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A ti, Mwene.

Figura 1: Cláver Cruz Art

Por consciência, fui tentado a escrever sobre ti e para ti, Manuel Bule das Mangas
A.K.A Mwene Vunongue (Nelo, Baddy). Não consegui resistir, pois a consciência
moral que tenho é bastante fraca para a tentação de falar sobre a sensibilidade que
representas. Penso não ser uma radiografia fiel, entretanto muito próxima do que
realmente és, porque pessoas como tu que se aprimoram todos os dias não têm definição
que se lhes cabe no tempo em virtude da sua magnitude atemporal.
Corro o risco de redundar em absurdo ao tentar te apresentar, porque és uma
manifestação óbvia, mas correr tal risco é um exercício necessário:
O Nelo é o filho cassula (último filho) da minha mãe, Helena Mendes, e o primeiro a
trazer-lhe a alegria de ser avó; isso mesmo, entre 4 irmãos ele foi o primeiro a ter um
filho, o Cândido Vunda. É por esta razão que, no dia em que ele me abordou para falar
sobre a situação e sobre como iria gerir essa responsabilidade, eu fiquei alegre por me
sentir no irmão mais velho que o devia aconselhar, mas também criança, porque, apesar
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de já ter, até aquele momento, pensado na vida muitas vezes e nas várias suposições, o
feeling da situação real era sempre diferente. Eu estava a aconselhar, mas estava, ao
mesmo tempo, a sentir uma grande responsabilidade para o puto. Só para que conste, eu
fui o último a ter filhos, entre os filhos da minha mãe que a tornaram avó...risos
A educação que temos foi muito mais influenciada pela minha mãe, que todas as
manhãs, antes de ir à praça, falava connosco para tratarmos os outros com respeito, para
sermos sinceros, para não mexermos no que era alheio e, acima de tudo, para sermos
autossuficientes. Nunca nos obrigou a ter que pensar rigidamente conforme a sua
vontade, tudo nos permitiu, desde que não interferíssemos negativamente na vida alheia.
A minha mãe sempre nos recomendou que nunca aceitássemos ser outorgado o título de
pobre, porque, explicava, pobre era ela e não nós, os seus filhos. Levou-nos a acreditar
que nós não éramos pobres porque ainda não tínhamos começado a viver conforme a
nossa vontade e os nossos esforços. Sempre nos disse que, para não perpetuarmos a
pobreza dela, tínhamos que estudar muito. No final de tudo, somos o resultado desta
educação e do que a igreja e, muito mais, a escola fez de nós.
Todos os dias ouço a voz da minha mãe a dizer-me para não invejar ou maldizer os
outros e para termos muito cuidado com gente que o faz porque “as pessoas fartam-se
de comer, mas nunca de falar mal dos outros”. “Meus filhos, não se misturem com o
farelo para não virarem comida dos porcos”, acrescentava ela. Não nos foi ensinado a
distribuir ódio gratuito, antes a compaixão porque, apesar de tudo, a minha mãe sempre
acreditou na bondade das pessoas. Temos as nossas vidas transformadas não apenas por
esforço próprio, mas também por empatia e solidariedade do próximo, pelo sorriso
sincero e amor incondicional.
Por questão cultural, o Mwene é dos meus irmãos aquele com que, na clandestinidade,
passei no ritual moderno de iniciação masculina (circuncisão ou Ekwendje, na língua
local Umbundu). Foi na clandestinidade porque a minha mãe ficaria sob disciplina na
sua igreja por transgredir os estatutos da igreja.
O meu pai, Eugénio João das Mangas, sempre dizia que, se algum dos seus filhos
fosse analfabeto, isso seria culpa desse filho, pois ele tinha feito a sua parte ao colocá-
los todos na escola. E eu digo: aos meus irmãos mais novos não faltou exemplo; sempre
abracei a escola e fiz dela um olimpo para lançar-me para esta vida como gladiador e
me superar…
Baddy, lembro que a tua primeira escolha no curso de ensino médio tinha sido Biologia
e Química na Escola de Formação de Professores “Comandante Liberdade” - Lubango,
mas, depois de uma conversa sobre o empoderamento que a matemática representava
para nós, foste mudar de curso e acabaste por arrastar muitos outros amigos contigo.
