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CAPÍTULO 2

1. DEFINIÇÃO DOS OBJECTIVOS

Uma vez definido o problema, o investigador tem já uma ideia concreta do que quer
investigar. O que necessita agora é algo que o oriente de um modo preciso nos passos
subsequentes do seu estudo: o(s) objectivo(s).

Quando fixamos determinados objectivos para a investigação, o que estamos a fazer é


definir certas metas que procuramos alcançar, ou seja, estabelecer de forma clara quais
são as aspirações que pretendemos que se tornem realidade, uma vez terminado o ciclo
que começou com a formulação do problema.

Os objectivos cumprem, pelo menos, quatro papéis fundamentais no processo de


investigação:
a) delimitar da forma mais precisa possível as fronteiras do nosso estudo;
b) servir de guia durante todo o processo de investigação, para que não nos
afastemos do que decidimos, enquanto investigadores, fazer;
c) servir de âncora das hipóteses, ou seja, as hipóteses não se podem afastar dos
objectivos, sob pena de prejudicarmos o resultado final;
d) avaliar se o processo e/ou os resultados até agora conseguidos estão em
consonância com o que nos havíamos proposto inicialmente, e caso não o seja
proceder às correcções necessárias no desenho da investigação.

Neste momento importa alertar o leitor para o facto de que é difícil, para quem investiga
pela primeira vez, e por vezes para os investigadores mais experientes, manterem-se
dentro da linha de investigação que eles próprios determinaram quando propuseram o
problema de investigação. Não raras vezes acontece que os investigadores no momento
de formular as hipóteses já se esqueceram do problema formulado, logo torna-se
imperioso tê-lo sempre por perto para o levar em consideração no momento de definir
os objectivos.

Embora lógico, face ao supra exposto, não nos cansamos de alertar que a primeira
exigência relativamente aos objectivos é que concordem com o problema formulado.
É comum que os estudantes, após o esforço de formular o problema de forma correcta,
sejam presas de um entusiasmo que os leve a estabelecer objectivos que vão muito para
além do próprio problema.

Para melhor ilustrar o que acabamos de referir, a título de exemplo, apresentamos um


problema de conhecimento para o qual se propõem objectivos centrados no mesmo, e
outros que se afastam dele.

“Que uso fazem as crianças dos dois aos sete anos dos spots publicitários de televisão
dirigidos a adultos?

a) Verificar se as crianças entre os dois e sete anos utilizam as mensagens


publicitárias de televisão dirigidas aos adultos.
b) Determinar quais são os usos que os menores fazem das referidas mensagens
publicitárias.
c) Estabelecer a ocorrência temporal dos usos, antes, durante, e depois do estímulo
publicitário.
d) Distinguir as modalidades que assume o uso: antes (por exemplo, expressar
antecipadamente o interesse em ver determinado spot); durante (atenção
prestado ao anúncio); depois (repetir as suas canções, jingles, repetir pequenas
frases, imitação de personagens, gestos ou cenas).
e) Averiguar a existência de diferentes usos mediante o género dos menores.
f) Averiguar se existem diferentes usos de acordo com diferentes intervalos de
idade: 2 a 3, 4 a 5, 6 a 7.
g) Verificar se existe relação entre utilização dos spots e a quantidade de horas de
exposição à televisão.
h) Determinar se existem diferenças de uso segundo as características dos spots
publicitários.
i) Determinar em que situações as crianças tendem a fazer uso das mensagens
publicitárias dirigidas a adultos.
j) Conhecer qual a percepção que as crianças têm da publicidade televisiva.
k) Determinar como são percebidas as mensagens publicitárias pelos pais das
crianças.
l) Averiguar qual a influência dos desenhos animados nas crianças.
m) Avaliar em que medida influem esses spots na tomada de decisão de compra dos
produtos por eles publicitados.

Torna-se evidente que desde o objectivo a) até ao i), inclusive, todos se referem
directamente ao problema enunciado, e, em consequência, possíveis de alcançar. O
objectivo j) não se relaciona com a pergunta de forma tão directa, como os anteriores, e
os restantes, embora possamos encontrar alguma ligação com o problema, estão
afastados do mesmo. O objectivo k) corresponde a uma interrogação sobre a percepção
que os pais têm sobre os spots publicitários em questão, o que em nada se relaciona com
o problema. Quanto ao objectivo l), facilmente se percebe que se afasta totalmente do
problema, uma vez que os desenhos animados são outro corpo de estudo que não
corresponde ao enunciado no problema. Finalmente, o l) remete para outro assunto,
nomeadamente para a decisão de compra, o que se afasta do problema, uma vez que não
são as crianças desse intervalo de idades que decidem a compra dos produtos
anunciados em spots televisivos para adultos.

Observemos agora alguns requisitos que os objectivos devem respeitar.

