Você está na página 1de 509

ISSN 0871 - 4061

Revista
aqvae flaviae Revista
aqvae flaviae
N.º41 DEZEMBRO 2009

N.º41 DEZEMBRO 2009


CONGRESSO TRANSFRONTEIRIÇO
DE ARQUEOLOGIA
MONTALEGRE, OUTUBRO DE 2008

GRUPO CULTURAL
AQVAE FLAVIAE GRUPO CULTURAL AQVAE FLAVIAE
Capa:
Castro de San Cibran de Lás - Ourense

Publicação com o apoio de:


reviStaS PubLiCadaS

n.º1 - esgotada n.º2 - esgotada n.º3 - esgotada n.º4 - 3€ n.º5 - esgotada n.º6 - 3€ n.º7 - 6€

n.º8 - esgotada n.º9 - 8€ n . º 10 - 6€ n . º 11 - 6€ n . º 12 - 6€ n . º 13 - esgotada n . º 14 - esgotada

n . º 15 - esgotada n . º 16 - esgotada n . º 17 - esgotada n . º 18 - 8€ n . º 19 - 8€ n . º 20 - esgotada n . º 21 - esgotada

n . º 22 - esgotada n . º 23 - esgotada n . º 24 - 8€ n . º 25 - 8€ n . º 26 - 8€ n . º 27 - 8€ n . º 28 - 8€

n . º 29 - 8€ n . º 30 - 10€ n . º 31 - 10€ n . º 32 - 10€ n . º 33 - 10€ n . º 34 - 10€ n . º 35 - 15€

n . º 36 - 18€ n . º 37 - 15€ n . º 38 - 20€ n . º 39 - 20€ n . º 40 - 20€


iSSN: 0871-4061

GruPO CuLturaL aQvae FLaviae

REVISTA AQVAE FLAVIAE

ReV. aQVae FLaVIae CHaVes n.º41 P.1-512 deZ. /2009


Grupo Cultural Aqvae Flaviae

Publicação Semestral
Propriedade do grupo Cultural aqvae Flaviae

Sede e Redacção
sede do grupo Cultural aqvae Flaviae, Rua direita, 41 - 5400-220 Chaves

Director
Júlio Montalvão Machado

Comissão Redactorial
alípio Martins afonso, Firmino aires,
Isabel Viçoso, Júlio Montalvão Machado

Concepção Gráfica e Execução


nicola Papa sociedade de artes gráficas, Lda.

ISSN - 0871 - 4061


Depósito Legal - xxx

Tiragem
1100 exemplares

Preço
15€

Os trabalhos enviados pelos colaboradores serão submetidos à apreciação da


Comissão redactorial que deliberará sobre a oportunidade e interesse da sua
publicação.

Os originais devem ser dactilografados em a4, a dois espaços.

a colaboração assinada é da exclusiva responsabilidade dos seus autores, não


refletindo necessariamente as opiniões da revista ou do G.C.a.F.
Índice

11 Práticas Funerárias da Idade do Bronze de Trás-os-Montes


e da Galiza oriental

25 A recuperación dun contexto para un “tesouro” prehistórico:


un proxecto de investigación e valorización patrimonial
para O Monte Urdiñeira (Riós- A Gudiña, Ourense)

45 No limiar das ‘artes’? - questões em torno da permeabilidade


de fronteiras temporais e espaciais da arte rupestre
de Trás-os-Montes Ocidental

93 Dos enterramientos de la Edad del Bronce de la provincia de Ourense

107 Estudio de la cerámica del yacimiento de fosas de Fraga do Zorro

123 Repensando el passado: Cambio social e iconografía guerrera


en la edad del hierro del noroeste de la Península Ibérica

153 Cultura de frontera. O distrito de Vila Real e a zona meridional


da província de Ourense na Idade do Ferro

161 Entre Lusos, Bibalos e Tamagani: a Arqueoloxía transfronteiriza


de X. Taboada Chivite

183 Geo-historiografia do programa de investigação arqueológica


de Santos Júnior – o Castro de Carvalhelhos

195 La Ocupación del Espacio Común y Privado en la Citania


de San Cibran de Lás

209 O Crastoeiro e a ocupação da vertente Oeste do Monte


da Senhora da Graça, Mondim de Basto (Norte de Portugal)

219 Generalidades e particularidades da ourivesaria castreja transmontana:


Os torques flavienses

237 Patrones de situación de los asentamientos tipo castro


en la Comarca de As Frieiras (Orense)

253 Trísceles, Tetrásceles e motivos afins em elementos arquitectónicos


castrejos
269 Características castrejas dos povoados do concelho
de Vila Pouca de Aguiar

285 Minería romana en la cuenca meridional de los ríos Sil y Miño

303 A mineração romana no conjunto mineiro Chaves/Boticas/Montalegre

311 A exploração mineira nas Olgas (Redondelo, Chaves)

319 A la vera del Larouco: reflejos de la huella Galaico-Romana

333 El poblamiento Romano en la Galicia Oriental: Patrones


y diferencias del sur lucense y el norte ourensano. La tierra de Lemos
como paradigma

353 Tempos de ocupação castreja e romana em torno da ponte


da Misarela e do rio Rabagão

375 A Necrópole Romana do Largo das Freiras em Chaves

385 Terra sigillata da necrópole romana do Largo das Freiras, Chaves

417 Resultados das escavações arqueológicas de 2007 e 2008 realizadas


no complexo mineiro Romao de Tresminas e Jales

433 Sobre los orígenes y evolucion de las primeras iglesias rurales


en la alta edad media: el caso de Terra de Celanova (Ourenese)

449 Fortificaciones de frontera y paisajes fortificados: Verín,


Monterrei y Chaves

467 La Basílica de la Ascensión y Os Fornos (Allariz, Ourense)

479 El Monasterio de San Pedro de Rocas (Esgos, Ourense).


La problemática de la datacion e interpretación de un edificio
excavado en roca

489 Las distintas transformaciones espaciales y funcionales del Pazo Prioral


de la Colegiata de Santa María de Xunqueira de Ambía
(Xunqueira de Ambía, Ourense)

499 Silhas do antigo concelho de Ermelo: um projecto de estudo


e valorização do património de Mondim de Basto
Palavras Prévias

Tem sido a intenção dos responsáveis pela Revista Aquae Flaviae conti-
nuar a proporcionar aos leitores que desde sempre nos têm acompanhado, e a
quem devemos o apoio maior para o nosso trabalho, uma diversidade de temas,
que relacionados com a área da Região do Alto Tâmega, possam abranger
igualmente o interesse variável de qualquer um. Mais do que isso, transcen-
dendo esses limites, vamos alargando também o nosso interesse à velha Galiza,
solar das nossas raízes históricas e sentimentos iguais.
É essa a razão porque desta vez abrimos a revista à divulgação dos traba-
lhos que sob a égide do “Congresso Transfronteiriço de Arqueologia” se rea-
lizaram na capital do Barroso, durante os passados dias 3 a 5 de Outubro de
2008. A qualidade e o interesse que suscitaram entre o público de toda a região
e a natureza altamente meritória das intervenções, mereciam certamente a sua
publicação, apesar do volume dos trabalhos expostos terem vindo modificar e
ampliar largamente as características habituais dos números anteriores da re-
vista. Isso não poderia bastar, porém, para que deixássemos de reconhecer e
respeitar a publicação de toda a obra expendida durante o decorrer do Con-
gresso. Foi essa a nossa apreciação e com muito gosto a cumprimos.
Mas ainda, a Revista Aquae Flaviae gostaria de aproveitar este número
para demonstrar o seu reconhecimento à Câmara Municipal de Montalegre
pelo esforço que tem entregue a todas as iniciativas de carácter cultural que se
têm desenvolvido na região, e o apoio que tem prestado a essas manifestações.
Não seria igualmente justo se não deixássemos aqui expresso o favor igual que
temos merecido de todas as Câmaras da Região do Alto Tâmega, a quem cor-
respondemos, pelo nosso lado, com uma total disponibilidade, que queremos
continuar a dedicar a toda a sua actividade cultural. Só assim, e com a cons-
tância e dedicação que os leitores nos têm demonstrado, tem sido possível con-
tinuarmos esta caminhada e a realização do projecto, que há anos,
conjuntamente, temos obrigação de manter.

Por tudo isso, a todos, o nosso reconhecimento.


Prólogo

O presente volume da Revista Aquae Flaviae publica de forma monográfica as actas


do “Congresso Transfronteiriço de Arqueologia: um Património sem fronteiras”, realizado
entre os dias 3 e 5 de Outubro de 2008 em Montalegre.
O congresso e o presente volume de actas pretendem ser um espaço de encontro e
discussão entre investigadores portugueses e espanhóis, limitado geograficamente ao actual
território português de Trás-os-Montes Ocidental e à Província de Ourense na vizinha Galiza,
dadas as afinidades culturais entre ambas regiões, com diversos temas abordados no âmbito
do Património Cultural.

Gostaria de começar por agradecer o apoio institucional e logístico da Câmara Muni-


cipal de Montalegre, destacando o papel dos meus colegas do Ecomuseu de Barroso, David
Teixeira e Carla Carvalho, pela disponibilidade, ajuda e interesse que puseram na organização
do referido congresso.
Queria também agradecer o apoio financeiro dado pela Fundação para a Ciência e a
Tecnologia (FCT) no âmbito do Fundo de Apoio à Comunidade Científica (FACC), indis-
pensável para a publicação do presente volume de actas.
Uma palavra de reconhecimento ao Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura,
Espaço e Memória (CITCEM), cujo auxílio foi fundamental para a obtenção do apoio fi-
nanceiro por parte da FCT e ao Laboratorio de Patrimonio (LaPa-CSIC), pela participação
“massiva” no congresso e por todo o feedback dado.
Queria expressar também a minha gratidão à comissão científica do congresso cons-
tituída por Felipe Criado Boado (Laboratorio de Patrimonio), Maria Manuela Martins (Uni-
versidade do Minho) e Gonzalo Ruiz Zapatero (Universidad Complutense de Madrid), por
todas as críticas construtivas que fizeram e por todo o apoio científico que nos deram.
Não posso deixar de agradecer a todos os assistentes e comunicantes que participaram
e colaboraram desinteressadamente para o êxito do congresso e, em particular, aos autores
que expõem aqui os seus trabalhos.
Por último, uma palavra de agradecimento ao Grupo Cultural Aquae Flaviae por se
terem mostrado desde o início interessados na publicação das actas e pela oportunidade dada
nesse sentido.

Esperamos que este volume contribua não só para a produção de conhecimento cien-
tífico no âmbito do Património Cultural, mas que cumpra também a “função social” para a
qual está igualmente orientado.

João Fonte
(Coordenador das actas)
PRáticAs FuneRáRiAs dA idAde do BRonze
de tRás-os-Montes e dA GAlizA oRientAl
BRONZE AGE FUNERARY PRACTICES OF TRÁS-OS-MONTES
AND EASTERN GALICIA

Ana M. S. Bettencourt
dePartameNtO de HiStória da uNiverSidade dO miNHO, CeNtrO de
iNveStiGaçãO traNSdiSCiPLiNar: CuLtura, eSPaçO e memória
(CitCem); aNabett@uaum.umiNHO.Pt

Resumo: Com esta comunicação pretendemos, em primeiro lugar, efectuar uma síntese
sobre os conhecimentos existentes relativos às práticas funerárias da Idade do Bronze da orla
mais oriental do Noroeste peninsular. Em segundo, e a partir das materialidades conhecidas, en-
saiar algumas interpretações sobre o papel social dos mortos, das oferendas e do funeral, nos
diferentes contextos cronológico-culturais e espaciais, discutindo, sempre que possível, algumas
premissas vulgarmente aceites. Em terceiro e último lugar preconizar o tipo de abordagem que
consideramos mais premente no contexto actual da investigação sobre a morte.
Concluímos que alguns mortos continuam agentes socialmente activos quer em termos
religiosos quer como referentes de memória e de identidade grupal, principalmente durante o
Bronze Inicial. A partir do Bronze Médio os cenários de promoção e negociação da identidade
parecem deslocar-se para a esfera dos vivos.
Palavras-chave: Noroeste Peninsular, Idade do Bronze, Práticas Funerárias, Importância
do funeral e do papel social dos mortos.

Abstract:In this paper we aim to, first, produce a synthesis of the existing body of knowl-
edge concerning Bronze Age funerary practices in the easternmost edge of the northwest Iberia.
Second, to propose, according to the materiality known, some interpretations on the social role
of the dead, the offerings and the funeral, in different cultural contexts, discussing, whenever
possible, some commonly accepted assumptions. Thirdly and lastly we will express some con-
siderations that we consider most significant in the context of the current investigation on death
in Prehistory.
We conclude that some deaths are still socially active agents or in religious terms or as
related to memory and group identity, especially during the Early Bronze Age. From the Middle
Bronze scenarios promotion and negotiation of identity seem to move to the realm of the living.
Keywords:North-west Iberia; Bronze Age; Funerary Practices; Importance of the funeral
and the social meaning of the corpse.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 11


1. introdução
Este texto está dividido em três partes que
obedecem a objectivos distintos. Em primeiro
lugar, efectuaremos uma exposição sobre a base
empírica existente para o estudo das práticas fu-
nerárias, durante a Idade do Bronze da orla mais
oriental do Noroeste peninsular (Fig. 1). Em se-
gundo, e a partir das materialidades conhecidas
ensaiaremos algumas interpretações sobre o papel
social dos mortos, das oferendas e do funeral, nos
diferentes contextos cronológico-culturais e espa-
ciais, discutindo, sempre que possível, algumas Figura 1. Mapa com a localização
genérica da área de trabalho.
premissas vulgarmente aceites. Em terceiro e úl-
timo lugar preconizaremos o tipo de abordagem
que consideramos mais premente, no contexto ac-
tual da investigação sobre a morte.

2. A base empírica
Em relação à base empírica podemos dizer que, apesar de não muito abun-
dante, ela é já algo significativa e diversificada, principalmente para contextos
do Bronze Inicial (entre o último quartel do III milénio AC até cerca do séc.
XVIII/XVII AC) e o Médio (entre séc. XVIII/XVII AC até finais do II milénio
AC) sendo, ainda, muito escassa para o Bronze Final1.
Para o Bronze Inicial conhecem-se reutilizações de monumentos megalí-
ticos, como se pode comprovar pelas datas do dólmen de Madorras 1, em Sa-
brosa, reocupado entre os finais do século XX e os inícios do XVII AC (Cruz
& Gonçalves 1994, 1995), prática que persiste no Bronze Médio, como se ve-
rifica na Madorra da Granxa, Lugo, reutilizado entre os séculos XVII e o XV
AC (Chao Alvarez & Álvarez Merayo 2000). A qualquer um destes dois pe-
ríodos genéricos poderão pertencer o púcaro de colo alto e o vaso troncocónico
depositados nos dólmenes de Carvalhas Alvas, em Vila Pouca de Aguiar (Leis-
ner 1958) e da Estante, em Alijó (Jorge 1982), respectivamente, assim como
os fragmentos de troncocónicos recolhidos na Mamoa de Outeiro de Cavaladre
1, Muíños, Ourense (Eguileta Franco 1999). Existem, no entanto, outros mo-

Pág. 12 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


numentos megalíticos frequentados durante a Idade do Bronze, cuja cronologia
mais precisa se desconhece. Referimo-nos, por exemplo, à Mamoa de Santo
Ambrósio, Macedo de Cavaleiros (Carvalho 2005) com fragmentos cerâmicos
que parecem inscrever-se nos “mundos estilísticos” Cogeces/Cogotas I e à
Mamoa de Gendive, Boborás, Ourense onde foi depositado um vaso de largo
bordo horizontal (Bouza-Brey 1936) que tanto se poderá enquadrar no Bronze
Médio como no Bronze Final.
Ao Bronze Inicial corresponderão, também, algumas sepulturas em fossas
abertas no saibro como se testemunha pela existência de, pelo menos, um en-
terramento em fossa, datada de entre os inícios do séc. XIX aos meados do
XVII AC (Fábregas Valcarce 2001, Prieto Martínez et alii 2009b), no sítio de
A Fraga do Zorro, em Ourense, onde se descobriram, além destas estruturas,
valados e buracos de poste. Aqui, algumas fossas
estavam seladas por acumulações de pedras onde
se inseriam, por vezes, moinhos manuais.
Talvez a funções sepulcrais se possa atribuir,
também, a fossa encontrada na base de Cameixa,
Ourense, datada da 1ª metade do séc. XXI AC,
onde se depositou um vaso, interpretado como
urna funerária (Fig. 2), algumas pedras e um moi-
nho movente (Parcero Oubiña 1997, Criado
Figura 2. Desenho do perfil da
Boado et alii 2000, Prieto Martínez et alii 2009a). fossa de Cameixa (Parcero Oubiña
As cistas são outro tipo de sepulturas fre- 1997).
quentes neste período. Se bem que abarcando toda
a Idade do Bronze, apareceram na área em análise
algumas manifestação que poderão atribuir-se ao Bronze Inicial e ao Bronze
Médio.
Ao Bronze Inicial parece ser possível inserir a necrópole de Lagares, em
Valbenfeito, na depressão de Macedo de Cavaleiros. Aqui, teriam aparecido
várias sepulturas e não apenas uma cista, como frequentemente se afirma, for-
madas por lajes de xisto, da qual se conhece a descrição de uma, com 1,80m
de comprimento, por 1m de largura e 1m de profundidade. No interior desta
foi detectada uma espiral de ouro e fragmentos cerâmicos de forma desconhe-
cida que desapareceram (Alves 1975, Cruz 2000). A mesma cronologia parece

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 13


poder atribuir-se à necrópole de Chedeiro, A Pe-
drosa, Cualedro, Ourense, onde uma das sepultu-
ras continha uma espiral de prata. Nas imediações
apareceram outras três cistas contendo, uma delas,
três vasos troncocónicos e outra, dois púcaros de
colo alto e um troncocónico (Fig. 3) (Taboada
Chivite 1971, Delibes de Castro & Rodríguez Col-
menero 1976, Vazquez Varela 1980).
Talvez nesta cronologia se possa inserir a
possível necrópole da Praia da Rola, Mugueimes,
concelho de Muiños, Ourense, no baixo Lima ga-
Figura 3. Desenho de uma das cis- lego, encontrada casualmente, na margem da bar-
tas de Chedeiro e oferendas de di-
versas sepulturas (Suarez Otero
ragem das Conchas, em 16 de Setembro de 1996
2002). e escavada de emergência em 18 de Setembro do
mesmo ano. Aí foi detectada uma pequena cista
rectangular com 0,71 a 0,75cm de comprimento, por 0,43cm de largura e por
c. de 0,30cm de profundidade, orientada de NNW para SSE. Esta foi construída
com pequenas lajes de granito: cinco formando a caixa, duas o chão e três a
cobertura, faltando uma no momento da intervenção
arqueológica, devido a perturbações recentes. No
canto nordeste desta estrutura jaziam restos de ossos
humanos2, calcinados previamente à sua deposição
neste local, visto não se terem encontrado terras com
carvões no interior da cista. No canto sudeste, de-
positado directamente sobre uma das lajes da base,
encontrava-se um púcaro de colo alto3 (Fig. 4), si-
milar aos detectados em Chedeiro4. Na zona, pare-
cem ter existido mais quatro cistas a nordeste da
identificada, tendo em conta agrupamentos de ca-
lhaus e de blocos de xisto e ao facto de aflorarem, à
Figura 5. Púcaro de colo alto de-
superfície, lajes prismáticas de granito “a xeito de tectado no interior da cista da
esteios das cistas”5. Praia da Rola
(http://www.xunta.es/conselle/cul
É provável que a cista de O Cubillón, Xer- tura/patrimonio/museos/mapour/g
made, Lugo, que continha restos de ossadas de um alego/pezasmes/pm24.htm).

Pág. 14 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


adulto e um potinho ou vaso de tipo Taraio
(Ramil Soneira & Vazquez Varela 1979,
Vazquez Varela 1980) forma que, por
vezes, se encontra associada a artefactos
metálicos do Bronze Inicial, se possa in-
cluir, igualmente, nesta cronologia.
Ao Bronze Médio poderá atribuir-se
Figura 5. Desenho da cista de A Forxa com
a cista de A Forxa, Riós, Ourense, datada a localização das oferendas cerâmicas
de entre os meados do séc. XVIII aos iní- (Prieto Martínez et alii 2008a).

cios do XVI AC, de tendência quadrangu-


lar e onde apareceram quatro vasos troncocónicos (Fig. 5) (Méndez Fernández
1995 in Fábregas Valcarce & Vilaseco Vázquez 1998, Prieto Martínez et alii
2009a).
Tendo em conta este conjunto de paralelos é possível que a necrópole de
cistas das Cabriadas/Gorgolão, Vila da Ponte, Montalegre (Fig. 6) contendo,
como oferendas, apenas vasos troncocónicos e um subcilíndrico (Sanches
1980, Silva 1994, Baptista 1999) e a cista da Lomba (Fontela de Godim), onde
igualmente se depositou um vaso troncocónico, também em Vila da Ponte,
Montalegre (Sanches 1980, Silva 1994, Baptista 1999) se devam inscrever
entre o Bronze Inicial e o Médio, cronologia que está de acordo com as balizas
cronológicas defendidas por nós para os vasos troncocónicos do Norte de Por-
tugal, ou seja, entre finais do III e o 2º quartel do II milénios AC, com base em
contextos datados pelo radiocarbono (Bettencourt 1999).
Talvez a cista de Biobra, O Barco de Valdeorras, Ourense (Caamaño
Gesto 2007: 83), se possa incluir nesta cronologia genérica, dada as semelhan-
ças arquitectónicas com outras destes períodos.
Outros tipos de estruturas funerárias existentes durante a Idade do Bronze
são as sepulturas planas, de forma sub-rectangular ou oval, abertas no substrato
e cobertas com saibro ou pedra.
Os melhores exemplos deste tipo de construção, para a fachada mais
oriental do Noroeste, registaram-se na necrópole do Coto da Laborada, Calvos
de Randín, Ourense, definida por dois grupos de sepulturas. No primeiro, en-
contraram-se quatro sepulturas, de contorno oval, sem cobertura aparente, com
dimensões que variavam entre 2m e 1,5m de comprimento, por 1,5m a 1m de

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 15


largura e 0,50m de profun-
didade (Fig. 7), contendo
potinhos de colo muito fe-
chado, potinhos de colo
alto, púcaros, assim como
vasos de largo bordo hori-
zontal (Fig.8). No segundo
grupo, a algumas centenas
Figura 6. Reconstituição da primeira cista encontrada de metros a norte do pri-
no Gorgolão (Baptista 1999). meiro, também existiam

recipientes cerâmicos cuja


forma desconhecemos (Lopez Cuevillas 1930, 1947; Lopez Cuevillas & Lo-
renzo Fernández, 1930). Tendo em conta o acervo cerâmico, é possível que
esta necrópole se possa inserir no Bronze Médio, dada as referencias cronoló-
gicas que possuímos para os potinhos de colo alto (Bronze Inicial)6 e para os
vasos de largo bordo horizontal no Norte de Portugal (Bronze Médio e Bronze
Final) (Bettencourt 1997 e no prelo).
Igualmente na Galiza cabe destacar a necrópole de sepulturas planas de
Monte de Mesiego, O Carballiño, Ourense, onde foram detectados dois grupos
de três sepulturas, tapadas com pedras, algumas delas com oferendas cerâmicas.
Numa delas, jazia um pequeno machado votivo, um objecto de barro perfurado
e um vaso (taça?) de perfil carenado e de fundo plano (Lopez Cuevillas &
Lamas 1958). Pelas características da jazida pensamos estar face a uma necró-
pole organizada por núcleos, talvez do Bronze Médio ou Final, dado os paralelos
conhecidos para as taças carenadas no Norte de Portugal (Bettencourt 1999).
As grutas e os abri-
gos também foram ocupa-
das como lugares de
enterramento e de depósi-
tos durante a Idade do
Bronze do Noroeste orien-
tal. No território português
destacamos a Lorga de Figura 7. Desenho do primeiro grupo de sepulturas planas do
Dine, Vinhais, Bragança, Coto da Laborada (Lopez Cuevillas & Lorenzo Fernández, 1930).

Pág. 16 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


sobranceira ao rio Tuela, onde parecem exis-
tir indícios de tumulações (Harpsoe &
Ramos 1985) desde, pelo menos, o Calcolí-
tico regional, até à Idade do Bronze. As ocu-
pações deste período evidenciam-se pela
presença de um vaso troncocónico e de vasos
carenados.
Salientamos, ainda, a série de grutas
existentes nas vertentes do Monte Ferreiros,
Miranda do Douro, Bragança, sobranceiras
a cursos de água, afluentes do rio Angueira, Figura 8. Potinho de colo muito fechado,
que terão servido como lugares sepulcrais, vaso de largo bordo, potinho de colo alto e
púcaro do 1º grupo de sepulturas do Coto
como a Gruta de Ferreiros e a Gruta de Laborada (Fot. do Museu Arqueolóxico
Grande (Delgado 1887, Sanches 1992). No Pronvincial de Ourense ).

Monte Geraldes, nas proximidades do anterior, cabe destacar a Gruta do Ge-


raldo, onde teriam aparecido ossadas humanas, um machado plano e um pu-
nhal triangular, em cobre, entre outro material cerâmica e ósseo. Ainda no
contexto do vale do Angueira há a destacar as Fendas do Monte Pedriço onde
apareceram ossadas de 2 esqueletos humanos incompletos, em associação com
fragmentos de mós. É de salientar que não se conhecem povoados coetâneos,
nas imediações destas grutas (Delgado 1887, Sanches 1992).
Também no Fragão da Pitorca, Chaves (Armbruster & Parreira 1993),
associado a um eventual povoado, segundo apurámos recentemente (Fig. 9 e
10), foram realizados enterramentos, provavelmente, desde o Calcolítico até
ao Bronze Inicial. Aqui, a par de ossadas humanas, apareceram cerâmicas lisas
e decoradas, assim como uma espiral em ouro e um machado plano, ainda
com rebarbas de fundição (Fig. 11a e 11b).
Já do Bronze Final será o provável enterramento do Abrigo 2 da Fraga dos
Corvos, Macedo de Cavaleiros, onde foi descoberto um pendente decorado e um
pequeno bracelete, em bronze, assim como uma fíbula de dupla mola, uma es-
pátula e um fragmento de um cinturão, que pertenceriam ao mesmo contexto
(Senna-Martinez et alii 2006; Senna-Martinez et alii 2007; Senna-Martinez in-
formação oral7), um conjunto de ornamentos corporais e de espólio associado
ao tratamento do corpo com paralelos nos enterramentos da Roça do Casal do

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 17


Meio, em Sesimbra, datados do Bronze Final (Spindler et alii 1973 – 1974).

3. As interpretações
A esta escala de análise podemos afirmar que existem materialidades as-
sociadas à morte para todos os períodos da Idade do Bronze, à semelhança
do que ocorre na fachada mais litoral de todo o Noroeste Peninsular (Betten-
court, no prelo). Do mesmo modo podemos concluir que há diversidade de
contextos funerários, de soluções arquitectónicas, de ritos e de acções de âm-
bito mortuário, pelo menos durante o Bronze Inicial e Médio.
Atestam-se, igualmente, desde os primórdios da Idade do Bronze as práticas
da cremação a da inumação. A inumação comprova-se nalgumas Grutas dos Mon-
tes de Ferreiro e Geraldes e é deduzível através das dimensões de algumas cistas
(entre 1,80 a 1m), como em Lagares, Chedeiro, A Forxa, Biobra, Gorgolão e através

Figura 9. Localizaçãodo do Fragão da Pitorca, no vale


do Tâmega.

Figura 10. Interior do Fragão da Pitorca.

das dimensões das sepulturas planas, com as do Coto da Laborada (entre 2 a 1,5m).
A prática da cremação está documentada na Galiza desde o Calcolí-
tico Final, conforme data de radiocarbono efectuada recentemente para o
enterramento da cista pequena de Agro de Nogueira, na Corunha (Betten-
court & Meijide Camessele 2009). No Bronze Inicial ocorre numa das fos-
sas da Fraga do Zorro (indiciada pelas dimensões das ossadas e pela

Pág. 18 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


característica dos sedimentos) (Prieto
Martínez et alii 2009b) e, provavelmente,
na fossa de Cameixa e na cista da Praia da
Rola8
À semelhança da orla ocidental do No-
roeste também aqui se denota que apenas no
Bronze Inicial, por comparação com o
Bronze Médio, foram sepultados poucos in- Figura 11a e 11b.. Espiral em ouro e ma-
chado plano encontrados no Fragão da Pi-
divíduos com oferendas de grande valor má- torca. (Fot. de Beatriz Comendador Rey).
gico-simbólico, como cremos que sejam os
objectos metálicos, em ouro ou em cobre.
Com exemplo destes casos excepcionais citaremos um inumado na ne-
crópole de Lagares, outro na de Chedeiro, outro no Fragão da Pitorca e outro,
ainda, na Gruta do Geraldo. Ora, colocando a tónica nos vivos, ou seja, nos
agentes do funeral é provável que os enterramentos com oferendas excepcio-
nais, correspondam a acções interligadas a um sistema religioso e social que,
através da mitificação de determinados indivíduos, mantêm activo o seu espí-
rito após a morte, fomentando-se assim a criação de um novo ancestral cujo
papel poderá ter sido o da legitimação da ocupação dos novos territórios ou
da reocupação de outros, durante o Bronze Inicial (Bettencourt 2008: 102).
Dito de outro modo, alguns corpos teriam servido como materialidades ao
serviço das novas ordens ideológicas e sociais, quer como legitimadores de
ocupação de territórios ou como elementos de controlo do passado incorpo-
rando-o9 quer, como elementos em redor dos quais se criariam e afirmariam
novos laços de identidade grupal e se fomentariam novas ideologias e relações
de poder. Tal hipótese afasta-se da explicação processual que identifica estes
enterramentos excepcionais como pertencentes a elites e chefes em vida, se-
nhores de uma sociedade já muito hierarquizada, características que as restantes
materialidades arqueológicas não confirmam. Nesta lógica processual, durante
o Bronze Médio, seria normal encontrarmos indícios de enterramentos igual-
mente expressivos de hierarquia social. Tal não se verifica. Pelo contrário, o
Bronze Médio corresponde a um período em que este tipo de oferendas desa-
parece quase abruptamente, quer na fachada oriental do Noroeste, quer ainda
na restante região. As oferendas, inexistentes ou muito padronizadas e discre-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 19


tas, compostas por vasos cerâmicos, parecem revelar, pelo menos no plano
simbólico, pouca distinção social entre os indivíduos. É possível admitir que
estaríamos perante uma situação em que, legitimada a posse dos territórios e
dos símbolos do passado, no Bronze Inicial, durante o Bronze Médio a morte
teria sido gradualmente integrada no ciclo da vida diária, perdendo o cadáver
a sua importância como referente da memória social (Bradley 2000; Betten-
court 2008), pelo que as materialidades e os cenários associados à identidade
grupal terão que procurar-se no mundo dos vivos.
Outra questão significativa é a do papel social a atribuir a locais de
longa duração, ocupados desde o Calcolítico até à Idade do Bronze, onde
se parecem praticar escassas práticas mortuárias, aparentemente distantes
de povoados, e que dificilmente se poderão interpretar como simples ne-
crópoles como, por exemplo, as grutas do Monte Ferreiros e as do Monte
de Geraldes, ambos no vale do rio Angueira, Miranda do Douro. Tendo em
conta as suas particularidades geomorfológicas e cársicas talvez estes luga-
res naturais se devam interpretar como cenários de excepção e de grande
carga mítica para as comunidades calcolíticas e da Idade do Bronze que vi-
veriam nas suas imediações e que apenas excepcionalmente frequentariam
estes locais, dado a pouca quantidade de corpos encontrados nas várias ca-
vidades. Tal parece indiciar restrições mágico-simbólicas de acesso ao local,
por parte dos agentes sociais que o controlaram, o que estaria de acordo com
a hipótese do carácter religioso deste lugar. Na mesma ordem de ideias os
corpos poderão interpretar-se não como simples enterramentos mas como
deposições realizadas no âmbito de ritos mais complexos cujo significado
talvez fosse o de oferendas a estes espaços naturais de ampla significação
simbólica.
Por último, gostaria de chamar a atenção para o facto de que as interpretações
efectuadas apenas se poderão considerar fragmentos de uma construção complexa e
multifacetada que urge continuar a questionar através de novos projectos de investi-
gação que priviligiem uma perspectiva holística, pois o discurso da morte não repre-
senta o reflexo da totalidade da sociedade, mas é apenas um deles a relacionar com
o estudo de outros discursos. Deste modo importa a sua inter-relação com os sítios
residenciais, com os locais de depósitos metálicos, com os lugares de arte rupestre e

Pág. 20 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


com os contextos ou espaços naturais (tendo em conta factores como a geomorfolo-
gia, a hidrologia, a geologia, os ciclos lunares e solares, etc.).
Para tal será necessário mudarmos, igualmente, a escala de análise e apos-
tarmos em estudos particulares que possibilitem leituras sobre as contingências
regionais.

Bibliografia
ARMBRUSTER, B. R, & R. Parreira (1993). Inventário do Museu Nacional de Arqueologia: Colecção de
Ourivesaria. Do Calcolítico à Idade do Bronze, Lisboa, Ed. IPM.
ALVES, F. M. (1975). Memórias, vol. 9, Bragança, Ed. Museu o Abade de Baçal.
BAPTISTA, J. D. (1999). As cistas de Vila da Ponte, Aquae Flaviae, 21, pp. 333-352.
BETTENCOURT, A. M. S. (1997). Expressões funerárias da Idade do Bronze no Noroeste peninsular. Actas
do IIº Congreso de Arqueología Peninsular, Fundación Rei Afonso Henriques, Zamora, pp. 621 - 632.
BETTENCOURT, A. M. S. (1999). A Paisagem e o Homem na bacia do Cávado durante o II e o I milénios
AC, 5 vols (Dissertação de Doutoramento apresentada à Universidade do Minho, na área de Pré-História e
História Antiga – policopiada).
BETTENCOURT, A. M. S. (2008). Life and death in the Bronze Age of the NW Iberian Peninsula, in Fredrik
Fahlander & Terje Oestigaard (eds.) The materiality of death – bodies, burials and beliefs, BAR International
Series, Ed. Archeopress, pp. 99-104.
BETTENCOURT, A. M. S. (no prelo). Estruturas e práticas funerárias do Bronze Inicial e Médio do Noroeste
Peninsular, in Javier Sanchez Palencia, Anthony Gilman & Primitiva Bueno (eds.) Livro de Homenaje a
Maria Dolores Fernández-Posse y de Arnáiz, Bibliotheca Praehistorica Hispana (BPH), Ed. CSIC, Ma-
drid.
BETTENCOURT, A. M. S. & G. Meijide Camessele (2009). Agro de Nogueira, Melide, A Coruña: novos
dados e novas problemáticas, Galaecia, nº 28, Santiago de Compostela, pp. 33-40.
BOUSA-BREY, F. (1936). Vaso tumular de Gendive, Boletín de la Academia Gallega, nº 31 (261), pp. 236
– 241.
BRADLEY, R. (2000). An archaeology of natural places, Londres/Nova Iorque, Ed. Routledge.
CAAMAÑO GESTO, J. M. (2007). O Calcolítico e a Idade do Bronce, in X. R. Barreiro Fernández & R.
Villares Paz (coord.) A Gran Historia de Galicia. Prehistoria de Galicia I, vol. 2, A Coruña, La Voz de Ga-
licia, pp. 8 – 223.
CARVALHO, H. A. A. S. (2005). Mamoa de Santo Ambrósia, Vale da Porca, Macedo de Cavaleiros, Bra-
gança: Resultados Preliminares, Cadernos “Terras Quentes”, 2, pp. 51 – 60.
CHãO ÁLVAREZ, F. J.& I. A. Álvarez Merayo (2000). A Madorra da Granxa: o túmulo máis grande de
Galicia? Brigantium, vol.12, pp. 41-63.
COMENDADOR REY, B. (1999). Los Inícios de la Metalurgia en el Noroeste de la Península Ibérica, Bri-
gantium, 11, A Coruña.
CRIADO BOADO, F., X. Amado Reino, M. C. Martínez López, I. Cobas Fernández & C. Parcero Oubiña
(2000). Programa de Corrección del Impacto Arqueológico de la Gasificación de Galicia. Un ejemplo de
gestión integral del património arqueológico, Complutum, 11, pp. 63 – 85.
CRUZ, C. S. (2000). Paisagem e Povoamento na Longa Duração: O Nordeste Transmontano – Terra
Quente, Braga, 3 vols (Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto de Ciências Sociais da Universidade
do Minho –Policopiada).
CRUZ, D. J.& H. B. Gonçalves (1994). Resultados dos trabalhos de escavação da Mamoa 1 de Madorras
(Sabrosa, Vila Real). Estudos Pré-históricos, 2, pp. 171 – 232.
CRUZ, D. J.& H. B. Gonçalves (1995). Mamoa 1 de Madorras (Sabrosa, Vila Real). Datações radiocarbó-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 21


nicas. Estudos Pré-Históricos, 3, pp. 151 – 159.
DELGADO, J. F. N. (1887). Jazigos de mármore e de alabastro de Santo Adrião e das grutas compreendidas
nos mesmos jazigos, Comissão dos Trabalhos dos Serviços Geológicos de Portugal, 2 (1), Lisboa.
DELIBES DE CASTRO, G. & A. Rodríguez Colmenero (1976). Una nueva necrópolis de cistas en el nor-
oeste peninsular, Letras de Deusto, 6, pp. 181 – 186.
EGUILETA FRANCO, J. M. (1999). A baixa Limia galega na Prehistoria Recente. Arqueoloxía dunha pai-
saxe na Galicia interior, Ed. Deputación Provincial de Ourense, Ourense.
FÁBREGAS VALCARCE, R. (2001). Los petroglifos y su contexto: un ejemplo de la Galicia meridional.
Ed. Instituto de Estúdios Vigueses. Vigo.
FÁBREGAS VALCARCE, R. & X. I. Vilaseco Vázquez (1998). Práticas funerárias no Bronce do Noroeste,
in R. Fábregas Valcarce (ed.), A Idade do Bronce en Galicia: novas perspectivas. Ed. Cadernos do Seminário
de Sargadelos 77. Coruña. pp. 191 - 219.
HARPSOE, C. H. & M. F. Ramos (1985). “Lorga de Dine” (Vinhais, Bragança), Arqueologia, 12, pp. 202
– 204.
JORGE, V. O. (1982). Megalitismo do Norte de Portugal: o distrito do Porto – os monumentos e a sua
problemática no contexto europeu, 2 vols (Dissertação de Doutoramento apresentada à Universidade do
Porto – policopiada).
LEISNER, V. (1958). Notas sobre um vaso transmontano, Arqueologia e História, 8ª série, 3, pp. 145 –
153.
LOPEZ CUEVILLAS, F. (1930). Novas cerâmicas das antas galegas, Trabalhos da Sociedade Portuguesa
de Antropologia e Etnologia, nº 4, pp. 263 – 282.
LOPEZ CUEVILLAS, F. (1947). Los vasos semiovoides y la cronologia de los vasos de ancho borde hori-
zontal, Boletin de la Comisión Provincial de Monumentos Históricos y artísticos de Orense, 16 (1), pp. 1 –
12.
LOPEZ CUEVILLAS, F. & X. Lorenzo Fernández (1930). Vila de Calvos de Randin. Notas Etnográficas
e Folklóricas, Ed. Seminário de Estudos Galegos, Santiago de Compostela.
LOPEZ CUEVILLAS, F.& M. Chamoso Lamas (1958). Una necropolis de sepulturas planas. Cuadernos
de Estudios Gallegos.13 (39), pp.273-283.
MEIJIDE CAMESELLE, G. (1995). La necrópole del bronce inicial del Agro de Nogueira (Toques, A Co-
ruña). Actas del XXII Congresso Nacional de Arqueologia. Vigo 2003, Vigo, vol. 2, pp.85-88.
MEIJIDE CAMESELLE, G. (1996). La necrópolis del Bronce inicial del Agro de Nogueira (Piñeiro, Toques,
A coruña) en el contexto funerário de su época, Homenaje a C. Alonso del Real, Universidade de Santiago
de Compostela, vol. 1, pp. 215 – 239.
PARCERO OUBIÑA, C. (1997). Documentación de un entorno castreño: trabajos arqueológicos en el área
de Cameixa, Trabajos en Arqueología del Paisaje - 1, Santiago de Compostela.
PRIETO MARTíNEZ, M. P., O. Lantes Suárez & A. Martínez Cortizas (2009a). Dos enterramientos de la
Edad del Bronce en la Província de Ourense (neste volume).
PRIETO MARTíNEZ, M. P., O. Lantes Suárez, A. Martínez Cortizas & María Dolores Gil Agra (2009b).
Estudio de la cerámica del yacimiento de fosas de Fraga do Zorro (neste volume).
RAMIL SONEIRA, J. & J. M. Vazquez Varela (1979). Enterramiento en cista de la edad del Bronce de “O
Cubillon”, Xermade (Lugo), El Museu de Pontevedra, 33, pp. 61 – 68.
SANCHES, M. J. (1980). Alguns vasos cerâmicos do Museu de Antropologia do Porto, Arqueologia, 1,
Porto, pp. 12-18.
SANCHES, M. J. (1992).Pré-História Recente no Planalto Mirandês (Leste de Trás-os-Montes), Porto, Ed.
GEAP.
SENNA-MARTINEZ, J. C., José M. Q. Ventura, Hélder A. Carvalho & Elin Figueiredo (2006). A Fraga
dos Corvos (Macedo de Cavaleiros): um sítio de habitat da primeira Idade do Bronze em Trás-os-Montes
oriental. A Campanha 3 [2005], Cadernos Terras Quentes, 3, pp. 61 – 85.
SENNA-MARTINEZ, J. C., José M. Q. Ventura & Hélder A. Carvalho (2007). A Fraga dos Corvos (Macedo

Pág. 22 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


de Cavaleiros): um sítio de habitat da primeira Idade do Bronze em Trás-os-Montes oriental. A Campanha
4 [2006], Cadernos Terras Quentes, 4, pp. 85 – 110.
SILVA, M. A. (1994). A cista do Gorgolão (Vila da Ponte - Montalegre), Portugália, nov. série., 15, pp. 137
- 146.
SPINDLER, A. , A. C. Branco, G. Zbyszewski & O. V. Ferreira (1973-1974). Le monument à coupole de
l´âge du Bronze Final de la Roça do Casal do Meio (Calhariz), Comunicações dos Serviços Geológicos de
Portugal, 57, pp. 91 – 154.
SUÁREZ OTERO, J. (2002). Die Bronzezeit in Galicien, Madrider Mitteilungen, 43, pp. 1 – 21.
TABOADA CHIVITE, J. (1971). Notícias arqueológicas de la región del Tâmega (Verín), Cuadernos de
Estudios Galegos, tomo 26, nº 78, pp. 45 - 63.
VAZQUEZ VARELA, J. M. (1980). Enterramientos en cista de la Edada del Bronce en Galicia. Pontevedra.
0, pp. 23 – 40.

1
Os critérios que subjazem a esta cronologia genérica e naturalmente redutora, para todo o Noroeste, poderão
consultar-se em A.M. S. Bettencourt (no prelo).
2
Os restos que observámos eram muito pequenos ou pequenos. Alguns deles, um pouco maiores e com in-
dícios de fumigação na face interna, parecem pertencer a ossos mais longos. Existiam, também, restos de
crânio, na zona da sutura, dando a impressão de que se tratava de um esqueleto jovem. No entanto, só uma
análise antropológica poderá contribuir para uma melhor compreensão destes dados.
3
Tratava-se de um recipiente manual, de pasta arenosa, de cor acastanhada no interior e exterior, mas com
manchas, provavelmente devido à cozedura redutora. Esta parece ter sido deficiente dado o cerne conter
uma tonalidade distinta. A superfície exterior foi apenas alisada com excepção do início do bordo e do colo
interior que foi polido. Morfologicamente trata-se de um púcaro de colo alto, com bordo esvasado e lábio
arredondado e asa de fita de secção sub-rectangular e de preensão vertical. Tem 18,6cm de altura, 8cm de
diâmetro de boca e 5cm de diâmetro de base. Da observação que efectuámos não se notam manchas escuras
ou de fuligem, no interior ou exterior do vaso.
4
A estrutura arquitectónica, os restos de ossadas, o recipiente de cerâmica assim como amostras de sedi-
mentos encontram-se em depósito no Museu Arqueolóxico Pronvincial de Ourense. Agradecemos a Fran-
cisco Fariña Busto, director desta instituição, a possibilidade de estudar, com mais pormenor, estas
materialidades. Sobre o assunto ver o site: http://www.xunta.es/conselle/cultura/patrimonio/museos/ma-
pour/galego/pezasmes/pm24.htm
5
Segundo relatório manuscrito da intervenção arqueológica de Francisco Fariña Busto, datado de 21 de
Setembro de 1996.
6
Não excluímos, no entanto, a possibilidade desta forma perdurar até ao Bronze Médio, como poderia ser
o caso desta necrópole. Para tal, necessitamos de aumentar o número de contextos datados, como seria o
caso da cista da Praia da Rola.
7
Segundo informação do primeiro subscritor destes artigos, o que foi identificado como um provável dente
humano em J. C. Senna-Martinez et alii (2006) não foi comprovado por análise antropológica.
8
(www.xunta.es/conselle/cultura/patrimonio/museos/mapour/galego/pezasmes/pm24.htm).
9
De notar, igualmente, que a reocupação ou apropriação simbólica de alguns lugares do passado efectua-
se, durante o Bronze Inicial, não apenas, em termos dos monumentos megalíticos neolíticos, mas em termos
de alguns santuários de arte rupestre onde se gravam, agora, artefactos metálicos, como as alabardas e os
punhais (Bettencourt 2008).

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 23


A RecuPeRAción dun contexto PARA un “tesouRo”
PRehistóRico: un PRoxecto de investiGAción e
vAloRizAción PAtRiMoniAl PARA o Monte uRdiñeiRA
(Riós- A GudiñA, ouRense)1
THE RECOVERY OF THE CONTEXT OF A PREHISTORIC “TREASURE”:
A RESEARCH PROjECT AND HERITAGE VALORIZATION FOR THE
MONTE URDIñEIRA (RIóS- A GUDIñA, OURENSE)

Beatriz Comendador Rey


Área de PreHiStOria. FaCuLtade de HiStOria. uNiverSidade de viGO;
beaCOmeNdadOr@uviGO.eS
Luis Méndez Fernández
LabOratOriO de reStauraCióN, muSeO arQueOLóxiCO PrOviNCiaL de
OureNSe. CONSeLLería de CuLtura e dePOrte. xuNta de GaLiCia;
jOSe.LuiS.meNdez.FerNaNdez@xuNta.eS

“Alí hai un tesouro!...


Se alguén vira eso xa o tiñan ido a buscar, digo eu!”

Resumo: O famoso “Tesouro da Urdiñeira”, un conxunto de dous brazaletes de ouro e un


disco ou “botón” de bronce, foi atopado casualmente arredor do ano 1921 preto de Parada da Serra
(A Gudiña, Ourense). Como no caso de outros “tesouros arqueolóxicos”, a historia da súa descuberta
é a historia dun desentendemento, o que se dá entre “a ciencia oficial” e as xentes. Estes obxectos
foron arrancados do seu acubillo e levados para o interior dunha vitrina vixiada, onde permanecen
illados e mudos. A nosa proposta parte do proxecto de recuperación dun contexto para este conxunto
icónico en varios niveles. O obxectivo desta investigación non so é inserir o conxunto nun discurso
relativo ao poboamento prehistórico da Urdiñeira, senón tamén sobre o contexto histórico do mundo
contemporáneo no que foi recuperado. Por último, deséñase como unha estratexia de intervención
en termos de valoración do patrimonio, dentro dun modelo de desenvolvemento sostible.
Palabras clave: Metalurxia. Idade do Bronce. Valoración do Patrimonio.

Abstract: The named treasure of Urdiñeira, a set of two gold bracelets and a bronze
button or disk, was found by chance around 1921 near Parada da Serra (A Gudiña, Ourense).
As with other archaeological treasures, the story of their discovery is the story of a misunder-
standing between officer science and the people. These items were uprooted and taken from his
hiding place and put into a controlled vitrine, where they remain isolated and voiceless. Our
proposal is based on a multi-level project for this iconic set. The objective of this research is
not only focus on the prehistoric settlement of A Urdiñeira, but also on the historical context of
the contemporary world where it was recovered. Finally is designed as an intervention strategy
in terms of cultural heritage enhancement within a sustainable development model.
Keywords: Metalworking. Bronze Age. Cultural Heritage Enhancement.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 25


1. tesouro da urdiñeira: un caso paradigmático de desentendemento
O chamado “tesouro da Urdiñeira”, integrado por dous brazaletes de ouro e
un disco ou “botón” de bronce, foi atopado casualmente arredor do ano 1921
cerca do lugar de Parada da Serra (A Gudiña, Ourense) (Anónimo, 1921). A
Comisión de Monumentos de Ourense interesouse polas pezas, pero carecía de
fondos para mercalos: daquela, os brazaletes foron adquiridos polo coleccionista
santiagués Ricardo Blanco Cicerón (Macías, 1921: 336) e posteriormente pasaron
á colección de Álvaro Gil Varela. Finalmente, en 1974 ingresaron como depósito2
no Museo de Lugo (Balseiro, 1994), onde actualmente están expostos. Pola súa
parte, a peza de bronce, considerada de menor entidade, foi separada do resto do
conxunto e depositada no Museo Arqueolóxico Provincial de Ourense.
Nos primeiros momentos dise dos brazaletes que “son, sin duda, celtas”, a
diferencia do “botón” de bronce que “parece ser da época romana” (Anónimo,
1921). Os intelectuais da época, aínda que vacilantes en canto ás diferentes atribu-
cións cronolóxicas e culturais, van salientar a importancia e singularidade do conx-
unto en relación á ourivería europea (Macías, 1921: 336)3. Con respecto aos
brazaletes, algunhas citas en estudos xenéricos sobre a metalurxia da Idade do
Bronce farán referencia ao conxunto, especialmente para vinculalo con diferentes
tradicións ourives4, pero o “botón” de bronce terá que esperar a fines dos cincuenta
para ser merecedor dun estudo pormenorizado (Cuevillas, 1958).
Xa nos anos noventa, o achado é recollido no catálogo de ouros europeos re-
alizado por Pingel (1992, nº cat. 144), aínda que non son obxecto de estudo analítico.
Os brazaletes serán incluídos no estudo sobre o ouro prerromano do Museo de Lugo
realizado por Balseiro (1994), e van estar presentes na exposición sobre ourivería
prehistórica de Galicia, celebrada no mesmo museo (Balseiro, 1995). Para estes tra-
ballos recóllese a bibliografía anterior, sen grandes intentos de contextualización do
conxunto, salvo o realizado por Bóveda (1995). Setenta anos despois do achado, o
conxunto é circunstancialmente reunido con motivo da exposición Galicia no
Tempo, onde Suárez (1990: 140-141) escribe as fichas do catálogo situando as pezas
do conxunto a finais do Bronce Inicial ou incluso dentro do Bronce Pleno.
Nos últimos anos vai resultar de gran importancia o estudo directo das
pezas da Urdiñeira por parte da investigadora alemana B. Armbruster (1999,
2000) que, dende o punto de vista tecnolóxico, aporta argumentos para a súa
atribución cronolóxica ao Bronce Final, no ámbito da ourivería tipo Villena/Es-

Pág. 26 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


tremoz (Armbruster, 1999: 242). Finalmente, o contexto do achado vai ser
posto en relación coa arqueoloxía da Terra das Frieiras no traballo de Rivas e
Rodríguez (2002: 69; Rodríguez, 2007: 27).
O caso da Urdiñeira exemplifica un paradigma reiterado do tratamento de moitos
dos chamados “tesouros” arqueolóxicos. É un achado casual antigo, no que as pezas
son interceptadas pola intelectualidade da época e, na suposta procura da súa salva-
garda, son compradas e pasan a formar parte de coleccións particulares. Os conxuntos,
debido a cuestións diversas, frecuentemente tenden a ser separados entre os obxectos
de maior e menor valor. Por último, aqueles obxectos esteticamente máis relevantes
acaban expostos en vitrinas con escasa información ou ningunha, mentres que os obx-
ectos relacionados simplemente son almacenados. Os achados poden chegar a acadar
un certo impacto en sínteses da prehistoria europea, pero non no seu lugar de orixe5,
onde pasan a se converter nun referente case mítico, como míticos son os museos
onde están expostos. A historia recente ou memoria do tesouro non se valoriza, senón
que se considera unha curiosidade anecdótica sen interese científico6.
A pesares da “popularidade” dalgúns destes tesouros, a escasa investigación
tampouco se traduce nunha boa divulgación. A inadecuada estratexia expositiva
nos museos, segundo o noso punto de vista (Comendador e Méndez, 2006), con-
verte os obxectos en iconas estéticas, do que é ben significativo un xa clásico
merchandaising a base de postais nas que se ofrece unha bonita imaxe sobre
fondo negro carente de contidos. Estas “escuridades” son aproveitadas para
reenchelas de contidos alternativos e por tanto, poden ser obxecto de manipu-
lación e de todo tipo de discursos interesados (Comendador, 2008).
Como síntese poderíamos dicir que esta concepción da arqueoloxía é a
que descontextualiza os obxectos ao segregalos e elevalos ao limbo académico.
Convérteos en iconas mudas polo seu valor estético e a súa incerta procedencia,
secuestradas en vitrinas no mellor dos casos.

2. A proposta e os pasos dados


A nosa proposta é a de facer unha investigación crítica e con criterio. Para
iso, partimos do balance do estado da cuestión. Por unha banda, o conxunto
presenta un innegable interese dende a ollada da investigación arqueolóxica.
Por outra banda, é manifesto o desentendemento entre a arqueoloxía e a so-
ciedade, aínda que temos exemplos de tratamentos diferentes7.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 27


. O noso fin non é o de construír un discurso arqueolóxico erudito dende o
punto de vista da investigación científica co que vender postais. Nin sequera con-
sideramos na nosa proposta expositiva a propia presenza material do conxunto, xa
que non se pon en valor o tesouro como fetiche, senón o seu contexto de achado, o
tratamento que se lle deu ao longo do tempo e a súa interpretación. O principal obx-
ectivo é reintegrar a memoria do tesouro entre as propias xentes de Riós - A Gudiña.
Unha vez valorados estes aspectos, establecemos os obxectivos xerais para
o desenvolvemento deste proxecto (Táboa 1), os criterios xerais (Táboa 2), así
como as propostas de investigación (Táboa 3) e de valorización patrimonial.

Quadro 1 *

A continuación exporemos algúns dos pasos dados nesta proposta.

2.1 A localización do achado e a memoria do tesouro


O Monte Urdiñeira é un estribo montañoso da parte sur do Invernadoiro,
ao que se vencella polo norte por medio dos montes do Sanguñedo. Segundo
referencias, denomínase A Urdiñeira á ladeira NE cara a Parada da Serra
(Romero, 1926). Queda delimitado polo regueiro de Parada ou Frieira, que
verte as súas augas ao río Mente no Fondo da Follateira (Lam. 1).
Para a localización do achado, inicialmente revisamos a bibliografía. Se-
gundo a versión recollida na época “…Al pie del monte Ordiñeira (Gudiña) y
a orillas del río Frieira, que cruza la parroquia de Parada de la Sierra, como
a dos kilómetros del pueblo de su nombre, fueron hallados a bastante profun-
didad oprimiendo una gruesa raiz de uz o brezo…” (Macías, 1921: 335-336),
considerándose que rodarían pola pendente do monte (Anónimo, 1921), versión
que concorda coa de Romero (1926) que o sitúa “...No fondo da ladeira que
comenza ó pé da Cova das Choias...”. En referencias recentes refírese que
apareceu “…ó pé do mesmo monte, na Ribeira de Parada (en Valmeo) a carón
dunha fraga, frente ó chamado prado de Laureano (O Gaiteiro)…” (Rivas e
Rodríguez, 2002: 69).
Posteriormente acudimos ás testemuñas dos veciños de Parada da Serra,
que emprazan o lugar exacto do achado na beira do río, no lugar chamado A
Ribeira, na confluencia entre o rego de Parada e o cavanco do Trabazón8.

Pág. 28 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Táboa 1. Obxectivos xerais do proxecto
xñì »ª ñ¿ê¿ »´ ì ±´ «ñ㫱 ª ê¿ê »´ ì ±´ ã»´ «± ï ñ ì »ù«»¿ê
ü ê«ñ¿öêùê ï öóñ¿ñ´ «ñ≈ ´ ö… ñö≈
uó¿ñì ñ¿ »´ ôê ª ñ¿≈ª ñì «ö… ê ï öóñ¿ñ´ «ñ ´ ê ö´ …ñ≈«öòêì öó´ ñ
ª ±≈«ê ñ´ … êù±¿ ï »´ ? «ñ≈±»¿±@ O ñü ª ¿ñòê´ ï ± »´ ï ö≈ì »¿≈±
êù«ñ¿´ ê«ö…±O êª ùöì êí ùñ ´ ±»«¿±≈ ª ¿±ãñì «±≈
o´ «ñò¿ê¿ ´ ê … êù±¿êì öó´ ï ± ì ±´ ã»´ «± ê ü ñü ±¿öê ¿ñì ñ´ «ñ
ï ± êì ôêï ± ñ ê ö´ «ñ¿êì ì öó´ ≈±ì öêù
vê¿«öì öª ê¿ ´ ê ¿ñì »ª ñ¿êì öó´ ï ê ≈öò´ öóöì êì öó´ ï ±
ì ±´ ã»´ «± ´ ± ≈ñ» ù»òê¿ ï ñ ±¿öãñ

Táboa 2. Criterios xerais do proxecto


lêì ñ¿ »´ ôê ö´ … ñ≈«öòêì öó´ ì ¿í«öì ê ñ ì ±´ ì ¿ö«ñ¿ö±
kùöü ö´ ê¿ ± ì ±ü ª ±ññ´ «ñ óñ«öì ôö≈«êO ª ¿öü ê´ ï ± ±
ö´ ü ê«ñ¿öêù
s»ù«öª ùöì öï êï ñ ï ñ ´ ö…ñö≈ ´ ê ? ¿ñì »ª ñ¿êì öó´ ï »´
ì ±´ «ñ㫱@
o´ «ñò¿êì öó´ ï ê ö´ ó±¿ü êì öó´ ôö≈«ó¿öì ê ñ ñ«´ ±ò¿áóöì ê
s»ù«öª ùöì öï êï ñ ï ñ ´ ö…ñö≈ ´ ê ñ≈«¿ê«ñãöê ï ñ ª ±≈«ê ñ´
… êù±¿
gª ùöì êí öùöï êï ñ ï ± ü ±ï ñù± ´ ±»«¿±≈ ì ê≈±≈

Táboa 3. Propostas concretas de investigación


Contextualización no seu marco
P Üñ±ò¿áóöì ±
P Üñ±ùóãöì ±
P É íê≈ ï ñ ª ê≈±

Contextualización etnográfica
P i±´ …ñ¿≈ê≈ ñ ö´ «ñ¿êì ì öó´
Contextualización arqueolóxica
P iê¿êì «ñ¿ö“êì öó´ ï ± ì ±´ ã»´ «±
P r±ì êù
P xñãö±´ êùñ ö´ «ñ¿¿ñãö±´ êù

* Quadro 1

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 29


. Na parte superior localízase un pequeno esporón onde se atopa O
Pradiño do Trabazón, delimitado por dous cursos de auga, O Rego do Tra-
bazón e o Rego das Leiras da Serra. Este prado é visible dende a Cova das
Choias, que conforma un abrigo natural de singular importancia no conxunto
das fragas, onde hai outros abrigos ou covas que reciben tamén o apelativo de
buracos ou buracas. As conversas contextualizan o achado no marco da mi-
crotoponimia, das vías de paso e das formas de vida, elementos necesarios para
a comprensión da paisaxe cultural. Cada lugar ten a súa historia mítica, e así
hai quen atribúe a forma das fragas a un meteorito, ou falan da existencia de
diversas palas ou buracas, algunha tan grande “...que nunha treboada meteuse
o pastor e as ovellas todas...”. Da Cova das Choias din que “foi feita” e non
dubidan ao afirmar que nela viviron os mouros. A esta cova e a outros lugares
atribúense moitas lendas, algunhas recollidas da bibliografía previa9, e outras
recuperadas nas propias conversas cos veciños de Parada da Serra10..
Con respecto ás condicións do achado, a memoria é que unha pastora,
gardando as vacas, foi dar co conxunto a pouca profundidade ao remexer a
area cun pao; e os veciños falan tamén da aparición dun cacharro cerámico
que describen como unha “chocolateira”. Esta versión difire da dos textos onde
tamén se fala da pastora, pero refírese que foron atopadas a “bastante profun-
didade oprimiendo unha gruesa raíz de uz o brezo”, o que podería estar en
relación coa extracción de torgos de uz para a fabricación de carbón vexetal,
actividade típica da zona e especialmente de Parada da Serra (Cerrato, 2002).
Igual de interesante é a información relativa ás circunstancias de recu-
peración e venta do achado, o que chamamos a memoria do tesouro11, que re-
sulta unha sorprendente fonte de información sobre a historia máis recente no
marco dunha economía de subsistencia, recuperando o contexto do caciquismo,
o illamento, o analfabetismo e a emigración. Os veciños de Parada da Serra
dan testemuña deste e doutros tesouros sen dubidar, formando parte da mi-
toloxía local e da súa xeografía.

2.2 Arqueoloxía do entorno


Os traballos feitos amosan o interese da zona e xustifican a proposta dun
proxecto de prospección intensiva na serra da Urdiñeira, co obxectivo de docu-
mentar aqueles xacementos que permitan unha mellor interpretación do contexto

Pág. 30 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


arqueolóxico do achado, a concentrar en diversos puntos: especialmente a Fraga
dos Mouros, as fragas e a Cova das Choias, o pradiño do Trabazón, así como o
cavanco do Trabazón, a Ribeira e Valmedo12 (Lam. 1). Nesta prospección é in-
teresante a procura de arte rupestre, tanto de gravados, dos que hai referencias,13
como de pintura, porque as características da rocha e dos abrigos son similares
a outros con pinturas coñecidos na zona portuguesa como os Abrigos do Regato
das Bouças (Passos, Mirandela) (Sanches, 1997), situado xusto na zona do límite
de arte esquemático no lado portugués (Bradley e Fábregas, 1996).
Dun xeito máis extensivo pódense integrar algúns xacementos e puntos
xa referidos en catalogacións arqueolóxicas previas, tanto documentación dos
concellos ou da Xunta de Galicia14, como outros traballos publicados, sendo

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 31


moi de destacar o de Rivas e Rodríguez (2002). Entre eles estarían O Castro
de Pedroso, ou O Castelo, posible poboado castrexo do que hai referencias da
súa muralla (Romero, 1926, Rivas e Rodríguez, 2002: 63), así coma outros
puntos indicados pola súa toponimia, como o lugar de Cavaixe da Meda
(Parada da Serra) (Id, 2002: 55) ou a Corga das Parafitas (Id, 2002: 68).
En xeral diversos achados falan da ocupación durante a Idade do Bronce,
sendo de salientar o recente da chamada Cista da Forxa (Vilariño das Touzas,
Riós)15. Resultaría interesante a prospección dalgúns destes lugares con posible
ocupación como Fraga da Moura (Castrelo de Cima) (Taboada, 1955: 338), As
Muradellas (á beira de Cabeza do Cichón) (Rivas e Rodríguez, 2002: 61) en
lugar próximo de onde foi atopada a estela antropomorfa do Tameirón (Id.,
2002: 75-77) (Lam. 1) ou sobre todo, A Corga da Mela (Erosa, Pentes) onde
foran atopados varios moldes de fundición relativos ás orixes da metalurxia de
bronce (Taboada,1973) e que nos últimos anos, por mor dos traballos agrícolas,
ten aportado outros materiais de interese (Rivas e Rodríguez, 2002: 70). A im-
portancia do conxunto xustificaría unha intervención arqueolóxica, sobre todo
tendo en conta os resultados que están dando xacementos próximos como o de
Fraga dos Corvos (Macedo de Cavaleiros), que fornece, entre outros aspectos,
a documentación máis completa sobre a primeira producción de bronce binario
do noroeste peninsular (Senna-Martínez et alii, 2006).

2.3 A revisión do propio conxunto


A idea preconcibida, ao afrontar este traballo, era que os brazaletes esta-
ban ben estudados, mentres que a peza de bronce adoecía dun estudo a fondo
(Lam. 2). A revisión da información para a recreación virtual das pezas veu
demostrar a deficiente información publicada, da que nin sequera é posible
tirar o desenvolvemento completo da decoración do brazalete aberto. Ademais,
as medidas oscilan lixeiramente entre uns e outros autores.
A técnica de fundición dos brazaletes foi a cera perdida, aspecto xa sinal-
ado por Bóveda (1995: 83) e Balseiro (1996: 107). Armbruster (2000: 209, Taf.
98, 99) detalla que o brazalete aberto foi posteriormente cicelado, punzonado,
perforado e dobrado, mentres que o pechado foi fundido coa mesma técnica,
pero combinada co uso do torno rotativo na elaboración do modelo, para pos-
teriormente ser decorado e aplicárselle a compresión aos bordes.

Pág. 32 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Con respecto á peza de bronce, non foi obxecto dun estudo en profundi-
dade respecto da súa materia e/ou tecnoloxía de elaboración, e incluso apareceu
erroneamente descrito como de materia vítrea ou pétrea (Cuevillas e Bouza
Brey,1929: 68)16.
As análises realizadas17 amosan que está feita nunha boa aliaxe binaria
de bronce, con impurezas de ouro que poden ser observadas na estructura do
metal (Lam. 2). Consideramos que está fundida tamén mediante a técnica da
cera perdida. A peza está ben conservada18 e presenta un acabado coidado, sobre
todo na parte convexa (Lam. 2).
Distintos autores apuntaron a súa hipótese cronolóxica e cultural baseada
nas semellanzas con outras pezas de diferentes contextos da Prehistoria Europea,
especialmente da Idade do Bronce. Pero é dende o punto de vista da tecnoloxía
metalúrxica que pode encadrarse o conxunto no eido das produccións da
ourivería europea no Bronce Final. Os aspectos formais e da tecnoloxía de elab-
oración dos brazaletes permitiron poñelos en relación coa ourivería Villena/Es-
tremoz que aparece na fachada atlántica europea no Bronce Final (Armbruster,
1999: 242). Non son os únicos brazaletes da rexión inseribles neste ámbito19.
Tamén están os de Ourense, Toén, Alto da Pedisqueira (Chaves)20, e máis lonxe
os de Melide e Monte da Saia (Braga). Outros, como os de Arnozela (Fafe), es-
tarían feitos a partir de lingotes anulares mediante martelado e por iso poderían
ser máis antigos; pola contra, o brazalete de Lebuçâo (Vila Real) é para Arm-
bruster (1999: 242) unha estraña mostra de estes elementos de ourivería “ar-
caica” xa nos inicios da Idade do Ferro (Lam. 1, Lam. 3). A reutilización destes
obxectos en momentos posteriores podería verse tamén no brazalete de Can-
tonha (Guimaráes), no que aparecen soldados por fundición adicional un braza-
lete tipo Villena xunto con dous tipo Sagrajas/Berzocana. En todo caso son ítems
moi elaborados que requiren unha manufactura especializada, e que poderían
ser de producción local ou, máis probablemente, importados dun contexto cul-
tural foráneo, o que podería revelar importante información sobre as alianzas
políticas locais e/ou rexionais. Tamén podería falar da circulación de persoas.
De calquera xeito, a súa integración no contexto local conta unha historia de
transferencia no só de obxectos, senón tamén de tecnoloxía e de valores rituais
e sociais. Unha artesanía dedicada á creación das identidades e a construcción
do poder entre a fin da Idade do Bronce e os inicios da Idade do Ferro.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 33


2.4. A interpretación do conxunto
No estado inicial do proxecto, podemos facer diversas valoracións sobre
a interpretación do conxunto da Urdiñeira. Non é aventurado considerar os ítems
dentro da categoría social dos bens de prestixio, emblemas de alto status.
Poderían ser ítems persoais no caso de tratarse dun hipotético enxoval funerario,
opción pola que se decantan Rivas e Rodríguez, (2002: 69) e tamén Suárez
(1990: 141) tendo en conta a complementariedade das pezas. Outra posibilidade
é consideralas un acubillo ritual nun punto sinalado da paisaxe. Perea (2005:
61-62) indica unha serie de achados de ouro ao longo da fachada atlántica du-
rante a Idade de Bronce e a transición para a Idade do Ferro, que pertencen a un
código semántico que semella regularizado: depósitos contendo espirais ou
cadeas de espirais de ouro, depósitos con ourivería tipo Villena (Perea, 2005:
Lám. 3) ou tipo Sagrajas/Berzocana. Tendo en conta estes aspectos, poden ser
postos en relación con outros achados do noroeste peninsular, interpretados
como depósitos do Bronce Final e que presentan unha serie de características
comúns (Comendador no prelo, Táboa 1, Figura 3). Outra opción a ter en conta
é que no momento da súa deposición foran simples mercadorías.
En todo caso, son obxectos suntuarios, propios da cultura material das elites
en toda Europa por volta do primeiro milenio. En relación co disco de bronce,
hai que sinalar una certa similitude decorativa co pendente ou pendeloque de
bronce decorado do abrigo 2 do xacemento trasmontano de Fraga dos Corvos
(Macedo de Cavaleiros), onde apareceu xuntamente cunha fíbula de dobre re-
sorte, feito que é interpretado como unha relación co mundo orientalizante
(Senna-Martínez, et alii, 2006: 5; Figueiredo et alii, 2007) (Lam. 3). No mundo
do Mediterráneo podemos buscar obxectos suntuarios similares, como por ex-
emplo un revestimento de lámina de ouro con restos de verniz na base achado
en Troia, e interpretado como un posible remate de pomo para encabar (VV.AA.
1996: Cat. 255); considérase que podería decorar un bastón de gala, un cetro, un
moble ou incluso estar relacionado co encabado de espadas (VV.AA, 1996: 221).
Calquera destas posibilidades pode darse co disco de bronce21. Influencias
mediterráneas queren verse tamén na singular estela de Ategua (Córdoba), cunha
escena funeraria presidida pola representación heroica dun individuo coa
panoplia de guerreiro (Celestino, 1990), na que aparece un obxecto indetermi-
nado cunha decoración similar ao disco da Urdiñeira (Lám. 3).

Pág. 34 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Pero si ollamos
ao norte de Europa,
tamén podemos atopar
outras analoxías.
Suárez (1990: 142)
sinala a proximidade
formal cos botóns de
acibeche de depósitos
escoceses, a similitude
coas decoracións dos
discos de ouro irlan-
deses do Bronce
Antigo ou a idéntica
decoración da peza de
ouro do enxoval funer-
ario de Upton Lovell
(Witshire, Inglaterra)
(Lam.3). A simboloxía
das rodas de carro ou
dos seus eixes na
iconografía nórdica, é
interpretada como rep-
resentación do disco
solar, tal e como prop-
uxo Cuevillas (1926)
para a interpretación desta peza22. A presenza de obxectos deste carisma nos estri-
bos dunha serra interior do noroeste peninsular, só pode ter que ver, dende o noso
punto de vista, co xurdimento de elites neste eido xeográfico, moi relacionadas
co control do tránsito entre o litoral e a meseta, tanto de materiais coma de gando
ou de bens. Esta interpretación é coherente co feito de que a Urdiñeira se atope
nas proximidades do cruce de importantes rutas que conducen de Oeste a Este,
cara á meseta, e rutas que conducen no eixo Norte-Sur, en relación coa dirección
dos vales fluviais. En dirección Este-Oeste, estaría en relación coa vía natural pola
que discorre o Camiño de Castela ou Verea23

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 35


. En dirección Norte-Sur, debemos mencionar as propias vías naturais
de paso relacionadas co tránsito do Rego de Parada, Río Mente e finalmente
Río Rabaçal, no lado portugués, camiños en relación coas vías romanas (Ruíz-
Gálvez, 1998) como amosa a aparición de diversos miliarios24 e a toponimia.
Esto é coherente co achado de estatuas menhir datables tamén no Bronce Final
que presentan unha iconografía común e afinidades morfolóxicas que per-
miten consideralas como pertencentes ao mesmo grupo estilístico e portadoras
dunha simboloxía común (Bettencourt, 2005: 171-177)25. Sobre este tema vid.
González, F.J. Repensando el pasado: cambio social e iconografía guerrera
en la Edad del Hierro del Noroeste de la Península Ibérica, neste mesmo vol-
ume.
. No val do Támega aparecen as de Faiôes, de Chaves e a de Muíño de
San Pedro (Verín); no val do río Mente - Rabaçal a de Bouça (Mirandela, Bra-
gança) e a pouco coñecida do Tameirón (A Gudiña) (Rivas e Rodríguez, 2002:
75-77); e no do Limia a de Vilar de Santos. Ruiz-Gálvez (1998: 171-179) ten
sinalado a súa presenza en zonas montañosas que responden ao mesmo patrón,
pola súa localización en función de vías naturais e zonas de aproveitamento
fundamentalmente gandeiro, asociadas a vías pecuarias. Bettencourt (2005:
171) considera a ter en conta que aparecen sistematicamente en áreas ricas en
minerais como o estaño. Sería este o caso do Tameirón na área de Vilar de Cer-
vos e os famosos estaños de Monterrei. Prieto (1945-46: 121) mesmo recolle
a referencia de traballos antigos nos xacementos de casiterita de Valgrande (A
Barxa), Pentes e Tameirón, así como as lendas asociadas26

.Podemos atopar analoxías formais nas mostras de metalurxia suntuaria


de toda Europa neste intre. Pero, tal e como sinalan Kristiansen e Larsson
(2006) o interesante é saber se estamos a falar dunha semellanza de formas,
ou dunha semellanza de significado de grande complexidade, que podería sux-
erir a transmisión dunhas crenzas e a evidencia dunha conexión a longa dis-
tancia. En síntese podemos concluír que, lonxe de ser obxectos illados
(arqueolóxica e circunstancialmente), os ítems da Urdiñeira están en relación
cun contexto arqueolóxico local, rexional e intra- rexional que os dota de con-
tido.

Pág. 36 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


3. valorización
patrimonial
Un dos obxectivos
deste traballo é a val-
orización patrimonial do
conxunto, pero seguindo
os criterios establecidos,
consideramos que nesta
valorización deben pri-
marse aspectos inmateri-
ais máis que o propio
conxunto arqueolóxico
en si.
Dentro das pro-
postas, unha das que con-
sideramos prioritarias é a
interacción social dentro
da área de achado do
conxunto, xa inicial-
mente establecida a
través das conversas.
Con respecto á divul-
gación da investigación,
do mesmo xeito que o
proxecto está pensado a distintos niveis, este aspecto debe seguir igual criterio.
Dentro da categoría de publicacións científicas, para un ámbito social re-
strinxido, contémplase a realización dun estudo de compendio dos traballos.
Lonxe de ser a única canle, a información recollida neste pode ser integrada
en diversos recursos cunha linguaxe diferente. Neste sentido propomos a edi-
ción dun conto ou historia ilustrada que recupere a historia do achado do
tesouro, incorporando deste xeito o mundo contemporáneo no discurso. Tamén
poderían ser empregadas as imaxes dentro dun audiovisual que recolla aspectos
etnográficos, arqueolóxicos e históricos da Terra das Frieiras. A idea dos
camiños e da comunicación no presente e no pasado, podería servir como dis-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 37


curso integrador. Daquela, e tendo en conta o carácter de paso destas terras
cara á meseta, unha posibilidade sería a disposición dun pequeno espacio ou
punto informativo nunha das áreas de servicio de A-5227
Xa en relación ás propias pezas do tesouro, e dada a situación adminis-
trativa na que se atopan, segundo temos explicado, a nosa proposta pasa pola
recreación virtual do conxunto (Lam. 3) e a súa inserción ou exposición alter-
nativa na rede (internet). A nosa idea principal é que se pode “sacar as pezas
das vitrinas sen roubalas”, porque o importante non é o fetiche, senón a infor-
mación que transmiten. En todo caso, podería ser útil a realización de repro-
duccións das pezas para unha función didáctica na interacción local,
especialmente nos colexios de A Gudiña e Os Riós, inserindo unha recreación
do proceso de elaboración. Non somos partidarios de repetir os mesmos fallos
expositivos que temos comentado, fabricando unhas copias que pechar en vit-
rinas, xa que non sería coherente co resto do noso discurso. Aínda que sería
avaliable no caso de que unha demanda por parte da poboación local así o re-
quirise28

4. o lugar da nosa mirada


Xa para rematar esta “declaración de intencións”, queremos reflexionar
sobre se sirve de algo recuperar o contexto dun tesouro prehistórico. Por qué
o noso criterio é diferente? Acaso non estamos partindo dunha excepcionali-
dade do rexistro arqueolóxico, dunha distinción da cultura material polo seu
carácter suntuario? Non andamos a facer arqueoloxía de tesouros ao fin?
Comezamos dicindo que a nosa proposta era a de facer unha investigación
crítica e con criterio, o que para nós significa comprender a lóxica característica
do conxunto na súa singularidade existencial e na súa convivencia cos que o
acompañan, sen perder de vista a nosa participación decisiva en canto á inten-
ción e orde do discurso (Lull, 2007).
Nos últimos anos, a política arqueolóxica da comunidade autónoma de
Galicia ten incidido na valoración de catro tipos de xacementos: xacementos
romanos, xacementos castrexos, monumentos megalíticos e arte rupestre, que
forman parte da Rede Galega do Patrimonio Arqueolóxico (Tallón et alii,
2004). Consideramos que a cultura material esencialmente metálica relativa
ao fenómeno dos depósitos da Idade do Bronce quedou fóra deste discurso de

Pág. 38 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


posta en valor pola súa “invisibilidade” na paisaxe (salvando a propia arte ru-
pestre), xa que precisamente responde a estratexias de ocultación. Nembar-
gantes constitúe unha rica fonte de documentación e un patrimonio
especialmente singular (Comendador e Méndez, 2006) que non pode ser com-
prendido de xeito illado, senón mediante a súa inserción nun contexto, e que
merece unha estratexia de posta en valor dinámica e diferente.
Mentres a arqueoloxía non responda a estas necesidades como práctica so-
cial dende o presente, as vitrinas seguirán enchidas de fermosas xoias, mudas.
Bibliografia
ANONIMO. Brazaletes Celtas. El Progreso de Pontevedra, 13 de Xullo de 1921
ARMBRUSTER, B. 1998. Quelques aspects technologiques de l’orfèvrerie du Bronze final au début de
l’âge du Fer, au Portugal et en Galice. Les metaux antiques: travail et restauration. Ed. Monique Mergoil.
Montagnac: 53-58.
ARMBRUSTER, B. 1999. Techniques d’orfèvrerie prèhistorique des tôles d’or en Europe atlantique des
origines à l’introduction du fer. L’or dans l’antiquité, de la mine à l’objet. Supplement Aquitania: 237-249.
ARMBRUSTER, B. 2000. Goldschmiedekunst und Bronzetechnik: Studien zum Metallhandwerk der At-
lantischen Bronzezeit auf der Iberischen Halbinsel. Editions Monique Mergoil.
BALSEIRO, A. 1994. El oro prerromano en la provincia de Lugo. Deputación Provincial de Lugo. Servicio
de Publicacións.
BALSEIRO, A. 1996. Brazalete de Urdiñeira. Pulsera de Urdiñeira. El oro y la orfebrería prehistórica de
Galicia. Museo Provincial. Diputación Provincial de Lugo: 107
BARANDELA, I., LORENZO, J.M. 2004. Petroglifos de Ourense: reflexións a un primeiro reconto da arte
rupestre prehistórica na provincia. Deputación Provincial. Ourense.
BETTENCOURT, A. 2005. A estatuaria. En, J.M. Hidalgo (Coord.) Arte e Cultura de Galicia e Norte de
Portugal. Arqueoloxía, Vol. 1, Nova Galicia, Vigo: 166-177.
BLANCO FREIJEIRO, A. 1957. Origen y relaciones de la orfebrería castreña. Cuadernos de
Estudos Galegos, XII, 36. Santiago de Compostela: 5-28.
BÓVEDA, Mª.J. 1995. O nacemento do ouro en Galicia: un achegamento ó mundo do adorno persoal.
Memoria de licenciatura inédita. Universidad de Santiago de Compostela.
BRADLEY, R., FABREGAS, R. 1996. Petroglifos gallegos y arte esquemático. Complutum Extra, 6(11),
1996: 103-110. Madrid.
CELESTINO, S. 1990: Las estelas decoradas del SW Peninsular. En, La Cultura Tartésica y Extremadura.
Cuadernos Emeritenses, 2. Mérida: 45-62
CERRATO, A. 2002. Carboneros de las sierras del sureste de Orense. Revista de Folklore, 256, 22a: 123-
132. Fundación Joaquín Díaz.
COMENDADOR, B. (no prelo). Space and memory at the mouth of the river Ulla (Galicia, Spain). in Ana
M. S. Bettencourt, M. Jesús Sánchez, Lara B. Alves e Rámon Fábregas Valcarce (eds.): Spaces and Places
for Agency, Memory and Identify in prehistoric and protohistoric Europe, Proc. XV UISPP (Lisboa, 2006).
COMENDADOR, B. 2008.
COMENDADOR, B., MENDEZ, J.L. 2006. A Patina over time: ancient metals conservation in North-West-
ern Iberia. Looking forward for the past: science and heritage (London, 2006).
FERREIRA, E. 1988. Los caminos medievales de Galicia. Anexo, 9. Boletín Auriense. Ourense.
FIGUEIREDO, E., SENNA-MARTíNEZ, J.C., SILVA, R.J.C., ARAUJO, M.F., VENTURA, J.M.Q. 2007.,
Late Bronze Age metal artefacts from an orientalising burial (?) at “Fraga dos Corvos”.: A first archaeomet-
allurgical approach. Proc. Archaeometallurgy in Europe. Associazione Italiana di Metallurgia. Milano.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 39


HANSEL, A., HANSEL, B. 1997. Gaben and die Götter. Schätze der Bronzezeit Europas. Museo de Berlín.
HERNANDO GONZALO, A. 1983. La orfebrería durante el Calcolítico y el Bronce Antiguo en la Península
Ibérica. Trabajos de Prehistoria, 40: 86-138. Consejo Superior de Investigaciones Científicas. Madrid.
KRISTIANSEN Y LARSSON, 2006. La emergencia de la sociedad del Bronce. Viajes, transmisiones y
trasformaciones. Bellaterra. Barcelona.
LÓPEZ CUEVILLAS, F. 1925. Os oujetos argáricos do Museu d’Ourense. Algunhas consideraciós en col
da primeira Idade dos Metáis na Galiza. Boletín de la Real Academia Gallega, nº 173: 96-107.
LÓPEZ CUEVILLAS, F. 1926. A Idade de Ferro na Galiza. Nos, nº 33: 13
LÓPEZ CUEVILLAS, F. 1958: Un disco solar. Cuadernos de Estudios Gallegos, tomo XIII, nº 41: 292-
296.
LÓPEZ CUEVILLAS, F. E BOUZA BREY, F. 1929. Os Oestrimnios, Os Saefes e a Ofiolatría en Galiza.
LULL, V. 2007. Los objetos distinguidos. La Arqueología como excusa. Ediciones Bellaterra. Barcelona.
MACíAS, M. 1921. Importante hallazgo arqueológico. Boletín da Comisión de Monumentos Históricos e
Artísticos de Ourense. Vol. IV, número 140: 335-336.
MONTEAGUDO, L. 1953. Orfebrería del noroeste hipánico en la Edad del Bronce. Archivo Español de
Arqueología, XXVI, nº 88: 269-312.
NEEDHAM, S., PARFITT, K. VARNDELL,G. 2006. The Ringlemere Cup. Precious Cups and the Beginning
of the Chanel Bronze Age. British Museum. London.
PEREA, A. 2005. Mecanismos identitarios e de construcción de poder na transición Bronce-ferro. Trabajos
de Prehistoria, 62, nº 2: 91-103.
PEREA, A. 2008. Iberian Psycho. Deliberated destruction in Bronze Age Gold Hoards of the Iberian Penin-
sula. C. Hammon, B. Quilliec (Eds.). Hoards from the Neolithic to the Metal Ages. Technical and codified
practices. BAR International Series, 1758. Oxford: 53-58.
PINGEL, V. 1992. Die Vorgeschichtlichen Goldfunde der Ibersichen Halbinsel. Eine Archäologische Un-
tersuchung zur Auswertung der Spektralanalysen. Instituto Arqueológico Alemán. Madrid.
PRIETO, L. 1945-1946. Antiguas minas del río Camba. Comisión Provincial de Monumentos Históricos y
Artísticos de Orense. Tomo XV: 116-121.
RIVAS, E. e RODRíGUEZ, J. 2002. Terra das Frieiras. Deputación Provincial de Ourense.
RODRíGUEZ, J. 2007. Terras de Riós. En Foxo, X.L. Cancioneiro das Terras do Riós. Escola Provincial
de Gaitas. Deputación Provincial de Ourense: 15-37.
ROMERO, A. 1926. Notas para un estudo da Urdiñeira. Nós. Nº 31: 36-41.
RUIZ-GÁLVEZ, Mª 1984. La Península Ibérica y sus relaciones con el círculo cultural atlántico. Universidad
Complutense. Tesis policopiada. Madrid
RUIZ-GÁLVEZ, Mª. 1998. La Europa Atlántica en la Edad del Bronce. Un viaje a las raíces de Europa
Occidental. Editorial Crítica. Barcelona.
SANCHES, Mª DE J. 1997. Prehistoria Recente de Tras-Os-Montes e Alto Douro. Sociedade Portuguesa
de Antropología e Etnología. 2 vols. Porto.
SENNA-MARTíNEZ, J.C., VENTURA, J.M., CARVALHO, H.A., FIGUEIREDO, E. 2006. A Fraga dos
Corvos (Macedo de Cavaleiros): un sitio de habitat do “Mundo Carrapatas” da primeira Idade do Bronze
em Trás-Os-Montes Oriental. Cadernos Terras Quentes, 2: 61-82.
SUÁREZ, J. 1990. Botón e brazaletes da Urdiñeira (nº 45, 46, 47 do catálogo). En, Galicia No Tempo.
Xunta de Galicia. Santiago de Compostela: 140-142.
TABOADA CHIVITE, J. 1955. Carta arqueológica de la comarca de Verín. III Congreso Nacional de Ar-
queología, Zaragoza, 1953. Diputación Provincial. Zaragoza: 333-352.
TABOADA CHIVITE, J. 1973. Los moldes de Erosa. XII Congreso Nacional de Arqueología. Jaén,
1971.Zaragoza: 227-235.
TALLÓN, Mª,J., RODRíGUEZ, E., INFANTE, F. REY, JM. 2004. A Rede Galega do Patrimonio Arque-
olóxico. Xunta de Galicia. Santiago de Compostela.
VAZ DE FREITAS, I. 2006. Mercadores entre Portugal e Castela na Idade Media. Ediciones Trea. Gijón.

Pág. 40 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


VVAA. 1996. El Tesoro de Troya. Museo Estatal de Artes Figurativas A.C. Pushkin. Ministerio de Cultura
de la Federación Rusa. Edit. Electa.

1 Para a presentación deste traballo temos que agradecer a súa axuda a moitas persoas: David Henández,
de Arbotante S.A. fixo as recreacións virtuais do conxunto; Bárbara Armbruster (CNRS) ofreceunos
fotos e aclaracións sobre a tecnoloxía dos brazaletes; Jesús Méndez e José Benito Rodríguez axudáronnos
coa microscopia electrónica no CACTI da Universidade de Vigo; Emilia Martínez Nieves recibiunos na
súa casa de Riós e respondeu ás nosas preguntas, aínda que “non lle tomamos nada”; Ana María Veiga
Romero (Mara) do Museo Arqueolóxico de Ourense e o seu irmán Carlos foron o noso enlace en Parada
e ofrecéronos o seu entusiasta apoio, como tamén fixeron Rosa Brañas, Ladislao Castro, Israel Barandela,
Cristina Fernández e Víctor Vázquez. Tamén queremos agradecer a Joao Fonte o seu convite a participar
nas xornadas de Montalegre, unha experiencia a repetir. Por último, ao propio Museo Arqueolóxico de
Ourense, que nos ofreceu todas as facilidades. Este traballo vai dedicado a Xosefa Gago Fernández e ás
xentes da Urdiñeira.

2 28-02-1974 (Refs. CO-40 aberto e CO-41 pechado).

3 “Ninguno de los que se conservan en el Museo Arqueológico Nacional y en las colecciones particulares
alcanzan mayor importancia histórica que éstos, pues todo en ellos hace suponer que se trata de joyas
ibéricas o preceltas, por analogía con las que Leite de Vasconcellos, Cartailhac, París y otros insignes ar-
queológos, calificaron indubitablemente de tales” Macías (1921: 336).

4 Cuevillas (1925: 104; 1926: fig. 101) e Cuevillas e Bouza Brey (1929) inclúeno no Bronce II; Blanco
Freijeiro (1957) supono de orixe hallstática; Monteagudo (1953: 302) considera a peza aberta coma unha
pulseira de tiras similar á de Cícere, erro que recolle Hernando (1983) quen, ao igual que Ruíz-Gálvez
(1984: 98), os considera dun momento tardío do Bronce Antigo.

5 Só o traballo publicado por Romero Cerdeiriña na revista NÓS en 1926, vai ter en conta o contexto
orixinario do achado. Pertencente ao grupo fundador do Seminario de Estudos Galegos, debemos ter en
conta a súa vinculación familiar coa zona, xa que era orixinario das Vendas da Barreira (Riós) .

6 A arqueoloxía ten reparado pouco sobre a propia idiosincrasia dos “tesouros”. O cualificativo “achado
illado” faise equivaler ao de recuperación “asistémica”. Nembargantes, salvo a utilización de detectores
de metais ou a pouco frecuente boa sorte, non se nos ocorre outro xeito de atopar estes elementos de cul-
tura material que non sexa casual, porque os seus criterios de deposición levan implícito un patrón de in-
visibilidade. Así pois, a arqueoloxía converteu o seu patrón de achado, o illamento, en algo que considera
resultado dunha mala práctica no mundo contemporáneo, negando deste xeito a integración desta infor-
mación, salvo escasas tentativas.

7 O achado dunha xerra de ouro cun detector de metais en Ringlemere (Inglaterra) motivou o desenvolve-
mento dun proxecto de investigación integral para o estudio deste achado e o seu contexto (Needham,
Parfitt e Varndell, 2006).

8 Sinalado o lugar de difícil acceso, podemos ofrecer unhas coordinadas aproximadas. X: 645.358.84, Y:
4653991.63 (Fuso 29) Lat. 42º 1’ 25.65’’ N; Lonx. 7º 14’ 39.51’’ W (http://sigpac.mapa.es/fega/visor/).

9 Algunhas destas lendas falan dun tesouro na Fraga dos Mouros, dunha Moura que se peitea ou que se
atopou un coitelo de ouro. É de destacar a de "un home que estaba arrancando torgos cerca da Cova das

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 41


Choyas viu vir cara el, chouchando pola ladeira abaixo, “un cubetiño que brilaba coma se fora de ouro” e
que ó chegar ó medio de unha lameira que alí hai, enterrouse, facendo surtir un outísimo chorro de auga.
Si o home non se asustase e lle votara enriba unha chaqueta de lá, o tesouro quedaría desencantado. Outro
home viu no mesmo sitio un grandísimo culebrón que era un tesouro encantado" (Romero, 1926:38). Pri-
eto (1945-46: 121) recolle a dunha cidade destruída por unha invasión de formigas en Valmedo.

10 "Alí hai un tesouro! (na Fraga das Choias). E sabes que alí no alto dunha fraga, cando nace o sol,
aquela fraga brilla! E se vai alí, estache unha colebra, unha culebra dibuxada! Se alguén vira eso xa o
tiñan ido a buscar, digo eu!" (Entrevista con Emilia Martínez Nieves, veciña de Riós).

11 Contan que o tesouro foi atopado pola pastora Xosefa Gago Fernández, que as pezas foron parar ao
párroco de San Lucas de Parada, pola súa relación coa irmá desta nena, e que as vendeu pola suma de 150
duros. A nena morreu pouco tempo despois e o seu pai (Silverio), dono da finca do achado, emigrou a
Arxentina. A familia só volveu para vender as súas propiedades.

12 Hai referencias á localización dun punzón de oso duns 5 cm. de longo con fiestra redonda na punta, e
de feitío pouco acabado na Cova das Choias (Romero, 1926). Segundo Rivas e Rodríguez (2002: 69) “na
ladeira, á beira do prado do Delfín, atopouse fai anos un antigo puñal e algunhas moedas; hoxe non se
sabe que foi delo”. Posibles mámoas en Valmedo, non lonxe de onde Taboada (1955: 335) fala dun cír-
culo lítico.

13 Por exemplo a Pedra da Vidueira, preto de Navallo (Taboada, 1955: 336; Barandela e Lourenzo,
2004).

14 Catálogo de Patrimonio Arqueológico (PXOM de A Gudiña. 2002); PXOM de Riós; Inventario de


Xacementos Arqueolóxicos depositado no Instituto de Conservación e Restauro de BB.CC., Xunta de
Galicia.

15 Vid. Prieto, P. neste mesmo volume.

16 Posteriormente Cuevillas publica o “botón” en 1958 e descríbeo correctamente.

17 Microanálises realizadas mediante microscopia electrónica de varrido (SEM-EDS) no CACTI da Uni-


versidade de Vigo cun equipo Philips XL30. http://webs.uvigo.es/cactiweb/s_microe/sem.pdf. En próxi-
mos traballos trataremos estes aspectos en profundidade.

18 Creemos que López Cuevillas comete un erro cando a describe como “recubierto por una espesa pátina
de carbonato, que no debió de dejar intacta ninguna porción de materia primitiva” (Cuevillas, 1958: 292),
xa que si conserva unha boa parte do seu núcleo metálico baixo os productos de corrosión propios destas
aliaxes de cobre.

19 Vid. Referencias en Pingel, 1992.

20O de Chaves está serrado, ao xeito dos de Villena, para os que Perea (2008) propón unha mutilación rit-
ual.

21 Ruiz-Gálvez (984: 98) suxire que se trata do remate do pomo dun puñal.

Pág. 42 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


22 Tamén a decoración de chevrons dun dos brazaletes ten sido vinculada na ourivería coa repre-
sentacións dos raios solares.

23 ”...Pobre en documentos, pero muy bien estudiado por los historiadores del camino de Santiago, por
ser uno de los caminos secuandarios a Compostela, su trazado difiere muy poco de la actual carretera de
Villacastín a Vigo… El camino sigue la carretera hasta el alto de Fumaces, y se desvía por unos kilómet-
ros, hasta volver a entrar en ella, dejando a la izquierda los pueblos de Trasverea y Trasestrada. Sigue por
la ermita de San Amaro, Touzas, Navallo, la Gudiña, siempre por la carretera, hasta desviarse…”. (Fer-
reira, 1988: 181). Tamén en Vaz (2006: 46) e Rivas e Rodríguez (2002: 85).

24 Miliarios da Barxa (A Gudiña), A Esculqueira (A Mezquita), Tameirón (A Gudiña), Alberguería (O


Bolo) en relación coa vía romana chamada “Calzada das Minas” e a Vía XVI (Rivas e Rodríguez, 2002:
79-80; 83).

25 Sobre este tema vid. González, F.J. Repensando el pasado: cambio social e iconografía guerrera en la
Edad del Hierro del Noroeste de la Península Ibérica, neste mesmo volume.

26 “Existen dos galerías que tienen las bocas derrumbadas. Se dice que los moros sacaron oro de ellas y
que lo cambiaron por leche, queso y trapos encarnados, a los que eran muy aficionados invitando al
trueque con la frase: “Cristiana dame tu pobreza que yo te daré mi riqueza”. Vid. tamén Rivas e Ro-
dríguez (2002: 93-96).

27 Na área de servicio de Erosa apréciase unha boa vista da serra da Urdiñeira. Podería constituír un
punto informativo que convide a posibles visitantes a coñecer a zona.

28 Foi o caso da reproducción do Tesouro das Silgadas para a Casa da Cultura de Caldas de Reis.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 43


no liMiAR dAs ‘ARtes’? - Questões eM toRno dA
PeRMeABilidAde de FRonteiRAs teMPoRAis e esPAciAis
dA ARte RuPestRe de tRás-os-Montes ocidentAl
IN THE THRESHOLD OF ‘ARTS’? - ISSUES AROUND THE
PERMEABILITY OF TIME AND SPACE FRONTIERS OF ROCK ART OF
WESTERN TRÁS-OS-MONTES

Lara Bacelar Alves


bOLSeira de PóS-dOutOrameNtO da FuNdaçãO Para a CiêNCia e teCNOLOGia.
uNiverSidade dO POrtO/uNiverSity OF SOutHamPtON/CeauCP-Cam (CeNtrO
de eStudOS arQueOLóGiCOS daS uNiverSidadeS de COimbra e POrtO-CamPO
arQueOLóGiCO de mértOLa) /PavC; LarabaCeLar@GmaiL.COm
Mário Reis
ParQue arQueOLóGiCO dO vaLe dO Côa (PavC) /iGeSPar, i.P.; mariO@iPa.miN-
CuLtura.Pt

Resumo: O Norte de Portugal vem sendo considerado por numerosos investigadores


como uma área onde convergem duas tradições pré-históricas de ‘arte rupestre’ que se distribuem
de forma diferenciada no espaço peninsular e permitem aferir conotações supra-regionais: Arte
Atlântica e Arte Esquemática. Estes são conceitos generalistas que se fundamentam numa certa
homogeneidade de índole morfo-tipológica mas que carecem de definição mais criteriosa no
que respeita ao seu enquadramento no devir histórico das comunidades que marcaram simboli-
camente a paisagem por meio da aposição de gravuras e pinturas sobre formações rochosas na-
turais. Nesta perspectiva, Trás-os-Montes Ocidental configura uma área de transição (ou de
fronteira) entre as duas regiões de maior concentração de ocorrências pertencentes a ambas as
tradições: a Arte Atlântica é dominante no Noroeste português e Galiza e a Arte Esquemática
dominante em Trás-os-Montes Oriental, como prolongamento da realidade do interior peninsular.
No entanto, o acervo documental actualmente disponível sobre a região ocidental de Trás-os-
Montes, aportado por inúmeras referências esparsas e poucos estudos monográficos, revela a
existência de uma imensa diversidade temática e a presença de importantes descontinuidades
espacio-temporais que urge contextualizar. Pretende-se, assim, ensaiar uma primeira tentativa
de síntese sobre a realidade de Trás-os-Montes Ocidental, partindo de uma revisão bibliográfica
e de uma análise da evolução dos conhecimentos e enquadrando-a nas principais problemáticas
que se colocam hoje à arte rupestre Holocénica do Norte de Portugal.
Palavras-chave: Norte de Portugal; Trás-os-Montes Ocidental; Arte rupestre.

Abstract: Northern Portugal has been considered by many researchers as an area of con-
vergence of two Prehistoric rock-art traditions - Atlantic Art and Schematic Art- which echo
wider connections at an European scale. In North-western Iberia, their distribution seems to be
largely complementary. Atlantic Art and Schematic Art are general concepts, grounded upon a

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 45


certain similarity as far as motif designs are concerned, but lack a more accurate definition re-
garding their integration in the historical development of the communities who symbolically
shaped the landscape through painting or carving those images on rocks. Our study area, West-
ern Trás-os-Montes, may be regarded as a ‘transition area’ between the two regions of greatest
concentration of occurrences of either tradition: Atlantic Art is dominant in North-west Portugal
and Galicia (Spain) whereas Schematic Art paintings tend to concentrate in North-east Portugal,
as an extension of the reality in the Iberian Central plateau- the ‘Meseta’. However, the rock
art assemblage in Western Trás-os-Montes shows a substantial formal diversity, reflecting con-
siderable spatial and chronological asymmetries, thus demanding a preliminary attempt of sys-
tematisation. In addition, there are only a few monographic studies although site information is
abundant but widespread. This paper aims to fulfil that task at some extent, starting from a lit-
erature review and an analysis of the current state of knowledge, as a means to contextualise
the evidence within the wider debate on the post-glacial rock art in the North of Portugal.
Keywords: Northern Portugal; Western Trás-os-Montes; Rock art.

1. introdução
De tal modo é estruturante o Atlântico na leitura da Geografia do território
português que convencional e intuitivamente o percorremos no sentido poente-
nascente. É, por isso, do senso comum conotar-se a expressão “Trás-os-
Montes” com as terras que se estendem para além da muralha montanhosa que
aparta a província “oceânica” litoral da extensão ocidental da peneplanície da
Meseta (Lautensach, 1995). Contudo, sendo certo que essa asserção pode ser
aplicada à zona da Serra do Marão, no seu limite Sul, a verdade é que, tomando
em consideração os limites administrativos actuais, o ocidente de Trás-os-
Montes coincide precisamente com a zona mediana dessa região geomorfoló-
gica, composta por montanhas geralmente graníticas e conhecida por sistema
“Galaico-Duriense». Este cordão montanhoso começa na fronteira das Astúrias
com a Galiza e Leão, ruma no sentido SSW e atravessa a fronteira portuguesa
(Lautensach, 1995: 13-14), inserindo-se em praticamente toda a sua extensão
até ao Douro, dentro das fronteiras administrativas de Trás-os-Montes. Assim
sendo, esta região não compreende apenas as terras para além dos Montes, mas
também os Montes propriamente ditos, absorvendo todas as propriedades deste
sistema montanhoso definidor de uma fronteira geográfica entre o Portugal
Atlântico e o Portugal Continental. Por isso, convencionou-se dividir geogra-
ficamente esta região em Trás-os-Montes Ocidental e Trás-os-Montes Oriental,
o que se consubstanciou na separação administrativa entre os distritos de Bra-
gança, a Leste, de planalto, e o de Vila Real, a Oeste, de montanha.

Pág. 46 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Este território de vincados contrastes no extremo Nordeste de Portugal,
cedo adquiriu a reputação de região prodigamente fértil em vestígios de arte
rupestre (e.g. Alves, 1934). Uma das mais antigas referências escritas a um
sítio com arte rupestre em Portugal surge na Corografia Portuguesa de Pe An-
tónio Carvalho da Costa (1706-1712: 436) que menciona precisamente as pin-
turas rupestres do Cachão da Rapa (Carrazeda de Ansiães)1. Mas é na obra de
D. Jerónymo Contador de Argote, Memórias do Arcebispado de Braga e pos-
teriormente em De antiquitatibus conventus bracaraugustani de 1738, que se
dá à estampa uma belíssima gravura da autoria de António Debrie onde estão
patentes os motivos pintados na parede lisa dessa enorme fraga sobranceira ao
Rio Douro, no sítio então conhecido como ‘As Lettras’2 (Argote, 1732-1747,
1738). A poucas centenas de metros a leste da confluência do Rio Tua com o
Douro, pode considerar-se que o Cachão da Rapa se situa próximo da “área de
transição” entre as regiões ocidental e oriental de Trás-os-Montes.
Os vestígios de arte rupestre parecem distribuir-se mais ou menos equi-
tativamente por ambas as zonas. No entanto, do ponto de vista da investigação
arqueológica, esta abundância e a existência de vetusta bibliografia, não se tra-
duziram necessariamente num continuum de investigação. É marcante o con-
traste entre o elevado valor científico dos sítios e conjuntos de arte rupestre e
a escassez de bons trabalhos de investigação, entre a riqueza das problemáticas
e a pobreza da informação disponível, entre os poucos sítios minimamente bem
conhecidos e imensa quantidade de sítios virtualmente desconhecidos salvo
vagas referências toponímicas. Mas também é verdade que, no panorama na-
cional, Trás-os-Montes Oriental foi, nas últimas duas décadas, palco de alguns
trabalhos importantes com incidência em unidades de relevo específicas, como
a Serra de Passos (Sanches, 1997, 2001) e de campanhas de prospecções ar-
queológicas em zonas até então pouco conhecidas sob o ponto de vista arqueo-
lógico (e.g. Sanches e Santos, 1987, Sanches 1992) que permitiram um melhor
conhecimento desta realidade. Porém, em Trás-os-Montes Ocidental, o status
quo não foi amplamente alterado desde a década de 1970, conforme veremos
adiante.
Deve ressalvar-se que o principal objectivo deste trabalho não é ainda
tanto o de trazer novos sítios ou novas ideias à colação mas é, sobretudo, uma
primeira tentativa de sistematizar o complexo e multifacetado acervo existente.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 47


Esta síntese, necessariamente embrionária, restringe-se à área de Trás-os-
Montes Ocidental, circunscrevendo-se grosso modo pelas fronteiras do distrito
de Vila Real. É uma primeira leitura, com balizas cronológicas longas e fluidas
que, por um lado, visa expor a realidade actual em termos dos diferentes tipos
de sítios conhecidos e sua distribuição espacial e, por outro lado, procura ul-
trapassar a ambiguidade dos pontos em mapas e perspectivar, à escala de uma
região que é, a todos os níveis central, de algumas problemáticas que norteiam
a investigação da arte holocénica no Noroeste Peninsular (e do Norte de Por-
tugal, em particular). Procurar-se-á incidir nova luz sobre este acervo de modo
a contribuir para a fundação de uma plataforma analítica e interpretativa que
motive e incentive futuros estudos.

2. Breve historiografia da investigação da arte rupestre de trás-os-


Montes ocidental
As primeiras referências a sítios com arte rupestre em Trás-os-Montes
Ocidental surgem em finais do século XIX. Este primeiro grupo de escritos re-
fere-se maioritariamente não a gravuras em afloramentos rochosos mas sobre
outros tipos de suportes, sobretudo provenientes de contextos megalíticos, em-
bora apareçam já em 1908 as primeiras referências às “pedras castrejas” de
Alijó (Fortes, 1908). Deste conjunto primevo destaca-se o espólio de pedras
gravadas das antas do Alvão (Rodrigues, 1895; Brenha, 1899-1903) que tanta
notoriedade irá atingir nos princípios do século XX, até serem consideradas
falsificações e desaparecerem envergonhadamente da bibliografia arqueológica
nacional. Não se conhecem hoje muito claramente os contornos da descoberta
e da polémica da falsificação, mas dentro do abundante conjunto de pequenas
esculturas e pedras com peculiares motivos gravados, algumas poderão ser ge-
nuínas (quem sabe se não terão inspirado os eventuais falsificadores, ao acei-
tarmos esta tese!), designadamente um bloco granítico repleto de covinhas cujo
desenho foi publicado por Leite de Vasconcelos (1897: 359). Será este mesmo
autor o primeiro a dar notícia da existência de sítios com gravuras rupestres
em afloramentos rochosos na região, referindo-se, nomeadamente, ao Outeiro
Machado, em Chaves (1917: 166). A partir daqui começam a surgir, com maior
frequência, publicações sobre arte rupestre naquela região, acompanhando aliás
uma tendência nacional. Porém, a área de Trás-os-Montes Ocidental não me-

Pág. 48 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


receu algo equivalente ao hercúleo labor de inventariação que o abade de Baçal
realizou no distrito de Bragança (Alves, 1934). As referências surgem de va-
riadas fontes, mas será o próprio abade de Baçal, aquando da sua estadia como
pároco em Mairos (Chaves) que revela, pela primeira vez, um sítio famoso na
bibliografia, o Buraco do Jac-Mi-Jorge, no qual assinala a presença de “pinturas
megalíticas”, sem mais detalhes3 (Alves, 1931). Saliente-se também que foi
nesta altura dado à estampa o estudo do abrigo com pinturas rupestres da Pala
Pinta (Carlão, Alijó) (Santos Júnior, 1933). Assim, com o acumular de infor-
mações, surgem as primeiras sínteses sobre a arte rupestre portuguesa, onde
Trás-os-Montes, a par do Entre-Douro-e-Minho, assume lugar de destaque.
Evidenciam-se em 1929 os trabalhos de Mendes Corrêa (1929) e também de
Rui Serpa Pinto (1929) que serão grandemente ampliados pelo inventário que
Santos Júnior elabora no âmbito da sua contribuição ao Congresso do Mundo
Português (Santos Júnior, 1940).
Este panorama não sofrerá grandes alterações durante mais algumas de-
zenas de anos. Diversas referências escritas irão aparecendo, em quantidade
não muito elevada e, em regra, de baixo teor informativo. Contudo, deve real-
çar-se, no deserto de ideias, o artigo de Santos Júnior sobre o Outeiro Machado
(1978), que oferece uma extensa descrição e o registo gráfico detalhado das
gravuras, uma clara excepção no panorama geral.
Com este artigo assinala-se simbolicamente também o fim de uma época,
a da Arqueologia do Estado Novo, e o surgir de uma nova Era na Arqueologia
portuguesa. À semelhança de tantos outros aspectos da sociedade portuguesa,
a Revolução de Abril de 1974 irá possibilitar a reorganização da Arqueologia
a nível estatal que aconteceu a par de uma profunda mudança epistemológica.
Assiste-se a um aumento do número de praticantes e uma maior pujança da in-
vestigação no meio académico, abrindo-se caminho a uma profissionalização
da arqueologia, em contraste com o amadorismo até aí prevalente. Na década
de 1980, este panorama consolida-se com repercussões qualitativas que se re-
flectem designadamente na bibliografia da arte rupestre de Trás-os-Montes
Ocidental, com o aparecimento de artigos, ainda que em número reduzido, fun-
damentados cientificamente sob o ponto de vista teórico e técnico entre os
quais se destacam os trabalhos de António Martinho Baptista sobre a Arte Ru-
pestre do Norte de Portugal, que ainda hoje marca a reflexão teórica sobre o

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 49


tema (1983-84, 1986). É certo que as referências escritas de teor mais amado-
rista, ou seja, as notícias breves sobre sítios pontuais tão características da fase
anterior, não desaparecem subitamente. Pelo contrário, aumentam, em parti-
cular na região de Chaves, a qual, por esta razão, se irá destacar na quantidade
de sítios inventariados, em grande medida pela prolífica actividade de João
Baptista Martins, descobridor ou revelador de numerosos sítios arqueológicos,
e em particular de arte rupestre, publicados em bem mais de uma vintena de
textos na imprensa regional (e.g. Martins, 1980; 1982; 1995, entre outros).
A segunda metade dos anos 90 do século XX e, particularmente, o ad-
vento do século XXI, trazem novidades acrescidas, pois surgem em força novos
tipos de trabalhos arqueológicos. Por um lado, os projectos de investigação pa-
trocinados pelo Estado, inscritos no âmbito do Plano Nacional de Trabalhos
Arqueológicos (PNTA), ainda que estes em Trás-os-Montes sejam em número
reduzido face ao resto do país. Por outro, o advento de trabalhos de prospecção
arqueológica em áreas até então pouco afloradas no âmbito dos Estudos de Im-
pacte Ambiental (EIA). Por fim, a actividade da Extensão Territorial do Insti-
tuto Português de Arqueologia (IPA) em Macedo de Cavaleiros, que leva a
cabo um trabalho de inventariação sistemática dos sítios arqueológicos de Trás-
os-Montes. A conjugação das acções no terreno implementadas nos três âmbi-
tos referidos foi responsável por um incremento muitíssimo importante na
quantidade de sítios de arte rupestre inventariados, tanto no que concerne à
reavaliação daqueles previamente conhecidos, como à revelação de novos sí-
tios, muitos destes ainda inéditos, mas cujas informações mais relevantes se
encontram em grande medida inscritas na base de dados dos sítios arqueológi-
cos portugueses, designada por «Endovélico».

3. A evolução recente dos conhecimentos: alguns números…


Assistimos, então, na última década, a um incremento notável da siste-
matização de informações sobre sítios arqueológicos em Portugal, incluindo a
arte rupestre, como consequência da reestruturação da Arqueologia nacional,
dos sectores público e privado, em meados da década de 1990, o que também
teve as suas repercussões em territórios mais marginais ao ímpeto da pesquisa
tradicional, a exemplo da região visada nesta síntese. Por isso, se considera ser
agora o momento de fazer um ponto da situação relativamente à evolução e ao

Pág. 50 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


estado actual dos conhecimentos, partindo da leitura quantitativa dos dados
para uma aferição qualitativa do acervo. Mas, antes de mais, é necessário dar
conta dos limites e limitações desta análise de carácter preliminar mas que se
espera ser um contributo para uma investigação futura que terá de passar sem-
pre pela reavaliação dos sítios no terreno.
Assim, como exercício prévio à elaboração deste trabalho, procedeu-se à
inventariação dos sítios com arte rupestre conhecidos na área em apreço, tendo
sido a recolha de informação sustentada, essencialmente, em dois tipos de
fonte: a bibliografia e os inventários patrimoniais. Este processo permitiu-nos
alcançar, no final do ano de 2008, um total de 209 registos no distrito de Vila
Real4.
Porém, são ainda muitos os factores impeditivos de um rigoroso trata-
mento estatístico dos dados. Convém ter em conta o principal problema de-
corrente da análise das fontes, sobretudo no que concerne à natureza muito
eclética das referências publicadas, o que se vai reflectir na qualidade e a quan-
tidade de informação disponível, que é muitíssimo variável. Na verdade, a
grande maioria dos sítios carece de uma publicação científica e há uma exces-
siva percentagem de ocorrências sobre as quais nada mais se sabe para além
de uma vaga referência toponímica ou uma indicação genérica da sua locali-
zação. Esta dissimetria do grau de informação também não permite, nesta fase
embrionária da inventariação, discriminar entre sítios com arte rupestre isola-
dos e agrupados, nem tampouco individualizar rochas ou achados que carac-
terizam cada sítio/conjunto. Contudo, há já alguns casos, excepcionais, em que
isso já sucede, como sejam os dez registos da Fonte Coberta, em Alijó, que in-
cluem a anta com pinturas e gravuras e mais nove rochas, cada uma registada
e inventariada de per si. Na face oposta temos, por exemplo, o sítio do Tripe,
em Chaves, inventariado como um sítio mas que se sabe ser composto por
cerca de trinta rochas historiadas (Baptista, 1983-84: 75). É, aliás, o sítio da
região com o maior número de superfícies gravadas conhecidas5.
Mas vejamos, pois, qual o contributo de cada um dos âmbitos de investi-
gação acima mencionados para a constituição do acervo de que actualmente
dispomos.
A principal fonte para o inventário de sítios de arte rupestre é, como seria
de esperar, a bibliografia, responsável por 107 dos 209 sítios registados6. Ao

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 51


todo, contabilizaram-se 128 diferentes referências escritas, incluindo artigos
científicos em revistas da especialidade, um número apreciável de artigos na
imprensa regional, com grande destaque para a zona de Chaves e algumas,
poucas, monografias de sítio.
Os projectos de investigação plurianuais em Trás-os-Montes Ocidental,
com uma incidência directa ou indirecta sobre “arte rupestre” são relativamente
escassos. Desde 1997, com a constituição do Plano Nacional de Trabalhos Ar-
queológicos, contabilizou-se um total de sete projectos que permitiram a di-
vulgação de 30 novos sítios. Destes projectos, a maioria versava sobre outras
temáticas e só acessoriamente trataram a arte rupestre, sendo no entanto de
destacar descobertas importantes, como as rochas insculturadas do Crastoeiro
e de Campelo, em Mondim de Basto (Dinis, 2001), as do Campo de Caparinho,
em Montalegre (e.g. Bettencourt et al., 2004) ou os penedos com gravuras ru-
pestres associadas a monumentos megalíticos e as identificadas no interior de
algumas destas estruturas, na região entre o Corgo e o Tua (e.g. Sanches e
Nunes, 2005; Nunes, 2003, Sanches et al., 2005). Apenas dois projectos tinham
como objectivo central o estudo a arte rupestre, um deles, da responsabilidade
de Maria de Jesus Sanches, versando sobre o estudo e valorização dos dois sí-
tios da Botelhinha, em Alijó, sendo aliás responsável pela identificação de Bo-
telhinha 2. O segundo mantém-se como o único projecto de abrangência
regional dedicado exclusivamente a manifestações de arte rupestre, visando a
região de Valpaços, da responsabilidade do arqueólogo José Manuel Fernandes
Rolão. Deste resultaram trabalhos sobre o importante sítio com Arte Atlântica
do Cabeço de Nossa Senhora da Ribeira, na aldeia de Lampaça, freguesia de
Bouçoais, ou das pinturas e gravuras rupestres do sítio de As Portas, no vale
do rio Curros, em Carrazedo de Montenegro, entre outros, embora, tanto quanto
sabemos, os resultados não tenham sido ainda publicados.
Na última década e meia, foram realizados um número considerável de
Estudos de Impacte Ambiental em Trás-os-Montes ainda que bastante menos
que noutras regiões do pais. Porém, apenas onze destes aportaram informações
sobre arte rupestre tendo sido responsáveis pela descoberta de 26 novos sítios.
Estes são, na sua maioria, rochas ou pedras soltas com covinhas, destacando-
se, contudo, as descobertas efectuadas na foz do Tua, num EIA da responsabi-
lidade de Francisco Henriques e João Caninas. Referem-se a dois abrigos sob

Pág. 52 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


rocha, um dos quais ostenta pinturas rupestres de cariz esquemático e o outro
guarda um conjunto apreciável de covinhas e “unhadas do diabo”. Este último
é mesmo o único sítio identificado até agora em Trás-os-Montes Ocidental,
embora sobre a fronteira oriental, com este tipo de gravuras tão peculiares (sul-
cos lineares com perfil em V obtidos por abrasão, popularmente conhecidas
como “unhadas do diabo” dada a sua semelhança a marcas de garras de ani-
mais) é tão bem conhecidas na região do Alto Douro português. Este sítio tem
um interesse acrescido porque as covinhas surgem tanto sobrepostas, como in-
frapostas, às “unhadas do diabo”.
Uma das actividades fundamentais da Extensão de Macedo de Cavaleiros
do IPA7 foi o registo e inventariação sistemática dos sítios arqueológicos trans-
montanos, desde logo os já conhecidos mas também sítios inéditos. No respei-
tante à arte rupestre, a Extensão foi responsável, desde a sua criação, pela
divulgação de 44 novos sítios8, entre os quais se destacam o achado de sete
das nove rochas actualmente conhecidas em torno da Anta da Fonte Coberta
(Alijó)9; os sítios do Cabeço, Cruz do Coro, Cruz de Cepos e Tojais (dos quais
se tratará com maior detalhe adiante) e, mais recentemente, as duas rochas do
Alto do Lombo do Malho (Valpaços), a Pedra da Póvoa (Ribeira de Pena)10,
ou as duas estelas do Alto da Lomba (Vila Real).
É, sem dúvida, notável verificar que o número de registos de sítios com
arte rupestre em Trás-os-Montes Ocidental quase duplicou com as acções de
prospecção arqueológica realizadas no âmbito dos projectos de investigação
plurianuais inscritos nos PNTAs, dos EIAs e daquelas decorrentes das compe-
tências do IPA (Quadro 1). Tendo em conta que a maior percentagem dos re-
gistos provenientes de fontes bibliográficas se referem, na sua grande maioria,
a publicações com mais de duas décadas11, torna-se ainda mais evidente o subs-
tancial crescimento do acervo num espaço de tempo relativamente curto que
se pode balizar grosso modo entre 1997 e 2008. Porém, o Quadro 1 mostra
também o quão reduzido é o número de publicações científicas resultantes de
projectos de investigação arqueológica, um problema a que aludimos anterior-
mente. Mas, no computo geral, parecem estar hoje reunidas todas as condições
necessárias ao desenvolvimento de novos projectos nesta área geográfica dado
o enorme interesse científico do acervo e das problemáticas passíveis de serem
tratadas pelos investigadores, e que este trabalho procurará apenas aflorar.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 53


Quadro 1 - O contributo das principais fontes de informação sobre sítios com arte rupestre em Trás-
os-Montes Ocidental

Porém, é ainda muito díspar o conhecimento efectivo que existe sobre


estes sítios. A informação coligida permite-nos concluir que há 145 ocorrências
para as quais se possuem indicações suficientemente rigorosas quanto à sua
localização12. Contudo, se este dado promete uma maior facilidade futura no
estudo da região, não reflecte necessariamente um avanço qualitativo no co-
nhecimento dos sítios. O Outeiro do Salto, Outeiro da Moeda, rochas vizinhas
do Tripe, em Mairos (Chaves) ou Lamelas (Ribeira de Pena) são exemplos de
sítios referidos amiúde na bibliografia e cuja relevância para o estudos das pro-
blemáticas da Arte Rupestre do Norte de Portugal é indubitável mas que ainda
não merecerem um estudo circunstanciado, nomeadamente o registo integral
das superfícies gravadas. Contabilizaram-se apenas 31 sítios que cumprem esta
condição13.
A verdade é que o acervo encerra vestígios de carácter quase tão diverso
quanto o são as temáticas que ele permite abordar. É, por isso, passível de múl-
tiplos tratamentos que podem ser feitos quer no sentido do desenvolvimento
de hipóteses interpretativas propostas pelos diversos autores que se têm debru-
çado sobre a Arte Pré e Proto-histórica do Noroeste peninsular, quer na inves-
tigação de novas problemáticas.
No que respeita às categorias dos sítios inventariados (Fig. 1) e caracte-
rísticas morfo-tipológicas dos suportes da arte rupestre no distrito de Vila Real
verificamos, não surpreendentemente, que as gravuras e pinturas rupestres em
afloramentos rochosos são predominantes, constituindo 174 dos 209 registos.

Pág. 54 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Embora se trate de uma região essencialmente granítica, é entrecortada por
grandes extensões de xisto pontuadas por quartzitos e grauvaques, o que não
explica a manifesta disparidade que actualmente se observa no que respeita ao
substrato geológico da arte rupestre. Na realidade, contabilizam-se 190 registos
em suporte granítico, contra apenas treze em xisto e quatro em quartzito. Esta
assimetria é acentuada pelo vazio de informação que existe sobre toda a mar-
gem direita do Douro entre Mesão Frio e Alijó, uma zona xistosa ocupada in-
tensamente por vinhedos em socalcos artificiais cuja construção pode ter sido
responsável pela destruição de muitos maciços rochosos. É, aliás, nesta zona
que se situam os três concelhos da região onde, até ao momento, não se regista
um só sítio de arte rupestre: Mesão Frio, Peso da Régua e Santa Marta de Pe-
naguião.
No acervo em estudo surgem 16 registos de gravuras ou pinturas asso-
ciadas a monumentos megalíticos, considerando-se aqui tanto os monólitos
que formam a estrutura dos monumentos, como lajes ou blocos de rocha soltos
encontrados no seu interior, ou seja, que de algum modo formam parte do con-
texto arqueológico dos monumentos14. Registam-se igualmente nove sítios in-
tegráveis na categoria da escultura ou estatuária Pré e Proto-histórica, um
número bastante apreciável para esta região. Algumas são já conhecidas de
longa data, como as estátuas-menires de Chaves (Jorge e Almeida, 1980) e
Faiões (Almeida e Jorge, 1979), a ‘estátua-estela’ do Marco (Vila Pouca de
Aguiar) (Lopes et al, 1994) ou a da Cruz de Cepos, embora esta não tenha sido
reconhecida como tal na primeira referência escrita a este monólito (Barreiros,
1920: 71). Outras foram recentemente descobertas, caso do grande menir da
Pedra d’Anta (Ribeira de Pena) com duas cruzes (de termo?) gravadas, as duas
estátuas do Alto da Lomba15 e a estela dos Tojais, dada agora à estampa. Por
fim, estão registados dez lajes, monólitos ou pedras avulsas com gravuras, seis
dos quais ostentam motivos ornamentais da chamada “arte castreja” cuja área
de maior concentração é o Entre-Douro-e-Minho, e as restantes são essencial-
mente pedras com covinhas, como a Pedra do Castelo, em Jou (Murça) (San-
ches, 2000) embora se inclua aqui também o marco fronteiriço de Xodreiros
(Vila Pouca de Aguiar) que ostenta cruzes e inscrições.
Esta caracterização sumária da arte rupestre de Trás-os-Montes Ocidental
permite-nos esboçar, ainda que em linhas gerais, algumas considerações sobre

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 55


o seu longo devir mas, por ora, afastamo-nos conscientemente da determinação
de uma sequência diacrónica rígida de manifestações que são, por natureza,
fluidas no tempo. Procuraremos, contudo, traçar uma imagem ténue do que
terá sido o papel das diversas “artes” na construção da paisagem, a forma como
interagem entre si, as convergências e divergências de tradições artísticas no
tempo e no espaço. Contemplam-se as grafias impressas em formações rocho-
sas que moldam a superfície da terra, assim como as arquitecturas e esculturas
que nela se erguem de forma mais ou menos visível, também elas recobertas
ou não uma película simbólica, e que criam entre si relações de ambivalência
e/ou complementaridade sobre e sob a ‘pele’ da Terra.

4. A invenção da tradição?16 - As primeiras manifestações artísticas


do pós-glaciar em trás-os-Montes ocidental
Dada a ausência, até ao momento, de vestígios de arte Paleolítica nesta
região, e mantendo-se ainda por resolver a questão do ‘grande hiato’ relativa-
mente aos primeiros milénios do Holoceno, os mais antigos vestígios de arte
rupestre surgem, nesta região, no prolongamento dos dois milénios nos quais
a Arqueologia consegue detectar indícios materiais da passagem de comuni-
dades essencialmente caçadoras e recolectoras para comunidades em que a
produção de alimentos começa a ter algum peso no seu modus vivendi (e.g.
Sanches, 1997; Jorge, 1999). Parece ser então no contexto da emergência de
arquitecturas pétreas monumentais e da criação de ‘santuários’ em abrigos ro-
chosos que surgem as mais antigas manifestações de arte rupestre na região.
É importante salientar à partida que, embora não se registe um número
tão elevado, como em regiões limítrofes, de sítios com pinturas/gravuras no
interior das construções dolménicas, por um lado, ou de abrigos com pinturas
rupestres, por outro, a informação disponível permite estabelecer relações de
proximidade em termos estilísticos entre a iconografia presente nestas duas ca-
tegorias de sítios que terão sido coevas pelo menos ao longo do IVº milénio
a.C. Elas têm em comum a circunstância de constituírem ou criarem espaços
que reproduzem ambientes sub-térreos, em recessos envolvidos em pedra, de
acesso limitado a um restrito número de pessoas, desde logo pela sua exigui-
dade física (e.g. Sanches, 2001; Alves 2002). Estes espaços, construídos por
mão humana ou naturais, foram intencionalmente imbuídos de carga simbólica

Pág. 56 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


mediante a adição de signos visuais sobre a superfície rochosa que materiali-
zaram o seu significado de forma duradoura.
Mas nem todos os monumentos megalíticos ostentam decoração plástica
de natureza antrópica (o simbolismo poderia advir das propriedade e signifi-
cado da pedra eleita para a sua edificação) e supõe-se que nem todos os ‘san-
tuários’ em abrigos rochosos terão sido profusamente pintados ou gravados.
Relativamente aos primeiros, há evidências representativas de cada uma das
categorias que comummente se associam às “artes” megalíticas, se conside-
rarmos, para além da decoração plástica, a arquitectura e a escultura.
Devemos reflectir igual-
mente sobre as formas pelas
quais estas “artes” se articulam
entre si na edificação de paisa-
gens simbólicas. A este respeito
pressentem-se, desde logo, algu-
mas nuances do ‘megalitismo’
em Trás-os-Montes Ocidental
que reflectem o seu carácter de
«zona de transição» cultural e
ideológica desde tempos recua-
dos. Há muito que se vem refe-
rindo que é característica do
‘megalitismo’ do litoral Norte a
tendência para a concentração de Figura 1. Mapa de distribuição dos sítios com arte rupes-
tre em Trás-os-Montes Ocidental
um número substancial de mo-
numentos megalíticos, distribuídos de forma a moldar, com a sua presença e
em densas aglomerações, os topos planálticos e chãs das serranias voltadas ao
anfiteatro Atlântico. As necrópoles com maior número de monumentos locali-
zam-se em Montalegre, Alvão e Aboboreira, esta já fora da nossa área de estudo
(e.g. Jorge 1983/84). Por oposição, o desenvolvimento das prospecções na
Terra Quente Transmontana (e.g. Sanches, 1987, 1992) parece atestar a escas-
sez das grandes necrópoles dolménicas e a menor densidade de monumentos
naquelas conhecidas (e.g. Cruz, 1985), contudo, até à passagem do milénio,
esta questão não mereceu uma estudo aprofundado. A investigação estava mais

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 57


centrada nas características morfo-tipológicas das estruturas e dos contextos
artefactuais, e acabou por valorizar, num quadro tendencialmente uniformiza-
dor, aspectos gerais sobre arquitectura e espólio, impedindo a formalização de
uma certa homogeneidade do megalitismo no Norte de Portugal. Em anos re-
centes, o estudo da organização dos monumentos megalíticos na paisagem
abriu novas perspectivas de análise, e ocorreu em paralelo com a valorização
de dicotomias estruturais entre o Ocidente e o Oriente português a norte do
Douro e dos fenómenos de convergência nas regiões de fronteira. Os trabalhos
que inauguram, de forma consubstanciada, esta leitura centram-se na zona li-
minar entre o ‘megalitismo de planalto’ de Trás-os-Montes Ocidental e o da
bacia depressionária de Mirandela (Sanches e Nunes, 2005). Partindo da cons-
tatação da diferente intensidade com que os monumentos megalíticos marcam
a paisagem nas regiões ocidental e oriental de Trás-os-Montes, M. J. Sanches
e S. A. Nunes procederam a uma análise, em três áreas de estudo, das relações
visuais e topográficas dos monumentos nas necrópoles e da implantação destas
últimas relativamente aos contextos arqueológicos e formas do espaço natural
nas áreas envolventes (2005). Assertivamente se conclui que, entre as necró-
poles estudadas, aquelas que se localizam no rebordo dos grandes planaltos
graníticos do sistema montanhoso Galaico-duriense, caso da do Alto das Ma-
dorras-Pópulo, debruçada sobre a bacia de Mirandela e da de Sabrosa, nas fal-
das meridionais da Serra da Falperra, assumem, em grande medida, e apesar
da diversidade de situações observadas, as características daquelas situadas
mais para o litoral, como são exemplo as necrópoles do Alvão, ou seja, con-
templam uma grande densidade de monumentos, próximos e intervisíveis entre
si, circunscritas pelas formas do revelo (Sanches e Nunes, 2005). Por oposição,
sobre os relevos de xisto da bacia de Mirandela, à imagem dos núcleos do Cas-
telo e Pedreira, surgem tendencialmente monumentos isolados, as necrópoles
são mais exíguas (geralmente compostas por três ou quatro monumentos), e
implantam-se em pequenas colinas no interior de zonas deprimidas, revelando
uma organização de tipo exógeno, cuja unidade estrutural pode ser apenas per-
cepcionada desde o exterior (Sanches e Nunes, 2005).
Segundo as mesmas autoras, nesta região transmontana, «o “percurso” li-
toral-interior é caracterizado por uma redução paulatina da tradição de marca-
ção do território dominantemente pela construção de mamoas megalíticas ou

Pág. 58 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


somente mamoas (…)» (2005: 61). Esta afirmação reveste-se de especial inte-
resse para consubstanciar algumas propostas que vêm sendo aventadas sobre
a convergência, em Trás-os-Montes Ocidental, de distintas formas de inscrição
da paisagem por meio das arquitecturas monumentais do IVº milénio a.C e que
se poderá relacionar também, a uma escala de análise mais ampla, com a con-
vergência de duas tradições artísticas Pré-históricas cujas áreas de distribuição
preferencial se situam a Oeste e a Leste do sistema montanhoso Galaico-du-
riense e do seu prolongamento meridional até ao Vouga.
Mas vejamos os contornos que assume o conjunto das manifestações grá-
ficas passíveis de serem associadas à construção daquelas “paisagens megalíti-
cas” e o que revela a sua distribuição sobre esse percurso litoral-interior.
Tomamos como representativas de um megalitismo mais característico da fa-
chada Atlântica do Noroeste Ibérico, as necrópoles das alturas do Alvão. Dis-
seminados pelos suaves relevos graníticos do planalto superior e das rechãs
ocidentais e setentrionais, os monumentos surgem em concentrações mais ou
menos vastas formando mais de duas dezenas de registos (Cruz, 1985). Alguns
deles são intervisíveis entre si, caso da mamoa do Alto do Catorino que domina
do cume de uma elevação proeminente o núcleo de Chã de Arcas (e.g. Jorge,
1983/84: 38) onde foram, em finais do século XIX contabilizadas 21 mamoas
(Rodrigues, 1895). Malgrado a inexistência de trabalhos arqueológicos secun-
dados por metodologias de investigação modernas e rigorosas17 é (ainda) lícito
afirmar que toda esta vasta necrópole do Alvão está isenta de manifestações
iconográficas sobre a superfície dos monólitos que dão forma aos numerosos
monumentos sob tumulus18, e mesmo sobre os quatro menires já identificados19,
além do desconhecimento da existência de gravuras em formações rochosas ao
ar livre na área envolvente dos monumentos. Neste contexto, é excepcional a
descoberta de uma laje de granito com covinhas num dos monumentos do grupo
de Frieiro20 exumada aquando das intervenções dos Padres José Brenha e Rap-
hael Rodrigues, no Inverno de 1894 (Rodrigues, 1895: 349; Brenha, 1899-1903:
698). Alguns meses volvidos, Leite de Vasconcelos, numa visita a Vila Pouca
de Aguiar, examinou a pedra à qual dedicará duas páginas nas Religiões da Lu-
sitânia por as circunstâncias da sua descoberta lhe ter suscitado manifesto inte-
resse21 publicando um desenho obtido sobre fotografia acompanhado de uma
descrição detalhada da laje (1897: 358-360; Fig. 75). Sabemos, desta forma,

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 59


que a pedra mede 1,10m de comprimento e 0,84-0,55 m de largura, ostenta 32
covinhas22 com dimensões entre os 0,8 e os 0,2cms algumas das quais unidas
por sulcos e que terá sido encontrada à entrada da câmara, à altura da base dos
esteios, a 1m de profundidade, assente no solo natural e «com toda a superfície
coberta de uma camada de cinza, misturada com ossos humanos (…)» (Vas-
concelos, 1897: 359). O P.e Raphael Rodrigues afirma que aquela camada so-
breposta à laje estava selada no interior da câmara e que foram exumados, do
interior das covinhas maiores, ao centro, ossos carbonizados misturados com
cinza e carvão vegetal (1895; cf. Brenha, 1899-1903: 706).
Independentemente da cronologia da laje de Frieiro23 e do facto de ter
sido gravada in loco, reaproveitada ou exumada de um afloramento previa-
mente gravado, a verdade é que não é estranha a associação das gravuras de
covinhas aos monumentos megalíticos do Alvão. Nas faldas ocidentais da
Serra, na necrópole de Gevancas (Bilhó, Mondim de Basto) surgem penedos
cujas superfícies ostentam alinhamentos de covinhas e um bloco granítico com
idênticas gravuras foi detectado na área envolvente dos monumentos de Chã
do Prado24 (Alvadia, Ribeira de Pena). A Norte, no sopé do Castro do Lesenho,
surgem duas rochas com gravuras desta natureza, sobranceiras à área de im-
plantação das duas mamoas do Reigal25. Entre a Serra do Larouco e a Veiga de
Chaves, recentes investigações no Campo de Caparinho (Vilar de Perdizes,
Montalegre) permitiram identificar, entre outros vestígios, uma rocha com di-
versas covinhas, ora alinhadas, ora unidas por sulcos, distribuídas entre de-
pressões circulares de origem natural, apenas 15m a Noroeste de um pequeno
monumento sob tumulus (túmulo 1) datado da primeira metade do IVº milénio
AC (Bettencourt, 2006; Bettencourt e Dinis, 2007).
Voltando às serranias mais meridionais, mas agora a nascente do rio
Corgo, assinala-se no planalto da Serra da Padrela, a presença de quatro covi-
nhas sobre uma superfície granítica exposta poucos metros a Sul da anta do
Vale da Natoda26 (S. Tomé do Castelo, Vila Real). Verifica-se uma situação si-
milar na necrópole do Alto do Lombo do Malho (Curros, Valpaços), localizada
na vertente oriental da Serra da Padrela, numa zona de trânsito entre as alturas
serranas e a bacia de Mirandela. Um grupo de quatro pequenas mamoas27 que
ocupam o topo de um esporão que se estende em sucessivas lombas sobre o
vale encaixado do Rio Curros, dominando amplamente a paisagem recortada

Pág. 60 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


por elevações de xisto-quartzítico e o planalto, a oeste. Dois monumentos que
conservam esteios e parte dos tumuli implantam-se no topo da colina mais ele-
vada e avançada do esporão. Junto ao seu rebordo setentrional, a poucos metros
das mamoas, ergue-se um afloramento que exibe, na superfície superior apla-
nada e ligeiramente inclinada na direcção dos monumentos, um conjunto de 8
covinhas com diâmetros e profundidades diversos e sulcos. (Fig. 2).
Neste esporão são relativamente escassas as massas rochosas que irrompem
do terreno, contudo, na colina a Sul do conjunto anterior, afloram dois pequenos
maciços de xisto quartzítico composto por um caos de grandes blocos de cor
avermelhada com manchas ferrosas e sulcados por filões lineares de quartzo.
Num destes maciços, a poucos metros dos vestígios de uma outra mamoa do
grupo, foram identificadas três painéis com gravuras rupestres28: um círculo sim-
ples com 10cms de diâmetro, um arco de círculo e uma composição complexa
constituída por dois círculos concêntricos envolvidos externamente por um anel
incompleto e ladeado por linhas sinuosas, figura esta muito toscamente talhada
na face subvertical de um painel encimado por uma covinha.
A associação recorrente de rochas com covinhas formando composições
simples e ocasionalmente unidas por sulcos, com monumentos megalíticos (algo
que não é estranho ao megalitismo do litoral norte) leva-nos inevitavelmente a
lançar um novo olhar sobre a vasta parcela do planalto das Chãs, em Alijó, onde
foram identificadas essas típicas concavidades circulares em quase uma dezena
de penedos graníticos (embora alguns contenham apenas um registo), todos eles
situados a Sul e Sudeste da Anta da Fonte Coberta e, portanto, dentro do seu
campo visual. Este monumento de grandes dimensões que se ergue, isolado, no
rebordo do planalto, é ainda hoje o ponto focalizador do olhar numa paisagem
chã onde apenas os batólitos graníticos sobressaem, conferindo-lhe alguma tex-
tura. Trata-se de um dólmen clássico, com câmara poligonal e “vestíbulo” dife-
renciado, “corredor intratumular” e átrio (Carvalho e Gomes, 2000). Deve
salientar-se que a presença deste tipo de monumento com antecâmara de tipo
“vestibular”, com escassos exemplares a Noroeste, é relativamente frequente
no megalitismo da zona de Viseu (Carvalho e Gomes, 2000), ocorrendo também
na Casa da Moura (Zedes, Carrazeda de Ansiães) que, tal como este, ostenta
pinturas esquemáticas. Mas a Anta da Fonte Coberta tem uma particularidade
intrigante: o “vestíbulo” e, no seu prolongamento, o “corredor intratumular”

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 61


encontram-se descentrados relativamente a um eixo longitudinal aferido per-
pendicularmente à laje de cabeceira. O vestíbulo orienta-se marcadamente para
Leste, enquanto a câmara se abre a Sudeste. Atendendo a este desvio, um ob-
servador posicionado na área vestibular do monumentos tem, atrás de si, o único
esteio da câmara que conserva vestígios de pinturas e, voltando-se para o exte-
rior, o seu olhar recai frontalmente sobre uma rocha soerguida de perfil vaga-
mente trapezoidal (Fig. 3). Aproximando-nos dela, podemos verificar que o
topo aplanado do penedo, elevado c. de 1,60m do solo, ostenta cerca de 32 con-
cavidades circulares e oblongas29. No seio da composição, entre as covinhas,
podem observar-se pelo menos dois motivos definidos por um círculo rebaixado
com covinha central30. As gravuras de origem antrópica, actualmente bastante
erodidas, organizam-se na superfície por entre ‘bacias’ ou cavidades naturais
escavadas pelas águas da chuva e o gelo. É verdade que este tipo de gravuras é
usualmente conotado com espaços a descoberto, abertos à paisagem, e mesmo
quando vastas composições ocupam recessos rochosos, como no caso no san-
tuário rupestre de El Pedroso, elas surgem preferencialmente em zonas abertas
ao exterior (e.g. Bradley, et al., 2005). Neste sentido, parece ser relevante o
facto de que, na própria estrutura pétrea da Anta da Fonte Coberta, ocorram
estas concavidades circulares quer sobre a laje de cobertura, quer na face externa
de um dos esteios que ladeiam a entrada da câmara, mais precisamente no esteio
8 que se encontra orientado para Leste, ou seja, para o penedo insculturado
acima descrito (Fonte Coberta 1- CNS: 19555).
A omnipresença desta temática em redor da Anta da Fonte Coberta, e
sobre a sua própria estrutura pétrea, levanta necessariamente algumas questões
de difícil resolução mas que poderão ser orientadoras de futuras pesquisas.
Terão sido o esteio 8 e a laje de cobertura exumados de afloramentos previa-
mente gravados e inseridos na estrutura do monumento? Podemos considerar
o penedo com covinhas fronteiro à Anta como uma pré-existência que ditou o
alinhamento do “vestíbulo” e “corredor intratumular” na sua direcção asso-
ciando-a directamente a vestígios ancestrais? Serão as numerosas covinhas
gravadas em quase todos os afloramentos mais elevados que se estendem pelo
rebordo do planalto para Sul e Sudeste da Anta anteriores, coevas ou posterio-
res à construção do monumento? Terá a Anta sido erguida num espaço já pro-
fusamente marcado por aqueles signos discretos ou as covinhas assinalam a

Pág. 62 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


aproximação a um espaço “sagrado” de agregação e memória?
Um pouco mais concreta será a cronologia das pinturas e, eventualmente,
também das gravuras que o monumento guarda no interior da câmara megalí-
tica. O esteio 4 ostenta o que podemos considerar dois motivos, provavelmente
incompletos, pintados a vermelho. O primeiro, na parte mais elevada, exibe
um motivo antropomórfico no qual apenas a linha exterior do corpo é deli-
neada, a traço fino, sem preenchimento interno. A figura é acéfala, o que poderá
ser intencional ou dever-se antes ao desgaste da superfície, amplamente trun-
cada no quadrante inferior direito devido ao destacamento de uma placa su-
perficial. O segundo motivo é formado por duas linhas, uma longitudinal e
outra transversal (Carvalho e Gomes, 2000).
Ora, atendendo à distribuição das gravuras e pinturas esquemáticas, fre-
quentemente acompanhadas por figurações antropomórficas, quer no interior
das câmaras dolménicas, quer em formações rochosas naturais, verifica-se uma
clara tendência para a sua presença no quadrante sudeste da nossa área de es-
tudo, justamente aquelas que confinam com as áreas de maior concentração
de Arte Esquemática pintada em abrigos rochosos, a Leste, e dos monumentos
megalíticos com pinturas esquemáticas, a Sul. No distrito de Vila Real, quatro
abrigos com pinturas esquemáticas encontram-se sobre a fronteira administra-
tiva. Os abrigos da Ribeira da Cabreira 3 e 11 pertencem ao complexo da Serra
de Passos (Sanches, 1997); mais a Sul, o abrigo pintado da Pala Pinta abre-se
numa encosta sobre uma ribeira tributária do Rio Tua (Santos Júnior, 1933) e
já próximo da foz deste mesmo rio foi recentemente descoberto um outro
abrigo com pinturas rupestres a que aludimos anteriormente, ainda inédito, tal
como, aliás, o único registo desta natureza identificado numa zona mais inte-
rior. Trata-se de um painel que exibe três motivos pintados a vermelho nas fra-
gas quartzíticas que ladeiam as margens do Rio Curros, na vertente ocidental
da Serra da Padrela (Freitas, 2001: 410). Curiosamente, este painel, estudado
recentemente pela equipa responsável do projecto de investigação “Os Sítios
de Arte Rupestre da Região de Valpaços“, surge ainda associado a um vasto
conjunto de covinhas.
Os escassos monumentos megalíticos que guardam pinturas e/ou gravuras
Pré-históricas nos seus recessos interiores encontram-se também no quadrante
Sudeste da nossa área de estudo. À excepção da Mamoa 1 de Madorras (Sa-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 63


brosa), todos eles se situam no rebordo superior ou inferior (no caso da Mamoa
1 do Castelo, em Murça), de planaltos que contornam a bacia de Mirandela.
Atendendo às datações dos monumentos contendo decoração plástica, é pos-
sível considerar que tenham sido parcialmente coevos durante a 2ª metade do
4º milénio AC (Sanches e Nunes, 2005; Gonçalves e Cruz, 1994; Carvalho e
Gomes, 2000). Deste conjunto, apenas a cronologia das duas mamoas acima
referidas foram aferidas por datações radiocarbónicas. A primeira é a que ofe-
rece cronologias mais antigas para a sua construção que, segundo Cruz e Gon-
çalves (1995), terá ocorrido entre 3700-3000 a.C, havendo sido o monumento
encerrado entre 3300 e 2920 a.C. A Mamoa 1 de Madorras é também a única
que apresenta uma relação estratigráfica entre motivos gravados e pintados.
De facto, no esteio 7, observa-se um motivo pintado a preto formado por duas
reticulas, de contorno quadrangular e rectangular com o interior segmentado,
justapostas verticalmente e encimados por um eixo subtrapezoidal alongado.
Este reticulado está sobreposto a uma ambígua composição gravada formada
pela agregação de corpos de contorno curvilíneo (Gonçalves e Cruz, 1994).
Comum aos quatro esteios decorados é a presença de pequenos círculos sim-
ples, ora definindo conjuntos, ora isolados mas, tal como referem A. Huet B.
Gonçalves e D. Cruz, estamos apenas perante elementos vestigiais de compo-
sições que terão sido originalmente mais complexas e abrangentes (1994: 218).
Todavia, e pese embora algum pendor generalista, é digno de nota o facto de
que os pequenos círculos simples tendem a ocorrer sobretudo em monumentos
situados na fachada Atlântica do Noroeste peninsular (e.g. Bello Diéguez,
1995; Gonçalves e Cruz, 1994; Alves, no prelo a) enquanto que o reticulado
pintado a preto nos remete para o universo gráfico da Arte Esquemática pintada
em abrigos rochosos, à semelhança dos que ocorrem na não tão longínqua Serra
de Passos (e.g. Sanches, 1990, 1997; 2001).
Sobre a zona de transição entre os planaltos centrais e a bacia de Miran-
dela, foram identificadas gravuras em 3 monumentos da necrópole do Alto das
Madorras, entre os quais se destaca a composição gráfica do esteio-estela da
Mamoa 4 que apresenta um círculo simples ao qual parcialmente se sobrepõe
um pequeno arco que pertence a uma figura subquadrangular, tipo placa, sec-
cionada internamente por barras horizontais (Sanches e Nunes 2005). Esta fi-
gura apresenta afinidades com uma outra gravada no painel 4 da

Pág. 64 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


gruta-santuário de El Pedroso, em
Zamora, Espanha (Bradley, et al.
2005: Fig. 5). Na realidade, a existên-
cia de paralelos estilísticos entre a
iconografia presente nas câmaras de
monumentos megalíticos do interior-
norte de Portugal e a ‘arte dos abri-
gos pintados’ há muito que vem
sendo valorizada31 (e.g. Baptista,
1986; Sanches, 1997; 2001; Alves,
2002), nomeadamente dada a pre-
sença de figuras antropomórficas es- Figura 2. Alto do Lombo do Malho (Curros, Valpa-
ços). 1. Perspectiva sobre o esporão no terminus do
quemáticas, um dos elementos qual se situam dois monumentos megalíticos e a
caracterizadores daquela tradição. Na rocha com covinhas. O afloramento rochoso que se
região de Trás-os-Montes Ocidental, avista na encosta nascente, à direita na foto, ostenta
o segundo conjunto de gravuras rupestres (ALM 6);
a Anta da Fonte Coberta é o único 2. Mamoa 2 do Alto do Lombo do Malho; 3. Combi-
monumento onde se assinala clara- nação circular gravada num painel subvertical no
Alto do Lombo do Malho 6.; 4. Rocha com covinhas
mente a presença de uma figura an- situada nas proximidades dos dois monumentos me-
tropomórfica embora com a galíticos ainda conservados (ALM 4) (fotos dos au-
tores; Agosto 2008)
particularidade, que a distancia das
representações mais típicas, de apre-
sentar apenas o contorno delineado sem preenchimento interno tal como ocorre
na Pala da Moura (Carrazeda de Ansiães), na margem oposta do Rio Tua. Por
seu lado, a superfície externa de um dos esteios da Mamoa 1 do Castelo, ostenta
um conjunto de gravuras não figurativas, entre as quais, malgrado o seu estado
de conservação, se destacam séries de barras paralelas, uma das quais encimada
por um sulco horizontal, que não deixam de lembrar algumas formas geomé-
tricas que ocorrem nos abrigos pintados da Serra de Passos (Sanches e Nunes,
2005; Sanches, 2001: 77).
Em suma, as mais expressivas manifestações gráficas que convergem
neste espaço durante o IVº milénio a.C. têm em comum o facto de aderirem a
lugares ou recessos envoltos em pedra ou de marcarem cenários dramáticos
pela imponência das formações rochosas e confinados pelas formas do relevo.
Em contraposição, em espaços naturalmente abertos é frequente encontrar ro-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 65


chas com covinhas associadas a monumentos megalíticos e, mais raramente, a
abrigos com Arte Esquemática. Estes tendem a organizar-se no espaço de forma
a assinalar troços ou pontos específicos sobre cursos de água, em vales fecha-
dos, ou a signar, de forma persistente e articulada, o interior de relevos mon-
tanhosos, tal como acontece na Serra de Passos (e.g. Sanches, 2001). Por seu
lado, também as necrópoles megalíticas marcam vincadamente amplas unida-
des geomorfológicas, neste caso, as alturas planálticas das Serras mais interio-
res. Mas se as necrópoles se prolongam para oriente acompanhando as
extensões dos planaltos elevados, também alguns abrigos pintados surgem em
encostas ou fundos de vales que alongam, tentacularmente, a ‘Terra Quente’
por entre as faldas ocidentais das serranias.

