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Projeto Gráfico:
Núcleo de Programação Visual - Secretaria Municipal de Cultura
Impressão:
Gráfica
Endereço
CEP - Cidade - UF
Fone/Fax:
e-mail:
Registro no ISBN 978-65-993319-0-9
Revisão: Secretaria Municipal de Cultura
Capa: Foto: Sandra Freitas - fotografia digital 2018
Tiragem: 2.000 exemplares
Ano da publicação: 2020
Ficha Catalográfica
ISBN nº 978-65-993319-0-9
CDD – 363.69
Patrimônio Cultural
que bicho é esse?
2020
EDIÇÃO ATUALIZADA
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fotos:
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Sumário Sumário dos Bens Tombados e Registrados 06
Apresentação 07
Mapa 08
Patrimônio Cultural 10
A preservação do patrimônio cultural 17
Legislação do tombamento 18
Triângulo Mineiro 21
Uberabinha: A semiologia de um passado 23
Conhecendo o nosso patrimônio tombado e registrado 26
Vamos exercitar 68
Brincando também se aprende 69
Saiba que 70
Saiba quantos e quais foram os prefeitos de Uberlândia 71
Bibliografia 74
Créditos das imagens 74
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Sumário
Patrimônio Tombado e Registrado
Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Miraporanga 26
Conjunto Praça Clarimundo Carneiro, Museu Municipal e Coreto 27
O Museu Municipal 28
O Coreto 28
Casa da Cultura 29
Oficina Cultural 31
Igreja Nossa Senhora do Rosário 32
Mercado Municipal 33
Residência Chacur 35
Praça Tubal Vilela 36
Prédio da Escola Estadual de Uberlândia 38
Prédio da Escola Estadual Dr. Duarte Pimentel de Ulhôa 40
Edifício Uberlândia Clube Sociedade Recreativa e Mobiliário 41
Estação Ferroviária Sobradinho 43
Palacete Ângelo Naghettini 45
Imagem de Nossa Senhora do Carmo 46
Festa em Louvor à Nossa Senhora do Rosário e São Benedito 47
Prédio da Reserva Técnica do Museu Municipal (antiga Biblioteca Municipal) 48
Igreja Nossa Senhora das Dores 49
Sede do Círculo de Trabalhadores Cristãos de Uberlândia 51
Painel Cena Portuguesa 54
Painel Ciranda de Crianças 55
Painel Ambiente Rural 56
Painel Indígena Brasileiro 57
Prédio da Escola Estadual Enéas Oliveira Guimarães 58
Folia de Reis de Uberlândia 60
Capela da Saudade 61
Praça do Rosário 63
Teatro Grande Otelo 64
Centro Municipal de Cultura (Antigo Fórum) 65
Centro de Fiação e Tecelagem 66
Igreja do Espírito Santo do Cerrado 67
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Patrimônio Cultural
Apresentação
1 - PAOLI, Maria Célia. Memória , História e Cidadania: O direito ao Passado. In: O Direito à Memória – Patrimônio Histórico e Cidadania/
Departamento do Patrimônio Histórico São Paulo. São Paulo: DPH, 1992, pag. 25
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Patrimônio Cultural
Seja bem-vindo, caro leitor, a esta nossa conversa que vem tratar de nosso
Patrimônio Cultural.
Patrimônio são os bens pertencentes a uma pessoa, a uma família ou a uma
comunidade. Patrimônio é sinônimo de riqueza desde que entendida como
expressão de uma tradição, de uma identidade cultural, das crenças e valores
cultivados coletivamente.
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fotos:
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Mas, o que é cultura?
Cultura são os costumes, as tradições de um lugar. Cultura é sinônimo de produção, diz respeito às artes
de fazer que estão entranhadas no cotidiano de uma comunidade. É como uma colcha de crochê, no
vaivém da linha se estabelecem as relações humanas. Ao tecer a sua trama, os homens tecem
simultaneamente a sua cultura, lugar onde estão as suas experiências de vida, os seus sentimentos e tudo
aquilo que fazem e constroem e têm significado para a sua comunidade. Todavia, a cultura não é uma ação
estática, ela se reinventa, porque é parte de um processo histórico em transformação.
Se nossa identidade pessoal são as referências às coisas que dão significado para nossas vidas, a
identidade cultural refere-se a todos os aspectos que caracterizam uma comunidade, como a língua, as
religiões e suas manifestações, a organização educacional, familiar, religiosa...
As nossas amizades, os nossos parentes são indispensáveis para que gostemos ou não de um lugar.
Nossa identificação com o lugar vem também de nossas relações pessoais.
Patrimônio Cultural diz respeito à identidade cultural de um povo e da humanidade. Ele é o conjunto
de todas as expressões e manifestações culturais. Nesse sentido, as peças de acervos em museus,
documentos guardados em arquivos, bens antigos, casas, prédios, monumentos, objetos, hábitos
alimentares, vestimentas, modos de vida, fazeres e saberes manuais, artesanais, crenças, dentre outras
tradições, constituem e constroem nossa identidade cultural.
Da mesma forma que um indivíduo seleciona e acumula bens para doá-los à família, a sociedade elege
alguns exemplos como os mais representativos da sua cultura, de sua história, de sua arte e de sua
memória. Mas lembrem-se, todos os bens particulares e públicos e as manifestações culturais dessa
sociedade são seu patrimônio cultural, pois trazem quase sempre suas características.
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Eu viajei pra muito longe atrás de um mundo novo e me realizar.
E quanto mais distante eu fui mais perto eu me encontrei aqui do meu lugar.
Se deita na minha lembrança, correnteza mansa, águas do meu riacho.
Espelhos nos igarapés quando lavava os pés e a sombra por debaixo.
Progresso eu sei é necessário, mas não há salário que pague o que eu tenho.
Indústria que tudo refina, mas só me fascina o doce do engenho.
Inconscientemente o povo corre atrás do novo e perde o endereço.
Ninguém trará de volta a feira, a roça e a cachoeira, tudo tem seu preço.
(Apreço ao meu lugar – Paulo Matricó)
Toda comunidade possui um tesouro que é o seu patrimônio cultural e que também
pode ser reconhecido como tesouro da humanidade. Por isto deve ser preservado.
Os “modos de fazer” devem ser preservados como pequenas pedras preciosas e divulgados para que o
povo brasileiro possa recordar-se de aspectos de sua vida que tendem a desaparecer. Sem eles ficamos órfãos de
memória, de história, sem nossas raízes culturais.
Preservar um bem imaterial não significa impedir o seu desaparecimento concretamente, porque a
cultura é dinâmica. Preservar é, antes de tudo, impedir o seu esquecimento. Contudo, não basta guardar este
bem na memória. Por isto, a necessidade das imagens, de gravar as histórias orais dos nossos avós, as amostras,
os repasses ou receitas de saberes e fazeres de tempos imemoriais.
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O Patrimônio Cultural representa a memória do E as boiadas vêm descendo do sertão!
Safra, entressafra...
lugar. Mato Grosso. Minas. Goiás.
Os lugares em que vivemos são cheios de significados Caminhos recruzados. Pousos espalhados.
para nós, para a comunidade, para o bairro e para a cidade na Estradas boiadeiras. Aguada...
qual moramos. São construções, árvores, praças, fotografias, Pastos e gerais.
Cerrados. Cerradões. (...)
costumes, sabores e saberes. No seu todo ou em cada detalhe Cercados. Aramados. (...)
existe uma história que se expressa como um significado, Boiadeiros. Fazendeiros (...)
uma explicação de um lugar ou de um objeto que faz sentido Trem de gado ronceiro...
Jogando, gingando,
para a comunidade. Nos cilindros, nos pistões, nas bielas, e nos truques.
Rangendo, chocalhando,
Essas histórias, muitas vezes, não foram vividas por nós, Estrondando nas ferragens.(...)
Trem de gado engaiolado, parado,
mas assim mesmo as conhecemos, e quando as recontamos é Na plataforma, na esplanada.
como se delas participássemos, aproximando-nos daquele Gente que passa – pára.(...)
tempo por meio do conhecimento de outras memórias. ...e o boi se deita exausto...
(Trem de Gado – Cora Coralina)
A memória é a capacidade que temos de lembrar ou esquecer (às vezes independentemente de nossa
vontade) as experiências vividas, apreendidas, percebidas, captadas, observadas ou com as quais, por diversas
maneiras, temos contato.
Um objeto, um aroma, uma imagem, um som, uma pessoa pode avivar a nossa memória. Na verdade, há
uma infinidade de fatores que podem trazer à tona uma lembrança. Uma mesma paisagem pode trazer
diferentes lembranças para diferentes pessoas, mas também pode ter o mesmo significado para um mesmo
grupo.
O respeito à memória é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Os lugares comuns, uma praça, um coreto, um cinema, uma rua, uma casa são também patrimônios
histórico-culturais. Mesmo não sendo institucionalizados ou legitimados como tal, são lugares de memórias,
cheios de valores, de significados e de lembranças.
Patrimônio Histórico Cultural não são apenas peças de museus, documentos reconhecidos como tal
ou grandes e antigas construções, ele também pode ser identificado por paisagens, lugares aparentemente
banais, mas cheios de significados e experiências sociais. São “lugares de memória”, compreendidos pelas mais
diversas formas da atividade humana.
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O Patrimônio Cultural Material pode ser classificado de acordo
com as seguintes definições:
Patrimônio urbanístico
Diz respeito à dinâmica de organização e constituição de um município ou de um centro urbano. As cidades têm
histórias: umas nascem da doação de terras (sesmarias) à Igreja Católica, outras foram pontos de passagens ou
registro para as minas de ouro e diamante e, outras, ainda foram planejadas e construídas tal como Goiana ou
Brasília. E a sua, como nasceu?
No cenário das cidades se delimita o urbano, constituído de ruas, avenidas, lojas, centros de diversão, templos,
praças, jardins, escolas. No mundo rural se evidenciam as terras cultivadas, as fazendas, os currais, o paiol, o
chiqueiro, a casinha de queijo, o quintal, a horta, todos espaços extensivos ao cotidiano do campo.
Nesses dois universos – o rural e o urbano – encontramos os bens imóveis. Eles podem ser uma data, um
terreno, uma casa, uma fazenda, que podem ser adquiridos, comprados ou mesmo herdados. E os bens móveis
são os objetos de uso pessoal, utensílios domésticos, ferramentas de trabalho, um instrumento musical...
