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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.594.783 - SE (2016/0084772-4)

RELATOR : MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE


RECORRENTE : JOSÉ ANTÔNIO TORRES NETO
RECORRENTE : MAGDA MAIANA BARRETO TORRES
ADVOGADO : PLÍNIO REBOUÇAS DE MOURA
RECORRENTE : SORAYA MACHADO TORRES DOS SANTOS
RECORRENTE : STIEP EMPREENDIMENTOS HOTELEIRO E TURÍSTICO LTDA.
RECORRENTE : TORRE EMPREENDIMENTOS RURAL E CONSTRUÇÃO LTDA
ADVOGADO : VINÍCIUS THIAGO SOARES DE OLIVEIRA E OUTRO(S)
RECORRIDO : BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A - BNB
ADVOGADO : PLÍNIO REBOUÇAS DE MOURA E OUTRO(S)
EMENTA

RECURSO ESPECIAL. EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA. 1. OFENSA


AO ART. 535 DO CPC/73. NÃO CONFIGURAÇÃO. 2.
HIPOSSUFICIÊNCIA NÃO COMPROVADA. ALTERAÇÃO. SÚMULA N. 7
DO STJ. 3. INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO DE CONSUMO.
PREVALÊNCIA DA COMPETÊNCIA DO FORO DE ELEIÇÃO. SÚMULA
N. 83 DO STJ. 4. RECURSO ESPECIAL A QUE SE NEGA
SEGUIMENTO.

DECISÃO

Cuida-se de recurso especial interposto por José Antônio Torres Neto e


outros, com fundamento no art. 105, III, alínea a, da Constituição Federal, desafiando
decisão do Tribunal de Justiça de Sergipe assim ementada (e-STJ, fl. 285):

AGRAVO DE INSTRUMENTO – EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA –


CONTRATOS BANCÁRIOS - AQUISIÇÃO DE CRÉDITO VULTOSO
PARA CONSTRUÇÃO DE EMPREENDIMENTO HOTELEIRO -
INAPLICABILIDADE DO CDC - INEXISTÊNCIA DE VULNERABILIDADE
DAS PESSOAS JURÍDICAS ENVOLVIDAS - PREVALÊNCIA DO FORO
DE ELEIÇÃO -JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA DO STJ - REMESSA DOS
AUTOS À COMARCA DE SALVADOR-BA - MANUTENÇÃO DA
DECISÃO A QUO - RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO - DECISÃO
UNÂNIME.

Os aclaratórios opostos foram rejeitados e receberam a seguinte ementa


(e-STJ, fl. 381):

E M B A R G O S D E DECLARAÇÃO – CONTRADIÇÃO E OMISSÃO -


EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA – CONTRATOS BANCÁRIOS -
INAPLICABILIDADE DO CDC - INEXISTÊNCIA DE VULNERABILIDADE
DAS PESSOAS JURÍDICAS ENVOLVIDAS - PREVALÊNCIA DO FORO
DE ELEIÇÃO -JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA DO STJ - REMESSA DOS
AUTOS À COMARCA SALVADOR-BA - INTUITO DE REEXAME DO
JULGADO – IMPOSSIBILIDADE – RECURSO RESTRITO ÀS
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HIPÓTESES DO ARTIGO 535 DO CPC - IMPROVIMENTO DOS
EMBARGOS - DECISÃO UNÂNIME.

Nas razões do especial, os recorrentes alegam ofensa aos arts. 458 e 535
do CPC/73; 2º, 6º, VIII, e 51, IV e XV, do CDC e 421 e 2.035 do CC/02. Sustentam que não
se aplica ao caso as disposições previstas no Código de Defesa do Consumidor.
Apontam, ainda, omissão "na medida em que deixou de declarar as patentes abusividade e
iniquidade estabelecidas pela aludida cláusula de eleição de foro, o que confronta o
princípio da função social dos contratos e onera de sobremaneira o acesso das
Recorrentes ao Judiciário e o seu regular exercício do direito de defesa" (e-STJ, fl. 318).

