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Projeto de Monitoramento Arqueológico e Educação Patrimonial das Obras de

Requalificação da Praça da Matriz, Centro Histórico de Porto Alegre - RS

Portfólio de Extroversão Educacional Patrimonial:


Arqueologia na Praça da Matriz,
Porto Alegre-RS
Philipe Soares, Raquel Rech &
& Vander Camargo (Orgs.)

Serviços de Arqueologia Digital


Portfólio de Extroversão Educacional Patrimonial:
Arqueologia na Praça da Matriz,
Porto Alegre-RS
Organizadores
Philipe Soares, Raquel M. Rech & Vander G. Camargo

Autores Atividades
Aline Quiroga Neves Philipe Soares
Bruno Thomazi Zamette Raquel Machado Rech
Fabiano Aiubi Branchelli Vander Gabriel Camargo
João Vinicius Chiesa Back
Luciano Waldman
Modelagem 3D
Philipe Soares
Bruno Thomazi Zanette
Raquel Machado Rech
João Vinícius Chiesa Back
Thaíssa Caino
Vander Gabriel Camargo
Vander Gabriel Camargo

Revisão
Diagramação
Philipe Soares
Vander Gabriel Camargo
Raquel Machado Rech

Apoio Cultural
Realização Apoio Institucional ERGANE Serviços
Combinatividade
Prefeitura Municipal de Porto Alegre de Arqueologia Digital
Educação Inclusiva
Secretaria Municipal de Cultura
Coordenação de Memória Cultural
Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo
ELO Construções e Incorporações
ARQUEL Consultoria em Arqueologia

Parte integrante do
Subprojeto “EXTROVERSÃO EDUCACIONAL PATRIMONIAL”
vinculado ao Projeto de Monitoramento Arqueológico das Obras de
Requalificação da Praça da Matriz, Centro Histórico de Porto Alegre - RS

Fotos Antigas: Fototeca Sioma Breitman (MJJF)

Porto Alegre,
2022

Serviços de Arqueologia Digital


• Sumário •

APRESENTAÇÃO 4

INTRODUÇÃO 6

I PARTE - CONTAÇÃO DE HISTÓRIA

Uma Manhã de Descobertas na Praça 8


Philipe Soartes

II PARTE - CONCEITOS
Educação para o Patrimônio 16
Philipe Soartes

Histórico da Praça da Matriz 19


Aline Q. Neves

Arqueologia 25
Luciano Waldman

Topografia 29
Fabiano Aiub Branchelli

Cartografia 31
Thaíssa C. Almeida Caino

Arqueologia Digital 35
Vander G. Camargo, João V. C. Back, Bruno T. Zanette

III PARTE - ACHADOS ESPECIAIS DE UM PROCESSO DE ESCAVAÇÃO

A História da Praça da Matriz Contada por Artefatos 36


Raquel Machado Rech

Cerâmica Guarani 37

Faianças X Porcelana 39

Balim de Ferro 41
Garrafa de Louça Grês 44
Garrafa de Vidro 45
Cachimbo Afro-Brasileiro 48
Moedas de Réis 50
Medalha Milagrosa 53
Amuleto de Bolota de Carvalho 56

IV PARTE - ATIVIDADES

Quebra-Cabeças Arqueológicos
Faiança Willow 59
Faiança Shell Edge 60
Cachimbo Afro-Brasileiro 61

Monte o seu Artefato


Cerâmica Guarani (Cambuchí) 62
Cerâmica Guarani (Ñãembé)
63
Garrafa de Louça Grês
66
Garrafa de Vidro
Moedas de Réis 68
70
Jogos de Memória
Antigas Paisagens da Praça da Matriz
17
Personagens e Monumentos Históricos da Praça da Matriz
75
Cartografia Histórica: Conheça Mapas Antigos de Porto Alegre
66
Jogos de Interpretação
Caça-Palavras
24
Escave e Encontre
30
Compare os Mapas
32

CONCLUSÃO 78

BIBLIOGRAFIA 79
• Apresentação •
Este Portfólio visa adequar o projeto original que pretendia tratar da educação
patrimonial das pesquisas arqueológicas na Praça da Matriz por meio de visitas guiadas
e que em decorrência da Pandemia do Coronavírus (Covid-19), o IPHAN orientou que as
atividades de Educação Patrimonial para extroversão dos projetos arqueológicos
vigentes fossem readequadas na forma de atividades audiovisuais e virtuais.

Arqueologia e Educação em novas abordagens


Este portfólio pedagógico foi produzido a partir das vivências dos profissionais que
ajudaram a compor as pesquisas históricas para o Projeto de Monitoramento
Arqueológico das Obras de Requalificação da Praça da Matriz, Centro Histórico de Porto
Alegre. Sendo que este material foi pensado tanto para os professores da rede
municipal, estadual e particular de Porto Alegre, quanto para a comunidade em geral.
O objetivo deste material audiovisual é servir como instrumento fomentador para o
esclarecimento da educação patrimonial, abordando o patrimônio cultural dentro e fora
da sala de aula através do viés pedagógico.
Esperamos, a partir dos textos, inspirar para a construção de novos olhares sobre
Praça da Matriz e da cidade de Porto Alegre e seus bens culturais, com foco especial
sobre a Praça da Matriz.
A Praça da Matriz é um espaço público primeiramente tombado pelo IPHAN como
Sítio Histórico de Porto Alegre – incluindo também a Praça da Alfândega como “sítio
gêmeo” – e recentemente registrado também como Sítio Arqueológico em decorrência
do projeto de monitoramento arqueológico das obras de requalificação da praça.
Tendo seu espaço demarcado desde a fundação da freguesia em 1772 ela passou
por diversas configurações ao longo do século XIX e chegou à sua configuração atual a
partir do início do século XX, com a implantação da esplanada do Monumento a Júlio de
Castilhos, cuja magnitude do conjunto exigiu a remodelação total da praça.
Objeto de diferentes paisagens e nomenclaturas ao longo do tempo com a paulatina
implantação no decorrer dos séculos XVIII e XIX de diferentes pavimentações em pedra,
ajardinamentos, muramentos, iluminação pública e monumentos não mais existentes no
local – como o Chafariz Imperador e a Estátua do Conde de Porto Alegre – a última obra
de reconfiguração da praça foi inaugurada em 1913: o Monumento a Júlio de Castilhos.
De lá para cá, em 1927, durante a administração do intendente Otávio Rocha (1924-
1928) a Praça da Matriz, assim como a Praça da Alfândega recebem nova configuração
de passeios, pavimentos em pedra portuguesa e a adoção do novo sistema de
iluminação americano “Novalux”, que mantêm suas linhas gerais até hoje.
No ano de 2017 foram feitas obras de restauração do Monumento a Júlio de Cas-
tilhos e sua esplanada, com recursos do PAC - Cidades Históricas via IPHAN e o
gerenciamento do município.
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Em 2020 a Coordenação de Memória Cultural (CMC) vinculada à Secretaria de
Cultura da Prefeitura de Porto Alegre assumiu diretamente a administração da última
obra de requalificação, que foi objeto também de monitoramento arqueológico devido ao
alto potencial arqueológico do local.
Assim, é em atenção à legislação arqueológica vigente nacional¹ que apresenta-mos
o presente Portfólio de Extroversão Educacional Patrimonial Arqueologia da Praça
da Matriz de Porto Alegre-RS, vinculado ao Projeto de Monitoramento Arqueológico
das Obras de Requalificação da Praça da Matriz, Centro Histórico dePorto Alegre-RS,
com vistas a divulgar tanto ao público escolar quanto à comunidade em geral os
resultados da pesquisa arqueológica realizada na praça.
Para que haja a inclusão cidadã sobre a memória da praça, elemento fundamental
para a construção do sentimento de pertencimento da comunidade local, a educação
patrimonial é utilizada nessa cartilha digital como ferramenta que vem a fortalecer o
estudo das identidades culturais. Além disso, por estar associada aos saberes
escolares,torna-se uma aliada no esclarecimento sobre os achados nas escavações e
suas inúmeras transformações estudadas por aqueles que vivenciaram o trabalho
arqueólogo.
A quietude de práticas prontas, propostas fechadas, não fazem parte do corpo desse
documento, mas apontar caminhos e pontes para pensar as inúmeras possibilidades de
uso do patrimônio cultural de forma criativa.
Para tanto, a elaboração deste Portfólio conta com o Apoio Institucional da entidade
municipal mentora do projeto arquitetônico da requalificação da praça,Coordenação de
Memória Cultural (CMC/SMC/PMPA); da entidade municipal emissora do Endosso
Institucional ao projeto, Museu de Porto Alegre; da ELO Construções, e da ARQUEL
Consultoria em Arqueologia, além de contar com o Apoio Cultural adicional da
ERGANE Serviços de Arqueologia Digital, que firmou convênio com a ARQUEL
durante a vigência do projeto de monitoramento arqueológico na praça ofertando a
reconstituição em modelagem 3D de alguns fragmentos de artefatos resgatados nas
escavações, cujas imagens são acolhidas no presente Portfólio organizado pela
COMBINATIVIDADE Educação Inclusiva, vindo a enriquecer ainda mais a extroversão
acerca dos vestígios oriundos da referida pesquisa de monitoramento arqueológico.
O que é Cultura? O que é Patrimônio Cultural? O que é Educação Patrimonial? O
Que é Arqueologia? O que é Topografia? O que é Cartografia? Nos propomos aqui a
abordar esses conceitos tanto para o público escolar quanto para a comunidade em
geral a fim de provocar curiosidades sobre o assunto tema, além de instigar novos
conhecimentos e aprendizados de forma lúdica para explicar as formas de pensar e criar
do ser humano partindo do estudo de caso do monitoramento arqueológico das obras de
requalificação da Praça da Matriz de Porto Alegre.

__________________________________
¹ Instrução Normativa n°01/2015 (requer a apresentação de proposta preliminar e o conseguinte relato das atividades relativas à produção do
conhecimento, divulgação cintífica e extroversão nas diferentes etapas de licenciamento ambiental cujos processos o IPHAN participe (Arts. 18, 20, 33-
35 e 40); Portaria n°196/2016 (recomenda a consultoria de educadores a fim de reunir dados que contextualizem a pesquisa e o acervo gerado
permitindo a elaboração de formas de extroversão dos dados produzidos pela pesquisa por meio de exposições, publicações, ações educativas, etc., no
âmbito da conservação dos bens arqueológicos móveis (Anexo I); Portara n°375/2018 (aborda questões sobre a conservação, proteção, estudos e
promoção da extroversão dos bens arqueológicos atendendo ao trinômio pesquisa, conservação e socialização no âmbito da Política de Patrimônio
Cultural Material do IPHAN (Art. 105); Portaria n°205/2020 (estabelece procedimentos excepcionais do Iphan também quanto à extroversão enquanto
perdurar a pandemia do Coronavírus (Art. 9°).

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• Introdução •
O que é Cultura?
Ela é composta por tradições, obras literárias, músicas, danças, esportes, culinária,
artesanato, contação de histórias, locais históricos, etc. A cultura representa o patrimônio
social de um grupo sendo a soma de aquisições dos comportamentos humanos, que
envolve: conhecimentos, experiências, atitudes, valores, crenças, religião, língua,
hierarquia, ludicidade, noção de tempo, conceitos de universo, lugares, objetos, a
escolarização, a não escolarização e a inclusão dos saberes, inclusão social e
acessibilidade. Para freire:
"Descobriria que tanto é cultura um boneco de barro feito pelos artistas,
seus irmãos do povo, como também é a obra de um grande escultor, de
um grande pintor ou músico. Que cultura é a poesia dos poetas letrados
do seu país, como também a poesia do seu cancioneiro popular. Que
cultura são as formas de comportar-se” (FREIRE, 1963, p.17).

A cultura também é compreendida como o comportamento por meio da aprendiza-


gem social. Essa dinâmica faz dela uma poderosa ferramenta para a sobrevivência
humana, pois através dela que preservamos a nossa história e memória sobre um
determinado local.

O que é Patrimônio?
Há muitas definições para explicar o que é patrimônio, esta palavra está ligada a
dinheiro, aquisições, monumentos, artes, cultura, natureza, edificações e cidades, entre
outros.
Mas afinal qual seria a relação da cultura com o patrimônio? O patrimônio é um
conjunto de bens culturais de um grupo de pessoas reunidas através de uma tradição ou
até de um país. Seu envolvimento com a cultura é íntimo, pois aponta para o
desenvolvimento cultivado do legado produzido, e acumulado, por uma sociedade ou um
grupo de pessoas ao longo do tempo.
Todos os bens, materiais ou imateriais, que a nós chegam do passado através das
mãos encantadas e dos olhos de lince dos arqueólogos são patrimônios recheados de
significados.
A importância do patrimônio está para além do seu valor específico ou do brilhan-
tismo do valor significante de um local ou de uma edificação, como a beleza de uma
igreja ou catedral, ou de um teatro, ou o palácio dos governantes. O seu valor está nas
relações construídas pelas pessoas (família, amigos, colegas) ao longo da vida.
O patrimônio somente será importante, caso tenha significado para alguém. Como
exemplo, as relações afetivas que as pessoas constroem com a Praça da Matriz, e seus
monumentos, no centro histórico de Porto Alegre, acabam criando os mais diversos
cenários dentro dos seus imaginários culturais, que é a sustentação para sua
valorização. É através do patrimônio que fomentamos os saberes, leituras inesgotáveis.
Os patrimônios podem ajudar na interpretação e compreensão das culturas, eles são
capazes de movimentar e conversar com a tradição e a memória, o que nos possibilita
preservar e manter latente a vivacidade do passado com o presente e o futuro.

