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ÍNDICE

44 ASSOBIO GALO NO ARCO


3 PREFÁCIO 45 BISPOTE
5 MARCAS DE IDENTIDADE. UMA HISTÓRIA DA ARTE POPULAR 46 BARRANHÃO
COMO IDENTIDADE REGIONAL. 47 ESCORREDOR
6 A REGENERAÇÃO DA INDÚSTRIA POPULAR 48 SALADEIRA VIVA A NOSSA PÁTRIA
8 O ALFABETO DE IMAGENS DO POVO PORTUGUÊS 49 SALADEIRA BOM PRANZO
9 O ARTESÃO-ARTISTA E O MERCADO 50 CANTARINHA DE ASA TORCIDA
11 MUSEU DO ARTESANATO REGIONAL DO DISTRITO DE ÉVORA 51 PRATO COM A POMBA DA PAZ
52 POMBA DA PAZ
14 PEÇAS DA EXPOSIÇÃO PERMANENTE 53 TIGELA
15 ESGRAFITO DA ERMIDA DE SÃO BRÁS 54 MULHER SENTADA ESCOLHENDO AZEITONA
16 CABECEIRA DE CAMA 55 PRESÉPIO
17 ENCOSTO DE CADEIRA 56 PLACA DE CERÂMICA 1
18 ARCA 57 TALHA
21 BILHA ÁRABE 58 DECORAÇÃO PARA DOCES
22 CONJUNTO DE TAPETES BORDADOS DE ARRAIOLOS 60 FORMA PARA DOCES
24 TAPETE 61 CORNA
25 MANTA 62 MOSTRUÁRIO DE TALHERES
26 MANTA 63 GARFO E COLHER
27 ALFORGE 64 COLHER
28 TAPETE DE BUINHO 65 CANUDO (SOPRADOR DE LUME)
29 INDIVIDUAL 66 TARRO
30 TAPETE 67 CABAÇA DECORADA
31 CHOCALHO 68 CONJUNTO DE ALFAIAS AGRÍCOLAS
32 MARCA DE PROPRIEDADE PARA CHOCALHO 69 TIRADORES DE CORTIÇA
33 MARCA DO ARTESÃO DE CHOCALHOS 70 CORO ALENTEJANO
34 FIVELAS 71 PRESÉPIO
35 FECHO DE COLEIRA 72 AMOLADOR
36 LAVANDA 73 POLAROID DA BODA
37 MORINGUE EM FORMA DE TRONCO
38 JARRO 75 OS ARTESÃOS. ENTREVISTAS.
39 MORINGUE EM FORMA DE TRONCO DE SOBREIRO COM ANIMAIS 76 JOAQUIM ROLO
40 MORINGUE N.º 6, RISCADO 77 JOÃO PENETRA
41 FIDALGO 78 JOSÉ VINAGRE
42 SARGENTO NO JARDIM 79 QUIRINA MARMELO
43 ASSOBIO GALO NO PINHEIRO 80 FICHA TÉCNICA
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Em 1962, nasceu em Évora o Museu de Artesanato Regional, que foi insta- No que respeita aos suportes escritos, é de referir o catálogo da exposi-
lado no antigo Celeiro Comum da cidade, e aí viveu até 1991, à guarda da As- ção permanente que nos dará a visão comentada e historicamente situada
sembleia Distrital. Em má hora o representante do Governo o mandou encerrar, das secções e peças apresentadas. O tratamento pormenorizado das peças
e só anos volvidos o espólio e o espaço foram devolvidos à Assembleia Distrital, com mais expressão será feito através de roteiros, folhetos que incluem a
que os encontrou sujos e degradados pelo abandono a que foram votados. referência aos artesãos que as produzem.
Para a Região de Turismo de Évora, a produção artesanal deste territó- Os audiovisuais dar-nos-ão o enquadramento da produção artesanal nos
rio traduz-se em marcas de identidade que enriquecem o seu património, nosso dias, identificando os centros de produção e o quadro geral da pro-
e são parte integrante – e importante – do capital turístico do Alentejo. Por dução artesanal neste território, num filme de vinte e um minutos que po-
isso, a R.T.E. aceitou a responsabilidade de recuperar o espaço e o acer- derá ser visto no pequeno auditório que encerra o ciclo da visita no espaço
vo, e de reabrir sob novas formas a mostra do artesanato deste território. É museológico. Pequenos filmes de dois a cinco minutos cada, mostrar-nos-
o que aqui hoje se apresenta, com a nova designação de Centro de Artes ão o processo de fabrico das peças de artesanato, e poderão ser vistos no
Tradicionais, antecedendo aquela que se acrescenta para ligação à memó- decurso da visita, em dois écrans de plasma que figuram no circuito expo-
ria passada, de ex-Museu do Artesanato Regional, e com uma marca que sitivo. Esses pequenos filmes apresentam também os Municípios onde as 3
o liga ao edifício que o viu nascer, o CELEIRO COMUM. peças são produzidas, e convidam ao aprofundamento da procura através
Este Centro de Artes Tradicionais inicia a sua vida no quadro de um am- da visita aos centros de produção.
bicioso programa de recuperação e valorização turística do centro Históri- Finalmente, a informação resultante de um recenseamento de toda a pro-
co de Évora, assumido pela Região de Turismo, pela Câmara Municipal, e dução artesanal do Distrito poderá ser acedida por via digital, através de
pelo Fundo de Turismo. quatro postos de consulta, permitindo o aprofundamento da informação para
Tem por objectivo central dar testemunho da abundância, criatividade, quem queira conhecer os artesãos, as suas biografias, e os seus trabalhos.
e riqueza das actividades artesanais nos catorze concelhos do Distrito de Tentamos assim criar condições para a valorização de uma produção ar-
Évora, assumindo-se como núcleo central de um museu vivo, polinucleado, tesanal que queremos viva, criativa, e duradoura. Realizámos por isso aqui,
formado pelos centros produtores, oficinas e pequenos museus espalhados no Centro de Artes Tradicionais o maior investimento público de apoio às
por todo este território, para os quais toda a informação disponibilizada no actividades artesanais neste território.
CAT remete os visitantes, convidando-os a visitá-los. Procurámos, por via de empréstimos e acordo com entidades diversas,
A informação será disponibilizada através das exposições, mas também alargar o campo do acesso disponível e enriquecer as exposições.
através de suportes escritos e audiovisuais, e do inventário dos artesãos do Conseguimos, com o apoio de uma Comissão de Acompanhamento for-
Distrito, acessível para consulta em suporte digital. mada pelo Instituto Português de Museus, pela Universidade de Évora, e
As exposições patentes no espaço da nave do Celeiro Comum serão três: pela Comissão Interministerial para o Artesanato, dispôs de um suporte
a exposição permanente que se dispõe à volta do salão, apresentando as técnico que nos permitiu vencer os desafios, e as nossas limitações. Aos
peças de artesanato em função das matérias primas utilizadas (têxteis, me- nossos Companheiros neste trabalho, às entidades financiadoras, e sobre-
tais, cortiça, barro, madeira, etc) e da expressão cultural localmente criada tudo aos artesãos do Distrito de Évora, vai o testemunho da nossa gratidão
(barros de Estremoz, Redondo, Viana, ou Corval, por exemplo), a exposição por nos terem apoiado neste projecto.
temática que figurará na parte central do salão, aprofundando um tema ou
uma produção específica, e finalmente, a exposição dos trabalhos de um João Andrade Santos
jovem artesão, articulando o tradicional com novas formas de expressão. Presidente da Região de Turismo de Évora
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Marcas de Identidade.
Uma História da Arte Popular
como Identidade Regional.
Para os visitantes dos museus de hoje é comum apreciar a olaria, a ces-
taria, os têxteis e bordados, em suma, toda a produção artesanal, como
manifestações da arte popular. Mais importante ainda, reconhecemos a
arte popular como a verdadeira expressão do povo português. Duas ideias
que podem nos parecer óbvias, mas nem sempre foi assim.
Na verdade, o reconhecimento da importância e da necessidade de con-
servação desse património inicia-se em Portugal apenas nas últimas déca- 5
das do século XIX, integrado num movimento de ideias onde se articulam
uma nova ciência, a Etnografia, com ideais de afirmação da identidade na-
cional e desenvolvimento económico. Um século antes, em Portugal, nin-
guém no seu perfeito juízo qualificaria um oleiro de artista, nem uma bilha
como uma obra de arte, numa sociedade onde o trabalho manual era con-
siderado aviltante, e onde os próprios artistas plásticos, pintores, escultores cal, iniciou, pela primeira vez, em meados da década de setenta do sécu-
e arquitectos se esforçavam por dignificar o seu estatuto social enfatizando lo XVIII, a produção de faiança com a criação da efémera Fábrica de Estre-
o carácter intelectual da criação artística. moz, onde, a bem da verdade, só com muita boa vontade se pode encon-
Quando hoje o Estado apoia a produção artesanal justifica-o principal- trar qualquer regionalismo.
mente pelo incentivo ao fabrico de peças tradicionais, como expressão da Ora, justamente nessa vila situou-se uma das mais importantes iniciati-
identidade cultural nacional ou de uma região. vas realizadas em Portugal de criação de uma indústria baseada nas artes
Como termo de comparação, basta lembrar que a proposta de criação da locais. Em 1881, Caetano Augusto da Conceição fundou a Olaria Alfacinha,
Real Fábrica de Louça do Rato, em 1767, com direcção atribuída ao ita- um projecto que representava um novo olhar sobre os ofícios tradicionais.
liano Tomaz Brunetto, assentava exactamente na premissa oposta: para se Informado pelas ideias estéticas do movimento Arts and Crafts, de fusão en-
produzir cerâmica artística em Portugal era necessário adoptar um estilo in- tre o saber formal do artista e a cultura técnica do artesão, Augusto da Con-
ternacional, com a incorporação de uma linguagem erudita e uma qualida- ceição pretendia fazer renascer a olaria tradicional de Estremoz, famosa pe-
de técnica em tudo semelhante à produção das suas congéneres europeias los púcaros e cantarinhas, a “louça para água” utilizada pela aristocracia pe-
e à porcelana chinesa de exportação. Substituindo-se às pequenas olarias las suas propriedades refrescantes e medicinais. Nesse projecto eram funda-
na transmissão do conhecimento técnico, a Fábrica do Rato era uma ver- mentais as qualidades particulares dos barros de Estremoz e as técnicas tra-
dadeira escola e possuía um ambicioso programa de formação. Como se dicionais de manufactura – era esse o contributo da tradição artesanal. Esse
sabe, esse não foi um caso isolado e depois de Lisboa olhar para a Euro- repertório técnico era combinado com a inclusão de modelações imitando
pa, Estremoz repetiu a capital e, ignorando a singular tradição da olaria lo- a flora local, como o tronco dos sobreiros e pequenos animais, segundo um
A Regeneração da Indústria Popular
projecto revivalista informado pelas representações naturalistas da cerâmi- Se nas duas últimas décadas do século XIX, se assistiu ao incentivo ao
ca do Renascimento. Nesse fértil período, coincidindo grosso modo com as desenvolvimento económico com a criação de indústrias a partir da cultura
duas últimas décadas do século XIX, parecia ter-se encontrado a chave para e tradições técnicas locais - que tem na Fábrica das Caldas da Rainha de
conciliar o artesanato e a produção industrial, as tradições locais e o estilo Rafael Bordalo Pinheiro o seu exemplo mais famoso -, após a proclamação
internacional, a preservação do património e a criação artística. da República, esboça-se um programa regenerador de preservação da arte
Só um olhar arqueológico permite recuar a manufactura da cerâmica, li- popular nos moldes anteriores ao advento da industrialização.
gando sucessivamente a Idade Média, a ocupação árabe, o Período Roma- Quando, em 1916, Sebastião Pessanha apresenta com orgulho a primei-
no, a Idade do Bronze, e os alvores da pré-história. Poderíamos repetir o ra exposição dedicada aos tapetes bordados de Arraiolos, realizada em co-
mesmo percurso histórico para a manufactura dos materiais pétreos, para laboração com a Associação dos Arqueólogos Portugueses, no Mosteiro do
os metais, para a cestaria, para os têxteis, que acompanham a evolução do Carmo, em Lisboa - ao qual não faltou um rebanho de ovelhas, guardado
6 processo civilizacional do homem, atendendo obviamente a generalidade por um pastor vestido à alentejana -, paradoxalmente anunciava a extinção
do processo no contexto mediterrânico europeu. de uma tradição. Para Pessanha a produção de tapetes de Arraiolos esta-
Mas a simples existência histórica não constrói uma identidade nacional va inexoravelmente extinta e, pior, a que havia na segunda metade do sé-
ou regional. Esse é um projecto político e cultural, e uma tarefa demasia- culo XIX estava manchada pela cópia de produtos estampados e industriais
do importante para ser deixada aos acasos da história. Esse foi o trabalho que não respeitavam a tradição. Era um anúncio de extinção, podemos com
de um século, que vinculou a cultura popular à identidade nacional e regio- propriedade o dizer, com efeitos retroactivos.
nal, obrigando também, em última instância, o artesão a produzir material- Entenda-se a rapidez e a ausência de sentimentos em apresentar a certi-
mente essa identidade. dão de óbito de uma “indústria popular” numa exposição que pretendia dar
No caso particular do Distrito de Évora, que a exposição do Celeiro Co- a conhecer o valor plástico e histórico dos bordados de Arraiolos. O progra-
mum pretende representar, assinala-se um conjunto heterogéneo de indús- ma de renascimento já estava delineado e pronto a implementar – e que a
trias populares, sobre o qual se construiu, com maior ou menor razão his- bem da verdade, em muitos casos, ainda permanece como regra de actua-
tórica, um discurso de identidade regional. Reconhecemos imediatamente ção – e definia a tradição por oposição ao contemporâneo: as novas técni-
os bonecos de... Estremoz, os tapetes de... Arraiolos, os móveis pintados… cas industriais, os novos materiais, os novos desenhos e fontes de inspira-
de Évora, a louça do... Redondo, as mantas de… Reguengos (de Monsa- ção estrangeiras estavam excluídos, sob pena de se deturpar os fundamen-
raz), os chocalhos de… Alcáçovas, mesmo que a produção não esteja res- tos mais genuínos de uma arte popular.
trita aos locais “de origem”. Como a “tradição” não havia sido por si só suficiente para assegurar a
Fundamentais para a construção dessa identidade foram os estudos de continuidade - leia-se a decadência da sociedade como um todo, particu-
etnografia, corporificada, no caso do Alentejo, nos trabalhos pioneiros de larmente na segunda metade do século XIX, - essa volta ao original, ao na-
Leite de Vasconcelos, José da Silva Picão, José Queirós, Virgílio Correia, Se- cional e ao regional far-se-ia por um programa de pesquisa e intervenção
bastião Pessanha e Luís Chaves. Em larga medida, é esse o ponto de par- pedagógica institucional, com as artesãs, “as mulheres do povo” formadas
tida para as diversas visões e concepções sobre a arte popular, o seu papel por uma aprendizagem formal na escola. Escola que seria criada em Ar-
na identidade nacional e regional e as formas de conservação desse patri- raiolos já no ano seguinte, estabelecendo, além da aprendizagem técnica,
mónio cultural. um programa geral de orientação para a produção das bordadeiras que de-
veriam reproduzir os padrões dos séculos XVI e XVII e os antigos tapetes
persas em exposição nos museus portugueses, naquela que Pessanha de-
fendia como a verdadeira identidade histórica da produção dos tapetes bor-
dados de Arraiolos. É verdade, também deveriam criar novas composições
mas, sublinhe-se, “inspiradas nos antigos motivos” (PESSANHA, 1917: 35).
E não se pense que a “morte” do tapete bordado de Arraiolos fosse um
caso isolado. O mesmo autor, também editor proprietário da revista Terra
Portuguesa, orgulhava-se de ter ressuscitado as esculturas em barro de Es-
tremoz com uma encomenda de um presépio à Gertrudes Rosa Marques,
última artesã que em Estremoz se dedicava ao fabrico de bonecos. Aqui a
decadência também estava identificada com as “invenções modernas”, com 7
os bonecos que representavam os personagens citadinos de Estremoz, tra-
jados à moda do século XIX, e o trabalho da artesã limitava-se, na opinião
de Pessanha, “a reproduzir tipos sem carácter regional – homens, mulheres
e cavaleiros – e algumas aves domésticas”. Mas havia ainda na produção
de Estremoz lugar a representação da identidade rural: os presépios – e as-
sim se justificava a importância da invulgar encomenda – onde os pastores
e pastoras ofertantes vestiam os típicos trajes camponeses do Alentejo.
Ao apelo de Pessanha seguiu-se a recolha promovida por Luís Chaves,
formando a colecção hoje pertencente ao espólio do Museu Nacional de Ar-
queologia, e também, alguns anos mais tarde, em 1924, a criação da Es-
cola de Artes e Ofícios de Estremoz, dirigida pelo escultor José Maria de Sá
Lemos, natural de Vila Nova de Gaia, que segundo as suas palavras, face à
total inexistência de produção, convenceu a artesã Ana das Peles a iniciar a
produção de figuras de barro seguindo os modelos e desenhos que laborio-
samente recolheu. Sá Lemos convidou Mariano da Conceição, neto do fun-
dador da Olaria Alfacinha, para director da Escola, apoiando um segundo
fôlego desse projecto, e dando início a uma dinastia familiar de escultores
e pintores de bonecos que chegou aos nossos dias.
São esses os dois mais conhecidos exemplos, no Alentejo, do programa
regenerador de matriz republicana, associando os museus, como repertório,
às escolas, no seu papel educacional, para definir, de maneira inédita até
então, o papel do artesão como conservador de uma identidade regional.
O Alfabeto de Imagens do Povo Português

