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FACULDADE DE INTEGRAÇÃO DO SERTÃO – FIS

Disciplina Direito Ambiental

Professor: Me. Osvaldo de Freitas Teixeira


Carga Horária: 72 Horas/Aula

Constituição Federal e Meio Ambiente. Princípios Gerais do Direito


Ambiental.
1.1 Princípio da Solidariedade e Dignidade da Pessoa Humana

Ao estudarmos a inserção dos direitos sociais na Constituição, a partir


de
1934 até os dias atuais, verificou-se que direitos foram ampliados e da mesma forma
classificados, como os de primeira, segunda, terceira geração ou dimensão. Assim, é
imperioso destacar que a classificação de tais direitos fundamentais poderá chegar até
a quinta geração, no entanto, como forma de delimitar o tema iremos abarcar até a
terceira, que consiste em tutelar o direito ao desenvolvimento, ao meio ambiente, ao
patrimônio comum da humanidade, ao consumidor, à paz.
A sua inovação está na sua titularidade que poderá ser coletiva, difusa
ou individual. Objetiva-se a proteção de qualquer ser humano, sendo assim
denominado pela doutrina de direitos de solidariedade ou fraternidade. Dessa forma,
Sarlet esclarece o seu caráter internacionalista:

[...] os diretos da terceira dimensão são denominados usualmente como


direitos de solidariedade ou fraternidade, de modo especial em face de sua
implicação universal ou, no mínimo, transindividual, e por exigirem esforços e
responsabilidades em escala até mesmo mundial para sua efetivação.
(2005, p. 57).
Podemos concluir que se trata de um direito de cunho internacional onde para
ser efetivado é necessária uma cooperação entre países, por exemplo, na área
ambiental, onde se busca o equilíbrio sistêmico. Pois, as consequências do mau uso
dos recursos naturais, meio ambiente, acarretam muitas vezes impactos ambientais
imensuráveis e que não se limitam a um único espaço geográfico, sendo este direito
um dos principais exemplos de caráter internacional.
Assim, Derani (2008) corrobora que a temática do meio ambiente está inclusa
nas discussões internacionais, desde a década de 70, quando houve alardes
de possíveis catástrofes ambientais, como escassez de alimentos e aumento
populacional, denominado de Clube de Roma, grupo composto por vários
pesquisadores que elaboraram um relatório chamado de Limites do Crescimento, o
qual trazia perspectivas nada positiva para a humanidade.
Apesar do alarde entorno do que fora projetado pelo Clube de Roma,
imaginava-se até então que os recursos naturais seriam infinitos, no entanto, a
escassez de algumas matérias primas e catástrofes ambientais em decorrência da
ação humana como mudanças climáticas, derretimento das calotas polares,
poluição, resíduos, entre outros. Chamou a atenção da comunidade internacional e
para uma ideia de pensamento verde que culminou com a Conferência das Nações
Unidas de 1972, onde obteve repercussão em diversas constituições 1, colocando a
proteção ao meio ambiente como direito fundamental do ser humano, como reza o
princípio n.1 da Declaração sobre o Meio Ambiente Humano:

O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de


condições de vida adequadas em um meio ambiente de qualidade tal
que lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-estar, tendo a solene

1
A constitucionalização do meio ambiente se deu na década de 70, sendo assim elemento fundamental
nas constituições a partir de então, temos como um marco teórico dentro do direito ambiental, a Declaração
de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano de 1972, elevando o meio ambiente como um direito fundamental.
Assim, as cartas internacionais absorveram dentro do seu ordenamento jurídico interno o meio ambiente,
ratificando o seu caráter internacionalista. Ou seja, temos a confecção de uma declaração que irá servir como
parâmetro à normatização interna de diversos países. Citando como exemplo as seguintes
constituições estrangeiras: Panamá (1972) que buscava uma compatibilização harmônica do
equilíbrio com o desenvolvimento econômico; Hungria também 1972; Grécia em 1975 colocava o
Estado com o dever de proteger de forma preventiva e repressiva danos ao meio ambiente; Portugal
em 1976 garantia ao cidadão o direito ao meio ambiente equilibrado; Espanha em 1978 foi mais
além colocando como um direito dever de todos ao meio ambiente equilibrado, podemos prever o direito
à solidariedade; E por fim temos a nossa Constituição brasileira de 1988, que será melhor
estudada mais à frente, no entanto, é importante salientar que apesar dos movimentos
ambientalistas da década de 70 e toda a comoção social, o Brasil não foi inoperante em relação a tutela
ambiental, pois em 1981 foi promulgada a Politica Nacional do Meio Ambiente, que foi
recepcionada na sua integralidade pela a CF de 1988 do Brasil.
obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente para as gerações
presentes e futuras. (Padilha, 2010, p. 52)

Trazendo seus esclarecimentos, acerca do objeto do Direito Ambiental,


iremos utilizar as palavras de Padilha que expõe a proteção ambiental não é
um direito exclusivo do ser humano, mas de todos os seres vivos:

A proposta constitucional para uma digna e sadia qualidade de vida levou em


consideração que o homem e o meio ambiente fazem parte de um
mesmo contexto ecológico.[...]
É papel do legislador ambiental, por meio das escolhas legislativas que
definem as normais ambientais infraconstitucionais, estabelecer os critérios de
exploração e utilização dos recursos naturais com vistas à
sustentabilidade, visando não só a qualidade de vida humana, mas também
elevando o grau de respeito e proteção devido ao meio ambiente e todos os
seus componentes, em si mesmos considerados. (2010, p. 228).