Juízo de admissibilidade positivo (e-STJ, fls. 350-352).

Brevemente relatado, decido.

Nota-se, inicialmente, que a apontada violação do art. 535, II, do CPC não se
configura, haja vista o Tribunal estadual ter dirimido integralmente a controvérsia (e-STJ,
fls. 284-292).

Como visto, apesar de rejeitados os embargos de declaração, a matéria em


exame foi suficientemente enfrentada pelo Colegiado de origem, que sobre ela emitiu
pronunciamento de forma fundamentada, ainda que em sentido contrário à pretensão dos
recorrentes.

Ademais, a jurisprudência desta Corte é pacífica ao proclamar que, se os


fundamentos adotados bastam para justificar o concluído na decisão, o julgador não está
obrigado a rebater, um a um, os argumentos utilizados pela parte. Nesse sentido é que se
afirmou que o mero descontentamento da parte recorrente com o resultado do julgado não
caracteriza afronta ao art. 535 do CPC.

A propósito:

PROCESSO CIVIL. AGRAVO. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE.


NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. INEXISTÊNCIA DE
OMISSÃO OU CONTRADIÇÃO.
1. O artigo 535 do Código de Processo Civil dispõe sobre omissões,
obscuridades ou contradições existentes nos julgados. Trata-se, pois,
de recurso de fundamentação vinculada, restrito a situações em que
se verifica a existência dos vícios na lei indicados.
2. Afasta-se a violação do art. 535 do CPC quando o decisório está
claro e suficientemente fundamentado, decidindo integralmente a
controvérsia.
[...].
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4. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no Ag n. 1.176.665/RS, Relator Ministro João Otávio de
Noronha, Terceira Turma, DJe de 19/5/2011).

Extrai-se dos autos que tanto a sentença quanto o Tribunal estadual


concluíram que a relação contratual estabelecida entre as partes, pelas próprias
características que ostenta, não pode conduzir à incidência das normas protetivas
preconizadas pelo Código de Defesa do Consumidor. A decisão foi assim fundamentada
(e-STJ, fls. 284-292):

"Inicialmente, analisando os autos do processo principal, verifico que


se trata de contratação de vultoso crédito com o Banco do Nordeste,
consoante escrituras públicas de abertura de crédito assinadas em
28/05/2008 (R$ 16.857.500,00) e 28/12/2010 (R$ 5.586.341,25) e
sucessivos aditivos (fls. 61 e seguintes), os quais expressamente
ajustaram cláusula de eleição de foro para dirimir as questões
oriundas dos contratos, elegendo a Comarca de Salvador, Estado da
Bahia para resolução da controvérsia. (...)
Da mesma forma, foi firmado pelas partes um Contrato particular de
composição e confissão de dívidas, em 23 de agosto de 2012, acerca
de um terceiro contrato de abertura de crédito em julho/2011, no valor
de R$ 2.000.000,00, prevendo a cláusula vigésima quarta a cláusula
de eleição de foro na comarca de Salvador-BA, com a mesma redação
da cláusula 34ª citada acima (fls. 108/124).
Cumpre esclarecer que a agência do Banco do Nordeste, responsável
pela liberação do montante consignado em favor dos agravantes,
localiza-se exatamente na comarca de eleição do foro, qual seja,
Salvador/BA. Da mesma forma, os agravantes possuem domicílio legal
am Salvador/BA, conforme consta dos contratos e aditivos adunados
aos autos.
Não se pode olvidar também que, consoante se infere dos
instrumentos contratuais, dos diversos bens dados em garantia,
somente dois terrenos estão situados em Aracaju-SE (Matrícula
41.401 e 44.067 - fls. 79/87 e 149/177).
Destaque-se também que, conquanto a pessoa jurídica possa
ostentar a condição de consumidora, no caso dos autos está ausente
o elemento material que justifique tal inclusão: a vulnerabilidade, em
seu sentido amplo. Com efeito, as empresas possuem capital social
concernente a sua condição de conglomerado econômico de alto
porte e os investimentos vultosos pretendidos com o agravado
serviriam para construção de hotel na cidade do Salvador/BA, cujo
empreendimento não está acessível a qualquer pessoa jurídica. Basta
que se verifique o montante dos imóveis dados em garantia do
financiamento, para se afirmar a inexistência de qualquer
vulnerabilidade das agravantes, seja técnica, econômica ou jurídica.
(...)
Assim, a relação contratual estabelecida entre as partes, pelas
próprias características que ostenta, não pode conduzir à incidência
das normas protetivas preconizadas pelo Código de Defesa do
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Consumidor.
O contrato firmado entre as partes não é padronizado ou de adesão.
In casu, a abertura de crédito foi instrumentalizada por escritura
pública lavrada no Tabelionato do Segundo Ofício de notas da
Comarca de Salvador-BA (fls. 61 e seg.) e no Cartório de registros
Civil da Comarca de Esplanada-BA (fls. 90 e seg). Da mesma forma o
1º Aditivo e 2º Aditivo (fls. 83 e seg.).
Deve prevalecer, portanto, o dogma do pacta sunt servanda,
perfeitamente lícita e legal a cláusula contratual de eleição de foro.

