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PIAGET

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1º - 2014 - ROSELY RISUENHO


Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem
1 INTRODUÇÃO

Piaget é considerado, dentre os autores da Psicologia, como um dos mais importantes. Ele
já foi até chamado de Einstein da Psicologia. Não é exagerado dizer que os dois maiores autores
da Psicologia são Freud, por um lado, e Piaget, por outro.
A importância da obra de Piaget é decorrência de vários pontos. Primeiro, em decorrência
da influência desta obra durante o século XX inteiro, notadamente na Psicologia da Inteligência.
Por outro lado, a importância de Piaget vem também do volume de sua obra: são por volta de
setenta livros, inúmeros artigos, inúmeros temas relacionados à inteligência, que foram aborda-
dos por ele. Então, digamos, o volume da obra de Piaget, a consistência de sua obra também faz
com que ela seja extremamente importante. E, finalmente, diria que a obra de Piaget é essencial
porque sendo a inteligência um tema que se encontra em qualquer abordagem psicológica, e sen-
do a teoria dele muito consistente em relação a este tema, acaba se utilizando Piaget não apenas
na perspectiva intrínseca da inteligência, mas também em outras, como a afetividade, moral e,
evidentemente, educação.

2 EPISTEMOLOGIA GENÉTICA

O que Piaget fez?


Basicamente a obra dele trata da questão do desenvolvimento da inteligência e da constru-
ção do conhecimento. Inclusive, ele batizou sua teoria de Epistemologia Genética.
Por que epistemologia?
Porque epistemologia é filosofia da ciência, a parte que estuda o fenômeno da ciência, do
conhecimento. E genética significa uma epistemologia da construção do conhecimento. Genética
deve ser entendida não no sentido habitual, de cromossomos, mas de gênese, de evolução.
Então, a obra dele chama-se Epistemologia Genética e visa responder a uma pergunta bá-
sica: como é que os homens constroem conhecimento? Isto é, como é que passam de um nível
de conhecimento x, para um nível de conhecimento x + 1? Essa é a grande pergunta que Piaget
tentou resolver durante toda sua vida.
Como a criança é o ser que mais evidentemente constrói conhecimento, ele fez, essencial-
mente, pesquisa com crianças. Mas sua pergunta não é uma pergunta não é da psicologia da
criança. Sua pergunta é epistemológica, ou seja: como é que os homens, sozinhos ou em conjunto,
constroem conhecimentos? Por que processos? Por que etapas conseguem fazer isto? Por isto que
a obra dele é essencialmente baseada na inteligência e na construção de conhecimento.

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3 CONHECIMENTO

Para .Plaget, inteligência deve ser definida como função, enquanto estrutura. Enquanto fun-
ção, a inteligencia, para Piaget, é uma adaptação. Os processos da inteligência tê~ a finalidade
do sujeito sobreviver, adaptar-se ao meio, modificar o meio para adaptar-se melhor a ele. Isso é
a função da inteligência.
Do ponto de vista estrutural, a inteligência é uma organização. Ou seja, a inteligência é
uma organização de processos que permitem, se a organização for complexa, um nível de co-
nhecimento mais complexo, superior, e se for, evidentemente, um nível de organização menós
complexa, um nível de conhecimento inferior.
A inteligência é uma organização. E o crescimento da inteligência não se dá tanto pelo acú-
mulo de informações, mas, sobretudo, por uma reorganização desta inteligência. Ou seja, crescer
é reorganizar a própria inteligência para ter mais possibilidades de assimilação.

4 CONCEITOS, ASSIMILAÇÃO
A obra· Piagetiana cunhou um número grande de conceitos. É bom explicitar alguns, que
são centrais.
Começaria pelo conceito de assimilação. Piaget retira o conceito de assimilação da Biologia
e, em sua Psicologia, assimilação significa que quando uma pessoa vai entrar em contato com
o meio, com o objeto de conhecimento, ela retira desse objeto algumas informações e essas
informações, retidas, e são essas e não outras, porque existe uma organização mental. Então,
na verdade, assimilação significa interpretação. Ou seja, ver o mundo não é simplesmente olhar
o mundo, mas interpretá-lo, assimilá-lo, tornar seu alguns elementos do mundo. Portanto, isso
implica e~, necessariamente, assimilar algumas informações e deixar outras de lado.

5 ACOMODAÇÃO
Outro conceito central na obra de Piaget é o de acomodação. Acomodação significa que as
estruturas mentais - entenda-se por estrutura mental a organização que a pessoa tem para conhe-
cer o mundo- é capaz de se modificar para dar conta das singularidades do objeto. Portanto, se
juntarm<?s agora a assimilação à acomodação, vamos ter que conhecer o objeto é assimilá-lo, mas
como esse objeto oferece certas resistências ao conhecimento, a organização mental se modifica
e a essa modificação dá-se o nome de acomodação. Por isto que o processo de inteligência é
sempre um processo de assimilação e acomodação.