O elo existente entre o direito fundamental ao meio ambiente equilibrado para


uma sadia qualidade de vida complementa a dignidade da pessoa humana, “na
condição de valor (princípio normativo) fundamental que atrai o conteúdo de todos os
direitos fundamentais”. (SARLET, 2004, p.84). O princípio da solidariedade espera
construir condições dignas na atualidade, uma vez que a realidade presente não é a
mesma de outrora, quando os direitos fundamentais limitavam-se a primeira geração,
característica do Estado Liberal. ( SARLET;FENSTERSEIFER, 2011).
Como reza o art. 2252 da CF de 1988, ao afirmar que é dever de
todos
proteger o meio ambiente, para as gerações presentes e futuras. Assim, deparamo-
nos com o dever de solidariedade, característica desse direito, que é proporcionar a
garantia de sobrevivência humana com condições mínimas, para que esta geração
tenha condições para desenvolver-se com dignidade, sem comprometer o bem-estar
para as futuras gerações, é o dever intergeracional, que caracteriza a solidariedade
entre as gerações do direito.
No sentido de proteção social, Silva (1995) adentra num conceito
de consciência ambiental, a proteção jurídica ao meio ambiente está
salvaguardada, assim como a liberdade, no entanto, observamos que certos limites
que impeçam a
promoção de uma atividade econômica que possa trazer malefícios sociais

2
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
necessitem ser rechaçados, como forma de demonstração do princípio da
solidariedade para que os direitos passados, presentes e futuros possam ser
concretizados.
Partindo desse pressuposto, temos nas palavras de Leite (2003) que o Estado
Socioambiental necessita de politicas públicas, assim como as parcerias privadas
para uma gestão sustentável, que posso utilizar-se do meio ambiente sem degradá-
lo.
Assim, Leite, (2003, p. 34) propõe parâmetros a serem seguidos:

Desta foram, em sua dimensão social, caberá ao Estado de Direito do


Ambiente, indiscutivelmente, entre outras funções, proteger e defender o
meio ambiente, promover educação ambiental, criar espaços de proteção
ambiental, executar o planejamento ambiental.

Vislumbramos que tais metas são posições que o Estado deverá tomar
conjuntamente com a coletividade, afinal, o bem ambiental é de interesse coletivo.
Nesse sentindo, o desenvolvimento deverá ser planejado de uma forma que
congregue a dignidade da pessoa humana, o meio ambiente e a justiça social.
O capítulo seguinte trataremos do Direito ao Desenvolvimento, cujos critérios
estão interligados com o principio da solidariedade e dignidade da pessoa humana,
portanto, mostrou-se necessário incluí-lo de forma precípua, uma vez, que será
destrinchado em momento hábil.
Sendo assim, a solidariedade está baseada na melhoria da qualidade vida
humana que no seu ímpeto, gera subsídios para atingir-se a dignidade da pessoa
humana, mais uma vez, retrato-me as sábias palavras de Bobbio em dizer que os
direitos humanos precisam ser vislumbrados como um processo agregador em que as
normas aparentemente divergentes, possuem uma finalidade, função social, da
efetivação da dignidade da pessoa humana e o bem-estar coletivo presente e futuro.

1.2 Meio Ambiente na Constituição Federal de 1988

A nossa CF de 1988 incorporou no seu texto constitucional o meio ambiente,


temática até então ausente das constituições anteriores, como direito fundamental.
Dedicando título e capítulo, VII e VI respectivamente, o novo tema se assim
podemos chamar perpetua todo o texto constitucional de forma explicita ou implícita,
como assim define José Afonso da Silva (1995) e que corroboramos com tal
pensamento. Os motivos que levaram à inserção da tutela ambiental em nível
constitucional adquire acepções: econômicos, sociais, culturais. Porém a causa mais
relevante está na sobrevivência humana, devido o caráter dependente dos homens
em relação à natureza.
Aquele movimento da década de 70 que mobilizou diversos países, mostra-se
na atualidade, tema mais do que importante, pois além da proteção da vida,
os recursos naturais são responsáveis pela economia. Ou seja, retiramos da natureza
matéria prima e atribuímos valor, moeda de troca, acerca do presente tema que
relacionará economia e meio ambiente, falaremos de forma específica a partir do
capítulo IV, onde demonstraremos através da economia solidária uma alternativa
para o sistema capitalista, que prioriza a solidariedade entre seus pares, como
fundamento, educação ambiental, inserção social, renda, utilização racional dos
recursos naturais.
Com a constitucionalização do meio ambiente, observa-se a edição de
valores a serem seguidos dentro desse modelo de Estado Socioambiental, o
primeiro requisito é de que o meio ambiente torna-se um instrumento para a
sobrevivência humana, ou seja, trata-se de elemento essencial ao desenvolvimento,
apesar do seu aspecto antropocêntrico, temos que trabalhar essa modificação
de paradigma, tornando-o biocêntrico, quando a temática é a relação homem natureza,
onde esses dois elementos fazem parte de um todo, sem a pretensão de domínio,
hierarquia, fórmula tão disseminada pelos homens, estamos diante de um efeito em
que a ação gera uma reação, onde muitas vezes o homem não poderá controla-la,
pois o que deve ser buscado, repito, é a interação de uma convivência harmônica
homem – natureza. Em comentário a essa questão, Soares (2004, p. 27):

A postura hierárquica, de submissão, que o homem fixou com a ecologia, de


forma a atender às suas necessidades de crescimento e desenvolvimento
econômico tem feito a Terra dar sinais evidentes de que esse modelo
econômico é insustentável, destrutivo e exige uma mudança visceral de
conduta.