Se a República encontrou na morte a melhor imagem para o seu pro- e a figuração geométrica, os fonemas constantes que constituiriam como
grama de regeneração da indústria popular, com a consolidação do Estado que um alfabeto simbólico puro: “a arte popular é sobretudo ornamental; é
Novo, novos caminhos ideológicos encontram na Arte Popular o berço da antes de mais uma alegoria de cores ou de tons vivos, que enche a configu-
linguagem plástica, e nessa origem o caminho de regeneração da arte mo- ração geométrica dos símbolos” (VIDA E ARTE DO POVO PORTUGUÊS, 1940: 70).
derna. Assim como as artes plásticas eruditas eram o espelho da civilização Símbolos da história da nacionalidade, com um profundo potencial peda-
moderna, não havia na cultura popular manifestação que não implicasse gógico, já que ao contrário da linguagem erudita, era por definição espon-
8 um carácter plástico, onde era possível ler os traços da alma do Povo Portu- tânea, popular e imediatamente compreensível a todos.
guês. Na sugestiva imagem de António Ferro, poderia se construir, a partir Entre os eventos e exposições organizadas pelo Secretariado de Propa-
da Arte Popular, o “alfabeto de imagens” da História de Portugal. ganda Nacional destaca-se a Exposição de Arte Popular Portuguesa que,
A Etnografia da época lia a História como um longo processo evolutivo, e em 1935, se realizou em Genebra, e no ano seguinte em Lisboa, colecção
via nas tradições mantidas pelo povo uma cultura primitiva, marcada pela que estaria na origem do Museu de Arte Popular, inaugurado em 1948.
sobrevivência de costumes ancestrais. Assim, por exemplo, a decoração ge- Pelo meio editou-se, em ano de duplo centenário da fundação e restaura-
ométrica dos objectos da cultura pastorícia, nos polvorinhos, nas cornas, ção da nacionalidade, a obra Vida e Arte do Povo Português, onde a ilus-
nos tarros de cortiça, são uma decoração comum aos artefactos campone- tração, mais que um documento de registo etnográfico, é uma forma de lei-
ses em toda a Europa e Ásia, provável fruto de uma mesma origem com ra- tura e interpretação dos valores plásticos da arte popular.
ízes na pré-história, aos primórdios da civilização agrária. Entre apelos pela conservação da verdadeira arte popular contra a escra-
Ao primitivo associava-se também a ideia de simplicidade, pureza e es- vização do artesão pelo mercado, a incorporação de elementos da plásti-
pontaneidade. Ao traje popular se associam as qualidades de estável, con- ca popular tem os seus resultados mais conhecidos nas artes decorativas
tínuo, natural e espontâneo, que evidentemente se opõem ao instável, arti- do Estado Novo, com especial impacto na ligação com o Turismo e na cria-
ficial e estudado das modas eruditas. E onde encontrar maior pureza senão ção das Pousadas de Portugal, sediadas em edifícios históricos decorados
na linguagem plástica? Concebida num tempo anterior à escrita era uma com estilizações das artes regionais. No caso de Évora, essa estilização mo-
linguagem simbólica e universal que continuava a ser trabalhada de manei- derna está particularmente presente na pintura de móveis alentejanos que
ra intuitiva pelos artesãos. passaram a adoptar uma decoração apoiada na estilização de motivos flo-
Nessa ordem de ideias, os estudos sobre as diversas expressões mate- rais e em formas geométricas de cores puras, opções também que foram
riais da arte popular deveriam identificar a forma da combinação das cores acrescentadas ao repertório dos tapetes de Arraiolos.
O Artesão-Artista e o Mercado

A produção dos ofícios tradicionais, sob o signo de arte popular, fez-se, no


século XX, num crescente movimento de industrialização e urbanização que
alteraram por completo a sociedade portuguesa. Novos materiais, novas téc-
nicas tornaram obsoletos os usos e costumes para os quais se destinavam
grande parte dos objectos artesanais. O plástico substituiu progressivamente
a cerâmica, a folha de flandres e a madeira, e a máquina reduziu o processo
manual de fabrico a um gesto repetitivo e desqualificado. Nesse novo mun- 9
do urbano só ficou a nostalgia do mundo rural e o turismo para satisfaze-la.
A maior parte da produção da arte popular é uma produção colectiva,
sem direitos de autor. No passado, por exemplo, a responsabilidade de
uma marca de olaria, visava sobretudo identificar um responsável que de-
veria seguir as indicações técnicas idênticas para todos os mestres de uma
corporação de uma cidade, sujeitos ao exame e às sanções pecuniárias do
juiz do ofício.
Mas, uma vez que, por oposição ao produto industrial, se reconheceu a
qualidade plástica intrínseca dos artefactos manuais, uma vez que os mu-
seus iniciaram colecções e exposições de artesãos, naturalmente também
foi, pela primeira vez, reconhecida uma identidade, uma personalidade de
autor equivalente à do artista plástico contemporâneo como criador. E essa
nova transformação dá-se ao mesmo tempo em que, cada vez mais, o arte-
são produz para uma clientela urbana e nostálgica peças sem carácter fun-
cional, e onde a qualidade decorativa é fundamental para satisfazer a com-
pra de uma lembrança regional.
Entre os artistas reconhecidos no Alentejo, a partir dos anos sessenta,
podemos mencionar o caso do escultor de peças de cortiça Ambrósio Por-
talegre, de Arraiolos, do pintor de cerâmica Adriano Martelo, do Redondo,
da bonequeira Sabina Santos e do escultor popular José Vinagre, esses úl-
timos, ambos de Estremoz.
Mas se há alguém que, no Distrito de Évora, personifica o artista popu-
lar, esse alguém é Joaquim Rolo, nome artístico de Joaquim António Mar-
tins Carriço, um escultor que trabalha madeira e chifre seguindo uma in-
10 terpretação pessoal do universo da “arte pastoril”. Da sua obra contam-se
diversas exposições, as primeiras organizadas por Joaquim Vermelho, cria-
dor e director do Museu Municipal de Estremoz, e uma imensa habilidade
para esculpir formas e desenhos geométricos e figurativos trabalhados com
a precisão e a riqueza da filigrana. Na sua biografia relata-se um passado
sofrido como trabalhador indiferenciado na pecuária e nas pedreiras, e o
seu esforço individual por enveredar por um trabalho criativo. Do seu pro-
grama artístico fazem parte a constante criação pessoal, a vontade pedagó-
gica em relação à geração mais nova e a necessidade de independência das
exigências mesquinhas do mercado, a permanência de uma obra póstuma
nos museus, e a democratização da cultura: “levar a minha arte a todas as
casas e não a algumas mais privilegiadas” (O FALAR DAS MÃOS, 1983: 8).
Muito dessa persona do artista popular foi-se consolidando após a Revolu-
ção de 25 de Abril de 1974, através de iniciativas das associações culturais
de defesa da cultura e do património regionais, quando passou a ser frequen-
te nos textos de apresentação de exposições, as críticas ao papel do merca-
do, e os incentivos ao reconhecimento da importância do papel pedagógico
dos artesãos, quer pela sua experiência artística técnica e manual quer, prin-
cipalmente, pelo processo de resistência cultural que haviam vivenciado.
Museu do Artesanato Regional
do Distrito de Évora