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6 EQUILIBRAÇÃO
Equilibração vem, como seu nome indica de equilíbrio, ou seja: o sujeito que entra em con-
tato com um objeto novo, pode ficar em conflito com esse objeto, desequilibrado. Na verdade,
equilibração serve aqui de metáfora. Quer dizer, o objeto não se deixa conhecer facilmente, tem
algumas coisas de singulares, então o sujeito fica em conflito, desequilibrado. Para conhecer este
objeto, ele tem que se acomodar, modificar-se para dar conta desse objeto. E esse processo,
digamos, é a busca do equilíbrio. Então, o equilíbrio é a estabilidade da organização mental, que
dá conta do conhecimento. Daí, inclusive, o fato de o conceito de equilibração ser central, se
dá pelo fato do crescimento da inteligência se dá por desequilíbrio, equilibração, desequilíbrio,
equilibração.
É um processo dinâmico. Por isso Piaget gosta da palavra equilibração e não equilíbrio.
Equilíbrio daria a impressão de algo estável e equilibração sugere algo móvel e dinâmico.

7 ABSTRAÇÕES EMPÍRICAS E REFLEXIVAS

Mais dois conceitos, acho, embora não tão conhecidos de Piaget, essenciais. São os con-
ceitos de abstração empíriG:a e abstração reflexiva. Isso é essencial em Piaget.
A abstração empírica são as informações que eu retiro do meu objeto do conhecimento.
Então, por exemplo, olho um quadro .z abstraio desse quadro, ou desse pêndulo, dessa câmera,
abstraio algumas informações. É uma abstração empírica, porque estou tirando abstrações do ob-
jeto do conhecimento. Porém, nesse processo de retirar abstrações do objeto do conhecimento,
também posso pensar sobre minha maneira de me relacionar com esse objeto de conhecimento.
Ou seja, com as ações que faço sobre esse objeto de conhecimento.
As abstrações reflexivas são as informações que retiro, não do objeto, mas de minha ação
sobre o objeto. Por exemplo, se pego um livro e o sopeso, ou o comparo com outro mais pesado
ou menos pesado, tenho uma abstração empírica que é o peso dos livros. Mas tenho uma abstra-
ção reflexiva que é estar comparando. Pensar sobre o meu agir.
Para Piaget, a construção do conhecimento se dá por abstração empírica e também por
abstração reflexiva. O desenvolvimento da inteligência se dá a partir do processo de a criança
pensar sobre o mundo e 'pensar sobre sua ação sobre o mundo. Ao que se chama de abstração
reflexiva.

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8 ESTÁGIO

Mais um conceito extremamente importante em Piaget, que, aliás, é o conceito mais famo-
so é o estágio.
O conceito de estágio remete, em Piaget, a seguinte idéia. O desenvolvimento da inteligên-
cia não é um desenvolvimento linear, ou seja, por acúmulo de informação, mas é um desenvolvi-
mento que se dá por saltos, por rupturas. Os estágios representam, exatamente, uma lógica da
inteligência que será superada radicalmente por um estágio superior, apresentando uma outra
lógica do conhecimento. Então, os estágios significam que, por um lado, a inteligência dá saltos.
Ou seja, a inteligência muda de qualidade, cada estágio representa uma qualidade dessa inteligên-
cia. Os estágios significam também que os estágios dessa inteligência necessariamente passa por
estes estágios e nenhum deles pode ser pulado.
Os estágios podem ser divididos, a rigor, de várias maneiras. Depende da fineza, da com-
plexidade que quisermos dar àquela questão, mas os grandes estágios que Piaget definiu foram
três: o primeiro, chamado de sensório-motor (O a 24 meses); após este, um outro estágio que se
chama pré-operatório (2 a 7 anos); após este segundo estágio, vem o terceiro, e último, chamado
de estágio operatório (7 anos em diante).
Dentro do estágio operatório, Piaget fez uma divisão entre operatório concreto (7 a 12
anos) e operatório formal (12 anos em diante), que é o mais evoluído.

9 ESTÁGIO SENSÓRIO-MOTOR

Antigamente se pensava que o bebê, a criança de zero a dois anos, não apresentava nada
de muito interessante do ponto de vista da inteligência e que a inteligência começava apenas
com a linguagem. Essa é uma idéia que era muito forte e que ainda é forte em algumas pessoas.
O que Piaget demonstrou, numa clareza muito bonita, é que esta fase de zero a dois anos é ex-
tremamente rica e que a inteligência começa a se estrutura e a mostrar seu valor muito antes da
linguagem. Portanto, nestes dois anos de vida, uma série de conquistas, praticamente cotidianas,
são feitas, uma série de pequenos passos são dados, pequenos passos e conquistas estas que jus-
tamente preparam a possibilidade da criança falar. O que Piaget afirma é que quando a criança
começava a falar, por volta dos dois anos de idade, ela só tem sobre o que falar, sobre o mundo,
porque ela construiu este mundo antes. Se ela começasse a falar, sem antes ter construído este
universo, ela não poderia falar, porque não teria sobre o quê falar, não teria essa organização.
A inteligência é anterior à fala.
Portanto é uma fase extremamente importante, extremamente complexa, e quem se der ao

