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SUMÁRIO

Abreviaturas e Siglas Usadas

Prefácio .............................................

Introdução ..........................................
Capítulo I – Lei nº 10.352, de 26 de dezembro de 2001
Capítulo II – Lei nº 10.358, de 28 de dezembro de 2001
Capítulo III – Lei nº 10.444, de 07 de maio de 2002
Capítulo IV – Algumas Questões de Direito Intertemporal
BIBLIOGRAFIA .........................................
Índice Sistemático ...................................
ABREVIATURAS E SIGLAS USADAS

AJURIS – Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul


APAMAGIS – Associação Paulista de Magistrados
AR – Ação Rescisória
CEJUS – Centro de Estudos do Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul
CETARS – Centro de Estudos do extinto Tribunal de Alçada do Rio
Grande do Sul
CPC – Código de Processo Civil
DJU – Diário da Justiça da União
ETAB – Encontro de Tribunais de Alçada do Brasil
IPERGS – Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul
JTJ – Jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo
Lex-JTA – Jurisprudência dos Tribunais de Alçada Cíveis de São
Paulo
RE – Recurso Extraordinário
REO – Recurso Ex Officio
REsp – Recurso Especial
RF - Revista Forense
RISTF – Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal
ROMS – Recurso Ordinário em Mandado de Segurança
RSTJ – Revista do Superior Tribunal de Justiça
RT – Revista dos Tribunais
RTJ – Revista Trimestral de Jurisprudência
RTJE – Revista Trimestral de Jurisprudência dos Estados
TARGS – extinto Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul
Paulo
TFR – extinto Tribunal Federal de Recursos

2
PREFÁCIO

Representou grande honra o convite que me foi dirigi-


do para prefaciar o presente, que envolve o estudo sistematizado
das recentes reformas introduzidas no Código de Processo Civil,
traduzidas nas Leis nº 10.352, 10.358 e 10.444, as duas primeiras
de dezembro de 2001, e a última de maio de 2002.

O autor, juiz de direito em uma das varas da Fazenda


Pública da Comarca de Porto Alegre, e Professor da Escola Superior
da Magistratura do RGS, já há tempo é conhecido nos meios literá-
rios jurídicos, por seus vários trabalhos publicados em revistas
especializadas de direito. Além de ter se firmado como um magis-
trado culto, operoso e avançado em questões polêmicas, sempre re-
velou dotes próprios de doutrinador pelo estudo e conhecimento de-
monstrados, pela forma fluente de escrever, pela beleza redacional
e pela natural facilidade de expor suas idéias.

Com absoluta certeza, os comentários ora oferecidos


às leis referidas não apenas enriquecem a literatura existente,
mas preenchem lacunas que se faziam sentir e próprias de obras que
buscaram mais trazer uma idéia e uma primeira visão das inovações.
Com maior reflexão e amadurecimento, o Autor apresenta um amplo
exame de todos os pontos disciplinados, fazendo-o pelos assuntos
que foram afetados, não se limitando a uma apreciação dos disposi-
tivos introduzidos ou modificados. Nesse particular, importante
notar o enfoque dado sempre em relação ao sistema que antes vigo-
rava frente às alterações, com destaque para a ampla abordagem da
nova ordem procedimental.

Abrangem as novas disposições dois extensos campos de


procedimentos: o do processo em si, cuja direção está mais à mão
do juiz de instância originária, e o dos recursos, na esfera da
segunda instância. Visível o intuito dirigido a agilizar e simpli-
ficar a prestação jurisdicional, procurando escoimá-la de entraves
e formalismos que, além de não beneficiar as partes, tolhiam a li-
berdade do juiz e dificultavam o andamento dos processos.

De grande relevância, por exemplo, a instituição da


repressão ao contempt of court, as situações que comportam a dis-
tribuição por dependência, ao momento de apresentação do rol de
testemunhas, às intimações para a perícia, aos novos casos de con-
cessão da tutela antecipada, à exclusão do procedimento sumário de
certos tipos de ações, à cominação de pena pecuniária para o cum-
primento de algumas obrigações nomeadas, às ações de entrega de
coisa, de fazer e de abstenção, ao processo de execução, além das
inúmeras alterações relativamente ao processamento recursal.

3
O estudo apresentado pelo autor oportuniza um cor-
reto, claro e fácil entendimento das disposições trazidas pelos
diplomas acima, constituindo um enriquecimento para a literatura
jurídica, que marcará o direito processual civil.

Arnaldo Rizzardo

4
INTRODUÇÃO

Editadas ao apagar das luzes do ano findo, as leis


federais nº 10.352 e 10.358/01, juntamente com a Lei n° 10.444/02,
promulgada em maio passado, consistem, em realidade, em uma mini-
reforma da legislação processual civil brasileira, tencionando
contribuir, dentro do possível, para uma mais célere e efetiva
prestação jurisdicional, além de trazer para o sistema normativo
alguns posicionamentos da jurisprudência, relativamente a altera-
ções anteriores do CPC, seja aquelas da ampla reforma de 1994, se-
ja as relativas aos recursos, introduzidas pela Lei nº 9.756/98. 1

Não se trata, obviamente, de uma ampla reforma da le-


gislação processual civil pátria, como a levada a efeito pelas
Leis nº 8.950, 8.951, 8.952 e 8.953, de 13.12.94. Disse Sérgio
Bermudes, nos esclarecimentos preliminares à 1ª edição de sua obra
A REFORMA DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL – Observações às leis:
8.950, 8.951, 8.952, 8.953, de 13.12.94 que “De tal modo as Leis
de n. 8.950, 8.950, 8.952 e 8.953 transformaram o Código, que não
será exagero falar na reforma dele”. 2

Já CANDIDO RANGEL DINAMARCO, em sua obra A REFORMA DO


CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 3 refere-se à “reforma do Código de Pro-
cesso Civil” como sendo “o conjunto dinâmico de leis que alteraram
o estatuto processual básico desde que existe”. E nesse conjunto
ele inclui doze leis modificadoras do CPC, “a principiar daquela
que em 1992 deu nova redação a dispositivos do Código disciplina-
dores da prova pericial (lei n. 8.455, de 24.8.92), passando pelas
quatro leis aprovadas em 13 de dezembro de 1.994 (leis nn. 8.950
ss.), com novidades abrangendo disposições sobre o processo civil
em geral, processo de conhecimento, tutela jurisdicional, recur-
sos, execução, astreintes, processo cautelar, procedimentos espe-
ciais etc. e chegando às leis nn. 9.079, de 14.7.95 (processo mo-
nitório), 9.139, de 30.11.95 (recurso de agravo), e 9.245, de
26.12.95 (procedimento sumário)”.

Passa-se, pois, a esmiuçar as recentes alterações le-


gislativas objeto do presente estudo.

1
- a respeito das alterações da Lei nº 9.756/98, recomenda-se a leitura
de artigo do autor, publicado na Revista da AJURIS, nº 75, de setem-
bro/99, sob o título CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEI Nº 9.756/98.
2
- Editora Saraiva, São Paulo, 2ª edição, 1996, pág. IX.
3
- Malheiros Editores, 3ª edição, São Paulo, 1996, pág. 32/33.

5
Capítulo I

LEI Nº 10.352, DE 26 DE DEZEMBRO DE 2.001

1.1) Duplo grau de jurisdição obrigatório - algumas


considerações sobre o instituto:

O duplo grau de jurisdição obrigatório, o reexame ne-


cessário, remessa obrigatória, ou também chamado de recurso ex of-
ficio, é, segundo NELSON NERY JUNIOR 4, “tradicional no direito
brasileiro, oriunda do sistema medieval e sem correspondente no
direito comparado, antigamente conhecida como ‘apelação ex offi-
cio’. [...] A justificação histórica do aparecimento da remessa
obrigatória se encontra nos amplos poderes que tinha o magistrado
no direito intermédio, quando da vigência do processo inquisitó-
rio. O direito lusitano criou, então, a ‘apelação ex officio’, pa-
ra atuar como sistema de freio àqueles poderes quase onipotentes
do juiz inquisitorial”.

Em que pese a opinião de vários juristas de escol 5, a


maioria da doutrina brasileira orienta-se no sentido de que o ree-
xame necessário não é recurso, mas sim condição de eficácia da
sentença.

CLAUDIA A SIMARDI 6, depois de analisar pressupostos e


características 7 dos recursos, afirma que “Diante da ausência das
citadas características, pode-se concluir que a remessa obrigató-
ria não tem natureza jurídica de recurso, nada obstante seu proce-
dimento no tribunal ser idêntico ao da apelação, inclusive quanto
à possibilidade de ocorrer a substituição da sentença pelo julga-
mento da instância superior”.

1.1.2) A nova disciplina do duplo grau de jurisdição


obrigatório:

4
- PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS – Teoria Geral dos Recursos, Editora Revista
dos Tribunais, 5ª edição, São Paulo, 2000, p. 57/58.
5
- Sérgio Bermudes, Carvalho Netto e José Eustáquio Cardoso.
6
- REMESSA OBRIGATÓRIA, no livro ASPECTOS POLÊMICOS E ATUAIS DOS RECUR-
SOS, Coordenação: Eduardo Pelegrini de Arruda Alvim e outros, Editora
Revista dos Tribunais, 1ª edição, São Paulo, 2000, p. 126.
7
- são elas, segundo a jurista citada: voluntariedade, tipicidade, dia-
leticidade, interesse em recorrer, legitimidade, tempestividade e prepa-
ro.

6
8
Redação anterior:

Art. 475 Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois
de confirmada pelo tribunal, sentença:

I - que anular o casamento


II - proferida contra a União, o Estado e o Município;
III - que julgar improcedente a execução de dívida ativa da Fazenda Pública (Art. 585, n
VI)
Parágrafo único Nos casos previstos neste artigo, o juiz ordenará a remessa dos autos
ao tribunal, haja ou não apelação voluntária da parte vencida; não o fazendo, poderá o
presidente do tribunal avocá-los

Redação atual:

Art. 475. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois
de confirmada pelo tribunal, a sentença:

I – proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município, e as respec-


tivas autarquias e fundações de direito público;

II – que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução de dí-


vida ativa da Fazenda Pública (art. 585, VI).

o
§ 1 Nos casos previstos neste artigo, o juiz ordenará a remessa dos autos ao tri-
bunal, haja ou não apelação; não o fazendo, deverá o presidente do tribunal avo-
cá-los.

o
§ 2 Não se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenação, ou o direito
controvertido, for de valor certo não excedente a 60 (sessenta) salários mínimos,
bem como no caso de procedência dos embargos do devedor na execução de dí-
vida ativa do mesmo valor.

o
§ 3 Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver
fundada em jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal Federal ou em sú-
mula deste Tribunal ou do tribunal superior competente.

A nova redação do art. 475 do CPC tem por escopo res-


tringir as hipóteses em que o duplo grau de jurisdição torna-se
obrigatório, independentemente da vontade das partes e, quando ca-
bível, do Ministério Público.

1.1.2.1) Não há mais reexame necessário da sentença


que decretar o casamento:

8
- chama-se a atenção do leitor para o fato de que esta obra chega às
bancas quando já em vigor as leis n° 10.352, 10.358/01 e 10.444/02. Por
isso, no confronto entre as redações anterior e atual dos dispositivos
alterados, a ordem é exatamente esta. Quer dizer: a redação anterior é
aquela vigente antes da entrada em vigor das citadas leis; a atual é a
decorrente das alterações legislativas ora em comento. Além disso, para
salientá-las, as alterações estão destacadas em negrito e itálico.

7
Primeiro, pela supressão da exigência do também cha-
mado reexame necessário para as sentenças que anularem o casamen-
to, previsto no inc. I do art. 475 do códex processual.

Trata-se de modificação realmente necessária, pois


jamais houve razão prática para que o trânsito em julgado da sen-
tença que anular o casamento estivesse condicionado a seu reexame
pelo Tribunal de apelação.

Por mais que o Estado tenha interesse em preservar o


casamento, e ainda que se entenda que sua anulação (não se confun-
da com dissolução da sociedade conjugal – separação judicial – ou
do vínculo matrimonial – divórcio) só possa ocorrer nas hipóteses
expressamente previstas em lei – Código Civil, art. 207 e segs -,
que são tidas como numerus clausus, não permitindo interpretação
extensiva, não se concebe que, em pleno século XXI, persista a ne-
cessidade de uma tutela extraordinária do Estado sobre tal insti-
tuto jurídico.

Ademais, não se pode olvidar que, por força do Código


Civil, art. 222, é necessária, para a validade do processo de anu-
lação de casamento, a nomeação do chamado Curador ao vínculo, que
tem legitimidade, assim como o Ministério Público, cuja interven-
ção é obrigatória (CPC, art. 82, II), para recorrer da sentença
que anular o casamento. Assim, além do próprio cônjuge demandado
(ou quando forem réus os dois cônjuges, nas hipóteses de anulação
proposta por terceiro – Código Civil, art. 213, incs. II e III),
existirão pelo menos três legitimados para recorrer da sentença,
não se fazendo necessário o reexame da causa pelo Tribunal, ine-
xistente recurso daqueles.

1.1.2.2) O duplo grau de jurisdição obrigatório nas


causas de interesse da Fazenda Pública lato sensu:

De outra banda, o inc. II do art. 475 passou a ser o


inc. I, tendo sua redação alterada, a fim de que nele se consoli-
dasse, também, a previsão do duplo grau de jurisdição obrigatório
como condição para o trânsito em julgado da sentença nas hipóteses
de demandas movidas contra autarquias e fundações públicas, que
foram incluídas na hipótese de incidência do citado inc. II (reda-
ção anterior) pela medida provisória nº 1.561/97, art. 10º, 9 pos-
teriormente convertida na Lei nº 9.469/97.

Ressalte-se que, até alguns anos, a jurisprudência


estava dividida acerca da incidência do inc. II do art. 475 (reda-

9
- a redação do dispositivo é a seguinte: “Aplica-se às autarquias e
fundações públicas o disposto nos arts. 188 e 475, caput, e no seu inciso
II, do Código de Processo Civil”.

8
ção anterior), tanto que muitos julgados entendiam cabível o duplo
grau de jurisdição obrigatório nas sentenças proferidas contra au-
tarquias. Todavia, a súmula nº 620 do Supremo Tribunal Federal se-
pultou a discussão, afastando a necessidade do reexame necessário
para as sentenças proferidas contra as autarquias. Justo porque o
legislador, no dispositivo em comento, não usou a expressão Fazen-
da Pública, que segundo a doutrina e jurisprudência, abrange as
autarquias, mas tão-somente nomeou as pessoas jurídicas de direito
público interno União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

Não se pode esquecer que o reexame necessário previs-


to no inc. I (nova redação) só se aplica quando a pessoa jurídica
de direito público interno figura na condição de ré, não de auto-
ra. Justo por isso é que a jurisprudência tem entendido não estar
sujeita ao duplo grau de jurisdição obrigatório a sentença que
julgar improcedentes os Embargos do Devedor aforados contra execu-
ção de sentença proferida em desfavor da Fazenda Pública. 10

1.1.2.3) O reexame necessário nos embargos contra


execução da dívida ativa:

O inc. III do art. 475 (redação anterior) passou a


ser o inc. II, com redação mais adequada. Realmente, a redação an-
terior, que previa o duplo grau de jurisdição obrigatório da sen-
tença que julgar improcedente a execução da dívida ativa da Fazen-
da Pública (art. 585, n. VI) era de nenhuma técnica, na medida em
que a execução não tem juízo de procedência ou improcedência.

Em verdade, essa disposição legal aplicava-se aos Em-


bargos do Devedor na execução da dívida ativa da Fazenda Pública
(aqui, não se incluíam apenas União, Estados, Distrito Federal e
Municípios, mas também suas autarquias, que são abrangidas pelo
conceito de Fazenda Pública), pois são esses que sofrem juízo de
procedência (parcial ou total).

O novo dispositivo está, assim, melhor elaborado sob


o aspecto de técnica legislativa, uma vez que prevê o duplo grau
de jurisdição obrigatório na hipótese da sentença que julgar pro-
cedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução de dívida
ativa da Fazenda Pública (art. 585. VI). Ficou claro que a hipóte-

10
- nesse sentido: Superior Tribunal de Justiça Tribunal de Justiça
(REsp nº 16.548/SP, 6ª Turma, Relator o Ministro Vicente leal, in DJU
11.05.98) e Tribunal Regional Federal da 4ª Região (Apelação Cível nº
1998.04.01.070546-9/RS, 6ª Turma, Relator o Juiz João Surreaux Chagas,
julgada em 29.06.99, Apelação Cível nº 1999.04.01.063079-6/RS, 5ª Turma,
Relatora a Juíza Virgínia Scheibe, julgada em 14.10.99, in DJU de
03.11.99 e REO 97.04.71579-0, 1ª Turma, Relator o Juiz Fábio Bittencourt
da Rosa, in DJU de 02.09.88).

9
se abarca não só a total sucumbência da Fazenda Pública, mas tam-
bém quando o decaimento é parcial, o que não ocorria na redação
anterior, que cogitava apenas da improcedência – obviamente, a
doutrina e a jurisprudência sempre entenderam que o reexame neces-
sário era aplicável, também, na hipótese de parcial improcedência
da execução da dívida ativa da Fazenda Pública.

Aspecto importante, todavia, deve ser salientado. O


reexame necessário, nas hipóteses do inc. II (nova redação), ocor-
re apenas quando se tratar de Embargos do Devedor aforados contra
execução da dívida ativa, ou seja, nas hipóteses previstas no art.
2º da Lei nº 6.830/80. Assim, não é execução de dívida ativa aque-
la em que a Fazenda Pública seja credora em virtude de título exe-
cutivo judicial, oriundo, por exemplo, de ação de reparação de da-
nos movida pelo Tesouro do Estado contra particular, em função de
acidente de trânsito. Ou, caso mais comum, na execução de encargos
sucumbenciais arbitrados em favor da Fazenda Pública. Nessa hipó-
tese, não haverá obrigatoriedade do duplo grau de jurisdição em
relação à sentença que acolher, total ou parcialmente, os Embargos
do Devedor, a não ser em relação a eventual imposição, à Fazenda
Pública, de encargos sucumbenciais no novo decisório. 11

1.1.3) A nova redação do § 1º do art. 475:

O § 1º do art. 475 (nova redação) reproduz, quase que


fielmente, o caput do mesmo artigo (redação antiga). Houve, ape-
nas, alguns ajustes de técnica legislativa. Assim, na primeira
parte do dispositivo passou a constar que Nos casos previstos nes-
te artigo, o juiz ordenará a remessa dos autos ao tribunal, haja
ou não apelação, ao passo que a redação original dispunha haja ou
não apelação voluntária da parte vencida. Realmente, o uso da pa-

11
- a propósito, cumpre citar excerto da ementa de recente acórdão da
Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, do seguinte teor: III - O
legislador, ao tratar do reexame necessário, limitou seu cabimento, rela-
tivamente ao processo de execução, quando procedentes embargos opostos em
execução de dívida ativa, silenciando-se quanto aos outros casos de em-
bargos do devedor. IV - Em interpretação sistemática, tem-se que o inciso
II do art. 475, CPC dispõe apenas sobre as sentenças proferidas em pro-
cesso de conhecimento, enquanto o inciso III limita seu cabimento aos
embargos opostos em execução de dívida ativa, até mesmo porque, em tal
moldura, compatibilizam-se os interesses (Lei de Introdução, art. 5º) de
defesa do erário público e de resguardo aos hipossuficientes, estes não
só alvo de especial proteção constitucional mas também de injusta e per-
versa realidade, a dificultar-lhes, muitas vezes, o acesso à pretensão a
que por direito fazem jus. O entendimento que ora se exterioriza é também
o que melhor se adapta à nova sistemática da legislação processual dese-
jada, que objetiva a efetiva e rápida prestação jurisdicional, além de
prestigiar a definitividade da execução” (Embargos de Divergência no REsp
n° 258616/PR), 2ª Seção, Relator o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixei-
ra, julgado em 07.03.01, in DJU de 12.11.01, p. 121).

10
lavra voluntária na redação original era equivocado, pois não
existe apelação não voluntária, na medida em que o duplo grau de
jurisdição obrigatório não é recurso, mas requisito para a eficá-
cia da sentença. Rende-se o legislador, pois, à maioria da doutri-
na, que não considera recurso o reexame necessário. Assim, toda
apelação será, sempre, voluntária. De outra banda, desnecessária a
referência à apelação da parte vencida, na medida em que o reexame
necessário deve ocorrer mesmo que apenas a parte vencedora apele
(por exemplo, apenas para elevar a verba honorária).

Além disso, corrigiu-se, na segunda parte do disposi-


tivo em comento, uma impropriedade técnica, na medida em que se
previa que, não havendo a remessa dos autos ao Tribunal de apela-
ção pelo Juiz (na hipótese de não haver apelação), poderá o presi-
dente do tribunal avocá-los. Ora, se o reexame da sentença pelo
Tribunal é necessário, obrigatório, na medida em que condição de
eficácia do decisório, o Presidente da Corte de apelação não tem
faculdade, mas sim obrigação de avocar os autos. Por isso, correta
a alteração legislativa, pois o dispositivo passou a constar, em
sua segunda parte, com a seguinte redação: não o fazendo, deverá o
presidente do tribunal avocá-los.

1.1.4) As hipóteses de dispensa do duplo grau de ju-


risdição obrigatório:

1.1.4.1) Dispensa pelo valor da condenação ou do di-


reito controvertido:

Pelo segundo parágrafo do art. 475, dispensa-se o


duplo grau de jurisdição obrigatório nas causas em que a condena-
ção ou o direito controvertido for de valor certo não excedente a
60 salários mínimos, 12 bem como no caso de procedência dos embar-
gos do devedor na execução de dívida ativa do mesmo valor.

Quanto ao valor da condenação, certo que esse deve


englobar todos os consectários legais, inclusive encargos sucum-
benciais. Para tanto, o juiz deverá determinar que a Contadoria
apure, na data da sentença, qual o valor a ser pago pelo ente pú-
blico, a fim de verificar se é ou não necessário o reexame neces-
sário. A previsão do legislador trará certos embaraços, na medida
em que sempre poderá haver incidentes para a apuração, antes mesmo
da execução, do valor da condenação.

Discorda-se, pois, de CLAUDIA A. SIMARDI 13, para quem


se trata de hipótese em que o critério é eminentemente objetivo.

12
- no anteprojeto, esse limite era de 40 salários mínimos.
13
- obra citada, p. 136.

11
Melhor que, ao invés de condenação, o legislador ti-
vesse usado valor da causa, ressalvada a possibilidade de prevale-
cer o valor daquela somente quando inferior a esse, ou nas causas
em que o valor da condenação é deixado ao arbítrio do juiz, como
na maioria das ações de reparação por dano moral, em que à causa é
atribuído valor inestimável. 14 Nessa hipótese, deveria ser obriga-
ção do juiz fiscalizar o valor atribuído à causa, podendo inclusi-
ve alterá-lo de ofício, o que parte da doutrina e jurisprudência
entendem incabível.

Ademais, não se pode olvidar que não mais existe o


procedimento de liquidação da sentença. Assim, não havendo apela-
ção da sentença, o próximo passo a ser tomado é a sua execução, em
que o credor apresentará o demonstrativo de que trata o CPC, art.
604. Assim, não previu o legislador da mini-reforma o momento em
que será apurado o valor da condenação para os fins da dispensa do
duplo grau de jurisdição obrigatório.

Necessário, pois, que se instaurasse uma espécie de


incidente de apuração da condenação, decorrido o prazo sem recurso
pela Fazenda Pública, ao fim do qual sobreviesse decisão interlo-
cutória – agravável, pois, e não apelável, como era a sentença que
julgava a liquidação por cálculo do contador, hoje inexistente -,
em que o juiz fixasse o valor da condenação, para os fins de que
se cogita. E, por economia processual, uma vez fixado esse valor,
sem recurso (ou transitado em julgado o decisum do interposto por
qualquer das partes), não mais houvesse a possibilidade de voltar
a ser discutido, em sede de Embargos do Devedor.

Logicamente, isso seria uma volta ao sistema já abo-


lido pela Lei nº 8.898/94, que extinguiu a liquidação da sentença
por cálculo do contador, o que, convenhamos, é totalmente desacon-
selhável.

Certo, se houver apelação interposta por qualquer das


partes, não mais cabe ao juiz decidir se haverá ou não reexame ne-
cessário, sendo da competência do órgão de segundo grau de juris-
dição a decisão acerca de sua necessidade ou desnecessidade.

Quanto ao direito controvertido, deve corresponder ao


valor da causa, na medida em que considera a importância econômica
da demanda. Como não há condenação, o reexame necessário será dis-
pensado sempre que o valor da causa (fiscalizado e, se necessário,
alterado pelo juiz, de ofício, como já dito alhures) não seja su-
perior a 60 salários mínimos. Ressalvada, entretanto, a hipótese
da condenação em encargos da sucumbência resultar em valor superi-

14
- no Rio Grande do Sul, as causas de valor inestimável correspondem,
para fins de preparo, ao equivalente a 50 URC’s, hoje pouco mais de R$
600,00.

12
or, caso em que o critério para a não dispensa do reexame será o
do valor da condenação.

1.1.4.2) Dispensa pelo valor da dívida ativa em exe-


cução:

Com respeito aos Embargos do Devedor interpostos con-


tra execução de dívida ativa, o valor até o qual está dispensado o
reexame necessário deve corresponder ao atribuído à execução, na
data do ajuizamento, independentemente de que, quando da sentença
que julgar aqueles, o limite dos 60 salários mínimos venha a ser
porventura superado. Isso quando da total procedência dos Embargos
do Devedor.

Todavia, em caso de parcial procedência dos Embargos


do Devedor, pode ser que não haja necessidade do reexame necessá-
rio, ainda que o valor da execução seja superior a 60 salários mí-
nimos, pois importa é que a sucumbência da Fazenda Pública não su-
pere o referido teto. Assim, por exemplo, mesmo que a execução se-
ja de cem salários mínimos, não haverá reexame necessário da sen-
tença que, nos Embargos do Devedor, reduzir o débito para quarenta
salários mínimos.

Lembre-se que permanece em vigor o disposto no art.


34 da Lei nº 6.830/80, que prevê o descabimento não só do duplo
grau de jurisdição obrigatório, bem assim de apelação, manejada
por qualquer das partes, em execuções da dívida ativa e, logica-
mente, nos respectivos Embargos do Devedor, quando o valor da cau-
sa, apurado na data do ajuizamento da demanda,15 for igual ou infe-
rior a 50 ORTN’s, sendo oponíveis à sentença, tão-somente, embar-
gos de declaração e embargos infringentes, ambos julgados pelo
próprio prolator da sentença. Cabível, todavia, conforme a juris-
prudência do Supremo Tribunal Federal, 16 a interposição de recurso
extraordinário, desde que esgotada a instância ordinária mediante
embargos infringentes.

1.1.4.3) Aspecto comum nas duas hipóteses do novo §


2º:

Detalhe relevante, ainda, e que deverá despertar dis-


cussões, é na hipótese de incidência induvidosa do § 2º por ocasi-

15
- nesse sentido a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, conforme
acórdãos publicados na RTJ 115/949, 107/438, 109/391, 110/852, entre tan-
tos outros.
16
- RTJ 142/946, 144/953, 146/654, 147/316, 148/903, entre tantos ou-
tros.

13
ão da sentença. Todavia, sobrevém apelo do autor/embargante, caso
em que a sucumbência da Fazenda Pública, que antes não superava os
60 salários mínimos, passa, com o provimento (parcial ou total do
apelo), desse teto. Nesse caso, surgiria no Tribunal a necessidade
do reexame necessário? Sustenta-se que não, na medida em que o du-
plo grau de jurisdição obrigatório surge por ocasião da prolação
da sentença e, se inocorrer sua hipótese, nesse momento, reexame
não haverá, ainda que a sucumbência da Fazenda Pública seja majo-
rada na via recursal.

1.1.5) Dispensa do reexame necessário se a sentença


estiver de acordo com a jurisprudência dominante:

1.1.5.1) O conceito de jurisprudência dominante:

Segundo PRISCILA KEI SATO 17, “Pela primeira vez o le-


gislador brasileiro fez referência à expressão ‘jurisprudência do-
minante’, cabendo agora à doutrina e à jurisprudência delimitarem
os contornos desse conceito, visto que as conseqüências processu-
ais são relevantes, como o trânsito em julgado de decisões de re-
latores fundamentadas em ‘jurisprudência dominante”.

A expressão jurisprudência dominante foi introduzida


no direito processual civil brasileiro pela Lei nº 9.756/98, que
ampliou os poderes do Relator, tanto no Supremo Tribunal Federal e
Superior Tribunal de Justiça, mas também nos Tribunais de Apela-
ção.

Trata-se de conceito existente no Regimento Interno


do Supremo Tribunal Federal (art. 21, § 1º), de lá sendo trazido
ao CPC. No sodalício maior, a previsão é de que não só o entendi-
mento sumulado, mas também aquele constante de reiterados julgados
pode ser usado para a negativa de seguimento de agravo de instru-
mento interposto contra decisão denegatória de recurso extraordi-
nário, bem assim para negativa de seguimento do próprio apelo ex-
tremo. 18

A lei nº 8.038/90, em seu art. 38, ampliou o alcance


do citado dispositivo do RISTF, permitindo sua aplicação, também,
no Superior Tribunal de Justiça. Todavia, não fez menção à expres-
são “jurisprudência dominante”. Do mesmo modo, não autorizou, no
Superior Tribunal de Justiça, o provimento de recurso especial,

17
- JURISPRUDÊNCIA (PRE)DOMINANTE, in ASPECTOS POLÊMICOS E ATUAIS DOS
RECURSOS, Coordenação: Eduardo Pelegrini de Arruda Alvim e outros, Edito-
ra Revista dos Tribunais, 1ª edição, São Paulo, 2000, p. 567.
18
- note-se que, conforme o § 2º do mesmo art. 21 do RISTF, o Relator
também poderia, em caso de manifesta divergência com súmula do Supremo
Tribunal Federal, prover, desde logo, o recurso extraordinário.

14
por decisão monocrática do Relator, quando a decisão recorrida es-
tivesse em manifesta divergência com súmula da Corte. Facultou-se
a aplicação da jurisprudência dominante, tão-somente, para a hipó-
tese de negativa de seguimento de recurso.

Tal dispositivo, entretanto, foi implicitamente revo-


gado pela Lei nº 9.756/98, que alterou substancialmente o art. 557
do CPC, e introduzindo, para todos os Tribunais Pátrios, o concei-
to de “jurisprudência dominante”. Além disso, a jurisprudência do-
minante passou a servir não só para o julgamento de recursos nos
Tribunais, via decisão monocrática, mas também para a decisão do
conflito de competência (art. 120 do CPC), por decisão isolada do
Relator.

PRISCILA KEI SATO 19 afirma que jurisprudência domi-


nante configura-se quando exista mais de um acórdão que reflita
determinado entendimento, ou unicidade de decisão, desde que esta
se reporte a outras no mesmo diapasão. No Supremo Tribunal Fede-
ral, poderá também ser uma decisão do Plenário, ainda que não unâ-
nime nem sumulada. No caso dos Tribunais de apelação, onde existem
vários órgãos colegiados competentes para a apreciação de determi-
nada matéria, dominante será a jurisprudência que consista na mai-
oria dos julgados acerca de determinado tema.

1.1.5.2) As novidades do § 3º do art. 475:

Nesse novo parágrafo terceiro, o legislador também


dispensou o reexame necessário quando a sentença estiver fundada
em jurisprudência do plenário do Supremo Tribunal Federal ou em
súmula deste Tribunal ou do tribunal superior competente.

A inovação deve ser aplaudida, na medida em que visa


acelerar a prestação jurisdicional, evitando o reexame da sentença
na hipótese de estar de acordo com decisões reiteradas ou, mais
ainda, sumuladas, do Supremo Tribunal Federal, bem assim em súmu-
las do tribunal superior competente – leia-se, para os feitos de
competência da Justiça Comum, o Superior Tribunal de Justiça.

Assim, se a questão decidida em primeiro grau de ju-


risdição da justiça comum estiver de acordo com a jurisprudência
dominante do plenário ou súmula do Supremo Tribunal Federal, ou
ainda súmula do Superior Tribunal de Justiça, desnecessário será
sujeitá-la ao duplo grau de jurisdição obrigatório.

Note-se que o dispositivo é claro no sentido de refe-


rir-se apenas ao Supremo Tribunal Federal e tribunal superior com-

19
- obra citada, p. 583.

15
petente. Assim, será cabível o reexame necessário, ressalvada a
hipótese do § 2º (nova redação), ainda que a decisão do juiz de
primeiro grau estiver de acordo com jurisprudência dominante ou
súmula do Tribunal de Apelação (de Justiça, Alçada, ou Regional
Federal). Nessa hipótese, haverá reexame, mas poderá haver o jul-
gamento monocrático (CPC, art. 557, caput).

Lembra-se, ainda, que a aplicação do § 3º do art. 475


do CPC tem incidência independente do valor da condenação ou do
direito controvertido, previstos no § 2º do mesmo artigo. Quer di-
zer: mesmo que o valor da condenação ou do direito controvertido
seja superior a 60 salários mínimos, ocorrendo a hipótese do § 3º,
não haverá reexame necessário.

Assim como ocorre na hipótese do § 2º, faltou ao le-


gislador prever a quem compete a apreciação da desnecessidade do
reexame necessário. Ora, se houver apelação por qualquer das par-
tes, então os autos irão, de qualquer sorte, ao Tribunal, cabendo
ao Relator da irresignação, se proferir julgamento monocrático, ou
ao órgão colegiado, apreciar a hipótese de incidência do referido
§ 3º do art. 475, quando do julgamento do (s) recurso (s) inter-
posto (s).

Dúvida surge, porém, quando não houver apelação da


sentença. Assim, os autos subiriam ao Tribunal de apelação apenas
para o reexame, se necessário. Na hipótese, a quem caberia aferir
sobre a incidência do citado § 3º do art. 475 - ao primeiro ou ao
segundo grau de jurisdição?

CLAUDIA A. SIMARDI 20 sustenta que “o exame referido


neste § 3º deva ser feito pelo juízo que proferiu a sentença, obs-
tando o duplo grau de jurisdição necessário que, pela regra do ca-
put e incisos do art. 475, incidiria automaticamente. Deverá o ju-
ízo fundamentar a razão pela qual não ocorrerá a remessa obrigató-
ria, por ocasião da própria sentença que proferir. Eventual impug-
nação quanto à não remessa necessária somente poderá ocorrer por
ocasião de recurso de apelação interposto pelo vencido, com o que
poderá a pessoa jurídica de direito público, autarquia ou fundação
pública insurgir-se contra tudo o que na sentença lhes foi desfa-
vorável”.

A resposta deve ser uma só. Na medida em que a dispo-


sição em comento foi instituída para desafogar os Tribunais de se-
gundo grau e acelerar a prestação jurisdicional, deve ser do juiz
a atribuição, não havendo recurso da sentença, de dizer se há ou
não necessidade de reexame necessário, via decisão interlocutória,
21
sujeita, obviamente, a recurso de agravo. E, na hipótese de

20
- obra citada, p. 137.

16
agravo, poderia o órgão colegiado (ou o relator, isoladamente),
entendendo não incidente o § 3º do art. 475, já efetuar o reexame
necessário.

Quer dizer, não haveria necessidade de julgar o agra-


vo e, só depois, determinar a subida dos autos para o julgamento
daquele. Seria uma espécie de aplicação, por analogia, do art.
544, § 3º, do CPC, que permite ao Relator, nas hipóteses ali pre-
vistas, converter o agravo de instrumento contra decisão denegató-
ria de recurso especial ou extraordinário no próprio recurso dene-
gado, procedendo a seu processamento e julgamento.

1.1.6) O que foi suprimido do anteprojeto nº 15:

Infelizmente, o anteprojeto nº 15 não foi convertido


inteiramente em lei, pois suprimido o § 4º do art. 475, que trazia
inovação importante, e cuja redação era a seguinte: “O reexame ne-
cessário não impede o cumprimento provisório da sentença salvo
quando possa causar dano grave e de difícil reparação, caso em
que, a requerimento da entidade de direito público, formulado
quando da interposição de sua apelação, o juiz ou o relator poderá
atribuir ao reexame também o efeito suspensivo”.

Ora, freqüentemente, as demandas veiculadas contra a


Fazenda Pública têm várias pretensões. Ou seja, uma mesma lide po-
de abrigar vários pedidos. Sucumbente em relação a todos, a apela-
ção da pessoa jurídica de direito público é restrita a um único
aspecto da condenação, na medida em que os demais, em que pese não
se conformem com a hipótese do § 3º do art. 475 (jurisprudência
dominante do Supremo Tribunal Federal e do tribunal superior com-
petente), estão de acordo com orientação dominante do Tribunal de
apelação, e digam respeito, exclusivamente, a interpretação de lei
estadual, a respeito do que não cabem recurso extraordinário e/ou
especial. Assim, o reexame é cabível em relação a toda a sentença,
em que pese o apelo seja restrito a um único aspecto do julgado.

Nessa hipótese, seria de bom alvitre que o reexame


necessário não tivesse efeito suspensivo, ou seja, que se pudesse
promover a execução provisória da sentença, observados, logicamen-
te, o disposto no art. 587 do CPC, a fim de agilizar a prestação
jurisdicional. Ainda mais quando se trata de demanda contra a Fa-
zenda Pública, onde a satisfação do crédito do autor deverá ser
feita, em regra, via precatório. 22 Assim, qualquer tempo possível

21
- decisão que poderia vir no bojo da própria sentença, mas que não se-
ria impugnável via apelação, ausente essa, mas sim por simples agravo de
instrumento.
22
- Não se esqueça do art. 100, § 3º, da Constituição Federal, incluído
pela Emenda Constitucional nº 30/00, regulamentado pela Lei nº 10.259/01,

17
de ser abreviado poderia implicar antecipação de pelo menos um ano
no pagamento ao credor.

Obviamente, haveria sempre a possibilidade de o pró-


prio juiz da sentença, ou o Relator da apelação, no Tribunal, con-
ceder efeito suspensivo também ao reexame, desde que atendendo a
requerimento expresso da pessoa jurídica de direito público deman-
dada, e presente a possibilidade da ocorrência, em relação a essa,
de dano grave e de difícil reparação.

Aliás, estaríamos frente a um dispositivo legal asse-


melhado ao do § único do art. 12 da Lei nº 1.533/51, eis que, em-
bora sujeita ao duplo grau de jurisdição a sentença que acolhe o
Mandado de Segurança, possível sua execução provisória, conceden-
do-se ao Poder Público, porém, a possibilidade de requerer, pre-
sentes os requisitos do art. 4º da Lei nº 4.348/64, a suspensão da
execução da sentença.

1.2) Os recursos extraordinário e especial na hipóte-


se de julgamento não unânime em parte:

Redação anterior:

Art. 498 Quando o dispositivo do acórdão contiver julgamento por maioria de votos e
julgamento unânime e forem interpostos simultaneamente embargos infringentes e re-
curso extraordinário ou recurso especial, ficarão estes sobrestados até o julgamento da-
quele

Redação atual:

Art. 498. Quando o dispositivo do acórdão contiver julgamento por maioria de vo-
tos e julgamento unânime, e forem interpostos embargos infringentes, o prazo pa-
ra recurso extraordinário ou recurso especial, relativamente ao julgamento unâni-
me, ficará sobrestado até a intimação da decisão nos embargos.

Parágrafo único. Quando não forem interpostos embargos infringentes, o prazo re-
lativo à parte unânime da decisão terá como dia de início aquele em que transitar
em julgado a decisão por maioria de votos.

A nova redação do art. 498, inclusive com a introdu-


ção de § único, visa a unificar em uma única manifestação a irre-
signação que, pela redação anterior, obrigava a parte vencida a
interpor, num mesmo processo, dois recursos extraordinários ou es-
peciais, na hipótese de julgamento de segundo grau não unânime,
mas quando o desacordo fosse apenas parcial.

art. 17 (esfera federal) e ADCT, art. 87, caput, incluído pela Emenda
Constitucional nº 37/02 (esferas estadual e municipal).

18
Aliás, essa era, segundo NELSON NERY JUNIOR 23, exce-
ção ao princípio da singularidade dos recursos, também chamado de
princípio da unirrecorribilidade, ou ainda, de princípio da unici-
dade, “segundo o qual, para cada ato judicial recorrível há um
único recurso previsto pelo ordenamento, sendo vedada a interposi-
ção simultânea ou cumulativa de mais outro visando à impugnação do
mesmo ato judicial”.