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Iª PARTE
CONTAÇÃO DE HISTÓRIA
UMA MANHÃ DE
DESCOBERTAS NA
PRAÇA

Philipe Soares

Havia uma família muito linda, Antônia e seu pai Eduardo, que moravam em um
apartamento na rua Fernando Machado, no Centro Histórico de Porto Alegre, bem
próximo da então conhecida por todos como Praça da Matriz.
Eduardo, professor de História, prezava muito por ensinar à sua filha Antônia que a
única coisa de valor inestimável é o conhecimento que os adultos têm para passar:
respeito, amor ao próximo, amor aos animais, às pessoas idosas, honestidade,
integridade, trabalho, humildade, ética, amizades e família, valor à vida, perdão. E, claro,
o conhecimento que se apreende na escola e nos livros, pois a educação é a única arma
contra a pobreza de qualquer natureza.
Em um lindo dia de sol, Eduardo levou a pequena Antônia de apenas 7 anos para a
Praça da Matriz para que a pequena pudesse brincar e se distrair em um local repleto de
memórias para mostrar, presenciar e vivenciar.
Antônia, cheia de energia e alegria fala para o seu pai:
- Que legal este piso, é todo ondulado! E que bonitas estas árvores gigantes pai!
O pai sugeriu à sua filha de brincar de pega-pega. E os dois começaram a correr
com uma felicidade contagiante. Eduardo tentou pegar a pequena Antônia que se
desviou do seu pai muito rápido e acabou caindo no chão e machucando o joelho. Mas
antes de se levantar a pequenina achou um caquinho branco com as bordas azuis e
aquele pequeno pedaço chamou sua atenção e a deixou curiosa. O que fez com que
saísse da brincadeira e perguntasse:
- Pai, que coisa esquisita! Será que tem mais alguma coisa parecida por aqui na
praça? Vamos procurar? Tu me ajudas?
O seu pai carinhosamente respondeu:
- Claro minha filha! Mas antes deixe-me ver este “pedaço de alguma coisa” que tu
encontraste.
- Como assim pai, “pedaço de alguma coisa”?
- Sim filha, o que tu encontraste é um fragmento. É assim que os Arqueólogos cha-
mam os vestígios de artefatos antigos que podem ser descobertos tanto inteiros quanto
fragmentados. Por exemplo: potes indígenas, louças, garrafas, cachimbos, munições,
moedas, medalhas...
- E como são feitas essas descobertas?
- Geralmente essas descobertas são feitas através de investigações realizadas por
pesquisadores de universidades, mas também podem ser por ocasião dos mais diversos
tipos de obras onde podem ser achados fragmentos como esses tipos de louça que tu
encontraste, que, inclusive, nos ajudam a conhecer melhor nossa história...
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encontraste, que, inclusive, nos ajudam a conhecer melhor nossa história...
- Mas pai do que tu estás falando? Que coisa engraçada e o que isso tem a ver com
o pedaço que eu encontrei?
- Minha amada, há muito tempo atrás quando Porto Alegre acolheu os primeiros
casais de açorianos vindos de Portugal, eles trouxeram consigo diferentes tipos de
louças e as mais conhecidas eram a porcelana e a faiança. Sobre isso eu até sei falar
com mais detalhes...
- Ah é? Me conta então!
- Assim: a porcelana é feita de uma argila branca e queimada em altas temperatu-
ras, o que a torna inconfundível apresentando sua pasta e superfície muito lisa. Quando
uma peça é quebrada e seus fragmentos ficam soterrados debaixo da terra, as partes
quebradas não ficam com a cor da terra justamente porque a sua pasta é lisa por dentro
e por fora, ou seja, nada fica impregnado nela, permanecendo mesmo a parte quebrada
sempre limpa e branca.
- E o que a faiança tem de diferença da porcelana?
- Já a faiança, minha filha, é uma imitação da porcelana. Também é feita de argila
branca e possui a superfície lisa, mas o que difere é que a sua pasta é bem porosa, ou
seja, não é lisa como a porcelana, mas sim toda furadinha por dentro. E, por isso,
quando seus fragmentos são encontrados debaixo da terra, as partes quebradas podem
absorver a cor da terra e ficar manchada mesmo depois de limpa.
- Acho que entendi pai, é como se a porcelana fosse um chocolate branco que
quando quebra as partes ficam lisinhas, e a faiança é como se fosse um chocolate
branco aerado que quando quebra dá pra gente ver que é todo furadinho por dentro!
- Isso mesmo filha! Fizeste uma boa comparação!
- Uma boa comparação!
- Hum, interessante pai, então vamos procurar outro pedaço aqui pela praça pra
limparmos quando chegarmos em casa pra sabermos se
é faiança ou porcelana?
Enquanto procuravam por mais um
fragmento de louça entre as terras
provenientes de aterros que compunham
os canteiros da praça, Eduardo começou a
contar outra história para a pequena Antônia.
- Sabe filha, onde hoje fica Porto Alegre foi
originalmente habitada por índios Guaranis. A
primeira ocupação colonial da região é marcada
pela Sesmaria de Jerônimo de Ornelas (1732) e em
suas terras aportaram no pequeno porto de Viamão
os primeiros casais de povoadores vindos das Ilhas
dos Açores sendo o local batizado de Porto dos
Casais (1752). Com a criação da Freguesia de São
Francisco dos Casais (1772)¹, um ano depois
__________________________________
¹O aniversário da fundação de Porto Alegre é comemorado a partir desta data, em 26 de março de 1772.

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ocorreu a transferência da capital da capitania de Viamão para a recém elevada Vila de
Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre (1773). E só após a independência
do Brasil é que a vila ganhou o status da nossa querida cidade de Porto Alegre (1822)
por um decreto imperial de Dom. Pedro I.
Com o crescimento da cidade, foi a partir do entorno da praça que várias edificações
foram sendo erguidas e foram sofrendo modificações para acompanhar a evolução dos
tempos...
- Como isso acontece com as edificações? É assim como acontece com os celula-
res que estão sempre se modificando?
- Sim, é como se fosse isso, afinal muitas coisas são modificadas com o passar do
tempo... Voltando a falar da praça, a Praça da Matriz é a alma da nossa cidade e em seu
entorno sempre foram concentradas edificações importantes. Sabia que cada lado da
praça já teve diferentes paisagens?
- Quer dizer lados Norte, Sul, Leste e Oeste pai?
- Sim, exatamente!

- Então me diz o que tinha ao Sul da praça pai?


- Ao Sul, vemos o prédio da antiga Provedoria da Real Fazenda hoje abriga o Memorial
do Legislativo ) que é o prédio mais antigo de Porto Alegre. Ao seu lado ficava o Palácio
do Governador, onde hoje está o atual Palácio Piratini. E onde antes havia a antiga
Igreja Matriz, onde estava ao seu lado erguida a Capela do Divino, hoje temos
construída em seu lugar a Catedral Metropolitana.

- Então me diz o que tinha ao Sul da praça, pai?


- Ao Sul, vemos o prédio da antiga Provedoria da Real Fazenda hoje
abriga o Memorial do Legislativo ) que é o prédio mais antigo de Porto Alegre.
Ao seu lado ficava o Palácio do Governador, onde hoje está o atual Palácio
Piratini. E onde antes havia a antiga Igreja Matriz, onde estava ao seu lado
erguida a Capela do Divino, hoje temos construída em seu lugar a Catedral
Metropolitana.

- E no lado Norte da Praça?


- Ao olharmos para o Norte, hoje vemos o belíssimo Theatro São Pedro
(um dos únicos prédios que sobreviveu sem modificações ao longo do tempo).
Ao seu lado, numa edificação considerada um “prédio gêmeo” ficava a primeira
Casa da Câmara (que posteriormente passou a abrigar o Tribunal de Justiça).
Mas devido a um incêndio que consumiu o prédio, o atual Palácio da Justiça
foi construído anos depois no mesmo local.

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L - Que legal! E no lado Leste ?
- No lado Leste, vemos vários prédios antigos que existem até hoje, o
Palácio do Ministério Público (que no passado já abrigou várias outras
instituições como sede dos Correios e Telégrafos e um Observatório
Meteorológico). Deste lado sobreviveram dois palacetes da família Palmeiro da
Fontoura: o Solar Palmeiro e uma outra edificação conhecida por ter abrigado
a antiga sede do Consulado Geral da Itália. Ambos prédios abrigam outras
instituições atualmente.

O - Nossa, que legal! E o que tinha no lado Oeste da praça pai?


- No lado Oeste no passado também havia diferentes edificações: a
Companhia Hidráulica Porto-Alegrense (transferida para o bairro Moinhos de
Vento) e a seu lado a Sociedade Bailante onde aconteciam elegantes bailes,
festas e, também, reuniões culturais. Ambas foram demolidas para dar lugar ao
antigo Auditório Araújo Vianna, com uma imponente concha acústica a céu
aberto com bancos decorados em concreto e madeira ladeados por um jardim
pergolado onde o público prestigiava belas apresentações como shows da
Banda Municipal e concertos da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Foi
demolido para ser construído no local a nova sede da Assembleia Legislativa
(ou “Palácio Farroupilha”) sendo que o auditório foi reimplantado numa versão
mais moderna no Parque da Redenção. Ah, sabia que os seus antigos bancos
foram espalhados em diversos locais da cidade?

- Nossa, quanta coisa! Tudo isso foi construído em volta da praça? A praça foi como
um centro onde tudo acontecia? Por que agora está tudo tão parado?
- A praça sempre foi o coração de Porto Alegre. Mas não tem nada parado. Ainda
que não pareça, a praça está em constante atividade pois temos as missas na Catedral,
temos seguidos protestos de várias categorias profissionais, temos a Assembleia
Legislativa, as belas peças no Teatro São Pedro, além de restaurantes e cafeterias. Ou
seja filha, por mais que não pareça todos estes locais fazem com que cruzemos a praça
ou a apreciemos enquanto esperamos uma peça, uma missa, uma decisão, um lugar no
restaurante. Mas entendo que tu aches parado, pois estamos vivendo em uma pandemia
de Covid 19 que se espalhou pelo mundo todo no início dos anos 2020, mas isso é de
caráter temporário!
Eduardo cansou de procurar por mais fragmentos nas beiradas dos canteiros da
praça, pois estavam nessa busca por cerca de duas horas. Logo ele resolveu sentar-se
em um banco próximo ao monumento a Júlio de Castilhos e de lá começou a contar
mais um pouco da história da praça.
- Filha vem cá que vou te falar mais sobre o coração da nossa cidade.
Antônia parou de procurar por mais fragmentos e foi correndo em direção ao pai.
Quando ela chegou deu um beijo no rosto do seu pai e se deitou no colo dele pra
recarregar as energias tomando um sol.

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- Pai por aqui deve ter passado muita gente importante!
- Sim! Por aqui passaram muitas pessoas importantes. Uma delas foi o Imperador
Dom Pedro II, em julho de 1865, indo para a Guerra do Paraguai, o que motivou a
Câmara Municipal a homenageá-lo, rebatizando a Praça da Matriz com o nome de
“Praça Dom Pedro II.
- Então isso quer dizer que a praça já teve outros nomes?
- Isso mesmo minha filha, ela já foi chamada de vários nomes: Altos da Praia, Praça
da Matriz, Praça do Palácio da Presidência, Praça Dom Pedro II, até chegar ao nome
atual de Praça Marechal Deodoro, a partir da Proclamação da República em 1889.
Também foi conhecida informalmente por Praça do Novo Lugar e por Praça dos Três
Poderes. Apesar disso, mesmo que seu nome atual seja Praça Marechal Deodoro,
persiste a tradicional e popular denominação de Praça da Matriz, que perdura até hoje.
- Pai, se a história da praça é tão grande assim e tão rica em nomes, isso quer dizer
que ela faz homenagem a várias pessoas que foram importantes pra ela?
- Verdade! Sabia que muitas pessoas importantes no decorrer das décadas tiveram
seu nome relacionado à história da praça? Vamos começar relembrando os
monumentos que aqui existiram na época imperial: o primeiro monumento público da
cidade foi um chafariz erguido em 1866.
- O chafariz que tinha na praça seria igual àquele que fica na frente da Prefeitura?
Onde ficava o chafariz na praça?
- Sim filha, o chafariz da praça ele era ainda maior do que o que se encontra na
frente da Prefeitura. Vou te contar um pouco mais sobre ele. Com o funcionamento dos
serviços da Companhia Hidráulica Porto-Alegrense, que trazia água das nascentes do
Arroio Dilúvio, a praça passou a contar com um belíssimo chafariz de mármore
encomendado da Itália com estátuas que simbolizavam o Guaíba e seus afluentes
(Caí, Gravataí, Jacuí e Sinos). Cercado por grades e lampiões possuía também quatro
bancos ao seu redor. Ficava bem no meio da praça onde hoje está o monumento a Júlio
de Castilhos. O chafariz foi uma grande conquista para a nossa cidade, pois através dele
se deu a primeira distribuição de água canalizada na capital. Sabias que devido à visita
do Imperador Dom Pedro II à Porto Alegre por aquela época, o chafariz também passou
a ser chamado de Chafariz Imperador em sua homenagem?
..- É mesmo, pai? Qual outro monumento foi implantado na praça na época do
império?
- No período imperial houve também a estátua do Conde de Porto Alegre, um
monumento em mármore em homenagem ao Tenente-General Manoel Marques de
Souza. Inclusive a Princesa Isabel esteve presente em sua inauguração no ano de 1885.
- E o que houve com esses monumentos?
- Com a troca de Império para República o local do Chafariz Imperador cedeu lugar
ao monumento à Júlio de Castilhos (e a fonte pública foi transferida primeiro para a
Praça Dom Sebastião e depois para os jardins da Hidráulica Moinhos de Vento, onde se
encontra atualmente). Também o monumento ao Conde de Porto Alegre foi transferido
para outro local quando houve a proclamação da República. Hoje a estátua encontra-se
numa praça aqui perto que foi renomeada de Praça do Portão para “Praça Conde de
Porto Alegre” em sua homenagem.

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- Pai, a praça sempre foi assim tão cheia de plantinhas, de pássaros e de árvores?
- Não filha, nem sempre foi tão bonita quanto é hoje. A praça já foi de chão batido,
apenas um espaço onde as pessoas cruzavam, se cumprimentavam, um piso liso de
barro natural com alguns estreitos carreiros de pedra para facilitar a passagem. Após
alguns anos da inauguração do chafariz é que começou a arborização da praça com a
implantação de oliveiras vindas de Portugal e foi feito o primeiro ajardinamento formado
por alguns canteiros, com o chafariz ao centro e um gradil cercando a praça.
- Pai, está muito boa a história, mas eu estou com fome. Podemos comer alguma
coisa na padaria aqui perto?
- Sim filha, vamos ali comprar pão de queijo e suco e voltamos para fazer um deli-
cioso piquenique aqui na praça.
Os dois se levantaram e foram em direção à padaria. Na volta, organizaram o
piquenique no centro da praça, próximo ao Monumento a Júlio de Castilhos.
- Pai, por que esse monumento é tão grande e possui várias estátuas?
- O Monumento a Júlio de Castilhos simbolizava um novo momento histórico do pa-
ís: o fim da monarquia e o começo da república. Para as suas obras de implantação
iniciarem-se em 1910, antes a estátua do Conde de Porto Alegre foi transferida para a
Praça do Portão (atual Praça Conde de Porto Alegre) e o chafariz de mármore foi
transferido para a Praça Dom Sebastião em frente ao Colégio Rosário (mais tarde foi
novamente transferido para o jardim do DMAE, onde encontra-se atualmente). O
monumento foi encomendado por Borges de Medeiros, sucessor de Castilhos no
governo do Estado e foi projetado por Décio Villares, o mesmo responsável pelo
desenho da bandeira do Brasil. Interessante, não é mesmo?
- Nossa que legal saber disso!
.- O monumento é formado de um grande obelisco de granito rosa, e cada
personalidade destacada é feita de bronze, que ocupam seus quatro lados.
- E o que representam essas figuras todas?
- No topo do monumento, há a figura de uma mulher representando
a República. Em destaque ao centro está Júlio de Castilhos mirando
para o Norte, sentado em uma cadeira com o gesto de levantar-se
para representar a aceitação das novas políticas.
- E as outras figuras ao redor dele?
- Simbolizam as qualidades de Castilhos. As da face sul
representam o trabalho e as riquezas do Estado. As laterais
representam as lutas pela República no Rio Grande do Sul.
- Que legal a história da praça. Com tu sabes de tanta
coisa!!!
- Ah, faltou eu comentar que entre os anos de 2017 e
2018 o monumento foi reformado para que continue a ser
contemplado por muitas gerações. E entre os anos de
2020 e 2021 sofreu uma nova obra de requalificação de
todo o seu entorno que foi motivo de acompanhamento
arqueológico. Naquela ocasião os arqueólogos
encontraram muitas evidências legais sobre o passado da
praça que podemos visitar lá no Museu de Porto Alegre
13 outro dia...
praça que podemos visitar lá no Museu de Porto Alegre outro dia...
- O que tu achas de voltarmos a procurar por aqueles caquinhos brancos de louça
nas beiradas dos canteiros? Podemos?
- Sim filha, podemos ficar mais um pouco. Mas não são caquinhos, são fragmentos
arqueológicos!
Antônia sai a procura de mais vestígios. Com seus olhos bem atentos ao chão ela
descobriu um novo fragmento de cor verde com branco. Ao se deparar com a peça ela
ficou emocionada com os olhos cheios de alegria e com um desejo de querer saber se
os fragmentos encontrados por ela são iguais ou são diferentes. Ela logo comunicou ao
pai:
- Pai, achei! Agora nós podemos ir para casa. Quero saber se isso aqui é porcelana
ou faiança.
- Está bem filha, deixa o pai levantar, juntar as coisas e jogar o que é lixo no lixo.
Em casa, enquanto lavava as peças dos fragmentos encontrados na praça, ela
agradecia a seu pai.
- Pai, muito obrigada pela manhã que tivemos e por tudo o que aprendi contigo so-
bre a Praça da Matriz.
Após a lavagem dos fragmentos, Antônia percebe que encontrou o que procurava:
um pedaço de faiança e um pedaço de porcelana. Ambos muito distantes um do outro,
mas encontrados no mesmo canteiro. Ela guardou os fragmentos em uma caixinha onde
guarda suas coisas mais preciosas, e ficou imaginando de quem deveria ter sido, o que
deveria ter sido, quando e como essas peças foram quebradas. Após guardar esses
objetos e refletir sobre eles, ela perguntou ao seu pai que estava cozinhando:
- Pai, tu és um Historiador né?
- Sim.
- E aquele outro tipo de historiador, como se chamam mesmo? Aqueles que esca-
vam e descobrem coisas do passado, como se chamam?
- São arqueólogos. Eles são cientistas do presente estudando o passado. Muitas
coisas podem ser descobertas através de fragmentos, comportamentos de pessoas,
como elas viviam, como elas se vestiam. Os arqueólogos não param de descobrir coisas
novas sobre diferentes civilizações.
- Pai, olhando para aqueles dois fragmentos me deu vontade de ser Arqueóloga,
porque foi muito divertido procurar e encontrar esses pequenos pedaços de louça e
imaginar tanta coisa sobre a sociedade do passado que as produziu e utilizou.
- Muito legal filha! Mas saibas que não são apenas os arqueólogos que trabalham
estudando o passado. Historiadores, cartógrafos, educadores patrimoniais, todos são
profissionais envolvidos nesse trabalho. Tu podes seguir qualquer uma dessas carreiras
se quiseres estudar o passado, filha. É só se preparar. Ah, e por falar nisso, tu já fizeste
o teu dever de casa hoje?

