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BIOSSEGURANÇA

O termo biossegurança se refere ao conjunto de ações e práticas que


objetivam a prevenção, minimização e eliminação dos riscos para a saúde
humana e dos animais e a proteção ao meio ambiente.

Os laboratórios, sejam eles destinados a experimentos de natureza


química ou biológica, apresentarão sempre uma infinidade de situações, fatores
e atividades que trazem potenciais riscos aos trabalhadores ali presentes e
também ao ambiente ao seu redor. Tais riscos, dependendo da intensidade da
exposição ao mesmo, poderão resultar em alterações leves, moderadas ou até
mesmo graves no organismo. Assim, devemos pautar nossas ações dentro do
laboratório de forma a seguir as normas de biossegurança. No Brasil, tais normas
só se encontram formatadas legalmente no que se refere ao uso de organismos
geneticamente modificados (OGMs), tendo sido definidas pela Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). A CTNBio é uma instância
colegiada multidisciplinar, cuja finalidade básica se resume a prestar apoio
técnico consultivo e assessoramento ao Governo Federal na formulação,
atualização e implementação da Política Nacional de Biossegurança relacionada
aos OGMs.
Segundo especialistas, na área de Biossegurança, não importa o quanto
são desenvolvidas e eficazes as tecnologias disponíveis para minimizar ou
eliminar os riscos, se o comportamento dos profissionais atuantes nesses
ambientes não for modificado, daí a importância da realização de treinamentos
e o acesso às informações no que se refere à Biossegurança em laboratórios.
No ambiente laboratorial há diversas categorias de riscos: ergonômicos,
físicos, químicos e biológicos. Veremos agora, em detalhe, cada um deles.
Os riscos ergonômicos são aqueles que afetam a integridade física ou
mental do trabalhador, proporcionando-lhe desconforto ou doença. São
exemplos de riscos ergonômicos: o esforço físico, a postura inadequada, o
levantamento de peso, a situação de estresse, o controle rígido de produtividade,
o trabalho durante o período noturno, o prolongamento da jornada de trabalho,
a monotonia e a repetitividade, bem como a imposição de uma rotina intensa de
trabalho (ODA & ÁVILA, 1998).
Já os riscos físicos, são aqueles provenientes das diversas formas de
energia, como: umidade, ruídos, vibrações, pressões anormais, temperaturas
extremas, radiações (ODA & ÁVILA, 1998).
Os riscos químicos são aqueles oriundos da exposição a substâncias
químicas e que podem causar danos físicos ou ainda prejudicar a saúde do
trabalhador. Os danos físicos associados à exposição a algum tipo de
substância química podem se caracterizar por: irritação da área exposta e
queimaduras. Podem ainda incluir os incêndios e explosões resultantes do uso
dessas substâncias. São considerados como agentes de risco químico todas as
substâncias, produtos ou compostos que penetrem no organismo por via
respiratória (poeiras, gases, neblinas, vapores ou aerossóis), pelo contato com
a pele ou por ingestão (ODA & ÁVILA, 1998).
Os riscos biológicos decorrem do contato com micro-organismos que
podem causar doenças ao homem. São subdivididos nas seguintes categorias,
definidas em função do risco representado pelo agente biológico:
• Classe 1: agentes que não representam riscos ao manipulador,
nem à comunidade, ou ainda que representem risco baixo para ambos. Exemplo:
E. coli.

• Classe 2: agentes biológicos que representam risco moderado para


o manipulador e risco baixo ou fraco para a comunidade. Caracteriza essa classe
ainda o fato de haver tratamento disponível, representado por medidas
terapêuticas e profiláticas eficientes, contra o agente em questão. Exemplo:
Clostridium tetani.

• Classe 3: agentes biológicos que representam risco grave para o


manipulador e risco moderado para a comunidade, provocando lesões ou sinais
clínicos graves e nem sempre havendo tratamento disponível. Exemplo: vírus
HIV.

• Classe 4: nesta classe os agentes biológicos representam risco


grave para o manipulador e para a comunidade, não havendo qualquer
tratamento disponível e seriamente preocupantes, em caso de propagação.
Exemplo: vírus Ebola (ODA & ÁVILA, 1998).

