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O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

INDÍCE

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3
2 CARACTERIZAÇÃO DO JOGO DE ANDEBOL.......................................... 5
3 IMPORTÂNCIA DO GR DE ANDEBOL....................................................... 9
4 REGULAMENTO ESPECÍFICO................................................................ 11
5 CARACTERIZAÇÃO DO GR DE ANDEBOL ............................................ 14
5.1 Características Somáticas ................................................................. 15
5.2 Capacidades Físicas.......................................................................... 18
5.3 Características Psicológicas .............................................................. 23
5.4 Aspectos Fisiológicos......................................................................... 30
5.5 Aspectos Biomecânicos ..................................................................... 33
6 TÉCNICO-TÁCTICA.................................................................................. 39
6.1 Importância da Técnica...................................................................... 39
6.2 Importância da Táctica....................................................................... 41
6.3 Posição Base ..................................................................................... 43
6.4 Colocação .......................................................................................... 45
6.5 Deslocamentos .................................................................................. 47
6.6 Pré-defesa ......................................................................................... 48
6.7 Fintas ................................................................................................. 49
6.8 Observação........................................................................................ 51
6.9 Colaboração com a defesa ................................................................ 52
6.10 Participação no ataque ...................................................................... 63
6.11 Técnicas de Defesa ........................................................................... 64
6.12 Técnica Específica de 1ª linha ........................................................... 65
6.13 Técnica Específica de Ponta.............................................................. 68
6.14 Técnica Específica de Pivot ............................................................... 70
6.15 Técnica Específica de Remates em penetração................................ 71
6.16 Técnica específica de Remates de Contra-ataque ............................ 71
6.17 Técnica Específica de Livres de 7 metros.......................................... 72
7 ESCOLAS MAIS REPRESENTATIVAS .................................................... 73
8 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 81

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 - Características somáticas propostas para os GR .......................... 16


Quadro 2 - Capacidades condicionais e coordenativas do GR ........................ 19
Quadro 3 - Características psicológicas fundamentais ao GR ......................... 24
Quadro 4 - Sistemas energéticos solicitados em GR ...................................... 32
Quadro 5 - Tempos de reacção e velocidades da bola .................................... 36

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O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

1 INTRODUÇÃO

O Andebol é uma modalidade que se enquadra nos Jogos Desportivos


Colectivos, sendo uma das que mais interesse desperta a nível nacional e
internacional. Qualquer actividade durante o jogo é realizada em cooperação
directa com os companheiros de equipa e em oposição com os adversários.
A sua estrutura e complexidade promovem um jogo imprevisível. Como
refere Garganta (2000), num jogo ou conjunto de vários jogos, não ocorrem duas
situações iguais e as possibilidades de combinação são inúmeras, o que torna
impossível antecipa-las.
A consagração do Andebol como modalidade Olímpica, ocorrida em 1972
nos Jogos Olímpicos de Munique, foi decisiva para a evolução da modalidade
(Kreisel, 1989; Marques, 1983). Os Jogos Olímpicos são dos mais importantes
acontecimentos sócio-culturais dos nossos dias e, com toda a certeza, o mais
importante evento desportivo, polarizador das atenções em todo o mundo, com a
projecção que daí resulta para os novos desportos integrados nos Jogos
(Marques, 1983).
A partir desta data, o interesse pelo Andebol aumentou cada vez mais,
levando assim esta modalidade a um reconhecimento por parte da população em
geral. Mas, ainda mais importante do que isto, o interesse despertado pela
modalidade levou a que esta se torna-se objecto de estudo nos diferentes
aspectos que a envolvem (psicológicos, fisiológicos, biomecânicos e
estratégicos). Este conjunto de interesses conduziram a procura permanente da
melhoria dos processos de treino, tendo como principal objectivo desenvolver e
aperfeiçoar as qualidades técnico/tácticas das equipas, no sentido de maximizar o
seu rendimento, tornando assim o Andebol numa modalidade cada vez mais
competitiva e por sua vez mais atractiva.
Oliveira (1996), refere que o jogo de Andebol é muito complexo, onde os
jogadores que fazem parte do mesmo ocupam e desempenham funções muito
específicas e próprias dentro do terreno de jogo. Dentro de todos eles, destaca-se
a posição do Guarda-Redes que em relação às restantes surge com
características muito próprias e específicas, obrigando a que o estudo e avaliação

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do seu rendimento mereçam uma atenção especial. Devido a evolução da


modalidade e principalmente das capacidades fisiológicas, técnicas e tácticas dos
seus jogadores, a variedade das formas de remate são cada vez mais
diversificadas, exigindo do Guarda-Redes um conhecimento perfeito das técnicas
mais eficazes e também um conhecimento mais cuidado dos adversários,
podendo assim conduzi-lo a um maior êxito/eficácia nas suas defesas.
Apesar de ser unânime a grande importância do guarda – redes de andebol
no seio de uma equipa e do seu papel decisivo na prestação competitiva da
mesma (Barcenas & Román, 1991; Brenda, 1991; Donner, 1995; Faludi, 1987;
Ghermanescu, 1991; Hecher & Thiel, 1993; Kreisel, 1989; Marques, 1983; Martini,
1980; Mircea, 1990; Oliveira, 1996; Ribeiro, 2002, Rivière, 1989; Santos, 1989;
Volossovitch et al., 2002; Zeier, 1987), são poucos os estudos realizados a nível
internacional, bem como, muitas vezes, o treinador revela algum desinteresse na
preparação do treino do guarda – redes (Barcenas & Román, 1991; Bayer, 1987;
Czerwinski, 1993; Mircea, 1990; Trosse, 1993).
A tendência actual de evolução do andebol conduz o jogo a uma elevada
velocidade. Esta leva a que exista maior número de ataques e
consequentemente, um maior número de remates. Parece pois pertinente, que
esta situação implique um maior número de intervenções do guarda-redes no
decorrer do jogo. Este factor associado a uma diversidade de remates, quer na
sua elaboração e execução, exige do guarda – redes uma constante actualização
da sua forma de actuação, a fim de manter níveis de eficácia elevados..
O conhecimento deste posto específico tem sido diverso e muitas vezes
contraditório, consoante os autores e as suas áreas de influência. Torna-se
necessário proceder a um estudo aprofundado destas questões a fim de nos
elucidar das diferentes opiniões e considerações existentes na literatura da
modalidade, possibilitando compreender uma pequena parcela do fenómeno que
é a actuação do guarda-redes, procurando assim contributos que possam
direccionar e dirigir o treino para o futuro.

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2 CARACTERIZAÇÃO DO JOGO DE ANDEBOL

Os Jogos Desportivos Colectivos (JDC), designação que engloba entre


outras, modalidades como o Basquetebol, o Andebol, o Futebol e o Voleibol,
ocupam um importante lugar na cultura desportiva contemporânea (Graça &
Oliveira, 1994).
Segundo Bayer (1994), o desporto colectivo representa uma forma de
actividade social organizada, uma forma de exercício físico – desportivo tendo um
carácter lúdico, agonístico e processual, onde os participantes, os jogadores,
constituem duas equipas (formações), que se encontram numa relação de
adversidade típica, não hostil, a que chamamos rivalidade desportiva. Essa
relação é determinada por uma competição, afim de obter a vitória desportiva com
a ajuda da bola ou um objecto de jogo, manobrado de acordo com as regras
estabelecidas.
Numa perspectiva diversa, autores como Dietrich (1978), Deleplace (1979),
Menaut (1982), Gréhaigne (1994) e Riera (1995) citados por Garganta (1997),
consideram que a oposição entre duas equipas que jogam é o aspecto mais
relevante e significativo na caracterização dos desportos de equipa e que a
essência de toda a acção de jogo se situa na interacção jogo-jogador.
Todo este conjunto de factores que integram e caracterizam os Jogos
Desportivos Colectivos conferem-lhe uma realidade própria, onde a aleatoriedade,
a imprevisibilidade e a complexidade estão constantemente presentes, segundo
vários autores.
Para Latiskevits (1991), nos JDC, a conflitualidade de uma situação vem
determinada pela falta de informação recebida, a qual dificulta o processo de
tomada de decisões e a possibilidade da sua realização. A falta de informação
recebida está fortemente vinculada à dinâmica constante das situações de jogo, à
limitação dos parâmetros espaciais da realização da acção, ao esforço do
adversário para contrariar eficazmente uma jogada e à presença de informações
supérfluas devido ao grande número de acções falsas e distractivas do
adversário.
Por outro lado, para Graça & Oliveira (1994), os JDC são actividades ricas
em situações imprevistas às quais o indivíduo que joga tem que responder. O

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comportamento dos jogadores é determinado pela interligação complexa de


vários factores (de natureza psíquica, física, táctica, técnica, …). Nesta medida,
devem os jogadores resolver situações de jogo que, dadas as diversas
configurações, exigem uma elevada adaptabilidade, especialmente no que
respeita à dimensão táctico-cognitiva. Para os mesmos autores e citando Faria &
Tavares (1992), no decurso de um jogo surgem tarefas motoras de grande
complexidade para cuja resolução não existe um modelo de execução fixo.
Castelo (1994), refere que nos desportos colectivos, os intervenientes
(jogadores) estão agrupados em 2 equipas numa relação de adversidade –
rivalidade desportiva numa luta pela conquista da posse da bola (respeitando as
leis do jogo), com o objectivo de a introduzir o maior número de vezes na baliza
adversária e evitá-los na sua própria baliza, com vista à obtenção da vitória. O
jogo caracteriza-se pela relação dialéctica e contraditória do ataque versus
defesa, consubstanciando modos de interacção no seio de redes de comunicação
(cooperação) e de contra – comunicação (oposição), que se traduzem na
aplicação de acções técnico-tácticas individuais e colectivas, organizadas e
ordenadas num sistema de relações coerentes e consequentes, de ataque e
defesa, tendo em vista o desequilíbrio do sistema opositor, na procura de uma
meta comum.
Segundo Moreno (1994), citado por (Vilaça, 2001), o Andebol faz parte dos
desportos que desenvolvem a sua acção num espaço comum e com participação
simultânea sobre a bola, ou seja, as equipas podem actuar sobre a bola sem
esperar a acção final do adversário, desde o momento que tenha o seu controlo
ou não, até que alcance o objectivo final do jogo (marcar golo), ou providenciar a
sua rápida recuperação.
Para Barbosa (1999), o jogo de Andebol organiza-se permanentemente em
cooperação ou interacção entre os companheiros de equipa (desmarcações e
apoios, transmissão da bola, troca de posto específico, etc.) e, por outro lado, de
oposição aos adversários (luta pelos espaços, antecipação, e ruptura das
comunicações estabelecidas pelo adversário).
No mesmo sentido se pronuncia Sánchez (1991), ao definir o Andebol
como um desporto de associação com adversários, possuindo todas as
características comuns a este grupo de desportos, assim como uma série de

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condicionantes que o diferenciam dos outros e que marcam as suas


possibilidades de desenvolvimento.
Perante isto, podemos dizer que o Andebol possui uma estrutura formal
(terreno de jogo, bola, regulamento, companheiros, adversários) e uma estrutura
funcional, que decorre das acções de jogo enquanto resultado da interacção entre
os companheiros duma mesma equipa em torno da bola, no sentido de
conseguirem vencer a oposição dos adversários e atingir os objectivos propostos
(Garganta, 1997).
Para Cunha (2000), toda a actividade dos jogadores e equipas se
desenvolve a partir das relações entre estes elementos. Podemos concluir que
ambas as equipas formam grupos colectivos que planificam as acções, actuando
uma contra a outra, e seu comportamento é determinado pelas relações de
contraste ataque-defesa, a bola, a própria baliza e a contrária, e a adaptação dos
distintos espaços com maior ou menor aproximação ou afastamento.
A finalidade dos comportamentos dos jogadores é guiada por um objectivo
de produção: vencer o jogo (Gréhaigne, 1989, citado por Garganta, 1997). No
decurso de uma partida, até conseguir marcar um golo ou impedir a sua
marcação, os jogadores/equipa dirigem os seus esforços no sentido de
estabelecer uma supremacia sobre o seu adversário. Devem por isso garantir, no
âmbito do quadro regulamentar do jogo, o cumprimento de princípios de jogo e
procurar atingir objectivos intermédios, desenvolvendo acções parcelares
(Garganta, 1997).
O contexto em que o Andebol ocorre é de elevada variabilidade,
imprevisibilidade e aleatoriedade. As equipas disputam objectivos em constante
oposição, lutam para gerir em proveito próprio, o tempo e o espaço, onde o
comportamento é determinado pelas relações de contraste (ataque-defesa),
alicerçadas em relações de cooperação – interacção com os companheiros e de
oposição com os adversários (Antón, 1998; Garganta, 1997; Konzag, 1991,
Sousa, 2000; citados por B. Ribeiro, 2002).
No Andebol, oposição e cooperação são tarefas básicas reversíveis, tanto
no ataque como na defesa, e as sucessivas configurações que o jogo vai
experimentando resultam da forma como ambas as equipas gerem as relações as
relações de cooperação e adversidade, em função do objectivo do jogo
(Garganta, 1997).

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Isto significa que a alteração do dispositivo defensivo ou ofensivo de uma


equipa, num dado instante, é susceptível de induzir alterações na configuração
momentânea do dispositivo ofensivo ou defensivo, respectivamente, da equipa
contrária e vice-versa (Garganta, 1997).
O Andebol distingue-se por uma grande quantidade de combinações de
movimentos (combinações simultâneas ou sucessivas) e acções motoras
colectivas ou em grupo (Konsag, 1991; Moreno, 1984, Teodorescu, 1984; Olivera
& Ticó, 1992, citados por Tavares, 1996).
Nesta perspectiva, a dinâmica do jogo dificulta ao jogador a reprodução
exacta do seu desenvolvimento, mesmo nas acções de jogo pré-estabelecidas.
Por esse motivo, as acções devem orientar-se para a resolução de situações, cuja
realização exige numerosos programas de acção, com soluções diversas, entre
as quais se escolhe a mais adequada no menor tempo possível (Oliveira &
Tavares, 1996).

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3 IMPORTÂNCIA DO GR DE ANDEBOL

No contexto actual do jogo, o guarda-redes é um elemento de grande


importância no seio de uma equipa. Representa um dos jogadores mais
importantes para alcançar o êxito. É referido, inúmeras vezes, que um bom
guarda-redes representa 50% ou mais do êxito de uma equipa (Mircea, 1990;
Rivière 1989; Volossovitch & al., 2002).
O guarda-redes pode ter uma influência decisiva no desenrolar do jogo. Da
sua actuação depende, em grande medida, o êxito ou fracasso da sua equipa. Ele
pode, como último defensor, corrigir com as suas defesas os erros dos seus
companheiros e facilitar-lhes, como iniciador do ataque, a possibilidade de contra
atacar com eficácia. (Hecker & Thiel, 1993; Rivière, 1989). O guarda-redes tem o
papel de ser o primeiro elemento da equipa a iniciar as acções de ataque e ser o
último obstáculo que o ataque adversário tem de transpor para atingir o golo.
A utilização de guarda-redes com prestações acima da média é
indispensável para participar ao mais alto nível competitivo (Kreisel, 1989).
A transcendência das intervenções do guarda-redes no jogo é
inquestionável. As suas intervenções individualizadas dentro do colectivo,
decidem, em grande parte, o desenrolar dos jogos e o resultado final (Barcenas &
Román, 1991), pois da sua actuação depende geralmente a vitória ou a derrota
(Bulligan, 2003).
Segundo Zeier (1987), o guarda-redes ocupa uma posição de destaque
porque cumpre grande parte das suas tarefas e acções sem ajuda dos seus
colegas de equipa Ninguém pode compensar as suas falhas, para além de
actuarem num espaço que só a eles é destinado. O sucesso ou insucesso das
suas acções é imediatamente visível por todos.
Villa (2003) refere que o guarda-redes é um especialista e como tal tem que
ter um trabalho específico e controlado para sua melhoria, com umas
características distintas dos restantes jogadores. Olsson (2003), diz mesmo que a
sua posição é tão diferente da dos jogadores de campo e seu o contributo para o
jogo tão especial, que o podemos considerar um atleta individual numa equipa
colectiva.

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Mráz (1988) e Silva (1999, 2000) constataram a existência de uma forte


associação entre a eficácia dos guarda-redes e a classificação final obtida pelas
equipas nas competições estudadas. Silva (2000) refere mesmo que a eficácia do
guarda-redes a remates de 1ª linha e de 2ª linha é um dos principais indicadores
que separam as equipas que ganham e que perdem em jogos equilibrados (1 a 2
golos de diferença). Confirmam esta teoria estudos realizados por Magalhães
(1999) e Volossovitch & al. (2002) onde constataram que a eficácia de defesas do
guarda-redes separa as equipas da vitória da derrota em muitos jogos,
principalmente nos jogos equilibrados.
É responsável pela orientação dos companheiros na defesa, bem como
pela colaboração com eles. O guarda-redes encontra-se num espaço com uma
visibilidade privilegiada que lhe permite encorajar, analisar e corrigir os seus
colegas na defesa e adaptar a sua posição na baliza às acções dos defensores. A
sua posição dá-lhe uma visão de jogo "ideal" (Hecker & Thiel, 1993; Rivière,
1989).
Como primeiro defensor, deve inibir e impedir o contra-ataque directo do
adversário. Como primeiro atacante tem de decidir, num curto espaço de tempo, a
opção ou não pelo ataque rápido da sua equipa, se deverá acelerar ou retardar o
ataque. Tem uma influência directa sobre o ritmo de jogo.
Pode também, como jogador que é, incorporar o ataque da sua equipa, com
todas as vantagens e inconvenientes que decorrem desta situação.
A actividade do guarda-redes no jogo é muito complexa devido aos remates
que se realizam com muita força e precisão, desde posições variadas e
inesperadas e em numerosos casos de distâncias muito curtas.
O guarda-redes deve ser o suporte de toda a equipa (Donner, 1995; Hecker
& Thiel, 1993).

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4 REGULAMENTO ESPECÍFICO

No andebol o tempo de jogo para equipas sénior é de duas partes de 30


minutos cada, com um intervalo entre ambas de dez minutos.
Uma equipa de andebol completa é composta por 12 jogadores. No máximo,
somente 7 jogadores deverão estar em campo simultaneamente. Os restantes
são suplentes.
Durante todo o jogo a equipa deverá ter sempre um dos jogadores em
campo designado como guarda-redes. Este pode, em qualquer momento, tornar-
se jogador de campo. Similarmente, um jogador de campo poderá tornar-se
guarda-redes em qualquer altura. No entanto, o jogador que está a ser utilizado
como guarda-redes deverá usar um equipamento com cores que o possam
distinguir dos jogadores de campo de ambas as equipas e do guarda-redes
adversário.
A área de baliza, local habitual de acção do guarda-redes, é constituída por
dois quartos de círculo, com 6 metros de raio, que tem de permeio um rectângulo
de 3 X 6 metros. Esta área representa, aproximadamente, 80 dos 800 metros
quadrados da área total do campo de andebol. Apesar de mais ninguém poder
permanecer ou invadir a área de baliza, o guarda-redes pode também jogar no
restante espaço do campo, cumprindo aí as mesmas regras aplicadas aos
jogadores de campo.
É sua função impedir que uma bola de tamanho reduzido (58 a 60 cm para
atletas seniores masculinos), projectada pelos jogadores adversários, muitas
vezes a poucos metros de distância, e que pode ultrapassar velocidades de 100
Km/h (Czerwinski, 1993; Faludi, 1987; Sousa, 1994), entre numa baliza de 3
metros de largura por 2 metros de altura (6 m2).
A substituição do guarda-redes pode ser realizada em qualquer momento do
jogo e sem necessidade de avisar nenhum dos membros da equipa de arbitragem
ou oficiais de mesa.
Segundo os regulamentos da modalidade ao guarda-redes é permitido:

• Tocar a bola com qualquer parte do corpo enquanto em situação defensiva


dentro da área de baliza;

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• Mover-se com a bola nas mãos dentro da área de baliza, sem ser sujeito a
restrições aplicáveis a jogadores de campo (segurar a bola por um máximo
de 3 segundos, dar mais de 3 passos, regra dos dribles, tocar a bola vezes
consecutivas) ao guarda-redes não é permitido, no entanto, atrasar a
execução de um lançamento de baliza.