5. As grandes tradições artísticas da Pré-história Recente em trás-


os-Montes ocidental
As “paisagens signadas” do Neolítico imprimiram uma carga simbólica
de tamanha grandeza no território que os sítios com arte rupestre, assim como
as arquitecturas monumentais, se vão configurar como espaços-âncora na me-
mória das comunidades que subsequentemente habitaram esse mesmo território.
No que respeita à arte Pré-histórica em formações rochosas naturais, di-
versos autores têm vindo a relevar o
facto de que no Norte de Portugal,
convergem duas tradições artísticas
que ecoam afinidades supra-regio-
nais: a Arte Atlântica, que surge ao
longo da fachada europeia costeira
nas Ilhas Britânicas e Península Ibé-
rica, e outra, Arte Esquemática, de
distribuição mais interior com afini-
dades na Europa do Sul (e.g. Bradley Figura 3. Anta da Fonte Coberta (Vila Chã, Alijó).
e Fábregas, 1996, 1997, 1999; Alves Distribuição das rochas com gravuras rupestres na
área envolvente do monumento megalítico, à es-
2003, no prelo a, no prelo b). É evi- querda (extracto da Carta Militar de Portugal, escala
dente que esta é uma asserção algo 1:25000, folha 103) e perspectiva sobre o penedo
com covinhas que se situa no alinhamento do vestí-
generalista que deverá ser consubs- bulo do monumento, à direita (foto dos autores;
tanciada a diferentes escalas de aná- Agosto 2008)

Pág. 66 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


lise espaciais, temporais e conceptuais, visto que, no Noroeste Peninsular,
ambas as tradições assumem particularidades regionais e transmutações signi-
ficativas no seu longo devir. Referimo-nos anteriormente à clássica expressão
da Arte Esquemática peninsular, que se materializa sob a forma de pinturas em
abrigos sob rochas onde é recorrente a representação da figura humana e de
motivos geométricos delineados a partir de linhas rectas, quebradas ou perpen-
diculares (séries de barras verticais, zig-zags, escaleriformes, recticulados…)
mas na qual pontualmente surgem motivos zoomórficos (essencialmente qua-
drúpedes: cervídeos e capríneos). A Arte Atlântica peninsular, usando o con-
ceito mais amplo, corresponde em grande medida ao que se convencionou
designar, na Galiza, os “petróglifos gallegos” e, no Norte de Portugal, a “arte
galaico-portuguesa”, termo hoje caído em desuso mas que corresponde ao que
António Martinho Baptista apelidou de grupo I da Arte do Noroeste. Tratam-
se de gravuras em superfícies rochosas ao ar livre que, sob a sua forma clássica,
oferecem um repertório de feição geométrica-abstracta, privilegiando os mo-
tivos de contorno curvilíneo: entre as diversas tipologias de figuras circulares,
surgem os típicos círculos concêntricos com covinha central, linhas ondulantes
e algumas espirais. No espaço peninsular, estas composições abstractas surgem,
não raramente, associadas a representações de quadrúpedes e, em número di-
minuto, a figurações de armas metálicas datáveis do Calcolítico e Bronze Ini-
cial. Por seu lado, a Arte Esquemática tende a ocorrer em locais de acesso
restrito, enquanto a Arte Atlântica abre-se à paisagem e interage com os seus
elementos em locais que imaginamos seriam visitados no âmbito de actividades
do quotidiano.
Parece ser hoje consensual que a presença da pintura Esquemática, pre-
sente em praticamente todo o espaço peninsular, atinge o seu limite noroeste
na Terra Quente transmontana, enquanto a Arte Atlântica se dissemina desde
o litoral até às alturas do sistema Galaico-duriense, perseguindo as paisagens
(e clima) de características Atlânticas atingindo, de acordo com os conheci-
mentos actuais, a bacia do Rio Vouga. Ambas as tradições, na sua forma clás-
sica - ‘pintura esquemática’ e as gravuras geométrico-abstractas da Arte
Atlântica - parecem convergir ao longo de uma “área de transição” que cor-
responde grosso modo ao cordão montanhoso que divide o Norte de Portugal,
na qual se inscreve precisamente a região que é objecto deste estudo.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 67


Todavia, consideramos que o principal objectivo da investigação de arte
rupestre é o de procurar compreender o papel que ela cumpriu no modus vi-
vendi das comunidades que marcaram de forma indelével lugares especiais na
paisagem por meio da aposição de linguagens de signos convencionadas. Para
tal, deve manter-se acesa a discussão sobre se, nesta “área de transição”, há
convergência destas duas tradições no espaço corresponde, ou não, uma con-
vergência, no tempo. Isto pressupõe que, no futuro, se prossiga a investigação
dos contextos arqueológicos da arte rupestre. É hoje genericamente aceite que
as origens da pintura esquemática reportam ao período correspondente ao Vº
- inícios do IVº milénio a.C. prolongando-se a sua criação pelo menos até à
primeira metade do IIIº milénio a.C. (e.g. Sanches, 2001). Por oposição, a de-
finição da cronologia das mais antigas manifestações da Arte Atlântica penin-
sular está longe de ser consensual. Entre as propostas mais recentes para a
região da Galiza, salienta-se a de M. Santos Estévez que advogou, em termos
gerais, uma cronologia adentro do IIº milénio a.C. estendendo-se até à primeira
metade do milénio seguinte (1998, 2005), mantendo A. de la Peña Santos e
outros a defesa de uma cronologia curta entre finais do IIIº e inícios do IIº mi-
lénio A.C. (2003: 361, 2005). Para o Norte de Portugal permanece em vigor a
ideia da sua inserção em fases adiantadas da Idade do Bronze (e.g. Bettencourt
e Sanches, 1998), cronologia há muito sugerida por António Martinho Baptista
para estas manifestações (1983-83, 1986) embora estudos recentes admitam a
possibilidade de se aventar uma cronologia mais recuada para a sua génese em
território peninsular (e.g. Alves, 2003).
O facto de se manter este debate (o que é salutar!) torna difícil, por um
lado, precisar uma evolução diacrónica, linear ou não, daquelas tradições ar-
tísticas no Norte de Portugal e, por outro lado, abordar a problemática da con-
textualização da Arte Esquemática gravada em penedos ao ar livre, que
corresponde ao que Baptista designou grupo II do Noroeste, cuja área de dis-
tribuição ultrapassa a da pintura esquemática e se expande para ocidente
(1983/84, 1986).
Mas debrucemo-nos novamente sobre a realidade de Trás-os-Montes Oci-
dental para tentar compreender de que modo uma análise mais fina, focalizada
sobre a “área de transição”, poderá contribuir para a investigação destas temá-
ticas. Atendendo ao estado actual dos conhecimentos, a distribuição das duas

Pág. 68 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


grandes tradições artísticas pré-históricas parece espelhar, à escala da região,
o cenário que genericamente se perspectiva para o Noroeste peninsular. Deste
modo, a Arte Esquemática pintada em abrigos rochosos surge no quadrante
Sudeste, mas essencialmente na área que bordeja a bacia de Mirandela, en-
quanto a Arte Atlântica (incluindo as manifestações de influência ou tradição
Atlântica) distribui-se segundo um arco que abrange os sectores oeste, central
e nordeste do concelho de Vila Real. Estão ausentes, por enquanto, os registos
nas zonas mais meridionais, correspondentes ao vale do Douro e toda a área
noroeste32 (Fig. 4). Os dois registos que se imiscuem na área de distribuição
da Arte Esquemática pintada não são exemplares clássicos da Arte Atlântica
peninsular mas onde se pressente um certo “ar de família” visto que alguns
motivos presentes apresentam afinidades tipológicas com outros que ocorrem
nas composições clássicas. Um destes sítios é o Alto do Lombo do Malho, des-
crito anteriormente, onde ocorre, para além das covinhas, uma figura circular
simples e uma outra mais complexa com círculos/arcos de círculo concêntri-
cos33, ambas abertas nas superfícies xisto-quartzíticas cuja rudeza na textura
não permite que seja alcançada a profundidade estética e impacto visual que
estes motivos abstractos adquirem sobre rochas graníticas (Fig. 2). O segundo
registo corresponde à rocha 1 da Fonte Coberta, na qual uma observação pre-
liminar da superfície permitiu visualizar dois (possivelmente três) círculos re-
baixados com covinha central34.
O conjunto de Arte Atlântica situado mais a ocidente, muito próximo da
fronteira com o distrito de Braga que aqui se estende ao longo de um troço do
curso médio do Rio Tâmega, encontra-se na encosta meridional do Monte da
Senhora da Graça (Mondim de Basto). Sobre as plataformas baixas deste monte
cónico que se eleva de forma verdadeiramente imponente sobre o vale, foi
identificado um vasto conjunto de rochas com gravuras de contorno circular
na área de implantação do povoado do Castroeiro com ocupação da Idade do
Ferro e de época romana (Dinis 2001). Embora este núcleo esteja a ser actual-
mente objecto de reavaliação que resultou na identificação de novas superfícies
gravadas35, foram já objecto de estudo um total de seis rochas gravadas (Cas-
tiñeira e Soto-Barreiro, 2001). Todas as composições integram conjuntos de
covinhas mais ou menos densos que se articulam ora com composições com-
plexas de motivos circulares entre os quais se assinalam os círculos simples

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 69


com covinha central e as am-
plas combinações de círculos
concêntricos, a exemplo das ro-
chas 1, 2 e 4 quer em composi-
ções mais singelas, como nas
rochas 3 e 6 (Castiñeira e Soto-
Barreiro, 2001: 190-197).
Cerca de 300m para poente
deste conjunto ergue-se o ma-
jestoso rochedo de Campelo
(Dinis, 2001) talvez um dos
mais interessantes sítios de arte
Atlântica conhecidos no Norte
de Portugal, pelo modo como
se insculpiram (ou esculpiram) Figura 4. Mapa de distribuição dos sítios com arte rupestre
as formas naturais do granito pertencentes às duas grandes tradições artísticas do No-
roeste Peninsular
com motivos circulares e linhas
sinuosas.
A Norte, nas faldas ocidentais da Serra do Barroso, numa zona baixa da
vertente setentrional do Castro do Lesenho, voltada à Chã do Lesenho/Reigal,
Santos Júnior identificou duas rochas com pias circulares36, mas igualmente
uma terceira cuja superfície apresenta um grupo de covinhas a par de um mo-
tivo bastante interessante composto por uma covinha inserida num círculo,
com cerca de 15 cms de diâmetro, do qual partem três pequenos sulcos lineares
em leque37 (1982: 261-262 e Figs 9 e 10). Numa visita por nós efectuada ao
local no âmbito deste trabalho foi confirmada a localização de um outro con-
junto de 12 covinhas, cuja maioria se dispõe numa mancha vagamente circular,
no topo recurvado de um batólito que se eleva do solo na base da encosta
Norte38. Identificámos ainda outro penedo com covinhas cerca de 20m para
poente daquela. Nas imediações do castro, a aproximadamente 400m para nas-
cente, na margem esquerda de um regato, a Corga do Fieiro, encontra-se um
outro penedo insculturado (Miranda Júnior, et al., 1985). Trata-se também uma
rocha oblonga, elevada do solo, com uma intrincada composição que combina
círculos simples com covinha central, arcos de círculos e extensas linhas si-

Pág. 70 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


nuosas que meandram pela superfície superior e pela face lateral voltada a Sul.
Mas o mais interessante é que ela se desenvolve a partir de uma figura idêntica
à de uma das rochas publicadas por Santos Júnior (1982: Fig. 10), ou seja, par-
tem de um círculo com covinha central três linhas em leque que, neste caso, se
vão alongar pela superfície e organizar a composição39.
Continuando o périplo pelos sítios com Arte Atlântica de Trás-os-Montes
Ocidental, vamos encontrar, a nor-nordeste do Lesenho, um outro conjunto na
base de uma elevação encimada por um povoado fortificado – o Cabeço (Bo-
ticas) sobre o qual nos debruçaremos com mais pormenor adiante40.
Na região de Chaves, mais propriamente nas terras altas que ladeiam a
veiga, foram referenciadas duas rochas que poderão hipoteticamente pertencer
a esta tradição. A Noroeste de Chaves, em Calvão, na base do cabeço do Outeiro
dos Mouros, J. B. Martins dá notícia de um penedo de forma circular, contendo
três círculos concêntricos gravados e três outros sulcos que, diz, «se assemelham
a hastes de veado» (1980). A Nordeste, na freguesia de Águas Frias, o Penedo
das Meias é descrito como uma rocha ostentando gravuras de 18 covinhas e sul-
cos interligados (e.g. Martins, 1982; Baptista, 1983/84; 1995) 41.
O sítio com gravuras de Arte Atlântica mais oriental na área em estudo
situa-se na linha de relevos escalonados que descem até ao encaixado vale do
Rio Rabaçal, que aqui coincide com a fronteira administrativa entre os distritos
de Vila Real e Bragança, numa paisagem granítica ainda a todos os níveis
“Atlântica” apesar da longitude. Referimo-nos ao soberbo conjunto de super-
fícies insculturadas que ocupam uma plataforma, aberta a Sul, no exterior do
recinto amuralhado do Cabeço de Nossa Senhora da Ribeira (Amorim, 1952;
Teixeira, no prelo). Sobre os extensos penedos graníticos pouco elevados do
solo que ressaltam da área de desaterro recente, surgem intrincadas composi-
ções de covinhas, umas simples, outras rodeadas por um ou mais círculos con-
cêntricos e linhas sinuosas, motivos tão típicos desta tradição, que envolvem
as regulares superfícies rochosas. Entre diversas particularidades deste con-
junto salienta-se, pelo seu ineditismo no contexto da Arte Atlântica no Noroeste
Peninsular, a figuração de longos sulcos rectilíneos que ornamentam, em dois
dos maiores penedos, as faces laterais, as dobras e as largas brechas do granito,
numa espécie de ‘horror ao vazio’, denotando um esforço de insculpir a tota-
lidade dos espaços livres pelas composições circulares. Estes sulcos estão au-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 71


sentes apenas num dos rochedos, precisamente aquele que detém algumas fis-
suras naturais lineares que, tal como aqueles, divergem do topo para as faces
laterais. Este penedo aparenta ter sido afectado por trabalhos de extracção de
pedra (não sabemos quão antigos) visto que a metade poente desapareceu, trun-
cando a composição da face superior ao longo de um eixo longitudinal. Inter-
rogando-nos sobre a atribuição dos inauditos sulcos lineares a uma fase
primeva de gravação neste sítio, certo é que as grandes pias quadrangulares
que mutilam as composições abstractas, denunciam o prolongado uso deste es-
paço no tempo.
Os sítios com Arte Atlântica de Trás-os-Montes Ocidental a que nos re-
ferimos até agora oferecem exclusivamente temáticas geométrico-abstractas42.
Porém, ainda dentro dos sítios que exibem grafias de tradição Atlântica, há que
destacar a recentemente descoberta Pedra da Póvoa (Ribeira de Pena). Teste-
munho eloquente de como foi perene a tradição da Arte Atlântica no Noroeste
Peninsular, neste monólito granítico com quatro faces regularizadas por talhe,
foram gravados signos geométricos de contorno curvilíneo que nos remetem
para a plástica decorativa da chamada “arte castreja”, a par de motivos circu-
lares, uma possível espiral e uma figura de cervídeo (Fonte, et al. no prelo).
A ocorrência de motivos próprios desta tradição em estreita associação a
elementos da plástica “castreja”, por um lado, e a presença de sítios com Arte
Atlântica nas encostas de povoados onde se reconhecem ocupações da Idade
do Ferro, por outro, apela a uma análise mais circunstanciada destas evidências.

5.1 As “pedras castrejas”


A “arte castreja” tem a sua máxima expressão no Noroeste Peninsular (Ga-
liza e Entre-Douro-e-Minho), associada à Proto-História e Romanização dessa
região. A grande maioria dos exemplares conhecidos encontra-se em pedras sol-
tas, que na maioria dos casos integram ou integrariam construções arquitectóni-
cas. O mesmo se passa em Trás-os-Montes, onde todos os exemplares conhecidos
até ao momento são monólitos decorados e não afloramentos rochosos e consti-
tuem, maioritariamente, elementos de construção. Tal será o caso das quatro pe-
dras do sítio das Cortinhas (São Mamede de Ribatua) e da pedra de Favaios
(Fortes, 1908), assim como da de Meirinhos (Ribalonga), todas provenientes do
concelho de Alijó. Esta última, um dos casos mais interessantes, é um elemento

Pág. 72 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


de uma «Pedra Formosa»43 exuberantemente ornamentada, pertencente a um edi-
fício de balneário castrejo, e é a única conhecida em Trás-os-Montes até ao mo-
mento. No grande povoado fortificado da Cerca de Ribas, em Valpaços,
encontraram-se mais três pedras com gravuras rupestres (Freitas, 1989; 2001),
duas delas incorporadas nas próprias muralhas e que, embora fugindo um pouco
do tipicismo da “arte castreja”, a gramática figurativa é suficientemente próxima
para a incluirmos, de forma preliminar, neste grupo. Por fim, são provenientes
do povoado do Alto do Castelo (Salto, Montalegre) dois fragmentos de possíveis
ombreiras de porta com decoração cordada (Fonte, 2008).
Ao contrário dos restantes exemplares, a Pedra de Favaios44 e a Pedra da
Póvoa não se associam directamente a um sítio arqueológico conhecido. Entre
as demais, as quatro pedras das Cortinhas provêm de um grande habitat aberto
de Época Romana45, a Pedra Formosa de Meirinhos encontrava-se na base um
povoado da Idade do Ferro romanizado, tal como o é a Cerca de Ribas. Isto
poderia sugerir a priori que estas peças teriam uma cronologia relativamente
tardia dentro da Proto-história regional, integrando-se eventualmente na sua
passagem para uma cultura sob influência da romanidade, hipótese esta que
seria mais consentânea com as propostas de Calo Lourido (1994) e J. Alarcão
(1986) de uma cronologia do século I d.C. para estas manifestações. No en-
tanto, as duas pedras do Alto do Castelo, em Salto (Montalegre) foram reco-
lhidas num povoado fortificado onde não se conhecem vestígios de
romanização (Fonte, 2008: 68), o que contribui para enfatizar as palavras de
C. A. Ferreira de Almeida que, diz, «Esta gramática figurativa nada deve à arte
romana. (…) ela foi retirada da ornamentação da cerâmica e das peças de
bronze e de ouriversaria castrejas.» apontando, assim, para uma cronologia da
época Júlio-Cláudia (1986: 164-166; 1983). Mais recentemente Gonzaléz Rui-
bal (2004) defende que a génese desta gramática figurativa dever-se-á encontrar
em plena Idade do Ferro, nos séculos II e I a.C., ainda que não se possa descurar
a hipótese de uma cronologia mais recuada, embora sem antes se proceder a
uma tão necessária sistematização desta temática (Fonte, et al., no prelo).

5.2. Arte dos castros ou Arte nos castros?


A questão da datação relativa da arte rupestre com base na análise dos seus
eventuais contextos arqueológicos coloca-se com particular acuidade na análise

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 73


das gravuras associadas a povoados fortificados da Idade do Ferro. Em Trás-
os-Montes Ocidental é já apreciável quantidade de povoados em cujo entorno
surgem gravuras rupestres, independentemente das suas características estilís-
ticas. Os casos nos quais essa relação
se verifica ascendem actualmente a
um total de 2946. Uma análise da sua
distribuição espacial mostra uma no-
tória concentração na zona norte do
distrito de Vila Real, ou seja, em
Montalegre, Boticas, Chaves e Valpa-
ços. Não sabemos se isto corresponde
a uma tendência real ou se reflecte um
conhecimento mais aprofundado da-
queles povoados nestes concelhos
mas é importante salientar que em
Trás-os-Montes Oriental, onde os tra- Figura 5. Cruz do Coro (Vreia de Bornes, Vila
balhos de prospecção arqueológica têm Pouca de Aguiar). Perspectiva sobre um painel gra-
vado com motivos sub-quadrangulares e ‘escutifor-
sido mais extensivos (Alves, 1934; mes’
Lemos, 1993), essa relação é inexpres-
siva. Assim, parece que a distribuição dessas ocorrências no território segue
grosso modo a demarcação já sugerida para a chamada «cultura castreja» (e.g.
Almeida, 1983; Silva, 1986) ou, mais prudentemente, para os grandes grupos
regionais de povoados proto-históricos, tal como definidos por F. Sande Lemos
(1993), a qual, em linhas gerais, coincide com a área de transição entre Arte Es-
quemática pintada em abrigos rochosos e as gravuras de tradição de Arte Atlân-
tica mas também das diferentes formas de marcação da paisagem através da
construção de “monumentos megalíticos” que atrás referimos.
Retomando a problemática das relações cronológicas entre as duas gran-
des tradições artísticas pré-históricas no Noroeste, uma das vias possíveis para
a sua investigação é a análise da sua associação directa ou indirecta a determi-
nados contextos arqueológicos. No entanto, deve acautelar-se sempre a questão
da visibilidade/invisibilidade dos registos, evitando a tentação de associar a
arte rupestre aos elementos mais imponentes ou perceptíveis na paisagem e ter
em conta que a real diacronia da maioria daqueles povoados não está bem de-

Pág. 74 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


finida. Sabemos que frequentemente têm ocupação romana e/ou medieval,
sendo muito raros aqueles onde se conhece uma ocupação pré-histórica como
parece ser o caso da Cerca de Ribas (Freitas, 1989) ou exclusivamente uma
ocupação da Idade do Ferro. Com raríssimas excepções, as suas fases de ocu-
pação são conhecidas apenas por observação superficial, e se as ocupações
mais recentes são normalmente fáceis de identificar, o mesmo não se pode
dizer das mais antigas, frequentemente ocultas e obliteradas pelas mais recen-
tes, e não sendo raro que a ocupação Proto-histórica seja aferida unicamente
pelo tipo genérico de sítio: “castro”47.
Em muitos casos, as gravuras rupestres associadas a povoados da Idade
do Ferro estão referidas muito sumariamente como contendo “covinhas e sul-
cos”. Porém, uma análise mais atenta mostra que também esta realidade é eclé-
tica. Em pelo menos quatro dos 29 sítios inventariados, as gravuras pertencem
à tradição de Arte Atlântica designadamente, no sítio do Cabeço (Boticas), no
Castroeiro (Mondim de Basto) ou no Cabeço de Nossa Senhora da Ribeira, na
aldeia de Lampaça, no Lesenho e, possivelmente, no Outeiro dos Mouros (Cha-
ves).
O Lesenho é um caso paradigmático pois aí surgem, não só rochas com
covinhas mas também gravuras abstractas de contorno circular, numa relação
evidente com o povoado da Idade do Ferro. Porém, as gravuras encontram-se
na encosta sobranceira à Chã do Lesenho ou Reigal, onde recentemente se
identificaram duas mamoas48. Mas, pelo contrário, nas proximidades do castro
do Alto da Subidade (Ribeira de Pena), conhecem-se duas rochas insculturadas
que se inserem na tradição da Arte Esquemática gravada em penedos ao ar livre
(J. Fonte, comunicação pessoal). Deve notar-se também que, no lado oposto
da encosta, sobre a linha de acesso ao povoado, se encontra um conjunto de
monumentos megalíticos. Então, perante estas duas situações, coloca-se uma
questão pertinente: com qual dos contextos arqueológicos deveremos relacio-
nar as gravuras rupestres?
Estes exemplos ilustram a heterogeneidade tipológica e cronológica
das gravuras rupestres nos castros de Trás-os-Montes Ocidental mas, ainda
assim, e considerando o restante conjunto inventariado, poder-se-á colocar a
hipótese de haver um grupo estilístico de gravuras, onde predominam “covi-
nhas e sulcos”, relacionável directamente com pelo menos uma das fases de

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 75


ocupação destes povoados? A resposta é, com prudência, talvez!
As restantes ocorrências configuram um quadro aparentemente homo-
géneo. As covinhas abundam quer como temática exclusiva, caso do Castro
da Curalha (Chaves) ou do povoado da Murada (Alijó) e Cidadonha (Valpa-
ços) quer, o que é mais frequente, acompanhadas por sulcos, em regra longos
e ondulados, como sucede na Murada de Alvarelhos ou na Cerca de Ribas,
ambos em Valpaços. Contudo, esta temática estende-se bastante para além
dos “castros”. Nos sítios de Queixoso/Condorca ou Alto do Outeiro (Vila
Real), Fraga do Quelho (Vila Pouca de Aguiar), Casas de Castelões (Chaves),
entre outras, existem rochas com “covinhas e sulcos” com características si-
milares mas estão associadas a sítios arqueológicos de cronologia romana e/ou
medieval.
Os cruciformes também surgem com alguma abundância, seja isolados,
como na Coto da Moura (Boticas) ou acompanhando as restantes gravuras,
como no Alto da Cerca/Cividade (Valpaços). Podem ainda pontualmente surgir
outros motivos, como o tabuleiro de jogo da Murada de Alvarelhos.
Se, como vimos, a maioria, se não mesmo todos os “castros” com este
tipo particular de gravuras têm ocupações de Época Romana e/ou Medieval,
torna-se muito tentador associar “covinhas e sulcos” não à Idade do Ferro mas
a períodos subsequentes.
É verdade que as “covinhas” são motivos intemporais, omnipresentes no
contexto da arte rupestre mundial e o seu significado específico é praticamente
insondável na ausência de referências etnográficas sobre a sua criação mas,
ainda assim, não devem ser negligenciadas.

6. A revisão dos sítios como factor essencial para o futuro estudo da


arte rupestre da região: alguns exemplos
No âmbito da preparação desta síntese procedeu-se a uma reavaliação in
loco de diversos sítios com arte rupestre em Trás-os-Montes Ocidental. Com
alguma frequência os resultados foram surpreendentes, o que nos permite re-
velar, ainda que de forma breve, algumas novidades e enfatizar a necessidade
de efectuar uma revisão generalizada deste tipo de ocorrências no ocidente de
Trás-os-Montes.
6.1 castro do cabeço (Granja, Boticas)

Pág. 76 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


O povoado do Cabeço é seguramente dos mais conhecidos sítios arqueo-
lógicos do concelho de Boticas, embora isto não se traduza num prolífico
acervo de informação arqueográfica. É um monte granítico, imponente, no alto
do qual se reconhece um monumental e complexo sistema defensivo relacio-
nável com ocupações da Idade do Ferro e/ou de Época romana, desconhe-
cendo-se, até ao momento, vestígios atribuíveis a outros períodos49.
No ano de 2004 identificaram-se ali, pela primeira vez, gravuras rupestres,
mais precisamente no sopé sudoeste da elevação. Foi detectado um conjunto de
covinhas e alguns sulcos que se distribuem pela superfície superior de um penedo
de forma elíptica, com o eixo maior virado a Sul, com cerca de cinco metros de
comprimento e dois de largura e sobrelevado cerca de um metro e meio do solo.
Aquando da nossa visita, em Agosto de 2008, beneficiando de boas condições de
luminosidade, verificámos a existência de três outras rochas gravadas com idên-
ticos motivos nas imediações da primeira, uma das quais ostenta um pequeno cír-
culo rebaixado com covinha central e a outra uma combinação de três círculos
concêntricos também com covinha central. Dada a proliferação de batólitos gra-
níticos por toda a encosta, parece-nos muito provável que possam existir outras
rochas com gravuras rupestres nesta área. Urge, portanto, aferir das reais dimen-
sões deste conjunto, o que remetemos para uma futura pesquisa visto que a reali-
zação de prospecções sistemáticas não se enquadrava no âmbito deste trabalho.
A verdade é que estes achados alteram completamente a percepção que tínhamos
do sítio, uma vez que, na realidade, estamos perante um interessante conjunto de
rochas com gravuras rupestres integráveis na tradição de Arte Atlântica.

6.2. cruz do coro (vreia de Bornes, vila Pouca de Aguiar)


As gravuras rupestres da Cruz do Coro foram inventariadas em 2001, se-
guindo indicações dadas pela população local (cf. Endovélico, CNS 18000).
Ao contrário do que sucedeu com os restantes sítios que apresentamos nesta
secção, a nossa visita não alterou de forma substancial sua primeira leitura e
as informações de que dispúnhamos sobre as características técno-morfológicas
das gravuras rupestres, aumentou sim a quantidade de superfícies insculturadas
ou painéis reconhecidos e acentuou a nossa percepção do seu ineditismo no
contexto da arte rupestre regional.
As gravuras rupestres ocorrem num maciço rochoso, situado numa ín-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 77


greme encosta da Serra da Padrela, que se destaca pela sua imponência e pela
cor avermelhada das superfícies. Assemelha-se a um caos de grandes blocos
que se encavalitam sobre o afloramento formando múltiplas superfícies apla-
nadas. Em 2001, inventariaram-se aí seis painéis com gravuras, número subiu
para catorze em 2008.
Este sítio destaca-se do restante acervo pela originalidade dos seus motivos.
Surgem aqui duas grandes variantes tipológicas: motivos de contorno sub-rec-
tangular e quadrangular que formam figuras abertas e fechadas, quase todos con-
centrados no primeiro painel que se encontra ao descer a encosta (Fig. 5). Sobre
os demais, ocorre o que se pode considerar o típico motivo desta estação que
apresenta contorno subtriângular com diversas soluções de segmentação interna.
No concelho de Vila Real, conhece-se uma representação semelhante aos
‘escutiformes’50 da Cruz do Coro na rocha da Quinta das Salgueirinhas (Cha-
ves).
Embora a morfologia do sulco das gravuras da Cruz do Coro, o seu grau
de conservação e patina, pareçam indiciar uma relativa antiguidade, cremos
ser precipitado tirar grandes ilações neste momento sobre a sua cronologia. É
de referir igualmente que uma pequena superfície vertical que ocupa a zona
mais alta do maciço exibe uma inscrição numérica em caracteres latinos, tos-
camente gravada. De facto, a morfologia dos seus sulcos, distingue-se das de-
mais representações pela rudeza do talhe e por apresentar arestas mais vivas.
Curiosamente, no topo do maciço, foram abertas duas cavidades que poderão
ter servido de base para o encaixe de algum tipo de elemento sinalizador do
local, talvez uma cruz.

6.3. cruz de cepos (cervos, Montalegre)


O monólito também conhecido por Cruz de Cepos ou Marco do Padrão
foi sumariamente referido por Barreiros (1919/1920) como um esteio cravado
no chamado campo do Padrão. O mesmo autor descreve-o como «tendo oito
palmos acima do terreno, dois palmos e meio na base adelgaçando para a parte
superior, a espessura de palmo e meio, e três covinhas em linha recta na face
esquerda» (Barreiros, 1919/1920: 71). No desenho que apresenta de uma das
faces pode observar-se um arco de círculo e uma figura formada por um X com
as extremidades superiores unidas por uma linha ligeiramente arqueada e as

Pág. 78 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


inferiores por um sulco recto (Barrei-
ros, 1919/1920: Fig. 10).
A Cruz de Cepos serve como
marco divisório dos termos de duas
aldeias, Arcos e Cervos, situadas em
pleno planalto da Serra do Leiranco.
A nossa recente visita permitiu-nos
verificar que se trata efectivamente
de um monólito afeiçoado, de con-
Figura 6. As duas estelas de Cervos (Montalegre):
torno antropomórfico, com os om- Cruz de Cepos (à esquerda) e Tojais (à direita)
bros marcados e a cabeça esboçada
(Fig. 6). É, de facto, uma estela an-
tropomórfica, estilisticamente similar a outras estelas/estátuas-menires conhe-
cidas na região, como a de Faiões (Chaves), a do Marco (Vila Pouca de Aguiar)
e uma das recentemente descobertas em Vilarinho de Samardã ou Alto da
Lomba 1 (cf. Endovélico – CNS 30000).
O corpo é um bloco granítico talhado dos quatro lados, que apresenta gra-
vuras no anverso e no reverso. A sua correcta visualização é difícil devida à
espessa cobertura liquénica que a recobre actualmente embora possível obser-
var, no anverso, covinhas com diferentes diâmetros e profundidades e um mo-
tivo sub-rectangular alongado disposto na vertical, muito similar ao que se
encontra numa das faces da estátua-menir de Faiões ou na estátua-menir da
Bouça, em Mirandela, situadas na fronteira oriental da nossa área de estudo.
Por seu lado, as figuras representadas no reverso, a única face reproduzida por
Barreiros, apresentam sulco bem conservado, largo e profundo, o que poderá
indiciar que estamos perante representações de cronologia distinta.
Não é, obviamente, possível dizer se este monólito se encontra ainda in
situ, ou se foi transportado para a sua presente localização. Certo é que serve,
desde há muito, de referência à população local como marco delimitador do
seu território. É também digno de nota o facto de o campo do Padrão se en-
contrar próximo de uma antiga zona de passagem, assinalada pela presença, a
poucas centenas de metros, de um conhecido troço da via romana XVII.

6.4. tojais (cervos, Montalegre)

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 79


A cerca de dois quilómetros de distância do sítio da Cruz do Coro, para
Leste, no término do planalto, a mesma estrada romana inicia a sua descida
abrupta da encosta da serra do Leiranco. A cerca de 50m daquela via, num ter-
reno com o topónimo Tojais, foram identificados dois monumentos megalíti-
cos, um dos quais mantém um esteio in situ e conserva parte do tumulus (cf.
Endovélico CNS 13973 e 13974).
Nas imediações, inserido num muro construído em pedra solta e entre-
cortado por alguns esteios fincados na vertical que circunscreve a propriedade
onde aquelas se encontram, foi identificado, através de informações orais, um
monólito decorado. Trata-se de um grande bloco granítico que foi aproveitado
para fazer um cunhal em 90º no muro, estando a face gravada voltada para o
seu interior e, portanto, ocultada por pequenos blocos de pedra que a ela en-
costam. Por essa razão, aquando da sua inventariação, em 1999, foi possível
observar apenas uma ínfima parte da superfície que se apresentava regularizada
e onde se percebeu existirem gravados dois traços subcirculares concêntricos
(cf. Endovélico, CNS 13975). Assim, colocou-se, na altura, a hipótese de se
tratar de um esteio de anta ostentando, eventualmente, uma espiral gravada.
Quando, no Verão de 2008, se procedeu ao reconhecimento do sítio, con-
siderou-se visualizar uma área mais extensa da face gravada e pudemos então
constatar que a suposta espiral se tratava, na verdade, da representação de um
escudo! A figura, com um diâmetro de ca. 36cm, ocupa a quase totalidade da
superfície operatória visível do suporte. É formada por uma covinha central e
três círculos concêntricos interrompidos pela representação da chanfradura la-
teral em «V» (Fig. 6). Trata-se, pois, de um motivo iconográfica e estilistica-
mente próximo daqueles que ocorrem nas estelas do Bronze Final do tipo II
ou tipo “extremenho” (Almagro-Bash, 1966) bem conhecidas, em Portugal, na
Beira Interior e pelos achados pontuais no Alentejo Central e Algarve. A dis-
tribuição deste grupo tão particular de estelas atingia, até agora, o seu limite
setentrional, em território português, no Alto Côa. Com este achado, cujo es-
tudo temos em preparação, a sua distribuição vê-se subitamente prolongada
para o Noroeste Peninsular.
Não podemos ainda afirmar peremptoriamente de que se trate de uma estela
nem podemos oferecer uma descrição mais detalhada da morfologia desta peça,
uma vez que não nos foi possível observar o monólito na sua totalidade. Reco-

Pág. 80 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


nhece-se, na face gravada, uma forma subtriangular que poderá resultar de um
processo de mutilação que atingiu parte do círculo externo da figura. Também
não sabemos qual a forma que o suporte adopta no seu prolongamento inferior. E
isto levanta outra questão, à semelhança da estela da Cruz de Cepos, que é saber
se se encontra, ou não, in situ. Desde logo, é sugestivo o seu contexto arqueológico
e é também intrigante a maneira peculiar e destoante como se insere no muro,
para além da profundidade a que a sua base aparenta estar enterrada. Dá ideia que
o restante muro foi colocado de encontro a uma pedra já existente no local, apro-
veitando o seu tamanho e solidez para ser utilizada como término e cunhal.

7. epílogo
Esta síntese traz à luz um acervo de sítios rupestres em Trás-os-Montes
Ocidental cujo alcance estará ainda longe da realidade. Como vimos, as fontes
para a sua constituição são muito diversas e com um grau de informação am-
plamente diferenciado. Na impossibilidade de revermos todas as referências
coligidas no âmbito deste trabalho, a análise fica inevitavelmente condicionada
pela disparidade nos critérios de inventariação, cuja uniformização só será pos-
sível com uma extensa reavaliação dos sítios no terreno. A realizar-se, estamos
seguros que trará novidades e informações adicionais sobre muitas ocorrências,
como tivemos amiúde ocasião de demonstrar na revisão que efectuamos.
Uma das ideias centrais que sobressai desta análise regional é a confir-
mação de que Trás-os-Montes Ocidental parece funcionar como «área de tran-
sição»/fronteira, a diversos níveis. Desde logo, o geográfico e climático, como
foi brilhantemente descrito por Orlando Ribeiro (1963). Na Pré-história Re-
cente, esta ‘fronteira’ parece manifestar-se, desde logo, nas diferentes formas
de marcação/construção do espaço por meio dos monumentos megalíticos e
na transição e interpenetração de tendências culturais diversas, revelada, por
exemplo, na convergência espacial de duas das grandes tradições artísticas pré-
históricas do Noroeste Peninsular, a Arte Atlântica, cuja distribuição mostra
uma maior incidência na região ocidental da área de estudo e a Arte Esquemá-
tica pintada em abrigos rochosos, que tende a ocorrer a oriente. Esta fronteira
parece manter-se (ou renovar-se?) na Idade do Ferro, visto que se vem consi-
derando a hipótese de que a separação entre os distritos de Bragança e Vila
Real coincidirá, grosso modo, com fronteiras étnicas e culturais e que parece

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 81


ter alguma confirmação na distribuição das manifestações artísticas ou grafias
da chamada “arte castreja”.
É importante também ressalvar que há um conjunto alargado de gravuras
rupestres para as quais essa ‘fronteira’ parece não funcionar. Este grupo cons-
titui uma parte muito substancial do acervo, até maioritária, mas é também
constituído pelos sítios para os quais a informação disponível é mais escassa e
imprecisa. Para além das omnipresentes covinhas, é um grupo constituído, no
essencial, por uma tríade de motivos cuja presença é assinalável no Norte e
Centro de Portugal: cruzes, pegadas e ferraduras. De igual modo, a distribuição
das manifestações que se podem agregar genericamente sob a designação de
Arte Esquemática gravada em penedos ao ar livre e que corresponde ao reper-
tório figurativo do grupo II proposto por António Martinho Baptista (1983-
1984), perpassa aquela «área de transição» e estende-se a todo o Noroeste51.
Como se sabe, este mesmo autor atribuiu uma longa vigência temporal
aos tipos mais característicos deste conjunto: os cruciformes. Qualquer inves-
tigador destro e experiente reconhece o quão problemático é, muitas vezes,
discernir entre representações de cronologia pré-histórica e histórica quando
se depara com gravuras de cruzes, antropomorfos esquemáticos ou mesmo al-
gumas figuras em “fi”, sobretudo se afectadas por um considerável grau de
erosão. Isto explica a enorme dificuldade que há em definir, com rigor, a cro-
nologia ou diacronia(s) dos sítios com Arte Esquemática gravada: por um lado,
alguns motivos apresentam claros paralelos na pintura Neolítica-Calcolítica
dos abrigos, por outro lado, as figuras cruciformes, mais ou menos antropo-
morfizadas, são apanágio da iconografia rupestre de época medieval e mo-
derna. Do primeiro caso, poderia ser um bom exemplo a laje gravada da
Corbela (Pena), uma laje granítica subtriangular, fracturada, ostentando um es-
caleriforme e um motivo classificado por Pilar Acosta como um “halteriforme
pluricircular” cujos melhores paralelos se encontram, em território português,
nas pinturas rupestres da Lapa de Louções (Portalegre) (Santos e Marques,
1999). Porém, a verdade é que não sabemos efectivamente se se trata de um
bloco destacado de um penedo ao ar livre ou, por exemplo, de um fragmento
de um esteio de um monumento megalítico. Sabe-se apenas que foi descoberta
nas faldas meridionais da Serra do Alvão.
É verdade que a simplicidade estilística da cruz a dota de um carácter polis-

Pág. 82 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


sémico, passível de adquirir, à semelhança das covinhas, novos sentidos ao longo
do tempo, um aspecto que A. M. Baptista também salientou (1983-1984: 76-77).
A ‘pré-existência’ de cruciformes simples e antropomorfos esquemáticos de tipo-
logias diversas em sítios como o Tripe (Baptista, 1983-1984: 77 e Est. II; Jorge,
1991: 362-363) ou a Botelhinha (Alijó) poderão ter sido, com o advento do Cris-
tianismo52, apelativos para as comunidades rurais que, encontrando afinidades
morfológicas com símbolos religiosos, ali gravaram e regravaram o mesmo tipo
de motivos, ‘reinventando’ o significado dos lugares53. Estes lugares terão fun-
cionado como verdadeiras âncoras na manutenção da topologia simbólica daque-
las comunidades. No Norte de Portugal, rochas com gravuras pré-históricas foram
convertidas em marcos territoriais e outras criadas ex novo com idêntico propósito
desde, pelo menos, a mudança de Era (e.g. Alves 1934: 579-584). Uma longa tra-
dição, sem dúvida, visto que sabemos terem sido gravadas duas cruzes no topo
do Penedo dos Lobos pelos presidentes das Juntas de Freguesia de Canedo e Vilar,
do concelho de Boticas, nos alvores do IIIº milénio DC!
Em suma, é unanimemente aceite que a Arte Esquemática gravada ao ar
livre tem uma génese pré-histórica e se filia na arte dos abrigos pintados (e.g.
Baptista, 1983-1984, 1986; Jorge, 1991; Sanches, 1997) porém, diluídos os
significados originais dos seus signos mais característicos (e dos sítios), as-
siste-se, muitos séculos mais tarde, a uma reapropriação de referentes estilís-
ticos ancestrais, processo impulsionado pelo carácter idiossincrático das formas
gráficas mais simples. Neste contexto, é de realçar que são comparativamente
escassas as rochas com gravuras rupestres de tradição Atlântica que ostentam
marcas de cristianização54. Todavia, tal como se assistiu a uma recuperação de
referentes estilísticos ancestrais em época histórica de alguma imagética da
Arte Esquemática pré-histórica não se deve descartar a hipótese de que o es-
sencial da gramática figurativa da Arte Atlântica possa ter sido visada por um
fenómeno semelhante ainda no Passado, Pré ou Proto-histórico. Embora im-
porte compreender a génese e delimitar a amplitude temporal do repertório fi-
gurativo característico destas tradições artísticas, a sua diacronia não tem
necessariamente de ser perspectivada de forma linear.
Nesta síntese, pretendeu-se abordar problemáticas que são ainda incon-
tornáveis no estudo da arte rupestre no Noroeste Peninsular, designadamente
questões relativas à convergência espacial e/ou temporal de tradições estilísti-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 83


cas em áreas convencionalmente tratadas como sendo «de fronteira» mas sobre
as quais escasseiam estudos circunstanciados, e o reconhecimento da extensa
biografia de alguns sítios e signos que compõem o acervo. No fundamental,
estas problemáticas são igualmente pertinentes na reflexão sobre os contextos
histórico-arqueológicos das estelas de Cervos que trazemos agora à estampa.
Como vimos, também a estela antropomórfica de Cruz de Cepos ou Marco do
Padrão assinala ainda hoje um limite de termo. Mas, o aspecto mais significa-
tivo é o achado de um monólito gravado com uma representação de escudo ca-
racterístico das estelas do Bronze Final pertencentes ao tipo II no extremo
Norte de Portugal e a sua proximidade espacial com a Cruz de Cepos. Mas a
esta convergência no espaço, corresponderá uma idêntica convergência no
tempo? Sim, se aceitarmos para a Cruz de Cepos a datação do Bronze Final
proposta para as estátuas-menir de Faiões e Chaves (e.g. Jorge, 1991: 367-
368). Não, se prosseguirmos a cronologia do IIIº milénio a.C. sugerida para os
exemplares espanhóis de Ataúde e Tremedal (e.g. Bueno, et al. no prelo) que
apresentam o típico motivo sub-rectangular alongado representado no anverso
da Cruz de Cepos. Esperamos que estas (e outras) interrogações permitam rea-
nimar a investigação sobre estelas/estátuas-menires em estreita articulação com
as restantes manifestações de arte Pré e Proto-histórica de Trás-os-Montes Oci-
dental.

Bibliografia
ALMAGRO-BASH, Martin (1966). Las estelas decoradas del Suroeste peninsular. Biblioteca Praehistorica
Hispana, 8. Consejo Superior de Investigaciones Científicas, Madrid.
ALARCãO, Jorge (1986). A Arte do Bronze Final e da Idade do Ferro, História da Arte em Portugal, vol. I, Ed
Alfa: 57-65.
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de (1983). Cultura Castreja. Evolução e Problemática. Arqueologia, 8, Porto,
pp. 70-74.
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de (1986). Arte castreja. A sua lição para os fenómenos de assimilação e re-
sistência à romanidade. Arqueologia, nº 13: 161-172.
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de; JORGE, Vítor Oliveira (1979). A Estátua-Menir de Faiões (Chaves). Tra-
balhos do Grupo de Estudos Arqueológicos do Porto, GEAP, 2, Porto.
ALVES, Francisco Manuel (1931). Chaves. Apontamentos arqueológicos. Câmara Municipal de Chaves, Chaves.
ALVES, Francisco Manuel (1934). Memórias arqueológico-históricas do distrito de Bragança: arqueologia, et-
nografia e arte. Emp. Guedes, Tomo IX, Porto.
Alves, Lara Bacelar (2002). The Architecture of the Natural World – evidence from rock art in western Iberia, in C.
Scarre (ed.), Monuments and Landscape in Atlantic Europe, chapter 4, Routledge, London. New York, pp. 51-69.

Pág. 84 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


ALVES, Lara Bacelar (2003). The Movement of Signs. Post-glacial rock art in north-western Iberia. PhD Thesis.
Department of Archaeology of the University of Reading (UK), 2 vols. (policopiada).
ALVES, Lara Bacelar (no prelo a). O sentido dos signos - reflexões e perspectivas para o estudo da arte rupestre
do pós-glaciar no Norte de Portugal”, in R. de Balbín Behrmann (ed), Arte Prehistórico al aire libre en el sur de
Europa, Junta de Castilla y Leon.
ALVES, Lara Bacelar (no prelo b). Signs on a rock veil: work on rocks, ‘prehistoric art’ and identity in north-west
Iberia, in Gabriel Cooney, Blaze O’Connor and John Chapman (eds.), Materialitas: working stone, carving identity.
Prehistoric Society Research Papers.
AMORIM, João Vaz de (1952). Na citânia de Briteiros - Uma pedra enigmática? O nosso parecer. Revista de Gui-
marães, 62:1-2; Guimarães, pp.143-151.
ARGOTE, Jerónimo Contador de (1732-1747). Memorias para a Historia Ecclesiastica do Arcebispado de Braga,
primaz das Hespanhas. Lisboa: Régia Officina Sylviana, 4 vols.
ARGOTE, Jerónimo Contador de (1738). De antiquitatibus conventus bracaraugustani: libri quatuor, vernaculo,
latinoque sermone conscripti. Lisboa: Régia Officina Sylviana.
BAPTISTA, António Martinho (1981). O complexo de gravuras rupestres da Bouça do Colado (Parada, Lindoso).
Giesta, 1 (4); Braga, pp. 1-16.
BAPTISTA, António Martinho (1983-84). Arte rupestre do norte de Portugal: uma perspectiva. Portugália, Nova
série: 3-4; Porto, pp. 71-82.
BAPTISTA, António Martinho (1986). Arte rupestre pós-glaciária. Esquematismo e abstracção, História da Arte
em Portugal, vol.1, Alfa, Lisboa, pp. 31-55.
BARREIROS, Fernando (1920). Materiais para a Arqueologia do concelho de Montalegre. O Arqueólogo Portu-
guês, 1ª Série, Vol. 24, Lisboa, pp. 71.
BRENHA, José (1899-1903) – Dólmens ou antas no concelho de Vila Pouca de Aguiar (Trás-os-Montes). Portu-
gália, t. 1, fasc. 1-4, pp. 691-706.
BELLO DIÉGUEZ, José Maria (1995). Arquitectura, arte parietal y manifestaciones escultoricas en el Megalitismo
noroccidental, in F. P. Losada and L. Castro Pérez (eds.), Arqueoloxía e arte na Galicia Prehistórica e Romana,
Monografias 7, A Coruña: Museu Arqueolóxico e Histórico de A Coruña.
BETTENCOURT, Ana Maria Santos (2006). A transformação da paisagem e a construção de lugares de memória
durante a Pré-história Recente do Norte de Portugal: o vale do Assureira, Actas das XVI jornadas Sobre a Função
Social do Museu. Ecomuseu do Barroso - Identidade e Desenvolvimento, Minom-Mov. Internacional para uma
Nova Museologia, Ed. Câmara Municipal de Montalegre e Ecomuseu do Barroso, Montalegre, pp. 109 - 123.
BETTENCOURT, Ana Maria Santos e SANCHES, Maria de Jesus (1998). Algumas questões sobre a Idade do
Bronze do Norte de Portugal, in R. Fábregas Valcarce (ed.), A Idade do Bronze en Galicia. Novas perspectivas.
Cadernos do Seminário de Sargadelos 77. Edicios do Castro, A Coruña, pp. 13-45.
BETTENCOURT, Ana Maria Santos; DINIS, António (2007). Arquitecturas e transformação de espaços naturais
na Pré-história Recente do Norte de Portugal: Campo de Caparinho, Vilar de Perdizes, Montalegre), in S. O. Jorge,
A. M. S. Bettencourt, Figueiral, I. (eds.) A concepção das paisagens e espaços na Arqueologia da Península Ibérica.
Actas do IV Congresso de Arqueologia Peninsular (Faro, 14 a 16 de Setembro de 2004), Promontoria Monográfica
08, Centro de Estudos de Património, Departamento de História, Arqueologia e Património (Universidade do Al-
garve), pp. 121-130.
BETTENCOURT, Ana Maria Santos; SANCHES, Maria de Jesus, DINIS, António; CRUZ, Carlos Simões (2004).
The rock engravings of Penedo do Matrimónio in Campo de Caparinho, Vilar de Perdizes, Montalegre (Northern
Portugal). journal of Iberian Archaeology, vol. 6, ADECAP, Porto, pp. 61-82.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 85


BRADLEY, Richard, FÁBREGAS VALCARCE, Rámon, ALVES, Lara Bacelar, VILASECO VÁZQUEZ, Xosé
Ignácio (2005). El Pedroso – A prehistoric cave in Castille, journal of Iberian Archaeology, vol.7, Porto, pp. 125-156.
CALO LOURIDO, F. (1994). “A plástica da cultura castrexa galego-portuguesa”. Fundación Pedro Barrié de la
Maza. A Coruña.
CASTINEIRA, Josefa Rey; SOTO-BARREIRO, Maria José (2001). El arte rupestre de Castroeiro (Mondim de
Basto – Portugal) y la problemática de los petroglifos en castros, in A. P. Dinis, O povoado da Idade do Ferro do
Castroeiro (Mondim de Basto, Norte de Portugal), Cadernos de Arqueologia. Monografias. Unidade de Arqueologia
da Universidade do Minho. ICS, Universidade do Minho, Braga, pp. 159-200.
CARVALHO, Pedro Sobral; GOMES, Filipe Coutinho (2000). O Dólmen da Fonte Coberta (Alijó, Vila Real). Es-
tudos Pré-Históricos, Vol. VIII. Centro de Estudos Pré-históricos da Beira Alta, Viseu, p. 19-47.
CORRÊA, A. A. Mendes (1929). Arte rupestre en Trás-os-Montes (Portugal). Revue Archaeologique, 29, pp. 126-
136.
COSTA, António Carvalho da (1712). Corografia portugueza e descripçam topografica do famoso Reyno de Por-
tugal. Lisboa, Officina de Valentim da Costa Deslandes, 3 vols.
CRUZ, Domingos de Jesus (1985). A Necrópole Megalítica da Serra do Alvão. Trabalhos de Antropologia e Et-
nologia, 25:2-4; Porto, pp. 396-406.
CRUZ, Domingos Jesus da, GONÇALVES, A. Huet de Bacelar (1994). Resultados dos trabalhos de escavação da
Mamoa 1 de Madorras (S. Lourenço de Ribapinhão, Sabrosa, Vila Real), Estudos Pré-históricos, Vol. 2, Centro de
Estudos Pré-históricos da Beira Alta, Viseu, pp. 171-232.
CRUZ, Domingos Jesus da, GONÇALVES, A. Huet de Bacelar (1995). Mamoa 1 de Madorras (Sabrosa, Vila
Real). Datações de Carbono 14. Estudos Pré-históricos, Vol. 3, Centro de Estudos Pré-históricos da Beira Alta,
Viseu, pp. 151-158.
DINIS, António Pereira (2001). O povoado da Idade do Ferro do Castroeiro (Mondim de Basto, Norte de Portugal).
Cadernos de Arqueologia - Monografias. Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho. ICS. Universidade
do Minho.
ERVEDOSA, Carlos Manuel Nascimento (1991). Carta Arqueológica do Concelho de Vila Real. Vila Real.
FONTE, João (2008). Duas Peças Decoradas “Castrejas” do Alto do Castelo (Salto, Montalegre) - In Fórum Va-
lorização e Promoção do Património Regional, Vol. 3 – Do Paleolítico à Contemporaneidade (Vila Nova de Foz
Côa, 29 de Junho de 2007), Vila Nova de Foz Côa, pp. 62-79.
FONTE, João, SANTOS ESTÉVEZ, Manuel, ALVES, Lara Bacelar, LÓPEZ NOIA, Raquel (no prelo). La Pedra
da Póvoa (Trás-os-Montes, Portugal). Una pieza escultórica de la Edad del Hierro, Trabajos de Prehistoria, CSIC,
Madrid
FORTES, José T. Ribeiro (1908). Ouros protohistóricos da Estella (Póvoa de Varzim). Portugália, Porto. 2, pp.
605-618.
FREITAS, Adérito Medeiros (1989). A Cerca de Ribas (Ribas, freguesia de Argeriz, concelho de Valpaços). Revista
de Guimarães, 99 Jan.-Dez. 1989, Guimarães, pp. 319-367.
FREITAS, Adérito Medeiros (2001). Concelho de Valpaços. Carta Arqueológica. Valpaços.
GONÇALVES, A. A. Huet de Bacelar, CRUZ, Domingos J. da (1994). Resultados dos trabalhos de escavação da
mamoa 1 de Madorras (S. Lourenço de Ribapinhão, Sabrosa, Vila Real). Estudos Pré-históricos, vol. II, pp. 171-
232.
GONZÁLEZ RUIBAL, A. (2004). Artistic expression and material culture in Celtic Gallaecia. e-Keltoi journal of
Interdisciplinary Celtic Studies 6. The Celts in the Iberian Peninsula: 113-166.
JORGE, Susana Oliveira (1999). Domesticar a Terra. Gradiva, Lisboa.

Pág. 86 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


JORGE, Susana Oliveira, JORGE, Vítor Oliveira (1991). Incursões na Pré-história. Fundação Eng. António de
Almeida, Porto.
JORGE, Vitor Oliveira (1983-84). Megalitismo do Norte de Portugal: um novo balanço, Portugália, nova série,
vol. IV/V, Porto, pp. 37-45.
JORGE, Vitor Oliveira (1997). Mamoas do Norte de Portugal: Estado da questão em 1981- I. Minho e Trás-os-
Montes. Revista da Faculdade de Letras – História, II Série, XIV, Porto, pp. 603-654.
JORGE, Vítor Oliveira; ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de (1980). A Estátua-Menir Fálica de Chaves. Tra-
balhos do Grupo de Estudos Arqueológicos do Porto, GEAP, 6, Porto.
LAUTENSACH, Hermann (1995). A posição geográfica. Portugal no contexto Ibérico, in O. Ribeiro, H. Lauten-
sach, S. Daveau (eds), Geografia de Portugal. Volume I: A Posição Geográfica e o Território, Ed. João Sá da Costa,
Lisboa, pp.3-2.
LEMOS, Francisco de Sande (1993). Povoamento romano de Trás-os-Montes Oriental. Braga, Dissertação de
Doutoramento apresentada na Universidade do Minho (policopiada).
LOPES, António Baptista, SILVA, Armando Coelho Ferreira da, PARENTE, João Ribeiro, CENTENO, Rui Manuel
Sobral (1994). A estátua-estela do Marco (Vreia de Jales, Vila Pouca de Aguiar). Notícia preliminar. Portugália,
Nova Série, vol. IV/V, Porto, pp. 147-150.
MARTINS, João Baptista (1980). Outeiro dos Mouros de Calvão. Notícias de Chaves, Chaves, 6/06/1980.
MARTINS, João Baptista (1982). Arte rupestre nas Meias de Casas de Monforte. Notícias de Chaves, Chaves,
02/07/1982.
MARTINS, João Baptista (1995). Arte Rupestre em Sanjurge. Revista Aquae Flaviae, n.º 13, Junho 1995, Chaves.
MIRANDA JÚNIOR, Avelino; SANTOS, Joaquim Norberto dos, SANTOS JÚNIOR, J. R. (1985). Castros do
Concelho de Boticas - II. Campanhas de 1984 e 1985. Anais da Faculdade de Ciências do Porto, 66:1-4; Porto,
pp. 5-96.
NUNES, Susana Andreia (2003). Monumentos sob tumulus e o meio físico no território entre Corgo e Tua (Trás-
os-Montes): aproximação à questão. Porto. Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Uni-
versidade do Porto (policopiada).
RIBEIRO, Orlando (1963). Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico. Esboço de relações geográficas, Livraria Sá
da Costa Editora. Lisboa.
RODRIGUES, Raphael (1895). Dólmens ou antas em Villa Pouca de Aguiar. O Arqueólogo Português, 1ª série:
1, Lisboa, pp. 36-37; pp. 346-352.
SANCHES, Maria de Jesus (1990). Os abrigos com pintura esquemática da Serra de Passos – Mirandela, no con-
junto da arte rupestre desta região. Algumas reflexões. Revista da Faculdade de Letras - História, 2ª série, vol. 7,
FLUP, Porto, pp. 335-356.
SANCHES, Maria de Jesus (1992). Pré-história Recente no Planalto Mirandês (Leste de Trás-os-Montes), Grupo
de estudos Arqueológicos do Porto. Monografias Arqueológicas 3, Porto.
SANCHES, Maria de Jesus (1997). Pré-História recente de Trás-os-Montes e Alto Douro. O abrigo do Buraco da
Pala (Mirandela) no contexto regional. Porto: Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia, 2 vols.
SANCHES, Maria de Jesus (2000). A pedra gravada do Castelo (Jou - Murça), Estudos Pré-históricos, vol VIII,
Centro de Estudos Pré-históricos da Beira Alta, Viseu, pp. 221-227.
SANCHES, Maria de Jesus (2001). Spaces for social representation, choreographic spaces and paths in the Serra
de Passos and surrounding lowlands (Trás-os-Montes, Northern Portugal) in Late Prehistory, ARKEOS (Territórios,
Mobilidade e Povoamento no Alto Ribatejo III) Arte Pré-histórica e o seu contexto 12, Instituto Politécnico de
Tomar, Tomar, pp. 65-105.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 87


SANCHES, Maria de Jesus, NUNES, Susana Andreia (2005). Monumentos em pedra numa região de Trás-os-
Montes - Nordeste de Portugal. Sua expressão na paisagem habitada durante o 4º e 3º mil. BC. Revista da Faculdade
de Letras - Ciências e Técnicas do Património, I Série, vol. IV, Porto, pp. 53-82.
SANCHES, Maria de Jesus; NUNES, Susana Andreia; SILVA, Margarida Santos (2005). A Mamoa 1 do Castelo
(Jou) – Murça (Trás-os-Montes): Resultados dos trabalhos de escavação e restauro dum Dólmen de Vestibulo. Por-
tugália, Nova série, vol. XXVI, Porto, pp. 5-39.
SANCHES, Maria de Jesus, SANTOS, Branca do C. T. O. (1987). Levantamento Arqueológico do Concelho de
Mirandela. Portugália, Nova Série, vol. VIII, pp. 17-56.
SANTOS, André Tomás, MARQUES, João Nuno (1999). A rocha gravada da Corbela (Pena, Vila Real): notícia
preliminar e algumas considerações, Estudos Pré-históricos, Vol. 7, Centro de Estudos Pré-históricos da Beira Alta,
Viseu, pp. 301-302.
SANTOS, P. M. (1995). O povoado do Alto de Sta. Ana, Chaves, S. O. Jorge (coord.) A Idade do Bronze em Por-
tugal. Discursos de Poder (catálogo de exposição), Instituto Português de Museus / Museu Nacional de Arqueologia,
Lisboa, pp. 117.
SANTOS ESTÉVEZ, M. (1998). Los espacios del arte: el diseño del panel y la articulación del paisage en el arte
rupestre gallego, Trabajos de Prehistoria, 55, nº2, Madrid, pp. 73-88.
SANTOS ESTÉVEZ, M. (2005). Sobre a cronologia del arte rupestre atlântico en Galicia, Archaeoweb, 7 (2) Se-
tembro./Dezembro, disponível em Janeiro de 2009 no site http://www.ucm.es/info/arqueoweb.
SANTOS JÚNIOR, Joaquim Rodrigues (1933). O abrigo pré-histórico da «Pala Pinta», Trabalhos de Arqueologia
e Etnologia, vol. 6 (1), pp. 33-43.
SANTOS JÚNIOR, Joaquim Rodrigues (1940). Arte rupestre em Portugal. Congresso do Mundo Português, vol.
1, pp. 327-376.
SANTOS JÚNIOR, Joaquim Rodrigues (1978). As gravuras rupestres do Outeiro Machado. Trabalhos de Antro-
pologia e Etnologia, 23, 2ª série, Porto, pp. 207-234.
SANTOS JÚNIOR, Joaquim Rodrigues (1982). 30ª Campanha de escavações no Castro de Carvalhelhos - Agosto
de 1981. Trabalhos de Antropologia e Etnologia, Porto. 24: 2, pp. 249-264.
SERPA PINTO, Rui de (1929). Petroglifos de Sabroso e a Arte Rupestre em Portugal. Nós, 62, pp. 19-26.
SILVA, Armando Coelho Ferreira da (1986). A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal. Paços de Ferreira: Museu
Arqueológico da Citânia de Sanfins e Câmara Municipal de Paços de Ferreira.
TEIXEIRA, Joana (no prelo). Between the engraving and the sculpture: a phenomenological approach to the pre-
historic rock place of Lampaça (Valpaços - Northwest Iberian Peninsula), in Ana M. S. Bettencourt, M. J. Sanches,
L. B. Alves, & R. Fábregas Valcarce (eds.), Conceptualising Space and Place. On the role of Agency, Memory
and Identity in the construction of Space from the Upper Paleolithic to the Iron Age in Europe, Proceedings of the
15th Congress of the International Union for Prehistoric and Protohistoric Sciences, Lisbon, September 2006.
VASCONCELOS, José Leite de (1897). As religiões da Lusitânia. Volume I. Imprensa Nacional. Lisboa.
VASCONCELOS, José Leite de (1917). Coisas velhas - 5ª. Antiguidades do Distrito de Coimbra. O Arqueólogo
Português 22, 1-2, pp. 107-169.

1
Posteriormente, num manuscrito de 1721, Memórias de Anciães, da autoria de João Pinto de Morais e António
de Sousa Pinto, faz-se referência aos «caracteres» pintados numa fraga vertical e à existência de um «portal» pró-
ximo daquela rocha, através do qual se acede a uma «grande salla com assentos á roda». Este texto terá servido
de base à descrição publicada pelo Contador de Argote, segundo relata o Abade de Baçal (Alves, 1934: 635).

Pág. 88 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


2
Trata-se, como se sabe, de um dos mais antigos registos gráficos publicados de um sítio com arte rupestre na
Europa Ocidental.
3
Infelizmente, a fama restringe-se à bibliografia e este sítio será um bom candidato a dois títulos em simultâneo,
o de sítio com a designação mais original e também o de sítio mais elusivo, já que posteriormente à visita efectuada
pelo Abade de Baçal mais ninguém o conseguiu encontrar, apesar de algumas tentativas.
4
Este número, tão preciso, deverá ser olhado com alguma prudência, naturalmente. Ele reflecte todas os registos
presentes nas fontes que nos foi possível consultar, mas não garantimos em absoluto que tenhamos tido acesso à
sua totalidade, designadamente àquelas dadas à estampa em publicações periódicas ou monografias locais de
escassa divulgação, assim como às descobertas mais recentes decorrentes de investigações no âmbito do último
PNTA ou Estudos de Impacte Ambiental. Quanto aos novos registos decorrentes da actividade da Extensão de Ma-
cedo de Cavaleiros do ex-IPA, estamos mais seguros, uma vez que sabemos serem, de imediato, introduzidas na
base de dados “Endovélico”. Cremos, no entanto, que visámos grande parte das fontes, pelo que este número será
bem representativo da realidade actual.
5
À medida que o conhecimento sobre os diferentes sítios for progredindo, cremos que o ideal será registar gene-
ricamente o sítio ou estação arqueológica e individualmente cada superfície decorada no caso dos conjuntos de
arte rupestre em penedos ao ar livre e não duvidamos que será perfeitamente possível vir a desafiar a liderança do
Tripe em número de rochas.
6
Para as considerações numéricas que aqui tecemos, tomou-se como fonte de identificação de um determinado
sítio a que primeiro se refere a ele, embora possa ter sido visado em ulteriores publicações.
7
As Extensões do Instituto Português de Arqueologia (IPA) foram extintas e as suas competências técnicas re-en-
quadradas na actual Divisão de Arqueologia Preventiva e de Acompanhamento (DAPA) do Departamento de Sal-
vaguarda do IGESPAR, I.P., organismo criado, em 2007, como resultado da fusão dos antigos IPA e IPPAR.
Contudo, mantemos a referência à Extensão de Macedo de Cavaleiros já que todos os sítios de arte rupestre a que
aludimos e que enformam o nosso inventário foram registados durante a vigência do IPA, entre 1997 e 2007.
8
Não contabilizamos a inventariação dos sítios já conhecidos que, em muitos casos, se revestiu de fundamental
importância para a existência de uma descrição minimamente adequada e uma localização precisa; por outro lado,
se alguns destes sítios foram directamente descobertos pelos arqueólogos, na maioria dos casos a sua existência foi
indicada pela população local.
9
Das outras duas, uma foi identificada num EIA, da responsabilidade dos arqueólogos Miguel de Almeida e Gina
Dias (cf. Endovélico, CNS 21932), sendo a sua localização exacta por nós desconhecida, e a última foi descoberta
pelos signatários, numa visita ao local com revisão de todos estes sítios.
10
A Pedra da Póvoa foi descoberta por Emanuel Ribeiro, técnico na área do Património da Câmara Municipal de
Ribeira de Pena que informou a Extensão de Macedo de Cavaleiros do ex-IPA tendo sido um dos seus técnicos,
António Luís Pereira, responsável pelo seu registo na Base de Dados “Endovélico” (Fonte, et al., no prelo).
11
Entre 1997 e 2007 foram publicados pouco mais de uma dúzia de artigos sobre a arte rupestre de Trás-os-Montes
Ocidental.
12
Este é um número anormalmente alto e que reflecte a grande quantidade de informação veiculada recentemente
pelos projectos de investigação arqueológica, EIAs e pelos trabalhos de confirmação da localização de sítios ar-
queológicos pela Extensão de Macedo de Cavaleiros do IPA.
13
No âmbito da preparação deste trabalho foi efectuado o reconhecimento in loco de diversos sítios com arte ru-
pestre, o que nos permitiu recolher informações inéditas sobre 28 ocorrências e actualizar informações sobre 60
sítios num total de 209, cerca de 28% do total, o que nos parece bastante pouco e dá uma ideia do muito que ainda
há por fazer!

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 89


14
Para dotar o inventário da maior abrangência possível incluíram-se três dos monumentos da Serra do Alvão, Chã
de Arcas 1, Penedos Alvos e Frieiro, mesmo tendo consciência dos problemas levantados em torno da autenticidade
das pequenas pedras com incisões geométricas e zoomórficas encontradas nos dois primeiros. Quanto aos esteios
ou lajes de cobertura gravadas ou pintadas, não se faz ainda a distinção entre arte megalítica pré-histórica e eventuais
gravuras recentes, nomeadamente cruzes (como no dólmen 6 da Veiga, também conhecido por Toutiço da Veiga,
em Meixedo, Montalegre (Barreiros, 1920: 75-76), pois na maioria dos casos não temos informação suficiente
para proceder a uma caracterização rigorosa desses monumentos, à excepção, como é evidente, das duas antas com
pintura e gravura sobre os esteios - Fonte Coberta (Alijó) (Carvalho e Gomes, 2000) e Madorras 1 (Sabrosa) (Gon-
çalves e Cruz, 1994), das gravuras presentes num esteio da Mamoa 1 do Castelo (Murça) e nos dos monumentos
do Alto das Madorras 4 e 7 (Alijó) (Sanches e Nunes, 2005).
15
Identificadas, em 2007, pela Extensão de Macedo de Cavaleiros, constam já da base de dados patrimonial En-
dovélico, com os CNS 30000 e 30001. A Pedra d’Anta foi inventariada, em 2003, e tem o CNS 19328.
16
Não discretamente, o título desta secção alude a uma pertinente questão colocada por A. Martinho Baptista com
que, aliás, encerra a sua síntese de 1983-84, estimulando simultaneamente a abertura de novas perspectivas: «…
qual a influência do megalitismo (ou megalitismos) na génese ou desenvolvimento dos grupos do Noroeste? Aspecto
particularmente importante, a pesquisar em futuros trabalhos, pois será talvez aqui que tradição e invenção mais se
confrontam.» (1983-84: 81).
17
Domingos Cruz elaborou, em 1985, um trabalho de inventariação com base em prospecções arqueológicas se-
lectivas que permitiu incidir nova luz sobre o megalitismo no Alvão, sendo um dos últimos artigos de síntese sobre
este conjunto. A investigação mantém-se em áreas periféricas às grandes necrópoles, designadamente no concelho
de Mondim de Basto, em projectos liderados por António Dinis.
18
Embora o Padre Brenha assinale a presença de nódulos de colorantes no espólio de alguns dos monumentos por
eles explorados (1899-1903).
19
A Pedra d’Anta ostenta duas cruzes de época histórica, certamente associadas a actos de cristianização ou marcas
de termo. Este grande menir, com cerca de 4,30m de comprimento, localizado na borda noroeste do planalto da
Alvadia, ocupa o ponto central de uma suave baixa entre duas lombas, imediatamente a Norte da abrupta e profunda
falha do rio Poio, a Oeste surge a encosta do planalto, para o baixo vale de Cerva e Limões. A Leste está o planalto
de Alvadia, enquanto que a Sul se erguem os elevados cumes do planalto superior da Serra do Alvão. Pode consi-
derar-se que este monumento se encontra no melhor acesso natural para todos estes lugares. De acordo com infor-
mações obtidas localmente, a pedra foi há alguns anos retirada da sua posição erecta, encontrando-se actualmente
deitada no solo, ao lado de uma cavidade no terreno que assinala a sua posição anterior. Os outros três menires são
o monumento Praina do Outeiro 3 (cf. Endovélico, CNS 16657), um outro menir de Ribeira de Pena, de origem
desconhecida (cf. Endovélico, CNS 19415), e um menir recentemente aparecido em Vila Real, de origem também
desconhecida (cf. Endovélico, CNS 30006).
20
Trata-se de um dos cinco monumentos, assinalado com o nº 32 no mapa de distribuição publicado por R. Rodri-
gues (1895).
21
Ao ponto de ter adquirido a laje e o espólio osteológico a ela associado para a colecção do então Museu Ethno-
graphico Português, actual Museu Nacional de Arqueologia (Vasconcelos, 1897: 360, nota 1)
22
Estas informações divergem um pouco daquelas fornecidas anteriormente por R. Rodrigues, que refere que a
laje mede 1,30m de comprimento e 0,90m de largura e contem 36 covinhas (1895: 349).
23
Perante o ineditismo de tal circunstância, Leite de Vasconcelos insiste em que a pedra provém de um monumento
onde o espólio era constituído por instrumental lítico tal como os restantes na região onde, à época, não havia sido
encontrado qualquer objecto metálico (1897) e reitera assim o parecer de R. Rodrigues. Contrariando esta insinua-

Pág. 90 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


ção, Brenha afirma que «o estado de conservação dos ossos parece indicar que elles não datam da epocha neolithica»
(1899-1903: 698). A favor da presença de indícios de re-utilização dos monumentos do Alvão em épocas subse-
quentes ao seu primeiro período de funcionamento, existe a notícia do aparecimento de um vaso «de bocca larga,
em fórma de tigela» contendo cinzas (Brenha, 1899-1903: 699) num dos monumentos de Penedos Alvos.
24
O grupo de monumentos e o bloco granítico com covinhas da Chã do Prado foram identificados no âmbito de
um EIA de um Parque Eólico (cf. Endovélico, CNS 23186, 23192, 23194, 23195), o mesmo acontecendo com a
rocha e os monumentos de Gevancas (cf. Endovélico, CNS 15673, 15674 e 15676).
25
Inventariadas na base de dados patrimonial - Endovélico - com o CNS 21837.
26
O monumento de Vale de Natoda foi mencionado por Ervedosa (1991). As covinhas foram detectadas no âmbito
dos trabalhos de relocalização de sítios arqueológicos, pelos técnicos da Extensão de Macedo do IPA (cf. Endové-
lico, CNS 6110).
27
As mamoas e duas rochas com gravuras rupestres foram inventariadas, em 2007, no âmbito dos trabalhos de
confirmação da localização de sítios arqueológicos pela Extensão de Macedo de Cavaleiros do IPA (cf. Endovélico,
CNS 27646, 27649, 27652, 27672).
28
Foram inventariadas neste local - Alto do Lombo do Malho 6 com o CNS 27673 - pelos técnicos do IPA em
2007 uma espiral (que, no local, interpretámos como uma composição de círculos concêntricos) e um círculo.
Outras duas gravuras foram detectadas aquando da visita dos signatários no âmbito da realização do presente ar-
tigo.
29
Esta rocha, designada por Fonte Coberta 1, encontra-se a 70 metros a Leste da Anta da Fonte Coberta e porque
se encontra isolada, destaca-se bem na paisagem. O penedo eleva-se cerca de 1, 60m acima do solo, tem uma forma
vagamente triangular, com cerca de 6m de comprimento e 4m de largura.
30
No sítio do Cabeço de que falaremos adiante, detectámos uma gravura deste tipo inserida num conjunto onde
surgem composições de círculos concêntricos e agrupamentos de covinhas.
31
Assumindo-se como sendo decorrente de um movimento intrusivo de uma tradição iconográfica tipicamente vo-
cacionada para formações rochosas naturais, cuja cronologia poderá arrancar no Vº milénio a.C., para o interior de
monumentos construídos (Alves, 2002, 2003).
32
A ausência na região de Montalegre dever-se-á alguma ausência de investigação dirigida à arte rupestre, embora
salvaguardemos os resultados do recente projecto de investigação do Campo de Caparinho (Montalegre).
33
A caracterização das gravuras rupestres desta rocha, que se encontram muito erodidas, deverá ser aferida com
maior rigor através da sua visualização com luz artificial.
34
Como é evidente, esta observação apenas poderá ser confirmada aquando do estudo circunstanciado desta rocha.
35
Cumpre-nos agradecer esta informação a António Dinis, assim como a sua disponibilidade para nos guiar pelas
veredas sinuosas do inspirador Monte da Senhora da Graça nas diversas visitas realizadas por um de nós (LBA),
em Julho e Outubro de 2008, aos sítios com arte rupestre de Mondim de Basto e o amável convite para integrar a
equipa de investigação que procedeu ao levantamento das gravuras rupestres de Campelo.
36
A primeira exibe apenas uma concavidade circular com 56cms de diâmetro e na segunda observam-se três con-
cavidades com diâmetros entre os 43 e os 12 cms (Santos Júnior, 1982).
37
No Verão de 2008, foi relocalizada esta rocha pela equipa de investigação que procedia a trabalhos de escavação
arqueológica no Lesenho. Nessa altura, João Fonte remeteu-nos algumas fotografias das gravuras rupestres, a quem
muito agradecemos.
38
Esta rocha havia sido inventariada pela Extensão de Macedo de Cavaleiros do IPA (cf. Endovélico, CNS 19723).
39
Embora isto não seja perceptível no esboço muito incompleto que Miranda Júnior e outros apresentam na Fig.
39 do seu artigo «Castros do concelho de Boticas» (1985: 68).

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 91


40
O Cabeço é um povoado sobejamente conhecido (cf. Endovélico, CNS 3739), enquanto a primeira rocha gravada
foi descoberta mais recentemente (cf. Endovélico, CNS 19738).
41
O Outeiro dos Mouros não foi objecto de reavaliação em anos recentes. O Penedo das Meias poderá ter sido re-
movido do local, visto que se mostrou infrutífera uma tentativa de o relocalizar (cf. Endovélico, CNS 3578).
42
Embora esteja ainda por confirmar a alusão de Martins aos sulcos semelhantes a esgalhos de veado no Outeiro
dos Mouros (Calvão).
43
Foi identificada em 2000 pela Extensão do IPA de Macedo de Cavaleiros (cf. Endovélico, CNS 15190) e encon-
tra-se actualmente em exibição no Museu de Arqueologia e Numismática de Vila Real.
44
Desconhece-se a proveniência exacta desta peça mas, por ser um elemento arquitectónico, poderá ser oriunda de
algum sítio arqueológico da freguesia de Favaios, talvez o grande castro de Vilarelho, ou o sítio de Santa Bárbara,
dentro da própria vila, um pequeno castro com um habitat romano na base.
45
Mais concretamente, é-nos dito por José Fortes (1908) que duas vêm de Cortinhas e que as outras são provenientes
de um sítio romano da mesma freguesia, que provavelmente também corresponderá às Cortinhas.
46
Note-se que, para esta análise, apenas consideramos as rochas com gravuras rupestres que se situam no interior
do recinto amuralhado ou no seu entorno imediato, ou seja, na zona de acesso ou nas encostas. Excluem-se assim
os casos onde se verifica apenas uma relação visual, por mais sugestiva seja, como sucede com a Fraga das Passadas
(Valpaços), localizada numa encosta directamente em frente ao povoado do Alto da Cerca. A única excepção que
admitimos foi a Pedra Formosa dos Meirinhos (Ribalonga) encontrada no vale que se abre na base do castro de
Ribalonga.
47
Um exemplo paradigmático de um povoado que havia sido identificado como contendo materiais arqueológicos
datáveis do Calcolítico e da Idade do Ferro é o do Alto de Sta. Ana (Outeiro Sêco, Chaves) mas no qual foi poste-
riormente comprovada a existência de um nível de ocupação dos finais do século XIV e finais do século IX a.C.,
e recolhidos fragmentos avulsos de cerâmica de tipo “Penha” (Santos, 1995).
48
Cf. nota 26.
49
Para mais informação sobre este sítio, cf. Endovélico, CNS 3739.
50
Embora classifiquemos assim estes motivos, as características morfológicas das representações da Cruz do Coro
não coincidem claramente com os conhecidos “escutiformes” que, na Galiza, acompanham as gravuras de armas
atribuíveis ao Calcolítico e Idade do Bronze.
51
Esta temática merece, sem dúvida, uma investigação aprofundada e Trás-os-Montes Ocidental constitui-se como
uma das regiões mais favoráveis à sua prossecução. Não nos sendo possível alongar com uma análise preliminar
sobre esta problemática por termos ultrapassado em muito o espaço disponibilizado para este nosso contributo,
devemos remete-la para um trabalho futuro.
52
Todavia, será pertinente investigar as eventuais funcionalidades destes lugares na Idade do Ferro, período que,
segundo A. M. Baptista, coincide com o apogeu da criação dos ‘santuários’ do grupo II (1983-1984: 77).
53
Um bom exemplo de reconversão simbólica de motivos Pré-históricos é o da Casa do Moro, mais conhecida
como o ‘santuário’ de El Pedroso (Zamora, Espanha) (Bradley, et al. 2005).
54
Uma das excepções, para citar um caso bem conhecido, é o Penedo do Encanto na Bouça do Colado (Baptista,
981).

Pág. 92 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


dos enteRRAMientos de lA edAd del BRonce
de lA PRovinciA de ouRense
TWO BRONZE AGE BURIALS FROM OURENSE (NW OF IBERIAN
PENINSULA)

M. P. Prieto Martínez
LabOratOriO de PatrimONiO, PaLeOambieNte y PaiSaje. iNStitutO de
iNveStiGaCiONeS teCNOLóGiCaS, uNiverSidade de SaNtiaGO de COmPOSteLa
O. Lantes Suárez
uNidade de arQueOmetría, riaidt - ediFiCiO CaCtuS, uNiverSidade de
SaNtiaGO de COmPOSteLa
A. Martínez Cortizas
dePartameNtO de edaFOLOGía y QuímiCa aGríCOLa, uNiverSidade de SaNtiaGO
de COmPOSteLa

Resumen: Se presentan los resultados del estudio de dos enterramientos no monumentales


de la provincia de Ourense: la cista de A Forxa (Vilariño de Touzas, Riós, Ourense) y la fosa de Ca-
meixa (Figueiroa, Boborás, Ourense). Aunque estos yacimientos ya han sido publicados parcial-
mente, y el número de recipientes registrados es pequeño, cuatro vasos en A Forxa y uno en Cameixa,
este trabajo es importante ya que se aportará toda la información de conjunto disponible hasta el
momento, dataciones, estudios formales y arqueométricos de los recipientes, ello nos permitirá en-
marcarlos en un contexto regional más amplio.
Palabras clave: Enterramientos no monumentales, A Forxa, Cameixa, Cerámica, III y II
milenios BC, Arqueometría.

Abstract: We present the results of an archaeological study of two non-monumental buri-


als from Ourense (NW of Spain): A Forxa cist (Vilariño de Touzas, Riós, Ourense) and the
Cameixa pit (Figueiroa, Boborás, Ourense). This work is important because we go to offer the
whole available information, although we will emphasize the pottery, only five vessels, from a
formal and archaeometric point of view. This will allow us to relate these sites to the regional
contexts.
Keywords: Non-monumental burials, A Forxa, Cameixa, Pottery, III and II milennia BC,
Archaeometry.

introducción
El objetivo de este trabajo es presentar dos enterramientos localizados en
la provincia de Ourense (fig. 1), la cista de A Forxa excavada en 1995 por F.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 93


Médel Fernández, y la fosa de Ca-
meixa excavada en 1997 por C. Par-
cero Oubiña. Es la primera vez que
se reune la información completa de
ambos yacimientos, ya publicados
parcialmente. Éstos pueden conside-
rarse como ejemplos paradigmáticos
de sepultura de la Edad del Bronce
Inicial en Galicia. A partir de los di-
Figura 1. Los yacimientos de A Forxa y Cameixa y
su localización en la región ferentes datos disponibles, mostrare-
mos que las teorías tradicionales
cronotipológicas para el NW de la
Península Ibérica no funcionan en estos dos casos. Nos centraremos principal-
mente en el ajuar cerámico, cuatro vasos en A Forxa y uno en Cameixa, su ele-
mento más llamativo. Finalmente, trataremos el contexto regional en el que se
insertan.

A Forxa (Fx)
A Forxa se localiza en Vilariño de Touzas (ayuntamiento de Riós), se situa
en la cuerda de una dorsal no muy alta (800 m.s.n.m.), de considerable anchura
y bastante llana, que se inscribe en un dominio de valle amplio jalonado por el
Río de Serranova. Se trata de una cista de forma rectangular, orientada E-W,
formada por cuatro losas de pizarra, y tapada con, al menos, dos lajas del
mismo material. Fue localizada por un vecino del lugar mientras realizaba la-
bores agrícolas en su finca, así que únicamente se pudo documentar lo que
quedaba de la cista, una vez dicho vecino avisó del hallazgo. Aún así, se cons-
tató que su estructura de cuatro losas de esquisto, de 1,50 m en el eje E-W,
0,90 m en el eje N-S y 0,60 m de profundidad, estaba construida sobre un foso
excavado directamente en el sustrato mineral (Méndez 1995).
En su interior se recogieron los fragmentos de cuatro cacharros de cerá-
mica que responden a un patrón formal muy homogéneo (fig. 2, izquierda).
Todos ellos son de perfil troncocónico y su tamaño oscila entre 0,9 y 1,2 litros.
Se aprecia la técnica de urdido en el modelado, junto con unas texturas com-
pactas medias, en las que predomina la mica como desgrasante más visible y

Pág. 94 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


cuyo tamaño máximo es de 3 mm, el grano más pequeño es relativamente abun-
dante y está distribuido de manera irregular en la mezcla arcillosa (fig. 2, corte
transversal, ver descripción más detallada de las dos muestras en el apartado de
análisis). El color superficial exterior es marrón claro con un acabado bruñido
medio, siendo más tosco en el interior. La fractura muestra una cocción oxidante
bicroma, ya que en la parte exterior en rojiza y en la interior negruzca. En la
superficie interior de los cuatro recipientes hay abundante materia orgánica car-
bonizada que podría indicar una misma funcionalidad para los cuatro (Prieto
1999a y 1999b) (fig. 2, superficie interna). El dueño de la finca informó haberlos
recuperado de la parte NW del interior de la cista. Este tipo de recipientes son
semejantes a los encontrados en A Pedrosa (también en el S de Ourense) (Ta-
boada 1971). Hay abundantes paralelos en el N de Portugal como los hallados
en la cista de Gorgolâo (Silva 1994), Corvihlo ( Sanches 1982), Meixedo y Ma-
moinha da Serra (Sanches 1981), Touredo, Lomba de Coimbró, Portela do Gor-
gurâo (Sanches 1980), o la mámoa de Terranha (Bettencourt 1982).
Estos recipientes poseían abundantes restos carbonizados en el interior de sus
paredes, uno de ellos fue analizado, obteniéndose una cronología de 1746-1523 -
2σ cal BC- (Ua-21691: 3370±45 BP) (Stuiver 2005), del Bronce Medio según una
cronología tradicional. Además, se analizaron los contenidos de los recipientes 3
y 4. Los resultados obtenidos en ambos fueron oxalato, almidones afectados por
el malteado y el ataque enzimático, levaduras, fitolitos de cereales interpretados
como cerveza (Prieto et al. 2005), por lo que nos encontramos con los recipientes
más antiguos de Galicia con contenido de cerveza. Esta sustancia es frecuentemente
encontrada en la Península Ibérica desde el Bronce Inicial, y en concreto para este
momento de la prehistoria es frecuente en vasos campaniformes profusamente de-
corados (Juan-Tresserras 1997, Guerra 2006). En el Bronce Final se documentan
incluso las diferentes fases de fabricación de este producto, como es el caso del
yacimiento catalán de Genó (Maya, López y Juan-Tresserras 1999).

cameixa (cx)
Cameixa se localiza en Figueiroa (Boborás), próximo al conocido Castro
de Cameixa, al pie de los Montes do Testeiro -Terra do Carballiño-, en una
zona de valles interiores que vierte en el río Víñao, afluente del Miño. En con-
creto se emplaza en un pequeño rellano a 407 m.s.n.m. situado en la ruptura

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 95


convexa de la pendiente, bastante abrupta, que desciende hacia el río Viñao.
Se trata de una fosa de forma subglobular achatada en altura, probable-
mente de planta circular, excavada directamente en la roca (granito base), de
1,20 m de largo máximo conservado (1 m en la boca), 0,40 m de ancho con-
servado y 0,75 m de profundidad. En su interior se pueden distinguir cuatro
unidades estratigráficas con abundantes carbones de pequeño tamaño; en las
que aparecen fragmentos de cerámica hecha a mano y, casi apoyado directa-
mente sobre el fondo de la fosa, un gran cacharro colocado inclinado boca
abajo (Parcero 1997). Aunque inicialmente se pensó que fuese un enterra-
miento del Bronce Final, un sedimento del interior del recipiente proporcionó
una cronología de 2335-2039 -2σ cal BC - (UtCNr-7276: 3778±40 BP) (Criado
et al. 2000: 75), localizándola claramente en el Bronce Inicial, y en pleno des-
arrollo del campaniforme en Galicia. Dado el contexto cerrado y perfectamente
delimitado del que procede, esta datación debe relacionarse con el proceso ori-
ginal de deposición de este contexto, interpretado como una cremación.
Esta urna es de perfil bitroncocónico y 19,5 litros de capacidad (fig. 2, de-
recha). La técnica de urdido en el modelado es tosca apreciándose churros de
unos 30 mm de grosor, en algunas partes unidos defectuosamente, sobre todo
en la zona de la carena. Al igual que
en A Forxa, posee texturas compactas
medias, en las que predomina la mica
como desgrasante más visible. Ésta
no supera los 3 mm, es abundante y
está distribuida de manera irregular,
sin embargo, hay algún grano de
cuarzo excepcional que alcanza los 6
mm (fig.2, corte transversal, ver des-
cripción más detallada de la muestra
Figura 2. Dibujos de la cerámica de A Forxa y de Ca-
meixa (hechos por Anxo Rodríguez Paz) y fotos de los en el apartado de análisis). El color
recipientes. superficial exterior es marrón claro
anaranjado muy irregular con un aca-
bado bruñido medio, siendo más tosco en el interior, igual que los recipientes
de A Forxa. La fractura muestra una cocción oxidante muy irregular, según la
parte del perfil posee uno, dos o tres nervios, resultado de una cocción despre-

Pág. 96 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


ocupada de un recipiente grande con paredes anchas. En un nivel decorativo,
destaca su diseño sencillo limitado a la parte superior de la urna realizado con
una llamativa aplicación plástica de una línea horizontal de mamelones delimi-
tados por dos cordones (Prieto 2005). No hemos encontrado un paralelo en el
NW peninsular para este recipiente. Aunque ese tipo de decoración se ha podido
encontrar en recipientes del NW que poseen un tratamiento técnico semejante,
las morfologías son bien diferentes a las de Cameixa, y más bien se aproximan
a la forma de los vasos de A Forxa. Hay abundantes ejemplos, sobre todo en
Portugal, de recipientes con mamelones –Corvihlo, Meixedo, Mámoa da Serra,
Mámoa de Terranha, cista de Lomba de Coimbró, A Pedrosa, yacimientos cita-
dos anteriormente-, o con cordones - fosas de Boucinhas (Bettencourt et al.
2004), pero la combinación de ambos elementos decorativos en el mismo reci-
piente son excepcionales, siendo todos ellos diseños únicos e irrepetibles, como
por ejemplo el troncocónico de la cista de Gorgolâo (Silva 1994), o algunos re-
cipientes de Fraga do Zorro (en estas mismas actas, ver Prieto et al.). Si busca-
mos en otras zonas próximas, encontramos el paralelo más próximo en Bretaña,
en una urna documentada en los alineamientos de Saint-just de Cojou (Le Roux
et al. 1989) que posee una datación semejante a la de Cameixa, y en la actual
Bélgica en el denominado Horizonte Hilversum (Fokkens 2005).

Análisis físico-químicos
El análisis de XRD (fig. 3) desvela que el
mineral predominante del cacharro de Ca-
meixa es el cuarzo (50%), seguido del feldes-
pato potásico microclina (20%). Los otros tres
minerales detectados son plagioclasa, mica,
moscovita y haloisita con un 20, 11 y 10%, res-
pectivamente. Los porcentajes se establecen en
base a la fracción cristalina de la cerámica.
Esta composición encuadra la cerámica en una
mineralogía granítica de tipo alcalino.

Figura 3. XRD de
las tres piezas anali-
zadas

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 97


Los cacharros de A Forxa analizados (01 y 03) son mineralógicamente
similares, lo que apunta a que se trata de la misma pasta. El mineral principal
es el cuarzo con un 33% de abundancia, seguido de la plagioclasa que se sitúa
en un 31 y 23%, respectivamente. Los feldespatos potásicos son menos abun-
dantes que en Cameixa con valores de un 5 y 7% así como la mica con un 2 y
5%, respectivamente. La proporción de haloisita se incrementa notablemente
a un 27 y 29% y aparece un mineral nuevo no detectado en Cameixa, el anfíbol,
probablemente hornblenda con un 4 y 1% de abundancia. La presencia de fel-
despatos potásicos asociados a anfíboles hace pensar en dos fuentes de materia
prima, ya que es muy poco frecuente que estos dos minerales aparezcan aso-
ciados en estado natural. Esas dos fuentes podrían ser materiales de alteración
derivados de granitos alcalinos y de anfibolitas o neises anfibólicos.
No se ha detectado caolinita en la composición de las piezas, ello indica
que las temperaturas de cocción tuvieron que superar los 550 ºC destruyéndose
este mineral plástico.

El análisis de XRF de elementos ligeros (fig. 4, superior), traza (fig. 4,


inferior) y el análisis CNSH permitieron detectar los principales elementos ma-
yoritarios, minoritarios y traza de las muestras. En Cameixa los elementos ma-
yoritarios son el silicio (23,6%), aluminio (15,3%), potasio (2,5%), hierro
(1,6%) y carbono (2,4%). Los minoritarios son el calcio con un 0,04%, el tita-
nio (0,23%) y el nitrógeno, fósforo y azufre (0,08, 0,55, 0,15%). El magnesio
se detecta pero muy próximo al límite
de detección por lo que no se puede
cuantificar. En relación a los elemen-
tos traza (todos expresados en ppm o
μg/g) se detectan: cromo (31), man-
ganeso (304), níquel (2), cobre (22),
zinc (54), galio (25), arsénico (149),
bromo (19), rubidio (203), estroncio
Figura 4. XRF,
ligeros (supe- (79), itrio (18), circonio (107), niobio
rior) y traza (in- (10), plomo (75) y torio (6). Estas
ferior) de las
tres piezas anali-
composiciones elementales son cohe-
zadas rentes con la mineralogía identificada

Pág. 98 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


destacando el alto valor del aluminio y silicio componentes principales de los
silicatos, el alto valor del potasio y bajo valor del calcio, ligado a la predomi-
nancia de los feldespatos potásicos y la moscovita. El carbono podría provenir
de residuos carbonizados de los cacharros. Los valores de los elementos traza
son igualmente coherentes con la mineralogía.
En relación al análisis elemental de las piezas de A Forxa, el silicio es
algo inferior que en Cameixa (23,0; 20,1%) así como el aluminio (12,8;
11,0%). El potasio se mueve en valores similares (2,4; 2,7) mientras que el
hierro y el titanio se incrementan considerablemente (Fe: 8,5; 7,13%; Ti: 1,3,
1,1%), incremento asociado a la presencia de los anfíboles. También es superior
el calcio (0,7; 0,54%) debido a la mayor concentración de plagioclasa y el car-
bono (4,0, 3,4%) que probablemente también proceda de los restos carboniza-
dos de las paredes de los cacharros. El nitrógeno, fósforo y azufre presentan
valores bajos y variables (N: 0,19; 0,09; P: 0,14; 0,06%; S: 0,13, 0,11%). En
cuanto a los elementos traza, el cromo, manganeso y níquel aumentan respecto
a los valores de Cameixa, pues están ligados a los anfíboles (todos en ppm o
μg/g; Cr: 289, 159; Mn: 306, 225; Ni: 40, 15). El cobre (25, 20), cinz (57, 55),
galio (29, 29), bromo (102, 140), estroncio (99, 88), itrio (26, 23), circonio
(160, 160), niobio (9, 10) y torio (11, 9) presentan valores similares a Cameixa,
mientras que el rubidio (102, 140) y el plomo (14,13) son inferiores, lo que se
explica por el menor contenido en feldespatos potásicos en A Forxa, ya que
estos elementos están asociados a este mineral.

En cuanto a la textura (fig. 2 - cortes transversales), Cameixa tiene una


matriz arcillosa parda con desgrasantes de diferentes granulometrías que osci-
lan entre 0,1 y 2 mm, es abundante, heterogéneo y relativamente anguloso.
FX1 posee una matriz más oscura y más plástica, muy probablemente debido
a la mayor proporción de haloisita y la granulometría es más regular y fina
(0,1-0,2 mm) presentando algún grano aislado de 1 a 2 mm. La textura de FX3
es totalmente similar al FX1.
Si contrastamos los análisis realizados con la litología de la zona podre-
mos obtener información sobre las procedencias más probables de las materias
primas utilizadas en la elaboración de las cerámicas. En el caso del cacharro
de Cameixa parece que no se hicieron mezclas en el desgrasante, ya que res-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 99


ponde a las proporciones esperables en los materiales de alteracion del entorno,
siendo coherente con la litología de rocas graníticas alcalinas de la zona en la
que se localiza el yacimiento (Monteserín & Pérez 1981: IGME 186, González
et al. 1974: IGME 187), lo que indica una posible procedencia local (enten-
diéndola dentro de un entorno aproximado de 10 km –Convertini y Querre
1998). Esto coincide con los resultados de los análisis realizados hasta el mo-
mento en todas las cerámicas de época campaniforme en Galicia (Martínez et
al. 2008, Prieto et al. 2008).
Por el contrario, los cacharros de A Forxa son resultados de una mezcla
artificial de desgrasantes provenientes de dos fuentes de materia prima dife-
rentes, como se ha indicado anteriormente. La presencia de anfíboles permite
concluir que su origen no es local, pues estudiada la litología en un radio de
25 km (Nuño & López 1981: IGME 303) no se han encontrado mineralogías
anfibólicas. Aunque estamos pendientes de un estudio más detallado, no se
descarta, un origen de carácter comarcal (en un radio de unos 25-50 km hacia
el S, en el N de Portugal en el área de Bragança-Vinhais) o regional (hacia el
NW a unos 100 km en la zona de Lalín) donde sí se encuentran rocas y mate-
riales de alteración con anfíboles.

contextos de los recipientes, su distribución espacial y su marco tem-


poral
En una escala regional del NW Ibérico, la cerámica de contextos funera-
rios no monumentales presenta algunos aspectos que nos permiten hablar de
homogeneidad y estandarización. Uno de estos aspectos es el tratamiento de
la pasta: la mayor parte de la cerámica es fabricada con las mismas técnicas,
que son coincidentes con lo descrito para los recipientes de A Forxa y Cameixa.
Un segundo aspecto que muestra una estandarización regional en el NW es la
relación entre tipo de perfil y tamaño (esto se ha comprobado en otras zonas
de Portugal, ver como ejemplo el estudio de Senna et al. 1984-5).
Pero la alfarería también ofrece rasgos diferenciadores que nos permiten
establecer dos sub-regiones en el NW: la morfología y la decoración. Éstos pa-
recen el resultado de la selección consciente con una intención identitaria del
territorio. Si trazamos una línea imaginaria desde el N de la Península del Mo-
rrazo y siguiendo el N de la provincia de Ourense se puede establecer una ‘fron-

Pág. 100 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


tera’ entre el N de Galicia y el S, al que se suma el N de Portugal también (ver
línea discontinua marcada en el mapa de la fig. 5):
(*) La zona norte está morfológicamente restringida a taraios y vasos, de
tamaños pequeños, inferiores al litro de capacidad. Éstos se pueden asociar a
cistas y a fosas insertadas en megalitos.
(**) En la zona sur hay una mayor variabilidad. Hay diversidad de mor-
fologías, ya que se registran troncocónicos, bitroncocónicos, jarras, botellas y
recipientes con hombros. Los tamaños son más extremos, oscilando entre el
litro y los casi 20 litros. Y hay decoración plástica realizada con mamelones y
cordones, en ocasiones combinados, y que adquiere gran tamaño y amplia dis-
tribución en el cuerpo de los recipientes. Las cistas son las sepulturas más fre-
cuentes, pero también se documentan algunas fosas y no se conoce la
reutilización de megalitos con estos tipos de cerámica. Dentro de este territorio,
la provincia de Ourense posee la mayor riqueza cerámica, sobre todo en el área
sur, próxima a la frontera portuguesa.

En relación con la cronología, es destacable que estos yacimientos son


los primeros en Galicia con información radiocarbónica, y en ambos se rompen
dos tópicos. El primero, que las cistas se encuadran en el Bronce Inicial (en-
tendiendo que éste no va más allá del 1800- 1700BC) y las fosas en el Bronce
Final. El resultado radiocarbónico se-
ñala que la fosa es mucho más tem-
prana que la cista. Y el segundo
tópico, que la inhumación es carac-
terística del Bronce Inicial y la inci-
neración del Bronce Final. En este
caso encontramos cremación a fina-
les del III milenio, aunque no sabe-
mos si Cameixa es una excepción o
forma parte de la norma funeraria del
NW Ibérico, como pasa en otras
Figura 5. Distribución de enterramientos no monu- zonas de Europa para este período.
mentales en Galicia, y selección de recipientes repre- Por lo tanto, ni la tipología de los ya-
sentativos de ambas zonas (reproducidos en Autocad
por A. Rodríguez Paz) cimientos ni la de los recipientes fun-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 101


cionan en esta región. Si bien todavía no se conoce adecuadamente el registro
arqueológico, y la casi total ausencia de dataciones impide reflexionar más allá
de periodos largos de tiempo. Por ello preferimos hablar a grandes rasgos de
Bronce Inicial, entendiendo un abanico de tiempo amplio entre 2800/2600 y
1600/1400 BC (Prieto 2005). Aunque aquí se incluye con coherencia la reciente
datación del yacimiento de fosas de Fraga do Zorro (presentada en las actas de
este mismo volumen), estamos a la espera de dataciones que puedan enriquecer
o modificar esta propuesta.

comentarios finales
Los recipientes de estas dos tumbas, al igual que los hallados en las fosas
y cistas gallegas del Bronce Inicial, parecen el resultado de una despreocupa-
ción por hacerlos funcionales en la vida cotidiana. De hecho, parecen fabrica-
dos específicamente para el enterramiento, ya que la apariencia final
relativamente cuidada del recipiente y el interés por tener una mezcla de arcillas
seleccionadas por su granulometría homogénea y angulosa no se corresponde
con la mala calidad técnica del modelado (churros irregulares y casi mal pe-
gados, sobre todo en Cameixa).
Así, el recipiente de Cameixa, cremación de finales el III milenio BC y
de procedencia local, mantiene una tradición regional en el tratamiento de la
pasta y en la decoración, pero en un nivel morfológico muestra influencias fo-
ráneas lejanas, de la zona costera de Bretaña hasta Bélgica. Ello es coherente
con algunos indicios encontrados en otras zonas de Europa. y en particular, en
el yacimiento de Forno dos Mouros (Toques, A Coruña), que hemos relacio-
nado también con Bretaña (Prieto et al. 2008). Se está demostrando que las
ideas se transmiten más fácilmente con el movimiento físico de algunas per-
sonas (Salanova 2000) siendo una hipótesis general que el intercambio de mu-
jeres puede ser una de las causas de esta transmisión (Vander Linden 2007).
Por otro lado, los recipientes de A Forxa, inhumación de mediados del II mi-
lenio BC y de procedencia no estrictamente local, mantiene, en cambio, una tra-
dición regional en el tratamiento de la pasta, como Cameixa, y sub-regional en su
morfología y tamaño. Expresa posiblemente el movimiento, los intercambios y
las relaciones entre diferentes comunidades ubicadas dentro de un territorio amplio
y relativamente alejado del lugar en el que los recipientes fueron depositados.

Pág. 102 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Los recipientes de estos dos enterramientos nos están dando indicios de
fenómenos paralelos dentro de la misma sociedad. A Forxa se inserta dentro
de un marco geográfico sub-regional, Ourense y N de Portugal, como indica-
mos anteriormente, y señala una unidad territorial operativa ya en el II milenio
BC que viene a estar representada a través de una cierta estandarización para
las sepulturas de este período en el NW Ibérico. La urna de Cameixa, aunque
no contradice el patrón estilístico, es formalmente más heterodoxa, presenta
unas características originales para el NW Ibérico que parecen conectadas con
áreas atlánticas europeas más alejadas y hacia el Norte.

Reconocimientos
Este artículo está realizado en el marco del proyecto titulado “Aplicación
de técnicas arqueométricas ao estudo da cerámica antiga de Galicia” (código:
PGIDIT07PXIB236075PR) concedido por la Dirección Xeral de Investigación,
Desenvolvimento e Innovación (I+C+I), Xunta de Galicia dentro del Programa
de Promoción Xeral de Investigación do Plan Galego de Investigación, Des-
envolvemento e Innovación Tecnolóxica (INCITE) de 2007.

Bibliografía
Bettencourt A.-M.-S., Dinis A.-P., Silva A., Veiga A.-M., Ribeiro E., Cardoso H., Boas L.-V., Amorim
M.-J. 2004. A estaçâo arqueológica das Boucinhas, Regueira, Vitorino de Piâes, Ponte de Lima (Norte de
Portugal). Portugalia NS, XXV: 91-114. Porto.
Bettencourt A.-M.-S. 1982. A propósito de um vaso tronco-cónico do Museu de Aveiro. Arqueologia, 5: 40-
43. Porto.
Convertini F., Querré G. 1998. Apports des études céramologiques en laboratoire à la connaissance du Cam-
paniforme: résultats, bilan et perspectives. Bulletin de la Société Préhistorique Française, 95 (3): 333-341.
Paris.
Criado Boado F., Amado Reino X., Martínez López M. C., Cobas Fernández I., Parcero Oubiña C. 2000.
Programa de Corrección del Impacto Arqueológico de la Gasificación de Galicia. Un ejemplo de gestión
integral del patrimonio arqueológico. Complutum, 11: 63-85. Madrid.
Fokkens, H. 2005. Le début de l’Âge du Bronze aux Pays-Bas et l’Horizon Holversum ancien. Bourgeois,
J. et Talon M (eds.). L’Âge du Bronze du Nord de la France dans son contexte européen: 11-33. Paris: Édi-
tions du Comité des Travaux Historiques et Scientifiques.
González F., Iglesias M., Martínez J.-R. 1974. Mapa Geológico 1:50.000 y Memoria explicativa de la hoja
nº (187, 6-10, Ourense). Publicaciones del I.G.M.E.
Guerra Doce E. 2006. Sobre la función y el significado de la cerámica campaniforme a la luz de los análisis
de contenidos. Trabajos de Prehistoria, 63 (1): 69-84. Madrid.
Juan-Tresserras J. 1997. Preparación y procesado de productos vegetales. Aportaciones del estudio de fito-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 103


litos, almidones y lípidos en yacimientos arqueológicos prehistóricos y protohistóricos del cuadrante NE
de la Península Ibérica. Unpublished Doctoral Thesis. Barcelona University.
Le Roux C.-T., Lecerf Y., Gautier M. 1989. Les megalithes de Saint-Just (Ille-et-Vilaine) et la fouille des
alignements du Moulin de Cojou. Revue Archéologique de l’Ouest, 6: 5-29. Rennes.
Martínez-Cortizas A., Prieto-Lamas B, Lantes-Suárez Ó, Prieto-Martínez Mª P. 2008 (en prensa). Análisis
elemental y cromático de cerámica Prehistórica del Área Ulla-Deza (NW de la Península Ibérica). Actas del
VII Congreso Ibérico de Arqueometría (Madrid 2007).
Maya J. L., López-Cachero J., Juan-Tresserras J. 1999. Nuevos análisis de contenidos en recipientes cerá-
micos del hábitat de Genó (Aitona, Lleida). In 3º Congresso de Arqueologia Peninsular (Vila Real, Sep-
tember 1999): 27-28.
Méndez Fernández, F. 1995. Informe valorativo sobre la excavación en la cista de A Forxa. Santiago de
Compostela. Xunta de Galicia. Inédito.
Monteserín V., Pérez A. 1981. Mapa Geológico 1:50.000 y Memoria explicativa de la hoja nº 186, 5-10,
Puente Caldelas). Publicaciones del I.G.M.E.
Nuño C., López M.-J. 1981. Mapa Geológico 1:50.000 y Memoria explicativa de la hoja nº 303, 8-13, Verín).
Publicaciones del I.G.M.E.
Parcero Oubiña, C. 1997: Documentación de un Entorno Castreño: Trabajos Arqueológicos en el área de
Cameixa, Ourense. TAPA 1. Santiago de Compostela: Grupo de Investigación en Arqueología del Paisaje.
Prieto-Martínez, Mª P. 1999a. Forma, estilo y contexto en la cultura material de la Edad del Bronce gallega:
cerámica campaniforme y cerámica no decorada. Tesis doctoral editada en CD-Rom (1999). Santiago de
Compostela: Facultade de Xeografía e Historia, Departamento de Historia I, Universidade de Santiago de
Compostela.
Prieto Martínez M.-P. 1999b. Caracterización del estilo cerámico de la Edad del Bronce en Galicia: Cerámica
Campaniforme y cerámica no decorada, Complutum, t. 10, p. 71-90. Madrid.
Prieto Martínez M.-P. 2005. Ceramic style in Bronze Age societies in Galicia (NW Iberian Peninsula). Sim-
ilarities and differences in patterns or formal regularity. In The Bronze Age in Europe and the Mediterranean:
99-107. Oxford: BAR IS 1337.
Prieto-Martínez M.-P., Juan-Tresserras J., Matamala J. C. 2005. Ceramic Production in the North-Western
Iberian Peninsula: Studying the functional features of pottery by analyzing organic material. In M. I. Pru-
dêncio, M. I. Dias y J. C. Waerenborgh (eds.). Proceedings of the 7th European Meeting on Ancient Ceram-
ics- Understanding people through their pottery. Trabalhos de Arqueologia, 42: 193-199. Lisboa: Instituto
Tecnológico e Nuclear (ITN), Ministério da Cultura e Instituto Português de Arqueología.
Prieto Martínez M.-P., Lantes Suárez O., Martínez Cortizas A. 2008. O campaniforme cordado de Forno
dos Mouros (Toques, A Coruña). Cuadernos de Estudios Gallegos, LV, 121: 31-51. Santiago de Compos-
tela.
Salanova, L. 2000. La question du campaniforme en France et dans les Iles anglonormandes: productions,
chronologie et rôles d’un standard céramique. Coédition Société Préhistorique Française et Comité des Tra-
vaux Historiques et Scientifiques. Paris.
Sanches M.-J. 1980. Alguns vasos cerâmicos inéditos do Museu de Antropologia do Porto. Arqueologia, 1:
12-9. Porto.
Sanches M.-J. 1981. Recipientes cerámicos da Pré-história recente do Norte do Portugal. Arqueologia, 3:
88-98. Porto.
Sanches M.-J. 1982. Vasos da estaçao arqueológica do Corvilho-Santo Tirso. Arqueologia, 5: 56-61. Porto.

Pág. 104 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Senna-Martínez J.-C., García, M.-F.-S., Rosa M.-J.-O. 1984-5. Contribuçôes para uma tipologia da olaria
do Megalitismo das Beiras: olaria da idade do Bronze (I). Revista da Uniarch, 1: 105-138. Lisboa.
Silva M.-A. 1994. A cista de Gorgolâo (Vila da Ponte – Montalegre). Portugalia NS, XV: 137-146. Porto.
Stuiver M., Reimer P.-J., Reimer R. 2005. CALIB Manual (5.0.2). http://radiocarbon.pa.qub.ac.uk/calib/calib.html.
Last modified: Wed, 09 Feb 2005 14:46:07 GMT.
Taboada Chivite, X. 1971. Notas arqueológicas de la región del Támega (Verín). Cuadernos de Estudios
Gallegos, 26: 45-63.Santiago de Compostela.
Vander Linden, M. 2007. What linked the Bell Beakers in third millenium BC Europe? Antiquity, 81: 343-
352.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 105


estudio de lA ceRáMicA del yAciMiento de FosAs de
FRAGA do zoRRo
CERAMIC STUDY OF THE SETTLEMENT PITS OF FRAGA DO ZORRO

MP. Prieto Martínez


LabOratOriO de PatrimONiO, PaLeOambieNte y PaiSaje, iNStitutO de
iNveStiGaCiONeS teCNOLóGiCaS, uNiverSidade de SaNtiaGO de COmPOSteLa
A. Martínez Cortizas
dePartameNtO de edaFOLOGía y QuímiCa aGríCOLa, uNiverSidade de SaNtiaGO
de COmPOSteLa
O. Lantes Suárez
uNidade de arQueOmetría, riaidt - ediFiCiO CaCtuS, uNiverSidade de
SaNtiaGO de COmPOSteLa
D. Gil Agra
arQueóLOGa PrOFeSiONaL

Resumen: Se presenta el estudio de la cerámica del yacimiento de fosas, Fraga do Zorro


(Abedes, Verín, Ourense). A partir de la presentación del yacimiento se mostrarán los resultados
preliminares del estudio de un material totalmente inédito, compuesto por 43 recipientes. El
conjunto ofrece formas desconocidas en el registro gallego hasta el momento, se realizará un
estudio formal y se aportará la información arqueométrica disponible. La composición minera-
lógica y elemental es muy variada (desde composiciones félsicas a máficas). Aunque la mayoría
de los recipientes tienen una composición que apunta a un origen local (en particular los de com-
posición félsica), una proporción relativamente alta (27%, con composiciones máficas) deben
proceder de áreas alejadas. Esto abre al menos dos posibles alternativas: 1) que se transporten
los recipientes, o 2) que se transporten los materiales, con implicaciones diferentes.
Palabras clave: Fraga do Zorro, Necrópolis de fosas, II milénio, Cerámica, Estudio for-
mal, Arqueometría.

Abstract: This paper presents preliminary results of the study of the ceramic of an ar-
chaeological site composed by several pits, Fraga do Zorro (Abedes, Verín, Ourense). Both, for-
mal and archaeometrical studies were performed on a completely inedit material, composed by
a set of 43 recipients. The assembly contains previously unknown forms in the ceramic record
of Galicia (NW Spain). The mineral and elemental compositions are quite diverse. Although the

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 107


pastes of most recipients (those with felsic composition) may have a local origin, a realtively
high proportion (27%, with mafic composition) may come from more distant source areas. This
opens at least to alternative situations: 1) the transport of recipients, or 2) the transport of raw
mater (particularly the temper), which have different implications.
Keywords: Fraga do Zorro, Pits necropolis, II millenium BC, Ceramic, Formal study,
Archaeometry.

introducción
El objetivo de este trabajo es presentar de manera preliminar la cerámica
del yacimiento fosas de Fraga do Zorro (Abedes, Verín, Ourense). El yaci-
miento fue descubierto en 1995 durante los trabajos de seguimiento y control
arqueológico del subtramo de la autovía Rías Baixas: Fumaces-Estivadas, tra-
bajo dirigido por M. González Méndez. Se recuperaron durante esta fase de
trabajo 622 fragmentos (sólo 8 decorados) (Prieto 1998 y 2001), la mayor parte
de los cuales podían asociarse a la Edad del Bronce, pero el 8,6% (54 piezas)
presentaban una adscripción medieval, moderna o indeterminada. Estos frag-
mentos aparecieron en varias concentraciones localizadas en la ruptura de pen-
diente cóncava de un escarpe y a los pies de un picacho rocoso, en una
superficie muy amplia tanto sobre el trazado de la autovía como en las áreas
de escombrera, con una extensión de unas 2,1 hectáreas.
El yacimiento fue excavado posteriormente por D. Gil Agra, una de las au-
toras de este trabajo. Está situado en una ladera de fuerte pendiente orientada al
norte y presenta, al menos, cuarenta estructuras arqueológicas, entre las que des-
tacan treinta fosas, una estructura de combustión, ocho agujeros de poste y una
zanja (fig. 1). El yacimiento se extiende probablemente más allá de los límites
impuestos por la obra. Estas estructuras se distribuyen en dos concentraciones
básicamente, una al NE y otra al SW. En el NE se concentran once de las estruc-
turas: la zanja, siete fosas y tres agujeros de poste. La zanja no era de mucha pro-
fundidad y tenía más de 9 m de longitud, con un trazado en S suave desde su
remate en el SW continuando hacia el NE, donde se documentaron tres agujeros
de poste insertados en la misma. En ese lado, se encuentraba interrumpida por el
perfil de delimitación de la excavación. Ésta podría haber funcionado como de-
limitación de espacios dentro del yacimiento o entre el yacimiento y su exterior.
La mayor parte de las estructuras, de tamaños muy variables, se agrupa-
ban en el SW: veintitrés fosas, una hoguera y cinco agujeros de poste. Los agu-

Pág. 108 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


jeros de poste estaban alineados y anejos a una de las fosas de mayor diámetro
del yacimiento, única superficie en la que se documentó material en el exterior
de las estructuras y sobre una capa fina de tierra apoyada sobre el xabre. En el
resto del yacimeinto el material se recuperó en el interior de las estructuras.
Las fosas presentaban una boca de tendencia circular, sus secciones tenían
un perfil con forma de saco, de base redondeada o de base plana -un poco más
ensanchada que el resto del cuerpo. Sus tamaños también varíaban entre 0,6
m y 2 m de diámetro de boca, y 0,6 y 1,2 m de profundidad. En algunos casos,
dos fosas parecían claramente superpuestas. Asimismo las fosas contenían re-
llenos de piedra de tamaño mediano, que aparecían bien sellando el nivel su-
perior, justo en su boca, o bien en la propia base de la fosa, en contacto con el
xabre.
Una muestra de carbón vegetal recogida en el nivel inferior de una de las
fosas proporcionó una datación de 1881-1660 -2σ cal BC - (CSIC-1201:
3438±43 BP) (calibración hecha a partir de Stuiver et al. 2005). Esta estructura
se localizaba en la concentración SW, por lo cual podría estar datando el mo-
mento de uso de las estructuras de este sector. Tanto la estratigrafía como los
materiales, apuntan a que el yacimiento ha sido ocupado en un mismo mo-
mento. Si bien sería interesante poder datar otras muestras del yacimiento para
confirmarlo.
La datación obtenida podría enmarcarse en una fase final del Bronce Ini-
cial, en la que todavía la cerámica campaniforme es utilizada como parte del
conjunto cerámico. Esta datación es coherente con los resultados obtenidos en
la cista de A Forxa (a escasos kilómetros hacia el NE de Fraga do Zorro, Prieto
et al. en este mismo volumen), y encaja con las dataciones de otros yacimientos
campaniformes gallegos como Devesa do Rei (Vedra, A Coruña) (Aboal et al.
2005).
En esta fase de trabajo se recuperaron 553 fragmentos cerámicos, pero
únicamente el 15,5% de ellos (86 piezas) se conservaban bien como para poder
hacer un estudio más completo reconstruyendo total o parcialmente recipientes.
El total de recipientes documentados en la excavación es de 42. La cerámica
ha sido estudiada siguiendo una metodología ya publicada (Prieto 1999a y
1999b, Martínez-Cortizas et al. 2008 y 2009). La industria lítica está pendiente
de estudio.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 109


caracterización formal del material
Se documentaron 42 recipientes, 24 lisos (57%) y 18 decorados (43%).
Asimismo, se han documentado 5 fichas de cerámica. Es el primer hallazgo
de este tipo documentado en un yacimiento prehistórico gallego, y por el mo-
mento no se conocen paralelos en otras zonas. Las fichas son de forma circular,
inferiores a 3 cm de diámetro y algo irregulares, poseen unas pastas semejantes
a las de los recipientes, y todo apunta
a que son reutilizaciones de panzas de
recipientes. La reutilización de frag-
mentos de panza rotos es muy fre-
cuente en épocas posteriores, tanto
realizadas a partir de recipientes cas-
treños como de ánforas romanas.
En relación con las formas de
los recipientes, se documentan seis
tipos y un grupo de recipientes de
forma indeterminada. Cabe destacar
Figura 1. Mapa, plano y o foto yacimiento
si es posible
que los recipientes son mayoritaria-
mente cerrados, tanto los de perfiles
simples como los compuestos, tendencia que es diferente a la de los asenta-
mientos del período (fig. 2):
Vasos: Se documentaron dos vasos de estilo campaniforme (4,7%).
Ollas: Únicamente se registró una (2,3%).
Floreros: Es la forma predominante del yacimiento con catorce recipientes
(33,3%). Sólo tres poseen decoración, un recipiente posee mamelones y dos, cor-
dones. Son las formas predominantes de las cistas localizadas en el N de Galicia.
Jarras: Se identificaron ocho (19%); tres de ellas decoradas, una con cor-
dón, otra con mamelones, y una tercera que combina mamelones y cordones
en diferentes orientaciones. Es una forma excepcional poco conocida en los
yacimientos gallegos. Son las únicas formas que poseen asas, éstas son planas,
y sólo en el caso del CA01 hay una nervadura en relieve en la parte central del
asa y en el exterior que parece un cordón.
Cubiletes: con esta morfología se encontraron ocho recipientes (19%);
todos ellos decorados: siete tienen mamelones y uno, cordones.

Pág. 110 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Cuencos: se identificaron tres cuencos (7,1%). Uno de ellos con cordón.
Formas indeterminadas: Se recuperaron seis recipientes (14,3%), cuyo
mal estado de conservación no ha permitido realizar una reconstrucción apro-
ximada. Dos de ellos están decorados, uno posee digitaciones y el otro ungu-
laciones sobre un cordón horizontal localizado en la parte superior del
recipiente, anejo al borde. Estas decoraciones son típicas de recipientes encon-
trados en yacimientos del Bronce Inicial en Europa occidental.

En relación con las técnicas de


fabricación, se aprecia que los reci-
pientes en su gran mayoría fueron
hechos a mano empleando la técnica
de churro; esto se puede ver especial-
mente bien en el recipiente CA01. En
general hay una combinación aparen- Figura 2. Relación
de formas presentes
temente aleatoria de acabados, textu- en el yacimiento de
ras y tonos, ya que en todos los Fraga do Zorro (los
dibujos fueron reali-
grupos morfológicos con más de un zados por A. Rodrí-
recipiente se puede observar hetero- guez Paz)
geneidad. Así, las texturas son las
que ofrecen una mayor variedad, tanto compactas como porosas, predomi-
nando la calidad media en todos los grupos y siendo la fina y la gruesa excep-
cionales. Se han documentado sólo acabados alisados toscos y medios,
predominando los toscos en todas las formas salvo en los vasos campanifor-
mes. En relación con el color, hay tanto tonos claros (naranjas y marrones cla-
ros) como oscuros (negros, marrones oscuros y grises). Si bien los vasos
campaniformes sólo presentan los primeros y la olla y los cuencos, los segun-
dos. Asimismo hay una gran variedad de fracturas, las monocromas y en sand-
wich predominan frente a las bicromas. Todas ellas pueden responder a una
cocción tanto oxidante como reductora. Quizás esta variabilidad de combina-
ciones es consecuencia de una despreocupación por la cocción, o una falta de
control técnico de la estructura de combustión utilizada.
Si nos centramos en la decoración, se pueden definir tres grandes grupos
de recipientes (fig. 3):

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 111


Cerámicas impresas: Se han podido reconstruir dos recipientes decorados
con líneas horizontales y técnica de impresión de peine (CA25 y 26), su deco-
ración es típica de los recipientes campaniformes estándar. Además, en lo tra-
bajos de prospección se recuperaron tres fragmentos de un recipiente que tiene
una línea impresa horizontal ovalada y cuatro fragmentos de otro vaso campa-
niforme puntillado del tipo Linear Variety -si bien estos dos no han sido incor-
porados en el estudio que presentamos aquí.
Cerámicas con decoración plástica: En este grupo hay bastante variabili-
dad, ya que tres poseen un cordón horizontal (CA05, 09, 17), nueve poseen
mamelones (CA06, 22, 24, 28, 29, 30, 31, 32, 42), un recipiente posee cordones
horizontales y verticales combinados (CA03) y otro combina cordones con di-
ferentes orientaciones y mamelones (CA01).
Cerámicas impresas sobre decoración plástica: Sólo dos recipientes se in-
cluyen en este grupo; poseen digitaciones (CA38) o ungulaciones (CA39) sobre
un cordón horizontal. Estas piezas, desgraciadamente, están integradas en las
formas indeterminadas.

Figura 3. Variantes decorativas de la cerámica del yacimiento de Fraga do Zorro (fotografías realizadas
por Y. Porto Tenreiro)

Cabe destacar que hay una cierta variedad de mamelones, que se pueden
clasificar en tres tipos morfológicos: un grupo de mamelones de gran tamaño,
planta circular y perfil redondeado (CA1 y 32); otro grupo de mamelones de

Pág. 112 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


pequeño tamaño, planta circular y perfil redondeado (CA6, 22 y 24); y un tercer
grupo de mamelones de gran tamaño, planta circular y perfil plano (CA28, 29,
30, 31 y 42). Los diferentes tipos de decoración no parecen asociados a una
forma específica, exceptuando el puntillado campaniforme, vinculado a la
forma de vaso. Esta riqueza decorativa es sólo comparable a la encontrada en
la necrópolis de A Pedrosa (Taboada 1971), al W del yacimiento.
En resumen, se documentó una gran cantidad y variedad de recipientes
decorados, un total de dieciocho, dos campaniformes, doce con decoración
plástica simple, dos con decoración plástica compleja y dos combinando im-
presión sobre cordón.

Análisis arqueométricos
A partir de los rasgos formales de la cerámica y dada la variabilidad re-
gistrada, se seleccionaron 34 recipientes (el 84% de los recipientes del yaci-
miento). Además se incluyó una ficha de cerámica (n480), una pieza que podría
formar parte de un crisol (n432), y una muestra de argamasa extraída del re-
vestimiento de una de las fosas del yacimiento (h001). Todo el material selec-
cionado se ha recuperado en la excavación.
El análisis mineralógico permitió identificar un total de diez minerales. Cinco
de ellos son muy frecuentes (presentes en todas o casi todas las piezas): cuarzo,
feldespato potásico (microclina), plagioclasa, haloisita y mica; tres, anfíbol, cao-
linita y clorita son frecuentes (identificados en un 15 a un 25 % de las muestras),
y dos, hematita y talco, son ocasionales (<1% de presencia) (Tabla 1, parte supe-
rior izquierda). En relación a la abundancia, definida como la concentración media
de un mineral en las cerámicas en las que está presente, se observa como el cuarzo
y la plagioclasa son los minerales más abundantes (>25%), seguidos de la clorita,
los feldespatos potásicos y la haloisita (≈10-15%). La mica, el anfíbol, la hematita,
la kaolinita y el talco son poco abundantes (concentración media inferior al 10%).
Es de destacar el caso de dos minerales, la clorita que es muy poco frecuente pero
abundante, y la mica, que es muy frecuente pero su concentración en las pastas
es baja. El resto de los minerales siguen la tendencia de muy frecuentes y abun-
dantes a poco frecuentes y poco abundantes. Hay que destacar la elevada desvia-
ción típica de la abundancia mineral, lo que refleja una alta variabilidad
composicional de las cerámicas que oscilan entre términos félsicos y máficos.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 113


tabla 1. Mineralogía (% de la fase cristalina) y composición elemental (% y μg/g) de las piezas ce-
rámicas. F: frecuencia, Ab: abundancia, d.t.: desviación típica. Clo: clorita, M: mica, Talc: talco, Anf: anfíbol,
Kao: caolinita, Hal: haloisita, Q: cuarzo, FK: feldespato potásico, Pg: Plagioclasa, Hem: hematita.

El análisis mineralógico también aporta cierta información sobre la tem-


peratura de cocción de las cerámicas. Las temperaturas debieron ser superiores
a 550 ºC –temperatura de amorfización de la caolinita- e inferiores a 1000-
1100 ºC –temperatura a partir de la cual micas y plagioclasas empiezan a re-
accionar térmicamente. Para acotar mejor el rango sería necesario realizar
ensayos a temperaturas crecientes, lo cual permite determinar la temperatura
equivalente (Gosselain 1992, Curet 1997).
En la tabla 1 (parte inferior derecha), se presentan los datos del análisis ele-
mental. Silicio y aluminio son los elementos químicos mayoritarios, tal y como
era de esperar por el caracter alúmino-silicatado de la mayoría de los minerales.
El contenido de hierro, con una media de un 5%, es también relativamente ele-
vado. Le siguen el potasio (3%) y el Ca (0,4%). Esto indica la predominancia de
composiciones alcalinas sobre las calcoalcalinas. Titanio, manganeso y fósforo
aparecen como elementos minoritarios (0,5-1%), cromo, níquel, cobre, cinc,
galio, arsénico, bromo, rubidio, estroncio, itrio, circonio, niobio, plomo y torio
se detectaron en concentraciones traza, que oscilan entre 2 μg/g (bromo) y 300
μg/g (rubidio), La desviación típica es elevada para la mayoría de los elementos
(tabla 1), lo que concuerda con la alta variabilidad encontrada en la mineralogía
y confirma la diversidad de composiciones en las pastas. Nótese que el análisis
elemental nos da una idea de la composición total de la cerámica, mientras que
el análisis de difracción de rayos X se circunscribe a la fracción cristalina.

Pág. 114 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


El análisis estadístico (análisis factorial por componentes principales) del
conjunto de datos de mineralogía y composición elemental reveló que el prin-
cipal componente de variabilidad en las muestras es su carácter félsico o máfico
(primer componente, F1, con un 26,4 % de la varianza total explicada) (fig.
4). Así, los minerales cuarzo y feldespato potásico y los elementos silicio, po-
tasio, rubidio, plomo, niobio, aluminio y torio tienen cargas negativas (lado iz-
quierdo de la proyección F1-F2), mientras que la clorita, la plagioclasa, y el
anfíbol, junto con elementos como manganeso, calcio, zirconio, cobre, estron-
cio, níquel, cromo, hierro y titanio, tienen cargas positivas (lado derecho de la
proyección F1-F2). En segundo componente, F2, hay una separación ligada
especialmente a las cerámicas de composición félsica, entre pastas ricas en
cuarzo y feldespato potásico frente a pastas ricas en mica, haloisita, hematita
y con concentraciones altas de aluminio, torio y, especialmente, arsénico. Las
cerámicas máficas o de mineralogías básicas no presentan esta diferenciación.

La proyección F1-F2 de las


puntuaciones de las muestras permite
apreciar cinco grupos principales
(fig. 5, superior):
- F-FK: grupo mayoritario
(46% de las muestras) y muy bien
definido, rico en desgrasantes félsi-
cos (cuarzo y feldespato potásico,
sobre todo).
- F-M: grupo también de natu-
Figura 4. Proyección F1-F2 de minerales y elemen- raleza félsica, pero menos rico en
tos químicos. cuarzo y feldespato potásico (textu-
ras más toscas) y más micáceo y ha-
loisítico (y con el desgrasante repartido más homogéneamente), con algunas
piezas que destacan por su alta concentración en arsénico. En este grupo el
desgrasante es menos conspicuo y la textura tiende a ser más fina. Contiene el
16,2% de las muestras.
Se observa entonces una diferenciación en las proporciones relativas del
desgrasante añadido, siendo F-FK muy rico en desgrasante y F-M menos rico

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 115


en desgrasante y relativamente más rico en minerales arcillosos. El grupo F-
M es especialmente rico en arsénico, alcanzando las muestras CA15 y CA39
valores superiores a 90 ppm. La pieza CA15 destaca también por contener altas
cantidades de hematita.
- MA: un tercer grupo es rico en desgrasantes máficos (con plagioclasa,
clorita y anfíbol, siendo estos dos últimos exclusivos de este grupo) y posee
colores más claros en el corte transversal. La plagioclasa está siempre presente
y en gran abundancia, el anfíbol también es abundante y está presente en la
mayoría de las muestras mientras que la clorita es menos frecuente. La mayoría
de los elementos químicos metálicos presentaron sus concentraciones más ele-
vadas en las cerámicas de este grupo. Está formado por el 24,3% de las mues-
tras analizadas.
- Mn-A: un cuarto grupo, también
máfico, que no contiene anfíboles en la
mezcla (Mn-A), y está representado por
un número inferior de piezas (10,8% de
las muestras).
- UM: y un quinto grupo, de cerá-
micas de naturaleza ultramáfica, que
está compuesto por una sola pieza (la
ficha de cerámica n480). Esta pieza se
separa de las demás por contener talco
en su composicición, mineral asociado
a rocas ultramáficas y de distribución
muy localizada.

La comparación de la composición
de las cerámicas con la distribución de
los materiales geológicos en el entorno
del yacimiento nos permite extraer in-
Figura 5. En la parte superior: Grupos Geoquí- formación acerca de la posible proce-
micogeoquímico-Mineralógicosmineralógicos. dencia (ver mapas I.G.M.E. nº 303:
En la parte inferior se muestran los dibujos de
los recipientes analizados agrupados según la
Nuño y López 1981). La litología es
geoquímica y la minreralogía bastante homogénea, siendo mayorita-

Pág. 116 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


rios los esquistos ácidos con mineralogías cuarcítico-moscovíticas (y en menor
abundancia minerales asociados al metamorfismo) -el yacimiento se sitúa sobre
ellos-, y las rocas graníticas con cuarzo, feldespatos potásicos (microclina),
plagioclasas y micas; también hay una amplia zona de sedimentos terciarios,
formados por arcillas con cantidades variables de cantos de cuarzo.
Los grupos félsicos son coherentes con la mineralogía de los materiales
del entorno. Así, el área de sedimentos naturales ricos en arcillas podría ser el
origen del grupo félsico-arcilloso y las áreas de granitos alcalinos y esquistos
ácidos podrían ser el origen del grupo félsico-cuarzo-feldespático, sin descartar
posibles mezclas intencionales en algunas muestras ricas en desgrasantes
cuarzo-feldespáticos. El grupo arcilloso-micáceo es especialmente rico en ar-
sénico, lo que concuerda con los niveles encontrados en el área del estudio y
en áreas próximas, donde en las zonas de contacto entre granitos y granodio-
ritas con los esquistos se registraron concentraciones anómalas en As (Nóvoa,
J. C.; comunicación personal) debido a mineralizaciones de arseniopirita y li-
gado a minerales arcillosos y óxidos de hierro y aluminio cristalinos (Nóvoa
et al. .2007). Así, las piezas CA07, CA15, CA20, CA39 y CA43, son las que
tienen un origen local más probable, ligado a los niveles de arsénico del área
de estudio.
En lo que se refiere al grupo máfico anfibólico, encontramos una diver-
gencia con la litología local ya que el anfíbol no se documenta en el entorno
del yacimiento, Al igual que en el caso de dos de las piezas de A Forxa (cista
localizada en la misma área litológica que Fraga do Zorro, Prieto et al. en este
mismo volumen), las dos zonas más próximas con litologías que contengan
anfíbol son la zona de Lalín al NW y el área de Bragança-Vinhais al SE (en
Portugal). Además, es destacable de este grupo la presencia de feldespato po-
tásico y anfíbol en las mismas cerámicas, combinación mineralógica muy poco
frecuente en las rocas de Galicia (salvo en algunos gneises anfibólicos) y en
sus materiales de alteración, lo que podría indicar una mezcla intencionada
desgrasantes de distinta procedencia.
El grupo máfico no anfibólico sí puede tener un origen local, si bien el
alto contenido en plagioclasa apunta hacia una mezcla intencional del desgra-
sante. La presencia de niveles de arsénico encontrados también es coherente
con la litología local.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 117


Finalmente, la pieza ultramáfica se caracteriza por tener talco. Este mi-
neral está presente en pocas zonas de forma natural, y no aparece en los mate-
riales litológicos del entorno del yacimiento de Fraga do Zorro. La fuente más
próxima que conocemos se localiza en la comarca del Ulla-Deza, que también
podría ser una de las posibles áreas fuente de anfíboles antes mencionadas. Por
lo tanto, esta pieza, junto a las nueve piezas máficas-anfibólicas del yacimiento
parecen proceder de zonas alejadas del yacimiento.

comentarios finales
Debemos resaltar la excepcionalidad de este yacimiento en la región. Es
un ejemplo único de necrópolis de fosas del Bronce Inicial en Galicia, exca-
vado recientemente y bien contextualizado. Posee una datación que lo ubicaría
perfectamente en el Bronce Inicial gallego de contextos campaniformes y es
coherente con las dataciones de algunos yacimientos tanto funerarios con do-
mésticos.
En lo que se refiere a los materiales, el yacimiento muestra asimismo no-
vedades interesantes para la región. Es la primera vez que se documentan fichas
cerámicas asociadas a un yacimiento de este tipo y de esta cronología tan an-
tigua en el NW de la Península Ibérica. La variabilidad cerámica es enorme,
documentándose nuevas formas desconocidas en yacimientos gallegos: las
morfologías y las decoraciones plásticas ofrecen una cierta variabilidad, su-
brayada por el predominio las formas que habitualmente son escasas en los
asentamientos del mismo periodo y por el desarrollo de decoraciones plásticas
que, nuevamente son escasas en los asentamientos y parecen tener un papel
más funcional que decorativo. La clasificación de la cerámica requiere esta-
blecer grupos o bien a partir de las morfologías o bien a partir de los rasgos
decorativos.
Se observan ciertos indicios formales y técnicos en los recipientes que
nos llevan a pensar que algunas de las fases de manufacturación responden a
una cierta despreocupación por la calidad de los recipientes, como si éstos fue-
sen fabricados con la intención de ser incorporados a las tumbas.
Las cerámicas se pueden clasificar, en base a su composición geoquímica
y mineralógica en cinco grupos: los dos primeros félsicos, es decir, ricos en
minerales característicos de granitos y esquistos y en sus elementos asociados.

Pág. 118 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


El primero, F-FK, especialmente rico en cuarzo y feldespato potásico y el se-
gundo, F-M, rico en mica y haloisita (más arcilloso). El tercer grupo es máfico
(MA) y está caracterizado por ser muy metálico y rico en plagioclasa, anfíbol
y clorita. Se puede hacer un subgrupo (mayoritario) caracterizado por la pre-
sencia de anfíbol. El último grupo, UM, que contiene una única pieza, tiene
talco. No se ha encontrado ninguna relación directa entre los grupos composi-
cionales y los grupos formales.
Finalmente, en relación con la procedencia de la materia prima, se puede
destacar que si bien hay un número elevado de recipientes de probable origen
local, un porcentaje (27%) relativamente alto de las cerámicas deben proceder
de áreas lejanas, como en el caso de la cista de A Forxa, donde dos de los cuatro
recipientes analizados responden a este mismo fenómeno de movilidad.
De hecho, si nos centramos en los recipientes que podrían proceder de
áreas más o menos lejanas, se observa que en un nivel morfológico, técnico y
decorativo, éstos no muestran diferencias con el resto de los recipientes del ya-
cimiento. Esto podría implicar que los recipientes son transportados, enten-
diendo así, que el estilo cerámico abarca un espacio regional amplio, quizás
más extendido hacia el sur del yacimiento. Los recipientes de procedencia le-
jana se harían de manera similar a los de la zona de Fraga do Zorro, por lo cual
no se constatarían diferencias formales entre unos y otros.
Pero también podría ocurrir que lo que estuvo sujeto a movilidad es una
parte del desgrasante para fabricar los recipientes en la zona del yacimiento,
el material anfibólico. Sin embargo este mineral, salvo para aportar color rojo
(aunque no parece la intención en este caso), no manifiesta un comportamiento
térmico especial conocido que haga más deseable su utilización frente a otros
minerales de origen local.
Si fuera el desgrasante lo que es transportado, la interpretación se hace
mucho más compleja, ya que éste seguramente no sería más que un efecto se-
cundario del transporte. Tendría más lógica que esta materia prima se usara
para la fabricación de industria lítica. Pero todavía está sin desarrollar una in-
vestigación sobre este tema en la zona, y no se sabe si lo que se transporta es
el lítico acabado o su materia prima, así que sólo podemos emitir hipótesis al
respecto. En este caso los mecanismos de circulación de la materia prima, o la
distribución para fabricación de útiles o uso de desgrasante para cerámica se-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 119


rían mucho más complejos, e interesantes para desarrollar en trabajos futuros.
Convendría analizar materiales cerámicos de otros contextos de la zona
y de la región para poder determinar hasta qué punto este patrón de movilidad
es semejante al encontrado en estos enterramientos o es completamente dife-
rente. Es, dentro de este contexto global, donde podremos interpretar adecua-
damente los resultados analíticos y formales de la cerámica.

Reconocimientos
Este artículo está realizado en el marco del proyecto titulado “Aplicación
de técnicas arqueométricas ao estudo da cerámica antiga de Galicia” (código:
PGIDIT07PXIB236075PR) concedido por la Dirección Xeral de Investigación,
Desenvolvimento e Innovación (I+C+I), Xunta de Galicia dentro del Programa
de Promoción Xeral de Investigación do Plan Galego de Investigación, Des-
envolvemento e Innovación Tecnolóxica (INCITE) de 2007.

