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O empreendedorismo e a

mentalidade empreendedora
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

n Identificar o conceito de empreendedorismo.


n Explicar o processo de ação empreendedora.
n Definir os estágios de uma ação empreendedora.

Introdução
Neste texto você aprenderá o conceito de empreendedorismo e como
ocorre o processo de empreender. Você também conhecerá como a
mente do empreendedor trabalha em seu processo criativo.

O empreendedorismo e a mentalidade
empreendedora
A palavra empreendedorismo é traduzida do inglês: entrepreneurship. Esta,
por sua vez, tem origem no latim: imprehendere, que passa a ser utilizada na
língua portuguesa a partir do século XX e tem sinônimo na palavra empreender.
Um dos primeiros autores a utilizar o termo empreendedorismo foi o
economista inglês Jean Baptiste Say, tido como pai de tal concepção em seu
livro, Tratado de Economia Política ( 1983 ), que dizia que o empreendedor
transfere recursos econômicos de um setor de produtividade mais baixa para
um setor de produtividade mais elevada e de maior rendimento.
Outro economista que utilizou de forma insistente o termo empreendedor foi
Edgar Alois Schumpeter ( 2003 ) ao definir este perfil como agente essencial ao
processo de Destruição Criativa, que, segundo o autor, é o motor para o progresso.
De fato, o que se pode notar ao conferir a origem é que o termo empre-
endedor está carregado da sugestão de que este perfil é de um indivíduo
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que tem ideias e iniciativa para propor novos negócios e busca se cercar de
infraestrutura para que este negócio seja viável.
Numa visão mais simplista, podemos entender como empreendedor aquele
que inicia algo novo, que vê o que ninguém vê, enfim, aquele que realiza antes,
aquele que sai da área do sonho, do desejo, e parte para a ação.
Outros autores trazem conceitos similares ou complementares afirmando
que um empreendedor é uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões.
No livro Empreendedorismo, de Hisrich, Peters e Shepherd ( 2014 ), eles
narram a história de Ewing Kauffmann que teve uma vida difícil, tendo que
trilhar uma jornada de obstáculos e desafios até chegar ao triunfo, com um
negócio formatado por ele, após trabalhar muito e adquirir experiência no
ramo em que se aventurou como empreendedor. Nesta jornada ele teve que
ser persistente e buscar alternativas para firmar sua empresa. O fato é que
nunca desistiu, pois tinha certeza que triunfaria.
O livro ainda sugere algumas questões reflexivas importantes para quem
tem a mesma intenção de empreender:

Como Ewing Kauffman, muitos outros empreendedores e futuros empreendedores


frequentemente se perguntam:

Sou mesmo um empreendedor?


Tenho o que é preciso para chegar ao sucesso?
Tenho vivência e experiência suficientes para iniciar e administrar um novo
empreendimento?

Apesar da ideia de ser dono de uma empresa ser sedutora, os problemas e as ar-
madilhas inerentes ao processo são tão lendários quanto as histórias de sucesso. O
fato é que há mais empreendimentos novos que fracassam do que os que alcançam
sucesso. É necessário mais do que apenas muito trabalho e sorte para ser um dos
poucos empreendedores bem-sucedidos. É preciso raciocinar em um ambiente de alta
incerteza, ser flexível e aprender com as derrotas. ( HISRICH; PETERS; SHEPHERD, 2014 )

Nessa perspectiva constata-se que o empreendedorismo tem importante


papel no desenvolvimento de territórios e nações, visto que reflete ações em-
preendedoras de pessoas que buscam oportunidades e não cansam de realizar
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esforços para que o negócio dê certo, mesmo em um ambiente de incerteza.


Muitas vezes, a oportunidade empreendedora acontece via introdução de um
produto tecnológico que já existe em um mercado e serve para criar um novo
mercado. Em outra situação pode ser a criação de um novo produto tecnológico
para um mercado já existente. De qualquer forma, sempre algo novo está em
jogo. Isso leva o empreendedor a ter que analisar as oportunidades, o que se
reflete em uma ação empreendedora.

