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FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ

CURSO: Direito Penal IV


DOCENTE: Adelmano Wellerson de S. Benigno
DISCENTE: Jefferson Cley de Jesus Santos

Qual é a diferença entre contrabando e descaminho?

Descaminho X Contrabando

OU

Permissão X Proibição

No novo CP brasileiro, nos artigos 334 e 334-A, encontramos o significado de


descaminho e contrabando. DESCAMINHO é a importação ou exportação de
mercadoria permitida em lei, porém, com fraude no pagamento de impostos e taxas
devidos, relatados no próprio artigo, em relação à operação efetuada. Já o
CONTRABANDO é a prática da importação ou exportação clandestina de mercadorias
e bens de consumo que dependem de registro, análise ou autorização de órgão público
competente. Ou seja, produtos em que a lei diz que é proibido, também relatados em seu
próprio artigo.

Anteriormente à excogitada lei, o Estatuto Penal Repressivo versava acerca dos crimes
de contrabando e descaminho em um só tipo penal (art. 334 do CP de 1940), inclusive
atribuindo pena idêntica aos delitos.

Contrabando ou descaminho

Art. 334 - Importar ou exportar mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em parte, o


pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de
mercadoria:

Pena – reclusão, de um a quatro anos.

Com nova redação da lei 13.008, de 26.06.2014, os crimes passaram a ser tratados em
artigos distintos. Podemos observar que a separação dos delitos não apresentou
consequências relevantes ao sistema penal. No entanto, trouxe uma alteração nas penas,
uma vez que o delito de descaminho permanece a mesma (1 a 4 anos de reclusão), ao
passo que a pena para o crime de contrabando foi fixada em 2 a 5 anos de reclusão.

O aumento da pena do delito de contrabando impacta em questões processuais de suma


importância. Dentre elas, não se admite mais a suspensão condicional do processo, pois
a pena mínima é superior a 1 ano (está prevista no art. 89 da Lei 9.099/95). É admitida a
hipótese de prisão preventiva, haja vista que a pena máxima é superior a 4 anos (está
prevista no art. 313, I do CPP).

Se a mudança da norma afeta as questões processuais, então, o que dizer do princípio da


insignificância? Será que esse princípio pode ser aplicado aos crimes de descaminho e
contrabando que são crimes de ordem tributária?

O Supremo Tribunal Federal nos apresenta diversas decisões as quais foi aplicado o
princípio da insignificância aos crimes contra a ordem tributária previstos na Lei nº
8.137/90 , um exemplo é o HC 126.191, então podemos dizer que é possível sim
aplicar o princípio da insignificância, mas esse princípio é aplicado só para os crimes de
descaminho não sendo permitido para o crime de contrabando, no que se refere o art.
334-A, no delito de contrabando, o objeto material sobre o qual recai a conduta
criminosa é a mercadoria proibida ou seja a lei proíbe de qualquer forma a importação
ou exportação de mercadorias, para os juristas o contrabando não se cuida, tão somente,
de sopesar o caráter pecuniário do imposto sonegado, mas principalmente, de tutelar,
entre outros bens jurídicos, a saúde pública, o desvalor da conduta é maior, razão pela
qual se deve afastar a aplicação do princípio da insignificância.

Existia um valor estabelecido pela jurisprudência tendo como base o art. 20 da Lei
n.°10.522/2002, que determina o arquivamento das execuções fiscais cujo valor
consolidado for igual ou inferior a R$ 10.000,00 o que favorece o princípio da
insignificância.

Mas o MP pela Portaria n°12 75/ decidindo que o valor de 20 mil reais, seria o limite
mínimo para a execução de débitos contra a União, o STJ não concordou com atitude do
MP em normatizar um valor estimado como mínimo, alegando que a opção da
autoridade fazendária sobre o que deve ou não ser objeto de execução fiscal não pode
ter a força de subordinar o exercício da jurisdição penal, já para o Supremo Tribunal
Federal o fato de as Portarias 75 e 130/2012 do Ministério da Fazenda terem aumentado
o patamar de 10 mil reais para 20 mil reais produz efeitos penais. Logo, o novo valor
máximo para fins de aplicação do princípio da insignificância nos crimes tributários
passou a ser de 20 mil reais, sendo assim, o STJ não teve outra escolha e adotou
também o valor mínimo estipulado pelo MP.

Descaminho X Contrabando

OU

Permissão X Proibição

Porque nomear como crime de contrabando, em vez de descaminho, a compra de


gasolina nos países vizinhos em grandes quantidades compradas e também os cigarros,
sendo que a lei permite a utilização desses produtos em nosso território nacional?

Os relatos históricos abaixo nos levaram a entender alguns motivos para o agravante de
determinados crimes tributários.

A arrecadação de tributos é parte integrante da evolução da humanidade. O registro da


cobrança de tributos remonta a 2.375 a. C., em relato das reformas nas leis que o rei
Urukagina, da cidade-estado de Lagash, na Mesopotâmia, fez para combater as
injustiças tributárias e o ambiente de corrupção no governo de seu antecessor,
Lugalanda.
Por volta do século VII a.C., na Grécia, o tributo era administrado pelo Estado. Ao
conquistar os gregos, Roma utilizou a cobrança de tributos como meio de fortalecer seus
exércitos e conquistar mais terras. Com a queda do Império Romano, a noção de Estado
na Europa medieval foi perdida, surgindo, então, os senhores feudais a quem os
camponeses eram obrigados a pagar tributos, entregando-lhes a melhor parte de suas
colheitas. Em 1215, na Inglaterra, foi assinada a Magna Carta, que estabelecia limitação
legal ao poder dos reis de instituir tributos.

Reportagem do Jornal Hoje - exibição em 19 de agosto de 2013


Cigarros fabricados no Paraguai já respondem por quase um terço do consumo no
Brasil. Eles são produzidos sem controle. O dono da maior empresa de cigarros do
Paraguai é o novo presidente do país, que tomou posse há menos de uma semana.
Observando essa notícia, fica evidente que de cada 4 cigarros consumidos no Brasil, 3
são provenientes do país vizinho. Mas o que proporciona o aumento do consumo de
cigarros que vêm de outros países?
Fica bem evidente que é o seu preço acessível. Isso se reflete também na gasolina. Será
que se os preços dos cigarros nacionais e da gasolina fossem os mesmos ou
aproximados dos países vizinhos haveria o crime de contrabando ou seria crime de
descaminho? Mas os impostos brasileiros não permitem a concorrência.
A Secretaria da Receita Federal do Brasil, exercendo funções essenciais para que o
Estado possa cumprir seus objetivos, é responsável pelo combate ao contrabando e
descaminho como está elencado no Regimento Interno, inciso XX do artigo 1º do
Anexo à Portaria MF nº 430, de 9 de outubro de 2017, “planejar, coordenar e
executar as atividades de repressão ao contrabando, ao descaminho, à contrafação
e pirataria, ao tráfico ilícito de entorpecentes e de drogas afins, ao tráfico
internacional de armas de fogo e à lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores,
observada a competência específica de outros órgãos”.
No último dia 2, a Polícia Federal deflagrou uma operação de combate ao contrabando
de cigarros em quatro Estados (RS, SC, PR, MT). A operação, denominada Travessia
14, apura também a prática de lavagem de dinheiro e estima que o prejuízo com a
sonegação de impostos aproxima-se de R$ 2 milhões.
Neste ponto de vista, posso dizer que as políticas tributárias contribuem para a
cominação de pena e o aumento dela, ou seja descaminho para contrabando.

Jefferson Cley de Jesus Santos

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