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trabalho de observar um bebê vai ver, a olhos vistos, esse desenvolvimento fenomenal e também
a afirmação evidentemente importante, que é decorrência de tudo o que acabamos de falar, de
que existe uma inteligência pré-verbal. Uma inteligência sem representação, uma inteligência
sem linguagem, sem comunicação verbal com o outro, portanto, uma fase sui generis da inteli-
gência.
Esse é um dos pontos essenciais da teoria de Piaget, essa é a contribuição para a compre-
ensão do ser humano.
O período sensório-motor é o primeiro estágio, período, que vai de zero a dois anos de
idade, e também às vezes é chamado de inteligência prática.
Inteligência prática por quê?
Porque é uma fase no ,desenvolvimento da inteligência em que a criança não emprega a
linguagem, mas apenas suas ações e percepções. Ações, vem daí a palavra motor; e percepções,
daí a palavra sensório: sensório-motor. Então, é uma inteligência prática, uma inteligência em
ação, ou seja, ainda não-verbal, ainda não representativa.
Para Piaget, esses dois primeiros anos de vida são absolutamente essenciais porque a crian-
ça percorre uma velocidade de evolução absolutamente inimaginável. Para dar conta desta idéia,
alguns conceitos são essenciais, notadamente o conceito de objeto.

9.1 Objeto
Tudo leva a crer, segundo os conceitos de Piaget, que quando a criança nasce ela não tem
clareza de que no universo no qual ela se encontra há objetos e que ela, inclusive, é um objeto
entre esses objetos. Por isso, ela precisa construir a noção de objeto.
Nesta construção existe uma fase essencial que se chama objeto permanente.
O que é objeto permanente?
Objeto permanente é aquele que, embora eu não veja, sei que ele ainda existe. Ou seja, há
atribuição de existência do objeto, apesar de estar fora do meu campo perceptivo. Isso a criança
constrói por volta dos nove meses de idade.
Imaginem o salto de qualidade da inteligência. Num primeiro momento, é como se a crian-
ça acreditasse que só existem as coisas que ela vê, que ela é o centro do universo, de certa forma,
e que o mundo existe em função de sua percepção e ela vai, pouco-a-pouco, entendendo que o
universo tem uma objetividade própria, e que independe da sua percepção. Daí a compreensão
de que, embora esse objeto não seja visto, ainda existe e, portanto, posso procurá-lo.
Outro conceito essencial para se entender esta fase sensório-motor é o conceito de causa-
lidade.

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9. 2 Causalidade
Entender que os objetos do mundo - e a criança como um objeto desse mundo -, que esses
objetos interagem entre si e causam efeitos entre si. A tendência da criança até um ano, um ano
e pouco, é a tendência que se chama de mágica. Ou seja, a tendência a pensar que o objeto se
move dependendo de suas próprias ações- da criança- ou dos seus desejos. Fato que também
Freud tinha reparado e chamado de onipotência infantil. Então, a criança imagina, num primeiro
momento, que ela tem as rédeas do mundo e, pouco-a-pouco, ela vai entendendo que não, que
existem leis de causalidade. O universo tem leis, o universo tem algumas regras que são seguidas
e estas se aplicam à própria criança.
Então, a construção da idéia de causalidade, a construção de um objeto, também do tempo
e do espaço, que se dá nestes dois anos de vida, faz com que a criança consiga, num primeiro
momento, ter uma objetividade do universo. Essa objetividade depois será reconstruída no nível
da linguagem. Mas o período sensório-motor é essencialmente construção do universo, constru-
ção do real, lidando com este real apenas através das percepções e das ações.

9. 3 Meios e fins
Uma das conquistas importantes, por volta dos nove meses, aliás, na mesma época da
construção do objeto permanente, é a diferenciação entre meios e fins.
Imagine a seguinte situação: você mostra uma bola para a criança, ela quer pegar esta bola,
mas você a coloca atrás de um anteparo, portanto ela não pode pegar a bola diretamente. Vejam
que interessante. Essa criança que tem de cinco a seis meses, sabe bem pegar uma almofada,
digamos que seja este o anteparo, e pegar a bola. Mas não lhe ocorre a seqüência que qualquer
um de nós faria e que ela fará quando tiver nove ou dez meses: tirar a almofada da frente para
pegar a bola que está atrás.
Isto é que se chama diferenciação entre meios e fins. Ou seja, retirar a almofada é o meio,
cujo fim é pegar a bola.
O que falta, então, à criança de cinco ou seis meses? Não é saber pegar a almofada, isso
ela já sabe; não é saber pegar a bola, isso ela também já sabe; mas é saber hierarquizar estas
duas condutas, associá-las. Por isso é que falamos que inteligência é organização. A conquista da
criança, quando ela vai descobrir a possibilidade de meios e fins, vai ser uma nova organização da
inteligência. Como se ela dissesse: posso pegar isto, para depois pegar aquilo. Não é a habilidade
que faltava, mas a compreensão para servir de meio para outra que é fim.
Portanto, essa passagem que se dá entre os nove, dez meses, é muito importante para o
desenvolvimento da inteligência.
Num exemplo agora ligado a espaço, a configuração espacial, é, por exemplo, a criança