Desde mais cedo, tratei de lapidar e incentivar o teu potencial e gosto pelas tecnologias
e, por esta razão, sob minha orientação e acompanhamento andaste no curso de
manutenção e reparação de computadores e acabaste por fazer a licenciatura em Ensino
da Informática Educativa no ISCED-Huila, depois das sessões de preparo no grupo de
amigos a que chamei de “meus fuzileiros navais”, à moda dos EUA.
Escrevo esse texto com muito orgulho de ser o teu irmão mais velho e por me sentir que
não faltei na minha responsabilidade enquanto mano. Sempre tratei de mostrar um
caminho para os meus irmãos mais novos, particularmente a ti.
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Nelo, continua viva a memória de que a primeira TV que tivemos em casa em 2008
ganhaste num concurso sobre matérias de direitos humanos, no dia 10 de dezembro.
Aquela TV que, por inveja do nosso irmão mais velho, foi quebrada e que, por conta
disso, naquela noite, a nossa Mãe ficou sem saber o filho a acudir porque tratamos de
dar uma pesada porrada no gajo que nos dias seguintes precisou de um bom pastor para
lhe acompanhar em orações e um bom massagista para acalmar os efeitos do meu toque
waza, ouchi gari morote seoi nage, de-ashi barai ippon seoi nage, seguidos de
estrangulamentos e bloqueios bem gastos. Eu tinha acabado de me graduar na academia
e era justamente esse o propósito dos meus treinos em judo e jiu-jitson: apanhei muita
porrada dos meus irmãos mais velhos à ponto de não temer uma próxima, mesmo sem
poder fazer alguma coisa e isso continuou mesmo depois de eu ter entrado na faculdade
e assumir na sociedade um papel que considero ser de bastante relevância social, ser
Professor! Hoje entreolhamo-nos com respeito e certeza de chegar até onde cada um
está disposto a ir, em caso de pancadas.
Conheço muito bem o efeito de ter uma frase como autossugestão diária. Reforçaram a
cada dia a frase: comer, treinar, beber e bater. Nessa última os pertences da mana
Helena eram destruídos encaminhando-a ainda mais à extrema pobreza, sendo que
alguns socos e pontapés terminavam em mim.
Entendo que, muitas vezes, a forma de julgar ou conhecer uma pessoa é a partir do
comportamento das outras pessoas que o cercam, muito concretamente a sua família.
Frequentemente acabamos excluídos no nosso bairro por causa do comportamento dos
nossos irmãos mais velhos, pelas confusões que arranjavam com a vizinhança e com
outras pessoas de outros bairros e, por isso, os nossos vizinhos eram educados para não
serem como nós. Faltou-nos bons exemplos para sermos pessoas com as quais os outros
podem contar para fazer o bem, mas por resiliência e insistência aqui estamos.
O maior respeito das pessoas veio do domínio dos 3 cavalheiros do apocalipse:
Matemática, Física e Química. Se antes a Mana Helena era a mãe de bandidos ou de
antropoides, com a nossa consciência da importância que tinha e tem os estudos, ela
passou a ser a mãe dos doutores, assim como muitas vezes foi profecia na boca dos
irmãos mais velhos: “a mãe só gosta dos filhos dela, os doutores”. Sempre vivemos as
mesmas dificuldades e nunca a mãe fez distinção ou teve preferência entre os seus
filhos, tirando o facto de eu ter sido uma criança muito vulnerável.
Estou muito ciente do poder que uma escola tem na vida das pessoas, é por esta razão
que, se instrumentalizada, ela pode servir para escravizar um povo e roubar o futuro aos
jovens. Pela nossa experiência de vida, a escola é e continua a ser um vector de
empoderamento e porque também está comprovado que os países mais felizes têm um
sistema de educação robusto com fortes investimentos por parte dos seus governos. Por
esta razão, por cada criança que se lhe é negada uma escola, uma formação de
qualidade, um futuro onde por si mesmo faria as melhores escolhas da sua vida, tenho
uma lágrima no canto do olho e que não a permitirei que caia porque alimento a
esperança de vir a servir de modo a garantir grandes oportunidades de aprendizagens a
quem não faltar vontade e tiverem a necessidade de se superar e saltar da órbita a que
estão segregadas e condenadas pelo sistema social de muita escassez.
Nelo, desde a 6.ª classe que exercitamos em conjunto o pensamento de Aristóteles que
estava estampado na capa do nosso fascículo de Educação Moral e Cívica, segundo o
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qual “o homem livre é senhor da sua vontade e somente escravo da sua consciência”.