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Patrimônio documental
Pode ser escrito, sonoro, audiovisual, eletrônico, digital ou imagético. Registra um
tempo, uma época. Os escritos são geralmente confeccionados em papéis, como
certidões, livros, cartas e guardam parte da memória de uma pessoa ou de uma
comunidade. Os imagéticos são aqueles que revelam por meio de fotografias, filmes,
folders, obras de arte, a história de um lugar, de uma família, de um país, de uma
festa, de comemorações ou mesmo de eventos marcantes para uma sociedade.
Lei nº 5, de 15 de
setembro de 1898, que
regulamenta a criação de
cabras, cabritos e
carneiros no município
de Uberabinha.
Lei nº 13, de 13 de janeiro
de 1899, que regulamenta
o comércio de “carne
verde” no Município.
acervo: Arquivo Público
Bandeira do Terno
Catupé Azul e Branco
Bens integrados
São os bens associados a outros bens, como o altar de uma
igreja, o pomar de uma fazenda, o quintal ou jardim de uma
casa, uma viela de uma cidade, o coreto de uma praça, ou até
mesmo o mobiliário de uma instituição ou residência,
compondo o ambiente
Hoje, a falta de conhecimento sobre o que é patrimônio, por que e como preservá-lo talvez seja uma das
maiores dificuldades encontradas no processo que busca resgatar e proteger os nossos bens culturais.
Nossa sociedade valoriza o que é novo, e a pressa do dia a dia, a correria devido às inúmeras tarefas que
temos a fazer contribui para que valorizemos em demasia o descartável, as celebridades instantâneas, das quais
no próximo ano não nos lembraremos mais. Esta emergência do imediato ressalta a importância da educação
patrimonial. A crescente desvalorização da memória em nossa sociedade, na qual o moderno, o novo, o
“tecnológico” ocupam o lugar da história, nos leva a jogar no “cesto do lixo” as nossas raízes culturais e
tradições como coisas arcaicas, ultrapassadas e antigas.
Essas atitudes se evidenciam no descaso aos idosos, na predominância dos bens descartáveis, na
derrubada de arquiteturas antigas e até mesmo na demasiada exploração da natureza e no descaso e ignorância
em relação as culturas indígenas ou dos descendentes africanos no Brasil. A memória histórica é desvalorizada
porque muitas vezes não é considerada uma atividade essencial para o conhecimento. O antigo é visto como
dispensável ou apenas objeto de decoração, o que contribui para o desconhecimento do processo histórico
do qual é parte essencial. Tal fato impede que valorizemos o saber fazer do passado, o seu significado e a sua
beleza. É necessário cultivar na infância o gosto pelos bens de nossa cultura, perceber como eram ou como os
modos de vida ocorriam, permite não só visualizar o processo histórico, como também encontrar nossas
raízes identitárias.
A educação patrimonial nos ensina a valorizar o que é nosso a partir da localidade onde moramos e das
pessoas com as quais convivemos, estendendo-se tal ação em nível estadual e nacional. As culturas locais e
regionais encontram-se entranhadas no cotidiano dos moradores e são parte constituinte da diversidade de
nossa cultura nacional. Ao conhecer a nossa história e a nossa cultura, somos capazes de reconhecer as
semelhanças e diferenças entre as práticas culturais deste Brasil tão rico, tão igual e, ao mesmo tempo, tão
diverso. Mas para começar é necessário primeiro saber reconhecer e valorizar o que é característico de cada
ambiente, de cada região, de cada município. Além disso, é importante perceber que o patrimônio cultural
material ou imaterial é vivo e dinâmico. Nem tudo o que é velho é patrimônio cultural, e patrimônio cultural
não é só o que é antigo e velho.
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LEGISLAÇÃO DO TOMBAMENTO
Tombar é inventariar (levantamento de dados relativos aos bens), registrar e
classificar os bens culturais, reconhecendo-os como integrantes do patrimônio
nacional, estadual ou municipal. O tombamento é um instrumento legal de
preservação, um ato de reconhecimento do valor cultural de um bem, realizado
pelo poder público por meio de leis.
IPHAN – é uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Turismo e orienta as ações relativas à
preservação do patrimônio cultural no país. O município e o Estado devem se responsabilizar pela
preservação de seus bens culturais, formando técnicos e incentivando as escolas a discutir essa questão. Um
bem patrimonial tombado é atração turística de uma cidade, podendo, inclusive, atrair visitantes e trazer
rendimento financeiro ao município.
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A proteção efetiva dos bens históricos culturais exige a ação fiscalizadora
dos órgãos públicos.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) – é o
órgão federal que centraliza as ações de avaliação, catalogação, organização e de
preservação dos bens patrimonializados. Também coordena a ação das
superintendências regionais e estaduais. Em Minas Gerais, é a Superintendência
Regional do IEPHA a responsável em nível estadual, contando com o apoio das
Secretarias ou outros orgãos de cultura dos municípios para a preservação local.
O órgão internacional responsável pela preservação do patrimônio histórico
nacional é a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura –
UNESCO –, mas a grande responsável, porque interessada, tem de ser a sociedade.
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Balé Folclórico da Bahia - Praça Rui Barbosa | Igreja do Rosário fotos:
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TRIÂNGULO MINEIRO
Triângulo Mineiro2 foi o nome dado, desde o final do século XIX, ao território compreendido entre os
rios Paranaíba e Grande. Apesar de serem terras habitadas por povos indígenas, a região foi designada nos
documentos cartográficos do final do século XVIII como “grande vazio sem denominação”. O Barreiro do
Araxá e Desemboque eram os últimos núcleos de povoamento à oeste do atual Estado de Minas Gerais.
Este sertão começou a ser ocupado pelo homem branco após o ano de 1722 quando a expedição do
sertanista Bartolomeu Bueno da Silva, o segundo Anhanguera, atravessou esta região à procura das minas de
ouro de Goiás, se constituindo, desde então, como local de passagem para tropeiros e viajantes.
A partir da segunda metade deste século XVIII existiu nestas terras um intenso processo de expropriação
dos nativos e quilombolas. Houve uma política de extermínio dos quilombos existentes na região, ao mesmo
tempo em que os povos indígenas foram expulsos e/ou submetidos aos aldeamentos que margeavam o
caminho régio que ligava a Vila de São Paulo aos povoados do interior que foram se constituindo.
Entre meados do século XVIII e início do século XIX, numerosas famílias de migrantes começaram a
formar fazendas nas terras reconhecidas como “campo titulado sem moradores”, possibilitando a constituição
dos primeiros Arraiais no Sertão da Farinha Podre. Em 1760 formou-se o Arraial de Nossa Senhora do
Desterro do Desemboque (Desemboque), posteriormente, Dores do Campo Formoso (Campo Florido),
Nossa Senhora do Carmo dos Morrinhos (Prata), São Francisco das Chagas do Monte Alegre (Monte Alegre),
Santa Maria (Miraporanga), São José do Tejuco (Ituiutaba), São Pedro de Uberabinha (Uberlândia), dentre
tantos outros.
2 Segundo LOURENÇO, Luís Augusto Bustamante. DAS FRONTEIRAS DO IMPÉRIO AO CORAÇÃO DA REPÚBLICA: O TERRITÓRIO
DO TRIÂNGULO MINEIRO NA TRANSIÇÃO PARA A FORMAÇÃO SÓCIO ESPACIAL CAPITALISTA NA SEGUNDA METADE DO
SÉCULO XIX. Universidade de São Paulo. Tese. São Paulo, 2007, pág. 101. A região aparece com indicações vagas no final do século XVIII como
parte da Caiapônia de Casal e, finalmente, como Sertão da Farinha Podre de 1807 em diante.
3 Idem, pag 99.
4 LOURENÇO, Luis Augusto Bustamante. A oeste das Minas: escravos, índios e homens livres numa fronteira oitocentista: Triângulo Mineiro
(1750-1861) Uberlândia/2002 Dissertação Mestrado pag. 14 21
Julgado das Cabeceiras do Rio das Velhas e Parte da Capitania de Minas Gerais, 1780.
Fonte: José Joaquim da Rocha (detalhe) (COSTA et al, 2002)3
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UBERABINHA: A SEMIOLOGIA DE UM PASSADO
A fazenda São Francisco foi a sede da Sesmaria de João Pereira da Rocha, o primeiro entrante (entradas e
bandeiras) a fixar residência nesta região.
A cidade de Uberlândia se formou em terras desmembradas desta família, que aportou por essas plagas no
início do século XIX, aproximadamente em 1818. Naqueles anos, este sertão era um espaço ermo que os
tropeiros denominaram de “O Sertão da Farinha Podre”.
Por volta de 1835, vieram os irmãos Luiz, Francisco, Antônio e Felisberto Carrejo, que compraram de
João Pereira, parte de suas terras para formar as respectivas propriedades de Olhos D'Água, Lage, Marimbondo
e Tenda; ainda hoje elas permanecem na zona rural do Município.
Felisberto Alves Carrejo tornou-se proprietário da Fazenda da Tenda e lá abrigou as suas atividades
profissionais. Apesar das benfeitorias feitas no local, Felisberto transferiu sua residência para 10 alqueires de
terra de cultura, nas imediações do Córrego Das Galinhas (Avenida Getúlio Vargas), adquiridos de D. Francisca
Alves Rabelo, então viúva de João Pereira da Rocha. Naquela ocasião, esta porção de terra já era habitada por um
pequeno número de pessoas, este local, atualmente, corresponde ao Bairro Tabajaras.
Como símbolo de uma comunidade que se pretendia organizada e civilizada, os moradores pediram ao
Bispado a permissão para a construção de uma Capela Curada, a ser dedicada à Nossa Senhora do Carmo. Ela 23
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foi idealizada em 1846 e construída em adobe e barro, nas formas mais simples em
termos arquitetônicos. Para viabilizar a sua construção, os procuradores da obra
entraram em entendimento com D. Francisca Alves Rabelo e dela adquiriram, pela
quantia de quatrocentos mil réis, cem alqueires de terras de cultura e campo, entre os
Córregos Das Galinhas e São Pedro (atual Avenida Rondon Pacheco).
Todo o Patrimônio foi doado a Nossa Senhora do Carmo e, atualmente,
corresponde à parte central da cidade de Uberlândia. O Arraial recebeu, então, o
nome de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra de São Pedro de
Uberabinha. Como o cotidiano das pessoas era pontuado pela vida religiosa, a Capela
abrigava a sua volta uma faixa de terreno que ficou conhecido como “Campo Santo”,
nele foram sepultados os primeiros habitantes da Vila.