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perceber que um determinado objeto tem três dimensões. Exemplo: quando a criança é bem pe-
quena, por volta de dois, três meses, ela sabe reconhecer uma mamadeira, ela já está acostumada
a ela. Mas se você apresentar a mamadeira pelo avesso, o fundo da mamadeira, não lhe ocorre
virá-la, é como se ela não a reconhecesse. E por volta de um ano de idade~ embora ela veja a
mamadeira apresentada a ela pelo avesso, ela a reconhece e com um gesto a desvira. Ou seja,
com um gesto ela conseguiu situar o objeto dentro do espaço, ver que, dependendo da posição,
o que está na frente pode estar atrás e vice-versa.
Um outro exemplo também muito importante do ponto de vista da causalidade, à qual já
me referi um pouco, é justamente a idéia da mágica. Às vezes a criança pequena, no seu berço,
com três, quatro meses, ela mexe alguma coisa e, por acaso, acende a luz, totalmente por acaso.
Ela tende a achar que foi st;a ação que fez com que a luz se acendesse e então ela irá repetir
esta ação até cansar. A criança pequena tende a achar que são suas ações que promovem, que
causam as transformações do universo. Aos poucos ela irá entender que não, que esse universo
é regido por leis objetivas e ela vai situar-se, objetivamente, naquilo que ela realmente causa e
aquilo que ela não causa e, até, é causada.

1Q)ESTÁGIO PRÉ-OPERATÓRIO
/

Com dois anos de idade há mudança de estágio. Como dito anteriormente, a mudança
de estágio significa que a qualidade da inteligência se modifica. Piaget cunhou o estágio de pré-
operatório, mas também poderíamos chamar este estágio de estágio da representação. Então, o
conceito essencial deste estágio é o de representação.
O que é representação?
Representação é a capacidade de pensar um objeto, através de outro objeto. Por exemplo.
Se eu falo a palavra casa, estou utilizando este som - casa -, para remeter a algo que não é este
som, evidentemente, mas que é o objeto casa. Isto é o que se chama representação. Ou seja,
apresento de novo um determinado objeto através de um seu substituto.
Outro exemplo deste comportamento que aparece por volta de um ano e meio, dois anos
meio de idade. Um exemplo que Piaget não pesquisou, mas que é totalmente coerente para en-
tendê-lo: o reconhecimento no espelho. Uma criança por volta de um ano gosta de se olhar no
espelho, fica na frente dele, mas seus comportamentos nos levam a crer que ela não se reconhece
no espelho. Ela olha, ela vê uma imagem, que é a sua, como se fosse uma imagem de uma outra
criança, uma imagem que não diga respeito a ela mesma. Tanto é verdade que se você fizer uma
mancha de tinta na testa da criança, não lhe ocorre passar a mão para retirar esta mancha.
Por volta de um ano e meio, dois anos, justamente na passagem do sensório-motor, para o

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próximo estágio, pré-operatório, a criança se reconhece no espelho. E, veja bem, se reconhecer
no espelho é um comportamento relativamente complexo, porque, pensem: reconhecer-se no
espelho implica em pensar que esta imagem que vejo sou eu e não sou eu, ao mesmo tempo.
Sou eu, porque me representa, mas não sou eu, porque estou aqui e não ali. Então, na verdade,
estou duplificado, se assim podemos dizer. Estou aqui e estou em imagem.
Isso é que é representação. Conseguir pensar o mundo através de imagens deste mundo.
A criança, por volta de dois anos, entra neste mundo da representação, cujos comporta-
mentos são os desenhos, o brincar de fazer de conta, o reconhecimento no espelho, a imitação.
A imitação que se chama imitação de Ferilo, você vê algo e o imita 24 horas depois, o que mostra
bem que aquilo ficou em imagem. A prova mais elaborada disso é a capacidade de empregar a
linguagem.
Realmente muda a qualidade de inteligência. E isso é essencial em Piaget, porque a inteli-
gência que antes era limitada às ações agora vai, ainda em ação, mas agora uma inteligência de
representação. A isso Piaget deu o nome de pré-operatório, porque significa que a criança tra-
balha com representações, mas terá todo um trabalho de assimilação, acomodação, equilibração
e organizar essas representações num todo coerente. E as operações significam a capacidade de
organizar esse mundo das representaç ies de uma maneira coerente e estável. Isso só ocorrerá
no período operatório, que começa por volta de seis, sete anos de idade.
Na verdade Piaget - e isso é interessante -, dá o nome de pré-operatório a essa fase, insis-
tindo, sobretudo, em sua obra, sobre as lacunas e as dificuldades dessa fase, que serão superadas
na fase operatória do que em suas características positivas. Isso é, digamos, o sotaque da teoria
de Piaget. Mas em termos de pontos essenciais, faríamos a eleição dos seguintes temas:

1. introdução à linguagem - a criança entra no mundo da linguagem e concebe uma com-


petência discursiva bastante grande durante toda essa fase. A linguagem é um dos pontos
mais importantes, porque permite uma socialização da inteligência, como diz Piaget. Piaget
atribui à socialização muito pouca eficiência no período sensório-motor, mas agora na in-
trodução à linguagem há uma socialização das inteligências, porque a linguagem permite a
comunicação;

2. introdução à moralidade - a entrada da criança no mundo da moralidade. É nesta fase que


a criança entra no mundo dos valores, das regras, das virtudes, do certo, do errado. E isso
é um ponto evidentemente importante, porque não se pode falar em moral de uma criança
de zero a dois anos, até três, mas, por volta dos quatro anos a criança penetra no mundo
da moralidade e isso é uma decorrência extremamente rica e séria desta fase;

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3. egocentrismo- Piaget até se arrependeu de ter utilizado este termo. O conceito de egocen-
trismo não significa que a criança está como se fosse altista, totalmente centrada nela, mas
significa que a criança tem dificuldade de perceber o ponto de vista do outro. Ela vê o ponto
de vista do outro centrado em seu ponto de vista, daí a palavra ego+centrismo. Exemplo:
você pede a uma criança de cinco anos, a quem você acabou de contar uma história nova,
que ela conte esta história para uma outra criança. Você verificará que a criança conta
como se a outra criança já soubesse a história.

Um exemplo caseiro. É freqüente você ver uma criança de três, quatro anos, chegar para o
pai ou para a mãe e dizer: cadê o meu carrinho? Ela tem quinhentos carrinhos, vários, pelo me-
nos dois, mas ela diz: cadê() meu carrinho? Para ela está claro de que carrinho ela está falando.
Mas como ela sabe de que carrinho que ela está falando, ela imagina que o outro também saiba.
Enquanto uma criança um pouco mais velha não dirá cadê o meu carrinho, mas cadê o meu car-
rinho amarelo, ou, estou procurando um carrinho, aquele que você me deu aquele dia ...
São exemplos de egocentrismo. São dificuldades de sair do próprio ponto de vista e colo-
car-se num outro ponto de vista, no ponto de vista de uma outra pessoa. Isto será um ganho do
período operatório concreto.

11 ESTÁGIO OPERATÓRIO

O que é interessante na teoria de Piaget é que ele vai chamar uma fase de pré-operatória e
a seguinte de operatória, portanto, a questão da operação é central. E, como dito, Piaget vai ver
na fase pré-operatória essencialmente o que falta para a criança ser operatória. Por isto temos
que definir o conceito de operação.
O conceito de operação tecnicamente é uma ação interiorizada reversível. Ação significa
manipular o mundo, trabalhar e agir sobre o mundo. A ação existe desde o nascimento. Mas é
ação interiorizada. Portanto é ação através da representação. O que significa? Agora vou mexer
no mundo, mas através da representação deste mundo. Uma coisa é pegar a câmera e colocar
em outro lugar, isto é ação. Ação interiorizada será imaginar colocar esta câmera em outro lugar,
mas não colocar. É estar imaginando isto através das imagens que tenho da câmera.
No sensório motor a criança tem ação, no pré-operatório a criança tem ação interiorizada
e no operatório ela tem ação interiorizada reversível. Reversível significa a possibilidade, em ima-
ginação, na cabeça, de forma interiorizada, pensar a ação e sua anulação. Reversível significa:
posso pensar o que fiz e voltar exatamente ao ponto de partida, sem cometer contradições.

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Uma criança no pré-operatório não consegue isso. Exemplo. Você pergunta para uma
criança de cinco anos de idade: daqui até Campinas tem quantos quilômetros? Imaginando que
ela saiba a resposta, ela diz, cem quilômetros. Ela não está indo até Campinas, ela está parada
pensando: de São Paulo a Campinas há cem quilômetros. Aí você pergunta a ela sobre a reversi-
bilidade. Agora vamos pensar de Campinas até São Paulo. Evidentemente, em boa lógica, se de
São Paulo até Campinas são cem quilômetros, de Campinas até São Paulo também haverá cem
quilômetros. Nada mais do que fazer a volta. Só que a criança pequena dirá: não sei.
Outro exemplo clássico da teoria de Piaget é a questão da parte do todo. Uma criança pe-
quena poderá entender que ela mora num bairro, digamos, Butantã; ela sabe que mora em São
Paulo, mas terá muita dificuldade em entender que Butantã é dentro de São Paulo. Quando ela
está pensando em Butantã é Butantã, quando está pensando em São Paulo é São Paulo.
Nesta mesma linha. Se você pergunta para uma criança: tem mais rosas ou tem mais mar-
garidas? Digamos que tenham essas flores na frente dela e que tenha mais rosas. Ela irá dizer,
porque a percepção basta para isso, ela verá que têm mais rosas que margaridas. Mas aí você
faz a seguinte pergunta para ela: o que tem mais, flores, margaridas e rosas, ou rosas? Você está
pedindo a ela para comparar o todo, que é juntar margaridas e rosas, com a parte, que é separar
margaridas e rosas e ficar apenas com as rosas. A criança n&o sabe responder, ou então respon-
de, frequentemente, tem mais rosas.
Quer dizer, o nré-operatór1o é, sintetizando, ação interiorizada, mas ainda não reversiva.
Entenda-se não reversívd como sem a organização lógica dessas representações.
O período operatório será a conquista dessa organização lógica do pensamento que permi-
te chegar à verdade sem contradições.
Um aspecto importante da passagem do pré-operatório para o operatório é o sentimento
de necessidade.
Vamos dar um exemplo. Uma criança pode até aprender, decorar, que se daqui a Campinas
dá cem quilômetros, que de Campinas até aqui também dá cem quilÔmetros. Só que no pré-ope-
ratório esse conhecimento é para ela apenas provável. Se alguém disser para ela que não acha
que seja cem quilômetros ... Talvez não seja ... Ela tem a resposta correta, pensa a resposta correta-
mente, mas para ela isto não é uma certeza. Mas, em compensação, esta mesma criança, quando
estiver na fase operatória, a partir de sete, oito anos de idade, aquilo será necessário para ela.
Uma das dicas do pensamento operatório para o pré-operatório é que no pré-operatório
as coisas são prováveis e no operatório elas serão necessárias. Necessárias, evidentemente, se
deduzidas a partir de um raciocínio.
Você pode até "enrolar" uma criança sobre coisas lógicas quando ela tem cinco ou seis
anos, mas não mais quando ela tem sete ou oito. Se você disser que daqui até Campinas tem cem
quilômetros e que de lá para cá tem menos, ela dirá: tem truque nisso.