Brincávamos com essa frase repetidas vezes e discutíamos sobre o seu verdadeiro
significado nos mais variados ângulos de visualização. Hoje somos homens livres que
fazemos amigos com outros homens livres espalhados pelo mundo, tudo pela
consciência de humanidade que desenvolvemos. Estou muito orgulhoso por muitas
vezes te ter feito perceber que o caminho correcto não era o que herança social e
persistente representava para nós, pois nessa vida podemos ter escolhas e opções.
Tivemos muitos exemplos que nos levariam a abraçar a violência e outros maus hábitos
da cultura familiar, assim como da cultura social, de uma forma geral. Na falta de
exemplos familiares para seguir, algumas vezes buscamos na vizinhança, que muitas
vezes não diferia muito dos da nossa família, e tivemos que decidir sobre o que
queremos realmente ser. Procuramos de forma consciente, nos desencontros da vida e
mediante a entrega devota, o homem que cada um de nós desejava ser. Estudar nas
escolas fora da nossa comunidade permitiu ampliar o nosso raio de amizade e,
consequentemente, o nosso acervo cultural, o que se refletiu na nossa forma de pensar.
Na falta de um modelo de vida no círculo familiar, conforme as minhas escolhas e
decisões, sempre importei modos de vida que se adequavam às minhas expectativas, e
enquanto eu me modificava, modificava os que estavam a minha volta e, como a
influência sobre alguém é tanto maior quanto menor forem os graus de separação entre
as duas pessoas, o meu irmão absorvia parte do meu carácter, atitudes e personalidade.
Sou um referencial para os meus irmãos nesse matagal com que a vida, muitas vezes, se
parece, na falta de boas referências.

Nos dias de hoje não quero atender ao chamado para a violência, apesar de muitas vezes
parecer o único recurso para resolução dos problemas. Quero que, quando levantar os
braços, seja para saudar ou abraçar alguém por e com muito amor, porque o amor é das
muitas coisas que quero esbanjar.
Nelo, apesar de seres mais alto, desde a infância que sou confundido contigo e ainda há
uma maioria de amigos o faz, confirmando que sou a outra versão de ti. Alguns ainda se
dirigem à mim pensando que eu sou tu e outras vezes acontece o mesmo contigo:
confundem-te comigo. Lembro de há uns meses um amigo ter prometido dar-te um
cabrito e quando o encontraste perguntou-te se tu eras eu a passar-se por ti…estás
lembrado desse episódio? (risos).
Nelo, lembro-me de, há muitos anos, visitarmos uns amigos e colocarem-nos em seus
quartos, ficamos com o desejo de também termos o nosso quarto. Naquele dia,
decidimos montar na nossa cozinha a cama que estava abandonada entre a velharia lá de
casa da mana Helena e, depois na noite daquele mesmo dia, os nossos irmãos mais
velhos procurarem por nós na sala e acabaram por nos encontrar na cozinha a dormir na
cama de onde terminamos despejados, porque os gajos já não queriam dormir no chão e,
pela confusão e falta de respeito, eles decidiram vender aquela cama no dia seguinte e,
assim, voltamos a dormir todos no chão. Tu enfrentas os problemas com paciência e
humor. Muitas das minhas memórias sobre a nossa infância permanecem intactas. Foda-
se, eu te compreendo quando não manifestas saudade da nossa infância!

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Com a visão e orientação para o futuro sempre nos apoiamos mutuamente, daí o orgulho
que temos um pelo outro e, em espírito de camaradagem, temos dado o nosso melhor
para nos fazermos acontecer. Não desistimos ao primeiro vislumbre de dificuldades,
antes pelo contrário, tratamos de identificar as reais dificuldades para as podermos
contornar.
Uma grande maioria das pessoas receia revoluções, pelo facto de gozarem de privilégios
que muito desejam preservar. A penúria não é uma coisa que se deva preservar porque
não representa privilégio nenhum, ainda que em Angola muitas vezes pareçamos gente
condenada.
O sofrimento frustra, empurra as pessoas para o desespero, causa a perda de equilíbrio e
felicidade interiores, amplia o sentimento de revolta, abre portas para a imoralidade. As
lições mais duras da vida vêm acompanhadas de sofrimento e, por isso, não vejo as
dificuldades e o sofrimento vividos na infância como um bom meio de ensino, foi antes
uma exposição a muita vulnerabilidade pelos caminhos fáceis da vida. A experiência de
sofrimento vivida na infância colocou-nos sobreaviso em relação às escolhas a fazer no
sentido de garantir a sua perpetuidade, ou sobre as escolhas a fazer para evitar, ao
máximo, todo o tipo de dor e sofrimento. Isso apenas foi possível com a consciência
adquirida que nos permitiu, com base nesse passado de sofrimento, fazer uma antevisão
dos resultados possíveis das escolhas e opções que tivemos e temos ainda hoje. Não
romantizo isto, mas o sofrimento sempre foi um mecanismo para melhoramentos das
estratégias de decisão.
