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AV1 – Teoria Política

1 – Elabore uma reflexão sobre a atualidade do pensamento de Maquiavel. (5pts)

Apesar de a obra “O príncipe" datar do século XVI, o pensamento de Maquiavel


mostra-se atual quando vemos semelhanças no que significava fazer política naquela época
com as atitudes políticas que vemos atualmente, onde o príncipe daquele século era o
chefe do Estado e detentor do poder absoluto e a personificação do príncipe de hoje são
todos os políticos que possuem algum poder. É importante ressaltar que não devemos ver a
obra de forma literal, uma vez que a distância de tempo é bastante discrepante.
Maquiavel defende que o governante deve sempre ser bom e tomar as melhores
decisões - mesmo que o prejudique -, a fim de que a sua alma seja salva após sua morte.
No entanto, Maquiavel percebeu o mau como uma realidade política e, por isso, também
defendia a ética política. Assim, para o governante obter sucesso ocasionalmente era
necessário fazer o mau em nome do Estado e da manutenção do seu poder. É a partir
dessa ideia que surge a frase “os fins justificam os meios”, pois os fins justificam os meios
somente se os fins forem públicos e não privados. Sendo assim, o papel do príncipe é o de
se manter no poder mesmo que, ocasionalmente, seja necessário agir de forma nociva.
O conceito de agir com maldade naquela época significava agir com violência armada, já
nos dias atuais podemos considerar a corrupção como uma atitude má e uma forma de
manutenção do poder. Assim, fazendo um paralelo com as ideias de Maquiavel, é aceitável
o político ser corrupto caso seja em benefício público, como por exemplo a compra de votos
no parlamento a fim de obter aprovações em seus projetos, mas não por interesses
próprios, como ocorre atualmente com nomeação de funcionários fantasmas com intuito de
obter vantagens financeiras.

Juntamente à ideia exposta anteriormente, Maquiavel também apontava sobre a


importância do príncipe usar a força de forma moderada, pois para que obtenha sucesso
em seu poder, ele deve praticar o bem de forma gradativa e o mal, quando necessário, de
uma só vez. Assim o povo sempre lembraria de forma positiva os seus feitos e o mal, por
sua vez, esqueceria rapidamente se sofrido de uma vez. Como exemplo podemos citar
quando os políticos estendem as obras públicas propositalmente até a época das eleições.
Do contrário, o povo poderia esquecer a ação caso terminasse rapidamente.
Maquiavel aponta a fortuna e a virtude como duas maneiras de se tornar príncipe e
de se manter no poder. O autor elucida a fortuna como casos que vêm ao acaso e que não
são possíveis de controlar. Já a virtude seria a capacidade, habilidade e conhecimento do
governante de controlar os conflitos que estiverem a seu alcance. Sendo assim, Maquiavel
diz que o príncipe tem de estar consciente de tais possibilidades e, portanto, deve sempre
agir com prudência, de forma a ter soluções previamente pensadas a fim de evitar
transtornos.
Ao citar sobre a virtude, Maquiavel evidencia sobre o que seria a virtude do leão e
da raposa. Os leões são aqueles que usam o poder pela força, isto é, com crueldade. Já a
raposa seria usar o poder pela esperteza, com astúcia e estratégias. Tal metáfora mostra a
importância do príncipe ser virtuoso para ponderar com que intensidade e em que momento
usará ambas as virtudes. Como exemplo de um governo que soube usar o poder pela
esperteza, temos o caso onde Portugal foi afetado pela crise financeira global em 2008.
Com dificuldade nas contas públicas e desemprego em alta, três anos depois o país
conseguiu crescer novamente e melhorar a situação econômica através do aumento de
impostos e um ajuste fiscal rígido. Percebe-se que o governo foi virtuoso sabendo usar
estratégias pra melhorar a situação do país.
Outro ponto importante que Maquiavel expõe diz respeito ao fato do poder
conquistado ser melhor e mais seguro do que o poder que é dado, porque, nesse último
caso, há o risco de ser cobrado, já aquilo que é conquistado com o apoio do povo é mais
seguro de manter. Com isso Maquiavel quis dizer que é mais difícil manter o poder quando
esse é adquirido com ajuda dos ricos, porque futuramente eles certamente cobrarão
benefícios. Como exemplo da atualidade temos o fato de grandes empresários apoiarem
candidatos com a intenção de obter benefícios a posteriori.
Além disso, a partir do trecho “Querem ser seus soldados enquanto não se fizer a
guerra; contudo, quando a guerra sobrevém, eles dispersam ou batem em retirada.”
(MAQUIAVEL, 1513, p.62), Maquiavel ressalta a importância de possuir apoio das bases
para o príncipe se manter no poder, porquanto os mercenários - se esses forem suas bases
- o abandonarão nas primeiras adversidades, uma vez que os mercenários querem ser
soldados quando o príncipe não está em guerra, porém quando há, eles dispersam.
Mediante essa ideia, podemos relacionar com o fato de que o Lula teve, inicialmente, um
alto índice de aprovação popular em seu governo. Isso poderia ter evitado conflitos que
vieram à tona alguns anos depois, caso estivesse tentado realizar mudanças mais
estruturais no Brasil. Porém, o ex-presidente optou por se aliar a partidos fisiológicos pela
governabilidade. Relacionando com os conceitos de Maquiavel, esses podem ser
comparados com os mercenários, uma vez que são movidos a dinheiro e interesses. No
caso, o Lula optou por ter apoio deles e não da base, ocasionando no golpe que o partido
sofreu.

