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Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são
produtos da
imaginação do autor qualquer semelhança com acontecimentos reais é mera
coincidência.
Todos os direitos desta edição reservados pela autora.
Lembranças Dolorosas
Amélia Costa analisou a carta sem interesse algum, depois a
jogou na lareira assim como todas as outras sem paciência, se não
eram do banco, não eram da sua mãe do Brasil ou de seu pai de
Los Angeles ou não eram contas, não interessava, já fazia um
tempo que ela não se importava muito com aquilo, na verdade ela
não se importava com nada, estava bem só, adorava a vida que
levava e para ela aquilo bastava, apenas mais uma noite fria em Val
di Mazara, uma das regiões localizadas há oeste da Sicília, um
pedaço de queijo velho e vinho da melhor qualidade e voilà!
Estava tudo um pouco melhor.
Era feliz dentro do possível até satisfeita com a vida atual ou
ao menos aprendeu a ser feliz, e que lugar melhor para tentar
esquecer o passado se não numa ilha na Europa cercada de
montanhas e vegetação?
A verdade era que na época qualquer coisa parecia melhor
do que morar em Los Angeles, naquela vida de herdeira rica e fútil
que havia levado por cinco anos, agora aos vinte e sete, já sabia
bem o que queria, tinha sua vinícola, tinha sua própria fábrica de
vinhos e linha de vinhos também era dona de uma fábrica de
Azeites italianos finos, não precisaria mais viver na sombra do pai
rico, de ser vista como a herdeira desajustada do senhor O'connel,
dele herdou apenas o sobrenome, ela era apenas Amélia Costa de
Souza O'connel, para alguns a garota mais sortuda do mundo, para
outros a filha bastarda de um milionário que tinha conseguido se dar
bem na vida, porém nada além aquilo.
Jogou mais algumas cartas no fogo até ver em meio a pouca
claridade que o fogo fazia no lugar, o nome do remetente, Nova
York, ela estremeceu, e não entendeu por que diabos ele escreveria
depois de dez anos.
Amélia não pensou duas vezes antes de jogar a carta no fogo
e vê-la se tornar cinzas, cinzas como era todo o amor que dedicara
a ele um dia, Dylan certamente deveria estar feliz agora, casado e
quem sabe não havia sido pai? Tinha filhos?
Filhos ela não tinha, recordou-se amargamente daquele
pequeno grande detalhe de sua vida e de que em um momento da
vida carregou em seu ventre um bebê, um filho dele, contudo que
por causa de um acidente, ela o perdeu, um acidente que o próprio
Dylan causou, ou por influência dele, ela não queria lembrar, um dos
momentos que deveria ter sido mais especial para ela, havia sido
um verdadeiro pesadelo.
O dia de sua formatura contudo foi a maior humilhação na
qual sujeitaram ela, o tamanho da dor era tangível, era apenas uma
menina de dezessete anos, uma menina que se apaixonou por um
herdeiro rico, um universitário que havia enganado ela
despudoradamente, não houve escrúpulos por parte dele. Dylan a
levou ao céu para logo em seguida mostrar seu inferno particular,
ele havia sido seu melhor e seu pior, portanto aprendeu a lição, ela
não pretendia repetir o erro, nem com ele nem com mais ninguém.
Uma vez foi o suficiente para aprender que não nasceu para
o amor.
Aprendeu muito sobre si mesma naqueles últimos dez anos
para entender que voltar ao passado era uma regressão sem volta.
Quando chegou a pequena região de Val di Mazara era uma
adolescente sem sonhos e tão vazia quanto um tronco seco, com
uma mão na frente e outra atrás, carregava apenas uma mala com
roupas e pertences pessoais, o táxi quase não havia conseguido
achar a propriedade que o pai deu para ela, o Parco Dell'uva, ou
então em sua antiga língua Parque das Uvas.
Até então antes do ocorrido que mudou o curso de sua vida,
Amélia não sabia do que se tratava, a proposta veio quando ela
decidiu que não queria mais morar com o pai, que estava
traumatizada demais para querer permanecer ali.
Parco Dell’uva ficava um pouquinho longe da cidade, não tão
longe do que muitas pessoas imaginavam, apenas à uma hora e
meia de distância de Palermo, foi de certa forma um presente
perfeito de formatura, uma casa dentro de uma vinícola, com alguns
de hectares de terras a serem cultivadas, o lugar estava
abandonado há anos, a terra seca, as videiras em suma maioria
quase mortas. Havia poucos funcionários que ainda cuidavam do
lugar.
Fez uma careta ao recordar-se da cara feia que os homens
fizeram quando ela chegou ali.
Não havia ninguém administrando o lugar desde a morte de
seu avô paterno, o lugar havia passado de vinícola bem-sucedida
nos anos 70 para lugar abandonado. As poucas videiras que ainda
jaziam ali eram utilizadas para cultivo de consumo dos funcionários
que seu pai mantinha para cuidar do local.
Amélia viu tudo aquilo logo no primeiro dia ao se instalar na
antiga casa da família, era jovem e tinha vontade de aprender,
encontrou antigas receitas no escritório da casa e uma semana
depois decidiu que iria tornar daquele lugar um novo motivo para
prosseguir, sua estadia ali não seria passageira, ela tornaria o
Parque das Uvas uma das maiores vinícolas locais.
Tinha acabado de fazer dezoito anos, na época fez um
empréstimo dando parte das terras como garantia, tão logo
conseguiu se instalar arregaçou as mangas e colocou as mãos no
trabalho.
Toda a sua energia e foco foram direcionadas para aquelas
terras.
Alguns meses depois ela havia conseguido produzir sua
primeira garrafa de vinho, é verdade que foi de fato um verdadeiro
fracasso em comparação ao atual quadro em que se encontrava,
porém conseguiu na época vender mais barato tendo de certa forma
lucro de reposição em relação ao que gastou.
E aos poucos foi adquirindo experiência e produzindo vinhos
melhores com ajuda de pessoas que trabalharam determinado
tempo com seu avô em colheitas, adquiriu ótimos lucros com o
passar daqueles anos, lucros bons frutos e tão logo percebeu, sua
vinícola era uma das três maiores da região Siciliana.
Expandiu os negócios com o passar do tempo, havia crescido
o triplo nos quatro últimos anos, aproveitou o mercado e comprou
uma antiga fábrica de produção de azeite, aproveitou alguns
daqueles hectares e iniciou o cultivo também de oliveiras, suas
terras eram muito boas para plantação e cultivo, havia conseguido
reabrir a fábrica há cinco anos e agora trabalhava com azeites finos
e vinhos caros, tinha sua própria vinícola, e sua própria plantação de
azeitonas com apenas vinte e sete anos, vinte e oito na próxima
quinta.
Tinha centenas de funcionários, não vivia muito
luxuosamente —ao menos não tanto quanto seu pai biológico —,
adorava a simplicidade acolhedora de sua casa, aprendeu a amar
as comunas daquele lugar, coisas simples faziam-lhe bem, então
entendeu que era de certa forma feliz, feliz por suas conquistas e
vitórias e porque conquistou o direito de ser feliz com o passar
daqueles anos.
Saiu dos pensamentos, na lareira havia cinzas daquela carta
da qual não quis lembrar que recebeu, levantou deixando o calor da
lareira de lado ainda eram apenas sete da noite, estava cedo,
estava um tanto frio pois aproximavam-se da época de chuvas, ali
era sempre assim, dias quentes, noites frias ou chuvosas, ela se
acostumou com aquilo até rápido, gostava de lá, amava o lugar e
não conseguia se enxergar morando em lugar algum se não o
Parque das Uvas, aquele era seu lugar, sua grande conquista. Deu
seu suor e sangue para cuidar dele, dias exaustivos nos vinhedos,
sempre ajudando todos, até mesmo na tradicional colheita, pisando
na uva como os seus funcionários faziam, ela havia se sacrificado
muito para ter tudo, abriu mão de muitas coisas, no entanto no
fundo se sentia apenas grata por se abster das tantas coisas das
quais não quis.
Ter uma família foi uma delas, demorou um tempo para
entender e ressignificar a palavra “família”, Petter dizia que ela era
sua única família, contudo não parecia se importar tanto com ela
quanto dizia, para ele havia tempo para negócios e mulheres lindas,
mas para ela não.
Aprendeu a entender que voltou tarde demais para a vida do
pai biológico e aquilo não lhe fez mal, ela não o reconhecia como
pai, só teve um pai e ele não estava mais ali, para ela ter a família
brasileira por perto era uma dádiva, mas ter Petter por perto
significava de certa forma sofrimento e dor.
Porque se não fosse por ele nada daquilo haveria acontecido.
Até seus doze anos de idade tinha um lar perfeito, pais que a
amavam e uma boa vida no Brasil, cresceu em Campinas numa
cidade no interior de São Paulo, tudo estava indo muito bem, a
infância perfeita com pais maravilhosos mesmo que ainda houvesse
dúvidas nela sobre sua diferença ou semelhança física com os pais,
não era algo do qual se importasse. Até que seu mundo veio ao
chão com a chegada de um estranho à casa de seus pais, muitas
revelações devastadoras, descobriu durante a visita daquele homem
que era adotada e que tinha um pai norte americano.
Um pai que estava há doze anos — exatos — atrás dela, ele
a tomou de seus pais adotivos, o nome dele era Peter O'connel um
empresário multibilionário que sempre foi conhecido por ser
impiedoso no mundo dos negócios, ele a separou de seus pais
adotivos, ele a levou ela para América do Norte, mesmo ciente que
ela o odiaria para sempre por aquilo.
Amélia era uma criança que não falava inglês ou entendia,
estava confusa quando seus pais disseram para ela que ela
precisava ir com “aquele senhor”, sua mãe com lágrimas nos olhos
e seu pai com o peito inflado de raiva, havia policiais, havia muitos
agentes do FBI, na época foi um escândalo sem tamanho.
Seus pais adotivos foram acusados de terem roubado ela na
maternidade quando ela nasceu, arrancado ela de um rico milionário
Americano, um enorme engano que foi desvendado meses depois,
porém algo irreparável aos olhos de Amélia, talvez por aquele
motivo ela nunca houvesse deixado o pai biológico estar perto
demais.
A comunicação no começo era feita através de uma
tradutora, Petter tinha dinheiro o suficiente para pagar a pessoas
para fazerem aquilo, então ele contou para ela que Amélia havia
sido roubada por uma enfermeira americana que fugiu para o Brasil
com intuito de pedir resgate para os pais dela, até então sua mãe
ficou viva até saber que ela havia sido roubada, meses depois se
suicidou.
Por infortúnio — que ela preferia chamar de destino —, a
enfermeira acabou falecendo meses depois de chegar ao Brasil, ao
que Petter havia dito parecia que a mulher tinha dupla cidadania, e
Amélia acabou indo parar num abrigo com apenas cinco meses de
idade, os Costa haviam-na adotado e cuidado dela com o que
podiam, não eram ricos, mas os melhores pais do mundo.
Viveu doze anos da vida acreditando que aqueles eram seus
pais e Petter a afastou deles durante os dois anos seguintes, porque
suspeitava que eles tinham envolvimento no sequestro de sua filha,
mesmo eles não tendo envolvimento algum e aquilo já havia sido
provado pela própria polícia.
Com o passar dos anos conseguiu conquistar o direito e a
confiança de Petter para voltar a ter contato com os pais adotivos,
ela sabia que ele tinha medo de que alguém lhe fizesse mal,
contudo não era algo do qual se importasse, inicialmente conseguiu
fazer telefonemas, já com seus quatorze anos trocava cartas com os
pais, tudo escondido, até que quando fez quinze ela convenceu o
pai biológico de que seus pais adotivos não eram criminosos.
Contudo sua relação com os pais só voltou a acontecer
quando fez quinze anos, foi quando pode ter telefonemas abertos,
trocar e-mails, cartões postais e cartas, algumas fotos também,
quando fez dezoito e se mudou para a região de Val di Mazara já
era muito autônoma, então quando começou a ganhar dinheiro com
seus vinhos mandou dinheiro para os pais todos os meses desde
então, mesmo que eles recusassem é claro.
Sentia que era o mínimo que deveria fazer por eles depois de
tudo. Sabia mesmo que com todos os autos e baixos sendo aquela
relação não tão forte como em sua infância tinha contato com seus
pais no Brasil e os amava profundamente... pais não, mãe.
Suspirou bastante infeliz.
Seu pai adotivo, José havia falecido há um ano, naquelas
circunstâncias voltou ao Brasil para o velório e providenciou tudo
para a mãe, se reaproximaram mais durante as duas semanas que
ficou lá, seu pai faleceu de um enfarte, ele tinha apenas cinquenta
anos. Maria Aparecida sua mãe também era bastante jovem e seu
maior receio era de que ela ficasse no Brasil sozinha, já tinha alguns
meses que Amélia insistia para que ela viesse para a Itália, sua mãe
ainda tinha certa resistência porque no fundo ela sabia que a mãe
adotiva tinha medo de Petter O'connel.
Depois do inferno que ele causou na vida de seus pais
adotivos, como não poderiam ter medo?
Talvez a única pessoa que não tivesse medo dele, fosse ela,
porque ela era igual a ele e odiava ter que reconhecer que herdou
dele muito mais que uma fortuna de trilhões de dólares, era geniosa
e difícil como o pai.
Recordou-se do homem que a arrancou dos braços dos pais
há mais de quinze anos atrás, Petter era um homem bonito,
charmoso, aos cinquenta e sete se quer aparentava mesmo aquela
idade, Amélia era sua única filha, era viúvo e aquilo convinha a ele
muito bem, ainda que mantivesse o título formalmente por um certo
tipo de devoção a sua mãe Queen, era um galinha, um sem
vergonha irremediável.