Em meio as indefinições e fragilidades do Estado Novo, os anos sessen-


ta trazem também a criação do Museu do Artesanato Regional do Distri-
to de Évora, um projecto de defesa do artesanato regional que retomava a
proposta de criação do núcleo etnográfico no Museu de Évora, de quem ali-
ás, herdou algumas peças antigas. Essa nova iniciativa museológica lidera- BIBLIOGRAFIA
da pela Junta Distrital tinha como principal objectivo servir de montra aos • PESSANHA (1917), Sebastião, Tapetes de Arrayollos. Lisboa: Typografia do Annuario Comer-
artesãos, apoiando-os no sector da comercialização, considerado o ponto cial, 1917. 11
de estrangulamento ao desenvolvimento dessa actividade económica. Com • VIDA E ARTE DO POVO PORTUGUÊS (1940). Organização de Francisco Lage, Luís Chaves e
esse fim, foi criado o Gabinete de Artesanato Regional do Distrito de Évora Paulo Ferreira. Lisboa: Secretariado da Propaganda Nacional, 1940.
(G.A.R.D.E) que desenvolveu esforços para a exportação dos produtos re- • O FALAR DAS MÃOS. JOAQUIM CARRIÇO “ROLO”. UM ARTESÃO DA MADEIRA E DO CHI-
gionais, ao mesmo tempo que procurava garantir alguns apoios para a mo- FRE (1983). Estremoz: Núcleo de Dinamização Cultural de Estremoz, 1983.
dernização do equipamento.
Nesse duplo papel de exposição de objectos regionais e de expositor ven- IMAGENS
da dos artesãos do distrito, reside alguma dualidade e irregularidade das • Desenho de Alberto de Souza para capa do livro de Sebastião Pessanha sobre o tapete de Ar-
colecções do antigo Museu do Artesanato, notável pela extensa represen- raiolos, 1917.
tação em todos os sectores de actividade e com artesãos de todos os con- • Desenho de Alberto de Souza (1916) para a revista Terra Portuguesa, ilustrando os bonecos
celhos do Distrito. Mas algum sucesso de público não impediu que, no afã de Gertrudes Rosa Marques que faziam parte do presépio encomendado por Sebastião Pes-
de cumprir os seus objectivos comerciais, incentivasse os artesãos a pro- sanha.
duzir peças utilitárias, como candeeiros, almofadas e tapetes, adaptando • Caixa de costura de cortiça. Ilustração de Paulo Ferreira para o livro Vida e Arte do Povo Por-
materiais tradicionais ao estilo contemporâneo e urbano, nem sempre com tuguês (1940).
os melhores resultados. • Primavera. Ilustração de Paulo Ferreira para o livro Vida e Arte do Povo Português (1940).
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Peças da Exposição
Permanente

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ESGRAFITO DA ERMIDA DE SÃO BRÁS 15
(CÓPIA)

Os mais antigos exemplares de esgrafitos que co- manteve-se no século XVII, sendo agora utilizada
nhecemos datam dos finais do século XV e prin- também para a decoração dos interiores, como
cípios do XVI, associados ao gosto mudéjar da no magnífico tecto da Igreja do Convento da Sau-
arquitectura manuelina, como no magnífico fri- dação em Montemor, datado de 1642. Nas últi-
so da Ermida de São Brás, em Évora construí- mas décadas do século XIX, os esgrafitos serão
da por iniciativa de D. João II entre os anos de uma componente importante da arquitectura ec-
1482 e 1485, talvez com a participação de artí- léctica, diferenciando a fisionomia urbana das vi-
fices moçárabes. las alentejanas. Contrariamente ao que sucedeu Cópia do esgrafito da Ermida de São Brás, Évora
Trata-se de uma técnica bastante simples mas de mais a Norte, o azulejo ficou relegado a segundo MATERIAL Argamassa de cal e areia sobre painel de fibra de vi-
grande eficácia decorativa, normalmente realiza- plano, sendo curioso que os mesmos padrões de- dro e poliéster
da com o auxílio de um molde de metal ou ma- corativos fossem aqui traduzidos em superfícies AUTOR Atelier Mural da História, 2005
deira, que delimita o desenho dos motivos que murais coloridas, ou em suaves relevos como é o PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 3.MAC
serão raspados sobre a argamassa. O relevo as- caso da fachada do edifício da Rua de Avis, n.º DIMENSÕES Alt. 45,5 x Larg. 180 cm
sim criado é acentuado pelo contraste da pintu- 90, actual sede da Região de Turismo de Évora. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
ra de cal branca sobre a argamassa cinzenta de Desse período conhecem-se apenas alguns ca-
preparação, realizada com cal parda. sos, em parte devido as posturas municipais de Ermida de São Brás, Évora
A tradição técnica, no que pode ser considera- 1937, que condicionaram a pintura das facha- (pág. anterior)
da uma marca regional das artes decorativas, das ao branco da cal. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
16 CABECEIRA DE CAMA

Os “móveis pintados de Évora” ou, como talvez posição de urnas com flores, circundada por uma
seja mais justo denominar-se, em função da ac- barra de caracóis de folhas de acanto. A cabecei-
tual dispersão geográfica das oficinas, os móveis ra de cama da colecção de António Charrua Faus-
pintados do Alentejo, surgem num processo de tino, que aqui se expõe, decorada com ramos de
continuidade dos móveis eruditos neoclássicos, rosas sobre o fundo vermelho, e sublinhada pelo
herdando as linhas convexas e torneadas, os as- contorno de um filete amarelo que termina em
sentos de palhinha e as decorações vegetalistas. grega, é uma reminiscência da moda do móvel
Antes de se fixarem exclusivamente na decoração lacado importado do Oriente, e da produção por- Cabeceira de cama
floral, os pintores acompanharam, nas últimas tuguesa setecentista dos móveis de charão, com MATERIAL Pintura a óleo sobre madeira de casquinha
décadas do século XIX, as sugestões revivalistas, o fundo em vermelho ou verde, e pintura figurati- LOCAL Évora (?), primeira metade do século XIX
como podemos observar na interessante cabecei- va em dourado, uma vertente importante do mo- PROPRIETÁRIO Colecção António Charrua Faustino
ra de cama actualmente em exposição no Museu biliário nacional no século XVIII, quando não rea- DIMENSÕES Alt. 82 x Larg. 118 cm
Municipal de Estremoz, decorada com uma com- lizado com as nobres madeiras exóticas. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
ENCOSTO DE CADEIRA 17

A produção do mobiliário pintado era já uma tra-


dição em Évora, nos finais do século XIX, quan-
do, sob directa influência do vocabulário orna-
mental Arte Nova, as representações de rosas e
flores de aloendro ganharam expressão espontâ-
nea de um motivo decorativo e foram progressi-
vamente dominando a decoração realizada, pre-
ferencialmente, sobre fundo vermelho ou verde-
escuro. Os pigmentos eram misturados na pró-
pria oficina, sobre uma tripeça, com o auxílio
de uma maça, e a maior ou menor concentra- Encosto de Cadeira
ção provocava importantes sugestões de trans- MATERIAL Madeira de Nogueira
parências e velaturas. Para os móveis pintados LOCAL Évora, 1898
utilizavam-se madeiras menos nobres e de pro- PROPRIETÁRIO Colecção António Charrua Faustino
veniência regional, como o pinho, a casquinha e DIMENSÕES Alt. 91 x Larg. 46 cm
a nogueira. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
18 ARCA

Em 1927, quando Raul Proença publica o Guia regional realizada pelos decoradores e arquitec-
de Portugal, os visitantes de Évora eram convida- tos do Estado Novo.
dos a adquirir as famosas cadeiras pintadas de As composições passam a ser marcadas pelo equi- Arca
Évora, e os principais estabelecimentos estavam líbrio formal, com os ornatos distribuídos em cor- MATERIAL Pintura a óleo sobre madeira de casquinha
situados na Rua de Serpa Pinto, onde se destaca- respondência geométrica, enquadrados ou separa- AUTOR Évora, Manuel Silva, c.1970
vam as oficinas do Barbas, do Bicho, do Galhoz dos por traços rectos e figuras geométricas. As no- PROPRIETÁRIO Colecção António Charrua Faustino
e do Boleto. O sucesso dessa arte regional era vas tintas, cada vez mais homogéneas, acrescen- DIMENSÕES Alt. 91 x Larg. 46 cm
partilhado pelos artesãos de outros concelhos do tam um toque moderno, reforçando a represen- FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
distrito e vendiam-se também em Estremoz, mó- tação estilizada das flores de aloendro. Em fun-
veis pintados em fundo vermelho, azul ou amare- ção de novas necessidades de uma clientela urba- Reprodução de quarto infantil do Hospital da Misericórdia
lo, esse último fabricado sob encomenda. na, produzem-se conjuntos completos de mobília do Museu de Montemor-o-Novo
A partir dos anos 30 do século XX, inicia-se na para a sala de jantar e para o quarto, com guarda- (pág. seguinte)
produção de Évora uma redução da carga deco- fatos, mesinhas de cabeceira e a tradicional arca MATERIAL Madeira pintada
rativa e uma estilização dos motivos vegetais, em para roupa, nesse caso realizada por Manuel Sil- AUTOR Isabel Ourives, 2003
parte sugerida pelo movimento Art-Deco, e em va, um dos mais importantes pintores de móveis PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 290/1-4.MAD
parte definida pelo processo de releitura da arte de Évora, da segunda metade do século XX. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
19
20 BILHA ÁRABE

