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Drake despertou.

Era manhã.

Seu corpo todo doía, ele estava faminto, encharcado e com frio, mesmo estando de armadura.

Ele não se lembrava, mas a armadura havia ido ao seu corpo durante a queda, para protegê-lo
de uma morte certa.

O cavaleiro olhou em volta, e se viu em uma praia, estava com os pés ainda na agua e
completamente sujo de areia. A sua frente havia a entrada de uma trilha que seguia por entre
uma vegetação densa e, impossível de não ser visto, ao fundo, no centro da ilha, um
gigantesco vulcão expeMaya fumaça, mostrando que estava ativo.

Drake deu um passo, ainda estava fraco, mas as pernas estavam mais firmes que na noite
anterior. Sua cabeça girava e ele julgava estar surdo por que não era capaz de ouvir o barulho
do mar, mas seguiu em frente, ele precisava continuar.

Ele praticamente se arrastou pela trilha. Viu alguns animais, clareiras e a algumas casas
abandonadas em seu caminho. As casas eram feitas de uma mistura de palha, madeira e algo
que ele achava que era concreto, mas todas estavam abandonadas. Isso reforçou a teoria de
que ele havia conseguido chegar à ilha certa.

Andou por mais alguns metros, até ver uma cachoeira. O cavaleiro apertou o passo e se jogou
na agua, bebeu tudo que pôde para aliviar a sede, sem se importar com a procedência da agua
e aproveitou para retirar a armadura e lavar a areia que estava em seu corpo. A audição do
cavaleiro retornava aos poucos, assim como seus demais sentidos voltavam a se fortalecer. Ele
recolocou a armadura e continuou seguindo a trilha até chegar próximo à encosta do vulcão.

Já era de tarde, provavelmente o fim da tarde, quando o cavaleiro alcançou a encosta. Ele
sentia uma força poderosa emanando daquele vulcão. Decidiu por acampar ali, estava fraco,
com fome e sem forças, então apenas achou um local mais escondido e se deitou. Os olhos se
fecharam quase que automaticamente.

...

- Ei! – Uma voz feminina o chamou. – Acorda.

Drake abriu os olhos e viu uma garota em pé olhando para ele. A garota tinha cabelos ruivos e
olhos verdes, a pele era branca e pequenas sardas eram visíveis em seu rosto. Ela usava
camiseta branca, um colar prateado, calças jeans rasgadas nos joelhos e uma corrente presa às
alças por onde se passa o cinto na calça.

- Marilli? – O cavaleiro arriscou enquanto ainda recobrava seus sentidos.

A garota assentiu sorrindo.

- Faz algum tempo que cavaleiros não vem ate aqui, quem é você?

- Meu nome é Drake, sou o cavaleiro de Pégaso. – Ele disse enquanto se erguia.
- Eu te imaginava diferente. – A garota disse de forma amigável.

Drake tentou firmar as pernas, mas elas estavam bambas. Ele tombou para frente, mas Marilli
o amparou.

- Você está ferido?

- Eu enfrentei um espectro e depois... – A visão de Drake ficou turva e ele voltou a ter náuseas.

O cavaleiro se afastou da garota e vomitou sangue novamente.

- Um pouco. – Ele disse entre tosses. – Me machuquei um pouco.

Marilli colocou a mão sobre a testa do garoto.

- Por Zeus, você está ardendo em febre. Eu vou leva-lo para um lugar seguro, o vulcão vai cura-
lo.

Embora aquilo não fizesse muito sentido, Drake não tinha forças para discutir. O garoto estava
com tanta fome que seu estomago não mais roncava, ele apenas doía e doía muito.

- Vamos lá, Pégaso. – A garota tentava mantê-lo consciente enquanto avançavam em direção a
uma caverna. – Estamos quase chegando.

- Você é uma amazona? – Drake perguntou.

- Sim, amazona de bronze de Andrômeda.

- Mas você não usa mascara...

- Você está alucinando. – Concluiu Marilli. – Aguente apenas mais um pouco.

Eles adentraram a caverna. Drake conseguiu distinguir poucas coisas, por sua visão estar turva.
Ele viu algo que julgou ser um saco de dormir, uma urna de armadura quase idêntica a sua,
uma fogueira apagada e outra urna de armadura, essa dourada, mais ao fundo na caverna.

