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SÃO PAULO - SP
NOVEMBRO DE 2013
Dedicatória
Dedico este trabalho, em especial à minha tão querida e amada Ana Clara,
que apesar de tão pequena e indefesa já passou pela dor do abandono e da
perda de quem lhe era mais querida e fundamental, a mãe... A ela, que me é
mais preciosa que tudo, apesar de não poder suprir sua carência genuína do
amor materno, comprometo-me a buscar minimizá-lo de todas as formas
possíveis, tentando, quem sabe, demonstra-lhe a beleza e o encanto de
podermos estar juntas e presentes uma na vida da outra.
A todos que colaboraram comigo de alguma forma, ainda que como meu filho
Lucas que inúmeras vezes durante a execução deste trabalho, demonstrava
cuidado e carinho ao me trazer, mesmo que silenciosamente, um copo de
água ou um café bem quentinho... como uma forma delicada, gentil e amável
de dizer: Te amo!
A minha Orientadora Profª Luciana de Jesus que por inúmeras vezes deu-
me preciosos conselhos e importantíssimas “dicas” de como citar ou relatar
melhor algum comentário... e que, indiscutivelmente, fizeram toda a
diferença para a conclusão deste trabalho.
A todos que fazem parte da minha vida e que diariamente, ainda que por
breve mensagens e singelas manifestações da sua presença me ensinam a
importância dos laços de amizade a cada dia, que dividem comigo momentos
de alegria, de tristeza, de dor e de anseios pela finalização deste como uma
forma de ser um pouco melhor que ontem... a todos eles, indistintamente,
obrigada!
APRESENTAÇÃO
Resumo............................................................................................... 03
Introdução........................................................................................... 05
Capítulo 1
Capítulo 2
Criança, Depressão e o Suporte da Família
Capítulo 3
3.5 Tratamento................................................................................... 28
Considerações....................................................................................... 33
Figura.................................................................................................... 10
Referências........................................................................................... 35
2
RESUMO
3
diagnosticadas... Mas, um número crescente de crianças pequenas e até
bebês ao serem expostos às mais distintas situações de abandono, tristeza e
medo, além da perda de ente queridos, vem surgindo nos mais variados
lugares e na sociedade. Tensão enfim, como dizia o sociólogo francês
Durkheim: “A pessoa humana é a coisa mais sagrada; ninguém pode violá-la
ou infringir seus limites, embora, ao mesmo tempo, o maior bem consista
na comunhão com os outros”.
4
INTRODUÇÃO
A palavra “depressão” vem sendo estudada por muitos autores que, com
o passar do tempo foram nomeando-a de formas distintas. Mas, ainda assim,
sabe-se pouquíssimo sobre esta doença que atinge também crianças e
adolescentes. Os sintomas e suas consequências dificilmente são notados
pelos pais ou por aqueles que convivem com a criança ou adolescente e,
dependendo da fase de desenvolvimento em que se está inserido, a depressão
pode variar muito em seus sintomas. Nos bebês pode-se perceber tristeza na
face, além de alterações na alimentação e no sono; nas crianças em idade pré-
escolar a apatia e o isolamento social, além da disforia; nos escolares o humor
sofre alterações e ainda surgem queixas somáticas; na adolescência os
sentimentos de inferioridade e ainda o de inutilidade acompanham pensamento
depressivo e consequente queda no rendimento escolar. Como estão se
desenvolvendo, crianças e adolescentes não conseguem compreender o que
1
lhes estão acontecendo internamente e assim, se isolam e fazem muitas vezes,
uso de drogas como fuga para o sentimento de abandono, possibilitando-os
momentaneamente fugirem de suas angústias sentindo-se eufóricos e com
uma falsa sensação de bem-estar. Estudos demonstram que
aproximadamente 22% das crianças e 15% dos adolescentes sofrem
depressão e isso pode prognosticar depressão também na idade adulta.
Quanto antes e mais cedo se diagnostica e se inicia o tratamento, menores
serão as chances de que esta criança ou adolescente se tornem em adultos
depressivos.