Se estiveram atentos, recordam que todos os objectivos expostos estão enunciados


partindo de um verbo no infinito: descobrir, conhecer, determinar, descrever,
descrever, averiguar, estabelecer, indagar, avaliar, distinguir, analisar, identificar… A
formulação correcta de um objectivo tem sempre que ser feita através de um verbo.
Consequentemente, um objectivo que não seja enunciado segundo esta convenção, é um
objectivo mal formulado.

É frequente encontrar-se objectivos em forma de perguntas, como frases inconclusivas,


e como temas. Eis alguns exemplos dos primeiros: “Como são percebidos os estímulos
publicitários dos spots televisivos por parte das crianças”, “Que relação existe entre as
horas de exposição das crianças frente à televisão e o uso que fazem dos estímulos
presentes nos spots publicitários”, “Que percepção têm as crianças da publicidade
televisiva”. Vejamos agora exemplos de objectivos formulados de forma inconclusiva:
“Se as crianças entre 2 e 6 anos manifestam determinados comportamentos após
visualizarem estímulos publicitários dirigidos a adultos”, “Existem diferenças entre
género do uso que fazem dos estímulos publicitários televisivos”. E para o terceiro caso,
“Diferenças entre os usos segundo o género”, “As situações em que a crianças tendem a
manifestar determinados comportamentos, em função da publicidade televisiva”.

Outro requisito dos objectivos é a possibilidade de serem alcançados. Não é raro


encontrar jovens investigadores que formulam objectivos grandiosos e difíceis de
alcançar.

No momento em que o investigador tem que estabelecer os objectivos da sua


investigação, deve considerar a possibilidade concreta de alcançá-lo. Neste sentido
exige-se que sejam realistas.

Um exemplo de um objectivo inalcançável, dentro do mesmo problema, pode ser:


“Investigar as razões que movem as crianças para manifestarem determinado
comportamento relativamente ao uso que dão aos estímulos publicitários televisivos
para adultos” ou “Descrever os factores inconscientes que intervêm no uso que as
crianças dão aos estímulos publicitários televisivos para adultos”. O primeiro é
inalcançável porquanto que nem aos adultos é possível esperar que se saiba com
objectividade sobre as razões pelas quais têm determinado comportamento em função
das mensagens publicitárias. E ainda que fosse possível, disporiam as crianças, neste
intervalo de idades, um repertório linguístico para nos dar respostas satisfatórias? O
segundo, não é possível de alcançar dentro dos limites de uma investigação em
comunicação.

Existem ainda outras circunstâncias nas quais certos objectivos não podem ser
alcançados, não porque os objectivos sejam inalcançáveis, mas por outra ordem de
razões, como por exemplo, tempo, recursos financeiros, humanos, técnicos, ou de outra
índole.

O investigador, ao formular os objectivos, deve também perguntar-se como os


conseguirá alcançar, dado que estes podem, teoricamente, parecer de fácil
concretização, porém tal pode não se verificar na prática. O investigador deve efectuar o
esforço de imaginar em concreto como vai proceder do ponto de vista mais pragmático
para alcançar o objectivo a que se propôs: de onde obterá os dados ou informação para o
conseguir; verificar se tal informação existe, e se está disponível; que procedimentos ou
técnicas terá que utilizar para obter esses dados; se essas técnicas são aceites (do ponto
de vista académico e ético).

Após definirmos claramente a forma como vamos alcançar os objectivos, torna-se agora
necessário perceber efectivamente de que os conseguimos alcançar, ou seja, lograr os
objectivos tem que ser possível de verificar.

De forma a aclarar esta problemática vejamos, a título de exemplo, o que acontece na


educação: numa qualquer disciplina os objectivos devem ser mensuráveis, e de facto
medem-se através de standards de rendimento, os quais se traduzem em classificações
qualitativas ou quantitativas. Se o aluno não alcança determinado standard significa que
não alcançou determinados objectivos. Não obstante, em comunicação o alcance dos
objectivos nem sempre se pode traduzir em números.

No que diz respeito a alguns dos objectivos atrás formulados, consideramos, por
exemplo, se conseguimos efectivamente distinguir a existência de uma relação entre o
uso dos spots e a quantidade de horas de exposição à televisão. Por oposição, se não
logramos conhecer em que situações as crianças fazem uso dos estímulos publicitários
para adultos, quer dizer que esse objectivo não foi alcançado. E para esta situação se
verificar podem ter contribuído diferentes contingências, como por exemplo, não termos
conseguido recolher informação suficiente que permitiria que isso acontecesse. E se tal
se verificou, o mais provável é que esta debilidade se deva ao facto de não termos
confrontado, no momento certo, os objectivos com as hipóteses; ou as hipóteses com as
técnicas e instrumentos utilizados para recolha dos dados. Neste momento importa
também é que o investigador tenha plena consciência de qual ou quais objectivos não se
concretizaram, e é precisamente por essa razão que os objectivos devem ser tão claros,
concretos e precisos, para que seja possível verificar mediante os resultados obtidos, se
estes foram alcançados.