1.2.1) A situação atual:

A redação anterior do art. 498 dispunha que, sendo


apenas parcial a divergência no julgamento da apelação ou ação
rescisória, hipóteses em que cabem embargos infringentes, aquele
que não se conformasse com a parte unânime do decisório deveria
interpor recurso extraordinário ou especial, que ficaria sobresta-
do até o julgamento dos embargos opostos, caso em que poderia sur-
gir a oportunidade da interposição, novamente, dos dois recursos.
Isso, logicamente, era anti-econômico sob o aspecto processual, na
medida em que obrigava a parte à interposição de dois recursos.

Além disso, dependendo da solução dos embargos in-


fringentes, o litigante que, a princípio, tinha recorrido contra a
parte unânime do julgamento de segundo grau, poderia não mais ter
interesse no primeiro recurso.

1.2.2) A nova proposta do legislador:

A alteração legislativa veio resolver o problema,


postergando o início do prazo para a interposição do recurso ex-
traordinário e/ou especial, quanto à parte unânime do decisum, pa-
ra a intimação da decisão nos embargos, permitindo que a parte,
querendo, interponha um só recurso, abrangendo tanto a parte unâ-
nime, como aquela em que se verificou a divergência, e que deu en-
sejo àqueles.

Ademais, o legislador foi sábio ao prever a hipótese


de, mesmo havendo divergência parcial no julgamento de segundo
grau, 24 não haver interposição de embargos infringentes. Nesse ca-
so, para evitar que a parte vencedora, quanto à divergência parci-
al, mas vencida na parte unânime, perca o prazo de interposição do
recurso extraordinário e/ou especial, no aguardo dos embargos in-
fringentes, a serem interpostos pela outra parte, vencida na di-

23
- obra citada, p. 93 e 99.
24
- mas isso apenas quando uma parte vence na divergência e é vencida na
unanimidade, ou vice-versa.

19
vergência, tal só tem início quando a parte não unânime transita
em julgado.

Logicamente, o dispositivo em comento só tem incidên-


cia quando cabíveis os embargos infringentes, na medida em que,
conforme a nova redação do art. 530, nos termos da mesma lei cita-
da, e que será objeto da análise mais ampla no momento oportuno,
não é toda a divergência que dará ensejo àqueles.

Assim, se não há oportunidade para tais embargos, não


há falar em sobrestamento do prazo para a interposição de recurso
extraordinário e/ou especial, nos moldes da nova redação do art.
498 do CPC.

Cumpre, ainda, referir que, mesmo cabíveis os embar-


gos infringentes, sua interposição não é obrigatória. Pode aconte-
cer, por exemplo, já saiba a parte que poderia manejá-los que, de
qualquer sorte, não terá êxito junto ao órgão competente para
apreciar aqueles, em vista de sua posição sobre a tese objeto dos
embargos. Nesse caso, poderá interpor, de imediato, o recurso ex-
traordinário e/ou especial, tanto contra a parte não unânime, tan-
to contra a parte em que houve unanimidade, caso em que terá havi-
do renúncia tácita ao prazo para a interposição dos infringentes.
Mas deverá fazê-lo, todavia, a partir da publicação do acórdão em
que houve a divergência, pois se só o fizer depois de decorrido o
prazo para os embargos, então a parte em que grassou a divergência
não mais será recorrível, por força do § único do art. 498.

Aliás, mais razoável é que o legislador, pura a sim-


plesmente, dispusesse, no § único questionado, que o prazo para a
interposição de recurso extraordinário e/ou especial teria início,
não interpostos os infringentes, no dia seguinte àquele em que
findasse o prazo para a sua interposição, podendo a irresignação
ter por objeto a integralidade do decisório – quer dizer, tanto a
parte unânime, como aquela em que não houve unanimidade.

Até porque pode ocorrer que haja, no acórdão, duas


divergências. Uma, em favor do autor; outra, em favor do réu, am-
bas dando ensejo aos infringentes, além de uma terceira parte em
que houve unanimidade, em favor do réu. Nessa hipótese, o autor,
mesmo não tendo interesse em interpor os embargos infringentes
(seja porque já sabe, de antemão, que perderá os embargos, seja
porque se trata de aspecto do julgado de pouca repercussão), pode-
rá ser obrigado a fazê-lo porque, quanto à parte do decisum em
que houve unanimidade, também, pretende interpor recurso extraor-
dinário e/ou especial. Isso porque não tem certeza se a outra par-
te manejará os seus embargos, o que faria incidir o caput do art.
498 em relação aos dois litigantes. Se não houver embargos de ne-
nhuma das partes, então apenas caberá recurso extraordinário e/ou
especial quanto à parte unânime do julgamento.

20
Ter-se-á, assim, um recurso de embargos infringentes
totalmente desnecessário, apenas para evitar a preclusão dessa
questão, o que não é aconselhável, na medida em que a mini-reforma
visa à celeridade da prestação jurisdicional, inclusive limitando,
como já se disse, a hipótese de cabimento dos embargos infringen-
tes (vide nova redação do art. 530).

1.3) Da supressão do primeiro grau de jurisdição:

Redação anterior:

Art. 515 A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.


§ 1º Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões
suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por in-
teiro.
§ 2º Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas
um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais.

Redação atual:

Art. 515 A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.


§ 1º Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões
suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por in-
teiro.
§ 2º Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas
um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais
o
§ 3 Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (Art. 267), o
tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente
de direito e estiver em condições de imediato julgamento.

Essa é uma grande novidade, na medida em que, pelo


sistema processual civil brasileiro, jamais foi permitido ao se-
gundo grau de jurisdição suprimir o primeiro. Quer dizer: se o ju-
iz não apreciou o mérito na sentença, por reconhecer, por exemplo,
a ilegitimidade do autor, não pode o Tribunal, dando provimento ao
apelo desse, reconhecida sua legitimidade ad causam, examinar de
pronto o mérito, na medida em que o decisum de primeiro grau não
o fez.

1.3.1) Posição atual da doutrina e jurisprudência:

Lecionando sobre a apelação contra sentença termina-


tiva, como são chamadas aquelas que não examinam o mérito da lide,
diz BARBOSA MOREIRA 25 que “ao tribunal jamais será dado, no julga-
mento de apelação desta espécie, ingressar no mérito da causa. Se
o fizesse, estaria ele infringindo o princípio do duplo grau de
jurisdição, tal como permitem defini-lo, aqui, as normas dos arts.

25
- Comentários ao Código de Processo Civil, Editora Forense, 6ª edição,
Rio de Janeiro, 1994, volume V, pág. 375.

21
463 e 515, caput. [...]; no presente contexto, porém, é lícito
enunciar como se segue a sua exigência fundamental: para que o ór-
gão ad quem possa apreciar o mérito da causa, faz-se necessário
que se tenha apelado de sentença também de mérito (definitiva)”.

NELSON NERY JUNIOR 26, quando trata do duplo grau de


jurisdição, diz que esse não se confunde com a supressão de um
grau de jurisdição. Citando como exemplo a hipótese de o tribunal
apreciar o mérito da causa quando julga apelação interposta contra
sentença que não o apreciou, diz que “Quando o CPC estabelece que
a competência para julgar determinada causa é do juiz monocrático
de primeiro grau, quer isto significar que somente com a sentença
de mérito é que estará exaurida a sua competência para o exerci-
mento da atividade jurisdicional (art. 463, caput). Assim, se o
tribunal der provimento à apelação, este segundo julgamento terá
efeito apenas de cassação, vale dizer, determina o retorno dos au-
tos ao juízo de primeiro grau, a fim de que este profira julgamen-
to sobre o mérito. Entender o contrário seria compactuar com a in-
fringência de norma de competência hierárquica, já que a causa se-
ria julgada originariamente pelo tribunal destinatário da apela-
ção. A burla seria, até, mais séria, pois semelhante atitude feri-
ria o princípio do juiz natural”.

O mesmo é o entendimento de OVÍDIO A. BAPTISTA DA


SILVA 27, quando diz que “Uma redução similar na extensão do efeito
devolutivo da apelação acontece quando o recurso seja interposto
não contra uma sentença de mérito, e sim contra sentenças termina-
tivas. Neste caso, igualmente a apelação não devolverá ao tribunal
o conhecimento do mérito da causa, porque, em verdade, nem mesmo
houve uma sentença anterior que o tenha decidido, de modo que o
tribunal do recurso pudesse revê-la. Sabendo-se que, segundo nosso
direito, de todas as sentenças terminativas o recurso cabível é o
da apelação, facilmente se compreende que se o juiz houver posto
fim ao processo, sem decidir o mérito da causa, numa das hipóteses
do art. 267 do CPC, o provimento da apelação implicará o retorno
do processo à sua origem em primeira instância, a fim de que o ma-
gistrado que o havia declarado extinto, retome o curso do procedi-
mento e venha a proferir no momento adequado uma decisão de méri-
to. [...] Mas somente na apelação interposta contra a sentença de
mérito devolver-se-á ao tribunal de segundo grau o conhecimento
integral das questões suscitadas e discutidas na causa, segundo
dispõe o art. 515 do CPC “.

SILVÂNIO COVAS 28 assevera que “Mas não basta simples-


mente uma segunda decisão, há que existir uma decisão que reexami-

26
- obra citada, p. 45.
27
- CURSO DE PROCESSO CIVIL, Sergio Antonio Fabris Editor, 3ª edição,
Porto Alegre, 1996, vol. I, p. 367.

22
ne a causa, de forma que se o novo julgamento não partir da deci-
são recorrida, mas estabelecer simplesmente uma nova decisão, o
princípio do duplo grau de jurisdição estará violado. O Tribunal
há que reexaminar a causa, não apenas proferir novo julgamento”.

A própria jurisprudência, em que pese a existência de


julgados isolados 29, sempre seguiu à risca a impossibilidade de
supressão de um grau de jurisdição. Em recente acórdão, o Superior
Tribunal de Justiça, por sua Quarta Turma, em aresto da lavra do
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, decidiu que “Consoante já
proclamou esta Corte, ‘para verificar se houve exame do mérito, há
que pesquisar se a pretensão formulada foi decidida’, desimportan-
do que a sentença, por equívoco, haja dado pela carência da ação.
Nessa hipótese, fica autorizado o tribunal, quando do julgamento
da apelação, a apreciar todas as questões concernentes à lide, a
saber, ao mérito. Assim, se o juiz de primeiro grau acolhe a pre-
liminar de ilegitimidade passiva, não pode o tribunal da apelação
adentrar o mérito da demanda e julgar procedente o pedido, sob pe-
na de supressão de instância e ofensa ao princípio do duplo grau
de jurisdição” 30 (REsp nº 296.926/SP, julgado em 01.03.01, in DJU
02.04.01, pág. 305). 31

28
- O DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO, in ASPECTOS POLÊMICOS E ATUAIS DOS RE-
CURSOS, Coordenação: Eduardo Pelegrini de Arruda Alvim e outros, Editora
Revista dos Tribunais, 1ª edição, São Paulo, 2000, p. 589.
29
- (REsp 2306/SP, julgado em 19.06.90, in DJU de 24.09.90, p. 9978;
REsp 133529/MG, julgado em 17.12.98, in DJU de 22.03.99, p. 190; REsp
198835/RS, julgado em 02.03.99, in DJU de 03.05.99, p. 150 e REsp
154660/SP, julgado em 28.03.00, in DJU de 05.06.00, p. 154, todos da 3ª
Turma, Relator o Ministro Eduardo Ribeiro). Nesses acórdãos, admitiu-se
que o Tribunal, reformando apelação contra sentença que proclamou a pres-
crição, passe de imediato ao exame do mérito.
30
- o acórdão faz referência, inclusive, à tramitação no Congresso Naci-
onal de anteprojeto de lei visando à possibilidade de supressão do pri-
meiro grau de jurisdição, e que resultou na lei ora comentada.
31
- no mesmo sentido, entre tantos, os acórdãos da mesma Corte, proferi-
dos nos Recursos Especiais nº 215.488/SP (6ª Turma, Relator o Ministro
Hamilton Carvalhido, julgado em 28.09.99, in DJU de 21.02.00, pág. 206),
nº 167899/SP (5ª Turma, Relator o Ministro José Arnaldo da Fonseca, jul-
gado em 06.08.98, in DJU de 24.08.98, pág. 98), nº 150608/RN (2ª Turma,
Relator o Ministro Ari Pargendler, julgado em 15.12.97, in DJU de
16.02.98, p. 71), nº 111003/RJ (1ª Turma, Relator o Ministro Garcia Viei-
ra, julgado em 01.12.97, in DJU de 02.03.98, pág. 16), 44920/MA (3ª Tur-
ma, Relator para o acórdão o Ministro Nilson Naves, julgado em 30.06.94,
in DJU de 15.08.94, p. 20335), ROMS nº 5931/SP (2ª Turma, Relator o Mi-
nistro Antonio de Pádua Ribeiro, julgado em 08.02.96, in DJU de 26.02.96,
p. 3979) e ROMS nº 7786/RJ (6ª Turma, Relator o Ministro Anselmo Santia-
go, julgado em 05.08.99, in DJU de 13.12.99, pág. 179).

23
1.3.2) A novidade:

O § 3º do art. 515, introduzido pela lei em comento,


permite ao tribunal, nos casos de extinção do processo sem julga-
mento do mérito, julgar desde logo a lide, se a causa versar ques-
tão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato
julgamento.

Dois são os requisitos, pois, para que o tribunal,


provendo sentença que não apreciou o mérito, faça-o sem restituir
o processo ao juízo a quo. Primeiro, que a questão verse exclusi-
vamente sobre direito; segundo, que a causa esteja em condições de
imediato julgamento.

Na verdade, as duas hipóteses são assemelhadas. Sem-


pre que a causa for exclusivamente de direito, ela estará, por
ocasião da sentença, e também no tribunal, em condições de imedia-
to julgamento. Pode ocorrer, todavia, que a causa esteja em condi-
ções de pronta apreciação, mas não seja exclusivamente de direito,
havendo necessidade de apreciação da matéria fática.

O legislador foi extremamente infeliz na redação do


dispositivo, pois bastaria, para permitir a incidência da hipótese
prevista no novo § 3º do art. 515, exigir, como requisito para a
apreciação do mérito pelo tribunal, ao reformar sentença que não
examinou o meritum causae, que a causa estivesse madura. Quer di-
zer: se a causa versar questão exclusivamente de direito, sempre
poderá o tribunal suprimir o primeiro grau de jurisdição; porém,
se a causa versar, também, questões fáticas, a supressão poderá
ocorrer, da mesma forma, desde que a instrução da lide esteja con-
cluída, ou seja, reste esgotada integralmente a dilação probató-
ria.

Não há razão lógica para a distinção feita pelo le-


gislador da reforma, na medida em que, na causa que verse questão
exclusivamente de direito, esse não foi examinado pelo juiz, quan-
do deixou de apreciar o mérito; na causa em que há dilação proba-
tória, o juiz não examinou nem os fatos, nem o direito aplicável.
Nas duas hipóteses, perfeitamente possível que o tribunal suprima
o primeiro grau de jurisdição, e é essa interpretação que se espe-
ra seja dada pela jurisprudência ao novo instituto, cujo mote é a
agilidade na prestação jurisdicional.

Aliás, no dia a dia do foro, são comuns os casos em


que o juiz deixe de apreciar uma ou mais preliminares por ocasião
do saneador, só o fazendo na sentença. Seja em virtude do acúmulo
de trabalho, seja por entender que a questão prejudicial depende
de prova. Assim, remete o feito à instrução, realizando perícia,
colhendo prova oral e, ao final, profere sentença acolhendo, por
exemplo, preliminar de ilegitimidade passiva. Nessa hipótese, o
tribunal, se entender legitimado o réu para a causa, poderá, tam-
bém, apreciar o mérito da demanda, na medida em que, embora a cau-

24
sa não seja exclusivamente de direito, ela estava madura para que
o juiz de primeiro grau fizesse-o. Entender o contrário, ou seja,
aplicando o novo instituto literalmente, será desprezar a mens le-
gislatoris, que sabidamente buscou abreviar a solução das deman-
das.

Não se pode olvidar que já existe no CPC uma espécie


de supressão parcial do primeiro grau de jurisdição, como se vê
dos §§ 1º e 2º do art. 515, ao qual foi acrescentado o § 3º, ora
em análise.

Dizem tais dispositivos: § 1º: Serão, porém, objeto


de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões susci-
tadas e discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha
julgado por inteiro. E o § 2º prescreve que Quando o pedido ou a
defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um de-
les, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais.

Trata-se do efeito devolutivo da apelação, o que leva


ARAKEN DE ASSIS 32 a afirmar que “Dois grupos de questões, além da
efetivamente julgada, o tribunal examinará no apelo: em primeiro
lugar, tudo que lhe tocar resolver ex officio; ademais, o que o
juiz de primeiro grau, apesar da iniciativa e da discussão promo-
vida pelas partes, abstraiu de seu pronunciamento”.

1.3.3) A missão da jurisprudência:

De outra banda, olvidou-se o legislador de prever a


possibilidade de supressão do primeiro grau de jurisdição, também,
na apelação contra sentença que extingue o feito, com julgamento
do mérito, na hipótese de o juiz ter acolhido preliminar de méri-
to, no caso do art. 269, inc. IV, do CPC. 33

32
DOUTRINA E PRÁTICA DO PROCESSO CIVIL CONTEMPORÂNEO, Editora Revista
dos Tribunais, 1ª edição, São Paulo, 2001, p. 383.
33
- a respeito desse assunto, cabe citar passagem da obra já referida do
mestre OVÍDIO (p. 367), donde se pode concluir que ele admite que o Tri-
bunal, apreciando apelação contra sentença que proclamou a prescrição ou
decadência, possa, desde já, examinar o mérito da causa: “Há casos, no
entanto, em que estas regras devem ser abrandadas, de modo que não se as
apliquem com rigor absoluto. Se, por exemplo, o juiz tiver reconhecido a
prescrição ou a decadência, para declarar a improcedência da ação, a ape-
lação que o autor interpuser de tal sentença atacará sem dúvida uma sen-
tença de mérito (art. 269, IV, do CPC); e nem sempre será possível reco-
nhecer-se a ocorrência de uma devolução integral ao juízo de segundo
grau. Bastará para tanto que a sentença que haja decretado a decadência
ou prescrição, tenha sido proferida sem que a instrução probatória se
tivesse completado, o que em certos casos, poderá acontecer. Verificando-
se tal hipótese, não nos parece que haja alternativa senão determinar o

25
Ora, se o tribunal pode o mais, ou seja, suprimir o
primeiro grau de jurisdição quando o juiz extinguiu o feito sem
julgamento do mérito, com mais razão para a incidência do novo §
3º do art. 515 do CPC quando o juiz, ainda que não tenha rejeitado
ou acolhido (total ou parcialmente) o pedido do autor, afirmou
presentes os pressupostos processuais e as condições da ação. To-
davia, vislumbrou a ocorrência da decadência ou prescrição. Nesse
caso, a solução deve ser a mesma. Assim, entendendo o tribunal
inocorrente a prescrição ou decadência reconhecida pelo juiz de
primeiro grau, e sendo a causa exclusivamente de direito ou, não o
sendo, estando a lide madura para apreciação, por esgotada a dila-
ção probatória, deve aquele examinar o mérito 34 da lide, suprimin-
do, assim, o primeiro grau de jurisdição.

Não há como concordar, no particular, de ARAKEN DE


ASSIS 35, quando afirma que, pelo efeito devolutivo da apelação, na
sistemática atual, “pronunciando a sentença a prescrição (art.
269, IV), o tribunal, depois de rejeitá-la, poderá desacolher o
pedido, porque inexistente a dívida”, na medida em que, na siste-
mática processual vigente, ainda que o código diga que prescrição
e decadência se reconhece via sentença de mérito, se o tribunal
entende que a sentença reconheceu-as indevidamente, desconstituirá
o julgado, determinando que outro seja proferido, com o enfrenta-
mento, então, do (s) pedido (s) do autor. 36

retorno do processo à instância de origem, a fim de que, ultimada a ins-


trução, outra sentença seja prolatada.
“Esta solução impõe-se com toda a evidência quando, ao invés de re-
conhecer a prescrição a meio caminho da instrução probatória, com alguma
audiência já realizada, de modo que os fundamentos para o reconhecimento
da prescrição ou da decadência decorram destas provas, tiver o magistrado
decretado a prescrição por ocasião do despacho saneador (art. 331 do
CPC), ou ao despachar a petição inicial (art. 295, IV).”
Se é assim, reconhecida a prescrição ou a decadência quando o juiz já
havia concluído integralmente a coleta da prova, obviamente que o tribu-
nal, julgando apelação contra tal sentença, poderá examinar o meritum
causae em sua integralidade.
34
- quer dizer, examinar todos os pedidos do autor, na medida em que,
pelo sistema processual civil vigente, decadência e prescrição também
dizem respeito ao mérito.
35
- obra citada, p. 383.
36
- Nesse sentido: Supremo Tribunal Federal, RE 108051/ES (1ª Turma, Re-
lator o Ministro Octavio Gallotti, julgado em 05.08.86, in DJU de
05.09.86, p. 15838), Superior Tribunal de Justiça, REsp 251698/CE (5ª
Turma, Relator o Ministro José Arnaldo da Fonseca, julgado em 15.08.00,
in DJU de 25.09.00, p. 131), REsp nº 38977/SP (4ª Turma, Relator o Minis-
tro Sálvio de Figueiredo Teixeira, julgado em 14.08.95, in DJU de
11.09.95, p. 28831), REsp 21008/BA (2ª Turma, Relator o Ministro Ari Par-
gendler, julgado em 14.03.96, in DJU de 22.04.96, p. 12556) e Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul (1ª Câmara de Férias Cível, Apelação-Cível
nº 599474160, Relator o Des. Paulo de Tarso Vieira Sanseverino, julgada

26
1.4) Nova hipótese de efeito apenas devolutivo à ape-
lação:

Redação anterior:

Art. 520 A apelação será recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo. Será, no
entanto, recebida só no efeito devolutivo, quando interposta de sentença que:

I - homologar a divisão ou a demarcação


II - condenar à prestação de alimentos
III - julgar a liquidação de sentença
IV - decidir o processo cautelar
V - rejeitar liminarmente embargos à execução ou julgá-los improcedentes

VI - julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem

Redação atual:

Art. 520 A apelação será recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo. Será, no
entanto, recebida só no efeito devolutivo, quando interposta de sentença que:

I - homologar a divisão ou a demarcação


II - condenar à prestação de alimentos
III - julgar a liquidação de sentença
IV - decidir o processo cautelar
V - rejeitar liminarmente embargos à execução ou julgá-los improcedentes

VI - julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem

VII – confirmar a antecipação dos efeitos da tutela;

A reforma também introduz outra hipótese em que a


apelação interposta pelo vencido será recebida, apenas, no efeito
devolutivo, quando se tratar de apelo contra sentença que confir-
mar a antecipação dos efeitos da tutela (CPC, art. 520, inc. VII).

Essa alteração era manifestamente desnecessária. Ora,


se a sentença limita-se a confirmar a antecipação dos efeitos da
tutela, obviamente que a antecipação da tutela já foi deferida an-
teriormente, via decisão interlocutória, passível do recurso de
agravo – de instrumento ou, eventualmente, retido. Nesse caso, o
simples fato de o juiz fazer menção, na sentença, de que confirma
a decisão já proferida, antecipatória (total ou parcial) da tutela

em 18.11.99). Reconhece-se, todavia, a existência de julgados admitindo,


na sistemática atual, que o Tribunal, apreciando apelação contra sentença
que proclamou a prescrição ou decadência, uma vez reformando o decisum,
aprecie de pronto o mérito (REsp 2306/SP, julgado em 19.06.90, in DJU de
24.09.90, p. 9978; REsp 133529/MG, julgado em 17.12.98, in DJU de
22.03.99, p. 190; REsp 198835/RS, julgado em 02.03.99, in DJU de
03.05.99, p. 150 e REsp 154660/SP, julgado em 28.03.00, in DJU de
05.06.00, p. 154, todos da 3ª Turma, Relator o Ministro Eduardo Ribeiro).

27
pretendida pelo autor, 37 não reabre o prazo para recurso contra
aquele decisum, muito menos permite que o apelo contra a sentença
possa obstar os efeitos do que já foi decidido e atingido pela
preclusão.

Na verdade, o legislador deveria ter-se preocupado em


normatizar a hipótese em que o juiz antecipa a tutela, total ou
parcialmente, apenas na sentença. Nesse caso, o código é omisso,
na medida em que não prevê, claramente, qual o recurso cabível –
se agravo de instrumento, concomitantemente com apelação ou se
apelação, pura e simplesmente, com efeito suspensivo, inclusive
quando à antecipação.

A jurisprudência do Tribunal de Justiça gaúcho tem-se


orientado no sentido de que, na hipótese, os efeitos da antecipa-
ção da tutela só podem ser obstados pela interposição simultânea
de apelação e agravo de instrumento. Nesse sentido os acórdãos
proferidos nos Agravos de Instrumento nº 70001635192 (3ª Câmara
Cível, Relator o Des. Augusto Otávio Stern, julgado em 23.11.00) e
nº 70002776854 (18ª Câmara Cível, Relator o Des. André Luiz Pla-
nella Villarinho, julgado em 16.08.01). Nesse último, refere o re-
lator que a determinação do juiz para o cumprimento imediato de
mandado de reintegração de posse em favor do autor, na sentença,
constitui-se em antecipação da tutela, decisão de natureza inter-
locutória, pois não se confunde com o exame do mérito da lide e,
por isso, cabível o recurso de agravo.

Aliás, é nesse sentido a lição de TEORI ALBINO ZAVAS-


38
CKI quando, ao comentar sobre o recurso cabível em face do ato
judicial que defere ou indefere o pedido de antecipação da tutela
no mesmo momento em que proferida a sentença, diz que “A dúvida
existe em razão do princípio, adotado no nosso sistema, da unici-
dade recursal, segundo o qual, não pode a mesma decisão ser ataca-
da por mais de um recurso. No caso aventado, embora formalmente o
ato seja único, há, substancialmente, a prolação simultânea de
atos distintos. O ato do juiz que aprecia o pedido de antecipação
da tutela é materialmente autônomo, distinto e inconfundível com o
da sentença, razão pela qual, também nesses casos, é atacável por
recurso de agravo de instrumento. Com efeito, o seu deferimento ou
o seu indeferimento não guarda qualquer nexo de prejudicialidade
em relação à eventual prolação simultânea de mérito”.

A novidade serviu, tão-somente, para deixar claro,


ante a redação do inc. VII, que, se o juiz revogar a antecipação

37
- comumente, a antecipação da tutela é postulada pelo autor. Todavia,
não é vedado que o réu, em reconvenção, postule-a em seu favor, na medida
em que, nessa hipótese, ele é, também, autor de uma demanda.
38
- ANTECIPAÇÃO DA TUTELA, Editora Saraiva, 3ª edição, São Paulo, 2000,
págs. 112/113.

28
da tutela na sentença, eventual recurso de apelação terá efeito
apenas devolutivo, no particular. Portanto, pretendendo manter os
efeitos da antecipação antes deferida, mas revogada na sentença,
caberá ao beneficiado (autor ou reconvinte) interpor recurso de
agravo de instrumento.

1.5) A retratação do juiz, no agravo retido:

Redação anterior:

Art. 523 Na modalidade de agravo retido o agravante requererá que o tribunal dele
conheça, preliminarmente, por ocasião do julgamento da apelação.

§ 1º Não se conhecerá do agravo se a parte não requerer expressamente, nas razões


ou na resposta da apelação,sua apreciação pelo tribunal .

§ 2º Interposto o agravo, o juiz poderá reformar sua decisão, após ouvida a parte con-
trária, em cinco dias.

§ 3º Das decisões interlocutórias proferidas em audiência admitir-se-á interposição oral


do agravo retido, a constar do respectivo termo, expostas sucintamente as razões que
justifiquem o pedido de nova decisão.

§ 4º Será sempre retido o agravo das decisões posteriores à sentença, salvo caso de
inadmissão da apelação.

Redação atual:

Art. 523 Na modalidade de agravo retido o agravante requererá que o tribunal dele
conheça, preliminarmente, por ocasião do julgamento da apelação.

§ 1º Não se conhecerá do agravo se a parte não requerer expressamente, nas razões


ou na resposta da apelação,sua apreciação pelo tribunal.

o
§ 2 Interposto o agravo, e ouvido o agravado no prazo de 10 (dez) dias, o juiz
poderá reformar sua decisão.

§ 3º Das decisões interlocutórias proferidas em audiência admitir-se-á interposição oral


do agravo retido, a constar do respectivo termo, expostas sucintamente as razões que
justifiquem o pedido de nova decisão.

o
§ 4 Será retido o agravo das decisões proferidas na audiência de instrução e jul-
gamento e das posteriores à sentença, salvo nos casos de dano de difícil e de in-
certa reparação, nos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em
que a apelação é recebida.

A alteração de redação do § 2º do art. 523 do CPC tem


em mente retirar a dubiedade do texto anterior, que previa a pos-
sibilidade do juiz reformar a decisão agravada, depois de ouvida a
parte contrária, em cinco (5) dias, prazo esse que, segundo a ju-
risprudência, 39 seria destinado ao juiz, não ao agravado, pois es-

29
se, por isonomia, deveria ter o mesmo prazo do agravante (10 dias,
conforme o art. 522, caput).

Além disso, o legislador quis deixar clara a necessi-


dade da ouvida da parte agravada, em qualquer situação, ainda que
o juiz não pretenda modificar sua decisão. Ocorre que não se pode
apreciar recurso sem que a parte recorrida possa apresentar suas
contra-razões. Na hipótese do agravo retido, se for o agravante a
apelar da sentença, reiterando aquele, então sim, nas contra-
razões do apelo, o agravado terá oportunidade para responder não
só a esse, mas também ao agravo.

Contudo, quando for o agravado a apelar, será nas


contra-razões ao apelo que o agravante solicitará (art. 523, ca-
put, do CPC) que dele conheça o tribunal, quando do julgamento da-
quele. Como não há réplica às contra-razões da apelação, o agrava-
do não terá, nesse caso, oportunidade para responder ao agravo.
Justo por isso é que, sempre, necessário que o juiz, ainda que não
pense em retratar-se, ouça a parte agravada.

1.6) O Agravo após a prolação da sentença:

O § 4º do art. 523 do CPC também sofreu alteração. O


alcance da lei nº 9.139/95 foi ampliado, pois enquanto a redação
anterior dispunha que Será sempre retido o agravo das decisões
posteriores à sentença, salvo caso de inadmissão da apelação, com
a alteração passou a ser retido, também, o agravo das decisões
proferidas na audiência de instrução e julgamento (novidade trazi-
da do procedimento sumário, ut art. 280, inc. III, do CPC).

Além disso, não só o agravo da decisão que não admite


(o correto seria não recebe) a apelação será de instrumento, mas
também em relação a decisões que causarem dano de difícil e de in-
certa reparação e no que diz respeito aos efeitos em que a apela-
ção é recebida, também será cabível o recurso via instrumento, ou
seja, dirigido ao tribunal, não ao juiz da causa.

A mudança, realmente, era necessária, na medida em


que, no que diz respeito aos incidentes ocorridos na audiência de
instrução e julgamento (não se confunda com a audiência de que co-
gita o art. 331 do CPC), a ela se segue a sentença. Nesse caso,
razão alguma há para que o recurso contra decisão proferida pelo
juiz seja apreciado de imediato pelo tribunal, sendo lógico que
dele se conheça quando do julgamento da apelação. Até porque, mui-
tas vezes, pode a parte agravante restar vencedora no juízo a quo,

39
- nesse sentido a 10ª conclusão do CETARS, assim redigida: No agravo
retido, a resposta do agravado será oferecida em dez dias, por isonomia
processual. O prazo de cinco dias, referido no § 2º do art. 523 do CPC, é
endereçado ao exercício da retratação.

30
caso em que, por exemplo, decisão que indeferiu contradita por ela
suscitada perderá seu objeto.

Todavia, ressalvou o legislador a hipótese de deci-


são, proferida tanto na audiência, como posteriormente à sentença,
que possa causar dano de difícil e de incerta reparação. Assim,
por exemplo, quando o juiz, ao final da audiência, antes de deter-
minar que os autos sejam conclusos para sentença, conceder, parci-
al ou totalmente, a antecipação da tutela. Ou quando o magistrado,
após a sentença, deferir requerimento do autor no sentido da expe-
dição imediata do mandado de reintegração na posse, antes do trân-
sito em julgado da sentença, ainda que o apelo do réu tenha sido
recebido no duplo efeito. Nessa hipótese, nenhuma eficácia terá o
agravo retido, pois ele levará meses para ser conhecido pelo Tri-
bunal, quando apreciar o (s) apelo (s) interposto (s). Por isso,
justifica-se o agravo de instrumento, a fim de que a questão seja
apreciada pelo juízo ad quem de imediato.

Do mesmo modo, providencial a previsão de cabimento


de agravo de instrumento quando se tratar de recurso contra a de-
cisão do juiz quanto aos efeitos em que recebe a apelação. Destar-
te, se o apelo tem o duplo efeito – devolutivo e suspensivo -, mas
o juiz recebê-lo apenas no primeiro, o apelado poderá executar
provisoriamente a sentença, caso em que haverá prejuízo ao apelan-
te, impondo que ele possa submeter a decisão do juiz ao tribunal
sem demora, e não meses depois, quando do julgamento da apelação
interposta, pois nessa ocasião pode ocorrer que a sentença já te-
nha sido executada e, ainda que se trate de execução provisória,
não haja mais como restaurar o status quo ante.

1.7) Não-atendimento do art. 526, caput, do CPC, pelo


agravante – hipótese de inadmissibilidade do agravo, se argüido
pelo agravado:

Redação anterior:

Art. 526 O agravante, no prazo de 3 (três) dias, requererá juntada,aos autos do pro-
cesso, de cópia da petição do agravo de instrumento e do comprovante de sua interpo-
sição, assim como a relação dos documentos que instruíram o recurso

Redação atual:

Art. 526 O agravante, no prazo de 3 (três) dias, requererá juntada,aos autos do pro-
cesso, de cópia da petição do agravo de instrumento e do comprovante de sua interpo-
sição, assim como a relação dos documentos que instruíram o recurso.

31
Parágrafo único O não cumprimento do disposto neste artigo, desde que argüi-
do e provado pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo.

Com a nova sistemática do agravo de instrumento, in-


troduzida pela Lei nº 9.139/95, impôs-se ao agravante o ônus de,
interposto o recurso perante o tribunal, juntar no juízo a quo có-
pia da petição do agravo e dos documentos que o acompanharam.

1.7.1) A posição atual da jurisprudência – nenhuma


conseqüência pelo descumprimento do art. 526 do CPC.

A jurisprudência, de início, dividiu-se quanto às


conseqüências do descumprimento dessa disposição legal, vencendo
no Superior Tribunal de Justiça, após séria divergência, a tese de
que não impede o conhecimento do agravo o não atendimento, pelo
agravante, do disposto no art. 526 do CPC, após julgamento, pela
Corte Especial, dos Embargos de Divergência no REsp nº 172.411-RS
(Relator o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, julgados em
15.12.99, in DJU de 28.02.00, pág. 30). Os argumentos dessa posi-
ção são no sentido de que tal dispositivo legal só interessaria ao
próprio agravante, na medida em que permitiria que o juiz, à vista
das razões do recurso e documentos que o instruíram, poderia re-
considerar sua decisão (CPC, art. 529).

ATHOS GUSMÃO CARNEIRO 40, tratando do juízo de retra-


tação, todavia, afirma que “A decisão tomada pelo magistrado con-
tinua passível de reconsideração, em faculdade que o magistrado
adotará, se entender de direito, depois de tomar ciência do agravo
de instrumento, quer pela obrigatória juntada da cópia da respec-
tiva petição aos autos principais (art. 526), quer ao ensejo do
recebimento do ofício do relator, de requisição de informações”.
Considera, entretanto, obrigatório o atendimento ao disposto no
art. 526, do CPC.

Todavia, olvidaram-se os que subscreveram a tese ven-


cedora de que, pela nova sistemática do Agravo de instrumento,
sendo ele interposto junto ao Tribunal, inclusive via postal, e
sendo possível a intimação do agravado via imprensa oficial, quan-
do já estivesse representado por Advogado nos autos, seria esse
obrigado a dirigir-se à capital do Estado, para tomar conhecimento
das razões do recurso e dos documentos anexados pelo agravante.
Assim, se ao agravante era possível remeter o recurso ao Tribunal
pela via postal, sem deslocar-se até a sua sede, ao agravado isso
não era possível. Quebrava-se, com isso, o princípio da isonomia,
tratando-se desigualmente as partes do mesmo processo.

40
- O NOVO RECURSO DE AGRAVO E OUTROS ESTUDOS, Editora Forense, 1ª edi-
ção, Rio de Janeiro, 1996, p. 60.

32
1.7.2) A mudança salutar – descumprido o art. 526, o
agravo não terá seguimento, se assim quiser o agravado:

Agora, a exigência de cumprimento do art. 526 do CPC,


pena de ser inadmissível o agravo, é salutar, pois permite que o
agravado possa responder ao recurso mediante a simples consulta
aos autos no juízo a quo, sem necessidade de consultar, na sede do
Tribunal, os autos do instrumento. E, não atendido pelo agravante
o citado dispositivo, comunicar o agravado, com a devida comprova-
ção, tal omissão ao Relator do recurso, caso em que esse deverá (a
nova redação não dá margem a qualquer dúvida) negar seguimento ao
agravo, conforme o art. 557, caput, do CPC, por inadmissível.

Note-se que somente nesse caso é que caberá negar se-


guimento ao agravo, eis que o legislador incluiu condição para sua
incidência, ou seja, desde que argüido e comprovado pelo agravado
o não cumprimento do caput do art. 526. Assim, ainda que o juiz a
quo, espontaneamente, ou à vista da requisição de informações so-
licitadas pelo Relator, informar sobre o não atendimento, pelo
agravante, do ônus do caput citado, não caberá negar seguimento ao
recurso.

Não se pode esquecer, ainda, que quando o legislador


se refere, no caput do art. 526, à relação dos documentos que ins-
truíram o recurso, quis dizer que, quanto às peças extraídas dos
autos do processo no juízo a quo, basta que sejam simplesmente
enumeradas as folhas respectivas, para que o agravado saiba quais
foram trasladadas para o instrumento. Todavia, quando o agravante
junta, também, novos documentos, o que não é vedado, deve ele,
obrigatoriamente, juntar cópias dos mesmos para que seja atendido
integralmente o disposto no referido dispositivo.

1.8) Agravo de instrumento – providências prelimina-


res do Relator:

Redação anterior:

Art. 527 Recebido o agravo de instrumento no tribunal, e distribuído incontinenti, se


não for caso de indeferimento liminar o relator:

I – poderá requisitar informações ao juiz da causa, que as prestará no prazo de 10


(dez) dias;

II – poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso (art. 558), comunicando ao juiz tal de-
cisão;
III – intimará o agravado,na mesma oportunidade, por oficio dirigido ao seu advogado,
sob registro e com aviso de recebimento, para que responda no prazo de dez (10) dias,
facultando-lhe juntar cópias das peças que entender convenientes; nas comarcas sede
de tribunal, a intimação far-se-á pelo órgão oficial;

33
IV – ultimadas as providências dos incisos anteriores, mandará ouvir o Ministério Públi-
co, se for o caso, no prazo de dez (10) dias.
Parágrafo único. Na sua resposta, o agravado observará o disposto no § 2º do art. 525.

Redação atual:

Art. 527 Recebido o agravo de instrumento no tribunal, e distribuído inconti-


nenti, o relator:

I - negar-lhe-á seguimento, liminarmente, nos casos do Art. 557;

II – poderá converter o agravo de instrumento em agravo retido, salvo quando se


tratar de provisão jurisdicional de urgência ou houver perigo de lesão grave e de
difícil ou incerta reparação, remetendo os respectivos autos ao juízo da causa,
onde serão apensados aos principais, cabendo agravo dessa decisão ao órgão
colegiado competente;

III – poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso (Art. 558), ou deferir, em ante-
cipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao
juiz sua decisão;

IV – poderá requisitar informações ao juiz da causa, que as prestará no prazo de


10 (dez) dias;

V – mandará intimar o agravado, na mesma oportunidade, por ofício dirigido ao


seu advogado, sob registro e com aviso de recebimento, para que responda no
prazo de 10 (dez) dias, facultando-lhe juntar cópias das peças que entender con-
venientes; nas comarcas sede de tribunal e naquelas cujo expediente forense for
divulgado no diário oficial, a intimação far-se-á mediante a publicação no órgão
oficial;

VI- ultimadas as providências referidas nos incisos I a V, mandará ouvir o Ministério


Público, se for o caso, para que se pronuncie no prazo de 10 (dez) dias.