• Deixar a área de baliza sem bola e participar no jogo na zona de jogo; ao


encontrar-se nesta situação o guarda-redes fica sujeito às regras aplicáveis a
qualquer jogador de campo (considera-se que o guarda-redes tenha saído
da sua área de baliza quando qualquer das suas partes do corpo toque o
solo fora da linha da área de baliza).

• Deixar a área de baliza com a bola e voltar a jogá-la em campo, caso não
tenha tentado controlá-la.

Não lhe é permitido:

• Pôr em perigo o adversário enquanto desempenhar uma atitude defensiva.

• Deixar a área de baliza com a bola sob controlo.

• Voltar a tocar na bola fora da área de baliza imediatamente a seguir a um


lançamento de baliza, excepto se a bola já tiver sido tocada por um outro
jogador de campo.

• Tocar a bola, estando esta parada ou a rolar no chão fora da área de


baliza, enquanto se encontrar dentro da área de baliza.

• Levar a bola para dentro da área de baliza quando esta se encontrar


parada ou a rolar dentro do terreno de jogo fora da área de baliza.

• Voltar a entrar na área de baliza com a bola nas mãos vindo do terreno de
jogo.

• Tocar a bola com o pé ou perna abaixo do joelho, enquanto esta estiver


parada no chão dentro da área de baliza ou a rolar em direcção à área de
jogo.

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• Atravessar a linha restritiva do guarda-redes (linha de 4 metros), ou a sua


projecção para ambos os lados, antes que a bola tenha saído da mão do
adversário que esteja a executar um lançamento de 7 metros.

O guarda-redes deverá pôr a bola em jogo através de um lançamento de


baliza, quando a mesma for parar à sua área de baliza, quer seja por ter
controlado a bola, quer quando esta atravessa a linha de saída da baliza, após ter
sido tocada em último lugar pelo guarda-redes ou por um jogador da equipa
adversária.

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5 CARACTERIZAÇÃO DO GR DE ANDEBOL

No jogo de Andebol, pelas suas próprias características, a figura do Guarda


– redes necessita de um tratamento cuidado e especial. Também é certo que, no
seu processo de formação, o Guarda – redes deve assimilar factores de técnica
global junto do resto dos jogadores, bem como, também é evidente que se trata
de um posto com exigências específicas muito concretas. Estes factores obrigam
a um tratamento pormenorizado e analítico, quer ao nível dos aspectos teóricos e
técnicos, quer ao nível da metodologia, cujo objectivo é proporcionar a aquisição
das qualidades necessárias para a assimilação de uma técnica eficaz e concreta
(Barcenas & Román, 1991).
O guarda – redes é unanimemente considerado o suporte de toda a equipa,
contribuindo indubitavelmente para melhorar a auto – confiança dos seus colegas
(Antón, 2000). O Andebol, e no caso especifico o Guarda – redes, requer o
domínio de várias técnicas diferenciadas que são executadas sob condições que
variam frequentemente. É necessário uma grande precisão do movimento com
um intenso empenho de força e de velocidade, conjugada com factores
coordenativos de dissociação segmentar e de correcta adequação espaço
temporal.
O Guarda – redes cumpre a maior parte das suas tarefas sem ajuda dos
seus colegas de equipa, ou seja, ninguém poderá corrigir ou compensar os seus
erros. Jogando num espaço de terreno de jogo reduzido e só acessível ele, o
sucesso ou fracasso das suas acções é imediatamente visível para todos. Este
assume duas funções completamente distintas, uma como último defensor,
corrigindo com as suas defesas os erros dos seus companheiros, e outra como
iniciador do ataque ao facilitar-lhe a possibilidade de contra-atacar com eficácia
(Oliveira, 1996).
Só a repetição de situações variadas permite perceber o gesto,
aperfeiçoando uma série de movimentos que se encontram gravados na sua
memória (Faludi, 1987; Riviére, 1989). Porque de entre uma variedade de
estímulos o atleta terá de eleger, dentro das várias respostas possíveis, a mais
adequada para alcançar o máximo rendimento (Castelo et al., 1998)

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No Andebol é comum afirmar-se que um bom guarda – redes é meia


equipa, no entanto é necessário reforçar a ideia de que o seu desempenho não
deve ser analisado separadamente, mas em conjunto com os seus defensores.
As boas defesas influenciam favoravelmente o comportamento da sua equipa e
incentivam os jogadores, mas em contrapartida, um mau desempenho do guarda
– redes também pode desorientar os seus colegas e colocar em risco a base
psicológica da equipa (Falkowski & Enriquez, 1979; Constantini, 1995; Johansson,
1995).
Em 1996 Oliveira conclui, a partir dos resultados obtidos dos inquéritos
aplicados aos peritos da modalidade, que 83 % dos treinadores da 1ª divisão
portuguesa atribuem uma grande importância ao guarda – redes no contexto
actual do jogo, podendo mesmo ser decisivo no resultado final.
Assim, de acordo com os diversos estudos existentes na literatura, parece
óbvio que a eficácia global dos guarda – redes assume uma grande influência no
resultado final dos jogos de Andebol.
Apesar da indiscutível e considerável importância do Guarda – redes, sabe-
se que, na maioria dos casos, este está privado de uma sistemática e constante
preparação, ou seja, não está à altura da sua importância declarada e objectiva
(Pagés, 2003). Esta falta de interesse pelo treino de Guarda – redes acaba por
demonstrar também um insuficiente e pouco elaborado apoio teórico (Czerwinski,
1993).

5.1 Características Somáticas

A altura do guarda-redes parece ser um factor, não decisivo, mas


importante para a obtenção de bom rendimento nas acções de defesa.
Actualmente, os guarda-redes de alto nível apresentam elevados valores de altura
e envergadura. Ocupam, assim, um maior espaço, diminuem o ângulo de remate
dos opositores e têm maiores facilidades em alcançar os diferentes ângulos da
baliza.

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O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

Ribeiro (2002) sustenta esta teoria afirmando que a conjugação destes dois
parâmetros, vai possibilitar ao guarda-redes a cobertura duma superfície mais
ampla da baliza.
Apesar de não ser decisiva, a altura é considerada como um elemento
determinante no sucesso do guarda-redes de andebol (Barda, 1994; Czerwinski,
1993; Johansson, 1995; Latiskevits, 1991; Rivière, 1989). Estes autores
consideram que os valores ideais da altura de um guarda-redes deve variar entre
aproximadamente 185 cm e 200 cm.

Autor Altura Envergadura Peso

Barda (1994) 190-200 cm --- ---

Bayer (1987) 190 cm 200 cm 85 Kg

Brenda (1981) 185-195 cm 195-205 cm 80-90Kg

Cercel (1980) 185 cm + 8-10 cm altura ---

Curado (1980) 190 cm + 10 cm altura ---

Czerwinski (1993) 190 cm > altura ---

Greco (2002) 195 cm --- ---

Hecker & Thiel (1993) 190 cm --- ---

Latiskevits (1991) 185-190 cm --- ---

Ribeiro (2002) > 195 cm 90 – 95Kg

Rivière (1989) > 180 cm > altura ---

Yevtouchenko (1990) 195 cm --- ---

Quadro 1 - Características somáticas propostas para os GR

Parece-nos pois pela análise do quadro I, que a altura é o único parâmetro


que reúne o interesse da totalidade dos autores. Apesar da importância dada à
elevada estatura dos guarda-redes, Hecker & Thiel (1993) consideram que esta
não deve constituir factor limitativo do rendimento do guarda-redes, pois por si só
não é determinante. São importantes, acima de tudo, velocidade de reacção e

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todas as qualidades de defesa. Também Greco (2002) refere que a altura baixa
não é um factor eliminatório para a escolha de um guarda-redes, existe sim é
necessidade de compensar esta diferença com outras qualidades como a força de
pernas, colocação, antecipação, timing, etc.
A envergadura é também um factor somático importante na escolha do guarda-
redes (Czerwinski, 1993; Johansson, 1995; Marques, 1983), devendo ser sempre
superior à altura (Bayer, 1987; Brenda, 1981; Czerwinski, 1993; Rivière, 1989),
sugerindo alguns autores (Cercel, 1980; Curado, 1980) que a envergadura deverá
ser em média 8 a 10 cm superior à altura. Ribeiro (2002) salienta que um guarda-
redes com maior altura e envergadura, poderá colocar-se mais perto da linha de
baliza, o que determina um contacto com a bola a menor velocidade, pois o
espaço que ela percorre é maior. Por outro lado, aquela colocação não lhe vai
exigir tanta velocidade de reacção como a um guarda-redes de menor altura e
envergadura, que, para cobrir a mesma superfície da baliza, terá
obrigatoriamente, de avançar mais. Em termos de despesa energética, é óbvio
que as acções do guarda-redes mais alto são mais económicas, pois,
teoricamente, encontra-se sempre mais perto da bola.
Greco (2002) considera que com maior envergadura terá ligeiramente um alcance
maior, podendo tocar em bolas mais longe que outros, necessitando de menor
flexibilidade e menor consumo de energia.
Czerwinski (1993) e Bayer (1987) consideram, também, a relevância do
peso, pelo que estes jogadores se devem caracterizar por uma estrutura atlética
adequada, apresentando um índice ponderal adequado às exigências das suas
tarefas.
Bayer (1987) refere os critérios de selecção de guarda-redes da Federação
Romena de Andebol, fornecendo as taxas de importância de cada critério, onde
se evidencia a relevância da morfologia, nomeadamente a altura, o índice
ponderal e a envergadura:
Morfologia 40%
- Altura 50%
- Relação altura/peso 25%
- Envergadura 25%
Características psicológicas 30%
Qualidades físicas 30%

17
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

Apesar da importância dada por inúmeros autores à elevada estatura dos


guarda-redes, Hecker & Thiel (1993) consideram que esta não deve constituir
factor limitativo do rendimento do guarda-redes, pois por si só não é determinante.
São importantes, acima de tudo, velocidade de reacção e todas as qualidades de
defesa.

5.2 Capacidades Físicas

Por representar um "papel específico" no jogo de andebol, o guarda-redes


deve evidenciar um perfil de qualidades físicas adequado às exigências do seu
posto.
Torna-se necessário proceder a uma análise das capacidades condicionais e
coordenativas utilizadas nos gestos de defesa, dado que a partir daqui será
possível contribuir para uma melhoria do treino, procurando direccionar as suas
acções para a realidade da competição, tornando-as mais eficazes e contribuindo
provavelmente para a melhoria do seu rendimento.
As acções relevantes no Andebol realizam-se a alta intensidade e são de
duração relativamente curta. As qualidades físicas relacionadas com este tipo de
esforço seriam a força explosiva e a velocidade. Estas acções levam de forma
implícita, além de altos níveis de força, a uma grande velocidade de execução
(Gimenez, 1999). A estrutura do jogo, os diferentes tipos de estímulos que nele se
oferecem para reagir, a própria variedade do movimento é evidente que se deve
ter em consideração o desenho de um treino específico. Esta especificidade
torna-se ainda mais relevante no caso do guarda-redes, em que a resposta
motora vem determinada pela aparição de estímulos diversos, às vezes
imprevistos, tendo de recorrer à utilização de técnicas de execução muito
variadas.
Os seus gestos implicam uma grande precisão do movimento com um
intenso empenho de força e da velocidade, conjugada com factores coordenativos

18
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

de dissociação segmentar. Pensamos que o compromisso entre a velocidade de


reacção e execução, e a precisão do movimento dão a consistência da execução
do gesto técnico.
Não existe consenso entre os autores sobre as capacidades motoras
fundamentais requeridas pelo guarda-redes de andebol, encontrando-se na
bibliografia da modalidade uma grande variedade de opiniões que apresentamos
de uma forma sintetizada:

Mobilidade (articular, flexibilidade, elasticidade e


agilidade).
Barcenas & Roman (1991) Coordenação (global, óculo-manual e visio-motriz)
Velocidade (de reacção e de translacção)
Força (geral e de pernas)
Resistência (geral e específica)
Bayer (1987) Tempo de reacção, coordenação geral e resistência
geral
Tempo de reacção complexo, velocidade de
Casimiro (2003) antecipação, velocidade de execução, mobilidade,
potência, flexibilidade, coordenação, agilidade,
resistência específica, força, impulsão
Czerwinski (1993) Velocidade de reacção, flexibilidade, agilidade
Gimenez (1999) Velocidade segmentar, flexibilidade, elasticidade,
força de braços e pernas.
Latiskevits (1991) Velocidade de reacção, força-velocidade, mobilidade
motora e coordenação
Noteboom (1995) Velocidade de reacção, “soupless”
Olson (2001) Força, potência, flexibilidade, explosividade e
resistência
Domínio corporal, agilidade, flexibilidade, velocidade
Zeier (1987) de acção, velocidade de reacção, resistência
aeróbia/velocidade, força veloz

Quadro 2 - Capacidades condicionais e coordenativas do GR

19
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

Hecker & Thiel (1993) salientam também que a importância decisiva da


velocidade de execução é devida aos rápidos movimentos de pernas e braços
que são executados nas acções de defesa, e também a sua importância na
recuperação de bolas desviadas na acção de defesa bem como na sua
recolocação em jogo.
Ainda segundo os autores anteriormente citados, a flexibilidade ao nível dos
membros superiores e inferiores facilita a acção do guarda-redes, que não poderá
realizar uma defesa a grande distância se não possuir uma mobilidade segmentar
adequada.
O desenvolvimento dos músculos abdominais e lombares é considerado
relevante no treino do guarda-redes, dado que necessita possuir um tronco bem
"musculado" para se opor aos potentes remates realizados de distâncias
reduzidas (Hecker & Thiel, 1993; Sousa, 1994; Spate, 1993).
Martini (1980) e Zeier (1987) afirmam que só com uma base de preparação
física sólida e o exaltar das capacidades podem dar origem à técnica e que
através dela os outros factores exigidos podem ser desenvolvidos
harmoniosamente. Por isso encontramos referências ao trabalho em regime
aeróbio, que se compreende apenas pela necessidade do guarda-redes realizar
com a mesma qualidade de execução e de precisão um gesto técnico no início do
jogo e ao fim de sessenta minutos, da mesma forma terá que se concentrar todo o
tempo que dure um ataque adversário e muitas vezes intervir numa sucessão
rápida de remates.
Lastiskevits (1991) refere também como fundamental o desenvolvimento da
velocidade, da estabilidade e da precisão das reacções motoras simples e
complexas. Este autor defende que o guarda-redes não consegue apenas com a
velocidade de reacção e execução ter tempo para defender remates de zonas
muito próximas, aqui terá necessidade de prever as acções do adversário,
prognosticar o comportamento dos atacantes nas diferentes situações de jogo,
saber determinar o momento do remate e adivinhar a trajectória da bola antes
saia da mão do rematador, ou seja, deverá antecipar todo o gesto de defesa
conseguindo assim maiores possibilidades de êxito.
Opinião também corroborada por Czerwinski (1993), Lemos (2001) e Zeier
(1987) que apresentam dados sobre a velocidade da bola no remate e a
velocidade de reacção de guarda-redes de elite, constatando que dificilmente este

20
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

conseguirá defender remates de curta distância se não antecipar o movimento do


adversário. Assim a antecipação surge como a capacidade que permite aos
jogadores iniciarem com antecedência a sua resposta à acção de um adversário e
tem sido identificada como uma qualidade que distingue os jogadores de elite dos
menos talentosos. O ritmo e precisão apresentados por jogadores de elite que
executam sequências complexas de jogo ofensivo, ou os escassos milésimos de
segundo disponíveis para, no andebol, o guarda-redes organizar a sua acção de
defesa, são excelentes exemplos de velocidade de reacção e execução. Os
jogadores necessitam de melhorar a sua velocidade de compreensão das
situações que ocorrem (Farrow, 2001) a fim de melhorarem a velocidade com que
realizam as suas acções.
Manso et al. (1998), citados por Villa (2003) referem a antecipação como
desenvolvimento de condutas antecipatórias (preventivas) que anulem a eficácia
de determinadas acções contrárias.
As capacidades coordenativas têm também incidência particular no gesto do
guarda-redes, devendo fazer parte da sua iniciação e de todo o seu trajecto
desportivo, pois como refere Nitsch (2002) o treino intencional e sistemático da
coordenação deveria ser ponto central no processo de treino a longo prazo,
marcando uma formação variada.
As capacidades coordenativas manifestam-se através de elementos de
técnica individual, e a sua melhoria constata-se na correcta adaptação do gesto
técnico às exigências da situação de jogo (Lago & Lopez, 2000).
Com o desenvolvimento das capacidades coordenativas a aprendizagem das
técnicas desportivas e a melhoria das capacidades condicionais tornam-se mais
rápidas e económicas. Ribeiro (2002) destaca no guarda-redes as seguintes
capacidades coordenativas:
- capacidade de diferenciação cinestésica, especialmente a importância das
dissociações segmentares, na correcta edificação do gestos técnicos, permite
expressar uma grande precisão e economia entre as diversas fases parciais do
movimento ou entre os movimentos de diferentes partes do corpo;
- capacidade de orientação espaço-temporal, determinante na apreciação de
trajectórias e previsão de queda de objectos, fundamental na antecipação dos
programas de acção;

21
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

- capacidade de reacção complexa, resposta do organismo, em forma de


acção motora não predeterminada, a um sinal não claramente conhecido
previamente , que representa uma variedade de estímulos que o atleta tem de
atender, bem como às suas enormes possibilidades de resposta.
No entanto, mesmo sendo necessário desenvolver as qualidades específicas
para a sua posição, o guarda-redes de andebol deve possuir a mesma condição
física dos jogadores de campo, dado ser necessário para uma prestação
defensiva adequada (Brenda, 1981, Hecker & Thiel, 1993).
O treino das capacidades condicionais e coordenativas do guarda-redes de
andebol precisa de novas estratégias metodológicas e meios de intervenção que,
conscientes da necessidade manifesta no próprio jogo, permita estimular
eficazmente o seu rendimento.
Parece-nos pois que o guarda-redes deverá possuir uma elevada velocidade
de reacção (complexa), de molde a garantir a eficácia defensiva, nos remates de
grande potência, remates inesperados, impossibilidade de visualizar o rematador
e recuperação da bola;
O guarda-redes deverá também possuir uma grande potência, quer ao nível
dos membros superiores, quer essencialmente, ao nível dos membros inferiores,
Olsson (2000) diz que “… é necessário dar prioridade ao trabalho de pernas e ao
tronco. Força de pernas é fundamental para o restante desenvolvimento do
guarda-redes”. Isto permitir-lhe-á uma grande explosividade nos movimentos,
essencialmente ao nível dos saltos e da elevação das pernas. Também, a maior
eficácia em blocar as bolas, em amortecê-las, e em executar passes longos,
poderá estar associada à potência.
Por outro lado, sem uma elevada potência, nunca se poderá atingir uma alta
velocidade de execução, que é um factor determinante na eficácia das acções do
guarda-redes.
Elevados níveis de flexibilidade poderão facilitar ao guarda-redes a execução
de certas acções específicas, nomeadamente a defesa de bolas baixas e a meia-
altura. Neste âmbito, a flexibilidade ao nível da articulação coxo-femural é
extremamente importante.
A agilidade, também referenciada por alguns autores, poderá permitir
encadear defesas em queda, com outro tipo de técnicas, recuperar rapidamente a
bola, recuperar a atitude base após defesa de bola baixa, etc.