A CF coloca uma visão antropocêntrica, que apesar de respeitarmos a idéia do


legislador, divergirmos, haja vista a amplitude do tema, como bem acentua
Soares no excerto acima. Assim, respeitamos, e entendemos a interpretação
constitucional, que dispõe o homem como receptor dos benefícios da natureza. No
entanto, mostra-se uma idéia equivocada não ampliarmos a uma interpretação
extensiva, característica inerente ao meio ambiente, uma vez que o mesmo no seu
nascituro, relativizou a própria concepção de soberania, afirmando que um dano
ambiental não limita-se a um país, ou seja, devemos prezar pelo princípio da
solidariedade, a fim de assegurarmos o bem – estar da coletividade, leia-se todos os
elementos da natureza com vida ou inanimados, assim, mostra-se mais coerente
usarmos no caso em tela a interpretação hermenêutica.
Defendemos que o meio ambiente necessita da sua tutela constitucional não
como forma de ascensão à vida humana, e sim como instrumento para uma sadia
qualidade de vida de todos os seres do planeta terra. Assim, Silva (2009, p. 849), aduz:

As normas constitucionais assumiram a consciência de que o direito à vida,


como matriz de todos os demais direitos fundamentais do homem, é que há de
orientar todas as formas de atuação no campo da tutela do meio
ambiente. Compreendeu que ele é um valor preponderante, que há de estar
acima de quaisquer considerações como as de desenvolvimento, como as de
respeito ao direito de propriedade, como as de iniciativa privada. Também
estes são garantidos no texto constitucional, mas, a toda evidência,
não podem primar sobre o direito fundamental à vida, que está em jogo
quando se discute a tutela da qualidade do meio ambiente, que é instrumental
no sentido de que, através dessa tutela, o que se protege é um valor maior: a
qualidade da vida humana.

O caráter antropocêntrico externado, como observa-se no caput do art.225,


v.g. não sustenta a tese que a natureza existe em função do homem, dessa forma,
questionamos os seres que compõem o meio ambiente: heterótrofos, os animais e os
autótrofos, plantas, que são auto-suficientes enquanto, nós seres humanos
necessitamos da natureza como fonte de alimento, habitat para vivermos e
produção de capital, através da transformação da matéria prima em moeda, “não há
atividade econômica sem influência do meio ambiente” (DERANI, 2008,p 244) e que
possua um padrão mínimo de qualidade. Assim, nós nos colocaremos que a tutela
ambiental, possui caráter dual, e não apenas antropocêntrico, devido a nossa
dependência dos recursos naturais e assim a importância de protegê-los de
igual forma não para nos satisfazermos quanto consumidores, produtores e
predadores. Mas como garantia de um direito à vida, assim data vênia a proteção
ambiental deva
ser considerada biocêntrica, pois ao tutelarmos a natureza temos a garantia
da nossa sobrevivência.
Nesse sentido, Leite (2003, p. 70/71):

O meio ambiente é conceito que deriva do homem, e a ele está relacionado;


entretanto, interdepende da natureza como duas partes de uma mesma
fruta ou dois elos do mesmo feixe.[...]
Qualquer que seja o conceito que se adotar, o meio ambiente engloba, sem
dúvida, o homem e a natureza, com todos os seus elementos. Desta forma, se
ocorrer uma danosidade ao meio ambiente, este se estende à
coletividade humana, considerando tratar-se de um bem difuso
interdependente.

De forma clara e objetiva o presente autor, demonstra a idéia de intersecção,


interligação entre os dois objetos, homem e natureza, esclarecendo que lesões a um
destes elementos acarretam consequências e impactos distintos. A partir dessas
consequências danosas para ambas às partes ou não é que temos que funilar cada
vez mais a linha tênue que separa uma simples atividade econômica sem maiores
prejuízos ao meio ambiente de uma que poderá acarretar prejuízos até incalculáveis.
Assim, com a proteção ambiental em nível constitucional termos um
arcabouço de normas para exigir estudos sérios quanto aos impactos que as
atividades humanas provocam ao meio ambiente. Ao incluirmos o meio ambiente
como norte para atividade econômica e meio para a dignidade da pessoa humana,
estamos proporcionando um salto de qualidade de vida do homem e a manutenção
dos recursos naturais (TAVARES, 2006).
Há de se ter em mente uma visão holística do meio ambiente, pois a
intervenção do homem sobre a natureza “poderia trazer perigo à estruturação e ao
equilíbrio do ser humano na Terra” (LEITE, 2003, p. 73).
O pensamento de que a natureza existe para o bel prazer, não coaduna-se com
a realidade, pois apesar de inventos de novas tecnologias, o homem ainda não foi
capaz de dominá-la. Aquela ideal de dominação e submissão tende a ser
modificado por uma nova forma de olhar sobre a natureza, buscando o equilíbrio
entre exploração e proteção.
Há de se buscar uma convivência harmônica com o meio ambiente, enquanto
nós seres humanos dependentes e com “a responsabilidade com as futuras
gerações, para que elas não herdem um passivo ambiental que comprometa,
de forma irremediável e irreversível, a possibilidade de sadia qualidade de vida”
(PADILHA, 2010, p.188), o que denominamos de equidade intergeracional, ou seja,
garantir que as futuras gerações possam desfrutar de um ambiente tão sadio quanto
o nosso.
Dessa maneira, a constitucionalização ambiental, com a criação de um
capítulo próprio representa um caminho para a efetivação da dignidade da pessoa
humana, fundamento da nossa República Federativa do Brasil, no seu art. 1º, inc. III3,
reforçando ainda mais a perpetuação dos velhos e novos direitos, em vista disso
Carvalho afirma que:

[...] claramente relacionou direitos humanos com a proteção ambiental,


sendo este instrumento de realização daqueles. Em outras palavras,
considerou a proteção ambiental como meio essencial ou pré-condição para
se alcançar adequadas condições de bem-estar e vida digna, que são
direitos garantidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. (2009, p.
156/7)

Estamos diante de um conjunto de proteções que permeiam todo o texto


Constituição Federal, buscam o mesmo fim: garantir a dignidade da pessoa humana
que só poderá ser concretizada em conjunto, com a inserção do meio ambiente,
responsável pela vida de todos os seres vivos. Conforme a apregoa, Cunha:

Assim trata nossa Constituição Federal da vida, da saúde, e das relações


humanas com esses bens, tendo por referência a preservação do planeta e
das espécies, sobretudo a humana, relacionando-os ao meio ambiente,
abrangendo, além da proteção propriamente dita, os princípios que norteiam
todas essas relações, como se depreende dos Arts. 5º, LXXIII; 20, II; 23; 24;
91,§ 1º, III; 129, III; 170, VI; 173 § 5º; 174,§3º; 186, II; 200,VIII; 216, V; 220;
§3º II ; 231; §1º , além do próprio 225. (2011, p. 18).

Verificamos a inserção do meio ambiente em todo texto constitucional atual,


fato que até então não estava disposto nas Cartas anteriores a 1988, tornando-se uma
temática ubíqua, nesta. Estando presente até na condição de princípio da Ordem
Econômica, art. 170, inc. VI, da Constituição Federal de 1988.
Nesse sentindo, devemos ressaltar que embora a CF de 1988 seja
classificada com características liberais no que concerne à economia de mercado e

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“A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] III - a
dignidade da pessoa humana” (BRASIL,1988)
de um Estado Social quanto aos direitos fundamentais, lembrando muito o modelo de
Estado de Bem-Estar Social4.
Assim a CF de 1988 apresenta-se sob um contexto único, em relação às
Cartas anteriores em que busca compatibilizar a defesa e proteção do meio
ambiente, no seu texto constitucional e apregoa a livre iniciativa, ou seja, uma
economia de mercado, porém com ponderações que deverão ser observadas de
forma objetiva. Podemos concluir que a economia deverá buscar uma forma que
seja compatível à extração dos recursos naturais, porém sem destruí-los, já que a
natureza apresenta-se com um recurso finito, ao contrário do pensamento clássico
economicista. (DERANI, 2008).
A partir desse aparente conflito deparamo-nos com a conceituação de
desenvolvimento sustentável que busca a conciliação da economia, produção de
bens de consumo e proteção ambiental. Nascendo uma nova forma de utilização
dos recursos naturais. Estamos diante da racionalização ambiental e a natureza
como limite da economia.
Desenvolveremos a presente temática no capítulo segundo, de forma mais
pormenorizada. Porém, mostra-se necessário esclarecer que o conceito
desenvolvimento sustentável foi apresentado, em 1987, resultado de um relatório
denominado Nosso Futuro Comum, também conhecido como Relatório Brundtland,
que em suma apontava as causas e os efeitos do desenvolvimento econômico para o
meio ambiente e trouxe todo o cunho internacionalista desse novo direito, dessa forma
o conceito de desenvolvimento sustentável mostra-se da seguinte forma: “é aquele
que atende às necessidades do presentes sem comprometer a
possibilidades das gerações futuras de atenderem as suas próprias
necessidades”(BARBIERI, 1997, p. 23).
Nesse diapasão é que buscaremos demonstrar que só é possível existir um
Estado de Direito, onde haja, o respeito e a fiscalização do direito ambiental, assim,

4
O Estado de Bem Estar Social (EBES) pode ser entendido a partir da formulação dos seguintes
ideais: liberdade, democracia, bem-estar coletivo, políticas públicas de caráter distributivo e de
inclusão. A partir desses ideais o Estado dever-se-á criar mecanismos que sustentem o sistema
capitalista com um mínimo de justiça social, ou seja, existe a intervenção estatal, no sentido de se garantir
o desenvolvimento econômico e social e assim manter a funcionalidade desse sistema. Método
utilizado por países em desenvolvimento, em especial o Brasil, adequando tais procedimentos
do EBES a sua realidade, como por exemplo, a intervenção estatal no domínio econômico,
políticas públicas de incremento de renda, com a finalidade de um desenvolvimento socioeconômico
(DELGADO; PORTO, 2007).
a economia dever-se-á submeter aos preceitos constitucionais de um Estado
de direito ambiental (CANOTILHO; LEITE, 2008).
Assim Américo Luís Martins da Silva (2005, p. 113) esclarece:

[...] nos ditames constitucionais previstos no art.170 da Constituição Federal


de 1988, o qual dispõe que a ordem econômica tem por fim assegurar
a todos uma existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados o princípio da função social da propriedade e da defesa do meio
ambiente, entre outros, Portanto, com base em tais princípios
constitucionais da ordem econômica, o Estado encontra legitimação para
atuar até mesmo de maneira interventiva [...].