O art. 557 do CPC foi alterado parcialmente, seguindo


o legislador a ordem lógica das providências do Relator, ao rece-
ber, por distribuição, o agravo de instrumento.

Poderá (inc. I) negar-lhe seguimento, nos termos do


art. 557 do CPC. Aqui, apenas corrigiu o relator equívoco termino-
lógico, na medida em que a redação atual do art. 557 diz que o re-
lator tomará as providências dos incs. I a IV do art. 527 quando
não for o caso de indeferimento liminar, previsto no art. 557.
Ora, esse artigo não fala em indeferimento liminar, mas em negar
seguimento ao recurso.

34
1.8.1) A conversão do agravo de instrumento em reti-
do:

Já no inc. II, o legislador permite ao Relator uma


providência ora inexistente no agravo de instrumento, podendo
aquele converter o recurso de instrumento em retido, desde que não
se trate de provisão jurisdicional de urgência ou houver perigo de
lesão grave e de difícil ou incerta reparação. Nesse caso, o rela-
tor proferirá decisão de conversão de um recurso em outro. Uma vez
preclusa essa, os autos do agravo retornam ao juízo a quo, cabendo
a sua apreciação, oportunamente, somente se o agravante atender ao
disposto no art. 523 do CPC, ou seja, reiterá-lo nas razões ou
contra-razões de apelação, cuja incidência persiste, mesmo que
omisso o legislador no citado inc. II.

Realmente, a inovação deve ser aplaudida, na medida


em que permite ao relator evitar o julgamento do agravo de instru-
mento, se ele puder, sem prejuízo ao agravante, ser convertido em
retido. Isso resultará em economia processual, pois pode ser que,
proferida sentença, o agravo interposto tenha perdido seu objeto.
Assim, o juízo ad quem poupou-se de julgar mais um recurso, dos
tantos que surgem no tramitar do processo.

Restaura-se, no dizer de ATHOS GUSMÃO CARNEIRO 41, a


possibilidade, existente no sistema anterior à Lei nº 9.139, de o
“magistrado, com a devida prudência, ponderar a respeito do inte-
resse do recorrente em uma ou outra modalidade de agravo, a des-
peito da utilidade prática da modalidade de agravo pela qual a
parte optara”. Possibilidade essa que deixou de existir após o ci-
tado diploma legal, na medida em que as duas espécies de agravo
passaram a ser interpostas perante juízos diversos.

Na verdade, o legislador procura restringir ao máximo


o número de feitos a ser julgado pelos Tribunais, seja pelo rela-
tor, monocraticamente, seja pelos órgãos colegiados. Aliás, com a
Lei nº 9.756/98, já se havia criado a figura do recurso extraor-
dinário e/ou especial retido (CPC, art. 542, § 3º), na hipótese de
acórdão tomado contra decisão interlocutória em processo de conhe-
cimento, cautelar ou embargos à execução. 42

41
- obra citada, p. 27.
42
- Diz CASSIO SCARPINELLA BUENO, O NOVO § 3º DO ART. 542 DO CPC, in AS-
PECTOS POLEMICOS E ATUAIS DOS RECURSOS, Coordenação: Eduardo Pelegrini de
Arruda Alvim e outros, Editora Revista dos Tribunais, 1ª edição, São Pau-
lo, 2000, p. 84: “Em que pesem as inúmeras divergências entre os autores,
há, ao menos, consenso em um ponto da nova sistemática dos recursos ex-
traordinário e especial: não constam maiores dúvidas quanto à finalida-
de, como um todo, da mais recente lei alteradora do Código de Processo
Civil e, em específico, da disciplina que consta doravante de seu art.
542, § 3º: reduzir o número de recursos dirigidos aos Tribunais Superio-

35
Dessa decisão do relator poderá o agravante interpor
recurso ao órgão colegiado competente. 43 Como não há regulamenta-
ção especifica para esse recurso, ele seguirá o rito daquele pre-
visto no art. 557, §§ 1º e 2º, do CPC, ao que se remete o leitor.

Esse poder do Relator deverá ser utilizado com a de-


vida prudência, sempre que não houver risco de prejuízo ao agra-
vante. Sempre que houver dúvida, o agravo de instrumento deve ser
processado e julgado como interposto.

Hipótese de incidência desse novo inc. II pode ocor-


rer, por exemplo, quando da interposição de recurso contra decisão
que indefere a realização de perícia, a ela seguindo-se a senten-
ça. Assim, noticiado pelo agravante, na petição do Agravo de ins-
trumento, que o juiz, apesar de ter indeferido a prova requerida
em decisão anterior à sentença (se o indeferimento ocorreu na pró-
pria sentença, nem há necessidade de agravo, bastando a alegação,
nas razões de apelação, de cerceamento de defesa), já julgou a li-
de, não há razão para que o recurso seja julgado de imediato. Nes-
se caso, o relator deve convertê-lo em agravo retido, caso em que,
todavia, deve o agravante ter oportunidade, nos autos da demanda,
de reiterar esse agravo, para que a questão relativamente à prova
indeferida seja apreciada pelo juízo ad quem, antes do julgamento
da apelação.

Todavia, cumpre observar quem, se os autos do proces-


so principal já tiverem subido, o agravo devolvido ao juízo a quo
deve ser remetido ao tribunal e àquele apensado, intimando-se o
agravante para que decline seu interesse na apreciação do recurso
retido; sendo positiva a manifestação, deverá ser intimado o agra-
vado.

1.8.2) A explicitação dos poderes do Relator quanto


ao efeito suspensivo ativo:

O novo inc. III resulta do antigo inc. II, com alguns


acréscimos. A redação anterior apenas concedia ao relator o poder
de conceder efeito suspensivo ao agravo. Literalmente, isso signi-
ficava que o relator poderia, tão-somente, sustar, total ou parci-
almente, os efeitos de decisão do juiz que causasse gravame ao

res mediante uma técnica de sobrestamento dos recursos extraordinário e


especial, na expectativa de que a questão recorrida possa acabar restando
prejudicada com a tramitação do processo”. A única diferença é que, na
hipótese do § 3º do art. 542, a retenção do recurso é feita pelo juízo a
quo; no caso do art. 557, inc. II, pelo juízo ad quem.
43
- segundo a lição de ATHOS GUSMAO CARNEIRO, obra citada, p. 27, a de-
cisão do juiz que, no sistema anterior à Lei nº 9.139, convertia o agravo
de instrumento em retido, ou vice-versa, era irrecorrível.

36
réu. Não poderia, todavia, o relator conceder antecipação da tute-
la quando o juiz a quo a tivesse indeferido, pois não se suspende
efeitos de decisão que nenhum efeito tem.

Todavia, a jurisprudência e a doutrina foram mais


longe, sendo inúmeros os julgados a entender possível ao relator a
concessão do efeito suspensivo ativo, assim chamado pelo Ministro
Adhemar Maciel no acórdão proferido no ROMS 8.516-RS (Superior
Tribunal de Justiça, 2ª Turma, julgado em 4.8.97, in DJU de
8.9.97, pág. 42.435). 44

Do mesmo modo, para TEORI ALBINO ZAVASCKI 45 “Dir-se-á


que tal providência não está facultada pelo art. 558 do Código de
Processo Civil, onde se prevê apenas a possibilidade de ‘suspen-
der’, não a de antecipar. Essa objeção decorre de interpretação
puramente filológica do dispositivo e tem contra si o princípio da
isonomia, que, no campo do processo, impõe ao juiz o dever de as-
segurar às partes igualdade de tratamento (CPC, art. 125, I). O
apego às palavras constitui, para o trabalho exegético, ‘o maior
perigo, fonte perene de erros’, dizia Carlos Maximiliano. ‘São,
as palavras, símbolos apenas’, escreveu ele. ‘Agrupadas, enfeixam,
em reduzida síntese, um processo complexo de pensamento. Cabe ao
aplicador do direito desdobrar as idéias consubstanciadas no blo-
co’. ‘Nada de exclusivo apego aos vocábulos ...’, recomendou. ‘O
dever do juiz não é aplicar os parágrafos isolados, e, sim, os
princípios jurídicos em boa hora cristalizados em normas positi-
vas’. Ora, o art. 558 é mais um desdobramento do mecanismo de an-
tecipação da tutela. [...]. O desiderato do legislador foi, indu-
bitavelmente, o de conferir ao relator a faculdade de antecipar os
efeitos do futuro e provável juízo de provimento do agravo e, des-
se modo, assegurar a utilidade da decisão colegiada, que ficaria
comprometida sem uma providência inovadora, oposta à que decorre
da decisão agravada. [...]. Seria inadequado a essa finalidade,
além de absolutamente injustificável ante o princípio da paridade
de tratamento, o dispositivo de lei que, presentes as mesmas cir-
cunstâncias (relevância do direito e risco de dano), permitisse
antecipar efeito do provimento do agravo apenas em favor de uma
das partes e não em favor da outra”.

44
- veja-se, entre tantos outros, os julgados publicados na RT 731/446,
Lex-JTA 163/361, Julgados do TARGS 100/376, RTJE 152/243, assim como a 1ª
Conclusão do ETAB: No agravo de instrumento é possível a concessão limi-
nar da tutela jurisdicional negada pela decisão agravada e 4ª Conclusão
do CETARS: Pode o relator conceder tutela antecipada ou cautelar, quando
o agravo ataca decisões indeferitórias (arts. 273 e parágrafos, e 800,
parágrafo único, do CPC). Na doutrina, veja-se o magistério de Adroaldo
Furtado Fabrício: Tutela antecipada: denegação no primeiro grau e conces-
são pelo relator do agravo (RF 349/11 e Revista da AJURIS 76/9).
45
- obra citada, pág. 110.

37
ROBERTO ARMELIN 46, embora discordando dos que chamam
de concessão do efeito suspensivo ativo a decisão do relator do
Agravo de instrumento que concede, total ou parcialmente, a ante-
cipação da tutela negada em primeiro grau, sustenta possível a
atuação do Relator, apenas ressalvando que “o chamado efeito ativo
do agravo de instrumento não passa de antecipação da tutela que se
busca na decisão de mérito do próprio recurso. Ora, não é efeito
suspensivo algum – não há o que suspender”.

Alias, idêntico o entendimento de TERESA ARRUDA ALVIM


47
WAMBIER , quando diz, referindo-se à concessão de efeito suspen-
sivo ativo pelo Relator do agravo de instrumento, sendo negativa a
decisão de primeiro grau, que “Hoje pensamos que, nesta hipótese,
em vez de fazer diretamente uso do mandado de segurança, o correto
é considerar-se que o próprio relator possa conceder efeito ‘ati-
vo’ ao agravo, adiantando o ‘provável’ julgamento do recurso, en-
quanto ainda está tramitando (e se diz provável, por que a parte
deve demonstrar a aparência do bom direito) não com base no art.
558, caput, que é regra excepcional, mas com base no art. 273, I,
do CPC, do mesmo modo deve ocorrer com relação à apelação”. 48

A nova redação, pois, sepulta de vez a discussão, ad-


mitindo expressamente que o relator do Agravo de instrumento con-
ceda, total ou parcialmente, o efeito suspensivo ativo, negado –
total ou parcialmente – pelo juízo a quo. E, em que pese refira-se
o dispositivo apenas à antecipação da tutela, logicamente que deve
ser interpretada a referência não como numerus clausus, ou seja,
espécie, mas sim em caráter exemplificativo, abrangendo, assim,
qualquer providência genérica de caráter liminar, cautelar, ou,
especificamente, de antecipação da tutela.

Dessa decisão, segundo a jurisprudência majoritária


49
, não cabe recurso, ausente previsão legal. Todavia, deve-se fa-

46
- TUTELA EM SEGUNDO GRAU DE JURISDIÇÃO, in ASPECTOS POLÊMICOS DA ANTE-
CIPAÇÃO DE TUTELA, TERESA ARRUDA ALVIM WAMBIER e outros, Editora Revista
dos Tribunais, 1ª edição, São Paulo, 1997, p. 450.
47
- EFEITO SUSPENSIVO DO AGRAVO, in ASPECTOS POLÊMICOS E ATUAIS DOS RE-
CURSOS, Coordenação: Eduardo Pelegrini de Arruda Alvim e outros, Editora
Revista dos Tribunais, 1ª edição, São Paulo, 2000, p. 643.
48
- no mesmo sentido a lição de ATHOS GUSMAO CARNEIRO, obra citada, p.
73/74.

49
- nesse sentido são inúmeros os acórdãos do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul, podendo-se citar os seguintes, proferidos nos agravos re-
gimentais nº 70003693181 (11ª Câmara Cível, relator o Des. Voltaire de
Lima Moraes, julgado em 12/12/01), nº 70003344835 (10ª Câmara Cível,
relator o Des. Luiz Ary Vessini de Lima, julgado em 06/12/01), nº
70003241791 (13ª Câmara Cível, rel. o Des. Marco Aurélio de Oliveira Ca-
nosa, julgado em 04/10/01), nº 70002727725 (10ª Câmara Cível, relator:

38
zer uma distinção. Ora, quando o relator confirma a decisão de
primeiro grau, ou seja, não confere efeito suspensivo ao recurso,
realmente não há razão para que caiba novo recurso, na medida em
que, oportunamente, será julgado definitivamente o agravo de ins-
trumento, hipótese em que, em vista da existência de duas decisões
no mesmo sentido, é quase certo que a do colegiado seja a mesma.

Entretanto, quando o relator toma posição diversa do


juízo de primeiro grau, isoladamente, a decisão deveria ser passí-
vel de recurso semelhante ao previsto no art. 557, §§ 1º e 2º, do
CPC, pois pode ocorrer que o julgamento colegiado seja diferente
do do Relator, confirmando, assim, a posição do juízo a quo.

O novo inc. IV reproduz, ipsis literis, a redação do


antigo inc. III, tratando da possibilidade de o relator requisitar
informações ao juízo a quo e do prazo que esse tem para prestá-
las. Por isso, não merece maiores considerações.

1.8.3) A intimação do Advogado do agravado pela im-


prensa oficial, em qualquer hipótese:

O inc. V tem a redação do antigo inc. III, com peque-


no acréscimo, decorrente da posição da jurisprudência, que já ad-
mitia a intimação do advogado do agravado pela imprensa oficial,
mesmo que a causa não tramitasse na comarca sede de Tribunal. 50

A alteração vem em boa hora, na medida em que a inti-


mação pela via postal do advogado quando o processo principal não
tramitasse na comarca sede do Tribunal (normalmente, as capitais)
implicava dificuldades às secretarias das Cortes, que muitas vezes
recebiam sem cumprimento as cartas remetidas aos bacharéis pela
via postal, o que implicava retardamento no julgamento dos agra-
vos. Agora, com a possibilidade de intimação via imprensa oficial,
desde que na comarca circule o diário oficial, o julgamento do
agravo será mais célere. Isso exige do advogado maior controle so-
bre o diário oficial, na medida em que só através dele é que toma-
rá conhecimento da interposição dessa espécie de recurso.

des. Paulo Antônio Kretzmann, julgado em 16/08/01) e nº 70002824522 (5ª


Câmara Cível, relator o Des. Marco Aurélio dos Santos Caminha, julgado em
09/08/01). Decisões, aliás, em consonância com a conclusão nº 6 do CEJUS,
do seguinte teor: “Não cabe agravo regimental ou agravo interno da deci-
são do Relator que nega ou concede efeito suspensivo ao agravo de instru-
mento, bem como daquela em que o Relator decide a respeito de antecipação
de tutela ou tutela cautelar.”
50
- Nesse sentido a conclusão n° 15 do CETARS: Quando o jornal oficial,
destinado à publicação das intimações judiciais, também abrange o juízo
em que lançada a decisão agravada, a intimação a que se refere o inc. III
do art. 527 do CPC poderá ser nele publicada, no que diz com as comarcas
que não sejam sede do Tribunal.

39
1.8.4) A intervenção do Ministério Público:

Por fim, o inc. VI reproduz o inc. IV da redação an-


terior do art. 527, e diz respeito à intervenção do Ministério Pú-
blico. Em que pese não tenha havido alteração no dispositivo em
questão, não se pode deixar de dizer acerca da desnecessidade de
sua existência, pois as hipóteses de intervenção do parquet estão
previstas no art. 82 do CPC. Assim, se a causa da qual se originou
o agravo de instrumento comporta a intervenção do Ministério Pú-
blico, ele deverá ter vista, obrigatoriamente, nos termos do art.
83, inc. I, do códex processual, ainda que ausente a previsão es-
pecífica no citado inc. VI.

1.9) Embargos infringentes – limitação de seu cabi-


mento e novas regras para seu processamento:

Redação anterior:

Art. 530 Cabem embargos infringentes quando não for unânime o julgado proferido
em apelação e em ação rescisória Se o desacordo for parcial, os embargos serão res-
tritos à matéria objeto da divergência.
Redação atual:

Art. 530 Cabem embargos infringentes quando o acórdão não unânime houver
reformado, em grau de apelação, a sentença de mérito, ou houver julgado proce-
dente ação rescisória. Se o desacordo for parcial, os embargos serão restritos à
matéria objeto da divergência.

1.9.1) A situação atual dos embargos infringentes:

Segundo BARBOSA MOREIRA, 51 “O anteprojeto BUZAID pu-


sera de lado os embargos de nulidade e infringentes, salvo como
recurso cabível contra decisões proferidas nas “causas de alçada”
(art. 561). Na Exposição de Motivos, dizia-se que “a existência de
um voto vencido não basta, por si só para justificar a criação de
recurso; porque pela mesma razão se deve admitir um segundo recur-
so de embargos sempre que no novo julgamento subsistir um voto
vencido; por esse modo poderia arrastar-se a verificação do acerto
da sentença por largo tempo, vindo o ideal de justiça a ser sacri-
ficado pelo desejo de aperfeiçoar a decisão”.

Apesar disso, o recurso de embargos infringentes foi


mantido no CPC de 1973, argumentando muitos, segundo o mesmo BAR-

51
- obra citada, pág. 472.

40
BOSA MOREIRA, 52 “com a conveniência de abrir-se nova oportunidade
à revisão da matéria julgada, quando, no próprio tribunal, não se
forma unanimidade”. Além disso, acena-se com o fato de que, no
julgamento dos embargos infringentes, sendo ele realizado por um
maior número de juízes, chegue-se a um resultado mais seguro.

Todavia, o exame mais detido do processo faz-se em


primeiro grau de jurisdição, onde o juiz tem contato direto com as
partes, além de proceder à coleta da prova em sua integralidade,
como decorrência do princípio da imediatidade. O julgamento de se-
gundo grau, assim, não é mais amplo do que aquele.

Por isso, BARBOSA MOREIRA, 53 depois de manifestar-se


inicialmente pela sobrevivência dos embargos infringentes, passou
a atenuar o rigor de sua posição, em vista da experiência, res-
tringindo, todavia, seu cabimento, “excluindo-os em alguns casos,
como o de divergência só no julgamento de preliminar, ou em apela-
ção interposta contra sentença meramente terminativa e, também, o
de haver o tribunal confirmado (embora por maioria de votos) a
sentença apelada, à semelhança do que se dava no sistema primitivo
do estatuto de 1939, antes do Dec.-lei nº 8.570, de 8.1.1946” – o
grifo é do autor.

Parece que o legislador da mini-reforma seguiu exata-


mente as ponderações do eminente processualista, porquanto, pela
nova redação do art. 530 do CPC, os embargos infringentes só serão
cabíveis quando o acórdão não unânime houver reformado, em grau de
apelação, a sentença de mérito, ou houver julgado procedente ação
rescisória. Manteve-se intacta, porém, a parte final do art. 530,
ou seja, Se o desacordo for parcial, os embargos serão restritos à
matéria objeto da divergência.

Logicamente, a divergência na votação deve residir na


conclusão do decisum, não na simples motivação. No dizer de HER-
MANN HOMEM DE CARVALHO ROENICK, “se dos três 54 julgadores um di-
vergir da fundamentação esposada pelos outros, mas todos concluí-
rem pelo improvimento do recurso, o voto vencido não poderá alte-
rar o resultado, visto que o máximo que poderia ser obtido seria a

52
- idem, pág. 473.
53
- idem, ibidem.
54
- a referência a esse número de julgadores pode induzir a equívoco,
pois é o quorum para o julgamento de apelação. Na ação rescisória, toda-
via, onde também são cabíveis os embargos infringentes, o número de jul-
gadores será de no mínimo três, dependendo da composição do órgão colegi-
ado que a apreciar, nos termos do Regimento Interno de cada Corte. No
Tribunal de Justiça gaúcho, por exemplo, as ações rescisórias de sentença
de primeiro grau são julgadas por uma Câmara, isoladamente; se o acórdão
é de uma Câmara, então a competência é de um Grupo Cível, formado por
duas Câmaras (excepcionalmente, o 1º Grupo Cível da Corte gaúcha é com-
posto por três Câmaras – 1ª, 2ª e 21ª Cíveis).

41
uniformidade nos fundamentos, algo que não apresentaria nenhum re-
sultado prático”. 55 Assim, a partir da vigência da nova redação do
art. 530, se, mesmo havendo voto divergente, a maioria optar, em
julgando apelação, pela confirmação da sentença, não serão cabí-
veis os embargos infringentes.

1.9.2) Novo requisito de admissibilidade – divergên-


cia sobre o mérito:

Do mesmo modo, a divergência precisará dizer respeito


ao mérito da causa. Destarte, se a sentença for, a princípio, ape-
nas terminativa, ainda que ela seja reformada, não serão cabíveis
os embargos. Ou então, se a sentença examinou o mérito, rejeitando
preliminar, e houver divergência no julgamento da apelação, aco-
lhendo a maioria a preliminar, também não haverá ensejo aos in-
fringentes, que só seriam cabíveis se o juízo ad quem examinar o
mérito da lide e, por maioria, reformar a sentença nesse aspecto.

Discussão que surgirá, todavia, é acerca do alcance


da palavra mérito. Segundo o CPC, só são sentenças de mérito aque-
las elencadas nos incisos do art. 269. Entretanto, sabe-se que mé-
rito é muito mais do que isso, como, aliás, sustenta a doutrina e
a jurisprudência quanto à sua abrangência quando se tratar do ca-
bimento da ação rescisória, conforme a previsão do art. 485 do
CPC.

Lecionando a respeito do significado de mérito, para


fins de admissibilidade da ação rescisória, BARBOSA MOREIRA 56 re-
fere que “A locução ‘sentença de mérito’ aplica-se precipuamente
ao ato pelo qual, no processo de conhecimento, se acolhe ou se re-
jeita o pedido, ou – o que quer dizer o mesmo – se julga a lide,
que justamente por meio do pedido se submeteu à cognição judici-
al. [...]. Em todo caso, os dizeres do art. 269 servem de guia na
interpretação do art. 485, caput, onde reaparece a expressão ’de
mérito’. A nosso ver, num e noutro texto figura ela em idêntica
acepção, sempre a designar as sentenças sobre as quais se possa
formar a res judicata material. Diversamente do que ocorria sob o
Código de 1939, parece-nos hoje inadmissível construir a rescisó-
ria como ação dirigida contra a coisa julgada no sentido puramente
formal. Bem ao contrário: o critério decisivo para aferir-se a
rescindibilidade é, no sistema atual, o que se baseia na aptidão
da sentença para adquirir a auctoritas rei iudicate na significa-
ção antes indicada. Nada importa que ela contenha verdadeiro jul-
gamento, isto é, aplicação do direito a fato (s) segundo a convic-

55
- RECURSOS NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, Aide Editora, 1ª edição, Rio
de Janeiro, 1997, p. 109.
56
- obra citada, pág. 98/100.

42
ção do juiz, ou se restrinja a chancelar, por assim dizer, a solu-
ção dada ao litígio por ato dispositivo das partes, ou de uma de-
las”.57

GALENO LACERDA, em sua célebre obra, DESPACHO SANEA-


DOR 58 vai mais além no conceito de mérito, ao dizer que “Decidir,
portanto, a respeito da existência das condições da ação, no que
concerne à possibilidade jurídica e também à legitimação para a
causa, é julgar matéria relativa ao mérito do pedido, a seus fun-
damentos de direito. Constituem elas requisitos indispensáveis à
fundamentação jurídica da pretensão juntamente com o interesse,
integram o título do direito de agir. Por isto, a sentença que der
pela falta de qualquer das duas condições resolverá pedido nega-
tivamente e, portanto, a lide. Será sentença de mérito. [...]. A
impossibilidade jurídica fulmina o pedido, objetivamente conside-
rado, por falta de amparo legal. A ilegitimidade para a causa vi-
cia também o pedido, por inaptidão do sujeito em relação ao obje-
to. Dir-se-ia que, no tocante a esta condição, não haveria res ju-
dicata, e, conseqüentemente, decisão de mérito, pois que a coisa
em si não seria julgada, mas apenas legitimação do sujeito. O ar-
gumento não insere o instituto da coisa julgada na concepção pu-
blicística da ação. A ação é o pedido de um sujeito dirigido ao
Estado, para que se lhe reconheça um bem em relação a outro sujei-
to. Todo juízo de valor sobre esse pedido fará coisa julgada mate-
rial, nos limites subjetivos em que a lide se configurou. Se autor
e réu forem partes ilegítimas para a causa, a res será julgada re-
lativamente a eles. É o quanto basta para que a sentença naquela
ação, entre aquelas partes, transite materialmente em julgado. O
conflito entre autor e réu, como se retratou no pedido, estará re-
solvido, haverá decisão de mérito”. 59

Portanto, basta que a sentença impeça que a mesma li-


de seja reiterada entre as partes para que ela seja conceituada
como de mérito, para o cabimento da ação rescisória. Justo por is-
so é que a jurisprudência vem admitindo rescisória contra sentença
que põe termo ao feito, dando pela ilegitimidade de parte 60; con-

57
- os grifos são do autor.
58
- Sérgio Antonio Fabris Editor, 2ª edição, Porto Alegre, 1985, pág.
88/89
59
- os grifos são do original.
60
- acórdão publicado na Revista JULGADOS DO TARGS 70/190. Contrariamen-
te, todavia, o Superior Tribunal de Justiça decidiu que “ A ação rescisó-
ria tem por finalidade precípua a desconstituição de uma decisão que ver-
se sobre o mérito da causa. Na hipótese dos autos, o acórdão rescindendo
tratou, tão somente, de questão relativa à legitimidade ad causam de uma
das partes. Assim, com a decisão de natureza terminativa a coisa julgada
é essencialmente formal não ensejando, portanto, a rescisória” (Agravo

43
tra a sentença que extingue o processo por entender presente a
coisa julgada, porque impede seja novamente intentada a ação 61;
contra acórdão proferido em Agravo de instrumento, desde que tenha
examinado o mérito de uma controvérsia, a que pôs termo 62.

Além disso, o extinto Tribunal Federal de Recursos já


admitiu ação rescisória em processo em que a audiência de instru-
ção e julgamento fez-se sem regular intimação do advogado da parte
vencida 63; há acórdãos, ainda, admitindo a rescisória se ao ensejo
do saneamento do processo, fora dispensada a citação da mulher do
réu, que era obrigatória 64; ou se a sentença deixa de julgar a li-
de secundária objeto da litisdenunciação. 65

O Superior Tribunal de Justiça, por seu turno, já ad-


mitiu ação rescisória contra sentença que extingue o processo de
execução em razão do cumprimento da obrigação, por alcançar o con-
teúdo material do direito assegurado no processo de conhecimento
66
; contra acórdão proferido em agravo de instrumento, pelo qual se
confirmou decisão interlocutória que desconstituiu a garantia hi-
potecária e criou intransponível obstáculo capaz de impedir que
prosperasse a pretensão do então exeqüente, deduzida na execução,
pelo menos na parte de ter o seu crédito assegurado com a garantia
hipotecária daquele bem. 67

Importa, assim, para o cabimento dos embargos infrin-


gentes, que o decisum onde se reformou por maioria, ainda que em
parte, o julgado, resulte na res judicata, ou seja, impeça que a

Regimental na Ação Rescisória, Segunda Seção, Relator o Ministro Waldemar


Zveiter, julgado em 09.02.00, in DJU de 10.04.00, p. 66).
61
- TFR, 2ª Seção, AR 1.501-RJ, Relator o Ministro Eduardo Ribeiro,
julgada em 7.3.89, in DJU de 10.4.89, pág. 5.004.
62
- RT 634/92. No mesmo sentido decisão publicada in RSTJ 103/279, em
que foi decidido que Se a prestação jurisdicional principal postulada
pode ser compartimentalizada, no caso de cumulação de pedidos, de sorte a
poder ser dirimida por etapas, qualquer decisão parcial que destrama o
mérito de cada pedido, ainda que seja tomada em agravo de instrumento e
mesmo que tenha natureza processual, enseja, em tese, o ingresso de ação
rescisória.
63
- 2ª Seção, AR 551-SP, Relator o Ministro Pedro Acioli, julgado em
13.11.84, in DJU de 7.2.85.
64
- RT 502/140.
65
- RT 724/408.
66
- REsp 147735/SP (6ª Turma, Relator o Ministro o Ministro Vicente
Leal, julgado em 23.05.00, in DJU de 12.06.00, p. 139.
67
- REsp 100902/BA, 4ª Turma, Relator o Ministro César Asfor Rocha, jul-
gado em 10.06.97, in DJU de 29.09.97, p.48212.

44
parte vencida possa repetir a mesma lide, ainda que a questão
apreciada não seja, exclusivamente, uma daquelas que o CPC, art.
269, enuncia como sendo hipóteses de extinção do feito com apreci-
ação do mérito.

Justo por isso, por exemplo, é que não caberão embar-


gos infringentes quando, no julgamento da apelação, o Tribunal en-
tenda de anular o processo ab initio (ou, então, a partir da audi-
ência de instrução e julgamento, da sentença, etc), determinando a
renovação do feito a partir do ato anulado, inclusive, pois nesse
caso a lide prosseguirá com a prolação de nova sentença.

Do mesmo modo, incabíveis os embargos quando o Tribu-


nal limita-se a reformar a sentença para proclamar a necessidade
de prévia interpelação judicial do réu para o ajuizamento da de-
manda resolutória de compromisso de compra e venda de imóvel lote-
ado ou que proclame a carência de ação, por ausência de interesse
processual, da ação de apuração de haveres de sócio dissidente
que, antes do ajuizamento, não procedeu à prévia interpelação dos
demais sócios, como previsto expressamente no contrato social.
Porque em ambas as hipóteses, a extinção do feito não faz coisa
julgada. Efetuada a notificação, o autor poderá renovar a mesma
demanda.

Certo, não se poderá restringir o entendimento do que


é mérito do mesmo modo que a jurisprudência tem feito em relação à
ação rescisória, na medida em que, nessa, está-se frente à coisa
julgada, um dos institutos que o Estado se propôs a proteger e
prestigiar, nos termos do art. 5º, caput, inc. XXXVI, da Consti-
tuição Federal. Bem disse o Ministro do Superior Tribunal de Jus-
tiça, em voto proferido no Agravo Regimental na Ação Rescisória nº
1.543/SC, que “ O Estado tem interesse em proteger a coisa julga-
da, em nome da segurança jurídica dos cidadãos, mesmo em prejuízo
à busca pela justiça. Por esse motivo, as hipóteses de cabimento
da ação rescisória são taxativas e devem ser comprovadas estreme
de dúvidas”. 68

Desta forma, conclui-se que, se houver uma dúvida


acerca de ter ou não o acórdão apreciado qualquer questão que, de
alguma forma, possa dar azo à coisa julgada, os embargos infrin-
gentes deverão ser admitidos. Além disso, pode-se afirmar que,
sempre que o decisum for passível de ataque via ação rescisória,
serão cabíveis os embargos infringentes; o contrário, todavia, nem
sempre será possível.

68
- Primeira Seção, julgado em 12.09.01, in DJU de 22.10.01, p. 262. No
mesmo sentido, REsp nº 142991, 2ª Turma, julgado em 21.06.01, in DJU de
20.08.01, p. 425.

45
1.9.3) A mudança em relação à ação rescisória:

Quanto à ação rescisória, a alteração é um pouco di-


versa. Os embargos, havendo divergência, só serão cabíveis se a
rescisória for acolhida. E isso independentemente de o julgamento
apreciar ou não o mérito.

Logicamente, por força da parte final do art. 530,


para as duas hipóteses (apelação ou rescisória), os embargos serão
cabíveis mesmo que a sentença seja reformada ou a rescisória seja
julgada parcialmente procedente, desde que preenchidos os demais
requisitos. Desta forma, por exemplo, se a rescisória tiver dois
pedidos, e apenas um deles for acolhido, os embargos são oponíveis
desde que tenha havido voto divergente. O mesmo dá-se com a apela-
ção. Reformada a sentença em parte, desde que em relação ao mérito
da causa, serão oponíveis os embargos, havendo voto vencido.

A mudança é salutar. Realmente, se a sentença é con-


firmada no mérito, ainda que com um voto vencido, não há razão pa-
ra permitir mais um julgamento, que, no mais das vezes, só resul-
tará na confirmação do primeiro veredito do juízo ad quem. O mesmo
ocorre em relação à ação rescisória. Na medida em que, quase sem-
pre, ela é oposta contra acórdão do próprio Tribunal, se já houve
decisum contrário ao autor da rescisória, vindo a ser confirmado,
ainda que por maioria, não se justifica a possibilidade de mais
uma decisão relativa à mesma lide.

1.9.4) As modificações do processo e julgamento dos


infringentes:

Redação anterior:

Art. 531 Compete ao relator do acórdão embargado apreciar a admissibilidade do re-


curso.

Art. 533 Admitidos os embargos, proceder-se-á ao sorteio de novo relator.


Parágrafo único. A escolha do relator recairá, quando possível, em juiz que não haja
participado do julgamento da apelação ou da ação rescisória.

Art. 534 Sorteado o relator e independentemente de despacho, a secretaria abrirá vista


ao embargado para a impugnação.

Parágrafo único. Impugnados os embargos, serão os autos conclusos ao relator e ao


revisor pelo prazo de quinze (15)dias para cada um, seguindo-se o julgamento.

Redação atual:

Art. 531 Interpostos os embargos, abrir-se-á vista ao recorrido para contra-


razões; após, o relator do acórdão embargado apreciará a admissibilidade do re-
curso

46
Art. 533 Admitidos os embargos, serão processados e julgados conforme dis-
puser o regimento do tribunal

Art. 534. Caso a norma regimental determine a escolha de novo relator, esta re-
cairá, se possível, em juiz que não haja participado do julgamento anterior.

Há, também, alterações na sistemática de processamen-


to e julgamento dos embargos infringentes.

O juízo de admissibilidade, que antes era feito pelo


Relator, assim que interposto o recurso, passa, com a nova redação
do art. 531, a ser efetuado posteriormente à intimação do embarga-
do para ofertar as contra-razões. Após, segue-se de acordo com o
regimento interno do Tribunal, conforme o art. 533. E, nos termos
da nova redação do art. 534, somente se a norma regimental previr
a escolha de novo relator, então esse encargo deverá recair, de
preferência, sobre juiz que não tenha participado do julgamento
anterior.

Não há razão, primeiro, para que o juízo de admissi-


bilidade seja feito apenas após as contra-razões do embargado. Is-
so seria interessante se não houvesse um juízo prévio de cabimento
dos embargos, ou seja, se o julgamento fosse um só, quando da de-
cisão dos próprios embargos. Isso evitaria a interposição de um
primeiro recurso, previsto no art. 532 do CPC, que não foi altera-
do.

E, havendo um só julgamento, não haveria necessidade


de duas decisões, proferidas por dois relatores distintos – a pri-
meira, pelo que relatou o acórdão embargado; a segunda, pelo rela-
tor sorteado, na forma, agora, do regimento interno da Corte.

Todavia, na medida em que há um juízo prévio de ad-


missibilidade do recurso (por exemplo, se, julgada a apelação, a
divergência diz ou não respeito ao mérito da causa; se os embargos
são ou não tempestivos, etc), esse deveria ser feito de imediato,
sem que houvesse necessidade da intervenção do embargado. A alte-
ração apenas retarda, mais ainda, a solução do recurso.

Quanto ao art. 533, ele prevê, agora, que o processa-


mento e julgamento dos embargos infringentes seja realizado na
forma do regimento interno do Tribunal, o que permite, inclusive,
que o relator dos embargos seja o mesmo do acórdão embargado. Quer
dizer: não há mais necessidade de sorteio de novo relator, se as-
sim não dispuser o regimento. Do contrário, incide o disposto no
novo art. 534, qual seja, que o Relator dos embargos seja, de pre-
ferência, um juiz que não haja participado do julgamento anterior.

Trata-se de mudança não positiva, eis que, se se co-


gita de revisar julgamento já realizado, em que houve divergência,
com certeza alcançar-se-ia uma decisão mais justa caso o Relator

47
dos embargos fosse juiz que ainda não teve contato com os autos,
para que os examinasse com imparcialidade, de forma eqüidistante,
ao contrário daqueles que já atuaram no decisum embargado. Assim,
permitir que o relator dos embargos seja o mesmo do acórdão embar-
gado, é colocar o embargante em desvantagem, pois aquele, por já
ter proferido o voto majoritário, ficará propenso a, pura e sim-
plesmente, confirmá-lo, sabido que o juiz, ser humano que é, não
tem grande propensão a mudar posição tomada em julgamento anteri-
or.

1.10) O agravo contra decisão denegatória de recurso


extraordinário e/ou especial:

Redação anterior:

Art. 544 Não admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial, caberá agravo
de instrumento, no prazo de dez (10) dias, para o Supremo Tribunal Federal ou para o
Superior Tribunal de Justiça, conforme o caso.

§ 1º O agravo de instrumento será instruído com as peças apresentadas pelas partes,


devendo constar, obrigatoriamente, sob pena de não conhecimento, cópia do acórdão
recorrido, da petição de interposição do recurso denegado,das contra-razões, da deci-
são agravada, da certidão da respectiva intimação e das procurações outorgadas aos
advogados do agravante e do agravado.

§ 2º Distribuído e processado o agravo na forma regimental, o relator proferirá decisão.

§ 3º Poderá o relator, se o acórdão recorrido estiver em confronto com a súmula ou ju-


risprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça, conhecer do agravo para dar
provimento ao próprio recurso especial; poderá ainda, se o instrumento contiver os
elementos necessários ao julgamento do mérito, determinar sua conversão, observan-
do-se, daí em diante, o procedimento relativo ao recurso especial.

§ 4º O disposto no parágrafo anterior aplica-se também ao agravo de instrumento con-


tra denegação de recurso extraordinário, salvo quando, na mesma causa, houver re-
curso especial admitido e que deva ser julgado em primeiro lugar.

Redação atual:

Art. 544. Não admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial, caberá agravo
de instrumento, no prazo de 10 (dez) dias, para o Supremo Tribunal Federal ou para o
Superior Tribunal de Justiça, conforme o caso.

o
§ 1 O agravo de instrumento será instruído com as peças apresentadas pelas
partes, devendo constar obrigatoriamente, sob pena de não conhecimento, có-
pias do acórdão recorrido, da certidão da respectiva intimação, da petição de in-
terposição do recurso denegado, das contra-razões, da decisão agravada, da cer-
tidão da respectiva intimação e das procurações outorgadas aos advogados do
agravante e do agravado. As cópias das peças do processo poderão ser declara-
das autênticas pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal.

o
§ 2 A petição de agravo será dirigida à presidência do tribunal de origem, não
dependendo do pagamento de custas e despesas postais. O agravado será inti-
mado, de imediato, para no prazo de 10 (dez) dias oferecer resposta, podendo

48
instruí-la com cópias das peças que entender conveniente. Em seguida, subirá o
agravo ao tribunal superior, onde será processado na forma regimental.

o
§ 3 Poderá o relator, se o acórdão recorrido estiver em confronto com a súmula ou ju-
risprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça, conhecer do agravo para dar
provimento ao próprio recurso especial; poderá ainda, se o instrumento contiver os
elementos necessários ao julgamento do mérito, determinar sua conversão, observan-
do-se, daí em diante, o procedimento relativo ao recurso especial.

o
§ 4 O disposto no parágrafo anterior aplica-se também ao agravo de instrumento con-
tra denegação de recurso extraordinário, salvo quando, na mesma causa, houver re-
curso especial admitido e que deva ser julgado em primeiro lugar.

