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18. Quanto Resta da Caatinga?
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QUANTO AINDA RESTA DA
CAATINGA? UMA ESTIMATIVA
PRELIMINAR
Introdução
A Caatinga é uma das maiores e mais distintas regiões
brasileiras (Ferri 1980). Ela compreende uma área aproximada de
800.000 km2, representando 70% da região nordeste e 11% do
território nacional (Bucher 1982). A região inclui partes dos
estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba,
Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais. De modo
geral, a biota da Caatinga tem sido descrita na literatura como
pobre, abrigando poucas espécies endêmicas e, portanto, de baixa
prioridade para conservação. No entanto, estudos recentes mostram
que isto está longe de ser verdade (Andrade-Lima 1982, Rodal
1992, Sampaio 1995, Garda 1996, Silva & Oren 1997, MMA
2002). A região possui, sim, um considerável número de espécies
endêmicas. Além disso, várias espécies de animais e de plantas
endêmicas foram descritas recentemente para região, indicando um
conhecimento zoológico e botânico bastante precário. Por exemplo,
um estudo sobre o esforço amostral das coletas de um grupo de
anfíbios identificou a Caatinga como uma das regiões menos
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Material e métodos
O mapa base utilizado para as análises foi o Mapa de
Vegetação do Brasil, na escala 1:5.000.000 (IBGE 1993),
digitalizado na projeção a partir do mapa impresso. Este mapa foi
sobreposto ao mapa com os limites da região da Caatinga. Em uma
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Resultados
Utilizando somente as informações do IBGE (1993),
estimou-se que a área coberta por atividades agrícolas na região é
de 201.786 km2, o que corresponde a 27,47% da área da Caatinga.
Esta área modificada se estende por praticamente toda a Caatinga
(Figura 1).
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Tabela 1. Número de “ilhas”, área mínima, máxima e média (em km2) e desvio-padrão
de acordo com a largura adotada para a “zona de efeito da estrada”.
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A B C
Nível de impacto
antrópico na caatinga
Altamente impactada
Impacto reduzido
D E
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Discussão
Independente da estimativa adotada, uma importante parcela
da área da Caatinga foi bastante modificada pelas atividades
humanas. Algumas destas áreas, previamente ocupadas pela
agricultura, possuem grande risco de desertificação, exigindo ações
urgentes de restauração da vegetação original (MMA 1998).
Certamente, a porcentagem de alteração da vegetação
original da Caatinga alterada pelas atividades humanas é superior
aos 28% estimados através do mapa produzido pelo IBGE (1993) e
uma análise do impacto causado pelo sistema de estradas
certamente adiciona informações importantes para uma estimativa
mais acurada. O ponto crítico desta estimativa está na determinação
de uma largura média da “zona de impacto de estrada” adequada
para a região, pois há poucos estudos sobre este assunto no mundo
(Forman 2000). Se adotarmos a largura média da “zona de impacto
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de Janeiro, Brasil.
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