O quadro depressivo pode causar sentimentos desagradáveis e que a
criança e o adolescente não conseguem nem mesmo descrever como:
desespero, confusão e sensação de inadequação. Não se pode esquecer que,
apesar do quadro depressivo mostrar uma sintomatologia muitas vezes ampla,
deve-se compreender que cada uma destas pessoas vivencia a depressão de
uma maneira única. Diversos são os fatores que podem manifestar a
depressão, onde até mesmo a família e sua dinâmica podem estar
desencadeando tais sintomas. Outras vezes, a falta de estruturação na
educação dos filhos, a separação dos pais ou a quebra de relações familiares,
a perda de uma pessoa querida etc. O que se sabe é que a depressão não
pode ser vista como sendo causada por apenas um fator. São múltiplos ou
variados os fatores que, em conjunto, desenvolvem o quadro depressivo.
Capítulo 1
2
A depressão na infância e na adolescência é um assunto que vem
despertando muito interesse e preocupação entre os pesquisadores e
psiquiatras, dado o crescente aumento de casos que surgem a cada ano. Os
números e as estimativas, segundo Agnold e Costello, (1995 apud BAHLS,
2004) que descrevem algo em torno de 2% em crianças e de 5% a 8% em
adolescentes, com idades entre 7, 9 e 13 anos de idade. Não afeta somente
aquele que a sofre, mas também, causa danos em toda a estrutura onde este
se insira, ou seja, a família, os amigos e ainda, interfere no comportamento
tanto emocional como social, sendo preditiva para o risco de suicídio,
principalmente em adolescente.
Bahls (2004) afirma que a ciência busca compreender a existência da
depressão em crianças e adolescentes há muito pouco tempo, pois esta
demonstrava ser rara e até inexistente na criança e no adolescente, apesar de
existir raros relatos de casos desde o século XVII.
Assumpção (1999) relata que desde meados do século XVIII a depressão
foi encontrada em crianças e adolescentes.
Antes da década de 65 a 70 não se falava em depressão infantil como
alteração psiquiátrica. Mas em meados dos anos 70 começou-se a descrever a
depressão como conceito que sofreu o mascaramento de equivalentes
depressivos, isto é, acreditava-se que tanto a hiperatividade, a ansiedade,
insônia, enurese e até a agressividade fossem acontecimentos associados à
depressão. Muitos outros autores acreditam que a depressão em crianças e
adolescentes sofra diagnóstico semelhante a de adultos. Ainda há aqueles
autores (3) que afirmam que a depressão em crianças é diferente daquela
sofrida pelos adultos. Também há autores (3) que dizem que a depressão pode
surgir nos anos iniciais da vida da criança e que esta se trata de uma síndrome
da infância. No entanto, o Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA (NIMH)
oficialmente reconheceu a existência da depressão em crianças e adolescentes
a partir de 1975 e as pesquisas nesta faixa etária tem atraído um interesse
crescente durante as duas últimas décadas.
Hoje, compreende-se que a depressão maior em adolescentes é comum,
debilitante e recorrente e que ainda, envolve um alto índice de morbidade e
suicídio, tornando-se uma preocupação para a saúde pública. Mas, ainda
3
assim, frequentemente esta não é reconhecida e tratada com a atenção e
rapidez que exige o quadro depressivo. Entende-se que é uma doença
debilitante e ameaça à vida, pois é a causadora de um número cada vez maior
de suicídios associados a esta idade, além de estar ocorrendo cada vez mais
cedo na vida de crianças e adolescentes.
Segundo Assumpção (1999, p. 83) examinando-se a criança, nem sempre
se encontram facilmente, que descrevam seu estado interno, referindo-a
frequentemente somente tristeza e solidão.
Justamente por isso, se deve buscar-se uma variedade cada vez maior de
compreensão desta criança, aumentando as possibilidades para se entender
com clareza seus sentimentos. Na maioria das vezes, por não ser fácil
identificar a origem desses sentimentos aos quais a criança se refere, nota-se
somente que esta se tornou chorona, irritada e até mesmo impaciente. Ou
seja, esta sofre uma mudança de comportamento muitas vezes repentina e
inexplicável. Surgem, então, as alterações de humor (disforias).