Bibliografía
Aboal Fernández, R.; Ayán Vila, X.; Criado Boado, F.; Prieto Martínez, Mª P.; Tabarés Domínguez,
M. 2005. Yacimientos sin estratigrafía: DEV, ¿un sitio cultual de la Prehistoria Reciente y la Protohistoria
de Galicia?. Trabajos de Prehistoria, 62 (2): 165-180.
Curet, L. A.. 1997. Technological changes in prehistoric ceramicsfrom eastern Puerto Rico: an ex-
ploratory Study. journal of Archaeological Science, 24: 497-504.Academic Press Limited.
Gosselain, O. P. 1992. Bonfire of the Enquiries. Pottery Firing Temperaturas in Archaeology: What
For?. journal of Archaeological Science, 19: 243-259.
Martínez-Cortizas A., Prieto-Lamas B, Lantes-Suárez Ó, Prieto-Martínez Mª P. 2008 (en prensa).
Análisis elemental y cromático de cerámica Prehistórica del Área Ulla-Deza (NW de la Península Ibérica).
Actas del VII Congreso Ibérico de Arqueometría (Madrid 2007).
Martínez-Cortizas, A; Lantes-Suárez, O & Prieto-Martínez, P. 2009 (en prensa). Análisis Arqueomé-
trico de la Cerámica prehistórica del Área Ulla-Deza. En M. P. Prieto-Martínez, F. Criado-Boado y A. Ro-
dríguez Costas (Coords.): Autopista al pasado. Arqueología y paisaje en la ACEGA, entre Santiago y el
Alto de Santo Domingo. Traballos de Arqueoloxía e Patrimonio. Santiago de Compostela.
Nóvoa-Muñoz, J. C.; Queijeiro, J. M. G.; Blanco-Ward, D.; Álvarez-Olleros, C.; García-Rodeja; E.
& Martínez-Cortizas; A. 2007. Arsenic fractionation in agricultural acid soils from NW Spain using a se-
cuential extraction procedure. Science of the Total Environment, v. 378, p. 18-22. Elsevier.
Prieto-Martínez, Mª P. 1999a. Forma, estilo y contexto en la cultura material de la Edad del Bronce
gallega: cerámica campaniforme y cerámica no decorada. Tesis doctoral editada en CD-Rom (1999). San-
tiago de Compostela: Facultade de Xeografía e Historia, Departamento de Historia I, Universidade de San-
tiago de Compostela.
Prieto-Martínez M.-P. 1999b. Caracterización del estilo cerámico de la Edad del Bronce en Galicia:
Cerámica Campaniforme y cerámica no decorada, Complutum, 10: 71-90.
Prieto-Martínez, M.-P. 2001. La Cultura Material Cerámica en la Prehistoria Reciente de Galicia:
Yacimientos al Aire Libre. Trabajos en Arqueología del Paisaje, 20. LAFC. Santiago de Compostela.
Prieto Martínez M.-P., Lantes Suárez O., Martínez Cortizas A. 2008. O campaniforme cordado de

Pág. 120 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Forno dos Mouros (Toques, A Coruña). Cuadernos de Estudios Gallegos, 121: 31-51.
Nuño C., López M.-J. 1981. Mapa Geológico 1:50.000 y Memoria explicativa de la hoja nº 303, 8-
13, Verín). Publicaciones del I.G.M.E.
Taboada Chivite, X. 1971. Notas arqueológicas de la región del Támega (Verín). Cuadernos de Es-
tudios Gallegos, 26: 45-63. Santiago de Compostela.
Stuiver M., Reimer P.-J., Reimer R. 2005. CALIB Manual (5.0.2).
http://radiocarbon.pa.qub.ac.uk/calib/calib.html. Last modified: Wed, 09 Feb 2005 14:46:07 GMT.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 121


Pág. 122 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009
RePensAndo el PAsAdo:
cAMBio sociAl e iconoGRAFÍA GueRReRA en lA edAd del
hieRRo del noRoeste de lA PenÍnsulA iBÉRicA*
RETHINKING THE PAST: SOCIAL CHANGE AND IRON AGE WARRIOR
ICONOGRAPHY IN NORTHWEST OF THE IBERIAN PENINSULA

Francisco Javier González García


uNiverSidad de SaNtiaGO de COmPOSteLa;
FraNCiSCOjavier.GONzaLez@uSC.eS

Resumen: El trabajo aquí presentado pretende, a través del análisis y estudio comparativo
de la denominada estela antropomorfa de Muíño de San Pedro (Oímbra, Ourense) y de su iden-
tificación como estatua-menhir equiparable a las piezas del mismo tipo del Norte de Portugal,
servir como ejercicio de reflexión sobre las formas de apropiación del pasado por parte de las
sociedades galaicas de la Edad del Hierro sometidas, ya, al influjo cultural romano. El objetivo
fundamental del trabajo consiste en presentar una hipótesis sobre cómo se produjo la negocia-
ción, dentro de las sociedades de Edad del Hierro del Noroeste peninsular, entre las formas cul-
turales indígenas, algunas de ellas muy antiguas y reutilizadas de etapas anteriores, y las nuevas
formas culturales romanas.
Palabras clave: Noroeste de la Península Ibérica, Edad del Bronce, Edad del Hierro, Es-
tatuas-menhir; epigrafía latina; hábito epigráfico; interacción cultural.

Abstract: This paper carries out the analysis and comparative study of the anthropomor-
phic stele from Muiño de San Pedro (Oímbra, Ourense, Spain) and proposes to identify it as
statue-menhir, similar to other items from Northern Portugal. Our work aims to present a model
of thinking on the ways Iron Age societies from Gallaecia, under roman cultural influence, as-
similated their own past. Our main purpose is to formulate a hypothesis on the cultural negoti-
ation between the old indigenous cultural traditions from this geographic area and the new
cultural ways introduced by the romans.
Keywords: NW Iberian Peninsula; Bronze Age; Iron Age; Statue-menhirs; Latin epigra-
phy; Epigraphic habit; Cultural interaction.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 123


1. introducción
En las presentes páginas vamos a plantear un ejercicio de doble reflexión
sobre el pasado: Por una parte, a través del estudio de la estatua-menhir de
Muiño de San Pedro (Oímbra, Ourense) nos replantearemos el uso que, en la
Edad del Hierro galaica, se hizo de determinados elementos materiales proce-
dentes de épocas anteriores; por otra, la revisión de la investigación sobre dicha
pieza nos permitirá, también, repensar la imagen que, desde la actualidad, nos
hacemos del pasado, corroborando, de ese modo, la famosa afirmación de B.
Croce según la cual “toda historia es historia contemporánea” o, lo que es lo
mismo, que la historia, como ha señalado Roldán1, consiste, esencialmente, en
ver el pasado con los ojos del presente y a la luz de los problemas de ahora.
Es, precisamente, en este último sentido en el que el trabajo que aquí presen-
tamos se encuadra a la perfección dentro de la temática del presente congreso
que pretende configurar un patrimonio cultural común a través de una arqueo-
logía y una investigación transfronteriza y no, como ha venido sucediendo,
hasta la fecha, como el resultado de dos tradiciones investigadoras nacionales
distintas. Creo que las presentes páginas, ejercicio de reflexión realizado a par-
tir de una pieza arqueológica aparecida en Galicia pero adscribible a tradiciones
culturales bien conocidas en el N portugués, ofrece un magnífico ejemplo de
patrimonio común y de investigación transfronteriza que puede contribuir a
poner fin al tímido diálogo entre las tradiciones investigadoras gallegas y por-
tuguesas que, como veremos, se reflejan a la perfección en las interpretaciones
que ambas comunidades científicas han dado a la estatua-menhir de Muíño de
San Pedro.
La antigua dicotomía entre “sociedades calientes”, aquéllas que interio-
rizan profundamente el devenir histórico para convertirlo en motor de su des-
arrollo, y “sociedades frías”, aquéllas cuyas instituciones buscan la anulación,
de manera casi automática, del efecto que los factores históricos podían tener
sobre su equilibrio y su continuidad2, se puede dar por acabada, de tal modo
que los objetos respectivos de la Historia y de la Antropología, el estudio, res-
pectivamente, de las estructuras diacrónicas y de las sincrónicas, ya no tiene
razón de ser. En la actualidad somos conscientes del carácter borroso que pre-
senta la habitual distinción entre las “sociedades primitivas” con estructuras
elementales y caracterizadas por vivir fuera de la Historia y las “sociedades

Pág. 124 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


avanzadas”, con estructuras complejas y conscientemente implicadas en el pro-
ceso de transformación histórica3. Sabemos que dicha dicotomía derivaba, en
gran medida, del modelo utilizado por los antropólogos que excluía la posibi-
lidad del desarrollo evolutivo de las sociedades que estudiaban, al suponer que
los sistemas que observaban siempre habían sido así desde tiempos inmemo-
riales4. Así pues, el problema que nos plantean estos dos tipos de sociedad no
radica tanto en su negación o aceptación del pasado sino en nuestra capacidad
de reconstrucción del mismo y lo cierto es que, en el caso de la gran mayoría
de las sociedades y culturas primitivas, nos resulta difícil, cuando no imposible,
reconstruir su historia, entendida ésta, claro está, como la sucesión de aconte-
cimientos vividos por dicha sociedad. Este hecho, sin embargo, no excluye que
podamos llegar a conocer, por superficial que sea, la historia de estas socieda-
des; para ello hay que tener en cuenta que si un hecho se convierte en un acon-
tecimiento, ello se debe a que depende de un contexto cultural dado, en
definitiva, de una estructura o de un sistema que lo determina5, y que dichas
estructuras, en muchas ocasiones, sí que pueden llegar a ser captadas y com-
prendidas por el investigador, pues, tal y como indicó Sahlins6, la persistencia
de una estructura a través del tiempo y, podríamos añadir, los cambios que la
misma ha conocido durante ese mismo período también se pueden considerar
como historia, de tal modo que la diferencias entre estructura e historia, entre
estabilidad y cambio, no son, en modo alguno, alternativas excluyentes.
Estas reflexiones iniciales vienen a cuento porque mi interés, a lo largo
de estas páginas, se va a centrar en un ejemplo de reutilización de un material
antiguo por parte de una sociedad que podríamos calificar como primitiva y
porque consideraré dicha reutilización como una manifestación, por parte de
esa sociedad, de un proceso de re-semantización del pasado. Sabemos que, a
lo largo de la historia de la humanidad, han existido vestigios antiguos que,
por diferentes motivos, entre ellos su monumentalidad, han captado la atención
de las sociedades humanas. La curiosidad humana, así despertada, explica la
génesis de diversos relatos y narraciones, en muchos casos de origen mítico,
con los que se pretende dar cuenta del origen de dichos monumentos, así como
la reutilización y la consiguiente creación de un nuevo significado cultural de
muchos de ellos ya desde tiempos prehistóricos7.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 125


2. la estatua-menhir de Muiño de san Pedro: encuadramiento cro-
nológico y cultural
El monumento que aquí centra nuestra atención es una piedra de granito
de tamaño considerable, aparecida, en 1985, a orillas del Támega, en el lugar
de Muiño de San Pedro, concello de Oímbra, cerca de Verín (Figura 1). Se trata
de una pieza de sección ovoide y configuración antropomorfa que presenta
unas medidas de 160 cm de altura y una sección que oscila, según las diferentes
partes de la misma, entre los 91 y los 164 cms, esculpida en todo su perímetro
y en la que, además, figura en su anverso una inscripción romana cuyo texto
es el siguiente: Latroni / us Celt / iati ·F(ilius) / H(ic) S(itus) :E(st)8; junto a la
inscripción, por encima de ella, la pieza del Muiño de San Pedro presenta una
representación gravada de una cabeza humana, con orejas, ojos y boca; en el
reverso se representa un motivo geométrico subrectangular que corre desde la
altura de la nuca hasta la parte inferior de la pieza, mientras que la parte trasera
de la cabeza presenta una serie de estrangulamientos que conceden a la pieza
el aspecto de un glande9.
Este monumento, ya desde su descubrimiento y primera publicación, ha
sido interpretado por la investigación gallega como una estela funeraria antro-
pomorfa romana, si bien siempre se ha puesto de manifiesto que, en ella, se
aprecia un importante peso del componente cultural indígena10. Adscripción
cultural que ha quedado como un hecho fijo en la tradición investigadora ga-
laica y que no ha sido revisada ni matizada, al contrario de lo que sucede con
otras de sus características, como, por ejemplo, su tipología que, para Rodrí-
guez Colmenero11, responda al tipo de estela bifronte.
La adscripción romana deriva, básicamente, de la presencia de la inscrip-
ción; este es el motivo fundamental que lleva, a muchos autores, a considerar
que todas las estelas antropomorfas con epígrafe romano datan, necesaria-
mente, de época romana12. Una buena prueba de esta tendencia la ofrece el
texto de la ficha que sobre esta pieza figura en la página web del Museo Ar-
queológico Provincial de Ourense13 en la que, explícitamente, se nos dice que
si no fuese por el hecho de presentar inscripción, la pieza sería relacionada di-
rectamente con las estelas-menhir portuguesas, con la que presenta ciertos ele-
mentos en común, para, a continuación, afirmar: “fora deses elementos
carecemos doutras indicacións que permitan unha identificación precisa como

Pág. 126 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


tal estela-menhir. De ahí que sen negar esa posible orixe, que consideramos
moi probable, teñamos que considerar a peza como propiamente enraizada no
mundo galaicorromano”, hasta tal punto que se le atribuye, fundamentalmente
a partir del epígrafe, una datación de mediados o finales del siglo I d.C. El es-
tudio de esta pieza realizado por Rodríguez Colmenero14 se orienta, también,
en esta misma dirección: dicho autor, partiendo del hecho de que el ejemplar
de Muíño de San Pedro podría haber sido una
estatua-menhir reutilizada, ha buscado indi-
cios, en la misma, de discontinuidades entre
sus diversas caras, concluyendo, como resul-
tado de dicho análisis, que el bloque parece
haber sido labrado de una sola vez, hecho que
considera de gran trascendencia pues estaría-
mos ante una “estela bifronte romana, que em-
pregaría na decoración do seu reverso motivos
supostamente prehistóricos”, llegando a plan-
tearse la posibilidad de rebajar la datación de
este tipo de piezas, tal y como, como veremos,
hizo en su día Vázquez Varela para la pieza de
Troitosende. Sin dudar del análisis visual de la
pieza realizado por Rodríguez Colmenero me
resulta difícil aceptar ese empleo de motivos
prehistóricos en una pieza con datación en
época romana cuando, como veremos, son mu-
chos los elementos estilísticos que vinculan a Figura 1. Estatua-menhir de Muiño de
San Pedro, Oimbra, Ourense (fuente:
nuestra pieza con las estatuas-menhires del N Museo Provincial de Ourense 2002a)
de Portugal; sería preciso, quizás, un análisis
mucho más detallado de los restos de labra de la pieza, sin descartar, tampoco,
que el grabado prehistórico se haya visto muy alterado, en época romana, como
consecuencia de las labores de preparación del campo epigráfico de la piedra,
tal y como, por ejemplo, ha indicado Bettencourt15.
Creo que en esta asignación a época romana del ejemplar del Muiño de
San Pedro por parte de la investigación gallega también ha jugado un papel
importante, además de la presencia del epígrafe, la revisión realizada por Váz-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 127


quez Varela de la estela de Troitosende (A Coruña)16, en la que defendía una
datación romana para un monumento que, hasta ese momento, había sido con-
siderado como prehistórico, y denunciaba el abuso de los paralelismos en el
estudio del arte prehistórico. Esta revisión ha influido hasta tal punto a la in-
vestigación gallega que se ha llegado a explicar el aspecto claramente indígena
de las piezas antropomorfas galaicas como un ejemplo de sincretismo entre las
tradiciones indígenas y romanas, argumentando que se trataría de una tradición
indígena que se retrotraería hasta las estatuas-menhir pero que se vería pro-
fundamente alterada en época romana, como lo demostraría su utilización
como estelas funerarias17.
Por lo que respecta a la calificación de la pieza de Muiño de San Pedro
como estela creemos que se trata de una adscripción tipológica errónea. Sa-
bemos que, con frecuencia, el término estela se utiliza como sinónimo de mo-
numento funerario pero, en aras de un uso más correcto del léxico científico,
consideramos, con Bonneville18, que el uso del término estela se debería li-
mitar a aquellos monumentos cuyo grosor es inferior a un tercio del lado más
pequeño de la cara anterior, que sean piezas exentas y que hayan sido reali-
zadas para ser vistas frontalmente. Atendiendo a estas tres características, la
pieza que aquí nos ocupa sólo cumple una de ellas, su carácter exento y, por
ello, difícilmente la podemos denominar como estela. De hecho, la pieza de
Muiño de San Pedro presenta, con respecto a las restantes estelas antropo-
morfas con las que Taboada Cid19 las vinculó (Paradela, Ouzande, Troito-
sende, Tins y Bermes: Figura 2: a, c, d, e, f) una diferencia fundamental: el
hecho de que, frente a la frontalidad de esas piezas, la estela de Muiño de San
Pedro está esculpida en toda su superficie. Esta invasión del texto y la deco-
ración por toda la pieza justifica, quizás, su consideración, por parte de Col-
menero, como estela bifronte, tipología que, creo, tampoco conviene a la pieza
aquí estudiada.
Como ya he dicho, la adscripción de la pieza a época romana deriva, fun-
damentalmente, del hecho de contar con un epígrafe en latín en su anverso. Si
prescindimos de dicho texto y observamos la pieza en su conjunto, ésta resulta
fácilmente identificable como una estatua–menhir, entendiendo como tal aque-
lla pieza que representa a una figura humana esculpida en forma tridimensional,
con independencia de que posea, o no, atributos decorativos20 y, por ello, se la

Pág. 128 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


puede considerar como una estatua-menhir, similar, como veremos, a otros
ejemplos del N de Portugal, reutilizada en época romana para ser convertida
en epígrafe funerario21; incluso podríamos ir más allá y, siguiendo a Betten-
court22, considerar que estamos ante un menhir fálico reconvertido en estatua-
menhir a la que, posteriormente se le añadió un texto epigráfico en latín.
Aplicando al análisis de la pieza de Muíño de San Pedro unas cautelas
comparativas similares a las aplicadas por Vázquez Varela23 en su estudio de la
estela de Troitosende, es decir, centrándonos, simplemente, en paralelos próxi-
mos que nos permitan encuadrar a nuestra pieza dentro de la evolución de las
formas propias del NO de la Península, no cabe ninguna duda que estamos ante
una estatua-menhir. Por su forma, recuerda las piezas portuguesas de Chaves y
Bouça (Figura 3: b y d) con las que se vincula, además, por el aspecto fálico
que todas ellas presentan24. La presencia, en nuestra pieza, del motivo geomé-
trico del anverso, representación fácilmente identificable con los motivos de-
corativos sub-rectangulares que aparecen en las piezas de Chaves25, Bouça26,
Faiôes27 (Figura 3: c) o San Joâo de Ver28 (Figura 3: a) nos permite incluirla
dentro del grupo de las estatuas-menhir; si bien en este caso, y al igual que su-
cede con el ejemplar de Bouça29, la pieza de Muiño de San Pedro, a diferencia
del resto de los ejemplos arriba citados, no presenta representaciones de armas.
Esta inclusión de la pieza del Muiño de San Pedro dentro de la tradición de las
estatuas-menhir del N de Portugal no debe resultar sorprendente, dada la pro-
ximidad geográfica de la zona orensana del hallazgo con la frontera portuguesa
y, también, por el hecho de no ser la única pieza de este tipo aparecida en la
provincia de Ourense que se puede encuadrar dentro de dicha tradición; así, por
ejemplo, en esta misma provincia se conoce la estatua-menhir de Vilar de San-
tos30 o la, denominada, estela funeraria de Tameirón31 (Figura 4: a y b), piezas
que parecen apuntar hacia la inclusión de un sector del territorio de la provincia
de Ourense dentro de tradiciones culturales prehistóricas muy bien representadas
en el norte portugués. En este sentido, la pieza de Muíño de San Pedro se en-
cuadraría dentro del tipo 2 de estatuas-menhir del N de Portugal definido por
Susana Oliveira Jorge32, el formado por algunas de las piezas ya mencionadas
aquí, como Chaves, Faiôes o San Joaô de Ver y por otras como el ejemplar fe-
menino de Ermida33. El carácter masculino de la pieza nos permitiría incluirla
dentro del conjunto de estelas masculinas y, en concreto, dentro del subgrupo

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 129


de estelas faliformes establecido por Almagro-Gorbea34 que, como el propio
autor indica, presenta características comunes con las piezas carentes de soporte
faliforme o con las piezas más claramente antropomorfas, similitudes que, prin-
cipalmente, se basan en la presencia, en ejemplares de todos estos subtipos, del
elemento sub-rectangular ya mencionado.
La presencia, en todas estas piezas, de ese enigmático motivo sub-rectan-
gular creo que nos viene a poner de manifiesto, una vez más, el carácter pre-
histórico de la factura del ejemplar del Muiño de San Pedro. Dicho elemento,
cuyo significado e identificación precisa se nos es-
capan, ha sido interpretado como un símbolo es-
tandarizado de poder35, como un elemento del
vestuario, ceremonial, como la parte trasera de la
bandolera o “suspensorio” de fijación de las co-
rreas que aseguraban las armas36 o como un collar
apotropaico o kardiophylax, comparable con los
collares orientales tipo “keftiu”, símbolos de ri-
queza y poder que aparecen en las estelas de la
Daunia (Italia)37. Este tipo de motivos aparecen,
también, en otras piezas peninsulares ajenas a esta
área geográfica, como es el caso, por ejemplo de
las estelas de Preixana (Lleida)38 o Tremedal de
Tormes (Salamanca) si bien, en este último caso,
Figura 2. Estelas antropomorfas ga- aparece representado en el anverso de la pieza39
laicas: A. Paradela (fotografía:
Marta Tamayo); B: As Coroas de (Figura 5: a y b).
Reigosa (fuente: Arias Vilas 1981: Atendiendo a todos estos paralelos, el monu-
262); C: Tins (fotografía: Marta Ta-
mayo); D: Ouzande (fotografía: mento de Muíño de San Pedro se podría datar en
Marta Tamayo); E: Troitosende (fo- el Bronce Final, datación que parece ser la que se
tografía: Marta Tamayo); F: Bermes
(fuente: CIRG II: 183) puede otorgar, pese a sus diferencias, a los ejem-
plares de Ermida, Faiôes, Bouza y Chaves, o a ini-
cios de la Edad del Hierro, período al que parece
corresponder el puñal de la estatua de Chaves o el casco de la pieza de San
Joâo de Ver40, elemento, este último que incluso se ha datado en un momento
posterior de dicho período, como los siglos V o IV a.C., tal y como defiende
Queiroga41. En este mismo arco cronológico se incluyen, también, los paralelos

Pág. 130 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


peninsulares que presentan ese mismo motivo subrectangular; así, por ejemplo,
el ejemplar de Preixana, según Almagro Basch42, se situaría, cronológicamente,
en el Bronce Final, siendo también en la Edad del Bronce dónde se ubica, sin
mayor precisión cronológica, la pieza de Tremedal de Tormes43.
Por lo que respecta al significado de estas piezas, Sousa44 ha indicado
como, pese a la falta de contexto arqueológico de las mismas, la mayoría han
aparecido en proximidades de cursos de agua (Faiôes, Chaves, Bouça) o en
zonas de frontera entre áreas de fuerte contraste geográfico y que, por tanto,
sirvieron como zonas de paso (San Joaô de Ver). Esta misma característica se
puede hacer extensiva a la pieza de Muíño de San Pedro que, como indicó Ta-
boada Cid45, apareció en las cer-
canías del río Támega, en un
área transitada por dos vías ro-
manas. Estas piezas, así pues, se
podrían interpretar como señali-
zadores de caminos; de hecho,
Sousa46 ha indicado que las pie-
zas del grupo Chaves-Verín
(Faiôes, Chaves, Bouça y Muíño
de San Pedro) aparecieron, todas
ellas, en las proximidades de
cursos fluviales: la pieza de Cha-
Figura 3. Estatuas-menhir del Norte de Portugal: A. San
ves indicando, quizás, un paso Joâo de Ver (fuente: Jorge, Jorge 1983: 45); B: Chaves:
del Támega, la de Faiôes seña- (fuente: Jorge, Almeida 1980: 16); C: Faiôes (fuente: Al-
meida, Jorge 1979: fig. 7); D. Bouça (fuente: Sanches,
lando el camino hacia el Norte Jorge 1987: 82, fig. 6)
desde Chaves, situación que
también parece convenir a la
pieza ourensana de Muíño de San Pedro, mientras que el ejemplar de Bouça
se ubicaba en las cercanías del río, en posición de predominio sobre la cuenca
del Mirandela. Todo parece indicar, por tanto, que todas estas piezas podrían
estar vinculadas con el establecimiento de caminos que estructuraban diferentes
territorios47, caminos que quizás hayan tenido que ver con la explotación de
los recursos minerales48 o ganaderos de dichas áreas49. Estaríamos, así pues,
ante la misma función que otros autores han atribuido a manifestaciones cul-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 131


turales similares, como las estelas de SO, que han sido interpretadas como hitos
de señalización de caminos o de delimitación de fronteras entre distintos terri-
torios50.
Sea cual fuese el carácter de los personajes representados en estas piezas
(divinidades, héroes, jefes, etc.), lo cierto es que esta estatuaria masculina por-
tadora de armas o de insignias de prestigio, como podría ser el enigmático mo-
tivo sub-rectangular, está dando cuenta del proceso de jerarquización que
conocieron las sociedades prehistóricas peninsulares desde el Neolítico hasta
la Edad del Bronce, proceso que pa-
rece haber estado estrechamente vin-
culado con la actividad guerrera, tal
y como se deduce de la frecuente re-
presentación de armamento en di-
chas piezas51. En trabajos anteriores
hemos indicado ya cómo, el Bronce
Final del NO peninsular, parece ca-
racterizarse por la aparición de una
elite guerrera que nos permite inter-
pretar las sociedades desarrolladas
en este sector geográfico desde la
perspectiva de las “sociedades con
guerreros” establecidas por Clas-
Figura 4. Estatuas-menhir de la provincia de Ourense: tres52. La aparición de piezas como
A. Estela de Tameirón (fotografía: Beatriz Comenda-
dor y José Luís Méndez); B. Estatua-menhir de Vilar las aquí estudiadas sería, en mi opi-
de Santos (fuente: Museo Provincial de Ourense nión, una clara manifestación de la
2002b)
aparición de estas aristocracias gue-
rreras y de la conformación social de los grupos humanos del NO peninsular
como “sociedades con guerreros”.
Atendiendo a la aparición de estas aristocracias guerreras, Jorge53 ha in-
dicado que la ubicación de las estatuas-menhir en zonas de paso o en límites
entre territorios nos puede estar señalando, precisamente, el cambio, ocurrido
desde el Bronce Final, en los mecanismos de representación del poder, que
dejan de estar incorporados en los espacios funerarios, en los que antaño se
glorificaba al gobernante a través de su tumba, para pasar a ser integrados en

Pág. 132 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


esos nuevos espacios rituales en los que se asiste a la heroización de determi-
nados individuos mediante la realización de otro tipo de rituales distintos al
culto al muerto. En esta misma línea, Díaz-Guardamino Uribe54 ha señalado
la posibilidad de que las estatuas-menhir sirviesen como marcadores de lugares
en los que se realizaban rituales de conmemoración a individuos ya fallecidos,
a través de los cuales el grupo no sólo conservaba el recuerdo individual de
dicho individuo sino también, lo que es más importante, su recuerdo social
como colectivo55.
A juzgar por todo lo expuesto en las presentes páginas, parece que a la
pieza de Muíño de San Pedro se le puede conceder una vida mayor de la que,
hasta ahora, le había venido otorgando la investigación gallega. Todo parece
apuntar, en conclusión, que estamos ante una estatua-menhir que conoció, en
un momento posterior, una reutilización. A esta segunda etapa de la vida de
dicha pieza dedicaremos las páginas finales de nuestro trabajo.

3. la reutilización de la pieza
en época romana: un nuevo signi-
ficado para una pieza antigua
La estatua-menhir de Muíño de
San Pedro, tallada en la Edad del
Bronce, conoció una reutilización, al
menos, con posterioridad a la con-
quista, por Roma, de los territorios del
NO peninsular. No descartamos, si-
guiendo, a este respecto a Betten-
court56, que, al igual que otras piezas
de este mismo grupo escultórico, la
Figura 5. Estelas antropomorfas peninsulares con
pieza de Muíño de San Pedro haya presencia de motivo subrectangular: A. Preixana
conocido otras reutilizaciones anterio- (fuente: Almagro Basch 1974: 25); B. Tremedal de
res, tal y como parece haber sucedido, Tormes (fuente: López Plaza et al. 1996: 299)
por ejemplo, con la estatua-menhir de
Chaves que, según Jorge y Almeida57, puede haber sido, en origen, un menhir
fálico al que, posteriormente, se le grabaron distintos atributos antropomorfos
y armas en dos momentos diferentes, hasta que, por último, fue, posiblemente,

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 133


utilizado, en época romana, como material constructivo en las obras del puente
de Chaves. Esta conversión de un menhir en una estatua-menhir y su posterior
reutilización es un fenómeno relativamente frecuente en la prehistoria peninsu-
lar58.
Las historias paralelas de los dos ejemplares de Chaves y Muiño de San
Pedro ejemplifican, a la perfección, el proceso de reutilización de este tipo de
materiales en época romana y la importancia que, en dicho proceso, tuvo el
contexto cultural. Ambas piezas aparecieron a orillas del Támega, en la misma
área, por tanto, y relativamente próximas. Este hecho, sin embargo, no contri-
buyó a que ambas conociesen una misma suerte y, así, frente a la reutilización
de la pieza de Muíño de San Pedro, el ejemplar de Chaves, pieza cargada an-
taño con un fuerte significado simbólico, tal y como lo manifiesta su transfor-
mación de menhir fálico a estatua-menhir, fue, en época romana, utilizado,
muy probablemente, como material de construcción. Estos dos ejemplos nos
hablan de dos planteamientos distintos, con respecto al pasado, por parte de
dos grupos humanos coetáneos que ocupaban la misma zona geográfica: por
una parte, una ruptura cultural total, como sucede en el caso de la pieza de
Chaves, que resulta totalmente lógica dentro de un entorno urbano y fuerte-
mente romanizado y, en el caso de Muiño de San Pedro, la resemantización de
un elemento del pasado, comportamiento comprensible en un área rural y
mucho más indígena en la que este tipo de elementos seguían resultando, si no
comprensibles sí, al menos, asimilables para la población. En contextos urba-
nos y romanizados, como Chaves, este tipo de monumentos, muy distantes del
gusto romano, carecían, ya, de valor y sólo serían apreciados como materiales,
pétreo, en este caso, mientras que, en entornos rurales e indígenas, la población
todavía podía dotar de significado cultural a este tipo de piezas59. Este proceso
de reutilización de estelas, estatuas o estatuas-menhir prehistóricas como so-
portes de epígrafes en latín no resulta desconocido en la Península; de hecho
se conocen dos estelas de guerrero del SO que fueron utilizadas, en época ro-
mana, para acoger sendos epígrafes en latín: las estelas de Ibahernando (Cáce-
res) y de Chillón (Ciudad Real)60.
Como ya he indicado, desde un punto de vista formal, la pieza de Muíño
de San Pedro, dejando a un lado su factura en un momento anterior, no se puede
considerar como romana, ni como propia del gusto romano. Del mismo modo,

Pág. 134 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


si nos detenemos en realizar un análisis onomástico de su inscripción, los in-
dividuos que en ella aparecen reseñados tampoco se pueden considerar, ate-
niéndonos al origen de sus nombres, como romanos.
El nombre del difunto es Latronius o Latronus, divergencia de lectura del
nombre debida al reconocimiento, en línea 1, de un nexo NI por parte de Ta-
boada Cid61 que, en cambio, no reconocen el autor de la ficha de la pieza que
figura en la página web del Museo Arqueológico Provincial de Ourense62, ni
otros investigadores que han estudiado el epígrafe63. Sea cual sea la lectura que
se acepte, no supone, desde el punto de vista onomástico, una diferencia con-
siderable pues se trata de dos formas emparentadas. Se conocen formas simi-
lares en variantes con -t- y con -d-. Las formas tipo Ladronus se han
documentado en los distritos portugueses de Viseu, Porto y Beja64. Según Al-
bertos65 se trataría de una variante sonora de Latronus. La forma con -t- se do-
cumenta en el distrito portugués de Vila Real y en la provincia española de
Cáceres66. Otras formas vinculadas con este antropónimo, como es el caso de
Latro, cuentan con una dispersión mayor por el territorio peninsular, abarcando,
así, las provincias españolas de Soria, León, Jaén, Burgos, Badajoz, Palencia,
Ourense, Barcelona, Tarragona, Castellón y el distrito portugués de Vila Real.
Pese al aspecto latino de la forma Latronus/Ladronus, Albertos67 considera, a
partir de la aparición de esta onomástica en la regiones occidentales de la Pe-
nínsula y de su aparición combinada con nombres indígenas, que se debe de
tratar de una forma indígena homófona a la latina68.
Celtiatus, el nombre del padre del difunto, es un antropónimo documen-
tado en el distrito portugués de Vila Real, en concreto en Chaves69 y en la pro-
vincia española de Cáceres. Palomar Lapesa70 lo considera derivado de Kéltios
o Celtius que procedería del radical *kelt-, el mismo del que derivaría el etnó-
nimo de los celtas71; de lo que no cabe duda es de que la forma onomástica
Celtius es típicamente peninsular, al no estar atestiguada fuera de Hispania
pero sí, en cambio, otros derivados del mismo radicial (Celtus, Celto, Celtillus,
-a, Celtinus, etc.). En la Península Ibérica, las formas emparentadas con Celtius
(entre ellas la aquí tratada, así como otras: Celtiaticus, Celtiatis, Celtiber, -a, -
us, Celticus, Celtienus, Celtitanus) presentan una amplia dispersión y, así, apa-
recen en las provincias españolas de Córdoba, Lérida, Burgos, Cuenca,
Valencia, Barcelona, Badajoz, Cáceres, Pontevedra, Sevilla, Navarra, Vitoria

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 135


y Zamora (esta última con ciertas dudas) y en los distritos portugueses de Viseu,
Leiria, Portalegre, Castelo Branco, Vila Real, Guarda y Braga72. Albertos73 pro-
puso, a partir de la dispersión por el área geográfica lusitano-vetona de la gran
mayoría de los nombres derivados de esta raíz que se podía tratar de antropó-
nimos típicos de individuos de origen lusitano o vetón, adscripción étnica del
antropónimo que Palomar Lapesa74 delimita al área Lusitana. Se trata, sin duda,
de un antropónimo indígena de origen céltico que cuenta, además, con el pa-
ralelo del etnónimo de los Celtici mencionados por las fuentes clásicas en el
NO peninsular75 que, en opinión de Untermann76, sería la helenización o la la-
tinización, por parte de los autores griegos o romanos, de un etnónimo indígena
*keltikos que derivaría de la raíz kelt-.
A juzgar por los resultados de este análisis, estamos ante un epígrafe en
latín encargado por indígenas que, atendiendo a su onomástica, se revelan
como muy poco latinizados o romanizados, contexto sociológico que coincide
muy bien con el contexto rural de aparición de la pieza y que explicaría la reu-
tilización de un monumento de aspecto tan poco romano en plena época ro-
mana. Con relación a la datación del epígrafe, podemos situarla hacia mediados
o finales del siglo I d.C77. Esta datación parece confirmada por epígrafes simi-
lares a este, tanto por el tipo de onomástica como por las fórmulas epigráficas
utilizadas, como, por ejemplo, la estela de granito fragmentada, aparecida en
Alcollarín (Cáceres) en la que también se menciona a un individuo denominado
Celtiatus, y que presenta letra capital, con las letras v, n y a redondeadas y que
ha sido fechada en el siglo I d.C.78 (Figura 6: b). Del mismo modo, el epígrafe
grabado en la reutilización de la estela guerrero del SO peninsular de Chillón
(Ciudad Real) fenómeno similar al aquí estudiado para el caso de Muíño de
San Pedro, también se sitúa cronológicamente, en opinión de sus editoras, a
mediados del siglo I d.C.79 (Figura 6: a). La presencia, en el epígrafe de Muíño
de San Pedro, de la fórmula HSE sin el desarrollo STTL nos estaría indicando,
quizás, una datación ligeramente anterior para nuestro epígrafe con respecto a
los dos paralelos aquí citados.
Además del texto latino, la intervención, en época romana, sobre la pieza
también pudo haber consistido en el grabado del rostro humano. Para realizar
esta afirmación nos basamos en la ausencia de este motivo en las dos piezas
del N de Portugal más parecidas a la estatua-menhir de Muiño de San Pedro:

Pág. 136 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


los ejemplares de Bouça y Chaves. Además, esta forma de representar el rostro
humano presenta paralelos con piezas galaicas de época romana como son, por
ejemplo, las estelas antropomorfas de Sta. María de Troitosende80, Santa María
de Paradela81, San Lorenzo de Ouzande82 y As Coroas de Reigosa83 (Figura 2:
a, b, d, y e). En todas estas piezas, el rostro humano, grabado de manera más
tosca o más precisa, siempre aparece, al igual que sucede en el ejemplar de
Muíño de San Pedro, enmarcado por una línea que representa a la cabeza84.
Esta forma de representar la cabeza en la pieza aquí estudiada ha sido compa-
rada por Rodríguez Colmenero85 con las esculturas de cabeza exentas o cabezas
cortadas y se trataría, en opinión de este autor, de una característica estilística
que vendría a reforzar el carácter funerario de la pieza.
Parece, por tanto, que la intervención, en época romana, sobre la pieza
consistió en el grabado del rostro y del texto epigráfico. Esta intervención al-
teró, profundamente, el significado cultural de la pieza que, a partir de este
momento, pasó a estar posiblemente vinculado con una función funeraria, ac-
tuando como monumento conmemorativo de un personaje indígena, posible-
mente un individuo perteneciente a la elite local.
La onomástica, marcadamente indígena, que presenta el epígrafe, el ca-
rácter indígena del soporte y el contexto rural en el que fue hallado nos permi-
ten realizar una serie de reflexiones sobre la introducción del “hábito
epigráfico” en Gallaecia. Al hablar de hábito epigráfico debemos tener en
cuenta no sólo la aparición de epigrafía latina en las áreas conquistadas por
Roma, sino también la evolución posterior de dicha práctica con el paso del
tiempo86. Para el caso del NO peninsular, la introducción de epigrafía funeraria
se puede interpretar como un claro testimonio del proceso de aculturación de
la población indígena por el mundo romano pues se trata de tradiciones cultu-
rales (escritura e indicación del enterramiento) y monumentales (la propia es-
tela en sí) desconocidas hasta la época87; estamos, así pues, ante una práctica
romana que pasó a ser asumida por las poblaciones indígenas. Ejemplos como
el del epígrafe de Muíño de San Pedro vienen a poner de manifiesto, en mi
opinión, que a las poblaciones indígenas se les debe conceder un papel mucho
más importante y activo del que, hasta la fecha, se les ha venido otorgando en
el proceso de adopción de la práctica epigráfica. En la actualidad ya no se las
puede considerar como poblaciones aculturadas por Roma, simples receptores

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 137


pasivos de las influencias ejercidas por una civilización superior. Esta hipótesis,
derivada de la falsa creencia de que existía una cultura romana “estándar” que
era adoptada por las distintas poblaciones sometidas al poder romano, resulta
insostenible en la actualidad pues sabemos que han existido diferentes versio-
nes de la cultura romana en las distintas provincias del Imperio88 y que, en di-
chas versiones, jugó un papel fundamental la conservación, dentro de las
nuevas culturas provinciales, de antiguas tradiciones culturales indígenas89,
dándose, así, un proceso que Webster ha calificado como “criollización”90. En
este sentido hemos señalado, en otro lugar91, cómo, a nuestro entender, el in-
flujo romano se debe considerar, ya desde sus primeras manifestaciones en el
NO con anterioridad a la conquista, como el último elemento y, quizás, el más
importante de todos los que han contribuido a la caracterización histórico-cul-
tural de las poblaciones de estas regiones ibéricas, marcando, en un primer mo-
mento, la evolución socio-cultural de las sociedades del NO con anterioridad
a la conquista y, tras ésta y con la integración de estas regiones dentro del Im-
perio, provocando, a lo largo de un proceso de varios siglos, la progresiva trans-
formación de esas comunidades indígenas en una sociedad provincial romana
con unas manifestaciones culturales propias.
¿Cómo se explica, teniendo estos planteamientos en mente, la reutiliza-
ción de una estatua-menhir de la Edad del Bronce en época romana por parte
de un individuo cuya onomástica parece revelar un escaso grado de romaniza-
ción y en un contexto claramente rural? La única explicación posible pasa, a
mi entender, por la consideración de que nos encontramos ante una manifesta-
ción, por parte de un individuo perteneciente a la elite indígena, de su situación
de predominio social. El dedicante del epígrafe utiliza, para diferenciar al di-
funto del resto de los miembros de su grupo y manifestar su carácter aristocrá-
tico, procedimientos típicamente romanos como son la escritura y la epigrafía
funeraria y lo hace reutilizando una pieza de honda tradición indígena.
Anteriormente hemos mencionado cómo en el Bronce Final del NO pa-
rece asistirse a la creación, siguiendo los términos acuñados por Clastres, de
una “sociedad con guerreros”, con elites especializadas en la actividad bélica
que parecen asumir el liderazgo de las comunidades. Durante el paso del
Bronce al Hierro y a lo largo de la I Edad del Hierro, en estas mismas regiones
parece atestiguarse un proceso de reconversión social mediante el cual las an-

Pág. 138 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


tiguas “sociedades con guerreros” se convierten en “sociedades guerreras”,
aquellas en las que la guerra es una actividad social importante en la que par-
ticipan todos los miembros de la comunidad sin que existan grupos de espe-
cialistas que pueden acaba convirtiéndose en elites sociales y en el grupo social
dominante. Los cambios en la panoplia y, sobre todo, el proceso de fortificación
a que se asiste durante la I Edad del Hierro se pueden interpretar en este sen-
tido92. En cambio, durante la II Edad del Hierro, como hemos argumentado en
otros trabajos93, parece que se vuelve a recuperar la forma social de “sociedades
con guerreros”, de elites especializadas en la actividad bélica que llegan a ha-
cerse con el control de los grupos humanos: la aparición de grandes asenta-
mientos, la decoración plástica y la aparición de la estatuas de guerreros
galaico-lusitanos parecen apuntar en esta dirección94.
Me gustaría detenerme, brevemente, en esta estatuaria de guerreros ga-
laico-lusitanos, en tanto que indicio de este proceso de aparición de elites gue-
rreras. Creo que dichas representaciones se deben entender, precisamente, en
este sentido, como manifestaciones de la aparición de una elite guerrera a partir
de la II Edad del Hierro, dejando a un lado el debatido tema de si se trata de
una representación divinizada o heroizada de dicha elite95 o de auténticos re-
tratos de guerreros o de príncipes indígenas históricos96 y, por supuesto, otras
hipótesis mucho más difíciles de sustentar como aquella que presenta a estas
imágenes como estatuas erigidas en honor de los indígenas “colaboracionistas”
de los romanos97 u otras, ya abandonadas en la actualidad, como su supuesto
carácter funerario98. Por lo que respecta a la datación de estas piezas podemos
afirmar, a partir del análisis del armamento en ellas representado99, que se pue-
den ubicar, cronológicamente, entre mediados del siglo II a.C. y mediado del
siglo I d.C.; vemos, por tanto, que se trata de un arco cronológico que coincide,
dentro de la II Edad del Hierro, con la datación que hemos dado al ejemplar
de Muíño de San Pedro y, por ello, considero que la reutilización de un material
del Bronce Final que daba cuenta de la existencia de una elite guerrera en la
segunda Edad del Hierro se comprende, a la perfección, dentro de los mismos
parámetros explicativos que nos permiten dar cuenta de la aparición de esta
estatuaria de guerreros galaico lusitana: ambas son manifestaciones de una elite
que se presentaba a sí misma como guerrera y que era vista, como tal, por el
resto de la población; se trata, en definitiva, de la plasmación, en piedra, de la

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 139


aparición de esas “sociedades con guerreros” durante la II Edad del Hierro en
el NO peninsular. Incluso hasta es probable, como ha señalado Höck100, que
las piezas en apariencia más recientes de esta estatuaria local anterior a la Edad
del Hierro, como el ejemplar de San Joâo de Ver, respondan a una misma tra-
dición escultórica, indígena o, al menos, no romana, que las estatuas de gue-
rreros galaico-lusitanos.
Y sin embargo, pese a estas similitudes y al hecho de que la reutilización
de la pieza de Muíño de San Pedro puede responder a las mismas exigencias
sociales, aparición de una elite guerrera entre las sociedades indígenas del NO
peninsular, que las estatuas de guerreros, hay un elemento, al margen del hecho
de la reutilización en el caso de la pieza orensana, que las diferencia con total
claridad: el epígrafe. De todo el conjunto de estatuas de guerreros catalogadas
hasta 2003101, sólo tres de ellas presentan epígrafes, las piezas de San Juliâo102,
San Paio de Meixedo103 y Santa Comba104; se conoce, además, la referencia al
epígrafe del guerrero, no conservado, del Castro de Rubiás (Celanova, Ou-
rense)105. Cuatro de estos epígrafes
son comparables al de Muíño de San
Pedro (San Juliâo, los dos de San Paio
de Meixedo y el del Castro de Rubiás)
pues la lógica que parece haber regido
el grabado de la inscripción de Santa
Comba es otra totalmente distinta a la
establecida por el deseo de conservar
el recuerdo de un individuo, ya falle-
cido, a través de la inscripción y con-
servación, para la posteridad, de su
nombre. Parece, por tanto, que en el
caso de estas tres estatuas de guerre-
ros podemos estar ante otros ejemplos Figura 6. Epígrafes romanos: A. Estela de Chillón
de reutilización, posiblemente con fi- (fuente: Fernández-Ochoa, Zarzalejos Prieto 1994:
267); B. Alcollarín (fuente: Gamillo Barranco, Gi-
nalidad funeraria, de piezas que, en meno Pascual 1990: fig. 8)
origen, no habían sido creadas con tal
finalidad106, lo que, en última instancia, viene a equipararlas a la pieza de
Muïño de San Pedro.

Pág. 140 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


La presencia del epígrafe en la pieza de Muíño de San Pedro, así como
en estas tres estatuas de guerreros, nos permite diferenciar estos ejemplares del
resto de las estatuas de guerreros. Frente al carácter posiblemente anónimo de
las estatuas de guerreros galaico-lusitanos, de ahí su interpretación como re-
presentaciones divinizadas o heroizadas de la elite guerrera y no como retratos
de personajes individuales, la introducción del texto en los ejemplos arriba
mencionados viene a individualizar a la pieza y a vincularla con el difunto
cuyo nombre se recoge en el epígrafe y ello pese a que tanto la representación
de Muíño de San Pedro como las que nos ofrecen los guerreros dotados de epí-
grafes en latín no se pueden considerar como retratos de los respectivos indi-
viduos a que se hace mención en el texto epigráfico107. Esta innovación, en mi
opinión, se debe considerar como la consecuencia directa de la influencia ro-
mana a través de la introducción de la nueva práctica epigráfica y de la nueva
tecnología comunicativa que con ella se introduce: la escritura.
Con este tipo de prácticas lo que se pretendía era, en definitiva, marcar
las diferencias existentes entre estos individuos indígenas y el resto de su co-
munidad mediante su individualización. Para ello, se recurrió a una forma cul-
tural romana, la epigrafía y la escritura, que, además, contribuía todavía más a
marcar las diferencias entre ese individuo y su grupo pues lo aproximaba a há-
bitos culturales romanos. La función principal del epígrafe funerario en el
mundo romano venía dada por el deseo de conmemorar, guardar el recuerdo
de un muerto108 y, al mismo tiempo, hacerlo dando cuenta de quién había sido,
de cuál había sido su papel dentro de su comunidad, es decir, dejando clara la
identidad del individuo fallecido109. De ahí el uso del texto que, como señala
Woolf110, sirve, junto con la imagen, como elemento que posibilita el recuerdo,
en tanto en cuanto que la escritura permite comunicar cosas que resulta impo-
sible precisar sólo con imágenes como, por ejemplo, el nombre del fallecido111.
En mi opinión, resulta totalmente lógico que algunos individuos pertene-
cientes a las elites indígenas, influidos por la cultura romana, deseasen marcar,
a través de prácticas culturales típicamente romanas, como el uso de la epigra-
fía funeraria, sus diferencias con el resto de la población y cierto deseo de emu-
lación del ciudadano romano. Se trata de una práctica común dentro del mundo
romano y que, por ejemplo, se atestigua, en Britannia, en la epigrafía funeraria
de los soldados auxiliares o de las mujeres de soldados112 o en la epigrafía fu-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 141


neraria de los libertos113. Este uso del texto epigráfico no implica, sin embargo,
que el difunto o el individuo que haya encargado la pieza supiesen leer y es-
cribir. El texto en sí mismo, en tanto que elemento gráfico que se graba en una
piedra, se convierte en un elemento de diferenciación social sin necesidad de
que sea leído; ahora bien, el recuerdo individual y personal del muerto, se sepa
o no sepa leer, queda registrado para la posteridad a través de la escritura, lo
que constituye otro elemento de status114.
En conclusión, tras haber grabado un epígrafe funerario y un rostro hu-
mano en una estatua-menhir de Edad del Bronce, el monumento de Muíño de
San Pedro dejó de ser un hito indicador de un camino, de una frontera o de un
lugar de realización de ritos comunitarios para pasar a convertirse en el re-
cuerdo de Latronus, en el elemento que dejaba constancia de la pertenencia de
dicho individuo a una elite indígena ya influida por pautas culturales romanas.
A través de la historia de este monumento se recorre, por tanto, la evolución
de las sociedades del NO peninsular desde el Bronce Final, con su configura-
ción como “sociedades con guerreros”, hasta su conversión, durante la I Edad
del Hierro, en “sociedades guerreras” sin elites especializadas en la actividad
bélica, y la reaparición, en la II Edad del Hierro, de las “sociedades con gue-
rreros” y sus aristocracias guerreras. Esta configuración social recibió, final-
mente, el influjo romano que posibilitó la introducción de formas culturales,
como la epigrafía y la escritura, que permitieron que esas elites indígenas pu-
diesen, a través del uso de modelos culturales romanos, ahondar las diferencias
que existían entre ellas y el resto de la población indígena.
La reutilización de la pieza de Muíño de San Pedro nos ofrece, además,
un magnífico ejemplo del juego entre acontecimiento y estructura al que, si-
guiendo a Sahlins, hacíamos referencia al principio de estas páginas. Ante una
misma estructura, la conversión de las sociedades indígenas del Noroeste pe-
ninsular en “sociedades con guerreros”, los grupos humanos de estos territorios
reaccionaron del mismo modo en dos momentos distintos, Bronce Final y Se-
gunda Edad del Hierro: tallando representaciones de individuos pertenecientes
a dicha elite, estatuas-menhir y estatuas de guerreros respectivamente; con la
conquista romana, estos dos elementos plásticos se reutilizarán, de la misma
forma, cuando dicha elite quiera marcar, todavía más, sus diferencias con el
resto de su comunidad, mediante la adopción de una práctica cultural foránea:

Pág. 142 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


la escritura y la epigrafía. Tenemos, así pues, acontecimientos idénticos que
responden, en ambos casos, a una misma estructura general y, sin embargo, di-
chos acontecimientos, cuando se observan más de cerca, nos muestran, tam-
bién, claras diferencias entre ellos: frente a una sociedad de la Edad del Bronce
que, mediante la representación de héroes guerreros, busca defender su terri-
torio, ubicando dichas representaciones en posibles zonas de frontera entre te-
rritorios vecinos que, muy probablemente, acogían ritos colectivos mediante
los que el grupo se reafirmaba como tal, las sociedades de la Segunda Edad
del Hierro ubicaban a sus héroes guerreros, a los representantes de esa elite,
como protectores de sus poblados amurallados. Vemos, por tanto, cómo, a pesar
de las similitudes entre ambas estructuras y los acontecimientos que nos dan
cuenta de ellas, estamos ante dos historias diferentes, ante dos momentos his-
tórico-sociales distintos: unas sociedades del Bronce en las que la sedentari-
zación plena todavía no se ha producido, de ahí la ubicación de este tipo de
monumentos en zonas de frontera y la búsqueda de protección para el territorio,
y unas sociedades del Hierro II, plenamente sedentarizadas, en las que, a través
del héroe, se busca la protección del poblado y con él, quizás, la de todo el te-
rritorio.

Bibliografía
Abascal Palazón, J. M. 1994: Los nombres personales en las inscripciones latinas de Hispania. Mur-
cia.
Alarcaô, J. de 2003: “As estátuas de guerreiros galaicos como representaçôes de príncipes no contexto da
organizaçâo político-administrativa do noroeste pre-flaviano”. Madrider Mitteilungen, 44. 116-126.
Albertos Firmat, Mª L. 1966: La onomástica personal primitiva de Hispania. Tarraconense y Bética. Sala-
manca.
Albertos Firmat, Mª L. 1979: “La onomástica de la Celtiberia”. In: A. Tovar, M. Faust, F. Fischer, M. Koch
(eds.) Actas del II Coloquio sobre lenguas y culturas prerromanas de la Península Ibérica. Salamanca: 131-
167.
Albertos Firmat, Mª L. 1985: “La onomástica personal indígena del noroeste peninsular (astures y galaicos)”.
In: J. de Hoz (ed.), Actas del III Coloquio sobre lenguas y culturas paleohispánicas. Salamanca: 255-310.
Albertos Firmat, Mª L.: 1985-1986: “La onomástica personal indígena en la región septentrional”. In: J.
Gorrochategui, J. L. Melena, J. Santos (eds.), Studia Palaeohispanica. Actas del IV Coloquio sobre lenguas
y culturas paleohispánicas. Veleia 2-3: 155-194.
Almagro Basch, M. 1974: “Nuevas estelas decoradas de la Península Ibérica”. In: E. Ripoll (ed.). Miscelánea
arqueológica. XXV Aniversario de los Cursos Internacionales de Prehistoria y Arqueología en Ampurias
(1947-1971). Barcelona: 5-39.
Almagro-Gorbea, M.1993: “Les stèles anthropomorphes de la Péninsule Ibérique”. In. J. Briard, A. Duval

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 143


(dirs.), Les representations humaines du néolithique à l’âge du fer. París:123-139.
Almagro-Gorbea, M., Lorrio, A. J. 1989: “Representaciones humanas en el arte céltico de la Península
Ibérica”. Actas. II Symposium de arqueología soriana. Soria. 409-451.
Almeida, C. A. F. de, Jorge, V. O. 1979: “A estatura-menir de Faiôes (Chaves)”. Trabalhos do Grupo de Es-
tudos Arqueológicos do Porto, 2: 5-24.
Aparicio Casado, B. 1999: Mouras, serpientes, tesoros y otros encantos. Mitología popular gallega. Sada
(A Coruña).
Aparicio Casado, B. 2002: A Sociedade campesiña na mitoloxía popular galega. Santiago de Compostela.
Arias Vilas, F., 1981: “Unha estela antropomorfa do castro de As Coroas de Reigosa (Pastoriza, Lugo)”.
Brigantium, 2: 257-265.
Baptista, A. M. 1985: “A estatua-menhir da Ermida”. O Arqueólogo Portugués. Serie IV, vol. 3: 7-44.
Bettencourt, A., 2005: “As estatuaria”. In: J. M. Hidalgo Cuñarro (coord.) Arte e Cultura de Galicia e Norte
de Portugal. Arqueoloxía, vol. 1, Vigo: 166 – 177.
Bonneville, J. N. 1980: “Le monument epigraphique et ses moulurations”. Faventia 2/2: 75-98.
Bradley, R. 2002: The Past in Prehistoric Societies. Londres-Nueva York.
Bueno Ramírez, P. 1990: “Statues-menhirs et stèles anthropomorphes de la Péninsule Ibérique”. L’Anthro-
pologie, 94: 85-110.
Bueno Ramírez, P., Balbín Behrmann, R. de, Barroso Bermejo, R. 2005: “Hiérarchisation et métallurgie;
statues armées dans la Péninsule Ibérique”. L’Anthropologie, 109: 577-640.
Calo Lourido, F. 1983: “Arte, decoración, simbolismo e outros elementos da cultura material castrexa. Ensaio
de síntese”. In: G. Pereira Menaut, (ed.), Estudos de cultura castrexa e de historia antiga de Galicia. Santiago
de Compostela: 159-85.
Calo Lourido, F. 1994: A plástica na cultura castrexa galego-portuguesa. A Coruña.
Calo Lourido, F. 2003: “Catálogo”. Madrider Mitteilungen, 44: 6-32.
CIRG II = Corpus de Inscricións Romanas de Galicia. II. Provincia de Pontevedra. Edición de G. Baños
Rodríguez. Santiago de Compostela.1994.
Connerton, P. 1989: How societies remember. Cambridge.
D’Ambra, E. 2002: “Acquiring an ancestor: the importante of funerary statuary among the non-elite orders
of Rome”. In: J. K. Hojte (ed.), Images of ancestors. Aarhus: 224-246.
Díaz-Guardamino Uribe, M. 2006: “Materialidad y acción social: el caso de las estelas decoradas y esta-
tuas-menhir durante la Prehistoria peninsular”. Actas del VIII Congresso Internacional de Estelas Funerá-
rias. O Arqueólogo Portugués. Suplemento 3: 15-33.
Fernández Ochoa, C., Zarzalejos Prieto, M. 1994: “La estela de Chillón (Ciudad Real). Algunas considera-
ciones acerca de la funcionalidad de las “Estelas de Guerrero” del Bronce Final y su reutilzación en época
romana”. In: C. de la Casa (ed.), Actas del Quinto Congreso Internacional de Estelas Funerarias. Soria:
263-272.
Franco Maside, R., Pereira Menaut, G. 2005: “Notas arqueolóxico-epigráficas en torno á morte en Callaecia
Antiga”. Semata. Ciencias Sociales y Humanidades, 17: 35-60.
Galán Domingo, E. 1993: Estelas, paisaje y territorio en el Bronce Final del SO de la Península Ibérica.
Complutum, nº extra 3.
Gamallo Barranco, J. L., Gimeno Pascual, H. 1990: “Inscripciones del Norte y Sudoeste de la provincia de
Cáceres: revisión y nuevas aportaciones”. Cuadernos de Prehistoria y Arqueología de la Universidad Au-
tónoma de Madrid, 17: 277-306.

Pág. 144 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


García San Juan, L. 2005: “Las piedras de la memoria. La permanencia del megalitismo en el Suroeste de
la Península Ibérica durante el II y el I milenios ANE”. Trabajos de Prehistoria, 61/1: 85-109.
García San Juan, L., Wheatley, D. W., Fábrega Álvarez, P., Hernández Arnedo, M. J., Polvorinos del Río,
A. 2006: “Las estelas de guerrero de Almadén de la Plata (Sevilla). Morfología, tecnología y contexto”.
Trabajos de Prehistoria, 63/2: 135-152.
García San Juan, L., Garrido González, P., Lozano Gómez, F. 2007: “Las piedras de la memoria (II). El uso
en época romana de espacios y monumentos sagrados prehistóricos del Sur de la Península Ibérica”. Com-
plutum, 18: 109-130.
González García, F. J. 2008: “La guerra en la Gallaecia antigua: del guerrero tribal al soldado imperial”. Se-
mata. Ciencias sociales y humanidades, 19: 21-64.
González García, F. J. 2009: “Between warriors and champions: Warfare and social change in the later pre-
history of the north-western Iberian peninsula”. Oxford journal of Archaeology, 28/1 (en prensa).
González García, F. J., Parcero Oubiña, C. 2007: “Bases para el estudio de la etnogénesis galaica”. Pasado
y presente de los estudios céltcicos. Ortguera (A Coruña): 535-562.
González García, F. J., Parcero Oubiña, C., Ayán Vila, X. en prensa: “Iron Age societies against the state.
An account on the emergente of the Iron Age in the NW Iberian Peninsula”. T. Moore, X. Lois Armada
(eds.). Atlantic Europe in the First Millennium BC: Crossing the divide, Oxford University Press, Oxford.
González García, F. J., López Barja de Quiroga, P. en prensa: “La estela de Crecente: reflexiones sobre el
proceso romanizador en la Galicia Antigua”. In: Arqueología, sociedad, territorio y paisaje. Estudios sobre
Prehistoria reciente, Protohistoria y transición al mundo romano en Homenaje a MªDolores Fernández-
Posse (Pachula), Madrid.
González Ruibal, A., 2006-2007: Galaicos. Poder y comunidad en el Noroeste de la Península Ibérica (1200
A.C.- 50 D.C.). Brigantium. 18-19. A Coruña.
Gosden, Ch. 2008: Arqueología y Colonialismo. El contacto cultural desde 5000 a.C. hasta el presente.
Barcelona.
Harrison, R.J., Marco Simón, F. 2004: “Reading the codes: symbols and meanings”. In: R. J. Harrison, Sym-
bols and Warriors. Images of the European Bronze Age, Bristol: 81-121.
Hingley, R. 1996: “Ancestors and identity in the Later Prehistory of Atlantic Scotland: the reuse and rein-
vention of neolithic monuments and material culture”. World Archaeology, 28/2: 231-243.
Hingley, R. 2005: Globalizing Roman Culture. Unity, diversity and empire. Routledge.
Höck, M. 1999: “Breves reflexôes sobre os guerreiros lusitanos”. Revista de Guimaraes, vol. especial, I:
89-92.
Höck, M. 2003: “Os guerreiros lusitano-galaicos na historia da investigaçâo, a sua dataçâo e interpretaçâo”.
Madrider Mitteilungen, 44: 51-66.
Hope, V. M. 1997: “The interpretation of romano-british tombstones”. Britannia, 28: 245-258.
Jorge, S. O. 1986: Povoados da Pré-história Recente da Regiâo de Chaves: Vila Pouca de Aguiar (Tràs-os-
Montes Occidental): Bases para o conhecimento do IIIº e pricipios do IIº Milenios a.C. no Norte de Por-
tugal, Porto, Faculdade de Letras, disset. de doutoramento.
Jorge, S. O. 1999: “Bronze Age stelai and menhirs of the Iberian Peninsula: discourses of power”. In: K.
Demakopoulou, Ch. Eluère, J. Jensen, A. Jockenhövel, J.-P. Mohen (eds.), Gods and Heroes of the European
Bronze Age. Londres: 114-122.
Jorge, V. O., Almeida, C. A. F. de 1980: “A Estatua-menir fálica de Chaves”. Trabalhos do Grupo de Estudos
Arqueológicos do Porto, 6: 5-24.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 145


Jorge, V. O., Jorge, S. O. 1983: “Nótula preliminar sobre uma nova estátua-menir do Norte de Portugal”.
Arqueología, 7: 44-47.
Jorge, V. O., Jorge, S. O. 1990: “Statues-menhirs et steles du Nord du Portugal”. Revista da Faculdade de
Letras: História. Universidade do Porto. Serie II. Vol 7: 299-313.
Lavagne, H. 1987: “Le tombeau, mémoire du mort”. In: Fr. Hinard (dir.): La mort, les morts et l’au-de-lá
dans le monde romain. Caen: 159-165.
Leach, E. 1989: A diversidade da Antropologia, Lisboa..
Lévi-Strauss, C. 1984: El pensamiento salvaje, México.
López Plaza, M. S., Sevillano San José, M. C., Grande del Brío, R. 1996: “Estatua-menhir de Tormes (Sa-
lamanca). Zephyrus, 49: 295-303.
Martíns, M., Silva, A. C. da 1984: “A estatua de guerreiro galaico de S. Juliâo (Vila Verde)”. Cadernos de
Arqueología. Serie II, 1: 29-47.
McMullen, R. 1982: “The epigraphic habit in the Roman Empire”, The American journal of Philology,
103/3: 233-246.
Museo Provincial de Ourense 2002a: “Xaneiro. Estela funeraria. Muiño de San Pedro”. Ficha de catálogo
http://www.xunta.es/conselle/cultura/patrimonio/museos/mapour/galego/pezasmes/pm29.htm.
Museo Provincial de Ourense 2002b: “Setembro. Estatua-Menhir de Vilar de Santos”, Ficha de Catálogo:
http://www.xunta.es/conselle/cultura/patrimonio/museos/mapour/galego/pezasmes/pm35.htm.
Nodar Nodar, C. 2004: “Estelas funerarias figuradas de época romana en Galicia”. Actas del VII Congreso
Internacional de Estelas Funerarias, t. I. Santander: 209-224.
Palomar Lapesa, Manuel 1957: La onomástica personal pre-latina de la antigua Lusitania. Salamanca.
Peña Santos, A. de la, 2003: Galicia. Prehistoria, castrexo e primeira romanización. Vigo.
Petts, D., 2002: “The reuse of prehistoric standing stones in Western Britain? A critical consideration of an
aspect of early medieval monument reuse”. Oxford journal of Archaeology, 21(2): 195-209.
Polignac Fr. de, 1984: La naissance de la cité grecque. Cultes, espace et société. VIIe-VIIe siècles avant j.-
C. París.
Queiroga, F. M. V. R. 2003: War and Castros. New approaches to the northwestern Portuguese Iron Age.
Oxford.
Quesada Sanz, F. 2003: “¿Espejos de piedra? Las imágenes de las armas en las estatuas de los guerreros lla-
mados galaicos”. Madrider Mitteilungen, 44: 87-112.
Rivas Quintás, E., Rodríguez Cruz, J. 2002: Terra das Frieiras, Ourense.
Robert, J.-N. 2008: Rome, la gloire et la liberté. Aux sources de l’identité européenne. París.
Rodríguez Álvarez, M. P. 1981: “Sincretismo de la religión indígena y la religión romana visto a través de
las estelas antropomorfas”. Brigantium, 2: 73-82.
Rodríguez Colmenero, A. 1993: “Historia da Arte romana en Galicia. Escultura en relieve y bulto redondo”.
In: Galicia. Arte. Arte Prehistórico y Romano .Tomo IX. A Coruña 1993: 375-475.
Rodríguez Colmenero, A. 1997: Aquae Flaviae I. Fontes epigráficas da Gallaecia meridional interior. Cá-
mara Municipal de Chaves. Chaves.
Rodríguez Colmenero, A. 2002: “Epígrafes latinos sobre guerreros galaicos: una clave esencial para la in-
terpretación de la estatuaria bélica del Noroeste Ibérico”. In: M. Romaní Martínez, Mª A. Novoa Gómez
(eds.), Homenaje a josé García Oro, Santiago de Compostela: 267-285.
Roldán, C. 1997: Entre Casandra y Clío. Una Historia de la Filosofía de la Historia, Madrid.
Ruiz-Gálvez Priego, M. 1998: La Europa atlántica en la Edad del Bronce. Un viaje a las raíces de la Europa

Pág. 146 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


occidental, Crítica, Barcelona.
Ruiz-Gálvez Priego, M., Galán Domingo, E. 1991: “Las estelas del SO como hitos de vías ganaderas y rutas
comerciales”. Trabajos de Prehistoria, 48: 257-273.
Sahlins, M. 1988: Islas de Historia. La muerte del capitán Cook. Metáfora, antropología e historia, Barce-
lona.
Sahlins, M. 2007: “Le retour de l’événement…à nouveau. Accompagné de quelques réflexions sur les débuts
de la grande guerre fidjienne de 1843-1855 entre los royaumes de Bau et Rewa”. In: M. Sahlins, La décou-
verte du vrai Sauvage et autres essais. París: 59-127
Sanches, M. J., Jorge, V. O. 1987: “A “Estatua-menir” da Bouça (Mirandela)”. Arqueología, 16, 1987: 78-
82.
Sastre, I. 2004: “La epigrafía de las Médulas. Escritura y sociedad”. Cuadernos de la Fundación Las Mé-
dulas, 4. León.
Shaw, B. D. 1984: “Bandits in the Roman Empire”. Past and Present, 105: 3-52.
Silva, A. C. F. Da, 2003: “Expressôes guerreiras da sociedade castreja”. Madrider Mitteilungen, 44: 41-50.
Sousa, O. C. F. de 1996: Estatuária antropomórfica pré e proto-histórica do Norte de Portugal. Dissertaçao
de Mestrado. Faculdade de Letras. Porto.
Suárez Piñeiro, A. M. 2004: “Las estelas funerarias galaico-romanas a la luz de la nueva arqueología epi-
gráfica”. Actas del VII Congreso Internacional de Estelas Funerarias, t. I. Santander: 195-205.
Taboada Cid, M. 1988-1989: “Estela funeraria do Muíño de San Pedro (Verín)”. Boletín Auriense, 18: 79-
93.
Tranoy, A. 1988: “Du heros au chef. L’image du guerrier dans les sociétés indigènes du Nord-Ouest de la
Péninsule Ibérique (IIe siècle avant J.-C. – Ier siécle après J.-C.)”. Le monde des images en Gaule et dans les
provinces voisines. Caesarodonum, XXIII: 219-227.
Untermann, J. 1993. “Anotaciones al estudio de las lenguas prerromanas del NO de la Península Ibérica”.
Galicia: da romanidade a xermanización. Problemas históricos e culturais. Actas do encontro científico en
homenaxe a Fermín Bouza Brey. Santiago de Compostela: 367-397
Untermann, J. 2004. “Célticos y túrdulos”. Paleohispanica, 4:199-214.
Varela Gomes, M. 1997: “Estatuas-menires antropomórficas do Alto-Alentejo. Descobertas recientes e pro-
blemática”. Brigantium, 10: 255-279.
Vasconcelos, J. L. de 1989: Religioes de Lusitânia. Vol. III. Lisboa.
Vázquez Varela, J. M. 1980: “La estela de Troitosende: uso y abuso de los paralelismos en el arte prehistó-
rico”. Brigantium, 1: 83-91.
Webster, J. 2001: “Creolizing the roman provinces”. American journal of Archaeology, 105/2: 209-225.
Wells, P.S. 2001. The barbarians speak. How the conquered peoples shaped Roman Europe. Princeton y
Oxford.
Woolf, G. 1996: “Monumental writing and the expansion of roman society in the Early Empire”. The journal
of Roman Studies, 86: 22-39.
Woolf, G. 1998: Becoming roman: the origin of provincial civilization in Gaul. Cambridge.

*
Este trabajo no habría sido posible sin el apoyo de João Ponte, Raimon Graells, Pedro López Barja, Leo-
nardo García Sanjuan, Beatriz Comendador, José Luis Méndez, Rosa Brañas, José Paulo Francisco, Orlando
Sousa y Anna Bettencourt. Todos ellos, de un modo u otro, me han ayudado, guiado y orientado, en las dis-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 147


tintas etapas de la realización de estas páginas, por los vericuetos del mundo de las estelas antropomorfas
del NO peninsular. La parte gráfica del mismo no habría sido posible sin la colaboración de Marta Tamayo
que, gentilmente, me ha vuelto a ceder, una vez más, el uso del material gráfico de su autoría, y sin el buen
hacer de Anxo Rodríguez Paz que, pacientemente, preparó todas las láminas que lo ilustran. Sin ellos, este
trabajo no habría llegado a buen fin. Muchísimas gracias.
1
1997: 124.
2
Lévi-Strauss 1984: 339 ss.
3
Dicotomía que, como ha indicado Sahlins (2007: 59-61), también se puede resumir en la oposición entre
estructura, propia de las sociedades “frías”, y acontecimiento, en tanto que elemento constituyente de la his-
toria y, por ello, propio de las sociedades “calientes”.
4
Leach 1989: 134.
5
Sahlins 2007: 67-71.
6
1988: 130 ss.
7
Sobre esta cuestión, en general, véase: Bradley 2002; con relación al caso concreto de reutilización de pie-
dras hincadas, estelas, etc. hasta época medieval: Petts 2002. Para ejemplos peninsulares de este tipo de si-
tuaciones: García Sanjuan 2005 y García Sanjuan et al. 2007; para otros casos europeos: Hingley 1996. De
hecho, la cultura tradicional gallega ofrece innumerables ejemplos de este proceso de apropiación cultural,
siendo, quizás, el más destacado, las numerosas tradiciones populares que vinculan a personajes míticos,
los mouros y mouras del campesinado gallego (Aparicio Casado 1999 y 2002) con diferentes restos arqueo-
lógicos como monumentos megalíticos, castros, etc.
8
Taboada Cid 1988-1989: 81
9
Rodríguez Colmenero 1993: 441-442.
10
Taboada Cid 1988-1989: 83-84.
11
1993: 442.
12
Nodar Nodar 2004: 217-218.
13
Museo Provincial de Ourense 2002a.
14
1993: 442-444.
15
Bettencourt 2005: 175. Un testimonio evidente de los problemas que esta pieza plantea a la investigación
gallega nos lo ofrecen las afirmaciones que, con respecto a ella, ofrecen Franco Maside y Pereira Menaut
(2005) quienes, tras incluirla dentro del grupo de las estatuas-menhir del N de Portugal (Franco Maside,
Pereira Menaut 2005: 41-42), la incorporan, (Franco Maside, Pereira Menaut 2005: 40, n. 1), entre la relación
de las estelas antropomorfas galaico-romanas, con las que, como indicaremos más adelante, poco tiene que
ver.
16
Vázquez Varela 1980
17
Rodríguez Álvarez 1981: 80-81.
18
1980: 78-79.
19
1988-1989: 82.
20
Sousa 1996: 12.
21
Jorge, Jorge 1990: 309; Sousa 1996: 96.
22
2005: 175.
23
1980: 85.
24
Jorge, Almeida 1980: 8; Sanches, Jorge 1987: 80.
25
Jorge, Almeida 1980: 14.

Pág. 148 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


26
Sanches., Jorge 1987: 80.
27
Almeida, Jorge 1979: 17
28
Jorge, Jorge 1983: 46.
29
Sanches, Jorge 1987: 81
30
Museo Provincial de Ourense 2002b.
31
Rivas Quintás, Rodríguez Cruz 2002: 75-77.
32
1986: vol.1, 953 ss.; tipología seguida, entre otros, por Bueno 1990: 94-95.
33
Baptista 1985.
34
Almagro-Gorbea 1993: 126-128.
35
Jorge, Jorge 1990: 309.
36
Almeida, Jorge 1979: 17-18; Jorge, Almeida 1980: 14; Sanches, Jorge 1987: 80-81.
37
Almagro-Gorbea 1993: 126.
38
Almagro Basch 1974: 23-28.
39
López Plaza et al. 1996: 297; para otros paralelos ibéricos ver ibid.: 301.
40
Jorge, Jorge 1990: 309; Almagro-Gorbea 1993: 130-133; Jorge 1999: 121.
41
2003: 85.
42
1974: 28; Almagro-Gorbea 1993: 133.
43
López Plaza et al. 1996: 301.
44
1996: 95. En este mismo sentido ver: Bettencourt 2005: 166
45
1988-1989: 79-80.
46
1996: 96.
47
Sousa 1996: 97.
48
Bettencourt 2005: 170.
49
Ruíz Gálvez 1998: 177-178.
50
Ruíz-Gálvez, Galán Domingo 1991: 260-269; Galán Domingo 1993: 72 ss.; García Sanjuan et al. 2006:
149.
51
A este respecto ver Bueno Ramírez et al. 2005.
52
González García 2008: 33 ss.; González García, 2009; González García et al, en prensa.
53
1999: 122.
54
2006: 21-23.
55
Con respecto a esta función del ritual como mecanismo de recuerdo ver Connerton 1989: 45 ss. Se trataría,
en última instancia, del establecimiento de un lugar ritual, llamémosle, por comodidad, santuario, en un área
periférica del territorio controlado por una comunidad. Estamos ante una práctica similar a la que se conoce
en otras sociedades y épocas históricas como, por ejemplo, la Grecia arcaica: cf. Polignac 1984. Para el caso
helénico, estos santuarios extra-urbanos y periféricos desempeñaban la función de marcas de frontera, indi-
cadores de los límites de las tierras bajo control del grupo humano (Polignac 1984: 42 ss. y 166); se trataba,
además, de fundaciones estrechamente relacionadas con la guerra y la función guerrera: como consecuencia
de su ubicación periférica y fronteriza, este tipo de santuario siempre estaba expuesto a las posibles amenazas
de agresión por parte de cualquier grupo vecino, de ahí la vigilancia a que eran sometidos por parte de la
comunidad que en ellos realizaba el culto, vigilancia que, en el fondo, no era más que una defensa de los lí-
mites del propio territorio comunitario (Polignac 1984: 154 ss.).
56
2005: 175.
57
1980: 21.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 149


58
Varela Gomes 1997: 270 ss.
59
Comportamiento que nos viene a confirmar la afirmación realizada por Petts (2002: 206), con relación a
las reutilizaciones medievales de piezas prehistóricas en las Islas Británicas, de que “the decision to reuse
a monument was a meaningful action, not a random appropiation of any prhistoric monument”.
60
.Fernández Ochoa, Zarzalejos Prieto 1994: 269.
61
1988-1989: 81; seguido por HEp 1993. nº 280.
62
Museo Provincial de Ourense 2002a.
63
Rodríguez Colmenero 1997: 268.
64
Abascal Palazón 1994: 394-395.
65
1985: 285 y 309.
66
Abascal Palazón 1994: 397.
67
1985-1986: 174.
68
Albertos 1985-1986: 174.
69
Rodríguez Colmenero 1997: nº 251, 246-247.
70
1957: 63; Albertos 1966: 85.
71
Para Albertos 1966: 84 sería la forma nominal personal Celticus la que compartiría radical con el etnó-
nimo.
72
Abascal Palazón 1994: 323-324.
73
1985: 277.
74
1957: 63.
75
González García, López Barja en prensa
76
1993, 385-386 y 2004, 200.
77
Museo provincial de Ourense 2002a.
78
Gamallo Barranco, Gimeno Pascual 1990: nº 7, fig. 8: Celtiatus / Veniati (filius)/ H(ic) · S(itus)· E(st)·
S(it)· T(ibi)· T(erra) ·[L(evis)].
79
Fernández Ochoa, Zarzalejos Prieto 1994: 268: Procul / us. Touto / ni. F(ilii). An(norum). XL. H(ic) /
S(itus).E(st).S(ic).T(ibi).T(erra).L(evis).
80
Vázquez Varela 1980.
81
A Estrada, Pontevedra, CIRG II nº 93,pp. 221-222.
82
A Estrada, Pontevedra, CIRG II nº 94, p. 223.
83
Pastoriza, Lugo, Arias Vilas 1981.
84
He optado por considerar este procedimiento de representación del rostro como una intervención de época
romana en la pieza pese a ser consciente, como señala, Bettencourt (2005: 167-168), que este tipo de repre-
sentación de la cara aparece en ejemplares portugueses de datación anterior, como las estelas de Quinta de
Conquinho, Vide, Moncorvo, Bragança, Monte de Santa Luzia o Freixo de Espada à Cinta.
85
1993: 445.
86
MacMullen 1982.
87
Suárez Piñeiro 2004: 197.
88
Hingley 2005: 71 ss.; Robert 2008: 107 ss.; Woolf 1998: 127 ss.
89
Wells 2001: 148-223.
90
Webster 2001. Se trataría, por tanto, de una típica situación de colonialismo en “terreno neutral” como las
que, para el mundo romano, ha definido Gosden (2008: 125-135).
91
González García, Parcero Oubiña 2007: 552.

Pág. 150 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


92
González García et al., en prensa; González García 2009.
93
González García 2008: 39-42;; González García 2009.
94
González Ruibal 2006-2007, 393 ss. La ausencia de representación de armas en el ejemplar de Muíño de
San Pedro no mermaría, en mi opinión, carácter guerrero al individuo recordado en dicha pieza. Dejando a
un lado la posibilidad de que la preparación del campo epigráfico haya podido eliminar cualquier represen-
tación anterior de armamento, la onomástica de la inscripción apunta, desde mi punto de vista, hacia el po-
sible carácter guerrero del individuo homenajeado a través del epígrafe: el nombre del personaje, Latronus,
estaría indicando su posible especialización como guerrero, pues sabemos que dicho término era, en tanto
que nombre común, la denominación utilizada por los romanos para referirse, en concreto, a los guerreros
lusitanos (Leite de Vasconcelos 1989: 117-118, haciendo referencia a la mención de Livio sobre VIriato en
Per. 52) y, en general, al mercenario o al guerrero perteneciente a un ejército no regular y caracterizado por
no entrar en combate en formación cerrada (Shaw 1984: 6-7 y 26-27), características, ambas, que se adecuan
a la perfección a la práctica bélica de las poblaciones indígenas del Noroeste peninsular prerromano.
95
Tranoy 1988: 223; Almagro-Gorbea, Lorrio 1989: 418.
96
Silva 2003: 47; Alarcâo 2003: 116.
97
Calo, 1994, 685-686; Peña 2003, 175-176.
98
Abandonada, en gran medida, como consecuencia de los hallazgos de ejemplares de este tipo de estatuas
en poblados y no en necrópolis, tal y como sucedió, por ejemplo, con los pies descubiertos in situ en la en-
trada del castro de Sanfins (Calo 1983: 180) o con el guerrero de San Juliâo, descubierto en una de las pla-
taformas medias del monte en que se encuentra el yacimiento, en parte circundada por la segunda línea de
fortificaciones del mismo (Martíns, Silva 1984: 32). Höck (2003) ofrece una buena revisión historiográfica
sobre la investigación vinculada con esta estatuaria.
99
Quesada 2003: 104-105.
100
1999: 91.
101
Calo 2003.
102
Calo 2003: nº 24, p. 20: Malceino / Dovilonis F(ilio).
103
Calo 2003, nº 25, p. 20-21; en este caso, la escultura presenta dos inscripciones, una frontal: Clodame /
Corocavdi / f(ilio) Se [stio?], y otra lateral, sobre una pierna de la estatua: L(ucius). Sesti / vs. L(ucii). L(iber-
tus?).Coroc / vdivs / Contv (bernalis?) / frater; ver: Martin, Silva 1984: 41.
104
Calo 2003: nº 28, p. 23, La lectura del epígrafe, según Martíns, Silva (1984: 40), sería Artifices Calubri-
gens / es.e(x).Albinis / F(aciendum).C(uraverunt).
105
Martíns, Silva 1984: 38; Adrono / Veroti f(ilio). Existen otros dos ejemplares que presentan una inscrip-
ción; se trata de las estatuas de Monte Mozinho (Calo 2003: nº 17, p. 15), cuyo epígrafe, según Calo, resulta
bastante dudoso y el ejemplar de Santa Comba (Calo 2003: nº 29, p. 24) que presenta una inscripción de
época moderna datada en 1612.
106
Otros autores, en cambio, consideran muy probable que la talla de la escultura y la realización del epígrafe
sean coetáneas: Harrison, Marco Simón 2004: 120-121. Para la problemática vinculada con esta epigrafía
sobre estatuas de guerreros ver Rodríguez Colmenero 2002.
107
Este juego entre la individualización del recuerdo que introduce la escritura y el carácter anónimo del re-
cuerdo implícito en la pieza prehistórica y anepígrafa también ha sido indicado por Petts (2002: 206) en su
estudio de las estelas medievales irlandesas y la posible reutilización, en épca medieval, de piezas prehistó-
ricas.
108
Woolf 1996: 25; Lavagne 1987: 159.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 151


109
Woolf 1996: 29. Estas conclusiones resultan perfectamente aplicables tanto al epígrafe del monumento
de Muíño de San Pedro como a aquellos que figuran en las estatuas de guerreros, aún en el caso de que,
tanto en una pieza como en las otras, no estemos ante monumentos funerarios sino, quizás, ante piezas de
carácter votivo, tal y como, por ejemplo, señaló Rodríguez Colmenero (2002: 284), posibles cenotafios o
simples monumentos conmemorativos. En este sentido recuérdese, por ejemplo, que el monumento de Muíño
de San Pedro no ha aparecido en una necrópolis y que, la única estatua de guerrero con epígrafe que posee
un contexto arqueológico claro, la de San Juliâo, ha aparecido dentro de un núcleo de población y no en un
cementerio.
110
1996: 28.
111
Introducción de la escritura que vendría a ahondar, todavía más, las diferencias entre el uso pasado del
monumento de Muíño de San Pedro, posiblemente vinculado, como vimos que planteaba Diez-Guardamino
(2006), con la realización de determinados rituales y el recuerdo social que aquellos generaban y la nueva
memoria generada por la puesta por escrito. Transformación del significado de la que tampoco estarían
libres las estatuas de guerreros dotadas de epígrafe, que dejan de representar a un ideal heroico para pasar
a convertirse en conmemoración de personalidades concretas. Con respecto a los cambios en las prácticas
del recuerdo que introduce la escritura véase Connerton 1989: 70 ss.
112
Hope 1997: 258.
113
D’Ambra 2002: 240-241.
114
A este respecto véase Sastre 2004: 15-18.

Pág. 152 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


cultuRA de FRonteiRA. o distRito de vilA ReAl e A zonA
MeRidionAl dA PRovÍnciA de ouRense nA idAde do
FeRRo
CULTURE OF BORDER. THE DISTRICT OF VILA REAL AND THE
SOUTHERN ZONE OF THE PROVINCE OF OURENSE IN THE IRON AGE

Alfredo González Ruibal


dePartameNtO de PreHiStOria, uNiverSidad COmPLuteNSe de madrid;
a_ruibaL@yaHOO.CO.uk

Resumo: Desde uma perspectiva histórica e antropológica, as regiões fronteiriças são lu-
gares especialmente interessantes pelas formas de cultura material híbrida que produzem. A área
de Trás-os-Montes ocidental e sul da província de Ourense é um bom exemplo de uma zona
entre zonas culturais no final da Pré-História, particularmente na Idade do Ferro. Neste trabalho
centrar-me-ei na cultura material distintiva desta região, propondo que esta peculiaridade pode
ser explicada como o resultado das muitas transacções culturais que tiveram lugar entre zonas
cultural e politicamente diferentes: a área do noroeste de Portugal, caracterizada na Segunda
Idade do ferro por grandes oppida, e a área de Trás-os-Montes oriental, ocupada por pequenos
castros e com fortes influências da Meseta.
Palavras-chave: Fronteira, hibridização, cultura material.

Abstract: From an historical and anthropological perspective, frontier regions are es-
pecially interesting places for the hybrid cultural forms to which they give rise. The area of
western Trás-os-Montes and southern Ourense province is a good example of buffer zone be-
tween cultural areas during the Late Prehistory, especially the Iron Age. In this paper, I look at
the distinctiveness of the material culture of the region and propose that its peculiarity may be
explained as a result of the manifold cultural transactions that took place between culturally
and politically different zones: the area of north-western Portugal, characterised in the Late
Iron Age by large oppida, and the area of Trás-os-Montes to the east, occupied by small hillforts
and with strong influences from the Spanish Meseta.
Keywords: Frontier, hybridisation, material culture.

Há muito tempo que historiadores e antropólogos vêm chamando a aten-


ção sobre a importância cultural e política das zonas fronteiriças (Kopytoff
1987). Longe de ser lugares estáticos e marginais, onde nunca ocorre coisa ne-
nhuma, as fronteiras são áreas sumamente dinâmicas, nas que têm lugar fenó-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 153


menos históricos de primeira ordem, ás vezes chave para poder compreender
o que sucede em regiões consideradas “nucleares”, desde um ponto de vista
cultural ou político.
O comportamento histórico das áreas fronteiriças é variado e, em oca-
siões, contraditório: reforçam-se ás vezes os elementos culturais e ideológicos
do núcleo, como uma reacção ante as ameaças reais ou fictícias do exterior;
outras, a fronteira converte-se num lugar de relaxação dos costumes e dos prin-
cípios culturais, pelo afastamento do centro, que não pode impor a sua lei e
ortodoxia. Em qualquer caso, é muito difícil não ter certo nível de hibridação
e mistura (Lightfoot e Martínez 1995). Mesmo nas fronteiras políticas aparen-
temente mais fechadas e bem demarcadas, como o limes romano (Gardner
2007), as transacções culturais e económicas entre os povos de um lado e do
outro da linha são numerosas e variadas. Estes intercâmbios acabam por gerar
o que se pode chamar uma “cultura de fronteira”: pensemos nas peculiares for-
mas culturais e políticas que caracterizaram a fronteira por antonomásia, a do
Oeste Americano. É certo que no caso da Idade do Ferro não conhecemos as
fronteiras das entidades políticas; entretanto, os limites das grandes áreas cul-
turais podem ser mais ou menos desenhados pela distribuição diferencial de
determinados artefatos, as características da arquitectura doméstica ou a cons-
trução da paisagem. Utilizando estes critérios, podemos distinguir no Noroeste
da Península Ibérica distintas áreas culturais, fortemente relacionadas as umas
com as outras, mas com as suas próprias trajectórias históricas (González Rui-
bal 2006-2007).
A investigação arqueológica no mundo castrejo tem-se centrado clara-
mente nas áreas nucleares consideradas mais brilhantes e evoluídas: é dizer, o
noroeste de Portugal e a zona das Rias Baixas na Galiza, que é onde encontra-
mos os maiores castros e os objectos e estruturas geralmente mais espectacu-
lares. É por isso que hoje temos uma grande quantidade de dados procedentes
destas regiões e bem poucos de áreas culturais menos chamativas, como a pro-
víncia de Lugo, na Galiza, ou Trás-os-Montes, em Portugal. As áreas de con-
tacto entre núcleos têm sido igualmente pouco estudadas.
Nesta comunicação, o meu interesse é simplesmente reivindicar a rele-
vância das margens – as zonas intersticiais que adotam elementos de diversos
mundos culturais. Para isso, vou apontar muito brevemente as possibilidades

Pág. 154 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


que oferece o sul de Ourense e o sul do distrito de Vila Real para prantear novas
questões sobre as fronteiras culturais na Pré-história.
A ampla região que se estende a leste e oeste da bacia do rio Tâmega pode
ser considerada uma difusa zona de fronteira cultural na Idade do Ferro. A cul-
tura material que encontramos é substancial e significativamente diferente na
área compreendida entre a desembocadura do Douro e o Minho, de uma parte,
e a de Trás-os-Montes, pela outra. A região compreendida entre o Baixo Douro
e o sudoeste da Galiza vêm caracteriza-se nos finais da Idade do Ferro pela
emergência dos grandes povoados fortificados (os oppida), a instauração de
uma nova economia política, a reestruturação dos territórios castrejos e a apa-
rição de uma peculiar cultura material de poder, na que destacam a estatuária
e os relevos em pedra, a arquitectura doméstica baseada em casas-pátio e mais
a ourivesaria. A região de Trás-os-Montes oriental e o leste de Ourense semelha
o reflexo invertido desta situação: não tem oppida, os territórios castrejos se-
guem a ser dominados por pequenos castros e não é fácil assinalar elementos
de diferenciação social através da cultura material – casas, jóias ou importações
mediterrânicas. O mundo político do leste e o oeste, portanto, têm pouco que
ver: estados ou chefias complexas no oeste, tribos ou chefias simples no leste.
Os romanos reconheceriam esta diferença e incluiriam o noroeste de Portugal
e sudoeste da Galiza na Callaecia Bracarense, organizada em civitates, e con-
siderariam o Trás-os-Montes oriental como parte das Astúrias. Entre uma zona
e a outra temos uma faixa de território que actua como fronteira e que coincide
aproximadamente com o distrito de Vila Real e o centro-sul de Ourense.
O carácter de fronteira desta região adverte-se em determinados rasgos da
cultura material como a paisagem, a organização do espaço habitado ou a ouri-
vesaria. Coexistem aqui rasgos culturais pertencentes a diversas tradições. É in-
teressante observar que por esta zona passa a divisória entre diferentes
produções materiais, nomeadamente a das estátuas de guerreiros castrejos e os
berrões (Álvarez Sanchís 2003) (Fig. 1). As comunidades desta zona tiveram
que afrontar decisões tecnológicas que não existiram em zonas nucleares. É
dizer, para os moradores do castro de Santa Trega ou de Sanfins as possibilida-
des de escolha entre distintos tipos de casas, torques, cerâmicas e mesmo deuses
era muito mais limitada que para um morador de Lesenho, que quase se poderia
dizer que convivia com outra tradição cultural diante do seu povoado. As deci-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 155


sões de adoptar um ou outro elemento mate-
rial, por tanto, são especialmente significati-
vas na fronteira, porque nela pode-se escolher
e na escolha está-se a manifestar certa identi-
dade cultural e política (Lemonnier 1992: 17-
19; Skibo e Schiffer 2007: 11).
Para compreender a lógica cultural
desta zona fronteiriça, porém, duas coisas têm
que ser tidas em conta: em primeiro lugar,
não é uma zona homogénea, o qual é quase
sempre certo de toda região fronteiriça; em
segundo lugar, o nosso conhecimento é muito
fragmentário e desigual, o que dificulta so-
bremaneira as interpretações. A subárea que
Figura 1. Áreas de distribuição dos ber-
está mais bem definida é a compreendida rões e dos guerreiros de pedra. Como
entre o sul de Ourense e a zona ocupada apro- ocorre no caso de outras manifestações
materiais, a área de Trás-os-Montes oci-
ximadamente pelos municípios portugueses dental e o sul da Galiza ficam na divisória
de Montalegre, Chaves, Boticas e Cabeceiras entre as duas tradições
de Basto. É a esta subárea, portanto, a que me vou cingir principalmente.
Que classe de região de fronteira é esta? Provavelmente constitui uma
zona fronteiriça política e cultural, cujas origens poder-se-iam levar a Idade
do Bronze. Nesta zona deveu de existir existiu uma complexidade social maior
que no entorno. Assim o provaria, durante este período, a existência de depó-
sitos metálicos e áureos, que estão ausentes mais ao leste. Já nos finais da Idade
do Ferro, destaca desde um ponto de vista político a importância dos seus op-
pida, e nomeadamente o castro de Lesenho. Com as suas três linhas de muralha
concêntrica e as quatro estátuas de guerreiro (Silva 1986: 305), Lesenho cla-
ramente teve que desempenhar um papel de capital de um território político.
Bem que conhecemos pouco do sítio, o castro aparenta-se claramente com os
oppida bracarense e contrasta com o tipo de povoamento disperso que carac-
teriza as terras mais para leste. Lesenho é mesmo um oppidum característico
de mais. O que quero dizer com isto? Como apontava ao começo, uma atitude
típica de fronteira consiste em reforçar os valores do núcleo. A mim sempre
me tem chamado a atenção que aqui, no limite oriental do mundo dos oppida

Pág. 156 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


e as suas produções materiais, encontremos um povoado com o maior número
de estátuas de guerreiro e da melhor qualidade. A isto temos que adicionar a
monumentalidade e grande elaboração das muralhas, que poderia revelar o de-
sejo de projectar uma imagem de poder e fortaleça numa zona crítica. Em con-
clusão, a espera de novos dados que clarifiquem a sua natureza, Lesenho pode
ser um exemplo do que eu chamaria “oppidum de fronteira”, situado na linha
que separa o Estado das sociedades sem - ou contra - o Estado (González Gar-
cía et al., no prelo).
Lesenho, ademais, marca o limite entre a área dos guerreiros e dos ber-
rões. Isto não é uma coisa fútil. Os dois tipos de esculturas estão a revelar for-
mas bem diferentes de conceber a paisagem e a sociedade. Os berrões remetem
para o mundo pastoril do ocidente castelhano, no que a riqueza e o poder ba-
seiam-se na possessão de gado e no controle das vias de comunicação percor-
ridas pelos animais. É um mundo bem diferente do dos oppida galaicos,
baseado na possessão da terra, a acumulação de bens de prestígio, a gestão do
conflito extra-comunitário e a casa como entidade material e imaterial.
A zona que tratamos, porém, não entra
de cheio no mundo dos oppida ocidentais,
nem dos guerreiros de pedra (Fig. 2). Ao con-
trário, fica no meio da linha divisória, o que
nos levaria a acreditar que a tal zona frontei-
riça é, na realidade, duas áreas bem distintas:
uma claramente galaica e outra transmontana.
Contudo, existem outros elementos que são
compartilhados ao longo deste território: um
estilo de torques (Fig. 3), o uso dos santuários
rupestres com pias escavadas na rocha (Fig.
4), um tipo característico de fortificação e uma
peculiar organização do espaço doméstico.
Enquanto alguns elementos são orientais - os
santuários rupestres (Freitas 2001) - ou oci-
Figura 2. Área de distribuição dos oppida
dentais (punhais de antenas), outros não e os castros
podem ser categorizados como orientais nem
ocidentais, senão próprio da região mesma:

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 157


aqui teríamos a ourivesaria flaviense (Silva
1986: 236-237; Ladra 2005) e a organização
do espaço (González Ruibal 2006-2007: 358).
A arquitectura do espaço doméstico é
especialmente interessante e reveladora, por-
que embora recorra a elementos próprios do
ocidente (é dizer, da área dos oppida), como
as casas circulares e de paramentos elabora-
dos, o fato é que articula o espaço de um jeito
bem distinto, sem que existam arruamentos
ortogonais ou pseudo-ortogonais, nem con-
juntos de habitação bem estruturados em
redor de um pátio (Fig. 5). Isto é bem claro
no caso de Saceda, um dos poucos povoados
dos que temos uma superfície notável esca- Figura 3. Área dos torques dos oppida e
vada (González Ruibal 2005). Esta flexibili- dos torques flavienses
dade do espaço é representativa de uma
situação de fronteira, na que se importam e
re-elaboram elementos alheios com a liberdade que proporciona o afastamento
do centro cultural. O castro de Sabrosa é possível que ofereça um caso seme-
lhante, mais chama a atenção o encostamento das estruturas à muralha, carac-
terística que compartilha com o estranho castro
da Curalha. Poderia ser este também um rasgo da
flexibilidade e singularidade do uso do espaço na
região flaviense?
O carácter híbrido da cultura fronteiriça é
mais evidente talvez na arquitectura defensiva.
Aparentemente as muralhas e fossos são muito
semelhantes os do ocidente castrejo. Mas alguns
elementos são especialmente típicos desta área e
nela podem ter a sua origem: acho que este é o
caso dos paramentos helicoidais, que têm a sua

Figura 4. Área de distribuição principal dos santuários escavados


na rocha

Pág. 158 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


melhor representação no distrito de Vila Real,
onde achamos castros como Cidadelhe (Silva
1986: est. CXXXIV) e S. Vicente da Chã, e
em Ourense, com os povoados de S. Cibrán
de Las, Coto do Mosteiro e, mais o sul, Sa-
ceda e S. Millán (González Ruibal 2006-
2007: 306). A elaboração dos paramentos
converteu-se em um rasgo próprio dos castros
desta região (Fig. 6), que talvez expresse me-
taforicamente a relevância das defesas num
entorno possivelmente conflituoso (lembre-
mos mais uma vez os numerosos guerreiros
Figura 5. Área das casas bracarenses a fi- de Lesenho). O mesmo sucede com as portas
nais da Idade do Ferro e área arquitectó-
nica de Trás-os-Montes
em forma de triângulo, que se repetem em
castros como Lesenho e Saceda, e que con-
tribuem a reforçar e monumentalizar as en-
tradas aos povoados. Bem que estes elementos poliorcéticos são compatíveis
com o mundo dos oppida, outros são mais estranhos: é o caso dos campos de
pedras fincadas, que as comunidades de Vila
Real adotam sem problemas apesar de de tra-
tar-se de um rasgo alheio ao mundo galaico e
próprio, entretanto, da área que poderíamos
chamar astur.
Já para concluir, o que quer dizer tudo
isto e que a área em questão, como sucede
com frequência com as terras fronteiriças,
converteu-se na proto-história numa espécie
de laboratório cultural, no que se adoptaram
elementos de diversas tradições, de forma di-
nâmica e criativa, e com eles construiu-se
uma identidade híbrida muito particular, que
não pode ser reduzida por completo a uma ou
outra entidade cultural. As perguntas que Figura 6. Área onde predominam os
devem orientar a pesquisa têm que ver com muros de aparelho helicoidal

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 159


as decisões materiais das comunidades: porque alguns erigiram estátuas de ber-
rões em vez de guerreiros? Porque algumas aldeias derivaram em oppida e ou-
tras ficaram como aldeias sempre? Qual é o papel do conflito nas relações entre
as diferentes comunidades? A resposta a estas perguntas ajudar-nos-á a com-
preender a lógica social das sociedades fronteiriças.

Bibliografia
Álvarez-Sanchís, J. R. 2003. Límites y fronteras de la Edad del Hierro en la Meseta Occidental. Bo-
letín Auriense 33: 95-114
Freitas, A.M. 2001. Carta arqueológica. Valpaços: Câmara Municipal de Valpaços.
Gardner, A. 2007. Fluid frontiers: cultural interaction on the edge of Empire. Stanford journal of Archaeology
5: 43-60.
González García, F.J., Parcero Oubiña, C., Ayán Vila, X. no prelo. Iron Age societies against the state. An
account on the emergence of the Iron Age in the NW Iberian Peninsula. In T. Moore e L. Armada (eds.):
Western Europe in the First Millennium BC: Crossing the divide. Oxford University Press.
González Ruibal, A. 2005. El castro de Saceda y la jerarquización territorial de la Segunda Edad del Hierro
en el noroeste ibérico. Zephyrus 58: 267-284.
González Ruibal, A. 2006-2007. Galaicos. Poder y comunidad en el noroeste de la Península Ibérica (1200
a.C. – 50 d.C.). A Coruña: Museo de San Antón.
Kopytoff, I. 1987. The African frontier: The reproduction of traditional African societies. Bloomington: In-
diana University Press.
Ladra Fernandes, X.L. 2005. Análisis territorial de la distribución de hallazgos de torques áureos de la II
Edad del Hierro en el noroeste peninsular. Em Bronce Final y Edad del Hierro en la Península Ibérica (C.
Cancelo, A. Esparza e A. Blanco, eds.). Salamanca: Universidad de Salamanca, 94-110
Lemonnier, P. 1992. Elements for an anthropology of technology. Michigan, Ann Arbor, MI: Museum of
Anthropology, University of Michigan.
Lightfoot, K.G. e Martínez, A. 1995. Frontiers and boundaries in archaeological perspective. Annual Review
of Anthropology 24: 471-92.
Skibo, J. e Schiffer, M. 2007. People and things. A behavioral approach to material culture. New York:
Springer.

Pág. 160 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


entRe lusos, BiBAlos e tAMAGAni: A ARQueoloxÍA
tRAnsFRonteiRizA de x. tABoAdA chivite
BETWEEN LUSOS, BIBALOS AND TAMAGANI: THE BORDER ARCHAE-
OLOGY OF X. TABOADA CHIVITE

Xurxo M. Ayán Vila


LaPa-CSiC; xurxO.ayaN@GmaiL.COm

La arqueología es campo amplísimo de investigación aun en zonas geográficas restrin-


gidas. Como en las leyendas populares, hay siempre un tesoro escondido aguardando al bu-
ceador que pretende descifrar el enigma.
X. Taboada Chivite (1971: 45).

Resumo: A través da obra arqueolóxica de X. Taboada Chivite abordamos unha análise


crítica da Arqueoloxía galega facendo fincapé na relación entre política e Arqueoloxía existente
tanto na Arqueoloxía galeguista de preguerra coma na Arqueoloxía celtofascista da década de
1940 e comezos de 1950. Asemade, serviranos para amosa-lo trasfondo ideolóxico no que se
alicerza a estreita relación transfronteriza entre a Arqueoloxía galega e maila Arqueoloxía mi-
nhota e de Trás-os-Montes ao longo do século XX. Este marco ideolóxico e político fundamenta,
pola súa vez, a visión tradicional sobre a cultura castrexa nesta secular área limítrofe do NW da
Península Ibérica.
Palavras-chave: Idade do Ferro, X. Taboada Chivite, Arqueoloxía transfronteriza.

Abstract: In this article we develop a critical analysis of the Galician Archaeology using
as example the archaeological work of X. Taboada Chivite. We try to show the interaction be-
tween Politics and Archaeology not only in the nationalist Archaeology of the 30’s but also in
the Celticist and fascist Archaeology in 40’s and 50’s. In this sense, we deal with the development
of a strong relation along the XXth century between the Galician archaeology and northern
Portuguese Archaeology. This ideological and political framework explains the predominant
vision on Iron Age in this borderland of the Iberian Peninsula.
Keywords: Iron Age, Taboada Chivite, historiographical analysis, Galician Archaeology.

1. introdución
O presente congreso transfronteirizo que estamos a desfrutar na vila de

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 161


Montalegre bebe directamente dunha tradición de estreita colaboración entre
a Arqueoloxía galega e maila Arqueoloxía do N de Portugal, participando, polo
tanto, dunha inercia histórica que sempre procurou supera-la artificial fronteira
da raia seca. O propio lema do congreso, Um Património sem fronteiras,
podemos consideralo coma un símbolo dese vello anceio transfronteirizo, re-
actualizado no século XXI.
A presente comunicación tenta levar a cabo unha sintética reconstrución
histórica desa arela transnacional a través da análise crítica da vida e obra
dunha figura senlleira da Arqueoloxía galega como foi a do verinense Xesús
Taboada Chivite (1907-1976). Recentemente se lle ten adicado un amplo conx-
unto de estudos co gallo do centenario do seu nacemento (vid. Boletín Auriense,
37) e mesmo ten sido proposto como candidato para ser homenaxeado adicán-
doselle o Día das Letras Galegas. En liñas xerais, a bibliografía que analisa a
súa traxectoria louva a súa doble traxectoria como afeccionado erudito que
loitou polo Patrimonio e maila cultura do país e como galeguista histórico, epí-
gono da Xeración Nós. Esta perspectiva, en certa medida acrítica, prodígase
nos estudos adicados por diferentes discípulos a recensiona-la vida e obra dos
responsables da Arqueoloxía en Galicia na postguerra e no tardofranquismo
(Acuña Castroviejo 1992; Arias Vilas 1995; Rodríguez González 1996; López
Gómez 1999; Calo Lourido 2003).
Pola nosa banda, o presente traballo retoma a liña marcada por estudos
precedentes de carácter global (Fernández-Posse 1998; Marín Suárez 2004,
2005) e insírese nun proxecto-marco de crítica historiográfica da tradición ar-
queolóxica do NW vencellada ao estudo da Idade do Ferro que remarca a
relación entre política, arqueoloxía e sociedade (Ayán 2006, 2008) unha
relación artellada nun sistema de saber-poder que demos en chamar sistema
galaico-minhoto e que, na nosa opinión, mantén a súa influencia hoxendía
condicionando a maneira de enfoca-lo mundo dos castros. E un dos mellores
representantes dese sistema, para ben e para mal, cremos que foi X. Taboada
Chivite.

2. A Arqueoloxía galeguista de preguerra (1923-1936)


O desenvolvemento da investigación de carácter científico sobre a Pro-
tohistoria do NW vencéllase directamente coa organización do nacionalismo

Pág. 162 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


galego como movemento político e cultural a partir de 1916 (Gonzalez Bera-
mendi e Núñez Seixas 1995). A formación do grupo ourensán da Xeración Nós
marca o punto de inflexión, a ruptura epistemolóxica coa tradición erudita dec-
imonónica e conleva o nacemento da arqueoloxía científica galega (Armada
Pita 1999: 249-53). Unha Arqueoloxía prehistórica que, coma no caso catalán,
serviu aos intereses nacionalistas, centrados no estudo e recreación dun pasado
oposto á visión españolista, centralizadora e uniformizadora da dictadura de
Primo de Rivera (1923-1929) (Díaz Andreu 1997: 411). Un enfoque que partía
do concepto tradicionalista de nación manexado por Vicente Risco (1920), her-
dado de A. Losada Diéguez (Bobillo 1981; González Beramendi 1985; Ayán
2006) quen vía a Galicia coma un órgano natural, constituído por unha comu-
nidade de intereses espirituais e materiais, coma unha entidade obxectiva con-
formada por elementos describibles como a terra, a etnia, a raza, a lingua, o
hábitat, os costumes, etc… (González Beramendi 2000). Esta concepción
orgánico-historicista é clave para comprendermos a xeografía de Otero Pe-
drayo, a investigación arqueolóxica de Cuevillas, e a propia prática etnográfica
de Risco, responsábel de estuda-la Cultura espiritual do pobo galego, mentres
que outros como Xaquín Lorenzo se centrarían na Cultura material. Asemade
influenciaría totalmente os estudos do Seminario de Estudos Galegos (1923-
1936) e a formación de intelectuais polifacéticos, etnoarqueólogos que conti-
nuarán coas súas investigacións nas décadas posteriores á guerra civil, como
F. Bouza Brey, Xesús Ferro Couselo, Antón Fraguas ou o personaxe que nos
ocupa, Xesús Taboada Chivite (García Martínez 2007).

Neste senso, o mozo erudito verinense participou de cheo na iniciativa do


SEG de promover por primeira vez un proxecto de investigación arqueolóxica
integral da Prehistoria e Protohistoria de Galicia, baixo a dirección indiscutible
de F. López Cuevillas. Deste xeito, participou nun programa de traballo que abran-
guía diferentes liñas de actuación (Filgueira Valverde 1978: 34-5; García Martínez
1978: 112-3; Prado Fernández 1997; Mato Domínguez 2001) claramente inter-
relacionadas entre si, nas que se combinaba a sistematización dunha bibliografía
e elaboración das primeira sínteses xerais de diferentes períodos da Prehistoria e
Protohistoria galegas e o inventario e catalogación de xacementos de dez comar-
cas galegas: Val de Vilamarín (1928), Celanova (1928), Carballiño (1930), Melide

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 163


(1931), Lobeira (1933), quedando
pendentes de publicación en 1936 os
de Fisterra, O Saviñao, Santiago, Lugo
e Deza. Taboada Chivite participou na
xeira interdisciplinar por esta última
comarca do interior de Galicia1
(Taboada Cid 1979: 11; Dasairas Balsa
2006: 6-9; García Martínez 2007: 51-
2), tras tomar contacto con membros
Figura 1. Xeira arqueolóxica polas terras do Deza na ourensáns da Xeración Nós, na casa
que participou un mozo X. Taboada Chivite (Arquivo
do IEGPS) particular de Vicente Risco (Taboada
Chivite 1968: 319):

Coñecín a Cuevillas nos primeiros anos trinta na casa de Vicente Risco.


Alí fun un día para consultar a iste unhas dúbidas referentes á historia da miña
terra de Verín, que andaba argallando entón, e alí estaban os dous. […] Alí
me atenderon e aleccionaron con agarimo, e para solucioar unha dúbida,
deume Cuevillas a Xeografía de Strábon. Dende aquela data quedéi prendido
definitivamente ó seu maxisterio. Invitáronme a que seguise indo á casa de
Risco, onde tiñan unhas reuniós, ás que asistitín namentras estiven en Ourense,
e aínda dende Verín acudín adoito hasta o ano 1936. Díronme, cando me
ausentéi, cuestionarios, dos que conservo algún orixinal, para que precurase
na miña bisbarra, cousas de Prehistoria e folklore, comezos dos meus inquéri-
tos na comarca do Támega. No despacho de Risco orgaizábanse as xeiras do
Seminario de Estudos Galegos, i eu, xa enrolado na Seición de Prehistoria con
Cuevillas, toméi parte en tódalas escursións que se fixeron. E gocéi dende
entón do maxisterio quente do gran meste. Lémbrome do primeiro viaxe polas
terras de Deza. Ian connosco –con Xaquín Lorenzo, con Hermida, cós irmaus
Colemán- os tres sabios ourensáns: Risco, Otero e Cuevillas […] Cuevillas
amostrábame a min, primeirizo nistas lides, os outeiros, as encostas, as gán-
daras, as estibadas, os cumes dos monticelos á beira da estrada, para que ade-
viñase, ou dil adeprendese, onde había castros e cáles eran as súas
características. Logo, polos arredores de Lalín, corrimos a comarca, il Anxelo
Ramos Colemán, e máis eu, demandando notizas de castros, medindo os que

Pág. 164 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


alcontrábamos, acadando ouservaciós do seu emprazamento, escoitando dos
paisanos as léndas e tradicións que en col diles se contaban, anotando e rex-
istrándoo todo
O papel dos investigadores ourensáns vencellados á Etnografía e maila
Arqueoloxía na formación das xeracións máis novas tivo como consecuencia
que discípulos como Xaquín Lorenzo, Antón Fraguas, Mª Pura Lorenzana ou
Xesús Taboada Chivite acadasen un perfil híbrido no seu labor investigador.
Todos eles participarán de cheo do programa de investigación das dúas sec-
cións anteditas, e o que é máis importante, serán os encargados de continua-
los estudos trala ruptura traumática da guerra civil, conformando o sistema de
saber etno-arqueolóxico imperante en Galicia na época da dictadura, garantín-
dose así un continuismo historiográfico da escola de Risco e Cuevillas, se ben
dentro dun contexto político moi distinto.

3. A Arqueoloxía celto-fascista de postguerra (1939-1954)

Es grato para Orense y especialmente para mi que haya coincidido la in-


auguración de este Congreso de Arqueología con la fecha del 18 de julio, pues
ello quiere decir que vamos a iniciar las tareas en un día extraordinario, de
tan gran significación para todos los españoles, por lo que no nos gusta que
pase desapercibido o simplemente con los actos protocolarios, sino que dese-
amos que se singularice por algún especial acontecimiento que nos haga re-
cordar en esta fecha que debemos hacer una positiva labor por la Patria [...]
¡Qué agradable es realizar un Congreso en medio de una paz política y social
como la que en España disfrutamos! Y todo, gracias a este 18 de julio, cuyo
exponente personal es nuestro Caudillo, que si ganó la difícil guerra y como
general consiguió que el Ejército Nacional llegara en un 1º de abril a sus úl-
timos objetivos militares, ha ganado lo que para todos es mucho más, esta paz
de España, que nos permite disfrutar de tranquilidad y abrir nuestra esperanza
hacia el futuro, apoyada en ese pasado a cuyo estudio os dedicáis con la mayor
ilusión y con el más grande orgullo de españoles.
Fragmento do discurso inaugural do III Congreso Nacional de Arqueo-
logía (1953) a cargo do gobernador civil de Ourense Alberto Rodríguez (en
VV.AA. 1955: 9-11).

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 165


A instauración, tralo trunfo franquista en 1939, dunha dictadura fascista
nacionalcatólica tivo unha notable incidencia na investigación arqueolóxica na
década de 1940 e primeira metade dos anos 50 (Díaz-Andreu 1993, 1997a). A
este respecto, prodúcese un troco institucional e académico (depuración, morte,
exilio) que racha co sistema de saber-poder establecido e marca uns novos ob-
xectivos nos estudos arqueolóxicos, sesgados pola nova ideoloxía política im-
perante (Ayán 2008: 49-56). Na nosa opinión, o caso de Galicia exemplifica a
existenza dun proceso ambivalente de ruptura e continuidade. Deste xeito, o
éxito do golpe de Estado de 1936 nas catro provincias galegas permitiu ás au-
toridades militares insurrectas e ás partidas falanxistas levar a cabo unha re-
presión sen cuartel co obxectivo preclaro de desmantela-lo movemento do
galeguismo político e cultural (de Juana e Prada 2006). Trala represalia siste-
mática dos rojos separatistas, seguiu un rápido proceso de fascistización da
Universidade compostelá e o crucial desmantelamento do Seminario de Estu-
dos Galegos (Mato Domínguez 2001: 233-6). Crebouse así, de xeito violento,
o proceso de institucionalización da Arqueoloxía galeguista (Ayán 2006). O
baldeiro sería cuberto pola reorganización centralista na postguerra, coa crea-
ción en 1940 do CSIC (Mora 2003: 96-9; Díaz-Andreu 1997: 548) e mailo Ins-
tituto de Estudios Gallegos Padre Sarmiento, dependente de aquél, en 1944
(Pardo de Guevara 2005). Neste proceso de reordenación institucional radica
a clave para comprendermos o continuismo na prática arqueolóxica de pos-
tguerra (e na visión da Pre e Protohistoria galaicas).

A instauración desta Arqueoloxía que demos en chamar celtofascista su-


puxo a organización dunha estrutura organizativa ao servizo do nacional-cato-
licismo que canalizou a actividade arqueolóxica no país durante esas décadas
iniciais da postguerra. O Estado nacionalcatólico e centralista utilizou as Hu-
manidades e as Ciencias en xeral para a lexitimación da nova estrutura política,
posicionando a arqueólogos afectos ao Rexime nos postos clave das novas en-
tidades de xestión, investigación e docencia, como foron os paradigmáticos
exemplos de Jose Mª Luengo, J. Filgueira Valverde. A. García y Bellido ou M.
Almagro2. Para completa-lo novo sistema créase a Comisaría General de Ex-
cavaciones Arqueológicas, dependente da Jefatura Nacional de Bellas Artes,
cunha estrutura de comisarios provinciais encargados do que ocurrise na súa

Pág. 166 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


zona3. Nesta nova administración da arqueoloxía española, dominada polo fa-
lanxista xermanófilo Julio Martínez Santa-Olalla (Castelo Ruano et al. 1997;
Ruiz Zapatero 2003: 228), obsérvase un marcado dirixismo, cunha selección
para comisarios provinciais de escavacións arqueolóxicas de individuos polo
xeral sen unha formación académica en arqueoloxía, pero que contaba cun per-
fil de erudito local e/ou se atopaban integrados nos cadros políticos do novo
réxime (Díaz-Andreu 2003: 46).
Neste novo contexto, tralos primeiros procesos de sancionamento polas novas
autoridades franquistas (Prada Rodríguez 2007), a Arqueoloxía do galeguismo cul-
tural acada infiltrarse na Administra-
ción, co nomeamento do xuíz F. Bouza
Brey como Comisario Provincial de
Pontevedra (1941-1951), sempre hos-
tigado polo falanxismo local, ou a de-
tentación do mesmo posto para a
provincia de Ourense por parte do pro-
pio F. López Cuevillas, expedientado
previamente no seu cargo de funciona-
rio de Facenda.
Figura 2. 1ª Asamblea de Comisarios de Excavaciones.
Esta reorganización provincial da
12 de Janeiro de 1950 (en García Martínez 2007: 74) prática arqueolóxica completouse
tamén na década de 1940 co reforza-
mento do papel xogado polos Museos Provinciais. Destacan de feito, os exemplos
do Museo de Pontevedra, dirixido por Filgueira Valverde (afecto ao Rexime que
chegaría a ser alcalde de Pontevedra), coa súa publicación homónima, e do Museo
de Ourense. Nesta cidade, a instancias de Xesús Ferro Couselo, funcionario do Ar-
quivo Provincial, créase por orde ministerial do 31 de decembro de 1941, o Grupo
Marcelo Macías de Colaboradores del Museo e se inicia o Boletín do Museo Ar-
queolóxico Provincial (1943). Os integrantes de ámbalasdúas entidades eran nome-
ados pola Dirección General de Bellas Artes (González Pérez 2003: 157). Dentro
deste marco se canalizan as iniciativas investigadoras e culturais do colectivo de
discípulos de López Cuevillas, entre os que se atopa Taboada Chivite (Comisario
Local de Excavaciones) e que conta coa colaboración expresa do Comisario Pro-
vincial de Excavaciones, M. Chamoso Lamas (Rodríguez González 1996: 185).

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 167


En definitiva, vemos como o novo sistema político e institucional fun-
ciona dentro dun marcado dirixismo centralista e reordena a prática arqueoló-
xica encadrándoa a escala provincial baixo a responsabilidade de comisarios
que exercen como funcionarios do Estado. A ausencia dunha institución a nivel
de Galicia, que leve a cabo unha estratexia de investigación global, como era
o caso do extinto SEG, compénsase co traballo de colectivos locais, vencella-
dos aos Museos Provinciais, e que establecen as súas propias prioridades a
nivel de investigación.

O labor de Taboada Chivite en Ourense exemplifica perfectamente esta


nova situación. Obivamente, xente como o erudito verinense ou López Cuevi-
llas non eran fascistas, sufrindo incluso procesos de depuración administrativa
polo seu ideario galeguista (Prada 2007). Sen embargo, a súa relación coa ver-
tente nacionalista tradicionalista católica supuxo un auténtico salvoconductto
para poderen seguir traballando na Arqueoloxía do país na postguerra, dende
o Museo, o IEGPS e maila Comisaría de Excavaciones. Neste senso, podemos
comparti-la idea dunha Arqueoloxía posibilista nesas décadas da man do gale-
guismo cultural (García Martínez 2007: 53, 72; Arias Vilas 2007: 100) mais
non cremos que se deba falar dunha Arqueoloxía de resistencia como se ten
apuntado recentemente (García Martínez 2007: 72). Todo o contrario, é unha
Arqueoloxía subvencionada, que depende do Estado, que se integra no novo
aparato administrativo e que contribúe meritoriamente aos curricula de eruditos
locais e afeccionados. O novo proceso de institucionalización da Arqueoloxía
en Galicia é o que posibilita, acepta e promove a prática arqueolóxica da escola
ourensá de Cuevillas. Como lembraba o propio Taboada Chivite (1969: 319):
Rematada a guerra, principióu Cuevillas a recobrar os discípulos esparexidos:
Un día recibíamos o nomeamento dun cargo, outro un tíduo honorífico, outro
cartos para escavaciós, outro a carta dun investigador, que o faguía polo seu
mandado, precurando notizas de cousas que Cuevillas, muito millor ca nós,
podería contestar; pro mantendo así, a nosa ilusión e azos arqueolóxicos.
Doutra volta, esta prática arqueolóxica non só se incardina neste novo
marco institucional, senón que tamén reproduce o paradigma interpretativo
sancionado pola Arqueoloxía celtofascista oficial. Así pois, a visión chantada
por Martínez Santa-Olalla na súa síntese paletnolóxica da Península Ibérica

Pág. 168 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


(Martínez-Santa Olalla 1946) e por A. García Bellido tralas súas escavacións
no castro de Coaña (García y Bellido 1941, 1942) configurarán unha tese ofi-
cialista sobre a Protohistoria segundo a cal os celtas arios constituían o único
e auténtico sustrato hispánico (Ruiz Zapatero 2003: 227-9). Perspectivas deste
estilo va ter unha incidencia notable, entre 1939 e 1954, na investigación sobre
o mundo castrexo en Galicia e Asturias, axudando a explica-lo continuismo da
Arqueoloxía de base etnicista desenvolta por Cuevillas no marco do
galeguismo de preguerra. Como ten sinalado F. J. González García (2007) tras
la guerra civil se dio una cohab-
itación céltica, un extraño matrimo-
nio entre los celtas galleguistas y
franquistas, fenómeno que nos axu-
dará a comprende-lo achegamento
aos castros galegos produto das es-
cavacións desenvoltas nas décadas
dos anos 40 e 50.
Non esquenzamos que no ano
Figura.3. Carnet de Comisario Local de Excavacio- 1953 López Cuevillas publica a súa
nes Arqueológicas de X. Taboada Chivite (en Desairas
Valsa 2006: 12) obra La Civilización Céltica en Gali-
cia e se celebra en Galicia o III Con-
greso Nacional de Arqueología, cuxa sesión inaugural tivo lugar en Ourense a
emblemática data do 18 de xullo, momento que se aproveita para a apertura
do Museo Provincial de Ourense (Rodríguez 1996: 185).

4. na procura do substratum: a pervivencia dunha Arqueoloxía esen-


cialista
A ruptura a nivel institucional non supuxo, como xa apuntura A. Gilman
(1995), unha creba epistemolóxica en sentido estricto, xa que a influencia his-
toricista alemá continuaba marcando a axenda da investigación. O carácter
filoxermano e conservador dos referentes da Arqueoloxía dos 40 levou empar-
ellada unha impermeabilización contra as correntes anglosaxonas e un predo-
minio do positivismo e das interpretacións etnoculturais, situación que se
manterá durante décadas. No caso galego, este proceso vese moi ben na inves-
tigación protohistórica etnicista da postguerra, marcada polo continuísmo do

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 169


modelo de interpretación histórico cultural establecido por Cuevillas na
preguerra (Díaz Santana 2002: 73-5). Toda a obra de X. Taboada Chivite re-
flicte perfectamente esta continuidade dende o seu primeiro artigo sobre o cas-
tro de Medeiros (1944) ate a súa contribución ao Colóquio Luso-Espanhol de
Cultura Castreja de Carvalhelhos de 1972 (Taboada Chivite 1973). O autor de
Verín reproduce punto por punto os plantexamentos histórico-culturais do seu
mestre; a definición dunha cultura arqueolóxica a partir de elementos materiais
e fósiles directores convértese en obxectivo esencial das súas pescudas sobre
a cultura castrexa e a cultura dos verracos, as dúas formacións culturais que
conviven no marco xeográfico obxecto de estudo. Os seus artigos aparecen in-
zados de referencias a círculos culturais, irradiacións, notas diferenciais, cen-
tro-periferia (1949: 5-6; 1950: 334; 1958: 308; 1959-60: 73), vías de
penetración e límites culturais (1946: 122; 1955: 344).
Os seus traballos tipoloxizantes sobre a cultura material seguen partindo
da base de que os obxectos definen esencialmente unha cultura e son proba do
seu espallamento e difusión (Taboada Chivite e López Cuevillas 1959: 179)
como queda ben claro nesta cita entresacada do artigo sobre as súas explo-
racións en castros de Cabreiroá: Está por hacer un estudio sistemático de la
cerámica castreña que podría demostrar si su identidad de temas decorativos
con otros muchos más antiguos, se debe a supervivencias o es originada por
ideas elementales (Elementargedanke) que surgen sin influencias en cualquier
clase de cultura (Taboada 1950: 339). A cultura dos verracos, por exemplo,
espállase por unha zona na que se documentan elementos definitorios como as
estatuas zoomorfas, as pedras fincadas (1955: 77), as casas rectangulares (1944:
286-7; 1946: 129-30), o aparello poligonal, as grandes murallas... Todas estas
manifestacións materiais só poden ser interpretadas en clave etnolóxica. A este
respecto, o seu artigo de 1949 reproduce fidelmente o contexto que vimos de
reseñar: cita expresa das teses de Martínez Santa-Olalla (1949: 18) e aplicación
dun modelo difusionista, invasionista e etnicista en clave celtista: la cultura
de los verracos fue creada por los pueblos celtas de la primera invasión que
refiere el Periplo de Avieno y cuya cronología se sitúa en el siglo VI a. C..
Dicha cultura finalizó en las Cogotas hacia el siglo III antes de jesucristo (op.
cit.: 16-7); De lo cual puede deducirse que los verracos gallegos sean super-
vivientes del núcleo de las Cogotas que irradió de su centro originario a zonas

Pág. 170 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


próximas de común fondo racial (op. cit.: 18); Por las manifestaciones artís-
ticas de esta cultura y su área de expansión cabe admitir que fue introducida
por los celtas, pero con evoluciones locales e independiente personalidad el
grupo castellano del gallego (op. cit.: 25-6).
Esta Arqueoloxía de base etnicista percorre todo o labor investigador do
noso autor: Outeiro de Baltar é un poboado celto-romano (1946: fig. 10); os
cultos zoolátricos manifestados nos verracos son de orixe céltica (1949: 14); o
estudo do hábitat e a tribu é un chanzo fundamental no estudo dun oppidum da
tribu dos bíbalos, produto da invasión céltica (1955: 72); o castro de Cabanca
desentona entre os castros celtas nos que predomina a forma circular (1961:
132); a Galicia histórica abrangue un substratum étnico de estirpe indoeuropea
(1945: 31; 1968: 317; 1975: 101).
Esta visión esencialista de caste histórico-cultural, preside toda a pro-
dución arqueolóxica de Taboada, compartindo de cheo os postulados verquidos
por Vicente Risco na súa Historia de Galicia (1952) ou polo mestre Cuevillas
na Civilización Céltica en Galicia (1953), tomando como obras de referencia
as aportacións do exiliado Pere Bosch Gimpera: Los celtas en la Península
Ibérica (Madrid, 1921), Etnología de la Península Ibérica (Barcelona, 1933)
e La formación de los pueblos de España (México, 1945) (Martínez Risco
1976: 251).

Pola súa vez, o autor de Verín reproduce a vertente esencialista na súa in-
vestigación etnográfica; para Risco e os etnógrafos do SEG resultaba funda-
mental a recolleita sistemática das manifestacións culturais do Volksgeit
galaico, evidencias materiais e espirituais da súa pervivencia ao longo do
tempo. Na liña de Murguía, defendíase un continuismo esencialista entre a Pro-
tohistoria e o folklore tradicional do campesiñado galego, facendo fincapié nas
pervivencias, fosilizadas no presente etnográfico (Calo 2004: 35-7). Taboada
vai explorar esa vía de estudo, xunguindo Etnografía e Arqueoloxía, remitindo
continuamente a supervencias de antigos ritos orixinarios no substratum étnico
galaico (1949: 25-6; 1975: 101), xa fose céltico ou anterior, oemstrímnico, se-
guindo a vella tese de Cuevillas e Bouza Brey (1929).
A coherencia e continuismo dos presupostos teóricos manexados polo
autor verinés ao longo de toda a súa obra constátase tamén na vertente meto-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 171


dolóxica, reproducindo a Arqueolo-
xía de campo da súa etapa formativa
no SEG. Se, dende o punto de vista
teórico, resulta evidente a perviven-
cia do paradigma etnicista e histori-
cista, a nivel metodolóxico se
observa, valla a paradóxica redun-
dancia, a ausencia de método ou,
cando menos, a continuación de prá-
ticas propias da Arqueoloxía rexiona-
lista precedente. As escavacións dos
Figura 4. Escavacións arqueolóxicas na Muradela di- comisarios de escavacións seguían
rixidas por X. Taboada Chivite (en Rodríguez Gonzá-
lez 2007: 98) sendo realizadas por brigadas de
obreiros (Taboada Chivite 1958: 304)
durante escasos días, sagazmente dirixidos por uns directores elitistas, que se-
guían apostando na meirande parte das ocasións, por da-la orde de proceder á
apertura de gabias exploratorias, cuxo obxectivo primordial era a documen-
tación de muros ou estruturas definidas (Taboada Chivite 1949: 5; 1950: 343).
Esta prática de exploración arqueolóxica, produto do contexto que estamos
analisando, non era só propia de Taboada senón que foi usual en Galicia até
comezos de 1970 (senón máis tarde, nalgúns casos) e a causante de que sexa
tan complicado levar a cabo un traballo de interpretación en clave social a partir
dos desvestidos muros que quedaron ao aire tras multitude de intervencións
dos anos 40, 50 e 60 que se adicaron a baldeirar estruturas sen rexistro estrati-
gráfico de ningún tipo4. Neste punto resulta curioso como esta constatable e
obxectivable ausencia de rigor metodolóxico non aparece sinalada pola crítica
historiográfica; todo o contrario, destácase, baixo os efectos da laudatio, o ca-
rácter metódico e rigoroso desas escavacións, asumindo mimeticamente a pro-
pia visión que aqueles arqueólogos tiñan do traballo de campo dos seus
colegas5.
Así pois, Taboada Chivite será un dos que retome as escavacións en cas-
tros de Galicia, unha actividade de investigación que se verá complementada
coa realización de Cartas Arqueológicas Provinciales, sguindo as consignas
establecidas polo CSIC na década de 1950 (Rodríguez González 1996: 186),

Pág. 172 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


empresa na que tamén se embarcará o investigador verinés (Taboada Chivite
1955, 1971).

5. o sistema galaico-minhoto (e transmontano): unha etnoarqueoloxía


transfronteiriza
Dentro do contexto ideolóxico e institucional da Arqueoloxía galeguista, a cul-
tura protohistórica galega –trasunto da nación galega- era concebida coma un ente
individualizado, oposto ao mundo ibérico, marcado por un particularismo localista
que abrangue a Galicia histórica e mailo N de Portugal. Este enfoque rachaba de
cheo co precedente hermetismo da Arqueoloxía rexionalista galega cara ao desen-
volvemento da Arqueoloxía lusa6, de aí que a obra de Martins Sarmento apenas fose
considerada até o interese de Cuevillas pola cultura dos castros7 na década de 1920.
A axenda do propio SEG privilexiou as relacións con investigadores do N. de
Portugal, que colaborarán estreitamente en Arquivos e na Revista Nós (Mendes
Corrêa, Mario Cardozo, Serpa Pinto, Santos Junior, Jalhay, etc…). Dentro deste
contexto, a junta para la Ampliación de Estudios e Investigaciones Científicas
sufragara unha viaxe de estudos a López Cuevillas e Bouza Brey por terras
portuguesas para coñeceren de primeira man os xacementos e Museos de entre-
Minho-e-Douro (Filgueira Valverde 1988). Como culminación deste proceso
de achegamento fructífero organizarase en Porto a Semán Cultural Galega
entre o 31 de marzo e o 6 de abril de 1935.

Esta rede establecida nos tempos da preguerra acabou consolidándose,


malia o conflicto bélico español, da man da investigación etnográfica. Deses-
truturada a vida cultural e a investigación en Galicia, retómase o contacto con
antropólogos portugueses como Santos Júnior ou Mendes Corrêa, excolabo-
radores do SEG. A partir de aquí a prática etnográfica lusa, fortemente tradi-
cionalista e conservadora será un referente para autores como Taboada Chivite
ou Xaquín Lorenzo, influenciados polo labor de Jorge Dias8 (1907-1973). A
incorporación definitiva da prática etnográfica alemá en Portugal a nivel insti-
tucional prodúcese en 1945 coa creación na Universidade de Porto do Centro
de Estudos de Etnologia Peninsular, que se ampliou a Madrid en 1947, insti-
tución na que colaborou activamente Vicente Risco na súa segunda estancia
madrileña. Esta entidade binacional, acorde coa alianza salazarista-franquista

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 173


na época máis crúa da autarquía e o aillacionismo internacional, deseñou un
programa de investigación centrado en tres liñas de traballo: a antropoloxía
física, a evolución cultural dende a Prehistoria á Etnografía, o folklore e a psi-
coloxía étnica dos pobos.
Desde 1947 Jorge Dias dirixiu a sé portuense e marcou durante décadas
a orientación básica da Antropoloxía norteña portuguesa, que discurriu polo
camiño do historicismo difusionista, con investigacións publicadas en revistas
como Douro Litoral ou Trabalhos da Sociedade Portuguesa de Antropologia
e Etnologia. Dentro deste contexto histórico-cultural de influencia alemá, tanto
para os etnoarqueólogos do galeguismo coma para os arqueólogos e antropól-
ogos do N de Portugal, a historia era a cimentación do edificio cultural da na-
cionalidade galega e/ou da rexión minhota/transmontana, así coma o elemento
básico na construción do seu discurso etnográfico e arqueohistórico. Tanto a
Cultura material como a cultura espiritual (Taboada Chivite 1972) constitúen
a esencia da etnicidade dende a Prehistoria até o presente (Sierra Rodríguez e
Fernández Cerviño 2004: 16). Este marco ideolóxico compartido constitúe a
superestructura do sistema de saber-poder que demos en chamar galaico-min-
hoto, asentado nunha tradición investigadora, nun marco institucional (Uni-
versidade do Porto, Sociedade Martins Sarmento de Guimarâes, IEGPS de
Santiago) e nunha rede de coñecemento na que se inseriu de cheo X. Taboada
Chivite como discípulo de Cuevillas e como estudoso da zona fronteiriza do
val do Támega. Probablemente, o autor verinés foi o investigador que mellor
manexou a tradición etnográfica e arqueolóxica do N de Portugal, citando nos
seus artigos referencias de Eugénio Jalhay, Afonso do Paço, José de Pinho,
José Fortes, Ricardo Severo, Santos Júnior, Jorge Dias, Joaquim Fontes, Mário
Cardoso, Mendes Corrêa, Fernando de Castro Pires de Lima... Asemade, par-
ticipou activamente nos congresos que reforzaron esa relación transfronteiriza
como, por exemplo, o Iº Coloquio Bracarense de Estudios Suévico-Bizantinos
(1960), o Coloquio Internacional de Estudos Etnográficos Rocha Peixoto, de
Póvoa de Varzim (1966), o Iº Congreso de Etnografía e Folklore de Santo Tirso
ou o Coloquio Luso-Espanhol sobre a Cultura castreja en Carvalhelhos (1972)
(Taboada Cid 1979: 10; Ogando 1980: 501).
Neste senso, o autor verinés contribuíu a consolidar esta rede científica
galaico-minhota coa súa obra, mais tamén axudou en grande medida a reafirma-

Pág. 174 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


los seus alicerces politicos e ideolóxicos dende a súa posición (de grande capital
simbólico) de continuador da obra de Cuevillas na sección de Prehistoria e Ar-
queoloxía do IEGPS. Dende esta entidade, xunto con Bouza Brey, fixo perdura-
la vella Arqueoloxía galeguista de corte histórico-cultural, caracterizada por unha
ausencia total de pretensións teóricas, un celtismo a ultranza e un marcado her-
metismo cara a influencias exteriores. Este inmovilismo teórico-metodolóxico
levou a reafirma-la visión chantada por Cuevillas9, á que simplemente se lle en-
gadiron addendas froito da acumulación de dados por novas intervencións nas
décadas dos anos 50 e 60 (Taboada Chivite 1973a). A este respecto, a obra de
Taboada Chivite, como a do seu amigo Santos Júnior do outro lado da raia, define
perfectamente o discurso reproducido
década tras década polo sistema
galaico-minhoto-transmontano, un
discurso que permitía escavar durante
trinta anos nun castro sen mudar para
nada o marco interpretativo nin os pre-
supostos de partida, un discurso que
favorecía o feito de abordar nun colo-
Figura 5. Vicente Risco e X. Taboada Chivite po-
sando cun rancho folklórico en Viana do Castelo, quio sobre cultura castrexa no ano
1958 (en Dasairas 2006: 17) 1972 as mesmas preguntas, cuestións
e temáticas que as plantexadas, por poñer un exemplo, no III Congreso Nacional
de Arqueoloxía do ano 1953.

6. un Patrimonio sen fronteiras

Nace el Búbal en Galicia, corre luego por territorio portugués, paralelo


y muy próximo a la frontera, que cruza más tarde para desaguar en el Támega,
entre Vilaza y Verín. En su vertiente portuguesa está el concejo trasmontano
de Montalegre, cuyos habitantes son conocidos con la denominación de ‘ba-
rrosos’ y tienen fama de rústicos y de mal acomodados.
X. Taboada Chivite (1955: 69-70).

Esta cita (con valor etnolóxico de seu) amosa ben ás claras a ollada et-
noarqueolóxica de Taboada Chivite, unha mirada que combina a estética da

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 175


paisaxe de Cuevillas e Otero Pedrayo e o interese polo perfil psicolóxico do
pobo, na liña de Risco. Os anos de formación no SEG conferíronlle as ferra-
mentas necesarias para aborda-lo estudo da terra de Verín individualizada coma
un obxecto de estudo acotado por unha nidia fronteira, mais inserido nunha
área doblemente fronteiriza, entre culturas no pasado e entre Estados no pre-
sente. Botando man do comparatismo etnográfico, Taboada superou a raia seca
e fixo por coñece-la paisaxe, a xente, os costumes e os xacementos de Tras-
os-Montes. A súa tentativa de reconstrución arqueoxeográfica do territorio ocu-
pado polos bíbalos baseouse nun coñecemento da realidade arqueolóxica da
parte portuguesa, do concello de Montalegre, sabendo dos 53 castros catalo-
gados no seu día por Fernando Barreiros como a cidade de Grou en Santo
André, Castrelos en Vilar de Perdices ou os de Coto e Castro en Cambezes
(Taboada Chivite 1955: 73). Doutra volta, o folklore transmontano inza todos
e cada un dos seus estudos etnográficos, xa sexa sobre as lendas dos castros, o
culto ás pedras e mailas encrucilladas, os xogos populares, o Antroido ou a to-
ponimia.
Este enfoque transfronteirizo de
Taboada Chivite é froito da decisión
persoal dun humanista e investigador
irrepetible, mais tamén é froito dunha
época e dunha tradición investi-
gadora como tentamos de amosar na
páxinas precedentes. En todo caso re-
sposta a unha vella arela de su-
Figura 6. visita de campo dos participantes no Colo- peración de fronteiras artificiais, un
quio de Cultura Castreja en Carvalhelhos (outubro de
1972) (en García Martínez 2007: 75) anceio que, como Santos Júnior ou
Taboada Chivite, tamén compartimos
@s arqueólog@s galegos e portugueses reunidos neste congreso de Montale-
gre. Nós tamén somos fillos dunha nova época, sen alfándegas nin pasaportes
ou salvoconductos, formamos parte doutro sistema de saber-poder académico,
avogamos por unha Arqueoloxía que, como prática política que é, tamén elab-
ora discursos que lexitiman os intereses do presente. O xornais galegos de hoxe
son ben claros ao respecto: “Aposta pola eurorrexión Galicia-Norte de Portu-
gal” (portada do Galicia Hoxe, 23 de set.. de 2008), “Galicia y Norte de Por-

Pág. 176 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


tugal afianzan su unión como agrupación pionera” (El Correo Gallego, 23 de
set. de 2008). Quizais hoxe, máis ca nunca, fai falla unha Arqueoloxía trans-
fronteiriza neste recanto da Penínusla Ibérica.

Bibliografía
Acuña Castroviejo, F. 1992. A Obra arqueolóxica de Fermín Bouza-Brey. En Filgueira Valverde, X., García
Martínez, C., Acuña Castroviejo, F. e Enríquez, X. M.: Fermín Bouza Brey (1901-1973). Unha fotobiografía:
291-99. Vigo: Edicións Xerais de Galicia.
Acuña Castroviejo, F. 1998. As escavaciós galego-portuguesas no mundo castrexo no contexto dos intercam-
bios culturais e científicos neste século. Cadernos do Museo Muncipal de Penafiel 2. Homenagem a C. A.
Ferreira de Almeida: 29-36. Penafiel.
Arias Vilas, F. 1995. Chamoso Lamas e a Arqueoloxía lucense, unha revisión. En Lugo no obxectivo de
Chamoso Lamas: 39-60. Lugo: Museo Provincial, Deputación de Lugo.
Arias Vilas, F. 2007. Xesús Taboada Chivite e o galaico-romano: a lembranza dun home o e dunha intución
científica. Boletín Auriense, 37: 99-108.
Armada Pita, X. 1999. Unha revisión historiográfica do celtismo galego. En Os Celtas da Europa Atlántica.
Actas do 1º Congreso Galego sobre a Cultura Celta (Ferrol, agosto 1997): 229-72. Ferrol: Concello de Fer-
rol.
Armada Pita, X. 2004. Pericot e a Arqueoloxía galega. Ensaio de aproximación. Gallaecia, 23: 251-77. Sada:
Ediciós do Castro.
Ayán Vila, X. M. 2006. A citania de Montealegre e a xénese da arqueoloxía galeguista. En Aboal Fernández,
R. e Castro Hierro, V. (eds.): O castro de Montealegre (Moaña, Pontevedra): 19-53. Noia: Toxosoutos.
Ayán Vila, X. M. 2008. Neixón 1925: a prol da recuperación da memoria histórica da arqueoloxía galega. En
Ayán Vila, X. M. (coord.): Os castros de Neixón II: de espazo natural a paisaxe cultural: 17-56. Noia: Tox-
osoutos.
Bobillo, F. 1981. Nacionalismo Gallego. La Ideología de Vicente Risco. Akal Universitaria, 36. Madrid: Akal.
Calo Lourido, F. 2003. Evocación e encadramento cultural de don Xaquín. Boletín Auriense, 33: 9-35.
Ourense: Museo Aequeolóxico Provincial.
Calo Lourido, F. 2004. A formación teórica de D. Xaquín Lorenzo. Croa, Boletín da Asociación de Amigos
do Museo de Viladonga, 14: 27-39. Viladonga.
Castelo Ruano, R.; Cardito Rollán, L.; Panizo Arias, I. y Rodríguez Casanova, I. 1997. Julio Martínez Santa-
Olalla. Vinculación y contribución a los organismos e instituciones arqueológicas españolas de postguerra.
En G. Mora y M. Díaz-Andreu (Eds.): La cristalización del pasado: génesis y desarrollo del marco institu-
cional de la Arqueología en España: 573-80. Málaga: Universidad de Málaga, CSIC.
Dasairas Valsa, X. 2006. Xesús Taboada Chivite. Arqueólogo, historiador, etnógrafo e ensinante. Vigo: Ir
Indo.
De Juana, J. E Prado, J. (coords.). 2006. Lo que han hecho en Galicia. Violencia política, represión y exilio
(1936-1939). Barcelona: Crítica.
Díaz-Andreu, M. 1993. Theory and Ideology in Archaeology: Spanish Archaeology Under the Franco Regime.
Antiquity, 67: 74-82.
Díaz-Andreu, M. 1997. Nación e Internacionalización. La Arqueología en España en las Tres Primeras Dé-
cadas del siglo XX. En G. Mora y M. Díaz-Andreu (Eds.): La cristalización del pasado: génesis y desarrollo

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 177


del marco institucional de la Arqueología en España: 403-16. Málaga: Universidad de Málaga, CSIC.
Díaz-Andreu, M. 1997a. Prehistoria y Franquismo. En G. Mora y M. Díaz-Andreu (Eds.): La cristalización
del pasado: génesis y desarrollo del marco institucional de la Arqueología en España: 547-552. Málaga:
Universidad de Málaga, CSIC.
Díaz Santana, B. 2002. Los celtas en Galicia. Arqueología y política en la creación de la identidad gallega.
Noia: Toxosoutos.
Fariña Busto, F. e Rodríguez, X. 2004. A propósito dos traballos arqueolóxicos de Don Xaquín Lorenzo. Bo-
letín da Real Academiga Galega, 365: 57-91. A Coruña.
Fariña Busto, F. e Rodríguez, X. 2004a. Dimensión arqueolóxica de X. Lorenzo. En Xaquín Lorenzo, 1907-
1989. Unha fotobiografía: 225-234. Vigo: Xerais.
Fernández-Posse, Mª D. 1998. La investigación protohistórica en la Meseta y Galicia. Madrid: Síntesis.
Filgueira Valverde, X. 1978. O que foi o Seminario de Estudos Galegos. En VV.AA. Testemuñas e perspec-
tivas en homenaxe ao Seminario de Estudos Galegos. Cuadernos do Laboratorio de Formas de Galicia, 5:
31-38. Sada: Ediciós do Castro.
Filgueira Valverde, X. 1988. La Comisión de Estudios en Galicia. En J. M. Sánchez Ron (Coord.): La junta
para la Ampliación de Estudios e Investigaciones Científicas, 80 años después, 1907-1987. Vol. II: 103-17.
Madrid: CSIC.
Fonte, A. L. 1974. Etnografía transmontana. Montalegre.
García Martínez, C. 1978. Os Estudos Prehistóricos e Etnográficos no Seminario. En VV.AA. Testemuñas e
perspectivas en homenaxe ao Seminario de Estudos Galegos. Cadernos do Laboratorio de Formas de Galicia,
5: 111-3. Sada: Edición do Castro.
García Martínez, C. 2007. Notas arredor de X. Taboada, arqueólogo. Boletín Auriense, 37: 47-76. Ourense.
García y Bellido, A. 1941. El castro de Coaña (Asturias) y algunas notas sobre el posible origen de esta
cultura. Archivo Español de Arqueología, XV: 188-217. Madrid.
García y Bellido, A. 1942. El castro de Coaña (Asturias). Nuevas aportaciones. Archivo Español de Arque-
ología, XV: 216-44. Madrid.
García Rollán, M. 1971. Memoria de la excavación arqueológica de Castromao (Caeliobriga). Archivo Es-
pañol de Arqueología, 44: 172-211. Madrid.
Gilman, A. 1995. Recent Trends in the Archaeology of Spain. En K. Lillios (Coord.): The Origin of Complex
Societies in Late Prehistoric Iberia: 1-6. Archaeological Series, 8. International Monographs in Prehistory.
Ann Arbor.
González Beramendi, J. 1985. Antonio Losada: Tradición e nacionalismo. En Beramendi, J. G. (ed.) 1985.
Losada Diéguez. Obra completa: 99-137. Vigo: Xerais.
González Beramendi, J. 2000. O ideosistema singular de Vicente Risco. En Beramendi, J. (ed.): Vicente Risco.
Teoría do nacionalimo galego: 9-53. Santiago de Compostela: Sotelo Blanco.
González Beramendi, J. e Núñez Seixas, X. M. 1995. O nacionalismo galego. Historia de Galicia, 18. Vigo:
A Nosa Terra.
González García, F. J. 2007. Celtismo e historiografía en Galicia: en busca de los celtas perdidos. En González
García, F. J. (coord.): Los Pueblos de la Galicia Céltica: 9-130. Madrid: Akal.
González Pérez, C. 2003. Xaquín Lorenzo Fernández ‘Xocas’ (1907-1989). Noia: Toxosoutos.
González Reboredo, X. M. 2007. Nova lectura da obra etnográfica de Don Xesús Taboada Chivite. Boletín
Auriense, 37: 279-26. Ourense.
Júnior, J. R. dos Santos. 1985. A cultura dos berrôes proto-históricos fundamente radica em Tras-os-Montes.