A confrontação entre objectivos e todas as actividades do processo de investigação deve


ser efectuado durante todo o processo de investigação, de forma a evitar desviarmo-nos
do pretendido.
A definição dos objectivos é de suma importância no momento de formular as
hipóteses. Estas têm que ter uma estreita conexão com os objectivos, de modo a que
nenhuma delas fique órfã. E, ainda que os dados empíricos se recolham em função da
comprovação das hipóteses, é sempre recomendável rever o trabalho efectuado, de
modo a que não fique por recolher alguma informação relacionada com algum objectivo
em particular, uma vez que, caso suceda, pode significar que alguma hipótese pode
permanecer desvinculada dos objectivos, e seria o momento de proceder a essa
correcção.

Até este momento apenas temos vindo a referir a temática dos objectivos de uma forma
geral, não obstante, importa referir o seu grau de generalidade ou de precisão que cada
um dos objectivos pode enunciar.

Um trabalho de investigação necessita de estabelecer objectivos do tipo geral e do tipo


específico. Os primeiros referem-se a metas de carácter global que se espera obter como
produto do estudo. O alcance deste tipo de objectivos é muito difícil de avaliar ou medir
de forma directa. Os objectivos específicos aludem a metas mais precisas e concretas,
ou seja, aquelas que terão de ser alcançadas para que seja possível lograr os objectivos
gerais. Fica então demonstrado que os objectivos gerais se conseguem através do
alcance dos específicos. Estes últimos são os que hão de conseguir medir-se e avaliar, e
por essa razão é de suma importância a sua clara e adequada formulação.

2. RESUMO

Os objectivos são as a que metas que nos propomos chegar finalizado o trabalho de
investigação. Existem objectivos de carácter geral, e outros mais específicos. É
indispensável formulá-los da forma mais explícita possível. Têm que estar vinculados
directamente com a pergunta que constitui o problema de investigação, partindo sempre
de um verbo no infinito.

No momento de formular o(s) objectivo(s) é necessário ter presente os procedimentos


práticos e concretos que permitirão alcançá-los, assim como deverão ser possíveis de
verificar ou medir, daí a importância da sua formulação ser clara, precisa e concreta.
3. SUGESTÕES

Formule alguns objectivos gerais e outros específicos (decorrentes dos primeiros), que
julgue pertinentes para a sua investigação.

Reveja cada um deles tendo em conta o que leu até este momento. Agora verifique se:
a) Está seguro de que concordam directamente com o problema formulado
anteriormente?
b) Enunciou os objectivos começando com um verbo no infinitivo?
c) Parecem-lhe realizáveis, tal como os visualiza neste momento?
d) São realistas?
e) Já sabe como procederá para os alcançar?
f) Terá acesso à informação necessária para alcançar cada um deles?
g) Disporá das técnicas e/ou meios necessários para a sua prossecução?
h) Como saberá que os alcançou?
i) Estão expressos de forma clara, precisa e concreta?

Se respondeu afirmativamente a todas estas questões ao confrontá-las com os


objectivos, pode seguir com a sua investigação. Se preferiu passar por cima desta
sugestão, o mais provável é que terá que perder tempo posteriormente voltando atrás e
corrigir, não somente os objectivos, mas também algumas outras etapas nas quais
decidiu avançar.

4. EXERCÍCIOS

a) Indique quais os objectivos que estão correctos (marque com C) e quais estão
incorrectos (marque com I). Considere-os de forma isolada, ou seja, sem estar
conectados a nenhum problema específico. Centre-se apenas na sua formulação.

a1) Despertar o interesse pela leitura de jornais diários em crianças ente os 10 e 14 anos.

a2) Que a imprensa sensacionalista se torne mais sóbria para melhor informar.
a3) Conhecer a percepção sobre o programa de televisão “Êxtase” nos jovens ente os 14
e 18 anos.

a4) Estabelecer as diferenças entre género no que diz respeito à percepção do mesmo
programa de televisão.

a5) Quais são as diferenças segundo o estrato socioeconómico.

a6) Que as mulheres tomem consciência da forma como são apresentadas pelos meios
de comunicação social.

a7) Diminuir o nível de violência na programação infantil dos canais de televisão


abertos.

b) Em função do seguinte problema, assinale quais os objectivos que estão correctos


(marque com C) e quais estão incorrectos (marque com I).

Problema:
“Qual foi o tratamento dado pelos periódicos Jornal de Notícias e Público ao caso
“Esmeralda”?

Objectivos:
b1) Conhecer qual a postura da Igreja Católica.

b2) Determinar o espaço que ambos diários destinaram na cobertura das notícias do
caso “Esmeralda”.

b3) Esclarecer quem são os responsáveis pela situação.

b4) Determinar a quantidade de notícias publicadas em ambos periódicos.

b5) Investigar outras situações semelhantes ao caso “Esmeralda” presentes em ambos os


jornais.
b6) Averiguar o posicionamento dos jovens face ao caso “Esmeralda”.

Pode encontrar as respostas na página XXXXX

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