14
IIª PARTE
CONCEITOS
EDUCAÇÃO PARA
O PATRIMÔNIO

Philipe Soares

Há um tempo em que é preciso recosturar, reformar, reavivar as nossas


roupas usadas que tanto nos deram alegria quando novas e que hoje
apesar de gastas continuam quentes, macias e confortáveis porque
possuem o formato do nosso corpo. Não devemos esquecer nossos
antigos caminhos só porque achamos que nos levam sempre aos
mesmos lugares, devemos aproveitá-los para encurtar a distância que nos
levam a novos. É tempo de travessia: temos que ousar em fazê-la para
nunca ficarmos a margem de outros.

Fernando Pessoa

O tempo de transformar, relembrar, experienciar está na educação, pois por ela


perpassam as transformações das nossas vicissitudes.
Conversar sobre patrimônio cultural é uma atividade que consiste ao educador
patrimonial um olhar atento sobre o que está sendo trabalhado e lidar com a inquietação
do educando que ali está para aprender sobre o passado. Com o decorrer das épocas
descobrimos o quanto a história é norteadora, promotora de conhecimentos sem fim,
havendo inúmeras histórias de locais, pessoas e objetos.
Os locais por onde passamos nos contam histórias pelas suas características e suas
marcas, que nos revelam preciosas lembranças de tempos duradouros, do mesmo jeito
que nos emocionamos ao lembrar de uma festa ou de um nascimento ou mesmo de
momentos tristes que nos fazem crescer.
Estes momentos nos promovem uma identificação com o local e consequentemente
apropriação de valores que norteiam o nosso cotidiano. Por isso que a preservação do
local e a comunicação por meio da extroversão educacional patrimonial possibilita que
locais históricos como a Praça da Matriz de Porto Alegre continuem sendo vistos com
tanta significância, paixão, identidade e com sua devida importância histórica.
Assim, a extroversão educacional patrimonial é uma importante ferramenta que
possibilita aprimorar o olhar na valorização do patrimônio que é de todos. Utiliza-se
bastante da ludicidade, pois necessitamos imaginar como as coisas eram no passado. É
um momento de identificação de significados, não só oriundos das lembranças que
temos de nossas memórias afetivas, mas de hábitos que passam de geração a geração.

16
O patrimônio cultural é muito rico no Brasil e no mundo e a educação patrimonial
possibilita que crianças, jovens e adultos tenham a compreensão de sua diversidade, a
qual possibilita levantar questões e desenvolvê-las em um círculo de cultura ou
palestras, folders, atividades lúdicas, atividades audiovisuais, visitações, dentre outras
formas possíveis de extroversão a serem desenvolvidas ao público-alvo do patrimônio
que está sendo explorado. A extroversão educacional patrimonial nos proporciona
evidenciar de forma prazerosa a importância do que está sendo estudado, falado,
vivenciado no momento de aprendizagem não escolar e acadêmica, mas sempre
aprendizagem patrimonial.

• Atividade •

Recorte os pares de imagens das diferentes épocas da Praça da Matriz


de Porto Alegre e de seus entornos, os edifícios que a circundam e as
ruas.
Em seguida, posicione-as com a face virada para baixo e embaralhe.
Vence quem achar a maior quantidade de pares!

Catedral Madre de Deus (1986) Theatro São Pedro (1858) Solar Palmeiro (1790)/ Nova Acrópole (2011)

Catedral Madre de Deus (1986) Theatro São Pedro (1858) Solar Palmeiro (1790)/ Nova Acrópole (2011)

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• Jogo da Memória•

Auditório Araújo Viana (1927) Chafariz Imperador (1867) Monumento a Júlio de Castilhos (1913)

Auditório Araújo Viana (1927) Chafariz Imperador (1867) Monumento a Júlio de Castilhos (1913)

Palácio da Presidência, Estátua do Conde Sociedade Bailante (1850)


o "Palácio Barro" (1789) de Porto Alegre (1885)

Palácio da Presidência, Estátua do Conde Sociedade Bailante (1850)


o "Palácio Barro" (1789) de Porto Alegre (1885)

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BREVE HISTÓRICO
DA PRAÇA DA MATRIZ

Aline Quiroga Neves

VOCÊ SABIA QUE... o local que abriga a O processo de formação da Praça da Matriz
Praça da Matriz já teve várias denominações? remonta ao séc. XVIII, mais especificamente ao ano
Identifica-se o registro de diferentes nomes
(5 formais e 2 informais): ** de 1773 quando a capital do Rio Grande do Sul foi
1. Altos da Praia - entre 1753 à 1772, o espaço
transferida de Viamão para Porto Alegre.
aberto conhecido por “Altos da Praia” era apenas A praça passou por diversas transformações,
um cemitério vinculado à fundação do povoado
de Porto dos Casais, como era conhecida a sendo inclusive conhecida por várias denominações
localidade assentada pelos casais de açorianos. nos diferentes períodos históricos que atravessou,
2. Praça do Novo Lugar - em 1772, com a porém sempre permaneceu como centro político,
elevação do povoado de Porto dos Casais à
Freguesia, o capitão Engenheiro Alexandre José cultural e social da cidade e do estado, contornando a
Montanha foi designado para demarcar a “praça
do novo lugar”, por ainda não ter um nome quadra representada pelas ruas Praça da Matriz,
definido, e traçar as primeiras ruas e lotes aos Duque de Caxias (ou Rua da Igreja), Jerônimo Coelho
novos habitantes.
e Espírito Santo.
3. Praça da Matriz - em vista de sua situação
geográfica privilegiada, e em defesa da tentativa A história do Brasil Colônia, Império e República
de conquista do local pelos espanhóis, em 1773 o pode ser claramente notada pelas modificações que a
Porto dos Casais foi escolhido como nova sede da
Capitania do Rio Grande de São Pedro, sendo praça foi sofrendo no decorrer do tempo. Isso pode
erguidas a Igreja Matriz, o Palácio de Barro e
outras edificações para abrigar o poder civil, ser facilmente observado pelas transformações
formando o embrião da praça da matriz. urbanas e pelos diferentes estilos arquitetônicos dos
4. Praça do Palácio da Presidência - com a prédios no seu entorno.
transferência da capital da capitania de Viamão
para Porto Alegre, e a consequente instalação do Também as influências de diferentes povos e
Palácio do Governador em seus arredores em etnias que já habitaram essas terras – desde os
1789 a praça passou a ser conhecida também por
este nome. primitivos ocupantes guarani em tempos pré-coloniais,
5. Praça Dom Pedro II - seu nome foi alterado passando pelos primeiros colonizadores açorianos e
por ocasião da visita do Imperador D. Pedro II à
capital da província, passando a portar seu nome brasileiros, uma breve invasão espanhola, a vinda de
emsua homenagem. cativos africanos num contexto pré-abolição, e, por
6. Praça Marechal Deodoro - com a fim, a chegada dos imigrantes europeus – foram
Proclamação da República em 1889 o local teve
seu nome alterado por meio de um decreto constituindo o mosaico de populações que formaram
municipal passando a chamar-se Praça Marechal a cidade de Porto Alegre.
Deodoro em homenagem ao primeiro presidente
do Brasil e cuja denominação conserva-se atéos O conjunto composto de diferentes bens mate-
dias dehoje;
riais de valor histórico, cultural, arquitetônico,
7. Praça dos Três Poderes - outra designação arqueológico e patrimonial, referentes a diferentes
informal da praça deve-se à presença dos poderes
públicos executivo, legislativo e judiciário que períodos de ocupação desse espaço deixou suas
estão sediados no seu entorno.
marcas culturais de diversas formas e foram
________________________ identificadas nas pesquisas do monitoramento
* As datas apresentadas entre parênteses referem-
se ao ano de inauguração dos prédios e arqueológico das obras de remodelação da Praça da
monumentos abordados no texto.
** Fonte: RECH, 2020, p. 59-60. Matriz ocorridas entre os anos de 2020 e 2021.

19
13
A Praça Colonial
O período considerado como Porto Alegre Colonial estabelece-se entre o ano de
1772 e o de 1822. Entretanto, antes desta data oficial de fundação o povoamento do
local propriamente dito começou no ano de 1752 com a vinda de casais açorianos que
aqui chegaram por meio do Tratado de Madrid promulgado em 1750¹. Naquela época o
espaço aberto conhecido por “Altos da Praia” era um cemitério vinculado à fundação
deste povoado inicial que recebeu primeiramente o nome de “Porto dos Casais”.
Mais tarde, após a transferência da capital de Viamão para Porto Alegre em 1773
– sendo um dos principais motivos evitar que uma invasão espanhola recém instaurada
se efetivasse (NEUMANN, 1997) – esse cemitério foi transferido para acomodar o local
que abrigaria o poder regional da nova capital.
A primeira estrutura construída no lado Oeste da praça teria sido um moinho
(final do séc. XVIII). Deste período colonial destacam-se a Capela do Divino Espírito
Santo (1773), o antigo Palácio da Presidência (1789), também conhecido como
“Palácio de Barro” (o que rendeu a nova denominação de “Praça do Palácio da
Presidência”), a Casa da Provedoria da Real Fazenda (1790), que também funcionou
como Casa da Junta, Câmara e Cadeia; a Igreja Matriz (1794), além de casarões da
elite local, como o Solar Palmeiro (1790) e o Solar dos Câmara (1818). Estas
edificações configuravam o centro político, cultural e social no qual a praça configurava o
ponto central da nova capital.

A Praça Imperial
Já no período imperial (1822-1889), assim denominado a partir da independência do
Brasil, observa-se a introdução de elementos arquitetônicos neoclássicos nas
edificações da capital gaúcha. A partir da década de 1850, passamos a observar
mudanças características no antigo ordenamento do espaço colonial da praça passando
a receber contornos mais regulares.
Nesta época a iluminação era realizada por candeeiros à óleo. A pavimentação das
ruas no entorno da praça iniciou-se em 1846, primeiramente com a implantação do
calçamento de pedras irregulares, conhecido por calçamento “pé-de-moleque” ou
“canjicado” (elaborado com seixos de pedra de vários tamanhos)².
No campo cultural, as mudanças no entorno da praça também são significativas. No
local do antigo moinho do lado Oeste da praça foi construída a Sociedade Bailante
Soirré Porto-Alegrense(1850), local de socialização da cidade no século XIX, onde
ocorriam festas, reuniões e conferências. E em direção ao Guaíba foi erguido o prédio do
Theatro São Pedro (1858) que segue de pé até os dias atuais.

_______________________
¹ Chegados à região de passagem para consolidar a principal cláusula do Tratado de Madri que seria a troca de
territórios entre as Missões e a Colônia de Sacramento, onde os índios Guarani passariam a ocupar terras espanholas
e os casais de açorianos iriam ocupar terras sob o domínio português nas Américas. No entanto, foi uma iniciativa
frustrada devido à conflagração da Guerra Guaranítica, o que ocasionou o fato de os casais não se deslocarem para
as Missões e acabarem se estabelecendo na área do porto que atracaram de passagem. Por isso o primeiro nome
dado à essa localidade foi “Porto dos Casais”.
² Vestígios deste pavimento pé de moleque foram encontrados durante o monitoramento arqueológico das obras de
restauro da Praça da Matriz em frente ao Theatro São Pedro.

8
11 20
Na esquina Oeste da praça com a Rua Duque de Caxias, em frente à Casa de Jun-
ta, foi implantada a Hydráulica Porto-alegrense (1864) configurando melhoramentos na
infraestrutura urbana para o abastecimento de água na capital.
Porém o processo de urbanização da área da Praça com mais afinco inicia-se somente
em 1865, quando recebe o nome de Praça Dom Pedro II.
Na área central da praça foi instalado o imponente Chafariz do Imperador (1866)
esculpido em mármore de Carrara vindo da Itália especialmente para adornar um dos 8
chafarizes que distribuíam água potável à população de Porto Alegre. Era ornado por 5
estátuas que representavam duas ninfas e dois netunos simbolizam os quatro rios
afluentes do Guaíba (Jacuí, Caí, Sinos e Gravataí), e em destaque, no alto, um jovem
simbolizando o Lago Guaíba. As estátuas deste conjunto são consideradas as mais
antigas da cidade. O chafariz foi transferido de local por duas vezes. para a Praça Dom
Sebastião, em frente ao Colégio Rosário, já sem a sua estátua central que foi perdida, e
atualmente está realocado nos jardins do DMAE na Hidráulica dos Moinhos de Vento –
importante local para recuperar sua história ligada ao abastecimento de água potável na
cidade de Porto Alegre.
Por volta de 1870 começam a circular no entorno da Praça da Matriz bondes puxa-
dos por jumentos. A praça recebeu a instalação pública dos postes de iluminação à
gás (1874) dispostos no entorno do chafariz central. Já nos primeiros anos da década de
1880 a praça recebe obras de paisagismo com a colocação de calçamento em pedra
portuguesa, arborização, ajardinamento incluindo o plantio de oliveiras vindas de
Portugal, e também foi cercada com mureta baixa e grades. Ainda no final do séc. XIX
as pedras irregulares do pavimento “pé de moleque” no entorno da praça são
substituídas por pavimento de paralelepípedos de granito na segunda metade do séc.
XIX.
Ainda no ambiente interno da praça, a primeira estátua pública da praça foi a
Estátua do Conde de Porto Alegre (1885) cuja inauguração contou com a presença da
Princesa Isabel – assim como o Chafariz Imperador, esse monumento também foi
transferido de local após a queda do Império e mais tarde foi transferida para adornar a
antiga Praça do Portão, que foi rebatizada com o nome de Praça Conde de Porto Alegre.
No final do período imperial concluiu-se a construção do “prédio gêmeo” ao
Theatro São Pedro planejado para abrigar a sede própria da Casa da Câmara (1874) –
que anos mais tarde, fora transformado na primeira sede do Tribunal de Justiça (1893).
Ao longo do séc. XIX os novos edifícios que foram sendo gradualmente substituídos
no entorno da praça seguiram o estilo neoclássico, assim como as modificações
realizadas nos prédios da Casa da Junta ou no Palácio da Presidência apontavam a
intenção de abandono dos aspectos coloniais da Praça.