A novidade no art. 544, § 1º, do CPC, 69 de acordo com


a Lei nº 10.352/01, é o fato de que se acrescentou ao traslado do
agravo de instrumento, como peça essencial ao seu conhecimento,
não só a cópia da certidão da intimação da decisão agravada, mas
também a relativa à intimação do acórdão recorrido.

1.10.1) As exigências do Supremo Tribunal Federal e


Superior Tribunal de Justiça quanto ao agravo de instrumento a
eles dirigido:

Com efeito, de há muito o Supremo Tribunal Federal


vem afirmando a necessidade da comprovação não só da tempestivida-
de do citado agravo, mas também de que o próprio recurso denegado
foi interposto no prazo legal. 70 Requisito esse que não se substi-
tui por certidão da Secretaria do Tribunal a quo de que o extraor-
dinário é tempestivo. 71

69
- sua redação original foi revogada pela Lei nº 8.038/90, que revogou
os arts. 541 a 546 do CPC, ocasião em que já houve um aumento das peças
obrigatórias a formarem o agravo de instrumento interposto contra decisão
denegatória de recurso extraordinário e/ou especial. A Lei nº 8.950/94
aumentou, novamente, o número dessas peças obrigatórias, restaurando, de
outra banda, os artigos revogados pela Lei dos Recursos.
70
- Nesse sentido, entre tantos, os acórdãos proferido no Agravo de ins-
trumento nº 245.328-RN (1ª Turma, Relator o Ministro Marco Aurélio, jul-
gado em 16.11.99, in DJU de 3.12.99, pág. 2) e Agravo Regimental no Agra-
vo de instrumento nº 230.135-PR (1ª Turma, Relator o Ministro Moreira
Alves, julgado em 2.3.99, in DJU de 30.44.99, pág. 15).
71
- veja-se, a respeito, decisões no Agravo Regimental no Agravo de ins-
trumento nº 227.234-RN (1ª Turma, Relator o Ministro Moreira Alves, jul-
gado em 14.12.98, in DJU de 5.3.99, pág. 12) e Agravo de instrumento nº
245.328-RN, já referido.

49
O mesmo é o entendimento do Superior Tribunal de Jus-
tiça, que inclusive sumulou a matéria, conforme o enunciado nº
223: A certidão de intimação do acórdão recorrido constitui peça
obrigatória do instrumento do agravo.

Além disso, tem o Superior Tribunal de Justiça enten-


dido que, havendo a interposição simultânea de recursos extraordi-
nário e especial, ambos denegados, deve o agravo de instrumento
para aquela Corte ser instruído, também, com a prova de interposi-
ção de agravo de instrumento ao Supremo Tribunal Federal, susten-
tando-se que “rematada absurdidade jurídica constituiria a decisão
provadora de agravo instrumentado, determinando a subida à instân-
cia derradeira de recurso especial, quando já vislumbrado o possí-
vel trânsito em julgado do fundamento constitucional suficiente”.
72

Note-se que todas essas peças devem, obrigatoriamen-


te, compor o instrumento do agravo já na Corte em que o recurso
foi denegado, não podendo ser complementado no Supremo Tribunal
Federal ou Superior Tribunal de Justiça. 73

A alteração é salutar, na medida em que adapta a le-


gislação à jurisprudência já sedimentada na Corte Suprema e no Su-
perior Tribunal de Justiça. Realmente, não se pode admitir a subi-
da de agravo de instrumento contra decisão denegatória de recurso
extraordinário e/ou especial se não demonstrada, obviamente, a
tempestividade do recurso denegado.

Porém, o legislador deveria ter aproveitado a altera-


ção ora comentada para dispor que as peças tidas como obrigatórias
são somente aquelas previstas no CPC, não podendo outras ser exi-
gidas pelas Cortes destinatárias dos agravos.

1.10.2) A dispensa da autenticação das peças do tras-


lado pela Secretaria do Tribunal a quo:

Novidade maior, e que favorece às partes, é a intro-


duzida ao final do § 1º do art. 544, na qual se permite que o Ad-
vogado subscritor da petição do Agravo de instrumento declare que
as cópias que compõem o instrumento são autênticas, sob pena de
responsabilidade. 74 Considerando que a jurisprudência sempre con-

72
- Agravo Regimental no Agravo de instrumento nº 174.323-RS, 1ª Turma,
Relator o Ministro Demócrito Reinaldo, julgado em 14.4.98, in DJU de
18.5.98, pág. 58).
73
- nesse sentido, RTJ 115/739, 131/1403, 132/1345, 140/316 149/918,
170/624 e RT 667/214.

50
siderou necessária a autenticação das peças do processo principal
que formam o instrumento do agravo, 75 a inovação veio facilitar,
em muito, o trabalho do advogado interessado na subida do recurso.
Espera-se, porém, que os Advogados não se valham da facilidade
criada para juntar ao instrumento cópias que não fazem parte do
processo ou, eventualmente, que sejam adulteradas. Logicamente,
caberá à parte agravada o encargo de fiscalizar as peças juntadas
pelo agravante.

1.10.3) A dispensa da autenticação das cópias de pe-


ças dos autos aplica-se a todo agravo de instrumento:

Discussão que poderá surgir é se a faculdade do Advo-


gado declarar autênticas as cópias de peças do instrumento, na hi-
pótese de agravo contra decisão denegatória de recurso extraordi-
nário e/ou especial, aplica-se, também, na interposição de agravo
de instrumento contra decisão interlocutória do juízo de primeiro
grau, pois ali também o agravante deve juntar peças obrigatórias e
facultativas (CPC, art. 525, incs. I e II), que, do mesmo modo,
segundo a jurisprudência remansosa, devem ser autenticadas.

Em que pese o legislador não tenha feito remissão ex-


pressa no sentido de que a nova disposição do art. 544, § 1º, par-
te final, aplique-se a toda espécie de agravo, a regra deve ser a
mesma, por questão de isonomia. Ainda que a sistemática de um
agravo seja um pouco diversa do outro (no do art. 524, o agravo é
interposto perante o Tribunal ad quem; no outro, o recurso é in-
terposto perante o juízo a quo), no mais, as semelhanças são gran-
des.

Ademais, se no agravo interposto contra decisão dene-


gatória de recurso extraordinário e/ou especial, que sobe ao Su-
premo Tribunal Federal e/ou Superior Tribunal de Justiça, pode o
Advogado declarar autênticas as cópias das peças dos autos, não se
vê razão para que, no outro agravo, não possa ele fazer o mesmo. A
medida, aliás, veio justamente para simplificar o trabalho dos Ad-
vogados, liberar os servidores da Justiça de primeiro e segundo
grau de tarefas meramente burocráticas, razão pela qual a regra
deve ser a mesma, ou seja, em ambos os agravos de instrumento, as

74
- leia-se, prática de crime de falsidade ideológica, tipificado no
art. 299, caput, do Código Penal.
75
- veja-se, no Supremo Tribunal Federal, decisões no Agravo Regimental
no Agravo de instrumento nº 172.559-SC (2ª Turma, Relator o Ministro Mar-
co Aurélio, julgado em 26.9.95, in DJU de 3.11.95, pág. 37.258). no Supe-
rior Tribunal de Justiça, Agravo Regimental no Agravo de instrumento nº
262.590-SP (4ª Turma, Relator o Ministro Aldir Passarinho Junior, julgado
em 14.12.99, in DJU de 10.04.00, pág. 98), 93.431-RJ (5ª Turma, Relator o
Ministro Félix Fischer, julgado em 1.7.97, in DJU de 8.9.97, pág. 42.536)
e 177.053-RJ (6ª Turma, Relator o Ministro Fernando Gonçalves, julgado em
16.4.98, in DJU de 4.5.98, pág. 245).

51
fotocópias de peças dos autos não precisarão ser autenticadas por
servidor judicial, bastando que o Advogado que subscreve as razões
da irresignação, assim como as contra-razões, declare serem autên-
ticas.

1.10.4) Não pagamento de preparo e despesas postais


no agravo do art. 544 e a resposta do agravado

A nova redação do § 2º do art. 544, também alterada,


traz inovação surpreendente, dispensando de preparo de custas e de
pagamento de despesas postais os agravos interpostos contra deci-
são denegatória de recurso extraordinário e/ou especial. Assim,
estão ab-rogadas as normas regimentais das Cortes destinatárias
dos agravos, bem assim as legislações federal (agravos interpostos
nos Tribunais Regionais Federais) e estaduais que prevêem o paga-
mento de custas aos cofres públicos pelo processamento desses re-
cursos, além da exigência de pagamento de porte de remessa e de
retorno do instrumento.

Trata-se de providência extremamente salutar, na me-


dida em que a interposição do agravo previsto no art. 544 sempre
implicou, para os Advogados, verdadeiro périplo junto aos guichês
bancários, para o pagamento das custas, despesas postais, bem as-
sim das despesas com autenticação das fotocópias. Agora, permite-
se que o recurso seja interposto sem que o agravante necessite fa-
zer qualquer desembolso que, muitas vezes, importava em pequenos
valores, de nenhuma repercussão para os cofres públicos.

Ademais, o novo § 2º fixa o prazo para a resposta do


agravado, que poderá, no mesmo prazo, juntar cópias de peças que
entender conveniente. Aqui, aplica-se, por princípio de isonomia,
a regra da nova parte final do § 1º, dispensando a autenticação
das cópias, desde que o advogado subscritor da resposta declare
sua autenticidade. Ressalte-se que, nessa resposta, não se permite
a juntada de novos documentos, mas apenas, por expressa disposição
legal, de cópias de documentos que já fazem parte do processo.
Justo por isso é que não há previsão de vista ao agravante para
manifestar-se sobre o que juntado pelo agravado.

Entretanto, de bom alvitre que o legislador tivesse


previsto a oportunidade de vista ao agravante, apenas para confe-
rir se as cópias juntadas pelo agravado (se não autenticadas pela
Secretaria do Tribunal de origem) são, verdadeiramente, autênti-
cas. Ou então, determinar que a Secretaria proceda, antes de reme-
ter os autos ao juízo ad quem, à conferência das peças declaradas
autênticas pelos Advogados. Tal, obviamente, poderá ser previsto
pelo regimento interno dos Tribunais.

52
1.11) A descentralização dos serviços de protocolo
das Cortes de apelação, inclusive para fins de recursos ao Supremo
Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça

Redação anterior:

Art. 542. Recebida a petição pela secretaria do tribunal e aí protocolada, será


intimado o recorrido, abrindo-se-lhe vista para apresentar contra-razões

[...].

Art. 547 Os autos remetidos ao tribunal serão registrados no protocolo no dia


de sua entrada, cabendo à secretaria verificar-lhes a numeração das folhas e
ordená-los para distribuição.

Redação atual:

Art. 542. Recebida a petição pela secretaria do tribunal, será intimado o recorrido,
abrindo-se-lhe vista para apresentar contra-razões.

Art. 547. Os autos remetidos ao tribunal serão registrados no protocolo no dia de sua
entrada, cabendo à secretaria verificar-lhes a numeração das folhas e ordená-los para
distribuição.

Parágrafo único. Os serviços de protocolo poderão, a critério do tribunal, ser


descentralizados, mediante delegação a ofícios de justiça de primeiro grau.

O primeiro artigo (547) do capítulo relativo à ORDEM


DOS PROCESSOS NO TRIBUNAL diz respeito ao protocolo dos processos
recebidos pelas Cortes de Justiça oriundos dos juízos a quo.

O § único, inexistente na redação antiga, é inovação


à primeira vista, de nenhuma relevância, pois o caput do art. 547
refere-se apenas ao protocolo dos autos remetidos ao Tribunal. To-
davia, o alcance de tal dispositivo é bem maior do que a sua lite-
ralidade.

BARBOSA MOREIRA 76 ensina que “pelo teor literal, pa-


rece a norma referir-se exclusivamente aos autos (principais ou
apartados) em que subam recursos contra decisões de grau inferior,
e aos de causas obrigatoriamente sujeitas à revisão (art. 475 e
disposições análogas). Entretanto, deve entender-se também obriga-
tório o registro, no protocolo, das petições iniciais de causas
pertencentes à competência originária do tribunal, bem como os re-
cursos interpostos já contra acórdãos – assim os embargos no pro-
cedimento recursal”.

76
- obra citada, pág. 559.

53
Em assim sendo, quaisquer petições, especialmente re-
cursos, endereçadas ao tribunal poderão ser protocoladas, se assim
o delegar a Corte, nos cartórios (na Justiça Federal, os cartórios
são chamados de Secretarias) de primeiro grau de jurisdição, caso
em que sua tempestividade será considerada não com base na data em
que chegaram ao tribunal, mas no dia em que entregues nos ofícios
de justiça.

Assim, as petições endereçadas aos tribunais de ape-


lação, de qualquer espécie (embargos de declaração, embargos in-
fringentes, agravos internos, etc), terão sua tempestividade afe-
rida pela data em que protocoladas nos ofícios de justiça de pri-
meiro grau.

Todavia, a alteração em questão tem alcance muito


maior, quando conjugada com a nova redação do art. 542, caput, do
CPC. Com efeito, esse último dispositivo encontra-se na seção do
código que trata da interposição dos recursos extraordinário e/ou
especial (arts. 541/546), e foi vítima de uma alteração quase im-
perceptível, limitando-se o legislador a suprimir do caput a ex-
pressão “e aí protocolada”.

Ora, tal disposição trata especificamente da apresen-


tação, à Secretaria do tribunal de origem, das petições dos recur-
sos dirigidos ao Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de
Justiça. Assim, com a supressão da expressão “e aí protocolada”,
pode-se afirmar, com absoluta certeza, que o legislador quis admi-
tir a interposição de tais recursos mediante o simples protocolo
em qualquer ofício de justiça de primeiro grau de jurisdição, des-
de que tenha havido a delegação de que trata o § único do art.
547.

A importância do novo dispositivo aumenta na medida


em que ela permite que os recursos extraordinário e/ou especial,
cuja interposição, pela nova redação do § 2º do art. 544, está
isenta de qualquer preparo, seja efetuada na comarca onde o Advo-
gado possui seu escritório, não sendo necessário que ele o faça
perante a Secretaria do Tribunal.

Com efeito, o Supremo Tribunal Federal e o Superior


Tribunal de Justiça sempre desprezaram, para fins de tempestivida-
de, a data do protocolo de petição de recurso extraordinário e/ou
especial nos juízos de primeiro grau, relativamente ao Estado de
São Paulo, onde os serviços de protocolo são descentralizados, bem
como na Justiça Federal. 77 Isso porque tais recursos devem ser in-

77
- Provimento nº 462, de 10.10.91, do Conselho Superior da Magistratura
do Estado de São Paulo.

54
terpostos perante o Presidente do tribunal recorrido, devendo ser
protocolados, no prazo legal, nas respectivas Secretarias. 78

Porém, a partir do momento em que o legislador passa


a admitir que os serviços de protocolo do Tribunal sejam delegados
aos ofícios de justiça de primeiro grau de jurisdição, a conclusão
a que se chega é apenas uma: havendo a delegação do serviço de
protocolo por parte da Corte, mediante simples resolução de sua
Presidência, tais ofícios passam a ser, para todos os fins, inclu-
sive para atestar a tempestividade dos recursos extraordinário
e/ou especial, prolongamento da Secretaria do Tribunal e, assim,
não mais poderão o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal
de Justiça exigir que as petições de interposição de tais recursos
cheguem, no prazo legal, ao protocolo da Corte a quo, bastando que
tenham sido entregues, em tais ofícios, tempestivamente.

1.12) Como será feito o julgamento da apelação ou


agravo de instrumento – o novo art. 555:

Redação anterior:

Art. 555 O julgamento da turma ou câmara será tomado pelo voto de três juízes,
seguindo-se ao do relator o do revisor e o do terceiro juiz.

Parágrafo único É facultado a qualquer juiz, que tiver assento na turma ou câmara,
pedir vista, por uma sessão, se não estiver habilitado a proferir imediatamente o seu
voto

Redação atual:

Art. 555 No julgamento de apelação ou de agravo, a decisão será tomada, na


câmara ou turma, pelo voto de 3 (três) juízes.

o
§ 1 Ocorrendo relevante questão de direito, que faça conveniente prevenir ou
compor divergência entre câmaras ou turmas do tribunal, poderá o relator propor
seja o recurso julgado pelo órgão colegiado que o regimento indicar; reconhe-
cendo o interesse público na assunção de competência, esse órgão colegiado
julgará o recurso

o
§ 2 A qualquer juiz integrante do órgão julgador é facultado pedir vista por uma
sessão, se não estiver habilitado a proferir imediatamente o seu voto.

78
- nesse sentido, entre tantos, no Supremo Tribunal Federal, arestos
publicados na RTJ 125/387, 131/859 e RT 708/197; no Superior Tribunal de
Justiça, Reclamação nº 49-SP (2ª Seção, Relator o Ministro Nilson Naves,
julgada em 30.10.91, in DJU de 9.3.92, pág. 2.530) e Agravo Regimental no
Agravo de instrumento nº 31.132-SP (2ª Turma, Relator o Ministro Antonio
de Pádua Ribeiro, julgado em 3.3.93, in DJU de 15.3.93, pág. 3.814).

55
O caput do art. 555 teve sua redação alterada, supri-
mindo-se a parte final, sobre a ordem dos votos dos componentes do
órgão fracionário (câmara ou turma). Assim, a questão passa a ser
matéria de competência do regimento interno da respectiva Corte,
que poderá adotar outra ordem, diversa da redação atual do citado
dispositivo.

Todavia, deverá ser respeitada a preferencialidade do


voto do relator, na medida em que, por ter examinado o processo
(nas hipóteses em que não há revisão, é o único magistrado que te-
ve acesso aos autos), tem melhores condições de ilustrar os demais
julgadores sobre as circunstâncias da causa e proferir o primeiro
voto. Não haveria lógica em, primeiro, votar o revisor ou, pior
ainda, o segundo (julgamentos sem revisor) ou terceiro juiz.

O § único passou a ser o § 2º do mesmo artigo, apenas


havendo uma adequação de redação, sem nenhuma relevância, substi-
tuindo-se a expressão turma ou câmara (redação original) por órgão
julgador.

1.12.1) A afetação do julgamento por outro órgão co-


legiado – distinção da Uniformização de Jurisprudência:

Novidade substancial surge no § 1º, que permite que o


julgamento do órgão fracionário seja afetado ao órgão colegiado
competente, quando a questão discutida seja relevante e de direito
(não se pode aplicar em caso de discussão sobre matéria fática),
visando a prevenir ou compor divergência entre órgãos fracionários
diversos que detenham competência para, na Corte, julgar a mesma
matéria.

A inovação, na verdade, leva aos Tribunais de apela-


ção situação já prevista no Regimento Interno do Supremo Tribunal
Federal, que permite ao Relator de recurso propor à Turma que o
julgamento de determinada questão seja afetado ao Plenário, a fim
de 79 prevenir ou compor divergência entre as Turmas da Corte Su-
prema e entre uma delas e o Plenário, quando a questão debatida
for relevante.

79
- é o seguinte o teor do art. 22, do RISTF:
“O Relator submeterá o feito ao julgamento do Plenário, quando houver
relevante argüição de inconstitucionalidade ainda não decidida.
Parágrafo único. Poderá o Relator proceder na forma deste artigo:
a) quando houver matéria em que divirjam as Turmas entre si ou alguma
delas em relação ao Plenário;
b) quando, em razão da relevância da questão jurídica ou da necessidade
de prevenir divergência entre as Turmas, convier pronunciamento do Ple-
nário.”.

56
Trata-se de hipótese totalmente diversa do incidente
de uniformização de jurisprudência, previsto nos arts. 476 e segs
do CPC, que se assenta na prévia existência de pronunciamentos di-
versos, no mesmo Tribunal, acerca de determinada questão de direi-
to.

Na situação agora prevista no § 1º do art. 555, o


julgamento poderá ser afetado a outro órgão colegiado, mesmo que
não tenha havido nenhum pronunciamento dos órgãos fracionários
acerca de determinada matéria. Basta que o Relator tenha conheci-
mento de que outras demandas, sobre a mesma matéria, estão em vias
de apreciação pelas diversas Câmaras ou Turmas do Tribunal, ou
ainda em tramitação no primeiro grau de jurisdição, e desde que a
questão de direito posta em julgamento seja relevante, para que
possa propor seja afetado o julgamento ao órgão colegiado a quem
caberia o pronunciamento definitivo sobre a questão, por exemplo,
em grau de embargos infringentes. Logicamente, e com mais razão, o
mesmo proceder poderá ser adotado se já existem julgamentos do
Tribunal sobre a matéria, desde que eles sejam divergentes. Nesse
caso, o órgão fracionário poderá optar por suscitar tanto o inci-
dente de uniformização de jurisprudência, como o ora instituído
pelo § 1º do art. 555.

A diferença com o incidente de uniformização de ju-


risprudência também reside no fato de que esse é julgado pelo Tri-
bunal, em sua composição integral, ou então, pelo Órgão Especial,
onde houver (normalmente, composto por até 25 dos juízes mais an-
tigos). Na afetação do julgamento, primeiro, não há o desdobramen-
to do julgamento em dois, como no incidente de uniformização da
jurisprudência (primeiro, o incidente, com a edição da súmula, se
for o caso e, depois, por exemplo, a apelação).

Em verdade, a apelação 80 é que será julgada pelo ór-


gão colegiado competente, nos termos do regimento interno da pró-
pria Corte. Como ocorre no Supremo Tribunal Federal, em que o re-
curso extraordinário que, a princípio, era de competência da Tur-
ma, passa para o Plenário. E, segundo, conseqüência da primeira
premissa, o julgamento não necessita da maioria absoluta prevista
no art. 479, bastando que uma das posições vença, ainda que por
diferença de um só voto, no órgão colegiado competente, esperando-
se que, posteriormente, tal seja a posição de todos os órgãos fra-
cionários da mesma Corte, competentes para apreciar a mesma maté-
ria.

Hipótese de aplicação do novo instituto seria, por


exemplo, para solucionar a divergência hoje existente entre as 3ª
e 4ª Câmara Cíveis do Tribunal de Justiça gaúcho, que, pelo regi-
mento interno da Corte, detêm a competência exclusiva para o jul-
gamento de causas relativas a servidores públicos, onde até hoje

80
- poderá a afetação ser usada, também, em agravo de instrumento, embo-
ra se reconheça que com menor alcance do que para a apelação.

57
grassa divergência 81 acerca da aplicação integral da Lei Estadual
nº 10.395/95, que concedeu reajustes parcelados aos servidores pú-
blicos do Poder Executivo, e cujos percentuais não foram implemen-
tados em sua integralidade sob a alegação da superveniência da lei
Camata, que limitou os gastos do Poder Público com seus servido-
res.

Milhares de ações foram ajuizadas perante as Varas da


Fazenda Pública da Capital e algumas no interior do Estado. No
primeiro grau, as decisões foram em dois sentidos: umas entendendo
devidos os reajustes, em vista do princípio do direito adquirido
do servidor público; outras, negando os reajustes, em vista da
ineficácia da legislação estadual pela superveniência da Lei Cama-
ta.

No Tribunal de Justiça gaúcho, a 3ª Câmara adotou a


primeira solução, ou seja, assegurando os reajustes não implemen-
tados pelo Poder Executivo; a 4ª, por seu turno, negou-os. Em am-
bas, houve unanimidade, nas mais diversas composições do órgão
fracionário, não dando ensejo, assim, a embargos infringentes. Por
isso, nunca houve pronunciamento a respeito do assunto por parte
do órgão colegiado competente, o 2º Grupo de Câmaras Cíveis.

Divergência essa que gerou certa perplexidade, resul-


tando inclusive em situações insólitas, como o de servidores esta-
duais detentores do mesmo cargo, e que ingressaram no serviço pú-
blico no mesmo concurso, trabalhando na mesma repartição, com ven-
cimentos diversos, porque um deles teve êxito na demanda e outro
não. Sem dúvida, a afetação do julgamento, desde o início, ao ór-
gão colegiado competente, teria evitado esse problema, fazendo com
que, em questão jurídica de tamanha relevância, o pronunciamento
dos dois órgãos fracionários competentes para a apreciação da ma-
téria fosse um só, sem embargo da ressalva de posições pessoais
dos Desembargadores vencidos no julgamento pelo colegiado.

Aliás, é muito comum, especialmente no Supremo Tribu-


nal Federal, que depois de pronunciamentos do Plenário acerca de
determinada questão, todos os subseqüentes das Turmas sejam no
mesmo sentido, ainda que um ou outro Ministro, vencido no plená-
rio, ressalve sua posição pessoal. O dispositivo em comento, as-

81
- dentro de cada órgão fracionário, todavia, não existe divergência,
pelo que não há ensejo ao oferecimento de embargos infringentes, que po-
deriam solucionar tal dissonância. Inclusive a 4ª Câmara Cível, com base
em seus reiterados julgados, tem proferido julgamentos monocráticos nos
processos que a ela aportam, relativamente a essa matéria. E de forma
equivocada, na medida em que o disposto no art. 557, caput, do CPC, só
tem incidência quando a decisão (ou sentença) recorrida estiver em con-
fronto com a jurisprudência dominante do próprio tribunal, não apenas com
a do órgão fracionário. Na hipótese, a questão não é pacífica, pois cada
Câmara julga em sentido diverso da outra.

58
sim, permite que essa tradição, extremamente salutar, diga-se de
passagem, seja trazida aos Tribunais de apelação.

Cumpre, ainda, observar que conforme o § 1º do art.


555, o órgão competente a afetar o julgamento do recurso será
aquele designado no regimento interno de cada Corte. A princípio,
as normas regimentais já prevêem a divisão de competência entre os
vários órgãos fracionários de cada Tribunal, o que permite a apli-
cação imediata da novidade sem qualquer necessidade de alteração
dos regimentos. Ou seja, os mesmos juízes que atualmente apreciam
determinada matéria, nos órgãos fracionários, fa-lo-ão quando do
julgamento afetado.

Certo, isso poderá criar situações em que tais julga-


mentos demandem a presença de dezenas de julgadores, o que poderá
torná-los inviáveis. Entretanto, espera-se que as normas regimen-
tais não constituam colegiados com número muito pequeno de julga-
dores, pois isso poderá implicar, por certo, falta de representa-
tividade em relação aos órgãos fracionários e, com isso, criar
pretexto para que esses, em que pese não vinculados ao julgamento
afetado, contrariem-no, com sensível desprestígio a criação tão
saudável do legislador, e que tem por finalidade precípua manter
certa uniformidade nas posições do mesmo Tribunal, proporcionando,
ao fim e ao cabo, maior segurança ao jurisdicionado.

59
Capítulo II

LEI Nº 10.358/01, DE 28 DE DEZEMBRO DE 2001

2.1) A introdução da repressão ao contempt of court


no direito processual civil brasileiro, decorrentes da alteração
do art. 14 do CPC:

Redação anterior:

Art. 14. Compete às partes e aos seus procuradores:

I - expor os fatos em juízo conforme a verdade;


II - proceder com lealdade e boa-fé;
III - não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são destituídas de
fundamento
IV - não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou
defesa do direito

Redação atual:

Art. 14 São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma par-
ticipam do processo:

I - expor os fatos em juízo conforme a verdade


II - proceder com lealdade e boa-fé
III - não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são destituídas de
fundamento
IV - não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou
defesa do direito

V - cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar embaraços à


efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou final.

Parágrafo único. Ressalvados os advogados que se sujeitam exclusivamente


aos estatutos da OAB, a violação do disposto no inciso V deste artigo constitui
ato atentatório ao exercício da jurisdição, podendo o juiz, sem prejuízo das san-
ções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa em
montante a ser fixado de acordo com a gravidade da conduta e não superior a
vinte por cento do valor da causa; não sendo paga no prazo estabelecido, conta-
do do trânsito em julgado da decisão final da causa, a multa será inscrita sempre
como dívida ativa da União ou do Estado.

4.1.1) O que é o instituto do contempt of court:

Conforme consigna ADA PELLEGRINI GRINOVER, 82 "(...)


na definição de Swayzee, contempt of court é a prática de qualquer

60
ato que tenda a ofender um tribunal na administração da justiça ou
a diminuir sua autoridade ou dignidade, incluindo a desobediência
a uma ordem".

CARLOS AURÉLIO MOTA DE SOUZA, 83 especificando, traz


como abusivos, para efeitos de verificação do contempt of court, o
desapreço à autoridade, à justiça ou à dignidade de um tribunal; o
desprezo voluntário à autoridade exercida por uma corte de justi-
ça; a execução de atos que possam conduzir a um desapreço genérico
à pessoa dos juízes e que exijam uma intervenção sumária para pre-
servar a ordem do tribunal e manter a dignidade dos juízes; a ten-
dência a obstruir a administração da justiça em uma demanda, fa-
zendo nulas as resoluções do tribunal, levando ao menoscabo de sua
reputação e uma falta de respeito entre os homens; a desobediência
a qualquer resolução legítima, decreto, auto ou ordem de um tribu-
nal; a obstrução ofensiva aos procedimentos judiciais em que o ju-
iz atua de ofício. Acresce o mesmo autor que, em resumo, formam
contempt os atos processuais de desapreço, indiferença, desatenção
ou desacato; subtração ou alteração de documentos judiciais; abuso
de recursos ou ações; destruição, alteração, ocultação ou disposi-
ção de coisa objeto do litígio; prestação de garantias ilusórias
ou fictícias; mau comportamento, em audiência, das partes, advoga-
dos ou testemunhas; recusa de depor ou falso testemunho; criar em-
baraços às citações; o exercício ilegal da advocacia. As sanções
impostas ao infrator, como antes adiantado, são bastante graves,
variando da indenização até a prisão.

2.1.2) O novo instrumento do Poder Judiciário para


reprimir o desrespeito às ordens judiciais:

Para a repressão mais eficaz ao contempt of court, no


direito processual civil brasileiro, necessária se fazia, primei-
ro, a alteração texto do caput do artigo 14, do CPC, que dizia,
Compete às partes e aos seus procuradores, passando a ter como
destinatários desses deveres as partes e todos aqueles que de
qualquer forma participam do processo.

Quer dizer, não são mais apenas as partes e seus pro-


curadores que devem atender às disposições do art. 14, mas também
todo aquele que, de qualquer modo, atue na condução do processo.
Assim, podem ser atingidos pelas disposições do art. 14, especial-

82
- A MARCHA DO PROCESSO, Forense Universitária, Rio de Janeiro, 2000,
p.65.
83
- PODERES ÉTICOS DO JUIZ – A IGUALDADE DAS PARTES E A REPRESSÃO AO
ABUSO NO PROCESSO, Sérgio Antônio Fabris Editor, Porto Alegre, 1987,
p.67-68.

61
mente a do novo § único, os servidores da Justiça 84 que de qual-
quer forma não cumprirem adequadamente suas atribuições, assim co-
mo, por exemplo, o funcionário público que, recebendo ordem judi-
cial, não lhe dá cumprimento efetivo. Pode, também, ser alcançado
o gerente de pessoa jurídica de direito privado que não der aten-
dimento a ofício determinando desconto de alimentos em folha de
pagamento de empregado daquela.

Além disso, dispôs-se no novo inc. V do art. 14 ser


dever dos referidos no caput o de cumprir com exatidão os provi-
mentos mandamentais e não criar embaraços à efetivação de provi-
mentos judiciais, de natureza antecipatória ou final.

E, no § único do art. 14, deixou claro o legislador


que “A violação do disposto no inciso V deste artigo constitui ato
atentatório ao exercício da jurisdição, podendo o juiz, sem preju-
ízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar
ao responsável multa em montante a ser fixado de acordo com a gra-
vidade da conduta e não superior a vinte por cento do valor da
causa; não sendo paga no prazo estabelecido, contado do trânsito
em julgado da decisão, a multa será inscrita como dívida ativa”.

Isso significa que, para as partes, o descumprimento


aos incs. I a IV do art. 14 continua a caracterizar litigância de
má-fé, punida na forma dos arts. 17 e 18. Pode, ainda, o devedor,
na execução, ser enquadrado na prática de ato atentatório à digni-
dade da Justiça, conforme previsão dos arts. 599/601 do códex pro-
cessual.

Todavia, ressalvadas as disposições especiais já re-


feridas, poderão as partes ser punidas, também, na forma do § úni-
co do art. 14, desde que infrinjam o seu inc. V.

Mas, além das partes, passou o legislador a permitir,


também, a punição dos que, não sendo partes, infrinjam os deveres
do inc. V, 85 passando a constituir ato atentatório ao exercício da
jurisdição.

2.1.3) Questões sobre a aplicação do novo instituto:

Na aplicação desse dispositivo, porém, poderão surgir


inúmeras discussões.

Primeiro, não ficou esclarecido se a pena prevista no


§ único será aplicada em decisão interlocutória ou na sentença. No

84
- a responsabilização desses está prevista no art. 144 do CPC.
85
- obviamente, os demais incs. I a IV dirigem-se apenas às partes.

62
caso, há dúvida acerca dos limites subjetivos da coisa julgada, na
medida em que o juiz imporá sanção a quem não é parte. Além disso,
se terceiro que não faça parte do processo for, por decisão nele
proferida alcançado, por certo terá legitimidade para recorrer,
por força do art. 499, caput, e § 1º, do CPC.

Aspecto, ainda, que gera certa dúvida, é que o dispo-


sitivo em comento diz que se a multa não for paga no prazo estabe-
lecido, ela será inscrita em dívida ativa (dos Estados e Distrito
Federal, se tramitar o feito na Justiça Estadual; da União, se nos
órgãos do Judiciário Federal). Entretanto, ainda que silente o le-
gislador, por certo que se o pagamento for feito no prazo fixado
pelo Juiz, o destino da multa também será o erário público, não a
parte contrária, como ocorre com a litigância de má-fé ou na prá-
tica de ato atentatório à dignidade da Justiça.

Do mesmo modo, assim como ocorre no disposto no art.


18, § 2º, do CPC, foi infeliz o legislador da mini-reforma ao li-
mitar o valor da multa a 20% sobre o valor da causa, 86 o que pode-
rá resultar em valores irrisórios, sabido que é praxe cada dia
mais usada no foro que o valor da causa seja cada vez menor, seja
para evitar o pagamento de preparo em valor elevado, seja para que
a sucumbência do autor, em caso de decaimento, seja mínima.

Parece que o legislador não confia no prudente arbí-


trio do Juiz, ao limitar o percentual da multa em 20% e, especial-
mente, determinar que incida sobre o valor da causa. Ora, cada ca-
so é, sabidamente, um caso. Há hipóteses, raras, em que até mesmo
um por cento sobre o valor da causa resulta em quantia exorbitan-
te. Porém, na maioria das vezes, a multa que o novo dispositivo
permite seja aplicada, resultará em valor tão ínfimo que, ao con-
trário de servir para reprimir o contempt of court, poderá ser es-
tímulo para a sua prática, em vista de suas conseqüências de pouca
gravidade.

Questão não bem esclarecida, entretanto, é sobre como


será aplicada a multa quando o descumprimento surgir após o trân-
sito em julgado da sentença, especialmente porque o novo inc. V
visa reprimir especificamente o descumprimento aos provimentos
mandamentais.

Assim, por exemplo, numa ação de reajuste de benefí-


cio previdenciário, como as milhares que tramitam contra o IPERGS
nas Varas da Fazenda Pública de Porto Alegre, normalmente é após o
trânsito em julgado que ocorre, por parte da autarquia previdenci-
ária estadual, o descumprimento do comando mandamental da senten-
ça, que impõe o reajuste do valor da pensão. Ora, se o inc. V re-

86
- no art. 18, § 2º, se o juiz entender que o prejuízo foi superior a
20% sobre o valor da causa, poderá determinar a liquidação do prejuízo da
parte atingida pela litigância de má-fé do outro litigante por arbitra-
mento.

63
fere que a multa não paga após o trânsito em julgado da decisão
final da causa (aqui, leia-se, sentença proferida no processo de
conhecimento), e não necessitando essa de processo de execução pa-
ra seu cumprimento, não haverá outra decisão final da causa, para
que passe a ser exigível aquela, não sendo paga.

Por isso, a interpretação dessa parte do § único do


art. 14 deve ser a mais flexível possível, a fim de que a multa
possa ser aplicada em qualquer fase do processo, seja na fase de
conhecimento, seja na execução. Inexistindo essa, obviamente que a
multa será devida a partir da decisão interlocutória que, após o
trânsito em julgado, apurar o descumprimento ao inc. V em questão.

2.1.4) O que faltou na alteração legislativa:

Sustenta-se, entretanto, que o legislador deveria ter


previsto a necessidade de que o juiz, antes da aplicação da multa
prevista no § único, determine a advertência pessoal àquele que
estiver a incidir no inc. V, como prevê o código para o devedor,
conforme o art. 599, inc. II, do CPC.

Ora, nem todos aqueles que, de qualquer forma parti-


cipam do processo, como prevê o caput do art. 14, têm conhecimento
da legislação processual. Aliás, a maior parte das pessoas são
leigas em assuntos jurídicos, como poderá ser aquele a ser punido
com a multa pela prática do ato atentatório ao exercício da juris-
dição. Ademais, não sendo o destinatário da punição parte, não tem
advogado a assisti-lo e, por isso, quem o oriente sobre as conse-
qüências de seus atos. Ainda, não se pode olvidar o dispositivo
constitucional inserido no art. 5º, inc. LV, que assegura, não só
aos litigantes em processo judicial ou administrativo, mas aos
acusados em geral, o contraditório e a ampla defesa.

Quer dizer, ninguém poderá ser punido sem que, antes,


tenha direito de saber que poderá sofrer tal punição e, eventual-
mente, defender-se. Assim, pode até ser considerada inconstitucio-
nal a aplicação da multa disposta no § único do art. 14 àquele
que, não fazendo parte do processo, não tenha sido concedida uma
prévia advertência, que, muitas vezes, poderá servir para que ces-
se a violação ao citado inc. V.

De qualquer sorte, a inovação é extremamente salutar,


pois admite ao Juiz que conduza o processo de forma que toda e
qualquer decisão nele proferida, uma vez não objeto de recurso ou,
interposto esse, seja improvido, seja cumprida de modo efetivo,
sem mais retardos.

Lamentavelmente, o legislador excluiu os advogados,


expressamente, do alcance da punição prevista no § único do art.
14, que continuam sujeitos apenas ao Estatuto da respectiva pro-

64
fissão. Punições essas que raramente ocorrem, em vista do corpora-
tivismo comum a toda a classe profissional. Infelizmente, perdeu-
se uma oportunidade para reprimir de forma mais efetiva o contempt
of court.

Além disso, ADA PELLEGRINI GRINOVER, 87 referindo-se


ao anteprojeto de lei que resultou nos novos inc. V e § único do
art. 14, diz que a redação incluiria um segundo parágrafo ao
art.14, com o que aquele acima transcrito tornar-se-ia parágrafo
primeiro. Esta a redação sugerida: "§ 2º - Se o responsável, no
caso do parágrafo anterior, e devidamente advertido, ainda assim
reitera a conduta atentatória ao exercício da jurisdição, o juiz
poderá também lhe impor prisão civil até trinta dias, que será re-
vogada quando cumprida a decisão judicial”.

E isso sem que houvesse violação ao art. 5º, caput,


inc. LXVI, da Constituição Federal, eis que esse dispõe que não
haverá prisão civil por dívida, salvo nas hipóteses ali permiti-
das, ao passo que a sanção prevista no § 2º, que não foi transfor-
mado em lei, não constituiria prisão civil por dívida, mas punição
decorrente da prática de ato atentatório ao exercício da jurisdi-
ção, o que é totalmente diverso do contido na norma constitucional
restritiva da prisão civil. Tal dispositivo, realmente, seria a
forma mais eficaz de repressão ao contempt of court.

Até porque, na maioria dos casos, o descumprimento de


decisões judiciais ocorre por parte de servidor público lato sen-
su, que, segundo a jurisprudência majoritária, não comete o crime
de desobediência a ordem judicial – quando muito, o crime de pre-
varicação, de difícil caracterização, na prática. Assim, a possi-
bilidade de prisão civil daquele que, apesar de expressamente ad-
vertido, ainda assim descumpre o mandamento judicial, seria uma
forma de tornar mais efetivas as decisões do Poder Judiciário, que
infelizmente, foi perdida pelo legislador.