Marilli o colocou deitado sobre o saco de dormir e foi acender o fogo. A garota pegou algumas
sacolas plásticas, que estavam próximas à urna da armadura, e tirou uma pequena embalagem
do interior delas.

- Coma isso. – Ela praticamente enfiou garganta a baixo. – Não se preocupe, é apenas
chocolate. Sabe o que é chocolate, não é?

O garoto assentiu enquanto mastigava.

- Você é “de fora”, certo? É diferente dos cavaleiros normais.

- Sou americano. – Foi só o que o garoto conseguiu dizer.

- Tem certeza? Você parece um pouco itaMayano, sabia? Uma mistura de grego com
itaMayano, na verdade.
- Você é grega? – O garoto perguntou enquanto Marilli lhe passava uma garrafa de agua
mineral.

- Irlandesa. – Ela respondeu sorrindo. – O Santuário é uma grande mistura de etnias, ainda
mais entre os cavaleiros de ouro.

Mesmo sendo apenas uma barra de chocolate e uma garrafa de agua, o moral de Drake já
havia melhorado um pouco. Ele estava certo que havia conseguido chegar ao seu destino e viu
a armadura de ouro na caverna, isso por ora já bastava.

- Você não me respondeu. Por que não usa mascara? – Ele insistiu.

- Você não está há muito tempo no Santuário, não é? Nem toda amazona é obrigada a usa-las,
apenas as que optam por ela. É assim desde o século XX.

Isso fez Drake se perguntar o porquê de Maya optar por usar a mascara.

- Conhece alguma que ainda use? – A garota perguntou.

- Apenas uma. Mas eu vi várias “soldadas” as usando.

- Soldados são diferentes. As mulheres as usam quando estão na classe de soldado por que
não querem que os inimigos peguem mais leve com elas por serem mulheres. – Explicou a
amazona. – Quando se é uma amazona é um pouco diferente, você pode optar por continuar
ou não, com a mascara.

- Entendi. Onde conseguiu essas coisas? – O cavaleiro se referia à comida que a garota tinha
nas sacolas.

- Acha que eu vivo aqui de apenas frutas? – Ela perguntou sorrindo. – Fui a Malta ontem, vou
lá às vezes para conseguir suprimentos. Mas agora é minha vez de fazer as perguntas.

- Pode falar.

- Foi até você que a armadura de Gêmeos foi há alguns dias atrás?

- Sim, - O cavaleiro respondeu e voltou a olhar em direção a urna dourada. – foi por isso que
eu vim até aqui. Essa armadura me salvou.

Drake tentou se levantar, mas seu corpo não permitiu.

- Bom você está na Ilha Kanon, a fumaça do vulcão irá cura-lo, mas você terá que ficar aqui por
sete dias. – Marilli avisou ao ver o esforço do garoto.

- Sete dias? Eu preciso voltar logo ao Santuário, enfrentei um espectro no caminho para cá. Ele
sabe para onde eu vinha, nós temos que sair daqui logo por que ele virá para cá e com
reforços.

- Você não aguentaria a viagem. – A garota colocou a mão sobre o pingente em seu colar. – E
não podemos perder a ilha, é um local importante para os cavaleiros e um ponto estratégico.
Vou chamar ajuda não se preocupe.
- Consegue contatar o Santuário? Vamos precisar de mais alguns cavaleiros de bronze ou
prata... – Ele foi interrompido pela garota.

- Não, só precisamos de mais um. – Ela disse sorrindo. – Meu irmão está a caminho.

...

ATENA

...

Quatro dias se passaram desde a chegada de Drake a Ilha Kanon. O cavaleiro passava os dias
meditando nos acessos ao interior do vulcão, onde ele tinha contato direto com a fumaça
curativa. Marilli fazia suas atividades de costume, patrulhava a ilha, recolhia frutas e agua, e
treinava. A garota havia, de algum modo, se comunicado com o irmão, também cavaleiro, e ele
estava a caminho para ajuda-los caso os espectros atacassem. Drake não entendia como
apenas um cavaleiro seria capaz de ajuda-los, uma vez que ele achava que os espectros viriam
em um numero muito maior.

- Sente-se melhor? – Marilli apareceu atrás de Drake.