Bilha árabe
(pág. seguinte)
MATERIAL Estanho moldado e polido
AUTOR Vila Viçosa, Apeles Coelho, c. 1962.
PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 203.MET
DIMENSÕES Alt. 42,5 x Larg. 26,5 cm
A fixação de profissionais com domínio da técni- los XVII, XVIII e XIX. Esta revisitação, ao gosto do FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
ca de fundição e moldagem de estanho desen- Estado Novo, dos principais períodos da arte em
volve-se, no século XVII e principalmente no sé- Portugal, inclui também peças de suposta ins- Caixa de molde
culo XVIII, junto aos maiores centros urbanos do piração mourisca, como forma de reatamento MATERIAL Madeira e ferro
Distrito de Évora. É muito provável também que, com uma tradição cultural, tantas vezes invoca- PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 289.MAD
à semelhança das cidades do Porto e Lisboa, te- da como marca de identidade do Alentejo. Doação do autor
nham realizado, para uma clientela burguesa, a A técnica que utiliza, de “molde perdido”, através DIMENSÕES Alt. 11,5 x Larg. 24,5 x Comp. 32 cm
produção de peças como pratos, travessas, cas- da impressão do negativo na areia molhada, é FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
tiçais, bacias e gomis, aproveitando o caracterís- bastante simples, exigindo posteriormente muitas
tico brilho do estanho polido, semelhante ao da horas de desbaste e polimento. Ao longo da sua Marca do artesão Apeles C. Coelho
prata das baixelas de aparato da aristocracia. já longa carreira de quarenta anos, reconhecida MATERIAL Estanho
Apeles Caetano Coelho, com oficina em Vila Vi- internacionalmente, foi reunindo uma importante PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 293.MET
çosa, começou por trabalhar com o restauro de colecção de peças de estanho, que utiliza como Doação do autor
peças antigas, progressivamente enveredando protótipos, e lhe permitem um vasto repertório, DIMENSÕES Larg. 2 x Comp. 4,3 cm
para a reprodução de peças eruditas dos sécu- sem equivalente entre as restantes oficinas. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
21
22 CONJUNTO DE TAPETE
E DUAS PASSADEIRAS

Para Sebastião Pessanha, autor dos primeiros es- disso testemunha os tapetes bordados em Ar-
tudos sobre o tapete bordado de Arraiolos, o iní- raiolos, informados pelas linguagens ornamen-
cio da decadência da produção regional situava- tais do Maneirismo, do Barroco e, como nesse
se nas últimas décadas do século XVIII, e assina- caso em particular, do Neoclássico. Conjunto de Tapete de duas Passadeiras
lava-se por um afastamento dos modelos orien- Se os vestígios arqueológicos parecem confirmar MATERIAL Lã tingida e bordada sobre tela de juta
tais, por uma maior preponderância do vocabulá- a existência em Arraiolos de uma importante in- LOCAL Arraiolos, finais do século XVIII, inícios do século XIX.
rio neoclássico e por uma restrição da paleta cro- dústria artesanal de tintagens de lã, que remon- PROPRIETÁRIO Museu de Évora
mática - ainda assim suficiente para fazer vibrar taria ao século XV, não nos deve fazer esquecer FOTOGRAFIA Foto © IMC/DDF. José Pessoa
o viajante inglês William Beckford que admirava o papel que foi certamente desempenhado pelo
“as cores retumbantes” e a decoração marcada trabalho feminino nos conventos, tanto mais que • Tapete
por um “flamejante exotismo”. os tapetes foram muitas vezes bordados para o (pág. seguinte)
Pelo contrário, a peça do Museu de Évora, um ornamento do pavimento de igrejas e capelas, e DIMENSÕES Comp. 537 x Larg. 437 cm
monumental conjunto de tapetes e duas passa- por mais essa razão deveriam estar em concor- Museu de Évora ME 565
deiras, proveniente do Seminário de Évora, de- dância com o restante vocabulário ornamental • Passadeiras
monstra a vitalidade duma manufactura que sou- que informava as constantes campanhas deco- DIMENSÕES Comp. 577 x Larg. 109 cm
be sempre adaptar-se às correntes de gosto. São rativas. Museu de Évora ME 842/1-2
23
24 TAPETE

As características tradicionais do tapete bordado tos dos motivos dos tapetes produzidos na casa,
de Arraiolos estão definidas como a realização de que funcionou com uma verdadeira escola, fo-
um bordado em ponto cruzado oblíquo – tradicio- ram concebidos por Jacinta Leal Rosado, uma
nal na Península Ibérica sob o domínio árabe -, das grandes bordadeiras da década de 40, que
realizado em lã tingida sobre uma tela de linho no seu labor acompanhou o movimento de esti-
ou juta com motivos inspirados pelos tapetes im- lização moderna do vocabulário ornamental eru-
portados do Oriente ou por criações de inspira- dito e histórico – uma proposta conservadora do
ção erudita dos séculos XVI, XVII e XVIII. A Kali- Estado Novo, que congelou qualquer iniciativa
fa, a mais antiga casa de Tapetes de Arraiolos, foi importante de adaptação dos bordados à lingua- Tapete de Arraiolos
fundada em 1916, e a sua actividade confunde- gem contemporânea. Repertório de motivos que, MATERIAL Lã tingida e bordada sobre tela de juta
se com a história moderna da preservação e di- apesar dos sinais de desgaste, continua a ser, até AUTOR Arraiolos, Casa Kalifa, 1980
vulgação do tapete de Arraiolos. Alfredo Barbeiro os dias de hoje, uma imagem de marca do tapete PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 115.TEX
(n.1948) dirige a empresa desde 1995, depois bordado de Arraiolos. DIMENSÕES Comp. 70 x Larg. 95 cm
do falecimento do pai, Agostinho Barbeiro. Mui- FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
MANTA 25

A Fábrica Alentejana de Lanifícios, fundada em tendência generalizada, nas décadas de sessenta


1957, reclamava-se a herdeira directa de uma e setenta do século XX, resultante da abordagem
grande manufactura têxtil que, instalada em Re- do artesanato como uma actividade económica,
guengos de Monsaraz, na segunda metade do sé- como alternativa ou complemento ao trabalho sa-
culo XIX, chegou a contar com mais de trezentos zonal na agricultura e pecuária. A proposta foi a de
operários. A produção da Fábrica Alentejana, mar- melhorar o sector da comercialização para alcan-
cada pela introdução no vocabulário das mantas çar o mercado internacional ao mesmo tempo em
regionais de cores vivas e contrastantes, alcança- que se concediam alguns apoios para a renovação Manta
da com fibras e pigmentos industriais, tende a ser tecnológica e o aumento da produtividade. Em- MATERIAL Lã tingida tecida em tear mecânico
apontada como um péssimo exemplo da submis- bora nos falte distância histórica para uma aná- AUTOR Reguengos de Monsaraz, Fábrica Alentejana de Lanifí-
são da tradição popular aos ditames do merca- lise imparcial, ainda mais que as propostas actu- cios, c. 1960-1970
do. Na verdade, como se pode constatar em mui- ais aconselham o caminho oposto, não há dúvida PROPRIETÁRIO Celeiro Comum, CAT 9.TEX
tas das peças das colecções do antigo Museu do que, se houve uma falta, essa é a da ingenuidade DIMENSÕES Larg. 155 x Comp. 210 cm
Artesanato Regional do Distrito de Évora, foi uma na assimilação da linguagem contemporânea. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
26 MANTA

O trabalho da tecelã Maria do Carmo Grilo re-


produz não só as linhas sóbrias da decoração
das mantas tradicionais dos pastores alenteja-
nos, como utiliza os processos técnicos tradicio-
nais de fiação e tecelagem. A utilização da lã vir-
gem fiada manualmente sublinha as capacida-
des intrínsecas e naturais do material e enfatiza
a perfeita harmonia com o processo técnico uti-
lizado. É, pela recusa dos materiais sintéticos,
dos teares mecânicos e pela opção decidida em
favor da tradição popular, uma abordagem sem
concessões ao mercado. Mas não podemos es- Manta
quecer que esse é também um olhar contempo- MATERIAL Lã tecida em tear manual
râneo, que valoriza a expressão pura dos mate- AUTOR Redondo, Maria do Carmo Grilo, 2003
riais, e também se pauta pela crítica, cada vez PROPRIETÁRIO Celeiro Comum, CAT 132.TEX
mais generalizada, da industrialização e do con- DIMENSÕES Larg. 145 x Comp. 200 cm
sumismo. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
ALFORGE 27

É com alguma surpresa que, nas colecções do Alforge


antigo Museu do Artesanato Regional, encontra- MATERIAL Esparto entrançado
mos um alforge realizado em esparto pelo arte- AUTOR Évora, Luís Artur Ribeiro, 1968
são Luís Artur Ribeiro, em 1968, como um ob- PROPRIETÁRIO Celeiro Comum, CAT 49.CES
jecto funcional, sem nenhuma transformação ou DIMENSÕES Alt. 58 x Larg. 42,5 x Comp. 125 cm
adaptação enquanto objecto decorativo. Utiliza- FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
do para o transporte sobre os animais de car-
ga, em especial de vasilhames cerâmicos, se- Tapete de Buinho
riam certamente poucos os clientes, à época, (pág. segunte)
para esse tipo de produção. No entanto, o mes- MATERIAL Buinho entrançado
mo artesão realizava também tapetes circulares AUTOR Évora, Luís Artur Ribeiro, 1968
entrançados de buinho, uma fibra resistente e PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 16.CES
maleável, com a mesma perícia técnica e o mes- DIMENSÕES Diâmetro 152 cm
mo respeito pela tradição. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
28
INDIVIDUAL 29

Esse individual, tingido com anilina, enquadra-


se nas tentativas, realizadas a partir dos anos
60, de uma nova articulação de materiais e téc-
nicas tradicionais com uma estética contemporâ- Individual
nea. Uma proposta seguida por muitos dos arte- MATERIAL Buinho entrançado
sãos com peças expostas no Museu do Artesana- LOCAL Évora, c. 1980
to que viam também nessa via contemporânea PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 64.CES
uma forma de constituir a sua criatividade en- DIMENSÕES Larg. 37 x Comp. 39 cm
quanto artesãos. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
30 TAPETE

A arte tradicional não se restringe aos mate-


riais tradicionais nem a determinada combina-
ção entre técnica e a funcionalidade. Por vezes
peças inusitadas reposicionam referências cultu-
rais, como se houvesse um trabalho de releitura
das características plásticas da Arte Popular. É
o caso desse tapete realizado com embalagens
usadas de cigarro que utiliza a mesma técnica
do entrecruzar das fibras de buinho, num pro-
vável trabalho realizado pelos reclusos das pe-
nitenciárias. A harmoniosa distribuição das dife- Tapete
rentes embalagens lembra as linhas de cor das MATERIAL Papel de embalagem
mantas tecidas nos teares manuais do Alentejo, LOCAL Évora (?), 1962-1970
como que traduzida por um olhar urbano, que re- PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 7.PAP
pensasse a sociedade moderna a partir da tradi- DIMENSÕES Comp. 89 x Larg. 77 cm
ção popular. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
CHOCALHO 31

A produção de chocalhos em Alcáçovas repre-


senta um exemplo único dos ofícios tradicionais
no Alentejo, mantendo-se praticamente inaltera-
da desde há muitos séculos. Por um lado, não
houve alterações significativas na matéria-pri-
ma, e a técnica de moldagem e fusão no inte-
rior de uma capa de argila permanece a mes-
ma. Os seus clientes, pastores com pequenos re-
banhos ou grandes propriedades agro-pecuárias,
mantém os chocalhos como o mesmo instrumen-
to auxiliar de identificação do gado. A sua produ-
ção em Alcáçovas, em pequenas oficinas segue
ainda a velha tradição mesteiral, difundida atra- Chocalho
vés dos núcleos familiares, de pai para filho. Um MATERIAL Chapa de metal recortada e fundida
caso perfeitamente atípico no conjunto da tradi- LOCAL Alcáçovas, 1962-1986
ção popular no Alentejo, que só muito recente- PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 104.MET
mente tem enfrentado problemas geracionais de DIMENSÕES Alt. 58 x Larg. 42,5 x Comp. 125 cm
continuidade. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
32 MARCA DE PROPRIEDADE PARA CHOCALHO

Os chocalhos são também uma forma de iden- Marca de Propriedade para Chocalho
tificar o proprietário dos rebanhos, e as grandes MATERIAL Chapa de metal recortada
explorações possuíam marcas próprias, normal- AUTOR Alcáçovas. António Augusto Sim Sim, c.1970-1980
mente associando as iniciais do nome da herda- PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 300.MET
de, que, recortadas em metal eram adicionadas DIMENSÕES Alt. 7 x Larg. 5 cm
ao corpo dos chocalhos e fundidas. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
MARCA DO ARTESÃO DE CHOCALHOS 33