Observa-se que o acórdão recorrido encontra-se em consonância com o


entendimento desta Corte no sentido do não afastamento da cláusula de eleição de foro,
ante a ausência de quaisquer elementos que denotem a existência de desigualdade entre
os contratantes, ou mesmo evidenciem a dificuldade dos réus em litigar no foro eleito.
Aplica-se a Súmula n. 83 do STJ ao caso.

Nesse mesmo sentido, colaciono os seguintes precedentes:

AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO DE


EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. INEXISTÊNCIA DE
RELAÇÃO DE CONSUMO. COMPETÊNCIA DO FORO DE ELEIÇÃO.
RECURSO DESPROVIDO. 1. Tendo sido o contrato firmado entre
duas pessoas jurídicas, com o escopo de atender às necessidades
financeiras de uma delas, não se pode inferir dos autos a
hipossuficiência da compromitente cedente. Trata-se de relação
mercantil e não consumerista. Ainda que se pudesse mitigar a
aplicação de tal regra, no caso, não há razão para o afastamento da
cláusula de eleição de foro, ante a ausência de quaisquer elementos
que denotem a existência de desigualdade entre os contratantes, ou
mesmo evidenciem a dificuldade dos réus em litigar no foro eleito. 2.
Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no CC n. 144.124/SP. Minha relatoria, Segunda Seção, DJe
1/4/2016).

RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE RESCISÃO DE CONTRATO DE


COMPRA E VENDA DE PRODUTOS AGRÍCOLAS PROMOVIDA NO
FORO DO DOMICÍLIO DOS AUTORES DA AÇÃO - EXCEÇÃO DE
INCOMPETÊNCIA, DESTINADA A FAZER PREVALECER O FORO
ELEITO CONTRATUALMENTE PELAS PARTES - DESACOLHIMENTO
PELAS INSTÂNCIAS PRECEDENTES - EM SE TRATANDO DE
RELAÇÃO TIPICAMENTE EMPRESARIAL, COMPOSTA, DE UM LADO,
POR UMA MULTINACIONAL DO SETOR AGRÍCOLA E, DE OUTRO,
POR PRODUTORES RURAIS DE GRANDE PORTE, A CLÁUSULA
CONTRATUAL DE ELEIÇÃO DE FORO VOLUNTÁRIA E
CONSENSUALMENTE POR ELES AJUSTADA AFIGURA-SE
PLENAMENTE HÍGIDA E EFICAZ - RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
INSURGÊNCIA DA EMPRESA DEMANDADA. Hipótese em que as
instâncias ordinárias reconheceram a invalidade da cláusula de
eleição de foro, ante a superioridade econômica de um dos
contratantes em relação ao outro, reputando competente para
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conhecer e julgar a ação de rescisão de contrato de compra e venda
de produtos agrícolas o foro do domicílio dos autores, comarca em
que a empresa ré teria agência ou sucursal, com esteio no artigo 100,
IV, 'b', do CPC. 1. O Tribunal de origem enfrentou, detidamente, as
matérias que lhe foram submetidas em sede de agravo de
instrumento, adotando, segundo sua convicção, fundamentação
suficiente, porém, contrária às pretensões exaradas pela parte
recorrente, o que não autoriza, a toda evidência, a oposição dos
embargos de declaração. 2. De acordo com o artigo 100, IV, 'b', do
CPC, a pessoa jurídica será demandada no domicílio em que situada
sua sucursal, desde que as obrigações tenham sido assumidas por
esta filial. Não basta, portanto, para efeito de definição de
competência, a simples existência de agência ou sucursal em
determinada comarca, mas que a contratação sub judice tenha se
dado por esta filial, necessariamente. Circunstância, é certo,
inocorrente na hipótese dos autos. 3. Em se tratando de critério
territorial, a lei adjetiva civil confere às partes a possibilidade de
derrogar as correspondentes regras de competência fixada na lei
(artigo 111, do CPC). Nessa extensão, o foro escolhido pelas partes
afigura-se competente para conhecer e julgar a ação destinada a
rescindir o contrato de compra e venda, salvo se a correspondente
disposição contratual encerrar vício insanável. 3.1. A cláusula de
eleição de foro inserta em contrato de adesão é, em princípio, válida e
eficaz, sempre que restarem caracterizados, concretamente, a
liberdade para contratar da parte aderente (assim compreendida
como a capacidade técnica, jurídica e financeira) e o resguardo de
seu acesso ao Poder Judiciário. Precedentes. 4. Ressai dos autos que
os demandantes são produtores rurais de grande porte. A corroborar
esta conclusão, o vulto econômico do contrato celebrado pelas partes
(R$ 4.502.000,00 - quatro milhões, quinhentos e dois mil reais, em
06.07.2005), assim como a contraprestação a cargo dos produtores
rurais, consistente na expressiva venda de vinte milhões e
quatrocentos mil quilos de soja, a ser entregues, proporcionalmente,
em quatro anos, evidenciam, de modo inequívoco, a capacidade
técnica, econômica e jurídica dos produtores rurais, autores da ação.
5. Estabelecida relação tipicamente empresarial, composta, de um
lado, por uma multinacional do setor agrícola e, de outro, por
produtores rurais de grande porte, a cláusula contratual de eleição de
foro voluntária e consensualmente por eles ajustada afigura-se
plenamente hígida e eficaz. 6. Recurso especial PROVIDO, para
acolher a exceção de incompetência, reputando válida a cláusula de
eleição de foro.
(REsp n. 1.055.185/PR. Relator Marco Buzzi, Quarta Turma, DJe
7/4/2014).

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXCEÇÃO DE


INCOMPETÊNCIA. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS. CONTRATO
DE CONCESSÃO COMERCIAL POR ADESÃO. CLÁUSULA DE
ELEIÇÃO DE FORO. VALIDADE. 1. A cláusula que estipula a eleição
de foro em contrato de adesão é válida, salvo se demonstrada a
hipossuficiência ou a inviabilização do acesso ao Poder Judiciário. 2. A
superioridade do porte empresarial de uma das empresas
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contratantes não gera, por si só, a hipossuficiência da outra parte, em
especial, nos contratos de concessão empresarial. 3. As pessoas
jurídicas litigantes são suficientemente capazes, sob o enfoque
financeiro, jurídico e técnico, para demandarem em comarca que,
voluntariamente, contrataram. 4. Recurso especial provido.
(REsp n. 1.299.422/MA. Relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira
Turma, DJe 22/8/2013).