Ação empreendedora e seus estágios


A ação empreendedora é o processo pelo qual o empreendedor avalia e escolhe
como vai se inserir no mercado por meio de seu negócio, se opta por uma
ação empreendedora que se dará pela criação de novos produtos ou processos
ou se isto se dará pela entrada em novos mercados. A opção está balizada
sobre análise de oportunidades, porém estas estão calcadas, muitas vezes, por
incertezas. Neste sentido, o empreendedor deve decidir sob esta perspectiva se
investe ou não nesta nova situação, as incertezas que surgirem podem ser mi-
nimizadas pelos conhecimentos já adquiridos por ele e experiências passadas.
McMullen e Shepherd ( 2006 ) criaram um modelo que ajuda a compreender
como os conhecimentos e motivações podem influenciar a ação empreendedora
em seus dois estágios.
O estágio 1, estágio de atenção é o de incertezas radicais, ignorâncias,
enquanto o 2, estágio de avaliação é o de incerteza específica da ação. Isto
quer dizer que no estágio 1 a percepção do indivíduo sobre uma oportunidade
a ser aproveitada por alguém é o resultado de seus conhecimentos prévios mais
suas estratégias pessoais ( motivações ), enquanto no estágio 2 a avaliação de
viabilidade externa e a motivação está calcada na sua predisposição.
Conforme as análises de Hisrich, Peters e Shepherd ( 2014, p. 6 ),

O modelo McMullen-Shepherd explica como o conhecimento e a


motivação influenciam dois estágios da ação empreendedora. Os
sinais de mudanças no ambiente que representam possíveis oportuni-
dades serão percebidos por alguns indivíduos, mas não por outros. Os
indivíduos que conhecem os mercados e/ou a tecnologia serão mais
capazes de detectar as mudanças no ambiente externo e, se também
estiverem motivados, ficarão mais atentos ao processamento dessas
informações. Os outros, no entanto, continuarão a ignorar a possibili-
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dade. O resultado do estágio 1 é a percepção por um indivíduo de que


há uma oportunidade a ser aproveitada por alguém. Esse indivíduo
precisa então determinar se esta representa uma oportunidade para
ele ( estágio 2 ). O processo envolve determinar a viabilidade de explorar
a oportunidade com sucesso, dado o conhecimento do indivíduo, e
a atratividade dela, dado o nível de motivação do possível empreen-
dedor. Em outras palavras, essa oportunidade para alguém ( crença na
oportunidade de terceira pessoa ) representa uma oportunidade para
mim ( crença na oportunidade de primeira pessoa )? O indivíduo pode
agir caso supere suas dúvidas o suficiente para formar as crenças de
que ( 1 ) a situação representa uma oportunidade para uma pessoa
em geral e ( 2 ) essa oportunidade para alguém é, na verdade, uma
oportunidade para ele próprio. Assim, ser um empreendedor significa
agir diante de uma oportunidade que vale a pena ser trabalhada.
( 3 ) Isso envolve o pensamento empreendedor, ou seja, os processos
mentais com que o indivíduo supera a ignorância para decidir se um
sinal representa uma oportunidade para alguém e/ou reduz dúvidas
quanto a essa oportunidade.

Dentro desta perspectiva percebe-se que o empreendedor possui pensamento


diferenciado, investigativo e criativo. O ambiente de tomada de decisão é
determinante para que ele possa avaliar suas alternativas e, movido por suas
intenções e motivações, encarar mercados em situações mais brandas ou
hostis, envoltos em riscos.
Para tanto, o ambiente também influencia as decisões do empreendedor,
assim em alguns casos ele deve se posicionar com um pensamento mais es-
trutural, em outras adotar a bricolagem, ainda em outras deve ser um executor
ou se adaptar de modo cognitivo.
O empreendedor que adota o pensamento estrutural em geral se baseia em
conexões que vem desenvolvendo ao longo do tempo. Conhecimentos que ele
tem sobre um produto ou serviço e seu mercado fazem parte das inteirações
que precisa elaborar para formar uma estrutura de entendimento sobre o que
vai projetar. Ainda assim estas conexões que faz nesta jornada são fontes de
criatividade, motor maior da inovação e empreendedorismo. Muitas vezes,
são estes links que ajudam a envolver um novo produto num novo mercado,
ou num mercado já existente. Tecnologias semelhantes também são propícias
a desenvolverem insights para alavancar oportunidades.
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Semelhanças superficiais: existem quando os elementos básicos ( relativamente fáceis