E as mulheres gostavam daquilo.
Petter não era imaturo, mas agia como um garotão quando
estava perto de mulheres mais jovens, ele era o famoso “velho da
lancha” no qual boa parte das mulheres que ela conhecia falavam.
Aquilo a fez sorrir, ainda que não devesse.
Amélia nunca conheceu a mãe biológica, contudo se sentia
de certa forma triste em pensar que em algum momento a dor de
seu sequestro custou a vida de sua mãe, segundo ainda algumas
histórias de Petter ela era uma mulher doce e tranquila, o oposto
dele, nada que lembrasse ela própria, talvez por aquele motivo ele
mais trocasse de mulher do que de cueca.
Petter e ela não eram profundamente apegados, nunca
conseguiu ficar perto do pai por muitos motivos, alguns em
momentos de raiva e rejeição, mas em sua maioria porque ele a
abandonou nas mãos de empregados para viajar e trabalhar durante
sua adolescência, atualmente se falavam uma vez por mês quando
ele telefonava, era um homem seco e muito mal-humorado e aquilo
era algo que pouco se conhecia sobre ele.
Sabia que era a única mulher que ainda conseguia colocá-lo
no lugar, porque não havia alguém capaz de dizer ao poderoso
senhor O'connel que ele era um sem noção, como diversas vezes
ela falou na cara dele e sabia que por ser filha dele — e tinha
vantagens por aquilo — Petter muitas vezes ficava calado.
Um dos motivos das muitas brigas que teve com Petter
também foi pelo fato dele ser dono de uma multimilionária de
marketing e descobrir que Amélia não queria ir para faculdade, que
ela decidiu se isolar no interior da Itália e ter uma vida simples e
seus próprios sonhos,
— Você ficou louca? Você não vai para a Itália morar
sozinha! Você vai para a faculdade, isso não tem futuro Amélia,
você nasceu para ser uma mulher de negócios, não uma Enóloga,
nem uma Sommelier de quinta.
Aquelas palavras se encravaram dentro dela e ano após anos
ela o fez engolir cada uma delas. Com o tempo Petter respeitou sua
decisão porque não tinha argumentos, ele calou a boca e apenas
tolerou.
Ele havia transferido todas as terras do Parque das Uvas
para seu nome e deixado ela seguir seu rumo, e assim aconteceu,
ele a subestimou quando foi para aquele lugar, mas tolerou o fato de
que Amélia era reconhecida mundialmente pelos vinhos e azeites
que produzia, e ano após ano logo depois de uma boa safra para
fazer o pai engolir todas as suas palavras de agouro enviava
mensalmente seus melhores vinhos e azeites, atualmente ele não
reclamava, ao menos dentro do possível parecia orgulhoso em
relação a ela.
Foi para cama sem conseguir pensar em outra coisa melhor
para fazer, não queria ler, nem ver teve, sua novela só começava às
nove, reprisada é claro porquê o canal Brasileiro tinha horários
alternativos — era ótimo ver na língua original em italiano era meio
estranho — ela gostava de suas raízes, apesar de não ter nascido
no Brasil, era naturalizada e aquele era seu lugar no coração, foi
registrada e criada lá até certo tempo de sua vida, aprendeu a falar
inglês durante as muitas aulas que teve durante o tempo que havia
morado em Los Angeles, atualmente falava Italiano, teve aulas há
distância através de um site, outras coisas aprendeu com seus
funcionários, num geral gostava de sua vida.
Afinal de contas, era rica, bem-sucedida, não precisava de
nada além do que tinha e nada poderia estragar aquele momento
em que ela vivia.
Absolutamente nada.
Ligações Inesperadas
O celular tocou.
Amélia achou aquilo estranho, ninguém nunca ligava a noite,
estendeu a mão e pegou o smartphone olhando o identificador no
visor, Petter.
Revirou os olhos, atendeu.
—Espero não ter acordado você querida!
Petter se esforçava para ser carinhoso com ela às vezes, de
fato, quando queria se esforçava, mas ela sabia que as únicas
mulheres para as quais ele adorava dar atenção eram as com quem
ele saia, era um viúvo cheio de casos com garotas jovens, o
cinquentão mais cobiçado dos Estados Unidos, por diversas vezes
até se perguntou se de fato era filha dele, por que eram diferentes
em muitos aspectos, mas fisicamente, feliz ou infelizmente a
genética não havia falhado, ela era extremamente parecida com o
pai..
—Não acordou Petter— ele pareceu rosnar do outro lado da
linha. — O que houve?
—Não me importo que me chame de papai, Mel. — Ele falou
gentilmente. — Sei que me odeia, mas você sabe que foi o melhor.
O melhor seria se ela vivesse com seus pais no Brasil, perto
da praia, dos amigos de infância e de seu velho cachorro Pingo que
já havia morrido há cinco anos, também ficou abalada com a notícia
é claro, tinha ótimas lembranças da infância com o velho
companheiro.
Havia tanto que tinha abandonado por conta daquele homem,
como saber como lidar com ele depois de tudo? Parecia impossível.
—Por que ligou essa hora? Cadê a namorada?
—Ela entende!
Com o “nova”, Amélia queria dizer literalmente nova, a
namorada de seu pai só tinha vinte e sete anos pelo que ela sabia
era uma socialite que assim como ele adorava estar em eventos e
festas em LA, nariz empinado, corpo esbelto, cabelos tingidos de
loiro e um par de peitos turbinados por litros e litros de silicone.
Não conseguia pensar em se aproximar de nenhuma das
mulheres com quem Petter saia, eram todas muito arrogantes como
ele, outras queriam ele pelo dinheiro dele, já seu pai, não via
daquela forma, porque sabia o que elas queriam dele, em troca de
passeios e presentes caros ele as usava as mulheres e as
descartava depois de rápidos momentos de diversão, dava
presentes e joias caras de valores de milhares de dólares, bem
típico de cafajestes mesmo.
Segundo ele só havia espaço no coração dele para uma
mulher, sua mãe que morrera ao dar à luz a ela, Queen.
—O motivo da minha ligação é muito simples, um amigo quer
conhecer mais a respeito dos seus vinhos, ele quer investir é claro
numa possível expansão dos vinhos para América do Norte...
—Vai começar de novo? — Ela ficou irritada.
Petter nunca foi satisfeito com o fato de que Amélia era capaz
de tomar decisões, por aquele motivo algumas vezes ele queria de
certa forma impor coisas para ela, nem que à distância.
—Não faria mal algum se você aceitasse conhecer...
— Eu não quero.
—Eu não estou perguntando Amélia.
Talvez fosse por que o período não fosse dos melhores,
estava bem sensível naquele mês, e odiava aquilo, por que diabos
ele havia ligado àquela hora da noite? Para brigar por coisas que
não estavam dentro do domínio dele? Pois se ele queria aquilo,
havia achado.
— Querida, não é pelo dinheiro, já disse, os amigos vêm, me
visitam e perguntam sobre os seus vinhos e azeites, eu apenas
quero que você mostre ao mundo sua marca, sua conquista.
Saba que ele só queria fazer com que ela cedesse ao que ele
queria, porém não queria expandir os negócios muito além do que já
havia expandido e era justamente aquilo que Petter não entendia,
era uma marca que só se estenderia pela Itália e alguns outros
pequenos países da Europa, ela não queria que fosse uma marca
conhecida demais porque seu intuito era fabricar algo de qualidade.
Fugia do bordão de marketing que seu pai entendia por ser
bem-sucedida mundialmente porque sabia muito bem o que
aconteceria, ela não descansaria, viveria trabalhando e teria que
ficar a total disposição da fábrica mais de doze horas por dia num
escritório, viveria viajando, não haveria tempo para participar de
nada no Parque das Uvas, nem de interagir com seus funcionários.
Abriria mão de tudo o que conquistou em nome de dinheiro,
contudo como cobrar aquilo de Petter? Ele era bom naquilo.
Ele viajava demais e a deixava sozinha com funcionários por
meses quando morava com ele, Petter sempre foi um ótimo
negociador contudo péssimo pai, e aquilo — e a personalidade dele
incrível — atrapalhou muito a relação deles com o passar dos anos,
ele sempre estava mais e mais distante e ela sempre sozinha.
Não queria aquela vida, não desejava.
—Não quero expandir, já disse, os meus vinhos pertencem
ao povo italiano, a Sicília, Petter, quero que entenda que eu não
quero me tornar alguém estressada, eu não quis estudar por isso,
você nunca tem tempo para nada — desabafou com irritação. —
Diga ao seu amigo que envio vinhos para ele, mas para uso
pessoal, azeites até, mas não quero investidores chatos aqui me
perturbando, é época de colheita, sabe que tenho que ajudar o meu
pessoal em tudo, vamos ter comemorações agora e muitas coisas
para fazer.
—Me orgulho muito de você querida!
Ela sabia que sim, Petter também provavelmente estava num
daqueles dias em que se sentia solitário e vazio, ele só ligava
mesmo quando se sentia só, quando não havia ninguém por perto
para tolerar ele.
—Anda falando com aquela sua mãe do Brasil? — Ele mudou
o rumo do assunto bruscamente.
—Aquela minha mãe se chama Maria — replicou chateada.
— Petter, por que não aceita que ela é minha mãe? Você tem um
gênio muito difícil.
—Você que o diga, tem um gênio de cão, só quero que o
meu amigo conheça o lugar — retrucou ele bem-humorado. — O
que custa recebê-lo e mostrar as terras para ele?
—Quanto tempo seria? — perguntou.
A ideia de ceder, não era pior do que a ideia de saber que se
recusasse ele começaria a telefonar todos os dias para encher sua
paciência, então preferia ceder a aquele tipo de coisa e receber
alguns dos amigos de seu pai para visitas a vinícola ou a fábrica.
As visitas ocorriam em algumas vezes do ano, eles vinham
conheciam o lugar e iam embora, ficavam hospedados em algum
hotel da cidade e iam até o Parque das Uvas por dois dias para
conhecer o lugar, sabia que no fundo Petter considerava sua fábrica
um pequeno troféu.
Ele gostava de dizer para todos que ela era dona de terras na
Itália, mas aquilo em nada surtia efeito em Amélia.
—Três dias!
—Três dias? — berrou exasperada. — É brincadeira, Petter?
—Não querida, como é um amigo mais íntimo preciso que
permita que ele fique aí mesmo, ele quer conhecer o lugar e
aproveitar e conhecer a fábrica a fundo, é um bom investidor e quer
saber como os negócios funcionam, ele quer abrir sua própria
vinícola futuramente assim como você.
Ela ficou em silêncio se decidindo por alguns minutos, três
dias com um velho chato enfiado em sua casa falando da bolsa de
valores e de tacos de golfe... Ótimo!
—Tudo bem — cedeu — Quando ele chega?
—Já deve estar chegando!
—Como?
—Ele se precipitou é claro, por que eu garanti que você o
esperaria, mas não se preocupe, é um bom homem e não vai lhe
fazer mal algum, me diga, quando você vai ter tempo para me
receber?
— Você sempre promete e nunca vem — suspirou —, mas ao
contrário do que pensa, pode vir quando quiser, desde que não
traga nenhuma mulher.
—Ok, vou falar com a minha secretária para ver se tenho
horário.
Amélia revirou os olhos mais uma vez.
—Ah pelo amor de Deus, tchau Petter!
Era tempestuosa, temperamental e geniosa, ouvindo as
risadas do pai ela desligou a chamada e não se desculpou, parecia
uma brincadeira, uma brincadeira de mal gosto, um pai tentar
arrumar tempo na agenda para ficar com a filha? Petter era mesmo
um sem noção.
Amélia suspirou e ficou pensando sobre a visita, o velho
amigo de seu pai poderia chegar a qualquer hora, porém ao ver as
horas se estenderem concluiu que o homem só chegaria pela
manhã. Não se importaria em recebê-lo, era terça feira, no sábado
partiria certamente, e durante a semana ela sabia que não teria
tempo para dar muita atenção ao senhor, provavelmente pediria a
Leonardo, um de seus melhores gerentes para mostrar tudo para o
homem.
Por fim a novela acabou se enfiou em suas cobertas e
esperou o sono vir.
Afinal de contas, não queria receber seu ilustre convidado
com sono, ela sempre causava boas impressões nos amigos do pai
por ser ótima anfitriã, contudo conforme sentiu a cólica voltando teve
a terrível impressão de que talvez nem descesse para recebê-lo, ela
esperava que tão pouco acordasse a dor insuportável fosse embora,
havia ficado bem pior depois do aborto, porém recordar era mais
amargo, pior foi a dor do aborto e saber que depois do ocorrido, ela
nunca, jamais seria mãe outra vez.
Sobre o Passado
— Signora!
O chamado de Estela a alertou, mas permaneceu imóvel.
— Signora!
— Scusate, sto riposando Estela!
Não gostava de ser mal-educada, contudo, parecia quase
impossível.
Ela não sabia quando, mas iria levantar da cama, do lado de
fora ouvia o barulho dos homens e mulheres conversando
avidamente, Amélia queria ter levantado as seis como de costume e
ido apanhar suas uvas, ter passado na fábrica de vinhos que ficava
a alguns quilômetros dali e na fábrica de azeites que ficava um
pouco mais afastada, ter ido a cidade comprar remédio para cólica,
às dez da manhã ela já teria resolvido tudo, mas já eram dez e meia
e ela se quer conseguia se mover na cama.
—Signora, avere visitatori!
Visitas? O velho...