2.2) Nova hipótese de distribuição por dependência:

Redação anterior:

Art. 253 Distribuir-se-ão por dependência os feitos de qualquer natureza, quando se


relacionarem, por conexão ou continência, com outro já ajuizado.

Parágrafo único. Havendo reconvenção ou intervenção de terceiro, o juiz, de ofício,


mandará proceder à respectiva anotação pelo distribuidor

Redação atual:

87
Op. cit., p.67.

65
Art. 253 Distribuir-se-ão por dependência as causas de qualquer natureza:

I - quando se relacionarem, por conexão ou continência, com outra já ajuizada;

II - quando, tendo havido desistência, o pedido for reiterado, mesmo que em litis-
consórcio com outros autores.

O caput do art. 253 teve sua redação modificada, pas-


sando a contar, além do § único, inalterado, com dois incisos. O
primeiro, que se limita a reproduzir a hipótese já prevista no ca-
put, de distribuição por dependência, qual seja, quando a nova
causa for conexa ou continente com outra já ajuizada.

A novidade, entretanto, reside no inc. II, que dispõe


sobre a distribuição por dependência quando, tendo havido desis-
tência, o pedido for reiterado, mesmo que em litisconsórcio com
outros autores.

Com efeito, proceder de todo condenável vem sendo ve-


rificado, especialmente nas grandes comarcas, pela distribuição de
duas causas idênticas, no mesmo momento, visando a que pelo menos
uma delas seja distribuída a um juiz que defira providência limi-
nar ou de antecipação da tutela. Nessa hipótese, na outra demanda,
o autor postula seu arquivamento, pela desistência. Isso acontece,
também, embora com menor intensidade, nos Tribunais de apelação,
com os agravos de instrumento.

Além disso, a massificação das demandas resultou,


também, em outra atitude. Ajuizada demanda, restando indeferida a
liminar ou antecipação da tutela, há desistência; depois, ajuíza-
se nova demanda, desta feita em litisconsórcio com outros autores,
a fim de evitar a distribuição por dependência. A alteração legis-
lativa em comento visa a evitar que o novo processo, que na verda-
de reproduz, quanto ao autor da primeira, a mesma lide onde houve
decisão inicial desfavorável, seja distribuído a outro juiz, que
poderá proferir decisão diversa da anterior, por desconhecer a
existência do primeiro, onde a atitude correta é apenas uma: o re-
curso, não a desistência e o conseqüente ajuizamento de nova lide.

O procedimento agora previsto no novo inc. II trará


certa moralização a essa manobra que, no jargão do foro, é conhe-
cida como manipulação da distribuição. Tal dispositivo, porém,
pouco ou nada adiantará se todas as comarcas e Tribunais não forem
informatizados. Aliás, tal procedimento visando a evitar a manipu-
lação da distribuição já vem sendo adotado nas comarcas informati-
zadas do Rio Grande do Sul que, entretanto e infelizmente, vem
sendo contornado com a simples supressão de uma letra do nome do
autor da primeira demanda, caso em que não serão tratadas como a
mesma pessoa e, assim, não haverá a distribuição por dependência.
Obviamente, isso poderia ser contornado com o aperfeiçoamento dos
sistemas de informática. Além disso, essa prática deveria ser pas-

66
sível de punição exemplar do Advogado no próprio processo, o que é
inviável em vista da infeliz ressalva contida na parte inicial do
§ único do art. 14.

2.3) Novo prazo para a apresentação do rol de teste-


munhas no procedimento ordinário e ampliação de seus requisitos:

Redação anterior:

Art. 407 Incumbe à parte, cinco (5) dias antes da audiência, depositar em cartório o
rol de testemunhas, precisando-lhes o nome, a profissão e a residência.

Parágrafo único É lícito a cada parte oferecer, no máximo, dez (10) testemunhas;
quando qualquer das partes oferecer mais de três (3) testemunhas para a prova de ca-
da fato, o juiz poderá dispensar as restantes

Redação atual:

Art. 407. Incumbe às partes, no prazo que o juiz fixará ao designar a data da audi-
ência, depositar em cartório o rol de testemunhas, precisando-lhes o nome, pro-
fissão, residência e o local de trabalho; omitindo-se o juiz, o rol será apresentado
até 10 (dez) dias antes da audiência.

Parágrafo único. É lícito a cada parte oferecer, no máximo, dez testemunhas; quando
qualquer das partes oferecer mais de três testemunhas para a prova de cada fato, o ju-
iz poderá dispensar as restantes.

Outra inovação é a alteração do caput do art. 407.


Primeiro, quando determina que além do nome, profissão e residên-
cia, conste também o local de trabalho da testemunha arrolada.
Providência salutar, tendo em vista que, como a maioria das pesso-
as chamadas a depor em juízo trabalham durante o dia, será no lo-
cal de trabalho onde poderão ser localizadas mais facilmente para
a notificação.

Requisitos esses que se aplicam também ao procedimen-


to sumário, na medida em que silente o legislador quanto a esse
particular, nos arts. 276 e 278, caput, do CPC.

Novidade maior, entretanto, é que o legislador facul-


ta ao juiz a fixação do prazo para que o rol de testemunhas seja
apresentado em juízo. Ou seja, dependendo das peculiaridades de
cada juízo, poderá o magistrado condutor do processo fixar prazo
maior ou menor para que, antes da audiência, o rol seja depositado
em cartório. Sabe-se das deficiências dos serviços cartorários,
especialmente pela falta de servidores, o que não permite que os
processos tenham ritmo acelerado. Além disso, há comarcas, especi-
almente nas regiões menos habitadas do país, em que as distâncias

67
são muito grandes, o que torna muito difícil a notificação das
testemunhas, indicadas apenas cinco dias antes da audiência.

Ademais, mesmo em situações ideais, o prazo hoje pre-


visto – cinco dias -, é extremamente exíguo. O resultado, muitas
vezes, é a frustração da solenidade, o que implica, sempre, atraso
no andamento processual.

Além disso, na medida em que o rol de testemunhas tem


de ser entregue em cartório com antecedência, também, para conhe-
cimento da outra parte, o prazo de cinco dias era muito exíguo pe-
queno para que, dele tomando conhecimento, pudesse ela preparar
eventual contradita. 88

Obviamente, o juiz não poderá fixar qualquer prazo


para a apresentação do rol. Do contrário, ter-se-á de admitir que,
num juízo onde, pelo acúmulo de trabalho, designada a audiência de
instrução e julgamento para ocorrer em um ano, possa o magistrado
determinar que o rol seja entregue até onze meses antes da soleni-
dade. Ora, isso implicaria que as testemunhas fossem notificadas
para o ato com antecedência muito grande, com grande possibilidade
de a maioria esquecer do compromisso aprazado para muitos meses
após. Ou, então, obrigaria o cartório a deixar o processo parado
por vários meses, só procedendo à notificação das testemunhas pou-
co antes da audiência. Em alguns casos, poderia ocorrer que a di-
ligência não fosse cumprida em tempo hábil.

Ainda, não se pode olvidar que, sendo o rol apresen-


tado com antecedência muito grande, as testemunhas arroladas fica-
riam expostas, por maior tempo, a risco de pressão ou coação pela
outra parte, o que poderia implicar a ausência de muitas delas ou,
quando menos, em prejuízo à apuração da verdade real.

Desta forma, ainda que o CPC não fixe prazo para que
o juiz apraze a audiência de instrução e julgamento, deve-se ter
por referência que, no procedimento sumário, entre a de instrução
e de conciliação, podem medear apenas trinta dias (art. 278, §

88
- Diz MOACYR AMARAL SANTOS, sobre o assunto: “A exigência do prazo e
da qualificação das testemunhas, pelo seu nome, profissão e residência,
advém da necessidade de se dar a conhecer à parte, contra a qual são ar-
roladas, elementos indispensáveis para identificá-las e proceder às res-
pectivas indagações quanto à sua pessoa, no que diz respeito às suas re-
lações com o adversário, à sua idoneidade moral e, principalmente, às
razões que teriam determinado o seu conhecimento dos fatos litigiosos.
Sem aqueles elementos e sem estas investigações, tornar-se-ia inútil, e
muitas vezes mesmo impossível, contraditar a testemunha, por incapaz,
impedida ou suspeita (art. 414, § 1º), de forma a vedar-se a sua inquiri-
ção ou mesmo fornecer ao juiz elementos que lhe permitam acautelar-se
contra o seu depoimento” (COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, Edito-
ra Forense, 5ª edição, Rio de Janeiro, 1989, volume IV, p. 279).

68
2º). No procedimento ordinário, a audiência conciliatória não de-
verá ser designada para mais de trinta dias (art. 331, caput).

Assim, mesmo quando, por absoluta necessidade, o juiz


não possa aprazar a audiência de instrução para no máximo 30 dias
do despacho que a designar, o novo prazo do art. 407, por ele fi-
xado, não poderá exceder os 30 dias.

Por fim, silente o juiz na fixação do prazo para a


apresentação do rol, ele passa a ser de no mínimo dez dias, e não
os cinco, hoje previstos. Prazo que, na maioria dos juízos, é mais
do que razoável para a notificação das testemunhas arroladas, tam-
bém permitindo, se necessária, a adequada preparação de contradi-
ta.

2.4) As modificações pontuais relativas à prova peri-


cial:

Redação anterior:

Art. 433 O perito apresentará o laudo em cartório, no prazo fixado pelo juiz, pelo
menos vinte dias antes da audiência de instrução e julgamento.

Parágrafo único Os assistentes técnicos oferecerão seus pareceres no prazo comum


de dez dias após a apresentação do laudo, independentemente de intimação.

Redação atual:

Art. 431-A. As partes terão ciência da data e local designados pelo juiz ou indica-
dos pelo perito para ter início a produção da prova.

Art. 431-B. Tratando-se de perícia complexa, que abranja mais de uma área de
conhecimento especializado, o juiz poderá nomear mais de um perito e a parte
indicar mais de um assistente técnico.

Art. 433 O perito apresentará o laudo em cartório, no prazo fixado pelo juiz, pelo me-
nos vinte dias antes da audiência de instrução e julgamento.

Parágrafo único Os assistentes técnicos oferecerão seus pareceres no prazo


comum de 10 (dez) dias, após intimadas as partes da apresentação do laudo

A mini-reforma também tratou de algumas alterações na


seção do código que trata da prova pericial. Primeiro, fez ressur-
gir o art. 431, revogado pela Lei nº 8.455/92, que passou a con-
tar, em verdade, com duas disposições de natureza diversa. 89

89
- justo por isso é que não pôde o legislador, pura e simplesmente,
colocar as duas novas disposições no mesmo artigo ou, então, no caput e
parágrafo único.

69
2.4.1) O retorno do art. 427 do CPC.

A primeira, agora chamada de art. 431-A, reproduz em


parte o art. 427, em sua redação original, ou seja, anteriormente
à reforma levada a efeito pela Lei nº 8.455/92, que dispunha, no
inc. I, que o juiz marcaria dia e hora para o início da perícia.

Agora, impõe-se ao juiz marcar a data em que a perí-


cia terá início ou, então ao próprio perito, caso em que as partes
deverão, sempre, ser cientificadas.

Note-se que, como os assistentes técnicos são de con-


fiança da parte, e não mais precisam ser intimados para apresentar
seu parecer (é a parte que deve diligenciar na juntada do parecer,
uma vez ciente da apresentação do laudo pericial, conforme a nova
redação do § único do art. 433), não tem o juízo, nem o perito, a
obrigação de intimá-los da data de início da diligência, impondo-
se que apenas as partes dela sejam avisadas. Obviamente, silente o
dispositivo em comento, a intimação não se faz à parte, pessoal-
mente, mas a seu representante judicial, quer dizer, seu Advogado.

Assim, se o juiz deixar ao perito a faculdade de


aprazar data e local para o início da prova pericial, cumpre a es-
se informar àquele, para que seja determinada a intimação das par-
tes. Não o fazendo o perito, e ainda assim realizando-se a perí-
cia, à revelia das partes, deverá o juiz, se houver impugnação e
prejuízo efetivo, 90 determinar a repetição da prova, sendo pruden-
te a substituição do perito que não cumpriu a determinação legal.

2.4.2) Perícia complexa – possibilidade de nomeação


de mais um perito e a indicação de mais um assistente técnico.

O novo art. 431-B permite ao juiz, tratando-se de pe-


rícia complexa, e que abranja mais de uma área de conhecimento es-
pecializado, a nomeação de mais de um perito e, obviamente, a in-
dicação, pela parte, de mais de um assistente técnico.

Trata-se de dispositivo totalmente desnecessário. Em


que pese a legislação atual não faça menção expressa à possibili-
dade, agora aberta pelo legislador da mini-reforma do CPC, logica-
mente que, se a perícia tiver por objeto fatos complexos, que não
possam ser apurados, pela especialidade exigida, por um só profis-
sional, sempre foi possível ao juiz a nomeação de mais de um peri-
to.

90
- sabido que, pela teoria das nulidades no processo civil, se da omis-
são de determinada formalidade não houve prejuízo a nenhuma das partes,
não se declara a nulidade.

70
A hipótese, embora rara, é perfeitamente viável de
ocorrer. Assim, por exemplo, se para a apuração dos fatos objeto
da perícia necessita-se de conhecimentos de contabilidade e de
avaliação de bens imóveis, que, por previsão legal, não podem ser
efetuados pelo mesmo profissional (a não ser que, excepcionalmen-
te, uma mesma pessoa seja titulada em Ciências Contábeis e Enge-
nheiro Civil), a única solução é a nomeação de dois peritos, não
se podendo admitir que um só profissional se desincumba de tarefas
que não se encontrem, todas, nas atribuições de sua formação. E,
se mais de um perito pode ser nomeado pelo juiz, por princípio de
isonomia, também a parte pode socorrer-se de mais de um assistente
técnico.

Não se confunda a nomeação de mais de um perito e,


por conseguinte, a indicação de mais de um assistente técnico, com
a possibilidade de, versando a perícia apenas sobre uma área de
conhecimento, utilizar-se o perito de auxiliares. Assim, por exem-
plo, se a perícia tiver por objeto a medição de uma extensa área
de terras na zona rural, o perito (Engenheiro Civil ou Agrônomo)
poderá valer-se, para o desempenho de seu mister, de pessoas que o
auxiliem nessa medição, como agrimensores ou até mesmo outro pro-
fissional da mesma qualificação, sem que isso implique que a res-
ponsabilidade pelo trabalho seja dividida pelo experto com tercei-
ras pessoas.

2.4.3) O prazo para a juntada do parecer do assisten-


te técnico – necessidade de intimação das partes para que tenha
início:

Por fim, foi alterado o § único do art. 433, visando


a solucionar a discussão que se instaurou na jurisprudência com a
alteração havida em decorrência da Lei nº 8.455/92. Antes dela, o
laudo deveria ser subscrito pelo perito do juízo e os assistentes
técnicos, apresentando-se-o em cartório pelo menos 10 dias antes
da audiência de instrução e julgamento. Os assistentes técnicos,
divergindo, total ou parcialmente, do laudo oficial, poderiam fa-
zer suas considerações em separado.

Todavia, alterada a sistemática da prova pericial pe-


la lei citada, não há mais obrigatoriedade de apresentação conjun-
ta do laudo. 91 Assim, nos termos do art. 433, caput, o perito
apresenta seu laudo; e, consoante o § único do mesmo artigo, os
assistentes técnicos oferecem seus pareceres posteriormente.

91
- O que, todavia, não impede que perito e assistentes técnicos subs-
crevam um só laudo, se houver entre eles unanimidade. Apenas não se impõe
ao perito permitir a esses que assim seja feito.

71
Entretanto, como o § único em questão dispunha que o
prazo para os assistentes seria de dez dias após a apresentação do
laudo, independentemente de intimação, alguns julgados 92 entende-
ram que a contagem desse prazo seria automática, bastando a apre-
sentação do laudo pericial em juízo. Entendimento equivocado, na
medida em que não cabe à parte ou seu advogado diligenciar diaria-
mente no cartório a fim de verificar se o laudo pericial já foi
juntado aos autos.

Tal entendimento, porém, restou isolado pela juris-


prudência, só podendo ser aplicado, segundo o Superior Tribunal de
Justiça, 93 se o laudo pericial for apresentado no prazo fixado pe-
lo Juiz, o que faz iniciar automaticamente o prazo de dez dias pa-
ra os assistentes técnicos.

Sabido, porém, que no mais das vezes o laudo pericial


não é apresentado no prazo assinado pelo juiz, o que, segundo a
jurisprudência do mesmo Superior Tribunal de Justiça, 94 obriga a
intimação das partes da juntada do laudo, a partir de quando ini-
cia o prazo para a juntada do parecer do assistente técnico. A in-
timação a que se refere o § único do art. 433, que o legislador
dispensa, é a pessoal ao assistente técnico, não às partes, que
têm de ter ciência da ocorrência de todos os atos processuais e,
por isso, devem ser intimadas da juntada do laudo do perito ofici-
al.

A alteração preconizada no citado § único apenas se-


pulta a discussão, dispondo que o prazo de dez dias para a apre-
sentação do parecer do assistente técnico só terá início após a
intimação, às partes, de que o laudo do experto foi apresentado e
juntado aos autos. Intimação essa que deve ser feita ainda que
obedecido pelo perito o prazo fixado pelo juiz para a conclusão da
perícia e entrega do laudo e que se fará, por disposição expressa,
tão-somente para as partes. Continua sem direito o assistente téc-
nico à intimação pessoal, como não tem direito quanto à data e lo-
cal designados pelo juiz ou indicados pelo perito para o início
da perícia, conforme o novo art. 431-A.

92
- No Tribunal de Justiça gaúcho, veja-se o acórdão proferido no Agra-
vo de Instrumento nº 596213801 (5ª Câmara Cível, relator o Des. Araken de
Assis, julgado em 14/11/96); no extinto Tribunal de Alçada gaúcho, os
Agravos de Instrumento nº 196722268 (7ª Câmara Cível, relator o Des. Vi-
cente Barroco de Vasconcelos, julgado em 19/02/97) e nº 196017651 (4ª
Câmara Cível, Relator o Des. Moacir Leopoldo Haeser, julgado em
20/06/96).

93
- 3ª Turma, REsp 139.894-MG, Relator o Ministro Costa Leite, julgado
em 20.10.98, in DJU de 14.12.98, pág. 229.
94
- 5ª Turma, REsp 207.400-SP, Relator o Ministro Gilson Dipp, in DJU
de 21.2.00. no mesmo sentido, acórdão publicado na Revista JTJ 199/127.

72
2.5) A competência para a execução da sentença profe-
rida no juízo arbitral:

Redação anterior:

Art. 575 A execução, fundada em título judicial, processar-se-á perante:


I - os tribunais superiores, nas causas de sua competência originária;
II - o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição;
III - o juízo que homologou a sentença arbitral;
IV - o juízo cível competente, quando o título executivo for a sentença penal condenató-
ria

Redação atual:

Art. 575 A execução, fundada em título judicial, processar-se-á perante:


I - os tribunais superiores, nas causas de sua competência originária;
II - o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição;
III - o juízo que homologou a sentença arbitral;
IV - o juízo cível competente, quando o título executivo for sentença penal con-
denatória ou sentença arbitral.

Acréscimo feito ao inc. IV do art. 575, do CPC, diz


respeito à fixação da competência de juízo para a execução de sen-
tença proferida em juízo arbitral. Aplicável apenas a litígios re-
lativos a direito patrimoniais disponíveis, a arbitragem foi regu-
lamentada pela Lei nº 9.703/96, que, todavia, deixou de prever
acerca do juízo competente para a execução de sentença por ele
proferida. 95 Por isso, ainda que tarde, salutar a alteração legis-
lativa, no sentido de deixar claro qual juízo tem competência para
a execução da sentença arbitral, quando não cumprida espontanea-
mente pelo réu.

A previsão, a partir da nova redação do inc. IV do


art. 575, é de que a execução seja ajuizada no juízo cível compe-
tente, ou seja, aquele em que a demanda de conhecimento, não op-
tassem as partes pelo juízo arbitral, deveria ser ajuizada. Reme-
te-se o leitor, assim, ao disposto nas regras de competência pre-
vistas no art. 94 a 100 do CPC que, por não sofrerem quaisquer al-
terações nesta mini-reforma, não merecem comentários.

Note-se que o novo dispositivo prevalece sobre o


inc. III, pois esse restou prejudicado pela Lei que instituiu a
arbitragem, e que dispensou expressamente a homologação judicial
para a sentença proferida no juízo arbitral 96. Na verdade, o cita-

95
- aliás, nem seria de boa técnica que a legislação especial trouxesse
disposição nesse sentido, pois a competência do juízo cível deve ser pre-
vista em uma só norma, o CPC.
96
- art. 18 da Lei nº 9.307/96.

73
do inc. III tratava da hipótese da instituição do compromisso ou
juízo arbitral, previsto no art. 1.037 a 1.048 do Código Civil,
que previa a instituição da arbitragem em processo judicial e, por
isso, era indispensável a homologação judicial, dispositivos que,
todavia, foram expressamente revogados pela Lei nº 9.307/96. Está,
pois, tal inc. III, ab-rogado pela legislação superveniente, nos
termos do art. 2º, § 1º, da LICC.

Salienta-se, ainda, que a regra do novo inc. IV pre-


valece, inclusive, sobre o juízo onde porventura tenha sido ajui-
zada qualquer demanda, seja visando à instituição da arbitragem
(Lei nº 9.307/96, art. 6º, § único e 7º), à nomeação de árbitro
(mesma lei, art. 13, § 2º), à condução de testemunha (art. 22, §
2º), a medidas coercitivas ou cautelares (art. 22, § 4º), seja pa-
ra a resolução de controvérsia sobre direitos indisponíveis de cu-
ja existência dependa o julgamento arbitral (art. 25), que devem
ser propostas no juízo cível competente, ausente qualquer disposi-
ção na lei questionada no sentido da prevenção de tal juízo para a
execução da sentença arbitral.

Assim, se o autor propôs qualquer demanda prevista na


lei da arbitragem em seu domicílio, não tendo o réu oposto a res-
pectiva exceção de incompetência, isso não quer dizer que, propos-
ta a execução de tal sentença no mesmo juízo, não possa o réu ex-
cepcionar a competência, postulando a remessa dos autos ao juízo
de seu domicílio.

2.6) A nova redação do art. 584 do CPC:

Redação anterior:

Art. 584 São títulos executivos judiciais:


I - a sentença condenatória proferida no processo civil;
II - a sentença penal condenatória transitada em julgado;
III - a sentença arbitral e a sentença homologatória de transação ou de conciliação;
IV - a sentença estrangeira, homologada pelo Supremo Tribunal Federal;
V - o formal e a certidão de partilha
Parágrafo único Os títulos a que se refere o n° V deste artigo têm força executiva ex-
clusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título uni-
versal ou singular

Redação atual:

Art. 584 São títulos executivos judiciais:


I - a sentença condenatória proferida no processo civil;
II - a sentença penal condenatória transitada em julgado;
III - a sentença homologatória de conciliação ou de transação, ainda que verse
matéria não posta em juízo;
IV - a sentença estrangeira, homologada pelo Supremo Tribunal Federal;
V – o formal e a certidão de partilha.
VI – a sentença arbitral.

74
Parágrafo único Os títulos a que se refere o n° V deste artigo têm força executiva ex-
clusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título uni-
versal ou singular

Inovação também surge no art. 584 do CPC, cujo inciso


III foi desdobrado em dois. Assim, a sentença arbitral, prevista
no inc. III como título executivo judicial (nesse sentido, também,
disposição expressa do art. 31 da Lei nº 9.307/96), passa a figu-
rar isoladamente, no inc. VI, antes inexistente. 97

Trata-se de simples adaptação, na medida em que, ain-


da que a lei específica disponha expressamente (art. 31 citado)
que a sentença arbitral produz os mesmos efeitos da sentença pro-
ferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória,
constitui título executivo, ela não poderia figurar no mesmo inci-
so que se refere a sentenças proferidas pelo Poder Judiciário.

Quanto à nova redação do inc. III, ela simplesmente


reproduz a que resultou da Lei nº 8.953/94. Ocorre que a redação
atual do inc. III decorre da Lei da Arbitragem, cujo anteprojeto,
por certo, foi anterior ao daquela lei. Assim, quando da promulga-
ção da Lei nº 9.307/96, não se observou que a redação do inc. III
havia sido mudada por esse último diploma.

Com isso, restaura-se a redação da reforma do CPC de


1994, em aspecto que foi festejado pela doutrina. CANDIDO DINAMAR-
CO, 98 por exemplo, diz a respeito do assunto que “Dirimindo dúvida
que vinha incomodando na jurisprudência, a reforma enriqueceu o
leque de possibilidades autocompositivas mediante a conciliação
endo-processual, quando, ao dispor sobre títulos executivos judi-
ciais, referiu-se à transação, ainda que esta não verse questão
posta em juízo. [...] Expressamente a lei permite agora que a con-
ciliação vá além do objeto do processo e possam os litigantes re-
grar outros aspectos de sua vida em relação, não contidos neste.
Seja lembrada a conhecida lição de Carnelutti sobre lide integral
e lide parcial: nem sempre a situação conflituosa existente entre
os sujeitos é trazida ao processo em sua integralidade, mas é sem-
pre útil que o processo termine mediante a composição de toda
ela”.

Realmente, a alteração é salutar, permitindo que um


conflito seja resolvido em sua inteireza, via transação, ainda que
as partes não o tenham trazido a juízo por inteiro. Do contrário,
ter-se-ia de compor a lide já existente, dentro de seus limites, e
exigir que outra fosse proposta, aí havendo nova transação, o que,
convenhamos, seria verdadeiro absurdo.

97
- ressalte-se que a redação atual do inc. III decorreu de alteração
levada a efeito pelo art. 41 da Lei nº 9.307/96.
98
- obra citada, pág. 130/131.

75
Capitulo III

LEI N° 10.444/02, DE 07 DE MAIO DE 2002

3.1) As alterações do art. 273:

Redação anterior:

Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os


efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se
convença da verossimilhança da alegação e:

I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou

II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelató-


rio do réu.

o
§ 1 Na decisão que antecipar a tutela, o juiz indicará, de modo claro e preciso, as ra-
zões do seu convencimento.

o
§ 2 Não se concederá a antecipação da tutela quando houver perigo de irreversibili-
dade do provimento antecipado.

o
§ 3 A execução da tutela antecipada observará, no que couber, o disposto nos incisos
II e III do art. 588.

o
§ 4 A tutela antecipada poderá ser revogada ou modificada a qualquer tempo, em de-
cisão fundamentada.

o
§ 5 Concedida ou não a antecipação da tutela, prosseguirá o processo até final julga-
mento.

Redação atual:

Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os


efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se
convença da verossimilhança da alegação e:

I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou

II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelató-


rio do réu.

o
§ 1 Na decisão que antecipar a tutela, o juiz indicará, de modo claro e preciso, as ra-
zões do seu convencimento.

o
§ 2 Não se concederá a antecipação da tutela quando houver perigo de irreversibili-
dade do provimento antecipado.

76
o
§ 3 A efetivação da tutela antecipada observará, no que couber e conforme sua
o o
natureza, as normas previstas nos arts. 588, 461, §§ 4 e 5 , e 461-A.

o
§ 4 A tutela antecipada poderá ser revogada ou modificada a qualquer tempo, em de-
cisão fundamentada.

o
§ 5 Concedida ou não a antecipação da tutela, prosseguirá o processo até final julga-
mento.

o
§ 6 A tutela antecipada também poderá ser concedida quando um ou mais dos
pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se incontroverso.

o
§ 7 Se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer providência de natureza
cautelar, poderá o juiz, quando presentes os respectivos pressupostos, deferir a
medida cautelar em caráter incidental do processo ajuizado.

O parágrafo 3º do artigo 273 passa a vigorar com nova


redação, acrescentando que a antecipação da tutela deverá obser-
var, doravante, todas as disposições do artigo 588, não só os seus
incs. II e III, mas também dos artigos 461, parágrafos 4º e 5º, e
o artigo 461-A, introduzido esse pela lei n° 10.444/02.

3.1.1) A execução provisória da antecipação de tute-


la, em regra, depende de prévia prestação de caução:

A alteração justifica-se pelo fato de que a remissão


aos incisos II e III do artigo 588 deixava dúvidas se o início da
execução da tutela antecipada dependeria, sempre, da prestação de
caução, na medida em que não havia referência ao inciso I do cita-
do artigo 588. 99

99
- TEORI ALBINO ZAVASCKI (obra citada, pág. 88/89), diz que, “pela ló-
gica que decorre da interpretação literal e isolada do § 2º, não haveria
porque falar em caução, já que onde fosse cabível caução seria incabível
a antecipação. [...] Assim, nos casos em que o direito afirmado pelo au-
tor seja de manifesta verossimilhança e que seja igualmente claro o risco
de dano iminente, não teria sentido algum sacrificá-lo em nome de uma
possível, mas improvável, situação de irreversibilidade. Em contraparti-
da, porém, é perfeitamente viável que se imponha ao autor, beneficiado
com a antecipação, a prestação de caução que assegure, pelo menos, even-
tual indenização por danos. O que sustentamos, em outras palavras, é que
o preceito normativo que decorre do inciso I do art. 588 do Código de
Processo Civil acaba sendo de aplicação imperiosa por força do próprio
sistema. Com efeito, em se tratando, como de fato, de execução sempre
provisória, sujeita a ser modificada ou tornada sem efeito a qualquer
tempo, cabe ao juiz preservar meios eficientes ao retorno ao status quo
ante, inclusive, se for o caso, exigindo caução idônea com tal finalida-
de. A exigência de caução, que aliás está prevista também no inciso II,
tem, ademais, sustento na aplicação analógica do art. 804 do CPC e, so-
bretudo, na inafastabilidade do princípio de salvaguarda do núcleo es-
sencial do direito à segurança jurídica do demandado. A provisoriedade da
execução deve ser considerada como garantia do executado, garantia essa

77
Ademais, o legislador faz menção expressa no sentido
de que, em se tratando de antecipação da tutela nas obrigações de
fazer ou não fazer, bem como nas obrigações para entrega de coisa,
poderá o juiz valer-se de outros meios para o cumprimento da refe-
rida decisão, como se verá adiante – item 3.5.

3.1.2) A possibilidade de antecipação da tutela de


pedido incontroverso, ainda que parcial:

A novidade é o parágrafo 6º que se introduz ao artigo


273, permitindo ao juiz a antecipação da tutela quando um ou mais
dos pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se incontroverso.
100
Decisão essa que só poderá ser proferida após a réplica ou, pe-
lo menos, depois da contestação, pois antes disso não se poderá
apreciar sobre a incontrovérsia, ainda que parcial, de um ou mais
dos pedidos formulados na inicial.

Em verdade, é equivocado falar-se em incontrovérsia


de pedido, pois a aquela reside, sempre, se for o caso, sobre os
fatos que amparam a pretensão do autor (ou do reconvinte).

Todavia, o legislador não foi feliz ao colocar esse


parágrafo 6º vinculado ao artigo 273, na medida em que, ficando
ele dependente do disposto no caput, sempre haverá necessidade do
preenchimento de seus requisitos não só do citado caput, mas tam-
bém dos incisos I e II.

Ora, se o autor (ou reconvinte) formula dois ou mais

que não pode ser apenas formal, mas real. Ou seja: é indispensável pre-
servar as condições que propiciem retorno ao estado anterior, e a exigên-
cia de caução, quando necessária a tal finalidade, independe de autoriza-
ção expressa na lei”.
100
- NELSON NERY JUNIOR e ROSA MARIA DE ANDRADE NERY (CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL COMENTADO e Legislação Processual Civil Extravagante em vigor, Edi-
tora Revista dos Tribunais, 6ª edição, São Paulo, 2002, nota n° 20 ao
art. 273, pág. 616) já referem a possibilidade, pela sistemática proces-
sual em vigor antes da Lei n° 10.444/02, acerca da possibilidade de apli-
cação do dispositivo ora introduzido expressamente no CPC: “Nada obstante
a decisão que adianta os efeitos da parte não contestada da pretensão
tenha alguns dos atributos de decisão acobertada pela coisa julgada mate-
rial parcial e, conseqüentemente, de título executivo judicial, reveste-
se do caráter de provisoriedade. Não há óbice no seu enquadramento dentro
da sistemática do processo civil brasileiro, ainda que o meio processual
para alcançá-lo seja o do instituto da tutela antecipada do CPC 273. Fa-
lamos em meio processual porque, na essência, ontologicamente, essa situ-
ação seria equiparável ao reconhecimento jurídico parcial do pedido, que
entre nós enseja a extinção do processo com julgamento do mérito, em fa-
vor do autor (CPC 269 II), ou seja, o nosso direito já contem guarida
para a pretensão do autor quando ocorre a admissão parcial do pedido con-
denatório”.

78
pedidos cumulados, e o réu deixa de contestar um deles, o mesmo
resta incontroverso, razão pela qual a antecipação da tutela deve-
ria ser incondicionada, eis que a sentença, em relação a esse pe-
dido, será sempre de procedência. 101

Na hipótese, mais eficaz seria que o legislador ti-


vesse permitido ao juiz, por ocasião do saneador, antecipar-se ao
julgamento de tal pedido, acolhendo-o, assim, permitindo ao autor,
no particular, a abreviação da satisfação de seu direito, pois se
o réu deixou de se opor a tal pretensão, é porque a reconheceu im-
plicitamente, pelo que razão alguma existe para que se condicione
a antecipação da tutela à prova inequívoca, que convença o juiz da
verossimilhança da alegação e, ainda, à presença de um dos requi-
sitos dos incisos I ou II do caput do artigo 273.

Até porque não há razão, no mesmo caso, para que a


execução da tutela antecipada, na hipótese do parágrafo 6º, fique
condicionada ao disposto no artigo 588, pois se trata de exagero
exigir do autor a prestação de caução para a execução de pretensão
que foi, ainda que implicitamente, reconhecida pelo réu.

Desta forma, o bom seria que o legislador tivesse


posto o citado parágrafo 6º em artigo separado, logo após 273, ou
então ressalvado expressamente que, para a sua efetivação, não se-
ria observado o disposto, nem no caput do artigo 273, nem haveria
a exigência de observar-se o disposto no artigo 588, ambos do CPC.
Essa, quem sabe, é uma tarefa da doutrina e jurisprudência, que
poderão dar a esse novo dispositivo legal a interpretação adequada
para a mais rápida solução dos litígios.

O legislador deveria ter avançado ainda mais, permi-


tindo que a decisão de que trata o citado § 6º fosse tratada como
verdadeira sentença, sujeita ao recurso cabível e, uma vez transi-
tada em julgado, permitida sua execução definitiva. Ademais, tal
deveria ser possível não só na hipótese de pedido incontroverso,
ainda que parcial, mas em todas as hipóteses em que, havendo mais
de um pedido, para cuja solução, ainda que parcial, de um ou mais
deles, não carecesse de dilação probatória.

Por exemplo, havendo dois pedidos formulados, ambos


contestados, mas apenas um deles dependendo de prova pericial, ao
juiz deveria ser permitido proferir julgamento antecipado em rela-
ção a um deles e, quanto ao outro, sanear o feito, com isso proce-
dendo a uma espécie de cisão do processo, como ocorre no processo
criminal, em que um dos réus está preso e o outro foragido, caso
em que aquele deve ser julgado de imediato, havendo assim dois
julgamentos – primeiro, o do réu preso; mais tarde, o do réu fora-

101
- logicamente, se a pretensão for amparada pelo ordenamento jurídico,
pois mesmo na revelia, o juiz não tem a obrigação de proferir julgamento
em favor do autor.

79
gido, se apresentar-se espontaneamente ou for também capturado.

Por isso, errou o legislador, especialmente quando


inseriu tal disposição legal, que tem a finalidade de apressar a
satisfação do direito do autor (ou do reconvinte), no art. 273,
que trata da antecipação da tutela.

3.1.3) A fungibilidade do pedido de antecipação da


tutela:

O novo parágrafo sétimo é salutar, eis sepulta dis-


cussão que se instaurou na doutrina, alguns não admitindo que o
autor formulasse pedido cautelar quando fosse cabível a antecipa-
ção da tutela, ou vice-versa, nem que o juiz, vislumbrando na pre-
tensão antecipatória da tutela, em verdade, uma demanda cautelar,
valesse-se de uma espécie de fungibilidade, conhecendo daquela co-
mo se cautelar fosse.

TEORI ALBINO ZAVASCKI, 102 aliás, advoga descaber o


uso da cautelar quando a providência pretendida tiver natureza an-
tecipatória da tutela. Diz ele que, com a reforma do CPC de 1994,
“O que se operou, inquestionavelmente, foi a purificação do pro-
cesso cautelar, que assim readquiriu sua finalidade clássica: a de
instrumento para obtenção de medidas adequadas a tutelar o direi-
to, sem satisfazê-lo. Todas as demais medidas assecurativas, que
constituam satisfação antecipada dos efeitos da sentença de méri-
to, já não caberão em ação cautelar, podendo ser, ou melhor, de-
vendo ser reclamadas na própria ação de conhecimento, exceto nos
casos, raros, já referidos, em que a lei expressamente prevê ação
autônoma com tal finalidade. Postulá-las em ação cautelar, na qual
os requisitos para a concessão da tutela são menos rigorosos, sig-
nificará fraudar o art. 273 do Código de Processo Civil, que, para
satisfazer antecipadamente, supõe cognição em nível mais aprofun-
dado, pois exige verossimilhança construída sobre prova inequívo-
ca”.

Agora, com a previsão expressa da nova lei, poderá o


juiz, entendendo que a pretensão antecipatória da tutela não se
encaixa na figura jurídica prevista no artigo 273, conceda a mes-
ma, desde preenchidos os seus requisitos, dentro dos próprios au-
tos, usando do poder geral de cautela regulado no artigo 798, do
CPC. E isso sem necessidade de qualquer emenda à inicial, pois o
juiz faz incidir o direito aplicável sobre os fatos alegados pelo
autor.

O contrário, logicamente, não poderá ser feito, na


medida em que os requisitos para a concessão da cautelar, como bem
disse o doutrinador citado, são menos rigorosos do que para a an-

102
- obra citada, pág. 45.

80
tecipação da tutela. Assim, se for pretendida tutela cautelar, lo-
gicamente que o juiz não poderá conceder antecipação da tutela, a
não ser que o autor previamente emende a inicial, a fim de adaptá-
la ao processo de conhecimento, atendendo aos requisitos do art.
273 do CPC.

Ressalte-se, todavia, que o novo § 7º não poderá ser


aplicado a qualquer providência cautelar, devendo haver distinção
entre as cautelares típicas e atípicas. Ou seja, se a providência
que o autor postula via antecipação de tutela for, em verdade, uma
cautela atípica (também conhecida de inominada), o juiz poderá
concedê-la no próprio processo de conhecimento, com base no poder
geral de cautela.

Entretanto, em se tratando de cautelar típica, uma


daquelas para as quais o legislador prevê procedimento específico,
não terá aplicação o § 7º, eis que isso significaria violação ao
princípio constitucional do devido processo legal. Assim, por
exemplo, se no decorrer de ação reivindicatória, o réu iniciar a
realização de construção sobre o terreno objeto da lide, não pode-
rá o juiz suspendê-la mediante simples requerimento de antecipação
da tutela nos autos do processo de conhecimento, pois nesse caso
cabível a cautelar típica de atentado.

Frise-se, ainda, que o disposto no § 7º é mera facul-


dade, a ser aplicada com a devida prudência, pois sempre haverá a
possibilidade de o juiz, considerando que a providência concedida
nos próprios autos poderá causar embaraços à defesa do réu, inde-
ferir o pedido de antecipação da tutela, por incabível, determi-
nando ao autor que, querendo, ingresse com a respectiva demanda
cautelar.

3.2) Mudanças no procedimento sumário – arts. 275 e


280:

Redação anterior:

Art. 275. Observar-se-á o procedimento sumário:

I - nas causas, cujo valor não exceder 20 (vinte) vezes o maior salário mínimo vigente
no País;

II - nas causas, qualquer que seja o valor:

a) de arrendamento rural e de parceria agrícola;

b) de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio;

c) de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico;

81
d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de via terrestre;

e) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de veículo,


ressalvados os casos de processo de execução;

f) de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado o disposto em legis-


lação especial;

g) nos demais casos previstos em lei.