Nascendo uma nova forma de pensar no que tange a seara econômica e o meio
ambiente, assim a ordem econômica deverá buscar parâmetros que diminuam a
degradação ambiental.
Nesse sentido, temos um texto de Cunha (2008) que retrata o meio ambiente e
o trabalho humano, elementos que compõe a construção da dignidade da pessoa
humana em face da degradação ambiental. Observemos que a colheita de cana
como é feita no Nordeste brasileiro acarreta diversas consequências ambientais e
para saúde humana, como a desertificação solo, por conta das queimadas, emissão
de gases poluentes que contribuem para as mudanças climáticas e a própria
degradação do trabalho humano frente ao lucro de uma minoria em detrimento de um
coletivo. Assim, deparamo-nos com dois problemas latentes das sociedades
modernas: a exploração do meio ambiente e a precarização do trabalho humano.
A partir dessas desigualdades existentes no Brasil é que buscaremos
trabalhar no capitulo II o desenvolvimento e a sustentabilidade como forma de uma
melhor qualidade de vida aos cidadãos. Aduz Belinda Pereira da Cunha (2008, p.
299):

As novas teorias do desenvolvimento sustentável e da economia ecológica


põem-se diante de um novo paradigma: não mais a econômica baseada
somente em dois parâmetros, quais sejam o trabalho e o capital, mas uma
economia ecológica que reconhece a existência de três parâmetros, que
são o trabalho, o capital natural e o capital produto da pessoa humana. [...]
Trata-se da possibilidade de bem utilizar os recursos naturais, necessários
para a sobrevivência e melhores condições de vida no planeta [...].

Podemos entender que estamos diante de um novo paradigma em que a


economia deverá utilizar o meio ambiente de acordo com os preceitos
constitucionais na busca de um desenvolvimento socioambiental, cuja a finalidade é
produzir renda de forma mais equânime para os trabalhadores, proteger o meio
ambiente em face de atividades econômicas danosas que por ventura poderão
obstaculizar o desenvolvimento econômico.

1.3 Os Princípios Gerais do Direito Ambiental

O direito ambiental é um ramo do direito autônomo, possuindo seus princípios


e fontes. Dessa forma buscamos esclarecer o sentido de cada princípio geral desse
novo direito, baseada de acordo com a divisão de Machado (2008) onde o mesmo
colocará a influência da doutrina e leis estrangeiras para o desenvolvimento de tais
próprios princípios de acordo com a nossa realidade, ou seja, o presente ramo do
direito possui no seu cerne a característica da sua internacionalidade.
Podemos observar o meio ambiente quanto produtor de reações em vista à
degradação ambiental ocasionada pelo homem, não há uma divisão entre os
poluidores de larga escala e os de menor. Pois a grande faceta desse bem é a sua
indivisibilidade, o meio ambiente é uno, global, possuindo uma sinergia.
Utilizando as palavras de Canotilho a respeito dos princípios no mundo
jurídico, vejamos o seguinte:

Os princípios são normas jurídicas impositivas de uma optimização,


compatíveis com vários graus de concretização, consoante os
condicionalismos fáticos e jurídicos. Permitem o balanceamento de valores e
interesses (“não obedecem como as regras, à lógica do tudo ou nada”),
consoante seu peso e ponderação de outros princípios eventualmente
conflitantes. (MACHADO apud CANOTILHO, 2008, p.57)

É extremamente plausível a posição do autor supracitado, quando exemplifica


conflito de princípios e interesses, no presente caso do nosso estudo, temos como
mote o desenvolvimento socioeconômico e ambiental, vamos tratar, ou melhor,
já estamos tratando, sobre um direito ao desenvolvimento em face do direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado. Para que exista a compatibilização e a
materialidade desses dois direitos, far-se-á necessários princípios, que possuem o
condão de agregar valores às normas.
Um exemplo que podemos trazer é acerca da livre iniciativa como fundamento
da CF 1988, assim como princípio da Ordem Econômica, onde o seu intuito é
a promoção das atividades econômicas. Por outro lado, o próprio texto constitucional
acerca dos direitos fundamentais, traz à tona a dignidade da pessoa humana. Que
para a sua construção é formada pelo direito ao meio ambiente saudável. O
que aparentemente, seria um conflito de princípios e direitos, na verdade são
dimensões que precisam ser analisadas conforme casos concretos, levando-se
sempre em conta o meio ambiente e o bem estar coletivo. E é sobre esse
aspecto que decorreremos sobre os princípios gerais do direito ambiental.
Em comentário a essa questão, Bonavides (2003, p. 288) aponta que:

Em verdade, os princípios são o oxigênio das Constituições na época


do pós-positivismo. É graças aos princípios que os sistemas
constitucionais granjeiam a unidade de sentido e auferem a valoração de
sua ordem normativa.

Dessa forma, o sistema jurídico dever-se-á estabelecer a harmonia dos seus


princípios, ao contrários das regras que em caso de conflitos perdem sua validade,
anulando-se. Os princípios podem prevalecer sobre os demais em situações
específicas, pelo seu alto grau de generalidade, enquanto, as regras, restringem-se ao
seu acolhimento total ou não.

1.3.1 Princípio do direito à sadia qualidade de vida

O presente princípio encontra-se atrelado a dignidade da pessoa humana,


como afirmou a declaração de Estocolmo de 1972 no seu princípio 1, onde afirma que
para um pleno gozo dos seus direitos fundamentais, o meio ambiente, mostra- se
imprescindível. Pensamento que foi recepcionado pela CF de 88, no seu art. 225,
apresentado o seu caráter de direito - dever, da coletividade e do Poder Público.
A sadia qualidade de vida, pressupõe mecanismos que compatibilizem a
atividade humana e o meio ambiente, como forma de garantir tal direito, firmado na
Constituição brasileira, como em tratados internacionais.
Não se trata meramente de um direito posto, e sim de um dever de proteger o
meio ambiente, como apregoa o art. 225, com a constitucionalização do meio
ambiente, temos ao surgimento de um novo direito, que irá propror uma cooperação
entre Estado e os cidadãos, para que seja garantido para as presentes e futuras
gerações, conforme firmou-se na ECO-92, em que a cooperação internacional entre
os países é um instrumento para o desenvolvimento socioeconômico dos países
menos desenvolvidos, como a transferência de tecnologia. No entanto, devemos
ressaltar que este intercâmbio deverá respeitar as diferenças culturais e o modus
vivendi de caso povo. Tendo em vida a autonomia dos povos, como ratificado na
Declaração Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1996, in
verbis:

Artigo 1º - 1. Todos os povos têm o direito à autodeterminação. Em virtude


desse direito, determinam livremente seu estatuto político e asseguram
livremente seu desenvolvimento econômico, social e cultural.
2. Para a consecução de seus objetivos, todos os povos podem dispor
livremente de suas riquezas e de seus recursos naturais, sem prejuízo das
obrigações decorrentes da cooperação econômica internacional, baseada
no princípio do proveito mútuo e do Direito Internacional. Em caso algum
poderá um povo ser privado de seus próprios meios de subsistência. (ONU,
1966).

Podemos observar a inserção dos tratados internacionais na seara ambiental,


mas sempre em vista de respeitar o outro, a alteridade, deverá ser um objetivo fim, e
não meio. Apesar de que a economia globalizada possui na sua essência uma
igualdade mercadológica, no sentido de tratar todos iguais culturalmente, quando
isto, mostra-se um erro e um atentado a liberdade substancial de independência. Sen
(2010), trata dessas diferenças culturais e como o mundo globalizado e cada vez mais
plano, não é igualdade de desenvolvimento, mas como dependente do outro,
desnaturando o sentido precípuo da liberdade, seja ela positiva ou negativa.
A partir daí, mostra-se claro o imbricamento entre direitos humanos e
meio ambiente, pois a limitação ou cerceamento de um ambiente sadio, representa um
a violação dos direitos humanos, por certo devemos ter a clareza que tais direitos são
inseparáveis e complementares. Nesse sentido, Alier (2007, p. 274/5):

O movimento pela justiça ambiental [...] incorpora uma noção distributiva da


justiça. Poderia ser argumentado que a justiça ambiental potencialmente
institui um aspecto existencial, qual seja, o de qe todos os seres humanos
necessitam de determinado recursos naturais e uma certa qualidade do
meio ambiente para assegurarem sua sobrevivência.

Estamos através desse principio em tela, perquirindo o direito à vida digna,


dentro de um contexto que seja resguardado os direitos presentes e futuros
das próximas gerações. Reconhecendo, sua importância, Cunha (2011, p. 67):

A valorização da vida, como um bem maior, é indubitavelmente presente em


nossa Constituição Federal, “compatível com as necessidades de uma
época, em que com tudo e por tudo, faz-se urgente a preservação do meio
ambiente, da qualidade de vida sadia, as saúde, do trabalho, da educação,
informação, das condições gerais do meio a que se submete o ser humano,
sua incolumidade física e psíquica, enfim, da vida e das suas relações com um
todo”.

Assim, concluímos que a importância de supracitado princípio,


apresenta o que chamamos de justiça ambiental, ou seja, garantir que os seres
humanos, tenham acesso, de forma equânime, aos recursos naturais, já que se trata
de um bem de uso comum, igualmente como a sua proteção, por tratar-se de um direito
e dever de todos.

1.3.2 Princípio do acesso equitativo aos recursos naturais

O presente princípio apresenta-se como um desdobramento do item anterior em


que o acesso aos recursos naturais dever-se-á com igualdade a todos os seres
humanos. Provocando a discussão, acerca do destinatário do meio ambiente,
alguns autores defendem a idéia de antropocentrismo, enquanto outros a do
biocentrismo.
De acordo, com a leitura dos artigos da CF de 88 e dos tratados
internacionais que envolvam o meio ambiente, é constatável, a visão antropocêntrica
em relação ao meio ambiente, embora pensemos diferente, e utilizando as palavras
de Machado (CUNHA apud MACHADO, 2011, p. 24)

O homem não é a única preocupação do desenvolvimento sustentável.


A preocupação com a natureza deve também integrar o desenvolvimento
sustentável. Nem sempre o homem há de ocupar o centro da política
ambiental, ainda que comumente ele busque um lugar prioritário. Haverá
casos em que para se conversar a vida humana ou para colocar em prática a
harmonia com a natureza será preciso conservar a vida dos animais e das
plantas em áreas declaradas inacessíveis ao próprio homem. Parece
paradoxal chegar-se a essa solução do impedimento do próprio acesso
humano que, afinal de contas deve ser decidia pelo próprio homem.

De um lado temos o princípio que defende um acesso equitativo aos recursos


naturais e que clama por uma idéia antropocêntrica, conforme a própria Declaração do
Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, em 1992, onde
apresenta de forma inequívoca que os seres humanos são o centro do
desenvolvimento sustentável, apresentando um conflito de princípios, como bem
ressalta Machado.
Mas para que possamos compreender o meio ambiente e toda a sua
magnitude, advogaremos juntamente com Rodrigues (2002, p.63)

A conceituação adotada pelo legislador infraconstitucional foi a


ecocêntrica/biocêntrica, [...] simplesmente porque se tutela o ecossistema
(conjunto de interações) para salvaguardar todas as formas de vida que
dele dependem. O objeto de tutela do meio ambiente é, portanto, o
equilíbrio ecológico, que constitui um bem juridicamente autônomo,
imaterial, extrapatrimonial e que é responsável, portanto, pela conservação de
todas as formas de vida.