A Praça Republicana
Com a chegada da República (1889), o logradouro recebe o nome de seu
proclamador: Praça Marechal Deodoro, permanecendo a nomenclatura até os dias
atuais. As edificações que foram sendo erguidas ou remodeladas no entorno da praça a
partir da virada do séc. XX novamente transformando bastante a paisagem urbana,
desta vez seguindo o estilo eclético.

21
.A Praça da Matriz recebe a pavimentação em pedra portuguesa (calçamento
tombado), o qual se mantêm presente até os dias atuais. O restante do pavimento do
platô foi substituído, era pavimentado com ladrilho hidráulico na cor rosa e branca e foi
substituído por basalto regular polido e mármore regular branco. Atualmente a única
alteração encontra-se, no espaço do canteiro central, que teve seu gramado substituído
por areia e abriga na atualidade uma pracinha infantil.
.A Praça recebe o monumento a Júlio de Castilhos (1913), o qual serviu para refor-
çar a afirmação do poder político dos republicanos positivistas, simbolizando
prosperidade material espacificação social. Em forma de obelisco, suas faces sustentam
figuras alegóricas representando o homenageado. A escultura principal é representada
por uma alegoria feminina da República portando um archote de luz e um diploma
constitucional. A figura está locada sobre uma meia esfera, que simboliza o globo
terrestre, contendo uma faixa com a inscrição Ordem e Progresso, lema positivista
também presente na atual bandeira nacional.
Na parte superior do obelisco estão grifadas as datas alusivas à Revolução France-
sa e à Proclamação da República. Também há cartelas com as inscrições “Libertas
Quae Sera Tamem”, em referência à Inconfidência Mineira; e “A sã política é filha da
moral e da razão” em alusão à Independência do Brasil, referenciais diretos aos ideais
republicanos.
A Leste da Praça, além do Solar Palmeiro construído ainda na época colonial ter
passado por uma remodelação no início do séc. XX, uma nova edificação foi mandada
construir em proporções um pouco menores ao seu lado Norte: um outro Palacete da
Família Palmeiro da Fontoura (± 1919). Primeiramente utilizado para fins residenciais,
esta segunda construção ficou muito conhecida por ter abrigado anos mais tarde a
segunda sede do Consulado Geral da Itália no Rio Grande do Sul (1969-2005)¹.
No lugar do antigo “Palácio de Barro” foi erguido o novo Palácio do Governo, em
1921, também batizado de “Palácio Piratini”.
No outro lado da Praça, a Oeste, onde antes havia a Hydráulica Porto-Alegrense e a
Sociedade Bailante, ambas foram demolidas para a edificação do primeiro Auditório
Araújo Viana (1927), com sua concha acústica acompanhada de bancos de cimento
alinhados a céu aberto contornados por um belíssimo jardim pergolado. Cedeu lugar²
para a construção do Palácio Farroupilha (1967), sede da atual da Assembleia
Legislativa, seguindo a tendência de linhas retas da arquitetura moderna.
Seguindo a mesma linha, o antigo prédio do Tribunal de Justiça que foi destruído por
um incêndio no ano de 1949, cedeu lugar para a construção do atual Palácio da Justiça
(1968), o qual também já reproduz a geometria da arquitetura moderna com seus traços
retos.

______________________
¹ Tanto a obra de reforma do Solar quanto a construção do Sobrado, ambos agora em estilo eclético, ficaram sob a
responsabilidade do arquiteto alemão Ricardo Wirth. Atualmente o primeiro abriga a sede do instituto cultural Nova
Acrópole e o segundo a sede do Partido Progressista.
² Anos depois o Auditório Araújo Viana foi relocado para o Parque Farroupilha, ganhando uma nova estrutura.

22
No decorrer do séc. XX toda a face Sul da praça foi alterada nos primeiros anos da
República, sendo que as edificações que abrigavam a antiga Capela do Divino¹ e a Igreja
Matriz foram derrubadas na década de 20 para o erguimento da Catedral Madre de
Deus de Porto Alegre (1972), em estilo neo-renascentista.
A ligação entre a Praça da Alfândega com a Praça da Matriz, sede dos três poderes
na capital, dava-se pela Rua General Câmara. Isso implicou no tombamento das duas
praças como sítios históricos gêmeos pelo IPHAN. Sendo que os sítios arqueológicos
de ambas as praças foram registrados separadamente após os monitoramentos
arqueológicos das obras de restauro em cada praça.
A Praça da Matriz tem sido há décadas o destino de manifestações populares aos
palácios do Governo, da Assembleia ou da Justiça. Da mesma forma, para lá tem
convergido a quase um século e meio a vida artística, cultural e religiosa de Porto Alegre.
Atualmente em seu entorno imediato ainda existem diversos prédios de importância
histórica ou social para a cidade. Ali estão a Catedral Metropolitana de Porto Alegre; o
Palácio Piratini; a antiga Casa da Junta (Memorial do Legislativo), o Palácio Farroupilha
(Assembleia Legislativa), o Theatro São Pedro, o Palácio da Justiça, o Palácio do
Ministério Público e os dois solares da família Palmeiro da Fontoura.
Nas proximidades da praça encontramos também outros prédios históricos impor-
tantes como o Solar dos Câmara, o Museu Júlio de Castilhos, Biblioteca Pública do
Estado, dentre vários outros.

PARA SABER MAIS...


Júlio de Castilhos
As laterais do monumento em sua homenagem representam as fases da vida deste destacado
governante: no lado Oeste: a juventude, ou fase da propaganda republicana, através de um jovem
distribuindo exemplares do jornal “A Federação”, veículo oficial de imprensa do Partido Republicano
Riograndense; no lado Norte: a maturidade, ou fase de institucionalização do regime, através de um
herói letrado, de livro na mão, para colocar em prática seu programa de governo. O estadista é cercado
de figuras que representam suas virtudes: a. a Coragem, b. a Prudência, c. a Oposição, representada na
figura de um dragão que rasteja pelas escadarias, d. a Firmeza, que segura na mão as chaves dos três
poderes e e. o Civismo, através de uma figura representada envolvida na bandeira nacional; no lado
Leste: a velhice, através da figura de um velho, longas barbas, a cabeça apoiada no braço, tem um livro
aberto no colo, representando a Sabedoria Política e Transparência; a no lado Sul: sua face representa a
Popularidade, na figura de um gaúcho saudando o homenageado com o cavalo empinado. No solo, uma
caveira bovina e um arado completam o conjunto de signos que servem para representar o povo gaúcho.
No lugar de mosquetes e canhões: uma simples pistola na cintura. No lugar de espadas e de lanças são
representados seus referenciais relativos: o arado e a caveira bovina.

______________________
¹ Com a demolição da Capela do Divino, a Praça deixou de sediar a “Festa dos Fogos do Espírito Santo” – festa religiosa de origem
açoriana – que ali congregava os habitantes da cidade em procissões, concertos musicais, apresentação de dança, feiras e até
sessões de cinema ao ar livre.

23
PARA SABER MAIS...
Araújo Vianna
Este importante músico e compositor porto-alegrense deu nome ao majestoso Auditório Araújo Vianna
com sua imponente concha acústica a céu aberto e plateia com bancos decorados em concreto e
madeira ladeados por um pergolado ajardinado onde o público prestigiava apresentações como shows
da Banda Municipal e concertos da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Autor de duas óperas,
“Carmela” e “O Rei Galaor” que eram encenadas no Theatro São Pedro por companhias líricas
internacionais e nacionais. Com o seu desmanche seus antigos bancos foram espalhados em diversos
locais da cidade sendo que o auditório foi transferido para o Parque da Redenção numa versão mais
moderna e em seu lugar foi erguido o prédio da atual Assembleia Legislativa junto à Praça da Matriz.
representar o povo gaúcho. No lugar de mosquetes e canhões: uma simples pistola na cintura. No lugar
de espadas e de lanças são representados seus referenciais relativos: o arado e a caveira bovina.

Murilo Furtado
Foi outro influente músico e compositor porto-alegrense, tendo estreado sua ópera ”Sandro” no mesmo
ano em que Araújo Vianna lançou Carmela (1902).

• Atividade •

Encontre:

Altos da Praça
Palácio do Governo
Sociedade Bailante
Câmara Municipal
Conde
Júlio de Castilhos
Teatro São Pedro
Araújo Viana
Don Pedro II
Chafariz da Praça

24
ARQUEOLOGIA

A ciência que estuda o passado em seu presente


Luciano Waldman

A palavra arqueologia deriva de duas outras palavras gregas: Arqueo, que significa
antigo, e Logia, que que significa ciência ou estudo.
A arqueologia é uma ciência que de forma prática estuda a tecnologia material
produzida pelo homem e consequentemente acaba por estudar a cultura e o ambiente
de tais seres humanos que as produziram.
O trabalho do arqueólogo, basicamente, divide-se em quatro momentos:
a) o trabalho de campo; b) a análise e curadoria laboratorial; c) o trabablho de gabinete;
e d) a divulgação das pesquisas.
O trabalho de campo representa os trabalhos feitos em sítios arqueológicos, locais
onde houve ou ainda há ação e produção humana.
O trabalho de laboratório é a analise e a catalogação dos objetos encontrados
nestes locais históricos e é ao final do trabalho de laboratório, com a escrita de um
relatório, que chegamos a conclusões e percebemos qual eram as pessoas e as
atividades que desempenhavam neste determinado local.
.É no laboratório, também, que o arqueólogo utiliza de outras áreas do conhecimento
como geografia, geologia, física, química e outros para aprofundar os conhecimentos
adquiridos em campo.
O trabalho de gabinete representa a parte de compilação das pesquisas interdicipli-
nares necessárias para a análise, interpretação dos achados em campo e sua relação
com o contexto histórico e ambientais envolvidos para a posterior conclusão dos
estudos.
Por fim, a divulgação das pesquisas encerra a conclusão de todos os estudos
efetuados tanto na forma da emissão do relatório/laudo arqueológico das pesquisas
realizadas num âmbito global, quanto na forma da divulgação seja em eventos
acadêmicos acadêmicos, publicações e atividades de
educação patrimonial visando a extroversão
das pesquisa para os mais diversos públicos.
A arqueologia pode parecer puramente
puramente humana, mas é com a
interdisciplinaridade entre as ciências
humanas e exatas que conseguimos
chegar em conclusões mais absolutas.

258
De forma resumida, a arqueologia busca expan-
dir o conhecimento humano através dos vestígios
deixados por nossos antepassados e através das
informações adquiridas associadas com outras
ciências tentará encontrar as peças que faltam do
nosso grande quebra cabeça histórico.
Assim podemos esclarecer que as múltiplas
atividades e contribuições da arqueologia para a
Praça da Matriz nos possibilita refletir sobre o papel
do arqueólogo e como ele desenvolve o seu
trabalho.
Antes de falarmos da execução do trabalho prático da arqueologia temos de enten-
der que antes de tudo, relembrando as palavras do arqueólogo inglês Mortimer Wheeler
“O arqueólogo escava pessoas, não coisas”.
Ou seja, a cada fragmento de artefato, peças inteiras ou evidências de estruturas
arquitetônicas na realidade por traz de cada vestígio o que o arqueólogo busca é acima
de tudo informações sobre como viviam as sociedades estudadas em diferentes épocas
no passado.
Os sítios arqueológicos são a representação da cultura material e imaterial. Para
coletar dados sobre um sítio geralmente precisamos escavá-los e retirar esta informação
do solo que consequentemente vem a “destruir” ou deteriorar o nosso sítio de estudo.
Para o arqueólogo a arqueologia material é a base da ciência arqueológica
representando toda possível informação concreta dos povos passados sendo assim
necessária a aplicação de tais práticas. À vista disto o que nos resta fazer é aplicar
técnicas eficazes de coleta de dados dos artefatos e de seus contextos. O artefato sim é
a expressão de sociedades extintas, mas a contextualização e coleta de dados
relacionadas ao ambiente, (ex: ecológico, localização no sítio, localização dentro de uma
estrutura, junto com que materiais, grau de conservação, posição) nos trazem um
panorama mais amplo.
Frente a esta reflexão exposta acima a ação do processo de escavação pratica é
executado da seguinte maneira:

1 - Um encaminhamento de pedido de permissão e autorização para a realização de


pesquisa e intervenção arqueológica na área a implementar o projeto.

2 - Novamente, relembrando Sir Mortimer Wheeler: “O escavador experiente, que pen-


sa antes de escavar, obtém sucesso em conseguir seus objetivos na maioria das vezes”.
Desta maneira, uma revisão bibliográfica prévia meticulosa é feita sobre o local em suas
fontes históricas, em trabalhos arqueológicos, em intervenções humanísticas e naturais
decorrentes no local e região. Que oferecem muitas, universidades, museus, centros de
preservação de materiais históricos, centros culturais e também consultar outros
arqueólogos. Com o objetivo de elaborar um panorama ambiental, arqueo-histórico e
antropológico.

26
3 - Tendo nosso estudo prévio e no afã de suprir as exigências das instituição de cada
país que salvaguardam o património histórico podemos apresentar um plano de trabalho
científico contendo: objetivos flexíveis para atender as necessidades do local,
conceituação, metodologia com descrição e fundamentação, sequência de operações a
serem realizadas, cronologia de execução, proposta de ferramentas a serem usadas,
abordagem e técnicas a serem implementadas, proposta de coleta, trato, análise e
armazenamento indicando o local que o espólio ficará durante e depois da escavação;
proposta de utilização do espólio para fins científicos, culturais e educacionais; meios de
divulgação da pesquisa e obra, relatório prévio, declarações das entidades contratante e
enquadrante garantindo a disponibilização dos meios necessários à boa execução dos
trabalhos.
Neste momento se necessário pode ir a campo fazer uma sondagem para ver os
tipos de materiais de relevância arqueológica que se encontram sob o terreno ou fazer
inspeções subsolo com profundidades variadas em busca de evidências de
artefatos móveis (objetos feitos pelo homem, como potes de cerâmica, recipientes de
vidro, moedas, brinquedos dentre uma ampla variedade de possibilidades) bem como de
estruturas fixas (arquitetônicas, ou seja, edificações de qualquer natureza).