Pág. 178 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Trabalhos de Antropologia e Etnologia, XXV (fasc. 1): 31-40. Porto.
López Cuevillas, F. e Bouza Brey, F. 1929. Os Oestrimnios, os Saefes e a Ofilatría en Galiza. Arquivos do
Seminario d´Estudos Galegos, II, Seizón de Prehistoria. Ed. Facsímil 1992. Santiago: Universidade de San-
tiago de Compostela, Museo do Pobo Galego e Instituto de Estudios Galegos Padre Sarmiento.
López Cuevillas, F. e Lorenzo Fernandez, X. 1986. Castro de Cameixa. Campañas 1944-46.
Arqueoloxía/Memorias. Santiago: Xunta de Galicia.
López Cuevillas, F. e Taboada Chivite, J. 1946. Una estación galaico-romana en el Outeiro de Baltar. Archivo
Español de Arqueología, XIX, nº 63: 117-30. Madrid.
López Cuevillas, F. e Taboada Chivite, J. 1953. Noticias sobre da Cidá do Castro. Revista de Guimaraes,
LXIII (1-2): 151-7. Guimaraes.
López Cuevillas, F. e Taboada Chivite, J. 1955. Un oppidum de la tribu de los Bibalos. Archivo Español de
Arqueología, XXVIII, nº 91: 67-89. Madrid.
López Gómez, F. S. 1999. La sensibilidad arqueológica de D. José María Luengo Martínez y el casro de
Baroña. En Luengo y Martínez, J. M.: Excavaciones en el castro céltico de Baroña. A Coruña: Deputación
Provincial.
Luengo y Martínez, J. M. 1954-55. Noticia sobre las excavaciones del Castro de Elviña (La Coruña). Noti-
ciario Arqueológico Hispánico, III-IV: 90-101. Madrid.
Luengo Martínez, J. Mª. 1971. Excavaciones en el castro céltico de Baroña (La Coruña) (Campañas de 1969-
1970). Noticiario Arqueológico Hispánico 16: 245-264.
Luengo y Martínez, J. Mª. 1999. Excavaciones en el Castro Céltico de Baroña. A Coruña: Diputación de A
Coruña.
Marín Suárez, C. 2004. Historiografía de la Edad del Hierro en Asturias. Complutum: 75-97. Madrid: Uni-
versidad Complutense.
Marín Suárez, C. 2005. Astures y Asturianos. Historiografía de la Edad del Hierro en Asturias. Serie Keltia,
27. Noia: Toxosoutos.
Martínez Risco, V. 1976. Manual de Historia de Galicia. Vigo: Galaxia. 3ª edición [ed. or. de 1952].
Martínez Santa-Olalla, J. 1946. Esquema paletnológico de la Península Hispánica. Madrid: Publicaciones
del Seminario de Historia Primitiva. Madrid (2ª edición).
Mato Domínguez, A. 2001. O Seminario de Estudos Galegos na documentación que garda o Instituto Padre
Sarmiento. Sada: Edicións do Castro, IEGPS, SEG.
Mora, G. 2003. El Consejo Superior de Investigaciones Científicas y la Antigüedad. En F. Wulff Alonso y
M. Álvarez Martí-Aguilar (Eds.): Antigüedad y franquismo (1936-1975): 95-109. Málaga: CEDMA.
Mora, G. y Díaz-Andreu, M. (Eds.). 1997. La cristalización del pasado: génesis y desarrollo del marco in-
stitucional de la Arqueología en España. Málaga: Universidad de Málaga, CSIC.
Pardo de Guevara y Valdés, E. 2005. O Instituto Padre Sarmiento de Estudos Galegos (1944-2004). 60 anos
ó servicio de Galicia. Santiago: IEGPS (CSIC-XuGa).
Prado Fernández, O. 1997. Aportación do Seminario de Estudos Galegos a Arqueoloxía: Unha revisión. I
Premio de Investigación l996 “Xesús Ferro Couselo”. Valga: Concello de Valga.
Prada Rodríguez, X. 2007. O proceso de depuración administrativa de Xesús Taboada Chivite. Boletín Au-
riense, 37: 29-46. Ourense.
Rodríguez González, X. 1996. Don Xesús Ferro Couselo: investigación arqueolóxica. Boletín Auriense, XXI:
179-189. Ourense.
Rodríguez González, X. 2007. D. Xesús Taboada Chivite. Actividade arqueolóxica de campo a través da súa

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 179


relación epistolar. Boletín Auriense, 37: 77-98. Ourense.
Rodríguez González, X. e Fariña Busto, F. 1986. A Cidá do Castro de San Millán. Memorias de las excava-
ciones arqueológicas. Boletín Auriense, XVI: 39-89. Ourense.
Ruiz Zapatero, G. 2003. Historiografía y “uso público” de los celtas en la España franquista. En F. Wulff
Alonso y M. Álvarez Martí-Aguilar (Eds.): Antigüedad y franquismo (1936-1975): 217-240. Málaga:
CEDMA.
Sierra Rodríguez, X. C. e Fernández Cerviño, M. J. 2004. A obra etnográfica de Xaquín Lorenzo. En Álvarez,
R. (Cood.): Xaquín Lorenzo Xocas: 13-30. Santiago: USC.
Soeiro, T. 2004. Menos mal que nos queda Portugal. Boletín de la Real Academia Galega, 365: 217-34. A
Coruña.
Taboada Chivite, J. 1944. El castro de Medeiros. Boletín de la Comisión Provincial de Monumentos de Orense,
XIV: 281-8. Ourense.
Taboada Chivite, J. 1946. El castro de Florderrey Vello (Villardevós) y sus interesantes hallazgos. Boletín
del Museo Arqueológico Provincial de Orense, II: 37-43. Ourense.
Taboada Chivite, J. 1948. Esculturas de verracos en Galicia. Archivo Español de Arqueología, 72: 291-4.
Madrid.
Taboada Chivite, J. 1949. La cultura de los verracos en el noroeste hispánico. Cuadernos de Estudios Gallegos,
IV: 5-26. Santiago.
Taboada Chivite, J. 1950. Exploración de los castros de Cabreiroá. Cuadernos de Estudios Gallegos, V: 331-
44. Santiago.
Taboada Chivite, J. 1955. Carta Arqueológica de la comarca de Verín. En VV.AA.: III Congreso Nacional de
Arqueología (1953, Galicia): 333-52. Zaragoza: Institución Fernando el Católico, Sección de Arqueología.
Taboada Chivite, J. e López Cuevillas, F. 1959. Dos nuevas hachas de bronce encontradas en Galicia. Boletín
de la Comisión de Monumentos de Orense, XVIII: 177-81. Ourense.
Taboada Chivite, J. 1961. Algunos aspectos de los castros bíbalos. VIº Congreso Nacional de Arqueología
(Oviedo, 1959): 95-101.
Taboada Chivite, J. 1971. Noticias arqueológicas de la región del Támega (Verín). Cuadernos de Estudios
Gallegos, XXVI, fasc. 78: 45-63. Santiago.
Taboada Chivite, J. 1972. Etnografía galega: Cultura espiritual. Vigo: Galaxia.
Taboada Chivite, J. 1973. La romanización del hábitat castreño. Trabalhos de Antropologia e Etnologia,
XXII: 237-47. Porto.
Taboada Chivite, X. 1973a. Addenda et Corrigenda. En R. Otero Pedrayo (dir.): Historia de Galiza. Volume
III: 539-651. Buenos Aires: Nós.
Taboada Chivite, X. 1973b. Notas necrológicas en recuerdo de cuatro insignes arqueólogos y etnógrafos:
García Bellido, Bouza-Brey, pires de Lima, Jorge Días. Boletín Auriense, III: 93-203. Ourense.
Taboada Chivite, X. 1975. A vida e a obra de Xesús Ferro Couselo. Boletín Auriense, V: 9-16. Ourense.
Taboada Cid, M. 1979. Xesús Taboada Chivite (1906-1976). Gallaecia, 3-4: 9-17. Sada: Ediciós do Castro.
Viana, A. 1959-60. Insculturas rupestres do Alto Minho. Boletín de la Comisión de Monuemntos de Ourense,
tomo XX: 209-31. Orense.
VV.AA. 1955. III Congreso Nacional de Arqueología (Galicia, 1953). Zaragoza: Institución Fernando el
Católico, Sección de Arqueología.
Wulff Alonso e M. Álvarez Martí-Aguilar (Eds.): Antigüedad y franquismo (1936-1975): 33-73. Málaga:
CEDMA.

Pág. 180 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Xusto Rodríguez, M. 2007. Don Xesús Taboada e as ideas da romanización nos xacementos no val do Támega.
Boletín Auriense, 37: 163-86. Ourense.

1
Apenas se teñen máis dados da participación de Taboada Chivite na xeira arqueolóxica á terra de Deza, xa
que, segundo parece, eses materiais se perderon tralo desmantelamento do SEG (Taboada Cid 1979: 11;
García Martínez 2007: 52). No intre de redactar esta comunicación estamos investigando nos fondos aínda
non catalogados do SEG que se conservan no IEGPS, onde existe diverso material disperso e inédito do labor
arqueolóxico dos membros do Seminario (Ayán 2008: 44, fig. 19). Por outra banda, referencias ao labor de
catalogación de castros da zona de Deza e a Estrada atópanse esparexidas tanto na obra arqueolóxica de
Cuevillas como na de Taboada Chivite.
2
Membros do stablishment ben situados na política arqueolóxica nesta etapa fascistoide do Novo Estado até
o cambio que acontece entre 1954-5. No III Congreso Nacional de Arquelogía celebrado en Galicia en 1953
todos forman parte (agás Luengo) da Comisión Executiva do mesmo (VV.AA. 1955: 11). O Congreso era
presidido, coma sempre, polo Almirante Bastarreche, el hombre que salvó a Pontevedra (op. cit.: 26).
3
Para levar a cabo escavacións arqueolóxicas dentro do sistema do Plan Nacional, obsérvase unha obediencia
tácita cara ás consignas do novo centralismo que concede os permisos, se ben, por outra banda, vemos que
as relacións e contactos personais son fundamentais para captar exiguas subvencións ou o simple interés do
Comisario General de Excavaciones Martínez Santa-Olalla.

4
Neste contexto as escavacións no castro de Cameixa de Xaquín Lorenzo e López Cuevillas (1986) e as de
García Rollán (1971) en Castromao son totalmente ecepcionais polo seu rexistro estratigráfico.
5
Sirva de exemplo o propio comentario de Taboada Chivite louvando o quefacer arqueolóxico de X. Ferro
Couselo: Outra tarefa que precísase salientar é a realizada no ámeto da arqueoloxía prehistórica: Baixo a
súa dirección e da do seu querido amigo Xaquín Lorenzo realizáronse escavacións prehistoricas coa máis
estricta metodización en técnica no Castromao e noutros xacementos de Galicia (Taboada Chivite 1975: 13).
6
O voluntarismo transfronteirizo nun intre no que non existe a Arqueoloxía académica entre eruditos minhotos
e galegos exemplifícase moi ben na seguinte cita de Abel Viana (1959-60: 209): Os nove anos decorridos
entre 1922 e 1931, em que residi nas freguesias de Seixas e Lanhelas, na margen do rio Minho, tendo em
frente extenso panorama da Galiza, foram decisivos na delibraçao por mim tomada, quanto a dedicarme
particularmente aos estudos arqueológicos. O meu contacto com o reducidísimo e pouco comunicativo
número de arqueólogos portugueses era escasso. Entregue a un puro autodidatismo, só as minhas relativa-
mente frecuentes relaçoes epistolares e a troca de artigos impresos com Hugo Obermaier, o Conde de la
Vega del Sella, juan Cabré, jesús Carballo e, sobretudo, com investigadores galegos, juan Domínguez
Fontela, Fermín Bouza Brey, Manuel Fernández Costas, Federico Maciñeira Pardo de Lama, joaquín
Lorenzo-Fernández, Pérez de Barradas e Florentino Cuevillas, prestaram o indirecto apoio científico ás
febrís jornadas que entâo eu realizava por montes e vales do Alto Minho [...] Foi, por tanto a estes prestimosos
e notáveis obreiros da arqueologia española que devi, e durante longo tempo, as primeiras substanciosas
informaçoes sobre a arqueologia peninsular e tambén os primeiros incentivos sinceros, fraternos, úteis, ver-
dadeiramente operantes. En 1929, Cuevillas, ao oferecer-me un ejemplar de ‘Os Oemstrimnios, Os Saefes e
a Ofiolatría na Galiza’, con várias notas marginais, do seu punho, dirixiu-me calorosa exortaçâo para que
eu proseguisse em tal ramo de investigaçôes.
7
Na área minhota, en 1919, investigadores vencellados á Universidade de Porto fundan a revista Trabalhos
de Antropologia e Etnologia, introducindo por primeira vez nos seus estudios a representación cartográfica

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 181


de achados e estacións. Investigadores lusos como Mendes Correia (Os Povos Primitivos da Lusitania, 1924)
e Rui de Serpa Pinto abordan o estudo dos pobos protohistóricos peninsulares integrándoos no ámbito penin-
sular e europeo. Estes traballos de comezos dos anos 20 conlevarán la definición da Cultura Norte dos castros
e a súa caracterización no ámbito da 2ª Idade do Ferro da Península Ibérica, plantexamentos retomados por
Cuevillas e transmitidos aos membros do SEG.
8
Formado en Filoloxía Xermánica na Universidade de Coimbra, leitor en Alemania (1938-1944), doutorando
en Munich e que disfrutaría una estancia de lectorado en Santiago de Compostela (1944-1946) e Madrid
(1946-47) (Taboada Chivite 1973b: 201-3; Soeiro 2004: 223)
9
[...] pro Cuevillas remanece vivo nos eidos da discipliña prehistórica, onde fica en pé canto il escrebeu, e
ainda fiuzan e corroboran súas tesis, as modernas investigacións e as recentes descobertas (Taboada Chivite
1968: 314).

Pág. 182 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Geo-histoRioGRAFiA do PRoGRAMA de investiGAção
ARQueolóGicA de sAntos JúnioR
– o cAstRo de cARvAlhelhos
GEO-HISTORIOGRAPHY OF THE ARCHAEOLOGICAL INVESTIGATION
PROGRAM OF SANTOS júNIOR – THE CARVALHELHOS HILLFORT

José Ramiro Pimenta


dePartameNtO de GeOGraFia da FaCuLdade de LetraS da uNiverSidade dO
POrtO, uNidade de arQueOLOGia da uNiverSidade dO miNHO;
jPimeNta@LetraS.uP.Pt

Resumo: Neste artigo iremos proceder a uma caracterização geo-historiográfica do pro-


grama de investigação de J. R. Santos Júnior, especialmente no contexto da ‘Cultura Castreja’,
segundo quatro níveis estruturais: i) o ‘passado do lugar’, no qual se explicitará a ordem empírica
de constituição dos ‘factos’ relativos ao Passado da região; ii) a ‘regionalização teórica’, que
permitirá revelar a ordenação regional da teoria de Santos Júnior de acordo com os pontos de
apoio empíricos apresentados; iii) a ‘topografia social’, em que se dará conta da estrutuação
mútua dos lugares de relações sociais e científicas; iv) finalmente, o ‘lugar do Passado’, onde,
finalmente, se pretende concluir do papel que uma determinada visão do Passado cumpre na
época do autor, e na sua psicologia de pesquisa.
Palavras-chave: J. R. Santos Júnior; Geo-historiografia; Trás-os-Montes; Geografia his-
tórica; História da Arqueologia.

Abstract: It is the aim of this study to characterize j R Santos júnior’s scientific pro-
gramme of research in the context of the so called ‘Cultura Castreja’ [‘castro-culture’, I mil-
lennium BC archaeology of the NW of Iberian Peninsula] along four structural levels of analysis:
i) the ‘place of the past’, or the empirical evidence of the archaeological remains; ii) ‘theoretical
regionalisation’, or the regional ordering of the previously stated ‘facts’; iii) ‘social topography’,
or the spatial ordering of the people and institutions with and within which the author relates
to; iv) finally, the ‘place of the past’, when we shall conclude of the role that the author’s views
of the Past relates to and resonates his own time and psychology of research.
Keywords: j R Santos júnior; Geohistoriography; Trás-os-Montes (region of Portugal);
Historical Geography; History of Archaeology.

Questões introdutórias
Pode parecer estranho (e sei que o é para muitos) ver um geógrafo a tratar

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 183


de temas de história de Arqueologia; porém, todos os espaços de convivência
teórica entre as várias disciplinas que estudam o social são hoje benvindas e
participam amplamente das várias inflexões a que a teoria social foi sendo sub-
metida nas últimas décadas; uma geografia da Arqueologia pode fazer-se – e
eu tenho a intenção de fazê-la – no domínio especial da geografia histórica e
cultural da evolução do Pensamento arqueológico: porque se esta evolução tem
uma história, seguramente deverá ter também uma geografia.
O corpo central deste estudo debruça-se sobre a pesquisa arqueológica
de Santos Júnior no castro de Carvalhelhos ao longo de três décadas, e dela se
retirarão os diversos elementos necessários a todas as componentes da análise
geo-historiográfica antes referida. Na última parte tentar-se-á levantar algumas
hipóteses sobre o modo como o trabalho arqueológico de Santos Júnior remete
para o ambiente cultural e social do período histórico a que pertence, como
exemplar de uma proposição que cremos ser geral para as todas as formas de
produção científica e regimes políticos – a indissolubilidade das margens po-
lítica e intelectual dos programas de pesquisa científica.
Nestas ‘questões introdutórias’ dedicarei algumas linhas a explicitar um
modelo de análise histórico-geográfica da produção do conhecimento científico
(que desenvolvi para o meu próprio programa de doutoramento e a que chamei
‘geo-historiografia’ quando se dirige à produção científica no âmbito das ciên-
cias históricas como é o caso da Arqueologia) que toma em consideração não
apenas a época em que um determinado saber se desenvolve mas também os
lugares e territorialidades que a ele estão associados. São quatro as instâncias
que podemos considerar na historicidade e geograficidade de um programa de
pesquisa científica, e que tomam uma expressão determinada no domínio da
geografia histórica do Pensamento arqueológico: i) o ‘passado do lugar’ recolhe
toda a vasta convocação de lugares que dizem respeito a uma obra ou conjunto
de obras de interpretação arqueológica; ii) a ‘regionalização teórica’ diz res-
peito à produção mais interpretativa e abstracta que é feita a partir do conjunto
dos lugares enunciados em i) de modo a alocá-los diferencialmente a reapre-
sentá-los sob a forma de conjuntos que estabelecem relações de identificação
e exclusão; iii) a ‘topografia social’ diz respeito à rede histórico-geográfica dos
autores e instituições que submetem e caucionam um determinado programa
de pesquisa, o que é dizer, uma determinada interpretação do passado; final-

Pág. 184 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


mente, iv) entende-se por ‘cronotope’ ou ‘lugar do passado’ a específica função
cultural, social, económica, ideológica que essa mesma determinada interpre-
tação do passado ocupa e cumpre na estrutura social mais vasta a que pertence,
seja ela ‘situacionista’, a favor da perpetuação da estrutura de poder dominante,
seja ‘oposicionista’, tendo em vista a sua destituição.
Como princípio geral do nosso próprio programa de investigação da geo-
grafia histórica da Ciência, podemos afirmar que qualquer programa de inves-
tigação possui uma ‘pegada histórica e geográfica’ que o caracteriza e pela qual
podemos começar a aceder à sua estruturação mais funda.
No caso da Arqueologia este tipo de convocação de lugares do ‘passado’
costuma apresentar um aspecto muito específico e quase invariante: a implan-
tação num mapa do conjunto dos ‘materiais’ que supostamente descrevem ou
exprimem uma ‘cultura arqueológica’. A aparente inocência de uma distribui-
ção assim expressa não deve fazer com que deixemos de tomar em considera-
ção o carácter fortemente ‘artificial’ de um ‘constructo’ desta natureza – de
facto nada há de ‘natural’ nesta organização geográfica dos materiais do pas-
sado e com mais ou menos facilidade se podem identificar a técnica e a política
(e a poética) de tais recolhas e assim facilmente reconhecer o seu carácter cir-
cunstancial e motivado.
O arranjo dos materiais arqueológicos numa expressão ‘cartográfica’ de
escalas variadas não constitui o fim dos programas de investigação em Arqueo-
logia; de facto, nem mesmo as versões mais materialistas e empiricistas se dei-
xam ficar por esta fase de investigação – e têm boas razões epistemológicas
para o não fazer, como se dirá mais à frente. O passo seguinte que invariavel-
mente caracteriza a maior parte dos programas de pesquisa arqueológicos con-
siste em subsumir o conjunto discreto de pontos que caracteriza o conjunto dos
materiais em ‘áreas’ culturais que os hierarquizam e relacionam a um nível
mais abstracto. Este é um passo epistemológico da maior importância porque
nele incidem geografias ‘sociais’ e ‘culturais’ de que os autores podem nem
sequer ter uma noção completa.
A alocação teórica da implantação espacial dos materiais em expressivas
‘áreas’ culturais é inevitavelmente intermediada por uma geografia profunda-
mente estruturada das relações sociais, a que chamamos ‘topografia social’.
Não é sem consequências para a produção científica, cremos nós, a rede espa-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 185


cial e regional dos autores e instituições relacionados com um determinado
programa de pesquisa científico: as nações de origem e os lugares de reunião
dos investigadores; os lugares concretos de conservação, apresentação e trans-
missão das suas generalizações simbólicas e expressões concretas, os museus,
as universidades, as sociedades científicas, enfim todos os lugares de ‘produção
de ciência’ exibem-se concertadamente numa rede mais vasta que os organiza
- esta topografia social repercute-se tanto no momento aparentemente mais
‘neutro’ da recolha dos materiais arqueológicos, como, naturalmente, no da
elaboração teórica das interpretações de maior abrangência.
O processo de ‘regionalização’ científica, suportado pela ‘evidência’ da
organização espacial dos materiais e pela mais ou menos ‘subterrânea’ estru-
turação da ‘topografia social’ é justamente a principal instância em que se ex-
prime a ‘geografia’ epistemológica dos programas de pesquisa e que remete
necessariamente para a geografia complexa das relações com o presente dos
autores e das instituições. Deste modo, uma investigação cuidadosa de qualquer
programa de investigação arqueológica deverá sempre aproximar criticamente
os limites espaciais desenhados nas culturas do passado com as fronteiras, ób-
vias ou menos óbvias, que estruturam o presente dos investigadores e das ins-
tituições que os suportam.
É por todas estas razões que antes dizíamos serem boas as razões episte-
mológicas que recusam às versões materialistas e empiricistas o pressuposto,
que eventualmente defendem, de que a simples implantação dos materiais per-
mite que eles ‘falem por si’.
Este estudo diz directamente respeito ao programa de investigação ar-
queológica de Santos Júnior. Para acedermos à estruturação complexa de todas
as instâncias histórico-geográficas presentes na epistemologia daquele inves-
tigador, optámos por escolher a parte da sua bibliografia científica que se centra
no castro de Carvalhelhos; claro está que é uma versão estrita do pensamento
arqueológico do investigador que só encontrará plena expressão quando o resto
da sua obra científica for contemplada em estudos de natureza e propósito se-
melhantes. O que faremos será afinal identificar neste caso concreto as mesmas
instâncias que antes caracterizamos de uma forma genérica para qualquer pro-
grama de investigação científica e, especialmente, de investigação arqueológica
- o ‘passado do lugar’, a ‘regionalização teórica’, a ‘topografia social’ e o ‘lugar

Pág. 186 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


do passado’; para mais tarde se deixará a inserção deste programa de pesquisa
no contexto mais vasto da época do autor, e especialmente as carcatrísticas que
mais nitidamente o ligam aos fundamentos do Estado Novo, especialmente da
sua fase final.
A figura 1 designa todos os lugares convocados por Santos Júnior ao
longo das suas obras que dizem directamente respeito ao seu programa de in-
vestigação arqueológica centrado no castro de Carvalhelhos. Como se pode
facilmente constatar estes distribuem-se maioritariamente pelo Norte de Por-
tugal, mais especialmente o Nordeste transmontano, havendo contudo alguns
lugares fora daquelas áreas. De fora do espaço português, apenas algumas
vagas referências a lugares da Itália (sem especial importância, prendem-se
com o problema da origem de materiais romanos de Carvalhelhos) e duas re-
ferências no Sul de África: estas são
‘geo-historiograficamente’ mais im-
portantes, porque, apesar de não di-
zerem directamente respeito à
‘espessura material’ do programa de
investigação, fazem-nos alertar para
as ligações entre a Arqueologia e a
Etnografia colonial, ligações que,
como veremos mais tarde, não são
sem significado.
A figura 2 consiste no mapa dos
‘materiais’ que se recolhem dos textos
sobre o programa de investigação ar-
queológica de Carvalhelhos. São,
Figura 1. A ‘convocação geo-historiográfica’ de Car-
maioritariamente, lugares em que se valhelhos
reconheceram estruturas ou recolhe-
ram materiais semelhantes àqueles que
se foram reconhecendo também no castro referido. São por isso de especial impr-
tância para a caracterização contextual da ‘cultura’ arqueológica, pelas relações
regionais que aparentemente desenham. É especialmente importante a distribuição
‘transmontana’ do conjunto destes lugares, embora não seja sem significado a sua
parte ocidental, sobretudo o conjunto Sanfins-Briteiros-Sabroso.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 187


Já antes nos referimos ao momento de ‘aloca-
ção’ teórica do conjunto discreto dos lugares de ‘ma-
teriais’ em agrupamentos de escala mais ou menos
variada e em diversos graus de articulação, i.e., a ‘re-
gionalização teórica’ (figura 3). No caso do programa
de Santos Júnior em Carvalhelhos, esta operação teó-
rica tem uma expressão bem nítida. São de dois tipos,
de duas escalas, as ‘áreas culturais’ que vemos serem
delineadas na interpretação ‘geográfica’ do passado
por Santos Júnior: i) por um lado, e a uma escala
mais abrangente, a caracterização de uma suposta
realidade ‘étnica’ do passado, fixada ao ‘fundo-de-
mapa’ sobretudo pelos lugares antes referidos de Bri-
teiros-Sabroso-Sanfins. São os ‘Lusitanos’, realidade
partilhada pela Galiza e pelo Norte de Portugal, mas
Figuras 2 e 3. O ‘passado do
lugar’ e a ‘regionalização teó- que em nenhum lugar é problematizado sem que seja
rica’ de Carvalhelhos automaticamente identificada com as ruínas dos po-
voados fortificados do Noroeste. ii) Por outro lado, e
a uma escala regional infra-’lusitana’ (para usar da
nomenclatura de Santos Júnior), a especificidade que
Carvalhelhos partilha com os castros a que o autor
chama significativamente ‘transmontanos’ (nome que
de resto ainda se mantém na actualidade), e que lhe
permite delinear uma área de influência sub-regional,
de que Carvalhelhos é um dos limites, o ocidental.
Para que a operação prévia de ‘regionalização
teórica’ se compreenda inteiramente, não podemos
deixar de tomar em consideração a topografia social
que lhe anda associado e de que aquela é expressão
(figura 4). Os lugares que se representam neste mapa
são aqueles em que pudemos recolher referências ex-
plícitas a lugares de instituições ou investigadores,
isto é, as ‘pessoas’ concretamente convocadas para a
implementação deste programa de investigação. Não

Pág. 188 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


cabe aqui pormenorizar em demasia todas as situa-
ções recolhidas; porém, não pode deixar de apresen-
tar-se três linhas de estruturação social que muito
contribuem para o produto final da investigação cien-
tífica: i) em primeiro lugar, a Universidade; são bas-
tantes as referências directas aos ‘colegas’ e
‘assistentes’ que vão contribuindo, dentro de cada
uma das suas áreas de especialidade, para a interpre-
tação cumulativa dos enigmas de Carvalhelhos; ii) de-
pois, a referência quase omnipresente à Sociedade
Portuguesa de Antropologia e Etnologia ou às insti-
tuições associadas que com nomes diversos vão
acompanhando a produção de Santos Júnior. Trata-se,
como é bom de ver, de uma estruturação funda,
‘local’, portuense, da realidade social e cultural que
anima as instituições e os investigadores de um certo Figuras 4 e 5. A ‘topografia
tempo e de um certo modo de fazer ciência e cultura social’ e o ‘lugar do passado’
de Carvalhelhos
que a cidade do Porto, ou parte importante dela, exer-
ceu ao longo do período do Estado Novo, e que con-
tou com importantes apoios por parte de diversas
faculdades da sua Universidade; iii) tendo a dar alguma importância a uma re-
ferência velada que surge num dos escritos de Santos Júnior em que este in-
vestigador alude à qualidade de algumas escavações em castros análogos a
Carvalhelhos, e dá como exemplo Briteiros e Sanfins - trata-se afinal dos lu-
gares de trabalho de Mário Cardoso e Afonso do Paço, personalidades cujos
programas de investigação arqueológica têm bastantes traços em comum com
o do próprio Santos Júnior e são, quando considerados em conjunto, exemplos
replicados de um certo modo de fazer ciência e Arqueologia no Portugal de
uma época.
Como já antes referimos, a ‘regionalização’ científica depende da orga-
nização espacial dos materiais e da estruturação da ‘topografia social’. Neste
caso, atrevemo-nos a dizer que a organização teórica que Santos Júnior delinea
com as suas regiões ‘lusitana’ e ‘transmontana’ é afinal a expressão de duas
preocupações metaparadigmáticas que estão presentes no seu espírito, e às

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 189


quais atribui, no contexto da sua própria mundividên-
cia, o carácter de causalidades mais importantes na
fundamentação da actividade humana e da sua evolu-
ção: a ‘raça’ e o ‘meio’ (figura 5). Neste contexto, os
‘Lusitanos’ e os ‘castros transmontanos’ são já mais
do que apenas expressões de ‘culturas’ ou ‘sub-cultu-
ras arqueológicas’. São necessariamente a expressão
- os ‘Lusitanos’ - de uma raça homogénea, caracteri-
zada arqueologicamente, historicamente, pelos ‘cas-
tros’; e são em especial - os ‘castros transmontanos’ -
a expressão ‘ecológica’ da adaptação da raça a um
‘meio’, a um ambiente natural específico em que ela
também se encontra.

comentários conclusivos
Havíamos dito que na conclusão tentaríamos inserir a organização histó-
rico-geográfica do programa de investigação de Santos Júnior no contexto mais
vasto da época a que pertenceu, e a natureza específica dessa relação. Três ins-
tâncias são, creio eu, suficientes para a caracterizar, ainda que suspensas de
posteriores adições ou revisões que a análise crítica da obra do investigador,
ou da sua biografia, possam acessoriamente revelar. O Tempo é a essência das
ciências históricas e portanto também da Arqueologia. O modo como os in-
vestigadores têm acesso à sua problematização e o modo como a inserem na
sua produção teórica é pois fundamental para a compreensão dos seus progra-
mas de investigação. Na época e no lugar deste investigador em concreto, o
Tempo significa Evolução - será por isso ao redor desta equivalência, que que
iremos delinear as três instâncias referidas, especificamente ‘belicismo’, ‘la-
marckismo’, ‘totalitarismo’.
A ‘valentia’ é uma qualidade nunca suficientemente valorizada por um
certo tipo de mundividência de fundo naturalista e que conheceu desenvolvi-
mentos extremados com a ‘Leibeskultur’ alemã das décadas que antecederam
a Segunda Guerra Mundial, e que conheceu desenvolvimentos semelhantes em
Portugal pela mesma época. A possibilidade de estarmos em presença de uma
tradução mais ou menos directa do contexto belicista da propaganda de um re-

Pág. 190 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


gime político e a adequação à sua expressão no interior de um programa de in-
vestigação arqueológica poderá ver-se, talvez, na extensão e natureza das pro-
postas de interpretação que o investigador de Carvalhelhos faz sobre as rampas
de acesso que identifica naquele castro.
Com os notáveis estudos nela [‘Portugalia’] publicados, mostrou-se que
as raízes da nacionalidade portuguesa se inserem nos castros e citânias onde
os nossos avoengos lusitanos hauriram a seiva das qualidades de valentia, co-
rajosamente postas frente ao conquistador romano.i
A selecção natural, tal como Darwin a enunciou para a Natureza, implica
a transformação prévia das características ‘internas’ (ao tempo ainda não se cha-
mavam, como mais tarde, - ‘genéticas’) da espécie e a sua posterior eficácia no
ambiente em que se dava, resultando por isso numa maior capacidade de so-
brevivência e reprodução. Quando a metáfora naturalista é importada para a
ciência da Sociedade, aquele elemento específico da ‘transformação prévia’ foi
voluntária ou involuntariamente menosprezado, vendo-se por isso com relativa
frequência a defesa de teses ‘evolucionistas sociais’ que defendiam a possibili-
dade de o ‘ambiente’ produzir directamente transformações somáticas nos in-
divíduos e serem estas herdadas pelos seus descendentes: este elemento da teoria
evolucionista, retrógrado em relação à própria exposição de Darwin, é que
tomou o nome de lamarckismo ou, para o diferenciar do seu original, neo-la-
marckismo. Podemos ver como um elemento metaparadigmático fortemente
presente no programa de investigação de Santos Júnior: a ‘raça’ (dos ‘Lusita-
nos’, dos ‘Portugueses’, etc.) é não apenas a sedimentação do peso formidável
dos séculos através do meio ambiente, mas também e, arriscamo-nos a dizer,
principalmente, a ‘educação’ social no intervalo de umas poucas gerações:
É claro que o facto inicialmente biológico, ou orgânico, que resulta do
modo como a matéria viva do homem reage e se adapta às influências do meio
ambiente físico, pode transformar-se num facto histórico, tradicional, desde
que seja transmitido pelo exemplo, pelo ensino, e repetido pelo agregado social.
Isto pode estar, e seguramente estará, na base de muitos aspectos da evolução
humana, e pode ser razão de hereditariedade de certos caracteres adquiridos.
Herança pelo exemplo, pelo convívio, pela educação.ii
O ‘lugar do passado’ em Santos Júnior não é pois muito diferente do
‘lugar da ciência’ num regime político totalitário. A ambos os anima uma con-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 191


cepção da finitude, da totalidade, da desconfiança do vazio. A expressão mais
característica de um ‘lugar de ciência’ assim concebido é um ‘laboratório’, um
lugar não de ‘experiência’ da Natureza, mas da sua ‘experimentação’, i.e., em
que as perguntas que se levantam têm já os limites precisos das respostas an-
tecipadas. É em suma, o lugar em que a uma ciência ‘descritiva’ da evolução
natural muitas vezes sucede uma ‘ciência’ prescritiva da ‘evolução’ social:
A Antropologia estuda o homem na sua morfologia externa (Somatolo-
gia), na estruturação interna (Anatomia Humana, Esplancnologia), nas suas
capacidades de ordem superior e intelectual (Filosofia, Psicologia Humana),
nos problemas da origem do homem e da sua evolução (Paletnologia ou Pa-
leontologia Humana), no estudo das civilizações (História, Política, Antropo-
logia Social, Sociologia), nas suas múltiplas capacidades de expressão e de
comunicação (Linguística), nos múltiplos problemas ligados às necessidades
vitais imediatas, comida, abrigo, propagação da espécie (Etnográfica ou An-
tropologia Cultural, Económica e Política), nos problemas de ordem superior
que se ligam não só à origem e evolução da vida humana (Embriologia, Here-
ditariedade, Genética), mas também ao problema transcendente e aguilhoante
de além-da-vida, do postmortem (Religiões, Teologia).iii
Volto ao princípio, ao mapa com que se iniciou esta apresentação. Agora,
uma vez efectuada a viagem epistemológica que se propôs, talvez ele já nos
apareça aos nossos olhos de uma outra maneira, e expresse de que modo um
programa de investigação arqueológica é sempre uma convocação geográfica
de lugares com sentidos e fundamentos diversificados. E desejo que seja, acima
de tudo, uma ilustração suficientemente capaz de demonstrar que o encontro
transdicisplinar fecundo entre a Arqueologia e a Geografia tem lugar na inves-
tigação, e de que a história da Ciência e do Conhecimento – e assim também
do Pensamento arqueológico – fica fatalmente incompleta sem a sua corres-
pondente geografia.

Pág. 192 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Agradecimentos: Gostaria de agradecer ao Dr. João Fonte o convite para
estar presente no ‘Congresso Transfronteiriço de Arqueologia’; também relem-
brar o cumprimento que na altura dirigi ao co-orador da sessão, Alfredo Gon-
zález Ruibal, cuja obra constitui uma impressiva marca na historiografia da
Arqueologia do I milénio do Noroeste da Península Ibérica, e cuja leitura re-
presentou para mim um momento inesquecível da minha pesquisa com vista
ao meu próprio doutoramento; finalmente agradecer às pessoas que estiveram
presentes que espero tenham tido o mesmo gosto em ouvir as minhas ideias
quanto eu tive em apresentá-las.

i
J. R. Santos Jr. (1969). ‘O Professor Mendes Correia, fundador e 2.º presidente da Sociedade Portuguesa
de Antropologia e Etnologia’.
ii
J. R. Santos Jr. (1971) Antropologia (amplitude e finalidade desta ciência).
iii
J. R. Santos Jr. (1971) Antropologia (amplitude e finalidade desta ciência).

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 193


lA ocuPAción del esPAcio coMún y PRivAdo en lA citA-
niA de sAn ciBRAn de lás
OCCUPATION OF THE COMMON AND PRIVATE SPACE IN THE CITANIA
OF SAN CIBRÁN OF LÁS

Yolanda Álvarez González


Luís Francisco López González
Miguel Ángel López Marcos
terra arQueOS SL; terraarQueOS@terra.eS

Resumen: El asentamiento de San Cibrán de Lás está vinculado al fenómeno localizado en el


Sur de Galicia y Norte de Portugal que genera una serie de castros de grandes dimensiones definidos
como citanias. Su morfología refleja la existencia de un nuevo modelo de ocupación del territorio cas-
treño en este espacio geográfico concreto enmarcado en una cronología que ubica el final de la ocu-
pación entre el siglo I-II d.C., y la fundación del poblado en un momento más antiguo, en torno al
siglo II a.C. Su construcción es consecuencia del movimiento de una gran cantidad de población que
se instala en este territorio seguramente como respuesta a la presión de la conquista romana en zonas
próximas del Sur de Galicia, situación que provoca los movimientos de población en este periodo.
En el yacimiento de San Cibrán de Lás se ha concentrado una comunidad de alrededor de 4.000
personas según las estimaciones realizadas en base al número de viviendas, lo que se traduce necesa-
riamente en la existencia de un mecanismo social que organiza y permite funcionar un grupo de per-
sonas de esta magnitud. Las nuevas intervenciones han permitido documentar, nuevas claves para la
interpretación de las construcciones y de los espacios públicos y privados. El análisis de todos los nue-
vos datos es de gran complejidad por lo que nos centramos principalmente en este breve estudio en la
morfología de los recintos que configuran el poblado castreño, en especial el recinto superior o croa y
su significado social.
Palabras clave: Cultura castreña, citania, croa, recintos, cambio de era, espacio público, lugar
social.

Abstract: The settlement of San Cibrán de Lás is link to the phenomenon located in southern
Galicia and northern Portugal that generates a series of large hillforts defined as citanias. Morphology

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 195


reflects the existence of a new model of territorial occupation in this particular geographic area framed
by a chronology which places the end of occupation between the I-II century AD, and the founding of
the settlement at a time older in around the II century BC. Its construction is a consequence of the
movement of large numbers of people who settled in this land certainly as a response to pressure from
the Roman conquest in the surrounding areas of southern Galicia, which leads to population move-
ments in this period.
At the site of San Cibrán de Lás has focused a community of about 4,000 people according to
estimates based on the number of dwellings, which will necessarily translate into the existence of a
social mechanism that allows to organize and operate a group of people of this magnitude. Interven-
tions have enabled new data, new keys for the interpretation of buildings and public and private spaces.
The analysis of all new data is very complex and therefore we focus mainly on this short study on the
morphology of the precincts that make up the hillfort, especially the upper enclosure or croa and its
social significance.
Keywords: Castro culture, Citania, Croa, enclosures, changing era, public space, social place.

1. introducción
El Castro de San Cibrán de Lás se sitúa al Sur de la provincia de Orense
y es un referente histórico para la etapa final de la cultura castreña en el Nor-
oeste peninsular. El poblado estuvo ocupado desde el siglo II a.C. hasta el I-II
d.C. En este contexto, en la zona meridional de Galicia y en el norte de Por-
tugal aparece un fenómeno excepcional: la concentración de la población en
grandes asentamientos o citanias como la de San Cibrán de Lás. Se trata de un
yacimiento arqueológico que ha sido objeto de investigaciones desde los años
20, y pese a ciertos intervalos de abandono, se han retomado los trabajos hasta
desembocar en las recientes intervenciones de principios del presente siglo.
Las investigaciones realizadas llevaron a cabo la exploración de los puntos
más significativos del poblado, lo que supuso el conocimiento de las dimensio-
nes y la morfología básica de la ciudad, como son la extensión y las caracterís-
ticas principales de los sistemas defensivos, puertas, murallas, accesos, etc.
Desde el año 2000, se han reanudado los trabajos en una nueva fase de
intervención promovida por la Consellería de Cultura de la Xunta de Galicia,
que pretende la recuperación de los restos del yacimiento para su visita, obje-
tivo que ha requerido la realización de nuevas excavaciones así como la con-
solidación y estabilización de estructuras y el acondicionamiento de espacios.

Pág. 196 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


2. la morfología del poblado de san cibrán de lás
Una de las características particulares de San Cibrán de Lás es su gran
tamaño, superior a los valores máximos de superficie que tienen los castros
más grandes de la Edad del Hierro no considerados citanias u oppidas. Sin em-
bargo su gran superficie, se conjuga en este caso con un dato extraído de las
recientes excavaciones arqueológicas, que le da un matiz a este dato. Nos re-
ferimos al hecho de que el poblado se concibe desde su origen con las mismas
dimensiones que presenta actualmente. Se construye desde un primer mo-
mento con su estructura básica y espacios perfectamente definidos. Tenemos
por tanto un poblado que tiene una superficie que ocupa tres o cuatro veces
más espacio que un castro o comunidad castreña habitual1, y además ha sido
concebido ya desde su fundación como un lugar de ocupación común.
Este hecho descarta la posibilidad de un crecimiento paulatino del poblado y
confirma el desplazamiento de una gran cantidad de población a este punto en un
mismo momento. Es lícito suponer una relación de este desplazamiento con la pre-
sión de la presencia dominadora romana existente desde finales del siglo II a.C.
(pensemos por ejemplo, que en esta época Q. Servilio Cepión, gobernador de la
Ulterior, se dirigió en el 140 a.C. contra los galaicos y posteriormente Junio Bruto).
Una circunstancia que podría apoyar esta hipótesis es que en el poblado de San
Cibrán de Lás los sistemas defensivos
están muy desarrollados lo cual sería
un reflejo del temor de esta comunidad
a posibles enfrentamientos bélicos.
Volviendo a las características
morfológicas del poblado, además de
sus grandes dimensiones, destaca la
existencia de un gran recinto superior
amurallado que ocupa la parte central
del castro. La superficie total del re-
cinto central o “croa” es de casi 1Ha.
(unos 9.000 metros cuadrados) que
en comparación con otros espacios
castreños representa la superficie que Figura 1. Vista aérea del Castro de San Cibrán de Lás
en la que se distinguen los dos recintos concéntricos
ocupa un castro de pequeño tamaño. (2004)

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 197


En torno a la croa existe una ronda exterior que aisla ésta de la zona de
viviendas que se desarrolla alrededor. Tanto la muralla que rodea la croa como
la ronda exterior tienen un propósito claro de proteger, defender y definir este
espacio superior, dentro del cual no se construyeron viviendas (según se de-
ducía en antiguas campañas y se ha confirmado en las recientes excavaciones).
Respecto a la disposición de los dos recintos del castro de San Cibrán de
Lás, tanto el superior, como el dedicado a vivienda, es casi concéntrica, va-
riando la longitud de sus ejes desde la croa. La ladera de la parte Oeste es de
menor longitud que la Este, esto se debe a que la muralla del recinto interior
(M1) en la parte Oeste se levanta aprovechando un afloramiento rocoso que
atraviesa en sentido Norte-Sur el cerro. Sobre esta “cresta rocosa”, se construye
la muralla de la croa, realzando la elevación de esta muralla en este lado Oeste
del castro. Unido a este hecho acontece que la muralla (M2) que rodea el re-
cinto exterior, se construye dejando el aljibe al interior de la misma, de modo
que la banda ocupada de la ladera por este sector es menor.
La mayor anchura del recinto exterior se sitúa en el lado Sur hacia donde
la superficie habitable se ensancha aprovechando la topografía más suave y
llana en este sector. Esta circunstancia a su vez provoca que se proteja con una
doble muralla, construyendo en la línea más exterior una estructura desarrollada
en altura (cuyo zócalo fue excavado en el año 2005) a modo de torre o atalaya.
Esta estructura, que no se ha conservado, permitía aumentar la visibilidad en la
zona Sur más igualada topográficamente con el territorio del entorno.

3. el recinto interior o “croa”


Es de especial interés la construcción del recinto central llamado “croa”,
puesto que no es un elemento foráneo, sino que en las descripciones morfológicas
de los recintos castreños, es habitual una mención a los recintos centrales llamados
“croas”, lo que lo convierte en elemento tradicional en la bibliografía de la Edad
del Hierro en Galicia. El problema aparece cuando queremos obtener algún dato
que pueda ayudarnos a identificar estos recintos y también su funcionalidad.
La mayoría de las superficies definidas como “croas” que están documen-
tadas, hacen referencia a distintos tipos de espacios. En los poblados castreños
en muchas ocasiones, existen plataformas superiores que configuran parte de
la superficie habitable y que se distinguen en las descripciones como recintos

Pág. 198 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


internos centrales. Estas, en muchos casos están condicionadas por la morfo-
logía del terreno, habitualmente en pendiente. En realidad se trata de espacios
que conforman un recinto superior al que se adosan espacios aterrazados en
torno al mismo, con el objeto de conseguir superficie horizontal habitable.
Estos casos no conforman realmente un recinto similar morfológicamente al
de San Cibrán de Lás sino que son plataformas independientes pero yuxtapues-
tas con un objetivo constructivo común: conseguir una superficie con mejores
condiciones de habitabilidad a partir de muros de contención o murallas.
Sin embargo, contamos con algún ejemplo de poblado castreño que presenta
un recinto superior con algunas características muy similares al recinto central
de San Cibrán de Lás. Nos referimos al poblado castreño de O Castelo, situado
en Laias, a unos escasos 2 Km. en línea recta de San Cibrán de Lás. Para el aná-
lisis de este elemento concreto contamos con los datos extraídos de la excavación
realizada en 1997, durante las obras de la Autovía Rias Baixas 2.
El yacimiento de O Castelo se sitúa en un cerro rocoso sobre la margen
derecha del río Miño y estuvo ocupado durante toda la Edad de Hierro, hasta
que entorno al cambio de era, se abandonan las viviendas de la parte superior
del cerro para ocupar las márgenes del río, a menor cota, en donde se registran
numerosos restos de esta ocupación ya con características romanas
La excavación del recinto superior amurallado del yacimiento castreño
de O Castelo, permitió descubrir que albergaba únicamente zonas destinadas
a la instalación de pequeños graneros o silos conservados en un estado excep-
cional gracias a su combustión por causa de incendios sucesivos. El número
y tamaño de los silos, determinó su carácter unifamiliar. Pudimos documentar
incluso, en un sondeo realizado al interior de la muralla, una secuencia de silos
superpuesta, que asociada a fechas proporcionadas por análisis radiocarbóni-
cos, permiten datar sucesivas ocupaciones del recinto superior que comienzan
en la I Edad del Hierro y continúan hasta la II Edad del Hierro, hasta llegar a
fechas próximas al cambio de era.

El acceso a este recinto superior amurallado o croa de O Castelo, en


Laias, se realizaba por una sola puerta de cara al Sur, hacia donde se extendía
al resto del poblado a lo largo de la ladera. Muy singular es también el hecho
de encontrarse muy separado de las zonas habitadas con un vacío de viviendas

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 199


o ronda al exterior de la muralla superior al
igual que ocurre en San Cibrán de Lás.
No deja de ser curioso que morfológica-
mente las características de este recinto supe-
rior de San Cibrán de Lás sean semejantes a
las del castro de O Castelo:
- Se trata de un recinto superior amura-
Figura 2. Reconstrucción de la muralla y
el acceso al recinto superior del castro de llado en torno al cual, se ha planificado una
O Castelo en Laias (Dibujo: Miguel Angel amplia ronda vacía de viviendas u otras es-
López Marcos)
tructuras para aislar este espacio del resto del
poblado y permitir defenderlo en caso de necesidad desde el interior o prote-
gerlo en caso de incendio.
- Los accesos son mínimos y están protegidos y controlados. En el caso
de San Cibrán su acceso se realiza por dos puertas (como es lógico pensando
en la disposición del poblado de forma concéntrica), mientras que en Laias se
abre una puerta hacia el lado de la ladera hacia donde se extiende el poblado
que funciona ejerciendo control para su acceso. En ambos casos los accesos
no permiten el paso de carros pues poseen escalones para acceder a su inte-
rior.
Si pensamos en O Castelo de Laias, la “croa” de San Cibrán de Lás se
nos semeja un espacio similar, y dejando a un lado su funcionalidad, pensamos
que lo realmente importante en este caso es la trasposición de un modelo de
construcción y definición previa de espacios, morfológicamente prerromano
que se puede confirmar para estos dos poblados. Las pequeñas diferencias de
forma reflejan su adaptación a un entorno topográfico y a un contexto distinto.
No vemos que este elemento del poblado (la croa o recinto superior) refleje
ninguna semejanza con otro tipo de modelos foráneos que permitan denomi-
narlo acrópolis o asimilarlo a una zona de viviendas privilegiada por su dis-
posición como se ha querido sugerir.
Siguiendo con esta hipótesis de trabajo y aunque sea un mero apunte sin
una conexión documentada real, es licito hacer referencia a una característica
confirmada en algunos poblados castreños prerromanos. En estos es normal la
configuración del caserío en torno al interior de la muralla, utilizando esta
como eje para ordenar la ocupación, mientras en la parte central del poblado

Pág. 200 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


se deja un espacio vacío que lógicamente cumple una función como espacio
comunitario. Es posible pensar en una monumentalización de ese espacio cen-
tral que vemos como se articula en poblados castreños más pequeños y que en
el caso de San Cibrán de Lás se construye de forma premeditada y que sin duda
cumple una función importante para esta comunidad castreña como veremos.
Buscando paralelos morfológicos referentes a espacios similares al recinto
central de San Cibrán de Lás, contamos entre las citanias portuguesas con un
ejemplo muy similar, que es el recinto central que se dispone en el castro de Monte
Mozinho. Cronológicamente este poblado tiene un nivel de fundación anterior a
su fase de ocupación de época romana, pero sin una datación clara. Tiene un re-
cinto superior central, dispuesto de igual forma, al que se accede desde una calle
empedrada como en el caso de San Cibrán de Lás. El recinto también se encuentra
amurallado, sin embargo en este caso no existe una gran ronda entorno a este re-
cinto reduciéndose este espacio a una calle concéntrica empedrada, quizás su as-
pecto actual este condicionado por la mayor pervivencia en el tiempo del poblado
y la evolución de su estructura original. Según C.A.F. de Almeida3, se documen-
taron en el interior del recinto superior de Monte Mozinho, abundantes fragmentos
de TS y ánforas y restos de huesos quemados, por lo que parece que en este es-
pacio se celebraron banquetes colectivos, y quizás reuniones públicas.

4. la croa de san cibrán de las


Si analizamos con detalle las características del recinto superior del castro
de San Cibrán de Lás podemos valorar algunos datos muy interesantes. Como
hemos comentado anteriormente, el espacio que ocupa este recinto superior ha
sido generado de forma previa en la concepción del poblado y en su construc-
ción. Ocupa una posición privilegiada, fácilmente accesible desde cualquier
punto del poblado y se encuentra protegida y aislada de las viviendas colin-
dantes por una amplia ronda de circulación a su exterior (de 13 m de anchura)
que se dispone de forma regular.
Los accesos están situados al Este y al Oeste comunicados directamente
por las dos vías principales que parten de los accesos de la muralla exterior
por dos calles empedradas (las únicas vías empedradas conocidas del poblado
hasta el momento), lo que lo convierten en un lugar de importancia para la co-
munidad que concibe y construye el poblado. Estos dos accesos cuentan con

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 201


tramos de escalera para acceder al in-
terior de la croa. En los dos accesos
se abren cuerpos de guardia en las
puertas. En el del lado Oeste, sólo se
conserva uno de ellos y se encuentra
reconstruido de antiguo, por lo que
apenas conocemos su estado origi-
Figura 3. Reconstrucción de la Puerta Oeste de la nal, mientras que los de la parte Este
croa y la ronda exterior del Castro de San Cibrán de fueron reexcavados en 19834.
Lás (Dibujo: Miguel Angel López Marcos)
La muralla del recinto superior
tiene una anchura de casi 3 m., y su construcción es similar a la de la segunda
muralla del poblado, si bien está reforzada al exterior con una zarpa o cimen-
tación de gran anchura que en la parte Oeste, aparece cimentada con unos blo-
ques pétreos de grandes dimensiones colocados formando un muro con
paramento helicoidal que revestiría a la croa de un espectacular paramento,
muy cuidado en su factura Al interior, la muralla posee varios tramos de
escaleras imbricadas en los muros, de igual factura que las realizadas en la mu-
ralla exterior. Dado que en el interior del recinto central no existen niveles de
ocupación habitacionales, los tramos de escaleras servían para acceder a la
parte superior de la muralla y controlar visualmente el resto del espacio de po-
blado. Existía por tanto una necesidad de amurallar este espacio y controlar el
acceso pero esto no excluía el control visual continuo con el resto del poblado
y la circulación a través de la ronda exterior de la muralla hacia los distintos
sectores de la croa.
El espacio delimitado por la muralla es de casi 1Ha y la superficie interior
bascula hacia el lado Este, sugiriendo una preferencia por el control visual
hacia la cuenca del Barbantiño, espacio que controla territorialmente el po-
blado. En el interior de la croa, aparecieron algunos construcciones aisladas
durante las campañas de excavación de los años 20 y 50. F. López Cuevillas5
destaca en sus descripciones una de estas estructuras, cuadrangular, excavada
en la zona noroeste, en donde señala la existencia de un vano en la parte inferior
del muro que inmediatamente al exterior estaba asociado a una roca con un
encaje labrado a modo de canal por donde se evacuaba algún líquido o agua.
A pesar de no poder corroborar estos datos, las estructuras documentadas hasta

Pág. 202 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


el momento en la croa han confirmado su carácter aislado y la inexistencia de
niveles con ajuares domésticos pues apenas se documentan materiales arqueo-
lógicos en su interior. Tampoco aparecen hogares ni otro tipo de elementos in-
ternos de uso doméstico.
Las estructuras localizadas en la croa están construidas con muros de
buena factura y los pavimentos se conservan gracias a que fueron realizados
con una gruesa capa de argamasa o tierra apisonada o con enlosados, es decir
existió en su origen un interés en aislar bien su interior. En conexión con este
dato hay que resaltar que no conservan entradas, por lo que pudieran encon-
trarse éstas a mayor altura (la única abertura se encuentra reconstruida en una
de las estructuras antiguas sin mucha precisión por lo que no pensamos que
sea un dato muy fiable).
Las características constructivas de estas estructuras hacen pensar en una
funcionalidad asociada a lugares de almacenamiento, aunque en el caso de la
construcción con el vano en la parte inferior del muro no sería muy adecuada
para este fin, por lo que seguimos teniendo ciertas dudas sobre su uniformi-
dad.
Tampoco son muy esclarecedoras las dimensiones de estas dependencias
ya que varían, si las comparamos con los pequeños almacenes que aparecen
en todos las viviendas del poblado, dos de ellas son de mayor tamaño y otras
tres presentan menor superficie. Siguiendo estas reflexiones acerca de la fun-
cionalidad de este recinto amurallado, tenemos que destacar la documentación
en las recientes excavaciones de hallazgos relacionados con dos elementos no-
vedosos:
Por un lado la aparición en la campaña del año 2004 de dos elementos de
escultura, localizados en el derrumbe del paramento del lado Norte de la cons-
trucción situada más al Este. Esta estructura había sido sondeada en su interior
en las primeras campañas de los años 20, y posteriormente se realizó también
un sondeo en 1983 6. En la campaña del 2004 se amplió el sondeo, documen-
tándose entre el derrumbe dos piezas escultóricas que representan dos antro-
pomorfos, uno entero y otro fragmentado. Estas representaciones pueden
enmarcarse dentro de las estatuas documentadas en otros contextos castreños
como la de Vilapedre7 o la del Castro de Elviña8 (que se encontraba empotrada
en una pared de un edificio elipsoidal interpretado como un lugar de carácter

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 203


sacro), si bien en el caso de San Cibrán de Lás no están claramente definidos
los sexos en las figuras.

En relación con este hallazgo tenemos que destacar la aparición en esta


última campaña de 2004 de una escultura antropomorfa de bulto redondo. Se
documentó en la base de un muro, reutilizada como piedra de construcción en
el muro de una vivienda del recinto exterior. La escultura posee unos rasgos
muy arcaicos destacando únicamente los elementos de
la cara, y los brazos doblados con las manos sobre el
vientre. Este mismo esquema se repite en otras escultu-
ras, muy escasas, aparecidas en otros castros, como la
del Castro de Sendim, las de Logrosa o la del castro de
Briteiros9 que repiten la representación de los senos y
los brazos que se unen en el abdomen y que pueden in-
terpretarse como una representación de una deidad fe-
menina sin duda relacionada con la fertilidad. Queremos
destacar que se encuentre reutilizada en un muro divi-
Figura 4. Piezas escultóricas sorio, ya que este hecho apoya la hipótesis de la exis-
documentadas en las campa- tencia de dos momentos de ocupación para el castro de
ñas de 2003 y 2004 en San
Cibrán de Lás (Dibujo: Mi- San Cibrán de Lás, cuestión que se rastrea en numerosos
guel Angel López Marcos) elementos del análisis constructivo de las viviendas y
que esta siendo objeto de un estudio pormenorizado aún sin concluir.
Otro dato novedoso obtenido en la campaña del año 2003 fue la aparición
de dos inscripciones en torno a un afloramiento rocoso que se sitúa en el punto
más alto de la croa, al norte de la Puerta Oeste. Este hito rocoso configura un
pequeño afloramiento con bloques cuadrangulares de granito (fragmentados
en el sentido de las diaclasas) que quedan al aire y que semejan pequeños pe-
destales o bases de roca. Entre estos bloques aparecieron las dos nuevas ins-
cripciones. Destaca que las construcciones que se documentan en esta zona
oeste de la croa respeten esta zona rocosa e incluso se remarque la misma con
la construcción de un muro perimetral que delimita por el Este el afloramiento.
Este punto más elevado se utiliza actualmente para delimitar los términos
municipales de Punxín y San Amaro y se grabó sobre la roca más alta una cruz
de término.

Pág. 204 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


En relación con las dos inscripciones documentadas10 debemos recordar
que el hallazgo del ara dedicada a Bandua 11conservada en el Pazo de Eiras,
fue recogida en la croa, en un lugar cercano
a la puerta Oeste durante los trabajos de F.
Lopez Cuevillas, y posteriormente, Xaquín
Lourenzo Fernández en 1949 documenta
un fragmento de inscripción12 que describe
estaba empotrado en el cuerpo de guardia
de esta puerta Oeste del recinto interior.
Recientes estudios13 sobre el conjunto
de las inscripciones halladas en la croa de
San Cibrán de Lás, (incluyendo el IOVI
grabado en la roca al pie de la muralla in-
terior), destacan una singular perspectiva
sobre la coexistencia de lenguas (céltica,
lusitana y latina) en los cuatro textos con
menciones teonímicas, enmarcados en un
sistema gramatical de apariencia itálica
que, a su vez, se mezcla con fragmentos Figura 5. Inscripciones documentadas en la
de latín. parte más alta de la croa de en San Cibrán de
Lás (Dibujo: Miguel Angel López Marcos)
Todos los hallazgos y características
definidas en la croa del castro de San Cibrán de Lás vienen a incidir en su as-
pecto comunitario y en su utilización diferente al uso doméstico. El hecho de
que sean lugares asociados a rituales o actividades religiosas o simplemente
puntos de reuniones comunitarias (o escenarios para la celebración de banquetes
comos se deduce en Monte Mozinho), vienen a corroborar que nos encontramos
con un lugar de gran importancia para el desarrollo social de estas comunidades
prerromanas. En este recinto central común es donde se desarrollan actividades
ligadas al mundo ideológico, un ámbito con menos posibilidad de registro ar-
queológico. Sin embargo su investigación es fundamental pues unido al estudio
general del poblado puede aportar datos que reflejen esa diferenciación o jerar-
quización social, (en el que el prestigio familiar tendría protagonismo), y que
se manifiesta más claramente, una vez que estas comunidades se vinculan al
dominio romano.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 205


Es importante no dejar de lado la visión de conjunto de estos grandes castros
situados en un espacio bastante concreto (al sur de Galicia y Norte de Portugal)
con el rio Miño como posible “frontera” generalizada para este fenómeno. Para
entender la diferencia existente entre estas grandes comunidades, (que necesitan
de un claro elemento social organizador que a su vez es reflejo de una jerarqui-
zación social), con el resto de poblados castreños de menor tamaño y distinta
morfología, (castros segmentarios14), es lógico pensar que estas comunidades
situadas más al Sur y más próximas a la zona conquistada están por lo tanto in-
fluenciadas desde fechas más tempranas por los contactos con Roma, donde la
evolución de las comunidades castreñas parece que lleva otro ritmo, propiciado
por estos contactos o directamente marcadas por los intereses romanos.
Sin embargo a pesar de esta realidad quisiéramos remarcar la existencia
de otros castros, que han aparecido en este contexto castreño y que marcan un
estadio distinto al que planteamos de forma general para esta fase final del
mundo castreño. El ejemplo que mejor conocemos es el Castro de O Castelo,
en Laias, al que nos hemos referido en el texto como castro ocupado en la I y
II Edad del Hierro. En este caso la morfología de este poblado castreño define
claramente un recinto amurallado superior con un único acceso bien protegido,
g5
ocupado por silos unifamiliares. Este hecho refleja una dualidad en el sentido
social, ya que por un lado se define como una comunidad con una identidad
igualitaria, pero que actuaría ya desde fechas tempranas con una organización
para estrategias comunes de forma muy desarrollada de cara a la concepción
y funcionalidad de sus espacios comunes y la distribución de los mismos.
Es necesario por tanto dejar un hueco en la investigación arqueológica para
la posibilidad de localizar una serie de yacimientos castreños que pudieran tener
un mayor grado de organización interna, como demuestra la existencia de los es-
pacios de funcionamiento común en el castro de O Castelo en Laias. Para el des-
arrollo de estos poblados de mayor extensión un condicionante muy importante
sería su localización en espacios donde el acceso y el aprovechamiento de los re-
cursos básicos es más fácil y variado y por lo tanto contarían con una gran ventaja
a la hora de su autoabastecimiento, desarrollando excedentes propios y una mayor
evolución en la población y en los instrumentos sociales de organización.
En definitiva, el estudio morfológico del poblado de San Cibrán de Lás
se asocia a un modelo que se repite en otras citanias del momento final de la

Pág. 206 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


cultura castreña en un espacio concreto. A estas comunidades se les confiere
un mayor grado de desarrollo social de las que deriva una jerarquización aso-
ciada al ámbito del prestigio de una determinada familia o linaje.
Dentro de este contexto, remarcar la existencia de modelos de organiza-
ción desarrollados en época prerromana como el que representa la existencia
del recinto superior amurallado de O Castelo en Laias, que morfológicamente
se define con parámetros similares a los del castro de San Cibrán de Lás.
En San Cibrán de Lás, la existencia de un recinto de uso comunal reser-
vado a la esfera socioreligiosa representa la plasmación de la necesidad física
de este lugar donde se desarrollan procesos culturales. A medida que las co-
munidades evolucionan y se integran en los modelos económicos y sociales
romanos los usos de este espacio se transformarían, conservando elementos
prerromanos y a su vez adaptándose a otras nuevas necesidades.

Bibliografia
ALMEIDA, C.A.F. de, Escavaçoes no Monte Mozinho II. Centro cultural Penafidelis, Peñafiel
ÁLVAREZ, Y., L.F. LÓPEZ, M.A. LÓPEZ & P. LÓPEZ BARJA, Dos inscripciones inéditas del Castro de
San Cibrán de Las (San Amaro-Punxín, Ourense), Palaeohispanica 4, 2004, 235-244-
ALVAREZ GONZÁLEZ, Y. Y LÓPEZ GONZÁLEZ, L.F.: “La secuencia cultural del asentamiento de Laias:
evolución espacial y funcional del poblado”. Actas del 3º Congreso de Arqueología Peninsular. Volumen V,
Protohistoria de la Península Ibérica. Porto ADECAP, 2000.
BERNARDO STEMPEL, PATRIZIA DE, y MARCO V. GARCíA QUINTELA, Población trilingüe y divi-
nidades del castro de Lansbriga (NO de España), Madrider Mitteilungen (Wiesbaden), 49, 2008, 254-290.
CHAMOSO LAMAS, M: “Excavaciones arqueológicas en la Citania de San Cibrán de Lás y en el poblado
y la explotación minera de oro de época romana de Barbantes (Orense)“. Noticiario Arqueológico Hispánico,
III-IV (1953-54). Madrid, 1956, 114-130.
FARIÑA BUSTO, F. y XUSTO RODRIGUEZ, M.: “Coto de San Trocado (San Amaro-Punxín, Ourense)”.
Arqueoloxía-Informes, 2. Campaña de 1988. Xunta de Galicia, Santiago 1991, 209-214.
FERNANDEZ-POSSE, M.D.; SANCHEZ-PALENCIA, F.-J.; FERNANDEZ MANZANO, J.; OREJAS,
A.,1994: Estructura social y territorio en la Cultura Castreña. Cuadernos de Antropología e Etnología XXXIV
3-4. Porto. 191-208.
FERNANDEZ-POSSE, M.D.; SANCHEZ-PALENCIA, 1998: Las comunidades campesinas en la cultura
castreña. Trabajos de Prehistoria 55.2, 127-150.
LOPEZ CUEVILLAS, F.: “A citania no monte A cibdade de San Cibrao das Lás”. Bol. de la Real Academia
Gallega, XIV, 1923-24, XV, 1925-26 y XVII, 1927-28.
LÓPEZ GONZÁLEZ. L.F, M.A. LÓPEZ MARCOS, Y. ÁLVAREZ GONZÁLEZ, Definición y recuperación
de estructuras en el Castro de San Cibrán de Las, CEG 51, 2004, 79-113.
OREJAS, A; SANCHEZ-PALENCIA RAMOS, F.J.: “Arqueología de la conquista del Noroerste de la Penín-
sula Ibérica. Actas del II Congreso de Arqueología Peninsular. Volumen IV, Arqueología romana y medieval.
Zamora 1996 Madrid 23-37.
PEREZ OUTEIRIÑO, B.: “Informe sobre las excavaciones arqueológicas de a Cidade de San Cibrán de Lás
(San Amaro-Punxín, Orense)”. Noticiario Arqueológico Hispánico, 22. Madrid, 1985, 211-259.
PEREZ OUTEIRIÑO, B: “A Cidade de San Cibrán de Lás. Objetivos e resultados das últimas instervencións

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 207


arqueolóxicas”. Lucerna, Segunda serie, II, Porto, 1987, 15-39.
RODRíGUEZ CAO, C, M. XUSTO RODRíGUEZ, F. FARIÑA BUSTO, A cidade de San Cibrao de Las,
Vigo, 1993
SASTRE, I.: Los procesos de la complejidad social en el Noroeste peninsular: arqueología y fuentes literarias.
Trabajos de Prehistoria 61, nº2, 2004.

1
la superficie media de un asentamiento castreño no llega a 2 Ha.
2
Alvarez González, Y. y López González, L.F.: “La secuencia cultural del asentamiento de Laias: evolución
espacial y funcional del poblado”. Actas del 3º congreso de Arqueología Peninsular. Volumen V, Protohis-
toria de la Península Ibérica. Porto ADECAP, 2000.
3
Se documenta de forma clara en los castros leoneses occidentales, como el caso de San Juan de Paluezas en
Médulas (Fernandez-Posse, M.D.; sanchez-palencia, F.-J.; Fernandez Manzano, J.; Orejas, A.,1994: Estructura
social y territorio en la Cultura Castreña. Cuadernos de Antropología e Etnología XXXIV 3-4. Porto, 191-208).
4
Almeida, C.A.F. de, Escavaçoes no monte Mozinho II. Centro cultural Penafidelis, Peñafiel.
5
PÉREZ OUTEIRIÑO, B.: Informe sobre las excavaciones arqueológicas de A Cidade de San Cibrán de Läs
(San Amaro-Punxín. Ourense).Noticiario Arqueológico Hispánico, 22. Madrid, 1985 (211-259).
La excavación del acceso Este documentó en este sector ciertas peculiaridades excepcionales dentro del con-
junto del poblado: Los cuerpos de guardia se habían protegido con muros perpendiculares en los que se abrían
dos puertas y en el interior se documentaron materiales asociados a la ocupación residual de época romana
que aparece en este sector puntualmente, al igual que las construcciones adosadas en este punto a la muralla
de la croa, reflejo de una ocupación residual más tardía.
6
LÓPEZ CUEVILLAS, Fl.: A citania do monte A Cibdade en San Cibrao das Lás. Boletín de la Real Acade-
mia Gallega, XVII, 1927-28 (1-9 e 51-57).
7
Pérez Outeiriño, B.: Un singular resto arquitectónico en A Cidade de San Cibrán de Lás (San Amaro-Pun-
xín. Ourense), Portugalia. Nova Sèrie, VI/VII. Porto, 1985/86 (29-40).
8
Calo Lourido, F.: A plástica de la cultura castrexa galego-portuguesa, 2 vils. Fundación Pedro Barrie de la
Maza, Conde de FENOSA, A Coruña, 1994.
9
Luengo Martinez, J.M. (1955), Noticias sobre las excavaciones del castro de Elviña (La Coruña).NAH 3-4,
90-101.
10
Calo Lourido, F.: A plástica de la cultura castrexa galego-portuguesa, 2 vils. Fundación Pedro Barrie de la
Maza, Conde de FENOSA, A Coruña, 1994
11
López González, L.F.; Álvarez González, Y., López Marcos, M.A., Lopez Barja De Quiroga, P. (2004): Dos
inscripciones inéditas del Castro de San Cibrán de Lás (S. Amaro-Punxín, Ourense). Paleohispánica 4, 2004,
Zaragoza, pp. 235-244.
12
IRG vol. IV, provincia de Ourense, 1968, pieza nº89, pag. 92-93.
13
IRG. Vol. IV, provincia de Ourense, 1968, pieza nº 129, pag.131.
14
Patrizia de Bernardo Stempel,, Marco V. García Quintela, Población trilingüe y divinidades del castro de
Lansbriga (NO de España), Madrider Mitteilungen (Wiesbaden), 49, 2008, 254-290.
15
Sastre, I.: Los procesos de la complejidad social en el Noroeste peninsular: arqueología y fuentes literarias.
Trabajos de Prehistoria 61, nº2, 2004.

Pág. 208 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


o cRAstoeiRo e A ocuPAção dA veRtente oeste do
Monte dA senhoRA dA GRAçA, MondiM de BAsto (noRte
de PoRtuGAl)
THE CRASTOEIRO HILLFORT AND THE OCCUPATION OF THE WEST
SIDE OF MOUNT OF SENHORA DA GRAçA, MONDIM DE BASTO
(NORTHERN PORTUGAL)

António Pereira Dinis


CitCem, dOutOraNdO da uNiverSidade dO miNHO;
aNtONiOPdiNiS55@GmaiL.COm

Resumo: Desde 2005 que se vêm desenvolvendo no Crastoeiro trabalhos arqueológicos


integrados no projecto “Estudo e Valorização do Património Arqueológico da Vertente Oeste do
Monte da Senhora da Graça, Mondim de Basto (Norte de Portugal)”, aprovado e financiado
pelo IGESPAR e pela edilidade local, com o objectivo primordial de estabelecer a biografia
deste espaço natural (um dos acidentes geomorfológicos mais expressivos da região), desde a
Pré-História até à Época Contemporânea.
Com esta comunicação pretendemos apresentar os resultados das escavações arqueológi-
cas realizadas no sítio do Crastoeiro, ocupado desde a Pré-História até à Romanização, com es-
pecial destaque para os complexos de Arte Rupestre aí existentes e para as materialidades da
Idade do Ferro. As nossas interpretações enfatizarão as problemáticas que se colocam tanto no
âmbito da ocupação/utilização do sítio, como da sua relação espacial com o cume do Monte da
Senhora da Graça/Monte Farinha, cuja configuração, altitude e visualização terão certamente
tido especial importância na vida das comunidades que aqui existiram ao longo dos tempos.
Palavras-chave: Monte da Senhora da Graça/Monte Farinha, Mondim de Basto, Cras-
toeiro, Arte rupestre, Idade do Ferro.

Abstract: Since 2005 archaeological works have been taking place in Crastoeiro under the
project “Estudo e Valorização do Património Arqueológico da Vertente Oeste do Monte da Senhora
da Graça, Mondim de Basto (Northern Portugal)”. This project, that was approved and is being
financed by IGESPAR and the local Municipality, has the main objective of writing the history of
the Hill of Nossa Senhora da Graça from Prehistoric to Contemporary Times.
With this paper we intend to present the results of the archaeological excavations carried
out in Crastoeiro, occupied from the Prehistory until the Romanization Period, with particular
emphasis on the Complexes of Rock Art and the Iron Age materiality found there. Our interpre-
tations will emphasize the problems that arise from the occupation and use of this archeological
site, as well as from its special relationship with the top of the Hill of Senhora da Graça, whose
configuration, altitude and view must certainly have had a big importance in the life of the com-
munities that existed here over time.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 209


Keywords: Monte da Senhora da Graça / Monte Farinha, Mondim de Basto, Crastoeiro,
rock art, Iron Age.

1. introdução
O Monte de Nossa Senhora da Graça, também designado por Monte Fa-
rinha localiza-se no distrito de Vila Real, no concelho de Mondim de Basto,
sendo partilhado pelas freguesias de Atei, Mondim de Basto e Vilar de Ferrei-
ros.
O nome por que popularmente é conhecido está relacionado com a exis-
tência, no seu cume, de um santuário mariano, dedicado a Nossa Senhora da
Graça, sendo um dos locais religiosos mais venerados na região.
De aspecto imponente pela altitude e pela configuração cónica, com pen-
dentes particularmente abruptas até à cota dos 500-450m, o Monte da Senhora
da Graça desfruta de um domínio visual de 360º devido à sua implantação no
remate de um maciço montanhoso, com orientação NE-SO e altitude média de
900 metros, que serve de separador entre os vales dos rios Tâmega e Cabril.
Pelas mesmas razões é visível de muitos quilómetros, constituindo-se como
um verdadeiro marcador da paisagem (Fig. 2).
Ocupado desde o Calcolítico Regional (finais do IV e grande parte do III
milénio AC) o monte alberga um número significativo de sítios arqueológicos,
representativos de uma ampla diacronia (DINIS, no prelo) destacando-se do
conjunto o Crastoeiro, tema desta comunicação, pelos complexos de arte ru-
pestre Galaico-Portuguesa que encerra e por ser a única estação alvo de traba-
lhos de escavação sistemática.

2. o crastoeiro
O Crastoeiro implanta-se num pe-
queno morro que se destaca na meia encosta
da vertente Sudoeste do Monte da Senhora
da Graça, sobranceiro ao vale da ribeira de
Campos, com excelente visibilidade para a
serra da Lameira e da Cabreira.
Administrativamente, integra a fre- Figura 1. Localização do Crastoeiro na Penín-
sula Ibérica
guesia de Mondim de Basto, concelho de

Pág. 210 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Mondim de Basto, distrito de Vila Real, sendo as suas coordenadas geográficas,
de acordo com a carta militar de Portugal 1:25 000 (folha 87), as seguintes:
Lat. – 41º24’58’’ N
Long. – 7º55’41’’ W
Alt. - 453 m (ponto mais elevado)
O acesso faz-se a partir da povoação de Campos, pelo caminho lajeado
para o depósito de água dos Castoeiros ou desde a Cainha, pelo estradão que
liga à estrada que conduz ao santuário da Senhora da Graça.
De contorno ovalado e topografia descendente no sentido N-S, o Cras-
toeiro apresenta na parte superior uma plataforma, circuitada por muralha pé-
trea em 2/3 do seu perímetro, onde se organizam diversos recintos,
desnivelados e delimitados por afloramentos graníticos, muitos deles com gra-
vuras abstractas.
Os trabalhos de investigação iniciaram-se em 1984 tendo-se realizado,
até ao momento, dez campanhas de escavação, integradas em diversos projec-
tos programados para o local. Os resultados dos trabalhos das Fases I e II da
investigação, correspondendo às seis primeiras campanhas que compreendem
o período entre 1984 e 2000 foram já divulgados em publicações da especia-
lidade (DINIS 1986a; DINIS 1986b; DINIS 1987; DINIS 1993-94; DINIS
1994; DINIS 2001; DINIS 2005).
As escavações demonstraram a ocupação permanente do local a partir da
Idade do Ferro Antigo (séc. IV a.C. segundo datas radiométricas), materializada
num conjunto de cabanas feitas com materiais perecíveis e fossas abertas no
saibro, descobrindo uma população ligada às práticas agro-silvo-pastoris e ao
trabalho da metalurgia do ferro. Cerca do séc. II a.C. foi construída uma mu-
ralha de pedra e, um pouco mais tarde, apareceram as primeiras casas de gra-
nito, de planta circular ou sub-rectangular. A romanização foi comprovada pela
existência de edifícios quadrangulares e rectangulares, alguns deles utilizando
muros comuns e divisórias. Presume-se que o sítio tenha sido abandonado no
séc. I d.C. sendo possível uma curta reocupação na Idade Média.
Em 2005 iniciou-se a III fase de investigação no Crastoeiro, no âmbito
do projecto “Estudo e valorização do Património Arqueológico da vertente
Oeste do Monte das Senhora da Graça”, aprovado e financiado pelo IPA/IGES-
PAR e pela autarquia local. Os trabalhos recentes, em desenvolvimento desde

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 211


aquela data, além de proporcionarem informações que corroboram os dados
anteriores têm revelado novas materialidades que permitem afinar tanto o qua-
dro da ocupação e organização interna do sítio como melhorar a compreensão
da sua utilização e da relação espacial com o cume do Monte da Senhora da
Graça. Neste contexto, destaca-se o reconhecimento de novas gravuras, a juntar
às anteriormente identificadas, perfazendo o conjunto um total de mais de meia
centena de rochas gravadas, distribuídas por cinco espaços que designamos
por complexos. Neste trabalho iremos apenas abordar os Complexos I e II, os
únicos onde se realizaram sondagens arqueológicas.

2.1. complexo i
O Complexo I ocupa uma área com profusão de blocos graníticos, delimi-
tada a Sul e a Oeste por escarpas rochosas e a Este pelo Monte da Sr.ª da Graça.
Para Norte, estende-se uma área aplanada, pontuada por caos de blocos, alguns
gravados apenas com covinhas e com degraus e patamares de acesso a penedos
de ampla visibilidade (Complexos III e IV), permitindo a comunicação com o
Complexo II. Aqui identificaram-se 20 rochas com gravuras efectuadas por pi-
cotagem e abrasão, 14 delas unicamente com covinhas. Nas restantes, conjugam-
se covinhas, círculos simples e concêntricos, sulcos, pontos, uma espiral, etc.
Neste conjunto evidenciamos um dos afloramentos, que pelo tamanho,
composição decorativa e posicionamento, parece constituir o epicentro deste
recinto. Trata-se da rocha 1, aplanada e com ligeira pendente para Oeste, cujas
gravuras se iluminam de forma intensa quando o sol nasce, no Verão, por detrás
do Monte, embora também sejam visíveis durante o ocaso (Fig. 4).
Pelos lados Este e Sudeste da rocha 1 e a cotas mais elevadas distribuem-
se 10 rochas gravadas, configurando uma espécie de anfiteatro, individuali-
zando-se uma delas pela protuberância cónica do suporte onde se gravaram
círculos concêntricos e covinha no centro.
O conjunto destas características topográficas, a complexidade e orienta-
ção dos motivos da rocha 1, delimitados a oeste por um sulco, aberto, como se
de uma porta de entrada se tratasse, assim como uma pia cavada num pequeno
afloramento que ladeava a Sul esta rocha, indiciam a sua importância hierár-
quica e uma cenografia de utilização de frente para as gravuras e para o monte
que lhes serve de “pano de fundo”.

Pág. 212 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


As escavações, ainda em curso, puseram a descoberto, além da pia refe-
rida, um pavimento que encosta à rocha 1, pelos lados Norte e Noroeste (Fig.
5), indiciando um espaço de circulação ainda não totalmente definido e onde
se distribuíam duas lareiras.
A área adjacente, com fossas abertas
no saibro e nos sedimentos e estruturas pé-
treas, de planta circular e quadrangular, é
delimitada por um muro de pedra asso-
ciado às irregularidades topográficas e ele-
mento organizador da passagem neste
espaço. Todas estas materialidades abar-
cam um período entre os séc. IV-I a.C.
Figura 2. Monte da Senhora da Graça no re-
2.2. complexo ii mate do maciço montanhoso

O complexo II, com 10 penedos gravados, fica a cerca de 30m para Norte
do I, sendo delimitado a Oeste pela escarpa rochosa e a Sul e a Este por aflo-
ramentos de cota mais elevada. É também a Este que fica o cume do Monte.
Para Norte e Noroeste desenvolve-se uma área aplanada, que designámos por
complexo V, onde detectámos mais 4 rochas com motivos abstractos, duas
delas caracterizadas pela protuberância cónica dos suportes.
Neste recinto evidencia-se a rocha 1,
localizada a Este, com superfície boleada
onde se gravou a composição mais com-
plexa do conjunto, distribuída pelo topo e
pendente sudeste (Fig. 8). Esta caracterís-
tica e o facto das gravuras ficarem melhor
iluminadas no ocaso indicia que seriam
observadas de costas para o monte. Porém
a visualização total da composição apenas
pode ser efectuada de cima de um aflora-
mento, que se lhe adossa a Este, e onde
cabem apenas 3 ou 4 pessoas. De notar
aqui uma estratigrafia horizontal e vertical Figura 3. Localização do Crastoeiro na CMP,
de motivos. 1:25 000, fl. 87

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 213


As rochas 2 e 3 apareceram durante as escavações de 2007, sob uma ocu-
pação de cronologia medieval. A 2 foi parcialmente gravada com duas covinhas
isoladas e dois conjuntos de semi-círculos concêntricos sobre duas protube-
râncias cónicas (Fig. 9), separadas por uma fissura bem marcada. A 3, quase
encostado à anterior, foi apenas gravada por covinhas.
Também aqui foi encontrada uma pia, cortada num bloco de granito (Fig.
7), colocada a sul da rocha 2, o que indicia a abordagem destes dois penedos
de frente para a montanha e para a rocha 1, cujos motivos não seriam total-
mente observáveis a partir deste ângulo.
As rochas 4 e 5, a oeste, com círculos
simples e concêntricos, sulcos e covinhas
parecem determinar um olhar sobre a
montanha e as rochas 1, 2, 3.
As escavações desta área revelaram,
no recinto prefigurado pelas gravuras, uma
última utilização destas, durante os Finais
Figura 4. Rocha 1, do Complexo I, iluminada
da Idade do Ferro, através de resquícios de
ao nascer do sol pavimentos com o negativo de uma lareira,
co-relacionável com a pia já referida. Sob
estas materialidades e na área adjacente, a Norte e Noroeste, ocorrem estruturas
em negativo e em materiais perecíveis, palimpsestos de fossas (Fig. 6) e edifícios
em pedra, de planta circular e sub-rectangular, que colocam a utilização ou reuti-
lização das gravuras desde os séculos IV/III até ao séc. I a.C., segundo datas ra-
diométricas (DINIS & BETTENCOURT, no prelo) e paralelos.
Não se detectaram níveis estratigrá-
ficas mais antigos na área, mas a recolha
de alguns fragmentos de cerâmica dos fi-
nais do IV aos meados do III milénio AC
e outros da Idade do Bronze, no enchi-
mento de fossas da Idade do Ferro, admite
supor ocupações destes períodos a Sul e
Este deste recinto.

Figura 5. Pavimento adossado à rocha 1, do


Complexo I
3. considerações Finais

Pág. 214 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Os resultados dos trabalhos realiza-
dos nos complexos I e II do Crastoeiro
mostram a sua utilização durante a Idade
do Ferro, ao longo de mais de quatro sé-
culos, se bem que a presença de cerâmicas
pré-históricas descontextualizadas e o re-
conhecimento de sobreposições e adições
de motivos gravados, nalgumas rochas,
Figura 6. Fossas abertas no saibro, no interior possam indiciar que a construção destes
do Complexo II lugares se iniciou muito antes, talvez du-
rante o Calcolítico regional (finais do IV
a meados do III milénios AC). Deste modo, as gravuras do Crastoeiro teriam
sido usadas e, possivelmente, reinterpretadas durante 2500 a 3000 anos.
A ausência de escavações e de data-
ções radiométricas, essenciais à contextua-
lização dos sítios com arte, torna abusivo
extrapolar a realidade do Crastoeiro à Arte
Atlântica do Noroeste da Península Ibé-
rica, já que é importante ter em atenção as
contingências ou a biografia de cada lugar.
De salientar, a propósito, que as gravuras
do Crastoeiro são das mais orientais que
Figura 7. Pia recolhida junto da rocha 2, do se conhecem no Norte de Portugal, pelo
Complexo II que o seu uso, até tarde, poderá resultar de
fortes arcaísmos existentes nesta região,
facto já relevado a propósito das arquitecturas (DINIS 2001, 121-123).
Em termos sócio-ideológicos e baseados na premissa de que as gravuras
rupestres evidenciam e/ou enfatizam o significado pré-existente dos locais onde
se distribuem, possibilitando, deste modo, a compreensão de como as comu-
nidades interagiram e se implicaram com os elementos fixos da natureza, es-
tabelecemos as seguintes hipóteses sobre o Crastoeiro:
- Que o monte da Senhora da Graça integraria o mapa cognitivo das popu-
lações da Idade do Ferro regional, sendo possível que algumas rochas, particular-
mente as que exibem protuberâncias, expressassem a projecção mental do monte;

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 215


- Que o patamar situado entre os 450-500m, onde se localiza o Crastoeiro
(assim como outros loci com arte rupestre, nomeadamente Campelo, Pegadi-
nhas e Recheiras) seria o espaço privilegiado na execução de “performances”
relacionadas com o monte sagrado, assumindo-se como uma área simbólica
de limite entre o vale acessível e o cume de difícil acesso;
- Que a relação entre os ciclos do sol e da lua, o monte e as gravuras pa-
rece ser igualmente significativa, podendo ter existido complementaridade de
ritos e celebrações entre os vários loci com arte rupestre;
- Que o fogo deverá ter tido um papel importante nas cerimónias da última
fase de uso destes lugares;
E, finalmente, que é preciso rever a atribuição de simples povoado ao
Crastoeiro (DINIS 2001) e reinterpretar as suas estruturas, particularmente as
fossas abertas no saibro, porque a função de simples estruturas de armazena-
gem parece ser redutora.

Bibliografia
ALVES, L. B., 2003. The Movement of Signs. Post-glacial rock art in north-western Iberia. PhD
Thesis. Department of Archaeology. University of Reading, 2 vols. (policopiado).
BETTENCOURT, A. M. S., 2005. Gravados rupestres ao aire libre do denominado “Grupo Galaico” ou do
“Grupo I do Noroeste” (Norte de Portugal). In: Hidalgo Cuñarro, J. M. (coord.), Arte e Cultura de Galicia
e Norte de Portugal. Arqueoloxía, vol. 1, Nova Galicia Edicións, Vigo, pp. 161 – 165.
DINIS, A., 1986a. Castro do Crastoeiro - Mondim de Basto (Vila Real) 1984. Informação Arqueológica, 6,
IPPC, Lisboa, pp. 74 - 75.
DINIS, A., 1986b. (1986). Castro do Crastoeiro - Mondim de Basto (Vila Real) 1985. Informação Arqueo-
lógica, 7, IPPC, Lisboa, pp. 93 - 96.
DINIS, A., 1987. Castro do Crastoeiro - Mondim de Basto (Vila Real) 1986. Informação Arqueológica, 8,
IPPC, Lisboa, pp. 97 - 99.
DINIS, A., 1993/1994. Contribuição para o estudo da Idade do Ferro em Basto: o Crasto do Crastoeiro. Ca-
dernos de Arqueologia, 8/9, Braga, pp. 261 - 278.
DINIS, A., 1994. Castro do Crastoeiro - Mondim de Basto (Vila Real) 1987. Informação Arqueológica, 9,
IPPC, Lisboa, pp. 33 - 34.
DINIS, A., 2001. O povoado da Idade do Ferro do Crastoeiro (Mondim de Basto), Norte de Portugal. Ca-
dernos de Arqueologia – Monografias, 13, UAUM, Braga.
DINIS, A., 2005. A ocupação do Crastoeiro (Mondim de Basto, Norte de Portugal) no Ferro Inicial. Actas
do Colóquio “Castro um lugar para habitar”. Cadernos do Museu, 11, Penafiel, pp. 75 – 87.
DINIS, A., no prelo. O Monte da Senhora da Graça (Mondim de Basto, Norte de Portugal), como sítio de
memoria através dos tempos. Estudos Transmontanos e Durienses, 14, Arquivo Distrital de Vila Real, Vila
Real, 2008.
DINIS, A. & BETTENCOURT, A.M.S., no prelo. A Arte Atlântica do Crastoeiro (Norte de Portugal): Con-

Pág. 216 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


textos e significados. Gallaecia, Santiago de Compostela.
INGOLD, Tim, 2000. The perception of the environment. Essays in the livelihood, dwelling and skill. Lon-
dres, Routledge.
KNAPP, A.B. & ASHMORE, W., 1999. Archaeological landscapes: constructed, conceptualized, ideational.
In: KNAPP, A.B. & KNAPP (Eds.), Archaeologies of landscape. Contemporary perspectives. Ed. Blackwell,
Oxford, pp. 1 - 30.
PEÑA SANTOS, A. & REY GARCíA, J. M., 1993. El espacio de la representación. El arte rupestre galaico
desde una perspectiva territorial. Revista de Estudos Provinciais, 10, Pontevedra, pp. 12 – 50.
REY CASTINEIRA, J. & M. José Soto-Barreiro (2001). El arte rupestre de Crastoeiro (Mondim de Basto
– Portugal) y la problemática de los petroglifos en castros, in A. Dinis (ed), O Povoado da Idade do Ferro
do Crastoeiro (Mondim de Basto, Norte de Portugal). Cadernos de Arqueologia – Monografias, 13, Braga,
UAUM, pp. 159 - 200.
SANTOS ESTÉVEZ, M. & CRIADO BOADO, F., 1998. Espacios rupestres: del panel al paisaje. Arque-
ologia Espacial, 19-20, pp. 579-595.
TILLEY, C., 1994. A phenomenology of landscape. Place, paths and monuments. Ed. Oxford, Berg.

Figura 8. Rocha 1, do Complexo II Figura 9. Suporte proeminente da rocha 2, do Com-


plexo II

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 217


GeneRAlidAdes e PARticulARidAdes dA ouRivesARiA
cAstReJA tRAnsMontAnA: os toRQues FlAvienses
GENERAL AND SPECIFIC FEATURES OF IRON AGE jEWELLERY FROM
TRÁS-OS-MONTES: THE “FLAVIENSES” TORCS

Lois Ladra
LúNuLa - PatrimONiO CuLturaL e arQueOLOxía; LuNuLaPatrimONiO@GmaiL.COm

Resumo: Apreséntase unha primeira achega de conxunto á ourivesaria castrexa trans-


montana da Segunda Idade do Ferro. Sinálanse os principais recursos áureo-arxentíferos exis-
tentes na rexión, os antecedentes formais datábeis en momentos calcolíticos e da Idade do
Bronce, as producións da Segunda Idade do Ferro e as características materiais, técnicas e for-
mais da mesma, con especial referencia aos torques da denominada Escola Flaviense.
Palavras-chave: Cultura Castrexa, Idade do Ferro, Trás-os-Montes, Ourivesaria, Torques,
Escola Flaviense.

Abstract: An up-to-date overview about the goldwork dating from the Late Iron Age in
the portuguese region of Trás-os-Montes is offered here. We try to understand the material back-
ground of these productions, the local sources of gold and silver and the main trends that explain
gold and silver objects, specially torcs.
Keywords: Castro Culture, Iron Age, Trás-os-Montes, Goldwork, Torcs.

1. introducción
Dentro das manifestacións materiais que contan con maior tradición histo-
riográfica na investigación da Proto-história do Noroeste Hispánico, a denomi-
nada ourivesaria castreja amósase actualmente como un amplo campo de estudo,
cheo de puxanza e de aportacións específicas, nomeadamente nas duas últimas
décadas. Porén, relativamente á zona transmontana poucos son os traballos que
se teñen debruzado recentemente verbo desta cuestión particular. Con este pe-
queno contributo preténdese ofrecer unha primeira achega monográfica ao estudo
da ourivesaria transmontana da denominada Segunda Idade do Ferro, sempre
necesitada, como resulta óbvio, de periódicas e desexábeis revisións.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 219


Na tradición historiográfica galaico-portuguesa vários autores teñen
defendido para as fases avanzadas da Cultura Castrexa a existéncia de pro-
ducións rexionais designadas no seu momento como “Escola de Laúndos”,
“Grupo ortegalés”, “Escola flaviense”, “Escola asturiana”, “Tipo astur-
norcalaico”, “Tipo ártabro”, “Tipo norteño”, “Tipo nordoriental-galaico”
ou “Tipo bracarense litoral”, todos eles en función da área xeográfica onde
se concentran certos achados (LADRA, 1999 e 2003).
Por razóns evidentes, será principalmente a referida “Escola flaviense”
a que mereza unha maior atención no presente estudo, principalmente fo-
calizado na ourivesaria transmontana da que poderiamos denominar “fase
de plenitude” da denominada Cultura Castrexa.
Antes de encetar propiamente o estudo da ourivesaria transmontana
da Segunda Idade do Ferro deberemos proceder a delimitar o ámbito temá-
tico, espacial e temporal da presente análise. Abordaremos as producións
materiais elaboradas en metais nobres actualmente coñecidas para a deno-
minada rexión transmontana durante a segunda metade do I milénio a. C.
Como mais adiante teremos ocasión de comprobar, estas producións, pola
sua cantidade, cualidade e variedade material, formal, tecnolóxica e orna-
mental aportan información suficiente como para poder entender a singu-
laridade e orixinalidade da ourivesaria transmontana no contexto da
Proto-história mais recente do Noroeste penisular.
A área aquí obxecto de estudo correspóndese aproximadamente coa
rexión interior de Portugal ao Norte do rio Douro que, baixo a designación
de Trás-os-Montes, inclúe os distritos de Vila Real (Trás-os-Montes Oci-
dental) e Bragança (Trás-os-Montes Oriental). Evidentemente, estes “lími-
tes xeográficos” non se deben considerar como algo fechado; antes diso,
deben ser entendidos a xeito de “marco operacional” necesariamente fle-
xíbel, tendo sempre como base as ideas de interioridade e septentrionali-
dade en relación co território portugués. Por esa mesma razón, sempre que
o consideremos oportuno, faremos referéncia pontual ás rexións inmediatas
á devandita área de estudo.
Para levar a cabo unha caracterización preliminar da ourivesaria trans-
montana da Segunda Idade do Ferro consideramos que resulta indispensá-
bel abordar as seguintes cuestións: disponibilidade de recursos minerais

Pág. 220 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


específicos –nomeadamente ouro e prata– susceptíbeis de seren aproveita-
dos polas comunidades locais en época pré-romana; antecedentes da ouri-
vesaria rexional, especialmente no que se refere á primeira metade do I
milénio a. C.; marco tecnolóxico da produción, distribución dos achados
actualmente coñecidos e caracterización xeral de todos os elementos rexis-
trados.

2. Recursos áureo-arxentíferos da rexión transmontana


Actualmente carecemos dun estudo pormenorizado sobre os recursos
minerometálicos específicos da rexión transmontana. Porén, contamos con
alguns traballos que referen en maior ou menor medida a existéncia de ouro
e prata en numerosos locais da área obxecto de análise (CARDOZO, 1954;
CAVALHEIRO e SANCHES, 1995: 173-177; MARTINS, 1996: 77; CO-
MENDADOR, 1998: 161-167; MARTINS, 2008). Das informacións deri-
vadas destes textos destacariamos principalmente as ocorréncias
áureo-arxentíferas das zonas de Chaves, Bragança, Vila Pouca de Aguiar e
Mirandela, moitas delas explotadas intensivamente en época romana.
Mesmo así, convén lembrar que a presenza destes minerais non sempre im-
plica a sua explotación en época proto-histórica, pois en moitos casos a
tecnoloxía extractiva disponíbel non permitía o aproveitamento de certos
recursos por mor das suas limitacións intrínsecas. Sexa como for, a inves-
tigación aponta a hipótese de que todas as manufacturas áureas do Noroeste
datábeis en momentos pré-romanos foron elaboradas con ouro procedente
do bateo dos placeres fluviais móbiles ou non consolidados (SÁNCHEZ,
1983). Na rexión transmontana existen vários rios auríferos da conca do
Douro: o Tua, o Sabor, o Curros, o Tinhela e o Rabaçal. En alguns deles
está documentada a explotación artesanal até o século XIX.

Actualmente podemos afirmar con un elevado grao de seguranza que as


cantidades de metais nobres necesárias para a confección dos elementos de ou-
rivesaria coñecidos para toda a produción transmontana pré-romana ben po-
derian ter sido obtidos localmente, sen necesidade de recorrer a mecanismos
de importación foránea para abastecer a demanda rexional de matéria-prima.
Obviamente, esta disponibilidade real non exclúe unha eventual circulación

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 221


complementar de metais e obxec-
tos áureos ou arxénteos a nível in-
terrexional.

3. ourivesaria transmon-
tana anterior à segunda idade
do Ferro
Actualmente contamos con
diversas evidéncias arqueolóxicas
que nos permiten caracterizar
grosso modo as primeiras produ-
cións de ourivesaria pré-histórica
Figura 1. Ocorréncias de ouro e prata na rexión transmon- recuperadas a Norte do rio Douro.
tana
Os achados de elementos típicos
da ourivesaria calcolítica e da
Idade do Bronce na rexión de
Trás-os-Montes xa teñen sido estudados por diversos autores (ARMBRUSTER
e PARREIRA, 1993; COMENDADOR, 1998), co cal non serán agora obxecto
pormenorizado da nosa atención.
No que respecta ao traballo do ouro, convén lembrar que todo ao longo
do Calcolítico e da Idade do Bronce, a maior parte das manufacturas coñecidas
hoxe para o Noroeste peninsular permiten establecer a existéncia de paralelos
formais praticamente idénticos noutras rexións atlánticas, con producións tan
características destas zonas como poden ser os diademas, as láminas de tiras,
as lúnulas, os apliques discoidais, os espiraliformes, os brazais de arqueiro e
as doas bitroncocónicas.

A nível tecnolóxico é importante lembrar que estas producións amostran


unha dilatada tradición tanto no que respeita aos traballos sobre lámina como
á obtención de obxectos dotados de maior volume por fundición e posterior
vazado en molde. Así, por exemplo, poderiamos lembrar pontualmente o moi
significativo caso do Buraco da Pala, en Mirandela, onde se constata, xa na
primeira metade do III milénio A. C., a presenza nun mesmo abrigo de diversos
elementos áureos, como son un pequeno fragmento de lámina e várias contas

Pág. 222 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


macizas perfuradas (CAVA-
LHEIRO e SANCHES, 1995).
Todo isto indica que a ouri-
vesaria do Noroeste hispánico du-
rante estas primeiras etapas da
metalurxia estaria caracterizada
xenericamente pola sua variedade
formal e tecnolóxica, confor-
mando un dinámico foco de pro-
Figura 2. Formas características da ourivesaria atlántica dución e circulacion de obxectos
do III e II milénios a. C.
de ouro no marco global do cír-
culo cultural atlántico, no que a
rexión de Trás-os-Montes se inse-
riria, compartindo recursos, ideas e produtos elaborados en metais nobres.
Por outra banda, alguns investigadores apontan o feito de que, para alén
destas estreitas relacións culturais da rexión transmontana co ámbito atlántico,
tamén habería que considerar a existencia de contactos co denominado foco
meseteño, ainda que neste caso estaríamos a falar das producións de obxectos
de cobre e bronce, e non propriamente da ourivesaria (COMENDADOR,
1998: 247).
En momentos mais avanzados da proto-história rexional, concretamente
durante o denominado Bronce Final Atlántico e a Primeira Idade do Ferro, po-
deriamos dicir que fican establecidas algunhas das principais bases do marco
tecnolóxico das futuras producións clásicas da Segunda Idade do Ferro, sen
negar con isto que as comunidades locais sexan receptivas a diversos influxos
eventualmente orixinários das rexións periféricas mais cercanas.
Actualmente apenas contamos con meia dúcia de obxectos de ouro datá-
beis xenericamente na primeira metade do I milénio a. C. para a zona de Trás-
os-Montes. Por outra banda, semella que as ourivesarias mais características
do Bronce Final Atlántico, os denominados “ámbitos tecnolóxicos”
Sagrajas/Berzocana (S/B) e Villena/Estremoz (V/E), apenas se encontran re-
presentadas na zona estudada, nomeadamente o primeiro deles. Existe unha
referéncia antiga relativa ao achado dun bracelete en Alijó (Cc. Vila Real, Ds.
Vila Real), ao parecer de aro macizo fechado, do que praticamente nada mais

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 223


sabemos (CARDOZO, 1929-30: 47, Fig. 3 e pp. 49 e 56). Así pois, a caracte-
rización desta ourivesaria amósase como un labor moi difícil.
Porén, podemos destacar a presenza de determinados tipos de obxectos
áureos - tanto volumétricos como laminares - entre os que sobrancean os tra-
dicionalmente denominados “braceletes” –que en moitas ocasións deberiamos
considerar mais propiamente como pulseiras– e un único colar articulado a
base de placas laminares con decoración estampada de motivos exclusivamente
xeométricos.
Relativamente aos braceletes-pulseira, contamos con diversas evidéncias
materiais de exemplares recuperados na rexión de Trás-os-Montes Ocidental
a finais do século XIX e comezos do XX, sempre en circunstáncias pouco cla-
ras e amostrando formas tanto abertas (Telões) como fechadas (Alto da Pedis-
queira, Torgueda e Vinhós). Todos eles son datados xenericamente no Bronce
Final pola maioría dos autores, sempre sobre a base das suas carcterísticas ma-
teriais, técnicas e formais.
O bracelete-pulseira de telões (Cc. Vila Pouca de Aguiar, Ds. Vila Real)
caracterízase por amostrar un aro macizo de ouro, elipsoidal, aberto, liso, pu-
lido, de sección poligonal, engrosado na zona central e con un peso aproximado
de 60 gr. (SEVERO, 1905-08: 109-110 e 120 + Fig. 1). Este exemplar pode-
ríase relacionar con senllos elementos homólogos atopados en Monte Airoso
(Cc. Penedono, Ds. Viseu) e Baralhas (Cc. Vale de Cambra, Ds. Aveiro), ac-
tualmente depositados no MNA de Lisboa (ARMBRUSTER e PARREIRA,
1993: 120-121, n.º 58 e n.º 59).
O bracelete-pulseira do Alto da Pedisqueira (Cc. Chaves, Ds. Vila
Real) ten sido descrito como unha peza que no seu estado orixinal estaría cons-
tituída por unha lámina de ouro de 121,2 gr., fechada en todo o seu perímetro,
conformando un cilindro, liso no interior e con unha ornamentación exterior
composta por dez nervuras lonxitudinais paralelas, seis delas imitando “um
cordão” e catro dotadas de puas que “formam uma serrilha de pequenos den-
tes” (CARDOZO, 1944: 22-25 e Fig. 2). Para alguns autores este obxecto per-
tencería, xunto cos relativamente cercanos achados de Toén e da província de
Ourense ao denominado grupo Villena/Estremoz (ARMBRUSTER e PEREA,
1994: 74, Fig. 1). Trátase de pezas anulares que en orixe serian perfectamente
cilíndricas por teren sido realizadas con recurso sistemático ao emprego do

Pág. 224 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


torno primitivo de eixo horizontal, con vazado en molde á cera perdida e pre-
senza eventual de ornamentación na superficie exterior, frecuentemente a base
de molduras, perfuracións e/ou puas (ARMBRUSTER e PEREA, 1994: 73).
Este tipo de obxectos é normalmente datado pola maioria dos investigadores
a finais do denominado Bronce Final Atlántico, á volta dos séculos VIII e VII
a. C. (ARMBRUSTER e PEREA, 1994: 84; ALMAGRO, 1969: 287).
O bracelete-pulseira de torgueda (Cc. Vila Real, Ds. Vila Real), por
veces tamén designado como de Moçães, consiste nun aro liso e fechado de
ouro, de 35,2 gr., de sección rectangular, fundido en molde e posteriormente
martelado e pulido superficialmente (ARMBRUSTER e PARREIRA, 1993:
102-103, n.º 42). Consérvase no MNA de Lisboa.
O bracelete-pulseira de vinhós (Cc. Peso da Régua, Ds. Vila Real)
amóstrase, o mesmo que o anterior, como un aro liso e fechado de ouro, de 17,
5 gr., fundido en molde e posteriormente martelado e pulido, ainda que de sec-
ción cóncavo-convexa, (ARMBRUSTER e PARREIRA, 1993: 102-103, n.º
43). Tamén se conserva no MNA de Lisboa. Ambos exemplares relaciónanse
entre si a nível material, formal e tecnolóxico, así como con outros achados
semellantes de zonas periféricas “atlánticas”, nomeadamente as Beiras e o Li-
toral Bracarense.
Para alén dos devanditos braceletes-pulseiras, na zona de estudo apenas
contamos para esta época co colar articulado da Malhada-campeã (Cc. Vila
Real, Ds. Vila Real). Trátase dun colar composto, de 59,93 gr., do que se con-
serva pouco mais de meio cento de placas decoradas con pontos e círculos con-
céntricos estampados, xenericamente datado nos séculos VII-VI a. C. e
aparecido nun contexto pouco preciso, eventualmente funerário (SILVA, 1986:
251, n.º 505). Consérvase no MNA de Lisboa.
A análise deste reducido grupo de obxectos ofrece unha série de conside-
racións materiais, formais, técnicas e ornamentais que poden axudar a com-
prender mellor as producións características da ourivesaria da Segunda Idade
do Ferro na rexión de Trás-os-Montes.
En primeiro lugar, a nível material e no estado actual dos nosos coñeci-
mentos, convén destacar que para os momentos anteriores á Segunda Idade do
Ferro só podemos falar de ourivesaria transmontana realizada en ouro, pois
descoñecemos a existéncia de calquer manufactura arxéntea datábel con ante-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 225


rioridade á segunda metade do I milénio a. C. Consecuentemente, a dia de hoxe
podemos afirmar que a disponibilidade local de prata non implicou o seu apro-
veitamento directo durante a maior parte da pré-história transmontana. Sor-
prende bastante este “vacio distributivo”, pois en áreas periféricas moi cercanas
coñécense obxectos en prata xa desde os primeiros momentos da metalurxia,
nomeadamente as denominadas espirais, como a da cista de Chedeiro, a do
cairn de Meninas do Crasto 4 e a da mamoa 1 de Outeiro de Gregos. Coidamos
que non seria estraño que nun futuro este tipo de pezas aparecesen no rexistro
arqueolóxico transmontano, inserindo así, de facto, esta rexión no contexto das
producións arxénteas típicas da pré-história atlántica do Noroeste. Para a zona
de Trás-os-Montes Oriental o vacio distributivo afecta tanto aos obxectos de
prata como aos elaborados en ouro.
En segundo lugar, o bracelete-pulseira afirmase con total rotundidade
como a morfoloxía claramente dominante no rexistro arqueolóxico da ourive-
saria transmontana da primeira metade do I milénio a. C., con catro achados
documentados sobre un total de cinco. Os exemplares de Telões e do Alto da
Pedisqueira apontan para unha ampla série de paralelos típicos do Bronce Final
Atlántico, con referéncia específica no segundo caso ao denominado ámbito
tecnolóxico Villena-Estremoz, no que o uso de torno primitivo e o vazado en
molde á cera perdida se afirman como recursos técnicos característicos destas
producións. Na rexión estudada ainda non se constata o uso da unión por solda
de vários elementos. O colar da Malhada representa nesta zona un novo tipo
de pezas, laminares e articuladas, con uso de matrizes para a estampaxe seriada
de motivos ornamentais xeométricos, algo que será moi típico da Segunda
Idade do Ferro.

4. A ourivesaria da segunda idade do Ferro em trás-os-Montes


Para o estudo das producións en ouro e prata da segunda metade do I mi-
lénio a. C. na rexión transmontana debemos considerar os seguintes elementos
e achados: Tesouro de Lebução, Tesouro de Guiães, Tesouro de Paradela do
Rio, un torques de Cortinhas, un torques de Codeçais, un torques de Rendufe,
dous torques do Norte de Portugal conservados no British Museum, dous tor-
ques conservados no Museu Nacional de Arqueologia de Lisboa, un terminal
de torques de Tourém, unha arrecada de São Martinho de Antas, unha bráctea

Pág. 226 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


e unha fíbula de Bragança. Para alén destes obxectos referiremos ainda un par
de pulseiras de cobre recentemente recuperadas nas escavacións do Crasto de
Palheiros, en Murça.
O denominado tesouro de lebução (Cc. Valpaços, Ds. Vila Real) cor-
responde a un achado casual realizado en local indeterminado da freguesia
homónima, que se produciu en 1899. Componse dun bracelete galonado ou
armilha profusamente decorada, un torques completo –ainda que fragmen-
tado– e restos parciais de outros dous. O peso total deste conxunto de ele-
mentos áureos alcanza os 459,9 gr. (FORTES, 1905-08a: 1). Actualmente,
as pezas consérvanse no Museu da Sociedade Martins Sarmento de Guima-
rães.

O tesouro de Guiães (Cc. Vila Real, Ds. Vila Real) apareceu casual-
mente en circunstáncias pouco claras en 1908. Ao parecer, encontrouse unha
taza de prata que contiña no seu interior un bracelete e vários centos de moedas
arxénteas, entre as que se puideron identificar numerosos denários romanos de
época republicana, alguns deles de emisións datadas entre os anos 90 e 73 a.
C. O recipiente e a manilla foron adscritos ao Ferro Recente, mais concreta-
mente entre os séculos IV e I a. C.
(PARREIRA e PINTO, 1980: 6-7 e
16). somando un peso total de 308,8
gr. Actualmente, a taza, o bracelete e
algunhas das moedas consérvanse no
Museu Nacional de Arqueologia de
Lisboa.
O tesouro de Paradela do Rio
(Cc. Montalegre, Ds. Vila Real) foi
recuperado acidentalmente en 1958
durante a realización dun pronun-
Figura 3. Bracelete do denominado Tesouro de Le- ciado desmonte para as obras de aper-
bução
tura da estrada que une as freguesias
de Paradela e Outeiro, no concello de
Montalegre. Componse de tres torques de ouro en perfecto estado de conser-
vación que soman un peso total de aproximadamente 386,5 gr. (CARDOZO,

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 227


1959). Actualmente todos estes elementos se conservan no Museu Nacional
de Arqueologia de Lisboa.
O torques de cortinhas, tamén referido como de São Mamede de Riba-
tua (Cc. Alijó, Ds. Vila Real) foi dado a coñecer a comezos do século pasado
sen indicación algunha sobre o local exacto e as circunstáncias do achado. Per-
tenceu á “Colecção Marciano Azuaga” de Vila Nova de Gaia, ainda que hoxe
semella estar completamente ilocalizabel (GUIMARãES et al., 2006: 29). Tra-
tábase dun colar ríxido de prata formado por tres grosos fios lisos, torcidos he-
licoidalmente en grupo. Carecia de terminais por estar partido nos cabos e
alcanzaba un peso de 144 gr., aos que eventualmente haberia que engadir oito
mais, correspondentes aos fragmentos de unha “delgada chapa ornamental” de
prata coa mesma procedéncia (FORTES, 1905-08b: 117-119).
O torques de codeçais (Cc. Chaves, Ds. Vila Real) foi recuperado por
acaso en plena veiga flaviense no ano 1941, correspondendo o achado a un
exemplar áureo completo, en moi bon estado de conservación e con un peso
total de aproximadamente 212,2 gr. (CARDOZO, 1942: 95). Este torques vin-
cúlase claramente á designada como escola flaviense e nos discos exteriores
dos terminais amostra unha decoración de tipo xeométrico pre-deseñada a com-
pás, que consiste nunha circunferéncia perimetral con rosácea hexapétala ins-
crita, toda ela estampada con punzón complexo e dotada de glóbulos soldados
nos extremos das follas. Actualmente consérvase no Museu Nacional de Ar-
queologia de Lisboa.
O torques de Rendufe (Cc. Valpaços, Ds. Vila Real), ainda hoxe necesi-
tado dun bon estudo monográfico, foi sumariamente referido como un exem-
plar de ouro, en perfecto estado de conservación e con decoración xeométrica,
do que ignoramos o seu valor ponderal absoluto e as circunstáncias orixinais
do achado (SILVA, 1986: 249, n.º 497). Exponse actualmente no Museu de Ar-
queologia e Numismática de Vila Real.
O torques de vilas Boas (Cc. Vila Flor, Ds. Bragança), verdadeira opera
prima da ourivesaria transmontana da Segunda Idade do Ferro, constitúe sen
dúbida algunha un dos elementos mais espectaculares da proto-história penin-
sular (MACHADO, 1965). Con unhas dimensións fora do cumun e unha cua-
lidade técnica e ornamental excepcional, atópase depositado no MNA de
Lisboa nun estado de conservación moi bon, alcanzando os 387,3 gr. de peso

Pág. 228 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


(PARREIRA e PINTO, 1980: 17, n.º
132).
Os dous torques flavienses de
procedéncia descoñecida e hoxe con-
servados no British Museum de Lon-
dres foron recuperados en data e
contexto imprecisos, ainda que direc-
tamente vencellados á fronteira his-
pano-portuguesa, eventulmente á raia
Figura 4. Exemplo prototípico de torques flaviense: galaico-transmontana. Trátase de
Rendufe dous exemplares áureos, en relativo
bon estado de conservación, adscribí-
beis á denominada escola flaviense e con un valor ponderal próximo aos 250,11
gr. (ALMAGRO, 1962: 197).
Os dous torques, eventualmente procedentes de Chaves, conservados no
MNA de Lisboa consisten en senllos exemplares de ouro, en perfecto estado
de conservación, ambos con decoración de tipo xeométrico nos planos exte-
riores dos terminais. Nun destes colares ríxidos, con un peso de 206,44 gr., os
citados motivos ornamentais son senllos pentasqueis a xeito de ondas mariñas
realizadas por estampaxe con punzón complexo (ALVES et al., 2002), mentres
no outro se trataria de duas rosáceas hexapétalas, unha delas moi semellante á
do torques de Codeçais. Ignoramos o peso deste segundo exemplar e as cir-
cunstáncias orixinais do(s) achado(s).
O terminal de torques de tourém (Cc. Montalegre, Ds. Vila Real) apa-
receu en local e circunstáncias indeterminadas, posibelmente na década dos
corenta do pasado século. Estivo en mans privadas durante moitos anos, até a
sua recente adquisición por parte do Museu Nacional de Arqueologia de Lis-
boa.Trátase dun terminal laminar, de perfil campanular, incompleto e amol-
gado, con un peso aproximado de 10,3 gr. (CARDOZO, 1943: 109).
Pertenceria a un torques de ouro e a sua forma orixinal completa poderia ser
reconstituída sen maiores dificuldades, relacionándose claramente con outros
exemplares homólogos, como os dos castros de Santa Tegra e Lanhoso.
A arrecada de são Martinho de Antas (Cc. Sabrosa, Ds. Vila Real)
tamén foi recuperada en circunstáncias pouco claras, atopándose a mediados

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 229


do século pasado en mans dun particular. Trátase de unha peza áurea aparen-
temente completa na sua estrutura principal, ainda que ignoramos o seu valor
ponderal. Alguns investigadores teñen proposto para este exemplar unha cro-
noloxía xenericamente situada entre os séculos V e II a. C. (SILVA, 1986: 261,
n.º 531) ou mais especificamente por volta da segunda centuria a. C. (PÉREZ
OUTEIRIÑO, 1982: 186).
A bráctea áurea de Bragança constitúe un elemento de singular interese
para o estudo que nos ocupa, pois representa a chegada á rexión transmontana
de unha moeda siracusana datada no século IV a. C. que, carente xa do seu
valor fiduciário orixinal, seria modificada formalmente até ser convertida nun
obxecto laminar destinado a exercer funcións de aplique ornamental, por volta
dos séculos III ou II a. C. Ofrece un peso aproximado de 9,23 gr. Achada ca-
sualmente nos arredores de Bragança en 1840 e actualmente conservada no
Gabinete Numismático da Câmara Municipal do Porto (CARDOZO, 1957: 27
e Est. X, Fig. 18), en opinión de Blanco Freijeiro esta peza representaria a exis-
téncia de contactos efectivos entre os ourives do Noroeste e o círculo cultural
grego, nomeadamente na fase helenística (BLANCO, 1976).
A fíbula áurea de Bragança (Ds. Bragança), hoxe depositada no British
Museum de Londres, trátase dun “unicum” pola sua elevadísima cualidade téc-
nica e formal, seguramente debida ao feito de que, case que con total probabi-
lidade, podemos afirmar que non seria un elemento de fabricación local, senón
mais ben unha importación, confeccionada orixinariamente por un ourive de
formación helenística contra o seculo III a. C. (PENA e ERIAS, 2006: 30). In-
felizmente, malia ao seu excepcional estado de conservación, ignoramos o seu
valor ponderal.
Finalmente, non queremos rematar este “inventário” resumido da ouri-
vesaria presente na rexión transmontana ao longo da segunda metade do I mi-
lénio a. C. sen aludir, sequera sexa pontualmente, a duas pulseiras recuperadas
durante as recentes escavacións levadas a cabo no Crasto de Palheiros (Cc.
Murça, Ds. Vila Real). Trátase de dous elementos metálicos elaborados en liga
de cobre que, se ben estritamente non se poden considerar como pezas de ou-
rivesaria ao non estaren confeccionados en metais nobres, constitúen clara-
mente unha amostra de “obxectos de enfeite” que, polas suas interesantes
características formais e ornamentais, patentizan a existéncia de contactos coa

Pág. 230 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Submeseta Norte española nos séculos finais do I milénio a. C. (PINTO, 2005).
Unha vez expostas as evidéncias fornecidas polo rexistro arqueolóxico
para poder efectuar o estudo da ourivesaria transmontana da Segunda Idade
do Ferro, a continuación expoñemos unha série de consideracións xerais sobre
as principais características definitórias da mesma.
Relativamente aos aspectos materiais, destaca a aparición novidosa e
aparentemente “revolucionária” de manufacturas elaboradas en maior ou
menor medida en prata, que irrompen por primeira vez na pré-história trans-
montana, así como a continuidade na tradición de confeccionar a maior parte
dos elementos coñecidos en ouro.
Como dado orientativo podemos indicar que, segundo os nosos cálculos,
a ourivesaria transmontana da primeira metade do I milénio a. C. alcanzaria
un valor ponderal de aproximadamente 293,8 gr. –sempre exclusivamente en
ouro– mentres que a da Segunda Idade do Ferro suporia un peso total de mais
de 2.500 gr., dos que pouco mais de 2000 serian de ouro e 460,8 de prata.

Como formas xenéricas presentes na ourivesaria transmontana da se-


gunda metade do I milénio a. C. encontraremos os enfeites para o brazo xa co-
ñecidos na fase anterior e outro tipo de elementos novidosos como poden ser
os adornos ríxidos para o pescozo ou para as orellas, así como os broches ou
prendedores, as aplicacións ou revestimentos laminares e a vaixela de luxo,
seguramente de uso ritual. Concretizando un pouco mais o que vimos de sina-
lar, esta diversidade formal inclúe torques, braceletes/pulseiras, tazas, arreca-
das, brácteas e fíbulas. Mais adiante encetaremos a cuestión da rexionalización
de algunhas morfotipoloxias específicas para os primeiros.
Ao nível dos coñecimentos tecnolóxicos e das solucións estéticas postas
en prática polos ourives transmontanos da Segunda Idade do Ferro, convén
lembrar agora algunhas das novidades importantes que ofrece o rexistro ar-
queolóxico. En primeiro lugar, para alén dos recursos procedimentais herdados
da tradición anterior, aparecen agora as técnicas de eventual orixe mediterránea
que teñen a solda como protagonista, tanto ao nível estrutural, coa unión de
diversos elementos entre si, como a nível ornamental, coa introdución da fili-
grana e do granulado. Amais disto, constátase o uso deliberado de aliaxes e
baños superficiais con propósitos eventualmente económicos e estéticos, a in-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 231


corporación de novas ferramentas como o compás e o punzón complexo e a
irrupción xeralizada das gramáticas ornamentais baseadas en motivos xeomé-
tricos isolados ou eventualmente seriados. As decoracións tórnanse requintadas
e barroquizantes, con profusión de figuracións puncionadas complexas.
Verbo das relacións con outros ámbitos culturais e tecnolóxicos resulta
evidente que a ourivesaria transmontana da Segunda Idade do Ferro ten como
ponto de partida esencial o rexistro arqueolóxico propio da tradición cultural
do Noroeste. As orixes mais inmediatas desta ourivesaria poden apreciarse per-
fectamente no bracelete de Lebução –seguramente confeccionado a partir dun
molde elaborado en cera con torno primitivo de eixo horizontal– onde resulta
patente a herdanza tecnolóxica e formal dos exemplares ondulados típicos do
Bronce Atlántico, vg. Arnozela (ARMBRUSTER, 1998: 55-56). O torques de
Tourém relaciónase directamente coas producións homólogas do litoral braca-
rense e os exemplares flavienses atopan paralelos formais nos remates de al-
guns torques recuperados no interior da Galiza e nas Astúrias (LADRA, 2003).
As producións en prata e cobre remeten para os círculos culturais ibérico e cel-
tibérico, respectivamente. Os paralelos mais claros para o torques de Cortinhas
témolos en exemplares ibéricos datados entre os séculos IV e I a. C. (BAN-
DERA, 1987-88: 545; NICOLINI, 1994: 443, nota 56). As pulseiras de cobre
do Crasto de Palheiros manifestan eventuais relacións formais e ornamentais
coa ourivesaria da Submeseta Norte (PINTO, 2005). A fíbula e a bráctea de
Bragança constitúen claros exemplos de importacións procedentes do ámbito
helenístico, adoptadas aos gostos locais.
Finalmente, en relación cos contextos deposicionais destes achados
temos que constatatar, infelizmente, que a grande maioria das descobertas se
produciron á marxe de escavacións arqueolóxicas controladas e moitas delas
en datas ben antigas. Porén, xunto cos obxectos isolados tamén se documentou
a presenza frecuente de depósitos complexos formados por vários elementos,
usualmente designados como “tesouros”: Tesouro de Lebução (un torques com-
pleto, restos de outros dous e un bracelete galonado), Tesouro de Guiães (unha
taza, unha manilla e centos de denários republicanos de prata) e Tesouro de
Paradela do Rio (tres torques).

5. os denominados torques flavienses

Pág. 232 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


A denominada escola flaviense foi definida orixinalmente por Mário Car-
dozo a partir das particularidades específicas de unha série de elementos de
ourivesaria recuperados nas cercanias de Chaves (CARDOZO, 1942). Poste-
riormente, esta clasificación será recollida e ampliada por diversos autores
(LÓPEZ CUEVILLAS, 1951: 51; SILVA, 1986: 236-237; PÉREZ, 1990: 145;
GONZÁLEZ, 2006-07: 424).
As principais características formais dos torques flavienses, originalmente
confeccionados na rexión transmontana, serian a presenza de unha haste - sem-
pre de sección cuadrangular - dotada de dous terminais volumétricos en dupla
escócia. Tecnoloxicamente constátase o recurso á solda, filigrana, granulado e
polvillado. Nos casos en que a decoración por estampaxe está presente, esta
adoita manifestarse a xeito de figuracións xeométricas individuais ou agrupa-
das, realizadas con várias matrizes.
O recurso sistemático ao uso do punzón complexo amósase como a prin-
cipal especificidade ornamental dos torques flavienses, fáceis de recoñecer e
sensibelmente diferentes aos seus homólogos galegos e asturianos. Os motivos
que aparecen representados con maior frecuéncia son os seguintes: rosáceas
hexapétalas, circunferéncias, follas lanceoladas, ondas, pentasqueis, triángulos,
círculos concéntricos con ponto
central, semicírculos, cenefas de
“SSS” ou “888” e zigue-zagues.
Actualmente coñecemos unha
dúcia de exemplares corresponden-
tes a esta morfotipoloxia, incluindo
o denominado torques dos ornito-
morfos, unha posibel manufactura
de orixe transmontana, hoxe depo-
sitada no Museu Provincial de Lugo
(BALSEIRO, 1994: 66-91). A rela-
ción completa de torques flavienses
que actualmente temos rexistrado
estaria integrada polos seguintes
Figura 5. Pormenor do disco exterior dun torques fla- exemplares: Lebução (2), Paradela
viense (2), Codeçais (1), Rendufe (1), Vilas

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 233


Boas (1), British Museum (2), Museu Nacional de Arqueologia de Lisboa (2)
e Museu Provincial de Lugo (1).
A traverso do estudo pormenorizado dos torques flavienses podemos es-
tablecer a existéncia de eventuais imitacións ou influéncias destes facilmente
aprezábeis nas semellanzas formais presentes noutros exemplares do Noroeste,
tanto da zona litoral portuguesa (Estela), como do interior da Galiza (Castro
da Terra de Melide, Castro de San Lourenzo do Pastor…) e mesmo das Astúrias
(“Colección Soto Cortés”, Museo Arqueológico de Astúrias, Campu de Villa-
bona…). De todo isto dedúcese que os torques flavienses estarian a evidenciar
a existéncia de eventuais interrelacións simbólicas que incumbirian a moitas
das diversas comunidades pré-romanas do NO.
Así pois, vimos de comprobar que a ourivesaria transmontana da Segunda
Idade do Ferro amóstrase como unha realidade arqueoloxicamente incontor-
nábel, dotada de unidade, variedade, coeréncia e personalidade suficientes
como para ser singularizada entre as diversas ourivesarias da proto-história do
Noroeste. A máxima expresión desta singularidade transmontana estaria repre-
sentada polos denominados torques flavienses, que actualmente representan
mais do 75 % do peso total das manufacturas en ouro coñecidas para a segunda
metade do I milénio a. C. en Trás-os-Montes. Outros elementos –vg. o bracelete
de Lebução– tamén formarian parte desta escola.

O estudo da ourivesaria trans-


montana da Segunda Idade do Ferro,
con toda a sua riqueza e diversidade de
matices, permítenos defender a hipó-
tese de que tamén nas rexións interio-
res relativamente afastadas do litoral,
o dinamismo cultural manifestouse a
través de diversos mecanismos, entre
eles seguramente os próprios da troca
de ideas, materiais, formas, técnicas,
Figura 6. Pormenor da decoración do bracelete de
Lebução

Pág. 234 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


imaxes, elementos e sensibilidades. Estas conclusións veñen a refrendar a vi-
sión actual da denominada Cultura Castrexa como un fenómeno mais rico,
aberto, dinámico e variado que o que até non hai moitos anos estábamos afeitos
a aceptar, cando resultaba frecuente atopar cualificativos despectivos para re-
ferirse a estas comunidades como grupos afastados entre si, isolados ou fe-
chados.

Bibliografía
ALMAGRO, M.ª J. (1962): “Dos nuevos torques de oro, de tipo gallego, ingresados en el Museo
Británico”, Ampurias, XXIV: 196-201.
ALMAGRO, M. (1969): “De orfebrería céltica: el depósito de Berzocana y un brazalete del Museo Arqueo-
lógico Nacional”, Trabajos de Prehistoria, XXVI: 275-287.
ALVES, L. C.; ARAÚJO, M.ª F. e SOARES, A. M. M. (2002): “Estudo de um torques proveniente do no-
roeste peninsular”, O Arqueólogo Português, Série IV, 20: 115-134.
ARMBRUSTER, B. (1998): “Quelques aspects technologiques de l’orfèvrerie du Bronze final au début de
l’âge du Fer, au Portugal et en Galice”, en G. Nicolini e N. Dieudonné-Glad, Les metaux antiques: travail
et restauration, pp. 53-58.
ARMBRUSTER, B. e PARREIRA, R. (1993): Inventário do Museu Nacional de Arqueologia. Colecção de
ourivesaria. 1º volume: do Calcolítico à Idade do Bronze. Lisboa, Ed. Instituto Português de Museus.
BALSEIRO, A. (1994): El oro prerromano en la provincia de Lugo. Lugo, Ed. DPL.
BANDERA, M.ª L. (1987-88): “Estudio crítico de los torques ibéricos”, Habis, 18-19: 531-563 + IX Est.
BLANCO FREIJEIRO, A. (1976): “El carnero de Ribadeo”, Rev. Bellas Artes, 53: 3-7.
CARDOZO, M. (1929-30): “Jóias arcaicas encontradas em Portugal”, Nós. Boletín Mensual da Cultura
Galega, 72: 207-218 e 75: 43-63.
CARDOZO, M. (1942): “Uma notável peça de joalharia primitiva”, Anais da Faculdade de Ciências do
Porto, XXVII: 89-100.
CARDOZO, M. (1943): “Antiguidades transmontanas”, Revista de Guimarães, LIII (1-2): 109-116.
CARDOZO, M. (1954): “A propósito da lavra do ouro na província de Trás-os-Montes durante a época ro-
mana”, Revista de Guimarães, LXIV (1-2): 113-141.
CARDOZO, M. (1957): “Das origens e técnica do trabalho do ouro e a sua relação com a joalharia arcaica
peninsular”, Revista de Guimarães, LXVII (1-2): 5-46 + XIX Est.
CARDOZO, M. (1959): “Um novo achado em Portugal de jóias de ouro proto-históricas”, Revista de Gui-
marães, LXIX (1-2): 127-138 + 11 Fig.
CAVALHEIRO, J. e SANCHES, M.ª J. (1995): “Um caso de metalurgia primitiva de ouro na 1.ª metade do
3.º milénio AC: o abrigo do Buraco da Pala – Mirandela”, Trabalhos de Antropologia e Etnologia, XXXV
(4): 167-182 + V Est.
COMENDADOR, B. (1998): Los inicios de la metalurgia en el Noroeste de la Península Ibérica. A Coruña,
Ed. Museu Arqueolóxico.
FORTES, J. (1905-08a): “O Tesouro de Lebução (Traz-os-Montes)”, Portugália, II (1): 1-14.
FORTES, J. (1905-08b): “Museu Municipal Azuága-Notícias”, Portugália, II (1): 117-119.
GONZÁLEZ RUIBAL, A. (2006-07): Galaicos. Poder y comunidad en el Noroeste de la Península Ibérica

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 235


(1200 a. C. – 50 d.C.). A Coruña, Ed. Museu Arqueolóxico.
GUIMARãES, J. A. G. et al. (2006): “Objectos arqueológicos e outros de Trás-os-Montes e Alto Douro na
Colecção Marciano Azuaga”, Côavisão, 8: 25-40.
LADRA, L. (1999): Contribuciones para un estudio historiográfico y ponderal de los torques castreños del
Noroeste. Madrid, UCM (Tese de licenciatura. Policopiada).
LADRA, L. (2003): Ourivesaria, arqueologia e paleoetnologia. A distribuição territorial dos torques áureos
da Segunda Idade do Ferro do Noroeste peninsular e a sua relação com as unidades étnicas indígenas.
Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Dissertação de Mestrado em Arqueologia. Polico-
piada).
LÓPEZ CUEVILLAS, F. (1951): Las joyas castreñas. Madrid, Ed. CSIC.
MACHADO, J. L. S. (1965): “O torques de ouro de Vilas Boas de Trás-os-Montes”, Ethnos, IV: 313-318 +
6 fig.
MARTINS, C. M. B. (1996): A ourivesaria proto-histórica de Portugal. Influências Mediterrânicas. Porto,
FLUP (Dissertação de Mestrado em Arqueologia. Policopiada).
MARTINS, C. M. B. (2008): “Exploração aurífera romana em Portugal”, Férvedes, 5: 413-422.
NICOLINI, G. (1994): “Relations entre les orfèvreries celtique et ibérique”, Aquitania, XII : 431-446.
PARREIRA, R. e PINTO, C. V. (1980): Tesouros da Arqueologia Portuguesa no Museu Nacional de Ar-
queologia e Etnologia. Lisboa, Ed. IPPC-MNAL.
PENA, A. e ERIAS, A. (2006): “O ancestral Camiño de peregrinación ó fin do Mundo”, Anuario Brigantino,
29: 23-38.
PÉREZ OUTEIRIÑO, B. (1982): De ourivesaria castrexa. I. Arracadas. Ourense, Ed. Museu Arqueolóxico
Provincial.
PÉREZ OUTEIRIÑO, B. (1990): “Achega tipolóxica para o estudo dos torques áureos do NW”, Gallaecia,
12: 139-151.
PINTO, D. C. B. (2005): “Os artefactos metálicos do Crasto de Palheiros (Murça, Trás-os-Montes) e suas
relações com a Proto-história peninsular”, Bronce Final y Edad del Hierro en la Península Ibérica, pp. 111-
130. Salamanca, Ed. US [CD-Rom].
SÁNCHEZ-PALENCIA, F. J. (1983): La explotación prerromana del oro del Noroeste de la Península Ibé-
rica”, Boletín Auriense, XIII: 31-67.
SEVERO, R. (1905-08): “Novas descobertas de ourivesaria proto-histórica” e “O bracelete d’ouro de Tel-
lões”, Portugália, II (1-2): 109-110 e 120.
SILVA, A. C. F. (1986): A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal. 1.ª Ed. Paços de Ferreira, Ed. Museu
Arqueológico da Citânia de Sanfins.

Pág. 236 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


PAtRones de situAción de los AsentAMientos tiPo cas-
tro en lA coMARcA de As FRieiRAs (oRense)
CASTROS SETTLEMENT PATTERNS IN THE REGION OF AS FRIEIRAS
(ORENSE)

Alberto José Pungin García


LabOratOriO de arQueOLOGía de La uNiverSidad de viGO;
aLbertOPuNGiN@HOtmaiL.COm

Resumen: En este artículo se estudian los asentamientos tipo castro existentes en la Co-
marca de As Frieiras, en el sureste de la provincia de Orense, Galicia. A través de un sistema de
trabajo fundamentado en el análisis espacial se pretende un acercamiento a los patrones de si-
tuación de este tipo de asentamientos, utilizando para ello una herramienta SIG con la cual se
examinan distintas variables: tipología formal de los emplazamientos, altitud relativa, visibilidad,
accesibilidad, tipos de suelos del entorno y proximidad a rutas de tránsito probables. Por último
se realiza una valoración crítica de los resultados obtenidos como medio para avanzar en el es-
tudio de las pautas de relación de estos yacimientos con el entorno en el área de trabajo y en el
conocimiento de las realidades socioculturales que subyacen bajo esta relación.
Palabras-clave: asentamiento tipo castro, análisis espacial, SIG, patrones de situación,
As Frieiras (Orense).

Abstract: This paper studies the type settlements castro in the Region of Frieiras, in the
southeast of the province of Ourense, Galicia. Through a system of work based on the spatial
analysis an approach is expected to the patterns of situation of this type of settlements, using
for it a tool GIS with which different variables are examined: formal typology of the emplace-
ments, relative altitude, visibility, accessibility, types of soils of the environment and proximity
to probable routes of transit. Finally a critical evaluation of the results obtained is realized like
way to advance in the study of the rules of relation of these sites with the environment in the
work area and in the knowledge of the sociocultural realities that underlying under this rela-
tion.
Keywords: Settlement type castro, spatial analysis, GIS, patterns of situation, As Frieiras
(Ourense).

1. introducción
La Comarca de As Frieiras se localiza en el extremo suroriental de la pro-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 237


vincia de Orense, en el límite natural que suponen con la meseta las estriba-
ciones finales de las Sierras y Depresiones Orientales y Surorientales de Gali-
cia, presentando unas características de altitud, pendiente, clima y densidad de
la población que la encuadran dentro de la alta montaña gallega.
La zona se caracteriza por una morfología topográfica bastante contras-
tada, con gran variabilidad de altitudes en un marco espacial reducido (máxima
de 1660 m, mínima de 545 m y media de 950 m) y por lo tanto con pendientes
medias elevadas (entre 15-17%). Esta conformación contrastada permite esta-
blecer tres sectores geográficos bien diferenciados: sector de sierras, localizado
en el cuadrante noreste del área de trabajo y caracterizado por la presencia de
macizos muy vigorosos con altitudes máximas que superan los 1600 m.; sector
de penillanura, en la zona centro-oriental del marco de referencia se conforma
una superficie de aplanamiento ligeramente inclinada hacia el sur en la cual se
suceden resaltes montañosos de escasa entidad y valles apenas excavados en
dirección NO-SO; sector de valles encajados, ocupa prácticamente la mitad
occidental de la zona de estudio, se trata de una antigua superficie de aplana-
miento situada entre dos sistemas montañosos y profundamente alterada por
la acción de la red de drenaje, lo que genera un espacio muy irregular en el
que se alternan pequeñas alineaciones montañosas y altiplanicies reducidas
con una sucesión de valles profundamente encajados en dirección N-S primero
(sector septentrional) y O-E después (sector meridional).

La red de drenaje se caracteriza


por pertenecer a la cuenca del río
Duero y se estructura en torno a dos co-
lectores principales: hacia el oeste el
río Mente y en los sectores central y
oriental, el río de A Ribeira. Se trata de
corrientes pequeñas, de cabecera, con
un caudal muy variable y dependiente
de las precipitaciones líquidas, for-
mando valles abiertos en la mitad este
y profundos y escarpados en la zona Figura 1. Área de estudio
occidental.

Pág. 238 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


La zona aparece dominada por dos grandes complejos litológicos: el
complejo granítico en el área oriental, dominando casi toda la penillanura
mesquitense y en el sector occidental el complejo metamórfico. Sobre estos
grupos litológicos dominantes se desarrolla una cobertura edafológica carac-
terizada por un predominio de suelos de las clases ránker y tierra parda,
acompañados de pequeñas extensiones de pseudogley y vega parda alóc-
tona.
Desde el punto de vista climático esta región presenta características
propias del clima oceánico de montaña, si bien con matices ya mediterráneos
fundamentados en el paso brusco del frío al calor y en la abundancia de pre-
cipitaciones invernales frente a la escasez de estas en el verano. Este pano-
rama general ofrece ciertos matices según zonas, por lo que se pueden
establecer aún tres variantes microclimáticas: dominio subhúmedo frío (zona
de sierras); dominio subhúmedo fresco (zona de penillanura); y dominio seco
templado (zona de valles encajados).
En esta región se localizan 14 yacimientos arqueológicos cuya tipología
responde al modelo de asentamiento tipo castro, objeto de nuestro trabajo de
investigación para la obtención del Diploma de Estudios Avanzados , y del
que este artículo es un resumen detallado, si bien con ciertos matices deriva-
dos de la revisión de aquellos primeros resultados. Este estudio se abordó
desde la perspectiva del análisis espacial de los yacimientos y su entorno,
utilizando para ello un Sistema de Información Geográfica y tomando como
referencia los principales trabajos que analizan la temática castreña desde un
enfoque espacial . El trabajo tenía una orientación fundamentalmente prác-
tica, sin entrar en ningún momento a valorar ni los aspectos teóricos relacio-
nados con los análisis espaciales en arqueología, ni los aspectos conceptuales
que cimientan las variables utilizadas. Como consecuencia los resultados ob-
tenidos y aquí presentados han de ser tomados con cautela, algo a lo que
obliga tanto esa falta de contenido teórico como la reiteración en el uso de
variables sin el pertinente enfoque crítico de las mismas y sin la necesaria
adaptación a las circunstancias propias de cada caso . Con todo, estos resul-
tados deben de ser entendidos como hipótesis de trabajo fundamentadas en
argumentos expositivos que sirvan como base de un trabajo posterior de
mayor consistencia.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 239


2. Análisis espacial
El análisis espacial por medio de una herramienta SIG constituyó la parte
fundamental y más laboriosa del trabajo realizado. El punto de partida fue la
creación de una base de datos de referencia cuyas fuentes se situaron en la re-
visión del material bibliográfico, cartográfico y arqueológico asociado al área
de trabajo, base de datos que se define desde un enfoque dual: geográfico (to-
pografía y tipos de suelos) y arqueológico (yacimientos). La interrelación entre
ambos contextos constituye el fundamento del recurso a un SIG y tiene como
elementos de conexión las distintas variables de análisis.
En primer lugar se generó la información referida a la topografía, hidrografía
y vías de comunicación. La información de base fue la cartografía digital a escala
1:5000 de la Xunta de Galicia (Consellería de Política Territorial, Obras Públicas
e Vivenda), tomando como referencia las hojas 265 (57-58-67-68-77-78-87-88),
266 (51-52-53-54-55-61-62-63-64-65-66-71-72-74-75-76-81-82-83-84-85-86),
303 (17-18-27-28-37-38) y 304 (11-12-13-14-15-21-23-24-25-31-33-34-35), ge-
nerando a partir de estas archivos vectoriales en el programa informático referidos
a altimetría, hidrografía y vías de comunicación. A partir de los datos de altimetría
se derivó el Modelo Digital de Elevaciones (MDE) de la zona de estudio en for-
mato raster con una resolución de celdilla de 5 m de lado. Este MDE sirvió a
continuación como base para la creación del Modelo Digital de Pendientes.
En segundo lugar se modeló la información referida a tipos de suelo según
potencial productivo. La base se situó en el trabajo de F. Díaz-Fierros Viqueira
y F. Gil Sotres (1984), que contiene una distribución de tipos de suelos para
toda Galicia sobre una cartografía a escala 1:200000. En este caso hubo que
recurrir a un tratamiento digital previo del mapa E4, suministrado en ese tra-
bajo, para poder importarlo al SIG, primero como archivo vectorial con ele-
mentos poligonales y después como archivo raster con celdas o pixeles con
información referida al tipo de suelo al que representan.
Una vez definida la base de datos geográfica, abordamos la definición de
la capa temática de asentamientos. Esta fase está considerada como una de las
más problemáticas dentro de los proyectos relacionados con la aplicación de
SIG en arqueología (Espiago y Baena 1999: 39). De hecho, en la representación
de los yacimientos entran en juego distintos factores relacionados con los datos
de partida, la escala de análisis y la tipología de las propias entidades arqueo-

Pág. 240 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


lógicas. La localización de estas se puede realizar a través de diversas fuentes,
destacando entre las más frecuentes las utilización de las coordenadas recogidas
en los catálogos e inventarios oficiales de bienes arqueológicos. Sin embargo,
diversos factores relacionados con los distintos sistemas de coordenadas, la
falta de formación de los arqueólogos en materia cartográfica y errores tipo-
gráficos o de otra índole, provocan que en muchos casos esas coordenadas con-
tengan serios errores. Por otro lado, la abstracción de la realidad arqueológica
para convertirla en un elemento gráfico con el que poder trabajar en un pro-
grama informático, es otro factor a tener en cuenta, pues la representación de
los elementos arqueológicos se puede realizar por medio de puntos, líneas o
polígonos según sea su tipología y la escala a la que se trabaje. Como conse-
cuencia, es recomendable y necesario detectar y corregir posibles errores así
como precisar que tipo de modelo de representación resulta más adecuado, ya
que esto puede influir de manera notable en los resultados finales1.
Para el caso que nos ocupa las fuentes para la localización de los asenta-
mientos fueron los Inventarios Arqueológicos de los ayuntamientos de A Mez-
quita y A Gudiña y el Plan General de Ordenación Municipal del ayuntamiento
de Riós. De estas fuentes se tomaron las
coordenadas de localización puntual de
los yacimientos, detectando y corri-
giendo errores en seis de los casos. Por
último se definió, a partir de estos pun-
tos de localización, la superficie hipoté-
tica de los poblados (considerados como
entidades poligonales) utilizando como Figura 2. MDE y localización de los asenta-
elementos indirectos de referencia la fo- mientos
tografía aérea y los planos de localiza-
ción de áreas arqueológicas protegidas de los Planes Generales de Ordenación
Municipal de A Gudiña y Riós.