4
Ainda, segundo Piaget (1964), “inicialmente, as crianças dão respostas
ao mundo e sua relação com este, que são determinadas pelo seu processo
biológico, ou seja, suas funções elementares mas quando em contato com
adultos ou crianças mais experientes, começam a se formar seus processos
psicológicos, e portanto, ela precisa ser aceita, acolhida, recebida e valorizada,
ainda que suas colocações iniciais não sejam tão coerentes e formuladas
quanto virão a ser, se observados os critérios de respeito e aceitação das
possibilidades que ela oferece”. Mudanças no meio ambiente também devem
ser levadas em consideração, visando o pleno desenvolvimento da criança. A
transição da casa para a creche e, posteriormente a educação infantil, o
fundamental, a nova casa, a separação dos pais, a chegada de um novo
membro na família, tudo isso pode gerar não somente ansiedade e tristeza pela
separação ainda que temporária da mãe e do pai ao ingressar na escola, como
também, a sensação de abandono, o que demanda a necessidade de
reacomodação na criança dos novos relacionamentos sociais, ou toda esta
problemática incidirá diretamente no seu estado emocional e no seu humor.
Capítulo 2
6
Para Baptista (1997), muitas são as pesquisas que descrevem que o
suporte e estrutura familiar quando inadequados podem gerar depressão na
adolescência. A estrutura familiar diz respeito aos integrantes da família e suas
características físicas. Se os pais são separados ou se moram juntos; se um
destes é falecido; se moram na mesma residência e o papel ou ação de cada
um na família.
Segundo Assumpção (1999, p. 31) o suporte familiar é o fator que nem
sempre está sob perspectiva de observação clara mas, relaciona-se ao aspecto
psicológico, como: expressão de carinho; atenção; comunicação; proximidade
afetiva; discriminação para com um dos filhos; permissão de autonomia, pelos
pais, aos filhos; liberdade; superproteção; independência e outras.
7
avaliarmos o número de transformações que esta vai sofrendo durante o
processo.
É o suporte familiar oferecido aos indivíduos desta família que influenciará
o curso da vida de cada um deles. Estes suportes podem, quando inadequados
ou mal compreendidos pela criança, gerarem e desenvolverem problemas de
comportamento, que mais tarde, na fase da adolescência, favoreçam atitudes
relacionadas a uso de drogas, de bebidas alcoólicas, abandono ou fracasso
escolar como fuga do sofrimento e dor.
Descobriu-se, portanto, segundo Garrison e colaboradores, (1990 apud
BAHLS, 2004, p. 68) que no início da adolescência, o ambiente familiar é um
preditor de sintomas mais estressantes do que os eventos estressores da vida.
Através de pesquisas comunitárias Patten e colaboradores, (1997 apud
BAHLS, 2004, p. 68) com adolescentes de 12 a 17 anos com sintomas
depressivos, concluíram que a falta de percepção de apoio por parte dos pais
é/ou está altamente relacionada com a presença de sintomas depressivos nos
jovens.
No Brasil, Nunes e colaboradores (1992 apud BAHLS, 2004, p. 68), em
pesquisa realizada na cidade de Londrina, Paraná, avaliaram a presença de
transtornos psiquiátricos em pais de indivíduos de 7 a 18 anos de idade com
depressão e encontraram uma predominância de transtornos de humor,
especialmente Depressão Maior (TDM) e Transtorno Distímico, exatamente
como descreve a suscetibilidade de filhos de pais depressivos desenvolverem
quadros depressivos, segundo descrito no Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais - DSM – IV (APA, 1995)
Duas grandes dimensões podem ser consideradas como fazendo parte
do suporte familiar, sendo opostas, formando dois grandes eixos:
8
Figura 1. Dimensões no Suporte familiar (retirado de Parker, Tupling e
Brown).
2.2.1. Superproteção
9
seu agir. Do contrário, quando criado num ambiente de superproteção estará
sempre indeciso quanto ao agir quando cada nova situação a ser resolvida se
mostrar presente. Seus sentimentos, então serão de inadequação e
incapacidade, sendo constantemente tomado por ansiedade e medo. Ainda
que se sintam desconfortáveis e preocupados, sempre querendo auxiliar e
fazer pelo filho aquilo que este deveria fazer, os pais devem buscar demonstrar
ao filho e passar a ele uma sensação de que confiam nele e que o sabem
capaz de resolver ou ainda, buscar solução para seus problemas. Portanto, os
pais deverão se manter de forma a oferecer apenas o suporte necessário para
que o filho possa tomar suas próprias decisões. É exatamente nesta época que
os filhos desenvolverão a capacidade de mais tarde, na vida adulta, sentirem-
se confiantes e seguros na busca da resolução de seus problemas e
dificuldades. Pais que superprotegem os filhos acabam por coibirem suas
possibilidades de desenvolvimento, o que mais tarde, quando adultos, sofrerão
as consequências de não aprenderem a agir por si mesmos desde cedo.