Parágrafo único. Este procedimento não será observado nas ações relativas ao esta-
do e à capacidade das pessoas.

Art. 280. No procedimento sumário:

I - não será admissível ação declaratória incidental, nem a intervenção de terceiro, sal-
vo assistência e recurso de terceiro prejudicado;

II - o perito terá o prazo de quinze dias para apresentação do laudo;

III - das decisões sobre matéria probatória, ou proferidas em audiência, o agravo será
sempre retido.

Redação atual:

Art. 275. Observar-se-á o procedimento sumário:

I - nas causas, cujo valor não exceder sessenta (60) vezes o valor do salário mí-
nimo;

II - nas causas, qualquer que seja o valor:

a) de arrendamento rural e de parceria agrícola;

b) de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio;

c) de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico;

d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de via terrestre;

e) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de veículo,


ressalvados os casos de processo de execução;

f) de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado o disposto em legis-


lação especial;

g) nos demais casos previstos em lei.

82
Parágrafo único. Este procedimento não será observado nas ações relativas ao esta-
do e à capacidade das pessoas.

Art. 280. No procedimento sumário não são admissíveis a ação declaratória inci-
dental e a intervenção de terceiros, salvo a assistência, o recurso de terceiro pre-
judicado e a intervenção fundada em contrato de seguro.

3.2.1) O novo teto para o procedimento sumário:

No procedimento sumário, surge alteração no inciso I


do artigo 275, elevando o valor, hoje de vinte vezes o maior salá-
rio mínimo vigente no país, no qual as causas que, independente da
matéria, observada a vedação prevista no parágrafo único do mesmo
artigo, seguirão sempre procedimento sumário, passando o teto a
ser de 60 vezes o valor do salário mínimo.

Adequa-se tal teto ao disposto no artigo 475, pará-


grafo 2º, com a redação da lei nº 10.352/01, que é também o pre-
visto para o Juizado Especial Federal, conforme o artigo 3º, ca-
put, da Lei nº 10.259/01.

Ainda, o legislador substitui a expressão maior salá-


rio mínimo vigente no país por salário mínimo, na medida em que a
redação anterior do dispositivo em comento poderia dar ensejo a
que, nos Estados em que, por força lei complementar nº 103, de 14
de julho de 2000, tenham sido adotados pisos salariais maiores do
que o mínimo nacional para determinadas categorias profissionais,
passe o menor deles (maior do que o mínimo nacional, vigente espe-
cialmente para os benefícios da previdência social oficial) a ser-
vir de parâmetro para a adoção do procedimento sumário, do que re-
sultaria a possibilidade de diferentes tetos para o seu cabimen-
to, dependendo da unidade da federação em que tramitasse o proces-
so, situação de todo desaconselhável.

3.2.2) O retorno da denunciação da lide com base em


contrato de seguro de responsabilidade civil:

Também foi feliz o legislador na alteração introduzi-


da no artigo 280 do CPC, retirando a vedação, introduzida pela lei
nº 9245/95, da denunciação da lide, fundada em contrato de seguro,
no procedimento sumário, e que muitos transtornos passou a causar
para o segurado que, sendo demandado em virtude de acidentes de
trânsito, não mais podia mover, na mesma lide, a ação regressiva
contra a seguradora, para que esta, uma vez procedente a ação
principal, fosse condenada a, nos limites do contrato de seguro,

83
103
ressarci-lo pelos valores que tivesse de pagar ao lesado.

3.2.3) Outras alterações significativas:

Da mesma forma, foram suprimidos os incisos II e III


do artigo 280, passando o inciso I a ser o único existente no ar-
tigo. A supressão do inciso II é positiva, pois dificilmente pode
o perito concluir seu trabalho em apenas quinze dias, ainda que a
causa, por tramitar sob o procedimento sumário, seja menos comple-
xa, pelo que o prazo para a conclusão da prova pericial, doravan-
te, passará a ser aquele fixado pelo juízo, observado, todavia, o
disposto no caput do artigo 433, do CPC.

O mesmo elogio não se pode, entretanto, fazer à su-


pressão do inciso III do citado artigo 280, pois ainda que se con-
sidere a nova redação do artigo 523, parágrafo 4º, decorrente da
lei nº 10.352/01, passa-se a permitir, doravante, que decisões
proferidas na audiência preliminar de tentativa de conciliação e
recebimento da contestação, assim como outras não proferidas na
audiência de instrução e julgamento, possam ser atacadas via agra-
vo de instrumento, o que não é aconselhável em se tratando de pro-
cesso que, por sua própria natureza, deva ter célere andamento,
suscitando o menor número possível de incidentes processuais.

3.3) As mudanças no art. 287:

Redação anterior:

Art. 287. Se o autor pedir a condenação do réu a abster-se da prática de algum ato, a
tolerar alguma atividade, ou a prestar fato que não possa ser realizado por terceiro,
constará da petição inicial a cominação da pena pecuniária para o caso de descumpri-
mento da sentença (arts. 644 e 645).

Redação atual:

Art. 287. Se o autor pedir que seja imposta ao réu a abstenção da prática de al-
gum ato, tolerar alguma atividade, prestar ato ou entregar coisa, poderá requerer
cominação de pena pecuniária para o caso de descumprimento da sentença ou
da decisão antecipatória de tutela (arts. 461, § 4º, e 461-A).

103
- ressalvada posição doutrinária do autor acerca do assunto, que no
artigo A DENUNCIAÇÃO DA LIDE NAS CAUSAS DE PROCEDIMENTO SUMÁRIO (Caderno
de Doutrina da Tribuna da Magistratura, APAMAGIS, ano I, n° 1, pág. 12),
sustenta a possibilidade da denunciação da lide com base em contrato de
seguro de responsabilidade civil, nas causas de procedimento sumário,
mesmo após a edição da Lei n° 9.245/95.

84
O artigo 287 passa a permitir, também na demanda que
tenha por objeto a entrega de coisa, certa ou incerta, que ao réu
seja imposta multa pecuniária em caso de descumprimento, não só da
sentença, mas também da decisão antecipatória da tutela, instituto
que, por força do novo artigo 461-A, passa a ser aplicável não só
nas ações cominatórias (art. 461), mas também nas ações em que o
autor postule a entrega de coisa certa ou incerta.

Além disso, suprime-se a obrigatoriedade de constar


da petição inicial a pretensão para a cominação da pena pecuniá-
ria, passando a ser faculdade do autor, porquanto conforme os ar-
tigos 461 e o novo 461-A, a mesma pode ser imposta de ofício pelo
juiz, independentemente de requerimento do autor, tanto por ocasi-
ão da antecipação da tutela específica, como na sentença.

A aplicação da multa independe de pedido expresso do


autor, conforme o art. 461, § 4º, que também se aplica à antecipa-
ção da tutela nas ações que tenham por objeto a entrega de coisa
(461-A e seu § 3º).

Entretanto, a alteração justifica-se pela supressão


da palavra condenação, justamente para evitar a necessidade de
posterior execução da sentença, um dos objetivos da reforma, que
visa a tornar desnecessária a execução para o cumprimento de obri-
gação de fazer, não fazer, ou de entrega de coisa, constante de
sentença. 104

Do mesmo modo, substitui-se prestar fato que não pos-


sa ser realizado por terceiro apenas por prestar fato explica-se
pela necessidade de que qualquer obrigação de fazer constante de
sentença dispense o ajuizamento do processo de execução.

3.4) As alterações do art. 331:

Redação anterior:

Art. 331. Se não se verificar qualquer das hipóteses previstas nas seções precedentes
e a causa versar sobre direitos disponíveis, o juiz designará audiência de conciliação, a

104
- consta da exposição de motivos do anteprojeto que resultou na Lei nº
10.444/02, a respeito da mudança de redação do art. 287 do CPC: “A alte-
ração proposta ao art. 287 visa a compatibilizá-lo com o disposto no § 4º
do art. 461 e no art. 461-A, ou seja, com as modernas técnicas do adim-
plemento forcado das obrigações de fazer e de não-fazer e das obrigações
de entrega de coisa. Assim, é excluída a menção à ´condenação´, que tec-
nicamente implica um posterior processo de execução, não adequado às sen-
tenças mandamentais e executivas lato sensu; a expressão “prestar fato
que não possa ser realizado por terceiro´, é resumida simplesmente para
´prestar fato´, pois também as obrigações de fazer fungíveis devem ser
abrangidas pela norma legal” (Diário da Câmara dos Deputados, 23.08.00,
pág. 44575).

85
realizar-se no prazo máximo de 30 (trinta) dias, à qual deverão comparecer as partes
ou seus procuradores, habilitados a transigir.

o
§ 1 Obtida a conciliação, será reduzida a termo e homologada por sentença.

o
§ 2 Se, por qualquer motivo, não for obtida a conciliação, o juiz fixará os pontos con-
trovertidos, decidirá as questões processuais pendentes e determinará as provas a se-
rem produzidas, designando audiência de instrução e julgamento, se necessário.

Redação atual:

Art. 331. Se não ocorrer qualquer das hipóteses previstas nas seções preceden-
tes, e versar a causa sobre direitos que admitam transação, o juiz designará au-
diência preliminar, a realizar-se no prazo de 30 (trinta) dias, para a qual serão as
partes intimadas a comparecer, podendo fazer-se representar por procurador ou
preposto, com poderes para transigir.

o
§ 1 Obtida a conciliação, será reduzida a termo e homologada por sentença.

o
§ 2 Se, por qualquer motivo, não for obtida a conciliação, o juiz fixará os pontos con-
trovertidos, decidirá as questões processuais pendentes e determinará as provas a se-
rem produzidas, designando audiência de instrução e julgamento, se necessário.

o
§ 3 Se o direito em litígio não admitir transação, ou se as circunstâncias da cau-
sa evidenciarem ser improvável sua obtenção, o juiz poderá, desde logo, sanear o
o
processo e ordenar a produção da prova, nos termos do § 2 .

Substitui-se, no caput do art. 331, a expressão di-


reitos disponíveis por direitos que admitam transação, o que é
mais consentâneo, pois os conceitos não são idênticos. Isso por-
que, por exemplo, os Procuradores da Fazenda Nacional e das autar-
quias têm poderes para transigir em causas de até determinado va-
lor, em que pese se trate de direitos indisponíveis.

O mesmo ocorre, por exemplo, com a ação de investiga-


ção de paternidade, pois ainda que indisponíveis tanto o direito
do pai como o do filho, aquele pode transigir, reconhecendo a pa-
ternidade reclamada em juízo. 105
105
- não é à toa, aliás, o comentário de ATHOS GUSMÃO CARNEIRO (AUDIÊNCIA
DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO E AUDIÊNCIAS PRELIMINARES, Editora Forense, 9ª
edição, Rio de Janeiro, 2000, pág. 109), quando diz que “A redação do
art. 331 oferece margem a críticas, na referência a ‘direitos indisponí-
veis’. Como está dito no item 139 e referem vários comentaristas, não
poucos direitos indisponíveis admitem transações parciais, aliás extrema-
mente comuns em juízo. Assim, é indisponível o direito a alimentos, mas
possível a transação no alusivo a seu quantum; é indisponível o direi-
to/dever relativo à guarda dos filhos, ou o direito a visitas. Mas a
transação sobre o modo do exercício de tais direitos é admitida e conve-
niente. Da mesma forma, e sob determinadas salvaguardas, o direito brasi-
leiro admite transação em demandas em que sejam partes entidades de di-
reito público, como já exposto no item 44-A”.

86
Além disso, refere-se o novo texto à audiência preli-
minar, ao invés de conciliação. Trata-se de simples adequação de
terminologia, na medida em que nessa audiência, não alcançada a
conciliação ou sendo essa parcial, o juiz deve sanear o feito, pe-
lo que não se trata, tão-somente, de audiência conciliatória.

Ainda, o prazo de trinta dias passa a ser uma suges-


tão do legislador, ao contrário do texto anterior, em que era pra-
zo máximo. Admite-se, assim, que nem sempre o juiz poderá cumprir
o prazo previsto na lei, o que, no mais das vezes, decorre do acú-
mulo de trabalho.

Do mesmo modo, extingue-se a obrigatoriedade do com-


parecimento das partes à audiência, pois uma delas pode não querer
a transação, em hipótese alguma. Assim, dispõe-se que apenas há a
obrigatoriedade de intimação das partes para a solenidade, sendo o
comparecimento simples faculdade.

A última alteração diz respeito à representação da


parte, que não mais ocorre apenas por seu procurador (no caso, Ad-
vogado), mas também se admite a presença de preposto, figura co-
nhecida na Justiça do Trabalho, que lá pode representar a pessoa
jurídica, em que pese não seja seu representante na acepção legal
do termo. Tanto o Advogado como o preposto da parte poderão, dora-
vante, representá-la na audiência preliminar, desde que tenham po-
deres para transigir.

Tais poderes devem ser, logicamente, expressos e


constar, no caso do Advogado, do instrumento de mandato. Para o
preposto, basta uma carta de preposição ou documento similar, com
poderes expressos para transigir, firmada por quem detém a repre-
sentação da pessoa jurídica. Não se pode esquecer que, se para a
eficácia dos poderes especiais (o de transigir está entre eles)
para o Advogado exige-se o reconhecimento da firma, conforme o
art. 38 do CPC, a mesma cautela deve ter o juiz para o caso de a
pessoa jurídica ser representada, na audiência, apenas por prepos-
to. Assim, a firma lançada na carta de preposição deverá ser obri-
gatoriamente reconhecida por notário.

Introduz-se, ainda, um § 3º ao art. 331, dispensando


o juiz da realização da audiência preliminar quando o direito em
litígio não admitir transação ou se o juiz vislumbrar como impro-
vável a conciliação, em vista da forma como as partes vêm condu-
zindo a causa.

A parte inicial do § 3º é totalmente dispensável, eis


que a ressalva já consta do caput do art. 331, onde é condicionada
a designação da audiência preliminar ao fato de versar a causa so-
bre direitos que admitam transação.

Todavia, surge para o juiz a possibilidade de não re-

87
alizar a audiência preliminar quando, pela forma com que as partes
estão a discutir a causa, verificar ser improvável a conciliação,
o que é salutar, pois muitas vezes tal solenidade resulta inócua,
retirando do Juiz tempo precioso que ele pode dedicar a outras
atividades. Nesse caso, cumpre ao juiz sanear o processo, de ime-
diato, observando o disposto no § 2º do mesmo artigo.

Ao fim, o legislador – Lei n° 10.444/02, art. 3º -


altera a denominação da seção III do capítulo V do título VIII do
livro I do CPC, que tem início justamente no art. 331, passando a
chamá-la Da audiência preliminar. Alteração de nenhuma importân-
cia, diga-se de passagem, pelo que dispensa quaisquer comentários.
106

3.5) As mudanças na antecipação da tutela específica:

Redação anterior:

Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não
fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, de-
terminará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimple-
mento.

o
§ 1 A obrigação somente se converterá em perdas e danos se o autor o requerer ou
se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente.

o
§ 2 A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa (art. 287).

o
§ 3 Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de inefi-
cácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante
justificação prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada ou modificada, a
qualquer tempo, em decisão fundamentada.

o
§ 4 O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diá-
ria ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com
a obrigação, fixando-lhe prazo razoável para o cumprimento do preceito.

o
§ 5 Para a efetivação da tutela específica ou para a obtenção do resultado prático
equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas neces-
sárias, tais como a busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de
obras, impedimento de atividade nociva, além de requisição de força policial.

Redação atual:

106
- cumpre referir, todavia, que a denominação ora adotada pelo legisla-
dor está de acordo com a posição da doutrina mais abalizada sobre o as-
sunto. Tanto é assim que, ao comentar o art. 331, do CPC, com a redação
da Lei n° 8.952/94, ATHOS GUSMÃO CARNEIRO (obra citada, pág. 105), chama
a audiência de que cogita o citado dispositivo de AUDIÊNCIA PRELIMINAR NO
PROCEDIMENTO ORDINÁRIO.

88
Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fa-
zer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, deter-
minará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

o
§ 1 A obrigação somente se converterá em perdas e danos se o autor o requerer ou se
impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente.

o
§ 2 A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa (art. 287).

o
§ 3 Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficá-
cia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justifi-
cação prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada ou modificada, a qual-
quer tempo, em decisão fundamentada.

o
§ 4 O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária
ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a
obrigação, fixando-lhe prazo razoável para o cumprimento do preceito.

o
§ 5 Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático equi-
valente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas neces-
sárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão,
remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade
nociva, se necessário com requisição de força policial.

o
§ 6 O juiz poderá, de ofício, modificar o valor ou a periodicidade da multa, caso
verifique que se tornou insuficiente ou excessiva.

As novidades no art. 461 são a alteração do § 5º e a


introdução do § 6º.

No § 5º, as alterações são singelas e de nenhum re-


sultado prático. Permite-se ao juiz, entre as medidas necessárias
à efetivação da tutela específica ou obtenção do resultado prático
equivalente, a imposição de multa por tempo de atraso, medida já
prevista no § 4º.

Ainda, houve uma correção na redação do final do §


5º, substituindo-se a expressão além de requisição de força poli-
cial por se necessário com requisição de força policial. A altera-
ção visa apenas a corrigir equívoco do legislador da reforma do
CPC de 1994, pois pela redação vigente a requisição de força poli-
cial seria uma das medidas necessárias disponíveis ao juiz para o
cumprimento do decidido na forma do § 3º, quando, em verdade, ela
é uma maneira de o juiz tornar efetiva sua decisão.

O § 6º, inexistente na redação atual do art. 461,


permite ao juiz, mesmo de ofício, a alteração não só do valor da
multa, em se tornando insuficiente ou excessiva, mas também a pe-
riodicidade da mesma. Quer dizer que, dependendo das circunstân-
cias do caso concreto, a multa não mais será por dia de atraso,
como previsto no § 4º, mas, por exemplo, por semana, quinzena ou
mês de retardamento no cumprimento da obrigação. A novidade deve
ser aplaudida, pois, muitas vezes, a obrigação de fazer não tem

89
sua duração medida em dias, mas em frações maiores de tempo. Por
exemplo, a duração de uma construção, normalmente, é medida em me-
ses ou, pelo menos, em semanas, não em dias.

Hipótese contrária também pode vir a ocorrer, ou se-


ja, a fixação de prazo em horas, como no caso, por exemplo, de or-
dem para a internação de pessoa doente, que deve ser cumprida em
horas, pelo que poderá o juiz fixar a multa devida por hora (ou
fração até menor, dependendo da urgência da internação), de atraso
no cumprimento da medida judicial.

Logicamente, em que pese o § 6º referir-se à modifi-


cação do valor ou periodicidade da multa, o que pressupõe fixação
anterior, não há óbice a que o juiz, de imediato, quando da deci-
são que conceder a tutela específica (§ 3º e 4º), estipule perio-
dicidade diversa da diária para o cumprimento da obrigação imposta
ao réu, se a medida for julgada conveniente no caso concreto.

3.6) O novo art. 461-A:

Redação anterior – dispositivo inexistente.

Redação atual:

Art. 461-A. Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, ao conceder a
tutela específica, fixará o prazo para o cumprimento da obrigação.

o
§ 1 Tratando-se de entrega de coisa determinada pelo gênero e quantidade, o cre-
dor a individualizará na petição inicial, se lhe couber a escolha; cabendo ao deve-
dor escolher, este a entregará individualizada, no prazo fixado pelo juiz.

o
§ 2 Não cumprida a obrigação no prazo estabelecido, expedir-se-á em favor do
credor mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse, conforme se tratar
de coisa móvel ou imóvel.

o o o
§ 3 Aplica-se à ação prevista neste artigo o disposto nos §§ 1 a 6 do art. 461.

Introduz o legislador a previsão expressa no sentido


de caber antecipação da tutela específica também nas obrigações
para entrega de coisa que, até então, não poderia ser obtida, ante
o texto expresso do art. 461, caput, referindo-se somente às obri-
gações de fazer ou não fazer. 107

Aliás, desde a criação do instituto da antecipação da


tutela no direito pátrio, passou a existir séria divergência dou-
trinária acerca do cabimento da antecipação da tutela nas ações em
que a sentença tem eficácia condenatória. A exceção já foi previs-

107
- quando muito, tal providência poderia ser obtida com base no art.
273 do CPC, o que, entretanto, era bastante discutível.

90
ta no art. 461, que admite a antecipação da tutela específica em
se tratando de ação cominatória, que tinha nítido caráter condena-
tório, conforme a jurisprudência e doutrina majoritárias. 108

A redação do caput do novo art. 461-A permite ao ju-


iz, então, a antecipação da tutela específica também nas obriga-
ções para entrega de coisa. Exemplo clássico desse tipo de demanda
é a ação reivindicatória, em que o proprietário não possuidor bus-
ca a posse do imóvel que se encontra em mãos do possuidor não pro-
prietário.

Muitas vezes, o proprietário nunca teve posse anteri-


or – na hipótese de aquisição do imóvel – e, assim, não pode pro-
por ação possessória, onde ele teria à sua disposição, preenchidos
os requisitos legais, a proteção possessória liminar.

Surge, agora, a possibilidade de que, preenchidos os


requisitos do art. 461, § 3º, que se aplica, assim como seus de-
mais parágrafos, à antecipação da tutela específica para a entrega
de coisa, por força do mesmo parágrafo do art. 461-A, seja o pro-
prietário imitido na posse do imóvel antes do cumprimento da sen-
tença de procedência da ação reivindicatória. 109 A providência re-
almente é salutar, pois no mais das vezes, o possuidor nenhum tí-
tulo detém para manter-se na posse do imóvel e, assim, a sua única
pretensão é prolongar a lide pelo maior tempo possível, ao fim do
qual, normalmente, não possui idoneidade econômica para indenizar
o proprietário pelo uso indevido do imóvel.

Deferindo o juiz a antecipação da tutela especifica,


deverá fixar prazo para o cumprimento da obrigação, quer dizer,
para que o réu entregue ao autor o bem móvel ou imóvel em seu po-
der.

Pode ocorrer, entretanto, que entre as partes já


exista um prévio ajuste escrito, que tenha por objeto bem móvel ou
imóvel, mas que não preencha os requisitos do art. 585, inc. II,

108
- a respeito do assunto, que não é o objeto da presente obra, remete-
se o leitor à doutrina de TEORI ALBINO ZAVASCKI (obra citada, págs.
145/152), quando fala a respeito da “Natureza da Ação do art. 461 do Có-
digo de Processo Civil: condenatória ou executiva lato sensu?”, e que
pode ser perfeitamente aplicada ao novo art. 461-A.
109
- não se olvide que, conforme a doutrina tradicional e a jurisprudên-
cia, sendo a sentença proferida na ação reivindicatória de eficácia con-
denatória, não executiva, ela carecia, para seu cumprimento, do processo
de execução, não bastando, uma vez transitada em julgado a sentença, a
simples expedição de mandado de imissão na posse, como ocorre com as
ações possessórias e de despejo. Tal entendimento, todavia, deixa de pre-
valecer a partir da Lei n° 10.444/02, pois a conjugação dos arts. 461-A e
621 deixa claro que tal sentença passa a ser cumprida mediante a simples
expedição de mandado, desnecessária a instauração de processo de execu-
ção. Ou seja, a sentença passa a ter eficácia executiva lato sensu.

91
do CPC e, assim, não possa embasar execução para entrega da coisa,
nem podendo o autor valer-se (não se trata de bem móvel) da ação
monitória, que fixe prazo para o cumprimento da obrigação. Nessa
hipótese, prudente que o juiz adote esse prazo já ajustado entre
as partes, não fixando outro diverso. A não ser que entenda que se
trata de prazo extremamente exíguo, e que tornaria praticamente
inviável a entrega do bem nesse lapso temporal.

O § 1º do art. 461-A regula a hipótese de concessão


da tutela específica para a entrega de coisa incerta. Cabendo a
escolha ao credor (autor), seja por assim constar do contrato, se-
ja por sua omissão (art. 875 do Código Civil), ele deverá indivi-
dualizar seu gênero e quantidade, na petição inicial. Havendo, en-
tretanto, disposição contratual expressa, a escolha cabe ao deve-
dor, caso em que este entrega-la-á individualizada, no prazo fixa-
do pelo juiz ou constante do pacto.

No § 2º, dispõe o legislador que, não cumprida pelo


réu a decisão relativa à antecipação da tutela específica, o juiz
determinará a expedição de mandado de busca e apreensão da coisa,
se bem móvel ou de imissão do autor na posse, em sendo bem imóvel.

Discussão que por certo surgirá é quando o réu tiver


direito de retenção por benfeitorias úteis ou necessárias. 110 O
que fará o réu na hipótese de decisão determinando a imediata
imissão do autor na posse do imóvel objeto da lide? Certamente,
deverá formular de imediato tal pretensão, porque, a partir da vi-
gência da Lei n° 10.444, não mais serão cabíveis embargos de re-
tenção contra título judicial, desnecessária sua execução. 111

Deverá, todavia, preencher o disposto no § 1º do art.

110
- segundo a jurisprudência pacífica do Superior Tribunal de Justiça,
não são só benfeitorias que dão direito à retenção do imóvel, mas também
as acessões, que, conforme o Código Civil, art. 536, inc. V, consistem em
construções de obras e plantações, a elas se estendendo, pois, o direito
assegurado no art. 516 do mesmo códex. Nesse sentido: REsp 739 (4ª Turma,
Relator o Ministro ATHOS CARNEIRO, julgado em 21.08.90, in DJU de
10.09.90, pág. 9129), REsp 28489/SP (3ª Turma, Relator o Ministro Eduardo
Ribeiro, julgado em 19.10.93, in DJU de 22.11.93, pág. 24946), REsp
66192/SP (4ª Turma, Relator o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira,
julgado em 21.06.95, in DJU de 04.09.95, pág. 27837), REsp 51794/SP (3ª
Turma, Relator o Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, julgado em
03.09.96, in DJU de 11.11.96, pág. 43707), EDREsp 260238/ES (1ª Turma,
Relator o Ministro Garcia Vieira, julgados em 19.10.00, in DJU de
27.11.00, pág. 137) e REsp 157961/MG (4ª Turma, Relator o Ministro Ruy
Rosado de Aguiar, julgado em 19.05.98, in DJU de 29.06.98, pág. 204).
111
- conforme o anteprojeto de lei em tramitação no Congresso Nacional,
que altera o processo de execução da sentença, o réu poderá opor-se ao
seu cumprimento mediante impugnação, e um dos objetos dessa impugnação
(art. 475-L, inc. V) poderá ser o direito de retenção por benfeitorias
necessárias ou úteis, desde que a sentença as tenha considerado comprova-
das no processo de conhecimento.

92
744, que se aplica por analogia, o que poderá levar o juiz, por
exemplo, a revogar a medida. Ou, então, no mínimo exigir que a
caução prevista para o cumprimento da decisão antecipatória da
tutela leve em conta, também, o valor de tais benfeitorias e/ou
acessões. E, antes que o juiz decida acerca dessa questão, não se
admitirá o cumprimento da decisão antecipatória da tutela, ou se-
ja, a imissão do autor na posse do imóvel.

Por fim, o § 3º dispõe sobre a aplicação, ao institu-


to da antecipação da tutela específica na ação que tenha por obje-
to a entrega de coisa, de todos os parágrafos do art. 461, aos
quais, inclusive os §§ 5º e 6º introduzidos pela lei ora em comen-
to, remete-se o leitor.

3.7) As alterações do art. 588 – execução provisória:

Redação anterior:

Art. 588. A execução provisória da sentença far-se-á do mesmo modo que a definitiva,
observados os seguintes princípios:

I - corre por conta e responsabilidade do credor, que prestará caução, obrigando-se a


reparar os danos causados ao devedor;

II - não abrange os atos que importem alienação do domínio, nem permite, sem caução
idônea, o levantamento de depósito em dinheiro;

III - fica sem efeito, sobrevindo sentença que modifique ou anule a que foi objeto da
execução, restituindo-se as coisas no estado anterior.

o
Parágrafo único. No caso do n III, deste artigo, se a sentença provisoriamente execu-
tada for modificada ou anulada apenas em parte, somente nessa parte ficará sem efeito
a execução.

Redação atual:

Art. 588. A execução provisória da sentença far-se-á do mesmo modo que a definitiva,
observadas as seguintes normas:

I - corre por conta e responsabilidade do exeqüente, que se obriga, se a sentença


for reformada, a reparar os prejuízos que o executado venha a sofrer;

II - o levantamento de depósito em dinheiro, e a prática de atos que importem ali-


enação de domínio ou dos quais possa resultar grave dano ao executado, depen-
dem de caução idônea, requerida e prestada nos próprios autos da execução;

III - fica sem efeito, sobrevindo acórdão que modifique ou anule a sentença objeto
da execução, restituindo-se as partes ao estado anterior;

93
IV - eventuais prejuízos serão liquidados no mesmo processo.

o
§ 1 No caso do inciso III, se a sentença provisoriamente executada for modifica-
da ou anulada apenas em parte, somente nessa parte ficará sem efeito a execu-
ção.

o
§ 2 A caução pode ser dispensada nos casos de crédito de natureza alimentar,
até o limite de 60 (sessenta) vezes o salário mínimo, quando o exeqüente se en-
contrar em estado de necessidade.

São várias as mudanças no art. 588. O inc. I sofre


alteração, dispensando a prestação de caução para o ajuizamento da
execução provisória, o que é bastante lógico, pois não sofre o
executado, a princípio, prejuízo pelo simples ingresso da execu-
ção. 112 Desfaz-se, assim, a presunção de que a execução provisória
causa, sempre, prejuízo ao devedor, em caso de decisão posterior
que modifique, total ou parcialmente, o título executivo. De qual-
quer sorte, continua o legislador a prever a hipótese de responsa-
bilidade objetiva do credor, que persiste obrigado a reparar os
danos que porventura venha a sofrer o executado. 113

Impõe-se observar, entretanto, que em algumas hipóte-


ses poderá o simples ajuizamento da execução provisória causar
prejuízo ao devedor. Assim por exemplo, quando o valor do débito é
de tal monta que a simples distribuição da execução, ainda que não
haja expropriação de bens, possa impedir a executada de realizar
negócio lícito ou obter financiamento bancário, do que resulte sua
falência. Nesse caso, sustenta-se possível ao juiz, mesmo sem ex-
pressa previsão legal, impor ao credor a prestação de caução.

No inc. II surge a grande novidade, pois a vedação


total e absoluta hoje existente à prática de atos que importem em
alienação do domínio de bem penhorado, por exemplo, deixa de exis-
tir. A partir da vigência da nova redação do dispositivo, permite-
se não só o levantamento de depósito em dinheiro, mas também a
venda judicial de bem penhorado, ou a prática de outro ato do qual
possa resultar grave dano ao executado, desde que prestada caução
idônea, nos próprios autos da execução, onde também será fixado o
valor.

112
- acórdão da 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (REsp
30.824/SP, relator o Ministro Costa Leite, julgado em 5.4.95, in DJU de
8.5.95, pág. 12.403) entendeu dispensável, mesmo ante a norma expressa do
art. 588, inc. I, do CPC, a prestação de caução pelo exeqüente, apenas
para ajuizar a execução provisória.
113
- no dizer de ARAKEN DE ASSIS (MANUAL DO PROCESSO DE EXECUÇÃO, pág.
335), “Reconhece o art. 588, I, o vetusto princípio qui sentit commoda,
et incommoda sentire debet: à vantagem produzida pela execução provisio-
nal em suas expectativas processuais corresponde, simetricamente, a res-
ponsabilidade objetiva do credor pelo dano por ela criado na esfera jurí-
dica do executado”.

94
A mudança do inc. III é mais de adaptação, eis se
substitui a palavra sentença prevista na redação atual por acór-
dão, pois a execução provisória ocorre justamente quando o recurso
contra a sentença não tem efeito devolutivo ou se cogite de recur-
so extraordinário e/ou especial. Em todos os casos, a decisão que
modificará a situação, em favor do devedor, será sempre um acór-
dão. Do mesmo modo, dispõe que, isso ocorrendo, restitui-se as
partes ao estado anterior, e não as coisas, o que é mais adequado.

Por fim, inovação salutar é a inclusão do inc. IV ao


art. 588, prevendo que os prejuízos do devedor, na hipótese do
inc. III, serão liquidados no próprio processo de execução, desne-
cessário, assim, o ajuizamento de ação autônoma de liquidação. Ob-
viamente, o processo de conhecimento para responsabilizar o credor
está dispensado porque se trata de responsabilidade objetiva, in-
dependente de culpa ou dolo. Assim, liquida-se apenas a extensão e
o valor do dano, sem perquirição acerca do elemento subjetivo da
conduta do exeqüente.

O atual § único do art. 588 passa a ser o § 1º, so-


frendo alteração de nenhum relevo, pois o legislador passa a refe-
rir-se ao inc. III, pura e simplesmente, e não ao inc. III deste
artigo, o que, realmente, era desnecessário. Bastaria dizer inc.
III, sem nomear o artigo, para que se saiba que se está a referir
ao artigo em que se situa o inciso.

Surge, ainda, um § 2º no art. 588, prevendo a hipóte-


se de ser dispensada a caução quando se tratar de crédito de natu-
reza alimentar de até 60 salários mínimos, e desde que o exeqüente
se encontre em estado de necessidade.

O patamar de 60 salários mínimos, ao que parece, foi


eleito pelo legislador como sendo aquele até o qual se trata de
causa de pequeno valor, pois passa a ser, também, o teto para as
causas seguirem pelo procedimento sumário (art. 275, inc. I), para
a dispensa do duplo grau de jurisdição obrigatório nas hipóteses
do art. 475, § 2º, do CPC (com a redação da Lei nº 10.352/01 –
dispositivo já comentado nos itens 1.1.3.1 e 1.3.3.2), assim como
para a alçada dos Juizados Especiais Federais – Lei nº 10.259/01,
art. 3º, caput e também as condenações que, segundo o art. 17 e §
1º, da mesma lei, são cumpridas sem a necessidade de expedição de
precatório.

Exige o dispositivo, todavia, que se trate de crédito


de natureza alimentar, além de encontrar-se o credor em estado de
necessidade. Natureza alimentar porque é o crédito por cuja satis-
fação o credor, no mais das vezes, não pode esperar. Normalmente,
isso ocorrerá nas ações que tenham por objeto benefício previden-
ciário ou pensão decorrente da prática de ato ilícito. Nessas cau-
sas, no mais das vezes, o credor é carente, o que facilitará a
comprovação do estado de necessidade.

95
Logicamente, não se trata a dispensa de caução de
simples faculdade do Juiz. Em verdade, se estiverem presentes os
requisitos do novo § 2º do art. 588, será direito do credor a des-
necessidade da caução.

3.8) As alterações do art. 604:

Redação anterior:

Art. 604. Quando a determinação do valor da condenação depender apenas de cálculo


aritmético, o credor procederá à sua execução na forma do art. 652 e seguintes, instru-
indo o pedido com a memória discriminada e atualizada do cálculo.

Redação atual:

Art. 604. Quando a determinação do valor da condenação depender apenas de cálculo


aritmético, o credor procederá à sua execução na forma do art. 652 e seguintes, instru-
indo o pedido com a memória discriminada e atualizada do cálculo.

o
§ 1 Quando a elaboração da memória do cálculo depender de dados existentes
em poder do devedor ou de terceiro, o juiz, a requerimento do credor, poderá re-
quisitá-los, fixando prazo de até 30 (trinta) dias para o cumprimento da diligência;
se os dados não forem, injustificadamente, apresentados pelo devedor, reputar-
se-ão corretos os cálculos apresentados pelo credor e a resistência do terceiro
será considerada desobediência.

o
§ 2 Poderá o juiz, antes de determinar a citação, valer-se do contador do juízo
quando a memória apresentada pelo credor aparentemente exceder os limites da
decisão exeqüenda e, ainda, nos casos de assistência judiciária. Se o credor não
concordar com esse demonstrativo, far-se-á a execução pelo valor originariamen-
te pretendido, mas a penhora terá por base o valor encontrado pelo contador.

Alterações importantes surgem no art. 604, que passa


a ter dois parágrafos.

3.8.1) A possibilidade de requisição de elementos ne-


cessários para a elaboração do cálculo:

O parágrafo primeiro dispõe que, dependendo a reali-


zação do cálculo de dados disponíveis em poder do devedor ou de
terceiro, se assim requerer o credor, o juiz poderá requisitá-los
com prazo de até 30 dias para atendimento. A requisição, porém,
não pode ser a regra, na medida em que tal hipótese tem vez, nor-
malmente, em demandas movidas contra órgãos públicos, em que as
informações devem ser prestadas para a própria parte, seja pesso-
almente, seja por solicitação do advogado que atua no processo. 114
114
- a experiência do dia a dia do foro recomenda que o juiz só requisite
os elementos para o cálculo depois que a parte comprovar que tentou obtê-
los diretamente, sem êxito. Isso porque, do contrário, o que deve ser

96
Assim, de bom alvitre que o juiz, antes de apreciar o
pedido de requisição, exija que a parte vencedora comprove ter so-
licitado ao órgão público o fornecimento das informações necessá-
rias. Se essas não forem atendidas, então sim, o juiz não só pode-
rá, mas deverá requisitar os informes necessários à apuração do
crédito. O prazo previsto para o atendimento é de no máximo trinta
dias, o que, entretanto, não impede que o juiz, em vista de reque-
rimento do vencido ou terceiro, prorrogue-o, à vista de razoável
argumento – necessidade de maior tempo para pesquisas, especial-
mente em se tratando de informações arquivadas há muitos anos,
etc.

3.8.2) Caso em que o devedor não poderá impugnar o


cálculo apresentado pelo credor:

Novidade, todavia, é a parte final do § 1º, que esta-


belece punição para o caso de não fornecimento dos informes neces-
sários à elaboração da memória de cálculo, pois se passa a permi-
tir que o vencedor da causa elabore a conta com os elementos de
que dispõe, não podendo o vencido impugnar a memória apresentada.
Nesse caso, haverá uma espécie de óbice à interposição de embargos
por parte do devedor, sendo o caso, assim, de sua rejeição limi-
nar. 115

No caso de os elementos necessários à memória de cál-


culo estarem em poder de terceiro, dispõe-se que a negativa desse
em prestá-los ao juízo caracteriza crime de desobediência, previs-
to no art. 330 do Código Penal. 116

Como ambas as punições são extremamente graves, sem-


pre haverá a necessidade de prévia advertência ao devedor ou ter-
ceiro para que tenha ciência do que poderá resultar em vista da
recusa na prestação das informações. E, por prudência, a intimação
deverá ser sempre pessoal ao vencido (em se tratando de pessoa ju-

exceção transformar-se-á, por certo, em regra, com sensível aumento de


trabalho nos já sobrecarregados juízos de todo o país.
115
- na jurisprudência anterior à Lei nº 8.898/94, que extinguiu a li-
quidação da sentença por cálculo de contador, conforme a súmula nº 188 do
extinto TFR, a parte que não impugnasse o cálculo da contadoria não pode-
ria apelar da sentença que o homologasse. Era o seguinte o texto do cita-
do enunciado: NA LIQUIDAÇÃO POR CÁLCULO DO CONTADOR, A APELAÇÃO DA SEN-
TENÇA HOMOLOGATÓRIA RESSENTE-SE DO PRESSUPOSTO DE ADMISSIBILIDADE, QUANDO
O APELANTE NÃO TENHA OFERECIDO OPORTUNA IMPUGNAÇÃO.
116
- a previsão legal nesse sentido é totalmente desnecessária, na medida
em que o art. 330 do Código Penal é extremamente claro. Assim, sua inci-
dência independe de previsão expressa em outro dispositivo legal.

97
rídica de direito público, ao seu representante judicial) ou ao
terceiro, não bastando a simples expedição de ofício entregue no
protocolo da repartição pública ou remetido pela via postal.

O § 2º, por seu turno, permite que o juiz, como já


vem sendo feito na maioria dos foros, 117 remeta os autos ao Conta-
dor judicial para a confecção da memória de cálculo, quando a par-
te vencedora litigar com gratuidade judiciária. Isso, entretanto,
não pode ser regra, na medida em que, no mais das vezes, tal tare-
fa é singela, e pode ser feita com o uso de programas de computa-
dor acessíveis a qualquer escritório de advocacia. Do contrário,
estar-se-ia retornando ao sistema existente antes da Lei nº
8.898/94, que teve em mente, justamente, a agilização do trâmite
dos processos. Porém, se a dificuldade para a elaboração da conta
for plausível, então é direito do vencedor que ela seja elaborada
pelo Contador do Foro.