22
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

A resistência específica possibilitará ao guarda-redes a manutenção, a um


nível óptimo e ao longo de todo o jogo, de todas as suas capacidades motoras,
técnicas, tácticas e psíquicas.
Como refere Villa (2003) “o que deve ficar claro é que as capacidades
dependem e interrelacionam-se entre si”.

5.3 Características Psicológicas

A alta especificidade do desempenho do guarda-redes, quase


exclusivamente dependendo das suas capacidades, obriga-o a viver, com relativa
frequência e, por vezes, num curto espaço de tempo, situações antagónicas: de
alegria, devido a uma defesa difícil, de tristeza, por ter consentido um golo de
modo inesperado.
Só uma elevada capacidade psíquica, o poderá ajudar a vencer as
vicissitudes daquele posto específico, pois ele é um indivíduo dentro dum jogo.

23
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

Antón (1990, 2000) Concentração, Equilíbrio emocional


Barda (1996) Antecipação, Percepção
Brenda Coragem
Czerwinski (1993) Antecipação
Faludi (1987) Antecipação, Percepção
Greco (2002) Antecipação, Concentração, Espírito
colectivo, Motivação
Hecker & Thiel (1993) Antecipação, Concentração
Latiskevits (1991) Antecipação, Atenção, Concentração,
Coragem, Equilíbrio emocional
Mariot (1992) Antecipação
Martin (2004) Autoconfiança, Concentração,
Coragem
Martini (1980) Concentração, Coragem
Olson (2000) Antecipação, Concentração,
Confiança
Ribeiro (2002) Antecipação, Concentração,
Coragem, Equilíbrio emocional,
Motivação
Riviére (1989) Antecipação, Concentração
Villa (2003) Concentração, Conhecimento dos
adversários, Coragem, Equilíbrio
emocional, Espírito colectivo,
Motivação
Zeier (1985, 1987) Antecipação, Atenção, Concentração,
Coragem

Quadro 3 - Características psicológicas fundamentais ao GR

Os aspectos psicológicos podem ser decisivos na prestação do guarda –


redes e influenciar positivamente o seu rendimento (Latiskevits, 1991; Ribeiro,
2002; Rivière, 1989).

24
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

Brenda (1981) e Ribeiro (2002) consideram que sem coragem um guarda –


redes não será capaz de desenvolver as qualidades técnicas e tácticas
necessárias ao seu posto específico, nem poderá enfrentar com êxito as
frequentes situações problemáticas.
Cada defesa deve converter-se num desafio (Villa, 2003) sendo necessário o
guarda-redes sair à bola sem hesitações, colocando um grande empenho na
acção, sem ter nenhum tipo de medo mas com determinação e segurança de que
a vai defender
O seu equilíbrio emocional é também muito importante e fundamental uma
vez que é o último defensor a ser batido. As suas falhas são mais evidentes e, por
tal facto, não se deve culpabilizar nem desconcentrar.
As emoções positivas (euforia, entusiasmo, alegria, etc.) favorecem o
rendimento. Por outro lado as emoções negativas (depressão, stress, medo de
falhar, etc.) devem ser controladas mediante o auto domínio e força de vontade.
Uma atitude positiva dos jogadores influencia a qualidade de jogo. Os êxitos totais
ou parciais criam estados de ânimo positivos, e os fracassos, nas mesmas
condições, desmoralizam o jogador. Os factores emocionais actuam sobre a
motivação e a vontade (Antón, 1990, citado por Villa, 2003).
Ribeiro (2002) refere ainda que a capacidade de se descontrair, em certos
momentos do jogo, é um factor de grande importância, na manutenção do
equilíbrio psicológico.
Villa (2203) faz referência ao espírito colectivo pois dentro de uma equipa, a
coesão é uma variável importante que condiciona muito o resultado. O guarda-
redes, desde a sua situação privilegiada no terreno de jogo deve ser um elemento
gerador e motivante de altitudes positivas.
A motivação no guarda-redes de andebol surge directamente relacionada
com a sua capacidade de superar dificuldades e ultrapassar momentos negativos
no decorrer do jogo. Surge também por vezes associada a elemento motivador do
colectivo. Trata-se de um problema de atitude, quanta maior é a motivação por
parte do praticante para a actividade, maior vai ser o seu empenho, maior vai ser
a sua intencionalidade, a sua persuasão e esforço para realizar a acção o melhor
possível, tratando de elevar o rendimento e/ou a eficácia até níveis máximos
(Villa, 2003).

25
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

Greco (2002) refere-se à motivação como algo que o guarda-redes pode


transmitir à equipa com as suas prestações já que, como último defensor,
constitui-se como um elemento motivador dos colegas, com as suas intervenções
seguras.
O guarda-redes deverá ter uma grande capacidade de motivação
(intrínseca), única forma de superar o treino específico intenso e de superar,
rapidamente, os efeitos psíquicos de índole negativa, causados pela
responsabilidade em determinados golos, no decurso do jogo (Ribeiro, 2002).
A capacidade do guarda – redes reagir o mais rápido possível a qualquer
estímulo está directamente associada à atenção e concentração que deverá
manter ao longo de todo o jogo.
Todo o processo mental de acção e reacção ao remate realiza-se num
curto espaço de tempo (centésimas de segundo), em que a decisão, o tempo de
reacção e a responsabilidade estão incluídos.
Durante os 60 minutos do jogo o guarda – redes está sujeito a múltiplos
estímulos, agindo muitas vezes num estado de tensão elevada devido ao “stress”
da competição. Como tal, é muito importante que consiga manter-se atento e
concentrado ao longo de todo o tempo do jogo, de forma a reagir o mais
rapidamente possível a qualquer estímulo (Latiskevits, 1991; Oliveira, 1996;
Antón, 2000).
Uma regra fundamental e extremamente importante para um Guarda – redes
consiste em manter sempre ou o mais tempo possível os seus níveis de
concentração durante o jogo, para que possa receber informação, analisa-la e
decidir correctamente a acção a realizar. A concentração deverá permitir, ao
Guarda – redes, a capacidade para estar pronto a intervir no jogo com os seus
defesas, bem como com outro tipo de situações (Rivière, 1989; Zeier, 1986).
Zeier (1987) considera que a atenção do guarda – redes se deve centrar no
movimento do jogador atacante, pois este é o factor preponderante para a
reacção, e não a trajectória da bola. A fase de concentração pode reduzir o tempo
de reacção, e principalmente o tempo de latência. Como tal, o guarda – redes
necessita de um bom conhecimento das hipóteses do adversário para assim
reduzir as suas alternativas de acção e, consequentemente, a variedade de
soluções. Quanto menos soluções para optar, mais rapidamente o guarda – redes
decide e o tempo de reacção diminui.

26
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

A antecipação consiste em prever as acções, movimentos e trajectórias do


adversário, ou seja, reside na capacidade de “ler” as movimentações do
adversário e a partir dai prever as acções seguintes (Hecker & Thiel, 1993; Zeier,
1987).
O Guarda – redes não deve detectar apenas as informações ligadas à
trajectória da bola (direcção, velocidade, distância), mas também os factores
predicativos dessa trajectória contidos no comportamento do rematador (Mariot,
1992).
Parece-nos pois pertinente desenvolver de forma mais aprofundada estes
dois últimos aspectos: atenção/concentração e antecipação.

Atenção/Concentração
Cada remate à baliza provoca no guarda-redes um complexo processo
mental num tempo reduzidíssimo, originando uma acção motora considerada
adequada, à qual está associada a responsabilidade de decisão (Latiskevits,
1991). Antón (1990) diz que a concentração expressa a orientação para um
objectivo ou processo, sendo um fenómeno ligado à percepção, ao pensamento e
às atitudes práticas.
A regra de ouro do guarda-redes consiste em manter a sua concentração, a
qual permite a apreensão de informação de qualidade necessária à avaliação das
possibilidades do rematador, bem como manter bons apoios no deslocamento, a
fim de obter um equilíbrio disponível e manter a capacidade de reacção. A
concentração do guarda-redes corresponde a "estar sempre pronto a ..." (Rivière,
1989; Zeier 1986).
O guarda-redes deverá possuir uma capacidade de concentração tal, que lhe
permita percepcionar uma série de indicadores relativos ao jogo (modo de jogar
do adversário, particularidades individuais do adversário, situações de jogo
particulares, etc.), que posteriormente analisará. Obviamente que, quanto mais
amplo for o leque da percepção, tanto maior será a sua eficácia (Ribeiro, 2001).
Este mesmo autor refere que é aquele percurso mental que, em
determinadas circunstâncias, lhe viabilizará a antecipação das suas acções
(previsão do local de remate, intercepção do contra-ataque, etc.) e, assim
neutralizar as iniciativas do adversário.

27
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

A actividade fundamental do guarda-redes é a capacidade de eleger, durante


o ataque do adversário, a posição mais favorável na baliza, de determinar a
possível trajectória da bola no remate e utilizar a técnica adequada em
determinada situação, para o qual é necessário ter uma grande velocidade de
reacção. Estas acções estão relacionadas com a atenção e a actividade complexa
de síntese e análise para valorizar as situações de jogo e tomar decisões
pertinentes para executar o acto defensivo (Latiskevits, 1991).
O guarda-redes, durante a competição, deve preservar, apesar do stress e
da fadiga, as qualidades de percepção, reflexão e acção. Durante os jogos,
existem períodos em que o guarda-redes pode relaxar, mas deverá ser capaz de
corresponder e estar presente nos momentos decisivos (Hecker & Thiel, 1993;
Olsson, 2000).
A fase de concentração assume importância significativa na eficácia do
guarda-redes, pois pode reduzir o tempo de reacção, principalmente o tempo de
latência, ou seja, o tempo que passa desde o momento do estímulo até ao início
da reacção (Zeier, 1987).
Este mesmo autor destaca a importância da concentração por considerar
que o guarda-redes não é apenas alguém que reage, na medida em que adapta e
evolui em função do desenrolar do jogo, dos movimentos dos jogadores, das
novas acções e de novas formas de defesa.
Manter a concentração é um dos objectivos fundamentais para um bom
rendimento (Greco, 2002).

Antecipação
A antecipação consiste em prever os movimentos e trajectórias dos
adversários, baseando-se na capacidade de "ler" os movimentos do adversário e
daí prever as acções seguintes (Hecker & Thiel, 1993; Zeier, 1987). O guarda-
redes não deve detectar apenas as informações ligadas à trajectória da bola
(direcção, velocidade, distância), mas também, os factores predictivos desta
trajectória, contidos no comportamento do rematador (Mariot, 1992). Aquele não
reage apenas ao remate, ele tem interiorizado uma série de movimentos e acções
do rematador que lhe possibilitam reduzir as zonas prováveis de remate e assim
antecipar a sua acção de defesa.

28
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

Se o guarda-redes observar correctamente o rematador ele chega a deduzir,


no momento do remate, pela impulsão, pelo seu deslocamento, pela colocação do
corpo e do braço, a trajectória provável da bola (Greco, 2002; Oliveira, 1996). Os
guarda-redes podem "ler" os remates adversários e assim preparar a sua defesa
a tempo. Com base nessa leitura é que o guarda-redes prepara a acção de
defesa da bola (Czerwinsky, 1993; Greco, 2002). O conhecimento dos hábitos de
remate e dos ângulos privilegiados do adversário permitem-lhe reagir rapidamente
e com eficácia (Hecker & Thiel, 1993; Zeier, 1987).
Se o guarda-redes procurar reagir à trajectória da bola no momento do
remate, a sua acção de defesa pode tornar-se tardia devido à velocidade da bola.
No entanto, ele poderá estudar e observar as possibilidades de remates das
diferentes zonas para os diferentes locais da baliza e de esperar que o rematador
obedeça a essas possibilidades, reagindo assim em função da sua previsão de
remate. Este comportamento dá alguns frutos, mas uma antecipação sistemática
pode ser observada e corrigida pelo rematador (Hecker & Thiel, 1993). A sua
tarefa do guarda-redes não consiste só em esperar pelos remates adversários e
em reagir a eles, mas também tem de seguir com atenção o desenrolar do jogo,
para através da sua observação, poder reduzir o número de acções alternativas
que existem para o seu adversário. Isto facilitar-lhe-á a tarefa e decisão. A
antecipação exige, pois, observação atenta do jogo, por um lado e, por outro,
conhecimento das possibilidades do atacante (Zeier, 1986).
O tempo de acção desempenha um papel fundamental no trabalho defensivo
do guarda-redes. A duração do tempo de acção representa a parte mais
importante da acção de jogo do guarda-redes no andebol moderno (Faludi, 1987).
O guarda-redes só é capaz de parar os remates se reagir antes da bola
deixar a mão do rematador. Admitamos, por exemplo, que a velocidade da bola
que se dirige para a baliza é de 120 Km/h, o que não é raro, e que se traduz,
"grosso modo", numa velocidade de 33 metros/segundo. Se nos basearmos no
tempo possível de reacção do guarda-redes, sensivelmente 1/3 de segundo, o
remate só será defensável se executado a uma distância superior a 11 metros
(Faludi, 1987).
A velocidade da bola, durante a realização dum remate, supera
consideravelmente as possibilidades de reacção do guarda-redes. Por essa
razão, não tem sentido ensinar as acções defensivas a partir da trajectória da

29
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

bola. O guarda-redes deve saber prever as acções do adversário, deve saber


prognosticar o comportamento dos atacantes nas distintas situações de jogo,
saber determinar o momento do remate e prever a trajectória da bola antes de se
finalizar a última fase do remate (Latiskevits, 1991).
Os jogadores mobilizam esquemas de movimento anteriormente preparados.
É preciso que o guarda-redes possua um tal esquema que permita a reacção
antes do remate e que, uma vez terminada a acção do remate, o estímulo
recebido corresponda à acção anteriormente desenvolvida. Neste caso, o guarda-
redes é forçado a basear a sua decisão numa certa probabilidade. As decisões e
reacções assim tomadas designam-se antecipações. A antecipação só é possível
graças a antigas experiências, situações de jogo e diversas fontes de informação
(Faludi, 1987).
O guarda-redes deve ser capaz de escolher entre as formas de solução
possível aquela que reúne maiores possibilidades de sucesso (Faludi, 1987).
Esta capacidade de antecipação é, inquestionavelmente, um dos factores,
que mais influencia a prestação competitiva dos guarda-redes (Ribeiro, 2002).

As áreas de preparação do guarda-redes são a técnica, a condição física, a


táctica e a condição psicológica. As duas primeiras são a base de todas as
acções defensivas, sendo as segundas as que vão optimizar essa base em
situação de jogo (Sousa, 1994).

5.4 Aspectos Fisiológicos

Apesar de existir um considerável número de estudos e investigações na


área da fisiologia do esforço no andebol, quase não se encontram referências à
especificidade do guarda-redes no tipo de esforço realizado e ao sistema
energético utilizado. Pode-se sugerir, pela análise do jogo, a via metabólica bem
como a comparação com guarda-redes de outras modalidades, no entanto,
escasseiam pesquisas neste âmbito.
Em muitas situações durante o jogo, o guarda-redes de andebol, convive
com os três sistemas de transferência de energia, o sistema ATP-CP, o sistema
glicolítico ou do ácido láctico e o sistema aeróbio, que operam simultaneamente

30
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

com a predominância de um sistema sobre os outros. Santos (1989) diz que


alternando uma actividade de alta intensidade (realização das defesas) com
momentos de baixa intensidade (situação ofensiva da equipa), o atleta utiliza
várias fontes de energia: anaeróbica aláctica na acção defensiva (esforço máximo
e curta duração) e aeróbia ao longo tempo do jogo para recuperação das fontes
anaeróbias. Também Hellgren (1992) determina que o guarda-redes deve
desenvolver o sistema energético ATP-CP pois o seu trabalho na defesa é de
curta duração, realiza movimentos rápidos e tem um período de recuperação
longo para esse substrato energético.
No conceito de especificidade do guarda-redes, as principais actividades
que este realiza (como as acções de defesa, saltos, pequenos arranques e
mudanças bruscas de direcção) exigem um alto nível de metabolismo
anaeróbico, fundamentalmente aláctico. Durante os momentos defensivos da sua
equipa são-lhe exigidos pequenos deslocamentos, momentos de elevada
concentração, por vezes seguidos de esforços de uma duração mais elevada
(exemplo de duas defesas consecutivas seguidas de um passe de contra-ataque)
onde o esforço é predominantemente anaeróbico láctico.
Soares (1988) num estudo realizado com guarda-redes verificou que os
momentos de esforço eram em média de 28 segundos os momentos de repouso
de 32 segundos (tempos de acções defensivas e ofensivas provavelmente). Este
autor também verificou que os deslocamentos em intensidade máxima tinham a
duração média de 3 segundos, percorrendo distâncias de 6 metros; no decorrer
do jogo percorreram distâncias médias de 2000 metros.
Não nos podemos esquecer que um jogo de andebol tem a duração de
sessenta minutos, pelo que importa que nos momentos finais de jogo a sua
prestação não seja influenciada negativamente pela fadiga, sendo aqui decisiva a
componente aeróbia.
As suas contribuições relativamente ao consumo energético estão
relacionadas directamente com a duração e a intensidade da situação específica
do guarda-redes durante o jogo: as defensivas (que privilegiam sistemas de
produção de energia imediata, ATP-PC) e as ofensivas (onde existem intervalos
de recuperação do trabalho, em que parte das reservas musculares de ATP e
PC, desgastadas durante os precedentes de trabalho, serão refeitas por meio de
sistema aeróbio) (Mcardle & Kacth, 1995, citado por Greco, 2002).

31
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

A resistência anaeróbia aláctica é o sistema que liberta rapidamente grande


quantidade de energia durante uma contracção muscular realizada num curto
espaço de tempo e com alta intensidade. Essa energia é necessária para a
execução das defesas, já que são movimentos realizados numa máxima
velocidade e com intervalos de tempo suficientes para a ressíntese do substrato
energético (acíclicos) (Fox et al. 1991).
Este mesmo autor refere estudos realizados com guarda-redes de outras
modalidades em relação ao sistema energético predominante, levando-se em
considerações as especificidades dos jogos podem-se realizar comparações:

Modalidade Sistemas energéticos solicitados


ATP-CP e LA LA-O O

Hóquei no Gelo 95 % 5% 0%

Lacrosse 80 % 20% 0%

Futebol 80 % 20% 0%

Quadro 4 - Sistemas energéticos solicitados em GR (Adaptado de Fox et al.;1991)

No guarda-redes de andebol o treino deve basear-se fundamentalmente no


trabalho da capacidade anaeróbica aláctica, ou seja, exercícios de curta duração
e alta intensidade, como saltos e deslocamentos, sendo essa a principal valência
física que permite ao atleta suportar níveis de esforço elevados sem diminuição
do rendimento. Greco (2002) refere que as actividades rápidas de potência, que
duram cerca de 6 segundos (sendo as mais frequentes nas participações dos
guarda-redes durante o jogo de andebol: em movimentos defensivos ou de
reposição rápida da bola em jogo), contam quase que exclusivamente com a
“energia imediata”. Como os fosfatos intramusculares de alta energia a fornecem
para esse exercício intenso e intermitente, são formadas apenas pequenas
quantidades de ácido láctico, e a recuperação é rápida (captação de oxigénio da
recuperação aláctica).
A capacidade aeróbica irá permitir a manutenção de um nível elevado ao
longo de todo o jogo. Dessa forma a recuperação metabólica, durante e após o

32
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

jogo é mais rápida. Isso acontecendo de forma eficiente permite ao jogador estar
apto para os treinos e jogos subsequentes num espaço de tempo ideal (Almeida,
1995, citado por Greco, 2002).
Apesar da aparente pouca utilização do sistema aeróbio pelo guarda-redes
de andebol, Greco (2002) afirma que se torna importante o seu treino a fim de:
permitir a manutenção de alto nível de velocidade de ação e reacção;
proporcionar um melhor desempenho na capacidade de recuperação entre
treinos; aumentar o desempenho físico; prevenir falhas tácticas em função da
fadiga e diminuir os erros técnicos.