A autonomia e a independência oferecidas de acordo com as
possibilidades crescentes da criança e do adolescente só trarão benefícios na
fase adulta, formando-os e tornando-os pensantes, maduros, seguros,
decisivos; além de fortalecer a autoestima e o autoconceito, evitando, inclusive,
que mais tarde o adolescente se culpe por tudo o que ocorra em sua vida.
2.2.2 Carinho
10
Não se deve, entretanto, crer que haja uma única forma de tratar ou uma
forma certa ou errada. Cada família vai encontrar, dentro de suas
possibilidades, sejam elas, sociais, biológicas, psicológicas ou até mesmo
econômicas, a maneira de educar e de propiciar afeto e atenção aos seus
filhos. Podem existir várias maneiras de se educar. O importante, é que cada
família busque o seu jeito ou a sua maneira de agir mutuamente. É exatamente
por esta razão que o suporte familiar depende não somente da condição
econômica e da educação dos pais ou responsáveis. Vários são os fatores que
podem influenciar esse suporte. Dinheiro e estudo ou conhecimento são
importantes, mas não é isto que garantirá o bom suporte familiar.
11
ser interpretações errôneas de eventos cotidianos, como por exemplo, a
criança ou o jovem não se achar merecedor de receber qualquer demonstração
de bondade ou reconhecimento, além de serem ampliadas as dificuldades para
se tomar decisões, pois a capacidade de avaliar as situações, as
consequências e benefícios de cada escolha estará restringida.
12
A depressão é um distúrbio do espírito,
tão misteriosa e imprevisivelmente percebida pela
pessoa --- pela mente mediadora ---
que é quase indescritível.
WILLIAM STYRON
13
problemas comportamentais durante o desenvolvimento e que, certamente
influenciarão negativamente a aprendizagem e, ainda, relacionamentos
insatisfatórios e a propensão para o surgimento de quadros depressivos”
14
promiscuidade sexual; fadiga; preocupações corporais ou sintomas físicos;
perturbações do apetite, do sono ou desordens psicossomáticas; dificuldades
escolares; sintomas de ansiedade; obsessão, fobias; condutas antissociais ou
delinquentes.
Já em Baptista & Assumpção Jr. (1999) o humor depressivo na
adolescência está intimamente relacionado à falta de intimidade com os pais.
15
dor nessas crianças e adolescentes, o suporte social e familiar devem ter como
objetivo o amortecimento dos eventos estressantes do cotidiano destes,
evitando que fiquem expostos e vulneráveis a problemas de ordem psicológica.
Batista & Assumpção Jr. (1999) relatam que nem sempre aquilo que
os pais pensam em relação à coesão e unidade da família corresponde ou é
igual àquilo que o adolescente sente ou percebe. Jovens comprometidos em
quadros depressivos declararam que percebem as pessoas e até mesmo as
famílias, não tão amigáveis ou participantes de suas vidas. Talvez isto se dê
devido ao fato da diferença de idade entre pais e filhos. Pelo fato de os pais
poderem, algumas vezes e situações, avaliarem os acontecimentos melhor que
os filhos justamente devido ao fator idade e vivências que estes já tiveram e
que os propiciaram chegarem aonde estão, os filhos encarem isto como não
compreensão por parte dos pais ou até mesmo invasão. O adolescente, então,
faz uma avaliação negativa dos pais e se arma contra o que ele julga ser
“controle” dos pais. Surge o chamado “conflito de gerações”. Este refere-se aos
diferentes níveis de idade englobando os valores, ideias e comportamentos.