Atraído por revoluções, abraçaste o ativismo social e político em primeira pessoa.
Quando se reescreve a história recente de Angola, tu és o Governador da província da
Huila, como fruto de um ensaio académico que terminou no processo dos 15+2!
Mwene, tu entendes dos conhecimentos nascidos em lutas em prol das causas dos
oprimidos, vítimas das injustiças, segregados e excluídos do mundo, daí que sempre
soubeste da necessidade de emersão de uma alternativa das alternativas nessa
dissonância dos tempos que correm. À semelhança dos grupos minoritários com
necessidades especiais no acesso e na mobilidade, tu és alguém para quem o processo e
o resultado das decisões com implicações na vida coletiva se tornam mais significativos
quando ocorrem segundo a perspetiva “nada sobre nós, sem nós!”. Porque somos parte
desse povo que muito precisa de voz e vez para que o mundo seja transformado
conforme as aspirações de todos. Não nos vergamos ao conhecimento que legitima a
opressão e perpetua os privilégios de classe.
A maioria das pessoas faz-se de cega e surda sobre os feitos de pessoas extraordinárias
como tu, devido a muita inveja de que estão repletos e empanturrados como fruto de
uma cultura de merda que praticam diariamente. Amiúde, enfrentamos isso na vida
secular e por esta razão não desistimos do que fazemos e do que somos. Somos muito
além daquilo que o nosso horizonte nos pode limitar. Afasta-te dos falsos tão logo os
consigas farejar; de perto ou de longe, são uma grande fraude.
As pessoas que vivem tentando te combater, te ofuscar ou a fazer de ti anónimo deviam
saber que é menos dispendioso e desgastante aliar-se a ti no sentido de desafiar-te a
fazeres mais do que aquilo que tens feito, pois tu és uma pessoa com carisma,
facilmente conquistas a confiança das pessoas, entre os teus pares, tens a influência
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necessária para alcançares os objetivos que te propões e és muito melhor em persuadir
pessoas a fazerem coisas. Eles perdem uma grande oportunidade de juntarem-se àqueles
que, como tu, têm o talento para criar e exercer uma grande influência sobre os outros.
Só não te percebem as pessoas carentes do mínimo de conhecimento sobre humor
satirizado e interventivo que, de um lado, faz gente acéfala te chamarem de parvo e, de
outro lado, faz as pessoas cientes de si e da realidade te glorificarem, dado o alcance dos
objectivos na concretização do bem comum que te desafiam a recursão das mesmas. Só
mesmo quem tem uma imagem distorcida de ti, minada por interesses políticos
retrógrados, teria aversão por quem em cada um dos seus gestos procura pelo bem
comum.
Mwene, és das pessoas que não mantêm as suas visões enjauladas. Partilhas sempre as
alternativas de solução para os problemas colectivos. Na individualidade do ser, as
pessoas como tu têm, em geral, um preço muito alto porque são escassas. Mas ainda
assim fizeste e fazes de ti uma pessoa de fácil acesso e trato, não se precisa de “canal”
pra falar contigo.
Não levas a vida na competição. Tu sabes que o essencial nessa vida não é sobre chegar
primeiro, à semelhança de mim sempre olhaste para os que passaram à frente no sentido
de saber ou colher informação sobre o que não fazer para ter uma vida mais sossegada.
Nelo, faz tempo que atingimos o estágio mental em que percebemos que é mais fácil
gerir emoções positivas que resultam de termos ajudado os outros a alcançarem o
sucesso ou a prosperidade social, em vez da gestão de emoções negativas derivadas da
inveja e do ódio gratuito por se interpor no caminho da felicidade dos outros. Fazemos
por nós mesmos, porque somos boas pessoas, porque queremos um mundo assim e não
porque estas pessoas merecem.