Ainda, conforme o mesmo § 2º do art. 604, o juiz


também poderá, vislumbrando excessivo o valor postulado pelo cre-
dor, constante de sua memória de cálculo, determinar que seja o
mesmo conferido pela Contadoria do foro. 118 E, se essa apurar va-
lor inferior ao pretendido pelo credor e não concordando esse com
a redução, então a execução terá curso pela importância por esse
pretendida, mas a penhora será feita com base no que apurado pela
Contadoria.

A inovação é salutar, pois muitas vezes o vencedor


apresenta cálculo propositalmente excessivo, justamente para, au-
mentando indevidamente seu crédito, constranger o vencido. Nessa
hipótese, ao juiz caberá a faculdade de, vislumbrando excessivo o
crédito, determinar a apuração do efetivamente devido pela Conta-
doria do foro, procedendo-se à penhora pelo valor então apurado,
não pelo declinado pelo credor.

Lembra-se, todavia, que far-se-á a execução pelo va-


lor originalmente pretendido. Quer dizer que, mesmo sendo feita a
penhora pela importância encontrada pela Contadoria do foro, a
execução terá por base aquela constante do demonstrativo juntado

117
- no Poder Judiciário Estadual gaúcho, por exemplo, existe Ofício-
Circular da Corregedoria-Geral da Justiça (n° 4/96), prevendo a possibi-
lidade de elaboração do cálculo pela contadoria, não só quando a parte
litigar com gratuidade judiciária ou assistência judiciária gratuidade,
mas também quando assim expressamente o requerer.
118
- essa faculdade já é admitida ao juiz, conforme o Superior Tribunal
de Justiça: Apresentada memória de cálculo pela parte exeqüente, nos ter-
mos do art. 604 do CPC, ao juiz é permitido verificar se a conta está
correta, de acordo com o que fora decidido no processo de conhecimento,
e, se necessário, remeter os autos ao contador, para que se verifique a
adequação ao pedido, antes do julgamento da execução. Precedentes (REsp
182.137-SP, 5ª Turma, Relator o Ministro Felix Fischer, julgado em
11.04.00, in DJU de 8.5.00, pág. 108).

98
pelo credor. Caso o devedor pretenda fazer prevalecer aquele va-
lor, e não esse, terá de interpor embargos. Do contrário, a execu-
ção terá prosseguimento pela importância total pretendida, hipóte-
se em que devida a ampliação da penhora, para a segurança integral
do juízo e satisfação do crédito em sua inteireza.

Logicamente, a nova disposição não poderá ser inter-


pretada literalmente. Quando a excessividade do valor postulado
pelo credor for manifesta, saltar aos olhos, ao juiz será faculta-
do limitar o valor da execução, de plano, mediante simples decisão
interlocutória, sem necessidade de submeter o credor à execução
pelo valor maior, e sem que esse precise opor embargos. Todavia,
quando a divergência for pequena, ou então decorrer da diversidade
de critérios entre credor e juiz, para chegar ao valor devido, cu-
ja solução não possa ser alcançada sem um exame mais apurado, qui-
çá via prova pericial contábil, então sim esse deverá limitar-se
a remeter os autos à contadoria, permitindo que a execução prossi-
ga pelo valor pretendido pelo exeqüente, cabendo ao executado,
querendo, opor embargos.

3.9) As mudanças no art. 621:

Redação anterior:

Art. 621. O devedor de obrigação de entrega de coisa certa, constante de título execu-
tivo, será citado para, dentro de 10 (dez) dias, satisfazer a obrigação, ou, seguro o juízo
(art. 737, II), apresentar embargos.

Redação atual:

Art. 621. O devedor de obrigação de entrega de coisa certa, constante de título


executivo extrajudicial, será citado para, dentro de 10 (dez) dias, satisfazer a
obrigação ou, seguro o juízo (art. 737, II), apresentar embargos.

Parágrafo único. O juiz, ao despachar a inicial, poderá fixar multa por dia de atra-
so no cumprimento da obrigação, ficando o respectivo valor sujeito a alteração,
caso se revele insuficiente ou excessivo.

A alteração ocorrida no caput do art. 621 é de extre-


ma importância, pois deixa claro que, a partir da alteração legis-
lativa, a execução de pretensão cominatória só tem cabimento se
embasada em título extrajudicial. 119

119
- lembra-se que, antes da Lei n° 8.953/94, a execução de obrigação de
fazer ou não fazer só poderia ser de título judicial, passando o legisla-
dor, vigente o citado diploma, a permitir expressamente também a execução
de título extrajudicial, o que, todavia, já vinha sendo admitido pela

99
À primeira vista, a mudança pode causar perplexidade,
pois ficaria sem ação o credor de obrigação de fazer ou não fazer
constante de título judicial. Ocorre que o art. 644, também alte-
rado pela lei n° 10.444, deixa claro que o cumprimento da sentença
relativa a obrigação de fazer ou não fazer dispensa o ajuizamento
do processo de execução. Há, assim, simples cumprimento do julga-
do, nos próprios autos do processo de conhecimento, pelo mesmo mo-
do com que se cumpre a decisão antecipatória da tutela art. 461
do CPC).

Rendeu-se o legislador, pois, àqueles que, como OVÍ-


DIO BAPTISTA DA SILVA, 120 defendiam a auto-executoriedade da sen-
tença proferida na demanda que tenha por objeto a entrega de coi-
sa, assim como nas ações possessórias e de despejo.

Desta forma, o título executivo judicial não só não


precisará, mas também não poderá ser executado, pois se assim pre-
tender o vencedor da demanda de conhecimento, ao juiz cumprirá in-
deferir a inicial, por carência de interesse processual.

O parágrafo único, antes inexistente, permite que, ao


despachar a inicial da execução para entrega de coisa certa, o ju-
iz disponha sobre a incidência de multa por dia de atraso, valor
que pode vir a ser alterado oportunamente, em se verificando ex-
cessivo ou insuficiente.

Tal disposição, logicamente, tem incidência quando


houver omissão do título executivo extrajudicial. Prevendo esse a
incidência da multa diária, a disposição legal é clara no sentido
de que a alteração do valor, para mais ou para menos, só pode ter
lugar em momento posterior, pois somente então é que o juiz poderá
aquilatar acerca de sua insuficiência ou excessividade.

A hipótese de insuficiência poderá fazer-se presente


quando o devedor, citado, não cumpre a obrigação, caso em que, po-
de o juiz, de ofício ou a requerimento do credor, convencer-se de

jurisprudência majoritária. Agora, só o título extrajudicial pode embasar


a execução de pretensão cominatória.
120
- Diz o citado doutrinador (Curso de Processo Civil, vol. II, Sérgio
Fabris Editor, Porto Alegre, 3ª edição, 1996, p. 151): “Ora, na ação rei-
vindicatória, o que se pretende é obter a coisa (res) e não o cumprimento
de uma obrigação, daí porque não teria o menor sentido exigir que a sen-
tença condenasse o possuidor, por ela declarado possuidor ilegítimo, a
cumprir uma obrigação que jamais existira. A não ser que – aceitando-se
o pressuposto em que se baseia a doutrina dominante –, imaginássemos que
o direito real transforma-se numa obrigação ao ingressar na relação pro-
cessual, e que o processo, qual máquina milagrosa, vá muito além do que
os próprios juristas romanos poderiam imaginar e crie uma obrigação, onde
jamais existira, antes do processo, qualquer vínculo obrigacional ligando
as partes”.

100
que o baixo valor da multa é estímulo ao descumprimento.

Quanto à excessividade, normalmente, ela será alegada


pelo devedor, que poderá convencer o juiz de que tal circunstância
implica verdadeiro enriquecimento sem causa do credor, que inclu-
sive poderá ter maior interesse no descumprimento da obrigação e
incidência infinita da multa.

3.10) As modificações nos arts. 624 e 627:

Redação anterior:

Art. 624. Se o devedor entregar a coisa, lavrar-se-á o respectivo termo e dar-se-á por
finda a execução, salvo se esta, de acordo com a sentença, tiver de prosseguir para o
pagamento de frutos e ressarcimento de perdas e danos.

Art. 627. O credor tem direito a receber, além de perdas e danos, o valor da coisa,
quando esta não lhe for entregue, se deteriorou, não for encontrada ou não for recla-
mada do poder de terceiro adquirente.

o
§ 1 Não constando da sentença o valor da coisa, ou sendo impossível a sua avalia-
ção, o credor far-lhe-á a estimativa, sujeitando-se ao arbitramento judicial.

o
§ 2 O valor da coisa e as perdas e danos serão apurados em liquidação de sentença.

Redação atual:

Art. 624. Se o executado entregar a coisa, lavrar-se-á o respectivo termo e dar-se-á


por finda a execução, salvo se esta tiver de prosseguir para o pagamento de frutos
ou ressarcimento de prejuízos."

Art. 627. O credor tem direito a receber, além de perdas e danos, o valor da coisa,
quando esta não Ihe for entregue, se deteriorou, não for encontrada ou não for reclama-
da do poder de terceiro adquirente.

o
§ 1 Não constando do título o valor da coisa, ou sendo impossível a sua avaliação,
o exeqüente far-lhe-á a estimativa, sujeitando-se ao arbitramento judicial.

o
§ 2 Serão apurados em liquidação o valor da coisa e os prejuízos.

A alteração do art. 624 é uma adequação à atual reda-


ção do caput do art. 621, que suprime a execução de título judici-
al para a entrega de coisa.

A mesma adaptação ocorre com o art. 627, na medida em


que seu § 1º refere-se à sentença. Como não há mais execução de
julgado para a entrega de coisa, mas simples cumprimento, com a

101
expedição de mandado de imissão na posse (bem imóvel) ou busca e
apreensão (bem móvel), substitui-se a palavra sentença por título.
O mesmo ocorre com o § 2º, onde havia referência à liquidação de
sentença, palavra também suprimida.

Cria o legislador, assim, a possibilidade de liquida-


ção também de título executivo extrajudicial, apenas para a apura-
ção do valor da coisa e das perdas e danos. Ocorre que, sendo
frustrada a execução para entrega da coisa, tem o credor direito
ao seu valor e às perdas e danos, que são apuradas no mesmo pro-
cesso, transformando-se-o em execução por quantia certa, que pre-
cisa ter base em título líquido e certo, pena de nulidade (CPC,
art. 618, inc. I).

Quer dizer que a apuração do valor da coisa e das


perdas e danos, na hipótese do art. 627, será feita via simples
liquidação, desnecessário o ajuizamento de processo de conhecimen-
to para tanto. Logicamente, não prevendo o legislador procedimento
diverso, aplicar-se-á aquele previsto nos arts. 603 usque 611 do
CPC, que tratam da liquidação da sentença.

Ao fim, gize-se que, por força do art. 631 do CPC,


todas as disposições relativas à execução para entrega de coisa
certa são aplicáveis, também, à execução para entrega de coisa in-
certa, observadas, entretanto, as peculiaridades de cada obriga-
ção.

3.11) As adaptações do art. 644:

Redação anterior:

Art. 644. Na execução em que o credor pedir o cumprimento de obrigação de fazer ou


não fazer, determinada em título judicial, o juiz, se omissa a sentença, fixará multa por
dia de atraso e a data a partir da qual ela será devida.

Parágrafo único. O valor da multa poderá ser modificado pelo juiz da execução, verifi-
cado que se tornou insuficiente ou excessivo.

Redação atual:

Art. 644. A sentença relativa a obrigação de fazer ou não fazer cumpre-se de


acordo com o art. 461, observando-se, subsidiariamente, o disposto neste Capítu-
lo.

A nova redação do art. 644 visa a evitar duplicidade


de regulamentação relativamente à obrigação de fazer ou não fazer.

102
Ocorre que, a partir da vigência da Lei n° 10.444, a
sentença proferida em ação cominatória não mais precisa ser execu-
tada em processo autônomo, bastando o simples cumprimento nos pró-
prios autos do processo de conhecimento, como passa a ocorrer,
também, com a sentença relativa a obrigação para entrega de coisa,
que se cumpre conforme o art. 461-A, já comentado.

Ou seja, também a sentença relativa a obrigação de


fazer ou não fazer passa a ter eficácia executiva lato sensu, como
a que impõe a obrigação de entrega de coisa, não mais sendo conde-
natória. Permite-se, assim, que o comando judicial seja cumprido
de imediato, sem necessidade de instauração de nova relação pro-
cessual (execução), o que implica uma satisfação imediata do di-
reito reconhecido em juízo, sem a oportunidade de o réu postergar
ainda mais o cumprimento de sua obrigação.

Suprime-se, ainda, com a alteração, o caput do art.


644, pois disposição idêntica, inclusive com maior abrangência,
foi introduzida ao art. 461, ou seja, o seu novo parágrafo 6º.

Há, assim, uma única disciplina para o cumprimento da


obrigação de fazer ou não fazer, quando se tratar de processo de
conhecimento, seja para o cumprimento da decisão antecipatória da
tutela, seja da sentença. Subsidiariamente, todavia, aplicam-se as
regras previstas no código para a execução desse tipo de obriga-
ção, quando calcada em título extrajudicial – arts. 632 a 645.

3.12) As novidades sobre a penhora - art. 659:

Redação anterior:

Art. 659. Se o devedor não pagar, nem fizer nomeação válida, o oficial de justiça pe-
nhorar-lhe-á tantos bens quantos bastem para o pagamento do principal, juros, custas e
honorários advocatícios.

o
§ 1 Efetuar-se-á a penhora onde quer que se encontrem os bens, ainda que em repar-
tição pública; caso em que precederá requisição do juiz ao respectivo chefe.

o
§ 2 Não se levará a efeito a penhora, quando evidente que o produto da execução dos
bens encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas da execução.

o
§ 3 No caso do parágrafo anterior e bem assim quando não encontrar quaisquer bens
penhoráveis, o oficial descreverá na certidão os que guarnecem a residência ou o esta-
belecimento do devedor.

o
§ 4 A penhora de bens imóveis realizar-se-á mediante auto ou termo de penhora, e
inscrição no respectivo registro.

103
Redação atual:

Art. 659. Se o devedor não pagar, nem fizer nomeação válida, o oficial de justiça pe-
nhorar-lhe-á tantos bens quantos bastem para o pagamento do principal, juros, custas e
honorários advocatícios.

o
§ 1 Efetuar-se-á a penhora onde quer que se encontrem os bens, ainda que em repar-
tição pública; caso em que precederá requisição do juiz ao respectivo chefe.

o
§ 2 Não se levará a efeito a penhora, quando evidente que o produto da execução dos
bens encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas da execução.

o
§ 3 No caso do parágrafo anterior e bem assim quando não encontrar quaisquer bens
penhoráveis, o oficial descreverá na certidão os que guarnecem a residência ou o esta-
belecimento do devedor.

o
§ 4 A penhora de bens imóveis realizar-se-á mediante auto ou termo de penhora,
cabendo ao exeqüente, sem prejuízo da imediata intimação do executado (art.
669), providenciar, para presunção absoluta de conhecimento por terceiros, o
respectivo registro no ofício imobiliário, mediante apresentação de certidão de in-
teiro teor do ato e independentemente de mandado judicial.

o o
§ 5 Nos casos do § 4 , quando apresentada certidão da respectiva matrícula, a
penhora de imóveis, independentemente de onde se localizem, será realizada por
termo nos autos, do qual será intimado o executado, pessoalmente ou na pessoa
de seu advogado, e por este ato constituído depositário.

A alteração levada a efeito no § 4º do art. 659 tem


em vista deixar claro, conforme a jurisprudência, 121 que o regis-
tro da penhora de bem imóvel não é condição de validade da cons-
trição judicial, mas apenas de eficácia contra terceiros. 122 Ou
seja, ainda que não registrada a penhora de bem imóvel, ela será

121
- segundo o Superior Tribunal de Justiça (REsp 292686/SP, 5ª Turma,
Relator o Ministro Jose Arnaldo da Fonseca, julgado em 03.05.01, in DJU
de 25.06.01, pág. 224), pelo § 4º do art. 659, o registro da penhora não
é pressuposto de sua validade, mas sim de eficácia erga omnes. No mesmo
sentido, RT 726/347, 737/435, Lex-JTA 162/491 e 173/57.
122
- Dissente-se, pois, do magistério de ARAKEN DE ASSIS (MANUAL DO PRO-
CESSO DE EXECUÇÃO, Editora Revista dos Tribunais, 7ª edição, São Paulo,
2001, pág. 544/545), quando diz, ao comentar o § 4º do art. 659 do CPC,
que “Desta cláusula final, excelentemente redigida, decorre que a penhora
de imóveis somente se ultimará com o registro. Logo, os efeitos que des-
cendem da penhora, nesta classe de bens, agora se vinculam ao complemento
registral. Em outras palavras, sem registro não há penhora, nem, a forti-
ori, quaisquer dos seus efeitos naturais. É verdade que, confrontada pe-
las conseqüências nocivas desta dispensável modificação legislativa, a
doutrina buscou limitar a eficácia do registro a terceiros. Esta forcada
exegese não condiz com o texto expresso da norma e, se acolhida, implica
a inutilidade da mudança, porque nada se modificaria, substancialmente,
quanto à fraude contra execução”.

104
perfeita, especialmente para dar início, uma vez juntado aos autos
o respectivo mandado de intimação do executado (CPC, art. 738), ao
prazo para a oposição de embargos pelo devedor.

Logicamente, do registro da penhora no álbum imobili-


ário resulta a presunção absoluta (que não admite prova em contrá-
rio), de conhecimento da constrição por terceiros. Deixou claro o
legislador, além disso, que o registro da penhora poderá ser feito
mediante apresentação de certidão de inteiro teor do ato e inde-
pendentemente de mandado judicial. O que não é nada de novo, pois
sempre foi admissível o registro da penhora via simples certidão
do Escrivão do feito, conforme disposição expressa do art. 239 da
Lei dos Registros Públicos.

Aliás, a desnecessidade da expedição de mandado judi-


cial para o registro da penhora é norma que favorece ao credor,
pois podendo fazê-lo mediante simples certidão lavrada pelo Escri-
vão, a providência será levada a efeito de imediato, ao passo que,
dependendo da expedição da mandado, faz-se necessário prévio re-
querimento ao juiz da execução, despacho, expedição do mandado e
assinatura do Juiz, o que, em alguns casos, poderá demandar longo
tempo, inclusive permitindo ao devedor, nesse ínterim, a venda do
imóvel penhorado, caso em que sempre poderá haver discussão sobre
a caracterização ou não de fraude à execução, em vista da diver-
gência jurisprudencial acerca do assunto. 123
Além disso, introduz o legislador o § 5º ao art. 659,
pelo qual se permite expressamente que, em se tratando de bens
imóveis, a penhora possa ser feita por simples termo nos autos,
desde que apresentada certidão da respectiva matrícula, indepen-
dentemente de sua localização, dispensável, assim, a expedição de
mandado ou precatória para a constrição judicial. Não há, ainda,
necessidade de nomeação pelo executado do bem imóvel, para que
possa ser feita a penhora por simples termo nos autos; tal poderá
decorrer, também, de indicação do credor.

123
- são vários os acórdãos do Superior Tribunal de Justiça entendendo
que a fraude à execução só se caracteriza, de maneira absoluta e irretor-
quível, quando o imóvel penhorado foi vendido após o registro da penhora.
Nesse sentido, “Execução. Fraude (inexistência). Penhora (falta de regis-
tro). Boa-fé. De acordo com a orientação do STJ, "não havendo registro da
penhora, não há falar em fraude à execução, salvo se aquele que alegar a
fraude provar que o terceiro adquiriu o imóvel sabendo que estava penho-
rado, o que não ocorre no presente caso" (REsp-140.670, DJ de 9.12.97).
De igual modo, REsp's 2.597, 3.259, 55.491, 76.063 e 92.507. Recurso es-
pecial conhecido pelo dissídio e provido.” (REsp 131871/MG, 3ª Turma,
Relator o Ministro Nilson Naves, julgado em 06.12.99, in DJU 17.04.00,
pág. 56). No mesmo sentido, REsp 249328/SP (julgado em 03.08.00, in DJU
09.10.00, pág. 144 e REsp 245064/MG (julgado em 15.06.00, in DJU
04.09.00, pág. 151), ambos da , 3ª Turma, Relator o Ministro Ari Pargen-
dler.

105
Lavrado o termo, o devedor, se não o subscrever, 124
deverá ser intimado por mandado (ou precatória, se residir em co-
marca diversa) 125 - , especialmente para que se perfectibilize o
depósito e tenha início o prazo para embargos.

Novidade é que se passa a permitir que a intimação da


penhora, quando de tratar de bem imóvel, seja feita ao advogado do
executado, habilitado nos autos, caso em que, conforme a parte fi-
nal do dispositivo em comento, esse será constituído depositário
do bem penhorado. Note-se que, apesar da imprecisão do texto, o
depositário não será o advogado do executado, mas somente esse,
pois é ele quem, se presume, esteja na posse do bem e, assim, pode
e deve assumir o encargo.

Traz certo risco a inovação, porque a intimação da


penhora tem como principal conseqüência o início do prazo para em-
bargos que, assim, poderá fluir sem que o devedor seja intimado
pessoalmente. Tudo com vistas a agilizar o andamento da execução,
e sem nenhum cerceamento da defesa, na medida em que o devedor
foi, pelo menos, citado pessoalmente da execução. Assim, se cons-
tituiu advogado, nada mais lógico que, doravante, dispense-se a
intimação pessoal do executado para que o processo possa prosse-
guir.

Todavia, parece que o legislador foi longe demais ao


permitir que o encargo de depositário seja assumido pelo advogado
do executado que, de qualquer sorte, deve estar imbuído de poderes
especiais, consoante a parte final do art. 38 do CPC. 126 Isso por-
que a condição de depositário tem conseqüências extremamente gra-
ves, pois permite inclusive que o executado, ainda que não assuma
pessoalmente o encargo, esteja sujeito à decretação de sua prisão
civil, na hipótese de desfazer-se do imóvel penhorado. Assim, na
124
- note-se, como bem leciona ARAKEN DE ASSIS (MANUAL DO PROCESSO DE
EXECUÇÃO, pág. 552/553), que quando se cogita de penhora por termo nos
autos, ao contrário da maioria da doutrina, se o bem foi nomeado pelo
devedor, desnecessária a sua assinatura, ou de seu procurador, para a
validade do ato. A única diferença é que, se o devedor ou seu procurador
não subscrever o termo, deverá ocorrer sua intimação pessoal, inclusive
do prazo para embargos. E tal conseqüência, a partir da inclusão do § 5º
ao art. 649, independente de ter ou não o bem sido nomeado pelo devedor.
125
- assim como não se admite a citação do executado pela via postal,
conforme o art. 222, alínea d, do CPC, também não se pode admitir a sua
intimação da penhora pela mesma via.
126
- o que impõe, segundo a jurisprudência majoritária, que a firma do
executado seja reconhecida por notário. Conforme o Superior Tribunal de
Justiça (REsp 154.304-RS, 5ª Turma, Relator o Ministro Felix Fischer,
julgado em 21.5.98, in DJU de 29.6.98, pág. 266), “Para a prática de atos
processuais em geral, é dispensável o reconhecimento de firma no instru-
mento de procuração. Já para a validade das cláusulas com poderes especi-
ais contidos no mandato, necessário que se faça o reconhecimento da fir-
ma”.

106
maioria das vezes, quando constituir advogado para atuar em execu-
ção, o devedor pode não estar totalmente ciente de que esse pode-
rá, inclusive, assumir a condição de depositário em nome do clien-
te, correndo o risco até mesmo de prisão na hipótese de esse des-
fazer-se do bem constrito.

Ideal, assim, que se admitisse a intimação da penhora


na pessoa do advogado, tão-somente para que tivesse início o prazo
para embargos. Não, entretanto, que o encargo de depositário fosse
firmado por outrem em nome do devedor, pois esse deveria ser inti-
mado pessoalmente dessa condição, e cientificado expressamente das
conseqüências do descumprimento do compromisso assumido.

De qualquer sorte, visando a preservar os interesses


do executado, de bom alvitre que o juiz só admita a prestação de
compromisso por procurador caso do instrumento de mandato conste,
expressamente, poderes para firmar compromisso de depositário ju-
dicial, não simplesmente firmar compromisso, como consta na parte
final do art. 38 do CPC, além de exigir também o reconhecimento da
firma do executado por notário – se esse inexistir, o advogado não
estará imbuído de tal poder especial e, mesmo que assuma tal com-
promisso, ele não terá eficácia perante o executado.

3.13) As mudanças nos Embargos de Retenção – art.


744:

Redação anterior:

Art. 744. Na execução de sentença, proferida em ação fundada em direito real, ou em


direito pessoal sobre a coisa, é lícito ao devedor deduzir também embargos de retenção
por benfeitorias.

o
§ 1 Nos embargos especificará o devedor, sob pena de não serem recebidos:

I - as benfeitorias necessárias, úteis ou voluptuárias;

II - o estado anterior e atual da coisa;

III - o custo das benfeitorias e o seu valor atual;

IV - a valorização da coisa, decorrente das benfeitorias.

o
§ 2 Na impugnação aos embargos poderá o credor oferecer artigos de liquidação de
frutos ou de danos, a fim de se compensarem com as benfeitorias.

o
§ 3 O credor poderá, a qualquer tempo, ser imitido na posse da coisa, prestando cau-
ção ou depositando:

I - o preço das benfeitorias;

107
II - a diferença entre o preço das benfeitorias e o valor dos frutos ou dos danos, que já ti-
verem sido liquidados.

Redação atual:

Art. 744. Na execução para entrega de coisa (art. 621) é lícito ao devedor deduzir
embargos de retenção por benfeitorias.

o
§ 1 Nos embargos especificará o devedor, sob pena de não serem recebidos:

I - as benfeitorias necessárias, úteis ou voluptuárias;

II - o estado anterior e atual da coisa;

III - o custo das benfeitorias e o seu valor atual;

IV - a valorização da coisa, decorrente das benfeitorias.

o
§ 2 Na impugnação aos embargos poderá o credor oferecer artigos de liquidação de
frutos ou de danos, a fim de se compensarem com as benfeitorias.

o
§ 3 O credor poderá, a qualquer tempo, ser imitido na posse da coisa, prestando cau-
ção ou depositando:

I - o preço das benfeitorias;

II - a diferença entre o preço das benfeitorias e o valor dos frutos ou dos danos, que já ti-
verem sido liquidados.

A alteração ocorre apenas no caput, com a supressão


da referência à execução de sentença, proferida em ação fundada em
direito real, ou em direito pessoal sobre a coisa.

Sucede que, com a vigência da Lei n° 10.444, não mais


necessária, nem cabível, a execução da sentença para entrega de
coisa, que, como já referido anteriormente, passou a ser cumprida
mediante a simples expedição de mandado, dotando-a o legislador de
eficácia executiva lato sensu.

Assim, os embargos de retenção passam a caber, tão-


somente, na hipótese de execução para entrega de coisa fundada em
título extrajudicial, ante a remissão expressa, no caput, ao art.
621, também alterado.

Justo por isso é que a lei citada, em seu art. 4º,


alterou a localização do art. 744 no Código de Processo Civil,
pois antes ele fazia parte do capítulo II, título III do livro II,
que cogitava dos embargos à execução fundada em sentença.

Na medida em que os embargos de retenção não são

108
mais cabíveis contra título executivo judicial, impunha-se o repo-
sicionamento do artigo 744, que passa a integrar o capítulo III do
mesmo título, que trata dos embargos à execução por título extra-
judicial.

Certo, não se suprimiu o direito de retenção na hipó-


tese de obrigação de entrega de coisa, fundada em direito real ou
direito pessoal sobre aquela, decorrente de sentença. Entretanto,
tal deverá ser exercido no próprio processo de conhecimento, por
ocasião do cumprimento da decisão de antecipação da tutela (art.
461-A) ou da sentença, pois não se pode falar em embargos se não
há mais execução nessa hipótese. 127

3.14) A novidade do art. 814 – Arresto:

Redação anterior:

Art. 814. Para a concessão do arresto é essencial:

I - prova literal da dívida líquida e certa;

II - prova documental ou justificação de algum dos casos mencionados no artigo ante-


cedente.

Parágrafo único. Equipara-se à prova literal da dívida líquida e certa, para efeito de
concessão de arresto, a sentença líquida ou ilíquida, pendente de recurso ou o laudo
arbitral pendente de homologação, condenando o devedor no pagamento de dinheiro
ou de prestação que em dinheiro possa converter-se.

Redação atual:

Art. 814. Para a concessão do arresto é essencial:

I - prova literal da dívida líquida e certa;

II - prova documental ou justificação de algum dos casos mencionados no artigo ante-


cedente.

127
- Alguns julgados do Tribunal de Justiça gaúcho já vinham exigindo,
mesmo antes da vigência da lei n° 10.444, que o direito de retenção fosse
suscitado na contestação, mesmo na ação reivindicatória, cuja sentença,
até então, tinha eficácia condenatória, não executiva lato sensu, do que
só foi dotada pelo legislador da mini-reforma do CPC. Só assim poderia o
réu, na execução da sentença, opor os embargos de retenção, se reconheci-
da a existência dessas benfeitorias e a sua característica – úteis ou
necessárias -, a ensejar o direito previsto no Código Civil, art. 516.
Nesse sentido, Agravo de Instrumento n° 70002520294 e Apelação Cível n°
70001974666, ambos da 17ª Câmara Cível, da relatoria da Desa. Elaine Har-
zheim Macedo, julgados em 19.06.01 e 13.02.01, respectivamente.

109
Parágrafo único. Equipara-se à prova literal da dívida líquida e certa, para efeito
de concessão de arresto, a sentença, líquida ou ilíquida, pendente de recurso,
condenando o devedor ao pagamento de dinheiro ou de prestação que em dinhei-
ro possa converter-se.

No § único do art. 814, faz-se uma pequena adaptação


de seu texto, dele retirando-se a referência a laudo arbitral pen-
dente de homologação, na medida em que, após a Lei nº 9.307/96,
que instituiu a arbitragem no Brasil, as sentenças arbitrais dei-
xaram de carecer da homologação do Poder Judiciário para ter efi-
cácia (art. 18). E como as sentenças arbitrais não são passíveis
de recurso, uma vez proferidas, elas passam a permitir o arresto
na forma do art. 814, caput, inc. I, do CPC, pois se for condena-
tória, consistem na prova literal da dívida líquida e certa.

110
Capítulo IV

ALGUMAS QUESTÕES DE DIREITO INTERTEMPORAL

4.1) Noções introdutórias:

Como toda legislação que altera normas processuais,


desperta polêmica acerca de sua incidência aos processos em anda-
mento. No caso das leis ora em comento, o legislador estipulou,
sabiamente, uma vacatio legis de três meses (o que, obviamente, é
bem diverso de noventa dias). Assim, a Lei nº 10.352, publicada no
DOU de 27.12.01, passou a vigorar a contar de 27.03.02. A Lei nº
10.358, publicada em 28.12.01, entrou em vigor em 28.03.02. Por
seu turno, a Lei nº 10.444, publicada em 08.05.02, entrou em vigor
em 08.08.02.

Pelo sistema do art. 1.211 do CPC 128, as leis proces-


suais, salvo disposição em contrário, aplicam-se de imediato aos
processos pendentes. Isso não quer dizer, porém, que a pronta in-
cidência das novas leis aos feitos em andamento seja irrestrita.

Sobre o assunto, CANDIDO DINAMARCO 129 diz que “Quanto


aos processos pendentes na entrada em vigor da lei nova, seria em
tese admissível (a) aplicá-la desde logo a eles, de modo integral,
(b) preservar todo o processo de alteração legislativa e fazê-lo
prosseguir sob o império da lei velha, ou (c) respeitar as fases
procedimentais já superadas ou em curso (postulatória, ordinató-
ria, etc), impondo a lei nova somente quanto às fases subseqüen-
tes”. Todavia, conclui que “Nenhuma dessas linhas prevalece, mas a
do chamado isolamento dos atos processuais, pela qual a lei nova,
encontrando um processo em desenvolvimento, respeita a eficácia
dos atos processuais já realizados e disciplina o processo a par-
tir de sua vigência”. 130

No dizer de NELSON NERY JUNIOR 131, deve-se “observar,


no particular, o que determina a garantia constitucional fundamen-
tal do respeito ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito
(art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal). Assim, os atos proces-
suais já praticados sob a égide da lei antiga caracterizam-se como

128
- CANDIDO RANGEL DINAMARCO afirma – obra citada, p. 42, diz que “O
art. 1211 só pretendeu disciplinar a vigência do próprio Código, não de
leis futuras que incidam sobre a matéria que ele disciplina”.
129
- obra citada, p. 41.
130
- idem, ibidem.
131
- obra citada, p. 425/426.

111
atos jurídicos processuais perfeitos, estando protegidos pela men-
cionada regra constitucional, não podendo ser atingidos pela lei
nova”.

Desta forma, pode-se concluir que as novas regras


instituídas pelas leis ora em comento têm aplicação imediata aos
processos em curso, ressalvadas, todavia, as fases processuais já
iniciadas. Vejamos as peculiaridades das alterações de maior rele-
vância e que, por isso, podem despertar maiores discussões acerca
da vigência das novas disposições.

4.2) O novo art. 14:

A aplicação do inc. V e § único do art. 14, poderá


ser levada a efeito em qualquer processo, desde que nele haja des-
cumprimento a provimentos mandamentais, assim como embaraços à
efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou
final, a partir da vigência da alteração legislativa. Não poderá
ser aplicada a sanção, entretanto, se o descumprimento ou embaraço
acontecer antes de 28.03.02. Todavia, se o prazo concedido pelo
Juiz para cumprimento de decisão judicial findar a partir de
28.03.02, ainda que tenha iniciado antes, possível será a aplica-
ção da punição prevista no § único em questão.

4.3) A nova hipótese de distribuição por dependência:

Acerca da nova regra de distribuição por dependência


(CPC, art. 253, inc. II), ela será aplicável mesmo que a lide an-
terior, que venha a ser reiterada, tenha sido ajuizada anterior-
mente a 28.03.02. Basta que petição inicial relativa à mesma li-
de, ainda que em litisconsórcio com outros autores, seja distribu-
ída a partir de 28.03.02, inclusive, para que ocorra a distribui-
ção por dependência ali prevista.

4.4) As mudanças no art. 273:

Quanto ao § 3º do art. 273, sua nova redação só será


observada a partir de 08.08.02, ainda que proferida anteriormente
a decisão antecipatória da tutela. Desta forma, para evitar a ne-
cessidade de prestação de caução para o simples ajuizamento da
execução provisória, como previsto no texto atual do art. 588,
inc. I, do CPC, o autor deverá requerer a mesma depois da vigência
da Lei n° 10.444/02.

112
Do mesmo modo, quanto ao § 6º do art. 273, ele só po-
derá ser aplicado a partir da Lei n° 10.444/02, pelo que, antes
disso, inviável ao juiz antecipar a tutela em relação a pedido (s)
incontroverso (s), ou parcela dele (s). Certo, o juiz poderá apli-
car o citado § 6º mesmo por ocasião da sentença, desde que já na
vigência da nova lei, ainda que não o tenha feito logo após a con-
clusão da fase postulatória, momento mais adequado, conforme já
referido no item 3.1.2 retro.

No tocante ao § 7º, a princípio, poderá ser aplicado


tão-somente a contar de 08.08.02. Todavia, não se pode esquecer
que, em verdade, trata-se de providência que já vem sendo observa-
da em alguns pretórios, havendo vários julgados no Tribunal de
Justiça gaúcho admitindo a concessão de cautelar incidente quando
a pretensão do autor não se enquadra no instituto da antecipação
da tutela. 132

4.5) Sobre a ampliação do teto e outras alterações no


procedimento sumário:

A regra do inc. I do art. 275, que passa a admitir


sigam o procedimento sumário as causas de até 60 salários mínimos,
só passa a vigorar quanto aos processos ajuizados a partir de
08.08.02, não podendo ser adotada em relação aos processos já em
andamento, mesmo aqueles que ainda não tenham recebido o despacho
inicial, pois é a data da distribuição que faz incidir a norma de
competência, assim como o procedimento aplicável.

Com maior razão, não poderá imprimir aos processos já


em andamento o procedimento sumário. Até porque isso não seria
produtivo, pois necessário o refazimento de vários atos, com sen-
sível retardo na solução da lide.

132
- nesse sentido: Agravo de instrumento nº 70003293487, 11ª Câmara Cí-
vel, relator o Des. Luiz Ary Vessini de Lima, julgado em 20/12/01; Apela-
ção Cível n° 70002566313, 6ª Câmara Cível, Relator o Des. Carlos Alberto
Álvaro de Oliveira, julgada em 24/10/01; Agravo de instrumento nº
70002198679, 6ª Câmara Cível, relator o Des. Osvaldo Stefanello, julgado
em 04.04.01, e Apelação Cível n° 70000832972, 6ª Câmara Cível, relator o
Des. Carlos Alberto Álvaro de Oliveira, julgado em 22.09.00.

113
4.6) Quanto às mudanças do art. 331 do CPC:

Não haverá problemas maiores de direito intertemporal


na aplicação da nova redação do art. 331.

Obviamente, somente nas audiências realizadas a par-


tir de 08.08.02 as partes poderão ser representadas por preposto.
Antes disso, prevalece a exigência de que se trate de procurador.

Quanto ao § 3º, ainda que só passe a vigorar a contar


de 08.08.02, a novidade por ele introduzida, quanto à possibilida-
de de o juiz não realizar a audiência preliminar, quando vislum-
brar, pelas circunstâncias da causa, ser improvável a conciliação,
não tem grande relevo, considerando a posição do Superior Tribunal
de Justiça 133 no sentido de que a audiência de que se cogita não é
de realização obrigatória, mas facultativa, em que pese respeitá-
veis manifestações doutrinárias 134 e jurisprudenciais 135 em sen-
tido contrário, pena de nulidade.

4.7) Sobre o rol de testemunhas:

Com respeito às novas regras do art. 407, há duas hi-


póteses distintas. Assim, antes de 28.03.02, o juiz não poderá
exigir que rol seja apresentado com todos os requisitos constantes
da nova redação do artigo (ou seja incluindo, também, o local de
trabalho da testemunha). Todavia, quanto ao prazo de apresentação
do rol, ainda que a audiência seja designada por despacho proferi-
do antes de 28.03.02, o juiz poderá fixar prazo maior de cinco di-
as para que o rol seja entregue em cartório que, todavia, não po-
133
- nesse sentido: REsp 252.400/AM (5ª Turma, Relator o Ministro José
Arnaldo da Fonseca, julgado em 13.09.00, in DJU de 23.10.00, pág. 166) e
REsp 242.322/SP (3ª Turma, Relator o Ministro Eduardo Ribeiro, julgado em
21.02.00, in DJU de 15.05.00, pág. 161).
134
- veja-se, a propósito, a posição de NELSON NERY JUNIOR e CANDIDO
DINAMARCO, citados por ATHOS GUSMÃO CARNEIRO (obra citada, pág. 109/110).
135
- segundo a jurisprudência dominante do Tribunal de Justiça gaúcho, a
audiência de que trata o art. 331 do CPC é de realização obrigatória,
salvo se o juiz proferir julgamento antecipado. Nesse sentido: Apelação
Cível n° 596248377, 1ª Câmara Cível, relator o Des. José Francisco Pelle-
grini, julgada em 05/03/97, Apelação Cível n° 599378221, 14ª Câmara Cí-
vel, relator o Des. Aymoré Roque Pottes de Mello, julgada em 23/09/99,
Apelação Cível n° 598266336, 6ª Câmara Cível, relatora a Juíza Marilene
Bonzanini Bernardi, julgada em 24/11/99, Apelação Cível n° 70001166867,
16ª Câmara Cível, relator o Des. Claudir Fidelis Faccenda, julgada em
23/08/00, Apelação Cível n° 70000211144, 15ª Câmara Cível, relator o Des.
Manuel José Martinez Lucas, julgada em 22/11/00, entre tantos outros jul-
gados.

114
derá ser maior do que o número de dias que medear a entrada em vi-
gor do novo dispositivo e a realização da solenidade. 136

4.8) A prova pericial:

No tocante às alterações relativas à prova pericial


(nova redação do § único do art. 433 e os novos arts. 431-A e 431-
B), cumpre observar algumas peculiaridades. Assim, por exemplo,
mesmo que já em andamento a perícia, mas ainda não apresentado o
laudo, desde que tal ocorra a partir de 28.03.02, têm as partes
direito à intimação de que o mesmo foi entregue em juízo, para que
possa ter início o prazo comum de dez dias para a juntada do pare-
cer do respectivo assistente técnico. Entretanto, não se aplicam
as novas regras do arts. 431-A 137 e 431-B se a prova pericial já
estiver em andamento, ainda que apresentado o laudo posteriormente
a 28.03.02.