A cidade de Uberlândia nasceu pequena, acanhada, no entorno de uma capela, às
margens de um caminho conhecido no século XIX como Estrada Salineira. Quando o
Arraial passou à sede do Distrito, esta estrada recebeu o nome de Rua Sertãozinho,
posteriormente Rua Tupinambás e, atualmente denomina-se Rua José Ayube. Foi nas
imediações deste caminho que a comunidade edificou a pequenina e tosca capelinha,
dando início à formação do Município que, em 1929, passou a se chamar Uberlândia.
As raízes da cidade estão em um bairro conhecido hoje por Fundinho.
O pequeno burgo era despertado pelo insistente sino da igreja, que determinava
o amanhecer..., o ranger do carro de boi e das carroças marcando a rotina do dia...., o
arrebol do entardecer..., as noites que se arrastavam em silêncio..., em um espaço que,
de forma pragmática, foi sendo moldado segundo uma intencionalidade estética da
urbanística moderna, aliado às necessidades dos modos de viver que iam se impondo.
Quando os braços da moderna Estrada de Ferro Mogiana alcançaram estas
plagas em 1895, o espaço urbano sofreu grandes transformações. Uma “cidade nova”
foi desenhada em 1898 pelo engenheiro da Mogiana, o inglês James John Mellor. Em
oposição às pequenas e tortuosas ruas do Fundinho, foram traçadas seis largas e
simétricas avenidas, avançando o cerrado e indo ao encontro da Estação. Estas
avenidas foram abertas a partir do ponto onde terminavam as construções da “cidade
velha”, sendo que os terrenos da Praça Clarimundo Carneiro delimitavam este
espaço.
O “Patrimônio da Santa” foi sendo continuamente remodelado, racionalizado,
impregnado de sinais que foram conferindo significados à paisagem. A Praça da
Matriz, a cartografia dos primitivos caminhos e trilhas do Arraial, a construção de
casas comerciais ou residenciais, os códigos de postura regulamentando as questões de
ordem social e econômica do Município, são todos testemunhos de um passado
inscrito no território urbano. As pequenas e tortuosas ruas que entrecortavam o
Município se formaram ladeadas pela sequência das casas, quintais e antigos muros
que emprestaram à geografia urbana o seu sentido.
Pelos idos de 1861, pouco tempo após sua inauguração, a capelinha foi ampliada
e transformou-se na Matriz de Nossa Senhora do Carmo, abrigando até 1941 as
Detalhe da Maquete
principais atividades religiosas da cidade.
Museu Municipal de Uberlândia Em 1943, após a inauguração da imponente Matriz de Santa Terezinha na Praça
Tubal Vilela, ela foi demolida e em seu lugar foi construído um prédio para abrigar a
Estação Rodoviária, eram novos tempos....
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Buscar este passado é andar por caminhos diversos, pois a história da cidade está diluída, em fragmentos de
documentos, na literatura, na poesia, nas lembranças, nos relatos e imagens que se transformam em ferramentas
de trabalho para que o historiador entenda o presente. Na medida em que estes testemunhos vão sendo
revestidos de significados, o passado se dá a conhecer.
Os hábitos, costumes e tradições são vestígios de sociabilidades envoltas nas brumas do tempo, nos
revelando os sujeitos sociais das épocas. Os documentos nos remetem a um lugar, no qual os testemunhos
parecem congelados na arquitetura, nas ruas de terra marcadas com as rodas de carro de boi, nas formas de trajar,
nos pés descalços, em uma cartografia que esconde e revela a história econômica e a história das estruturas
sociais desta comunidade.
Os primeiros registros históricos da cidade de Uberlândia nos ajudam a entender como o seu espaço
urbano foi sendo cotidianamente pensado, inventado e construído. Uma história que, desde o início, foi escrita
com os símbolos da ordem, progresso e modernidade.
A cidade de Uberlândia foi emancipada no último ano do Brasil Império e recebeu toda a carga simbólica
daquele momento. Com a República, novos nomes foram escolhidos para nomear ruas e praças. Era o grande
desafio das reformas, da liberdade e independência.
Naquele contexto histórico, o Município foi se mostrando entre praças ladeadas por imponentes casarões,
antigos quintais e pequenos casebres, em um movimento contínuo de construção, pois é na urdidura do
cotidiano que se realiza o sonho.
Do passado, emerge uma cidade pautada na simetria e linearidade que escondem comportamentos,
costumes, fazeres e saberes que adormecem no tempo; cidades invisíveis que escondem passados. Viajando no
tempo, é possível caminhar pelas ruas da antiga São Pedro de Uberabinha e ler, a partir de uma rede de símbolos
e significados, a existência de retalhos de histórias reveladoras de sentimentos, sociabilidades e formas de
convivência que se faziam também pelos gestos, pela cortesia e pelo caminhar. Também é possível vislumbrar os
conflitos sociais, as disputas políticas, os instrumentos da ordem que instituíam o controle social, deixando a
imagem de uma sociedade harmoniosa.
Um lugar que tinha nos nomes das ruas a marcação do sentido de suas vidas. Rua das Pitangas, Rua do
Pasto, Rua Direita, Rua da Chapada, Rua do Rosário, Rua São Pedro, Rua Boa Vista, Largo da Cavalhada, entre
outras, são exemplos que nos permitem pensar a história desta sociedade atrelada às questões relativas à
memória e ao esquecimento.
São Pedro de Uberabinha não era um lugar conhecido, nem o maior ou o mais antigo, mas se tornou, em
pouco tempo, ponto de referência na região. Uberabinha era um lugar que, a cada dia, se dedicava de forma mais
intensa ao comércio. Através dos documentos, escritos e imagéticos, é possível ler, nos vestígios da cidade, os
símbolos e sinais desta história.
Nos primórdios da construção do Município, a atividade comercial ocupou um lugar de destaque no
cenário urbano. O Largo do Comércio, hoje denominado praça Dr. Duarte, era um ponto estratégico para as
trocas comerciais. No Largo das Cavalhadas, hoje praça Coronel Carneiro, também existiram casas comerciais
que abasteciam a cidade e a região com artigos locais ou vindos de outras paragens. Velhos tempos!
Os indícios desta história sobrevivem em ruínas. Na cadência dos passos, os lugares se apresentam
significativos e possuidores de registros escondidos. É impossível pensar que não houvesse transformações,
porém necessário se faz conhecer as múltiplas histórias que foram, ao longo do tempo, sendo apagadas,
esquecidas, demolidas e (re)escritas.
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CONHECENDO O NOSSO PATRIMÔNIO Igreja Nossa Senhora do
Rosário de Miraporanga
Distrito de Miraporanga
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Conjunto Praça Clarimundo Carneiro,
Museu Municipal e Coreto
Tombado como Patrimônio Histórico Municipal pela Lei nº 3.190 de 22/09/1980, alterada pela Lei nº 4.209 de
25/09/1985 - Registrado no Livro do Tombo Histórico, Inscrição II, pág. 04.
A Praça Clarimundo Carneiro ocupa a área onde foi construído o segundo cemitério da cidade. Esse
cemitério foi desativado em 1898 e, a partir de 1908, iniciou-se o processo de regulamentação da área junto ao
Bispado objetivando desapropriar terrenos no seu entorno para a construção de um Jardim Público no local,
assim como de um prédio para abrigar o Paço Municipal.
O primeiro nome que a praça recebeu foi Praça da Liberdade. Esta denominação talvez esteja em sintonia
com o momento histórico nacional tendo em vista que o país estava vivendo os primeiros anos da Proclamação
da República. Posteriormente, o local passou a ser denominado Praça Antônio Carlos (1929) e, novamente,
podemos relacionar ao momento político que o país passava, pois este era o nome do Interventor do Estado
daquele período, que ficou conhecido também como “Era Vargas”. Passados aqueles anos, em 1961, a praça
passou a se chamar Praça Clarimundo Carneiro, em homenagem a um importante empresário local que
desenvolveu suas atividades em Uberlândia nos primeiros anos do século XX.
A praça foi projetada pelo construtor Cipriano Del Fávero e tinha como finalidade oferecer ornamentação
paisagística ao edifício do Paço Municipal, cujo projeto também foi de sua autoria. Inicialmente estava previsto,
além do Paço, a construção de dois coretos. Na década de 1920 foi cogitada a ideia de se construir o edifício do
Fórum na praça, em lugar desses coretos. Entretanto, optou-se pelo Coreto, sendo construído apenas um, entre
os anos de 1925 e 1927.
Ao longo dos anos, devido às questões relacionadas ao tráfego urbano, a Praça sofreu várias interferências
no seu contorno e em seu paisagismo. A alteração mais significativa foi a modificação de seus canteiros originais,
com troca das espécies de médio porte para plantas de pequeno porte. O argumento para tal reforma, feita
também em outras praças da cidade, foi diminuir a violência que ocorria no interior dos jardins escuros, cuja
vegetação obstruía a visibilidade de quem andava ao seu redor.
Esse conjunto - Praça, Coreto e Edifício da antiga Câmara (Palácio dos Leões – Museu Municipal) - é um
espaço muito importante e significativo da cidade, pois representa o esforço de se construir uma cidade pautada
nos atributos da urbanística moderna. Em 22 de setembro de 1980, a Lei Municipal de nº 3190 tombou o prédio
que abriga o Museu Municipal com o Coreto. Posteriormente, em 25 de setembro de 1985, a Lei Municipal de
nº 4209 alterou o tombamento incluindo a Praça Clarimundo Carneiro. Este conjunto foi oficialmente
nomeado Patrimônio da cidade. 27
foto:
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O Museu Municipal ocupa o prédio que foi construído para abrigar o Paço
Municipal da cidade que até 1929 era conhecida pelo nome de Uberabinha.
O município de Uberlândia foi criado pela Lei nº 3.643 de 31 de agosto de 1888,
sua instalação se deu em 14 de março de 1891, tendo como sede um casarão alugado,
no qual funcionava o Poder Judiciário, o Legislativo e o Executivo, pois naquela época
o Presidente da Câmara era também o Agente Executivo.
Nos últimos anos do século XIX, após a Proclamação da República, decidiu-se
que a cidade deveria ter um prédio imponente, que correspondesse aos ideais de
beleza e modernidade que o momento exigia. Assim, em 1898 foi elaborada a Lei
Municipal nº 7, que determinou a construção de um edifício para abrigar o Paço
Municipal.
O local escolhido, atual Praça Clarimundo Carneiro, criou polêmica porque,
parte do terreno havia sido ocupado por um cemitério. O projeto e a construção
ficaram a cargo de Cipriano Del Fávero, e a sua inauguração se deu em 1917. Foi o
primeiro edifício de dois pavimentos na cidade e, durante algum tempo, o único.