Isto acontece, principalmente, porque o avanço das tecnologias, as
transformações morais e sociais vêm causando um distanciamento ainda maior
entre pais e filhos. Nos últimos anos, ideias e noções a respeito de valores,
boas maneiras, ética, educação e até mesmo princípios, sofreram a influência
de fatores sociais e de mudanças na sociedade nunca tão marcantes como
agora. Os pais realmente não conseguem acompanhar com a mesma
velocidade dos acontecimentos, estas mudanças. Para que conflitos familiares
entre pais e filhos sejam menores ou nulos é necessário que ambos busquem
estar no lugar do outro para que possam avaliar a questão. É preciso uma
mudança no olhar e na forma de conceituar cada situação, de dialogar mais e
melhor. Tanto pais quanto filhos devem se esforçar e buscar sempre
compreender ou entender o que leva o outro a agir como age. É preciso que os
pais percebam que, apesar de não terem mais um bebê não podem agir de
forma a tratar suas crianças e adolescentes como se fossem adultos. Apesar
de não gostarem de ser chamados de criança não têm a maturidade suficiente
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para muitas situações e, portanto, necessitam de orientação, afeto e muito
amor. Pesquisas feitas no que se refere ao relacionamento familiar com os
adolescentes que estão inseridos nestas demonstraram que os que acreditam
que suas famílias não fornecem amor e atenção suficiente, ou ainda, aquelas
famílias superprotetoras foram acometidos em número muito maior por
sintomas depressivos e até delinquência.
Assumpção (2004) diz: (...) “Sabe-se que famílias que evidenciem uma
estrutura desestabilizada e que em seu seio haja brigas, conflitos, culpas,
ciúmes muitas vezes, acaba gerando causa depressiva em crianças e
adolescentes. No entanto, não se pode afirmar que estes problemas e esta
desestruturação, venha ser o fator principal de tais sintomas depressivos
precoces.
Segundo Baptista (1999), não se pode saber se são os problemas de
comportamento que fazem com que o adolescente avalie baixo o suporte
familiar ou é o baixo suporte familiar que causa problemas no comportamento
do adolescente. Mas, pesquisas afirmam que a família é fundamental na
aquisição de comportamentos-problema pelos adolescentes. Assim, a
depressão parece ter relação próxima com suporte familiar, associado aos
momentos de profunda transformação, o que em alguns casos, pode facilitar o
surgimento de sentimentos e pensamentos negativos sobre si e sobre o seu
entorno social. Os antecedentes familiares devem ser considerados, levando-
se em conta que, um número próximo a 50% e 80% de crianças que
apresentem sintomas depressivos têm histórico familiar depressivo. Ainda há
um número de maior incidência de sintomas depressivos associados a
alcoolismo e ansiedade em parentes próximos, isto é, de primeiro, segundo e
terceiro graus.
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O assunto dos sintomas depressivos na infância e adolescência é
comentado por alguns autores como estando dentro de certa normalidade pois,
as mudanças e os acontecimentos sucessivos na vida de um adolescente são
tão acelerados e constantes que este não tem um tempo para acomodar e
desacomodar suas aquisições e conquistas de forma tranquila. Justamente
devido aos novos e mais distintos acontecimentos constantes na vida do
adolescente é que surgem crises ou períodos de desequilíbrio, os quais são
gerados por tantas mudanças e, desta forma, podem ser considerados como
um processo de adaptação na nova realidade da vida do pré-adolescente. Mas,
se estes perdurem por um tempo mais prolongado, como por exemplo,
algumas semanas, aí sim, deverão ser considerados como preocupantes e um
profissional deverá ser consultado.
O reconhecimento de um quadro depressivo infantil e da adolescência
como um transtorno que pode afetar pessoas desse grupo etário, deu-se há
mais de 30 anos no IV Congresso da União de Psiquiatras Europeus, em
Estocolmo 1971 (ANNELL, 1972), e resultou na elaboração de diagnósticos
com esta finalidade, o qual recebeu o nome de Transtorno Depressivo na
Infância e na Adolescência (DSM-IV), 1994).
No entanto, os achados não são unânimes entre pesquisadores pois
levam em conta tanto o local de estudo como, também, os pacientes
observados na pesquisa. A isto se atribuiu o fato da diversidade entre os
diagnósticos sugeridos, já que houve casos atípicos como a hiperatividade e a
fobia escolar.
Muitos estudos e pesquisas americanas descrevem o surgimento da
depressão entre 0,9% dos pré-escolares; 1,9% nos escolares e 4,7% em
adolescentes, segundo Kashani (1987 apud WELLER, 1998, p. 646-664). Mas,
acredita-se que esses números venham ser muito maiores.
Porém, em artigo um pouco recente, José Luis Pedreira Massa diz que,
não é tão fácil reunir dados sobre a Depressão infantil; ainda que na Espanha,
local de estudo, encontrem-se geralmente em média, 9% da população infantil
com idade até 12 anos. Mas, na adolescência o índice é muito maior.