4.9) Quanto às novidades do art. 461 e o novo 461-A:

Apenas o § 6º do art. 461, que é novo, poderá susci-


tar discussão acerca da incidência da lei processual no tempo. To-
davia, o citado parágrafo, em verdade, apenas reproduz disposição
já existente no art. 644, § único, do CPC, que trata da execução
de obrigação de fazer ou não fazer, aliás, suprimido pela Lei n°
10.444/02, pelo que o juiz poderá, até a entrada em vigência do
novo diploma, aplicar aquela já existente, ainda que se aplique
especificamente à execução, por princípio de analogia, pois não há
razão lógica para não incidir, também, em relação ao processo de
conhecimento.

Já quanto ao novo art. 461-A, a aplicação de seu ca-


put e do § 2º só poderá ocorrer a contar de 08.08.02. Isso ainda
que o processo de conhecimento tenha sido ajuizado anteriormente,
considerando que as regras da antecipação da tutela, tanto anteri-
ores, como as atuais, não estabelecem o momento em que o juiz pode
deferir tal providência.

Cumpre, todavia, distinguir várias situações possí-


veis.

136
- lembra-se, todavia, o que já foi dito (item 2.3) quanto ao prazo
máximo que pode ser fixado pelo juiz, que é de trinta dias.
137
- ressalva-se, contudo, o que já foi afirmado quanto ao art. 431-B,
na medida em que o mesmo é disposição legal desnecessária, sendo possí-
vel, mesmo sem a alteração legislativa em questão, a nomeação de mais de
um perito e, via de conseqüência, a indicação de mais de um assistente
técnico – veja-se item 2.4.2.

115
Assim, se antes da vigência do novo art. 461-A, o ju-
iz indeferiu a antecipação da tutela, em ação para entrega de en-
trega de coisa certa ou incerta, não pela ausência de previsão le-
gal, mas por não preenchidos os requisitos dos arts. 461 e 273 do
CPC, logicamente que não poderá deferi-lo, a partir de 08.08.02,
apenas pela entrada em vigor da Lei n° 10.444/02.

Além disso, se o juiz, mesmo à vista de pedido ex-


presso do autor na inicial, em processo ajuizado antes de
08.08.02, disse que só o apreciaria após a fase postulatória (no
saneador ou na sentença), nada impede que o faça, a partir da vi-
gência do art. 461-A, em momento posterior. Mesmo entendendo que,
inexistente tal dispositivo, seria o caso de indeferimento do pe-
dido, fosse apreciado quando da distribuição do feito.

No tocante ao § 1º, ele apenas reproduz a redação do


art. 629 do CPC, que regula a execução para entrega de coisa in-
certa, que passa a viger, também, para a antecipação da tutela
nessa espécie de demanda.

4.10) O inc. IV do art. 575:

Trata-se de regra que não incide sobre os processos


já ajuizados, mas apenas sobre aqueles aforados a partir de
28.03.02. Com efeito, vigendo no direito processual civil pátrio o
princípio da perpetuatio jurisdicionis 138, nos termos do art. 87
do CPC, tramitando a execução de sentença arbitral em juízo diver-
so daquele previsto pela nova redação do inc. IV, não haverá qual-
quer alteração de competência, continuando a execução seu anda-
mento no juízo em que distribuída.

4.11) As mudanças do art. 584:

Quanto às alterações do art. 584, a instituição do


inc. VI não tem nenhum reflexo na aplicação da lei processual ci-
vil no tempo, na medida em que a sentença arbitral já era título
executivo judicial por força do inc. III do mesmo artigo.

Já em relação a esse último inciso, só será título


executivo judicial a sentença que homologar transação ou concilia-

138
- no dizer de CELSO AGRÍCOLA BARBI, COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL, Editora Forense, 5ª edição, Rio de Janeiro, 1988, volume I, p.
390, “Não houvesse a regra e poderia ser mudado o lugar do processo, tan-
tas vezes quantas o réu transferisse o seu domicilio, se a competência
fosse decorrente dele”, o que, convenhamos, seria um absurdo.

116
ção, ainda que verse matéria não posta em juízo, se proferida a
partir de 28.03.02. Do contrário, poderá, quando muito, constituir
título executivo extrajudicial, nos termos do art. 585, inc. II,
do CPC. 139

A questão tem importância na medida em que os Embar-


gos do Devedor aforados contra título executivo judicial são res-
tritos às matérias previstas no art. 741 do CPC, ao passo que, em
se tratando de título extrajudicial, os embargos são amplos, neles
podendo ser suscitada toda e qualquer matéria que seria passível
de discussão em processo de conhecimento (CPC, art. 745). Assim,
será bastante diversa a defesa do devedor no caso de embargar tí-
tulo judicial ou extrajudicial.

Assim, se os Embargos de Devedor atacarem sentença


homologatória de transação que abranja, também, matéria não posta
em juízo, proferida antes de 28.03.02, então eles impugnarão dois
títulos: um judicial (homologação da transação quanto ao que era
objeto da lide) e outro extrajudicial.

Todavia, homologada a transação a partir de 28.03.02,


inclusive, então os embargos estarão atacando um título executivo
judicial, caso em que sua abrangência estará limitada ao art. 741
do CPC.

4.12) A respeito da execução provisória:

As alterações levadas a efeito na execução provisória


só passam a ser aplicáveis a contar de 08.08.02. Assim, para as
execuções ajuizadas até então, necessária a prestação de caução
140
; a partir da vigência da Lei n° 10.444/02, entretanto, a caução
é desnecessária.

Quanto aos demais incisos do art. 588, assim como o §


2º, que é totalmente novo, como eles dizem respeito a atos proces-
suais estanques dentro da execução, tais disposições poderão ser
aplicadas mesmo em execuções ajuizadas antes de 08.08.02. Assim,
por exemplo, mesmo que ajuizada a execução provisória há vários

139
- se transação referendada pelo Ministério Público ou Defensoria Pú-
blica e, até mesmo, pelos Advogados dos transatores, é reconhecida como
título executivo extrajudicial, com mais razão deve ter a mesma eficácia
a transação ou conciliação homologada por juiz, desde que tenha versado
sobre matéria estranha ao litígio judicial.
140
- vide acórdão da 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (REsp
30.824/SP, relator o Ministro Costa Leite, julgado em 5.4.95, in DJU de
8.5.95, pág. 12.403), já citado, dispensando a prestação de caução pelo
exeqüente, apenas para ajuizar a execução provisória.

117
anos, poderá o juiz, eventualmente, permitir a alienação do bem
penhorado, com a necessária caução por parte do credor. E isso
ainda que tenha existido, antes da data citada, decisão indeferin-
do-a, em vista da antiga redação do art. 588.

4.13) As mudanças do art. 604:

Quanto aos novos §§ 1º e 2º do art. 604, sua aplica-


ção só poderá ocorrer a partir de 08.08.02. Note-se que as provi-
dências previstas em citados dispositivos antecedem ao ajuizamento
da execução. Especial atenção cumpre ser dada à parte final do §
1º, prevendo que o devedor não poderá impugnar o cálculo apresen-
tado pelo credor, na hipótese de negar-se aquele a fornecer os
elementos de que só ele dispõe para a sua elaboração.

Assim, para a incidência de tal dispositivo legal,


que, como já dito no item 3.8.2 retro, veda ao devedor discutir o
cálculo apresentado pelo credor, criando uma regra de impedimento
à oposição dos Embargos do Devedor, mister que o prazo de 30 dias
de que aquele dispõe para atender à requisição judicial tenha iní-
cio já na vigência da Lei n° 10.444/02, pena de não ser aplicável
a penalidade extremamente grave ao devedor que se nega a fornecer
elementos para a apuração de seu débito. Logicamente, nada impede
que o juiz, negando-se o devedor a atender à requisição judicial
agora prevista expressamente, mas que hoje já vem sendo aplicada
no Foro 141, determine nova requisição, desta vez com a advertência
expressa do novo § 1º citado.

Ainda, a parte final do § 2º só poderá ser aplicada a


partir de 08.08.02, pois atualmente não há regra que permita ao
juiz, salvo em sendo manifestamente excessiva a pretensão, ou se-
ja, quando o absurdo do valor postulado saltar aos olhos, limitar
a execução para valor inferior ao que consta da memória de cálculo
apresentada pelo credor.

141
- hipótese freqüente em que se faz necessária a requisição judicial de
elementos para a confecção da memória de cálculo é em demandas movidas
por servidor público contra pessoa jurídica de direito público visando a
reajustes salariais, pois no mais das vezes aquele não conserva seus con-
tracheques de pagamento por muito tempo. Assim, por ocasião da execução,
o servidor não dispõe das folhas de pagamento relativas ao período do
reajuste obtido em juízo, pelo que se impõe, sempre, a requisição à re-
partição pública respectiva da relação dos pagamentos feitos ao servidor,
relativamente ao período compreendido no título executivo.

118
4.14) O art. 621:

Como já dito alhures, a sentença relativa à obrigação


da entrega de coisa passou a dispensar a instauração de processo
de execução, havendo, após o trânsito em julgado, simples cumpri-
mento do julgado, com a imissão do autor na posse do imóvel ou a
busca e apreensão do bem móvel.

Todavia, em relação às execuções já em andamento,


elas seguem ritmo normal, inclusive com o julgamento de eventuais
embargos de retenção aforados.

Porém, mesmo que a sentença tenha sido proferida an-


tes da mudança legislativa, a partir de 08.08.02 o credor não po-
derá ajuizar a execução para entrega de coisa, em vista da dispo-
sição expressa do CPC, sendo suficiente simples requerimento ao
juiz para o cumprimento do julgado. Se ainda assim o fizer, cumpre
ao juiz indeferir a inicial, por carência de interesse processual.

Isso não impede, entretanto, com relação aos proces-


sos cujo prazo para contestação tenha iniciado antes da vigência
da Lei nº 10.444, quando não havia a necessidade de suscitar na
contestação o direito de retenção, conforme a doutrina e jurispru-
dência majoritárias, que poderia ser objeto de embargos à execu-
ção, que o réu exerça tal direito, ainda que não o faça sob o nome
de embargos de retenção que, também a partir da data citada, não
mais são cabíveis contra título judicial.

Quanto ao § 1º do art. 621 do CPC, inexistente na re-


dação anterior desse dispositivo, levando em conta que o momento
processual para a fixação da multa é o despacho inicial, assim que
distribuída a execução, à primeira vista poder-se-ia concluir que
somente se esse despacho fosse proferido a partir de 08.08.02 é
que o juiz poderia fixar multa diária para o caso de descumprimen-
to da obrigação.

Contudo, não se esqueça a razão de ser de tal dispo-


sição, que veio reforçar os meios de que dispõe o credor para o
cumprimento da obrigação assumida pelo devedor ou imposta por sen-
tença. Assim, ainda que o juiz já tenha, quando da vigência da Lei
n° 10.444/02, despachado a inicial da execução, determinando a ci-
tação do devedor, nada impede que, sobrevindo o dia 08.08.02, de
ofício ou a requerimento do credor, aplique o citado § 1º.

119
4.15) Quanto às alterações do art. 627:

As mudanças passam a viger apenas a partir de


08.08.02, mas podem, relativamente ao § 1º, ser aplicadas às exe-
cuções aforadas anteriormente. Quanto ao § 2º, na medida em que se
trata de fase anterior à execução, basta que a liquidação seja
postulada a partir da vigência da lei n° 10.444/02 para que se
possa proceder à prévia liquidação de título executivo extrajudi-
cial, dispensável o manejo de processo de conhecimento para a apu-
ração do valor da coisa e perdas e danos.

4.16) Quanto ao art. 644:

A posição é a mesma em relação ao art. 621. Assim, a


sentença proferida em ação cominatória cumpre-se mediante a sim-
ples expedição de mandado, intimando-se o réu para atender ao jul-
gado, no prazo assinado pelo juiz (na sentença ou em momento pos-
terior), pelo que não há ensejo a embargos.

Tal procedimento utiliza-se mesmo em relação a pro-


cessos ajuizados antes de 08.08.02 e, inclusive, se a sentença
transitou em julgado sob a vigência da legislação antiga. Basta
que o cumprimento daquela seja requerido quando já em vigor a Lei
nº 10.444 para que se efetive sem a necessidade de execução.

Logicamente, a lei nova não tem influência sobre as


execuções já ajuizadas com base na redação antiga do art. 621, que
têm prosseguimento normal, inclusive com a possibilidade de o de-
vedor defender-se via embargos.

4.17) A aplicação do art. 659:

As alterações do artigo em questão passam a vigorar


em 08.08.02, aplicando-se inclusive às execuções ajuizadas anteri-
ormente. Problema poderá surgir quanto ao § 5º, especialmente em
relação ao depósito constituído via intimação do advogado do exe-
cutado, que, logicamente, só poderá ocorrer a contar da data cita-
da, ainda que a penhora seja feita antes dela, pois a constrição
judicial, para sua validade, independe do depósito. Destarte, não
constituem a penhora e depósito do bem constrito um ato judicial
único, mas atos diversos.

120
4.18) Quanto ao art. 744:

A princípio, pode-se entender que, com a vigência da


Lei n° 10.444/02, os embargos de retenção não mais serão cabíveis
contra título executivo judicial, mas apenas para opor-se contra
título extrajudicial. A regra, realmente, é essa, considerando que
não mais prevê o legislador a possibilidade dessa defesa contra
sentença que, doravante, carece da necessidade de execução para
seu cumprimento, conforme alhures comentado.

Entretanto, não se pode esquecer que, até a modifica-


ção do art. 744, havia expressa previsão de embargos de retenção
na hipótese de execução para entrega de coisa, em se tratando de
direito real. Assim, inadmitir, pura e simplesmente, citados em-
bargos, a contar de 08.08.02, significaria cercear a defesa do
réu, por exemplo, em ação reivindicatória (para os que sempre en-
tenderam, como a jurisprudência majoritária, que se tratava de
ação cuja sentença, pela eficácia condenatória, necessitava da
instauração de execução, para seu cumprimento), considerando que,
até então, ele vislumbrava a possibilidade de, mesmo não argüindo
o direito de retenção na contestação, fazê-lo quando da execução
do julgado.

Desta forma, a aplicação da nova redação do art. 744


só poderá ocorrer nas hipóteses em que o prazo para contestação,
nas ações para entrega de coisa, transcorreu integralmente já na
vigência da Lei n° 10.444/02, considerando que, a partir de então,
estava ciente o réu de que o direito de retenção teria de ser
exercido no processo de conhecimento, não podendo ser protelado
para a execução, que não mais existe.

Ou seja, se o prazo para contestação já havia inicia-


do antes da alteração legislativa, mesmo que transcorrido um dia
apenas, não precisava o réu suscitar o direito da retenção na peça
defensiva. Quando muito, poderia o juiz, nos processos em que o
prazo para contestação teve início antes da vigência da Lei n°
10.444/02, mas findou quando já em vigor o novo diploma legal,
determinar a devolução integral do mesmo ao réu e deixar claro que
ele, se quiser, deverá deduzir o direito de retenção na fase de
conhecimento da demanda. Não o fazendo o réu, nem interpondo re-
curso contra essa decisão, vedada será a utilização dos embargos,
após o trânsito em julgado da sentença.

Note-se que os embargos serão cabíveis mesmo que o


cumprimento da sentença, transitada em julgado antes da vigência
da Lei n° 10.444, seja requerido já vigorando tal diploma, que se-
rá feito sem a necessidade de ajuizamento da execução, caso em
que, mesmo que não possam ser chamados de embargos, pela ausência
de execução, tem o réu o direito de opor-se à entrega da coisa,
suscitando o direito de retenção, aplicando-se, por analogia, o
disposto na nova redação do art. 744.

121
Na medida em que o direito de retenção está assegura-
do pelo direito material (Código Civil, art. 516), e que a todo
direito corresponde uma ação (mesmo códex, art. 75), não se poderá
negar o uso dos embargos, mesmo que dispensada a instauração do
processo de execução.

Lembra-se, todavia, que se o réu, mesmo tal não sendo


necessário (prazo de contestação iniciado antes da vigência da lei
n° 10.444), tiver suscitado no processo de conhecimento o direito
de retenção, rejeitado pela sentença, logicamente que não haverá
direito à repetição dessa defesa, quando o autor exigir o cumpri-
mento do julgado.

Por fim, uma vez ajuizada a execução da sentença sob


a égide da legislação anterior, logicamente que a única forma de o
devedor exercer o direito de retenção será via embargos, pelo que
não se poderá rejeitar liminarmente os que opostos tempestivamen-
te, ainda que na vigência da lei nº 10.444.

4.19) Regras de direito intemporal sobre recursos:

No tocante aos dispositivos alterados pela Lei nº


10.352/02, quase todos eles referindo-se a recursos 142, lembra-se
a lição de NELSON NERY JUNIOR 143, para quem, em relação aos recur-
sos, a regra de que os atos processuais já praticados regem-se pe-
la lei anterior, não podendo ser atingidos pela lei nova, deve ser
particularizada, na medida em que a lei vigente no dia em que rea-
lizado o julgamento é a que serve para definir o cabimento do re-
curso. Por dia do julgamento, entenda-se, no primeiro grau de ju-
risdição, aquele em que a sentença torna-se pública, seja pela en-
trega em mãos do escrivão, seja pela sua prolação em audiência. No
Tribunal, o dia do julgamento é aquele em que realizada a sessão
do colegiado na qual o Presidente anuncia o decisum. 144 Já a lei
vigente no dia em que efetivamente interposta a irresignação regu-
la o aspecto procedimental do recurso.

142
- ressalta-se, todavia, que para a quase totalidade da doutrina, o
duplo grau de jurisdição obrigatório não é recurso, em que pese tenha, no
Tribunal, procedimento similar a esse, inclusive cabendo, havendo diver-
gência, embargos infringentes, bem assim a interposição de recurso extra-
ordinário e/ou especial.
143
- idem, pp. 426 e 427.
144
- logicamente, se o julgamento tem início em uma sessão, mas só é con-
cluído em outra, por qualquer motivo (pedido de vista, falta de quorum
legal ou regimental, etc), mesmo que meses depois, considera-se como dia
do julgamento aquele em que o mesmo é concluído.

122
4.19.1) O duplo grau de jurisdição obrigatório:

Assim, quanto às novas regras do duplo grau de juris-


dição obrigatório, passam a incidir em relação às sentenças publi-
cadas (entregues em cartório pelo juiz, em mãos do escrivão ou
prolatadas em audiência) a partir de 27.03.02.

Com isso, toda a sentença que decretar a anulação do


casamento, tornada pública a partir de 27.03.02, inclusive, não
mais estará sujeita a reexame pelo Tribunal como condição para seu
trânsito em julgado.

O mesmo raciocínio é aplicável às exceções, relativa-


mente às quais não caberá o duplo grau de jurisdição obrigatório,
previstas nos §§ 2º e 3º do art. 475, que só terão incidência so-
bre as sentenças publicadas a partir de 27.03.02.

Isso quer dizer que não se pode, de forma alguma,


dispensar o reexame necessário das sentenças que, nos termos da
redação do art. 475, vigente até 26.03.02, inclusive, estavam a
ele sujeitas. Por isso, impedidos estão os Tribunais de apelação,
pura e simplesmente, de deixar de proceder ao reexame necessário
dos processos que estiverem em tramitação nas Cortes ou lá chega-
rem a partir de 27.03.02, pois importante, para fins de incidência
das novas regras do art. 475, é a data em que realizado o julga-
mento no primeiro grau de jurisdição.

Não poderão, assim, fazer como o Superior Tribunal de


Justiça, que editou, quando da entrada em vigor da Lei nº
9.756/98, a Resolução nº 01/99, determinando que todos os recursos
especiais já interpostos, relativos a decisões interlocutórias,
inclusive os já admitidos e até mesmo os em andamento naquela Cor-
te, ficariam retidos até a subida do recurso relativo à decisão
final da causa. Com isso, houve uma aplicação retroativa da citada
lei, em detrimento do recorrente que manejou a irresignação segun-
do o regime legal anterior, e que previa sua subida sem qualquer
restrição, ferindo os preceitos da irretroatividade da lei, da
proteção constitucional do direito processual adquirido, além das
normas precípuas relativas a aspectos intertemporais dos recursos.
145

4.19.2) O recurso extraordinário e/ou especial em


acórdão não unânime em parte:

Perplexidade poderá surgir no tocante à aplicação do


art. 498 e § único, alterados pela legislação citada. Trata-se de

145
- NELSON NERY JUNIOR, obra citada, p. 432.

123
hipótese de cabimento e admissibilidade 146 ou de procedimento do
recurso 147, eis que a redação ainda vigente dispõe que dois serão
os recursos extraordinário e/ou especial a serem interpostos, fi-
cando sobrestado (s) o (s) primeiro (s) até o julgamento dos em-
bargos infringentes, o que, à primeira vista, pode ser entendido
como regra de procedimento recursal? A partir de 27.03.02, apenas
um recurso extraordinário e/ou especial será cabível. Sustenta-se
que a primeira hipótese é mais adequada, na medida em que a nova
redação do art. 498, em verdade, suprimiu um recurso, dispondo que
apenas um extraordinário e/ou especial poderá ser manejado, mesmo
quando parte do decisum for passível de embargos infringentes.
Assim, só poderá ter aplicação o novo art. 498 em relação aos jul-
gamentos ocorridos a contar da vigência da nova lei, ainda que,
proferida a decisão anteriormente a 27.03.02, o prazo recursal
finde na vigência da lei nova.

4.19.3) A possibilidade de supressão do primeiro grau


de jurisdição:

O novo § 3º do art. 515 do CPC não regula, exatamen-


te, matéria atinente a recurso, seja de cabimento e admissibilida-
de, seja de procedimento. Trata-se de regra específica de julga-
mento de apelação, e que se aplica a todos aqueles realizados a
partir de 27.03.02. Isso significa que, independentemente da data
em que proferida a sentença ou interposta a apelação, poderá o
Tribunal suprimir o primeiro grau de jurisdição, preenchidos os
requisitos do referido § 3º, bastando que o julgamento seja con-
cluído na vigência da nova lei, desimportando, inclusive, que ele
tenha iniciado antes da data citada. 148

4.19.4) O descumprimento do § único do art. 526:

Trata-se de regra de procedimento do recurso e, as-


sim, incide a lei vigente na data de sua interposição. Deste modo,
interposto o agravo de instrumento antes de 27.03.02, mas vencido
o prazo do caput (três dias) já na vigência da Lei n° 10.352/01,
não tem o agravante o ônus de atendê-lo, razão pela qual a sua não

146
- nesse caso, a lei regente é a da data do julgamento.
147
- caso em que a lei incidente é a da data da interposição do recurso.
148
- na hipótese, por exemplo, de pedido de vista ou qualquer outro moti-
vo que tenha levado à não conclusão do julgamento no dia inicialmente
aprazado.

124
observância não poderá resultar na inadmissibilidade do recurso,
caso argüida a omissão pelo agravado.

4.19.5) Regras de tramitação do agravo de instrumen-


to, no Tribunal:

A princípio, todas as regras do art. 527 do CPC dizem


respeito ao procedimento do agravo de instrumento no juízo ad
quem. Nesse caso, elas incidem apenas em relação aos recursos in-
terpostos a partir de 27.03.02.

Quanto ao inc. III, que permite ao relator conceder o


efeito suspensivo ativo, não há problemas de aplicação da lei pro-
cessual no tempo, na medida em que tal providência já vinha sido
admitida pela jurisprudência majoritária. 149

O problema surge, todavia, na aplicação do inc. II do


art. 527, que permite ao Relator converter o agravo de instrumento
em retido. Aqui, está-se diante de regra relativa ao procedimento
do recurso considerando que faculta ao relator a transformação de
um recurso em outro. Aplica-se, pois, a lei vigente na data de in-
terposição recursal, pelo que, independentemente da data em que
proferida a decisão interlocutória recorrida, duas serão as solu-
ções. Os agravos de instrumento interpostos até 26.03.02 não pode-
rão ser transformados em agravos retidos; já os manejados a partir
de 27.03.02, inclusive, estarão sujeitos ao novo procedimento, ou
seja, poderá o Relator, nas hipóteses do inc. II citado, determi-
nar a retenção do recurso.

Vale aqui o comentário feito com relação ao reexame


necessário. 150 Nenhum agravo de instrumento já em trâmite nos Tri-
bunais de apelação, e ainda não julgado em 27.03.02, poderá ser
convertido em agravo retido, devendo ser julgado quanto ao mérito,
seja por decisão monocrática do Relator, seja pelo colegiado com-
petente.

4.19.6) Sobre o cabimento e processamento dos embar-


gos infringentes:

Quanto aos embargos infringentes, o art. 530 diz res-


peito a regra de cabimento do recurso. Assim, aplica-se a lei vi-
gente na época em que proferido o julgamento em que se operou a
divergência. Quer dizer: se o julgamento for concluído a partir de

149
- remete-se o leitor ao item 1.8.2.
150
- item 4.19.1.

125
27.03.02, inclusive, não mais serão cabíveis os embargos na forma
ampla como hoje estão previstos. 151 E isso mesmo que o julgamento
tenha iniciado antes da vigência da nova lei. Importa é a data em
que ele tenha sido concluído, com os votos de todos os membros do
colegiado, proclamando seu presidente o resultado final.

Questão que pode despertar discussão nos tribunais é


a hipótese do julgamento do colegiado ser concluído antes da vi-
gência da nova lei, tendo sido interpostos embargos de declaração
contra o acórdão, imprescindíveis para suprir a omissão a respeito
do ponto do voto vencido em que ocorreu a divergência, que foi pe-
la reforma da sentença ou pela procedência da rescisória, julgados
aqueles já sob o império da nova lei. 152 Nesse caso, seria a parte
vencida prejudicada pelo novo teor do art. 530, que não mais admi-
te a possibilidade de interposição dos embargos infringentes,
quando, não houvesse a necessidade de esclarecer o julgado, eles
seriam cabíveis? A resposta mais razoável é negativa, na medida em
que, tivesse sido o voto vencido lavrado corretamente, não haveria
a necessidade dos embargos de declaração que, na verdade, não
constituem um novo julgamento, mas se limitam a integrar, comple-
mentar, o decisum proferido em apelação ou ação rescisória.

Já os demais artigos alterados pela reforma, relati-


vamente aos embargos infringentes (531, 533 e 534), dizem respei-
to, exclusivamente, a normas procedimentais e, assim, eles são
aplicáveis àqueles interpostos a partir de sua vigência. Destarte,
os embargos interpostos até 27.03.02 serão processados nos termos
da atual redação, que prevê, especialmente, o juízo de admissibi-
lidade antes das contra-razões do embargado e a necessidade de
sorteio de novo relator. Todavia, se manejado o recurso a partir
de 27.03.02, inclusive, então o relator do acórdão embargado, que
poderá ser o mesmo dos infringentes, se não dispuser em contrário
o regimento interno do Tribunal, só apreciará o cabimento dos em-
bargos após a resposta do embargado.

4.19.7) Regras sobre o agravo de instrumento contra


decisão denegatória de recurso extraordinário e/ou especial:

Como os dispositivos do art. 554 que foram alterados


(§§ 1º e 2º) regulam apenas aspectos procedimentais, então a nova
redação aplica-se aos agravos interpostos a partir de sua vigência

151
- na redação anterior, poderiam os infringentes ser interpostos mesmo
que a sentença fosse confirmada ou que a ação rescisória fosse julgada
improcedente, havendo um só voto vencido. E, quanto à apelação, não im-
portava se a divergência residisse ou não no mérito da lide.
152
- nesse sentido, veja-se acórdão do Supremo Tribunal Federal publica-
do na RTJ 104/796.

126
– 27.03.02 -, ainda que o prazo para interposição tenha iniciado
antes. Desta forma, mesmo que o prazo para tais recursos finde de
26 de março em diante, as novas regras não incidem quanto aos re-
cursos interpostos anteriormente.

Quanto às peças que devem formar o instrumento, não


há diferença alguma, na medida em que a certidão da intimação do
acórdão que deu ensejo ao recurso denegado já vem sendo exigida
pelo Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça.

Diferença haverá, entretanto, em relação ao § 2º, bem


assim à parte final do § 1º, pois interposto o agravo a partir da
vigência dos novos dispositivos, haverá dispensa de autenticação
das cópias das peças do processo que formam o instrumento 153. Do
mesmo modo, desnecessário qualquer pagamento, seja a título de
custas, seja de despesas postais.

4.19.8) O que acontece com os arts. 542 e 547, § úni-


co:

Aqui, também se cogita de regra de procedimento re-


cursal, pelo que só tem incidência em relação a recursos interpos-
tos a partir da vigência dos novos dispositivos. Deste modo, mesmo
nos Estados ou regiões em que já esteja implantado o serviço de
protocolo integrado, servindo como protocolo de petições as ser-
ventias judiciais de primeiro grau de jurisdição, ou seja, já
exista a delegação prevista no novo § único do art. 547, ele só
servirá, para fins de tempestividade de recurso extraordinário
e/ou especial, para os recursos interpostos a partir de 27.03.02,
inclusive. Desta forma, mesmo que, quando chegarem tais petições à
Secretaria do Tribunal, já estejam em vigência as novas regras ci-
tadas, os recursos a que se referem só serão tempestivos se ainda
não ultrapassado o prazo legal para serem manejados.

4.19.9) Sobre o art. 555:

A única alteração que poderá suscitar dúvidas de di-


reito intertemporal é sobre a nova redação do § 1º do art. 555,
que permite a afetação do julgamento do recurso (apelação ou agra-
vo) diretamente por órgão colegiado competente, conforme o regi-
mento do Tribunal. Trata-se de regra de cabimento e de admissibi-
lidade ou de procedimento recursal? Na primeira hipótese, a afeta-

153
- a mesma regra, obviamente, aplica-se para o agravado, quando de sua
resposta, sendo-lhe facultada a juntada de cópias de peças dos autos,
caso em que, conforme foi dito no item 1.10.4, também poderá seu advogado
declarar sua autenticidade.

127
ção do julgamento só poderia ocorrer em relação a recursos inter-
postos contra decisões 154 proferidas a partir da vigência da nova
lei, ou seja, 27.03.02. Na segunda, ter-se-ia de observar a data
da interposição do recurso, o que significa que o novo § 1º só po-
deria ser aplicado a irresignações manejadas a partir de 27.03.02,
inclusive, independentemente da data em que tornado público o de-
cisum recorrido.

Com efeito, a primeira hipótese não pode ser aceita,


pois a regra em comento não diz respeito ao cabimento e admissibi-
lidade do recurso, não alterando nem limitando o uso de qualquer
irresignação cabível contra decisões judiciais. Ou seja, antes ou
depois de 27.03.02, as decisões interlocutórias serão sempre ata-
cáveis via agravo de instrumento e as sentenças, via apelação.

Por isso, tem-se que se trata de regra procedimental


de recurso, que só poderá ser aplicada aos interpostos a partir de
27.03.02, porque permite que o julgamento seja afetado a órgão co-
legiado de composição maior do que o da Câmara ou Turma. Há, as-
sim, alteração na competência do órgão julgador. E, aplicada a hi-
pótese ao exemplo já referido, existente no Tribunal de Justiça
gaúcho 155, já distribuído o processo a uma Câmara, as partes já
sabem de antemão qual será o resultado do recurso interposto. To-
davia, afetado o julgamento para órgão colegiado com composição
maior (serão, pelo menos, duas câmaras a formá-lo), o resultado
poderá ser diverso, em prejuízo das partes.

154
- leia-se, aqui, decisão em sentido amplo, ou seja, abrangendo inter-
locutórias e sentenças.
155
- veja-se o item 1.12.1.

128
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ZAVASCKI, Teori Albino, Antecipação da Tutela, Editora Saraiva, 3ª


edição, São Paulo, 2000

130
ÍNDICE SISTEMÁTICO

Lei nº 10.352, de 26 de dezembro de 2.001 ............

1.1) Duplo grau de jurisdição obrigatório - algumas considerações


sobre o instituto .........................
1.1.1) A nova disciplina do duplo grau de jurisdição obrigatório
.............................................
1.1.1.1) Não há mais reexame necessário da sentença que decretar o
casamento ....................................
1.1.1.2) O duplo grau de jurisdição obrigatório nas causas de in-
teresse da Fazenda Pública lato sensu .................
1.1.1.3) O reexame necessário nos embargos contra execução da dí-
vida ativa ............................................
1.1.1) A nova redação do § 1º do art. 475 ...............
1.1.3) As hipóteses de dispensa do duplo grau de jurisdição obri-
gatório .............................................
1.1.3.1) Dispensa pelo valor da condenação ou do direito contro-
vertido ...........................................
1.1.3.2) Dispensa pelo valor da dívida ativa em execução
1.1.3.3) Aspecto comum nas duas hipóteses do novo § 2º ..
1.1.4) Dispensa do reexame necessário se a sentença estiver de
acordo com a jurisprudência dominante ................
1.1.4.1) O conceito de jurisprudência dominante .........
1.1.4.2) As novidades do § 3º do art. 475 ...............
1.1.5) O que foi suprimido do anteprojeto nº 15 .........

1.2) Os recursos extraordinário e especial na hipótese de julga-


mento não unânime em parte .........................
1.2.1) A situação atual .................................
1.2.2) A nova proposta do legislador ....................

1.3) Da supressão do primeiro grau de jurisdição ........


1.3.1) Posição atual da doutrina e jurisprudência .......
1.3.2) A novidade .......................................
1.3.3) A missão da jurisprudência .......................

1.4) Nova hipótese de efeito apenas devolutivo à apelação

1.5) A retratação do juiz, no agravo retido .............

1.6) O agravo após a prolação da sentença ...............

1.7) Não-atendimento do art. 526, caput, do CPC, pelo agravante –


hipótese de inadmissibilidade do agravo, se argüido pelo agravado
...................................
1.7.1) A posição atual da jurisprudência – nenhuma conseqüência
pelo descumprimento do art. 526 do CPC .....
1.7.2) A mudança salutar – descumprido o art. 526, o agravo não
terá seguimento, se assim quiser o agravado .........

131
1.8) Agravo de instrumento – providências preliminares do Relator
.................................................
1.8.1) A conversão do agravo de instrumento em retido ...
1.8.2) A explicitação dos poderes do Relator quanto ao efeito sus-
pensivo ativo ........................................
1.8.3) A intimação do Advogado do agravado pela imprensa oficial,
em qualquer hipótese ...........................
1.8.4) A intervenção do Ministério Público ..............
1.9) Embargos infringentes – limitação de seu cabimento e novas
regras para seu processamento .....................
1.9.1) A situação atual dos embargos infringentes .......
1.9.2) Novo requisito de admissibilidade – divergência sobre o mé-
rito ................................................
1.9.3) A mudança em relação à ação rescisória ...........
1.9.4) As modificações do processo e julgamento dos infringentes
............................................

1.10) O agravo contra decisão denegatória de recurso extraordiná-


rio e/ou especial ............................
1.10.1) As exigências do Supremo Tribunal Federal e Superior Tri-
bunal de Justiça quanto ao agravo de instrumento a eles dirigido
.........................................
1.10.2) A dispensa da autenticação das peças do traslado pela Se-
cretaria do Tribunal a quo ............................
1.10.3) A dispensa da autenticação das cópias de peças dos autos
aplica-se a todo agravo de instrumento ............
1.10.4) Não pagamento de preparo e despesas postais no agravo do
art. 544 e a resposta do agravado ................................

1.11) A descentralização dos serviços de protocolo das Cortes de


apelação, inclusive para fins de recursos ao Supremo Tribunal Fe-
deral e Superior Tribunal de Justiça ............................

1.12) Como será feito o julgamento da apelação ou agravo de ins-


trumento – o novo art. 555 ...........................
1.12.1) A afetação do julgamento por outro órgão colegiado – dis-
tinção da Uniformização de Jurisprudência ............

Lei nº 10.358/01 .....................................

2.1) A introdução da repressão ao contempt of court no direito


processual civil brasileiro, decorrentes da alteração do art. 14
do CPC .......................................
2.1.1) O que é o instituto do contempt of court .........
2.1.2) O novo instrumento do Poder Judiciário para reprimir o des-
respeito às ordens judiciais .........................
2.1.3) Questões sobre a aplicação do novo instituto .....
2.1.4) O que faltou na alteração legislativa ............

132
2.2) Nova hipótese de distribuição por dependência ......

2.3) Novo prazo para a apresentação do rol de testemunhas no pro-


cedimento ordinário e ampliação de seus requisitos ...

2.4) As modificações pontuais relativas à prova pericial


2.4.1) O retorno do art. 427 do CPC .....................
2.4.2) Perícia complexa – possibilidade de nomeação de mais um
perito e a indicação de mais um assistente técnico ...
2.4.3) O prazo para a juntada do parecer do assistente técnico –
necessidade de intimação das partes para que tenha início
..................................................
2.5) A competência para a execução da sentença proferida no juízo
arbitral ..........................................

2.6) A nova redação do art. 584 do CPC ..................

Lei n° 10.444/02 .....................................

3.1) As alterações do art. 273 ..........................

3.1.1) A execução provisória da antecipação de tutela, em regra,


depende de prévia prestação de caução ............
3.1.2) A possibilidade de antecipação da tutela de pedido incon-
troverso, ainda que parcial ........................
3.1.3) A fungibilidade do pedido de antecipação da tutela

3.2) Mudanças no procedimento sumário – arts. 275 e 280 .


3.2.1) O novo teto para o procedimento sumário ..........
3.2.2) O retorno da denunciação da lide com base em contrato de
seguro de responsabilidade civil .....................
3.2.3) Outras alterações significativas .................

3.3) As mudanças no art. 287 ............................

3.4) As alterações do art. 331 ..........................

3.5) As mudanças na antecipação da tutela específica ....

3.6) O novo art. 461-A ..................................

3.7) As alterações do art. 588 – execução provisória ....

3.8) As alterações do art. 604 ..........................


3.8.1) A possibilidade de requisição de elementos necessários para
a elaboração do cálculo ............................
3.8.2) Caso em que o devedor não poderá impugnar o cálculo apre-
sentado pelo credor .................................

3.9) As mudanças no art. 621 ............................

133
3.10) As modificações nos arts. 624 e 627 ...............

3.11) As adaptações do art. 644 .........................

3.12) As novidades sobre a penhora - art. 659 ...........

3.13) As mudanças nos Embargos de Retenção – art. 744 ...

3.14) A novidade do art. 814 – Arresto ..................

Algumas questões de direito intertemporal ............

4.1) Noções introdutórias ...............................

4.2) O novo art. 14 .....................................

4.3) A nova hipótese de distribuição por dependência ....

4.4) As mudanças no art. 273 ............................

4.5) Sobre a ampliação do teto e outras alterações no procedimento


sumário ....................................

4.6) Quanto às mudanças do art. 331 do CPC ..............

4.7) Sobre o rol de testemunhas .........................

4.8) A prova pericial ...................................

4.9) Quanto às novidades do art. 461 e o novo 461-A .....

4.10) O inc. IV do art. 575 .............................

4.11) As mudanças do art. 584 ...........................

4.12) A respeito da execução provisória .................

4.13) As mudanças do art. 604 ...........................

4.14) O art. 621 ........................................

4.15) Quanto às alterações do art. 627 ..................

4.16) Quanto ao art. 644 ................................

4.17) A aplicação do art. 659 ...........................

4.18) Como ficam os embargos de retenção – art. 744 .....

4.19) Regras de direito intemporal sobre recursos .......

134
4.19.1) O duplo grau de jurisdição obrigatório ..........

4.18.2) O recurso extraordinário e/ou especial em acórdão não unâ-


nime em parte ........................................

4.18.3) A possibilidade de supressão do primeiro grau de jurisdi-


ção ..............................................

4.18.4) O descumprimento do § único do art. 526 .........

4.18.5) Regras de tramitação do agravo de instrumento, no Tribunal


................................................

4.18.6) Sobre o cabimento e processamento dos embargos infringen-


tes ............................................

4.18.7) Regras sobre o agravo de instrumento contra decisão dene-


gatória de recurso extraordinário e/ou especial .....

4.18.8) O que acontece com os arts. 542 e 547, § único ..

4.18.9) Sobre o art. 555 ................................

135

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