Amélia afundou o rosto nos travesseiros furiosa com Petter
mais uma vez, com muita dor, com tantos compromissos, agora
ainda tinha que receber o amigo de seu pai?
— Scendo tra pochi minuti, servo il caffè e lo sistemo in
qualche stanza di Estela — disse — Si?
Pediu que Estela servisse o café e avisasse que ela já iria
descer.
—Si, si, Signora va tutto bene!
Teria que tomar café em alguns minutos com mais um empresário
rico de Los Angeles ou Nova York, quem saberia? Ela não se
importava.
Ainda ficou uns dez minutos deitada, depois levantou criando forças,
desejando que a dor fosse embora, ela sempre ficava arrasada
quando chegava aquela época do mês, cansada e indisposta, os
remédios receitados pela ginecologista faziam efeito às vezes, mas
haviam acabado, ela deveria ter se precavido é claro, como não?
Não poderia ficar sem aqueles remédios nunca, não eram
milagrosos, mas faziam-na suportar aqueles períodos de dor.
Levantou-se e se arrastou até o banheiro, entrou no box e
ligou o chuveiro acostumada a ver todo aquele sangue descendo
pelo ralo, chuveiro bem frio, para ajudar ela a se recuperar, duchas
quentes davam mais sono e parecia que a cólica só piorava, pelo
menos para ela, mas nem sempre foi assim.
Antes do acidente de carro ela era apenas uma adolescente
normal com suas complexidades sobre peso e espinhas, era tudo
dentro do possível normal, sentia cólicas desde a primeira vez que
menstruou com apenas onze anos de idade, naquela época ela teve
a instrução da mãe e ela ensinou sobre como funcionava aquele
período do mês.
Antes ficar menstruada significava um pouco de
sensibilidade, ansiedade e cansaço, cólicas regulares no primeiro
dia, agora já não era daquela forma e aquilo se devia ao fato dela
ter tido um aborto na adolescência.
Foi um momento rápido e trágico.
Recordou-se com amargor de como tudo havia começado.
Naquela noite quando ela foi ao baile de formatura da escola
com até então seu namorado — pelo ou menos ele se dizia ser seu
namorado — tudo parecia inicialmente um conto de fadas, recordou-
se daquela sensação de frio na barriga quando Dylan Wilson foi
buscá-la em casa, do quanto era incrivelmente ingênua, Amélia se
perguntava como pôde acreditar naquilo, um universitário, bem
sucedido com uma carreira promissora no mundo dos negócios,
milionário, extremamente bonito e jovem que estava indo a um baile
de formatura de ensino médio com ela.
Uma garota gordinha que usava aparelho, cheia de espinhas
na cara e que tinha sonhos simples como casar e ter filhos, formar
uma família e em algum momento viver um grande amor.
Contudo, não era algo do qual deveria se culpar, não foi culpa
dela ter sido seduzida por Dylan, nem de ter feito parte daquele
plano macabro que o pai dele planejou para ela ou melhor, que ele e
o pai dele planejaram para ela.
Tudo foi perfeito, desde a chegada dele em seu carro de luxo
até as roupas que ele usava, usava um smoking e sapatos
reluzentes, ele havia feito a barba e mais parecia um príncipe
encantado em busca de sua princesa do que o verdadeiro crápula
que se escondia por trás de planos de negócios.
Até que chegaram ao baile e seu mundo viera ao chão.
Apertou os olhos bastante insegura, os receios e medos
todos dentro do coração e aquelas lembranças ruins de como se
entregou a ele, por carência, desespero e também por medo, era
jovem e estava naquela fase em que acreditava muito em contos de
fadas.
Dylan Wilson foi aquele sonho impossível para qualquer
garota como ela, ao menos foi aquilo que pensou quando o
conheceu.
Contudo havia mais coisas em comum entre eles do que
poderia imaginar, os pais de ambos tinham negócios importantes a
discutir, na época, o conheceu numa viagem a Nova York, durante
uma visita a empresa do senhor Wilson, pai de Dylan, com seu até
então com Petter.
Foi algo que aconteceu muito rápido, ela se “apaixonou” por
Dylan no primeiro segundo, atualmente julgou-se medíocre por ter
se deixado levar basicamente pela beleza dele, pelo lindo sorriso de
dentes perfeitinhos dele ele era sete anos mais velho que ela e
aquilo foi um charme, tinha dezessete e ele vinte e quatro anos, ela
usava jeans, tênis e camiseta enquanto Dylan usava um terno
despojado e sapatos de dois mil dólares.
Ela era estudante e estava prestes a fazer dezoito anos, ele
trabalhava nas empresas Wilson com o pai por meio período e no
outro fazia faculdade de administração na NYU, nada que
lembrasse algo que ela gostasse em um garoto, os norte-
americanos com quem estudou desde que chegou ali era garotos
que rejeitavam a ideia de namorar uma garota gorda, em suma
maioria não sofria Bullying na escola, porque sabia que ninguém,
jamais iria atravessa o caminho da filhinha de Petter O’connel,
porém pelas costas as garotas da escola falavam mal de sua
aparência, eles diziam coisas feias sobre seu corpo, sobre Amélia
ser gorda e ter espinhas na cara.
O contato com Dylan não foi algo de difícil acesso, os pais de
ambos decidiram conversar sobre negócios e o mercado de Bitcoin,
ele era muito gentil e sorridente, o sorriso dele conquistou-a logo de
cara, ele fazia muito o estilo de universitário que poderia ter
qualquer garota na palma da mão se quisesse, era dinâmico e
simpático, já ela, bem, não se sentia tudo aquilo dez anos atrás.
“E aí, está gostando de Nova York?” — Ele havia perguntado
ao se sentar ao lado dela no sofá da sala.
Tímida ela assentiu, os pais deles estavam falando sobre
negócios no escritório do lugar, o senhor Wilson até havia fechado a
porta do lugar afim de que eles não escutassem a negociação,
quando Petter levou a casa dos Wilson, ela não havia imaginado
que encontraria um belo moreno de olhos azuis claros há espera
deles, tão pouco que ele fosse tão mais jovem que o pai.
Quando viu Dylan e seu coração disparou, ela simplesmente
sentiu aquele choque — animalesco — tomar todo o corpo dela.
“Quer dar uma volta no jardim?” — Ele perguntou vagamente.
“Não obrigada” — respondeu ela, desinteressada.
“Quantos anos você tem?”
Dylan também não parecia interessado demais, talvez só
estivesse puxando assunto para que ela não se sentisse só naquele
lugar enquanto Petter estava tratando de negócios com o pai dele.
“Dezessete, senhor Wilson.”
“Hei, eu não sou um velho.” — Ele brincou fazendo-a sorrir.
— “Só tenho vinte e quatro, e ainda faço faculdade, isso me torna
tão ou mais estudante que você.”
“Pois é desculpe senhor Wilson estudante!”
Dylan riu, tão bonito e sexy que a fez suspirar e se sentir
medíocre na época, então se sentou no sofá diante do que ela
estava sentada e começou a puxar assuntos banais sobre escola e
sua vida acadêmica.
Hoje ela sabia que talvez fosse até interessante, mas não se
sentia, portanto não era, porque entendia atualmente que só poderia
ser algo do qual ela própria se reconhecesse e naquela época ela
mal se reconhecia como mulher, o corpo estava mudando e muitas
coisas em sua vida também, com um pai ausente e longe dos pais
adotivos, não teve o que poderia se dizer de adolescência normal.
Depois daquela visita de negócios a Nova York, trocaram
telefones, mas não acreditou muito nas chances de que Dylan a
procuraria para conversas profundas, a primeira conversa foi sobre
a universidade dele sobre a escola dela, coisas nada sérias e bem
simples.
Amélia sorriu um pouco triste e lembrou-se também que foi
surpreendida duas semanas depois Dylan apareceu na casa de
Petter convidando-a para tomar sorvete, recordou-se da sua própria
inocência e do jeito infantil de como levava a vida, fechou os olhos e
viu nitidamente daquela menina que estava com fones de ouvido
nas orelhas ouvindo Spice Girls enquanto pulava na cama do
quarto.
“Otária você nunca beijou!” — havia dito consigo mesma.
Ela havia pensado em Dylan Wilson nos dias que
transcorreram ao primeiro contato com o herdeiro, sem expectativas
é claro, porque não era uma hipótese, nem se quer uma chance
minúscula, Dylan Wilson jamais se interessaria por ela.
Amélia estava sorrindo enquanto ouvia Nirvana e curtia o que
ela chamava de “bad” ao pular em sua cama, estudando formas de
terminar alguns trabalhos da escola mais cedo naquela noite, mas
sabia que aquilo não seria nada fácil.
“Não, isso não vai acontecer” —disse para si mesma
enquanto pulava alto no colchão.
“O que não vai acontecer?”
O coração de Amélia perdeu o compasso, e ela congelou, ela
se virou na direção da porta que dava para o corredor do quarto e
avistou Dylan Wilson em pé segurando um buque de flores
pequeno, eram camélias de uma cor de rosa clara, ele estava
sorrindo, ela desceu da cama e controlou as pernas e tirou os fones
das orelhas.
“Senhor Wilson...”
“É Dylan!”
“Desculpe, o meu pai não está aqui!”
“Não vim ver o seu pai, vim ver você, são para você!”
Haviam sido as flores mais lindas que ela ganhou na vida, as
únicas também porque nunca ganhou flores de ninguém além dele,
sentiu-se amarga em recordar-se daquilo mais uma vez, do jeito
como ele a olhou de cima abaixo e sorriu mais uma vez enquanto
Amélia pegava o buquê de flores.
“Às vezes eu acho que você não vive nesse mundo” — Dylan
havia dito.
Então ela sorriu porque sabia que talvez para o resto do
mundo fosse só uma garota normal que não queria papo com
ninguém.
“Vamos tomar um sorvete, Amélia?”
O dia estava ensolarado então não recusou, teve um passeio
agradável onde falaram mais sobre a vida acadêmica dele e sobre o
último semestre de aula dela, sobre sua formatura no ensino médio,
algo que meses depois ela descobriria que não participaria, estaria
internada em um hospital recuperando-se de um acidente que
mudou sua vida. Depois daquela visita, Dylan começou a visitá-la ao
menos uma vez por semana, Amélia percebeu que com o passar
das semanas, estavam mais próximos, todos os sábados ele
aparecia com a desculpa perfeita de passeios por Los Angeles, iam
ao cinema e a parques de diversões, saíam para o MC’DS e ficavam
por horas falando sobre suas infâncias em parques da cidade, Dylan
falava que como as empresas estavam em transição precisava estar
frequentemente na cidade e percebeu com o passar dos dois
primeiros meses tendo aqueles encontros com ele que cada fim de
semana ao lado dele, era um pequeno momento de sua vida que se
tornava menos solitária e vazia.
Ele deu atenção para Amélia, ele preencheu o vazio que havia
dentro dela por cinco anos depois que se mudou para aquele lugar,
deu motivos para ela sorrir e encontrar um bom amigo, até que
depois daqueles dois meses iniciais saindo com ele, Dylan a pediu
oficialmente em namoro para Petter.
Ela aceitou, como não poderia aceitar? Na época questionou-
se quais eram as chances de um cara simpático, educado e
superlegal pedi-la em namoro.
Chances nulas. Pensou Amélia.
Respirou fundo, porque se pudesse voltar no tempo o faria
sem pensar duas vezes.
— Signora.
Ouviu o chamado de Estela e ignorou.
Estava ali recordando-se de seu passado depois de tanto
tempo por conta de uma carta, algo que ela jogou no fogo e queria
se esquecer completamente.
Diferença social nunca havia sido algum tipo de barreira entre
eles, mas física foi um enorme obstáculo para Amélia porque ela
sempre foi muito diferente das outras garotas, era gordinha e estava
acima do peso, ela nunca se importou de fato em fazer dietas ou
exercícios físicos, sempre foi mais do tipo que adorava sair e viver
cada momento da vida e apreciar os pequenos detalhes.
Não era paranoica como as meninas da idade dela, talvez por
aquele motivo também não se sentisse tão mal com os comentários
que as pessoas faziam a respeito de sua aparência e encontrar
alguém que também não se importava tanto com o corpo e sim com
atributos que iam além daqueles foi reconfortante.
Dylan foi seu primeiro em todos os sentidos, com ele ela saiu
para muitos lugares, eles se beijaram na Hollywood Boulevard e
depois de sete meses namorando ela havia entregado a ele sua
virgindade acreditando que seria só o começo de uma linda relação
de amor, ele havia sido carinhoso e terno com ela, compreensivo um
perfeito cavalheiro.
Entre encontros e passeios encontrou em Dylan um melhor
amigo que não conseguiu ter depois que se mudou para os Estados
Unidos.
Ela o convidou para ir ao seu baile de formatura da escola,
ele aceitou é claro — e hoje ela entendia o porquê de ele nunca se
recusava quando ela pedia algo — ele sempre dizia sim para Amélia
sem nenhum tipo de preocupação, ele parava de fazer qualquer
coisa para ir vê-la, durante aquela temporada Dylan se mudou para
Los Angeles para ficar perto dela, transferiu a faculdade e começou
a trabalhar numa das empresas do pai dele com filial instalada ali.
Então no dia de seu baile de formatura, a decepção chegou
muito mais rápido do que ela imaginou que seria.
Estavam inseparáveis naquela noite, haviam sido um perfeito
casal, Amélia se sentia importante por ter conseguido um par para a
festa, era um ritual pelo qual ela esperou ansiosa desde que
começou a namorar até o exato momento em que ela ouviu Dylan
conversando com outros rapazes na festa, Dylan ria fazendo piadas
a respeito dela, de sua aparência, de seu tamanho e de seu vestido
cor de rosa, comparando-a um botijão de gás enrolado num forro
velho e feio.