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Capítulo 3
19
mesmo casos de tiques nervosos; aumento de sensibilidade, negativismo e
pessimismo; sentimento de rejeição, ideias mórbidas sobre a vida; condutas
antissociais e destrutivas; ansiedade e hipocondria. Uma criança depressiva
não precisa necessariamente, estar inclusa em todos estes sintomas ou na
maioria destes para que se faça o diagnóstico. Mas, esta deve satisfazer um
número suficientemente importante destes itens para que se entenda que ela
necessita de atenção especializada. Dependendo da intensidade dos sintomas,
até mesmo o rendimento escolar poderá ser afetado, culminando com a
diminuição da atenção e a hipersensibilidade emocional frente as mínimas
colocações a seu respeito. Além disso, surgem preocupações não condizentes
com a idade da criança, como por exemplo, relacionadas com a saúde e a
estabilidade dos pais ou daqueles que a mantém; medo da separação e da
morte, o que acaba por gerar mais ansiedade.
Tendo em vista a grande maioria das depressões na infância, muitos
autores como Batista e Golfeto (2000), em Ribeirão Preto, ao examinarem 135
estudantes entre 7 e 14 anos, dizem que este diagnóstico pode, também, servir
para definir outras patologias, como é o caso do Déficit de Atenção por
Hiperatividade, certos casos de Distúrbio de Conduta (rebeldia, oposição e
agressividade) e também o Transtorno Fóbico-Ansioso. Estes autores
acreditam que há uma relação entre os quadros depressivos e estas
patologias, seja como características e manifestações normais da depressão
infantil ou por comorbidades.
Outros sintomas podem acompanhar a depressão na infância e podem
ser: frustração, desespero, baixa autoestima, recusa em ir à escola e
problemas de aprendizagem. Frequentemente, as crianças acometidas pelo
quadro de depressão perdem o interesse por atividades que antes gostavam
de fazer, tornando-se apáticas.
“A Dra. Helen Street, do Queen Elizabeth Medical Center, de Perth,
relatou durante uma conferência de Psicologia, na Grã-Bretanha, que o
fenômeno pode ser notado até mesmo em crianças de 4 anos de idade, e que
até 20% destas correm o risco de virem a se tornar adultos também
depressivos no futuro. Ainda de acordo com Street, as crenças, em uma época
da vida tão precoce, sobre felicidade e objetivos poderiam ser um indício, em
crianças pequenas, de sua vulnerabilidade à depressão. Crianças que pensam
20
que dinheiro suficiente e popularidade trazem a felicidade correm um risco
maior de depressão do que aquelas que acreditam que o dinheiro pode ser
uma coisa boa de ter, mas que sua felicidade vem de seu desenvolvimento
pessoal”, declarou a especialista.
Na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro através de estudo e
atendimentos sociais a partir de 2008, constatou-se, por exemplo, o número de
casos de depressão infantil e adolescência na idade escolar aumentou mais de
10% de 1995 até agora. Dos pacientes atendidos nesse período, 76%
chegaram ao hospital sem que os pais soubessem do estado depressivo dos
filhos.
Segundo Annell (1972), na criança e no adolescente a depressão em sua
forma atípica, esconde verdadeiros sentimentos depressivos sob uma máscara
de irritabilidade, de agressividade, hiperatividade e rebeldia. As crianças mais
novas, devido a sua pouca condição de comunicação que revele o seu real
estado emocional, manifestam sintomas como hiperatividade. No entanto, não
se pode conceber que o quadro depressivo possa ser confundido com o de
disforia, as quais se referem apenas a momentos de tristeza e de angústia,
acompanhados por abatimento moral os quais aparecem devido aos problemas
da existência humana normal e que são cotidianas como as divergências entre
irmãos ou colegas, desgostos e aborrecimentos na escola e ainda, a correção
dos pais dentro do processo de formação do sujeito para a vida. Para se
entender melhor basta se observar que a diferença entre as disforia e o quadro
depressivo está em relação à evolução benigna da disforia. Quando há um
quadro de depressão, no entanto, a recuperação das experiências e vivências
estressoras e que geram traumas é muito mais demorada e sempre traz
prejuízo no que se refere a adaptação. Portanto, podemos dizer que a
depressão é a maneira patológica de reação à vida e seus acontecimentos,
enquanto a disforia é uma maneira mais fisiológica de lidar com os
acontecimentos estressores do cotidiano. Há também o quadro que se
apresenta como Fobia Escolar, que tem como principais características, dores
sem especificações aparentes, a evitação de tudo que lembre a escola ou a ida
para lá; sem aparente doença, quadros febris, dores abdominais; ansiedade e
baixa autoestima. Além de inapetência e insônia.