O cavaleiro estava em uma caverna pequena que dava direto para as paredes internas do
vulcão, onde era possível ver o centro de magma fervente do mesmo. Se não fossem
cavaleiros treinados no controle de seus cosmos, jamais poderiam ficar ali naquele calor
infernal.

- Muito. – Drake surgiu em meio a fumaça. – Parece que estou novo em folha.

O garoto estava completamente coberto por fuligem e, apesar de conseguir resistir ao calor
graças ao seu cosmo, ele ainda tinha um corpo humano por isso estava extremamente
suado.Drake estava sem camisa e tênis, apenas com suas calças jeans que também haviam
ficado cobertas por fuligem.

- Pega. – A garota jogou uma garrafa de agua para o garoto.

Ele despejou um pouco no rosto, retirando um pouco da camada negra que cobria sua pele, e
bebeu o restante.

- Sabe quem treinou aqui? – Marilli perguntou.

- Quem?

- Tenma, seu antepassado.

- Sério?

- Sim, ele aprendeu a controlar o sétimo sentido nesse vulcão.

- No vulcão? – Drake não entendeu. – Como?


- Bem... Ele foi treinado por Aspros, o segundo cavaleiro de Gêmeos de seu tempo, e ele tinha
um modo “diferente” de treinar seus discípulos. Ele lançou Tenma na lava, para que ele
aprendesse a controlar sua aura, depois o ensinou a moldar a lava com as mãos, assim ele teria
que aprender a focalizar o cosmo em pontos específicos do corpo e, por ultimo, ele teve que
impedir a erupção do vulcão, que acabaria por dizimar a pequena população da ilha.

- E no que isso o ajudou?

- Para impedir uma erupção, uma verdadeira demonstração de poder da natureza, é preciso
algo de igual poder, ou seja, o sétimo sentido.

Drake,em raras ocasiões,conseguia despertar o sétimo sentido e, portanto, já havia sentido


seu poder, mas parar a erupção de um vulcão? Ele nunca imaginou que pudesse fazer isso com
seu cosmo.

- Já acabou seu banho de fuligem por hoje? – Marilli tirou o cavaleiro de seus devaneios. –
Podemos descer?

Drake assentiu.

Todos os sentidos de Drake voltaram a funcionar e ele podia aguça-los novamente. O corpo do
cavaleiro estava melhor, ainda estava com os movimentos pouco debilitados pelo ataque de
Sonny, mas ele sentia suas forças renovadas. E isso era muito importante para manter o moral
do cavaleiro.

Eles voltaram para caverna.

- O que você tanto olha nesse anel? – Marilli perguntou.

A noite já havia caído. O clima da ilha era congelante, exceto no interior da caverna em que
estavam. Ela era aquecida pelo magma que fluía entre as paredes do vulcão e pelas chamas da
fogueira que a iluminava. Drake estava deitado e fitava os símbolos em seu anel de prata, que
ele carregava desde sua infância. Ele acreditava que era sua maior ligação com Carmen.

- Acho que estou pedindo ajuda. – Ele respondeu, com os olhos ainda sobre os símbolos do
anel. – Ou pelo menos tentando.

O cavaleiro estava frustrado. Estava ali há quatro dias, quase cinco, e nenhuma resposta havia
conseguido da armadura de Gêmeos. Ela não emanava ou respondia ao cosmo do garoto.

- E o anel vai ajudar?

- Me ajudou há alguns dias atrás, quando eu estava me afogando. – O cavaleiro lembrou-se da


onda de força, vinda de Atena, que o havia alcançado há dias atrás.

- Ainda não entendo como foi idiota a ponto de viajar pelo mar. – A liberdade da garota com
Drake já era algo notável. – Você carrega maldições de Poseidon. O mar é um dos lugares que
você deve evitar ao máximo.
- Ninguém havia me dito que eu herdava maldições, teria ajudado bastante se tivessem me
avisado.

- Você, o Pégaso, enfrenta deuses há séculos. – A garota tentava faze-lo entender. –E nenhum
deus gosta de ser derrotado, por isso você carrega as maldições deles.

- Tem ideia quais são as maldições que eu tenho?