RECURSO ESPECIAL - PROCESSO CIVIL - NEGATIVA DE


PRESTAÇÃO JURISDICIONAL - NÃO OCORRÊNCIA - EXCEÇÃO DE
INCOMPETÊNCIA - AÇÃO DE EXTINÇÃO DE HIPOTECA (AÇÃO QUE
NÃO SE ENCONTRA FUNDADA EM DIREITO REAL, ATINGINDO-O
APENAS INDIRETAMENTE) - HIPÓTESE NÃO INSERIDA NO ROL
CONSTANTE DA SEGUNDA PARTE DO ARTIGO 95 DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL, QUE VEICULA CRITÉRIO DE COMPETÊNCIA
TERRITORIAL FUNCIONAL - COMPETÊNCIA TERRITORIAL -
CRITÉRIO DE COMPETÊNCIA RELATIVA - DERROGAÇÃO DAS
PARTES - POSSIBILIDADE - CLÁUSULA DE ELEIÇÃO DE FORO
INSERIDA EM CONTRATO DE ADESÃO - VALIDADE, DESDE QUE
AUSENTES A HIPOSSUFICIÊNCIA DA PARTE ADERENTE E A
INVIABILIZAÇÃO DO ACESSO AO PODER JUDICIÁRIO - PARTES
COM CAPACIDADE TÉCNICA, JURÍDICA E FINANCEIRA -
VERIFICAÇÃO - RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. I - Nos termos do
artigo 95 do Código de Processo Civil, é possível identificar que o
critério de competência adotado para as ações fundadas em direito
real é territorial, porém, com características híbridas, porquanto, ora
com viés relativo (em regra), ora com viés absoluto (nas hipóteses
expressamente delineadas). II - O mencionado dispositivo legal deixa
assente que as ações reais imobiliárias tem como foro competente a
comarca em que se encontra situado o bem imóvel. Trata-se, é certo,
de fixação de competência territorial, e, por isso, em regra, relativa,
admitindo-se a derrogação do foro pelas partes, ou mesmo sua
prorrogação, nos termos dos artigos 111 e 114 do Código de
Processo Civil, respectivamente. Entretanto, nos termos legais, caso o
litígio recaia sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse,
divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova, a ação
correspondente deverá necessariamente ser proposta na comarca em
que situado o bem imóvel, já que, de acordo com norma cogente, a
competência é, nesses casos, territorial funcional e, portanto,
absoluta. III - Por consectário, a ação, ainda que se refira a um direito
real sobre imóvel, excluídos aqueles que expressamente ensejam a
competência absoluta do foro em que situada a coisa, poderá ser
ajuizada pelo autor no foro do domicílio (alternativa, in casu, não
adotada pela parte autora) ou, se houver, no foro eleito pelas partes,
justamente por se estar diante do critério territorial, de nuance
relativa; IV - Para que a ação seja necessariamente ajuizada na
comarca em que situado o bem imóvel, esta deve ser fundada em
direito real (naqueles expressamente delineados pelo artigo 95 do
Código de Processo Civil), não sendo suficiente, para tanto, a mera
repercussão indireta sobre tais direitos. V - A cláusula que estipula a
eleição de foro em contrato de adesão é, em princípio, válida, desde
que verificadas a necessária liberdade para contratar (ausência de
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hipossuficiência) e a não inviabilização do acesso ao Poder Judiciário.
As pessoas jurídicas litigantes são suficientemente capazes, sob o
enfoque financeiro, jurídico e técnico, para demandarem em qualquer
comarca que, voluntariamente, assim contratem; VI - Recurso Especial
improvido.
(REsp n. 1.048.937/PB. Relator Massami Uyeda, Terceira Turma, DJE
3/3/2011).

A revisão do entendimento a que chegou o Tribunal de origem acerca da não


configuração da hipossuficiência dos recorrentes exigiria o reexame dos elementos
fático-probatórios dos autos, o que é defeso nessa fase recursal, a teor da Súmula n. 7 do
STJ.

Ante o exposto, nego seguimento ao recurso especial.

Publique-se.

Brasília-DF, 17 de abril de 2016.

MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Relator

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