Ter a noção exacta do dever de multiplicar sorrisos perante a humanidade que nos
transcende tem sido um farol para guiar a nossa acção. Nas situações que exigem um
esforço real, com coragem e persistência nas dificuldades te manténs firme porque
conservas em ti os valores que estão fora de moda para muita gente. Por compaixão, és
sempre um voluntário para ajudar o próximo. Se buscamos por algum bem coletivo, tu
és um exemplo de como se faz. Tu inspiras muitas pessoas com o teu carácter, pela
forma como enfrentas os desafios da vida e pela forma como és proativo na procura por
algo para os outros.
Ao falar de ti, vejo-me a mim pois o carácter de cada pessoa vem impingido pelas
primeiras influências do seu círculo social, muito em particular, daqueles com um grau
de separação menor, como a família, que é para si o primeiro agente de socialização.
Lembrar da nossa história de vida faz com que o meu carinho, respeito e admiração por
ti aumentem cada vez mais. Era um dado certo não chegar onde estamos ou não ser
quem somos, devido a curta distância entre os influenciadores da nossa personalidade.
Há muito que ando em pulgas para escrever sobre e para ti. Nelo, tu és o meu confidente
para muitas das minhas angústias e receios, para as más escolhas que tenho tentado
evitar no processo de tomada de decisão dentro da variedade de escolhas e opções.
Mwene, cada vez que escreves sobre mim, sobre os meus feitos ou sobre a nossa
capacidade de resiliência no processo de reinvenção para resistir as intempéries,
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transmites para mim a mesma sensação dos grandes guerreiros da história da
humanidade, quando mobilizados para as guerras que, de vitórias em vitórias,
continuam insaciáveis e que, por isso, lançam-se em novas ambições para conquistas de
outras glórias e para ver se encontram o que lhes possa trazer o sentimento de satisfação
ou de grandeza. Os teus escritos sobre a minha proeza têm sido os meus cânticos de
guerra a mobilizarem-me para novas batalhas. Tem sido um grande orgulho sentir-me
uma lenda. Obrigado por seres, muitas vezes, a trilha sonora do filme da minha vida que
ainda tenho muito por argumentar.
Tenho muito orgulho pelo homem que te tornaste ao longo da vida e continuarei a ter
muito mais orgulho, se ao longo do tempo lapidares para mais quilates a magia da tua
alegria ao fazer o bem pelos outros.
Recordo parte desse passado para que, no processo de tomada de decisão na antevisão
dos futuros consequentes, não percas a capacidade de lembrar de onde vens, se é ali
onde desejas regressar e para que sejas capaz de identificares o que é preciso fazer para
vencer na vida nos próximos anos os quais os dias presentes profetizam que serão mais
difíceis para os angolanos.
Manuel Bule das Mangas, tu és um homem de notável sensibilidade humana, lanças-te
com envolvimento e compromisso no jogo da vida. Uma combinação de conhecimento
e talento e, por esta razão, uma alternativa de ordem entre o caos. Uma pessoa firme,
ciente de si, és das pessoas que sempre adicionam valor e inspiram a quem lhes rodeia a
fazer a diferença.
Nelo, trabalha com intenção para que a vida te venha saber àquilo que gostarias que
soubesse. Que ascendas ao topo da tua principal área de interesse, seja ela a música, a
partilha com o próximo, a alegria, o amor ou o ativismo social e interventivo. O teu
Espectro de vitalidade mental e emocional sempre te garantiram o entusiasmo para
enfrentar desafios.
Tu és e espero que continues a ser uma pessoa assertiva, normalmente falas em nome de
uma maioria com coragem e convicção, prova disso é o texto cuja leitura num espaço de
rádio colocou suspenso o jornalista Israel Campos, só para citar um exemplo.
Manuel Bule das Mangas, eu sei que não ambicionas o topo da montanha de forma
solitária, sempre te guiaste pelo sucesso colectivo. És um homem de sucesso (de
invejar) que faz muitas pessoas parecerem preguiçosas. És uma pessoa de quem muitos
querem ser iguais. Mas nesta vida cada um tem o seu ritmo e, conforme os seus
objetivos, um dia chega ou consegue o que muito procura.
Quem é teu amigo sabe que tens sempre um tempo para abraçar as mais diversas causas,
desde que o fim último seja o bem comum; não viras as costas aos amigos quando
precisam de um ombro amigo. Que nunca percas o espírito de servir aos outros. Apesar
das muitas responsabilidades, tens sempre um tempo para os outros. Assimilaste
profundamente a filosofia africana de humanidade: “sou porque somos, UBUNTU!”