- Algumas. – Marilli as contava mentalmente. – Sei de Poseidon, Hades, Apolo e Éris. Mas a
única que pode acabar interferindo em algo é a de Poseidon.Eu evitaria o mar por enquanto.

- Considere anotado.

A noite passou depressa. Logo os raios de sol da manhã começavam a iluminar o interior da
caverna, mas, com a chegada da manhã também vinha a chegada de energias malignas.

- Sentiu isso? – Drake perguntou ao sentir dois cosmos se aproximando a grande velocidade.

Marilli assentiu.

- Vista a armadura.

Mas antes que qualquer coisa pudesse ser feita, uma esfera de energia negra irrompeu a
vegetação e atingiu o interior da caverna. O impacto abalou as paredes do vulcão, o magma
começou a escorrer por rachaduras e invadir o interior da caverna.

- Droga... – Marilli tentava se levantar. O ataque havia os pegado de surpresa, mas não causara
nenhum ferimento a ambos. – Drake? Você tá bem?

O cavaleiro não respondeu. Estava em pé, na entrada da caverna e encarava um homem.


Pouco mais alto que o Pégaso, porem sua armadura negra com grandes asas o transformava
em uma figura mais imponente.

- Wyvern. – Drake falou. Sua voz estava carregada de ódio e seus punhos chegavam a tremer,
tamanha a ansiedade do cavaleiro pelo combate.

- Pégaso. – A voz de Tyrus exalava a mesma intensidade.

Ambos estavam prontos para a batalha, aguardaram e treinaram por meses para aquele
momento. A tensão naquela caverna era assustadora.

Marilli tentava alcançar a urna de sua armadura, mas, quando ela estava prestes a alcançar a
alça de sua urna, alguém a agarrou pelo pulso.

- Você não vai querer impedir isso. – Disse o homem que interferiu. – Eu quero ver essa
batalha há séculos.

Era Sonny de Morcego, o espectro que havia atacado Drake durante a viagem do cavaleiro
para a Ilha Kanon.

- Solta ela. – Ordenou o Pégaso. – Ou eu vou arrancar seu coração.


Drake já havia lutado de forma intensa e violenta, mas nada que chegasse ao nível em que o
cavaleiro estava naquele instante. Ele não estava querendo ferir seus oponentes, ele queria
arrancar a cabeça dos dois e depois ir atrás do próprio Hades, nunca havia sentido tanto ódio
em toda sua vida.

Sonny sentiu medo. Não pela ameaça do cavaleiro, mas sim pela intensidade de seu cosmo. No
barco o Pégaso estava sendo restringido pelas habilidades do Morcego, mas agora ele podia
presenciar toda a agressividade do cavaleiro. E era algo que ele não gostaria de enfrentar.

Marilli puxou o braço, soltando-se do espectro. A garota se moveu.Com uma rápida rasteira
derrubou Sonny e chegou até a urna de sua armadura. Ela puxou a corrente e caixa de metal
se abriu, revelando a figura de uma mulher, feita de várias placas de metal rosadas, com
correntes presas aos pulsos. A armadura envolveu a garota, as placas de metal cobriram seu
corpo, duas grandes ombreiras arredondadas cobriam dos ombros até o antebraço e correntes
prateadas pareciam brotar das placas dos pulsos. O elmo era uma tiara com um reluzente
adorno de metal espelhado na testa.

- Onda Relâmpago! – A garota bradou e apontou o braço direito na direção de Tyrus.

A corrente que era presa ao braço direito da amazona tinha a ponta triangular, enquanto a
esquerda tinha ponta em forma de circulo. A corrente triangular se alongou como que por
magica e foi, em ziguezague como um raio, na direção do espectro.

Drake e Tyrus saltaram para trás, se afastando um do outro. O ataque de Marilli não encontrou
seu alvo e a corrente retornou e diminuiu novamente a forma original.

Antes de voltar ao solo, Drake girou o corpo e, com o punho direito envolto em cosmo, lançou
um único disparo de energia. O raio azulado passou zunindo ao lado do ouvido da amazona e
atingiu Sonny em cheio no peito. O espectro tentava atacar a amazona pelas costas, mas o
Pégaso o deteve.

Marilli imediatamente girou o corpo na direção do Morcego.

- Corrente de Andrômeda!