Amélia ficou inicialmente chocada, mas não precisou ficar até
o fim para perceber que estava machucada demais para tirar
alguma satisfação, ouvir o resto das ofensas, pegou a bolsa que
havia deixado sob a mesa e sem se despedir de ninguém foi
embora no carro dele, as chaves estavam na bolsa.
Estava cega pela dor, chorosa, magoada demais, Dylan ligou
para ela enquanto ela dirigia, mas ela não antedeu até porque não
deu tempo, e por fim um grande erro, esqueceu de colocar o cinto,
foi tudo tão rápido, havia se esticado no banco traseiro para pegar o
celular, tocava sem cessar e em apenas uma fração de segundos
quando se virou viu os faróis de um carro que vinha em sua direção,
tentou desviar, mas foi inevitável.
Lembrou-se dos flashs em sua mente de estar dentro do
carro com cacos de vidros espatifados para todos os lados, havia
muito sangue, estava tudo girando e estava bastante tona, respirar
era difícil, tudo de cabeça para baixo, ora ouvia sons de sirenes, e
desmaiava, tudo ficava escuro ou embaçado, ouvia o barulho de
pessoas gritando, os paramédicos com pressa levando-a para uma
ambulância, depois luzes claras da sala cirúrgica do hospital.
Amélia sabia de como era sentir aquela dor repetidas vezes,
de recordar-se daquele acidente que a destruiu, o acidente causou o
aborto de um bebê que ela nem sabia que existia, fraturas em todo
o corpo, rupturas internas no útero, estava grávida de três meses
quando aconteceu.
Quando acordou no quarto de hospital encontrou Petter
desesperado, falando que ela havia sofrido um acidente, que o carro
havia capotado e que ela havia perdido o bebê, demorou um tempo
para processar as informações porque ela não sabia que estava
grávida, notou a presença de Dylan num canto do quarto
simplesmente calado.
“Saia daqui.” — tinha ordenado.
Dylan continuou calado, apenas obedeceu e saiu do quarto,
não havia nada que pudesse ser dito ou reparado. Alguns dias
depois descobriu que Petter havia proibido ele de se aproximar dela
e sabia que havia sido o melhor. O acidente foi irreversível em todos
os sentidos possíveis, ficou com sequelas, perdeu uma trompa e
desenvolveu endometriose, aquilo a impedia de engravidar, era
estéril, às vezes as dores durante os períodos menstruais eram
insuportáveis, a médica falava que um acidente como aqueles
devido ao aborto deixou o útero dela com sequelas para sempre.
Até os dias atuais fazia tratamentos hormonais para aliviar as
cólicas.
Mal-humorada, saiu do chuveiro e olhou-se no espelho com
certo desgosto, agora bem no presente, notando os sinais que o
tempo deixou nela, a mudança que aconteceu com o passar dos
últimos dez anos, não era mais uma garota gordinha, não usava
mais cabelos curtos ou aparelho dental, o acidente não levou
apenas um bebê nem o direito de ser mãe, mas custou duas
costelas dela, uma de cada lado, haviam pinos em dois quadros e
um no joelho direito contudo por fora as cicatrizes eram quase
imperceptíveis.
Não poderia dizer o mesmo do que havia dentro do coração
dela.
Respirou fundo pensando no quanto Petter deveria tê-la
consultado sobre o visitante, o velho conhecido de seu pai havia
escolhido uma época bem ruim para visitá-la, estava menstruada e
de repente deprimida lembrando de todos os motivos que a levaram
até ali.
Saiu do banheiro e foi até o quarto, pegou o celular e enviou
uma mensagem de voz para seu melhor funcionário e também
compadre Leonardo, ele era seu homem de confiança há muitos
anos, pediu que ele viesse até o local para poder despachar o velho
porque provavelmente teria que ir à cidade comprar os remédios,
precisava deles, também tinha a opção de pedir que Janice sua
secretária trouxesse para ela.
Só iria descer por uma formalidade banal, sabia que Petter
não tolerava que fosse mal-educada com ninguém, mesmo que
ainda ela fosse um poço de falta de educação com ele, tinha nítida
consciência de que ele não gostava de dar a ninguém autoridade
para falar a respeito do sobrenome dele.
Era outro hipócrita que vivia de aparências. Pensou ela
chateada.
Escolheu um vestido floral azul justo de maguinhas folgadas,
depois calçou chinelas de dedo, estava bastante quente.
Até preferia daquela forma, o calor às vezes costumava
melhorar seu humor há depender a situação e qualquer coisa era
melhor do que ficar o dia todo na cama num dia quente e com
cólicas. Penteou os cabelos agora longos, eram de um castanho
mais claro, deixou-os para trás e por fim se olhou no espelho
enquanto passava o desodorante debaixo das axilas, havia
emagrecido muito no último verão, e culpou as tardes exaustivas de
trabalho, a pele estava mais bronzeada e os olhos azuis eram
claros, tinham o mesmo tom esverdeado que os olhos de Petter.
Talvez aquela fosse a única coisa que os ligasse terminantemente.
— Enfim, hora de conhecer o velho.
Dylan
—Quer um café?
Amélia se assustou e se voltou para o diário onde
insessavelmente escrevia sentada em seu canto perto da lareira, ela
pensava que Dylan já tinha ido dormir, depois que eles haviam
chegado cada um havia ido para o seu quarto e estabelecido aquele
silêncio estranho que vinha se seguindo desde que haviam partido
de Palermo, ela havia tomado banho e constatado que a
menstruação acabou, se sentiu aliviada ao notar que o período
passou rápido naquele mês, havia assistido as reprises da novela
sozinha, sem graça, se recusando a se sentir mal porque Dylan não
estava ali, por sentir falta dele sentado ao seu lado na cama ou de
pelo menos alguém para conversar, alguma companhia.
Ela não era daquela forma por aquele motivo se sentia
constantemente corrompida pela ideia de ter ele por perto, a
sensação de traição constante, mas por parte dela.
Mostrou a taça de vinho cheia e o queijo italiano num prato
com a faquinha de sempre, ela estava gostando da companhia de
Dylan, ele era atencioso com ela, gostava também do fato de ter
alguém com quem conversar, ela não conversava sobre a sua vida
com ninguém, às vezes com Leonardo seu compadre, mas se abrir
ainda era uma coisa que ela não fazia bem com ninguém, dividia o
necessário.
Ele se aproximou em meio a semiescuridão do lugar depois
se sentou diante dela, Amélia não olhou demais sentindo um arrepio
quase instantâneo percorrer o corpo, ele estava sem camisa, só de
calça. Ela havia vestido um casaco pesado por cima do pijama.
—Beba, esse é um francês Château De Saint-Martin Cru
Classé Grande Réserve 2017 — disse mostrando a taça, mas
atenta a escrita.
Escreveu sobre seu dia com alguns detalhes, sobre o dia
anterior porque havia se esquecido e inevitavelmente sobre o
pedido de Dylan, sobre a proposta de negócios dele.
—São classificados? — Dylan aceitou e bebericou o vinho
devagar — Muito bom!
—Durante a classificação, temos que nos atentar aos tipos de
uva, safra, a vinícola e é claro a graduação alcoólica, essa
classificação se refere a região e ao método de produção do vinho,
precisamos catalogar após classificar cada um deles, cada país tem
um código de catálogo de acordo com as uvas e a região de cultivo,
esse por exemplo é um rose, se não se atentar a essas informações
básicas o vinho se torna apenas uma grande merda com de merda
e cor de merda.
—Uma merda, senhorita Mel?
Ela sorriu olhando para o diário, descrevendo ali o momento
em que estavam na Praça da Vergonha em Palermo.
—Fica com gosto de garapa, com textura de algo magoado e
doce ou azedo, mais ácido que um tomate passado, vira uma coisa
muito, muito ruim — corrigiu-se ouvindo as risadinhas dele.
—Você é tão entendida, o máximo que entendo sobre
bebidas é diferenciar o gosto da cerveja com malte e sem, na
verdade os efeitos dela, fico bêbado mais rápido que não é puro
malte.
— Aqui na Itália temos quatro tipos de rótulos para os vinhos
Vini da Tavola que são os vinhos de mesa, o IGT que se refere a
região onde foi produzido, DOC que são produzidos em uma parte
determinada do país e DOCG tem um selo exclusivo para cada
garrafa, os meus vinhos tem selo DOCG, Denominazione di Origine
Controllata e Garantita, Denominação de origem controlada e
garantida, por isso são um pouco mais caros.
—O que fazem aos domingos já que é folga do pessoal?
—Têm folgas revesadas nas fábricas, a produção é algo que
não para, muitos funcionários folgam durante a semana, somente
aqui na parte da colheita que eu dispenso eles aos domingos,
colocamos redes coletoras para caso de algum imprevisto, eu
preferia que os funcionários parassem todos os domingos, mas nem
sempre é possível porque trabalhamos na linha de produção, na
plantação de azeitonas nos damos folgas aos domingos também ao
pessoal da colheita e colocamos redes — falou pensativa sobre a
pergunta.
—Você é uma excelente chefe — Dylan comentou — Eu me
sinto péssimo em relação a você, sempre exigi muito dos meus
funcionários.
—Eu exijo muito, mas não acho justo que trabalhem sem
descanso nesse sol e não tenham acesso a um repouso digno, sem
falar que quando acaba a colheita, começa a segunda plantação do
ano, damos um mês de férias coletivas e quando retornamos,
começamos do zero a parte de plantação, as oliveiras produzem
bem somente há dois anos, uma oliveira adulta só começa a
produzir após três anos depois do plantio, antes disso eu reformei a
fábrica, eu produzo vinho o ano inteiro, eu sei como é pegar no
pesado por isso eu tento sempre me colocar no lugar de todos,
alguns são apenas pessoas simples e gente muito humilde como eu
já fui um dia.
—Acho que essa sempre foi a diferença entre nós dois. —
Ele falou com amargura. — Você sempre foi apenas você mesma,
tinha sonhos simples, era humilde apesar do dinheiro, e eu... eu fui
ganancioso e mesquinho, pensava somente nos meus propósitos e
no que eu queria ser.
—Poderia ser o que quisesse ao meu lado Dylan, amaria
você do mesmo jeito. — falou e demorou um pouco para se dar
conta do que disse, se arrependeu, mas já era tarde demais.
—Não entendo porque você sempre toca nesse assunto —
complementou — Fica se culpando, por que você não vai dormir?
Descansar?
—Por que eu ... pensei que poderíamos dormir juntos, como
ontem, o que acha?
—Bem, não seria muito adequado...
—Sabemos que isso em comparação ao que já fizemos na
cama não é nada Mel, é besteira, Estela nem está aqui, somos
adultos!
As bochechas dela ficaram vermelhas.
Seria tanta hipocrisia assim recusar? Pior era saber que ele
estava coberto de razão.
Assentiu e fechou o diário se virando para lareira, até quatro
dias atrás o lugar era vazio, silencioso, tão quieto, agora ele estava
ali, apenas dividindo coisas com ela, pedindo uma chance,
arrependido, sendo apenas o Dylan que ela nunca conheceu antes,
ela não se sentia mal com aquilo, não se sentia mais angustiada
como antes, gostava da companhia dele, sentia como se pudesse
falar sobre tudo com ele, ser apenas ela mesma, contudo deveria ir
devagar.
—Podemos subir?
Ela assentiu e depois levantou levando o diário consigo,
subiram em silêncio, depois quando entraram no quarto ela fechou
as cortinas da janela e da sacada, desligou o despertador, não
queria acordar cedo demais, queria descansar ao máximo, já havia
decidido o que preparar para o almoço para o casal brigão, iria
preparar uma tábua de frios e boas massas, sua grande
especialidade é claro, ao dente com molho branco e champignons.
—Vi que comprou uns livros — Dylan comentou assim que se
enfiaram embaixo das cobertas.
—Leio às vezes quando estou com horas vagas nas fábricas
— abraçou Honney e se deitou de bruços como de costume. —
Você gosta de ler?
—Sim, eu gosto, comprei alguns sobre autoajuda — Ele fez o
mesmo ao se deitar de bruços — Gostava quando ia dormir comigo,
era quente!
Difícil Resistir a Dylan
Ela ficou surpresa, porque sempre tivera essa mesma
impressão a respeito a ele, como se Dylan a aquecesse.
—Adorava dormir em cima de você, era ótimo!
—Sei.
—A grande vantagem de ser seu namorado era o fato de que
você nunca teve frescura e sempre foi muito carinhosa comigo,
gostava do jeito como sempre cuidava de mim, deixava café pronto
e torradas as segundas, e sempre organizava as minhas badernas
no quarto.
—Essa mulher aqui não limpa baderna de ninguém além da
dela hoje em dia, saiba.
Ele sorriu, mas ela era verdadeira.
—Você adorava mexer no meu cabelo e eu sempre dormia
quando fazia aquilo, era relaxante!
—Isso também saiu da minha lista das coisas que eu fazia.
—Saiu? E o que mais? Me tocar? Parece que você tem medo
de mim.
Suspirou.
—Sei que você tem medo, mas isso não vai mudar a forma
como me sinto Mel.
—Eu não consigo mais ser como antes e você fica repetindo
que adorava as coisas que eu fazia.
—Ok.
Ficaram em silêncio por alguns momentos se fitando.
—Eu só quero dizer que eu gostava mesmo da garota que
você era comigo.
—Eu entendo.
—Então por que parece inaceitável que eu me refira a você
sobre como me sentia?