Utilizando da interpretação extensiva, e pela leitura lógica, entendemos ,


assim como o professor Rodrigues, o meio ambiente como responsável e substrato
para qualquer tipo de vida na Terra, incluindo-se a vida humana, portanto, a
proteção e preservação dos recursos naturais é a garantia para àquela.
De forma, mais comedida e não menos taxativa, Cunha (2011) assevera que a
limitação do acesso de determinados recursos naturais, representa a preservação da
vida do homem na terra, não obstante, acredita que a existência harmônica
homem e natureza só será possível através de normas que busquem o equilíbrio da
utilização dos recursos naturais de forma racionalizada, para que seja, garantido que
tais recursos estejam disponíveis para futuras gerações.
Quanto ao acesso aos recursos naturais, deveremos ter mente que trata-se de
uma preocupação inter-geracional, onde uma ação presente, poderá gerar
consequências futuras, partindo-se desse aspecto, devemos suscitar o que torna-se
mais benéfico à natureza, olvidando o caráter antropocêntrico das normas jurídicas.
Já que na própria Declaração de 1992, também conhecida como ECO 92, no
seu princípio 3, in verbis: “o direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo
que atenta equitativamente às necessidades ambientais e de desenvolvimento das
gerações presentes e futuras” (BARBIERI, 1997, p. 48).
O excerto acima demonstra essa dualidade em ora colocar o homem e
a natureza em conflitos e ora colocá-los em igualdade de direitos, haja vista, os
desastres ambientais, as mudanças climáticas e uma série de acontecimentos
ambientais, acreditamos que o equilíbrio entre homem e natureza, deverá ser o
grande objetivo do direito ambiental.
Há que verificar instrumentos que indique qual a melhor forma a ser utilizada
que mitigue o dano ambiental, sendo imprescindível o uso da razoabilidade ao
escolher que instrumento e forma de exploração dos recursos a ser utilizado
em relação à natureza. (MACHADO, 2008).
Nesse sentido, Leite (2008, p. 141):

[...] a Constituição brasileira não deixa de adotar o antropocentrismo no que


concerne ao ambiente. Entretanto, o antropocentrismo é alargado, não se
restringindo o ambiente a mera concepção econômica ou de subalternidade
direta dos interesses humanos.

Assim, temos que o bem ambiental, dever-se-á destinado a fruição


e utilização por todos, sem distinção, onde a única limitação ou ressalva estará
quando verificado através de normas e órgãos competentes quanto ao seu mau uso.
Verificamos, que o acesso aos recursos naturais para sua exploração deverá
atender os preceitos legais, buscando uma harmonização entre atividade econômica
e a proteção ambiental de forma harmônica.

1.4.3 Princípio da precaução e prevenção

A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), Lei n. 6.938/81, preocupou-se


em compatibilizar desenvolvimento econômico com a proteção ambiental, com o fim
de manter o equilíbrio ecológico. E dentro desse, contexto, temos o princípio
da precaução que visa à eliminação dos riscos existentes em determinadas atividades
econômicas, que recepcionou na Constituição a PNMA. Dessa forma, temos a
materialização de tal princípio como forma de garantir o desenvolvimento econômico
e as atividades humanas, que possam causar algum dano ao meio ambiente.
O uso da precaução demonstra “fundamento de todas as medidas
acautelatórias, pois importa prevenir a agressão ao meio ambiente, antes que ela se
materialize” (PADILHA, 2010, p. 249). Pressupõe em resguardar de forma efetiva o
meio ambiente ecologicamente equilibrado para futuras gerações, como apregoa o art.
225, da CF.
Estamos tratando de um princípio que propõe uma análise prévia dos
possíveis danos que possam ser causados ao meio ambiente e como proceder para
sua eliminação, no sentido de tutelar o bem ambiental.
Diante disso, Aragão esclarece:

O princípio da precaução funciona como uma espécie de princípio “in dubio pro
ambiente”: na dúvida sobre a perigosidade de uma certa atividade para o
ambiente, decide-se a favor do ambiente e contra o potencial poluidor, isto é,
o ónus da prova da inocuidade de uma acção em relação ao ambiente, é
transferido do Estado ou do potencial poluído para o potencial poluidor.
(2008, p. 42).

Em caso de dúvidas e incertezas quanto à atividade potencialmente


poluidora, há que se levar em conta a natureza e seus beneficiários, o homem e os
que estão por vir. Enquanto, restarem dúvidas, o correto a fazer é não agir, ou seja, a
tutela ambiental, não possibilita dúvidas e riscos. É taxativo, e não exemplificativo,
demonstrando um resultado de amadurecimento do próprio direito ambiental.
Nesse sentido, temos a posteriori a CF de 88, a ECO 92 que no seu princípio
15, apresenta que em casos de incerteza do perigo de dano, devemos
procurar alternativas viáveis que previnam a degradação ambiental.
Segundo Derani (2008, p. 151):

O princípio da precaução se resume (sic) na busca do afastamento, no


tempo e no espaço, do perigo; na busca também da proteção contra o
próprio risco e na análise do potencial danoso oriundo do conjunto de
atividades. Sua atuação se faz sentir, mais apropriadamente, na formação de
políticas públicas ambientais, onde a exigência de utilização da melhor
tecnologia disponível é necessariamente um corolário.