A amazona lançou ambos os braços para frente e ambas as correntes se alongaram e foram
em direção ao coração de Sonny. O Morcego, já recuperado do ultimo ataque recebido,
arregalou os olhos ao ver as correntes se aproximando como lanças até ele. O espectro rolou
para o lado e escapou das correntes.

- Posso deixar o outro com você? – A garota perguntou ao cavaleiro.

Drake apenas assentiu. Estava sério, decidido e principalmente pronto para a batalha. Ele
seguiu até a urna de sua armadura e a abriu, liberando o Pégaso feito de placas metálicas. A
armadura reluziu e foi ao corpo de seu cavaleiro.

Quase como resposta o Wyvern irrompeu novamente pela entrada da caverna e foi, em carga,
na direção do cavaleiro.
- Rugido Deslizante! – O Tyrus estendeu sua mão direita e, em sua palma, se formou uma
esfera de cosmo negro.

Drake flexionou as pernas e em resposta investiu contra o espectro.

- Cometa de Pégaso! – O punho direito do cavaleiro foi banhado em cosmo azulado.

Os punhos se chocaram. O punho reluzente do Pégaso contra a espiral de trevas gerada na


palma do Wyvern. A explosão de luz e trevas foi imensa e abalou ainda mais a estrutura da
caverna. O magma começou a jorrar pelas paredes e preencher o solo, aumentando a
temperatura do interior da caverna.

- Você ficou mais forte. – Admitiu o Wyvern. Os combatentes ainda estavam com os punhos
“interligados”, em disputa de forças. –Mas ainda é apenas um verme!

A potência da aura do Juiz do Inferno era algo assustador. Equivalente aos cavaleiros de ouro,
mas a agressividade era tamanha que assumia formas animalescas no contorno de seu corpo.
Drake, no entanto, não ficava para trás. O cavaleiro havia treinado muito tempo para aquela
batalha. Ele não estava no nível dos dourados, ou dos Juízes do Inferno, mas ele estava pronto
para o Wyvern. Cário o treinou baseado em tudo que sabiam sobre o sucessor de
Radamanthys. Ele conhecia todos os seus ataques, seus estilos de luta e os “limites” de sua
força. Uma vez que aura de Tyrus era agressiva e descontrolada a de Drake era totalmente o
contrario. O cavaleiro tinha a aura intensa e constante, todo seu poder estava disposto
igualmente nos pontos certos de seu corpo para aguentar a investida do Wyvern. Não
importava qual ataque o espectro tentasse, o cavaleiro saberia como contra atacar.

- Você acha que me assusta? – O Pégaso elevou ainda mais seu cosmo. – Eu vou mostrar algo
para se ter medo. Vou queimar meu cosmo e explodi-lo no meu punho! Meteoro de Pégaso!

Os meteoros do cavaleiro fizeram a disputa pender para o mesmo. A energia de ambos os


combatentes estava se intensificando a um ponto em que ambos acabariam se destruindo se
continuassem, por isso, os dois retiraram seus punhos do embate. Arquearam seus corpos
para trás e, novamente investiram um contra o outro.

O choque entre eles ocorreu com ambos os punhos e, até mesmo, com suas cabeças. Com
extrema violência o espectro e o cavaleiro chocaram suas testas, como em seu primeiro
embate. Novamente o sangue escorreu pela face do Pégaso, mas, dessa vez o Wyvern também
pode sentir algo escorrer por todo seu rosto.

- Como você... – O Juiz do Inferno não conseguia acreditar que havia sido ferido por um mero
cavaleiro de bronze.

Drake sorriu. Logo pequenas rachaduras começaram a percorrer toda a extensão do elmo
negro do Wyvern e, então, o grande elmo com três chifres e adornado como a cabeça de um
dragão, se desfez em pequenos pedaços de metal. Pela primeira vez o rosto do espectro fora
mostrado por completo. Ele tinha a pele branca, cabelos negros e bagunçados, e aparentava
ser mais velho, com idade entre vinte e vinte e dois anos, mas o que realmente chamava a
atenção eram os olhos castanho escuros, mas quase negros. Exatamente idênticos aos de
Drake.

- Maldito! – O Wyvern esbravejou ao se recuperar do estado de choque momentâneo.