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11 ESTÁGIO OPERATÓRIO CONCRETO E FOR~,~~~
'
Piaget diz que a criança, com seus seis, sete anos de idade, a criança entra no estágio ope-
ratório. Já consegue organizar seu pensamento através da lógica. Mas Piaget diz também que
este estágio operatório é dividido em dois: operatório concreto, operatório formal. Portanto tudo
não está acabado ainda por volta dos sete, oito anos de idade.
A diferença entre operatório concreto e operatório formal. Os dois são operatórios, os dois
têm ação interiorizada reversiva. Só que no operatório concreto a criança faz uso dessa capacida-
de operatória, apenas em cima de objetos que ela possa manipular e de situações que ela possa
vivenciar ou lembrar a vivência. Enquanto no período operatório formal ela trabalhará com puras
hipóteses. Ou seja, ela agora será capaz de aplicar sua lógica com objetos, textos, que sejam
puramente hipotéticos, por exemplo, um foguete na Lua, ou em Marte, e também totalmente
estranhos à sua vivência. Na verdade, a diferença é um grau de abstração.
Um exemplo. A criança, do ponto de vista operatório concreto, chegará facilmente à con-
clusão de que todos os planetas são redondos, a Terra é um planeta, logo a Terra é redonda. E ela
sabe, inclusive, que a Terra é redonda. Mas se você coloca para ela o seguinte: todos os planetas
são quadrados, a Terra é um planeta, logo ... Em pura hipótese, a Terra é quadrada, mas como
ela sabe que a Terra não é quadrada, ela tem muita dificuldade em aceitar, porque ela ainda está
muito relacionada ao seu concreto, à sua vivência.
O operatório formal é, na verdade, conseguir pensar de maneira lógica, reversível, opera-
tória, em cima de puras proposições, puras frases, puras hipóteses. A diferença é esta.
Aqui no colégio tem uma tradução clara. Os problemas de Matemática que são colocados às
crianças de primeira à quarta série costumam ser complexos, mas sempre concretos. É a criança
que compra a banana, num preço x, num preço y. Ou seja, é a Matemática aplicada em cima de
objetos. Mas é preciso esperar a quinta séria, por volta de onze, doze anos, para que no colégio
se introduza a Álgebra, a idéia de variável. O que é variável? Variável é pura forma, o x, o y, é
pura forma, isto é típico do operatório formal.

.
O operatório formal é o último estágio daqueles identificados por Piaget, no desenvolvimen-
to da inteligência. Portanto, uma criança por volta de doze, treze anos, constrói este pensamento
operatório formal que é o dos adultos. Claro, mais elaborado, com mais conteúdo. Quer dizer, a
criança de doze, treze anos é capaz de pensar, sem cometer contradições, através de hipóteses,
por hipóteses, e nós também.