de observar ) da tecnologia se assemelham ( correspondem ) aos elementos básicos
( relativamente fáceis de observar ) do mercado. Semelhanças estruturais: existem
quando os mecanismos fundamentais da tecnologia se assemelham ( ou correspondem )
aos mecanismos fundamentais do mercado.

A segunda opção é a de adotar a bricolagem. O termo remete a Faça você


mesmo. Improvisar, ser criativo, buscar alternativas não ortodoxas pode ser uma
forma de vencer dentro do empreendedorismo. A bricolagem neste contexto pode
ser ativar a combinação de recursos disponíveis a novos problemas e oportunida-
des. Vale combinar recursos disponíveis ou experimentar, reinventar, remendar
tais recursos num formato diferente do qual foram concebidos originalmente.
Por outro lado, no processo de efetivação, ao qual o pensamento mais
racional é estimulado, ainda nesta fase, o empreendedor recorre a modos
alternativos de olhar as oportunidades. Há dois processos que podem ser
acessados nesta abordagem, o processo causal e o processo de efetivação. No
primeiro caso, o processo se inicia com resultado almejado, ele é gerado por
justamente na concentração de recursos para gerar este resultado. No segundo
caso, o processo se inicia com o que há ( quem conhecem, quem são, o que
conhecem ) e se seleciona os possíveis resultados.
A última definição corresponde aos traços cognitivos do empreendedor para
detectar as oportunidades, denominada mentalidade cognitiva, é este o diferencial
para agir sob condições de risco. Neste contexto é importante perceber a lógica
dominante em um ambiente dinâmico, questionando o que é simples aos seus
olhos referente aos mercados e a própria empresa. Desta forma é necessário
que desenvolvam também uma adaptabilidade cognitiva, a qual: “[...] descreve
até que ponto os empreendedores são dinâmicos, flexíveis, autorreguladores e
engajados no processo de geração de várias estruturas de decisão focadas na
identificação e no processamento de mudanças em seus ambientes para depois
se guiar por essas mudanças.” ( HISRICH; PETERS; SHEPHERD, 2014, p. 13 ).
Neste texto você pôde compreender os conceitos iniciais de empreendedo-
rismo e empreendedor, bem como de mentalidade empreendedora. Para isso,
foi importante acessar os objetivos elencados e compreender também o que
é ação empreendedora e quais são seus estágios.
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1. Marque a alternativa que se refere ao assumir diferentes formas de