Num registo pouco comum entre os artesãos do


Distrito de Évora, mesmo entre os que se dedi-
caram a produções mais individualizadas e cria- Marca do Artesão de Chocalhos
tivas, alguns chocalheiros de Alcáçovas identifi- MATERIAL Chapa de metal recortada
cavam os seus produtos com uma marca, nesse AUTOR Alcáçovas. Joaquim Augusto Sim Sim, 1970-1980
caso do chocalheiro Joaquim Augusto Sim Sim, PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT. 318.MET
com a representação estilizada de uma flor num DIMENSÕES Alt. 58 x Larg. 42,5 x Comp. 125 cm
vaso. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
34 FIVELAS

Uma boa parte das colecções do antigo Museu


do Artesanato Regional do Distrito de Évora era
constituída por verdadeiros mostruários do tra-
balho dos artesãos, identificados por números e
preços. Embora revelando uma lógica comercial,
não deixa de ser também uma recolha exaustiva, Fivelas
um registo de todas as formas de fivelas de An- MATERIAL Ferro fundido, c.1962
tónio Carvalho Sim Sim, que realiza a sua pro- AUTOR Alcáçovas. António Carvalho Sim Sim, (1889-1969)
dução com a fundição de metais em moldes de PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 166.MET - CAT. 194 MET
areia. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
FECHO DE COLEIRA 35

Domingos Roldão (1932-2002) um pastor natu-


ral da Juromenha, especializou-se na execução
de fechos de coleira, badalos em madeira para
chocalhos e coleiras em pele, trabalhando mui- Fecho de coleira.
tas vezes para o chocalheiro Joaquim Augusto MATERIAL Madeira entalhada
Sim Sim. As suas peças decoradas em baixo re- AUTOR Juromenha, Alandroal. Domingos Roldão, 2001
levo repetem os complexos motivos geométricos, PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 298.MAD;
numa tradição que pode encontrar referências CAT 297.MAD
em vários períodos da história, mas que Joaquim DIMENSÕES Comp. 12,3 x Larg. 6 cm
de Vasconcelos procurou vincular como manifes- DIMENSÕES Comp. 12 x Larg. 5,5 cm
tações populares e nacionais do estilo românico. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
36 LAVANDA

A Fábrica de Estremoz faz parte das iniciativas


de desenvolvimento da indústria de cerâmica
após os incentivos do consulado pombalino, e foi
fundada, provavelmente nos inícios da década
de 70 do século XVIII, pelo mestre Sebastião Lo-
pes Gavixo, que trabalhou com Tomaz Brunetto
na Fábrica Real do Rato, e posteriormente na Fá-
brica de Miragaia, no Porto. Em 1792, era pro-
priedade do mestre Luís Freme da Rosa, e ao
que parece não terá resistido ao abalo económi-
co provocado pelas Invasões Francesas.
A essa fábrica, com uma produção erudita que
rompe com a tradição da olaria regional e procu-
ra ombrear com a qualidade das produções das
melhores fábricas europeias do período, se pode
atribuir essa lavanda das colecções do Museu de
Évora, proveniente do Mosteiro de São Bento da Lavanda
cidade. Realizada através de molde, com um vi- MATERIAL Faiança
drado imaculadamente branco e uma paleta de AUTOR Estremoz. Fábrica de Estremoz (?), 1780-1800
cores alargada, apresenta as abas caneladas, e PROPRIETÁRIO Museu de Évora, ME 940
no fundo, uma paisagem ao gosto neoclássico. FOTOGRAFIA Foto © IMC/DDF. José Pessoa
MORINGUE EM FORMA DE TRONCO 37

Com medalhas recebidas na Exposição Agríco-


la de 1884, e na Exposição Industrial de 1888,
a Olaria Alfacinha, fundada por Caetano Augus-
to da Conceição em Estremoz, foi um dos melho-
res exemplos da proposta de desenvolvimento de
uma indústria nacional singularizada pelo apro-
veitamento dos recursos da tradição e da cultu-
ra técnica regional. A produção da Olaria Alfaci-
nha era uma reconstituição dos famosos produ-
tos da olaria de Estremoz, e incluía cântaros li-
sos ou com pedras, moringues, garrafas de ba-
lão e direitas, talhas enfeitadas, refrescadeiras,
barris, asados, etc. Ao repertório técnico Augus- Moringue em forma de tronco
to da Conceição acrescentou inovações revivalis- MATERIAL Cerâmica
tas, com a introdução de vasilhames com formas AUTOR Estremoz. Olaria Alfacinha, Sabina Santos, 1960-1970
naturalistas sugeridas pela flora local, como é o PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 535.CER
caso desse moringue em forma de tronco de so- DIMENSÕES Alt. 19,5 x Larg. 10,5 cm
breiro. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
38 JARRO

Com o brasão da cidade em meio relevo, a peça


segue a tradição do fabrico, em Estremoz, dos
vasilhames para água, desde sempre considera-
dos benéficos para a saúde pelas suas proprie-
dades digestivas. O gargalo e o bojo da peça são
brunidos, um processo decorativo por abrasão,
tradicionalmente realizado na Olaria Alfacinha
pelas mulheres, numa forma de divisão do traba-
lho entre sexos, cara às políticas sociais do perí-
odo. Entre as qualidades atribuídas ao barro de
Estremoz, dizia-se, nos finais do século XIX, que
possuía propriedades naturais semelhantes à ter-
ra sigilata dos romanos, provavelmente devido a
possibilidade da manufactura de peças de pare- Jarro
des finas, passíveis de serem polidas e de apre- MATERIAL Cerâmica
sentarem esse aspecto brilhante. No entanto, AUTOR Estremoz. Olaria Alfacinha, 1960-1970
esta técnica não se encontra documentada em PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 524.CER
Estremoz nos períodos anteriores e, ao que pare- DIMENSÕES Alt. 26,5 x Larg. 20 cm
ce, constitui um aporte inovador dessa fábrica. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
MORINGUE EM FORMA DE TRONCO 39
DE SOBREIRO COM ANIMAIS

A vontade de afirmação das qualidades técnicas


e expressivas dos produtos realizados em Estre-
moz, pela Olaria Alfacinha, em competição com
o produto desenvolvido nos outros centros olei-
ros de Portugal, levou a que Augusto da Con-
ceição acentuasse em algumas peças o trabalho
de modelação naturalista, a exemplo das elabo-
radas produções de Mafra e das Caldas da Rai-
nha. Como é evidente, a modelação era um re-
curso técnico da tradição da olaria regional, uti-
lizada de maneira muito parcimoniosa como adi-
ções de pequenos elementos decorativos às pe-
ças realizadas à roda. Nessa releitura, Augusto Moringue em forma de tronco de sobreiro com animais
da Conceição explora com virtuosismo esse re- MATERIAL Cerâmica
curso plástico e o próprio corpo da peça é mode- AUTOR Estremoz, Olaria Alfacinha, 1960-1970
lado em forma de um tronco de sobreiro, ao qual PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 612/1-2.CER
se acrescenta o brasão da cidade, e espécimes DIMENSÕES Alt. 44 x Larg. 18 cm
da fauna local, como a lebre e o lagarto. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
40 MORINGUE N.º 6, RISCADO

Mário Lagartinho procurou, a partir dos finais dos


anos sessenta do século XX, fazer reviver as ver-
dadeiras peças da olaria de Estremoz, preferin-
do reproduzir apenas o repertório decorativo tra-
dicional, afastando-se dos modelos criados pela
Olaria Alfacinha e de técnicas como as modela-
gens e o brunido. Pelo contrário as peças des-
se autor procuravam valorizar a expressão úni- Moringue
ca que o trabalho manual confere a cada um dos MATERIAL Cerâmica decorada com incisões e pedras de mármore
vasilhames, com uma decoração gestual de ris- AUTOR Estremoz. Olaria Mário Lagartinho, 2001
cados e aplicação ingénua de incrustações de pe- PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 905.CER
dras de mármore, associadas em pequenas bo- DIMENSÕES Alt. 26,5 x Larg. 12,5 cm
lachas de barro. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
FIDALGO 41

Entre as melhores criações de Augusto da Con-


ceição encontram-se os vasos floridos, conhecidos
por Fidalgos. Certamente como resultado da recu-
peração de peças tradicionais, numa versão popu-
lar dos “floreros” da tradição pictórica das natu-
rezas-mortas dos séculos XVII e XVIII, e também
como continuidade das jarras de flores, que enfei-
tavam os altares Barrocos. No entanto, o criador
da Olaria Alfacinha não escapou à crítica da sua
época, que considerou a pintura a óleo uma adul-
teração em cerâmica. Nas palavras de Charles Le-
pierre (1899: 70), autor de um extenso relatório
sobre a indústria cerâmica em Portugal: “...as apli-
cações de folhas e frutos, sobre as garrafas e bar-
ris, cuja cor não é obtida por esmaltes cerâmicos,
mas por simples pintura a óleo, é um processo que Fidalgo
deve ser absolutamente abandonado”. O estudio- MATERIAL Cerâmica pintada a óleo
so tinha razão, não era uma combinação técnica AUTOR Estremoz. Olaria Alfacinha, Sabina Santos, c.1960-1970
comum, mas sim um regionalismo, aliás com raí- PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 186.CER
zes na pintura e “carnação” dos santos de barro e DIMENSÕES Alt. 52 x Larg. 26 x Comp. 20 cm
madeira, e felizmente até hoje se fabricam... FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
42 SARGENTO NO JARDIM

As esculturas em barro de Estremoz são uma das veio dar visibilidade ao trabalho de Mariano da
mais fecundas manifestações artísticas do Distrito Conceição e alimentar uma longa tradição fami-
de Évora, onde se estabeleceu uma ligação qua- liar, que se estende até os dias de hoje. No labor
se directa com os presépios em terracota da se- de Sabina Santos é patente a continuidade da ga-
gunda metade do século XVIII. O tratamento na- leria de personagens representadas pelo irmão, e
turalista de um vasto leque de personagens que também um aprofundar na estilização dos perso-
incluía músicos, camponeses em todas as lides nagens. Desse largo repertório fazem parte ima-
do campo, e animais, como vacas, cabras, patos gens de culto e personagens citadinos explicita- Sargento no Jardim
e galinhas, expostos com grande solenidade nas mente associados à festa como esse Sargento no MATERIAL Cerâmica pintada a óleo
igrejas estimulou as oficinas da região a satisfaze- Jardim, uma criação que julgamos uma associa- AUTOR Estremoz. Olaria Alfacinha. Sabina Santos, c.1970
rem encomendas que rapidamente conquistaram ção das fardas da Banda de Música e os coretos PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 152.CER
um lugar obrigatório na festa popular. A exposi- da praça, tornada irreverente pela da escala dife- DIMENSÕES Alt. 18,5 x Larg. 9,7 cm
ção do Mundo Português, celebrada em 1940, renciada na representação dos dois elementos. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
ASSOBIO GALO NO PINHEIRO 43

Segundo o testemunho de Sebastião Pessanha,


em 1916, havia apenas uma última artesã em Assobio galo no pinheiro
Estremoz que se dedicava ao fabrico de bone- MATERIAL Cerâmica pintada a óleo
cos, especificamente dedicando-se ao fabrico de AUTOR Estremoz. Olaria Alfacinha. Sabina Santos, c.1970
assobios. Os brinquedos populares, mais conhe- PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 23.CER
cidos como “brinquinhos” ou “mimos”, foi uma DIMENSÕES Alt. 20 x Larg. 5,5 cm
das vertentes de trabalho que assegurou a conti- FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
nuidade da olaria regional, seja através dos api-
tos figurados, que parece incluir quase todo o re- Assobio galo no arco
pertório “civil” da escultura popular de Estremoz, (pág. seguinte)
seja através das miniaturas das peças de olaria, MATERIAL Cerâmica pintada a óleo
como bules, jarras e terrinas pintados com co- AUTOR Estremoz. Olaria Alfacinha. Sabina Santos, c.1970
res extravagantes que Virgílio Correia documen- PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 131.CER
tou naquele mesmo ano, publicando um artigo DIMENSÕES Alt. 15,5 x Larg. 7,5 cm
na revista Terra Portuguesa. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
44
BISPOTE 45

