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INTRODUÇÃO

PLENITUDE
Filosofias pessimistas e doutrinas religiosas arbitrárias estabeleceram que a
vida é sofrimento e que toda tentativa para a libertação dele resulta em malogro
lamentável.
Pensadores precipitados de ontem como de hoje, fiéis ao diagnóstico ignóbil,
propõem o suicídio como solução, a eutanásia e o aborto como mecanismos de fuga
para superar as situações aflitivas e a pena de morte como recurso punitivo, em
demonstração de conduta materialista rebelde e ácida, na qual a crueldade assume papel
preponderante.
O utilitarismo e o hedonismo, sobre os quais constroem as suas aspirações, são
os responsáveis pela ótica distorcida da realidade, de que desejam se libertar.
Certamente, o sofrimento faz parte da vida, por ser mecanismo da natureza,
através do qual o progresso intelecto-moral se expressa e consolida.
O diamante bruto aguarda a lapidação para fulgir como estrela luminosa.
Os metais necessitam da alta temperatura, a fim de amoldarem-se à beleza e à
utilidade.
A madeira experimenta os instrumentos cortantes para desempenhar os papéis
relevantes a que está destinada.
O rio cava o próprio leito por onde corre.
Igualmente, o espírito necessita lapidar as arestas que lhe encobrem a
luminosidade, e, para tal, o sofrimento se apresenta como ocorrência normal, que o
conhecimento e a força de vontade conseguem conduzir com equilíbrio, alcançando a
finalidade sublime a que se encontra destinado.
O sofrimento, por outro lado, está vinculado à sensibilidade de cada um,
variando, portanto, e adquirindo dimensões diversas. A dor do bruto apresenta-se
asselvajada e perturbadora, explodindo em agressividade e loucura. O sofrimento do
esteta e do santo se expressa como anseio de libertação e crescimento íntimo.
Atravessando as fases primárias da vida, no seu mecanismo automático de
evolução, o psiquismo amplia as aptidões inatas e desenvolve os germes da perfeição
nele jazentes, tornando-se herdeiro na etapa imediata das experiências anteriores.
O sofrimento, face às injunções de amargura e dor de que se reveste, vem
merecendo o mais amplo investimento histórico de que se tem notícia, objetivando-se a
libertação dele e a plenitude da criatura.
De Krishna a Buda, a Jesus, a Allan Kardec, a visão religiosa e filosófica sobre
o sofrimento recebeu valiosas contribuições, que hoje, no esforço dos modernos
cientistas da saúde holística, parecem alcançar um grau maior de entendimento do

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homem e do seu inter-relacionamento com as forças vivas da natureza, refletidas na
ecologia, ensejando uma compreensão maior da vida e da sua finalidade.
Antecipando essa conduta hodierna, o espiritismo vem conclamando o homem
para o respeito a Deus, a si mesmo, ao próximo, a todas as expressões vivas ou não que
lhe constituem o ambiente em que está localizado, para aprender e ser feliz, assim
adquirindo a sua plenitude.
Considerando a problemática humana, existente no próprio indivíduo — o
desconhecimento de si mesmo — e tendo em vista os urgentes fatores que
desencadeiam o sofrimento, arrastando multidões à sandice, ao desalento, à alucinação,
às fugas inglórias pelo suicídio e pelos vícios, resolvemos aprofundar estudos em torno
dele, ora reunidos no presente livro, que trazemos ao conhecimento do prezado leitor,
interessado na solução desse terrível flagelo, responsável por incontáveis males, para
uns, e bênçãos, para outros, possibilitando aos últimos a ascensão e a glória...
Analisamos alguns dos seus aspectos, conforme a visão budista e a cristã, e
propomos a solução espírita, em razão da atualidade dos postulados que constituem a
Revelação do Consolador, convidando o homem ao autodescobrimento, à vivência
evangélica, ao comportamento lúcido advindo do estudo e da ação na trilha da caridade
fraternal.
Confiamos que o nosso esforço irá contribuir para o esclarecimento dos nossos
leitores, induzindo-os à aquisição da plenitude em paz e saúde, inteiramente livres do
sofrimento, construindo o amor como fonte viva de realização íntima e geral.
Esperando haver alcançado o objetivo a que nos propusemos, rogamos ao
"Modelo e Guia da humanidade" nos abençoe e conduza.
Joanna de Ângelis
Salvador, 17 de outubro de 1990.

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