21
3.2. Os quadros de depressão e o desenvolvimento da criança
22
considerar que, quanto mais sensível afetivamente for a criança, maiores
serão, no futuro, os prejuízos que a separação ou o sentimento de abandono
deixarão. A isto dá-se o nome de sentimento de Dor e Aflição.
Segundo Regina Reis (2009), professora da Universidade Federal
Fluminense, pediatras, pais e professores precisam estar atentos às queixas de
comportamentos em crianças e adolescentes. O sintoma que deve chamar a
atenção destes para que se suspeite de depressão na criança, é a mudança de
atitude desta, assim como, o estado de ânimo, alterações no apetite, a
irritabilidade e o retraimento social, além de tiques nervosos, sinais estes nunca
antes percebidos.
23
No adolescente é mais frequente atitudes como:
1. Pesar, abatimento, tristeza profunda e lamento;
2. Raiva é comum e pode até voltar-se contra a pessoa ausente ou
falecida, familiares, médicos, amigos e até mesmo contra o próprio ego;
3. Culpa e arrependimento;
4. Ansiedade e receios associados a medos e crise de angústias, além de
insegurança;
5. Se os sentimentos acontecem pela perda de um familiar, imagens
repetidas da pessoa falecida, da doença de forma intrusa e constante,
sem controle;
6. Desorganização mental e frequente variação de estados de distração,
confusão, esquecimento e falta de coerência;
7. As tarefas se acumulam e geram mais desespero e dificuldades para a
realização destas;
8. Sensação de perda de controle e de desamparo, abandono;
9. Incapacidade de encarar a realidade dos fatos e das situações;
10. Solidão como expressão de se estar só mesmo em grupo de pessoas;
11. Sentimentos que se alternam intensamente e posteriormente
isolamento;
12. Sentimentos positivos e negativos que se mesclam sem controle.
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de crescimento, ou seja, conduta adaptativa, social e familiar, pois, a criança
tem dificuldade de expressar as situações vivenciais de sua vida ou de seu
mundo.
Sintomas físicos e somatizados também acontecem em quadros de
depressão na infância. Pesquisas mostram que 30% dos pacientes com
depressão infantil têm o apetite diminuído, e este índice refere-se a meninas.
Outros 60% desses pacientes referem-se a insônia inicial, que é a dificuldade
para começar a dormir, e um outro sintoma refere-se a insônia terminal, que é
a característica daqueles que despertam muito cedo. Tudo isso acaba
comprometendo a qualidade de vida do paciente infantil, refere-se Tereza
Sousa Melo. e a Psiquiatra Silzá Tramontina, do Hospital das Clínicas de Porto
Alegre, que defendem a idéia que o tratamento mais adequado para a
depressão é o modelo biopsicossocial, que inclui psicoterapia individual ou
familiar, uso de medicação, orientação educacional e manejo social.
Ana Rosa de Oliveira (1983), bolsista do CNPq relata em um artigo sobre
o Adventure Playground, quando vivia no Japão, que: (...) “Desde cedo as
crianças são lançadas numa maratona de estudos que começa aos 6 anos de
idade e vai até a universidade, quando ganham plena liberdade para, inclusive,
se quiserem, não estudarem nada. Estudos comprovam que o tempo das
crianças diminui, enquanto o dos adultos aumentou. Isto pode ser explicado
pelo número de alunos que tomam aulas particulares após as aulas normais,
não se esquecendo das aulas de piano, de violão, balé e de esportes em geral,
que acabam privando as crianças do seu tempo livre para brincar”. Segundo
Ana Rosa, não é de estranhar o grande e crescente quadro de suicídio infantil
no Japão.
Também não se pode deixar de considerar que fatores genéticos são de
grande importância para o surgimento de quadros depressivos na infância, pois
é muito freqüente que as crianças depressivas tenham um dos pais
depressivos.