5.5 Aspectos Biomecânicos

No jogo de Andebol o tempo de que o guarda – redes dispõe, desde a


partida do remate até à sua chegada à baliza é muito curto para escolher uma
técnica de defesa e a pôr em execução. Este tempo representa o tempo de
reacção que deve ser o menor possível para se tornar eficaz.
Do ponto de vista biomecânico, são três as variáveis que influenciam as
possibilidades de defesa e o movimento do guarda-redes: o tempo de reacção do
guarda-redes; a relação entre o tempo mínimo de reacção do guarda-redes e o
tempo disponível para reagir; e a amplitude de movimento necessário para
defender a bola, ou seja, a distância entre os membros do corpo e um ponto na
trajectória da bola antes de entrar na baliza. Essas últimas variáveis dependem
das seguintes características do remate do atacante: da velocidade da bola em
função da técnica de remate e da condição física do atacante; da distância do
remate; e da precisão do remate (Greco, 2002).
O tempo de reacção é definido como o tempo que decorre entre o inicio do
estimulo e o inicio da resposta solicitada Este tempo de reacção pode ser dividido
em dois tipos: 1 – Tempo de reacção simples: é o tempo que separa uma
excitação sensorial de uma resposta motriz que o atleta já conhece previamente.
Implica uma resposta simples a um estímulo já conhecido. 2 – Tempo de reacção
complexo: é uma variante do tempo de reacção que se manifesta muito na
actividade física em que a sua característica mais significativa é a variedade de

33
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

estímulos a que o atleta tem de atender, bem como às suas enormes


possibilidades de resposta. De entre uma variedade de estímulos o atleta terá de
eleger, dentro das várias respostas positivas, a mais adequada para alcançar o
máximo rendimento desportivo (Castelo, 1998).
Segundo Equisoain (2000), o tempo de reacção para guarda – redes de
Andebol é dividido em quatro partes segundo uma perspectiva pratica: (I) ver a
bola; (II) ver para onde esta se dirige e que velocidade leva; (III) necessidade de
seleccionar a reacção e como executá-la; e (IV) iniciar a execução técnica dessa
acção.
Podemos dizer que o guarda – redes passa por três fases distintas, que são:
tempo de concentração, tempo de reacção e tempo de acção. Numa primeira
fase (tempo de concentração) o guarda – redes observa atentamente os
movimentos dos rematadores e o desenvolvimento do jogo. Esta fase é bastante
importante pois a qualidade de concentração tem uma influência considerável
sobre o tempo de reacção (segunda fase), que por sua vez é o que medeia entre
o momento da percepção e o princípio da acção. Numa terceira e última fase
(tempo de acção), o guarda – redes realiza o movimento de defesa propriamente
dito. O tempo de acção é o que medeia entre o princípio da acção e o fim da
mesma. O tempo de acção desempenha um papel fundamental no trabalho
defensivo do guarda – redes. A duração do tempo de acção representa a parte
mais importante da acção de jogo do guarda – redes no Andebol moderno
(Faludi, 1987).
O limiar inferior de tempo para uma reacção complexa de escolha está em
torno de 0.3 s (Kastner et al., 1978, citado por Greco 2002). Investigações
recentes sugerem que o tempo mínimo de reacção em situações de eleição de
resposta estão à volta de 0.2 s (McLeod & Jenkins, 1991, citado por Garcia
Herrero, 2003). Baseado nas informações acima referidas (tempo de vôo da bola,
tempo do movimento do atacante, tempo de reacção e do movimento do guarda-
redes para a defesa) é possível analisar as possibilidades da defesa do guarda-
redes para remates de diferentes distâncias e com diferentes velocidades.
De acordo com o tipo de remate, o nível técnico e a condição física do
atacante, as velocidades máximas de remates variam entre 18 m.s-1 e 26 m.s-1
(65 e 94 km/h respectivamente). Porém, na média, as velocidades variam entre
15 m.s-1 e 20 m.s-1 (54 e 72 km/h). A diferença entre as velocidades máximas

34
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

das diferentes técnicas pode chegar até 20% (Muller et al., 1992, citados por
Greco 2002). A velocidade da bola depende em grande escala do movimento de
preparação. O tempo de percepção visual para um remate em apoio varia entre
0.5 e 0.9 s para jogadores masculinos de alto nível (Muller et al., 1992, citados
por Greco 2002).
Os dados acima citados possuem uma grande importância para as
possibilidades de defesa do guarda-redes, pois eles permitem o cálculo do tempo
de vôo da bola, dependendo da sua velocidade e da distância até ao guarda-
redes. O tempo de vôo da bola para um remate a uma distância de 8 metros varia
entre 0.40 e 0.65 s de acordo com a velocidade da bola.
Bolas rematadas a uma distância de 8 metros entre o ponto de soltura da
bola e o guarda-redes, que significa na prática um remate a cerca de 9 metros da
baliza, percorrem esta distância num intervalo de 0.43 s a 0.50 s para as
respectivas velocidades de soltura de 16 m/s a 21 m/s (58 e 76 km/h). O tempo
do movimento dos atacantes varia entre 0.45 s e 0.55 s, de acordo com a
alteração ou não da direcção do remate e da finta. Isso significa para o GR que o
tempo de voo da bola não é suficiente para reagir e realizar uma defesa com
sucesso. Portanto, o guarda-redes tem de dirigir sua atenção ao movimento do
atacante para antecipar a provável direcção da bola.
Apenas remates realizados a uma distância maior do que 9 metros da baliza
ou com velocidades inferiores a 15 m/s (54 km/h) poderiam ser defendidos
quando o guarda-redes reage em função da trajectória da bola no voo. Através da
antecipação, o tempo para a defesa (soma do tempo de reacção e do tempo de
ação) pode ser diminuído em até 0.15 s (Jones, 1974, citado por Greco, 2002).
Como parece lógico, o tempo de voo da bola determina o tempo de reacção
de que dispõe o guarda – redes. Este intervalo de tempo, por sua vez, depende
tanto da distancia que a bola tem de percorrer até à baliza, como da velocidade
da mesma. Assim, Czerwinski (1993) refere-se a investigações realizadas na ex-
RFA, Suécia e Dinamarca que demonstram que a velocidade da bola em remates
de jogadores de elite varia entre os 135 Km/h, para remates em salto, e os 95
Km/h para remates sem deslocamento e sem salto. Entre estes valores, ainda se
encontram as velocidades de 110 Km/h para remates em corrida e 120 Km/h para
remates em suspensão.

35
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

Noutros estudos realizados, podemos verificar que os valores modificam


ligeiramente, no entanto andam muito próximos uns dos outros. Por exemplo,
numa investigação realizada por Pokrajac (1980), citado por Párraga et al. (2001),
verificamos que os jogadores rematam em salto a uma velocidade entre os 76
Km/h e 90 Km/h. Num estudo realizado por Zeier (1987), a velocidade de remate
desde os 8 metros varia entre 73 Km/h e 80 Km/h; dados muito semelhantes aos
obtidos por Muller (1980), Mikkelsen & Olesen (1976). Na investigação realizada
por Párraga et al. (2001), os valores máximos da velocidade da bola que se
obtêm são de 74 Km/h em remates desde os 9 metros.
Em qualquer dos casos citados anteriormente, a velocidade da bola
determinará o intervalo de tempo de que dispõe o guarda – redes para interceptar
a bola, de tal forma que se esse intervalo de tempo for excessivamente reduzido,
o guarda – redes deverá iniciar o seu movimento antes, antecipando-se assim ao
remate. Posto isto, quando um guarda – redes pretende deter um remate, tem de
considerar o tempo de reacção ao estímulo e o tempo de movimento para realizar
a sua resposta. No entanto, na maioria dos casos, a suma destes valores supera
o tempo de voo da bola, o que nos leva a concluir que para o guarda – redes
interceptar a bola tem, inevitavelmente, que antecipar-se ao remate.

Proveniência dos Velocidade da Tempo até Tempo de


remates bola chegar à baliza reacção
Linha da área de
baliza (6 m) 4m 60 Km/h 0,24 seg. 0,39 seg.
Meia distância
Distância de remate 100 Km/h 0,29 seg. 0,39 seg.
(8 m) (jogador possante)

Meia distância
Distância de remate 80 Km/h 0,36 seg. 0,39 seg.
(8 m)

Quadro 5 - Tempos de reacção e velocidades da bola (Zeier, 1987)

36
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

Como se pode verificar a partir da análise do quadro anterior, existem


remates com determinadas características, que se apresentam como
praticamente impossíveis de serem defendidos por parte do guarda – redes. Este
não tem possibilidades nenhumas de reagir apenas em função da trajectória da
bola, por isso, deverá observar todos os movimentos e trajectórias dos jogadores
adversários reagindo assim na base da antecipação.
Segundo Sage (1977), o tempo de reacção mais rápido encontra-se à volta
dos 170 milésimos de segundo, ao que se soma ainda o tempo que demora o
guarda – redes a realizar a sua resposta motora. Considerando que um remate a
90 Km/h desde a linha dos 6 metros demora a chegar à baliza 240 milésimos de
segundo, o guarda – redes nunca pode deter a bola se espera que a mesma saia
da mão do rematador. Desta forma, a antecipação parece ser um dos recursos ao
alcance do guarda – redes para conseguir alcançar êxito nas suas acções.
Se analisar-mos um remate de longa distancia (9 - 10 metros) verificamos
que nestes remates o guarda – redes dispõe de maior tempo para realizar a sua
intervenção, comparando com remates realizados a distâncias mais curtas, o que
pressupõe maior vantagem para o guarda – redes em relação ao rematador.
Neste caso, devemos considerar como parâmetro de eficácia, que o tempo que a
bola demora a chegar à baliza após sair da mão do rematador, deve ser inferior
ou não muito superior ao tempo de reacção (tempo que decorre desde que se
produz uma estimulação, aparecimento do estimulo, até ao inicio do movimento)
mais o tempo de movimento (tempo desde o inicio até ao fim da resposta
motora).
Várias investigações foram feitas relativamente ao estudo da velocidade de
saída da bola. Entre elas destaca-se a realizada por Pokrajac (1980), citado por
Párraga et al. (2001), em que analisou o tempo que demora a bola a chegar à
baliza desde que sai da mão do rematador. Os dados obtidos oscilam entre 0,36
e 0,51 segundos para remates realizados a 10 metros de distância, e para
remates dos 9 metros os dados oscilam entre 0,32 e 0,46 segundos. Bayer
(1987), num estudo similar, obteve valores (para remates entre os 100 Km/h e os
60 Km/h) que variam entre 0,40 e 0,60 segundos para remates desde os 10
metros, que variam entre 0,36 e 0,54 segundos para remates de 9 metros e que
variam entre os 0,28 e os 0,42 segundos para remates dos 7 metros.

37
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

Neste caso, se sabemos o tempo que a bola demora a chegar à baliza, é


também necessário conhecer o tempo mínimo que o guarda – redes necessita
para uma intervenção eficaz. Segundo esta linha de estudo, Zeier (1987), faz
referência a estudos em que se analisa o tempo de reacção do guarda – redes,
onde os valores obtidos oscilam entre 0,57, 0,49 e 0,39 segundos. Pokrajac
(1980), em estudos similares obteve valores entre 0,63 e 0,69 segundos, tendo
em conta que neste caso, os valores expressam o resultado total da soma do
tempo de reacção com o tempo de movimento.
Para Abernethy (1991) e Willians et al. (1993), citados por García Herrero et
al. (2003), alcançar níveis elevados de rendimento implica manifestar execuções
precisas de movimentos e igualmente, possuir uma destreza perceptiva óptima.
No caso do guarda – redes de Andebol, esta percepção que o mesmo deve
possuir assume-se como um ponto fulcral na sua eficácia de defesa. O
comportamento eficaz do guarda – redes deve passar, inevitavelmente, por
antecipar-se ao movimento de remate.

38
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

6 TÉCNICO-TÁCTICA

6.1 Importância da Técnica

A técnica desportiva e o seu grau de domínio representam um componente


de enorme importância dentro da estrutura de rendimento dos Jogos Desportivos
Colectivos (JDC) (Lago & Lopez, 2001).
Considera-se técnica desportiva, os processos desenvolvidos, geralmente
pela prática, para resolver determinado problema motor da forma mais racional e
económica. A técnica de uma modalidade desportiva corresponde a um certo tipo
de motor ideal que, mesmo conservando as suas características motoras, pode
sofrer uma modificação que corresponde aos dados individuais (Weineck, 1986).
A técnica confere mais economia aos movimentos, maior precisão e êxito dos
mesmos (Weineck, 1986; Zeier, 1987). Nos jogos desportivos colectivos, as
técnicas não se restringem a movimentos específicos, constituem acções
motoras, formas de expressão do comportamento, realizadas no sentido de
solucionar os problemas que as várias situações de jogo colocam ao praticante
(Garganta, 1997). É um conceito que se encontra associado à eficiência, ou seja,
à forma correcta de realizar uma acção (Alvarez, 2004).
A formação do guarda – redes requer o domínio de uma técnica defensiva
específica do seu posto (para evitar o golo, como último defensor), bem como de
determinadas técnicas básicas de jogador de campo (para iniciar o ataque, como
primeiro atacante) (Iriarte, 1991).
Nitsh & al. (2002) salientam que a técnica de Guarda – redes corresponde
ao domínio de uma estrutura básica, promovendo a adequação a situações de
acção variáveis, parcialmente difíceis ou não antecipáveis, elegendo com rapidez,
entre as várias técnicas basicamente aplicáveis, a variante (técnica) mais
apropriada para dominar a situação de forma rápida e óptima.
Zeier (1987) refere a importância do guarda – redes utilizar uma técnica
específica, embora admita que muitos guarda – redes, apesar de apresentarem

39
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

uma técnica rudimentar conseguem ter êxito nas suas acções. Apesar disto, ele
indica três razões que justificam a aquisição de uma certa técnica:
1 – Uma determinada técnica permite reduzir o número de resoluções que
um guarda – redes tem de tomar num curto espaço de tempo. Assim, depois o
guarda – redes só terá de escolher entre as técnicas, tirando assim uma
vantagem essencialmente temporal.
2 – A técnica do guarda – redes pode ajustar-se perfeitamente as
capacidades físicas e características anatómicas individuais.
3 – Só quando se sabe quais movimentos e em que altura se devem
aplicar, é que se consegue automatiza-los e ser mais rápido. Onde não existe
técnica de movimento não há automatização.
Spate (1993) considera que não existe uma técnica normalizada de base. A
melhor técnica para um guarda – redes é a que for mais eficiente, dependendo
sempre da sua constituição somática e condição física (Hecker & Thiel, 1993;
Olsson, 2000; Spate, 1993). O guarda – redes escolhe um modelo de técnica de
base, a qual é corrigida e aperfeiçoada ao longo da vida, tendo em conta a sua
experiência, a evolução da modalidade e a técnica de remate dos adversários.
A técnica permite realmente uma preparação mais preciosa e efectiva nos
exercícios que se realizam em jogo, mas não se deve dar demasiada importância
à função da mesma porque só uma base sólida de preparação física e
motivações das capacidades darão vantagens. Através da técnica, os outros
factores exigidos podem ser optimamente desenvolvidos (Zeier, 1987).
Oliveira (1996) ao observar os melhores guarda – redes portugueses
chegou à conclusão que não existe uma técnica ideal, pois cada uma apresenta
particularidades individuais nas suas defesas.
Riviére (1989) sugere uma divisão faseada dos diferentes momentos que
compõe o processo global de defesa do guarda – redes:
1 – Inicio da atenção preparatória, composta pelo deslocamento e atitude,
onde aparecem os primeiros elementos da previsão do remate;
2 – Segue-se a pré-defesa, que se caracteriza por uma posição de tensão
correspondente à atenção ao remate iminente. Esta fase é influenciada pela
experiência, observação dos jogadores adversários (conhecimento) e pela acção
examinada;

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O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

3 – Por último, a defesa propriamente dita (paragem) que se desenrola em


dois tempos: (I) o final da pré-defesa (onde o guarda – redes ainda pode alterar o
sentido da defesa ou manter o que tinha estipulado); (II) e a reacção terminal (a
decisão tomada, momento em que o gesto já não pode ser alterado).
Por sua vez Greco (2002) afirma que é necessário adoptar uma técnica
definida e específica para poder ter o efeito adequado às exigências do jogo. A
técnica do GR divide-se em defensiva e ofensiva. Nas acções defensivas o GR
deve interceptar ou cortar a trajectória da bola, nas acções ofensivas deve depois
de controlá-la realizar o passe aos seus companheiros com qualidade e precisão,
para poder iniciar ataques com êxito, garantindo um contra ataque rápido e
efectivo para sua equipa.
Os guarda-redes de classe mundial demonstram que a criatividade, a
intuição, a posição e um reportório de movimentos, são as qualidades que
definem um bom guarda – redes (Spate, 1994).