conceito de ação empreendedora: pensar dependendo da situação:
a) Uma ação empreendedora pensar estruturalmente, adotar a
está relacionada à criação de bricolagem, executar ou se adaptar
novos produtos/processos de modo cognitivo. Responda
e/ou a entrada em novos a questão considerando como
mercados, que pode ocorrer os empreendedores pensam.
por meio de uma organização Os processos mentais com que o
recém-criada ou dentro de uma indivíduo supera a ignorância para
organização estabelecida. decidir se um sinal representa uma
b) Uma ação empreendedora está oportunidade para alguém e/ou reduz
relacionada à criação de novos dúvidas quanto a esta oportunidade
produtos/processos e/ou a podem ser identificados como:
entrada em novos mercados, que a) Pensamento estrutural.
pode ocorrer apenas por meio de b) Bricolagem.
uma organização recém-criada. c) Execução de uma ideia.
c) Uma ação empreendedora está d) Efetuação.
relacionada à criação de novos e) Pensamento empreendedor.
produtos/processos e/ou a 3. De acordo com o texto, “Eu,
entrada em novos mercados, que me preocupar? Como os
pode apenas ocorrer por meio de empreendedores inteligentes
uma organização estabelecida. tiram proveito do poder da
d) Uma ação empreendedora paranoia.”, presente no conteúdo
está relacionada a situações do livro, o presidente e CEO da
nas quais novos bens, serviços, Intel Corp. nos Estados Unidos,
matérias-primas e métodos afirma que: “[...] quando o assunto é
organizacionais podem ser negócios, acredito na importância
introduzidos e vendidos da paranoia.” ( HISRICH; PETERS;
por um valor maior do que SHEPHERD, 2014, p. 12-13 ).
seu custo de produção. Deste modo, marque a alternativa
e) Uma ação empreendedora correta, no que se refere a ser
está relacionada a situações paranoico de uma forma positiva,
nas quais novos bens, de acordo com o texto.
serviços, matérias-primas e a) Preocupar-se obsessivamente
métodos organizacionais com o que os concorrentes
podem ser introduzidos e estão fazendo.
vendidos por um valor igual b) Preocupar-se obsessivamente
ao seu custo de produção. com o que os clientes
2. Dada a natureza do ambiente estão pensando.
de tomada de decisões de c) Falta de equilíbrio entre o
um empreendedor, ele deve negócio e outras atividades
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da vida pessoal, ao pensar no motivantes que influenciam um


negócio 24 horas por dia. comportamento; elas indicam
d) Ser detalhista aos aspectos a intensidade com que as
mais importantes do negócio. pessoas desejam tentar, o quanto
e) Concentrar-se nos detalhes pretendem se esforçar para agir
a ponto de gastar mais de uma determinada maneira.
investigando uma possível Em geral, quanto mais forte a
ameaça do que o suposto intenção de se empenhar em um
prejuízo que teria com a ameaça. comportamento, tanto maior será
4. No que se refere ao pensamento a probabilidade de praticá-lo.
estrutural do empreendedor Marque a afirmativa que
ao pensar um negócio, quando se refere ao conceito de
elementos básicos da tecnologia intenção empreendedora:
se assemelham aos elementos a) São fatores motivantes que
básicos do mercado podemos influenciam as pessoas a buscar
afirmar que existem: resultados empreendedores.
a) Semelhanças estruturais. b) São convicções de que é
b) Semelhanças superficiais. possível executar com êxito
c) Oportunidade no mercado. o processo empreendedor.
d) Salto mental criativo. c) São percepções de
e) Pensamento empreendedor. viabilidade de execução de
5. Geralmente, a ação empreendedora um empreendimento.
é intencional. Os empreendedores d) São percepções da capacidade
tencionam buscar certas pessoal de realizar determinado
oportunidades, entrar em mercados trabalho ou conjunto de tarefas.
novos e oferecer novos produtos e) É uma avaliação favorável ou
– e raramente esse processo é desfavorável dos possíveis
de conduta não intencional. resultados empreendedores.
As intenções capturam os fatores
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HISRICH, R. D.; PETERS, M. P.; SHEPHERD, D. A. Empreendedorismo. 9. ed. Porto Alegre:


AMGH, 2014.
MCMULLEN, S.; SHEPHERD, D. A. Entrepreneurial action and the role of uncertainty
in the theory of the entrepreneur. Academy of Management Review, v. 31, n. 1, p. 132-
152, Jan. 2006.
SAY, J.-B. Tratado de economia política. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
SCHUMPETER, J. A. Entrepreneurship, style and vision. New York: Kluwer Academic, 2003.

Leituras recomendadas
BESSANT, J.; TIDD, J. Inovação e empreendedorismo. Porto Alegre: Bookman, 2009.
ROGERS, S. Finanças e estratégias de negócios para empreendedores. 2. ed. Porto Alegre:
Bookman, 2011.

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