Una vez configurado el modelo de referencia sobre el que realizar el aná-


lisis espacial, compuesto por esas dos características de la realidad considera-
das, los elementos geográficos y los elementos arqueológicos, se procedió a
continuación con la definición de las variables de análisis. Estas hacen refe-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 241


rencia a una serie de procesos que son nota común en la mayor parte de los
análisis espaciales con herramientas SIG (Espiago y Baena 1999: 48), si bien
en el caso que nos ocupa el grupo de variables escogidas depende directamente
de las principales referencias metodológicas de este estudio. Así de los trabajos
de M. Xusto (1993) sobre la zona de Viana, Carballo Arceo (2002) en la Co-
marca de Deza, y C. Parcero Oubiña y P. Fábrega Álvarez (2006) en diversas
zonas de las provincias de A Coruña, Pontevedra y Lugo, se tomaron las si-
guientes variables de análisis:
Perfiles topográficos. El estudio de los perfiles topográficos se propone
desde la caracterización topográfica de los emplazamientos de los poblados,
con el objetivo de determinar tipologías que pudiesen ser comparadas con otras
áreas. Para ello se realizaron perfiles de los lugares en los que se ubican los
asentamientos, considerando dos radios de actuación: uno menor de 200-300
m a partir del yacimiento para valorar la tipología del emplazamiento; y otro
mayor, 1 Km., para definir a esta dentro de un contexto general.
Altitud Relativa. El análisis de esta variable es un método que permite
valorar el carácter dominante de los poblados con respecto al medio físico en
el que se sitúan. Sus fundamentos están en el concepto de monumentalidad
aplicado a este tipo de asentamientos, y más en concreto en la idea de visuali-
zación como elemento clave en la elección del emplazamiento de este tipo de
yacimientos (Parcero 1995: 135-6). Para valorar este aspecto se propusieron
diferentes entornos, uno inmediato de 800 m y otro de alcance medio en un
radio de 2000 m, y se tomaron como fórmulas de análisis las propuestas por
C. Parcero Oubiña y P. Fábrega Álvarez (2006: 77-8) para determinar la Me-
dida Simple y la Tendencia de la Altitud Relativa.
visibilidad. Partiendo del supuesto de que el control visual del medio y
de los recursos que en él se encuentran constituye un aspecto de especial rele-
vancia en la elección de la ubicación de los asentamientos castreños, se proce-
dió al análisis de las cuencas visuales teóricas o potenciales de cada yacimiento,
entendiendo estas como “el conjunto de todas las localizaciones o puntos de
un territorio que son visibles desde un punto de observación especifico, dada
una distancia máxima de visión, y en base únicamente a la topografía” (García
Sanjuán et al. 2006: 184). En función de esto se definió como punto de obser-
vación al asentamiento, mientras que la distancia de visión se estableció en

Pág. 242 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


tres intervalos: 800 m, contexto inmediato; 2000 m, contexto a media distancia;
y 30 Km., contexto a larga distancia.
Accesibilidad. El concepto de ‘accesibilidad’ se entiende en este trabajo
como el “grado potencial de interacción entre un espacio determinado con el
resto de una unidad territorial de escala mayor a la que pertenece” (D.E.G.U.
2003: s. v. ‘accesibilidade’), y puede medirse mediante la relación de movilidad
y a través de unas infraestructuras y medios de transporte específicos. Pues
bien, en este caso el interés se centró en comprobar esa interacción en base a
valores como la capacidad productiva del entorno, la potencialidad defensiva
o la proximidad a rutas de tránsito. Para ello se creó un modelo de análisis en
el cual la superficie topográfica se consideró como único condicionante para
la movilidad y se establecieron los resultados finales en forma de valores tem-
porales a partir de la referencia de la velocidad de una persona andando sobre
una superficie llana, calculada generalmente en 5 Km/h (Carballo Arceo 2002:
205; Fábrega 2004: 17; Ruestes 2006: 29).
tipos de suelos. De manera general se asume que la proximidad a deter-
minados tipos de terreno pudo ser un a factor de importancia en la elección de
los lugares de asentamiento de ciertos modelos de ocupación (Martín et al
2004: 217), por lo tanto el análisis de esta variable se muestra como un camino
interesante para determinar los patrones de situación de determinados asenta-
mientos. No se trata de valorar la potencialidad productiva del entorno como
medio para establecer posibles estructuras de producción, sino simplemente
de analizar la proximidad a los distintos tipos de tierras considerando que las
respuestas observadas pueden ser válidas para el estudio de las pautas de loca-
lización. Análisis de proximidad que se realizó a partir de radios fijos en torno
al yacimiento y del espacio visible y accesible desde el mismo, tomando como
elemento de referencia el Modelo Digital de Tipos de Suelos anteriormente
creado. Para poder llevar a cabo los análisis fue necesario definir un marco
operativo comparativo, en él que los distintos tipos de suelos existentes en el
área fuesen reducidos a unas categorías básicas. F. Diaz-Fierros y F. Gil (1984)
establecen una definición de los suelos de Galicia por medio de una leyenda
del tipo AL11s a partir de los datos disponibles sobre sitio, clima y suelo. To-
mando como referencia el primer elemento de la leyenda, que define los datos
de sitio y suelo, se crearon en este trabajo tres categorías sobre la capacidad

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 243


de uso agrícola de la tierra: capacidad de uso agrícola normal, tierras que pre-
sentan buenas aptitudes para el cultivo pues tienen aceptables condiciones de
pendiente y profundidad, aunque en algunas áreas presenten ciertas limitacio-
nes (fertilidad, heladas, régimen hídrico); capacidad de uso agrícola mode-
rado, tierras con limitaciones moderadas a altas (pendientes <20%,
afloramientos rocosos <25%, riesgos de erosión medio-altos), pero con pro-
fundidad suficiente para el enraizamiento de especies que no necesitan de en-
raizamiento profundo (50-100 cm.); capacidad de uso agrícola nula, los
restantes tipos de suelos.
Rutas de tránsito. El análisis de las rutas de tránsito se formula como
medio para valorar las relaciones de los asentamientos con aquellas zonas que
ofrecen mayores posibilidades para el tránsito a través del territorio. Esta con-
sideración parte del supuesto de que el cálculo de rutas óptimas de desplaza-
miento entre una serie de puntos distribuidos regularmente por el exterior de
la zona de estudio, puede ofrecer como resultado las rutas más adecuadas para
atravesar el territorio y, en consecuencia, aquellas con mayor potencialidad de
uso (Bermúdez 2006: 94-5).

3. Patrones de situación
El análisis espacial llevado a cabo permite un acercamiento a los patrones
de situación de los asentamientos tipo castro en la Comarca de As Frieiras.
Desde una perspectiva macroespacial, la relación de estos asentamientos con
el marco geográfico global en el que se circunscriben nos mostró una serie de
características interesantes:
Se observa en general que los poblados se ubican en zonas de altitudes
absolutas medias o medio-bajas, evidenciándose una tendencia a la reducción
del número de asentamientos según aumenta la altitud. Este carácter selectivo
del hábitat se muestra también en relación con las pendientes del terreno, des-
tacando el interés por ocupar zonas de pendientes medias y medio-altas, pues
estas son en principio las que ofrecen las mejores condiciones a nivel estraté-
gico, económico y ocupacional.
Se evidencia una relación clara entre los castros y la red de drenaje prin-
cipal, manifestada tanto a nivel espacial, es decir de distancia a esa red, como
temporal. En este sentido, tan sólo uno de los asentamientos presenta una re-

Pág. 244 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


lación de proximidad con los cursos de agua principales bastante mala, dado
que se sitúa a más de 2 km. y de 1 hora de distancia del curso de agua principal
más cercano.
La conexión con las tierras potencialmente más aptas para el desarrollo
de labores agrícolas parece clara a nivel general. Así aproximadamente un 65%
de los poblados presenta en sus inmediaciones este tipo de tierras, porcentaje
más que significativo si tenemos en cuenta que el total de la superficie ocupada
por estas tierras se sitúa en torno al 20% del área de trabajo. Además aquellos
asentamientos que no presentan este tipo de tierras en las inmediaciones, ofre-
cen por el contrario un amplio control estratégico de las mismas.
Por último, se observa también una interconexión clara entre la localiza-
ción de los asentamientos y las rutas potenciales de tránsito a través del terri-
torio. 10 de los 14 asentamientos estudiados presentan dentro de su entorno
inmediato una zona de muy alta probabilidad de tránsito, mientras que los res-
tantes ofrecen por término medio con respecto a estas zonas un amplio control
visual.
Ante este panorama global, el análisis individual de cada asentamiento
y su entorno reveló la existencia de matices particulares en cada caso, matices
que agrupados en forma de tendencias similares permitieron establecer distin-
tos patrones de situación de los asentamientos:
Primer patrón. Agrupa a asentamientos que presentan una localización sobre
lugares bastante destacados del entorno, con índices de altitud relativa positivos
tanto en el intervalo inmediato (800 m) como en el intervalo de alcance medio
(2000 m). Ubicación que favorece notablemente la visibilidad a larga distancia,
siendo muy selectiva en los intervalos iniciales (controlan visualmente una porción
concreta del territorio en detrimento de las restantes). En cuanto a la accesibilidad,
estos asentamientos destacan por presentar una relación de mala a regular accesi-
bilidad al entorno, presentándose además esta más desarrollada en alguna de las
direcciones. Todo esto favorece un distanciamiento notable de las tierras poten-
cialmente más adecuadas para el desarrollo de labores agrícolas. Así, aunque dentro
de los radios de distancia inmediatos de alguno de los asentamientos aparecen este
tipo de tierras, lo hacen siempre en porcentajes mínimos y bajo intervalos de ac-
cesibilidad malos (a partir de 30‘). Sin embargo estas tierras ofrecen un interés des-
tacado para los poblados pues son preferentes dentro de los campos visuales. Por

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 245


último en la relación con las rutas óptimas
de tránsito se observa también un distan-
ciamiento espacial y temporal notable y un
control visual amplio. Pertenecerían a este
primer patrón los yacimientos de O Cas-
telo Pequeno, O Castelo y O Cabezo.

segundo patrón. Está formado


por yacimientos localizados general-
Figura 3. Visibilidad en el radio de 2000 m del
asentamiento de O Castelo Pequeño mente en posiciones dominantes con
respecto al entorno inmediato, pero
mucho menos prominentes a medida
que aumenta la distancia. La visibilidad del entorno suele ser amplia e intensa
en las zonas más próximas, perdiendo peso relativo en los contextos a media
y larga distancia, mostrando además como característica fundamental la ho-
mogeneidad en torno al yacimiento. El espacio accesible es por norma, aunque
con alguna excepción, amplio y homogéneo en todos los intervalos, presen-
tando este grupo los niveles más altos de accesibilidad. Por otro lado, y al con-
trario de lo que ocurre con el patrón anterior, este grupo de asentamientos se
caracteriza por una relación de proximidad con las tierras de mejor calidad,
proximidad que se manifiesta tanto a nivel espacial como temporal. Caracte-
rística esta que aparece también con respecto a las rutas óptimas de tránsito a
través del territorio, pues todos los asen-
tamiento presentan en el intervalo de
distancia inmediato (800 m) alguna zona
de tránsito muy probable (por allí se en-
cauzan 5 o más rutas óptimas de trán-
sito), presencia que se confirma (excepto
para un caso) además dentro de los in-
tervalos de buena accesibilidad (-30‘).
Se englobarían dentro de este patrón de
situación los yacimientos de A Cabe-
ciña, A Cabeza, A Touza, A Torre da Figura 4. Isócronas de accesibilidad en 15’,
30’, 45’ y 60’ para el asentamiento de A Torre
Pousa y O Castro de Barxa. da Pousa

Pág. 246 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


tercer patrón. Se puede observar aún la existencia de un tercer patrón,
con valores de prominencia de los asentamientos sobre el entorno variados y
un control visual del medio que ofrece en general valores medio-bajos sobre
todo en los intervalos de alcance medio y a larga distancia, siendo la distribu-
ción de los ángulos visuales poco uniforme sobre todo a partir del radio de 800
m. Los datos de accesibilidad ofrecen también valores medio-bajos, predomi-
nando en alguna dirección la distribución espacial de las distintas isócronas
temporales, coincidiendo algunas veces con la zona de máxima visibilidad y
otras con la menos visible. En lo referente a la relación con las mejores tierras,
aunque la variedad es más notable en este punto, no se observan ni unos valores
de proximidad tan elevados como en el segundo patrón ni tampoco un distan-
ciamiento tan marcado como ocurre en el primer patrón. Respecto a las rutas
de tránsito estos asentamientos muestran en todos los casos una ruta de tránsito
óptima a través del territorio en el entorno de 800 m o en el límite del mismo,
destacando para tres de los casos las presencia en este contexto de una zona de
alta probabilidad de tránsito (5 o más rutas óptimas por el mismo lugar). Por
último conviene señalar la relación existente entre tres de los asentamientos y
yacimientos mineros de probable explotación antigua. Se agrupan en este tercer
patrón los yacimientos de A Cabeciña do Souto, O Circo, A Ribeira, Tras do
Castro, O Castro de S. Lourenzo y As Cabarquellas.

4. consideraciones Finales
Los patrones de situación observados sirven como soporte para proponer
un primer marco interpretativo del poblamiento castreño y galaico-romano en
la Comarca de As Frieiras, propuesta que surge fundamentalmente a raíz de la
comparación con los modelos observados en otras áreas.
Se puede plantear una primera hipótesis de trabajo articulada en torno a
un modelo de hábitat propio del Hierro I bien diferenciado de un segundo mo-
delo asociado al Hierro II y a la época de ocupación romana. Los patrones de
situación aquí observados presentan ciertas semejanzas con los detectados por
C. Parcero y P. Fábrega (2006) en diversas áreas de Galicia. Estos autores plan-
tean a partir de los patrones observados un doble modelo sobre las formas de
construcción del paisaje en la Edad de Hierro:
El paisaje de la producción en el Hierro I: localización de los asentamien-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 247


tos en zonas con terrenos aptos para una explotación extensiva del medio y
distanciamiento de los terrenos de explotación intensiva; inaccesibilidad; do-
minio visual del entorno; posiciones dominantes y visibles sobre todo a media
y larga distancia.
El paisaje de la producción en el Hierro II: proximidad a terrenos de ex-
plotación intensiva; accesibilidad amplia y homogénea al entorno; prominencia
física y visual limitada al contexto más inmediato sin extenderse a larga dis-
tancia.
En base a esto se puede asociar el primer patrón de situación detectado
en nuestra área de trabajo con un modelo de producción del Hierro I, mientras
que el segundo y tercer patrón presentarían ciertas trazas de un modelo propio
del Hierro II, en el que no se detectarían en principio grandes signos de ruptura
entre lo castreño prerromano y lo castreño romano. Sin embargo este último
aspecto constituye un elemento especialmente relevante, pues si bien hay cier-
tos autores que argumentan una continuidad más o menos marcada entre los
patrones territoriales de lo castreño prerromano y romano (Carballo 2002; Par-
cero 2000), otros en cambio critican tal continuidad y defienden la existencia
de una ruptura clara que precisamente se puede observar en los modelos de
ocupación y explotación del territorio, ruptura que no tiene que circunscribirse
necesariamente a las zonas mineras, lugares en los cuales, eso si, esta es más
intensa y nítida (Fernández-Posse 2002; Sánchez Palencia et al. 2002; Rodrí-
guez Fernández 1994; Xusto 1993). Ante este debate, que centra su punto de
interés en el complejo problema de los efectos de la ocupación romana del nor-
oeste peninsular, se hace necesario replantearse críticamente el planteamiento
anterior, máxime si tenemos en cuenta que esa ruptura se observa bastante bien
en zonas próximas a la aquí estudiada2.
Por todo ello se puede platear aún una segunda hipótesis de trabajo, que
pone el énfasis precisamente en esa ruptura y que parte del presupuesto de que
una de las consecuencias de la conquista es que lo indígena pasa de ser centro
a ser periferia, de autorreferenciarse a hacerlo en función de otros (Rodríguez
Fernández 1994:168).
Esta propuesta mantendría en esencia las valoraciones anteriores, concre-
tadas en torno a un primer modelo de ocupación relacionado con el Hierro I,
que estaría representado por los asentamientos de O Castelo Pequeno y O Cas-

Pág. 248 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Figura 5. Evolución de la visibilidad (en km²) de los
asentamientos en los distintos intervalos espaciales

telo, y un segundo modelo característico del Hierro II en el que se agruparían


los asentamientos de A Cabeciña, A Cabeza, A Cabeciña do Souto, Torre da
Pousa e As Cabarquellas. El asentamiento de O Cabezo ofrece ahora dudas
importantes para su interpretación, dado que si bien por un lado presenta unas
características propias de los modelos de ocupación propios del Hierro I, por
otro lado ofrece un tipo de emplazamiento asimilable a los Tipo A de L. X.
Carballo Arceo (2002: 102), M. Xusto (1993: 141) y X. Agrafoxo (1992: 65),
lo que llevaría a considerarlo dentro de un patrón de localización propio del
Hierro II.
Como novedad se argumenta un tercer modelo de ocupación definido por
A Touza, O Circo, A Ribeira, Tras do Castro, Castro de Barxa y Castro de S.
Lourenzo, que marcaría una sustancial diferencia con los modelos anteriores
fundamentada en esa idea de que el castro deja de ser el elemento referencial
del paisaje. Las bases que permiten plantear esto se centran en los valores de
prominencia y visibilidad de los asentamientos, pues estos asentamientos pre-
sentan valores de altitud relativa muy bajos o negativos ya desde el contexto
inmediato, ocupando lugares que no destacan notablemente en el contorno del
territorio y con unos valores totales de visibilidad que se centran esencialmente
en el espacio inmediato y de alcance medio.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 249


Las propuestas anteriores han de entenderse necesariamente como hipó-
tesis de trabajo provisionales y en ningún momento como tesis definitivas sobre
el poblamiento castreño y galaico-romano en la región estudiada. Hipótesis
que esperamos poder tratar en estudios futuros para validar su viabilidad, uti-
lizando para ello una base teórica más consistente e intentado ampliar el área
de trabajo a zonas adyacentes.

Bibliografía
Agrafoxo Pérez, X. 1992. O hábitat castrexo no Val do Barcala, Amaía e Val do Dubra. Noia: Se-
menteira.
Baena Preysler, J.; Ríos Mendoza, P. 2006. Realidad y abstracción: límites de la integración de datos en los
SIG. En Grau Mira, I. (ed.). La aplicación de los SIG en la Arqueología del Paisaje. Anejo de Lucentum, 15:
15-27. Alicante: Publicaciones Universidad de Alicante.
Bermúdez Sánchez, J. 2006. El análisis de las redes viarias en la antigüedad a partir de las posibilidades que
ofrecen los SIG. Rutinas para el Cálculo Acumulado de vías óptimas con el Programa Idrisi. En Grau Mira,
I. (ed.). La aplicación de los SIG en la Arqueología del Paisaje. Anejo de Lucentum, 15: 91-7. Alicante: Pu-
blicaciones Universidad de Alicante.
Carballo Arceo, L. X. 2002. A Cultura Castrexa na Comarca de Deza. Colección Deza Básicos, nº 4. Lalín:
Seminario de Estudios do Deza.
Chapa Brunet, T.; Bermúdez Sánchez, J.; Mayoral Herrera, V.; Vicent García, J. M. 2004. Aplicación de los
Sistemas de Información Geográfica a la Investigación y Gestión del Patrimonio en el Bajo Jarama (Madrid).
En Martín de la Cruz, J. C.; Lucena Martín, A. Mª. (coords.). Actas del I Encuentro Internacional Informática
Aplicada a la Investigación y Gestión Arqueológicas: 151-68. Córdoba: Servicio de Publicaciones de la Uni-
versidad de Córdoba.
Díaz-Fierros Viqueira, F.; Gil Sotres, F. 1984. Capacidad productiva de los suelos de Galicia. Mapa 1:200000.
Universidad de Santiago de Compostela.
Diccionario Enciclopédico Galego Universal. 2003. Vigo: Ir Indo Edicións.
Espiago, J.; Baena, J. 1999. Los Sistemas de Información Geográfica como tecnología informática aplicada
a la arqueología y a la gestión del patrimonio. En Baena Preysler, J.; Blasco Bosqued, C.; Quesada Sanz, F.
(eds.). Los S.I.G. y el análisis espacial en arqueología: 7-66. Madrid: Ediciones de la Universidad Autónoma
de Madrid.
Fábrega Álvarez, P. 2004. Poblamiento y Territorio de la Cultura Castreña en la comarca de Ortegal. CAPA
(Cadernos de Arqueoloxía e Patrimonio), 19. Santiago de Compostela: Laboratorio de Patrimonio, Paleoam-
biente e Paisaxe.
Fernández Cacho, S. 2004. Nuevas Tecnologías en la Gestión de la Información de Patrimonio Arqueológico
en Andalucía. Problemas Detectados y Soluciones Adoptadas. En Martín de la Cruz, J. C.; Lucena Martín, A.
Mª. (coords.). Actas del I Encuentro Internacional Informática Aplicada a la Investigación y Gestión Ar-
queológicas: 169-86. Córdoba: Servicio de Publicaciones de la Universidad de Córdoba.
Fernández-Posse, Mª. D. 2002. Tiempos y espacios en la Cultura Castreña. En Blas Cortina, M. A. de; Villa
Valdés, A. (eds.). Los poblados fortificados del Noroeste de la Península Ibérica: formación y desarrollo de
la Cultura Castreña. Coloquios de Arqueología en la Cuenca del Navia. Homenaje al Prof. Dr. josé Manuel
González y Fernández-Valles: 81-95. Navia: Ayuntamiento.
García Sanjuán, L. 2004. La Prospección Arqueológica de Superficie y los SIG. En Martín de la Cruz, J. C.;
Lucena Martín, A. Mª. (coords.). Actas del I Encuentro Internacional Informática Aplicada a la Investigación

Pág. 250 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


y Gestión Arqueológicas: 185-210. Córdoba: Servicio de Publicaciones de la Universidad de Córdoba.
García Sanjuán, L.; Metcalfe-Wood, S.; Rivera Jiménez, T.; Wheatley, D. W. 2006. Análisis de pautas de vi-
sibilidad en la distribución de monumentos megalíticos de Sierra Morena Occidental. En Grau Mira, I. (ed.).
La aplicación de los SIG en la Arqueología del Paisaje. Anejo de Lucentum, 15: 181-200. Alicante: Publi-
caciones Universidad de Alicante.
Lemos, F. S. 1993. Poboamento romano de Trás-os-Montes Oriental. Braga: Universidade do Minho.
Martín de la Cruz, J. C.; Bermúdez Sánchez, J.; Perlines Benito, M. R. 2004. Los Sistemas de la Información
Geográfica Aplicados a la Campiña de Córdoba: Sincronías y Diacronías Poblacionales. En Martín de la Cruz,
J. C.; Lucena Martín, A. Mª. (coords.). Actas del I Encuentro Internacional Informática Aplicada a la Investi-
gación y Gestión Arqueológicas: 211-35. Córdoba: Servicio de Publicaciones de la Universidad de Córdoba.
Parcero Oubiña, C. 1995. Elementos para el estudio de los paisajes castreños del noroeste peninsular. Trabajos
de Prehistoria, 52 (1): 127-44. Madrid.
Parcero Oubiña, C. 2000. Tres para dos. Las formas del poblamiento en la Edad del Hierro del Noroeste Ibé-
rico. Trabajos de Prehistoria, 57 (1): 75-95. Madrid.
Parcero Oubiña, C.; Fábrega Álvarez, P. 2006. Diseño metodológico para el análisis locacional de asenta-
mientos a través de un SIG de base ‘raster’. En Grau Mira, I. (ed.). La aplicación de los SIG en la Arqueología
del Paisaje. Anejo de Lucentum, 15: 69-90. Alicante: Publicaciones Universidad de Alicante.
Rodríguez Fernández, T. 1994. El fin del mundo fortificado y la aparición de las «aldeas abiertas». La evi-
dencia del Centro-Oriente de Lugo (Samos y Sarria). Espacio, Tiempo y Forma, Serie I, Prehistoria y Ar-
queología, t. 7: 153-89.
Ruestes i Bitrìa, C. 2006. El poblamiento ibérico y romano en la Layetania Litoral (del río Besòs a la Riera
de Teià). Aplicación arqueológica de un SIG. En Grau Mira, I. (ed.). La aplicación de los SIG en la Arqueo-
logía del Paisaje. Anejo de Lucentum, 15: 227-45. Alicante: Publicaciones Universidad de Alicante.
Sánchez-Palencia, F. J.; Orejas, A.; Sastre, I. 2002. Los castros y la ocupación romana en zonas mineras del
Noroeste de la Península Ibérica. En Blas Cortina, M. A. de; Villa Valdés, A. (eds.). Los poblados fortificados
del Noroeste de la Península Ibérica: formación y desarrollo de la Cultura Castreña. Coloquios de Arqueo-
logía en la Cuenca del Navia. Homenaje al Prof. Dr. josé Manuel González y Fernández-Valles: 241-59.
Navia: Ayuntamiento.
Xusto Rodríguez, M. 1993. Territorialidade Castrexa e Galaico-romana na Galicia Suroriental: A Terra de
Viana do Bolo. Boletín Auriense, anexo 18. Ourense: Museo Arqueolóxico Provincial.

1
El trabajo lleva el título Introducción al poblamiento castreño y galaico-romano en la Tierra de As Frieiras
(Orense): análisis espacial de los asentamientos tipo «castro» y fue leído en la Universidad de Vigo en sep-
tiembre de 2007.
2
El software utilizado fue Idrisi32 de Clark Labs.
Los trabajos de referencia utilizados fueron: Agrafoxo (1992), Carballo (2002), Fábrega (2004), Parcero
(1995 y 2000), Parcero y Fábrega (2006) y Xusto (1993).
3
Problemática esta que ya ha sido señalada por algunos autores como uno de los elementos claves en la in-
tegración entre SIG y estudios arqueológicos (Baena y Ríos 2006: 17). De todas maneras en este trabajo se
entendió que este era un riesgo aceptable en función de los resultados perseguidos.
4
Distintos aspectos relacionados con la definición de la capa temática de yacimientos y posibles casos de
aplicación pueden verse en Baena y Ríos (2006), Chapa et al (2004), Espiago y Baena (1999), Fernández
Cacho (2004), García Sanjuán (2004).
5
Como parece advertirse en el trabajo de M. Xusto (1993) en la zona de Viana do Bolo. También en el área
portuguesa de Tras-os-Montes oriental F. S. Lemos (1993) observa esa ruptura entre lo castreño prerromano
y romano, caracterizando a este último como “directamente derivado de los castros”. Asimismo en una revi-
sión crítica del trabajo de A. Esparza sobre los castros zamoranos, Mª. D. Fernández-Posse (2002: 92) observa
la posibilidad de distinguir claramente entre castros prerromanos y romanos en función de los “materiales,
situación y estructura”.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 251


tRÍsceles, tetRásceles e Motivos AFins eM eleMentos
ARQuitectónicos cAstReJos
TRISKELES, TETRASKELES AND RELATED MOTIFS IN IRON AGE AR-
CHITECTURAL ELEMENTS

Fernando Augusto Coimbra


GruPO QuaterNÁriO e Pré-HiStória
CeNtrO de GeOCiêNCiaS
uid73 FCt; COimbra.rOCkart@yaHOO.COm

Resumo: Alguns elementos arquitectónicos da Cultura Castreja apresentam motivos como trís-
celes, tetrásceles e outros afins, cujo estudo sistemático se torna difícil por diversas razões. Ao
longo dos escassos estudos aprofundados até agora realizados destacam-se principalmente duas
problemáticas: a cronologia destas peças, que na sua maioria têm aparecido fora do seu contexto
original, e a questão de se tratar de motivos simbólicos ou apenas decorativos.
Nesta comunicação o autor apresenta uma síntese de alguns anos de investigação sobre esta te-
mática, tentando contribuir para lançar mais alguma luz sobre as problemáticas referidas.
Palavras-chave: Trísceles, tetrásceles, Cultura Castreja, simbolismo.

Abstract: Some architectonic elements of the Hillfort’s Culture have motifs like triskeles
tetraskeles and others similar, whose systematic study becomes difficult due to several reasons.
After the few developed studies made until now two questions can be stressed: the chronology
of these artefacts, which in their majority have appeared outside their original context, and the
subject matter of being symbolic motifs or only decoration.
In this paper the author presents the synthesis of some years of research about this theme, trying
to contribute to spread some more light about the mentioned questions.
Keywords: triskeles, tetraskeles, Castro Culture, symbolism.

1. introdução
Os motivos que aqui abordamos são variantes de braços curvos do sím-
bolo denominado suástica, um signo milenar utilizado por inúmeras culturas
pelo menos desde o VII milénio a.C. Existem em grande número na Cultura
Castreja, surgindo em castros da Galiza (Províncias de Lugo, Pontevedra e

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 253


Orense) e do Norte de Portugal (Distritos de Viana do Castelo, Braga, Vila
Real, Bragança e Porto).
Até hoje não tivemos conhecimento de exemplares na Província da Co-
ruña, o que não significa que não venham a aparecer, pois o diadema do Castro
de Elviña apresenta suásticas de quatro braços curvos.
A área de maior concentração destes elementos é a que corresponde às
Províncias de Orense (48 exemplos) e de Pontevedra (31 exemplos), do lado
galego, e aos Distritos de Viana do Castelo e de Braga, do lado português, com
15 casos cada. Em termos gerais, a maior parte das peças estudadas encontra-
se na Galiza (65, 4%) distribuindo-se as restantes por castros do Norte de Por-
tugal (34, 6%).
Trísceles, tetrásceles e outros motivos afins1, surgem quer em habitações
quer em monumentos destinados a banhos rituais. Neste artigo abordamos ape-
nas os pertencentes à casa castreja, pois os outros, devido à especificidade das
construções onde se encontram, necessitariam de um desenvolvimento incom-
patível com o limite de páginas estipulado para o presente trabalho. Este im-
perativo levou-nos também a reduzir a lista bibliográfica que consultámos,
sendo apresentada apenas uma selecção da mesma2.
Entretanto torna-se necessário referir, ainda que sinteticamente, quais as
estações arqueológicas de onde provêm tais peças de modo a obter um melhor
enquadramento.
Como referimos, a Província de Orense é a região onde surge o maior nú-
mero de suásticas curvas que se distribuem pelos sítios arqueológicos seguin-
tes: Castro de Armea, Outeiro de Baltar, Barbantes, Castro de Castromao,
Castro de Cerdeira, Castelo de Monterrey, Castro de Rubiás, Outeiro de S.
Marcos, Cidade de San Cibran das Lás e o Castro de Santomé.
As peças encontram-se todas à guarda do Museu Arqueológico Provincial
de Orense, excepto as provenientes do Castro de Cerdeira, que estão na posse
de um particular.
Relativamente à Província de Pontevedra, as peças que aqui estudamos
surgem distribuídas por cinco castros que são os seguintes: Castro de Rioxa,
Cidá de Sabanle, Castro de Santa Tecla, Cividá de Tortoreos e Castro de Troña.
Na Província de Lugo até hoje apenas se encontraram três trísceles, todos
provenientes de Castillós (concelho de Pantón), complexa estação arqueológica

Pág. 254 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


constituída por um castro, um assentamento romano e uma necrópole paleo-
cristã (CALO LOURIDO, 1994a).
No Distrito de Viana do Castelo existem variantes da suástica provenien-
tes de oito sítios arqueológicos que são os seguintes: Cividade de Âncora (Ca-
minha), Monte da Assunção (Monção), Correlhã (Ponte de Lima), Favais
(Paredes de Coura), Cividade de Paderne (Melgaço), Riba de Mouro (Monção),
Citânia de Santa Luzia (Viana do Castelo) e Castro de Vilar (Arcos de Valde-
vez).
No distrito de Braga elas surgem em quatro estações arqueológicas: Ci-
tânia de Briteiros (Guimarães), Castro de Monte Redondo (Braga), Castro de
Sabroso (Guimarães) e Castro de Santo Ovídio (Fafe).
No Distrito de Vila Real até hoje apenas se encontraram dois trísceles,
ambos provenientes do Castro de Cortinhas, encontrando-se depositados na
colecção Marciano Azuaga, no Solar Condes de Resende, em V. N. de Gaia.
De Bragança conhece-se apenas um hexásceles, proveniente do concelho
de Vimioso (VASCONCELOS, 1913).
Por fim, no Distrito do Porto, que apresenta os exemplares situados mais
a sul, os mesmos são provenientes do Monte Mozinho (Penafiel), da Citânia
de Sanfins (Paços de Ferreira) da Cividade de Terroso (Póvoa de Varzim) de
do castro de Vandoma (Paredes).

2. trísceles, tetrásceles e outros motivos afins


Os motivos que aqui estudamos totalizam actualmente mais de 130 exem-
plares, distribuindo-se por 34 sítios arqueológicos. O seu inventário e descrição
já foram por nós efectuados em outro trabalho ainda não publicado (COIM-
BRA, 2007).
Os Castros que contribuem com o maior número de peças são: Santa Tecla
(La Guardia, Pontevedra) com vinte e sete casos, Castromao (Orense) com
quinze, Armea (Orense) com treze, Briteiros (Guimarães, Braga) com onze,
Rubiás (Orense) com sete e Monte Mozinho (Penafiel, Porto) com seis. Em
todos os outros sítios o número de exemplos é igual ou inferior a quatro.
Relativamente ao número de braços predominam os trísceles, com setenta
e sete exemplos, seguindo-se os tetrásceles com vinte e dois e os hexásceles
com dezasseis. Os elementos arquitectónicos com cinco, oito, nove e mais bra-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 255


ços são muito menos fre-
quentes, como se pode ob-
servar pelo seguinte gráfico:

Para esta análise quanti-


tativa, contabilizámos tam-
bém as peças de proveniência
desconhecida, mas não in-
cluímos os exemplares com
número de braços duvidoso
devido a má conservação.
Uma vez que se torna
Quadro 1-Número de braços das suásticas curvas existen-
tes em elementos arquitectónicos impraticável abordar aqui
todos os exemplares existen-
tes, apresentamos seguidamente apenas alguns casos mais emblemáticos.
Alguns trísceles apresentam aberturas intercaladas entre os seus braços,
de modo a deixar passar o ar, como acontece com seis exemplares de Castro-
mao3, três de Santa Tecla, dois de Santa Luzia, dois de Briteiros (Figura 1) e
um de Mozinho. Nestes casos deveriam ter um valor funcional, para além das
suas possíveis características simbólicas, servindo como eventuais ventilado-
res. Martins Sarmento, A. Viana, M. Oliveira, M. Cardozo e Fátima Silva cha-
mam a estas peças “trísceles vazados” (SARMENTO, 1899-1903; 2; VIANA
e OLIVEIRA, 1954: 63; CARDOZO, 1976: 40; SILVA, Mª F. 1986: 47).
Dentro da variante denominada trísceles existem alguns sobre fundo re-
baixado, que produzem um belo efeito estético, como acontece com um exem-
plar de S. Cibran das Lás, pertencente à colecção do Museu Arqueológico
Provincial de Orense. Um motivo muito semelhante foi encontrado no Castro
da Assunção em Monção (MARQUES, 1985).
Em Favais, Paredes de Coura, encontrou-se um trísceles com uma tipo-
logia pouco vulgar quando comparado com outros exemplares, pois os braços
do motivo enrolam-se sobre si mesmos (Figura 2).
Relativamente aos tetrásceles existem também exemplares executados
sobre fundo rebaixado, como acontece com peças provenientes de Briteiros,
Paderne e do Castro de St.º Ovídeo (Fafe), entre outras, surgindo em pedras

Pág. 256 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


de secção cilíndrica ou de secção quadrangular.
Alguns destes motivos encontram-se inseridos
numa moldura circular em relevo.
No Castro de Santa Tecla apareceram
suásticas curvas que denominamos como te-
traespirais (Figura 3) e pentaespirais, não exis- Figura 1. Trísceles vazados
tindo peças com esta tipologia nas pedras de Briteiros
decoradas de outras estações da Cultura Cas-
treja. Curiosamente, este tipo de suástica surge em punhais de Micenas (MÜL-
LER, 1886: 7) e em espadas e fivelas de cinturão da Idade do Ferro do Norte
da Europa (WILSON, 1894: Fig. 208-209), apresentando um losango no cen-
tro, tal como naquele castro do Noroeste peninsular.
No âmbito dos tetrásceles é ainda de considerar o denominado Nó de Sa-
lomão (Figura 4). Trata-se de uma variante da suástica
que utiliza simultaneamente braços rectos e curvos.
Alguns autores chamam-lhe “suástica do Alto Minho”
o que é incorrecto, pois este motivo surge em mosai-
cos romanos por todo o Império (COIMBRA, 1999b).
Quanto aos hexásceles, alguns apresentam um pe-
queno orifício no centro, transmitindo ao símbolo uma
ideia de rotação em torno de um eixo, sendo estes moti-
vos designados por alguns autores como “suástica fla- Figura 2. Trísceles de Favais
mejante” (VASCONCELOS, 1913; CARDOZO, 1980). (segundo SILVA, 1992)
Exemplos deste tipo podem ser vistos no Museu Muni-
cipal de Caminha, provenientes da Cividade de Âncora.
As suásticas curvas de seis braços surgem quer
em pedras de secção quadrangular (Castro de Armea,
San Cibrán das Lás, etc.), quer de secção cilíndrica (Ci-
vidade de Âncora, Santa Tecla e Rubiás, entre outros).

3. A problemática da cronologia
As dificuldades de datação dos elementos arqui-
tectónicos com suásticas de braços curvos assentam Figura 3. Suástica curva te-
traespiral (segundo TAMUXE,
no facto de a maioria ter aparecido fora de contexto, 1987a)

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 257


reutilizados como material de construção, ou em es-
cavações antigas, mal documentadas. Todavia, Car-
ballo Arceo apresenta argumentos extremamente
coerentes que clarificam um pouco esta questão e que
não podemos deixar de transcrever. Diz o autor:
“Resulta dificilmente fundamentável que, que-
réndose datar a orixe da plática castrexa no cámbio
de era, cinquenta ou setenta anos despois, desapareza. Figura 4. Nó de Salomão pro-
veniente da Cividade de Ân-
Isto último non poderia explicar, en primeiro lugar, o cora
porqué da sua grande dispersión, número e arraigo,
nen, en segundo lugar, a sua grande similitude formal coa decoración da cerá-
mica e orfebrería prerromana” (CARBALLO ARCEO, 1996: 69). De facto,
não faz sentido atribuir uma vida de apenas sessenta ou setenta anos a uma arte
que tem inúmeros exemplares dispersos pelo Noroeste Peninsular. Refira-se
que, só no caso das suásticas, elas são mais de cento e trinta, existindo na plás-
tica castreja motivos muito diversos como rosáceas, espinhas de peixe, círculos,
entrelaços e SS, entre outros, que aqui não contabilizamos. Para além disso,
os castros ainda não escavados são em número muito maior que aqueles que
tiveram trabalhos arqueológicos, sendo de prever que a longo prazo apareçam
mais pedras decoradas.
Continuando a citar Carballo Arceo, este investigador questiona se a arte
castreja em pedra aparece no séc. I d.C., por influência romana, como alguns
pretendem, por que razão a decoração arquitectónica e os guerreiros só existem
na sub-área meridional da Cultura Castreja e não na setentrional? (CAR-
BALLO ARCEO, 1996). Para aquela datação estar correcta, seria lógico que
também existissem exemplos no restante território da cultura referida, o que
não se verifica.
Para Calo Lourido (1994a), a plástica castreja é apenas arte provincial ro-
mana datada do séc. I d.C., opinião defendida também por C. A. Ferreira de
Almeida (1986). Todavia, este último, embora atribua uma cronologia Júlio-
Cláudia para os elementos estudados nesta secção, refere que “toda esta gra-
mática decorativa nada deve à arte romana. Sem dúvida que ela foi retirada da
ornamentação da cerâmica e das peças de bronze e de ourivesaria castrejas”.
(ALMEIDA, 1986: 164). De facto, a utilização de suásticas curvas na fase final

Pág. 258 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


da cultura castreja parece ser uma sobrevivência de tradições mais antigas que
devem remontar, pelo menos, à Idade do Bronze.
No Monte Mozinho têm aparecido pedras decoradas castrejas reutilizadas
como material de construção em época Flávia (SOEIRO, 1984). Calo Lourido
(1994a) utiliza este facto como fundamental para datar esta arte da primeira
metade do séc. I d.C. Todavia, no mesmo castro encontraram-se elementos de
plástica castreja em níveis augustanos e, em outros povoados, estes elementos
arquitectónicos surgem como material de construção logo em época Júlio-Cláu-
dia. É um facto que contradiz os autores que referem que a elaboração destas
peças não pode ser anterior à época de Augusto.
Por outro lado, para L. X. Carballo Arceo, “certas pezas e temas da es-
cultura castrexa teñen cronoloxia prerromana ainda que perviven ata comenzos
da nosa Era” (CARBALLO ARCEO, 1996: 65). De facto, encontraram-se pe-
dras decoradas no Castro da Forca (Pontevedra), cuja derradeira fase de ocu-
pação está compreendida entre os finais do séc. II a.C. e os finais do séc. I a.C.,
portanto com anterioridade à conquista romana do Noroeste (IDEM, IBIDEM).
Para além disso, em 1979, apareceu in situ na Cividade de Âncora uma pedra
de secção cilíndrica com um hexásceles. O seu descobridor, A. C. F. da Silva
atribui-lhe uma “cronologia adequada à fase IIIA anteriormente às reformas
ocorridas a partir da época de Augusto” (SILVA, 1986a: 63). Ora, para este
autor, a referida fase estende-se precisamente entre os finais do séc. II a.C. e
os finais do séc. I a.C., cronologia contemporânea do último período de ocu-
pação do Castro da Forca, onde aparece plástica castreja. Curiosamente, Calo
Lourido (1994a) refere muito sinteticamente esta peça, indicando como biblio-
grafia a Tese de Doutoramento de A. C. F. da Silva, mas não indica a página
63, que é aquela que fornece os dados mais esclarecedores e propõe uma cro-
nologia pré-romana para este elemento arquitectónico.
Para além dos exemplos do Castro da Forca e da Cividade de Âncora,
existe o caso do Castro de Sabroso, que nunca foi romanizado, e forneceu um
trísceles que, nesse caso, terá que ser obviamente pré-romano. 4
Calo Lourido não tem aceite as datações atribuídas à plástica castreja en-
contrada nestes três castros, insistindo numa cronologia do séc. I d.C. Contudo,
em 1997, escavações em Castromao revelaram um elemento arquitectónico
com trísceles encontrado em associação com cerâmica castreja, sendo, de

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 259


acordo com análises laboratoriais, o conjunto datado de 62 a.C. (Figura 5)5.
Em 2001, novas escavações revelaram outro trísceles que poderá ser datado
do séc. I a.C.6.
Estes importantes achados trazem mais luz sobre a questão da cronologia
destas peças, pois podem ser um contributo decisivo para resolver a proble-
mática da datação das pedras castrejas com suásticas, pelo menos no que se
refere à sua origem pré-romana. De facto, já antes destes achados Carballo
Arceo referia que “é certo que existen datos para afirmar que en boa parte da
primeira metade do séc. I d.C. a plástica castrexa estivo plenamente en vigor,
pero o que non existen son razóns para negar que (...) determinadas pezas e
temas da escultura castrexa, como a decoración arquitectónica, son de orixe
prerromana” (CARBALLO ARCEO, 1996: 69).
Como já referimos, o problema da datação da escultura arquitectónica
castreja tem a ver com o facto de a maioria dos casos não ter contexto arqueo-
lógico seguro. Todavia os novos achados de Castro-
mao, juntamente com os exemplos do Castro da
Forca, da Cividade de Âncora e de Sabroso são im-
portantes contributos para a datação destas produções
artísticas.

4. Motivos simbólicos ou apenas decorativos?


As suásticas curvas tratadas neste artigo terão Figura 5. Fragmento de trísce-
valor simbólico ou serão meramente ornamentais? les vazado de Castromao (foto
de Luís Orero)
Vejamos a opinião de alguns dos mais importantes es-
tudiosos 7 da cultura castreja:
Martins Sarmento, analisando as suásticas existentes em alguns castros
do Norte de Portugal considera-as “um grupo de sinais simbólicos compreen-
didos por estes povos do extremo ocidente (…) formando um corpo de tradi-
ções ainda vivas” (SARMENTO, 1933: 21). Leite de Vasconcelos referiu a
sobrevivência destes motivos nas lápides funerárias luso-romanas e concluiu
que as suásticas “postas em paredes de edifícios, ou nas pedras das campas (…
) protegiam, ao que parece, os vivos e os mortos contra a influência dos espí-
ritos malignos, ou attrahiam os espíritos benévolos” (VASCONCELOS, 1913:
80). Para Lopéz Cuevillas, “estos signos grabados ou esculpidos en las piedras

Pág. 260 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


conserbavan un valor profiláctico que se evidencia en su perduración en estelas
sepulcrales de época romana” (LOPÉZ CUEVILLAS, 1953: 455). Mário Car-
dozo alude por diversas vezes ao carácter simbólico das pedras com suásticas
aparecidas na Citânia de Briteiros (CARDOZO, 1976; IDEM, 1980). Para
Alain Tranoy, “les svastikas abondent en effet parmi les motifs de décoration
des pierres des castros et, plus qu’un élèment de décor, ces symboles expriment
le rôle religieux du soleil dans la mentalité des peuples des castros” (TRANOY,
1981: 118). Armando Coelho F. da Silva refere que “as soleiras, ombreiras e
padieiras de algumas portas são ornamentadas com elementos característicos
que evocam uma simbologia religiosa de fundo ancestral, utilizando a decora-
ção geométrica típica da cultura castreja, em corda, espinha (…), tríscelos, si-
nais cruciformes, serpentiformes ou motivos congéneres” (SILVA, 1999: 14).
Outros autores portugueses e galegos manifestam a mesma opinião.
Por outro lado, para F. Calo Lourido (1993; 1994a), A. de la Peña Santos
e Bello Diéguez (1995), a arte castreja é apenas decorativa. Este dois últimos
autores referem que, “pese a la gran cantidad de hipótesis que se han venido
barajando para comprender la simbología de esta temática, en la actualidad
cobra auge la idea de que, al menos en la época en que aparecen en el mundo
galaico las piezas localizadas hasta el presente, casi con total seguridad su valor
era meramente ornamental” (BELLO DIÉGUEZ e PEÑA SANTOS, 1995).
Todavia, estes investigadores não indicam em que factos ou em que estudos
se baseiam para chegar a essas conclusões, tratando-se assim de ideias muito
discutíveis e subjectivas que não demonstram, de modo nenhum, nada do que
afirmam, pois não apresentam nem exemplos nem argumentos sólidos. Uni-
camente decidiram, apenas em dezoito linhas de texto e de modo muito sub-
jectivo, que não existia simbolismo, sem recorrer a uma análise profunda dos
motivos em questão. Para além disso, o facto de se afirmar “casi com total se-
guridad”, sem apresentar argumentos, não é aceitável numa linha de arqueo-
logia interpretativa post-processual. Para Shanks e Hodder, “final and definitive
interpretation is a closure wich is to be avoided, suspected at the least
(SHANKS e HODDER, 1995: 6).
Relativamente à ideia de que a arte castreja não tem valor simbólico torna-
se necessário referir que alguns dos motivos representados em elementos ar-
quitectónicos surgem também em arte rupestre da mesma época. Por exemplo,

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 261


em Santa Tecla existiu um Nó de Salomão insculturado numa fraga, entretanto
destruída, mas do qual existem imagens. No Castro de Guifões encontrou-se
um tetrásceles associado a outras gravuras rupestres como covinhas e “gan-
chos” (COIMBRA, 1999c). No Monte Mozinho descobriu-se uma suástica
gravada numa rocha (SOUSA, 1998) que, tal como os dois exemplos prece-
dentes, não tem valor ornamental, pois a arte rupestre é actualmente conside-
rada pela maior parte dos especialistas como tendo características
simbólico-religiosas.
Para além disso, como muito bem escreveram Ruth e Vincent Megaw, “to
assume, therefore, that elements are ‘decorative’ or ‘ornamental’ simply be-
cause they are not openly representational or narrative, is a culture-bound in-
terpretation which is not universally applicable” (MEGAW e MEGAW, 1994:
294-295).
Em suma, deve-se evitar afirmar que tal motivo é simbólico ou apenas
ornamental só por afirmar. Torna-se necessário contextualizar essas referências
e não lançar frases avulsas, independentemente de um contexto histórico e ar-
queológico. Como referem Renfrew e Bahn, “los arqueólogos processual-cog-
nitivos (…) creen que las teorías han de ser contrastadas con los hechos”
(RENFREW e BAHN, 1993: 452). Nós pensamos do mesmo modo.
Para nós, as pedras dos castros com suásticas curvas são elementos de ca-
rácter profiláctico, destinadas a proteger as casas. O comprimento de algumas
delas mostra que se destinavam a ficar bem salientes das paredes, em posição
de destaque8, “como sobresalian también las cabezas porcinas de Paderne y de
Vila de Sen, pudiendo pensarse (…) en la existencia de una especie de religión
de la casa, destinada a proteger a esta contra los males de que aun no hace
mucho las amparaban los cuernos de carnero y herraduras colocadas cerca de
las puertas de la vivienda” (LÓPEZ CUEVILLAS, 1953: 456).
Em apoio destas ideias podemos referir uma gravura rupestre da Rocha
29 de Foppe di Nadro, em Valcamónica, onde existe uma suástica em frente
da representação de uma cabana datada do final da Idade do Ferro. Elena Mail-
land, arqueóloga que estudou estas gravuras, refere-se à associação destes mo-
tivos como tendo “significato apotropaico di conferimento di prosperità all’
abitazione” (MAILLAND, 2005: 58; Fig.11-Fig.11bis).
Outro estudo recente, da autoria de A. González-Ruibal (2006), coloca

Pág. 262 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


em evidência o carácter simbólico da casa durante a Idade do Ferro. O autor
refere que “some elements point to the importance of houses from a ritual point
of view: the most striking feature (...) is the presence of quite elaborate stone
carvings with an obvious cosmological meaning: triskels and swastikas are
among the most recurrent symbols depicted in Iron Age domestic sculptures
(...). Swastikas and triskels are well known Indoeuropean motives (...) with
apotropaic functions” (GONZÁLEZ-RUIBAL, 2006: 157).
Ora, se a própria casa é considerada simbólica, é natural que as suásticas
curvas que nelas aparecem também o sejam, uma vez que no seio da mesma
cultura encerram simbolismo quando surgem em fivelas de cinturão, em arte
rupestre e em saunas rituais, entre outros exemplos (COIMBRA, 2007).
A necessidade de protecção do lar observa-se em pleno Período Romano,
onde era costume enterrar machados neolíticos de pedra polida junto aos ali-
cerces de uma nova casa, com o objectivo de a proteger dos raios provocados
por uma trovoada. Curiosamente, ainda hoje, na região de Alcobaça, aqueles
machados são conhecidos por “pedra de raio”, acreditando os camponeses que
possuem poder efectivo de protecção durante uma tempestade, (informação
pessoal de um habitante da Freguesia de Évora de Alcobaça). Trata-se, por-
tanto, de uma crença que sobrevive ao longo de quase dois mil anos, existindo
outros exemplos no campo da utilização de símbolos diversos.
Entretanto deve-se sublinhar que no Noroeste da Península Ibérica a uti-
lização de suásticas remonta pelo menos à Idade do Bronze (PEÑA SANTOS,
1987), surgindo com carácter simbólico, e não decorativo, em diversas lajes
insculturadas (COIMBRA, 1999b). Uma vez que é um dado comummente
aceite que a Cultura Castreja tem a sua génese em culturas autóctones do
Bronze Final, é racional admitir que o simbolismo da suástica tenha sobrevi-
vido até à Idade do Ferro. Um facto inegável é que o mesmo tipo de suásticas
de braços curvos presentes nos castros (trísceles, tetrásceles e hexásceles) so-
brevive, simbolicamente, em pleno séc. II e séc. III d.C. nas lápides funerárias
de indivíduos com nome indígena, descendentes dos seus avós castrejos
(COIMBRA, no prelo). Deste modo é lógico aceitar a ideia de simbolismo para
os elementos arquitectónicos castrejos com suásticas curvas, sendo os mais re-
centes apenas cerca de um século mais antigos que algumas daquelas lápides.
Para além disso, verifica-se que inúmeros autores atribuem carácter sim-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 263


bólico às suásticas existentes nas “Pedras Formosas” (COIMBRA, 2007).
Sendo assim, esses mesmos motivos que surgem lavrados em pedras perten-
centes a habitações particulares devem ter um significado semelhante aos re-
presentados naqueles monumentos, não se tratando apenas de decoração como
alguns têm pretendido.

5. considerações finais
Durante a Idade do Ferro na Península Ibérica, trísceles, tetrásceles e mo-
tivos afins em elementos arquitectónicos são temas específicos da Cultura Cas-
treja, não existindo paralelos em outras regiões, à excepção de apenas três
casos: duas grandes “estelas” existentes no Museu de Prehistória e Arqueologia
de Santander, cada uma com um pentásceles, sendo ambas provenientes de
Lombera (Cantábria); uma pedra prismática com vários trísceles, que obser-
vámos em 2003 no Museu de São Telmo (Bilbau).
Fora do âmbito geográfico aqui estudado, as suásticas curvas surgem em
artefactos como pontas de lança, espadas, capacetes, escudos e placas de cin-
turão, datados da Idade do Ferro9, presença que faz pensar num valor de pro-
tecção durante a guerra, no seio de povos onde os guerreiros teriam um
destacado papel na sociedade.
Estes exemplos reforçam a ideia de carácter profiláctico dos motivos es-
tudados neste artigo, que seriam símbolos protectores das casas e dos seus ha-
bitantes. Para González-Ruibal, as casas provavelmente seriam vítimas de
“mau-olhado”, sendo desse modo necessário protegê-las com os mesmos ta-
lismãs que guardavam as pessoas (GONZÁLEZ-RUIBAL, 2006).
Os “mais civilizados” romanos também utilizavam amuletos para protec-
ção das suas habitações, acontecendo ainda o mesmo actualmente com as fer-
raduras penduradas atrás da porta de entrada de algumas casas como símbolo
propiciador de boa sorte e remédio contra o mau-olhado. De facto, como es-
creveu Ernst Cassirer (citado por RENFREW, 1994) o homem é um animal
symbolicum.
Todavia, a interpretação detalhada de símbolos em arqueologia necessita
de um método de abordagem cuja explanação não se torna possível nestas pá-
ginas. É por esta razão que não apresentamos nenhuma hipótese interpretativa
aprofundada sobre os motivos aqui estudados. Os interessados num maior de-

Pág. 264 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


senvolvimento poderão consultar a metodologia e a interpretação contextuali-
zada que propomos na nossa tese de Doutoramento (COIMBRA, 2007).

Agradecimento: Queremos manifestar aqui o nosso sincero agradeci-


mento ao Dr. Luís Orero Grandal, director das escavações em Castromao, pela
cedência de fotografias e informações diversas sobre materiais ainda não pu-
blicados. Agradecemos também a autorização para reproduzir a foto que apre-
sentamos na Fig.5, até então inédita.

Bibliografia
ALMEIDA, C. A. F. de (1975) – Influências meridionais na Cultura Castreja. Actas do XIII Congreso
Nacional de Arqueologia, Zaragoza: 491-498.
ALMEIDA, C. A. F. de (1986) – Arte Castreja. A sua lição para os fenómenos de assimilação e resistência
à romanidade. Arqueologia, 13. GEAP, Porto: 161-172.
BELLO DIEGUEZ, J. M. e PEÑA SANTOS, A. de la (1995) – El Mundo Castrexo Galaico, in Historia de
Galicia, Tomo I. Via Láctea Ed. (versão on-line) www.elpater.com/cap8.html: 1-18.
CALO LOURIDO, F. (1993) – A Cultura Castrexa. Promoções Culturais Galegas, Vigo: 147-151.
CALO LOURIDO, F. (1994a) – A Plástica da Cultura Castrexa Galego-Portuguesa, vol. I e II. Fundación
Pedro Barrié de la Maza Conde de Fenosa, La Coruña: 63-498; 509-666.
CALO LOURIDO, F. (1994b) – Manifestacións da Plástica Castrexa na Província de Lugo. Croa, 4. Aso-
ciación de Amigos do Museo do Castro de Viladonga, Castro de Rei: 10-11.
CALO LOURIDO, F. (1998) – Peculiaridades plásticas do Monte Mozinho. Cadernos do Museu, 2. Museu
Municipal de Penafiel: 155-157; 183-184.
CARBALLO ARCEO, L. X. (1989) – Catálogo dos materiais arqueolóxicos do museu do Castro de Santa
Trega: Idade do Ferro. Diputación Provincial de Pontevedra: 108-111; 146-150.
CARBALLO ARCEO, L. X. (1996) – Notas en torno á cronoloxía do Castro da Forca e da plástica castrexa.
Minius, V. Revista do Departamento de História, Arte e Xeografía. Universidad de Vigo, Campus de Ourense:
65-75.
CARBALLO ARCEO, L. X. e GONZÁLEZ-RUIBAL, A. (2003) – A Cultura Castrexa do NW da Península
Ibérica en Galicia. Boletín Avriense, XXXIII. Museo Arqueolóxico Provincial, Ourense: 44-75.
CARDOZO, M. (1976) – Citânia de Briteiros e Castro de Sabroso: Notícia Descritiva (7ªedição). Sociedade
Martins Sarmento, Guimarães: 26-42; Est. XVI-XX.
CARDOZO, M. (1980) – Especímenes de Suásticas do Museu Arqueológico de “Martins Sarmento” em
Guimarães (Portugal). Companhia Editora do Minho. Barcelos: 3-24.
COIMBRA, F. A. (1999a) – A Swastika durante a Idade do Ferro na Faixa Ocidental Atlântica da Península
Ibérica: uma nova proposta de interpretação, in Actas do II Congresso de Arqueologia Peninsular. Univer-
sidade de Alcalá/Fundación Rey Afonso Henriques, Zamora: 365-373.
COIMBRA, F. A. (1999b) – Algumas considerações sobre a Arqueologia da Suástica, in Centenário da So-
ciedade Arqueológica da Figueira 1898-1910. Museu Municipal Dr. Santos Rocha, Figueira da Foz: 81-92.
COIMBRA, F. A. (1999c) – A Suástica do Castro de Guifões e alguns paralelos europeus. Matesinus, nº 3.
Gabinete de Arqueologia e História de Matosinhos: 107-112.
COIMBRA, F.A. (2007) – A suástica em Portugal e na Galiza, desde a Idade do Bronze ao fim do Período
Romano: problemática da origem e da interpretação (policopiado). Dissertação de Doutoramento apresentada
à Universidade de Salamanca e à Universidade Autónoma de Lisboa.
COIMBRA, F. A. (no prelo) – Lápides funerárias romanas com suástica em Portugal e na Galiza. Anuário
Brigantino, 30. Arquivo e Biblioteca Municipais de Betanzos (A Coruña).

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 265


COIMBRA, F. A.; TOSANA, M. (2007) – Il Nodo di Salomone nella Penisola Iberica. Dall’arte castreña ai
tempi moderni: approccio preliminare. Actas do Congresso Simboli nei Millenni (Cdrom). Dipartimento
Valcamonica del Centro Camuno di Studi Preistorici, Brescia.
CONDE-VALVIS FERNANDEZ, F. (1950-51) – La “Cibdá” de Armea, en Santa Marina de Aguas Santas.
Boletin del Museo Arqueológico Provincial de Orense, VI. Museu Arqueológico Provincial de Orense: 42-
45.
GONZÁLEZ-RUIBAL, A. (2005) – Artistic Expression and Material Culture in Celtic Gallaecia. E-Keltoi,
6. University Wisconsin Milwaukee, www.uwm.edu/Dept/celtic/ekeltoi/volumes.html: pp. 1-38.
GONZÁLEZ-RUIBAL, A. (2006) – House societies vs. kinship-based societies: An archaeological case
from Iron Age Europe. journal of Anthropological Archaeology, 25. Elsevier, s/l: 155-158.
LÓPEZ CUEVILLAS, F. (1953) – La Civilización Céltica en Galicia. Porto y Cia. Editores, Santiago de
Compostela: 455-458.
LÓPEZ CUEVILLAS, F. e LORENZO FERNANDEZ, J. (1946) – Las Habitaciones de los Castros. Cua-
dernos de Estudios Galegos, 2, Santiago de Compostela: 53-62.
MAILLAND, E. (2005) – Età del Ferro in Valcamonica: nuove acquisizioni. Contributo della roccia 29 di
Foppe di Nadro, in Foppe di Nadro Sconosciuta-Dalla cartografia GPS alle analise più recenti. Atti della Iª
giornata di studio sulle incisioni rupestri della Riserva Regionale di Ceto, Cimbergo e Paspardo. Morphosis,
Monza: 51-58.
MARQUES, J. A. T. M. (1985) – Castros do Concelho de Monção. Trabalho realizado no âmbito das provas
de capacidade científica e aptidão pedagógica. Faculdade de Letras da Universidade do Porto: 125-126;
Fig.44.
MARTINS, M. (1991) – O povoado de Santo Ovídio (Fafe). Resultados dos trabalhos realizados entre 1980-
1984, in Cadernos de Arqueologia – Monografias. Universidade do Minho, Braga: 7-8; 89-90; 99; Fig. 64
MARTíNEZ TAMUXE, X. (1987a) – Citânia y Museo Arqueológico de Santa Tecla (2ª edição). Sociedade
Pro-Monte, La Guardia: 117-122.
MARTíNEZ TAMUXE, X. (1987b) – Aportación al Estudio de la “Típica esvástica del Alto Miño” Luso-
Galaico. Museo y Archivo HistóricoDiocesano de Tuy, 4. MAHDT, Tuy: 405-418.
MEGAW, R. e MEGAW, V. (1994) – Through a window on the European Iron Age darkly: fifty years of
reading early Celtic art. World Archaeology, 25, n.º 3. Institute of Archaeology, University College, London:
287-303.
MÜLLER, S. (1886) – L’ origine de l’ Âge du Bronze en Europe. Matériaux pour l’Histoire Primitive et
Naturelle de l’Homme, série 3, Vol. XX. Reinwald, Librairie, Paris : 7.
ORERO GRANDAL, L. (2008) – Intervención arqueolóxica no xacemento de Castromao, Campo de traballo
arqueolóxico, Celanova (Ourense). Actuacións Arqueológicas 2006. Xunta de Galicia: 29-30.
PEÑA SANTOS, A. de la (1987) – Cuatro conjuntos de grabados rupestres en la Paroquia de Tourón (Pon-
tevedra). Cuadernos de Estudios Galegos, XXXVII Santiago de Compostela: 11-25.
RENFREW, C. (1994) – The archaeology of religion, in The ancient mind. Cambridge University Press,
Cambridge: 47-54.
RENFREW, C. e BAHN, P. (1993) – Arqueologia. Teorias, Métodos y Práctica. Ediciones Akal, S. A., Ma-
drid: 355-387; 425-455.
SARMENTO, F. M. (1899-1903) – A Arte Mycenica no Noroeste de Hispanha. Portugália, vol.I. Porto: 1-
12.
SARMENTO, F. M. (1933) – Arte Pré-romana, in Dispersos. Imprensa da Universidade, Coimbra: 19-21.
SHANKS, M., e HODDER, I. (1995) – Processual, Postprocessual and Interpretive Archaeologies, in In-
terpreting Archaeology. Routledge, London: 3-18.
SILVA, A. C. F. (1983-84) – A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal: Habitat e cronologias. Portugalia,
Nova Série, 4-5. IAFLUP, Porto: 121-129.
SILVA, A. C. F. (1986) – A Cultura Castreja do Noroeste de Portugal. Museu Arqueológico da Citânia de
Sanfins, Paços de Ferreira: 31; 48-67; 231-251; 286-316.

Pág. 266 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


SILVA, A. C. F. (1999) – A Cultura Castreja no Norte de Portugal. Actas do Congresso de Proto-história
Europeia, Revista de Guimarães, Volume Especial I. SMS, Guimarães: 111-132.
SILVA, M.ª de F. M. da (1986) – Subsídios para o estudo da Arte Castreja. Revista de Ciências Históricas,
I. Universidade Portucalense, Porto: 31-68.
SILVA, M.ª de F. M. da (1987) – Subsídios para o estudo da Arte Castreja: Arte Decorativa Arquitectónica.
Revista de Ciências Históricas, II. Universidade Portucalense, Porto: 121-147.
SILVA, Mª. F. M. (1992) – Documentos para a Carta Arqueológica de Paredes de Coura: Tríscele e mós ro-
tativas de Favais (Moselos). Cadernos de Arqueologia e Património, 1. Câmara Municipal de Paredes de
Coura: 33-36.
SOEIRO, T. (1984) – Monte Mozinho. Apontamentos sobre a ocupação entre Sousa e Tâmega em época
romana. Penafiel, Boletim Municipal de Cultura, 3ª série, nº 1. Câmara Municipal de Penafiel: 265; Est.
XXI.
SOUSA, O. (1998) – Monte Mozinho: os petróglifos. Cadernos do Museu, 2. Museu
Municipal de Penafiel: 119-123.
TRANOY, A. (1981) – La Galice romaine: recherches sur le Nord-Ouest de la Péninsule Ibérique dans l’An-
tiquité. Diffusion de Boccard, Paris: 176-177; 317; 332; 347-361.
VASCONCELOS, J. L. de (1913) – Religiões da Lusitânia, Vol. III. Imprensa Nacional, Lisboa: 71-80; 428-
435.
VASCONCELOS, J. L. de (1933) – Castros lusitanicos I. Cividade de Paderne. O Arqueólogo Português,
XXIX. Museu Etnológico do Dr. Leite de Vasconcelos, Lisboa: 37-38.
VIANA, A. e OLIVEIRA, M.S. (1954) – “Cidade Velha” de Santa Luzia (Viana do Castelo). Revista de
Guimarães, LXIV, Sociedade Martins Sarmento, Guimarães: 48-55; 63; Est.IV.
WILSON, T. (1894) – The Swastika: the earliest known symbol and its migrations. Report of the U. S. Na-
tional Museum, Washington (versão on-line). www.northvegr.org/swastika/index.php

1
Trísceles, do grego τρισχελής (triskeles), palavra derivada de tria skelia, que significa “três pernas”; tetrásceles,
também do grego τετρασχελής (tetraskeles) palavra derivada de tetra skelia, “quatro pernas”; pentásceles do
grego πέυτασχελής (pentaskeles) derivada de penta skelia, “cinco pernas” e assim sucessivamente.
2
Uma lista bibliográfica mais completa sobre este tema pode ser vista em COIMBRA, 2007.
3
Cinco deles encontrados em escavações realizadas entre 1997 e 2008 (comunicação pessoal de Luís Orero), es-
tando todos inéditos à excepção de um, publicado recentemente (ORERO GRANDAL, 2008).
4
As sondagens de A. C. F. da Silva em Sabroso indicam, segundo o autor, “um período final de ocupação que
não entra na fase IIIB” (SILVA, 1986a: 31), ou seja, que não entra no câmbio de era.
5
Informação pessoal de Luís Orero, arqueólogo responsável pelas escavações referidas.
6
Entre 1997 e 2008 encontraram-se em Castromao cinco trísceles vazados e outros dois com outra tipologia, es-
tando apenas um publicado (ver nota 3).
7
Mencionamos apenas alguns dos estudiosos da Cultura Castreja que abordaram as suásticas curvas com um
certo desenvolvimento e não aqueles que lhes fazem referências unicamente pontuais.
8
Um dos trísceles de Armea tem 76 cm de comprimento, ficando bastante saliente do paramento da parede.
9
Exemplos detalhados podem ser vistos em COIMBRA, 2007, p.584 e ss.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 267


cARActeRÍsticAs cAstReJAs dos PovoAdos do conce-
lho de vilA PoucA de AGuiAR
HILFORTS FEATURES OF THE MUNICIPALITY OF VILA POUCA DE
AGUIAR

Carlos Batata
OzeCaruS – ServiçOS arQueOLóGiCOS, Lda.; OzeCaruS.GeraL@teLe2.Pt

Resumo: Os períodos da Idade do Bronze e da Idade do Ferro são os grandes desconhe-


cidos da arqueologia aguiarense. Com efeito, a única referência aos castros do concelho, com
carácter científico, é muito sintética. Para além de uma referência genérica a 6 castros da Idade
do Ferro no concelho, inseridos na tese de Armando Coelho Ferreira da Silva (SILVA, 1986, p.
93), nada mais constava que existisse no concelho. O inventário do Endovélico, realizado em
2001 e 2002 pelo IPA, referenciou 12 castros da Idade do Ferro no concelho, porém, sem espe-
cificação das suas ocupações cronológicas, ou seja, ou eram indeterminados ou da Idade do
Ferro, interrogados, ou ainda da Idade do Ferro de uma forma genérica. Na prospecção realizada
para a Carta Arqueológica do Concelho de Vila Pouca de Aguiar, foi efectuada a caracterização
dos povoados um por um, de modo a permitir uma afinação cronológica, baseada na estruturação
das suas muralhas e nos parcos materiais recolhidos à superfície, dado que nestes nunca foram
realizadas escavações arqueológicas. Foi possível apurar algumas das suas características de-
fensivas e caracterizar alguma da sua cerâmica e objectos metálicos encontrados. Mas ficam
muitas questões por responder, como seja: como se estruturam as habitações castrejas? Serão
casas redondas, como as do Noroeste da Península Ibérica ou serão de planta quadrangular como
as da Meseta? Que objectos usavam? Como era a sua cerâmica? São apenas da Idade do Ferro,
ou apresentam também ocupação doutros períodos? Alguns estariam ligados à mineração? São
questões que só através de escavações arqueológicas é possível dar resposta, mas enquanto elas
não acontecem, apresenta-se nesta comunicação um ponto de situação relativo ao que se conhece
sobre eles.
Palavras-chave: Idade do Ferro, povoados fortificados, Vila Pouca de Aguiar.

Abstract: The Bronze Age and the Iron Age are the great-unknown ages of Vila Pouca de
Aguiar archaeology. In fact, the only reference of ancient hill forts in this council, of a scientific
character, is very scarce. Apart from a generic reference to six Iron Age hill forts in this council,
the Endovélico inventory, elaborated by IPA in 2001 and 2002, made reference to 12 Iron Age
hill forts. In the prospection undertaken for the archaeological guide to the Council of Vila
Pouca de Aguiar, the characterization of the settlements was done one by one, to permit a

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 269


chronological fine-tuning, based on the structure of it’s walls and the few materials gathered at
the surface. It was possible to find some of it’s defensive characteristics and to characterize
same of the ceramic and metallic objects found. But many questions are left unanswered. Are
they round houses, like the ones in the North-East of the Iberian Peninsula or are they of a quad-
rangular plan like those of the Meseta? Which objects did they use? What were their ceramics
like? Are they only from the Iron Age, or do they also show occupation from other periods too?
Were some linked to mining? These are questions that can only be answered through archaeo-
logical excavations, but while these excavations do not happen, we present this communication
as a report of what we know about this.
Keywords: Iron Age, fortified settlements, Vila Pouca de Aguiar.

1. introdução
Neste artigo vamos evidenciar as características que mais se destacam
dos povoados proto-históricos do concelho de Vila Pouca de Aguiar (Fig. 1).
As observações foram efectuadas quando procedíamos à prospecção para a
realização da Carta Arqueológica, apesar dos vários condicionalismos existen-
tes. Por um lado, a densa vegetação, não permitiu observar o solo em boas con-
dições e a recolha de cerâmicas foi escassa; por outro, a falta de bibliografia
sobre os castros aguiarenses e de escavações arqueológicas, também tornaram
bastante limitada a nossa per-
cepção das características des-
ses povoados. Uma descrição
mais completa poderá ser con-
sultada na Carta Arqueológica
de Vila Pouca de Aguiar, editada
em 2008 (BATATA et alli).

2. caracterização dos
Povoados

2.1 cactelo dos Mouros,


cidadelha de Jales
Área dos vestígios: 1 ha.
Características: Duas li-
Figura 1. Distribuição espacial dos cas-
tros do concelho de Vila Pouca de Aguiar

Pág. 270 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


nhas de muralhas construídas, a inferior, em aparelho poligonal nalguns pontos,
e pedra de granito de tamanho médio noutros; a superior é constituída por pedra
regular de granito nos paramentos exteriores, sendo o interior preenchido com
pedra de xisto. A defesa é complementada no flanco, que se prolonga para su-
doeste, na zona de mais fácil acesso, por um fosso largo escavado no aflora-
mento e dois mais estreitos, paralelos ao primeiro. Nos espaços entre fossos
poderão existir pedras fincadas, situação ainda não confirmada.
Materiais: Tégula e cerâmica da Idade do Ferro.
cronologia: Bronze Final (?), Idade do Ferro e Romano.

2.2 três castelos, Bornes de Aguiar


Área dos vestígios: 1,5 ha.
Descrição: Povoado fortificado, de fracas condições defensivas naturais,
com duas linhas de muralhas. A de topo, sobre um morro granítico, onde ainda
se vê parte da muralha da provável acrópole. Tem um fosso a defendê-lo do
lado oeste, ou seja, o lado de mais fácil acesso. A segunda muralha estende-se
pela encosta abaixo. As muralhas são integralmente construídas em pedra de
granito de tamanho médio.
Materiais: Cerâmica manual e de torno.
Cronologia: Bronze Final (?) e 2ª Idade do Ferro .

2.2 castro de s. Martinho, Bornes de Aguiar


Área dos vestígios: 1, 5 ha.
Descrição: Povoado fortificado sem boas condições defensivas naturais,
tendo um único acesso natural pelo lado sul, defendido por um duplo fosso.
Do lado sul, no ponto mais alto do cabeço, inicia-se a linha de muralha, detec-
tável facilmente por um elevado talude, que circunda o cabeço, formando um
recinto elíptico ou circular (acrópole). Numa cota inferior apresenta a 2ª linha
de muralhas.
Materiais: 1 frag. de cerâmica e ponta de dardo em ferro.
Cronologia: Idade do Ferro e Romano (?).

2.4 Monte do castelo, capeludos


Área dos vestígios: 0,5 ha.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 271


Descrição: Povoado sobranceiro à actual aldeia de Capeludos de Aguiar,
num monte-ilha, Não apresenta fosso defensivo e aparenta ter apenas uma mu-
ralha defensiva em aparelho poligonal de granito.
Materiais: Estátua de Guerreiro, cerâmica castreja e cerâmica negra de
Nantes.
cronologia: Idade do Ferro e Romano.

2.5 crasto de Pensalvos, Pensalvos


Área dos vestígios: 0,5 ha.
Descrição: O povoado fortificado desenvolve-se numa encosta de acen-
tuada inclinação e tem muralhas em granito de pedra de tamanho médio. A mu-
ralha de topo protege o acesso ao povoado, constituindo uma acrópole que é
antecedida por um fosso. Uma segunda linha de muralha detectada acompanha
o relevo da encosta, com troços unindo penedos.
Materiais: Cerâmica manual.
Cronologia: Bronze Final (?) e Idade do Ferro .

2.6 Paredes dos Mouros, Pensalvos


Área dos vestígios: 0,5 ha.
Descrição: Povoado fortificado. O acesso mais fácil e de mais fraca de-
fensibilidade situa-se a sul, onde existe um fosso. Parece ter uma única linha
de muralha, com 1,5 m de largura, de pedra partida de xisto.
Materiais: Cerâmica manual Bronze Ferro.
Cronologia: Bronze Final (?).

2.7 castelo de Pensalvos, Pensalvos


Área dos vestígios: 0,5 ha.
Descrição: Povoado fortificado. Do lado sul, onde se situa o acesso ao
povoado, existe um fosso defensivo. Foi possível verificar a existência de duas
linhas de muralhas ciclópicas em aparelho poligonal: uma que circunda um es-
paço mais elevado que corresponde à acrópole, muito rochosa e outra, mais
abaixo, com um maior diâmetro, que circunda uma área menos pedregosa.
Materiais: Cerâmica manual grosseira e fina (polida) e de torno.
Cronologia: Bronze Final (?), Idade do Ferro e Romano.

Pág. 272 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


2.8 Povoado do castelo de Aguiar, telões
Área dos vestígios: 1 ha.
Descrição: Povoado aberto (?) na Pré-história e fortificado (Idade do
Ferro) a meia-encosta da Serra do Alvão. Devido à construção de um estradão,
que pôs várias camadas arqueológicas à vista no talude, foi objecto de uma in-
tervenção arqueológica (JORGE, 1986), nos anos de 1982, 1983 e 1984, numa
área de 107 m2, tendo sido detectados vários níveis de ocupação da Pré-história
Recente, uma do Bronze Final e uma de Época Romana. Foram registados vá-
rios buracos de poste, estruturas habitacionais, um alinhamento de grandes pe-
dras que poderá corresponder a uma estrutura defensiva do Bronze Final, e
uma muralha provavelmente da Idade do Ferro. A estação pré-histórica terá
sido ocupada na 2ª met. do IIIº Milénio a. C. e nos início do IIº milénio.
Materiais: Cossoiros, pesos de tear, 2 denários republicanos de 46-45 e
49 a.C. A bibliografia dá conta da existência de uma inscrição romana que vem
no ILER e EE. 318: IOV[I]? / FIL / […] SE?.
Cronologia: Pré-história, Bronze Final, Idade do Ferro e Romano.

2.9 castro de telões, telões


Área dos vestígios: 1 ha.
Descrição: Povoado fortificado com duas muralhas. A acrópole é constituída
por muralha de pedra, construída com blocos regulares de granito assentes em seco,
com aparelho em fiadas regulares, que intersecta grandes batólitos O resto do po-
voado parece desenvolver-se pela encosta, onde deveria existir uma 2ª muralha.
Cronologia: Idade do Ferro.

2.10 cidadelha, cidadelhe de Aguiar


Área dos vestígios: 1 ha.
Descrição: Povoado fortificado, num cabeço aplanado e pouco pronun-
ciado Apresenta uma única linha de muralha de pedras de granito de tamanho
médio. A muralha só existe na parte norte e este, sendo naturalmente defendido
por batólitos de granito e encostas mais inclinadas dos outros lados. Foi cons-
truída com troços ligando rochedos.
Materiais: Frag. de cerâmica com pega mamilar.
Cronologia: Bronze Final.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 273


2.11 castelo da Ferramenta, vreia de Bornes
Área dos vestígios: 0,5 ha.
Descrição: Povoado fortificado localizado num cabeço em esporão. Tem
excelentes condições de defesa natural, com vertentes inclinadas dos lados nas-
cente, norte e poente. O acesso natural fica a sul, mas mesmo aqui a vertente
do cabeço é bastante inclinada. Tem duas linhas de muralhas, feitas com blocos
de granito de tamanho médio. A de topo, mais pequena, assenta sobre grandes
massas de afloramentos. Não parece ter fosso.
Cronologia: Idade do Ferro.

2.12 Murada da Quintã, vreia de Jales


área dos vestígios: 0,5 ha.
descrição: Povoado fortificado situado num cabeço rochoso em esporão.
Existem duas linhas de muralha, formando uma delas a acrópole, e no sector
oeste, parece haver uma entrada, protegida por um possível torreão, que dá
acesso à acrópole. As muralhas são constituídas por troços de muralha ligando
afloramentos rochosos graníticos. Dada a configuração do morro, é provável
que não tenha fosso defensivo.
cronologia: Bronze Final (?) e Idade do Ferro.

3. trabalho de campo
Os trabalhos de sondagem e escavação, inseridos no projecto “Caracte-
rização Arqueológica da Exploração Romana de Tresminas ” foram realizados
nos seguintes locais: Castro da Ribeirinha ou Castelo Redondo, em 2007 e Cas-
tro de Cidadelha de Jales (Castelo dos Mouros), em 2008.

3.1 castelo Redondo (Ribeirinha)


Povoado pouco provável. Tem boas condições defensivas naturais, sendo
acessível facilmente apenas pelo lado sul, onde se situa o colo do esporão. É
uma das zonas agrícolas, por excelência, da povoação de Ribeirinha. Os talu-
des, sucessivos e concêntricos, são plataformas agrícolas. Não se detectaram
materiais de superfície, nem mesmo na pequena parte do povoado que se en-
contra agricultada, exceptuando alguns pequenos e incaracterísticos fragmentos
de telhas finas. A sondagem arqueológica aí realizada, de 2 x 3 m, não revelou

Pág. 274 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


quaisquer materiais ou estruturas antigas.
A sondagem arqueológica foi implantada junto ao talude norte. Verificou-
se que, apesar da potência de solo ser significativa (cerca de 1 m de profundi-
dade), não existiam materiais arqueológicos ou estruturas junto ao afloramento,
sendo este constituído por blocos de afloramento bastante irregulares. Verifi-
cou-se também que não existia nenhuma muralha, sendo o talude apenas um
muro de suportes de terras, para diminuir a inclinação do terreno e criar um
socalco apto para a agricultura.

3.2 castelo dos Mouros


Com o intuito de perceber a relação existente entre este povoado e as ex-
plorações mineiras de Tresminas e Jales, efectuou-se em 2008, uma campanha
de sondagens, logo abaixo da plataforma superior, num local onde era visível
(através da imensa vegetação) a rocha de xisto afeiçoada formando uma parede
rectilínea, de cantos arredondados. As sondagens foram genericamente orien-
tadas a norte. Depois de limpa a área da vegetação que a cobria verificou-se
que, sobre a pouca espessa camada arqueológica, encontravam-se algumas pe-
dras de média e grande dimensão, em xisto e em granito, que fariam parte das
paredes das casas castrejas. Por razões metodológicas, toda a área intervencio-
nada foi quadriculada em quadrados de 2 x 2 m e numerada com uma letra e
um número, para identificação espacial das estruturas e do espólio existente.
A 1ª sondagem realizada (QK 31) revelou apenas uma camada de terra humosa
e por baixo uma camada de terra fina e muito solta, de escorrimento, apare-
cendo por baixo o afloramento afeiçoado que formava o piso da casa. Os ma-
teriais encontrados resumiram-se a dois fragmentos de cerâmica quartzítica,
muito friável, de torno, em posição descontextualizada e travada por algumas
pedras que se encontravam junto ao afloramento. Verificou-se que se tratava
de escorrimentos do topo da plataforma.
Com este panorama de fundo abriram-se os restantes quadrados, até definir
a área de uma casa quadrangular, com as dimensões de 3 x 3,5 m, tendo o piso
afeiçoado, bem como a parede sul e parte das paredes este e oeste (Fig. 6). Do
lado norte encontrou-se os fundamentos do muro que fechava a casa pelo lado
norte. NO QL31, junto ao muro e no meio das lascas de xisto provenientes do
afeiçoamento da rocha, e que constituíam o enchimento para formação do piso,

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 275


encontrou-se um bordo de um grande pote, em cerâmica micácea castanho-es-
cura, de torno lento, integrável na 1ª Idade do Ferro. Porém, os parcos materiais
cerâmicos de escorrimento encontrados no interior da casa (cerâmica quartzí-
tica) podem ser inseridos em meados, ou na 2ª metade do 1º milénio A.C.. No
QK30 encontrou-se ainda pequenos fragmentos de prováveis tégulas.
Do lado este encontrava-se também rocha afeiçoada (parede sul) e aflo-
ramento à superfície também afeiçoado, formando o piso da casa. Depois de
quadriculado todo o espaço, veio a encontrar-se também uma casa com as mes-
mas características da anterior, porém, de formato rectangular e de maiores di-
mensões (6 x 4 m) (Fig. 6). Do lado norte, encontrou-se um robusto muro que
fechava o compartimento.

4. Resultados
Apesar das sondagens
realizadas não foram escava-
das a totalidade das duas
casas. Na Casa I ficou por
identificar a parte oeste, ou
seja, o local onde se situará a
porta de entrada. Na Casa II,
ficou por definir o muro este.
As cerâmicas encon-
tradas, quer na Casa I quer Figura 2. Castro de Murada da Quintã, implantação
em monte-ilha
na II, têm as mesmas carac-
terísticas, ou seja, por um
lado são cerâmicas de escorrência, por outro são cerâmicas de torno, quartzí-
ticas, de tom amarelo e cinzento-claro.
A evidência e semelhança com cerâmicas encontradas em algumas pe-
quenas fossas (como as da Cova I) do povoado mineiro de Tresminas são no-
tórias. Não encontrámos, nestes primeiros trabalhos, potes de bordo com
orelhas perfuradas, como as encontradas no Povoado Romano de Tresminas,
mas a área escavada não foi grande.
Existe também afinidade entre um peso de tear de xisto, encontrado su-
perficialmente no castro e os pesos de xisto encontrados em Tresminas.

Pág. 276 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


A presença romana no castro é um dado adquirido, embora se tratem de
fragmentos muito pequenos de tégulas. Mas, dada a proximidade e a evidência
epigráfica, com a existência de muitos antropónimos indígenas na área de Tres-
minas e na própria necrópole (pote com o nome de ALLIVS ARRV), estamos
em crer que uma boa parte da mão-de-obra da exploração mineira era consti-
tuída por indígenas locais.
Tal como este, existem outros castros nas redondezas (como o castro da
Murada da Quintã e Castro de S. Martinho) que poderão ter fornecido mão-de
obra para as explorações mineiras romanas.
Por outro lado, dada a pequena dimensão dos povoados existentes nas re-
dondezas, e consequentemente, com uma população que rondaria algumas cen-
tenas de habitantes, é de equacionar a hipótese de muitos outros castros da
zona terem fornecido mão-de-obra para o mesmo efeito.

5. conclusões possíveis

5.1 características constitutivas dos povoados


Todos os povoados são fortemente fortificados.
Mais de metade destes povoados (Paredes dos Mouros, Castelo de Pen-
salvos, Crasto de Pensalvos, Três Castelos, Castro de S. Martinho, Povoado
do Castelo de Aguiar e Castelo dos Mouros) desenvolve-se em encosta e não
no topo de cabeços, o que parece constituir uma característica arcaizante, ainda
muito ao estilo dos povoados calcolíticos que se desenvolvem a meia-encosta
da Serra do Alvão, como é o caso dos povoados pré-históricos de Rebordochão
e Povoado do Castelo de Aguiar. Apresentam pouco destaque na paisagem (Fig.
2) e todos apresentam fossos defensivos do lado mais vulnerável, bem como
fortes muralhas.
Os restantes estão situados em cabeços destacados (montes-ilha) (Fig. 3),
não parecendo apresentar fossos defensivos. No entanto, apesar da forte defen-
sibilidade natural que apresentam não dispensam o uso de muralhas defensivas.
Os povoados de cabeços destacados (Cidadelha de Aguiar, Monte do Cas-
telo, Castelo da Ferramenta, Murada da Quintã e Castro de Telões) apresentam
uma linha de muralhas (os dois primeiros castros) e os restantes duas linhas de
muralha.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 277


Os povoados de meia-encosta apresen-
tam todos duas muralhas defensivas, sendo
a que está mais no topo, por vezes uma pe-
quena acrópole. Destes povoados, e ainda
no que respeita aos fossos defensivos, todos
têm um fosso defensivo, com excepção do
Castro de S. Martinho, que apresenta dois
fossos paralelos, e o Castro do Castelo dos
Mouros que apresenta três fossos (um mais Figura 3. Castro de Paredes dos Mouros,
largo e dois mais estreitos; entre a muralha implantação
sas naturais
em esporão sem grandes defe-

e o 1º fosso (o mais largo) apresenta uma


plataforma que, eventualmente poderá con-
ter “cavalos de frisa”. Nos espaços entre
fossos poderão existir também pedras fin-
cadas.
Quanto ao aparelho constitutivo das
muralhas, este é geralmente constituído por
pedras de média dimensão de granito não
afeiçoadas (Fig. 5). Existem, no entanto, al-
guns povoados que apresentam algumas
características diferentes. Figura 4. Castro do Castelo de Pensalvos,
Assim, o Castelo de Pensalvos apre- muralha em aparelho poligonal afeiçoado
senta apenas aparelho poligonal ciclópico
facetado (Fig. 4), em rochas retiradas do local, de base xisto-grauváquica.
O Castro de Paredes dos Mouros apresenta muralha com pedras de média
dimensão, não facetadas, do mesmo tipo da anterior por se situar na mesma
unidade geológica.
O Castro do Monte do Castelo apresenta aparelho poligonal facetado em
granito.
Por último, o Castelo dos Mouros apresenta a realidade mais complexa. Si-
tuado na zona de contacto dos xistos com o granito, sendo a base rochosa em
xisto, apresenta troços de muralha em aparelho poligonal facetado em xisto, tro-
ços em pedra de tamanho médio em granito e troços (especialmente na muralha
de topo), paramentados em pedra de tamanho médio em granito e miolo em xisto.

Pág. 278 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


No que respeita à espessura das mura-
lhas, a falta de trabalhos arqueológicos nes-
tes povoados não permite obter muitas
informações. Foi registada uma muralha
com 1,5 m de espessura no Castro de Pare-
des dos Mouros, bem como a largura e al-
tura excepcional da muralha de topo do
Castelo dos Mouros com cerca de 10 m de
largura por 3 de altura. Figura 5. Castro do Castelo dos Mouros,
aparelho de pedras de granito de tamanho
médio
5.2 cronologias possíveis
O sub-período arqueologicamente me-
lhor conhecido no concelho, de momento,
é o Bronze Final. Os dados foram obtidos
no Povoado do Castelo de Aguiar, onde Su-
sana Oliveira Jorge encontrou, para além da
ocupação calcolítica, também ocupação do
Bronze Final.
Quanto aos restantes povoados a falta
de materiais e a falta de trabalhos arqueoló-
gicos não permite avançar muito quanto à Figura 6. Castro do Castelo dos Mouros,
cronologia dos mesmos e os investigadores casas II e I parcialmente escavadas na rocha
que a eles se dedicaram mantiveram uma
postura cautelosa na sua apreciação.
Só em cinco casos se admite a existência segura de ocupação da IIª Idade
do Ferro. Trata-se do Castro do Castelo dos Mouros que, para além de apresentar
muralhas arcaicas (do Bronze Final, se tivermos em conta que o machado de
duas aselhas achado na mina romana de Jales poderá ter vindo daqui), apresenta
muralhas com aparelho poligonal e cujas cerâmicas apresentam evidentes se-
melhanças com as encontradas no povoado mineiro romano de Tresminas. Para
além disso, foram encontradas tégulas no castro, o que demonstra uma sobre-
vivência no tempo, relacionada com a exploração mineira de Jales e Tresminas.
O Castelo de Pensalvos, com as suas muralhas ciclópicas, arrancadas
da rocha existente no centro do povoado, para além de ocupação do Bronze

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 279


Final/Iª Idade do Ferro, poderá também ter tido ocupação na IIª Idade do
Ferro, tendo em conta a cerâmica de torno aí encontrada, típica deste pe-
ríodo.
O povoado calcolítico escavado por Susana Oliveira Jorge, apresentava
por cima da ocupação pré-histórica uma muralha de aparelho de pedras médias
de granito e materiais de Época Romana.
O Castro de Três Castelos apresenta também um fragmento de cerâmica
com desenhos concêntricos estampados no colo.
Do Castro de Monte do Castelo é proveniente uma estátua de guerreiro e
na sua base existem vestígios romanos e visigóticos. A cerâmica recolhida é
castreja e seguramente da 2ª Idade do Ferro.
Os restantes castros não parecem ter conhecido uma ocupação para além
da Iª Idade do Ferro.
Desta listagem deve ser eliminado o sítio do Castelo Redondo (Ribeiri-
nha), dado que, apesar da sua situação em esporão e de ter um espesso muro a
sul feito com pequenas placas de xisto aparentando ser uma muralha, a falta
de cerâmicas em terrenos constantemente lavrados em volta do seu topo e a
ausência de qualquer artefacto na sondagem ali realizada, são fracos indicado-
res para a existência de povoamento antigo neste local.
Além destes 12 castros, encontra-se no concelho uma estela-estátua
(Marco), datada estilisticamente deste período pela maior parte dos investiga-
dores que sobre ela escreveram, e uma pulseira em ouro maciço, encontrada
no vale de Vila Pouca de Aguiar (Veiga da Ousadinha), numa encosta muito
suave, que se tem relacionado com as estações romanas do Cheínho e Poçarias
que lhe ficam próximas. Poderá, no entanto, pelas suas características estilís-
ticas, ser uma pulseira do Bronze Final, proveniente de uma quinta situada em
zona de vale, não fortificada.

6. contextualização regional
As características dos povoados fortificados do concelho de Vila Pouca
de Aguiar são comuns a outros povoados fortificados existentes nos concelhos
vizinhos. Apenas foram visitados alguns dos castros, e certamente existirão
muitos mais que poderão ter características semelhantes a estes. No concelho
de Boticas, o Castro de Carvalhelhos apresenta muralhas de pedra de tamanho

Pág. 280 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


médio granítica, situa-se numa encosta com fraca defensibilidade do lado sul,
o qual é defendido por três fossos e nos espaços intermédios por pedras finca-
das (SANTOS JÚNIOR, 1981, p. 140-147). Devido às escavações efectuadas
por Santos Júnior, podem-se observar casas redondas e casas quadrangulares
ou rectangulares. O sistema defensivo apresenta semelhanças com o do Castelo
dos Mouros, onde também é provável a existência de pedras fincadas, nos es-
paços entre-fossos.
No concelho de Chaves, o Castro de Curalha, encontra-se num esporão,
com três muralhas de pedra granítica de tamanho médio. A única semelhança
com os castros de Vila Pouca de Aguiar prende-se com a existência de uma
muralha (acrópole) ligando batólitos, o que parece evidenciar algum arcaísmo.
Em Vila Real, o Castro de Luvares, é um lugar estranho, pois o castro foi
assente sobre um manto granítico que o torna, de imediato, defensável a este
e a oeste, não tendo, por isso, muralhas nestes pontos. As muralhas apenas
existem a sul e a norte, que são os pontos mais vulneráveis. Apresenta seme-
lhanças com o Castro de Cidadelha de Aguiar que apresenta apenas muralha
nos lados norte e este.
O Castro de Sabrosa apresenta duas muralhas graníticas de pedra de ta-
manho médio, sendo a mais pequena e no ponto mais elevado, uma pequena
acrópole. Desenvolve-se também pela encosta, no que apresenta semelhanças
com os castros de Vila Pouca de Aguiar, tendo dois fossos a defendê-lo no
ponto mais frágil da sua defesa que se situa a sul. Como foi escavado nos anos
de 1967-68 e 1970-71, por Santos Júnior (ERVEDOSA, 1981, p. 147-151), é
possível visualizar casas redondas e outras de formato rectangular.
O Castro do Pópulo (Alijó), assente num monte-ilha, apresenta também duas
muralhas graníticas, com troços de aparelho poligonal afeiçoado e troços de pedra
de tamanho médio, apresentando semelhanças com o Castelo dos Mouros.
Por último, o Castro de Palheiros (Murça), apresenta algumas caracterís-
ticas que o aproxima dos castros de Vila Pouca de Aguiar, nomeadamente, no
que diz respeito às muralhas ligando afloramentos quartzíticos, associado à
Idade do Bronze (SANCHES, 1997, p. 389-399), no que poderia constituir
um paralelo para uma boa parte dos castros atrás referidos que apresentam,
também, troços de muralhas, ligando diversos afloramentos.
Desde há muito que é sabido que existe uma diferença grande entre no-

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 281


roeste peninsular (geralmente associado à casa redonda e às citânias de grande
extensão) e a zona interior (a oriente da Serra do Marão) que apresenta pa-
drões e modelos de povoamento substancialmente diferentes. Sobre as carac-
terísticas dos povoados pouco é apresentado, sendo uma das diferenças
apontadas, a existência neste espaço de muitas representações zoomórficas,
em contraponto às representações de guerreiros mais comuns na fachada atlân-
tica (FABIãO, 1993, p. 198-199). Também é evidenciado o facto de ser uma
realidade muito pouco conhecida, do ponto de vista arqueológico. A referência
às actividades mineiras como um dos modos de subsistência, senão o princi-
pal, embora muito genérica e intuitiva, espelha uma realidade que começa a
tomar forma.
Muitos destes pequenos povoados fortificados, situados em encostas de-
clivosas e em zonas xisto-grauváquicas pobres e de contacto com os granitos
poderá ter explicação na necessidade de se situarem perto de zonas mineiras.
Para Tresminas e Jales, começam a surgir os primeiros sinais da ligação
dos povos indígenas à mineração (neste caso o ouro), talvez ainda antes da
chegada dos Romanos. No outro extremo do concelho, os povoados de Crasto
de Pensalves, Paredes dos Mouros e Castelo de Pensalvos poderão estar rela-
cionados com a existência de minas de estanho, numa área onde foram explo-
radas minas de volfrâmio e onde, com frequência, ocorre o estanho.

Bibliografia
BATATA, Carlos e BORGES, Nélson (2006), Relatório Final da Escavação Arqueológica de Re-
bordochão, Vila Pouca de Aguiar, IP 3 – Sub-lanço E1: Falperra – Pedras Salgadas, Relatório aprovado.
BATATA, Carlos; BORGES, Nelson; CORREIA, Heitor e SOUSA, Albertino, Carta Arqueológica do con-
celho de Vila Pouca de Aguiar, Vila Pouca de Aguiar, Abrantes, 2008.
CORTEZ, Fernando Russell (1947), Panóias. Cividade dos Lapiteas. Subsídios para o estudo dos cultos
orientais e da vida provincial romana na região do Douro, Anais do Instituto do Vinho do Porto. Porto.
ERVEDOSA, Carlos (1981), Campanha arqueológica no Castro de Sabrosa em Setembro de 1980. Traba-
lhos de Antropologia e Etnologia, 24. SPAE, Porto.
FABIãO, Carlos (1993), O Passado Proto-Histórico e Romano. História de Portugal, Antes de Portugal,
(Direcção de José Mattoso). Editorial Estampa.
JORGE, Susana Oliveira (1986), Povoados da Pré- História Recente (III.º - Inícios do II.º Milénios A. C.)
da Região de Chaves - V.ª P.ª de Aguiar (Trás-os-Montes Ocidental), Dissertação de doutoramento, 3 Vols.
Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto .
SANTOS JÚNIOR, J. R. dos (1981), 29ª Campanha de escavações no Castro de Carvalhelhos, 1980. Tra-
balhos de Antropologia e Etnologia, 24. SPAE, Porto

Pág. 282 Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


PEREIRA, António Luís (2001), Relocalização, identificação e inspecção de sítios pela Extensão do IPA
- Macedo de Cavaleiros.
PEREIRA, António Luís e SOARES, Mário Rui Oliveira dos Reis (2001), Relocalização, identificação e
inspecção de sítios pela Extensão do IPA - Macedo de Cavaleiros.
PEREIRA, António Luís e SOARES, Mário Rui Oliveira dos Reis (2002), Relocalização, identificação e
inspecção de sítios pela Extensão do IPA - Macedo de Cavaleiros.
SANCHES, Maria de Jesus (1997), O Crasto de Palheiros-Murça. Notícia preliminar das escavações de
1995 e de 1996. Actas do II Congreso de Arqueología Peninsular, Tomo II, Fundación Afonso Henriques,
Zamora.
SILVA, Armando Coelho Ferreira da (1986), A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal. Paços de Ferreira:
Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins e Câmara Municipal de Paços de Ferreira.
SOARES, Mário Rui Oliveira dos Reis (2001), Relocalização, identificação e inspecção de sítios pela Ex-
tensão do IPA - Macedo de Cavaleiros. SOARES, Mário Rui Oliveira dos Reis (2002), Relocalização, iden-
tificação e inspecção de sítios pela Extensão do IPA - Macedo de Cavaleiros.
SOARES, Mário Rui Oliveira dos Reis (2003), Relocalização, identificação e inspecção de sítios pela Ex-
tensão do IPA - Macedo de Cavaleiros.
SOUSA, Albertino Saraiva de (2005), Terra de Aguiar da Pena, Das Origens ao Povoamento e à Formação
do Concelho. Contributo para uma monografia do concelho de Vila Pouca de Aguiar. Livraria e Papelaria
Aguiarense, Vila Pouca de Aguiar.

Revista Aqvae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 283


MineRíA RoMAnA en LA cuencA MeRidionAL
de Los Ríos siL y Miño*
ROMAn Mining in The SOuTheRn BASin OF The RiveRS SiL
And MiñO

F. J. Sánchez-Palencia; I. Sastre; B. Currás; D. Romero


CCHS. CSIC
C/ AlbASAnz 26-28. 28037 MAdrId

Resumen: Se presenta el análisis general de las zonas mineras auríferas pertenecientes a


la actual provincia de Ourense y parte de la de Lugo, con especial hincapié en el caso de Os Mi-
lagros do Monte Medo (Baños de Molgas), tanto por la relevancia como visibilidad de las es-
tructuras mineras. Este análisis se enmarca en un estudio de amplio alcance sobre el papel de
las zonas mineras en la estructuración del territorio tanto en época julio-claudia como flavia.
Palabras clave: Minería aurífera romana, ríos Sil y Miño, estructuración del territorio,
Arqueología del Paisaje.

Abstract: We present a general analysis of the gold mining areas located in the current
province of Ourense and part of Lugo, with special emphasis on the case of Os Milagros do
Monte Medo (Baños de Molgas), both the relevance and visibility of the mining structures. This
analysis is part of a comprehensive study on the role of mining areas in the territorial structuring
both in Julio-Claudian and Flavian era.
Keywords: Roman gold mining, rivers Sil and Miño, territorial structuring, Landscape
Archeology.

1. Labores mineras y sistemas de explotación


Los claros indicios de labores mineras antiguas en las cuencas medias de
los ríos Sil y Miño son bien conocidos desde antiguo (Schulz 1930, 162 s y
166 s; González Lasala 1877, 16-21; Díez Sanjurjo 1905, 322 y 1906, 50 y 68)
ya que entre ellos se encuentran algunas de las minas de época romana más
espectaculares, como Las Médulas. Por otra parte la fama aurífera de ambas
zonas fluviales se ha mantenido por la permanencia a lo largo del tiempo de
una explotación artesanal en varios puntos de sus cauces, que se ha utilizado

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 285


incluso con fines etnoarqueológicos para valorar la explotación en época pre-
rromana (Vázquez Varela 1995: 160; Sánchez-Palencia y Fernández-Posse
1998: 238 s). Por supuesto han sido recogidas por los autores que se han ocu-
pado de ellas en época más reciente (Nespereira 1978: 24, 25, 37 y 39 s; Do-
mergue 1987: I, 310-311 y II, 348-353, 407-415; Perea y Sánchez-Palencia,
106-109; Sánchez-Palencia et alii 1996: 27-29 y 32-34).
Aun a sabiendas de lo discutible que es la delimitación de los tramos de
cuencas fluviales, se entiende aquí como cuenca media del río Sil el sector
comprendido aproximadamente desde Las Valdeorras hasta su confluencia con
el río Miño (Fig. 1). Se incluyen por lo tanto dentro de ella las cuencas de los
afluentes que recibe por la derecha y la izquierda, entre los cuales el Lor, el
Cabe y el Bibei y su afluente el Camba poseen importantes explotaciones au-
ríferas de época romana. El carácter
sinuoso en general del curso fluvial
y las continuas angosturas por las
que discurre han sido los impedimen-
tos naturales que han privado al Sil
de ser el nexo de unión por excelen-
cia entre Galicia y León, de forma
que las principales vías de comuni-
cación históricas no han seguido
nunca al curso de forma continuada,
Figura 1. Mapa de distribución de labores mineras au-
sino sólo parcialmente. Los únicos
ríferas (puntos rojos) y civitates en la cuenca meridio- sectores de paso obligado han sido y
nal de los ríos Sil y Miño
son los valles de las Valdeorras y de
Quiroga - San Clodio; dichos valles han estado bastante poblados a lo largo de
la Historia, tanto por esa función de enlace, como por su propia fertilidad. Las
cuencas del Lor y del Bibei también poseen una orografía muy accidentada,
mientras que los sectores medio y bajo de la cuenca del Cabe se hallan ya den-
tro de la fosa de Monforte, amplia y fértil y por ende apropiada para el esta-
blecimiento de abundantes núcleos de población; su relieve llano ha hecho de
ella un nexo de unión entre las cuencas medias del Miño y Sil y el Norte de
Galicia, juntamente con la otra fosa sedimentaria situada algo más arriba, la
de Sarria.

Pág. 286 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


La gran mayoría de las explotaciones romanas se situaron sobre yaci-
mientos secundarios o aluvionares. De época terciaria son los aluviones mio-
cenos que quedaron encerrados en las cuencas sedimentarias o algunos retazos
de menor volumen que no fueron eliminadas por la fuerte erosión remontante
del río Sil, quedando sobre el cauce del río, a bastante altura; pero la mayoría
son de época cuaternaria, con mayor potencia y explotados más extensamente
en la confluencia de los ríos o en los múltiples meandros del río.
En los yacimientos primarios beneficiados, la mineralización aurífera está
ligada a los filones o venillas de cuarzo que de forma más o menos diseminada
encajan entre los esquistos y cuarcitas del Precámbrico y del Cámbrico - Or-
dovícico. Una vez que el curso del río Sil se adentra en los terrenos del dominio
granítico, aguas abajo de Quiroga, no se detecta ya explotación alguna en su
cuenca, evidenciando así la asociación de la mineralización aurífera con las
zonas cuarcíticas antes mencionadas, de donde proceden también los aluviones
beneficiados.
Las labores sobre yacimientos primarios incluyen desde trincheras hasta
grandes cortas de minado. Las únicas galerías existentes en la zona, en O Cau-
rel por ejemplo, han de interpretarse como trabajos de prospección o sondeos
en el mineral aurífero. Los restos de las redes hidráulicas documentados en
estas zonas de yacimientos primarios proporcionan interesantes datos para el
estudio de su trazado y del sistema de explotación en sí y para el estudio del
desarrollo de las labores.
En los yacimientos secundarios, el esquema de explotación aplicado es
casi siempre el mismo. Se combinan las zanjas-canales, para iniciar el proceso
de extracción del conglomerado, con las cortas de arrastre, que sirven para es-
quilmarlo en su totalidad. La explotación por cortas de minado o ruina montium
pudo llegar a practicarse en las grandes labores de As Borreas de Caldesiños,
en la cuenca del Bibei. También se aprecia en algunos casos la aplicación de
series de surcos convergentes para beneficiar sedimentos de poca potencia y
gran extensión; cabe resaltar en este sentido uno de los yacimientos hasta ahora
casi desconocido, el de Os Medos o Cha do Castro (A Proba de Brollón) en la
Cuenca del Cabe. También hay que resaltar por su fama y por ser el ejemplo
más claro de la desviación de un curso de agua para beneficiar placeres fluvia-
les el túnel de Montefurado.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 287


Se considera aquí como Cuenca Media del Miño (Fig. 1) el tramo com-
prendido entre Os Peares y aguas un poco más abajo de Ribadavia, así como
los afluentes que confluyen en dicho tramo, fundamentalmente el Avia por la
derecha y el Arnoia por la izquierda. Esto equivale prácticamente al centro y
cuadrante noroccidental de la actual provincia de Ourense, las zonas más den-
samente pobladas ya desde la Antigüedad.
Para este trabajo en concreto, pueden distinguirse a su vez tres zonas de
especial interés: la tierra de Carballiño, el propio valle del Miño y la cabecera
del río Arnoia.
La tierra de Carballiño está regada por una amplia red hidrográfica, entre
la que destacan los ríos Arenteiro y Viñao, afluentes del Avia. Su orografía se
caracteriza por los contornos redondeados y suaves y los valles son abiertos y
feraces. Geológicamente existe un dominio de los granitos hercínicos en el
sector oriental y de los esquistos precámbricos o paleozoicos en el occidental.
La mineralización aurífera está estrechamente unida al contacto entre ambas
masas rocosas de forma que todas las labores se alinean en sus alrededores.
Las partículas de oro aparecen ligadas en especial a las arsenopiritas que llevan
los filones o lentejones de cuarzo diseminados entre la roca encajante. Cuando
el filón adquiría cierta potencia, los romanos buscaban esos lentejones de ar-
senopirita y los explotaban en donde existiesen, como ocurrió en el entorno de
Irixo, donde aparecen diversas trincheras, continuadas parcialmente por gale-
rías subterráneas, a lo largo de un afloramiento filoniano de 1’5 Km. aproxi-
madamente. No obstante, lo más común era que explotasen masivamente toda
la zona con diseminación de filoncillos de cuarzo o stockwerk, tanto por ser
estos muy poco potentes e irregulares, como por existir una mineralización
entre la roca encajante.
Las explotaciones del valle del río Miño se hallan en su totalidad sobre pla-
ceres cuaternarios consolidados. La construcción del embalse de Castrelo do
Miño, el cultivo de las tierras de la rica ribera y en general las transformaciones
sufridas a causa del denso poblamiento de la zona enmascaran bastante las labo-
res romanas que ya localizó Schulz en el siglo pasado. En este caso, es más que
probable la existencia del beneficio de los placeres fluviales en época prerro-
mana, a partir del cual los romanos desarrollaron la explotación a gran escala
mediante lavados superficiales, series de surcos convergentes y zanjas-canales.

Pág. 288 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


La cabecera del río Arnoia es una zona de paso entre la cuenca del Sil y
los valles de los ríos que discurren hacia Portugal, Limia y Támega. Al oeste
de Maceda y Baños de Molgas existe una masa sedimentaria atravesada par el
río Tioira. Se trata de aluviones del Cuaternario y Plioceno. En sus inmedia-
ciones existen una serie de yacimientos de estaño y de wolframio, entre los
que también se encuentran arsenopiritas y otros tipos de mineralizaciones de
oro. Se sitúan en el contacto entre los granitos hercínicos, dominantes en toda
la zona y una masa de cuarcitas y pizarras del Ordovícico Inferior y del Ordo-
vícico Silúrico (IGME 1982: hoja 17, Orense, indicios 134-146). Estos últimos
terrenos son también drenados por la vertiente opuesta por el río Camba,
afluente del Bibei, donde también existen yacimientos auríferos secundarios
explotados en época romana, por lo que deben estar estrechamente ligados a
la mineralización aurífera primaria, como ocurre en el resto del Noroeste pe-
ninsular.
Así pues, en los aluviones pliocuaternarios situados al O de Baños de
Molgas y Maceda pudieron explotarse tanto placeres auríferos como estagní-
feros, aplicando el mismo sistema de explotación utilizado comúnmente sólo
para oro. Serían unas alutiae, minas da oro donde también se encontraba y se
explotaba estaño, según refiere el propio Plinio (NH, XXXIV, 157). Los ro-
manos las beneficiaron fundamentalmente con lavados superficiales y zanjas-
canales, aunque las más espectaculares de todas las labores, Os Milagros do
Monte Medo y las labores de su entorno inmediato fueron explotadas mediante
grandes series de surcos convergentes en su mayoría, aunque también se apli-
caron los sistemas de zanjas-canales y cortas de arrastre. Sin duda, el nivel
buscado preferentemente sería el de contacto con la roca subyacente donde
quedaban acumulados los placeres de estaño y oro en razón del elevado peso
de ambos metales.
Como resumen de lo dicho, las tres áreas diferenciadas en la cuenca media
del Miño se corresponden a su vez con tres tipos de yacimientos auríferos; aso-
ciados a rocas intrusivas (granitos) en la tierra de Carballiño; sobre las terrazas
fluviales en el valle del Miño, entre Puga y Ribadavia, y sobre aluviones plio-
cuaternarios en la cabecera del Arnoia.
Es evidente que el conjunto de las labores comprendidas dentro de ambas
cuencas fluviales, del Miño y del Sil, estaban interrelacionadas entre sí y tam-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 289


bién lo es que la vía XVIII fue un importante elemento de articulación entre
ellas (fig. 1). El proceso de prospección y explotación minera debió desarro-
llarse paulatinamente y contando seguramente con la red fluvial como principal
vía de progreso hasta los diversos yacimientos, cumpliendo los placeres flu-
viales la labor de indicio que les otorgó el propio Plinio (NH, XXXIII, 67).
Ahora bien, aun contando con los posibles conocimientos de la riqueza aurífera
fluvial desde época prerromana, todo el proceso de reconocimiento y puesta
en valor de esos recursos mineros implicaba una labor sistemática en época
romana y un total control del territorio que la hiciese posible (Sánchez-Palencia
et alii 2006: 268-281). Esta afirmación no sólo se basa en la lógica que se puede
desprender de los sistemas de explotación de yacimientos auríferos en general
o de lo que puede deducirse al leer a autores clásicos como Plinio, sino que
encuentra su principal apoyo en el propio terreno cuando las labores se exa-
minan dentro de su contexto histórico. Los casos más paradigmáticos son los
de aquellas zonas mineras y aquellas minas que, por su extensión, han tenido
que pasar necesariamente por un largo proceso de explotación. Un ejemplo
muy significativo al respecto es el de las labores conocidas como Os Milagros
do Monte Medo (fig. 2-6) y las inmediatas de Vilardecás, Lamelas, Sarreaus,
Arroyo de Celeirón y Corno (Sánchez-Palencia et alii 1996: MM-14 a MM-
19). Se encuentran al suroeste de Maceda y al oeste de Baños de Molgás, a
ambos márgenes de un amplio mean-
dro del río Tioira, afluente al Arnoia,
y ocupan una amplísima extensión
(algo más de 5 y 3 km de longitud y
latitud). Os Milagros do Monte
Medo es la denominación de un fa-
moso santuario que domina por el su-
roeste el mencionado meandro
(abajo, a la izquierda en la fig. 2; fig. Figura 2. Zona minera de Os Milagros do Monte
3 y 4) y que seguramente sacraliza la Medo en el Vuelo Americano (1956) y su situación ac-
tual tras ser cubiertos por monte de repoblación (Or-
importante actividad minera de la tofoto del SixPac)
zona.
El estudio secuencial que precisan estas labores para conocer su cronolo-
gía relativa hace imprescindible acudir a su documentación por estudios de es-

Pág. 290 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


tereoscopia sobre fotografías aéreas
verticales. En casos como el que nos
ocupa es de sumo interés contar con
vuelos de varias épocas, especial-
mente cuando se han producido im-
portantes transformaciones en el uso
del suelo, como son las repoblacio-
nes forestales. Como puede apre-
ciarse en la fig. 2, en Os Milagros ha
Figura 3. Representación sobre un Modelado Digital
sido fundamental el uso del vuelo del Terreno de las fases de explotación de Os Milagros
americano de 1956 para obviar el do Monte Medo
problema reforestador. Aparte de una
serie de desmontes aislados (FI en
fig. 3 y 4), el análisis estereoscópico
permite diferenciar claramente un
total de cuatro fases en la zona más
importante (F1 a F4 en fig. 3 y 4). Su
identificación no ofrece mayores
problemas y puede hacerse mediante
un análisis secuencial de estratigrafía
horizontal. Como se muestra en la Figura 4. Representación sobre la fotografía aérea del
fig. 5, la intersección y superposición Vuelo Americano (1956) de las fases de explotación
de Os Milagros do Monte Medo
las diversas estructuras mineras: la-
bores de extracción con sus corres-
pondientes frentes de laboreo,
canales de evacuación y acumulacio-
nes de estériles (a ellos habría que
añadir los restos de la red hidráulica,
de la que sólo se han identificado
ahora los últimos depósitos de agua:
D en fig. 3 y 4), permiten establecer
una cronología relativa y definir
cómo se produjo el avance de los tra-
Figura 5. Detalle del proceso de explotación en un
bajos. Aunque este tipo de estudio sector de la mina de Os Milagros do Monte Medo

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 291


precisa de su comprobación sobre el
terreno, los restos visibles a pie de
tierra son de tal envergadura (fig. 6)
que sólo con mucha dedicación y es-
fuerzo permitirían alcanzar resulta-
dos satisfactorios.
En fin, aunque es poco menos
que imposible establecer una data-
Figura 6. Imágenes de las labores de explotación en
ción absoluta de las diversas fases de Os Milagros do Monte Medo. Vista desde el S de las
explotación, aquí como en otras distintas salidas de los canales de evacuación (imagen
superior). Series de surcos convergentes que se pueden
minas semejantes, sí resulta patente apreciar sobre una zona recientemente talada
tras el análisis secuencial y la dimen-
sión de las labores, que se trata de una actividad de largo plazo, imposible de
ejecutar en cortos períodos de tiempo. Esto es lo que ahora queremos resaltar
en esencia.

2. La minería en la estructuración territorial y administrativa du-


rante época julio-claudia y a partir de época flavia
Nuestro interés a la hora de abordar el estudio de las estructuras mineras
no se limita a la caracterización de las mismas, elemento sin duda indispensable
para entender las técnicas extractivas y el impacto en la configuración del pai-
saje, sino que va más allá, hacia la comprensión de las minas como factores de
cambio histórico. Para ello, es necesario, como hemos dicho, tener en cuenta
la integración de la minería en el marco territorial y administrativo romano.
Las minas, uno de los recursos de propiedad estatal fundamentales para enten-
der las formas que toma el dominio romano en el Noroeste, tuvieron un papel
importante tanto en la política de los julio-claudios como en la de los flavios,
aunque con algunas diferencias en los dos periodos. Esto queda bien ilustrado
tomando como ejemplo el caso de las minas de la cuenca meridional del Sil y
el Miño, que acabamos de analizar.
Las visiones tradicionales sobre los procesos de cambio del Noroeste his-
pano hacen hincapié en la relevancia de la época flavia como momento esencial
de cambio (Tranoy 1995-96: 31), como una inflexión histórica fundamental a
partir de la cual florecen las nuevas realidades sociales y económicas, y las co-

Pág. 292 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


rrespondientes nuevas formas de organización del territorio y el poblamiento,
impulsadas por la dominación (sociedad galaico o astur – romana). De este
modo, el siglo I es considerado una época de transición marcada por al man-
tenimiento de antiguas estructuras residuales pero útiles al dominio romano.
Algunos autores, incluso, consideran el siglo I como una fase más de la cultura
castreña, una fase en la que se empieza a percibir la disolución de esta sociedad
al tiempo que, según ellos, se documenta el florecer de algunas de sus mani-
festaciones culturales. Fernández-Posse (1998: 198-204) ha analizado con gran
lucidez esta cuestión de los “tiempos” de la cultura castreña, identificando va-
rias actitudes ante la época tardía que van desde la idea de un progreso endó-
geno que fue truncado por la conquista (Martins y Jorge 1992), hasta la idea
de una “fase de apogeo” (Peña 1993) o, más asépticamente, castreño-romana
(Peña y Vázquez 1996) que coincide con la dinastía Julio-Claudia.
Esta idea se ve reforzada además desde la perspectiva de los estudios de
la dominación romana. Es bastante frecuente la idea de que la estructura ad-
ministrativa romana se implantó de una manera bastante directa sobre la es-
tructuración étnico-política prerromana que, al parecer, resultaba muy útil
como punto de partida de la realidad administrativa de las civitates, algo que
se ha argumentado desde variados puntos de vista y con múltiples presupuestos
interpretativos (García Quintela 2002: 46-7; Alarcâo 1995-96). Algunos autores
plantean que esta situación prerromanizante se mantiene durante todo el siglo
I hasta la definitiva creación de civitates en época flavia (Alarcâo 1995-96).
También se ha defendido el papel de los conventus, fundaciones augusteas,
como mecanismos de control fundamentales durante el siglo I en un contexto
de fragmentación, dispersión del poblamiento y ruralidad (García Fernández
1996: 160)
Hace tiempo que defendemos una visión diferente de este proceso. Sin
duda debemos contar con una enorme variabilidad regional dentro de la cuál
juegan un papel importante las zonas mineras. Pero partimos de la base de que
la intervención romana desde el mismo momento de la conquista impulsó un
conjunto de cambios, que tuvieron como eje la imposición del sistema tributa-
rio, que afectaron a todo el Noroeste y a todas sus poblaciones y que supusie-
ron, desde los primeros años, la disolución de las formaciones sociales
prerromanas. Si bien la minería no se pone en marcha en estos primeros mo-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 293


mentos post-conquista, sí parece claro que la reordenación administrativa, te-
rritorial y fiscal que se documenta en este primer periodo fue la base sobre la
que se hizo posible la explotación minera.
Esto puede argumentarse a diversos niveles. Para empezar, a partir de la
propia concepción imperial de Augusto.
El gobierno de Augusto es el momento en el que se procede a hacer el
“inventario del mundo” (Nicolet 1988) tal y como reflejan las recomendaciones
de Mecenas al emperador recogidas por Dion Casio (LII 28 ss.): hacer una es-
timación global de los recursos disponibles, incluyendo las minas, e imponer
una tributación regular en todo el Imperio. Esto se contextualiza en una nueva
idea de la dominación provincial en la que la explotación del imperio como
economía de guerra (Ñaco 2003) es sustituida por una ordenación sistemática
y regular de la tributación imperial dentro de la que se abren camino formas
de sumisión que no son necesariamente la esclavitud mercancía (Plácido 2005;
Sastre y Plácido 2005). La integración de nuevos territorio a través de civitates
peregrinas, que tributan globalmente por su suelo, puede considerarse carac-
terístico del gobierno de Augusto (Orejas y Sastre 1999; Sastre 2001; Orejas
2002), y de hecho Frontino considera este modelo como característico del suelo
tributario1.
En el Noroeste hispano se documenta la implantación de un sistema de
civitates tributarias desde el momento inmediatamente posterior a la conquista.
Así queda de manifiesto en documentos como el Edicto del Bierzo, del 15 a.C.
(Sánchez-Palencia y Mangas 2000). No es posible entrar ahora a analizar ex-
haustivamente este texto ni las variadas interpretaciones de los diversos auto-
res, pero sí merece la pena indicar que las medidas relativas a la inmunidad
tributaria están teniendo en cuenta ciertas entidades, las gentes gigurrorum y
Susarrorum, con un papel activo en cuanto que sujetos fiscales. Así mismo, se
emplea el término civitas como sinónimo de gens, algo que de todos modos
está atestiguado también por la temprana mención de estas mismas civitates
como origines en varias inscripciones2.
Otros documentos epigráficos permiten vislumbrar también la temprana
articulación del territorio en civitates, bien delimitadas y sin duda convenien-
temente recogidas en los censos administrativos. En época de Claudio se datan
los hitos terminales que delimitaban los pratae legionarios y los territorios de

Pág. 294 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


las civitates de los bedunienses y los lugones encontrados en Soto de la Vega
y Castrocalbón (León; IRPL 304-312). Y de época anterior (2-3 d.C.) son los
termini augustales de la provincia de Salamanca que indicaban los límites entre
las civitates de Mirobriga, Salmantica y Bletisama (CIL II 857, 859, 857;
5033). Conviene indicar la existencia de otras inscripciones tempranas que
mencionan civitates, como es el caso de la Tabula Lougeiorum (1 d.C.; Dopico
1988; Balbín 2006, 201 nº 49)3.
Las medidas tomadas por Augusto indican, por lo tanto, una intervención
activa sobre territorios y poblaciones, orientada por las necesidades de la tri-
butación imperialista. Estas intervenciones imperialistas directas unidas a los
cambios que se derivaron de la propia crisis que supuso la guerra de conquista
pusieron en marcha procesos históricos que explican las nuevas formas de ocu-
pación del territorio durante el siglo I. Las civitates, las nuevas entidades re-
gionales con funcionamiento político, fueron la base de la nueva estructura
territorial y del nuevo encuadramiento de las poblaciones, facilitando la con-
solidación de una sociedad de clases con grupos dominantes dóciles y útiles al
imperialismo romano, y mano de obra campesina local encargada de producir
los excedentes en productos y trabajo para la tributación.
En estos momentos iniciales de la organización imperial, cuya fecha más
antigua documentada es el año 15 a.C., sin duda el gobierno romano era cons-
ciente ya de la riqueza en oro de algunas de las regiones del Noroeste. Tal vez
bajo el propio gobierno de Augusto se inició la extracción del oro, aunque los
elementos de datación de la misma remiten a la época de Tiberio/ Claudio como
las más antiguas (en el caso de la Valduerna, Domergue y Sillières 1977). Lo
que sí puede afirmarse es que la reestructuración administrativa de época de
Augusto fue el sustrato sobre el que se pudo desarrollar una explotación minera
directamente controlada por el Estado y basada en la mano de obra suminis-
trada por las poblaciones indígenas en el contexto del sistema tributario (Sán-
chez-Palencia ed. 2000).
Los cambios de la época flavia son herencia y reorientación de los pro-
cesos del siglo anterior, no una ruptura respecto a los mismos. En algunos as-
pectos, los cambios desarrollados durante el siglo I eclosionan a partir del siglo
II haciéndose plenamente perceptibles en la morfología del poblamiento y en
las formas de ocupación del territorio, pero esto es una derivación del proceso

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 295


anterior, nunca un quiebro de ese mismo proceso. Al mismo tiempo, es nece-
sario afirmar que las reformas flavias tuvieron un peso específico indudable.
La aplicación del ius Latii, unida a la realización de un censo en torno a los
años 71-73 actuaron como base para una nueva reordenación de poblaciones
y recursos y para pulir los aspectos de la organización territorial que se consi-
deraron necesarios para los intereses fiscales de la nueva dinastía. Pero esto
no puede ser considerado como el pistoletazo de salida del auténtico proceso
romanizador, a no ser que manejemos modelos excesivamente unidireccionales
y monolíticos sobre el impacto romano en las provincias. En este contexto la
minería tuvo, sin duda, un lugar fundamental, sobre todo cuando se tienen en
cuenta las implicaciones fiscales de las reformas flavias, movidas por “une vo-
lonté de rentabilisation maximale des ressources de l’hispania et un idéal ad-
ministratif parfaitement adapté à cette exigence” (Guichard 1990: 66).
Dado lo temprano de la implantación administrativa en territorios mar-
cadamente mineros como el Bierzo parece poco probable que esta primera
reorganización territorial tuviera ya en cuenta unas áreas mineras que fueron
descubriéndose y explotándose de manera progresiva y sobre una base emi-
nentemente empírica y no basada en unos conocimientos de lo que hoy en-
tendemos por geología. Los frentes y los desmontes mineros fueron
avanzando de acuerdo con las exigencias de la propia explotación. Y con-
forme se producía este avance los territorios mineros se irían convirtiendo
en ager publicus, en un contexto generalizado de suelo provincial o pere-
grino, algo que parece coherente con los resultados de los principales estudios
jurídicos y que hemos abordado en otras ocasiones (Sastre y Sánchez- Pa-
lencia 2002; Sánchez-Palencia y otros 2007; Sastre e.p.). Hemos defendido
la idea de territorios de civitates horadados por explotaciones mineras, civi-
tates que debían atender a esas explotaciones con el suministro de mano de
obra tanto para los frentes de explotación como para la construcción, cuidado
y vigilancia de la red hidráulica. Un ejemplo de esto puede ser el caso de la
civitas gigurrorum, ya documentada en el Edicto del Bierzo, que se identifica
con la actual comarca de Valdeorras. Se trata de una región atravesada por el
Sil en un tramo completamente lleno de explotaciones auríferas que debieron
ponerse en marcha de manera progresiva a lo largo del siglo I. Algo parecido
podría ocurrir con las civitates de las regiones de la Valduerna y Valderia.

Pág. 296 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Pero este modelo de civitas con minas puede definirse de una forma algo
más precisa. Si bien es poco probable que en época augustea las minas (aún
muy incipientes) pesaran en la organización territorial, en época flavia sin duda
fueron un elemento esencial. En este momento las explotaciones auríferas pue-
den considerarse a pleno rendimiento, su carácter estatal parece fuera de toda
duda, y es de suponer que serían un factor de primer orden a la hora de plantear
los cambios introducidos por Vespasiano y sus sucesores. No vamos a entrar
en detalle en la trascendencia histórica de la llamada “reforma flavia”, pero sí
consideramos oportuno hacer algunas reflexiones sobre la organización admi-
nistrativa. Sande Lemos y Morais en un artículo sobre la relación entre vías y
explotaciones mineras presentado en un congreso relativamente reciente sobre
la Via Nova (Sande Lemos y Morais e.p.), defienden que el trazado de esta
misma se relaciona estrechamente con las explotaciones mineras y que esto no
es en realidad una novedad flavia sino la consolidación de un trazado que ya
estaba activo en época anterior. Igualmente es posible que ya en época anterior
en algunas regiones funcionara ya otra tendencia de carácter territorial que
ahora se hace más activa o consciente: la ubicación de zonas mineras en los lí-
mites entre civitates (Fig. 1). Esto no debe ser considerado como una norma
general, dado que la propia entidad de los trabajos mineros impone una enorme
variabilidad regional. Pero sí parece estar presente al menos en relación con
algunas zonas mineras de parte de la región galaica.
Para valorar adecuadamente la afirmación anterior -y no convertirla en
un axioma demasiado mecanicista- hay que partir de la base de que la ubicación
general de los yacimientos auríferos se relaciona en muchas ocasiones con
zonas elevadas o montañosas que son ya de por sí límites aptos para definir
entidades comarcales con coherencia geográfica como para funcionar como
civitates. En este sentido las zonas mineras y regiones limítrofes parecen coin-
cidir de una manera “espontánea”. Otros casos pueden resultar más ambiva-
lentes como ocurre con los ríos, que en muchas ocasiones constituyen los ejes
vitales de estas entidades territoriales o geográficas pero en otras ocasiones
podrían actuar como elementos claros de delimitación.
A continuación presentaremos la información caso por caso con algunas
interpretaciones en cuanto a la definición de las civitates que pretenden ser
más una propuesta para la discusión que una definición cerrada o completa.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 297


Ya se ha visto para el caso gigurro el hecho de que al menos durante el siglo
I parece claro que las minas atravesarían la civitas formando un cinturón marcado
por el río Sil. Algo semejante ocurriría con los susarros, localizados en la comarca
del Bierzo Alto. Una cuestión que se plantea en relación con el territorio del
Bierzo es el momento en el que se definió la civitas Bergidensis. A modo de hi-
pótesis podemos afirmar que puesto que no hay mención de ella durante el siglo
I, y que porta el epíteto Flavium, podría darse el caso de ser una civitas de fun-
dación flavia, articulada en torno al curso alto del Sil, con una misión clara como
centralizadora de una actividad minera que se ubicara en sus regiones limítrofes.
Esto iría en menoscabo del territorio de los susarros4, con los cuales parece ocurrir
exactamente lo contrario que con los bergidenses, es decir, las menciones epi-
gráficas se sitúan todas en momentos anteriores a mediados del siglo I (CIL III
2016; IRL 55; Edicto del Bierzo). La civitas Susarrorum y/o la civitas Bergido-
flaviensis limitarían con los gigurri y los Lougei por medio del área minera en
la que se ubican, entre otras explotaciones, Las Médulas.
Coincidiendo con este momento de posible reorganización del territorio del
Bierzo Bajo a partir de una nueva civitas, se produce en las regiones vecinas astures
y galaicas el fenómeno de eclosión de los fora. En relación con los gigurri de Val-
deorras a forum gigurrorum se han vinculado varios asentamientos, fundamental-
mente A Proba, con sus cloacas de saneamiento, sus calles pavimentadas, aceras y
soportales (Pérez Losada 2002: 199 ss) y A Cigarrosa, donde además de los restos
de posibles villae tardías se documenta el epitafio en mármol de un militar y curator
fisci con origo gigurro Calubrigensis (CIL II 2610) datable en el siglo II.
Respecto a las otras civitates que se corresponden con la región objeto de
estudio parece confirmarse esta tendencia a identificar zonas limítrofes y zonas
mineras. Así:
- Tiburi (civitas articulada por el río Bibei) y gigurri podrían compartir
como área limítrofe la zona minera de Terra do Bolo. Así mismo, esta zona
minera parece ubicada en el límite norte de los Tamagani, civitas articulada
geográficamente por la cuenca del Támega.
- La zona minera de Salientes (cabecera del Arnoia), a su vez, parece lo-
calizarse entre los Tiburi (al este), la posible civitas Aurensis al oeste, los Le-
mavi (al norte) y los Limici (al sur).
- A su vez, la zona minera de Carballiño parece situarse entre la posible

Pág. 298 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


civitas relacionada con Lais, Laias y San Cibrán, y las civitates occidentales
previas a la costa, en las que ya no vamos a entrar. Así mismo, en parte podría
coincidir con el límite entre la indicada civitas y la civitas Aurensis que podría
discurrir por el Miño.
- Por último, la pequeña zona minera de Cexo-Fontechid podría ubicarse
en el límite meridional de los Coelerni.
Posiblemente, algunos fenómenos cómo la aparente bipolaridad de algu-
nas civitates (Limici con Nocelo da Pena/ Xinzo de Limia; Tiburi con Trives
Viejo/ Castro Caldelas) se relaciona, como ya han visto varios autores, con esta
reestructuración territorial iniciada en época flavia (Pérez Losada 2002). De
igual manera, la definición de la civitas Aurensis puede formar parte de esta
nueva reestructuración orientada a la articulación territorial de las minas de
Carballiño y del Alto Arnoya y los posibles cambios que pudieron tener lugar
en relación con una posible debilitación del castro de San Cibrán, que pudo
ser un lugar central durante el siglo I y tal vez dejó de serlo a partir de época
flavia (López y otros 2004).
Esta situación limítrofe de algunas de las principales zonas mineras ga-
laicas pudo resultar beneficiosa para la administración romana. Por una parte
la ubicación periférica facilitaba la implicación de varias civitates en las ex-
plotaciones, de modo que varios gobiernos locales debían repartirse las obli-
gaciones relativas al suministro de mano de obra, labores de mantenimiento,
etc. El personal adscrito a los procuratores imperiales tendría un papel clave
en la supervisión de esta necesaria coordinación regional, debilitándose con
ello el papel de cada entidad local en un proceso de explotación aurífera cla-
ramente estatal, situada en los márgenes tanto físicos como políticos de las ci-
vitates. Así mismo, el carácter de las minas como ager publicus cobra una
mayor entidad en un sentido espacial y administrativo, al formar parte activa
en la división del ager provincialis entre las diferentes comunidades.

Bibliografia
ALARCÂO, J. (1995-6): “As civitates do Norte de Portugal”, Cadernos de Arqueologia, II série, 12-13,
25-30.
BALBÍN, P. (2006): hospitalidad y patronato en la Península ibérica durante la Antigüedad, Valladolid.
DÍEZ SANJURJO, M. (1904-1908): “Los caminos antiguos y el itinerario nº 18 de Antonino en la provincia de
Orense”, Boletín de la Comisión Provincial de Monumentos de Orense 2 (1904), 221-228 y 269-275, 3 (1906),
49-53 y 65-75, 3 (1907), 107-111 y 152-156, 3 (1908), 202-208 y 236-240.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 299


DOMERGUE, C.; SILLIÈRES, P. (1977): Minas de oro romanas de la provincia de León i, Excavaciones Ar-
queológicas en España 93, Madrid.
DOPICO, D. (1988): La tabula Lougeiorum. estudios sobre la implantación romana en hispania, Vitoria.
FERNÁNDEZ-POSSE, M.D. (1998): La investigación protohistórica en la Meseta y galicia, Madrid.
GARCÍA FERNÁNDEZ, E. (1996): “El desarrollo de la municipalización latina: la Bética y el Noroeste”, en
S. Reboreda, P. López Barja (eds.), A cidade e o mundo: romanización e cambio social, Xinzo de Limia: 147-
164.
GARCÍA QUINTELA, M.V. (2002): La organización socio-política de los populi del noroeste de la Península
ibérica. un estudio de antropología política histórica comparada, Traballos de Arqueoloxía e Patrimonio
(TAPA) 28, Santiago de Compostela.
GONZÁLEZ LASALA, J. (1877): “Informe sobre el reconocimiento de los principales terrenos auríferos de la
cuenca del Sil, en las comarcas del Vierzo y las Valdeorras”, Mems. Facultativa, y económico-administrativa,
referentes a la explotación de las minas de oro existentes en las márgenes del Sil, por la Sociedad Montañesa-
galaico-Leonesa. Santander.
GUICHARD, P. (1990): “Politique flavienne et fiscalité en hispania”, Mélanges de la Casa de velázquez, 26.1,
45-73.
IGME (1982): Mapa Minero-metalogénico de galicia. escala 1:400.00, Madrid.
LóPEZ, L. F.; LóPEZ, M. A; ÁLVAREZ Y. (2004): “Definición y recuperación de estructuras en el Castro de
San Cibrán de Lás”, en Cuadernos de estudios gallegos, 117, 79-113.
MARTINS, M.; JORGE, S.O. (1992): “Sustrato cultural das etnias pré-romanas do Norte de Portugal”, en M.
Almagro-Gorbea – G. Ruiz Zapatero (eds.), Paleoetnología de la Península ibérica. Complutum, Extra, 2-3,
347-372.
NESPEREIRA IGLESIAS, X. (1978): “Síntesis sobre yacimientos auríferos gallegos”, Braña, 1, 18-48.
ÑACO, T. (2003): vectigal incertum. economía de guerra y fiscalidad republicana en el Occidente romano: su
impacto histórico en el territorio (218-133 a.C.), BAR International Series 1158, Oxford.
OREJAS, A. (2002): “El territorio de las civitates peregrinas en los tratados de agrimensura. Las civitates del
Noroeste hispano”, habis, 32, 389-406.
OREJAS, A.; SASTRE, I. (1999): “Fiscalité et organisation du territoire dans le Nord-Ouest de la Péninsule
Ibérique : civitates, tribut et ager mensura conprehensus”, dialogues d’histoire Ancienne, 25.1, 159-188.
PEÑA, A. de la (1992): “El primer milenio a.C. en el área gallega: génesis y desarrollo del mundo castreño a la
luz de la arqueología”, en M. Almagro-Gorbea – G. Ruiz Zapatero (eds.), Paleoetnología de la Península ibérica.
Complutum, 2-3, 373-394.
PEÑA, A.; VÁZQUEZ, J.M. (1996): “Aspectos de la génesis y evolución de la Cultura Castreña de Galicia”,
homenaje al Profesor Manuel Fernández- Miranda, Complutum Extra 6(I), Madrid, 255-62.
PEREA CAVEDA, A.; SÁNCHEZ-PALENCIA, F.J. (1995): Arqueología del oro astur. Orfebrería y minería,
Oviedo.
PÉREZ LOSADA, F. (2002): entre a cidade e a aldea. estudio arqueohistórico dos “aglomerados secundarios”
romanos en galicia, Brigantium, 13, A Coruña.
PLÁCIDO, D. (2005): “La théorie de l’égalité des êtres humains et l’évolution des formes de dépendance”,
XXXe colloque du giReA, Besançon: 467-473.
SÁNCHEZ- PALENCIA, F.J. ed. (2000): Las Médulas (León). un paisaje cultural en la Asturia Augustana.
León.
SÁNCHEZ-PALENCIA, F.J.; ÁLVAREZ GONZÁLEZ, Y.; LóPEZ GONZÁLEZ, L. F. (1996): “La minería
aurífera en Gallaecia”, el Oro y la Orfebrería Prehistórica de galicia, Lugo, 9-40.
SÁNCHEZ-PALENCIA, F.J.; FERNÁNDEZ-POSSE, MªD. (1998): “El beneficio del oro por las comunidades
prerromanas del noroeste peninsular”, Minerales y metales en la Prehistoria reciente. Algunos testimonios de
su explotación y laboreo en la Península ibérica. (G. Delibes de Castro, coord.) Studia Archaeologica, nº 88,
Valladolid, 227-246.
SÁNCHEZ-PALENCIA, F.J.; OREJAS, A.; SASTRE, I; PÉREZ, L.C. (2006): “Las zonas mineras romanas

Pág. 300 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


del noroeste peninsular. Infraestructura y organización del teritorio.”, en nuevos elementos de ingeniería romana.
iii Congreso de las Obras Públicas Romanas, Astorga, 265-285.
SÁNCHEZ-PALENCIA, F.J.; MANGAS, J. coords. (2000): el edicto del Bierzo. Augusto y el noroeste de his-
pania, Ponferrada.
SÁNCHEZ-PALENCIA, F.J.; OREJAS, A.; SASTRE, I (2007): “Roman gold mines: legal and territorial prac-
tices”, en Sfruttamento tutela e valorizzazione del territorio. dal diritto romano alla regolamentazcione europea
e internazionale. (Nápoles, noviembre 2005), 181-193.
SANDE LEMOS, F.; MORAIS, P. (e.p.): “Vias augustas y mineraçao aurifera” Actas del Colóquio internacional
“vias do império” (marzo- abril 2006).
SASTRE, I. (2001): Las formaciones sociales rurales de la Asturia romana, Madrid.
SASTRE, I. (e.p.): “Las zonas mineras auríferas en el sistema provincial altoimperial: el caso del Noroeste his-
pano”, en Actas del coloquio internacional sobre Minería antigua: estudios regionales y temas de investigación.
Homenaje al Prof. Claude Domergue (Casa de Velázquez, Madrid, noviembre 2005).
SASTRE, I; PLÁCIDO, D. (2005): “deditio in fidem and peasant forms of dependence in the Roman provincial
system: the case of Northwestern Iberia”, XXXe colloque du giReA, Besançon: 501-9.
SASTRE, I.; SÁNCHEZ-PALENCIA, F.J. (2002): “La red hidráulica minera del Noroeste: aspectos jurídicos,
administrativos y políticos”, Archivo español de Arqueología 75: 215-234.
SCHULZ, G. (1930): Obras completas. descripción geológica de Asturias (con un atlas) [1838]. descripción
geognóstica del reino de galicia (con un mapa petrográfico de este País) [1835]. Madrid.
TRANOY, A. (1995-96): “La route, image et instrument du pouvoir impérial dans le nord-ouest ibérique”, Ca-
dernos de Arqueologia, 12-13: 31-37.
VÁZQUEZ VARELA, J.M. (1995): “Etnoarqueología de la extracción del oro de los ríos en el noroeste de la
Península Ibérica”, Trabajos de Prehistoria, 52, 2: 157-161.

*
Este trabajo se inserta en el proyecto “Formación y disolución de la civitas en el Noroeste peninsular. Relaciones
sociales y territorio” (HAR 2008-06018-C03-01/ HIST) financiado por el Ministerio de Ciencia e Innovación
y desarrollado en el CCHS del CSIC (Madrid).
1
Ager est mensura conprehensus, cuius modus universus civitati est adsignatus, sicut in Lusitania Salmanti-
censibus aut hispania citeriore Palantinis et in conpluribus provinciis tributarium solum per universitatem po-
pulis est definitum (Frontino, Agr. Qual. Th. 1-2)
2
En relación con los susarri, Tabla de El Caurel (iRPLugo 55; Balbín 2006: 204, nº 50), CIL III 2016 de Dal-
macia.
3
Así mismo, otras civitates mencionadas por medio de origines durante el siglo I son –sin ánimo de ser exhaus-
tivos- los Lemavi (AE 1982: 575); los Celtici Supertamarci IRPL 104 y 109; los Limici (CILA 1, 24). Todos
estos ejemplos están datados por la presencia del signo É.
4
O bien la civitas Susarrorum pasa a convertirse en Bergidum Flavium, aunque esto no es más que una mera
conjetura.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 301


A MineRAção RoMAnA no conjunto MineiRo chAves/Bo-
ticAs/MontALegRe
ROMAn Mining in The Mining SeT ChAveS/BOTiCAS/MOnTALegRe

Carla Maria Braz Martins


InveStIgAdorA dA U.M. e ColAborAdorA externA dA FeUP. bolSeIrA dA FCt
(bPd); CArlAMArIAbrAzMArtInS@gMAIl.CoM

Resumo: A área em estudo estende-se essencialmente pelos concelhos de Chaves, Bo-


ticas e Montalegre, procurando inventariar-se os locais de exploração mineira em época ro-
mana.
O objectivo deste trabalho, ainda em curso, consiste em efectuar a correlação entre as di-
ferentes frentes mineiras e o povoamento proto-histórico no Norte de Portugal, para o qual exis-
tem já numerosos trabalhos de síntese e parcelares como os de A. C. Silva (2007), F. Queiroga
(1992), F. S. Lemos (1993) e R. Teixeira (1996).
Ao mesmo tempo torna-se indispensável comparar a distribuição dos novos aglomerados
de fundação romana (vici, villae, e outros habitats rurais), e a conjugação da exploração mineira
com outros recursos económicos como sejam a agricultura e a pastorícia.
Palavras-chave: Mineração, época romana, estanho, ouro.

Abstract: The study area embraces the municipalities of Chaves, Boticas and Montalegre;
we tried to make the inventory of the places of mining exploration at the Roman time.
The aim of this work, still in study, is to realise the correlation between the different mining
fronts and the proto-historical settlement in the north of Portugal, for which numerous works
of synthesis already exist, such as those of A.C. Silva (2007), F. Queiroga (1992), F.S. Lemos
(1993) and R. Teixeira (1996).
At the same time it is indispensable to compare the distribution of the new settlements
with Roman foundation (vici, villae, and others), and the mining exploration with other economic
resources.
Keywords: Mining, Roman time, tin, gold.