4 - Acompanhamento arqueológico a ser realizado no local do projeto para a instalação


das escavações ou obras do local, uma grade de quadriculas de escavação para o sítio
(caso seja necessário) junto com medições topográficas.

5 - Trabalhos práticos. Registro, recolhimento e análise da cultura material arqueológica


porventura localizada durante a execução das atividades prospectivas a serem
realizadas no local.
Quanto à escavação, esta deve ser iniciada com a difinição de um quadriculamento
simétrico no terreno por meio da colocação de piquetes para sua demarcação,
organizado semelhante a um tabuleiro de xadrez. Sendo que as quadrículas podem ter
tamanhos variados (dependendo do método aplicado variando de 1m x 1m a até 5m x
5m). Para facilitar a identificação de cada quadrícula, procura-se em geral adotar a
nomenclartura alfanumérica, ou seja, as colunas são identificadas com letras e as linhas
com números (ou vice-versa), como no exemplo abaixo;
O processo de escavação pode ser dado
de várias maneiras, em geral são realizados
pequenos poços-testes de averiguação do
subsolo, ou quadrículas de sondagem de
1m x 1m, ou trincheiras unindo fileiras de
quadrículas com extensões variadas, e até
mesmo amplas áreas onde várias
quadrículas são abertas ao mesmo tempo
lado a lado.
Para o registro de como o solo se apre-
senta em subsuperfície, pode-se optar pelo o
que se chama de níveis artificiais (onde são
registrados
27
registrados como o solo se comporta a cada 10cm em 10cm por exemplo), ou em níveis
naturais (onde só se muda o registro das diferentes camadas de solo quando a textura
e/ou coloração do mesmo também muda, independentemente de qual seja o tamanho da
camada).

O processo de escavação é realizado pelos arqueólogos ou pelos operários e


estagiários das equipes que peneiram toda a terra retirada do solo em busca dos
vestígios que estão procurando.
Os materiais encontrados em cada nível escavado diariamente são registrados,
colocados em sacos, lavados, triados, catalogados, numerados e quantificados em um
processo continuo e diário até o final da escavação.
Com o fim da escavação de cada nível ou de um dia de trabalho é necessária ser
feita a documentação através de fixas ou de anotações ,em diários de campo geralmente
acompanhadas de fotografias representando os níveis e os seus achados.
Este processo relatado acima continua-se até chegar ao final do último nível
arqueológico ou até o nível necessário para a impantação das diferentes estruturas que
um determinado empreendimento necessite.

6 - A preparação de um relatório final com os vestígios devidamente catalogados é o


último passo da pesquisa antes de depositá-los em uma instituição responsável pela
salvaguarda do material (cujo local pode ser tanto já existente ou até mesmo vir a ser
construído no local ou em outros lugares).

7 - Execução de atividades de educação patrimonial. Oportunidade de extroversão em


que os pesquisadores podem trabalhar com a significado, importância e o sentimento de
pertença de uma determinada comunidade com o seu patrimônio histórico-cultural-
arqueológico local. É também a oportunidade
de desenvolver a aprendizagem através da
exploração da pesquisa, sendo que uma das
melhores formas de atingir este objetivo é
através da exploração de ferramentas
lúdicas. Estas atividades podem ser
destinadas tanto para o público escolar,
quanto para um público específico, quanto
para a comunidade em geral.

28
TOPOGRAFIA

A ciência exata que compreende a prosa, verso dos vestígios da humanidade


Fabiano Branchelli
O que é Topografia?

A topografia significa medir, fracionar, representar, mensurar, a superfície da terra


através do uso de conhecimentos matemáticos, em especial, cálculos e representações
geométricas e trigonométricas, produzindo plantas topográficas e cartográficas.
(BRANCHELLI, 2018 p.14).

O que faz o Topógrafo?

O topógrafo é um profissional que realiza medições, fracionamentos, representa e


mensura, áreas delimitadas da superfície da terra, através do uso de equipamentos
como mira, estação total e RTK, fazendo uso de softwares e conhecimentos
matemáticos, realizando, cálculos e representações geométricas e trigonométricas, para
a produção plantas topográficas, desenhos técnicose cartografias.

Qual a relação entre a Topografia e a Arqueologia, em especial


para o monitoramento arqueológico das obras de requalificação
da Praça da Matriz?

A topografia é uma parte importante do tra-


balho arqueológico, presente em diferentes
momentos de uma pesquisa. Por exemplo: na
etapa inicial de pesquisa a topografia serve para
planejar as intervenções arqueológicas; na etapa
final de trabalho, serve para representar, medir e
localizar as áreas de estudo, os sítios
arqueológicos e a cultura material.

Teodolito: instrumento essencial


para o fazer topográfico.

29
A topografia, em última instância, serve para a locação, localização e aferição
de medidas de distância, profundidade de áreas, sítios, unidades de
escavação, ocorrências arqueológicas, estruturas, agregando precisão e
diminuindo a incidência do erro humano durante o processo de nascimento
do registros arqueológico.

Observe a planta baixa da Praça da Matriz de Porto Alegre, sobre ela foi traçada
uma grade correspondente ao planejamento da intervenção arqueológica!

Cada quadricula serve para demarcar as


áreas de escavação e estudo, também
ajudando a registrar onde foram encontrados
artefatos, por exemplo: na localização "H7" foi
descoberto um fragmento de Porcelana Chinesa
Cantonesa do início do séc. XX.

Fragmento de Porcela Chinesa Cantonesa

Planta Baixa da Praça da Matriz com Grade

A B C D E F G H I
1
• Atividade •

Agora é sua vez!


2
Em duplas/ grupos
3
Usando a planta da Praça da
4 Matriz, cada um terá que
encontrar os 5 artefatos do
oponente.
5
Turma contra professor(a)
6 Os alunos e alunas terão que
descobrir onde estavam
7 enterrados 10
achados na praça.
artefatos

8 Gabaritos:
Jogador 1 = p.73; Jogador 2 = p.74;

9 Professor(a) = p. 75.

Elaboração da Atividade: Vander Gabriel Camargo

30
CARTOGRAFIA

Uso e produção de mapas na arqueologia


Thaíssa de Castro Almeida Caino
A cartografia pode ser definida como uma ciência que busca representar a superfície
terrestre ou parte dela por meio de mapas. A associação cartográfica internacional
considera a cartografia um conjunto de estudos e operações científicas que tem por base
os resultados de observações ou da análise de documentação para a elaboração de
mapas. Os mapas são um tipo de representação cartográfica, com formas de expressão
ou representação de objetos e ambientes físicos e socioeconômicos.
Na Arqueologia a cartografia aparece de duas formas, a primeira é utilizando mapas
como referência, a segunda é a produção dos mapas com as informações que foram
levantadas em trabalhos de campo e de gabinete. É interessante ressaltar que na
Arqueologia a informação espacial é importante, sendo assim, essa forma de
comunicação apresentada pela cartografia é fundamental em pesquisas arqueológicas.
Nos casos em que a arqueologia produz informações
que são representadas nos mapas, temos o exemplo do
pesquisador Kneip, que em 2004 publicou a tese de
doutorado com o resultado da pesquisa arqueológica na
lagoa do Camacho, SC. Doutor Kneip utilizou os dados
coletados em escavações, dados topográficos e de
movimentação do nível do mar para a reconstrução
paleoambiental. O arqueólogo construiu o Modelo de
Elevação Digital da região integrando diversas
informações para simular a movimentação do nível
médio do mar entre 5.000 anos A.P. até o presente. A
partir disto, concluiu que a lagoa do Camacho era o
Sextante: objeto utilizado para fins de
posicionamento global na navegação. epicentro das relações socioespaciais entre os
habitantes da região.
Em Porto Alegre o arqueólogo Alberto Oliveira desenvolveu uma pesquisa em 2005,
quando elaborou uma reflexão sobre o patrimônio arqueológico do Centro Histórico do
Município de Porto Alegre, RS. O arqueólogo avaliou o potencial arqueológico da região,
considerando as possibilidades de investigação utilizando informações históricas,
resultados de pesquisas arqueológicas e características geográficas da região
pesquisada em Porto Alegre. A partir da associação dessas informações, foram definidos
o potencial arqueológico de cada local, e, a partir dessa informação, foi elaborado o
documento
31
o documento cartográfico o qual constitui a Carta de Potencial Arqueológico do Centro
Histórico de Porto Alegre.
Os resultados dos trabalhos citados foram decorrentes de estudos científicos que
tiveram por base os resultados de observações e a análise de documentação que
formaram um sistema, onde os dados foram relacionados, referenciados espacialmente,
resultando em mapas, planilhas, informações.
Os mapas foram um resultado, mas ainda é um documento a ser consultado, e na
arqueologia esse produto é uma forma, também, de democratizar o conhecimento sobre
o patrimônio arqueológico. A reunião das informações para a produção de mapas
fornece elementos intelectuais e materiais do sítio arqueológico à sociedade e
consequentemente valoriza as informações advindas do objeto de estudo do projeto.

• Atividade •

Os mapas abaixo nos permitem enxergar as mudanças e a


permanência do passado em nosso presente.

1. Compare as duas imagens e escreva em tópicos o que permaneceu


e o que mudou nas figuras apresentadas abaixo;
2. Logo após escreva sobre o que lhe chamou mais atenção ou
desenhe.
3. Escolha um patrimônio edificado exemplo: Teatro São Pedro, Igreja
da Matriz. Se possível diga em qual posição se encontra segundo a
rosa dos ventos.

Mapa da Praça da Matriz e arredores em 1900 Mapa da Praça da Matriz e arredores em 2020
Fonte: MARTINS, 2009. Fonte: Google Earth.

8 32
1. Compare

Permanências Mudanças

2. Escreva/ desenhe

33
3. Escolha

• Atividade •

Outra opção de atividade para se trabalhar cartografia é:

Utilizando palitos de picolé, cola, estilete ou tesoura, imprima e monte


seu quebra-cabeça.

1. Imprima o mapa da largura de um palito de picolé;


2. Pegue os palitos passe cola; cole no verso da imagem;
3. Espere secar e recorte com estilete a imagem; respeitando o
espaçamento de 1 centímetro e meio;
4. Depois ponha as partes da imagem fora da ordem;
5. Peça para as crianças colocarem na ordem correta;

34
ARQUEOLOGIA
DIGITAL

Bruno T. Zanette
João V. C. Back
Vander G. Camargo
É natural pensar o trabalho dos profissionais da arqueologia como interdisciplinar,
assim como observamos, visto que utiliza-se de conhecimentos das ciências humanas, o
próprio estudo e a reconstrução do passado, mas, também, das ciências exatas, como o
uso de mapas, a medição dos sítios e a análise da matéria-prima dos artefatos
desenterrados. Com o advento das tecnologias digitais, a arqueologia não deixou de se
beneficiar e de se atualizar, utilizando as ferramentas virtuais para facilitar e desenvolver
muitas tarefas do cotidiano da profissão.
O digital na arqueologia se manifesta de diversas maneiras: pelo uso de bancos de
dados para catalogação dos achados, no escaneamento do solo para a descoberta de
vestígios, mas também na criação de simulações virtuais dos objetos achados a partir de
tecnologias 3D. Sua utilização pode servir para a elaboração de representações
tridimensionais muito próximas aos artefatos encontrados, e, igualmente, para
reconstituir como poderia ser sua aparência na época em que foi feito.
Grande parte dos vestígios materiais descobertos
na Praça da Matriz foram encontrados em estado
fragmentado, assim, as ferramentas digitais serviram
para reconstruir o artefato por inteiro, o que manifesta
a própria atividade do arqueólogo e da arqueóloga em
imaginar o passado através das pistas que chegaram
até o presente. Em exemplo, apesar de se ter
descoberto apenas o gargalo de uma garrafa em
cerâmica grés, pode-se reconstruir a completude de
sua forma através do estudo de outras garrafas
semelhantes e dos conhecimentos já existentes sobre
esse tipo de objeto.
O papel dos modelos tridimensionais digitais na
arqueologia é o de contribuir para a pesquisa das
culturas do passado e de suas produções materiais.
Além disso, serve como ferramenta para difundir o
Simulação 3D de acesso a esses artefatos, visto que podem ser
uma Garrafa de disponibilizados na internet e usados nas salas de aula
Louça Grês a partir do gárgalo.
© Ergane: Arqueologia Digital. para o ensino.

35
IIIª PARTE
ACHADOS ESPECIAIS DE UM
PROCESSO DE ESCAVAÇÃO
A HISTÓRIA DA PRAÇA
DA MATRIZ CONTADA
POR ARTEFATOS

Raquel Machado Rech

CERÂMICA GUARANI

Vestígios da ocupação Guarani no território de Porto Alegre podem remontar de


2000 anos antes do presente até o séc. XVIII quando ocorreram os primeiros
contatos com os colonizadores da atual Porto Alegre desde a vinda dos açorianos.

A ocupação indígena pré-colonial Guarani no território do município deixou


remanescentes que foram encontrados durante o monitoramento arqueológico das obras
de requalificação da Praça da Matriz.

A datação dos mesmos pode remontar entre 2000 anos antes do presente até o
século XVIII quando houveram os primeiros contatos entre os indígenas locais e a
colonização que deu origem à moderna cidade de Porto Alegre com a chegada dos
casais açorianos na região.

Na sociedade Guarani cabia à mulher indígena a atribuição de confeccionar as


vasilhas cerâmicas. Sua produção era feita com a união de vários roletes de argila até ir
dando a forma desejada aos potes antes de levá-los para cocção em fogueiras abertas
ou fornos de barro. Dentre os variados tipos de decoração destes potes destacamos
alguns como o alisado; o ungulado (com a marca de unhas); o corrugado (espécie de
beliscões na argila); o escovado (com palha de milho), etc...

Preparação do rolete Confecção da forma Acabamentos

37
• Principais Formas •
2

1. panela = yapepó;
2. caçarola = ñaêtá;
3. prato para assar = ñamopiu;
4. jarra para bebida = cambuchí;
5. prato para comer = ñaembé;
6. tigela para beber = camuchí caguabá.
(BROCHADO & MONTICELLI, 1994, p. 100)

Quando são encontrados fragmentos da borda ou da base de um pote cerâmico é


possível desenhar a reconstituição parcial ou total do mesmo com os detalhes de suas
inclinações. No entanto, quando são encontrados apenas fragmentos do meio do corpo
de de um vasilhame não é possível sua reconstituição
com clareza porque faltam os detalhes das curvas para
dar a precisão da sua forma em sua completude.
O fragmento apresentado ao lado foi encontrado
durante o Monitoramento Arqueológico das obras de
requalificação da Praça da Matriz e apresenta apenas
parte do corpo de uma vasilha com decoração
corrugada. Assim, como não é possível reconstuir sua
forma com precisão, sugerimos aqui duas
possibilidades de reconstituição em 3D acerca das
formas Guarani, sendo que tal fragmento poderia ter
formas de uso destas cerâmicas utilitárias
sido parte de um prato para comer (ñaembé) ou uma jarra para bebida (cambuchí),
por exemplo.

Simulação 3D de um Cambuhí e de um Ñaembé a partir do


fragmento. © Ergane: Arqueologia Digital.