Pelo menos desde o século XVIII, na documen-


tação dos arquivos dos Conventos de Évora, faz-
se distinção, entre a produção de olaria regio-
nal, das peças de Viana do Alentejo, numa pro-
dução que se caracterizava, em parte, pela ma-
nufactura de peças utilitárias de maiores dimen-
sões, bastante resistentes e vidradas. Nessa épo-
ca, o mais comum de Viana serão os grandes
alguidares para a preparação de alimentos para
as cozinhas conventuais. Provavelmente, é tam-
bém essa a origem do vaso de noite encontrado
nas escavações realizadas, em 1996, no antigo Bispote
Paço Arquiepiscopal, e onde actualmente situa- MATERIAL Cerâmica vidrada
se o Museu de Évora. Ao contrário dos exempla- AUTOR Viana do Alentejo (?), primeira metade do século XIX
res mais populares, é totalmente vidrado - no ex- PROPRIETÁRIO Museu de Évora, ME 10707
terior a verde cobre e, no interior cor de mel -, e DIMENSÕES Alt. 31 x Diâmetro 29 cm
possui duas asas. FOTOGRAFIA Foto © IMC/DDF. José Pessoa
46 BARRANHÃO

Hoje, todos conhecemos a “louça do Redondo”,


uma criação que, como geralmente acontece, foi
fruto de um longo desenvolvimento, com contri-
buições sucessivas de origem diversa. A técnica
de utilização do engobo claro para cobrir a super-
fície do barro, está presente também em Viana
do Alentejo, um centro oleiro que compartilhou
muito das técnicas e tradições com o Redondo, e
também com São Pedro do Corval. A decoração
figurativa foi, numa primeira fase, realizada sem
os contornos riscados, como nesse excepcional
barranhão, utilizado pelos camponeses do Alen- Barranhão
tejo, como um prato-travessa do qual se serviam MATERIAL Cerâmica vidrada
todos os comensais. Duas notas: a decoração é LOCAL Viana do Alentejo ou Redondo, segunda metade
realizada com um desenho largo sem uma inten- do século XIX
ção de referência aos temas regionais, e a facili- PROPRIETÁRIO Colecção António Charrua Faustino
dade da fusão do verde cobre que provocou algu- DIMENSÕES Alt. 25 x Diâmetro 65 cm
mas escorrências. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
ESCORREDOR 47

É raro que uma peça seja produção única de


uma determinada olaria, já que essas desenvol-
vem-se em núcleos de pequenas oficinas, e os
seus interesses comuns, na extracção da matéria
prima e no comércio, quando não há relações de
parentesco, tendem a aproximar as produções.
O escorredor para peixe, criação do oleiro João
Mestre, acresce um novo item na louça regio- Escorredor
nal e também nos louceiros das casa do Alente- MATERIAL Cerâmica vidrada
jo e a cuidada realização técnica na manufactura AUTOR Redondo. João Mestre, c. 1962-1970
na roda, do desenho miúdo, na pintura e vidra- PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT. 113.CER
gem, parece não ter encontrado imitadores entre DIMENSÕES Alt. 4,5 x Diâmetro 24,5 cm
os seus contemporâneos. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
48 SALADEIRA VIVA A NOSSA PÁTRIA

Ao contrário do interesse etnográfico, que privile-


gia o estudo dos traços de persistência, muito da
arte popular é contemporânea e inclui uma men-
sagem directa, em associação com causas espe-
cíficas, ou como símbolo de pertença de grupo. Saladeira
São particularmente interessantes, nesse caso, a MATERIAL Cerâmica vidrada
“olaria falada” por fixarem frases e dizeres po- LOCAL Redondo, 1962-1970
pulares que presumidamente intemporais, estão PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 64.CER
sempre conotados com uma época, mesmo nes- DIMENSÕES Alt. 7,5 x Diâmetro 27,5 cm
sa singela manifestação de patriotismo. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
SALADEIRA BOM PRANZO 49

Com alguma razão, a realização de produtos es-


pecíficos para venda aos turistas sempre foi con-
siderada pelos puristas, desde os inícios do sé-
culo XX, um dos principais motivos de adultera-
ção das artes tradicionais. Mas o processo de li-
gação do artesão ao mercado é em si mesmo um
processo natural da sua actividade económica, e
mesmo uma razão de aprimoramento técnico e Saladeira
decorativo. Quando o oleiro do Redondo incluiu MATERIAL Cerâmica vidrada
na sua travessa a frase titubeante convidando a LOCAL Redondo, c. 1970-1980
um bom almoço, não fez mais que diversificar a PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 65.CER
sua produção a um mercado mais alargado, in- DIMENSÕES Alt. 6,8 x Diâmetro 27 cm
cluindo também os italianos. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
50 CANTARINHA DE ASA TORCIDA

A revolução de 25 de Abril de 1974 encontrou


o seu símbolo mais popular nos cravos verme- Cantarinha de asa torcida
lhos. Álvaro Chalana, um dos grandes oleiros da MATERIAL Cerâmica vidrada
sua geração no Redondo, utilizou-o como motivo AUTOR Redondo, Álvaro Chalana, c.1975-1980
em muitos dos seus trabalhos, decorando todo PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 445.CER
o tipo de peças, desde azeitoneiras aos pratos e DIMENSÕES Alt. 26 x Larg. 14 cm
saladeiras. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
PRATO COM A POMBA DA PAZ 51

Na representação da Pomba da Paz, a famosa


criação de Pablo Picasso, num prato do Redon-
do, assiste-se, mais uma vez, a apropriação rea-
lizada pelos artesãos, em todo o século XX, dos
traços mais evidentes da arte contemporânea.
No entanto, de forma particular, nas décadas de
60 e 70, os artesãos são incentivados não só a
trazerem para o seu trabalho os grandes tema da
actualidade, como a afirmarem as suas próprias
propostas criativas. A crescente importância do
figurativo na louça do Redondo marcou o trajecto Prato com a pomba da paz
de Adriano Martelo que, sem ser oleiro, envere- MATERIAL Cerâmica vidrada
dou pela pintura de cerâmica, num percurso sin- AUTOR Redondo, Adriano Martelo, c. 1970-1980
gular entre os artesãos da vila, onde tradicional- PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 110 CER
mente são os pintores de louça os assalariados DIMENSÕES Alt. 5 x Diâmetro 27,5 cm
pelos mestres oleiros. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
52 POMBA DA PAZ

Na maior parte da produção da olaria tradicional,


que utiliza a repetição estilizada de motivos or-
namentais, não são utilizados modelos para pas-
sar os contornos do desenho para as peças cerâ-
micas. Adriano Martelo, que foi progressivamen-
te enriquecendo a figuração na louça, utilizava Pomba da paz
moldes de papel vegetal, às vezes fotocopiados, MATERIAL Desenho de esferográfica sobre papel vegetal
e sucessivamente vincados com caneta esfero- AUTOR Redondo. Adriano Martelo, c. 1980-1990
gráfica. Actualmente, é mais comum utilizarem- PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 39.PAP
se desenhos com os contornos perfurados (pica- Doação Herdeiros de Adriano Martelo
dos), sobre o qual se passa uma boneca com DIMENSÕES Larg. 21 x Comp. 25 cm
carvão ou pó de grafite. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
53

Tigela
MATERIAL Cerâmica vidrada
AUTOR Redondo. Olaria São João. Álvaro Chalana, c. 1970-1980
PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 84.CER
DIMENSÕES Alt. 8 x Diâmetro 23 cm
FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
54 MULHER SENTADA ESCOLHENDO AZEITONA

Em 1977, existiam em Viana do Alentejo as ola-


rias de António Agostinho, Feliciano Agostinho,
João António Narciso, Manuel António Destapa-
do, Francisco Narciso Lagarto e Ricardo Francis-
co Marcelino, produzindo essencialmente louça
utilitária. Com um funcionamento irregular fun-
ciona na vila uma Escola Técnica, responsável
pelo incentivo da realização de peças criativas e
pela introdução da técnica de faiança, uma pro-
dução conhecida no Alentejo, apenas na existên-
cia efémera da Fábrica de Estremoz. Dessa pro-
dução dos anos sessenta e setenta destaca-se o Mulher sentada escolhendo azeitona
trabalho de João Pacheco, que para além das MATERIAL Cerâmica vidrada
peças tradicionais, dedicou-se à execução de es- AUTOR Viana do Alentejo, João Pacheco
culturas de barro, com um colorido muito pesso- (marcada JP), c.1962-1965
al. Nos seus presépios, as estruturas denotam a PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 659.CER
aproximação das linhas dinâmicas e modernas. DIMENSÕES Alt. 15 x Larg. 9 x Comp. 14 cm
55

Presépio
MATERIAL Cerâmica Vidrada
AUTOR Viana do Alentejo. João Pacheco, c.1962-1965
PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 630.CER
DIMENSÕES Alt. 18 x Larg. 12 x Comp. 20 cm
FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
56

Placa de Cerâmica
MATERIAL Cerâmica Vidrada
AUTOR Viana do Alentejo, João Pacheco, c.1962-1965
PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 643.CER
DIMENSÕES Alt. 31 x Larg. 31 x Prof. 3,1 cm
FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
TALHA 57

Desconhece-se a proveniência da talha, que tem


no colo, próximo ao gargalo, o esgrafito com o
cronograma de 1640. São Pedro do Corval, até
1948, designada por Aldeia do Mato, especia-
lizou-se no século XIX, entre os centros oleiros
da região, na produção de grandes vasilhames.
Talvez que uma das vantagens dessa localiza-
ção fosse a facilidade em reunir a lenha neces-
sária para o funcionamento dos grandes fornos,
que ainda hoje são um importante património in-
dustrial e arquitectónico que é urgente preservar.
É bom lembrar que as maiores talhas poderiam
chegar a medir dois metros e meio de altura, a
pesarem 700 a 800 quilos e levarem até 3000
litros de vinho (MONIZ, 1990:99). A sua utilização Talha
como contentor de vinhos em adegas recua, pelo MATERIAL Cerâmica
menos, aos finais do século XV, e para esse fim LOCAL São Pedro do Corval (?), 1640
eram revestidas no interior com uma camada de PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 470.CER
pez e possuíam um furo circular na base para a DIMENSÕES Alt. 148 x Diâmetro 103 x Diâmetro da base 24,5 cm
colocação de uma torneira. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
58 DECORAÇÃO PARA DOCES

Os conventos e mosteiros, com o seu peso insti-


tucional, a sua organização hierárquica, e a sua
capacidade em guardar e transmitir conhecimen-
to foram bastante importantes na manutenção de
uma continuidade evolutiva e tradicional nas ar-
tes aplicadas. Além de importantes encomenda-
dores das artes eruditas, realizavam alguns tra-
balhos manuais para o sustento próprio. Os do- Decoração para doces
ces que acompanhavam os dias de festa religio- MATERIAL Papel recortado
sa, constituem o imenso repertório da doçaria re- AUTOR Pavia. Joana Maria de Almeida Simões
gional, eram primorosamente decorados com fo- e Joaquina Maria de Almeida Simões, 1962-1986
lhas de papel recortadas. Após a extinção das or- PROPRIETÁRIO Celeiro Comum, 1962-1986
dens religiosas, a nacionalização dos bens ecle- FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
siásticos permitiu a transferência de numerosos
objectos para as colecções do Estado, e esses re- CAT 10.PAP
cortes com estilizações geometrizantes e comple- DIMENSÕES Larg. 25 x Comp. 32 cm
xas de folhas e flores, herdadas do século XVIII,
foram utilizados nas aulas de desenho das esco- CAT 8.PAP
las industriais, como exemplos de manifestações (pág. seguinte)
da arte popular. DIMENSÕES Diâmetro 24,5 cm
59
60