1. introdução
Na área correspondente aos concelhos de Chaves, Boticas e Montalegre
(Fig. 1), integrada no convento Bracarense, existe um grande número de ex-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 303


plorações mineiras, de época romana, cujo alvo principal era a extracção do
ouro e da cassiterite (esta última para obtenção do estanho).
Neste trabalho pretende-se abordar a exploração mineira, tendo em conta
as características geomorfológicas da área referida, articulando os recursos mi-
neiros com os aglomerados populacionais, mais especificamente a detecção de
povoados mineiros com possível estatuto
de vicus.
Na região de Chaves predominam
depósitos mais recentes elúvio-aluviais do
Holocénico, que preenchem os fundos das
principais depressões com níveis de sedi-
mentos finos e areno-argilosos (Pereira
2006: 47). Tal facto dá origem a uma assi-
metria muito grande: do lado Oeste vários
patamares escalonados entre a superfície
mais elevada da serra do Larouco contras- Figura 1. Localização dos concelhos de Cha-
tando com a base da depressão de Chaves ves, Boticas e Montalegre
(Pereira 2006: 9); a bacia de Chaves, ou
Chaves-Verín, prolonga-se para território espanhol, tendo uma extensão de 50
km e largura até 10 km. Em termos mineralógicos predomina a associação de
Sn, Ta, Nb, Au, W e Ti em jazigos primários com sedimentações clásticas (alu-
viões) (Pereira 2006: 79), que se localizam predominantemente nas bacias hi-
drográficas; os jazigos associados a rochas granitóides, aplitopegmatíticos com
Sn, Ni e Ta, que ocorrem na zona de S. Lourenço / S. Julião de Montenegro
(Pereira 2006: 91) e os jazigos com filões de quartzo com mineralização de
Au e/ou Ag que surgem com um grande domínio na zona de Carvela-Tresmun-
des.
Os concelhos de Boticas e Montalegre são dominados por uma paisagem
granítica com altos-relevos. Sob o ponto de vista geológico toda a área em es-
tudo é muito heterogénea, predominando os granitos de formação Hercínica;
em Montalegre, Pondras, Borralha, Rebordelo, os granitos de grão médio a gros-
seiro, essencialmente biotíticos; na serra da Cabreira, Larouco e Boticas os gra-
nitos de grão médio de duas micas; na barragem de Pisões e Alturas de Barroso
o granito de grão grosseiro de duas micas; e também nas Alturas de Barroso o

Pág. 304 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


granito de grão médio a grosseiro porfiróide de duas micas (Pereira 2006: 52).
Pertencentes ao Complexo Parautóctone, de formação Paleozóica, existem tam-
bém os xistos cinzentos com intercalações de xistos negros, ampelitos e líditos,
em alternância com os pelitos, psamitos, grauvaques e tufos vulcânicos, pre-
sentes nas regiões de Morgade, Venda Nova, Dornelas e Curros.
Na região de Boticas a mineralização é de quartzo, arsenopirite, pirite,
blenda, galena, ouro e arsenatos, enquanto na região de Montalegre predomina
o Sn-W, podendo no entanto ocorrer percentagens mínimas de ouro e prata.

2. caracterização da área mineira chaves, Boticas e Montalegre


A área mineira de Chaves, Boticas e Montalegre apresenta diferenças
acentuadas quanto à natureza das explorações, que obviamente se relacionam
com as características geomorfológicas da paisagem.
Chaves mostra um conjunto de explorações mineiras que se aglutinam
em certas partes do concelho:
- a Nordeste de Chaves, em jazigos primários, predomina a exploração
do estanho, principalmente em Cima de Vila de Castanheiro (Ao Estanho),
Águas Frias (Devesas) (Fig. 2), Bobadela (Poulas da Costa de Lobos e Laba-
gueiras) e Tronco (Portela). O sistema de exploração é a céu aberto, consubs-
tanciando-se em trincheiras e cortas, algumas de grandes dimensões.
- a Sudeste de Chaves, em jazigos primários, o minério explorado era
o ouro e prata, numa vasta área entre as freguesias de Carvela e Tresmundes,
podendo mesmo obter-se percentagens
apreciáveis dos metais referidos, até 48,3
g/t Au e 27,3 g/t Ag (na arsenopirite).
Em relação a estas minas os registos con-
temporâneos referem-nos cinco grandes
cortas exploradas em época romana (Fig.
3), precisando a sua localização, das
quais quatro foram alargadas a partir dos
anos 50.
- a Sudoeste de Chaves, em jazigos Figura 2. Corta mineira em Devesas, Águas
primários com uma associação de W-Sn- Frias, Chaves
Au, na região de Olgas / Mosteirão (Re-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 305


dondelo), coexistindo uma exploração a céu aberto – cortas e trincheiras, com
uma subterrânea – galerias.
- a Noroeste de Chaves, nas zonas de Outeiro Seco, Outeiro Machado
(Fig. 4) e Bustelo, em jazigos secundários
onde o ouro foi amplamente explorado, a
céu aberto compreendendo trincheiras e
cortas; em Outeiro Machado (Vale
d’Anta), para além das cortas existentes, a
detecção de cinco galerias entulhadas
comprovam a exploração subterrânea
(facto descrito nos relatórios geológicos
de 1966).
É óbvio que maioritariamente os tra-
Figura 3. Corta mineira descaracterizada em
balhos observáveis no terreno são de Carvela-Tresmundes, Chaves
época contemporânea, no entanto em ne-
nhuma das zonas apontadas existem dúvi-
das da exploração romana. De salientar
que os quatro eixos de mineralização su-
pramencionados coincidem com o traçado
da via XVII do Itinerário de Antonino (e
suas variantes), e nas imediações de cada
um dos conjuntos mineiros existem po-
voados romanos que foram considerados
mineiros. Muito provavelmente, os de
Tronco, povoado em Vilarelho com 3,5 ha
e materiais datáveis do séc. I d.C. (Tei-
Figura 4. Trabalhos mineiros em Vale
xeira 1996: 54 nº 315), e Cimo de Vila da d’Anta, Outeiro Machado, Chaves
Castanheira, povoado no sopé do castro de
S. Sebastião com cerca de 1 ha (Teixeira
1996: 55 nº 319), terão um estatuto de vicus, dado o aparecimento de aras a
Júpiter.
Boticas revela uma concentração de explorações em torno de uma pro-
vável falha com um filão quartzoso (N20-30E da serra do Ferro) que vem desde
Vilarelho da Raia (Chaves), passando por Vilela Seca, Soutelo, Poço das Frei-

Pág. 306 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


tas, Sapiãos, Pinho e termina perto de Curros. Esta área a Sudeste da serra de
Leiranco, e ao longo do Vale Superior do Terva, revela numerosas frentes de
exploração, podendo tratar-se de uma área mineira autónoma (Lemos e Mei-
reles 2006: 177). A frente de exploração mais conhecida é sem dúvidas o Poço
das Freitas, Bobadela, que abrange uma vasta área de cerca de 40 ha compreen-
dendo uma série de trincheiras, muitas delas inundadas, em que a maior terá
100 m de comprimento e 80 m de largura; está-se perante uma zona de subs-
trato granítico em que os filonetes de quartzo impregnados de sulfuretos de
ouro se destacam facilmente, daí ser possível a utilização do processo Ruina
Montium, consubstanciando-se nas arestas e pirâmides residuais visíveis na
paisagem (Martins 2005: 143). A exploração a céu aberto, trincheiras, conjuga-
se com a exploração subterrânea (poços e galerias). Em Bobadela existem mais
duas frentes de exploração: uma na Lagoa do Brejo (Fig. 5), com exploração
a céu aberto, cortas e trincheiras, e subterrânea através de galerias, e a outra
no Alto do Picão a céu aberto (cortas); e em Ardãos uma nova frente – Batocas
com conjugação de exploração a céu aberto (trincheiras) e subterrânea (galerias
e poços). No castro de Sapelos também existiram trabalhos mineiros a céu
aberto sobre a encosta Sudoeste, com
grandes trincheiras, e sobre a encosta No-
roeste, com desmontes superficiais e pe-
quenas trincheiras.
Apesar dos numerosos povoados mi-
neiros em torno desta área, a possibilidade
de existir um povoado na aldeia de Sape-
los parece relevante, principalmente de-
vido ao aparecimento de uma ara a Júpiter.
Deste modo, poder-se-á colocar a hipótese
Figura 5. Trincheira na Lagoa do Brejo, Bo-
de ser um vicus relacionado quer com a ticas
exploração mineira, quer com a rede viária
existente.
Em Montalegre as frentes de exploração espalham-se um pouco pelo con-
celho, aparecendo um caso interessante que é o do castro de Codeçoso, Venda
Nova; este pequeno povoado no meandro do rio Rabagão, com dois fossos e
uma linha de muralhas visíveis, apresenta na encosta Oeste vários desmontes

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 307


de filão de quartzo superficiais, e a Sul uma trincheira com 14 m de largura que
corta o pequeno istmo de Este a Oeste num comprimento de 200 m. A tipologia
desta trincheira, tendo em conta que começa e termina nas águas do rio, poderá
pressupor uma utilização das águas para ajudar o seu desmonte, dada a consti-
tuição sedimentar das terras. Existem ainda pequenas cortas, quase de desmonte
superficial. O tipo de jazigo é primário, mas relacionado com sedimentação
clástica (aluviões). Este tipo de ocorrência localiza-se essencialmente em de-
pósitos recentes das bacias hidrográficas, resultando da desagregação dos filões
e massas aplitopegmatíticas mineralizadas em cassiterite e de filões quartzosos
com arsenopirite e ouro ou com tungstatos (Pereira 2006: 79).
No entanto, é de supor que as frentes de mineração mais importantes se con-
centrem no triângulo Gralhas – Santo André – Vilar de Perdizes. De salientar o
castro de Gralhas, com numerosas cortas (Fig. 6) e trincheiras onde foram des-
montados os filões quartzosos e pegmatíticos, com W-Sn; associado a estes tra-
balhos estará o povoado mineiro de Ciada, de grandes dimensões. Também na
Cidade do Mel, Penedones (Chã), existem desmontes superficiais dos filões quart-
zosos numa área de contacto de granitos de grão médio a grosseiro de duas micas
com xistos pelíticos.
Articulando-se com esta área mineira,
está o povoado da Veiga, Vilar de Perdizes,
relacionado com um santuário, onde foram
encontrados alicerces de construções, colu-
nas, pedras lavradas, cerâmica de constru-
ção, e duas aras: uma a “iuppiter Optimus
Maximus” e outra a “Larouco d(eo)
Max(umo)” (Alarcão 1988: 4 nº 1/57), e que
poderá corresponder a um vicus ligado à ex-
ploração mineira e à rede viária. O povoado Figura 6. Corta mineira da Vinha do Santo,
Gralhas, Montalegre
de S. Vicente de Chã também será um vicus
ligado à rede viária, e que não dista muito
da frente da exploração de Penedones.

3. considerações finais
No que diz respeito à área mineira de Chaves, existe um duplo sistema

Pág. 308 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


de produção extensivo (dominante nos jazigos secundários) e selectivo, en-
quanto que em Boticas e Montalegre, o sistema de produção é extensivo, de
acordo com a geologia existente; em Montalegre a rocha apresenta-se mais
dura sendo os filões desmontados a pico, enquanto em Boticas, nas áreas refe-
ridas, a rocha podre permite a utilização de água para uma mais fácil desagre-
gação e do processo ruina montium, já que os teores de Au também não são
muito elevados, tendo em conta os do Poço das Freitas – 0,3 g/t.
Em termos cronológicos, quer em Chaves quer em Boticas os materiais
arqueológicos existentes apontam para uma cronologia em torno do séc. I d.C.,
apesar da mineração ter continuado pelos séculos posteriores.
O traçado da via XVII que liga Bracara Augusta a Asturica, passando
por Aquae Flaviae, compreendendo também as suas variantes principalmente
no concelho de Chaves, confirma o papel relevante da mineração do estanho
e ouro na economia romana, a ponto de alguns povoados mineiros poderem
ter tido um estatuto de vicus.

Bibliografia
ALARCÃO (1988), J., Roman Portugal. vol II (1). England: Aris & Phillips Ltd.
COLMENERO, A.R.; SIERRA, S. F. e ASOREY R.D.A. (2004), Miliarios e outras inscricións viarias ro-
manas do noroeste hispânico. Lugo: Consello da Cultura Galega.
LEMOS, F.S.; MEIRELES, C.A.P. (2006), “Mineração aurífera no conventus de Bracara Augusta”. In 3º
Simpósio sobre mineração e metalurgia históricas no Sudoeste europeu. Porto: SEDPGYM e IPPAR. p.169-
183.
MARTINS (2005), C.M.B., A exploração mineira romana e a metalurgia do ouro em Portugal. Porto: Fa-
culdade de Letras da Universidade do Porto (dissertação de doutoramento policopiada).
MARTINS (2008), C.M.B., Dois exemplos de mineração aurífera no Convento Bracarense: Monte Furado,
Vila Nova de Cerveira, e área mineira de Boticas e Montalegre. In v Simposio internacional Minería y Me-
talurgia históricas en el Suroeste europeu. León: Sociedad Española para la Defesa del patrimonio Geoló-
gico y Minero / Universidad de Leon (comunicação apresentada).
PEREIRA (2006), E. (coord.), Carta geológica de Portugal na escala 1/200000. notícia explicativa da
folha 2. Lisboa: Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação.
QUEIROGA (1992), F.M.V.R., War and castros. Oxford: University of Oxford (dissertação de doutoramento
policopiada).
SILVA (2007), A.C.F., A cultura castreja. Paços de Ferreira: Câmara Municipal de Paços de Ferreira.
TEIXEIRA (1996), R.J.C.M.A., de Aquae Flaviae a Chaves. Povoamento e organização do território entre
a Antiguidade e a idade Média. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto (dissertação de mes-
trado policopiada).

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 309


A exPLoRAção MineiRA nAs oLgAs (RedondeLo, chAves)
The Mining in The OLgAS (RedOndeLO, ChAveS)

Carla Maria Braz Martins


InveStIgAdorA dA U.M. e ColAborAdorA externA dA FeUP. bolSeIrA dA FCt
(bPd); CArlAMArIAbrAzMArtInS@gMAIl.CoM
Paula Morais
ArqUeólogA; PAUlA_MorAIS@netCAbo.Pt

Resumo: O local, vulgarmente conhecido por Olgas, situa-se na freguesia de Redondelo,


concelho de Chaves. Localizado sobre a margem direita do rio Tâmega, e rodeado por vários
afluentes do mesmo, tem uma posição privilegiada sobre a paisagem envolvente.
Neste sítio localiza-se um povoado romano, com uma dispersão de materiais numa área
correspondente a 2 ha; em prospecção detectou-se com muita abundância material de construção,
cerâmica comum e sigillatae.
Na sua proximidade existem diversos trabalhos de mineração; o minério extraído seria a
cassiterite para obtenção de estanho.
É certo que a maior parte dos trabalhos visíveis são de época contemporânea; a primeira
concessão data de 30/10/1918 para extracção de volfrâmio, e a segunda de 09/10/1954 para ex-
tracção de estanho e volfrâmio.
No entanto, dada a imponência do local e o povoado contíguo, que consideramos um po-
voado mineiro, será certo que desde época romana houve exploração mineira correlacionada
com a rede viária.
Palavras-chave: Povoado mineiro, mineração, vias romanas.

Abstract: The place, known as Olgas, is located in Redondelo, Chaves, on the right edge
of the river Tâmega, having a privileged position on the involving landscape.
here, there is a Roman settlement, with a dispersion of materials in a corresponding area
of 2 ha; in prospection, it was detected with abundance construction material, common ceramics
and sigillatae.
in its proximity there are diverse mining works; the extracted ore was the cassiterite for
attainment of tin.
it is certain that most of the visible works are contemporaneous; the first concession dates
of 30/10/1918 for the extraction of wolfram, and the second one of 09/10/1954 for the extraction
of tin and wolfram.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 311


however, given the magnificence of the place and the contiguous settlement, that we con-
sider a mining settlement, it is certain the mining exploration since Roman times connected with
the road netting.
Keywords: mining settlement, mining works, roman road netting.

1. introdução
Na freguesia de Redondelo, concelho de Chaves, foram detectados trabalhos
mineiros de época romana e contemporânea, no sítio denominado Olgas, associa-
dos a um povoado mineiro (fig. 1).
O local encontra-se situado numa zona de contacto entre xistos e granitos de
época Silúrica, onde se encontram filões quartzosos com uma orientação N-S ou
E-W, com espessuras que variam entre os 0,10 e 0,30 m (Teixeira et al., 1974: 30).
Estes filões contêm predominantemente estanho e volfrâmio, e também ouro. O mi-
nério principal explorado terá sido diferente consoante as épocas em questão; de-
signadamente, o ouro e cassiterite (para
obtenção de estanho) em época romana
e o volfrâmio em época contemporânea.
Toda a área em questão tem um
bom enquadramento hidrográfico, já
que se localiza a Noroeste do rio Tâ-
mega (margem direita) e entre peque-
nos afluentes do referido rio.
A exploração mineira mais visível
na paisagem está relacionada com a
época contemporânea. No entanto,
existem trabalhos que seguramente
foram efectuados em época romana e
que se encontram articulados com um
povoado mineiro contíguo aos mesmos.
O povoado mineiro apresenta
vestígios de materiais de construção
romanos, assim como cerâmicos: ce-
râmica comum romana e uma sigillata
Figura 1. Localização dos povoados e explora-
hispânica. ção mineira nas Olgas e no Mosteirão

Pág. 312 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


2. exploração mineira
O local apresenta numerosos vestígios de trabalhos mineiros contemporâ-
neos, que remontam aos inícios do séc. XIX; nomeadamente, no ano de 1878
foi efectuado um primeiro registo de «… uma mina de volfram e outros metaes
que costumam acompanhar aquelle, no sitio da Olga, à Campina, …» (TRDM,
24/07/1878: f.2). A prospecção casual, realizada na altura, a nível do solo e sub-
solo revelou uma associação mineralógica de volfrâmio, sulfuretos de arsénico
e outros metais, que se estendiam não só por este local (Olgas), mas também
pelas propriedades adjacentes. Tal facto, levou a que em 1918 fosse registada a
primeira concessão para extracção de volfrâmio (Campina 1) e em 1954 para
estanho e volfrâmio (Campina 2) (MCC, s.d.: 68 nº 818 e 182 nº 2967).
Por entre alguns dos trabalhos acima mencionados, subsistem ainda res-
quícios de mineração de época romana bastante descaracterizada pelos primei-
ros. Contudo, foram detectados os seguintes trabalhos de mineração:
Trincheira com 11,70 m de comprimento, largura de 3,60 m e altura de
1,80 m; apresenta uma galeria com tecto aboba-
dado e hasteais aprumadas. Localiza-se a 7º 33’
41,75’’ W, 41º 41’ 36,72’’ N e a uma altitude de
524 m. Tem uma orientação N/S com a galeria
voltada a Norte (fig. 2).
Três trincheiras paralelas, com 11,50 m de
comprimento e 5,10 m de largura; o espaço entre
trincheiras é de 2,20 m. Localizam-se a 7º 33’
40,85’’ W, 41º 41’ 35,32’’ N e a uma altitude de
488 m. Têm uma orientação N/S.
Trincheira com 11 m de comprimento e 4,50
m de largura. Localiza-se 7º 33’ 39,55’’ W, 41º
41’ 34,32’’ N e a uma altitude de 502 m. Tem uma
orientação E/W, apresentando ainda os restos de
Figura 2. Trincheira nº 1 com gale-
filão que foi desmontado, sendo visíveis pequenos ria
filonetes com cerca de 2,5 cm de espessura.
Trincheira muito entulhada com vegetação, não tendo sido possível apurar
as suas dimensões. Localiza-se a 7º 33’ 40,65’’ W, 41º 41’ 35,02’’ N e a uma
altitude de 494 m. Tem uma orientação E/W.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 313


Trincheira muito entulhada com vegetação,
não tendo sido possível apurar as suas dimen-
sões. Localiza-se a 7º 33’ 41,49’’ W, 41º 41’
34,72’’ N e a uma altitude de 492 m. Tem uma
orientação E/W.
Trincheira com 17 m de comprimento e 9
m de largura; apresenta uma galeria com tecto
abobadado. Localiza-se a 7º 33’ 41,75’’ W, 41º
41’ 37,12’’ N e a uma altitude de 506 m. Tem
uma orientação E/W.
O tipo de exploração encontra-se assim
consubstanciado numa exploração a céu aberto,
compreendendo trincheiras de pequena enverga-
Figura 3. Povoado das Olgas
dura e desmontes superficiais, e eventualmente
numa exploração subterrânea através de galerias.
O sistema de produção terá sido selectivo,
desmontando-se o estritamente necessário para remoção do filão do minério.
Associado a estes trabalhos de época romana, existe nas suas imediações
um pequeno povoado com cerca de 2 ha e com
numerosos vestígios de materiais da época refe-
rida (fig. 3).
Este povoado foi considerado como mi-
neiro devido à sua proximidade com a explora-
ção romana, tendo-se aí processado a
transformação do minério, desde a britagem,
moagem, desengrossamento, até à obtenção do
metal, resultado das operações metalúrgicas, a
avaliar pelos inúmeros fragmentos de quartzo e
escórias encontrados.
As análises efectuadas a amostras de
quartzo com restos de encosto revelaram a pre-
sença de ouro, enquanto que as escórias são pra-
Figura 4. Escórias recolhidas no po- ticamente só ferro. Isto demonstra o elevado grau
voado das Olgas
de depuração do processo metalúrgico, daí que

Pág. 314 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


as escórias contenham unica-
mente o não desejável.
A presença de fragmentos
de barro com restos de escória
(fig. 4) parece comprovar a
existência de um forno no local.
Esta exploração mineira
terá ganho uma certa amplitude
e importância, expandindo-se
para as áreas limítrofes com a
mesma caracterização minera- Figura 5. Localização da via XVII do Itinerário de Antonino
lógica, embora com substratos
geológicos diferentes. É o que
acontece com a zona do Mos-
teirão (granitos Hercínicos), onde se observa uma trincheira com cerca de 16
m de comprimento, localizada 7º 33’’ 23,10’’ W, 41º 41’ 54,31’’ N e a uma al-
titude de 477 m.
Assim sendo, a necessidade de se criar um povoado de maiores dimen-
sões, coloca a hipótese do existente no Mosteirão, com cerca de 5 ha, estar ar-
ticulado com a exploração mineira das Olgas e como tal, o povoado mineiro
passar a ter uma função específica no tratamento do minério. Na realidade, o
povoado do Mosteirão (7º 33’ 11,15’’ W, 41º 41’ 58,83’’ N a uma altitude de
463 m) tem uma localização estratégica sobre o vale do rio Tâmega, contro-
lando visualmente uma vasta área, como seja o castro de Curalha.
Em prospecção foram achados materiais de construção e cerâmica comum
romana.

3. correlação do local com a via xvii e o conjunto mineiro do vale


do terva
Toda a área mineira correspondente ao local das Olgas e Mosteirão en-
contra-se a Sudeste da falha com um filão quartzoso (N20-30E da Serra do
Ferro) que vem desde Vilarelho da Raia (Chaves), passando por Vilela Seca,
Soutelo, Poço das Freitas, Sapiãos, Pinho e termina perto de Curros (Boticas).
A sua relativa proximidade às frentes de exploração ao longo da referida falha

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 315


e do Vale do Terva, nomeadamente, Poço das Freitas (Bobadela), Batocas (Bo-
badela), Batocas (Ardãos), Lagoa do Brejo (Bobadela) e castro de Sapelos (Sa-
piãos), e de um mesmo minério a ser explorado, o ouro, leva a crer que toda
esta zona fosse autónoma do ponto de vista da mineração (Lemos e Meireles,
2006: 177). O povoado romano de Sapelos deverá ter sido o aglutinador desta
área mineira, onde foi encontrada uma ara a Júpiter (Colmenero, 1997: 85 nº
49), admitindo-se ter existido um vicus relacionado com a exploração mineira,
e com uma variante do traçado da via XVII entre Bracara Augusta e Asturica
(por Aquae Flaviae) que a cruzava em toda a sua extensão.
O traçado da via XVII, nesta zona, levanta ainda grande problemática,
colocando-se até ao momento uma hipótese de via principal com uma variante
(fig. 5). Deste modo, existirá uma variante a Norte, que vem desde o Pindo
(Montalegre), passando por Ardãos (Boticas), Seara Velha (Chaves), Valdanta
(Chaves) e Chaves, considerada normalmente como o traçado principal, tendo
em conta que apresenta um traçado de menor extensão e topograficamente mais
equilibrado, conservando troços continuados de via, sendo portanto mais rápida
a deslocação a Aquae Flaviae (Morais, 2005).
A localização da grande frente de exploração aurífera do Poço das Freitas
e o miliário de Augusto achado na vertente ocidental da Serra da Pastoria, ape-
sar de reutilizado como sarcófago, e como tal deslocado da sua posição origi-
nal, poderão constituir indícios da passagem da via por um traçado diferente
da proposta Ardãos /Seara Velha.
O novo traçado sendo, mais ex-
tenso aproveita contudo uma por-
tela natural na bacia do Terva
entre a povoação de Sapelos e Sr.
dos Milagres (Boticas) em direc-
ção a Redondelo (Chaves), Casas
Novas (Chaves) (fig. 6), Curalha
(Chaves), Cando (Chaves), Casas
dos Montes (Chaves) e Chaves. O
percurso entre o Alto do Pindo
(Montalegre) e a zona de Boba- Figura 6. Visualização de troço da via na zona de Casas
Novas
dela (Boticas), em direcção ao

Pág. 316 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Poço das Freitas apresenta, no entanto, algumas dificuldades, sobretudo no que
respeita ao traçado correspondente à ligação Alto do Pindo – Castro da Malhó.
A constante desmatação e abertura ou reaproveitamento de caminhos ao longo
da encosta de acentuado declive em direcção ao Alto do Pindo, impossibilitou
a definição rigorosa do seu traçado antigo. No entanto, a norte do Castro da
Malhó são ainda visíveis os vestígios de um caminho que mostra cortes pro-
fundos no afloramento granítico, claramente indicativos de uma utilização
constante (Morais, 2005).
A existência desta segunda variante estará correlacionada com a explora-
ção mineira aurífera, recurso vital para a economia romana, e com o estabele-
cimento posterior de um vicus situado em Sapelos. Assim sendo, a sua
importância terá sido maior que a primeira, não querendo significar que esta
última tenha deixado de ser utilizada, uma vez que seria útil para deslocações
mais rápidas, como para os exércitos.

4. considerações finais
A exploração mineira nas Olgas e Mosteirão (Redondelo) encontra-se in-
tegrada no conjunto mineiro que agrega as explorações do Vale do Terva.
A importância de toda esta área é atestada por uma intensa procura do
minério ouro, articulando-se a exploração dos recursos mineiros com os traça-
dos das vias romanas, já que por Redondelo passa uma variante da via XVII
que liga o Pindo (Montalegre) a Aquae Flaviae.
Aquae Flaviae será uma civitas de fundação mineira que dominará toda
esta região (Lemos e Martins, 2008).
Bibliografia
COLMENERO, A.R. (1997) – Aquae Flaviae 1. Fontes epigráficas da gallaecia Meridional inte-
rior. Chaves: Câmara Municipal de Chaves.
COLMENERO, A.R.; SIERRA, S. F.; ASOREY, R.D.A. (2004) – Callaeciae et Asturiae itinera romana.
Miliarios e outras inscricións viarias romanas do noroeste hispánico. Santiago de Compostela: Consello
da Cultura Galega.
FONTES, L.F. de; ANDRADE, F.J.S. de (2005) – Revisão do inventário arqueológico do concelho de Bo-
ticas. Braga: Universidade do Minho/Câmara Municipal de Boticas.
LEMOS, F.S.; MARTINS, C.M.B. (2008) – Civitates e exploração aurífera romana no noroeste da Penín-
sula ibérica. Comunicação apresentada no V Simposio Internacional Minería y Metalurgia Históricas en el
Suroeste Europeu (León).
LEMOS, F.S.; MEIRELES, C.A.P. (2006) – Mineração aurífera no conventus de Bracara Augusta. In 3º
Simpósio sobre mineração e metalurgia históricas no Sudoeste europeu. Porto: SEDPGYM e IPPAR, p.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 317


169-183.
LEMOS, F.S.; MORAIS, P. (2004) – Vias augustas e mineração aurífera. Forum 36, Braga, p. 15-56.
MARTINS, C.M.B. (2005) – A exploração mineira romana e a metalurgia do ouro em Portugal. Porto:
FLUP (dissertação de Doutoramento policopiada).
Minas concedidas no continente desde Agosto de 1836 a dezembro de 1962 (MCC). Lisboa: Ministério da
Economia, Secretaria de Estado da Indústria, Direcção Geral de Minas e Serviços Geológicos, s.d..
MORAIS, P. (2005) – via romana. O traçado da via Xvii do itinerário de Antonino, via Bracara-Asturica
por Aquae Flaviae. Chaves: Câmara Municipal de Chaves (policopiado).
TEIXEIRA, C.; ASSUNÇÃO, C. T. de; COELHO, A.V.P. (1974) – Carta geológica de Portugal na escala
de 1/50000, notícia explicativa da folha 6-B Chaves. Lisboa: Serviços Geológicos de Portugal.
Termo de Registo do descobrimento de Minas (TRDM). Chaves e Paços do Concelho (com início a 16 de
Junho de 1868).

Pág. 318 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


A LA veRA deL LARouco: ReFLejos de LA hueLLA
gALAico-RoMAnA
neARBY LAROuCO: ReFLeCTiOnS OF The CALAiCi-ROMAn
“FOOTPRinT”

Antonio Rodríguez Colmenero


UnIverSIdAd de SAntIAgo de CoMPoStelA;
AntonIo.rodrIgUez.ColMenero@USC.eS

Resumen: En el estudio que sigue tratamos de abordar cuestiones sustanciales relativas


a las etnias que poblaban en la antigüedad las llanuras meridionales y próximas al Larouco,
sobre todo en lo que respecta a la civitas de los Caladuni. Al mismo tiempo, se tratan brevemente
los importantísimos vestigios arqueológicos y epigráficos atribuíbles a esta misma etnia, tales
como las dedicatorias al dios Larouco y los santuarios de Pena Escrita y Remeseiros, en Vilar
de Perdizes.
Palavras clave: Larouco, Caladuni, Galaico-Romano.

Abstract: in the following study we try to address substantive issues relating to ethnic
groups that lived in ancient times in the southern plains close to Larouco, especially in regard
to the Caladuni civitas. At the same time, we also briefly addressed the important archaeological
and epigraphical remains adscribed to this same ethnic group, such as the dedications to
Larouco god and the shrines of Pena escrita and Remeseiros in vilar de Perdizes.
Keywords: Larouco, Caladuni, Calaici-Roman.

No intentaremos en esta ocasión trazar una síntesis completa del devenir


histórico-arqueológico de la comarca hispano-portuguesa articulada en torno
a la vertiente meridional del Larouco durante la antigüedad sino ofrecer, tan
sólo, trazos sueltos de la rica problemática que la envuelve, sobre todo en lo
que atañe a las épocas castreña y romana, comenzando por la determinación
del pueblo o civitas que la poblaba en aquellas datas.

1. Los caladuni
El hecho de que el Itinerario de Antonino situe, al detallar la vía XVII, la
mansión de Caladunum a sólo 18 millas al oeste de Chaves, la Aquae Flaviae

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 319


romana1, y de que Ptolomeo llame polis (ciudad) a la mencionada mansión, a
mediados de la segunda centuria de la era 2, llevó a la generalidad de los autores
a identificarla, o con una simple, si bien importante, población romana, como
hace Contador de Argote, al situarla erroneamente, puesto que por allí no pasa
la vía XVII, en las inmediaciones de Gralhas, o, en el mejor de los casos, como
capital de los Callaeci, desplazando su ubicación al castro de Lezenho (Boti-
cas), como durante algún tiempo sostuvo el que esto escribe, admitiendo, sin
la debida crítica, la teoría, entonces al uso, del doble ramal de la vía XVII entre
Praesidium y Ad Aquas3. Sin embargo, una investigación posterior más demo-
rada nos ha obligado a reconsiderar la cuestión en dos direcciones: afirmando,
por primera vez, la naturaleza de los Caladuni o Caladunenses como civitas,
y buscando, después, su capital en las inmediaciones de O Pindo, Arcos, de
donde procedería el mencionado miliario con la milla 59, a partir del cual se
contabilizarían 18 más hasta Ad Aquas, precisamente las que el Itinerario de
Antonino señala entre ambas mansiones, según ya queda indicado. Se trata,
por lo tanto, de dos cuestiones diferentes, que conviene tratar por separado.
A la constatación de que los Caladuni constituían una civitas habíamos
llegado personalmene en estudios anteriores, fundamentándonos en la ex-
presión de la origo territorial de varios individuos emigrados desde el ám-
bito de este pueblo prehistórico a lugares más o menos alejados de la
misma4. Por otra parte, el emplazamiento aproximado de su núcleo urbano,
a la vez polis tolemaica y mansión viaria, como ya se dijo, sólo puede ha-
cerse actualmente a través del estudio de la vía XVII y, sobre todo, en lo
que respecta a su mansión de Caladunum, que menciona el itinerario alu-
dido. Y, como quiera que ya en otros trabajos se ha demostrado que la va-
riante sur entre Praesidium y Ad Aquas de la mencionada vía resulta
inadmisible5, sólo queda aferrarse a la variante septentrional, que es la que
ofrece, tanto la imprescindible sucesión de miliarios, vector definitivo para
la detección de una vía romana, en algunos casos marcando la correspon-
diente milla, como sectores estructurales, en diversos parajes de su decurso,
de la vía romana originaria. Es preciso, por lo tanto, situar en el entorno de
O Pindo la mansión de Caladunum debido a las razones antes expresadas.
Ahora bien, los restos romanos hasta ahora hallados en las proximidades
de O Pindo no nos ayudan, en absoluto, atendiendo a su modestia6, a tener que

Pág. 320 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


suponer la existencia, bajo los mismos, de mansión importante alguna, por lo
que, de momento, no cabe otra alternativa que ampliar las posibilidades de atri-
bución a yacimientos un poco más alejados. Y, en esa tesitura y como hipótesis,
nos ha parecido sugerente atribuir al castro de Pedrario, situado unos tres ki-
lómetros al norte de la vía, el honor de haber dado nombre a la mansión de la
que hablamos debido, tanto a su imponencia, como al sufijo –dunum del topó-
nimo, indicador de su posición defensiva. Imponente resulta este gran estable-
cimiento castreño, tanto por su extensión y sus tres recintos de murallas todavía
bien conservadas, como por los amplísimos horizontes que desde él se otean
hacia los cuatro puntos cardinales. Se nos objetará que la vía XVII no pasaría
por el lugar sino tres kilómetros más al sur, pero ello no impediría que la man-
sión tomase nombre de esta fortaleza mientras las instalaciones mansionarias
imprescindibles se encontrarían a la orilla de la vía, en un lugar situado entre
O Pindo y la mentada aldea de Arcos. Y ello tanto más cuanto que podríamos
aventurar, incluso, que sería este castro el posible caput (capital) de dicha ci-
vitas, cuyos dominios se extenderían desde el Larouco y el curso alto del Cá-
vado hasta, más o menos, el curso del río Beça, de norte a sur, y desde la Serra
de Barroso hasta la Portela de Lucenza, de oeste a este, de tal manera que serían
las laderas occidentales del valle de Monterrei las que marcarían la frontera
entre Caladuni y Tamacani. Por el norte, limitarían los Caladuni con los Limici,
a noroeste con los Quarquerni, al oeste con los Callaeci y al sur con los Aqui-
flavienses, coincidiendo,a grandes rasgos, su área de expansión con la actual
comarca de Barroso, más la española septentrional al río Búbal. No es válido,
por tanto, el intento de atribuir las tierras altas de Medeiros, Flariz, San Cris-
tobo, San Millao, Lucenza y A Xironda a los Bíbalos o Tamaganos, como en
otro tiempo hicimos casi todos, siguiendo la communis opinio. Por el contrario,
nos parece que este primer gran balcón meridional del Larouco gallego pudo
haber pertenecido al ámbito de los Caladuni, como ya hemos insinuado en es-
tudios anteriores, y no al de los Bibali, a los que hemos dado un posible aco-
modo al norte del Miño, en tierras regadas por otro río Búbal tributario de
aquél7, pudiendo relacionarse,también en este caso, hidrónimo y etnónimo. En
definitiva, son las tierras de penillanura de esta gran plataforma, agrandadas
hacia occidente y mediodía con la comarca portuguesa de Barroso, que podrí-
amos atribuir al ámbito territorial de los Caladuni.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 321


No se olvide, al respecto, sin embargo, que la unidad de esta comarca,
hoy día dividida por una frontera política, no sólo se halla avalada como tal en
la antigüedad, como acabamos de indicar, sino incluso hasta el siglo XII,
puesto que el límite entre las diócesis de Braga y Ourense avanzaba, desde O
Gerez, por la cumbre del Larouco hasta la portela de Lucenza, para proseguir
después rumbo al Monte Mísero, como relata el Liber Fidei de la Santa Iglesia
Catedral de Braga8. Así se explicaría que, una vez restaurada definitivamente
la diócesis de Braga, sea su primer arzobispo, don Pedro, quien consagre, du-
rante un mismo viaje pastoral, las iglesias de Vilar de Perdizes y Lucenza,
según documento que obra en el archivo de la Catedral de Ourense9. Lustros
después, llegaría la rectificación de las fronteras eclesiásticas al compás del
dictado de las oscilantes fronteras políticas entre reinos. La unidad histórico-
comarcal, por tanto, de una parcela del ámbito de los Caladuni, articulada en
torno al curso alto del Búbal, con tierras de uno y otro lado de la actual frontera
,resulta un hecho constatado, como lo es también su legado cultural, especial-
mente en la vertiente histórico-arqueológica, de la que vamos a ocuparnos, tan
sólo con ejemplos puntuales atribuidos a ambas partes, a continuación, ya que,
intentar hacerlo pormenorizadamente, a lo largo y ancho del territorio, daría
para una amplia tesis doctoral.
No cabe duda, además, de que la civitas de los Caladuni se subdividiría
en castella, según ha corroborado recientemente el bronce de Bembibre10; y
de los núcleos capitales de los mismos, los abundantes castros de la comarca,
haremos más tarde expresa mención. Sin embargo, la investigación, aliada con
la suerte, quiso que no lejos de Pena Escrita, en Vilar de Perdizes, y en la orilla
izquierda del regato de As Andurinheiras, descubriésemos en su momento11,
sobre una roca, dos inscripciones terminales dispuestas, de alguna manera, en
torno a una gran T, de Terminus, labrada sobre la cima de la peña, que mencio-
naría la divisoria entre dos posibles grupos sociales o gentilicios, en uno de los
casos seguidos de una C invertida, hoy día semidesaparecida. El nombre de
ambos limitáneos es Ripani o Ripau(m), en este caso en genitivo, y Puau(m).
¿Se trata de grupos gentilicios pertenecientes a los cercanos castros de Pedrario
o Castro da Mina, que habrían tenido que redefinir la frontera entre sus respe-
tivos territorios, según consta también en áreas portuguesas no alejadas de esta?
Es posible.

Pág. 322 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


2. La montaña que resultó ser un dios: el Larouco
El monte Lorouco, cuya altura máxima alcanza los 1525 m. sobre el nivel
del mar, y que en esta comarca de los Caladuni lo ha dominado todo y regu-
lado todo, dada su imponencia, en las diversas épocas, desde el clima a los pas-
tos para los rebaños o la leña de brezo para quemar, fue percibido como un
dios por nuestros antepasados. Lo supimos cuando, metidos en temas epigrá-
ficos, fuimos descubriendo que a uno y otro lado de sus laderas existían, por
lo menos, tres altares a él dedicados, que hacían suponer la existencia de otros
tantos santuarios erigidos a esta divinidad. El primero en Santo Antonio de
Monforte, en realidad Curral de Vacas, cerca de Chaves, desde donde el La-
rouco se divisa majestuoso en la lejanía, erigido por una señora, Ama, hija de
Pitilo, que intercede ante el dios por su marido12. Es posible que el epígrafe
perteneciese a un santuario dedicado a esta divinidad, pero no poseemos del
mismo vestigio alguno.
Por otra parte, y todavía más cerca, en las respectivas llanuras de los lados
norte y sur de la montaña, se han descubierto importantes vestigios del culto
ancestral a la misma.
En lo que respecta al lado sur, hemos llegado a la conclusión de que el
santuario rupestre de Pena Escrita, Vilar de Perdizes, dado a conocer en primera
instancia, juntamente con los epígrafes que aparecieron en sus inmediaciones,
por nuestro gran amigo el Padre Fontes13 y reestudiado posteriormente en de-
talle por quien esto escribe, juntamente con su descubridor14, es un santuario
dedicado al Larouco. Poseería en su evolución dos fases, por lo menos: una
prehistórica y otra romana. La primera estaría presente en las cazoletas artifi-
ciales, seguidas de surquillos de la misma naturaleza, que recubren una peña
aquillada emplazada en la llanura y rodeada de tierras de labor, así como otra
independiente, por el noroeste, si bien contigua a ella en la que también se des-
cubren asociaciones de cazoletas y otros símbolos. Durante la segunda fase se
procedería a la monumentalización del santuario prehistórico, imprimiendo al
altar la forma de capitel de un ara, pero respetando todas las piletas anteriores,
a excepción de la central, que se agrandaría a modo de foculus gigante. Lo cu-
rioso es que las nuevas caras cenitales que se abren ahora en torno a la cornisa
se decoran con alineaciones de crecientes incisos o, si se quiere, herraduras, lo
que corrobora la persistencia de este icono prehistórico durante la época ro-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 323


mana. Creímos en un principio que se trataba de letras, lo que corroboraría el
topónimo Pena Escrita con el que se conoce el lugar, y hasta ensayamos a la
sazón algunos intentos de lectura (15) que en trabajos posteriores hemos des-
echado, por cuanto llegamos a la conclusión de que se trata de simples cre-
cientes colocados en diferentes posiciones.
Sin embargo, la atribución que del santuario hacemos a Larouco deriva
del hallazgo de dos altares casi idénticos en las inmediaciones del de Pena Es-
crita en los años setenta de la pasada centuria, que dimos a conocer el P. Lou-
renço Fontes y yo mismo en el segundo congreso de arqueología peninsular
de Guimaraes (16). Uno de ellos se halla dedicado a Júpiter óptimo Máximo
por Capito Carminius y el otro a Larouco, dios máximo y , a la vez, montaña
máxima, bajo la expresión pedroni maximo, sin que conste el dedicante, ya
que las terminaciones de los posibles vocablos que podían sugerirlo no avalan
esta posibilidad17. A nuestro modo de ver, por tanto, y dada la identidad en las
medidas, así como la de la fórmula de consagración, amén de la semejanza
formal exterior, se trata de una ofrenda doble de dos altares casi gemelos por
parte de Capito Carminius, quien en esta ocasión, y debido a la falta de espacio,
no considera necesario plasmar su nombre en una dedicatoria que todos le atri-
buirían, por evidente. Ahora bien, ¿qué pretendería el oferente con esta doble
dedicatoria conjunta? En nuestra opinión, identificar a dos divinidades sobe-
ranas, el Júpiter romano y el Larouco indígena, efectuándose un acto eviden-
tísimo de interpretación y asimilación de poderes de dos divinidades de
naturaleza idéntica y sólo diferente en cuanto al teónimo. Y a ello vendría el
atribuir a Larouco el epíteto de Máximo, exclusivo de Júpiter, por partida
doble: por ser dios supremo y porque, además, es una imponente montaña gra-
nítica, en realidad un auténtico horst emergido de la penillanura en el terciario,
que le permite asimilarse con la divinidad suprema de Roma. No soy ajeno a
que la lectura ped(roni), derivado de petra/petro, posee sus dificultades, pero
no encuentro otra posible ni coherente con el resto del texto. Como paralelo
homologable, todos conocemos el caso del Gran Saxo italiano, ese macizo ape-
nínico, asimismo divinizado en el antigüedad; pues bien, saxum es el equiva-
lente semántico de nuestro petro, en este caso con la t ya sonorizada, y el
adjetivo Grande, que le precede, el paralelo de magno o máximo. Por otra parte,
y a propósito de asociaciones de montes con divinidades de la primera función,

Pág. 324 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


no se olvide que el monte Teleno, en León, también divinizado en la antigüe-
dad, aparece en una inscripción de sus mismas proximidades asociado, en este
caso, con el Marte romano, también un dios, en este caso de la segunda función
dumeziliana18.
Pero no acaban aquí las dedicatorias a esta divinidad. Al otro lado de la
montaña, en la capilla de la Asunción, de Baltar, se conservan otros dos altares,
uno de ellos claramente dedicado a d(eo) Reve Larauco por vallius Aper de-
bido a un voto que había hecho. Procederían, a buen seguro, del cercano castro
de Santantuíño, también denominado Outeiro de Baltar19. En este caso, sin em-
bargo, la interpretatio se daría entre dos divinidades indígenas, Reva, deidad
de amplio radio, y por tanto con atributos universales, y Laraucus mismo, al
que se consideraría también como un dios supremo.

3. un silvano indígena: el dios Ráncero de Remeseiros, vilar de Per-


dizes
La presente gran inscripción rupestre fue dada a conocer inicialmente por
Thomé de Távora y Abreu, en el siglo XVIII, quien la envió para su publicación
a Contador de Argote20. Transcurridos dos siglos y medio ha sido redescubierta
en los años setenta de la pasada centuria por Lourenço Fontes21, siendo varios
los que posteriormente nos hemos ocupado repetidamente de su interpreta-
ción22. En cuanto a la segunda parte del texto, extremadamente críptica y di-
fícil, se fue perfeccionando progresivamente su lectura, a través de los años
desde entonces transcurridos, sobre todo después de la obtención, por nuestra
parte, de un calco directo en 1993. En lo que se refiere a las formalidades de
la inscripción, y pese a nuestra interpretación inicial como pacto entre dos pue-
blos al creer, siguiendo la opinión de Tovar, que el Ranceroi final de la ins-
cripción estaba en nominativo plural, todos, al fin, hemos coincidido en lo que
ya Contador de Argote intuyó en el siglo XVIII, esto es, que se trata de un
asunto de arrendamiento de tierras, con distintos matices según los autores23.
Sin embargo, Contador no acierta a transmitir más que un segmento de la pri-
mera parte del epígrafe. Por ello, las divergencias se hacen insalvables en lo
que respecta al fondo histórico, puesto que, mientras G. Pereira y seguidores
insisten en que se trata de una locatio conductio de tierras pertenecientes al
estado romano al inicio de la presencia de Roma en el Noroeste, que arrendaría

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 325


a comunidades indígenas o, en este caso, a particulares, otorgándoles, no la
propiedad sino la posesión24, por nuestra parte, y tras ir cambiando paulatina-
mente de parecer, al compás de los avances epigráficos, tanto propios como
de otros, hemos acabado por concluir, primero, que la inscripción es muy tar-
día, posiblemente ya del Bajo Imperio, atendiendo a las peculiaridades del latín
empleado25 y al criterio mismo de un especialista tan renombrado en la materia
como Carnoy26) y, segundo, que el que la promueve no se llama Allius sino
Callida, por tanto una mujer. Por eso, en el último de nuestros estudios sobre
el tema27, nuestra conclusión era de que se trataría del arrendamiento de un
valle o una cañada, nombres ambos femeninos para poder concordarlos con el
supuesto demostrativo (h)ac , por parte de una señora llamada Cálida, a alguien
que no se menciona. Pero lo importante sería que, más que de un acto jurídico
de locatio/conductio, arrendamiento, que, por supuesto, se supone realizado
anteriormente, se trataría de una defixio o conjuro realizado ante el altar ru-
pestre del dios del lugar, equivalente a Silvano, la deidad romana de los bos-
ques, para lograr el buen suceso del alquiler de un saltus, si se tienen en cuenta
las características del paraje, y como para corroborar el éxito del acto jurídico
de arriendo con anterioridad realizado, según se supone. Sin renunciar a nin-
guna de aquellas ideas, sólo querríamos añadir en este trabajo que hoy día nos
parece que ese ac que se repite por dos veces podría ser, con más derecho que
un demostrativo femenino, la abreviatura de ac(ta), pero no en plural, pese a
antecederle in, y con el significado de actos jurídicos, sino en singular, y como
apócope de ac(ta), que según los diccionarios, significa orilla o ribera de una
cañada. Posiblemente, Cálida sería la dueña de un pequeño latifundio pastoril,
una de cuyas laderas arrendaría. Ahora bien, en dicha propiedad existirían, ade-
más del terreno mismo, pastos, esquilmes, árboles y leña, alguno de cuyos ele-
mentos podría haberse reservado para sí, por ejemplo la madera. Por ello,
traducir la p, seguida de punto, de la tercera línea por p(artem) y no por
p(ascua), pastos, como habíamos hecho en la última de nuestras publicaciones
, nos parece lo más adecuado. Dicho lo que antecede, nuestra versión actual
del texto, que viene a matizar ligeramente otras anteriores, sería la siguiente:
Callida Rebu^rri. (filia) rogo deu(m). adiutorem/ in ac(ta) conducta. Con-
servanda/. Si q(u)is in ac(ta) conducta p(artem) migi au^t m^eis/ involaverit.
si r(estaret) quaecunqua^e res f(urtum) miis/ it(erum) a(fferat)

Pág. 326 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


si s(olet) si l(iquet) si quit. ea p^r(a)es(ens) v(otum) s(olvit) l(ibens)
v(olenti) d(eo)/ Ranceroi.
“Yo, Cálida, hija de Reburro, ruego al dios auxiliador que me conserve
la ribera de esta cañada que he arrendado.Si alguien robase alguna parte (de la
ribera arrendada), a mi o a mis descendientes, si faltase en el futuro cualquier
cosa (de la misma), que lo sustraído lo reintegre (el ladrón) a mis posesiones,
siempre que sea de ley, esté claro y pueda hacerlo.
Presente ella misma, en persona, ante el altar, ofreció (por este motivo)
su voto, con complacencia, al benevolente dios Ráncero”.
En nuestra opinión, por tanto, y como ya se ha insinuado, la protagonista
sería una mujer, Callida, y no un varón, Allius, como dice el resto de tratadistas
desde Contador de Argote. Ello, aparte de ser evidente a través de los rasgos
paleográficos que se conservan, viene a confirmarse por la necesidad de con-
cordar el género de la oferente con el ea p^res(ens) del final, por cuando es un
sujeto femenino el que impetra al dios ayudador en la primera línea y ofrece
el voto al mismo, ya llamado Ráncero, en la última.
Resulta, por otra parte, imprescindible interpretar coherentemente el sig-
nificado de distintas siglas seguidas de punto para que el texto tenga sentido.Y
a tal respecto, y después de múltiples ensayos, creemos que la p. solitaria del
tercer renglón no significa possesio, posesión, como afirmaba Pereira y cola-
boradores, ni siquiera pascua, pastos, como nosotros mismos habíamos pro-
puesto, sino partem, parte. Pero todavía resulta más difícil identificar la letra
entre puntos del segmento final de la cuarta línea. Se trata de una F peculiar, y
la clave para poder reconocerla nos la han suministrado dos inscripciones fu-
nerarias de Riós y Vigo y una rupestre de Chaves. Lo mismo sucede con el
pronombre sustantivado miis, al final de ese mismo renglón, que sería el dativo
plural de mea, mearum, las cosas mías.
Otras siglas posteriores resultan de más difícil interpretación, como es el
caso de las del inicio de la quinta línea. Sin embargo, el significado que se les
atribuye parece perfectamente verosímil. En todo caso, en este mismo renglón,
se hace preciso descubrir un triple nexo p^r^e, con la r subyugada bajo el re-
dondel de la p, en el vocablo pr(a)esens, por otra parte intuíble a través del
análisis de los rasgos.
Finalmente, que no extrañe el dativo en –oi de la divinidad. Se trata de

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 327


reminiscencias de la lengua lusitana, visibles también en el Tongoenabiagoi
de la Fonte do Ídolo de Braga y en los Coeliobrigoi y demás dativos de la ins-
cripción de Lamas de Moledo28.
Y, dicho lo que antecede, no está por demás que, con los datos obtenidos,
intentemos diseñar el contexto histórico dentro del que se genera la inscrip-
ción.
Retraigámonos al siglo IV avanzado. En el entorno de Pena Escrita, al
oeste del actual Vilar de Perdizes, existiría un gran poblado romano cuyos ves-
tigios son todavía reconocibles hoy día. Allí, o en un fundo próximo, viviría
con su familia una rica mujer, Cálida, hija de Reburro, la cual, por no poder
explotarla directamente, habría arrendado, no sabemos a quien, ya que no
consta en el documento que hoy conocemos, la ladera septentrional de la pro-
funda cañada de Remeseiros, a la que parte en dos un arroyo, cubierta de ar-
bolado, monte bajo y pastos, tal como aún hoy día se percibe. Efectuada la
ceremonia jurídica romana de la locatio-conductio, la arrendataria sería presa
del temor de que pudiesen engañarla y arrebatarle parte de su propiedad o, en
el mejor de los casos, los árboles o pastos que se había reservado para sí. Por
eso recurre al dios que protege el lugar, Ráncero, que no es otro que el dios in-
dígena de la floresta, equivalente al Silvano de la religión romana, quien mo-
raría en este nemus o templo naturista objeto del arrendamiento en cuestión,
y cuyo altar sería, además, el penedo de Remeseiros, en el que se advierten to-
davía cazoletas cultuales, posiblemente prerromanas ya, en el que mandaría
grabar la inscripción. Ejecutada esta con la impetración al dios para que su
propiedad no mermase o, en el caso de que se efectuase algún robo, se descu-
briese la fechoría y se reintegrase, de nuevo, a sus bienes lo robado.Y después
de dar por buena la oración al dios auxiliador Ráncero, seguiría el sacrificio
ofrecido por ella misma devotamente ante el altar de la divinidad, asimismo
naturista, puesto que se trata de una roca informe. La mujer menciona, de al-
guna manera, a sus descendientes, por lo cual, suponer que estaba casada o
viuda no constituye temeridad alguna.
En resumen, la presente inscripción no constituye propiamente una lo-
catio/conductio, como comunmente se afirma, aunque la supone y es conse-
cuencia de ella. Por otra parte, y en rigor, tampoco se trataría de una defixio o
maldición, impetrando al dios el castigo violento de los ladrones, pese a las

Pág. 328 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


reiteradas condicionales del quinto renglón, sino, más bien, de una especie de
plegaria para que la tierra arrendada no sufriera merma o, en caso de que eso
aconteciese, se procediese a la devolución con arreglo al código vigente.
Y concluímos, por hoy. En el tintero quedan sin tratar temas de tanta tras-
cendencia como el castro de Pedrario, la línea de fortificaciones castreñas del
Búbal, con ejemplares tan monumentales como Grou, Castro da Mina, Castro
de San Millán, Cidá da Madanela, Muralla do Búbal o el Castelo das Chás,
por no citar la joya de la corona, actualmente, que es el Castro de Saceda, ya
extensamente excavado y a punto de ser puesto en valor. También hubiésemos
querido referirnos a los extensos poblados romanos de Pena Escrita, Gralhas,
Carvas, en A Xironda, San Salvador de Medeiros y, sobre todo, Santa Marta,
en Lucenza, tambien parcialmente excavado en su momento, así como a las
villas romanas de Viduedo, Villerma, Moimenta o Grou mismo, pero tendrán
que quedar para otra ocasión.
En fin, como estudioso enamorado de esta tierra, que es la mía, hice lo
que pude en mis años de novel investigador. Después, y distraído por otras ta-
reas más apremiantes, tuve que irme ausentando de ella. Y, a fé que lo lamento,
porque este es uno de los paraísos de la arqueología, hoy día llamada del pai-
saje. Espero que las generaciones de jóvenes arqueólogos actuales o del futuro
tomen con entusiasmo el relevo.

Bibliografía
BLÁZQUEZ, J.M.,Religiones Primitivas de hispania.Salamanca, 1962.
CARNOY,A.J., Le latin d´espagne daprés les inscriptions.New York, 1972, 2ª edic.
COELHO FERREIRA DA SILVA,A.A cultura castreja no noiroeste de Portugal.Paços de Ferreira, 1986.
CONTADOR DE ARGOTE, FR. J.,Memórias para a história eclesiástica do arzebispado de Braga.Lisboa,
1732.
DÍAS BAPTISTA,, j.,”Vía prima, a vía imperial romana de Braga a Astorga”,Revista Aquae Flaviae, 3,
1990.
DÍAS BAPTISTA,J.,”Ubi Caladunum et Praesidium”, Revista Aquae Flaviae, 7, 1992..
DOPICO CAINZOS,D.-PEREIRA MENAUT,G., “ La gran inscripción de Remeseiros (CIL, II, 2476).Sobre
la forma jurídica de la tenencia de la tierra entre los indígenas bajo dominio romano”,Actas del segundo
congreso peninsular de historia antigua.Coimbra, 1994.
DOS SANTOS,L.-LEROUX, P.-TRANOY, A.inscriçoes romanas do museu Pío Xii em Braga.Braga, 1983.
DURO PEÑA, “Diferencias de límites entre las diócesis de Braga y Orense en el siglo XII”, Archivos Leo-
neses,1972.
GóMEZ MORENO, M.,Catálogo Monumental de españa. Provincia de León. Madrid, 1921.
GARCÍA, J.M., Religioes Antigas de Portugal.Lisboa, 1991.
GONZÁLEZ FERNÁNDEZ,J., Corpus de inscripciones latinas de Andalucía, vol. i.huelva.Sevilla, 1989.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 329


LOURENÇO FONTES, A,”Culto ao deus Larouco, Júpiter e Ategina”, Actas do ii Seminario de Arqueología
do noroeste Peninsular.guimaraes,1980, III, 5-20.
PEREIRA MENAUT,G.-FERREIRA DE ALMEIDA,C.A.,”a Grande inscriçao de Remeseiros,Vilar de Per-
dizes, Montalegre (CIL, II, 2476).Arqueologia, iv. Porto, 1981.
RODRÍGUEZ COLMENERO, A.,”Los divoi y devai icémicos receptores de un pacto de hospitalidad entre
dos grupos gentilicios de la Gallaecia romana”.Primera Reunión de estudios Clásicos. Santiago de Com-
pòstela, 1981.
RODRÍGUEZ COLMENERO, A. Aquae Flaviae i. Fontes epigráficas (1ª edic.).Braga, 1987. (Câmara Mu-
nicipal de Chaves).
RODRÍGUEZ COLMENEROA., Aquae Flaviae.i.Fontes epigráficas da gallaecia meridional interior.San-
tiago de Compostela,, 1997( Câmara Municipal de Chaves).
RODRÍGUEZ COLMENEbRO, A., Lucus Augusti i.el amanecer de una ciudad. A Coruña, 1996 (Fundación
Pedro Barrié de la Maza).
RODRÍGUEZ COLMENERO A.- FERRER SIERRA,S.-ÁLVAREZ ASOREY, R.D.,Miliarios e outras ins-
cricións viarias romanas do noroeste hispánico. Santiago de Compostela, 2004 (Consello da Cultura Ga-
lega).
RODRÍGUEZ COLMENERO,a.,”Los castella de Susarros y Gigurros en el Noroeste Hispánico y sus pri-
meras relaciones con Roma a través del Bronce de Bembibre y otros documentos de reciente aparición”, en
Grao Lobo,L-Hoyas, J.L.(coord.), el bronce de Bembibre, un edicto del emperador Augusto .León, 2001.
RODRÍGUEZ COLMENERO,A “Corpus-Catálogo de inscripciones rupestres de época romana del cua-
drante noroeste de la península ibérica”, en A. Rodríguez colmenero-l.gasperini, Saxa Scripta ( inscripciones
en roca).Actas del simpòsio internacional íbero-itálico sobre epigrafía rupestre.Santiago de Compostela y
norte de Portugal, 29 de Junio a 4 de Julio de 1992. A Coruña, 1993 (Anejos de Larouco, II).
RODRÍGUEZ COLMENERO, A.,”Montanhas sagradas no Noroeste Hipánico:Larouco, Marao e Teleno”,
en Religioes da Lusitania.Saxa Loquuntur.Exposición conmemorativa del centenario de Leite de Vascon-
celos. Lisboa, 2002.
RODRÍGUEZ COLMENERO-LOURENÇO FONTES, “El culto a los montes enre los Galaico-romanos”,
ii Seminario de Arqueologia do noroeste Peninsular.guimaraes, 1980.
TÁVORA Y ABREU, T., noticias geográficas e históricas da provincia de Tras Os Montes, 1722-1723.
Mss,bibl. Lisboa,, fp. 221.
TRANOY,A.,La galice Romaine.Paris, 1981.

1
itin. Ant.,42,-3-5.
2
II, 6,38:Kalándonon.
3
Rodríguez Colmenero, A.,Aquae Flaviae…, 28-29,; Lucus Augusti i…229 (mapa), rectificando varios años
más tarde, hacia el emplazamiento que le damos hoy día ( Rodríguez Colmenero- Ferrer Sierra-Álvarez
Asorey, Miliarios…,124-125).
4
Claramente expresiva resulta una inscripción de Chaves, hoy día perdida, que da a conocer por primera
vez Távora (noticias,109) y Contador de Argote (Memorias…,394), recogida posteriormente en CIL, II,
2477 y Rodríguez Colmenero, Aquae Flaviae…, 368, con el texto:
Laucia Maturi f(ilia) Caladuma > Saqua…, en donde se percibe nítidamente la mención de la civitas seguida
de la expresión de la unidad subordinada, en este caso precedida de la c invertida. Lo mismo en EE, VIII,
20; Tranoy, galice…,249:…..elica…/eltici…./adun(ensis)..Igual de nítido en L.Santos-P. Le Roux-A. Tranoy,
inscriçoes…,19:….Cundenae f(ilius) Caladu[n]us….; y definitivo en J. González, Corpus….,[M(arcus)
Anton[nius] M(arci) f(ilius) c[ala]dunus > Ca[ …]o annorum XX…., de nuevo con la expresión, mediante
c invertida, de la unidad subordinada.
5
Rodríguez Colmenero A.-Ferrer Sierra-Álvarez Asorey, R., Miliarios e outras inscriçoes…,113-114, adhi-
riéndose a la teoría anteriormente sustentada por Días Baptista, ubi Caldunum…69, y via Prima…,145.

Pág. 330 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


6
Efectivamente, Diaz Baptista, via Prima ,153, sitúa dicha mansión en Arcos, pero no ofrece el debido so-
porte arqueológico. Por nuestra parte, hemos localizado entre Arcos y O Pindo, al lado mismo del decurso
de la vía, el topónimo Miumentos correspondiente a unas fincas de labor en donde se descubre cerámica ro-
mana, según se nos ha informado. Deducimos que el topónimo podría hacer alusión a enterramientos anti-
guos y esta necrópolis ser indicio de la existencia de una instalación viaria.
7
Rodríguez Colmenero, A.,Aquae Flaviae….,22, dándoles como capital el castro de San Cibrán das Lás, al
norte del Miño.
8
Costa,Liber fidei…,379.
9
Duro Peña, E., “Diferencias de límites entre las diócesis de Braga y Orense en el siglo XII”, Archivos Le-
oneses, 1972.
10
Rodríguez Colmenero, A., “Los castella de Susarros y Gigurros en el Noroeste Hispánico y sus primeras
relaciones con Roma a través del bronce de Bembibre y otros documentos de reciente aparición”, en L.
Graou Lobo y José L. Hoyas (coord.),el bronce de Bembibre.un edicto del emperador Augusto. (Junta de
Castilla-León).León, 2001, 67-96.
11
Rodríguez Colmenero, A., Aquae Flaviae..,457-458.
12
Rodríguez Colmenero A., Aquae Flaviae…,147, con bibliografía más o menos completa.Nuestra inter-
pretación es allí Larocuo/ Ama Pitil/i filia libe(nte) animo vo/tum retuli(t)/ pro marito su(o).
13
Lourenço Fontes, A., “ Culto ao deus Larouco,Júpiter e Ategina”, Actas do Seminario de Arqueologia do
noroeste Peninsular.Guimaraes, III, 1980, 5-20.
14
Rodríguez Colmenero, A.-Lourenço Fontes, A.,”El culto a los montes entre los Galaico-romanos”, Actas
del Seminario de Arqueología del noroeste Peninsular. Guimaraes, 1980, 21 ss; A. Rodríguez
Colmenero,”Corpus-Catálogo de inscripciones rupestres de época romana del cuadrante noroeste de la pe-
nínsula ibérica “, en A. Rodríguez Colmenero-L. Gasperini, Saxa Scripta (inscripciones en roca).Actas del
Simposio internacional ibero-itálico sobre epigrafía rupestre.Santiago de Compostela y norte de Portugal,
29 de Junio a 4 de Julio de 1992 (Anejos de Larouco, 2), 190-193; “Montanhas sagradas no Noroeste His-
pánico: Larouco, Marao e Teleno” en religioes da Lusitania.Saxa Loquuntur.Exposición conmemorativo
del centenario de Leite de Vasconcelos, Lisboa, 2002,33-38.
15
Rodríguez Colmenero, Aquae Flaviae…(1ª edic.).Braga, 1987,193-194.
16
Cit. nota anterior y A. Rodríguez Colmenero, Aquae Flaviae, 65 y 148.
17
Hay autores que se resisten a leer pedroni maximo, absteniéndose de emitir opinión.Otros, como J.M.
García, religioes Antigas de Portugal.Lisboa, 1991, 334-335 quieren ver el dedicante en el primer
Max(imus), siendo Ped( ) su complemento.Pero como quiera que el segundo Maxumo, en dativo o ablativo,
es incontestable, se arma un gran lío tratando de conciliar dos epítetos idénticos y aplicados al mismo dios.En
nuestra opinión, la única manera de poder atribuir a la inscripción un dedicante sería interpretar después del
Larauco inicial d(ecimus) Max(imus) , con lo cual sí que podrían atribuirse al dios los atributos ped(roni
maxumo.Pero ello tiene el inconveniente de que el grupo nominal del dedicante se ienterpondría entre el
nombre del dios y sus epítetos, cosa que no puede admitirse, por insólita, además de tener que interpretarse
ped como nosotros lo hacemos.
18
Gómez Moreno, M.,Catálogo Monumental de españa. Provincia de León. Madrid, 1925, 65; Blázquez,
J.M.,Religiones Primitivas de hispania.Salamanca, 1962,126; Rodríguez Colmenero, Montanhas sagra-
das…36.
19
Rodríguez Colmenero,Aquae Flaviae…,149.
20
Contador de Argote, Memorias…,III, 1325. También CIL, II, 2476.
21
Cit. nota. 11.
22
Rodríguez Colmenero A., “ Los divoi y devai icémicos receptores de un pacto de hospitalidad entre dos
grupos gentilicios de la Gallaecia romana”, Primera Reunión general de estudios Clásicos. Santiago de
Compostela, 1981; Pereira Manaut, G.-Ferreira de Almeida, C.A.,” A grande inscriçao de Remeseiros, Vilar
de Perdizes, Montalegre ( CIL, II, 2476).Arqueologia, iv.Porto, 1981; Rodríguez Colmenero, La gran is-
ncripción…, Arqueología, iv, 1985; A. Coelho Ferreira da Silva,A cultura castreja no noroeste de

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 331


Portugal.Paços de Ferreira, 1986,287; A. Rodríguez Colmenero,Aquae Flaviae….,2ª edic., 1997, 448-454.;
Corpus-Catálogo….,136-140.
23
Estas son las palabras de Argote: “…donde venho a conjecturar que esta inscriçao foi posta a respeito de
alguma fazenda alugada, e por pessoa que meia lhe robasen algums dos frutos dela.Iso é o que posso per-
ceber”
24
G.Pereira-C.A. Ferreira de Almeida, A grande inscriçao…,142 ss; D. Dopico-G. Pereira, “La gran ins-
cripción de Remeseiros(CIL, II, 2476).Sobre la forma jurídica de tenencia de la tierra entre los indígenas
bajo dominio romano”, Actas del segundo congreso peninsular de historia antigua.Coimbra, 1994, 653 ss
25
El migi, por mihi, de la tercera línea es una de las pruebas más evidentes.
26
A.J. Carnoy,Le latin d´espagne daprés les inscriptions..New York, 1971 (2ª edic.), 246 ss.
27
Rodríguez Colmenero, A., Aquae Flaviae…,446-454.
28
Dicha palabra es polisémica, pudiendo significar ribera o playa. (Cic., Verr. 5. 63; 594. Virgilio, En. 5,
613) o, en otra versión, actos jurídicos, leyes (F. Gaffiot, Dictionarire latin-francais. Paris 1934, 25.).

Figura 1. Ara de Pena Escrita Figura 3. Inscripción del Penedo


(Vilar de Perdizes) dedicada a Jú- de Remeseiros (Vilar de Perdizes)
piter

Figura 2. Ara de Pena Es-


crita (Vilar de Perdizes) de-
dicada a Larouco

Figura 4. Detalle de la inscripción Figura 5. Otro detalle de la ins-


del Penedo de Remeseiros (Vilar cripción del Penedo de Remeseiros
de Perdizes) (Vilar de Perdizes)

Pág. 332 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


eL PoBLAMiento RoMAno en LA gALiciA oRientAL:
PAtRones y diFeRenciAs deL suR Lucense y eL noRte
ouRensAno. LA tieRRA de LeMos coMo PARAdigMA
ROMAn SeTTLeMenT in eASTeRn gALiCiA: PATTeRnS And
diFFeRenCeS OF The nORTh And SOuTh OF OuRenSe. TieRRA
de LeMOS AS A PARAdigM

Manuel Grande Rodríguez


lAborAtorIo de ArqUeoloxíA dA UnIverSIdAde de vIgo; grAnde@UvIgo.eS

Resumo: El poblamiento de la gallaecia interior en época romana presenta unas singularidades


con respecto a otras zonas del Noroeste antiguo que la determinan como una entidad bien defi-
nida. El norte ourensano y el sur lucense presentan una similitud en la articulación del territorio
que debe ser explicado por la suma de las peculiaridades de las comunidades prerromanas y de
los intereses concretos del estado romano en dicha zona.
El paisaje común es un mundo rural de base agropecuaria en la que Roma aplicará un modelo
distinto de integración y asimilación al no poder llevar a cabo el paradigma clásico de romani-
zación basado en la ciudad y el modo de producción esclavista. Explicar por qué no fue posible
aplicar dicho modelo, qué caracterizó a las medidas llevadas a cabo por Roma para integrar en
sus redes administrativas y socio–políticas a esta zona y cómo afectó este proceso a la red de
poblamiento y a la explotación del territorio, serán las cuestiones que vamos a intentar dilucidar.
Los resultados del análisis arqueológico del paisaje en conjunto con las fuentes escritas serán
nuestros argumentos.
Palavras-chave: Arqueología del Paisaje, Territorio, Historia Antigua, Romanización.

Abstract: The settlement of the gallaecia interior in Roman times presents some unusual com-
pared with other areas of the former northwest that determine a well-defined entity. The north
of Ourense and south of Lugo have a similarity in the articulation of the territory that must be
explained by the amount of the peculiarities of communities pre-Romans and the specific interests
of Roman rule in that area.
The landscape is common in rural agricultural base in Rome that apply a different model of in-
tegration and assimilation by not being able to perform the classical model of Romanization
based in the city and slavery. explain why it was not possible to implement such a model, which
characterized the actions carried out by Rome to integrate their networks in administrative and
socio-political in this area and as this process affected the network of settlement and exploitation
of the territory, will be the issues that we’re going to try to elucidate. The results of the analysis
of the archaeological landscape together with the written sources will be our arguments.
Keywords: Landscape Archaeology, heritage, Ancient history, Romanization.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 333


1. introducción
La romanización del Noroeste fue un proceso complejo y variado que
afectó de diferente manera a las distintas zonas que lo conformaban. Esto se
debió a que el modelo de integración y asimilación aplicado no fue el denomi-
nado “clásico”, basada en la implantación de la ciudad y el modo de producción
esclavista. Sin embargo, la integración de las comunidades indígenas del Nor-
oeste se realizó siguiendo distintos modelos, en base a dos factores: las propias
peculiaridades de las comunidades locales; y los intereses de Roma, funda-
mentalmente económicos.
La peculiaridad de proceso histórico apenas se transluce en las fuentes li-
terarias que son demasiado parcas al relatar dicho proceso. Sin embargo la lec-
tura del paisaje como registro arqueológico del mundo antiguo, si puede
acercarnos a esa realidad pasada, y a los cambios producidos durante la inter-
acción entre indígenas y conquistadores. Las fuentes clásicas no registran la
diversidad existente dentro del Noroeste protohistórico, caso de la gallaecia
interior1. Sin embargo, la administración romana diferencia a los Callaicos en
Lucenses y Bracarenses. Una división que traza dos unidades administrativas
con una geografía bien definida: los primeros al norte de la línea imaginaria
que trazarían el río Sil y el Lérez hasta el mar Cantábrico, y los segundos al
sur de la misma hasta el Duero.
Las comunidades y pueblos de la gallaecia antigua no poseían una homo-
geneidad suficiente que respondiera a una división radical, ya que al igual que
la propia denominación atribuida, los romanos inventaron una identidad co-
lectiva y administrativa que per se no existía. Esto no quiere decir que no haya
similitudes significativas entre estas comunidades, algunas de carácter étnico-
cultural bastante palpables.
La investigación sobre el sur lu-
cense y el norte ourensano viene a
completar la visión del poblamiento y
paisaje antiguo de la gallaecia inte-
Figura 1. Localización de
rior (Fig. 1) en época prerromana y ro- la gallaecia interior (Sur
mana. Intentaremos averiguar cuales Lucense y Norte Ouren-
fueron las claves a la hora de ocupar sano) y la Tierra de Lemos
(TDL) con respecto al
el espacio, los patrones de pobla- Noroeste castreño

Pág. 334 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


miento y la explotación del territorio, y las posibles diferencias con otras re-
giones de la gallaecia antigua. Pese a pertenecer a conventus iurídice diferen-
tes, tanto el sur lucense como el norte ourensano son regiones con muchas
similitudes patentes en su común paisaje agrario antiguo de pequeñas comu-
nidades rurales.
La zona nuclear sobre la que se centra la investigación es la Tierra de
Lemos (TDL en adelante), aunque se han extendido los estudios por su periferia
occidental (Fig. 1) –tierras de Chantada y Carballedo en Lugo–, septentrional
–Sarria– y meridional –Terras de Caldelas y Nogueira de Ramuín–. La TDL
es una región guarda una patente homogeneidad geográfica y cultural, com-
partimentada por unas fronteras naturales bien delimitadas2, conformando una
unidad específica desde antiguo, con un poblamiento similar en base a unos
patrones análogos. La actual comarca de TDL parece forjarse sobre la pretérita
civitas Lemavorum, unidad administrativa definida por el estado romano3. Este
hecho nos permite analizar la dinámica del poblamiento, territorialidad y ex-
plotación del territorio no sólo en el cambio de la Cultura Castreña y el dominio
romano, sino, sobretodo, dentro de la célula básica de la administración en el
Noroeste: la civitas. Es obvio que no se puede reconstruir con total exactitud
el territorio de dicha entidad administrativa, pero eso no evita que los resultados
de la exploración de la TDL muestren hipótesis e inercias válidas y significa-
tivas, acerca de la naturaleza y grado de romanización del interior galaico.
El resultado es una investigación diacrónica del poblamiento y explotación
del territorio de la actual TDL desde el pasado protohistórico (Ier Milenio a.E.),
del cual conocemos el nombre del pueblo que habitó esta zona, los Lemavi,
hasta la Alta Edad Media (V–IX/X) certificando el desarrollo y las peculiari-
dades de dicho proceso, en donde el estado romano jugó un papel fundamental
y catalizador de muchas transformaciones tanto en la estructura de poder como
la articulación del poblamiento.

2. el poblamiento protohistórico en en interior galaico: el caso de la tierra


de Lemos
El poblamiento del interior galaico en el I Milenio a.E. se desarrolla dentro
de la denominada Cultura Castreña y está protagonizado en su última fase (Hie-
rro II) por el pueblo de los Lemavi (Grande Rodríguez 2008) mencionados por

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 335


las fuentes clásicas (Plinio, naturalis historiae III, 18; y Ptolomeo,
gheografía, Tabla II capítulo 6, 25).
Las comarcas de la gallaecia interior que cuentan con estudios arqueoló-
gicos espaciales muestran semejanzas significativas entre sí, en cuanto al po-
blamiento prerromano de esta zona. La TDL puede ser un buen ejemplo de las
características del mundo interior ya que coincide con otras zonas de las que
tenemos datos –Terra Chá, Trasdeza, Lugo, Chantada, Sarria, Samos, Tierras
de Caldelas…–.
En la zona interior de la gallaecia antigua, el tamaño y la ubicación topo-
gráfica de los castros, presentan notables diferencias con respecto a otras zonas
del Noroeste. El modelo de poblamiento protohistórico en la TDL es diferente –
a veces muy diferente– de otras regiones de la gallaecia, que asimismo se suelen
asumir como prototípicos de la Cultura Castreña (caso de la zona meridional y
costera bracarense). El patrón de poblamiento que resume dichas características
evidencia la naturaleza de la territorialidad y la organización social de esta zona.
El gran número de castro de la TDL, (100 aprox.), y la falta de cronologías
exactas de los mismos, hace muy difícil una lectura precisa de su dinámica de
poblamiento. Pero la concreción de catálogos cada vez más sistemáticos y las
prospecciones espaciales y superficiales tratadas con mejores herramientas –
como los SIG–, hacen posible la confección de un patrón de poblamiento y de
sus bases económicas, de carácter genérico pero representativo.
La mayoría de los castros no supera la hectárea de extensión, y dentro de
estos, casi dos tercios ni siquiera alcanzan la media hectárea (Grande Rodríguez
2007) en época pre- Figura 2. Mapa de ubicación
rromana. Hecho de los castros de la TDL en
análogo a otras re- relación a los usos del suelo.
Nótese la mayor densidad
giones del interior del sector occidental y cen-
galaico (Carballo tral fruto de la colonización
agropecuaria
Arceo 1986; Ferrer
Sierra y González
Fernández 1996).
Algunos de los que
presentan dimensio-
nes más amplias –

Pág. 336 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


más de 1´5 Ha.– cuentan con grandes y complejos sistemas defensivos o difi-
cultades orográficas que limitan muy mucho la superficie habitable. La con-
clusión extraída de este examen, es la existencia de comunidades de reducido
tamaño y escasa complejidad social.
Su emplazamiento y distribución documentan una ocupación parecida a
otras zonas de la Cultura Castreña, pero con notables singularidades. El po-
blamiento en general muestra una dinámica de ocupación progresiva de las
mejores tierras de régimen agropecuario (Fig. 2) por lo que se manifiesta un
descenso gradual desde la ubicación en las cumbres más destacadas (ca. 600–
700 metros de altitud) hacia las tierras más fértiles de la cuenca sedimentaria
(ca. 350–500 metros de altitud).
A diferencia de otras regiones, las grandes cuencas hidrográficas (Fig. 6)
de los ríos que atraviesan esta comarca –el río Miño al oeste, y el Sil al sur–
no muestran una ocupación sistemática de sus valles interiores. Ni siquiera la
red secundaria de drenaje –Cabe, Saa, Lor…– presenta una gran densidad de
poblados. La preferencia es localizar el hábitat en dos zonas bien determinadas:
las zonas amesetadas del interior periféricas a la cuenca sedimentaria y que
bordean el cañón del Sil y del sobretodo del Miño. Son zonas de penillanura
de cierta altitud (450–550 metros), creciente hacia el norte de la comarca, y
que ocupan un alto porcentaje de las tierras de la TDL. Este modelo se repro-
duce en las regiones vecinas del norte ourensano y del sur lucense, en donde
los extensos altiplanos –que rodean al Miño y al Sil– también ostentan la ma-
yoría del poblamiento castreño.
La otra ubicación preferente es el entorno de pequeños ríos afluentes de la
red primaria y secundaria –Miño, Sil, Cabe, Lor…–, y arroyos de escaso calado.
Son estos pequeños valles más encajados donde se encuentran una serie de asen-
tamientos de escasas dimensiones y funcionalidad agro-silvo-ganadera.
La distribución del poblamiento –según la función de Poisson y la estadís-
tica del vecino más próximo de Clark\Evans (Hodder y Orton 1990: 45)– de-
nota cierta aleatoriedad pero con una tendencia a la regularidad del patrón. La
zona preferente de poblamiento de la TDL es la penillanura occidental que bor-
dea el cañón del Miño, algo que también sucede en la zona de Sarria, al norte
de la TDL, o de Chantada al oeste del Miño y Caldelas al sur del Sil. Una zona
amesetada, de cierta altitud –sobre los 500/550 metros de altitud– que reúne

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 337


buenas condiciones de visibilidad, fertilidad y control del territorio inmediato.
Así el sector occidental es el más poblado, aunque también destacan por la
densidad del poblamiento la zona septentrional y central de la cuenca sedimen-
taria. Por el contrario, la penillanura meridional que antecede al cañón del Sil
presenta una escasa densidad de hábitats, hecho todavía más acusado en el sec-
tor oriental, la cuenca del Lor y parte del Saa, en donde el número de castros
desciende hasta casi desaparecer4.
Dos son las razones aparentes a la hora de trazar el poblamiento protohis-
tórico. Por un lado las razones topográficas donde a su vez hay una amplia pa-
noplia de variables que se manejan al ubicar un castro: cumbres escarpadas y
con amplio dominio territorial/visual (poblados ultraprotegidos); laderas me-
dias de vocación agroganadera y deficiencias defensivas solventadas con tra-
bajos de delimitación (aldeas fortificadas agropecuarias); y laderas bajas o
pequeños oteros en llanura que explotan las tierras agrícolas más óptimas (al-
deas agrarias). El poblado se nutre del territorio circundante en unos 2 km. o
45 minutos andando, aproximadamente.
La otra razón fundamental para la ubicación espacial del poblamiento cas-
treño es la tradición/inercia en el poblamiento rural de la zona. La penillanura
occidental y la zona septentrional y central de la cuenca sedimentaria concen-
tran gran número de túmulos y megalitos, que además de tumbas colectivas
también funcionan como aprehensión del territorio e hito del paisaje (algo se-
mejante al papel del castro). Ya decíamos al principio de este apartado, que el
poblamiento castreño era más denso en la zona occidental de la TDL, justo en
las mismas unidades morfológicas en donde dominan las estructuras megalíti-
cas.
La lectura diacrónica del paisaje protohistórico permite establecer una re-
lación –indirecta– entre el poblamiento de las sociedades megalíticas prece-
dentes y las castreñas, en donde estas siguen un camino similar en la ocupación
del territorio. Evidentemente no hay una continuidad, ya que han cambiado las
bases del poblamiento, pero si una coincidencia que demuestra que el sector
occidental y centro-septentrional ha sido el más poblado desde época megalí-
tica hasta el cambio de era, hecho que la dominación romana va a acrecentar.
Esta dinámica de poblamiento se corresponde con un aprovechamiento agro-
pecuario intenso del territorio, ya que se habitan las mejores tierras cultivables

Pág. 338 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


y con una topografía propicia.
El proceso de fortificación del hábitat que comienza en el Bronce Final se
fragua sobre la aprehensión del territorio y la protección frente a otras comu-
nidades vecinas por la tensión social generada por la definitiva sedentarización
de las sociedades protohistóricas. Cuando se asienta el proceso de territoriali-
zación de las comunidades castreñas, el objetivo principal del hábitat cambia5.
De poblados ultraprotegidos se pasa a poblados agroganaderos, que progresi-
vamente se van especializando en conseguir mejores rendimientos agropecua-
rios hasta lograr un excedente del que apropiarse o con el que comerciar.
Las conclusiones acerca de la estructura social que podemos extraer de este
modelo de poblamiento son claras. El castro está formado por pequeñas co-
munidades campesinas autosuficientes y autárquicas, que explotan de manera
multivariada –segmentaria– el paisaje que seleccionan para establecer su há-
bitat. Un paisaje rural en el que las mejores tierras son el objetivo, una vez que
la protección va perdiendo importancia. El resultado es una sociedad compleja,
en la que las distintas comunidades o miembros de cada poblado, se dedican a
funciones diversas y complementarias según sus bases económicas, pero que
no conforman una sociedad jerarquizada.

3. Poblamiento romano del sur Lucence y norte ourensano. La tierra de


Lemos como paradigma
Las diferencias socio-económicas y de articulación del poblamiento del in-
terior galaico durante el Hierro II van a demarcar una integración en las es-
tructuras del Imperio romano singular. Sin grandes asentamientos (tipo oppida)
ni contactos tan intensos con el mundo meseteño y mediterráneo, como sucede
en el espacio bracarense entre el Duero y el Miño y las Rías Baixas, el territorio
oriental interior galaico se configura
Figura 3. Po-
como una doble periferia que pre- b l a m i e n t o
senta formas de explotación econó- abierto ro-
mano urbano y
mica y organización social protourbano
plenamente rurales. del Noroeste,
y su relación
La existencia de un poblamiento jerárquica.
prerromano basado en pequeñas co-
munidades campesinas dedicadas a

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 339


la subsistencia, conlleva que las actuaciones de la administración romana para
fomentar el control e integración de la población no puedan ser efectuadas a
través de la ciudad clásica, ni de la organización social cívica. La ciudad no
era viable en la gallaecia interior oriental6 (Fig. 3) a causa del escaso potencial
económico y demográfico para amparar la creación y sustentación de un pro-
ceso de urbanización, lo que implica la utilización de un modelo de “romani-
zación” alternativo al acostumbrado.
No obstante, pese a la falta física de urbs, podemos encontrar “centros de
poder” local y regional (Fig. 3), en asentamientos con algunos rasgos de mor-
fología urbana –o protourbana– que articulan –o no– el poblamiento (Pérez
Losada 2002: 20), que funcionan a modo de ciudades, pero sin una organiza-
ción social cívica. Considerar a estos núcleos protourbanos desarrollados como
capital central de cada sus civitates, debe ser probado a través de un análisis
espacial del poblamiento antiguo.
Este modelo alternativo tuvo como referencia la civitas, entendida no como
una urbs sino como una comunidad político–administrativa–fiscal reconocible
y con un territorio determinado (Martins et Alii 2005: 281). El interior galaico
organizado en civitas se define como un espacio rural no urbanizado producto
de la situación jurídico–administrativa resultante de la conquista e integración
en el Imperio, conformando un conjunto de pueblos y comunidades rurales que
se convirtieron en estipendiarios7.
La nueva estructura de poder impuesta por Roma a la gallaecia interior tuvo
una repercusión en el modelo de poblamiento y organización social que se va a
desarrollar al paso de la romanización. En cuanto al primero, destaca la aparición
de un poblamiento disperso abierto y jerárquico que no tiene relación con el po-
blamiento prerromano ya que funciona a escala regional y no sólo local –como
lo hacía el castro–; y en cuanto a la organización social, la substitución de una
sociedad no estratificada y segmentaria unida por lazos de parentesco, por una
sociedad de clases liderada por una doble jerarquía, los conquistadores y la aris-
tocracia local colaboracionista, que se impone a la inmensa mayoría campesina
dependiente. No sabemos hasta que punto hubo resistencias indígenas locales
en este proceso, pero desde la conquista se certifica la rápida creación de espacios
políticos comunes, frente a la autarquía protohistórica de cada aldea/castro.
Una de las singularidades del poblamiento romano galaico es la pervivencia

Pág. 340 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


del castro como entidad física de hábitat. Decimos física porque el castro queda
marginado a un simple continente de población pero vaciado del contenido or-
ganizativo del poblamiento y de la sociedad, como tenía antaño. No da forma
y concreción a los lazos comunitarios de cada grupo de población. Ha perdido
todo su protagonismo como forjador de las formaciones sociales prerromanas.
El castro permanece dentro de los ejes de poblamiento, a veces como su-
plemento, en otras como algo más que un complemento, de los hábitats abiertos
rurales romanos. Por los hallazgos y su disposición espacial, tres son las fun-
cionalidades combinadas de los poblados fortificados en altura: centros agro-
pecuarios, situados en tierras óptimas para la agricultura; centros mineros,
sedes de explotación de los beneficios mineros o complementando a estos–; y
bastiones defensivos/viarios, aquellos situados a pie de vía, en puntos estra-
tégicos/de control que eligen oteros o espolones representativos.
En relación a la jerarquía de la red de poblamiento nacida tras las acciones
administrativas romanas, destaca el valor que pueden alcanzar algunos de estos
castros. Dos son los tipos representativos: los castros que podríamos denominar
“oppida” –con todas las reservas– ya que son los de mayor tamaño de la región,
que “crecen” con la romanización, ya que muchos de ellos muestran un pasado
prerromano, y se convierten en centros de poder local que pueden crear una
red de poblados integrados a modo de lugar central. Es el caso del castro de
Vilar de Ortelle, de Santalla de Licín o de S. Vicente do Pino.
Y los castros que pueden ser categorizadas como pequeños centros pro-
ductivas tipo aldea, cuya producción puede estar orientada a productos agra-
rios, ganaderos, manufacturas, mineros…
En definitiva, los cambios operados en los castros de época romana son
algo más que los aparentes cambios topográficos, constructivos y de ubicación
en el paisaje producto de la conquista y la administración romana. La nueva
territorialidad abandona la autosuficiencia de las pequeñas comunidades seg-
mentarias y supone algo más traumático y revolucionario. Es el fin de la so-
ciedad protohistórica y el relevo de la estructura económica y política
tradicional del mundo castreño por una nueva articulación socio–política regida
por los modos e intereses romanos.
Si el hábitat tradicional del Noroeste sufrió cambios revolucionarios y sig-
nificativos, mas impactante en la estructura del poblamiento y la articulación

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 341


del territorio fue la introducción de nuevos hábitats abiertos que desde el siglo
I d.E. empiezan a ocupar la geografía del interior galaico en general, y de la
TDL en particular. Este poblamiento rural romano abierto suele restringirse a
las unidades de poblamiento individual de grandes dimensiones tipo villa. Pero
en la TDL –y la gallaecia interior por extensión– las villae no son el tipo de
hábitat más representativo ni numeroso8, algo que las fuentes literarias también
reflejan (Pérez Losada 1996: 194). La realidad del poblamiento rural galaico-
rromano es algo más compleja y diversa que una simple división entre castros
y villae (idem: 189).
El análisis de diversos arqueositios galaicorromanos en base a su topogra-
fía, a la dispersión de materiales en superficie, la capacidad productiva de las
tierras, las estructuras visibles o exhumadas, calidad de los materiales muebles
e inmuebles, su relación viaria, etc.… permite descubrir una variada tipología
de asentamientos que junto a los castros que perviven en el paisaje antiguo,
protagonizan el poblamiento y la articulación del territorio.
Este nuevo poblamiento presenta un patrón totalmente diferente del mundo
prerromano. Primero porque estos asentamientos rurales abiertos forman parte
de un poblamiento disperso, no concentrado, de carácter familiar, aunque de
distinta índole y tamaño (estructura familiar extensa, estructura unifamiliar o
familia nuclear). A su vez, conforman una red de poblados dispersos entrama-
dos de una manera lineal fruto del desarrollo de la red caminera regional ro-
mana9. En último lugar, porque constan de una morfología –poblados abiertos
unifamiliares de distinto desarrollo constructivo– y una topografía –penillanu-
ras, explanadas, pequeñas llanuras a media ladera…– opuestas a las caracte-
rísticas de los hábitats fortificados en altura. Presentan una variada tipología
que responde a la dinámica socio-económica y administrativa trazada en el in-
terior galaico10. Por orden jerárquico (rango/tamaño), la cúspide de la pirámide
de poblamiento serían los denominados Aglomerados Secundarios romanos,
o en terminología latina vici (Pérez Losada, 2002: 21).
A diferencia del convento Bracarense meridional, donde se desarrollan au-
ténticos aglomerados urbanos supra–regionales como Aquae Flaviae, Tude o
Tongobriga, en la región interior galaica, estos son centros de poder regional
o local cuya morfología puede confundirse con una villae, pero que funciona
como un enclave a medio camino entre la ciudad y la aldea. Son núcleos con

Pág. 342 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


una reducida morfología urbana o protourbana, pero de menores dimensiones
(3–5 Ha) que en la zona bracarense (8–10 Ha.). Cumplen funciones productivas
–tanto agropecuarias como manufactureras–, comerciales –venta y consumo
de mercancías– y administrativas –control y ordenación del territorio–, pu-
diendo actuar en algunos casos como caput civitas. Las principales vías regio-
nales y locales pasan por sus inmediaciones –no más de 400 metros de
distancia–.
El yacimiento de S. Vicente de
Castillós (Fig. 4), en la TDL (ayun- Figura 4. Ya-
cimiento ga-
tamiento de Pantón), se amolda a laicorromano
este modelo, al igual que en las co- de Castillós:
dispersión de
marcas aledañas pueden ser O hallazgos y
Burgo en Castro Caldelas o Trives posible área de
en el norte ourensano, y posible- ocupación
mente Vilar de Sarria en Sarria y
Quinta da Ágrade en Chantada.
Todos ellos son puntos representa-
tivos dentro de la ruralidad de las civitates galaicas orientales.
El siguiente tipo de enclaves englobarían al modelo tipo villae, pero que
en el mundo rural meridional lucense y septentrional ourensano no es equipa-
rable al modelo del resto de hispania o incluso de la zona bracarense. Son há-
bitats más pequeños y modestos pero que intentan imitar a aquellos. Se
localizan en amplias penillanuras o explanadas que constituyen su fundus, ro-
deados de tierras de óptima capacidad agrícola y buena disponibilidad de re-
cursos hídricos. Su pars urbana alcanza los 800–1000m2 pero la zona de
dispersión de materiales arqueológicos puede llegar a la hectárea o incluso
más, demostrando la clara romanidad de sus estructuras –mosaicos, hipocaus-
tos, peristilos…–, su prestigio, monumentalidad y calidad. A su vez pueden es-
tablecer una relación jerárquica con hábitats de orden inferior de sus
inmediaciones como casales, capanas o aldeas/castros de pequeñas dimensio-
nes. Espacialmente, parecen tomar una cierta distancia de las vías principales,
conectando con ellas por senderos de buena accesibilidad que cubren una es-
casa distancia –ca. 500 metros–.
El caso de Proendos, en el ayuntamiento de Sober parece ser un caso sin-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 343


tomático de este apartado, aunque por sus dimensiones, la dispersión de los
restos y los últimos hallazgos en sus inmediaciones, tampoco sería descabe-
llado que alcanzara en algún momento del Bajo Imperio la categoría de Aglo-
merado Secundario.
El tercer escalafón lo ocuparían las denominadas villae de tamaño medio
(sobre los 500m2 en la pars urbana). Los hallazgos aparecen dispersos alrede-
dor de unos 800–400m2. La naturaleza de los restos encontrados denota un
mayor indigenismo y un menor poder adquisitivo y su distancia con respecto
a la red caminera es de 500 a 2000 metros. Posibles yacimientos que cumplen
con esta tipología pueden ser Leira da Viña en Sober, A Ponte en Brollón o Ve-
leigán y Vilariño de Fión en O Saviñao.
Por último, el tipo de hábitat de menor entidad y jerarquía serían los deno-
minados Casales11 –o capanna en terminología portuguesa, menos amoldable a
nuestra región– (Pérez Losada 1996: 87), de escaso desarrollo arquitectónico,
menor dispersión de sus vestigios (alrededor de 400–300 m2) y una ocupación
semejante a dicha difusión. Este tipo de arqueositios son los más habituales en
la TDL (entre 5–10 yacimientos pueden ser definidos de este modo12), demar-
cando el carácter rural y productivo de la estructura social y de poblamiento de
esta región en época antigua.
A nivel topográfico (Fig.
5), tanto Aglomerados Se-
cundarios coma villae de
gran tamaño tienen un pa-
trón de poblamiento común
e identitario: zonas de peni-
llanura, abiertas, de cierta al-
titud, conectados a las
principales calzadas locales
y regionales, con una óptima

Figura 5. Mapa del poblamiento romano


de la TDL en relación a la pendiente del
terreno. Obsérvese los cambios entre el
poblamiento castreño prerromano y ro-
mano, así como entre este y los núcleos
rurales abiertos.

Pág. 344 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


insolación y visibilidad, rodeados de amplios terrenos fértiles para la confec-
ción de grande explotaciones de cultivos de secano y de regadío, por su proxi-
midad tanto a pequeños ríos y arroyos, como a emergencias acuíferas.
Mientras villae de tamaño medio y casales, poseen unas características co-
munes que los diferencian de los precedentes: laderas terminales de menor al-
titud y bien resguardadas, con tierras que combinan el labradío y los pastos de
menor valor productivo, situadas en el borde de la cuenca sedimentaria central
de Monforte o hacia los valles del Miño o del Sil, con una buena orientación
y próximos a arroyos de pequeño calado.
Espacialmente, muchas son las conclusiones a las que podemos llegar. Las
funciones de distribución y densidades de Poisson y del vecino más próximo
de Clark–Evans (Hodder y Orton 1990: 55) definen como ordenado/regular la
ubicación de estos arqueositios, en donde las variables para articular el pobla-
miento es la explotación integral del territorio comarcal según los recursos dis-
ponibles, y cuyo objetivo último es la tributación. El resultado de la dominación
romana (Fig. 5) es un cambio en la ocupación del espacio debido a la intensi-
ficación de la producción agropecuaria en el sector occidental y meridional
(sobre todo en las penillanuras periféricas a los valles del Sil y del Miño), la
intensificación ganadera en el sector septentrional y oriental, y por supuesto,
la explotación a gran escala de los recursos mineros de este último sector, en
donde el poblamiento se densifica con respecto al mundo prerromano. La in-
tensificación de la producción del policultivo agrario y de la ganadería tiene
como objetivo ya no solo la simple subsistencia sino el pago del tributo im-
puesto y el acaparamiento de excedente por parte de la oligarquía dirigente y
su comercialización a través de las redes distributivas del Imperio. La intensi-
ficación en la explotación de los recursos mineros, repercutiría de manera di-
recta en el Estado.
S. Vicente de Castillós es el asentamiento rural abierto romano más im-
portante de la TDL. Además de sus prolijos vestigios, que caracterizan como
Aglomerado Secundario, a nivel arqueológico territorial presenta una jerarqui-
zación y pseudocentralización de la estructura de poblamiento de la civitas.
Decimos pseudocentralizado porque la articulación del poblamiento de la
TDL revela al menos dos zonas dinámicas muy diferenciadas bajo el poder de
Roma. El sector oriental –el ayuntamiento de Pobra de Brollón y una parte del

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 345


de Monforte– es una micro–región esencialmente minera y con un poblamiento
galaicorromano basado en el castro, relacionado con los trabajos extractivos.
Si recordamos datos del mundo prerromano, era una zona apenas poblada, o
al menos con una menor densidad de castros en su interior. En esta zona no
contamos con un poblamiento rural romano abierto –solo A Ponte en Brollón
está próxima– y este espacio parece articularse a sí mismo con un único obje-
tivo: la rentabilidad efectiva de la minería, permaneciendo al margen de los
procesos de hábitat y de la ordenación del poblamiento del sector occidental.
La dinámica de articulación que se establece en el valle del Lor por ejemplo,
relaciona a los castros de fondo de valle y castros de ladera o cumbre, optimi-
zando la explotación de las bases económicas de la cuenca fluvial, es decir, los
recursos mineros como objetivo principal y el suplemento agroganadero para
cubrir las necesidades de la población centrada en los trabajos mineros. El cas-
tro en esta zona es algo más que un complemento, es la base de la explotación
del territorio y de la estructura de poblamiento. Eso sí, un castro que no tiene
nada que ver con el prerromano. Es solo un continente en manos del poder y
la organización romana, que ya no refleja la estructura social y política de sus
habitantes.
En cambio el sector occidental contiene a la práctica totalidad del pobla-
miento rural romano abierto13. No obstante el castro no desaparece en época
romana en esta zona. El aumento de poblados de una u otra naturaleza, provoca
una mayor intensidad de los trabajos agrícolas, como muestra la topografía de
los nuevos y viejos asentamientos situados en las mejores y más fértiles tierras
de cultivo.
El resultado de esta bipolarización territorial de la TDL en dos zonas muy
dinámicas (Fig. 5) queda patente en el paisaje, con un sector occidental de base
agropecuaria con poblamiento intercalar (disperso y concentrado), y un sector
oriental cuyo hábitat fundamental es el castro y su propósito la explotación mi-
nera. Cuando el interés de Roma en la minería decae, repercute en el pobla-
miento que también decae en intensidad, hecho que va a caracterizar el
poblamiento altomedieval de la TDL.
La combinación de un hábitat concentrado (tipo castro) y disperso (pobla-
dos abiertos rurales) crea una red de poblamiento intercalar (Fig. 5) que es la
imagen de la nueva organización socio–política y de las nuevas formas de de-

Pág. 346 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


pendencia social, fruto de los cambios estructurales tras la conquista. Por lado,
poblados que concentran a la población en base a una organización suprafa-
miliar; y por otra parte, poblados dispersos ex novo, unifamiliares (excepto tal
vez los vici), que albergan estructuras familiares simples o complejas, según
su posición socio–económica, reflejada en el prestigio de sus hogares.
El diseño de la red de poblamiento se efectúa de manera lineal, estable-
ciendo una relación intensa entre los poblados del sector occidental gracias a
una espesa red viaria de carácter regional y local, cuyo centro y paso obligado
en muchos casos es S. Vicente de Castillós. Este posible Aglomerado Secun-
dario muestra una posición excepcional con respecto al resto de núcleos dis-
persos y con los más importantes poblados castreños galaicorromanos del
sector occidental. Tanto por su rango/tamaño, la importancia y prestigio de los
hallazgos en sus inmediaciones, su situación estratégica y central aprovechando
una elección topográfica óptima, así como por su posible ascendencia sobre el
resto de enclaves, podemos concluir que Castillós debió ser el núcleo central
jerárquico de la articulación del poblamiento rural galaicorromano de la TDL.
Es decir, este enclave representa una factible caput civitas de la antigua TDL,
la civitas lemavorum. Un centro con un desarrollo cronológico amplio en época
romana (s. I–V d.E.) y con facultades administrativas (¿incluida la gestión fis-
cal?) y comercial, como muestran algunos de sus hallazgos (Pérez Losada
2002: 189). Si bien es cierto, el enclave de Proendos también ejemplifica una
ascendencia y jerarquía sobre el territorio meridional de la TDL, pero puede
que en una cronología más avanzada que Castillós, como muestra su ergología
(s. III–V).
En general, se documenta un aumento de la densidad de poblados (y de la
población) que afecta al sector nuclear (occidental) del poblamiento de la TDL
desde época prerromana (y megalítica), pero también, y en mayor medida en
las zonas periféricas a aquel sector, es decir, la zona meridional, oriental y sep-
tentrional. El auge de la población parece ser un hecho consumado, que además
se ve interconectado con una redistribución general de la población sobre el
territorio de la TDL, y en la que la minería juega un papel esencial.
El mundo rural de la gallaecia oriental hubo de articularse desde sí mismo,
con un modelo social y territorial autónomo, sin tener que asumir el modelo
clásico de romanización basado en la ciudad y en la sociedad cívica.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 347


4. La inercia tardorromana y altomedieval: indicios del doblamiento du-
rante la antigüedad tardia en la tierra de Lemos
El poblamiento de la TDL en época tardorromana y altomedieval certifica
en la mayoría de los casos una continuidad desde el pasado inmediato romano.
Más del 50% de los asentamientos romanos tienen indicios de permanecer ha-
bitado en los siglos posteriores, aunque no siempre con las mismas estructuras
muchas veces abandonadas u ocupadas por necrópolis altomedievales. Su cris-
tianización también es evidente, tanto en la creación de iglesias y capillas de
culto, como de cementerios parroquiales que se van fosilizando en el entorno
de los antiguos asentamientos romanos y las parroquias rurales. El resultado
es un poblamiento agregado al galaicorromano, como certifican las funciones
de distribución y densidades de Poisson y Clark–Evans.
Algún que otro castro también se mantiene en activo como hábitat, con-
vertido en castronela o bastión defensivo (Castelo pequeño, p.ej.) dentro de un
paisaje político mucho más inseguro y controvertido que en el mundo galai-
corromano. La naturaleza de cada una de esas re–ocupaciones de estos pobla-
dos aún está por determinar.
Se ha hecho hincapié en muchas investigaciones que tras el fin del dominio
romano, la tradición indígena se hace patente en el poblamiento altomedieval
por las presuntas concomitancias entre la topografía y la territorialidad castreña
y de las parroquias altomedievales. La construcción de iglesias en el entorno/in-
terior de los castros (Fig. 6) es entendida como muestra de la pervivencia del
castro como hito de referencia del poblamiento.
Pero los datos de la
TDL nos acercan a otra Figura 6. Mapa de yacimien-
realidad. La estructura tos castreños con estructuras
cristianas en su interior o cer-
de poblamiento romana canía.
se mantiene, aunque no
permanece inmóvil sino
que sufre cambios signi-
ficativos. El primero que
el sector oriental–mi-
nero pierde importancia
dentro de la comarca al

Pág. 348 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


abandonarse la explotación a gran escala de los recursos mineros. Solo los en-
claves con una vocación agropecuaria o comercial en relación a la red viaria,
perviven en el territorio pero con una escasa presencia.
El sector occidental sigue siendo el más poblado de la TDL y los asenta-
mientos romanos mantienen su función de hábitat como los demuestran los ha-
llazgos cerámicos o las necrópolis de su entorno. Una continuidad que en
algunos casos es directa, pero en otros indirecta, con un salto o prolongación
del hábitat hasta el s. IX–X. Las parroquias altomedievales que cuentan con
un poblado rural abierto galaicorromano enlazan directamente con estos, de-
mostrando el hábitat encadenado entre una época y otra. Y muchos de los cas-
tros que tienen en sus inmediaciones una iglesia o capilla que pueda tener un
origen altomedieval14 (caso de Licín en O Saviñao, o Sucastro en Bóveda) pre-
sentan una clara e importante ocupación romana (Fig. 6).
Es evidente el papel destacado del castro en el paisaje rural gallego durante
toda época histórica, pero sus caracteres territoriales/políticos hace tiempo que
habían desaparecido.
La territorialidad y la articulación del poblamiento romano siguen patentes
de una manera inercial en la Alta Edad Media, sancionada y admitida por la
nueva élite social, los dirigentes hispano–godos y la jerarquía eclesial. El po-
blamiento altomedieval se diseña desde el mundo galaicorromano, no desde el
prerromano. Solo a partir del siglo VIII–IX parece documentarse una ruptura
definitiva con el modelo de poblamiento establecido por los intereses de Roma,
que sobrevivieron de manera rutinaria en la antigüedad tardía. Esta dinámica
se basa en una estructura de poder que no ha mutado radicalmente, a diferencia
del proceso sufrido con la conquista romana, ya que no se produjo una disolu-
ción de las formas sociales romanas sino una transformación o canalización
lenta y progresiva que ya había comenzado durante el Bajo Imperio, cuando se
empieza a documentar el aumento de los domini que asientan su poder en sus
posesiones rurales, la dependencia del campesinado mediante el colonato y la
ascendencia de las instituciones cristianas15 sobre la sociedad y el poblamiento.
El proceso traumático del fin del Imperio de Occidente no estuvo relacio-
nado en el interior galaico con una crisis de la ciudad clásica, que sustentaba
parte de su progreso y desarrollo en el aprovechamiento del monopolio terri-
torial–comercial del Mediterráneo.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 349


5. conclusiones
El proceso de conformación del paisaje rural gallego es un proceso largo
y lineal pero no rectilíneo. Es un camino dilatado y sinuoso con muchas tran-
siciones y alguna que otra discontinuidad. Una de las rupturas más transcen-
dentales –aunque con pervivencias– lo supuso en el interior galaico, la
conquista y dominación romana. La desaparición de la organización socio–po-
lítica y territorial prerromana substituida por los intereses y modelos romanos
de integración y asimilación, supuso una transformación radical del pobla-
miento en particular, y del paisaje en general.
La cantidad y magnitud de los cambios producidos en la zona interior de
la gallaecia antigua demuestran que si entendemos la romanización como
cambio, el interior galaico fue una de las zonas donde se produjeron transfor-
maciones de mayor calado.
Sin embargo la trayectoria del poblamiento romano hasta la Alta Edad
Media no puede ser definida como una ruptura traumática. Hay una continui-
dad difusa entre uno y otro período histórico, que no puede explicarse desde
la territorialidad castreña sino desde el pasado más inmediato, galaicorromano.
Un pasado en donde el mundo pre-feudal encuentra sus bases y fundamentos,
sobretodo la nueva élite que está afianzando su poder político y territorial de
manera definitiva.
El fin del ciclo histórico de la romanización de Occidente no se cerró con
el retorno a la situación protohistórica precedente, sino que fue la raíz del na-
ciente régimen feudal.
Bibliografía
ALARCÂO, J. (1996): “Aglomerados urbanos secundarios romanos de Entre-Douro-Minho”. A ci-
dade e o Mundo: Romanización e cambio social, ed. Concello de Xinzo de Limia: 167–179, Xinzo de Limia.
CARBALLO ARCEO, L. X. (1986): Poboamento castrexo e romano da terra de Trasdeza, Ed. Xunta de
Galicia. Santiago.
FERRER SIERRA, S.; GONZÁLEZ FERNÁNDEZ, E. (1996), “Sustrato poboacional prerromano de Lucus
Augusti” en Lucus Augusti. 1. el amanecer de una ciudad, Edita Fundación Pedro Barrié de la Maza, p.329-
419. A Coruña.
GRANDE RODRÍGUEZ, M. (2007): “Aproximación á romanización da Terra de Lemos”. Revista Minius
nº XV, p. 117-135. Vigo.
GRANDE RODRÍGUEZ, M. (2008): “Os lemavi a traversa das fontes literarias e epigráficas”. Revista Mi-
nius, nº XVI, p. 135-163. Vigo.
HODDER, I. y ORTON, C. (1990): Análisis espacial en arqueología. Crítica, Barcelona.
MARTINS, M.; LEMOS F.S.; PÉREZ LOSADA, F. (2005): “O poboamento romano dos Galaicos
Bracarenses”, iii Coloquio internacional de gijón. unidad y diversidad en el Arco Atlántico en época ro-

Pág. 350 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


mana. Ed. Fernández Ochoa, C. y García Díaz, P.: p. 279–296. Gijón
PÉREZ LOSADA, F. (1996): “Hacia una definición de los asentamientos rurales de la gallaecia: poblados
(vici) y casas de campo (villae)”, Los Finisterres Atlánticos en la Antigüedad, p. 189–197. Gijón.
PÉREZ LOSADA, F. (2002): entre a cidade e a aldea. estudio arqueohistórico dos “aglomerados secun-
darios” romanos en galicia. Brigantium, A Coruña.

1
Muchas veces los pueblos de la gallaecia son equiparados al resto de comunidades de la cornisa cantábrica
(Astures y Cantabros) en sus orígenes, tradiciones o costumbres. Lo que ha dado como resultado incómodos
clichés y tópicos sobre estas comunidades norteñas.
2
Las fronteras actuales de la TDL, que han funcionado tradicionalmente como límites de este espacio, serían:
el cañon del Sil al sur, el valle del Miño al Oeste, la cuenca del Lor al este y las afloraciones montañosas
septentrionales que separan Lemos de Sarria.
3
Varios documentos altomedievales certifican la identificación de Lemos con el territorio de los lemavi (vid.
Grande Rodríguez 2008).
4
Este es un acontecimiento paradójico, porque el sector oriental de la TDL es la zona más rica en yacimientos
auríferos primarios y secundarios, al mismo tiempo que cuenta con otras emergencias metalíferas como el
estaño o el hierro, explotados a gran escala bajo autoridad romana.
5
Este proceso se observa desde el Hierro I hasta el Hierro II: se va perdiendo altitud, protección e intervi-
sibilidad, a cambio de ganar potencialidad agropecuaria, a través de la colonización de las laderas medias
en los valles fluviales y los sectores elevados de la cuenca sedimentaria. Esta tendencia será aprovechada
por Roma, fomentando en algunos casos la vocación agropecuaria de algunas aldeas.
6
Solo Lucus Augusti se diseña como una autentica ciudad, cúspide del ordenamiento político–administrativo
de su convento. Pese a ser poseer el máximo rango en la jerarquía de poblamiento, tal vez no articule de una
manera integral el espacio rural que tiene a su alrededor (Ferrer Sierra y González Fernández 1996: 330),
aunque aparezcan asentamientos relacionados con el comercio y provisión bidireccional entre la capital con-
ventual y dichos núcleos rurales de su entorno.
7
Estos quedaron supeditados al imperio mediante la deditio (rendición) que puso fin a la conquista, y supuso
la pérdida de la propiedad de sus hábitats y sus tierras, que le fueron devueltos en régimen de explotación a
cambio del pago de impuestos y contraprestaciones.
8
La causa de esa visión simplista es la identificación mecánica del hallazgo de tegulae y materiales de cons-
trucción romana con la existencia de una casa de campo residencial de la élite social galaicorromana, apli-
cando esquemas historiográficos que asumen el modelo clásico mediterráneo.
9
En el norte ourensano la Vía XVIII va a revolucionar los primeros pasos del poblamiento romano y dife-
renciará este sector del resto de la región interior debido a su importancia administrativa, económica y co-
mercial.
10
Para analizar dichas entidades tomaremos como referencia la terminología aportada por Pérez Losada
(1996) arraigada en sus amplios estudios sobre el poblamiento de la gallaecia y que entran en consonancia
con otros esquemas sobre el poblamiento rural romano del norte de hispania (Alarcâo 1996; Martins et Alii
2005).
11
Son sitios productivos de escaso desarrollo arquitectónico y tamaño –sobre 400 m2–, que en algún caso
son juzgados como alpendres, cabaña, hornos o molinos familiares que podrían formar la pars rustica de
una villa de mayores dimensiones (Alarcâo 1996: 175).
12
Algunos de estos posibles casales pueden ser S. Xulián de Tor en Pantón, Souto Chanteiro, Agro das Me-
dorras y As Pedras en Sober o Souto en Bóveda. Casos que presentan una problemática mayor son Santalla
de Licín en O Saviñao, donde hay un castro con presencia romana, estructuras destruidas de una posible
edificación romana de escasa entidad y un cancel marmóreo de un probable templo o mausoleo paleocris-
tiano; y As Eirexas, en Pantón, que se sitúa cerca de una mina romana próxima de escasa entidad.
13
Esta dinámica es curiosa, ya que es un tópico que las zonas mineras sufrieron una más rápida y profunda

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 351


romanización, sin embargo observamos como en la TDL, la micro–región minera oriental tiene un pobla-
miento basado exclusivamente en la tipología de hábitat tradicional indígena, mientras que el sector occi-
dental, con base agropecuaria y de menor importancia minera, posee una estructura fundamentada en hábitats
rurales abiertos de tradición romana.
14
Otras muchas iglesias o capillas que se encuentran dentro o en las cercanías de un castro, no representan
una continuidad entre dichas estructuras de hábitat. Son entidades eclesiales que se erigen más tarde, en el
s. X–XII o en el XVII–XVIII (algunas con una clarísima advocación post-trentina), fruto de la colonización
eclesial del rural en la Plena Edad Media, o de la efervescencia religiosa barroca.
15
Este hecho es fundamental para explicar la supervivencia de la estructura de poblamiento y explotación
del territorio del interior galaico durante la tardorromanidad (s.V–VI a.E.) y la Alta Edad Media (s. V/VI–
IX/X). Los cargos eclesiásticos copian y mantienen la estructura administrativa romana, identificándose
como continuadores del mundo clásico. Además, los cargos eclesiásticos pertenecen en la mayoría de los
casos a la élite social de tradición galaicorromana, y con intereses en la continuidad del status quo social y
territorial. Algo que expresa a la perfección la obra y el personaje de Hidacio de Chaves.

Pág. 352 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


teMPos de ocuPAção cAstRejA e RoMAnA eM toRno dA
Ponte dA MisAReLA e do Rio RABAgão
iROn Age And ROMAn OCCuPATiOn AROund The MiSAReLA
BRidge And The RABAgãO RiveR

Marta Miranda Marques


doUtorAndA eM ArqUeologIA PelA FACUldAde de letrAS dA UnIverSIdAde
do Porto; MArtAMIrAndAMArqUeS@gMAIl.CoM

Resumo: A região do Barroso congrega uma série de características naturais que constituiu
desde tempos remotos uma força de atracção para a fixação das mais variadas populações, em
diferentes conjunturas políticas, económicas e sociais. Foi escolhido o território em torno do rio
Rabagão e da sua bela ponte da Misarela, nomeadamente algumas freguesias dos concelhos de
Vieira do Minho e Montalegre (Ruivães, Campos; Ferral, Salto e Venda Nova) e sumariamente
analisado o seu povoamento castrejo e romano, de modo a compreender de que forma se alterou
a disposição do habitat.
Palavras-chave: Rabagão, povoamento, diacronia.

Abstract: The Barroso’s region together a set of natural features that attracted since long times
different settlements, related to various political, economical and social scenarios. it was chosen
the territory around the Rabagão river and it’s Misarela bridge to analyze the iron’s age and
roman settlements and understands which changes have occurred.
Keywords: Rabagão, settlement, diachronic.

1. contextualização morfológica e ambiental do território em torno da


Ponte da Misarela e do rio Rabagão
A medieval ponte da Misarela foi construída sobre o rio Rabagão, servindo
a antiga estrada real que ligava Chaves a Braga. Terá constituído uma alternativa
à romana ponte do Arco e ao percurso viário da XVII e constituído um caminho
mais directo às povoações que entretanto tinham emergido, como foi o caso da
povoação de Montalegre, fundada por Afonso III em carta de foral em 12731.
A ponte foi elevada próxima da foz do Rabagão, que desagua no mais longo
rio português, o rio Cávado, com cerca de 135km de extensão e caudal mode-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 353


rado. Nasce entre as Serras do Larouco e do Barroso e corre de Nordeste para
Sudoeste e inflecte para Noroeste no seu término, antes de desaguar no Cávado.
A edificação das barragens ao longo do seu curso alterou gravemente a fisio-
nomia do Rabagão, tendo criado grandes lagos artificiais que submergiram
áreas florestais e inúmeros vestígios arqueológicos, certamente relacionados
com a via XVII, como é o caso da ponte do Arco e do traçado viário até Code-
çoso, inundados pela barragem da Venda Nova, ou a extensa zona entre Pisões
e Montalegre, inundada pela barragem do Alto Rabagão.
O rio Rabagão actua como marco fronteiriço administrativo entre os con-
celhos de Vieira do Minho e Montalegre. Na margem esquerda estão as fre-
guesias minhotas de Ruivães e Campos; da margem direita estão as freguesias
já transmontanas de Ferral e Venda Nova. O Rabagão separa igualmente duas
paisagens: a passagem de uma morfologia de planalto, pontuada com algumas
elevações com altitudes médias de 700-800m, gradualmente adensada para
cotas que ultrapassam facilmente os 950m há medida que se erupciona a cadeia
montanhosa barrosã. Os horizontes visuais dividem-se, assim, entre a cadeia
montanhosa do Barroso, a Nordeste, e a Serra da Cabreira, a Sul. Dada a dife-
rença altimétrica, os caminhos que serviram as populações ao longo dos séculos
tiveram de serpentear as montanhas, paralelamente ao Rabagão, de forma a
minimizar os atritos provocados pela topografia: um bom exemplo é a via ro-
mana oficial vulgarmente designada por XVII.
A área em torno da Misarela é contígua à zona do Barroso, tema de estudo
deste Congresso e que está enquadrada no maciço Galaico/Duriense, sendo de-
limitado pelas serras do Gerês (1.434m) a Oeste, do Larouco (1.525m) a Nor-
deste, da Cabreira (1.262m) a Sudeste, das Alturas (ou Barroso) (1.279m) a
Sul e do Leiranco (1.156 m) a Nordeste/Sudeste2. Em termos climáticos, há
medida que se caminha para o interior, o clima vai passando de feição atlântica
para continental. Poderá dizer-se que o território em torno da ponte da Misarela
é ainda de transição, apesar de já contar com inúmeras características conti-
nentais, como o rigor do Inverno, o calor excessivo no Verão3 e grandes am-
plitudes térmicas durante o dia. A pluviosidade é moderada, o que permite a
alimentação dos inúmeros cursos de água, como o Rabagão, e o vigor da ve-
getação selvagem e agrícola. A temperatura média anual desta zona oscila entre
os 11 e os 12ºC4. De facto, a abundância de água, somada à óptima exposição

Pág. 354 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


solar, criam um cenário de sucesso na actividade agrícola, tendo sido sem dú-
vida uma das motivações para a ocupação contínua do espaço desde há milé-
nios.
A vegetação da região é bastante rica, existindo ainda uma razoável varie-
dade de espécies autóctones, como o castanheiro ou o carvalho. Ao nível dos
arbustos, detectam-se tojos, zimbros, carqueijas e urzes. Nalgumas zonas mais
húmidas, encontram-se amieiros e teixos5. Infelizmente, algumas espécies in-
trusivas como as acácias ou os eucaliptos proliferam um pouco por toda a parte,
degradando grande parte dos solos florestais e agrícolas.
Em termos geológicos, a área em estudo apresenta um panorama geológico
plutónico, constituído por granito biotítico de grão médio, porfiróide, com
mega cristais menores que 5cm: o designado Granito da Borralha. Junto à foz
do Rabagão notam-se geoformas de morfologias diversas dada a erosão fluvial.
Nalgumas zonas, como na freguesia de Campos ou Zebral, existem vestígios
de formação de xistos inferiores. Já a maior parte do território de Ruivães ou
Ferral são ricas no designado “granito dos Anjos”, de grão grosseiro (designado
no Norte por granito “dente-de-cavalo”). A abundância de granito na região é
ainda hoje uma enorme vantagem para a construção civil: esta matéria-prima
foi amplamente usada nas construções quotidianas, como habitações, sistemas
defensivos, estradas, abrigos, pontes, etc. Um pouco por toda a área se registam
filões de básicos, aplitos ou quartzos. Nas aldeias de Zebral ou de Campos
podem-se ainda hoje registar alguns testemunhos da exploração do volfrâmio
que se intensificou durante a Segunda Guerra Mundial 6. O Couto Mineiro da
Borralha abrangia as freguesias de Campos, em Vieira do Minho, de Salto e
de Venda Nova, em Montalegre, e dedicou-se à exploração intensiva de vol-
frâmio e tungsténio7. A construção de uma via oficial romana a unir Bracara
a Astorga por Chaves poderá ser explicada pela proximidade regional de uma
série de minas de ferro (Serra do Marão) e de ouro (Jales, Tresminas, Limari-
nho, Valdanta).

2. A transição do povoamento proto-histórico para o romano no noroeste


peninsular
A integração do Noroeste peninsular no império romano significou uma
mudança radical dos esquemas conceptuais governativos, territoriais e culturais

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 355


que vigoraram durante milénios. A partir do séc. I a.C., as comunidades de
todo o Noroeste peninsular entraram inevitavelmente num sistema de interac-
ção, mais ou menos pacífico, com a cultura romana, que se instala como “po-
tência militar”. Sabemos que o processo de romanização não significou a
substituição automática para outra realidade cultural: a cultura foi aprendida,
pois é dinâmica, um todo estruturado, assumida e instrumental8.
A conquista terrestre do espaço não foi simples e mais complexo terá sido a
“latinização” das populações locais, procedimento cauteloso, gradual e estratégico
baseado em pactos e alianças. Sem dúvida que a conivência dos chefes locais, se-
duzidos com cargos de poder e estatutos sociais, foi decisiva para a inclusão dos
populi nas grandes áreas artificiais dos conventus, por sua vez unidades mais pe-
quenas de grandes províncias imperiais. A economia ultrapassa a subsistência re-
gional para um sistema de amplo espectro, motivada pelas necessidades de um
império imenso e extenso. As contribuições passam a ser pagas não à figura do
chefe local, para o bem imediato da população, mas para um Estado ubíquo, re-
presentado por figuras militares e encarnado em urbes, que alteram o conceito de
habitat e territorialidade até então existentes. As trocas de informação intercultural
reflectiram-se na alteração da fisionomia dos povoados castrejos, na sua remode-
lação, e transformação da vida quotidiana das populações. São construídas vias
de comunicação oficiais, estabelecendo eixos de mobilidade rápida e eficaz entre
os centros urbanos de poder. Nascem novas formas de habitat que extravasam o
conceito de povoado em altitude amuralhado, direccionados para actividades eco-
nómicas específicas: investigadores como Ferreira de Almeida como Brochado
de Almeida concordam que a emergência dos “castros agrícolas” pode ser reflexo
da política de Augusto de exploração do ager 9.
Alguns povoados ganham proporções “citadinas”, numa reorganização es-
pacial e arquitectónica, com a adopção de novos materiais de construção, linhas
de projecção de edificação e arruamentos. O habitat indígena adapta-se às in-
fluências romanas, numa passagem gradual em que “os principais agentes
dessa transformação parecem ser, antes de mais, os próprios indígenas que
revelam (…) uma assimilação original do modo de vida romano”10. As comu-
nidades castrejas estavam já integradas num sistema hierárquico, que dividia
lugares centrais e castros secundários, e estabelecia subordinações aos povoa-
dos mais influentes e poderosos. Enquanto este sistema organizativo perdurasse

Pág. 356 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


e não colidisse com os interesses romanos, ele foi mantido e até aproveitado
pela administração de Roma para submeter os chefes locais, numa espécie de
manutenção da “tradicionalidade governativa castreja”.11 Ao mesmo tempo,
há povoados que perdem populações, em detrimento de novas estratégias de
povoamento patrocinadas pela administração romana. O abandono dos castros
não parece ter partido de uma directa obrigação imposta pela administração
romana mas sim como uma consequência de uma nova política de repartição
da terra, a partir da atribuição do ius latii, a título individual e não apenas a tí-
tulo colectivo, como acontecia com as estruturas tradicionais castrejas. A partir
da dinastia dos Flávios há o desmoronamento dessas estruturas tradicionais,
provocando ou o abandono dos povoados ou o empobrecimento demográfico
dos mesmos.12 Em simultâneo, nascem habitats de origem romana, como as
villae, dedicadas à exploração extensiva das áreas agrícolas e de diferentes re-
cursos, terá dado origem às villae, unidades autónomas de exploração de dife-
rentes recursos, com ampla função abastecedora dos núcleos urbanos, que se
implantam nas imediações destes centros e seguem o traçado da rede viária.
A integração do Noroeste peninsular no Império latino obrigou a um con-
junto global de mutações, não apenas da estrutura política, social e mental das
populações indígenas, mas também dos pressupostos físicos que incorporavam
o território. O domínio romano do espaço ocupado só poderia ser eficazmente
consolidado através de condições viárias que permitissem a circulação rápida
dos corpos militares, da moeda e dos produtos. A construção de vias terrestres
mostrava-se impreterível para a mobilidade de pessoas e bens, para a modifi-
cação de ritmos, para a aproximação dos espaços e para a transformação da
própria noção do habitat.
A integração do território na organização imperial, terá provocado uma re-
qualificação das estruturas funcionais locais para servir uma economia de es-
tado, em detrimento de uma economia de mercado. O investimento na variante
imperial designada por Xvii poderá ter decorrido da importância da actividade
mineira, ao longo da primeira metade do séc. I13: com efeito, relativamente
próximas da nossa área de estudo encontram-se as minas de ferro da Serra do
Marão ou as ricas minas de ouro em Jales (Vila Pouca de Aguiar). Os metais
rapidamente circulariam em estradas secundárias até à segura estrada imperial
e daí seriam rapidamente escoadas para as capitais dos conventus para serem

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 357


transformados ou distribuídos. A estrada de âmbito imperial não tinha por ob-
jectivo cobrir as necessidades imediatas das populações, mas sim servir o Es-
tado, o exército e todos os serviços essenciais para a manutenção da pax e da
riqueza do império. Daí a obvia necessidade de ligar os mais importantes cen-
tros de decisão e poder por viações rápidas e seguras. Obviamente existiam
eixos viários secundários, que faziam a ponte entre os povoados e que serviam
directamente a economia local; no entanto, esses não integravam o cursus pu-
blicus. Os serviços estatais necessitavam de estradas de qualidade e velocidade,
dotadas de infra-estruturas de apoio como mansiones e mutatios14: os promo-
tores concentravam assim investimentos públicos na construção e reparação
destas vias15. É claro o fenómeno de “obsessão” pela acessibilidade que a ad-
ministração romana incutiu no nosso território, à semelhança do que se passou
no resto do Império: obrigou à adaptação do modus vivendi castrejo, nomea-
damente na alteração das concepções físicas dos habitats, por um conjunto de
inovações arquitectónicas e funcionais, entre elas a abertura, a uma escala par-
ticular do interior dos povoados, de eixos carrários, preconizados em arrua-
mentos ortogonais (Sanfins, Briteiros, S. Lourenço, Sta. Luzia).

3. ocupações proto-históricas e romanas nos territórios em torno da Mi-


sarela e do rio Rabagão
A identificação de ocupações proto-históricas e romanas nos territórios em
torno do Rabagão foi já realizada por inúmeros investigadores, que as indicaram
nos seus estudos. A estes locais somamos mais dois, como meras possibilidades
de ocupação humana, pela sua insinuação toponímica. De realçar o mais recente
estudo organizado pela Universidade do Minho no que toca à inventariação do
património arqueoló-
gico e arquitectónico
de Vieira do Minho.

3.1 castro do
outeiro do vale16
O povoado está
situado num monte
designado Outeiro do

Pág. 358 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Vale, situado na freguesia de Ruivães, no lugar de Vale. Nesta pequena elevação,
com uma altitude máxima de 615m, foi construída uma capela dedicada à Nossa
Senhora da Saúde, pelo que se acede com grande facilidade ao seu topo graças a
um bom caminho.
A exposição solar é excelente, as terras em redor são de boa qualidade
agrícola e os solos contam com uma boa irrigação dada a proximidade dos
rios Saltadouro e Cávado. O controlo visual do território envolvente cobre a
margem direita do Cávado, nomeadamente sobre a topografia montanhosa da
Serra do Gerês, para Norte, e para as actuais freguesias de Cabril e Ferral. A
Sudeste, têm-se ainda uma panorâmica sobre a área de São Cristovão. Do lado
Norte, virado para o Cávado, e do lado Sul, o terreno é relativamente escar-
pado, constituindo uma boa defesa natural. Em termos de enquadramento ocu-
pacional, este povoado poderá assemelhar-se aos castros do Grupo A, modelo
proposto pela investigadora Manuela Martins, implantados em topografias
proeminentes e com territórios de exploração a cerca de uma hora de distância,
em área de plataforma de aluvião17. Tal contextualização coaduna-se com as
informações de que neste local foram identificadas cerâmicas castrejas de fa-
brico manual. Os vestígios superficiais de ocupação humana são muito raros
e praticamente invisíveis: a espessa camada vegetal que cobre o monte e o
crescimento selvagem da flora rasteira impedem a recolha de fragmentos ce-
râmicos e a identificação de alinhamentos de construções.
Parte do lado Norte do monte do Outeiro do Vale está actualmente a ser interven-
cionada para a colocação de novos postes de alta tensão. Todavia, a observação das
terras removidas não detectou qualquer vestígio cerâmico ou pétreo que possa indiciar
a uma ocupação humana, apesar dos relatos de aí se encontrarem fragmentos cerâmi-
cos manuais.

3.2 castro de codeçoso18


O povoado castrejo de Code-
çoso é há muito conhecido19, ape-
sar de nunca aí se ter efectuado
uma intervenção arqueológica.
Situado numa pequena elevação
topográfica de 726m de altitude,

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 359


o castro de Codeçoso foi construído numa posição altamente estratégica, apesar
da morfologia actual da sua envolvente estar muito alterada com a inundação
provocada pela construção da barragem da Venda Nova. Se houver um esforço
de abstracção da paisagem actual, pode-se imaginar o excelente controlo visual
que este povoado teria sobre o rio Rabgão. Actualmente, as águas da Venda Nova
inundaram os terrenos envolventes até uma cota de cerca de 690m de altitude,
pelo que o castro de Codeçoso está hoje situado num esporão artificial. Para além
da alteração morfológica, a subida do nível das águas isolou o povoado dos ter-
ritórios a Norte e a Oeste, impedindo um estudo global da sua envolvente.
Apesar dos condicionalismos, o castro de Codeçoso tem todas as condições
para ser alvo de intervenções arqueológicas, pois é dotado de excelentes aces-
sos e a vegetação que o cobre é rasteira. De facto, graças à vegetação menos
densa, foi possível identificar parte do sistema defensivo e provavelmente, ves-
tígios de habitações. Uma observação mais atenta da vertente Sul do pequeno
monte permitiu identificar três linhas de muralha consecutivas, antecedidas
por três fossos. As muralhas acompanham o pendor do terreno e são separadas
por fossos escavados que, de pouco profundos, são o suficiente para dificultar
bastante o acesso à acrópole. Foram construídas com pedras de grauvaque
muito toscas, aparelhadas em seco, sem qualquer tipo de argamassa e conso-
nante o seu pendor, pelo que o miolo parece ser de terra e pedra miúda: no en-
tanto, apenas uma sondagem arqueológica permitiria traçar com rigor o método
construtivo dos alinhamentos defensivos. Curiosamente, não foram detectados
os mesmos alinhamentos nas vertentes Norte, Oeste e Este: talvez a construção
do caminho em terra batida que circunda o povoado tenha destruído alguns
vestígios. A real percepção dos elementos defensivos do castro só poderá con-
cretizar-se num momento em que o terreno estivesse livre de vegetação arbus-
tiva.
Na parte mais elevada do monte, onde infelizmente a vegetação é mais
densa, detectou-se uma concentração anómala de pedras de contorno levemente
circular, que provocou a suspeição da eventualidade de ali se ter localizado a
área habitacional. Não foram detectados vestígios cerâmicos superficiais, o
que dificulta a contextualização temporal do povoado. Não sabemos por isso
se quando a administração romana promove a construção da via Bracara-As-
turica (XVII), que passaria mesmo ao lado de Codeçoso, a povoação castreja

Pág. 360 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


estaria já desactivada e a sua população adaptada a novas formas de habitat,
ou se pelo contrário, teria persistido no tempo, integrado no sistema imperial.

3.3 castro de cabanas


Este povoado localiza-
se num cabeço, situado a
Norte do planalto de Linha-
relhos, na freguesia de
Salto. Está coberto por uma
espessa mancha vegetal que
dificulta a leitura do ter-
reno. Deverá ser um dos po-
voados da Idade do Ferro
existentes na freguesia, mencionados já no início do séc. XX por Fernando
Barreiros.20 O acesso ao castro é relativamente fácil, pelo que os últimos 300m
têm de ser feitos a pé. A morfologia da vertente Oeste parece indiciar a exis-
tência de uma linha de muralha, mas tal só pode ser confirmado com um corte
da densa vegetação.

3.4 são cristóvão


O lugar de São Cristó-
vão, na freguesia de Rui-
vães, terá sido ocupado a
partir dos finais do Baixo
Império, prolongando-se
pela Alta Idade Média.
Não diz respeito a uma to-
pografia única e elevada,
mas espalha-se por terrenos com uma cota média de altitude de cerca de 650m.
Pensa-se que daqui terá nascido a povoação de Ruivães, do medieval núcleo de
São Martinho de Vilar das Vacas, referido nas Inquirições de 1258, que entretanto
evolui para S. Martinho de Ruivães21. Segundo os testemunhos da população de
Botica, aqui terá existido uma igreja, da qual proveio a pia baptismal fragmentada
que se encontra abandonada, junto a um conjunto de sepulturas antropomórficas,

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 361


uma das quais tem gravado um jogo de tabuleiro conhecido por “trilha” ou “jogo
do moinho”. Um pouco por toda a parte se descobrem fragmentos de cerâmicas
de cobertura, como tegula e imbrex, ou ainda de cerâmicas de uso doméstico,
como dolia. No entanto, sabemos que a utilização de tegula se prolongou no tempo
para além da ocupação romana, pelo que a sua mera existência não pode ser um
índice cronológico imutável. Nada mais verosímil que uma ocupação romana
neste local: o local é bom em termos de qualidade agrícola e é rasgado por uma
linha de água. Além disso, a via XVII passava mesmo ao lado, pelo que faz todo
o sentido que aqui tivesse nascido uma povoação ou um conjunto de infra-estru-
turas de apoio que servissem a estrada principal. Muitas destas ocupações são viá-
rias, no sentido em que são geradas por e para os caminhos, situadas sobre o
traçado das vias, sobretudo em locais de paragem obrigatória22. Alguns investi-
gadores colocam a hipótese da ocupação romana do povoado de São Cristóvão
corresponder à mansio Salacia23.

3.5 santa Marinha (?)


Uma das povoações que constituem Ferral designa-se de Santa Marinha,
nome do orago protector
da freguesia e cuja igreja
é-lhe dedicado. Curiosa-
mente, nalgumas locali-
dades do litoral norte,
nomeadamente nos con-
celhos de Esposende e
Barcelos, existem tem-
plos dedicados a Santa
Marinha construídos sobre ou muito próximos de ocupações romanas. O lugar
de Santa Marinha é muito fértil, pela forte irrigação, e poderá ter sido ocupado
por uma unidade de produção romana. Em torno do templo dedicado a Santa
Marinha, foram realizadas obras de construção civil muito profundas, pelo que
não se encontram vestígios superficiais. Contudo, o lugar de Santa Marinha
congrega em si várias características que pressupõem uma ocupação agrária
anterior: óptima exposição solar, protecção dos ventos de norte das montanhas
do Barroso, proximidade de solos agrícolas e de uma linha de água. A melhor

Pág. 362 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


altura para aí se realizar uma prospecção arqueológica frutífera será quando se
arrotearem os terrenos, de forma a detectar-se vestígio de ocupação anterior.

3.6 Facho (?)


Na freguesia de Campos, existe um pequeno morro, cujo topónimo é
Facho. Segundo Carlos Alberto Ferreira de Almeida, há um conjunto de topó-
nimos que indiciam realidades de carácter defensivo. Facho, almiara, atalaia e
custóias são nomes usados para “designar postos de vigia e de lançamento de
sinais por meio do fogo, fumo ou sons” localizados “em lugares dominantes,
perto de vias ou foz de rios”24. Efectivamente, o pequeno morro de 890m de
altitude é a topografia mais elevada numa área de 5km em seu redor, tendo um
bom controlo visual para os quatro pontos cardeais, sobretudo sobre a área de
planalto de Ruivães e Campos. Curiosamente, do Facho consegue-se ver as to-
pografias onde foram construídos os povoados castrejos da Castra, em Ferral
e do lugar de Cabanas, já em Salto, ou as ocupações tardo-romanas e altime-
dievais de São Cristóvão. Além disso, domina visualmente o trajecto da via
XVII, pelo que a sua origem enquanto posto de vigia poderá remontar à época
romana.
Todavia, apesar da riqueza toponímica e das aptidões visuais que tem,
não foram descobertos fragmentos de cerâmica ou entalhes na penedia que per-
mitam dizer com certezas que neste local tenha existido um posto de vigia ter-
ritorial.

3.7 via romana Bracara-Asturica “xvii”


No percurso Bracara-Asturica,
a via XVII rasga parte dos actuais
concelhos de Vieira do Minho e
Montalegre no sentido Oeste-Este e
depois para Norte, na direcção de
Chaves. Será uma das vias mais an-
tigas do conventus bracaraugusta-
nus25, dada a identificação de marcos
miliários, em S.Martinho do Zebral,
Ruivães/Vieira do Minho, que iden-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 363


tificam Augusto como promotor: o facto não é de estranhar, tendo sido Bracara
e Asturica duas urbes criadas por iniciativa do imperador. Este eixo terá sido
terminado já em dinastia Júlio-claudiana, dadas as inscrições de alguns marcos
que nos remetem para a governação de Tibério (um em Padrões, Venda
Nova/Montalegre) e de Cláudio (em Sagunhedo, Montalegre)26.
A via saía de Bracara em direcção a Este, passando a Norte da Serra da Ca-
breira, aproveitando a morfologia plana do terreno, penetrando pelas actuais fre-
guesias de Ruivães e Campos. Em Ruivães, a via passava pelo local de São
Cristóvão, uma pequena elevação que foi intensamente ocupada nas épocas ro-
mana e medieval, e dirigia-se para Sudeste, em direcção a actual freguesia de
Campos. Continuando a aproveitar a planície, já que a Norte o terreno vai des-
cendo há medida que se aproxima das margens do Rabagão, a via talvez seguisse
ou a Norte de um pequeno cocuruto curiosamente designado por “Facho” ou a
Sul deste, já que são os locais cuja cota altimétrica proporciona mais conforto de
mobilidade. Certa é a orientação ligeiramente Nordeste que ela teria de seguir
para o lugar de Padrões, em Venda Nova, cujo topónimo é evidente da existência
de uma estrada romana nas suas imediações e os marcos aí encontrados corrobo-
ram a riqueza desse topónimo. Terá passado pela zona do Arco, em Cambedo,
local onde foi encontrado um marco miliário, próximo da suposta Ponte do Arco,
que teria origem romana mas que ficou submersa com a construção da barragem.
Passaria junto ao Castro de Codeçoso a montante do rio Rabagão e seguiria para
Nordeste ao longo do deste, passando certamente na actual freguesia de Vila da
Ponte. Em Vila da Ponte, os investigadores suspeitam da elevada possibilidade
de nas suas imediações se situar a mansio Praesidium, referenciada no Itinerário
de Antonino27: com efeito, esta mansio vem localizada a “m.p. XXvi” (sensivel-
mente 38 km de distância de Bracara Augusta), coincidindo com o marco miliário
encontrado perto do Castro de Codeçoso, referente a Cláudio, e que marca a
mesma distância. Segundo Sande Lemos, há referências de António Dias e de
Luís Fontes que indicam a existência de povoados romanos nas proximidades de
Vila da Ponte, nomeadamente em Corga Seca28.