Weissman (1984) relata que quanto mais cedo é o aparecimento dos
quadros de depressão, maior será a carga genética familiar causadora da
mesma. Ele refere-se a estar fortemente associada a uma carga familiar
quando a depressão aparece antes dos 20 anos. Mas, se o início da depressão
se dá após os 40 anos, muito provavelmente não existe uma relação familiar.
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Segundo Weissman (1988), filhos de pais que tiveram depressão na
infância ou na adolescência, isto é, antes dos 20 anos, apresentam um risco 14
vezes maior de desenvolver depressão antes dos 15 anos. Ele se refere a ser o
causador destes quadros a grande carência de afeto e felicidade nos lares de
pais depressivos, inclusive, há uma comunicação entre estes pais e seus filhos
mais difícil e problemática que está associada ao humor doméstico que
também é depressivo. Outros fatores como o abuso físico e sexual, além de
problemas relacionados à separação conflitante dos pais pode sugerir o quadro
depressivo em crianças e adolescentes.
3.5 Tratamento
“O que nos preocupa, não somos nós mesmos; o que desejamos e buscamos,
aquilo de que precisamos, é a admiração dos outros, e a admiração, ainda
que por qualidades falsas, é um fim em si. Por sermos animais sociais, nossa
sociedade, nossa família, nossos amigos, só têm significado para nós pelos
valores que nos atribuem”.
FREUD
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mudado, não é algo que se possa fazer com facilidade, pois não bastam teorias
ou habilidades didáticas. Nem mesmo o domínio que o professor mais capaz
possa ter não será suficiente para auxiliar, porventura, algum aluno seu que
sofra tal situação. Alguns professores podem ensinar alunos com dificuldades
de aprendizagem, outros com Déficit de atenção, outros alunos extremamente
capazes, mas para ensinar alunos com problemas de depressão, certamente
eles terão que buscar ajuda especializada profissional. Também são
imprescindíveis que estes professores tenham atitudes positivas pois isto
facilitará o processo de aprendizagem do aluno. Quando este professor
demonstra ser acolhedor e, principalmente, quando ele demonstra respeito às
características do aluno deprimido o educando se sentirá amparado.
Segundo Pace at al, (1999 apud MAKILIM, 2004, p. 153), em pesquisa
realizadas, atitudes negativas por parte do professor podem fazer com que a
educação do aluno deprimido ocorra de forma insatisfatória, pois a relação
professor/aluno tende ao empobrecimento. A pesquisa realizada por eles
destacou que há correlação entre medidas de ajustamento emocional e
comportamental, inclusive, depressão dos estudantes, além de atração
interpessoal dos professores pelos alunos. Verificou-se, ainda, que há rejeição
por parte dos docentes com o fato do discente externar problemas de
comportamento.
De acordo com REGENTS OF THE UNIVERSITY OF CALIFORNIA,
1999, as atitudes mais recomendadas quando se tem um estudante
deprimido em sala de aula são:
• Conversar reservadamente com o estudante.
• Valorizar os sentimentos e as experiências do mesmo.
• Ouvir atentamente as informações partilhadas pelo estudante.
• Ser acolhedor e expressar interesse em relação à situação.
• Ser diretivo e conciso quanto a ação.
• Oferecer ajuda assim que o estudante solicitar aconselhamento.
• Identificar pensamentos suicidas no estudante.
• Quando possível, recomende serviço de aconselhamento
psicológico.
• Caso não haja, encaminhá-lo ao sistema de saúde.
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• Se o estudante se referir a abuso sexual ou discriminação devido
ao gênero, orientá-lo quanto a buscar ajuda legal.
• Quando possível, ofereça novas oportunidades para
apresentação de atividades que não foram entregues no tempo
determinado (exercícios, trabalhos, provas etc.).
“Mas o homem, por ter apenas uma vida, não tem nenhuma possibilidade
de verificar a hipótese por meio de experimentos, por isso não saberá nunca
se errou ou acertou ao obedecer a seu sentimento”.
MILAN KUNDERA – A Insustentável leveza do ser.
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CONSIDERAÇÕES
O que me dilacera o coração é esta força destruidora oculta em toda a natureza, esta
força que nada cria senão para destruir-se e destruir o que cerca ao mesmo tempo.
Goethe
REFERÊNCIAS
31
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