Com o crescimento das atividades administrativas do Município, o espaço
físico do prédio tornou-se insuficiente. Por isso, as atividades foram transferidas e, em
1993, quando o Poder Legislativo ocupou as novas instalações do Centro
Administrativo, o prédio passou a abrigar o Museu Municipal. O estilo arquitetônico
do prédio é conhecido como eclético, pela mistura de diversos outros que compõem
sua construção, característica do século XIX no Brasil.
O Coreto integra o conjunto urbanístico formado pela Praça Clarimundo
Carneiro, constituído pela própria Praça e o Palácio dos Leões – Museu Municipal.
A obra foi inaugurada em julho de 1925, durante a administração do Agente
Executivo Sr. Eduardo Marquez (1923–1927). Este administrador tinha uma atenção
especial com os jardins públicos e, desta forma, sua gestão ficou conhecida pela
população como o “Governo das Flores”.
Em uma de suas visitas a São Paulo, Eduardo Marquez se encantou com o
coreto de um jardim público. Decidiu então construir aqui, em Uberabinha, uma
obra parecida. Trouxe consigo fotografias e plantas que o ajudariam na execução do
projeto. Chegando aqui, procurou o construtor Américo Zardo que o informou que a
obra ficaria em cinco contos de réis. Achou muito caro e, por falta de recursos,
desistiu.
José Andraus Gassani, um empresário sírio-libanês local, não aceitando o
desânimo do amigo, resolveu abraçar a causa e fez uma relação das pessoas que
poderiam colaborar. Ele e o Agente Executivo foram os primeiros nomes da lista
doando cinquenta mil réis cada um.
A construção foi feita em frente ao Paço Municipal que já havia sido inaugurado
em 1917, quando a praça ainda se chamava Praça da Liberdade. Em 1929, o lugar
passou a se denominar Praça Antônio Carlos e, em 1961, Clarimundo Carneiro.
O Coreto sofreu poucas alterações ao longo dos anos. As mais significativas, em
épocas não determinadas, foram a instalação de banheiros no térreo, a redução dos
pilares de alvenaria que tinham prolongamentos decorativos no nível do solo e
delimitavam espaços entre os quais eram colocados bancos, a alteração das portas do
primeiro pavimento e a retirada do forro de madeira.
A restauração de 1986 preservou os elementos originais, com exceção das portas
28
do pavimento térreo, que foram substituídas por portas metálicas. Sistematicamente o
foto:
Coreto é revitalizado através de ações de preservação como limpeza e pintura.
***
Casa da Cultura
Praça Coronel Carneiro, 89 - Fundinho
A Casa da Cultura foi construída entre os anos de 1920 a 1924 pelo Sr. Eduardo Marquez, Agente
Executivo do Município nos anos de 1923 a 1926. O projeto arquitetônico da residência foi inspirado em um
palacete paulista que o Sr. Marquez conheceu em uma de suas viagens a São Paulo, de onde trouxe fotografias e
desenhos.
O projeto foi confiado ao engenheiro Fernando Paes Lemes, e a construção ficou a cargo do
empreendedor Américo Zardo. Esta foi uma edificação muito imponente para a época, pois empregava
materiais oriundos do exterior e de outros estados, tornando-se destaque no cenário urbano.
O edifício tem características do estilo eclético agrupando em sua linguagem elementos de estilos
historicistas, em voga nos grandes estados brasileiros como o clássico frontão e ornamentos que remetem ao
bucolismo romântico, possuindo o corredor alpendrado que faz alusão à tradicional varanda colonial. O porão
apresenta um pavimento térreo com alicerces de pedra moída e alvenaria estrutural de tijolos maciços,
acompanhando quase totalmente o volume da casa, com esquadrias de madeiras aliadas ao vidro, cujo gradil
aparece apenas no porão.
As esquadrias do primeiro piso são constituídas por portas e janelas em madeira e vidro, compostas de
duas folhas. Neste pavimento, o piso em parquete apresenta madeira trabalhada em tons claro e escuro; no salão
lateral direito e no salão principal, tanto o piso como o forro possuem tratamento diferenciado, observado pelo
primor na colocação das peças, originando desenhos simétricos. As paredes internas são revestidas por pintura
em tom pastel, apresentando um tom ocre nos barrados e alguns cômodos são ornados com pinturas
decorativas.
No ano de 1932 o Coronel Eduardo Marquez vendeu o imponente imóvel ao Senhor João de Oliveira
Guimarães que logo o repassou, no ano de 1937, ao Dr. Laerte Vieira Gonçalves que realizou algumas
intervenções na arquitetura.
Dr. Laerte pretendia transformar parte do imóvel em Casa de Saúde e Maternidade, desta forma, ele
mandou construir um anexo na lateral voltada para a Rua XV de Novembro, destinado a ser sala de cirurgia e de
esterilização. Apesar das críticas recebidas pela intervenção, as alterações não descaracterizaram o imóvel, pois
foram realizadas acompanhando o estilo arquitetônico e também conservou os elementos decorativos da
fachada. No imóvel foram desenvolvidas atividades médico-hospitalares até o ano de 1961, quando foi alugado
29
foto:
**
pelo Estado para ser uma Delegacia
Regional de Polícia.
Por aproximadamente 20 anos a
edificação foi utilizada pelo governo
estadual para fins diversos até no ano de
1983. Foi Delegacia de Polícia, Centro
Regional de Saúde, Superintendência
Regional da Fazenda e, finalmente, por não
ter nenhuma função definida, serviu
também para depósito de material roubado
ou inutilizado. Em 1975, através do Decreto
16.985, o Estado desapropriou o imóvel dos
herdeiros do Dr. Laerte.
O palacete resistiu de pé às mazelas
daquele período conturbado da história do
país, ao desgaste do tempo e às intervenções
humanas, entretanto, as marcas deste
passado ficaram simbolizadas no descaso
com a sua preservação.
No início da década de 1980
aconteceu a criação da Secretaria Municipal
de Cultura e também a assinatura de um
contrato de comodato entre o Estado com o
Município, segundo o qual a edificação
deveria se tornar a Casa da Cultura. Após
entendimentos políticos, o imóvel foi
definitivamente doado à cidade de
Uberlândia, em maio de 1984, sob as
mesmas condições.
A Casa da Cultura resiste e se
impõe agarrada às reminiscências do ontem
e antenada ao processo interativo do hoje.
30
foto:
***
Oficina Cultural
Praça Clarimundo Carneiro,
204 - Fundinho
Tombada como
Patrimônio Histórico
Municipal pela Lei nº
4.217 de 15/10/1985 -
alteradas pelas Leis nº
12.299 de 19/11/2015 e nº
12.593 de 28/12/2016.
Registrado no Livro do
Tombo Histórico,
Inscrição IV, pág. 06.
foto:
**
A Igreja Nossa Senhora do Rosário se constitui referência para a cultura local não só porque abriga a
Festa em Louvor a Nossa Senhora do Rosário e São Benedito mas, também, por ser o prédio religioso mais
antigo no espaço urbano de Uberlândia.
A primeira edificação de uma Igreja do Rosário na cidade foi pensada em 1876, para ser executada na
atual Praça Doutor Duarte, por isto, o lugar ficou conhecido na época como Largo do Rosário. Em 1891, o Sr.
Arlindo Teixeira, membro da Comissão Procuradora da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, propôs uma
mudança de endereço para a construção da Igreja. Desta forma, ela foi iniciada em 1893 em um terreno vago
que atualmente se denomina Praça do Rosário que, naquela época, eram lotes que estavam afastados do centro
urbano.
Era uma construção modesta, com estrutura autônoma de madeira e fechamento em tijolos de adobe,
frontispício voltado para o antigo Ribeirão São Pedro (atualmente Avenida Rondon Pacheco). Contava com
três portas, sendo uma central mais larga e duas laterais, além das janelas com balaústre de madeira recortadas
no nível do coro.
Nos anos seguintes, o centro urbano cresceu geograficamente e as imediações da Igreja do Rosário
tornaram-se um lugar no qual as famílias tradicionais começaram a edificar suas residências. Existia um
descontentamento da população com aquela construção que era considerada acanhada. Desta forma, por
iniciativa de Cícero Macedo, formou-se uma comissão encarregada da construção de uma nova igreja que
fosse “mais condizente com a época”. A comissão conseguiu recursos da população local e viabilizaram entre
os anos de 1928-1931 a construção da nova Igreja que foi inaugurada em maio de 1931.
Anualmente é celebrada a Festa do Congado, que reúne centenas de membros da Irmandade de Nossa
Senhora do Rosário. Nesses dias, as imagens de São Benedito e de Nossa Senhora do Rosário são preparadas
em seus andores para que possam abençoar a Festa, que é uma das mais representativas da cultura
32 afrodescendente de Uberlândia.
foto:
**
Mercado Municipal
Rua Olegário Maciel, 255 - Centro
Tombado como
Patrimônio Histórico
Municipal pela Lei nº
8.130 de
29/10/2002.
Registrado no Livro
do Tombo Histórico,
Inscrição VII, pág.
09.
34
Residência Chacur
Rua Vigário Dantas esquina com
Rua Marechal Deodoro da Fonseca
B. Fundinho
A Praça Tubal Vilela é parte dos projetos urbanísticos elaborados no final do século XIX objetivando a
construção de uma cidade moderna. No ano de 1898, o engenheiro da Mogiana, o inglês, James John Mellor, que
estava na cidade para implantação da Estrada de Ferro Mogiana, foi contratado pela comunidade para desenhar a
planta do espaço urbano que ficou conhecido como a “Cidade Nova”.
O projeto previa a abertura de seis avenidas entre a parte mais antiga da cidade e a Estação da Mogiana. O
quarteirão mais central dessa expansão, atual Praça Tubal Vilela, foi destinado à construção de um jardim, que
recebeu o nome de Praça da República. Este local era usado, anualmente, para encontro de grupos de congado que
se dirigiam à Igreja do Rosário, situada nas proximidades e, nos anos de 1915, fora utilizado como campo de
futebol.
Entre os anos 1912 – 1922, a cidade teve como administrador o Sr. João Severiano Rodrigues da Cunha
que, para embelezá-la plantou de oito a dez moitas de bambu gigante que cresceram espantosamente e davam
sombra magnífica em qualquer hora do dia e agasalho a milhares de passarinhos que sonorizavam as madrugadas
da primavera e do verão. A praça continuou a ser oficialmente Praça da República, mas o povo passou a
denominá-la de “Praça dos Bambus".