Verificamos nesse excerto, que a assunção do risco deverá ser eliminado


quando possível e que a utilização de novas técnicas e tecnologias não representam
uma possível eliminação do dano, que deve ser evitado.
Nesse cotejo, deparamo-nos com o princípio da prevenção que versa na
contramão da consumação desse possível dano. Ou seja, conhecem-se os riscos e,
portanto devemos utilizar dos recursos possíveis para que o dano não se torne real.
A prevenção é o conhecimento de um possível dano e a utilização de
instrumentos que possam evitar a concretização desse perigo enquanto que a
precaução é o desconhecido. E por intermédio desses princípios que balizam
as atividades econômicas e humanas que possam causar uma modificação, dano e
até a perda da sadia qualidade de vida. Nestes termos consideramos o princípio
da precaução e prevenção célula mater ambiental, a partir do novo paradigma
de Estado socioambiental que estamos propondo.
Daí a exigência constitucional do estudo prévio de impacto ambiental (EIA). O
legislador buscou mais uma vez, resguardar qualquer tipo de ameaça
potencialmente degradante ao ecossistema, neste diapasão, incluem-se os bens
naturais e aqueles que sofreram à ação humana, os chamados bens culturais,
artificiais e do trabalho. Nesse sentido, CUNHA (2005, p. 300):

[...] a avaliação dos impactos ambientais encontra-se inserida no artigo 9º,


inciso III, entre os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente,
recepcionada, constitucionalmente, pela Carta de 88, artigo 225, incisos I e IV,
tendo sido o Brasil primeiro país do mundo a exigir o Estudo Prévio de Impacto
Ambiental para a realização de obra ou atividade merecedora desse
estudo.

É através desses institutos que poderemos proteger o meio ambiente, natural


ou artificial, pois a simples ameaça e uma reparação a posteriori não tem o caráter
restaurativo do status quo natural, ou seja, um dano ambiental, depois de ocorrido
torna-se impossível de ser reparado.

1.4.4 Princípio da informação e participação

O direito ambiental chama atenção por sua ubiquidade, ou seja, está presente
em qualquer ação humana, desde simples fato de respirarmos até um grande
empreendimento, como a construção de uma usina hidrelétrica.
Assim, é necessário que o direito à informação seja explicitado de forma clara
e objetiva, através de estudos prévios de impacto ambiental, por exemplo. Trata-se
em trazer à tona a discussão sobre que forma o poder público e os
particulares deverão proceder. Antunes (2008, p. 26) aduz:

O princípio democrático assegura aos cidadãos o direito de, na forma da lei


ou regulamento, participar das discussões para a elaboração das polítcas
públicas ambientais e de obter informações dos órgãos públicos sobre a
matéria referente à defesa do meio ambiente e de empreendimentos
utilizadores de recursos ambientais e que tenham significativas
repercussões sobre o ambiente [...].

Sendo assim, a legitimidade do cidadão em provocar tal direito é resguardado


não só dentro do microssistema ambiental, como um dever de cidadania. Já que é um
direito e dever de nós cidadãos a proteção ambiental. Os mecanismos a serem
utilizados são diversos, desde inciativas legislativas, como medidas judiciais
cabíveis, ação civil pública e popular.
A informação e a participação são complementares no sentido proposto
no presente trabalho, embora seja algo positivado, necessita da chamada consciência
ambiental denominado por Silva (1995). Ou seja, o cidadão deverá ser educado para
que possa provocar tais direitos e assim a formação de uma cidadania plena.
De igual forma Fiorillo (2010, p. 119) “nessa perspectiva, denotam-
se presentes dois elementos fundamentais para a efetivação dessa ação em conjunto:
a informação e a educação ambiental”.
Com politicas públicas que visem à educação ambiental, sob aspecto de uma
construção cidadã, poderemos enxergar o bem ambiental de forma global, que
abrange todo o sistema da vida. Onde as ações humanas sobre o meio ambiente não
é restrito ao local do fato, mas se encontra inserido num macro sistema que
afeta a todos, assim como a justiça ambiental clama por um acesso igualitário aos
recursos naturais o meio ambiente, também responde de forma igualitária enquanto
suas respostas aos danos sofridos, não poupando norte ou sul, ricos ou pobres.

1.4.5 Princípio do desenvolvimento sustentável

Como discutido acerca dos princípios e da própria constitucionalização do


direito ambiental nas cartas modernas, o desenvolvimento sustentável ganhou força a
partir da década de 70, do século passado. A forma que a natureza estava sendo
degradada e o descaso com os resíduos e a escassez do petróleo, por exemplo.
Trouxe primeiramente uma mobilização social, culminando com a Conferência
de Estocolmo e mais tarde em 1987, a divulgação de um estudo denominado
O Nosso Futuro Comum, também conhecido como Relatório Brundtland, onde trouxe
o conceito de sustentabilidade trabalhada nos dias de hoje.
Dentro desse contexto histórico, a legislação pátria não esteve silente quanto
às mudanças vividas e uma nova forma de pensar acerca dos recursos naturais.
Temos como exemplo, a PNMA que já em 1981, postulava uma compatibilização
entre desenvolvimento e meio ambiente e mais tarde com a CF de 1988.
Nesse interregno temporal, como lembra Krell (2008, p.32):

Em 1992, a Carta da Terra, Declaração aprovada na Conferência das


Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (RIO-92),
proclamou que, para alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção
ambiental deve constituir parte integrante do processo de desenvolvimento
econômico e não pode ser considerada isoladamente, deste; além disso, o
direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam
atendidas equitativamente as necessidades de gerações presentes e
futuras (Princípio 3 e 4).

Buscou-se um chamamento da comunidade internacional contra à


degradação ambiental e construção de instrumentos que possibilitassem uma
reversão desse modelo até então utilizado. Dessa forma, o desenvolvimento
sustentável, trouxe para o ordenamento pátrio a mola propulsora para qualquer tipo de
atividade humana sobre o meio ambiente.

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