Leia-me para acessar o Leia-me para acessar o


modelo 3D modelo 3D

9 38
FAIANÇA X PORCELANA

A faiança fina é uma categoria intermediária entre a faiança e a porcelana.


Foi a categoria de louça mais popular no Brasil no séc. XIX, inicialmente o produto
mais exportado pela Inglaterra e no Brasil sua produção iniciou-se a partir do séc.
XX.

Havia uma série de estilos decorativos para a louça produzida em faiança fina.
Destacamos aqui algumas amostras dentre o vasto repertório de fragmentos
encontrados durante o Monitoramento Arqueológico das obras de requalificação da
Praça da Matriz de Porto Alegre.

O estilo Willow nasce na Inglaterra no séc. XVIII é


inspirado na porcelana Chinesa azul e branca pintada à
mão. O estilo Willow é um dos mais fáceis de se
reconhecer e arqueologicamente é sinônimo da cultura
material do séc. XIX, época em que foi largamente
produzido. As cerâmicas deste estilo eram produzidas em
faiança branca e decoradas através de uma estampa,
também, chamada transferência térmica (transfer printing).
Estas impressões monocromáticas feitas em placas de
cobre ou metal eram impressas em papel e transferidas
através de pressão ou calor. Raras eram as peças
pintadas a mão.
A montagem das cenas do estilo Willow é composta de paisagens orientais em seu
desenho central com motivos florais tendo sempre um salgueiro (chorão), razão do nome
do estilo, uma casa oriental, um rio, uma ponte, um barco, pássaros, sendo que alguns
também podem conter imagens antropomórficas ou de outros animais. Este estilo
decorativo conhecido como “chinoiserie” é o que mais se destaca dentre outros (como o
pastoral, vistas exótias, floral, clássico e romântico).

O estilo Flow Blue ('azul voado') é uma técnica de


pintura por transferência térmica em faiança ou
porcelana criada no século XIX na Inglaterra. O nome
deriva do resultado da queima de um estêncil de
papel com motivos esmaltados colocados sobre as
peças que desaparecem com o queimar nos fornos e
acabam por borrar um pouco a pintura.

A decoração padrão do estilo chama-se "Normandy"


e é um motivo floral, mas, também, além deste,
diversas outras decorações foram aplicadas. Este
estilo é comumente achado nas lixeiras das grandes
cidades históricas representando a tecnologia material
do século XIX.

39
O padrão Shell Edged era um acabamento comum
para as louças em faiança fina produzidas com a técnica
de Moldagem Industrial/Colagem (processo que utiliza
moldes de gesso e barbotina). O nome refere-se ao
aspecto de “borda de concha” e as colorações mais
utilizadas eram as cores primárias vermelho, azul e
verde. A decoração era feita na borda da peça,
geralmente pratos, tigelas e travessas.

Dentre os inúmeros fragmentos de faiança fina


encontrados nas escavações, destacamos a
reconstituição destes 2 fragmentos de pratos para ilustrar
estas que são algumas das inúmeras variações
decorativas encontradas nas louças em faiança fina.

Simulação 3D de uma Faiança com padrão Willow a


partir do fragmento. © Ergane: Arqueologia Digital.
Até os dias atuais o padrão
decorativo das antigas
louças em faiança fina e
porcelana é ainda
encontrado nas nossas
louças modernas, como é o
caso da reprodução do
estilo Willow, com
decoração em “chinoiserie”
por exemplo.

Simulação 3D de uma Faiança Verde a partir do


fragmento. © Ergane: Arqueologia Digital.

Leia-me para acessar o


modelo 3D

Leia-me para acessar o


modelo 3D

40
MUNIÇÃO DE BALIM

Munições em forma de esfera metálica.

Durante as escavações arqueológicas na Praça da Matriz, foi encontrado dentre os


vestígios de munições um balim de ferro. Este tipo de munição em forma de esfera era
amplamente utilizada pelo exército brasileiro no período imperial.

Os balins eram utilizados como munição de canhões. Neste caso, vários destes
projéteis esferoidais eram agrupados em um invólucro de metal conhecido como
“metralha” servindo assim como munição para o disparo de canhões.

Podemos aventar que o balim de ferro encontrado na Praça da Matriz poderia estar
relacionado a vários contextos bélicos que Porto Alegre já atravessou no decorrer de sua
história.

Poderia ter feito parte do conjunto da munição de um


Canhão, tal como um canhão farroupilha que foi utilizado durante
a Guerra dos Farrapos (1835-1845), sendo possível visitar vários
exemplares que encontram-se expostos no pátio do Museu Júlio
de Castilhos, a poucos metros da Praça da Matriz.

Figura 1:

Metralhadora também é o nome dado ao invólucro


com a munição.

Figura 2: Canhão Farroupilha exposto no pátio do Museu Júlio de Castilhos, próximo à Praça da Matriz

41
Outra hipótese possível para o balim de ferro encontrado na praça é que poderia ter
sido munição de um Bacamarte, talvez de um combatente ligado à visita à Porto Alegre
do Imperador Dom Pedro II e suas tropas a caminho da Guerra do Paraguai (1864-
1870). Devido ao tamanho avantajado deste projétil poderia ter sido munição de um
bacamarte boca de sino, que tem uma boca mais larga.

Bacamarte é uma arma de fogo, de


cano curto e largo (também conhecida
como granadeira, reiuna, reuna ou riuna,
usada pela infantaria do Exército Imperial
Brasileiro, na Guerra do Paraguai. Os
homens que as manejam são conhecidos
como bacamarteiros.

Os bacamartes tinham formas varia-


das, mas basicamente apresentavam seu
cano reto ou com a extremidade
alargada, conhecido como cano “boca de
Figura 1: Exemplo de um Bacamarte e suas
sino”. munições de balins de ferro

Durante as escavações arqueológicas na


Praça da Matriz, foi encontrado dentre os
vestígios de munições um balim de ferro, ou
seja a munição em forma de esfera que era
utilizada nos bacamartes. Devido ao tamanho
avantajado deste projétil (bala) podemos saber
que seria munição de um bacamarte boca de
ferro.

Podemos aventar que o balim encontrado


na Praça da Matriz poderia estar relacionado
ao contexto da visita à Porto Alegre do
Imperador Dom Pedro II e suas tropas à
caminho da Guerra do Paraguai (1864-1870).

Porto Alegre recebeu a visita do


Imperador Dom Pedro II em 1865, por
ocasião da Guerra do Paraguai. Sua
visita à capital gaúcha propiciou o início
da urbanização da Praça da Matriz,
sendo que neste mesmo ano a Praça foi
renomeada Praça Dom Pedro II em
homenagem à visita do monarca à
cidade quando estava de passagem para
comandar a defesa do Rio Grande do
Sul contra a invasão paraguaia.

Simulação 3D de um balim a partir do


Leia-me para acessar o fragmento. © Ergane: Arqueologia Digital.
modelo 3D

42
A festa da recepção da comitiva do Imperador Dom Pedro II na Praça da Matriz em
1865 foi registrada em uma fotografia de autoria desconhecida tirada do alto dos
alicerces da então Casa da Câmara. Na foto pode-se observar ao fundo à esquerda a
segunda Capela do Divino, e à direita a antiga Igreja Matriz.

Figura 3: Registro da multidão concentrado no Figura 4: Registro da festa da recepção ao Imperador na


Cais do Porto Alegre para assistir ao desembarque Praça da Matriz. Foto de autoria desconhecida, 1865
de Dom Pedro II por ocaisão da Guerra do (Fonte: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro).
Paraguai. Foto de Luiz Terragno, 1865 (Fonte:
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro).

Há a figura de um bacamarte boca de sino numa tela pintada a óleo de grandes


proporções– 4,4m x 2,6m – intitulada “A Fundação de Rio Grande” assinada pelo
famoso pintor Aldo Locatelli datada de 1960, exposta no Centro de Eventos da
Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS), no bairro
Sarandi, em Porto Alegre.

Figura 5: A Fundação de Rio Grande. Óleo sobre tela, 4,40 x 2,60 m assinada por
Aldo Locatelli em 1960. Encontra-se no Centro de Eventos, FIERGS, Porto Alegre - RS .

43
GARRAFA EM LOUÇA GRÊS

A louça grês (também conhecida como stoneware) é um tipo de cerâmica de alta


qualidade feita com argila muito fina e possui um revestimento vidrado brilhante
ou opaco.

A produção da louça grês remonta ao séc. XIV na Alemanha e no séc. XIX esta lou-
ça já era exportada por diferentes países europeus para o mundo todo, principalmente
como reciepientes de cerveja e outras bebidas.

Este tipo de louça era produzida numa variedade de tamanhos, formatos (garrafas,
meias garrafas, botijas e garrafões) e foram utilizados principalmente na produção de
recipientes utilitários como garrafas para o envase de bebidas diversas (cerveja,
genebra¹, gin, rum, licores, água mineral, soda e outras bebidas carbonatadas não
alcoólicas); além de frascos de tinteiros, potes para alimentos em conserva (mostarda
dijon, doces e conservas); e potes para cosméticos (dentrifrícios, brilhantinas para os
cabelos, e cremes para a pele); também era utilizada na produção de elementos
construtivos em tubulações e manilhas (conhecidas como “dutos de grês”).

Dentre os vários vestígios identificados durante o Monitoramento Arqueológico das


obras de requalificação da Praça da Matriz, local cujo solo foi nivelado no passado com
aterros contendo lixo descartado da Porto Alegre oitocentista², foram encontrados vários
fragmentos de recipientes em louça grês, principalmente garrafas.

Dentre a tipologia das garrafas grês no séc.


XIX, destacamos as garrafas de bebidas
alcoólicas, as quais possuíam corpos cilíndricos
com diferentes tipos de ombros podendo ser
“sinusoidais” (em forma de sino), côncavos
(curvado para dentro), ou convexos (curvado
para fora). Estas últimas podiam vir
acompanhadas de uma alça lateral próximo ao
gargalos e eram o formato típico para o envase
de água mineral e também da bebida
“genebra”, enquanto as demais formas eram Ombro Ombro Ombro
Sinusoidal Côncavo Convexo
mais utilizadas para o envase de cervejas.

__________________________________
¹ Bebida destilada a base de cereais.
² Termo utilizado para referir-se ao séxulo XIX que inicia sua contagem a partir do ano 1800.

44
Possuiam colorações diversas variando do bege claro ao marrom, passando por
várias tonalidades, existindo também um tom avermelhado ou até mesmo preto (“Black
Basalt”),Basalt”), além de um cinza variando entre o claro e o escuro (MENDONÇA &
BELTRÃO, 1996: 145). As peças em grês podiam ser monocromáticas (nas cores
branca, bege, marrom ou cinza) ou bicromáticas (combinando duas cores, por vezes
acrescidas de uma faixa de coloração intermediária entre ambas).

Destacamos aqui a descoberta do gargalo de uma garrafa grês na cor marrom, sen-
do que esta poderia ter sido totalmente monocromática nesta cor ou tratar-se de
fragmento da parte superior de uma garrafa com tratamento bicrômico, ou seja, marrom
na extremidade superior e bege na base.

Devido ao fato de os acabamentos bicrômicos terem


sido típicos das garrafas de cerveja importadas da Europa
no século XIX, reproduzimos aqui uma reconstituição em
modelagem 3D de como seria a representação desta
peça numa garrafa inteira.

Simulação 3D de uma
Garrafa de Louça Grês a
partir do gárgalo.
© Ergane: Arqueologia
Leia-me para acessar o
modelo 3D Digital.

45
GARRAFA DE CHAMPAGNE

Recipientes em vidro também são um excelente indicativo dos hábitos culturais


deixados pelas sociedades passadas. Na segunda metade do séc. XIX as bebidas
envazadas em garrafas de louça grês foram gradualmente substituidas por
garrafas de vidro por medidas econômicas.

Desde a Antiguidade o vidro é manufaturado pelo homem. Os primeiros registros


remontam aos Fenícios acerca de 5000 anos atrás que descobriram fortuitamente que a
areia derretida nas fogueiras produziam este material. Ao longo do tempo diferentes
civilizações foram aprimorando diferentes técnicas manufatureiras de produção dos
vidros com instrumentos de sopro, moldes, fornos.

Com advento da Revolução Industrial no séc. XIX, o vidro que antes era produzido
apenas em escala artesal passou a ser produzido também em escala industrial por meio
de variados maquinários até atingir a produção automatizada dos dias atuais.

Durante o Monitoramento Arqueológico das obras de requalificação da Praça da


Matriz de Porto Alegre diversos vestígios de recipientes em vidro foram encontrados
dentre as camadas de aterro – ricas em evidências do lixo doméstico do séc. XIX – o que
permitiu aos arqueólogos investigá-los considerando os seguintes atributos :

Formas e funções: Produzidos em várias formas para atender a diferentes funções


como 1. garrafas; 2. peças de mesa (travessas, taças, copos); 3. potes de alimentos; 4.
frascos de remédios; e 5. peças de toucador (para perfumes, maquiagens e artigos de
higiene pessoal), o vidro também é um ótimo indicativo dos comportamentos de
consumo, hábitos alimentares e cuidados com a saúde e o corpo dos diferentes grupos
sociais que ocuparam a cidade ao longo da passagem do tempo.

Partes dos recipientes: Considerando 1. gargalos; 2. ombros; 3. alças; 4. bojos; e 5.


bases (planas ou côncavas).

Coloração: Variando dentre 1. incolor; 2. branco leite; 3. amarelo; 4. âmbar; 5. marrom;


6. diferentes tons de azul; e 7. diferentes tons de verde (cuja tonalização variava
conforme o calor recebido no seu processo de produção).

Marcas nos vasilhames: Variando dentre 1. marcas de produção, como bolhas de


sopro; linhas laterais evidenciando seus moldes; e marcas de instrumentos utilizados na
finalização das bases e dos gargalos; ou 2. marcas de fabricante, como marcas
circulares deixadas pelo fabricante ou estampas das marcas em alto-relevo.

46
Dentre os inúmeros fragmentos de vidro encontrados nas escavações, destacamos
aqui a descoberta do gargalo de uma garrafa de Champanhe, na cor verde oliva, Essas
garrafas se distinguem pela borda arredondada, e por uma espessa faixa de vidro que
serve para amarrar o arame que prende a rolha da garrafa. Reproduzimos aqui uma
reconstituição em modelagem 3D de como este fragmento seria representado como uma
garrafa inteira.

Levando-se em consideração que os vestígios encontrados no


subsolo da Praça da Matriz são predominantemente oriundos de
aterro de lixo doméstico da cidade no séc. XIX, os fragmentos de
garrafas de Champanhe encontrados podem evidenciar habitos
culturais e sociais de consumo daquela época. No entanto, tendo em
vista que garrafas de Champanhe ou Sidra são objetos
utilizados em rituais de religião de matriz africana realizados em
algumas ocasiões também em praças, podemos aventar a
possibiliade de que o fragmento encontrado seja vestígio de uma
dessas duas alternativas.

Simulação 3D de uma
Garrafa de vidro a partir
do gárgalo. © Ergane:
Arqueologia Digital.
Leia-me para acessar o
modelo 3D
___________________________
3. Para saber mais informações sobre a produção de garrafas de vidros antigas, recomendamos consultar
a página do Historic Glass Bottle Identification Website disponível em:
https://sha.org/bottle/makersmarks.htm.