Com extrema violência o espectro recuou seu braço direito, retirando-se do embate, e desferiu
um poderoso soco. Drake também recolheu seus punhos e os posicionou junto ao corpo,
assumindo sua postura de boxeador e, no ultimo segundo, abaixou-se desviando do ataque de
seu oponente.

- Minha vez! – O cavaleiro bradou.

Ele estava no local perfeito. Tyrus havia se descuidado pela raiva e atacou sem pensar, isso
criou a abertura perfeita para o Pégaso. Ainda em sua postura de boxeador, o cavaleiro
começou a desferir socos a uma velocidade descomunal. Ele não movia as pernas, apenas o
tronco e os braços, como um verdadeiro boxeador, mas a uma velocidade impossível de ser
alcançada por qualquer ser humano comum. Os socos eram rápidos e potentes, todos
acertavam o tronco do espectro, que sentia cada um dos golpes, mas nada conseguia fazer
para se esquivar.Drake finalmente moveu as pernas, apenas pisando mais forte sobre o solo
para fortalecer a base de sua postura, e então arqueou seu braço direito mais para trás.

- Eu treinei esse ataque até meus punhos queimarem, apenas para poder mata-lo com ela! – O
punho direito do cavaleiro foi novamente banhado pela cosmo-energia azulada, mas dessa vez
ele parecia queimar de maneira muito mais vivida do que antes. – Cometa de Pégaso!

O soco veio como um direto de direita. O cavaleiro usou a rotação de sua cintura e o empuxo
de suas pernas para aumentar ainda mais a potencia do impacto do punho com a força de mil
meteoros. Porem, nos poucos instantes que o Pégaso interrompeu seus ataques para
aumentar o impulso de seu cometa, o Wyvern foi capaz de reagir. Ele não se moveu, apenas
expandiu sua aura e desferiu seu ataque mais poderoso.

- Destruição Máxima!

Uma grande onda de cosmo negro se expandiu do corpo do Juiz do Inferno, como se fosse uma
cúpula crescente de energia destrutiva. Ela se expandia em todas as direções partindo do
centro do peito de Tyrus.

A onda de destruição iria se chocar com o punho de luz, mas algo se interpôs entre ambos os
combatentes e desfez suas técnicas. Era a armadura de Gêmeos, já fora de sua urna e
levitando na frente dos dois oponentes. A armadura se desfez em varias peças e assumiu a
forma de como se estivesse montada no corpo de um humano. Embora oca, a armadura
moveu seus braços, o esquerdo na direção do Pégaso e o direito na direção do Wyvern.

- Finalmente. – Uma voz ecoou do interior da armadura. – Os irmãos que podem esmagar
estrelas estão nesta ilha novamente.

No interior do elmo da armadura de Gêmeos uma rosto se formou, mas não um rosto sólido.
Era como se a imagem do rosto fosse translucida, como uma forma astral de um humano.
- Meu nome é Saga. – Disse o homem no interior da armadura. – Sou o antigo cavaleiro de
Gêmeos e venho até aqui para dar um basta a essa insanidade.

...

ATENA

Capítulo 19.

- Saga. – Drake repetiu o nome do cavaleiro. – Um dos cavaleiros que destruíram o Muro das
Lamentações, durante a última Guerra Santa.

A forma astral de Saga assentiu.

- Sim, Drake. – O antigo cavaleiro de Gêmeos sabia o nome do Pégaso. – Sou eu mesmo.

- Como conseguiu vir até aqui? – Perguntou o cavaleiro de bronze, aturdido de seu combate
pela aparição do cavaleiro de ouro. – Achei que os Deuses haviam amaldiçoado todos que se
levantaram contra Hades.

- E eles amaldiçoaram. – O cavaleiro retirou seu elmo dourado da cabeça, liberando seus
longos cabelos de tom azulado, e o repousou em seu braço. – Nunca poderemos ter o
descanso eterno, ou sequer chegar aos Campos Elíseos.

- Então como... – Drake iria perguntar, mas um soco do Wyvern o interrompeu.

O punho do Juiz do Inferno ia direto ao coração do Pégaso, mas Saga o impediu. O cavaleiro de
ouro segurou Tyrus pelo pulso, contendo-o completamente.

- Eu disse basta! – Bradou o cavaleiro de Gêmeos.

O Wyvern rosnou e recolheu seu punho.