Forma para Doces


MATERIAL Folha de flandres
LOCAL Alandroal (?), c. 1930
PROPRIETÁRIO Colecção António Charrua Faustino
DIMENSÕES Alt. 7 x Diâmetro 18 cm
FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
CORNA 61

Nenhuma vertente da arte popular contribui tanto Objectos de uso pessoal, de cuidadosa estima,
para definir a identidade rural do Alentejo quanto geralmente encontram-se marcados com o nome
a chamada arte pastoril, um conceito vago onde ou as iniciais do proprietário, ou fazem parte das
se agrupam, entre outros, as célebres colheres vestes quotidianas, das ferramentas de trabalho,
bordadas, os chavões ou pintadeiras utilizados como as protecções anelares, “os canudos”, que
para identificar os pães e bolos no forno comuni- se adaptam à anatomia do utilizador. A mudan-
tário, os polvorinhos e as cornas para transporte ça de registo operada, com artesãos especializa- Corna
de pólvora e alimentos. Dos polvorinhos e cornas dos para um mercado citadino de objectos de- MATERIAL Chifre
datados dos finais do século XIX, e princípios do corativos, criou objectos de acabamento perfei- LOCAL Évora, 1962
século XX, que se acredita inspiradas em exem- to, como motivos que reproduzem um conjunto PROPRIETÁRIO Celeiro Comum
plares africanos, resulta uma grande variedade de ornamentos - flores radiais, linhas em zigue- CAT 61.CHI - corna com desenhos de animais
de fontes e motivos decorativos, sejam geométri- zague, quadrados cortados por diagonais – asso- CAT 62.CHI - corna com motivos geométricos
cos ou figurativos, que derivam da particularida- ciados a uma cultura camponesa. DIMENSÕES Comp. 44 x Diâmetro 9 cm
de destes objectos, na maior parte dos casos, se- DIMENSÕES Comp. 35 x Diâmetro 9 cm
rem realizados pelos próprios proprietários. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
62 MOSTRUÁRIO DE TALHERES

A produção de utensílios domésticos em madei-


ra e cortiça diversifica-se no decorrer do século
XX, acrescentando sempre novas peças à medi-
da que se enriquece o interior das casas urbanas.
São os ideais de honestidade moral, asseio, tra-
balho e rigor económico que esses objectos, de-
corados preferencialmente com motivos geomé-
tricos, presentes na cultura camponesa de vários Mostruário de Talheres
países da Europa, traduzem na decoração do lar. MATERIAL Madeira de aloendro
Na maioria dos casos a funcionalidade mantêm- AUTOR Hortinhas – Terena. Manuel F. Ribeiro, 2005
se teimosamente, mas advinha-se pelo trabalho PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 319.MAD
incorporado, pela fragilidade dos materiais utili- DIMENSÕES Alt. 70 x Larg. 55 cm
zados, um objecto cuidadosamente exposto. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
GARFO E COLHER 63

Joaquim Rolo, artesão reconhecido pela qualida-


de técnica dos seus trabalhos, com várias expo-
sições individuais, tem recebido várias encomen-
das de unidades museológicas, seja para exposi-
ções da sua própria obra, seja para a execução
de conjuntos de escultura etnográfica.
Com uma clara consciência do mérito do seu tra-
balho, esse artesão percorre uma linha estrei-
ta de continuidade com a tradição e, ao mesmo
tempo, com o reconhecimento da sua individua-
lidade artística: “...e faço tudo, mas tudo quan-
to faço não é nada de cópias. Tem que ser tudo Garfo e Colher
duma criação minha”. MATERIAL Madeira de Laranjeira
Segundo defende, a arte que produz tem como LOCAL Estremoz. Teresa Serol Gomes, c.1970
objectivo preservar as raízes populares, e tam- PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 24/1-2.MAD
bém, ao contrário da arte elitista, de promover DIMENSÕES Comp. 15,5 x Larg. 3,7 cm
ideais democráticos, que alcancem o maior nú- Comp. 15,2 x Larg. 4 cm
mero de pessoas. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
64 COLHER

Essa colher de cortiça pintada parece reunir to-


das as características de um objecto impossível.
A cortiça não tem a rigidez da colher de pau,
que é, também, um material muito irregular para
uma pintura em pequenas dimensões. Um olhar
catastrófico adivinha as cores dissolvendo-se na
panela. Essa arte sem utilidade definida parece
ser contrária à cultura popular, onde quase sem- Colher
pre há um perfeito casamento entre arte e fun- MATERIAL Cortiça pintada
cionalidade. Por último, uma nota contemporâ- LOCAL Évora, 1962-1970
nea: o decorativo procura realçar um utensílio PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 37.COR
que a industrialização e a sociedade de consumo DIMENSÕES Larg. 4 x Comp. 29,5 cm
tornaram banais. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
CANUDO 65
(SOPRADOR DE LUME)

Atiçar o lume com um canudo requer subtileza


para evitar inalar o fumo ou queimar o rosto. As Canudo
cores também são uma matéria etérea, e fazen- MATERIAL Madeira de aloendro
do jus a esses desígnios as filigranas geométricas AUTOR Borba, Manuel Capelins, 1962-1970
são coloridas com canetas de feltro. Um material PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 25.MAD
inapropriado? Não, um efeito perfeito na combi- DIMENSÕES Comp. 65,5 x Diâmetro 3,5 cm
nação com a madeira de aloendro. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
66 TARRO

O tarro de cortiça, uma admirável adequação


entre matéria e funcionalidade, utilizado para o
acondicionamento das refeições dos trabalhado-
res do campo, também recebeu apuro decorati- Tarro
vo. Realizada em vários tamanhos, mesmo em MATERIAL Cortiça
miniaturas, com a superfície bem polida serve de AUTOR Azaruja, Joaquim Pereira, 1962-1970
lembrança de viagem e mesmo de decoração do PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 69.COR
lar dos imigrantes do Alentejo nos grandes cen- DIMENSÕES Alt. 14,5 x Diâmetro 11 cm
tros urbanos. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
CABAÇA DECORADA 67

Uma das mais interessantes peças decorativas


das colecções do antigo Museu do Artesanato
Regional, esta reporta à utilização como conten- Cabaça decorada
tor de água, comum nas representações dos pe- MATERIAL Cabaça
regrinos desde a Idade Média ao século XVIII. AUTOR Estremoz, Teresa Serol Gomes (TSG), c. 1970-1980
A técnica decorativa assemelha-se à do esgrafi- PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 258.MAD
to, combinando o baixo relevo com um contras- DIMENSÕES Alt. 25 x Diâmetro 16 cm
te claro e escuro. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
68 CONJUNTO DE ALFAIAS AGRÍCOLAS

Se a arquitectura do Estado Novo se apropriou


das artes decorativas como um manancial de es-
tilos modernizando os diversos períodos históri-
cos, apropriou-se também da arte popular como
se tratasse de um compêndio etnográfico estiliza- Conjunto de Alfaias Agrícolas
do. Os trabalhos de pequenas esculturas conden- MATERIAL Madeira de casqunha
sam a manufactura da cortiça, do trigo, e aqui, LOCAL Évora, 1940
como é o caso, dos instrumentos agrícolas. Um PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 115.MAD
mundo em rápido desaparecimento, mas restitu- DIMENSÕES Alt. 102 x Larg. 83,5 x Prof. 19 cm
ído em forma de memória e miniatura. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
TIRADORES DE CORTIÇA 69

Pastor e trabalhador rural nascido em Arraiolos,


Ambrósio José Portalegre (c. 1923-1985), que
nas horas vagas se dedicava a trabalhos de es-
cultura em cortiça, passou, por volta dos anos
cinquenta, a dedicar-se exclusivamente à produ-
ção de esculturas em cortiça. Em 1952, faz a
sua primeira apresentação pública de trabalhos,
com a participação no concurso organizado pela
Fundação Nacional para a Alegria do Trabalho
- organismo criado pelo Estado Novo para es-
timular o desenvolvimento físico e cultural das
classes trabalhadoras -, onde recebeu o quinto
prémio com um extenso conjunto de figuras que
ilustravam todos as fases da cultura do trigo e Tiradores de Cortiça
da manufactura da farinha. Dez anos passados, MATERIAL Cortiça
o reconhecimento público atinge o auge quando AUTOR Arraiolos, Ambrósio José Portalegre, c. 1962-1963
participa no concurso-exposição dos Jogos Flo- PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 15.COR
rais do Trabalho, onde é galardoado com o pri- DIMENSÕES Alt. 38 x Larg. 35 x Prof. 30 cm
meiro prémio. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
70

A extensa obra de Ambrósio Portalegre caracte- ver à sociedade a imagem ideal de uma ruralida-
riza-se pela utilização de um único material, a de pacífica, bucólica e trabalhadora - em conso-
cortiça, submetida a um processo prévio de co- nância com os ideais veiculados pelo Secretaria-
zedura, minuciosamente trabalhada com o auxí- do de Propaganda Nacional. O interesse suscita-
lio de facas e navalhas. As miniaturas recriam os do pela cultura popular, nos ideais pós-revolucio-
mais variados aspectos do mundo rural, seja do nários do 25 de Abril, promoveu uma releitura do
trabalho ou das actividades de lazer e denotam trabalho de Ambrósio Portalegre, mas, desta vez,
uma certa nostalgia de ordem e harmonia, na são entendidos como a visão particular de uma
perfeita distribuição espacial dos objectos, nas classe social, e o interesse centra-se preferencial-
referências perfeitamente correctas da utilização mente na biografia do artesão, ponto de partida
de cada um dos utensílios, nos trajes comple- fundamental para a elaboração das suas escul-
tos e adequados do trabalhador rural, do pastor, turas, sublinhadas como representações do tra- Coro Alentejano
da ceifeira, do moleiro. São a reprodução de um balho rural, realizadas em condições adversas, MATERIAL Cortiça
tempo abstracto e intemporal, idealizado a par- numa ordem social injusta. Vê-se na obra de Am- AUTOR Arraiolos, Ambrósio José Portalegre, c. 1962-1970
tir de um olhar etnográfico, e também a explici- brósio Portalegre um trabalho de memória e re- PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 6.COR
tação de um lugar definido para o trabalho do ar- sistência cultural, de reapropriação da capacida- DIMENSÕES Alt. 10,5 x Larg. 13,5 x Comp. 22,5 cm
tista popular, a quem cumpre reproduzir e devol- de de funcionar como agente de cultura. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
PRESÉPIO 71

Isidro Manuel Verdasca (c. 1921) antigo barbeiro


da Azaruja, começou a trabalhar com artesanato Presépio
de cortiça por volta de 1967. As suas reconsti- MATERIAL Cortiça
tuições são muito minuciosas, e a figuração dos AUTOR Évora, Isidro Manuel Verdasca, 2005
personagens nada tem de ingénuo. Como o pró- PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 160.COR
prio admite, é o principal continuador do traba- DIMENSÕES Alt. 23,5 x Larg. 16 x Comp. 27,5 cm
lho de Ambrósio Portalegre. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
72

Amolador
MATERIAL Cortiça
AUTOR Évora, Isidro Manuel Verdasca, 2005
PROPRIETÁRIO Celeiro Comum. CAT 161.COR
DIMENSÕES Alt. 17 x Larg. 10 x Comp. 14 cm
FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
POLAROID DA BODA 73