Em razão do tipo de atividade desempenhada pelo profissional em cada


laboratório, esse estará mais exposto a um ou outro tipo de risco. Assim,
aconselha-se que cada laboratório desenvolva seu próprio manual de
biossegurança com as ações básicas relacionadas à prevenção dos tipos de
risco mais prevalentes naquele ambiente.
Nesse sentido, também é interessante a redação de Procedimentos
Operacionais Padrão (POPs), que são protocolos em que se descrevem
detalhadamente as atividades realizadas no laboratório, desde o preparo de
amostras até a divulgação de resultados, dando especial ênfase ao uso dos
equipamentos, procedimentos técnicos e as atitudes a serem tomadas em caso
de acidentes. O objetivo principal dos POPs é padronizar todas as atividades
típicas do laboratório, no intuito de que todos os profissionais reproduzam os
procedimentos do modo mais semelhante possível. Isso é importante, porque
traz mais confiabilidade aos resultados obtidos nos testes e previnem o mau uso
dos equipamentos e a ocorrência de erros procedimentais, que, em geral,
aumentam o risco de acidentes. Os POPs devem ser redigidos da forma mais
clara e completa possível, possibilitando a compreensão por todos os
profissionais atuantes no laboratório. Eles devem ser regularmente atualizados
e ser disponibilizados a todos os trabalhadores, bem como estarem disponíveis
para consulta em local de fácil acesso no laboratório.
Já no que se referem ao descarte dos resíduos sólidos produzidos no
ambiente do laboratório, esses podem ser classificados em diferentes
categorias, conforme sua natureza:
• Grupo A: resíduos sólidos em que, possivelmente, haja a presença
de agentes biológicos, representando potencial risco de infecção.

• Grupo B: resíduos sólidos que contenham substâncias químicas


que representem risco à saúde pública ou ao meio ambiente, considerando-se
características como inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade.

• Grupo C: resíduos sólidos que possam conter radionuclídeos.

• Grupo D: resíduos sólidos que não apresentem riscos biológicos,


químicos ou físicos. Equivalem, portanto, aos resíduos domiciliares.

• Grupo E: constituído por materiais perfurocortantes ou


escarificantes, como por exemplo, lâminas de bisturi, agulhas, ampolas, pipetas,
entre outros (COELHO, 2012).

Os resíduos pertencentes ao grupo A devem ser acondicionados em


sacos brancos com indicação de risco biológico. No caso de tais resíduos terem
sofrido tratamento prévio ao descarte, objetivando a minimização ou mesmo
eliminação dos micro-organismos ali presentes, seu acondicionamento deve se
dar em sacos impermeáveis e sua classificação alterada para o grupo D
(resíduos domiciliares). Os resíduos sólidos do Grupo B devem ser descartados
conforme sua natureza química, isto é, como substâncias tóxicas, corrosivas,
irritantes, inflamáveis, entre outras.

Frascos de reagentes podem ser utilizados para descarte, mas somente


para o acondicionamento da mesma substância e não de substância diversa da
que inicialmente continha. Os resíduos do grupo C devem ser mantidos em
recipientes indicativos de natureza radioativa até o completo decaimento de
sua ação ionizante. Após isso, tais resíduos também poderão passar a ser
classificados como pertencentes ao grupo D (resíduos domiciliares). Alguns
resíduos pertencentes ao grupo D podem ser destinados à reciclagem. Para
facilitação desse processo, o ideal é já manter recipientes individuais para sua
coleta seletiva. Nesse caso, pode ser utilizado o código de cores para
identificação dos recipientes: papel (azul), metal (amarelo), vidro (verde), plástico
(vermelho) e resíduos orgânicos (marrom). Os resíduos classificados no grupo
E devem ser descartados imediatamente após o uso em recipientes rígidos, com
identificação específica (inscrição de perfurocortante).

FIGURA : COLETA SELETIVA


Cada cor associa-se a um tipo específico de resíduo, porém, nem todos
os resíduos pertencentes à determinada classe podem ser reciclados.
FONTE: Universidade Federal de Santa Catarina, 2012.
Assim, chegamos ao final do curso. Esperamos ter contribuído para a
ampliação dos conhecimentos sobre a prática laboratorial na rotina de um
Auxiliar de Laboratório. Para aprofundar os conhecimentos aqui obtidos, tenha
como base as referências abaixo indicadas. Até o próximo curso!

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