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No capítulo 3, intitulado “Heteronomia Racial na Sociedade Classes”, de seu livro

A Integração do Negro na Sociedade de Classes – Vol. 1: Ensaio de Interpretação


Sociológica, Florestan Fernandes dá continuidade à sua análise da condição social e racial dos
povos afros (negros) na sociedade brasileira, já iniciada nos capítulos anteriores do livro. O
autor faz seu estudo a partir da observação da situação contemporânea dos negros na cidade
de São Paulo.

Florestan já logo de início observa que a relação entre negros e brancos naquela
cidade se dá a partir de reminiscências socioculturais do antigo regime (o sistema
escravocrata). A integração desses grupos de indivíduos a sociedade (social, cultural
economicamente) deu-se a partir de recursos econômicos, o que desfavoreceu enormemente
os negros, dado o seu passado de escravizados.

O autor, então, pontua que o regime de castas não desapareceu por completo na
sociedade de classes que surgia, esse persistindo nos comportamentos, nas relações, nos
valores da população. O negro e o mulato foram postos, agora, em uma ambígua condição de
“libertos”. O distanciamento social, cultural e econômico entre brancos e negros e mulatos
assim permaneceu mesmo após a abolição legal da escravidão. Os brancos permaneciam na
sua condição de raça dominante e de privilegiados. Logo, o preconceito de cor e a
discriminação racial presentes ainda hoje na sociedade brasileira foram herdados desta
situação histórica.

Toda esta estrutura levou a raça branca a não se sentir impulsionada a concorrer
com os negros, nem estes com os brancos. A população negra se via enclausurada em uma
situação de passividade e conformismo, aceitando a continuidade daqueles antigos padrões,
alimentando uma ilusão de contribuição para a “paz social”, justiça social e a um futuro de
igualdade com os brancos.

Essa passividade gravada na mentalidade dos negros e mulatos servia também


para assegurar o “mito da democracia racial brasileira”. Tal pensamento consiste na ideia de
que, sob a ótica dos fundamentos ético-jurídicos, as relações entre brancos e negros se dão de
forma igualitária. Este mito, além de ter contribuído para espalhar a ideia de que os negros são
os responsáveis por seus problemas socioeconômicos, também inculcou na sociedade a
isenção da culpabilidade e responsabilidade dos brancos frente à condição social deteriorada
da população negra e mulata, imprimindo uma falsa consciência de que oportunidades de
acumulação de riquezas e prestígio social são igualmente acessíveis a brancos e negros.

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