—Porque você me humilhou de todas as piores formas Dylan,
você me ridicularizou e me feriu e não dá para esquecer disso e
fingir que está tudo bem. Você fez e me sentir mal com o meu corpo,
com a minha personalidade e com quem eu era, você destruiu todas
as chances de eu ter um bebê, agora é muito fácil aparecer aqui me
cobrindo de elogios e pedindo perdão, mas e quanto a mim? Aos
meus sentimentos.
Foi como tirar algo ruim de dentro de si, um entalo que estava
formado em sua garganta há um bocado de tempo, Amélia respirou
fundo e estava bem, estava aliviada em dizer aquilo da forma mais
sincera possível, já Dylan não, os olhos dele se encheram de uma
emoção forte, então ele lhe deu as costas na cama e abraçou o
travesseiro se encolhendo, Amélia ficou ali observando-o de costas
para ela, ouvindo o som de um fungado baixinho que se misturava
com a respiração dele, os ombros dele subiam e desciam como se
em algum momento estivesse soluçando.
—Sinto muito por tudo, Mel, tem razão sobre tudo o que
disse.
A voz dele estava profundamente rouca, baixa, ele estava
chorando.
—Não fui recíproco, não te amei o suficiente para encarar
meu pai e nem para assumir os meus sentimentos, eu não merecia
nem metade do que me oferecia.
Amélia respirou fundo e se sentiu mal com a situação,
estendeu a mão, ela tocou os cabelos de Dylan e depois seus dedos
acariciaram o couro cabeludo dele com lentidão e suavidade
sentindo na ponta dos dedos os finos e lisos cabelos dele, não eram
mais tão curtos, se acomodou mais próxima dela lado dele
observando os ombros largos em os músculos braçais,
completamente diferente do rapaz mais magro com quem dividiu a
cama diversas vezes.
Ele se virou ficando de lado, e a encarou ali de muito perto,
os olhos cobertos por lágrimas, avermelhados, o castanho perdido e
pela primeira vez em toda a sua vida ela viu uma redenção extrema
no jeito como Dylan a olhava, arrependimento, dor, tristeza, tantas
coisas.
—Me perdoe, Amélia, só posso te pedir que me perdoe por
tudo, que me dê essa chance.
Estendendo a mão, Dylan tocou sua face, depois passou o
braço envolta da cintura dela e a puxou para junto de si, Amélia se
encolheu passando o braço envolta dele também, não se sentia
culpada por dizer como se sentia, aquilo estava dentro dela
atravessando-a desde que ele chegou, tentou evitar falar sobre o
passado a todo custo, mas Dylan insistia.
Era inevitável que em algum momento não expusesse aquilo.
Não havia um lado bom sobre o passado, nem sobre o que
Dylan havia feito.
Mas havia o agora...
—Case-se comigo querida! — Ele pediu de novo. — Não
aguento mais!
Era doce e tentador.
—Disse que iria esperar eu pensar sobre tudo— retrucou
fitando-o — Espere!
—Posso ter esperanças apesar de tudo?
—Talvez uma.
—Já é um começo.
Estendeu a mão e limpou as faces dele, secou suas lágrimas,
tinha certeza de que não haveria volta se optasse por permitir que
Dylan fizesse parte de sua vida novamente, que talvez aquela fosse
a segunda maior tragédia de sua vida, mas também tinha certeza de
que queria ao menos se dar a chance de tentar.
Ou quem sabe de provar para si mesma que mais uma vez
ele estava errado.
—Não sei se posso aguentar tudo isso.
—Não pode esperar pela minha decisão?
—Não me refiro ao casamento. — Ele tocou a face dela com
cuidado —Quero fazer amor com você, Mel, não percebeu?
—Dylan! Que horror! — exclamou vermelha e o viu sorrir
entre lágrimas — Olha o respeito, sexo só depois do casamento!
—Então temos que nos casar o mais rápido possível. — Ele
falou e a puxou mais para junto de si, mantendo os corpos colados
— Eu deveria ter feito tudo diferente desde que a vi naquele quarto
pulando em cima daquela cama.
—Não precisava lembrar disso, eu sei que eu era ridícula! —
admitiu embaraçada.
—Não era, deveria ter dito a verdade naquele dia, mas quis
que fosse só minha, sabia?
—Sua?
—Sim, só minha, me sentia dividido constantemente sobre
tudo o que estava acontecendo, via em você tanta coisa que eu
queria ter, sua beleza interior e exterior, queria poder ter te levado
para viajar e termos tido a oportunidade de ficar juntos.
—É engraçado, quando se é jovem não pensamos nas
consequências das coisas.
—Isso é verdade, lembra daquela vez no elevador?
Ela sentiu as faces esquentarem ao lembrar daquela tarde e
ficou vermelha feito um tomate.
Em algum momento da vida Amélia tinha sido imprudente e
impulsiva, nada do que lembrasse a mulher responsável que ela era
nos dias atuais, ela e Dylan haviam feito pequenas loucuras em
momentos juntos, naquela tarde em especial haviam transado no
elevador de serviço do prédio dele, em pé, ela não lembrava de um
momento tão excitante, Dylan havia prendido o elevador apertando
o botão de parada de emergência, então apenas um olhar para que
ela começasse a puxar a calça para baixo e dar as costas para ele,
eles haviam desenvolvido sua forma própria de se comunicar com o
olhar, tinham uma boa química na cama depois daquela noite no
apartamento dele, haviam apimentado mais o namoro.
—Já deve ter tido milhares de namoradas bem atraentes —
comentou dispersa.
—Talvez, mas nenhuma delas me excitou como você. — Ele
disse com os olhos fixos nos lábios dela. — Adoro o seu sotaque!
—Adora? — perguntou e tocou a face dele, pela primeira vez
se permitindo aquilo, vendo-o fechar os olhos, beijar-lhe a palma
com carinho.
—Queria muito isso. — Ele sussurrou roçando a face na mão
pequena e beijou a palma de novo. — Eu sou seu Amélia, só seu.
Deveria resistir? Poderia? Queria?
Dele?
Percebeu que não.
Ela não quis resistir, ela também queria aquilo, ela não queria
ter que se arrepender, mas tinha certeza de que não se
arrependeria, ela poderia confiar nele aquela noite, poderia proteger
o coração por agora, mas queria muito aquilo, queria ser tocada por
Dylan, beijada, queria poder pertencer a ele nem que apenas por
algumas horas.
Mais tarde ela poderia se martirizar.
—Não vou te machucar, eu prometo.
—Não é bom em promessas Dylan — Ela o empurrou
gentilmente e se sentou na cama diante dele — Nem eu em não
confiar em você.
Tirou o casaco e depois a blusa do pijama ficando apenas de
sutiã, depois tirou a calça do pijama sem graça e puxou as cobertas
tirando a calcinha de algodão, aconchegou-se a ele e o beijou sem
conseguir criar motivos para fazer ao contrário. Dylan a
correspondeu, a língua explorando a boca dela com pressa, nada
doce, nada gentil, os lábios explorando sua boca com força bruta,
ele a puxou para junto de seu corpo colocando a mão na coxa dela,
fitando-a, ela não entendeu por que parecia impaciente.
—Eu quem deveria despi-la — Ele praguejou e mordiscou o
lábio dela com leveza — E nem pense que vai ficar de sutiã!
—Não? Você não deixa? — questionou olhando no fundo dos
olhos dele. — Sabe que eu nunca me importei com essas coisas.
—Mas eu me importo!
Ele a beijou, agora com paixão, intensidade, ela se perdeu
entre os beijos ferozes dele, a mão se enfiando dentro dos cabelos
dele enquanto a mão de Dylan tocava seu quadril nu, os lábios dele
estavam quentes e úmidos, sentiu arrepios rápidos tomarem seu
corpo quando ele deixou seus lábios e percorreu uma trilha de
beijos pelo pescoço até o colo fazendo com que ela se acomodasse
entre os travesseiros.
Ele era bastante experiente, Dylan havia tido muitas
namoradas com o passar dos anos, enquanto ela, se sentiu um
tanto tímida e travada quando ele abriu o feixo do sutiã, ele retirou a
peça do corpo dela e o jogou para longe, o corpo de Amélia havia
mudado muito, tinha algumas cicatrizes nos locais das cirurgias, de
onde colocou pinos, de onde fraturou o corpo, do local de sua
cesariana, ainda havia dentro dela um bocado de vergonha naquele
sentido.
Estar com Dylan era bom porque já o conhecia, o olhar dele a
analisava em silêncio, mas era familiar, contudo, também era
diferente porque aquele Dylan não era o mesmo com quem dividiu a
cama anos atrás, ela deveria se sentir mais confiante com o corpo,
mas não conseguiu se sentir tão confortável.
—O que foi? — ele perguntou e deu um selinho nela. —
Ainda está menstruada?
—Não, já acabou, é que eu não fico confortável com você me
vendo assim, posso me cobrir?
—Não, como vamos fazer sexo com você coberta?
—Debaixo do cobertor.
—Você acha que eu trepo assim?
Amélia sentiu o sangue subindo às faces.
—Você trepa?
—Trepo.
—Quem é você?
—O Amor da sua vida.
Então Amélia riu a beça com a cantada furada e se ele tinha
o intuito de fazer ela relaxar conseguiu, Dylan a beijou novamente e
depois se ergueu, ele tirou as mãos dela da frente de seu corpo e
observou os seios medianos em silêncio depois segurou os joelhos
dela e os separou fazendo com que ela abrisse as pernas
completamente, a observou também daquele jeito, Amélia queria
poder se enfiar em algum buraco e se esconder.
—É, parece tudo normal por aqui.
—Seu idiota.
Ele sorriu.
—Tentei te seduzir sem camisa, acho que funcionou.
—Você tem péssimas técnicas de sedução.
Dylan se inclinou e segurou seu pé, então começou a beijar
desde a pontinha do seu dedão até suas canelas, os beijinhos eram
leves e quentes, cada beijo causava arrepios bons pelo corpo dela,
ele ergueu o olhar quando chegou na barriga dela e beijou todo o
canto onde havia a cicatriz da gravidez que foi interrompido. Os
olhos dela se encheram de lágrimas e se sentiu bem com aquilo, ela
entendia os gestos de Dylan, ela compreendia que ele levava aquilo
bastante a sério e que queria se redimir, mas que acima de tudo ele
tinha consciência de que foi pai de um bebê, que ele também sofreu
com a perda prematura.
Talvez tenha sofrido tanto quanto ela por ter que lidar com a
culpa do acidente.
Dylan beijou toda a sua barriga, depois sua boca tomou um
dos seios de Amélia e ele a olhou apertando o outro seio com a
mão, ele sugou aquele mamilo e quando soltou apertou com os
lábios a pele rosada, arfou com o prazer que aquilo lhe
proporcionou.
—Você é linda! — disse — Sempre foi!
—Você vai acabar me convencendo — disse sem jeito
observando os braços enormes envolta dela.
O viu se erguer e puxar a calça de pijama para baixo
juntamente com a cueca, arregalou os olhos horrorizada.
—Dylan...
Ela cobriu os olhos com as mãos se sentindo constrangida,
era tolice, já o viu nu muitas vezes, mas antes ele não era daquele
jeito, era menor.
—Não vou machucá-la. — Ele disse deitando-se sobre ela. —
Algum dos seus ex-namorados não tinha intimidade assim com
você?
—Dylan o meu ex-namorado era você — respondeu
envergonhada, mas ainda com as mãos tapando os olhos.
—Como assim eu? — Ele perguntou tirando as mãos dela
dos olhos, fitando-a com total incredulidade.
—Foi você eu disse que não sai com ninguém —respondeu
desviando o olhar para o lado — Não faço isso há mais de dez
anos, eu disse que não havia saído com ninguém, pensei que havia
entendido.
—Querida...
Ele é Meu
Ele fez com que ela o fitasse e a beijou com todo o carinho
do mundo naquele momento, se estava cometendo mais um grande
erro em acreditar naquilo ela sabia, mas sabia que queria viver,
queria aproveitar cada instante e queria poder se permitir ter mais
momentos como aqueles com um homem.
O beijo foi terno, a boca estava úmida e a língua entendia a
dela muito bem, não beijava há muito tempo, mas beijar Dylan era
uma sensação doce e maravilhosa sempre, ele sabia como beijar
ela e como fazer ela gostar daquilo, ele brincou com sua língua e
arrancou um pequeno sorriso de seus lábios.
Ela mordeu o lábio inferior dele e depois lambeu sentindo que
a boca dele tomava sua língua sem pressa para depois aprofundar
no seu de sua boca, as mãos dela se ergueram e ela tocou os
braços dele, apertou cada músculo e aquilo despertou nela um
desejo desenfreado por mais.
Queria tocar mais, beijar mais, sentir mais.
Há anos não sabia o que era estar com um homem, não era
diferente do que haviam tido, mas também era porque ele era mais
experiente e estava mais preocupado com seu bem-estar, ele a
cobria de uma atenção que antes não dava, ele sorria enquanto se
beijavam ele realmente queria estar ali com Amélia por ela, para ela.
Amélia se sentiu um tanto tensa quando ele separou suas as
pernas de novo e se inclinou, a penetrou-a devagar, não foi muito
agradável e doeu um pouco, mas ela apenas tentou relaxar,
colocando os braços envolta dos ombros dele, recebendo-o
lentamente.
—Abra mais sim? — Ele pediu entre o beijo. — Abra mais
para mim meu amor!
Obedecendo dobrou os joelhos enquanto ficava
completamente aberta para ele, Dylan se ergueu apoiando as mãos
dos lados dela e então investindo completamente, penetrando-a
mais uma vez e preenchendo-a totalmente, ela deixou que um
gemido de dor saísse e seu corpo subiu sendo totalmente tomado
pelo dele.