6.2 Importância da Táctica

A táctica segundo Sánchez (2002) está relacionada com a execução de um


gesto técnico adequado, num momento oportuno, de forma a se conseguir um
objectivo concreto. Esta acção deverá ser realizada em função das condutas dos
adversários, dos nossos companheiros de equipa e naturalmente da bola. Para
tal a noção e domínio de espaço e tempo, associados a questões perceptivas,
antecipativas e sensoriais são determinantes quanto à análise da situação,
tratamento da informação e selecção adequada de uma resposta motora eficaz.
Como refere Espar (1998), táctica individual é a utilização inteligente da técnica,
isto é, em determinado momento utilizar o gesto técnico apropriado, escolhido
dentro do seu reportório gestual.
Ribeiro (2002) salienta que o guarda-redes deverá possuir uma elevada
inteligência táctica, sendo esta qualidade inseparável de uma alta eficácia
competitiva. Este autor considera que a componente táctica está relacionada com
factores como o conhecimento dos hábitos dos adversários, capacidade de

41
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

“leitura” ou percepção dos remates, comunicação com os colegas de equipa, e


realização de fintas. Também Sanchez (2000) aponta como possibilidades de
táctica a colaboração defesa/GR, a memorização dos locais de remate e a
realização de fintas.
A colaboração com os companheiros de defesa, definindo previamente uma
divisão de tarefas, de forma a limitar a trajectória das bolas a determinadas zonas
da baliza é, entre a literatura, a componente táctica a que é dada maior
importância (Antón; 1994, Czerwinski, 1993; Faludi, 1987; Rivière, 1989), parece
também que é também sobrevalorizada em relação aos restantes aspectos
tácticos do guarda-redes durante o seu trabalho semanal. Importa salientar
relativamente à colaboração defesa/ guarda-redes que é consensual que a
defesa deve ser orientada pelo guarda-redes, surgindo aqui o factor da
comunicação com os colegas contribuindo para a organização defensiva, pois é o
guarda-redes que possui melhor campo visual e mais centrado relativamente ao
sistema defensivo, podendo observar as manobras do ataque, prever os “perigos”
e antecipar-se a eles (Antón, 1994). É também o guarda-redes que se deve
adaptar à acção do defensor e não o contrário porque o primeiro tem maior
experiência e conhecimento da situação específica (Czerwinski, 1993, Olsson,
2000).
Olsson (2004) pressupõe dois tipos de táctica para o guarda-redes,
individual e colectiva. Individual quando o objectivo é a luta individual com o
rematador, situações em que não pode contar com nenhuma ajuda directa dos
defensores no momento do remate. Colectiva quando pode esperar qualquer tipo
de ajuda dos defensores tendo de ler a situação e tenta tirar vantagem da ajuda
que os defensores lhe possam dar. Estas divisões são corroboradas por Riera
(1995), que aponta a táctica individual como constituindo a essência dos
desportos de oposição sem colaboração, de 1x1, em que a cada momento o
jogador interactua com situações de oposição específicas, valora as suas
alternativas e realiza a acção técnica que considera mais adequada. Pressupõe a
táctica colectiva presente apenas nos desportos de oposição e colaboração,
situações de nxn, em que em cada instante o jogador tem de analisar a situação
dos adversários, da bola e dos companheiros de equipa.
Olsson (2004) diz mesmo que se o guarda-redes tem capacidade táctica,
conhecimento e habilidade para ler os movimentos dos atacantes e dos

42
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

defensores, tem maiores probabilidades de estar na posição certa, no momento


certo e de realizar a defesa com êxito.
Um guarda-redes sensacional sabe ler o jogo e consegue prever as
situações de finalização podendo por isso antecipar algumas soluções; conhece
as possibilidades de remate que o jogador tem, sabe as combinações tácticas
existentes, domina os tipos de remate, as diferentes colocações da mão que
pega a bola e que tipo de remate podem surgir a partir daí. Para tal o guarda-
redes tem que seguir com atenção o treino táctico da sua própria equipa para
poder prever as soluções do adversário (Olsson, 2000).
Guzmán (2002), em estudo realizado conclui que a táctica mostra ser o
aspecto mais valorado para o êxito da antecipação defensiva.

6.3 Posição Base

A posição base constitui o ponto de partida para todos os deslocamentos e


acções defensivas do GR (Czerwinski, 1993), contribuindo dessa forma para
manter todas as capacidades para se deslocar correctamente (Hecker & Thiel,
1993).
É a posição que deve adoptar para cumprir o princípio da disposição para
intervir na acção posterior com maior rapidez Fernández et al. (1999), esta deve
ser equilibrada e cómoda (Bárcenas, 1976; Espar, 2001)
O conceito de posição base, deve ser entendido como “o gesto ou forma de
predispor para intervir nas acções futuras” (Falkowski & Enriquez, 1979), é uma
postura antecipada a partir da qual o guarda-redes entra em acção.
O guarda – redes deve adoptar uma posição base que lhe possibilite realizar
todos os movimentos de defesa no menor tempo possível e nas melhores
condições (Martini, 1980)
A literatura sugere uma sequência de movimentos e considera que, a partir
desta posição pronta para o movimento, o guarda – redes pode executar
rapidamente e com segurança os movimentos para a defesa da bola:

43
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

- pés paralelos (Greco, 2002; Latiskevits, 1991, Trosse, 1993), afastados à


largura dos ombros (Bárcenas & Román, 1991; Greco, 2002; Martini, 1980,
Ribeiro, 2002), ou mais afastados que a largura dos ombros (Trosse, 1993).
- joelhos ligeiramente flectidos (Bárcenas & Román, 1991; Martini, 1980,
Ribeiro, 2002; Stein & Federhoff, 1981), entre 165º – 170º (Latiskevits, 1991), ou
baixar o centro de gravidade (Olsson, 2000);
- pés totalmente apoiados no solo (Bárcenas & Román, 1991; Bayer, 1987;
Greco, 2002; Ribeiro, 2002) ou com os calcanhares um pouco levantados
(Latiskevits, 1991; Olsson, 2000);
- peso do corpo dividido igualmente pelas duas pernas (Bárcenas & Román,
1991; Greco, 2002; Martini, 1980, Ribeiro, 2002, Stein & Federhoff, 1981; Trosse,
1993);
- tronco é um pouco inclinado para a frente (Bárcenas & Román, 1991;
Greco, 2002; Latiskevits, 1991; Martini, 1980);
- orientação frontal ao portador da bola, com total controlo do campo visual
da mesma, olhos na trajectória da bola (Bárcenas & Román, 1991; Greco, 2002;
Martini, 1980);
- braços são levantados lateralmente e ligeiramente flectidos (Bárcenas &
Román, 1991; Martini, 1980; Ribeiro, 2002), os cotovelos flectidos formando um
ângulo de 90º entre o braço e antebraço, as palmas das mãos viradas para a
frente (Latiskevits, 1991), na posição do pugilista, à frente do peito, no campo
visual do guarda-redes, com os dedos ligeiramente flectido, permite que os
deslocamentos sejam feitos sem perda de equilíbrio, tendo as mãos à mesma
distância das intervenções para cima ou para baixo (Olsson, 2000), ou podendo
também estar relaxados (Martini, 1980).
- tensão muscular (Ribeiro, 2002).
Bárcenas & Román (1991) concordam que o guarda – redes deve assumir
uma posição base, que lhe permita actuar na base da antecipação. Deste modo é
recomendável adquirir uma posição que seja eficaz desde o princípio, oferecendo
possibilidades de intervenção imediata e evitando qualquer tipo de vantagem do
atacante.
A exigência de uma atitude dinâmica e urna ligeira tensão muscular, deverá
ser alternada com estados de relaxação, de tal forma, que não venha a conduzir
a estados de fadiga precoce (Ribeiro, 2002).

44
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

6.4 Colocação

A colocação do guarda – redes passa pela procura da melhor posição


estratégica sobre o eixo do portador da bola e o meio da baliza (Gallet, 1995).
Um bom jogo posicional, encontra-se intimamente relacionado com a sua
colocação no momento do remate para, desta forma, diminuir o ângulo do mesmo
(Czerwinski, 1993). Está dependente do local onde se encontra a bola, pelo que
deve centrar a sua atenção na zona onde se encontra o oponente na posse desta
(Bárcenas & Román, 1991).
Durante o processo ofensivo os atacantes circulam a bola em distintas
direcções e o remate à baliza pode efectuar-se desde qualquer posição, o que
complica a tarefa do guarda – redes. Este, tendo em conta as possíveis acções
do adversário, desloca-se constantemente na baliza e elege um local que lhe
permita estar sempre disposto a defender um remate (Latiskevits, 1991).
Pagés (2003) refere que a colocação é determinante para que a defesa
possa efectuar-se nas melhores condições possíveis. Talvez o mais importante
quando se fala acerca de boa táctica de defesa seja saber como encontrar a
colocação correcta na baliza antes de entrar em acção e realizar a defesa
(Olsson, 2003)
Assim, fica claro que a eleição de uma posição na baliza é determinada pela
situação de jogo. Outro dos factores importantes, associado à posição que o
guarda – redes assume, é a sua relação com a baliza, ou seja, a distancia que se
coloca em relação à linha de baliza.
Bárcenas & Román (1991) sugerem que, em qualquer caso, a posição do
guarda – redes em relação à linha de baliza deve formar-se para reduzir o ângulo
de remate. A distância com a linha de baliza onde se deve colocar o guarda –
redes depende do local onde se encontra a bola, propondo colocações entre os
0,5 e 1 metro avançado em relação à linha de baliza. Estes autores referem que
as características somáticas do guarda – redes permitem diminuir ou ampliar as
distâncias indicadas com a linha de baliza. Ao ampliar a profundidade realizando
um deslocamento para a frente, o guarda – redes diminui o ângulo de remate

45
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

(mais indicado para remates de 2ª linha). Por outro lado, ao reduzir a


profundidade, deslocando-se para trás, o guarda – redes favorece a velocidade
de reacção e de movimentos
Greco (2002) preconiza a saída do guarda-redes em função do local de
remate, assim para remates da zona central deve avançar até 1,5 metros, da
zona lateral até 1 metro, de ponta até 0.5 metros e nos remates de 7 metros entre
1 a 4 metros. E Trosse (1993) propõe avançar entre 0,30 e 0,70 metros.
Mariot (1995) sugere que “a posição mais avançada reduz a duração dos
deslocamentos laterais que o guarda-redes terá de efectuar em relação à
trajectória da bola”, deverá ser aquela que além de ver reduzida a necessidade
de grandes deslocamentos laterais permitirá ter ao alcance do guarda-redes
todas as trajectórias de remate para golo. A variável “avanço” reduz os
deslocamentos laterais de defesa incrementando a taxa de sucesso.
A colocação tem muita importância, sobretudo nos casos em que, devido à
reduzida distância de remate (6 metros), uma reacção por eleição é praticamente
impossível. Um guarda – redes experiente tem em conta o jogo posicional, bem
como a ajuda e trabalho com os seus defensores. Segundo estes factores, o
guarda – redes coloca-se numa determinada posição que depende também da
posição do braço que tem a bola, a fim de diminuir o ângulo de remate, para
poder ter assim uma maior possibilidade de êxito (Czerwinski, 1993).
Latiskevits (1991), diz que durante um ataque, o atacante pode escolher, de
entre muitas opções, o local para onde enviar o seu remate, implicando assim,
uma grande complexidade de acções por parte do guarda – redes. Para entrar
em “confronto” com os atacantes, o guarda – redes deve, antes de mais,
determinar uma posição de partida na baliza e ocupar uma posição óptima para
efectuar as suas acções defensivas.
A escolha da posição mais correcta na baliza depende da situação de jogo
num determinado momento, ou seja, a escolha da posição por parte do guarda –
redes depende da distância e do ângulo onde se encontra o atacante com bola e
também, em certa parte, da posição dos defensores da sua equipa.
O ângulo a partir do qual se pode realizar um remate é aquele formado por
duas linhas imaginárias que vão desde o lugar de remate até aos postes da
baliza. Este ângulo pode variar consoante a posição do jogador com bola em
relação à baliza, ou seja, quanto mais o jogador se aproximar do eixo longitudinal

46
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

da baliza, menor será o ângulo de remate. Este factor dificulta as possibilidades


do atacante marcar golo, pois quanto menor for o ângulo de remate, menor será o
campo de defesa para o guarda – redes e por consequência maior será a
possibilidade de eficácia por parte do mesmo.
No entanto não é assim tão fácil e linear a escolha da posição mais correcta
por parte do guarda – redes, daí ser pertinente colocar a seguinte questão: de
que posição inicial tomada pelo guarda – redes se pode defender a baliza de
forma mais eficaz, ou seja, executar as acções defensivas com maior rapidez e
amplitude?
A literatura da especialidade (Barcenas & Roman, 1991; Bayer, 1987;
Fernandez et al., 1999; Oliveira, 1998; Trosse, 1993; Zeier, 1987) refere que o
guarda-redes se situa por princípio na bissectriz formada pela bola e os postes da
baliza. A posição exacta donde a linha que une o poste mais próximo forma um
ângulo recto com a mesma, quando se adopta esta posição deve-se ter em conta
o rematador e o seu braço de remate.

6.5 Deslocamentos

“ O guarda-redes deve situar-se constantemente sobre a bola, o que implica


uma técnica de deslocamentos específica” (Hecker &Thiel, 1993).
Tem de se mover em deslocamentos que garantam o máximo de equilíbrio e
que permitam actuar o mais rápido possível em qualquer direcção da baliza,
mantendo sempre uma posição corporal equilibrada (Bayer, 1987; Espar, 2001)
Os deslocamentos, efectuam-se em simultâneo que as circulações tácticas
dos atacantes, mas sobretudo da bola. São preparatórios à acção de colocação
ao momento em que o potencial rematador entre em posse de bola. São
acompanhados duma actividade perceptiva de decifração dos possíveis
rematadores, dos locais e das condições de oposição aos remates (Pagés, 2003)
Ribeiro (2002) diz que são realizados de poste a poste, e como princípio
básico, deverão realizar-se sobre uma trajectória curvilínea, que não deve
afastar-se, teoricamente, mais de 1 metro do centro geométrico da linha de

47
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

baliza. Os pés deverão manter-se sempre em contacto com o solo, nunca se


cruzando ("passes caçados"). Segundo Bayer (1987) deve voltar a colocar
rapidamente os dois apoios no solo a fim de actuar de novo, ou seja, diminuir ao
máximo o tempo de suspensão, deslocando em primeiro lugar o pé do lado da
direcção para o se quer ir. No que diz respeito aos deslocamentos frontais, na
direcção do rematador, deverão também realizar-se em passos curtos.
Estão determinados em função da situação e da atitude do jogador atacante.
Os específicos são curtos, rápidos e deslizantes, com a finalidade de estar em
posição de base o maior tempo possível. Poderão ser executados com os pés em
movimentos alternados ou simultâneos, de forma semi-circular e frontalmente
para frente e para trás, para obter a situação óptima de intervenção. O raio da
trajectória é definido em função de qualidades antropométricas. O guarda-redes
desloca-se procurando anteceder aos movimentos e estabilizar-se antes do
remate, avaliando as possibilidades do ataque, a posição do atacante segundo
seu sector de eficácia, a qualidade do seu remate, a situação da defesa para
reposição de bola e contra-ataque (Greco, 2002).
Os deslocamentos não podem ser iguais para todos os guarda-redes pois
estão intimamente ligados às características físicas e antropométricas de cada
um, devendo ser realizados de forma rápida e sem perder em nenhum momento
a vista aos elementos fundamentais do jogo (Pereira, 1997).

6.6 Pré-defesa

A pré-defesa traduz-se no momento em que o guarda – redes regressa ao


equilíbrio após o deslocamento na baliza. Este momento serve para se opor ou
enganar o adversário (Gallet, 1995).
A defesa propriamente dita ao remate do adversário é condicionada por um
período preparatório. Os deslocamentos atentos do guarda – redes na baliza
decorrem de uma actividade mental que preparam a acção. O guarda – redes
tem a percepção da aproximação do remate, começando então a verdadeira pré-
defesa. O guarda – redes joga em função da análise da situação, ou seja, trava

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O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

um duelo mental com o adversário no sentido de jogar na antecipação (Riviére,


1989).
A partir da colocação o guarda-redes adopta uma posição de pré-defesa
para prevenir todas as tentativas de aceleração do rematador (Pagés, 2003). Esta
é acompanhada duma actividade perceptiva centrada na postura do rematador e
na bola.
Para Constantini (s/d) é neste momento que o guarda-redes analisa as suas
probabilidades: com tempo para observar, decide se realiza finte ou investe na
acção de defesa; sem tempo e sem espaço ocupa o maior espaço possível
diminuindo os ângulos; sem tempo e com espaço ataca o rematador para “abafar”
o remate.
Neste momento designado de pré-defesa, o guarda – redes entra em
equilíbrio, prepara-se para a acção, analisa a situação e opta pelo gesto ou
técnica mais apropriada. Nesta análise a experiência é um factor preponderante,
pois através do conhecimento que dispõe do adversário, da colocação da bola,
do local de remate e do gesto do rematador, avalia a trajectória mais provável da
bola. Assim, o guarda – redes age na base da antecipação e das probabilidades,
o que lhe permite prever a sua acção motriz e, eventualmente, alcançar uma
melhor eficácia (Oliveira, 1996).

6.7 Fintas

As fintas são o processo comum de conduzir os movimentos do adversário


numa direcção errada, desviando-o da verdadeira acção de jogo prevista (Stein &
Federhoff, 1981).
Nem sempre o guarda-redes deve esperar tranquilo ou passivo as possíveis
acções dos adversários. Poderá provocar determinada direcção do remate do
jogador adversário, escolher o ângulo, eleger a altura através da utilização de
fintas. É muito provável a obtenção do êxito se utiliza estas fintas. Estas
armadilhas, simulando acções e atitudes induzindo ao remate para provocar erros
do atacante, não devem ser realizadas com demasiada antecipação. A finta será

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O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

táctica e tecnicamente perfeita quando se obtém depois do movimento de


engano, condição de voltar à posição inicial correcta e a partir daí reagir (Greco,
2002)
Desse modo Espar (2001) diz que sempre que o rematador tem iniciativa de
remate o guarda-redes pode utilizar uma série de recursos para provocar esta
iniciativa e minimizar a incerteza da localização do remate.
As situações mais habituais de utilização são aquelas em que o rematador
se encontra praticamente só diante do guarda-redes e dispõe de uma maior
variedade de remates, para qualquer dos ângulos (os remates de contra-ataque,
da ponta ou de Pivot).
A primeira opção que o guarda-redes tem é posicional. Pode-se colocar
deliberadamente de forma descentrada oferecendo, numa parte da baliza, um
maior espaço livre. No momento que o jogador atacante efectua o remate
desloca-se rapidamente naquela direcção, tendo que adivinhar apenas a altura
do remate (Espar, 2001; Falkowski &Henriquez, 1979; Greco, 2002; Hecker &
Thiel, 1993).
Uma variante a esta situação é a de realizar um deslocamento rápido para
um lado, quando o jogador efectua o salto e em continuação ir tapar o espaço
oferecido (Espar, 2001; Falkowski & Enriquez, 1979; Greco, 2002, Hecker &
Thiel, 1993).
Outra forma de tentar minimizar a incerteza é através da posição dos
segmentos corporais, oferecendo pequenos espaços ao rematador (entre as
pernas, por debaixo delas, por cima da cabeça …) e tapando esse espaço por
onde intui que irá a bola. (Espar, 2001; Falkowski & Enriquez, 1979; Greco, 2002;
Hecker & Thiel, 1993, Stein & Federhoff, 1981). Essa solução só se pode realizar
em situações de menor ângulo de remate (exemplo das pontas) ou de
necessidade de velocidade de execução (quando em queda de pivot) (Espar,
2001)
A definição do pé de apoio e consequente defesa nesse local é proposta por
Greco (2002), e provocar, com saídas exageradas, o remate parabólico
(“chapéu”) é sugerido por (Hecker & Thiel, 1993).
Falkowski & Enriquez (1979) assinalam que devem ser utilizadas de forma
repetitiva e o movimento de defesa só deve ser realizado após a bola sair da mão
do rematador evitando que este rectifique a trajectória do remate.

50
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

Manobras de diversão é também o significado atribuído por Hecker & Thiel


(1993) às fintas, que consideram que o guarda-redes tem de ser sempre
imprevisível. Não deve reagir aos remates, mas sim influenciar os processos de
remate (agir em vez de reagir).

6.8 Observação

No jogo de Andebol, os jogadores executam, de forma cada vez mais rápida,


uma quantidade elevada, bem como uma grande variedade de comportamentos
técnico-tácticos individuais e colectivos (Spate, 1992, citado por Fonseca, 1999).
Além de permitir conhecer melhor a modalidade, a análise dos comportamentos
técnico-tácticos permite aprofundar a concepção de jogo, regular o treino,
promover o nível dos praticantes e do jogo, bem como melhorar a preparação das
competições (Ivanescu, 1988; Sánchez, 1991; Oliveira, 1993, citados por
Fonseca, 1999).
Parece evidente que só a partir do conhecimento aprofundado das
características da competição se poderá evoluir para níveis mais elevados da
performance desportiva (Brackenridge & Alderson, 1985; Borges, 1996, citados
por Leitão, 1998).
No caso específico do guarda-redes sugere-se que a observação se centre
em dois momentos:
- Pré competitivo, onde se analisa os adversários, tipo de remate, local de
remate, trajectória do mesmo e relação com a linha de corrida, etc. Entende-se
que o desempenho do guarda-redes não é determinado apenas, pelo treino de
técnicas de defesa de diversos tipos de remate, o conhecimento prévio das
características dos jogadores adversários, são informações de vital importância
para o guarda-redes que os poderá auxiliar na actuação em jogo (Greco, 2002).
O conhecimento prévio das formas e localização preferidas de cada rematador
constituem uma ajuda preciosa.

