que ser de fundamentação global, tem que
atender aos elementos fundamentais da firma. É o nome da firma que o juízo de valor tem-se de
fundamentar.
A firma goza dum âmbito territorial de protecção, não é necessariamente o âmbito nacional.
No comerciante individual, se ele usar o seu nome, o âmbito de protecção é correspondente territorial da
conservatória onde está registado (art. 38º/4 RNPC).
Se ele aditar ao nome uma expressão distintiva já pode ser reconhecida extensão em todo o território
nacional.
A firma das Sociedades Comerciais goza de um âmbito nacional de protecção (art. 37º/2 RNPC). Os arts.
39º e 40º RNPC, estendem a outros empresários individuais a responsabilidade limitada as regras
fundamentais relativas ao comerciante individual.
As associações e fundações, o âmbito de protecção se não for local tem protecção nacional, se nos
estatutos referir que é local, então só têm protecção local.
e) Princípio da unidade
O comerciante deve gerir a sua actividade sob uma única firma. O empresário individual não pode usar
mais do que uma firma (art. 38º/1 RNPC).
Este princípio tem de ser confrontado com o fenómeno da transmissão da firma, se houver transmissão de
firma, afecta os princípios que a lei refere?
Poria-se em causa o princípio da novidade se o alienante continuar a usar a firma alienada. Pressupõe-se
que o alienante perde a firma anterior, para continuar, tem que formar uma nova firma – princípio da
novidade.
O princípio da unidade é atingido se o alienante puder continuar a utilizar a firma anterior? Resposta
negativa, se alguém quiser adquirir a firma do alienante, deve criar nova firma. Pode continuar a firma
que tem, tendo que exercer simultaneamente a exploração da firma adquirida. Só pode utilizar a firma do
alienante se continuar a explorar a firma do alienante (art. 38º/2 RNPC), não se permitindo a subsistência
de firmas independentes. A lei permite a transmissão da firma (art. 44º RNPC), mas para isso à que
preencher determinados requisitos:
· Transmissão tem que ocorrer em conexão com a transmissão do estabelecimento (art. 44º/4 RNPC);
· Acordo das partes nesse sentido (negócio entre vivos);
· A indicação tem que ser dada ao novo titular de que sucedeu ao antigo titular;
Por transmissão “mortis causa” (art. 38º/2 RNPC), os sucessores também devem continuar gerir o
estabelecimento. A lei exige que haja/impõe uma conexão da firma ao estabelecimento para que a
continuidade na identificação não se torne enganosa.
Preocupação de defesa de terceiros, porque eles recebem a garantia de que se trata do exercício do mesmo
estabelecimento.
26. Formalização da firma
Depende do requisito, e só há direitos exclusivos, após o registo definitivo (art. 35º/1 RNPC).
O Estado em relação às firmas passou a ter uma tutela administrativa (essencialmente), por isso é
necessário que as pessoas tenham umcertificado de admissibilidade de firma ou de denominação. Em
todo o processo administrativo necessário para a firma, este certificado é o elemento estratégico essencial,
em termos de direito para se poder iniciar os trâmites necessários para a constituição de firma ou
sociedade.
O certificado serve para atestar que os requisitos estão preenchidos, é deste certificado que depende tudo,
escritura pública, elementos destinados à constituição de pessoas colectivas de responsabilidade limitada
(art. 54º/1 RNPC).
A firma está sempre ligada ao estabelecimento (tendência real); a firma liga-se ao comerciante (tendência
pessoal).
A firma surge à partida com o nome comercial, designação usada pelo comerciante no exercício do seu
comércio.
O estabelecimento comercial
Organização do empresário mercantil, conjunto de elementos do comerciante que estão organizados pelo
comerciante para exercer a sua actividade comercial, de produção ou circulação de bens ou prestação de
serviços. Pressupõe:
– Um titular: ele é um conjunto de meios predestinados por um empresário, titular de um
determinado direito sobre ele, para exercer a sua actividade;
– Um acervo patrimonial: engloba um conjunto de bens e direitos, das mais variadas categorias e
naturezas, que têm em comum a afectação à finalidade coerente a que o comerciante os destina;
– Um conjunto de pessoas: pode reduzir-se à pessoa do empresário o seu suporte humano, nas
formas mais embrionárias da estrutura empresarial;
– É uma organização: os seus elementos não são meramente reunidos, mas sim entre si conjugados,
interrelacionados, hierarquizados, segundo as suas específicas naturezas e funções específicas, para que
do seu conjunto possa emergir um resultado global: a actividade mercantil visada;
a) Elementos corpóreos
Nesta categoria devem considerar-se as mercadorias que são bens móveis destinados a ser vendidos,
compreendendo as matérias-primas, os produtos semi-acabados e os produtos acabados.