A qualidade e a criatividade da linguagem plás-


tica granjearam aos artesãos Tiago Cabeça (n.
1970) e Magda Ventura (n. 1976) o reconheci-
mento generalizado, com a atribuição de diversos
prémios nacionais e internacionais. Talvez não
seja consensual classificar o trabalho como arte-
sanato regional, já que o universo de referências
plásticas ultrapassa o conjunto do repertório tra-
dicional da escultura popular de Estremoz, a arte
que lhe é mais próxima. Talvez que os seus tra-
balhos ainda não façam parte de uma identida-
de regional, mas é evidente que não se pode pen-
sar em revitalização das artes tradicionais sem
uma leitura contemporânea. Como procura de- Polaroid da boda
monstrar esta exposição essas actualizações fo- MATERIAL Cerâmica e tinta acrílica
ram sempre realizadas, seja em programas defi- AUTOR Évora, Tiago Cabeça e Magda Ventura, 2000
nidos de regenerações de tradições ou de estili- PROPRIETÁRIO Colecção do autor
zações etnográficas ou mesmo por uma activa e DIMENSÕES Alt. 48 cm x Comp. 150 cm x Larg. 28 cm
inexorável contaminação com a arte moderna. FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
74
Os Artesãos.
Entrevistas

Para este conjunto de depoimentos recolhidos


em 2002, escolhemos os artesãos nascidos na
década de 20 do século passado, o que em parte
explica o tom melancólico e a intensa preocupa-
ção com a memória e a passagem que marcam a
maioria dos depoimentos. Dar voz a esse balanço
lúcido e mordaz é também uma forma de home- 75
nagem a uma carreira extensa, e aos que, tantas
vezes, foram chamados a colaborar com as insti-
tuições públicas na realização dos eventos.
Joaquim Rolo
(N. 1935)

Talvez no berço já exprimisse uma linguagem ges-


tual com algum significado. Quando comecei, não
tenho a certeza. Sei que este ano acabei.
Todas as peças têm uma história, nada serve por
acaso. As que tenho agora são peças de olhos de
65 anos, porque quando eu tinha 30, os meus
76 trabalhos eram muito mais minuciosos.
Regra geral trabalho com madeiras de “cedro
bravo”, madeira que segura o trabalho. Desenho
os motivos que surgem espontaneamente com o
auxílio de uma faca, que vai a pouco e pouco
bordando em alto e baixo-relevo. Mas acabou,
não faço mais. Tenho uma série de menções hon-
rosas e diplomas, mas prémios só ganhei um em
Évora, por volta de 1995. Leva-me a crer que os
meus trabalhos não valem nada. Ninguém me
pede para eu ensinar. Eu não aprendi com nin-
guém, estas coisas via na casa dos lavradores.
Tenho peças pelo mundo fora, há cerca de 2 anos,
fiz 70 carimbos para o Japão. Os bonecos de
Santo Aleixo que estão no Teatro Garcia de Resen-
de, em Évora, fui eu que os fiz. Estou mesmo dis-
posto a não fazer mais artesanato. Os artistas do
nosso país só são reconhecidos quando morrem.

Joaquim Rolo
FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
João Penetra
(N. 1926)

Estava na barriga da minha mãe e já fazia cho-


calhos.
Vinha da escola aos 7 anos e punha-me a tocar o
fole enquanto a minha mãe fazia o almoço.
Há 69 anos que mexo nos chocalhos.
Deixei de trabalhar por motivos relacionados
com o fisco, tive a oficina fechada durante dois 77
anos, mas por amor à profissão decidi abrir o
museu com o espólio que fui adquirindo ao longo
de 56 anos. Não sei o destino que irei dar ao Mu-
seu dos Chocalhos. O que me dói é pensar que
isto pode desaparecer tudo. Tive dois aprendizes,
mas não se dedicaram ao ofício. Esta actividade
transmitia-se de pais para filhos, tenho pena do
meu filho não estar aqui. Acabou aqui a activida-
de, não tenho continuadores.

João Penetra
FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
José Vinagre
(N. 1929)

Aprendi aos 10, 11 anos, quando andava a guar-


dar ovelhas e achei um bocadito de cortiça que
comecei a cortar e daí nasceu um pastor. Entre
os 18 e os 30 anos desmaginei-me disso. Desde
que me casei, aos 30 anos, tenho vindo a dedi-
car-me ao ofício. Tenho peças no Museu de Es-
78 tremoz, mas muitos não dão valor ao que a gen-
te faz. Isto um dia acaba, já tenho 73 anos, não
posso dizer que vou fazer isto já muitos anos...

José Vinagre
FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
Quirina Marmelo
(N. 1922)

Tinha 23 anos quando comecei a aprender com


o meu marido, António Lino de Sousa, que tra-
balhou na Olaria Alfacinha. Ajudava-o aos fins-
de-semana e feriados. Em 1982, por sua mor-
te, comecei a trabalhar sozinha. O artesanato é
uma coisa que faço por gosto. O meu bisneto tem
14 anos e já tem muitas peças dele. Executo os 79
bonecos com o barro de Estremoz que o meu fi-
lho prepara no barreiro. Começo por fazer a base
onde assenta o boneco. Faço o tronco, pernas,
cabeça e os braços. Visto o boneco, que perma-
nece em repouso durante algum tempo para se-
car naturalmente.
Vai cozer ao forno de lenha durante cerca de 14
horas. Depois de arrefecer é pintado com tintas
já preparadas.

Quirina Marmelo
FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro
FICHA TÉCNICA
GUIÃO Celso Mangucci Etelvina Santos, Montemor-o-Novo
Catálogo REALIZAÇÃO Francisco Manso Fábrica Alentejana de Lanifícios, Reguengos de Monsaraz
TEXTOS Celso Mangucci COORDENAÇÃO DA PESQUISA Hortense Santos Franklim e Francisco Sim-Sim, Alcáçovas
COORDENAÇÃO EXECUTIVA Hortense Santos IMAGEM José António Manso, Ricardo Fernandes e João Santinho Inácio Gaspar e António Ramalho, São Pedro do Corval
FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro EDIÇÃO Luís Sobral Irmãos Ginja, Estremoz
TRADUÇÃO Richard Trewinnard SOM C. A. Som Irmãs Flores, Estremoz
REVISÃO PARA INGLÊS David Alan Prescott LOCUÇÃO Rogério Silva, António Lobo, Olivier Bonamici, Tho- Isidro Manuel Verdasca, Évora
CONCEPÇÃO GRÁFICA Milideias – Comunicação Visual, Lda. mas Behrens, Roberto Rogai, Philip Town Joana Ferreira, Mora
ASSISTENTE DE PRODUÇÃO: Miguel Faria João Anselmo, Rio de Moinhos
EDIÇÃO Região de Turismo de Évora
João Chibeles Penetra, Alcáçovas
IMPRESSÃO
Roteiros temáticos João Chilrito Farias, Luz
DEPÓSITO LEGAL
Arte pastoril, Esculturas, Brinquedos em madeira, Cabaças; João Carlos Pereira, Mora
ISBN 978-989-95496-0-9
Bonecos de Estremoz. Tradicionais e contemporâneos; Joaquim Carriço “Rolo”, Glória
Chocalhos, Ferro forjado, Latoaria, peças em Cobre e Estanho; Joaquina Simões, Pavia
Exposição Permanente | Marcas de Identidade
Olaria do Redondo; José Ambrósio, Redondo
COMISSARIADO Celso Mangucci
Tapetes Bordados de Arraiolos; José Sandes Silva, Vimieiro
COORDENAÇÃO EXECUTIVA José Santos e Hortense Santos
80 Utensílios e esculturas em cortiça. Manuel e Judite Martins, Évora
ARQUITECTURA Jorge Fragoso Pires e Ana Timóteo
Lúcio Zagalo, Estremoz
LUMINOTECNIA Vítor Vajão
CONCEPÇÃO E TEXTOS Celso Mangucci Manuel Francisco Ribeiro, Hortinhas - Terena
EXECUÇÃO Anselmar, António Serra Construções, Construções
PLANIFICAÇÃO Hortense Santos Maria do Carmo Grilo, Redondo
Sampaio, Equimuseus, Gaspar Vidros, MNB e Nautilus
FOTOGRAFIA Manuel Ribeiro Maria Isabel Pires, Estremoz
CONSERVAÇÃO E RESTAURO Ícone, Conservação e Restauro, Lda.
CONCEPÇÃO GRÁFICA Milideias – Comunicação Visual, Lda. Maria Luísa Conceição, Estremoz
e Luís Filipe Pedro
TRADUÇÃO David Alan Prescott Modas à Margem do Tempo
IMPRESSÃO Diana Litográfica do Alentejo Serafim Parrulas, Vendas Novas
Programa audiovisual
Tiago Cabeça e Magda Ventura, Évora
Marcas de Identidade | Os Artesãos do Distrito de Évora|
Roteiros em preparação “Xico Tarefa”, Redondo
21:13 m
Cestaria;
Mobiliário pintado; Agradecimento pelo empréstimo das peças
CURTAS METRAGENS
Olaria de São Pedro do Corval. António Faustino Charrua
Como se decora uma cabaça | 3:15 m;
Instituto Português de Museus
Como se decora um móvel pintado | 3:12 m;
Website | Celeiro Comum Tiago Cabeça e Magda Ventura
Como se entrança uma cadeira | 3:38 m;
TEXTOS Celso Mangucci
Como se faz uma bota | 7:00 m;
COORDENADORA DA PESQUISA Hortense Santos A RTE AGRADECE A COLABORAÇÃO: do Instituto de Turismo de Por-
Como se faz um boneco de Estremoz | 5:11 m;
IMAGENS Ana Bugio, Cremilde Lopes, Carla Abreu, Dulce Cor- tugal, da Direcção Regional de Economia do Alentejo e Pro-
Como se faz um carro de cortiça | 3:13 m;
reia, Hortense Santos e Susana Nogueira grama Operacional Regional do Alentejo
Como se faz um cesto | 3:21 m;
ELABORAÇÃO Novabit
Como se faz um chocalho | 6:41 m;
A Região de Turismo de Évora agradece ainda aos membros
Como se faz uma colher bordada | 6:25 m;
Base de dados | Os Artesãos do Distrito de Évora da Comissão de Acompanhamento do Projecto de reabertura
Como se faz uma escultura em cortiça | 3:29 m;
COORDENAÇÃO Hortense Santos do Antigo Museu do Artesanato:
Como se faz um escultura em mármore | 3:41 m;
ENTREVISTAS Carolina Barrocas Prof. Doutor Eduardo Esperança, Universidade de Évora
Como se faz um esgrafitado | 6:38 m;
IMAGENS Ana Bugio e Cremilde Lopes Prof. Doutor Francisco Ramos, Universidade de Évora
Como se faz uma peça de estanho | 4:14 m;
ELABORAÇÃO Novabit Dr. José Monterroso Teixeira e Dr. Joaquim Caetano,
Como se faz um prato | 3:29 m;
Museu de Évora
Como se faz um soprador de lume | 2:34 m;
Agradecimentos Dra. Clara Vaz Pinto, P.P.A.R.T.
Como se faz uma talha | 5:21 m;
António Gradier Cartaxo, Estremoz
Como se faz um tapete de Arraiolos | 3:14;
António Correia, Monte do Trigo Centro de Artes Tradicionais | Antigo Museu do Artesanato
Como se faz um tarro de cortiça | 4:28 m;
Apeles Coelho, Vila Viçosa Largo 1º de Maio, nº7 | 7000-650 Évora | T 266 771 212
Como se tece uma manta | 5:16 m.
Casa de Tapetes Califa, Arraiolos rtevora@mail.telepac.pt | www.visitevora.pt

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