- Você, alma desgarrada, como é capaz de desafiar um dos Três Juízes? – O espectro, apesar de
enfurecido, encontrava-se igualmente surpreso com a aparição do Cavaleiro de Gêmeos.

Mesmo estando em forma astral era perceptível a piedade no olhar de Saga quando o mesmo
se dirigia a Tyrus.

- Me culparei eternamente pelo o que fizeram com você, Rafael.

O nome pareceu servir como um gatilho para fúria do Wyvern. Sem motivo aparente, o Juiz do
Inferno explodiu em ódio e avançou novamente contra Saga. Tyrus lançou seu punho como
uma lamina em direção ao coração de Gêmeos, porem, Saga se abaixou e, enquanto o punho
direito do Juiz passava sobre sua cabeça, o cavaleiro pôs a mão direita sobre o peito de Tyrus.

- Desculpe. – O cavaleiro de ouro desviou o olhar.


Uma onda de energia dourada o atingiu no centro do peito e o lançou em direção a uma das
paredes da caverna. O impacto foi tão poderoso que irrompeu a parede, fazendo uma grande
onda de magma inundar todo o solo da caverna. O Wyvern estava fora de combate.

Saga voltou sua atenção para o Pégaso novamente, no entanto, não esperava o que viria a
presenciar. Drake estava de cabeça baixa, gotículas de sangue pingavam de sua testa, seus
punhos cerrados e todo seu corpo envolto em uma furiosa aura azulada de cosmo.

- Você não tem o direito. – Drake transbordava ódio naquele momento. – Não tem o direito de
se colocar no caminho da minha vingança!

Sem pensar duas vezes, o Pégaso atacou. Lançou-se como um torpedo contra Saga e tentou
lhe acertar um soco, mas Gêmeos conteve seu punho com apenas uma de suas mãos.

- Tem razão, Drake. Eu não tenho esse direito, mas peço, imploro que me escute antes que
decida prosseguir com essa insanidade.

O Pégaso hesitou. Sua cosmo-energia diminuiu e ele recolheu seu punho.

- O que é tão importante para que você interfira nos assuntos atuais? – Drake perguntou sério.

Saga relaxou novamente.

- O destino de dois cavaleiros que podem mudar o rumo dessa guerra com um único
movimento. – Respondeu o cavaleiro de ouro.

...

Marilli se descuidou com a aparição de Saga e deixou sua guarda aberta. Sonny não perdoou
tal erro e acertou em cheio seu joelho contra o ombro da amazona. O golpe teve tamanha
violência que empurrou Andrômeda para fora da caverna e deslocou seu ombro direito.

A garota rolou encosta abaixo e apenas parou quando seu corpo encontrou uma grande arvore
no caminho. Marilli sentia uma dor insuportável no ombro e não conseguia move-lo, suas
costelas também foram castigadas com o impacto contra a árvore e seu corpo todo doía após
a viagem pela encosta. A amazona se pôs de pé, mas não conseguia deixar o corpo ereto.

- Nunca entendi essa tradição das amazonas, sabe? – Sonny estava em cima da arvore com que
Marilli se chocara. – Por que vocês tentam fazer o trabalho dos homens? Não importa que
usem mascaras ou o quanto treinem vocês ainda são mulheres e não deveriam se meter
nesses assuntos.

- Maldito... – Marilli tentou falar, mas seu peito doía toda vez que ela tentava puxar folego
para isso.

- Eu vou mostrar que estou certo, provarei meu ponto ao arrancar sua cabeça e entrega-la a
Atena. Veremos se assim sua “Deusa” e às demais amazonas criam algum juízo.
Sonny saltou de um dos galhos do topo da arvore em direção a Marilli. A amazona moveu seu
braço esquerdo e lançou sua corrente circular, mas a mesma não atacou o espectro e sim
formou um casulo ao redor de sua dona.

O Morcego hesitou e se lançou para trás em pleno ar, saindo da rota que antes havia traçado.

- Oh, entendo. – O espectro sorriu, quando aterrissou, com a satisfação de quem acaba de
desvendar uma charada. – Suas correntes têm funções únicas. Isso explica por que não havia
me atacado até agora, estava apenas esperando que me lançasse sobre você para usar sua
corrente defensiva. Muito esperta Andrômeda.