Faz também parte do imóvel onde se situem as instalações, quando o seu dono seja o comerciante, pois se
o não for, apenas integrará o estabelecimento o direito ao respectivo uso.
b) Elementos incorpóreos
Aqui deve-se considerar os direitos, resultantes de contrato ou outras fontes, que dizem respeito à vida do
estabelecimento: o direito ao arrendamento; direitos reais de gozo, etc.
c) Clientela
d) O aviamento
A capacidade lucrativa da empresa, a aptidão para gerar lucros resultantes do conjunto de factores nela
reunidos. Exprime pois, uma capacidade lucrativa e esta confere ao estabelecimento uma mais-valia em
relação aos elementos patrimoniais que o integram, a qual é tida em conta na determinação do montante
do respectivo valor global.
29. Negócios à volta do estabelecimento
a) O trespasse
É uma figura jurídica que recobre uma pluralidade de modalidades e não um negócio uniforme.
Diz-se trespasse todo e qualquer negócio jurídico pelo qual seja transmitido definitivamente e inter
vivos um estabelecimento comercial, como unidade. Ao alienante chama-se trespassante, e ao
adquirente trespassário.
Mas o que é essencial, para que haja trespasse, é que o estabelecimento seja alienado como um todo
unitário, abrangendo a globalidade dos elementos que o integram (art. 115º/2-a RAU).
Pode, no entanto, algum ou alguns desses elementos ser especificamente dele retirados e subtraídos à
transmissão, que ainda assim haverá trespasse.
A regulamentação legal do trespasse é suficiente para o considerarmos assumido no nosso direito como
um negócio nominado (dentro da pluralidade de modalidades que pode recobrir), ainda que tal
regulamentação apenas diga respeito a aspectos parcelares do instituto.
Trata-se pois, de um acto de comércio objectivo, pois está regulado em lei comercial avulsa e em termos
que se destinam a satisfazer necessidades específicas das actividades e empresas comerciais.
O primeiro aspecto do regime do trespasse focado na lei é o da forma, já que o art. 115º RAU e o art. 80º-
m CNot, condicionam a validade deste negócio jurídico à sua celebração por escritura pública, da qual
evidentemente, devem constar todos os seus elementos essenciais.
É evidente que só ocorre a hipótese da norma quando o estabelecimento se ache instalado num imóvel
arrendado. Mas, como o objecto do trespasse não é a relação jurídica de arrendamento, e sim o
estabelecimento como bem unitário, é óbvio que o exercício do direito de preferência[3] pelo senhorio
terá que ter o mesmo objectivo, ou seja o estabelecimento, compreendendo todos os elementos que
integram, tais como o projectado trespasse os abrangeria.
Relativamente ao contrato de trabalho, o art. 37º/1 e 4 DL 49408 (LCT) determinam que a posição
contratual da entidade patronal se transmite para o novo empresário, não apenas nos casos de alienação do
estabelecimento, mas desde que ocorra qualquer acto que implique a transferência da exploração do
estabelecimento. Este preceito abrange, pois, não só os casos de trespasse, mas também os de alienação
por sucessão mortis causa, cessação de exploração etc.
A violação deste dever constituirá concorrência ilícita, cuja sanção constituirá na responsabilidade pela
indemnização dos danos causados, bem como na aplicação de uma sanção pecuniária compulsória ao
violador, enquanto persista na conduta ilícita, isto é, na exploração concorrencial (art. 829º-A CC).
b) Usufruto
Tem o estabelecimento por objecto, um direito real limitado de gozo constituído sobre coisa alheia e
também tem de ser realizado por escritura pública (arts. 1439 segs. CC).
O usufrutuário adquire o direito à exploração do estabelecimento, além dos poderes que lhe são atribuídos
de uso directo (exploração) do estabelecimento. Adquire também poderes de utilização indirecta,
contrariamente de alguém que tenha o mero direito de uso, quem tenha usufruto pode locar também.
[3] Ao direito de preferência em questão aplicam-se também os arts. 416º a 418º e 1410º CC.
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