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Título: Justiça como elemento fundamental na distribuição de riqueza de

uma nação.
Sabe-se, com base na história, que o conflito entre classes antagônicas - como
descrito por Karl Marx - é algo presente desde o início dos tempos. Há sempre
em disputa, entre dois ou mais grupos, algo que lhes é de interesse, e que cada
grupo reivindica como seu, sendo que, quanto mais desigual for a distribuição
do objeto de disputa, mais maléficas serão as consequências deste combate para
a estabilidade do estado social.
John Bates Clark, notável economista neoclássico norte-americano, ao discutir
as consequências deste conflito na sociedade capitalista, traz luz à necessidade
de as relações entre classes sociais serem baseadas na justiça. Nas palavras do
mesmo, onde as leis naturais valem - ou seja, onde o que é natural e preferível à
sociedade se manifesta - cada membro da produção, desde o trabalhador ao
dono do capital, recebe o que é proporcional ao seu esforço. Entretanto, tendo
em vista que a sociedade capitalista, em tese, se baseia consideravelmente no
princípio da mão invisível, de Adam Smith, que apresenta a busca egoísta do
homem pelos seus interesses como fundamental para o desenvolvimento deste
sistema, urge questionar-se quanto ao status da justiça no contexto da
“propriedade individual “, focando na sua análise positiva e normativa.
A justiça, como discutida por Adam Smith na sua obra Teoria dos Sentimentos
Morais, é fundamental para a manutenção da estabilidade social. Aquela,
quando não exercida por um sujeito em sociedade, leva o mesmo a ser alvo de
ressentimento, que, de acordo com o célebre escocês, “parece nos ter sido dado
pela natureza para defesa, e apenas para defesa.“(Teoria dos Sentimentos
Morais, 1759, p 98). Assim sendo, é exequível afirmar que qualquer embate
entre dois ou mais grupos, ou seja, qualquer defesa de interesse próprio, é
fundamentado na interpretação, por ambas as partes, de uma falta de justiça, e
de um ataque direto aos seus direitos.
Iniciando a análise positiva da justiça no sistema em questão, é mister ter em
mente que a relação entre a classe trabalhadora e os donos do capital é baseada
numa relação de desigualdade de poder que tende mais ao lado destes do que
daqueles. Sustentada, principalmente, sobre base jurídica - como trabalhado por
Adam Smith “Não há leis do Parlamento que proíbam os patrões de combinar
uma redução dos salários; muitas são [...] as leis do Parlamento que proíbem
associações para aumentar os salários.“(A Riqueza das Nações, 1776, p 119) - e
incrementada pelas suas consequências - como apresentada pelo economista
britânico Alfred Marshall, “Quando um trabalhador teme a fome [...] de começo
ele leva a pior na negociação e se emprega a salário baixo“(Princípios de
Economia, 1890, p 24) -, a desigualdade de poder no sistema capitalista é o
mais considerável motivo das suas instabilidades.
Corroborando esta crítica, John Stuart Mill, economista britânico do século
XIX, ao abordar a “distribuição da riqueza“ no sistema capitalista, afirma que “a
produção do trabalho tem que ser distribuída [...] quase em proporção inversa ao
trabalho “(Princípios de Economia Política, 1848, p 267). Assim sendo, é visto
que o capitalismo se baseia, para o seu desenvolvimento, na exacerbação da
injustiça na distribuição da produção, que não segue as leis naturais citadas por
John Bates Clark.
Dando prosseguimento ao estudo da justiça no contexto da propriedade
individual, agora será feito o seu debate por meio da análise normativa. John
Stuart Mill, na sua obra Princípios de Economia Política, ao realizar uma crítica
à estrutura do capitalismo de seu tempo, aponta ao fato da injustiça não ser
inerente à propriedade privada, ou seja, é possível que, em uma sociedade onde
o indivíduo produz apenas com base nos seus interesses, haja justiça. De acordo
com o célebre economista, este estado de harmonia, onde cada um seria dono da
sua própria produção, só se torna passível de realização por meio do “princípio
da propriedade individual“, que estabelece que cada homem e mulher deveria
receber recursos para se manter levando em consideração as suas habilidades e
fraquezas. Deste modo, sabido que a justiça se baseia na não-agressão aos
direitos comuns de cada indivíduo quando em sociedade, se é promovido
equidade entre os seus indivíduos, isto é, se cada indivíduo recebe o que lhe é
natural, tem-se a manutenção da estabilidade social, que, para Clark, se torna
visível quando a competição livre se aplica.
Todavia, com base na leitura da obra de Mill, é exequível afirmar, nas palavras
do próprio, que “O princípio da propriedade privada nunca foi tentado com
honestidade em país algum “(Princípios de Economia Política, 1848, p 267), o
que levanta o ponto de que o estado, enquanto como instituição cujo objetivo é
proteger a população, se mostra falho na instauração das condições que
propiciem a formação de mercados baseados nas leis naturais, e que,
consequentemente, possibilitem uma mais justa “distribuição da riqueza“.
Assim sendo, é de importância que o estado, para viabilizar o bem-estar
daqueles que diz representar, se torne presente na distribuição de recursos em
uma sociedade baseada na propriedade privada. Portanto, com a promoção da
equidade, será presenciado, como consequência, uma harmônica relação entre
os diversos grupos que compõem o corpo social, levando, então, à manutenção
do que é considerado universalmente justo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 - Smith, Adam. Teoria dos Sentimentos Morais. Tradução de Lya Luft.
Revisão de Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes: 1999.
2-Smith, Adam, Riqueza das Nações. Tradução de Luiz João Baraúna.
Apresentação de Winston Fritsch. São Paulo: Nova Cultural: 1996.
3 – Mill, John Stuart, Princípios de Economia Política. Tradução de Luiz João
Baraúna. Apresentação de Raul Ekerman. São Paulo: Nova Cultural: 1996.
4 – Marshall, Alfred, Princípios de Economia. Tradução revista de Rômulo
Almeida e Ottolmy Strauch. Introdução de Ottolmy Strauch. São Paulo: Abril
Cultural :1982.

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