47
CACHIMBO AFRO-BRASILEIRO

Porto Alegre abrigava territórios de comunidade negra conhecidos por arraiais ou


quilombos. No bairro Cidade Baixa, muito próximo ao atual Centro Histórico de
Porto Alegre, por exemplo, havia o Areal da Baronesa – conhecido também como
Arraial da Baronesa. Podemos aventar que o cachimbo encontrado durante as
escavações na Praça da Matriz pode estar relacionado a este contexto.

Os estudos historiográficos apontam a existência de 4 territórios negros para a


cidade de Porto Alegre abrangendo comunidades afrodescendentes que remontam
desde a época da escravatura e perduraram após a proclamação da Lei Aurea por parte
da Princesa Isabel em 1888: 1. Colônia Africana; 2. Cidade Baixa; 3. Ilhota, e 4. Areal da
Baronesa (BOHRER, 2011, p. 126-127).

Este último, ficava nas proximidades do “Alto da Praia”, um dos nomes a que se
referiam o topo da colina onde foi implantada a Praça da Matriz de Porto Alegre. O areal
(área com grande extensão coberta de areia) abrigava a chácara da Baronesa do
Gravataí, por isso o local era conhecido como Areal da Baronesa. Com a sua morte e a
abolição da escravatura em 1888, o local foi ocupado por negros alforriados da senzala
da chácara que passaram a trabalhar nos solares (casarões e palacetes da nobreza da
cidade), sendo que esta área passou a ser chamada de arraial (pequena aldeia,
lugarejo), passando a ser conhecido como Arraial da Baronesa.

Fig. 1

Fig. 1: Mapa dos teritórios negros de Porto Alegre


na virada do século XIX para o século XX e
Fig. 2: Deslocamentos dos territórios negros a partir
da década de 1930 (Fonte: BOHRER, 2011, p. 127 Fig. 2
e 140).

___________________________
4. Com o avanço da urbanização da cidade na virada Fig.do
2 séc. XIX para o séc. XX parte dessas
comunidades permaneceram no mesmo lugar e partes sofreram um processo de deslocamento
culminando no que conhecemos atualmente por: 1. Quilombo da Família Silva, 2. Quilombo do Areal; 3.
Quilombo dos Alpes; e 4. Quilombo da Família Fidelix.

48
Como testemunho desta época, durante o
Monitoramento Arqueológico das obras de
remodelação da Praça da Matriz foi encontrado um
cachimbo afro-brasileiro quando das escavações de
uma vala para implantação de um poste de luz num
dos canteiros da Praça.

Os cachimbos são objetos de uso pessoal e


cerimonial de culturas diversas feitos de diferentes
formas, materiais e tamanhos.

Basicamente, as partes constituintes dos cachim-


bos são, a. bojo: corpo do fornilho (cavidade em forma
de funil que recebe o fumo); b. boquilha: onde se
encaixa a piteira (quase sempre de origem vegetal
(ALVES, 2015, p.1101 ) como o bambu, por exemplo.
1a

Partes de um Cachimbo:

1 - Corpo 1a - Cabeça 1b - Fornilho

1c
1c - Cabo 2 - Piteira

Leia-me para acessar


o modelo 3D
2 1b

O cachimbo encontrado no sítio arqueológico da Praça da Matriz de Porto Alegre o


tipo “cachimbo de barro” modelado em argila comum e sofreu um banho de engobo de
argila negra. Apresenta decoração geométrica em alto relevo na altura do bojo e da
boquilha.

Este vestígio é de suma importância pois dá visibilidade aos grupos afro-brasileiros


pré ou pós-abolição, a partir do registro arqueológico a eles associados (SYMANSKI e
SOUZA, 2007).

No início do séc. XX Porto Alegre


abrigou um príncipe herdeiro negro de
linhagem nobre vindo de Benin com uma
corte de 48 pessoas. Seu nome era
Custódio Joaquim Almeida e Leia-me para acessar
estabeleceu-se no bairro Cidade Baixa. o modelo 3D

Foi responsável por assentamentos


como o Bará do Mercado Público, no
Centro da cidade. O príncipe Custódio
deixou um legado importante para a
consolidação da religião de matriz
africana em Porto Alegre deixando
vários assentamentos de orixás, ou seja,
pontos que representariam a ligação da
realidade com as forças sobrenaturais,
sendo o mais popular deles conhecido
como o “Bará do Mercado Público”. Simulação 3D de um Cachimbo Afro-brasileiro a
partir do fragmento. © Ergane: Arqueologia Digital.

49
MOEDAS DE RÉIS DO BRASIL IMPÉRIO

O comércio no Brasil passou por diversas etapas começando pelas trocas diretas
adotadas pelas sociedades pré-coloniais, passando por diferentes moedas-
mercadoria até o aparecimento da vasta gama de moedas metálicas cunhadas no
exterior e no Brasil Colônia, no Brasil Império e o Brasíl República na atualidade.

No período pré-colonial (antes de 1500)


as sociedades primitivas que habitavam
essas terras deste tempos remotos
realizavam a troca de mercadorias de forma
direta, sistema que denominamos de
escambo.

No Brasil Colônia (1500-1822) as trocas


comerciais conheceram diferentes fases. No
início da colonização foi adotado o padrão de
moeda-mercadoria, ou seja, o padrão de troca por meio da medida de valor de
mercadorias de interesse geral – como pau-brasil, algodão, açúcar, café e ouro, dentre
outros. Com o passar do tempo, começou a circulação aleatória de moedas
estrangeiras que vieram de diferentes países com os primeiros colonos, piratas e
invasores que comercializavam na costa brasileira, sendo que as moedas portuguesas
que começaram a circular no Brasil Colônia eram as mesmas que em Portugal. Somente
em 1695 foi criada a primeira Casa da Moeda do Brasil e iniciou-se oficialmente a
cunhagem de moedas no país com a introdução dos “réis portugueses” para facilitar o
comércio.

Após a independência, no Brasil Império (1822-1889) foi criada a primeira moeda


legitimamente brasileira: o “real”. Com o passar do tempo nossa moeda recebeu
diferentes nomes, pois cada modificação estava ligada a uma mudança política e social
na economia do país.
Moedas já cunhadas no Brasil:

Réis (1695 - 1942)

Cruzeiro (1942 - 1967)

Cruzeiro Novo (1967 - 1970)

Cruzeiro (1970 - 1986)

Cruzado (1986 - 1988)

Cruzado Novo (1989 - 1990)

Cruzeiro (1990 - 1993)

Cruzeiro Real (1993 - 1994)

Real (1994 - vigente)

50
Durante as escavações das obras de restauro na Praça da Matriz, foi encontrada
uma grande variedade de moedas referentes a vários momentos da história do
Brasil, desde o Brasil Império até o momento atual.

Trazemos aqui 2 exemplos de moedas dentre as mais antigas escavadas na Praça


da Matriz, essas moedas eram de bronze e foram cunhadas na Casa da Moeda do Rio
de Janeiro:

Reverso: Imagem do Imperador


Dom Pedro II, virado para a direita,
circundada pela inscrição: Petrus II
D.G.C IMP. Et PERP. BRAS. DEF.
DEF. 1876.

Anverso: Brasão do Império do


Brasil, ladeado à esquerda pelo
dístico do valor facial (20) e à
direita pelo dístico monetário (Rs).

Simulação 3D de uma Moeda de 20


réis a partir do achado. © Ergane.

Reverso: Imagem do Imperador


Dom Pedro II, virado para a direita,
circundada pela inscrição: Petrus
II. D.G. CONST. IMP. Et PERP.
BRAS. DEF. 1869.

Anverso: Brasão do Império do


Brasil, ladeado à esquerda pelo
dístico do valor facial (40) e à
direita pelo dístico monetário (Rs).

Simulação 3D de uma Moeda de 40


réis a partir do achado. © Ergane.
A moeda de 20 Réis era conhecida pelo
nome de “1 vintém” e a moeda de 40 Réis
era conhecida como ”2 vinténs"

Durante o período da Invasão Holandesa no


Brasil (1630-1654) foram cunhadas as
primeiras moedas oficiais em território
nacional em 1645 e 1646, conhecidas como
“florins” ou “ducados brasileiros” de forma
quadrada feitas em ouro e prata.
Leia-me para acessar os modelos 3Ds.

51
Vamos entender as partes de uma moeda ?
Para entender uma moeda é preciso conhecer todas as suas partes... São muitas
palavras novas para conhecer, mas depois disso você se tornará um verdadeiro “expert”
no reconhecimento de moedas. Vamos lá?

Anverso - face principal da moeda. Geralmente traz o rosto (efige) de um


soberano ou as indicações de mairo importância.

Reverso - a face oposta onde traz os dados de importância secundária, o valor é


tido como menos importante do que a face da moeda.

Campo - é toda a superfície da moeda sobre a qual estão gravadas as efígies, os


tipos, as composições e inscrições (é o fundo da moeda).

Exergo - É o espaço inferior do campo, sendo reconhecido por vários detalhes


tais como a data, o local de cunhagem, a sigla do gravador ou abridor do cunho e,
ocasionalmente, a letra monetária.

Orla e Rebordo - Circundando o CAMPO, a parte mais elevada em relação à


superfície da moeda, contornando os tipos e limitando sua superfície e tem
aspecto ornamental (colar de pérolas, serrilhados, etc). Faz limite com o
REBORDO que fica entre a ORLA e o limite da moeda.

Bordo (ou Serrilha) - BORDO (ou SERRILHA) é a parte curva da moeda, a


borda, e por onde podemos dimensionar a espessura do disco cunhado. Também
chamada de CERCADURA, é o tratamento dado no ladeamento da circunferência
da moeda.

Legenda ou Inscrição - Servem para informar o momento político e histórico em


que se encontra a nação e enaltecer ou identificar seu soberano. Costumam ser
abreviadas e ocupam o CAMPO da moeda muitas vezes acompanhando a ORLA.
Nas moedas antigas eram comum legendas escritas em latim. O nome do país é
uma inscrição comum.

• Atividade •

Monte sua própria moeda de 20 ou 40 réis na páginas 71 e 72!

52
MEDALHA MILAGROSA

Foi descoberta uma antiga medalha religiosa dedicada a Virgem Maria encontrada
nas escavações na Praça da Matriz em frente à Catedral Metropolitana de Porto
Alegre que remete a aparições da Virgem na França no ano de 1830.

Uma imagem devocional dedicada à Santa


Maria – também conhecida como Imaculada
Conceição, Virgem Imaculada ou Nossa
Senhora das Graças – foi encontrada por um
operário que escavava uma vala para
implantação de um eletroduto! durante as
escavações do monitoramento arqueológico das
obras na Praça da Matriz.

As primeiras consultas acerca da origem desta


medalha foram realizadas junto à Catedral Mãe de Deus
em Porto Alegre em frente à Praça da Matriz e revelaram tratar-
se de uma tradição religiosa da igreja católica que remete à três
aparições da Virgem Maria no ano de 1830 à jovem noviça
Catherine Labouré da Companhia das Filhas da Caridade de São
Vicente de Paulo, em Paris. Também foram consultadas várias
outras instituições vicentinas² em busca de maiores informações
sobre este artefato³.
Durante as pesquisas descobriu-se que uma outra medalha milagrosa antiga foi
descoberta quase ao mesmo tempo durante escavações no Estado de São Paulo,
também numa ocasião de monitoramento arqueológico, no caso, durante as obras de
requalificação da Praça Dom Pedro I em Itu-SP.

A HISTÓRIA DA MEDALHA MILAGROSA*

A história da medalha surgiu com o relato de aparições da Nossa Senhora feito pela
noviça Catherine Labouré. Numa dessas visões a Virgem a teria se revelado sobre um
globo com raios de luz que irradiavam de suas mãos e em torno dela, em forma oval
apareciam a oração jaculatória: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que
recorremos
__________________________________
1. Eletroduto - canaleta para implantação de fios elétricos.
2. Vicentino - relativo à Companhia das Filhas da Caridade São Vicente de Paula.
3. Colégio Vicentino Santa Cecília, em Porto Alegre-RS; Casa Provincial das Filhas da Caridade, em Curitiba-PR; Santuário da Medalha Milagrosa,
em Monte Sião-MG; e Casa Mãe (Chapelle de Notre Damme de La Medaille Miraculeuse), em Paris-FR.
*A denominação "milagrosa" baseia-se no nome consolidado pela tradição cristã acerca do artefato, a qual a associa com eventos ainda não
explicáveis pelos seres humanos e pela ciência de um modo geral (KANT, 1793)

53
recorremos a vós”. Durante esta manifestação a Virgem teria instruído a cunhar uma
medalha prometendo abundantes graças aos que a usassem com confiança.
Os registros apontam que o primeiro model da medalha foi produzida dois anos após
as aparições, quando em 1832 o Bispo de Páris autorizou as primeiras cunhagens em
vários idiomas - inclusive em português - durante uma grande epidemia de cólera e
então as irmãs da Companhia distribuíram milhares de pequenas medalhas religiosas
dedicadas à Santa, sendo inúmeros os relatos de cura atribuídos à fé dos que a
portavam (ALADEL, 1837, p.44).

Significado da Medalha Milagrosa

Jaculatória Doze Estrelas


"Oh Marida Concebida São os 12 apóstolos,
sem pecados, rogai por representam a Igreja.
nós que recorremos a
vós! "

Raios
Por meio de sua
Letra " "
M

intercessão nos envia com a Cruz


as graças à terra. O M de Maria e a cruz
de Cristo estão
entrelaçados como
sinal de união

PÉ S SOBRE O GLOBO E DOIS CORA ÇÕ ES


AS SERPENTES O de Jesus e o de Maria.
O globo é o mundo e a Representam a força
serpente o satanás. do amor que chega até
a entrega total.

Simulação 3D de uma Medalha


Milagrosa. © Ergane.
Leia-me para acessar o modelo 3D.

A fama de esta medalha ser milagrosa disseminou-se rapidamente por todo


o mundo e hoje a Companhia Vicentina está presente nos cinco continentes, em 96
países, sendo que existem medalhas cunhadas em vários idiomas.

A medalha encontrada
em Porto Alegre é cunhada
em português. Nota-se que a
palavra “peccado” está escrita
em português arcaico, com
o “cc” duplo. Isso nos dá um
sinal acerca da antiguidade
da peça, tendo em vista que a
consoante dupla caiu em
desuso no idioma português
no início do século XX.

54
Não sabemos ao certo se ela foi cunhada na
Europa e trazida ao Brasil por mão das irmãs
vicentinas ou por luso-descendentes. Ou se ela já
teria sido cunhada no Brasil.

.Mas o fato de estar impressa a palavra


“peccado” em português arcaico nos dá uma pista
sobre sua datação relativa, pois, poderia ter sido
cunhada em uma das seguintes faixas de tempo:

- se na Europa: entre 1832 (ano da primeira


cunhagem em vários idiomas em Paris) até 1911
(ano da reforma ortográfica em Portugal).

- se no Brasil: Ou entre 1849 (ano da chegada das primeiras irmãs Filhas da


Caridade de São Vicente de Paulo ao Brasil a pedido do Imperador D. Pedro II) até 1931
(ano do Acordo Ortográfico Luso-Brasileiro).