4. Possíveis estratégias de povoamento castrejo e romano


Ao longo dos tempos, as estratégias de domesticação e humanização do
território foram díspares. A diversidade locativa dos habitats espelha as con-

Pág. 364 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


junturas políticas, económicas e sociais. Tal é bem patente na alteração dos pa-
drões de assentamento que se verifica aquando da romanização do Noroeste
peninsular, como tentaremos aqui expor.
A implantação do habitat obedece a uma série de critérios, como a proximidade
aos recursos indispensáveis à sua subsistência, à sua protecção e ao bom controlo
territorial. Os habitats castrejos em estudo parecem ter escolhido topografias com
altitudes entre os 600 e 850m, ao longo das bacias do Rabagão ou do Cávado, em
meios favoráveis à prática das actividades de subsistência. A premissa defensiva
terá sido certamente importante, todavia, há que admitir que “os motivos que pre-
sidiam à escolha dos sítios onde deveriam ser implantados os habitats extravasam
as meras concepções defensivas”29. A altitude não era premissa obrigatória para a
escolha do local, pois nem todos os castros se situavam em topografias elevadas.
Se a altura é um critério essencial para a defesa do povoado e para o controlo visual
do território, a proximidade dos cursos de água era-o ainda mais para a sobrevi-
vência do habitat. Poderá ser falaciosa a criação de tipologias hierarquizantes com
base apenas na altitude. A melhor estratégia de implantação e exploração do terri-
tório é aquela que é compensatória em termos da minimização de esforços.
Cada povoado implanta-se no território de acordo com a morfologia local,
com a disponibilidade dos recursos e não há uma norma locativa. No caso do
povoado em estudo, os castros identificados implantaram-se nos locais que
reuniam as melhores condições de irrigação, estando dotados de um ou dois
cursos fluviais e consequentemente dos melhores solos agrícolas, expostos à
luz solar mas protegidos dos ventos de norte. De facto, os castros de Outeiro
do Vale, Cabanas e Codeçoso foram construídos em zonas extremamente irri-
gadas, como ainda hoje se pode constatar, pela pujança da vegetação, e cujas
zonas de exploração agrícola estão a uma distância de cerca de 30 minutos a
pé. O castro de Outeiro do Vale é alimentado tanto pela ribeira de Saltadouro
como pelo rio Cávado, e tem em seu imediato redor uma mancha de terra ará-
vel. O castro de Cabanas está sobranceiro à ribeira de Amiar e os terrenos agrí-
colas do planalto de Linharelhos estão a menos de 1km de distância, ou seja,
a menos de 30 minutos a pé. O castro de Codeçoso é vizinho do rio Rabagão
e sobreviveria certamente da exploração dos terraços fluviais a cerca de 300m.
A proximidade aos cursos de água, que alimentam os terrenos e fornecem
peixe, é uma característica que os une.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 365


O castro de Outeiro do Vale é o habitat castrejo cuja altitude é mais baixa
(615m), face aos 867m de altitude de Cabanas e 726m de Codeçoso. Pela sua al-
titude, está assim mais próximo das áreas de cultivo do que os restantes, sendo
menor o tempo dispendido nas viagens para a actividade agrária. Numa primeira
abordagem, este povoado enquadrar-se-ia mais rapidamente no conceito de “cas-
tro agrícola”, no sentido em que teria sido construído ao longo do séc. I a.C. ou
nos primeiros decénios do séc. I, provavelmente por moradores dos castros tradi-
cionais, que se deslocam e fixam na orla dos territórios de exploração desses mes-
mos povoados30. Todavia, os vestígios cerâmicos de fabrico manual superficiais
detectados durante uma prospecção recente realizada pela Universidade do
Minho31 refutam a possibilidade do povoado ter sido criado entre o séc. I a.C. e o
séc. I., já em pleno contexto cultural romano. Além disso, não foi ainda possível
determinar com exactidão qual o sistema defensivo deste povoado, pelo que não
se pode estabelecer ainda qualquer paralelismo com as composições de muralha
em terra, talude, duplo fosso e parapeito32. O povoado cujo sistema defensivo é
mais perceptível a olho nu é o do castro de Codeçoso: três muralhas, duas em
pedra de grauvaque e uma terceira possivelmente de terra, intercaladas por três
fossos artificiais, orientadas a Sul. Numa primeira abordagem, esta parece ser a
defesa mais complexa detectada entre os três povoados. Apesar do desconheci-
mento dos sistemas de defesa dos povoados castrejos em estudo, podemos afirmar
que os seus habitantes não descuraram o aspecto defensivo natural, pelo que se
fixaram nos topos de montes, onde poderiam ter um óptimo controlo visual do
território circundante. Como é demais conhecido, visão e defesa eram dois pres-
supostos que condicionavam a localização do habitat castrejo: ver e ser visto den-
tro de uma concepção territorial de conjunto. O povoado mais alto, neste caso o
de Cabanas, teria uma extraordinária vista sobre o rio Rabagão, a Norte/Nordeste,
sobre o povoado de Outeiro do Vale, a uma distância de cerca de 6,5km em linha
recta para Noroeste e sobre o castro de Codeçoso, a 4km de distância para Nor-
deste. O castro de Cabanas, sendo o mais alto, seria o povoado mais “controlador”
deste território, já que visualizava dois povoados em seu redor.
Em termos da exploração económica local anterior à ocupação romana,
certamente que as actividades seriam orientadas para a auto-subsistência, não
significando contudo que não pudessem haver produções excedentárias para o
exterior dos territórios de influência dos povoados. Os territórios agrários se-

Pág. 366 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


riam aproximados dos habitats, possivelmente parcelas pequenas, exploradas
com o objectivo de abastecer localmente o seu povoado e nutrir alguma carên-
cia dos povoados vizinhos. Ainda hoje em dia a área envolvente ao castro de
Outeiro do Vale é composto por minifúndios explorados familiarmente. Possi-
velmente, a exploração mineira foi a actividade mais rentável e a que melhor
beneficiou as populações locais: os inúmeros achados metálicos descobertos
nas redondezas, como machados de talão (Castro de Medeiros, Chã, Montale-
gre/ Castro de Nogueira, Bobadela, Montalegre33) e pontas de lança (Outeiro
do Rego, Chã, Montalegre/ Vale Travasso, Solveira, Montalegre34) sugerem
uma exploração activa do bronze; e a descoberta de adereços em ouro, como
torques cuidadosamente manipulados e ricamente decorados (Paradela do Rio
e Tourém, Montalegre) indiciam que desde épocas proto-históricas que o pre-
cioso metal era estimado e trabalhado com distinção, mesmo que a uma escala
menor se comparada com o furor mineiro romano.
A maior evidência arqueológica de ocupação humana baseia-se na cerâ-
mica e os povoados fortificados teriam à sua disposição zonas de barro para a
sua produção: abaixo de Ruivães encontra-se o topónimo Barroca, que indicia
existência de barreiros.
A existência de cerâmicas de fabrico ou acabamento manual no castro de
Outeiro do Vale e a moderada altitude a que se encontram os povoados anali-
sados levam a crer que estamos perante habitats cuja formação poderá ter ini-
ciado no período castrejo médio35, provavelmente ainda em meados do séc. II
a.C. No entanto, será plausível que estes habitats tenham sobrevivido e perdu-
rado a partir do séc. I a.C., com as primeiras aproximações entre os mundos
indígena e romano, gradualmente absorvidos no quadro político latino. Urge a
escavação destas povoações, para determinar cronologias sólidas.
Curiosamente, a via XVII é bastante próxima dos povoados de Outeiro do
Vale, Cabanas e Codeçoso: nenhum destes castros parece ter nascido como con-
sequência directa da política administrativa romana, mas sim a via oficial ter de-
calcado um percurso pré-existente. Assim, natural é que estes dominem visual e
fisicamente o próprio percurso oficial, enquanto pré-existências mantidas durante
a ocupação romana enquanto uma estratégia de fixação e controlo do povoa-
mento indígena. De tal forma que não seria de estranhar que estes povoados ti-
vessem sobrevivido à margem da XVII, numa longa diacronia ocupacional,

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 367


precisamente se o programa económico romano se baseasse na intensificação e
crescimento das actividades anteriormente desenvolvidas pelas populações, como
a mineração ou a agricultura, mas numa macroescala nunca antes efectuadas.
A estratégia de assentamento romana era bem diferente da castreja, privile-
giando a especialização económica das unidades de povoamento, dentro da lógica
de mercado já referida e a dispersão pelo ager. Terá, todavia, inteligentemente
aproveitado as estruturas indígenas existentes e estimulado a inovação das mesmas:
os povoados teriam continuado a existir, até perderem naturalmente as suas popu-
lações. Possivelmente algumas das ocupações castrejas terão ainda assistido à cons-
trução da via oficial e às modalidades das estruturas de apoio que surgem ao longo
do cursus publicus: nalguns locais do Noroeste peninsular ocorreram fenómenos,
já no Baixo Império, de reocupação de povoados fortificados, num mesmo mo-
mento de expansão de habitats rurais romanos, como as villae36. Muito possivel-
mente os povoados de Outeiro do Vale e Codeçoso perduraram no tempo ou
poderão ter sido reocupados dentro de uma nova lógica administrativa e económica
do espaço. Parece plausível que a construção da XVII vem substituir os rios en-
quanto eixos umbilicais que condicionavam a implantação territorial das ocupa-
ções. Talvez durante o Baixo Império, estes povoados fortificados tivessem já
perdido grande parte da sua população para outras modalidades de povoamento
disperso, como aconteceu em São Cristóvão e, possivelmente, em Santa Marinha.
Contudo, existe igualmente uma elevada probabilidade de se terem mantido acti-
vos, e inclusive desenvolvido, graças à política de intensificação agrária e mineira
que o Estado romano impôs. Se houve grupos que optaram pela descida do po-
voado para as áreas agrícolas de planalto (como poderá ter acontecido com a po-
pulação do castro de Cabanas, atraídos para a área de planalto de Linharelhos ou
a população de Santa Marinha), outros poderão ter optado pela permanência no
habitat tradicional, mesmo que empregados nas explorações mineiras romanas das
proximidades, como as minas de ouro e prata de Jales (Vila Pouca de Aguiar), Tres-
minas (Vila Pouca de Aguiar), Valdanta37 (Chaves) ou Limarinho (Boticas). O pró-
prio topónimo “Ferral” poderá sugerir alguma reminiscência mineira de ferro. A
administração romana terá sido conivente com a manutenção das estruturas tradi-
cionais de povoamento dos populi, em detrimento do desenvolvimento pacífico
da economia: existia um circuito viário oficial cuja segurança e paz era fundamental
manter, de modo a que as matérias-primas pudessem circular dentro e fora do con-

Pág. 368 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


ventus, mais especificamente o tão precioso ouro, cuja exploração era exclusiva-
mente de tutela estatal. A via XVII não teria sido construída ao acaso e a ligação
entre capitais conventuais teria como maior motivação a circulação aurífera. A
XVII terá sido a primeira viae publicae a estabelecer ligação entre os conventus
asturica e bracaraugustanus, mas com certeza que o seu traçado teria aproveitado
uma via proto-histórica anterior, que alguns investigadores sugerem poder ter sido
a “Rota do Ouro”38. Assim, não seria de estranhar a existência de casais agrícolas
romanos ou aldeias agro-pecuárias de reminiscência indígena39 nos territórios em
redor da via ou outros elementos indirectos de ocupação humana, como necrópoles.
Talvez os vestígios romanos do lugar de São Cristóvão sejam referentes a uma
mansio ou mutatio, criadas aquando da abertura da via. Muitos são os topónimos
dispersos pela área analisada e que poderão ainda ser fruto dessas alterações no
modelo locativo: venda e botica sugerem a existência de estabelecimentos comer-
ciais, quintã indicia a possível localização de uma casa agrícola, fornos velhos po-
derá ter uma fundação romana. Na estratégia de assentamento romana, o trajecto
entre a ligação às capitais administrativas pautava-se de núcleos populacionais de
variadas importâncias e funções. Há que atentar na existência de vias secundárias
não calcetadas ou de vias privadas que seriam fundamentais na ligação entre os
povoados de origem indígena, as novas modalidades agrárias de ocupação e as
ocupações de funções especializadas na prestação de serviços administrativos, fis-
cais e comerciais, que auxiliariam os eixos urbanos mais próximos, nomeadamente
a capital conventual Bracara e a capital “regional” de Aquae Flaviae. Face às ne-
cessidades de comunicação pelo crescente movimento na rede de povoamento, é
lógico que tenham sido lançadas vias que intercomunicavam com a via XVII40:
possivelmente a própria estrada que passa na ponte da Misarela em direcção a
Montalegre será originalmente um acesso secundário romano.

5. conclusões
Á semelhança do que se passou em todo o Noroeste peninsular, também
neste território fronteiriço como a região do Barroso ocorreram transformações
fortíssimas no modus vivendi da população local com a romanização, nomea-
damente nas concepções do habitat, do território, da economia e da mobilidade.
A construção da via XVII terá sido um importante motor de desenvolvimento
de uma região que, apesar de já anteriormente rica, conheceu uma nova dinâ-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 369


mica humana, financeira e administrativa. Demonstra ainda o poder de atracção
e de prosperidade que uma via oficial exercia, ao provocar o nascimento junto
dela de pequenos pólos habitacionais ou serviçais e ainda a deslocação a uma
escala nunca antes vista de pessoas e bens. Contudo, este trabalho teórico só
poderá ser mais exaustivo com dados práticos de intervenções arqueológicas
nos locais, absolutamente fundamentais para a sua compreensão e correcta con-
textualização temporal, pois apenas assim se podem afinar cronologias e asso-
ciar os habitats, permitindo assim traçar com maior rigor a transição das
modalidades de povoamento nesta área, completando o estudo já iniciado por
unidades académicas de investigação.
Bibliografia
ALARCÃO, Jorge, SANTOS, Álvaro Miranda, “Aculturação – aspectos gerais da interpenetração
de culturas”, Editorial L.I.A.M., Lisboa, 1961
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira, “vias medievais do entre douro e Minho”, Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, Porto, 1968
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de; “O castrejo sob domínio romano: a sua transformação”; Estudos
de Cultura Castrexa e de Historia Antiga de Galicia, Santiago de Compostela, 1983
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de; “A casa castreja ”, Memórias de História Antigua, vol.VI,
Oviedo,1984
ALMEIDA, Carlos A. Brochado de, “Povoamento Romano do litoral Minhoto entre o Cávado e o Minho”;
Dissertação de Doutoramento em Pré-História e Arqueologia apresentado na Faculdade de Letras da Uni-
versidade do Porto, vol.VII, Porto, 1996
AMARAL, Paulo, “O povoamento romano no vale superior do Tâmega. Permanências e mutações na hu-
manização de uma paisagem”, Dissertação de Mestrado em Arqueologia apresentado à Faculdade de Letras
da Universidade do Porto, Porto, 1993
BAPTISTA, José Dias, “Montalegre”, Município de Montalegre, 2006
BARREIROS, Fernando Braga, “ensaio de inventario dos castros de Montalegre” , O Archeólogo Portu-
guês, Lisboa, vol.XX, 1915
COSTA, João Gonçalves da , “Montalegre e Terras de Barroso”, Montalegre
COSTA, Avelino de Jesus da, “O Bispo D. Pedro e a Organização da Diocese de Braga”, BiBLOS, XXXIV,
Universidade de Coimbra, Coimbra, 1958
DAVEAU, Suzanne, “Mapas climáticos de Portugal: nevoeiros e nebulosidade, contrastes térmicos”, Me-
mórias do Centro de Estudos Geográficos, Lisboa, nº7, 1985.
FONTES, Luís Fernando de Oliveira, “inventário de Sítios e Achados Arqueológicos da vertente Alta da
Serra da Cabreira”, Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, Braga 1998.
LEMOS, Francisco Sande; “A via romana entre Bracara Augusta e Asturica Augusta”, Revista de Guima-
rães, vol. 110, Guimarães, 2000
MARTINS, Manuela, “O povoamento proto – histórico e a romanização da bacia média do Cávado”, Dis-
sertação de Doutoramento apresentada à Universidade do Minho, Braga, 1990
MORENO GALLO, Isaac, “vias romanas de Astorga”, “Nuevos Elementos de Ingeniería Romana- III Con-
gresso de las obras públicas romanas”, Junta de Castilla e Léon, Astorga, 2006
NORONHA, Fernando, “Cabreira- Serra granítica”, Geologia no Verão, Câmara Municipal de Vieira do
Minho, Setembro de 2003
PÉREZ LOSADA, Fermín, “Sistema viario e núcleos agrupados romanos”, Revista de Guimarães, vol.

Pág. 370 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


110, Guimarães, 2000
SILVA, Armando Coelho Ferreira da; “A Cultura Castreja no noroeste de Portugal”, Dissertação de Dou-
toramento em Pré-História e Arqueologia apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto,
Porto, 1986
SILVA, Armando Coelho Ferreira da, “A Cultura Castreja no norte de Portugal”, Revista de Guimarães,
Volume especial, I, Guimarães, 1999
SILVA, Paula Carla Machado, “inventariação do Património geológico do concelho de vieira do Minho e
sua utilização com fins didácticos”, Mestrado em Património Geológico e Geoconservação, Universidade
do Minho - Escola das Ciências, 2007

Websites
Levantamento do património arqueológico e arquitectónico de vieira do Minho, realizado pela Universidade
do Minho, disponível no website oficial da C.M. Vieira do Minho
Instituto Português de Meteorologia

1
BAPTISTA, José Dias, “Montalegre”, Município de Montalegre, 2006, pág. 18
2
COSTA, João Gonçalves da , “Montalegre e Terras de Barroso”, Montalegre, pág.52
3
BAPTISTA, José Dias, “Montalegre”, Município de Montalegre, 2006, pág. 19
4
DAVEAU, Suzanne, “Mapas climáticos de Portugal: nevoeiros e nebulosidade, contrastes térmicos”, Me-
mórias do Centro de Estudos Geográficos, Lisboa, nº7, 1985.
Informação do website do Instituto de Meteorologia (www.meteo.pt)
5
BAPTISTA, José Dias, “Montalegre”, Município de Montalegre, 2006, pág. 54
6
SILVA, Paula Carla Machado, “inventariação do Património geológico do concelho de vieira do Minho
e sua utilização com fins didácticos”, Mestrado em Património Geológico e Geoconservação, Universidade
do Minho - Escola das Ciências, 2007, pág.39-49
7
NORONHA, Fernando, “Cabreira- Serra granítica”, Geologia no Verão, Câmara Municipal de Vieira do
Minho, Setembro de 2003, pág. 22
8
ALARCÃO, Jorge, SANTOS, Álvaro Miranda, “Aculturação – aspectos gerais da interpenetração de cul-
turas”, Editorial L.I.A.M., Lisboa, 1961, pág.31-32
9
ALMEIDA, Carlos A. Brochado de, “Povoamento Romano do litoral Minhoto entre o Cávado e o Minho”;
Dissertação de Doutoramento em Pré-História e Arqueologia apresentado na Faculdade de Letras da Uni-
versidade do Porto, vol.VII, Porto, 1996, pág. 165
10
MARTINS, Manuela, “O povoamento proto – histórico e a romanização da bacia média do Cávado”,
Dissertação de Doutoramento apresentada à Universidade do Minho, Braga, 1990, pág. 216
11
ALMEIDA, Carlos A. Brochado de, “Povoamento Romano do litoral Minhoto entre o Cávado e o Minho”;
Dissertação de Doutoramento em Pré-História e Arqueologia apresentado na Faculdade de Letras da Uni-
versidade do Porto, vol. VII, Porto, 1996, pág.230-23
12
idem, ibidem, pág.279-307
13
LEMOS, Francisco Sande; “A via romana entre Bracara Augusta e Asturica Augusta”, Revista de Gui-
marães, vol. 110, Guimarães, 2000, pág.27
14
PÉREZ LOSADA, Fermín, “Sistema viario e núcleos agrupados romanos”, Revista de Guimarães, vol.
110, Guimarães, 2000, pág.130
15
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira, “vias medievais do entre douro e Minho”, Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, Porto, 1968, pág.16
16
Levantamento do património arqueológico e arquitectónico de vieira do Minho, realizado pela Universi-
dade do Minho, disponível no website oficial da C.M. Vieira do Minho
17
MARTINS, Manuela, “O povoamento proto- histórico e a romanização da bacia média do Cávado”, Dis-
sertação de Doutoramento apresentada à Universidade do Minho, Braga, 1990, pág. 212

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 371


18
idem, ibidem
19
BARREIROS, Fernando Braga, “ensaio de inventario dos castros de Montalegre” , O Archeólogo Por-
tuguês, Lisboa, vol.XX, 1915, pág.211-213
20
idem, ibidem
21
Levantamento do património arqueológico e arquitectónico de Vieira do Minho, realizado pela Universi-
dade do Minho, disponível no website oficial da C.M. Vieira do Minho
COSTA, Avelino de Jesus da, “O Bispo D. Pedro e a Organização da Diocese de Braga”, BiBLOS, XXXIV,
Universidade de Coimbra, Coimbra, 1958, pág.109
22
PÉREZ LOSADA, Fermín, “Sistema viario e núcleos agrupados romanos”, Revista de Guimarães, vol.110,
Guimarães, 2000, pág.127
23
FONTES, Luís Fernando de Oliveira, “inventário de Sítios e Achados Arqueológicos da vertente Alta da
Serra da Cabreira”, Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, Braga 1998.

24
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira, “vias medievais do entre douro e Minho”, Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, Porto, 1968
25
Idem, ibidem, pág.29
LEMOS, Francisco Sande; “A via romana entre Bracara Augusta e Asturica Augusta”, Revista de Guima-
rães, vol. 110, Guimarães, 2000, pág.23
26
Idem, ibidem, pág.29-30
27
LEMOS, Francisco Sande; “A via romana entre Bracara Augusta e Asturica Augusta”, Revista de Gui-
marães, vol. 110, Guimarães, 2000, pág.31
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira, “vias medievais do entre douro e Minho”, Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, Porto, 1968
MORENO GALLO, Isaac, “vias romanas de Astorga”, “Nuevos Elementos de Ingeniería Romana- III Con-
gresso de las obras públicas romanas”, Junta de Castilla e Léon, Astorga, 2006, pág. 26-28
28
LEMOS, Francisco Sande; “A via romana entre Bracara Augusta e Asturica Augusta”, Revista de Gui-
marães, vol. 110, Guimarães, 2000, pág.33
29
ALMEIDA, Carlos A. Brochado de, “Povoamento Romano do litoral Minhoto entre o Cávado e o Minho”,
Dissertação de Doutoramento em Pré-História e Arqueologia apresentado na Faculdade de Letras da Uni-
versidade do Porto, Porto, 1996, vol. VII, pág. 70
30
ALMEIDA, Carlos Alberto Brochado de, “Alterações no povoamento indígena no início da romanização.
Ponto da situação no conventus bracaraugustanus”; Separata del Tomo XXXIII del Boletín Avriense; Ou-
rense; 2003, pág.84
31
Levantamento do património arqueológico e arquitectónico de vieira do Minho, realizado pela Universi-
dade do Minho, disponível no website oficial da C.M. Vieira do Minho
32
ALMEIDA, Carlos A. Brochado de, “Povoamento Romano do litoral Minhoto entre o Cávado e o Minho”;
Dissertação de Doutoramento em Pré-História e Arqueologia apresentado na Faculdade de Letras da Uni-
versidade do Porto; Porto; 1996; vol. VII, pág.169
33
SILVA, Armando Coelho Ferreira da; “A Cultura Castreja no noroeste de Portugal”, Dissertação de Dou-
toramento em Pré-História e Arqueologia apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto,
Porto, 1986, Est.IV
34
idem, ibidem, Est. VIII
35
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de; “A casa castreja ”, Memórias de História Antigua, Oviedo, 1984,
vol.VI, pág.35

36
AMARAL, Paulo, “O povoamento romano no vale superior do Tâmega. Permanências e mutações na
humanização de uma paisagem”, Dissertação de Mestrado em Arqueologia apresentado à Faculdade de Le-
tras da Universidade do Porto, Porto, 1993, pág.154
37
idem, ibidem, pág.171

Pág. 372 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


38
LEMOS, Francisco Sande; “A via romana entre Bracara Augusta e Asturica Augusta”, Revista de Gui-
marães, vol. 110, Guimarães, 2000
pág.21-22
39
PÉREZ LOSADA, Fermín, “Sistema viario e núcleos agrupados romanos”, Revista de Guimarães, vol.
110, Guimarães, 2000, pág.128-131
40
AMARAL, Paulo, “O povoamento romano no vale superior do Tâmega. Permanências e mutações na
humanização de uma paisagem”, Dissertação de Mestrado em Arqueologia apresentado à Faculdade de Le-
tras da Universidade do Porto, Porto, 1993, pág.175

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 373


A necRóPoLe RoMAnA do LARgo dAs FReiRAs eM chAves
The ROMAn CeMeTeRY OF The FReiRAS SQuARe in ChAveS,
PORTugAL

Sérgio Fiadeiro Guerra Carneiro


ArqUeólogo do MUnICíPIo de CHAveS; SergIoCArneIro@yAHoo.CoM

Resumo: A escavação em área do Largo das Freiras em Chaves revelou a presença de


uma necrópole romana baixo imperial escavada num nível de abandono que se sucedeu a uma
área urbana da cidade de Aquae Flauiae. Depreende-se das evidências apresentadas uma con-
tracção urbana no séc. III. A Localização desta necrópole é enquadrada em outros achados ro-
manos de cariz funerário conhecidos na cidade.
Palavras-chave: Necrópoles Romanas, Baixo-império, Contracção urbana, Séc. III d.C.,
Sidónio Apolinário.

Abstract: The open area excavation of a Square in the city centre of Chaves revealed the
presence of a late roman cemetery dug on a sterile layer that deposited over a 2nd. century A.d.
wall. The evidence presented allows us to infer an urban contraction during the 3rd. Century
A.d. The location of this site is analysed in conjunction with the other known roman burial sites
in the city.
Keywords: Roman Cemeteries, Late empire, urban contraction, 3rd. Century A.d., Sido-
nius Apollinarius.

introdução
A intervenção arqueológica no Largo General Silveira em Chaves, vul-
garmente conhecido como Largo das freiras, teve lugar entre Maio de 2000 e
Setembro de 2001, em sequência do projecto de construção de um parque de
estacionamento subterrâneo promovido pela autarquia.
Com o objectivo de minimizar o impacte sobre o património, foi elabo-
rado um plano de intervenção que consistia na abertura de sondagens prévias
para a avaliação estratigráfica do local, seguidas de escavação em área.
Na primeira das sondagens préviasplaneadas, detectámos a presença de uma

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 375


sepultura estruturada em
tégulas formando duas
águas (S1[5]=A1[50]),
pelo que se optou por avan-
çar de imediato para a es-
cavação em área, seguindo
o método vulgarmente co-
nhecido por Barker/Harris1
de grande parte da placa
central do Largo (vide fig.
1: Planta de Localização).
Dado que existia um
aterro de saibro colocado
em 1930 aquando da cons-
trução dos edifícios do
quartel dos bombeiros e do
Liceu, começámos por o
remover mecanicamente,
sob o qual encontrámos a
seguinte sequência de ocu-
pação.
Figura 1. Planta de localização
Fases de ocupação:
1. Contemporânea:
vestígios de um muro de divisão de propriedades ([1]); solo agrícola anterior
ao aterro de 1930 ([2]).
2. Moderna: conduta de saneamento com paredes em alvenaria pobre de
pedras e argamassa amarela torrada, fundo em calçadinha de seixos e pedras gra-
níticas pequenas e tampas compostas por grandes pedras graníticas toscas, esta
conduta integra-se nas obras de reforço da Praça-forte posteriores à Restauração;
valas de lixo e restos de combustão e respectivos enchimentos relacionados com
o convento que deu o nome à praça, mais tarde transformado em Liceu.
3. Romano baixo imperial: sepulturas estruturadas em tegulae e laterae,
sepultura simples em covacho e respectivos enchimentos.

Pág. 376 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


4. Fase de abandono: camada estéril onde foram escavadas as sepulturas.
5. Romano alto imperial: camada; muro, e respectivos derrubes.
Debruçamo-nos em seguida sobre as fases 3 a 5, respeitantes ao período
romano enquadrando-as no conhecimento existente sobre a cidade de Aquae
Flauiae.

A ocupação Baixo-imperial: necrópole e área não edificada adjacente


Em toda a área escavada apenas foram detectados três enterramentos, con-
centrados no extremo Norte, um dos quais em covacho simples (u.e. [53]), a
mais humilde das formas de inumação presentes nas necrópoles romanas deste
tipo (TOYNBEE, 1971, p. 101) e dois sob a forma de sepulturas estruturadas
em tégula. Destas, uma ([50]) era composta por quatro tégulas de cada lado for-
mando duas águas e duas de fecho nas extremidades, num total de dez, sendo
que a da extremidade SE havia sido deslocada para uma deposição secundária,
como explicaremos mais abaixo; e a outra ([51]) constituída por uma caixa de
secção quadrangular com três tégulas formando cada um dos lados, duas tégulas
inteiras e dois fragmentos servindo de cobertura, duas inteiras e um fragmento
formando o fundo e uma tégula de fecho em cada um dos extremos. Este tipo
de inumações, recorrendo a tégulas para a estruturação da sepultura, e, em es-
pecial as de secção prismática, é recorrente por todo o império, e especialmente
generalizada a partir do séc. IV, da sepultura q da necrópole do Vaticano, perto
do túmulo de S. Pedro (TOYNBEE e PERKINS, 1956, p. 143, fig. 12) às ne-

Figura 3. Desenho das sepulturas

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 377


crópoles de York (RCHMY, 1962, est. 28, em cima) ou a Rheinzabern (KOEPP
e DREXEL, 1924, est. 37, fig. 2). No actual território português, podemos citar,
pela sua proximidade, os casos da Sepultura E1 - zona D3- e da E3 - zona 15,
no núcleo da Cangosta em Braga, esta última de secção quadrangular (MAR-
TINS e DELGADO, 1989/90, p. 107, figs. 51 e 53); ou a sepultura C6 (49) de
Gulpilhares (LOBATO, 1995, p. 37, est. XXXV, fig. 1).
Nenhuma das três sepulturas identificadas continha já espólio osteológico,
apenas se percebendo uma coloração ligeiramente mais clara, grão mais fino
e consistência mais compacta na parte do enchimento das sepulturas onde es-
tariam os ossos.
Nenhuma das sepulturas continha mobiliário funerário de cariz votivo ou de
adorno e o escasso número de pequenos fragmentos cerâmicos exumados estão
associados ao preenchimento pós-deposicional das estruturas provindo, portanto,
da camada anterior à abertura das valas sepulcrais e não nos servindo para datar as
mesmas. Foi encontrado um prego proveniente do topo Este de [52] (enchimento
da sepultura [51]), entre as tégulas t3 e t7 (vide fig. 3) que, por ser um caso isolado,
não podemos interpretar como vestígio de um eventual ataúde em madeira.
No momento de atribuirmos uma cronologia a este conjunto de sepulturas,
estamos, assim, limitados à sua tipologia e ritual de enterramento. Em primeiro
lugar, o facto de estarmos perante uma necrópole de inumação dá-nos um ter-
minus ante quem do séc. II d.C., altura em que este tipo de ritual se generalizou
pelo império (Cf. MORRIS, 1992 pp. 42-69). Mas outros factores podem dar-
nos uma cronologia mais fina, como a ausência de deposições votivas e a uti-
lização de tégulas formando duas águas. Ambas as características são típicas
do baixo Império. Nas necrópoles de Braga, MARTINS e DELGADO
(1989/90, p. 107) atribuem uma cronologia do séc. IV às sepulturas deste tipo,
baseando-se para tal em paralelos de Tarragona.
As três sepulturas desenvolvem-se ao longo do mesmo eixo (aprox. NW-
SE), o que parece indicar uma organização do espaço em função de uma via
ou de um limite urbano. Não existe em nenhum dos casos uma diferenciação
da cabeceira, o que, na ausência de restos osteológicos, nos impede de perceber
para que lado estariam voltados os indivíduos.
Como dissemos anteriormente, a tégula de fecho SE da sepultura [50] en-
contrava-se encostada à tégula T6 de [51] (vide fig. 3 e foto em fig. 2). Quando

Pág. 378 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


da escavação da vala de implantação
da sepultura [51], os “coveiros” terão
dado com o extremo SE da sepultura
[50] e removido cuidadosamente a té-
gula de fecho, sem a partir, e, após
construírem a sua sepultura, recolo-
cado a tégula ao lado da nova estrutura
sepulcral e tapado a vala. Desta re-
constituição das acções deposicionais
podemos inferir:
- Que a sepultura [50] já não
tinha qualquer modo de identificação,
Figura 2. Ilustração das sepulturas
fosse uma estela ou um simples monte
de terra, quando se abriu a sepultura
[51].
- Que o sentido de pietas dos construtores da sepultura [51] estava ainda
plenamente dentro do mos romanorum, e em respeito (ou temor) à lei.
Esta situação pouco comum permite-nos vislumbrar um pouco para alem
da aridez habitual dos resultados de escavação das necrópoles desta época e en-
trar no território habitualmente vedado dos comportamentos e mentalidades.
Numa das suas cartas (epist., III, 12), dedicada ao seu sobrinho Segundo e
escrita cerca de 469 d.C. (segundo a cronologia estabelecida por LOYEN 1970,
vol. 2), Sidónio Apolinário (DALTON, 1915, pp. 63-86) descreve uma situação
que nos traz alguma luz sobre o que se terá passado: A caminho de Arvernum
(ou Augustonemetum Arvernorum, actual Clermont-Ferrand), Sidónio presencia
um espectáculo que o enche de dor: um grupo de pessoas está prestes a enterrar
um corpo na mesma necrópole e no preciso local onde jaz o seu avô Apolinário,
prefeito das Gálias. A sepultura está já parcialmente aberta quando Sidónio se
precipita para o local e administra sumariamente a justiça aos ímpios espan-
cando-os2, ainda que admita que estes não tinham sido movidos por má fé, já
que a necrópole estava, havia muito, abandonada por já estar cheia de cinzas de
incinerações (bustualibus favillis) e corpos inumados (cadaveribus). Além disso,
a sepultura do avó de Sidónio já não tinha nada que a diferenciasse, por as chuvas
e o peso das neves terem suavizado a elevação de terra que a demarcava. A carta

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 379


prossegue com o seu objectivo principal, ou seja, apresentar o poema que Sidónio
pretende que seja colocado na estela funerária do seu avô, mas o que nos interessa
quanto ao quadro mental da época no que se refere a enterramentos secundários
e à importância do respeito pelas sepulturas, fica também dito.
Para além desta necrópole, existem outras quatro áreas de enterramento
de cronologia romana referenciadas para a cidade de Chaves (vide fig. 1 –
Planta de Localização):
- A Necrópole Romana da Pensão Jaime, inventariada pelo Instituto Por-
tuguês de Arqueologia com o nº CNS14291, foi detectada nas escavações pre-
ventivas das obras de ampliação do estabelecimento hoteleiro epónimo. A
intervenção foi dirigida por João Paulo Guinea Barbosa e infelizmente não se
encontra ainda publicada. Da ficha de sítio presente na base de dados do Mi-
nistério da Cultura (Endovélico) podemos inferir que se tratava de uma necró-
pole de incineração e inumação, o que pode indicar uma longa diacronia de
utilização do espaço.
- RODRÍGUEZ COLMENERO (2000, pp. 60 a 66) refere a existência de
uma Necrópole Romana no alto da Petisqueira, sem no entanto avançar mais
pormenores. Trata-se da proveniência atribuída de três inscrições funerárias cujo
paradeiro se desconhece: a) Inscrição a Pictelancea. Inventariada pelo IPA com
o nº CNS24392. Referida inicialmente por BARROS (1919 [Ms. Original de
1549]), sem indicar a procedência do monumento, e posteriormente publicada
por ARGOTE (1732) como sendo oriunda da Petisqueira3; b) Inscrição a Laucia.
Inventariada pelo IPA com o nº CNS24393. Referida por BARROS (Op. Cit.)
como procedendo da Petisqueira4; c) Inscrição a Colena. Inventariada pelo IPA
com o nº CNS24394. Referida por ARGOTE (op. cit.) como tendo vindo da Pe-
tisqueira5. Não há notícia de terem aparecido enterramentos no local.
- Na mesma obra RODRÍGUEZ COLMENERO (2000, idem) avança a
possibilidade da localização de uma outra necrópole romana na Rua da Trin-
dade, por aí ter aparecido uma inscrição funerária durante uma escavação de
salvaguarda, no âmbito da reconstrução de uma casa, dirigida por Armando
Coelho da Silva e Rui Centeno. Tanto quanto pudemos apurar, na referida in-
tervenção (mais uma vez, por publicar) não se detectou qualquer sepultura,
correspondendo a referida epígrafe, provavelmente a uma reutilização como
material de construção.

Pág. 380 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


- Nas recentes escavações do balneário
termal romano do Largo do Arrabalde, por
nós dirigidas apareceu uma sepultura de inu-
mação romana estruturada em caixa de tégu-
las, escavada nos destroços da ruína da
abobada que cobria uma das piscinas do edi-
fício. Dado que a sepultura estava ao lado de
uma das valas de violação do sítio e que apa-
receram outros esqueletos sob os escombros
da referida abobada, interpretamos este en-
terramento como um caso circunstancial re-
lacionado com a derrocada do edifício termal
e não como correspondendo a uma área de
necrópole habitual da cidade romana.
Assim, se descartarmos como necrópo-
les as do Alto da Petisqueira e da Rua da
Trindade, possíveis locais de deposição se-
cundaria de epígrafes funerárias, e se puser-
mos de lado o Largo do Arrabalde,
enterramento isolado e circunstancial, res-
tam-nos duas necrópoles comprovadas: a da
Pensão Jaime e a do Largo das Freiras, loca-
lizadas nos extre-
mos Norte e Sul
do mesmo eixo Figura 4. Desenho [67] e [68]
da cidade ro-
mana.

os níveis e estruturas Alto-imperiais


Sob a camada de terra argilosa castanha amare-
lada onde foram abertas as sepulturas, detectou-se um
muro com cerca de doze metros e meio de compri-

Figura 4. Foto [67] e [68]

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 381


Figura 6. Tesselas e dardo

mento por uma média de sessenta centímetros de lar-


gura, constituído por dois paramentos de pedras graní-
ticas de tamanho médio toscamente aparelhadas na face
exterior e preenchidos com pedras pequenas, fragmen-
tos de cerâmica e vestígios de argamassa pobre de base
argilosa (vide fig. 4).
Apenas se conservava uma fiada das pedras
deste muro, que embora se assemelhasse em largura
e fábrica a muitos outros de arquitectura civil romana
encontrados nas diversas escavações da cidade (Cf. CARNEIRO, 2003 e 2005),
constituía, pelo seu comprimento inusitado e pela ausência de subdivisões ou
vestígios de vãos, uma realidade diferente da divisão em insulae detectada nou-
tras partes da cidade.
Os materiais encontrados nas camadas associadas a esta estrutura encon-
travam-se muito erodidas e roladas, provavelmente devido ao facto de o local
se encontrar no thalweg entre o Alto da Petisqueira e a colina do Castelo o que
terá exposto o local a enxurradas periódicas. A própria estrutura, que apresen-
tava, como se disse, uma única fiada de pedras conservada, estava interrompida
no ponto mais baixo do terreno, sensivelmente a meio do alinhamento, encon-
trando-se as pedras dessa lacuna depositadas em escorrimento no sentido des-
cendente, o mesmo se passando com a maioria dos derrubes de pedras e
fragmentos de cerâmica de construção em cujo contexto foram recuperados
numerosos fragmentos de terra sigillata com uma cronologia que vai do último
quartel do séc. I d.C. às primeiras décadas do séc. II d.C. (vide o art. de Rui
Lopes neste volume).
Surgiram, ainda, nos mesmos derrubes, tesselas cerâmicas em losango
com cerca de cinco centímetros de lado (vide fig. 6a, com uma proposta de
montagem), que indicam a presença de um pavimento tesselado, e uma ponta
de lança em ferro (fig. 6b) que individualmente é pouco fiável como indicador
de um contexto militar (sobretudo não se tratando de um pilum, o tipo de lança
mais comum nos corpos regulares o exército).
Trata-se, provavelmente, do muro de delimitação de uma área aberta, para a

Pág. 382 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


extrapolação de cuja funcionalidade não dispomos de elementos suficientes, mas
que estaria ainda, de acordo com o espólio encontrado, dentro da área urbana.

conclusões
Os dados apresentados permitem-nos inferir que, nesta área da cidade ro-
mana de Aquae Flauiae, ocupada no final do séc. I, inícios do II d.C. por uma
extensa construção, houve um período de abandono a que se seguiu a locali-
zação de uma necrópole, provavelmente em torno ao séc. IV.
Dado que os enterramentos no interior das cidades estavam proibidos
pelas XII tábuas, esta havia-se tornado uma área exterior à urbe romana.
Fica, assim, demonstrada uma contracção da cidade entre os séculos II e
IV d.C., repetindo a imagem que temos do pano de fundo do séc. III d.C., so-
bretudo nas províncias ocidentais do Império (Cf. CAMERON, 1993, p. 10 e
para a Hispânia: GóMEZ FERNÁNDEZ, 2006). Ao nível regional, podemos
citar o caso de Lucus Augusti (ARIAS VILAS, 1977), que vê construídas as
suas muralhas nesta altura, e consideravelmente reduzida a área urbana.

Bibliografia
ARGOTE, Jerónimo Contador de (1732), Memórias para a história ecclesiástica do Arcebispado
de Braga, Primaz das hespanhas, Lisboa
ARIAS VILAS, F. (1977), “Excavaciones arqueológicas en la ciudad de Lugo, agosto 1973” in noticiario
Arqueológico hispánico, V, pp. 47-53, Madrid.
BARKER, Philip (1993), Techniques of Archaeological excavation, 3ª ed., Londres.
BARROS, João de (1919) [Ms. Original de 1549], “Geographia d’Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes”
in, Colecção de Manuscriptos inéditos Agora dados à estampa, Porto.
CAMERON, Averil (1993), The Later Roman empire, Harvard.
CARNEIRO, Sérgio (2005), “Sondagens no Interior da Cerca Medieval da Cidade de Chaves”, in Aquae
Flaviae, n.º 33, pp. 11 a 65.
2003, “Excavations in the County Gaol of Chaves”, in VILA, Xurxo M. Ayán, et aliae, Archaeotecture –
Archaeology of Architecture, BAR International Series 1175, Oxford.
DALTON, O. M. (ed. & trad.) (1915), The Letters of Sidonius, Oxford.
GóMEZ FERNÁNDEZ, Francisco José (2006), “La decadencia urbana bajoimperial en la diócesis Hispa-
niarum: la primacía del argumento del declive, sobre el de la metamorfosis ciudadana” hispania Antiqua,
Número 30.
HARRIS, Edward C. (1989), Principles of Archaeological Stratigraphy, 2ª ed., Londres.
KOEPP, Friedrich e Friedrich DREXEL (1924), germania Romana. ein Bilder-Atlas, 2ª ed., Bamberg.
LOBATO, Maria José (1995), “A Necrópole Romana de Gulpilhares (Vila Nova de Gaia)”, in Portugalia,
nova série, vol. XVI, Porto.
LOYEN, André (1970), Sidoine Apollinaire. Poémes et lettres, Paris
LUETJOHANN, Christianus (ed.) (1887), gai Sollii Apollinaris Sidonii epistulae et carmina, recensuit et
emendavit, Berlim.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 383


MOMMSEN, Theodor (ed.) (1905), Theodosiani Libri Xvi, Cum Constitutionibus Sirmondianis, Berlim.
MARTINS, Manuela e Manuela DELGADO (1989/90), “As necrópoles de Bracara Augusta A. Os dados
arqueológicos.”, in Cadernos de Arqueologia, Série II, Volumes 6/7, Braga.
MORRIS, Ian (1992), death Ritual and Social Structure in Classical Antiquity, Cambridge.
RCHMY, Royal Commission on Historical Monuments (England) (1962), eburacum, Roman York, an in-
ventory of the historical Monuments in the City of York, 1, Londres.
REECE, Richard (1977), “Burial in Latin Literature: Two Examples” in, Burial in the Roman World, pp. 44
– 45, CBA Research Report, Nº 22, Londres.
RODRIGUES COLMENERO, António (1997), Aquae Flaviae. i – Fontes epigráficas da gallaecia Meri-
dional Romana, Chaves
2000, Aquae Flaviae. ii - O Tecido urbanístico da Cidade Romana, Chaves
TOYNBEE, J. M. C. (1971), death and Burial in the Roman World, Londres.
TOYNBEE, J. M. C. e J. B. Ward PERKINS (1956), The Shrine of St. Peter and the vatican excavations,
Londres.

1
BARKER (1993) HARRIS (1989).
2
O Código Teodosiano proscreve o suplício para este crime, MOMMSEN (1905, Vol. I, pt. ii, pp. 463 e
seg.; II, p. 114). Sidónio administra a justiça pelas próprias mãos justificando-se com uma figura legal das
XII tábuas: o iure Coesus (Si aliquis occidit, iiure coesus esto), citada frequentemente por autores latinos
como Tito Lívio, Tácito, Séneca, etc. Trata-se do direito de um cidadão a matar um ladrão que entre em sua
casa durante a noite e seja apanhado em flagrante delito.
3
pictelancea pictelanci filia a(nnorum) / xxxx h(ic) s(ita) e(st) emelus f(aciendum) c(urauit)ae / rar(io).
frater modestus / p(osuit). Leitura de RODRÍGUEZ COLMENERO (1997).
4
laucia maturi f(ilia) caladua / saqua a(nnorum) l h(ic) s(ita) e(st) f(rater) f(aciendum) c(urauit) ma / xumus
s(it) t(ibi) t(erra) l(evis). (id.).
5
d(iis) m(anibus) / visala reburri (filia) <> ambau(m) colen(ae) / filiae pientissimae et neopotibus / suis
d(e) s(uo) fec(it). (id.).

Pág. 384 Revista Aquae Flaviae, N.º40 - Chaves 2009


teRRA sigiLLAtA dA necRóPoLe RoMAnA do
LARgo dAs FReiRAs, chAves
TeRRA SigiLLATA FROM The ROMAn CeMeTeRY OF The “FReiRAS
SQuARe”, ChAveS

Rui Lopes
CâMArA MUnICIPAl de CHAveS, rUI.loPeS@CM-CHAveS.Pt

Resumo: A terra sigillata, objecto desta publicação, integra a totalidade dos fragmentos
de terra sigillata da escavação arqueológica realizada em 2000 pela Câmara municipal de Cha-
ves no Largo General Silveira, vulgarmente conhecido como Largo das Freiras, do centro his-
tórico da Cidade de Chaves, sob a direcção do Dr. Sérgio Carneiro. A maioria dos fragmentos
analisados provem de unidades estratigráficas preservadas, o que nos permite contextualizar
cronologicamente os vestígios exumados. Neste estudo é feita a análise pormenorizada de 778
fragmentos de terra sigillata, a identificação da forma e a descrição exaustiva de cada peça, o
que permite indicar as cronologias e a proveniência das importações.
Palavras-chave: Terra Sigillata; Formas; Cronologia; Aquae Flaviae.

Abstract : The object of this publication is the terra sigillata assemblage from the archeolog-
ical excavations carried through in 2000 by city council of Chaves at the General Silveira square,
commonly known as “Largo das Freiras”, under the supervision of Sérgio Carneiro. Most of the frag-
ments under study come from archaeological features found in situ. This study analyses the 778 frag-
ments in detail, identifying the form and thoroughly describing each one, allowing the chronological
contextualization of the features excavated and shedding light on the imports of Aquae Flaviae.
Keywords: Terra Sigillata; Forms; Chronology; Aquae Flaviae

1. Metodologia
1.1. Proveniência e composição da amostra
No presente trabalho foram inseridos a totalidade dos fragmentos prove-
nientes da intervenção arqueológica realizada em 2000 no Largo General Sil-
veirai do centro histórico de Chaves.
A necessidade do estudo destes materiais deve-se ao facto deste tipo de
material permitir em comparação com outros uma datação pormenorizada das

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 385


unidades estratigráficas. Por outro lado há uma preocupação em dar continua-
ção ao estudo anterior sobre as sigillatas, também de intervenções arqueológi-
cas do centro histórico (CARNEIRO e LOPES, 2005). Estes tipos de estudos
permitem comparar a percentagem dos vários fabricos, pois estes dados são
importantes sobretudo quando comparados com outras localidades.
Esta amostra é composta por 778 fragmentos de sigillata, dos quais 753
são de fabrico hispânico e 25 de fabrico sudgálico. Todos os fragmentos estão
referenciados pelo nº de peça, pelo acrónimo dado à intervenção arqueológica
e pela unidade estratigráfica.

1.2. critérios de quantificação


Existem diversos métodos de quantificação de sigillatas, uns dão mais
importância à classificação tipológica como é o caso de S. Cucufate, onde foi
inserido no estudo apenas as peças que permitiram a identificação da forma
(ALARCÃO; ÉTIENNE; MAYET, 1990), no caso de Represas foram conta-
bilizados os fragmentos que permitiram uma atribuição de forma, mas também
os fragmentos de bordo e pança indeterminados (LOPES, 1994). Neste trabalho
tal como no anterior (CARNEIRO e LOPES, 2005) inserimos todos os frag-
mentos de sigillata provenientes das escavações, mesmo aqueles mais dimi-
nutos. Todos estes fragmentos provêm de contextos estratigráficos preservados.

1.3. A ficha
Para facilitar o acesso à informação do inventário cerâmico e o manuseamento
da mesma elaborou-se uma ficha para cada peça. Esta funcionou como uma espécie
de “bilhete de identidade” da peça, que permitiu a criação de uma base de dados,
a qual contêm os elementos fundamentais para a caracterização de uma peça.
A ficha é composta por vários campos ordenados de acordo com o grau
de importância dos elementos de caracterização. No primeiro campo teve-se
em conta a identificação da peça, o sítio e o local de armazenamento, de acordo
com o registo do inventário geral do Gabinete de Arqueologia de Chaves. O
segundo campo destina-se à descrição da peça, onde consta o fabrico, a possí-
vel cronologia, o nº de fragmentos, a descrição da pasta e verniz, a classificação
tipológica, os elementos decorativos/grafitos, a oficina e por fim a descrição
morfológica da peça.

Pág. 386 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Através destas fichas foi possível criar uma base de dados que possibilitou
um estudo mais aprofundado sobre o espólio e a estratigrafia do local inter-
vencionado e por fim a elaboração do catálogo deste trabalho.

1.4. A descrição da sigillata (pastas e vernizes)


Para a descrição da terra sigillata elaborou-se um grupo de pastas e vernizes
de acordo com os vários tipos de fabricoii. Na identificação dos diferentes fabricos
de sigillata observamos a pasta e o verniz à luz solar, recorrendo sempre a uma
lupa e à tabela de cores Munselliii, para a pasta privilegiamos a compacticidade,
o grau de dureza, a porosidade, a textura e a cor, para o verniz tivemos em conta
a cor, o brilho, a espessura, o grau de aderência e por fim a conservaçãoiv.
Dentro de cada fabrico houve a necessidade de criar vários grupos de pas-
tas e vernizes, sempre recorrendo ao código de cores do Munsell. Para a terra
sigillata sudgálica criámos três grupos de pastas e quatro de vernizes:
Pasta (s1): é dura, fina e compacta um pouco esponjosa de fractura con-
coidal com pequenos e finos elementos não plásticos de calcite, com vaçoulos
circulares, de cor castanho/vermelho queimado (10R/5/6);
Pasta (s2): é medianamente dura, compacta, esponjosa, de fractura polida
com frequentes elementos não plásticos visíveis a olho nu, mas sempre em pe-
quenas dimensões. A sua cor é muito mais clara que a anterior, próximo do
vermelho claro (10R/6/8);
Pasta (s3): é dura, fina, com pequenos elementos não plásticos, com raros
vaçoulos, algo esponjosa, de fractura recta de cor vermelho alaranjado (2.5YR
5-4/8);
Verniz (s1): é fino, brilhante e espesso, resistente, de boa qualidade, de
cor vermelho coral (10R/4/8);
Verniz (s2): é pouco brilhante por vezes mesmo baço, algo estaladiço, de
espessura média, com fraca aderência, encontra-se normalmente já em fase de
decomposição, de cor vermelho acastanhado (10R/5/8);
Verniz (s3): é de bom fabrico, pouco brilhante não tão resistente como o
verniz (s1), de espessura média e a sua cor é vermelho e varia entre (2.5YR/4/4)
e (2.5YR/4/6);
Verniz (s4): é de fraco fabrico, baço, de espessura média e encontra-se
muito mal conservado de cor vermelho alaranjado (2.5YR 5-4/8).

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 387


Para a terra sigillata hispânica criámos nove tipos de pastas e sete tipos
de vernizes:
Pasta (h1): é fina, dura, de fractura recta com alguns vaçoulos circulares,
com pequenos elementos não plásticos bem distribuídos, a cor é vermelho claro
(2.5YR/6/4)
Pasta (h2): é fina, muito dura, de fractura irregular com pequenos e finos
elementos não plásticos de calcite e feldspato, com poucos vaçoulos, a cor
varia entre rosada (2.5YR/4/6) e bege rosado (5Y/6/3);
Pasta (h3): é dura, por vezes medianamente dura, fina, homogénea, um
pouco esponjosa de compactez média de fractura algo rectilínea, com elemen-
tos não plásticos moderadamente bem distribuídos com a abundância de pe-
quenas partículas de feldspato e calcite com poucos e pequenos vaçoulos
circulares, de cor vermelho pálido (2.5YR/6/6);
Pasta (h4): é medianamente dura, de grão médio, de fractura um pouco
irregular e grosseira com elementos não plásticos em quantidade média à base
de feldspato, calcite de pequenas e médias dimensões por vezes tem pequenas
partículas de quartzo, com vaçoulos de forma alongada, de cor vermelho ala-
ranjado claro (2.5YR/5/6);
Pasta (h5): é esponjosa, medianamente dura por vezes branda de média
qualidade, fractura irregular de médio grão, com elementos não plásticos
abundantes de feldspato, calcite e mica, sendo estes de média dimensão, com
frequentes vaçoulos alongados, a cor é vermelho alaranjado forte
(2.5YR/6/8);
Pasta (h6): tem a cor semelhante à anterior apenas é mais alaranjada e
mais clara, (2.5YR/5/6) e (2.5YR/6/8), é dura, fina, esponjosa com pequenos
elementos não plásticos de calcite de fractura regular;
Pasta (h7): é compacta com muitos elementos não plásticos de pequena
e média dimensão, compostos por calcite, micas e quartzo, a nível de dureza a
pasta é branda, por vezes pode ser um pouco mais consistente e porosa, de cor
vermelha rosada alaranjada (2.5YR 5-4/8):
Pasta (h8): é compacta com vaçoulos de reduzida dimensão de forma
alongada, muito depurada com raros elementos não plásticos ( sendo os pre-
sentes na maioria de calcite), de fractura ondulada e porosa de cor castanho ti-
jolo (10R 5/6). Por vezes a cor pode variar com salmão (h8b);

Pág. 388 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Pasta (h9): de cor castanha queimada alterada por contacto pelo lume, de
fractura recta, dura de boa qualidade;
Verniz (h1): é espesso, fino, liso, homogéneo de excelente qualidade, com
boa aderência, moderadamente brilhante e por norma encontra-se bem conser-
vado, de cor vermelho claro com pequenas tendências para o laranja
(2.5YR/6/6);
Verniz (h2): é moderadamente brilhante, semelhante a alguns vernizes da
terra sigillata sudgálica, liso de média espessura, de boa qualidade e aderência
de cor vermelho fosco (10R/4/8);
Verniz (h3): é pouquíssimo brilhante, bem conservado de espessura
média, com boa aderência, de cor vermelho alaranjado (2.5YR/4/8). Por vezes
este torna-se mais homogéneo e brilhante (h3b);
Verniz (h4): é moderadamente brilhante, homogéneo de fina espessura,
com média aderência, cor castanho avermelhado (10R/4/6). Por vezes o verniz
pode ser opaco (h4b);
Verniz (h5): é de média qualidade pouco brilhante ou mesmo opaco, por
norma o verniz encontra-se mal conservado, de cor vermelho
alaranjado(2.5YR/5/6);
Verniz (h6): é bastante alaranjado (2.5YR/5/8), de média espessura com
um moderado brilho, e encontra-se bem conservado;
Verniz (h7): é vermelho escuro, algo estaladiço e encontra-se alterado por
contacto com o lume (10R/5/8);

2. caracterização das sigillatas sudgálicas


A sigillata sudgálica surgiu devido à fraca produtividade das oficinas itálicas
sendo esta virada sobretudo para o interior. Terá surgido no último quartel do século
I nas oficinas de Bran, Narbonne, Montans e La graufensenque (QUARESMA,
2002: 12), inicialmente para abastecimento local e militar. Segundo Polak foi neste
período inicial que muitos artífices das oficinas itálicas migraram para o sul da
Gália, onde reproduziram as formas já conhecidas (POLAK, 2000: 33). A difusão
destes produtos na península Ibérica só aconteceu entre 20 e 40 d.C..
Os principais centros oleiros desta zona são La graufesenque e Montans,
estes chegaram a todos os pontos do império romano, desde a Germânia até à His-
pânia (BELTRÁN LLORIS, 1990: 89). Todos os fragmentos de fabrico sudgálico

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 389


aqui identificados são do centro produtor La graufesenque, este localizava-se na
região Narbonense, na margem do rio Tarn, e está em plena actividade até ao rei-
nado de Trajano, tendo o seu apogeu a nível de exportações entre 60 a 80 d.C..

2.1. A sigillata sudgálica do Largo das Freiras


Os fragmentos identificados no Largo das Freiras são todos provenientes do
centro produtor de La graufesenque. No total recolheram-se 25 fragmentos, dos
quais se identificaram três formas lisas, o prato Drag. 15/17 o mais vezes identi-
ficado, e as tigelas Drag. 24/25 e Drag. 27, cronologicamente estas formas foram
fabricadas entre o início e o final do séc. I d.C. Identificou-se ainda 3 fragmentos
decorados, e 16 pequenos fragmentos indefiníveis para além do tipo de fabrico.

distribuição cronológica das formas identificadas de terra sigillata sudgálica

2.1.1. As formas lisas


2.1.1.1. drag. 15/17

A forma Drag. 15/17 é uma das formas mais vulgares, está aqui represen-
tada por quatro fragmentos. Este prato apresenta o bordo e as paredes verticais
com uma intensa e repetida molduração exterior, no interior possui uma moldura
em quarto de círculo (meia cana) na ligação entre a parede e o fundo, deriva da
forma Consp. 21 itálica (VIEGAS, 2003: 110), situa-se cronologicamente entre
a década de 30 d.C. e o final do séc. I juntamente com a tigela Drag. 24/25 foi o
prato mais importante da primeira metade do séc. I, mas a partir da década de 60
foi diminuindo a sua produção (POLAK, 2000. 86).

Pág. 390 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Os quatro fragmentos aqui encontrados são muito diminutos no entanto é
visível em todos eles a molduração externa, cronologicamente estes fragmentos
situam-se em meados do séc. I, mas poderão ser ligeiramente anteriores.
A forma Drag. 15/17 é a mais representada das produções do sul da Gália,
tal como acontece em Conímbriga (DELGADO; MAYET; ALARCÃO, 1975:
92) e Represas (LOPES, 1994: 37), no entanto, em Santarémv e Mirobrigavi perde
posição para o prato Drag. 18/31 e o Drag. 18. De salientar ainda que nas son-
dagens realizadas no balneário termal de Chaves foi identificado um bordo desta
forma datado do período Nero-Vespasiano (CARNEIRO e LOPES, 2005: 102).

2.1.1.1.2. drag. 24/25


Esta tigela hemisférica é uma das mais frequentes, apresentando grande
variedade de perfis e diâmetros, tem a sua origem também nos modelos itálicos,
deriva da forma Loeschcke 12 (QUARESMA, 2002: 127), caracteriza-se por
ter o bordo vertical e uma moldura externa bem marcada na parede. A produção
desta forma situa-se entre Tibério/Cláudio a 60 d.C. (VIEGAS, 2003: 106).
O único fragmento desta forma é um bordo vertical com guilhoché, de
lábio fracturado. De salientar o facto do verniz ser pouco brilhante, quase baço,
algo estaladiço de espessura média, com fraca aderência, que segundo alguns
autores corresponde às peças mais tardias (BOURGEOIS e MAYET, 1991: 87).

De maneira geral esta forma costuma surgir em muitas quantidades, so-


bretudo associado ao prato Drag. 15/17. Em Conímbriga esta tigela está pre-
sente em muitos fragmentos, dos quais alguns contêm marca de oleiro, que
permite situar estas peças num momento cronológico mais precisovii (DEL-
GADO; MAYET; ALARCÃO, 1975: 92). Em Santarém e Mirobriga são a se-
gunda forma mais vezes identificada no grupo das tigelas.

2.1.1.1.3. drag. 27
Esta tigela de lábio e bordo semicircular de parede biconvexa, deriva da

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 391


forma itálica Loeschcke 11 (QUARESMA, 2002: 131), e foi produzida desde
Tibério até aos finais do séc. I.

Esta forma existe em grandes quantidades em locais com ocupação alto


imperial, no entanto aqui apenas foi identificado um fragmento.

2.1.2 As formas decoradas


2.1.2.1. Fragmentos decorados indeterminados
Nas produções do sul da Gália não se consegue identificar nenhuma forma
decorada, no entanto existem três fragmentos decorados.
Destes, destaca-se a peça nº 390 que contem a cruz de Santo André que
pode pertencer à forma Drag. 30, os restantes apenas contêm pequenos ele-
mentos decorativos, como se pode constatar no quadro.

3. caracterização das sigillatas de Tritium Magallum


A partir de certa altura iniciou-se em vários locais da Hispânia o fabrico de terra
sigillata, imitando inicialmente as formas sudgálicas e itálicas, a principal questão
sobre estes novos centros produtores está relacionada com o início e o fim da produ-
ção, uma vez que os dados estratigráficos são algo duvidosos e pouco seguros.
Segundo Mayet o início da difusão em grande escala destes produtos dá-
se na época de Cláudio (41-54 d.C.), (MAYET, 1984: 93), baseando-se na ca-
mada VII de Pamplona que é considerada a mais antiga, datada entre Cláudio
e os Fláviosviii. No entanto Mayet não descarta a hipótese destas oficinas terem
começado a produção no tempo de Tibério (14-37d.C.), ainda que com muitas
influências itálicas e gálicas em pequena escala (MAYET, 1984: 94), funcio-
nando numa fase experimental como um pequeno mercado virado, sobretudo
para o norte interior peninsular, (BELTRÁN LLORIS, 1990: 111).
O apogeu das exportações é atingido nos finais do séc. I, início do II, mas
as dúvidas persistem quanto ao encerramento destes centros produtores, so-
bretudo quanto à sua continuidade ao longo do séc. III, devido mais uma vez

Pág. 392 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


à falta de contextos arqueológicos seguros, infelizmente continua a ser a es-
tratigrafia de Pamplonaix que serve de referência para a evolução cronológica
destas produções hispânicas (VIEGAS, 2003: 139).
As oficinas de Tritium Magallum foram as que tiveram uma maior importância
e influência em toda a Hispânia, localizavam-se no norte de Espanha no vale do Ebrox,
onde haviam vários centros produtores como o de La Rioja, Tricio, Nájera, Bezares,
Sótes, e Arenzana de Arriba e de Abajo (MEZQUÌRIZ, 1985: 114), que exportaram
para toda a Península Ibérica com maior incidência na área ocidental, e norte.

3.1. A sigillata hispânica do Largo das Freiras


No Largo das Freiras, existem 753 fragmentos de sigillata hispânica, dos
quais 82% são formas lisas, sendo os restantes decorados. Foram identificadas
9 formas lisas e 4 decoradas. O prato Drag. 15/17, a tigela Drag. 27 e a taça
Drag. 29 foram as formas mais vezes identificadas. Das formas típicas das pro-
duções hispânicas existem 3 fragmentos do prato da forma Hisp. 5, todos com
guilhoché no bordo. Com base em alguns estudos (MAYET, 1984), (MEZQUÌ-
RIZ, 1985) sobre a cronologia de algumas formas, estes materiais situam-se
cronologicamente em duas fases distintas, a mais antiga com início na década
de 40/50 do séc. I d.C, a segunda entre os meados e o fim do séc. II, podendo
chegar ainda ao séc. III.
Deste conjunto temos seis marcas de oleiro das quais três permitem uma
leitura correcta da oficina, com igual número temos os grafitos.
distribuição cronológica das formas identificadas de terra sigillata
hispânica

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 393


3.1.1. Formas lisas
3.1.1.1. Ritt 8
Esta forma caracteriza-se por ser uma taça hemisférica, cujo bordo pode
apresentar-se de uma forma recta ou introvertida (QUARESMA, 2002: 126).
É uma forma que segue os protótipos sudgálicos, que os centros produtores
hispânicos produziram e exportaram para toda a península Ibérica. Com base
na estratigrafia de Pamplona, Mezquíriz situa esta forma entre o início do séc.
I e o séc. IV (MEZQUÍRIZ, 1985: 146).
A taça Ritt.8 foi identificada por 11 fragmentos, que comparado com o es-
tudo anterior (CARNEIRO e LOPES, 2005: 108-109), onde existia apenas um, é
algo significativo. Os fragmentos identificados têm diâmetros que variam entre
99mm e 210mm, e foram produzidos entre o final do séc. I e os meados do II.

É uma forma rara em muitos locais romanizados, como Conímbriga


(DELGADO; MAYET; ALARCÃO, 1975: 183), Santarém (VIEGAS, 2003:
114) e Belo (BOURGEOIS e MAYET, 1991: 198).

3.1.1.2. drag. 15/17


Este prato é a forma mais abundante e surge com duas variantes nas pro-
duções hispânicas. A mais antiga segue o protótipo sudgálico e itálico, apre-
sentando as paredes com moldurações externas. A outra variante é a mais
comum das produções hispânicas, caracterizando-se pelas paredes lisas e aber-
tas, com meia cana no interior da peça que liga o fundo às paredes.
Foram identificados em 51 fragmentos, dos quais 9 pertencem à variante
mais antiga, que na maioria tem duas molduras externas. Esta versão mais an-
tiga situa-se entre o final do 2º quartel e o 3º quartel do séc. I.

Pág. 394 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


A outra versão é sem dúvida a predominante, onde abundam os frag-
mentos de bordo e de carena com uma meia cana na parte interna, que se
situa entre o final do 3º quartel do séc. I e o final do séc. II /início do séc. III.
As dimensões do prato Drag. 15/17 são bastante variáveis, sobretudo
se tivermos em conta as duas variantes, onde o diâmetro do bordo da forma
mais antiga é mais estandardizado, com valores entre os 140mm e 165mm,
enquanto na versão mais recente o bordo é mais variável entre 125mm e
250mm. De referir ainda o facto de ser a forma com mais marcas de oleiro
identificadas, como se pode constatar mais à frente.
Segundo Mayet o prato Drag. 15/17 começou a ser produzido em mea-
dos do séc. I, não possuindo grandes certezas quanto ao seu final (MAYET,
1984: 71).
Relativamente aos fragmentos em estudo destaca-se a peça 538 que se
encontra queimada, facto que pode estar relacionado ou com a sua cozedura
ou com qualquer fenómeno pós-deposicional.
Tal como no balneário das termas de Chavesxi (CARNEIRO e LOPES,
2005: 104-105) no Largo das Freiras a forma Drag. 15/17 é a mais vezes iden-
tificada, o mesmo não acontece em Conímbriga (DELGADO; MAYET;
ALARCÃO, 1975: 184), Santarém (VIEGAS, 2003: 145-146) e Represas
(LOPES, 1994: 55), onde a mais vezes identificada é a Drag. 27.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 395


Pág. 396 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009
3.1.1.3. drag. 18
A forma Drag. 18 é um prato com uma parede levemente curvada, de
maior ou menor inclinação, tem por norma um lábio de secção em meio circulo
e uma moldura de união na parte interna entre o fundo e a parede, no entanto
é uma forma rara nas produções hispânicas. Foi produzida entre a época flávia
e os inícios do séc. II (MAYET, 1984: 71).
Foram identificados 10 fragmentos, dos quais sete são bordos, com diâ-
metros que variam entre 140mm e 221mm. O único fundo identificado tem
96mm de diâmetro.

A pouca produção desta forma é visível também em Mirobriga (QUA-


RESMA, 2002: 183), Conímbriga (DELGADO; MAYET; ALARCÃO, 1975:
184) e Represas (LOPES, 1994: 55).

3.1.1.4 drag. 24/25


Esta tigela segue o perfil das produções do sul da Gália e aparece em
Aqvae Flaviae na versão mais comum com guilhoché no bordo.
A produção desta forma é datada mais uma vez pela estratigrafia de Pamplona,
onde surge nos níveis mais antigos, ou seja, na primeira metade do séc. I, mas surgem
algumas dúvidas quanto ao fim da sua produção. Mezquíriz, propõe para os meados
do séc. II (MEZQUÍRIZ, 1985: 149), no entanto outros historiadores (ROCA e FER-
NÁNDEZ, (1999) situam cronologicamente o fim desta forma no séc. III.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 397


Esta forma evolui nas produções hispânicas uma vez que nos exemplares
mais tardios o seu perfil altera-se, tal como o guilhoché que tende a desaparecer.
Foram identificados 6 fragmentos dos quais quatro são bordos, todos com
guilhochéxii, com diâmetros entre 126mm e 139mm. Os fragmentos identifi-
cados situam-se entre o 3º quartel do séc. I e o início do séc. II.

Em Santarém (VIEGAS, 2003: 147), em Conímbriga (DELGADO;


MAYET; ALARCÃO, 1975: 184), Belo (BOURGEOIS e MAYET, 1991:198-
199) e Represas (LOPES, 1994: 55) esta forma surge também em pequenas
quantidades.

3.1.1.5. drag. 27
A forma Drag. 27 é a mais comum das formas produzidas nas oficinas
hispânicas, fabricada inicialmente segundo o modelo sudgálico, mas à medida
que o tempo avança evolui, nas peças mais tardias os dois quartos de círculo
tendem a apresentar dimensões idênticas, com um diâmetro bastante largo, mas
sem lábio (MAYET, 1984: 85).
Cronologicamente é uma forma que perdurou num longo período (meados
do séc. I a IV), como se constata na estratigrafia de Pamplona (MESQUÍRIZ,
1985: 152). Mayet por falta de contextos estratigráficos fiáveis recua o final
da produção para os inícios do séc. III (MAYET, 1984: 72-73).
No Largo das Freiras em Chaves existem 33 fragmentosxiii, nestes são pre-
dominantes os bordos e os fragmentos do final do séc. I, no entanto situam-se
no geral, entre o 3º quartel e o final do séc. II. Os diâmetros são variáveis,
desde peças com diâmetros diminutos de 81mm até 170mm, mas na maioria
dos casos situam-se entre 100mm e 146mm. De salientar ainda que num fundo
se identificou um caixilho de marca de oleiro de leitura indefinível.

Pág. 398 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 399
Em comparação com outros sítios de referênciaxiv constata-se que a forma
Drag. 27 de maneira geral existe em grande quantidade, tal como aconteceu
no estudo anterior (CARNEIRO e LOPES, 2005: 106-107).

3.1.1.6. drag. 35
A taça Drag. 35 segue as linhas das peças produzidas nas oficinas do sul da
Gália. Muitas vezes é confundida com o prato Drag. 36, sobretudo quando são frag-
mentos muito diminutos, o que as distingue é o diâmetro e a altura das paredes.
Foi produzida nas oficinas hispânicas desde a segunda metade do séc. I
até meados/final do séc. II (MESQUÍRIZ, 1985: 154).
A taça Drag. 35 caracteriza-se pelo bordo extrovertido e pelas paredes arre-
dondadas, tendo na maioria dos casos decoração sob o bordo em forma de folha
de água em barbotina, como é o caso de três fragmentos dos quatro identificados
no Largo das Freiras. Destes apenas dois possibilitaram calcular o diâmetro
(126mm e 155mm).

Em Conímbriga esta forma existe em bastante quantidade (DELGADO;


MAYET; ALARCÃO, 1975: 196-198), já em Belo e Santarém são poucos os
exemplares.

3.1.1.7. drag. 36
Este prato caracteriza-se por ter um grande diâmetro com o bordo extro-
vertido em aba levemente descaído e as paredes abertas e oblíquas, na maioria
das vezes tem decoração em folha de água em barbotina sob o bordo.
Mezquíriz propõe para esta forma uma produção de longa duração, desde
a segunda metade do séc. I até ao séc. IV (MEZQUÍRIZ, 1985: 155), no entanto
alguns autores recuam o fim da produção para meados do séc. II.

Pág. 400 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Dos 3 fragmentos identificados apenas 2 possibilitaram calcular o diâmetro
(178mm; 188mm). Em Conímbriga esta forma é pouco abundante (DELGADO;
MAYET; ALARCÃO, 1975: 185) tal como em outros centros de consumo.

3.1.1.8. drag. 46
A taça Drag. 46 é uma peça pouco homogénea quanto às suas dimensões
e caracteriza-se pelo bordo em aba inclinado com a parede oblíqua, ligeira-
mente rectilínea.
Sobre esta forma recaem muitas dúvidas quanto ao início da sua produ-
ção, no entanto alguns historiadores defendem que deve ter sido produzida
pelos oleiros hispânicos a partir do final do séc. I (LOPES, 1994:56).

Em Conímbriga esta forma é pouco representativa na amostra (DEL-


GADO; MAYET; ALARCÃO, 1975: 185). Nas termas de Chaves foi identifi-
cado um fragmento (CARNEIRO e LOPES, 2005: 108).

3.1.1.9. hisp.5
A forma Hispânica 5 é uma taça com o bordo em aba horizontal ligeiramente
descaído, com ou sem decoração em guilhoché e com as paredes curvilíneas. Esta
tem como característica principal diâmetros mais pequenos que a forma Hispânica 4.
A cronologia apontada para a sua produção é de meados do séc. I a mea-
dos do séc. II (ROCA e FERNANDES, 1999). É também uma forma pouco
abundante nos vários locais de referência já mencionados.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 401


3.1.2. As formas decoradas
3.1.2.1 drag. 29
A forma Drag. 29 é uma das taças mais comuns das produções hispânicas
decoradas, e segue os modelos do sul da Gália. Esta apresenta por norma uma
certa monotonia de perfis, caracteriza-se por ter o bordo aberto e moldurado,
com a pança decorada com uma carena.
A decoração é variada e nalguns, raros, existe guilhochéxv no bordo.
Estão presentes vários estilos decorativos nos fragmentos identificados,
nos mais antigosxvi predominam as grinaldas, os festões, as volutas, e mo-
tivos florais/vegetais. Em alguns fragmentos começa a haver uma pre-
sença de círculos combinados com métopas e linhas onduladas verticais.
Os valores dos diâmetros dos bordos calculados variam de 122mm a
200mm.
De acordo com Mayet, esta forma foi produzida num período relativa-
mente curto, desde os meados do séc. I até à década de setenta/oitenta
(MAYET, 1984: 94).

Pág. 402 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


No estudo anterior (CARNEIRO e LOPES, 2005: 112) foram identificados
3 fragmentos desta forma, todos de locais distintos, já em Conímbriga foi a se-
gunda forma decorada mais vezes identificada, tendo estas nas partes decoradas
os estilos mais antigos (DELGADO; MAYET; ALARCÃO, 1975: 157-158).

3.1.2.2. drag. 30
O vaso Drag. 30 surge como a segunda forma decorada mais vezes iden-
tificada. Este vaso de bordo oblíquo de paredes quase verticais aparece repre-
sentado pelos estilos decorativos de imitação: linhas de óvulos duplas, arcos,
linguetas, festões, pontas de setas, rosetas com figuras humanas, vegetais, flo-
rais e animais isolados ou com cenas.
É uma forma que seguiu ligeiramente o modelo sudgálico, no entanto ad-
quiriu uma forma mais cilíndrica que a anterior, perdendo também o bordo
vertical para um oblíquo.
Esta forma terá sido fabricada nas oficinas hispânicas desde a segunda
metade do séc. I podendo ter chegado ao início do séc. IIxvii (DELGADO;
MAYET; ALARCÃO, 1975: 158). Os materiais aqui apresentados não che-
gam a ultrapassar o final do séc. I, um indicador disso é a ausência de mo-
tivos circulares típicos das peças do primeiro quartel do séc. II (MAYET,
1984: 83).

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 403


Em Conímbriga este vaso aparece em baixas quantidades, o mesmo acon-
tece em Santarémxviii e em outros locais de Aquae Flaviae (CARNEIRO e
LOPES, 2005: 113-114).

3.1.2.3. drag. 37
A forma Drag. 37 é uma taça hemisférica de bordo espessado vertical ou
encurvado com decoração na pança, que neste grupo das decoradas perde po-
sição em relação ao último estudo de sigillata de Aquae Flaviaexix (CARNEIRO
e LOPES, 2005:114).
Esta forma tem duas/três variantes, a Drag. 37A, de bordo espessado vertical
ou encurvado, com diâmetro de abertura menor, entre 110mm a 200mm, com uma
cronologia situada entre o final do séc. I e o séc. II (MEZQUÍRIZ, 1985: 169-170),
nesta variante podemos englobar a Drag. 37 de bordo simples, que é mais rara e
vistosaxx. A outra variante é a Drag. 37B, com diâmetros de maior abertura entre
250mm e 300mm, com o bordo de perfil amendoado, o período de produção desta
forma foi relativamente curto, situando-se no último quartel do séc. Ixxi.

Pág. 404 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


A mais abundante é a taça Drag. 37A, com 10 fragmentosxxii, esta tem
diâmetros entre os 142mm e 184mm. Da outra variante apenas temos um frag-
mento de bordo.
Há uma clara e predominante presença da decoração de círculos, sendo
estes muitas vezes concêntricos, segmentados ou ondulados, Mayet situa cro-
nologicamente este tipo de decoração entre o final do séc. I, início do II
(MAYET, 1984: 83).

Ao contrário do que acontece aqui, em Conímbriga esta forma está no


topo das formas decoradas identificadas DELGADO; MAYET; ALARCÃO,
1975: 159), o mesmo sucede em Santarém (VIEGAS, 2003: 154) e Represas
(LOPES, 1994: 57).
3.1.2.4. drag. 29/37
Esta forma é uma espécie de conjugação da forma Drag. 29 com a Drag.
37, é uma taça carenada, com o bordo espessado ligeiramente aberto. Do ponto
de vista cronológico situa-se entre a segunda metade do séc. I e o séc. II (MEZ-
QUÍRIZ, 1985: 168).
Os dois fragmentos identificados fazem parte do bordo, no entanto não
se conservou a decoração, os seus diâmetros são 138mm e 157mm.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 405


3.1.2.5. Fragmentos decorados indeterminados
As formas decoradas das oficinas hispânicas identificadas poderiam ser
muito mais se fosse possível identificar o extenso conjunto de fragmentos de-
corados. Os estilos decorativos destes fragmentos são dominados pelos círcu-
losxxiii juntamente com as métopas alternadas com linhas verticais onduladas,
no entanto existem outros estilos como figuras antropomórficas, vegetais, flo-
rais, volutas e arcadasxxiv.
Neste grupo existem 3 fragmentos que podem pertencer à forma Mesq.20
A decoração desta é composta por métopas combinadas com linhas verticais
onduladas e com mais alguns elementos de difícil interpretação, no entanto de-
cidiu-se não qualificá-la como tal.
Como se pode observar existe uma predominância de círculos na decora-
ção dos fragmentos, típicos do final do séc. I, início do II, existe ainda a pre-
sença dos estilos da segunda metade do séc. I.

3.1.3. As marcas e grafitos


3.1.3.1. As marcas
Do total da amostra foram identificadas seis peças com marca de oleiro, mas
destas, três foram consideradas ilegíveis por não possibilitarem uma leitura cor-
recta, uma por apenas ter o caixilho e as outras duas por se encontrarem fracturadas.
Neste pequeno conjunto o oleiro LAPiLLivs está presente em dois
exemplares da forma Drag. 15/17, este produziu em Tricio na segunda metade
do séc. I (VIEGAS, 2003:159). A presença deste oleiro é muito frequente em
Espanha, como por exemplo em Astorga, Tricio, Iruña, Cabriana, Ibiza, Cór-
dova, Valência, hontalba (Toledo), navatajera (Léon), S. Juan de Tabagón (El
Rosa, Pontevedra), Merida, Villaverde (Madrid), Tarragona, Villa-franca de
los Barros, Herrera de Pisuerga (BELTRÁN, 1990:114). Esta oficina teve tam-
bém uma difusão considerável no actual território português, como é o caso

Pág. 406 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


de Conímbriga (DELGADO, MAYET, ALARCÃO, 1975: 206, nº 383-386,
est. LIX), Santarém (VIEGAS, 2003: 159), Aramenha, Torre de Palma
(MAYET, 1973: 26-34) Monte Mozinho (CARVALHO, 1993: 94), Belo (BEL-
TRÁN, 1990:114) e Bracara Augusta (DELGADO; SANTOS, 1984, 63,
nº24)xxv. Foi uma das oficinas com maior sucesso e maior área de influência
dos seus produtos na Hispânia.
Estas duas marcas têm ambas letras arredondadas, mas estão inseridas em cai-
xilhos distintos, sendo um de linhas rectangulares e outro de linhas arredondadas.
A outra marca identificada é da oficina de cAntABRi ou Cantaber, tam-
bém muito difundida por toda a Hispânia, podendo-se encontrar em sítios
como, Barcelona, Tarragona, Vareia, Sagunto, Alicante, Itálica, Merida, Villa
de la Concosa, Sevilha, Arenzana de Abajo, Celsa e Valência (BELTRÁN,
1990:114). No actual território português está presente em Alcácer do Sal
(DIAS, 1978), Represas (Beja) (LOPES, 1994, nº480 e nº5728), Torre de
Palma e Conímbriga (DELGADO, MAYET, ALARCÃO, 1975: 205, nº378-
380, est. LIX). Este oleiro tinha a sua oficina estabelecida em Arenzana de
Abajo, situada a 1,5km de Tricio junto a uma linha de água. Solevera datou
cronologicamente o seu início no primeiro quartel do séc. I e manteve-se se-
gundo ele em actividade até ao final do séc. III/ início do IVxxvi.
Como marcas ilegíveis temos um ex[…], também de um prato Drag. 15/17, no
entanto é insuficiente para atribuir uma oficina, uma vez que existem várias com estas
duas letras, o mesmo acontece à outra marca que possui apenas um carácter muito des-
gastado ([..]A[…]). Por fim temos uma marca da qual resta apenas o caixilho..

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 407


3.1.3.2. os grafitos
Os grafitos existentes nesta colecção são de sigillata hispânica do centro
de produção de Tritium Magallum. O facto destes grafitos aparecerem apenas
na sigillata de Tricio, mostra bem a sigillata predominante em Aqvae Flaviae,
período que coincide com a quebra das produções gaulesas e com o início das
importações do vale do Ebro.
O significado dos grafitos nem sempre é compreensível, no entanto um
grafito é sempre uma marca de propriedade plena, conferida pelo uso fre-
quente das peçasxxvii. O grafito é uma marca pessoal que é identificada e re-
conhecida pela comunidade onde circula, facto pelo qual por vezes surgem
letras ou símbolos soltosxxviii, trata-se de uma linguagem codificada. Estas
marcas pessoais podem indicar o nome do proprietário, como é o caso do
PA[…] do prato Drag. 15/17.

Pág. 408 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Bibliografia
ALARCÃO, J.; ÉTIENNE, R.; MAYET, F. (1990), Les villes romaines de São Cucufate (Portugal),
Paris, Dif. de Boccard.
ATLANTE DELLE FORME CERAMICLE (1981), “Ceramica Fine Romana nel Bacino Mediterraneo
(medio e Tardo Impero)”, I, supl. de la enciclopedia de la Arte Antica, Roma.
BELTRÁN, M. (1990), guía de la Cerámica Romana, Zaragoza, Libros Pórtico.
BOURGEOIS, A.; MAYET, F. (1991), Les sigillées, Fouilles de Belo, VI. Paris, Publ. de la Casa de Veláz-
quez, 14.
CARNEIRO, André.; SEPÚLVEDA, E. (2004), “Terra Sigillata Hispânica Tardia do concelho de Fronteira:
exemplares recolhidos entre 1999 e 2003”, vol.7, nº2, Lisboa, in Revisa Portuguesa de Arqueologia, pp.
435-458
CARNEIRO, Sérgio; LOPES, Rui (2005), “Terra Sigillata das Intervenções de emergência no Centro his-
tórico de chaves (1999-2000)”, nº33, Revista Aquae Flaviae, Vila Real, Minerva Trasmontana, pp.92-130.
CARVALHO, T. P. (1993), “As Marcas de oleiro da sigillata de Mozinho”, Cadernos de arqueologia, Braga,
série 2, 10-11, p.91.
CARVALHO, T. P. (1998), A terra sigillata de Monte Mozinho. (Contributo para a História económica do
Povoado), Cadernos do Museu, 3, Penafiel, Museu Municipal.
DELGADO, M.; SANTOS, L. dos (1984), “Marcas de oficinas de sigillatas encontradas em Braga”, I, Ca-
dernos de Arqueologia. Braga. Série II, 1, pp. 49-70.
DELGADO, M; MAYET, F; ALARCÃO, A. M. (1975), “IV Les sigillés”, In ALARCÃO, J; ÉTIENNE, R,
(dir.,), Fouilles de Conímbriga, Paris Diffusion E. De Bocca .
DIAS DIOGO, A. M., (1980), Cerâmica Romana de Alcácer do Sal, Lisboa, G.E.C.A.
DIAS, L. F. (1978), “As marcas de Terra sigillata do Castelo de Alcácer do Sal”, Setúbal Arqueológica. Se-
túbal. IV, pp.145-154.
DIOGO, A. M. (1984), “O material romano da 1ª campanha de escavações na Alcáçova de Santarém”, Co-
nímbriga, Coimbra, 23, pp. 111-141.
FERNANDEZ GARCIA, M. Isabel ; ROCA ROUMENS, Mercedes, (2008), “Producciones de Terra Sigil-
lata Hispánica”,Cerámicas hispanorromanas, Editado con motivo del XXVI Congreso Internacional de la
Asociación Rei Cretariae Romanae Fautores, pp.333-342.
MORAIS, Rui (2004), Autarcia e Comércio em Bracara Augusta no período Alto-imperial: contribuição
para o estudo económico da cidade, Universidade do Minho - Instituto de Ciências Sociais.

i
Conhecido localmente por Largo das Freiras.
ii
Tal como aconteceu no último estudo das sigillatas, (CARNEIRO; LOPES, 2005).
iii
MUNSELL, Soil Color, (1975), Evanston, Soiltest.
iv
Este critério tem pouca importância na análise geral da peça, uma vez que este pode variar de acordo com
tipo de solo em que estão inseridas.
v
(VIEGAS, 2003: 104).
vi
(QUARESMA, 2002: fig.5).
vii
Como é o caso de algumas marcas de oficinas que se mantiveram em produção até ao ano 70 d.C., que
põem em causa a cronologia proposta para o fim desta forma.
viii
O mesmo acontece em Conímbriga (DELGADO; MAYET; ALARCÃO, 1975: 337).
ix
Camada IV que é composta por níveis de destruição.
x
Factor fundamental a ter em conta, pois o Vale do Ebro é ponto estratégico, quer a nível geográfico, quer
a nível de matérias-primas (argilas-calcárias e linhas de água), no entanto não se pode esquecer a rede viária
terrestre e fluvial que facilitou a circulação dos seus produtos.
xi
Onde o prato Drag. 15/17 é a forma lisa mais vezes identificada.
xii
O facto de possuírem no bordo guilhoché poderá estar relacionado com o início da produção, como sugere

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 409


Catarina Viegas para os fragmentos de Santarém também com guilhoché (VIEGAS, 2003: 147).
xiii
Sem contar alguns duvidosos que decidimos excluir
xiv
Como em Conímbriga (DELGADO; MAYET; ALARCÃO, 1975: 185), Belo (BOURGEOIS; MAYET,
1991:199-200), Represas (LOPES, 1994: 55), Santarém (VIEGAS, 2003: 147-148) e Mirobriga (QUA-
RESMA, 2002: 182-183) onde é a forma lisa mais vezes identificada.
xv
Como é o caso da peça 380, que tem no bordo guilhoclé
xvi
Estes estilos estão presentes em algumas peças a partir da u.e. [54].
xvii
Isto acontece em Conímbriga onde os materiais são datados entre a segunda metade do século I e o início
do II.
xviii
(DELGADO; MAYET; ALARCÃO, 1975: 158); (VIEGAS, 2003:153).
xix
Onde a taça Drag. 37 era a forma mais vezes identificada.
xx
Da qual contamos um fragmento desta variante da Drag. 37.
xxi
Datado pela estratigrafia de Pamplona segundo Mayet (DELGADO; MAYET; ALARCÃO, 1975: 159).
xxii
Apesar destes serem fragmentos de pequena dimensão.
xxiii
Estes aparecem de variadas maneiras, ondulados, segmentados, lisos, concêntricos, etc.
xxiv
Sendo estes últimos estilos predominantes nas peças mais antigas.
xxv
Esta marca está presente nas duas capitais de conventus (Bracara Augusta e Astorga) mais próximas, li-
gadas pela via XVII do Itinerário Antonino que passava por Aqvae Flaviae.
xxvi
Citou Maria Fernández (FERNANDEZ, 1998: 148).
xxvii
A marcação de uma peça através de um grafito mostra um cuidado em salvaguardar um objecto pessoal,
ainda que este altere o aspecto inicial da peça, apesar de haver uma preocupação em disfarçar o grafito co-
locando-o muitas vezes em zonas menos visíveis, como por exemplo na parte externa do fundo.
xxviii
Como é o caso da maioria dos grafitos aqui apresentados

Prancha i – Terra Sigillata Hispânica lisa

Prancha ii – Terra Sigillata Hispânica lisa

Prancha iii – Terra Sigillata Hispânica lisa

Prancha iv – Terra Sigillata Hispânica lisa e decorada

Prancha v – Terra Sigillata Hispânica decorada

Prancha vi – Terra Sigillata Hispânica decorada, marcas e grafitos

Pág. 410 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


P-I

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 411


P-II

Pág. 412 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


P-III

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 413


P-IV

Pág. 414 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


P-V

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 415


P-VI

Pág. 416 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


ResuLtAdos dAs escAvAçÕes ARQueoLógicAs de 2007 e
2008 ReALiZAdAs no coMPLexo MineiRo RoMAno de tRÊs-
MinAs e jALes
ReSuLTS OF The ARChAeOLOgiCAL eXCAvATiOnS CARRY OuT in
2007 And 2008 in The ROMAn Mining eXPLORATiOn OF TRÊSMinAS
And JALeS

Carlos Batata
ozeCArUS - ServIçoS ArqUeológICoS, ldA.; ozeCArUS.gerAl@tele2.Pt

Resumo: A exploração mineira romana de Trêsminas encontra-se razoavelmente carac-


terizada do ponto de vista da sua funcionalidade, tendo o investigador Jürgen Wahl localizado
alguns canais de transporte de água, duas barragens de terra, a cisterna e algumas lavarias. Apesar
de ter realizado sondagens no povoado e necrópole, os dados obtidos não permitiram caracterizar
cada espaço intervencionado.
O objectivo primordial do presente projecto de investigação é fazer a caracterização ar-
queológica da exploração, através da escavação do povoado mineiro, do recinto considerado
por uns um acampamento militar e por outros como um anfiteatro, da necrópole e das lavarias.
Os resultado já obtidos, nas campanhas de 2007 e 2008, traduzem-se em novas descobertas e
são bastante interessantes, como seja a existência de cerâmicas indígenas (datáveis dos sécs. II/I
a. C.) no povoado romano, demonstrando a ligação da exploração romana com o mundo indí-
gena, entre outros.
Palavras-chave: Mineração, época romana, complexo mineiro de Trêsminas e Jales.

Abstract: The Trêsminas roman mining exploration is reasonably characterized by func-


tionality; the investigator Jürgen Wahl located some water transport channels, two earth reser-
voirs, a cistern and some washing areas. Although having surveyed the settlement and the
necropolis, the data obtained did not permit the characterization of every intervened space. The
primordial objective of this investigation project is to obtain the archeological characterization
of this exploration, through the excavation of the mining settlement, the enclosure considered
by some to be a military camp and by others an amphitheatre, the necropolis and washing areas.
The results that have already been obtained, from the 2007 and 2008 campaigns, appear to be
new and quite interesting discoveries, as per the existence of indigenous ceramics (dated cen-
turies ii/i B.C.) in the roman settlement, showing the link between the roman and indigenous
world, among others.
Keywords: Mining, Roman epoch, Trêsminas and Jales mining complex.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 417


1. introdução
O projecto de inves-
tigação “Caracterização
Arqueológica da explo-
ração Romana de Três-
minas” surgiu da sinergia
entre a Câmara Munici-
pal de Vila Pouca de
Aguiar e o signatário,
dado que a primeira pre-
tende potenciar o Com-
plexo Mineiro de
Trêsminas e Jales (Fig. 1) Figura 1. Área do Complexo Mineiro e vestígios encontrados
como pólo turístico da re-
gião, e o segundo, desenvolver projectos de investigação sobre mineração,
tema que vem desenvolvendo há já vários anos.

2. trabalho de campo
Os trabalhos de son-
dagem e escavação foram
realizados nos seguintes
locais:
- Acampamento mi-
litar, anfiteatro ou hipó-
dromo (2007 e 2008);
- Necrópole da Vei-
ga da Samardã (Cemité-
rio dos Mouros) (2007 e
2008);
- Aqueduto (2008).
- Povoado da Veiga Figura 2. Planta de Jürgen Whal actualizada com os novos vestígios
da Samardã (2007 e e áreas de escavação
2008);

Pág. 418 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


2.1 Acampamento militar, an-
fiteatro (Fig. 2)
Este local, situado na zona plana
a sul e entre as cortas de Covas e Ri-
beirinha, e denominado Alto do Cimo
dos Lagos, apresenta um talude semi-
circular no lado oeste e taludes para-
lelos a sul e a norte. Tem de
comprimento cerca de 70 m e de lar-
gura cerca de 50. Foi considerado por
uns como acampamento militar, por Figura 4. Duplo muro sob o talude do Recinto
outros como anfiteatro e cisterna e por
nós como um provável hipódromo.
Com o intuito de esclarecer dúvidas quanto à sua tipologia, foram reali-
zadas duas sondagens na parte plana interior do recinto e três sobre os taludes.
As duas sondagens do interior, com uma potência de solo de cerca de 20 cm,
revelaram-se completamente estéreis. As sondagens dos taludes revelaram a
existência de dois muros paralelos de pedra de xisto ligadas com barro amare-
lado, distantes entre si cerca de 2,5 m e com preenchimento com terra, ro-
deando todo o recinto (Fig. 4). No canto sudeste, revelou a existência de um
muro maciço com cerca de 2 m de largura.
Os materiais são parcos e resumem-se a um fragmento de cerâmica rude
incaracterística e a cerca de 1 kg de cavilhas de ferro, encontradas na base de
um dos muros delimitativos, no que parece ser um ritual de fundação.

2.2 necrópole da veiga da samardã (cemitério dos Mouros) (Fig. 2)


Neste local foram realizadas três sondagens de 2 x 2 m em 2007, com o
intuito de verificar a existência de sepulturas romanas.
O solo xistoso apresentou pouca potência e os resultados foram negativos
numa boa parte das sondagens. A Sondagem A apenas revelou uma cova no
substrato geológico, não integralmente escavada em 2007 dado que parte dela
se encontrava fora da quadrícula. A sondagem foi alargada em 2008, abran-
gendo a totalidade da cova, tendo aparecido um único fragmento de cerâmica.
A Sondagem E (escavada em 2008) revelou a presença de uma sepultura,

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 419


superficialmente muito remexida pelos arados, com algumas pedras de xisto
desconexas. Por baixo encontrou-se uma larga sepultura escavada no xisto,
pouco profunda, repleta de ossos humanos calcinados, cavilhas de ferro, um
pote negro alisado no exterior e com a inscrição ALLIVS ARRV, fragmentos
de um pote de tamanho médio em cerâmica comum e 6 contas de colar de boa
factura.
O ritual de incineração encontra-se bem evidenciado. A presença de gran-
des carvões de madeira e as cavilhas, dizem-nos que a incineração foi feita in
situ com estrutura de madeira armada onde foi depositado o cadáver. Todo o
material incinerado caiu directamente dentro da larga sepultura, encontrando-
se ainda alguns ossos calcinados em conexão anatómica.

2.3 Aqueduto (Fig. 2)


Na encosta a norte e fronteira à Corta de Covas, encontram-se uma série de
estruturas alinhadas pela encosta abaixo que Jürgen Whal interpretou como lavaria.
Em 2008 realizou-se a escavação de uma dessas estruturas, tendo-se re-
velado como uma plataforma de assentamento de pilares. A inexistência de
tanques inviabiliza a hipótese de se tratar de uma lavaria. A rocha é visível a
olho nu e não apresenta tanques de decantação escavados na rocha ou cons-
truídos em alvenaria.
A estrutura possui, do lado sul, um forte embasamento de grandes blocos
de quartzito travados nos cantos, onde assenta um muro corrido com 50 cm de
largura (Fig. 5). Nas partes laterais apresenta pequenas bases quadradas para
assentamento de barrotes. A norte, a uma distância de 5 m, corre um muro idên-
tico, paralelo ao anterior, mas com função diferente: devido à forte inclinação
do terreno, este muro destinava-se provavelmente a contenção de terras e
águas, de modo a impedir a destruição da sapata de suporte dos pilares. Notou-
se a existência de três alinhamentos de sapatas na encosta que parecem cor-
responder a três aquedutos diferentes. Estes aquedutos estão direccionados para
a boca da Galeria do Pilar, onde são visíveis restos de uma provável lavaria.

2.4 Povoado da veiga da samardã (Figs. 2 e 3)


O povoado mineiro apresenta uma área de cerca de 2 ha de dispersão de
vestígios arqueológicos. Jürgem Wahl realizou sondagens arqueológicas em

Pág. 420 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


quatro áreas do povoado, tendo encontrado diversas estruturas habitacionais,
dois tanques e uma construção de grandes dimensões.
As escavações realizadas na 1ª Campanha (2007) incidiram sobre a “Zona
de escavações 2”, lado sul, de Jürgem Wahl. Nelas, encontrou o investigador
diversos compartimentos. Quando iniciámos os trabalhos, as sondagens en-
contravam-se preenchidas por areão granítico para proteger as estruturas,
muros, lareiras e fossas.
No total foram reabertos 9 quadrados, orientados numa única fiada, orien-
tados de sul para norte, grosso modo. Todas se encontravam separadas por tes-
temunhos de 1 m de largura.
Em termos de descrição do trabalho realizado, faremos, em relação a cada
sondagem, a descrição do que encontrámos e o que foi escavado por Jürgen
Wahl, e os trabalhos que realizámos em cada sondagem.

2.4.1 sondagem A
Depois de retirado o areão granítico e efectuada a limpeza do quadrado
verificámos que o quadrado havia sido escavado até ao afloramento geológico.
Neste existia um muro bastante destruído com orientação norte-sul e uma pe-
quena fossa escavada no xisto. Os trabalhos que realizámos para poder docu-
mentar a realidade arqueológica resumiu-se à fotografia, desenho do muro e
fossa e desenho do corte este.

2.4.2 sondagem B
Depois de retirado o areão granítico e efectuada a limpeza do quadrado
verificámos que o quadrado não havia sido escavado na totalidade até ao aflo-
ramento geológico. No canto sudeste havia sido deixado parte do pavimento
de barro esverdeado e do lado norte a camada de destruição composta por pe-
dras dos muros, tégulas e imbrices. Ao centro havia os restos muito destruídos
de um muro de sentido norte-sul. Os trabalhos que realizámos, para poder do-
cumentar a realidade arqueológica, para além da fotografia, desenho do plano
e corte este, consistiu no desmonte do derrube. Por baixo deste encontrava-se
os restos de uma lareira, embasada com tégulas, tendo nós definido o limite
norte. O restante da lareira havia já desaparecido com os trabalhos arqueoló-
gicos da década de 80 do séc. XX.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 421


2.4.3 Banqueta norte da sondagem A
Procedeu-se ao desmonte integral do testemunho, verificando-se a exis-
tência de um muro de sentido este-oeste, encaixado no afloramento rochoso e
a uma cota superior à dos restantes muros que encaixavam neste.

2.4.4 sondagem c
Depois de retirado o areão granítico e efectuada a limpeza do quadrado
verificámos que o quadrado não havia sido escavado na totalidade até ao aflo-
ramento geológico. Na parte sul encontrava-se a camada de destruição, bem
como do lado este. O resto do quadrado encontrava-se escavado até ao pavi-
mento. Para além da fotografia, desenho do plano e do corte este, removeu-se
a camada de destruição e escavou-se o pavimento de terra batida até ao aflora-
mento, tendo-se deixado um testemunho no canto sudeste. A escavação até ao
afloramento revelou, na parte norte, xisto muito polido. No centro do quadrado
encontrava-se uma mancha de terra cozida (lareira), ao nível do pavimento. No
resto da superfície do quadrado, o xisto estava rebaixado, apresentando 7 bura-
cos de poste. Pensamos que se trata de uma construção anterior, cujas dimensões
só será possível obter após a abertura dos quadrados QK5 e QJ5.

2.4.5 Banqueta norte da sondagem B


Com o desmonte da camada de destruição surgiu um muro de sentido
este-oeste, de pedras de xisto e reutilizando grande quantidade de fragmentos
de mós de granito, na metade este. Poderá corresponder a uma reformulação
dos muros, o que só se poderá confirmar em futuras campanhas.

2.4.6 sondagem d
Depois de retirado o areão granítico e efectuada a limpeza do quadrado
verificámos que o quadrado havia sido escavado até ao afloramento geológico,
com excepção do lado norte, onde existia alguma aglomeração de pedras de
pequeno e médio tamanho, em cota abaixo do afloramento.

2.4.7 Banqueta norte da sondagem c


O desmonte da banqueta revelou a existência dos restos de um muro de
sentido este-oeste, em muito mau estado de conservação.

Pág. 422 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


2.4.8 sondagem e
Depois de retirado o areão granítico e efectuada a limpeza do quadrado
verificámos que o mesmo havia sido escavado na totalidade até ao afloramento
geológico. Do lado este apresentava uma pedra com uma depressão redonda
muito polida, que talvez possa ser interpretada como o apoio de um fuso. No
canto sudeste existia uma fossa cavada no xisto. Os trabalhos que realizámos
para poder documentar a realidade arqueológica resumiu-se à fotografia, de-
senho do plano e do corte este.

2.4.9 Banqueta norte da sondagem d


O desmonte da banqueta revelou a existência da continuação do aglome-
rado de pedras em cota abaixo do afloramento e que se havia já detectado na
Sondagem D. Após a remoção das pedras e algumas tégulas, verificou-se que
existia um canal de água, com as dimensões de 120 cm de profundidade e 90
cm de largura. Os últimos 70 cm apresentavam pedras de grandes dimensões.
No fundo apresentava uma camada de lodo esverdeado com cerca de 20 cm
de espessura. Nas paredes, e especialmente no fundo, eram visíveis as marcas
de pico da sua construção. Na metade este, junto ao topo, apresentava ainda
uma cavidade de cada lado destinada a encaixar um barrote de madeira, inter-
pretado como uma ponte de madeira que permitia a passagem sobre o canal.
Não sabemos a largura desta ponte e se se tratava de uma ponte pedonal ou se
também permitia a passagem de carros. Estes dados só poderão ser clarificados
com a escavação do quadrado QI5.

2.4.10 sondagem F
Depois de retirado o areão granítico e efectuada a limpeza do quadrado
verificámos que o quadrado havia sido escavado até ao afloramento geológico,
apenas na parte sul do quadrado e uma estreita faixa do lado oeste. Do lado
este apresentava uma fossa que não se encontrava escavada até ao fundo (Fossa
I). Sobre parte desta fossa encontra-se os restos de um muro de sentido este-
oeste que fazia canto com um de sentido norte-sul. Os trabalhos que realizámos
para poder documentar a realidade arqueológica para além da fotografia, de-
senho do plano e do corte este, incidiu na escavação da profundidade total da
fossa, na metade visível no quadrado, já que ela se prolonga para o quadrado

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 423


QG5, e na escavação da depressão central do quadrado que apresentava um
rebaixamento do xisto (Compartimento I). Esta depressão estava nivelada com
um pavimento de terra ao nível do afloramento de xisto. A depressão apresenta
formato rectangular e corresponde a uma construção anterior que se prolonga
para a Sondagem G. A escavação desta depressão até ao afloramento rebaixado
revelou a presença de várias manchas de cinzas e duas pequenas fossas repletas,
uma, a do lado este, com fragmentos de mós de granito para dar consistência
ao terreno e a outra, do lado oeste, com terra e 4 pesos de tear de formato ar-
redondado e perfuração excêntrica.
Em 2008, foram escavadas as manchas de cinzas e retiradas os fragmentos
de mós, tendo revelado, a das mós, uma depressão polida, interpretada como
local de farinação de metais. A mancha de cinzas central revelou a existência
de um pequeno forno de fundição de ferro (o fundo apresentava escória de
ferro e pequenos fragmentos de cobre agarrado à rocha), de tradição indígena,
com canal para arrefecimento do metal.
A escavação do QG5, para além de permitir obter a planta da Fossa I, re-
velou a presença de pequenos canais escavados no xisto interligando várias
fossas, no que se poderá interpretar como fossas de decantação. Infelizmente,
não foram encontrados sedimentos ou materiais cerâmicos que as caracteri-
zassem.
Tanto a Fossa I como o Compartimento I foram nivelados com um pavi-
mento de barro esverdeado, aquando da construção de uma casa romana (Com-
partimento II).
A escavação completa dos QG5 e QF5 revelou a presença de uma casa
romana, onde se praticava a tecelagem, a avaliar pelo elevado número de pesos
de tear que surgiram (alguns em xisto). Associado a esta actividade surgiram
muitos nódulos de resina junto de uma lareira. Por baixo, junto ao afloramento,
e por baixo do pavimento de barro esverdeado, surgiu um covacho (Cova I)
onde se encontravam fragmentos cerâmicos quartzíticos muito friáveis, idên-
ticos aos recolhidos no Castelo dos Mouros.
A esta casa, e à actividade aí desenvolvida, associa-se o apoio de fuso da
Sondagem E.

2.4.11 Banqueta norte da sondagem e

Pág. 424 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


O desmonte do testemunho não revelou a existência de qualquer estrutura
arqueológica.

2.4.12 sondagem g
Depois de retirado o areão granítico e efectuada a limpeza do quadrado
verificámos que o quadrado havia sido escavado apenas até ao pavimento de
terra batida (Compartimento III). Do lado norte e este, apresentava dois muros
fazendo ângulo entre si. Assim, para além dos trabalhos de fotografia, desenho
do plano e do corte este, apenas pusemos à vista as pedras que se revelaram
como sendo um muro formando canto, de uma fase anterior à deste comparti-
mento, pois encontrava-se coberto com o pavimento. Este compartimento
(Compartimento II) encontra-se quase completo, faltando apenas a parede oeste
que se encontra nos quadrados QF7 e QE7, a escavar em anos próximos.
Em 2008, foi removido o pavimento de barro esverdeado, tendo sido dei-
xado um testemunho a norte. Por baixo surgiu uma grande fossa que parece
ser a continuação da Fossa II, existente na Sondagem H. Foi apenas parcial-
mente escavada, tendo revelado nos entulhos iniciais, fragmentos de um pe-
queno pote negro, com paredes exteriores espatuladas, com semelhanças
evidentes com o pote achado na necrópole romana. Deverá datar do séc. I d.C..
Ao lado foi escavado o QE5 que revelou a existência de mais uma fossa
escavada no xisto (Fossa IV). As camadas superficiais de entulho revelaram
uma moeda de prata de Tibério, que nos data o entulhamento das fossas no seu
reinado ou, quanto muito, no reinado de Cláudio.
Os quadrados G5, F5 e E5, revelaram ainda um arruamento romano entre
as casas, com uma canalização escavada no xisto e coberta com lajes de xisto
e mós gastas. O pavimento difere dos das casas, pois é constituído por diversas
camadas de estéril da mina, composto por quartzo leitoso fragmentado em pe-
quenos pedaços.

2.4.13 Banqueta norte da sondagem F


O desmonte do testemunho revelou a existência de um muro de sentido
este-oeste e que liga ao muro da Sondagem F. Para além disso, existia ainda
restos da camada de destruição, composta por pedras, tégulas e imbrices.
2.4.14 sondagem h

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 425


Depois de retirado o areão granítico e efectuada a limpeza do quadrado
verificámos que o quadrado havia sido escavado até ao afloramento. Apresen-
tava uma grande fossa no canto sudeste, com cerca de 80 cm de profundidade,
anterior aos muros existentes sobre ela (Fossa II). No quadrado existem três
muros, dois de sentido este-oeste e outro de sentido norte-sul, definindo vários
compartimentos. Do lado norte, ao nível do pavimento, existe uma base qua-
drangular em granito, cuja função não é perceptível. O pavimento foi removido
quase na totalidade, nas escavações anteriores, tendo restado apenas um teste-
munho. Os trabalhos que realizámos, para poder documentar a realidade ar-
queológica, resumiu-se à fotografia, desenho do plano e corte Este.

2.4.15 Banqueta norte da sondagem g


O desmonte do testemunho revelou a existência de dois muros paralelos
mas ligeiramente divergentes de sentido este-oeste e outro de sentido norte-
sul e que tem continuidade na Sondagem H. Trata-se de muros de muito boa
qualidade e com cerca de 50 cm de altura. Assentam sobre fossas existentes
por baixo destes, pertencentes a uma fase anterior do povoado. O espaço entre
os muros revelou grande quantidade de cerâmica indígena, misturada com si-
gilatas e cerâmica comum romana. Na parte oeste, por baixo da camada de
destruição apareceram quatro moedas de bronze, inseríveis no Alto Império.

2.4.16 sondagem i
Depois de retirado o areão granítico e efectuada a limpeza do quadrado
verificámos que o quadrado havia sido escavado até ao afloramento, na parte
sudeste, incluindo uma fossa de grandes dimensões (Fossa III). Do lado oeste
e norte, a escavação de Jürgen Whal foi apenas feita até ao pavimento do com-
partimento oeste, tendo sido ainda realizada uma sondagem de 1 x 1 m até ao
afloramento, verificando-se existir camadas arqueológicas por baixo do pavi-
mento. Este pavimento difere de todos os outros já que apresenta uma cor aver-
melhada e é composto por quartzo leitoso partido em pedaços muito pequenos
e que parece ser um aproveitamento de materiais provenientes da mina. Os tra-
balhos que realizámos, para poder documentar a realidade arqueológica, resu-
miu-se à fotografia, desenho do plano e cortes este e oeste. O desenho do corte
oeste, para além de documentar várias fases de ocupação deste compartimento,

Pág. 426 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


constituía também o limite do QC7 que foi por nós integralmente escavado.

2.4.17 Banqueta norte da sondagem h


O desmonte do testemunho revelou a existência da continuação da Fossa
III para debaixo da banqueta. Foi integralmente escavada, não tendo revelado
materiais arqueológicos que ajudassem à sua datação. A fossa continua para
este, para o quadrado QC5.

2.4.18 Qc7
Foi o único quadrado escavado integralmente durante a 1ª Campanha Ar-
queológica (2007). Permitiu obter a quase totalidade do compartimento oeste
da Sondagem I. Todo o quadrado estava repleto com a camada de destruição
composta por pedras de xisto, tégulas, imbrices e algumas peças arqueológicas,
entre as quais se destaca uma lucerna. Abaixo, encontrava-se o pavimento
quartzítico que não foi desmanchado nesta campanha. No centro apresentava
uma depressão sem pavimento que pode corresponder ao embasamento de uma
trave, dado termos encontrado sobre o pavimento um bloco de granito partido
em dois com uma cavidade ao centro. O muro oeste do compartimento apre-
senta, no canto noroeste apenas o embasamento do muro, enquanto o restante
apresenta uma altura de 40 cm, e que corresponde a uma porta.
Em 2008 foram integralmente escavados os QC7 e QB7, tendo o QD7
sido escavado apenas até aos pavimentos de barro do corredor e do comparti-
mento do QD7.
A escavação destes 3 quadrados permitiu obter uma leitura da complexa
organização estratigráfica deste espaço, com sucessivas remodelações para fins
distintos. Começando pela última ocupação do espaço (talvez do séc. II d. C.)
verificámos que o pavimento de quartzo leitoso correspondia ao pavimento de
um átrio parcialmente coberto: a existência de um buraco de fixação de um
barrote encimado por uma pedra de granito a fazer de capitel, na metade norte
do átrio, sugere que aí havia uma cobertura. O átrio dava para 5 compartimen-
tos diferentes e para um corredor. Nesta fase, todos os compartimentos adja-
centes e o corredor apresentavam as paredes rebocadas com argila avermelhada
com alguma cal como agregante.
Depois de removido este pavimento, surgiu uma camada de terra esver-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 427


deada com algumas sigilatas sudgálicas. No centro do átrio existia uma lareira,
composta por tégulas viradas ao contrário, numa posição mais ou menos cen-
tral. As paredes ainda eram rebocadas.
Abaixo da lareira existia outro pavimento de quartzo leitoso (estéril da
mina), o que sugere que o espaço era, nessa fase, descoberto. Nenhuma das
paredes se encontrava rebocada.
Abaixo deste pavimento, surgiu o afloramento xistoso, nos extremos sul e
norte. A zona central era ocupada por uma grande fossa, continuação da Fossa
III encontrada na Sondagem I. A fossa encontra-se dividida em duas secções: a
secção oeste (que se prolonga para o QC8, ainda não escavado), com cerca de 1
m de profundidade e com o fundo curvilíneo bastante alisado, e a secção este
que é a continuação da Fossa III da Sondagem I, com cerca de 2 m de profundi-
dade e paredes pouco uniformes. Nos bordos da fossa foram encontrados diver-
sos buracos de poste, escavados no xisto, que devem ter pertencido a uma
estrutura de madeira montada sobre a fossa. A sua funcionalidade é desconhecida.
A encimar os entulhos que foram lançados para colmatar a fossa e por
baixo da lareira de tégulas, surgiu um muro em L, de constituição muito tosca
e frustre que foi cortado pelas construções romanas. No bordo da fossa (lado
norte) surgiu uma lareira ovalada, cuja base é composta por lascas de xisto co-
berto com uma camada de barro. Em volta, encontravam-se as cinzas. Para
além de algumas cavilhas de ferro, esta camada revelou a presença de um frag-
mento de taça com engobe vermelho no interior, comum em meados do 1º mi-
lénio a. C.

3. Materiais Arqueológicos
Os materiais arqueológicos recolhidos confirmam em parte as conclusões
a que Jürgen Wahl chegou, ou seja, que as moedas mais antigas datam o po-
voado (e consequentemente o início da exploração mineira), da época de Cláu-
dio, embora se admita que a exploração possa ter começado com Augusto.
Entre os materiais encontram-se os materiais clássicos recolhidos em todas as
escavações de período romano como seja lucernas, sigilatas, moedas, pesos de
tear. Como aspecto inovador, refira-se o prolongamento da baliza cronológica
estabelecida por Jürgen que datava o fim da exploração no final do séc. II d.C..
O aparecimento de uma moeda forrada a prata, datando de meados do séc. III

Pág. 428 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


d.C., é sinal de que a exploração mineira se prolongou no tempo. Os materiais
indígenas e a existência de uma estruturação urbanística anterior, bem como a
existência de fossas e materiais de filiação indígena apontam para um provável
início da exploração ainda em época indígena. É certo que estes materiais
podem ainda encontrar-se no séc. I d.C., logo após a conquista da península
por Augusto.
Registe-se o escasso material anfórico encontrado (apenas o bico de uma
ânfora), o que não deixa de ser estranho numa exploração mineira estatal e que
estaria guardada por legiões militares.
LUCERNA: do tipo Firmalampen, muito frequentes em acampamentos
romanos. Em Asturica Augusta encontraram-se moldes, de qualidade pouco
apurada como esta (SEPÚLVEDRA et ali, 2001,p. 237-280). Têm uma crono-
logia entre meados do séc. I e o séc. II d.C. Dadas as características muito sim-
ples e pasta pouco apurada e tendo em conta que se encontrou uma sigillata
hispânica, dataríamos esta do séc. II d.C. A sigillata hispânica encontrada pode
ser datada entre o fim do séc. I e meados do séc. II d. C. (DELGADO et ali,
1975, p. 159).
ALGUIDAR: de bordos revirados, encontrado entre os dois muros poderá
datar de época flaviana, se tivermos em conta paralelos iguais encontrados em
Conimbriga (ALARCÃO, 1975, Prancha 26 e Apêndice I). Os potes com ore-
lhas no bordo com furos de suspensão, são claramente indígenas, com crono-
logias dos sécs. II/I a. C (SILVA, 1986, Estampas 55 e 81 e RUIBAL, 1980, p.
495), bem como o cossoiro encontrado. A cerâmica com cordão aplicado com
incisões (RUIBAL, 2006-07, p. 507), poderá ser datada de finais do séc. I a.C.
e inícios do séc. I d.C..
PEÇAS DE JOGO (pretas, brancas e uma azul): encontram paralelos em
Conimbriga (ALARCÃO et ali, 1976, p. 209-210 e Estampa 46), datadas da
época de Trajano. As peças podiam ser usadas no ludus calculorum, no ludus
latrunculorum ou no duodecim scripta. Estes jogos foram muito frequentes
durante o séc. I d.C. (GOBERNA et ali, 1997).
DISCO EM CHUMBO: pouco maior que um asse, com a marca X em
ambos os lados, eram muito usados em acampamentos militares. A sua crono-
logia é difícil de precisar, mas poderá datar do séc. I d.C.
4. conclusão

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 429


Em 2008, foram alargadas as sondagens arqueológicas de Jürgen Whal,
apenas numa das áreas do povoado, tendo-se podido caracterizar as casas como
sendo compartimentos de boa qualidade, compostas por muros de pedra tendo
como ligante o barro, telhado de telhas romanas e pavimentos de barro, com
lareiras centrais. Por baixo detectou-se uma ocupação com cerâmicas da Idade
do Ferro que apontam para a possibilidade de a exploração das minas de ouro
ter sido iniciada por povos indígenas. Os materiais arqueológicos encontrados
são abundantes e entre eles encontram-se moedas em bronze e uma forrada a
prata, taças e pratos de sigillatae, inúmeros pesos de tear, ligados a actividades
de fiação e uma lucerna (candeia de iluminação).
Por baixo do povoado romano, existem
muitas fossas escavadas no xisto, de diversos
tamanhos e profundidades (Fig. 6). Muitas têm
pequenos canais escavados no xisto, interli-
gando várias fossas. Pensamos estar perante
uma zona industrial de tratamento do ouro,
dado que esta unidade se encontra bastante
próxima da Corta de Covas (Fig. 3).
No centro do povoado surgiu um canal de
transporte de água para a zona da lavaria da ga-
leria Esteves Pinto, tendo-se detectado a sua
Figura 6. Povoado Mineiro (Sond.
ponta terminal, em terrenos baldios e cobertos I/QC7) – Estruturas romanas e fossas
de silvas. escavadas no xisto
Todos os dados obtidos nas escavações ar-
queológicas dos anos de 2007 e 2008, apontam
para que o povoado romano, no início da exploração se confinasse ao morro que se
situa a norte. Com o desenvolvimento da exploração, com maior número de mineiros
e consequente crescimento do povoado, houve necessidade de desactivar esta unidade
industrial e proceder ao entulhamento do canal. Por esta altura, a lavaria da Galeria
Esteves Pinto estaria já desactivada, dado que a profundidade atingida na Corta de
Covas ultrapassaria em muito a profundidade desta galeria que se situa nos 30 m
abaixo do topo da Corta. Provavelmente seria a Galeria do Pilar (situada 50 m abaixo
do topo da exploração) que faria o escoamento do material pétreo.
Em que época é que se deu esta expansão do povoado? A moeda de prata

Pág. 430 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


de Tibério foi encontrada no topo de uma das fossas entulhadas, no meio de
entulhos aí depositados. Uma taça de paredes finas da 2ª metade do séc. I d.C.,
encontrada também nas camadas de topo de entulhamento da Fossa III, parece
apontar para uma fase mais tardia. É necessário continuar a escavação, para
delimitação e compreensão total desta área industrial, e calibrar, se possível,
com novos artefactos, a altura em que se deu tão importante alteração.

Bibliografia
ALARCÃO, A. Moutinho e PONTE, Salete da (1984), Colecções do Museu Monográfico de Co-
nimbriga. Coimbra: Gráfica de Coimbra;
ALARCÃO, Jorge de (1975), La Ceràmique Commune Locale e Régionale. Fouilles de Conimbriga, 5.
Paris: Diffusion E. de Boccard;
ALARCÃO, Jorge de, DELGADO, Manuela, MAYET, Françoise, ALARCÃO, Adília Moutinho e PONTE,
Salete da (1976), Céramiques diverses et verres. Fouilles de Conimbriga, 6. Paris: Diffusion E. de Boccard;
DELGADO, Manuela, MAYET, Françoise e ALARCÃO, Adília Moutinho (1975), Les Sigillés. Fouilles de
Conimbriga, 4. Paris: Diffusion E. de Boccard;
GOBERNA, Fernando Javier Costas e CUÑARRO, José Manuel Hidalgo (1997), Los juegos de tablero en
galicia, Aproximación a los juegos sobre tableros en piedra desde la Antigüedad Clásica al Medievo. Vigo;
SEPÚLVERDRA, Eurico de e SOUSA, Vítor R. Cordeiro de (2001), Cerâmicas finas romanas do Museu
Municipal de Torres vedras: as Lucernas. Conimbriga, 40. Coimbra: instituto de Arqueologia da FLuC;
SILVA, Armando Coelho Ferreira da (1986), A Cultura Castreja no noroeste de Portugal. Paços de Ferreira:
Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins e Câmara Municipal de Paços de Ferreira;
RUIBAL, Alfredo González (2006-07), Galaicos, Poder y comunidad en el Noroeste de La Península Ibérica
(1200 a.C. - 50 d.C.). Brigantium, 19, Boletín do Museo Arqueolóxico e Histórico da Coruña;
WAHL, Jurgen (1986), Resultados das pesquisas arqueológicas, efectuadas de 4/8 a 10/11/86, na zona das
minas de ouro romanas de Três Minas (conc. vila Pouca de Aguiar, distr. vila Real). Vila Pouca de Aguiar.
p. 28.
WAHL, Jurgen (1986a), Minas Romanas de Tresminas (1986), Escavação, Trabalhos Anteriores ao IPA.
WAHL, Jurgen (1998), Aspectos tecnológicos da indústria mineira e metalúrgica romana de Três Minas e
Campo de Jales (Concelho de vila Pouca de Aguiar), Actas do Seminário “Museologia e Arqueologia Mi-
neiras” (Outubro 1998). Lisboa: Museu do Instituto Geológico e Mineiro, p. 57-68.
WAHL, Jurgen (1988a), Três Minas. vorbericht uber die archaologischen untersuchungen im bereich des
romischen goldbergwerks 1986/87), Madrider Mitteilungen. Madrid. 29.
WAHL, Jurgen (1988b), Minas Romans de Tresminas (1988), Relatório Aprovado.
WAHL, Jurgen (1993), Três Minas. vorbericht uber die archaologischen Ausgrabungen im Bereich des
romischen goldbergwerks 1986/87, Montanarchaologie in europa. Montanarchaologie in Europa. Berichte
zum Internationalen Kolloquium “Fruhe Erzgewinnung und Verhuttung in Europa” in Freiburg im Breisgau,
vom 4, bis.7, Oktober 1990, p. 123-152.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 431


soBRe Los oRígenes y evoLución de LAs PRiMeRAs
igLesiAs RuRALes en LA ALtA edAd MediA: eL cAso de
teRRA de ceLAnovA (ouRense)
On The ORiginS And evOLuTiOn OF The FiRST RuRAL
ChuRCheS in The eARLY MiddLe AgeS: The CASe OF TeRRA OF
CeLAnOvA (OuRenSe)

José Carlos Sánchez Pardo


UnIverSIdAd de SAntIAgo de CoMPoStelA.
jSP1980@HotMAIl.CoM

Resumen: En esta comunicación pretendemos reflexionar brevemente sobre las raíces y


características de las primeras edificaciones cristianas en el mundo rural de la Galicia medieval,
atendiendo especialmente a su organización espacial y a su relación con elementos previos de
la estructura territorial. Se trata de un tema complejo y poco estudiado hasta el momento, pero
fundamental para comprender no solo el paisaje tardoantiguo y medieval y las comunidades que
le dieron forma sino también la estructura territorial del mundo rural tradicional gallego que ha
llegado hasta nuestros días. Para ello nos centraremos en la comarca orensana de Terra de Ce-
lanova, donde a través de la unión de datos arqueológicos con otros documentales y geográficos,
podemos observar la nítida relación de las primeras iglesias rurales con los ejes de articulación
territorial de época galaicorromana y con los espacios sagrados previamente existentes de las
comunidades locales. Igualmente, esta perspectiva nos ayudará a estudiar el progresivo y fun-
damental papel articulador del poblamiento rural del entorno que estas primeras iglesias van ad-
quiriendo entre los siglos V y X.
Palabras-clave: iglesias, necrópolis, territorio, alta edad media.

Abstract: in this work we intend to reflect briefly on the origins and characteristics of
the first christian buildings in the rural world of medieval galicia, with particular regard to
their spatial organization and their relationship with elements of the previous territorial struc-
ture. This is a complex and scarcely studied issue, but crucial to understand not only peasants
communities and landscape in Late Antiquity and Middle Age but also the territorial structure
of the traditional rural world in galicia that still survives nowadays. To do this we will focus on
the region of Terra de Celanova, in Orense, where by means of the union of archaeological,
documentaries and geographical data, we can see the strong relationship between the first rural
churches, territorial articulation of roman period and previous sacred spaces of local commu-
nities. Alike, this perspective will help us to study the progressive and vital role of settlement
articulation that these first churches take between v and X centuries.
Keywords: churches, necropolis, territory, early middle age.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 433


1. introducción
En las siguientes líneas trataremos de presentar brevemente algunas ideas
sobre la introducción, papel y significado de las primeras edificaciones cristianas
rurales en la Galicia altomedieval, es decir, entre los siglos V y X. Consideramos
que se trata de un tema de gran relevancia y potencialidad para conocer mejor
no solo la sociedad medieval sino también las raíces de la organización rural tra-
dicional gallega que ha llegado hasta nuestros días. Sin embargo, a pesar de dicha
importancia, esta cuestión ha sido hasta el momento muy poco estudiada, espe-
cialmente desde una perspectiva amplia e interpretativa. Esta falta de trabajos es
causa y consecuencia a la vez de la escasez de datos para abordar este tema, es-
pecialmente de aquellos de tipo arqueológico que son los que en estos momentos
más podrían hacer avanzar las investigaciones.
Hay que señalar desde ahora que en este pequeño trabajo pesará siempre
esa importante falta de datos sólidos de partida. Sin embargo, consideramos
que es posible mitigarla en parte superando las tradicionales divisiones disci-
plinares e integrando la mayor cantidad de fuentes disponibles, tanto arqueo-
lógicas como documentales como geográficas. Concretamente nos centraremos
en el territorio de la actual comarca de Terra de Celanova (Ourense) del cual
hemos realizado un vaciado lo más exhaustivo posible de dichas fuentes de in-
formación1 que nos permitirán plantear algunas hipótesis sobre el origen, papel
y evolución de las primeras iglesias rurales entre los siglos V y X. Obviamente,
dados los límites de esta comunicación, no
podemos realizar un estudio detallado de
este amplio y complejo tema sino simple-
mente apuntar una serie de ideas de trabajo
sobre el mismo desde el plano de la orga-
nización espacial. En ese sentido, nos cen-
traremos principalmente en tres grandes
cuestiones a partir del estudio del caso de
Terra de Celanova: la cronología y ritmo de
difusión de las primeras iglesias rurales, su
implantación concreta a escala local y la Figura 1: Mapa de situación general de la co-
definición de su papel articulador territo- marca de Terra de Celanova
rial.

Pág. 434 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


2. cronología y difusión de las primeras iglesias rurales
Los primeros testimonios cristianos en gallaecia se pueden remontar al
s. IV y están ligados, como en otras zonas del imperio (Ripoll; Velázquez 1999;
p. 101-104) a los ámbitos más romanizados: núcleos urbanos y sobre todo aglo-
merados secundarios. Desde estas áreas más romanizadas y culturalmente más
dinámicas el cristianismo se extenderá, al igual que sucedió también con el
proceso de romanización, hacia otras zonas más “periféricas”, de manera que
no será hasta finales del V e inicios del VI cuando comience la verdadera y
lenta difusión del cristianismo por el ámbito rural (Armada Pita 2003, p. 388;
López Quiroga 2005, p. 193-200). En este proceso de expansión, la iglesia se
adapta plenamente a la estructura organizativa romana, de manera que existirá
una nítida y fuerte relación entre la articulación territorial tardorromana y la
introducción y organización de la iglesia en gallaecia2.
En este contexto de expansión del cristianismo por el mundo rural la ma-
yoría de las primeras edificaciones cristianas corresponderían a fundaciones
privadas de templos o monumentos dedicados a mártires, constatados en His-
pania ya desde el s. IV (Ripoll; Velázquez 1999, p. 101-110). Entre los siglos
VI y VII se multiplicarían estas fundaciones de basílicas por particulares, desde
grandes reyes hasta pequeños propietarios y por ello los concilios tratarán de
regularlas, poniéndolas bajo su jurisdicción (García Rodríguez 1966, pp. 359-
365), algo que no siempre lograrán. Detrás de este movimiento de fundación
de iglesias por parte de las élites se encuentran motivaciones religiosas, factores
económicos de atracción de patrimonio así como la búsqueda de reconoci-
miento y prestigio social. Por ello, durante estos primeros siglos no debemos
ver tanto un fenómeno de consciente planificación de la implantación eclesiás-
tica en el territorio, ni la búsqueda de funciones parroquiales para las comuni-
dades. Se trataría más bien de una ofrenda, de una construcción privada e
individual por parte de una persona de cierto rango en la sociedad local que,
sin embargo, dado el carácter de la nueva religión cristiana, conlleva en sí
misma (desde sus inicios o al cabo de poco tiempo) una función religiosa co-
lectiva, comunitaria. Por otro lado hay que tener en cuenta que durante estos
primeros siglos, muchas de estas edificaciones no tendrían demasiada regula-
ridad en su uso y sufrirían frecuentes etapas de abandono así como restaura-
ciones (García Rodríguez 1966, p. 363).

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 435


En el caso concreto de Terra de Celanova desconocemos la cronología
precisa de aparición de las primeras iglesias en esta comarca, ya que no pose-
emos evidencias directas hasta el siglo IX3. Sin embargo, sí podemos establecer
algunas hipótesis de trabajo a partir del análisis del Parroquial Suevo. Este fa-
moso texto, cuya autenticidad básica fue probada por P. David (1947, p. 1-82)
se remonta a finales del siglo VI y consiste, una vez liberado de añadidos pos-
teriores, en una lista de trece sedes episcopales junto a sus “iglesias”, que según
P. Díaz Martínez, se deben interpretar como “iglesias públicas”, no privadas,
es decir, aquellas pertenecientes a la sede episcopal (Díaz Martínez 1994, p.
35-38).
A pesar de que se ha subrayado en repetidas ocasiones el nivel relativa-
mente alto de organización eclesiástica del Reino Suevo a finales del siglo VI
que este parroquial refleja (Díaz Martínez 1994; 1997, p. 266), así como su
capacidad de adecuación a las estructuras y realidades preexistentes de cada
zona de Galicia, debemos matizar que, en lo que se refiere a la implantación
concreta de las iglesias en el ámbito rural, y especialmente en el espacio de la
actual Galicia, parece tratarse de un número de iglesias todavía muy pequeño
(aun teniendo en cuenta que en él no se recogen las edificaciones religiosas
privadas). Concretamente, el Parroquial Suevo apenas ofrece información re-
lativa a nuestro territorio de estudio, ya que no se cita de ningún modo en él,
y tan solo podemos averiguar que estaría integrado en una “parroquia” relati-
vamente amplia, como sería la parroquia de Auria (David 1947, p. 39), lo cual
no nos garantiza que existiese alguna iglesia concretamente en nuestro territorio
a finales del s. VI.
Cuando, tres centurias más tarde, la documentación monástica comienza
a iluminar paulatinamente esta zona, en la segunda mitad del siglo IX, obser-
vamos diversos casos de restauraciones de iglesias que estaban abandonadas
o arruinadas, lo que nos indica una cierta antigüedad para las mismas (García
Álvarez 1955) ¿Qué antigüedad exactamente? No podemos decirlo, pero lo
que parece desde luego evidente es que el siglo anterior, el VIII, dado el con-
texto político en esta zona al Sur del Miño tras la invasión musulmana –al mar-
gen totalmente de consideraciones sobre el alcance socioeconómico de la
ruptura tradicionalmente asociada a este momento- no debió ser un momento
especialmente favorable para la creación de iglesias por parte de las élites, ni

Pág. 436 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


en general, para la intensificación y consolidación de la estructura eclesiástica,
teniendo por ejemplo en cuenta que la sede orensana no se restauraría hasta
aproximadamente el año 877 (García Álvarez 1955, p. 135-142). Además la
causa precisamente de muchos de esos abandonos parece estar en el contexto
de la invasión musulmana. Por tanto, podemos pensar que muchas de esas igle-
sias que se restauran a lo largo del s. IX en Orense tenían su origen, no en el
siglo VIII sino en los siglos VI y más probablemente, según lo antes señalado
sobre el Parroquial Suevo, en el s. VII.
En efecto, el documento más antiguo que menciona una iglesia en la co-
marca de Terra de Celanova, ya en el año 889 (Andrade Cernadas 1995, doc.
36), se refiere precisamente a la restauración de dicha iglesia, que es el actual
templo de San Salvador de Paizás, el cual existía ya pero se encontraba en es-
tado ruinoso. Dado este estado ruinoso que provendría de un tiempo indeter-
minado pero probablemente lejano, y según lo anteriormente expuesto,
podríamos pensar que esta iglesia dataría como mínimo de finales del siglo
VII. Otro caso que quizá podría remontarse a esa cronología es el de la iglesia
de San Martín, actualmente desaparecida, pero que existía y tenía ya gran an-
tigüedad cuando San Rosendo decide fundar su monasterio en el 936 en la Villa
de villare, tal y como se recoge en la Vida de San Rosendo de Ordoño de Ce-
lanova (Díaz y Díaz; Pardo Gómez; Vilariño Pintos 1990, p. 141-145). El resto
de las iglesias que podemos rastrear en la documentación más temprana relativa
a la comarca de Celanova parecen ser fundaciones (y no restauraciones, que
en su caso sí se especifican, como sucede con San Salvador de Paizás) datadas
a partir del último cuarto del siglo IX, como veremos más adelante.
Por supuesto podrían haber existido algunas otras iglesias de época visi-
goda en esta comarca de las cuales no han quedado rastros, ni documentales
ni materiales. Con un carácter hipotético podríamos señalar dos de estas posi-
bles iglesias en Terra de Celanova que podrían tener origen ya en época visi-
goda según la suma de varios indicios (aunque ninguno concluyente). Una de
ellas sería la iglesia de Santa Baia de Portela, mencionada ya en el año 1007
(Andrade Cernadas 1995, doc. 203, p. 284-285), en el interior de la cual fue
hallada un ara romana. Aunque la asociación entre elementos de culto religioso
romano e iglesias cristianas es muy frecuente y no implica un origen necesa-
riamente antiguo de dicha iglesia, en este caso hay que añadir también los in-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 437


dicios provenientes de su antigua advocación, a Santa Eulalia (Armada Pita
2003), y de su ubicación a los pies del paso de la vía romana entre el campa-
mento de Aquis Querquenis, Auria y Lucus Augusti. Un caso similar seria el
de San Pedro da Mezquita, citada en el año 1012 (Andrade Cernadas 1995,
doc. 548, p. 756-757) en la cual según López Quiroga (2004, p. 564) fueron
localizados una lauda de estola y diversos enterramientos de época altomedie-
val. Igualmente esta iglesia, de advocación especialmente antigua, se encon-
traría muy próxima al paso de una vía romana.
Por tanto, a la luz de estos (por desgracia escasos) indicios podemos pen-
sar que las primeras edificaciones cristianas en Terra de Celanova surgirían
quizá a lo largo del siglo VII, en zonas cercanas a las ya antiguas vías de co-
municación de época romana y que aún permanecerían en uso. En todo caso,
a inicios del siglo VIII estaríamos ante un número aun muy reducido de iglesias
en este territorio.
Sin embargo, a partir del siglo
VIII parece comenzar un cambio en el
carácter de las fundaciones de iglesias,
pasando de ser un acto ligado princi-
palmente al prestigio y contexto patri-
monial de un aristócrata, a ser cada
vez más, un fenómeno controlado por
las jerarquías eclesiásticas y dirigido
al encuadramiento de las comunidades
Figura 2: Datos sobre las primeras iglesias rurales rurales en la vida religiosa de la Iglesia
en Terra de Celanova (ss. V-X) católica. Se trata de un cambio funda-
mental tanto a nivel de la articulación
territorial como en general, en la orga-
nización de la vida de la sociedad galaica de estos siglos.
Lógicamente, se trató de una transformación lenta y progresiva. En este
sentido, a mitad del siglo IX, como indica F. López Alsina (1988, p. 163) aun
se recordaba el antropónimo del primitivo fundador de algunas iglesias de la
diócesis de Iria. Sin embargo, progresivamente estos indicios del antiguo ca-
rácter de las iglesias parecen ir desapareciendo de manera que las iglesias men-
cionadas en la documentación en el siglo X se describen ante todo por la

Pág. 438 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


comunidad rural a la que pertenecen, es decir, por la villa en la que se encuen-
tran. De este modo, progresivamente las iglesias irán tomando las diferentes
funciones de un centro de culto aldeano, que siguiendo a J. Escalona Monge
(1994, p. 575-584) podríamos concretar en cinco: función de culto, función
económica, de polarización del hábitat, de necrópolis y de referencia espacial.
La iglesia por tanto, se convierte en un centro de referencia de la comunidad,
en el que no solo se celebran los sacramentos y se desarrolla la vida religiosa,
sino que también es el lugar en el que se entierran los difuntos, se reúnen los
vecinos, se dirimen pleitos o se organiza la recaudación fiscal (Pallares Mén-
dez; Portela Silva 1998, p. 40-42).
La importancia de esta transformación en el papel de la iglesia, en con-
sonancia con los cambios que experimenta toda la sociedad, se refleja a nivel
espacial en un importante aumento del número de iglesias rurales. En efecto,
a lo largo de los siglos VIII y X, parece producirse un auténtico auge construc-
tivo de iglesias en Galicia y el verdadero inicio de su territorialización y orga-
nización espacial conjunta, al igual que se constata en otras zonas. Aunque esta
red eclesiástica no se completará y consolidará hasta los siglos XI y XIII, es
ahora cuando se asientan y definen las bases que la caracterizarán y que se
mantendrán hasta la actualidad.
En el caso concreto de Terra de Celanova, el aumento del número de igle-
sias durante este período parece un fenómeno evidente e indudable. Frente a
las tres, cuatro, cinco o seis iglesias que quizá podrían existir en esta comarca
a principios del siglo VIII, observamos que a finales del siglo X está testimo-
niada documentalmente en esta comarca la existencia de 14 iglesias; cifra que
posiblemente fuese mayor en la realidad pues como sabemos es muy probable
que muchas de las iglesias que se citarán por primera vez en la documentación
con posterioridad al año 1000 existiesen ya a finales del siglo X. Se trata de
las iglesias de Bobadela, Paizás, Albos, Ourille (tanto San Pedro como la ca-
pilla de San Vicente), Cexo, Celanova, San Martiño de Berredo, Vilanova dos
Infantes, Mourillós, Rabal (tanto San Salvador como la capilla de San Paio),
Redemuíños y, con un carácter más hipotético, la capilla de Santa María en
Penosiños4.
En todo caso, como ya hemos apuntado, se puede pensar en un cierto ra-
lentizamiento en el proceso de creación de iglesias en toda la zona Sur de la

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 439


actual provincia de Orense en el siglo VIII en comparación con el resto de Ga-
licia debido a la inestabilidad política introducida en esta zona tras la invasión
musulmana, y las posibles rupturas en la organización eclesiástica que, según
C. Baliñas Pérez (1992, p. 528-532) se produjeron por causa de la misma.
Como sabemos, las iglesias son un importante reflejo de la presencia y actua-
ción de poderes sobre las comunidades, y por tanto parece plausible que du-
rante esta etapa de “inestabilidad política” (que no necesariamente social ni
económica) se creasen pocos nuevos templos en esta zona, a diferencia del
resto de Galicia donde dicho proceso se habría desarrollado de forma más in-
tensa. En este sentido podemos interpretar el proceso de restauración de anti-
guas iglesias (García Álvarez 1955) y sobre todo de construcción de otras
nuevas, que observamos desde la segunda mitad del siglo IX en la zona sur
orensana, y que tendrá especial intensidad en el siglo X, como muestra del
nuevo fortalecimiento de los poderes en este territorio.
De este modo el gran auge constructivo de iglesias en Terra de Celanova
parece haberse desarrollado principalmente a lo largo del siglo X, como lo de-
mostraría el alto número de edificaciones religiosas realizadas en el tradicio-
nalmente llamado estilo mozárabe, característico de este momento. A este
respecto es muy interesante la observación de Rivas Fernández (1971), sobre
el mozárabe en la zona de Celanova: “este estilo (...) ha tenido gran importancia
en esta zona, sujeta al radio de influencia del monasterio de Celanova y que
tuvo en tiempos de San Rosendo su máxima preponderancia arquitectónica.
Debieron ser numerosas las edificaciones mozárabes en distintos puntos cer-
canos especialmente a la villa de Celanova”. Este autor cita diversos vestigios
de arte mozárabe en varias iglesias de esta zona: San Martiño de Pazó, San Ci-
brao de Pardavedra, San Munio de Veiga, San Mamede de Sorga, San Miguel
de Celanova, San Adrián de Amiadoso, Santa María de Vilanova dos Infantes,
Santa Eufemia de Ambia, etc... considerando que “todos nos recuerdan la época
mozárabe, solamente en un espacio de unos 130 km2, densidad que en este as-
pecto no puede presentar ninguna región peninsular” (Rivas Fernández 1971,
p. 109). Todo esto sin duda nos está indicando un intenso proceso de edifica-
ción de iglesias en el siglo X que compensaría y nivelaría, al menos en parte,
el anterior estancamiento en el plano de la organización territorial político-re-
ligiosa en estas zonas más meridionales de Galicia.

Pág. 440 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


3. La implantación de la iglesia a escala local
Vamos a centrarnos ahora más concretamente en la implantación ecle-
siástica a escala local, es decir, al nivel de la vida de las propias comunidades.
Para ello, teniendo en cuenta que la iglesia en sus inicios, como ya hemos
dicho, se adapta a estructuras preexistentes, creemos que debemos empezar re-
montándonos a la geografía religiosa del período galaicorromano.
Como señalan diversos autores, apenas hay datos en Galicia de edifica-
ciones específicamente religiosas durante la época romana, lo cual parece in-
dicar que, en general, la religiosidad no estaba ligada tanto a templos como a
una serie de espacios de culto, generalmente en plena naturaleza, especialmente
aquellos asociados a baños y culto a las aguas (Pérez Losada 2002, p. 335).
En cambio, sí hay numerosos datos de otro tipo de espacio sagrado de época
galaicorromana: las necrópolis. En efecto, a diferencia de la cultura castreña,
para la cual no se conocen apenas aspectos del mundo funerario, Roma trae
consigo una nueva concepción de la muerte bajo la cual empiezan a aparecer
a partir de los siglos I-II múltiples manifestaciones funerarias antes inexisten-
tes. A medida que estos nuevos usos funerarios se van asentando en la sociedad
indígena, ya a partir del siglo III y como una parte más del proceso de roma-
nización, se irán definiendo para cada comunidad o grupo de comunidades
unas áreas de enterramiento específicas y estables; necrópolis que presentan
en muchos casos una gran continuidad durante los siglos siguientes e incluso
hasta la actualidad. Estas áreas de enterramiento se encontrarían en una zona
exterior a los lugares de habitación, como es usual en el mundo romano. Po-
demos pensar que sería un espacio comunitario que progresivamente tomaría
un carácter sacro para los habitantes del entorno.
En la Alta Edad Media las necrópolis seguirían situándose en lugares pró-
ximos pero aislados del espacio de asentamiento, a veces en una posición cen-
tral respecto a diversos asentamientos del entorno, acogiendo a difuntos de
varios poblados. Será precisamente en estos lugares con una connotación sa-
grada en el ámbito local donde podemos encuadrar la creación de las primeras
iglesias en el mundo rural por parte de aristocracias y élites locales.
En efecto, en Galicia no tenemos constancia de edificaciones religiosas
en el seno de grandes villae latifundistas, como en otras áreas de la Península
Ibérica. En cambio, a la luz de los datos disponibles actualmente, se puede

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 441


pensar que los espacios de enterramiento, y por tanto, los lugares con un ca-
rácter sacro, y las primeras basílicas están muy ligados (Escalona Monge 1994,
p. 577-583; Armada Pita 2003, p. 388). Obviamente, no se trata de un axioma
de absoluto cumplimiento sino que existen casos donde la nueva iglesia no
tiene relación con espacios de enterramiento sino con otro tipo de lugares de
función pública (quizá antiguos fora o lugares de reunión) o simplemente se
crea en un lugar sin ninguna connotación o función precedente. Sin embargo,
según los datos disponibles, como veremos a continuación, pensamos que exis-
tió una importante asociación entre iglesias y necrópolis.
Efectivamente, los ejemplos de esta asociación son numerosos en toda
Galicia. En el caso de Terra de Celanova, la mayor parte de los restos materiales
de enterramientos de época tardorromana y altomedieval que se conocen en
esta comarca están asociados a iglesias que continúan en uso. Así, como señala
J. López Quiroga (2004, p. 547), bajo los muros de la actual iglesia románica
de Santa Eufemia de Milmanda (Celanova) habría varias tumbas excavadas en
roca que podrían datarse en este período. También en la capilla de la Ascensión,
en la parroquia de Gontán (Verea), hay un sepulcro antropomorfo excavado en
un bloque de granito trapezoidal. Por otro lado, en el entorno inmediato de la
iglesia parroquial de San Pedro de A Mezquita (A Merca) se conoce la exis-
tencia de una lauda sepulcral con motivo de estola, varias tumbas excavadas
en la roca y otro sarcófafo no definido (López Quiroga 2004, p. 564). Igual-
mente en el lugar de Outeiro do Castro, en la parroquia de Corvillón (A Merca),
hay una necrópolis formada por sepulcros antropomorfos excavados en la roca
y por sepulcros rectangulares realizados con lajas de piedra hincadas en el
suelo, cubiertos por ladrillos o losetas de piedra, en el mismo lugar donde hasta
hace poco existía una capilla.
En algunos casos el carácter sagrado previo del lugar donde se emplazará
la iglesia se ve reflejado, además de en los enterramientos, en la presencia de
antiguos elementos de culto religioso como aras romanas. Este es el caso de la
iglesia parroquial de Santa Eulalia de Portela (Verea) o de Santa María de O
Condado (Padrenda), bajo cuyos altares se han encontrado aras de época ro-
mana (Bouza Brey 1948). Aunque es probable que en algunos casos estas aras
hayan sido movidas de su contexto original, se puede pensar que por lo menos
han estado asociadas al templo cristiano desde su inicio, como sucede por ejem-

Pág. 442 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


plo en el interesante caso de San Mamede de Urrós (Allariz), en las cercanías
de la comarca de Terra de Celanova. En esta iglesia parroquial existía un ara
votiva datable entre los siglos I-III d. C, en cuyo focus superior se custodiaba
un relicario de madera con una copia de un pergamino de la consagración de
la iglesia por el obispo Martiño de Orense en 1147 (Pérez Outeiriño 1979). La
asociación del focus y el relicario nos indica que seguramente cuando se fundó
la iglesia (que por lo menos se remonta al siglo XII si bien podría existir alguna
anterior) ya se cobijaba en ella el ara, probablemente con un cierto valor sacral
y en ella se guardaría el relicario como símbolo fundamental de la iglesia, ya
que todo ello estaba justamente debajo del altar, lugar principal y más sagrado
del templo. Por otro lado, también hay referencias, según los vecinos, al ha-
llazgo de “cajas de ladrillos” en el cementerio que corresponderían con ente-
rramientos romanos probablemente en relación con el ara, probando la
existencia de un lugar sagrado más antiguo. Un caso similar es el de la vecina
iglesia de San Miguel de Taboadela, en cuyo entorno también se han hallado
restos de enterramientos tardorromanos y un ara dedicada a los lares viales.
De este modo, podemos decir que las primeras iglesias que van apare-
ciendo en Galicia se implantarían en el centro de varias comunidades, en lu-
gares comunes y aislados de las zonas de habitación, aunque bien comunicados
con ellas, que muchas veces tenían ya un carácter sagrado previo debido a su
función cementerial. La iglesia se constituye así progresivamente en un lugar
de encuentro y reunión de los habitantes de los cada vez más numerosos lugares
de habitación del entorno, contribuyendo a forjar en ellos un sentimiento de
comunidad más estrecho.