51
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

- Competitivo, onde se analisa os movimentos do braço de remate, o tronco,


a trajectória do jogador, o tipo de oposição, e todos os pormenores que possam
indicar uma eventual colocação ou tipo de remate, e assim antecipar o gesto de
defesa (Czerwinski, 1993; Greco, 2002; Hecker & Thiel, 1993).
Segundo Pascual (2004) o guarda-redes tem de gerir grande quantidade de
informação (estímulos) que pode receber, e dela depende o seu rendimento
eficaz no jogo. Além de ver um remate deve também interpretá-lo apoiando-se na
sua experiência anterior
A escolha da colocação e a técnica de defesa estão directamente
relacionadas com a observação realizada (Greco, 2002).

6.9 Colaboração com a defesa

O principal responsável pela defesa da baliza é o guarda-redes. Embora este


facto seja inquestionável, não é menos certo que o rendimento da sua actividade
depende em grande medida do melhor ou pior funcionamento do sistema
defensivo da equipa e da colaboração que lhe prestam os defensores, tapando
zonas ou ângulos da baliza e trajectórias de remate. Por isso é preciso entender a
defesa como uma unidade, cuja colaboração mútua se dá continuamente e em
ambos os sentidos (Antón, 2002).
Também para Martinez (2004), a defesa da baliza tem como responsável
último o guarda-redes, no entanto, essa responsabilidade perante um remate tem
de ser compartilhada com os restantes defensores. A colaboração táctica entre
defensor e guarda-redes implica uma partilha de responsabilidades entre ambos
face ao atacante que efectua um remate.
Hecker & Thiel (1993) referem mesmo que as regras de coordenação entre
defensor e guarda-redes são indispensáveis.
A homogeneidade do sistema defensivo de qualquer equipa reside na boa
coordenação entre os defensores e o guarda – redes, e no nível de implicação
que cada jogador tem no colectivo (Antón, 2002).

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O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

Segundo Olsson (2004) os guarda – redes podem esperar algum tipo de


ajuda dos defensores e ”ler” a situação tentando tirar vantagem da ajuda que os
defensores lhe possam fornecer. Antón (2002) refere ainda que através da
colaboração os defensores e os guarda-redes tentam reduzir as suas próprias
incertezas relativamente aos remates adversários.
Quando os autores se referem ao treino táctico dos guarda-redes
consideram claramente o tipo de relação / colaboração deste com os seus
companheiros de defesa. O trabalho táctico deve estar previamente definido, com
uma divisão criteriosa de tarefas, de forma a limitar a trajectória da bola a
determinadas zonas da baliza. Tal situação permite ao guarda-redes preocupar-
se predominantemente com uma zona da baliza, podendo daí obter uma maior
eficácia nas suas acções (Riviére, 1989).
Opinião corroborada por Greco (2002), que afirma ser necessária
colaboração da defesa com o guarda-redes para facilitar a intervenção deste e
assim limitar o espaço para o adversário rematar. Nesta acção táctica o guarda-
redes deve posicionar-se de acordo com o espaço que o companheiro da defesa
deixou aberto e onde provavelmente o adversário irá rematar.
O rendimento da actividade do guarda-redes depende em grande parte do
melhor ou pior funcionamento do sistema defensivo da sua equipa e da
colaboração que os defensores lhe prestam, tapando zonas e/ou ângulos da
baliza e trajectórias de remate dos atacantes. Daí, podemos afirmar que a relação
existente entre a defesa e o guarda – redes é extremamente importante para os
níveis de eficácia do mesmo (Antón, 2002).
Segundo este autor existem diversos estudos que comprovam não ser
possível com o tempo de reacção dos melhores guarda-redes defender
determinados remates. Refere ainda que a defesa só será possível se ao tempo
total de intervenção (soma do tempo de escolha e tempo de resposta ou de
movimento), se eliminar o tempo de escolha. Não é real esta eliminação, no
entanto esta realiza-se antecipadamente ao momento de remate, derivada dos
indícios que o guarda-redes recebe do rematador (trajectória prévia, orientação do
remador, campo visual prévio e colocação do braço) e especialmente por parte do
companheiro defensor (situação espacial, bloco e pressão defensiva).

53
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

Então o guarda-redes e os defensores devem ter um conhecimento claro das


opções tácticas dos seus oponentes, só assim podem antecipar o resultado e
posicionarem-se eles mesmo de forma coordenada (Constantini, 2003).
O guarda-redes não é o único a evitar que a bola entre na baliza, é entre ele
e os defensores que deve existir uma estreita colaboração para actuar
eficazmente. Deve realizar-se uma divisão de responsabilidades em função das
diferentes situações, pelo que todos os componentes da equipa devem procurar
cumprir com os seus deveres defensivos e se for necessário estar predispostos a
colaborar com os companheiros mais próximos corrigindo uma situação
comprometida (Falkowski & Enriquez, 1979)
Martinez (2004) assume que o guarda–redes é responsável por toda a
baliza, mas com tendência a cobrir uma zona (direita ou esquerda) em função da
intervenção do defensor. Este deve tentar dificultar o remate e obrigar o
rematador a efectuar o remate para determinadas zonas da baliza de modo a
facilitar o trabalho do guarda – redes.
Antón (2002) refere que a colaboração defesa/guarda-redes é um meio
táctico que se treina pouco no Andebol. Afirma que em quase todas as
referências da literatura existe referencia e se repetem três ou quatro aspectos
básicos que devem ser considerados para determinar que ângulo corresponde a
cada protagonista: o defensor oponente directo nesse momento do rematador ou
o guarda-redes. Não têm, no entanto, em conta múltiplas circunstâncias que
podem acontecer no momento do remate, portanto, a análise sobre o conceito e a
teoria resultante é bastante pobre.
Ainda segundo este autor a colaboração defesa / guarda – redes na
distribuição dos ângulos de remate, está baseada em resultado de várias
investigações realizadas, e como consequência, no conceito de que o defensor ou
defensores constituem uma barreira perante os rematadores reduzindo com isso
as trajectórias de remate, orientando os mesmos para determinadas zonas ou
ângulos de remate mais acessíveis para o guarda – redes. O defensor em geral, e
o guarda – redes em particular, actuam como modelos probabilísticos subjectivos
baseados em indícios significativos da situação de jogo, tentando reduzir as suas
próprias incertezas, cumprindo assim o princípio geral da táctica individual. Em
razão deste facto, o objectivo geral deste meio táctico será reduzir a eficácia dos

54
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

remates da equipa adversária, distribuindo de forma equilibrada os espaços livres


e as trajectórias possíveis do remate.
O conceito global mais frequente de colaboração da defesa com o guarda–
redes diz respeito às acções de bloco realizadas perante os remates de 1ª linha
(Antón, 1994, 2002; Bárcenas & Róman, 1991; Cadenas & Hoffman, 1995, citados
por Férnandez & al., 1999; Constantini, 2003; Falkowski & Enriquez, 1979; Greco,
2002; Martinez, 2004; Noteboom, 1995; Olsson, 2004; Ribeiro, 2002; Stein &
Federhoff, 1977), no entanto existem também referências à colaboração por
pressão ou contacto (Antón, 2002; Olsson, 2004), colaboração por dobragem
(Antón, 2002; Constantini, 2003), colaboração a remates em penetração (Olsson,
2004); colaboração do extremo (Antón, 2002; Cadenas & Hoffman, 1995, citados
por Férnandez & al., 1999; Falkowski & Enriquez, 1979; Martinez, 2004; Olsson,
2004), colaboração do pivot (Antón, 2002; Falkowski & Enriquez, 1979;
Noteboom, 1995; Olsson, 2004; Ribeiro, 2002) e colaboração no contra-ataque
(Antón, 2002; Barda, 1996).
Devido à especificidade do posto de guarda-redes é fundamental
compreender a importância das sinergias necessárias para uma activa e
verdadeira cooperação com os jogadores de campo. As funções de cada um
devem ser claramente definidos, analisados e apreendidos, com uma
compreensão clara das duas partes (Constantini, 2003).
Assim, ambos os protagonistas devem ter a função de reduzir as opções aos
oponentes, tanto quanto possível. O defensor foca as suas acções do lado do
potencial braço de remate e o guarda-redes coloca-se no lado oposto. No entanto,
segundo Constantini (2003) os defensores devem “empurrar” os seus oponentes
para o mais longe possível da zona central, onde o ângulo de remate é menos
favorável.
Antón (2002) indica inclusive alguns objectivos específicos, como: a)
distribuir equitativamente as responsabilidades respeitantes às trajectórias de
remate do atacante; b) intimidar o rematador ocupando espaços na linha e no seu
ângulo de remate, evitando assim um remate cómodo; c) orientar a trajectória de
remate numa direcção determinada sobre a qual seja possível antecipar-se, ou
induzir o rematador a rematar para zonas previsíveis; d) impedir ou dificultar a
ampliação do ângulo de remate, facilitando assim a intervenção do guarda –
redes; e) cobrir ou tapar fundamentalmente os pontos fortes do rematador; f)

55
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

explorar os pontos débeis do rematador, oferecendo trajectórias de remate


correspondentes a essas carências; g) facilitar a antecipação do guarda – redes
sobre a zona desguarnecida pelo defensor.
Hecker & Thiel (1993) acrescentam que em regra o guarda-redes fica com o
1º poste e os defensores com o 2º Poste, mas a regra pode ser alterada com o
decorrer do jogo ou perante falha do defensor. O guarda-redes é que deve
proceder a esta alteração com a sua visão de jogo privilegiada.
É extremamente importante existir um conhecimento recíproco entre o
guarda – redes e o defensor. Assim sendo, o guarda – redes tem a
responsabilidade de dirigir a sua defesa, pois é o jogador com melhor campo
visual e mais centrado em relação ao sistema defensivo, pode observar as
manobras do ataque, prever os “perigos” e antecipar-se a eles (Riviére, 1989;
Antón, 1994).
Desta forma Constantini (2003) afirma que as alterações produzidas no
decorrer do jogo e da acção devem ser verbalizadas. Deve também fazer parte
desta colaboração a procura dos defensores criarem situações de superioridade
numérica sobre o potencial rematador.
Czerwinski (1993) refere que no treino de coordenação entre o guarda –
redes e o defensor é importante que o primeiro se adapte ao defensor e não o
contrário, uma vez que o guarda – redes tem maior experiência e conhecimento
da situação especifica do que um jogador de campo.
A colaboração deve basear-se em que o guarda-redes é o jogador que na
maioria dos casos ajusta a sua intervenção à actuação do atacante e defensor
correspondente.
Segundo Antón (2002) em nenhum caso as intervenções devem conduzir a
respostas mecânicas e inalteráveis. A experiência, o conhecimento das
características de cada rematador a capacidade de análise táctica individual do
jogador, fazem com que a intervenção de ambos os protagonistas, mas
especialmente do guarda-redes, deva ser adaptada e transformada durante o
jogo. Também a variedade de situações que o jogo oferece, assim como a devida
da qualidade dos atacantes representam variáveis importantes. Assim como se
deve considerar sempre os prováveis pontos fortes dos atacantes e os pontos
débeis dos próprios defensores e guarda-redes.

56
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

Devem existir atenções e cuidados relativamente às mudanças do atacante,


de forma a que o guarda-redes não seja surpreendido, o que pode levar a
grandes dificuldades de ajustar correctamente a sua posição. Estas regras de
relação devem ser sempre flexíveis. Após observação do adversário podemos
modificar a relação guarda-redes/defensor. Quando num jogo o acordo não surtir
resultados positivos, ele deve ser imediatamente modificado por iniciativa do
guarda-redes que deve conduzir novos acordos de relação com cada defensor.
Esta colaboração deve ir ao pormenor e deve ser melhorada no treino (Hecker &
Thiel, 1993).
Ribeiro (2002) aponta mesmo que o futuro deste tipo de colaboração será o
estabelecimento de acordos pontuais com os companheiros, que respeitem e
levem em linha de conta os atacantes.
Constantini (2003) contrapõe ainda que cada jogador em função da acção
deve ele próprio eventualmente ser capaz de decidir a forma de acção. As opções
mais eficazes são as escolhidas pelos próprios jogadores.
O guarda-redes deve ajustar a sua acção à situação criada pelos jogadores
de campo, mesmo que se desvie da táctica ou estratégia previamente definida.
Não devemos esquecer que o guarda-redes é a última pessoa capaz de defender
a bola antes do golo. Os bons guarda-redes sabem ler a situação e ver como o
defensor ou a defesa os ajuda naquela situação particular Olsson (2004).
A distribuição normal, pode ter situações especiais derivadas de informações
precisas, oriundas da observação de jogo e análise dos rematadores e Greco
(2002) defende que possa ser modificada oferecendo-se ao rematador o lado da
baliza que ele mais gosta, conseguindo o guarda-redes antecipar a acção
defensiva.
A normativa geral diz que o defensor perante o oponente directo com bola
e em situação de remate, deve cobrir sempre o braço executor correspondente ao
rematador, sendo o lado contrário responsabilidade do guarda-redes. No entanto
para Falkowski & Enriquez (1979) em nenhum caso isto quer dizer que o guarda-
redes se deve desresponsabilizar pelas trajectórias que à partida eram da
responsabilidade dos seus companheiros, pois em última instância ele é o
verdadeiro artífice para evitar a consecução do golo.
Antón (2002) corrobora estas ideias ao defender que só é possível alcançar
uma boa resposta defensiva, de forma continuada, se as responsabilidades

57
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

conjuntas forem praticadas nos treinos. Esta prática contínua passa por um
processo de mentalização dos defensores, pois estes devem perceber que são os
“primeiros guarda-redes” da equipa, uma vez que se encontram mais perto do
ponto de saída da bola no momento de remate à baliza. O posto específico de
guarda – redes propriamente dito deve entender-se como o “último guarda-redes”
da equipa, cuja missão radicará mais em solucionar o fracasso dos outros
“guarda-redes”.

Remates de 1ª linha – Colaboração com bloco

Perante este tipo de remates a maioria dos autores faz referência à


realização do bloco. Representa o modelo mais frequente e de estudo mais
exaustivo, sendo provavelmente a situação mais utilizada em treino.
A intervenção, quer do defensor quer do guarda-redes, realiza-se em função
fundamentalmente de dois factores: o braço forte do rematador e a zona onde
provavelmente se vai realizar o remate.
O defensor, frente ao oponente directo com bola e em atitude de remate,
deve, frequentemente e como regra, cobrir, relativamente à baliza, o lado do
braço executor (lado forte) e o guarda – redes deve ficar responsável pelo lado
contrário (lado fraco).
Desta forma em função da condição destro ou esquerdino do rematador,
assim como do posto específico que ocupa – lateral esquerdo, central ou lateral
direito, a responsabilidade do guarda-redes recairá sobre o ângulo curto ou sobre
o longo.
Na sua maioria os autores apresentam um modelo idêntico de cooperação
entre o guarda-redes e os defensores (Antón, 1994, 2002; Bárcenas & Róman,
1991; Cadenas & Hoffman, 1995, citados por Férnandez & al., 1999; Constantini,
2003; Falkowski & Enriquez, 1979; Greco, 2002; Martinez, 2004; 1995; Olsson,
2004; Ribeiro, 2002; Stein & Federhoff, 1977). Nomeadamente e como exemplo:
um rematador destro situado a lateral esquerdo implica que o guarda-redes se
responsabilize pelo ângulo curto e o defensor pelo ângulo longo; para um
rematador destro situado a central o guarda-redes responsabiliza-se pelo lado

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O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

contrário ao braço de remate; e para um rematador destro situado a lateral direito


obrigará a que o oponente directo se responsabilize pelo ângulo curto e o guarda-
redes pelo ângulo longo.
No entanto surgem opiniões contrárias como a de Noteboom (1995), que faz
referência a regras precisamente opostas: para um lateral esquerdo, destro, o
guarda-redes responsabiliza-se pelo ângulo longo e o defensor pelo ângulo curto
e de Bayer (1987) que defende que o guarda-redes deve observar o lado da
baliza que o defensor protege, ou seja, as trajectórias de remate que ele
dissuade, responsabilizando-se pelas restantes.
Martin (2004) apresenta uma distância precisa para a realização do bloco,
pois afirma que a distância entre o defensor (blocador) e o atacante (rematador)
deve ser entre 50 centímetros a 1 metro, distância suficiente para evitar que o
rematador ao estar demasiado próximo desvie o braço do bloco tendo assim a
possibilidade de colocar o remate em qualquer zona da baliza.
Relativamente a esta questão Olsson (2004) não apresenta de forma tão
linear a distância adequada para realizar o bloco, no entanto, ressalva que o
objectivo do defensor é de tentar que o remate seja realizado o mais longe
possível, pois assim o guarda-redes terá maior tempo de reacção, mas o bloco
não deve ser realizado demasiado perto do rematador, pois assim possibilitar-lhe-
á fugir ao bloco e colocar o remate em qualquer zona da baliza.
A obrigação do defensor será portanto, cortar a trajectória que a bola,
numa projecção hipotética, teria de realizar para entrar na baliza, no ângulo de
que ficou responsável. Desta forma está a impossibilitar em grande parte o
remate com o braço armado de forma clássica ou de anca, que são os mais
eficazes. Os restantes remates serão, em princípio, mais fáceis de defender pelo
guarda – redes.
Este autor afirma também que o mais importante para o defensor é cooperar
com o guarda-redes na prevenção de remates para o lado “errado” da baliza. O
“olho táctico” do guarda-redes lê rapidamente de que forma o defensor está a
cooperar consigo e as suas próprias posições para defender o remate que espera
seja dirigido para a sua “parte” da baliza.
As regras de cooperação entre guarda-redes e os defensores não deverão
ser estanques, mas sim flexíveis, podendo ser alteradas a qualquer momento,
quer por falha dos defensores, quer pelas opções dos rematadores, quer por

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O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

situações várias que podem decorrer ao longo de determinado movimento de


remate ou durante o jogo. As decisões de alteração das estratégias previstas
partirão sempre do guarda-redes, fundamentalmente pela visão mais clara que
tem dos acontecimentos.
Importa relembrar que em caso algum o guarda-redes se deverá
desresponsabilizar por qualquer dos lados da baliza, pois ele deverá ser o
responsável por toda a baliza, esperando no entanto ajuda da defesa, na
limitação das acções ofensivas.

Remates de 1ª linha com oposição em contacto

A melhor cooperação com o guarda-redes é tentar tocar o rematador. Um


rematador que esteja ocupado com o defensor, terá menos tempo para preparar o
remate e assim terá menos precisão no mesmo (Olsson, 2004).
Este tipo de oposição deve, segundo Antón (2002), ser realizado sempre que
o defensor tenha sido ligeiramente ultrapassado no plano lateral, ou seja quando
perde a linha de remate, mas tem possibilidade de manter contacto físico com o
atacante. Nesta situação este pode exercer uma pressão lateral e contacto com o
rematador. Supõe-se que este último terá maior vantagem de remate para lado
em que superou o defensor, mas para o lado onde se encontra o defensor exige
maior manejo de bola e rotação do tronco. Por essa razão o guarda-redes deverá
intervir sobre o ângulo correspondente ao lado de superação do defensor. Assim,
para um rematador destro, que supera o defensor para o lado direito, o guarda-
redes defende o lado do braço do rematador. Caso o mesmo rematador destro
supere o defensor para o lado esquerdo, o seu lado mais fraco, o guarda-redes
defende sobre o lado direito, lado contrário ao braço do rematador.