Curioso é que a primeira medalha deste tipo foi cunhanda em 1832 num
contexto de epidemia de cólera. Fazendo uma relação com a medalha
desenterrada nas escavações de 2021 em Porto Alegre também foi num
contexto epidêmico. No caso, o da pandemia mundial do Coronavirus.

As medalhas portam sempre a data de 1830 (ano das aparições da Virgem em


Paris) não importando o ano em que sejam cunhadas. Ao longo do tempo
foram confeccionadas em diferentes versões (com uma ou duas linhas de
inscrições circundando a imagem da Virgem) e em diferentes metais (ouro,
prata, cobre, bronze e ligas de alumínio).

A primeira igreja dedicada à Nossa Senhora da Medalha Milagrosa fora da


França fica em Monte Sião-MG erguida em 1841. Já a primeira igreja
dedicada a Nossa Senhora da Medalha Milagrosa no Brasil, datada de 1849.
A igreja matriz fica bem ao centro de Monte Sião. Com belos vitrais a igreja
é bonita e bem conservada. No altar a imagem da padroeira da cidade.

55
AMULETO DE BOLOTA

Um antigo amuleto de Noz Bolota para boa sorte foi descoberto nas escavações na
Praça da Matriz de Porto Alegre. Este artefato está ligado à mitologia nórdica. É
possível aventar que tenha chegado até a cidade por intermédio das levas de
colonização germânica durante o séc. XIX para o povoamento do RS.

Um amuleto de noz bolota feito de bronze


também foi encontrado durante as escavações na
Praça da Matriz de Porto Alegre.

Este objeto trata-se de um amuleto de boa


sorte, prosperidade, fertilidade que remete à
antiga mitologia nórdica¹.

Na antiguidade as bolotas eram símbolos de


fertilidade e nova vida na Grécia e Roma. O
carvalho era uma árvore sagrada para as religiões
germânica e nórdica antigas e tiveram
ressignificação durante o século XIX.

Pingentes em forma de bolota de carvalho


foram usadas na França e Inglaterra oitocentista,
e em toda a Europa de maneira geral. No século
19 foram reinterpretados como símbolos de
Figura 1: Amuleto de Nóz Bolota em proteção, prosperidade e imortalidade,
Bronze para boa sorte, prosperidade
e fertilidade. Um legado da cultura especialmente durante o período vitoriano na
nórdica encontrado em Porto Alegre.
Inglaterra.
Assim, pingentes de bolotas eram muito comuns como
pingentes de colares no século XIX e eram usados como
simbolismo de proteção e vida longa, especialmente pela
elite aristocrática. Desta forma, podemos aventar a
possibilidade de que este amuleto chegou até Porto
Alegre por intermédio das levas de imigrações europeias
ocorridas no séc. XIX.
_______________________
¹ Agradecemos ao prof. Dr. Johnni Langer,
Coordenador do Núcleo de Estudos Vikings e
Escandinavos (NEVE-UFPB) autor do Dicionário
de Mitologia Nórdica, que muito colaborou com
© Ergane. as investigações acerca deste amuleto antigo. Leia-me para acessar o modelo 3D. © Ergane.

56
IVª PARTE
ATIVIDADES
ATIVIDADES

Vander Gabriel Camargo

• Quebra-Cabeças Arqueológicos •

Os Quebra-Cabeças são compostos pela: (1) peça que representam o fragmento


encontrado pela equipe de arqueólogos na Praça da Matriz; e (2) peças que o
complementam para formar o objeto inteiro, produzidas através de reconstituição.

Propostas de atividade

1) Escavação

.- Com as peças do quebra-cabeça recortadas, o professor/a professora, pode


enterrá-las em algum local do espaço de ensino ou de alguma praça próxima (use a
criatividade!).

- Convide os os alunos e alunas para serem arqueólogos e arqueólogas por um dia:


proponha uma escavação, utilize as técnicas estudadas no portfólio: prospecção do solo;
definição do quadriculamento; e escavação.

- Com a descoberta dos artefatos, os alunos devem registrar em qual quadricula o


fizeram. Após serem revelados todos os fragmentos, os alunos podem agregar aos seus
relatórios informações básicas sobre os achados: cores; tamanhos; integridade
(fragmentado/inteiro) e matéria prima.

2) Adivinhação

- Primeiro, tomando somente uma das peças, pergunta-se se os alunos conseguem


adivinhar o que é com base no que estudaram. Se não adivinhado, toma-se mais uma
peça para auxiliar as suas hipóteses, ao mesmo tempo que são distribuídas entre os
alunos.

- Após o Quebra-cabeça ser montado pelos alunos, pode-se seguir para um nova
etapa. Aqui, os alunos são indagados sobre a função do objeto, sua origem, forma de
produção e possíveis equivalências com o cotidiano.

- Com as respostas, cabe ao professor/a professora, assim como um(a) mediador(a,


guiar os alunos num caminho de construção conjunta do conhecimento a cerca do
artefato.

58
• Quebra-Cabeça: Faiança

Azul Padrão Willow •

59
• Quebra-Cabeça: Faiança

Shall Edge Verde •

60
• Quebra-Cabeça: Cachimbo

Afro-brasileiro •

61
Propostas de atividade • Monte o Seu! •

Os alunos e alunas deverão escolher um dos objetos que mais lhe agrada - entre a
cerâmica Guarani Ñaembé ou Cambuchí, a Garrafa de Cerâmica Grês e a Garrafa de
Champagne - e responder o motivo da preferência. A seguir devem (pintar e) montar.

Com o objeto pronto, devem analisá-lo e responder:


- O que sua cor diz sobre sua matéria-prima?
- Qual a diferença entre sua matéria-prima original e o papel?
- Já viu algum objeto parecido no seu cotidiano? Para que ele é usado?

• Monte o seu Ñ aembé •

62
Os "artefatos arqueológicos de papel" são versões simplificadas das
reconstituições tridimensionais digitais, as quais possibilitam ser impressas e
montadas em 3D a partir de um molde em papel.

• Monte o seu Cambuchí •

63
• Pinte e monte seu

Ñ aembé

64
• Pinte e monte seu

Cambuchí•

65
• Monte a sua Garrafa de

Cerâmica Grês•

66
5
• Pinte e monte a sua Garrafa de

Cerâmica Grês•

67
• Monte a sua Garrafa de

Vidro •

68
• Pinte e monte a sua Garrafa

de Vidro •

69
• Vamos montar uma moeda de Instruções:

20 réis! •
• 1) Recorte cada parte da

moeda e faça sua nomeação

segundo o estudado: verso,

anverso, o brasão, os

dísticos, a efígie, as

inscrições e o ano.

2) Cole os elementos na face

correspondente e, a seguir,

cole o anverso e verso um no

outro.

3) Responda as seguintes

perguntas:

- Qual é a sua matéria prima?

- Quando foi produzida?

- Em que período da História

do Brasil foi usada?

- Quem está representado na

efígie?

Respostas

70
• Vamos montar uma moeda de Instruções:

40 réis! •
• 1) Recorte cada parte da

moeda e faça sua nomeação

segundo o estudado: verso,

anverso, o brasão, os

dísticos, a efígie, as

inscrições e o ano.

2) Cole os elementos na face

correspondente e, a seguir,

cole o anverso e verso um no

outro.

3) Responda as seguintes

perguntas:

- Qual é a sua matéria prima?

- Quando foi produzida?

- Em que período da História

do Brasil foi usada?

- Quem está representado na

efígie?

Respostas

71
• Jogador 1 •

A B C D E F G H I • Respostas •

1
2
• A2
3
4
5
6
7 • B9

8
9

• G5

• G1
• H3

Hipóteses já feitas e registro dos achados:

72
• Jogador 2 •

• Respostas •
A B C D E F G H I
1 • A2

2
3
4
5
6
7
8 • A1

• H1 • C5

• C1

Hipóteses já feitas e registro dos achados:

73
• Professor(a) •

A B C D E F G H I • Respostas •

1
• A2

2
3 • B9

4
5
6
7
8 • G5

9
• A1

• H3
• G1

• C1
• C5

• H1

Hipóteses já feitas e registro dos achados:

74
• Jogo da Memória •

Personagens e Monumentos ligados à história da


Praça da Matriz de Porto Alegre
Raquel Machado Rech

Figura: Planta da
Praça e seus marcos.

75
76
• Jogo da Memória •

Instruções: Imprima as cartas em duplas, corte e brinque com o Jogo da Memória conhecendo

importantes detalhes sobre paisagens, personagens e monumentos ligados à história da Praça da

Matriz.

Monumento à Legalidade (1996 e 2001)


homenagem à mobilização civil e militar para
garantir a posse do vice João Goulart como
Estátua a Leonel Brizola (2014) - Marco a Tiradentes (1972) - Presidente do Brasil após a renúncia de Jânio
Busto de André Leão Puente (1958) - Busto de Oswaldo Vergara (1968) - líder do Movimento à Legalidade que monumento ao mártir da Inconfidência Quadros em 1961. O movimento liderado pelo
busto erguido por um grupo de alunos Busto de bronze que homenageia o tem sua placa na Praça. A estátua está Mineira feito pelo artista Vasco Prado então govenador do Rio Grande do Sul,
advogado Osvaldo Vergara em frente ao localizada entre a Catedral e o Palácio Leonel Brizola é lembrado em duas placas de
em homenagem aeste destacado à memória ao líder do movimento bronze comemorando os aniversários de 35 e
professor. Tribunal de Justiça do RS. Piratini, em frente à Praça da Matriz. Joaquim José da Silva Xavier. 40 anos da mobilização.
.

Dr. Oswaldo Vergara (1883-1973) - Joaquim José da Silva Xavier (1746-1792)


Natural de Jaguarão-RS, foi Leonel Brizola (1922-2004) - natural de Natural de Pombal-MG, foi dentista amador e
André Leão Puente (1857-1920) - natural de advogado,Deputado Federal, membro da Carazinho-RS, foi Governador dos alferes da cavalaria imperial. Republicano João Goulart (1919-1976) - natural de
Canguçu-RS, foi pedagogo. Escreveu AcademiaRio-Grandense de Letras e um adepto dos ideias iluministas, foi o único São Borja-RS. Após a renúncia de Jânio
Gramática Portuguesa, diversos artigos no Estados do Rio Grande do Sul e do Rio insurgente da Inconfidência Mineira
Almanaque Literário e Estatístico do Rio dos fundadores do Instituto dos de Janeiro. Fundou o Partido (movimento que visava separar a capitania Quadros assumiu a presidência do Brasil
Grande do Sul e a peça teatral O Mártir da Advogados do Rio grande do Sul Democrático Trabalhista e foi o líder do mineira da Coroa Portuguesa) que foi (1961 a 1964) cuja posse foi assegurada
Independência, enaltecendo a Tiradentes. (IARGS). Movimento à Legalidade. condenado à morte, tornando-se um mártir. por meio do Movimento à Legalidade.
• Jogo da Memória •

Instruções: Imprima as cartas em duplas, corte e brinque com o Jogo da Memória conhecendo

importantes detalhes sobre paisagens, personagens e monumentos ligados à história da Praça da

Matriz.

Chafariz Imperador (1867) - Foi a mais


antiga fonte pública da cidade. Instalado na
Praça da Matriz em 1867, foi batizado como
Chafariz Imperador em homenagem à visita
de D. Pedro II à capital em 1865. Possuía 5
estátuas de mármore de carrara que faziam
Monumento a Júlio de Castilhos (1913) alusão ao Guaíba e seus quatro afluentes. Em
Estátua do Conde de Porto Alegre Placa a Marechal Deodoro (1977) - Inaugurado na Praça da Matriz no local do 1907 cedeu lugar ao monumento a Júlio de
(1885)- Inaugurada na Praça da Matriz Monumento comemorativo ao sesqui- antigo Chafariz Imperador passando a dar Registro da recepção ao Imperador Castilhos. Reinstalado em 1935 na Praça
pela Princesa Isabel. Em 1912 foi cen-tenário de nascimento de Marechal destaque à República. Projetado em forma de Dom Pedro II na Praça da Matriz de Dom Sebastião (já sem a estátua central que
transferida para a então Praça do Portão Manoel Deodoro da Fonseca, o obelisco com diversas figuras alegóricas representava o Guaíba, que foi perdida). Em
representando a biografia de Júlio de Porto Alegre (1865) - Foto de autor
(atual Praça Conde de Porto Alegre). proclamador da República do Brasil. desconhecido. 2014 o chafariz foi realocado nos jardins da
Castilhos em seus 4 lados. Hidráulica Moinhos de Vento.
.

Conde de Porto Alegre (1804-1875)


Tenente General Manuel Marques de Marechal Deodoro da Fonseca (1827-
Sousa, atuou na Revolução Farroupilha 1892) Foi o 1° Presidente da República Júlio de Castilhos (1860-1903)- Foi o
e também nas Guerras da Cisplatina, do do Brasil (entre 1889 e 1891). Desde primeiro Presidente do Rio Grande do Imperador Dom Pedro II (1825-1891) Princesa Isabel (1846-1921) - Esteve
Prata e do Paraguai. Recebeu o título de 1889 a Praça da Matriz recebe o Sul (eleito por duas vezes) e foi o Foto do Imperador pilchado em visita ao em Porto Alegre no ano de 1855 para a
Conde de Porto Alegre por ter retomado nome oficial de Praça Marechal principal autor da Constituição Estadual Palácio do Governo em 1865. Registro inauguração da estátua do Conde de
a cidade das mãos dos Farroupilhas. Deodoro em sua homenagem de 1891. feito pelo fotógrafo Luigi Terragno. Porto Alegre.
77
• Conclusão •
A Praça da Matriz de Porto Alegre, nos mostrou um universo de conhecimento que
possibilita desenvolver diferentes teorias sobre o passado histórico dos variados grupos
que habitaram o território de Porto Alegre até os dias de hoje.
A equipe de arqueologia que realizou o monitoramento arqueológico das obras da
Praça da Matriz trouxe à luz um vasto repertório de achados que permitiu elaborar esse
material lúdico, educativo e com o incremento de reconstituições digitais de artefatos que
permitem a aproximação das descobertas mesmo em contextos de reclusão, como o
período da pandemia que ocorreu durante a realização do projeto.
Essa cartilha foi pensada para que todos os públicos possam observar a Praça da
Matriz através de outros olhares, ampliando o sentimento de pertença acerca de
patrimônio local para os porto-alegrenses.
.Fomentar o conhecimento através de leituras prazerosas, de propostas de
aprendizado lúdico e de ferramentas digitais são os principais objetivos desse portfólio.
Este documento não sairia do campo das ideias se não fosse a contribuição de todos
que ajudaram com sua participação, mas cabe aqui um agradecimento especial para a
ERGANE: Serviços de Arqueologia Digital e ao Vander que foi competente e cirúrgico na
diagramação do mesmo.
Quando falamos de Educação, estamos falando de educar-se e cultivar o olhar de
prazerosas descobertas, assim como as crianças e os cientistas têm paixão pelas
descobertas do mundo.
Portanto a intenção dessa cartilha é de instigar descobertas sobre o passado para
melhor conhecer o presente e assim pensar o futuro da nossa cidade.

78
• Bibliografia •
Apresentação

BAIMA, C.; BIONDO, F.; NITO, M. K. “Educação Patrimonial no Campo da Arqueologia:


desafios e contribuições”. In: Revista Arqueologia Pública, Campinas, v. 9, n. 3[13], 2015, p. 1-
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