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12 DESENVOLVIMENTO MORAL DA CRIANÇA
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Embora Piaget tenha escrito um só livro a respeito da moral, chamado "O juízo moral na
criança", ele fez uma obra fundamental. As pesquisas e teorias deste livro são até hoje atuais e
deram base para uma série de pesquisas, notadamente nos Estados Unidos. Eum livro fonte de
uma série de pesquisas e teorias. Neste livro Piaget diz uma coisa nova para a época: assim como
a inteligência, assim como conhecimento evolui, a moral também evolui. Ou seja, existe um de-
senvolvimento moral na criança.
Por que isso é importante?
Antes se pensava que a moral era uma mera iii.teriorização dos valores e das regras que
estavam colocadas fora, quando os pais e professores diziam faça isso, faça aquilo, os valores são
esses, e a criança, pouco-a-pouco, os interiorizava.
O que Piaget demonstrou, com pesquisas e mais pesquisas, é que há um desenvolvimento
moral na criança, há estágios. O primeiro estágio é a anomia - a criança está fora do universo
moral. O segundo estágio, é justamente a entrada da criança no mundo moral, e é chamado de
heteronomia - significa, basicamente, que a moral é baseada no respeito pela autoridade e pela
obediência. E essa fase da heteronomia depois é superada por uma fase chamada autonomia,
onde a legitimação da moral não se dá mais pelo respeito pela autoridade ou pela obediência,
mas sim pelo contrato, pelo respeito mútuo, pelas relações de reciprocidade.
Então, a importância desse livro foi mostrar que também a moral evolui e que existe uma
participação ativa da criança na construção de sua própria moral.
Vamos dar um exemplo. Você pergunta para uma criança de cinco a sei anos: quem é mais
culpado, alguém que quebrou dez copos sem querer, ou alguém que quebrou um copo querendo.
O que está em jogo aqui? O tamanho do dano material - dez copos versus um copo -, e a in-
tencionalidade- quem quebrou dez não tinha intenção, fez sem quer~r, mas quem quebrou um,
tinha a intenção de quebrar. Pergunta-se à criança: os dois são culpados? A criança heterônima
dirá sim, já que houve um dano material cometido. E, depois, pergunta-se: qual o mais culpado?
E a criança heterônima opta pelo autor da quebra dos dez copos, porque dez copos é mais que
um copo. Ou seja, ela se baseia no tamanho do estrago e não na intencionalidade. Você tem esse
exemplo também com a mentira. Quanto maior a mentira é pior, não é a intenção da mentira,
mas a distância entre a verdade e o que foi dito.
Como sempre em Piaget, há autonomia, portanto o estágio posterior será uma superação
do estágio anterior, em todos os exemplos que dei, a criança autônoma dirá: os dois não são
culpados, apenas é culpado aquele que teve a intenção de quebrar e quebrou um copo. Ou seja,
o fato de haver dez copos quebrados absolutamente não conta mais, como na mentira o que vai
contar não é o tamanho da mentira, mas a intenção enganar.

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13 PIAGET E A EDUCAÇÃO

Às vezes acontece uma confusão, pensar que Piaget foi um educador, ou que Piaget tenha
uma obra pedagógica. E essa é uma confusão muito grave, porque pode fazer as pessoas pensa-
rem que vão encontrar em Piaget propostas ou preocupações pedagógicas.
Piaget se preocupou com Pedagogia como qualquer pensador, mas sua obra nao é de Pe-
dagogia, é sobre a pergunta: como os homens constroem o conhecimento? E, especificamente,
como a criança constrói o conhecimento? Ele escreveu um texto ou outro sobre Pedagogia,
dizendo claramente para os professores que seu texto pedagógico seria apresentar sua teoria
sobre o desenvolvimento infantil e os educadores que façam a tradução pedagógica .desta minha
teoria.
Por que Piaget é tão lido, tão estudado, na educação? Diria que há duas razões para isto.
A primeira é clássica. Assim como na Medicina é uma técnica ler Biologia, para saber o
que fazer e encontrar novas técnicas, a Pedagogia lê as teorias que tratam de seu a!uno. Por-
tanto, todas as teorias que falam das crianças, notadamente as que tratam do desenvolvimento
do conhecimento, da inteligência, interessam à Pedagogia. Então, como Piaget tem uma obra
muito consistente, muito vasta sobre o desenvolvimento da inteligência na criança, é natural que
a Pedagogia se interesse por esses dados e os traduza.
A segunda razão pela qual Piaget é bastante lido na Pedagogia é de outro nível. Na verdade,
Piaget acaba sendo o autor em Psicologia que dá b~se teórica para movimentos pedagógicos que
foram, inclusive, anteriores a Piaget. Por exemplo, a Renovação Pedagógica, e nisso se pode co-
locar a Escola Nova, Montessori, os educadores encontram em Piaget uma teoria que, no fundo,
lhes dá razão. Então, a Teoria Piagetiana é uma teoria que se adapta a certa corrente pedagógica,
notadamente aquela que se opôs ao formalismo e ao verbalismo no ensino tradicional.
Então são por essas duas razões, o fato de estudar a criança e ter idéias sobre elas que são
coerentes com certa Pedagogia renovada.

14 CONSTRUTIVISMO

Piaget utiliza a palavra construção. Tem até um livro seu que se chama Construção do Real.
E ele diz que sua Psicologia e Epistemologia são construtivistas. Piaget cunha e se considera um
construtivista, mas, evidentemente, construtivista com todos os conceitos piagetianos. Só que
a palavra construção é também uma metáfora. Em Piaget ela tem uma definição muito clara,
mas ela pode ser utilizada como metáfora. Tanto é verdade que, hoje, há muitas perspectivas

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construtivistas, que não são muito claramente construtivistas, por um lado e, por outro lado, não
necessariamente piagetianas. A palavra construtivismo acabou ficando muito mais ampla que
especificamente na teoria piagetiana.
Então, hoje, você tem dentro da educação teorias construtivistas, que utilizam Piaget, pode
utilizar Wallon, pode utilizar Vygotsky, ou subáreas tipo Emília Ferreiro etc. Embora a palavra
construtivismo tenha sido cunhada por Piaget, não é, necessariamente, essa mesma definição de
construtivismo que se vai encontrar nas escolas hoje.