—Calma, meu amor.
—Ok.
Ele tocou sua face e ficou parado, afastou os cabelos dela
para longe de suas faces e a fitou, Amélia tentou se acomodar, ele
puxou sua perna e beijou o joelho dela se inclinando para o lado, os
lábios com um sorriso satisfeito.
—Tudo bem até aqui, amor?
—Sim.
—Se doer podemos parar, ok?
—Está bem.
Talvez ele estivesse sendo mais cuidadoso até do que na
primeira vez deles, ela sabia que sim, apesar do incomodo pela
penetração, sentiu como se um alívio imenso tomasse seu corpo
alguns instantes depois a tensão foi embora conforme ele começou
a se mover de encontro a ela, se beijavam, tocou as costas dele e
seu pé foi escalando a panturrilha de Dylan enquanto ele se movia
no vai e vem lento.
Sorriu quando ele segurou-lhe o quadril e a estimulou a se
mover com ele e aos poucos se entregou aos movimentos lentos,
ela conseguia ver a união gloriosa que ambos os corpos
compartilhavam agora, claramente, diante dos olhos o corpo nu e
musculoso investindo dentro dela, enquanto dentro dela, algo ficava
quente e viscoso, ela sabia que ele despertava os desejos mais
secretos, ficava excitada facilmente com Dylan e adorava aquela
química que ambos possuíam quando estavam juntos numa cama.
Dylan a puxou pelos quadris e rolaram na cama, deu uma
risada alta toda arfante, ele a deixou por cima e tocou seus seios,
seus quadris, ele a segurou pela cintura e a moveu em cima dele,
aquilo nunca haviam feito antes, se sentiu tomada por sensações
intensas de poder enquanto dava prazer para ele daquela forma.
Dentro dela nunca se sentiu tão empoderada quanto naquele
momento.
Tinha o controle da situação, do prazer que compartilhava
com ele, seus quadris se moviam rápido de forma involuntária, o
instinto falava mais alto, Dylan tocou suas coxas enquanto a
penetração se tornava mais intensa e forte, ele estendeu a mão e
tocou seus lábios, sua face, seu pescoço, ela se apoiou em seu
peito e rebolou em cima dele mais rápido.
Ele se ergueu e puxou as pernas dela, então começou a
meter bem fundo dentro de Amélia, ela o enlaçou pelo pescoço, sua
umidade a fazia pular em cima dele com facilidade, os lábios se
encontravam e emitiam gemidos altos que ela não conseguia
entender, sons e grunhidos, alguns palavrões, a quentura dela dava
um prazer inestimável para Dylan e ele dava para ela metidas
intensas de puro prazer.
A quentura no meio das pernas aumentava conforme sentia
as metidas firmes dentro dela, fechou os olhos sentindo que aos
poucos apenas cedia, e cedia com Dylan, rompendo qualquer
dúvida que pudesse ter em relação a aquilo, ela o beijou enquanto
ele a empurrava na cama e afundava dentro dela com intensidade,
em sua forma animalesca de ser, ela o recebia do mesmo jeito, as
pernas abertas e o corpo implorando por mais.
Em dado momento apertou os olhos porque pareceu
insuportável demais lidar com o prazer que sua sensibilidade vaginal
proporcionava, ela sentiu uma vibração intensa vindo do clítoris e
estremeceu dos pés a cabeça recebendo o orgasmo forte.
Ele a segurou e esperou que o primeiro orgasmo passasse,
enfiado nela, sentindo sua vibração, sua cavidade úmida, a carne
feminina revestindo-o com os reflexos do corpo dela, então voltou a
se mover e ela sentiu novamente que entrava em uma nova onda de
prazer intenso.
Não demorou muito, mais uma vez enquanto ele a penetrava
com rapidez, Amélia começou a gozar, ele se inclinou e beijou-lhe
os seios, ele a fitou e a soltou na cama, gozou também, a
acompanhou, Amélia tremia de forma descontrolada, ele gozou mais
uma vez se masturbando diante de seus olhos, na barriga dela, ela
sorriu e tentou respirar fundo, totalmente suada e arfante, Dylan se
inclinou e a beijou parecendo um bicho apressado e afoito.
—Preciso limpar isso, espere um momento.
—Aham.
Ela mal conseguia pensar em se mover, Dylan saiu da cama
e foi até o banheiro, retornou com papel higiênico, cuidadosamente
ele pegou algumas folhas e limpou a barriga dela, todo o local,
depois foi ao banheiro e ela ouviu o som da torneira, instantes
depois ele retornou e se deitou em cima dela, a beijou novamente
agora com muito carinho, sem pressa.
—Te amo querida.
Amélia sorriu e o beijou de novo abraçando-o pelo pescoço,
adorando o calor que o corpo suado proporcionava ao dela, as
pernas agarradas a cintura dele, antes nunca havia feito sexo
daquela forma, mas adorou, ele a abraçou com carinho enfiando a
mão nos cabelos dela, talvez houvesse se esquecido do quanto era
ótimo ficar com ele, beijá-lo, ser tocada por Dylan.
Tinha esquecido como era bom estar com ele, eles nunca
haviam compartilhado momentos assim antes, claro que se
beijavam e trocavam alguns toques em público, mas ela quem
sempre foi a mais carinhosa, agora era o contrário, ele quem estava
sendo carinhoso com ela, e ela preferiu assim, ainda era cedo,
queria esperar para ver como ele lidaria com tudo.
Ainda tinha seu tempo para pensar, ela queria pensar muito
bem antes de qualquer coisa, mas primeiro queria se certificar de
fato que ele não a machucaria como fez no passado, que ele era
apenas ele mesmo e que estava ali pelos próprios motivos, sem
influência de ninguém, que tomava decisões por si próprio.
—Você é linda doçura, fiquei muito enciumado quando
Antônio a abraçou — Dylan comentou observando-a— Se
identificam muito e fiquei morrendo de ciúmes por isso.
—Antônio e eu somos concorrentes, é a mesma coisa se
você e Petter se sentarem para conversar — disse recostada ao
peito quente.
—Eu fico feliz em saber disso — falou acariciando a nuca
dela com carinho — Quero te provar que sou merecedor do seu
amor.
—Espero que sim — beijou-lhe o peito — Espero que sim,
senhor Wilson!
Amo Dylan
Ela acordou primeiro, ainda era cedo, mas não quis acordar
Dylan logo de cara, naquela manhã ela despertou e estava em cima
dele, Amélia sorriu e silenciosamente escorregou para fora da cama,
depois apanhou um dos casacos e o vestiu observando o belo
moreno que dormia em cama, seria maravilhoso poder continuar ali
deitada com ele, mas já era 07:17, e precisava começar a preparar
o almoço para chegada de Mancha, e o café naturalmente para
ambos.
Preparou café novinho no pano e passou para térmica, fez
ovos mexidos com torradas e espremeu algumas laranjas, Dylan
talvez ainda gostasse de pão com queijo derretido, então ela
colocou dois no Grill, queria que ele comesse os mistos bem
quentes.
Estava tentando se entender com o processador quando
sentiu os braços enormes envolverem-na num forte abraço, ela
sorriu e fechou a tampa do processador com as uvas frescas dentro,
depois o ligou vendo as uvas rapidamente virarem um suco escuro e
grosso no coletor da máquina.
—Bom dia! — Ele disse baixinho logo que ela desligou o
processador.
—Bom dia — respondeu e olhou para cima — Sente-se,
pensei que ia dormir mais.
—Como? Sem o meu cobertor longe de mim? — Ele a beijou
de leve — Preparou um banquete para mim, meu amor?
—Tem que se alimentar bem — sorriu sem graça — Ainda
gosta de mistos?
—Claro que sim — afirmou virando-a para si beijando-a com
carinho.
Amélia o correspondeu colocando os braços envolta do
pescoço dele, ficando na pontinha dos pés para fazê-lo, Dylan a
puxou pelas pernas fazendo com que ficasse pendurada nele,
depois enfiou as mãos dentro do casaco tocando as coxas com
força.
—Dylan ...
—Quero agora sim?
—Mas e...
—Te quero agora!
Ela tirou o casaco rápido depois se ergueu enlaçando-o pelos
quadris com as pernas, Dylan se colocou entre suas pernas e
Amélia abaixou os quadris sobre a rigidez latente, ele estava nu,
agora ela também estava e aquilo a fez rir, não se importava
nenhum pouco com aquilo.
O prazer da excitação começou a tomá-la rapidamente
quando os lábios dele começaram a traçar beijos úmidos até os
seios dela, ele entrou bem devagar dentro dela, se movia sem
pressa, ela apoiou as mãos na pedra da cozinha permitindo que ele
a invadisse com mais intensidade.
A boca dele encontrou a dela e ele começou a investir
daquela forma dentro dela, os seios de Amélia pulavam a cada
metida, ela apertou os olhos tentando se segurar na pedra, parecia
difícil tentar se equilibrar enquanto as metidas se tornavam mais e
mais fortes.
—Vamos amor, aguenta metida na buceta.
—Ah! — gemeu alto e depois apertou os lábios entre os
dentes, horrorizada.
—Isso.
Ele riu e começou a meter mais rápido, com força, Amélia o
fitou e estremeceu olhando para cima logo em seguida, o corpo
pulando com o jeito que ele a penetrava, os lábios vermelhos de
tanto ela pressionar entre os dentes, se contorceu querendo se
mover com ele, os quadris se movendo rapidinho.
—Fode comigo, amor. — Ele pediu segurando os quadris
dela com firmeza —Mete comigo do jeito que me deixa louco.
—Com força. — implorou — Por favor.
—Você me completa Mel.
Não haviam beijos, nem carícias, apenas quadris latentes,
incansáveis, gritos, gemidos, sem pudor algum, pareciam dois
selvagens atracados na cozinha, ele investindo com força em
movimentos forte, ela deslizando completamente úmida, ambos
desfrutando de todo o prazer que poderiam oferecer um ao outro, a
firmeza dele a espantava e a encantava ao mesmo tempo, não a
machucava mais, pelo contrário, e excitava mais e mais, senti-lo
dentro dela era maravilhoso, potente e pulsante, sempre fazia com
que ela desejasse mais e mais.
Faziam barulho com força dos movimentos, mas ele não se
importou, certa hora desnorteada e louca se tocou adorando o
frenesi que se espalhava por seu corpo a invadiu com força
animalesca como se punisse de alguma forma, Dylan dava metida
dentro dela que fazia com que ela perdesse por alguns momentos
os sentidos, o orgasmo veio com intensidade e ele a segurou, mas
não parou.
Aquela ponta imensa de prazer era tão forte e foi quase como
um reflexo automático de seu corpo receber o orgasmo múltiplo, não
era algo que entendesse tão fácil, mas ela o recebeu em seu corpo
feito um raio que caia em algum lugar do mundo, voraz e intenso.
—Isso amor— Ele riu puxando-a para junto de si, abraçando-
a com força.
Ela o agarrou pelos ombros e tremeu entre seus braços, os
olhos cobertos por camadas finas de lágrimas, tamanha intensidade
nunca foi experimentada por ela, Dylan a segurou pelos lados da
cabeça e voltou a meter dentro dela rígido e quente, Amélia fez um
bico e seus pés se contorceram, ela comtemplou as irises castanhas
oscilando devido ao prazer, ele a beijou e a colocou sob a pedra.
—Se apoie nos joelhos e fique de costas para mim, abra as
pernas!
—Dylan, o que pensa que está fazendo?
—Faça isso!
Ela obedeceu e de um jeito desengonçado se apoiou nos
joelhos, ela se endireitou colocando aa bunda para fora da pedra,
abriu as pernas, Dylan se aproximou segurando-a pelas ancas e a
penetrou com força bruta, ela gritou um pouco alto e se segurou na
janela da cozinha, ele estendeu a mão para a frente de seu corpo e
começou a masturbar Amélia.
A tocou em seguida deixando-a sem reação diante daquilo,
ele beijou suas costas e a deixou mais excitada, ela se sentiu única,
poderosa, ela nunca se sentiu assim na vida, tão confiante, ele fazia
com que ela se sentisse assim, como se ela pudesse ser dona de
qualquer coisa ou fazer qualquer coisa.
Percebeu logo que aquela não era apenas uma entrega
física, não poderia ser apenas físico, ele passou a se mover mais
devagar, a provocá-la com os dedos, a beijar seu ombro com
carinho, fazendo com que ela relaxasse mais, ela fechou os olhos
se entregando a Dylan não apenas de corpo.
Constatar aquilo a deixou por momentos tensa e
maravilhada.
Ele deu a ela mais momentos de puro prazer torturante,
repletos de espasmos dentro dela, ambos alcançaram o clímax
juntos, algo tão forte e perfeito que parecia inevitável, ainda ali ela
teve certeza que não era somente pelo sexo que se sentia sair do
chão, ela ainda o amava, amava Dylan acima de qualquer dúvida,
magoa, dor, o amor que sentia por ele a completava de tal forma
que a única coisa que fez foi chorar, não era só pelo prazer que a
atingia em cheio causando soluços em sua garganta, era por que
estava completamente apaixonada por Dylan , de novo amando
aquele homem.
Momentos quentes decisões difíceis
Ele a virou para si, os olhos castanhos estavam cobertos de
lágrimas também, viu uma lágrima cair na face dele depois, outra e
mais outra, e aos poucos as lágrimas caiam abertamente das faces
endurecidas, das dela também, estavam chorando juntos. Ela tocou
a face úmida, e o beijou de leve.
Como havia deixado aquilo acontecer?