4. Las iglesias rurales altomedievales y su papel en la articulación te-


rritorial
Otra importante cuestión que podemos plantearnos con respecto a las igle-
sias altomedievales gallegas es la de su papel en la articulación territorial, y
por ende, en la organización y diferenciación de las comunidades campesinas.
Se trata de un tema de gran interés para el cual, sin embargo, apenas poseemos
datos directos que nos permitan abordarlo con una cierta precisión. Por ello
únicamente trataremos de nuevo de presentar aquí algunas ideas de trabajo a
partir de diversos indicios indirectos.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 443


En ese sentido consideramos que puede ser útil, siempre que se tome con
precaución, el análisis de la morfología actual del espacio rural tradicional ga-
llego, y concretamente la relación entre las iglesias altomedievales que han per-
vivido hasta nuestros días (que son la mayoría de las constatadas) y las aldeas
de su entorno. Partimos para ello de la hipótesis básica del mantenimiento, en lí-
neas generales, de la estructura de organización espacial rural gallega entre, por
lo menos, la Plena Edad Media y la actualidad; idea que parece compartida por
numerosos autores (Pallares Méndez; Portela Silva 1998; Bouhier 2001, p. 1219-
1224). No se trata en absoluto de una idea de total fosilización, sino más bien
del mantenimiento de una proporción y equilibro general entre las distintas piezas
que componen la estructura del poblamiento rural gallego, a pesar de su creci-
miento o de posibles cambios individuales, desde al menos la Plena Edad Media.
Partiendo de esta hipótesis, observamos que actualmente la gran mayoría
(en torno a un 80%) de las iglesias que parecen nacer durante la Alta Edad Media
en Terra de Celanova se sitúan en una posición aislada o separada de los lugares
de habitación. Aunque la distinción entre aislamiento o integración en el centro
aldeano no es siempre sencilla ni exacta, y por otro lado, es probable que el cre-
cimiento y urbanización recientes -a pesar de que se han intentado tener en cuenta
en este análisis- hayan hecho irreconocible la antigua relación entre la iglesia y
los lugares de habitación, en general, basándonos en dicha premisa del manteni-
miento mayoritario de la estructura aldeana tradicional gallega, consideramos
que esta tendencia al aislamiento de la iglesia altomedieval con respecto a los
lugares de habitación es muy evidente y significativa.
En ocasiones se trata de iglesias ubicadas a las afueras de una entidad de
poblamiento, aunque manteniendo una cierta relación con ella, tanto espacial,
como morfológica, como a través de caminos que los unen directamente. Este
sería el caso, por ejemplo, de las iglesias de Cexo, Rabal, Mourillós o Vilanova
dos Infantes. En cambio, en otros casos los templos llegan a estar totalmente
aislados y alejados de cualquier núcleo de habitación como sucede con las igle-
sias de Ourille, San Martiño de Berredo o Albos.
¿A qué se debe este aislamiento de la iglesia? Por un lado, lógicamente, se
trata de una consecuencia de su relación con lugares que previamente poseían un
carácter sagrado y comunitario como eran principalmente áreas cementeriales,
que sobre todo en época antigua y altomedieval se emplazaban en lugares sepa-

Pág. 444 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


rados del poblamiento. Pero por otro lado podemos pensar que el carácter aislado
de la iglesia responde a la propia estructura polinuclear del poblamiento gallego
de todo este período. En efecto, como hemos analizado en otros trabajos (Sánchez
Pardo 2008, p. 450-452), la tendencia a la multiplicación de los núcleos y lugares
de habitación a lo largo de un espacio común parece una de las características de-
finitorias del poblamiento gallego altomedieval, como adaptación a unas condi-
ciones geográficas que propician esta dispersión para un mejor aprovechamiento
de las capacidades productivas del suelo y de los recursos del entorno. Como es
sabido, en Galicia no abundan los núcleos de habitación claramente compactos y
jerárquicamente predominantes en el entorno, en los que se reúnen la totalidad o
mayoría de los habitantes de la zona, como sucede en otras partes de la Península
Ibérica. Por otro lado, como ya hemos dicho, el papel de la iglesia se va definiendo
cada vez más claramente en este período como centro religioso de la comunidad
de manera que su situación debe ser la más adecuada para que el máximo número
de fieles del entorno puedan acudir a ella de manera fácil y rápida. Por ello es ló-
gico que mientras que en zonas de poblamiento concentrado, la iglesia ocupe una
posición integrada e incluso central en medio del vecindario, en áreas como la
que estamos analizando, en las que el poblamiento se distribuye a lo largo de pe-
queños núcleos cercanos, la posición idónea de la iglesia para acoger y reunir a
los fieles sea precisamente su ubicación aislada en un lugar relativamente central.
Obviamente hay que señalar que existen diferencias, también dentro de
Terra de Celanova, entre zonas más montañosas o de geografía más áspera, donde
la concentración del asentamiento e integración de la iglesia en él es mayor, y
zonas de valle de rasgos más suaves donde la dispersión del poblamiento provoca
dicha separación y bús-
queda de un lugar central
de la iglesia. En todo
caso, debemos subrayar
que no existen asociacio-
nes automáticas, sino que
se trata únicamente de
tendencias.
Figura 3: Ejemplos del papel articulador de las iglesias en Terra de Por tanto, podemos
Celanova decir que las diferentes

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 445


iglesias que nacen a lo largo de este período asumirán ya desde sus primeros
momentos un papel central en la organización espacial de las comunidades ru-
rales. A la vez que las iglesias rurales desempeñan sus funciones más especí-
ficas como centros religiosos de dichas comunidades, también ejercen, de
forma más indirecta, un papel central en la articulación territorial, convirtién-
dose en elementos de unión y referencia, en polos que cohesionan un espacio
de poblamiento cada vez más disperso.
En estrecha relación con este papel articulador, la iglesia altomedieval va
definiendo progresivamente un territorio de actuación e influencia propio.
Hasta el siglo IX, como han puesto de manifiesto diversos autores (López Al-
sina 1999, p. 264-270; Ripoll; Velázquez 1999) no existiría aun una territoria-
lidad definida de cada iglesia, sino más bien una zona de actuación de cada
una, con un carácter más o menos difuso que con frecuencia estaba más ligado
a comunidades concretas que a un territorio. Todas estas iglesias con sus terri-
torios en proceso de definición se agruparían en territorios eclesiásticos más
amplios, las antiguas parrochiae -o “preparroquias”, en términos de J. López
Quiroga (2005)-. Cada uno de estos territorios tendría una iglesia principal,
con un “abbas” al frente, y diversas iglesias “secundarias”. Esta iglesia princi-
pal se definía y diferenciaba ante todo por poseer baptisterio (Ripoll; Velázquez
1999, p. 108-113).
Sin embargo, a partir del siglo IX, a medida que se va haciendo más densa
la red eclesiástica, se van delimitando y consolidando los territorios de cada
iglesia y naciendo por tanto los términos parroquiales. Así, como indica F.
López Alsina (1988, p. 167-171), a principios del X cada una de estas iglesias
rurales tendría ya un territorio estable que comprendía un número variable de
villae (“villa concurrente ad ecclesia…”). Cada una de las iglesias rurales daba
lugar a una “feligresía” (“filii ecclesiae”), una comunidad que concurría en la
misma iglesia. En este sentido, encontramos ya en la documentación del siglo
X la definición de los territorios de algunas iglesias, algunos de los cuales se-
rían ya muy similares a los actuales límites parroquiales.

5. conclusiones
Como señalábamos al inicio, la cuestión del origen y características de
las primeras iglesias rurales precisa aun de muchos estudios de base, especial-

Pág. 446 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


mente de tipo arqueológico, que permitan avanzar en la comprensión e inter-
pretación de un elemento histórico y también patrimonial fundamental en Ga-
licia. En todo caso, a partir del análisis conjunto de una serie de distintos
indicios disponibles actualmente, hemos podido esbozar algunas propuestas
sobre la evolución y rasgos de estas primeras edificaciones cristianas en el
mundo rural gallego.
En general debemos subrayar que el proceso de creación de iglesias ru-
rales no supuso ninguna ruptura ni corte con respecto a la organización espacial
precedente sino que parece haberse adaptado, especialmente en sus primeros
momentos, a los polos y ejes de articulación de época galaicorromana, como
son las vías de comunicación y lugares con una connotación sagrada para las
comunidades como las necrópolis. Se trató de un proceso lento y progresivo
iniciado quizá a finales del siglo V y que se va acelerando a medida que avan-
zamos en el tiempo, siendo especialmente intenso entre los siglos IX y X. A la
vez que aumenta su número, las iglesias rurales adquieren un mayor papel en
la definición, cohesión y articulación de las comunidades campesinas hasta
configurarse como el elemento central en la organización espacial rural gallega
que ha mantenido su vigencia hasta nuestros días.

Bibliografía
ANDRADE CERNADAS, J. M. (1995). O Tombo de Celanova: estudio introductorio, edición e índices
(ss. iX-Xii). Santiago de Compostela.
ARMADA PITA, X. L. (2003). “El culto a Santa Eulalia y la cristianización de gallaecia: algunos testimonios ar-
queológicos”. habis. N. 34. Sevilla. pp. 365-388.
BALIÑAS PÉREZ, C. (1992). do mito á realidade: a definición social e territorial de galicia na Alta idade Media
(seculos viii e iX). Santiago de Compostela.
BOUHIER, A. (2001). galicia. ensaio xeográfico de análisis e interpretación de un vello complexo agrario. San-
tiago de Compostela.
BOUZA BREY, F. (1948). “El ara romana de Santa María del Condado (Orense) y otra del Museo de Lugo”.
Boletín de la Comisión provincial de Monumentos históricos y Artísticos de Lugo. T. III. Lugo. pp. 113-115.
DAVID, P. (1947). Études historiques sur la galice et le Portugal du vie au Xiie siècle. Coimbra-Paris.
DÍAZ MARTÍNEZ, P. C. (1994). “El Parrochiale suevum: organización eclesiástica, poder político y poblamiento
en la Gallaecia tardoantigua”. homenaje a José María Blázquez. Madrid. pp. 35-47.
DÍAZ Y DÍAZ, M. C.; PARDO GóMEZ, M. V.; VILARIÑO PINTOS, D. (1990). Ordoño de Celanova: vida y
milagros de San Rosendo. A Coruña.
ESCALONA MONGE, J. P. (1994). “Problemas metodológicos en el estudio de los centros de culto como elemento
estructural del poblamiento”. Burgos en la Plena edad Media. iii Jornadas burgalesas de historia. Burgos. pp.
573-598.
GARCÍA ÁLVAREZ, M.R. (1955). “Notas al episcopologio auriense del siglo IX”. Boletín de la Comisión pro-
vincial de Monumentos históricos y Artísticos de Orense. Tomo XVIII. pp. 117-144. Orense. pp. 117-144.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 447


GARCÍA RODRÍGUEZ, C. (1966). el culto de los santos en la españa romana y visigoda. Madrid.
LóPEZ ALSINA, F. (1988). La ciudad de Santiago en la Alta edad Media. Santiago.
LóPEZ ALSINA, F. (1999). “Parroquias y diócesis: el obispado de Santiago de Compostela”. del Cantábrico al
duero. Trece estudios sobre organización social del espacio en los siglos viii al Xiii. Santander. pp. 263-312.
LóPEZ QUIROGA, J. (2004). el final de la antigüedad en la gallaecia: la transformación de las estructuras de
poblamiento entre Miño y duero (siglos. v al X). A Coruña.
LóPEZ QUIROGA, J. (2005). “Los orígenes de la parroquia rural en el Occidente de hispania (siglos IV-IX)
(provincias de gallaecia y Lusitania)”. Aux origines de la paroisse rurale en gaule Méridionale (ive - iXe siècles).
Paris. pp. 193-228.
PALLARES MÉNDEZ, M. C; PORTELA SILVA, E. (1998). “La villa por dentro. Testimonios galaicos de los
siglos X y XI”. Studia historica. historia medieval. N. 16. Salamanca. pp. 13-43.
PÉREZ LOSADA, F. (2002). entre a cidade e a aldea. estudio arqueo-histórico dos “aglomerados secundarios”
romanos en galicia. A Coruña.
PÉREZ OUTEIRIÑO, B. (1979). “Ara procedente de San Mamede de Urros (Allariz)”. Boletín Auriense. IX.
Orense. pp. 295-300.
RIPOLL, G.; VELÁZQUEZ, I. (1999). “Orígen y desarrollo de las parrochiae en la Hispania de la Antigüedad
Tardía”. Alle origine della parrocchia rurale (iv-viii secolo). Atti della giornata tematica dei Seminari di Arche-
ologia Cristiana (ecole Françoise de Rome 19 Marzo 1998). Città del Vaticano. pp. 101-165.
RIVAS FERNÁNDEZ, J. C. (1971). “Algunas consideraciones sobre el prerrománico gallego y sus arcos de he-
rradura geminados”. Boletín Auriense. T. I. Orense. pp. 61-125.
RIVAS FERNÁNDEZ, J. C. (1976). “Un inédito e interesante vestigio de la iconografía visigótica en Galicia, pro-
cedente de la iglesia prerrománica de San Martiño de Pazo”. Boletín Auriense. T. VI. Orense. pp. 169-182.
SÁNCHEZ PARDO, J. C. (2008). Territorio y poblamiento en galicia entre la Antigüedad y la Plena edad Media.
Tesis doctoral. Santiago de Compostela.

1
Para una presentación y descripción detallada de este territorio y los datos de su evolución histórica entre los
siglos I y XIII vease Sánchez Pardo (2008).
2
Un claro ejemplo es la asociación entre la difusión del cristianismo y el trazado viario romano en Galicia (Armada
Pita 2003, p. 387-388; López Quiroga 2005, p. 204). Aun sin querer caer en asociaciones simples o superficiales,
no parece casualidad que en los principales nudos viarios de época galaicorromana se emplacen, tiempo después,
algunas de los centros eclesiásticos más importantes de la Galicia altomedieval. Podríamos incluso pensar que sea
precisamente el grado de conectividad y centralidad de la iglesia en esa red viaria el que decida su jerarquía e im-
portancia en la organización eclesiástica, lo que a su vez nos indica la pervivencia del uso e importancia de estas
vías en los siglos altomedievales. Los ejemplos podrían ser muchos: Santa Comba de Bande, el monasterio de Ce-
lanova (Sánchez Pardo 2008, p. 512-513), el monasterio de Sobrado, el monasterio de Samos, la propia iglesia de
Santiago de Compostela, y las primeras sedes episcopales gallegas, que se emplazarán en los principales aglome-
rados de época romana, que constituían los epicentros de la red viaria: Lugo, Tuy, Iria y Orense.
3
El caso más cercano a nuestro ámbito de estudio de una iglesia que podría datarse materialmente en época visigoda
es el de San Martiño de Pazó (Allariz), fuera ya de la comarca de Terra de Celanova, pero muy cerca de sus límites.
En esta iglesia y en la aldea de igual nombre fueron encontrados, según Rivas Fernández (1976), restos de un asen-
tamiento tardorromano (que él interpreta como un palatio) y de un anterior templo de época visigoda que en el
siglo X estaría en ruinas y sería totalmente reedificado en estilo mozárabe.
4
Las menciones documentales se refieren a una “Ecclesiola”, sin ofrecer más datos directos sobre su localización;
si bien, según el contexto de las diferentes referencias consideramos que podría tratarse de esta capilla en la parroquia
de Penosiños.

Pág. 448 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


FoRtiFicAciones de FRonteRA y PAisAjes
FoRtiFicAdos: veRín, MonteRRei y chAves1
BORdeR FORTiFiCATiOnS And FORTiFied LAndSCAPeS: veRín,
MOnTeRRei Y ChAveS

Rebeca Blanco-Rotea
lAPA-CSIC; rebeCA.blAnCo-roteA@IegPS.CSIC

Resumen: Durante el s. XVII se produce un fenómeno de fortificación a lo largo de la


frontera entre España y Portugal, mediante la construcción de una serie de arquitecturas que si-
guen los planteamientos de la fortificación abaluartada, con motivo de la Guerra de la Restau-
ración Portuguesa (1640-1668). Se analizará este fenómeno en la zona localizada entre
Verín-Monterrei en Galicia y Chaves en Portugal. Este análisis, realizado desde los planteamien-
tos teórico-metodológicos de la arqueología de la arquitectura y la arqueología del paisaje, deriva
de los trabajos llevados a cabo inicialmente en un solar de la Villa de Verín, para posteriormente
ampliarse a la totalidad del casco urbano y el territorio que lo circunda. Como se verá, los pro-
cesos de transformación urbana que ha sufrido Verín están directamente relacionados con la for-
tificación de frontera a partir del año 1640.
Palabras-clave: Arqueología del Paisaje, Arqueología de la Arquitectura; Prospección
Arquitectónica; Fotointerpretación; Fortificación de Frontera; Paisaje Urbano; Arquitectura Aba-
luartada; Época Moderna; SE de Galicia; NE de Portugal; Guerra de la Restauración Portuguesa.

Abstract: during the 17th century a fortification phenomenon along the border between
Spain and Portugal takes place on the occasion of the Portuguese War of Restoration (1640-
1668), with the construction of a series of architectures that follow the lines of the bastioned
fortifications. This phenomenon is studied in the area located between verín-Monterrei in galicia
and Chaves in Portugal. The analysis, made from the theoretical-methodological approach of
the archaeology of the architecture and the archaeology of the landscape, starts in the works
carried out in a plot of land in villa de verín first, and then it spread to the built-up area and to
the land surrounding it. As we will see, urban changing processes in the city of verín are directly
related to the fortification of border after 1640.
Keywords: Landscapes Archaeology, Archaeology of Architecture; Architectural
Prospecting; Photointerpretation; Fortification of Border; urban Landscape; Fortified Archi-
tecture with bastioned fortifications; Modern Age; Se of galicia; ne of Portugal; Portuguese
War of Restoration.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 449


introducción
La villa de Verín se localiza en el SE de la provincia de Ourense. Pertenece
a la comarca de Monterrei. El municipio está atravesado por el río Támega, que
nace en la Serra de San Mamede. De su emplazamiento caben destacar dos as-
pectos que influirán en su historia durante el periodo que nos interesa para el
presente trabajo: su localización a los pies del Castillo de Monterrei y su proxi-
midad a la frontera con Portugal, concretamente de Chaves dista unos 25 km.
Con motivo de la elaboración de un proyecto de intervención arqueológica2
en un solar de esta villa se inició, una vez finalizado éste, una investigación sobre
la influencia que la Guerra de la Restauración había tenido tanto en Verín como
en su entorno inmediato, haciendo especial hincapié en la evolución arquitectó-
nica de los elementos que habían sido objeto de este fenómeno, en la evolución
urbanística de la villa o en la articulación de la arquitectura de defensa en la parte
gallega de la frontera y su relación con su homóloga portuguesa.
El estudio de esta zona se realizó desde los planteamientos teórico-meto-
dológicos de la arqueología de la arquitectura y la arqueología del paisaje, com-
binando varias técnicas de registro y análisis que han permitido obtener un
conocimiento exhaustivo del fenómeno fronterizo, así como recuperar la evo-
lución del paisaje urbano en la villa de Verín. Además, se ha puesto en relación
con Monterrei, al que está estrechamente vinculado desde época medieval y,
posiblemente con anterioridad a ésta, y con la villa de Chaves, principales ciu-
dades abaluartadas en este momento con motivo de la defensa de la frontera.

Antecedentes
La intervención arqueológica se orientaba al estudio de los posibles restos
de un baluarte localizado en un solar de la Villa de Verín, en el que se había
planteado la demolición de las estructuras que en él se conservaban. Los obje-
tivos de esta intervención eran documentar y registrar estas estructuras arqui-
tectónicas; analizar su técnica constructiva, secuencia constructiva y
funcionalidad; datar las estructuras; e intentar delimitar el conjunto fortificado
en su entorno inmediato.
Con anterioridad a este trabajo Taboada Chivite, en los años 40 del s. XX,
había realizado un estudio en el que apuntaba que estos muros correspondían
a un baluarte que formaría parte de la fortificación de la villa. Además, Taboada

Pág. 450 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


(1949) propone el trazado de la muralla que circunscribiría lo que actualmente
se considera el casco histórico de la villa, aunque ampliándolo por el E, el NW
y el lado N, con un trazado prácticamente rectangular cuyo lado más largo se
orientaría en sentido E-W.
Únicamente el estudio de Taboada, algunas referencias puntuales, la to-
ponimia de alguna calle o la memoria oral y el entusiasmo de algunos estudio-
sos y vecinos comprometidos3, habían permitido que el papel que Verín había
jugado durante la Guerra de la Restauración Portuguesa no cayese en el total
olvido. La intención última de nuestra investigación era intentar reconstruir
ese pasado atendiendo, fundamentalmente, a la arquitectura que de esta época
se podía conservar y a cómo había influido en el trazado urbano de Verín y
cómo se articulaba con su entorno.

el punto de partida. el solar nº 14 de la calle elle: de torreón a Bo-


dega
Como veremos más adelante, los restos conservados en el solar constitu-
yen el elemento de mayor entidad que se conserva de la fortificación de Verín
en época moderna. La intervención llevada a cabo en ellos, fundamentalmente
los sondeos arqueológicos y el análisis estratigráfico de alzados, han permitido
recuperar la evolución de este solar, que empezaría con los restos de un torreón
vinculado a unas posibles defensas anteriores y finalizaría con la construcción
de varias edificaciones dedicadas a almacenamiento y procesado de vino.

un torreón de época bajome-


dieval
De la fase i se conservan los
restos de un torreón. La estancia en
la que se localizan presenta una
planta cuadrangular, la única regular
de toda la edificación. Actualmente
está dedicada a bodega, pero reco-
gemos la mención que se hace a un
torreón en un documento de 1853: “ Figura 1. Reconstrucción de las fases identificadas en
[...] y desaze si el enrejado de la bo- el interior del solar

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 451


dega que cae a la huerta de mi defendida objeto de la cuestion fue denunciado;
y que aquella fue construida de cimiento ha un año poco mas o menos sin que
antes hubiere alli edificio alguno, y si un torreon. [...]” , según el cual la bodega
habría sido construida en los años 50 del siglo XIX, donde antes existía un to-
rreón.
No hemos localizado ninguna información sobre la existencia de un sis-
tema defensivo en Verín en época bajomedieval. Sin embargo, algunos datos
nos han llevado a plantear la hipótesis de que en esta época podría existir algún
tipo de sistema defensivo o bien algún punto de control representado en la fi-
gura de los torreones.
La torre como elemento defensivo es anterior al sistema de fortificación
abaluartada, es decir, mientras la torre es un elemento fundamental en la forti-
ficación neurobalística, el baluarte lo es en la pirobalística. Por lo tanto, se cree
que existen algunas evidencias para plantear la hipótesis de que Verín contaba
con algún tipo de defensa anterior a su abaluartamiento realizado a mediados
del siglo XVII.

el Baluarte de elle
Antes de proceder a definir los elementos que se conservan de este pe-
riodo en el solar analizado, creemos que es importante hacer una caracteriza-
ción del tipo de fortificación al que corresponde el Baluarte de elle, a fin de
comprender, por una lado, la transformación que debió suponer para la villa
esta construcción y, por otro, la relevancia de este elemento dentro del conjunto
de la misma.
Como consecuencia de los progresos en el uso de la pólvora y las armas
mecánicas, el tipo de defensa característica de época medieval (que se compone
fundamentalmente por torres y murallas) es superada por la potencia ofensiva
y deben mejorarse los recintos amurallados anteriores, para lo cual se adosan
al recinto torres cuadradas y posteriormente circulares y se completa la defensa
exterior con un foso que dificulta la aproximación del enemigo al recinto. El
siguiente avance será la sustitución de las torres circulares, ya que permiten al
enemigo ocultarse, por un nuevo elemento, el bastión, en forma de flecha que
elimina los puntos muertos de este tipo de torres.
Ya en época moderna, como consecuencia de la introducción de la pólvora

Pág. 452 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


y la artillería, es necesario buscar nuevos modelos en la arquitectura militar
que resistan el impacto de la nueva artillería, que permitan una rápida recons-
trucción y que se adapten al terreno (Sanz 2002: 53). Esta nueva tipología de
fortificación corresponde a un recinto poligonal y al uso del bastión, que in-
tentan neutralizar los efectos producidos por las balas metálicas.
Las soluciones adoptadas son la disminución de la altura de las murallas,
la construcción de terraplenes por el interior sobre los que situar la artillería,
que es ahora más ligera, y la sustitución de los matacanes de la parte superior
de las murallas por parapetos macizos más resistentes. Estas transformaciones
obligan a reforzar las murallas desde la base, construyéndose por el exterior
en talud y avanzando los bastiones hacia el exterior, de manera que se impide
la aproximación del enemigo. Los bastiones, finalmente, acaban evolucionando
en una nueva forma denominada baluarte, que dará nombre al tipo de fortifi-
cación que se generaliza en este periodo, la fortificación abaluartada. En ella
juegan también un papel muy importante las defensas exteriores, antesala de
la plaza fuerte y de cuyo diseño depende, en gran medida, que el enemigo no
penetre en el interior de la fortaleza. A lo largo de los siglos XVII y XVIII esta
tipología será objeto de diferentes cambios, buscando nuevos modelos cada
vez más perfeccionados que se encaminan a la mejor defensa de las plazas.
Para Porras Gil (1995: 50) el aspecto más importante para el diseño de
una fortificación era su planta, que debía adaptarse de la mejor manera posible
al lugar en el que se emplazase. Estas plantas se basaban con frecuencia en el
uso de polígonos irregulares, como sucede en Verín, motivado por la propia
topografía del terreno o incluso la existencia de defensas de épocas anteriores;
sin embargo, la tendencia era, por lo general, intentar regularizar estos polígo-
nos.
Independientemente del tipo de figura que se emplease, todas ellas cons-
taban de unas partes esenciales. Nos detendremos únicamente en una de estas
partes, por ser la que caracteriza este tipo de fortificación: el baluarte. Se trata
de un elemento saliente sobre la muralla que tiene una forma en punta de flecha
y que se dispone en los ángulos del recinto. De su magnitud y construcción
depende buena parte de la defensa del recinto.
El baluarte representa un avance con respecto a los anteriores elementos
como el cubo o el bastión. Desarrolla “una forma avanzada y dinámica en fi-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 453


gura triangular, lo que permitía el empleo de sus dos caras exteriores para la
defensa de las cortinas y el apoyo en su enfrentado para lanzar fuego cruzado.
Su propia defensa partía de los flancos y orejones.” (Porras Gil 1995: 53). Se
compone de las siguientes partes:
- cara: lados más avanzados que desembocan en un ángulo capital (parte
más avanzada del baluarte).
- Flanco: lados menores del baluarte que unen las caras con las cortinas.
- gola: es la línea imaginaria que une los dos puntos donde confluyen los
baluartes con las cortinas.
En el caso de Verín, en torno al año 1646 se lleva a cabo la construcción
de la fortificación de la villa, a la cual corresponde el Baluarte de elle, que re-
presenta la fase ii dentro de la evolución constructiva del solar. El sistema
constructivo del baluarte documentado en aquellas zonas que se han identifi-
cado como originales se compone de las siguientes partes:
Durante la excavación se registra una cimentación constituida por tres
elementos: fosa de cimentación, depósito de piedras que colmatan la fosa y
doble banqueta que sobresale sobre la cortina, con un perfil en talud, formando
un sistema combinado de banquetas y rellenos que afianzan el terreno húmedo
sobre el que se asienta la muralla.

Las caras y flancos se componen al


exterior de un muro realizado en mampos-
tería de gran tamaño con tendencia a la re-
gularidad con un perfil en talud. Las
esquinas son en ángulo obtuso y están rea-
lizadas con grandes bloques de granito, dis-
puestos a soga y tizón, con la arista
biselada. Al interior presenta un aparejo
más desconcertado en el que algunos ma-
teriales sobresalen del muro. Hacia el án-
Figura 2. Fotografías del exterior e interior
gulo capital el muro se abre dando lugar a del baluarte; reconstrucción del Baluarte de
una planta curvada. elle en el que se han indicado las partes que
lo constituyen; y croquis con la sección de los
El adarve está formado por un para- dos sondeos realizados en la cara SE, que per-
peto que sobresale unos 20 cm de la cortina mite ver el sistema constructivo documentado

Pág. 454 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


y presenta un perfil recto. Está realizado en mampostería, con bloques funda-
mentalmente de granito, dispuestos formando hiladas horizontales. Y un paseo
de ronda realizado con bloques de granito dispuestos horizontalmente a modo
de losas.
Finalmente, estaba colmatado al interior por una serie de rellenos com-
puestos de tierra arenosa y cantos rodados que se corresponden con el terra-
plén. La irregularidad en la factura del interior de las caras del baluarte
posiblemente estaría pensada para conseguir un mejor agarre de estos relle-
nos.
La documentación y análisis de todos estos elementos, y su comparación
con este tipo de figura descrita más arriba, nos llevaron en su momento a rati-
ficar la propuesta de Taboada de que efectivamente se trataba de un baluarte.
El problema siguiente era relacionar esta figura con la fortificación que en
época moderna debió defender Verín. Hasta el momento hemos localizado úni-
camente la representación de la villa fortificada en el Mapa de las Minas de
estaño del valle de Monte Rey del año 1786. En este mapa se dibuja esquemá-
ticamente la fortificación abaluartada de Verín. Sin embargo, gracias a esta re-
presentación y a las descripciones posteriores que se conservan, se sabe que la
fortificación discurría por el W, paralela a la ribera del río. En ese caso, la unión
entre el flanco W y la cortina existente hasta el siguiente baluarte no se efec-
tuaría en ángulo, sino siguiendo una línea recta o casi recta. Como ya hemos
indicado, uno de los aspectos principales de este tipo de fortificaciones era la
necesidad de adaptar su planta a la topografía de los lugares en los que se cons-
truían y a la existencia de otras defensas anteriores. En este caso ambos factores
habrían entrado en juego.
Hacia la parte E del baluarte la fortificación se abría hacia el SE. En esta
zona se ha localizado mediante fotointerpretación la presencia de un baluarte
de mayores dimensiones, por lo que el flanco E del Baluarte de elle debía estar
unido con una cortina que giraba hacia el SE, hasta encontrase con este otro
baluarte.

La primera bodega
La fase iii (1851) se corresponde con la construcción en el interior del
baluarte de una bodega con antebodega hacia el N en el año 1851 siendo pro-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 455


pietario Don Ramón Santa Mariña. Para la construcción de la bodega se reuti-
lizaron parte de los alzados del torreón de la fase I y en la fachada N se emple-
aron, a modo de respiraderos, las saeteras que antes tenían un fin defensivo.

Reformas en el baluarte
En la fase iv, fechada en torno al año 1885, se reforma el flanco W y la
cortina que se unía a éste.

La casa con patín y la segunda bodega


Durante la fase v (1892-1914) las construcciones del solar van adoptando
la planta que actualmente se conserva. En esta fecha el propietario de la finca
es don Gabriel Bazal Romero. Teniendo en cuenta la relación de los bienes que
poseía en el año 1892, en esta fecha únicamente existía en el solar la bodega
con antebodega, mientras que en el año 1914 se le concede el permiso de cons-
trucción de la Casa de los Bazales (fase VI). Se le concede también un permiso
en el año 1901 para la reconstrucción del muro de cierre de la finca por el lado
del río. Es decir, entre 1892 y 1914 hemos documentado, gracias a la lectura
estratigráfica de alzados, toda una serie de reformas y ampliaciones que con-
sistieron en: la construcción de un segundo piso sobre la bodega con antebo-
dega con un patín abierto que corta y se adosa al terraplén que rellena el
baluarte; la reforma de la cortina W inmediata al Baluarte de elle para la aper-
tura de una puerta que comunica el solar con la ribera del río Támega; y, final-
mente, la ampliación de la bodega hacia el W con un gran espacio articulado
en dos plantas, para cuya construcción se vacía parte del terraplén que se ado-
saba al flanco W del baluarte.

La casa de los Bazales


Esta casa se construye en la fase vi (1914-1919), momento a partir del
cual se cierra el solar por el E. El edificio cuenta con un doble uso: se destinan
a lagares las estancias de la planta baja y a vivienda la planta alta del edificio.

Las últimas ampliaciones de la bodega


Finalmente en la fase vii (década de los años 60 del siglo XX) se llevan
a cabo algunas reformas y ampliaciones, sobre todo en la fachada E de la cons-

Pág. 456 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


trucción, orientadas a la explotación vitivinícola, en las que se han empleado
los mismos materiales y técnica constructiva. Cabe destacar el cierre del patín
incorporando este espacio a la bodega y la construcción de una estancia desti-
nada a alambique en la cual se abre una lareira que corta el flanco E del ba-
luarte.

el paisaje urbano de la villa de verín en época moderna


Aunque el proyecto arqueológico se ceñía inicialmente al solar de la calle
Elle, creíamos que era importante entender qué papel había jugado éste en la
fortificación general de la villa. Sin embargo, la configuración urbana actual
de Verín no dejaba entrever la preexistencia de una fortificación. Tan sólo el
baluarte, los nombres de algunas calles o la memoria de algunos vecinos que
todavía recordaban topónimos como el de las Puertas de Madrid, hacían refe-
rencia a este elemento. Por este motivo decidimos extender el estudio a la to-
talidad del casco histórico, combinando varias metodologías como la
prospección arquitectónica, la fotointerpretación de fotografías aéreas4 y de
satélite y la revisión de la toponimia del callejero actual o proveniente de fuen-
tes históricas u orales.
Los resultados de estos trabajos fueron comparados con la representación
de la fortificación de Verín recogida en el Mapa de las Minas de estaño de 1786,
que, aunque no reproducía con precisión la planimetría de la villa, sí permite ob-
servar la configuración urbanística de Verín, enmarcada dentro del trazado de una
muralla abaluartada, así como las principales vías de comunicación que partían
de la villa y la conexión entre ésta y el Barrio de San Lázaro. Todos estos elemen-
tos fueron digitalizados y superpuestos sobre una fotografía satélite de Verín.

La prospección arquitectónica del


casco urbano proporcionó escasas evi-
dencias materiales del trazado de la for-
tificación, correspondiéndose, por otro
lado, a dos periodos cronológicos distin-
tos. La primera estructura era un muro
realizado en un aparejo de sillería irre- Figura 3. Detalle del Mapa de las Minas de Es-
taño del Valle de Monte Rey. 1786, AGS (Archivo
gular de granito en el que se conserva General de Simancas)

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 457


una saetera, abocinada al interior, situado muy próximo al solar analizado an-
teriormente, en el que se habían identificados los restos de un torreón. Ambas
se han puesto en relación por su proximidad y la tipología de sus saeteras y se
han identificado como torreones que podrían funcionar de forma conjunta pro-
tegiendo el paso sobre el río Támega.
Por otra parte, en la calle Mariano Carrero, próxima a las Puertas de Ma-
drid, se localizó un muro realizado en un aparejo de mampostería con un perfil
en talud que fue reutilizado en la construcción de una casa. Este muro sigue el
trazado de la muralla de época moderna, con la que se ha puesto en relación
tanto por su perfil como por su localización.
Finalmente, se han localizado otros dos elementos reutilizados en sendas
construcciones de la calle Muralla, que siguen el trazado de la muralla moderna
y han sido reutilizados en construcciones contemporáneas. En este caso, su
vinculación con la fortificación es más dudosa.
En cuanto a los resultados de la fotointerpretación, se pueden destacar
varios elementos representativos de la existencia de la fortificación abaluartada
que ha condicionado, en cierta medida, las características urbanas actuales de
Verín.
La muralla abaluartada de época moderna, según se desprende de estos
trabajos, estaba circunscribiendo un espacio añadido a la villa hacia el S del
casco antiguo. En los terrenos de cultivo de esta zona S se ha identificado una
forma que podría corresponder con un baluarte. Comparando esta forma con
el Mapa de las Minas de estaño se observa cómo éste se sitúa siguiendo el tra-
zado circular abaluartado de la cerca allí representada. De tal manera, este ba-
luarte estaría en conexión con el de Elle y quizá con otros de los que no hay
restos materiales pero sí vestigios en el trazado urbano. La delimitación de ca-
minos parece estar contorneando el espacio que pudo haber estado ocupado
por los baluartes.
En la zona N de la villa también se conserva una configuración que podría
estar manteniendo la traza de diferentes cercas o murallas que también habrían
ido ampliando el espacio urbano anterior. En las imágenes de 1957 se observan
los restos de la cerca como delimitación de las parcelas, cierres éstos de mayor
envergadura en el recorrido lineal que el resto de los muros de cierre de las
propiedades en el entorno de la Calle Foso. Por otra parte, la línea trazada hace

Pág. 458 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


ligeros quiebros en aquellos puntos desde los que parten los caminos, hecho
que podría estar relacionado con la existencia de algunas estructuras para la
protección de las entradas. Podría ser ésta entonces la traza de la muralla mo-
derna, posiblemente correspondiente a las obras exteriores que circundarían la
Plaza Fuerte, cuyo trazado en esta época estaría reutilizando y ampliando el
espacio urbano medieval, y que fue repuesta, reparada y reutilizada para el cie-
rre de las propiedades hasta la segunda mitad del siglo XX.
A su vez, esa muralla pudo estar reaprovechando, en el frente W, el vol-
cado hacia el Río Támega, el trazado de otra anterior, el cual abarcaría un es-
pacio menor intramurallas y podría corresponderse con la planta de un primer
asentamiento delimitado o cercado. En el Catastro de ensenada la Alameda
queda recogida dentro de la segunda cerca como “Alameda de Adentro”5, to-
pónimo que hace referencia a la existencia de un elemento delimitador.

Resulta difícil contrastar los resultados obtenidos de la fotointerpretación,


tanto por los cambios físicos que desde 1957 hasta la actualidad ha sufrido
Verín como por la imposibilidad de acceder a algunas propiedades privadas.

Figura 4. Fotografías aéreas de Verín con la localización de la toponimia y estructuras documentadas y re-
construcción hipotética del entramado urbano medieval y moderno y la delimitación de la fortificación mo-
derna

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 459


Lo mismo sucede con aquellas informaciones orales o toponímicas que hacen
referencia a diferentes estructuras relacionadas con la muralla y que no ha sido
posible identificar en las imágenes fotográficas. Es el caso de la localización
de las posibles puertas que desde la muralla darían acceso a los terrenos del
Convento de la Merced o de los topónimos relacionados con puertas, portillos
o accesos, recogidos en el Catastro de Ensenada. Por ello, creemos que debe-
mos ser bastante cautelosos a la hora de establecer la delimitación de la forti-
ficación moderna y plantear únicamente, por el momento, una reconstrucción
hipotética de su trazado (ver figura 3) que habrá que verificar a través de otro
tipo de actuaciones arqueológicas.

una vía de tránsito fortificada. entre verín-Monterrei y chaves


Hasta aquí hemos analizado la fortificación de Verín a un nivel micro (en
relación a algunas de las partes que la componen) y semi-micro (en cuanto a
la configuración de la fortificación). Nos queda ahora encuadrarla en un con-
texto territorial más amplio y en el papel que jugó en el desarrollo de la Guerra
de la Restauración Portuguesa en esta zona de la frontera.
Según se desprende de los informes realizados en los años 1644 y 16456
sobre las fortificaciones de Monterrei y Verín, en torno a mediados del s. XVII
Verín era una villa cuyo perímetro estaría atrincherado, pero no abaluartado,
que servía como apoyo logístico a Monterrei, ya que se sitúa en el acceso a la
fortaleza desde el valle del Támega, en una zona que suponía un cruce de ca-
minos entre Portugal, Castilla y otras zonas de Galicia.
En las menciones que hace Fernández Alonso7 en su relato sobre la Guerra
Hispano-Lusitana (id. 1893)8, Verín siempre se vincula a la fortificación de Mon-
terrei, uno de los principales bastiones fronterizos de la provincia. Son de interés
para el presente estudio las referencias constantes que hace Alonso a lo largo del
relato a la villa de Verín y la plaza de Monterrei, lugares frecuentemente amena-
zados por las tropas portuguesas que, acuarteladas en la plaza de Chaves, plane-
aban la toma de la llanuras de Verín para luego apoderarse de la fortaleza de
Monterrei. Para contribuir a la defensa de esta zona de la raya, desde los ejércitos
gallegos se mandaban constantemente tropas, lo que conllevaba la necesidad de
contar con almacenes y cuarteles así como tener que proporcionar armas y avi-
tuallamiento a los soldados. Suponía, también, el reclutamiento constante de pai-

Pág. 460 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


sanos y la continua recaudación de tributos (Fernández 1893: 72-73).
La dilatada duración de la guerra hacía necesaria una constante reparación
de las fortificaciones de ambas villas. En torno a 1644-16469 se decide reforzar
las defensas de Verín siguiendo los planteamientos de la fortificación abaluar-
tada. En la inscripción reutilizada en el Baluarte de elle está grabada la fecha
de 1646. Como ya comentamos, hasta estas fechas la fortificación de la villa
podría, por una parte, reutilizar elementos conservados de algún sistema ante-
rior y, por otra, componerse de trincheras, tal vez construidas a medida que
avanzaba la Guerra, como corresponde a una fortificación de campaña.
No obstante, aunque en torno al año 1646 pudiera haberse iniciado el aba-
luartamiento de Verín, no debió concluirse, ya que se han documentado refe-
rencias en fechas posteriores en las que se sigue haciendo mención a la
necesidad de fortificar la villa. De todo ello se desprende que la fortificación
de Verín fue creciendo, consolidándose y reparándose de forma constante con
el propio discurrir de la guerra. En todo caso, en algún momento situado entre
mediados del s. XVII y principios del XVIII, Verín queda completamente aba-
luartado.
Chaves en Portugal y
Monterrei en Galicia constitu-
yen las plazas fuertes principa-
les de esta parte de la frontera y
ambas se rodean de una serie de
fortificaciones que protegen el
acceso a las mismas y las de-
fienden desde una zona elevada.
Nos interesa, en este punto, ver
cómo se articularía la defensa
en torno a Monterrei, principal
fortificación del sistema en
Figura 5. En la imagen de la izquierda se presentan los ca- cuyo entorno inmediato se for-
minos medievales de Verín y su entorno, extraído del mapa
de los caminos medievales de la provincia de Ourense según tifican otros enclaves.
Elisa Ferreira (1988); en la imagen de la derecha se represen-
tan las poblaciones situadas entre Monterrei y Chaves, así
como aquéllas en las que se constata la presencia de una for-
En el valle se localiza Verín
tificación defendiendo el acceso a Monte-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 461


rrei desde el N, E
y S, concreta-
mente los accesos
desde Portugal y
Castilla. En la
ruptura de la dor-
sal se sitúa el Cas-
tillo de Monterrei,
que ocupa el pro-
montorio más ele-
vado, aunque las
defensas y recin-
tos se han ido am-
pliando con el
tiempo, formando
un polígono irre-
gular con varios
medios-baluartes
Figura 6. Fotografías de las fortificaciones localizadas en la dorsal: Fuerte de
San Salvador, Atalaia y Castillo de Monterrei y un hornabeque
en la zona N.
La Atalaia es
una construcción de planta cuadrangular que se sitúa a unos 420 m al NNW del
castillo y se orienta hacia la entrada al valle desde Portugal, aunque al situarse en
una cota inferior no permite ver el valle del Támega, situado al E de la dorsal.
Desde ella se defiende el flanco más débil de la plaza y la fuente de agua potable
que quedaría fuera del recinto principal de Monterrei. Comienza a construirse en
1640 y se remata en 1664 (Dasairas Valsa, 2008: 19).
La última fortificación se sitúa a 1.600 m al NNW de Monterrei, en el
Alto de San Salvador. Se trata de un fuerte de planta estrellada de cinco ba-
luartes (ver figura 6). Según Dasairas (2008: 19) este fuerte se proyectó pero
nunca llegó a construirse. Sin embargo, se ha documentado gracias a la fotoin-
terpretación y todavía hoy pueden verse los restos del mismo.

conclusiones

Pág. 462 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


De todo lo expuesto anteriormente se desprende, por un lado, la presencia
en Verín de dos sistemas defensivos correspondientes a distintos periodos his-
tóricos. Por otro, la constatación de la existencia de un sistema fortificado más
complejo en la zona de Monterrei que el que anteriormente se conocía. Final-
mente, el importante papel que tanto Verín como Monterrei jugaron en la Gue-
rra de la Restauración Portuguesa en esta zona de la frontera.
En cuanto a la existencia de un sistema defensivo de época medieval en
Verín, podemos decir que los elementos analizados, aunque escasos, son signifi-
cativos y se reflejan en la figura de los torreones, cuya presencia se constata tanto
en los restos materiales analizados como en la toponimia recogida o en las refe-
rencias documentales. La ubicación de los topónimos y los restos materiales hay
que relacionarla con la presencia, en el casco histórico de la villa, de dos ejes prin-
cipales (NNW-SSE y NE-SW) en un recinto de planta almendrada (que se co-
rresponde con el actual casco antiguo). Posiblemente los torreones estuvieran
protegiendo los dos accesos principales a este recinto. Debemos recordar que no
tenemos elementos suficientes para poder poner en relación los torreones con un
recinto cercado, considerándose, por el momento, como elementos aislados.
Aunque no es el objetivo del presente trabajo, hay que indicar que deben
ponerse también en relación estos ejes con la presencia de un urbanismo ante-
rior de época romana, como se desprende de los trabajos de Pérez Losada,
quien identifica Verín con un “aglomerado secundario” en relación con su ubi-
cación sobre el trazado de una importante vía secundaria de la red oficial que
conduce de Chaves a Orense por Xinzo (Pérez Losada 2002: 233). Por lo tanto,
ambos ejes podrían tener un origen anterior, aunque no así la configuración al-
mendrada del casco histórico, que claramente sería de época medieval. Por
otra parte, el papel de Verín dentro de la red viaria se mantiene en época me-
dieval como así lo refleja Elisa Ferreira quien apunta el entrecruzamiento de
tres caminos en la villa (Id. 1988: 176).
En todo caso, existiera o no una cerca en época medieval, estallada la
guerra en 1640 se hace patente la necesidad de mejorar las defensas de Verín,
que debe adaptarse a los nuevos tiempos, lo cual debió suponer un importante
impacto urbanístico ya que la fortificación abaluartada determina enormemente
el desarrollo de las ciudades. Por ello, muchas de las defensas modernas acaban
desapareciendo una vez consideradas inútiles, como es el caso de Verín en el

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 463


siglo XIX, con la subasta de los terrenos de la fortificación.
Como se puede apreciar en la figura 3, la hipótesis plateada es que, por
una parte, en este periodo se amplía el entramado urbano medieval hacia el E,
continuando la forma almendrada anterior. Posiblemente esta zona acabe cons-
tituyendo la plaza fuerte de Verín. Además, se construiría un segundo recinto,
ya abaluartado, que englobaría esta plaza fuerte y que crecería, fundamental-
mente hacia el S y hacia el NW. La zona W no podría ampliarse por la presencia
del río y en la E se habría ampliado el entramado urbano, como ya apuntamos.
En cierto modo, la propuesta de Taboada englobaba el trazado medieval y parte
del trazado de época moderna.
Finalmente, en cuanto al papel que tendría Verín dentro de la fortificación
transfronteriza, lo primero que debemos tener en cuenta es que el valle de Mon-
terrei era uno de los accesos principales desde el SE a Galicia. En esta zona se lo-
caliza un acceso que desde Chaves penetra por Verín en su camino hacia la ciudad
de Ourense. El Castillo de Monterrei contaba con unas defensas naturales que ha-
bían sido reforzadas en épocas medieval y moderna por distintas líneas de muralla,
que en este segundo periodo se combinan además con otras construcciones (como
la Atalaya, el fuerte de San Salvador y el propio Verín). Es decir, en la actualidad
perviven en Monterrei dos sistemas distintos de fortificación.
El caso de Verín difiere bastante del de Monterrei al emplazarse en una
zona llana. Es precisamente por ello y por su situación a los pies de este castillo
por lo que creemos que debió considerarse necesaria su fortificación en un pe-
riodo en el que las luchas entre España y Portugal eran constantes, tanto durante
la Guerra de la Restauración Portuguesa como con posterioridad a ésta.
Verín habría funcionado como una primera defensa del Castillo de Mon-
terrei en el paso hacia éste sobre el río Támega, además de servir de zona de
alojamiento y avituallamiento de las tropas, con motivo de la escasez de espa-
cio en Monterrei.

Bibliografía
BARREIRO MARTÍNEZ D., 2001, Sistemas de Prospección Arqueológica, En Amado Reino, X. (coord.)
2001. inventario y Catalogación del Patrimonio Cultural. Curso de especialización en gestión arqueológica
del Patrimonio Cultural. Módulo 3, Pp. 57-61, Santiago de Compostela: Laboratorio de Arqueoloxía e For-
mas Culturais, IIT, USC.
BLANCO ROTEA R., GARCÍA RODRÍGUEZ S., 2005, Paisaje arquitecturado y arquitectura en el paisaje: la fortificación
del territorio en Época Moderna en el Baixo Miño, Revista electrónica ArqueoWeb, 7 (2) (Sept. / Dic. 2005),

Pág. 464 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


http://www.ucm.es/info/arqueoweb/.
CABALLERO ZOREDA L., 1995, Método para el análisis estratigráfico de construcciones históricas o “lectura de
paramentos”, informes de la Construcción, 453: 37-46, Madrid: CSIC.
CABALLERO ZOREDA L., 1996, El análisis estratigráfico de construcciones históricas. En Curso de Arqueología de
la Arquitectura (Burgos, Junta de Castilla y León, 1996), 55-74, Salamanca: Europa Artes Gráficas, S.A.
CARRERAS CANDI F. 1980, geografía general del Reino de galicia, Volumen XI, Tomo II: Vicente Risco, La
Coruña.
DASAIRAS VALSA X., 2008. Libro guía de Monterrei, Verín.
FERNÁNDEZ ALONSO B., 1893, guerra hispano-Lusitana, Orense
FERREIRA PRIEGUE E., 1988, Los caminos medievales de galicia. Boletín Auriense, Anexo 9, Ourense.
MADOZ P., 1894, diccionario geográfico estadístico histórico de españa y sus Posesiones de ultramar, Tomo
XV.
MAÑANA P., BLANCO R. Y AYÁN X., 2002, Arqueotectura 1: Bases teórico-metodológicas para una Arqueología
de la Arquitectura. TAPA (Traballos de Arqueoloxía e Patrimonio) 25, Santiago de Compostela: Laboratorio de
Patrimonio, Paleoambiente y Paisaje (IIT, USC).
PARCERO C., MÉNDEZ F., BLANCO. R., 1999, el registro de la información en intervenciones Arqueológicas, CAPA
(Criterios e Convencións en Arqueoloxía da Paisaxe), nº 9, Santiago de Compostela.
PEREIRA M., 1994, Da torre ao baluarte, En TÁVORA F. eT ALLi., 1994, A Arquitectura militar na expansâo portu-
guesa. exposiçao, Porto, Castelo de S. Joâo da Foz (Junho-setembro de 1994), pp. 35-42, Lisboa.
PÉREZ LOSADA F., 2002. entre a cidade e a aldea. estudio arqueohistórico dos “aglomerados secundarios” ro-
manos en galicia. Brigantium, V. 13. A Coruña.
PORRAS GIL C., 1995, La organización defensiva española en los siglos Xvi-Xvii desde el Río eo hasta el valle
de Arán, Valladolid.
QUIRóS CASTILLO J. A. y GOBBATO S., 2003, Prospección y Arqueología de la arquitectura, Trabajo inédito ela-
borado en el marco del proyecto de investigación financiado por a UPV 1/UPV 00155.130-H-13989/2001.
SANZ MOLINA S. E., 2002, Tres fortificaciones en nueva españa. estudio arquitectónico-constructivo, Universidad
Politécnica de Cataluña, Tesis doctoral, Extraída http://www.tdx.cesca.es/TDX-1031102-125229/#documents.
SORALUCE BLOND J.R., 1985, Castillos y fortificaciones de galicia. La arquitectura militar de los siglos Xvi-
Xviii, La Coruña.
TABOADA CHIVITE J., 1947, Monterrey: Resumen histórico y arqueológico, Boletín del Museo Arqueológico Pro-
vincial de Orense, Tomo III, pp. 3-19.
TABOADA CHIVITE X., 1949, Verín y sus murallas, Boletín de la Comisión de Monumentos de Orense, Tomo XVII,
1, pp. 61-72.

1
El artículo se escribe en colaboración con Sonia García Rodríguez (LaPa, CSIC) sonia.garcia-
rodriguez@iegps.csic.es
2
Ficha Técnica: Título Proyecto: Actuación arqueológica en el solar nº 14 de la Calle de elle, verín (Ourense).
Periodo de realización: mayo de 2005 a marzo de 2007. Código de expediente: CJ 102A 2005/260-0. Promotor:
Xunta de Galicia, Consellería de Cultura, Comunicación e Turismo, Dirección Xeral de Patrimonio Cultural. Di-
rectora: Rebeca Blanco Rotea. Ayudante de dirección: Sonia García Rodríguez. Equipo técnico: Noemí Calvo
Valcarce, Cristina Cancela Cereijo. Fotografía: Sonia García, Rebeca Blanco. Topografía: Miguel Grueiro Méndez.
Vaciado documental y fotointerpretación: Sonia García. Delineación y dibujo: Anxo Rodríguez Paz, Sonia García,
Rebeca Blanco. Tratamiento de la Información: Matilde Millán Lence. Estudio y procesado de la Cultura Material:
Cristina Cancela. Estudio de la litología de la muralla: Manuela Costa Casais.
3
Queremos mostrar nuestro agradecimiento a aquellos vecinos de la villa de Verín que amablemente nos ayudaron,
nos proporcionaron información o nos permitieron consultar sus archivos particulares durante el transcurso de
estos trabajos, sobre todo a D. Alberto Vega y muy especialmente a D. Eduardo Castro.
4
1851-1855, documentación del proceso de litigio: demanda del Licenciado don Ramon Santa Mariña vecino
de verin contra doña estrella noboa sobre construcción de nueva obra en el sitio titulado elle, del Juzgado del

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 465


Ayuntamiento de verín, Archivo particular.
5
Sanz Molina lleva este tipo de fortificaciones hasta el s. XV (id. 2002: 51-7).
6
La generalización del uso de la pólvora se produce principios del siglo XVI (Sanz 2002: 53).
7
Datos extraídos a través de un documento fechado entre 1851-1855 correspondiente al proceso de litigio entre
don Ramón Santa Mariña y doña Estrella Noboa.
8
Las fotografías aéreas fueron adquiridas en el Centro Cartográfico y Fotográfico del Ejercito del Aire. En el
caso del Vuelo Americano se trata de la Hoja de Zona 379. Fecha: 20 de abril de 1957 (10:30 am), Número 38287-
38288, serie B, hoja 303. Escala 1:33000 aproximadamente; en el caso del Vuelo del Instituto Geográfico Nacio-
nal: Hoja de zona 5424. Fecha: abril 1985 (09:30 am). H.M.N. 303, Pasada K, Números 0001, 0002 y 0003.
Escala 1.30000.
9
En esta zona la toponimia mantiene fuertes referencias a la existencia de una fortificación, como son las calles
Muralla y del Foso.
10
CATASTRO DE ENSENADA, Libro de Legos. 1753. En este documento se recoge una abundante toponimia que
hace referencia a la existencia de una fortificación: Muralla, Alameda de Afuera, A Portta, Atrás Murallas, Calle
Muralla, de Adentro, de Fora, entre Murallas,…
11
Soraluce Blond 1985: 191-192.
12
Cronista de la Provincia de Ourense.
13
Este relato narra los hechos acaecidos en la provincia entre los años 1640 y 1713, relacionados con las guerras
mantenidas entre España y Portugal.
14
Que debían abandonar sus trabajos cotidianos desatendiendo así la propia economía de sus casas y haciendas
15
En una inscripción reutilizada en el Baluarte de elle está grabada la fecha de 1646.

Pág. 466 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


LA BAsíLicA de LA Ascensión y os FoRnos (ALLARiZ,
ouRense)
The BASiLiCA OF ASCenCión And OS FORnOS (ALLARiz,
OuRenSe)

Rebeca Blanco-Rotea, rebeca.blanco-rotea@iegps.csic.es


Patricia Mañana-Borrazás, patricia.manana-borrazas@iegps.csic.es
Cristina Mato-Fresán, cristina.mato-fresan@iegps.csic.es
Alberto Rodríguez-Costas, alberto.rodriguez@iegps.csic.es
lAPA – CSIC

Resumen: En el año 2007 la Dirección Xeral de Patrimonio Cultural encarga al arquitecto


Manuel Seoane la elaboración de un proyecto arquitectónico en la Basílica da Ascensión y Os
Fornos (Allariz, Ourense), cuya finalidad era la consolidación de este conjunto monumental y
la adecuación de su entorno. Con anterioridad al desarrollo de este proyecto, se solicita al LaPa-
CSIC el estudio del conjunto, que se articuló en dos tipos de intervenciones: el levantamiento
topográfico con Láser Escáner y la lectura estratigráfica de alzados. Una vez llevado a cabo este
estudio se han podido establecer nuevas hipótesis sobre el conjunto y ratificar alguna de las ya
existentes sobre el origen, la funcionalidad y los momentos constructivos tanto de la basílica
como del Forno.
Palabras clave: SE de Galicia; Arqueología de la Arquitectura; Lectura estratigráfica de
alzados; Arquitectura Castrexa; Arquitectura Medieval; Santa Mariña.

Abstract: in 2007 the Cultural heritage Management general Office asked architect
Manuel Seoane to carry out an architectonic project in the Basilica of the Ascension and in Os
Fornos (Allariz, Ourense). The purpose of this project was the consolidation of this monumental
set and the adaptation of its surroundings. Before the development of this project, LaPa-CSiC
was asked to study the set. Two types of interventions were made: the topographical survey with
Scan Laser and the stratigraphic reading of walls. Once this study was carried out it was pos-
sible to establish new hypotheses on the set and to confirm some of the already existing hypoth-
esis about the origin, the functionality and the constructive moments of the basilica as well as
of the Forno.
Keywords: Se of galicia; Archaeology of Architecture; Stratigraphic Reading of Walls;
iron Age Architecture; Medieval Architecture; Santa Mariña.

introducción
El presente artículo es el resultado de los trabajos arqueológicos realiza-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 467


dos en el conjunto formado por la Basílica de la Ascensión y Os Fornos, en la
parroquia de Santa Mariña de Augas Santas (Allariz, Ourense). Dichos trabajos
se corresponden con la fase previa a la intervención arquitectónica que se iba
a llevar a cabo en el edificio y su entorno por parte del arquitecto Manuel Se-
oane. Ésta consistía básicamente en: el desmontado y recolocación de un tramo
del alzado N del ábside; la consolidación de los muros de la basílica; el acon-
dicionamiento de los accesos al monumento; y la señalización del conjunto
monumental.
El conjunto histórico-arqueológico formado por la Basílica da Ascensión
y el Forno da Santa1 está emplazado en una pequeña vaguada, delimitada en
su margen W por un regato conocido popularmente como O Regueiriño. Se
sitúa sobre una terraza posiblemente de origen antrópico, próxima al Castro o
“Cibdá de Armeá”2 denominado tradicionalmente Monte de As Muradellas o
Casarellas.

A la hora de abordar el estudio


de este edificio es necesario tener en
cuenta la doble dimensión del con-
junto: por un lado, la relación que
tiene con el castro de Armeá y la pre-
sencia en la cripta de los restos de un
posible Monumento con Forno y, por
otro, su vinculación con la leyenda
del martirio de Santa Mariña. No es
posible comprender la realidad de la
Basílica y el Forno obviando este as-
pecto y así lo demuestran las diferen-
tes aproximaciones que distintos
autores han realizado hasta la fecha.
Figura 1. Situación de la Basílica da Ascensión y Os La presencia de Santa Mariña es es-
Fornos en relación con los lugares de Augas Santas y
Armeá, el Castro de Armeá y las vías de tránsito
pecialmente relevante, de manera
que se dispersan por la parroquia
toda una serie de lugares destacados vinculados a la leyenda de la Santa, que
aún hoy perviven como espacios importantes de culto y tradición.

Pág. 468 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


La intervención arqueológica
La intervención consistió en realizar el levantamiento topográfico con es-
cáner 3D y el análisis estratigráfico de los alzados de todo el conjunto3. El ob-
jetivo de esta intervención era doble: por una parte, documentar y registrar las
estructuras que forman parte del conjunto y establecer su secuencia construc-
tiva y, por otra, recuperar la volumetría del edificio a partir del registro de los
datos topográficos.
El levantamiento de alta definición (HDS) permite obtener un archivo en
3D del edificio así como recuperar su volumetría real, lo que supone la posi-
bilidad de poder analizar aspectos relacionados tanto con la construcción como
con su estructura, así como plasmar en él los resultados de la investigación y
obtener reconstrucciones tridimensionales. Las herramientas empleadas han
sido un Láser Escáner Terrestre, una Estación Total Topográfica y un GPS para
posicionamiento global. El proceso de trabajo consta, en líneas generales, de
tres pasos: la toma de datos topográficos en campo mediante el escaneado de
la construcción; la unión de los diferentes datos obtenidos en un único archivo
y el tratamiento de la información obtenida a partir de esos datos topográficos
(dibujos 3D y 2D, ortoimágenes, secciones, perspectivas, etc.).
La volumetría generada ha permitido constatar la conexión entre la basí-
lica y la cripta. Por otra parte, se ha obtenido la geometría de las bóvedas y de
los arcos fajones de la cripta con
total precisión, manifestando las de-
formaciones e irregularidades que
presentan, así como las relaciones
entre los elementos que las compo-
nen. Del mismo modo, se ha podido
documentar hasta donde ha sido po-
sible medirla y representar la canali-
zación que discurre bajo la cripta y
sobrepasa el monumento.

La segunda parte del trabajo


Figura 2. Imagen de las plantas de la basílica y la
cripta superpuestas; planta de sectores; y perspectiva
consistió en realizar la lectura estra-
dibujada sobre el escaneado 3D tigráfica de alzados cuyo objetivo

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 469


fue, como ya se comentó, recuperar la secuencia estratigráfico-constructiva del
edificio, lograr su datación y determinar las variaciones producidas en su con-
figuración espacial a lo largo del tiempo. El análisis estratigráfico de alzados
o lectura de paramentos adapta el estudio estratigráfico-arqueológico a las
construcciones históricas a través del denominado método Harris. Compren-
diendo el edificio como una realidad estratificada, el trabajo se encamina a es-
tablecer la sucesión continua de acciones, tanto constructivas como
destructivas, que conforman la secuencia estratigráfica y que permite interpre-
tar la evolución constructiva del edificio. Actualmente se están desarrollando
los procesos de síntesis, correlación, periodización e interpretación de los datos
obtenidos a lo largo de este trabajo, por lo que todavía es pronto para hablar
de resultados definitivos y concluyentes, aunque sí podemos ofrecer un avance
sobre la evolución y secuencia constructiva del edificio.
Se han documentado tres grandes fases históricas, así como algunas re-
formas puntuales en época contemporánea. La mayor complejidad estratigrá-
fica se localiza en la zona de la cripta, ya que este espacio ha sido reutilizado
y ampliado en varias ocasiones, enmascarando las fases iniciales del edificio.
Finalmente, debemos indicar que sin acudir a otro tipo de intervenciones, como
la excavación arqueológica del suelo o el estudio pormenorizado de los mor-
teros identificados en las distintas fases, resulta bastante difícil por el momento
apuntar una cronología absoluta para esta secuencia.

hipótesis sobre la evolución constructiva de la Basílica da Ascensión


y os Fornos
Fase i: Época castreña
De esta primera fase se conservan un horno de planta semicircular cerrada
realizado en un aparejo de mampostería, una canalización que en parte está ex-
cavada en la roca y en parte construida con muros de mampostería, una gran
losa a modo de pontella situada sobre la canalización y los restos de un muro
construido sobre la roca cortada con un aparejo similar al de los dos elementos
anteriores. Estos elementos se consideran coetáneos por la similitud existente
entre los aparejos con los que están realizados y las relaciones estratigráficas
que entre ellos se establecen.

Pág. 470 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Como ya han apuntado varios autores, po-
siblemente el origen del conjunto hay que bus-
carlo en la cripta. En ella se conservan una serie
de elementos que por su forma, estructura y ti-
pología son sintomáticos de un monumento con
forno. Sin embargo, alguno de ellos no man-
tiene ningún tipo de relación estratigráfica con
aquéllos que sí pertenecen con seguridad a la
fase I, nos estamos refiriendo a la Pedra For-
mosa y el depósito de agua. En el caso de la
Pedra Formosa creemos que ésta ha sido mo-
vida de su posición original y reutilizada en una
fase posterior, aunque su origen estaría clara-
mente vinculado con un monumento con forno.
Figura 3. En esta imagen se presentan va-
Fase ii: Posiblemente época Alto Me-
rias fotografías de la cripta; en la imagen
superior se observa en primer término el
dieval
alzado E de la Pedra Formosa que da ac-
A esta etapa pertenece la estancia rectan-
ceso a la zona del horno, a la izquierda se
localiza el depósito de la Fase II; en la
gular que se dispone delante del horno aunque
imagen inferior izquierda, el alzado W de
la bóveda que la cubre es posterior. Cierra esta
la Pedra Formosa; y en la imagen inferior
derecha el espacio al que se accede desde
habitación por el E la Pedra Formosa que,
la Pedra Formosa, la estancia de la Fase
II y el horno de la Fase I como decíamos, se habría reutilizado en esta
fase. Además, en este momento se agrandaría
el vano que presentaba esta Pedra, como se puede apreciar por las huellas de
corte que presentan las jambas y el arco de remate y los rebajes practicados en
su frente E para la colocación de una puerta. Hacia el lado N de la Pedra For-
mosa se dispone un muro de mampostería irregular en el que se reutiliza una
losa de granito con una cruz grabada. Sin embargo, hacia el S y al exterior de
esta estancia se construye un depósito de agua con grandes losas de granito;
estas losas se emplean también en los alzados de esta zona.
Sobre el depósito, y desde el frente E de la estancia, vierte agua un caño
situado entre la pedra formosa y las losas4. Aun así, la conducción de agua sí
parece ser la original dado que tanto las losas como toda la estructura que con-
forma la canalización, realizada en piezas de granito que van encajando unas

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 471


en otras y disminuyendo de tamaño a medida que nos adentramos en el muro,
se encuentran in situ.
Se documenta también en esta fase una segunda canalización de sección
cuadrangular cubierta con losas de granito, con algunos materiales reutilizados,
que corta la canalización de la fase I. Esta segunda canalización parte del de-
pósito descrito en el párrafo anterior y parece tratarse del desagüe de éste.
Hemos puesto en relación este segundo momento constructivo con la di-
fusión de la leyenda de Santa Mariña en esta zona, de manera que la reutiliza-
ción del espacio de la cripta estaría asociada al proceso de cristianización que
conllevó la reforma de la estructura anterior.

Fase iii: entre el s. x y el xii


A esta etapa correspondería el abovedamiento de la estancia construida
en la fase II, con una bóveda de cañón de medio punto, realizada en sillería de
granito que descansa sobre una moldura de bodoques, decoración característica
del románico gallego. La construcción de esta bóveda obliga a realizar varios
cortes y reformas sobre las estructuras pree-
xistentes. Por un lado, se eleva el alzado E del
horno continuando el muro con un aparejo de
mampostería irregular en el que se reutiliza
una moldura achaflanada. La técnica cons-
tructiva imita la empleada en el horno, aunque
en este caso destaca la ausencia de mortero.
Las piezas de sillería de la bóveda pasan por
encima del remate de este muro. Por otro
lado, para poder encajar las piezas de granito
sobre las que se apoya la bóveda se corta la
Pedra Formosa y las losas que se localizan en
el lado S de la misma.

Figura 4. Distintas vistas del exterior e interior de la Basílica


da Ascensión. En la imagen inferior se observa una de las puer-
tas de acceso a la cripta

Pág. 472 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Fase iv: Finales del s. xiii – principios del s. s. xiv
En este momento se construye la Basílica de la Ascensión sobre las es-
tructuras previas. La mayoría de autores fechan esta construcción entre finales
del s. XIII y principios del s. XIV, teniendo en cuenta las técnicas, el sistema
constructivo y la decoración del edificio. Hemos distinguido dentro de esta
fase dos etapas, ya que se han detectado ligeras diferencias, pero que no pare-
cen variar el programa constructivo inicial.

etapa iva
A esta etapa correspondería, dentro de esta fase, la construcción de la basílica.
Para ello, se amplía el espacio de las estructuras compuestas por el horno y la es-
tancia que lo antecede, creando una cripta sobre la que se construye propiamente la
basílica. La planta soterrada se amplía hacia el E con una estancia dividida en tres
tramos, cubiertos por bóvedas de cañón apuntado que incluyen dos escaleras de ba-
jada a la cripta. En la planta superior se construye un edificio absidiado, de cabecera
recta y una sola nave, ambas con columnas acodilladas. A través de la ventana del
ábside se puede observar cómo la fábrica es unitaria en las dos alturas, aspecto del
que también dejan constancia las marcas de cantero, la decoración o el aparejo. La
fábrica está
inconclusa,
tanto en la
zona W como
en la cubri-
ción, ya que
se construyó
únicamente
hasta la altura
de los capite-
les.

Figura 5. Fases I a
IV de la cripta, in-
dicadas sobre la
planta y la ortoima-
gen del alzado N

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 473


etapa ivb
Se documentan en los alzados y las bóvedas del sector 25 una serie de
cortes en los que se encajas unos arcos fajones apuntados. El espacio resultante
entre los arcos fajones y las bóvedas se calza con pequeños ripios. Ambos he-
chos nos han llevado a concluir que las bóvedas y los arcos no son coetáneos,
sino que éstas se reforzaron con posterioridad a su construcción. Da la impre-
sión de que inicialmente estos arcos no se habían previsto y que una vez fina-
lizado el edificio se decide reforzar la cripta tal vez por el peso que estaba
destinada a soportar. Este dato puede ponerse en relación también con el hecho
de que no se haya concluido la planta superior, a la espera de abovedarla en el
momento en que la cripta estuviera reforzada, proyecto que, sin embargo, no
se finaliza.

Fase iv: edad contemporánea


A esta fase pertenecen una serie de reparaciones puntuales que no suponen
grandes alteraciones en la construcción. La intervención más importante de
esta fase es la excavación de una zanja perimetral que rodea los alzados S y E
de la basílica y que un epígrafe fecha en 1962. El muro W de la Basílica, que
es en realidad el muro de cierre de una finca, también se ha enmarcado en este
momento.

el origen de la Basílica da Ascensión


Teniendo en cuenta la secuencia constructiva que acaba de describirse,
la cripta, y más concretamente, el horno, se manifiesta como el espacio clave
en este conjunto arquitectónico y, de hecho, es el origen de toda la estruc-
tura. La bibliografía sobre Augas Santas recoge numerosas opiniones gene-
ralmente enfocadas a plantear hipótesis sobre su cronología, funcionalidad
y momentos de uso. Así, para Lorenzo Fernández (1948) la cripta sería un
monumento protohistórico lógicamente vinculado al castro vecino, que iden-
tifica como un espacio de sacrificios y de cremaciones humanas. Posterior-
mente se reutilizaría como ninfeo en época romana y como baptisterio a
partir de la cristianización. Conde Valvís, quien excavó el Castro de Armeá
en sendas campañas en 1951 y 1959, identifica la cripta como unas termas
romanas y el castro como la Mansio Aquis Salientibus de la Vía Nova. En

Pág. 474 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


1955, Chamoso Lamas, retomando a Lorenzo Fernández, insiste en la im-
portancia del agua en el monumento, proponiendo un uso higiénico o salu-
tífero de la misma y señalando su paralelismo estructural con las termas.
Las monografías más recientes (Fariña
Busto 2000) destacan el origen de la cripta
como un monumento con forno, aludiendo
especialmente a cuestiones morfológicas
destacadas que se repiten en estas estructu-
ras identificadas en el NW peninsular, como
reseñábamos al hablar de la fase I. La pre-
sencia en la cripta del horno con las dos
grandes lajas de acceso, la Pedra Formosa,
el depósito, la canalización, los muros cons-
truidos sobre la roca madre y la pontella ra-
tifican esta hipótesis, a pesar de que el
análisis estratigráfico no permita establecer
como originarios todos estos elementos,
dadas las numerosas reformas que el monu-
mento ha sufrido a lo largo de su historia.

Asumiendo el origen castreño de la


cripta, como un Monumento con Forno, la
funcionalidad de estas construcciones no está
sin embargo completamente clara. Para Al-
magro y Moltó tendrían una funcionalidad
Figura 6. Fotografías de la Basílica da As- simbólica, relacionada con los ritos iniciáti-
censión y su entorno. La fotografía superior
del año 1924 (Fariña Busto 2002: 18) repre- cos de guerreros de la sociedad castreña, algo
senta un momento de la Procesión de Santa que sin duda ratificaría la cercana presencia
Mariña, en lo alto del outeiro ondean los pen-
dones. La fotografía central (Fariña Busto del Castro de Armeá. También se ha plante-
2002: 58) recoge una vista de la basílica y el ado la hipótesis de que estos monumentos
lugar de Armeá al fondo desde lo alto del Ou-
teiro dos Pendóns. La fotografía inferior re-
tengan un origen romano, aprovechando una
fleja el simbolismo del lugar de Augas tradición castreña preexistente, y que funcio-
Santas, representado por la fuente, el carba-
llo y la cabecera de la Iglesia Parroquial al
nasen efectivamente como termas (Calo Lou-
fondo rido 1994, Ríos González 2000).

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 475


En relación a la doble dimensión del conjunto, a la que se hacía referencia
al comienzo de este artículo, la presencia de la leyenda de Santa Mariña ratifica
la importancia del lugar y el asentamiento y la materialización de la misma en
la geografía de la parroquia de Augas Santas. Así, el outeiro en el que se asienta
el Castro recibe también el nombre de Outeiro dos Pendós, con motivo de la
procesión que se celebra el día de Santa Mariña que finaliza en este lugar, donde
se colocan los pendones en los agujeros practicados en las rocas para este efecto.
Del mismo modo, al NW de la Basílica de la Ascensión se encuentran las pías
en las que supuestamente San Pedro sumergió a la Santa tras salvarla del fuego.
Del martirio queda también constancia en las tres fuentes ubicadas en el exterior
de la Iglesia Parroquial de Augas Santas, que la leyenda relaciona con cada uno
de los botes que dio la cabeza de la Santa Mariña una vez decapitada, ya que en
el lugar en que éstos se produjeron habría brotado una fuente.
De alguna manera, los restos arqueológicos e históricos o la toponimia y
la memoria oral de los vecinos de la parroquia de Augas Santas discurren en
dos direcciones, vinculados al origen castreño de la cripta y a la cristianización
del territorio, aspectos que de alguna manera han quedado plasmados en la se-
cuencia cronológica del conjunto.

Bibliografía
ALMAGRO GORBEA, M., MOLTó, L. 1992. Saunas en la Hispania prerromana, espacio, tiempo
y forma, Serie II, 5, Madrid.
BANDE RODRÍGUEZ, E. Y ARMADA BANDE, O. 2002. evolución do conxunto histórico-artístico de
Santa Mariña de Augas Santas. Ourense.
BLANCO-ROTEA, R. 2008 Levantamiento volumétrico y lectura de alzados del conjunto formado por la
Basílica da Ascensión y O Forno da Santa (Allariz, Ourense), LaPa-CSIC. Informe Inédito.
CHAMOSO LAMAS, M. 1955. Santa Marina de Augas Santas. Cuadernos de estudios gallegos X-20, pp.
41-88. Santiago de Compostela.
CALVO, F. 1913. Recuerdos de Augas Santas. Boletín de la Comisión Provincial de Monumentos históricos
y artísticos de Orense, Tomo IV, núm. 91. pp. 321-389. Orense.
CONDE-VALVÍS FERNÁNDEZ, F. 1955. Las termas romanas de la “Cibdá” de Armea en Santa Mariña
de Augas Santas, actas del III Congreso Nacional de Arqueología(1953), Institución Fernando el Católico,
CSIC, pp.432-447. Zaragoza.
CONDE-VALVÍS FERNÁNDEZ, F. 1959. Dos villas romanas de la Cibdá de Armea, en Santa Mariña de
Augas Santas. Revista de guimarâes 69, pp. 472-500.
FARIÑA BUSTO, F. 2002. Santa Mariña de Augas Santas. guías do Patrimonio Cultural, 7. Santiago de
Compostela.
LORENZO FERNÁNDEZ, J. 1948. El monumento protohistórico de Augas Santas y los ritos funerarios de
los Castros. Cuadernos de estudios gallegos III-10, pp. 157-211. Santiago de Compostela.
RÍOS GONZÁLEZ, S. 2000. Consideraciones funcionales y tipológicas en torno a los baños castreños del

Pág. 476 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


NO de la Península Ibérica, gallaecia, 19, pp. 93-125. Santiago de Compostela.

1
También denominado Os Fornos.
2
Entre el castro y la basílica distan 108 m.
Ficha Técnica:
Promotor: Xunta de Galicia, Consellería de Cultura e Deporte, Dirección Xeral de Patrimonio Cultural
Arquitecto: Manuel Seoane
Directora Intervención Arqueológica: Rebeca Blanco Rotea
Ayudante de dirección: Sonia García Rodríguez
Equipo técnico: Patricia Mañana-Borrazás, Cristina Mato-Fresán, Alberto Rodríguez -Costas
Fotografía: Rebeca Blanco, Alberto Rodríguez Costas
Topografía: Patricia Mañana Borrazás
Delineación y dibujo: Patricia Mañana Borrazás, Anxo Rodríguez Paz
Tratamiento de la Información: Alberto Rodríguez Costas
3
Este caño ha sido restaurado con posterioridad a la segunda mitad del s. XX, ya que en una fotografía de
esta época la boca del caño estaba rota (Lorenzo Fernández 1948: Lámina III) y actualmente está en perfecto
estado de conservación. Además, se aprecian unos cortes en las losas, practicados para introducir la nueva
pieza.
4
La zona ampliada en la cripta en la etapa IVa.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 477


Pág. 478 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009
eL MonAsteRio de sAn PedRo de RocAs (esgos,
ouRense). LA PRoBLeMáticA de LA dAtAcion e
inteRPRetAción de un ediFicio excAvAdo en RocA
The MOnASTeRY OF SAn PedRO de ROCAS (eSgOS, OuRenSe).
PROBLeMATiC OF The dATing And The inTeRPReTATiOn OF A
BuiLding eXCAvATed On ROCK

Sonia García Rodríguez, sonia.garcia-rodriguez@iegps.csic.es


Anxo Rodríguez Paz, anxo.rodriguez-paz@iegps.csic.es
Cristina Cancela Cereijo, cristina.cancela.cereijo@usc.es
lAPA-CSIC

Resumen: El Monasterio de San Pedro de Rocas se ha destacado por la especial construc-


ción de las capillas de su iglesia, labradas en la roca madre. Este hecho podría responder a un
asentamiento eremita cuya evolución en el tiempo habría dado lugar a la fundación de un ceno-
bio. Esta primera arquitectura determina las reconstrucciones que ha sufrido el edificio. Por otra
parte el propio enclave en que se encuentra el conjunto monástico determinó la reutilización del
solar, eliminando así las huellas en altura de cada fase. El registro arqueológico y la lectura
crítica de las fuentes nos llevan a determinar los vacíos materiales y, con ellos, las diversas for-
mas de acercarse al edificio tanto para conocerlo como para su puesta en valor.
Palabras clave: Galicia; Restauración Arquitectónica; Arqueología de la Arquitectura;
Análisis Estratigráfico; Análisis Histórico; Arquitectura Monástica; Arquitectura Rupestre.

Abstract: The Monastery of San Pedro de Rocas is outstanding by the special construction
of the chapels of its church, worked on the rock. That fact could respond to an establishment
hermit whose evolution in the time would give rise to the foundation of a monastery. This first
architecture determines the reconstructions that the building has undergone. On the other hand
the own enclave in which is the monastery set determined the reusability of the lot, eliminating
therefore the tracks in height of each phase. The archaeological record and the critical reading
of the sources take to determine the material emptiness and, with them, the diverse forms to us
to approach the building as much to know it as for their putting in value.
Keywords: galicia, Architectonic Restoration, Archaeology of Architecture, Stratigraphic
Analysis,historical Analysis, Monastic Architecture, Rock Architecture.

Antecedentes
La necesidad de realizar una intervención en las cubiertas del Monasterio
de San Pedro de Rocas para la reposición de las techumbres, planteó a la Di-
rección Xeral de Patrimonio Cultural de la Consellería de Cultura e Deporte de

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 479


la Xunta de Galicia la
posibilidad de efectuar
un estudio de la con-
strucción desde los
planteamientos teórico-
metodológicos de la Ar-
queología de la
Arquitectura. Se pre-
tendía así conocer la
fig1 evolución espacial de
las dependencias con-
servadas y con ello ayudar a que la planificación futura fuera acorde con los re-
sultados de dicho estudio. La intervención se basó en el levantamiento
tridimensional del edificio, el análisis de la documentación histórica y bibli-
ográfica y la lectura estratigráfica de alzados.

El Monasterio de San Pedro de Rocas está considerado uno de los ele-


mentos materiales de la implantación del cristianismo en Galicia. Las espe-
ciales características que le confiere el estar excavado directamente en roca y
la ubicación en él de una lápida fundacional fechada en el año 573, han hecho
que sea considerado un asentamiento anacoreta. De aquella supuesta imagen
primigenia hasta hoy ha habido un largo proceso del cual permanecen la Igle-
sia, con tres capillas rupestres y una
nave transversal, el Cementerio del
siglo XX, un Campanario sobre un
gran bolo granítico y la Casa Rec-
toral. Todas estas estructuras son re-
sultado de diversas reformas debidas
a las necesidades y especificidades
que cada uno de los períodos mar-
caba.
Las diversas aproximaciones,
análisis e interpretaciones que de él
Figura 1. Ámbito de visibilidad y ubicación del Mo-
se han hecho, ya desde el siglo XI, le nasterio.

Pág. 480 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


otorgaron en 1923 la categoría de Monumento Nacional después de controver-
tidas opiniones sobre el merecimiento de este título. Desde entonces se han ll-
evado a cabo estudios e intervenciones que han dado lugar a informaciones
sesgadas sobre un conjunto complejo y aglutinador de referentes materiales
del proceso monástico.

trabajos realizados
Los trabajos planificados para el registro de la Iglesia estaban encamina-
dos a la realización de una planimetría de detalle y la obtención de las fases
constructivas. Para ello se llevaron a cabo los protocolos de trabajo habituales
de la metodología arqueológica: registro fotográfico y exhaustiva topografía
del edificio para recuperar su volumetría y posibilitar la representación gráfica
de los datos obtenidos en los diferentes análisis. Con ello se realizaron los fo-
tomontajes y planimetrías 3D.
En un segundo paso se llevó a cabo la doc-
umentación y registro de las estructuras que for-
man el monasterio actualmente: se dividió del
edificio en sectores para facilitar la descripción
e interpretación de resultados, se hizo la lectura
estratigráfica y se elaboró un registro de las
unidades estratigráficas que componen cada
construcción. Una vez revisada esta informa-
ción, se realizaron los diagramas con
cronologías relativas y secuencias constructivas.

Terminados los trabajos de campo


comenzó la revisión de las fuentes primarias
en archivos y fuentes bibliográficas. Se hizo
una revisión crítica de los datos obtenidos de
Figura 2. Fotografías de la iglesia en las
ese vaciado y, con ello, se correlacionaron con que se observan reformas del siglo XX Fi-
las informaciones revertidas del propio edifi- gura 2. Fotografías de la iglesia en las que
se observan reformas del siglo XX (Museo
cio. Así se plantean las posibles fases construc- do Pobo Galego, Archivo Histórico Pro-
tivas de la iglesia y las funcionalidades de cada vincial de Ourense, Revista Vida Gallega
y de la Real Academia Gallega de Bellas
una de las estructuras que la circundan. Artes)

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 481


Debido a la especial ubicación del monasterio en un paisaje marcado por la
compleja orografía, se planteó la posibilidad de analizar el ámbito de visibilidad
potencial a larga distancia desde las partes más altas del edificio. La finalidad úl-
tima era la de presentar el amplio control visual como característica principal y a
la hora de la elección de este enclave para la ubicación de la edificación monástica.
Debido a los cambios sufridos en el paisaje agrario en la segunda mitad del siglo
XX, las posibilidades actuales del edificio son diferentes a aquellas en la que se
controlaban tanto los terrenos propios, como las vías de tránsito naturales y las
aldeas más cercanas, pero también las tierras más lejanas como las de Celanova,
Carballiño o amplias zonas del Ribeiro. Como en otros edificios de la denominada
Ribeira Sacra, la ubicación en puntos con amplio control visual es uno de los el-
ementos principales, aprovechando así las condiciones orográficas.

Problemáticas
Las necesidades surgidas en el año 2006 condujeron a la realización de
los trabajos presentados, pero las especiales características del inmueble y las
condiciones en las que se encontraba generaron una serie de problemáticas que
imposibilitan la consecución de dataciones absolutas e interpretaciones cer-
radas sobre el cenobio. Se plantearon una serie de circunstancias desfavorables
para poder llevar a cabo un análisis íntegro, algunas de ellas comunes a los es-
tudios e intervenciones que sobre el Patrimonio Construido se realizan desde
los planteamientos arqueológicos e históricos.
En este caso, aunque se trata de un conjunto monástico, la intervención
y análisis no contem-
plaba la Casa Prioral,
que quedó fuera de la
misma al estar gestion-
ados ambos edificios
por diferentes organis-
mos gubernamentales.
Por otro lado, debido a
la urgencia de la inter-
vención en los tejados Figura 4. Exteriores del Monasterio: iglesia, rectoral, estancia en el se-
y la especificidad del gundo piso, cementerio y acceso al campanario

Pág. 482 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


proyecto, no se estudió el entorno inmediato en el que, probablemente,
habrían estado situadas las construcciones adjetivas del monasterio. Abordar
sólo una parte de las estructuras que pertenecen al monasterio hace que la
información sobre el mismo sea parcial e incompleta por el momento.

La aplicación de la Arqueología de la Arquitectura como práctica previa


a intervenciones en edificios y restos arqueológicos no es exigida por la legis-
lación, por ello este tipo de disciplina está condicionada por las posibilidades
de cada caso y, salvo excepciones, se desarrolla fuera de proyectos específicos
de investigación. Sólo en casos puntuales los estudios se planifican con ante-
rioridad a la propia intervención arquitectónica. De esa manera, el proceso de
registro se complica al englobarse dentro de los mismos plazos de la reforma
y al intento de no ralentizar la obra. En este caso la realización de los estudios
de alzados en paralelo al proceso de reposición de cubiertas conllevó diversos
problemas en el registro, ya que los andamios no permitían una visión de con-
junto de todos los alzados exteriores. Este hecho generó diferentes inconve-
nientes en la representación gráfica de resultados, ya que ni la fotografía ni la
topografía pudieron ser realizadas con la precisión necesaria, hecho que im-
plicó la revisión y repetición del trabajo una vez que los andamios fueron re-
tirados.
Otra de las acciones planificadas fue la revisión de las fuentes primarias
y secundarias. En el caso de la información reflejada en los informes de las in-
tervenciones realizadas más recientemente en el edificio, hay que decir que
éstos no aportan datos significativos que ayuden a la comprensión y datación
de la estratigrafía muraria, en unos casos por ser acciones particulares hechas
sin los controles oportunos1 y, en otras, como las excavaciones hechas en 1987-
1988 en el interior de la iglesia, porque sus someros datos no han podido cote-
jarse con la información de los alzados.
En el caso de la documentación histórica original, ésta se encuentra dis-
persa en diversos archivos, alguna de ella sin catalogar o de acceso restringido.
La vinculación administrativa de San Pedro de Rocas al Monasterio de
Celanova en gran parte de su historia ha dejado en un segundo lugar la docu-
mentación del priorato frente a la relevancia de un centro del que sí han sido
catalogadas, estudiadas y publicadas la mayor parte de sus fuentes documen-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 483


tales. Las vicisitudes que el edificio sufrió pueden también ser las causantes
de la pérdida de gran parte del archivo propio, y siendo éste un lugar menor en
la administración económica monacal, no se han conservado los registros, vis-
itas, contabilidades, etc. Las fotografías que se han localizado, fechadas desde
principios del siglo XX, perpetúan la figura del campanario como símbolo pro-
tagonista de la mayoría de las mismas, ya sean particulares o de los especial-
istas que en cada momento se acercaron al edificio. El conjunto de imágenes,
tanto las publicadas como las inéditas, han ayudado a fechar las reparaciones
hechas en el último siglo.
A todas estas casuísticas generales se añade aquí la problemática fun-
damental a la hora de abordar el análisis, que es el propio origen de la edifi-
cación eclesiástica formada mediante la excavación de las capillas de la
cabecera en la roca madre. Este hecho condicionó totalmente las diversas
refacciones que, tras varios abandonos, ha sufrido el edificio. El propio en-
clave en que se encuentra el conjunto monástico, con fuertes pendientes y
afloramientos graníticos de gran tamaño, determinó la reutilización del solar.
Se destruyeron en cada período las
estructuras innecesarias para con-
struir en el mismo espacio las
nuevas, eliminando así las huellas
en altura de cada fase. Habitual-
mente en las construcciones históri-
cas encontramos restos de la
reutilización de materiales y muros
como forma de economizar en las
reparaciones o reconstrucciones,
sobre todo en el caso de los proyec-
tos con menor poder económico.
Pero San Pedro de Rocas es un edi-
ficio restringido en su crecimiento
por la orografía. De esta manera, los
hiatos o vacíos son tantos como los
Figura 5. Interiores de la iglesia: nave transversal, ca-
restos materiales conservados. La pillas excavadas en roca y estancia en el segundo piso
elección en el origen del complejo

Pág. 484 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


arquitectónico actual de un lugar con unas características físicas complejas
imposibilitó en cierta manera la construcción de un monasterio que siguiese
las planificaciones habituales para este tipo de centros en cada momento.
Parece claro pues que la sacralización de este lugar y la relevancia del mismo
fueron más que suficientes para condicionar la práctica habitual en temas
edilicios y seguir manteniendo el uso religioso de un enclave tan singular
hasta fecha reciente. En este sentido se plantea la necesidad de analizar en
profundidad las características espaciales y de ubicación de las edificaciones
religiosas que jalonan la Ribeira Sacra, más allá de las meras características
estilísticas de cada uno de los edificios religiosos que componen este régimen
de asentamiento.
Otro de los problemas que genera actualmente la disposición de gran parte
de la iglesia excavada en la roca es la humedad constante dentro del edificio.
Desconocemos cómo era el ambiente en el interior del templo en los momentos
de uso del mismo, pero actualmente el grado de humedad se sitúa por encima
del 85% en muchos puntos. Las diversas acciones que se han llevado a cabo
dentro de las capillas y nave en los últimos años pueden incidir en el aumento
de la saturación, ya que la eliminación del enlosado y las tumbas bajo el mismo
han dejado la roca madre a la vista en casi la totalidad del suelo del edificio.
Se ha perdido el aislamiento que proporcionaban aquellos rellenos y con ello
las características interiores han variado de tal manera que se incrementa la
proliferación de musgos, líquenes y hongos, viéndose alteradas las propiedades
físicas del granito, tanto en la cantería como en la roca madre. Esto imposibilita
determinados análisis de visuales de morteros y acabados pétreos que, en
condiciones normales, aportarían datos para el registro y consecución de fases
constructivas.
En el caso de la datación de las capillas excavadas en roca serían opor-
tunos análisis específicos con el fin de determinaran las ampliaciones que han
sufrido y la erosión que actualmente tienen las marcas de herramienta utilizadas
en la construcción. Sería fundamental conocer el grado de alteración de la roca
que compone las diferentes capillas. Los análisis de las pátinas y coloniza-
ciones biológicas y de los morteros y restos de pinturas en los alzados podrían
aportar conocimiento eficaz para saber qué ha ocurrido dentro de la iglesia.
Con lo que se sabe hasta el momento no se puede asegurar una fecha de origen,

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 485


mucho menos si ésta se vincula a la aparición de un elemento mueble. De tal
manera serían necesarios análisis comparativos con la estela y ara que fueron
localizadas en la iglesia y con el resto de esculturas y relieves que hoy se
mantienen en ella.
Por último, podemos apuntar la posibilidad de descontextualización de
material propio de este monasterio y su uso o reutilización en lugares del en-
torno como elementos decorativos o constructivos. Este hecho se repite en todo
tipo de edificios de cierta relevancia constructiva, ya que es práctica común
utilizarlos de cantera una vez que no están en uso. En este caso, la ubicación
en un lugar aislado daría lugar a la dispersión de los elementos en un amplio
territorio desde el cual acudirían los vecinos a buscar piedra. De nuevo se
plantea la necesidad de realizar estudios territoriales para la comprensión total
de los procesos constructivos-destructivos de éste y otros edificios de la zona.

Resultados
Lo que hoy día se conoce de este monasterio se centra principalmente en
los edificios que permanecen en pie, pero, como se ha apuntado, sería necesario
el estudio del entorno inmediato y de un territorio más amplio con el fin de lo-
calizar y conocer la envergadura real del conjunto monástico.
Centrándonos en lo estudiado hasta
el momento podemos apuntar que el área
que hoy ocupa la nave transversal de la
iglesia fue utilizada, probablemente, para
la prolongación en dirección este-oeste de
las capillas de cabecera. Es significativa la
aparición de unos escalones de acceso al
espacio en que se sitúa la capilla norte,
oblicuos a la misma, que marcan una con-
figuración del espacio muy diferente a la
actual y que podrían estar en relación con
los primeros momentos del edificio.
Figura 6. Secciones de la iglesia: este-oeste
Debido a la reutilización de material atravesando la capilla central y la estancia del
decorativo, la datación estilística de las ar- segundo piso, y sección norte-sur de la nave
querías de acceso a las capillas pétreas, transversal en la que se observa la totalidad
del panel pétreo de acceso a las capillas

Pág. 486 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


mantenida hasta ahora para estos espacios por los especialistas, no está direc-
tamente relacionada con el momento de colocación de las piezas que las com-
ponen. Este hecho nos lleva de nuevo a la necesidad de una revisión crítica de
ese tipo de analíticas y a la comparación con otras perspectivas de estudio. La
ubicación en la capilla pétrea situada al norte de un mural con un mapamundi,
fechado en torno al siglo XII, determina el momento de conformación general
de la triple cabecera del modo en que hoy aparece.
En el panel pétreo que conforma el alzado de acceso hacia las capillas,
aparecen diferentes rebajes y mechinales que parecen encajar con la colocación
de techumbres a dos aguas, bien para cubrir las naves longitudinales a las capil-
las pétreas o bien a modo de atrio que pudiera cerrarlas en el lado oeste. En
este panel también permanecen las marcas dejadas por el coro alto que se man-
tuvo en uso hasta el incendio de 1923.

Tanto la nave transversal como la cabecera de la misma, situada al norte,


tuvieron un segundo piso. Esta segunda altura debió estar conectando el
Monasterio, del cual existen referencias documentales sobre la destrucción de
gran parte del claustro por una piedra caída del monte en torno al año 1745,
con la estancia superior ubicada sobre las capillas y otras desaparecidas de las
que se observan restos en la parte exterior noreste. Todo ello apunta a la pérdida
de gran parte de las construcciones que podrían arrojar mayor conocimiento
sobre la que posiblemente fue la época de apogeo. El lienzo sur de la nave
transversal, hecho a finales del siglo XV según la inscripción, muestra solución
de continuidad con la estancia superior, y de ésta se conservan los alzados sur
y este, que podrían fecharse así en ese momento. Esto indica la existencia de
un edificio de al menos dos pisos, claustral, unido a las estancias que sobre la
capilla se sitúan.
Uno de los elementos más significativos es el gran bolo granítico sobre
el que se sitúa el campanario. En el suelo entre éste y el cementerio aparecen
restos de diferentes estructuras adosadas al alzado de la roca que podrían es-
tarnos apuntando la posibilidad de que el bolo granítico no fuese el lugar orig-
inal en el que se ubicaba el campanario y sí parte de otro tipo de estancia,
cerrada y con más de un piso como muestran las escaleras labradas en él.
Nos parece fundamental en este punto hacer una revisión del

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 487


conocimiento que del edificio se transmite al visitante. Las especiales carac-
terísticas del mismo, la exhumación de las tumbas y la falta de datos objetivos
han dado lugar a un discurso realmente alejado de los restos materiales con-
servados. Por ello, como en otros bienes arqueológicos, es fundamental la rea-
lización de un programa de puesta en valor específico y alejado de falsos mitos.

Bibliografía
Benito de la Cueva. 1997. Historia de los Monasterios y Prioratos Anejos a Celanova. Granada: Uni-
versidad de Granada.
Boletín de la Comisión Provincial de Monumentos Históricos y Artísticos de Ourense.1898-1960. Xunta
de Galicia-Grupo Marcelo Macias.
Duro Peña, E. 1972. El Monasterio de San Pedro de Rocas y su Colección Documental. Ourense: Instituto
de Estudios Orensanos Padre Feijoo.
Malingre Rodríguez, A. M. 2001. Monasterio de San Pedro de Rocas. León: Edilesa.
Sá Bravo, H. 1982. el Monasterio de Celanova. León, Editorial Everest.
Sáez, E. y Sáez, C. 1996. Colección diplomática del monasterio de Celanova). Alcalá de Henares; Univer-
sidad de Alcalá de Henares.

1
El Grupo Evangélico Ciudad de los Muchachos ocupa desde 1965 estos edificios en los que han realizados
diversas limpiezas y reparaciones.

Pág. 488 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


LAs distintAs tRAnsFoRMAciones esPAciALes y
FuncionALes deL PAZo PRioRAL de LA coLegiAtA de
sAntA MARíA de xunQueiRA de AMBíA (xunQueiRA de
AMBíA, ouRense)
diFFeRenT SPATiAL And FunCTiOnAL TRAnSFORMATiOnS OF The
PAzO PRiORAL OF The COLegiATA OF SAnTA MARíA de
XunQueiRA de AMBíA (XunQueiRA de AMBíA, OuRenSe)

Nieves Amado Rolán Arqueóloga profesional; nievesamado@inicia.es


Rebeca Blanco-Rotea; rebeca.blanco-rotea@iegps,csic.es
Sonia García Rodríguez sonia; garcia-rodriguez@iegps.csic.es
Anxo Rodríguez Paz; anxo.rodriguez-paz@iegps.csic.es
lAPA-CSIC

Resumen: El Pazo Prioral de la Colegiata de Santa María de Xunqueira de Ambía está


siendo sometido desde hace varios años a un proyecto de rehabilitación, encaminado a la recu-
peración del edificio y a su adecuación a un uso cultural. Dentro de la segunda fase de la restau-
ración, se planteó la realización de un estudio integral con la finalidad de determinar cuál había
sido su secuencia constructiva y contribuir a la elaboración del proyecto de rehabilitación. A
través de la información obtenida se ha podido recuperar la evolución del Pazo Prioral, reinter-
pretar su funcionalidad y abrir nuevas vías de estudio sobre la interpretación de su evolución
espacial y funcional.
Palabras clave: SE de Galicia; Rehabilitación Arquitectónica; Arqueología de la Arqui-
tectura; Lectura Estratigráfica de Alzados; Análisis Histórico; Control Arqueológico; Arquitec-
tura Monástica.

Abstract: The Pazo Prioral of the Colegiata of Santa Maria de Xunqueira de Ambía has
been undergoing a restoration project during the last few years aimed at recovering the building
and giving it a cultural use. Within the second phase of the restoration, the execution of an in-
tegral study with the purpose of determining its constructive sequence and of contributing to
the elaboration of the restoration project was considered. Through the data obtained, it has
been possible to recover the evolution of the Pazo Prioral, to reinterpret its functionality and to
open new ways of study on the interpretation of its space and functional evolution.
Keywords: Se of galicia; Architectonic Restoration; Archaeology of Architecture; Strati-
graphic Analysis; historical Analysis; Archaeological Control; Monastic Architecture.

introducción
Desde el año 1995 el Pazo Prioral de la Colegiata de Santa María de Xun-
queira de Ambía (Ourense) ha sido objeto de diferentes proyectos de restaura-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 489


ción arquitectónica cuya finalidad es la rehabilitación del edificio para desti-
narlo a un uso cultural. La restauración se ha desarrollado, hasta el momento,
en tres fases: 2003-2004, 2005 y 20071.
Durante la 2ª fase se lleva a cabo un estudio exhaustivo del edificio, cuyos ob-
jetivos eran documentar, analizar e interpretar las fases del edificio, establecer su cro-
nología, la funcionalidad de cada fase y aportar información para el desarrollo del
proyecto de restauración. Para ello, se realizaron los siguientes estudios: investigación
etnográfica sobre usos y toponimia de los edificios del patio llamado “El Palacio”;
análisis del estado de la cuestión entre diferentes investigadores relacionados con el
conjunto monumental de Xunqueira de Ambía; revisión de fuentes publicadas co-
nocidas; consulta de fuentes originales manuscritas en los archivos Histórico Pro-
vincial de Ourense (AHPO) y Diocesano de Ourense (AHDO); control arqueológico
de remoción de tierras; y, finalmente, análisis estratigráfico de alzados.
Los resultados obtenidos han permitido recuperar su evolución construc-
tiva, reinterpretar su funcionalidad y abrir nuevas vías sobre la interpretación
de su evolución espacial y funcional.
El presente texto, además de recoger los resultados de los estos trabajos, incor-
pora también los avances de las investigaciones que los autores han determinado con
posterioridad a dicha intervención. Además, se corresponde con el póster que bajo
este título se presentó en el Congresso Trans-
fronteiriço de Arqueologia: “um Património
sem Fronteiras” (Montalegre, Octubre de
2008).

Problemática
Uno de los aspectos que nos gustaría
resaltar antes de proceder a presentar los
resultados de esta investigación, es la pro-
pia problemática del edificio, ya que resulta
de gran ayuda para entender tanto algunos
aspectos que se plantearán más adelante,
como la imposibilidad de ratificar algunas
Figura 1. Planta de la Colegiata de Santa
hipótesis sin ampliar los trabajos arqueoló- María de Xunqueira de Ambía
gicos realizados hasta el momento.

Pág. 490 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


A principios del s. XX se eliminó parte del ala S del Pazo Prioral para
construir una Casa Episcopal2; de esta manera, el edificio que actualmente se
conserva del antiguo Pazo Prioral pierde la conexión e interrelación estratigrá-
fica con el resto del conjunto monumental, lo cual impide que podamos rela-
cionar de manera directa Pazo Prioral y Colegiata.
Por otra parte, al analizar únicamente una parte del conjunto monumental
se obtiene un conocimiento parcial del Pazo Prioral, ya que muchas de las cla-
ves interpretativas se despejarían al estudiarlo en su totalidad. De hecho, visi-
tando otras zonas de la Colegiata se documentan paralelismos con las fases II
y III del edificio estudiado.
Además, algunas zonas del Pazo no pudieron estudiarse en la 2ª fase de res-
tauración por no ser objetivo de la misma, como las plantas baja y segunda del
cuerpo S, o por encontrarse ocultas por estructuras que se habían ido adosando
a sus muros a lo largo de tiempo. Una de las propuestas que se realizaron una
vez finalizada esta actuación fue continuar trabajando en esta zona, denominada
“Torre”3, y poder despejar así algunas hipótesis sobre la evolución del edificio
en época medieval. Hemos de indicar, sin embargo, que durante la última fase
de intervención (2007) sí se han realizado otras intervenciones arqueológicas,
como la excavación de la totalidad del suelo de la estancia de mayor tamaño o
la realización de algunos sondeos en el espacio que comentábamos, todas ellas
dirigidas por M. Anxo López-Felpeto Gómez. Gracias a estas intervenciones se
ha podido comprobar la continuidad del empedrado localizado por N. Amado
en el 2005, así como documentar la existencia de un corte que no se había iden-
tificado anteriormente, gracias a la exhumación de parte de la cimentación del
inmueble que permite acotar parcialmente la planta del edificio de la fase II y
reinterpretar los muros pertenecientes a la fase III4. En definitiva, hemos podido
corroborar alguna de las hipótesis planteadas inicialmente5 y abrir otras nuevas.
Finalmente, debemos decir que el uso continuado a lo largo del tiempo y las
transformaciones sufridas en los edificios históricos, conllevan, por lo general, la pér-
dida de material. A veces son más las ausencias que las presencias. Teniendo en cuenta
este hecho, queremos hacer hincapié en la necesidad de cotejar las informaciones
extraídas en intervenciones de este tipo, en las que los trabajos se acometen en dis-
tintas fases y de la mano de distintos equipos. Sólo así podremos llegar a alcanzar un
conocimiento lo más exhaustivo posible de nuestras edificaciones históricas.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 491


Resultados
Recientemente, los autores de este póster han publicado un artículo sobre
el Pazo Prioral de Santa María de Xunqueira de Ambía6, en el que se trata en
detalle la evolución constructiva de dicha
edificación. Por ello, en el presente texto
únicamente haremos mención a los as-
pectos más destacables dentro de cada
fase constructiva y a las transformaciones
con respecto a fases anteriores, ya que
preferimos tratar aquí los avances obteni-
dos sobre la investigación del edificio
desde la fecha de entrega de ese artículo.

Fase i: anterior al s. xii


De esta fase se conserva únicamente
un alzado, al que se abrazan los muros de
las fases II y III (figura 2). Presenta una
sillería regular a soga y tizón con las jun-
tas a hueso y abundantes marcas de can-
tero7, diferentes a las documentadas en las
fases siguientes. Desconocemos cómo
sería la configuración de este primer edi-
ficio ya que posiblemente se desmontó en
1902 para construir la Casa Episcopal.

Fase ii: anterior o coetánea al s. xii


De este momento, se conservan en Figura 2. Planta de las fases I, II, III y IV del
la planta baja dos muros aislados entre sí, Pazo Prioral
pero que por la similitud de su aparejo y
su orientación se han incluido dentro de
la misma fase (figura 2). Corresponden a los restos de las fachadas E y S de un
edificio, cuyo perímetro desconocemos, aunque por el N era de mayores di-
mensiones que el actual ya que se prolongaba con esta orientación. Únicamente
conocemos su límite SE. Se conservan algunos de los canecillos de la fachada

Pág. 492 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


E y una saetera. Elementos del
mismo tipo se han registrado en la fa-
chada S del conjunto monumental
que vierte a la zona denominada An-
tiguas Escuelas (figura 1).

Fase iii: s. xii


De las tres fases medievales ésta
sería la única que, hasta la fecha, se
puede datar con seguridad, gracias a
la decoración conservada en una mo-
cheta de una ventana balconera, que
hay que poner en relación con los
modelos empleados por los talleres
mateanos que irradian del foco com-
postelano. En todo caso, las similitu-
des entre los aparejos y las marcas de
cantero documentadas en las fases II
y III, apoyan la hipótesis de que no se
alejen mucho en el tiempo.
Se construye un edificio con una
planta en L, de dos alturas en el brazo
largo y tres en el corto, para el cual se
aprovechan los muros de las fases I y
Figura 3 Planta de las fases V a XI del Pazo Prioral
II (figura 2). La zona que vierte al ac-
tual patio estaba porticada, dato que se
conoce gracias a los mechinales de
obra para vigas documentados. Los canecillos son ahora en nacela y de mayores
dimensiones que los de la fase II.

Fase iv: 1513-1544


Esta fase se corresponde con las reformas realizadas en Xunqueira por el
Prior Alonso de Piña (figura 2). Los aspectos más destacados de las mismas
son, por un lado, la reestructuración espacial de la planta baja del brazo mayor

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 493


de la “L” en dos habitaciones de distintas dimensiones, separadas por un muro.
En cada estancia se construyen grandes pilares que soportan una nueva vigue-
ría. La de mayores dimensiones se dota de un suelo empedrado, suelo que,
como ya comentamos, fue descubierto inicialmente gracias a la intervención
de Amado en la zona NW de la estancia, y que acabó de excavar en su totalidad
López-Felpeto.
Por otro lado, se reforma la fachada W, sustituyendo el pórtico de madera
de la fase anterior por uno de piedra, soportado por pilares también de piedra.
La planta alta tendría al menos los laterales cerrados.
Finalmente, se desplazaría la escalera de subida a la segunda planta del pór-
tico, ubicándola ahora sobre la puerta principal, obligando a construir un paso abo-
vedado, del que se conserva el alzado S. Tanto el empedrado de la estancia como
el paso abovedado habría que ponerlos en relación con el nuevo uso de este espacio,
posiblemente destinado ahora a caballerizas, como se puede documentar en otros
monasterios de Galicia en los que las caballerizas se ubican en los claustros desti-
nados a Hospedería y presentan un tratamiento similar a este tipo de espacios8.

Fase v-vi: 1544-


1594
Posiblemente por
problemas estructurales se
dota de contrafuertes la fa-
chada E (figura 3). Éstos se
construyen en dos fases,
siendo más antiguos los ex-
teriores. Al contrafuerte S
se adosa una letrina (ver
Figura 4. Distintas imágenes de los exteriores del pazo Prioral: en imagen superior derecha
la fotografía superior izquierda se recoge una vista del patio deno-
minado “El Palacio”; en la superior derecha las fachadas E y S del de la figura 4) y en el lado
Pazo Prioral. En la fotografía inferior izquierda la fachada N, en la N se conservan las huellas
central la esquina entre la fachada N y la W del Pazo Prioral1 así
como la fachada del garaje que daba servicio a la Residencia Epis-
de haber existido un muro
copal y en la derecha la fachada W adosado a la fachada, por
lo que creemos que sobre

Pág. 494 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


los contrafuertes se situaría un balcón, cerrado
en los laterales.

Fase vii: 1594-1620


En estas fechas se datan las reformas rea-
lizadas en Xunqueira por el Prior Martín de
Córdoba. En esta fase el Pazo adquiere su con-
figuración exterior actual (figura 3).
Se cierra totalmente el pórtico de las fases
III y IV y se adelanta la fachada hacia el W. Este
nuevo espacio se divide en dos pisos y acoge
una escalera de mayores dimensiones que la de
la fase IV. Además, tiene lugar la apertura y mo-
dificación de varias puertas, siguiendo todas
ellas los mismos planteamientos estilísticos. Figura 5. Fotografías de algunas puer-
Estas reformas tienen que ver con la reconfigu- tas del Pazo Prioral que se correspon-
den con distintas fases constructivas
ración espacial interior del inmueble.
Hemos de indicar que uno de los indica-
dores cronológicos empleados para fechar las distintas fases constructivas han
sido los vanos documentados (figura 5), ya que los que se adscribían a la misma
fase constructiva presentaban las mismas características, por ejemplo, los vanos
vinculados a la fase VII, que son adintelados al exterior, rematados en un arco
escarzado dovelado al interior y abocinados también al interior9.

Fase viii: 1837-1853


En el año 1837 tiene lugar la Desamortización de Mendizábal, tras la cual el
Pazo queda en un total abandono hasta que en 1853 se emprende una reforma im-
portante, promovida por el arcipreste de Ourense Rafael Calabozo. A partir de esta
fecha el edificio se destina a Rectoral y la planta baja se reserva para cuadras.
Los aspectos más destacables de esta reforma son: la reconstrucción de
algunas zonas caídas, como la parte alta de la fachada E; la reconfiguración de
la totalidad del interior del edificio, habilitando nuevos espacios gracias a la
construcción de medianeras, lo cual conllevó la necesidad de abrir nuevas puer-
tas y cerrar otras; la construcción de un altillo abierto en la segunda planta del

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 495


brazo mayor de la L de la fase III; la realización de una nueva reforma y des-
plazamiento de la escalera de subida al segundo piso.

Fases ix-x-xi: 1902-década de los 60 del s. xx


En estas tres fase se han incluido las reformas documentadas a lo largo del s. XX

Figura 6. Reconstruc-
ción hipotética del
Pazo Prioral en la fase
III realizada por A.
Rodríguez Paz. Para
esa fase no se han do-
cumentado huellas de
escaleras interiores,
por lo tanto, la comu-
nicación entre ambos
pisos debía hacerse
desde el exterior.
Hemos dispuesto las
escaleras en aquella
zona donde no se han
documentado mechi-
Entre 1902 y 1906 tiene lugar la construcción del Pa- nales relacionados con
el pórtico y balcón que
lacio Episcopal y se cierra la esquina SW para construir un recorrería la fachada.
garaje que da servicio al Palacio. Del mismo modo, no
En el interior se acorta el altillo y se hacen muros con hemos terminado esta
estructura en el edifi-
materiales perecederos en toda la planta alta. Además, se cio llamado “Torre” ya
asegura la fachada E del edificio con la construcción de que los mechinales
también se documen-
unos muros en talud entre dos de los contrafuertes. El balcón tan en otras fachadas
ubicado sobre los contrafuertes se refuerza con hormigón y de este patio, conti-
nuando por ellas la es-
se construye un muro de mampostería que recoge las aguas tructura porticada
sucias de la letrina.
La última fase representa el estado actual del Pazo Prioral, una vez reali-
zadas las intervenciones de los años 2003-2004, 2005 y 2007.

hipótesis sobre la configuración de la zona e de la colegiata


El Pazo Prioral cierra por el SE un patio de grandes dimensiones que com-
parte el ala E del Claustro de la Colegiata, la cabecera de su iglesia y la Casa
Episcopal. Esta zona, denominada por los vecinos “El Palacio”, constituye la

Pág. 496 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


parte civil de la Colegiata, como centro de poder del señorío eclesiástico juris-
diccional.
En la fachada W del Pazo Prioral, la que vierte a “El Palacio”, se han do-
cumentado una serie de mechinales que corresponden a distintas épocas, pero
todos ellos son testigos de la existencia en esta zona de un espacio porticado
que se va transformando a lo largo del tiempo. Al revisar otras fachadas me-
dievales de la colegiata situadas en este patio se observa que se repiten el
mismo tipo de mechinales y que se sitúan a la misma altura que los que nos
llevaron a suponer la existencia de un pórtico en la fase III.
En este sentido, se abren dos hipótesis: la primera se basa en la existencia
de un corredor porticado en todas las fachadas del patio hasta la altura de la
cabecera. Teniendo en cuenta los datos con los que contamos, parece la más
acertada. A ella corresponde la reconstrucción de la fase III (figura 6).
La segunda, que se apoya además en otros elementos que ya hemos co-
mentado, como el empedrado o el paso abovedado en el Pazo Prioral, o la pre-
sencia de un paso en el ala E del Claustro de la Colegiata que lo comunica con
el patio (y que repite el esquema utilizado en otros monasterios gallegos fe-
chados en esta misma época para los pasos interclaustros), apunta a la existen-
cia de un segundo espacio claustral, tal vez abierto, que funcionaría como
Claustro de la Hospedería. Sin embargo, sin poder efectuar una excavación en
área del patio, es imposible conocer con exactitud los límites de las edifica-
ciones que aquí se emplazaban10.
Ya a finales del siglo XVI, con las intervenciones de Don Martín de Cór-
doba, el patio adquiere una nueva articulación, cerrándolo con un gran arco
por el N, magnificando de esta manera la entrada al recinto.

Bibliografía
AMADO ROLÁN, N., informe histórico-Arqueolóxico sobre o Pazo Prioral da Colexiata de Sta. Mª A
Real de Xunqueira de Ambía, informe inédito 2005.
AMADO ROLÁN, N., BLANCO-ROTEA, R., GARCÍA RODRÍGUEZ, S. 2008. La Colegiata de Santa María
la Real de Xunqueira de Ambía: la recuperación de su Pazo Prioral. Cuadernos de estudios gallegos, Lv, Nº
121, pp. 139-172. Madrid.
BARROS GUEDE, J., historia y Arte de Xunqueira de Ambía, A Coruña 2004.
BLANCO ROTEA, R. – GARCÍA RODRÍGUEZ, S., Lectura de alzados del Pazo Prioral de la Colegiata de
Santa María de Xunqueira de Ambía (Ourense), Laboratorio de Patrimonio, Paleoambiente e Paisaxe (IIT, USC),
informe inédito 2006.
CRESPO POZO, J. S., “El priorato de Santa María la Real de Junquera de Ambía”, Revista estudios, (1964-1967).

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 497


FERNÁNDEZ ALONSO, B., “Junquera de Ambía”, Comisión Provincial de Monumentos de Orense, 2, 43-44
(1905), 329-33, 345-50.
FERRO COUSELO, J., “Don Alonso de Piña, fundador de la villa de Junquera de Ambía”, La Región, (1970),
Ourense.
GONZÁLEZ GARCÍA, M. A., “Don Alonso de Piña, Chantre de Ourense, Prior de Xunqueira de Ambía, mecenas
y hombre de gobierno”, escritos dedicados a José María Fernández Catón. Centro de estudios e investigación
“San isidoro”, León 2004, 571-95.
PLACER, FR. G., “Junquera de Ambía. Datos para la historia de la villa y su colegiata”, Comisión Provincial de
Monumentos de Orense, 11-240 (1938a), 417-30.
PLACER, FR. G., “Junquera de Ambía. Datos para la historia de la villa y su colegiata”, Comisión Provincial de
Monumentos de Orense, 11-241 (1938b), 440-50.
PLACER, FR. G., “Junquera de Ambía. Datos para la historia de la villa y su colegiata”, Comisión Provincial de
Monumentos de Orense, 11-242 (1938c), 479-88.
VÁZQUEZ NÚÑEZ, A., “La ex-colegiata de Junquera de Ambía”, Boletín de la Comisión de Monumentos de
Orense, 1-17 (1900), 297-301.

1
Ficha técnica:
Promotor: Xunta de Galicia, Consellería de Cultura e Deporte, Dirección Xeral de Patrimonio Cultural
Arquitectos: Recuna y Mendizábal S.C.
Directora intervención arqueológica 2ª Fase: Nieves Amado Rolán
Directora lectura de alzados 2ª Fase: Rebeca Blanco Rotea
Equipo técnico lectura de alzados: Nieves Amado Rolán, Sonia García Rodríguez
Fotografía: Nieves Amado, Rebeca Blanco, Sonia García, Anxo Rodríguez
Delineación y dibujo: Rebeca Blanco, Sonia García, Anxo Rodríguez
Reconstrucciones: Anxo Rodríguez Paz
Tratamiento de la información: Matilde Millán Lence
Director intervención arqueológica 3ª Fase: M. Anxo López-Felpeto Gómez
2
La Casa o Residencia Episcopal fue mandada construir por el obispo Pascual Carrascosa entre 1902 y 1906
(Amado Rolán 2005; Amado Rolán, Blanco-Rotea, García Rodríguez 2008: 147 y 149).
3
Amado Rolán 2005.
4
Véase la diferencia entre las plantas de fase correspondientes a las fases II y III que presentábamos en Amado
Rolán, Blanco-Rotea, García Rodríguez (2008: 153, figura 8) y las que se recogen en este texto.
5
Amado Rolán, Blanco-Rotea, García Rodríguez 2008.
6
Op. Cit. 5.
7
Se trata del aparejo más cuidado de todos los documentados en el Pazo Prioral.
8
Ejemplos similares los encontramos en el Monasterio de San Clodio o de Santa María de Melón. Para este
último caso ver la interpretación de Blanco Rotea y Fernández González, sobre la función de las estancias de los
distintos espacios claustrales presentado en Los efectos del Terremoto de Lisboa en el Monasterio de Santa María
de Melón (Melón, Ourense), Tercera Reunión de la Red Temática de Patrimonio histórico y Cultural del CSC
“Técnicas de Conservación del Patrimonio” (Madrid 19-20 de junio de 2003), organizada por el Instituto de Ge-
ología Económica (CSIC-UCM).
9
Amado Rolán, Blanco-Rotea, García Rodríguez 2008: 161-2, figura 16.
10
Ya comentamos anteriormente que el edificio de la fase II continuaba hacia el N. Por otra parte, durante el
control arqueológico de una zanja abierta en este patio realizado por Amado en el 2005, se documentaron unas
piezas decoradas próximas a la actual fachada E del Pazo Prioral que podrían estar formando parte de una estruc-
tura mayor (Amado Rolán, Blanco-Rotea, García Rodríguez 2008: 151-2, figura 6).

Pág. 498 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


siLhAs do Antigo conceLho de eRMeLo: uM PRojecto
de estudo e vALoRiZAção do PAtRiMónio de MondiM
de BAsto
“SiLhAS” OF The FORMeR MuniCiPALiTY OF eRMeLO: A CASe
STudY And vALORizATiOn OF MOndiM de BASTO heRiTAge

António Pereira Dinis


CItCeM, doUtorAndo dA UnIverSIdAde do MInHo;
AntonIoPdInIS55@gMAIl.CoM
Rui Bastos
António Mário Dinis
CâMArA MUnICIPAl de MondIM de bASto

Resumo: Conhecer, valorizar, proteger e divulgar as Silhas de Mondim de Basto são ob-
jectivos de um projecto em desenvolvimento no concelho, integrado numa lógica assumida pela
autarquia que visa a recuperação e promoção do património construído, disperso pelo território,
de modo a incrementar a sua fruição numa perspectiva pedagógica e multidisciplinar.
Iniciado em 2007, no âmbito da actualização de dados para a revisão do PDM, neste pro-
jecto já se identificaram e cartografaram 11 silhas e recolheram-se informações orais e toponí-
micas que fazem acreditar na existência de mais alguns exemplares.
Como nota significativa, é de referir que a distribuição geográfica deste património se
confina à área montanhosa, de origem xistosa, próxima às serras do Alvão e Marão, dispersando-
se por diversos lugares de Ermelo, Pardelhas e Campanhó, freguesias que integraram o antigo
concelho de Ermelo.
Palavras chave: Serra do Alvão; Mondim de Basto; Ermelo; Silhas.

Abstract: The aims of this current project are to identify, protect and make more widely-
known the “silhas”1 within the municipality of Mondim de Basto. This is part of the local
council’s programme to restore various heritage sites throughout its area and to increase the
use made of them for cross-curricular educational purposes.
Since 2007, when the project started for the purpose of up-dating the records of the PdM,
11 “silhas” have been identified and mapped. Based on oral evidence collected and the study
of place names, there is reason to believe there are several other examples in existence.
it is significant to note that the geographical distribution of the “silhas” is restricted to
the schist mountainous region near the Alvão and Marão ranges, and that they are dispersed
throughout the parishes of ermelo, Pardelhos and Campanhó, which historically formed the
old municipality of ermelo.
Keywords: Serra do Alvão; Mondim de Basto; ermelo; “Silhas”.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 499


1. introdução
Instituído no reinado de D. Sancho I (1196)2 e extinto durante a Regene-
ração (1853)3, o concelho de Ermelo, originariamente constituído pelas fre-
guesias de Ermelo e Bilhó, veio a ocupar uma extensa área da Serra do Alvão,
abrangendo além daquelas freguesias as de Vilar de Ferreiros, Campanhó e
Pardelhas, do actual concelho de Mondim de Basto e Lamas de Olo, Campeã,
Vila Cova e Quintã, do de Vila Real (JORGE 1996, 13).
Região sobremaneira montanhosa, com um clima agreste que se manifesta
em prolongados Invernos e Verões muito secos, ostentava no passado grandes
extensões de bosque de folhosas, com azevinho, carvalho, teixo, castanheiro e
pirliteiro, a par de manchas de medronheiro, habitadas por corços, gamos, ja-
valis, lobos, raposas, veados e ursos.
A grande diversidade geológica, com alternância do granito, do quartzito
e do xisto, é outra das particularidades do território daquele antigo concelho,
facto que condicionou o fácies arquitectónico das suas aldeias.
O relevo acidentado e os solos com fraca apetência agrícola determinaram
os modos de vida das suas populações, fazendo depender a sua sobrevivência
da exploração de uma gama variada de recursos onde se salientaram a pasto-
rícia, a recolecção e a apicultura, a par da mineração do cobre e estanho, da
metalurgia do ferro e da produção de cal.

2. As silhas
As silhas, também chamadas muros de abelhas, colmeais e apiários, são
estruturas primitivas, construídas em alvenaria de granito ou xisto, implantadas
em zonas de forte declive ou sobre morros de difícil acesso, destinadas a al-
bergar os enxames de abelhas, protegendo-os dos ataques de predadores, par-
ticularmente do texugo (Meles meles) e do urso pardo (ursus arctus)4.
De planta subcircular ou ovalada, com perímetro e altura variáveis, po-
dendo esta atingir os 4m e aquela mais de 80m, são providas de um estreito
vão de acesso e estruturam no seu interior várias plataformas horizontalizadas,
pavimentadas com lajes de xisto (que os habitantes denominam “estradoilas”),
servindo de suporte aos cortiços das abelhas.
Desconhecendo-se a sua introdução na paisagem rural portuguesa, mas
admitindo-se que seriam já abundantes na Época Medieval, as silhas deverão

Pág. 500 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


ter começado a perder a sua principal função, no séc. XVIII, com a extinção
do maior predador das colmeias5. Um relato das Memórias Paroquiais de 1758,
da autoria de João Álvares de Azevedo, abade da igreja de S. Tomé de Parada
do Gerês (concelho de Montalegre) dá conta que “há quem se lembre de hum
homem da freguesia de Cabril que matou no ditto gerês hum urso. Certifica
havê-los nesse tempo por se verem de presente sinaes de muros de colmeas
sobre pedras altas para se livrarem delles” (CAPELA et alii 2006, 344).
Desde então e até meados do séc. XX, a utilização das silhas foi regre-
dindo, acabando por se manterem algumas estruturas, apenas em regiões muito
isoladas, nomeadamente nas serras d’Arga, Peneda/Gerês, Montesinho, Ca-
breira e Alvão/Marão, provavelmente num contexto de reprodução de práticas
ancestrais e de aproveitamento do potencial ecológico dos locais onde se im-
plantaram, nas encostas voltadas a Sul e Poente, abrigadas dos ventos domi-
nantes, com farto coberto vegetal e próximas dos cursos de água.
O declínio progressivo da apicultura e a falta de manutenção dos muros
ditará o abandono e o esquecimento das silhas, sendo hoje praticamente resi-
dual a memória de uma actividade que teve tão grande peso sócio-económico
nas comunidades de montanha. É curioso verificar que já há mais de um século
que em algumas regiões de Basto se perdeu a memória sobre a funcionalidade
destas construções. Com efeito, nos finais do século XIX, numa visita ao Ou-
teiro da Cilha, na freguesia de Pedraça (Cabeceiras de Basto), Francisco Mar-
tins Sarmento interrogava-se sobre a serventia de um muro com altura de três
palmos que circuitava o topo do outeiro e que segundo ele, atendendo às di-
mensões, não podia ser uma fortificação (SARMENTO 1999, 146-147)6.
Relacionando as informações fornecidas pela documentação antiga, pela
cartografia e pelos dados arqueológicos, chegamos à conclusão que no muni-
cípio de Mondim de Basto a produção de mel e cera teve grande significado
sócio-económico desde a Idade Média, ocupando largos sectores da população
durante séculos, destacando-se, neste território, a região da Serra do Alvão,
coincidente com o antigo concelho de Ermelo. Na Población general de es-
paña, escrita em 1695, é nomeada a “villa de ermelo, tres leguas de villa Rial
y su comarca, tomò sitio en una sierra fertil de fruta, miel, ganados, algun
pan” (LOPES 1996, 38), relato que destaca a apicultura, cujo valor pode ser
aferido pelo Livro de usos e Costumes da igreja de ermelo, datado de 1707,

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 501


que releva a obrigação dos fregueses pagarem dízimo da cera, dos enxames e
das colmeias que possuíam (LOPES 2000, 259), encargo que parece atestar,
no séc. XVIII, o grande peso daquela produção no contexto económico da terra.
A importância da apicultura em Mondim de Basto ficou gravada para
sempre na iconografia do brasão novecentista do município (com representação
de oito abelhas, tantas quantas as freguesias que o integram), na toponímia
concelhia, que contempla Muro, Muradal, Alto da Cilha de Cima e Abelheira
(todas na freguesia de Ermelo) e na conservação de muitas estruturas, já car-
tografadas no território daquele antigo concelho, cujas dimensões subentendem
a protecção de muitas centenas de cortiços.
No panorama actual, o conjunto de silhas identificado no município de
Mondim de Basto (com mais de uma dezena de exemplares, no geral em mau
estado de conservação), assume-se como um inegável valor patrimonial, um
valioso documento revelador das estratégias de exploração dos recursos locais
e das técnicas de construção arcaicas que urge preservar e divulgar.

3. catálogo
No território considerado, cartografámos, até ao momento, onze exem-
plares de silhas, todas inéditas, a maior parte delas já abandonadas e em pro-
cesso de ruína, distribuídas pelas freguesias de Campanhó (silhas de
Longarinho, com 2 exemplares), de Ermelo (silhas de Fontão, Arjuiz e Rio de
Sião) e de Pardelhas (silhas de Toutiço, Pinchadouro e Requeixo, com 4 exem-
plares).
Para facilitar a leitura do catálogo que segue, uniformizámos a informação
apresentada associando a cada exemplar um número de ordem (que ajudará à
localização na cartografia anexa), a identificação pelo nome mais comum ou
pelo topónimo do lugar e os dados relativos à localização (com referência à
freguesia, indicação da altitude absoluta e das coordenadas geográficas - sem-
pre em relação ao meridiano internacional - tomadas das cartas dos S.C.E., na
escala 1.25.000) e às vias de comunicação de acesso. Um segundo bloco de
dados alude à implantação (relevando a topografia do local), meio físico e eco-
lógico circundante, descrição do monumento (em particular a planta e estrutu-
ras visíveis), estado de conservação e uso.

Pág. 502 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


3.1 silhas de Longarinho (tejão , campanhó)
Conjunto de dois monumentos, implantados na encosta voltada a No-
roeste sobre o rio Olo, junto da ribeira da Longarinha, em terreno baldio de
utilização florestal.
O acesso é feito por caminho de pé posto, a partir da aldeia de Tejão na
direcção da Tapada das Víboras.

3.1.1 - silha 1
Lat. 41° 20’ 37’’ N
Long. 07° 56’ 30’’ W
Alt. 450m (CMP, fl. 100)
Construção de planta subcircular, construída com muros em alvenaria de
xisto, apresentando-se arruinados em grande extensão.

3.1.2 - silha 2
Lat. 41° 20’ 37’’ N
Long. 07° 56’ 30’’ W
Alt. 430m (CMP, fl. 100)
Semelhante à Silha 1, da qual dista poucos metros, em melhor estado de
conservação e albergando, ainda, algumas colmeias.

3.2 silha de Arjuiz (ermelo)


Lat. 41° 21’ 07’’ N
Long. 07° 52’ 34’’ W
Alt. 540m (CMP, fl. 101)
O acesso é feito a partir do Km 151.5 da E.N. 304, descendo na direcção
da antiga estrada que seguia para a ponte da Várzea.
Implantação no sopé da encosta, na vertente Oeste do monte, junto ao ri-
beiro do Moiro, em terreno baldio, de apetência florestal, actualmente despido
por incêndio recente.
Construção de planta sub-circular, com perímetro totalmente definido por
muro de alvenaria de xisto, conservando cerca de 2m de altura e algumas lajes
do antigo capeamento. Do lado NO. é protegida pela ravina criada pelo ribeiro.
No interior, com acesso por porta rasgada de poente, estruturam-se quatro pa-

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 503


tamares horizontalizados, com “estradoilas” para assentamento das colmeias.
Alguns paramentos da silha foram reconstruídos recentemente, tendo sido
repovoada com colmeias pertencentes a Avelino Henrique, de Ermelo.

3.3 silha de Fontão (ermelo)


Lat. 41° 22’ 04’’ N
Long. 07° 51’46’’ W
Alt. 450m (CMP, fl. 101)
Acesso a partir da capela de S. João do Ermo, por caminho de pé-posto
que segue para o Fontão, atravessando a ribeira da Fervença a vau.
Implantação no sopé da encosta, na vertente Sul do monte, junto à ribeira
da Fervença, afluente do rio Olo, em terreno particular, de apetência florestal
(integrado na área do Parque Natural do Alvão), actualmente despido de vege-
tação. Na mesma encosta, à cota de 590m, fica um abrigo composto por duas
cavidades abertas no afloramento rochoso, denominado a Lapa do Urso7.
Construção de planta sub-circular, com cerca de 7m de diâmetro e vão de
entrada voltado a poente, com perímetro definido por muro de alvenaria de
xisto, integrando os afloramentos rochosos do local. Do lado nascente é pro-
tegida pela ravina criada por uma linha de água que corre para a ribeira. No
interior estruturam-se quatro patamares horizontais, com “estradoilas” para as-
sentamento das colmeias.
A silha foi abandonada há cerca de nove anos, na sequência de um grande
incêndio florestal, encontrando-se parte dos muros já caídos. No interior ob-
servam-se, ainda, restos dos antigos cortiços e pudemos constatar que um en-
xame regressou ao local e ocupou uma colmeia velha.
Segundo informação de Manuel Marinho da Costa, o seu pai, proprietário
de Ermelo, há cerca de 40 anos ainda colocava abelhas neste cercado.

3.4 silha de Rio de sião (ermelo)


Lat. 41° 20’ 22’’ N
Long. 07° 51’ 53’’ W
Alt. 620m (CMP, fl. 101)
O acesso faz-se a partir do Km 153.2 da E.N. 304, descendo por caminho
de pé-posto, na direcção do rio do Sião.

Pág. 504 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Implantação no sopé da encosta, na vertente Sul do monte, junto da con-
fluência do ribeiro do Bouço com o rio de Sião, em terreno baldio de apetência
florestal.
Construção de planta circular, com cerca de 14m de diâmetro e perímetro
definido por muro de alvenaria de xisto, com espessura variável entre 0.50 e
0.60m, no geral derrubados. No interior estruturam-se três patamares com
muros de xisto a segurar os socalcos, sendo os pavimentos lajeados com “es-
tradoilas”, de xisto.
O que resta dos muros e das plataformas foi recentemente limpo da ve-
getação que os ocultava, tendo sido colocados alguns cortiços pertencentes a
Avelino Henrique, de Ermelo. Segundo este informador, cabem nesta silha
entre 50 e 60 cortiços.

3.5 silha de Pinchadouro (Pardelhas)


Lat. 41° 19’ 46’’ N
Long. 07° 54’ 15’’ W
Alt. 530m (CMP, fl. 101)
O acesso faz-se por caminho de pé-posto, a partir da aldeia de Paço na
direcção de Freixieiro.
Implantação na encosta voltada a SE., sobranceira ao ribeiro do Chão do
Rosso, afluente do rio Freixieiro, em terreno baldio, muito pedregoso, onde
cresce apenas alguma vegetação rasteira.
Construção de planta subcircular, com muros de alvenaria xisto, parte
deles já arruinados, a curta distância da silha de Toutiço.

3.6 silha de toutiço (Pardelhas)


Lat. 41° 19’ 41’’ N
Long. 07° 54’ 03’’ W
Alt. 496 (CMP, fl. 101)
O acesso faz-se por caminho de pé-posto, a partir da aldeia de Paço na
direcção de Freixieiro.
Implantação na vertente SE. de um morro pedregoso que se ergue num
meandro do ribeiro do Chão do Rosso, em terreno baldio coberto com alguma
vegetação rasteira.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 505


Construção de planta subcircular, com muros de alvenaria de xisto, a curta
distância da silha de Pinchadouro.
Há cerca de 50 anos, ainda eram colocadas dezenas de cortiços de abelhas
nesta silha.

3.7 silhas de Requeixo (Pardelhas)


Conjunto de quatro monumentos, construídos em alvenaria de xisto, im-
plantados na encosta voltada a poente, sobre o ribeiro da Moura, afluente do
rio Freixieiro, em terreno baldio, pedregoso, onde cresce alguma vegetação
rasteira constituída por urze e carqueja.
Enquanto as Silhas 1 a 3 formam um conjunto alinhado, encosta
abaixo, paralelamente a um regato que drena para o ribeiro da Moura, a
Silha 4 está isolada, separada daquelas pela linha de água, ao longo da
qual, entre castanheiros, carvalhos, amieiros, salgueiros e medronheiro,
crescem muitos pirliteiros, escalheiros ou escambroeiros (numa visita rea-
lizada no mês de Setembro estavam em fruto proporcionando uma visão
de invulgar beleza), espécie de interesse florístico pela sua raridade. Na
envolvente Norte existe denso pinhal e na outra margem do ribeiro, nos
socalcos do lado de Pardelhas, cultiva-se milho e erva onde pasta o gado
bovino.
O acesso é feito a partir da estrada asfaltada para Pardelhas, através de
um carreiro estreito rasgado na encosta.

3.7.1 - silha 1
Lat. 41° 20’ 19’’ N
Long. 07° 52’ 58’’ W
Alt. 530m (CMP, fl. 101)
Construção de planta tendencialmente circular, sendo a mais pequena e a
melhor conservada do conjunto. Os muros de Norte ainda mantêm uma altura
considerável e possuem capeamento no topo, constituído por lajes colocadas
obliquamente. O interior organizado em vários patamares revela, ainda, alguns
lajeados com “estradoilas” onde assentam três cortiços e duas caixas com abe-
lhas. O lado voltado ao regato apenas tem o muro de contenção da plataforma,
criado para vencer o desnível existente.

Pág. 506 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


3.7.2 - silha 2
Lat. 41° 20’ 17’’ N
Long. 07° 53’ 01’’ W
Alt. 490m (CMP, fl. 101)
É a maior construção do conjunto, com cerca de 25m de diâmetro, si-
tuando-se entre as silhas 1 e 3.
Tem planta em forma de ferradura, estando o segmento de muro, em se-
micírculo, já bastante destruído e a parte recta voltada ao regato, funcionando
como sapata de contenção.
O interior é muito rochoso e já não se distinguem os patamares. É visível,
do lado voltado a Sul, uma entrada com uma ombreira bem definida.

3.7.3 - silha 3
Lat. 41° 20’ 16’’ N
Long. 07° 53’ 05’’ W
Alt. 460m (CMP, fl. 101)
Construção de planta, sub-quadrangular, com cantos arredondados, de pe-
quenas dimensões, integrando, do lado Sul, grande penedia que torna mais di-
fícil o acesso. Possui muros em alvenaria de xisto, com altura ainda
considerável e capeamento bem conservado, o que lhe confere o aspecto de
“fortaleza”. No interior, distribuídos por vários patamares, assentam cortiços,
cobertos com lousas. No lado junto ao regato o muro é relativamente baixo,
assumindo-se como sapata de contenção do talude.

3.7.4 - silha 4
Lat. 41° 20’ 15’’ N
Long. 07° 53’ 00’’ W
Alt. 500m (CMP, fl. 101)
Construção de planta semi-circular, implantada sobre um morro com es-
carpa impressionante, que cerra parcialmente o cercado. É a mais pequena e a
mais degrada das quatro silhas do conjunto. Possui muros em alvenaria de
xisto, com pedras dispostas a seco.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 507


4. outras evidências
Embora ainda não confirmadas no terreno, e por conseguinte não incluí-
das no catálogo, parece existirem pelo menos uma dezena de outras constru-
ções, hipótese que é aventada pela toponímia fixada na cartografia e pelo
inquérito oral que sistematicamente temos realizado junto das populações lo-
cais, com preferência pelos indivíduos mais idosos ou aqueles que contactaram
mais directamente com a natureza, devido à sua actividade profissional (agri-
cultores, guardas-florestais, pastores, etc.).
Relativamente à primeira situação, registamos na CMP, fl.101, o sítio do
Alto da Cilha de Cima, topónimo que poderá indiciar mais do que uma cons-
trução, a Norte de Carrazedo, na freguesia de Ermelo.
Através do inquérito oral, anotamos os micro-topónimos Muro, Muradal
e Abelheira, todos em Ermelo, este último localizado na encosta voltada ao
Rio Olo, cuja função tem sido atestada por diversas pessoas da aldeia que re-
cordam, ainda, ver dezenas de cortiços com abelhas nesta silha.
De acordo com informações de António Dinis, residente no lugar de Pa-
dronelo, apontamos mais quatro silhas na freguesia de Ermelo, a saber:
- silha de Serzedo, já destruída, por cima do lugar de Padronelo;
- silha da Várzea, a jusante da ponte da Várzea, à margem esquerda da
antiga via para Paradança;
- silha do Catulo, perto de Fervença;
- silha, mais acima desta, no regato do Ervedeiro.
O mesmo informador, antigo guarda-florestal na casa do Coto, em Cam-
panhó, referiu-nos três construções nesta freguesia, denominadas muro do Ci-
dral, silha do Motorto e silha das Malhadas.
Na freguesia de Pardelhas referenciámos mais duas estruturas, segundo infor-
mações de José Agostinho Rodrigues, Presidente da Junta local. Trata-se da silha
da Ribeira e da silha de Torneiros, ambas localizadas sobre o ribeiro da Ribeira.
Ainda dentro do município, se bem que uma delas já fora do território do
antigo concelho de Ermelo, registamos mais três silhas que aproveitamos a
oportunidade de referenciar. Uma construção na freguesia de Paradança, se-
gundo notícia do Sr. Eng. Alfredo Mendonça e duas estruturas perto da Caínha,
na freguesia de Vilar de Ferreiros, de acordo com informações de um pedreiro
da aldeia.

Pág. 508 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


5. considerações finais
O trabalho de actualização de dados para a revisão do PDM de Mondim
de Basto fez sobressair um conjunto de estruturas monumentais, construídas
em alvenaria de xisto, denominadas localmente como muros de abelhas e des-
tinadas a proteger os enxames dos seus grandes predadores – texugos e ursos.
Concentrando-se na área confinante à serra do Alvão, no território per-
tencente ao antigo concelho de Ermelo, estas construções atestam a importância
da apicultura, ao longo dos séculos, neste micro-espaço da região de Basto.
Na ausência de trabalhos de escavação arqueológica que possam contex-
tualizar estas construções, a inserção cronológica das silhas, tal como ocorre
com a maioria das estruturas conectadas com as práticas agro-silvo-pastoris,
torna-se praticamente impossível, face ao conservadorismo das técnicas cons-
trutivas e à utilização dos mesmos cercados ao longo de séculos, cuja diacronia
só se torna perceptível pelas marcas de reparações dos estragos que o tempo
impôs. Por isso, não obstante a grande importância que as silhas de Mondim
de Basto poderiam assumir no conhecimento da evolução da arquitectura ver-
nacular e na história económica e social local e regional, a informação que é
apreendida resulta parca. Resta-nos, no entanto, a relação que é lícito fazer
entre estas estruturas e a permanência de ursos na região, servindo-nos da ex-
tinção destes mamíferos como referencial cronológico para a implantação das
construções em estudo.
Independentemente da falta de respostas para as muitas dúvidas que gos-
taríamos ver solucionadas, a monumentalidade destas construções e a sua re-
levância no contexto da arqueologia municipal justificam uma acção
concertada tendente à sua salvaguarda. Assim sendo, impõe-se que estas me-
mórias, sejam objecto de proposta de classificação como Imóveis de Interesse
Público, depois de devidamente valorizadas -através do arranjo dos acessos e
da envolvência, da colocação de informação nos locais e de placas identifica-
doras nas vias de comunicação- e passem a integrar os roteiros turísticos, por
forma a tornarem-se espaços de aprendizagem e bens de fruição pública.

Bibliografia
CAETANO, Paulo & FERREIRA, Joaquim Pedro (2003). ibéria Selvagem, Ed. Má-Criação, s/l.
CAPELA, José Viriato (2003). As freguesias do distrito de Braga nas Memórias paroquiais de 1758. A
construção do imaginário minhoto setecentista, Braga.

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 509


CAPELA, José Viriato; BORRALHEIRO, Rogério & MATOS, Henrique (2006). As freguesias do distrito
de vila Real nas Memórias paroquiais de 1758. Memórias, história e Património, Braga.
DINIS, António Pereira (no prelo). Carta Arqueológica de Mondim de Basto, Mondim de Basto.
JORGE, Luísa (1996). Retratos. ermelo 1196 – 1996, Instituto de Conservação da Natureza e Parque Natural
do Alvão, Lisboa.
LOPES, Eduardo Teixeira (1996). ermelo - história há 800 anos, Ed. de autor, Mondim de Basto.
LOPES, Eduardo Teixeira (2000). Mondim de Basto - Memórias históricas, Ed. de autor, Mondim de Basto.
SARMENTO, Francisco Martins (1999). Antiqua, Apontamentos de Arqueologia, Sociedade Martins Sar-
mento, Guimarães.

1 “Silhas” are stone enclosures which protect beehives from wind and predators.
2 Em Abril de 1196, D. Sancho I doou Carta de Aforamento aos povoadores de Ermelo e Bilhó. Em Março
de 1218, D. Afonso II confirmou aquele documento.
3 Em 31 de Dezembro de 1853 o concelho de Ermelo foi extinto e anexado ao de Mondim de Basto.
4 Em 1758, Custódio José Leite, abade da igreja paroquial de S. João do Campo do Gerês (concelho de
Terras do Bouro), em resposta a um inquérito que lhe foi solicitado, diz que “O mesmo padre [Joseph de
Mattos Ferreira] me deu noticia que em hum lugar da serra [do Gerês] no anno de mil e seiscentos e cin-
coenta, em hum sitio chamado a Quelha da urça se matara huma destas feras ao que dou credito em rezao
de eu ocularmente ter visto alguns ou varios rapados de altura de mais de quinze palmos e outros por cima
de penedos por causa desta fera destruir os cortiços das abelhas os coais levando-os ao rio nos braços e
afogados lhes comiam o mel” (CAPELA 2003, 416).
5 Embora se considere, oficialmente, que o último urso existente no nosso território tenha sido morto na
serra do Gerês, em 1650, tal facto é contestado por alguns investigadores que admitem que este predador se
tenha mantido entre nós por mais algumas gerações após aquela data. Documentação histórica e relatos de
avistamentos dão conta da presença esporádica de ursos, nas regiões fronteiriças de Portugal, durante os sé-
culos XIX e XX. Há mesmo a referência à morte de um exemplar, no planalto de Castro Laboreiro, em 1946
(CAETANO & FERREIRA 2003, 29 - 31).
6 Não obstante o sugestivo topónimo Cilha, o sábio vimaranense dizia na circunstância que “o outeiro
não podia ser uma fortificação [mas] atinar com a sua serventia, não era coisa fácil”.
7 O topónimo assinala a existência neste local do maior predador das colmeias, razão que terá levado as po-
pulações a construir a silha implantada no sopé da encosta.

Figura 3. Silha do Toutiço

Figura 4. Silhas 1 e 2 de Requeixo

Figura 5. Silha de Arjuiz

Figura 6. Silha 3 de Requeixo, pormenor do aparelho e do ca-


peamento

Figura 7. Silha de rio de Sião, patamares com cortiços

Pág. 510 Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009


Figura 2. Distribui-
ção de silhas no ter-
ritório de Mondim de
Basto
Legenda: 1. Silhas de
Longarinho (2 exem-
plares), 2. Silha de
Arjuiz, 3. Silha de
Fontão, 4. Silha de
rio de Sião, 5. Silha
de Pinchadouro, 6.
Silha de Toutiço, 7.
Silhas de Requeixo
Figura 1. Localização de Mondim de Basto no Norte (4 exemplares)
de Portugal

3 4 5

6 7

Revista Aquae Flaviae, N.º41 - Chaves 2009 Pág. 511


This file was created by the DEMO version of PDF COMPLETE.
For Evaluation Only. Not for commercial use.
Informatik Inc www.informatik.com

Você também pode gostar