Em 1925, uma lei municipal determinou que a praça e as ruas circundantes: as avenidas Afonso Pena e
Floriano Peixoto, as ruas Visconde de Rio Branco (atual Duque de Caxias) e Luziânia (atual Olegário Maciel)
fossem destinadas à construção de um parque municipal.
Em 1938, o Interventor Municipal Vasco Giffoni confiou ao técnico de Belo Horizonte Júlio Steinmetz, o
trabalho de execução de uma planta para a construção de um novo projeto de jardim, com características
classicizantes. Este projeto apresentava uma organização parcelada em canteiros ordenados em quadrículas, com
tratamento paisagístico elaborado a partir do conceito de jardins europeus e o uso de plantas exóticas, porém com
algumas espécies nativas. A proposta contemplava vários passeios internos, com uma fonte localizada em seu
centro, nas extremidades de um lado alguns bustos e de outro um coreto. O jardim ficou pronto e, em plena era
Getuliana, a Praça recebeu o batismo de Praça Benedito Valadares como tributo ao Interventor.
A sucessão dos acontecimentos nos leva ao ano de 1945 e ao fim do governo de Vargas, quando a Praça
volta a se chamar Praça da República. No ano de 1958, o lugar recebeu o nome de Praça Tubal Vilela, em
homenagem ao ex-prefeito de Uberlândia.
36 foto:
***
Em janeiro de 1959, o prefeito Geraldo Ladeira levantou problemas referentes
à remodelação urbana e convidou o arquiteto João Jorge Coury para trabalhar na
configuração desse espaço. Neste projeto, ele teve como colaboradores o arquiteto
Ivan Rodrigues Cupertino, os irmãos engenheiros Rodolfo e Roberto Ochôa e
Sebastião da Silva Almeida. Entre o desenvolvimento do projeto e a construção da
praça, executada pelo próprio escritório de João Jorge Coury e Rodolfo Ochôa, foram
dois anos de trabalho.
A praça foi inaugurada no aniversário da cidade, em 31 de agosto de 1962. Está
localizada no centro da cidade, em um quarteirão de forma retangular (102 x 142 m),
com uma área de 14.484 m2 e inserida na malha urbana de traçado xadrez, com uma
topografia plana e suave. João Jorge Coury concebeu a praça como um espaço de
convivência e manifestação pública, onde o centro livre sobressai na sua organização,
que é enfatizado através da forte paginação de piso e dos acessos em “X”, diagonais
que convergem das esquinas para este centro.
Possui um programa diversificado, com equipamentos comunitários tais
como: concha acústica, fonte sonoro-luminosa, espelhos d'água, instalações
sanitárias, grandes bancos contínuos e estacionamentos. A organização determina
setorizações que podem ser definidas pelos elementos construídos ou pelo
paisagismo, buscando tirar partido dos aspectos visuais ou explorando a visibilidade,
permitida com o uso de espécies vegetais em três níveis de abordagem: forrações,
arbustos e árvores, que sugerem as possibilidades cênicas e volumétricas entre piso,
barreiras e coberturas.
O projeto dispõe os equipamentos comunitários em ambientes, sem obstruir as
linhas de comunicação espontâneas ou o centro livre. A concha acústica frontal ao
centro livre está colocada no eixo central da Avenida Afonso Pena. Sua volumetria
destaca-se por sua proporção e por sua elevação em relação ao solo. A consequente
leveza é reforçada pelo espelho d'água, que separa a plateia do palco; o acesso ao palco
é feito pelo lado posterior da concha e por duas rampas externas, laterais ao palco, que
se apresentam totalmente integradas ao conjunto. A fonte sonoro-luminosa é o
elemento plástico mais audacioso: um volume em forma de um prato de concreto
iluminado, assentado sobre um outro de forma triangular envolvido por um espelho
d'água.
Esses volumes destacam-se por suas superfícies tecnicamente trabalhadas. A
utilização de bancos contínuos e coletivos, executados em concreto, com moderno
despojamento, sem ornato, em substituição aos tradicionais, inova ao propor
dimensões de até 50 metros. Quanto à sua implantação, estão associados ao próprio
traçado urbano: a maioria penetra nos grandes canteiros, exceção feita aos bancos
centrais, que auxiliam na delimitação física do centro livre, direcionando o fluxo do
caminhante. A pavimentação emprega a pedra portuguesa, trabalhando a superfície
em faixas brancas e pretas dispostas paralelas e longitudinalmente à Praça acentuando
sua horizontalidade, que só é rompida pelos grandes canteiros e pelos bancos
contínuos.
Várias modificações em seu projeto original foram realizadas desde então.
Entretanto, a Praça nunca deixou de ser o “cartão-postal” da cidade de Uberlândia e,
Detalhe chafariz além de ser espaço urbano de lazer e convivência, tem sido também ao longo dos anos
Praça Tubal Vilela – Centro
palco para múltiplas manifestações políticas e culturais.
37
foto:
***
Prédio da Escola
Estadual de Uberlândia
Praça Adolfo Fonseca, 141 - Centro
A Escola Estadual Dr. Duarte Pimentel de Ulhôa teve sua construção iniciada em 1926 com verba do
Governo Estadual, durante a gestão de Antônio Carlos de Andrade e a obra foi concluída em 1930, mas só entrou
em funcionamento em 1932 com o nome de “Grupo Escolar Minas Gerais”. Em 1934, passou a chamar-se Grupo
Escolar Dr. Duarte Pimentel de Ulhôa, em homenagem ao Juiz de Direito da Comarca de Uberlândia.
A escola foi construída com uma arquitetura também presente em outras cidades do Estado. No padrão das
construções escolares da época, sua planta desenvolve-se em “U”, com um pátio na área central. A fachada tem
como característica principal a simetria e a regularidade é marcada por um frontão neoclássico sobreposto a um
frontão recortado e este elemento central arremata e recebe a escadaria de acesso principal ao hall de entrada. A
partir desse hall, desenvolvem-se, para cada lado, dois corredores abertos voltados para a rua, que sustentam
cinco colunas e fazem a ligação com os corredores laterais que dão acesso às cinco salas e um banheiro disposto
em cada uma das duas extremidades formando as alas perpendiculares. Essas alas definem o partido da planta em
formato de “U”.
Em 1963, foi construído um anexo para abrigar a cantina, composta de um galpão e uma cozinha e ainda
uma residência para o zelador. Em 1974, em decorrência da Resolução 269 de 04/09/73, a escola passou a
oferecer as oito séries do ensino fundamental. Foi, então, construído um novo anexo que ocupou o fundo do
terreno paralelo à fachada principal, promovendo o fechamento do pátio central. Em 1984, a escola recebeu novo
acréscimo com a construção de um galpão para abrigar novas salas de aula e a biblioteca, paralelamente ao anexo
anterior.
Em 1987, a escola contava com 1.200 alunos quando, no dia 4 de outubro, sofreu um grande incêndio
decorrente de um curto circuito na fiação precária, provocando grave destruição. No mesmo mês, no dia 28, o
então Governo do Estado liberou recursos para a reconstrução do prédio. As atividades escolares foram
retomadas em 1989.
A Escola Estadual Dr. Duarte Pimentel de Ulhôa foi construída segundo projeto oferecido pelo Governo
Estadual e apresenta o mesmo padrão arquitetônico de outras escolas construídas nas cidades vizinhas, no
mesmo período em que se destacam o porão alto e as tendências neoclassizantes.
40
foto:
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Edifício Uberlândia Clube Sociedade
Recreativa e Mobiliário
Rua Santos Dumont, 517 - Centro
44
Palacete
Ângelo Naghettini
Av. Afonso Pena, 56 - Centro
foto:
**
O Palacete Ângelo Naghettini foi construído entre os anos de 1925 e 1927 por
um construtor alemão que se encontrava na cidade a serviço da Prefeitura Municipal,
cujo nome não pôde ser identificado.
O edifício, com três pavimentos, era o mais alto da cidade na época de sua
construção e um dos mais requintados. Empregou tecnologia inovadora utilizando
cimento importado, novos materiais nos acabamentos, mobiliários e ornamentos
também importados.
Foi projetado para abrigar a residência da família Naghettini e o estúdio de
fotografia, que ocupavam o primeiro pavimento. Alguns cômodos comerciais no
térreo foram usados para outros empreendimentos do proprietário, tais como empresa
funerária, ótica (a primeira da cidade), loja de jóias e fábrica de molduras de quadros e
espelhos (também a primeira da cidade). O terceiro pavimento constituía-se de um
mirante e sótão, que durante algum tempo foi utilizado como estúdio fotográfico.
Depois da morte do Sr. Naghettini, em 1970, a divisão dos cômodos do térreo
foi alterada e alugados para estabelecimentos comerciais. O primeiro e o segundo
pavimentos permaneceram desocupados até 1983, quando o imóvel foi arrematado
em leilão pelo Sr. Victório Siquieroli. Após esta data, o primeiro e segundo
pavimentos também foram redivididos e passaram a ser alugados para lojas. O
proprietário do imóvel adquiriu o terreno da lateral esquerda e o transformou em
estacionamento para as lojas. Em 2000, todo o edifício foi reformado.
O edifício de três pavimentos possui planta regular, é alinhado à calçada, tem
acesso pela avenida Afonso Pena, através do pavimento térreo. Possui uma escada
lateral nos fundos, datada da época da construção, que leva ao segundo pavimento
onde se localizavam as demais dependências da residência.
Esse edifício marca o início das construções no espaço urbano de Uberlândia
que ficou conhecido como “Cidade Nova”. Sua beleza e excentricidade nos dão
mostra dos projetos arquitetônicos que estavam sendo incorporados e implementados
em Uberabinha no início do século XX.
45
foto:
***
Imagem de Nossa Senhora do Carmo
Tombada como Patrimônio Histórico Municipal pelo Decreto nº 10.775
de 23/07/2007.
Registrado no Livro do Tombo Belas Artes, Inscrição I, pág. 03
Revalidação no ano de
2018, publicado no
Diário Oficial do
Município de nº 5.514 de
14/12/2018.
48
foto:
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Igreja
Nossa Senhora das Dores
Rua Dom Barreto nº 60 - Fundinho
53
foto:
**
Painel Cena Portuguesa
Rua Santos Dumont, 174.
Tombado como Patrimônio Histórico
Municipal pelo Decreto nº 12.904 de
30/06/2011. Registrado no Livro do Tombo
Belas Artes, Inscrição II, pág. 04 (verso).