—Eu te amo tanto. — Ele disse com a voz abafada, falhando
devido ao choro. — Mesmo que não me ame, eu a amo Amélia, me
perdoe.
Ela o beijou pulando em cima dele, abraçando-o com força,
tendo certeza naquele momento de que o passado já não importava
em nenhum sentido, de que seu coração pertencia a ele, de que não
queria mais viver nas sombras da dor, que queria apenas que Dylan
ficasse ao seu lado, ela o amava, ainda mais que antes, e ele
estava ali, chorando, falando aquilo para ela, pedindo perdão.
—Sei que queria que as coisas fossem diferentes, eu
também queria ter agido diferente, mas eu não fiz isso e não sei se
posso conviver com as suas negativas. — Dylan disse entre
lágrimas.
—Chega disso Dylan, já disse para parar — ela limpou as
faces — Não quero falar disso ok? Podemos comer em paz e
planejar as coisas para fábrica?
—Tudo bem. — Ele assentiu encostando a testa na dela. —
Tudo será diferente agora Mel, eu juro!
—Eu sei que sim, agora suba e vista algo, Estela pode até
não estar aqui, mas nunca se sabe — aconselhou e o abraçou com
carinho — Traga a minha calça de pijama.
—Está bem. — Ele sorriu. — Sua mandona!
Dylan saiu da cozinha pelado e voltou vestido, Amélia
colocou o casaco depois a calça de pijama, depois eles tomaram
café na cozinha mesmo, se sentiu uma mimada quando ele a puxou
para o colo dele e a alimentou enquanto ele falava sobre planos
futuros, ele explicou sobre o investimento e que só precisava que
ela pedisse que redigissem um contrato para que ambos
assinassem.
Sabia que quanto mais rápido começassem melhor então ela
mesma entraria em contato com Janice no dia seguinte para pedir
que contactasse o advogado da fábrica, iria pedir também que
anunciassem sobre as contratações e pediria a Leonardo que
cuidasse do restante quanto as questões de separação de pessoal e
seleção de funcionários.
Após o café tomaram banho juntos e mais uma vez, Amélia
experimentou a maravilhosa sensação de sentir os abraços fortes
de Dylan, o carinho dele, seus toques, ficaram por minutos
preciosos debaixo do chuveiro abraçados. Momentos depois saíram
do chuveiro, colocou um vestido mais leve já que o dia estava mais
quente, era um de malha fria de alcinha cor de rosa, ele entrou no
closet momentos depois já de jeans e camiseta polo, ficou olhando
ela de cima abaixo daquele jeito que ela já estava começando a
identificar como olhar de profundo desejo.
—Nem pense nisso — apontou um pouco constrangida. —
Temos que preparar o almoço.
—Está linda meu amor.
—Obrigada — disse tocando o colar no pescoço.
—Te amo — beijou-a lentamente.
Ela o abraçou sentindo a firmeza do corpo de encontro ao
dela como uma rocha, enfiou as mãos dentro da camisa tocando as
costas largas e fortes, depois o peito com poucos pelos e o
abdômen definido.
—Você está bem? — Ele perguntou baixinho.
—Claro que eu estou, só me certificando de que é bem real
— afirmou e ouviu uma risadinha baixa dele — Você vai me fazer a
salada?
—Claro que sim. — respondeu — Tem certeza de que está
bem?
—Sim, por que a pergunta?
—Não estamos transando com camisinha, podemos fazer
exames de sangue o mais rápido possível.
—Sim.
—Eu sei que fui meio agressivo agora a pouco na cozinha,
tem certeza de que está bem?
—Sim, estou ótima.
—Não quero que se sinta forçada a nada Mel.
—Não me sinto, gosto da intimidade que dividimos, eu não
tenho jeito com essas coisas, nem experiência.
—Eu discordo, mas não quero ser só o seu amante —
afirmou mais sério.
Ela entendia o significado de cada uma daquelas palavras.
—Não podemos ser namorados?
—Não.
—E morar juntos?
—Amélia eu quero me casar com você.
—Eu entendi essa parte, mas é rápido.
—Fiquei muito tempo longe, não quero te perder de novo, sei
que precisa do seu tempo, mas as pessoas vão começar a falar e
eu não quero estragar sua reputação, sei que aqui são muito
conservadores.
Era verdade.
—Ao menos seja minha noiva.
—E namorada não?
—Achei que já estivéssemos juntos, amor.
Ela suspirou.
—Tenho saída além de aceitar?
—Não.
—E se eu não estiver pronta para que seja algo além de
sexo?
—Sei que está, sei que tem medo também e isso te assusta,
mas é melhor ao menos que tenhamos compromisso.
—Está bem.
—Está? — os olhos de Dylan reluziam de tanta felicidade.
Ela não acreditava que estava fazendo aquilo, mas merda,
queria fazer.
—Quando estiver com o padre e o juiz de paz pronto, me
avise!
Dizendo isso, saiu closet, ciente de que talvez se
arrependesse da decisão e aquele seria o preço por confiar em
Dylan novamente.
Aceitando o pedido
Desceu rápido e foi para cozinha, mal chegou lá ouviu os
passos ligeiros vindos em sua direção, ele a ergueu nos braços e
rodopiou com ela no lugar, Amélia riu agarrada ao pescoço dele,
Dylan estava tão feliz, tão radiante, um Dylan nunca conheceu na
vida.
—Juro que vou fazer tudo certo. — Ele falou colocando-a no
chão.
—Acredito em você.
—Eu prometo que tudo será diferente. — Ele sorriu tocando-
lhe a face com as mãos. — Vou providenciar tudo o mais rápido
possível, faremos uma grande festa aqui com os amigos, quero que
tenha direito a tudo meu amor, quero que seja a noiva mais linda.
—Está bem!
Ouvir aquilo de Dylan era muito importante porque estava
disposta a dar um voto de confiança para ele, dentro dela tentava se
controlar, explodia de felicidade, mas não queria se sentir tão bem
com aquilo, ela sabia que se em algum momento não desse certo
daquela vez estaria preparada.
Poderiam ser felizes, poderiam ter um lar, teriam um ao outro
e aquilo já bastaria, ele havia dito, ele disse que a amava tantas
vezes, ele havia pedido perdão, estava arrependido, ela precisava
conviver com ele para saber de fato que ele havia mudado, ela iria
se casar com ele, seria o melhor, assim poderia resolver as
diferenças e esquecer o maldito passado que os cercava, poderiam
ser felizes com apenas o presente, com noites de amor e jantares
no centro aos domingos, passeios pela Sicília e algumas noites com
novelas.
Dylan a ajudou a preparar o almoço e fez a tão esperada
salada que ele havia prometido, percebeu também um lado mais
companheiro dele, ele queria ajudá-la em tudo, conversaram sobre
vinhos, uvas, safras, ele sempre muito carinhoso, amigo, bom
ouvinte.
Às vezes sentia como se pudesse ler sua mente, a olhava
com uma malícia de tirar o fôlego, ela se sentia envergonhada e se
voltava para comida no fogão, percebeu então, que ele a conhecia
bem, ele sabia mais sobre ela do que ela supôs, teria ele se
apaixonado antes por ela para lembrar até mesmo dos pequenos
detalhes do namoro deles? Ele havia descrito com perfeição
momentos deles, aquilo deveria significar certamente que sentiu
algo por ela desde o começo.
Antônio e Sofie chegaram ao meio-dia, Antônio trouxe uma
caixa com seus melhores vinhos dando uma de esperto, mas Amélia
não havia sido boba, ela deixou um caixote bem mais decorativo
com o emblema do Parque das Uvas na sala e o exibiu como um
troféu para o concorrente logo que ele entregou sua caixinha de
papelão para Dylan.
—Como sempre querendo passar na minha cara — Antônio
praguejou vendo todos rirem — Não trouxe mais porque Sofie ficou
me apressando.
—Isso é porque você é muito preguiçoso — Sofie apontou
abraçando-o — Vamos nos casar!
—Ah que bom! — Amélia disse feliz pelo casal e foi
cumprimentar Sofie observando o enorme diamante em seu dedo.
— Nossa que lindo!
—Elas vão começar — Dylan disse mostrando o bar para
Antônio —Vamos variar hoje, que tal um conhaque?
—Chega de vinho — concordou Antônio bem-humorado.
Sofie não era em tudo desagradável, ela chegou logo a
conclusão que a garota era apenas infeliz enquanto falava do pai
que assim como o seu próprio nunca teve tempo para ela, e da mãe
que divorciada do pai se casou de novo e imaginem só, aos
quarenta e cinco anos estava grávida do segundo filho, Sofie era
filha única, pelo menos até agora, não seria mais, por parte de mãe,
parecia irritada com a notícia, mas radiante com o noivado, ambas
foram dar uma volta juntas pela vinícola do lugar, onde alguns
poucos funcionários trabalhavam, aos domingos trabalhavam só até
as três e eram apenas cinquenta, ela preferia assim, mas
revezavam sempre, e ela pagava como hora extra.
—Você e o senhor Wilson...
—Vamos nos casar — disse vendo Sofie radiante — Antônio
é como eu, percebi isso ontem, somos muito dedicados a nossos
negócios, deve imaginar que muitas vezes não somos afetuosos,
mas se quer um conselho, tente andar do lado dele, não atrás dele,
seria bom que ele visse que você é diferente e respeitasse esse seu
lado seu.
—É verdade, eu escolhi mais a profissão de modelo porque
mamãe sempre me controlou muito — Sofie confessou — Antônio
sempre fala de você como uma mulher bela e de fibra, eu odeio
isso, mas ele a detesta por isso também.
—É recíproco — elas riram — Antônio é um bom homem, um
ótimo competidor no mercado, mas acho que ele é igual ao meu pai,
pensa que tem dezessete anos e quer viver vadiando, eu sempre o
vejo nos tabloides com namoradas diferentes.
—Soube algo... ontem quando chegamos em casa, brigamos
feio, eu disse para ele que estava disposta a ficar, eu amo Antônio,
mas ele é muito difícil às vezes, não demonstra sentimentos e é
muito seco — Sofie confessou chateada — Estamos juntos a cinco
meses, nem era para eu estar com ele, vim a Sicília a visita de
papai, mas sabe o que aconteceu? Ele me expulsou de casa,
porque a nova amante dele não me queria lá, Antônio por acaso
estava de visitas na casa de papai e me viu sendo expulsa, na
época ele estava namorando uma atriz, aquela mulherzinha me
olhou com uma cara... como eu a odeio!
—É daí? — Ela nunca teve amigas para fofocar, adorava
aquele tipo de casinho.
Diferentes
—Eu fiquei hospedada duas semanas na casa dele como a
pirralha filha do amigo agricultor, durante essas duas semanas ele
me esnobou, me tratou como uma criança e me humilhou, e eu
estava sem um tostão, por que o banco prendeu o meu dinheiro, tive
problemas numa viagem a Paris e devido a uma compra grande que
fiz para uma amiga grávida, o cartão foi bloqueado — Sofie disse —
Ela estava sem nada do enxoval, comprei tudo e comprei um
apartamento para ela na França, ela é muito humilde, na verdade
era moradora de rua, eu a conheci numa noite quando sai de uma
festa, me senti penalizada, ela não tinha onde ficar, contratei uma
governanta e comprei tudo, ela não quer a criança, acho que vou
ficar com a menina para mim.
—Foi muito nobre da sua parte — comentou pegando uma
penca de uva e dividindo com Sofie — E depois?
—Estava sem dinheiro no país, mamãe em lua de Amélia e
papai com a cobra dentro de casa, tive que me conformar até o
banco me liberar, sabe a burocracia, então do nada Antônio
terminou com a cobra da Bianca — Sofie disse com raiva e comeu
uma uva. — Ele me tratava como se eu fosse um lixo, me culpava
pelo termino do namoro de dois meses dele, por que uma vez
Bianca veio me ameaçar e eu não aceitei, ela falou que eu estava
me aproveitando da generosidade de Antônio, que eu queria tomá-lo
dela, nesse dia foi a gota, peguei a mala e decidi ir embora, então
Antônio apareceu me proibindo de ir, eu disse que não ficaria e que
não era obrigada, mas ele falou que se sentia na obrigação de
cuidar de mim, que eu era só uma menina mimada e impertinente
na casa dele.
—Puta merda — falou vendo a moça gargalha e se puniu —
Desculpe.
—Antônio também é um boca suja — admitiu — Enfim,
quando eu me recusei a ficar, falei tudo o que achava dele na cara
dele, prepotente, cínico, grosso e mal educado, sem falar sarcástico,
o demônio em pessoa, isso foi só o começo, sabe, eu já tenho vinte
e cinco anos, sei me cuidar desde os treze quando comecei a
desfilar, eu não sou uma criança, mas ele já tem trinta e sete e se
acha por isso, então, eu fui embora da Santa Helena, e decidi que
daria um jeito de partir, quando eu cheguei na rodoviária, o os meus
pés estavam destruídos, e eu já estava passando mal, Antônio já
me esperava lá, na maior cara de pau.
—Ele é mesmo muito convencido. — Ela riu se deliciando
com mais uma uva.
—Ele me pegou pelo braço e me arrastou de volta para Santa
Helena, vagabundo, eu odeio quando ele quer mandar em mim —
praguejou — Depois disso, vivia passando na minha cara o termino
com Bianca, fazia questão de falar que eu era mimadinha e metida
só pela minha profissão, ele me obrigou a trabalhar como cozinheira
na casa dele por cinco dias, até que o banco liberou o meu dinheiro,
só que... só que nós dois querendo ou não nos envolvemos, afinal
eu fiquei quase um mês na casa dele, ficamos juntos na noite de
natal, foi ótimo... É ótimo, ele nunca fala de sentimentos, mas sei
que o amo, é um grosso, mas um bom homem, quero formar uma
família, ter filhos, um lar, só que ele não quer, ontem depois que
brigamos eu soube o que realmente o motivou a terminar com
Bianca, ela tirou o bebê que esperava deles.