Baddy, eu espero que tenhas sempre entusiasmo e que venhas sempre a aperfeiçoar as
suas perspetivas de vida. Não existe atividade em que te envolvas que não faças eco nas
pessoas à tua volta, assim como além-fronteiras. Daí o convite para participar de
debates em instituições de ensino superior em Angola ou nos EUA, como aconteceu há
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pouco tempo. Com regularidade ultrapassas expectativas, os teus gestos mostram que
estás grato pela vida e, por isso, manifestas generosidade para com os outros.
Mwene, ao contrário de muitos, tu não és um vencedor-surpresa, o sucesso do livro “Os
meus tios e os seus atongokos” é uma prova disso. Tu trabalhas fortemente para
conseguires o sucesso que tens tido. As montanhas de dificuldades escaladas nessa vida
fazem de ti um vencedor merecedor. Na crença da proporcionalidade de causa-efeito,
sempre pensamos que quando se trabalha no duro, o mundo dá a devida recompensa.
Manuel Bule das Mangas, és um Picasso com as palavras nos muitos textos que pintas
com a alma. Colocas sempre as pessoas entre a nostalgia e a alegria, muitas vezes sem
saber se choram ou riem diante dos cenários que os teus quadros textuais transmitem.
És das pessoas que, em vez de invejar, essa malta devia perguntar a si própria o que
podem aprender contigo, a fim de agregarem mais valores. Mas, infelizmente, não tem
sido suficientemente capazes de atingir este estado elevado de consciência baseado na
humildade.
Baddy, tu és um gajo que, na variedade das emoções negativas, sempre foste capaz de
se manter firme. Tens um grande controlo das emoções, o que faz de ti um
tranquilizante no meio das tempestades. Que a sua existência seja sempre para cada um
de nós uma sentença vitalícia de alegria. To much respect!
Sempre te ensinei a respeitar o sucesso dos outros e, por isso, não és um desmancha-
prazeres das conquistas dos outros, até porque sabes que não precisas de diminuir
ninguém para que sejas grande. A tua grandeza resulta da elevação que fazes dos outros
em todo tempo.
Baddy, sabes que nem todas as montanhas devem ser escaladas e, por esta razão,
escolheste a tua luta. És sempre pelos outros, por um mundo melhor onde cada sorriso é
sincero, e por isso, cativante.
Mwene, sempre deixei transparecer que não apenas a falta de força, mas sim a falta de
objectivos é que nos encerra em vidas pouco preenchidas. Eu escrevo para, mais uma
vez, e entre outras coisas, te pedir que nunca escolhas estar entre pessoas ou fazer coisas
que não te permitam viver uma vida com mais significado. A nossa vida tem o
significado que lhe atribuímos; atribui, por conseguinte, à tua vida o maior dos
significados que puderes e eu terei sempre muito orgulho por me rever na forma de
pensamento mais elevado de humanidade a que se pode chegar. Olha sempre para o
futuro e tenha intenções fortes para que não desistas fácil.
Se, ao longo da vida, conheceres alguém que te tentar confundir o raciocínio
relativamente ao sentimento que nutro por ti, quero te lembres destas palavras que dirijo
a ti e que têm igual significado pra mim: sou o teu irmão que sempre velei e continuarei
a velar por ti e isto será assim até a infinidade dos tempos.
Quero que contes sempre comigo para mostrar o caminho ou indicar uma direcção.
Nessa vida de condenados. Somos guerreiros destemidos porque sabemos que os
resultados que nos esperam são maiores do que as nossas feridas ou as muitas chagas
que temos ou podemos suportar.

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Talvez este não seja um texto assaz estilizado para te descrever. Uma pessoa forjada no
sofrimento e, por isso caracterizado também por uma tenacidade feroz de entregar-se à
luta. Tenho a plena certeza de que um dia quando a gente se extinguir fisicamente,
deixaremos para os mais jovens um mundo melhor do que aquele que encontramos e
que nos foi proporcionado.
Tanto podia escrever sobre ti e para ti, mas não vou ser prolixo para não cansar quem
deseja muito te conhecer a partir desta radiografia que faço sobre ti. Continua a
melhorar a tua personalidade para inspirares mais pessoas porque pesam sobre os teus
ombros uma grande responsabilidade, a de reavivar diariamente as pessoas que cativaste
e que ainda tens por cativar.
Do teu amado e adorado irmão, Evar(isto) J(osé) das Mangas, The Undefeated!
Sempre a tentar ser o irmão mais velho que gostaria de ter!
Covilhã, 18 de fevereiro de 2022

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