Remates de ponta

Apesar de poucas referências à colaboração no posto específico da ponta,


parece ser possível resumir em duas as propostas de colaboração: a) limitar o
ângulo de remate, tentar forçar a trajectória do rematador, de forma que este não
consiga ganhar nenhum ângulo extra (evitar que este salte em direcção dos 7

60
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

metros) (Antón, 2002; Cadenas & Hoffman, 1995, citados por Férnandez et al.,
1999; Olsson, 2004)
Incomodar o rematador, sem provocar livre de 7 metros, pois assim o
atacante terá menor tempo de observação do guarda-redes e da sua colocação
(Olsson, 2004)
Ou seja, diminuir-lhe o ângulo, dando menor espaço de baliza ao rematador
e dar-lhe menos tempo de preparação do remate.
Também existem algumas referências às responsabilidades pelos diferentes
lados da baliza, onde neste caso (de diminuição do ângulo de remate) o guarda-
redes deverá responsabilizar-se preferencialmente pelo ângulo curto (1º poste) e
o defensor pelo longo (Antón, 2002; Falkowski & Enriquez, 1979).

Remates de pivot

Nos remates da posição de pivot, apesar das poucas referências


bibliográficas acerca da colaboração com o guarda-redes, é provavelmente do
tipo de remates em que o defensor maior intervenção poderá ter nas limitações às
trajectórias quer do jogador pivot, quer do próprio remate.
Olsson (2004) salienta que nesta posição o importante é os defensores
tentarem cooperar com o guarda-redes na tentativa de limitar o espaço aberto ao
pivot, forçando-o a movimentar-se para fora das zonas centrais do campo,
obrigando-os assim ao remate em zonas com menor ângulo.
Todavia o mesmo autor propõe que o defensor deve também cooperar
tentando defender o lado forte do pivot, tentando forçar o jogador pivot a rematar
após rodar para o seu lado “fraco”, opinião corroborada também por Ribeiro
(2002).
Outra forma de cooperação com o guarda-redes é tentar impedir que o pivot
remate de uma posição vertical, ou elevada. O guarda-redes tem maiores
possibilidades de diminuir o ângulo de remate do pivot se os seus remates forem
de uma posição mais baixa (Olsson 2004). Da mesma forma Antón (2002)
assume que partindo da base que o jogador pivot remata com dificuldade
determinada pela pressão defensiva, esta vai diminuir o tempo de visão do

61
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

guarda-redes e da baliza, pois a sua orientação inicial é contrária ou lateral à


baliza e a sua impulsão é em profundidade e não em altura.
Também Noteboom (1995) e Ribeiro (2002) defendem que uma das
possibilidades do defensor é de condicionar o tipo de armação do braço, onde o
primeiro destes autores comenta que preferencialmente o guarda-redes deve
cobrir o 1º poste e Ribeiro (2002) refere que nestas situações normalmente o
guarda-redes deve esperar remates para a parte inferior da baliza.

Remates de Contra-ataque

Nas situações de contra-ataque a colaboração entre o guarda – redes e os


defensores é muito difícil, devido às dificuldades que muitas vezes os defensores
apresentam em acompanhar os atacantes. Apesar de mais limitada, no entanto,
pode o defensor “obrigar” o atacante a recorrer a trajectórias mais laterais,
impedindo-o de rematar na zona central e assim dar maiores possibilidades de
êxito ao guarda-redes, tal como é preconizado por Barda (1996).
Quando o último defensor está situado ligeiramente lateral ao rematador
pode intimidar o remate, saltando com o rematador e tapando o lado da baliza
correspondente ao qual se encontra (Antón, 2002).

As chaves da cooperação entre o guarda-redes e a defesa são o ESPAÇO e


o TEMPO (Olsson, 2004). Espaço, limitando as zonas de baliza possíveis de
finalização, bem como os locais de remate e trajectórias do rematador e Tempo,
possibilitando ao rematador o menor tempo de observação da baliza e do guarda-
redes possível. Assim estão criadas condições para maiores possibilidades de
êxito do guarda-redes.

62
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

6.10 Participação no ataque

Em jogo o guarda-redes também efectua acções ofensivas em particular o


passe para o ataque, que se torna cada vez mais importante no contexto do
andebol actual.
O desempenho ofensivo do guarda-redes inicia-se logo a seguir a uma
defesa, remate fora ou após uma intercepção de um contra-ataque adversário,
neste momento é o primeiro atacante e o êxito do contra-ataque depende em
grande parte da sua rapidez, da sua precisão e economia de tempo.
Um dos importantes papéis do guarda-redes de andebol resulta do facto de,
na maioria das vezes, ser o primeiro elemento da equipa a iniciar o ataque rápido.
Logo, passa pelo guarda-redes a decisão de realizar o contra-ataque directo, o
ataque rápido ou atrasar o início do ataque.
Para Gallet (1995) é da responsabilidade do guarda-redes a acção de
realizar um novo impulso (o primeiro passe), que após a defesa de um remate
condiciona a eficácia da primeira fase do ataque (ataque rápido). Ele pode ser
directo sobre um jogador desmarcado no meio campo adversário, ou apoiado
para um jogador próximo.
Para Rivière (1989) é função do guarda-redes decidir pela realização ou não
de ataque rápido e qual a sua forma, dado que se encontra numa posição que lhe
permite uma visão global e sintética do jogo.
O guarda-redes quando recupera a bola torna-se o primeiro atacante da sua
equipa (Iriarte, 1991). Em função da situação deverá: tentar o golo em remate
directo; iniciar o contra-ataque; participar como jogador de campo para ajudar no
início do contra-ataque apoiado; apoiar o ataque em situações de inferioridade;
atacar em superioridade numérica (7x6). Stein & Federhoff (1981) acrescentam
ainda a sua possibilidade de utilização nos momentos de defesa individual.
No contexto actual de jogo, é muitas vezes importante, também, a
participação do guarda-redes no ataque organizado da equipa, abandonando o
seu posto específico. Nomeadamente, a poucos segundos do final dos jogos,
quando a sua equipa é alvo de marcação individual pela equipa adversária, o
guarda-redes vai possibilitar a criação de superioridade numérica por parte da
sua equipa, facilitando, assim, as acções de ataque.

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O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

Actualmente, o regulamento da modalidade prevê a inscrição de 12


jogadores por jogo, podendo qualquer um ser guarda-redes e com possibilidade
de alterar as suas funções durante o jogo. Ou seja, um jogador designado como
guarda-redes pode, após mudança de equipamento, participar no jogo como
jogador de campo. O mesmo se aplica ao jogador de campo que pode passar a
desempenhar funções de guarda-redes. Sendo assim, é importante que o
guarda-redes, além das suas normais funções quer de defesa, quer de início do
ataque, saiba também quais as técnicas e tácticas dos jogadores de campo
(ofensivas e defensivas). Além de lhe permitir participar no ataque da sua equipa,
pode também ajudá-lo a conhecer as acções dos adversários quando se encontra
nas suas funções habituais de guarda-redes

6.11 Técnicas de Defesa

Defesa propriamente dita é acção que o guarda-redes realiza com alguma


parte do corpo, com o objectivo de interceptar ou desviar a bola na sua trajectória
para a baliza (Olson, 2003). É nesta fase que o guarda-redes recorre aos gestos
motores anteriormente apreendidos e repetidos, utilizando o gesto técnico que
mais se coaduna com as suas características e respectiva situação de remate.
A defesa em si mesma, segundo Rivière (1989), compreende duas etapas:
1) o final da pré-defesa, em que a decisão final está em marcha para ser
elaborada; o gesto já está em acção, o remate desenrola-se, mas a bola ainda
não partiu e, 2) a reacção final; a decisão está tomada desenrola-se agora um
reflexo praticamente puro, quase intransformável voluntariamente no momento.
Importa definir que a defesa dos remates é uma atitude eminentemente
técnico-táctica, em que os seus elementos constitutivos se influenciam
mutuamente (Ribeiro, 2002).
A observação precisa da suspensão do rematador, do seu tronco e do braço
de remate, constitui o ponto de partida duma acção eficaz essencialmente pela
possibilidade de antecipação das coordenadas de remate (Ribeiro, 2002). Este
autor enuncia um conjunto de princípios, de carácter geral e comuns a todas as

64
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

técnicas de defesa, que deverão nortear a conduta do guarda-redes:


• O guarda-redes só deverá reagir, quando o braço do rematador ultrapassar
o seu plano frontal;
• O "ataque" da bola deverá ser feito perpendicularmente à sua trajectória, o
que corresponde à escolha do "caminho" mais curto para contactar com ela;
• Na iminência dum remate, o guarda-redes deverá estar colocado na
bissectriz do ângulo formado pela bola e os dois postes.

6.12 Técnica Específica de 1ª linha

Nos remates de 1ª linha é fundamental colocar todo o corpo na trajectória da


bola (Hecker & Thiel, 1993), deslocando o centro de gravidade lateralmente.
Olson (2003a) destacou alguns movimentos fundamentais nesta acção:
• Adopção de uma posição ligeiramente encurvada, realizando a partir daí
uma impulsão com a perna mais afastada da bola;
• Esta impulsão é diagonal (lateral + frontal);
• A perna livre ajuda, caso seja necessário, parar a bola;
• Produz-se uma transição lateral do centro de gravidade;
• O guarda-redes oferece o máximo de superfície corporal ao remate.

Remates a zonas superiores da baliza:


Remates na zona central pressupõe a defesa com duas mãos (Hecker &
Thiel, 1993).
Nos remates aos ângulos, impulsão com perna do lado contrário à da
trajectória da bola, a perna mais próxima da bola balança, flectindo o joelho e
levando-a lateralmente para cima (Hecker & Thiel, 1993, Oliveira, 1996; Olsson,
2000; Ribeiro, 2002, Trosse, 1993; Zeier, 1987). Olsson (2000) frisa a importância
de o apoio ser feito com a perna contrária ao da trajectória da bola, pois em caso
de necessidade, a perna do lado da bola está livre para intervir em qualquer
momento, o que não acontece se o apoio for feito sobre ela.
No entanto, em algumas circunstâncias, é mais vantajoso realizar a impulsão
com a perna do lado da bola (Ribeiro, 2002). Hecker & Thiel (1993) propõem esta

65
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

técnica de defesa como uma variante a ser utilizada em determinados momentos,


pois a distância ao ângulo de baliza é mais curta.
O centro de gravidade desloca-se lateralmente, inclinando o tronco para o
lado do remate. Ribeiro (2002) afirma que o centro de gravidade do corpo deverá
deslocar-se nas diagonais da baliza e todo o corpo deverá estar comprometido no
movimento de defesa. A defesa realiza-se em equilíbrio (Hecker & Thiel, 1993;
Oliveira, 1996). Contudo Hellgreen (1992), propõe também como técnica
adequada a queda após defesa, pois com este tipo de movimento o guarda-redes
poderá ocupar com o corpo todo o espaço do lado da baliza para onde
provavelmente se dirige o remate.
Utiliza-se uma ou duas mãos na acção de defesa, privilegiando a utilização
das duas mãos a fim de parar a bola, pois permite uma maior cobertura da
superfície da baliza, obriga a uma flexão do tronco e faz com que todo o corpo
fique atrás da bola (Oliveira, 1996; Ribeiro, 2002; Trosse, 1993). Os dois braços
orientam-se para a bola estendidos obliquamente, com as mãos no seu
prolongamento, podendo a que se encontra mais acima, estar ligeiramente
orientada para o solo (Olson, 2003a).
A utilização de apenas uma mão dificulta o controlo da bola e a superfície de
defesa é menor, embora permita uma intervenção mais rápida (Ribeiro, 2002;
Trosse, 1993), tendo a vantagem, para os guarda-redes de menor estatura, de
permitir maior extensão na posição (Zeier, 1987).

Remates a meia-altura
Nesta situação, tal como nos remates para os ângulos superiores, o corpo é
impulsionado com a perna contrária à trajectória da bola, utilizando-se a outra
para interceptar o remate (Olson, 2003a).
Nos remates para zona central prevê-se a utilização dos dois braços e ligeira
extensão de pernas.
Nos remates próximos dos postes: Defesa simultânea de perna e mão,
defesa em equilíbrio e impulsão com perna do lado contrário ao da trajectória da
bola, balanço e extensão da perna livre, a mão desce para junto do pé, tocando a
bola em simultâneo e de forma coordenada, a mão deverá estar orientada com a
palma voltada para a bola.

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O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

A defesa a remates fortes é melhor com as duas mãos (Hecker & Thiel,
1993; Olson, 2003a) e a segunda mão estende o corpo lateralmente. Hecker &
Thiel (1993) propõem também a defesa em equilíbrio ou desequilíbrio
Ribeiro (2002) refere que as bolas devem ser paradas, com as duas mãos e,
se necessário, com a perna livre, devendo evitar-se a utilização de pé e mão; o
contacto com a bola é promovido através de um salto lateral, com impulsão
unipedal (perna de impulsão contrária à bola). Este autor recomenda a utilização
da defesa só com uma mão, quando o guarda-redes não se encontra posicionado
no centro da baliza, tendo assim de intervir a uma grande distância. Segundo
Zeier (1987) a defesa com pé e mão só é adequada para remates abaixo das
ancas, porque o tronco ficaria inclinado para trás se o pé participasse numa
defesa tão alta.
É neste tipo de remates que os guarda-redes se revelam por norma mais
eficazes (Oliveira, 1996).

Remates para zonas inferiores da baliza:


Remates a zonas centrais: fechar simultâneo das pernas, baixando os
braços paralelos à altura das mesmas.
Remates aos ângulos: defesa com perna e mão e defesa em desequilíbrio
(Olsson, 2000), levando o centro de gravidade em direcção à bola, avançando o
ombro para a frente a fim de evitar o desequilíbrio para trás, as mãos e a perna
devem formar em conjunto com os braços, uma superfície que ajude a parar a
bola. A superfície corporal oferecida à bola é maior e por isso a probabilidade de
êxito aumenta.
A defesa em equilíbrio (defesa sem abandonar o solo, oferecendo à bola
apenas o pé e parte da perna, o que significa que no fim da acção o guarda-redes
continua de pé) é também proposta por alguns autores, fundamentalmente das
escolas russa e balcânica, no entanto exige características antropométricas
elevadas, para ser utilizada com sucesso. Também Trosse (1993) refere que
existem opiniões de que a defesa em queda (utilizando a posição de “barreirista”)
está ultrapassa, devendo ser utilizada a defesa em equilíbrio, contudo este autor
considera que não é tão clara qual das duas técnicas é mais eficaz, propondo as
duas, deixando ao critério dos guarda-redes e treinadores a escolha da mais
adequada.

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O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

Os remates devem ser defendidos com o pé e a mão, deslocando-se todo o


corpo para o local de chegada da bola, enquanto a mão livre se situa entre as
pernas (Ribeiro, 2002).

Remates picados:
Na defesa a este tipo de remates é fundamental orientar todo o movimento
do corpo para a frente, na direcção do ponto de impacto da bola e avançar "todo"
o corpo para cima da bola (Ribeiro, 2002).
Hecker & Thiel (1993) propõem a mesma técnica de defesa dos remates
para baixo, com a particularidade de nos picados ser necessário orientar o
movimento do corpo para a frente, pois é difícil prever se o remate após o ressalto
direccionado para baixo, a meia-altura ou para cima, sendo assim necessário
procurar defender com todo o corpo.

Remates próximos do corpo:


Perante este tipo de remates o guarda-redes encurta a distância entre os
seus segmentos corporais mediante uma boa mobilidade articular e uma boa
velocidade de reacção (Olson, 2003a).
A amplitude dos movimentos pode ser bastante maior que nos remates mais
afastados, sendo extremamente difícil a defesa deste tipo de remates, onde é
fundamental o grau de rotação dos sus membros (Zeier, 1987).

6.13 Técnica Específica de Ponta

Nos remates das pontas é necessário que o guarda-redes tenha consciência


de que tem que usar o corpo todo para defender e não apenas as mãos ou as
pernas (Olsson, 2000). Neste tipo de remate a bola para entrar tem que passar no
raio de acção do guarda-redes. Por isso é fundamental esperar ao máximo numa
posição de expectativa; se reagir cedo demais está a dar mais possibilidades ao
rematador. Segundo Ribeiro (2002) o guarda-redes não deve sair nem saltar, se o
rematador estiver pressionado ou o remate for executado de ângulo muito
fechado. Olsson (2000) afirma também que se o rematador ganha algum ângulo o

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O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

guarda-redes tem que ir acompanhando essa trajectória mas sempre de frente


para o rematador, não pode “abrir a baliza” colocando o seu corpo paralelo à linha
de golo.
Avançar quando o rematador remata sem oposição, para reduzir ângulo de
remate, seguido de salto lateral, com impulsão unipedal (Basic, 1992, Hecker &
Thiel, 1993, Ribeiro, 2002). A envergadura e altura do guarda-redes, condicionam
a profundidade da saída (Ribeiro, 2002).

Remates a zonas superiores da baliza:


Alguns autores (Basic, 1992; Hecker & Thiel, 1993, Ribeiro, 2002, Trosse,
1993) propõem como técnica adequada: avançar um passo a perna mais próxima
do poste a fim de reduzir ângulo de remate. A partir desta posição o guarda-redes
salta lateralmente para cima, em que:
* o braço do lado da perna de impulsão protege o 1º poste;
* a perna livre, mais uma ou duas mãos, são colocadas lateralmente na
direcção do 2º poste, para cobrir o máximo o máximo de superfície.
Olson (2003a) refere que perante este tipo de remates se adequa a actuação
como na intervenção aos remates altos de 1ª linha.

Remates a meia-altura e para zonas inferiores da baliza:


Procedimento idêntico ao descrito para os remates para as zonas superiores
exceptuando a parte final do acto defensivo. Assim que o rematador baixa o
braço, o guarda-redes segue rapidamente o movimento, a fim de poder contactar
com a bola, com a perna livre e uma mão.
Olson (2003a) descreve a defesa aos remates para os ângulos longos (para
baixo), como se interviesse perante um remate ao ângulo alto, provocando o
ponta para depois corrigir a sua postura. Os braços estão abertos, o mais próximo
do poste semi-flectido, o outro mais estendido. Uma vez que se tenha dado o
remate abaixo, leva a perna em abdução à posição da outra, assim juntam-se as
duas em função da localização do remate, mais perto ou mais afastado da
posição inicial de uma das duas. Os braços baixam-se e colocam-se paralelos ao
tronco, as mãos com as palmas viradas para a bola e os dedos orientados para
baixo.

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O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

Para os remates de ponta em geral, Basic (1992), Hecker & Thiel (1993) e
Olson (2003a) propõem como variante avançar o apoio contrário ao poste da
baliza, em direcção ao braço do rematador, cobrindo assim o 2º poste e
“oferecendo” o remate para o 1º poste, seguido de movimento igual ao
anteriormente proposto mas em sentido contrário.
Outra técnica possível, proposta por Hecker & Thiel e Ribeiro (2002) refere-
se à utilização de fintas, através da saída precoce e exagerada do guarda-redes,
na direcção do ponto de impulsão, forçando um "chapéu", o que dá a
possibilidade de "abafar" a bola.