Análise Iconográfica:
O painel possui formato retangular, porém
na construção da imagem observa-se delineamento
da mesma em formato ameboide. Ocupa
aproximadamente 27,5 m2 medindo 3,55 m de
altura por 7,80 m de largura. A técnica utilizada pelo
autor foi o mosaico em pastilhas de vidro coloridas,
de 2 x 2 cm, assentadas sobre cimento branco. O
painel figurativo é composto por três cenas à frente e
fundos variados. No primeiro plano, à esquerda,
tem-se a figura de um jovem sobre um conjunto de
pedras marrons, com o corpo frontal levemente
inclinado, cabeça em perfil voltada para a direita e mão direita segurando um jequi, com o cesto para cima e a haste
apoiada sobre as pedras. O jovem está de chapéu escuro e veste casaco claro que se estende até os joelhos. O cenário
ao fundo é composto pela linha do horizonte, dividindo-o em plano inferior com colorações de verde-água e
branco, induzindo movimento do mar, e plano superior com coloração gradativa do branco ao azul anil. A imagem
central apresenta, em primeiro plano, uma figura masculina de meia-idade, inclinada para direita, com a cabeça na
posição frontal e rosto arredondado. Está vestido com camisa branca, colete e chapéu pretos. Suas mãos estão
apoiadas num balcão volumétrico nas cores azul e branco, sobre o qual estão algumas frutas. Ao fundo nota-se uma
edificação de estilo clássico, emoldurada por um arco pleno que se estende até a extrema direita.
Na lateral direita, um casal com roupas típicas de Portugal, sob a continuação da arcada, com uma vegetação
densa verde ao fundo e flores à frente. Ao fundo, céu azul. A figura feminina de meia-idade está na posição frontal e
com a cabeça voltada para a figura masculina. A mulher apresenta rosto com formato oval e chama atenção à sua boca
de contorno vermelho. Suas mãos estão na cintura, traja uma saia preta com detalhes florais coloridos, um colete
preto com camisa de manga longa branca e na cabeça um lenço vermelho. A figura masculina, também de meia
idade, tem o corpo e cabeça voltados para a mulher. Ele veste calça preta, casaco curto, também preto, com detalhes
vermelhos. Seu braço direito está passado na cintura da mulher. O casal repousa sobre piso quadriculado nas cores
amarelo e marrom.
Análise Iconológica:
O painel ilustra o desejo de ser evidenciada a ascendência europeia, já que possui 3,55 x 7,80 m e está
estampado na fachada frontal da residência, portanto, aberto e exposto para a rua. De herança portuguesa, o
proprietário encomendou um mural que retratasse suas origens. Foram representados o Teatro de São Carlos, o
casal da região do Minho, as colunas da região de Leiria, o sargaçeiro, pescador de algas com suas roupas típicas e o
comerciante português que remete à importância do comércio para a família.
54 foto:
**
Painel Ciranda de Crianças
Avenida João Pinheiro, 646.
Análise Iconográfica:
O painel é composto por imagens de
ciranda de roda na sua maior parte, à direita,
motivo junino, e ao fundo, motivos
geométricos. Na cena principal, a primeira
menina na parte mais central da roda está de frente, com rosto redondo, cabelos escuros, usa vestido azul com bainha
branca, sapatos brancos e meias verdes. À sua esquerda, menina de perfil, com rosto redondo inclinado à sua direita,
com cabelo castanho e curto, preso com “rabo de cavalo” e fita branca. Usa vestido branco, gola em decote em “V”,
com manga e bainha azuis, laço na cintura, sapatos vermelhos e meias brancas. À sua esquerda, uma menina de
costas, com a cabeça voltada no mesmo sentido. Ela tem os cabelos claros no ombro, veste blusa vermelha, saia verde
com listra vermelha acima da bainha, sapatos pretos e meias brancas. À sua esquerda um menino de costas, com o pé
direito apoiado no chão e o esquerdo no ar. Ele usa camisa azul e bermuda preta com suspensórios preto, sapato
preto e meias brancas. À sua esquerda, outro garoto, também de costas, mas com a cabeça levemente inclinada. Suas
roupas são iguais ao anterior, com os suspensórios verde. À sua esquerda uma menina de perfil, com rosto inclinado,
cabelos pretos amarrados, vestido branco com detalhes azuis, sapatos vermelhos e meias brancas. À sua esquerda,
fechando a roda, uma garota com o corpo e cabeça voltados para sua esquerda. Ela tem os cabelos claros, amarrados,
usa vestido azul de detalhes vermelhos e botas brancas. Ao fundo da ciranda, na porção superior, a composição
geométrica é definida por uma faixa verde e na porção inferior, por uma faixa azul escuro. Entre as faixas, geometria
assimétrica maciça composta com tonalidades azul claro, verde e bege.
Análise Iconológica:
O painel remonta à tradicional festa junina muito celebrada na região. Este mural pode ser enquadrado
dentro de uma vertente de criação espontânea do artista, já que era hábito do mesmo retratar os filhos em situações
cotidianas como as brincadeiras. Assim, buscou-se retratar o cotidiano como a ciranda de roda e o regionalismo
representado pela festa junina. O regionalismo como tema marca o desejo de criação de uma arte nacional, que,
segundo Tadeu Chiarelli (2002), até o final da II Grande Guerra, a arte brasileira mais valorizada era aquela
preocupada em caracterizar as peculiaridades locais, já num momento tardio, neste caso, que data da segunda
metade da década de 1950. Os símbolos representados como a fogueira, fazem alusão a proteção e purificação do
local onde está instalada e o mastro referência à devoção e agradecimentos ao santo.
A ciranda também tem uma conotação importante, pois se trata de uma dança infantil popular que não
requer muita destreza e seu ritmo permite a participação de pessoas de várias idades.
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foto:
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Painel Sahtten - Ambiente Rural
Avenida João Pinheiro, 220.
Análise Iconográfica:
O painel figurativo em
perspectiva apresenta como tema
o campo, ou seja, o ambiente
rural. Compreende uma
fazenda, com relevo ao
horizonte, as edificações e
animais. Podem–se configurar
três planos representativos: o
plano de fundo (ou terceiro
plano), que se alinha à visão do
observador e onde se encontra as
casas, o curral e alguma
vegetação de entorno; o primeiro
plano onde as estão figuras de gado, sendo estes dois bois malhados que repousam sobre o pasto, à esquerda, e dois,
mais ao longe, à direita. A harmonia das cores se dá pela utilização do azul, verde, amarelo e rosa em várias
tonalidades, além da cor preta e branca, estas últimas, usadas como valores. Predominantemente, encontram-se os
tons de azul e verde no plano de fundo, azul, rosa e amarelo no plano intermediário e tons de verde, ocre e branco no
primeiro plano. O preto está inserido nos galhos de árvores, cercas e em alguns contornos.
Análise Iconológica:
O painel envolve a questão relacionada ao ruralismo, ainda marcante na economia local da época,
caracterizando também o poder respaldado pelos fazendeiros e coronéis. A cena representada remonta ao
bucolismo e calmaria da natureza. Essa percepção se dá principalmente pelo plano de fundo, com montanhas na cor
ocre, mata na cor verde claro e o céu que mistura tons claros e escuros de azul, além de nuvens brancas. Na parte
central, demonstrando maior importância, localiza-se um casarão, sem muitos detalhes de fachada, nas cores azul,
cinza e telhado mesclando o rosa claro e o marrom. Provavelmente, esta é a casa do fazendeiro Naves, pois é evidente
sua hierarquização em face dos outros elementos, como a casa menor à esquerda, com o telhado nos mesmos tons,
mas diferenciando a fachada com uma maior mistura de cores, diminuindo sua harmonia e beleza e nos indicando
sua menor importância. Neste mesmo plano, ainda vemos uma cerca na cor preta, árvores de fundo e o chão na cor
ocre, que faz nítida separação entre o pasto, na cor verde em tons claros e escuros, do primeiro plano. Neste,
encontram-se quatro bois malhados. Os dois primeiros em destaque repousam sobre o pasto e são coloridos em
tons de marrom, rosa e contorno preto. Mais ao lado e distante, à direita, encontram-se outros dois bois em pé e
pastando.
56
foto:
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Painel Indígena Brasileiro
Rua XV de Novembro, 743.
Análise Iconográfica:
No primeiro plano de
composição do painel destaca-
se o casal indígena, composto
por pastilhas nas cores ocre,
tons de vermelho e preto. Essas
figuras se apoiam sobre um
tronco de pastilhas nas cores
azul, preto, ocre e amarelo, e o
índio, à esquerda, carrega nas
mãos uma flecha com um par
de aves e um arco,
representando um ato comum
do seu cotidiano: a caça. Este segura a índia pelo braço. Neste ponto, foram aplicadas pastilhas pretas, definindo o
contorno da mão, não permitindo que esta se misturasse ao braço dela. Neste mesmo plano a vegetação é detalhada
em tons de ocre, verde e vermelho, permitindo serem identificadas árvores de grande porte, pequenas plantas, flores
tropicais, a terra, cipós, as raízes das árvores sobre a água e um caminho, que ali se inicia e se estende até o terceiro
plano. Já o segundo plano é menos detalhado, a massa vegetal é retratada por uma camada verde-claro uniforme e se
mistura à água, em um tom de azul que vai se tornando mais claro até assumir a posição de céu. Este último plano só
se torna perceptível devido à representação de dois pássaros brancos e à presença de duas árvores menores, que dão a
sensação de profundidade e demarcam o limite entre a terra e o céu.
Análise Iconológica:
Mesmo, de acordo com Tadeu Chiarelli (2002), com uma parcela considerável de artistas que vão deixando,
a partir da década 1950, de lado a necessidade preconcebida de criação de uma arte nacional, a favor de uma produção
disposta a se constituir através de um diálogo direto com as questões da arte contemporânea internacional, percebe-
se nesta obra, ainda, a influência do ideal nacionalista. O tema indígena e a natureza tropical representam um ideal,
até romântico, de valorização do nacionalismo, que na arte brasileira direcionou vários artistas. Ainda, conforme
Chiarelli (2002), preocupados em constituir aprioristicamente uma arte brasileira com características próprias,
vários deles deixaram de dar vazão as suas personalidades às questões inerentes à arte para se engajarem naquele
programa.
O prédio que abriga a Escola Estadual Enéas Oliveira Guimarães foi construído no final do século
XIX por Antônio de Rezende Costa, conhecido em seu tempo como Tonico Rezende, natural de Paracatu, que
se estabeleceu como comerciante em São Pedro de Uberabinha no final do século XIX.