—Oh meu Deus! — exclamou horrorizada — Sério?
—Estava grávida de um mês e meio a vadia — disse ela
magoada — Antônio não quer viver o mesmo também porque ele
teve uma namorada na adolescência que o trocou por um cara rico
e na época ele era só um rapaz pobre que vivia aqui nas plantações
locais de uva para ter comida, o pai dele é irmão do meu pai,
descobrimos isso há pouco tempo, e se ele já não queria se casar
antes ficou com mais receio ainda.
—Não sabiam disso?
—Não, porque eles não se falam a mais de quarenta anos, e
são irmãos só por parte de pai, parece que a nossa avó que já
morreu, traiu o vovô Nikolls com um outro homem, o pai de Antônio
é fruto desse caso, descobrimos depois que fomos para casa à
noite, eu fiz as malas e disse que iria embora, mas ele não deixou,
disse que noivaríamos, mas que seria apenas para que eu esfriasse
a cabeça.
—Acho que ele te ama, mas tem que ter paciência.
—Mais? Falo sempre que o amo, sou uma boa companhia,
gostamos das mesmas coisas, jogamos xadrez e lemos livros
parecidos a noite, sou muito carinhosa e esse é o problema, eu
quero carinho — Sofie sorriu triste — Quero que o Antônio me veja
como a esposa dele não como uma menina.
— Sofie, então tem que ser mais madura e saber esperar—
aconselhou sabiamente, como se visse em parte a história dela e
Dylan no mesmo casal, só que ela como Antônio e Dylan como
Sofie — Não pode querer forçá-lo a isso, se ele a pediu em noivado
não é por que quer que fique, é por que ele a ama, Antônio nunca
noivou nenhuma antes, seja paciente, espere, se ele não mudar em
alguns meses, então siga a sua vida, é linda, jovem, magérrima, vai
ter muitos homens aos seus pés.
—Nunca pensei que encontraria em você uma amiga — Sofie
a abraçou calorosamente —Obrigada pelos conselhos, ainda mais
depois da forma como me portei com seu funcionário, ele ainda está
por aqui?
—Sim, vamos, quero te mostrar minhas terras, mas se eu
fosse você, tiraria esses sapatos para começar!
Amiga?
Sofie obedeceu, e elas caminharam pela extensa propriedade
falando sobre filhos, casamento e coincidentemente novelas, Sofie
assistia a mesma que ela todas as noites, discutiram sobre os
capítulos da trama, e ela viu na moça uma verdadeira confidente,
ela falou muito sobre o relacionamento com Mancha e sobre a
infância com os pais divorciados.
Sofie lembrava em muito Dylan, principalmente na parte que
se referia a ser Sofie influenciada pela mãe, ela se sentiu penalizada
por Sofie se referir a mãe como sempre empresária e chefe, e
lembrou que com Dylan, Wilson sempre parecera assim, mais chefe
que pai.
Voltaram para casa e encontraram os dois homens falando
sobre futebol, elas foram para cozinha e meia hora depois que
colocaram a mesa juntas, Amélia anunciou o almoço, abriram um
dos vinhos tintos de Antônio para ela e Dylan, e um dos seus
brancos para as visitas, brindaram e como sempre Antônio e ela
trocaram farpas sobre o sabor e consistência da bebida, mas no
final acabaram rindo de tudo.
Mancha era um bom entendedor de vinhos, ela sabia, mas
não queria falar sobre negócios, naquele dia queria apenas relaxar,
nunca recebia visitas diferentes das afilhadas de dos compadres,
era ótimo ter amigos de fora visitando, comendo, falando, ela
percebeu, ainda mais na companhia de Dylan, que sempre era
muito atencioso com ela.
—Está mesmo apaixonado por ela — Antônio comentou
quando encerraram o almoço, e Amélia serviu um excelente sorvete
de hortelã com cascas de limão em calda.
—É Claro, ela é a minha mulher, nos casaremos em breve —
Dylan disse timidamente. — E vocês?
—Em breve — Antônio rebateu para surpresa de Sofie — O
que? Não queria se casar?
—Bem, eu quero, mas estou disposta a esperar o tempo que
achar necessário é claro — Sofie disse muito calma.
—O que você falou para minha mulher Costa? — perguntou
Antônio bem-humorado.
—Eu? Eu não falei nada, eu a odeio assim como odeio você
e o seu péssimo gosto por vinhos secos — justificou ela meio cínica,
mesmo assim todos riram — Estou falando sério.
—Todos sabem que os secos são os melhores cara mia —
Antônio disse —Andei falando com o seu noivo, disse que vai
investir na sua fábrica, bem, eu andei pensando numa proposta, já
falei com Wilson sobre isso enquanto vocês estavam andando, eu
estou me aposentando!
—Como? — berraram Sofie e Amélia juntas, os homens
riram.
—Vou vender tudo, é claro que a Santa Helena é uma grande
conquista, mas estou bem cansado — admitiu ele pensativo —
Dylan já me deu um lance.
—Mas... mas... Antônio já está no ramo a mais de vinte anos,
deu o seu sangue pelas terras — Sofie falou exasperada — Não
pode vender, Dylan retire o lance sim? Está falindo? Eu ajudo a
pagar, mas não vai fechar as portas.
Antônio pareceu incrédulo com a revelação da moça, é claro,
durão como sempre não disse nada, mas Amélia percebeu que ele
amava Sofie, ao seu jeito, mas amava, olhou para Dylan
percebendo divertimento nos olhos castanhos, então ela percebeu a
grande sacada.
—Seu filho de uma... Sofie é mentira, estão só brincando —
Acusou Amélia irritada.
Antônio e Dylan caíram na risada dando os pontos, Sofie se
levantou e entre soluços bateu em Antônio com o guardanapo de
papel, depois Antônio a puxou para o colo e a abraçou falando
palavras de conforto em italiano.
—Acho que teremos um casamento duplo então, até nisso
me inveja Costa? — Antônio perguntou apertando a noiva chorosa.
—Não faça mais isso comigo Antônio, não faça — Sofie
pediu entre soluços — Não vai vender a Santa Helena nunca, ela é
a melhor vinícola do mundo... desculpe Mel, mas os secos são os
melhores!
Todos riram, Amélia então foi preparar um café para todos,
depois da sobremesa, saborearam a bebida quente e forte na
varanda, bem sentados nos sofás do lugar, apreciando a bela vista
das videiras carregadas e cobertas por redes, já não havia
funcionários colhendo, apenas o silêncio que se ouvia todos os
domingos, mas daquela vez, Amélia não estava só, estava com
Dylan, e com amigos, ela se sentiu extremamente confortada com
aquilo.
—Para quando vão arrumar o casamento? — Antônio
quebrou o silêncio.
—O mais rápido possível — Dylan disse — Conhece o padre
local?
—Somos muito amigos—Antônio deu de ombros—Wilson,
vamos dar uma volta pela propriedade, quero que me fale o segredo
do vinho da sua noiva.
—Não conte com isso, mas quero que me explique algumas
coisas sobre a plantação— Dylan se ergueu seguindo Antônio —
Vão ficar para o jantar?
—Claro, eu não perco uma boa oportunidade de beber às
custas de Amélia nunca, já disse que os secos dela são os piores...
Amélia viu os dois homens se afastarem até a plantação
conversando calorosamente com suas canecas de café e olhou para
Sofie, ambas riram e depois ela começou a se perguntar, afinal, por
que nunca fizera amigos antes.
Medo
O sol penetrou o quarto lentamente invadindo todo o lugar
através das cortinas abertas, ela se moveu devagar virando o rosto
para o lado, conhecia aquele sol de seis da manhã, o dia não seria
tão amistoso, mas não quis se mover, estava ótimo estar entre os
braços de Dylan, os braços dele envolvendo-a, o corpo dele
esquentando-a, ela não havia sentido frio mesmo com as portas da
sacada e das janelas abertas.
Estavam envolvidos apenas por um fino lençol da cintura
para baixo cobrindo muito pouco, as mãos pesadas se moveram
nas costas dela causando boas sensações em seu corpo, ele a
envolveu num abraço forte e acolhedor, Amélia se encolheu apenas
se sentindo a mulher mais feliz do mundo, não quis sair dali, dos
braços dele, estava ótimo assim, mas precisava trabalhar, precisava
ir as fabricas, e precisava também cuidar de uma centena de coisas
na vinícola.
Como colocar em prática o plano de reativação do antigo
moinho, das casas de fermentação e de tudo, tinha que conversar
com Leo, pedir que ele contratasse mais gente, estava empolgada
com a ideia de ela mesma produzir o velho e bom vinho de sempre.
—Bom dia!
—Bon giorno Dylan!
—Bon giorno! — Ele repetiu com um sorriso preguiçoso. —
Preciso ir a Palermo.
—Te dou uma carona quando for a fábrica antes do almoço, o
que acha?
—Não, eu preciso ir só, não quero atrapalhar a sua rotina,
vou agora enquanto está cedo, depois no horário de almoço, volto
com o carro pode ser?
Ela assentiu engolindo a curiosidade, o que Dylan faria em
Palermo sozinho? ou será que não estaria sozinho? Ela não
questionou mais, ficaram ainda alguns momentos na cama apenas
quietos, se beijando, trocando carinhos, até que ela decidiu que era
hora de levantar, não poderia se atrasar.
—Espere mais um pouco sim? — Ele pediu puxando-a de
volta. — Só mais cinco minutinhos amor!
Ela riu, ele era um bobo, mas foi maravilhoso ouvi-lo chamá-
la assim, como ela havia chamado ele quando namoravam, voltou
para cama e se aninhou a ele, então foram interrompidos pelo
telefone, ela atendeu.
—Si!
—Oi... eu gostaria de falar com Dylan Wilson!
—Quem gostaria?
—É a irmã dele, Mary!
Ela olhou para Dylan e entregou o telefone para ele, a voz da
moça parecia preocupada e chorosa.
—Disse que é a sua irmã—falou incerta.
—Sim Mary... o que houve?...
Amélia saiu da cama antes de ouvir a conversa, foi para o
closet afim de deixá-lo a sós, se a irmã dele estava ligando era por
que deveria ser importante, ela se vestiu e prendeu bem os cabelos
num rabo de cavalo, quando voltou ao quarto, ele estava muito
calado, diria quase que em choque, será que tinha acontecido algo
grave?
—O meu pai teve um infarte — Dylan disse um tanto baixo —
Ele está internado em Nova York, Virginia o abandonou e
abandonou as crianças também, Mary disse que ele não aguentou a
decepção e infartou.
—Meu Deus Dylan, que coisa terrível — disse nervosa.
—Pediu que eu voltasse. — Ele disse. — Não tem com quem
deixar as crianças, ela fugiu com um homem, um ex-sócio do meu
pai.
—Nossa — disse ela podendo sentir toda a raiva possível da
mulher. — Dylan pode ir, não tem problema, sua família precisa de
você!
—Eu não...
—Tudo bem Dylan, tem que ir ficar com o seu pai, com a sua
família, podemos nos falar por telefone sempre, quando as coisas
melhorarem, pode voltar — cortou, ela não poderia jamais pedir que
ele ficasse, não numa situação como aquela.
—Mel, sabe que eu te amo sim? Não poderia... vir comigo?
— Ele perguntou incerto — Seria muito importante que viesse.
—Dylan ... não posso largar tudo assim... sinto muito! —
respondeu sentindo que o coração se contraia com aquilo.
Droga, por que ela simplesmente não dizia sim? Por que não
conseguia? Por que aquilo tinha que acontecer logo agora? Logo
agora que estava tudo perfeito?
—Tudo bem, eu entendo. — Ele apenas assentiu e vestiu a
cueca rápido. — Sei que me acha fraco por isso, mas eu realmente
não tenho alternativa.
—Dylan eu...
—Parece que quando as coisas estão melhorando para nós
dois sempre algo de ruim acontece. — Ele interrompeu com a voz
carregada. — Sinto muito, não posso continuar com isso, eu a amo,
mas não consegue me perdoar, isso me faz mal, duas semanas
comigo em Nova York não fariam mal a vinícola, tem o Leo, ele
cuidaria de tudo, tenho certeza.
—Não é isso Dylan, não é...
—Se não for capaz de me perdoar, não posso me casar com
você Amélia. — Ele a fitou, os olhos cobertos por lágrimas — Sinto
muito, mas não posso ser completo sem isso, se um dia conseguir
me perdoar, engula o seu orgulho e me procure, vou esperar, eu te
amo, adeus Amélia.
Então ele saiu do quarto sem encará-la, Amélia sentiu um
aperto enorme no peito e conseguiu ir até a porta, mas quando
colocou a mão na maçaneta ela desistiu de ir atrás dele, o amava, o
queria, mas tão logo agora diante do primeiro obstáculo não
conseguiam lidar com aqui como poderia ser suficiente para ambos?
De novo a dúvida, aquela dúvida que a matava, sentiu que
lágrimas escorriam por toda a sua face. Então pela primeira vez na
vida experimentou aquela sensação que nunca quis na vida, a de
plena e total covardia.
Se sentiu covarde.
Minutos depois quando ouviu o barulho do carro buzinando
ouviu os soluços ecoarem abertamente no quarto, ele havia partido,
e de novo, ela estava completamente apaixonada por Dylan Wilson.
Coração Partido
Três Meses Depois...