2 – Qual a sua opinião sobre o funcionamento do Estado-Leviatã nos dias de hoje?


(5pts)

O Estado-Leviatã nos dias de hoje não teria um efeito positivo pois a ideia de um
Estado absoluto proposto por Hobbes ocasiona em consequências desastrosas, tal como já
observamos no decorrer da história e no qual citarei mais adiante. Antes de tudo, é preciso
contextualizar a ideia de Thomas Hobbes para, por fim, entendermos a conclusão do
porquê não teria êxito.
Segundo as ideias de Hobbes, a condição humana é egoísta, onde o homem deseja
satisfazer as suas necessidades às custas do outro, isto é, mesmo que o que ele deseja
pertença a outro homem. Por esse motivo, o autor considera que “o homem é o lobo dos
homens” pois, devido ao egoísmo, os homens são uma ameaça constante entre si. Em
consequência, surge a guerra civil citada por Hobbes no seguinte trecho: “[...] a concórdia é
a saúde; a sedição é a doença; e a guerra civil é a morte.” (HOBBES; THOMAS, 1651, p.9),
na qual significa um conflito permanente entre os homens, uma guerra de todos contra
todos onde todos são uma ameaça a todos o tempo todo.
A partir desse contexto, temos a ideia de contrato social, no qual seria um pacto
entre os indivíduos que renunciam a sua própria liberdade a favor da paz. O homem
percebe que a vida está constantemente ameaçada e então, movido pelo medo, entende
que é preciso abrir mão da própria liberdade e realizar um contrato onde todos aceitam viver
em conjunto em sociedade sob o poder de um homem supremo que os obrigaria a respeitar
o contrato.
Esse poder supremo, na visão de Hobbes, seria o Leviatã. A referência desse nome
vem da bíblia, onde o Leviatã era um monstro que tinha como característica o seu tamanho
e força e que, por isso, protegia os mais fracos. Para Hobbes o Estado seria um Leviatã que
protegeria os homens deles mesmo e que não permitiria que os homens guerreassem entre
si, ou seja, os protegendo da própria maldade humana. Sendo assim, o Estado deveria ser
forte, cruel e violento para garantir o respeito ao contrato, de forma a defender a vida de
todos.
Esta obra foi escrita durante a Guerra Civil Inglesa, um período de muita
conturbação nos âmbitos político, cultural e religioso e, devido a isso, a filosofia de Hobbes
sobre o Leviatã tem como objetivo legitimar o absolutismo na Inglaterra a fim de amenizar o
caos.
No entanto, através de acontecimentos históricos ocorridos há poucos anos pode-se
perceber - e concluir - que o uso da força, do medo e da repressão não traz benefícios
porque produz e agrava a desigualdade na sociedade, distancia a discussão pública e leva
à revoltas.
O nazifascismo, apesar de ser diferente do que foi o absolutismo do século XVII, é
um exemplo de uma ideologia autoritária que tinha como intenção solucionar de forma
urgente a desordem que a Alemanha e a Itália ficaram ao final da 1ª Guerra Mundial.
Todavia, as consequências ocasionaram numa das grandes tragédias mundiais. Na
Alemanha, durante o 3º reinch, Hitler acabou com partidos opositores, queimou livros de
pensadores que fossem contra o nazismo, além de ter causado a morte de milhares de
judeus (ocasionando o Holocausto), homossexuais, ciganos e quem fosse considerado da
oposição. Além do mais, na Itália liderada por Mussolini, também houve perseguição à
oposição e o fim do pluripartidarismo. Por fim, temos um exemplo no Brasil com a Ditadura
militar que apesar de não haver um número alto de mortos, houveram muitas prisões
suspeitas e tortura a quem se opusesse, além de ter causado muita desigualdade social
após a crise do milagre econômico, pois apesar de a economia ter crescido, esse
crescimento não foi igual para todos.
Portanto, o funcionamento do Estado-Leviatã nos dias de hoje não surtiria efeitos
positivos devido ao histórico de aumento de desigualdade e o distanciamento da discussão
política; o modelo de um governo onde é necessário obedecê-lo acima de tudo sem a
possibilidade de contestações faz com que surja a privação de muitos direitos que são
essenciais para a sociedade.
Tudo isso posto, é certo que há divergências claras entre o absolutismo defendido
por Hobbes da Inglaterra do século XVII com o nazifascismo e a ditadura militar
anteriormente mencionados, no entanto, considera-se aqui apenas as características de um
governo ditatorial onde o povo não tem voz.

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