A empresa Antônio de Rezende & Companhia foi instalada em uma região da cidade que, entre o final do
século XIX e início do XX, possuiu três nomes: Largo do Rosário, Largo do Comércio e Praça Dr. Duarte. O
local passou a ser denominado Largo do Comércio, devido a concentração de várias casas comerciais em seu
entorno que comercializavam grande variedade de produtos, no atacado e no varejo como ferramentas,
implementos e suplementos agrícolas, cereais, algodão, borracha, couro, material de construção, apetrechos
domésticos, armarinhos, querosene, sal, dentre outros.
Estabelecida a casa comercial e vislumbrando a possibilidade de expansão dos seus negócios, Antônio de
Rezende procurou ampliá-los construindo um galpão que serviria de depósito para o seu comércio. Optou
também por construir ali mesmo, ao lado, a sua residência.
A residência foi construída no alinhamento das ruas XV de Novembro e o Largo do Comércio, com sua
entrada voltada para o Largo. O primeiro bloco que compõem a residência é uma edificação retangular que
apresenta influências arquitetônicas do estilo neoclássico (ainda que de forma discreta e incipiente). A
organização interna obedece à lógica desse estilo, aplicado à arquitetura residencial: a porta principal dá acesso a
um corredor ao longo do qual, quase simetricamente, distribuem-se os cômodos. São três cômodos à direita do
corredor (o primeiro a sala de estar e os dois demais dormitórios) e três cômodos à esquerda (um dormitório, o
escritório e, no fundo, já incorporando a área que seria a continuidade do corredor, a sala de jantar).
A Sala de Estar apresenta forro decorado (pinturas sobre tecido) e paredes também decoradas. Tanto as
pinturas do forro quanto das paredes foram atribuídas ao construtor e pintor Cipriano Del Fávero. Esse bloco
foi todo construído em alvenaria estrutural de tijolos maciços. Apresenta porão baixo não habitável. O piso é
todo de estrutura de barrotes de madeira sobre a qual foram assentadas tábuas.
Também nas fachadas externas há elementos decorativos condizentes com as aspirações do estilo
neoclássico. São elementos sóbrios e que buscam um equilíbrio visual. Colunas feitas na própria alvenaria
estrutural de tijolos maciços aparecem nos cantos da construção, com dois capitéis cada e acabamento também
decorado nas suas partes inferiores. Dos capitéis mais baixos sai uma moldura que envolve toda a casa, e dos
mais altos saem as cimalhas sobre as quais se apoiam visualmente as quatro águas do telhado.
As janelas e porta principal apresentam molduras decoradas em massa, e cada esquadria apresenta
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Detalhe do teto da sala
também um elemento decorativo horizontal superior (sobreverga). A porta principal
possui uma bandeira com arco pleno fechada com uma grade de metal. Todas as janelas
possuem bandeiras e folhas de veneziana de madeira e de vidro. Os vidros, como
também pode-se constatar nas fotos de época, eram decorados. Verifica-se também nas
fachadas laterais e de fundos pequenas grades nos vãos de ventilação do porão. As
portas internas do bloco eram altas, com bandeiras de vidro. O telhado desse bloco é
em estrutura de madeira com tesouras, em quatro águas, e com fechamento em telhas
cerâmicas tipo francesa. Sob a estrutura foi instalado forro de madeira.
Um segundo bloco (ligado ao primeiro pela sala de jantar) abrigava
originalmente cozinha e banheiros. Esse bloco liga morfologicamente a residência e o
armazém comercial, existindo entre eles o pátio frontal do conjunto, pelo qual
também se acessava a residência. Sua saída posterior dava para o quintal. Tem as
características construtivas similares às do primeiro bloco. O telhado também em
estrutura de madeira apresenta quatro águas com três calhas ao longo delas, uma no
centro e uma em cada lateral. Sob a estrutura também foi instalado o forro de madeira.
As telhas também eram de cerâmicas do tipo francesas. A fachada frontal apresenta dois
frontões triangulares que emolduram essas quatro águas do telhado.
O armazém foi construído perpendicularmente ao então Largo do Comércio e
consolidava o conjunto arquitetônico original. Tinha entrada original para o Largo
com três portas. Tinha na fachada lateral voltada para o pátio central elementos
decorativos e também janelas redondas. O estilo segue a inspiração neoclássica do
restante do imóvel. O telhado do bloco é em estrutura de madeira, em 4 águas, e
coberto com telhas cerâmicas tipo francesa.
O pátio frontal era um acesso alternativo à residência. O fechamento é
constituído de duas pilastras, muro baixo e grade metálica. Sobre as pilastras havia dois
grandes vasos ornamentais. Havia também no seu interior canteiros para o cultivo de
um jardim.
Com as reminiscências de sua infância, passada na casa, Luiz Antônio fez uma
detalhada descrição de seus espaços internos e externos e relatou que “para a construção
da residência, meu avô, já exercendo atividades pioneiras de importador e exportador, importou
grande parte do material de construção, pois se fazia necessário: assim, adquiriu as telhas de
Marselha, na França, os vidros da Bélgica, as ferramentas e ferragens, da Inglaterra, as madeiras de
pinho de Riga da Lituânia, e as portas e janelas de Portugal. Para pintar e decorar a casa chamou de
Franca (S.P.) o pintor Cipriano Del Fávero. Nas paredes ele usou painéis e padrões artísticos que
inspiraram posteriormente a pintura de outras casas e também iniciou aqui as técnicas adotadas por
outros pintores como o falecido Ido Finotti. Cipriano Del Fávero, mais tarde projetou o prédio da
antiga prefeitura, construída no antigo cemitério, hoje praça Clarimundo Carneiro. Essa casa, hoje
centenária, foi a primeira a ter tubulação de água quente no banheiro e cozinha que era, de início,
aquecida por serpentinas e, posteriormente, por caixa térmica.
Em depoimento informa ainda que “para a inauguração de sua residência em 06 de
outubro de 1897, comprou da França para sua sala de visita, pintada por Cipriano Del Fávero, o
primeiro conjunto estofado da cidade que constava de sofá, duas poltronas, e duas cadeiras estofadas e
importou um piano marca G. Schwechten de Berlim – Alemanha...”
Essas são reminiscências que, assim como outras, preservam a história dessa
cidade.
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Folia de Reis de Uberlândia
Registrada como Patrimônio Imaterial Municipal
elo Decreto nº 16.836 – 23/11/2016. Registro no Livro
das Celebrações, Inscrição II, pág. 04.
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Praça do Rosário
Registrada como Patrimônio
Imaterial Municipal pelo
Decreto nº 17.903 –
07/01/2019. Registro no Livro
de Lugares, Inscrição I, pág. 66.
O Patrimônio Cultural
é elemento fundamental na
formação da identidade cultural
de um povo, portador de
expressivo valor simbólico e
social, que se manifesta através
dos bens materiais e imateriais representativos para a comunidade.
Uberlândia é uma cidade que se formou em meados do século XIX e, naqueles anos a religiosidade
ditava a cadência do cotidiano em São Pedro de Uberabinha. O Arraial se estabeleceu a partir da construção de
uma Capela dedicada à Nossa Senhora do Carmo, demolida nos anos de 1940, local atualmente conhecido
como Bairro Fundinho e que abrigou as principais manifestações religiosas daqueles anos. No entorno da
pequenina Capela as primeiras famílias se aglomeraram e construíram o primitivo núcleo urbano da cidade. A
legislação municipal organizou o espaço urbano e a Igreja instituiu os hábitos, costumes e tradições de um
Arraial que, desde o início, se sustentou nos alicerces da modernidade e progresso.
A Praça do Rosário foi criada de forma adversa! Este espaço urbano se formou nos arrabaldes do
Arraial em terreno contíguo ao cerrado, localizado depois do cemitério e cercado por chácaras, caminhos,
trilhos e estradas de saída da cidade. Local de pouca importância na cartografia urbana, se constituindo a partir
dos usos e celebrações, passando a ter importância como espaço urbano somente nas primeiras décadas do
século XX.
Esta praça, e seu entorno, abrigou as práticas sociais e manifestações artísticas da comunidade negra,
forjada pelas práticas culturais e religiosas, pelos ritos e cânticos que ecoavam a grande distância das famílias dos
coronéis e comerciantes que habitavam no primitivo núcleo urbano.
A Praça do Rosário é o entorno da Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, erguida nos anos
de 1891, por descendentes de escravos, que moravam na sua grande maioria no Bairro Patrimônio de Nossa
Senhora da Abadia, localizado a grande distância da Igreja do Rosário. Desta forma, se constitui como
importante ponto de referência para a comunidade local, pois, além de ser reconhecidamente um local de
sociabilidade ela abriga desde o século XIX a Festa em Louvor à Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, uma
das maiores expressões culturais do município, Registrada como Patrimônio Cultural da cidade no ano de 2008.
Este espaço urbano expressa a diversidade cultural do Município, lugar representativo por excelência
das ambiguidades e das trocas culturais. Seus alicerces sustentam a rigidez de um tempo em que as tradições
culturais de matriz africanas não recebiam o merecido reconhecimento de sua importância para a formação da
identidade local.
Atualmente, o ecoar dos tambores ressoam alto as identidades culturais locais. Desta relação de fé,
celebração e diversidade cultural a cidade se formou e se constituiu como referência na região.
Destacadamente, reiteramos a importância da Praça do Rosário como referência na formação da
cartografia urbana e como espaço de (re) significações culturais, abrigando comunidades diversas que se
apropriaram dela como lugar de devoção, fé e múltiplas sociabilidades.
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Teatro Grande Otelo
Av. João Pinheiro, 1789 - B. Aparecida
Tombamento Provisório
aprovado pelo COMPHAC,
em 10/04/2018.
O C e n t r o
Municipal de Cultura
ocupa o prédio que foi
construído na década de 1970, para ser o Fórum de Uberlândia. As obras da construção foram iniciadas em 25 de
dezembro de 1972 e finalizadas em 02 de maio de 1977. No ano de 2017, o Fórum transferiu suas atividades para
novas e modernas instalações e cedeu a edificação ao município para abrigar um Centro Municipal de Cultura.
O projeto desta edificação é de estilo “brutalista”, de autoria dos arquitetos mineiros Roberto Pinto
Manata e José Carlos Laerder de Castro e está localizado em local de grande relevância para a história da cidade.
No final século XIX, foi construída nestas imediações, a Estação da Companhia Mogiana de Estrada de Ferro.