15 MITOS

Como toda teoria complexa, algumas incompreensões acontecem. Só que, infelizmente,


algumas incompreensões acabam se tornando dominantes. E poderíamos chamar essas incom-
preensões dominantes de mitos. Eu veria basicamente dois mitos em relação à teoria de Piaget.
Mitos, no sentido de que são interpretações erradas da teoria de Piaget.
O primeiro mito seria o do maturacioni3mo. Como Piaget diz, como sua definição de
construtivismo é que existe construção endógena, algumas pessoas dizem, simplesmente, que
Piaget é um maturacionista que acredita que, na verdade, as coisas se dão de natureza interna,
sem nenhuma relação com o contexto, sem nenhuma relação com atividade. Isto é um erro
grave. Piaget diz, textualmente, que as construções internas endó~enas se dão, em primeiro
lugar, desencadeadas por demandas do meio, portanto não se dão de maneira puramente iso-
lada, e sobre as demandas do meio, com os objetos do meio. Então, a teoria de Piaget não é,
absolutamente, uma teoria maturacionista, mas sim uma teoria interacionista, construtivista.
Primeiro mito.
O segundo mito em relação a teoria de Piaget, que na verdade é uma decorrência do pri-
meiro, sobre o maturacionismo. Piaget negaria a importância do social no desenvolvimento da
inteligência da criança. É um mito, porque é falso. Devemos dizer que é verdade que Piaget não
fez estudos, não aprofundou esta questão. Então, encontram-se poucas referências em Piaget
em relação ao social no desenvolvimento. Mas, veja bem, não aprofundar e não fazer pesquisas
sobre um tema não é negar sua importância. Piaget tinha 24 horas por dia, ele tinha que fazer
determinadas opções. Na teoria de Piaget a interação social tem um lugar bem claro, embora
não aprofundado e não pesquisado. E esse lugar diz claramente: se não houver interação social,
se não houver demanda do meio social, se não houver comunicação, não há desenvolvimento
cognitivo. Então, é um mito pensar que Piaget negava a importância do social, como é um mito
pensar que Piaget pensasse que a maturação, por si só, explicava o desenvolvimento.

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16 O MÉTODO DE PESQUISA

Quanto ao método de Piaget, é basicamente um só. Ele cria situações-problemas, situações


que devem ser resolvidas. Ele coloca essas situações-problema a crianças de várias faixas etárias,
em geral de seis a doze, treze anos de idade, e verifica, por um lado, se as crianças conseguem
resolver o problema, e, por outro, mais importante ainda, quais são as dificuldades que elas en-
contram para resolver este problema. Diria que 90% da teoria de Piaget foi feito em cima deste
tipo de experimento.
Ele também fez alguns estudos com seus próprios filhos, mas apenas com seus próprios
filhos, de zero a dois anos de idade, aí com observação. Portanto seria um erro pensar que Piaget
baseou toda a sua teoria na 0bservação de seus próprios filhos, isso não é verdade. Na verdade
ele fez essas observações, mas todo o resto da sua obra, diria que 90%, com soluções, a procura
de como as crianças resolvem os problema que ele lhes coloca, em geral de seis a doze anos de
idade.

17 A OBRA DE PIAGET É HEGEMÔNICA?

Hoje, vinte anos após a sua morte, isso não é mais verdade. Ela continua sendo extrema-
mente importante, mas hegemônica não. Primeiro houve o descobrimento de Vygotsky, que não
era um autor conhecido na época em que Piaget trabalhava, certo reviver da teoria de Wallon,
também existe as ciências cognitivas. Diria que, hoje, a Psicologia do Desenvolvimento vive uma
fase de difusão das idéias, de não-concentração. Diria que a Psicologia do Desenvolvimento vive
um momento de turbulência, nenhuma visão pode ser considerada hegemônica, tampouco a de
Piaget, mas também não se sabe muito bem ao quê esta área vai. Ela foi dominante sim, hoje
em dia não.
Há contestadores dessa teoria, claro. Há dois tipos de contestadores: aqueles que dizem que
Piaget errou, aqueles que dizem que não é verdade, mas também há um tipo de contestadores
que diz que o que Piaget disse está muito bom, mas a rigor tem muito mais coisas para dizer, até
mais importantes que, a rigor, não se precisa nem ler o que Piaget escreveu. Ou seja, uns podem
contestar Piaget porque ele errou, outros porque ele disse coisas certas, mas não essenciais, o
essencial estaria em outro lugar.
Hegemonia hoje, não mais. O que é bom. Hegemonia nunca é saudável.

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