Você está na página 1de 2

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Centro de Filosofia e Ciências Humanas


Faculdade de Educação
Prof. Dr. Marcel Alvaro de Amorim
Aluna: Evelyn P. de Araújo DRE: 117233039

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o gradual sucateamento do ensino


nacional

Segundo sua última versão de 2018, assinalada pelo ex-ministro da Educação Rossieli
Soares da Silva, “A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter
normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos
os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo
a que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade
com o que preceitua o Plano Nacional de Educação (PNE)" (2018, p. 7); ou seja, de acordo com
a sua própria definição, o documento serve de sustentação desde à Educação Infantil até a
conclusão no Ensino Médio, e é por onde os estabelecimentos de ensino se baseiam ao oferecer
suas disciplinas e estudos ao corpo estudantil.

A disciplina de Língua Portuguesa faz parte da área de Linguagens, uma das cinco áreas
do conhecimento das competências gerais da educação básica. Quando o documento aborda os
artifícios que serão introduzidos nas áreas de Língua Portuguesa e Literatura na educação
infantil, explica que será papel do educador servir de mediador entre as “letras” e a criança,
onde no “[...] convívio com textos escritos, as crianças vão construindo hipóteses sobre a escrita
que se revelam [...] indicativas da compreensão da escrita como sistema de representação da
língua” (2018, p. 42). Sendo assim, o documento visa instrumentalizar todas as disciplinas,
especialmente a da área de Linguagens, visto que desde a infância dentro do ambiente escolar,
o aluno estabelecerá que o que representa a língua é a escrita (rebuscada, mais desenvolvida,
revisada e analisada), desconsiderando todos os outros recortes que compõem a vastidão do que
é a língua e a linguagem como fenômenos externos e internos a ele.

Apesar da instrumentalização referida, o documento tenta refletir certo investimento em


materiais didáticos multiculturais, sendo as “novas práticas de linguagem contemporânea”
(2018, p. 68), como: os podcasts, filmes, seriados, novelas, HQ’s e gibis e afins, ou seja, todos
os outros elementos que fazem parte da vida do aluno fora do ambiente escolar atualmente. A
grande problemática acerca destas “novas práticas” é que o sistema educacional além de não
reparar os déficits já existentes nos modelos educativos anteriores, surge com novas
transmutações, eliminando e adicionando o que for necessário principalmente para a educação
profissionalizante.

Os gêneros literários e discursivos estão em pauta dentro da área de Linguagens, onde o


aluno em teoria será instruído e capacitado a identificá-los com facilidade e interesse, graças à
contemplação e reconhecimento cultural na dinâmica entre o aluno e a escola, já que “a BNCC
procura contemplar a cultura digital, [...] desde aqueles basicamente lineares, com baixo nível
de hipertextualidade, até aqueles que envolvem a hipermídia.” (2018, p. 70). Na prática, esse
“baixo nível de hipertextualidade” apenas reforça a mecanização escolar e ignora a
contemplação do Português não só como idioma, mas como sistema amplo de comunicação,
inclusive os que são desconsiderados pelo baixo teor técnico, que também afetam e comunicam
socialmente.

Assim sendo, o documento não busca incluir o conhecimento prévio do aluno sobre mundo
e a linguagem, nem sobre a gramaticalidade, textos e discursos da Língua, somente a produção
dela. Essa produção é disfarçada como “pluralidade” que em sua execução, limitará todas as
partes envolvidas no processo educacional. Tanto no setor de Língua Portuguesa e Literatura
(área de Linguagens) quanto nas demais áreas do conhecimento, o que a BNCC prevê na
verdade é o sucateamento da educação, principalmente a pública. A aquisição, processamento
e ensino de Língua devem ser executados de forma profunda e simultaneamente fluída,
principalmente nas sociedades em que é nítida a separação da população em classes sociais,
econômicas, de gênero, taxas de analfabetismo, faixa etária, entre outros.

Abreviadamente, não há como separar o indivíduo de seu contexto comunicativo, e a


Língua serve como principal instrumento de interação social, seja ela verbal, não-verbal, escrita,
por sinais, expressões faciais etc. A Educação é uma ferramenta de poder que aos poucos
esvazia-se de seu próprio sentido, rumo à manipulação das massas, exploração trabalhista e ao
regresso.

Referências

1. http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/

Você também pode gostar