Todo este espaço urbano e seu entorno compunham o complexo do pátio da estação. Para além da importância
histórica do local, o prédio do antigo Fórum representou, nos últimos quarenta anos, uma centralidade social e
política, adquirindo grande valor simbólico para a comunidade em geral.
Esta importante edificação para a cidade, que abriga hoje o Centro Municipal de Cultura, está sendo
apropriada de forma efetiva pela comunidade local, pois as atividades próprias do Fórum impediam que a
população tivesse acesso às dependências na sua integralidade.
As memórias deste passado precisam ser preservadas. Entretanto, a edificação contará uma nova história.
Acolherá novos sonhos que serão encenados no palco do antigo tribunal do júri; nos corredores e vãos; nos
futuros espaços de arte que no passado eram as celas dos réus. Em toda a extensão do prédio os visitantes serão
surpreendidos com a arte; com a plasticidade de obras que valorizarão a edificação, ao mesmo tempo em que
viabilizará a compreensão dos transeuntes para a importância da sua preservação e da sua apropriação pela
comunidade local.
Os passados se reinventam através dos múltiplos relatos. As histórias, contadas, vivenciadas e/ou
silenciadas estarão diluídas nas entrelinhas de inúmeras expressões artísticas possibilitando o conhecimento de
narrativas que contam a história de formação desta cidade e seu povo.
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Centro de
Tecelagem
Fios do Cerrado
Av. Francisco Galassi, 855
B. Patrimônio
Tombamento Provisório
aprovado pelo COMPHAC,
em 07/05/2019.
O Centro Fiação e Tecelagem foi construído com o intuito de preservar o ofício das tecedeiras,
significativa referência cultural de Uberlândia. A edificação foi projetada para abrigar esta relevante arte e se
tornou importante no espaço urbano, tanto pela qualidade e originalidade arquitetônica como pela beleza dos
painéis das fachadas que remontam à trama das tecelãs. A opção construtiva pelo bloco de concreto assentado
em juntas intercaladas inspirou o artista Henrique Lemes a criar três painéis nas fachadas que sugerem tramas e
cores da tradicional produção regional.
A construção é da década de 1990 e composto por áreas administrativas, de produção e de serviço. O
conceito adotado no projeto parte de uma forma hexagonal, formando um jardim interno, circundado pelo
espaço da produção. Os demais espaços estão acoplados no hexágono de forma equidistante. No centro do
jardim interno encontra-se a caixa d'água, com 23,00metros de altura, em anéis pré-moldados, que desempenha
importante papel na intenção projetual, por estar implantada no centro geométrico da edificação.
Externamente, o elemento verticalizador é de crucial importância plástica e de destaque na paisagem urbana.
Internamente, funciona como referencial físico que, circundado pelo espaço de produção, confere a este um
aspecto integrado e não hierarquizado.
No projeto de paisagismo foram incluídas plantas como jambolão, abricó, murici, amora, urucum,
romã, etc., espécies que tradicionalmente tingiam os fios para a tecelagem manual na região.
Os arquitetos autores do projeto arquitetônico são Roberto Andrade, Maria Eliza Guerra e Márcia
Cristina Freitas. O projeto estrutural ficou a cargo do engenheiro Carlos Kaufmann e foi executado mediante
convênio entre o BID, Governo do Estado de Minas e Prefeitura Municipal de Uberlândia, com o objetivo de
regatar essa cultura, trazendo para o local as fiandeiras, que ainda hoje, detém a técnica herdada de mãe para
filha.
O edifício é um lugar que expressa a correspondência entre a integridade do edifício e a preservação do
patrimônio imaterial. O ranger dos teares e a dança das lançadeiras provocam o aparecimento da trama, de
desenhos geométricos, assimétricos, coloridos e únicos. São criações anônimas de aprendizes e mestras que
com a agilidade das mãos nos revelam a sabedoria de um tempo em que fiar, cardar e tecer, eram atividades do
passado vinculadas à sobrevivência familiar.
Na comunhão destes passados, a produção doméstica estava intimamente relacionada ao fio da vida, às
suas necessidades e aos seus sentimentos. As nuances, cores e desenhos criados nos permitem pensar na arte
como um dos fios que compõem a trama do tecido social de Uberlândia.
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Igreja do Espírito Santo do Cerrado (Tombamento Estadual)
Av. Dos Mognos, 355
B. Jaraguá
Tombamento aprovado
pelo IEPHA em
18/02/1997 e
homologado em
09/05/1997
ŸPeça para eles trazerem de casa objetos antigos, fotos de família, receitas
culinárias tradicionais, de chás e remédios caseiros. Os alunos poderão contar para a
turma a história daquele bem material ou imaterial que trouxeram. Ajude-os a fazer
uma ficha de identificação dos objetos e das fotografias, descreva sua utilização, o
nome do proprietário e a provável data de fabricação ou de aquisição. Nas fotografias,
indique a data, o nome das pessoas retratadas, o local e o nome do proprietário, além
do fotógrafo, se possível.
ŸMonte um catálogo com plantas regionais, pegue as partes da planta logo que
forem colhidas e coloque-as entre folhas de jornal para secá-las, ponha sobre elas um
peso que pode ser um livro grosso, por exemplo. Quando já estiverem secas, o que
pode demorar cerca de uma semana, fixe-as em uma folha A4 ou em pedaços de
papelão com gotas de cola ou faça pequenos furos no papel e amarre-as, crie uma
ficha de identificação com o nome popular, o nome científico e sua utilização. Você
poderá dispor essas amostras sobre uma mesa ou em painel. Caso queira arquivar
estas amostras não as coloque dentro de saco plástico, pois podem gerar mofo,
prejudicando sua conservação.
ŸOrganize a mesa dos Quitutes Regionais, selecione uma das receitas e faça-a
com seus alunos. Peça aos demais que expliquem para todos como realizar as demais
receitas que eles trouxeram.
ŸPesquise origem e a história de sua família (dos alunos), da cidade e das
principais festas populares da região, divulgue essas pesquisas. Incentive seus alunos
a escrever poemas sobre o tema e a coletar “causos” da região. Monte um varal de
poemas e “causos”.
ŸSelecione músicas antigas da região, divulgue a data de composição, o
compositor e o cantor. Escute-as enquanto realizam as atividades.
ŸPara realizar esta atividade você poderá mobilizar toda a escola. Peça ajuda
aos outros professores. Cada turma poderá ficar responsável por uma parte do
Museu. Depois do trabalho realizado, converse com seus alunos, peça para eles
falarem e registrarem a experiência. Transforme este trabalho em uma valorização do
local onde você e seus alunos moram. Cultive o seu patrimônio cultural.
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foto:
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SAIBA QUE
Ÿ Somente a partir de 19 de outubro de1929, pela Lei n° 1128, a cidade teve o seu nome mudado para
Uberlândia, pois anteriormente chamava-se Uberabinha;
Ÿ O prédio que abrigou a Biblioteca Pública Municipal foi construído para ser a Estação Rodoviária que foi
inaugurada em 1946. Neste local, por volta de 1846 até nos anos de 1940, havia a primitiva Capela do Arraial,
posteriormente Matriz e foi dedicada à Nossa Senhora do Carmo;
Ÿ O pátio da Mogiana, as colônias de casas dos operários e a Estação de Trem ocupavam o lugar onde hoje é a
Praça Sérgio Pacheco, o Centro Municipal de Cultural e o Terminal Central;
Ÿ As avenidas João Naves de Ávila e Monsenhor Eduardo eram o caminho dos trilhos do trem de ferro que
cruzavam a cidade;
Ÿ A avenida Afonso Pena começou a ser asfaltada em 1956;
Ÿ A atual Praça Dr. Duarte, no início do século XX, era conhecida como Largo do Comércio e era ali que os
carros de bois chegavam trazendo mercadorias de outras regiões e adquiriam os artigos que a cidade
comercializava;
Ÿ O Teatro São Pedro era de propriedade do Sr. Custódio da Costa Pereira e situava-se na rua Felisberto
Carrejo. Era na época um dos principais locais de entretenimento da sociedade uberabinhense e foi
inaugurado em 28 de novembro de 1909;
Ÿ A Igreja Matriz de Santa Terezinha foi inaugurada em 25 de novembro de 1941 e quem celebrou o
cerimonial foi Monsenhor Eduardo Santos;
Ÿ A Praça Clarimundo Carneiro foi o segundo cemitério da cidade construído em 1880. Entre os anos de 1892
a 1898 este cemitério ficou interditado para ser construído no lugar um jardim público que se chamou Praça
da Liberdade. Nesta ocasião, outro cemitério foi construído, onde atualmente está a Vila dos Militares na
avenida Afrânio Rodrigues da Cunha;
Ÿ O prédio do Museu Municipal foi construído em 1917 com projeto de Cipriano Del Fávero para abrigar os
poderes Legislativo e Executivo, o Coreto entre os anos 1926 - 1927. Em 1929 aquela praça passou a chamar
Antônio Carlos e somente em 1961, recebeu o nome de Clarimundo Carneiro;
Ÿ Até o ano de 1930 a cidade era administrada pelo Agente Executivo que era também o presidente da Câmara
Municipal;
Ÿ A Praça Tubal Vilela nos primeiros anos do século XX era utilizada como um campo de futebol. Ela era
denominada de Praça da República. Porém, por causa das moitas de bambus que foram plantados para sua
ornamentação ficou conhecida como Praça dos Bambus;
Ÿ O Mercado Municipal foi construído no ano de 1944 e nas suas paredes externas existem pinturas do artista
uberlandense Geraldo Queiroz;
Ÿ A avenida Rondon Pacheco e Getúlio Vargas recobrem os córregos que delimitaram o Patrimônio de Nossa
Senhora do Carmo, santa padroeira da cidade de Uberlândia;
Ÿ A cidade de Uberlândia foi emancipada com o nome de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra
de São Pedro de Uberabinha;
Ÿ Antes da chegada dos homens brancos a esta região aqui era habitado por índios e quilombolas.
Ÿ O primeiro homem branco que chegou aqui para morar foi João Pereira da Rocha.
Ÿ O edifício Tubal Vilela foi o primeiro da cidade. Antes dele, o maior era o Edifício Drogasil com sete andares,
70
na Avenida Afonso Pena.
NOME GESTÃO CARGO
OS PREFEITOS DE UBERLÂNDIA
(Nomeado pelo Gov. do Estado)
Visitas orientadas para grupos com mais de 15 pessoas devem ser agendadas com antecedência.