A amazona estava em uma situação critica. Sonny havia analisado e entendido seu estilo de
combate, não era a toa que o espectro tinha dado tanto trabalho para Drake.

- Pois bem. – O Morcego saiu de sua postura de batalha e endireitou o corpo. – Irei fritar seu
sistema nervoso e, apenas depois que estiver completamente indefesa, arrancarei sua cabeça
Andrômeda.

Marilli não se intimidou com a ameaça de seu oponente. Não importava qual ataque ele
estivesse planejando, jamais conseguiria passar por sua corrente circular.

- Sonar do Pesadelo! – Sonny estendeu os braços e sua aura negra se expandiu em ondas
sonoras.

A amazona moveu o braço direito e o casulo de correntes começou a girar ao redor de seu
corpo. Mas não foi o bastante para evitar o ataque do Morcego. Marilli começou a sentir seu
corpo pesar, as pernas pareciam feitas de chumbo, a dor de ombro direito se tornou mil vezes
pior e ela tombou para frente. Apoiou-se apenas com os joelhos.

- O que... O que... – Ela tentava falar, mas suas cordas vocais não mais respondiam.

Os olhos negros e fundos de Sonny encontraram-se com os de Andrômeda.

- Pensei que o Pégaso tivesse contado a você sobre minha técnica, mas vejo que não. – O
espectro se abaixou e segurou o rosto da amazona pelo queixo. –Sabe, essa é a melhor parte
do meu trabalho, matar amazonas quando estão indefesas.

Marilli rosnou e se desvencilhou do Morcego. A garota tentava pôr se em pé novamente, mas


suas pernas negavam-se a obedece-la.

- Todo o orgulho e coragem se esvaem de seus corpos uma vez que percebem que todo seu
treinamento se tornou inútil. – Continuou Sonny. – Não conto isso a muitas pessoas, mas, você
não será capaz de contar a ninguém, não é? Enfim, tenho uma pequena coleção de mascaras
de suas amigas amazonas, acho um tanto curioso como elas escolhem viver atrás de um rosto
inexpressivo apenas para terem um lugar nas fileiras de Atena. Mas você, Andrômeda, você é
diferente. Não usa mascara, não tem medo de mostrar suas emoções aos demais e, portanto,
será a presa que me dará mais satisfação e prazer de destroçar.
O sorriso de Sonny era extremamente perturbador, sua expressão era claramente a de um
maníaco que estava se deleitando com o sofrimento de sua vitima. Porem, algo o surpreendeu
e arrancou-o de seu mundo deturpado. Marilli começou a rir.

O espectro julgou que ela tivesse enlouquecido devido ao estresse, então não se importou, e a
acompanhou gargalhando. Foi quando uma coluna de chamas desceu dos céus à frente de
Sonny, fazendo-o recuar. As chamas cessaram e revelaram um cavaleiro em seu interior. O
cavaleiro trajava uma armadura prateada no peitoral, que cobria toda extensão do peito, cinto
e proteções de perna e braços azulados. Não utilizava elmo, o que permitia ver seus cabelos
curtos e cor de areia, sua pele era branca como a de Marilli, mas seu rosto era muito diferente
comparado ao da garota alegre. O rosto do cavaleiro era duro e estampado de fúria, seu olho
direito era verde e o esquerdo branco, contendo uma grande cicatriz sobre toda a extensão da
face, da testa até o queixo, sobre este olho.

- Hazai. – Marilli conseguiu dizer o nome do cavaleiro.

A aura de Hazai era incrivelmente forte, fora do comum para os cavaleiros de bronze e prata.
Seu olho bom encarou o espectro a sua frente.

- Tem ideia do que acaba de fazer? – A voz do garoto era forte e calma.

Sonny hesitou, a agressividade na aura daquele cavaleiro era algo completamente insano. Não
ouve resposta a pergunta do cavaleiro.

- Você acaba de decretar sua cremação, cão do inferno.

...

O que quer dizer com isso? – Drake estava confuso com as afirmações de Saga.

A forma astral do cavaleiro de Gêmeos se enfraqueceu.

- Não tenho muito mais tempo. – Avisou o dourado. – Precisa me ouvir com atenção, Drake.

O Pégaso assentiu.

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