Remates especiais (roscas e chapéus):


No caso de remates em “Chapéu” o guarda-redes deve recuar e apanhar a
bola em salto, com uma ou duas mãos (Hecker & Thiel, 1993; Ribeiro, 2002). A
técnica proposta é de rodar, apoiando a perna do lado interior da baliza,
realizando uma impulsão e com a mão mais próxima do poste tenta interceptar a
trajectória da bola (Trosse, 1993).
Nos remates em “Rosca” tem de se aperceber “antecipadamente” o que
acontece, quando vê a colocação da mão do rematador (Hecker & Thiel), 1993;
Ribeiro, 2002). Trosse (1993) faz também referência à necessidade de antecipar
os remates em “chapéu”.

6.14 Técnica Específica de Pivot

Na defesa a remates de Pivot a distância para o rematador reduz-se, pois o


guarda-redes sai da baliza e o rematador salta em direcção a esta (Olson, 2003a),
no entanto a recepção da bola pelo Pivot de costas ou perpendicularmente à
baliza, dá mais tempo ao guarda-redes de intervir. Aproxima-se do rematador e
pode actuar, esperando até que o atacante não possa variar o seu remate ou
intuir a trajectória provável desse mesmo remate.
Os autores propõem diferentes tipos de actuação em função da
“envolvência” do remate:

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O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

• Se o Pivot recebeu a bola de costas, o guarda-redes deve avançar sobre


ele para poder “abafar” a bola (Ribeiro, 2002);
• Se o remate é realizado com pressão defensiva o Guarda-redes deve
manter-se na linha de baliza (Hecker & Thiel, 1993, Ribeiro, 2002);
• Se o remate é efectuado sem oposição, do lado do braço de remate o
Guarda-redes avança 2 ou 3 passos em direcção ao rematador, cobre a baliza
com o tronco, braços e perna livre, efectuando posteriormente a defesa, em salto
lateral e com impulsão unipedal (Hecker & Thiel, 1993; Ribeiro, 2002).
Na medida do possível, não se situar no centro da baliza, protegendo por um
posicionamento ofensivo um dos lados da baliza (Hecker & Thiel, 1993). Não
saltar em direcção ao Pivot mas reagir lateralmente.

6.15 Técnica Específica de Remates em penetração

Partindo da posição base Olson (2003a) refere que o guarda-redes deve


realizar um deslocamento frontal em corrida com 2/3 passos amplos, com
intenção de fechar o máximo de ângulo possível e surpreender o adversário na
sua intervenção. Após avançar deve atrasar o máximo possível a sua intervenção.
Se conseguir aproximar-se suficiente do adversário salat para cima para lhe tapar
por completo a baliza, caso contrário tenta cobrir o maior ângulo possível. A perna
de impulsão deve ser a mais afastada da bola de modo a dirigir e orientar o corpo
para ela, enquadrando-se sempre com a bola.
Hecker & Thiel (1993) apresentam como alternativa da defesa em cima da
linha de baliza, não utilizando o salto nem avançando em relação ao rematador.

6.16 Técnica específica de Remates de Contra-ataque

O guarda-redes deve organizar a sua defesa de forma activa. Deve-se


esforçar por exercer uma grande pressão sobre o rematador. Pode-se fazer por
uma reacção defensiva organizada pela utilização consciente de fintas e

71
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

observação precisa do remate (Hecker & Thiel, 1993). Não saltar em direcção ao
rematador, agir lateralmente em direcção a um dos lados, partindo de uma
posição estável e esperar sobre a linha de baliza se o rematador é pressionado
por um defensor ou parte de uma posição desfavorável.
Ribeiro (2002) propõe a utilização de uma técnica defensiva, caracterizada
pelos seguintes parâmetros: a) defesa em salto, com impulsão unipedal e
orientação lateral; b) "oferecer" todo o corpo à bola.
Apesar de utilizada com alguma frequência, em especial num passado
recente, parece não ser muito aconselhável a utilização da defesa em “leque”.

6.17 Técnica Específica de Livres de 7 metros

Segundo Hecker & Thiel (1993) nesta situação, o guarda-redes deverá


proceder da seguinte forma:
. Ficar de posse da bola o mais tempo possível, antes da execução da falta,
de molde a encurtar o tempo de concentração do rematador;
. Adoptar a colocação definitiva, o mais tarde possível;
. Demonstrar determinação e confiança em si mesmo;
. Variar, durante o mesmo jogo, a colocação na baliza;
. Utilização de um amplo leque de "fintas":
. Provocar "chapéus";
. Provocar remates entre as pernas;
. "Oferecer" um dos lados da baliza;
. Mudança da perna de apoio;
. Realizar uma acção defensiva, sobre a perna de apoio;
. Adoptar uma posição ofensiva;
Não reagir, mas sim agir.
Também Olson (2003a) se refere à necessidade de realizar desequilíbrios
contínuos, com tendência para oferecer ângulos para depois sair e cobri-los.

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O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

7 ESCOLAS MAIS REPRESENTATIVAS

Analisando as equipas de elite mundial do Andebol, podemos verificar que


estas possuem, desde a alguns anos, guarda – redes de eleição com
características muito semelhantes entre os mais experientes e os mais jovens que
vão aparecendo. Esta situação pode ser justificada pelo facto de os mais jovens
olharem para os mais experientes como modelo a seguir para atingirem os seus
objectivos e tornarem-se, por sua vez, exemplo para as gerações seguintes. Os
atletas mais jovens desde sempre têm a tendência para imitarem os gestos dos
seus ídolos, dos seus modelos, quer da selecção, quer do seu próprio clube para
assim se tornarem como eles atingindo o sucesso desportivo e também pessoal.
Esta situação levou ao surgimento e desenvolvimento de diferentes escolas
internacionais de trabalho da técnica / táctica do guarda – redes, escolas estas
com características muito próprias, com técnicas específicas de posicionamento,
de deslocamentos, de defesa aos vários tipos de remate, bem como também todo
o trabalho táctico específico de colaboração com a defesa.
De entre as várias escolas existentes, podemos destacar quatro delas com
mais reconhecimento, que são: a escola Sueca, Balcânica, Russa e Alemã.
Todas estas escolas são provenientes de países com grande êxito
desportivo a nível mundial, que se deve em grande parte à grande qualidade e
eficácia dos seus guarda – redes. No entanto, existem guarda – redes de outras
nacionalidades com características semelhantes aos destes países, dado que
extraíram e adaptaram pormenores destas escolas às suas características
individuais.
As ideias que se apresentam de seguida foram transmitidas por Barda (1994;
1996), Basic (1992), Hellgren (1992), Hecker & Thiel (1993) Olsson (2000; 2003b)
e Rac (1996).

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O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

Escola Sueca

Colocação
Geralmente, e enquanto a equipa adversária circula a bola, o guarda – redes
mantém-se muito concentrado e atento a todos os movimentos, quer da bola na
sua circulação, quer no movimento dos jogadores. Vai-se colocando em varias
posições na baliza consoante a circulação da bola, tentando assim cobrir todos os
ângulos e por consequência diminuir as opções de remate por parte da equipa
adversária.

Posição Base
A Escola Sueca apresenta uma característica muito peculiar. Os guarda –
redes suecos realizam continuamente apoios sucessivos, alternando o pé de
sustentação e utilizando a parte interior da planta do pé, procurando assim que a
projecção o seu centro de gravidade se encontre muito perto do limite da base de
sustentação durante todos os movimentos. Com isto, eles procuram obter uma
resposta rápida do seu esquema corporal que é solicitado a intervir.

Deslocamentos
Os guarda – redes desta escola realizam deslocamentos sempre em função
da circulação da bola, estando muito concentrados em todos os movimentos do
jogador com bola, para assim poderem reagir de uma forma mais rápida tendo
mais probabilidades de eficácia nas suas defesas.
O guarda – redes realiza um semicírculo consoante a movimentação da bola,
contudo esse semicírculo não é “fechado”, isto é, modifica-se o parâmetro de
profundidade mediante a situação e a atitude do jogador que têm a bola. As suas
deslocações não estão predeterminadas, mas sim irão variar e adaptar-se ao
desenrolar do jogo.
Neste tipo de guarda – redes podemos afirmar que as suas movimentações
não se limitam apenas a deslocamentos laterais, mas também executam vários
deslocamentos frontais para avançar e/ou recuar.
Assim temos:
• Remate da posição pivot ou remate em penetração – o Guarda – redes
realiza 2 a 3 passos em direcção ao jogador para tentar cobrir ao máximo o

74
O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

ângulo de remate. Este tipo de passos realizados pelo Guarda – redes é


relativamente amplo.
• Remates das posições de extremos – O guarda – redes chega a tocar no
poste (do lado do remate), e a partir daí realiza 1 a 2 passos menos amplos que
os anteriores. Realiza também uma série de pequenos passos laterais quando o
extremo abre o ângulo de remate, com o objectivo de lhe seguir os movimentos
mantendo assim a bissectriz respectivamente em relação à baliza e à bola,
tentando com isto diminuir o ângulo de remate, obtendo assim uma maior
probabilidade de eficácia de defesa.
Defesa
Uma defesa poderia definir-se como “uma acção realizada pelo Guarda –
redes com o objectivo de interceptar ou desviar a bola da trajectória da baliza,
utilizando alguma parte do seu corpo”.
Uma defesa é quase sempre, na sua maioria, realizada em desequilíbrio,
não evitando a queda. Para tal os guarda – redes utilizam as suas boas
capacidades, quer ao nível da flexibilidade, quer ao nível da agilidade, bem como
também ao nível da sua destreza, procurando assim ocupar sempre o espaço
com movimentos largos de braços e do resto do seu corpo, seguido de queda e
recuperação o mais rápida possível do equilíbrio.
Nos remates de 1ª linha, o guarda – redes inicia o gesto de defesa com
deslocamento do corpo para o lado da bola, com um movimento largo de braços
ocupando assim o ângulo superior da baliza, seguido de queda para esse mesmo
lado ocupando desta forma essa zona com o seu corpo. A impulsão é realizada
sobre a perna do lado contrário da bola.
A remates de 2ª linha da zona frontal (pivot), o guarda – redes desde a sua
posição base realiza um deslocamento frontal em corrida de 2 a 3 passos amplos,
com a intenção de tapar o maior ângulo possível de remate e também
surpreender o adversário aquando do remate induzindo-o em erro ou provocando-
lhe algum nervosismo e/ou indecisão. Depois de realizar os 2 a 3 passos e, com
isso, se aproximar do rematador, irá tentar atrasar ao máximo possível a sua
actuação, tentando descobrir qual a intenção do rematador e actuar em função
disso, sem nunca perder a energia adquirida com o movimento anterior.
Se conseguir aproximar-se do adversário, saltará para a frente tentando com
isso ganhar mais profundidade, fechando por completo todas a possibilidades

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O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

para o rematador encontrar espaço para realizar o remate com êxito. Se numa
primeira abordagem o guarda – redes não se conseguir aproximar muito do
rematador, dará um salto explosivo procurando cobrir o máximo de ângulo
possível.
A perna utilizada para a impulsão deve ser a que se encontrar mais longe da
bola, para direccionar e orientar todo o corpo em direcção à bola.
Neste tipo de defesas os braços realizam um movimento em leque dirigindo-
se para fora e as pernas sobem até cobrir a horizontal.
A remates das pontas, os guarda – redes adoptam uma atitude corporal
diferente. Neste tipo de remates eles opõem-se de forma muito ofensiva,
avançando para o rematador, cobrindo assim o maior ângulo possível e tentando
“jogar” com o adversário, utilizando com mestria a sua agilidade e a sua destreza.
Relativamente a esta escola há que salientar alguns aspectos e
características muito próprias.
Os Guarda – redes Suecos recorrem muitas vezes à tentativa de engano
para ludibriar o adversário, utilizando fintas e principalmente mostrando falsos
ângulos supostamente encobertos. Este tipo de movimentos cria uma falsa
imagem ao rematador, pois este pensa que o ângulo é favorável para ter êxito no
remate e no fim o guarda – redes recoloca-se rapidamente conseguindo defender
a bola. Este tipo de técnica é bastante eficaz para o guarda – redes, pois este
com os seus movimentos de engano, supostamente dirige o atacante.
Um outro aspecto característico é a constante necessidade de tocarem na
bola após uma falta, principalmente em faltas que dão origem a livres de 7 metros
e ainda mais evidente em momentos decisivos do jogo. Eles pegam na bola,
adaptam-na, e depois oferecem ao jogador que vai realizar o remate, criando-lhe
ali uma maior pressão, um maior nervosismo.
Este tipo de guarda – redes são extremamente rápidos na procura da bola,
quer em situações de remate para fora, quer também em situações faltosas por
parte do ataque, pois em todas as oportunidades são eles que querem marcar a
falta colocando a bola o mais rápido possível em jogo, para que a sua equipa
possa atacar rapidamente, e assim tentar surpreender o adversário.
Outra característica muito importante, é a velocidade com que realizam o
contra ataque, e sempre com uma margem de erro bastante reduzida o que se
torna extremamente importante e essencial para o êxito da sua equipa.

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O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

Possuem também uma capacidade de recepção muito elevada, tanto a nível


de memoria, como de auto-correcção e de auto-estimulação, sendo a
componente psicológica muito fundamental nesta forma de actuar.

Escola Balcânica

Esta escola é caracterizada pela defesa em equilíbrio, raramente caindo ou


perdendo o apoio no solo. Apresentam uma posição base muito estável, com as
mãos colocadas ao lado da cara ou em frente ao “peito”.
A defesa a bolas altas é realizada com uma impulsão com a perna do lado
contrário ao da bola, utilizando pontualmente, para auxiliar, a impulsão da perna
do lado da bola.
Na defesa a bolas baixas e a meia altura utilizam um salto para a frente e na
diagonal, com as pernas e braços abertos, baixando o centro de gravidade,
procurando assim cobrir o maior espaço de baliza possível.
A defesa a remates de 2ª linha caracteriza-se por uma aproximação ao
rematador, cobrindo por completo um dos lados da baliza, limitando assim a
opção de remate. De seguida, investe o seu corpo no lado provável de remate.
Por vezes, a remates da zona frontal, recorrem à utilização da defesa em “leque”.
O entendimento do guarda – redes com a defesa não é rígido. Muitas vezes,
jogam com o rematador, na tentativa de lhe criar dúvidas no momento de remate.

Posição Base
A característica mais relevante do guarda – redes da escola Balcânica é
manter-se em elevação a maior parte do tempo de jogo.
A planta do pé deverá encontrar-se apoiada na sua totalidade,
proporcionando assim uma grande estabilidade durante o jogo. Podemos pois
concluir que para esta escola a posição base, acentua sobretudo na palavra
“equilíbrio”.

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O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

Deslocamentos
Os deslocamentos, como sempre, são influenciados pela situação de posse
de bola da equipa contrária. Na técnica Balcânica não se realiza o clássico semi-
circulo, predominando sim, os deslocamentos em linha. Os movimentos são muito
automatizados e predeterminados, para que a atenção se centre em outros
aspectos mais relevantes.
Ao contrário da Escola Sueca, os deslocamentos da Escola Balcânica não
sofrem praticamente variação no parâmetro da profundidade. Podemos concluir
que a maioria dos deslocamentos são laterais e não em corrida.
A única situação em que os deslocamentos base não são em linha, mas sim
em profundidade, é no remate aos 6 metros, e aqui deve ter-se atenção ao local
onde ele se realiza:
- desde a posição de pivot ou remate em penetração, vai fazer com que o
guarda – redes dê 2 a 3 passos amplos e frontais, tentando diminuir ao máximo o
ângulo de remate;
- desde e o extremo, ele sai antes do remate adoptando uma posição firme
e determinada.

Defesa
A remates de 1ª linha, a defesa a bolas altas é realizada com uma impulsão
da perna do lado contrário ao da bola.
Na defesa a bolas baixas e a meia altura, utilizam um salto para a frente e na
diagonal, com as pernas e braços abertos, baixando o centro de gravidade,
procurando assim cobrir o maior espaço de baliza possível.
A defesa a remates de 2ª linha, da zona de pivot, desde a sua posição base,
realiza um deslocamento amplo de 2 a 3 passos. A partir daí, e sem efectuar
nenhuma defesa, salta abrindo as pernas e os braços (“defesa em leque”).
O entendimento do guarda – redes com a defesa não é rígido. Muitas vezes,
“jogam” com o rematador, na tentativa de lhe criar dúvidas no momento do
remate.
Relativamente a esta escola há a salientar alguns aspectos próprios. Para o
guarda – redes desta escola as exigências ao nível da coordenação e de
dissociação são muito importantes, quer a nível global, quer a nível segmentar.

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O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

As características desta técnica fazem com que os valores da altura e


envergadura do indivíduo tenham grande importância.
Esta técnica é reactiva, baseada no aparecimento de um estímulo para se
obter uma resposta. O guarda – redes não sai muito da baliza e assim tem tempo
para reagir, por isso é necessário uma resposta rápida e não actuar como corpo
todo.
A base do treino é a repetição, buscando uma automatização sem que exista
possibilidade de criatividade.

Escola Russa
Os guarda-redes desta escola são normalmente de elevada estatura.
A sua posição base é relativamente estreita e estável, de braços arqueados,
com as mãos à altura dos ombros ou em frente ao “peito”.
A defesa de bolas altas é feita, geralmente, com uma mão, sendo a impulsão
realizada com a perna do lado contrário à trajectória da bola.
As defesas a remates a meia altura e para baixo são realizadas a partir de
uma posição fixa, apresentando assim um diminuto campo de defesa. Mantém-se
sempre em equilíbrio, raramente caindo.
As defesas a remates de 6 metros, quer da zona frontal, quer de ponta,
utilizam sempre uma perna fixa.
Estes guarda – redes dão grande valor à disciplina e a uma rigorosa
distribuição de tarefas e colaboração com a defesa. Valorizam a diminuição dos
ângulos de remate, responsabilizando-se apenas por um dos lados da baliza.
As grandes virtudes desta escola são o “bom” jogo posicional e o trabalho
em conjunto com a defesa, apresentando maior eficácia em remates de 1ª linha.
Tem, no entanto grandes dificuldades na resolução de problemas não
estereotipados ou normalizados pelo guarda – redes, apresentando assim
dificuldades perante jogadores de grande diversidade técnica. Apresentam
também algumas dificuldades na defesa de remates picados ou para baixo.

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O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

Escola Alemã
Apresentam uma posição base bastante ampla, a colocação das mãos varia
entre a altura dos ombros e da anca.
A defesa de bolas altas é feita com uma ou com ambas as mãos,
impulsionam com a perna contrária à do lado da trajectória da bola, utilizando em
casos extremos a impulsão com a perna do lado da bola.
Nos remates a meia altura ou para baixo realizam um salto em frente, com
os braços e pernas abertas, baixando o centro de gravidade, recorrendo, por
vezes, à queda em remates para baixo. Nos remates a meia altura utilizam ambas
as mãos para blocar a bola.
Para os remates de 2ª linha não utilizam uma técnica normalizada,
realizando por vezes defesa em leque agressiva ou salto com uma perna.
A remates de ponta cobrem o 1º poste, apostando tudo na defesa do 2º
poste. Com ângulo reduzido do rematador, saem de entre os postes utilizando o
corpo para tapar toda a baliza, procuram ocupar o máximo de espaço mantendo o
corpo direito.
Nos remates de 2ª linha na zona frontal, tentam limitar o local de remate,
saindo de entre os postes, cobrindo uma zona de baliza e investindo a defesa na
zona provável de remate.
Existe trabalho de colaboração com a defesa mas não de forma rígida,
variando as suas acções em função das características da defesa e do
adversário.

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O Guarda-redes de Andebol – Revisão da literatura

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